reconstruÇÃo da identidade

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Page 1: RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A ARTE NO PROCESSO DE

RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

 

 

 

 

Por: Alexandre Florez

 

 

 

 

 

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Algumas das metas universais do ensino são passíveis de enumeração:

 

*  Difundir ,e, posteriormente reforçar o conhecimento para que esse conhecimento assuma um papel prático e não apenas um valor subjetivo;

 

*  relacionar a formação intelectual do indivíduo ao exercício da consciência crítica, tanto individual quanto coletiva;

 

*  infundir nos indivíduos valores morais e éticos;

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* favorecer o aperfeiçoamento do sujeito e da sociedade através de ações pró-ativas ao encontro do aperfeiçoamento sócio-intelectual do educando;

 

*  incutir e fixar aos indivíduos valores positivos tais como: senso de dever e preservação da democracia, respeito às diferenças, reivindicação de seus direitos, busca pelo bem comum e ajuda mútua com exercício da solidariedade;

 

*  contribuir na formação dos cidadãos, na constituição da identidade de grupo, socialização e formação de caráter do indivíduo.

 

Para que  possamos nos aproximar dessas metas, reforçando a auto estima dos jovens, principalmente aqueles em condição de vulnerabilidade social. Que manifestam comportamentos muitas vezes em desacordo com o socialmente desejável é exigido um processo algo demorado:

A razão para a demora nesse processo de ajuste reside mais profundamente na história:

Durante os últimos cem anos, desde o início da educação pública no Brasil as classes menos favorecidas economicamente, e, dentre essas classes com maior incisão indígenas e afro descendentes, sofrem os efeitos de políticas públicas que não fizeram nenhum esforço em prol da democratização e qualificação do ensino de primeiro grau. Somente de vinte anos para cá o ensino e a formação técnica para o trabalho vem sendo implementado no âmbito do segundo grau nas escolas públicas brasileiras, e ainda assim em grande parte graças às parcerias com a iniciativa privada que se beneficia diretamente com a formação de técnicos necessários ao preenchimento de seus quadros operacionais.

Contudo, nesses últimos vinte anos sucessivas administrações federais e estaduais tem orgulho de anunciar programas e metas de educação visando atingir níveis satisfatórios de desempenho e melhorar resultados alarmantes. Índices que causam preocupação e retratam a realidade da educação e cultura ofertadas às populações, principalmente aquelas em estado de vulnerabilidade social neste país.

 

 

 

 

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De modo geral, aumentar a auto estima (produzir uma auto imagem positiva) e contribuir para a conformação e não apenas formação da identidade individual demanda a compreensão dos fatores que compõem esse processo. Cada sociedade, comunidade, grupo apresenta um tipo de discurso. Esse discurso espelha seus valores, códigos de conduta. As escolhas individuais se balizam por tais delimitadores para empreenderem seus objetivos:

 

a)  estruturas sociais

 

a.1 - família,

 

a.2 - grupos aos quais o indivíduo se filia por afinidade,

 

a.3  -  comunidade, bairro, cidade, região,

 

a.4 - macroestrutura social, formada pela sociedade no âmbito coletivo amplo, nacional e o conjunto de valores que a rege: orientação política, ideologia (conjunto de idéias, pensamento corrente), estímulo às iniciativas de desenvolvimento e finalmente não menos importante apelo cultural.

 

Sabendo que a meta de todo e qualquer indivíduo ao construir sua identidade é obter aprovação pessoal auferindo respeito ás suas idéias tanto no âmbito familiar quanto nos diversos grupos que frequenta concluímos que: o sucesso ou o insucesso na obtenção desses objetivos irá determinar seu status quo. Sua posição dentro da sociedade o que determina, grosso modo, o grau de inclusão e aceitação social a ser experimentado por esse indivíduo. Sua aprovação ou reprovação por parte do grupo, sua popularidade.

Um sujeito em estado de vulnerabilidade social, carente de valores que possibilitem a ele adquirir uma boa auto estima de certa maneira tem prejudicada sua capacidade de perceber com clareza os códigos de convivência social de grupos aos quais tem por meta afiliar-se. E, por essa razão experimenta a dificuldade em ser aceito e, consequentemente, aceitar a si mesmo. Dessa forma ele tende a se comportar como um transgressor pois tudo quanto recebe da sociedade é desaprovação. Em contrapartida o sujeito afronta às instituições que representam o modelo formal de sociedade como forma de tentar impor pela via da intimidação o respeito e a "aprovação" dentro de grupos que frequenta ou almeja filiar-se.

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A integração do indivíduo na sociedade passa pela sedimentação de uma identidade coletiva representativa de um modelo descritivo de seu papel dentro dessa comunidade, O que sedimenta e reforça o aparecimento da identidade coletiva, de grupo.

Para que seja dotado o indivíduo com uma carga de virtudes a fim de proporcionar sua inserção social de modo satisfatório se faz necessário dotar-lhe de certas ferramentas essenciais:

A fim de que se construa solidamente a identidade, no caso específico daqueles em estado de vulnerabilidade social, cuja maioria se encontra na base da pirâmide sócio econômica:

SE TORNA IMPERATIVO A NARRAÇÃO CORRETA E ESCRUPULOSA DOS FATOS RELACIONADOS À VERDADE HISTÓRICA DE SEU GRUPO E COMUNIDADE.

Um de tantos caminhos que podem ser seguidos é  a inclusão no planejamento de aula, dentro do contexto curricular:

 

1) Apresentação de áudio e vídeo, sobre feitos, contribuições, importância historiográfica, arte, representatividade política, etc. relacionadas ás etnias afro descendentes, indígenas e miscigenadas. Sem incorrer-se jamais no discurso multirracial, cujo real objetivo, principalmente na América do Norte, foi contribuir com a causa do "branqueamento" da sociedade contando com a adesão de artistas e esportistas afro descendentes e representantes de outras minorias étnicas, desejosos de reconhecimento como: "não de cor".

 

2) Valorizar a aceitação da negritude e da ascendência indígena. Louvar a miscigenação étnico cultural, produtora de uma sociedade viril, forte no sentido positivo da multiplicidade - jamais da eugenia.

 

3)  Promover visitações a locais onde se possa verificar e experimentar as propostas realizadas em sala de aula: museus, bibliotecas, laboratórios. Espaços de ciência e cultura onde se pode dispor de meios para demonstrar alguns fatos desconhecidos mesmo dos professores como por exemplo: a influência generalizada, não apenas vocabular quanto sintática do dialeto QUIMBUNDO, de origem Bantu no português brasileiro. Podemos recomendar os livros do pesquisador Renato Mendonça que tratam do assunto. No campo da história temos o exemplo das civilizações Egípcia no norte da África e as culturas pré-colombianas nas Américas. Com destaque na ciência para os Maias. Civilização pré-colombiana que conhecia o conceito do zero na matemática. E para os Egípcios cuja arquitetura nos legou as fabulosas pirâmides. Sendo que o

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conjunto arquitetônico de pirâmides do Cairo não representa a forma mais antiga dessas construções.

 

4)  Facilitar ao jovem acesso às novas linguagens tratadas de forma construtiva e positiva. O Hip Hop, o RAP, a dança de rua (dança urbana), as técnicas de grafite. Procurando sempre uma abordagem pelo viés das ações cidadãs, do respeito às diferenças e da solidariedade.

 

5)  Enaltecer o papel da mulher afro descendente na sociedade como agente de resistência à aculturação e  liderança sócio-política e religiosa. Reconhecer e ressaltar o papel fundamental do africano e de seus descendentes para a economia brasileira.

 

6)  Estimular as prática da capoeira, das rodas de dança tradicional e moderna. Incentivar a criação musical e literária na forma de contos, redações e a composição de canções de ritmos tradicionais: Samba, Samba de roda, Pagode, Choro, Rap, etc. Sugerindo o motejo de forma a abordar assuntos pertinentes á comunidade. Propiciar aos que tem pendor á pintura e ao desenho a expressão de sua arte.

 

7)  Oportunizar aos jovens a apresentação de suas criações em espaço público, junto a eventos que lhes deem visibilidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

UMA HISTÓRIA MAL CONTADA

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No dia 14 de dezembro de 1890, Rui Barbosa, ilustre figura da história brasileira, então ministro da República recém constituída decreta a queima de todos os livros de matrícula e registros fiscais relativos à escravidão na posse do Ministério da Fazenda. Esse expurgo havia sido cogitado anteriormente pelo parlamentar abolicionista Joaquim Nabuco em 1888. Os registros continham dados de compra, venda, propriedade e transferência de escravos realizados no Brasil. Todas essas transações eram compiladas e arquivadas pelo Ministério da Fazenda. A consequência imediata desse ato de esperteza governamental que temia sofrer processos indenizatórios por parte dos fazendeiros escravistas foi o apagar da memória de uma época. Impedindo às gerações futuras o acesso aos dados. Esse ato impossibilitou aos pesquisadores recolherem informações a respeito desse período da história brasileira. De certa maneira isso facilitou ás classes dominantes montar sua versão ideal da história do Brasil impondo-a aos demais. Relegando o negro, o índio e as classes mais baixas da pirâmide social ao papel de coadjuvantes na construção sócio econômica da nação brasileira, o que se constitui em absoluta e descarada mentira.

Ao afirmar que o índio preferia a morte ao cativeiro porque não estava acostumado ao trabalho os dominadores contaram outra mentira. As reduções jesuíticas no Rio Grande do Sul provam exatamente o contrário. Demonstram a infatigável e diligente capacidade indígena de desempenhar quaisquer ofícios, por mais complexos, que se lhe dispusessem a ensinar-lhe. Conquanto fossem livres e pudessem aderir às práticas do colonizador por sua vontade.

Muitos etnógrafos e historiadores taxaram os representantes das diversas etnias africanas em solo brasileiro como "boçais". Ainda que não se referissem a eles dessa maneira diretamente, a tradução dos eufemismos utilizados por eles querem dizer exatamente isso. Ao afirmarem a "baixa capacidade intelectual" a "indolência e preguiça" do negro, sua aparência rústica e "pouco simétrica" eles procuravam justificar o preconceito quanto ao biótipo africano. Talvez, quem sabe? quisessem fornecer com isso uma explicação para o horror ao qual  o povo africano foi submetido no Brasil e nas Américas em geral.

Todavia, onde exatamente se encaixa a arte como elemento de inclusão e agente contributivo na construção ou reconstrução da identidade afro descendente?

Constituir a identidade individual, ou de grupo, implica na conscientização do indivíduo a respeito de si e do meio social no qual ele - o indivíduo e o grupo ao qual pertence ou almeja integrar-se, vive. Dos papéis que o indivíduo desempenha e aos quais está/é habilitado a desempenhar. Constituir a própria identidade também significa a capacidade de perceber o que os outros, o grupo pensa dele. O seu julgamento em relação a sua conduta e a resposta que dá às suas solicitações.

A arte como veículo de expressão individual e coletivo propicia um amadurecimento emocional e intelectual capaz de proporcionar ao indivíduo clareza e tirocínio. Tornando-o apto a compreender  e exercitar uma idéia de cultura associada à sua prática

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cotidiana. Ligada ás raízes da sua comunidade. Integrada ao coletivo e solidária à ideia de cooperação.

Como sabemos e experimentamos cotidianamente a música é um meio de comunicação direto com o inconsciente. A sua linguagem, embora formal, pois submete-se a um processo de composição e ordenação, não é produzida ao acaso. A música é objeto de criação laboriosa. Para que se desenvolva a identidade individual e de grupo através da música se faz necessário estimular a musicalidade do indivíduo e do povo. Mantendo vivas a cultura musical tradicional. O Samba, o Choro, o Batuque, entre outros ritmos brasileiros. Fontes de conhecimento oral, cantigas populares, parlendas, motejos, versos, etc. Formas reconhecidamente democráticas de manifestação espontânea da arte do povo. E, também aderir sem temor ás novas linguagens que se instalam no seio da comunidade global como o RAP e o HIP HOP. Linguagens surgidas da necessidade de expressão de comunidades oriundas de outros países, porém, ora universalmente aceitas. Incorporadas à realidade nacional atingindo uma ampla gama da sociedade.

 

 

 

 

NOSSAS AÇÕES AFIRMATIVAS:

 

 

 

 

O desenvolvimento intelectual e psicológico da criança e do adolescente é diretamente influenciado pela disponibilidade aos meios de acesso à informação. Pela qualidade da orientação oferecida a ele. Pelo grau de letramento (formal, acadêmico – ou empírico, tradicional) e o interesse de seus familiares e da sua comunidade na sua formação moral e intelectual.  Para que um agente externo, de fora do âmbito social desses jovens possa promover esse desenvolvimento, se faz necessário conhecer o melhor possível as orientações e tendências culturais propostas pelo meio de convivência da criança e do adolescente. Na impossibilidade prática de um estudo aprofundado, e do levantamento de dados através de pesquisa, o que seria demorado e oneroso optou-se por um estudo do tipo “etnográfico por amostragem”. Menos abrangente, porém suficiente para revelar padrões culturais das comunidades contatadas, bem como suas carências e virtudes quanto à produção e difusão da arte e da cultura popular. Elementos constituintes de uma identidade de grupo e fatores de integração social promotores da cidadania.

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Nossas ações culturais, paralelas à apresentação gratuita do show VOLTA AO SAMBA, visam contemplar principalmente àqueles jovens em idade escolar (Ensino Fundamental e Ensino Médio) matriculados na rede pública em condição de vulnerabilidade social, carentes de um sem número de facilidades e meios materiais que atendem aos apelos da sociedade de consumo. No intuito de lhes passar um pouco da história real e da rica cultura legada ao Rio Grande do Sul pelos povos africanos aqui mantidos na condição degradante de escravos. Focados na temática dos aspectos da cultura afro riograndense é nosso propósito desenvolver um dia antes da apresentação pública do espetáculo as oficinas de estímulo, sensibilização e criação artística voltadas a jovens e adolescentes desejando contribuir para a construção da sua identidade cultural.

 

 

No tocante às oficinas com os educandos os temas abordados pelos atuadores pretendem ajustar-se às necessidades dos jovens de cada comunidade assistida. O planejamento e a coordenação das oficinas de: 

 

- Teatro:

Coordenador: Alexandre Florez - escritor, autor teatral e compositor. 

 

* Sensibilização;

* criação de esquetes;

* encenação dos esquetes. 

 

 

 

- Musicalização:    

 

* Violão brasileiro.

Professor: Diego Silva - compositor e músico profissional.  

 

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* percussão de ritmos brasileiros.

Professor: João Rosa Mayer - arranjador, compositor, multi instrumentista. 

 

 

  

 

 

 

 

 

- Capoeira:  

 

Professor: Mestre

Músicos acompanhantes:

 

- Ismael Oliveira - percussionista, professor de percussão, pesquisador.

- Mozart Dutra - percussionista, professor de percussão, pesuisador.  

 

* História e prática de noções básicas;

* filosofia;

* estilos. 

 

 

  

 

 

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- Palestra:  

 

 

 

Palestrante: Professora Náthaly Weber, Diretora Regional da CUFA (Central única das Favelas) de Cachoeira do Sul. Produtora Executiva do Projeto Volta ao Samba. 

 

* A arte no processo de reconstrução da identidade.  

 

 

  

 

(Data show com imagens de carnaval; capoeira, rodas de samba.) 

Inúmeras canções da música popular brasileira que são signos da brasilidade. Aqui destacamos apenas uns poucos exemplares de obras que comentam passagens da vida nacional e influenciam a sociedade. Formam opinião, contribuem para que surja consciência crítica e, abrangendo a macroestrutura regional e/ou nacional, amparam o discurso identitário brasileiro: Aquarela do Brasil; Isto aqui é o que é; Tropicália; Bye Bye Brasil e Kizomba.

 

 

 

 

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- Aquarela do Brasil de Ary Barroso. Não se trata apenas simplesmente de uma canção exaltando o nacionalismo mas, uma peça melódico e poeticamente recheada de  um sentimentalismo algo ingênuo que evidencia o caráter gentil da Pátria e a boa índole do brasileiro que ama seu país (patriotismo tropical).Que em seu seio desfruta de uma vida boa: "Ah! esse coqueiro que dá coco/aonde amarro minha rede/nas noites claras de luar. Ah! É o meu Brasil lindo e trigueiro/o meu Brasil brasileiro/terra de Samba e pandeiro/Brasil, pra mim/pra mim Brasil...//".

Em outra composição de Ary Barroso: Isto aqui é o que é, encontramos a mesma abordagem de exaltação ao Brasil , numa demonstração quase ufanista logo na primeira estrofe da letra: " Isto aqui ô ô/é um pouquinho  de Brasil Iá Iá/ deste Brasil que canta e é feliz/feliz, feliz...//" . Na segunda estrofe a mensagem continua pautada no otimismo mas, envereda pelo viés sexista muito comum e recorrente aos motes de Sambas e Lundus: "Olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar/olha só o remelexo que ela sabe dar/morena boa que me faz penar/ põe  a sandália de prata/e vem pro samba sambar...// ". A abordagem de Ary está em conformidade com a época, década de 1940, quando os Estados Unidos forçavam uma aproximação com o Brasil por conta da segunda grande guerra mundial. Era o tempo da política da Boa Vizinhança e o sintagma "Brasil feliz" da letra está em perfeito acordo com o contexto social daquele momento histórico.

Quase três décadas mais tarde o compositor Caetano Veloso compõe Tropicália apresentando uma visão crítica sobre o país e o momento conturbado da ditadura militar no Brasil: "...o monumento/é de papel crepom e prata/os olhos verdes da mulata/a cabeleira esconde atrás da verde mata/o luar do sertão/o monumento não tem porta/a entrada é uma rua antiga/estreita e torta/e no joelho, uma criança/ sorridente, feia e morta/estende a mão//". Com ironia e construções metafóricas Caetano ataca o regime de exceção o que lhe rende perseguição política, prisão e a ida para o exílio na Inglaterra.

 

 

Num outro momento histórico brasileiro a canção composta por Chico Buarque de Holanda Bye Bye Brasil tema do filme homônimo de 1979 expõe as mazelas de um país que busca o progresso a qualquer preço. E sofre um processo de exploração por parte do capital estrangeiro, experimentando ao mesmo tempo um crescimento econômico desordenado, junto a uma situação política instável que ora pende á redemocratização ora ameaça um retrocesso no processo democrático: "...no Tabariz/o som é que nem os Bee gees/[...] eu penso em vocês night and day/explica que tá tudo okay//...".

Nos remetendo agora ao século XXI a composição de Alexandre Florez Kizomba alude claramente a um desejo de  internacionalização da cultura. Não massificação cultural pura e simples mas, a possibilidade de compartilhamento da cultura produzida no Brasil com os demais povos. Essa é uma clara referência às convicções políticas do autor: "Não

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cabe na ciranda as cores da bandeira/contrabando meu canto/suborno a aduaneira/vou cantar para o povo d'um outro país/a cor é um amuleto e demarca a fronteira/pelo sinal impresso na minha carteira/tenho vosso permisso para prosseguir//".

Nessa interrelação entre melodia e poesia em diversos momentos do cancioneiro popular vemos a possibilidade de oferecer á sociedade em geral narrativas, opiniões, posicionamento crítico. Promovendo uma discussão interna sobre os pontos de vista expressos, sua pertinência, e, de que forma podemos nos utilizar desse  veículo artístico e cultural - a música popular, para contribuir na formação da identidade de um indivíduo ou de um grupo comprometido com questões que demandam a atenção da sociedade em prol do desenvolvimento, da cidadania, da solidariedade, da democracia, da justiça social e do bem comum. 

 

 

  

 

 

  

 

 

  

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

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