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Reatividade do grupo carbonila: Construção do esqueleto carbônico por condensa condensa condensa ç ç ç ões ões ões Armin Isenmann Parte I: os princípios da homocondensação e retro-síntese

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Reatividade do grupo carbonila:Construção do esqueleto carbônico

por condensacondensacondensaçççõesõesõesArmin Isenmann

Parte I: os princípios da homocondensação e retro-síntese

�Reatividade do grupo carbonila (incl. equilíbrio ceto-enol).

�O alvo 1,3-difuncional, a partir dos componentes

pseudo-ácido e aceitador (incl. descarboxilações).

�Manipulação das reatividades em condensações mistas:

1. Utilização de um pseudo-ácido com baixa tendência de condensação

consigo mesmo e/ou um aceitador sem α-H. (incl. Aminometilação de Mannich)

2. Desativação do pseudo-ácido por formação de uma imina.

3. Ativação do pseudo-ácido pela estabilização da forma enólica.

4. Emprego de um pseudo-ácido duplamente ativado (condensações de

Knoevenagel).

5. Com bases muito fortes se consegue desprotonar o pseudo-acido

quantitativamente em uma etapa preliminar.

Reatividade do grupo carbonilaDefinição:

Condensação é a unificação de dois compostos orgânicos sob formação de uma nova ligação carbono-carbono.

Ampliação do esqueleto carbônico a partir

de um substrato A com carbono eletrofílico

e um substrato B com carbono nucleofílico.

Caso A = B : “Homocondensação” ou “autocondensação”

A ≠ B : “Condensação mista” ou “condensação cruzada”

Um carbono positivado (= eletrófilo) reage com um carbono carbanóide (= nucleófilo).

O grupo carbonila pode providenciar os dois componentes:

CH

O

C

OH

Tautomeria

Base, - H+

C

O-

MesomeriaC

O

Enolato

Enol

Carbono nucleofílicoem posição αao grupo carbonila

Carbono positivado:Efeito do oxigênio –I >> +M

C

O

δ+

TautomeriaDeslocamento reversível de um próton e uma ligação π ao mesmo tempo.Não é uma mesomeria, mas sim, um verdadeiro equilíbrio entre dois compostos isoméricos.

Tautomerias são bastante comuns na química orgânica•ceto - enol •azometina (= imina = base de Schiff) – enamina•amida (ou lactama) – ácido imido carboxílico•endiol - α-hidroxicetona (na vitamina C)•nitro - aci•nitroso – oxima (aldoxima ou cetoxima) •ácido hidroxâmico – carbiminodiol

Formas da catálise da tautomeria ceto-enólica

R CH C

H O

R CH C

OR CH C

O

R CH2 C

OHR CH2 C

OH

R CH C

OH

E

δ+

δ−

+ H+

- H+

- H+

- H+

- H+

+ H+

+ H+

+ H+

forma ceto forma enol

Cátion carbênio (oxônio)

Ânion enolato

BaseNu-

H+(ou E+)

Base

E+

O enolato e também o enol são carbanóides em posição α ao grupo C=O. São sujeitos de ataque por eletrófilos.

O equilíbrio ceto-enol é acelerado por ácidos e por bases. Em qualquer caso a tautomeria passa por uma forma intermediária carregada. Portanto, a polaridade do ambiente (solvente, teor de água, presença de sais) acelera esta reação.

Em compostos carbonilados simples a forma ceto édominante. Acetona: apenas 0,00025% em propenol.

Comprovantes para a forma enólica:�A espectroscopia r.m.n. revela uma posição especial dos sinais 1H (δ de até17ppm)�Deslocamento das bandas de absorção no espectro infra vermelho�O composto carbonilado troca H por D em posição α, ao colocá-lo em D2O ou C2H5OD

�Pode-se adicionar bromo na dupla ligação da forma enólica

A velocidade da troca de hidrogênio, entre oxigênio e carbono α é bastante baixa. Titulação com Br2: A reprodução do enol pelo equilíbrio dinâmico dentro do tempo experimental édesprezível, desde que se trabalha abaixo da temperatura ambiente.

CH C

O H

Br Br

- Br-- H+CH

Br

C

O H

CH

Br

C

O

CH2 C

O+ Br2

forma enólica:

forma ceto:

Titulação

Observação: no ácido carboxílico também pode-se discutir uma tautomeria. Porém, a adição de bromo não funciona por que a densidade eletrônica deste “enol” é muito baixa. Portanto, a α-bromação precisa da presença de um catalisador.

(Reação de Hell-Volhard-Zelinsky)

O que estes três compostos têm em

comum?

OHOH OAc

NH2

O

OOHOH OAc

NH2

O

O

11

12

2 233 3

Grupos funcionais nos carbonos 1 e 3.

O alvo 1,3-difuncionalRetro-síntese (símbolo ⇒):

1. Analisar o esqueleto carbônico da molécula alvo (TM = Target Molecule)

2. Transformar todos grupos funcionais em oxigênios de NOX certo usando transformações entre grupos funcionais (FGI = Functional GroupInterconversion) ou desconexões C-X.

3. Desconectar dois carbonos do esqueleto, geralmente os mais ramificados e mais centralizados, usando uma reação de condensação.

•1,3-bifuncionais e compostos carbonilados α,β-insaturados (= sistema de Michael)•1,5-bifuncionais•1,2-bifuncionais•1,4-bifuncionais•1,6-bifuncionais

1,3 e 1,5 podem ser feitos a partir de sintons com polaridade natural.

R1

O

R2

OH

R1 CH2

O

R2

OH

+

R1

O

CH2

Alvo 1,3-bifuncionalAldol Aldeído (protonado) =

sinton eletrófilo

Enolato = sinton nucleófilo

Sintons naturais e reagentes para condensações

Nucleófilo: enolato ou enol

R

O

X

X = H, OEt, Alq, Ar

Sinton Reagente

R

O

X

Eletrófilo:

X = Cl, OEt

Sinton Reagente

RCH

OH

RCH

O

R1

R2

OH

R1

R2

O

RC

O

RC

X

O

Sinton Reagente

O

R

O

R

Sistema conjugado(sistema Michael)

Sintons não-naturais que levam aos alvos 1,2 e 1,4-difuncionais:

R

O

R

O

R

O

⇐ Alvo 1,5-difuncional

Segue: Tabela de ácidos C-H e as bases necessárias para sua desprotonação

Fonte: S. Warren, Organic Synthesis - The Disconnection Approach, Wiley & Sons, Chinchester 1982, p. 143

Nucleófilo: Enolato, ou mais em geral, um carbono desprotonado.

Compostos 1,3-difuncionais: �1,3-dicarbonila�β-hidroxicarbonila (= aldol) �Carbonila α,β-insaturada

Nucleófilo em todos: enolato

vêm da acilação do enolato

→ Condensação de Claisen

Catalisador = base (muitas vezes EtO-); Reagente acilante (= eletrófilo): éster ou cloreto do ácido carboxílico

1,3-Dicarbonilas

Exemplos

• Como fazer

OEt

O O

?

C

O O

OEt

Alvo

a

ba

b

O

C

O

OEtEtO+

OEt

O

C

O

OEt

Base

CC

OO

OEtEtO

Éster adípico

ruim: separou dois fragmentos desiguais

bom: só uma molécula de partida, simétrica = limpociclização, intramolecular = fácil, rápido

Exemplo 2: inclui decomposição do composto 1,3-dicarbonila

R C

O

OEt EtO-

R

CO OEt

O

R2 x

hidróliseH2O / OH-

descarboxilação H+,

R

O

R

Rota padrão para cetonas simétricas.

Excurso:Como funciona a descarboxilação térmica?1) Liberar o ácido carboxílico livre (= hidrólise do éster)2) Aquecer e desprender o gás carbônico.

O

CC

C

OH

O

- CO2

C

OH

C C

O

C H

Enol

Regra geral:Um ciclo de 5 ou 6 membros é uma conformação favorável. Caso o estado de transição pode ser formulado assim,A energia de ativação é baixa, então a reação é fácil e rápida!

β-hidroxicarbonila

eletrófilo = aldeído ou cetona

Mais reativo é o aldeído (Porquê? Duas respostas certas.)

Exemplo: • Como fazer

OHO

?

O HO

Alvo

O HO

Alvo

12

3O HO

Alvo

12

3

O O

+

Síntese: O

Alvo2Base

Base: Ba(OH)2 = insolúvel; retirada imediata do alvo da zona reativa

A condensação é realizada favoravelmente no extrator Soxhlet:

Remoção de um dos produtos = Técnica mais importante

de levar reações equilibradas até altos rendimentos!

Controle termodinâmico

Em condensações:

1. Tirar H2O (subproduto de enonas, feitas por condensação aldólica, cat. ácida ou por condensação de Knoevenagel)

2. Desprender CO2 , a partir de intermediários β-cetoácidos e 1,3-diácidos

3. Depositar o produto 1,3-dicarbonila em forma de complexo num cátion duro:

O OBase

O O

Sal, insolúvel

Composto carbonilado α,β-insaturado

É muito fácil a desidratação da β-hidroxicarbonila (= aldol):

1) o próton a ser removido em posição α é enólico

2) o produto é estabilizado por conjugação (∆H (conjugação) ≈ 15 - 17 kJ⋅mol-1)

OH

CH

O

R

H

H+OH2

CH

O

R

H- H2O

- H+

CH

O

R

Reação anterior, esta vez sob catálise ácida:

não pára na β-hidroxicarbonila

H3C

C

O

CH C

CH3

CH3

"Óxido de mesitila"

2 H3C C

O

CH3

[ H+ ]

- H2O

Análise: O

O

O

+

Outro exemplo: O O

O

Onde quebrar?

O O

O

OO

O

O

+

Condensações mistas

Nucleófilo (= componente metilênico = pseudo-ácido) é diferente do eletrófilo (= carbonílico = aceitador).

Objetivo principal é direcionar as reatividades, isto é, marcar o papel do eletrófilo em um composto carbonilado e do nucleófilo, seletivamente, em outro composto carbonilado.

Assim se forma somente um produto.

Problema: Os dois compostos carbonilados têm reatividades muito semelhantes!

PhO

Alvo problema

PhO

PhO

+CHO

CH3

Alvo problemaSíntese não funciona bem!

1. Quem enoliza?

2. No caso da cetona, em que lado enoliza?

3. Quem é eletrófilo?

(Esses problemas se anulam ao usar dois componentes simétricos e/ou idênticos.)

As reatividades como nucleófilo e eletrófilonão se opõem, mas geralmente aumentam juntos:

Amida Éster

Cetona Aldeído

Anidrido Cloreto de acila

Eletrofilia

Enolizabilidade

Régio-seletividade em cetonas assimétricas

Controle cinético vs. Controle termodinâmico

Exemplo: autocondensação da etilmetilcetona

O Base

ÁcidoOH

O O OH

O

OH

O

O

Ambiente básico Ambiente ácidoVia única Sistema equilibradoTemperatura baixa Temperatura altaProduto mais rápido Produto mais estável

Porém:A escolha das condições certas é delicada! Melhor usar uma das...

Reatividade do grupo carbonila:Construção do esqueleto carbônico

por condensacondensacondensaçççõesõesõesParte II

Técnicas de manipulação das reatividades em

CondensaCondensaçções Mistasões Mistas

Técnicas de manipulação das reatividades em condensações mistas

1. Utilização de um pseudo-ácido com baixa tendência de condensação consigo mesmo e/ou um aceitador sem α-H.

2. Desativação do pseudo-ácido por formação de uma imina.

3. Ativação do pseudo-ácido pela estabilização da forma enólica (enoléter / enamina).

4. Uso de um pseudo-ácido duplamente ativado (= condensações de Knoevenagel).

5. Com bases muito fortes se consegue desprotonar o pseudo-acido

quantitativamente em uma etapa preliminar.

Nitroalcanos são bastante usados em condensações mistas: só podem ter o papel do pseudo-ácido.

Técnica 1: usar compostos carbonilados não-enolizáveis

R1

O

R2R1,2 = H, OEt, Cl, Ar, Bu-t, COOEt

Exemplos:

O

H EtO

O

Cl

O

EtO

O

OEt

Condensação de Claisen-Schmidt

Cetona + aldeído aromático

H3C C CH2

O

+

O

C

H

ArH+

- H2O

H3C C CH2

O

CH

O-

Ar H3C C CH2

O

CH

OH

Ar

H3C C CH

O

CH Ar

Cetona α,β− insaturada

Estratégia principal para os derivados do ácido cinâmico.

Síntese do ácido cinâmico segundo Perkin

Anidrido + benzaldeído

Base: AcetatoSem solvente adicional o acetato age como base forte!(em soluções aquosas, por outro lado, os sais de ácidos carboxílicos são bases fracas, devido a camada de solvente em volta dos ânions.)

H3C C O C

O O

CH3

+ AcO-

- AcOH

O

C

H

C6H5

H3C C O C

O O

CH2C6H5 CH

CH2

CO

OC

OH3C

O-

- AcOHC6H5 CH CH COO-

Sal do ácido cinamômico-Eliminaçãoβ

C6H5 CH

OC

CH

H

O

H3C

C

O-

O

Condensação com o éster do ácido fórmico

Ph C

O

CH3 + H C

O

OC2H5

Aceitador Acetofenona= pseudo-ácido

[ C2H5O- Na+ ]

Ph C

O

CH2 CH O + HOC2H5

Ph C

O

CH2 CH

O-

OC2H5

Condensação com o éster do ácido oxálico

O éster do ácido oxálico, além de não ter um grupo metileno em posição α, é um aceitador mais forte do que o éster simples. Isto se deve à presença do segundo grupo acila em posição vizinha = retirador de elétrons. Assim o carbono do grupo carboxílico fica mais positivado (= mais eletrofílico) ainda. Portanto, ele pode ser usado em condensações mistas com cetonas ou outros ésteres – o produto sempre fica definido.

H3C CH2 C

O

OC2H5

+ C2H5O C

O

C

O

OC2H5

AceitadorPseudo-ácido

+ C2H5O- Na+

- C2H5OH CH C

O

C

O

OC2H5H3C

COOC2H5

Ao aquecer o produto primário desta síntese acima de 100 °C acontece uma descarbonilação(essa degradação é típica somente para os compostos 1,2-dicarbonilados).

Produto: Derivado do ácido malônico 2-substituído

Esta estratégia serve para produzir β-oxoéstere ésteres malônicos mono-substituídos - que não podem ser obtidos de maneira satisfatória via alquilação do próprio éster malônico. (Porquê?)

CH C

O

C

O

OC2H5H3C

COOC2H5

120 °C - CO

Éster 2-metilmalóico

H5C2O C

O

CH

CH3

C

O

OC2H5

Condensação com o éster do ácido carbônico

Com cetonas para β-oxoésteres, com nitrilas para ésteres do ácido cianoacético.

Atenção: os ésteres do ácido carbônico são cancerígenos!

+ C2H5O- Na+

- C2H5OH

O

α + C2H5OC

O

OC2H5

δ+

OH

COC2H5

ODietilcarbonato

Outras condensações mistas com ésteres

Mais sensível às condições reacionais (solvente, temperatura, base), mas também viável é a maioria das condensações mistas entre ésteres e cetonas e entre ésteres e nitrilas. Nestes casos, o éster tem predileção de ser o componente carbonílico:

R1 C

O

OR2

R3 CH2C

R4

O

R1

C

O

CH

R3

C

O

R4+ R2OH

-dicetona

R1 C

O

OR2

R3 CH2 C NR1

C

O

CH

R3

CN

+ R2OH

-oxocarbonitril

β

β

Restrições:Rendimentos típicos em todas essas condensações: cerca de 50%. Porquê?

O produto da condensação é quase sempre um composto duplamente ativado (= 1,3-dicarbonilado) ⇒ reagem com muita facilidade como pseudo-ácidos.

Consequência: desprotonação, condensação com mais um componente carbonílico, “supercarbonilação”.

Para reprimir esta reação paralela deve-se usar:1) pequena quantidade de base (no exemplo acima: etóxido)2) evitar um excesso do componente carbonílico na mistura

Além disso:Todos os compostos 1,3-dicarbonilas podem sofrer “clivagem de ácido”(= reversa da condensação; ocorre sob catálise básica)

e

“clivagem de cetona”(= descarboxilação de ácidos carboxílicos β-substituidos),

especialmente durante um tratamento prolongado a temperaturas altas e sob influência de uma base (que é essencial na condensação de Claisen).

Caso especial: Formaldeído

• F. é reativo demais• podem ligar-se mais de um F. (= aceitador) ao componente metilênico• F. polimeriza• F. disproporciona aos poucos (Cannizzaro)

Muitas desvantagens, mas existe uma condensação mistaque aproveita da reatividade do formaldeído:

Síntese do pentaeritritol

OH

OH

HO

HO

Síntese de pentaeritritol

Acetaldeído + formaldeído + base

H3C C

O

H

+ H2C O

Aceitador(excesso)

[ Base ] + B-

- HB

H2C O

- HCOOH

CH2

CH2

C

O

H

HOCH

CH2

C

O

H

HO

H2C O(HO CH2)3C C

O

H RedoxPentaeritrita

Pseudo-ácido

Base

C

CH2OH

CH2OHHOCH2

CH2OH

Existe um N-derivado do F. ainda mais reativo!

Aminometilação de Mannich

R C

O

CH3H+

+ H+

- H2O

+ Base

R C

OH

CH2

H3C

NH + H2C

H3C

O

H3C

N

H3C

CH2

δ−

δ+

R C

O

CH

H

CH2 N

CH3

CH3

-EliminaçãoβCiclo catalítico - (CH3)2NH

R C

O

CH CH2

Base de Mannich

∆"Imônio"

Além dos pseudo-ácidos mencionados podem também ser usados compostos aromáticos que são ativados no sentido substituição eletrofílica. Isto podem ser fenóis ou hompostos heterocíclicos. Um exemplo seja a síntese da gramina, por aminoalquilação de indol:

N

HIndol

+ HCHO + HN(CH3)2- H2O N

H

CH2 N(CH3)2

Gramina

Todas as etapas reacionais ocorrem sob condições extremamente brandas. Algumas condensações de Mannich funcionam sob condições “in vivo”!

• A base de Mannich pode ser isolada e armazenada, especialmente em forma do seu hidrocloreto.

• Quando for preciso, a base de Mannich pode ser degradada formandocetona α,β-insaturada com grupo metileno final que é

• muito reativa e instável; difícil preparar por outro método (Wittig) (= eletrófilo em uma adição de Michael ou dienófilo em ciclizaçõesde Diels-Alder,...)

• A degradação é bastante facilitada pela quaternização do N da basede Mannich. Assim sai uma amina terciária.

(= variação da eliminação de Cope).

O

CH2

H

NR2

MeI

Quaternização

O

CH2

H

MeNR2

- MeNR2

O

CH2

Grupo metilenoexocíclico

Técnica 2: Desativação do componente metilênico por aminas primárias

(Wittig 1964)Aldeído + amina primária + base forte + cetona

A transformação do aldeído em uma base de Schiff reduz drasticamente a sua capacidade como componente carbonílico. Esta função agora pode ser preenchida por uma cetona que em si não é tão eletrofílica.

Etapa 1: desprotonar a base de Schiff = ativar o componente metilênico.

Etapa 2: adição do eletrófilo (que pode ser fraco).

H3C CHO + H2N H3C CH N+ LDA

- LDAH+

1) (C6H5)2CO

2) H2O

- LiOH

+ H+ / H2O

- C6H11 NH2

H2C CH N

C6H5

C

OH

C6H5 CH2 CH N

- H2O

(C6H5)2C CH CHO

Técnica 3: Estabilização da forma enólica / enolatoPrincípio: Estabilizar o enol = fortelecer o papel metilênico do composto

Enolálcool = instável ⇒ Transformação do componente nucleofílicoem enamina ou (silil)-enoléter

Papel da amina secundária / do cloreto de silila: Ativadores!O

Me3SiClO

SiMe3

Amina sec.

NR2

Nucleófilo ruim!

Enamina Silil-enoléter

Exemplo 1:Componente metilênico: cetona; componente carbonílico: aldeído.

O

NH

O

H+

N

O

CHO

N

O

Hidrólise

O

Morfolina= amina sec.

Exemplo 2:Silil-enoléteres reagem com alta regiosseletividade e sob condições brandas, na presença de ácidos de Lewis (neste exemplo: TiCl4).

C6H5 CH2 C

O

H

+

O Si(CH3)3

δ−δ+

+ TiCl4

- (CH3)3SiCl

H2OC6H5 CH2 CH

OOTiCl3

C6H5 CH2 CHOOH

68%

(Segundo efeito do grupo trimetilsilil: hidrofobização.)

Técnica 4: Pseudo-ácidos com grupo metileno duplamente ativado (Condensação de Knoevenagel)

H2C

retirador 1

retirador 2

Dois vizinhos retiradores de elétrons ⇒ elevada acidez C-H, pois a carga negativa da base conjugada pode ser distribuída, através de mesomeria, em cima dos dois vizinhos.

Três efeitos contribuem à reatividade elevada deste grupo metileno:1) O grupo –CH2 – torna-se muito mais ácido:

pKa(carbonila simples) ≈ pKa(1,3-dicarbonila) - 10.

2) A troca entre a forma ceto e enólica é acelerada.

3) Mais estabilidade termodinâmica do enol, então mais enol no equilíbrio.

Ponto 1 e 2: Acidez C-H e rapidez da enolização

R3C Hk1

k -1R3C + H+ Ka =

k1

k -1

Composto duplamente ativado pKa k1 (s-1)

H2C(NO2)2 Dinitrometano 4 8,3 ⋅ 10-1

H2C(COCH3)2 Acetilacetona 8,8 1,7 ⋅ 10-2

H3C-NO2 Nitrometano 10,2 4,3 ⋅ 10-8

H3CCO-CH2-COOC2H5 Acetoacetato de etila 10,7 1,2 ⋅ 10-3

H2C(CN)2 Dinitrila do ácido malóico 12 1,5 ⋅ 10-2

H2C(COOC2H5)2 Dietilmaloato 13,3 2,5 ⋅ 10-5

Em comparação:H3C-CO-CH3 Acetona 20 4,7 ⋅ 10-10

Todos esses compostos (menos a acetona) podem ser desprotonados, quase quantitativamente, por NaOH. (pKa da água (ácido do OH-) ≅ 15).

Possíveis retiradores ao lado do grupo –CH2 – :

� carbonila

� carboxila (ácido, éster, amida)

� ciano

� nitro

� também apóiam o carbânion: sistemas aromáticos

3a Explicação da alta reatividade como pseudo-ácido: A forma enólica é estabilizada, podendo até prevalecer no equilíbrio com a forma ceto.

Isso se deve à ponte de hidrogênio intramolecular:O

CCH

C

OH

Forma enólica do composto dicarbonila

O

CCH2

C

O

Composto % enol (na fase líquida, ausência de solventes)

H3C-CO-CH3 Acetona 1,5 ⋅ 10-4

H2C(COOC2H5)2 Dietilmalonato 7,7 ⋅ 10-3

NC-CH2-COOC2H5 Cianoacetato de etila 2,5 ⋅ 10-1

C6H10O Ciclohexanona 1,2

H3CCO-CH2-COOC2H5 Acetoacetato de etila 8,0

H3CCO-CH(C6H5)-COOC2H5 30,0

H2C(COCH3)2 Acetilacetona 76,4

C6H5CO-CH2-COCH3 Fenilacetilacetona 89,2

O teor da forma enólica depende da temperatura e sensivelmente do solvente. Observa-se a estabilização da forma enólica por solventes apolares. (O efeito de desaceleração por estes solventes é desprezível)

Acetilacetona:

Solvente % enol

H2O 15

CH3CN 58

sem solvente, em fase líquida 80

C6H14 92

sem solvente, em fase gasosa 92

Os seguintes compostos têm relevância na síntese:

N C CH2 C N

C2H5 O C

O

CH2 C N

C2H5 O C

O

CH2 C

O

OC2H5

C6H5 CH2 C N

H3C C CH2

O

C

O

CH3

H3C C CH2

O

C

O

OC2H5

(RO)2P

O

CH2 C

O

OR

Dinitrila do ácido malônico

Nitriloacetato de etila

Dietilmaloato

Cianeto de benzila

Acetilacetona

Acetoacetato de etila

Éster do ácido fosfônico

O último composto tem importância na síntese de olefinos a partir de compostos carbonila, segundo Horner e Emmons, variação da reação de Wittig.

Estes compostos usados em condensações, sempre representam o componente pseudo-ácido. Sempre ocorre uma dupla-condensação com o componente carbonílico, seguindo o esquema:

C O + H2C

retirador 1

retirador 2 - H2OC

retirador 1

retirador 2C

[Cat]

Em comparação:

Condensação aldólica verso condensação de Knoevenagel

1) A condensação de Knoevenagel é uma condensação mista, portanto o espectro de produtos acessíveis é muito mais amplo.

2) A escolha do catalisador é mais sútil: enquanto na condensação aldólica qualquer ácido ou base de Brønsted serve, a reação de Knoevenagel usa catalisadores brandas e específicas, tais como acetato de amônio, β-alanina, piridina ou piperidina *.

* G. Jones, Org.Reactions 15 (1967) 204

Exemplo 1: Condensação com éster malônico

X = Y = C

O

OC2H5

H5C2 CH C

COOC2H5

COOC2H5

[ H+ ]

- CO2H5C2 CH C

COOH

COOH

H5C2 CH CH COOH∆

Comp. metilênico: Comp. carbonílico: H5C2 CHO

Shortcut!Usar diretamente o ácido malônico, em vez do seu éster. A descarboxilação ocorre automaticamente.Catalisador: HOAc / NaOAc = 1 : 1; pouco DMSO ajuda solubilizar o sal

Não pode ser ácido forte nem base forte, mas o mais suave possível, para promover a reação mais rápida (controle cinético)

Solvente: benzeno ⇒ remoção azeotrópica da água liberada. Dean Stark

Estratégia de síntese:Um grupo éster (ácido carboxílico) somente tem o papel de ativador (= oposto de

protetor), para reforçar o papel do componente metilênico.

Exemplo 2:Condensação com acetoacetato de etila

X = C

O

OC2H5

Y = C

O

CH3

H3C CH C

COOC2H5

C

O

CH3

[ H+ ]

- CO2H3C CH C

COOH

C

O

CH3

H3C CH CH C CH3

O

Cetonas α,β− insaturadas

Exemplo 3:Alvos 1,3-dicarbonilas, via acilação do éster malônico ou derivados

Base: Mg(OH)2 : Mg2+ complexa e bloquéia os centros duros (= oxigênios)!

O- O

OEt

Nu- macio

Nu- duro

R COCl

E+ duro

O- O

OEt

Na+

R COCl

R COClO O

OEt

Mg

OH

O O

OEt

O

R

O O

OEt

OR

Hidrólise

DescarboxilaçãoR

O

O

Técnica 5: Desprotonação quantitativa do pseudo-ácido

A desprotonação completa e rápida de um composto carbonilado impede sua atividade como eletrófilo (= componente carbonílico)!

� Na maioria dos casos: nucleófilo = composto com grupo metileno duplo-ativado (discutidos no último item) a ser desprotonado com bases comuns (alcóxidos).

� Em outros casos: base bastante forte (NaH ou Ph3C- Na+)

� Formação quantitativa do enolato numa etapa prévia (controle mediante indicador!)

� Depois acrescentar o componente carbonílico, aos poucos.

� Aplicar os participantes, pseudo-ácido : base : eletrófilo = 1 : 1 : 1.

Rendimentos mais altos do que as condensações mistas “comuns”.

Atenção!

Falta de base ⇒ condensação do composto 1 entre si mesmo. Isto é, uma parte funciona como componente metilênico, outra parte como componente carbonílico.

Excesso de base ⇒ condensação do composto 2 entre si mesmo, pela mesma razão.

Condensação de Stobbe

Éster succínico + aldeído / cetona + base forte

CH2

CH2

COOEt

COOEt

(CH3)3CO- K+R2C O

H+ / H2O

- CO2

CH

CH2

COOEt

COOEt

CH

H2C

C

CR2

O-

CO

EtO

O OEt

CR2

O

COOEt

H

O

COOH

C

CH2

COOH

CR2

Lactona

R2C CH CH2 COOH

Ácidos β,γ− insaturados1)

2)

COOEt

C

CH2

COO-

CR2 H+ / H2O

1)

2)R2C C

COOH

CH3

Base

Enolatoquantitativo

Síntese do éster glicídico, segundo Darzens

Cloracetato + aldeído + alcóxido (base)

Cl CH2 COOCH3+ CH3O-

- CH3OH

R C

O

H

- Cl-H2O / OH- H+

- CO2

Cl CH COOCH3

R

CH

O-CH COOCH3

Cl

R

CH

O

CH COOCH3

Éster glicídico

R

CH

O

CH COO-

R

CH

O

CH

C O

OH

R

C

H

C

H

OH

Enol

R CH2 C

O

H

Resultado: prolongação da cadeia carbônica do aldeído por um grupo metileno.

Síntese de Reformatzky

Bromoacetato de alquila + composto carbonila + zinco

Br CH2 COOCH3 + Zn [ Br Zn CH2 COOCH3 ] CH2 COOCH3ZnBr +

quantitativo!

R C

O

H

CH2 COOCH3+ R C

H

O-

CH2 COOCH3

[ H3O+ ]

- H2O

R C

H

OH

CH2 COOH

R CH CH COOH

Outras sínteses que aproveitam deste efeito: quase todas as reações organo-metálicas – especialmente aquelas com metais muito eletropositivas (preparo do reagente de Grignard: R-X + Mg → R-MgX).

Inversão da polarização no carbono α

FIM !!!!

Leia mais, no capítulo 6: Condensações, do livro "Princípios da Síntese Orgânica"