racionalidade e saÚde: reflexÕes em torno da relaÇÃo mÉdico/paciente

Upload: revista-orbis-latina

Post on 12-Oct-2015

3 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Este artigo, que se situa nas fronteiras de dois campos do conhecimento, o da racionalidade e o da saúde, tem como objetivo refletir acerca da relação médico/paciente. Para tanto, ao recorrer a uma metodologia analítica centrada no conceito de racionalidade, conclui que a insatisfação dos pacientes e de profissionais de saúde está associada ao fato da relação médico/paciente ser predominantemente instrumental. Esta indicação dos limites da racionalidade instrumental abre brechas para outros saberes e práticas, centrados na racionalidade substantiva.

TRANSCRIPT

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    RACIONALIDADE E SADE: REFLEXES EM TORNO DA RELAOMDICO/PACIENTE

    Jos Edmilson de Souza-Lima*

    Sandra Mara Maciel-Lima**

    Un ser humn! en"erm! es un D#!s/D#!s $ue se%&n!r' (LANCT)T* +,,+-

    Resumo

    Este artigo, que se situa nas fronteiras de dois campos

    do conhecimento, o da racionalidade e o da sade,tem como obeti!o refletir acerca da rela"#omdico$paciente% &ara tanto, ao recorrer a umametodologia anal'tica centrada no conceito deracionalidade, conclui que a insatisfa"#o dos

    pacientes e de profissionais de sade est( associadaao fato da rela"#o mdico$paciente ser

    predominantemente instrumental% Esta indica"#o doslimites da racionalidade instrumental abre brechas

    para outros saberes e pr(ticas, centrados naracionalidade substanti!a%

    Palavras-chave) doen"a pol'tica social saberes

    socioculturais pr(ticas mdicas%

    Abstract

    +his article, hich is situated on the borders of tofields of noledge, rationalit. and health, aims toreflect on the medical$patient relationship% +o thisend, hen turning to an anal.tical methodolog.centered on the concept of rationalit., finds that

    patient dissatisfaction is lined to the fact thatmedical$patient relationship is predominantl.instrumental% +his indication of the limits ofinstrumental rationalit. opens loopholes for othernoledge and practices, focusing on substanti!erationalit.%

    Keywords) health social polic. cultural noledgemedical practices.

    */outor em Meio 0mbiente e /esen!ol!imento pela 12&3% &esquisador e /ocente do &rograma de &4s-5radua"#oem Meio 0mbiente e /esen!ol!imento 6&&5M0/E-12&37 e do 189:139+9;0% E-mail) zecaed

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    INTRODUO

    =s debates em torno das rela">esen!ol!endo profissionais de sade e

    pacientes !?m se intensificando a partir dastr?s ltimas dcadas do sculo @@% S#odebates que, simultaneamente, chamam aaten"#o para as insufici?ncias de algumas

    pr(ticas mdicas e apontam outros caminhostrazidos de saberes constru'dos na sociologiado corpo e na antropologia da sade% =encontro dos referidos sistemas de saberilumina no!as possibilidades de reabilita"#oe de cura dos pacientes A medida que abreespa"os para que esses ltimos participemefeti!amente da gest#o dos processos de

    pre!en"#o e de cura% 8essa ordem deracioc'nio, este artigo apresenta-se comouma contribui"#o a esse debate fecundo e deeBtrema importCncia ci!ilizat4ria% =obeti!o aqui D refletir acerca da tensa ecompleBa rela"#o entre mdicos e pacientes- n#o esgotar a discuss#o, mas apresentar

    outros elementos ainda n#o desen!ol!idosem outros estudos que possam contribuir deforma efeti!a para emancipar os pacientesde seus estados de fragilidade e de!ulnerabilidade f'sica e espiritual%

    &ara tanto, em termosmetodol4gicos, a pesquisa recorre a doisquadros 6 e F7 que selecionam algunselementos constituintes das racionalidadesinstrumental e substanti!a com !istas aanalisar pr(ticas de profissionais da sade%

    =s dois quadros s#o utilizados comorefer?ncias para identificar nas abordagenste4ricas e, principalmente, na !i!?ncia dos

    profissionais da sade D e!idenciado por umrepert4rio de depoimentos coletados dealguns trabalhos ( publicados D as

    presen"as ou aus?ncias das racionalidadesinstrumental e substanti!a%

    0lm da introdu"#o e dasconsidera">es finais, o artigo est( di!ididoem tr?s se">es% 8a primeira, s#o

    apresentados os Guadros e F que alm de

    prestar esclarecimentos acerca daracionalidade, ser!em de referenciais de

    an(lise das abordagens te4ricas e dosdepoimentos dos profissionais de sade% 8asegunda se"#o a ideia for"a recorrer aosGuadros e F com !istas a dialogar com umrepert4rio de depoimentos de profissionaisde sade sobre a rela"#o mdico-paciente%

    8a terceira se"#o s#o apresentados osprincipais indicadores das insufici?ncias daspr(ticas mdicas centradas nasracionalidades instrumentais e as

    potencialidades de pr(ticas orientadas por

    racionalidades substanti!as% 8esta se"#ocede-se espa"o aos saberes que !#o alm dosmdicos% S#o os saberes emergentes e

    produzidos a partir da antropologia dasade% Eles emergem n#o para competir,mas colaborar com as pr(ticas biomdicascon!encionais% 8as considera">es finais eBplicitada a importCncia das racionalidadessubstanti!as para aperfei"oamento das

    pr(ticas mdicas%

    1. NOTAS ACERCA DARACIONAIDADE

    0 ideia-for"a desta se"#o apresentar um bre!e estado da arte acerca daracionalidade, sintetizando-o em forma dequadros que ser!ir#o de modelo de an(lise

    para os depoimentos deri!ados da rela"#o

    mdico$paciente 6se"#o F7%0 discuss#o em torno daracionalidade orienta-se a partir das mais!ariadas matrizes epistemol4gicas, mas

    poss'!el apresentar como marco zero paraeste debate a eBtensa obra do soci4logoalem#o MaB Heber 6IK7% +omando comorefer?ncia sua metodologia ideal-t'pica,Heber, sem esconder seu pessimismo,deiBou sinaliza">es de que os processos deracionaliza"#o podem ser caracterizados

    como a marca singular da !ida associati!a

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    moderna% :umpre ressaltar que a dennciade Heber n#o esta!a direcionada Aracionalidade no sentido amplo e compleBoda pala!ra, mas a uma forma espec'ficadesta racionalidade, a instrumental, cuas'laba tnica o c(lculo% Esta, sim, ao se

    proetar como hegemnica tende a anulartodas as outras formas de cren"as e !aloresque n#o se submetam ao c(lculo% Em suma,no programa in!estigati!o de Heber acercada Modernidade, em detrimento dadimens#o concreta e substanti!a, predominaa dimens#o abstrata da racionalidade, oc(lculo instrumental%

    9sto posto, a conceitua"#o deracionalidade utilizada aqui, sintetizadapreliminarmente no Guadro , tem comoprop4sito ir alm do marco zero eberiano%&ara tanto, inspira-se, em primeiro lugar, naideia de r>%!n2%88e 1er0, de Morin6FKK7, que se recusa a aceitar o predom'niode uma racionalidade instrumental sobretodas as outras formas de !i!er e sentir do

    ?!m! s@%ens% Em segundo lugar, toma de2loriani 6FKKN7 alguns elementos suficientes

    para pensar a racionalidade no interior deuma epistemologia da 0rns&ress!, cuatnica indicar limites da racionalidadeinstrumental, mas em ato cont'nuo apontarno!as possibilidades de abertura daracionalidade% 8esta perspecti!a, o sentidoda 0rns&ress! n#o est( associado Acapacidade de desqualificar ou destruir6inclusi!e o c(lculo fundante daracionalidade instrumental7, mas deincorporar o !u0r! 6LE22, FKKO7 A medida

    que le!a em conta suas cren"as e formassingulares de se relacionar com o mundo%1ma racionalidade transgressora umaracionalidade que eBtrapola os limites

    predeterminados pelo c(lculo instrumental%=s autores citados ser!iram de

    inspira"#o para a elabora"#o dos Guadros e F% &ara este artigo, a racionalidadeinstrumental ser( tomada como um sistemade cren"as que possibilita di(logos da mente

    humana com dom'nios di!ersos darealidade, mas que se orienta e se submete

    ao c(lculo% /e forma di!ersa, aracionalidade substanti!a D indicati!a deuma racionalidade aberta ou transgressora -!ai alm da defini"#o anterior A medida quese orienta n#o apenas a partir do c(lculo,mas de !alores que transcendem o c(lculoinstrumental%

    /e acordo com o Guadro , paraalm da contribui"#o de Heber, asabordagens de Morin 6FKK7, 2loriani6FKKN7, Leff 6FKKa FKKb FKK FKKO7 eSer!a 6IIO II7 inspiram a compreens#on#o apenas de uma racionalidadeenclausurada em si mesma, mas de uma

    racionalidade reencantada, aberta para acompleBidade dos fenmenos associados A!ida social e natural% P importante ressaltarque a separa"#o entre as racionalidades Dsubstanti!a e instrumental D eBpressa noGuadro obedece a obeti!os did(ticos,

    pois, a rigor, na perspecti!a de umaepistemologia da transgress#o, n#o fazsentido qualquer separa"#o entre elas% 2alarde racionalidade substanti!a significa falarigualmente de racionalidade instrumental,

    pois em termos concretos elas s#oinsepar(!eis%

    0lm do Guadro , que auBilia nadefini"#o das racionalidades, o Guadro Fser!e para apresentar os elementosconstituti!os e constituintes de cada umadelas, o que permite identificar aracionalidade substanti!a a partir dos limitesou nas fronteiras das racionalidadeinstrumental%

    Este Guadro F ser( tomado como

    refer?ncia na refleB#o acerca dacoeBist?ncia das racionalidades no debateem torno da rela"#o mdico$paciente 6Se"#oF7%

    0 s'ntese acerca da racionalidade,contida nos Guadros e F, possibilitaretomar o di(logo com Heber, cua an(lisetornou !is'!el que nas mais !ariadas formasde coeBist?ncia entre as racionalidades omundo ocidental fez !itoriosa a instrumental

    62E3808/ES, FKKQ7, le!ando as mentesmodernas A cren"a de que outras

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    racionalidades s#o apenas mitos queprecisam ser abandonados e esquecidos% =ssistemas modernos de saber constituem-se econsolidam-se orientados por essesistem(tico processo de fragmenta"#o ou de,conforme a denncia de Heber,Rdesencantamento do mundo% &orRdesencantamento, na perspecti!a doconhecimento cient'fico, entenda-sefechamento ou nega"#o de espa"os paraquaisquer outros sistemas de saber queresistam ao c(lculo% Essa a g?nese doisolamento das ci?ncias modernas, centradasna racionalidade instrumental, face a outros

    saberes, tais como os saberes caracterizadoscomo n#o cient'ficos%= complicador que o isolamento

    ocorre n#o apenas em rela"#o aos Rmitosou saberes n#o cient'ficos, mas tambm emrela"#o a outros saberes com pretens>es decientificidade% &or eBemplo, as ci?ncias

    biof'sicas isolam-se quase que totalmentedas ci?ncias interpretati!as ouhermen?uticas% 0 partir dessa fuga aqualquer possibilidade de di(logo, cada

    sistema de saber cient'fico passa a falar parasi mesmo% 8o dom'nio espec'fico dasci?ncias mdicas, algumas descobertasfundamentais D apresentadas na se"#oseguinte - para a espcie humana conferiramAs referidas ci?ncias o Rdireito de definir oque doen"a e o que o seu contraponto, asade% 0t aqui h( o predom'nio daracionalidade instrumental, !ez que n#o d(

    para falar em le!ar em conta as angstias, ossofrimentos profundos, as cren"as e temores

    dos pacientes, pois a pala!ra final monop4lio dos saberes mdicos% =utrossaberes, tais como os antropossociol4gicosou os saberes escondidos dos pr4prios

    pacientes, tendem a ser absolutamentedesconsiderados ou, quando muito, tratadoscom desdm%

    !. NOTAS ACERCA DA REAO"#DICO$PACIENTE

    Se na se"#o foram elaborados doisquadros que sintetizam os limites e as

    possibilidades da racionalidade para refletiracerca da rela"#o mdico$paciente, nestase"#o a ideia-for"a recorrer aos quadroscom !istas a dialogar com algunsdepoimentos de pacientes diante das formasde tratamento recebidas dos mdicos%

    0 racionalidade que orienta aspr(ticas mdicas con!encionais est(centrada na cren"a de que a doen"a precisaser definida em termos obeti!os e que orestabelecimento do corpo ser( feito porintermdio de inter!en">es cient'ficas, tais

    como medicamentos, cirurgias etc% 8essemodelo fundante do saber mdico, n#o h(espa"o para outras racionalidades, pois o

    pressuposto o de que as solu">escient'ficas s#o suficientes para de!ol!ercondi">es saud(!eis aos pacientes% 0medicina proeta-se como possibilidadeobeti!a de garantir a felicidade plena do

    paciente% 0 defini"#o do binmiosade$doen"a, balizada apenas pelas ci?nciasmdicas, torna-se insuficiente A medida que

    reduz o ser humano A dimens#o biol4gica desua eBist?ncia e, neste particular, algunsindicadores da insufici?ncia dos saberesmdicos s#o repertoriados na abordagemsociol4gica de 5iddens, para quem

    a rela"#o assimtrica de poder entre mdicose pacientes est( no centro da escolha decertas pessoas de se beneficiar da medicinaalternati!a% Elas sentem que o papel dosRpacientes passi!os n#o lhes forneceinforma">es o bastante sobre seu tratamento

    e sua cura 659//E8S, FKKT, p%FI7%

    8ote-se que o trecho torna !is'!el ainsatisfa"#o de alguns pacientes ao seremtratados n#o como seres que pensam,!i!enciam e refletem sobre suas doen"as,mas como simples obetos de inter!en"#oeBterna dos mdicos% 8o fundo, o trechore!ela que os pacientes descontentes comeste tipo de tratamento est#o pleiteando odireito de participar ati!amente dos

    processos de cura% 8#o por acaso que

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    alguns pacientes, por raz>es religiosas oufilos4ficas reeitam o ncleo duro damedicina ortodoBa, o tratamento do corposeparado da mente% &ara estes pacientes queabandonaram a cren"a na separa"#o entrecorpo e mente, a medicina ortodoBa emergecomo mais um obst(culo, A medida que n#oest( acostumada a escutar suas angstias'ntimas e profundas% 8este sentido, deacordo com o Guadro F 6se"#o 7, ficae!idenciada a presen"a do elementoconstituinte nmero T da racionalidadesubstanti!a, a descentraliza"#o do processode cura do paciente%

    8o estudo de :aprara e 2ranco6III7 s#o repertoriados algunsdepoimentos de mdicos que se tornaram

    pacientes e, depois, decidiram relatar comoas citadas eBperi?ncias possibilitaram umarea!alia"#o de suas pr(ticas centradasapenas na perspecti!a mdica, refm de umaracionalidade instrumental% 1m dos relatos de um neurologista contando uma de suasa!enturas em montanhas norueguesas que,ao ser perseguido por um touro, caiu e

    fraturou uma das pernas% 0 partir da'come"ou sua metamorfose no que se refereaos papeis sociais% &ara ele, o significado

    profundo da mudan"a de papeis foidram(tico, !ez que !i!enciou

    a sistem(tica despersonaliza"#o que se !i!equando se paciente% 0s pr4prias !estes s#osubstitu'das por roupas brancas

    padronizadas e, como identifica"#o, umsimples nmero% 0 pessoa fica totalmentedependente das regras da institui"#o,

    perdem-se muitos dos seus direitos, n#o se mais li!re 6S0:US citado por :0&3030 e2308:=, III, p% OTK7%

    Em perspecti!a muito pr4Bima dotrecho acima, outro mdico, um cl'nicogeral, eBplicita como a !i!?ncia como

    paciente transformou radicalmente a suapercep"#o acerca da pr(tica mdica% Emseus termos,

    no espa"o de uma a duas horas, transformei-me, de um estado saud(!el, a uma condi"#o

    de dor, de incapacidade f'sica% 2ui internado%Eu era considerado um mdico tecnicamente

    preparado e respeitado pelos colegas, noentanto, como paciente, tornei-me

    dependente dos outros e ansioso% =fereciam-me um suporte tcnico em que eu mesubmetia a um consider(!el n'!el dedepend?ncia 65E95E3 citado por:0&3030 E 2308:=, III, p% OTK7%

    = terceiro eBemplo o de umendocrinologista conceituado que sedescobre atingido por uma doen"adegenerati!a, a esclerose lateral% 0p4s secon!encer de que n#o mais adianta!aesconder dos seus pares, buscou tratamento

    unto a um especialista% Era o in'cio dodesencanto face A frieza do seu antes colega%Em seus termos,

    fiquei desiludido com a maneira impessoalde se comunicar com os pacientes% 8#odemonstrou, em momento nenhum,interesse por mim como pessoa que esta!asofrendo% 8#o me fez nenhuma perguntasobre meu trabalho% 8#o me aconselhounada a respeito do que tinha que fazer ou doque considera!a importante

    psicologicamente, para facilitar oenfrentamento das minhas rea">es, a fim deme adaptar e responder A doen"adegenerati!a% Ele, como mdico eBperiente,mostrou-se atencioso, preocupado, somenteno momento em que me apresentou a cur!ada mortalidade da esclerose 630;98 e30;98 citado por :0&3030 e 2308:=,III, p% OTK7%

    =s relatos tornam !is'!eis como aforma"#o mdica con!encional permanece

    centrada apenas em aspectos biol4gicos,fisiol4gicos, cl'nicos, negligenciando outrosdom'nios da condi"#o e da eBist?nciahumana, tais como a traet4ria hist4rica n#oapenas do paciente em quest#o, mas dosgrupos sociais aos quais este!e ou continua!inculado 6S9:03/, IQI, M0:V0/=,II M=3E930 29LV=, FKKT M0:9EL-L9M0, FKKN e FKKI M0:9EL-L9M0 e30S90, FKF :=S+0 e 0WEXE/=, FKK;0LLES+E3 e0 2., FK, entre outros7%

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    /e acordo com o Guadro F 6se"#o 7%re!elam-se nos tr?s trechos citados algunselementos constituintes da racionalidadeinstrumental, o c(lculo, a centraliza"#o e aescolha, todos eles negando espa"os paraoutras racionalidades ou saberes do

    paciente% S#o indicadores, portanto, dopredom'nio da racionalidade instrumentalsobre a racionalidade substanti!a%

    =utro estudo que aponta algunslimites das pr(ticas mdicas o estudo de0morim, Moreira e :arraro 6FKK7 sobre aforma"#o humana insuficiente de mdicos enutricionistas% = argumento principal dos

    autores que a insufici?ncia da forma"#opedi(trica est( diretamente associada ao fatoda forma"#o mdica continuar centrada nomecanicismo herdado de /escartes 6III7%/e acordo com o repert4rio de depoimentosque seguem 6citados pelos autores7, n#o h(abertura para outras racionalidades%

    0 gente sai muito despreparada para lidarcom a parte emocional do ser humano% Eun#o tenho queiBa, absolutamente nenhuma,da parte mdica% Ent#o, falha bastante a

    parte psicol4gica, psiqui(trica, que muitomal administrada na 2aculdade% Xoc? saisabendo tratar uma dor abdominal, poreBemplo% Mas, se essa dor for de origememocional, !oc? tem que passar pra frente

    porque !oc? n#o consegue, quando !oc? sai,resol!er 6Sonia citada por 0M=39M,M=3E930 e :03303=, FKK, p% 7%

    0 2aculdade tem um grande problema) elaforma o profissional tcnico, ela n#o forma o

    profissional humano% Ent#o, quando !oc? saida 2aculdade ou mesmo com a !i!?ncia,!oc? sai com uma bagagem rica emforma"#o tcnica% 0gora, o dia-a-dia, !oc?n#o tem) a (rea social, o relacionamento, o!'nculo mdico$paciente, isso !oc? n#o temna 2aculdade 68eusa citada por 0M=39M,M=3E930 e :03303=, FKK, p% 7%

    Mais ou menos no o ano, que a gentecome"a a ter uma no"#o real da medicina

    pr(tica, a' que percebe que entrou no curso

    de Medicina% E eu percebi, entre os colegas,assim) a fase de mais d!ida - o que que

    eu estou fazendo aqui - muitos colegas comdepress#o, porque n#o eBiste, como te falei,em nenhuma fase !oc? tem amparo e preparoda parte emocional, ps'quica, de tudo o que

    !oc? !ai come"ar a !er, paciente, doen"a6Marisa citada por 0M=39M, M=3E930 e:03303=, FKK, p% 7%

    8o meu caso, eu !i que n#o tinha a menorcondi"#o, que aquilo tudo era absurdo, derepente eu estar ali, dentro de um hospital,sem ter no"#o de nada, de diagn4stico,tratamento, aprendendo as coisas de ou!ido)ah, trate assim% Ent#o, !oc? passa a ser ummero escritur(rio do que o outro mdico est(dizendo, mas !oc? n#o sabe o que est(

    fazendo e eu parei% Y%%%Z a gente passa poresse tipo de situa"#o, sem orienta"#onenhuma, cada um !ai fazendo o que achaque de!e fazer 6Marisa citada por0M=39M, M=3E930 e :03303=, FKK,

    p% N7%

    Xoc? tem um grupo de docentes, que euacho, ainda guarda aqueles aspectosfundamentais da Medicina, que entender oser humano como um todo, comsensibilidade na rela"#o mdico-paciente%

    Mas, por outro lado, eBiste um grupo deprofissionais que representa muito atecnologia% E eu acho que esse grupo est(esquecendo um pouco do aspecto maisimportante do ser humano, que a suaidentidade como um ser pensante, que temdificuldades e deseos, que tem medos e que

    precisa ser entendido 6;runo citado por0M=39M, M=3E930 e :03303=, FKK,

    p% N7%

    +odos temos que ter muitos empregos, todostemos nossos hor(rios de trabalhoapertados% 0 gente acaba reduzindo a

    ornada de trabalho para conseguir osempregos% Ent#o, se !oc? atende as pessoasmuito r(pido e se !oc? n#o est( treinado,com olho cl'nico, com boa !ontade deescutar o que a pessoa !ai falar, isso fazcom que caia o padr#o da medicina, domdico que est( atendendo 6:arla citada

    por 0M=39M, M=3E930 e :03303=,FKK, p% T7%

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    Eu n#o tinha preparo e maturidade - a gentesai muito imatura da 2aculdade, a gente saisuper no!inha, n#o tem consci?ncia do que l( fora - eu n#o tinha preparo para rela">es

    humanas% 0cho que isso uma coisa queprecisa ser amadurecida, tal!ez um tempomaior de est(gio, uma matria, Sociologia,

    por eBemplo, a gente tem no curso, mas direcionada para uma coisa t#o fora darealidade que a gente !ai enfrentar 6+elmacitada por 0M=39M, M=3E930 e:03303=, FKK, p% T7%

    0 necessidade de estabelecer emanter !'nculos com pacientes, identificadaem cada trecho recortado, tambm ganha

    destaque no estudo de Maciel-Lima 6FKKI7,ao apresentar o depoimento de umprofissional de sade que trabalha no Setorde +ransplante Vep(tico de um Vospital&blico)

    Y%%%Z a gente luta pra preser!ar isso Ya rela"#omdico-pacienteZ% Mas de uma maneira geraleu !eo que hoe em dia os pacientes sentemfalta de um mdico que escute e que fale, eque deiBe os pacientes falarem, ent#o euacho que ao mesmo tempo em que a gente

    faz a medicina de ponta, aqui no transplante,a gente procura manter um pouco da aten"#o,do carinho para os pacientes%%% As !ezes a!isita no leito r(pida mas a gente fala tr?sou quatro frases com carinho, com aten"#oeu acho importante 60rlete citada porM0:9EL-L9M0, FKKI, p% N7%

    8ote-se que a presen"a de elementosconstituintes da racionalidade instrumentalnos oito depoimentos pode ser caracterizadacomo obst(culo dif'cil de ser remo!ido dos

    processos de gest#o da cura dos pacientes%Em cada um dos depoimentos emerge anecessidade n#o de reduzir a forma"#oespec'fica dos profissionais de sade, masde complement(-la com outras habilidadeslocalizadas em outros dom'nios de saber%1ma das habilidades mais pleiteadas pelosdepoentes a capacidade de estabelecer!'nculos mais 'ntimos com os pacientes,uma !ez que assim ser( poss'!el ao

    profissional de sade aprender e eBercitar acapacidade de escutar as angstias e os

    sofrimentos do !u0r!. 2ica demonstrado,mais uma !ez, que a forma"#o dos

    profissionais de sade, centrada apenas naracionalidade instrumental, fundamental,mas insuficiente%

    Entretanto, nem tudo est( perdido%0s eBperi?ncias relatadas abrem no!oshorizontes para a medicina sem que amesma perca sua identidade como sistemade saber fundamental A gest#o da cura dos

    pacientes% 8#o h( necessidade dos mdicoscon!encionais migrarem ou setransformarem em psic4logos, soci4logos,antrop4logos ou pas% = que os relatos

    ensinam que a participa"#o dos pacientesna gest#o de seu pr4prio processo de curaproeta-se como necessidade imperati!a%Emerge ent#o a necessidade de se pensar o

    binmio sade$doen"a a partir de outrasracionalidades complementares que est#o na

    base de algumas formula">es presentes naSociologia do corpo, na 0ntropologia dasade e em pr(ticas mdicas poucocon!encionais tais como a homeopatia, aacupuntura, a cura pela (gua, a quiropatia,

    dentre outras%0 despeito do predom'nio D ainda

    que estremecido - do discursoRbiologizanteR sobre os outros dom'nios da!ida associati!a no =cidente, imperati!oressaltar que as fronteiras entre sade edoen"a s#o estabelecidas n#o apenas

    biologicamente, mas tambmsocioculturalmente% 1ma das principaiscontribui">es da Sociologia do corpo queos corpos humanos s#o fortemente marcados

    pelas influ?ncias e condicionantessocioculturais, que n#o podem ser deiBadasde ser consideradas em processos de gest#odo binmio sade$doen"a%

    Em parte, poss'!el creditar a !it4riado discurso Rbiologizante aos ineg(!eisa!an"os da bacteriologia, no in'cio do sculo@@, bem como As conquistas da biogenticae As pesquisas do genoma, nas ltimasdcadas do mesmo sculo% 0 partir de tais

    conquistas, parece ter ficado garantida aRreser!a de mercado, o direito dos saberes

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    mdicos de monopolizarem as defini">es ede estabelecerem fronteiras entre sade edoen"a% =utros sistemas de saber D distintosda medicina D passam a ser caracterizadoscomo n#o competentes ou n#o autorizados adiscursarem sobre o binmio sade$doen"a%+al posicionamento fechado, uma !ezhegemnico, deiBou de fora as contribui">esda Sociologia do corpo e da 0ntropologia dasade, que admitem que tudo que afetar ocorpo ou o esp'rito 6sade e doen"a7, Amedida que passa pela media"#osociocultural tende a ir alm da medicina%

    8ote-se que ir alm da medicina, n#o

    significa neg(-la, mas complement(-la%

    &. O U'AR DA RACIONAIDADESU(STANTI)A

    8a se"#o F, os depoimentos tornaram!is'!eis as insatisfa">es que emergem darela"#o mdico-paciente% =s pacientes n#ose sentem como seres humanos, mas comoRcoisas e neste sentido a rela"#omdico$paciente deiBa de ser um problema

    apenas indi!idual de cada paciente para setransformar um alerta a todos os

    profissionais da sade acerca destacompleBa rela"#o com pessoas fragilizadas e!ulnerabilizadas pela enfermidade% /andoseguimento a esta linha de racioc'nio, aideia-for"a desta se"#o indicar que nasfronteiras de pr(ticas regidas por umaracionalidade instrumental emergem outrossaberes que podem colaborar com os

    processos de gest#o da cura dos pacientes%

    % EME35[8:90 /E =1+3=SS0;E3ES

    +anto a sociologia do corpo quanto aantropologia da sade, ao incorporar ideias e

    pr(ticas de grupos di!ersos, classificadascomo aberra">es, patologias, des!ios, frutosda ignorCncia e do Ratraso cultural, !#oalm das racionalidades instrumentais que

    orientam o uni!erso da ci?nciacon!encional%

    0o en!eredar por esse mundo aindan#o aceito pelos profissionais da sade, aantropologia, por eBemplo, incorpora outrasracionalidades, pr4prias As no!as

    possibilidades de entendimento e da gest#odos processos de cura dos pacientes% 0antropologia da sade admite a eBist?ncia deuma !ariedade de percep">es e tratamentosadotados pelos reabilitandos e, ao fazer isso,rompe com o pensamento unidimensionalque apenas admite uma nica forma,reputada uni!ersal e correta para areabilita"#o% = ano de IK o ano daemerg?ncia da antropologia da sade no

    ;rasil n#o para competir, e sim cooperarcom a sade pblica e com a medicina% &aratentar eBplicitar momentos de poss'!eisaproBima">es e de distanciamentos entre o

    biol4gico e o sociocultural, as formula">esantropol4gicas tomaram como refer?nciaanal'tica o corpo, a sade e a doen"a% 9ssoeBplica no que concerne As agendas de

    pesquisa das ci?ncias sociais interessadas nodebate da sade, a incid?ncia de temasestudados, tais como)

    F% 3epresenta">es da sade% 3epresenta">es das doen"asN% 3epresenta">es do corpo em

    diferentes grupos populacionaisT% =s significados de doen"as

    espec'ficas como 09/S,hansen'ase, tuberculose,defici?ncias f'sicas e mentais,tanto para os doentes quanto paraos que deles cuidam%

    0 partir das parcerias en!ol!endosaberes socioculturais e mdicos, muitasabordagens, antes autodeclaradas mdicas,come"aram a importar 62L=39089, FKK7conceitos, metodologias e tcnicas usadas erein!entadas por antrop4logos e soci4logoscom !istas a aumentar a efic(cia dos

    processos usados para sal!ar pessoas% Pposs'!el caracterizar este processo como umcompromisso entre os dois dom'nios de

    saber, pois tanto as ci?ncias mdicas quantoas ci?ncias antropol4gicas retornam de tais

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    encontros reno!adas e mais conscientes desuas insufici?ncias quando tratamisoladamente do paciente e de suas

    potencialidades quando cuidam do mesmoem conunto%

    +rata-se de uma frtil parceria entresistemas de saber historicamente separados eque, ao se untarem, proetam-se como

    poderosos instrumentos emancipat4rios,pois aproBimam saberes socioculturais, queinter!?m nos esp'ritos, de saberes queinter!?m no corpo% +al!ez n#o sea esta

    parceria, centrada em uma racionalidadesubstanti!a, capaz de resol!er todos os

    problemas te4ricos e pr(ticos da sadepblica brasileira, mas certamente apresentano!os lampeos, outras formas de produzirconhecimentos e pr(ticas com poderesemancipat4rios e de cura%

    %F &39ME93= E8:=8+3=

    S1;S+08+9X= /E S0;E3ES

    1m dos eBemplos dessa no!aparceria foi a pesquisa de /ias 6FKK7realizada em uma (rea perifrica de &orto0legre, com ele!ada incid?ncia de casos deV9X% Xale a pena recordar ou ressaltar que a09/S surge no cen(rio mundial das doen"asterr'!eis como um mal pertencente ao !u0r!,a algum que est( fora do meu grupoterritorial% 0 09/S passou a ser carimbadacomo s'ndrome de grupos reputados der%s>! ou de rela">es >!n8enBe%s e

    @r!m#s>us 6/90S, FKK, p% I7% \ medidaque a doen"a citada in!adiu as mais !ariadascamadas sociais brasileiras, aquele distante e

    prom'scuo !u0r! tornou-se muito pr4Bimo%+ornou-se, em !(rios casos, um parente, umamigo, um !izinho, um colega de classe oude trabalho% 8o estudo citado, se, de umlado, a transforma"#o da doen"a do !u0r!distante em !u0r! pr4Bimo n#o implicoumaior conscientiza"#o em termos

    pre!enti!os, de outro lado, aumentou a listade atitudes de reei"#o do !u0r! pr4Bimo,

    tais como a reei"#o de contatos f'sicossuperficiais, de uso de pratos, copos etalheres, todas pr(ticas cientificamentedescartadas como perigosas% 0 aproBima"#oda doen"a produziu na popula"#o estudadauma espcie de banaliza"#o, tornando a09/S uma doen"a absolutamente normalcomo outra qualquer% 0 terr'!el doen"a do!u0r!distante foi metamorfoseada em umadoen"a de $u2$uer um%

    = que se infere da eBperi?nciaeBplicitada que as eBorta">es pre!enti!asdo saber biomdico n#o penetram facilmenteno imagin(rio da popula"#o% = saber

    antropol4gico, ao contr(rio, ao des!endar areferida dificuldade proporciona ao sabermdico no!as abordagens para aumentar suaefic(cia no processo de neutraliza"#o dadoen"a% Mais uma !ez, fica demonstradoque o saber mdico, atuando isoladamente, ineficaz em seus prop4sitos iniciais de curae posteriores, de pre!en"#o% 0 capacidadede obser!ar e escutar atentamente os anseiosdo !u0r!, o doente e seus pares, umatcnica de pesquisa mais desen!ol!ida,

    sofisticada e praticada pelos antrop4logos e essa contribui"#o que ser( fundamental Asno!as inter!en">es do saber e das pr(ticasmdicas%

    0o se captar das percep">es dapopula"#o acerca da doen"a, o saber mdicopotencializa sua efic(cia para combater osa!an"os da doen"a% = combate A doen"adeiBa de ser eBpediente impositi!o e se tornaespa"o permanente de negocia"#o entresaberes antropol4gicos, mdicos e

    populares, inaugurando-se, assim, apossibilidade de uma gest#o participati!ados processos de pre!en"#o e de cura dos

    pacientes, que um dos indicadores doselementos constituti!os e constituintes daracionalidade substanti!a 6Guadros e Fse"#o 7%

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    % 0 8E:ESS9/0/E /0S

    30:9=80L9/0/ES S1;S+08+9X0S

    0 presente subse"#o destaca anecessidade da racionalidade substanti!a naseBperi?ncias de gest#o dos processos decura% &ara tanto, recorre ao estudo deMaciel-Lima 6FKKN7 que, indiretamenteapresenta um elenco de situa">esen!ol!endo profissionais da sade e

    pacientes, como indicadores dos impactosnegati!os pro!ocados nos pacientes pelaaus?ncia elementos constituintes da

    racionalidade substanti!a% S#o depoimentosde profissionais da sade que t?m o primeirocontato com o paciente, antes deleefeti!amente ser consultado pelo mdico%

    Yo relacionamento com o usu(rioZ hoe est(mais dif'cil, !oc? tem que ficar olhando pratela, prestando aten"#o no que !oc? est(escre!endo YrisadasZ e antes a gente tinhamais tempo, ou !oc? faz ou ficacon!ersando com o paciente 60uBiliar deEnfermagem citada por M0:9EL-L9M0,

    FKKN, p% TKT7%

    Y%%%Z eu acho que hou!e uma distCncia entreo profissional e o paciente% &orque a gentese preocupa tanto com a tela e o paciente,ele fica Y%%%Z mais inibido em falar porqueele acha%%% ah%%% !amos falar a !erdade%%% agente s4 fala quando algum olha nosolhos%%% principalmente quando !oc? est(com dor, o paciente quer que !oc? acrediteque ele est( com dor%%% e com o computador!oc? fica olhando pra tela e Ro que o senhor

    tem] sabe%%% tira aquele la"o do pacientecom o funcion(rio 6Enfermeira citada porM0:9EL-L9M0, FKKN, p% TKT7%

    Y%%%Z As !ezes o usu(rio chega comproblemas, com dores, angstias e s4 comuma con!ersa melhoram, mas com a faltade tempo das auBiliares, o paciente passarapidamente pela triagem e !ai para aconsulta, o mdico receita algummedicamento que, tal!ez, pudesse serdesnecess(rio se o paciente ti!esse tido

    aten"#o anterior% =s pacientes ficam delado% &arece mais um Ratropelamento

    solid(rio e n#o Racolhimento solid(rio60uBiliar de Enfermagem citada porM0:9EL-L9M0, FKKN, p% TK7%

    /e acordo com os Guadros e F,ostrechos re!elam que, se, por um lado, ainser"#o do computador entre profissionalde sade e paciente emergiu como !antagemem termos tecnol4gicos, pois os processosde cadastramento foram acelerados, poroutro, o tempo para escutar atentamente o

    paciente ficou preudicado% Essa nega"#o ouredu"#o dos espa"os de escuta dos pacientes

    pode ser interpretada como nega"#o dosespa"os de participa"#o de um dos atores

    sociais D o paciente - na gest#o dosprocessos de cura% 8#o por acaso que noterceiro depoimento emerge um trocadilho DRparece mais um ^atropelamento solid(rio_ en#o ^acolhimento solid(rio_ D re!elador do

    predom'nio da racionalidade instrumentalsobre a racionalidade substanti!a e, unto aisso, a nega"#o das possibilidades decoopera"#o entre os saberes mdicos e

    populares no processo de neutraliza"#o oua!an"o das doen"as%

    CONSIDERAES FINAIS

    = presente artigo atinge seu obeti!oao demonstrar que a necessidade decoeBist?ncia entre os saberes mdicos,antropossociol4gicos e dos pacientes,emerge como necessidade ci!ilizat4ria, uma

    !ez que p>e em d!ida o predom'nioabusi!o da racionalidade instrumental sobrea substanti!a nos processos de gest#o dos

    processos de pre!en"#o e de cura dospacientes% 2ica igualmente demonstrado quea aus?ncia de elementos constituintes daracionalidade substanti!a, materializada nossaberes antropossociol4gicos e populares,caracteriza-se mais como obst(culo do quecomo ala!anca aos processos deneutraliza"#o das doen"as que afligem as

    popula">es%

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    +ais demonstra">es podem emergircomo modestos alertas a futuras pol'ticas

    pblicas orientadas A gest#o do binmiosade$doen"a% Se por um lado, inter!en">es

    orientadas pela racionalidade instrumental,por serem centralizadas e unidimensionais,s#o mais r(pidas, por outro, inter!en">esnegociadas, embora mais demoradas, podemser mais s4lidas em termos emancipat4rios%&ode ser que o principal segredo de umagest#o bem sucedida do binmiosade$doen"a estea associado A capacidadede Rescutar e respeitar as diferen"as

    biol4gicas e socioculturais dos pacientes%:ontudo, oportuno enfatizar que n#o setrata, em nome dos saberes dos pacientes, de

    abandonar os a!an"os fundamentais damedicina, mas de estimular a coeBist?ncia, acomplementaridade de saberes com !istas aum obeti!o mais amplo) a auto-realiza"#o, afelicidade dos pacientes, pois, conforme a

    ep'grafe que traduz de forma 'mpar a ideia-for"a deste artigo ... un ser humn!en"erm! es un D#!s/D#!s $ue se %&n!r'6L08:+`+, FKKF, p% i7%

    RACIONAIDADE INSTRU"ENTA RACIONAIDADE SU(STANTI)A

    % /a abordagem sociocultural de Ser!a, asracionalidades instrumentais emergem de a">esbaseadas RY%%%Z no c(lculo, orientadas para oalcance de metas tcnicas ou de finalidadesligadas a interesses econmicos ou de podersocial, atra!s da maBimiza"#o dos recursosdispon'!eis 6SE3X0, II, p%FF-7%

    F% /e abordagens socioambientaiscomplementares, as racionalidadesinstrumentais est#o associadas a)a7 Menor preocupa"#o com a compleBidade

    b7 [nfase no c(lculo abstratoc7 [nfase no Runi!ersal

    d7 &ouca preocupa"#o com a incorpora"#o dooutro

    e7 [nfase no antagonismof7 Muita aten"#o ao dualismo que separa a

    sociedade da naturezag7 [nfase no global%

    % /a abordagem sociocultural de Ser!a, asracionalidades substanti!as emergem de a">esorientadas RY%%%Z para duas dimens>es nadimens#o indi!idual, referem-se A auto-realiza"#o, compreendida como concretiza"#ode potencialidades e satisfa"#o na dimens#ogrupal, referem-se ao entendimento, nasdire">es da responsabilidade e da satisfa"#osocioambiental 6SE3X0, II, p%FF-7%F% /e abordagens socioambientaiscomplementares, as racionalidades substanti!asest#o associadas a)

    a7 Maior preocupa"#o com a compleBidade

    b7 [nfase no c(lculo concretoc7 [nfase nas singularidadesd7 Maior preocupa"#o com a incorpora"#odo Routroe7 [nfase na complementaridadef7 &ouca aten"#o ao dualismo que separa asociedade da naturezag7 [nfase no local%

    *UADRO 1 - RACIONAIDADE SU(STANTI)A E INSTRU"ENTA+ONTE, 9nspirado e adaptado a partir de SE3X0, IIO SE3X0, II LE22, FKKa LE22, FKKb LE22, FKKLE22, FKKO M=398, FKK 2L=39089, FKKN%

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    EE"ENTOS CONSTITUINTES ECONSTITUTI)OS DA RACIONAIDADE

    INSTRU"ENTA

    EE"ENTOS CONSTITUINTES ECONSTITUTI)OS DAS RACIONAIDADE

    SU(STANTI)A

    % ClcloD 0">es centradas no imediatismo dabiomedicina, sem preocupa">es com os pacientes

    % A/o-real0a23o- amplia"#o de espa"os para odesen!ol!imento das potencialidades pr4prias aos

    pacientes /ireito A !ida para todos%

    F% +04sD &ara os fins n#o necess(rioulgamento tico o ncleo duro da ati!idade de

    gest#o da sade$doen"a o mdico, n#o opaciente%

    F% E4/e4d05e4/o- a">es pelas quais estabelecem-se consensos, coordenando ati!idades comuns sob a

    gide da responsabilidade e da satisfa"#o dos pacientescoopera"#o entre as racionalidades en!ol!idas semnega"#o dos conflitos

    % "a6050a23o de recrsos- busca da efic(ciae da efici?ncia m(Bimas na gest#o dasade$doen"a sem preocupa">es com as angstiase sofrimento dos pacientes%

    % 7l8a5e4/o 9/0co dos 5e0os e :04s- delibera"#obaseada na emerg?ncia da capacidade de se indignarface a poss'!eis abusos contra os pacientes embora omdico sea importante, o ncleo duro da ati!idade degest#o o paciente

    N% ;e/ero4o50a < 0 disputa eBcessi!a entre asracionalidades proporciona a emerg?ncia deobst(culos A coeBist?ncia dos saberes mdicos edos pacientes

    N% A/o4o50a- condi"#o plena de coeBist?ncia dossaberes mdicos e dos pacientes, respeitando-se suasdiferen"as%

    T% Ce4/ral0a23oD 8ega"#o deliberada ou !eladade espa"os para participa"#o dos pacientes no

    processo de gest#o do binmio sade$doen"a%

    T% Desce4/ral0a23oD 0mplia"#o de espa"os para aparticipa"#o efeti!a dos pacientes nos processos degest#o do binmio sade$doen"a

    O% EscolhaD Sempre que ocorre determinadapela !ontade dos profissionais da sade, n#o pelasnecessidades dos pacientes%

    O% Escolha < Sempre que ocorre n#o determinadapela !ontade dos profissionais da sade, e sim pelasnecessidades dos pacientes

    *UADRO ! - EE"ENTOS CONSTITUINTES E CONSTITUTI)OS DAS RACIONAIDADES+ONTE, 9nspirado e adaptado a partir de SE3X0, IIO, SE3X0, II LE22, FKKa LE22, FKKb LE22, FKKLE22, FKKO M=398, FKK 2L=39089, FKKN%

    RE+ER=NCIAS

    0M=39M, S% +% S% &% de M=3E930, V% :03303=, +% E% 0 2orma"#o de &ediatras e8utricionistas) a dimens#o humana% Rev. N/r023o, !%N, n%F, :ampinas, maio$ago%FKK%

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    ;0LLES+E3, /% e0 2% 0!alia"#o da consulta mdica realizada por ingressantes na resid?ncia depediatria% Rev. >ras. edc. 5ed.% !% T, n% , p% QI-I, FK% /ispon'!el em)http)$$%scielo%br$pdf$rbem$!Tn$a!Tn%pdf 0cesso em T dez FK%

    :0&3030, 0% 2308:=, 0% L% e S% 0 3ela"#o &aciente-Mdico) para uma humaniza"#o dapr(tica mdica. Cad. Sa?de, !%T, n%, 3io de Janeiro ul%$set%III% /ispon'!el em http)$$%scielo%br$pdf$csp$!Tn$KTKT%pdf 0cesso em K dez FK%

    :=S+0, 2% /% da 0WEXE/=, 3%:%S% de% Empatia, rela"#o mdico-paciente e forma"#o emmedicina) um olhar qualitati!o% Rev. >ras. edc. 5ed.% !% N, n% F, p% FO-FOI, FKK% /ispon'!elem) http)$$%scielo%br$pdf$rbem$!NnF$aK!NnF%pdf 0cesso em T dez FK%

    /ES:03+ES, 3% Descar/es, !ida e obra% S#o &aulo) 8o!a :ultural, III% 6=s &ensadores7%

    /90S, S% =% = estudo da sade e da doen"a% C0@4c0a e Cl/ra% !% TT, n%N, p% I-I out%$no!$dez%

    FKK% /ispon'!el em http)$$cienciaecultura%b!s%br$pdf$cic$!TTnN$aKO!TTnN%pdf 0cesso em Kdez FK%

    2E3808/ES, X% 0 racionaliza"#o da !ida como processo hist4rico) cr'tica A racionalidadeeconmica e ao industrialismo% CADERNOS E(APE.(R, !% O, n%, Set% FKKQ, p%-FK%/ispon'!el em http)$$%scielo%br$pdf$cebape$!On$!OnaKF%pdf 0cesso em F dez FK%

    2L=39089, /% Co4hec05e4/o% "e0o A5>0e4/e e 'lo>al0a23o% :uritiba) Juru(, FKKN%

    % E0s/e5olo80a A5>0e4/al$O:0c04a de Teor0a e "e/odolo80a% :uritiba) /outorado em

    Meio 0mbiente e /esen!ol!imento, 12&3, primeiro semestre de FKK%

    59//E8S, 0% Soc0olo80a. O%ed% &orto 0legre) 0rtmed, FKKT%

    L08:+`+, 5% La ma&ia m'(ica) >!m! s2%r >!m %8 8e 2 @rue1 re>u@err s2u8 @r!s@er%88. Jaca$Vuesca$Espaa) Ediciones Xesica &iscis, FKKF% /ispon'!el emhttp)$$teatre!esadespertar%files%ordpress%com$FKF$K$la-mafia-medica%pdf 0cesso em N dezFK%

    LE22, E% E0s/e5olo80a A5>0e4/al.S#o &aulo) :ortez, FKKa%

    % Sa>er A5>0e4/al) sustentabilidade, racionalidade, compleBidade, poder% &etr4polis)Xozes, FKKb%

    % &ensar a compleBidade ambiental% 9n) LE22, Enrique 6:oord%7% A Co5le60dadeA5>0e4/al.S#o &aulo) :ortez, FKK, p%T-ON%

    % Rac0o4al0dade A5>0e4/al, a reapropria"#o social da natureza% 3io de Janeiro):i!iliza"#o ;rasileira, FKKO%

    Re%s0 Or1%s L0%n* !2.3* n45* 6ne%r!78e9em1r! 8e +,53. ISSN ++;7

  • 5/21/2018 RACIONALIDADE E SA DE: REFLEX ES EM TORNO DA RELA O M DICO/PACIENTE

    http:///reader/full/racionalidade-e-saude-reflexoes-em-torno-da-relacao-medico

    M0:V0/=, M% V% Os 59d0cos 4o (ras0l) um retrato da realidade% 3io de Janeiro) 2iocruz,II%

    M0:9EL-L9M0, S% M% 0colhimento solid(rio ou atropelamento] 0 qualidade na rela"#oprofissional de sade e paciente face A tecnologia informacional% Cad. Sa?de P?>l0ca.3io deJaneiro, !% FK, n% F, p% TKF-T, FKKN% /ispon'!el emhttp)$$%scielo%br$pdf$csp$!FKnF$Q%pdf 0cesso em K dez FK%

    M0:9EL-L9M0, S% M% No :0o da s/ra) um estudo sociol4gico sobre a equipe multidisciplinardo Ser!i"o de +ransplante Vep(tico do Vospital de :l'nicas da 1ni!ersidade 2ederal do &aran(%Kf% /outorado 6Sociologia7% &rograma de &4s-5radua"#o em Sociologia% Setor de :i?nciasVumanas, Letras e 0rtes% 1ni!ersidade 2ederal do &aran(% :uritiba, FKKI%

    M0:9EL-L9M0, S% M%% 30S90, J% M% 0s imagens n#o falam por si mesmas) um estudosociol4gico da equipe do transplante hep(tico% Sa?de Soc% !% F, n% , p% NF-T, an%-mar% FKF%/ispon'!el em http)$$%scielo%br$pdf$sausoc$!Fn$KO%pdf 0cesso em K dez FK%

    M=3E930 29LV=, 0% 0% Rela23o 59d0co-ac0e4/e) teoria e pr(tica% F% ed% ;elo Vorizonte):oopmed, FKKT%

    M=398, E% C0@4c0a co5 Co4sc0@4c0a% %ed% 3io de Janeiro) ;ertrand ;rasil, FKK%

    SE3X0, M% 3% Rac0o4al0dade e Or8a40a2Bes) o fenmeno das organiza">es substanti!as% S#o&aulo) 2unda"#o 5etlio Xargas 6+ese de doutoramento7, IIO%

    % 0bordagem substanti!a e a"#o comunicati!a) uma complementaridade pro!eitosa para ateoria das organiza">es% Rev0s/a de Ad5040s/ra23o P?>l0ca% 3io de Janeiro) !% , n%F, p% KQ-N, mar$abr, II%

    S9:03/, /% :orps et images du corps% L_Vpital A !if% L_tat d?s lieuB% &aris) A/re5e4/, n%KI, septembre, p% -NK% IQI% 6Srie Mutations n% KI7% Entre!ista%

    HE;E3, M% E4sa0os de Soc0olo80a% N%ed% 3io de Janeiro) Wahar, IK%

    Re>e1%8! em ,