queridos fiéis, estamos no tempo de quaresma. os jejuns ... · atendamos com renovado ardor a tudo...

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Queridos fiéis, Estamos no tempo de Quaresma. Os jejuns desempenham um múltiplo papel: expiamos os nossos pecados e os pecados de outros, pedindo a Nosso Senhor que aceite os nossos modestos esforços (este pedido exprime-se quase todos os dias nas Orações das Missas da Quaresma); exercemos a virtude da modéstia e continência; lembramo-nos mais das Verdades importantes do nosso estar aqui na terra, quer dizer da Religião; ..., para enumerar alguns dos fins mais importantes da Quaresma. Lembremo-nos neste tempo muito especialmente que não devemos ser preguiçosos espiritualmente, como nos é dito no Evangelho das cinco virgens loucas e das cinco prudentes. O comportamento das primeiras, que, apesar de saberem que o esposo devia chegar, adormeceram felizes e confiantes, ou melhor, apoiando-se no pensa- mento de que as outras as ajudariam; é bem a figura das almas preguiçosas, que deixam faltar na lâmpada a chama do amor, o azeite da oração, o desejo do encontro com o esposo e a vigilância sobre os próprios sentidos para que o encontro com Deus, no derradeiro dia, as encontre prontas. Atendamos com renovado ardor a tudo o que se refere à nossa vida espiritual, com ordem, precisão, método, com regularidade e não descuremos facilmente tudo o que ao bem nos possa levar e à virtude, mas sejamos fiéis e constantes! Deveríamos interromper os nossos bons hábitos só quando o exigir a caridade ou a falta de saúde ou uma verdadeira necessidade; nunca porém, devido à indolência ou à frieza espiritual que nos conduziriam, pouco a pouco, à indiferença da nossa salva- ção e mesmo à falta de fé. Tudo isto custa-nos sacrifício, e é na Quaresma, que queremos fazê-lo, lembrando- nos da grande vantagem dele e da alegria que resulta deste sacrifício. Quando as turbas seguiam a Jesus, aconteceu uma vez que jejuaram durante três dias – tão sequiosas estavam de ouvir a Verdade! Jesus porém teve uma tão grande compaixão com o seu sacrifício, que se viu forçado a fazer o milagre de multiplicação de pães. Os nossos esforços, embora pobres, comovem o Coração Divino! Que Deus vos abençoe! Padre Anselmo

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Page 1: Queridos fiéis, Estamos no tempo de Quaresma. Os jejuns ... · Atendamos com renovado ardor a tudo o que se refere à nossa vida espiritual, com ordem, precisão, método, ... Jesus

Queridos fiéis,

Estamos no tempo de Quaresma. Os jejuns desempenham um múltiplo papel:

expiamos os nossos pecados e os pecados de outros, pedindo a Nosso Senhor que aceite os nossos modestos esforços (este pedido exprime-se quase todos os dias nas Orações das Missas da Quaresma);

exercemos a virtude da modéstia e continência;

lembramo-nos mais das Verdades importantes do nosso estar aqui na terra, quer dizer da Religião;

..., para enumerar alguns dos fins mais importantes da Quaresma.

Lembremo-nos neste tempo muito especialmente que não devemos ser preguiçosos espiritualmente, como nos é dito no Evangelho das cinco virgens loucas e das cinco prudentes. O comportamento das primeiras, que, apesar de saberem que o esposo devia chegar, adormeceram felizes e confiantes, ou melhor, apoiando-se no pensa-mento de que as outras as ajudariam; é bem a figura das almas preguiçosas, que deixam faltar na lâmpada a chama do amor, o azeite da oração, o desejo do encontro com o esposo e a vigilância sobre os próprios sentidos para que o encontro com Deus, no derradeiro dia, as encontre prontas.

Atendamos com renovado ardor a tudo o que se refere à nossa vida espiritual, com ordem, precisão, método, com regularidade e não descuremos facilmente tudo o que ao bem nos possa levar e à virtude, mas sejamos fiéis e constantes!

Deveríamos interromper os nossos bons hábitos só quando o exigir a caridade ou a falta de saúde ou uma verdadeira necessidade; nunca porém, devido à indolência ou à frieza espiritual que nos conduziriam, pouco a pouco, à indiferença da nossa salva-ção e mesmo à falta de fé.

Tudo isto custa-nos sacrifício, e é na Quaresma, que queremos fazê-lo, lembrando-nos da grande vantagem dele e da alegria que resulta deste sacrifício. Quando as turbas seguiam a Jesus, aconteceu uma vez que jejuaram durante três dias – tão sequiosas estavam de ouvir a Verdade! Jesus porém teve uma tão grande compaixão com o seu sacrifício, que se viu forçado a fazer o milagre de multiplicação de pães.

Os nossos esforços, embora pobres, comovem o Coração Divino!

Que Deus vos abençoe!

Padre Anselmo

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Como claramente diagnosticou SãoPioX,nasuaencíclica“Notrechargeapostolique,”de��5deAgostodel9l0,o“pecadooriginal”doSillonnãoresi-diunumafaltadegenerosidade,masdeformação.Estefactoéimportante:M.Sangniereosseusadeptosforamcatólicospiedososezelosos;masaidenós,oserardorfoidesviadoporumacruel falta de conhecimentos e pelasuaemancipaçãodaautoridadeecle-siástica. É por isso que antes de noslançarmos na acção é indispensávelquenosformemos(l).Alémdisso,an-tesmesmodeprocurarosprincípiosda Acção Católica, importa conheceraNATUREZAdaAcçãoCatólica.Maspara conhecê-lo convém que nos in-clinemos sobre o objectivo da AcçãoCatólica.

I – Objectivo da Acção Católi-ca: A Cristandade

São Pio X outorgou-nos uma descri-çãodanaturezadaAcçãoCatólicanasuamagistralencíclica“Ilfermopro-pósito”,delldeJunhodel905:

«Verdadeiramente nós todos somoschamados,naSantaIgrejadeDeus,aformaresteCorpoúnicocujaCabeçaéoCristo;Corpoestreitamenteorga-nizado,comooensinaoApóstoloSãoPaulo(…)ebemcoordenadoemtodasassuaarticulações,eissoemvirtudedaoperaçãoprópriadecadamembro,deondeoCorporetiraoseupróprio

crescimento, e a pouco e pouco seaperfeiçoanovínculodaCaridade.

Esenestaobrade“edificaçãodoCor-po de Cristo” (…) O nosso primeirodever é o de ensinar, o de indicar ométodoaseguir,bemcomoosmeiosa empregar, de advertir e de exortarpaternalmente,éigualmenteodeverde todos os nossos filhos bem ama-dos,disseminadospelomundointei-ro, o de acolher as nossas palavras,bemcomodecontribuireficazmentearealizá-lastambémentreosoutros,cadaumsegundoagraçaquerecebeudeDeus,segundooseuestadoefun-ções,segundoozelodequeoseuco-raçãoestáinflamado.

Aqui,nósqueremossomenterecordarESTASMÚLTIPLASOBRASDEZELO,EMPREENDIDAS PARA O BEM DASANTA IGREJA, DA SOCIEDADE EDOSINDIVÍDUOS,COMUMMENTEDESIGNADASSOBONOMEDEAC-ÇÃOCATÓLICA,asquais,pelagraçade Deus, florescem por todo o lado…».

A Acção Católica possui assim comoobjectivo a instauração do Reino deNosso Senhor Jesus Cristo no seiodaSantaIgreja,nassociedades,enosindivíduos.Ocampodasuaactivida-deé imensoecontemplatantoaso-ciedadecivilcomoaeclesiástica.Nãodevepoisserreduzidaaoapostoladodepessoaapessoa.Elavisa,pelocon-

OsPrincípiosdaAcçãoCatólica

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trário,ainstauraçãointegraldoReinodeNossoSenhorJesusCristo.

Pode resumir-se isso numa palavra,e São Pio X fê-lo, ele mesmo, numapassagem célebre. Aquilo a que nosdevemosordenar,éa restauraçãoda”CidadeCatólica”:

«Veneráveis irmãos,énecessáriore-cordá-lo energicamente nestes tem-pos de anarquia social e intelectualondecadaumseposicionacomodou-torelegislador,nãoseedificaráaci-dadediferentementedecomoDeusaconstituiu;nãoseergueráasociedadese a Igreja lhe não estabelece as ba-sesedirigeostrabalhos.Não,acivi-lizaçãonãoseencontraporinventar,nemacidadenovaestáparaconstruirnasnuvens.Elafoi,elaé,acivilizaçãocristã,éaCidadeCatólica»(��).

Os Papas referem-se igualmente àrestauração da ordem social. QuersefaledeordemsocialoudeCidadeCatólica,oumesmodecivilizaçãoca-tólica, ou ainda de cristandade, issoindica uma finalidade bem determi-nada.Nãosetratasomentedeoperarsobre os indivíduos ou sobre micro-sociedades, tais como a família, masdeagirsobreasociedadenoseutodo,no seu dédalo de instituições tantosociais como políticas. É a aldeia, obairro,aprovíncia,oPaísquedevemsercristãos.Massê-lo-ãotambémascorporações de ofícios, as empresas,asescolas.Longedesereduziràcul-tura,aoaspectomediáticooudacon-tingênciadoquotidiano,acivilização

cristã tende à cristianização integraldosindivíduosedassociedades(tan-tociviscomoeclesiásticas)comoofoiacristandadeàqualserefereSãoPioX(�).

Paracompreendê-lo,énecessário re-gressar a um elemento fundamentaldetodaaacçãocristã,detodaamoralcristã,detodaavidacristã:OdogmadaGraça.

II- Princípios fundamentais:Primeiro Princípio: O Dogma da Graça

Este dogma permite sempre auferirdosmétodosquemelhorenfrentamavidacristã.Evidentementetalsupõeumagradação, muitasgradações, to-daviaesteprincípioéfundamental,eo seu esquecimento conduz a catás-trofes.

Este princípio pode-se enunciar daforma seguinte: A Graça - ou a vidasobrenatural - opera enxertando-sesobre uma natureza humana feridapelopecadooriginal.

A vida sobrenatural constitui umaenxertia.(SegundoSãoTomás,aGra-çaconfereàalmanoplanoacidentalAquiloqueDeusÉnoplanosubstan-cial). Tal significa que não haveriaGraça, participação na vida Divina,senãoexistisseumaalma,umenva-samentonatural,umainteligênciaca-pazdeconhecerDeus,bemcomoumcoração afeiçoado, formatado paraamaraDeus.

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Consequentemente,asantidadedumhomemnãoéadeumanjo.Asantida-dedumadultonãoéadeumacrian-ça,eassimsucessivamente.ÉporissoqueseafirmaqueaGraçaseconformacomoscontornosdavidanatural.

Neste quadro conceptual, a Graçapossuidoisefeitos.Oprimeiro,maisfundamental,consisteemelevarana-tureza.Dessemodo,asobrenaturezaelevaainteligênciamediantealuzdaFé, e eleva a vontade pela Caridade,pelaEsperança,bemcomoportodasasvirtudesmorais.

Todavia a Graça não se destina so-mente a elevar a natureza. A Graçacuida igualmente de uma naturezahumana ferida pelo pecado original(Graça medicinal), pronta a cair noerro,nadurezadecoração,na facili-dade,noamordassuascomodidades,noegoísmo,nasensualidade.AGraçavemcorrigirestasmástendências.Elareconstitui o espírito pela RevelaçãoSobrenatural,pelavidadeFé,aGra-çacicatrizaavontadeferidapeloseuamorpróprio,cura-adoseuegoísmopelaCaridadeeasoutrasvirtudes.

PeranteestedogmadaGraçaquevempenetrar uma natureza, elevando-aeordenando-a,doiserrosopostosselevantamcomassuasinevitáveismo-dalidades:oangelismo,eonaturalis-mo.

-Oangelismocolocaindevidamenteoacentosobreasobrenaturezacomde-trimentodanatureza-edaumanatu-reza ferida. Esquece que a santidade

dependedohúmusnoqualfoiplanta-da.Concretamente,oangelismoparaumcristãoreconduz-sealimitar-seàoração,semoperaroseudeverdees-tado.Navidaprofissional,talconsis-teemacumularnovenasparaavançaros documentos, sem por outro ladoos trabalhar.Paraumamãede famí-lia,angelismosignificaestarnaMissaquando os seus filhos regressam daescola, ou o seu marido regressa dotrabalho.

-Onaturalismoconsiste,pelocontrá-rio, em exaltar a natureza perdendodevistanãosomenteas feridaspro-fundasdamesma(opecadooriginal),massobretudooscontributosdaGra-çaeosmeiossobrenaturais.

Num enquadramento prático, um“apóstolo” naturalista pensa con-verter as almas mediante golpes desábiosargumentos,semusardeora-çõesepenitências.Umpaidefamílianaturalistanãopensaemfacultaraoseu filho os meios sobrenaturais: acriança permanece numa escola nãocatólica,mergulhadaassimnumaat-mosferadeondeosobrenaturalestáexcluído.

No domínio da Acção Católica estesdados possuem uma importânciacapital; pois que esta tem de tomarconta,simultaneamente,danaturezahumanaedaGraça.

Bemimprudenteseriaomissionárioquenãoprestasseatençãoaoscostu-mes locais e da natureza humana, equeselançassedeolhosfechadosno

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apostolado! « judeu com os judeus»afirmavaSãoPaulocomconhecimen-todecausa…

Foi precisamente isso que foi esque-cidoporMarcSangnier.Pecandopornaturalismo, ele iludiu-se profunda-mente sobre a natureza humana eimaginou uma sociedade de iguais,onde as pessoas, doravante adultas,integrariamelasmesmasumacondutaresponsável.Duplaquimera.Sangnierolvidava,porumladoadesigualdadenaturaldoshomenscomofundamen-to duma necessária hierarquia socialepolítica,eporoutroladoaferidadopecadooriginalcomoconstitutivadaconduta repreensível e irresponsáveldenumerososhomens.

São Pio X apontou o erro: O Sillon« trabalha para realizar uma era deigualdade,aqualconstituiria,porsuaprópria natureza, uma era de maiorjustiça. Assim para ele, toda a desi-gualdadedecondição incorporaumainjustiça(…).

Constituiumprincípiosoberanamen-tecontrárioànaturezadascoisas,ge-radordeinvejaeinjustiça,bemcomosubversivo de toda a ordem social».(��)

Muitopelocontrário,aSantaMadreIgreja sempre ensinou a conservar eprotegeraordemnatural,bemcomooscostumeslegítimosdospovos,como objectivo de os cristianizar. É porissoquenaAcçãoCatólica,aprimeiraregraconsistenaadaptaçãoaoreal.

E o real é esta interpenetração con-tínua,constitutiva,donaturalcomoSobrenatural. É necessário respeitaras duas ordens, não sustentar umasemaoutra,masdiligenciarparaqueaGraçasederramesobreanatureza,elevando-a,esarando-a.

AAcçãoCatólicadevepoisvelarparaque possa operar segundo a ordemnatural, impregnando-a simultanea-mente com os bens da Graça. Numapalavra,aAcçãoCatólicadevecristia-nizaraordemdascoisas.

Segundo Princípio: A natureza social do homem

A primeira aplicação deste segundoprincípio consiste em nos certificar-mosdumfactodanatureza:Ohomemnãoéumserisolado.Eleviveemso-ciedade, e não alcança o seu bem demaneiraindividual–alcança-osimdeformacolectiva,socialepolítica.

Abandonado a si mesmo, mesmo naordem natural, o homem é incapazdeatingiroseubemespecificamentehumano: A virtude, no duplo senti-dodecontemplaçãoedeintegridademoral.Abandonadoasimesmo,oho-meméumselvagem.Privadodomeioeducativofamiliaresocial,ohomempermaneceumadolescenteperpétuo,dominado pelos seus instintos maisgrosseiros.

« A realização integral do bem espe-cificamente humano, nota o PadreLachance, está condicionada ao con-cursounoemúltiplodacolectividade.

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Époisatítulodehomemqueoindiví-duoésociável.Senãoexistissembensespirituaisaprosseguir,bastar-lhe-ia,como acontece com várias espéciesanimais, viver no estado gregário».(5)

Os corpos intermédios

Por outro lado, esta vida em socie-dade não constitui um colectivismo,ondehaveriadumladooEstadotodo-poderoso e providente e do outro oindivíduo isolado. Este colectivismo,ensaiado pelo comunismo ao preçodecarnificinashumanasenaufrágioseconómicos, não pode existir senãosoba fortepressãodepoderososór-gãospolíticosoufinanceiros.

Aordempolíticanaturalnãoéassim.Ela comporta aquilo que se denomi-na:OsCorpos intermédios.Querdi-zerqueentreo indivíduoeoEstado(opoderpolíticosupremo)seencon-tram a família, o bairro, a aldeia, aprovíncia,aempresalocal,etc.

« Os Corpos intermédios, escreviaRenéPierron,constituemgruposso-ciais,agrupamentoshumanos,situa-dosentreoindivíduoisolado(ouafa-mília,céluladebase)eoEstado.Elessão constituídos seja naturalmente,sejaporacordodeliberado,tendoemvistaalcançarumfimcomumàspes-soas que compõem tais agrupamen-tos».(��)

Michel Creuzet prossegue: « Taisagrupamentos são complementaresunsdosoutrosnosseguintesplanos:

Local:grupoqueserefereaoslugaresde nascimento, de vida, de educaçãodumapessoa-aldeia,paróquia,comu-na(…)

Profissional:grupoqueserefereàac-tividadehumana-empresa,profissão,ofício,sindicatos(…)

Cultural: escola, academia local, so-ciedademusical(…)

Religioso:aparóquia,adioceseeres-pectivasobras;

Recreativo:gruposdesportivos,turís-ticos,deentretenimento,colecciona-dores,etc»(7).

Todaestahierarquiadepatamaresin-termédiosconstituiumaorganizaçãoqueaplicaoprincípiodasubsidiarie-dade, o qual consiste numa espéciede delegação, de descentralização dopoder.

E cada Corpo intermédio imprime oseu sinete sobre o indivíduo. O ho-mem encontra-se naturalmente as-sinalado, marcado, pela sua família,a sua aldeia, a sua formação, a suaCorporaçãodeofício,oseupaís,asuacultura.

Consequentemente, pretender cris-tianizarohomemàmargemdassuasestruturas vitais constitui uma pro-funda ilusão. Se o homem vive numuniverso ateu, quer dizer sem Deus,na sua família, no seu trabalho, emtodaasuavidasocial,entãoseráge-nericamenteutópicopretenderasuarealsantificação.Porconseguinte,se

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queremoscristianizarohomem,éne-cessário cristianizar a sociedade: OsCorpos intermédiosefinalmente to-dasasinstituiçõessociaisepolíticas.

Foi precisamente isto que a SantaIgrejasempreseesforçouporrealizar:Elatomouohomemtalcomoeleera–incorporadonoseiodumasociedade.Então, após ter convertido indivídu-os,elabaptizouasNaçõeseascristia-nizou–talconstituiaCristandade.

Sinteticamenteafirmaremosquetodaa doutrina social e política da SantaIgrejasepodeconcentrarnaaplicaçãodestesdoisprimeirosprincípios:

AGRAÇADEVEIMPREGNARTODAA NATUREZA DO HOMEM, SEM ADESTRUIR;ORAOHOMEMÉSOCI-ÁVEL;

A GRAÇA DEVE ENTÃO IMPREG-NAR, SEM A DESTRUIR, TODA AVIDA SOCIAL E POLÍTICA DO HO-MEM.

ComoescreviaSãoPioX,aAcçãoCa-tólicaultrapassaoquadrodosindiví-duos: «Aqui, nós queremos somenterecordarestasmúltiplasobrasdezelo,empreendidas para o bem da SantaIgreja,dasociedadeedosindivíduos,comummentedesignadossobonomedeAcçãoCatólica».

Desgraçadamente,intelectuaispoucofamiliarizadoscomasrealidadescon-cretas(8)imaginamquenãoéneces-sáriocristianizarassociedadesatéaonível das suas instituições políticas,mas que é suficiente operar sobre o

mundodaculturaedasideias.

Quechegaperfeitamenteiragitandooambientesegundoosacontecimen-tos, consoante a vida cultural; queé suficiente ir falando ao mundo; irtestemunhando;irdialogandocomomundo.

ParaládainjúriafeitaaNossoSenhorJesusCristoeaosSeusdireitosdeSo-beraniasobretodaarealidade,tantoespiritualquantotemporal,estaideo-logialevementecoloridadecristianis-mo menospreza uma realidade con-creta, dum homem necessariamenteinfluenciadopelomeioambiente.

Terceiro Princípio: Distinção entreobrasespirituaisetemporais

Além disso, se a Acção Católica visacristianizar o homem em toda a suarealidade, em toda a sua natureza,estaacçãodivide-seemdoistiposdeobras:

-As obras estritamente espirituaiscomo a Liturgia ou o Catecismo. Es-tasobrasencontram-sedirectamenteordenadas a um bem sobrenatural,relevando a sua realização directa eimediatamentedaSantaIgreja

-Asobrastemporaisàsquaisseasso-ciaumelementomoralouespiritual,comocuidardumdoenteouministrarjustiça.Estasobrasestãodirectamen-teordenadasaumbemtemporal.Cui-dardeumdoenteéantesdetudoumaobranatural.Todaviaesta obradeveser cumprida num enquadramentoenumespíritocristão.Nósobserva-

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mo-lo bem, hodiernamente, com asquestões levantadas pelo encarniça-mento terapêutico e a eutanásia, ouas investigações embrionárias. Estedomíniotemporalrelevadirectamen-te das autoridades civis, e indirecta-mente das autoridades eclesiásticas,naexactamedidaemqueasautorida-des leigas devem obedecer às regrasministradaspelaSantaIgreja,noqueàFéeMoralconcerne.Efectivamen-te,segundoaexpressãodeSãoPioX,odomíniomoral«constituiodomínioprópriodaSantaIgreja»(9).Alémdis-so,comosublinhaaindaSãoPioX,averdadeira civilização somente podeexistir fundamentada em bases mo-ralmentesãs.AverdadeiracivilizaçãocristãnãopodepoisexistirsemaSan-taIgreja.

A Cristandade

Estasobrenaturalimpregnaçãodaor-demindividual,socialepolítica,tem-poral e espiritual, consubstancia oqueaSantaIgrejaoperou–graçasaoconcurso das autoridades civis – na-quiloquesedenominaaCristandade,equeSãoPioXchamadeCivilizaçãoCristã.

-Dumpontodevistaestritamentere-ligioso,aSantaIgrejadiligenciouemdesenvolveravidasobrenatural:

PelapregaçãodaFépormeiodecate-cismos,homiliasdominicais,missõesparoquiais,literaturareligiosa.

Pela protecção contra a heresia me-diante a vigilância e a interdição de

publicaçõesheterodoxas,ascondena-ções,oÍndexeaSantaInquisição(des-graçadamente,depoisdarevoluçãode�789,aSantaIgrejanuncamaispôdedispordobraçosecularparaimporepropagarasuadoutrina,exceptoemEspanha, no período de �9�9-�975,embora aqui de uma forma já muitoatenuada).

Peloculto:OSantoSacrifíciodaMis-saemcadaaldeia,oOfícioDivinonocoro,bemcomotodasasdiversasora-ções.

Pelafundaçãodeinumeráveisordensreligiosasemosteiros,osquaispovo-avamaEuropainteira.

Pelainstauraçãodeumarededeparó-quias,asquaisministravamatodaapopulaçãoosocorroquotidianoefa-miliardaSantaIgreja.

Pela obra das Missões Apostólicas.Pela fundação de Ordens Terceiras,filiadasemOrdensReligiosas.

- Dum ponto de vista temporal, aCristandade não aboliu a ordem na-tural.Nãosuprimiuafamília,nemasaldeias, as províncias ou os Estados,nãosuprimiuotrabalho,nemasclas-sessociaisouoPoderPolítico,nãosu-primiuaguerra,nemaeducaçãoouacultura.

Longe de suprimir todas estas reali-dades,aCristandaderepassou-asemprofundidade com a Graça Sobrena-tural.

AFamília.ASantaMadre Igreja for-

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tificou-a, beneficiando-a com umaindissolubilidade mais firme, aben-çoando-a,honrandoaesposaeamãecristã, nomeadamente pelo culto daVirgemMaria.

Aaldeia.ASantaIgrejaposicionou-aà volta do Altar do Santo Sacrifício,unificando-a

aoredordoseupároco.ASantaIgrejaconstituiu os seus ritmos de vida aosomdossinosedosOfíciosDivinos,mastambémintegrandoessesritmosem todo o ciclo litúrgico e festas depadroeiros.

Otrabalho.Longedeaboliredeexa-cerbarasdesigualdades,aSantaIgre-ja diligenciou penetrá-las com a suainfluência sobrenatural, medianteconfrariascorporativas.

Ela inaugurou as festas de padroei-ros,einsculpiuoespíritocristãonoscostumeseacaridadeentreosmem-bros.

Asclassessociais:Progressivamente,aSantaIgrejasuprimiuaescravatura.Por outro lado, ela abençoou e cor-roborou os juramentos de fidelidadepara com as autoridades (os Senho-res)ensinandoossúbditosavernosseussuperioresosreflexosdaautori-dadeDivina,edemonstrandoaestesúltimos quais eram os seus deveres,pelosquaisteriamumdiadeprestarcontasperanteoTribunalDivino.

OPoderPolítico:ASantaMadreIgre-ja baptizou e converteu – não semgrandesdificuldades–asautoridades

políticas.OsnomesdeConstantinoeClóvis,paracitarapenasdois,encon-tram-separasempregravadosname-móriadaSantaIgreja.Estasagrouosreisparalhesoutorgarumauxílio,umfundamento,bemcomoumaorienta-ção espiritual, ordenando-lhes quedefendessem a Fé e assegurassem obemeaprotecçãodosseussúbditos,nomeadamenteospobreseosfracos.

Aguerra:ASantaIgrejainstaurouatréguadeDeuseinsuflouumespíritoautenticamentecavalheiresco.

A educação: A Santa Igreja povooua Cristandade de escolas catedrais,posteriormente de Universidades,salvando simultaneamente de umaperda irreparável o património inte-lectualdaAntiguidade.

A cultura – A arte em todas as suasramificações, foi não somente enco-rajada,mascristianizada,elevadaaoníveldeinstrumentodecultura.

Equedizerdasobrasdebeneficênciaefectuadaspelosalbergues religiososehospíciosdetodasasespécies!Nãoterminaríamosdeenumerarasobrassuscitadas pela Santa Madre Igreja,noseudesígniodetudorestauraremNossoSenhorJesusCristo.

Cristianizar as estruturas

Detodaestaenumeraçãoumaconclu-sãoseimpõe:

A Santa Igreja fundou e cristianizouestruturascomoobjectivodemelhorcristianizarosindivíduos:

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Na ordem propriamente espirituala Igreja fundou estruturas. Ela sem-pre nutriu esta preocupação. Após apassagemdemissionários,oseupri-meiro esforço permanente foi o deperpetuar o apostolado mediante aconstituição de paróquias, de dioce-ses, de mosteiros, de ordens religio-sas. Por exemplo, SãoBentoque tãopujantemente irradiou, e continuairradiando, não foi senão devido àsestruturasqueconstituiu,àregraqueedificou.

Na ordem temporal, a Santa Igre-ja suscita e cristianiza as estruturas(�0). Ela não se satisfaz em assina-larculturalmenteaspessoas,aSantaIgrejapossuicomoescopobaptizarasestruturas.FoierrodoSillon,domo-dernismo,deMaritain,bemcomodetodososliberais,opretenderemqueénecessárioquenoscontentemoscomumaordemespiritualequedevemosatingir os indivíduos, sem procurarbaptizarasestruturastemporais.Talconstituiumerroprofundo,condena-dopeladoutrinaepráticatradicionaisdaSantaIgreja.

Umaoutraconclusãoseimpõe,équeestasestruturassãomultiformes.

Na ordem espiritual, a organizaçãodaSantaIgrejanãoétotalitária.NãoexistedumladooPapa,depoisopriorda paróquia. Não constitui um co-lectivismo religioso. Também se nãotrata dum igualitarismo a qualquerpreço, ou de uma democracia. EntreoPapaeopriordaparóquia,existem

osBispos.Eemcadadiocese,existemparóquias e obras diocesanas, diver-sas, múltiplas, mais ou menos inde-pendentes umas das outras, ou in-dependentes das paróquias, as quaisdependemdosBispos,oupelomenosdeRoma,paraasobrasnacionais(ar-qui-confrarias).Semesquecerosreli-giosose religiosasqueseencontramsobajurisdiçãodoBispooudoPapa.

Naordemtemporal,aIgrejatemcomoobjectivocristianizaroscorposinter-médios: cidade, corporações;quandoelesseencontramameaçados-prote-gê-los; e quando são destruídos- re-construí-los. (cf- na Antiguidade opapel de defensores das cidades queos Bispos desempenharam face aosinvasoresbárbaros).

A Acção Católica dos homens do sé-culoXXIdeveassimconsistirnapros-secuçãodaprotecçãoecristianizaçãodas estruturas, dos corpos intermé-dios existentes, bem como a recriarcorpos intermédios onde eles nãoexistem.

Entretanto,antesdefazerreferênciaaosmeiosconducentesatal,éneces-sárioministrardoisoutrosprincípiosessenciaisdaAcçãoCatólica:as« re-lações que todas as obras da AcçãoCatólica devem possuir com a auto-ridadeeclesiástica»(��)bemcomoaconfessionalidade(seelasdevemab-solutamenteconfessaraFéCatólica)dasobras.

AbbéFrançoisChautard

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(SEGUE)

NOTAS

Nós podíamos acrescentar não somen-te antes mas durante a acção. Porque, podemo-nos formar, posteriormente, no fogo mesmo da acção, olvidar no decur-so de meses e anos a formação inicial. Assim se explicam numerosas defecções e desvios progressivos.Notre Charge Apostolique, 25 de Agos-to de 1910, documentos apostólicos de Sua Santidade São Pio X, t-2, publica-ções do Correio de Roma, 1993, p 255.A questão, dum ponto de vista humano, da possibilidade actual e imediata dum tal empreendimento, é outra. Ela não poderia entretanto recolocar em causa os princípios e particularmente o de-ver de tender para este ideal. Por outro lado, em política- cristã ou não- o pior dos caprichos é o de se considerar ante-cipadamente vencido. Toda a História da Igreja manifesta, pelo contrário, a possibilidade de nas condições mais sombrias ser instaurado o Reinado So-cial de Nosso Senhor Jesus Cristo. Cf as conversões de Constantino e Clóvis, bem como a epopeia de Santa Joana d’Arc. NOTRE CHARGE APOSTOLIQUE, 25 DE AGOSTO DE 1910, documentos pontificais de Sua Santidade Pio X, t.2 publicações do Courrier de Rome, 1993, p.258Louis Lachance o.p. O humanismo polí-tico de São Tomás de Aquino « indivíduo e estado» - Editions Sirey, p.71.Citado por Michel Creuzet, Os Corpos intermédios, edição dos círculos São José, suplemento em Verbe, n-137 e

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138, p. 11.IbidemJacques Maritain distinguiu-se pela ne-gativa com a sua preocupação de esta-belecer o Reino de Cristo não de manei-ra política, mas cultural. Cf. A sua obra” Religião e cultura”publicada em 1930, a qual cheira já a enxofre.NOTRE CHARGE APOSTOLIQUE, 25 DE AGOSTO DE 1910, Documentos pontificais de Sua Santidade Pio X, t.2, publicações do Courrier de Rome, 1993, p. 254Na sua encíclica Graves de communi, de 18 de Janeiro de 1901, acerca da Acção Católica, Leão XIII evocava estas insti-tuições: «Esta ciência da Caridade, que Nosso Senhor Jesus Cristo lhes havia transmitido, os Apóstolos imediata-mente a puseram em prática, em tal se aplicando com um zelo religioso. Depois deles, aqueles que abraçaram a Fé Cris-tã tomaram a iniciativa de criar uma multidão de instituições variadas para o alívio das misérias, de toda e qualquer natureza, que afligem a Humanidade.Estas instituições, perpetuamente na senda do progresso, constituem a pro-priedade, a glória e o ornamento da religião cristã, bem como da civilização à qual essa religião deu origem. Analo-gamente os homens de recto julgamento nunca poderão admirá-las suficiente-mente, na exacta medida em que so-bretudo o pendor, tão pronunciado, de cada um de nós para buscarmos, antes de tudo o mais, o nosso próprio interes-se, e a colocarmos em segundo lugar o interesse dos outros (…) uma das gló-rias da Caridade, consubstancia-se não somente no refrigério das misérias do povo, mediante socorros transeuntes, mas sobretudo através dum conjunto

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de instituições permanentes. Desta ma-neira, efectivamente, os necessitados aí encontrarão uma garantia mais segura e mais eficaz. Neste quadro conceptual, afigura-se como digno de todos os elo-gios o desígnio de ministrar formação em economia e previdência aos artífices e aos operários, com o objectivo de lhes

facultar os meios para assegurarem, eles próprios, pelo menos parcialmente, o seu futuro.» in Le Laicat, Os ensina-mentos pontificais reunidos pelos mon-ges de Solesmes, Desclée n 274 e 277, p.176 e 177.São Pio X, IL FERMO PROPOSITO in Le Laicat, op. Cit. N-364, p.219.

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ASantaIgrejaCatólicadesdesemprerodeou os corpos dos fiéis defuntosdeumprofundorespeito.Osséculosde cristandade permaneceram total-menteestranhosàpráticadacrema-çãodoscorposdosdefuntos.ASantaMadre Igreja opôs-se sempre, desdeo início, vigorosamente, à prática dacremação.

Antes de qualquer outra coisa, é ne-cessário precisar o sentido das pala-vras:

-ACREMAÇÃO(doLatimcremare:queimar)designaocostumedequei-maroscorposdosdefuntos.Esteter-moevocaa imagemdofornocrema-tório,ondesecolocaocadáver.

-OtermoINCINERAÇÃO(doLatimin: em, e cinis: cinza) indica o efeitoda cremação: a redução do corpo acinzas.

- A INUMAÇÃO, segundo a etimolo-

gia (in: em, e húmus: terra) consistenadeposiçãosobaterradumcadáverhumano. No mesmo sentido, diz-setambém«enterro».

O uso praticado pelos cristãos nos primeiros tempos da Igreja

A Santa Igreja Católica, nossa Mãe,rodeousempreoscorposdosfiéisde-funtosdumgranderespeito, comoodemonstrabemacerimóniadaabsol-vição,apósamissafúnebre:osacerdo-tebenzeocorpodefuntocomaáguabenta, depois incensa-o rodeando oataúde.Estashonrascheiasdepieda-deede respeitosãoprestadasassimpelosacerdote,emnomedaIgreja,aocorpodefunto,parabemdemonstrara todos que este corpo constituiu otemplodoEspíritoSanto,queelefoiresgatado por alto preço, pelo pre-ciosoSanguedeNossoSenhorJesusCristo,tendosidoigualmentesantifi-

OquepensaaSantaIgrejadainumaçãoedacremação

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cadopelosSacramentos.

ASantaIgrejarespeitaassimnomaiselevadograuocorpodofieldefunto,encarregando o seu representante,osacerdote,deoacompanharatéaolugar da sua «deposição» no seio daterra, onde esperará, em paz, a Res-surreiçãodoscorposqueseefectivaránofimdomundo.

APRÁTICADAINUMAÇÃOFOISIS-TEMÁTICA ENTRE OS PRIMEIROSCRISTÃOS, apesar das dificuldadesque ela então comportava, nessestemposdegrandesperseguições:

-Muitograndeeraentãooperigodoscristãosseremdescobertospelosseusperseguidores, fosse no momentoemqueelesrecolhiamoscorposdosmártiresparalhesfacultarumahon-rosasepultura,fossenomomentodainumação;esteperigoéatestadopelacartaqueoclerodeRomaescreveuaoclerodeCartago,aquandodafugadeSão Cipriano. O Martirológio roma-no menciona aliás, explicitamente,exemplosdecristãostornadosmárti-resquandorecolhiam,piedosamente,oscorposdosseusirmãosmartiriza-dos.

-Existiaaindaoperigodequeosce-mitérios, uma vez descobertos, fos-sem violados ou confiscados, comoaconteceu sob Valeriano, ou aindaexumados, comoemNicomédia, sobasordensdeDiocleciano.

-Perigoaindaparaaprópriareligião,porque os pagãos ridicularizavam e

difamavam os cristãos por causa dainumaçãodosseusdefuntos.

- Finalmente, existiam as dificulda-desquerepresentavamostrabalhosaefectuarparaprocederàsescavaçõesnecessárias ao posicionamento dascâmarasfunerárias,comriscosenor-mescorridospeloscoveiros,emplenaexecuçãodassuastarefas.

Neste enquadramento, coloquemosentãoapergunta:porquêtantaobsti-naçãodapartedosprimeiroscristãos,osquaisrecusavamcategoricamenteacremação,correndocomissoosmaisgravesperigos?

A prática da inumação, um preceito apostólico

A resposta correcta à supracitadaquestãoémuitoimportanteparanóshoje, e a resposta só pode ser esta:OS PRIMEIROS CRISTÃOS PRATI-CARAM A INUMAÇÃO SISTEMÁ-TICA DOS SEUS DEFUNTOS, AOPREÇO DOS MAIORES PERIGOS EDASMAIORESDIFICULDADES,EMVIRTUDE DE TAL PRÁTICA CONS-TITUIR UM PRECEITO APOSTÓLI-CO. Era necessário, efectivamente,que uma razão grave, sobrepujandomesmoopreçodavida,permaneces-sevinculadaaestapráticadainuma-ção.Oranãopodeexistirsenãoumarazão: Somente uma disposição dis-ciplinar emanada directamente dosApóstolos, impondo aos primeiroscristãossóeapenasainumação,podeexplicarestapráticaexclusivadaIgre-japrimitiva.

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ÉistoqueoPadreSteccanellaexplicamuitobem:

« Nós encontramo-nos em presençadum uso de origem apostólica, dumuso de carácter universal, dum usomantido sem interrupção até aosnossosdias,equeseencontraassimrevestido duma tal autoridade, quenósdevemosintegrá-lononúmerodeusos ou ordenamentos disciplinaresdum valor supremo na Santa Igreja.Nestequadroconceptual,Santo Ino-cêncioI(��07-���7)nãohesitouemde-clararqueaviolaçãodesemelhantesdisposições disciplinares constituíaum dos escândalos mais graves, nãopodendotaisdisposiçõesser revoga-das,oudelasfacultardispensa,senãoemcasodenecessidade.Aopiniãoco-mum,desdeosprimeiros temposdaIgreja, sustentava serem estes orde-namentos superiores a qualquer au-toridadeprivada,fosseelaqualfosse,deformaqueasuamaisfortegarantiaconsistia precisamente na Tradição,querdizer,nasuaconservaçãodesdeosapóstolos,atravésde todosossé-culos.Tertuliano,dissertandosobreoseuvalor,escreviaqueeranecessário,inviolavelmente,procederemconfor-midade a tais prescrições exclusiva-mentepelasuaforçaconsuetudináriaeobservaçãoconstante.»(�)

Analogamente, fiel a este preceitoapostólico,aSantaMadreIgrejasem-pre perseverou na prática da inuma-ção, impondo-a aos povos bárbarosque vieram instalar-se na Europa e

queseconverteram,unsapósoutros,àFéCatólica.Oúltimoaadoptardefi-nitivamenteesteritofoiopovoprus-siano, em �����5, quando foi vencidopelosCavaleirosTeutónicos.

NãoéportantosurpreendentequeaSanta Igreja tenha estabelecido estapráticadainumaçãocomoumaobri-gaçãoaobservarportodososfiéis,noCódigodeDireitoCanónicode�9�7:«OSCORPOSDOSFIÉISDEFUNTOSDEVEMSERSEPULTADOS,ESTÁRE-PROVADAASUACREMAÇÃO»(��).

Este Canon vinha assim confirmaruma tradição constante, de origemapostólica,instituindoumapráticadamaisaltaconveniência,poisqueessatradiçãoprescreviaapiedosadeposi-çãodoscorposdosfiéisdefuntosnosrespectivostúmulos,talcomooCor-po Sagrado de Nosso Senhor JesusCristo, O Qual foi depositado numsepulcronovo,escavado no rochedo,propriedadedeJosédeArimateia.

Notemosparafinalizarqueainuma-çãoqueésolicitadapelaSantaMadreIgrejanãosecompreendenosentidoestritodotermo:Assimocorpopodeserdepositadonumalvéolo,numco-lumbário, ou num sarcófago, aindaquesesitueacimadoníveldosolo.

As origens da prática bárbara da cremação, que actualmente se tem expandido

OsséculosdeCristandade permane-ceramtotalmenteestranhosàpráticadacremaçãodoscorposdosdefuntos.

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É necessário esperar pela revoluçãodita francesa de �789 para assistir-mos ao aparecimento da reivindica-çãodacremação-semnenhumsuces-so aliás, esta primeira tentativa nãoobtevequalquersequência.

Foi apenas no último quartel do sé-culoXIXqueaideiadacremaçãoga-nhoualgumaconsistêncianaEuropa,quandoaslojasmaçónicasobtiveramdos governos o reconhecimento ofi-cial deste rito, retomado de certospovospagãosdaAntiguidade.FoiemItália que se inaugurou a campanha,com as primeiras experiências reali-zadasemPáduaem�87��.EmAbrilde�87�,oSenadoautorizouasfamíliasa recorrerem,paraosseusdefuntos,àcremação.AprimeiracremaçãotevelugaremMilão,em����deJaneirode�87��.

Numerosas sociedades se constitu-íram então ( em Dresden, Zurique,Gotha,PariseLondres)comoobjec-tivodepropagarestapráticanaEuro-pa.UmcongressoreuniumesmoemDresdenem�87��.

Em França, foi em �0 de Março de�88��queodoutorBlatin,franco-ma-ção notório, fez adoptar, no decursodadiscussãoda lei sobrea liberdadedas exéquias fúnebres, uma emendanos termos da qual todo o cidadão,de maior idade, ou menor emanci-pado, podia adoptar a inumação oua cremação como destino dos seusrestosmortais.EmPortugal,averea-çãorepublicanadaCâmaraMunicipal

de Lisboa mandou edificar em �9��5o forno crematório do cemitério doAlto de São João, mas a prática dacremaçãosócomeçouaenraizar-seapartirde�990.

Neste mesmo dia, Monsenhor Fre-ppel,bispodeAngersedeputadodeFinisterra, elevou vigorosamente oseu protesto contra esta emenda le-gislativa na Câmara de deputados,numdiscursoondeprocedeuàabor-dagemhistóricadapráticadacrema-ção;declarounomeadamente:

«Historicamentefalando,asorigensda incineração não se apresentamespecialmente configuradas para atornarem recomendável; trata-sefundamentalmente dum regresso aopaganismo,naquiloqueesteinstituiudemenosmoraledemenoselevado-trata-sedumpaganismomaterialista.(…) A inumação constituiu a práticamaisgeneralizadaeamaisconstantedos povos, enquanto que a incinera-çãoapenasfigurounaHistóriaatítu-lodeexcepção.»

EMonsenhorFreppelnãoseatemo-rizou em fazer ouvir e compreenderbemestasenérgicaspalavrasatodososdeputadospresentes:«Entregar-sea si próprio, ou permitir aos outrosentregarem-se a uma operação quetemporobjectivoofazerdesaparecero mais rápido e completamente queépossívelosrestosmortaisdaquelesquenossãomaisqueridos,e issonoprópriodiadasexéquias,nomeiodaslágrimasdetodaafamília-talconsti-

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tuiumactodeselvageria.»

Declarouaindaque:«Historicamente,acremaçãocomogénerodesepultura,seacasoéaindapermitidodenominá-ladestemodo,constituiumverdadei-rorecuonamarchadaCivilização.»

A legislação eclesiástica reprovando a cremação

ASantaIgrejaCatólicaopôs-sedesdeo início, vigorosamente, a esta cam-panha de origem franco-maçónica,emfavordacremação.

EmRoma,em�9deMaiode�88��,oSantoOfíciocondenavaformalmentea prática da cremação pelo seguintedecreto:

« Numerosos bispos e fiéis esclare-cidos verificaram que homens de féduvidosaouvinculadosàseitamaçó-nica,operamhojeemdiaactivamentepara restabelecerem o uso pagão decremar os cadáveres humanos, insti-tuindo mesmo sociedades especial-mente consagradas a este objectivo.Elesprocuramqueosseusartifícioseos seus sofismas enganem os fiéis, eque insensivelmentenelessedebili-teeatenueaestimaeorespeitopelocostume cristão da inumação doscorpos dos fiéis, costume constantee consagrado por ritos eclesiásticossolenes.

Com o objectivo de facultar aos fi-éisumaregracertaqueosresguardedestas armadilhas, eles solicitaram àSuprema Congregação da InquisiçãoRomanaeuniversalparaquedeclare:

Seélícitodaroseunomeàssocie-dadesquepossuemcomoescopoapromoçãodousodaincineraçãodoscadávereshumanos?

Seélícitoordenaracremaçãodoprópriocadáver,oudocadáverdeoutrem?

E os eminentíssimos e reverendíssi-mos Cardeais inquisidores gerais emmatéria de fé, após terem sopesado,séria e sazonadamente, as dúvidassupra-referidas,eapósteremtomadoo conselho dos padres consultores,julgaramdeverresponder:

Àprimeiradúvida,Não,esesetratadesociedadesfiliadasnaseitamaçó-nica,incorre-senaspenascominadascontraela.

Àsegundadúvida,Não.

FoifacultadaaoNossoSantíssimoPa-dreoPapaLeãoXIIIumarelaçãodes-tas respostas do Santo Ofício; e SuaSantidade aprovou e confirmou asdecisões dos Eminentíssimos Padrese ordenou que tais decisões fossemcomunicadasaosOrdináriosdosluga-res,paraqueestes instruamoportu-namenteosfiéisnoqueconcerneaodetestávelusodecremaroscadávereshumanos,paraquecomtodasassuasforças dissuadam o rebanho a elesconfiadodesemelhanteprática.(�)»

Este decreto foi seguido por outrostextosdoSantoOfícioreprovandoin-cessantementeacremação:

-Decretode�5deDezembrode�88��,

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emvirtudedoqualdevemserpriva-dos de sepultura eclesiástica aquelesque, por sua própria vontade, desti-naramoseucorpoàcremação,eper-severaram de forma certa e notória,atéàsuamorte,nasuaculpáveldis-posição.

-Decretode��7deJulhode�89��,oqualproíbe:

deadministrarosúltimosSacra-mentos aos fiéis que deixaram omandado de queimar o seu cor-po,apósasuamorte,equetendosido advertidos, recusem rectifi-carasuaresolução;

de aplicar publicamente o SantoSacrifíciodaMissapelosfiéisde-funtoscujoscorposforamcrema-dos,comumaculpabilidadecertadasuaparte(permanecendoau-torizadaaaplicaçãoprivada.

-Decretode�deMaiode�897:Foirespondido a uma Superiora das Ir-mãs hospitaleiras que os membrosamputadosdosfiéisbaptizados(bra-ços,pernas)devem,semprequepossí-vel,sersepultadosnumlugarsagrado( por exemplo, numa parte separadadojardim,paratalbenzida).

Logicamente, todos estes decretossucessivos de reprovação foram re-tomadosesintetizadosnoCódigodeDireitoCanónicode�9�7,particular-mentenoCanon���0�,oqualdeclaramuitoclaramente:

Os corpos dos fiéis defuntos de-vemsersepultados;asuacrema-

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çãoéreprovada.

Se alguém ordenou, de qualquermaneira que seja, que o seu ca-dáver seja entregue à cremação,é ilícito executar essa vontade; ese tal vontade está incorporadanum contrato, num testamento,ououtroqualqueracto,taldispo-siçãodeveter-sepornãoescrita.

EoCanon�����0,�º,precisaainda:

«Sãoprivadosdasepulturaeclesiás-tica,amenosqueantesdasuamortetenham manifestado sinais de peni-tência:(…)

5-Aquelesqueordenaramqueoseucorpofosseentregueàcremação.»

A Santa Igreja está consciente do perigo para as almas

Finalmente, nove anos após a pro-mulgação do Código de Direito Ca-nónico,ainstruçãodoSantoOfício«cadaverum cremationis», com a datade�9deJunhode�9����,dirigidaaosOrdináriosdoslugaresdomundoin-teiro, renovava a reprovação da cre-maçãodoscorposdosfiéisdefuntos,efundamentalmentedeclarava:

«(…)NesteCOSTUMEBÁRBARO,oqualrepugnanãosomenteàpiedadecristã,mastambémàpiedadenaturalpara com os corpos dos defuntos, equeaSantaMadreIgreja,desdeasori-gens, permanentemente proscreveu,existemcontudomuitos,mesmoen-trecatólicos,osquaisnãohesitamemaíapurarasmaislouváveisvantagens,

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quesedevemaopretensamentedeno-minadoprogressomodernoeàhigie-ne pública. Neste enquadramento, aSagradaCongregaçãodoSantoOfícioexortadaformamaisvivaospastoresdo redil cristão a demonstrarem aosfiéis,dosquaistêmaresponsabilida-de, QUE A UM NÍVEL PROFUNDO,OS INIMIGOS DO NOME CRISTÃOAPENAS LOUVAM E PROPAGAM ACREMAÇÃODOSCADÁVERESCOMOOBJECTIVODEEXTRAVIARPOU-COAPOUCOOSESPÍRITOSDAME-DITAÇÃO DA MORTE, BEM COMODELHESARRANCARAESPERANÇADA RESSUREIÇÃO DOS MORTOS,PREPARANDO ASSIM AS VIAS DOMATERIALISMO.

Consequentemente, ainda que a cre-mação dos corpos não seja absolu-tamentemáemsimesma,equeemcertas conjunturas extraordinárias,porrazõesgravesebemaveriguadasdeinteressepúblico,elapossaserau-torizada,equedefactooseja;nãoémenos evidente que A SUA PRÁTI-CA USUAL E DE QUALQUER FOR-MA SISTEMÁTICA, ASSIM COMOA PROPAGANDA EM SEU FAVOR,CONSTITUEM ACTOS ÍMPIOS, ES-CANDALOSOS, E A ESTE TÍTULOGRAVEMENTE ILÍCITOS; É portan-toperfeitamenterectoqueosSobera-nos Pontífices, em várias iniciativas,e ultimamente ainda no Código deDireito Canónico, recentemente edi-tado,tenhamreprovadoacremaçãoeacontinuemareprovar.»

Eesta instruçãoconcluía solicitandoque:

«(…) Os sacerdotes não cessem demaneira nenhuma de exaltar a emi-nência,autilidadeeasublimesigni-ficaçãodasepulturaeclesiástica,par-ticularmente como em público, comopropósitoDEQUEOSFIÉIS,PER-FEITAMENTEINSTRUÍDOSDASIN-TENÇÕESDASANTAMADREIGRE-JA,SEAPARTEMCOMHORRORDAPRÁTICAÍMPIADACREMAÇÃO.»

A cremação dos corpos não se opõedirectamente a nenhum dogma defé. A Santa Igreja pode ser levada atolerá-la,emcertascircunstânciasex-cepcionais, em casos de extrema ne-cessidadeetendoemvistaumbemdeordemsuperior:aquandodegrandesepidemiascontagiosas,ouemcasodeguerramuitomortífera,sobretudo.

PadreFabriceDelestre

NOTAS

Aguerraaosmortos,pag-�5��Canon���0�,�Jos. Mancini, Notário da SupremaCongregação da Inquisição RomanaeUniversal

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Um grupo de religiosos e teólogos italia-nos suplica ao Santíssimo Padre Bento XVI, para que ele queira promover um exame aprofundado do Concílio pastoral ecuménico Vaticano II.

����deSetembro��0��.

Santidade

Monsenhor Brunero Gherardini, sa-cerdotedadiocesedePratoecónegoda Basílica de São Pedro, OrdináriodeeclesiologiadaPontifíciaUniversi-dadeLateranenseeDeãodeTeologiaitaliana,endereçouem��009aVossaSantidade uma súplica respeitosa,comoobjectivodeobterautorizaçãopara iniciar um ponderado e públicodiscurso crítico sobre os textos doVaticano II. A esta súplica associou-se em ��0�0 o professor Roberto deMattei, deão de História da Igreja edoCristianismonaUniversidadeEu-ropeia de Roma, Vice presidente doConselhoNacionaldeinvestigação.

“Pelo bem da Igreja- e mais especifi-camente para a activação da “salusanimarum”(asalvaçãodasalmas) aqualconstituiaprimeirae“supremalex”(asupremalei)-apósdécadasdelivrecriatividadeexegética,teológica,litúrgica, historiográfica e pastoral,tudoemnomedoConcílio,parece-meurgenteoutorgardireitosaumacertaclarificação, respondendo favoravel-menteàsolicitaçãosobreacontinui-

dadedesteConcíliocomtodososou-trosconcílios,esobreasuafidelidadeà Tradição de sempre, permanente-menteemvigornoseiodaIgreja.

Parecenarealidadedifícil,senãoim-possível, iniciar a esperada herme-nêutica da continuidade ( com todoo Magistério precedente) se primei-ramentesenãoprocedeaumaatentae científica análise dos documentos,no seu conjunto, e em cada um dosseusargumentos,bemcomodassuasfontesimediatasoumaisantigas,emvez de se prosseguir referindo essesdocumentos,repetindo-lhesoconte-údo, apresentando-o como novidadeabsoluta.

…/…

Nasceentãoaideia,queeuousosub-meteraVossaSantidade,dumagran-diosaepossivelmentedefinitivaclari-ficaçãosobreoConcílioesobrecadaum dos seus aspectos e conteúdos.Afigura-se lógico estudar todos osseusaspectos,emsimesmos,enoseupróprio contexto, detendo-nos sobreasfontesesoboângulodoMagisté-rioprecedente,soleneeordinário.

…/…buscandorespostasàsquestõesseguintes, acerca do Concílio Vatica-noII:

Qual é a sua verdadeira nature-za?

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PetiçãoaoPapaBentoXVI

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Quaissãoosseuseventuaissinaisdogmáticos?

Poder-se-ia daí deduzir que esteconcílioédogmático?

QueháneledoMagistérioante-rior? Todo o passado revive nele“eodemsensueademsentencia”( segundo o mesmo sentido e amesmasignificação)?Éevidentequeahermenêuticadacontinui-dade,oudarotura,dependerádaresposta a estas questões… Masse a conclusão é a da continui-dade, como constituindoaúnicaviapossível,afigura-senecessáriodemonstrar que a continuidadeé real … / … Todos nós os subs-critores,simplescrentesquenóssomos,nósnosassociamos inte-gralmenteaestarespeitosasolici-tação,epermitimo-nosadicionaralgumasoutrasquestõesmerece-dorasdeclarificação…/…

Que significação exacta há queatribuiraoconceitode“Tradiçãoviva” da constituição Dei Ver-bum?…/…

Quesignificaçãoexactaatribuirànova definição da Igreja Católicacontidanaconstituiçãodogmáti-ca(aqualentretantonãodefinedogma)Lúmengentium?…/…

QuesignificaçãoexactaatribuirànoçãodaIgrejaPovodeDeus?…/…

Que sentido atribuir à omissãodos termos “supra-natural” e

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“transubstanciação”dostextosdoconcílio?…/…

Quesignificaçãoexactaatribuirànoçãodecolegialidade?.../…umainterpretação clássica segundo aqualosujeitodopodersupremopermanece sendo o Papa, que opartilhaquandoojulgabom,coma universalidade dos bispos cha-madosaconcílio?…/…

Quesignificaçãoexactaatribuiràfigura do padre hodiernamente,rebaixado que foi de “sacerdotedeDeus”a“sacerdotedopovodeDeus”?…/…

Que significação exacta atribuirao princípio da criatividade naSantaLiturgia,aqualdecorredascompetênciasconcedidasàscon-ferências episcopais na matéria?…/…Nósnãopodemosresumiraqui todas as questões que ostextosdoConcíliolevantam,taiscomosobrealiberdadedeconsci-ênciaouoecumenismo,contudonóspermitimo-nosaesterespeitoacrescentarestasinterrogações:

O princípio da liberdade religio-sa proclamado pela primeira veznaHistóriadaIgrejacomodirei-tohumanoounaturaldapessoa,qualquer que seja a sua religião,prevalece ele, confrontado comosdireitosdaúnicaVerdadereve-lada?…/… e em que se distinguetalprincípiodaliberdadelaicadeconsciência, constituída em lu-gardehonraentreosdireitosdo

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Homem,talcomofoiprofessadopelaultralaicaeanticristãRevo-luçãoFrancesa?

Oobjectivodoecumenismoactualpareceserumaeramessiânicadepazedefraternidade,olvidandoaconversão a Nosso Senhor JesusCristo, mediante uma unificaçãonumaespéciedeIgrejaoureligiãomundial…/…Todo o posiciona-mentodaIgrejapósconciliarfaceao mundo contemporâneo nãodeveráserreexaminado?

VossaSantidade,asquestõesquenóstivemos a audácia de vos submeterpoderãocertamentedesagradaracer-tapartedahierarquia,quenãohaviaacolhidofavoravelmentehádoisanosa súplica de Monsenhor Gherardini.Trata-sedaquelaporçãodeIgrejaqueainda não compreendeu a gravidadeexcepcionaldacrisequeafligeaIgrejadesdehácinquentaanos…/…comofoidemonstradopelasobrasdospro-fessoresDeMattei,P.RalphM.Wilt-genS.V.D.eRomanoAmerio.

Para a nossa consciência, a presentesolicitação manifestada com a nossaprofunda deferência nesta súplica,afigura-se-nosemperfeitaharmonia,ousamo-lodizer,comavossaobraderestauração da Igreja militante, co-rajosamente empreendida por VossaSantidade,nãoobstanteasdificulda-des e resistências de todos os géne-ros.

Nósnãonosreferimossomenteàin-flexívelacçãodesenvolvidaporVossa

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Santidade contra as corrupções quepenetraram a Igreja… / … nós refe-rimo-nos igualmente à liberalizaçãoda celebração da Santa Missa … / …referimo-nos também à vossa absol-viçãodasexcomunhõesquepesavam(por motivos disciplinares) sobre osbispos da Fraternidade São Pio X,Fundada por Sua Excelência Monse-nhorMarcelLefebvre;asuprareferi-daliberalizaçãohaviasidorespeitosa,mas tenazmente, solicitada a VossaSantidade, iniciando a referida Fra-ternidade, com esse objectivo, umacruzada internacional do Rosário, aqualrecolheuumaamplaparticipaçãodosfiéis.

Por todas estas acções, certamentedumaextremaimportânciaparaore-nascimentodaIgreja,tomadasMotupróprio,navossaplenaautoridadedePontífice Maior, que deriva da vossapotestas jurisdictionis ( poder de ju-risdição)sobretodaaIgreja,estabele-cidaporNossoSenhor,detodasestasacções o nosso sensus fidei (sentidoda fé) de simples católicos vê a obramanifestadoEspíritoSanto.

Nósconcluímosanossahumildesú-plica invocandooauxíliodoEspíritoSanto, para que Vossa Santidade, noseuempreendimentoderestauração,oqualcolocadenovooCristonocen-tro da catolicidade ( Ef,�,�0), possaincluiroesperadoreexamedoConcí-lio.

Comtodaanossadevoçãoedeferên-cia

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InDominoetinCordeMariae

����Setembro��0��

Ossubscritores(alguns)

Prof. Paolo Pasqualucci, docente difilosofiaMons. Brunero Gherardini, decanodeiteologiitaliani,docentediEccle-siologiaMons.AntonioLivi,professoreeme-rito di Filosofia della conoscenzanell’UniversitàLateranenseProf. Roberto de Mattei, UniversitàEuropeadiRomaProf.LuigiCodaNunziante,atitolopersonale e in qualità di presidentedella Associazione “Famiglia Doma-ni”Dott.PaoloDeotto,direttorediRis-cossa Cristiana, www.riscossa_cris-tiana.itProf. Piero Vassallo, docente di filo-sofia, condirettore di Riscossa Cris-tianaProf.EmilioBiaginiProf.PaoloMangianteProf.PrimoSienaDott.LucianoGaribaldiDott.MauroFaverzaniDr.ssaVirginiaCodaNunzianteDott.PucciCiprianiDott.NormannoMalaguti

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Dott.GiovanniCeroniDott.PaoloMaggioloMariaViscidiDr.ssa Carla D’Agostino Ungaretti -RomaAlfredoBazzani-VeronaFrancescaPoluzziDiaconoDonRobertoDonati-Firen-zeFabioScaffardi-FirenzeDott.GiovanniCatanzaroAnnarosaBerselliTommaso Lopatriello - Policoro(MT)FrancescoDalPozzo-BolognaDon Marcello Stanzione e tutta laMiliziadiSanMicheleArcangeloProf.DantePastorelli -Governatoredella Venerabile Confraternita di S.GirolamoeS.FrancescoPoverinoinS.FilippoBenizi,Firenze.PresidentediUnaVoce,sez.diFirenzeMariaEleonoraBagnoli-PratoCesaremariaGlori-BellunoMariaMatildeCalogeroCammarata-PresidentediInterMultiplicesUnaVox-TorinoDr.ssaCristinaSiccardi-CastiglioneTorinese(TO)Dott.CarloManetti-CastiglioneTo-rinese(TO)RobertoSgaramella-USA

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Nestestemposconturbados,ondeuma grande ignorância e confu-sãograssamlivrementeeondeatécatólicos dos mais altos graus dahierarquiadaIgrejasecomprazemem louvar Martinho Lutero, gos-taríamosde,brevemente,exporeavaliarasuateologia.

I. A teologia de Martinho Lutero

Como o Padre Schmidberger, daFSSPX,salienta,noseuartigoso-breestetema,osprincipaisfrutosda teologia de Martinho Luteropodem ser resumidos em quatroproposiçõesdoutrinais:SolaScrip-tura,SolaFides,SolaGratiaeSolusDeus. Vamos pois analisar estasproposiçõesàluzdaFéCatólica.

�-SolaScriptura

Esta primeira proposição de Lu-tero, Sola Scriptura (somente aEscritura),afirmaqueaFésefun-damentaunicamentenaBíbliaSa-gradaequeestaseinterpretaasimesma(ouseja:advogaainterpre-taçãopessoaldasEscrituras);masaIgrejaCatólica,numadeclaraçãodoConcíliodeTrento(S.IV,�5����),quefoiretomadanoConcílioVati-cano I (s.III c.��), ensina que a FésefundamentanaRevelaçãoDivi-na (também chamada Depositum

Fidei) que compreende não só aSagradaEscritura(parteescritadoDepositum Fidei), mas também aTradição (partedoDepositumFi-deitransmitidaoralmente).

NãoéapessoaindividualquetemautoridadesobreoDepositumFi-dei,masapenasa Igreja.FoiEstaqueestabeleceuquaisoslivrosqueconstituem a Sagrada Escritura equeosinterpreta,juntamentecomaTradiçãoOral,paraassimdefiniros Dogmas da Fé Católica. A As-censão é exemplo de um dogmadefinido pela Igreja baseando-senaSagradaEscritura;AAssunçãoéexemplodeumdogmadefinidopela Igreja com base na TradiçãoOral.

��-SolaFides

A segunda proposição de Lutero,Sola Fides (somente a Fé) afirmaque a Fé, só por si, chega para sealcançaraSalvaçãoenãoaFéeasBoasObras comoensinaa Igreja.AestepropósitooSagradoConcí-liodeTrento(s.VIc.�0)citaase-guintepassagemdaEpístoladeS.Tiago,��,����“Nãovedescomopelasobraséjustificadoohomem,enãopelaFésomente?”

Sendo assim, tanto a Fé como aCaridade (ou Obras de Caridade)são necessários em ordem à Sal-

OlegadodeMartinhoLutero,príncipedoshereges

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vação; e enquanto o falso ecume-nismoactuacomosesóaCarida-defossenecessária,LuteroafirmaqueapenasaFéésuficiente.Aati-tudedeLuteroperanteaEpístolade S. Tiago, que tão claramenteexpressaaFéCatólica, foino iní-cio tentar erradicá-la do CânoneluteranodaSagradaEscriturade-finindo-a como “uma Epístola depalha” (ou seja, despicienda). PoraquipodemosvercomoLuteroseguiavamaispelassuasproposiçõessubjectivasquepelasSagradasEs-crituras.OmesmoaconteceucomoutraspassagensdaBíbliaqueporeleforameliminadas.

Além disso é necessário ter ematenção que Lutero entende a FédumamaneiramuitodiferentedaIgreja Católica. Para Lutero a Féconsiste em confiar que Deus, nasua Misericórdia, perdoará o ho-mempormeiodeCristo,enquan-toaIgrejaensinaqueaFéconsisteem aceitar a Revelação, em aten-ção à autoridade de Deus que Arevelou.

DequalquermodoLuterojátinhaperdidocompletamenteaFéCató-lica a partir do momento em quenegouumsóartigodamesmaFé.PorquequemnegaumsóartigodeFé,negaaautoridadedeDeusqueArevelou.

�-SolaGratia

NaterceiraproposiçãoSoloGratia

(somente a Graça), Lutero afirmaque,pelopecadooriginal,anatu-reza humana foi totalmente cor-rompida,desortequeohomemsetornouincapazdeconheceraVer-dadereligiosa,deagir livreemo-ralmentee,comotal,aGraçanãopoderia curá-lo mas apenas ocul-tarasuatendênciaparaopecado.MasaIgrejaensinaqueanaturezahumanaestáapenasdecaídaefe-ridaepodesercuradapelaGraça;ohomempodeconheceraVerda-de e possui livre arbítrio atravésdoqualpodecolaborarcomaGra-ça em ordem a agir moralmente,mesmo que, para o conseguir, te-nhadetravardurasbatalhas.

��-SolusDeus

AquartaproposiçãodeLutero,So-lusDeus(somenteDeus),dizquea Salvação vem directamente deDeussemprecisarnemdamedia-çãodaIgreja,dosacerdócioedosSacramentos, nem da intercessãodaSantíssimaVirgemMariaedosSantos. Lutero afirma que existeacesso directo a Deus; não reco-nhece a união íntima entre Deus(tanto na Sua Divindade comonapessoadeNossoSenhorJesusCristo)eaIgreja.

Deus, na verdade, em virtude daSua divina e sublime Majestade,estabeleceuumaordemhierárqui-ca em todas as coisas, sejam elasnaturais ou sobrenaturais, sejamelas do Céu, do Purgatório ou do

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Inferno; e opera por intermédiodestaordemhierárquicaparacon-secução dos Seus inefáveis desíg-nios.

NoqueserefereàRedenção,Deus,apóso“Fiat”daSantíssimaVirgemMaria,actuoupormeiodaEncar-nação,daPaixãoedaMortedoSeuDivinoFilhoe,noquedizrespeitoaopontoemapreço,porintermé-diodaSantaIgrejaCatólicaeSeusSacramentos.

Além disso, Deus, na pessoa deNosso Senhor Jesus Cristo, pro-longou, na Igreja, a Sua vida eobrasterrenas:aSuaVidaterrenaatravésdaIgrejaqueéoSeuCor-poMístico;asSuasObrasatravésdos Sacramentos, onde actua inPropria Persona. O mais sublimeegloriosoexemplodaSuaobraé,sem dúvida a Santa Missa ondeperpétua e constantemente SeofereceeimolaaoPai,atéàconsu-maçãodostempos.

De facto Lutero professa apenasdois Sacramentos: o Baptismo eaquiloquedesignoupor“comemo-raçãodaSeia”emsubstituiçãodaSantaMissa,cujanaturezasacrifi-cialnegou.

II. A natureza herética da teo-logia de Lutero

Atéaquiumabrevesíntesedadou-trina de Lutero, contida nos qua-rentaeumartigoscondenadospelo

papa Leão X, com “Damnatio inglobo”naBula“ExsurgeDomine”de�5��0, “…comoherética, falsa,escandalosa, ofensiva para ouvi-dospiosesedutoraparaasmentessimples,dandoorigemafalsasin-terpretações da Fé que, cheias deorgulhosa curiosidade, procuramaglóriamundana,econtrariandoosEnsinamentosApostólicos,pre-tendemsermaissábiasdoquenarealidadesão”.

DeacordocomoCódigoCanónico(CIC �98� Can. 75�) “heresia é anegaçãoobstinada,tendorecebidoo Baptismo, de qualquer verdadeacreditadapelaDivinaFéCatólica,ou dúvida obstinada sobre qual-quer dessas verdades…”. Tendonegado a verdade da Fé, Lutero éformalmenteherético.Naverdade,emvirtudedaquantidadedehere-sias que concebeu e ensinou, donúmerodeseitasprotestantesqueoriginou, e do consequente danoquecausouàSantaIgrejacatólica,merece, sem dúvida os nomes deherege,príncipedosheregesehe-regeporexcelência.

III. O fracasso da teologia de Lutero

AteologiadeLuteroévãporque:

� – Com as palavras “Somente aEscritura”, Lutero rejeita o papeldaIgrejaemrelaçãoàSantaBíblia,masrejeitando-o,rejeitaaprópria

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Bíblia, porque é a Igreja que lheconfereoseuverdadeirosignifica-do.

�� – Com as palavras “Somente aFé”,rejeitaopapeldasBoasObras,masfazendo-orejeitatambémaFéporque a Fé sem Boas Obras estámorta(S.Tiago��.�7).

�–Comaspalavras“SomenteGra-ça”,rejeitaopapeldolivrearbítrio,mas fazendo-o rejeita também aGraça,porqueaGraçaSantificante(excepto no caso do baptismo decrianças) exige a colaboração dolivrearbítrio.

�� – Com as palavras “SomenteDeus”, rejeita o papel da Igreja,masfazendo-orejeitaDeusporqueéElaquenosdáacessoaDeus,eEla é, em certo sentido, Deus, naformadeCorpoMísticodeCristo.

Poroutraspalavras:aoprocuraraessência da Sagrada Escritura, daFé,daGraçaedeDeus,Lutero,naverdade,separa-osdeoutrasreali-dadescomasquaisestãonecessa-riamenterelacionados:oMagisté-riodaIgreja,asBoasObras,olivrearbítrio e a Igreja Santificante; eaofazê-lo,acabaporperderasuaessência.

Em todas estas quatro proposi-ções,Lutero,aorejeitarelementosde Fé, perde o conhecimento detodaaRevelação,talcomoosJu-deusperderamquandorejeitaramoMessias,umavezqueoCristoé

a chave para o entendimento detodaaRevelação.Assimestaspa-lavrasdeNossoSenhoraplicam-setanto a Lutero como aos judeus:“Porque ao que tem, se lhe dará,eteráemabundância;masaoquenãotem,atéoquetemlheseráti-rado.”(Mat.��.���).

IV. A essência da teologia de Lutero

Se quiséssemos resumir numapalavraa teologia deLutero, essapalavra seria “subjectivismo”. Emvez de se submeter à autoridadeda Igreja, para assim conhecer aFéeaverdadeirainterpretaçãodaFé,Luteroprefereestabelecer,elepróprio,oobjectodaFé(aSagradaEscritura) e a sua interpretação,substituindooactodeFé(quese-gundoaIgrejaCatólicaconsisteemaceitartodooconjuntodoDogmaCatólicoobjectivo)porumestadode espírito meramente subjectivoadoptadoporcadaum,nasuare-laçãoindividualcomDeus.

Araizpsicológicadestesubjectivis-mopareceserumprofundosenti-mento de culpa que é patente nasua doutrina, quando afirma, porexemplo,queanaturezahumanaécompletamentecorrupta.

Romano Amerio mostra em “IotaUnum” que o subjectivismo deLuteroseexpressaclaramentenoseu Artigo ��9: “O caminho está

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aberto para despojar os Concíliosda sua autoridade, para contradi-zerosseusactoslivrementeeparaprofessarousadamenteoquequerquenospareçaseraverdade”.Sen-doassim,asquatroproposiçõesdeLuteroacimamencionadaspodemser condensadas numa só: “SolusMartinusLutherus”.

V. O legado de Martinho Lu-tero

OlegadodeLuterosubsistenãosónasseitasprotestantes,mastam-bémnamentalidademodernaemgeraleaté,nosúltimoscinquentaanos,nocoraçãodaprópriaIgrejaCatólica.Comefeito,hoje,essele-gadoévisívelnadoutrina(porve-zes mesclada de protestantismo),nainterpretaçãopessoalgenerali-zadadaSagradaEscritura,naper-cepçãodaIgrejacomoumaorgani-zaçãomeramentehumanaecomotalcheiadepecadosenofactodese ter transformado o Santo Sa-crifíciodaMissanuma“comemo-raçãodaCeia”ondeoPadreactuacomosimples“presidente”.

Esse legadoévisível,também,noradical subjectivismo largamentedifundido entre os católicos, quese opõe aos conceitos de Dogma,heresia e anátema e que é acom-panhadodumindividualismoque,procurando uma relação directacomDeusemtodasascoisas,põe

departeaIgreja,oSacerdócio,osSacramentose,particularmente,aMissaDominicaleaConfissão.Oscatólicosparecemincapazesdeen-tender que a Fé é objectivamenteverdadeiraecomotaldeveserpro-fessadaeensinada.

Elementos de protestantismo po-demserencontradosespecialmen-te no movimento carismático co-nhecido como “neocatecumenal”(pelo menos até ter sido recente-mente reformado por Roma) queproclama o carácter radicalmentepecaminoso da natureza huma-na,negaaverdadeiranaturezadaIgreja, o Sacerdócio sacramental,anaturezasacrificialdaSantaEu-caristia(emfavordaconcepçãode“Ceia” e “festa”), nega a PresençaReal (pelo menos em relação àsSagradasPartículasdoSantíssimoSacramento),arvoradúvidassobrea Transubstanciação, menosprezaoSacramentodaPenitênciaeen-sina a interpretação pessoal dasSagradasEscrituras.

O protestantismo abriu caminho,na mentalidade moderna, para osubjectivismo,paraopensamentode Descartes, para o idealismo eparaafilosofiamodernaemgeral,que desviaram progressivamenteo homem de Deus, da Verdade,doBemedaBelezaconduzindo-oparaoateísmoeoniilismo.

Á luz destas considerações é difí-cil entender porque um católico

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haveria de enaltecer o legado deLutero.

VI. Os supostos méritos de Lutero

AlgunslouvamaLuteroasuasin-ceridade,asuaconfiançaemDeus,a clareza das suas doutrinas e oseu senso moral, mas essas qua-lidades não têm qualquer valorse não estiverem correlacionadascom a realidade objectiva, isto é,com a Verdade objectiva e com oBemobjectivo.

NasuadoutrinatalnãoseverificapoissubstituiaVerdadeobjectivaporsinceridade;separaconfiança,clareza e senso moral dos crité-riosobjectivosquelhesdãovalor:aparta a confiança da autoridadede Deus e da Igreja, afasta a cla-reza das propriedades intrínsecasdaVerdadeedesviaosensomoraldaLeimoralàqualestáordenado.Sendoassim,asinceridade,acon-fiança, a clareza e o senso moraltornam-semerosestadosmentaissubjectivos do indivíduo e, comotais,moralmenteindiferentes;sãoapenasmanifestaçõesaposterioridoseusubjectivismoradical.

OutroslouvamLuteroporterata-cadoosabusosmoraisdoCleroedaHierarquiadoseutempo,comose Lutero pudesse, ainda que re-motamente, ser proposto comomodelo de moralidade Católica,

ele que sendo Sacerdote Católicoagostinho“casou”comumafreira,quecomoblasfemoeanti-semita,ensinou:“Peccafortier,sedecredefortius” (peca fortemente desdequeatuafésejaaindamaisforte).

Dequalquermodo,sejaqualforopontodevista,osdanoscausadosporalgunsclérigosdoseutempo,foraminfinitamentemenoresqueos males originados por Lutero:nãotantopelaguerracivilquedes-poletou na Alemanha e pela divi-sãoreligiosaqueprovocounaEu-ropa, mas sobretudo pelos danoscausados, com a sua adulteraçãoda Fé Católica, a inúmeras almasimortais.

OúnicobemqueadveiodaRefor-ma de Lutero, foi o que Deus, naSuaInfinitaMisericórdia,feznas-cerdetantosetãograndesmales:ousejaoSantoConcíliodeTrento,que codificou e estabeleceu parasempreoRitoRomanoTradicionale,dogmaticamente,definiuaDivi-na Fé Católica, com base nas Sa-gradasEscrituras,naTradição,noPecado Original, na JustificaçãopelaFéeBoasObras,nosMéritos,nos sete Sacramentos, no Purga-tório, na Devoção aos Santos enasIndulgências;paraque,assim,todososcatólicos,detodasasge-rações,pudessemaproveitardessainexaurívelfontedeGraçaeSanti-dadequeé,oRitoRomanoTradi-cional,tivessemconhecimentodas

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Verdades Eternas, as aceitassemcom espírito de submissão e hu-mildade e segundo Elas vivessemparaGlóriadeDeusUnoeTrinoe

paraasalvaçãodassuasalmas.

Ámen

(RorateCaeli-Blogspot)

Aderimos de todo o coração, detodaanossaalma,àRomacatóli-ca,guardiãdaFécatólicaedastra-dições necessárias à conservaçãodesta Fé, à Roma eterna, mestradesabedoriaedeverdade.

«Pelocontrário,recusamos,esem-prenosrecusámosaseguiraRomade tendências neo-modernistas eneo-protestantes que claramentesemanifestounoConcílioVaticanoIIedepoisdoConcílio,emtodasasreformasquedeleemanaram.

«Todas essas reformas, com efei-to, contribuíram e contribuemainda para a demolição da Igreja,para a ruína do sacerdócio, paraa aniquilação do sacrifício daMissa e dos Sacramentos, para odesaparecimento da vida religio-

sa, para um ensino naturalista eteilhardiano, nas universidades,nos seminários, na catequese,ensino saído do liberalismo e doprotestantismo que foram tantasvezescondenadospeloMagistériosolenedaIgreja.

«Nenhuma autoridade, nem amais elevada na hierarquia, nospodeobrigaraabandonarouami-nimizar a Fé católica, claramenteexpressaeprofessadapelomagis-tériodaIgrejadesdehádezanoveséculos.

Mas,aindaquenósmesmosouumanjodoCéuvosanuncieumEvan-gelhodiferentedaquelequevoste-nhoanunciado,sejaanátema(GalI,8).«PoisnãoéissooqueoSantoPadrehojenosrepete?Esesema-

A«Declaração»de 21 de Novembro de 1974

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nifestasse uma certa contradiçãonassuaspalavrasenosseusactos,talcomonosactosdosdicastérios,entãoescolheríamosoquesemprenosfoiensinadoefaríamosouvi-dosdemercadoràsnovidadesdes-truidorasdaIgreja.

Não se pode modificar profunda-mentealexorandisemmodificaralexcredendi.ÀMissanovacorres-pondecatecismonovo,sacerdócionovo, seminários novos, univer-sidades novas, Igreja carismática,pentecostista,todasestasrealida-desopostasàortodoxiaeaomagis-tériodesempre.

«Esta Reforma, sendo emanadado liberalismo e do modernismo,está completamente envenenada;saidaheresiaeconduzàheresia,mesmoquenemtodososseusac-tos sejam formalmente heréticos.É, portanto, impossível a todo ocatólico consciente e fiel adoptaresta Reforma e submeter-se a elasejadequemodofor.

«A única atitude de fidelidade àIgrejaeàdoutrinacatólica,paraanossasalvação,éarecusacategóri-cadaaceitaçãodaReforma.

«É por isto que, sem nenhumarebelião, sem nenhuma amargu-ra, sem nenhum ressentimento,nóscontinuamosanossaobradeformação sacerdotal, sob o signodo magistério de sempre, persua-didosdequenãopodemosprestar

um serviço maior à santa IgrejaCatólica, ao Sumo Pontífice e àsgeraçõesfuturas.

«É por isso que nós nos vincula-mosfirmementeatudoaquiloemquesecreuequefoipraticadonaFé-oscostumes,oculto,oensinodocatecismo,aformaçãodopadre,ainstituiçãodaIgreja-pelaIgrejadesempre,ecodificadonoslivrospublicadosantesdainfluênciamo-dernista do Concílio, esperandoque a verdadeira luz da TradiçãodissipeastrevasqueobscurecemocéudaRomaeterna.

«Aofazeristo,comagraçadeDeuseoauxíliodaVirgemMaria,deSãoJosé, de São Pio X, estamos con-victosdequepermanecemosfiéisàIgrejaCatólicaRomana,atodosossucessoresdePedro,esomososfidelesdispensatoresmisteriorumDominiNostriJesuChristiinSpi-rituSancto.Amen.»

Na festa da Apresentação da Vir-gemMaria,

Roma,���deNovembrode�97��

+MarcelLefebvre

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Deve saber em primeiro lugar oSinal da Cruz, e perceber todo osentidodestaoração;depoisdeveconhecer o Pai-Nosso ensinadopor Nosso Senhor Jesus Cristo, aAve-Maria,aSalveRainha,oCre-do,oGlóriaaoPai,oActodeCon-trição,aConfissão,osDezManda-mentos,conhecerosSacramentosda Santa Madre Igreja, as Bem-Aventuranças, e como não podiadeixardeseraoraçãoaSãoJosé;todasestasoraçõesdevemserme-ditadas palavra por palavra paranãocairmosnorelaxamento.Seráesta a forma de aderirmos a umacultura religiosa mais acentuada.JádiziaSuaEx.ªRevm.ªoSenhorDonManuelMendesdaConceiçãoSantos,ArcebispodeÉvora:QuemnãoprogridenaFé–recua.

Foi na oração mental que se fize-ram grandes santos, como SantoAntónio de Lisboa, Santa TeresadeÁvila,SãoDomingos,FreiTomédeJesus.

Respondendo ao que um cristãocatólico deve saber e conhecer,devoacrescentarquedevemosre-zar muito à Divindade de NossoSenhorJesusCristo.

ImaginemosqueOtemosnanos-sa frente, fisicamente, então va-

mostratá-lOcommuitaternuraecarinho,echoraranossapobreza,vaidade e nossa grande miséria.Acabada a lição, logo com aspira-çõessuavesaoSenhor,comoseOvíssemos nos Seus olhos naqueletrabalho, lhe fale brandas pala-vras,queDeuslhedará,ouentãoafectos suaves da alma, de agra-decimento, de vida e de Amor. EentrenoexercíciolevandosempreamemorianoSenhor,comQuemfala, e usando do que aqui se es-crevesóparaentradaoucaminhoparaoAmor,fazendoseuoficio,oqualnuncasehá-deimpedir,masantesassoprar,ouatiçar,poisistoéoquesepretende.

AgoravamosvercomoFreiTomédeJesusrezava:

«PelosinalsalutíferodaCruz,mi-nha fortaleza e dos fracos, livra-nos Senhor, amigo verdadeiro eDeusnosso,dosnossos inimigos,contra quem nada sem Ti posso.EmnomedoPadre,quecomofilhomeamaedoFilhoquecomoirmãomeabraçaedoEspiritoSanto,quecomseuamormeabrasaepurifi-ca».

«Padre-nosso amantíssimo. Queestás nos Céus, que me vês e Tenão vejo, mais que com o desejo.

OqueéqueumCristãoCatólicodevesabereconhecerdaReligiãoCatólica?

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Santificadoreconhecido,amadoeadoradosejaTeusantíssimonomedemimedetodasasalmas.Venhaa esta hora a nós desterrados deTi o Teu reino, nem reúne nestaalma outrem senão Tu. Seja fei-ta em mim sem contradição todaTuavontade,assimnaterraecomtantasujeiçãoeamorcomosefazno Céu. O pão nosso de Tua gra-çaeajudadecadadia,semoqualnada podemos, dá-no-lo hoje enestahoraparaquesesaibabus-car, abraçar e amar. Perdoa-nosPadre amantíssimo, com miseri-córdianossasdividastantasetãoenormes,quecontraTuabondadetenho cometido. Assim como nóspor Ti e por Teu amor, com todomeu coração quanto posso, per-doamos a todos nossos devedo-res tudo quanto contra mim temfeito, com quanta vontade devo.Não me deixeis cair em tentação,nemmedesampares,Senhornes-tahora,quesabes,quesemTinãoposso,nemseinada.Maslivra-mepor tua bondade de todo o mal e

muitomaisdemimquesemprefuicontraTiecontraobemdaminhaalma.Ámen.»

«Oh! Madre de Deus minha Se-nhoraevaledora,RainhadosAn-jos. Ave-maria estrela, e guia dospecadores e necessitados: CheiadeGraçanãosóparaTi,masparamim,quandoaTimechegar.OSe-nhorécontigoparaporTeumeioSercomigo.BentaésTusobreto-dasasmulhereseaceitaaoSenhore segura e certa terceira nossa.BentoéfrutodoTeuventre:frutode vida e remédio de minhas mi-sérias,JesusmeuamoremeuSal-vador.Oh!SantaMariaminhase-nhoraevaledora,MadredeDeus,Mãedospecadores.Rogai,Senhoraminha,pormimpecadoreporto-dosospecadoresagoranestahora,emquebuscoomeuSenhor,paraqueoacheemerecebaporVossomeio. E na hora da nossa morte,para que com vosso unigénito Fi-lho, para sempre Vos veja minhaSenhora.Ámen.»