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  • MARO / 201566 REVISTA PROTEO

    PROTEO DE MQUINAS

    Reportagem de Martina Wartchow Silveira

    NR 12 entra no quinto ano

    Quando a primeira NR 12 foi publicada, em 1978, trazia um texto bsico, com trs pginas, sem entrar nos mnimos detalhes sobre segurana em mquinas e equipa-mentos. Passadas trs dcadas de evo-luo tecnolgica, a norma tem hoje 85 pginas e um total de 12 anexos especifi-cando obrigaes tcnicas por segmentos, um contedo ainda pouco conhecido por grande parte dos maiores interessados. E a maioria dos que j conhecem, especial-mente os donos de micro e pequenas em-presas, est preocupada, pois seu parque fabril est defasado.

    Nesse cenrio, de um lado, as bancadas do governo federal e dos trabalhadores da CNTT defendem a continuidade da revi-so do texto da nova norma com atualiza-es que tornem os sistemas de proteo mais simples e baratos sem que haja perda da proteo do trabalhador. J a bancada patronal defende a suspenso da norma - e que a antiga volte a vigorar - at que ela seja revisada nos termos que os em-presrios defendem. Eles inclusive elabo-raram uma nova proposta de texto para a norma. Sua principal reivindicao que as exigncias no abranjam as mquinas fabricadas antes de 2010, ideia rejeitada pelas outras duas bancadas, que defen-

    A NR 12 - Segurana no Trabalho em Mquinas e Equipamentos - re-visada e ampliada entrou em vigor no final de 2010, 32 anos aps sua primeira publicao. Em seu quinto ano de vida e a 15 meses de esgotar seu prazo final, a nova norma ainda tem poucas adeses de empresas. Ao mesmo tempo, seu contedo, elaborado de forma tripartite e apro-vado por consenso, tornou-se alvo de discordncias entre as bancadas da CNTT (Comisso Nacional Tri-partite Temtica), criada junto com a nova norma para acompanhar sua implantao e aprimor-la.

    Maioria das empresas ainda no se adaptou s novas regras publicadas pelo MTE em 2010 e o impasse continua

    dem a abrangncia para todo e qualquer maquinrio.

    MANIFESTOSA nova NR 12 foi publicada no Di-

    rio Oficial da Unio em 24 de dezembro de 2010. A partir de ento, quem vende ou aluga mquinas, sejam novas ou usa-das, importadas ou nacionais, em terri-trio brasileiro, passou a ser obrigado a se adaptar s regras. E quem as utiliza tambm. Foram concedidos 131 prazos diferentes para adequao, entre 12 e 66 meses, at 17 de junho de 2016. Pa-ra a maioria das empresas, a NR passou a ser exigida a partir de junho de 2013. Foi tambm quando a bancada patronal da CNTT comeou a intensificar a mani-festao contrria ao que alega ser uma adequao complexa e cara frente rea-

    lidade socioeconmica das empresas, es-pecialmente as menores.

    Desde junho de 2011, vinham ocorren-do as reunies da CNTT, para acompanhar o andamento da implantao da norma e debater atualizaes no texto. At que, na reunio de 23 de outubro de 2013, a bancada dos empregadores apresentou, em meio aos debates da pauta ordin-ria da comisso, sua pauta prpria. Na defesa de seus argumentos, a entidade representativa da indstria foi buscando aliados. No incio de novembro de 2013, o deputado federal Arnaldo Faria de S apresentou Projeto de Decreto Legislativo (PDC 1.389/2013) sustando a vigncia da NR 12 utilizando os mesmos argumentos da bancada patronal. Aps reunio com as centrais sindicais em So Paulo, reti-rou o projeto. Logo em seguida, o depu-

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    Prensa da Fbrica Nacional de Amortecedores foi adaptada s novas regras

  • MARO / 201568 REVISTA PROTEO

    PROTEO DE MQUINAStado federal Slvio Costa apresentou projeto idn-t i co (PDC 1.408/2013), ainda em tra-mitao.

    Ta m b m em novem-bro de 2013, a CNI entre-gou ao secre-

    trio federal da Micro e Pequena Empre-sa, Gui lherme Afif, pedido de suspenso da vigncia da norma enquanto sua re-forma estivesse em discusso na CNTT. Em 6 de fevereiro de 2014, pedido simi-lar foi encaminhado ao ministro do Tra-balho e Emprego, Ma noel Dias. Dias 29 e 30 de abril do ano passado, aps meio ano afastada, a CNTT voltou a se reunir, mas novamente no houve consenso. A ltima reunio da comisso ocorreu dias 4 e 5 de agosto do ano passado sem mu-danas e, at o fechamento desta edio, suas negociaes continuavam paradas.

    PREMISSASA proposta da bancada patronal, entre-

    gue CNTT e ao governo federal, parte de algumas premissas bsicas que no pode-mos abrir mo. Em primeiro lugar, a linha de corte temporal, afirma a gerente do Jurdico Estratgico da FIESP (Federao das Indstrias do Estado de So Paulo), a advogada Luciana Freire, representan-te da bancada patronal na CTPP (Comis-so Tripartite Paritria Permanente) do MTE. O objetivo preservar o parque in-dustrial existente e adaptar nova NR 12 somente as mquinas fabricadas a partir de 2010, as chamadas novas. O alto cus-to da adaptao preocupante, mas, mais do que isso, tem a questo da viabilida-de tcnica. Muitas vezes, a mquina no aceita um dispositivo exigido pela norma em vigor, afirma.

    Luciana afirma que a inexistncia des-ses dispositivos no significa que as m-quinas antigas so inseguras. Existem mquinas que nem tm histrico de aci-dentes. O que estamos defendendo que as mquinas que j tenham uma proteo razovel e que o ambiente j seja segu-ro, sejam respeitadas pelas autoridades, complementa. Queremos a moderniza-o, mas respeitando o parque indus-trial passado que oferecer segurana ao

    trabalhador. uma necessidade e uma obrigao legal proteger o empregado. Se a empresa no tiver um trabalhador protegido, vai ter acidente, afastamento desse empregado, perda de produtivida-de e custo, pondera.

    A segunda premissa considerada impor-tante pela bancada patronal a separao da norma entre usurios e fabricantes, como na Comunidade Europeia, onde a diretiva 2006/42 voltada ao fabricante de mquinas e a diretiva 2009/104, para o usurio. Conforme a advogada, a atual NR 12, por englobar tudo junto, gera confuso e complexidade para sua implantao. Na Europa, o corte temporal foi respeitado, observa. Outra reivindicao da bancada patronal so condies simplificadas pa-ra micro e pequenas empresas. A micro e pequena empresa tem direito por lei e precisa de um tratamento especial. Ela muitas vezes no tem condio de contra-tar engenheiro de Segurana do Trabalho, fazer laudo, vistoria, inventrio de todas as mquinas, exemplifica.

    INTERMINISTERIALA bancada patronal tambm reivindica

    que um rgo certificador determinado pelo governo federal comprove que as mquinas esto ou no em conformida-de com a NR 12. Existe essa obrigao legal de haver certificao das mquinas. S que nem o Inmetro e nenhum outro rgo esto certificando, diz. Ela acres-centa que, nesse sentido, os empres-rios comemoraram a criao e aguardam as aes do CI Mquinas (Comit Inter-ministerial de Segurana de Mquinas e Equipamentos), com representao dos ministrios do Trabalho, do Desenvolvi-mento, Indstria e Comrcio Exterior e da Fazenda, criado pela Portaria 8, de 25 de setembro de 2014. Alm de acompa-nhar e oferecer subsdios ao processo de discusso da norma, auxiliando o trabalho

    da CNTT, esse comit debater programas de renovao do parque instalado e a cer-tificao de mquinas e equipamentos.

    O novo comit tambm ser respons-vel por atividades voltadas importao de equipamentos e mquinas adequadas s exigncias da NR 12. Conforme infor-maes da Assessoria de Imprensa do MTE, o CI Mquinas foi instalado e fez apenas uma reunio ainda em 2014.

    A gerente do Jurdico Estratgico da FIESP afirma que a bancada patronal quer que os debates na CNTT sejam retomados o quanto antes e que sejam consideradas as propostas dos empresrios. Precisa-mos que a NR 12 de 2010 seja suspensa, permanecendo em vigor a norma antiga enquanto no for concluda a reviso na CNTT com o apoio do novo Comit Inter-ministerial de Segurana de Mquinas e Equipamentos. Esse comit est no nvel de secretariado, no s tcnico, como na CNTT, e tem toda uma viso econmica que no foi abordada quando foi constru-da a norma de 2010. Uma viso de custo para o empresrio do impacto social des-sa norma, avalia.

    AJUSTESAo mesmo tempo, por meio de suas en-

    tidades sindicais e federaes, o empresa-riado nacional est se mobilizando no sen-tido de buscar informaes e se adaptar NR 12. Temos feito seminrios de escla-recimento para os empresrios, eles tm buscado informaes no Sesi e no Senai, entidades com um papel muito importan-te nessa transio. O Senai tem assessoria tcnica para adaptao, tem capacitao para o industririo. Mas realmente existe a esperana de que essa norma seja revi-sada de uma forma mais racional, afirma. Luciana acrescenta que tambm neces-srio que o governo d linhas de crdito e financiamento para a troca de mquinas que precisam ser substitudas.

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    Luciana: linha de corte temporal

    Mudana necessriaAdequar ou implantar protees pode representar a continuidade do negcio

    O coordenador tcnico de Sade do Trabalho do Departamento de Seguran-a e Sade do Trabalhador do Sindica-to dos Metalrgicos de So Paulo, o TST Adonai Ribeiro, afirma que a nova NR 12 representa para o trabalhador uma espe-rana sobre a possibilidade de operar m-

    quinas realmente protegidas e de poder trabalhar sem o risco de perder braos, mos, dedos e, muitas vezes, a prpria vi-da. Nosso parque industrial passou dca-das sem uma preocupao concreta com implantao de melhorias, exceo da-quelas que contemplassem o fomento da

  • MARO / 201570 REVISTA PROTEO

    PROTEO DE MQUINASde parte dos empresrios, ao estabelecer um plano de negcio, jamais considerou a possibilidade de incluir a SST no prprio negcio; ja-mais a entendeu como um investimento. Sabemos das dificuldades econmicas pelas quais muitas empre-sas passam, mas investir re-cursos financeiros e tecno-lgicos na adequao ou na implantao de protees nas mquinas e equipamentos represen-ta, muitas vezes, a continuidade do ne-gcio, avalia. Para ele, as organizaes que permitirem a depreciao exacerba-da e o sucateamento de suas mquinas te-ro, em algum momento, dificuldade para acompanhar os concorrentes, perdero no tempo e na qualidade, nos custos e na

    sobrevivncia no mercado glo-balizado.

    SABOTAGEMEstou meio pasmo com a

    atitude suicida da CNI, que trabalha no sentido de boico-tar, de sabotar, as melhorias da NR 12 que so favorveis aos empresrios. Trabalha, portanto, contra os interesses de seus prprios representa-dos, afirma o procurador do Trabalho Ricardo Garcia, re-presentante do MPT na CNTT da NR 12. Garcia afirma que, passados mais de quatro anos da promulgao da nova nor-ma, j existem solues muito mais simplificadas que s no esto na norma ainda porque os empresrios no querem. A cincia j descobriu vrias situaes e mesmo a aplicao da norma j desvendou que no so necessrias algumas protees. Foram inclusive aceitos pedidos de empre-sas que esto se adequando. Existem mais propostas pa-ra serem discutidas e podem surgir muitas mais. No tem um nmero limitado. Mas a CNTT no consegue aprovar nada que possa favorecer as indstrias porque sua repre-sentao sindical no quer mais discutir e aprovar nada,

    Aida: texto de 2010 em vigor

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    IVO

    Ribeiro: cultura de preveno

    Tabela 1 Agentes causadores *

    Fonte: MTE e MPAS com base na CAT (Comunicao de Acidente de Trabalho)* Perodo: 2011 a 2013** NIC (no identificado ou classificado)

    Mquina/equipamento Ndeacidentes %

    Ferramenta, mquina, equipamento, veculo** 49.125 22,14

    Mquina** 40.396 18,21

    Serra (mquina) 14.130 6,37

    Prensa (mquina) 12.583 5,67

    Furadeira, broqueadeira, torno, fresa 8.339 3,76

    Mquina de embalar ou empacotar 6.041 2,72

    Mquina agrcola 5.686 2,56

    Mquina txtil 4.869 2,19

    Laminadora, calandra (mquina) 4.630 2,09

    Politriz, lixadora, esmeril (mquina) 4.456 2,01

    Cortadeira, guilhotina (ferramenta porttil) 4.391 1,98

    Correia (dispositivo de transmisso de energia) 4.195 1,89

    Esmeril (ferramenta porttil) 3.429 1,55

    Serra (ferramenta porttil) 3.323 1,50

    Equipamento de guindar 3.260 1,47

    Elevador (equipamento de guindar) 3.238 1,46

    Corrente, corda, cabo (dispositivo de transmisso) 3.214 1,45

    Misturador, batedeira, agitador (mquina) 3.151 1,42

    Engrenagem (dispositivo de transmisso de energia) 3.112 1,40

    Mquina de costurar e de pespontar 3.055 1,38

    Tesoura, guilhotina, mquina de cortar 3.014 1,36

    Britador, moinho (mquina) 2.773 1,25

    Mquina de fundir, forjar, soldar 2.587 1,17

    Tambor, polia, roldana (dispositivo de transmisso) 2.479 1,12

    Dispositivo de transmisso de energia mecnica 2.377 1,07

    Motor, bomba, turbina** 2.184 0,98

    Macaco (mecnico, hidrulico, pneumtico) 1.963 0,88

    Transportador com fora motriz 1.823 0,82

    Mquina de imprimir 1.526 0,69

    Motor eltrico (equipamento) 1.507 0,68

    Plaina, tupia (mquina) 1.490 0,67

    Mquina de aparafusar (ferramenta porttil) 1.421 0,64

    Mquina de terraplanagem e construo de estrada 1.344 0,61

    Outros 10.732 4,84

    TOTAL 221.843 100

    produtividade e da qualidade, o que cer-tamente significava maior lucratividade, avalia. Ele acrescenta que, com a verso atual da norma regulamentadora, foram percebidos novos conceitos, gerados por uma negociao tripartite (importante ressaltar), que gradativamente mostra-vam o surgimento de uma nova cultura de fazer proteo. Isso acabou por gerar conflitos de interesse. Ribeiro afirma que a atitude da bancada patronal est sendo uma decepo de grandes propores aos trabalhadores. Mostra a preocupao de grande parte dos empregadores quanto integridade fsica daqueles que colaboram para com o sucesso dos seus empreendi-mentos, ironiza.

    Para o tcnico, a ausncia de uma cul-tura de SST ainda o principal obstculo no Brasil para que a modernizao do par-que fabril se torne uma realidade. Gran-

    ela quer revogar a norma. E est conse-guindo bloquear a negociao ao mesmo tempo em que trabalha para a suspenso da vigncia da NR 12, afirma. Conforme o procurador, uma suspenso da NR 12 estabeleceria o caos legislativo. Porque haveria um critrio de fiscalizao da lei em cada regio do pas ou, no mesmo lu-gar, auditores fiscais cada um com um cri-trio diferente, ilustra.

    Conforme o procurador, a nova NR 12 rene normas europeias, brasileiras e do Mercosul. Coloca o Brasil em um pata-mar internacional um pouco abaixo do eu-ropeu, mas similar ao do Mercosul, para proteger os fabricantes de mquinas bra-sileiros e estabelecer um padro igualit-rio, que algo que a OIT (Organizao In-ternacional do Trabalho) vem fazendo em todo o mundo, no s no Brasil, afirma. O procurador tambm afirma que no existe nenhum clculo que mostre previamen-te os custos de adaptao. O que existe ainda so incompreenses da norma por parte dos empresrios e dos profissionais que acabam fazendo algumas coisas que no so to necessrias. E sempre tem aquele que faz mais para cobrar mais. Isso do mercado. O fato que encontramos oramentos de adequao de mquinas de empresas grandes no valor de R$ 10 a 20 milhes e, quando fomos planilhar os da-dos para poder viabilizar as mudanas, os nmeros no chegaram a 10% desse valor. Percebe-se que tem muito mais discurso que realidade, acredita.

    FISCALIZAOConforme a coordenadora da CNTT, re-

    presentante da bancada do governo fede-ral, a auditora fiscal do Trabalho Aida Cris-tina Becker, as fiscalizaes relativas NR 12 continuam andando normalmente com base no texto aprovado em 2010. Gos-taramos de ter resolvido as pendncias que precisam realmente de atualizao na

  • REVISTA PROTEO 71MARO / 2015

    Tabela 2 Local do corpo afetado *

    Fonte: MTE e MPAS com base na CAT (Comunicao de Aci-dente de Trabalho)* Perodo: 2011 a 2013** NIC (no identificado ou classificado)

    Partes Ndeacidentes %

    Dedo 121.698 54,86

    Mo 26.592 11,99

    P 9.514 4,29

    Antebrao 6.900 3,11

    Brao 6.790 3,06

    Perna 6.451 2,91

    Cabea 6.302 2,84

    Membros superiores ** 4.055 1,83

    Punho 3.639 1,64

    Olho 3.559 1,60

    Dorso 3.304 1,49

    Joelho 3.047 1,37

    Ombro 2.429 1,09

    Face 2.218 1,00

    Membros inferiores ** 1.848 0,83

    Articulao do tornozelo 1.604 0,72

    Partes mltiplas 1.593 0,72

    Trax 1.179 0,53

    Coxa 1.152 0,52

    Cotovelo 1.039 0,47

    Artelho 999 0,45

    Abdome 990 0,45

    Boca 752 0,34

    Tronco 702 0,32

    Nariz 539 0,24

    Outros 2.948 1,33

    TOTAL 221.843 100

    NR 12, porque isso afeta um pouco nosso cronograma de treinamentos, mas, como no foi possvel, segue a fiscalizao com o texto que est em vigor. Temos tam-bm previstas algumas auditorias em fei-ras, como ocorre todos os anos, e alguns projetos diretamente nos fabricantes pa-ra sanar alguns pontos j identificados, complementa.

    Conforme dados da CGFIP (Coordena-o Geral de Fiscalizao e Projetos) da DSST (http://portal.mte.gov.br/seg_sau/fiscalizacao-em-sst.htm), as fiscalizaes relacionadas NR 12 vm crescendo ano a ano. De janeiro a dezembro de 2007, resultaram em 6.348 notificaes, 10 em-bargos e 559 interdies. No mesmo pe-rodo de 2011, foram 9.907 notificaes, 16 embargos e 719 interdies. Em 2013, no mesmo perodo, foram 16.904 notifi-caes, 77 embargos e 1.634 interdies. De janeiro a outubro de 2014 (dados par-ciais), os nmeros foram, respectivamen-te, 15.552, 96 e 1.684.

    ACIDENTESLevantamento realizado pelo MTE com

    base na CAT (Comunicao de Acidente de Trabalho), de 2011 a 2013 (http://por-tal.mte.gov.br/seg_sau/), registra 221.843

    acidentes de trabalho com mquinas e equipamentos no Brasil. Do total, 601 re-sultaram em bitos, 13.724 em amputa-es e 41.993 em fraturas. So Paulo foi o Estado com o maior nmero de acidentes do gnero, 90.098; seguido de Minas Ge-rais, 23.086 e Rio Grande do Sul, 19.750. As partes do corpo humano mais afeta-das so os dedos (121.698 acidentes) e as mos (26.592). As mquinas que mais representam perigo conforme as estats-ticas so a serra (14.130 acidentes) e a prensa (12.583). Confira mais detalhes sobre os equipamentos que mais provo-cam acidentes e sobre as partes do cor-po mais afetadas nas Tabelas 1, Agentes causadores, e 2, Local do corpo afetado. Os nmeros realmente demonstram a necessidade de uma norma que proteja os trabalhadores em relao seguran-a das mquinas, que preciso agir para modificar a situao. Esses dados tam-bm representam um custo enorme para o trabalhador e a famlia, para as empre-sas e a Previdncia Social, afirma o coor-denador geral de Fiscalizao e Projetos do DSST (Departamento de Sade e Se-gurana do Trabalho) da SIT (Secretaria de Inspeo do Trabalho) do MTE, Fer-nando Vasconcelos.

  • MARO / 201572 REVISTA PROTEO

    PROTEO DE MQUINAS

    Um novo conceitoCusto de adequao, produtividade e segurana devem ser considerados

    O engenheiro Mecnico e de Segurana do Trabalho Joo Baptista Beck Pinto, proprietrio da empresa de consultoria ASTB (Assesso-ria em Segurana do Traba-lho), de Canoas/RS, partici-pou de reunies da CNTT pela Abimaq/RS (Associa-o Brasileira da Indstria de Mquinas e Equipamen-tos). Ele lembra que a nova NR 12 nasceu da necessida-de de se ter uma legislao de Segurana no Trabalho em mquinas e equipamen-tos de abrangncia nacional. Para ele, o principal avano da norma que ela traz um conceito de segurana que no existia antes. Hoje, quando se fala em sistema de segurana, no mais falar de um bo-to para parar uma mquina ou coisa do gnero. preciso ter uma confiabilidade muito alta, e isso se consegue por meio de conceitos como redundncia, moni-toramento e taxa de falha, afirma. Para o engenheiro, as novas exigncias foram um choque para o Brasil, que no estava acostumado com uma tecnologia em se-gurana de mquinas atualizada. Segundo ele, a ideia todo mundo sair ganhando com as mudanas: o trabalhador e o do-no da empresa. S que nem sempre es-se argumento convence algum a investir, porque o acidente uma possibilidade e o investimento, muitas vezes de somas al-tas, uma realidade, complementa. Mas no vejo volta nesse caminho, porque os pases esto migrando para ele e um re-trocesso vai contra todos os princpios da SST, avalia.

    Conforme Joo Baptista, vrias em-presas brasileiras esto no caminho da a-dequao, mas a grande maioria ainda es-t pensando no que fazer ou nem conhece a NR 12. O primeiro passo entend-la. Em minhas palestras sobre o tema, no fi-nal, o pblico v que o bicho no era to feio como parecia. um trabalho forte e lon go, sim, mas, muitas vezes, o pessoal pensa que precisa mais coisas do que re-almente necessrio. H exigncias espe-cficas para os diferentes setores. No tudo para todos. preciso considerar as caractersticas tcnicas da mquina, do

    processo e as solues tc-nicas disponveis, orienta.

    PARA COMEARPara colocar em pr-

    tica a adequao NR 12 sem traumas, Joo Baptis-ta aconselha as empresas a comearem com aes baratas que tenham resul-tados imediatos visveis e significativos. A NR 12 realmente bastante tcnica

    e complexa e tem muitos requisitos, po-rm existem algumas aes que so mais simples, custam menos e do resultados mais rpidos, que justamente a proteo fsica, que impede o acesso do traba lhador a uma zona perigo sa. So chapas, telas, ou se ja, serralheria, que normalmente cus-ta pouco dinheiro, com valor muito mais baixo do que colocar sistemas eletrnicos mais complexos, exemplifica. Aconselha, no entanto, que essas adequaes sejam discutidas entre projetistas, instalado-res e usurios para que a melhor soluo seja realmente encontrada. No processo de adequao s exigncias como um to-do, o consultor ressalta a importncia da equipe de projetos, como os engenheiros mecnicos, eletricistas e eletrnicos. Es-sa turma precisa conhecer a fundo a NR 12, ressalta. O engenheiro mecnico vai trabalhar nas protees fsicas e os enge-nheiros eletricistas e eletrnicos vo tra-balhar com os comandos de segurana, que mudaram muito.

    CONHECIMENTOO engenheiro mecnico Walter Lus

    Knzel, proprietrio da B&K Consultoria e Projetos em Engenharia Mecnica (Brao do Norte/SC), ps-graduado em Gerencia-mento de Projetos, tambm ressalta a im-portncia do conhecimento no processo de adequao das empresas NR 12. Pa-ra ele, so necessrios especialistas que, de fato, entendam do assunto e possam ajudar as indstrias em trs aspectos: custos de adequao, produtividade aps adequao norma e, principalmente, se-gurana dos trabalhadores. Tenho visto trabalhos de adequao em mquinas que tornam o processo totalmente improduti-

    vo e ainda geram riscos adicionais no vi-sualizados. De certa forma o equipamento fica seguro, porm ineficaz e com custos de adequao exagerados, afirma.

    Knzel acredita que o maior impasse no Brasil a questo cultural. Vejo muitos casos em que as empresas no sabiam da existncia de algumas NRs mesmo com responsveis tcnicos no seu estabeleci-mento. Isso crtico, pois expe o traba-lhador a riscos e o empresrio a autua-es. preciso cobrar dos tcnicos essas responsabilidades, frisa. Por outro lado, h os bons exemplos. O engenheiro con-ta que, recentemente, foi contratado para fazer anlise de riscos numa indstria da sua regio e ficou interessado em conhe-cer os motivos da empresa querer se ade-quar NR 12 mesmo sem ter sido notifi-cada. Chegando l, viu que o proprietrio era amputado, num total de cinco dedos, em ambas as mos, resultado de um aci-dente h dois anos numa das mquinas da empresa fabricada antes de 2010. Trata-se de uma empresa que, de fato, sabe os resultados negativos de um acidente em mquina e pretende fazer algo para mu-dar essa situao, observa.

    NO CAMINHOEnquanto isso, por meio de iniciativas

    prprias ou setoriais, empresas j esto no caminho da adequao. o caso da Ce mar Legrand (Caxias do Sul/RS), es-pecializada em sistemas de instalao eltrica e de comunicao. Antes mesmo da publicao da nova verso da NR 12, a empresa j desenvolvia uma cultura de segurana dos trabalhadores em mqui-nas e equipamentos. Por isso, no houve grande impacto no recebimento das novas exigncias legais. A reviso da NR 12 foi positiva, pois forneceu maior riqueza de detalhes, muitos pontos que no consta-vam na anterior e que auxiliam na deciso da proteo correta para cada categoria e tipo de mquina e equipamento, afirma a tcnica em Segurana do Trabalho da Le-grand, Carolina Kliemann Boeira.

    Carolina conta que a adequao come-ou em 1999, na proteo de ferramen-tas de estampagem, com aes simples de proteo mecnica de maneira que o fun-cionrio no tivesse condies de acessar a zona de risco. Atualmente, a Legrand utiliza o procedimento chamado de An-lise de Projeto, para reforma e compra de mquinas e equipamentos. Participam re-presentantes das reas de Segurana do

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    Beck: solues tcnicas

  • REVISTA PROTEO 73MARO / 2015

    Trabalho, Processo, Manuteno, Opera-o de Mquina e Gesto. O objetivo do grupo eliminar ou reduzir os riscos ao mximo. Temos tido grande xito, pois

    todos envolvidos do seu parecer e h um consenso, mas sempre atendendo segurana, complementa.

    A empresa enquadrada como metalrgica. Possui em seu parque fabril equi-pamentos como guilhoti-nas, prensas (excntricas e hidrulicas), dobradei-ras, mquinas de solda, in-jetoras, extrusoras. A prio-rizao da adequao, tro-ca ou desativao ocorre de acordo com a categoria de risco de cada mquina. Somos desafiados a en-contrar solues inovado-ras e tambm recebemos apoio e ideias de solues do MTE e de fornecedo-res, diz Carolina. Como exemplo, ela cita o caso de uma ponteadeira de solda que precisava ser adequa-da. No primeiro momento,

    buscamos o mtodo convencional, porm iria comprometer de maneira invivel a produtividade. Ento foi lanado o desa-fio. Juntamente com a rea de processo e

    apoio do MTE, encontramos uma soluo diferente e a mquina est adequada fo-ra do mtodo convencional, conta. Con-forme a TST, o parque fabril da Legrand estar totalmente adequado NR 12 em 2017 de acordo com o cronograma da em-presa. Os investimentos para adequaes esto previstos em nosso oramento com o objetivo de termos um parque fabril se-guro, afirma Carolina.

    AJUSTE DE CONDUTAOutra empresa de Caxias do Sul/RS que

    est se adaptando a FNA (Fbrica Na-cional de Amortecedores). Aps a ocor-rncia de um acidente de trabalho, houve inspeo da Auditoria Fiscal do Trabalho, que notificou a empresa e comunicou o MPT (Ministrio Pblico do Trabalho). Foi ento firmado um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) e a empresa assumiu a responsabilidade pela implementao da NR 12. Conforme o gerente industrial, Ro-bledo Linck, as primeiras mudanas ocor-reram antes mesmo da publicao da nova NR 12, com a aquisio de novas prensas previstas pela Nota Tcnica 37/2004. A adequao NR 12 especificamente co-meou em outubro de 2012 atravs da contratao de dois profissionais, um

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    Cemar Legrand: soluo inovadora para ponteadeira de solda

  • MARO / 201574 REVISTA PROTEO

    PROTEO DE MQUINASGiasson. O cronograma da empresa tem concluso das adequaes prevista para dezembro de 2015. Conforme dados da di-reo, a empresa j investiu R$ 1,2 milho nas mudanas alm dos investimentos hu-manos. Giasson conta que, inicialmente, a empresa entendeu a nova NR 12 como um alto investimento com retorno a longo prazo, porm logo foi percebida a melho-ra no ambiente de trabalho, com empre-gados trabalhando de forma mais segura.

    A diretora da FNA, Roberta Labatut, afirma que seria de fundamental impor-tncia o governo lanar um programa de apoio s empresas. Hoje h diversas em-presas que no esto adequadas por cau-sa do alto custo e da falta de orientao, acrescenta. Outra questo que a preocupa que muitos fabricantes de equipamen-tos ainda os fornecem fora das normas. H tambm a questo das mquinas im-portadas, adquiridas de pases com tec-nologia superior nossa, como Canad e Alemanha, que no possuem normas to rgidas como a nossa. Esses equipamen-tos, alm de passarem por um processo muito lento para aquisio, aps sua che-gada, levam, mais algum tempo para sua adequao antes de serem colocados para produo, relata.

    serralheiro e um tcnico em manuteno industrial. Tambm foi contratada uma empresa especializada, com engenheiros de segurana e eletricista, para fazer a anlise do risco das mquinas e dos equi-pamentos e a emisso dos laudos e ART (Anotao de Responsabilidade Tcnica).

    A FNA possui em seu parque fabril prensas excntricas, injetoras, tornos, retficas, mquinas de solda eltrica, fu-

    radeiras, laminadoras, politriz, centro de usinagem e mquinas especficas ao ramo de atividade de amortecedores e molas a gs. Todas as mquinas e equipamentos necessitam de adequao por terem sido fabricadas antes do ano de 2010. As ad-quiridas aps essa data somente entram em funcionamento aps adequao da NR 12 ou emisso da ART e laudo do fabri-cante, afirma o TST da empresa, Moacir

    Liminar em SC alivia aplicao da NR 12 O Sindicato da Indstria da Madeira de Caa-dor, Santa Catarina, obteve, dia 18 de janeiro passado, liminar na Vara do Trabalho de Caa-dor assegurando a aplicao da NR 12 vigente at 24 de dezembro de 2010 para mquinas e equipamentos adquiridos at aquela data. A deciso emitida pelo juiz Etelvino Baron es-tabelece que somente equipamentos obtidos aps 2010 devem seguir os preceitos da nova redao do regulamento. Tambm determina que o MTE se abstenha de fazer fiscalizaes coletivas ou de forma indireta. Com isso, fiscais no podem autuar empresas sem visitar as ins-talaes.

    JUSTIFICATIVA A liminar, primeira do pas em relao aplica-o da norma, se estende somente s indstrias associadas ao sindicato. A ao foi impetrada com o apoio da FIESC (Federao das Inds-

    trias de Santa Catarina.Em sua argumentao, o juiz alegou que, em algumas situaes, os investimentos para ade-quao nova regra podem comprometer a viabilidade da prpria empresa, atentando con-tra o princpio da razoabilidade, o que fecharia postos de trabalho, alm de prejudicar a ordem econmica. O magistrado tambm entende que nenhum empregador srio deixar de ampliar os mecanismos de segurana quando vivel. Se no o for em respeito ao princpio da dignidade humana, certamente, o far para se resguardar em face dos pleitos indenizatrios que adviro. Em nota, a AGU (Advocacia Geral da Unio) comunica: A demanda est sendo acompanha-da pela unidade da AGU em Chapec/SC com o objetivo de defender o interesse pblico en-volvido. Em relao referida deciso liminar, as medidas processuais cabveis sero adotadas no prazo legal.