recomendações técnicas para a produção do...

10
Rio de Janeiro, RJ Dezembro, 2005 33 ISSN 1517-5146 Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC Introdução Este publicação pretende orientar os produtores de tomate de mesa a adotarem o Sistema de Produção proposto denominado de TOMATEC e pretende consolidar as técnicas que foram iniciadas por meio do Projeto “Adaptação e Desenvolvimento de Tecnologias para a Gestão Agroambiental Sustentável em Regiões de Relevo Acidentado da Serra do Mar”, na microbacia do Córrego da Cachoeira em Paty do Alferes, Estado do Rio de Janeiro, sendo financiado pelo Projeto DESUSMO - União Européia, FINEP-PADCT / CIAMB e MNA-FNMA no ano de 1994 e finalizadas em 2006 pelo Projeto “Gestão participativa da subbacia do rio São Domingos, RJ.” (GEPARMBH), financiado pelo Edital da FINEP/CTHidro/GBH:02/2002, ambos coorde- nados pela Embrapa Solos. O Desenvolvimento do Sistema TOMATEC contou com a participação de diversas instituições como a UFRJ-COPPE/EP-DRHIMA, da UERJ, da SEAAPI-RJ, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, da Embrapa Hortaliças, da FIOCRUZ, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente – PMSJU e da EMATER-RIO, e teve os municípios de Paty do Alferes e de São José de Ubá-RJ como pólos de desenvolvimento do sistema. O sistema de Produção TOMATEC parte de uma abordagem sistêmica, participativa, integrada e atual dos problemas sociais e ambientais das regiões produtoras de tomate, atendendo e promovendo a extensão, disponibilização e apropriação de conhecimentos e de tecnologias voltadas a inclusão social, do empoderamento dos conhecimentos e tecnologias já adaptadas à realidade local, pela geração de produtos diferenciados e certificados, promovendo, assim, a inclusão social dos produtores familiares no agro-negócio, a melhoria da qualidade de vida e da saúde ambiental. Em termos de importância da cultura olerícola, o tomateiro (Lycopersicon esculentum L.) tem papel de destaque na produção agrícola do Brasil, pois 3 milhões de toneladas são produzidas, anualmente, em aproximadamente 60 mil hectares (Giordano et al., 2000). O Estado do Rio de Janeiro contribui para essa produção com cerca de 200 mil toneladas de frutos de tomate para consumo in natura, envolvendo um contingente de mão-de-obra familiar e contratada em torno de 6.000 trabalhadores, relacionadas direta ou indiretamente na produção. O valor comercializado no CEASA-RIO e em outros mercados atacadistas e varejistas assume patama- res de R$4.416.000,00 por ano. A área plantada no Estado do Rio de Janeiro gira em torno de 3.000 ha/ano, sendo os plantios distribuídos durante o ano todo, porém variando em função da região do Estado. Os principais municípios produtores estão distribuídos nas regiões Serrana, Noroeste e Médio Paraíba, destacando-se: Paty do Alferes, Cambuci, São José de Ubá, Vassouras, São Sebastião do Alto, Sumidouro, São Fidélis, Nova Friburgo, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto, Santo Antônio de Pádua e Duas Barras. Como o tomate é uma cultura extremamente exigente em adubação e calagem e em tratos culturais, devido a elevada incidência de pragas e doenças, há um uso indiscriminado de agroquímicos (adubos altamente solúveis e agrotóxicos), o que gera problemas de saúde pública (intoxicação de produtores e seus familiares), contaminação do meio ambiente (solo e água) e altas taxas residuais de agrotóxicos nos frutos. Além disso, causa elevação dos custos de produção, tornando a lavoura de tomate uma cultura de alto risco por causa da oscilação dos preços na época da safra. Autores José Ronaldo de Macedo. Pesquisador Embrapa Solos. Rua Jardim Botânico, 1024. CEP: 22460-000. Rio de Janeiro, RJ. [email protected] Cláudio Lucas Capache. Pesquisador Embrapa Solos. [email protected] Adoildo da Silva Melo. Assistente Embrapa Solos. [email protected] Silvio Barge Bhering. Pesquisador Embrapa Solos. [email protected]

Upload: hoanglien

Post on 12-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Rio de Janeiro, RJDezembro, 2005

33

ISSN 1517-5146

Recomendações Técnicas para a Produçãodo Tomate Ecologicamente Cultivado -TOMATEC

Introdução

Este publicação pretende orientar os produtores de tomate de mesa a adotarem o Sistema deProdução proposto denominado de TOMATEC e pretende consolidar as técnicas que foraminiciadas por meio do Projeto “Adaptação e Desenvolvimento de Tecnologias para a GestãoAgroambiental Sustentável em Regiões de Relevo Acidentado da Serra do Mar”, na microbaciado Córrego da Cachoeira em Paty do Alferes, Estado do Rio de Janeiro, sendo financiado peloProjeto DESUSMO - União Européia, FINEP-PADCT / CIAMB e MNA-FNMA no ano de 1994e finalizadas em 2006 pelo Projeto “Gestão participativa da subbacia do rio São Domingos,RJ.” (GEPARMBH), financiado pelo Edital da FINEP/CTHidro/GBH:02/2002, ambos coorde-nados pela Embrapa Solos.

O Desenvolvimento do Sistema TOMATEC contou com a participação de diversas instituiçõescomo a UFRJ-COPPE/EP-DRHIMA, da UERJ, da SEAAPI-RJ, da Embrapa Agroindústria deAlimentos, da Embrapa Hortaliças, da FIOCRUZ, Secretaria Municipal de Agricultura e MeioAmbiente – PMSJU e da EMATER-RIO, e teve os municípios de Paty do Alferes e de São Joséde Ubá-RJ como pólos de desenvolvimento do sistema.

O sistema de Produção TOMATEC parte de uma abordagem sistêmica, participativa, integradae atual dos problemas sociais e ambientais das regiões produtoras de tomate, atendendo epromovendo a extensão, disponibilização e apropriação de conhecimentos e de tecnologiasvoltadas a inclusão social, do empoderamento dos conhecimentos e tecnologias já adaptadasà realidade local, pela geração de produtos diferenciados e certificados, promovendo, assim, ainclusão social dos produtores familiares no agro-negócio, a melhoria da qualidade de vida e dasaúde ambiental.

Em termos de importância da cultura olerícola, o tomateiro (Lycopersicon esculentum L.) tempapel de destaque na produção agrícola do Brasil, pois 3 milhões de toneladas são produzidas,anualmente, em aproximadamente 60 mil hectares (Giordano et al., 2000). O Estado do Rio deJaneiro contribui para essa produção com cerca de 200 mil toneladas de frutos de tomate paraconsumo in natura, envolvendo um contingente de mão-de-obra familiar e contratada em tornode 6.000 trabalhadores, relacionadas direta ou indiretamente na produção. O valorcomercializado no CEASA-RIO e em outros mercados atacadistas e varejistas assume patama-res de R$4.416.000,00 por ano.

A área plantada no Estado do Rio de Janeiro gira em torno de 3.000 ha/ano, sendo os plantiosdistribuídos durante o ano todo, porém variando em função da região do Estado. Os principaismunicípios produtores estão distribuídos nas regiões Serrana, Noroeste e Médio Paraíba,destacando-se: Paty do Alferes, Cambuci, São José de Ubá, Vassouras, São Sebastião doAlto, Sumidouro, São Fidélis, Nova Friburgo, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto,Santo Antônio de Pádua e Duas Barras.

Como o tomate é uma cultura extremamente exigente em adubação e calagem e em tratosculturais, devido a elevada incidência de pragas e doenças, há um uso indiscriminado deagroquímicos (adubos altamente solúveis e agrotóxicos), o que gera problemas de saúdepública (intoxicação de produtores e seus familiares), contaminação do meio ambiente (solo eágua) e altas taxas residuais de agrotóxicos nos frutos. Além disso, causa elevação dos custosde produção, tornando a lavoura de tomate uma cultura de alto risco por causa da oscilaçãodos preços na época da safra.

AutoresJosé Ronaldo de Macedo.

Pesquisador EmbrapaSolos. Rua Jardim

Botânico, 1024. CEP:22460-000. Rio de

Janeiro, [email protected]

Cláudio Lucas Capache.Pesquisador Embrapa

[email protected]

Adoildo da Silva Melo.Assistente Embrapa [email protected]

Silvio Barge Bhering.Pesquisador Embrapa

[email protected]

2 Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

A realidade agro-socioeconômica e cultural da agricultura doEstado do Rio de Janeiro faz com que sistemas de uso e demanejo de baixo nível tecnológico estejam sendo adotados,implicando em perdas superficiais significativas de solo,matéria orgânica, nutrientes e, em especial, de água. Nessecontexto, situam-se os Municípios de Paty de Alferes e deSão José do Ubá, ambos tendo passado pela açãoextrativista de madeira, pela agropecuária, pela cultura docafé e que vem se dedicando a olericultura, tendo a culturado tomate, como principal cultura de valor econômico. Es-ses municípios encontram-se entre os três maiores produtor detomate do Estado do Rio de janeiro, contribuindo em 60 % detoda a produção do Estado.

A tipologia dos produtores desses municípios consiste depequenos agricultores familiares, sendo a grande maioria dearrendatários que se utilizam de financiamentos particulares,normalmente diretos dos fornecedores de insumos agrícolas.

Em função de todos os problemas relacionados anteriormente,foi desenvolvido o Sistema de Produção do Tomate Ecologica-mente Cultivado, denominado de TOMATEC. Este sistema éuma estratégia que está sendo consolidada no somatório deutilização de técnicas agroecológicas adequadas para produzirfruto de tomate de alta qualidade, que este sistema esta preo-cupado com a segurança alimentar e voltado para a obtençãodo certificado de origem e do selo ambiental. O sistemaTOMATEC tem como premissa aliar o desenvolvimento sus-tentável com a preservação do meio ambiente.

Visando facilitar a adoção e ampliação desse sistema, estacircular técnica pretende abordar de maneira simples e claraas principais tecnologias aplicadas em termos de preparo dosolo, práticas conservacionistas, de condução da lavoura edos tratos fitossanitários.

Procedimentos para o plantio

Seleção das áreasAs áreas destinadas para qualquer atividadeagrossilvipastoril devem ser utilizadas de acordo com suaaptidão agrícola, adotando-se as práticas conservacionistasque previnem a erosão. Dependendo das características dosolo e do relevo, por exemplo, uma determinada área dapropriedade cultivada com culturas anuais (milho, feijão,hortaliças), pode ter maior potencial de produção, sem cau-sar erosão, se o seu relevo for plano ou suave ondulado.Outras áreas mais suscetíveis à erosão (terrenos com relevoondulado e forte ondulado), são recomendadas para o plan-tio de culturas perenes e para reflorestamento (árvores frutí-feras, eucalipto, etc), por exigirem menor movimentação dosolo no seu preparo (plantio em covas).

Portanto, a área escolhida para o plantio de tomate deve,sempre que possível, apresentar uma topografia variando deplana (0 a 3% de declividade), suave ondulada (3 a 8% dedeclividade), ondulada (8% a 20% de declividade) e forteondulada (20 a 45%), para facilitar os tratos culturais eevitar a erosão.

Antes de realizar o plantio, é recomendado fazer a análise dosolo para se ter noção de seu estado nutricional (disponibili-dade de nutrientes para as plantas), bem como do pH, o queorientará as aplicações de calcário, quando necessário, e asadubações mineral, orgânica e/ou verde, sempre de acordocom as orientações de profissionais da área agrícola (institui-ções de pesquisa, universidades, rede de assistência técnicae de extensão rural, etc).

Preparo do solo

O preparo do solo deve ser feito em duas etapas. A primeiraetapa envolve o preparo convencional visando preparar oterreno para a adoção do sistema de plantio direto na palha. Asegunda etapa consiste no plantio direto propriamente dito.

Em áreas tradicionais de cultivo de tomate, o preparo do solotradicional consiste de arações e gradagens, na maioria dasvezes no sentido da declividade (morro abaixo) e sem nenhu-ma adoção de técnicas de conservação de solo. Nessas situa-ções a transferência para o sistema TOMATEC passa obrigato-riamente pela mudança no sentido do preparo do solo. Comonessas áreas, normalmente, o solo está erodido, compactado ecom sua fertilidade reduzida, recomendasse que sejam aplica-dos os corretivos de solo necessários (item 5).

O preparo do solo deve ser feito acompanhando as curvasníveis do terreno, com implementos tracionados por junta deboi ou por tração mecânica (trator), dependendo dadeclividade do terreno. O preparo do solo, na fase pré-plantio direto, envolve uma aração e duas gradagens.

O sistema de plantio direto na palha, como o próprio nomediz, deve ter como condição essencial uma boa produção depalhada. Esta palhada pode ser obtida com um plantioantecessor ao tomate (milho consorciado com mucuna e/oufeijão de porco) ou utilizando a produção de massa verde dopróprio cultivo do tomate.

No primeiro caso é realizado um cultivo com uma culturaeconômica de interesse do produtor, porém que produzamuita massa verde para ser ceifada na superfície do solo.Neste caso, o plantio do tomate será feito em cima dapalhada da cultura anterior.

No caso de se realizar o cultivo do tomate em seguida aopreparo do solo, os restos culturais do tomate devem serutilizados como cobertura morta para o cultivo seguinte, emum processo de rotação de culturas.

3Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

É fundamental que o produtor, na fase pré-plantio direto,plante uma cultura para produzir a palhada para a introduçãodo sistema de plantio direto na palha.

O Uso e o Manejo do Solo e suaimportância no Sistema TOMATEC

O sistema TOMATEC preconiza o uso do Sistema de PlantioDireto na Palha (SPD), que consiste em realizar o plantiosem o revolvimento do solo, ou seja, sem a necessidade dearação e gradagem. Entretanto, para a introdução do SPD énecessário recondicionar o solo, descompactando-o pormeio de aração e gradagem, realizada em nível, seja comtração animal ou com tração mecânica. Nesse momento,aproveita-se para corrigir a acidez do solo (pH) e eliminar oalumínio tóxico (Al+3) com a aplicação de calcário em funçãodos resultados da análise do solo.

Os resultados de Souza (2002) mostraram que as perdas desolo e água em Sistema de Plantio Direto (PD) foram signifi-cativamente menores quando comparados aos sistemas comPreparo Convencional (PC) com Queima e Preparo em Nívelsem Queima nos anos de 2001 e 2002 (Figura 1 e 2).

0

5

10

15

20

PC PN PDTratamento

t h

a-1

2000

2001

020406080

100

SC PC PN P DTratamentos

Lâm

ina

d'á

gu

a (m

m)

2000

2001

Fig 1. Perdas de solo em função do tipo de preparo de solo.

Fig. 2. Perdas de água em função do tipo de preparo de solo.

Os resultados de perda de solo e água obtidos por Souza(2002) tem explicações relacionadas as melhorias dos atri-butos físicos e físicos-hídricos do solo, como podem serconfirmados pelas figuras 3, 4 e 5.

Na figura 3 verifica-se que a densidade do solo no PlantioDireto na camada superior (0 - 10 cm) é menor, diferindo

estatísticamente dos sistemas tradicionais de preparo dosolo com e sem queima da palhada. Além disso, a quantida-de de poros totais nesta mesma camada, também é superiorestatísticamente no sistema de Plantio Direto, quando com-parado com os sistemas tradicionais. Em ambos os casos,verifica-se um efeito diferenciado entre as camadas superiore inferior, mostrando o efeito positivo do não revolvimentodo solo, que pode ser decorrentes de vários fatores, comomaior acúmulo de matéria orgânica, maior conteúdo de aguano solo entre outros.

Prof (cm) TratamentosDs (Mg m -3)

SC PC PN PD0 – 10 1,31 Aa 1,32 Aa 1,22 Aba 1,18 Ba10 – 20 1,37 Aa 1,32 Aa 1,39 Ab 1,42 Ab

VTP (m 3 m -3)0 – 10 48,0 Ba 46,7 Ba 53,0 Aa 53,1 Aa10 – 20 46,2 Aa 48,8 Aa 45,8 Ab 44,6 Ab

Fig. 3. Efeito do tipo de preparo do solo na densidade e porosidade total do solo.

Na figura 3 verifica-se que a densidade do solo no PlantioDireto na camada superior (0 - 10 cm) é menor, diferindoestatísticamente dos sistemas tradicionais de preparo dosolo com e sem queima da palhada. Além disso, a quantida-de de poros totais nesta mesma camada, também é superiorestatísticamente no sistema de Plantio Direto, quando com-parado com os sistemas tradicionais. Em ambos os casos,verifica-se um efeito diferenciado entre as camadas superiore inferior, mostrando o efeito positivo do não revolvimentodo solo, que pode ser decorrentes de vários fatores, comomaior acúmulo de matéria orgânica, maior conteúdo de aguano solo entre outros.

0150300450600750900

SC PC PN PDTratamentos

Ks

(mm

h-1

) 0 - 10 cm

10 - 20 cm

Fig. 4. Efeito do tipo de preparo do solo na condutividade hidráulica do solosaturado {(kq)}.

Os efeitos da plantio direto são identificados nacondutividade hidráulica do solo saturado (figura 4), ondeas de condutividade são maiores nos sistemas nos sistemasconservacionistas, ou seja, no plantio direto (PD) e no plan-tio em nível com junta de boi (PN), principalmente na cama-da de 10 a 20 cm.

Como o menor revolvimento do solo, as taxas de infiltraçãonos sistemas de PD e PN são significativamente maiores doque nos sistemas tradicionais de preparo do solo com aração

4 Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

Práticas Conservacionistas de Solo eágua – Terraceamento e Bacias deCaptação de Água (BCA)

Como o relevo predominante no cultivo do tomate, tanto emPaty do Alferes como em São José de Ubá, variam deondulados (8 a 20%) a fortemente ondulados (20 a 45%)de declividade recomenda-se a construção de terraços emdesnível de 2%o, associado as Bacias de Captação de Água(BCA). Esses terraços associados as BCA tem a finalidadede ordenar o fluxo de água decorrente do escoamento super-ficial das precipitações, que são intensas. A figura 6 mostraa importância da implantação de práticas mecânicas de con-servação do solo, como o terraceamento.

Em função do discutido no parágrafo anterior relacionado afigura 6, pode-se afirmar que com a adoção do SPD, astaxas de infiltração são maiores no SPD do que no Sistemastradicionais de preparo do solo (aração e gradagem), comisso, o escoamento superficial é menor, reduzindo a necessi-dade de grandes seções transversais dos terraços e, conse-qüentemente, das BCA, otimizando a eficiência desta práticaconservacionista e, assim, viabilizando-as em áreas de rele-vo forte a forte ondulado.

O sistema TOMATEC e seus efeitosna dinâmica de água no solo

Segundo Bertolino (2004) a retenção de água é significati-vamente maior no tratamento com Plantio Direto do que noSistema Tradicional de preparo do solo (aração, gradagem equeima dos restos culturais) nas profundidades de 15 e 30cm, pois valores menores absolutos (kPa) de tensão de águanos sensores de umidade do solo (Ground Moisture System- GMS) indicam maior disponibilidade de água as plantas.

Ainda segundo Bertolino (2004), provavelmente a maiorretenção de água a 15 cm foi devido ao maior e melhordistribuição dos poros, conforme pode ser verificado pela(figura 7) nas camadas de 0 – 11; 12 – 22 e de 25 a 36cm. Na profundidade de 12 a 22 verifica-se o dano feitopelo preparo do solo no local.

e gradagem morro abaixo sem queima cobertura morta (SC)e com queima da cobertura morta (PC).

0

20

40

60

80

100

SC PC PN PDTratamentos

mm

h-1

Fig. 5. Efeito do tipo de preparo do solo na Velocidade de Infiltração Básica daágua no solo (VIB).

Efeito do manejo do solo com Tomate em duas declividades e em diferentes sistemas de manejo

020406080

100120140160180

A B C DTratamento

Per

da d

e S

olo

(ton

ha-1

) Caetés

Avelar

Fig. 6. Efeito da Declividade nas perdas de Solo. Microbacias de Caetés(30%) e Avelar (60%)

A figura 6 compara o efeito da declividade nas perdas desolo quando são mantidos os mesmos métodos de preparodo solo e manejo da cobertura morta. Verifica-se que asperdas de solo são muito maiores em Avelar, que apresentauma declividade de 60% em relação a microbacia de Caetéscom declividade de 30% (Kunzmann et al, 1998). Associa-do a declividade há o efeito de manejo do solo (com cobertu-ra morta) e do preparo do solo. Observa-se que quantomaiores forem os revolvimentos do solo e a incorporação /queima da matéria orgânica, maiores são as perdas de solo,favorecidas pelo efeito declividade.

0

10

20

30

40

0 a 11 12a 22 25 a 36

Prof. (cm)

Kg

ha-1

PC

PD

Fig. 7. Efeito do preparo do solo na formação do pé-de-grade no cultivodo tomate.

Bhering et al. (2006) afirmam que no primeiro ano de implan-tação do SPD em tomate, num Argissolo Vermelho-Escuro,os valores de infiltração e condutividade hidráulica do solosaturado não diferiram dos sistemas de preparo do solo comjunta de boi com uma e duas arações e uma gradagem. Osautores justificam que os efeitos não estão se expressandodevido a ser o primeiro ano de implantação do sistema dePlantio Direto e, também, devido ao preparo do solo ter sidofeito com arado tracionado com junta de boi, que obrigatori-amente, o preparo o solo é feito em nível. Esses dois últimosfatos promoveram efeitos menos deletérios do que se o pre-paro do solo tivesse sido feito com tração mecânica e nosentido da inclinação do terreno (morro abaixo)

5Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

Fertilidade e Nutrição de Plantas

As recomendações para adubação e correção da acidez dosolo e do alumínio tóxico devem ser feitas seguindo os resul-tados das análises de solo e com base nos livros específicossobre tomate. Entretanto, como princípio básico é recomen-dável que sejam coletadas amostras de solo denominadas deamostras compostas. Para isso, devem-se delimitar as áreasde plantio em glebas homogêneas e proceder a coleta deamostras simples (no máximo 10 amostras por hectares) emisturar em um balde limpo. As amostras devem sercoletadas até a profundidade de 20 cm. Em seguida deve-seextrair uma amostra com aproximadamente 0,5 kg, identificá-la e enviá-la a um laboratório credenciado e de confiabilidade.

A aplicação do corretivo do solo (calcário ou equivalente)deve ser feita na superfície do solo e em duas etapas. Meta-de da dose do corretivo antes da aração e a outra metadeantes da gradagem.

No sistema TOMATEC é recomendado uma adubação orgâ-nica na cova de plantio e, também, de adubos contendofontes de fósforo solúveis. Não há necessidade de se adici-onar adubos nitrogenados e potássicos neste momento.Uma alternativa que tem dados bons resultados é oparcelamento da adubação fosfatada, sendo aplicado 2/3 nacova antes do plantio e 1/3 na chegada de terra junto ao péda planta de tomate.

As adubações N - K de cobertura devem ser feitas,prioritariamente, parceladas, diluindo os adubos solúveis naágua da irrigação e mantendo as proporções de N-K emfunção do estádio de crescimento da planta (fase vegetativa,fase de florescimento e fase de frutificação e, finalmente, dematuração do fruto).

Os resultados apresentados a seguir mostram as alteraçõesquímicas no solo e na nutrição da planta com a adoção doPlantio Direto no Sistema TOMATEC.

O sistema TOMATEC e seus efeitosna fertilidade do solo e nutrição daplanta

Os trabalhos em nutrição e fertilidade com o sistemaTOMATEC demonstram que há um aumento progressivo dafertilidade do solo e na nutrição das plantas.

Segundo Souza (2002) a fertilidade do solo (figuras 8 e 9)e a extração de nutrientes (Carmo et al., 1996) com aadoção do SPD em olerícolas e, principalmente no tomate,possibilitaram um melhor desenvolvimento vegetativo, re-sultando em manutenção e/ou aumento das produtividadesdas lavouras em relação aos sistemas tradicionais de preparodo solo.

Os resultados de Souza (2002) mostram que os valores depH (figura 8) situaram-se na faixa de pH = 5,6 nos dezcentímetros superficiais do solo, o que é ideal para o cultivodo tomate. Nesses valores de pH, os conteúdos de Alumíniotóxico (Al+3) situaram-se abaixo de 0,3 cmolc.dm-3 (figura12), que é considerado como limite crítico para o bom de-senvolvimento vegetativo da maioria das culturas comerci-ais, inclusive do tomate.

4

4,4

4,85,2

5,66

SC PC PN PDTratamento

pH

0 - 5 cm

5 - 10 cm

Fig. 8. Valores de pH em função do tipo de manejo do solo

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

SC PC P N PD

Tratamento

cmo

l c 1

00g

0 - 5 cm

5 - 10 cm

Fig. 9. Concentração de Alumínio (Al+3) tóxico em diferentes sistemas demanejo do solo.

Carmo et al. (1996) avaliando o estado nutricional das plan-tas de tomate, por meio da diagnose foliar em quatro dife-rentes sistemas de manejo do solo verificaram que nos trata-mentos onde ocorreram as maiores perdas de solo, os teoresde nutrientes na planta eram menores nas parcelas onde astécnicas conservacionistas não foram aplicadas. Emcontrapartida, houve maior absorção de Nitrogênio (N), Fós-foro (P), Potássio (K), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg), sendoque os nutrientes N e o K, absorvidos em maior quantidadepelo tomateiro foram nas parcelas com a implantação dossistemas conservacionistas de solo e água, no caso o Plan-tio Direto.

Densidade de Plantio

Os espaçamentos entre sulcos de plantio podem variar de60cm a 1,00 metro e entre as plantas de 30 a 60cm, o quedeterminará o número de plantas por área plantada. Oespaçamento irá depender, basicamente, da cultivar ou vari-edade escolhida, do tamanho da área a ser plantada, dadeclividade do terreno, da mão-de-obra disponível e do sis-tema de irrigação utilizado.

6 Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

Nas extremidades dos sulcos de plantio são fincados mourões,conforme o espaçamento escolhido. Sobre os mourões é pas-sado um arame (no 12), como no sistema tradicional. A distân-cia do arame ao solo dependerá da variedade/cultivar a serplantada e do número de pencas/planta (10 a 12 pencas), nãodevendo, contudo, passar de 2,00m de altura, visando facilitara condução da planta e os tratos culturais.

Dependendo do comprimento dos sulcos, pode-se variar oespaçamento entre mourões dentro da linha de plantio. Esteespaçamento deve ser adequado para que o arame não cedacom o peso das plantas. Para se reduzir o custo commourões, pode-se aumentar o espaçamento entre os mesmose colocar estacas de bambu gigante “em pé”, nos intervalosentre os mourões, para apoiar e sustentar o arame.

Enquanto no sistema tradicional (estacas alternadas em “V“invertido), o espaçamento entre linhas e plantas permiteplantar entre 12.000 e 15.000 plantas/ha, no sistema decondução por fitas podem ser plantadas, dependendo doespaçamento, de 18.000 a 31.250 plantas/ha. Aumenta-se, ainda, consideravelmente o número de caixas por 1.000pés. Por exemplo, para um mesmo período de plantio (sa-fra), a cultura conduzida por fitas na UPEPADE, produziu 30% a mais que a média das outras lavouras que utilizaram osistema tradicional.

Na tabela 1 são mostrados alguns dos espaçamentos utiliza-dos suas correspondentes populações de plantas.

O sistema proposto de fertirrigação por gotejamento associaestas duas práticas em apenas uma. Neste caso o adubo éaplicado junto com a água de irrigação, aumentando, assim,a eficiência na aplicação e no parcelamento do mesmo.

Os principais componentes do sistema de irrigação porgotejamento são; Cabeçal de controle, Sistema injetor defertilizantes, Sistema de filtragem, Controle de pressão evazão e Canalizações – Linha principal, Linha de Derivação,Linha lateral e Gotejadores.

Principais vantagens do sistema• Permite a fixação do produtor na sua área, reduzindoo sistema itinerante de produção.

• Facilita a adoção do Sistema de Plantio Direto naPalha (SPDP).

• Contribui para reduzir o processo de erosão.

• Permite a rotação com qualquer cultura anual devidoa formação da faixa úmida na linha de plantio.

• Otimiza o uso da mão-de-obra na aplicação dos ferti-lizantes junto a água de irrigação.

• Permite maior parcelamento e uniformidade da aduba-ção dos adubos hidrossolúveis.

• Torna mais econômico e eficiente a aplicação e usode fertilizantes.

• Permite maior controle da aplicação da lâmina deágua em profundidade reduzindo a percolação e derivaem função das fases de crescimento da cultura.

• Complementa o manejo integrado de pragas e doen-ças, pois reduz o microclima úmido.

Principais desvantagens do sistemaAs principais desvantagens do sistema de gotejamento comsistema de fertirrigação consiste no alto custo inicial, nosproblemas de entupimentos dos emissores e/ou tubosgotejadores. Dois outros problemas podem ser relacionadoscomo o risco de salinização do solo e o requerimento de umprodutor mais especializado para o seu manejo.

Recomendações para o preparo da solu-ção nutritivaPara a utilização adequada do sistema de fertirrigação porgotejamento do tomate serão repassadas algumas recomen-dações técnicas para o preparo da solução nutritiva e de suaaplicação, que são descritas a seguir.

• A mistura dos fertilizantes deve ser feita lentamentedurante no mínimo 20 minutos.

Tabela 1. Quantidade de plantas por hectare no sistema detutoramento por fitas plásticas, em função dosespaçamentos entre linhas de plantio e entre plantas.

Espaçamento entrelinhas de plantio

Espaçamentoentre plantas

Área ocupadapor plantas

População ou densidadede plantio

(metro) (metro)* (m2) (pl/10.000m2)0,80 0,40 0,32 31.2500,80 0,50 0,40 25.0001,00 0,40 0,40 25.0001,00 0,50 0,50 20.0001,10 0,40 0,44 22.7001,10 0,50 0,55 18.100

Obs.: * Nos espaçamentos de 0,40m entre plantas, recomendada-se a condu-ção de uma haste principal por planta, enquanto que nos demais, pode-seoptar por fazer a condução de duas hastes principais por planta.

Irrigação por gotejamento

A cultura do tomate é muito exigente em tratos culturaiscomo a irrigação e adubação. O sistema atual de produçãode tomate de mesa utiliza sistemas de irrigação ultrapassa-dos denominado de mangueirão. Nesse sistema de irriga-ção, a adubação é feita toda semana com o uso de umacolher para aplicar o adubo na base da planta.

7Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

• Deve-se observar a formação de torrões ou aglomera-dos no fundo do tanque.

• A mistura deve ficar em repouso durante 20 minutose em seguida remover os flocos sobrenadantes.

• Deve observar a compatibilidade dos fertilizantes an-tes do preparo da calda.

• Deve-se misturar 50 e 70% do adubo à água dotanque de solução e depois completar o volume comágua (100%).

• Deve-se misturar primeiro os fertilizantes líquidos edepois os sólidos

Teste da JarraÉ sempre recomendável que o produtor proceda ao Teste daJarra, que tem a finalidade de assegurar uma verificação dasolubilização dos adubos utilizados na preparação da solu-ção nutritiva.

É recomendável o irrigante fazer o “teste da jarra” misturan-do, num recipiente menor (jarra), os fertilizantes na mesmaproporção que será usada no reservatório e esperar no míni-mo duas horas. Não havendo formação de torrões, a misturapode ser usada sem problemas.

Exemplo: O sistema de fertirrigação tem um reservatório de200 L onde pretende-se aplicar 20 kg de KCl branco. Nestecaso, deve-se fazer a redução na proporção de 1:10, ouseja, colocar em um recipiente de 20 L, 2 Kg de KCl. Se nãoformar de torrões após o tempo de duas horas, a misturapode ser usada. No caso de se utilizar adubos altamentesolúveis esse procedimento fica facilitado.

Preparo da solução e forma de aplicaçãoda calda de fertilizantesOs fertilizantes devem ser preparados antecipadamente, o queé denominado de preparo da solução estoque. Para realizaresta atividade é necessário fazer os seguintes procedimentos:

Deve-se usar de dois a três tanques para fazer a mistura.

• No tanque A misturar nitrato de cálcio, nitrato depotássio, nitrato de magnésio e micronutrientes.

• No tanque B misturar sulfato de amônio, ácidofosfórico e ácido nítrico.

• No tanque C pode-se colocar uma solução ácidapara controlar o pH da calda e para lavar o sistema deirrigação.

A aplicação da solução nutritiva deve ser feita em três etapas:

1ª etapa: aplicar somente a água de irrigação após um míni-mo 20 minutos. Esse tempo será função tempo de aplicaçãototal da lâmina de água, não podendo ser menor do que 20minutos para possibilitar um umedecimento do solo adequa-do para receber a solução nutritiva.

2ª etapa: aplicar a solução com a adubação durante 20 a 30minutos;

3ª etapa: aplicar somente a água de irrigação por no máximo30 minutos, possibilitando, assim, lavar as peças do siste-ma, aumentar a eficiência na distribuição da calda nutritiva eevitar a perdas dos adubos solúveis por lixiviação.

Obs: deve-se acompanhar o tempo de aplicação da soluçãode fertirrigação com um condutivímetro.

Tutoramento Vertical das Plantas

O tutoramento das plantas de tomate consiste na forma decondução da planta. No sistema tradicional o tomate é con-duzido por ripas de bambu, o que é denominado detutoramento envarado ou tomate estaqueado. Neste sistemaexistem três principais formas de condução das plantas detomate, que são: tutoramento em V invertido alternado,tutoramento em V invertido não alternado e tutoramentovertical com ripa de bambu.

No sistema TOMATEC, o tutoramento e a condução dasplantas de tomate são feitas por meio de uma fita especial,denominada de fitilho. O tutoramento com fitilho apresentadiversas vantagens em relação aos sistemas convencionais,como: maior aeração; menor incidência de pragas e doençasdevido a não utilização de material contaminado da lavouraanterior; maior incidência de luminosidade na cultura, me-lhorando a eficiência fotossintética das plantas; facilita aaplicação de agrotóxicos, aumentando a eficiência na pulve-rização e proporcionando maior cobertura das folhas e fru-tos; permite fazer duas operações em um, ou seja, conduzira planta e a desbrota; permite aumentar a densidade deplantio e, finalmente, reduz os custos de produção e com amão-de-obra.

Implantação do sistema com fitilho

Nas extremidades das linhas de plantio são fincadosmourões, que podem ser de eucalipto ou de bambu gigante.Sobre as estacas é passado um arame liso número 12 (omesmo utilizado no maracujá). A distancia do arame ao solopode variar entre 1,80 m a 2,00m, dependendo do númerode pencas que será conduzida a lavoura e da altura do produ-tor e visa facilitar a condução das planta e dos tratos culturais.

Para diminuir os custos iniciais da lavoura pode-se colocarmourões de eucalipto nas extremidades das linhas de plantio

8 Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

e estacas de bambus gigantes no interior das linhas deplantio. O espaçamento recomendado é de 10 metros entreas estacas com a utilização de ripas finas de bambu interca-ladas a cada cinco metros. Estas estacas servirão apenaspara evitar que o arame não ceda com o peso das plantas.

Quando as plantas estiverem com 25 a 30 cm de altura,inicia-se o tutoramento. O tutoramento é efetivado fazendoum laço bem folgado com a fita plástica na base da planta,enrolando a planta ao redor do fitilho. A outra extremidadedo fitilho é fixado no arame com outro laço, deixando umafolga de aproximadamente 20 cm. Com o crescimento daplanta, o fitilho é enrolado em torno do seu caule permitindosua sustentação, ao mesmo tempo em que se fazem aspodas necessárias (podas dos brotos, poda dos frutos dapenca e poda do ápice – ponteiro).

Manejo Integrado de Pragas - MIP

Segundo Rodrigues et al. (1991) a cultura do tomateiroapresenta um grande número de insetos-praga e doençasque provocam grandes perdas na produção. Essas pragasvêm sendo controladas por meio de um grande número depulverizações de pesticidas, o que acarreta desequilíbriosbiológicos, provocando o aparecimento de pragas secundá-rias e seleção de insetos resistentes. Para reduzir esses pro-blemas, desenvolveu-se o Manejo Integrado de Pragas (MIP)visando diminuir o uso de produtos químicos nosagroecossistemas, viabilizando o processo produtivo do to-mateiro com um desenvolvimento agrícola sustentável.

O MIP é uma das ferramentas fundamentais para a produçãodo TOMATEC. O MIP consiste no monitoramento do nívelde infestação de insetos-pragas na lavoura. Quando o nívelde infestação atinge o nível de dano econômico, o produtordeve utilizar produtos naturais ou químicos para efetuar ocontrole dos insetos-pragas na lavoura.

O Manejo Integrado de Pragas consiste da reunião de técni-cas de monitoramento de insetos, doenças e plantas dani-nhas visando o uso adequado dos defensivos agrícolas,associado ao controle cultura e biológico, resultado em umaprodução mais lucrativa para o produtor e de melhor qualida-de para o consumidor (Zander, et at. s.data).

No sistema TOMATEC foi utilizado o Manual do Monitor dePragas do Tomate, elaborado pela Criterium (Zander et al., s.d).

Segundo Zander et al., (s.data) e Rodrigues et al. (2001), oManejo Integrado de Pragas caracteriza-se por ser um siste-ma dinâmico que utiliza simultaneamente diversos métodose tecnologias de controle, resultando em benefícios econô-micos, ecológicos e sociais.

A amostragem das plantas deverá ser efetuada em 25 plan-tas para cada talhão de 4.000 plantas, ou seja, aproximada-mente uma para cada 160 plantas. As plantas amostradasdevem ser divididas em 5 pontos de coleta, com 5 plantascada, distribuídos conforme o caminhamento aleatório dasamostras em zigue-zague para o cultivo de tomate de mesa(Zander et al., s.d).

A amostragem das pragas é feita com um recipiente plásticobranco opaco de 20 cm de diâmetro e com 8 a 10cm dealtura. O local da planta a ser monitorada é função do seualvo de identificação, ou seja, do inseto-praga que se queridentificar. Na parte superior da planta (ponteiros) faz-se abatedura com a bacia para amostragem de Tripes, Pulgões,Mosca Branca e Traça. Nas folhas (terço médio da planta),faz-se a amostragem de Traça, Larva-Minadora e de Ácaros enos frutos (até 2,0 cm de diâmetro) faz-se a amostragem deBroca Pequena, Traça e Broca Grande (Zander et al., s.d).

A tabela 2 contém uma síntese das principais pragas, comoamostrar, níveis de danos e medidas de controle a seremrealizadas durante o MIP e as mais modernas opções dispo-níveis para o seu controle.

Ensacamento das Pencas

O ensacamento das pencas de tomate é uma prática quecomplementa as ações do MIP e que no sistema TOMATECfoi ampliada para a produção de um fruto onde os níveis deresíduos de agrotóxicos estivessem sempre abaixo do que alegislação permite e abaixo do nível de detecção (ND) dosequipamentos existentes no Brasil.

Para obter esses resultados foi desenvolvido um saco com aEmpresa SACOTEM com dimensões que pudessem manteros frutos de tomate ensacados durante todo o período dacolheita. O saco é de papel Glassyne, o mesmo utilizadopara ensacamento de outras frutas, como a goiaba e apre-senta dimensões aproximadas de 22 cm de largura por 30cm de comprimento.

O ensacamento deve ser feito quando da abertura da terceiraflor em cada inflorescência. Como ocorre a autofecundaçãona flor do tomate, a fecundação do órgão reprodutor femini-no. Nesse estádio de crescimento da flor, não há a formaçãodo fruto e, consequentemente, não há a possibilidade deataque das brocas pequenas e grandes.

Recomenda-se a poda de flores antes do ensacamento, dei-xando de cinco a seis flores em cada inflorescência. Essaprática é recomendada para possibilitar frutos maiores.

9Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

Nota: *nome vulgar; ** utilizar a bacia plástica; *** orientado por um agrônomo.

Tabela 2. Parâmetros para utilização do MIP em tomate. Adaptado do Manual do Monitor de Pragas do Tomate (Zander et al., s.d e Rodrigues et al., 2001).

Os resultados obtidos com o ensacamento proporcionaramo aproveitamento de praticamente 99% dos frutos produzi-dos, devido a eliminação das perdas causadas pelas pragasdos frutos, principalmente, em função da eliminação dosdanos causadas pela ação das brocas pequena e grande.

Resultados de análises de resíduos de agrotóxicos nos fru-tos, com a adoção do MIP e do ensacamento das pencas,estão apresentando resultados abaixo dos limites dedetecção dos equipamentos utilizados. Os níveis dedetecção são de até 0,067 mg/kg, ou seja, na faixa departes por bilhão (ppb), indicando, assim, a excelente quali-dade dos frutos obtidos com o sistema TOMATEC.

Pragas* Como amostrar** Nível de controle Medidas de controle***

Tripes Batedura de ponteiro Média de 1 vetor por ponteiro

Evitar o plantio em épocas favoráveis; erradicação de plantas doentes; aplicação de defensivos agrícolas específicos

Pulgões Batedura de ponteiro Média de 1 vetor por ponteiro

Usar telados em viveiros; erradicação de plantas doentes; aplicação de defensivos agrícolas específicos

Mosca Branca Batedura de ponteiro Média de 1 vetor por ponteiro

Usar telados em viveiros; erradicação de plantas doentes; aplicação de defensivos agrícolas específicos

Traça do tomateiro Ponteiros - Batedura de ponteiro*** Folhas – Procurar larvas vivas nas folhas do terço médio da planta Frutos- - Procurar larvas vivas/ovos em frutos de ± 2 cm de diâmetro

25% dos ponteiros e folhas com presença de larvas vivas 5% da plantas com larvas vivas/ovos nos frutos

Aplicação de inseticidas biológicos e fisiológicos; liberações de Trichogramma; aplicação de defensivos agrícolas específicos

Broca Pequena e Grande Procurar ovos em frutos de ± 2 cm de diâmetro

5% da plantas com ovos nos frutos

Ensacamento de pencas com papel glassyne; aplicação de inseticidas biológicos e fisiológicos; liberações de Trichogramma; aplicação de defensivos agrícolas específicos

Larva minadora Procurar minas com a presença de larvas vivas nas folhas do terço médio das plantas

25% de plantas com presença de larvas vivas

Aplicação de defensivos agrícolas específicos

Ácaros Presença de ácaros nas folhas do terço médio das plantas

10% de plantas com presença de ácaros

Aplicação de defensivos agrícolas específicos

Referências Bibliográficas

BERTOLINO, A.V.F.A. Influência do manejo na hidrologia desolos agrícolas em relevo forte ondulado de ambiente serrano;Paty do Alferes. RJ. Tese de doutorado. Universidade Federal doRio de Janeiro, Instituto de Geociências. 2004. 169p. Rio deJaneiro, RJ.

BHERING, S. B.; Influência do manejo do solo e da dinâmica daágua no sistema de produção do tomate de mesa: subsídios asustentabilidade agrícola do noroeste fluminense. UFRJ. Progra-ma de Pós-Graduação em Geografia. Tese de doutorado. 180p.2006.

CARMO, C.A.F.S., PALMIERI, F., EIRA, P.A., KUNZMANN, M.,COELHO, R.G., TORRES, G.; LEMOS, A.L. Avaliação dos teoresde N, P, K, Ca e Mg em folhas de tomateiro submetido adiferentes manejos do solo em Paty do Alferes, RJ. III WorkshopNacional de Agricultura Sustentável em Regiões Tropicais deRelevo Acidentado. Planejamento ambiental integrado das baci-as hidrográficas do município de Paty do Alferes. Boletim dePesquisa, 9. 1998. Rio de Janeiro, RJ.

GIORDANO, L. B.; SILVA, J. B. C. da; BARBOSA, V. Escolha decultivares e plantio. In: SILVA, J. B. C. da; GIORDANO, L. B.Tomate para processamento industrial. Brasília: Embrapa,2000. p. 36-59.

10 Recomendações Técnicas para a Produção do Tomate Ecologicamente Cultivado - TOMATEC

Exemplares desta edição podem ser obtidos naEmbrapa SolosEndereço: Rua Jardim Botânico, 1024 - JardimBotânico - Rio de Janeiro, RJ. CEP: 22460-000Fone: (21) 2179.4500Fax: (21) 2274.5291E-mail: [email protected]://www.cnps.embrapa.br/solosbr/conhecimentos.html

1a edição

Supervisor editorial: Jacqueline S. Rezende MattosRevisão de Português: André Luiz da Silva LopesEditoração eletrônica: Jacqueline S. Rezende Mattos

ExpedienteCircularTécnica, 33

KUNZMANN, M.; PRINZ, D.; PALMIERI, F.; COELHO, R.G.;GOUVEIA, R.F.; NÚÑEZ, J.E.V.; EIRA, P.A.; LEMOS,A.L.;PAULA, J.L. Avaliacão da perda de solo para diferentes manejosdo solo no município de Paty do Alferes, RJ: Um aspeto do projetoDESUSMO. III Workshop Nacional de Agricultura Sustentável emRegiões Tropicais de Relevo Acidentado. Planejamento ambientalintegrado das bacias hidrográficas do município de Paty do Alfe-res. Boletim de Pesquisa, 9. 1998. Rio de Janeiro, RJ.

SOUZA, J.M.P.F. de. Perdas de erosão e características físico-hídricas de Latossolo em função do preparo do solo em oleráceasno ambiente de Mar de Morros, Paty do Alferes (RJ). 83p.2002. Instituto de Agronomia. UFRRJ. Rio de Janeiro, RJ.

RODRIGUES, C.M.; FERNANDES, F.R.; da SILVA, W.A.; CAR-VALHO, G.A.; MALUF, W.R. Manejo integrado de pragas dotomateiro. Boletim Técnico de Hortaliças, 68. 1ª Edição. UFLA.Viçosa, MG. 2001.

ZANDER, R.; SILVA, L.V.; RODRIGUES FILHO, I.L.;MARCHIORI, L.C. Manual do monitor de pragas do tomate.Elaboração: Criterium. Sem data.