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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020 1 Quinto Jornalismo: perspectivas sobre a realidade atual da profissão 1 Amanda Ferreira MEDEIROS 2 Daniela Pereira BOCHEMBUZO 3 Centro Universitário Sagrado Coração, Bauru, SP RESUMO Este artigo objetiva a elaboração de uma nova fase do fazer jornalístico, o Quinto Jornalismo, por meio de pesquisa biliográfica acerca dos avanços tecnológicos comunicacionais e da história da imprensa. Isso porque a internet e as redes sociais digitais ditam formas de produção, divulgação e consumo de conteúdo e de modelo de negócio que não foram abarcados no Quarto Jornalismo, de Marcondes Filho (2009). Diante disso, considera-se que a informação digital, instantânea, hipermídia e multiplataforma ganha espaço em face à decadência do suporte impresso. Acredita-se que o modelo aqui exposto não possui datas de início e fim, tendo em vista o corpus é mutante e que as fases do Jornalismo se entremeiam e se complementam. PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Jornalismo; Jornalista; Marcondes Filho; Web. INTRODUÇÃO Este artigo é um recorte da iniciação científica intitulada “O futuro do jornalista: um estudo sobre a prática profissional em face à formação acadêmica ”, realizada no biênio 2019-2020. A pesquisa contou com o apoio financeiro do FAP/Unisagrado. A Comunicação é impactada com a reestruturação das relações sociais proveniente dos avanços da internet e do surgimento de dispositivos móveis (MEDEIROS; CARRASCO, 2019). A sociedade atrelada à informação e ao advento tecnológico dá forma a uma corrente precursora de um novo modelo de comunicação e hábitos de consumir e produzir notícia (Ibidem, 2019). O Jornalismo admite a necessidade de readaptação e se reconfigura com a adoção de plataformas digitais. Etapas como a checagem dos fatos, comunicação com as fontes, 1 Trabalho apresentado no IJ01 Jornalismo, da Intercom Júnior XVI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 2 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Jornalismo do Unisagrado, membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade/Unisagrado, e-mail: [email protected]. 3 Orientadora do trabalho, docente do Curso de Jornalismo do Unisagrado, membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade/Unisagrado, e-mail: [email protected]

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020

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Quinto Jornalismo: perspectivas sobre a realidade atual da profissão1

Amanda Ferreira MEDEIROS2

Daniela Pereira BOCHEMBUZO3

Centro Universitário Sagrado Coração, Bauru, SP

RESUMO

Este artigo objetiva a elaboração de uma nova fase do fazer jornalístico, o Quinto

Jornalismo, por meio de pesquisa biliográfica acerca dos avanços tecnológicos

comunicacionais e da história da imprensa. Isso porque a internet e as redes sociais

digitais ditam formas de produção, divulgação e consumo de conteúdo e de modelo de

negócio que não foram abarcados no Quarto Jornalismo, de Marcondes Filho (2009).

Diante disso, considera-se que a informação digital, instantânea, hipermídia e

multiplataforma ganha espaço em face à decadência do suporte impresso. Acredita-se que

o modelo aqui exposto não possui datas de início e fim, tendo em vista o corpus é mutante

e que as fases do Jornalismo se entremeiam e se complementam.

PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Jornalismo; Jornalista; Marcondes Filho; Web.

INTRODUÇÃO

Este artigo é um recorte da iniciação científica intitulada “O futuro do jornalista:

um estudo sobre a prática profissional em face à formação acadêmica”, realizada no

biênio 2019-2020. A pesquisa contou com o apoio financeiro do FAP/Unisagrado.

A Comunicação é impactada com a reestruturação das relações sociais

proveniente dos avanços da internet e do surgimento de dispositivos móveis

(MEDEIROS; CARRASCO, 2019). A sociedade atrelada à informação e ao advento

tecnológico dá forma a uma corrente precursora de um novo modelo de comunicação e

hábitos de consumir e produzir notícia (Ibidem, 2019).

O Jornalismo admite a necessidade de readaptação e se reconfigura com a adoção

de plataformas digitais. Etapas como a checagem dos fatos, comunicação com as fontes,

1 Trabalho apresentado no IJ01 – Jornalismo, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 2 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Jornalismo do Unisagrado, membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade/Unisagrado, e-mail: [email protected].

3 Orientadora do trabalho, docente do Curso de Jornalismo do Unisagrado, membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade/Unisagrado, e-mail: [email protected]

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divulgação do conteúdo e a medição da audiência, por exemplo, agora podem ser feitas

através da internet.

A tríplice sociedade-cultura-tecnologia aplicada à cibercultura também pode ser

relacionada ao Jornalismo, em que a informação é baseada em valores culturais inerentes

aos indivíduos (Ibidem, 2019). Já as redes digitais são instrumentos de comunicação e

ferramentas organizativas cujas consequências moldam as esferas da atividade humana.

Para Ferrari (2010), quem souber compreender a disseminação de conteúdos

informativos e buscar parcerias para a criação de novas tecnologias sairá em vantagem.

O impulso dessas novas mídias interfere na criação de produtos editoriais atraentes ao

público, em que o baixo custo, a abrangência de temas e a personalização são inseridos

como diferenciadores na transmissão de conteúdo (Supra cit.).

O profissional da Comunicação inserido nesse contexto é impactado por mutações

cognitivas velozes nas redações jornalísticas no modo com o qual interagem com a rede

(BIANCO, 2004), assumindo o compromisso de se adaptar às plataformas digitais, à

rotina de trabalho e às transformações culturais diárias que impactam diretamente na

profissão (MEDEIROS; CARRASCO, 2019).

Um exemplo que envolve diretamente o Jornalismo são os portais de notícias

online, que conquistaram espaços na sociedade que antes eram protagonizados pelos

meios de comunicação tradicionais. Logo, a adaptação ao meio digital oferece novos

modos de fazer Jornalismo (FERRARI, 2010).

Lemos (2003) admite que os mediadores clássicos são suprimidos e a conexão em

rede proporciona uma facilidade na produção, emissão e consumo de informação. Por

conseguinte, é incorreto tomar o saber como elemento imutável, dada a constatação de

que o fluxo de informações é contínuo.

Bianco (2004) também pontua que, devido à facilidade de acessar conteúdo pela

internet, há a falsa impressão de que o ciberespaço abrange tudo, de tal forma que não é

necessário sair dele para construir notícia. Portanto, a mutação da mídia não deslegitima

o papel fundamental do jornalista como investigador social.

É possível constatar que a internet aliada à comunicação e ao Jornalismo oferece

novas experiências, corrobora para a pluralidade de opinião, o acesso à informação e

modifica etapas do processo e emissão de conteúdo jornalístico.

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Outrossim, estudar como o fazer jornalístico se insere nesta conjuntura é essencial

para o constante aprimoramento da profissão e, sob a ótica capitalista, para a

transformação do jornalista como o profissional atento à realidade.

Diante de um cenário de reformulação da atuação do jornalista e das próprias

empresas de comunicação, observa-se que as organizações comunicacionais têm buscado

inovar no que diz respeito ao trabalho dos comunicadores.

Costa (2014) discute sobre as mudanças instauradas a partir do novo modelo de

negócio e a quebra de modelos tradicionais que envolvem o Jornalismo praticado por

indivíduos que não se adaptaram à era digital. Nesse caso, as redes sociais digitais são os

principais aliados nesse processo e a negação de tal fato seria um retrocesso.

Mesmo que um jornal não queira, suas notícias, suas opiniões, suas fotos, seus vídeos, por mais protegidos que estejam do ponto de vista

do direito autoral, mesmo assim, podem ser redistribuídos pelos

internautas, de um para outro e assim sucessivamente. (...) Nenhum negócio de notícia fica de pé sem o entendimento da superdistribuição.

Ela é realidade em que a informação corre de mão em mão, de tecla em

tecla, de tela em tela. (COSTA, 2014, p.83-84).

A inovação, além de uma questão tecnológica, passa por um viés de ampliação do

universo. Surge uma dimensão em que se inclui também a comunicação integrada com

outros profissionais da área (relações-públicas, publicitários, etc.) e pensa-se um conjunto

coordenado de comunicação para atingir diferentes audiências.

UM BREVE RETROSPECTO SOBRE A EVOLUÇÃO DO JORNALISMO

Entre 1444 e 1456, Gutenberg criou um método de impressão de conteúdo que

posteriormente se chamaria “prensa”. Tal invenção era o suprassumo da época, já que a

impressão xilográfica era morosa e os materiais se desgastavam muito (SOUSA, 2008).

O artefato foi bem recebido pelos países europeus, que no século XV enfrentavam

um período de efervescência artística, cultural e econômica: o Renascentismo. Nessa fase,

houve o desenvolvimento do comércio interno, expansão urbana, formação de elites e,

sobretudo, o investimento de países em expedições a fim de conquistar territórios.

Isso despertou o interesse em saber o que acontecia com os navegantes, ao mesmo

tempo em que os governos enxergaram um meio para reforçar o nacionalismo. Além do

Estado, a Igreja utilizou panfletos como ferramenta de imposição de valores sobre os

territórios conquistados a fim de eliminar outras culturas.

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Aumentou-se a variedade do conteúdo impresso e a elite notou o impacto das

publicações, tanto que no século XVI houve o aparecimento dos livros noticiosos.

Nasceu, em 1631, a Pré-História do Jornalismo. As notícias tratavam sobre fatos

curiosos e eram veiculadas em jornais que se assemelhavam a livros (MARCONDES

FILHO, 2009). Como transmitir informação era novidade e a economia, artesanal, os

agentes financiadores dessas publicações eram empreendedores isolados, cujo interesse

era buscar informações em nome da notícia, pois o controle era exercido, há tempos, pelo

Estado e pela Igreja.

O fim dessa fase ocorreu com o lançamento do jornal belga Gazette em 1789,

junto da Revolução Francesa. Em síntese, o Pré-Jornalismo foi um embrião de uma

prática que iria revolucionar o acesso à informação.

O aparecimento de agentes sociais empenhados a investigar os fatos colaborou

para uma efervescência intelectual, refletindo-se em avanços comunicacionais no

continente europeu, que são essenciais para se entender como o Jornalismo evoluiu e

ainda evolui.

Posteriormente, surgiu o Primeiro Jornalismo, categorização criada por

Marcondes Filho (2009). Nesse contexto, as inquietações político-sociais eram calcadas

no Iluminismo, de René Descartes, e no Positivismo, de Auguste Comte.

O jornal dessa época criticava as autoridades e possuía caráter político-literário.

Os fatos veiculados questionavam a realidade e frisavam a transparência com a

população. Surgiu, nesse contexto, o que seria a primeira definição de Jornalismo.

O Jornalismo é a síntese do espírito moderno: a razão (a “verdade”, a

transparência) impondo-se diante da tradição obscurantista, o

questionamento de todas as autoridades. (MARCONDES FILHO, 2009, p. 17).

O aspecto operacional das empresas jornalísticas também avançou e houve o

aparecimento de uma estrutura redacional, de uma divisão de cargos e funções e do

investimento financeiro de políticos e cientistas (Ibidem, 2009).

Contudo, no Brasil, o papel só surgiu em 1808 com a instalação da Família Real

Portuguesa. Isso representou uma diferença de 276 anos se comparado com o início da

ocupação territorial, em 1532. Com esse atraso, grande parte da população não era

alfabetizada.

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Nessa época, houve a instalação da Impressão Régia e da censura (MOREL,

2011). O jornal de destaque era a Gazeta do Rio de Janeiro, que noticiava sobre a corte e

normas e integrava a imprensa áulica, baseada em informações sob a perspectiva da Coroa

(SODRÉ, 1999). A prática combatia as publicações cuja ideologia era contrária e durou

até os anos de 1830.

O atraso da introdução da Imprensa no Brasil também se deve à falta de políticas

públicas voltadas à educação, à estrutura do sistema colonial e à economia precária. Esses

impasses ocorreram pelo fato de que “o surgimento da imprensa periódica no Brasil [...]

se deu em meio a uma densa trama de relações e formas de transmissão já existentes”

(MOREL, 2011, p. 25). Nesse caso, o autor se refere à comunicação oral-verbal, presente

nas praças de debate.

Em um cenário pouco favorável para a liberdade de imprensa, Hipólito da Costa,

brasileiro residente em Londres, lançou o Correio Braziliense (1808-1822), jornal ilegal

que publicava notícias críticas em relação à corte portuguesa. Para a história da imprensa,

a publicação foi essencial para fomentar o debate político no Brasil (Ibidem, 2011).

No século XIX, com a liberdade de imprensa e influência da Revolução Francesa

e da Independência dos Estados Unidos, surgiu uma nova figura: a do redator panfletário,

“um tipo de escritor patriota, difusor de ideias e pelejador de embates e que achava terreno

fértil para atuar numa época repleta de transformações” (Ibidem, 2011, p. 35).

As características dos primeiros jornalistas brasileiros eram frutos de um período

revolucionário. Entretanto, se comparada com a imprensa internacional, a brasileira

engatinhava, pois a hierarquização das informações era confusa (Ibidem, 2011).

Em 1830, a invenção da linotipo e da rotativa possibilitou que os jornais fossem

impressos em grandes tiragens. E foi com esses avanços que o período do Primeiro

Jornalismo se encerrou.

O jornalista exerceu um trabalho voltado à força política. As influências

partidárias eram latentes e o jornal foi, por vezes, utilizado como ferramenta de persuasão.

Em 1831, com a implantação do período regencial (1831-1840), o Brasil foi palco

de uma “explosão da palavra pública, com crescimento visível de associações, de motins

e de periódicos” (ibidem, 2011, p. 42). A imprensa veiculou conteúdos sobre diferentes

atores sociais e pincelou o que se passava naquele contexto político complexo.

Atrelado a isso, o fortalecimento do neocolonialismo e o surgimento dos jornais

como grandes empresas capitalistas marcaram o início do Segundo Jornalismo

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(MARCONDES FILHO, 2009). As publicações contavam com uma equipe de produção

e espaços publicitários, pois se compreendia que o produto também deveria gerar lucro.

Para Schudson (2010), um dos atributos conferidos ao fazer jornalístico e que

provocou debates desde meados do século XIX foi a transparência. Em 1840, com o

surgimento da agência de notícias Associated Press, as noções de apartidarismo e

objetividade se reestabeleceram na rotina do jornalista, pois entendia-se que o jornal seria

capaz de conquistar público. “Desde então, tem-se argumentado que a prática da

Associated Press se tornou o ideal do jornalismo em geral” (Ibidem, 2010, p. 14). Essa

práxis era representada pela informação e por não se utilizar de sensacionalismo. Na

época, a elite se modernizava e se interessava por esse modelo.4

A mídia influenciada por essa lógica de produção de conteúdo investiu em

material jornalístico embasado na objetividade que, para o autor, nada mais é do que

“declarações consensualmente validadas sobre o mundo, com base numa separação

radical entre fatos e valores” (Ibidem, 2010, p. 144). Essa dimensão perdurou até o início

da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). No cenário de ebulição mundial, no Brasil, o

golpe da maioridade de D. Pedro II (1840) contribuiu para o aparecimento de outro modo

de se fazer Jornalismo.

Os pasquins, publicações de poucas páginas, de venda avulsa e linguagem

agressiva, relatavam a vida política tendo como base o viés oposto aos dos jornais que

apoiavam o governo (SODRÉ, 1999). Composto por somente um artigo, nenhum

jornalista o assinava para evitar uma possível cassação de direitos.

Esse modelo, para Sodré (1999), foi embrião da imprensa alternativa e

fundamental para o amadurecimento de uma linha editorial que irrompe com os padrões

sociais. Entretanto, os pasquins não possuíam uma periodicidade regular e, por vezes,

distorciam a realidade. Sua decadência se deu com a consolidação do Brasil Império.

No Segundo Jornalismo houve avanço dos valores jornalísticos, como o “furo” e

a preocupação com aspectos editoriais e gráficos da capa (MARCONDES FILHO, 2009).

Essa fase, que durou cerca de 70 anos, se encerrou devido às consequências da Revolução

Industrial, da formação das metrópoles e do êxodo rural.

O Jornalismo da época era protagonizado por profissionais experientes, mas a

imprensa se tornou mais refém do capital. Também nessa fase surgiram discussões acerca

4 Ibidem, 2010.

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do papel social do jornal, já que a publicidade era predominante. As interpelações sobre

as funções dos profissionais da Comunicação, quiçá, iniciaram nesse momento.

Por volta de 1900, surgiu o Terceiro Jornalismo, ainda segundo Marcondes Filho

(2009), calcado por uma imprensa monopolista e pela atuação de profissionais de

Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas, que podiam oferecer produtos

informativos de maior volume e segmentados (Ibidem, 2009).

Nessa época, nos Estados Unidos, o jornalista e relações-públicas Ivy Lee inovou

o modo de se pensar em Comunicação. Ao ser contratado por uma empresa para reduzir

o impacto de um acidente trabalhista perante a mídia, Lee agiu de forma controversa

(AMARAL, 2002). Ao invés de ignorar repórteres e desestimular qualquer tipo de

cobertura jornalística, ele concedeu entrevistas acerca do que havia ocorrido e ficou à

disposição da imprensa. O caos gerado pela empresa foi amenizado.

Lee, considerado o criador das Relações Públicas, também foi assessor do

magnata John D. Rockefeller e contribuiu para os estudos em Comunicação no sentido

de identificar que a essência jornalística, nos moldes com os quais foi concebida, estaria,

aos poucos, se esvaindo.

As relações públicas ameaçavam a ideia que se fazia então do

jornalismo, da atividade informativa. A notícia parecia tornar-se menos

a informação do que a interpretação dos eventos no universo dos interesses pessoais. (AMARAL, 2002, p. 54).

Nessa perspectiva, a partir dos anos 1920 uma ideia se intensificou e penetrou na

sociedade: a de que o ser humano contribui com a construção da sua própria realidade.

Consequentemente, aspectos como a subjetividade da percepção se tornaram presentes na

produção e recepção do conteúdo jornalístico (SCHUDSON, 2010).

Com o aumento da concorrência e da demanda por informação, a imprensa teve

que se renovar. Reflexo disso foi o barateamento dos jornais e a produção de capas com

notícias chamativas, representações do Jornalismo sensacionalista (MARCONDES

FILHO, 2009).

Era uma espécie de jornalismo gritante, espalhafatoso, sensacional e

temerário que seduzia o leitor por todos os meios possíveis. Lançava

mão das técnicas (...) para perverter os costumes. (...) Torcia os fatos da vida cotidiana em qualquer coisa que melhor conviesse para promover

a venda dos jornais. (EMERY, 1965, p. 448).

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Nesse período, houve clara ruptura dos conteúdos informativos, opinativos e

publicitários e o uso de fotografias para estampar os jornais e complementar os fatos.

Ressalta-se aqui o peso da Primeira e Segunda Guerras Mundiais (1914-1918 e

1939-1945) no âmbito comunicacional, uma vez que ocasionaram colapso político e

social em grande parte da Europa e nos Estados Unidos.

No Brasil, Getúlio Vargas instaurou o Estado Novo (1937-1945), governo que

surgiu sob a alegação de conter o avanço comunista no país. Em um regime sustentado

pelo controle ideológico, Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),

órgão responsável pela censura aos veículos de Comunicação e pela produção de

conteúdo ultranacionalista visando a arregimentação das massas (DE LUCA, 2011).

As redações dos jornais contavam com os censores, funcionários do governo

encarregados de fiscalizar o que seria veiculado antes das publicações serem impressas.

Caso o conteúdo estivesse na contramão do que pregava o regime, a notícia era excluída.

No lugar, eram inseridos receitas e versos de poemas.

É a partir do Terceiro Jornalismo que se observou enfraquecimento da prática

jornalística no quesito questionamento das autoridades políticas. Com o investimento nas

redações, a equipe que integrava os jornais da época era formada, além de jornalistas, por

publicitários e relações-públicas. Nesse contexto, a tríplice mídia-imprensa-publicidade

já era indissociável, pois com o surgimento de novas técnicas, o jornal impresso passou a

assumir a figura de um produto.

Aspectos conotativos e denotativos se tornaram importantes para a construção da

capa do jornal. Seja pela transformação das manchetes em “anúncios” em forma de

notícia ou pelo uso de recursos gráficos, o fazer jornalístico passou a ser uma atividade

que, junto à prática publicitária e à de relações-públicas, compõe uma mercadoria.

As características da imprensa modificaram-se drasticamente, uma vez que o

jornalista não é mais aquele profissional característico do Primeiro e Segundo Jornalismo,

que questionava a política (MARCONDES FILHO, 2009). Isso se deve aos processos de

obtenção de informação que se tornaram cada vez menos engajados. A crise da cultura

ocidental é a causa principal para a “decadência” do Jornalismo, pois a prática é a

“expressão física de um espírito” (Ibidem, 2009, p.22).

Já nos anos 1970, no Brasil e no mundo, partiu-se para o Quarto Jornalismo. Com

os avanços tecnológicos, a modernização das redações e a difusão de informação

eletrônica tornaram-se características básicas dessa fase. O período envolve dois

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processos. “A expansão da indústria da consciência/persuasão dentro do noticiário e a

substituição do jornalista pelos sistemas de comunicação eletrônica” (Ibidem, 2009, p.

36).

Também nessa fase, os valores jornalísticos se ampliam e se assemelham com

alguns dos critérios de noticiabilidade utilizados na contemporaneidade. Tem-se a

necessidade do impacto visual, a velocidade da publicação da notícia e a transparência

para com o consumidor do conteúdo. Contudo, com a precarização da imprensa escrita,

houve uma transformação na atuação profissional do jornalista.

(...) virtualizam o trabalho jornalístico impresso e interferem

radicalmente nos conteúdos (...). O homem de redação, acostumado a

escrever sobre o papel, a participar fisicamente do ambiente com os colegas (...) passa a se submeter à lógica imaterial da tecnologia.

(MARCONDES FILHO, 2009, p. 36-37).

Ainda para Marcondes Filho (2009), é difícil caracterizar o que é “o (a) jornalista”,

pois o mesmo profissional pode ocupar diferentes cargos (repórter, editor de texto, chefe

de redação, etc.). Todavia, é possível tracejar o impacto das novas tecnologias na

profissão de modo geral. A principal premissa que rege a precarização do profissional

jornalista é a de que “hoje em dia qualquer um pode exercer a profissão, já que as

especializações, as análises e os comentários estão em declínio” (ibidem, 2009, p. 62).

Tal tese advém dos processos de informatização do Jornalismo e da consequente

redução das redações, pois acredita-se que o jornalista do século XXI seja “alguém que

deverá juntar ideias e dispô-las de forma agradável e acessível a um público (online) que,

então, avaliará o que lhe interessa” (Ibidem, 2009, p. 62).

Com esse cenário de incertezas, os agentes produtores de notícias freelancers têm

aumentado. Os sinais desse mercado têm sido drásticos, em que os fatos imageticamente

interessantes se sobrepõem às narrativas apenas textuais. A estética influi diretamente

como elemento decisivo e inerente ao Jornalismo. Os noticiários, para Marcondes Filho

(2009), têm dado mais espaço para o que surpreende, prioridades nos períodos do

Primeiro e Segundo Jornalismo.

A referência aqui utilizada, Marcondes Filho (2009), teve sua primeira edição

publicada em 2001. Nesse período, ainda não se tinha noção do que a internet e as redes

sociais digitais viriam a ser e muito menos de seus impactos nas relações sociais.

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Dessa forma, existe um grande intervalo de tempo que é caracterizado como

Quarto Jornalismo e que não corresponde aos mesmos modos de produção e consumo de

informação.

Exemplo disso é o fenômeno das agências checadoras de informação, como a

Agência Lupa; a Agência Pública e o projeto Fato ou Fake, das Organizações Globo.

Considerando os períodos anteriores, seria quase inimaginável suscitar que os

profissionais teriam que verificar a veracidade de informações depois de publicadas.

No que tange à linha editorial dos jornais, o século XXI é palco do fortalecimento

da imprensa independente, que possui ideais divergentes dos monopólios de mídia. Tal

movimento foi visto em algumas publicações relacionadas à insatisfação política no

Brasil, como em 1840 e 1964. Hoje, existem exemplos, como a Ponte Jornalismo, a

Revista AZMina e a Mídia Ninja.

A desconstrução do “velho” fazer jornalístico ocorre, essencialmente, pois

preceitos que eram considerados norteadores da profissão se enfraqueceram e passaram a

oferecer espaço a uma tecnologia que propõe a não-mediação das relações.

A adoção de sistemas de edição multiplataformas, em modelos de

negócio que assumem o papel de facilitadores de relacionamento nessas redes, pode parecer um risco imenso pelo fato de produzir uma

dessacralização da atividade jornalística, mas até aqui parece ser a

melhor – se não a única – solução para o futuro da mídia. (COSTA, 2012, p. 1).

Munindo-se dessas transformações, acredita-se que o Jornalismo brasileiro encara

um quinto período que ainda não foi transposto para os materiais bibliográficos. A

proposta de valor das empresas jornalísticas e as práticas exercidas pelos jornalistas vão

muito além do descrito em 1970 e, assim, há a necessidade de lidar com o fazer

comunicacional como um objeto muito mais complexo e suscetível a mutações.

Nesse rol, entende-se também que o embate entre hiper segmentação de conteúdo

e massificação, e a adoção de multitarefas que envolvem um único profissional são

questões a serem abordadas como produtos desse novo modo de comunicar que emerge

do início do século XXI até os dias atuais.

QUINTO JORNALISMO

Ao resgatar os conceitos teóricos sobre a classificação dos estágios da profissão e

comparar com as constantes transformações no fazer comunicacional, compreende-se que

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o Quarto Jornalismo estruturado por Marcondes Filho (2009) e que abrange dos anos

1970 até a atualidade, não abarca a realidade vivenciada pelos profissionais na

contemporaneidade. Seguindo os moldes de cada fase do Jornalismo instituídos pelo autor

e o percurso metodológico realizado até aqui, se esboça o que seria o Quinto Jornalismo

para estas pesquisadoras.

Período: 2000 – dias atuais.

Tipo: informação digital, instantânea e hipermídia, disponível e compartilhável

em multiplataformas.

Valores jornalísticos: atualidade, velocidade, ineditismo, visualidade,

transparência, empatia, engajamento e hipertextualidade.

Aspectos funcionais e tecnológicos: investimento em dispositivos tecnológicos,

transmissões ao vivo via internet, recursos gráficos online, interação em redes sociais

digitais e modelo de negócio atrelado ao marketing e à publicidade; aposta em tecnologia

de não-mediação das relações por um único agente; jornalista como produtor de conteúdo

preparado para se adaptar às necessidades do mercado de trabalho (diferentes suportes ou

início de atividade autônoma).

Agentes: profissionais da Comunicação multitarefas, sistemas de edição

multiplataforma que assumem papel de facilitadores de relacionamento, redes de

integração de bancos de dados e qualquer receptor de conteúdo com o domínio da língua

nativa.

Economia: financiamentos de campanhas e produtos e doações de internautas que

acreditam no serviço, conteúdo via internet (sites, redes sociais digitais etc.) e

planejamento e estratégias de Marketing em contraposição à decadência do investimento

e consumo de mídias impressas.

No Quinto Jornalismo, observa-se o retorno de elementos já vistos e a inserção de

outros inéditos. O tipo de informação hipermídia está vinculado a diferentes formatos de

conteúdo, como o texto, as fotografias, os áudios e os vídeos. Enquanto antigamente era

possível acessar apenas um de cada vez, hoje eles se misturam, como, por exemplo, no

portal UOL Tab, inaugurado em 2014.

A respeito dos valores, a transparência, presente no Primeiro Jornalismo, e a

atualidade do Segundo, reaparecem como alguns dos norteadores da atividade

jornalística. Isso pode ser justificado pela implantação da Lei da Transparência (2009) e

da Lei de Acesso à Informação (2011). Esse elemento reforça a necessidade do diálogo

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dos Poderes para com a população e sua execução está amparada em aspectos legais e aos

que querem fazê-lo.

Além disso, a disponibilização e distribuição de informação via internet traz

consigo novidades. A atualidade se insere no Quinto Jornalismo pelo fato de o indivíduo

poder consumir conteúdo onde e quando quiser. Consequentemente, os agentes da

informação devem estar atentos aos fatos sociais na mesma intensidade.

A empatia, o engajamento e a hipertextualidade são valores jornalísticos inéditos

nessa fase. Primeiro, pois o receptor de conteúdo, no cenário atual, também pode ser

produtor, o que provoca a reavaliação dos temas a serem abordados.

O engajamento também está presente, uma vez que a mensuração de dados de

acesso ao conteúdo, seja via redes sociais digitais ou via pesquisas de campo, dita as

formas de produção e divulgação que tal informação terá tendo em vista a quantidade de

interações. A relação empresa jornalística-usuário se estreita e o caráter comercial do fato

impacta no fazer comunicacional.

A hipertextualidade, pois as características do texto jornalístico se alteram. Nele,

normalmente há a inserção de hiperlinks de acesso a outros conteúdos de temáticas

relacionadas à aquela abordagem e a releitura da hierarquização da informação, por

exemplo. Nesse aspecto, o redator deve se atentar a essas premissas a fim de manter o

usuário conectado a aquele material por mais tempo.

Ao assumir que atualmente existem produtores-receptores de conteúdo, os

aspectos funcionais e tecnológicos da profissão também são alterados. As transmissões

ao vivo via diferentes dispositivos e a evolução de recursos gráficos possibilitam que o

jornalista exerça a profissão sem necessariamente estar vinculado a um emprego fixo.

Desse modo, a atividade autônoma é uma realidade. Exemplo disso é a criação de

blogs, de canais no YouTube e de páginas no Instagram que produzem conteúdo

jornalístico e profissional.

Inerente a tudo isso está a economia, que tem como principal elemento o

planejamento e as estratégias de Marketing. Tratar a Comunicação e seus produtos como

um negócio é uma necessidade sentida na pele pelos profissionais autônomos, que

possuem renda mensal variável.

Dessa forma, não é raro encontrar jornalistas especialistas em Marketing Digital

e que são responsáveis por todas as etapas do processo de produção e comercialização do

conteúdo.

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A aplicação dos saberes dos jornalistas em outros domínios pode acarretar no

redesenho do que será o Jornalismo no futuro (MICK, 2015). Concomitante a isso, a falta

de identidade dos jornalistas e a dispersão da produção tornam esses processos muito mais

complexos e autênticos, pois requerem constante reconstrução.

Analisando esse conjunto de fatores, diretrizes, pesquisas e perspectivas, entende-

se que o contexto atual, calcado na impregnação da tecnologia nas relações sociais,

consumo e produção de conteúdo jornalístico, corrobora para a reformulação das funções

do profissional da Comunicação. Diagnosticar os sinais do mercado de trabalho como

reflexo dessas mutações é essencial para enxergar as possibilidades de atuação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a pesquisa bibliográfica constata-se que a evolução tecnológica e o advento

da internet são as principais causas das transformações que impactaram, impactam e ainda

vão impactar a profissão.

Os dispositivos móveis, os aplicativos e as redes sociais digitais modificaram a

mediação das relações sociais que antes eram concentradas nos meios de comunicação

clássicos.

Com o aparecimento de portais de notícias que dependem financeiramente de

doações de seus leitores para sobreviver, e com o boom de agências checadoras de notícias

em face às fake news enxergam-se brechas para a instituição de novos modelos de negócio

para o Jornalismo.

O consumo de conteúdo por meio de diferentes telas, a amplificação do alcance

da informação digital e a possibilidade de produzir vídeos ao vivo ou programas em áudio

onde e quando quiser sem estar vinculado a uma emissora de rádio ou televisão, por

exemplo, refletem no fazer jornalístico e nas empresas jornalísticas.

A internet oferece esses espaços por um custo muito menor do que os meios de

comunicação tradicionais, em que é possível que um jornalista seja produtor, repórter,

apresentador e editor, tudo ao mesmo tempo.

E é diante desse cenário que o Quarto Jornalismo instituído por Marcondes Filho

(2009) não se enquadra. Ao tentar abraçar um longo período de tempo em suas definições,

perde-se elementos cruciais que alteram as outras fases do Jornalismo.

As autoras deste artigo, ao propor novos fatores, valores e situações que culminam

no Quinto Jornalismo, não perdem de vista que a validade desse modelo não é de 50 anos,

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como a do Quarto Jornalismo. Isso porque as definições estão intrinsicamente atreladas

aos avanços tecnológicos que a Comunicação faz uso social. Devido à sua volatilidade,

acredita-se que não é possível distinguir datas específicas de início e fim dessas etapas,

pois elas se entremeiam e se complementam.

Nota-se que o presente do Jornalismo e do jornalista está relacionado a

adaptações. Assim como a criação da prensa e dos aparelhos de rádio e televisão

representaram grandes saltos e desafios para o fazer comunicacional da época, a internet

dita essas transformações no século XXI.

Pelo fato de o receptor, que também se torna emissor, se integrar nesse processo,

o cenário atual não possui precedentes e se renova a cada dia com o lançamento de novas

tecnologias e plataformas. O profissional jornalista que souber fazer uso desses suportes,

seja de forma autônoma ou vinculado a uma empresa, irá se destacar.

Para o futuro, projeta-se que será necessária a formulação de muitas fases do

Jornalismo. A evolução de ambientes multiplataforma que priorizam informações e

interações imediatas e hipertextuais será cada vez mais veloz, impondo novas

características e nuances ao texto, foto e vídeo jornalísticos.

Virão períodos de experimentações, crescimento de conteúdos segmentados, uma

vez que no ambiente digital encontra-se lugar para diferentes abordagens e públicos, e

uma mudança de olhares sobre a multiplicidade de aspectos e sentidos que a Comunicação

produz e causa na sociedade.

Nesse panorama, empresas jornalísticas vão desaparecer enquanto outras surgirão

calcadas nas tecnologias disponíveis no momento. Contudo, não se enxerga a

descaracterização do Jornalismo, uma vez que sua essência resiste há séculos.

Mudam-se as plataformas, mas os desafios e responsabilidades permanecem.

Comunicar com ética e seriedade é um dos valores que regem a profissão e a consagram,

diferenciando o jornalista dos demais indivíduos.

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