raízes de uma vida fincada na agricultura
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Raízes de uma vida fincada na agricultura, acompanha a história de Bernadete Machado esta reside em Jurema, pequeno povoado do Município de São Gabriel- BA. Descrevendo a determinação da família para sobreviver com dignidade no sertão.TRANSCRIPT
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1272
Janeiro/2013
Neste boletim vamos acompanhar a história de Bernadete Barreto Rocha Machado mulher
sertaneja com raízes fincada na roça. Berna carinhoso apelido com a qual é tratada na
comunidade por amigos e parentes reside em Jurema, pequeno povoado formado por 12
famílias localizado no Município de São Gabriel- BA. Mora em uma típica casa de interior
onde se destaca a diversidade de plantas frutíferas cultiváveis na região, consorciadas com
culturas direcionadas a alimentação de animais criados no próprio quintal tais como galinha e
suínos. Aqui divide espaço e trabalho com Renilson Machado Filho, com quem é casada ha
20 anos e o pequeno Iam Rocha Machado seu filho de 08 anos de idade.
Como toda família camponesa, o sonho dessa família de agricultores é produzir em sua roça
o necessário para o sustento como também prever a manutenção de suas necessidades
básicas evitando que Renilson se ausente da terra, em que foi criado, à procura de trabalho
temporário em outros estados. O P1+2 chegou a comunidade de Jurema depois de Berna e
Renilson terem perfurado um poço artesiano. No período de mobilização e cadastramento a
sua família não pode ser atendida pelo programa. Berna relembra essa época como tempos
de dificuldades. Até então eles praticavam a agricultura de cerqueiro que, com a falta de
chuva na região foi tornando essa prática quase impossível. Recorda a obstinada afirmação de
seu marido: ‘’ No dia que eu conseguir cavar um poço, eu consigo sobreviver aqui’’.
Ter um poço na própria roça tornou-se um projeto idealizado por sua família. No ano de
2010 decidiram pegar os investimentos e perfurar um poço. Foram perfurados 108 metros sem
obter resultado de água. Momento de grande tristeza para eles! Desta dificuldade brota uma
pequena luz. Endividados após a escavação Berna começou a fazer brevidade - culinaria
ensinada por sua mãe - para comercializar na feira do
município. No inicio, a contragosto do marido que depois de
perceber a oportunidade que se apresentava e que, daria certo,
começou a acompanha-la encorajando-a a levar mais coisas
como o maxixe e o quiabo. Animados com a experiência das
pequenas vendas na feira do município decidiram buscar apoio
em uma vizinha de roça , por sinal sua comadre. Deste contato
veio a autorização para o uso de uma perna d’água- expressão
utilizada para designar o uso de uma saída de água destinada a
irrigar os canteiros de sua roça- que poderia ser ligada somente
São Gabriel- BA
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
das 19h00 min às 06h00min da manhã. Mas
sertanejo é forte e teimoso! Renilson não se
deixou vencer pela dificuldade. Ao contrario , por
oito meses, trabalhou em suas hortas durante a
noite tendo que de duas em duas horas mudar as
mangueiras de lugar para não perder por falta de
umidade as hortaliças cultivadas.
Com o passar do tempo não puderam mais puxar
a água da roça da vizinha. Esta condição os
encorajou a perfurar o segundo poço. Nova
tentativa frustrada! Agora com uma tristeza bem
maior. A família se encontrava endividada.
A experiência que tiveram no período em que utilizaram a perna d’água os fez perceber que
com uma boa gestão, mesmo uma quantidade pequena de água seria o suficiente para
garantir a subsistência digna de sua família.
Determinado Renilson decidiu que ia fazer uma terceira tentativa. Desta vez procuraram á
ajuda de um geólogo que ao observar o terreno, previu a possibilidade de ter uma pequena
quantidade de água no subsolo. Novamente a família se encontrava imbuída de esperança.
Com apena dezesseis metros de profundidades perfurados foi encontrado água no subsolo da
roça, dessa vez as lágrimas derramadas eram de alegria. Com a conquista da água puderam
retomar o cultivo de hortaliças.
Renilson tem a roça ‘’como uma escola que vai ensinando ao aluno a aperfeiçoar os seus
conhecimentos‘’. Como bom observador passou a perceber que o milho não estava
correspondendo aos cuidados dispensados. Por mais que cuidasse não tinha uma boa safra.
Daí passou a testar a quantidade ideal de sementes que deveria ser colocada em cada cova,
chegando à conclusão, segundo suas palavras ‘’que com apenas uma semente de milho a
safra dava melhor’’. A rotação de culturas também é uma técnicas utilizadas para dar melhor
qualidade à terra cultivada.
Além do cultivo de pequenas hortas a família também cria porcos e galinhas no quintal de
sua casa. As galinhas passam de 150 cabeças. Assim, toda a folhagem das hortas e a
produção que não servem para o consumo são transformadas em ração para os animais.
Dos pais, Berna e Renilson aprenderam a prática de cultivar a partir do principio da
variedade: ‘’na roça deve plantar um pouco de cada coisa’’.
Hoje a família fica orgulhosa com o trabalho e sabe que toda a renda da casa é tirada da
roça. A partir do segundo semestre de 2013 passaram a fornecer pão de queijo e poupa de
umbu e acerola para a merenda escolar.
Bernadete e Renilson se tornaram exemplos de determinação! Mostraram que é possível tirar
da agricultura orgânica a subsistência da sua família, tendo a consciência de que consomem
e vendem produtos benéficos para a saúde contribuindo com o desenvolvimento de uma
alimentação saudável e natural.
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