reabilitação de edifícios para turismo rural

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  • 8/15/2019 Reabilitação de Edifícios para Turismo Rural

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    REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS PARA

    TURISMO RURALESTUDO DE CASOS DE SUCESSO

    NUNO MIGUEL FONSECA MARTINS 

    Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de

    MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES CIVIS 

    Orientador: Professor Doutor José Manuel Marques Amorim de

    Araújo Faria

    JULHO DE 2010

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    MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2009/2010

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL 

    Tel. +351-22-508 1901

    Fax +351-22-508 1446

      [email protected] 

    Editado por

    FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO 

    Rua Dr. Roberto Frias

    4200-465 PORTOPortugal

    Tel. +351-22-508 1400

    Fax +351-22-508 1440

      [email protected] 

      http://www.fe.up.pt 

    Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja

    mencionado o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil -

    2009/2010 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da

    Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2010 .

    As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o

    ponto de vista do respectivo Autor, não podendo o Editor aceitar qualquer

    responsabilidade legal ou outra em relação a erros ou omissões que possam existir.

    Este documento foi produzido a partir de versão electrónica fornecida pelo respectivo

    Autor.

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    Aos meus pais 

    O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.

    Albert Einstein  

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    AGRADECIMENTOS 

    O meu primeiro agradecimento vai para o Professor Engenheiro Amorim Faria por ter disponibilizadoeste tema, que tanto me agrada, e por me ter ajudado a definir as linhas orientadoras da dissertação.

    O segundo agradecimento vai para os meus pais, que suportaram nas despesas dos meus estudos, e

    agora, no final, o meu roteiro pelas aldeias.O terceiro agradecimento vai para os meus amigos que me ajudaram a escolher as aldeias e que meacompanharam nas viagens, algumas bem compridas, com especial ênfase para a Dóris e para oNelson que me ajudaram mais do que lhes seria exigido.

    O último agradecimento vai para os professores e colegas de curso que me acompanharam e memarcaram.

    A todos, muito obrigado, por fazerem parte do meu percurso.

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    RESUMO 

    As áreas rurais, no interior do país, têm vindo a perder habitantes e a população está cada vez maisenvelhecida. Estas regiões não garantem oportunidades de emprego e rendimentos atractivos para apopulação activa, que emigra para as cidades. A agricultura, principal actividade do meio rural, não éatractiva para os jovens e remunera mal os seus trabalhadores.

    O turismo surge, então, como um sector de elevado potencial para estimular o desenvolvimento dasáreas rurais. Na era da globalização e da homogeneização da oferta, o meio rural e as aldeias históricaspodem surgir como um elemento diferenciador que oferece o contacto com a natureza, a qualidadeambiental, as paisagens únicas, as aldeias e vilas belas, únicas e históricas.

    No entanto, as qualidades e potencialidades que o meio rural possuiu estão ameaçadas pelo abandonoe desprezo a que foi votado, pelas novas construções que não respeitam e desvirtuam as aldeias, peloabandono das casas populares e pela falta de ordenamento do território.

    As aldeias devem ser alvo de investimentos, as casas e o espaço público devem ser reabilitados, edesta forma oferecer melhor qualidade de vida às populações, salvaguardar o nosso património

    arquitectónico, construtivo, histórico e cultural, potenciar o turismo, criar oportunidades de emprego eproporcional um desenvolvimento sustentado das áreas rurais.

    Estudaram-se as intervenções em três aldeias, diferentes na localização, na arquitectura, nos materiaisconstrutivos utilizados, no modelo de exploração, mas que em comum partilharam o respeito pelaarquitectura vernacular e a perfeita integração na natureza.

    O estudo de caso é exemplo de uma aldeia com uma localização privilegiada e com grande potencialde desenvolvimento turístico mas que se encontra quase deserta e as suas casas em ruína.

    PALAVRAS-CHAVE: área rural, aldeia, casa popular, reabilitação, turismo

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    ABSTRACT 

    Rural areas within the country have been losing most of their population, which is aging rapidly.These regions are incapable of assuring employment opportunities or high incomes to the youngercitizens, who then migrate into the cities. Agriculture, the main source of income in country areas,pays its workers poorly and has been unable to attract young people.

    Tourism emerges as a sector with great potential to stimulate the development of rural areas. In the eraof globalization and homogenization of the offer, the countryside and historic villages may arise as adifferentiator that provides contact with nature, environmental quality, unique landscapes andbeautiful, unique and historical villages and towns.

    However, the qualities and capabilities of the rural areas are threatened by abandonment and neglect,by new buildings that pervert the villages, by the abandonment of traditional houses and by lack ofplanning.

    Villages should be the subject of investment. Houses and public space should be rehabilitated, toprovide better quality of life for the people, to preserve our architectural, constructive, historical and

    cultural heritage, to boost tourism, to create employment opportunities and to provide for thesustainable development of rural areas.

    Rehabilitation interventions were studied in three different villages, which are distinct in location,architecture, materials and management, but share the respect for vernacular architecture and seamlessintegration in nature.

    The case study is an example of a village which has a prime location and great potential for touristicdevelopment, but is almost deserted and in ruins.

    KEYWORDS: rural area, village, traditional architecture, rehabilitation, tourism 

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    Í NDICE GERAL 

    AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... i 

    RESUMO .................................................................................................................................................. iii 

    ABSTRACT ............................................................................................................................................... v 

    1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5 1.1 ÂMBITO E OBJECTIVOS ................................................................................................................... 5 

    1.2 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ................................................................................................... 6 

    2 O MEIO RURAL ................................................................................................................. 7 

    2.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 7 

    2.2 DESENVOLVIMENTO RURAL ............................................................................................................ 9 

    2.2.1 OBJECTIVOS ESTRATÉGICOS ............................................................................................................. 9 

    2.2.1.1 Turismo...................................................................................................................................... 11 

    2.2.1.2 Agricultura ................................................................................................................................. 13 

    2.2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................................................................................................. 14 

    2.2.3 PLANEAMENTO URBANO .................................................................................................................. 15 

    3 REABILITAÇÃO DE CONSTRUÇÕES RURAIS .............................. 19 3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 

    3.2 AS CONSTRUÇÕES RURAIS .......................................................................................................... 21 

    3.3 ABORDAGEM À REABILITAÇÃO ..................................................................................................... 27 

    4 EXEMPLOS DE REFERÊNCIA ......................................................................... 33 4.1 ALDEIA DE PEDRALVA ................................................................................................................... 34 

    4.1.1 ENQUADRAMENTO .......................................................................................................................... 34 

    4.1.2 INTERVENÇÃO: ................................................................................................................................ 35 

    4.2 ALDEIA DA QUINTANDONA ............................................................................................................ 49 

    4.2.1 ENQUADRAMENTO .......................................................................................................................... 49 

    4.3 CASAS DO CÔRO, MARIALVA ....................................................................................................... 58 

    4.3.1 ENQUADRAMENTO: ......................................................................................................................... 58 

    4.3.2 INTERVENÇÃO ................................................................................................................................. 61 

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    5 ESTUDO DE CASO NA PERSPECTIVA DEDESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......................................................... 71

     

    5.1 ENQUADRAMENTO ......................................................................................................................... 71 

    5.2 PROPOSTA ...................................................................................................................................... 76 

    CONCLUSÕES ...................................................................................................................... 89 

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 91 

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    Í NDICE DE FIGURAS 

    Figura 2.1 - Regiões Rurais em Portugal pelo método da OCDE. [5] .................................................... 9 Figura 2.2 - As dimensões do turismo sustentável. [13] ....................................................................... 11 

    Figura 2.3 - Recursos turísticos do Douro. [2] ...................................................................................... 12 Figura 2.4 – Edifício dissonante em volume e nos materiais utilizados na aldeia da Quintandona. ..... 15 

    Figura 2.5 - Edifício dissonante em volume e nos materiais utilizados na aldeia de Marialva. ............ 16 Figura 2.6 – Espaço público reabilitado na aldeia de Pedralva. ............................................................ 18 Figura 3.1 – Esquema de povoações localizadas em planícies. [11] ..................................................... 20 Figura 3.2 – Esquema de povoações de montanha. [11] ....................................................................... 20 Figura 3.3 – Esquema de povoações em cristas montanhosas. [11] ...................................................... 21 Figura 3.4 – Exemplo da casa popular do Norte, a casa-torre, na aldeia de Marialva. ......................... 23 Figura 3.5 – Telhado em lousa na aldeia do Bobal. .............................................................................. 24 Figura 3.6 - Exemplo da casa popular do Sul, a casa térrea na aldeia de Pedralva. .............................. 25 Figura 3.7 – Chaminés típicas da casa popular do Sul, aldeia de Pedralva. .......................................... 26 

    Figura 3.8 - Chaminé típica da casa popular do Sul, aldeia de Pedralva. ............................................. 26 

    Figura 3.9 – Edifício novo de complemento à casa rural procurando a integração na paisagem e orespeito pela pré-existência na aldeia de Quintandona. ........................................................................ 28 Figura 3.10 – Edifício novo procurando integrar-se na paisagem, construído com materiais locais ecom linhas contemporâneas na aldeia de Covas. .................................................................................. 28 Figura 3.11 – Pormenor de parede de pedra com isolamento e revestimento a gesso-cartonado, pelointerior. .................................................................................................................................................. 29 Figura 3.12 – Pormenor do telhado com subtelha. ................................................................................ 30 Figura 4.1 Imagem de satélite de Portugal continental e localização das aldeias estudadas. [GoogleMaps]..................................................................................................................................................... 33 Figura 4.2 – Imagem de satélite da aldeia de Pedralva. [Google Maps] ............................................... 35 Figura 4.3 - Aldeia de Pedralva. [Facebook]......................................................................................... 35 Figura 4.4 – Um dos últimos edifícios em ruínas, na aldeia de Pedralva. Só restam as paredesestruturais. O telhado está destruído, não tem portas nem janelas e as paredes encontram-sepraticamente despidas de reboco. .......................................................................................................... 36 Figura 4.5 – Casas restauradas. São visíveis as redes, eléctrica e telefónica, aéreas. Já foramimplantadas as redes subterrâneas que vão permitir a retirada de todos os cabos aéreos. .................... 36 Figura 4.6 – Uma das poucas casas que se encontrava habitada. Alguns dos moradores sentiram-seincentivados a pintar as casas à medida que as casas do empreendimento foram ficando concluídas.. 37 Figura 4.7 – Olhando os telhados verifica-se que não foram usadas telhas novas no lado visível. ...... 37 Figura 4.8 – Novo sistema de iluminação pública ao lado do sistema antigo, bem como a rede eléctrica

    e telefónica aérea que passará a enterrada brevemente. ........................................................................ 38 Figura 4.9 – Espaço verde remodelado e o novo pavimento. ................................................................ 39 

    Figura 4.10 – Casa em reabilitação onde foi mantida a estrutura de madeira original. ........................ 39 Figura 4.11 – Aspecto interior da estrutura de madeira após reabilitação do edifício. A principalintervenção passou pela pintura. ........................................................................................................... 39 Figura 4.12 – Construção de uma casa alheia ao empreendimento. Estruturalmente, a casa é umaestrutura porticada em betão armado vulgar, não sendo usados os métodos de construção tradicionais. ............................................................................................................................................................... 40 Figura 4.13 – A outra frente da casa da figura 4.12. ............................................................................. 40 Figura 4.14 – Aproveitamento de uma porta antiga como cabeceira de cama. ..................................... 41 Figura 4.15 – Aquecedor eléctrico aplicado nas casas com aspecto rústico. ........................................ 41 

    Figura 4.16 – Pátio de uma das casas. ................................................................................................... 42 

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    Figura 4.17 – Fachada principal de uma das casas. ............................................................................... 42 Figura 4.18 – Janela de madeira, nova com vidro simples. Uma vez que as janelas são novas seriarecomendável a opção pelo vidro duplo. A janela tem uma portada interior para protecção solar. ...... 43 Figura 4.19 – Fachada traseira de uma das casas. ................................................................................. 43 Figura 4.20 – Fotos de antes e depois da intervenção da Casa do Tonel. [ Facebook] ......................... 44 

    Figura 4.21 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa do Beliche. [ Facebook] ....................... 44 Figura 4.22 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa do Castelejo.[ Facebook]...................... 44 

    Figura 4.23 - Fotos de antes e depois da intervenção da Mercearia. [ Facebook] ................................. 45 Figura 4.24 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa dos Rebolinhos. [ Facebook] ................ 45 Figura 4.25 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa da Bordeira. [ Facebook] ...................... 45 Figura 4.26 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa da Ponta Ruiva. [ Facebook] ................ 46 Figura 4.27 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa da Ingrina. [ Facebook] ........................ 46 Figura 4.28 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa do Telheiro. [ Facebook] ...................... 46 Figura 4.29 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa do Mirouço. [ Facebook] ...................... 47 Figura 4.30 - Fotos de antes e depois da intervenção das casas do Castelejo, da Cordoama, da Ingrina eZavial. [ Facebook] ............................................................................................................................... 47 

    Figura 4.31 - Fotos de antes e depois da intervenção da Casa do Zavial. [ Facebook] ......................... 47 

    Figura 4.32 - Fotos de antes e depois da intervenção. [ Facebook] ....................................................... 48 Figura 4.33 – Quarto de uma das casas do empreendimento. [ Facebook] ........................................... 48 Figura 4.34 - Imagem de satélite da aldeia de Quintandona. A aldeia encontra-se à esquerda da estradanacional. [Bing Maps] ........................................................................................................................... 49 Figura 4.35 - Imagem de satélite onde se vê a localização da aldeia de Quintandona em relação a àsprincipais cidades que a rodeiam. [Google Maps]................................................................................. 49 Figura 4.36 – Capela e edifícios adjacentes restaurados. Quem vem da estrada nacional, a praça que sesitua em frente a esta capela é uma espécie de hall de entrada na parte antiga. .................................... 50 Figura 4.37 – Exemplar raro, na aldeia, de casa em granito. Construção de um aumento com os

    materiais locais - xisto e lousa. .............................................................................................................. 50 

    Figura 4.38 – Pequeno tanque. .............................................................................................................. 51 Figura 4.39 – Casa reabilitada. A maioria das casas da aldeia foi construída com este tipo de pedra. . 51 Figura 4.40 – Casa construída maioritariamente com xisto e granito à volta das janelas. .................... 52 Figura 4.41 – Tanque principal.............................................................................................................. 52 Figura 4.42 – As casas são na maioria de dois pisos. O candeeiro faz parte da nova rede de iluminaçãoimplantada. As redes eléctrica e telefónica são enterradas. ................................................................... 53 Figura 4.43 – Casas características. ....................................................................................................... 53 Figura 4.44 – Arrecadação, telhado em telha cerâmica e lousa. ............................................................ 54 Figura 4.45 – Centro cultural – Casa do Xiné. Apresenta linhas contemporâneas e procura-se integrar,usando os materiais locais. O volume maior ainda não está revestido. ................................................. 54 

    Figura 4.46 – Arrecadações construídas com materiais inapropriados descaracterizam a aldeia.......... 55 

    Figura 4.47 – Construção perto dos edifícios antigos. Volumetria e materiais inapropriados tornameste edifício dissonante. ......................................................................................................................... 55 Figura 4.48 – Edifício dissonante relativamente distante das casas históricas mas que descaracteriza apaisagem. ............................................................................................................................................... 55 Figura 4.49 – Edifício em construção revestido com materiais locais e de arquitectura simples mas degrande volumetria. ................................................................................................................................. 56 Figura 4.50 – Casa em construção de linhas contemporâneas procurando a integração na aldeia. ....... 56 Figura 4.51 – Pormenor de janela da casa da figura 4.51. ..................................................................... 57 Figura 4.52 – Instalação eléctrica camuflada pelo uso de revestimento em pedra e o caixote do lixo.. 57 Figura 4.53 - Imagem de satélite da vila de Marialva. A norte está a parte alta da vila, onde se encontrao castelo e as Casas do Côro. [Bing Maps] ........................................................................................... 58

     

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    Figura 4.54 – Casa do Côro, o primeiro edifício do empreendimento. A janela de grandes dimensõesrasgada numa casa tradicional é uma das imagens de marca do empreendimento. .............................. 59 Figura 4.55 – Piscina junto às casas reabilitadas com o castelo ao fundo. [ Facebook] ....................... 59 Figura 4.56 – Casa onde se encontra o jacuzzi e a sauna. A janela de grandes dimensões é umaalteração ao aspecto original que permite que os hóspedes observem o horizonte. .............................. 60 

    Figura 4.57 – Camas ao ar livre, no ponto mais alto da aldeia (800m) permitem uma vista panorâmicasobre a região. [ Facebook] ................................................................................................................... 61 Figura 4.58 – Casas reabilitadas para o empreendimento. São visíveis as clarabóias para dar mais luzao interior. Todo o espaço público está cuidado, como se pode ver pelos pequenos jardins, pelasárvores junto às casas e pela calçada. .................................................................................................... 62 Figura 4.59 – Casa de dois pisos reabilitada. Mantém o seu aspecto tradicional com a excepção das

     janelas, de linhas modernas, e dos perfis metálicos na zona da escapada, como reforço do telhado, e daguarda da varanda. ................................................................................................................................ 62 Figura 4.60 – Casa reabilitada. Numa das fachadas, a madeira substituiu a pedra da construçãooriginal. Esta fachada permite fazer a transição entre as casas tradicionais e a casa nova (à esquerda). ............................................................................................................................................................... 63 

    Figura 4.61 – Pormenor de uma janela para um pátio interior. Opção pela utilização de um perfilmetálico como padieira. ........................................................................................................................ 63 Figura 4.62 – Em todas as reabilitações foi usada a telha caleira. Na imagem percepciona-se a subtelhametálica. ................................................................................................................................................ 64 Figura 4.63 – Casa do jacuzzi e sauna. No canto inferior direito da foto, vê-se um holofote. Parte dailuminação no empreendimento está colocada no chão. ....................................................................... 64 Figura 4.64 – Casa reabilitada e casa construída de raiz, ambas pertencentes ao empreendimento. .... 65 Figura 4.65 – Casas reabilitadas, mantendo o seu aspecto original. ..................................................... 65 Figura 4.66 – Terraço do restaurante. Edifício construído de raiz. ....................................................... 66 Figura 4.67 – Pátio de uma das casas do empreendimento. .................................................................. 66 

    Figura 4.68 – Posto de turismo integrado na muralha. .......................................................................... 67 

    Figura 4.69 – Casa construída de raiz, tentando integrar-se na aldeia, e atrás a casa onde uma dasfachadas foi substituída por madeira. [ Facebook] ................................................................................ 67 Figura 4.70 – Interior da Casa do Côro. O aparelho de pedra ficou aparente. A janela de grandesdimensões permite um maior contacto visual com a aldeia. [ Facebook] ............................................. 68 Figura 4.71 – Estrutura metálica ficou à vista tal como a pedra das paredes. [ Facebook] ................... 68 Figura 4.72 – O empreendimento das Casas do Côro com o castelo de Marialva de fundo. [ Facebook] ............................................................................................................................................................... 69 Figura 5.1 – Imagem de satélite onde se vê a localização da aldeia de Ribeirinha em relação a VilaPouca de Aguiar. [Google Maps] .......................................................................................................... 71 Figura 5.2 – Imagem de satélite da aldeia da Ribeirinha. O acesso faz-se pela estrada a sul da aldeia

    (M1164)................................................................................................................................................. 72 

    Figura 5.3 – Estrada de acesso à aldeia. No horizonte temos a paisagem privilegiada da aldeia. ........ 72 Figura 5.4 – Aldeia de Ribeirinha. Encontra-se implantada numa encosta. A parte mais antiga é asuperior (à direita). ....................................................................................................................... 73 Figura 5.5 – Parte mais alta e antiga da aldeia. Ao centro vê-se uma casa que quebra com aarquitectura tradicional. ......................................................................................................................... 73 Figura 5.6 – Arruamento principal da aldeia. A maioria das casas está em ruína e abandonadas. ....... 74 Figura 5.7 – Uma das capelas da aldeia. A torre possui um relógio de sol. .......................................... 75 Figura 5.8 – Capela recentemente restaurada. Era de domínio privado tendo sido adquiridarecentemente pela autarquia. ................................................................................................................. 75 Figura 5.9 – Cascata. ............................................................................................................................. 76 

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    Figura 5.10 – Casa de granito abandonada. Construída com blocos de granito de dimensõesconsideráveis e aparelhadas. .................................................................................................................. 77 Figura 5.11 – Arruamento principal. As casas também se encontram abandonadas ............................. 78 Figura 5.12 – Casa abandonada, contruída em alvenaria seca............................................................... 78 Figura 5.13 – Casa abandonada. O piso de andar tem fachada e uma varanda em madeira. ................ 79 

    Figura 5.14 – Casas abandonadas. As paredes espessas proporcionam um aceitável conforto térmico. ............................................................................................................................................................... 79 Figura 5.15 – A casa à direita é habitada, junto a uma em ruínas. ........................................................ 79 Figura 5.16 – Casas degradadas mas ainda habitadas. .......................................................................... 80 Figura 5.17 – Casas devolutas, na entrada e parte mais alta da aldeia. ................................................. 80 Figura 5.18 – Antiga escola primária. ................................................................................................... 80 Figura 5.19 – Casa degradada. O arruamento é em terra batida. No piso superior está o alpendre, umasolução comum às casas da aldeia. ........................................................................................................ 81 Figura 5.20 – Casa abandonada. Paredes em alvenaria seca de granito com pedras de pequenadimensão. ............................................................................................................................................... 81 Figura 5.21 – Casa abandonada. Estão a ser feitos acrescentos em alvenaria de tijolo. ........................ 82 

    Figura 5.22 – Casa habitada. O reboco, que saiu mostra um aparelho cuidado. ................................... 82 

    Figura 5.23 – Casa habitada. Arquitectura típica das casas da aldeia. .................................................. 82 Figura 5.24 – Casa abandonada. ............................................................................................................ 83 Figura 5.25 – Casa elementar, abandonada. .......................................................................................... 83 Figura 5.26 – Ao fundo, a casa azul contrasta na paisagem pela cor, não ajudando ao seuenquadramento. ..................................................................................................................................... 83 Figura 5.27 – Interior de uma casa abandonada. Interior é rebocado e caiado. ..................................... 84 Figura 5.28 – Uma burra, que ainda é usada como meio de transporte. Atrás está uma casa cujosmateriais usados para construir o piso superior não se adequam. ......................................................... 84 Figura 5.29 – A casa à direita é um corpo dissonante na aldeia. É o edifício mais recente. ................. 85 

    Figura 5.30 – Uso de chapas para resolver as infiltrações. .................................................................... 85 

    Figura 5.31 – A aldeia está perfeitamente integrada na encosta da montanha mas os materiais derevestimento indevidos destroem essa harmonia. .................................................................................. 85 Figura 5.32 – Arrecadação revestida a argamassa sem qualquer acabamento. ..................................... 86 Figura 5.33 – Vaca a entrar para piso térreo de uma casa. Só restam duas e pertencem ao mesmo dono. ............................................................................................................................................................... 86 Figura 5.34 – Pormenor da porta de uma casa abandonada. ................................................................. 87 Figura 5.35 – Parte alta da aldeia e ao fundo a paisagem montanhosa que é possível observar dascasas. ...................................................................................................................................................... 87 

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    1INTRODUÇÃO

    1.1 ÂMBITO E OBJECTIVOS 

    Este trabalho tem como objectivo primeiro o estudo de casos de reabilitação de edifícios em meio rural

    para turismo. Do grande universo de edifícios que abarca este tema, foi considerado como objecto deestudo a casa popular rural situada em aldeias tradicionais. Efectivamente, a grande beleza e overdadeiro significado desta casa não está no individual mas sim no colectivo, no “todo” em que seinsere – a aldeia.

    O estudo tem incidência no território continental. Apesar da diversidade de regiões, de paisagens e deculturas, optou-se por fazer uma pesquisa que abrangesse todo o território.

    Na caracterização da casa popular, esta foi dividida em dois grupos: a casa popular do Norte e a casapopular do Sul. No entanto, a escolha das aldeias para estudo teve por base os materiais construtivosque se considera ser um aspecto mais relevante que a forma. Na observação de uma aldeia revelam-semais importantes as cores e os materiais e a sua integração no meio muito mais do que a forma

    individual de cada uma das casas. Desta forma, foram escolhidas três aldeias construídas com trêsmateriais diferentes: granito, xisto e taipa.

    A casa popular e as aldeias em que se inserem representam um legado histórico e cultural que importaconservar não só pela sua importância enquanto património mas também pelo seu elevado potencialturístico, como fonte de desenvolvimento das áreas rurais. As aldeias são reflexo do modo de vida dasgerações passadas, e as suas casas não respondem aos padrões de qualidade exigíveis actualmente.Pretende-se, por isso, perceber de que forma se deve intervir de modo a encontrar o ponto deequilíbrio entre a conservação da arquitectura tradicional e a necessidade de modificar e acrescentar àsaldeias, de modo a responder às necessidades e anseios actuais das populações.

    O estudo contempla casos, que podem ser considerados de referência uma vez que as intervenções, àexcepção da aldeia de Quintandona, se concentraram em aldeias quase desertas e com as suas casas emruína. Não só foram recuperadas as casas, que adquiriram a sua arquitectura tradicional como sedotaram as aldeias das infra-estruturas essenciais para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes epara o desenvolvimento do turismo.

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    1.2 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO 

    A dissertação está dividida, fundamentalmente, em três partes. A primeira, compreendida pelosegundo capítulo, faz o diagnóstico ao meio rural e aborda as linhas orientadoras para odesenvolvimento rural, no que diz respeito a infra-estruturas e à gestão do território.

    Feita a análise ao estado do meio rural, na segunda parte – o terceiro capítulo – é feita a caracterizaçãoda casa popular nas suas variantes e modo como se deve abordar a reabilitação.

    A terceira parte – os capítulos quatro e cinco - debruça-se sobre o estudo da reabilitação de aldeiasenglobando as intervenções nos edifícios, no espaço público, bem como os serviços disponibilizados.

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    2O MEIO RURAL

    2.1 INTRODUÇÃO 

    “ (…) Passo por uma ETAR (…) que começou a ser feita num local, depois verificou-se que havia umerro de localização e construção e mudou-se para outro. (…) A mesma ETAR, que devia funcionar hámuito, não está a funcionar e os esgotos correm a céu aberto perante a indiferença generalizada (…).Terrenos que estão nos planos como sendo do domínio agrícola, povoam-se de barracões e casas dehabitação e veraneio.

    (…) Ao lado caem aos bocados, casas, adegas, lagares, currais (…) com as suas cantarias de pedra, assuas portas de arco (…).

    (…) A ordem é o caos, porque se percebe que quem quer fazer alguma coisa faz, independentementede outro direitos e de outros valores e do futuro das terras.

    (…) [“os melhoramentos” e o “progresso económico”] são possíveis sem esta destruição da qualidadede vida, da vista da paisagem, do equilíbrio natural (…). Quantas pedreiras neste país foramrecuperadas como é suposto? (…) Isto é péssimo negócio para todos, mesmo que seja vantajoso acurto prazo para alguns”. [1]

    A transcrição anterior exemplifica o desprezo generalizado a que foi votado o mundo rural, o quelevou à degradação e destruição de património construtivo, arquitectónico, cultural, paisagístico eambiental. Esse sentimento começa, tendencialmente, a ser invertido e há actualmente a percepção deum maior respeito e consciencialização dos benefícios que podem ser alcançados a partir de umamaior atenção pela ruralidade.

    Nos últimos 30 a 40 anos, o nosso país sofreu alterações profundas, que marcaram uma nova geografia

    regional e local. De um país profundamente rural, disseminado por centenas de aldeias e vilas,passamos a um país tendencialmente urbano, de pequenas e médias cidades, destacando-se as duasgrandes metrópoles e as suas envolventes, a par do processo de litoralização materializado por umcontínuo urbano de Viana do Castelo a Setúbal.

    As aldeias e pequenas vilas, principalmente do interior, foram perdendo capacidade de fixar apopulação não conseguindo competir com as cidades em oportunidades. A desertificação humana nomundo rural do interior tem-se vindo a acentuar a par do progressivo envelhecimento dos seushabitantes, levando ao desaparecimento de pequenas aldeias em especial nas áreas de montanhainterior.

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    Segundo a Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e Urbanismo (LBOTU) adesertificação (humana), as oportunidades de emprego, a edificação dispersa, e as paisagens são osquatro grandes problemas relacionados com os espaços rurais. [2]

    A desertificação constitui um problema complexo e com múltiplas dimensões, causas e efeitos, queafecta extensas áreas do Mundo. Relacionada com problemas de carência hídrica mas também com

    dimensão humana, ligada a processos de dinâmica recessiva das populações que podem conduzir aodespovoamento e abandono progressivo de certas regiões. Estima-se que 11% do território continentalpode vir a sofrer problemas de desertificação e que cerca de 60% apresenta um nível intermédio deocupações. O solo constitui um recurso essencial e não renovável, sujeito a diversos riscos e formas dedegradação. A desertificação consiste num deles, a par ou cumulativamente com outros como aerosão, a salinização e a degradação. [3]

    Os modos de vida tradicionais alteraram-se, sendo resultado disso o declínio de muitas actividadeseconómicas, nomeadamente o abandono dos campos e da floresta. O desemprego entre a população éo grande impulsionador da emigração, poucos são os empregos fora da agricultura e os jovens vêemesta actividade como algo a evitar. O nível de vida não é o melhor e carece de certos serviços e infra-

    estruturas: os deficientes acessos, a falta de equipamentos e de serviços, a falta de informação e aprópria estrutura económica.

    Os aspectos que tradicionalmente caracterizavam o mundo rural alteraram-se. Hoje em dia a suafunção não é necessariamente a produção de alimentos e a sua actividade predominante pode não ser aagrícola. O conceito de espaço rural é complexo, multidimensional e não redutível ao tipo deactividade dominante, à densidade populacional ou à estrutura do povoamento. O conceito temevoluído, e pode ser caracterizado, genericamente, como uma área que, para além da actividadeagrícola, demonstra um potencial de funções complementares ligadas ao meio ambiente, ao turístico eà função residencial. [2]

    Surgem então novas oportunidades para as áreas rurais tais como a valorização dos produtoscaracterísticos a nível local, a aposta nas energias renováveis, o turismo em espaço rural, a indústria eos serviços.

    O objecto de estudo desta dissertação é, efectivamente, “a aldeia”, um meio pequeno, urbano que seencontra inserido no território rural. Este organiza-se em pequenos aglomerados espaçados entre si,sendo que, a estrutura de cada aldeia ou vila pode diferir, conforme se encontre numa zona de vale oude encosta, do tipo de solo e pela agricultura praticada.

    Segundo a OCDE existem três tipos de áreas rurais:

      Áreas rurais economicamente integradas, muitas vezes localizadas perto de centros urbanosnormalmente com rendimento superior à média rural e com um crescimento económico e

    geográfico elevado;

      Áreas rurais intermédias que são relativamente afastadas dos centros urbanos mas com boasinfra-estruturas de acesso;

      Áreas rurais remotas com uma população residente dispersa e distante dos centros urbanos.Estas áreas caracterizam-se por uma densidade populacional baixa, uma populaçãoenvelhecida, poucas infra-estruturas e serviços, um baixo rendimento e uma fraca integraçãocom o resto da economia.

    Cada uma destas diferentes tipologias de zonas rurais apresenta estrangulamentos mas tambémpotencialidades que urge analisar enquanto contributo para uma política de desenvolvimento rural.

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    Figura 2.1 - Regiões Rurais em Portugal pelo método da OCDE. [5]

    2.2 DESENVOLVIMENTO RURAL 

    2.2.1 OBJECTIVOS ESTRATÉGICOS 

    Uma estratégia para desenvolvimento rural passa, primeiramente, pela resolução dos vários problemase por procurar novas formas de promover as suas potencialidades.

    Os cinco objectivos estratégicos identificados pelo Programa de Acção Nacional de combate àDesertificação são:

      Conservação do solo e da água;

      Fixação de população activa nos meios rurais;

      Recuperação das áreas afectadas;

      Sensibilização da população para a problemática da desertificação;

      Consideração da luta contra a desertificação nas politicas gerais e sectoriais.

    O combate contra a desertificação e pela promoção de um desenvolvimento regional contínuo eintegrado deve ser travado, em 1º lugar, no plano do desenvolvimento regional. [3]

    O maior desafio que as zonas rurais enfrentam actualmente é o de encontrar e promover formasapropriadas de desenvolvimento económico que permitam melhorar a vitalidade social e económica, àmedida que estas se ajustam às diferentes exigências nelas exercidas pela sociedade e pelo mercado. Odesenvolvimento económico numa região depende claramente da capacidade individual das pessoaspara aproveitar as oportunidades existentes (formação, confiança, capacidade de investimento).

    Depende, também, dos recursos naturais (estado de conservação, degradação, estabilidade climática,

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    disponibilidade, etc.) e por fim, dos equipamentos e das infra-estruturas (saúde, acessos rodoviários,etc.). [5]

    Questões como promover a protecção do ambiente e a florestação ou captar investimento para aagricultura são essenciais para o desenvolvimento do meio rural. Tal como a valorização dos recursosnaturais e culturais potenciando os recursos da paisagem e do património cultural, nomeadamente os

    produtos locais e o Turismo de Aldeia.

    As estratégias a aplicar na promoção do desenvolvimento e na resolução dos problemas do meio ruralnecessitam de uma abordagem sistémica e devem dar prioridade à iniciativa empresarial e ao emprego,a projectos reprodutivos com capacidade de integração e à procura de novas funções para as áreas semagricultura rentável. Devem ter em conta os problemas específicos dos territórios rurais, em especialos das áreas mais vulneráveis e ameaçadas de despovoamento e que inclua instrumentos de apoio: aoaumento da competitividade dos sectores agrícola e florestal; à gestão sustentável dos espaços rurais edos recursos naturais; à diversidade da economia e do emprego; à qualidade de vida nas zonas rurais.[2]

    Uma das grandes barreiras ao desenvolvimento resulta, muitas das vezes, das imposições legais aoinício da actividade. Estas vão desde os regulamentos de higiene e segurança no trabalho, aosimpostos e à burocracia. Estas condicionantes levam os habitantes a explorar de forma semi-clandestina os recursos naturais, impedindo-os de colocar os seus produtos nos mercados locais (porexemplo: mel, queijo, ovos, hortícolas, frutas). [6]

    A qualificação dos cidadãos, o crescimento sustentado através da competitividade dos territórios e dasempresas, a garantia da coesão social, a promoção de um melhor ordenamento do território e a suaqualificação ambiental e reduzir assimetrias regionais são as formas de dinamizar e desenvolver asaldeias e de aumentar a qualidade de vida das populações. As pequenas e médias cidades são, naverdade, os potenciais pólos de desenvolvimento com benefícios para a área rural circundante. Noentanto impõe-se a criação de equipamentos como forma de apoio às zonas rurais, cujaimplementação, junto das aldeias, permite o acesso a um conjunto de serviços que de outra forma sópoderiam beneficiar deslocando-se à cidade mais próxima, por vezes relativamente remota.

    De entre os equipamentos essenciais destacam-se dois: o Centro de Convergência e o Centro Múlti-Serviços. O Centro de Convergência é um pequeno equipamento que permite estabelecer uma ponteentre a cidade e o campo cuja principal função é a de informar as populações, disponibilizando umconjunto de serviços, tais como, acesso gratuito à Internet e uso de computadores, biblioteca,actividades lúdico-pedagógicas para as crianças, cursos de formação e programas periódicos decinema. O Centro Múlti-Serviços em Áreas de Baixa Densidade, por sua vez, é um instrumento deprestação de serviços em áreas de baixa densidade. É um espaço que concentra diversas componentesfuncionais nas áreas da saúde, agricultura, desenvolvimento rural, trabalho e solidariedade social,

    educação cultura, ambiente e ordenamento e apoio municipal. Permite uma maior proximidade aserviços essenciais para a população sem custos demasiados elevados devido à partilha de instalaçõese de recursos humanos. Este instrumento, está já no terreno, num projecto-piloto em Terras de Basto,tendo sido criado através da colaboração de cinco Ministérios. [7]

    A opção por um ou outro equipamento depende de muitos factores, mas genericamente, o primeiroserá o mais disseminado e terá uma maior proximidade às aldeias. O segundo, por exigir maisrecursos, terá de ser mais ponderado e a sua localização deverá servir um conjunto mais alargado dealdeias e vilas. No entanto, mais importante do que o número de pessoas que vai servir é a distância eo tempo de viagem a que dista.

    Dos programas de apoio ao desenvolvimento regional, destaca-se o Programa de ValorizaçãoEconómica dos Recursos Endógenos (PROVAR) que tem como objectivo promover acções, de forma

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    integrada, com vista à valorização económica dos recursos endógenos das regiões, contribuindo parauma maior competitividade de base económica visando, para a criação de emprego e de forma maisgeral, a sustentabilidade económica e social das regiões envolvidas. Este instrumento visa apoiarprojectos-âncora de natureza económica e/ou tecnológica e integrar-se num sistema de incentivos cujaaplicação possa privilegiar centros de excelência. [3]

    2.2.1.1 Turismo

    O turismo é encarado como um sector de elevado potencial para estimular o desenvolvimento dasáreas rurais, cujas características específicas (paisagísticas, ambientais e sócio-culturais) são cada vezmais valorizadas. As perspectivas, em termos de fluxo de turistas, são promissoras. A tendência paraas férias de curta duração tem provocado um acréscimo de estadas em destinos rurais.

    A uniformização e descaracterização dos destinos turísticos provocados pelo processo de globalizaçãotende a valorizar aquilo que nas regiões há de diferente, único, intransferível. A globalização constitui,portanto, uma oportunidade. O espaço rural deve posicionar-se como um espaço de qualidade, tirando

    a máximo proveito dos atributos de que é detentor através, por exemplo, do turismo no espaço rural(TER) que se insere no designado turismo dos três “L” – Lore, Landscape and Leisure (Tradições,Paisagens e Lazer) - que tende a fazer frente ao massificado turismo dos três “S” – Sun, Sea and Sand(Sol, Mar e Praia).

    Em Portugal, o turismo no espaço rural (TER) foi consagrado legalmente em 1984 (D.L. nº251/84 de25 de Julho). Actualmente compreende os serviços de hospedagem prestados nas modalidades deturismo de habitação, turismo rural, agro-turismo, turismo de aldeia, casas de campo, hotéis rurais,parques de campismo rurais, bem como as actividades de animação ou diversão que se destinem àocupação dos tempos livres dos turistas e contribuam para a divulgação da região.

    No entanto, se esta actividade económica pode proporcionar um maior valor acrescentado a espaços

    com património natural e sociocultural, também pode colocá-los em perigo. É nesta linha depreocupação que surge o denominado “turismo sustentável”. Esta forma de turismo tenta responder àsnecessidades actuais dos turistas, indústria e comunidades visitadas, sem pôr em causa a capacidade desatisfação das necessidades das gerações futuras. Como refere Swarbrooke (1999), o turismo temimpactos ambientes, económicos e sociais, pelo que o turismo sustentável pretende maximizar osimpactos positivos e minimizar os negativos. [8]

    Figura 2.2 - As dimensões do turismo sustentável. [13]

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    A promoção do turismo deve ser feita a nível regional de forma a permitir o reforço da organização,complementaridade e integração da oferta turística. A pequena dimensão das unidades turísticasinstaladas e a inexistência de articulações entre elas, tem sido uma das principais razões da dificuldadede criação de novas estruturas de animação e de uma organização consistente de novos produtos eserviços turísticos, designadamente circuitos turísticos organizados, turismo activo, visitas a parques e

    percursos e interpretação da natureza.É imprescindível a resolução das dificuldades na aprovação de projectos e é necessário, também,encontrar metodologias simplificadas ajustadas aos instrumentos de planeamento e ordenamento que,protegendo os interesses públicos, permitam definir com rapidez as condições de concretização dosempreendimentos. [9]

    A par do ordenamento do território deve ocorrer um ordenamento turístico em paralelo. Este pode serfeito a nível do concelho e deve abordar áreas como a promoção e marketing do concelho, odesenvolvimento de infra-estruturas de apoio ao turismo, apoio de projectos de TER, melhoria dasinalização turística, melhoria das vias de acesso aos pontos de maior interesse, apoio a projectos devalorização turística, conservação do património histórico e arqueológico, valorização das artes

    tradicionais (cestaria, tanoaria, bordados), apoio a festivais, feiras e a elaboração de informação paraos turistas (mapas, folhetos com vários itinerários). [8]

    Por uma questão de racionalização de recursos, devem ser definidos os pólos turísticos com maiorpotencial de desenvolvimento e que produzam efeitos positivos sobre as áreas rurais e as pequenas emédias cidades do interior. Para tal, devem-se reforçar as medidas de apoio directo a projectos comclaro impacto na valorização turística dessas áreas, tanto pelo seu potencial de crescimento como peloefeito benéfico sobre a região circundante. A título exemplificativo, podemos citar como exemploscom elevado potencial, a região do Vale do Douro e a zona da grande barragem do Alqueva (figura2.3).

    Figura 2.3 - Recursos turísticos do Douro. [2]

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    Decorrente dos recursos turísticos existentes nessas regiões, devem ser identificados os produtosturísticos prioritários que poderão ser, nomeadamente, o turismo histórico-cultural (Touring), oturismo de natureza e a gastronomia e vinhos (Enoturismo).

    A oferta de alojamento hoteleiro nas regiões do interior é, ainda, pouco significativa. Neste sentidoimporta desenvolver um aumento da oferta de alojamento assente em padrões de qualidade e

    sustentabilidade.

    Fazendo uma análise SWOT generalizada às regiões rurais de Portugal continental temos como pontosfortes: a paisagem única, um vasto património histórico-cultural e arqueológico, um importante econtínuo Património Natural e Paisagístico - o Parque Natural do Douro Internacional, Parque doAlvão, Parque Natural do Sudoeste Alentejano, o Grande Lago do Alqueva - uma oferta turísticadiversificada (turismo rural, vinhos e gastronomia, cruzeiros, cultura, comboios históricos, etc.)

    Os novos padrões de consumo e motivações, privilegiando destinos que ofereçam experiênciasdiversificadas e com elevado grau de autenticidade e qualidade ambiental é, sem dúvida, uma grandeoportunidade.

    Os pontos fracos das regiões rurais são a população envelhecida e com baixos níveis de escolaridade,más acessibilidades, má sinalização turística, a incapacidade de fixação de visitantes (baixas taxas deocupação e permanência média), a insuficiente oferta de alojamento de qualidade e a falta de recursoshumanos qualificados no sector.

    Tem como ameaças, a perda de competitividade relativamente a outros destinos (regiõesconcorrenciais, com a mesma tipologia de oferta), o envelhecimento populacional e o contínuoprocesso de desertificação, a persistência dos principais problemas de condicionamento ao nível dasinfra-estruturas (acessibilidades), de ordenamento paisagístico e de qualidade ambiental, a perda deoportunidades na atracção de promotores e de investimento (resultante de um lento e complexoprocesso de aprovação de projectos), verificando-se que a necessidade de actuação em rede e em

    escala não é compatível com a fraqueza da concertação estratégica regional e com a pulverização deactuações dispersas.

    A valorização do património rural, padrão tradicional da paisagem e dos núcleos populacionais emmeio rural, é fundamental para a prossecução de uma estratégia de desenvolvimento turísticosustentável. A oferta turística tem de crescer assente em elevados padrões de qualidade esustentabilidade onde a matriz “aldeias” (associadas à oferta de TER) deverá constituir um elementocentral da estratégia do turismo. [9]

    2.2.1.2 Agricultura

    As principais actividades das zonas rurais estão ainda ligadas à agricultura e à pastorícia, embora nagrande maioria sejam essencialmente de subsistência. Apesar de o turismo ser a via para um maiordesenvolvimento das aldeias, tal não é extensível a todas para além de ser uma actividadetendencialmente sazonal. É indispensável que, a par das actividades não agrícolas, geradoras deemprego se desenvolva e modernize a agricultura local.

    Com a nova Política Agrícola comum (PAC), a União Europeia tem desenvolvido uma série deiniciativas tendo como prioridade encontrar meios de estimular a multifuncionalidade das zonas rurais.A PAC preconiza a indissociabilidade entre o futuro da agricultura, do mundo rural e da sociedadecomo um todo. Entre os investimentos prioritários surgem o apoio ao pequeno agricultor, nodesenvolvimento de agricultura biológica, o apoio à florestação e a certificação de produtos originais e

    qualidade comprovada. [10]

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    2.2.2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 

    A preservação do ambiente é hoje em dia uma preocupação generalizada da nossa sociedade.

    O desenvolvimento sustentável é fundamentalmente uma forma de uso responsável dos recursos demodo a não comprometer as gerações futuras. Isso implica deixar a mesma qualidade e quantidade de

    recursos naturais, de que dispomos, para as próximas gerações. Os recursos naturais que devemosconservar são, para além das matérias-primas existentes na natureza, as espécies de fauna e flora, osolo e a preservação das suas características naturais.

    O conceito de sustentabilidade deve ser abordado não só à escala de uma aldeia ou de uma cidade mastambém à escala regional sendo a região a considerar o aglomerado urbano ou aglomerados urbanos etodo o seu espaço rural circundante. A sua delimitação deve ser estudada caso a caso devido àmultiplicidade de situações existentes, sendo sempre uma consideração de carácter subjectivo.

    A análise do equilíbrio e sustentabilidade de uma região deve ser pensada de forma sistémica devendoser integradas as questões da economia, da ecologia e da coesão social.

    Uma cidade não consegue ser por si só sustentável. A expressão “cidades sustentáveis”, tema muitoem voga, não é mais que um sinónimo de cidade eficiente (envolvendo, entre outros aspectos, umamenor produção de resíduos e um menor consumo de energia). As cidades não são sustentáveis porqueexploram os recursos de outras regiões, embora, as regiões que as contêm possam e devam sersustentáveis. Qualquer cidade depende da sua região envolvente ou de outras regiões que suprimam assuas necessidades. A cidade não produz as quantidades que consome de alimento, água e energia. Poroutro lado exporta resíduos urbanos e industriais, águas residuais e poluentes atmosféricos. Noentanto, exporta também conhecimentos, serviços e transformação sobre os produtos com oconsequente valor acrescentado.

    Se a sustentabilidade depende do nível de exploração e regeneração dos recursos naturais, então asustentabilidade da cidade depende da ou das regiões que a fornecem de matérias-primas, energia,

    água e alimento. Por esta razão não faz sentido equacionar a sustentabilidade de uma cidade mas sim asustentabilidade de uma região.

    Sendo a produção de bens feita a um nível regional, a energia gasta no seu transporte é menor.Simultaneamente a proximidade possibilita uma gestão mais cuidada e responsável dos recursosnaturais o que promove a responsabilização das populações sobre os impactos ambientais e sobre agestão dos seus recursos naturais. O típico efeito nimby – not in my back yard (não no meu quintal) - ésentido, por exemplo, quando se pretende construir um aterro sanitário.

    As grandes cidades resultam do êxodo rural, motivado pela falta de oportunidades nestas regiões que écausa, essencialmente, de políticas que levam à sucessiva especialização das produções agrícolas pararedução de custos, promovendo as exportações entre regiões e a centralização de custos. Ocrescimento das cidades, e consequentemente o aumento da necessidade de recursos, não éacompanhado pela capacidade que a região que a envolve tem de satisfazer as necessidades básicasdos seus habitantes. [7]

    A Comissão Europeia, através do documento intitulado “Esquema de Desenvolvimento do EspaçoComunitário” (EDEC) de 1999, defende o desenvolvimento policêntrico das cidades de uma formaequilibrada e o reforço da parceria entre os espaços urbanos e rurais. Num sistema urbano deste tipo,as cidades de pequena e média dimensão e as suas interligações constituem nós e redes de uniãoimportantes na estrutura territorial, sobretudo para as zonas rurais.

    Tal orientação traduz a necessidade de uma visão integrada que engloba a cidade e o campo como uma

    unidade territorial funcional, caracterizada por inter-relações e inter-dependências múltiplas. Neste

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    sentido, as cidades podem ser vistas como um potencial foco de iniciativas de desenvolvimento, combenefícios que se espera venha a ter na área rural circundante. [6]

    No entanto vemo-nos confrontados com a estagnação das vilas, sede de concelho, das regiões maisinteriores, e a sua incapacidade de fixar população e de criar novas dinâmicas de desenvolvimento, apar da perda progressiva de serviços numa perspectiva economicista do Estado. Estes centros não são

    suficientemente “urbanos” para satisfazer todas as necessidades da população. [10]

    A evidência empírica tem sugerido que as pequenas cidades são motores de desenvolvimento daszonas rurais, particularmente as mais remotas. (Courtney e Errington, 2000). As pequenas e médiascidades têm um papel determinante na integração das funções socioeconómicas do meio rural que asenvolve. Adicionalmente actuam como entreposto entre o mundo rural e as áreas metropolitanaspróximas. Como tal, urge a necessidade de uma maior atenção sobre elas para que seja possível umdesenvolvimento mais coerente e homogéneo do território nacional. [6]

    A sustentabilidade é condição essencial ao desenvolvimento turístico, em termos ambientais, da“paisagem cultural evolutiva e viva”, e de uma dinâmica económica e social mobilizadora, exigindo

    um equilíbrio entre o activo do território e a sua capacidade de acolhimento, que assegure apreservação do património natural, cultural e ambiental. [9]

    2.2.3 PLANEAMENTO URBANO 

    Apesar de as aldeias apresentarem um decréscimo populacional, o mesmo não se verifica ao nível daconstrução, como testemunha o aumento do número de segundas habitações. Com a progressivamelhoria da qualidade de vida da população em geral, as aldeias que se esvaziaram com algumarapidez nas décadas anteriores, passaram a encher-se durante os meses de Verão. O rápido crescimentodas aldeias não é, no entanto, acompanhado por um correcto planeamento, não sendo prestadaqualquer atenção ao modo como o seu desenvolvimento se processa criando-se muitas vezes zonas

    sem qualidade e sem qualquer ligação ao pré-existente. [11]

    Os emigrantes mantêm uma forte ligação à sua terra de origem e, apesar de não regressarem de formadefinitiva, logo que financeiramente possível constroem uma casa de férias, muitas das vezes comcaracterísticas do país onde agora residem. Não só os materiais e as tipologias são diferentes, comotambém a inserção no próprio espaço.

    Figura 2.4 – Edifício dissonante em volume e nos materiais utilizados na aldeia da Quintandona.

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    A arquitectura vernacular foi, e ainda é, largamente ignorada, quer nas novas construções, quer napreservação das já existentes. Observam-se exemplos de arquitectura popular em ruínas ou comalterações profundas que as tornam quase irreconhecíveis. É frequente observar-se, entre grupos decasas de arquitectura popular, edifícios dissonantes, quer pelas suas dimensões, quer pelos materiaisaplicados que, em oposição aos usados tradicionalmente, quebraram a relação harmoniosa com a

    envolvente.

    Figura 2.5 - Edifício dissonante em volume e nos materiais utilizados na aldeia de Marialva.

    As aldeias que podiam beneficiar economicamente do seu aspecto pitoresco, característico e únicocomo atracção turística, estão progressivamente a prejudicar o seu futuro com a destruição irreversívelde grande parte da sua herança e identidade colectivas, num mundo que é cada vez mais global ehomogéneo.

    As construções são normalmente feitas ao gosto dos proprietários dos terrenos, por vezes, semqualquer auxílio a nível urbanístico e até arquitectónico por parte de um técnico ou entidadecompetentes. O uso de materiais e modificações nos edifícios levam não só à descaracterização destes

    como à descaracterização dos lugares.Com a generalização do uso do automóvel foram criados novos acessos às aldeias. Tal despoletou umacrescido interesse para a construção de novas casas, nestes novos acessos, abandonando o centro daaldeia e consequentemente, esbatendo a vontade de recuperar as casas antigas. A maioria do edificadoencontra-se devoluto sendo, no entanto, esse edificado, o que apresenta maior interesse arquitectónicopois inclui, muitas vezes, bons exemplos de arquitectura popular. [13]

    As construções mais recentes apesar de se localizarem sobretudo nas áreas mais periféricas da aldeia,podem ser encontradas também na zona mais antiga. Estas construções, habitualmente, não respeitamos materiais e tipologias tradicionais, tornando-se dissonantes e levando à descaracterização do lugar,que poderia fazer uso da sua tradição arquitectónica para se “promover”, nomeadamente através doturismo. Muitas das novas construções são de génese ilegal, talvez devido aos impedimentos

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    burocráticos que os emigrantes encontram, uma vez que permanecendo apenas durante o período deférias, dispõem de pouco tempo.

    Existe actualmente algum desprezo pela aldeia tradicional. A aldeia com as suas casas de pedra deulugar aos loteamentos em banda e às grandes vivendas de betão. Existe unicamente a preocupação decumprir os requisitos mínimos para a aprovação de projecto de loteamento. As áreas de cedências são

    cumpridas por obrigação sem no entanto serem pensadas verdadeiramente como um espaço de estar. Odesenho urbano acaba por se tornar uma mera formalidade resumida a uma esquadria de ruas paralelase perpendiculares, sem que aja um esforço para criar espaços de qualidade. O espaço como entidadefuncional, parte essencial da construção de um lugar urbano, foi esquecido, sendo agora o únicoobjectivo o de dar acesso aos lotes através de uma rua ficando a grande maioria do espaço sobranteremetido para o domínio privado.

    O modo de vida das populações também mudou: houve uma massificação de cafés, bares erestaurantes assumindo, estes, um papel de extrema relevância como locais de encontro e lazer,remetendo para segundo plano o espaço público. Este deixou de ser uma prioridade no planeamento,urbano o que levou à diminuição da sua qualidade.

    Um espaço público pode ter leituras diferentes que lhe conferem significados distintos que, por suavez, se relacionam com a memória colectiva da população. O espaço público é constituído por várioselementos: a vegetação, o mobiliário urbano, os serviços e instalações, os elementos de informação, ailuminação, passagens e passadiços, entre outros, e a presença de qualquer um deles pode tornar umlugar mais ou menos agradável, mais ou menos significativo, dependendo da sua adequação ao localonde se insere, quer em qualidade, quer em quantidade. A presença de edifícios dissonantes, ou demobiliário urbano insuficiente ou de fraca qualidade, tal como o que resulta de um inadequadodesenho e dimensionamento do espaço, levaram à decadência destes lugares.

    Esta perda de identidade arrasta com ela um conjunto de factores que, pela sua singularidade emrelação às grandes urbes, poderiam cativar potenciais interessados. Os baixos índices de poluição,espaços verdes, contacto com a natureza e um ritmo de vida mais calmo são algumas das mais-valiaspara atrair quem não vive aqui. A população que habita a cidade, quando se desloca a uma aldeia,procura um espaço com características diferentes do local onde vive. Deste modo, moldar as aldeias àsemelhança das cidades é um erro grave que põe em causa a sobrevivência da própria aldeia.

    É obviamente essencial o processo de modernização das infra-estruturas, dos espaços públicos e dashabitações. É preciso dotar os lugares das condições indispensáveis para o usufruto e para a melhoriada qualidade de vida da população, para não incorrer no erro de criarmos “aldeias-museu”, onde avivencia do espaço é impedida por limitações à mudança. No entanto, o processo de modernização emcurso deve respeitar a tradição do lugar, de modo a não o descaracterizar.

    É necessário encontrar um desenho do espaço público que faça a ponte entre o lugar com umsignificado e uma história próprias e as novas necessidades e modos de vida, nomeadamente anecessidade de locais de estacionamento e de espaços para crianças e jovens, reclamados,principalmente, no Verão, bem como de locais onde os mais velhos possam passar o seu tempo. Sãoespaços que devem ser pensados e tidos em conta.

    Daí a importância de instrumentos como o ordenamento do território, que deve assegurar que asedificações, isoladas ou em conjunto, se integram na paisagem, contribuindo para a valorização daenvolvente. Os planos de âmbito nacional e regional devem ser complementados por adequadosPlanos de Pormenor (PP) sujeitos a uma permanente revisão e actualização.

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    Figura 2.6 – Espaço público reabilitado na aldeia de Pedralva.

    Os espaços rurais apresentam graves problemas de ordenamento de território: o abandono; as baixasdensidades; novas procuras residenciais desligadas da actividade agrícola; novos modeloshabitacionais; descaracterização e degradação das aldeias (abandono e ruínas no centro e construçõesdispersas na envolvente); formas desadequadas de uso do espaço.

    O correcto ordenamento do território visa assegurar a defesa e valorização do património cultural enatural e salvaguardar e valorizar as potencialidades do espaço rural, contendo a desertificação eincentivando a criação de oportunidades de emprego. [2]

    A necessidade de legislar sobre certos aspectos relacionados com a expansão das aldeias éfundamental para que sejam protegidos os espaços públicos e as construções de carácter tradicional.São necessários planos de pormenor e outros instrumentos que possam actuar a várias escalas,permitindo um controlo mais eficiente por parte da administração local. Torna-se imperativo queexista mais informação e menor burocratização.

    O correcto crescimento físico de uma aldeia pode influenciar positivamente o seu crescimento

    populacional e consequente desenvolvimento económico, particularmente em iniciativas ligadas aoturismo de qualidade, associadas às características particulares de cada aldeia, e que permitam tambémreforçar a sua identidade.

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    3REABILITAÇÃO DE CONSTRUÇÕES

    RURAIS

    3.1 INTRODUÇÃO 

    A casa popular rural é o elemento mais significativo e importante da paisagem trabalhada pelo homem- é o produto das relações do Homem com a Natureza -, quer pela grande diversidade de tipologiasquer pela maneira como se conseguiram adaptar e responder a condicionalismos de várias ordens –geográficos, económicos e históricos. “Um tipo de habitação resulta, as mais das vezes, de uma longaevolução; ele resume a experiencia de gerações de gentes da terra; ele forma, na realidade (…) umaferramenta adaptada ao trabalho do homem do campo; este transmite-a tal como os seus antepassadosa conceberam e realizaram”. [12] Segundo certos autores, a casa rural serve não só para a habitaçãomas também como instrumento de trabalho agrícola adaptado ao tipo de exploração da terra.

    A casa popular difere, de região para região, na forma e nos pormenores decorativos. Esta diversidadede tipos deve-se à acção de múltiplos factores que se combinam e interagem das mais diversas formas

    e hierarquias: pelos diferentes materiais disponíveis localmente, pelas particularidades geológicas eclimatéricas, pelas diferenças culturais e sociais. Sem dúvida que a presença ou ausência dedeterminados materiais, o clima e o tipo de agricultura praticado são factores determinantes dascaracterísticas da casa popular regional, embora, a tradição seja sempre o factor mais significativo.

    De uma forma muito generalista, podemos dividir Portugal Continental em duas regiões, de áreassensivelmente iguais mas muito distintas nos mais variados aspectos: o Norte, muito montanhoso e delitoral plano e o Sul, região de planícies desérticas e hostis. Esta divisão geral não é fiel à grandediversidade geográfico-cultural que marca o país, resultante da presença do oceano, das montanhas,dos planaltos e planícies, da faixa litoral, das diferentes vegetações e climas e das diversas herançasculturais deixadas pelos povos que passaram por Portugal mas permite enquadrar a casa rural popular

    no contexto do país e incluí-la nesta divisão: a casa-torre, de rés-do-chão e andar, a Norte e a casatérrea, a Sul. No capítulo seguinte esta divisão será explicada e aprofundada. [14]

    Pela importância histórica e pelo dever de preservar uma tão rica herança cultural e paisagística, areabilitação da casa popular é fundamental sendo também um contributo para a melhoria da qualidadede vida das populações rurais.

    Para o estudo da casa popular é importante definir os diferentes tipos de casas mas, não menosimportante, é preciso também perceber as diferentes formas como se organizam as povoações em queinserem.

    Segundo Ernesto Oliveira e Fernando Galhano, existem três tipos de povoações:

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    a)  As povoações localizadas em planícies: localizadas em lugares de relevo pouco exigente,possibilitando uma área de ocupação mais vasta; permite um maior afastamento entre as casasreflexo nas ruas mais largas e espaços públicos de maiores dimensões (largos e praças);

    b)  As povoações de montanhas: a estrutura da aldeia é mais condicionada pelo relevo maisacentuado e um clima mais agreste; Consequentemente, as casas estão mais próximas umasdas outras de modo a protegerem-se melhor do clima; As ruas e espaços públicos possuem

    menores dimensões e são mais irregulares para melhor se ajustarem ao relevo;c)  As populações localizadas em cristas montanhosas: caracterizam-se por possuir uma rua

    principal que segue a direcção do talvegue principal; é aí que se localizam a maioria das casase os principais espaços públicos; Desta, saem ruas de menor importância, tendencialmenteperpendiculares à via principal. [11]

    Figura 3.1 – Esquema de povoações localizadas em planícies. [11]

    Figura 3.2 – Esquema de povoações de montanha. [11]

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    Figura 3.3 – Esquema de povoações em cristas montanhosas. [11]

    Genericamente, a organização dos povoados é do tipo concentrado, ou seja, as edificações encontram-

    se implantadas de forma relativamente coesa. Os espaços públicos de estar (largos e praças) resumem-se ao adro da Igreja. Desde a Idade Média que as construções de cariz religioso surgem comocatalisador para a formação de um povoado, e a praça que surge em seu torno serve, para além deexaltar a sua importância de lugar de encontro e convívio da população. Em tempos, era o local ondese realizava o mercado periódico para a venda de produtos agrícolas e de gado.

    Existem, também, os espaços semi-públicos (pátios): têm um carácter público, uma vez que nãopertencem a nenhuma identidade privada mas estão limitados às pessoas que habitam as casas quecircunscrevem o pátio. A sua forma em U cria um ambiente intimista. [11]

    Certas povoações pertencem a um arco temporal de vários séculos, formaram-se e evoluíram a partirde aglomerados romanos e são o resultado de um processo lento de evolução, traduzindo o esforço dedesenvolvimento de cada época. As suas construções feitas de materiais idênticos, de cércea baixa,sujeitaram-se às imposições do terreno, dotando estas povoações de uma imagem singular.Representam um importante legado do nosso passado e da memória colectiva da população rural. [15]

    Este legado cultural, em toda a sua dimensão, é um importante recurso a colocar ao serviço dodesenvolvimento regional. O mundo rural tem mostrado pouca capacidade para atrair investimento emsectores como o terciário, pela localização periférica relativamente aos centros urbanos e pela falta deinfra-estruturas. O turismo tem vindo, no entanto, a assumir-se como um eixo estratégico e de grandeimportância na base económica destas regiões, devendo basear-se no respectivo patrimónioarquitectónico, cultural e ambiental.

    3.2 AS CONSTRUÇÕES RURAIS 

    Antes de pensarmos no modo de intervir nas aldeias – demolições, restauro, reabilitação, manutenção– é necessário perceber os elementos característicos de cada tipo de casa, os elementos diferenciadorese únicos e os espaços onde se inserem, de maneira a que as intervenções nos edifícios existentes e osfuturos edifícios a construir, e mesmo os planos de pormenor e similares não descaracterizem apaisagem.

    Vários autores que estudaram a casa popular rural fizeram a sua classificação. Na opinião deDemangeon as habitações devem ser definidas segundo o seu plano interior, isto é, na relação entre afunção habitação e a função agrícola e não segundo os materiais utilizados na sua construção ou as

    suas formas exteriores. A tipologia da casa rural é muito influenciada pelo tipo de agricultura

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    praticada, decorrente do meio geográfico em que se insere. Desta forma consegue-se uma classificaçãomuito mais significante do que na consideração dos materiais construtivos. Certos pormenoresconstrutivos e arquitectónicos contribuem para a autenticidade de uma aldeia mas são aspectos queevoluem e se alteram pelo que o autor defende por isso que a “verdadeira originalidade (…) reside noplano, na repartição dos diferentes locais, nessa ordem interna que se faz reinar”. [12]

    O autor estabeleceu uma classificação base dividindo-as em dois grupos distintos: a casa-bloco, ondetodas as funções (habitação, abrigo de gado e arrecadações) se situam no mesmo edifício, e casa-pátio,em que cada um destes sectores possui um edifício próprio e independente, que se dispõem em tornode um pátio central, podendo este ser aberto ou fechado.

    Sob o ponto de vista da sua estrutura arquitectónica fundamental, a casa popular, pode ser de doispisos ou térrea. A casa de dois pisos, – a casa-torre -, caracteristicamente, reserva o piso térreo paragado e arrumações e o andar para habitação. Ela é a casa popular rural do Norte, nomeadamente, dasregiões de Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, Beira Transmontana, Beira Alta e Beira Baixa.Segundo a classificação de Demangeon é a casa-bloco.A casa térrea, mais característica da região sul,destina-se exclusivamente para a habitação. Para além do edifício principal, possui também, a maioria

    das vezes, dependências para o gado e arrumações, palheiros e lojas, que se organizam à volta de umespaço central, a designada casa—pátio, segundo Demangeon.

    A classificação adoptada para a tese terá por base a estrutura arquitectónica, e divide a casa popularem dois grupos: a casa do Norte – casa de dois pisos – e a casa do Sul – a casa térrea. Em cada grupo,existem inúmeras versões e variantes da casa popular: a casa térrea e a casa de andar; a casa-bloco e acasa-pátio, abertos ou fechado; em pedra – granito, xisto, lousa ou calcário – ou em materiais leves –taipa, adobo, tijolo ou madeira -; cobertura de palha ou em telha, de uma, duas, três ou quatro águas;casas isoladas ou em áreas de povoamento concentrado. Cada factor, seja natural ou cultural, ajuda acompreender a razão de determinado elemento arquitectónico, sendo, no entanto, de evitar uma linhaúnica de razão, igual para todos os casos. A título de exemplo, a casa-pátio é característica do

    Alentejo, certamente, por ser uma região plana e onde não se colocam problemas de espaço,contrariamente às regiões montanhosas a norte onde tipicamente se encontra a casa-torre, que englobatodas as dependência debaixo do mesmo tecto.

    A casa popular rural em Portugal, nos seus diversos tipos e variantes impostos pelas particularidadeslocais de várias ordens, tem como característica comum uma simplicidade arquitectónica e por regraapresentam uma planta rectangular simples. Numa divisão muito abrangente, a casa-torre, de doispisos funcionalmente distintos, paredes de alvenaria de pedra, grande parte das vezes, sem reboco,interior e exteriormente, de aspecto rude, é a casa do Norte. Por outro lado, a casa térrea, feita demateriais leves, só para habitação, de paredes rebocadas e caiadas, interior e exteriormente é a casa doSul. [14]

    A casa popular do Norte – a casa-torre - apresenta algumas variantes conforme a região. Na zonaserrana, onde as principais actividades são a agricultura e a pastorícia, o povoamento é muitoconcentrado, e as casas agrupam-se num bloco muito compacto, quase que misturadas umas com asoutras. A casa serrana, é a típica casa do norte, mas mais pequena. De planta rectangular, o aparelhotosco de pedra solta à vista e sem reboco, interior e exteriormente. Observa-se um aparelho maiscuidado das padieiras, ombreiras e cunhais. Apresenta poucas aberturas e elementos decorativos. Temdois pisos funcionalmente distintos – o piso térreo para guardar o gado e o andar para habitação -, avaranda e a escada exterior. Apresentam feições rudes e toscas, e guarda-ventos para proteger do ventoe a cobertura, de colmo ou telha caleira, é frequentemente de quatro águas.

    Aproveitam, sempre que possível, o declive do terreno de modo a dispensar a escada. Esta, quando

    existe, é exterior e de pedra, e fica junto à fachada principal. No cimo da escada forma-se uma espécie

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    de varanda, onde se localiza a entrada da casa. Por vezes esta é coberta criando-se, assim, umalpendre. A cobertura de colmo, frequentemente utilizada, foi sendo substituída pela telha caleira emais recentemente pela telha Marselha.

    Interiormente, o aparelho de pedra descuidado fica à vista, as casas são escuras e raras são as divisões,que, quando existem, são de madeira. Não possuem chaminé. É frequente ver casas encostadas a

    afloramentos rochosos, quando não mesmo, usam estes como parede. [14]

    Figura 3.4 – Exemplo da casa popular do Norte, a casa-torre, na aldeia de Marialva.

    A zona transmontana delimitada entre o Gerês e o Marão, correspondente à parte norte do distrito deBragança, região de maior altitude, a Terra Fria Transmontana, é uma região planáltica e montanhosa,rasgada por vales abruptos e rios estreitos. O clima do tipo continental é muito exigente,

    proporci