querela nulitatis

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477 CAPÍTULO X AÇÃO DE NULIDADE DA SENTENÇA (QUERELA NULLITATIS) A decisão judicial existente pode ser impugnada, basicamente, por dois meios de impugnação: o recurso e a ação rescisória. Esses meios servem para impugnar tanto errores in procedendo quanto errores in iudicando. É possível, pois, por esses meios, discutir a validade e a justiça da sentença. Ou seja, o recurso é o meio de impugnação da decisão judicial dentro do processo em que a decisão foi proferida (até o trânsito em julgado); a ação rescisória é o meio de desconstituição da coisa julgada material, que pode ser manejada, conforme já visto, dentro do prazo de dois anos após o trânsito em julgado. No direito processual civil brasileiro, há, porém, duas hipóteses em que uma decisão judicial existente pode ser invalidada após o prazo da ação rescisória. É o caso da decisão proferida em desfavor 1 do réu, em processo que correu à sua revelia 2 , quer porque não fora citado, quer porque o fora de maneira defeituosa (art. 475-L, I, e art. 741, I, CPC). Nesses casos, a decisão judicial está contaminada por vícios transrescisórios 3 . No primeiro volume deste curso, restou demonstrado que a citação não é pressu- posto de existência do processo, embora muitos doutrinadores pensem em sentido contrário 4 . Acolhe-se o entendimento de Cândido Dinamarco, Pontes de Miranda, 1. Se a sentença é favorável ao réu não-citado, não é possível a sua invalidação, pois não há nulidade sem prejuízo. Além disso, faltaria ao réu não-citado interesse de agir na propositura da querela nullitatis. Em sentido contrário, Pontes de Miranda, “a sentença, ainda favorável, não cobre o vício da citação nula do revel”. (Comentários ao Código de Processo Civil. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, t. 11, p. 82). 2. Perceba que se o réu não foi citado ou foi citado irregularmente, mas não houve revelia, pois ele compa- receu espontaneamente (art. 214 do CPC), não cabe mais a querela nullitatis. O réu-revel, por exemplo, pode utilizar-se da apelação contra a sentença proferida em processo em que não foi citado. Ao fazer isso, ingressa na relação jurídica processual, não podendo, posteriormente, após o trânsito em julgado da decisão, utilizar-se da querela nullitatis. 3. TESHEINER, José Maria. Pressupostos processuais e nulidades no processo civil. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 283. 4. Entendem que a citação é pressuposto de existência do processo, apenas para exemplificar: ARRUDA ALVIM, José Manoel. Manual de Direito Processual Civil. 8 ed. São Paulo: RT, 2003, v. 1, p. 549-550; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença. 4 ed. São Paulo: RT, 1998, p. 39; TALAMINI, Eduardo. A coisa julgada e a sua revisão. São Paulo: RT, 2005, p. 337-346; KO- MATSU, Roque. Da invalidade no processo civil, cit., p. 162-163; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. Teoria da inexistência no direito processual civil. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1998, p. 55; CORREIA, André de Luizi. A citação no direito processual civil brasileiro. São Paulo: RT, 2001, p. 95-96; PIZZOL, Patrícia Miranda. A competência no processo civil. São Paulo: RT, 2004, p. 125; CÔRTES, Osmar Mendes Paixão.

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  • 477

    Captulo Xao de nulidade da sentena

    (querela nullitatis)

    A deciso judicial existente pode ser impugnada, basicamente, por dois meios de impugnao: o recurso e a ao rescisria. Esses meios servem para impugnar tanto errores in procedendo quanto errores in iudicando. possvel, pois, por esses meios, discutir a validade e a justia da sentena. Ou seja, o recurso o meio de impugnao da deciso judicial dentro do processo em que a deciso foi proferida (at o trnsito em julgado); a ao rescisria o meio de desconstituio da coisa julgada material, que pode ser manejada, conforme j visto, dentro do prazo de dois anos aps o trnsito em julgado.

    No direito processual civil brasileiro, h, porm, duas hipteses em que uma deciso judicial existente pode ser invalidada aps o prazo da ao rescisria. o caso da deciso proferida em desfavor1 do ru, em processo que correu sua revelia2, quer porque no fora citado, quer porque o fora de maneira defeituosa (art. 475-L, I, e art. 741, I, CPC). Nesses casos, a deciso judicial est contaminada por vcios transrescisrios3.

    No primeiro volume deste curso, restou demonstrado que a citao no pressu-posto de existncia do processo, embora muitos doutrinadores pensem em sentido contrrio4. Acolhe-se o entendimento de Cndido Dinamarco, Pontes de Miranda,

    1. Se a sentena favorvel ao ru no-citado, no possvel a sua invalidao, pois no h nulidade sem prejuzo. Alm disso, faltaria ao ru no-citado interesse de agir na propositura da querela nullitatis. Em sentido contrrio, Pontes de Miranda, a sentena, ainda favorvel, no cobre o vcio da citao nula do revel. (Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, t. 11, p. 82).

    2. Perceba que se o ru no foi citado ou foi citado irregularmente, mas no houve revelia, pois ele compa-receu espontaneamente (art. 214 do CPC), no cabe mais a querela nullitatis. O ru-revel, por exemplo, pode utilizar-se da apelao contra a sentena proferida em processo em que no foi citado. Ao fazer isso, ingressa na relao jurdica processual, no podendo, posteriormente, aps o trnsito em julgado da deciso, utilizar-se da querela nullitatis.

    3. TESHEINER, Jos Maria. Pressupostos processuais e nulidades no processo civil. So Paulo: Saraiva, 2000, p. 283.

    4. Entendemqueacitaopressupostodeexistnciadoprocesso,apenasparaexemplificar:ARRUDAALVIM, Jos Manoel. Manual de Direito Processual Civil. 8 ed. So Paulo: RT, 2003, v. 1, p. 549-550; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentena. 4 ed. So Paulo: RT, 1998, p. 39; TALAMINI, Eduardo. A coisa julgada e a sua reviso. So Paulo: RT, 2005, p. 337-346; KO-MATSU,Roque.Da invalidade no processo civil, cit., p. 162-163; SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. Teoria da inexistncia no direito processual civil. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1998, p. 55; CORREIA, Andr de Luizi. A citao no direito processual civil brasileiro. So Paulo: RT, 2001, p. 95-96; PIZZOL, Patrcia Miranda. A competncia no processo civil. So Paulo: RT, 2004, p. 125; CRTES, Osmar Mendes Paixo.

  • Fredie didier Jr. e Leonardo Jos Carneiro da Cunha

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    Barbosa Moreira, Adroaldo Furtado Fabrcio, Jos Maria Tesheiner entre outros citados ao longo deste captulo. Essa lembrana importante, pois, para esses autores, a querela nullitatis equipara-se a uma ao declaratria de inexistncia5, e no a uma ao de invalidade.

    Se j h processo antes da citao, que, a propsito, ocorre em seu bojo, no se pode considerar como pressuposto de existncia fato que est, na linha do tempo, em momento posterior ocorrncia daquilo cuja existncia se pretende condi-cionar. A citao no pressuposto processual, porque o momento em que deve ser realizada posterior formao deste.6Acitaocondiodeeficciadoprocesso em relao ao ru (art. 219 e 263 do CPC) e, alm disso, requisito de validade dos atos processuais que lhe seguirem. Ademais, sentena proferida sem acitaodoru,masafavordele,noinvlidanemineficaz,tendoemvistaatotal ausncia de prejuzo (art. 249, 1 e 2, CPC). O indeferimento da petio inicial, por exemplo, uma sentena liminar, com (prescrio e decadncia) ou sem julgamento do mrito, favorvel ao ru e expressamente prevista no direito processual brasileiro.

    O meio de impugnao previsto para tais decises a ao de nulidade denominada querela nullitatis7, que se distingue da ao rescisria no s pela hiptese de cabimento, mais restrita, como tambm por ser imprescritvel e dever

    Ao rescisria contra deciso proferida em processo no qual inocorreu citao ou a citao foi nula discusso sobre o seu cabimento. In Aspectos polmicos e atuais dos recursos cveis e de outros meios de impugnao s decises judiciais. Nelson Nery Jr. e Teresa Arruda Alvim Wambier (coordenadores). So Paulo: RT, 2003, p. 558. Liebman, em conhecido estudo, contradiz-se: o ttulo do trabalho nulidade da sentenaproferidasemcitaodoruenoprimeiropargrafooautorafirmaqueoprimeiroefundamentalrequisito para a existncia de um processo sempre foi, , e sempre ser, a citao do ru. (Estudos sobre o processo civil brasileiro. So Paulo: Jos Bushatsky Editor, 1976, p. 179).

    5. Por exemplo, WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentena. 5 ed. So Paulo: RT, 2004, p. 507 e segs.; TALAMINI, Eduardo. A coisa julgada e a sua reviso, cit., p. 368.

    6. DINAMARCO, Cndido. Instituies de Direito Processual Civil. So Paulo: Malheiros Ed., 2001, v. 2, p. 504.

    7. Piero Calamandrei, em estudo monumental, demonstrou que o surgimento da querela nullitatis deu-se no direito intermdio, sendo instituto desconhecido do direito romano (p. 164). A querela nullitatis, lembra o autor, relacionava-se basicamente aos errores in procedendo, que, no direito romano, implicavam ine-xistncia jurdica da deciso sentena nula era sinnimo de sentena inexistente (p. 168). Sucede que no direito intermdio, que se caracterizava pela mistura das caractersticas do direito romano e do direito germnico, esses errores in procedendo passaram a ser defeitos de uma sentena existente, mas nula, impugnvel pela querela nullitatis. No direito intermdio, a expresso sentena nula indicava sentena existente. Defeitos que antes implicavam inexistncia (direito romano) passaram a implicar nulidade (p. 168). Posteriormente, a querella nullitatis passou a ser admitida, tambm, para impugnar sentenas in-justas, em situaes de extrema gravidade e evidncia (p. 195). No direito brasileiro, a querela nullitatis no serve para impugnar sentena injusta. Talvez essa rpida sntese histrica auxilie a compreenso dos motivos que levam a doutrina a, at hoje, misturar as noes de sentena inexistente e de sentena nula. (CALAMANDREI, Piero. La casacion civil. Santiago Sentis Melendo (trad.). Buenos Aires: Editorial Bibliografa Argentina, 1961, v. 1, t. 1, p. 161-175). Tambm entendendo que se trata de alegao de in-validadedasentena,LUCON,Paulo.Novaexecuodettulosjudiciaiseasuaimpugnao.Aspectos polmicos da nova execuo. Teresa Arruda Alvim Wambier (coord.). So Paulo: RT, 2006, p. 453.

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    ser proposta perante o juzo que proferiu a deciso (e no necessariamente em tribunal, como caso da ao rescisria). Ambas, porm, so aes constitutivas8.

    Convm anotar o seguinte: a ao rescisria, no direito brasileiro, permite a resciso da sentena por motivos relacionados sua validade (arts. 485, II e IV, p. ex.) e sua justia (art. 485, VI e VII, p. ex.). No correto, assim, estabelecer uma relao fidelidade entre a ao rescisria e a invalidade da deciso judicial9. A querela nullitatis serve, porm, exclusivamente, invalidao da sentena10, nesses casos previstos; a sua sobrevivncia, no direito brasileiro, restringe-se a tais casos. A ao rescisria absorveu as outras hipteses da antiga querela nullitatis.

    Pontes de Miranda j advertia sobre a necessidade de se distinguirem as decises inexistentes, rescindveis (vlidas, mas atacveis por ao rescisria, a despeito da coisa julgada) e nulas, que, embora existentes, no valem e podem ser desconstitudas a qualquer tempo11.

    A querela nullitatis, no direito brasileiro, est prevista como hiptese de ca-bimento de impugnao execuo de sentena (art. 475-L, I, CPC; nesse caso, a alegao de nulidade da sentena ser causa de defesa e no causa de pedir de uma ao) ou como hiptese de cabimento dos embargos execuo contra a Fazenda Pblica (art. 741, I, CPC)12.

    Sucede que o direito potestativo de invalidar a deciso judicial, em tais casos, pode ser exercido por outros meios, bem como a querela nullitatis pode assumir a feio de outro procedimento, distinto dos embargos execuo.

    8. Assim, por exemplo, CALAMANDREI, Piero. La casacion civil, cit., p. 169; MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil, t.11,cit.,p.86;LUCON,Paulo.Novaexecuo de ttulos judiciais e a sua impugnao. Aspectos polmicos da nova execuo. Teresa Arruda Alvim Wambier (coord.). So Paulo: RT, 2006, p. 453.

    9. MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil, 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005, v. 5, p. 104.

    10. importante estabelecer a relao entre querela nullitatis e o error in procedendo. Adroaldo Furtado Fabr-cio explica, sucintamente, a evoluo histrica do instituto: O direito intermdio produziu um remdio especficoparaaimpugnaodoserrosdeprocedimento,jqueaapelaosehaviafirmadoapartirdoperodo da cognitio extra ordinem como via de ataque principalmente (se bem que no exclusivamente) ao julgamento de mrito. Surgiu, assim, a querela nullitatis Objetivava a correo do error in procedendo. Naturalmente, seu aparecimento correspondeu a uma idia mais expandida de preclusibilidade, alargada a decises cujo vcio at ento se havia considerado como oponvel a todo tempo, independentemente de prazo e de forma. () injustia substancial da sentena corresponderia a appellatio; ao vcio formal a querela nullitatis e iniquidade a restitutio. (Ru revel no citado, querela nullitatis e ao rescisria. Ensaios de direito processual. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 246-247). Assim, tambm, MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005, v. 5, p. 101; LIEBMAN, Enrico Tullio. Notas s Instituies de Direito Processual Civil de Giuseppe Chiovenda. Campinas: Bookseller, 1998, v. 3, p. 233, nota 92.

    11. MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, t. 6, p. 190-199.

    12. Reconhecendo a sobrevivncia da querela nullitatis no direito brasileiro, ainda, STF, Pleno, RE 97.589-6/SC, rel. Min. Moreira Alves, j. 17.11.82.

    ao de nuLidade da sentena (querela nullitatis)

  • Fredie didier Jr. e Leonardo Jos Carneiro da Cunha

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    possvel pensar, por exemplo, em ao autnoma de invalidao da deci-so judicial, em espcie atpica de defesa do executado. O Superior Tribunal de Justia, por exemplo, j admitiu a querela nullitatis deduzida em uma ao civil pblica, proposta pelo Ministrio Pblico para invalidar deciso judicial proferida sem a citao de um Estado-membro, no caso litisconsorte necessrio-unitrio13. importante a ressalva, pois a hiptese do art. 475-L, I, CPC, refere-se apenas sentena que reconhece a existncia de obrigao, e, portanto, ttulo executivo, pois somente essa d ensejo atividade executiva. Sentenas que no tenham eficcia executiva, e que padecessem de tal vcio, no poderiam ser invalidadas pela impugnao (art. 475-L, I) nem pelos embargos execuo (art. 741, I), porque execuo no haveria14.

    Nada impede, ainda, que se deduza a pretenso de desconstituio da senten-a em exceo de no-executividade, defesa do executado sem a necessidade de garantia do juzo, por simples petio nos autos (muito semelhante atual impug-nao execuo da sentena e, por isso, atualmente sem muita importncia)15.

    Discute-se muito se possvel o ajuizamento de ao rescisria contra sen-tena nula, ou se ela somente cabe nos casos de sentena rescindvel. Cumpre admitir essa fungibilidade: deciso judicial com defeito transrescisrio pode ser impugnada por ao rescisria, embora a recproca no seja verdadeira deciso judicial com vcio rescisrio s por ao rescisria pode ser impugnada16. No entanto, o STJ no tem admitido a utilizao de ao rescisria para desconstituir deciso proferida em processo em que nao houve citao, sob o fundamento que arescisriatemcabimentoespecfico,nocomportandoalargamentos(STJ,2S.,AR n. 771-PA, rel. Min. Aldir Passarinho Jr., j. 13.12.2006, publicado no Informa-tivo n. 308). Em boa hora, porm, o STJ, aplicando os princpios da cooperao, instrumentalidade das formas e da durao razovel do processo, aproveitou os

    13. STJ, 2a T., REsp 445.664-AC, rel. originrio Min. Peanha Martins, rel. para acrdo Min. Eliana Calmon, j. em 15.4.2004, publicado no DJ de 07.03.2005.

    14. Mais uma vez, MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, t. 11, p. 86.

    15. Pontes de Miranda fala de exceptio nullitatis (Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, t. 11, p. 83).

    16. Corretamente, Adroaldo Furtado Fabrcio, para quem no se pode deixar de pensar em outras vias de deduo da pretenso a que se ligam os embargos do art. 741, I, fora desses embargos, inclusive a ao rescisria (FABRCIO, Adroaldo Furtado. Ru revel no citado, querela nullitatis e ao rescisria. Ensaios de direito processual. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 251). importante frisar que, tendo em vista a reforma do CPC de 2005, no h mais embargos execuo de sentena, ressalvada a hiptese de execuo contra a Fazenda Pblica (art. 741, I, CPC, que agora somente diz respeito a essa espcie de execuo); a defesa tpica do executado far-se- por impugnao, que no tem natureza de ao, mas de mero incidente da fase executiva. Tambm admitindo vrias formas de impugnao, TESHEINER, Jos Maria. Pressupostos processuais e nulidades no processo civil. So Paulo: Saraiva, 2000, p. 285.

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    atos processuais j praticados no processo da ao rescisria inadequadamente proposta, converteu o procedimento em querela nullitatis e remeteu os autos ao juzo competente, em vez de determinar a extino do processo sem exame do mrito(STJ,1.S.,EDclnosEDclnaARn.569-PE,rel.MinaCampbellMarques,j. em 24.08.2011).

    objeo segundo a qual no se pode rescindir, desconstituir, desfazer o que no existe, facilmente se responde que o caso de sentena existente, embora nula. E de ser igualmente impassvel de resciso o ato nulo de pleno direito, porque des-necessria, igualmente se pode contrapor que a distino entre nulo e anulvel, ou entre nulidade absoluta e relativa, no tem a importncia que lhe atribui a doutrina presa aos critrios discretivos acadmicos: os vcios da sentena, mesmo os de nuli-dade dita pleno iure, so primeiro alegveis mediante recurso, mas o superveniente trnsito em julgado em regra os transmuda em simples rescindibilidade, se que no os apaga de todo.17

    No possvel, entretanto, a utilizao da ao anulatria prevista no art. 486 do CPC, que, como visto, visa atingir o ato processual da parte. No se trata de meio de impugnao de deciso judicial18.

    A competncia para a querela nullitatis do juzo que proferiu a deciso nula, seja o juzo monocrtico, seja o tribunal, nos casos em que a deciso foi proferida em processo de sua competncia originria.

    possvel imaginar, porm, situao que a competncia para a querela seja do tribunal, mesmo tendo ele atuado com competncia derivada.

    Imagine a hiptese de uma apelao contra sentena que indefere a petio inicial. O tribunal, ao julg-la, d-lhe provimento, reformando a sentena e, no obstante a no-citao do ru, julga procedente o pedido do autor. Cogite, ainda, de acrdo que julgou recurso interposto contra sentena proferida em processo em que no foi citado litisconsorte necessrio unitrio. Parece que a competncia para futura querela nullitatis, em ambos os casos, do tribunal que proferiu a deciso que se pretende desconstituir, por uma questo de respeito organizao hierarquizada da funo jurisdicional. Poderia objetar-se essa concluso com a regra do arts. 475-L, I, e 741, I, do CPC, que prev a competncia da querela nullitatis para o juzo da sentena. Essa regra, porm, somente cuida dos casos em que houve sentena de procedncia contra ru no-citado e, portanto, tambm no houve apelao. A

    17. FABRCIO, Adroaldo Furtado. Ru revel no citado, querela nullitatis e ao rescisria. Ensaios de direito processual. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 262. Nesse mesmo sentido a opinio de MACEDO, Alexander dos Santos. Da querela nullitatis sua subsistncia no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. LumenJuris,2000,p.34-35;KOMATSU,Roque. Da invalidade no processo civil. So Paulo: RT, 1991, p.271-272.NoSTJ, acolhendoessa fungibilidade,paraexemplificar:4a T., REsp n. 330.293/SC, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, publicado no DJ de 06.05.2002, p. 295; 2a T., REsp n. 242.580/PE, rel. Min. Francisco Peanha Martins, publicado no DJ de 13.08.2001, p. 94.

    18. Contra, ASSIS, Araken de. Cumprimento da sentena. RiodeJaneiro:Forense,2006,p.319;STJ,3T.,REsp n. 459.351/SP, rel. Min. Castro Filho, j. em 22.05.2003, publicado no DJ de 16.06.2003.

    ao de nuLidade da sentena (querela nullitatis)