raquel chrispim responsabilidade social empresarial na...
TRANSCRIPT
RAQUEL CHRISPIM
Responsabilidade Social Empresarial na prevenção e combate à corrupção: uma iniciativa que pode reformulara relação entre empresas e estados?
Dissertação apresentada ao Instituto de Pesquisa do Rio de Janeiro como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Ciências Humanas: Sociologia.
V.1
Rio de Janeiro
2007
6
INTRODUÇÃO
A dissertação aqui apresentada discute as razões pelas quais a prevenção e o
combate à corrupção entraram na pauta das empresas, sob a ótica da Responsabilidade
Social Empresarial e se essa atitude, está alterando a relação entre setor público e a
iniciativa privada.
A hipótese é a de que com a globalização as empresas precisariam se adequar às
exigências do mercado internacional e às suas “pressões”. A abertura do mercado
interno trouxe consigo um novo comportamento das empresas definido - em grande
parte - pelas normas das agências internacionais, por práticas legais de cunho
internacional.
Nesse novo cenário, os organismos internacionais começaram a atentar para o
problema da corrupção visando a necessidade de se estabelecer instrumentos jurídicos,
de caráter obrigatório, como os de auto-regulamentação por parte das próprias
empresas.
Se antes a corrupção era considerada um assunto interno de cada país, protegida
pelo princípio da soberania, nos país da América Latina era uma forma de quebrar as
barreiras da burocracia e fazer o mercado funcionar, agora ela passa a ser considerada
como um problema global e um obstáculo ao desenvolvimento do mercado
internacional. Nesse sentido, os organismos internacionais, através de seus instrumentos
de prevenção e combate à corrupção, traçam uma nova postura a ser adotada pelas
empresas e até mesmo pelos Estados nacionais.
No final da década de 1990 surgem protocolos e convênios contra a corrupção
advindos de diferentes organismos, como os da Organização Comercial e
Desenvolvimento do Comércio (OCDE), Banco Mundial, Organização das Nações
Unidas (ONU), Transparência Internacional, Transparência Brasil e Instituto Ethos.
Portanto, para que a empresa possa fazer parte desse novo mundo dos negócios
é necessário que ela atenda às exigências instituídas por essas agências. Em outros
termos, a competitividade internacional de uma empresa não se mede apenas pelo seu
desenvolvimento tecnológico, mas ainda por uma série de normas reconhecidas como
legítimas pelo próprio mercado.
Na verdade, as empresas passaram a incorporar estas novas orientações
internacionais sob a rubrica da Responsabilidade Social Empresarial, tema hoje forte no
7
cotidiano das empresas norte-americanas, européias e latino-americanas. E através desta
perspectiva, de uma nova forma de ação empresarial, que a questão da corrupção
transforma-se em preocupação das empresas.
No caso das empresas brasileiras, o tema da prevenção e combate à corrupção
chega através da RSE, pela influência do Instituto Ethos e da Transparência Brasil. Em
pouco tempo estão envolvidas também federações como FIEMG e FIESP e associações
empresariais como ACMINAS e ABERJ.
A partir desse momento o que se questiona é se as empresas estão tomando
para si a posição de prevenir e combater a corrupção, antecedendo as obrigações do
Estado, em função da situação imposta pelo mercado, que envolve competitividade. E
se esse tipo de situação pode desenhar um novo cenário na relação entre Estado e
empresários. A relação entre esses dois atores no Brasil tem sido foco de pesquisadores
como Boschi e Diniz, que analisam a formação de grupos que representam os interesses
empresariais ao longo da história política e econômica do país.
Os autores nos mostram que com as transformações trazidas pela abertura
comercial no governo Collor, reformas econômicas e reformas do Estado e ainda com a
emergência de um novo regime produtivo a partir dos anos 90 no Brasil, surgem
instituições empresariais capazes de se adaptar a tais mudanças.
Assim, o modelo de corporativismo controlado pelo Estado passou a ser um
modelo baseado na competição dos interesses, o que impulsionou a criação de agências
regulatórias independentes. A partir desse momento o Estado deixa de ser ator central e
indutor da ação coletiva, assim como das práticas associativas do empresariado.
Nesse contexto, as relações entre empresários e Estados que se davam, sobretudo
no âmbito do Poder Executivo passaram a se estabelecer, a partir das mudanças de
mercado e reforma política, junto ao Poder Legislativo, o que reforçou as práticas de
lobby, hoje também inseridas nos debates de prevenção e combate à corrupção. A
dinâmica desse novo cenário político econômico permite ao empresariadoestar em uma
dimensão ativa perante o Estado, contribuindo e, até mesmo, interferindo em decisões
que envolvem economia e políticas públicas.
A questão, no entanto, permanece. Será possível, a partir dessa nova forma de
atender às exigências do mercado, alter a relação entre empresariado e Estado? Essa é a
questão que tentarei responder ao longo da dissertação.
Para melhor compreender as questões levantadas acima exploro no primeiro
capítulo o histórico do fenômeno da RSE no mundo e, principalmente, no Brasil.
8
Abordo a sua expansão e as diversas tentativas de conceituar a RSE. Por se tratar de um
fenômeno ainda recente em nossa sociedade, os conceitos sobre o tema ainda se
encontram no campo da discussão e, de certa forma confusos, com pesquisadores
dividindo suas opiniões sobre o conceito de RSE.
Observo que a Responsabilidade Social Empresarial antes de se associar mais
especificamente à prevenção e combate à corrupção, se desenvolveu no Brasil mais
como uma proposta do empresário como ator social, envolvido nas questões,
aparentemente, mais críticas do país, como educação, saúde, cultura, esporte e meio-
ambiente.
Relaciono, em seguida, o desempenho da RSE no Brasil, com o surgimento de
associações empresariais direcionadas apenas para o tema, como é o caso do Instituo
Ethos e, para representações empresariais que já existiam no cenário brasileiro e que
passaram a adotar a RSE em seus discursos e práticas.
No segundo capítulo, abordo o tema da corrupção e seus impactos, através de
teorias que tentam encontrar explicações para o fenômeno. Inicio com a visão
sociológica tradicional, que compreende os desvios ilícitos como um comportamento
isolado. Entre elas discorro sobre a corrente funcionalista, que enfatiza o lado positivo
da corrupção e a corrente ético-reformista Explique aqui, amiga como fez na
funcionalista. Uma frasezinha só. Da rediscussão das visões clássicas destacam–se
novas abordagem sobre corrupção, como a corrente neoliberal, que se divide em
economia das organizações, gerencialismo e public choice/ rent seeking, o
institucionalismo histórico, teoria que fundamenta esta dissertação
Abordo ainda as questões de Estados Predatórios e Intermediários, de Peter
Evans, que se enquadram como alicerces teóricos desse estudo, pois nos levam a crer
que a prática da corrupção está enraizada na cultura política que envolve o Estado e os
empresários. Outro dois enfoques teóricos que ajudam na compreensão da prevenção e
do combate à corrupção são a accountabiliy e a transparência. Temas incluídos nas
discussões sobre as tentativas de se coibir ações predatórias ao Estado e garantir um
relacionamento “limpo” entre os setores público e privado.
O terceiro e último capítulo baseia-se na análise de alguns organismos
internacionais e nacionais, como a Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), a Organização das Nações Unidas (ONU), Bancos Multilaterais,
Transparência Internacional, Transparência Brasil e Instituto Ethos e seus principais
9
instrumentos - facilitadores e/ou indutores, para a implantação de normas que
conduzam à transparência, à prevenção e ao combate à corrupção nas empresas.
Iniciativas que são consideradas por Ribeiro (2004) como “sistema de controle
preventivo”1
Através de três pesquisas realizadas pela Transparência Brasil, sobre a percepção
e comportamento dos empresários sobre a corrupção, analiso como empresários e
representações empresariais estão encarando o tema. Nessa análise considero a relação
de empresários com o Poder Executivo e com o Poder Legislativo, dentro da rubrica de
Responsabilidade Social Empresarial. Em ambas destaco algumas ações de associações,
representações empresariais e empresas isoladas, como é o caso da Fersol. No caso do
Poder Legislativo destaco a ação da ABERJ (Associação Brasileira de Comunicação
Empresarial) que possui um trabalho específico de apóio à regulamentação do Lobby,
inserido em suas ações de RSE.
Por fim, faço uma análise, ainda que antecipada, se as ações de RSE, com foco
na prevenção e combate à corrupção, estão promovendo ou podem contribuir para uma
mudança de comportamento na relação entre iniciativa privada e setor público. Essa
análise leva em consideração a posição dos organismos internacionais que consideram a
RSE como uma iniciativa propulsora para sustentabilidade mundial. Isso porque, entre
outros fatores, leva em consideração a potencialidade da RSE em favorecer a “boa”
relação entre empresa e sociedade
1 Segundo Ribeiro “sistemas de controle preventivo” devem ser sistemáticos e devem envolver tanto o Estado como as empresas no processo de combate e prevenção da corrupção. Pg,21
10
CAPÍTULO 1. RESPONSBILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL
1.1 Panorama da Responsabilidade Social Empresarial
A Responsabilidade Social Empresarial remonta do início do século XX, quando
as grandes industrias ainda se limitavam ao ato filantrópico, com empresários atuando
de forma assistencialistas por meio de doações ou pela criação de fundações, como foi
o caso da Rockfeller, em 1913 e da Fundação Ford, em 1936. Segundo Costa ( 2005)
dois fatores favoreceram para que a temática da responsabilidade das empresas
começasse a se estabelecer no contexto americano. O primeiro está relacionado aos
efeitos gerados pela Grande Depressão, que fez com que a idéia de que a corporação
deveria responder apenas aos acionistas sofresse ataques de toda a sociedade. O
segundo, está ligado ao grande poder que as empresas tinham de interferir na esfera
política.
11
A partir de 1940, a posição do empresariado europeu, em adotar posições de
responsabilidade em relação aos funcionários e ao bem–estar da sociedade como um
todo ficou mais explícita e a idéia começava a ultrapassar os muros das fábricas.
Mesmo assim, até a década de 50, a “RSE assume dimensão estritamente econômica e
é atendida como a capacidade empresarial de geração de lucros, criação de empregos,
pagamentos de impostos e cumprimento das obrigações legais” (Costa, 2005:70)
As conseqüências da Segunda Grande Guerra Mundial seguidas dos movimentos
culturais, da década de 1960, serviram para reforçar a idéia de solidariedade, para a
qual uma parcela da sociedade americana e européia reclamava um comportamento
social empresarial mais efetivo. No entanto, as incertezas no cenário internacional na
década de 1970 e as crises socioeconômicas na década de 1980 retraíram o avanço da
participação empresarial nas questões sociais. Foi apenas no final da década de 80 e
início dos anos 90, já com a globalização, que as empresas começaram a repensar o seu
papel na sociedade. Nasce, portanto, uma nova perspectiva do empresário em relação à
questão social.
Nesse período cresce a insatisfação com o Estado, os problemas sociais se
intensificam e um grande número de organizações “não–governamentais” surge com a
idéia de “solidariedade social”2. Com todas essas transformações - e mais a “pressão”
de manter-se no mercado competitivo, baseado em padrões internacionais de
sustentabilidade social e ambiental - a idéia de RSE de caráter menos assistencialista e
mais empresarial é fortalecida,.
Assim, a partir de 1990, a RSE torna-se um verdadeiro laboratório de ações sociais
para as empresas, que passam a ter conceitos paradoxais sobre o tema e a utilizá-lo
como “marketing social” para a própria promoção e garantia de lucros. Um dos
primeiros passos para conceituar a RSE, está na observação da Cheibub e Locke (2002)
quando afirmam que a idéia deve ultrapassar o cumprimento da lei, ir “além da lei”.
Mas isso é apenas um começo na tentativa de elaborar um conceito para o fenômeno.
Do início do século XX aos dias atuais são inúmeras as discussões sobre o tema.
No começo elas se limitavam aos empresários e pesquisadores acadêmicos das áreas de
Economia e Administração. Hoje, pela importância que a prática ganhou no mundo 2 Costa, Maria Lice Nunes (2005) “Fazer o bem Compensa?”, pg. 73.
12
contemporâneo, torna-se relevante, também, para os estudos nas Ciências Sociais e,
mais especificamente, na Sociologia.
Em meio aos muitos debates acerca do assunto, ora a definição de
Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é compreendida como uma prática
composta por políticas públicas para o benefício da sociedade, ora como apenas mais
uma estratégia de competitividade das empresas.
Para alguns autores, a definição de RSE está baseada na prática “do fazer o bem”.
É uma iniciativa que busca manter o relacionamento da empresa com seus diversos
públicos e de diferentes formas. Segundo Neto e Brennand (2004), para o autor
Dickson, a expressão remete ao marketing solidário inspirado nas idéias de Kotler &
Armstrong. Nas palavras de Dickson, “a Responsabilidade Social Empresarial é um
conjunto de filosofias, políticas, procedimentos e ações de marketing com a intenção
primordial de melhorar o bem estar social”.3 Já autores na linha de Milton Friedman
acreditam não haver responsabilidade social e que as empresas estão interessadas
somente no seu benefício próprio com possibilidades de aumentar o lucro.
As ambigüidades referentes à atuação do empresariado em ações de políticas
sociais se mantêm no campo da discussão. Não se pode negar que de um lado há um
caráter ético e social das empresas que se mostram dispostas a contribuir para a
melhoria nas condições sócio-ambientais de um país, tendo em vista os crescentes
problemas sociais.
Por outro lado, as intenções de estender as ações das empresas às questões
sociais, ambientais e políticas, não podem ser dissociadas de estratégias de
sobrevivência no mercado competitivo. Esse é um desafio imposto pelo mercado, no
qual as empresas passam a enfrentar as dimensões éticas, econômicas, sociais,
ambientais e políticas de maneira diferente, qual seja, articulando-se mais ao Estado e
às comunidades.
Sérgio Góes e Fabíola Rohden (2003) expressaram essa dualidade que faz a
sociedade civil, o Estado e as próprias empresas discutirem sobre o papel da iniciativa
privada dentro do tema da Responsabilidade Social Empresarial.
3 Neto, F.P.M, Brennand, J.M. Empresas Socialmente Sustentáveis: O desafio da Gestão Moderna, pg 03.
13
(...), mesmo levando em conta apenas a dimensão econômica, “empresas” e “sociedades/comunidades” não habitam mundos separados. São exatamente as fortes relações entre elas que tornam tão móveis e delicadas as fronteiras que separam preocupação social e lucro, filantropia e marketing – é sempre difícil eliminar a possibilidade de que, ao dedica-se às primeiras, as empresas também não estejam obtendo os últimos4
Já está comprovado, até mesmo por pesquisas realizadas pelas empresas, que
existe a possibilidade de se ter vantagens competitivas diretas e indiretas quando uma
empresa age de forma socialmente responsável, como por exemplo, a imagem positiva
que ela constrói perante a sociedade e, conseqüentemente, o retorno em credibilidade e
lucro. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ethos e o Jornal Valor Econômico, em
20055, revelou que 54% dos consumidores brasileiros entrevistados julgam as empresas
pela RSE e 24% prestigiam esse tipo de empresa consumindo seus produtos.
Outro ponto de discussão para uma tentativa de justificar a RSE está na questão da
dívida social. Neto e Froes ( 1999) apontam a dívida social como responsabilidade do
governo, parlamentares, empresários e sociedade civil. Os autores reclamam por um
“decidido acordar” dessas instituições, o que inclui as ações sócio-ambientais das
empresas. O raciocínio básico consiste na idéia de que as empresas contribuem para o
aumento das desigualdades e da extinção dos recursos naturais. Por isso, precisam
reverter à sociedade e ao meio ambiente ações positivas que possam, ao menos, atenuar
essas conseqüências.6
Costa (2005) prefere chamar a ação social dos empresários de “solidariedade
social.” A autora entende que, por não existir uma homogeneidade na idéia de
responsabilidade social empresarial, é preciso tentar compreendê-la dentro do contexto
atual das relações sociais que permeiam o Estado, as empresas e a comunidade em
interface com os contextos das mudanças econômicas, políticas e sociais que emergem
em nossa sociedade.
Para Costa, a tradução de RSE, suas experiências possíveis e disponíveis incluem
realidades que ultrapassam a dicotomia entre o bem e o mau. Segundo a autora, nas
4 GOES, Sérgio. ROHDEN, Fabíola. Filantropia empresarial em discussão: números e
concepções a partir do estudo do Prêmio Eco, pg 173
5 Fonte: Instituto Ethos, Programa Tear – Construindo Redes Sustentáveis. 6 Os atores baseiaram-se no artigo “Quanto tempo nos resta”, de arquiteto Jorge Wilhein, publicado em 04/05/199. Na época Wilheim era secretário de Planejamento Urbano do Estado de São Paulo.
14
práticas socialmente responsáveis “encontramos racionalidades híbridas, que contêm a
idéia de reciprocidade e solidariedade e até mesmo a maximização dos interesses
egoístas” (2005:80)
Entre os críticos mais severos da RSE, Milton Friedman, afirmou em Capitalismo
e Liberdade ( 1985) “ que a essência da própria responsabilidade social empresarial
consiste fundamentalmente na maximização de seus objetivos produtivos, dentro dos
ditames da lei. Caso as empresas pretendam ir além estarão sendo irresponsáveis”
( Costa, aput Milton, 2005:80).
Na mesma linha teórica de Friedman encontra-se também o ex-economista da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico- OCDE -David
Henderson, que atribui à RSE a redução da prosperidade e prejuízo à economia de
mercado. A preocupação de Herderson está em que o mercado dos países pobres
assuma custos adicionais, exigidos pelos padrões internacionais, o que acabará
limitando ainda mais a concorrência e piorando o desempenho global da economia.
Para Henserson, é incumbência do Estado e das empresas, decidir o que é de interesse
público a fim de prover adequadamente a demanda.
Em relação à RSE no contexto global, Lima ( 2005) argumenta que com a
globalização dos mercados surge uma nova dinâmica que altera o perfil corporativo e
estratégico das empresas. Além das adequações como novos padrões, como eficiência e
qualidade, crescem as exigências por uma reformulação na cultura e na filosofia que
orientam as ações institucionais empresariais.
Em acordo com essa característica do novo mundo, Veloso (2005), embora
considere os conceitos de RSE difusos, percebe o fenômeno como mais um efeito da
globalização na sociedade contemporânea. Para ela, a responsabilidade social
empresarial tenta aproximar a esfera econômica das demais, isto é, uma aproximação
da esfera pública com a esfera política.
No âmbito do debate sobre os riscos políticos da intervenção das empresas no
espaço público, Cheibub e Locke ( 2002), ao analisar os diferentes modelos de RSE,
afirmam que o “principal problema é que seus argumentos assumem que todos os
outros atores sociais ganham com a adoção da responsabilidade social” ( 2002:282)
15
Na dimensão política de “direitos garantidos pela sociedade”, os autores
argumentam que esses bens podem chegar aos cidadãos através da intermediação de
agentes privados, mas compete ao Estado garantir que os bens alcancem a todos. O que
os autores discutem é que, de modo algum, os atores privados podem diminuir a função
do Estado e tampouco, a autonomia dos outros atores sociais, como sindicatos e ONGs.
Por serem portadores de grandes recursos e poder, as empresas assumem maior
responsabilidade do que outros atores, podendo até subjugá-los. Ao mesmo tempo,
completam os autores, as empresas passam a ser vistas como “promotoras do bem-estar
social”, além da possível contribuição para o esvaziamento do espaço público e da
compreensão do bem – estar social como um direito da cidadania.
Mesmo assim, em suas conclusões, Cheibub e Locke ( 2002), admitem que uma
empresa socialmente responsável é aquela que está dentro das regras do jogo
democrático e engajadas em ações públicas, com o objetivo de reforçar a concepção
pública de democracia, especialmente quando visam o fortalecimento da esfera pública
de decisão social e o adensamento sociopolítico da sociedade na qual atua.
Tais considerações, têm levado várias entidades, institutos e corporações a se
preocuparem com a disseminação do reforço a democracia. Isso pode ser visto,
principalmente, no discurso de institutos de responsabilidade social empresarial dos
países latino-americanos, para os quais, a consolidação da democracia ainda pode ser
abalada.
Para Melo Neto e Brennand (2004) apesar de não ser recente, a
responsabilidade social ainda é tarefa difícil e se torna um desafio para quem se
aventura a estudá-la, ou aplicá-la no seu dia-a-dia, seja de forma individual ou através
de ações empresarias.
No caso específico da empresa, a Responsabilidade Social toma forma quando a
empresa destaca-se pelo seu padrão de comportamento social, econômico, cultural,
ambiental, político e ético. Dessa forma, a empresa passa a ser encarada como membro
fundamental da sociedade. Passa a ser observada pelos clientes, parceiros de negócios e
empregados como uma substancial parceira na sustentabilidade da comunidade que
atua. Essa referência ou imagem que a empresa projeta faz parte não somente do seu
16
interesse social, mas também do seu interesse econômico em permanecer no mercado de
forma expansiva.
A participação da empresa como ator social está sujeita à diversas discussões.
As incertezas sobre o seu papel democrático e solidário no atendimento das exigências
requeridas pela globalização aquecem os debates sobre o tema, pairando a dúvida até
onde o interesse pelo social se aproxima do interesse pela sustentação no mercado.
De acordo com o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew7, o que finalmente
parece estar acontecendo é que os empresários estão percebendo que o bem social
significa, a curto ou a longo prazo, não só a simples sobrevivência da sua empresa, mas
a sustentabilidade e a possível melhoria do complexo sistema social-econômico de uma
comunidade. Com a falência do Estado como garantidor dos direitos básicos do cidadão
está sendo suplicado o fortalecimento, ou melhor, a expansão do compromisso social
de diversos atores da sociedade e, principalmente, dos empresários.
Enfim, o que se observa é que, embora o conceito ainda seja ponto para
inúmeras discussões, as ações de RSE são crescentes em todo o mundo. O que é
possível perceber é que em estados mais desenvolvidos as ações são mais direcionadas
para as questões de incentivo empresarial ao trabalho voluntário, como acontece nos
Estados Unidos e proteção ao meio ambiente, um foco importante para os países
europeus. A Espanha, por exemplo, tem um programa nacional liderado pela Fundación
Entorno especificamente para incentivar e coordenar ações ambientais das empresas
naquele país. Já na América Latina, devido as grandes dimensões da desigualdade, as
iniciativas de RSE estão concentradas em ações sociais e ambientais.
Uma característica histórica no que toca à questão da RSE é o foco no público
interno. Foi assim nas primeiras décadas do século XX, quando as empresas passaram a
direcionar seus interesses para o bem-estar de seus funcionários, com destaque para um
manifesto em 1942, de industriais ingleses, no qual afirmavam sobre a responsabilidade
dos dirigentes das indústrias “em manter o equilíbrio justo entre os vários interesses do
público consumidor, dos funcionários e operários e dos acionistas investidores” (Costa:
2005:70). E permanece ainda hoje, com orientação de institutos para que as empresas
atentem primeiramente para ações de RSE internas, pressupondo um modelo de gestão 7 Artigo publicado no site do Ethos, em maio de 2000. “Da filantropia á gestão empresarial”
17
empresarial participativa e de reconhecimento dos empregados, envolvendo, ética,
segurança no trabalho e qualidade de vida.
Quando a RSE atravessa os muros da empresa, as ações são destinadas a atender
uma série de áreas, como a ambiental e àquelas ligadas às carências das comunidades
que não são supridas pelo Estado. Característica principalmente de países latino–
americanos.
1.2 Responsabilidade Social Empresarial na América Latina
Segundo Agüero (2005), foi incorporada na América Latina - pelos líderes de
negócios - uma ação filantrópica, cuja a prática da RSE era percebida apenas como a
possibilidade de se fazer doações, em sua maioria destinadas às escolas técnicas,
fundações, instituições de auxílio aos pobres e até mesmo às igrejas. De acordo com o
autor o que pode ser considerado novo “ é o discurso de responsabilidade social
empresarial , a rajada de iniciativas empreendidas sob esse conceito, incluindo a criação
de organizações por líderes de negócios com o propósito específico de avançá-lo”8 e
adotá-lo como modelo de gestão.
A organização dos líderes de negócios com a intenção de desenvolver práticas
sociais fez surgir um novo associativismo empresarial na América Latina. Esse
movimento ficou visível após a democratização dos países desse continente e mediante
as consecutivas crises políticas e econômicas enfrentadas por essas sociedades. Outro
fator que contribui para a inserção das empresas no tema da RSE é a abertura dos
mercados e suas exigências.
O associativismo empresarial com foco na RSE começa a se expandir na América
Latina no final da década de 80. O México foi pioneiro com a criação, em 1988, do
Cemefi ( Centro Mexicano para a Filantropia). Em 1994, surge a organização “Peru
2021”, com os jovens empresários. Países como Colômbia e Panamá seguem os
exemplos dos vizinhos. O Brasil se destaca no cenário latino de responsabilidade
social com o Grupo Gife ( 1995) e Instituto Ethos (1998) e o Chile cria a Acción
Empresarial e o Fundemas, em El Salvador, em 2000. A Argentina, foi iniciada no
8 Agüero. F . The promotion of Corporate Social Responsibility in Latin America, pg 02
18
setor de responsabilidade social através do Consello de Fundaciones, em 1995 e em
2002, foi criado o Iarse - Instituto Argentino de Responsabilidade Social. 9
Esse tipo de associação, talvez pela grande capacidade de agregar empresários
de setores e portes diferenciados, tem se mostrado como um importante representante
da classe empresarial nos setores de mercado (competitividade) social e político.
Agüero (2005) explica que a adoção das atividades de RSE, em um curto período de
tempo, na América Latina, se deu pela visibilidade que as ações do setor passa a ter
dentro do contexto que engloba: Estado fraco, o impacto social em uma sociedade
desigual, as conseqüências das reformas econômicas, a globalização e os movimentos,
que começam a exigir tal prática como comportamento ético e socialmente responsável
por parte das empresas. Resumindo, isso implica dentro do cenário global e local
“reformas no mercado, competição internacional e crescimento lento”.10
Com a finalidade de entender o surgimento da RSE, na América Latina,
Agüero, ensaia uma estrutura preliminar sustentada por três fatores. O primeiro faz
referência à “mobilização ou pressão social”. Segundo ele, a RSE emerge como uma
forma de resposta a essas pressões, que começam a ocorrer, logo após o período militar,
concomitantemente, com a reforma econômica, os altos índices de desemprego
combinados com a pobreza, a violência e o enfraquecimento do Estado. Essas
adversidades fazem com que a iniciativa privada se torne mais sensível às organizações
civis e aos problemas sociais, com o foco centrado na sustentabilidade dos negócios e
uma resposta antecipada às crises.
O segundo fator baseia-se na “mudança de visão dos líderes de negócios”.
Agüero argumenta que a iniciativa individual de alguns “grandes” empresários permitiu
conceber novas estratégias para os negócios pautados na RSE. A estratégia que antes
era um “jogo de soma zero”, passou a representar a possibilidade de uma melhora
coletiva. Com os negócios fortalecidos foi possível que os empresários começassem a
opinar e intervir em território antes exclusivo do setor público. Mais do que isso, as
corporações vêm se tornando líderes nos debates de organização social.
9 Agüero. F . The promotion of Corporate Social Responsibility in Latin America, pg 01 10 Idem pg. 01
19
O terceiro fator, relata Aguëro, vem do “desenvolvimento das novas teorias e
práticas de gestão”, que realçam um papel diferente de corporação daquele já existente
entre as empresas. Este novo modelo de gestão está relacionado a manter elos com a
comunidade. A inclusão da RSE, na América Latina, partindo dessa nova forma de
gestão pode ser, também, atribuída à influência de normas internacionais sobre o
compromisso social das empresas, principalmente no que se refere à ética e à
competitividade, assim como a qualidade na gerência dos negócios. 11
1.3 Responsabilidade Social Empresarial no Brasil
Há pouco mais de 15 anos, a RSE exercida no Brasil já é considerada modelo
para muitos países do mundo e referência para a América Latina. O empresariado
brasileiro despertou para esse novo modelo de gestão e vem demonstrando uma
significativa capacidade para o desenvolvimento da responsabilidade social na
localidade em que atua.
De acordo com a Pesquisa Social das Empresas realizada pelo IPEA 12, no
período de 1999 a 2002, 59% das empresas do país desenvolveram ações em benefício
da comunidade. São mais de 465 mil empresas atuando na área de responsabilidade
social. O investimento realizado atingiu R$ 4,7 bilhões em 2000 - valor que
corresponde a 0,4% do PIB do país. Os dados da segunda edição desta pesquisa,
iniciada em 2004 e finalizada em 2006, revelaram um crescente engajamento das
empresas do Nordeste e Sudeste. De acordo com o relatório do IPEA a participação das
empresas na área social cresceu 35% no Nordeste, passando de 55% em 1999 para 74%
em 2003. No Sudeste, esse incremento foi mais discreto (6%), passando de 67% para
71% no mesmo período.13
Mas para chegar aos números e resultados de hoje a RSE teve uma trajetória
composta por mudanças no pensamento do empresariado e na forma de articulação com
o Estado e com a sociedade civil, fortalecidas é claro, pelas advertências sociais e pelo
novo modelo econômico. Se, entre as décadas de 1930 e 1970, o associativismo
empresarial focava, prioritariamente, o interesse do setor privado com vistas aos ganhos
11 No Brasil o surgimento da RSE é bastante fiel com a descrição feita por Agüero, da América Latina. 12 www.ipea.br Ação Social das Empresas 1ª edição 13 Idem 2ª edição
20
econômicos, a partir dos anos 80 foram criadas representações empresariais também
voltadas para a questão social.
Ainda que a RSE tenha adquirido impulso no Brasil no final da década de 1980,
foi somente no final dos anos 1990 que sua representatividade se expandiu no meio
empresarial ganhando assim, espaço junto à administração pública e à sociedade civil.
O passo mais significativo dado em direção a uma atuação mais organizada em relação
às questões sociais foi a forma de representação das empresas que buscavam atuar
como atores sociais no cenário de desigualdades no país. Um exemplo significativo é a
formação do Instituto Ethos em 1998, que rapidamente se tornou o maior instituto de
responsabilidade social empresarial da América Latina.
Na década de 90, o Brasil passava pelo início da consolidação da democracia,
mas as desigualdades sociais e as crises econômicas e políticas retardavam o
desenvolvimento do país. Diante desse quadro, os empresários perceberam que não
podiam mais atuar apenas na instância econômica e “incorporaram a questão social”14.
As ações de natureza filantrópica - ocorridas no passado - cederam lugar aos projetos
sociais voltados para o atendimento da população menos favorecida.
O primeiro grupo de empresários a se movimentar mais concretamente a este
respeito foi o PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresarias) - formado por
pequenos e médios empresários dissidentes da Federação das Industrias do Estado de
São Paulo. Essa associação já demonstrava uma nova postura “(...) pautada na luta pela
democracia e por políticas que melhorassem nossas profundas desigualdades
sociais(...)”. Dessa forma constitui-se a idéia de uma certa Responsabilidade Social das
Empresas”.15
O PNBE foi, portanto, o primeiro grupo empresarial concebido como o
“reclamador” dos deveres do Estado, com ênfase no combate à corrupção. Em 1991, a
avaliação da conjuntura no Governo Collor propiciou a organização de uma reunião
que contou com mais de 300 pessoas. Entre elas, empresários, sindicalistas e
representantes da sociedade civil. As principais propostas sugeridas foram: a) a
14 Agüero. F . The promotion of Corporate Social Responsibility in Latin America, pg 02 15 Gomes, Eduardo. Um outro lado da questão social: determinantes e implicações da Responsabilidade Social no Brasil. Pg 03
21
necessidade de evitar a sonegação e b) a exigência da transparência na arrecadação. No
ano seguinte, o PNBE participou do “Movimento Ética na Política”, cujas
manifestações públicas giraram em torno das denúncias contra as diversas formas de
corrupção deflagradas no governo Collor.
Gomes (2004) relata que o PNBE deu início a sua ação junto ao Estado
discutindo questões econômicas, políticas e sociais, sempre na busca de abrir
negociações para uma política anti-inflacionária e melhor redistribuição econômica,
sugerindo várias vezes o pacto social. Nos governos seguintes, de Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso, o PNBE insistiu com a proposta de pacto social para
combater a inflação. Neste caso foi criado um Fórum permanente da União Nacional,
no qual uma cadeira vazia simbolizava os excluídos do processo econômicos.
Segundo Gomes, com os interesses políticos e econômicos mais atendidos no
governo de Fernando Henrique Cardoso, o PNBE voltou-se para as questões sociais e
ambientais, com a concretização de projetos intervencionistas, focados na educação,
como por exemplo, a criação do projeto “Corporação Empresa/ Escola”16. Da
expansão dos projetos surgiu a necessidade do PNBE abrir um instituto que fosse capaz
de melhor gerir e agregar parceiros para a causa social. Nasce daí, o Instituto de
Desenvolvimento Social do PNBE.
O autor revela ainda que, o PNBE atuou também em outras frentes, tais como:
o combate ao trabalho escravo e infantil e o incentivo à prática da cidadania. Para tanto,
lançou e distribuiu o “manual de guerrilha cívica”, contendo uma lista de endereços de
deputados17.
A partir dessa iniciativa a RSE foi crescente no Brasil com a ação de várias
empresas voltadas principalmente para as questões sociais externas, uma característica
brasileira apoiada, na maioria das vezes, pela formação de uma instituição destinada
especialmente para as questões sociais, como por exemplo, Grupo GIFE, Instituto
ETCO, Instituto Ethos, Akatu, entre tantos outros.
16 Gomes, E. Gomes, Eduardo. Um outro lado da questão social: determinantes e implicações da Responsabilidade Social no Brasil. Pg 10 17 Idem, pg 14
22
O Gife -Grupo de Institutos, Fundações e Empresas surgiu no Brasil em 1989, a
partir de um comitê de filantropia instituído na Câmara Americana do Comércio de
São Paulo. Em 1995, elaborou seu Código de Ética e foi instituído formalmente. O
objetivo do Grupo é contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável do
Brasil, por meio do fortalecimento político – institucional e do apoio à atuação
estratégica de institutos e fundações de origens empresariais. O Gife se fortaleceu com
a união de fundações e institutos, como Fundação Roberto Marinho, Fundação
Odebrecht, o Instituto Alcoa, o Instituto Itaú e outros. Hoje seu universo de associados
destina mais de R$ 700 milhões por ano a iniciativas sociais.18 Assim como o PNBE
essas organizações também sentiram a necessidade de se movimentar a favor do
combate às desigualdades sociais e à corrupção.
Desse momento em diante, uma série de associações de empresas, socialmente
responsáveis, passaram a ser criadas e as já existentes adquiriram maior visibilidade. A
formação do ETCO (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), por exemplo, ganhou
destaque ao propor a solução de problemas de ordem econômica, entre eles a sonegação
de impostos.19 Em 1993 é fundada no Brasil uma seção da Transparência Internacional
focada em ações diretas ao combate à corrupção.
Mais tarde a Fundação Abrinq, nascida da Associação da Indústria de
Brinquedos, desenvolveu trabalhos mais fortes contra o trabalho infantil. Foi a partir
dela que Oded Grajew decidiu ampliar o apelo da responsabilidade social e fundou, em
1998, o Instituto Ethos, hoje considerado o maior e mais representativo da América
Latina.
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, uma organização não-
governamental foi criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas
a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na
construção de uma sociedade sustentável e justa. Seus 1054 associados – empresas de
diferentes setores e portes – têm faturamento anual correspondente a cerca de 30% do
PIB brasileiro e empregam cerca de um milhão de pessoas, tendo como característica
18 Informações adquiridas no site www.gife.org.br 19 www.etco.org.br
23
principal o interesse em estabelecer padrões éticos de relacionamento com funcionários,
clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente.20
Todas essas associações mostraram o quanto os empresários brasileiros se
mobilizaram em torno de uma participação cada vez mais crescente na ação social
interferindo, direta ou indiretamente, nas decisões do Estado e da sociedade civil. O
associativismo de empresas que atuam como socialmente responsáveis revela uma
“nova” forma de intervir ou de interagir com o Estado e a sociedade atuando numa
perspectiva mais democrática no país. O quadro de associativismo brasileiro não
desconsidera os interesses econômicos e privados, mas diferentemente do modelo
anterior demonstra maior interesse no bem-estar social.
No entanto, a RSE mesmo tendo várias frentes, bem significativas e
representativas na nossa sociedade, e com ações do mesmo peso, ainda se apresenta de
forma confusa e contraditória no que toca à formulação de um conceito capaz de
responder às demandas desse fenômeno.
Ainda que os conceitos acerca da Responsabilidade Social Empresarial não
sejam, em sua totalidade, precisos e /ou substanciais, eles contribuem para a elucidação
de outros fenômenos. Dentre eles, o associativismo, formado em função das questões
sociais, ambientais e políticas e a relação entre a iniciativa privada e o setor público.
1.4 A relação entre iniciativa privada e o setor público no âmbito da RSE
Já se faz notável os diversos estudos, organizados por empresários, em
associações ao longo da história da América Latina com o intuito de melhorar seus
desempenhos no mercado por meio de uma ação coletiva. Uma das principais
estratégias para alcançar esse objetivo é a articulação com o Estado. No Brasil, essas
associações são vistas por Schneider21 como fracas, no início das suas formações, pela
quantidade de associados e pela influência do Estado. Ao mesmo tempo, estudos
realizados por Boschi e Diniz22 dão conta da capacidade da iniciativa privada em se
adaptar às mudanças, a partir da década de 1990 na reestruturação da representação dos
interesses privados.
20 Informações adquiridas no site www.ethos.org.br 21 Schneider, B.R. Businees Politics and the State im Twentith- Century Latin América. Pg 06 e 07 22 Boschi e Diniz (2004) Empresários, Interesses e Mercado: dilemas do desenvolvimento no Brasil.
24
Essas transformações, principalmente, na reestruturação de grupos de interesses
foram possíveis tanto por mudanças advindas do Estado, por meio de políticas
econômicas23,como pela própria dinâmica do mercado, fortemente marcado pela
abertura da economia externa. Nesse sentido, o processo de associativismo pela adesão
voluntária e da operação de incentivos seletivos se destacam do diferente tipo da
formação de décadas anteriores basicamente provocadas pelo Estado.
Com as privatizações, fusões e a abertura para o capital estrangeiro reconfigurando
toda estrutura produtiva brasileira, a composição das associações dos atores
econômicos se movimentam para atender novas demandas da realidade mundial: a
globalização e a competitividade. Nesse cenário, os empresários não podem mais contar
com a ajuda incondicional do Estado e com o mercado protegido. Pelo contrário, a
concorrência, as incertezas e as instabilidades na dinâmica do mercado são os novos
desafios a serem enfrentados pelo empresariado brasileiro.
De acordo com os dados de Boschi e Diniz, as associações que surgem a partir do
quadro de abertura do mercado possuem padrões de atendimento aos seus associados
mais diversificados, pois “concentram a prestação de serviços voltados para assessorias
nas áreas jurídicas, de comércio exterior, estatísticas e documentação” (2004:80).
Ao mesmo temo, as empresas despertam para um relacionamento com o Estado,
mas voltado para as decisões concentradas no Poder Legislativo. Desse modo, a prática
do Lobby passa a ser adotada como forma de representação dos interesses do
empresariado. Além disso, o intercâmbio no Congresso se intensifica. Nos dois casos
prevalece o interesse econômico do setor privado.
A exemplo da participação dos empresários no Poder Legislativo, os autores nos
mostram que através da COAL (Conselhos de Assuntos Legislativos), no âmbito da
CNI ( Confederação Nacional das Indústrias) foram criados conselhos temáticos, que
formularam propostas nas áreas da política industrial, desenvolvimento da tecnologia,
relações de trabalho, integração internacional, comércio exterior, meio ambiente e
assuntos legislativos. (2004: 85)
23 Com destaque para as privatizações que afetaram diretamente a estrutura produtiva da indústria brasileira
25
É nesse contexto, com o associativismo empresarial assumindo posições de
caráter mais coletivo, que surgem, também,, novas associações focadas não somente
nas demandas econômicas e produtivas, mas também no desenvolvimento social do
país. São as associações que integram em seus padrões de atuação os preceitos
contemplados pela RSE..
Surge, entre os empresários, uma certa preocupação com a situação social,
ambiental e política do país. Isso por vários motivos, entre eles os altos índices de
pobreza, violência, enfraquecimento do Estado e a possível instabilidade na
democracia, que inicia seu processo de consolidação. Podemos destacar, ainda, as
situações levantas por Agüero como motivadoras do associativismo empresarial no
âmbito da RSE no país, que se constituem em três, como já vimos anteriormente:
A) A mobilização ou pressão social - quando os empresários se tornam mais
cobrados e também dispostos a contribuir para soluções dos problemas sociais
enfrentados pela sociedade.
B) A mudança da visão dos líderes de negócio – quando ações sociais isoladas
de empresários contribuem para motivar outros e, mais do que isso, começa a surgir
uma discussão das questões sociais antes exclusivas do setor público.
C) Desenvolvimento de novas teorias e práticas de gestão – quando o
empresariado começa a ver um novo modelo de gestão interdependente com as demais
partes interessadas, ou stakeholders.
O PNBE, como vimos anteriormente, foi um dos pioneiros em associativismo
empresarial formado a partir dos anos 90, focados na economia e, também, nas
questões sociais do Brasil. Assim, como aconteceu com outros empresários que se
associaram a partir das mudanças econômicas e políticas do país, com vistas ao
mercado, o associativismo empresarial - mais focado nas questões sociais e políticas -
também se estabeleceu de forma voluntária. Isto significa que as empresas que se
identificavam com a defesa das causas sociais e com o desenvolvimento social do país
passaram a se associar de forma livre e voluntária às associações que possuem o perfil
da Responsabilidade Social Empresarial. Foi assim que o PNBE e várias outras
associações se ocuparam do exercício social.
26
Nesse sentido, cabe indagar como as associações que estimulam a RSE entre
seus associados têm se relacionado com o Estado. Será que a esse tema tem
possibilitado uma alteração na relação entre iniciativa privada e setor público?
Em estudos sobre o associativismo e a Responsabilidade Social Empresarial
Cappellin, Guiliani, Morel e Pessanha24 relatam que a relação entre setores privado e
público partem tanto da iniciativas das empresas e/ou associações - em interferir ou
contribuir em políticas públicas - como do próprio Estado em solicitar a parceria do
empresariado pela incapacidade governamental de atender todas as demandas da
sociedade.
Para esses autores as representações empresariais fazem, na maioria das vezes, o
papel de mediadoras entre empresas e o Estado. E essas intermediações vão além dos
interesses de classe, demonstrando o quanto suas funções são reconhecidas e
legitimadas pelos atores públicos e privados.
Como forma de melhor identificar as ações das entidades de representação
empresarial os autores adotam três lógicas25: (1) a lógica da influência – relacionada à
capacidade que a associação tem de manter a interlocução entre os setores público e
privado; (2) a lógica da formação de afins – que diz respeito á racionalidade política;
(3) a lógica da implementação eficaz – relativa à racionalidade administrativa. No
entanto, é sobre as considerações da lógica do pertencimento que os atores investem
em ações coletivas das empresas voltadas para as questões sociais.
Segundo os autores, essa lógica permite a ação em grupo e, ao mesmo tempo, a
posição de poder e autonomia das empresas. O que consideram importante para manter
a característica individualista das empresas, o que envolve um posicionamento
diferenciado frente a concorrência, as escolhas empresariais de sucesso e a “ética nos
negócios”.. (2002:261)
24 No artigo “ As organizações empresariais brasileiras e a responsabilidade social”, os pesquisadores Paola Cappelini, Gian Guiliani, Regina Morel e Elina Pessanha analisam a relação entre empresas e sociedade e a atuação das organizações representativas na abordagem da problemática da responsabilidade social empresarial. 25 CAPPELINI, P. GUILIANI,G. MOREL,, R. PESSANHA, E. “ As organizações empresariais brasileiras e a responsabilidade social”p. 260 e 261
27
De qualquer forma o diferencial dessa lógica está na formação da identidade
coletiva estabelecida, também, pela relação entre o ambiente interno e o externo. As
entidades representativas utilizam estratégias para o uso de símbolos e valores com suas
diferentes partes interessadas. Deste modo, a representação coletiva contribui para o
desenvolvimento da empresa, para a satisfação das exigências do mercado e para a
garantia de legitimidade social.
Na perspectiva de orientar seus afiliados em direção à Responsabilidade Social
Empresarial com vistas à legitimidade social, algumas representações empresariais se
constituíram, especificamente, para tal fim. Exemplos como o Instituto Ethos, Akatu,
Gife confirmam essa tendência já que adotam a RSE na dinâmica de suas atividades.
Acrescente-se aí as federações das indústrias, a CNI, as associações e câmaras
comerciais, entre outras. Hoje é comum observar no discurso entidades representativas
a posição de estar a disposição dos associados com o intuito de contribuir para o
desempenho da empresa ou da classe no mercado, e agora, na sociedade como um todo.
A Federação das Indústrias de São Paulo, por exemplo, após aderir a Responsabilidade
Social Empresarial afirma que é objetivo do Cores – Comitê de Responsabilidade
Social da Fiesp “oferecer estratégias e ferramentas que auxiliem os industriais na
formulação e implantação de política de (RSE), levando-se em conta as exigências
legais, compromissos éticos, a preocupação com a promoção da cidadania e do
desenvolvimento sustentável, além da transparência das atividades”.26
De qualquer maneira fica evidenciado que o papel das representações tem sido o
de orientar seus associados para a prática da responsabilidade social empresarial e,
também, o papel de interlocutor na relação entre a iniciativa privado e setor público,
com o setor privado influenciando, significativamente, as questões de política pública
no país.
A Associação Brasileira da Indústria de Brinquedo – Abrinq – por exemplo,
após aderir à RSE, na década de 1990, passou a liderar movimentos em defesa e pelos
direitos da criança e para isso não tem limitado a discussão e a intervenção ou apoio às
políticas públicas nacionais. Algumas das contribuições que a Associação tem prestado
26 site www.fiesp.com.br
28
à sociedade brasileira estão no apoio às ações do Ministério da Saúde como a
“Campanha de vacinação” e na “luta contra a desidratação”,
A entidade através da sua Fundação tem implantado projetos para o bem-estar e
qualidade de vida da criança e do adolescente, baseados no próprio Estatuto da Criança
e do Adolescente, nas considerações da convenção 138 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e nas recomendações da Unicef. Assim sendo, a ações se tornam
legitimadas pelas instituições nacionais e internacionais, pelo setor público e pela
sociedade. O que habilita a Abrinq a dialogar com legitimidade com o Estado,
intervindo nas implantações de políticas públicas para crianças e adolescente.
Um exemplo mais enfático sobre esse relacionamento com o Estado está na
proposta da Fundação em parceria com a Rede de Monitoramento Amiga da Criança –
formada por 38 organizações - durante as eleições presidenciais de 2006, lançaram no
dia 31 de agosto o Termo de Compromisso Presidente Amigo da Criança, que pretendia
envolver os candidatos à Presidência da República na melhoria dos índices relativos à
situação da criança e do adolescente no Brasil. Os candidatos foram convidados a
assinar um documento que estabelecia metas a serem realizadas em quatro anos,
formuladas com base no documento da ONU "Um Mundo para as Crianças".27 Este
documento da ONU está inserido nas Metas do Milênio, firmados pelo Brasil e mais
188 países no ano de 2000.
Na época todos os candidatos assinaram o termo de compromisso propostas
para o mandato de 2007 -2010, que o Presidente deve seguir. Em um primeiro
momento são propostos as metas e objetivos a serem alcançados e, no segundo, a
elaboração de um Plano de Ação, a ser apresentado até seis meses depois da posse,
estabelecendo como, na sua gestão, o Presidente contribuirá para o alcance dos
objetivos e metas assumidos pelo Estado Brasileiro para 2010 e 2015.
Dentro de compromissos e metas sociais existem questões a serem trabalhadas
pelo Governo como: promoção da saúde, promoção da educação de qualidade e
proteção contra abuso, exploração e violência. Todas elas possuem, no termo, itens
desmembrados de onde e como o Governo pode e deve atuar. Em relação ao
compromisso de gestão, o Governo deve elaborar um Plano de Ação, com aprovação do 27 informações coletadas no site da Abrinq.
29
Conselho Nacional dos Direito da Criança (Conanda) e incluir no Orçamento Federal a
totalidade de recursos para realização dos programas, projetos e ações do Plano de Ação
no Plano Plurianual, nas Leis de Diretrizes Orçamentárias e nas Leis Orçamentárias
Anuais, entre outras ações; e em relação ao monitoramento e avaliação deve manter um
interlocutor da Rede de Monitoramento Amiga da Criança para diálogos constantes com
disponibilização de todos os dados à Rede e ainda produzir o Balanço Social.
Todas as ações do Termo propostas pela Abrinq e pela Rede de Monitoramento
Amiga da Criança foram elaboradas a partir de um relatório apresentado em 2004 pela
Rede, contendo uma série de estudos sobre a situação da criança e do adolescente no
Brasil. Em 2007 o II relatório traz um olhar retrospectivo sobre o que foi feito nos
últimos anos e estabelece recomendações para que o Brasil avance no cumprimento das
metas. O Governo Lula atendeu as principais reivindicações do Termo e periodicamente
a Abrinq e a Rede Amiga da Criança lançam relatórios com as metas que o governo
conseguiu ou não atingir.
Com sede em Minas Gerais, a empresa de telefonia, Telemig Celular, segue as
mesmas premissas da Fundação Abrinq em suas ações de Responsabilidade Social
Empresarial. A Empresa tem mobilizado a formação de Conselhos Tutelares em todo o
Brasil. Com o projeto Pró-conselho Brasil coordenada e articulada com Conselhos
Estaduais, com o Ministério Público e redes de apoio a criação de Conselhos nos
municípios do Brasil que ainda não os constituíram.
Resultados? Em Areia Branca (RN), o Conselho Tutelar, formado com incentivo
da Fundação Telemig, atua principalmente nos casos de violência contra crianças,
prostituição juvenil e drogas. A Prefeitura fornece sede, carro e contribui para a
capacitação e formação dos conselheiros. No ano passado, o trabalho do conselho já
produziu resultados: houve uma redução significativa dos casos de envolvimento de
adolescentes com drogas. Em 2002 foram atendidos 35 casos de adolescentes
envolvidos com entorpecentes no município, em 2003 foram apenas oito.
A atuação da Federação das Indústrias de Minas Gerais – FIEMG, no âmbito da
Responsabilidade Social Empresarial tem sido uma das mais significativas entre as
representações empresariais, como relata Gomes ( 2007) .
30
Entre os casos de atuações de uma representatividade coletiva voltada apenas
para a Responsabilidade Social Empresarial o Instituto Ethos tem várias ações a serem
comentadas.Uma delas foi a pressão que o Ethos em parceria com outras associações
empresariais fez no Congresso pela regulamentação da Lei do Aprendiz e pela inclusão
da educação infantil de 0 a 3 anos no Fundeb, novo fundo nacional de financiamento da
Educação Básica. Assinaram manifestos e patrocinaram atos públicos, como um
“showmício” no Vale do Anhangabaú a favor da legislação que incentiva a contratação
de jovens estudantes pelas empresas. Curiosamente, ambos objetivos foram logrados.
Nesse caso o que ficou evidenciado e confirmado pelo gerente de políticas
públicas do Instituto Ethos, Caio Magri, “é que existe um envolvimento do
empresariado no que se chama ainda sem muita convicção de “lobby social” que tem a
ver com a crescente cobrança da sociedade sobre as graves distorções sociais”.28
Para Magri, há a percepção da sociedade de que o setor privado é “o mais
poderoso” ator político. “Ou seja, da mesma forma que os consumidores cobram
atitudes responsáveis das empresas para com o ambiente ou a legislação trabalhista
estão cobrando também a responsabilidade no uso deste poder.”
Na percepção do gerente de políticas públicas do Instituto Ethos, estes fatores
são responsáveis pelo surgimento de novas formas de organização empresarial, que
questionam a forma antiga de representação. “São organizações com outra agenda,
instituições de empresários com interesse público e não corporativo”, avalia. Para
Fernando Almeida, presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), esta atuação mais política só é viável através
destas novas organizações. “Não acredito que uma empresa vá cobrar isso ou aquilo
diretamente do governo. Apelos, protestos e possíveis confrontos só são possíveis
através de plataformas, articuladas por demandas maiores”29
Por outro lado, Almeida admite que este diálogo ainda e básico e esporádico.
Para ele, “falta entendimento” entre os setores público e privado. “O público continua
vendo o setor privado como o ‘capitalismo selvagem’ e o setor privado vê o público
28 Entrevista concedida à jornalista Cristina Chararo para a revista Foco, Economia e Negócios, no dia 20/ 08/ 2006. 29 Idem.
31
como lento e burocrático.” A quebra destes preconceitos e o alinhamento entre um e
outro setor, como lembra Almeida, é um processo lento, mas necessário.
É possível perceber que as ações na área de RSE são realizadas tanto pelas
representações coletivas, como em casos individuais e, todas elas estimulam a
legitimidade das empresas frente a sociedade e frente ao Estado quando a questão é o
social. Ainda não é possível avaliar a fundo, mas pelo contexto apresentado a ação
coletiva das empresas com foco na RSE tem sido primordial para reforçar e organizar o
tema dentro das próprias empresas e em relação ao comportamento delas com o Estado.
Na perspectiva de que as representações empresariais, sendo elas exclusivas em
RSE ou que abriram espaço para a RSE, estão sendo importantes para que o tema tenha
destaque na performance empresarial, chego a um ponto importante para o assunto que
é a distribuição do chamado “investimento social privado”. Observa-se nesse cenário
que a preferência para tais investimentos, sendo ou não por indicação de representações
empresariais, se estende a atenção direta à comunidade, com o objetivo de atender as
demandas mais “urgentes” da sociedade.
Investimento social privado no Brasil
Pesquisas indicam que o grande foco das ações de Responsabilidade RSE das
empresas e as estimuladas pelas representações empresariais foram pautadas em
questões sociais na educação, saúde, cultura, esporte e meio ambiente. Prova disso é a
pesquisa realizada pelo Ipea. O “investimento social privado” tem prioridade para ser
aplicado nesse tipo de ações sociais. O estudo do Ipea aponta que, em 2004, cerca de R$
4,7 milhões foram destinados a ações sociais por empresas. O valor equivale a quatro
vezes o orçamento executado pelo Ministério do Meio Ambiente e de dez vezes o valor
empregado pelo Ministério da Cultura.
Das 300 mil empresas que atendem a comunidade o capital privado está sendo
investido da seguinte forma: as ações de assistência e de alimentação são as mais
desenvolvidas por 57% e 39% das empresas, respectivamente ; 43% das empresas de
32
maior porte privilegiam as ações educativas; 63% das empresas atendem às crianças ;
55% das empresas de grande porte e 51% das empresas mineiras privilegiam os jovens
nas suas atividades. 30
Dados do Ipea indicam um expressivo crescimento das ações nas áreas de educação
e saúde. No Nordeste, por exemplo, a atuação na área da educação passou de 13% para
28%, em 2003 e no Sudeste, de 14% para 18% no mesmo período. A saúde no Nordeste
teve investimento de 7%, em 1999, enquanto o Sudeste obteve 13%, em 1998. Os
Estados passaram a configurar em 2003, investimentos entre 21% a 23%
respectivamente.
De acordo com a pesquisa é expressivo o volume de recursos privados que foram
destinados às atividades sociais de fins públicos: cerca de R$ 3,5 bilhões, o que
corresponde a menos de 1% da receita bruta das empresas da região. Os benefícios
fiscais pouco contribuíram para aumentar os recursos aplicados, e o uso dos incentivos
ficou restrito a apenas 8% das empresas.
Com tantos investimentos do setor privado em ações sociais, uma ferramenta
que tem sido bastante estimulada pelas representações empresariais aos seus afiliados é
o Balanço Social. Uma maneira de passar para a sociedade, de forma transparente, todos
os investimentos sociais da empresa.
No entanto, em artigo publicado em 2005, por José Antônio Puppin de Oliveira 31 revela que o Balanço Social de 500 empresas analisadas possuem algumas
debilidades na qualidade das informações. Segundo ele, as informações dadas pelas
empresas nos seus balanços sociais se confundem entre investimentos em projetos
sociais e RSE, que para o autor envolve “muitas outras dimensões de conduta da
empresa, como ética e legal” ( 2005:14)
Outro problema apontado é que algumas empresas apresentam informações
descritivas, sem consolidação e sem divisão temporal. Por exemplo, algumas empresas
colocam apenas o investimento total em ações sociais ao longo do ano, sem explicar a
30 Informações coletadas no site do Ipea. 31 “ Uma avaliação dos Balanços Sociais das 500 maiores” Artigo publica na revista eletrônica da FGV – REA- Eletrônica, em janeiro de 2005. Uma análise sobre os Balanços Sociais das primeiras 500 empresas no ranking da FGV.
33
época que foram feitos. Outras empresas não fazem do Balanço Social uma ferramenta
anual.
Ainda em relação à confiabilidade das informações está a definição de alguns
termos utilizados em balanços sociais, como investimento em ações/projetos sociais ou
indicadores internos. Oliveira exemplifica com dois casos: no primeiro, uma empresa de
saneamento colocou seus projetos de investimento na função fim ( saneamento) como
investimentos em meio ambiente; enquanto em uma outra empresa os investimentos
sociais ultrapassaram seus investimentos totais.
A partir de 2002, isso por ação do Instituto Ethos de conscientização dos
empresários em assumir uma postura transparente nos processos eleitorais, as empresas
começaram a se atentar mais para ações de RSE na questão política, com foco para a
transparência dos negócios e relacionamentos com o poder público, prevenção e
combate à corrupção. Hoje, essas ações ainda são bem menores se comparadas com as
das áreas sociais e ambientais e ainda não configuram como expressivos na área do
investimento social privado, mas já estão na pauta das representações empresariais, das
grandes empresas e em alguns casos já constam também em seus balanços sociais.
O que pretendo esclarecer, no entanto, é como os temas: transparência,
prevenção e combate à corrupção surgiram dentro da RSE e como as representações
empresariais e as empresas de forma individual estão abordando o assunto. E mais, se
esse posicionamento tomado pelas empresas está alterando ou tem possibilidades de
tornar diferente o relacionamento entre iniciativa privada e setor público. Os próximos
capítulos irão tratar, respectivamente, mais especificamente das questões sobre
corrupção e como as iniciativas do setor privado aderem o tema sobre a rubrica de RSE.
34
CAPÍTULO 2 - CORRUPÇÃO
2.1. Tipologia e Conceitos
No final do século XX, com a globalização, a questão da corrupção deixou de
ter uma conotação apenas moral. Organismos internacionais passaram a avaliar o
fenômeno como uma questão de ordem econômica, de organização administrativa e de
desenvolvimento social.
Inserida na agenda internacional pelos impactos que é capaz de causar ao
mercado e ao desenvolvimento sustentável, a corrupção virou foco de atenção de
organismos como a Organização do Comércio e Desenvolvimento Econômico, Banco
Mundial entre outros. Talvez por isso, nas últimas décadas, não faltaram pesquisadores
interessados no tema, tais como Evans, Kaufmann, Johnston, Koetzle, Arkerman entre
tantos outros que escolheram caminhos e teorias diversas na tentativa de explicar tal
fenômeno.
35
A expressão corrupção se origina do latim corruptione e significa a ação ou
efeito de corromper – decomposição, putrefação, depravação, desmoralização e
devassidão. Quanto ao seu conceito, estes são inúmeros e variam de acordo com a
perspectiva de cada estudioso. Apesar dos diversos sentidos que podem ser atribuídos à
palavra corrupção, há, segundo Silva ( 1996), um denominador comum a todos:
(...) ela envolve a interação entre pelo menos dois indivíduos ou grupo de indivíduos que
corrompem ou são corrompidos, e essa relação implica uma transferência de renda que se dá de fora das
regras dos jogos econômicos ou político-legal strito sensu. (1996:3)
Ribeiro (2004) toma algumas definições do fenômeno em seu estudo que
poderiam confirmar a assertiva acima, dentre elas o conceito de corrupção adotado por
Huntington (1968). Para este último autor, a corrupção é caracterizada a partir “do
comportamento de agentes públicos que foge das normas aceitáveis para atingir fins
privados” (2004:22) .
Além das ações dos agentes públicos de violação das normas e captura do público
para benefícios privados, Sandholtz e Koetzle (2000) enriquecem ainda mais o conceito
de corrupção ao considerar a co-participação entre os setor público e a iniciativa
privada. Há ainda que se levar em conta que a tendência a compreender a corrupção
exclusivamente como um fenômeno próprio da administração pública perde espaço na
medida em que se comprova sua existência, também, como uma iniciativa do setor
privado. Para alguns autores, isso ocorre quando o setor privado oferece benefícios de
natureza vária, não necessariamente monetários, ao setor público.
Aqui podemos acrescentar a contribuição de Johnston (2002) sobre o tema, no
que se refere à corrupção existente entre público/privado como uma atividade de tráfico
de influências entre esses dois grupos. De acordo, Sandholtz e Koetzle (2000) com as
colocações acima é possível generalizar o conceito de corrupção como: “desvios de
funções públicas para fins privados”. A mesma apresentada pela Transparência
Internacional.
De acordo com o relatório da Kroll (2003), realizado em parceria com a
Transparência Brasil, a corrupção é definida como “o uso de cargo público para
rendimentos indevidos ou benefício particular, envolvendo sempre um administrador
público e um co-participante privado ( empresa ou indivíduo)”.
36
Dentre as práticas mais comuns de corrupção entre o setor público e o privado
denunciadas pela mídia estão: faturamento de obras, serviços, materiais e transporte
(principalmente no setor da saúde), alimentação (no setor da educação), omissão de
fiscalização em obras, fraudes na transparência de recursos através de convênios,
propina de agências privadas para partidos políticos e financiamento de campanhas
políticas. Os dois últimos, somados ao superfaturamento de ambulâncias (Mensalão,
Valérioduto e Sanguessuga) estão entre os casos de corrupção mais destacados
atualmente na política brasileira envolvendo setor público e iniciativa privada.
Importante relembrar os casos de corrupção ocorridos no governo de Fernando
Henrique Cardoso, cujos golpes cometidos contra o sistema financeiro nacional e a
privatização de empresas públicas produziram resultados nocivos para os cofres
públicos e para a sociedade, em geral. Alguns episódios tornaram-se emblemáticos, tal
como o do ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio e Oliveira, que favoreceu
interesses privados e recebeu vantagens econômicas para fraudar licitações durante a
privatização da Telebrás.
Ou ainda o inesquecível Esquema PC. Paulo César Faria, tesoureiro de Fernando
Collor de Mello que usou de sua influência junto ao presidente para vender favores. Em
troca de milhões de dólares, facilitava a vida de empresas no processo de licitações de
obras públicas. Uma verdadeira rede de negociações ilícitas desencadeou o surgimento
de firmas fantasmas para a emissão de notas fiscais frias. Estima-se que nesse esquema
tenha sido movimentado algo em torno de US$350 milhões.
O sistema neo-capitalista acrescido da herança autoritária dos regimes militares
instalados no Brasil contribuiram para o incentivo de práticas corruptas num ciclo
vicioso que vem comprometendo de modo crescente a qualidade da democracia.32 De
acordo com a declaração do presidente de uma das maiores empreiteiras do país,
Cecílio Rego de Almeida, em matéria publicada na Folha de São Paulo, no ano de
1993, “ o custo da corrupção estaria aumentando, já que a percentagem exigida por
funcionários públicos para escolher determinada empresa para execução de um
projeto de obras públicas, pulou de 4% durante o governo do General Geisel ( 1974-
79) para 18% durante o governo Collor”.33
32 Ver Weyland, K. Neoliberalism and Democracy in Latin America: A Mixed Record 33 Ribeiro, A.S. M Corrupção e Controle na Administração Pública, pg 40.
37
Se a participação do setor privado no período militar foi obscura e com indicação
de corrupção, tal vício parece ter sido perpetuado, pelo menos por enquanto, no período
democrático. De Collor até o governo atual de Luís Ignácio Lula da Silva o que se pode
comprovar - pelos jornais - são inúmeras denúncias de corrupção envolvendo
empresários, partidos e políticos, durante e depois do processo eleitoral, comprovando
um ciclo vicioso que facilita a captura do Estado.
Considerando as principais causas da corrupção, como relata Alice Soares ( 2004)
- Estado centralizador, impunidade, fragilidade nas instituições, excesso de
regulamentação e tributos, ausência de transparência e falta de controle nos processos
administrativos e nos financiamentos de campanhas eleitorais - envolvem, em sua
multiplicidade, aspectos socioeconômicos, políticos, culturais e jurídicos. De acordo
com Bruning (1997), esses aspectos, quando negativos, tendem a sistematizar a
corrupção. De fato, as práticas corruptas, no Brasil, têm resistido e persistido ao longo
dos tempos, com ênfase no clientelismo, nepotismo e favoritismo tão enraizados em
nossa cultura política.
Importante ressaltar que as práticas de corrupção não devem ser compreendidas,
exclusivamente, a partir da perspectiva sociológica tradicionalista, segundo a qual os
desvios de comportamento aparecem como fatos isolados inseridos numa lógica
eminentemente moralista.
Por outro lado a corrente funcionalista volta-se para os objetivos almejados,
independentemente dos padrões morais transformados em normas para os contextos
desenvolvidos. Autores dessa linha, incluindo Abueva tendem a ver alguns aspectos da
corrupção tal como o suborno, possíveis vantagens no que tange ao desenvolvimento
econômico. O argumento geral aqui consiste na idéia de que, em determinados países, a
atividade econômica não só encontraria obstáculos na indiferença ou hostilidade dos
políticos, como seria, algumas vezes, asfixiada pela ação da burocracia.
Bayley (1970), também teórico da corrente funcionalista, considera que a
corrupção pode contribuir para a tomada de decisões mais racionais. Em relação ao
comportamento dos funcionários públicos, o autor argumenta que propinas podem
suplementar a renda dos servidores, evitando que o quadro público venha a perder seus
38
melhores funcionários. Além disso, existe outra vantagem: a maior eficiência no
relacionamento entre o burocrata e o cidadão, usuário em potencial do serviço público.
Quanto a essa questão Tilman (1968), da corrente ético-reformista, observa que
em decorrência da amplitude das atividades do Estado, o mesmo oferece baixos
salários. Em conseqüência abre-se um mercado paralelo, com indivíduos corrompendo
as normas e suplantando os interesses privados.
Sobre o caráter econômico da corrupção, Ribeiro destaca o pensamento de Van
Klaveren. Para este “a corrupção, na medida em que se pressupõe uma mentalidade
mercantilista, introjetaria relações de mercado na condução dos negócios, com a
conseqüente noção própria de negócio e moral correspondente”. Klaveren vincula a
corrupção ao fiscalismo e ao mercantilismo, submetendo-a a duas condições, a saber:
Uma forma de organização de estado que delega excessiva autonomia aos seus servidores e um sistema de normas que não impõem aos agentes estatais deveres específicos de integridades na condução dos negócios da administração pública. À medida que tais condições se extinguirem, a corrupção endêmica seria substituída por uma centralização e um conceito dominante de integridade. A parti daí, a corrupção se reduziria a episódios esporádicos, de interesse. (RIBEIRO:2004:31)
Um dos primeiros sociólogos a ver a corrupção dentro dos limites econômicos
foi Simmel, segundo Ribeiro (2004), o autor abordou o tema como “segredos de
negócios”. Isto é, a partir do momento em que o “tráfico dos valores econômicos
passou a se fazer por meio do dinheiro, tornou-se possível, como ocorrera
anteriormente, um alto grau de segredo”. Com base nesse entendimento, se tornaram
relevantes três formas de valor:
(...) sua compressibilidade, que possibilita enriquecer uma pessoa de um momento para o outro, sem que ninguém perceba; seu caráter abstrato, graças ao qual todo tipo de transações, aquisições e transferências de propriedade podem se manter ocultas e irreconhecíveis de uma forma impossível quando os valores eram apropriados sob a forma de objetos extensos e tangíveis; e, finalmente, seu efeito à distância, que permite investimentos em valores remotos e sempre mutáveis e sua completa ocultação dos olhares dos circunstantes. Essas possibilidades de simulação surgem na medida em eu a economia monetária se expande e logo revelam seu perigo na ação econômica que compromete dinheiro estrangeiro ( Ribeiro apud Simmel: 2004:31).
A partir dos anos 1980, assim como foram rediscutidas as visões clássicas do
capitalismo e democracia, os conceitos sobre corrupção também passaram a ser
reavaliados, levando-se em consideração os cenários cultural, econômico, histórico,
jurídico, político e institucional. Há ainda a criação de sistemas governamentais com o
39
objetivo de analisar o efetivo funcionamento das práticas corruptas em cada país. Pode-
se destacar, então, duas visões sobre o tema: a corrente neoliberal, que por sua vez se
divide entre a public choice/rent seeking, economia das organizações e gerencialismo
e, o institucionalismo histórico.
A teoria da escolha pública (public choice) foi uma das primeiras a serem
concebidas ainda na década de 1980 pelos economistas neoclássicos e, durante duas
décadas, teve grande influência sobre a reforma no setor público de vários países. De
acordo com Borges (2000), coalizões políticas conservadoras valeram-se do status
científico dos modelos econômicos da burocracia e de técnicas de gestão do setor
público para implementar sua agenda de reorganização do aparelho estatal, resolver
problemas de ordem fiscal e solucionar a “ crise de caráter” do Estado.
Essa mesma teoria incentivou a privatização do Estado e sugeriu a criação de um
sistema capaz de forçar as agências burocráticas a produzir de maneira eficiente. O
raciocínio era garantir o comprometimento do funcionalismo estatal com programas de
reformas pró-mercado reduzindo seu poder e as oportunidades para a corrupção.
Segundo Kimenyi e Mbaku (1999, p.1), cientistas políticos acreditam que o
indivíduo na arena política procura servir ao interesse público. A ciência econômica, ao
contrário, estuda o comportamento do indivíduo no mercado e assume que o homem
econômico é guiado pelo interesse próprio e procura maximizar sua utilidade. A public
choice dispensa esta dicotomia e argumenta que o indivíduo político e o indivíduo
econômico são uma pessoa única. Assim, a teoria da public choice se propõe a explicar
uma série de fenômenos afetados pela ação de mercados políticos.
Uma delas pode ser considerada a teoria do comportamento rent-seeking inserida
na escola da "public-choice”. Essa tem como tema central de sua investigação teórica o
problema da dissipação de rendas através da competição dos agentes por monopólio ou
proteção legais, sendo as referências básicas Tullock (1967), Krueger (1974), Posner
(1975), Buchanan (1980a) e Tollison (1982). De acordo com essa análise, ao menos na
maior parte das vezes, a ação do Estado na concessão de direitos de propriedade possui
efeitos nocivos do ponto de vista da eficiência econômica.
40
Mueller (2003, p.333) nos diz que "o governo pode, por exemplo, ajudar a criar,
aumentar ou proteger a posição de monopólio de um grupo. Fazendo isto, o governo
aumenta as rendas de monopólio dos grupos favorecidos às custas dos compradores dos
produtos e serviços destes grupos. As rendas de monopólio que o governo pode prover
são um prêmio digno de ser perseguido, e à perseguição destas rendas é dado o nome de
rent-seeking.
Segundo Buchanan (1980a), nós podemos definir rent-seeking como um
comportamento de pessoas procurando maximizar seus retornos através de suas
capacidades e oportunidades em um conjunto de instituições onde os esforços
individuais geram perda social em vez de excedente social.
Para Tollison (1982, p.578), rent-seeking é o gasto de recursos escassos para
capturar transferências artificialmente criadas. Segundo Tanzi (1998) o termo
corrupção vem do verbo latino “rumpere” - romper, que significa a quebra de algo. Este
algo pode ser um código de conduta moral, social ou ainda uma regra administrativa;
para haver quebra de uma regra administrativa, ela deve ser precisa e transparente.
Além disso, é necessário que o funcionário corrupto consiga algum tipo de benefício
reconhecível para si próprio, sua família, seus amigos ou tribo, e que este
benefício seja visto como uma compensação do ato específico de corrupção.
McNutt (1996) define rent-seeking como "custos implícitos ou escondidos que são
atribuídos à criação de escassez artificial promovida, em muitos casos, pelo
provimento, por parte do governo, de direitos de monopólio, e inclui o subseqüente
gasto de recursos reais por candidatos a monopolistas através do suborno e de lobby do
governo".
Estudar a corrupção como um fenômeno de rent-seeking nos permite analisá-la
como um comportamento racional por parte de indivíduos que atuam dentro de um
determinado arranjo institucional. A corrupção é um caso especial de comportamento
rent-seeking no qual, de acordo com Jain (2001, p.78), ou o processo de influência dos
tomadores de decisão não é claro para todos os participantes; ou há pagamentos
indevidos ao agente; ou no qual um grupo beneficia-se das rendas recebidas por outro
41
grupo. Se pelo menos uma destas situações ocorre, a atividade de rent-seeking passa a
ser, também, uma atividade corrupta.
Das definições apresentadas, verificamos que existem pontos em comum à maioria
delas. Assim, temos que o comportamento rent-seeking apresenta, como características
gerais, restrições artificialmente criadas à atividade econômica e a tentativa de capturar
rendas geradas por estas restrições.
A economia das organizações é mais um complemento na teoria da escolha
pública do que propriamente um novo modelo de idéias políticas e econômicas, pois
busca entender sistemas hierárquicos e mercados como estruturas alternativas de
governança, originários da decisão de atores racionais. Mas segundo Williamson
(1985) esses autores não levaram em consideração que a racionalidade do
comportamento dos atores e a existência de assimetrias em mercados e contextos
hierárquicos , abrem caminho para a busca do auto-interesse. Portanto, essa teoria
também não dá conta de estabelecer métodos mais eficazes em combate à corrupção.
O gerencialismo nasce inspirado de várias doutrinas administrativas dos anos 80.
Estas passam a dominar a agenda de reformas em países desenvolvidos. O trabalho do
Estado seria criar condições para seus administradores gerirem, aumentando seu poder
e submetendo-os ao controle de resultados. A eficácia na gestão seria a principal
ferramenta para impedir o descaso com o dinheiro público, com o clientelismo e,
conseqüentemente, com a corrupção. Com essa fórmula, acreditam os autores dessa
linha teórica, estaria posta a solução para os males econômicos e sociais.
O institucionalismo histórico foi desenvolvido com a perspectiva de ser uma
metodologia contrária as análises sobre a vida política e ao funcionalismo, que
dominava a ciência política nas décadas de 1960 e 1970. Os teóricos institucionalistas
buscam, em linhas gerais, explicações mais contundentes sobre a relação entre
instituições e comportamentos individuais, que dêem conta das situações políticas
nacionais e, em particular, da distribuição do poder e dos recursos.
Hall e Taylor (1996) para explicar tais fatores levam em consideração o modo pelo
qual, a organização institucional da comunidade política e a estrutura econômica
42
entram em conflito, de tal maneira que determinados interesses são privilegiados em
detrimentos de outros.
Esses teóricos foram igualmente influenciados pela concepção, própria aos estruturo-funcionalistas, da comunidade política como sistema global composto de partes que interagem. Eles aceitavam esse princípio, mas criticavam a tendência de numerosos estruturo-funcionalistas a considerar as características sociais, psicológicas ou culturais dos indivíduos como os parâmetros responsáveis por uma boa parte do funcionamento do sistema. (Hall e Taylor , 1996: 195)
Geralmente, os teóricos do institucionalismo histórico tendem a definir
instituições como todos os procedimentos, convenções e normas inerentes à estrutura
organizacional da comunidade política ou econômica política. Essa linha teórica
também destaca-se por enfatizar as assimetrias de poder associadas ao funcionamento e
desenvolvimento das instituições e por formar uma concepção de desenvolvimento
institucional que privilegia as trajetórias, as situações críticas e as conseqüências
imprevistas.
Os mesmos autores (1996) argumentam que na análise de como as instituições
afetam o comportamento dos indivíduos, os institucionalistas utilizam a “perspectiva
calculadora”, na qual o comportamento humano é orientado por um cálculo estratégico,
e a “perspectiva cultural”, que questiona até que ponto o comportamento humano não é
inteiramente estratégico e sofre influências da visão de mundo do próprio indivíduo. As
duas perspectivas são construídas baseadas em como os atores se comportam, o que
fazem as instituições e como elas se mantêm.
Nas “perspectivas calculadores” postula-se que os indivíduos buscam maximizar
seu rendimento com referência a um conjunto de objetivos definidos por uma função de
preferência dada e que, ao fazê-lo, eles adotam um comportamento estratégico. Vale
dizer, que eles examinam todas as escolhas possíveis para, então, selecionar aquelas
que oferecem um benefício máximo. Em geral, os objetivos ou preferências do ator são
definidos de maneira exógena com relação à análise institucional.
Neste caso, as instituições afetariam os comportamentos ao oferecer aos atores
uma certeza quanto ao comportamento presente e vindouro dos outros atores. Essa
formulação exprime bem o papel central reservado à interação estratégica nessas
análises. Mais precisamente, as instituições podem fornecer informações concernentes
ao comportamento dos outros, aos mecanismos de aplicação de acordos, às penalidades
em caso de defecção, etc.
43
Já na “perspectiva cultural”, os autores argumentam que, embora reconhecendo
que o comportamento humano é racional e orientado para fins, enfatiza o fato de que os
indivíduos recorrem, com freqüência, a protocolos estabelecidos ou a modelos de
comportamento já conhecidos para atingir seus objetivos. Ela tende a considerar os
indivíduos como satisficers mais do que como optimizers em busca da maximização da
sua utilidade, e a enfatizar a que ponto a escolha de uma linha de ação depende da
interpretação de uma situação mais do que de um cálculo puramente utilitário.
Nesse ponto de vista, as instituições fornecem modelos morais e cognitivos que
permitem a interpretação e a ação. O indivíduo é concebido como uma entidade
envolvida num mundo de instituições composto de símbolos, de cenários e de
protocolos que fornecem filtros de interpretação, aplicáveis à situação ou a si próprio, a
partir das quais se define uma linha de ação. Não somente as instituições fornecem
informações úteis de um ponto de vista estratégico, como também afetam a identidade,
a imagem de si e as preferências que guiam a ação.
Outro ponto importante na análise do instrumentalismo histórico se concentra na
atenção dada à maneira desigual pela qual o poder é repartido entre os grupos sociais.
Assim, segundo Hall e Taylor “ ao invés de basear seus cenários sobre a liberdade dos
indivíduos de firmar contratos, eles preferem postular um mundo onde as instituições
conferem a certos grupos ou interesses um acesso desproporcional ao processo de
decisão.”
Uma última característica importante desta metodologia vincula-se à concepção
particular do desenvolvimento histórico e, por isso, tende a uma análise de causalidade
social relacionada à trajetória percorrida, path dependent. Logo, rejeita-se as teorias
tradicionais que afirmam que as mesmas forças causam os mesmos resultados em todos
os lugares. Para os teóricos do institucionalismo histórico as forças sofrem influências
dos contextos locais gerando, portanto, resultados diferentes.
Ao explicar como as instituições produzem esses trajetos, o institucionalismo
histórico enfatiza as “capacidades do Estado” e as “políticas herdadas” existentes em
estruturas ulteriores. (Hall e Taylor apud: Weir e Skocpol, 1996).
Em numerosos casos esses teóricos insistem em especial nas conseqüências imprevistas de instituições existentes e das insuficiências que elas produzem, opondo-se assim à imagem que muitos
44
economistas propõem da criação institucional. No mesmo espírito, numerosos teóricos dessa escola tendem a distinguir no fluxo dos eventos históricos períodos de continuidade e “situações críticas”, vale dizer, momentos nos quais mudanças institucionais importantes se produzem, criando desse modo “bifurcações” que conduzem o desenvolvimento por um novo trajeto. O principal problema consiste evidentemente em explicar o que provoca as situações críticas, e em geral os teóricos insistem no impacto das crises econômicas e dos conflitos militares. (Hall e Taylor 1996: 200, 201).
Mesmo afirmando a importância do papel das instituições na vida política, os
teóricos do institucionalismo histórico não coadunam com a idéia de que seriam as
instituições o único fator a influenciar a vida política. “De modo geral, apresentam um
mundo mais complexo que o universo de preferências e instituições com freqüência
postulado pelos teóricos da escola racional”, argumentam Hall e Taylor. Em particular,
os teóricos dessa linha mostram-se mais atentos às relações entre instituições e as
idéias.
Peter Evans (1993) entende que as instituições sofrem impactos dos legados da
cultura, da política e da economia de uma dada sociedade, mas não vê esse fato como
determinístico. Por isso, identifica na tradição histórica de um país as diferenças
contextuais para buscar as regularidades fundamentais das instituições e os resultados
diferentes produzidos para cada uma delas.
Na visão do institucionalismo histórico e Path Dependence ( Peter Evans 1993,
1996, 1998 e 1999) a prática da corrupção está enraizada nas instituições e nos valores
da cultura política brasileira, podendo ser localizada na máfia e nas redes de corrupção,
que geralmente, envolvem os três Poderes e mais os partidos políticos, prefeituras,
funcionários e agentes privados, tanto na corrupção administrativa quanto na captura do
Estado.
O institucionalismo histórico também entende que a organização institucional
do Estado tem forte atuação na estrutura de comportamento coletivo. Nesse contexto,
analisando a relação entre Estado e Sociedade, a atuação do primeiro pode influenciar
na linha de ação do segundo. Entende-se com isso que a insatisfação da sociedade com
as atitudes tomadas pelo Estado pode gerar um novo movimento, e até mesmo uma
nova trajetória, das instituições. Em relação à corrupção entende-se que a sociedade, a
partir do momento em que cria movimentos e ações para combater ações corruptas, de
forma legal e dentro dos protocolos e convenções determinadas pelas instituições,
começa a sinalizar para um novo caminho a ser percorrido tanto para a própria
sociedade como para o Estado.
45
Com base no contexto institucionalista, o combate à corrupção não emerge de
um movimento de cima de para baixo, mas de uma ação de mão dupla: de um lado a
sociedade, com a participação coletiva ou cívica, promovendo ações de cunho
investigativo. De outro lado, o Estado com iniciativas para a criação de instituições e
normas capazes de corresponder às demandas da sociedade.
2.2. Estados Predatórios e Intermediários
Freqüentemente as transformações econômicas, sejam elas internas ou
globalizadas, levam a uma discussão sobre o papel do Estado. Na doutrina neoliberal, o
estado é considerado como o principal responsável pelas mazelas sociais, pelo
desempenho no desenvolvimento econômico e pelas capturas por políticos e burocratas.
Na década de 1980, sob o advento do neoliberalismo, surgem as idéias de reforma
do Estado e combate ao rent seeking. As orientações desse sistema, advindas
principalmente do Consenso de Washignton, buscavam reduzir ao máximo o controle
burocrático do Estado substituindo-o por mecanismos de mercado de modo a
possibilitar que a captura do Estado fosse, senão eliminada, ao menos minimizada.
Com a abertura na economia de mercado surge a preocupação das agências
internacionais com o custo econômico da corrupção e as primeiras iniciativas contra as
ações “desviantes” do Estado e do mundo das corporações (as empresas). Agências
multinacionais como o FMI e o Banco Mundial estabelecem condicionantes para que
países com alto índice de rent seeking, com destaque para os classificados como
Terceiro Mundo, possam reduzir seus gastos públicos e estabelecer mecanismos para
estruturação do Estado, com agendas voltadas para as reformas econômicas e políticas.
Dentro do contexto neoliberal, com interferência de agências multinacionais na
indicação de formas de economia e política para cada país, pesquisadores de várias
partes do mundo iniciam estudos sobre as formas de capitalismo, de Estados e suas
estruturas.
Em análises comparativas realizadas por Peter Evans (1989), ficou determinada a
existência de diferentes tipos de Estados, que de acordo com a sua estrutura contribui
de forma mais ou menos intensiva para as transformações econômicas e sociais. Nos
casos das comparações entre países do Terceiro Mundo, Evans detecta três tipos de
46
Estado. O primeiro deles, (1) predatório, também conhecido como “voraz”, extrai
grandes quantidades de recursos dos cofres públicos, o que inviabiliza as
transformações econômicas e sociais reforçando o controle do aparelho do estado. O
segundo (2) em desenvolvimento, compreende um Estado capaz de nutrir por muito
tempo perspectivas do setor privado, com incremento nos investimentos, e decrescer o
riscos que envolvem tais investimentos, no entanto não está livre de rent seeking. Por
último, o estado (3) intermediário, situado entre o Estado predatório e o Estado em
desenvolvimento. Este estado se configura quando as instituições tradicionais e/ou
patriarcais se utilizam, usualmente, de bens públicos como privados.
Para Evans, o Brasil se enquadraria neste último estado. O cenário apresentado
envolve duas situações no Brasil. A primeira relacionada à atividade
desenvolvimentista, principalmente nos anos 50, com o BNDES em busca da
modernização. A segunda percebe os políticos e burocratas incapazes de se desligaram
dos vícios de mediadores de interesses, de solucionar a captura do Estado e de
proporcionar mudanças estruturais na agenda política para resolução dos problemas
sociais. Em conseqüência disso, até mesmo as iniciativas desenvolvimentistas eram
absorvidas pelas normas clientelistas, que prevaleciam e ainda prevalecem dentro do
Estado e na sua relação com as empresas. Sobre as relações predatórias Boschi (1999)
argumenta:
“Relações verticais, assimétricas e hierárquicas dariam lugar à instauração de práticas autoritárias e de relações sociais predatórias, por sua vez impeditivas da geração de políticas conducentes ao desenvolvimento. Sem o capital social, tenderiam a vigorar relações clientelistas fundadas em relações assimétricas, hierárquicas e verticais, com a conseqüente utilização de bens públicos como moeda de troca para se auferirem benefícios privados. (...) como tendência geral, relações clientelistas e predatórias tendem a instaurar-se onde se encontram condições propícias para tal, isto é, em relações ou contextos assimétricos em que os atores envolvidos julgam que, havendo relação de interdependência, a troca de suporte político por algum bem público é racional” ( Boschi : 1999: 657).
Sobre as tradições e perspectivas históricas de Estados e mercados, Evans (1989)
compreende que as instituições sofrem impactos dos legados econômicos e políticos,
mas não vê esse fato como algo determinístico. Para ele, o Estado deve adotar uma
estrutura que seja eficiente aos grupos empresariais e não, necessariamente, precisa
estar à margem das perspectivas de mercado. Prova disso é que da boa governança
surgem, para Evans, Estados bem desenvolvidos e, conseqüentemente, economias mais
prósperas.
47
No Brasil, as imposições do modelo neoliberal que envolveram reforma política
e econômica, com destaque maior para as ações do Poder Legislativo e as privatizações,
alteraram muito pouco ou quase nada esse comportamento “predatório”. A década de
1990 foi marcada por escândalos de corrupção, impeachment do presidente Fernando
Collor de Mello, estagnação econômica e social, fatores que pendiam a balança mais
para o lado do Estado predatório do que para o lado do Estado em desenvolvimento.
Nas décadas de 1980 e 1990, alguns dados revelaram traços de um país, cujas
características se aproximavam de um Estado Intermediário. Nessas duas décadas, o
Brasil viveu uma grande contradição. De um lado, as conquistas sociais e políticas -
que ampliaram os direitos da cidadania -, de outro, o modelo econômico neoliberal
implantado pelos governos de Collor e de Fernando Henrique Cardoso.
No âmbito institucional-legal, com a Constituição de 1988, foram reconhecidas a
universalidade dos direitos sociais e a responsabilidade do Estado como provedor
desses direitos, enquanto, do ponto de vista macroeconômico, os gastos e investimentos
necessários nas políticas sociais fracassaram no atendimento às demandas da sociedade.
A despeito do crescimento econômico, os níveis de desemprego no país
aumentaram significativamente., tal como apresenta a série histórica (1985-1999)
elaborada por Santos e Silveira (2001). No período considerado, a região metropolitana
de São Paulo passou de 12,2% para 19,9% o número de desempregados. Já os estados
do Nordeste, como Recife e Bahia, chegaram a atingir, em 1999, índices de 21,4% a
24,5% de desempregados, respectivamente.
De acordo com Hasenbalg (2003) a proporção de pobres em 1983 atingiu o pico
com 51,1% e se estabilizou em 34,1%, a partir de 1995. Do ponto de vista das agências
multinacionais, este cenário contribui para o desequilíbrio sócio-econômico e o
aumento das práticas de corrupção. Duas das razões pelas quais, o Instituto Banco
Mundial desenvolveu um banco de dados, de conhecimento e aprendizagem sobre
governabilidade e combate à corrupção34.
34 No Brasil, a maioria dos empréstimos para assistência técnica e investimento são dirigidos ao fortalecimento da governabilidade e da responsabilidade pública.Informações colhidas no site do Banco Mundial . www.obancomundial.org
48
Iniciativas de vários segmentos da sociedade civil, como ONGs e outros
movimentos, embora ainda tímidas começam a pressionar o Estado para que haja
accountability, transparência e eficiência no gerenciamento de finanças públicas. A
Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais – Abong, por exemplo,
desde de 1991 tem se posicionado entre outras questões, na defesa da ética política e na
consolidação da democracia.
Em 1999, a Abong liderou o movimento de “Monitoramento de recursos
públicos”. Entre as ações está a solicitação de abertura de inquérito civil e outras ações
públicas cabíveis junto à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão da Procuradoria
Geral da República, no sentido de garantir que os recursos obtidos com o empréstimo
concedido pelo Banco Mundial fossem destinados ao combate à pobreza.
No mesmo ano, apoiou o Projeto de Lei de Iniciativo Popular contra a Corrupção
Eleitoral, organizado pela Comissão Brasileira de Justiça e Paz e encaminhado ao
Congresso Nacional. O projeto resultou na Lei Eleitoral que regeu as eleições
municipais, coibindo energicamente a compra de votos e o abuso do poder econômico e
político, entre outros crimes.
Passam a existir, então, dois movimentos: os das agências multinacionais que
fomentam o desenvolvimento econômico e a democracia, com vistas ao combate à
corrupção, e o movimento da sociedade civil que começa a se organizar para o mesmo
fim. Embora por um período curto tenham agido paralelamente, os dois movimentos
acabaram se unindo. Hoje, é possível ver ações conjuntas entre as agências
multinacionais, como a Transparência Internacional e Transparência Brasil, a sociedade
civil com ONGs e o setor privado.
De acordo com Aline Soares (2004), o ativismo internacional é o que mais
contribui para a mobilização sobre os temas: boa governança, combate à corrupção,
defesa da democracia, sustentabilidade ambiental, apoiando e organizando ONGs que
agem local ou transnacionalmente. Essa preocupação com a reestruturação da
governança é denominada por Keohane (1998) como “soft power”,uma característica
de poder dos atores não-estatais baseada na persuasão da informação ou na força da
comunicação. Esses grupos representam a expressão da cidadania e são capazes de
49
levantar novos temas para a agenda pública, influenciar preferências e provocar pressão
para modificar práticas do Estado.
Também no setor privado, mesmo sendo um dos mais envolvidos na questão da
não transparência na relação com o Estado, tem emergido representações e iniciativas
que tomam para si a responsabilidade da orientação e prática no combate à corrupção e
consolidação da democracia. Atualmente, as empresas têm se associado às instituições
de RSE que também zelam por ações anticorrupção, consolidação da democracia e não
captura do Estado, através do tema da Responsabilidade Social Empresarial, conforme
apresentado no capítulo anterior.
Vale ressaltar aqui a iniciativa a Associação Comercial de Minas Gerais, que há
dois anos discute internamente, através de seus conselhos e com os empresários
associados a questão da ética nos negócios, da corrupção e do relacionamento “limpo”
com o Estado. Neste ano a Associação decidiu tornar as discussões públicas. A primeira
atitude foi realizar o “Movimento Mineiro pela Ética”, em sinal de protesto contra a
corrupção. O lançamento do movimento contou com a presença de mais de 150
empresários associados, lideranças políticas e sindicais.
Segundo o assessor de comunicação da ACMinas, Antônio Rubens Ribeiro o
objetivo da Associação é debater o tema com empresários e a sociedade civil, como
forma de criar instrumentos capazes de pressionar o Estado para uma tomada decisão
contra a corrupção. 35 Constam na pauta dos próximos encontros do “Movimento
Mineiro pela ética”, um debate com o deputado federal, Paulo Renato Souza ( PSDB),
que tem projeto para criar o “Tribunal contra crimes ao patrimônio público” e,
aprofundamento e esclarecimento sobre a regulamentação do lobby, projeto do Senador
Marco Maciel (PFE –PE).
Os mecanismos de prevenção e combate à corrupção, adotados pelos
organismos internacionais e nacionais, assim como pelas representações empresariais
têm sido fundamentais na tentativa de coibir ações predatórias ao Estado e de garantir
um relacionamento “limpo” e legal entre iniciativa privada e setor público.
2. 3 Accountability
35 Entrevista concedida no dia 11/08/07.
50
Accountability é entendida como a capacidade de prestar contas e de assumir a
responsabilidade sobre o uso de recursos. Nela são previstos mecanismos de punição
para todos os delitos ilícitos.
Aline Soares (2004) recorre Peruzzoti e Smulovitz para caracterizar três tipos de
acconuntabilty encontradas nos Estados modernos democráticos. São eles:
accountability política, administrativa e social. No entanto, o que se tem observado é
que corporações empresariais, principalmente aquelas que atuam na área de
responsabilidade social também estão se utilizando dos mecanismos da accountability
em seus modelos de gestão, tanto para o controle interno, quanto para o controle nas
relações entre Estado e sociedade civil.
Para o que se propõe, esta dissertação é imprescindível estudar tanto a
accountalibity referente ao Estado quanto aquela relacionada às empresas. Até porque
a corrupção - foco deste trabalho - permeia os dois setores e a accountability seria um
dos mecanismos para inibir e combater essas práticas predatórias.
A Accountability política está ligada ao exercício dos direitos políticos, como as
eleições, também conhecida por accountability vertical. Esta pelo mero feito é
necessária em uma democracia, por estabelecer eleições limpas, o direito de escolher
representantes, assim como deixar de apoiá-los em casos de suspeitas da não
transparência de suas ações.
A Accountability administrativa é utilizada como forma de controle do
Estado perante às informações e ao poder dos burocratas. Esse é mais um mecanismo
interno do Estado. O`Donnell (2001) a classifica como accountability horizontal e a
entende como interação entre agências estatais (executivo, legislativo e judiciário) na
qual uma pode agir sobre a outra em casos de processos ilegais. Mas é a chamada
“accountability horizontal designada”, que O´Donnell considera ser a que mais se
aproxima da eficiência na prestação de contas e da supervisão das práticas do Estado.
Isso porque esse tipo de accountability cria mecanismos como (ombudesman,
auditorias, controladores, conselhos e funções similares) legalmente encarregadas de
supervisionar, prevenir, delatar e promover sanção de ações ilegais das agências do
Estado. Esses mecanismos, segundo o autor, servem principalmente para prever riscos
específicos como transgressões e corrupção.
51
Já a Accountability social, definida por Perruzotty e Smulovitz, volta-se
especialmente, para a relação entre atores sociais e políticos:
“La accountability societal es un mecanismo no electoral, pero vertical, de control de autoridades políticas que descansa en las acciones de un múltiple conjunto de asociaciones de ciudadanos y de movimientos y sobre los medios, acción que tiene como objetivo el exponer los errores gubernamentales, trayendo nuevas cuestiones a la agenda pública, o de activar el funcionamiento de agencias horizontales. Emplea herramientas institucionales y no institucionales. La activación de demandas legales o reclamos ante agencias de control es un ejemplo de recursos institucionales; las movilizaciones sociales y exposés ilustran algo de los no institucionales, [cuya efectividad] se basa en sanciones simbólicas” (O´Donell,apud Perruzotty e Smulovitz, 2001:20)
Esta foi uma forma encontrada pelos autores de não limitar a accountability
vertical apenas aos processos eleitorais. Para eles, existem numerosas ações individuais
e coletivas que ocorrem na sociedade a qualquer momento entre as eleições. Os atores
sociais podem agir de diferentes formas através de denúncias de irregularidades
cometidas por funcionário públicos, ativando desse modo organizações sociais e a
imprensa para o monitoramento, a prestação de contas e a reparação de danos causados
pelo Estado através de atitudes ilícitas. Na accountability social, diferentes das outras
não existem meios para aplicar as sanções, os atores fazem o papel de “vigilantes
sociais”, mas são capazes de acionar agências que têm a competência legal de punir.
Para O´Donnell, o ideal de uma democracia é que nela estejam associados os dois
tipos de accountability, a horizontal, com mecanismo interno no Estado, e a vertical,
com a atuação de exercícios eleitorais e de atores sociais fiscalizando e cobrando a
transparência e a boa governança. Algo que para o autor ainda precisa ser melhor
trabalhado nos países da América Latina, onde de acordo com a sua visão, a
accountability vertical eleitoral ainda funciona de forma deficiente. Segundo
O´Donnell, a interação entre os dois tipos de accountability representa:
Por un lado, una sociedad alerta y razonablemente bien organizada, y medios que no se inhiben de señalar casos de transgresión y corrupción, proporcionan información crucial, apoyos, e incentivos políticos para las dificultosas batallas que las agencias de accountability horizontal pueden tener que emprender contra poderosos transgresores o corruptos. Por otro lado, la disponibilidad percibida de este tipo de agencia horizontal para emprender esas batallas, puede alentar el emprendimiento de acciones de accountability societal vertical. Estos efectos, respectivamente de estimulación de accountability horizontal y de inducción de accountability societal vertical, son extremadamente importantes para entender la dinámica de la política democrática, especialmente en países donde, como ya comenté, la accountability vertical electoral funciona de manera bastante deficiente. Además, las acciones de accountability societal –particularmente si son vigorosas, sostenidas, y obtienen una extensa atención pública– pueden enviar fuertes señales a los políticos que desean ser electos o reelectos. ” (O´Donell, 2001:23)
52
Segundo Soares (2004), a popularização do conceito de accountability se deve
a ONG Social Accountability International ( SAI), que em 1997, estruturou a norma
internacional SA8000 para a certificação de organização em responsabilidade social.
No entanto, essa norma está mais ligada a afazeres empresariais voltados para
indicativos da ONU e OIT, como proibição do trabalho infantil e trabalho forçado,
segurança no trabalho, remuneração e liberdade associativa, do que com as práticas
efetivas que prescrevem a accountability, que são ética na relação com Estado e
sociedade civil, inclusão imparcial nos processos de contabilidade, transparência nas
informações, auditoria entre outras ações.
Dois anos depois uma outra certificação, a AccountAbility 1000 ( AA1000)
passou a ser a mais utilizada para difundir a accountability entre as empresas com
práticas na área de responsabilidade social. A AA1000 é um padrão de processo para a
gestão da contabilidade, auditoria e relato da responsabilidade corporativa. Seu
principal diferencial está na inclusão das partes interessadas em todos os seus passos,
dando credibilidade à responsabilidade corporativa da organização que o adota.
Lançada em novembro de 1999, pelo Institute of Social and Ethical Accountability
– ISEA, a norma AA1000 tem o desafio de ser o primeiro padrão internacional de
gestão de responsabilidade corporativa. A versão preliminar da Estrutura AA1000 foi
testada em projetos piloto em várias organizações que realizaram uma auditoria social e
ética em seu planejamento e gestão estratégica.
Entre as organizações que utilizam e apóiam este padrão estão multinacionais
como a Shell International (UK), Novo Nordisk (Dinamarca) ou British American
Tobacco (BAT). The Body Shop Plc e Co-operative Bank (ambos de UK) foram os
primeiros a publicar relatórios sociais integralmente baseados na aplicação do padrão
AA1000.
A organização (empresarial, não-lucrativa ou governamental) que adota a AA1000
deve seguir um processo contínuo de ciclos de atividades, que têm como principais
passos a definição ou redefinição de valores, desenvolvimento de metas de performance
ética e social e avaliação e comunicação do desempenho em relação às metas
desenvolvidas.
53
No processo AA1000, o envolvimento dos stakeholders, ou partes interessadas nas
atividades da organização, é crucial. Isto quer dizer que a organização deve utilizar sua
liderança para possibilitar e ampliar seu diálogo com funcionários, clientes,
fornecedores, comunidades, governo, representantes do meio ambiente, acionistas,
entre outros em prol da transparência.
Esse é o processo de sistematização do envolvimento de stakeholders que legitima
a empresa como sendo socialmente responsável, tornando as informações, levadas a
público pela organização, mais confiáveis.36
A AA1000 tem tomado tamanha proporção que não só empresas de pequeno ,
médio e grande portes e organizações sem fins lucrativos estão adotando a norma,
como também organizações públicas, que pela ineficiência de alguns mecanismo de
accountability horizontal estão preferindo trabalhar com mecanismo empresariais de
transparência e combate à corrupção.
Arato ( 2002) levanta duas questões óbvias, porém necessárias, para a eficiência
da accountability. “Não basta decretar normas para que sejam institucionalizadas: elas
precisam ser cumpridas. E segundo, os modelos não podem garantir que atores sociais
vão se organizar e participar da discussão pública com envolvimento político”.
(2002: 98).
Essas questões se enquadram tanto para o Estado quanto para as empresas de
responsabilidade social. Primeiro porque a accountability deve ser levada à sério pelo
Estado e pelas empresas, principalmente aquelas que se certificam. Os mecanismos
criados devem ser eficientes. Isso é, não basta detectar funcionários públicos corruptos
e permitir que o clientelismo ou o nepotismo sejam ferramentas para a não punição. Ou
dentro de uma empresa utilizar maneiras para se beneficiar de recursos públicos e
burlar os pagamentos de impostos, quando se é certificado pela AA1000 e se tem um
código de ética que recrimina essas ações.
36 www.accountability.org.uk
54
Um dos maiores problemas que o Brasil enfrenta é a forma pela qual o público e
privado se relacionam na história do país, criando dificuldades para o desenvolvimento
das formas políticas, sociais e administrativas de accountability, afirma Soares (2004)
O segundo, é que pela distância social, intelectual e econômica que separam
representados dos representantes, não se pode esperar que atores sociais, por si só,
tomem a consciência das ações de uma comunidade cívica e partam para atitudes de
cobrar efetivamente e legalmente de seus representantes, mesmo sendo a accountability
o mecanismo que mais aproxima os dois pólos, como argumenta Arato. Para o
pesquisador, esses atores, no estágio que se encontram, precisam ser orientados e
capacitados para tal fim.
Essas mobilizações a favor da conscientização e organização de atores sociais já
estão sendo realizadas no Brasil por diversas entidades representativas e ONGs, como é
o caso da Abong, Transparência Brasil, Fiemg, Fiesp e outras entidades não
governamentais que se tornaram multiplicadoras, tanto para o setor empresarial como
para a sociedade civil. Nesse segundo momento, ocorre - ainda que de forma incipiente
- a inclusão de empresas de responsabilidade social na formação da consciência cívica,
começando com atividades internas junto aos seus funcionários ampliadas à
comunidade na qual estão inseridas.
2. 4 Transparência
A definição de transparência usada pelos organismos internacionais foca em
garantir ao público acesso às informações. A Organização Mundial do Comércio
(2002), que assegura a transparência nos tratados internacionais estabelece três
requisitos: (1) ter informações relevantes referentes às leis, regulamentações e outras
políticas viáveis; (2) notificar as partes interessadas; (3) assegurar que as leis e
regulamentações serão administradas de forma uniforme, imparcial e responsável.
A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (2006)
descreve um ambiente empresarial transparente, no qual o agente econômico possui
informações essenciais sobre a empresa na qual trabalha com a maior facilidade
possível. A empresa deve manter também comunicação clara com governo e partes
interessadas.
55
Beller e Kaufmann (2005:04), definem transparência como um “aumento do fluxo
de oportunidade e confiança na informação econômica, social e política, onde todos os
stakeholders têm acesso”. Para os autores, a transparência está associada aos
indicadores sócio-econômicos e de desenvolvimento humano, bem como o aumento da
competitividade e baixa corrupção. Segundo seus estudos, muitos progressos podem ser
alcançados sem necessitar de grandes quantidades de recursos, desde que as reformas
priorizadas sejam substanciais.
Dessa forma, a transparência pode ser a “salvadora” dos recursos públicos, pois
freqüentemente serve como mais uma ferramenta de baixo custo e alto grau de
eficiência na governança. Com foco na transparência econômica Islam (2003), baseia a
transparência no indicador da oportunidade, isto é, na facilidade de viabilizar dados
econômicos com clareza e para todas as partes interessadas.
A partir de todas essas definições - não por menos - Florini (1999) aproxima
transparência de accountability, já que para ele a primeira visa informar a performance
da segunda. Outro ponto relevante é que, a transparência possibilita a abertura para que
outras instituições, stakeholders e cidadãos possam monitorar e avaliar as ações tanto
do governo quanto de uma corporação privada.
Corrupção e falta de transparência são tratados como duas faces da mesma moeda.
Mauro (2004) argumenta que existe um “bad equilibrium”que se caracteriza com a
corrupção impregnada e o baixos investimento e crescimento. Segundo ele, este
modelo, principalmente em governos de democracias novas, aponta para um esforço em
aperfeiçoar a transparência e, conseqüentemente, aumentar a disseminação da
informação para o controle da corrupção e o fomento do crescimento econômico. Por
outro lado, esse esforço é incentivado por agências multinacionais, o que chama de
“intervenção externa”, que ajudam a quebrar o círculo vicioso que os Estado
predatórios ou intermediários se encontram.
Só recentemente estudiosos passaram a usar o indicador “transparência” em
pesquisas sobre a prevenção de crises financeiras e de políticas monetárias. Observou-
se que a falta de fluxo da informação e pobreza na transparência, combinadas com uma
crise financeira institucional, pode acarretar instabilidade nos investimentos e
vulnerabilidade das instituições.
56
Baseado em uma pesquisa em 56 países (1977-1997), o estudo de Kaufmann
(2001) apresentou um aumento na transparência na política monetária e fiscal. Além
disso, dados da macroeconomia decresceram a probabilidade da liberalização financeira
e, conseqüentemente, de uma crise mais aguda. A ausência da transparência dos
governos, principalmente nas decisões de políticas de mercado induz agentes privados a
reverem suas perspectivas e aumentam o risco de investimento no país.
De outro lado, o fluxo da informação melhora a qualidade na relação entre
governo e sociedade. É o que revela uma pesquisa realizada por Islam (2003), quando
analisa 169 países e verifica que quando um país melhora as informações econômicas
em termos de quantidade e qualidade também amplia os números no indicador
governança, isto inclui eficácia no controle da corrupção, accountability, leis, eficiência
burocrática e redução dos riscos em investimentos.
De acordo a OCDE (2003), países com maior transparência em ambientes
políticos tendem a exercer uma performance melhor no mercado de investimentos
internacionais. Um estudo realizado por Gelos e Wei ( 2002) examina o impacto da
transparência no período de 1996 a 2000. A pesquisa distingue transparência no
governo e nas empresas. Para governos, considerou-se a viabilidade de dados da
macroeconomia e a transparência na condução dessas políticas. Para empresas, foi
levado em conta a viabilidade financeira e a transparência das informações sobre as
atividades. O mesmo estudo evidenciou, também, que fundos internacionais investem,
sistematicamente, menos em países e/ou empresas com menos transparência.
O Prêmio Nobel em economia de 2001, foi conferido a Georg Arellof, Michael
Spence e Joseph Stiglitz pela análise de como a informação imperfeita pode levar o
mercado ao fracasso. Em resumo, chegaram a conclusão que hoje, são as informações
que valorizam uma empresa e seu capital social na bolsa de valores, pois geram mais
investimento em um determinado país ou mercado em expansão. Nesse sentido,
concluíram que a transparência na informação é fator crucial para o bom andamento do
mercado.
2. 5 Impactos da Corrupção
57
No contexto da economia global a corrupção assume o papel de vilã da
estabilidade democrática, do crescimento econômico e de melhores condições sociais.
Ao estabelecer as relações entre instituições e corrupção e entre esta e o crescimento
econômico, organismos internacionais consideram que o maior impacto da corrupção,
em termos econômicos, está no seu custo para o crescimento.
Estudos indicam que a corrupção afugenta novos investimentos para o país. Uma
pesquisa realizada pela Price Waterhouse Coopers, dos E.U.A. em 2002, revelou que o
Brasil perdeu no ano anterior U$ 30,3 bilhões a U$ 40, 3 bilhões em investimentos
estrangeiros direto devido à corrupção, falta de transparência e normas jurídicas
confusas.37 Além disso, o risco político e institucional é sempre levado em conta por
investidores domésticos e internacionais.
Por esse motivos, alguns estudiosos sobre o tema e as agências internacionais têm
se preocupado em desenvolver e aprimorar cálculos que mensurem o grau da
corrupção, o volume e o custo daí decorrentes para a economia e toda a sociedade.
Pesquisas com esse enfoque têm sido mais constantes, mesmo assim não se
descarta as dificuldades encontradas quando o assunto é mensurar a corrupção.
Geralmente os indicadores são revelados por meio de escândalos relatados na mídia,
condenações contabilizadas nas instituições ligadas à esfera penal e as informações
obtidas em pesquisa entre cidadãos. Há quatro anos a Transparência Internacional vêm
fazendo pesquisas junto aos empresários, mesmo assim, a adesão para responder os
questionários ainda é pequena se comparada com o número de empresas. Em uma
pesquisa realizada no Estado de São Paulo, no ano de 2003, foram convidadas quatro
mil empresas, mas apenas 78 delas concordaram em responder o relatório.
Na década de 1990, o número e a variedade de países envolvidos em escândalos de
corrupção chamam atenção de pesquisadores e agências mundiais. Na lista do FMI
estão: França, Itália, Japão, Coréia do Sul, Estados Unidos, México, Brasil, Argentina,
Kênia. Isso é só um resumo mundial. Mas nas listas da Transparência Internacional, do
IPCorr, percebe-se a amplitude de países envolvidos em corrupção.
37 Ribeiro, ASM Corrupção e Controle na Administração Pública, pg 39.
58
Tanto assim, que o problema entrou como prioridade nas agendas das maiores
agências internacionais, como Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio e
OCDE. Elas evidenciaram que o fenômeno colabora para a instabilidade democrática,
enfraquecimento econômico e desequilíbrio social.
Estudos revelam o impacto que a corrupção é capaz de causar nos Estados
democráticos, no desenvolvimento sustentável e no mercado (crescimento econômico).
Em relação à consolidação da democracia está relaciona à boa governança e a captura
do Estado. O grande receio de agências como FMI e Banco Mundial é de que a
corrupção seja um gerador de instabilidade política nos países que ainda buscam sua
consolidação.
Em relação à desigualdade social, argumenta-se que: se a corrupção gera
sonegação e outras práticas ilegais e se forja a não transparência e a não fiscalização
das relações entre empresários e políticos, logo influencia diretamente os
investimentos, a produtividade e o desenvolvimento.
A respeito dos riscos de investimento, recentemente os empresários perceberam
que para fazer bons negócios no mercado competitivo não basta apenas a transparência
da própria empresa é preciso, também, que o país reflita credibilidade no mercado
externo. Uma pesquisa realizada pela diretora do setor de pobreza do Banco Mundial,
Cheryl Gray revelou que “os países que projetam uma imagem de corruptos pagam
mais por empréstimos internacionais. Para o Brasil, por exemplo, o custo dinheiro é de
6,5 mais caro que o cobrado de um país como a Finlândia, considerada pela
Transparência Internacional o país menos corrupto do mundo”.38 . O Brasil ocupa a
61ª colocação na pesquisa realizada em 2005.
Por esses exemplos e tantos outros que poderiam estar citados aqui é que a
prevenção e o combate à corrupção têm se tornado itens principais de organismos
internacionais e nacionais. O risco nos investimentos causado pela corrupção afeta o
crescimento das empresas e a economia do país. Nessa mesma linha, os empresários
começam a se preocupar com o custo que a corrupção pode gerar tanto para os negócios
como para a sociedade em geral.
38 Ribeiro, A.S. M Corrupção e Controle na Administração Pública, pg 39
59
No próximo capítulo serão analisados os principais organismos internacionais,
nacionais e seus instrumentos, que incentivam empresas e representações empresariais
a agirem em prol da transparência, da prevenção e do combate à corrupção. Por fim,
será explorado o tema da Responsabilidade Social das Empresas no contexto das
iniciativas públicas e privadas.
CAPÍTULO 3. Responsabilidade Social Empresarial na Prevenção e no Combate
à Corrupção. “Os Sistemas Preventivos de Controle”
3.1 Instrumentos Internacionais e Nacionais de Prevenção e Combate à Corrupção
Para alguns estudiosos a maior dificuldade para se obter sucesso no combate à
corrupção consiste na idéia de que tal prática já se encontra incorporada no
comportamento de diversos setores da vida social, confirmando uma cultura nefasta.
Então, para que o combate à corrupção comece a ter resultados mais expressivos
entende-se que é preciso afetar todos os setores, principalmente o privado. Para Ribeiro
(2004), esse processo está ligado a implantação de um “sistema de controle
preventivo” permanente e eficaz.
Nesse sentido, resultados de avaliações sobre o desempenho do mercado,
estabilidade da economia e desenvolvimento econômico levaram agências mundiais a
enfrentarem o problema da corrupção em parceria com os Estado e iniciativa privada.
Assim, na medida em que os sistemas se mostram frágeis, ineficientes e os custos
60
financeiros advindos da corrupção mostram-se impeditivos ao próprio desenvolvimento
econômico, alguns organismos passam ajudar os países a enfrentar o fenômeno da
corrupção de forma sistemática.
A proposta aqui é traçar um panorama de organismos internacionais e nacionais e
seus instrumentos mais relevantes na prevenção e no combate à corrupção. Pretende-se
demonstrar qual o papel de cada instrumento dentro da empresa e, até mesmo, dentro
do Estado. Os instrumentos escolhidos correspondem aos mais citados pelo Banco
Mundial e pelo Relatório da Fundación Carolina e Ecologia e Desarrolho, do ano de
2006.
Em seguida, avalio a relação entre a iniciativa privada o setor público, com
destaque para os Poderes Executivo e Legislativo, tentando relacionar como esses
instrumentos estão sendo utilizados pelas empresas como meio de estabelecer um novo/
ou um relacionamento mais transparente entre esses dois agentes.
3.1.1 Instrumentos Internacionais
A partir da década de 1990, com um novo panorama geopolítico, com o mercado
aberto, as organizações tomaram para si a responsabilidade de tentar organizar esse
“novo mercado”. E uma das ações tomadas foi estabelecer diretrizes para a prevenção e
o combate à corrupção. O desenho de cada estratégia conta com a articulação entre os
diversos setores: privado, social, público e organismos multilaterais. As agências
multilaterais sugerem que a supervisão da implantação dessas estratégicas sejam
realizadas por outro setor, diferente daquele que executa as ações, permitindo assim
uma perspectiva mais ampla, maior controle e transparência. A seguir, os principais
organismos internacionais e nacionais e seus instrumentos de prevenção e combate à
corrupção:
(1) Convênio de Luta Contra Corrupção de Agentes Públicos Estrangeiros nas
Transnacionais Comerciais Internacionais da OCDE
61
O Convênio da OCDE, firmado, em 1999, denominado de Convênio de Luta
Contra Corrupção de Agentes Públicos Estrangeiros nas Transnacionais
Comerciais Internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico,39 obriga os maiores países exportadores a criminalizar o suborno de
funcionários público estrangeiros, definido como qualquer benefício indevido de
funcionário e um terceiro de atividade econômica internacional.
Também obriga a adotar controles para prevenir o encobrimento de ações
corruptas, com a finalidade de facilitar a detecção, por parte das autoridades do país, da
origem do capital de uma empresa. Essa passa a ser então a primeira iniciativa para
criminalizar e para prevenir as empresas de realizar negócios corruptos com o mercado
ou com Estados estrangeiros. Na época em que o Convênio foi firmado, os 36 países
envolvidos representavam mais de 70% das exportações mundiais e mais de 90% dos
investimentos estrangeiros diretos.
Cabe considerar ainda outros aspectos desse Convênio estabelecidos no relatório:
(1) ele entrou em vigor quando as privatizações estavam decaindo ( ou seja a maior
causa dos negócios da década de 1990 estavam sendo concretizados); (2) as
investigações transnacionais se realizavam com muitas dificuldades e (3) os processos
penais são os últimos recursos do Convênio, pois sua existência proporciona
ferramentas de negociação para evitar a extorsão do setor privado.
De acordo com o relatório da Transparência Internacional de 2005, para dar
seguimento ao cumprimento desse Convênio recomenda-se a inclusão de outros
processos, como: melhorar o acesso e o sistema de execução das leis; fomentar a
percepção de que o suborno a funcionários público é crime; estabelecer oficinas
nacionais dirigidas à luta contra corrupção.
(2) PACI ( Partinering Against Corruption Initiative).
A iniciativa mais expressiva dentro dos instrumentos internacionais foi a
Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, que levou o Banco Mundial a
considerar o ano de 2005 como um marco na luta internacional contra a corrupção. A
Convenção é o primeiro instrumento jurídico global voltado para esse tema e 39 Informações coletadas no relatório de 2006, da Fundación Carolina y Fundación Ecologia y Desarrollo.
62
relacionado às empresas. O projeto iniciou com 62 empresas e com investimento de
US$ 400 milhões de dólares. Até maio de 2006 já somavam 82 empresas a adotar o
programa corporativo anti-subordo, promovido pelo Fórum Econômico Mundial,
denominado PACI ( Partinering Against Corruption Initiative).
No entanto, as articulações para a elaboração da Convenção até chegar no PACI
levaram dois anos. Iniciadas em 09 de dezembro de 2003, (data escolhida para
comemoração do Dia Internacional Contra Corrupção) em Mérida, no México, as
propostas só entraram em vigor no dia 14 de dezembro de 2005. Dos países
desenvolvidos que ingressaram e ratificaram a proposta, apenas a França, do G-8, faz
parte da Convenção.
A crítica feita pelo Relatório da Fundación Carolina e Ecologia e Desarrolho
(2006) é a de que os “países desenvolvidos preferem atender interesses imediatos de
seus empresários, evitando chamar atenção para assuntos incômodos”. Entre os países
que ratificaram a Convenção estão: Argéria, Brasil, Croácia, Equador, El Salvador,
Honduras, França, Hungria, México, Nigéria, Paraguai, Panamá, Peru. O que se verifica
é que a maioria dos países se encontra em estágio predatório ou intermediário.
A Convenção trata de diversos fatores como criminalização, prevenção,
cooperação internacional e, ainda, assinala medidas a serem adotadas pelo setor
privado, como por exemplo, código de ética, que direcionam as boas práticas
comerciais e o relacionamento com o Estado; transparência na identidade da empresa,
assim com em seus produtos e serviços oferecidos; restrições de ex-funcionários
públicos no setor privado, quando estes têm algum tipo de relacionamento;
regulamentação de instituições bancárias e não bancárias, assim como registro de todas
as negociações bancárias e proibição de pedido de segredo bancário, quando se está
sendo investigado são outras exigências feitas pela Convenção.
Esta também estabelece assistência e cooperação entre os países, em caso de
investigação de corrupção, principalmente quando o caso remete a lavagem de dinheiro
e contas bancárias em “paraísos fiscais”. As penalizações ficam a cargo do Estado,
com seus próprios instrumentos jurídicos.
(3) Bancos Multilaterais
63
Em meados dos anos 1990, os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento
começaram a avaliar de forma sistemática a quantidade de dinheiro que era
desperdiçado em práticas corruptas. A partir daí, passam a realizar uma nova pesquisa
na qual constatam que o crescimento econômico e a luta contra a pobreza devem ser
acompanhadas do combate à corrupção.
Essas instituições decidiram então aprofundar e diversificar seus recursos
anticorrupção, com ações em programas de diagnóstico, prevenção e financiamento
para melhorar a governabilidade, com incremento nos mecanismos de controle e sanção
dos próprios funcionários.
A instituição que mais vem se destacando nesse tema é o Banco Mundial40 . Em
2004, o Banco investiu cerca de quatro milhões de dólares em apoio à governabilidade,
reforma do setor público e estado de direito. Inspirado nessas ações o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), uma instituição multilateral regional,
também tem feito investimentos na prevenção e no combate à corrupção nos países da
América Latina. O BID tem investido em ações de formação de capital social, de
Código de Ética e Desenvolvimento. Esses três temas abarcam sub-temas como:
responsabilidade social empresarial, governo, democracia, justiça social, democracia,
comércio justo e transparência.
(4) Princípio Anti-corrupção do Pacto Mundial e Transparência Internacional
Das ferramentas de auto-regulamentação, o Princípio Anti-corrupção do Pacto
Mundial e as ferramentas da Transparência Internacional, são as que mais se
destacam. Em 1999, o presidente nas Nações Unidas, Kofi Annan, lançou, no Fórum
Econômico Mundial de Davos, o Pacto Mundial das Nações Unidas. Um instrumento
de livre adesão das empresas e organizações civis, para a implantação voluntária de
nove princípios de conduta sobre os direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Em
2004, foi incorporado o décimo princípio referente à corrupção. Nele, as empresas
trabalham de todas as formas contra a corrupção, incluindo extorsão e suborno.
Para seguir o décimo princípio, o Pacto Mundial, direciona as empresas a
realizarem ações como: informar sobre ações e práticas contra a corrupção e auferir 40 Dados do relatório 2006 da Fundación Carolina e Fundación Ecologia e Desenvolvimento e também do site do Banco Mundial.
64
resultados. Para tanto, recomenda-se o uso da ferramenta SO2, da Global Report
Iniciative, que prevê a descrição da política utilizada pela empresa, procedimentos,
sistemas de gestão e mecanismo de cumprimento em torno da corrupção, direcionados
tanto para as organizações quanto para seus empregados, além de ter que compartilhar
experiências e boas práticas. Esse item está relacionado tanto às práticas que
contemplam ferramentas específicas, como aquelas ações criadas pela própria empresa,
como as direcionadas para a comunidade.
O guia de implantação do Décimo Princípio também sugere que as empresas
utilizem ferramentas da Transparência Internacional, da Câmara do Comércio
Internacional e das demais organizações que colaboram com as Nações Unidas na
elaboração desse princípio e junto a Oficina de Drogas e Delitos da ONU, que
supervisiona o cumprimento da Convenção anti-corrupção.
A Transparência Internacional ( TI)41 foi criada em 1993, como a primeira
organização da sociedade civil dedicada exclusivamente ao combate à corrupção.
Trabalha em aliança com outras organizações da sociedade civil, com setor privado e
com o governo. Não é perfil dessa instituição realizar denúncias de corrupção, mas sim
trabalhar promovendo a sua prevenção e a reforma dos sistemas. Seu alcance global se
dá através de 95 Capítulos Nacionais ( filais ou sedes). No Brasil, por exemplo, temos a
Transparência Brasil. Essas filiais são organizações autônomas que atuam de várias
formas de acordo com o país em que está inserida.
A TI propõem várias ferramentas para a luta contra a corrupção, entre as que mais
se destacam estão: Princípios Empresariais Contra o Suborno, O Índice de Percepção
Contra a Corrupção ( IPCoor) e Pactos de Integridade.
(1) Princípios Empresariais Contra o Suborno, fora criados em 2002, em parceria com
a Social Accountability Internacional . Indicam que as empresas devem evitar o
suborno em todas as suas formas. Em 2004, os princípios foram adaptados para a PACI
( Partinering Against Corruption Initiative). O programa aborda temas como: fazer
pública todas as contribuições políticas e não fazer acordos de vantagens em transações
comerciais e públicas. A TI também valoriza a transparência, a responsabilidade social
e a prestação de contas. 41 Informações coletadas no site da Transparência Internacional e no relatório da Fundación Carolina.
65
Segundo Soares ( 2004: 125), tem sido premissa da Transparência Internacional,
“a idéia de que o combate à corrupção depende da construção de uma rede
transnacional formada por indivíduos, governos e organizações, que atuem de maneira
cooperativa”. Isso significa que a TI valoriza, acima de tudo, a contribuição e a
parceria entre Estado, sociedade civil e setor privado, para que a corrupção seja
prevenida e combatida. Por isso, se destaca como a única organização internacional
capaz de trabalhar simultaneamente com governo, sociedade civil, empresários,
acadêmicos, a mídia e diversos profissionais.
(2) O Índice de Percepção Contra a Corrupção ( IPCoor), lançado em 1995, foi
criado pela Universidade de Göttingen, na Alemanha, e incorporado pela
Transparência Internacional . Sem dúvida nenhuma pode ser considerada uma das
formas mais sistemáticas de se mensurar os riscos da corrupção. A tentativa de se
realizar esse tipo de mensuração vinha desde a década de 1970, mas a que causou mais
impacto foi esta criada na Alemanha, já que conciliava as informações contidas em
diferentes indicadores em um único índice, avaliando-se especificamente a corrupção
em vários países.
Mesmo utilizando uma metodologia passível de críticas, por considerar medidas
de opinião subjetivas, segundo Santos (2004), as consultorias de avaliação de risco
baseiam sua pesquisa na confiança que seus clientes depositam na empresa e em suas
fontes. Logo, o contrário também acontece, as empresas, na hora de fazer investimentos
baseiam-se em indicadores de confiança no Estado.
O Índice de Percepção Contra a Corrupção, é um ranking da corrupção usado
como indicador comparativo, que não mede a corrupção em si, mas a percepção que se
tem da gravidade do problema. Para realizá-lo, a TI utiliza dados de vários países, de
todos os continentes, principalmente de institutos de pesquisa e empresas de avaliação
de riscos de investimentos.
A partir da junção dos resultados dessas pesquisas se constrói o índice através de
notas, de zero a dez, em que zero representa o nível máximo de corrupção e dez a
transparência absoluta. Só aparecem os países que forem citados em três ou mais
levantamentos. Todos os anos as notas são atualizadas e a classificação passou a ser o
ponto de referência de confiabilidade nos países.
66
Conforme o Índice de Percepções da Corrupção de 2002 da Transparency
International (TI), a América do Sul só perde para a África no que diz respeito à
corrupção percebida. Trata-se de um quadro lamentável, com imediatas repercussões
sobre a capacidade de desenvolvimento do país, a atratividade para investimentos
externos e mesmo a distribuição de renda.
O Brasil tem figurado em posição pouco privilegiada no ranking de percepções de
corrupção da TI, ocupando a 61ª colocação. No relatório 2005 da Transparência
Internacional, de acordo com a opinião de observadores internacionais, refletida no
Índice de Percepções de Corrupção, divulgado em outubro pela Transparency
International, o grau de corrupção atribuído às relações entre o Estado e a sociedade no
Brasil não se alterou em relação aos sete anos anteriores, permanecendo estável.
No ano passado o número de países avaliados subiu de 146 para 159, havendo
uma reordenação na lista resultante, o que levou o Brasil de 59° para o 61° na lista.
Levando-se em consideração a margem de erro que afeta a posição de cada país, isso
indica que o Brasil não piorou nem melhorou.42
Quanto aos índices, a Transparência Internacional 43 acredita que eles têm a
função de direcionar as análises, orientar e monitorar as reformas institucionais. Em
sociedades que definem a corrupção como um problema, seus cidadãos a reconhecem
como um fator de alto custo econômico, social e político, responsável pela alocação
ineficiente e pelo desperdício de recursos públicos.
Santos (2004) argumenta que as instituições corruptas são desacreditadas e não
têm o apoio da população, isso é, tem um déficit de capital social. “ Essa visão faz com
que atores (governo, legislativo, judiciário, imprensa, cidadãos e empresários) busquem
soluções práticas para enfrentá-la, desde medidas educativas e punitivas às complexas
reformas”. ( 2004:142)
(3) O Pacto da Integridade que visa impedir a corrupção nos contratos com o Estado.
Essa ferramenta trata de um acordo voluntário entre as partes interessadas, que
estabelecem os direitos e obrigações para que nenhuma delas ofereça, ou seja,
42 www.transparencia.org.br 43 Idem.
67
capturado pelas práticas da corrupção. Nesse sistema se define a conduta a seguir, as
sanções ao não cumprimento e os compromissos e mecanismos para aplicá-las.
Daí, essa ferramenta se dispõem a estabelecer maior transparência na contratação
pública, direciona para uma maior consciência e um processo de mudança cultural
quanto a utilização dos recursos públicos, por parte dos funcionários públicos e
empresa privada, produz mapas de riscos de corrupção e meios de embargá-los. Além
disso, estabelece a posição de credibilidade das empresas sobre a execução e
efetividade do Pacto, pois este é um instrumento que gera confiança nos processo e
previne a corrupção.
Uma das atuações mais incisivas da Transparência Internacional é promover,
através dos Capítulos Nacionais, a transparência das campanhas eleitorais e a
consciência do eleitor. Para tanto, tem feito parcerias com empresas e ONGs, para que
essas ajam de maneira a contribuir com a politização da sociedade, através por
exemplo, de workshops que envolvam sociedade civil e políticos.
Essas ações são direcionadas para esclarecimento de propostas na época eleitoral
e, depois com os políticos eleitos, afim de discutirem sobre suas ações, tanto no
Executivo como no Legislativo. Soares (2004) ainda descreve que a TI, pressiona os
políticos eleitos, recém empossados, a iniciarem os projetos de combate à corrupção
prometidos durante a campanha. Prova disso, foi o Compromisso Anticorrupção,
assinado pelo, então, candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em setembro de 2002. De
acordo com Eduardo Capobianco44, tanto a Transparência Internacional como a
Transparência Brasil estão agindo junto ao governo para que esse compromisso seja
cumprido.
Em relação ao apoio à sociedade civil, a TI ainda viabiliza e auxilia em campanhas
de acesso à informação. Os cidadãos são orientados a monitorarem a implantação da
legislação sobre a liberdade de informação e a não aceitarem que as leis de segurança
nacional sejam usadas para impedir o acesso às informações de legítimo interesse
público.
44 Entrevista concedida dia 15/07/2007
68
Por outro lado, a TI pressiona os governos a elaborarem leis de liberdade de
informação, com dados orçamentários, regras e procedimentos claros. Isso porque,
considera-se a informação, mecanismo essencial para a transparência, a boa governança
e promoção de capital social.
O passo que considero importante do Pacto de Integridade é que as partes
envolvidas devem divulgá-lo e promover discussão pública sobre os temas destacados
por ele. Isso faz que com os empresários sejam agentes multiplicadores do Pacto dentro
da própria empresa, com seus funcionários, e fora dela, com seus demais parceiros,
com destaque para as comunidades. Essa é uma forma que a empresa tem de se mostrar
séria e confiável perante a comunidade, além de ser uma maneira de promover o capital
social entre seus stakeholders.
Ainda, segundo Santos (2004), a TI atua junto ao setor privado, com ações contra
a lavagem de dinheiro que, geralmente, envolve bancos internacionais, principalmente
a lavagem oriunda dos fundos obtidos através de práticas de corrupção. De acordo com
a autora, a parceria da TI com as empresas “fez com que os empresários percebessem
que a “ajuda” inicial proporcionada pelo suborno de funcionários públicos torna-se um
custo a mais para a empresa, impede a concorrência legal e diminui investimentos”. (
2004:129)
3.1.2. Instrumentos Nacionais
Vale inicialmente ressaltar a trajetória do Brasil pelos instrumentos de controle,
prevenção e combate à corrupção internacionais. Em agosto de 2000, foi ratifica a
presença do país da Convenção anti-suborno, da OCDE. Em julho de 2002, foi a vez da
Convenção Interamericana da OEA, contra a corrupção. Em 2004, o Brasil confirmou
sua participação na Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado
Transnacional e, em junho de 2005, a inclusão do país, na Convenção das Nações
Unidas Contra a Corrupção.
Em contextos nacionais o Pacto Nacional Empresarial pela Integridade e Contra a
Corrupção, formalizado em 2005 e liderado pelo Ethos e apoiado pela ONU foi uma
iniciativa inédita no Brasil em prol da transparência e no combate à corrupção.
(1) Instituto Ethos
69
Pode-se dizer que as primeiras ações do Ethos no combate à corrupção estavam
inseridas nos objetivos do instituto desde sua fundação dentro dos conceitos de ética e
transparência, com a finalidade de sensibilizar e orientar melhor os empresários nas
transações de negócio e na parceria com Estado.
Mas foi nas eleições municipais de 2000 que essa prática se tornou mais concreta
através da edição e distribuição gratuita da publicação Responsabilidade Social das
Empresas no Processo Eleitoral45, que orienta o relacionamento entre empresários,
partidos e políticos durante o período de campanhas políticas.
A partir daquele ano, a cartilha é revisada e distribuída em todos os anos de
eleições e passou a ser uma das ferramentas de orientação usada pelo Ethos no combate
à corrupção.
De acordo com as considerações contidas na própria publicação, existe atualmente
um fortalecimento crescente do conceito de cidadania empresarial que está levando as
empresas a se preocuparem com os impactos de suas atividades na sociedade, não
somente no âmbito econômico, mas também nas esferas política e social. Para tanto, os
empreendedores privados estão desenvolvendo seu aprendizado na arte de se integrar às
complexas engrenagens da democracia, sistema político ainda em construção em nosso
país.46
É importante ressaltar que de acordo com as publicações do Ethos, incluindo essa
que aborda o comportamento eleitoral do empresário, o Instituto considera a
democracia brasileira ainda em processo de consolidação, um período importante para
se “ demarcar atitudes e estabelecer rotinas de conduta”. Não por menos, o Instituto se
armazena de propostas de prevenção, combate à corrupção e incentivo às promoção de
ações cívicas em prol do fortalecimento da democracia e da sociedade civil.
Dentro dessa concepção de democracia em processo de consolidação, a
publicação Responsabilidade Social das Empresas no Processo Eleitoral, tem a
finalidade de orientar sobre a transparência e ética nas relações entre empresários e
políticos. Destaca ainda como evitar o abuso do poder econômico e o desvio de recurso
financeiro e esclarece as regras eleitorais. Chama atenção também para os cuidados que 45 Ver www.ethos.org.br publicações 46 Idem.
70
os empresários devem ter ao decidir financiar uma candidatura política “de forma a não
agredir seus valores e princípios, nem tão pouco a gestão de seus negócios”.47
De uma forma bem didática a publicação além de explicar os procedimentos de
transparências que devem ser adotados pelos empresários, em caso de financiamento
em campanhas políticas, traz dados relevantes sobre os impactos econômicos da
corrupção na sociedade. Destaca ainda as conseqüências que as distorções de
financiamento de campanha podem trazer para a própria empresa, como a perda de
confiança no mercado e entre as suas partes interessadas.
Na publicação Responsabilidade Social das Empresas no Processo Eleitoral,o
Ethos destaca os Sete Princípios que o empresário deve seguir durante a campanha
eleitoral: (1) A responsabilidade social é uma cultura de gestão que procura aplicar
princípios e valores a todas as atividades e relações da empresa. A participação das
empresas no processo eleitoral, prevista em lei, deve ser, portanto, analisada e praticada
como parte da política de responsabilidade social empresarial.
(2) A ação da empresa deve obedecer rigorosamente à legislação vigente. (3) A
ação da empresa no processo eleitoral é uma oportunidade para a criação de valores,
constituindo-se numa escola de cidadania para clientes, fornecedores, empregados e,
sobretudo, na comunidade onde atua. Nesse tópico, incentiva empresários a realizarem
debates entre funcionários, comunidade e candidatos.
(4) Caso a empresa decida apoiar determinados candidatos, convém escolher
aqueles cujos perfis e programas sejam compatíveis com os princípios, os valores e as
práticas da responsabilidade social empresarial. (5) A forma de participação da empresa
no processo eleitoral pode ser compartilhada com os diversos grupos que são
impactados por suas decisões. (6)A contribuição financeira de empresas para
candidatos e partidos deve estar desvinculada de qualquer expectativa de retorno
econômico e comercial. (7) A doação de campanha é um ato de cidadania e por isso a
empresa deve exigir sua transparência, a começar por seu devido registro como
contribuição eleitoral.
47 Cartilha de Responsabilidade Social dos Empresários no Processo Eleitoral.
71
Na edição de 2006, além das leis eleitorais promulgadas desde 1995, como a Lei
dos Partidos Políticos, Lei das Eleições (1997), Lei da Compra de Voto ( 1999), há
também uma preocupação de seus autores em esclarecer as mudanças na Legislação
Eleitoral. As publicações ainda trazem casos recentes de corrupção do Brasil e no
mundo, com comparações de eficiência nas leis de países como Estados Unidos. Em
nenhuma das publicações de 2000 a 2006, o Instituto incita os empresários ao não
financiamento de campanhas eleitorais, estabelece apenas que ao fazê-lo a iniciativa
dever ser da forma mais transparente o possível.
Outra atividade relevante do Instituto é a divulgação e os incentivos para que
empresas associadas adotem as práticas de comportamentos éticos. Para essa finalidade
além de organizar seminários e diversos eventos para a conscientização dos
empresários da necessidade de se adotar normas de transparência, o Ethos também os
orienta através da cartilha “Formulação e Implantação de Código de Ética em
Empresas – reflexões e sugestões”.
O objetivo da cartilha, segundo o Ethos, é orientar empresários na elaboração de
um código de ética para sua empresa. No entanto o Instituto deixa bem claro, na
introdução e nas considerações finais desse material, que cabe a própria empresa
elaborar seu código de ética de acordo com os princípios e anseios dos acionistas e
funcionários. O Código, de acordo com o Ethos, deve ser utilizado pelos empresários
como “ponto de partida ou como aquecimento inicial para a reavaliação da gestão do
seu empreendimento”48.
Para tanto, o Ethos faz algumas sugestões das formas de implantação e
acompanhamento do Código de Ética. Os aspectos a serem contemplados em um
código de ética de uma empresa socialmente responsável, de acordo com a cartilha do
Ethos são: relação com acionistas, funcionários, clientes, fornecedores, concorrentes,
esfera pública, relacionamento com meio ambiente e comunidades e práticas coercitivas
à corrupção e propina. Para cada um desses itens o Ethos especifica normas de conduta
e ações.
Outra ação em foco é o Pacto Nacional Empresarial pela Integridade e Contra
a Corrupção. Em 09 dezembro de 2005, no Dia Internacional de Combate à Corrupção, 48 Cartilha Código de ética do Ethos
72
o Ethos em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crime (UNODC) e Comitê
Brasileiro do Pacto Global, lança o Pacto Nacional Empresarial pela Integridade e
Combate à Corrupção, baseado no 10º Princípio do Pacto Global.
Este Pacto contém um conjunto de diretrizes e procedimentos que deverão ser
adotados pelas empresas e entidades signatárias no relacionamento com os poderes
públicos. O Pacto foi construído junto com empresários de diversos setores e ao o
assinarem os empresários assumem o compromisso voluntário em favor da ética nos
negócios, uma tentativa de iniciar um novo tempo nas relações Estado e setor privado e
também nas relações das empresas com o mercado.
Atualmente o Pacto contra a Corrupção tem um pouco mais 25 organizações que
juntas somam pouco mais de 200 empresas integrantes. Um número ainda pequeno, se
comparado com os de associados ao Ethos que ultrapassa mil. O Pacto prevê a
construção, junto com as empresas, de instrumentos capazes de possibilitar ações
íntegras em relação aos poderes públicos, além de representar a forma mais expressiva
de contrato das empresas com a sociedade como um todo, incluindo os demais elos em
sua cadeia produtiva.
Segundo o Presidente do Ethos, Ricardo Yung, o Pacto Nacional Empresarial
pela Integridade e Combate à Corrupção tem como objetivos: unir o empresariado em
torno de uma agenda de combate à corrupção; instrumentar a gestão das empresas com
o que há de mais avançado em gestão preventiva contra a corrupção; comprometer as
empresas com o combate sistemático de práticas estimuladoras de corrupção na relação
público/privado; disciplinar as empresas no financiamento de campanhas políticas; criar
um fórum permanente para a discussão de práticas, metodologias e estratégias anti-
corrupção; disseminar o combate à corrupção nas cadeias produtivas; implementar
mecanismos para monitorar e avaliar os relacionamentos estabelecidos; aperfeiçoar o
marco legal e ser um agente catalizador de outras forças da sociedade civil organizada
para um combate incansável a todas as práticas de corrupção ou àquelas que a
favorecem.
Yung tem consciência de que só o Pacto não é garantia de sucesso no combate à
corrupção, é necessário também que haja um movimento da sociedade civil e do
73
próprio Estado. No entanto, acredita que o Pacto certamente ampliará o impacto desta
iniciativa.
Na minuta do Pacto as empresas devem ainda incluir em seus procedimentos
internos dispositivos que tratam de: corrupção ativa de atividades brasileiras e
estrangeiras; corrupção passiva; concussão; improbidade administrativa e fraude em
concorrência pública; crimes contra a ordem econômica e tributária; limites e formas
das contribuições a campanhas eleitorais. Além de elaborar e executar o Código de
Conduta Ética e Ouvidoria. Está previsto também a divulgação, pelas empresas, para
outros agentes econômicos, entidades e associações do relacionamento sobre os
princípios expressos no Pacto. Além da divulgação o Pacto não faz nenhuma referência
sobre as ações de responsabilidade social empresarial direcionadas para a politização da
sociedade civil.
(2) Transparência Brasil
A Transparência, Consciência e Cidadania ( TCC) foi a primeira entidade
brasileira ligada à Transparência Internacional. Durante o impeachment do Presidente
Collor e dos escândalos de corrupção da época, essa entidade tomou força e a partir de
1996, passou a ser um Capítulo Nacional da Transparência Internacional, passando a
ser denominada de TCC-Brasil.
Com sede em Brasília, a TCC, uma entidade não governamental sem fins
lucrativos, tem como objetivo central a realização de pesquisas científicas, estudos e
ações que contribuam para o combate à corrupção, promoção da transparência, boa
governança, conscientização sobre a democracia e construção da cidadania. Atua tanto
com atividades junto ao setor público, como em ações da iniciativa privada, na área de
responsabilidade social empresarial.
De acordo com Santos (2004), a falta de recursos, voluntários e empresários
levou a Transparência Internacional descredenciar a TCC e associá-la a outras ONGs,
criando, assim, a Transparência Brasil, fundada em 2000, em São Paulo. A escolha da
cidade se deve ao maior número de voluntários e empresários interessados em
participar da organização. De acordo com o Estatuto da organização, um dos seus
principais objetivos é ajudar no desenvolvimento de metodologias e atitudes
74
anticorrupção. Para tanto, a ONG estabelece parcerias e facilita a atuação da sociedade
e dos órgãos públicos e privados, no âmbito nacional e internacional. Além de facilitar
o acesso à informação, através de publicações, meios de comunicação e artigos, com a
finalidade de promover a transparência no relacionamento entre os setores público e
privado.
Entre as principais ações da Transparência Brasil estão:
(1) Projeto de Fortalecimento da Sociedade Civil no Monitoramento de Finanças
Públicas: Esse é um dos primeiros projetos do Brasil de estimular a accountability
social de forma sistemática. Santos ( 2004) nos conta que, através do mapeamento e
estudo de práticas da luta anticorrupção - com consultas sobre experiências concretas
no uso de instrumentos de monitoração pela sociedade civil junto a governos e câmaras
municipais - o projeto busca capacitar a sociedade civil para o acompanhamento dos
gastos públicos de acordo com mecanismo previstos em leis.
O programa recebeu financiamento inicial de US$ 65 mil da Rede
Interamericana para a Democracia, da organização Partners of the Americas e da
USAID e foi concedido pela POLIS, em parceria com a Transparência Brasil.
(2) Projeto Regional de Licitações Transparentes
Esse projeto mapeia os riscos de corrupção em licitações e promove atividades
focalizadas na importância das licitações transparentes para reduzir a corrupção. O
projeto foi estendido a todos os países da América Latina e o Brasil foi o escolhido para
iniciá-lo e coordená-lo. Segundo Santos ( 2004), a escolha do Brasil se deu “ devido a
presença formal de mecanismo sociais que deveriam estar sendo empregados no
combate à corrupção também nos demais países, como por exemplo: audiências
públicas, garantia formal de acesso à informações”etc.
Contudo, mesmo no Brasil esses mecanismos são burlados. De acordo com o
Tribunal de Constas da União, 60% das licitações contêm erros, devido, muitas das
vezes, às brechas e falhas nas leis. O que dificulta o desempenho do monitoramento da
sociedade civil.
(3) Pesquisa de Compra de Votos
75
Relacionado ao projeto de Conscientização Eleitoral, a Transparência Brasil
tem realizado – sistematicamente - pesquisas de compra de votos em eleições. Em
2001, a primeira pesquisa revelou que 6% dos eleitores foram alvo de ofertas de
compra de voto nas eleições municipais de 2000. Em 2002, a pesquisa detectou que três
milhões de eleitores receberam ofertas de venda de voto, sendo que 56% em troca de
dinheiro, 30% em troca de bens materiais e 11% , por favores administrativos. Com os
dois projetos associados a intenção é verificar o local de maior incidência desses fatos e
trabalhar a sociedade contra esse tipo de corrupção, estimulando principalmente a
denúncia.
(4) Caminhos da Transparência
Adaptado do Source Book, da Transparência Internacional, os Caminhos da
Transparência é um livro que apresenta as práticas das instituições e atores do Sistema
de Integridade Nacional Brasileiro, levando-se em consideração seu papel, suas
vulnerabilidades e áreas que precisam ser sensibilizadas e reformadas em relação ao
combate sistemático da corrupção. Ainda traz experiências de instituições públicas e
privadas, que atuam na regulamentação e prevenção e controle da corrupção.
(5) Pesquisas nos setores público e privado
Ao longo desses anos a Transparência Brasil vem realizando uma série de
pesquisas para detectar tanto as ações do setor público quanto do privado. Entre essas
pesquisas destacam-se o Projeto às Claras, que fornece informações de quem
financiou os candidatos a senadores, deputados estaduais e federais, governadores e
presidentes. Inclui ainda, em seus dados, informações complementares sobre a
legislação atual, comparações com práticas em outros países e artigos acadêmicos;
Fraude e corrupção no Brasil: perspectiva do setor privado: esta foi um a
pesquisa realizada, em 2002, em parceria com Kroll Associates, sobre percepções e
experiências com fraudes e corrupção no setor privado, principalmente na região
Sudeste. O resultado final foi que, metade das empresas que já haviam participado de
licitações recebeu propina de agentes da esfera estadual;
O Programa Anticorrupção de São Paulo, também constatou dados parecidos
com a pesquisa anterior. Essas pesquisas são tomadas com base para o início de ações
76
sistemáticas, tantos de âmbitos jurídicos como auto –reguladores capazes de inibir,
prevenir e combater a corrupção.
A Transparência Brasil tem tido importância, não apenas durante os processos
eleitorais, mas durante todo o ano, em ações sistemáticas na prevenção e combate à
corrupção. Órgãos públicos, empresários, sociedade civil, imprensa e institutos têm
solicitado constantemente a parceria com a organização para realizações de pesquisas e
ações efetivas sobre o tema.
Dentro do cenário de responsabilidade social empresarial, a Transparência Brasil
e a Transparência Internacional têm atuado em parceria com institutos, no sentido de
incentivar a inserção e o comprometimento das empresas em programas nacionais e
internacionais de prevenção e combate à corrupção. Também ajudam as empresas no
desenvolvimento de ações socialmente responsáveis, principalmente, aquelas
direcionadas a politização de funcionários e comunidade local.
3.3 A ação dos empresários contra corrupção e na prática da transparência
Uma análise empírica sobre corrupção não é tarefa fácil, ao mesmo tempo é um
pressuposto básico para enfrentar o problema de forma sistemática. Normalmente
organismos que se empenham nessa prática de compreensão do fenômeno enfrentam
obstáculos na coleta de dados, principalmente porque o tema envolve o
constrangimento dos entrevistados em assumir o crime da corrupção.
Mesmo cientes dos entraves ou dos problemas metodológicos que a pesquisa sobre
corrupção pode apresentar, cada vez mais busca-se mensurar o fenômeno. No Brasil, as
pesquisas coordenadas pelo Banco Mundial, Transparência Internacional e
Transparência Brasil nos mostram um panorama da corrupção no país sob o ponto de
vista dos empresários.
No ano de 2002 a Transparência Brasil e a Kroll realizaram a pesquisa “Fraude e
corrupção no Brasil: A perspectiva do setor privado”49 que objetivou levantar
49 Nesse relatório a Transparência Brasil define fraude como o processo de enriquecimento ilícito ocorrido inteiramente no âmbito privado do setor público. Corrupção é o uso de cargo público para benefício particular, envolvendo sempre um agente público e um a gente privado. As empresas envolvidas na pesquisa são dos ramos da indústria, prestação de serviço e financeiro. Para a dissertação me limito a abordar apenas as questões sobre corrupção.
77
informações tanto sobre a percepção dos respondentes quanto sobre a experiência deles
sobre a fraude e a corrupção. O questionário foi enviado a 3500 empresas, das quais
150 o responderam. Desse total, 84 participaram do levantamento sobre fraudes e 92
empresas preencheram dados sobre corrupção.
Do total de 92 empresas que responderam sobre a corrupção, 70% declaram que já
foram compelidas para campanhas eleitorais. Destas, 58% declararam ter havido
menção a vantagens a serem auferidas em troca de financiamento. A cobrança de
propina é considerada a mais freqüente em quase todos os serviços públicos. De acordo
com os dados da pesquisa, 87% das vezes é o agente público que introduz o assunto da
propina na negociação.
As piores notas na avaliação dos empresários sobre a incidência da corrupção
recaem sobre a “permissão e fiscalização”- 3.69; “polícia” – 3.62 e “licitação pública”-
3.55. Em relação às “privatizações” os empresários não consideraram altos índices de
corrupção. A pontuação chegou a 2.54.
Na avaliação de 92% das empresas a esfera municipal é a mais problemática no
que diz respeito à corrupção na concessão de licenças, seguidas pela estadual com 88%
e federal com 58%.
Em relação aos Três Poderes, em uma escala de 0 a 2, as empresas indicavam o
Poder Legislativo como o maior na probabilidade de cobrança de propina. Funcionários
públicos ligados a parlamentares, nos setores de permissão de licença e licitação
recebem notas que variam de 1.42 a 1.28. No Executivo, a corrupção ocorre no
primeiro escalão e com fiscais técnicos. As notas variam de 1.15 a 0.95. Já o Poder
Judiciário a corrupção ocorre com juizes e as nota é 0.54.
Do lado privado, um terço das empresas assumiu que a corrupção é uma prática
incorporada no seu setor, embora 72%, isto é, a maioria declarou ter código de conduta
que proibi a corrupção de forma explicita. Sobre uma possível solução para o problema
da corrupção as empresas sugeriram a fiscalização e a punição de administradores e
empresários corruptos.
Em 2003 a Transparência Brasil voltou a realizar a pesquisa, dessa vez focada
apenas em percepção e experiências sobre corrupção. Embora tenham sido convidadas
78
quatro mil empresas apenas 78 delas participaram dessa pesquisa, a maioria do estado
de São Paulo. O questionário foi dividido em três partes: percepção, experiência da
empresa e comportamento da empresa. Para melhor sabermos como está o cenário
empresarial brasileiro sobre iniciativas contra a corrupção será analisado os resultados
da pesquisa baseados na experiência e no comportamento das empresas.
A respeito da experiência, cerca de 70% das empresas afirmam gastar até 3% de
seu faturamento com o pagamento de propinas. Para 25% das empresas, esse custo está
situado entre 5% e 10%. Metade das empresas da amostra participa ou já tentou
participar de licitações públicas. Destas, 62% relataram já terem sido sujeitas a pedidos
de propinas relativas a algum aspecto do contrato. Um quarto das empresas sofreu esses
pedidos em relação às licenças concedidas pelo poder público.
Mais de metade afirma já ter sido objeto de achaques por fiscais tributários. O
imposto mais vulnerável, para 78% das empresas, é o ICMS (estadual), e o principal
“favor” que fiscais corruptos prestam é relaxar fiscalizações e inspeções.
O problema da corrupção em licitações, impostos e licenças é visto como
indiscriminadamente grave nos planos federal, estadual e municipal. Mais de um quarto
das empresas relata ter sido constrangida a contribuir em campanhas eleitorais. Metade
destas afirma que a doação é feita mediante promessa de troca de favores.
Estimativa da porcentagem do faturamentogasto com corrupção
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Até 3% De 5% a 10% Acima de 10%
79
Para 86% das empresas, oferecer presentes e outras gentilezas a agentes públicos é
o principal método de se obter tratamento diferenciado. Em segundo lugar, com 77%,
vem a contribuição para campanhas eleitorais, e com 74% o nepotismo, enquanto 29%
das empresas admitem que ameaçar e constranger agentes públicos é uma forma de
obter vantagens.
Das empresas que participaram da pesquisa 78% delas possuem código de ética
que proíbe o pagamento de propinas e 56% contam com um mecanismo de denúncia de
suspeitas de corrupção, das quais 89% protegem o denunciante de represálias. A
investigação de casos de suspeita de corrupção aconteceu com apenas 22% das
empresas. A presença desses mecanismos não resultam uma diferença significativa na
freqüência de casos. A punição de funcionários culpados aconteceu em 14% das
empresas
Quanto à permissividade referente à corrupção dentro das empresas, 60% afirma
não aceitar tacitamente esse comportamento, 21% aceita tacitamente desde que
orientada pelas políticas gerenciais e 19% não souberam responder. Em particular,
todas as empresas que responderam afirmativamente à pergunta anterior (sobre a
aceitação da corrupção como prática no setor de atuação) declararam contar com um
código de ética. Em relação à contestação de licitações públicas, apenas 23% entraram
com recurso administrativo junto aos órgãos responsáveis, 5% solicitaram investigação
a Tribunais de Contas e 5% foram aos tribunais.
Essas duas pesquisas apresentam um panorama geral da relação entre a iniciativa
privada e o setor púbico, com poucas distinções entre os Poderes Executivo e
Legislativo. Por outro lado, evidenciam que mesmo as empresas que possuem o Código
de Ética, não têm controle sobre as práticas de corrupção ou as aceitam claramente.
Para o presidente da Transparência Brasil, Eduardo Capobianco50 o fato das
empresas não respeitarem seus códigos de ética pode estar ligado a falta de
aplicabilidade da própria lei. “Nos Estados Unidos os Códigos de Ética das empresas
funcionam de acordo com a lei de cada Estado e é aplicável a todas as pessoas. É o
que falta para o Brasil. Aqui cada empresa faz seu Código de Ética ou de Conduta
pautados mais em valores morais do que nos preceitos da lei”. 50 Entrevista concedida no dia 15 de junho de 2007.
80
A seguir será apresentada uma pesquisa com enfoque na relação entre a iniciativa
privada e o poder público no âmbito do Poder Executivo. Através dela será possível
verificar como os empresários de São Paulo avaliam a corrupção naquela cidade.
3.2.1 Corrupção: Empresários e o Poder Executivo
A pesquisa “Corrupção na municipalidade de São Paulo: levantamento de
percepções, experiências e valores”51 revela a visão dos empresários em relação à
corrupção no município de São Paulo, mais especificamente relacionado ao Poder
Executivo.
Entre os cidadãos e representantes de empresas, a corrupção foi apontada como o
segundo problema mais grave, depois apenas da violência/insegurança. Em percentuais,
a violência obteve 98,8% e a corrupção, 98,5%.
A pesquisa consistiu também em descobrir qual montante as empresas estariam
dispostas a abrir mão em troca da erradicação ou redução da corrupção A Transparência
Brasil partiu da premissa de que as pessoas têm consciência do quanto a corrupção
prejudica suas vidas e estariam dispostas a pagar um preço justo para a eliminação do
problema.
Enquanto 42% dos entrevistados declararam que nada pagariam para a erradicação
da corrupção, 34% dos representantes de empresas declararam o contrário e ainda
estipularam um valor. Entre estes, 31% estariam dispostos a abrir mão de mais de 5%
de seu faturamento se isso assegurasse a erradicação da corrupção municipal em São
Paulo. A mesma pergunta foi feita em algumas pesquisas, conduzidas pelo Banco
Mundial em outros países e as respostas obtidas são semelhantes as decorrentes desse
levantamento.
Levando em consideração que estes números podem refletir a realidade nacional,
os empresários avaliam a corrupção como o segundo problema mais grave, entre eles,
31% estariam dispostos a abrir mão de até 5% de seu faturamento para combater a
corrupção. Mas em contraste a esses dados, outros números sobre ações sociais do Ipea
51A pesquisa foi realizada pela Vox Poppuli e encomenda pelo Banco Mundial, Transparência Internacional e Transparência Brasil. De acordo com o relatório da Transparência Brasil a pesquisa contou com financiamento de R$ 18.449 do Partnerships for Transparency Fund. Setembro de 2003
81
e do Ethos demonstram exatamente o contrário: investimentos empresariais no combate
à corrupção são ínfimos e quase não aparecem nas pesquisas. As áreas vencedoras de
ações sociais são representadas por projetos voltados para saúde, educação, esportes e
meio ambiente.
A Fersol,, indústria do setor químico, localizada em Mairinque, interior de São
Paulo, contradizendo esses dados, é uma das empresas a fazer parte de vários pactos e
protocolos contra a corrupção e a investir para a resolução do problema . De acordo
com o Balanço Social da empresa desde 2000 foram investidos, R$ 500 mil em ações
de politização e mais de R$ 1 milhão no total das ações sociais.
Entre os projetos mais significativos com enfoque político estão: o Quiosque
Ágora: Espaço para Debate Político; Curso de Formação Política para funcionários e
comunidade, Liderança Social e Curso de Filosofia, todos eles possuem parcerias com
universidades de São Paulo e com a Transparência Brasil.
Mesmo com sua indústria incluída no Pacto pela Integridade e Contra a
Corrupção, o presidente da Fersol, Michel Haradon, faz fortes críticas sobre o combate
à corrupção proposto pelo Instituto. Primeiro, as empresas que aderem ao Pacto
passam por “boazinhas”, mas suas práticas não ultrapassam os muros das empresas.
Depois elas querem discutir tudo, saúde, esporte, cultura, meio ambiente, menos
corrupção. E para finalizar não adianta nada uma empresa aderir ao Pacto se sua
associação não o fizer. Isso é um passo para que a corrupção possa continuar
acontecendo. Quantos aos números da pesquisa, seria realmente interessante se
empresas se preocupassem mais em combater a corrupção com até 5% do seu lucro no
lugar de pagar propinas. 52
Na tentativa de reverter os dados revelados anteriormente, algumas representações
empresariais já seguem as orientações de organismo como o Banco Mundial o Ethos.
Este é o caso das Federações do Estado de São Paulo e do Estado de Minas Gerais.
Através do “Programa Sou Legal”, a FIESP abraça a causa da RSE no que diz
respeito à transparência nos negócios. Na campanha permanente sobre legalidade, a
Fiesp busca a promoção de um diálogo transversal entre as empresas e a sociedade civil
52 Entrevista concedida em novembro de 2006.
82
quanto à precarização das relações de trabalho, o consumo consciente, com vistas ao
combate à pirataria. As ações também são estendidas aos esclarecimentos dos
empresários sobre os aspectos legais e morais no financiamento de campanhas
eleitorais..
De acordo com as informações no site da federação essas ações visam a fortalecer
o compromisso das empresas com a ética e o exercício da cidadania.53 A Fiesp ainda
deixa claro que uma das finalidades do Programa é possibilitar o aprimoramento no
processo de gestão e produção das empresas, respeitando o conceito de
responsabilidade social. Para tanto, não exclui a parceria entre as diversas partes
interessadas, principalmente o setor público. A Fiesp também aderiu ao Pacto pela
Integridade e Contra a Corrupção, liderado pelo Instituto Ethos.
A partir do lançamento do Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a
Corrupção, em 2006, os empresários mineiros, por meio do Conselho de Cidadania
Empresarial da Fiemg, criaram o Movimento Fiemg pela Ética e Combate à Corrupção,
“que vem sendo considerado um dos mais avançados atualmente no país”, 54 segundo o
diretor do Instituto Ethos, Ricardo Yung, na Conferência Internacional de
Responsabilidade Social realizada pelo Instituto em 2007.
O movimento mineiro se desenvolveu em três etapas: sensibilização e
mobilização dos empresários, educação para valores e, diagnóstico e construção de
ferramentas. A Fiemg conta com o apoio de parceiros importantes, entre os quais o
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Universidade Federal de Minas
53 informações colhidas no site da Fiesp. O programa Sou legal foi criado em 2000, após a formação do Core ( Comitê de Responsabilidade Social da Fiesp). Através do Core a Fisp realiza seminários em seus pólos regionais, dissemina para seus associados, através do viés “Qualidade de vida” questões sociais nas áreas de educação, saúde e esporte, com o objetivo de promover o desenvolvimento humano. Um outro viés que a Federação está dando mais atenção é o ecológico. Com o projeto “Selo Etiqueta Ecossocial” - que tem a finalidade criar um selo de reconhecimento coletivos às empresas de uma mesma cadeia produtiva, que exercem boas práticas de Responsabilidade Social, Ambiental e Sustentabilidade – a Fiesp pretende mobilizar a atenção e ação dos empresários para o meio-ambiente. 54 . Segundo o diretor do Instituto Ethos, Ricardo Young, durante o debate sobre Corrupção, na Conferência Internacional de Responsabilidade Social Empresarial realizada pelo Instituto em junho 2007, “a FIEMG tem o planejamento e as ações mais robustas dentre as federações no que tange a implantação de ferramentas contra a corrupção”. Para o diretor de Ethos a federação está fazendo um trabalho exemplar, de assessoria junto aos seus associados quando o assunto é transparência nos negócios e combate à corrupção.
83
Gerais (UFMG), a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e a
Fundação Dom Cabral.
Em menos de um ano de atuação, de acordo com o vice-presidente da federação,
José Tadeu de Moraes, o movimento instituiu o Comitê Estratégico e mais oito comitês
regionais nas principais cidades-pólo do Estado, fez um “mapa de riscos de corrupção”
e elaborou o Guia Metodológico para Elaboração de Códigos de Conduta Ética, para
auxiliar as empresas a enfrentar o problema.
Segundo Tadeu, a preocupação da federação nesse momento é oferecer suporte
aos empresários para a implementação de políticas contra a corrupção. O vice-
presidente afirma ainda a importância da parceria com o Governo do Estado e a
sociedade civil. “A Fiemg participa de movimentos dentro e fora do estado de Minas
Gerais que contribuem para o combate à corrupção. No nosso estado temos parceria
também com o governo municipal e estadual.”55
Em relação à fundamentação teórica ou explicações sobre a corrupção, a
FIEMG baseia-se em documentos e artigos divulgados pelas Nações Unidas Contra a
Corrupção, relatórios da International Bussiness Ethics Conference, Diretrizes da
Organização do Comércio e Desenvolvimento Econômico - OCDE- pesquisas da
Transparência Internacional e da Transparência Brasil - como as citadas acima -
artigos e orientações do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Em seus
relatórios e artigos as organizações deixam clara a preocupação com a captura do
Estado e com os impactos que a corrupção podem trazer para a consolidação da
democracia, para economia e para o desenvolvimento social.
Dentro dos processos operacionais de prevenção e combate à corrupção, os
organismos internacionais e nacionais, assim como as representações empresariais
acreditam que ferramentas de accountability e de transparência são fundamentais na
tentativa de inibir ações predatórias ao Estado e de garantir um relacionamento
“limpo” e legal entre iniciativa privada e setor público.
55 Questionado sobre quais os projetos a Fiemg tem em parceria com o governo do Estado de Minas Gerais, o vice-presidente se limitou a observar que o Pacto pela Integridade e Contra a Corrupção prevês também parceria e diálogo com o poder público.
84
Segundo Eduardo Capobianco,56 as ações de prevenção e combate à corrupção
dentro do tema da Responsabilidade Social Empresarial devem ir além da prática dos
próprios muros da empresa. Deve ser uma bandeira a ser levantada na nossa sociedade,
com intervenção no Estado, com ações estratégicas de combate à corrupção. “É
preciso reestruturarmos as leis, ou fazer com que elas sejam cumpridas. Os
movimentos de RSE em favor da anticorrupção parece não estarem se movimentando
nessa direção. O que vemos é mais uma discussão moral do que material. Existem
falhas nos mecanismos dos Estados, leis e regulamentos inaplicáveis, processos
administrativos inadequados. Temos ainda falhas nos mecanismos sociais como a
cultura da impunidade.
A solução, segundo Capobianco, consistiria na revisão das leis e regulamentos,
além de esforços para que fossem aplicados. Para tanto, caberia uma ação em parceria
com o Estado e sociedade, incluindo os meios de comunicação. As idéias de
Capobianco sobre as ações das empresas e de suas representações em relação ao
combate à corrupção coincidem com a do Diretor- Presidente a Aberje , Paulo Nassar.
Para o jornalista, o combate à corrupção deve ser sistematizado e atingir diretamente os
meios que integram empresários e Estado. Não por menos, a Aberje lidera o apoio da
regulamentação do lobby no Congresso. Uma ação política considerada pertinente para
Nassar visa a prevenção e o combate à corrupção. É o que veremos a seguir.
3.2.2 Corrupção: Empresário e o Poder Legislativo
As duas primeiras pesquisas da Transparência Internacional, Transparência Brasil
e Banco Mundial citadas acima fazem referências sobre a experiência e a percepção dos
empresários em relação à corrupção. Como foi possível observar, de acordo com a
pesquisa de 2003, o Poder Legislativo tem a maior probabilidade de cobrança de
propina, principalmente quando envolve licitações públicas. Porém, as pesquisas não
chegaram a abordar a posição das empresas sobre o lobby.
A não inserção do tema “ lobby” nas pesquisas não reduz a sua importância
quando o assunto é a corrupção. Pelo contrário, o tema surge, atualmente, com força
56 Eduardo Capobianco participou do debate sobre corrupção, no Seminário Internacional de Responsabilidade Social Empresarial, realizado pela FIEMG, no mês de abril de 2007.
85
entre as representações empresariais, principalmente após os escândalos de corrupção
que envolvem lobistas.
No entanto, o que se percebe é que o assunto “lobby” não aparece nas principais
orientações dos instrumentos internacionais e nacionais. No próprio Pacto pela
Integridade e Combate à Corrupção não há qualquer citação sobre a prática do lobby.
Fato que me chama a atenção já que o “lobby” é considerado um dos mecanismos mais
eficientes na produção de práticas de corrupção no país.
O Instituto Ethos, tem a intenção de incluir o tema “lobby” no novo instrumento
de RSE, a ISO26000 que está em fase de elaboração e conta, para tal fim, com
participação de organismos como a ONU, Transparência Internacional, OCDE e mais
de 70 países com representantes de Estado e de organizações ligadas à RSE.
Já a Fiemg, entre seus instrumentos auto-regulatórios direcionados aos seus
associados, se manifesta pela “adoção e implementação na lei de lobbies” (2007: 41)
apenas no “Guia Metodológico FIEMG para a Elaboração de Código de Conduta
Ética nas Empresas”. Nele, a Federação expõe as dez recomendações do diretor do
Banco Mundial, Daniel Kaufmam, para as quais é considerada a posição da empresa
frente a regulamentação do lobby, como forma de aumentar a transparência nos
negócios públicos.
Diante das denúncias de corrupção, algumas delas ligadas aos lobistas, a
Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) decidiu apoiar a
regulamentação do lobby no Congresso. Uma ação que faz parte daquilo que o
presidente da Associação chama de Responsabilidade História57.
Hoje a associação tem em seu quadro as empresas mais importantes do cenário
econômico brasileiro, sejam elas nacionais e/ou multinacionais. Essa discussão não se
concentra apenas na sede da Associação, em São Paulão, esse ano ela será debatida
também em todos os capítulos da Aberje pelo Brasil.
57 Em entrevista 08/07/07 Paulo Nassar explica que dentro da Aberje não existe apenas um conceito de Responsabilidade Social Empresarial. O conceito existente é o de Responsabilidade Histórica, que engloba a Responsabilidade Comercial, a Responsabilidade Social Empresarial, a Responsabilidade Ambiental e a Responsabilidade Corporativa.
86
Segundo Nassar, “não tem como as empresas abstraírem as relações
governamentais, porque elas são fundamentais para o negócio. Mas se isso não for
feito com transparência ocorrerá um impacto econômico e social. Hoje as empresas
precisam dessa transparência, para sobreviverem no mercado, principalmente ao
mercado de ações. As bolsa de valores estão observando as empresas que agem com
transparência e disso depende a sobrevivência delas no mercado”.
Para Nassar a posição das empresas frente a regulamentação do lobby significa
apoiar a legislação que de fato coíbe práticas ilícitas nas relações entre empresários e
Estado e ao mesmo tempo favorece uma mudança de conjuntura das empresas. Mas
admite que ainda existe uma acomodação que parte tanto do setor privado como do
setor público para a aprovação do projeto lei. “ Não existe vontade política,
principalmente do Poder Legislativo. O sintoma é que o projeto está parado. E não
existe nenhuma movimentação nem em Brasília, nem do Legislativo Estadual nem do
Municipal das principais capitais do Brasil Nossos governantes se esquecem que São
Paulo e Rio, por exemplo, tem dimensões que podem e devem afetar o Congresso
Nacional. Mas continuam inertes ao fato.”
Quanto ao setor privado são dois os aspectos a serem considerados: o primeira
deles aborda a questão do lobby apenas sob a forma de espetáculo e não aprofunda suas
causas e/ou possíveis soluções. A mídia, portanto, faria o papel de não educadora,
enquanto poderia ser um instrumento para a cidadania. O segundo alega que as
federações possuem um poder de fogo maior do que qualquer representação
empresarial, no entanto têm uma postura que não se alinha à retórica.
Pelo histórico da Aberje, a associação tem discutido e apoiado a regulamentação
do lobby desde a década de 1980. Como a função da entidade é trabalhar a
comunicação empresarial (e não fazer lobby como afirma Paulo Nassar) sua
preocupação consiste na orientação de seus associados quanto às práticas legais do
lobby, evitando assim, impactos negativos na imagem e na reputação da empresa.
Outras ações da Aberje em prol da regulamentação do lobby se concentram na
elaboração de uma pesquisa através da DATABERJ, que irá envolver seus associados e
abordar o tema do lobby e corrupção. A Associação está inserida também no grupo que
está elaborando a ISO26000.
87
Políticos, empresários e pesquisadores concordam que a prática do lobby58 faz
parte da democracia, na medida em que permite aos legisladores terem acesso aos
diferentes argumentos das representações interessadas em um determinado assunto. Só
a partir do confronto de idéias é que o parlamentar tem subsídios para elaborar e
aprovar uma lei.
No entanto, a aproximação entre parlamentares e lobistas, que representam os
grupos de interesses está sujeita a fomentar um relacionamento não ético, com o intuito
de obtenção de vantagens por ambas as partes. Esse fato pode ser facilmente observado
a partir dos escândalos de corrupção que envolvem o setor público – lobistas – grupos
de interesses.
É justamente na tentativa de dificultar a corrupção, por meio das práticas de
lobby, que entidades empresariais estão tentando desengavetar o projeto do Senador
Marco Maciel (PFL_PE). A primeira versão do projeto apresentado pelo senado foi em
1984, antes da Constituição de 1988, que estabeleceu maiores poderes de decisão ao
Legislativo. Em 1989 foi novamente apresentado com redação idêntica. No ano
seguinte foi aprovado pelo Senado, enviado à Câmara dos Deputados e desde então o
processo está paralisado sob o nº 6.137/90.
Esse ano, em virtude dos escândalos de corrupção envolvendo lobistas, o
próprio senador Marco Maciel aventou a possibilidade de desengavetar o projeto. A
repercussão da iniciativa atingiu não só os próprios lobistas, que se movimentaram para
a formação da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais
(Abrig) como também as representações empresariais.
Essas entidades, que claramente se utilizam do lobby para defender os interesses
de classe se viram incumbidas a discutir a regulamentação da prática. Seja pela própria
premissa de transparência e combate à corrupção que elas pregam, seja pela “pressão”
de organismos internacionais ou nacionais e até mesmo da sociedade.
Em relação às representações empresariais que buscam defender seus interesses no
Congresso, a prática do lobby passou a ser o instrumento mais utilizado para alcançar
58 Para FARHAT, S ( 2007) a definição de lobby está ligada “a atividade organizada, exercida dentro da lei e da ética para um grupo de interesses definidos e legítimos, com objetivo de ser ouvido pelo poder público para informa-lo e dele obter determinadas medidas, decisões e atitudes.” Pg 50 e 51.
88
tais objetivos. Boschi e Diniz (2004) relatam que as transformações políticas e
econômicas ocorridas no Brasil na década de 1990 concentraram as decisões no Poder
Legislativo, que assumiu “o posto de ator relevante na trama de resolução dos conflitos
sociais” ( 2004: 96). O que significa que toda a dinâmica do processo decisório estatal
passou a fazer parte das obrigações do Poder Legislativo.
A reestruturação política iniciada a partir da Constituição de 1988, as decisões
neoliberais dos governos anteriores, as representações, como já foi dito, precisaram se
reestruturar para serem capazes de alcançar seus interesses econômicos. Com esse novo
modelo político as representações empresariais tiveram que encontrar estratégias para
não perder espaço com a abertura do mercado.
Nesse momento, os empresários já não contavam mais com o apoio paternalista do
Poder Executivo exercido em décadas passadas. A partir desse contexto, a participação
do empresariado brasileiro junto ao Poder Legislativo se configurou basicamente em
três pilares: a participação direta dos empresários no Congresso59; a prática do lobby e
outras formas variadas de influência.
A prática do lobby foi configurada como um das mais importantes na tentativa
de influenciar as decisões parlamentares. De outro lado, também se tornou terreno fértil
para a corrupção. Por isso, assume o presidente da Aberje “a necessidade de se
regulamentar o lobby. Para que essa prática continue atendendo os preceitos
democráticos.”
3.2.3 RSE: uma nova forma de relacionamento entre empresários e Estado?
Em uma análise geral, das pesquisas é possível perceber que as relações antiéticas
de empresários com a esfera pública no Brasil é uma prática quase que generalizada e
muito freqüente. Sobre o comportamento das empresas é possível observar que
ferramentas como código de ética ainda que implantadas, precisam ser incorporadas de
fato nas práticas de seus funcionários e dirigentes. È preciso também um mecanismo de
sanção mais eficiente contra as práticas de corrupção e maior participação das empresas
59 Ver quadro de participação de empresários na Câmara dos Deputados por legislatura, tabela 18, pg 106, que contemplam os períodos de 1979 a 1999. No período de 1995-99 a somo da percentagem de empresários da indústria e finanças com a soma de empresários de serviços diversos e de setores não especificados, chega a 25.5% de empresários em atuação da Câmara dos Deputados.
89
na cobrança de um comportamento ético do poder público a respeito das licitações e
relacionamentos com demais empresas.
A partir dessa pequena análise é possível perceber o quanto os organismos
internacionais e nacionais precisam trabalhar a incorporação da transparência e do
combate à corrupção dentro das empresas. O comportamento entre servidores públicos
e empresários brasileiros precisa avançar muito para que se tenha um quadro mais
promissor no combate à corrupção no país.
Para reverter esse quadro, os institutos são “incentivados” pelas agências
transnacionais a assumirem mais efetivamente o papel de orientador das “boas práticas
de anti-corrupção”. E o estão fazendo com certa desenvoltura. Embora saibamos que a
mudança de um comportamento político-histórico-cultural não se transforma de um dia
para outro. A dificuldade ainda é maior pela morosidade das leis e pelos mecanismos
eficientes no combate à corrupção no país.
O que os institutos fazem é tentar mudar a cultura dos empresários e seus
comportamentos em relação à transparência e o relacionamento com a esfera pública e
sociedade civil. De acordo com Ribeiro (2004), seria uma tentativa de implantar um
“sistema de controle preventivo”,eficiente e permanente capaz de mudar a cultura de
favorecimentos e vantagens fortalecendo assim, o discurso ético-social e a
transparência nos negócios.
Quanto às mudanças no relacionamento entre iniciativa privada e poder público é
possível afirmar uma maior participação da iniciativa privada em relação às decisões de
políticas públicas. Desde as décadas de 1990, pesquisadores como Boschi e Diniz
(2004) destacam a participação mais incisiva das representações empresariais, com
destaque para as relações com o Poder Legislativo.
A seguir, apresentar-se-á como os estudiosos têm analisado a posição da empresa
no contexto de desenvolvimento e relacionamento com o Estado e, mais
especificamente, o Estado brasileiro.
90
O estudo sociológico realizado por Sainsaulieu e Kirscher (2006)60 explica a
empresa sob dois ângulos. O primeiro deles enfoca a produção. O segundo, a
oportunidade, que nasce do primeiro objetivo, em produzir a sociedade. Essa visão
sociológica entende a empresa como produtora de sociabilidade dentro e fora do “chão
de fábrica”, principalmente quando se considera a cobrança incisiva da sociedade por
uma atuação das empresas no campo social.
A partir dos anos 1980, de acordo com as teorias sociológicas, o papel das
empresas nas sociedades contemporâneas ganha um lugar de destaque, sobretudo em
épocas de globalização. Para o seu desenvolvimento e o aumento de suas capacidades
produtivas, as empresas precisam operar – constantemente - mudanças frente às
exigências do mercado. Um exemplo disto pode ser verificado quanto ao cumprimento
de normas legais acerca das questões ambientais, tão enfatizadas nos dias de hoje.
Faz-se necessário, portanto, compreender quais as maneiras mais adequadas de se
intervir na estrutura social perante os desafios comerciais atuais e futuros. 61 Nessa
mesma perspectiva, o empresariado brasileiro iniciou seu processo de mudança
configurado no final da década de 80. Impulsionados pelas transformações políticas,
econômicas e sociais deste período, o empresariado se viu obrigado a repensar sua
relação com o mercado, com o Estado e com a própria sociedade.
O relacionamento específico do empresariado com os Poderes Executivo e
Legislativo levou as representações empresariais ao Congresso. Isso porque as
principais decisões passaram a ser concentradas no âmbito do Legislativo, resultado da
Constituição de 1988.
Paralelamente a isso a abertura do mercado externo e as privatizações forçaram o
empresariado brasileiro a traçar novas estratégias políticas e econômicas. Tais
estratégias se destacaram pela renovação tecnológica, fusões e/ou adaptações aos
pacotes econômicos. Já nessa época, a “pressão” não partiu exclusivamente do mercado
60 Ver estudos de Renaud Sainsaulieu e Ana Maria Kirchner (2006) “Sociologia da empresa: organização, poder, cultura e desenvolvimento do Brasil. 61 Sainsaulieu e Kirchner destacam aqui a seguinte questão: Para os autores quando uma empresa pensa e age a favor da mudança de uma estrutura social proveniente do passado, não deve-se entender como uma forma caridosa das obras sociais destinadas a aliviar a miséria e outros fatores que marcam a história da sociedade industrial. Mas é sim para os autores um conceito de uma história própria de gestão que passa por uma transição de formas de gestão do passado para novas gestões do futuro, que deve atender as exigências do mercado que tendem a se anteciparem. ( Pg27)
91
ou da reforma política, mas também de sindicatos e da sociedade, em geral. De algum
modo, para esses segmentos a debilidade do Estado no atendimento às demandas
básicas acabou produzindo novas alternativas no relacionamento público-privado.
Mas como relacionar essa nova dinâmica na qual se depara o empresariado
brasileiro com as dinâmicas de décadas passadas. Através desse comparativo buscou-se
entender melhor os tipos de relacionamento que as empresas tiveram com o Estado até
chegar ao ponto delas serem interpeladas pelas questões sociais.
A literatura política (Boschi e Diniz) nos revela, a partir do histórico das
representações empresariais, que essas foram constituídas pelo governo estatal na
década de 1930. Uma iniciativa que faz do Estado “indutor da ação coletiva e das
práticas associativas do empresariado” ( 2004:31)
Nos anos 1930, o empresariado, como ator político, não ultrapassava as
determinações do corporativismo estatal que se consolidava em arranjos setoriais,
encarregados de exercer a negociação entre elites técnicas e empresas. Neste contexto,
o empresariado era reconhecido, unicamente, como um segmento econômico, com
participação social reduzida.
Na década de 50 a relação empresariado/Estado se solidificava com o projeto
desenvolvimentista. Nessa época, a atuação do empresário como ator político passou a
influenciar diretamente as questões de interesse para o planejamento do país. Neste
caso, já é possível perceber uma maior atuação da iniciativa privada ao lado das elites
técnicas.
No período militar durante o governo Geisel as representações empresarais foram
excluídas das estratégias de definição de diretrizes da política econômica do país. Essa
atitude fez com que parte da elite empresarial retirasse o apoio ao Estado autoritário.
( Boschi e Diniz: 2004)
A partir daí, o que se tem é o fortalecimento crescente do empresariado brasileiro
como ator político. Esse se configura num passo importante no que se refere ao papel
das representações empresariais como interlocutoras e/ou articuladoras das alianças
entre os setores organizados. Aspecto primordial que insere o empresariado no processo
de consolidação da democracia no país.
92
Conseqüentemente, inúmeras associações empresariais se formam
voluntariamente e de forma autônoma, defendendo setores específicos, tal como o caso
da ABIFA (Associação Brasileira das Indústrias de Fundição). O relacionamento com o
Estado passa a ser configurado através de conselhos que acompanham a movimentação
no Congresso e, também, por meio das práticas de lobby.
As inúmeras adaptações que o empresariado brasileiro precisou realizar ao longo
das décadas - como ator político - para sobreviver ao sistema, reflete um determinado
tipo de plasticidade singular diante das mudanças. O novo panorama político e social
que se impõe a partir da década de 1990 é mais um desafio a ser enfrentado pelas
representações.
Atualmente, a pressão social e a baixa capacidade de atuação do Estado frente às
demandas sociais tendem a reforçar a ação do empresariado como ator político. No
contexto global, a função meramente econômica atribuída outrora ao empresariado cede
lugar ao seu papel social para o desenvolvimento do país.
Hoje, organismos como Banco Mundial estimulam a parceria entre o público e o
privado para o melhor desenvolvimento social do país. Essa parceria, desde que
estabelecida sob parâmetros democráticos, pode contribuir, significativamente, para o
aumento da produtividade nacional.
Como já dito anteriormente o PNBE foi o primeiro a estreitar esse tipo de
relacionamento com o Estado, reforçando a participação social do empresariado junto
ao Estado. Atualmente, temos como exemplo, a Abrinq que consolidou seu
relacionamento com o Estado através de políticas públicas direcionadas à defesa da
criança e do adolescente. Na área da transparência e combate à corrupção, algumas
representações tentam influenciar o Estado, mais especificamente o Congresso, por
meio de um maior cumprimento e regulamentação de leis, incluindo a do lobby.
Essa nova aproximação, ou forma de relacionamento, das representações
empresariais com o Estado está sendo impulsionada através da rubrica da RSE, que
parte de um novo modelo de gestão. Modelo este que prega a consolidação da
democracia, leva em conta as demandas sociais e o relacionamento entre as partes
93
interessadas, incluindo o Estado. No entanto, esse novo modelo que contempla a RSE
não perde o foco nas questões econômicas.
Retomando Sainsaulieu e Kirchner:
“A idéia de que o social assume o mesmo grau de importância do econômico, quando o assunto é o desenvolvimento da empresa, não soa tão estranho como décadas passadas (...) ambos podem produzir uma qualidade de vida para a sociedade que se torna trunfo fundamental para a economia”( 2006:27).
Para Boschi e Diniz (2004), sob a ótica da globalização, a lógica do mercado
interpelou-se entre as relações no interior do Estado, isto é, a lógica do Estado é
atravessada pela lógica do mercado. E é justamente essa lógica mercadológica que
exige um comportamento diferenciado das empresas frente ao Estado. As empresas
passam a agir menos de forma isolada e mais integradas as suas partes interessadas.
De algum modo, isso significa assumir um papel que compete ao Estado. No
entanto, para os organismos internacionais e nacionais em se tratando de democracia, a
participação de representações empresariais e da sociedade, em geral, são sempre bem
vindas.
Atualmente, as próprias ações coletivas e/ou individuais do empresariado junto
ao Estado são legitimadas por ambos e pela sociedade. È interessante observar que a
ação coletiva empresarial mesmo calcada em interesses econômicos, o que justifica sua
existência, atravessa um momento de ação coletiva também no campo social. Quer seja
pela urgência do mercado, quer seja pelas novas possibilidades de se pensar a
sociedade. O fato é que existe hoje uma participação das representações empresariais na
discussão e até mesmo na interferência de políticas públicas.
Ao contrário do que alguns estudiosos pensavam, a interação das empresas com
o Estado passou a ser fundamental para a inserção e o estabelecimento do mercado
externo. Por exemplo, o Banco Mundial e outras agências financiadoras, não liberam
financiamento para empresas e Estados que não possuam práticas de combate à
corrupção ou práticas ambientais.
Nesse contexto, o alinhamento das relações entre iniciativa privada e Estado se
faz urgente e necessário para o desenvolvimento do país. O resultado desse novo tipo
de relacionamento merece ser acompanhado com cuidado. No entanto, não se pode
94
negar a existência de uma aproximação maior entre esses dois segmentos para as
discussões de políticas públicas.
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a globalização, as agências mundiais começaram a organizar o mercado. Até
então, a cooperação internacional não era tema de suas agendas e o setor privado olhava
displicentemente para esse assunto. Logo após o fim da Guerra Fria, se tornou eminente
a promoção de organismos internacionais, até porque, em menos de uma década, as
“democracias de mercado” aumentaram em mais de 60%, ampliando significativamente
os mercados externos.
Os organismos internacionais, a exemplo do Bando Mundial, perceberam que no
contexto da globalização, a transparência e as ações anticorrupção podem contribuir
para o desenvolvimento de um país e para uma efetiva organização de seu mercado,
principalmente no que se refere à competitividade. Prova disso está em uma pesquisa
realizada em 1997 pelo Fórum Econômico Social, denominada “Global
Competitiveness Survey”, na qual participaram três mil empresas de 59 países. A
pesquisa revelou que as empresas afetadas pela corrupção tendem a investir muito
tempo e recursos negociando permissões, licenças e impostos.
Como em qualquer reforma institucional, o desafio está em implantar e associar a
transparência com a accountability. Os benefícios da transparência ou da “livre
informação” são evidentes quando realizados com eficiência, assegura Kaufnam
( 2002). Ela pode reforçar a independência e a integridade financeira institucional,
promover debate público e facilitar a identificação dos pontos fortes e fracos dos
governos e empresas. A transparência pode também prevenir abusos, má administração
e corrupção. Conseqüentemente, mídia e sociedade civil também ficam hábeis para
abraçar a accountability e as práticas das instituições governamentais e privadas. “Por
instância, se o público pode entender o que faz uma instituição, desenvolve-se uma
confiança democrática”, assegura Kaufmann.
Resultados de pesquisas de impacto da corrupção levaram agências mundiais a
enfrentarem o problema em parceria com as empresas. Além disso, na medida em que
os sistemas se mostram frágeis, ineficientes e os custos financeiros advindos da
corrupção, mostram-se impeditivos ao próprio desenvolvimento econômico, alguns
organismos internacionais, a exemplo do Banco Interamericano de Desenvolvimento,
passam a dar apoio logístico aos países que se mostram dispostos a enfrentar a
96
corrupção, promovendo alocação de recursos para programas especiais com tais
finalidades.
Alguns estudiosos consideram que a maior dificuldade para obter sucesso no
combate à corrupção está em que tal prática já se encontra incorporada no
comportamento de diversos setores da vida social, confirmando uma cultura nefasta.
Então, para que o combate à corrupção comece a ter resultados mais expressivos
entende-se que é preciso afetar todos os setores, principalmente o privado.
Nesse sentido, os organismos internacionais, através de instrumentos de
transparência nos negócios, de prevenção e combate à corrupção traçam uma nova
postura a ser adotada pelas empresas e até mesmo pelos Estados. Dentro dessa
diversidade de instrumentos, estão os protocolos e as ferramentas de auto-
regulamentação. Geralmente, esses instrumentos passam a ter relação com os demais,
tornando-se interdependentes. É como se eles formassem uma rede, com estratégias
específicas a cada órgão, mas com um complementando e ajudando ao outro. Cada
instrumento tem suas ferramentas que são periodicamente revisadas e adaptadas a cada
sistema ou a cada país, a partir das experiências de aplicação.
Por outro lado, o desenho de cada instrumento conta com a articulação entre os
diversos setores: privado, social, público e organismos multilaterais. As agências
multilaterais sugerem que a supervisão da implantação desses instrumentos sejam
realizadas por outro setor, diferente daquele que executa as ações dentro da empresa,
como por exemplo, uma Ouvidoria, permitindo assim uma perspectiva mais ampla,
maior controle e transparência.
A atuação dos organismos internacionais e nacionais se constitui em criar para
empresas instrumentos de transparência, de controle e de prevenção da corrupção, com
a intenção de assegurar a estabilidade do mercado, da democracia e do
desenvolvimento social. Mas fazer parte ou implantar esses instrumentos nas empresas
representa, além de tudo, estar sintonizado às exigências do mercado, já que muitas
negociações internacionais levam em conta a adesão da empresa a esses instrumentos.
A partir dessa realidade as empresas aderem, dentro do tema da Responsabilidade
Social Empresarial, tais instrumentos de normatização e auto- regulamentação.
97
A Responsabilidade Social Empresarial antes de se dedicar mais especificamente
para a prevenção e combate à corrupção, se desenvolveu no Brasil mais como uma
proposta do empresário como ator social, envolvido nas questões, aparentemente, mais
críticas do país, como educação, saúde, cultura, esporte e meio- ambiente. Comparando
com histórico internacional de RSE, o que aconteceu no Brasil e vem acontecendo até
os dias de hoje, é um reflexo do comportamento empresarial já difundido pelos Estados
Unidos, desde a década de 60 e na Europa,desde a década de 70.
Esta proposta, assim como todas as outras que se remetem ao mercado,
competitividade e ao papel da empresa no mundo atual, se tornam mais evidentes com a
globalização e, abrigam uma nova perspectiva sobre a relação das empresas com as
diversas nações e os vários estados nacionais. É a tentativa de um novo padrão, cuja
característica é a internacionalização das atividades empresariais. A partir desse
momento o que se questiona é se as empresas estão tomando para si a posição de
prevenir e combater a corrupção, antecedendo as obrigações do Estado, em função da
situação imposta pelo mercado, que requer um novo comportamento. E se esse tipo de
situação pode desenhar um novo cenário na relação entre Estado e empresários.
No Brasil as mudanças de comportamento da iniciativa privada em relação ao
Estado já foram relatadas no capítulo anterior, no qual foi possível perceber a
capacidade de adaptação do setor empresarial brasileiro. O que se pretende destacar
aqui é que através da rubrica de RSE pode estar nascendo uma nova forma de interação
entre as partes.
O que não significa, como admite o diretor –executivo do Instituto Ethos, Paulo
Itacarambi que uma deve assumir a função da outra. “ A redefinição social das
empresas pressupõe, por outro lado, o esclarecimento das funções sociais do Estado e
das organizações da sociedade civil, de modo que um tipo de organização não venha a
substituir as funções que devem ser cumpridas por um dos dois, com maior benefício
para a sociedade”62.
Nesse contexto, a questão levantada de que as empresas estariam tomando para si
as funções do Estado se isolam. Na verdade, a busca é por uma ação conjunta, que
favoreça um novo relacionamento entre iniciativa privada e setor público. Sem perder 62 Depoimento de Paulo Itacarambi no relatório de 2007 “Contribuição do GT Ethos para a ISO 26000.
98
de vista as obrigações de cada um. Foi possível perceber através das ações da
Fundação Abrinq, por exemplo, que a aproximação com o Estado proporciona soluções
para as questões de políticas públicas para crianças e adolescentes. Ao mesmo tempo, a
entidade se torna monitora das ações estatais, contribuindo para o desenvolvimento
social e atuando de forma cidadã.
Em relação às questões de prevenção e combate à corrupção só agora as empresas
se manifestam para uma tomada de decisão que poderá criar um novo comportamento
entre empresários e servidores públicos. Esse movimento se faz crescente devido ás
“pressões” exercidas pelos organismos internacionais e nacionais e pela própria
sociedade.
No entanto, se faz necessário um estudo mais aprofundado para identificar se os
instrumentos de transparência, prevenção e combate à corrupção são eficazes,
principalmente em Estados como o Brasil, onde verificamos uma grande incidência de
casos de corrupção.
Analisando as práticas das representações empresariais, como Ethos, Fiemg e
Fiesp observo que elas orientam seus associados para uma postura defensiva em relação
ao Estado, qual seja, cria instrumentos mais para se prevenir das ações ilícitas dos
servidores públicos, do que para contribuir com uma efetiva transformação do sistema
político.
Alinhar a auto-regulamentação das empresas com o controle e eficiência do Estado
tem sido o desafio comum das organizações internacionais e nacionais. Iniciativas que
partem das duas vias – empresas e setor público.
Vale destacar, no entanto que tentativas estão sendo feitas. Prova disso são ações
de auto-regulamentação, como Código de Ética – que ainda possuem falhas como a não
aplicabilidade de sanções em casos de corrupção, como indicados nas pesquisas da
Transparência Brasil; e o envolvimento da sociedade, com trabalhos e campanhas para
a promoção da politização de funcionários e comunidade , como faz a Fersol.
Quanto ao apoio a regulamentação do lobby, se o projeto for aprovado poderá
significar um passo para as mudanças relativas à lei, fator requerido pela Transparência
99
Brasil para uma real mudança na relação entre setores públicos e privados e para a
prevenção e combate á corrupção.
Iniciativas como essas podem contribuir para a mobilização da sociedade civil
sobre o assunto. Essa, por sua vez, teria meios de fiscalizar e cobrar tanto dos governos
quanto dos próprios empresários, exigindo transparência de ambos em suas
negociações, já que a corrupção envolve tanto o setor público quanto o privado.
Além disso, pode ser uma forma das empresas contribuírem para a qualidade da
democracia e, ao mesmo tempo, assegurar a competitividade honesta e, em termos
amplos, o desenvolvimento econômico e social do país.
Como base para essas considerações, recorro a Cheibub e Locke (2002), que
acreditam que as empresas engajadas em ações públicas podem proporcionar o
fortalecimento da esfera pública e o adensamento sociopolítico da comunidade onde
atuam.
100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÜERO, F. Business, politics and the surge of Corporate Social Responsibility in Latin America. Revista Contemporânea de Antropologia e Ciência Política. Universidade Federal Fluminense. Niterói. RJ, n.18, p.57-76. 1.sem.2005. ISSN1414-7378.
ARATO.A.; COHEN, J. Civil society and political teory. Cambridge, MA: MIT Press, 1992.
…………. Representação, soberania popular e accountability, in Revista Lua Nova nº55/56, pg.86-103, 2002
BAYLEY, D.H. The effects of corruption in a developing. In HEIDENHEIMER,A.J.(org). Political corruption: readinsgs in corporative analysis. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1970.
BELLER.A, e KAUFMANN. D. Transparenting Tranparency: inicial empiricis and policy applications. Institute World Bank
BORGES, A. Ética burocrática, Mercado e Ideologia Administrativa; contradições da resposta conservadora à “crise de caráter” do Estado. In Dados v.43 n.1, Rio de Janeiro, 2000.
BOSCHI. R,; DINIZ. E. Empresários, Interesses e Mercado: Dilemas do desenvolvimento do Brasil. Minas Gerais: Ed. UFMG, Rio de Janeiro: ED. IUPERJ/UCAM, 2003.
BOSCHI, R. Descentralização, clientelismo e capital social na governança urbana: comparando Belo Horizonte e Salvador. Dados. [online]. 1999, vol. 42, no. 4, pp. 655-690. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo
101
BUCHANAN.J.M. et. al Rent´seeking and Profit-Seeking, in: BUCHNAN.J.; TOLLISON.R e TULLOCK, G. Toward a Theory of the Rent-Seeking Society. Texas A & M University economics series: nº4, 1980.
BRUNING,R.J. Corrupção: causas e tratamentos. Tese de Doutorado – Universidade Federal de Santa Catarina, 1997.
CAPPELLIN, P.; GUILIANI.G.M.; MOREL.R e PESSANHA.E. As organizações empresariais brasileiras e responsabilidade social, in Kirschner.A.M; GOMES. E.R; CAPPELLIN. P (orgs)Empresas, Empresários e Globalização; Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
.......................A modernização de valores nas relações contratuais: a ética de reparação antecede o dever de responsabilidade? Revista Contemporânea de Antropologia e Ciência Política. Universidade Federal Fluminense. Niterói. RJ, n.18, p.35-56. 1.sem.2005. ISSN1414-7378.
CHEIBUB.Z.B;LOCKE.R.M.Valores ou interesses? Reflexões sobre responsabilidade social das empresas. in Kirschner.A.M; GOMES. E.R; CAPPELLIN. P (orgs)Empresas, Empresários e Globalização; Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
COSTA.A.N. Fazer ro bem compensa? Uma reflexão sobre a responsabilidade social empresarial. Revista crítica de Ciências Sociais. Dezembro, nº73, pg. 67-89, 2005. INSSN 0254-1106
DINIZ. E. Crise, Reforma do Estado e Governabilidade: Brasil 1985-95. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1997.
.........Globalização, Reforma Econômica e Elites Empresariais: Brasil ano 1990. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 2ª edição, 2004.
.........Empresários, democracia e desenvolvimento: tendências e desafios no limiar do milênio. Site www.iuperj.br, acesso maio 2005.
ETHOS. Et.al. Responsabilidade Social das Empresas: A contribuição das Universidades. São Paulo: v.I ed. Fundação Peirópolis, 2003.
............., PATRI E VALOR INFORME ESPECIAL. Empresas contra a corrupção. São Paulo, vol1.ano1, 2006. site. www.ethos.org.br
.............. Formulação e Implantação de Código de Ética em empresas. Agosto, 2000. disponível site www.ethos.org.br
.................. Pacto Nacional Empresarial Integridade e Contra a Corrupção, disponível no site www.ethos.org.br
................. Responsabilidade Social das Empresas no processo Eleitoral. São Paulo, Agosto, 2004. disponível site www.ethos.org,br
102
.................... Entrevista com Ricardo Young, diretor presidente do Ethos, “ Pela Integridade e contra a corrupção: uma posta na democracia”, com os jornalistas Ana Paula e Santos Figueiredos, 05/07/2005
...................CENTRO DE REFERÊNCIAS. Entrevista com Hélio Mattas, presidente do Instituto Akatu e diretor presidente da fundação Abrinq pelos Direitos da criança e do adolescente. Acesso junho de 2006, no site www.ethos.org.br
EVANS. P. o Estado como problema e solução in Revista Lua Nova. São paulo. Pg. 107-156. 28/29, 1993.
.................. Government Action, Social capital and development: reviewing the evidence on synergy. Wold Development, v2, n.6, 1996
..................... Análise do Estado no mundo neoliberal : uma abordagem institucional comparativa in Revista de Economia Contemporânea. Rio de Janeiro, IEI/UFR, nº 4, jul/dez, 1998.
FERNANDES,A.S. Path dependency e os estudos históricos comparados, in BIB 53, Anpocs, jan/jul, 2002.
FILGUEIRAS, F. A corrupção na Política: Perspectivas teóricas e metodológicas. Caderno CEDES/IUPER nº 5, 2006.
FLORINI.A.M. Does the invisible hand need a transparent glove? The politics of transparency. Paper prepared for the Annual World Bank Conference on Development Economics – Washington D.C, 2004. …………….Does the Invisible Hand Need a Transparent Glove? The Politics of Transparency Paper prepared for the Annual World Bank Conference on Development Economics, Washington, D.C., April 28-30, 1999 FUNDACIÓN ECOLOGÍA E DESARROLLO Y FUNDACIÓN CAROLINA: Negócios limpios, desarrollo global: el rol de las empresas en la lucha internacional contra la corrupción. In Infome mayo 2006. disponible no site: www.fundacioncarolina.es
FUNDAÇÃO KONRAD-ADENAUER. Os custos da corrupção. Cadernos Adenauer. São Paulo, nº10, 2000.
GEET.B.;KAUFMANN.D. The firms speak: What the world business environment survey tells us about constraints on private sector development. World Banck, 2000. site www.worldbanck.com
GOES.S.; ROHDEN, F. Filantropia empresarial em discussão: números e concepções a partir do estudo do Prêmio Eco, in LANDIM.L. Para além do mercado e do estado? Filantropia e cidadania no Brasil. Núcleo de Pesquisa do ISER. Rio de Janeiro., 1993.
103
GELO.S.G.; WEL.S.J. Transparency and International Investor Beharvior. NBER, Workin paper, nº 9260, October, 2002.
GOMES. E. Um outro lado da questão social: determinantes e implicações da Responsabilidade Social no Brasil. Xxxxxxxxxx
GONZALES.J.;POWER.T. Cultura política, capital social e percepções sobre corrupção: a investigação qualitativa em nível mundial. Revista Sociologia e Política – Curitiba, nº 21. pg. 51-6, nov., 2002.
GONZALES. M de.A. Coalition – Building to fight corruption. World Banck, 2000. site www.worldbanck.com
GRAJEW, O. O que é Responsabilidade Social? in Centro de Referência – Ethos, acesso setembro de 2005, site www.ethos.org.br
.................... Da filantropia à gestão empresarial in Centro de Referência – Ethos, maio de 2000.
HALL.P.A.; TAYLOR, R.C.R. As três versões do neo-institucionalismo. Lua Nova, São Paulo, nº58, 1996.
HASENBALG, C. Pobreza no Brasil no final do século XX, in SILVA.N.doV.; HASEMBALG.C. Origens e Destinos: desigualdades sociais ao longo da vida. Rio de janeiro, ed. Topbooks, 2003.
ISLAM, R. Do more transparent govermensts govern better? Policy Reaseach Workin paper 2928, 2003. site www.worldbanck.com
JAIN.A.R Corruption. A review Jornaul of economics surveys, vol 15, nº1, 2001 JOHNSTON, M. Agentes públicos, interesses particulares e democracia sustentável: quando política e corrupção se unem. In ELLIOTT, K. A corrupção e a economia global. Brasília, Editora UNB.
KENNETH.M.D.; STAPENHURTS. R. Pillars of integrity: the importance of suprime audit institutions in curbing corruption. World Banck, 1998. site www.worldbanck.com
KAUFMANN.D. Mythis and of governance and corruptions. Institute World Bank, 2001, site www.worldbanck.com
……………….. The politics of market reform in fragile democaracies: Argentina, Brasil, Peru and Venezuela. Princeton University Press, 2004.
………………..Far from home: do foreign investors import higher standards og governance in transition economics. August, 2002. site www.worldbanck.com
………….LI, R. Preliminary analisys of the survey of corruption and on anti-corruption. World Banck, maio 2002. site www.worldbanck.com
104
KIMENYI, M. S. e MBAKU, J. Institutions and Collective Choice in Developing Countries. Aldershot: Ashgate, 1999. KRUEGER, AO. (1974). The Political Economy of Rent Seeking Society. American EconomicReview, LXIV (3), June, 291-303 in: ROWLEY, Charles K. (ed.) (1993). TheCharacteristics of Political Equilibrium - Public Choice Theory II. Aldershot: Edward Elgar, 1993.
MANCUSO,E.P. O Lobby da indústria no Congresso Nacional: empresariado e política no Brasil Contemporâneo. Tese de Doutorado pela Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Ciências Políticas, 2004.
MAURO.P. Corruption and Growth. The Quartely Journal of Economics, August 1995, p. 681-712, 1995.
------------ Os efeitos da corrupção sobre o crescimento, investimento e gastos do governo: uma análise de países representativos. pg, 298-354. In, ELLIOT K. (org.). A corrupção e a economia global. 1ªed. Brasília: universidade de Brasília, 1997.
--------------Corruption and the composition of government expenditure. Journal of Public Economics. Vol.69. pg.263-279, 1998. Mauro, P. The persistence of corruption and slow economic growth, IMF Staff papers, vol.51, no.1, 2004
McNUTT, P. A. The Economics of Public Choice. Brokfield: Edward Elgar, 1996.
MIGUEL, l.f. Impasses da accountability: dilemas e alternativas da representação política in, Revista Sociologia e Política – Curitiba, nº 25, pg. 25-38. nov, 2005. MUELLER, D. C. Public Choice III. Cambridge University, 2003.
NETO.F.P.de.M. e. FROES C. Responsabilidade Social e Cidadania Empresarial: A Administração do Terceiro Setor. Rio de janeiro: Qualitymark, 2ª ed., 1999.
----------------- BRENNAND.J.M Empresas Socialmente Sustentáveis: o desafio da gestão moderna. Rio de Janeiro: Qualitymark. 2004.
OCDE. Convenção da OCDE sobre corrupção de funcionários públicos estrangeiros em transações comerciais Internacionais. Disponível no site da www.ocde.org
O´DONNELL, D. Accountability Horizontal: la institucionalización legal de la desconfianza politica, in Revista de Reflexión y Analisis Politico, nº7, pg.11-34. Buenos Aires, mayo, 2001
OLIVERIA, J.A.P. Uma avaliação dos balanços Sociais das 500 maiores. REA-eletrõnica, v.4, nº1, art2, jan/jul, 2005.
105
OLSON.M. A lógica da Ação Coletiva: os Benefícios Públicos e uma Teoria de Grupos Sociais. São Paulo; ed. Universidade de São Paulo, 1999.
PINTO, C, R, J. Deliberative space and the problem of representation. Rev. Bras. Cl. Soc., col.19, no 54, p.97-113. feb.2004. ISSN0102-6909. POSNER, R A. (1975). The Social Costs of Monopoly and Regulation. Journal of Political Economy, vol.83, fasc.4, p.807-27 in: ROWLEY, Charles K. (ed.) (1993). The Characteristics of Political Equilibrium - Public Choice Theory II. Aldershot: Edward Elgar, 1993.
PRZEWORSKI, A. MANIN, B. Democracy, Accountability and Representacion. Ed. Cambridge University Press, 1999.
……………… A falácia neoliberal. Revista Lua Nova. São Paulo. Pg. 209-236. 28/29, 1993.
QUEMEL, L.H.C. O mercado e a Responsabilidade Social. In Centro de Referência-Ethos, acesso em junho de 2005, site www.ethos.org.br
REIS, T. ORTEGA, B. G. Um panorama da Responsabilidade Social na América latina. TN Projetos Sociais, nº 5, pg. 66-68, 2006.
RIBEIRO.A.S.M. Corrupção e Controle na Administração Pública. São Paulo. Ed. Atlas, 2004.
SAÏD. F. lobby: o que é. Como se faz: ética e transparência na representação junto a governos. São Paulo: ed. Peirópolis: Aberje, 2007.
SAINSAULIEU.R; KIRSCHNER.A.M. Sociologia da empresa: organização, poder, cultura e desenvolvimento no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. SANDHOLTZ, W., & KOETZLE, W. Accounting for Corruption: Economic
Structure, Democracy, and Trade. International Studies Quarterly, 44(1), 31-50, 2000.
SANTOS.A.B. Democratização, ativismo internacional e luta contra a corrupção: estudo de caso sobre a Transparência Brasil e Transparência Internacional. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Ciências Políticas – UFF. Niterói, 2004.
SANTOS.M; SILVEIRA.M.L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro, Ed. Record, 2001.
SARAIVA, S.P. O movimento de responsabilidade social das empresas no Brasil e no mundo, in Centro de Referência-Ethos, acesso em 2005, site www.ethos.org.br
SCHNEIDER, B. Business Politics and the State in Twentieth – Century Latin America. Cambridge University Press, 2005.
106
SPECK, B.W. Mensurando a corrupção: uma revisão de dados provenientes de pesquisas empíricas, in Fundação Konrad-Adenauer Os custos da corrupção, Cadernos Adenauer. São Paulo, nº10, 2000. TANZI, V. Corruption Around the World: Causes, Consequences, Scope and Cures. IMF Staff Paper, 45 (4), p.559-594, 1998.
TENÓRIO.F.G. (org) Responsabilidade Social Empresarial: teoria e prática. Rio de Janeiro. Ed. FGV, 2004.
TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL. Presidente Lula deve usar mandato para cumprir promessa de enfrentar corrupção. Berlim, 23 de outubro, acesso no site www.transparency.org
TILMAN,R.O.N. Emergence of black-market bureaucracy: administration development and corruption in the new states. Public Administration Review, n.28, pg.437-444.oct,1968. TOLLISON, R D. Rent-Seeking: a survey. Kyklos, vol.35, fasc.4, p.575-602, 1082. TULLOCK, Gordon (1967). The Welfare Costs of Tariffs, Monopolies, and Theft. WesternEconomic Journal, V, p.224-32. in: ROWLEY, Charles K. (ed.) (1993). The Characteristics of Political Equilibrium - Public Choice Theory II. Aldershot: Edward Elgar, 1993.
VELOSO. L.H.M. Responsabilidade Social e Globalização: redefinindo o papel da empresas transnacionais no Brasil. Revista Contemporânea de Antropologia e Ciência Política. Universidade Federal Fluminense. Niterói. RJ, n.18, p.15-34. 1.sem.2005. ISSN1414-7378.
VERILLO, J.;TREVISAN,M.; CHIZZOTI, A e IANHEZ,J.A. O combate à corrupção nas Prefeituras do Brasil. São Paulo, ed. Ateliê Editorial, 2003.
WEI.S.J. Corruption in economic development benefeceal: minos announyance or mayor obstacle? Harvard University and national Bureau of Economic Research, 2002.
WEYLAND. K. Neoliberalism and Democracy in Latin Amrica: A mixed record. Latin American – Politicis and Society, volume 46, nº1, University of Miami, 2004.
WILLIAMSON, O.E.The Economisc institutions of Capitalismo. New York. The Free Press, 1985.
WOLRD ECONOMIC FORUM. Partinering Against Corruption Iniciative ( PACI), disponível no site www.weforum.org
Entrevistas realizadas
Eduardo Capobianco: presidente da Transparência Brasil, 15/06/07
107
Antônio Rubens Ribeiro, Assessor de Comunicação da ACMinas, 13/08/07
Michel Haradon – Presidente da Fersol, novembro de 2005
Paulo Nassar – Presidente da ABERJE, 09/08/07
Participação no Seminário Internacional de Responsabilidade Social da FIEMG, 2007 tema: “ Assuntos para combater a corrupção”, debatedores: Eduardo Capobianco – (Transparência Brasil) ; Paulo Tacarambi ( Instituto Ethos) e Roberto Livianu ( UFMG)
Participação na ConferênciaInternacional de Responsabilidade Social do Instituto Ethos, 2007 - painel temático “Como implementar políticas de integridade contra a corrupção”. Debatedores: José Tadeu de Moraes, vice-presidente do Conselho de Cidadania Empresarial da Fiemg; Margareth Florez, da Transparência por Colômbia, ligada à Transparência Internacional; e Ricado Yung, diretor Presidente do Instituto Ethos.
Pesquisas utilizadas:
TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL E TRANSPARENCIA BRASIL. Fraude e corrupção no Brasil: a perspectiva do setor privado. Realizada em 2002 em parceria com a Kroll.
TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL E TRANSPARENCIA BRASIL. Corrupção no Brasil: a perspectiva do setor privado. Realizada em 2003 em parceria com a Kroll.
TRANSPARÊNCIA BRASIL e BANCO MUNDIAL. Corrupção na municipalidade de São Paulo: levantamento de percepções, experiências e valores. Realizada em 2003 em parceria com a Vox Populi, acesso www.transparencia.org
Revistas e jornais:
Revista Foco, Economia e Negócios: Lobby social: Empresários cobram ações do Estado na área social. Publicado em 20/08/2006 e replicado no site www.reportesocial.com.br
Sites consultados:
www.onu.brasil.org.br
www.ocde.org
www.tranparencia.org.br
www.transparency.org
www.un.or
108
www.fundacionentorno.es
www.fundacionacarolina.es
www.fiemg.com
www.fiesp.com
www.fundabrinq.org.br
www.acminas.com.br
www.telemigcelular.com.br
www.patri.com.br
www.aberj.com.br
www.worldbanck.com
www.ipea.gov.br
www.etco.org.br
www.gife.org.br
www.abong.org.br
www.bsd-net.com
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas
Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo