receita para infelicidade -...

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CIRCUITOMATOGROSSO CUIABÁ, 27 DE NOVEMBRO A 3 DE DEZEMBRO DE 2014 CULTURA EM CIRCUITO PG 7 www.circuitomt.com.br 8 Rosemar Coenga é doutor em Teoria Literária e apaixonado pela literatura de Monteiro Lobato [email protected] ALA JOVEM Por Rosemar Coenga FÁBULAS ITALIANAS, ITALO CALVINO COACHING Por Iracema Borges Iracema Irigaray N. Borges, mãe de 3 anjos, ama comer tudo com banana, coach pelo ICI- SP, sonha em dar cursos na África, Índia, EUA, onde o destino a levar. [email protected] [email protected] RECEITA PARA INFELICIDADE De acordo com a jornalista Rose Domingues, que vem estudando a felicidade, “Como eu faço para ser feliz? Abandone o ‘MUST’ (termo em inglês que significa obrigação, dever)! Segundo o polêmico e irreverente Albert Ellis, um dos fundadores da terapia cognitiva comportamental, a fonte de todo sofrimento está em nós mesmos e na nossa maneira de enxergar e interagir com o mundo. “Sempre que inicio o assunto em sala de aula, os alunos arregalam os olhos: ‘Receita para infelicidade’, como assim?”. Explico que “emoção e comportamento negativo não são causados por eventos, mas pela Crença Irracional rígida e extrema sobre os eventos”. Crenças irracionais acontecem quando as preferências se tornam exigências, ou seja, a receita para infelicidade ficaria assim: expectativa irreal (fulano TEM que) + rótulo (senão ele É), ex. João TEM que entregar o relatório no prazo senão ele é um incompetente. Se trocarmos o TEM que pelo PREFIRO, muita coisa já muda de figura. Ninguém TEM que nada, é apenas uma preferência, e, quando rotulamos, passamos a buscar evidências que o comprovem este rótulo, ignorando todos os outros comportamentos. O primeiro passo para lidar com a exigência é aceitar que ela é apenas isso, uma exigência, não é o fim do mundo e ninguém morre com isso, é apenas um inconveniente. Quer ser mais feliz? Substitua o TEM que pelo PREFIRO. Muita gente não sabe, mas alguns dos contos fantásticos que mais conhecemos são, na verdade, parte das histórias populares de países europeus como Alemanha (através dos Irmãos Grimm) e França (principalmente nos contos de Perrault). Apesar de pouco conhecidas por nós, as fábulas da cultura italiana também são super-ricas e, até pouco tempo atrás, bem pouco havia sido documentado sobre elas. Fábulas italianas é um livro de Italo Calvino. O livro foi uma encomenda do editor Einaudi que, observando a prevalência dos contos dos Grimm e de Perrault, decidiu que a Itália deveria também ter alguém que contasse as histórias fantásticas de seu povo. Calvino foi o encarregado dessa tarefa. Durante dois anos, Italo coletou histórias passadas de boca a boca nos quatro cantos da Itália, além de pequenos trechos presentes em livros publicados de outros autores. Ao todo, são 200 contos e narrativas fantásticas que preenchem as páginas de Fábulas Italianas. Calvino diz ter alterado muito pouco os textos, e isso é bem facilmente percebido na oralidade das fábulas. Sem ornamentos desnecessários, as histórias são quase relatos objetivos do que as pessoas veem – com o pequeno detalhe de termos como personagens bruxas, reis, curandeiros, homens-pássaro e animais falantes. Como toda boa fábula, as histórias contadas por Calvino deixam lições de moral – muitas vezes pouco explícitas – que nos colocam para refletir nossas próprias escolhas e atitudes. Calvino diz em determinada parte do epílogo: “penso que seja isto: as fábulas são verdadeiras ” – e é exatamente essa a impressão que fica. Muitas dessas histórias passam de geração a geração há séculos, sem que alguém coloque esses relatos no papel e deixe esses conhecimentos ao alcance de todos. Fábulas Italianas é uma bela representação da cultura de um povo da forma mais bonita e acessível existente: pelas palavras do próprio povo.

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CIRCUITOMATOGROSSOCUIABÁ, 27 DE NOVEMBRO A 3 DE DEZEMBRO DE 2014

CULTURA EM CIRCUITO PG 7www.circuitomt.com.br

8

Rosemar Coenga édoutor em Teoria Literária e

apaixonado pela literatura deMonteiro Lobato

[email protected]

ALA

JOV

EMPor R

osemar C

oenga

FÁBULAS ITALIANAS, ITALO CALVINO

CO

AC

HIN

GPor Iracem

a Borges

Iracema Irigaray N. Borges,mãe de 3 anjos, ama comer tudo com

banana, coach pelo ICI- SP, sonhaem dar cursos na África, Índia,EUA, onde o destino a levar.

[email protected]@hotmail.com

RECEITA PARA INFELICIDADEDe acordo com a jornalista Rose

Domingues, que vem estudando afelicidade, “Como eu faço para ser feliz?Abandone o ‘MUST’ (termo em inglês quesignifica obrigação, dever)! Segundo opolêmico e irreverente Albert Ellis, um dosfundadores da terapia cognitivacomportamental, a fonte de todo sofrimentoestá em nós mesmos e na nossa maneira deenxergar e interagir com o mundo. “Sempreque inicio o assunto em sala de aula, osalunos arregalam os olhos: ‘Receita parainfelicidade’, como assim?”. Explico que“emoção e comportamento negativo não sãocausados por eventos, mas pela CrençaIrracional rígida e extrema sobre oseventos”. Crenças irracionais acontecemquando as preferências se tornamexigências, ou seja, a receita parainfelicidade ficaria assim: expectativa irreal(fulano TEM que) + rótulo (senão ele É),ex. João TEM que entregar o relatório noprazo senão ele é um incompetente. Setrocarmos o TEM que pelo PREFIRO,muita coisa já muda de figura. NinguémTEM que nada, é apenas uma preferência,e, quando rotulamos, passamos a buscarevidências que o comprovem este rótulo,

ignorando todos os outroscomportamentos. O primeiro passo paralidar com a exigência é aceitar que ela éapenas isso, uma exigência, não é o fim domundo e ninguém morre com isso, é apenasum inconveniente. Quer ser mais feliz?Substitua o TEM que pelo PREFIRO.

Muita gente não sabe, mas algunsdos contos fantásticos que maisconhecemos são, na verdade, parte dashistórias populares de países europeuscomo Alemanha (através dos IrmãosGrimm) e França (principalmente noscontos de Perrault). Apesar de poucoconhecidas por nós, as fábulas dacultura italiana também são super-ricase, até pouco tempo atrás, bem poucohavia sido documentado sobre elas.

Fábulas italianas é um livro de ItaloCalvino. O livro foi uma encomenda doeditor Einaudi que, observando aprevalência dos contos dos Grimm e dePerrault, decidiu que a Itália deveriatambém ter alguém que contasse ashistórias fantásticas de seu povo.Calvino foi o encarregado dessa tarefa.

Durante dois anos, Italo coletouhistórias passadas de boca a boca nosquatro cantos da Itália, além de pequenos

trechos presentes em livros publicadosde outros autores. Ao todo, são 200contos e narrativas fantásticas quepreenchem as páginas de FábulasItalianas.

Calvino diz ter alterado muito poucoos textos, e isso é bem facilmentepercebido na oralidade das fábulas. Semornamentos desnecessários, as histórias

são quase relatos objetivos do que aspessoas veem – com o pequeno detalhede termos como personagens bruxas,reis, curandeiros, homens-pássaro eanimais falantes.

Como toda boa fábula, as históriascontadas por Calvino deixam lições demoral – muitas vezes pouco explícitas –que nos colocam para refletir nossaspróprias escolhas e atitudes. Calvino dizem determinada parte do epílogo: “pensoque seja isto: as fábulas sãoverdadeiras” – e é exatamente essa aimpressão que fica.

Muitas dessas histórias passam degeração a geração há séculos, sem quealguém coloque esses relatos no papel edeixe esses conhecimentos ao alcance detodos. Fábulas Italianas é uma belarepresentação da cultura de um povo daforma mais bonita e acessível existente:pelas palavras do próprio povo.