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| André Filipe Almeida da Cunha

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CASE

REPORT

Doença de Charcot-Marie-Tooth Nefropatia de IgA

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar

André Filipe Almeida da Cunha

Mestrado Integrado de Medicina

Ano lectivo 2009/ 2010

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

2

Índice

Resumo/ Summary --------------------------------------------------------------------------------------- 3

Introdução -------------------------------------------------------------------------------------------------- 4

o Doença de Charcot-Marie-Tooth ----------------------------------------------------------- 4

o Nefropatia IgA ---------------------------------------------------------------------------------- 5

Epidemiologia ------------------------------------------------------------------------ 5

Fisiopatologia ------------------------------------------------------------------------- 5

Morfologia Renal -------------------------------------------------------------------- 6

Clínica ---------------------------------------------------------------------------------- 7

Tratamento --------------------------------------------------------------------------- 8

Caso Clínico ------------------------------------------------------------------------------------------------ 9

o Ecografia Abdominal ------------------------------------------------------------------------- 10

o Ecografia Renal -------------------------------------------------------------------------------- 10

o Estudo Genético ------------------------------------------------------------------------------ 10

o Biopsia Renal ---------------------------------------------------------------------------------- 10

o Curso Clínico ----------------------------------------------------------------------------------- 11

Discussão ------------------------------------------------------------------------------------------------- 11

Abreviaturas ---------------------------------------------------------------------------------------------- 13

Agradecimentos ----------------------------------------------------------------------------------------- 14

Bibliografia ----------------------------------------------------------------------------------------------- 14

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

3

---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Case Report

Doença de Charcot-Marie-Tooth e Nefropatia de IgA

Charcot-Marie-Tooth disease and IgA Nephropathy

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Cunha, André Filipe Almeida da

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar - Mestrado Integrado de Medicina

Junho de 2010

Resumo

A doença de Charcot-Marie-Tooth (CMT) engloba um conjunto de neuropatias hereditárias

causadas por mutações dos genes que codificam as proteínas da mielina periférica provocando

defeitos na sua estrutura, manutenção e formação. As características clínicas e patológicas

destas variantes são semelhantes, e incluem uma atrofia muscular lenta e progressiva, com

alterações da sensibilidade dos membros.

A nefropatia por IgA (NIgA) é a forma mais comum de glomerulonefrite primária. Tem

um pico de incidência na terceira década de vida, é mais comum nos homens, nos Caucasianos

e nos Asiáticos. Geralmente é idiopática, contudo pode associar-se a patologia sistémica ou

apresentar carácter heredo-familiar. Esta doença é mediada por complexos imunes e definida

pela presença de depósitos glomerulares de IgA aos quais geralmente se associam depósitos

de C3 e por vezes de IgG. Apresenta grande variedade de lesões histopatológicas, havendo

sempre expansão mesangial. Nos casos graves pode haver proliferação difusa, crescentes

celulares, inflamação intersticial e áreas de glomeruloesclerose focal. Normalmente os doentes

apresentam-se com hipertensão, hematúria e proteinúria, podendo evoluir para insuficiência

renal crónica terminal.

Apresenta-se um homem com doença de CMT desde os 20 anos, portador de mutação

não amiloidogénica da transtirretina (TTR), microhematúria, proteinúria de 300 mg/dL e

função renal normal há 10 anos. A biopsia renal revelou nefropatia de IgA com padrão

mesangiopático, sem depósitos de amilóide.

A associação de CMT e nefropatia é rara estando descritos casos de

glomeruloesclerose focal e nefropatia fibrilar. A associação entre esta neuropatia e NIgA nunca

foi relatada. Será abordada esta relação e seus mecanismos fisiopatológicos.

Palavras-chave: Charcot-Marie-Tooth. Nefropatia IgA. Gene.

Summary

The Charcot-Marie-Tooth´s (CMT) disease comprises a group of hereditary

neuropathies caused by mutations of genes encoding proteins of peripheral myelin causing

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

4

defects in its structure, maintenance and formation. The clinical and pathological features of

these variants are similar and include a slowly progressive muscular atrophy, with changes in

sensitivity of members.

The IgA nephropathy (NIgA) is the most common form of primary glomerulonephritis.

Has a peak incidence in the third decade of life, is more common in men, Caucasians and

Asians. It is usually idiopathic, but may be associated with systemic pathology or present

Hereditary-familial character. This is a disease mediated by immune complexes, defined by the

presence of glomerular IgA deposits which are usually associated with deposits of C3 and some

times of IgG. It a great variety of histopathological lesions, but there is always mesangial

expansion. In severe cases there may be diffuse proliferation, cellular crescents, interstitial

inflammation and areas of focal glomerulosclerosis. Typically patients present with

hypertension, hematuria and proteinuria and may progress to end-stage renal failure.

The author presents a man with CMT disease since 20 years, suffering from non

amyloidogenic transthyretin (TTR) mutation, microhematuria, proteinuria of 300 mg / dL and

normal renal function 10 years ago. The renal biopsy revealed IgA nephropathy with standard

mesangiophatic without amyloid deposits.

The association of CMT and nephropathy is rare and few cases are described cases

with focal glomerulosclerosis, and fibrillary nephropathy. The association between this

neuropathy and NIgA has not been reported so far. In this presentation it will be addressed

this relationship and its causes.

Key words: Charcot-Marie-Tooth disease. IgA Nephropathy. Gene.

Introdução

A neuropatia de Charcot-Marie-

Tooth (CMT), compreende um grupo

heterogéneo de doenças hereditárias do

sistema nervoso periférico. A transmissão é

frequentemente autossómica dominante,

contudo também pode ser autossómica

recessiva ou ligada ao X. Trata-se da

neuropatia sensitivo-motora primária

hereditária mais comum, com uma

incidência estimada de 1/2500 pessoas1.

As características clínicas e

patológicas incluem uma atrofia muscular

lenta e progressiva, com fraqueza e perda

de sensibilidade dos pés e pernas seguido

pelo envolvimento das mãos, ocorre ainda

uma diminuição dos reflexos tendinosos.

Os sintomas e sinais comuns estão

relacionados com a fraqueza e atrofia

muscular, havendo normalmente uma

história de marcha parética com

“steppage”. As queixas resultantes da

deformidade dos pés (pé cavo ou com

grande curvatura) são devidas à atrofia dos

músculos intrínsecos dos pés. Apesar do

envolvimento sensorial, as queixas

sensitivas são raras2.

O início é mais frequente durante a

primeira ou segunda décadas de vida,

embora possa aparecer mais tarde. A

variação na apresentação clínica é bastante

ampla, desde aqueles que são

praticamente assintomáticos até aqueles

que com atrofia distal grave e com

deformidades marcadas3.

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

5

Actualmente, não existem terapias

que possam prevenir o início ou a

progressão da incapacidade associada a

esta doença.

A neuropatia de CMT é subdividida

em tipo I e em tipo II, tendo por base

critérios electrofisiológicos e

neuropatológicos. Sendo que o tipo I trata-

se de uma neuropatia desmielinizante

caracterizada por uma velocidade de

condução nervosa motora e sensorial baixa

(<38 m/s) e achados patológicos de

neuropatia desmielinizante hipertrófica. O

tipo II trata-se de uma neuropatia axonal

com uma velocidade de condução nervosa

motora e sensorial normal ou ligeiramente

reduzida, com preservação relativa da

bainha de mielina4.

A associação entre nefropatia e

CMT é pontual. Os poucos doentes

documentados com doença renal

apresentaram glomerulosclerose focal e

segmentar e nefropatia fibrilar.

Descrevemos um caso de CMT que cursou

com nefropatia de IgA (NIgA) e revemos a

fisiopatologia a morfologia desta doença.

Os aspectos clínicos relevantes também

serão abordados.

Epidemiologia_______________________

A NIgA é uma das doenças

glomerulares mais comuns em todo o

mundo e responsável por 20 a 40% das

glomerulopatias primárias. Afecta

indivíduos de todas as idades, mas é

diagnosticada mais frequentemente em

crianças e jovens adultos, nomeadamente

do sexo masculino. A frequência desta

doença varia substancialmente nos vários

países do mundo, sendo mais comum nos

Asiáticos e nos Caucasianos5. Porém esta

discrepância pode reflectir apenas uma

diferença de critérios na pertinência de

biópsia renal em casos de microhemtúria6.

Ocasionalmente a NIgA pode afectar vários

membros da mesma família, contudo esta

predisposição familiar é rara. O

envolvimento familiar e diferenças clínicas

entre grupos étnicos sugerem que a NIgA

pode abranger vários subgrupos de

doenças que não são passíveis de distinção

pelas ferramentas clínicas disponíveis. Esta

variabilidade sugere a existência de genes

de susceptibilidade com frequência

variável nessas populações. Os dados

recentes indicam que defeitos de

glicosilação da IgA1 são herdados e

constituem um factor de risco para NIgA

hereditária. O mapeamento dos genes de

susceptibilidade da doença tem-se

revelado difícil não tendo sido até agora

identificada nenhuma mutação específica.

Alguns dos genes candidatos nas doenças

renais potencialmente hereditárias

incluindo a NIgA são aqueles que codificam

a nefrina e a podocina6.

Fisiopatologia_______________________

Apesar da intensa investigação, a

patogénese da NIgA continua obscura.

Numerosas alterações foram descritas,

tanto a nível renal quanto a nível

circulatório com em outros órgãos. Os

achados da imuno-histologia e da

microscopia electrónica suportam a

hipótese de uma doença mediada por

imuno-complexos. Além disso, a

recorrência da nefropatia em

transplantados renais, o aumento dos

níveis de IgA1 e a presença de depósitos de

IgA1, sugerem que estes imuno-complexos

derivam do plasma. Assim vários

mecanismos foram propostos para tentar

esclarecer como se desenvolve a NIgA7.

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

6

A IgA é uma imunoglobulina

secretada nas superfícies mucosas,

alcançando um nível reduzido na circulação

sistémica. Um aumento nos níveis de IgA

circulantes foi documentado em alguns

doentes, principalmente durante os

períodos de exacerbação. No entanto, as

tentativas de correlacionar os níveis destes

complexos com a actividade da doença não

são consistentes. Sabe-se que o nível

plasmático aumentado de IgA, por si só

não é suficiente para produzir a sua

deposição mesangial, daí esta ser atribuída

a moléculas de IgA com características

anormais8.

Existem evidências crescentes de

que a anomalia molecular nos doentes com

NIgA envolve um defeito na galactosilação

da região flexível (hinge region) da IgA1. A

IgA presente nos depósitos glomerulares

pertence à subclasse IgA19,10. Em alguns

doentes, também tem sido descrita uma

alteração da sialilação da IgA110. Estudos

recentes têm mostrado estas anomalias da

Ο-galactosilação das IgA´s tanto a nível

circulatório, quanto a nível dos depósitos

glomerulares. Uma IgA urinária

anormalmente galactosilada tem sido

descrita nos doentes com NIgA, mas não

naqueles com outras formas de doença

glomerular11.

Outra possível contribuição para o

aumento dos níveis de IgA circulantes e sua

deposição glomerular é a sua deficiente

depuração. A redução no catabolismo de

IgA pelos leucócitos na NIgA foi outra das

hipóteses colocadas12. Assim, a taxa de

deposição pode exceder a capacidade de

depuração da IgA glomerular ou há

resistência à depuração mesangial. No

entanto, sabe-se que os depósitos não são

irreversíveis, uma vez podem desaparecer

quando um rim de um dador com NIgA

subclínica é transplantado num receptor

que desenvolveu insuficiência renal de

outra causa.

Geralmente a NIgA não está

associada a grande infiltração celular dos

glomérulos, sugerindo que grande parte da

lesão glomerular é mediada pela expansão

das células glomerulares residentes. Isso

ocorre principalmente através da activação

induzida pelas IgA´s nas células mesangiais,

que lhes confere um fenótipo de células

pró-inflamatórias. Estudos recentes têm

demonstrado um aumento na ligação dos

complexos de IgA às células mesangiais,

particularmente de complexos que contêm

IgA1 pouco galactosilada. Esta ligação está

associada a um aumento da proliferação

mesangial, apoptose e aumento na síntese

de componentes da matriz extracelular. Os

complexos imunes de IgA e a IgA1

mesangial podem activar o complemento,

desencadear uma cascata inflamatória e

potenciar a lesão glomerular. No entanto, a

contribuição da activação do complemento

na lesão glomerular progressiva ainda não

é conhecida13.

Morfologia renal_____________________

Os depósitos de IgA também são

encontrados no mesângio glomerular

numa grande variedade patologias (tabela

1). Contudo, nestas situações não há

habitualmente uma inflamação glomerular

significativa nem disfunção renal não

devendo receber a designação de NIgA.

A imunohistologia é mandatória

para o diagnóstico da NIgA. Esta nefropatia

é uma glomerulonefrite mediada por

imunocomplexos, em que os depósitos de

IgA estão presentes em todos os

glomérulos, até naqueles que se mostram

normais à microscopia. Normalmente estes

depósitos surgem como massas

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

7

confluentes de alta intensidade. A

extensão para áreas para-mesangiais é

frequente, sendo menos comum nas áreas

periféricas. Outras imunoglobulinas (IgG e

IgM) também podem estar presentes,

nomeadamente em áreas de esclerose. O

C3 também costuma estar presente

assumindo praticamente a mesma

localização dos depósitos de IgA. A

ausência depósitos de C4 e C1q é de

extrema importância, uma vez que nos

permite distinguir a NIgA de outras nefrites

proliferativas. O fibrinogénio também pode

ser observado no mesângio14.

A microscopia electrónica permite-

nos verificar a presença de uma

proliferação com aumento da matriz e a

presença de depósitos electron-densos ao

nível mesangial. Estes depósitos também

podem ser observados ao nível dos

capilares glomerulares, tanto a nível

subendotelial como subepitelial15.

Tabela 1 - Patologias associadas a NIgA

Primária

Nefropatia de IgA (doença de Berger)

Sistémica

Púrpura de Henoch-Schönlein

Secundária

Doença hepática crónica Doença de Crohn Doença Celíaca Dermatite herpetiforme Psoríase Episclerite Sindrome de Sjögren Gamopatia monoclonal de IgA Carcinomas (pulmão, pâncreas, secretor de mucina) Micose fungoide Espondilite Anquilosante Doença de Reiter Lepra Toxoplasmose Infecção HIV Doença da membrana fina

Clínica______________________________

O desenvolvimento de hematúria

macroscópica, imediatamente após um

episódio de infecção respiratória superior

sugeriu que a NIgA se pudesse tratar de

uma complicação de tais infecções.

Contudo, nenhum organismo viral ou

bacteriano tem sido associado

consistentemente ao seu desenvolvimento.

Também foi apontado que a NIgA pudesse

surgir devido a uma hipersensibilidade a

antigénios alimentares, nomeadamente ao

glúten. No entanto, na maioria destes

doentes, não há qualquer tipo de evidência

de hipersensibilidade a alimentos. Neste

momento, há consenso de que a NIgA

geralmente se desenvolve em

consequência a uma resposta imune

aberrante com produção de IgA para uma

variedade de antigénios, quer sejam

microrganismos ou de origem alimentar13.

A biopsia renal continua a técnica

standard para o diagnóstico da nefropatia

IgA primária. Assim uma grande variedade

de lesões histológicas podem ser

observadas, tais como glomerulonefrite

proliferativa difusa, esclerose segmentar e

raramente necrose segmentar com

formação de crescentes celulares, que se

manifesta tipicamente como insuficiência

renal rapidamente progressiva14.

As duas manifestações mais

comuns são a hematúria macroscópica

recorrente durante ou imediatamente após

uma infecção do tracto respiratório

superior em crianças ou hematúria

microscópica assintomática observada

mais frequentemente em adultos. Entre os

episódios, o exame da urina é normal.

Quando a hematúria persiste, os níveis de

proteinúria aumentam, no entanto a

síndrome nefrótica é incomum. Raramente

os doentes podem apresentar-se com

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

8

insuficiência renal e um quadro

rapidamente progressivo15.

A NIgA é uma doença benigna para

a maioria dos doentes, ocorrendo

progressão para insuficiência renal em

cerca de 25 a 30% durante um período de

20 a 25 anos. De facto 5 a 30 % dos

doentes entram em remissão completa15.

Os factores de risco para a perda de função

renal incluem a presença de hipertensão,

proteinúria, a ausência de episódios de

hematúria macroscópica, o sexo masculino,

a idade mais avançada por ocasião do

início e alterações graves evidenciadas pela

biopsia renal16,17.

A evidência clínica e laboratorial

sugere grandes semelhanças entre a

púrpura de Henoch-Schönlein e a

nefropatia de IgA. Contudo, a púrpura

pode ser clinicamente diferenciada da

nefropatia, uma vez que esta apresenta

sintomas sistémicos proeminentes, uma

idade mais jovem (<20 anos), infecção

precedente e queixas abdominais18.

Tratamento_________________________

O tratamento ideal da NIgA é um

assunto controverso. O objectivo ideal do

tratamento seria corrigir quaisquer

defeitos da glicosilação da IgA1, modificar a

deposição e remover os depósitos de IgA.

No entanto, as opções actuais de

tratamento são abordagens mais

genéricas, que são comuns para uma

variedade de doenças glomerulares

crónicas. São direccionadas essencialmente

aos processos imunes e inflamatórios

situados tanto a nível glomerular como

tubulointersticial.

Uma vez que a NIgA pode levar a

doença renal terminal, isto tem servido de

estímulo à realização de vários estudos,

nomeadamente utilizando uma dieta sem

glúten, amigdalectomia, fenitoína para

reduzir os níveis séricos de IgA, danazol

para dissolver imunocomplexos,

cromoglicato de sódio para reduzir a

mucosa permeabilidade a antigénios,

antiplaquetários, anticoagulantes e outros.

Com estes tratamentos podemos obter

alguma redução da hematúria, dos níveis

séricos de IgA, e na circulação

imunocomplexos, mas não existem

evidências claras que possam interferir

com o avanço da doença19.

A maioria dos autores recomenda

apenas a observação dos doentes cuja taxa

de filtração glomerular (TGF) ainda não

está reduzida e que apresentam uma

proteinúria <1g/dia20. Em geral

prescrevem-se inibidores de enzima de

conversão da angiotensina (IECA´s) em

virtude do seu efeito protector renal nos

doentes com doença mais grave. Um

estudo clínico, sugeriu uma redução do

risco de insuficiência renal para a

administração prolongada (6meses) de

glicorticoides em altas doses nos doentes

com diminuição da TGF e com proteinúria

>1g21. Estudos clínicos controlados e

randomizados para avaliar a eficácia dos

óleos de peixe e forneceram resultados

divergentes quanto aos seus efeitos na

NIgA22. A eficácia de outros agentes

imunossupressores, como a ciclofosfamida

e o micofenolato de mofetil, ainda não está

comprovada. Em geral reservam-se estes

agentes para aqueles que apresentam uma

síndrome nefrítica ou glomerulonefrite

rapidamente progressiva, nos quais a

biopsia renal revela a formação agressiva

de crescentes e inflamação glomerular

proeminente.

Um esquema simplificado de

abordagem terapêutica para os doentes

com NIgA é apresentado na figura 1.

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

9

Caso Clínico

Um homem de 49 anos,

caucasiano, foi referido a Nefrologia por

microhematúria e proteinúria estimada em

300 mg/dL. Na segunda década de vida

apresentava neuropatia sensitivo-motora

periférica sendo estabelecido o diagnóstico

de CMT. Tinha uma história de infecções

cutâneas crónicas, recorrentes, nos

membros inferiores, no contexto da

expressão clínica da sua doença

neurológica. Como outros antecedentes

pessoais, oligoartrite reactiva do punho há

14 anos e osteomielites de ossos do tarso.

Mencionava o consumo esporádico de

anti-inflamatórios não esteróides e álcool.

Negava hipertensão arterial, edemas,

hematúria macroscópica e púrpura

cutânea. Sem história de exposição a

produtos tóxicos, nem consumo de drogas.

Como história familiar, apresenta vários

casos desta neuropatia na família,

nomeadamente o seu pai, tios paternos e

primos paternos. Porém, nos membros

afectados não existe qualquer tipo de

patologia renal conhecida.

Figura 1- Algoritmo com abordagens terapêuticas para doentes com NIgA13

. A terapêutica depende das características clínicas, dos achados patológicos e da idade do doente. Este algoritmo não inclui o tratamento da glomerulonefrite rapidamente progressiva. * Os doentes com características histológicas muito leves e com proteinúria moderada (UP / C <2,0) devem ser monitorizados, e o tratamento para a MCNS deve ser considerado se os níveis de UP / C permanecem elevados (UP / C >1,0). # Ao realizar tratamento imunossupressor, é necessário ter cuidado com os doentes e estadio 4-5 de DRC. Ω3AG, ácidos gordos ômega-3; IECA, inibidor da enzima conversora da angiotensina; ARA, bloqueador do receptor da angiotensina; TA, tensão arterial; DRC, doença renal crónica; DAM, Doença com alteração mínima; UP / C, razão proteína urinária / creatinina.

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

10

O doente apresentava-se normotenso,

apirético com bom estado geral e com os

seguintes resultados no estudo analítico

(tabela 2).

Ecografia abdominal__________________

Ligeira hepatomegalia (17,3cm) com

aumento difuso de ecogenicidade do

parênquima hepático.

Ecografia renal_______________________

Rins de tamanho normal, com boa

diferenciação parênquimo-sinusal, com

cálculos nos seios renais e quisto simples

no pólo inferior do rim esquerdo. Sem

dilatação pielo-calicial.

Estudo genético_______

Foi realizado o despiste

de mutações da TTR cujo

resultado demonstrou a

variante Thr119Met.

Biopsia renal_________

O exame

histológico revelou a

presença de glomérulos

esclerohialinizados, a

maioria com expansão

mesangial (ver figura 2).

Evidência de

escassas aéreas de

atrofia tubular

associadas a infiltrado

inflamatório crónico. O

estudo de

imunofluorescência

mostrou depósitos

granulosos de IgA, IgG e

C3 ao nível do mesângio

(ver figura 3). Ausência

de amilóide. A

classificação foi NIgA

com padrão histológico

de mesangiopático com lesões tubulo-

intersticiais leves.

Tabela 2 - Estudo Analítico

Sanguíneo

Hemoglobina (g/dl) 13,0 AST/ ALT (U/L) 15/ 15

Leucócitos (/µL) 93000 PCR (mg/dl) / VS

(mm3) 1,64 / 100

Plaquetas (/µL) 38,9 × 104 C3 / C4 (mg/dl) 160/ 31,4

Ferro (µg/dl) /

Ferritina (ng/ml) 40/ 84

Cadeias leves

Imunoglobulinas (κ

/ λ)

2,03

Transferrina (mg/dl) /

Sat. transferrina (%) 278/ 10

IgA/ IgG/IgM

(mg/dl)

525 / 1930

/ 44,7

Creatinina /Ureia

(mg/dl) 0,6 / 25

Factor reumatóide

(UI/ml) <20

Acido úrico (mg/dl) 8,2 ANA/ ANCA Negativos

Sódio/ Potássio/

Cálcio / Fósforo

(mmol/L)

139 /4,53/

2,22/ 092

Anti-Memb. Basal e

glomerular (U/ml) 0,1

Albumina/ Proteínas

totais (g/dl) 4,0 / 8,3 Amilóide A (mg/dl) 1,85

Urinário

Densidade 1,019 Hemoglobina

(mg/dl) 200

Proteínas (g/L) 1,75 Albumina (mg/ g

creat.) 1132,4

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

11

Curso clínico_________________________

Doente mantém estado clínico,

com uma função renal normal. Apresenta

uma proteinúria que oscila entre 0,3 e 1g,

mantendo microhematúria recorrente.

Discussão

As questões que se levantam é se a

coexistência de doença de CMT e NIgA é

apenas fortuita ou se trata de uma

associação nunca descrita. Algumas das

hipóteses que serão colocadas podem

corroborar esta relação.

Como já foi referido anteriormente

a associação da doença de CMT a NIgA

nunca foi documentada. No entanto

existem vários relatos que associam esta

doença e nefropatia, nomeadamente a

casos de glomeruloesclerose focal e

nefropatia fibrilar.

Já em 1967 tinham sido descritos

casos de CMT e doença glomerular. Nesse

artigo foram apresentados 3 doentes com

esta associação. Dois irmãos, sexo

masculino, com proteinúria, hematúria

microscópica e cilindrúria. O terceiro

tratava-se de uma mulher que apresentava

apenas proteinúria persistente. Todos os 3

doentes tinham uma função renal normal.

As suas biopsias revelavam focos de atrofia

tubular com infiltrado linfocitário ou

fibrose, um dos casos além destas

alterações apresentava um espessamento

da membrana glomerular23.

No único caso reportado sobre a

nefropatia fibrilar e a CMT é apresentado

um indivíduo que desenvolveu proteinúria,

hipertensão arterial e insuficiência renal

por volta dos 15anos, em que a sua biopsia

renal mostrava o depósito de microfibrilas

não-amiloidóticas24.

A presença de glomeruloesclerose

focal e a doença de CMT, já foi

documentada em 6 doentes. Num desses

casos é apresentado um jovem admitido

por síndrome nefrótico, em que

rapidamente se desenvolveu uma falência

renal terminal. A biopsia renal revelou a

fusão dos processos podocitários,

espessamento e enrugamento da lâmina

da membrana basal, podócitos

vacuolizados e a presença de inclusões

intracelulares25.

Ambas doenças podem ser

mediadas imunologicamente, logo existe

uma forte possibilidade de existir uma

Figura 2 – Lesões de Esclerose Segmentar. Tricrómio

de Masson (400x)

Figura 3 - Microscopia de imunofluorescência

demonstrando depósitos mesangiais de IgA.

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

12

ligação entre elas. Anticorpos contra a

mielina do nervo periférico têm sido

demonstrados em soros de doentes com

neuropatia periférica (incluindo CMT) e

paraproteinemia IgM. Nestes doentes, a

maior parte apresenta anticorpos

essencialmente da classe IgM, no entanto

alguns apresentam essencialmente

anticorpos IgA e outros apresentam

anticorpos das duas classes. Esta situação

poderia condicionar NIgA por aumento de

produção de IgA, este excesso ir-se-ia

depositar ao nível do mesângio26.

Na tentativa de explicar o

surgimento da NIgA, foi pesquisada a

presença de todas as doenças enunciadas

na tabela 1, as quais se vieram a revelar

negativas neste doente. Nos antecedentes

o doente apresentava uma história de

infecções cutâneas crónicas, recorrentes,

nas áreas de deformidades dos membros

inferiores. Numa tentativa de relacionar

este achado com a nefropatia,

averiguamos que apenas estão descritos

casos em que é associada a Epidermólise

bulhosa (EB) com a NIgA.

A EB é constituída por um grupo de

doenças autossómicas, caracterizadas pela

fragilidade da pele e mucosas. A síndrome

inflamatória crónica, secundária às

infecções cutâneas recorrentes, pode dar

origem a diversas complicações, incluindo

hidroureteronefrose geniturinária,

infecções recorrentes do trato urinário,

amiloidose renal, nefropatia IgA e

glomerulonefrite pós-infecciosa27.

A variante Hallopeau-Siemens da

epidermólise bolhosa distrófica recessiva

(HS-EBDR) é uma dermatose hereditária

grave, associada a uma deficiência de

colagénio VII. Já foram relatados vários

casos de associação desta doença com

NIgA. Um dos quais é m menino de 6 anos

de idade com diagnóstico de HS-EBDR, que

apresentava inicialmente uma

microhematúria que evoluiu para

hematúria macroscópica. A biopsia renal

revelou um aumento das células da matriz

extracelular e do mesângio e

glomeruloesclerose focal e segmentar com

lesões crónicas graves a nível tubulo-

intersticial. A imunofluorescência mostrou

depósitos de IgA no mesângio28.

Na pesquisa da variante Val30Met

da TTR, que condiciona o depósito de

amilóide a nível tecidular, verificou-se que

esta não estava presente neste doente.

Contudo detectou-se a variante Thr119Met

da TTR, não amiloidogénica. Esta

manifestou-se como não patogénica tanto

no sistema nervoso como a nível renal,

uma vez que não foram detectados

depósitos de amilóide nestes dois sistemas.

Pensa-se que a variante Thr119Met119

possa ser protectora em relação aos efeitos

deletérios da variante Val30Met, uma vez

que a evolução da doença parece ser mais

benigna. Pensa-se que este efeito pode

ocorrer, porque a Thr119Met estabiliza a

estrutura da TTR29.

A doença de CMT tipo I pode ser

causada por mutações no gene peripheral

myelin protein, 22 kDa (PMP22), no gene

da protein zero (P0), no gene 2 early

growth response (EGR-2), no gene da

connexin-32 e no gene lipopolysaccharide-

induced TNF- alpha factor (LITAF)30. Muitas

destas mutações podem condicionar

patologia renal, nomeadamente NIgA,

assim vamos tentar elucidar sobre as

consequências destas alterações e tentar

arranjar correlações entre estas duas

doenças.

Expressão de TM4SF10, um

constituinte de uma família de proteínas de

junção celular Claudin/EMP/PMP22,

também está presente na mielina. Foi

estudada a sua presença durante o

CASE REPORT ________________________________________________________________ CMT & NIgA

13

desenvolvimento do rim e na diferenciação

podócitos do rato e descobriu-se que

TM4SF10 se localiza na região mais basal

dos precursores dos podócitos. A

expressão desta proteína atingiu um pico

aos 4 dias pós-parto e foi praticamente

ausente no rim adulto. Estes resultados

sugerem que o TM4SF10 tem funções

durante a diferenciação dos podócitos e

poderá participar na maturação das

junções celulares a partir de cruzamentos

simples aderências para elaborar as fendas

do diafragma. Este tipo de alterações

poderia condicionar uma filtração

deficiente, com diminuição da clearance

das IgA, levando ao seu depósito31.

A P0 é uma glicoproteína

transmembranar que representa o

componente mais abundante da mielina.

Como já foi referido, a doença de CMT

pode estar associada com envolvimento

renal, assim podíamos supor que P0

poderia ser expressa no rim. Um estudo

veio demonstrar isto mesmo, que P0 é

expressa durante a nefrogênese e no rim

maduro, principalmente a nível dos

podócitos. Eles sugerem que as mutações

do gene P0 podem estar envolvidas em

diversas doenças renais. Os podócitos, são

células altamente especializadas que

participam na barreira de filtração

glomerular e na síntese de componentes

da membrana basal glomerular32.

A manutenção da tolerância de

células T aos auto-antigénios é

fundamental para evitar as doenças auto-

imunes. A maneira como as células T auto-

reactivas são mantidas funcionalmente

inactivas, é desconhecida. Foi mostrado

num estudo, que o gene EGR-2 é expresso

em células T CD44 (high) e controla a sua

proliferação e activação. Na ausência de

EGR-2, as células T CD44 (high), mas não as

CD44 (low), tornam-se hiperreactivas e

hiperproliferativas. O aumento das células

T CD4 CD44 (high) activadas, leva ao

desenvolvimento de um síndrome lupuslike

de início tardio caracterizado pelo acúmulo

de interferon-gama e interleucina-17,

perda da tolerância a antígenos nucleares,

infiltração maciça de células T em vários

órgãos e glomerulonefrite33.

Foi documentado que na NIgA, a

lesão dos podócitos pode ser induzida por

citocinas derivadas do mesângio. O factor

de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) é um

mediador importante envolvido na

comunicação glomérulo-tubular e no

desenvolvimento da lesão intersticial na

NIgA. Os resultados demonstraram que os

marcadores dos podócitos estão reduzidos

na NIgA. Um estudo in vitro utilizou estes

factores humorais (predominantemente

TNF-alfa e TGF-beta) obtidos a partir de

células mesangiais, e conseguiu alterar a

permeabilidade glomerular provocando

proteinúria e lesões tubulointersticiais

características da IgAN34,35.

Para além das possibilidades aqui

mencionadas, podem haver outros

processos envolvidos. Isto é viável uma vez

que a própria patiofisiologia da NIgA ainda

é um processo obscuro.

Uma vez que o doente se

apresenta normotenso, a função renal

ainda não está diminuída e tem

actualmente uma proteinúria entre 0,3 e 1

g/L, devemos ter uma atitude expectante.

No entanto, podemos prescrever um IECA

em virtude do seu efeito protector renal.

Em conclusão, a doença de CMT

deverá ser mais uma das patologias a

associar à NIgA.

Abreviaturas

CMT - Charcot-Marie-Tooth

NIgA - Nefropatia por IgA

TTR - Transtirretina

EB - Epidermólise bulhosa

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14

IECA - Inibidor da enzima conversora da

angiotensina

HS-EBDR - Hallopeau-Siemens da

epidermólise bolhosa distrófica recessiva

Agradecimentos

Este espaço é dedicado àqueles

que deram a sua contribuição para que

esta dissertação fosse realizada. A todos

eles deixo aqui o meu agradecimento

sincero.

Agradeço à Prof. Doutora Luísa

Lobato a forma como orientou o meu

trabalho. As notas dominantes da sua

orientação foram a utilidade das suas

recomendações e a cordialidade com que

sempre me recebeu. Estou grato por

ambas e também pela liberdade de acção

que me permitiu, que foi decisiva para que

este trabalho contribuísse para o meu

desenvolvimento pessoal.

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