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1 Boletim 1078/2016 – Ano VIII – 10/10/2016 Reajuste de salários fica abaixo da inflação em 96% das estatais Por Fabio Graner e Edna Simão As empresas estatais federais estão endurecendo as negociações sobre reajustes dos seus funcionários. Levantamento do Ministério do Planejamento feito a pedido do Valor, mostra que neste ano, até agora, foram concluídas negociações coletivas em 24 empresas estatais, sendo que em 96% delas os reajustes foram abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). No acumulado em 12 meses até outubro, a inflação medida pelo índice chegou a 9,15%. O secretário de coordenação e governança das empresas estatais, Fernando Soares, disse ao Valor que a orientação para as companhias, cujo controle é do governo, é que evitem conceder reajustes reais de salários, repondo no máximo a inflação do período. Soares explica que, diante da conjuntura econômica e da necessidade de se reforçar o lado fiscal, o momento é de contenção. Apesar de não ter citado nomes, a estatal Correios é um exemplo de negociação considerada bemsucedida, pois o reajuste salarial ficou abaixo do INPC. A empresa fechou acordo de reajuste de 9%, em duas parcelas, e não houve paralisação de atividades. A primeira parcela (6%) passaria a valer a partir de agosto e a segunda (3%) a ser concedida em fevereiro do próximo ano. "Temos um problema fiscal a enfrentar. A ideia é apoiar efetivamente o equilíbrio fiscal", disse Soares. Ele explica que a secretaria não se envolve diretamente nas negociações, que são executadas pelas direções das empresas, considerandose as diretrizes dadas pelo governo, mas também suas realidades e necessidades. Mas, segundo Soares, a secretaria pode colocar limites e parâmetros. "Nós estamos colocando muito claramente a situação fiscal do país para eles [dirigentes] e a necessidade de as empresas contribuírem para isso", afirmou. Segundo Soares, a questão não é querer ter um melhor salário para os trabalhadores, mas sim agir conforme a realidade. "É natural a discussão nas discussões com trabalhadores colocar a realidade que estamos vivendo. Não podemos passar à margem."

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Boletim 1078/2016 – Ano VIII – 10/10/2016

Reajuste de salários fica abaixo da inflação em 96% das estatais Por Fabio Graner e Edna Simão As empresas estatais federais estão endurecendo as negociações sobre reajustes dos seus funcionários. Levantamento do Ministério do Planejamento feito a pedido do Valor, mostra que neste ano, até agora, foram concluídas negociações coletivas em 24 empresas estatais, sendo que em 96% delas os reajustes foram abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). No acumulado em 12 meses até outubro, a inflação medida pelo índice chegou a 9,15%. O secretário de coordenação e governança das empresas estatais, Fernando Soares, disse ao Valor que a orientação para as companhias, cujo controle é do governo, é que evitem conceder reajustes reais de salários, repondo no máximo a inflação do período. Soares explica que, diante da conjuntura econômica e da necessidade de se reforçar o lado fiscal, o momento é de contenção. Apesar de não ter citado nomes, a estatal Correios é um exemplo de negociação considerada bemsucedida, pois o reajuste salarial ficou abaixo do INPC. A empresa fechou acordo de reajuste de 9%, em duas parcelas, e não houve paralisação de atividades. A primeira parcela (6%) passaria a valer a partir de agosto e a segunda (3%) a ser concedida em fevereiro do próximo ano. "Temos um problema fiscal a enfrentar. A ideia é apoiar efetivamente o equilíbrio fiscal", disse Soares. Ele explica que a secretaria não se envolve diretamente nas negociações, que são executadas pelas direções das empresas, considerandose as diretrizes dadas pelo governo, mas também suas realidades e necessidades. Mas, segundo Soares, a secretaria pode colocar limites e parâmetros. "Nós estamos colocando muito claramente a situação fiscal do país para eles [dirigentes] e a necessidade de as empresas contribuírem para isso", afirmou. Segundo Soares, a questão não é querer ter um melhor salário para os trabalhadores, mas sim agir conforme a realidade. "É natural a discussão nas discussões com trabalhadores colocar a realidade que estamos vivendo. Não podemos passar à margem."

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O técnico explica que ao conter os ímpetos de reajustes, o governo federal não está olhando só o curto prazo e a possibilidade de receber dividendos. A preocupação também é recuperar o equilíbrio de empresas que hoje estão com resultados negativos, evitando necessidade de futuros aportes de capitais, que impactam negativamente as contas do setor público. Neste ano, as estatais federais devem registrar um déficit primário. Para 2017, a peça orçamentária prevê um rombo de R$ 3 bilhões nas estatais. No que diz respeito a dividendos, os valores caíram consideravelmente, refletindo os resultados ruins das empresas. De janeiro a agosto deste ano, o governo recebeu R$ 1,279 bilhão em dividendos ante R$ 5,407 bilhões do mesmo período de 2015. A expectativa do governo é que as estatais repassem aos cofres públicos R$ 3,126 bilhões neste ano. Soares informou que a secretaria prepara modelos novos para as empresas utilizarem mais mecanismos de remuneração variável, vinculandoos a ganhos de produtividade. A ideia é ter modelos prontos para serem utilizados pela maioria das empresas a partir do ano que vem. Um dos indicadores que devem ser usados é o de resultado operacional por trabalhador. Além disso, a secretaria quer que as companhias usem métricas para comparar, por exemplo, a produtividade em relação ao setor de atuação, de forma a definir ganhos variáveis. Ele reconhece que é necessário em alguns casos fazer ponderação entre o indicador de produtividade setorial e o papel social que tem uma empresa estatal. Mas ressalta que, não é porque a empresa é do governo que não tem que dar resultado. "Nossas empresas têm que buscar resultado. Aliás, porque é estatal, tem que ter mais cobrança por resultado", disse. Soares antecipou que está em fase final para publicação o decreto que regulamenta a lei da responsabilidade das estatais. Uma das novidades é a possibilidade de empresas de uma mesma holding usarem o mesmo comitê de auditoria, o que permitiria cumprir a legislação prudencial sem sobrecarregar sua estrutura de custos. Essa ideia, contudo, não deve ser aplicada de forma indiscriminada. "Nos casos em que uma subsidiária é quase tão grande quanto a empresamãe, cada um terá o seu comitê próprio", explicou. Além disso, o decreto deve regulamentar que as indicações para cargos nas empresas deverão ser avaliados por um comitê de funcionários ou conselho fiscal. A iniciativa também segue a diretriz de usar estrutura existente para impedir aumento de custos.

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Nível de emprego prérecessão só volta em 2020 Por Camilla Veras Mota O corte de vagas com carteira assinada no país em dois anos de recessão deve somar quase 3 milhões até dezembro de 2016 perda que levará o dobro desse tempo para ser recuperada. Diante da expectativa de reação lenta da atividade, duas consultorias e uma instituição financeira ouvidas pelo Valor LCA, Tendências e Bradesco estimam que o nível de emprego formal no Brasil só voltará ao registrado em 2014, de 41,2 milhões, em 2020. Em 2015, foram fechados 1,5 milhão de postos de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Com outros 650 mil cortes registrados de janeiro a agosto, o país soma atualmente 39 milhões de vagas formais, volume inferior de dezembro de 2012 (39,6 milhões). Para o ano fechado, o saldo negativo sinalizado pelas projeções mais recentes é de 1,3 milhão.

No cenário do economista Fabio Romão, da LCA Consultores, serão gerados 355 mil novos empregos com carteira em 2017 e mais que o dobro no ano seguinte, 787 mil. Até 2020, serão 2,9 milhões de postos, que elevariam o nível de emprego a 40,6 milhões, semelhante ao de 2014. O número é um pouco diferente do dado oficial 41,2 milhões de vagas em 2014 , porque leva em conta a série sem ajuste do Caged, que contabiliza apenas os dados enviados ao Ministério do Trabalho dentro do prazo legal. "A recuperação tende a ser lenta porque a gente não deve ver o impulso de formalização que esteve em cena nos anos 2000", pondera Romão. Para ele, a política econômica que aumentou a participação dos bancos públicos no mercado de crédito e do Estado nos

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investimentos em infraestrutura também fomentou o avanço do emprego com carteira assinada. "Esse foi o período dos IPOs [abertura de capital] da construção civil", lembra. O economista do Bradesco Igor Velecico acrescenta à avaliação os incentivos tributários dados desde 2011 com a desoneração da folha. "Eles aumentaram a demanda por trabalho, fator que já estava escasso, e elevaram o desequilíbrio". Entre 2004 e 2014, o Brasil ganhou mais de 15 milhões de postos de trabalho com carteira assinada. O processo de recontratação de pessoal no ciclo de crescimento, ele acrescenta, deve ser bastante gradual também porque as empresas darão prioridade à "agenda da produtividade". O investimento em capital, afirma Velecico, será um dos caminhos para reduzir as perdas acumuladas nesses dois anos. "No Brasil, a produtividade foi muito jogada para baixo entre 2012 e 2014. Não dá mais para crescer com ela caindo. " Em seu cenário, no próximo ano o país já abriria 700 mil postos com carteira. Outros 900 mil viriam em 2018 e uma média de 800 mil, nos três anos seguintes. O economista leva em conta a Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Nessa série, que inclui o emprego público estatuário, o nível de 2014 é de 49,5 milhões de empregos, que também só seria novamente alcançado em 2020. A indústria será o setor a repor mais rapidamente o estoque de mão de obra, avalia Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. O ganho de competitividade proporcionado pelo câmbio para o qual é previsto desvalorização adicional no horizonte até 2020 estimulará as exportações e a atividade do setor, afirma o economista. Já os serviços, mais dependentes do desempenho doméstico, terão recomposição mais lenta. "Nossa projeção para o ritmo de crescimento da massa salarial [durante a retomada] também é bem menor do que na década 20042014." A expectativa para o saldo positivo do Caged em 2017 é de 560 mil, número que subiria para um milhão de postos no ano seguinte. Como o setor responde por cerca de 43% do volume total de empregos com carteira, sua participação no saldo positivo será maior. Nas contas da LCA, a fatia dos serviços na geração de 2,9 milhões de vagas entre 2017 e 2020 será de 43,3%. A indústria vem na sequência, com 36,4%, e o comércio, 19,8%. A construção, que deve continuar demitindo no próximo ano, dará contribuição pequena, 42 mil postos, 1,42% do total. Velecico, do Bradesco, destaca que o ritmo intenso de destruição de vagas nos últimos dois anos é, em certa medida, consequência da inércia salarial que marca o mercado de trabalho local. Mesmo diante da maior recessão da história recente do país, diz ele, não é difícil encontrar categorias que conseguem repor quase completamente as perdas inflacionárias um reajuste nominal expressivo, que pressiona os custos dos contratantes. "A inércia no Brasil torna necessário um ajuste de quantidade muito mais forte", afirma. (Fonte: Valor Econômico dia 10/10/2016)

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No centro da reforma, a atrofia da 'máquina' e a ba ixa produtividade A reforma da Previdência dos servidores, que respon de por mais de 50% do déficit na área, é essencial ao ajuste José Fucs O quadro atual do funcionalismo, contaminado pelo corporativismo dos sindicalistas da categoria, revela a urgência de se iniciar uma discussão séria sobre os privilégios dos servidores e a melhoria da gestão pública no País – e isso vale para o Executivo e também para o Legislativo e o Judiciário, onde a autonomia administrativa funciona como uma espécie de salvo-conduto para a distribuição de benesses para si próprios e os funcionários dos dois poderes.

Da regulamentação da Lei de Greve no setor público, prevista na Constituição e até agora não realizada, à redução dos cargos em comissão, para diminuir a interferência política na administração e a nomeação de funcionários sem conhecimento das áreas em que vão atuar; da limitação da estabilidade no emprego, para enfrentar a acomodação, à revisão das aposentadorias dos servidores, não faltam propostas para enfrentar o problema.

O que falta é vontade política de levar adiante a missão.

“A nossa administração ainda se baseia em princípios atrasados”, afirma o advogado Almir Pazzianotto, ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do TST.

“Essa falta de agilidade, decorrente da estabilidade indiscriminada, não dá ao Estado condições de exercer uma gestão eficiente, porque o serviço público, envelhece, fica embolorado, as pessoas adquirem vícios.”

Segundo ele, uma das prioridades deve ser a regulamentação da Lei de Greve. Pazzianotto afirma que é contrário às greves do funcionalismo, por não ser “compatível” com a natureza do serviço público, de servir à população.

Para ele, a Polícia Federal, o setor de saúde e o Judiciário, por exemplo, não poderiam ter o direito de fazer greve. “A greve no serviço público afeta quase exclusivamente as classes pobres.

O rico não vai ao Sistema Único de Saúde (SUS). Na área escolar, também, há greves de dois, três meses.

Eu não lembro de uma greve em colégios particulares como o Dante Alighieri, o Vértice, o Porto Seguro, o Bandeirantes (todas escolas de São Paulo). Não acontece. Não há registro histórico.”

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O peso do funcionalismo

Apesar de ser favorável à regulamentação da Lei de Greve, para evitar os abusos, ele parece cético em relação ao encaminhamento da medida. “Uma das dificuldades para regulamentar a Lei de Greve é que a iniciativa tem de ser do presidente da República, como tudo o que diz respeito ao servidor público – e ele não quer ter o desgaste de uma regulamentação dessa natureza”, afirma Pazzianotto. “Ele acha que perde mas do que ganha. Eu acho que ganha mais do que perde, porque o grevismo não é uma característica dos servidores públicos, mas de uma minoria aboletada em entidades sindicais e que, na condição de dirigente sindical, não precisa trabalhar.” Outra questão essencial, de acordo com o professor Nelson Marconi, coordenador executivo do Fórum de Economia na FGV de São Paulo, é a Previdência do funcionalismo, que causa um forte desequilíbrio fiscal. Com pouco mais de um milhão de aposentados, contra 25 milhões de aposentados da iniciativa privada, a Previdência dos servidores federais responde por mais de 50% do déficit na área. Para enfrentar o “buraco”, ele defende um aumento na alíquota das contribuições, “no espaço que houver”, e o fim da paridade salarial entre os ativos e os inativos, que se beneficiam de todos os aumentos salariais que quem ainda está trabalhando recebe. Marconi propõe também ao governo a realização de um plano de recursos humanos, antes da contratação de novos funcionários, para fazer um diagnóstico completo da administração federal e avaliar onde sobra gente, onde falta, onde tem gente com perfil inadequado, onde as coisas estão funcionando bem. Ele afirma que muita gente já disse que iria levar a ideia adiante, mas não levou. Com certeza, numa época em que a adoção de ferramentas empresariais de gestão está mais em pauta do que nunca, seria uma boa medida para o governo Temer implementar. Depois, ao menos, ele saberia melhor onde está pisando.

(Fonte: Estado de SP dia 10/10/2016)

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(Fonte: Folha de SP dia 10/10/2016)

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