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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM AS MUDANÇAS IMPLEMENTADAS PELA LEI 11.232/2005 NA EXCUÇÃO CIVIL Por Márcio Ricardo Lopes Marques Orientador José Roberto Borges Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

AS MUDANÇAS IMPLEMENTADAS PELA LEI 11.232/2005 NA EXCUÇÃO CIVIL

Por Márcio Ricardo Lopes Marques

Orientador

José Roberto Borges

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

AS MUDANÇAS IMPLEMENTADAS PELA LEI 11.232/2005 NA EXCUÇÃO CIVIL

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Pós Graduação em Processo Civil

Por: Marcio Ricardo Lopes Marques

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AGRADECIMENTOS

A Deus, em primeiro lugar que sempre esteve ao meu

lado em todas as minhas dificuldades, me suprindo de

perseverança, força e determinação para ultrapassar as

barreiras encontradas, a meus professores agradeço,

pois me muniram de conhecimentos e a meus pais pela

dedicação a mim empregada.

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MEDITAÇÃO

No dia da reedificação dos teus muros, nesse dia, serão os teus muros removidos para mais longe.

Miquéias 7: 11

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SUMÁRIO

Intróito

1- Teoria Geral da Execução

2- Direito a uma prestação e execução

3- Classificação das ações

4- Elementos da ação

5- Das sentenças

6- Do transito em julgado

7- Dos limites da coisa julgada

8- Do conceito

9- Da evolução histórica

10- Dos meios de execução

11- Da natureza do processo de execução

12- Do processo de conhecimento e de execução

13- Execução, processo de execução e processo autônomo

14- Execução por mera fase ou processo autônomo?

15- Do objetivo da execução

16- Direito potestativo e execução

17- Conceito de execução

18- A ação de execução

19- A sentença satisfativa e a sentença dependente de execução

20- A impossibilidade de execução no curso do procedimento

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21- A execução tem por fim restaurar um direito violado ou impedir ocorrência da violação

22- Formas executivas

23- Retrospecto quanto à execução

24- A nova natureza jurídica da execução civil

25- A efetivação de sentença substitutiva

26- A lei 11.232/2005 e a sentença condenatória

27- O desaparecimento da ação de execução de sentença

28- A sentença depende de execução não mais põe fim ao processo

29- Reformas da Execução Civil

30- Ações de execução de sentença

31- Das alterações

32- Ação de execução de sentença não cumprida

33- Penhora e avaliação (art. 475-J). Honorários de advogado (art. 20, § 4º). A intimação do devedor (art. 475-J, § 1º) e seu cônjuge (art. 655, § 2º)

34- Execução definitiva e execução provisória

35- Liquidação da sentença (arts. 475-A a 475-H)

36- A repercussão da Lei nº 11.232/05 nos embargos à execução

37- Sistematização das formas de execução civil

38- A execução na tutela monitória

39- A natureza jurídica da impugnação

40- Querela de nulidade insanável: art. 475-L, I

41- A natureza Jurídica da nova liquidação de sentença

42- Jurisprudências

43- Bibliografia

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Intróito

O Código de Processo Civil prevê três espécies de processo: de conhecimento, de execução e cautelar. Para se localizar o processo adequado para a situação proposta a identificação da natureza da providencia jurisdicional invocada é essencial, pois se for ação condenatória, constitutiva ou declaratória de um direito o processo correto será de conhecimento, ao passo que se for ação executiva o processo será de execução, enquanto, que se a natureza da ação for preventiva (ou preparatória) o processo será cautelar.

O processo de conhecimento é empregado quando a pretensão restringe-se à declaração de existência ou inexistência, à extinção ou nascimento de um direito. Trata do reconhecimento ou não do direito em questão.

O processo de execução tem por finalidade o cumprimento de um direito já reconhecido seja por sentença judicial ou ainda por titulo ao qual a lei atribui força executiva.

O processo cautelar por sua vez assegura interesses das partes em perigo pela demora da providência jurisdicional . É utilizado para obter providencias urgentes e provisórias . O processo cautelar é acessório e tem por finalidade assegurar o resultado, do processo de conhecimento ou do processo de execução, que será objeto da ação principal.

1- Teoria geral da execução

A execução usualmente é conceituada como o processo ou etapa em que o magistrado determina as medidas executivas tendentes ao cumprimento de uma obrigação constante no título executivo. Neste processo ou etapa, a atuação jurisdicional não busca reconhecer um direito, mas sim adotar as medidas necessárias para a sua satisfação. Há, portanto, um mérito na execução, justamente consistente na prática destes atos, muito embora, nela não ocorra julgamento de mérito. Por este motivo (ausência de julgamento) é que não há necessidade de produção de provas com vistas a obter o convencimento do magistrado, embora essas até possam ocorrer quando, no bojo da execução, se instaurar algum incidente cognitivo como, por exemplo, quando se discute a respeito da possibilidade de aplicação da desconsideração da personalidade jurídica.

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O mais curioso é que, diversamente do que ocorre no processo de conhecimento, o mérito na execução é atendido antes da prolação da sentença. Em outras palavras, somente após já ter ocorrido a satisfação do crédito em decorrência do emprego dos meios executivos é que o juiz irá proferir a sentença .

Estas medidas executivas, estabelecidas pelo magistrado no curso da execução, têm como espécies os meios de coerção ou de sub-rogação, que serão objeto de análise mais profunda em momento oportuno. É de se ressalvar que tais medidas executivas também podem ser eventualmente determinadas nos processo de conhecimento ou cautelar, de modo a permitir a efetivação de algumas decisões que neles foram proferidas. Mas, mesmo com esta possibilidade, não se transmuta a natureza do processo, uma vez que esta deve ser analisada sob o prisma da sua finalidade principal. Assim, se o intuito é o reconhecimento de um direito, este processo é de conhecimento. Caso o objetivo seja o cumprimento de uma obrigação reconhecida em um titulo executivo, se estará diante de um processo de execução. E, por fim, se o que se buscar é tornar útil ou proveitoso um provimento jurisdicional a ser proferido em outro processo, este será um processo cautelar.

O processo de execução era mais um ao lado do processo de conhecimento e do cautelar, tendo a sua própria finalidade. No seu caso específico, o cumprimento de uma obrigação estampada em um título executivo, que fosse certa, líquida e exigível. Era um processo como qualquer outro, que contava com uma petição inicial, citação, contraditório por parte do executado e até mesmo com prolação de sentença. Eventualmente, o mesmo apresentava algumas peculiaridades próprias como, por exemplo, a desnecessidade de se produzir qualquer prova, já que o magistrado oficiante no processo não estava ali para ser convencido e julgar, mas sim para determinar as medidas necessárias para a satisfação da obrigação.

Recentemente, com o advento da Lei nº 10.444/02 e Lei nº 11.232/05, é que muito se falou em uma pretensa mitigação da autonomia do processo executivo, uma vez que tais leis teriam crido o determinado “processo sincrético”, que seria nada mais do que um amálgama entre os diversos existentes. Como efeito, a Lei nº 10.444/02, ao alterar a redação do art. 644, fez constar que : “A sentença relativa à obrigação de fazer ou não fazer cumpre-se de acordo com o art.461, observando-se, subsidiariamente, o disposto neste capitulo”, o que é indicativo de que o processo continuará mesmo após a prolação da sentença da sentença, com a adoção dos meios executivos necessários para a satisfação da pretensão. E, com o advento da Lei nº 11.232/05, essa postura também foi aplicada ás sentenças que

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condenam a obrigação pecuniária, pelo menos na maioria dos casos, em virtude do que consta a partir do art. 475- I.

Contudo, não é correto concluir que foram essas leis as responsáveis pela criação do processo sincrético, uma vez que este já existia desde o momento da criação do atual CPC como se pode depreender, por exemplo, na ação de depósito, cujo cumprimento da sentença, até hoje, independente de processo executivos autônomos. Só que tais situações eram restritas a bem poucos procedimentos especiais.

Com a criação das já citadas leis, ocorreu uma mitigação da autonomia do processo executivo, embora não a sua total abolição, uma vez que, na maioria das vezes, o titulo executivo judicial não mais precisará ser executado em processo autônomo. Com efeito, após a prolação da sentença, encerrando a etapa cognitiva, será iniciada a segunda fase dentro do mesmo processo, agora com a atuação jurisdicional, forçando o cumprimento da obrigação reconhecida no título. Mas, muito embora o processo permaneça uno, ainda assim é possível sustentar a permanência da dualidade de ações.

O direito de ação pode ser sucintamente definido como direito público, subjetivo, autônomo e abstrato de invocar o Estado a prestar a tutela jurisdicional. É “público”, porque envolve a atuação de um Ente Estatal, no exercício de um Poder inerente a sua soberania, além de ser extensível a todos. É “subjetivo”, porque confere ao seu titular um poder de exigir de outrem (no caso o Estado-juiz), a prestação jurisdicional. É “autônomo”, porque tem existência própria, não decorrendo do próprio direito material. E, por fim, é também “abstrato”, já que tem vida própria independente até mesmo da existência, ou não, do próprio direito material.

Usualmente, o direito de ação é exercido pelo autor no momento em que a demanda é proposta, utilizando, como instrumento, a petição inicial. Em algumas situações, o próprio demandante exerce duas ou mais ações em um mesmo momento, fenômeno que é bastante corriqueiro e designado como “cumulação de ações”, servindo para ilustrar esta hipótese, a petição inicial que contém pedidos cumulados (art.292).

No entanto, também é possível que qualquer uma das partes possa exercer o direito de ação no curso do processo já instaurado, caso seja adotada uma visão ampliativa deste fenômeno e deste que seja afastada a idéia de que este direito somente pode ser exercido por meio da petição inicial.

Ação, como visto, é provocador o Estado-juiz a prestar a jurisdição, Esta, por sua vez, compreende não apenas dizer o direito aplicável , mas, também, a determinação das medidas executivas necessárias para o cumprimento da

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obrigação. Sob este prisma, houve um direito de ação exercido no momento da instauração do processo, cujo instrumento foi a petição inicial . No momento em que seja entregue a prestação jurisdicional, com o reconhecimento do direito alegado, há agora a necessidade de prosseguir com o mesmo processo já instaurado. Só que, para que haja este prosseguimento, em algumas situações o legislador vai exigir uma nova provocação do interessado, o que irá caracterizar um novo direito de ação, muito embora, esse instrumento não mais necessite ter a forma de uma petição inicial. É o que ocorre, por exemplo, nas sentenças proferidas no Juizado Especial Estadual, uma vez que o art. 52, inciso IV, da Lei nº 9.099/95 exige uma situação para que haja o processo possa continuar a se desenvolver.

Para este mister, o Estado põe à disposição dos jurisdicionados a via processual, “cuja finalidade é garantir que a norma substancial seja atuada, mesmo quando o destinatário não o faça espontaneamente”.

Independente de ser titular ou não do direito material invocado, o indivíduo ou a coletividade pode acionar o Judiciário para a controvérsia ou o conflito de interesse seja dirimido. Dessa maneira, no sistema processual contemporâneo, considera-se o direito da ação ou de petição abstrato e autônomo, o que implica dizer, como já observado, que sua exigência não está vinculada à do direito material que se busca proteger pela via do processo.

O direito de ação, embora fatalmente dê causa à instauração de um processo e, via de conseqüência, à prestação jurisdicional, não provocar necessariamente um provimento, positivo ou negativo, acerca da situação jurídica material controvertido. Para que haja tal provimento, devem estar presentes as denominadas condições da ação, que, em ultima analise, podem ser mais bem designadas pela expressão “condições, a prestação jurisdicional não definirá situação jurídica material alguma, devendo o órgão julgador extinguir o processo sem resolução do mérito, nos termos do art.267, VI.

Se presentes as condições da ação, o Estado –Juiz tem o poder e o dever de prover a jurisdição, isto é, de resolver a lide, o conflito de interesse submetido à sua apreciação . A essa prestação jurisdicional que ultrapassa a simples resposta ao direito de ação para deferir ou satisfazer o direito material dá-se o nome de tutela jurisdicional. Assim, diferencia-se a prestação jurisdicional da tutela jurisdicional, haja vista que esta só será concedida àquele (autor ou réu) que efetivamente seja titular do direito subjetivo, ao passo que aquela é inexorável, desde que haja provocação do Estado para tal fim.

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Vale ressaltar que a tutela jurisdicional pode, em princípio, ser concedida a favor do autor ou do réu, desde que, obviamente, haja provocação do órgão jurisdicional para tanto e seja observado o devido processo legal. No processo de conhecimento, por exemplo, o provimento jurisdicional no sentido de julgar improcedente o pedido do autor importa em tutela favorável ao réu, tendo em vista que extirpa a possibilidade de rediscussão a respeito do direito material invocado pelo autor. Também no processo cautelar, conquanto não se vise realizar direito material, mas tão somente assegurar a eficácia de outro processo (cognitivo ou executivo), não há duvida de que a presença que afasta a pretensão do requerente reconhece, de outro lado, situação favorável ao requerido.

Ocorre que, como se verá adiante, a tutela executiva tem destinação unilateral, atuando apenas no sentido de satisfazer direito material previamente definido em titulo judicial ou extrajudicial.

Nos tópicos seguintes, analisar-se-ão as diversas espécies de tutela jurisdicional, dando ênfase sempre à tutela executiva, que visa satisfazer o direito previamente definido em título judicial ou extrajudicial. Entre as inúmeras classificações das tutelas jurisdicionais arroladas pela doutrina, será dado maior destaque para aquela que considera a pretensão submetida ao exame do Judiciário, que pode visar o acertamento da lide (tutela cognitiva), a satisfação de um direito já acertado (tutela executiva) ou, ainda, acautelamento de um processo (tutela cautelar).

Definido o conceito de tutela jurisdicional, cumpre observar que o seu conteúdo depende de direito que se busca proteger pela via processual. Isso nada mais significa que, de acordo com a crise jurídica vivenciada no plano material, o provimento jurisdicional atuará de maneira diversa, com objetivo de produzir resultados úteis às partes.

Entre as espécies de tutelas jurisdicionais, a classificação de maior abrangência é aquela que considera a pretensão submetida à apreciação do Judiciário, que pode ser de cunho cognitivo, executivo ou cautelar.

Em face da opção do legislador, nas recentes reformas do CPC, pelo processo sincrético, a tutela de cognição que reconheça uma obrigação ( de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia) não pode mais ser dissociada da tutela executiva. Isto porque “a efetivação forçada da sentença condenatória será feita como etapa final do processo de conhecimento, após um tempus iudicati, sem necessidade de um processo autônomo de execução (afastam-se princípios teóricos em homenagem à eficiência e brevidade)”.

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Anteriormente às alterações promovidas pela Lei nº 11.232/05, distinguia-se a tutela condenatória stricto sensu, que exigia ajuizamento de ação de execução para satisfazer o direito reconhecido na sentença da tutela executiva lato sensu, que se referia à tutela condenatória auto executiva, cujo comando condenatório era possível de execução imediata, sem a necessidade de nova ação. Essa tutela executiva lato sensu era aplicável apenas às obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa diversa de dinheiro, ao passo que a tutela condenatória stricto sensu tinha lugar com relação ás obrigações de pagar quantia.

Com a consagração do processo sincrético pela Lei nº 11.232/05, não há mais sentido em se diferenciarem ações executivas lato sensu de ações condenatórias stricto sensu, pois tanto a liquidação quanto o cumprimento da sentença que reconhece obrigação de pagar quantia passaram a constituir mera fase do processo de conhecimento. Vale dizer, a carga de eficiência das tutelas jurisdicionais que reconheçam obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa e pagar quantia agora é a mesma.

Já vimos que o Estado tem o poder e a obrigação de prestar a tutela jurisdicional (de dirimir os conflitos que lhe são submetidos) quando provocado. Pois bem, A par desse dever o Estado, surge para o indivíduo um direito público subjetivo de acionar a jurisdição. É direito público porque se dirige contra o Estado-Juiz. É subjetivo porque o ordenamento jurídico facultado ao lesado, em seu direito, pedir a manifestação do Estado para solucionar o litígio, dizendo qual é o direito de cada uma das partes no caso concreto.

O conceito de ação nem sempre foi o mesmo ao longo da história.

O acolhimento da teoria eclética de Liebman pelo CPC é evidenciado por uma série de dispositivos, tais como o art. 267, VI que estabelece a extinção do processo sem resolução do mérito “quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade das partes e o interesse processual”.

Não se pode olvidar, contudo, que a concepção eclética original tem sido mitigada pela doutrina moderna, que não vislumbra as condições da ação como requisitos à existência da ação, mas sim como requisitos ao legitimo exercício de tal direito ou, ainda, condições para o provimento final

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2- Direito a uma prestação e execução

Direito a uma prestação é o poder jurídico, conferido a alguém de exigir de outrem o cumprimento de uma prestação, que pode ser um fazer, um não fazer, ou um dar prestação essa que se divide em dar dinheiro e dar coisas distinta de dinheiro. Os direitos a uma prestação relacionados aos prazos prescricionais que, com prevê o art. 189 do CC 2002, começam a correr da lesão/inadimplemento não cumprimento pelo sujeito passivo do seu dever.

O direito a uma prestação precisa ser concretizado no mundo físico; a sua efetivação/satisfação é a realização da prestação devida. Quando o sujeito passivo não cumpre a prestação, fala-se em inadimplemento ou lesão. Como a autotutela é, em regra, proibida, o titular desse direito, embora tenha a prestação, não tem como, por si, agir para efetivar o seu direito. Têm, assim, de recorrer ao Poder Judiciário, buscando essa efetivação, que, como visto, ocorrerá com a concretização da prestação devida . Busca, portanto, a tutela jurisdicional executiva.

Quando se pensa em tutela executiva, pensa-se na efetivação de direitos a uma prestação;fala-se de meios para efetivar a prestação devida, fala-se em execução de fazer/não fazer/dar, exatamente os três tipos de prestação existentes. Não é por acaso, nem por coincidência, que a tutela executiva pressupõe inadimplemento (CPC, art. 580). É por isso, também, que se pode falar em prescrição de execução (CPC, art.617 e súmula do STF, nº 150) .

A execução forçada dirige-se ao cumprimento de uma prestação. Essa relação entre direitos material e processo é fundamental para a compreensão do fenômeno executivo.

3- Classificação das ações

O critério mais aceito pela doutrina para classificar as ações é o que leva em conta a natureza do provimento jurisdicional pretendido.

Ação de cognição (ou conhecimento) : visa ao acertamento do direito.

Ação de execução : busca a satisfação ou a realização de um direito já acertado, por meio de um título extrajudicial ou judicial, podendo ocorrer, respectivamente, por processo autônomo ou mera fase do processo de conhecimento. Ressalve-se que, no caso dos títulos judiciais referidos nos incisos II,IV e VI do art. 475- N, instaura-se processo autônomo que segue as regras do cumprimento de sentença (arts. 475-I a 475-Q), aplicando-se

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subsidiariamente as normas que regem o processo de execução de titulo extrajudicial (art.475-R).

Ação cautelar : objetiva o acautelamento do processo (de cognição ou de execução), de forma a viabilizar a eficácia da prestação jurisdicional.

A ação de cognição, por sua vez, classifica-se em ação condenatória, declaratória e constitutiva.

A ação condenatória, além de declaração de certeza do direito, objetiva a condenação do réu a prestar uma obrigação (ação de reparação de danos), por exemplo. Com a consagração do processo sincrético pela Lei nº 11.232/05, não há mais sentido em se diferenciar ações condenatórias stricto sensu de ações executivas lato sensu, por tanto a liquidação quando o cumprimento da sentença que reconhece obrigação de pagar quantia passaram a construir mera fase do processo de conhecimento. Vale dizer, a carga de eficácia das tutelas jurisdicionais que reconheçam obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa e pagar quantia agora é a mesma.

A ação constitutiva, afora a declaração do direito, tem por finalidade criar modificação ou extinguir um estado ou relação jurídica (ação de divorcio).

A ação declaratória tem por objeto a simples declaração da existência ou inexistência de uma relação jurídica. Pode ser principal ou incidental. Na segunda hipótese, tem por finalidade ampliar os efeitos da coisa julgada, de forma a alcançar também a questão prejudicial (arts. 325 e 470).

A doutrina admite, ainda a ação mandamental, na qual o provimento judicial ordena que se cumpra alguma coisa (mandado de segurança que determina a reintegração de um funcionário).

4- Elementos da ação

As ações (ou causas) são identificadas pelos seus elementos subjetivos e objetivos. Os elementos subjetivos são as partes; e os objetivos, o pedido e a causa de pedir.

Parte: é quem pede ou em fase de quem é pedido uma providencia jurisdicional (autor e réu, nas ações de cognição; exeqüente e executado, nas execuções; requerente e requerido, nas ações cautelares). Evidencie-se que a substituição da titularidade do direito material controvertido não descaracteriza a identidade da parte, uma vez que o sucessor passa a ocupar a mesma posição jurídica da parte sucedida. É o caso da alimentação do bem litigioso, seja por ato inter vivos ou causa mortis.

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Pedido: desdobra-se em pedido imediato, que é a providência jurisdicional solicitada, e pedido mediato, que constitui o bem jurídico pretendido.

Numa ação de cobrança, a condenação constitui o pedido imediato (relaciona-se com o direito processual), ao passo que o recebimento do crédito constitui o pedido mediato (relaciona-se com o direito substancial).

Causa de pedir: subdivide-se em causa remota, que se relaciona com o fato, e causa próxima, que se relaciona com as conseqüências jurídicas desse fato. O abalroamento culposo, numa ação de reparação de danos por acidente de veículos, constitui a causa remota; já as conseqüências jurídicas desse fato (obrigação de indenizar com base nos arts. 186, 187 e 927 do CC) caracterizam a causa próxima.

Os elementos da ação (ou da causa) tem importância para determinar a existência de coisa julgada, litispendência, conexão e continência. Para que se caracterize a coisa julgada ou litispendência; por exemplo, é necessário que coincidam todos os elementos da demanda (partes, pedido mediato e imediato e causa de pedir próxima e remota).

Em razão de um acidente automobilístico, o autor entra com duas ações contra um mesmo réu. Em uma ação, pede danos emergentes; em outra, lucros cessantes. As partes e as causas de pedir (a remota é caracterizada pelo acidente, e a próxima, pelas conseqüências jurídicas do fato, isto é, obrigação de indenizar com base no art. 186 do CC) são idênticas. No que se refere aos pedidos, apenas os imediatos são coincidentes (o autor, nas duas demandas, pretende a condenação do réu); os pedidos mediatos são distintos (em uma ação, pedem-se danos emergentes; em outra, lucros cessantes). Nesse caso, há apenas conexão.

Por questão de economia processual, dois ou mais pedidos podem cumular-se no mesmo processo. O contribuinte pede a declaração de inexistência de relação jurídico-tributária e a repetição do indébito.

5- Das sentenças

A sentença traduz-se no ato mais importante do processo. Constitui um trabalho de inteligência por meio do qual o julgador faz o enquadramento do caso concreto ao tecido legal de conformidade com o que restou provado em hábil instrução, onde as partes devem ter sido tratadas com igualdade. A sentença proveniente do estado de revel (ausência de defesa) constitui uma exceção para a qual a réu deve ter dado causa. É por meio da sentença que o poder jurisdicional desenvolvido pelo Estado concede ou nega o direito

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perseguido, sendo a sentença o coroamento da fase de conhecimento. Poderá ser absolutória, declaratória ou condenatória . A condenatória poderá ser liquida, quando indicar o direito concedido e o respectivo valor; poderá ser ilíquida, quando não houver a possibilidade de indicar, de imediato, o valor, correspondente àquele direito. Excepciona-se a essa regra o procedimento sumaríssimo, em que o advogado é obrigado a apresentar verbas liquidas no pedido inicial e o juiz está obrigado, salvo exceção, a prolatar sentença liquida. O direito é concedido ou negado na fase de conhecimento. É nessa fase que a prova será coletada por indicação das partes e sob a vigilância do juiz instrutor do processo. É nessa fase que se descreve o ônus probatório, com produção de prova e de contraprova. Na fase executória, não se nega ou se concede direito. Nessa fase, apenas e tão somente se transforma em realidade o comando abstrato contido numa sentença condenatória de pagar determinada importância ou de cumprir obrigação de fazer ou de não fazer. A sentença é ato formal complexo e deve obedecer a determinada formalidade prevista em lei, qual seja possuir relatório, fundamentação e dispositivo. O relatório pode ser conciso e devera conter o nome do autor e do réu, a síntese do pedido inicial, da defesa e das ocorrências havidas duramente a fase de conhecimento. Na fundamentação, o juiz analisará as questões de fato e de direito e dirá, de forma fundamentada, porque está concedendo ou negando o pedido formulado, sempre em consonância com a prova produzida e o ônus probatório de cada parte, excepcionada a simples matéria de direito ou de fatos notórios para os quais não se exige prova, pois estes se provam por si sós. A prestação jurisdicional está circunscrita a que o juiz decida a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões não suscitadas e a cujo respeito a lei exija a iniciativa da parte. O juiz também apreciará livremente a prova produzida, atendendo aos fatos e circunstancias que afloram dos autos, ainda que não alegados pelas partes, mas estará obrigado, a dizer na sentença os motivos que lhe formaram a convicção. Todavia, como dominus processus, poderá agir de oficio em defesa da justiça quando, pelas circunstancias da causa, seja comprovada a existência de ato simulado pelo autor e pelo réu, poderá proferir sentença que obste os escusos das partes. O dispositivo se liga diretamente com a fundamentação e constitui a parte mais importante desse ato complexo denominado sentença. É o dispositivo que transita em julgado, não os fundamentos, por mais importantes que sejam, excepcionado o caso previsto nos arts. 5º e 325, CPC. O dispositivo, ao condenar, deve fazer constar expressamente o nome do autor e do réu e as quais o réu é condenado. De bom alvitre que conste sempre a condenação em juros e correção monetária, honorários advocatícios, honorários periciais, e a prescrição parcial com indicação de data (art. 7º,XXIX, CF), se invocada.

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6- Do transito em julgado

“As passadas em julgado ou das quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capitulo”. (art. 876, CLT).

“Se a sentença em julgado, a execução é definitiva, isto é, pode ir até as suas ultimas conseqüências, com a alienação dos bens do vencido. Se pende recurso com efeito meramente devolutivo, a execução é provisória; vai apenas até a penhora” .

A Lei 11.382/06 rompe com entendimento secular de que o efeito suspensivo não permite a execução provisória . Diz o art. 739 –A que “ os embargos do executado não terão efeito suspensivo”, e o § 6º adverte que “ a concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação de atos de penhora e de avaliação dos bens”. O § 1º admite o efeito suspensivo em caso de grave dano de difícil ou de incerta reparação, desde que haja penhora, ou caução suficientes, atos esses próprios da execução provisória .

7- Dos limites da coisa julgada

A coisa julgada deveroa traçar sempre os seus limites objetivos e subjetivos. O limite objetivo está em que não se poderá executar aquilo que não restou premiado no comando sentencial (art. 879,§ 1º, art. 475 – G, CPC), que se constituiria em excesso de execução. No que concerne aos limites subjetivos, preconiza o art. 472 do CPC que “ a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros (...)”.

A vexata quaestio é saber-se quais as pessoas alcançadas pela res judicata: atinge somente as partes colocadas no pólo passivo e ativo do processo ou lança reflexos sobre terceiros ?

Temos na doutrina que, estabelecida a litiscontestatio, pela qual as partes se obrigam a acertar aquilo que fosse decidido, é pois, se obrigavam à decisão, somente elas eram atingidos pelos efeitos da coisa julgada. Vários textos consagrados essa doutrina, tais o de Ulpiano (D.44.2.1): cum res inter alios judicata nullum allis praejudicium facient - a coisa julgada não produz nenhum prejuízo a terceiro; o de Macer (D.44.1.63): res inter alios judicata alis non

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praeiudicare – a coisa julgada não prejudica terceiros; o de Paulo (D.3.2.21): non opportet ex sententia sive justa sive injusta, pro alio habitara a lium pregravari – a sentença produzida entre as partes, seja justa ou injusta, não deve atingir terceiros. Em síntese, conforme a doutrina romana, a coisa julgada vincula apenas as partes e não terceiros, aos quais não prejudicar. As ordenanças adotaram o principio romano: “A sentença não aproveita nem empece mais que as pessoas entre que é dada” (Ord., Liv.3º, Tit, 81, pr).

O fato de alguém não haver participado da lide não significa que seja sempre terceiro. E terceiro não será sempre aquele que, no processo, tomar o lugar do devedor ou do credor, v.g., espólio, cessão de credito etc. (arts. 566, 568,CPC). Aquele que substitui no processo o devedor ou credor não poderá se opor contra atos já superados pela preclusão e pela coisa julgada, excepcionada a ação rescisória e a anulatória, vez que terceiro não é.

Todavia, o fato de terceiro não haver participado da lide não significa o obrigatoriamente que não possa vir a ser prejudicado pela sentença transitada em julgado. Diz Liebman: “ A eficácia natural da sentença atua com relação a todos; por outro lado, a coisa julgada só vale entre as partes, pelo que estas suportam a sentença sem remédios, ao passo que os terceiros podem destruí-la, demonstrando a sua injustiça.”

Os limites objetivos da coisa julgada dizem respeito àquilo que restou posto na sentença de mérito e referendado pela coisa julgada. Esse limite poderá confronta-se com aquilo que foi formulado no pedido inicial, quando a sentença foi totalmente procedente, ou poderá ser menor do que o solicitado, quando a sentença foi apenas procedente em parte. A execução não poderá ir além do que foi fixado na sentença. Em ocorrendo a hipótese, tem-se o caso do excesso de execução, que traduz desrespeito ao comando sentencial imutável. Denomina-se coisa julgada material a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinnario ou extraordinário (art.467, CPC).

A sentença que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas (art.468, CPC). O excesso de execução traduz usurpação feito pelo credor sobre o patrimônio do devedor, razão pela qual não pode ser tolerado pelo juiz instrutor. Não existe preclusão para ato saneador do juiz, de oficio ou requerimento da parte, no sentido de eliminar o excesso executório. Ainda que o executado tenha tido ciência dos cálculos (v.g., o exeqüente acrescentou verba não premiada pela coisa julgada ou colocou quantia maior), o fato de, descuido, não haver o executado impugnado o excesso não significa que a partir de então deve arcar com aquele excesso por conta da preclusão. O raciocínio assim levado a efeito é paralógico e não deve prevalecer. Antes da parte, cabe ao juiz instrutor prover

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para que os atos executórios se procedam de forma obediente a coisa julgada (art.879, § 1º, CLT).

Pelo art. 743, CPC, haverá excesso de execução quando : I – o credor pleiteia quantia superior a do titulo; II – recai sobre coisa diversa daquela declarada no titulo; III – se processa de modo diferente do que foi determinado na sentença; IV – o credor, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento do devedor; V- o credor não provar que a condição se realizou, Pelo art. 618,III, CPC, é nula a execução se instaurada antes de se verificar a condição ou de acorrido o termo. Ver art. 572, CPC. Cabe ao juiz executor cuidar para que a execução se proceda rigorosamente nos limites objetivos da coisa julgada. Esse é o seu dever de ofício. O fato do executado não haver impugnado o excesso não significa que este será acrescido ao comando sentencial já transitado em julgado, posto este não se modificar pela vontade de uma das partes. O excesso traduz afronta à coisa julgada, instituto de direito público pertencente ao Estado, que não se modifica por mera preclusão ou por vontade da parte.

De conformidade com o § 5º do art. 739 – A (Lei 11.382/06), “quando o excesso de execução for fundamento dos embargos, o embargante deverá declarar na petição inicial o valor que entende correto, apresentando memorial do calculo, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou de não conhecimento desse fundamento”. Nesse mesmo sentido dispõe o art. 475 –L, § 2º, CPC, com modificação da parte in fine : “ ... sob pena de rejeição liminar desse impugnação”. A exigência trazida pela Lei 11.232/05 (art. 475 – L, § 2º) e pela Lei 11.382/06 (art.739 – A,§ 5º) é salutar, porque evite alegações protelatórias.

8- Do conceito

Segundo Liebman, “a atividade desenvolvida pelos órgãos judiciários para dar atuação a sanção recebe o nome de execução; em especial, execução civil é aquela que tem por finalidade conseguir por meio do processo, e sem o concurso da vontade do obrigado, o resultado prático a que tendia a regra jurídica que não foi obedecida. (...) A execução é feita para a atuação de uma sanção justificada pelos fatos ocorridos entre as partes, isto é, para satisfazer direito efetivamente existente”.

A execução, como atividade estatal, pressupõe, como regra a existência de uma ação de conhecimento, onde a parte colocada no pólo passivo teve todas as oportunidades defensivas (principio da ampla defesa e do devido processo legal), obtendo, a final, um titulo judicial com transito em julgado, que propiciará ao autor a execução aparelhada, caso a parte não cumpra a

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obrigação espontaneamente. Nada impede, tudo aconselha, que, em vez de aguardar o trânsito em julgado, as partes se conciliem, acordam ou transacionem no processo. Em sede civilista existe a execução de titulo extrajudiciais (art. 576, CPC). Cujo rol vem explicitado no art. 585 do CPC. O titulo extrajudicial no processo do trabalho está restrito à conciliação feita perante a Comissão de Conciliação Prévia e ao Termo de Ajuste de Conduta firmado perante o Ministério Público (art. 876, CLT). O Código de Processo Civil excepciona nos arts. 1.102 a e 1.102 b, em função da ação monitória (Lei 9.079/95), e no art. 1.102 c, com nova redação (Lei 11.232/05). Executar é, pois, transformar em realidade o comando abstrato de uma sentença condenatória. É transformar em concreto aquilo que existe apenas no mundo abstrato. Essa atividade é desenvolvida pelo Poder Judiciário, a quem foi concedido o poder jurisdicional, que é ao mesmo tempo poder, função e atividade . Como “poder”, representa a expressão da própria soberania, que é única e una, exercida pelos órgãos estatais que compõem o Poder Judiciário, v.g., juízes de primeiro de jurisdição, tribunais intermediários (Regional Federal, de Justiça, Eleitoral, Militar) e Tribunais Superiores (STJ, TST,TSE,STM), tendo no ápice o STF . Como “função”, objetiva promover a realização do direito por cada um dos órgãos estatais (estadual ou federal) com atuação dentro de um processo com ação habilmente ajuizada. A função jurisdicional não atua de ofício, somente quando provocada. Mantém-se latente. Provocada, não pode ser negada (princípio da indeclinabilidade). Os órgãos jurisdicionais são, por natureza e por índole, inertes, a eles se aplicando os princípios Nemo judex sine actore e ne procedat judex ex officio.

Executar é satisfazer uma prestação devida. A execução pode ser espontânea, quando o devedor cumpre voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o cumprimento da prestação é obtido por meio da prática é obtido por meio da prática de atos executivos pelo Estado.

Tradicionalmente, o termo cumprimento, em Direito Civil, é utilizado para referir-se a um comportamento voluntário ; quando a obrigação é adimplida espontaneamente, diz-se que houve cumprimento da obrigação. O cumprimento seria, então, a execução espontânea. Aqui, no presente estudo, o termo execução é utilizado para designar a execução espontânea e, igualmente, a execução forçada.

9- Da evolução histórica

O Código de Processo Civil, de alguma forma, embebeu-se no exemplo no tocante às obrigações de fazer ou de não fazer, como se verifica dos arts. 287, 461, 461-A, 644, 645, e deixava à calva as obrigações de pagar quantia

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certa, erronia agora corrigida com advento do art. 475-J, CPC, trazido pela Lei 11.232/2005. A razão apresentada era que a obrigação de fazer ou de não fazer não se executa provisoriamente, e a pena pecuniária permitida (astreinte) mais perdas e danos são incentivos ao cumprimento da obrigação antes mesmo do trânsito em julgado. Todavia, razão não havia para que não se desse tratamento igualitário para as obrigações de pagamento por quantia certa, propiciando que o devedor usasse de inúmeras artimanhas para não honrar a divida. Em boa hora a erronia foi corrigida pela Lei 11.232/2005, que editou o art. 475-J.

O processo civil, tem inspiração do direito romano. Todavia sempre extrapolou em cuidados com o devedor, acabando por desmerecer o credor que, titular de uma decisão condenatória, tem de prosseguir com a execução forçada por vários anos. No direito romano, porém, a condenação poderia levar a escravização do devedor, caso não possuísse patrimônio, e sua transformação em res, perdendo o status libertatis e familiae. O processo civil extrapolou em cuidados, exigido que a execução seja feita de forma menos gravosa, quando a execução por vários meios (art.620, CPC), princípios que vem sendo deturpado por interpretações incoerentes, desmerecendo o credor. A interpretação do art. 620 há de ser feita com pé na razoabilidade , isto é, havendo duas possibilidades igualmente eficazes para pagar a divida, deve ser escolhida aquela que seja menos onerosa para o devedor. Vale dizer, o principio protetivo exige que haja equilíbrio : deve-se escolher o meio menos oneroso, desde que não seja prejudicial ao credor.

A Lei 11.232/2005 significa um avanço considerável no sentido de se prestigiarem os credores contra devedores inescrupulosos. O art. 475-J é exemplo de que estamos entrando em uma nova era . Abandonando-se o protecionismo exacerbado do devedor e dá-se ao credor o que ele realmente merece : nem mais, nem menos do que lhe é devido em prazo razoável, nem que para isso se tenha de pressionar o devedor naquilo em que ele mais sente, o bolso.

10- Dos meios de execução

Compete ao Estado promover para que a execução realize com a maior brevidade possível, tornando realidade o mandamento sentencial.

Segundo Jose Frederico Marques, “a realização prática da regra sancionada imposta na sentença condenatória se efetua através dos atos de coação estatal do processo executório”.

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O individuo que não cumpre voluntariamente a obrigação poderá ter seus bens penhorados, sofre multa, pressão pecuniária (astreintes)(obrigação de fazer : 287,644,645, CPC). No pagamento de quantia certa, vem art. 475-J, CPC, originário da Lei 11.232/2005.

11- Da natureza do processo de execução

O Processo de execução tem natureza fecundadora, qual seja a de tornar realidade o comando emergente da sentença condenatória. Pressupõe obrigação não cumprida e objetiva disciplinar as conseqüências desse não cumprimento.

Assinala Frederico Marques: “O direito ao cumprimento da sanção é de natureza material e tem por titular o credor, enquanto o devedor é seu sujeito passivo. Como salienta Armando Regina, não se cuida mais de pretender o cumprimento da obrigação primário resultante do preceito, e, sim, de pretender o cumprimento da obrigação secundária resultante da sanção. Trata-se, pois, de uma pretensão secundária.

12- Do processo de conhecimento e de execução

A Lei 11.232/2005, trouxe um divisor no processo executório civil. Antes do advento da referida lei, a liquidação no processo civil era considerada uma ação e a decisão proferida (art.162, CPC) tinha a dignidade de sentença, que desafiava apelação e poderia transitar em julgado. Com a nova reforma processual agora procedida, a decisão que vier a ser proferida em sede liquidatória terá a dignidade de decisão interlocutória, que desafiará o recurso de agravo de instrumento. Dessa decisão não mais caberá embargos do executado, mas simples procedimento incidental denominado “impugnação”, cuja decisão será também considerada interlocutória e que poderá ser hostilizada pela via do agravo de instrumento.

Tem-se, assim, que na liquidação de sentença o processo comum se aproximou do processo do trabalho e transformou, conceitualmente, em decisão interlocutória a decisão que fixa o quatum debeatur. Criou, todavia, o “incidente de impugnação”.

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O advento do art. 475-J é um avanço, em que parte intimada da decisão de liquidação de sentença deverá efetuar o pagamento em quinze dias (tempus iudicati), sob pena de incorrer na multa de dez por cento sobre o valor do montante da condenação. Aboliu-se a citação, com a revogação do art. 611, CPC, e o mandado de penhora será expedido a requerimento do exeqüente.

Humberto Theodoro Jr., com respaldo em Pontes de Miranda, realça: “Atua o Estado, na execução, como substituto, promovendo uma atividade que competia ao devedor exercer : a satisfação da prestação a que tem direito o credor. Somente quando o obrigado não cumpre voluntariamente a obrigação é que tem lugar a intervenção do órgão judicial executivo. Daí a denominação de “execução forçada”, adotada pelo Código de Processo Civil, no art. 566, a qual se contrapõe a idéia de “cumprimento voluntário” da prestação”.

13- Execução, processo de execução e processo autônomo

A autonomia está ligada a um conjunto de normas que tem por objetivo implementar o procedimento, sem que seja necessário buscar alento subsidiário em outros ramos. Muito embora o empréstimo em outros ramos, em caráter analógico ou mesmo comparativo, não seja fator de desprestígio à autonomia , a dependência não pode ser de intensidade a neutralizar o procedimento que se diz autônomo. O conjunto de regras legais deve ser de moldes e bastar-se a si mesmo. O processo é estático e o procedimento é dinâmico. O processo, embora estático, movimenta-se por meio de procedimento. Para que isso seja verdadeiro não pode prescindir de regras próprias e especificas para lhe dar autonomia.

A autonomia em sede processual esta diretamente ligada à possibilidade de implementar o direito material na busca da prestação jurisdicional, desde o pedido inicial até a entrega do bem de vida com a transformação em realidade um comando abstrato de sentença de mérito, passando pelos vários incidentes em que o casuísmo é prenhe de exemplos. Existe como entendimento que se cuida de simples epilogo do processo de conhecimento. Oportuno mencionar que, com o advento da Lei 11.232/2005, o processo civil transformou a fase executória numa continuação da fase de conhecimento (arts. 475-H e 475-M, § 3º, CPC). A sentença de mérito não mais determina a terminação do processo. Houve uma mudança transformando conceitualmente em decisões interlocutórias as decisões proferidas em liquidação de sentença e no incidente, recém criado, de “impugnação”, embora as decisões atacáveis pela via de agravo de instrumento, cuja natureza jurídica é interlocutória. Aos

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poucos o processo civil se aproxima do processo no que diz respeito a execução. Falta, ainda, ser mais ousado e adotar o principio da irrecorribilidade das interlocutórias e traduzir o âmbito operacional do agravo de instrumento.

O principio contido no art. 659, § 2º, do CPC , onde haverá possibilidade de penhora de bens, ainda que não garantam o juízo integralmente. Far-se-á a execução parcial para atender ao pagamento do credito alimentar. O produto da praça ou leilão será totalmente empregado para se obter o principal. Não havendo bens para dar continuidade à execução, os autos aguardarão no arquivo oportunamente para o reinicio, sem correr risco da prescrição (art.40, Lei 6830/80). O Projeto de Lei 4497/2004, transformada na Lei 11.382/2006, traz modificação redacionais e inclusão de novos artigos ao CPC.

Doutrina favorável :

Isis de Almeida, com respaldo em Ernesto Krotoschin, assinala:

“O propósito do direito substancial, consistente em garantir a igualdade ou a proteção econômica, além de igualdade jurídica, teve que comunicar-se ao direito processual, ao serem tomados medidas necessárias para assegurar ou facilitar a realização do direito material”.

14- Execução por mera fase ou processo autônomo?

O CPC de 1973, originalmente, estribou-se na antiga idéia de separação dos atos de cognição e execução em processos distintos, obrigando a parte

“à inexplicável obrigação de propor, sucessivamente, duas ações, para alcançar um único objetivo: a realização do credito inadimplido pelo réu, ou seja, uma ação cognitiva, que terminava pela sentença; e outra executiva, que começava depois da sentença e nela se fundava”.

Sob o prisma ontológico, repressão alguma podia ser feito à opção do legislador. Atos cognitivos e executivos podem ser unificados ou não, sem que isso mude a essência de cada espécie.

Com o tempo, percebeu-se que a dicotomia originalmente acolhida no CPC não havia razão de ser. Mesmo o legislador de 1973 tratou de prever algumas modalidades de procedimento unitário, denominadas de ações

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executivas lato sensu, tais como as demandas possessórias. O dia a dia forense comprovou que tais procedimentos, a par de menos onerosos, detinham maior funcionalidade e eficácia que os demais, sinalizando, portanto, para a necessidade de fusão dos atos cognitivos com os executivos.

Sucederam, então, as Leis nº 8952/94 e 10.444/2002, que estabeleceram a efetivação imediata, ou seja, sem a necessidade de instauração de processo autônomo de execução, das obrigações de fazer, não fazer e dar coisa reconhecidas em titulo judicial. Para tais hipóteses, engendrou-se um sistema que possibilita ao juiz, inclusive antecipadamente, deferir a tutela especifica ou determinar providencias que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. A efetividade do provimento judicial é alcançada com a previsão de medidas de coerção e apoio, tais como multa, busca e apreensão, remoção, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva e requisição de força policial.

Entretanto, para as obrigações de pagar quantia em dinheiro, o CPC mantinha a tricotomia processual: ação de conhecimento, liquidação, quando necessária, e execução, sem falar dos embargos à execução manejáveis pelo devedor.

Dessa maneira, a Lei nº 11.232/2005, por meio da introdução dos arts. 475-A a 475-R no CPC, alterou substancialmente as fases posteriores à prolação da sentença que condena o réu a pagar quantia.

A liquidação passou a constituir simples fase do processo de conhecimento, decidida por provimento interlocutório, recorrível , portanto, por meio de agravo de instrumento.

A execução, que se insere no gênero cumprimento da sentença, também passou a constituir fase do processo. Num primeiro momento, apóia-se em medida coercitiva. O devedor é intimado para pagar o débito no prazo de 15 dias, sob pena de o montante da condenação ser acrescido de multa de 10 %. Transcorrido o prazo sem que a multa tenha sido suficiente para coagir o devedor a adimplir a obrigação é que se iniciará a excussão de bens, por meio da penhora. A execução tradicional, desenvolvida em outra relação processual, é mantida para os títulos extrajudiciais, alguns títulos judiciais (art.475 –N, II, IV e VI) e para a execução contra a Fazenda Pública.

Percebe-se, portanto, que as reformas implementadas no CPC tornaram regra o processo sincrético, entendido como o processo único, que alberga atos de cognição e execução.

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15- Do objetivo da execução

Seu objetivo é tornar realidade a regra sancionadora contida no titulo executório. A lide já foi resolvida na fase cognitiva. A execução objetiva o cumprimento do que restou decidido. O fato de o réu haver sido condenado ao pagamento de determinado quantia, a entregar coisa, à praticar ato (ato comissivo) ou a não praticar ato (ato omissivo) não termina a função jurisdicional em caso de inadimplência . É dever do Estado transformar em realidade o comando condenatório por meio da execução forçada. O devedor renitente que não cumpre a obrigação e que desrespeita a ordem do Estado, contida numa sentença condenatória, poderá ter seus bens penhorados e levados a hasta pública. Na fase executória nada mais se julga com relação ao titulo executório, mas apenas e tão somente se realiza aquilo que faz parte do conteúdo do título condenatório. Para que isso se transforme em realidade, deve o Estado (jurisdição) envidar todos os esforços por meio do juiz (atividade jurisdicional). Uma execução mal terminada ou obstada reflete negativamente no próprio Estado.

Como meio de persuadir o devedor renitente, a Lei 11.232/2005 editou, entre vários outros, o art. 475-J, in verbis : “Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, requerimento do credor o observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação”.Verifica-se que houve modificação na liquidação de sentença para o pagamento de quantia certa. A transformação do comando abstrato da sentença de modo forçado será feito por mero incidente liquidatório, como etapa final do processo de conhecimento, decorrido o tempus iudicanti, sem necessidade de um processo autônomo de execução. A sentença de mérito não mais determina o termino do processo, embora desafie apelação, complementando-se pelo incidente executório onde será fixado o quantum debeatur . O legislador, em boa hora, desprendeu-se das peias de princípios teóricos em troca de resultado.

Segundo Liebman, “é o pedido do exeqüente para a realização das atividades necessárias à efetivação da regra sancionadora formulada no titulo executório”.

Lembra Frederico Marques: “A sentença no processo de conhecimento, transforma de abstrata em concreta a sanctio iuris derivada da transgressão da regra preceptiva, os atos de coração, no processo executório, realizam materialmente a sanção concreta da sentença condenatória”.

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Sob o ponto de vista pratico, o objeto do processo de execução é, como já se ressaltou, fazer atuar efetivamente determinado interesse, quando para compor a lide não foi suficiente apenas a declaração de certeza do direito da parte.

Para Dinamarco, é jurisdicional a tutela oferecida mediante a execução forçada e também são jurisdicionais as próprias atividades do juiz que a comandam. O resultado institucional desse processo (satisfação do credor) constitui um modo de pacificar as pessoas envolvidas em crise de inadimplemento, eliminando os conflitos pendentes entre elas. Pelos aspectos técnico, os atos de sub-rogação exercidos no processo executivo são, por sua própria natureza, substitutivos da atividade unilateral do sujeito que se diz credor, a qual se resolveria em ilegítima autotutela e é punido por lei (CPC, art. 345). O caráter substitutivo é até mais visível na aplicação de medidas imperativas de sub-rogação, seja no processo executivo, seja na execução imediata (art.461), seja no processo de conhecimento . Tanto quanto neste, a atuação do juiz na execução traz as marcas da inércia (CPC, arts. 2º, 262, 580, 598 etc.), da inevitabilidade, da imparcialidade e da impessoalidade, também inerentes à jurisdição, sendo esta atuação um modo secundário de efetivar direitos, porque o adimplemento será o modo primário. A ciência processual já não tem, no presente, as duvidas que no passado teve quanto ao caráter jurisdicional da execução.

16- Direito potestativo e execução

O direito potestativo é direito de criar, alterar ou extinguir situações jurídicas que envolvam outro sujeito. O direito potestativo efetiva-se nominalmente : basta a decisão judicial para que ele se realize no mundo ideal das situações jurídicas. É suficiente que o juiz diga “anulo”, “rescindo”, “dissolvo”, “resolvo”, para que as situações jurídicas desapareçam, se transformem ou surjam. Situações jurídicas nascem, transformam-se e desaparecem no mundo do direito, que é um mundo lógico e ideal.

Direito a uma prestação podem ser esses direitos possíveis de que fala Guiseppe Chiovenda; o direito potestativo é, na linguagem chiovendiana, “tentátulo” desse “direito possível”.

A efetivação de um direito potestativo pode gerar um direito a uma prestação. A situação jurídica criada após a efetivação de um direito potestativo pode ser exatamente um direito a um prestação (de fazer, não fazer ou dar). Perceba: a efetivação de um direito potestativo pode fazer nascer um direito a

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uma prestação, para cuja efetivação, ai sim é indispensável a pratica de atos materiais de realização de prestação devida.

Direitos a uma prestação, que surjam da efetivação de um direito potestativo, são, portanto, reconhecidos por uma sentença constitutiva: ao certificar e efetivar um direito potestativo, o órgão jurisdicional certifica, também, por conseqüência, o direito a uma prestação que daquele é corolário.

17- Conceito de execução

Execução é, no sentido comum, realizar, cumprir, levar a efeito.

No sentido jurídico, a palavra assume significado mais apurado, embora guardando a idéia básica de que vez nascida, por ajuste entre particulares ou por imposição sentencial do órgão próprio do Estado, a obrigação deve ser cumprida, atingindo-se ultimo caso, concretamente, o comando da sentença que a reconheceu ou, no primeiro caso, o fim para o qual se criou.

Assim, dois tipos de títulos jurídico devem ser considerados, no interesse da execução. Os extrajudiciais executivos, em sua pluralidade formal, são fruto, essencialmente, da atividade negocial das pessoas capazes, naturais ou jurídicas. O judicial, em sua singularidade formal (a sentença), é fruto, essencialmente, da atividade jurisdicional do Estado.

Executar é satisfazer uma prestação devida. A execução pode ser espontânea, quando o devedor cumpre voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o cumprimento da prestação é obtido por meio da pratica de atos executivos pelo Estado.

Tradicionalmente, o termo cumprimento, em Direito Civil, é utilizado para referir-se a um comportamento voluntario; quando a obrigação é adimplida espontaneamente, diz-se que houve cumprimento da obrigação. O cumprimento seria, então, a execução espontânea. Aqui, no presente curso, o termo execução é utilizado para designar a execução espontânea e, igualmente, a execução forçada.

A execução é o instrumento processual posto à disposição do credor para exigir o adimplemento forçado da obrigação através da retirada de bens do patrimônio do devedor ou do responsável ( no modelo da execução por quantia certa contra devedores solventes), suficientes para a plena satisfação do exeqüente, operando-se no beneficio deste e independentemente da

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vontade do executado e mesmo contra a sua vontade conforme entendimento doutrinário unânime.

Ideal que o devedor adimpla de forma voluntária a obrigação que lhe foi imposta pelo titulo judicial ou extrajudicial. Essa é o comportamento esperado, mas não é a praxe na dinâmica forense, marcada pela resistência injustificada à observância das obrigações liquidas, certas e exigíveis. O que justifica o panorama é a cultura plantada na sociedade brasileira, que talvez seja modificada com a enérgica aplicação das normas contidas nas Leis 11.232/2005 e 11.382/2006, incorporadas à Lei de Ritos.

Havendo resistência ao adimplemento espontâneo da obrigação, considerando a proibição constitucional de prisão do devedor por dividas ou outros sacrifícios semelhantes, exceto na hipótese que envolve o devedor de alimentos (inciso LXVII do art. 5º da CF).

Na atualidade, em face de lúcido ensinamento do mestre CHIOVENDA, registre-se que o fim esperado em qualquer execução é o de que se atribua ao credor exatamente aquilo que o titulo lhe confere, de modo que, se a sentença condenou o réu a pagar determinada soma em dinheiro, diante da recalcitrância do vencido, espera-se que a função jurisdicional executiva efetue a penhora de bens do executado para alienação e entrega do produto da venda judicial ao credor, o que deve ocorrer no menor espaço de tempo possível, em atenção ao principio da efetividade do processo de execução.

18- A ação de execução

Como visto, ação constitui, na visão eclética, o direito a um pronunciamento estatal que solucione o litígio, fazendo desaparecer a incerteza ou a insegurança oriunda do conflito de interesses submetido à apreciação do judiciário. Pouco importa qual seja a solução dada pelo juiz; o que interessa unicamente é o provimento jurisdicional acerca da lide.

Na execução, o conceito de ação mantém os mesmos atributos, isto é, trata-se de direito público subjetivo, autônomo e abstrato, porém destinado não ao acertamento da lide, mas sim à satisfação do direito de credito já acertado em titulo executivo ( judicial ou extrajudicial). Direito público porque se dirige contra o Estado-juiz; subjetivo porque faculta-se ao lesado, em seu direito, pedir a manifestação do Estado para provocara realização do direito de crédito, por atos de coerção e sub-rogação; autônomo e abstrato devido à circunstancia de não ter sua existência vinculada à do direito material.

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Com a reforma operada pela Lei nº 11.232/05, surge a indagação acerca da propriedade de se falar, no cumprimento da sentença, em ação de execução. A dúvida, contudo, não passa de mero titubeio.

Em síntese, portanto, a ação de execução pode ser promovida tanto como fase do processo de conhecimento (cumprimento de sentença) quanto em processo autônomo.

Também a ação de execução subordina-se à existência de condições para seu legitimo exercício (possibilidade jurídica do pedido, interesse processual e legitimidade ad causam), as quais, todavia, sofrem tratamento diferenciado em razão das peculiaridades do processo executivo. É que, nessa modalidade de processo, não há de se falar em resolução de mérito, haja vista que a execução forçada tem por escopo a prática de atos tendentes à satisfação do direito de crédito já definido em titulo executivo. Não há, pois, solução de conflito de interesse ou acertamento de lide, mas tão somente realização de direito; por conseguinte, eventual ausência de condição de ação levará à simples extinção do processo executivo não sendo cabível, frise-se, a distinção entre extinção com ou sem resolução de mérito.

A par disso, as próprias condições são analisadas sob uma ótica diferenciada, visto que o provimento final, como aludido, é a realização do direito de crédito consubstanciado em titulo executivo. A utilidade do provimento postulado, por exemplo, que manifesta uma faceta do interesse de agir, evidencia-se pela exigibilidade do crédito é inexigível, não há interesse para o processo de execução que legitime a ação coercitiva.

Delimitado o conceito de ação executiva, que, como dito, consiste no direito a um pronunciamento estatal destinado à satisfação do direito de credito já acertado em título executivo.

19- A sentença satisfativa e a sentença dependente de execução

O juiz, ao resolver o litígio, nem sempre presta a tutela do direito material. O autor, mesmo em caso de sentença favorável, pode não obter a tutela do direito. Isto acontece quando a sentença não é suficiente para prestar a tutela do direito ou não é capaz de satisfazer o desejo de tutela do autor.

Tal ocorre no caso em que a sentença necessita ser implementada para que o autor seja satisfeito. Quando a tutela do direito, para ser prestada, precisa do concurso da vontade do demandado ou mesmo de atos materiais que podem ser praticados por juízo ou por terceiros, a sentença não é satisfativa, dependendo da técnica executiva.

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Como está claro, a sentença é uma técnica processual que não se confunde com a tutela do direito, tanto é que pode não ser suficiente para prestá-la, dependendo da conjugação de outra técnica processual, a tutela executiva.

Determinadas formas de tutela, como as tutelas declaratórias e constitutivas, são satisfeitas apenas com a prolação da sentença. Afirma-se que a sentença declaratória e constitutiva são satisfativas, mas é preciso observar que tal satisfatividade decorre do fato de prestarem tutelas que não reclamam nada além da sentença, dispensando as formas executivas.

Essa diferença, ainda que elaborada unicamente entre as sentenças, e não a partir das tutelas dos direitos, já era feita no direito italiano da metade do século XX. Mandrioli, advertiu que nas sentenças declaratórias e nas sentenças constitutivas a tutela jurisdicional se exaure frutuosamente, ao passo que na sentença de condenação se exaure apenas uma fase da tutela jurisdicional.

Quer tudo isso significar que o processo, após a prolação da sentença, só caminha adiante quando a tutela do direito não foi integralmente prestado, dependendo de meios de execução. Neste caso, a sentença não é bastante ou suficiente para a prestação da tutela do direito material.

No processo civil marcado pelos valores do Estado liberal, a única modalidade de sentença dependente de execução era a sentença condenatória, moldada pela doutrina para atender as necessidades da tutelas dos direitos daquela época.

20- A impossibilidade de execução no curso do procedimento

A teoria do processo civil de marca chiovendiana, isto é, do processo italiano , caracteriza-se pela regra da nulla executio sine titulo, que expressa a impossibilidade de execução sem titulo.

O titulo executivo judicial por excelência, a sentença condenatória, qualificava-se a partir de certos elementos, em especial da existência do direito nela corporificado. A lógica era simples, supondo-se que, para a invasão coercitiva da esfera jurídica do réu, a jurisdição deveria estar amparada na “existência de um direito”, o qual dependeria apenas de mecanismo executivos para a sua realização. Vale dizer que a tutela jurisdicional do direito apenas poderia se prestado o direito fosse reconhecido como existente, após a sua adequada discussão no processo de conhecimento.

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Por detrás dessa técnica jurídica processual escondiam-se, como não poderia deixar de ser, os valores do Estado da época. A regra de nulla executio sine titulo, quando complementada a partir da relação do titulo executivo com a existência do direito, revela a preocupação em não se permitir que a execução se desse como base em convicção de verossimilhança ou sem que fosse encontrada a chamada “certeza jurídica”.

A legitimidade da jurisdição da sentença e da execução era dependente da idéia de que o juiz poderia encontrar a “verdade”, quando então o resultado do processo e sua imposição forçada não poderiam ser questionados, e, assim, admitidos como “justos”. Eis a primeira dificuldade em se admitir execução com base em convicção de verossimilhança.

21- A execução tem por fim restaurar um direito violado ou impedir ocorrência da violação.

Não se concede que a atividade jurisdicional seja entendida como “agir orientado pelo passado”, mas “orientado por normas fundamentais”, deve a jurisdição voltar-se a “problemas do presente e do futuro”. A tutela jurisdicional executiva, assim, não deve dizer respeito apenas a situações em que já houve violação ao direito, mas, também, aos casos em que há ameaça de violação. Ou seja, deve dizer respeito a direitos atual ou potencialmente violados.

A tutela jurisdicional executiva, portanto, consiste na prática de atos jurisdicionais tendentes à realização material do direito atual ou potencialmente violado. Deste conceito depreende-se que a tutela jurisdicional executiva : (a) realize-se não só com o intuito de ver restaurado um direito violado, como também para impedir a ocorrência de tal violações; (b) abrange não apenas o resultado da execução forçada (= realização material do direito do demandante), mas também os meios tendentes à sua obtenção.

A compreensão de execução como atividade jurisdicional impõe sejam revistos alguns conceitos elaborados à luz de uma concepção muito estreita de Jurisdição, que a vincula ao ius dicere.

Use-se, habitualmente, o termo “tutela jurisdicional” para designar o resultado da atividade desenvolvida pelos órgãos judiciários em favor daquele que está amparado pelo direito material. Em outras palavras, diz-se que só tem direito à tutela jurisdicional o litigante que tem razão.

A Jurisdição, é certo, manifesta-se também em atividade eminentemente declarativas de direitos, ou obtidas através de operações meramente cognitivas. No entanto, nem sempre a decisão judicial, por si só, gerará solução

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suficientemente para o conflito submetido ao exame do Poder Judiciário; este também deverá ter condições de forçar a observação do Direito.

A executiva forçada tem por finalidade a realização material do direito, e não a definição, para o caso concreto, do direito de uma das partes. Isto é, não é objetivo da execução forçada determinar quem tem razão. Pode-se dizer, assim, que, visualizada a tutela jurisdicional como resultado, na execução tal ocorrerá, normalmente, com a entrega do bem devido ao exeqüente.

Essa concepção de tutela jurisdicional, evidentemente, visualiza o processo apenas sob o ponto de vista do demandante. Mas isto não exclui que se possa ver também o executado como merecedor da tutela jurisdicional, na medida em que se deve buscar, na execução, satisfazer o direito pleiteado do modo que lhe seja menos gravoso (cf., p.ex., CPC, art. 620). Desse modo, haverá o executado de suportar a execução, mas poderá empenhar-se no sentido de que lhe seja tirado apenas aquilo que é efetivamente devido, e pelo modo que lhe seja menos prejudicial, podendo, desde modo, valer-se dos meios processuais colocados à sua disposição para tanto.

Assim, tomada pelo resultado ou pelo meio a ser utilizado para a sua obtenção, a tutela jurisdicional executiva deve ser examinada tanto sob o prisma do exeqüente quando do executado.

22- Formas executivas

O sistema processual pátrio entende a execução como um conjunto de meios materiais previstos em lei, à disposição do juízo, visando à satisfação do direito. Esses atos materiais executivos podem ser praticados de diferentes maneiras, sendo por isso possível, a depender do critério adotado, distinguir as diferentes modalidades de execução. Assim, por exemplo, as diferentes espécies de execução que adotam como critério a natureza da obrigação exeqüenda: fazer/não fazer; entregar e pagar, sendo essa matéria enfretada em capítulos próprios.

Numa fase introdutória da analise do tema, parece relevante o enfrentamento da execução tomando-se por base dois critérios distintos : a autonomia (processo autônomo de execução e fase procedimental executiva) e os meios executórios (execução por coerção psicológica e execução por sub-rogação).

É preciso afirmar, primeiramente, que toda a análise entre a execução autônoma e fase executiva só tem sentido no tratamento da execução dos títulos executivos judiciais, considerando-se que no tocante à execução de

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títulos extrajudiciais será sempre necessária a instauração de um processo autônomo de execução. É no tocante a execução do titulo executivo judicial que o direito brasileiro ingressou recentemente em uma nova era, que demanda breves explicações históricas para determinar de onde viemos, aonde chegamos e por que ai chegamos.

Tradicionalmente, o direito brasileiro exigia para a execução de titulos executivos judiciais um processo autônomo, de forma que a parte, após a obtenção do titulo executivo no processo de conhecimento, via-se obrigada a propor um novo processo, agora na natureza satisfativa. A era da autonomia exigia a existência de dois processos distintos e sucessivos: primeiro se declarava o direito a se condenava o réu ao cumprimento de uma obrigação (processo de conhecimento) e, posteriormente, se buscava a satisfação da obrigação (processo de execução).

A lição tradicional ensina que o processo de execução se desenvolve de forma autônoma, constituindo um ente à parte dos processos de conhecimento e cautelar. Entendia-se, portanto, que o processo de execução não poderia ser considerado como mero ciclo final do processo de conhecimento. A justificativa para a autonomia do processo executivo como inicialmente imaginado pelos doutrinadores que tratam do tema encontrava-se alicerçada em duas justificativas fundamentais :

a- A diversidade de atividades jurisdicionais (no processo de conhecimento são desenvolvidas atividades cognitivas; enquanto no processo execução são praticadas atividades práticas e materiais); e

b- Os diferentes objetivos traçados para cada uma dessas atividades na solução de diferentes espécies de crises jurídicas (no processo de conhecimento objetiva-se reconhecer o direito do autor e, dependendo do caso, constituir uma nova relação jurídica ou condenar o réu; no processo de execução objetiva-se satisfazer o direito do exeqüente).

Ainda se mencionava a formação de uma nova relação jurídica processual, independente e porventura diferente daquela formada no processo de conhecimento.

É importante observar que, mesmo ma era da autonomia das ações, excepcionalmente já existia a agora chamada “ação sincrética”, consubstanciada em um processo com duas fases procedimentais sucessivas: a primeira de conhecimento e a segunda de execução.

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Em 1990, o art. 84 do CDC passou a prever ações sincréticas para as demandas coletivas que tenham como objeto a condenação do réu ao cumprimento de uma obrigação de fazer/não fazer, no que foi acompanhado quatro anos mais tarde pelo art. 461 do CPC, responsável pela previsão de tutela da mesma espécie de obrigação no âmbito do processo individual.Significa dizer que a partir de 1994 todas as coes que tenham como objeto uma obrigação de fazer/não fazer passaram a não mais ser regidas pelo sistema de autonomia das ações passando a serem todas elas consideradas “ações sincréticas”.

Também é do ano de 1994 a inclusão em nosso sistema do instituto da tutela antecipada (art. 273 do CPC), que permite uma execução das decisões que a concedem independentemente de processo autônomo de execução.

No ano de 2002, com o art. 461-A do CPC incluído pela Lei 10.444, a realidade das ações sincréticas passou a valer também para todas as demandas judiciais que tenham como objeto uma obrigação de entrega de coisa. E, completando o ciclo de mudança de paradigma, no ano de 2005 a Lei 11.232, tornou sincrética a maioria das ações judiciais que tenham como objeto uma obrigação de pagar quantia certa.

A regra de nosso sistema passou a ser a execução imediata, por mera fase procedimental, enquanto somente em situações excepcionais o titulo executivo será executado por meio de um processo autônomo.

23- Retrospecto quanto a execução

Tradicionalmente, firmou-se o entendimento de que a execução civil, ainda que fundada em titulo executivo judicial, opera por meio de processo autônomo, distinto do processo de conhecimento.

Por isso, nesta linha, tem-se a sentença como o ato decisório do juiz apto a por fim ao processo (art.162,§ 1º, CPC, na redação anterior à Lei 11.232/2005).

Tratando-se de sentença condenatória, a atuação concreta de seu comando, na visão clássica, ocorre por meio do processo de execução (Livro II do CPC), por ser o meio necessário e adequado para a atuação da sanção imposta no titulo executivo, satisfazendo o direito do credor.

Obviamente, caso o titulo executivo (sentença condenatória) não indique o valor devido, ou não individue o objeto da prestação, faz-se necessária a

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liquidação previa, pois a execução pressupõe o titulo, o qual deve conter obrigação liquida, certa e exigível (arts. 583 e 586 do CPC).

Antes da sistemática instituída pela Lei 8898/94, que compõe a primeira fase de Reforma do Código de Processo Civil, a liquidação da sentença civil também correspondia, em qualquer modalidade, a um processo autônomo, de natureza cognitiva, posterior á sentença condenatória, mas antecedente o processo de execução.

Mesmo assim, tendo em vista certas dificuldades observadas nessa sistemática de execução da modalidade de liquidação por cálculos no civil, a Lei 10.444/2002 acrescentou o § 2º ao art. 604 do CPC, facultando ao juiz, antes de determinar a citação no processo de execução, “valer-se” do contador do juízo quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda e, ainda nos casos de assistência jurídica”.

Ainda na primeira fase da reforma do Código de Processo Civil, a Lei 8952/94, ao dar nova redação ao art.461, inspirando-se na disposição do art. 84 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), permitiu concluir que a efetivação da sentença condenatória, contendo obrigação de fazer ou não fazer, deixou de operar por meio de processo de execução autônomo, ocorrendo no mesmo processo já instaurado, concessivo da tutela jurisdicional.

Nestas hipóteses dando-se preferências à tutela jurisdicional especifica, esta deve ser cumprida no prazo razoável fixado pelo juiz, que pode impor “multa” diária ao réu com o objetivo de pressão psicológica, para o adimplemento de sua obrigação de fazer ou não fazer (art. 461, caput e § 4º) Tem-se, portanto, a chamada execução indireta, representada pela imposição de astreintes.

Alternativamente, possibilita-se, ainda, que a referida sentença determine “providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento” da obrigação de fazer ou não fazer (art.461, caput e § 4º).

Tanto para efetivação para tutela especifica como para a obtenção do resultado prático equivalente ao do adimplemento voluntario da obrigação “poderá o juiz, de oficio ou a requerimento, determinar as medidas necessárias” exemplificativas indicadas no § 5º. Do art. 461 do CPC: imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfaziamento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial (redação determinada pela Lei 10.444/2002).

Somente se o autor o requerer, ou se impossível a tutela especifica ou a obtenção do resultado prático correspondente, é que a obrigação se converterá em perdas e danos (art. 461, § 1º. Do CPC).

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Com isso, a Lei 8952/1994, ao reproduzir no art. 461 Código de Processo Civil a previsão do art. 84 do CDC, possibilitou afirmar que a eficácia da sentença condenatória de obrigação de fazer e não fazer apresenta caráter mandamental e de execução lato sensu.

Com a Lei 10.444/2002, inserida no que se pode chamar de segunda fase da Reforma do Código de Processo Civil, esta assertiva ficou ainda mais evidente.

Por meio da Lei 10.444, reconheceu-se, expressamente, que o art. 461 do CPC regula a sistemática para a efetivação das sentenças relativas às obrigações de fazer e não fazer. Coerentemente, o art. 644, com a redação determinada pela Lei 10.444/2002, estabeleceu que apenas de forma subsidiária deve-se observar o disposto no Capitulo III do Titulo do Livro II do CPC (processo de execução das obrigações de fazer e de não fazer).

24- A nova natureza jurídica da execução civil

A maior inovação advinda com a Lei 11.232/2005 é, certamente, a completa eliminação da execução com natureza jurídica de processo autônomo, quando fundada em sentença civil condenatória ( e outros títulos judiciais semelhantes).

Como demonstrado por meio de mudanças decorridas das Leis 8952/1994 e 10.444/2002, integrantes das duas primeiras fases de Reformas do CPC, o processo autônomo de execução já estava restrito à execução por quantia certa (fundada em títulos judiciais e extrajudiciais) e, quando à execução de obrigações de fazer ou não fazer e entregar de coisa, apenas quando fundado em títulos executivos extrajudiciais.

Com a presente Lei 11.232/2005, as execuções fundadas em sentença civil condenatória ( de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia), sentença homologatória de conciliação ou de transação (ainda que inclua matéria não posta em juízo), acordo extrajudiciais, de qualquer natureza, homologado judicialmente, bem como formal e certidão de partilha (exclusivamente em relação ao inventario, aos herdeiros e os sucessores), também deixam de ser realizar por meio de processo autônomo, passando a ser objeto de “cumprimento” no âmbito do mesmo processo, já de conhecimento (arts. 475-I, caput, e 475-N, I, III, V, VII, do CPC).

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Trata-se, por isso, verdadeiro processo que se pode chamar de sincrético, pois se observam procedimentos de natureza tanto cognitiva como executivo em sentido amplo.

Isso se confirma pela expressa previsão do novo art. 475-R do CPC no sentido de que apenas “subsidiariamente” é que se aplicam “ao cumprimento da sentença”, no que couber, “as normas que regem o processo de execução de titulo extrajudicial” ( ou seja, atualmente, as disposições do Livro II do Código de Processo Civil: “Do Processo de Execução”).

Assim, o processo de execução, como relação processual autônoma, que se inicia com o ajuizamento da ação respectiva, prosseguindo com a citação do executado, passou a ser limitar às hipóteses de execuções fundadas em títulos extrajudiciais (art. 585 do CPC) e execução fundadas nos seguintes títulos judiciais : sentença penal condenatória transitada em julgado; sentença arbitral; sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 475-N, II, IV, VI, do CPC).

Observe-se que, nestas ultimas situações, mesmo tratando-se de titulo executivo judicial, como não existiu processo civil antecedente, justifica-se a conseqüência lógica de se ter inicio o processo de execução (com eventual liquidação antecedente), por meio de ajuizamento de ação própria e autônoma.

Mesmo assim, os embargos à execução ficaram restritos à execução com base em títulos extrajudiciais e à execução conta a Fazenda Pública (conforme a nova denominação de Capitulo II, pertencente ao Titulo III do Livro II do CPC, bem como art. 741 do CPC, com redação determinada pela Lei 11.232/2005).

Para a Fazenda Pública, a execução rege-se por peculiaridades próprias, como a exigência de precatórias (art. 100 da Constituição Federal), não havendo, por isso, imposição de previa garantia do juízo para a oposição de embargos à execução (art.730 do CPC), observa-se mesmo nas hipóteses de “obrigações definidas em lei como de pequeno valor”, a previsão especifica dos arts. 100, § 3º. , 4º e 5º. , da CF, 87 do Ato das Disposições Transitórias, e 17 da Lei 10.259/2001.

Nas demais hipóteses, o que se permite ao executado é, apenas, oferecimento de “impugnação” ao cumprimento da sentença, a qual “não terá efeito suspensivo, podendo o juiz atribuir-lhe tal efeito desde que relevantes seus fundamentos e o prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação” (artr. 475-M, caput, do CPC).

Frise-se, ainda, que nas mencionadas hipóteses de execução por títulos judiciais referentes a sentença penal condenatória transitada em julgado, sentença arbitral e sentença estrangeira homologada pelo STJ pode-se fazer

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necessário a previa liquidação, antes da execução própria, conforme parágrafo único do art. 475-N do CPC.

Coerente com todas essas modificações, a Lei 11.232/2005 teve de alterar o próprio dispositivo que define a sentença, qual seja o art. 162, § 1º. Do CPC, passando a contar com previsão bem genérica no sentido de que se trata do “ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei ”.

Com a Lei 11.232, a sentença deixa de ser definida como “o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo”. Uma vez que, mesmo depois de ser proferida, tem-se a fase de cumprimento.

O art. 267 do CPC, em seu caput, apenas sofreu modificação formal com o intuito de uniformizar a sua redação, em continuidade com o novo art. 269, passando a estabelecer que, nas hipóteses ali previstas (incisos I a XI) : “Extingue-se o processo, sem resolução de mérito”.

Efetivamente, nas situações do art. 267, por não se verificar posterior cumprimento de sentença (salvo, por exemplo, quando a eventuais despesas processuais), a sentença é apta a pôr fim ao processo.

Do mesmo modo, o art. 463, caput, do CPC, na redação conferida pela Lei 11.232/2005, não mais prevê que o juiz, ao publicar a sentença do mérito, “cumpre e acaba o oficio jurisdicional”. Esta exclusão encontra-se coerente com as diversas medidas a serem tomadas pelo juiz, para o cumprimento da sentença, ou seja, mesmo depois de proferida a decisão condenatória, embora no mesmo processo já iniciado (de conhecimento), conforme previsão dos arts. 461, 461-A e 475-I e seguintes do CPC.

Registre-se que, de acordo com o art. 475-N do CPC, com a redação determinada pela Lei 11.232/2005: “São títulos executivos judiciais: I – a sentença proferida no processo civil que reconhece a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia”.

Tendo em vista a redação destacada, há entendimento de que certas sentenças meramente declaratórias também passaram a ser titulo executivo judicial, autorizando a respectiva a execução ou cumprimento.

Embora o tema seja controvertido, entende-se ser ínsito e da própria natureza da execução de sentença que esta tenha natureza condenatória, a qual autoriza a aplicação da sanção, viabilizando o acesso à respectiva execução (no caso, á fase de cumprimento), com a satisfação do objeto da condenação.

Neste sentido, de acordo com Liebman : “A característica da ação declaratória é que ela conduz a uma sentença meramente declaratória, isto é,

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com a função especifica e a única finalidade de declarar qual é a situação jurídica existente entre as partes”. Ainda de acordo com este autor : “na condenação há alguma coisa a mais, acrescida á declaração que é constante nas sentenças. Esse segundo provimento, que se segue à declaração e que o juiz não pode proferir se não tiver sido expressamente pedido, é a aplicação das sanção estabelecida pela lei para o ato ilícito cometido pela outra parte.(...) Em matéria civil a condenação traduz-se na sujeição do devedor às medidas executivas previstas pela lei para a obrigação que ele não cumpriu”.

Além disso, cabe destacar que a redação do art. 475-N, inciso I, mencionando a sentença que “reconheça” a existência de obrigação (em vez de “condene”), decorre de alteração aprovada pelo Senado Federal.

25- A efetivação de sentença substitutiva

A efetivação de sentença substitutiva da vontade do obrigado, anteriormente prevista nos arts. 639 e 640 do CPC (revogados pela lei 11.232/2005), foi deslocada para os novos arts. 466-B e 466-C do mesmo diploma processual.

A disposição do artigo. 641, também foi revogado, passou a constar do art. 466-A do CPC.

Sobre os arts. 639 e 641 do CPC, correspondentes nos atuais arts. 466-B e 466-A, como destaca Jose Osório de Azevedo Jr.: “Trata-se, portanto, de normas de alcance geral a serem aplicadas ao comum dos contratos preliminares, com a só ressalva de haver impossibilidade do cumprimento da obrigação ou o próprio titulo excluir a execução direta, como acontece quando consta no titulo faculdade de arrependimento”.

Na mesma linha do disposto no art. 466-B do CPC, tem-se o art. 464 do Código Civil de 2002 : “Esgotado o prazo (assinado por uma parte à outra, para a celebração do contrato definitivo, conforme o art. 463), poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferido caráter definitivo ao contrario preliminar, salvo se o isto se opuser a natureza da obrigação”.

Na realidade, o art. 466 (dispositivo pertinente á hipoteca jurídica, mantido pela 11.232), bem como os arts. 466-A, 466-B e 466-C, passando a integrar a Seção I (“Dos requisitos e dos Efeitos da Sentença”), do Capitulo VIII (“Da sentença e da Coisa Julgada”), do Titulo VIII (“Do Procedimento Ordinário”), do Livro I (“Do Processo de Conhecimento”) do Código de Processo Civil.

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26- A lei 11.232/2005 e a sentença condenatória

Pondo fim ao regime “processo de conhecimento mais processo de execução”, surgiu recentemente a norma que, alterando o regime da execução de sentença que condene ao pagamento de soma em dinheiro, eliminou a necessidade da propositura da ação de execução.

A última etapa da unificação do processo de conhecimento e do processo de execução ocorreu com a Lei 11.232/2005. Essa lei eliminou, especificamente para a sentença que condene ao pagamento de quantia certa, a necessidade de ação de execução de sentença. Isto quer dizer que o sistema de execução de sentença, após esta lei, passou a fundar-se nos art. 461, 461-A, e, no que diz respeito à sentença que condene ao pagamento de quantia certa, no procedimento instituído a partir do art. 475-J do Código de Processo Civil.

O art.475-J, caput, inserido no Código de Processo Civil por tal lei, diz que,”caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de 15 (quinze) dias, o montante da condenação será acrescida de multa de 10 % (dez por cento) e, a requerimento do credor e observado o disposto no art.614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.”

A norma é bastante clara em dispensar a ação de execução de sentença, exigindo simples requerimento, no caso de não cumprimento da sentença. Nota-se que não há diferença entre tal requerimento (art. 475-J do CPC) e aquele que, por exemplo, pode ser feito internamente no processo quando da concessão de tutela antecipada de soma (art. 273 do CPC).

27- O desaparecimento da ação de execução de sentença

Não há mais duvida que, a partir da Lei 11.232/2005, toda sentença que dependa de execução para a concretização da tutela jurisdicional não exige ação de execução de sentença, devendo ser cumprida o caso, mediante as formas executivas do art.461 (fazer e não fazer), 461-A (entrega de coisa) e 474-J e seguintes (soma em dinheiro) do Código de Processo de Civil.

O art. 475-J, afirma expressamente que o cumprimento da sentença deve ser feito com fundamento nos arts. 461 e 461-A, e, no que tange à condenação ao pagamento de soma em dinheiro, com base no art. 475-J e ss.

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O processo de conhecimento, instaurado para verificar com quem está a razão diante do litígio, não mais termina com a sentença que fica na dependência da execução. Agora, o processo de conhecimento prossegue até que a tutela do direito almejada seja prestada, mediante a atividade executiva necessária.

28- A sentença depende de execução não mais põe fim ao processo

O art. 162, § 1º, do Código de Processo Civil foi também alterado pela Lei 11.232/2005. Isto para se deixar claro que a sentença que condene ao pagamento de soma não extingue o processo, já que nele deve ser executada, nos termos do art. 475-J e ss. do CPC . Diante da Lei 11.232/2005, o art. 162, § 1º., passou a ter este teor : “Sentença é ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei”.

A resolução do mérito pode ser dar através de sentença que julgue o litígio e ainda assim, necessite de meios executivos para que a tutela jurisdicional do direito seja prestada. Por conseqüência, a Lei 11.232/2005 também alterou o art. 463 do Código de Processo Civil, passando a ter o seguinte teor : “Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la (...)”.

É certo que há resolução do mérito quando o juiz decide o litígio, de modo favorável (sentença de procedência) ou desfavorável ao autor (sentença de procedência) ou desfavorável ao autor (sentença de improcedência), isto é, reconhecendo ou não a existência do direito afirmado na petição inicial.

Quando o juiz reconhece o direito de crédito alegado pelo autor, e assim resolve o mérito, há sentença de procedência que obviamente não põe fim ao processo, pois a tutela ressarcitória pelo equivalente ou a tutela do credito pecuniário, concedida em parte pela sentença, ainda depende de meios executivos para a sua plena prestação.

29- Reformas da Execução Civil

A recente Lei 11. 232/2005 alterou o CPC, estabelecendo a chamada “fase de cumprimento das sentenças no processo de conhecimento”, além de ter revogado dispositivos pertinentes a execução civil fundada em titulo executivo judicial.

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O presente estudo tem o objetivo de analisar as principais mudanças advindas com a referida lei.

Na realidade, pode-se dizer que a lei alterou certos aspectos estruturais do processo civil pertinentes à execução da sentença com o intuito maior de celeridade na prestação jurisdicional, especificamente quando ao momento de efetiva satisfação do direito reconhecido judicialmente.

A inovação atende ao disposto no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal, acrescentando pela Emenda Constitucional 45/2004, ao assegurar a todos, no âmbito judicial e administrativo, “a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

30- Ações de execução de sentença

O art. 583 do CPC afirmava que toda execução tinha por base titulo executivo judicial ou extrajudicial. A seguir o art. 584, ao dispor sobre as modalidades de títulos executivos judiciais, arrolava “a sentença condenatória proferida no processo civil” como sua espécie. “Sob o aspecto prático são evidentes as vantagens que resultam dessa unificação, pois o projeto suprime a ação executiva e o executivo fiscal como ações autônomas”.

31 - Das alterações

A mudança na tutela jurisdicional das obrigações de fazer e não fazer, iniciada pelo CDC (art.84) e depois generalizada no art. 461 do CPC, operou profunda alteração no sistema da tutela executiva. É que, desde 1994, as sentenças que reconhecem a existência de tais obrigações não precisam, para serem efetivadas, submeter-se a um processo autônomo de execução. Essas sentenças possuem aquilo que a doutrina mais antiga chamava de “força executiva própria”, podem ser efetivadas no mesmo processo em que foram proferidas, independentemente de instauração de um novo processo e da provocação do interessado: o magistrado, no corpo da sentença, já determina quais providencias devem ser tomadas para garantir a efetivação da decisão.

Dessa alteração , pode-se dizer que a execução das sentenças, nessas hipóteses, passou a não mais ocorrer em processo autônomo, mas, sim, como se fosse complementar ao processo de conhecimento. Por causa dessa

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característica, a doutrina passou a designar tais processos de “sincréticos”, pois servem a mais de um propósito : certificar e efetivar.

Esse mesmo regime jurídico foi estendido, posteriormente, às obrigações de dar coisa distinta de dinheiro nos arts. 461-A e 621 CPC.

A dispensa do ajuizamento de um processo autônomo para execução dessas espécies de obrigações não só veio diminuir o tempo necessário à prestação da tutela jurisdicional, o credor não mais precisaria, tal como ocorria até então, promover nova citação pessoal do réu/devedor como também veio romper de vez com um velho paradigma segundo o qual a atividade executiva estaria dissociada da procedente atividade jurisdicional cognitiva.

Fortaleceram-se, então, as noções de sentença mandamental e de sentença executiva como sendo modelos de decisões sincréticas, isto é, de decisões em que o magistrado certifica o direito da parte e, ali mesmo, sine intervalo, já toma providências no intuito de tornar efetivo aquele direito certificado.

Com isso, apenas as decisões que impunham obrigação de pagar quantia permaneceram sujeitas ao regime de efetivação ex intervalo, isto é, somente elas passaram a exigir o ajuizamento de ação autônoma, de cunho executivo/satisfativo, para que pudesse ser efetivadas. A prática forense, contudo, terminou por revelar a deficiência desse modelo de efetivação e, igualmente, terminou por demonstrar a eficiência do modelo de execução sine intervalo adotado para as decisões que impunham obrigações de fazer, não fazer e dar coisa.

Justamente por conta disso, a Lei 11.232/2005 veio aproximar o sistema de efetivação das decisões que impõem obrigação de pagar quantia aquele já vigente e aplicável às decisões que impõem os outros tipos de prestação, dispensado, tal como deixa claro o art. 475-J do CPC, a instauração de um novo processo com finalidade executiva.

A Lei 11.232/2005 pretendeu eliminar o processo autônomo de execução de sentença. Por meio de tal diploma legal, criou-se a fase de cumprimento de sentença (CPC, arts. 475-I a art. 475- R), que corresponde à execução da sentença, só que em uma fase de um procedimento, e não como objeto de um outro processo. Utilizou-se o termo cumprimento, para designar uma atividade executiva do Estado, só, como já dito, esse termo costuma ser empregado para designar o comportamento voluntário do devedor.

O art. 475-J está assim redigido: “O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos artigos deste Capitulo”. De acordo com essa redação, parece que a execução de sentença ocorreria apenas nos

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termos dos arts. 475-J e seguintes, destinados basicamente à execução de sentença pecuniária, e que a efetivação das decisões com fundamento nos arts. 461 e 461-A do CPC dar-se-ia pelo cumprimento da sentença, que não seria execução. Curiosamente, as novas regras sobre o cumprimento da sentença são destinadas á execução pecuniária.

A mistura terminológica não se justifica: há execução sempre que se pretender efetivar materialmente um titulo executivo que imponha uma prestação (fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia), pouco importando a natureza desta prestação. Talvez o mais correto fosse dizer, para manter a terminologia do CPC, que a execução de sentença de fazer e de não fazer far-se-á segundo os termos do art. 461 do CPC; a da sentença de entrega de coisa, de acordo com o art. 461-A; e a da sentença pecuniária, de acordo com as regras do cumprimento da sentença, previstas nos arts. 475-J e seguintes.

Ainda remanesce o processo autônomo de execução de sentença para as hipóteses de sentença penal condenatória transitada em julgado, de sentença arbitral, de sentença estrangeira homologada pelo STJ e do acórdão que julgar procedente revisão criminal (CPP, art. 630). Essa é a razão do parágrafo único do art. 475-N do CPC : “Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso”. Também subsiste o processo autônomo de execução de sentença proferida contra o Poder Público.

Cumpre, por fim, fazer um alerta: as regras da execução de titulo extrajudicial aplicam-se subsidiariamente, no que couber, ao cumprimento ou execução da sentença (art. 475-R, CPC).

A Lei 11.232/2005, modificando a execução por quantia certa, transmudando por completo a sua natureza jurídica, passando a ser fase do processo de conhecimento, posterior à sentença que resolve o mérito, não mais ação autônoma, quando a pretensão do credor estiver apoiada em titulo executivo judicial.

Em fase de aprovação da lei em destaque, podemos afirmar que a jurisdição executiva é fase de um processo só, marcada pela necessidade de garantir de forma coercitiva o comando que emana da sentença, que não mais põe termo ao processo, apenas resolvendo o mérito, a etapa de cognição, abrindo a fase de cumprimento da decisão maior do magistrado, se a obrigação não for adimplida de forma voluntária pelo devedor.

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32 - Ação de execução de sentença não cumprida

Transita em julgado a sentença de condenação, ou iniciada a fase de

cumprimento voluntário do titulo executivo provisoriamente obtido pelo

vencedor, exerce-se ação de direito material, em que pese à afirmação

doutrinaria de que não haveria, ali, nova ação.

Há nova ação, que pode ser obviada pela ação espontânea do próprio

devedor, com que se dê o ato-fato jurídico do pagamento. O que não há é

novo processo, porque no processo único, iniciado com a ação de

conhecimento, se dará a ação de execução, sem óbice à possível intercalação

da ação interfásica de liquidação, ação essa entre a fase cognitiva e executiva.

Essa ação de execução tem que ser proposta no prazo de seis meses, a

partir do décimo sexto dia da intimação do devedor, para o cumprimento da

sentença de condenação. “Não sendo requerida a execução no prazo de seis

meses”, diz o art. 475-J, § 5º, “o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízos

de seu desarquivamento a pedido da parte”.

33- Penhora e avaliação (art. 475-J). Honorários de advogado (art. 20, §

4º). A intimação do devedor (art. 475-J, § 1º) e seu cônjuge (art. 655, § 2º)

Pressuposta a inexistência do cumprimento espontâneo da sentença de

condenação, antes da intimação do devedor, e suposta a inexistência do

cumprimento voluntário da sentença de condenação após a intimação do

devedor, tem-se a ação execução forçada da sentença de condenação.

Requer-se para tanto, a penhora com avaliação do bem, que se pode

desde já indicar, segundo o que se prevê nas regras jurídicas do art. 475-J, pr.

e § 3º.

Nessa hipótese, o credor terá de observar as regras jurídicas do Código

de Processo Civil, art. 649, de modo que não poderá indicar à constrição:

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a) os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à

execução;

b) os móveis, pertences e utilidades domesticas que guarnecem a

residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as

necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

c) os vestuários, bem como os pertencentes de uso pessoal do

executado, salvo se de elevado valor;

d) os vencimentos, subsídios, saldos, salários, remunerados, proventos

de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por

liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os

ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional;

e) os livros, as maquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos

ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;

f) seguro de vida;

g) os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas

forem penhoradas;

h) a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que

trabalhada em família;

i) os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação

compulsória em educação, saúde ou assistência social; e

j) até o limite de quarenta salários mínimos, a quantia depositada em

caderneta de poupança.

Outrossim, também haverá de observar as regras jurídicas do art. 655,

segundo os quais, essa penhora há de observar, preferencialmente, a seguinte

ordem, na redação conferida pela Lei nº 11.382/2006: “I – dinheiro, em espécie

ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - veículos de via

terrestre; III – bens móveis em geral; IV- bens imóveis; V- navios e aeronaves;

VI – ações e quotas de sociedades empresariais; VII – percentuais do

faturamento de empresa devedora;

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“VIII – pedras e metais preciosos; IX – títulos da divida pública da União,

Estado e Distrito Federal com cotação em mercado; X – títulos e valores

mobiliários com cotação no mercado; XI – outros direitos”.

Exercida essa pretensão executiva pelo credor, nos termos do art.475-J,§

3º, inclusive nas hipóteses em que o próprio devedor proceda a essa indicação

dos bens à constrição, expede-se o mandado de penhora e avaliação, já com a

fixação dos honorários advocatícios devidos por força do art. 20, § 4º,

cumulativamente com a multa do art. 475-J pr.

Essa honorária advocatícia é, ou pode ser, arbitrada em três momentos

processuais, porque decorre, ou pode decorrer, da sentença de condenação

emitida na fase cognitiva do processo, conforme o art.20, § 3º, ou na fase

executiva, de acordo com o art. 475-J (v. art. 20, § 4º), ou na contra- ação

mandamental negativa da impugnação do art. 475-L (cp. 20, § 4º).

A despeito de única, na relação jurídica processual desenvolvem-se as

duas ações, a cognitiva e a executiva, essa para o cumprimento forçado da

sentença de condenação, de modo que se justifica a remuneração do trabalho

de Advocacia, que seria obviado na hipótese do cumprimento espontâneo, ou

mesmo voluntario, da condenação.

Havendo impugnação, outra ação se suscita contra a pretensão a

executar, de modo que nessoutra contra-ação, de força mandamental negativa

– tende-se a obter mandamental contra a eficácia do mandado executivo do

art. 475-J – dentro da classificação quinaria das ações, o trabalho de advocacia

há, igualmente, de ser remunerado.

Poder-se-ia, aqui, contra argumentar que nessa impugnação haveria

mero incidente processual, que não comportaria ipso facto honorários

advocatícios, nos termos do art. 20, § 1º, do Código de Processo Civil.

Todavia, a impugnação do art. 475-L é, pressuposta a garantia do juízo

referida no art. 475-J e § 1º, ação de direito material de força mandamental

negativa, ontologicamente ação símile à ação dos embargos do devedor que

se opõem à ação de execução de títulos extrajudiciais, com fundamentos no

art. 745, I a V, sem autonomia e independência. Há três arbitramentos de

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honorários em favor do Advogado do credor, ou prevalecem das três apenas

duas, a primeira naquela fase cognitiva em favor do Advogado do impugnante.

Vencido o impugnado, por exemplo com a emissão da sentença prevista no

Código do Processo Civil, art. 475-M, § 3º, 2ª parte, de “extinção da execução”,

evidentemente não poderia permanecer incólume a decisão que fixara a

honorária na fase do art. 475-J, sub coditione, para a hipótese de não haver a

impugnação do art. 475-L., v.g.

A intimação do devedor, para o exercício possível desta ação

mandamental negativa do art. 475-L, pode ser na pessoa do Advogado, em

conformidade com a publicação do ato no órgão oficial, de acordo com o art.

236 do Código de 1973, ou segundo as modalidades alternativas dessa

intimação ao advogado, previstas no art. 237, I (pessoalmente), e II (pelo

correio), por quanto se trata de intimação para o exercício de atividade inserta

na sua capacidade de postulação. Se não há Advogado, a intimação pode ser

na pessoa do representante legal do executado ou na pessoa dele mesmo,

executado, por Oficial de Justiça ou pelo correio.

Abre-se novo quindecêndio, que se conta conforme as regras jurídicas

dos art. 240 e 241 do Código Buzaid, com exclusão do dia do começo e

inclusão do dia dos vencimentos, de acordo com o art. 184 do Código de

Processo Civil, prorrogável até o primeiro dia útil se o vencimento cair em dia

feriado ou em dia em que for determinado o fechamento do fórum, ou o

expediente forense for encerrado antes da hora normal, nos termos do art. 184,

§ 1º, I e II.

A impugnação do art. 475-L é ação, e por essa razão não se lhe aplica a

regra jurídica do art. 191 do Código de 1973, que duplica o prazo para

contestar, se os litisconsortes passivos têm procuradores diferentes.

Se a contrição recair sobre bem imóvel, dizia o art. 669 do Código de

Processo Civil, e hoje o diz o art. 655, § 2º, com a redação da Lei 11.382/2006,

art. 2º, que “será intimado também o cônjuge do executado”, sob pena de

nulidade a partir da contrição, sanável com a oposição por ele, seja da ação de

impugnação do art. 475-L, que com a ação de embargos de terceiros do art.

1.046.

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Na ação de execução de titulo extrajudicial, o Código de Processo Civil,

art. 652-A, com a redação dada pela Lei nº 11.382/2006, art. 2º, é claro: “ao

despachar o juiz fixará, de plano, os honorários de advogado a serem pagos

pelo executado (art. 20, § 4º)”.

Com outra opinião, Araken de Assis, Cumprimento da Sentença, p. 265,

com invocação de precedente do Superior Tribunal de Justiça. Ocorre que,

improcedente a pretensão deduzida na ação de impugnação, prossegue a ação

de cumprimento forçado da sentença de condenação, mediante sua execução.

As atividades de Advocacia, ai, foram na fase de cognição prévia a formação

do titulo executivo, na fase de cognição posterior à formação do titulo executivo

(impugnação) e na fase da ação em que se deduz pretensão a execução,

razão por que se justificam os três arbitramentos. Houvesse o cumprimento

espontâneo da sentença, somente um se daria, cujo valor está embutido na

sentença de condenação. Não houvesse a ação de impugnação, os dois

arbitramentos justificar-se-iam. Como houve também essa impugnação, os três

se justificam, salvo se na ação de impugnação, se emite sentença com que se

extingue o processo.

34- Execução definitiva e execução provisória

A execução será definitiva ou provisória. Será definitiva quando:

I) fundada em sentença com transito em julgado (art. 475-L, § 1º);

II) fundada em titulo extrajudicial, exceto se (art. 587);

a) houver interpretação de embargos de executado, recebidos

com efeito suspensivo;

b) os embargos do executado forem julgados improcedentes e, da

sentença, ainda pende apelação.

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Em outras palavras, a execução, será definitiva quando o direito estiver

acertado, seja por meio de sentença transitada em julgada ou de titulo

extrajudicial. Nesse caso, a execução abrangerá todos os atos de expropriação

(penhora, avaliação e adjudicação, ou se for o caso, alienação por iniciativa

particular ou em hasta publica ou usufruto), independente do oferecimento de

qualquer garantia, até porque, em razão da definição da obrigação

consubstanciada no título, não se cogita de prejuízos pelos quais possa o

exeqüente vir a ser responsabilizado.

A execução será provisória: (I) em se tratando de titulo judicial, quando

pendente julgamento de recurso, recebido no efeito meramente devolutivo,

interposto contra a decisão exeqüenda (art.475-I, § 1º); (II) em se tratando de

título extrajudicial, enquanto pendente apelação da sentença de improcedência

dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo.

No sistema anterior à Lei 11.382/2006, a execução de titulo extrajudicial

era sempre definitiva, ainda que pendente apelação contra sentença de

improcedência dos embargos à execução (Súmula 317 do STJ). Não obstante

o teor da súmula, agora revogada, já se encontrava na jurisprudência julgados

considerando como provisório, e não definitiva, a execução por titulo

extrajudicial, quando o julgamento dos respectivos embargos pendentes de

recursos.

O legislador, para evitar prejuízos irremediáveis ao executado,

contemplou a execução provisória de títulos extrajudicial. De qualquer forma, a

regra é a definitividade da execução por título extrajudicial.

A execução provisória de título extrajudicial depende da conjugação de

alguns fatores. É indispensável que os embargos do executado hajam sido

recebidos com efeitos suspensivos, o que por si só constitui exceção, uma vez

que o art. 739-A prevê a não atribuição de tal efeito. Afora o recebimento com

efeito suspensivo, é necessário que os embargos tenham sido processados,

julgados improcedentes e que, da sentença, tenha sido interposta apelação,

ainda pendente de julgamento.

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Consoante disposto no art. 739-A, os embargos do executado não terão

efeito suspensivo. Entretanto, o juiz poderá, a requerimento do embargante,

atribuir efeito suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus

fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente possa causar ao

executado grave dano de difícil ou incerta reparação, e desde que a execução

já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.

A rejeição liminar (art.739), embora a sentença tenha sido impugnada por

apelação, não autoriza a execução provisória. Rejeitados liminarmente os

embargos, a execução será definitiva.

Relevante para determinar a modalidade da execução, é perquirir se os

embargos do executado foram recebidos com efeito suspensivo ou não, pouco

importando os efeitos atribuídos à apelação interposta contra a sentença que

os julgou. Alias, a apelação, quando interposta de sentença que rejeita

liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes, será recebida

no efeito meramente devolutivo (art. 520, V).

Assim, no caso de julgamento de improcedência de embargos do

executado, quando recebidos com efeito suspensivo, a execução será

provisória. Caso a apelação confirme o julgamento de primeiro grau, de

improcedência dos embargos, a execução transmudar-se-á em definitiva.

O Livro II, que trata do processo de execução, não contempla normas

sobre a execução provisória. Assim, aplicam-se, no que for cabível, as

disposições relativas ao cumprimento da sentença (art. 475-O) .

A execução provisória far-se-á do mesmo modo que a definitiva,

distinguindo-se desta apenas nos seguintes aspectos, extraídos do art. 475-O.

Corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se

obriga, se a sentença de improcedência dos embargos for reformada, a reparar

os danos que o executado haja sofrido.

Fica sem efeito sobrevindo acórdão que acolha os embargos, restituindo-

se as partes do estado anterior e liquidados eventuais prejuízos.

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Se os embargantes, em razão do recurso, forem parcialmente acolhidos,

a execução ficará sem efeito somente na parte objeto da modificação ou

anulação.

A liquidação dos prejuízos é feita nos próprios autos, por arbitramento. A

responsabilidade pelos danos decorrentes da execução provisória é objetiva.

O levantamento do deposito em dinheiro e a pratica de atos que importem

em alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao

executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo

juiz e prestada nos próprios autos (art. 475-O, III).

A caução, Isto é, a garantia, pode ser real ou fidejussória. A real funda-se

em direitos reais de garantia, como hipoteca, penhor, anticrese ou deposito em

dinheiro. A fidejussória funda-se em obrigação pessoal, como, por exemplo, a

decorrente de fiança. A caução deve ser prestada por terceiros que tem

idoneidade financeira. Não se admite caução do próprio credor, porquanto este,

em decorrência da lei, já responde pelos danos que a execução provisória

acarretar ao devedor.

Pode-se dispensar a caução nos casos em que a obrigação

consubstanciada no título extrajudicial for de natureza alimentar ou decorrente

de ato ilícito, desde que o valor do crédito não ultrapasse 60 vezes o valor do

salário-mínimo e o exeqüente demonstre situação de necessidade (art. 475-O,

§ 2º,I). Também é dispensável a caução nos casos de execução provisória em

que penda agravo de instrumento no STF ou no STJ (art. 544), salvo, quando

da dispensa possa manifestamente resultar em risco de grave dano, de difícil

ou incerta reparação (art. 475-0, § 2º,II).

Finalmente, deve-se ressaltar que o simples ajuizamento da execução

provisória não requer oferecimento de caução. A garantia é exigida apenas na

hipótese de levantamento de deposito em dinheiro e de pratica de atos que

impliquem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano

ao executado, excepcionando-se as hipóteses do art. 475-O, § 2º .

A execução provisória, porque os autos principais encontram-se na

instancia superior, processa-se em autuação distinta, feita para esse fim

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especifico. Para formação dos autos, nos quais se processarão os atos da

execução provisória, o exeqüente, ao requerer a execução provisória, instruirá

a petição inicial com as seguintes peças do processo, por cópia: (a) petição

inicial da execução, incluindo-se o titulo e a memória de cálculos; (b) embargos

do executado; (c) decisão que recebeu os embargos do executado com efeito

suspensivo; (d) certidão de interposição da apelação; (e) procurações

outorgadas pelas partes; decisão de habilitação, se for o caso; (f)

facultativamente, com outras peças processuais que o exeqüente considera

necessárias. As cópias deverão ser autenticadas ou declaradas autenticas pelo

próprio advogado (art.. 365, IV).

35- Liquidação da sentença (arts. 475-A a 475-H)

Afora os requisitos da certeza e da exigibilidade, a execução pressupõe

sempre a liquidez ou a individuação do crédito (art.586). Tratando-se de título

extrajudicial, é indispensável que forneça todos os elementos para que se

possa aferir a liquidez do débito, não sendo possível a integração por meio de

outro procedimento judicial, salvo meros cálculos aritméticos. Título

extrajudicial (o contrato, por exemplo) ilíquido não comporta execução, até

porque é indispensável que o documento particular, para configurar título

executivo, contenha os requisitos da certeza, liquidez e tipicidade ou previsão

legal. Assim, não se liquida título extrajudicial, faz-se tão somente o

demonstrativo do débito (incluindo juros, correção monetária e demais

encargos).

A sentença, ainda que ilíquida, constitui título executivo, figurando a

liquidação pressuposto do cumprimento. Ocorre que, em razão da natureza do

pedido, ou da falta de elementos nos autos, o juiz profere sentença ilíquida.

Sentença ilíquida é a que, não obstante acertar a relação jurídica ( torna certa a

obrigação de indenizar ), não determina o valor (art. 475-A), não individua o

objeto da condenação (art.461-A, § 1º) ou o fato a ser prestado.

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A liquidação, que constitui um complemento do título ilíquido, se faz por

meio de decisão declaratória, cujos limites devem ficar circunscrito aos limites

da sentença liquidanda, não podendo ser utilizada como meio de impugnação

ou de inovação do que foi decido no julgado. Apenas os denominados pedidos

implícitos, tais como juros legais (compensatórios e moratórios), correção

monetária e honorários advocatícios, podem ser incluídos na liquidação, ainda

que não contemplados na sentença (art. 393 e Súmulas 254 do STF). Trata-se

do princípio da fidelidade aos termos da condenação.

Embora os arts. 475-A a 475-H, que regulam a liquidação, refiram-se

somente à apuração de valor e dinheiro, o procedimento liquidatório aplica-se

a outras modalidades de prestação. A liquidação tem por fim a determinação

da quantidade de coisa a serem entregues, da própria coisa, do fato a ser

prestado ou do valor da condenação. Condena-se o réu a entregar o

equivalente a R$ 10.000,00 em sacas de café; nesse caso, para o cumprimento

da sentença, indispensável é a determinação da quantidade de sacas devidas.

O réu foi condenado a entregar dez vacas de seu plantel, de linhagem

mediana, conforme se apurar em liquidação por arbitramento; antes do

cumprimento do julgado, há de se determinar quais bovinos devem ser

entregues. O réu foi condenado a repovoar o rio com espécies de dourado ou

surubim, conforme a disponibilidade de alevinos; nessa hipótese, necessário se

faz determinar o fato a ser prestado. Finalmente, o réu foi condenado ao

pagamento de perdas e danos, sem determinação o valor, à restituição de

frutos civis (alugueis, por exemplo) ou o valor correspondente ao fato a ser

prestado; em todos esses casos, o cumprimento da sentença pressupõe

liquidação.

O procedimento da liquidatório aplica-se inclusive às sentenças proferidas

contra a Fazenda Pública. Com efeito, embora a Fazenda Pública se submeta

a uma execução própria, regida por regras específicas, as normas

concernentes à liquidação de sentença são normalmente aplicáveis.

A iliquidez pode ser total ou parcial. É totalmente ilíquida a sentença que,

em ação de reparação de danos, apenas condena o vencido a pagar lucros

cessantes (o que razoavelmente deixou de ganhar) referentes aos dias em que

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o veiculo ficou parado. É parcialmente ilíquida a sentença que, ao mesmo

tempo, condena o réu a reparar o valor dos danos, orçados em R$ 3.000,00, e

ao valor equivalente à desvalorização do veiculo, conforme se apura em

arbitramento. No caso de iliquidez parcial, poderá o credor,

concomitantemente, requerer o cumprimento da parte liquida nos próprios

autos, e a liquidação da parte ilíquida, em autos apartados (art. 475-I, § 2º).

A Lei 11.232/2005 alterou substancialmente a natureza da liquidação. No

regime anterior a essa lei, embora figurasse no Livro II, relativo ao processo

executivo, a liquidação constituída processo de conhecimento autônomo, o

qual se iniciava com o ajuizamento da ação, completava-se com a citação e

finalizava com a sentença transita em julgado. No sistema atual, a liquidação é

regulada nos arts. 475-A a 475-H, constituindo uma simples fase do processo

de conhecimento, o qual somente se encerra com o integral cumprimento da

sentença. Acabou a tricotomia do processo: conhecimento, liquidação e

execução.

Nas ações de ressarcimento por danos causados em acidente de veículos

de via terrestre (art. 275, II, d) e nas de cobrança de seguro, relativamente aos

danos referentes a danos causados por acidentes de veículos (art. 275, II, e), a

sentença será necessariamente liquida (art. 475-A, § 3º). Se o autor formular

pedido genérico, caberá ao juiz, na sentença, fixar o valor da indenização.

Caso o juiz, não obstante a determinação legal, profira decisão ilíquida, cabe

ao autor, em grau de recurso, postular a reforma com vistas à definição do

quanto devido, ou a invalidação da sentença, a fim de que o valor da

indenização seja definido no primeiro grau de jurisdição. Transitada em julgado

a sentença ilíquida, pode o autor requerer a liquidação e, posteriormente, o

cumprimento. Cabível também, nesse caso, é a ação rescisória com base no

art. 485, V.

Atualmente, o Código contempla apenas duas espécies de liquidação; por

arbitramento e por artigos. Até a edição da Lei nº 8.898/94, além da liquidação

por arbitramento e por artigos, o Código previa a liquidação por cálculos do

contador, que não mais subsiste. A extinção da liquidação por cálculos do

contador e, conseqüentemente, da respectiva homologação não exime o credor

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de apresentar o demonstrativo do débito atualizado até a data do requerimento

de liquidação, quando se trata de execução por quantia certa (arts. 475-B e

614,II ).

36- A repercussão da Lei nº 11.232/05 nos embargos à execução

Debruçados na analise da Lei 11.232/2005, que alterou radicalmente a

dinâmica da execução por quantia certa, transformando-a em fase do processo

de conhecimento posterior à sentença de mérito, não mais como ação

autônoma, quando apoiada em sentença que condena o vencido ao

pagamento de soma em dinheiro, percebemos que a alteração é estendida

para os embargos à execução, que não são mais ação incidental autônoma,

mas defesa endoprocessual, intitulada impugnação.

O regime imposto pela nova legislação, que vigora desde o mês de junho

de 2006, registra que a reforma objetiva garantir a efetividade da execução,

totalmente obsoleta segundo as disposições do CPC, na sua forma original

(antes da reforma), comprometendo a pretendida celeridade a partir do

momento em que o devedor ingressava com a ação de embargos, acarretando

a automática suspensão da causa principal, situação que não mais se verifica,

em face da aprovação da Lei nº 11.382/2006, prevendo que os embargos não

são (como regra) dotados do efeito suspensivo, bem assim da Lei nº

11.232/2005, com regime semelhante, textualizando que a impugnação como

regra não suspende o curso da execução apoiada em título judicial.

A impugnação referida no texto da lei aproxima-se dos embargos opostos

pelo réu na ação monitoria (§ 2º do art. 1.102-C), processando-se nos autos da

demanda principal, qualificando-se como manifestação endoprocessual. A

matéria passível de impugnação pelo executado não se diferencia de forma

contundente das admitidas pelo CPC de 1973, alinhadas em seu art. 741. A

grande diferença que há entre os dois sistemas é a de que a defesa do

executado perde a sua característica principal de ação, para se revelar como

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uma espécie de contestação lato senso, pois apresentada no âmbito da ação

principal.

Além disso, atendendo aos reclamos de parte expressiva da doutrina

nacional, a defesa do executado não mais suspende o curso da execução, não

obstante a lei permitia ao magistrado suspender o trâmite da execução de

forma excepcional, quando os fundamentos da defesa forem relevantes e o

prosseguimento da execução seja manifestado suscetível de causar ao

executado grave dano de difícil ou incerta reparação.

Os embargos à execução ficam restritos para o ataque à execução

apoiada em título extrajudicial, devendo o devedor se valer da impugnação,

para o ataque de execução fundada em título judicial.

37- Sistematização das formas de execução civil

A nova sistemática decorreu da Lei nº 11.232/2005, de acordo com o

caput do art. 475-I : “O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts.

461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por

execução, nos termos dos demais artigos desde Capitulo”.

Por conseguinte, na sistemática da Lei nº 11.232/2005, a fase de

cumprimento da sentença civil é indicada como gênero, que tem por espécies;

a efetivação da tutela especifica ou a obtenção do resultado prático equivalente

(arts. 461 e 461-A) e a execução em sentido estrito (arts. 475-J e seguintes).

A execução, em si, de sentença civil, neste novo modelo, restringe-se à

obrigação por quantia certa e opera no mesmo processo de conhecimento em

que já proferida a tutela condenatória.

Mesmo assim, ao lado do gênero “cumprimento da sentença”, tem-se a

execução por titulo extrajudicial, regida pelo Livro II do CPC.

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38- A execução na tutela monitória

A ação monitória, inserida no sistema processual brasileiro pela Lei

9.079/1995, integrante da primeira fase de Reforma do CPC, possibilita a tutela

diferenciada, cabível quando presente “prova escrita sem eficácia de titulo

executivo”, tratando-se de pretensão relativo a “pagamento de soma em

dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel” (art.1.102-A

do CPC).

Sendo cabível, a ação monitória coloca-se como via facultativa ao autor,

dotado de maior celeridade do que o ajuizamento de demanda simplesmente

condenatória, uma vez que autoriza, estando a petição inicial devidamente

instruída, o deferimento, de plano, pelo juiz, da “expedição do mandado de

pagamento ou de entrega da coisa” (art.1.102-B).

Após isso, três situações, em princípio, são possíveis:

(a) o réu cumpre o mandado monitório, ficando isento de custas e

honorários advocatícios ( § 1º do art.1.102-C);

(b) o réu não opõe “embargos” ao mandado, constituindo-se , de pleno

direito, o título executivo judicial, “convertendo-se o mandado inicial

em mandado executivo” (caput do art. 1.102-C);

(c) o réu ofereceu “embargos”, suspendendo a eficácia do mandado

inicial.

Os embargos representam o meio processual de defesa do réu, que não

necessita de previa garantia do juízo, processando-se nos próprios autos pelo

procedimento ordinário (§ 2º do art. 1.102-C). Caso os embargos sejam

acolhidos, o processo monitório é julgado extinto, absolvendo-se o réu.

Entretanto, se os “embargos” forem rejeitados, também aqui “constituir-se-á, de

pleno direito, o título executivo judicial” (§ 3º do art. 1.102-C).

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Após a constituição do título executivo judicial, o art. 1.102-C, caput e §

3º, determinava na redação anterior, o prosseguimento “na forma prevista no

Livro II, Titulo II, Capitulo II e IV” do Código de Processo Civil. Segundo a

literalidade desta disposição, a conclusão seria, invariavelmente, a existência

de processo de execução, em seu sentido próprio e estrito, pois o Livro II trata

do “Processo de Execução”, sendo seu Titulo relativo às “Diversas Espécies de

Execução”, ocupando-se os Capítulos II e IV, respectivamente, da “Execução

para a Entrega de Coisa” e da “Execução por Quantia Certa contra Devedor

Solvente”.

No entanto, com o surgimento da Lei 10.444/2002, foi alterada a

sistemática para a efetivação do provimento jurisdicional relativo a obrigação

de coisa (art. 461-A do CPC), passando, como já mencionado, a seguir a

mesma linha do que já ocorria com as obrigações de fazer ou não fazer, não só

com preferência da concessão da tutela especifica, mas com sua efetivação

por meio de medidas de caráter mandamental e executivas lato sensu, não

mais operando por meio de processo de execução (forçada) autônoma

propriamente.

Mesmo assim, a Lei 10.444/2002, inserida na segunda fase da Reforma

do CPC, não havia adaptado a redação dos dispositivos do procedimento

monitório, de forma a torná-la compatível com as alterações realizadas na

efetivação das obrigações de entrega de coisa.

Em outras palavras, o avanço alcançado por meio da Lei 10.444/2002

quando a esta tutela especifica não havia sido acompanhado de qualquer

alteração na sistemática da “execução” (efetivação) da monitória, possibilitando

duas interpretações divergente sobre a forma de execução, após expedir-se o

mandado definitivo, na ação monitoria relativa a “entrega de coisa fungível ou

de determinado bem móvel” :

(a) O prosseguimento em conformidade com o processo de execução,

para entrega de coisa ( art. 1.102-C, caput e § 3º, parte final);

(b) A efetivação do provimento por meio das disposições do art. 461-A do

Código de Processo Civil, que afastam a existência de execução

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propriamente, estabelecendo meios eficazes de obter o cumprimento

do preceito, sem intervalo para o processo de execução.

Neste aspecto, a Lei nº 11.232/2005 corrigiu a dúvida interpretativa, pois

manteve a tutela monitória, mas alterou o art. 1102-C, caput e § 3º, de forma a

adaptá-los à correta remissão ao novo Capitulo X do Título VIII do Livro I do

CPC.

Diante da nova remissão feita pelo caput e § 3º do art. 1102-C, que

estabelece a aplicação dos dispositivos pertinentes ao cumprimento da

sentença, passa a incidir o disposto no art.475-I, caput, do CPC, o qual prevê

tanto o cumprimento da sentença de obrigação para entrega de coisa, como a

execução de sentença de obrigação por quantia certa.

Este posicionamento adotado, sem duvida, melhor atende aos ideais de

celeridade e eficácia na satisfação do bem jurídico no âmbito da tutela

monitória.

39- A natureza jurídica da impugnação

A nova “impugnação do executado não se confunde, obviamente, com os

embargos à execução.

Os embargos na execução civil, mesmo sendo meio de defesa do

executado, apresentam natureza jurídica de ação incidental ao processo de

execução, dando origem a processo próprio, de natureza cognitiva.

Já a impugnação ao cumprimento da sentença, inserida pela Lei nº

11.232/2005, apesar de também ser o meio de defesa do executado, é mero

incidente processual, sem natureza de ação, não dando origem a processo

diverso.

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Tanto assim que o novo § 3º do art. 475-M do CPC estabelece ser a

decisão que resolve a impugnação “recorrível mediante agravo de instrumento,

salvo quando importa extinção da execução, caso em que caberá apelação”.

Mesmo com a nova disciplina do recurso de agravo retido, decorrente da

Lei nº 11.187/2005, pode-se dizer que a disposição mais recente, previstas na

Lei nº 11.232/2005, estabeleceu regra especial no sentido de que contra a

decisão que aprecia a impugnação ao cumprimento da sentença é cabível o

agravo de instrumento.

Na realidade, se a decisão interlocutória julgar improcedente, ou mesmo

rejeitar liminarmente a impugnação do executado, cessa eventual suspensão

anteriormente atribuída a este incidente (art. 475-M), pois o agravo de

instrumento, em principio, tem efeito meramente devolutivo.

Em se tratando de execução definitiva, esta não se converte em

provisória em razão da interposição do referido recurso, pois o título executivo

permanece sendo sentença condenatória transitada em julgado.

No entanto, de acordo com o art. 527, III, CPC, o relator do agravo de

instrumento, interposto contra a decisão que julgou a impugnação ao

cumprimento da sentença, “poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art.

558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão

recursal, comunicando ao juiz sua decisão” (disposição com redação pela Lei

10.352/2001, mantido pela Lei 11.287/2005).

Por isso, caso seja deferido a liminar ao agravo de instrumento interposto

pelo executado, vencido na impugnação, ocorrerá a suspensão da execução

em curso.

Como é óbvio, se na apreciação da referida impugnação o juiz decide

pela extinção da execução, o recurso cabível é a apelação (art. 475-M, § 3º,

CPC).

Caso seja deferido efeito suspensivo à impugnação (art.475-M, caput),

esta será instruída e decidida nos próprios autos; se não for deferido o efeito

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suspensivo, a impugnação do executado será instruída e decidida em autos

apartados ( art. 475-M, § 2º, do CPC).

Em regra é lógica coerente, pois, havendo suspensão da execução, não

há prejuízo em instruir e decidir a impugnação nos próprios autos.

Diversamente, caso não tenha sido deferido o efeito suspensivo, deve a

impugnação ser instruída e decidida em autos apartados, juntamente para não

prejudicar os atos seguintes da execução.

As matérias sobre as quais pode versar a impugnação ao cumprimento da

sentença estão previstas no art. 475-L do CPC.

De acordo com o § 2º do art. 475-L do CPC: “Quando o executado alegar

o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da

sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, sob

pena de rejeição liminar dessa impugnação”.

Trata-se de previsão similar ao parágrafo único do art. 869 do CPC,

pertinente à ação de consignação em pagamento.

Para efeito do dispositivo no inciso II do caput do art. 475-L , “considera-

se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo

declarados inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em

aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal

Federal como incompatíveis com a Constituição Federal ” (§ 1º do art. 475-L do

CPC).

Tendo em vista a garantia constitucional da coisa julgada, possível de

desconstituição, em principio, apenas mediante ação rescisória, é possível

questionar a constitucionalidade desta previsão, que corresponde ao parágrafo

único do art.741 do CPC, acrescentado pela Medida Provisória 2.180-35/2001,

e que foi repetida, pela Lei 11.232/2005, também na nova disposição do art.

741 .

Na fase de cumprimento da sentença condenatória de obrigação por

quantia certa, ou seja, na execução de título judicial por quantia certa, de

acordo com as novas disposições da Lei 11.232/2005, não mais se admite,

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como já mencionado, a oposição de embargos à execução, mas sim a

impugnação dos arts. 475-J, § 1º e 475-L do CPC.

Da mesma forma, também deixam de ser cabíveis os embargos à

arrematação e à adjudicação, que ficaram restritos à execução fundada em

título extrajudicial.

Com isso, eventuais questões supervenientes à penhora só podem ser

alegadas, no âmbito da execução, por meio de obrigação de pré-

executividade ou de simples petição, sem efeito suspensivo, o qual,

excepcionalmente, pode ser obtido, em tese, por meio de medida cautelar

inominada e incidental (art. 798 do CPC). Nesta hipótese, cabe à parte

demonstrar os requisitos de periculum in mora e o de fumus boni juris,

aplicando-se, ainda, a fungibilidade entre as tutelas de urgências, previstas no

§ 7º do art. 273 do CPC, acrescentado pela Lei 10.444/2002.

Alias em face do direito constitucional de acesso à justiça (art. 5º, XXXV,

da CF/1998), em tese pode-se admitir o ajuizamento de ação própria,

autônoma da execução e do processo que deu origem ao título executivo, com

natureza declaratória, para discutir certas matérias que poderiam ter sido

alegadas na impugnação à execução.

Se proposta pelo executado, ora autor, em separado, ação de

conhecimento nos moldes mencionados, em fase do exeqüente (ora réu), não

há a exigência de garantia do juízo da execução, mas por outro lado, a referida

demanda autônoma não possui, por si só, eficácia para suspender a execução

em curso.

Mesmo assim, em situação extremas, em princípio é permitido pleitear

medida cautelar inominada, incidental àquela ação cognitiva principal, com

objetivo de obter a referida suspensão.

Neste ultimo caso, mesmo se o demandante, a título de antecipação de

tutela, estiver requerendo, na realidade, a mencionada providência de natureza

cautelar, “poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir

a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado” (art. 273, § 7º,

do CPC).

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Não se pode esquecer que, em sendo título executivo uma sentença de

mérito, transitada em julgado, é cabível a ação rescisória nas hipóteses do art.

485 do CPC, desde que observado o respectivo prazo decadencial (art. 495 do

CPC).

Frise-se que a execução de sentença rescindenda não suspende com o

simples ajuizamento da ação rescisória, conforme art. 489 do CPC.

No entanto, na mesma forma, presentes os requisitos próprios, pode-se

admitir, em circunstancias extremas, medidas cautelar incidental, com o fim de

obter esta suspensão. Em face da fungibilidade entre a cautelar e a tutela

antecipada, por serem espécies do mesmo gênero, incide, mais uma vez, o art.

273, § 7º, do CPC.

40- Querela de nulidade insanável : art. 475-L, I

O art. 475-L, I, estatui que na ação de impugnação o impugnado poderá

alegar a “falta ou nulidade da citação, se o processo correr à revelia”.

Tem-se, nessa hipótese, querela nullitatis insanabilis por dentro do pedido

de mandamento negativo.

De hipótese, não houve a citação, ou houve citação nula, e a esse dado

objetivo acresce-se o da não comparência do legitimado passivo.

Em não havendo citação, relação jurídica processual existiu, e declarada

sua existência jurídica, decreta-se porem sua invalidade absoluta; se houver,

mas com nulidade, a relação jurídica processual também existiu, mas com a

mesma invalidade absoluta, que cumpre se também decrete com a

retroeficácia que tem o efeito desconstitutivo da relação jurídica, por sua

nulidade.

Na primeira hipótese há insuficiência, pela inexistência com validade

jurídica do ato, e o que se decreta é essa invalidade com a decretação daquela

inexistência; na segunda hipótese há deficiência, pela existência com

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invalidade absoluta, que se decreta. Ali, não houve efeitos jurídicos, tais os

indicados no art. 219 do CPC; aqui, deixa de havê-los.

Não havendo o pressuposto negativo da revelia, ineliminável à incidência

do art. 475-L, I, falta de citação fica suprida com “o comparecimento

espontâneo do réu”, em conformidade com Código de Processo Civil, art. 214,

§ 1º. O comparecimento, ai, basta, sem que exija a efetivação da citação

inexistente, ou a repetição da citação sem o vício invalidante, porquanto

segundo o art. 214, § 2º, se o réu comparecer apenas para argüir essa

nulidade, “considerar-se-á feita a citação na data em que ele ou seu advogado

for intimado da decisão” que a decretar.

Evidentemente tais regras jurídicas não terão incidência nas hipóteses a

que se reporta o art. 475-N parágrafo único, pertinentes aos títulos judiciais

executivos mencionados nos incisos II, IV e VI, porquanto em tais hipóteses

não houve a citação que somente na fase de cumprimento desses títulos vai

haver.

Incidentes, e aplicáveis, opera-se a desconstituição com eficácia ex tunc

de toda a relação jurídica processual, reabrindo-se ao impugnante da fase

executiva, na qualidade de réu na fase cognitiva, o prazo de resposta, que se

contará conforme o art. 214, § 2º, se é hipótese de citação nula.

Não se prevê prazo para a petição de nulidade insanável, o que torna

impertinente a invocação do lapso de tempo bienal a seu exercício, como se

fora o prazo do art. 495 do Código de Processo Civil de 1973, pertinente a ação

rescisória, mas não à querela nullitatis, seja em ação autônoma, quer na ação

de impugnação do art. 475-L, I, ora na ação de embargos do art. 741, I.

A citação é nula quando feita “sem observância das prescrições legais”,

diz o art. 247, segunda parte, do CPC.

Se é o que se passa, mas não houve revelia, ao réu incumbe alegá-la na

contestação, em conformidade com o art. 301, I, posto que se trata de matéria

a ser conhecida ex-officio pelo juiz, nos termos do art. 301, § 4º. O não ter-se

configurado a revelia preexclui a querela de nulidade insanável contida no art.

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475-L, I. É o mesmo regime jurídico do art. 741, I, no que concerne à ação

mandamental negativa dos embargos à execução contra a Fazenda Pública.

Em qualquer das três hipóteses, decretada a nulidade da citação renova-

se o processo e reabre-se o prazo de resposta “a partir da in ius vocatio”.

Não supre a falta ou a nulidade da citação na fase cognitiva o livre

comparecimento do executado na fase posterior à decisória. Supre-a, porém, a

juntada de procuração na fase de conhecimento “com poder expresso a seu

advogado para receber citação”, até mesmo o comparecimento sem esse

poder, desde que apresentada a contestação “sem nenhum prejuízo à parte ré.

Sem a procuração com “poder para receber citação inicial”, em

conformidade com o art. 38 do CPC , se não há a contestação não se

considera suprida a falta da citação porque, de hipótese, não houve o

comparecimento espontâneo do réu a que se refere o art. 214, § 1º .

Aliter, se há comparecimento, mas “apenas para argüir a nulidade”

conforme o art. 214, § 2º, se ela não for decretada não se reabre o prazo à

contestação, mas está preexcluída a querela de nulidade do art. 475-L, I .

Decretada a nulidade, o prazo será reaberto a partir da intimação ao Advogado,

mesmo não havendo poder expresso para receber citação. Evidentemente,

estará preexcluída qualquer possibilidade de aplicação das regras jurídicas do

art. 475-L, I, porquanto não incidentes.

É falta de citação, não citação nula, a de pessoa falecida, ou a de pessoa

homônima: o citado, de hipótese o sucessor daquela, ou o homônimo dessa,

não se citou, conforme estatui o art. 215. Incidem, ai, as regras jurídicas do art.

475-L, I , porquanto a contaminação da relação jurídica pela inexistência de

citação é inarredável.

É citação nula a de pessoa jurídica que se faça em pessoa natural que

não tenha poder para recebê-la. Se revel a legitimidade passiva, a querela

nullitatis insanabilis tem cabimento, conforme art. 475-L, I, porquanto se

infringiu aí o duw process of law.

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A teoria da aparência pode aplicar-se. Considera-se, então, validade a

citação existente “na pessoa que se apresenta ostensivamente com poderes

de gerencia geral ou de representação da firma. Válida a citação, não incide o

art. 475-L,I do CPC, como também não incide se a citação da pessoa jurídica

foi na pessoa natural do gerente, em ação pertinente a negocio jurídico da

agência ou sucursal em que ele atua funcionalmente, mesmo se não tem poder

de representá-la.

A citação será valida feita na pessoa natural do gerente dessa filial ou

agência, porquanto o art. 12, VIII e § 3º, consagra a presunção de que esteja

autorizado pela ré a receber essa citação.

É nula a citação do legitimado passivo na pessoa do seu mandatário, se

faltam os requisitos traçados no art. 215, § 1º, à sua validade, como se não há

demonstração de que o réu, por não ter sido localizado “no local em que

normalmente deveria ser procurado para a citação”, esteja ipso facto

“ausente”. Se revel, a querela de nulidade contida no art. 475-L, I, tem

pertinência, como a tem se a citação do locador fora por edital por achar-se em

País que não cumpre carta rogatória, se caracterizados os essetialia do art.

215, § 2º.

Tem pertinência a ação de nulidade insanável referida no art. 475-L, I,

pela nulidade da citação na fase cognitiva da relação jurídica se o impugnante,

revel, fora citado em ser para “evitar o perecimento do direito”, quando assistia

a culto religioso, o fora, enquanto cônjuge ou parente do morto, consangüíneo

ou afim, em linha reta, ou na linha colateral em segundo grau, no dia do

falecimento e nos sete das seguintes .

Também haverá essa pertinência se o revel, noivo, fora citado nos três

primeiros dias de bodas, ou se citara quando acometido de doença em estado

de gravidade, ou demência que o impossibilidade de receber tal citação, que

assim haveria de ser feita na pessoa do curador referido no art. 218, § 2º.

Tais hipóteses, por configurarem violação às regras jurídicas cogentes do

CPC, arts. 217, I a IV, e 218, implicam nulidade da citação, conforme o art. 247,

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primeira parte, de modo que a revelia do citado propicia a querela nullitatis que

se contém Código de Processo Civil , art. 475-L, I .

“Deferida a citação pelo correio”, diz o CPC, art. 223, “o escrivão ou chefe

da secretária remeterá ao citado cópias da petição inicial e do despacho do

juiz, expressamente consignada em seu inteiro teor a advertência a que se

refere o art. 285, segundo parte, comunicando, ainda , o prazo para a resposta

e o juízo e cartório, com o respectivo endereço”. Complementa o parágrafo

único: “A carta será registrada para entrega ao citado, exigindo-lhe o carteiro,

ao fazer a entrega que assine o recibo. Se o réu pessoa jurídica, será válida a

entrega a pessoa com poderes de gerencia geral ou de administração.

Qualquer infringência a tais regras jurídicas, com prejuízo ao citado,

suscitará a nulidade da citatio e, pois, a invocabilidade da querela de nulidade

insanável, se revel o citado, como se a carta não fora entregue a ele, mas a

outrem, e não há prova pelo impugnado de que o impugnante tivera

conhecimento da demanda.

Aliter, se citada é pessoa jurídica, porquanto nessa hipótese a citação é

válida “quando implementada no endereço onde se encontra o estabelecimento

do réu, sendo desnecessário que a carta citatória seja e o aviso de

recebimento assinado pelo representante legal da empresa”. Por isso mesmo,

ainda que revel não há a nulidade insanável de que fala o art. 475-L, I, segunda

parte, do Código de Processo Civil.

Em se dando a citação por oficial de justiça, um dos requisitos referidos

no art. 225 é o da “advertência a que se refere o art. 285, segundo parte”, que

tem de constar do mandado a ser lido para o réu, conforme o art. 226, I

primeira parte.

Se o litígio versar sobre direitos disponíveis, mas não consta tal

advertência, melhor entendimento não é o da nulidade da própria citação,

senão o de que no caso estará impedida a verificação da eficácia da revelia

prevista nesse art. 285, o que apaga a configuração da pertinência da querela

de nulidade.

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Do mandado há de cantar o prazo para a defesa na fase de

conhecimento, estatuí o art. 225, IV, do Código Buzaid. Se não constou esse

lapso de tempo à resposta, a citação é nula, porquanto ele “se justifica

exatamente para que o destinatário da citação fique ciente do período de

tempo de que dispõe para tomar as providências que lhe incubem. Incidirá o

art. 475-L, I, se revel o citado.

Havendo prazo, mas excedente do prazo previsto na lei, o citado não

pode ser prejudicado, de tal modo que, em conformidade com a justa causa do

art. 183, § 1º, conta-se-lhe o prazo indicado no mandado. A revelia, nessa

hipótese, não suscita a incidência do art.475-L, I ; aliter, se decorrente da

contagem do prazo legal sem que no remanescente se tenha apresentado a

contestação com a argüição da nulidade, acatada.

Eventuais outros défices no mandado de citação, se não implicam

prejuízo ao citado, constituem mera irregularidade, tal a omissão da “assinatura

do escrivão e a declaração de que o subscreve por ordem do juiz”. Incide o

princípio de intertrocabilidade das formas, a que se refere o art. 244 do Código

de Processo Civil, o preexclui possa aludir-se à querela de nulidade do art.

475-L, I .

A citação por meio de oficial de justiça há de observar os essentialia do

art. 226, I,II, e III, do Código de 1973. Será viciada por absoluta invalidade a

citação que não os observa, como se falta “a leitura do mandado ao citado” e

desse dado abstencional lhe advém prejuízo, com se é idoso e cego seu

destinatário. Se revel, a regra jurídica do art. 475-L, I do Código Buzaid incide e

cabe a querela nullitatis insanabilis do art. 475-L, I. Em não havendo esse plus

do prejuízo, não, como se falta a “nota de ciente”, ou a certidão de que o citado

“não a após no mandado”, conforme o art. 226, III, mas sobreveio a resposta

no prazo legal.

Nula é a citação, porquanto em desconformidade com a ratio legis do art.

226, II, se a entrega da contrafé é a pessoa incapaz, e.g., interdita, porquanto

não se poderá afirmar que o incapaz efetivamente a recebeu ou se

verdadeiramente a recusou.

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Em conformidade com o Código de Processo Civil, art. 227, cabe a

citação por hora certa se, “por três vezes, o oficial de justiça houver procurado

o réu em seu domicilio ou residência, sem o encontrar”. Havendo nessa

hipótese suspeita de ocultação, haverá de “intimar a qualquer pessoa da

família, o em sua falta a qualquer vizinho, que, no dia imediato, voltará, a fim

de efetuar a citação, na hora que designar”.

As três vezes referidas nesse art. 227 não precisam ser no mesmo dia,

mas hão necessária a inafastavelmente de constar na certidão do oficial de

justiça, com a indicação dos “horários em que realizou as diligencias”, em que

pese a precedente jurisprudência adverso, porquanto sua efetivação nos

horários em que estava a trabalhar tornam injustificável essa suspeita de

ocultação, que cumpre seja explicitada pelo oficial de justiça em sua certidão,

sob pena de sua nulidade se razões objetivamente aferíveis não confirmam tal

ocultação. Nula a citação, a revelia do citado propiciará a ação de nulidade

contida no art. 475-L, I.

O art. 227 do Código Buzaid alude a ter sido “procurado o réu em seu

domicilio ou residência”, mas porquanto o art. 226 possibilita ao oficial de

justiça citar o réu “onde o encontrar”, não se aludirá a nulidade da citação por

hora certa no endereço comercial do legitimado passivo, o que preexclui a

invocabilidade da querela de nulidade.

Dá-se o mesmo se, a despeito de a intimação, diz o art. 227, ter que ser

“a qualquer da família, ou em sua falta a qualquer vizinho”, ela é ao “porteiro do

edifício onde mora o citado”.

Diferentemente, será nula, a citação, e propiciará a impugnação do

Código de Processo Civil, art. 475-L,I se, procurado por três vezes ser

encontrado, é o réu citado em dia que não for o “dia imediato” referido no art.

227.

Nesse dia a citação há de efetivar-se “na hora” que havia sido designada,

em conformidade com o art. 228; fora a dela a citação é nula, o que se há

afirmar na contingência do prejuízo ao réu, que se for revel terá a querela de

nulidade do art. 475-L, I.

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Feita a citação com hora certa, o art. 228 determina que se remeta ao

citado “carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência”. Tal

remessa há de ser, e ser no prazo de resposta, de modo que se não é feita, se

é malfeita, porque de hipótese além desse prazo, a citação é nula. Caberá a

impugnação do art. 475-L, I se revel o citado.

O Código de processo Civil, art. 231, II, estatui a citação edital se

ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se encontrar o citado. Tal

citação há de ser no juízo da ação de conhecimento, não no juízo deprecado

em que não localizado o citando; do contrario, nula será a citação e terá na

fase executiva a ação de nulidade do art. 475-L, I, o executado.

Em precedência jurisprudencial exigiu-se prévio esgotamento dos meios

possíveis à localização do citando, de modo que sem ele nula seria a citação

edital. Contudo, melhor entendimento é o que não o afirma aprioristicamente,

porquanto não havendo nenhuma imposição legal nessa diretriz de expedição

de ofícios à localização do réu, sua necessidade há ser “analisada no caso

concreto”. Em não havendo aposterioristicamente a configuração dessa

necessidade, nulidade não há, mas há, mas a há se o citado alega e comprova

residência no local indicado nos autos, por exemplo, conforme o art. 282, II, in

fine (verbo, “residência do réu”). Em qualquer dessas hipóteses não tem o

impugnante a querela de nullitatis insanabilis do art. 475-L, I .

O art. 232 do Código de Buzaid estatui como requisito da citação por

edital:

a) a afirmação do autor, o a certidão do oficial, quando ás circunstâncias

previstas no art. 231, I e II ;

b) a afixação do edital, na sede do juízo, certificada pelo escrivão;

c) a publicação do edital no prazo máximo de quinze dias, uma vez no

órgão oficial e pelo menos duas vezes em jornal local, onde houver;

d) a determinação, pelo juiz, do prazo, que variará entre vinte e sessenta

dias, correndo da data da primeira publicação;

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e) a advertência a que se refere o art. 285, segundo parte, se o litígio

versar sobre direitos disponíveis.

Falseada a verdade quanto à alínea a, a revelia do réu citado por edital

propiciará o exercício judicial da pretensão de nulidade insanável da citação,

inclusive por meio da impugnação do art. 475-L, I do Código de 1973.

Responderá o autor, impugnado na fase executiva, pela multa de cinco vezes o

salário mínimo a reverter em beneficio do impugnante, em conformidade com

o Código de Processo Civil, art. 233.

Sob b, a falta da certidão, não da afixação, não configura nulidade, mas

sob c há a nulidade com a falta das três publicações no prazo de quinze dias

contados da primeira publicação.

As conseqüências dos défices acerca de d e e foram mencionadas nas

referências do art. 225.

O que se expende acerca da falta ou nulidade da citação, a propiciar a

incidência do art. 475-L, I, quando à actio nullitatis insanibilis, às demais

hipóteses de citação referidas no Código de Processo Civil.

Por exemplo, do litisconsorte necessário (art. 47), do oposto (art. 57), do

litisdenunciado (art. 71-72), do chamado ao processo (art.79) e o terceiro na

ação de exibição (art. 361).

Ainda, a citação nas ações de consignação em pagamento (art.893), de

deposito (art. 902), de amortizar e substituição de título ao portador (art. 909),

nas ações possessórias (arts. 928 e 930), nas ações de usucapião (art. 942),

de demarcação (art. 953) e de divisão (art.968), que se indicam

exemplificativamente.

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41- A natureza jurídica da nova liquidação de sentença

A Lei 11.232/2005, mantendo a coerência com as diversas e profundas

mudanças que trouxe ao processo civil, deslocou a liquidação para o âmbito do

próprio processo de conhecimento, conforme o Livro I, Titulo VIII, Capitulo IX,

do CPC, intitulado “da Liquidação de Sentença”.

Com isso, a liquidação de sentença, seja qual a sua modalidade, deixa de

dar origem a processo autônomo, passando a ser mero incidente processual,

quer dizer, fase posterior á decisão condenatória e antecedente ao seu

cumprimento.

O novo art. 475-A, caput, correspondente ao art. 603, caput, do CPC

(revogado pelo art. 9º da Lei 11.232/2005), estabelece: “Quando a sentença

não determinar o valor devido, precede-se à sua liquidação”.

Frise-se que, consoante art. 475-I, § 2º, do CPC; “Quando na sentença

houver uma parte liquida e outra ilíquida, ao credor é licito promover

simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação

desta”. Trata-se de disposição muito semelhante ao art. 586, § 2º, CPC, mas

que esclarece dever a liquidação da parte ilíquida da sentença ser feita em

autos apartados.

Os §§ 1º e 2º do art. 586 do Código de Processo Civil não foram

revogados, pois permanecem aplicáveis ás execuções fundadas em certos

títulos que, mesmo sendo judiciais, não são antecedentes de processo civil

cognitivo (art. 475-N, II, IV, VI, do CPC ), justificando a presença da execução

como procedimento originário (embora também não mais sejam cabíveis os

embargos do executado na hipótese, a não ser a execução contra a Fazenda

Pública ).

O § 1º do art. 475-A dispõe, ainda que : “ Do requerimento de liquidação

de sentença será a parte intimada, na pessoa de seu advogado”. Trata-se de

disposição semelhante ao revogar parágrafo único do art. 603 do CPC,

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acrescentado pela lei 8.898/1994, facilitando a intimação do réu quanto ao

inicio da liquidação.

Com o nítido objetivo de obter maior celeridade na satisfação do direito,

estabelece o novo § 2º do art. 475-A do CPC que: “A liquidação poderá ser

requerida na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no

juízo de origem, cumprimento ao liquidante instruir o pedido com cópias das

peças processuais pertinentes”.

Trata-se de faculdades do autor, sendo o recurso mencionado aquele

contra a decisão condenatória (como a apelação, o agravo de instrumento, o

agravo interno, os embargos infringentes, o recurso especial e o recurso

extraordinário e mesmo os embargos de declaração das decisões destes

recursos arrolados), não se exigindo o seu recebimento no efeito meramente

devolutivo.

Com o mesmo escopo, de acordo com o § 3º do art. 475-A do CPC: “Nos

processos sob procedimentos comum sumario, referidos no art. 275, II, alínea d

e e desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprido o juiz, se for o caso, fixar

de plano, a seu prudente critério, o valor devido”.

Isso significa que nas causas submetidas ao procedimento sumário

qualquer que seja o valor “de ressarcimento por danos em acidente de veículos

de via terrestre” e “de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados

em acidentes de veículos”, o juiz deve proferir sentença fixado, desde já, o

valor devido, ainda que por seu prudente critério.

No procedimento dos Juizados Especiais Civis, a Lei 9099/1995, no art.

38, parágrafo único, também dispõe que: “Não se admitirá sentença

condenatória por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido”.

O art. 459, parágrafo único, do CPC, por sua vez, estabelece ser “vedado

ao juiz proferir sentença ilíquida” quando o autor tiver formulado pedido certo.

Na realidade, liquida é a obrigação contida na decisão. A expressão

“sentença liquida”, portanto, significa o provimento jurisdicional cujo comando

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impõe a condenação em “obrigação liquida. Apesar de ser uma expressão já

consagrada, trata-se de uma verdadeira “figura de linguagem” (eclipse).

É preciso destacar que não só as obrigações em que há completa

especificação do quantum devido, sem necessidade de qualquer conta

aritmética, definem-se como liquidas; também as obrigações em que todos os

elementos são expressos e conhecidos, podendo ser apurado o valor

monetário efetivo por simples e meros cálculos aritméticos, sem duvida

também representam obrigações e sentenças liquidas .

Por isso, a sentença que dependa de simples cálculos matemáticos não

necessita, em termos técnico jurídicos, de ser liquidada. Na realidade, a

chamada “liquidação” por cálculos nada tem de liquidação propriamente, mas é

simples expressão em números da obrigação que já se encontra totalmente

determinada quanto a seu objeto, sendo, portanto, liquida. Tanto é assim que,

como já mencionado, com a Lei 8.898/1994 deixou de existir está “liquidação

por cálculos” no civil.

Explicitados estes aspectos, cabe frisar que, de acordo com o novo art.

475-A, § 3º, do CPC, exige-se não apenas que a sentença seja meramente

liquida, mas que o juiz fixe, de plano, a seu prudente critério, “o valor devido”.

O art. 475-B, caput, do CPC, acrescentado pela Lei 11.232/2005, de

forma semelhante ao caput do art. 604, estabelece que dependendo a

determinação do valor da condenação, apenas, de cálculos aritméticos, “o

credor requererá o cumprimento da sentença, na forma do art. 475-J desta Lei,

instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do calculo”.

Ou seja, nesta hipótese, não há nem mesmo o atual incidente processual

de liquidação, devendo-se dar inicio, desde já, ao efetivo cumprimento da

sentença.

Embora os §§ 1º e 2 º do art. 604 também tenham sido formalmente

revogados, suas disposições foram trazidas para os §§ 1º a 4º do art. 475-B do

CPC.

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A previsão do art. 606 do CPC ora revogado passou a constar do art. 475-

C, no sentido de que a liquidação por arbitramento far-se-à quando:

“determinado pela sentença ou convencionado pelas partes” (inciso I ); “o exigir

a natureza do objeto da liquidação “ (inciso II).

O art. 475-D corresponde à idêntica previsão do também revogado art.

607 do CPC.

Como já destacamos, com a Lei 11.232/2005, a liquidação de sentença,

seja por arbitramento, seja por artigos, é mero incidente processual, e não da

origem a processo autônomo.

Por isso, o parágrafo único do art. 475-D estabelece que, uma vez

apresentado o laudo, sobre o qual poderão as partes manifestar-se no prazo de

dez dias, o juiz proferirá decisão ou designará, se necessário, audiência. Trata-

se, portanto, de decisão interlocutória.

Tanto é verdade que art. 475-H estabelece ser cabível o “agravo de

instrumento” da decisão de liquidação. Como não podia deixar de ser, o art.

520, III, foi revogado pelo art. 9º da Lei 11.232/2005, pois não havendo mais

“processo” nem “sentença” de liquidação, a apelação não é mais cabível na

hipótese.

Estas assertivas aplicam-se, do mesmo modo, para a liquidação por

artigos, que com a Lei 11.232/2005, deixa de ter inicio com o ajuizamento de

ação propriamente.

O art. 475-E, correspondente ao revogado art. 608 do CPC, estabelece:

“Far-se-á a liquidação por artigos, quando, para determinar o valor da

condenação, houver necessidade de alegar e provar fato novo”.

O art. 475-F, que corresponde ao art. 609, prescreve: “Na liquidação por

artigos, observar-se-á, no que couber, o procedimento comum (art. 272)”.

Frise-se que o procedimento comum pode ser “ordinário” ou “sumério”.

Mesmo havendo esta aplicação subsidiária do procedimento comum, a

liquidação por artigos deixa de caracterizar processo autônomo, passando a

ser mero incidente processual, mesmo com a presença de atos processuais de

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natureza cognitiva, terminando com decisão interlocutória, passível de ser

impugnada por agravo de instrumento.

Por fim, o art. 475-G transcreve o disposto no revogado art. 610 do CPC,

no sentido de ser “defeso, na liquidação, discutir de novo a lide ou modificar a

sentença que a julgou”.

Diante das novas disposições da Lei 11.232/2005, principalmente tendo

em vista o novo art. 475-J do CPC, também foi revogado o art. 611.

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41- Jurisprudências

Número do processo:

1.0079.04.121688-2/001(1)

Númeração Única:

1216882-20.2004.8.13.0079

Relator: Des.(a) DUARTE DE PAULA Relator do Acórdão: Des.(a) DUARTE DE PAULA Data do Julgamento: 05/03/2008 Data da Publicação: 26/07/2008 Inteiro Teor: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO - TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL - ART. 475 DO CPC ALTERADO PELA LEI 11.232/2005 - EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO - RECURSO CABÍVEL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - ERRO ESCUSÁVEL - FUNGIBILIDADE - PRAZO DO RECURSO ADEQUADO - NÃO-CONHECIMENTO - VOTO VENCIDO. Embargos à execução fundados em título executivo judicial, após a entrada em vigor da lei 11232/05, passam a ser denominados impugnação ao cumprimento de sentença, devendo observar o procedimento previsto nos arts. 475-J e seguintes do CPC, que prevê o recurso de apelação em caso de extinção da execução. Havendo fundada dúvida doutrinária e jurisprudencial sobre qual o recurso cabível contra decisão que julgar os Embargos à execução, agora denominados impugnação, não há falar em erro grosseiro se o recurso ajuizado de forma equivocada tiver sido interposto no prazo do recurso adequado, aplicando-se o princípio da fungibilidade recursal..

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0079.04.121688-2/001 - COMARCA DE CONTAGEM - APELANTE(S): TÊXTIL RED POINT LTDA - APELADO(A)(S): SIOMARA PAIVA SEIBERT - RELATOR: EXMO. SR. DES. DUARTE DE PAULA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DE OFÍCIO, NÃO CONHECER DO RECURSO, VENCIDO O RELATOR.

Belo Horizonte, 05 de março de 2008.

DES. DUARTE DE PAULA - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

SESSÃO DO DIA 20.02.2008

O SR. DES. DUARTE DE PAULA:

Inconformada com a r. sentença que rejeitou os embargos à execução aviados em face da exeqüente SIOMARA PAIVA SEIBERT, insurge-se a embargante TÊXTIL RED POINT LTDA., almejando a reforma do decisum.

Alega a empresa apelante não ter sido determinada a aplicação de correção monetária sobre o valor da condenação fixado na r. sentença exeqüenda, mas

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que, por tratar-se de imperativo legal o direito à atualização monetária e aos juros de mora, torna-se necessário determinar o momento em que se dá a aplicação do direito à correção, entendendo incidir tão-somente a partir do trânsito em julgado da sentença que embasou a execução embargada nestes autos, por ser o momento em que restou configurado o direito da apelada e quantificado o dano moral, alertando que os cálculos apresentados na execução consideram a correção monetária a partir da citação, devendo ser decotado o excesso.

Impugna, outrossim, os honorários sucumbenciais, arbitrados em seiscentos reais, aduzindo não ter sido obedecido o disposto no § 4º do artigo 20 da lei adjetiva, por não ter a recorrida apresentado impugnação aos embargos à execução, sequer juntando instrumento de mandato, vício a ser sanado, sob pena de nulidade, não tendo o seu patrono praticado atos a merecerem elevada valoração.

Conheço do recurso, observados os requisitos de admissibilidade.

Cuida-se de apelação interposta contra decisão proferida nos autos dos embargos à execução de título judicial promovida pela apelada em face da apelante, consistente em sentença proferida em ação de indenização por danos morais, tendo sido a ora recorrente condenada no pagamento de cinco mil reais, além dos ônus da sucumbência, consoante cópia jungida às f. 8/11, decidindo por bem o extinto TRIBUNAL DE ALÇADA DE MINAS GERAIS reformar o r. comando sentencial tão-somente quanto aos honorários dos procuradores da ora apelada, chancelando-o quanto ao mais.

Cinge-se o inconformismo recursal à definição, em primeiro plano, do termo inicial da aplicação da correção monetária, não havendo a apelante se insurgido quanto à sua incidência na execução, reconhecendo tratar-se de imperativo legal, sendo a matéria afeta ao período da aplicação da atualização monetária passível de discussão na via eleita.

Pode o eventual excesso de execução ser argüido em embargos do devedor, conforme dispunha o antigo artigo 741 do Código de Processo Civil, então em vigor, e agora o artigo 745, com o advento da Lei 11.382/06.

Razão, porém, não assiste à apelante.

A correção monetária da indenização por danos morais deve incidir a partir da r. sentença que fixou a verba, pois no momento da sua prolação é que foram valoradas as circunstâncias particulares do caso e a realidade econômica vivenciada no país. Não se trata de um plus à condenação, mas apenas de mera atualização da moeda corroída pela inflação, devendo ser aplicada sobre qualquer débito decorrente de decisão judicial e tratando-se de danos morais, conta-se a partir da r. sentença exeqüenda, quando foi arbitrado o valor, que foi confirmado em segundo grau de jurisdição (f. 13/22).

É esse o entendimento do colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

"DANOS MATERIAIS E MORAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE AÉREO. ATRASO NO VÔO. CODECOM. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO TRANSPORTADOR AÉREO. AGÊNCIA DE TURISMO. CULPA NÃO COMPROVADA.

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CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS. INCIDÊNCIA. (...) 4. Esta Corte consolidou entendimento consoante o qual, nas indenizações por dano moral, o termo a quo para a incidência da correção monetária é a data em que foi arbitrado o valor. Precedentes" (REsp. 797.836/MG, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 29/05/06).

Não procede, portanto a tese de incidência da correção monetária apenas a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória, diante do transcurso de tempo capaz de tornar a indenização insuficiente ao seu fim, considerada a inflação no período.

Examinando a peça inicial da execução, nota-se que a exeqüente, aqui apelada, pleiteia corretamente a aplicação da correção monetária a partir da r. decisão monocrática (f. 24), não comprovando a apelante que os cálculos apresentados incluem atualização monetária a partir da citação, como alegado, sendo seu o ônus da prova, dele não se desincumbindo, abrindo mão da perícia contábil ao deixar de recolher os honorários do perito, como se observa dos autos, não havendo, portanto, excesso a ser decotado da execução, inexistindo nulidade nos cálculos a ser decretada.

Prosseguindo, não há nada a prover quanto ao descontentamento do recorrente acerca dos honorários advocatícios fixados pelo MM. Juiz a quo, por não se distanciarem dos critérios do § 4º e das alíneas do § 3º do artigo 20 da lei processual, mesmo não tendo sido impugnados os embargos à execução, por haverem os causídicos peticionado algumas vezes nos autos, comparecendo na audiência realizada em junho de 2006, não representando a cifra de seiscentos reais, valor elevado nesta ação de embargos do devedor, relativa à execução de mais de nove mil reais. De mais a mais, a apresentação de procuração no processo principal dispensa o seu traslado para os autos dos embargos à execução, como se vê da jurisprudência do extinto TRIBUNAL DE ALÇADA DE MINAS GERAIS:

"É dispensável a juntada de nova procuração aos incidentes do processo autuados em apartado, se a procuração "ad judicia" já consta dos autos principais..." (Apelação Cível 401.183-6, Rel. Dárcio Lopardi Mendes, j. 25/09/03).

"Verificada a existência de procuração do advogado da exeqüente nos autos principais da execução, torna-se irrelevante a sua juntada para contestar os embargos de terceiro, cuja falta de poderes específicos para tanto não caracteriza defeito de representação..." (Apelação Cível 401.183-6, Rel. Nilson Reis, j. 14/08/01).

Sendo assim, não há motivos hábeis à alteração da r. sentença objurgada, valendo ressaltar ficar o reexame limitado às matérias especificamente combatidas na apelação, ante o princípio do "tantum devolutum quantum appellatum", destacando-se não ter a apelante renovado a tese inicial quanto à inoportunidade do índice de correção monetária adotado nos cálculos apresentados pela apelada.

Forte nestes motivos, nego provimento ao recurso, mantendo a r. decisão primeva da forma como aqui aportou.

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Custas recursais, pela apelante.

A SRª. DESª. SELMA MARQUES:

VOTO

Cuida-se de apelação interposta contra a r. sentença que julgou improcedentes os embargos à execução opostos por Têxtil Red Point Ltda. em relação à execução promovida por Siomara Paiva Seibert.

Insurge-se o embargante ao argumento de que não houve determinação da aplicação da correção monetária sobre o valor da condenação fixado na sentença; impugna, outrossim, quanto à condenação no pagamento de honorários.

O eminente Desembargador Relator nega provimento ao recurso.

Como Revisora, suscito a preliminar de não conhecimento do recurso, porquanto intempestivo.

Cumpre registrar que, com a entrada em vigor da Lei 11.232/2005, os embargos passaram a ser denominados "impugnação", e a decisão proferida, desde que não importe em extinção da execução, deve ser atacada por meio de agravo de instrumento, e não de apelação.

A Lei processual brasileira é aplicável de imediato, e atinge os processos futuros, bem como aqueles que estão em andamento, vige o princípio de que o tempo rege o ato (tempus REGIT actum), ou seja, as leis relativas ao procedimento são aplicáveis de forma natural e imediata aos processos em curso, respeitando-se, é claro os atos já exauridos. Neste sentido, cumpre ainda trazer a tona o art. 1.211 do CPC, que, quando da entrada em vigor do Código, determinou sua aplicação desde logo aos processos pendentes.

Sobre o tema leciona Dinamarco:

"Como toda lei, a processual tem sua dimensão temporal. Sua eficácia vai, em princípio, de quando entra em vigor até que revogada. Como toda lei, a processual vigente e eficaz rege os atos realizados sob seu império, os quais serão, segundo os seus desígnios, atos devidos ou vedados, eficazes ou ineficazes, válidos ou inválidos. Sabido que ex facto oritur jus, a valoração jurídica dos fatos realizados sob o império de uma lei é feita a partir do que ela dispõe e tal será o metro pelo qual se considerarão ou não constituídos, modificadas ou extintas as situações jurídicas visadas pelo fato.

Daí decorre que, em princípio, toda lei tem aplicação imediata, disciplinando fatos e situações jurídicas a partir de quando entra em vigor". (A Reforma do Código de Processo Civil. 1995. p. 36).

E, ainda:

"Começo, então, por afirmar que se a execução da sentença que condena a pagar quantia certa não tiver começado no momento do início da vigência da Lei 11.232/05 já será aplicável o novo sistema, inclusive em relação à

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necessidade de intimação do devedor para pagar a dívida sob pena de multa, na forma do art. 475-J do CPC.

Se a execução já tiver sido pleiteada, mas o executado ainda não tiver sido citado, deverá o juiz, de ofício, deliberar pela mudança de rumo do feito, determinando a intimação do executado para pagar em quinze dias, na forma do disposto no art. 475-J, aplicando-se daí por diante, o novo regime" (Alexandre Freitas Câmara. A Nova Execução de Sentença. 2ª ed. Lumen Júris Ed. p. 179).

A questão relativa ao procedimento a ser aplicado aos embargos à execução que tramitavam antes da entrada em vigor da Lei 11.232/2005, é de fato complicada, e tem gerado acirradas dúvidas doutrinárias e jurisprudenciais.

Assim, não há falar, portanto, em erro grosseiro na interposição de recurso de apelação contra decisão que julgou os embargos opostos antes da entrada em vigor da Lei 11.232/2005, desde que interposta no prazo do recurso próprio. Não obstante a nova lei ter de forma expressa atribuído outra denominação e outro procedimento aos embargos, mormente no que tange ao recurso cabível contra decisão que julgar improcedente a impugnação, que é o de agravo de instrumento, e não mais a apelação, entendo, em regra, ser aplicável o princípio da fungibilidade recursal, para receber e processar o recurso de apelação como agravo de instrumento.

Athos Gusmão Carneiro foi taxativo ao afirmar que "os processos de execução que se encontravam pendentes em juízo quando da entrada em vigor da Lei 11.232/2005, o que ocorreu em 24 de junho de 2006, devem ser regidos pelas leis processuais anteriores (Cumprimento da Sentença Cível. 2007, p. 127).

Sobre o tema se manifestou, ainda, o TJRS:

"EMENTA: AGRAVO INTERNO. DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANUTENÇÃO. Caso em que o provimento judicial atacado envolve uma sentença e, como tal, sujeita ao recurso de apelação, conforme os termos do art. 162, §1º, combinado com o art. 513, do CPC. O simples fato de a sentença dos embargos à execução ter sido lançada quando já vigente a Lei 11.232/2005, que trata do cumprimento da sentença, não torna aplicável o disposto no art. 475-M, §3º, do CPC. Basicamente, porque a execução e os embargos de devedor estão tramitando desde data anterior à vigência dessa lei. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. VOTO VENCIDO" (Agravo Nº 70018745356, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leo Lima, Julgado em 28/03/2007).

Ainda que não esteja pacificado na doutrina e na jurisprudência qual o recurso cabível contra decisão dos embargos do devedor ajuizados antes da Lei 11.232/2005 e julgados após a vigência da Lei, entendo que em matéria processual não há como se furtar ao princípio do tempus REGIT actum, razão pela qual o recurso cabível é o agravo de instrumento.

Todavia, para que seja aplicado o princípio da fungibilidade, necessário que o prazo em que foi interposto o recurso seja o correto para interposição do recurso adequado. Ou seja, deveria a apelação ter sido interposta no prazo

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possível de se conhecer do agravo de instrumento, o que não ocorreu no caso.

A sentença foi publicada no Diário Oficial em 25 de abril de 2007, a contagem do prazo recursal teve início em 26 de abri de 2007, inclusive, findando em 5 de maio de 2007 - domingo, sendo prorrogado para o dia 1 de maio de 2007, sendo a apelação interposta somente em 10 de maio de 2007.

Neste sentido, o STJ:

"NÃO SE ADMITE O PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL SE INEXISTENTE DÚVIDA OBJETIVA NA DOUTRINA E NA JURISPRUDÊNCIA A RESPEITO DO CABIMENTO DO RECURSO NA ESPÉCIE. INAPLICÁVEL, ADEMAIS, REFERIDO PRINCÍPIO, EM VIRTUDE DO RECURSO INADEQUADO NÃO TER SIDO INTERPOSTO NO PRAZO PRÓPRIO" (AgRg no Ag 126734/SP; AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO-1996/0064859-0Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA).

Mediante tais considerações, suscito a preliminar de não conhecimento do recurso interposto.

Custas recursais, pela apelante.

O SR. DES. DUARTE DE PAULA:

VOTO

Pela ordem.

A questão da propriedade do recurso, quanto a rejeição de embargos interpostos na execução de sentença, especialmente iniciada antes em vigor da Lei 11.232, de fato não está pacificada na doutrina.

No caso dos autos, o processo de indenização, teve início a execução de sentença, pelo rito antigo, no dia 07/07/2003, sendo realizada a penhora no dia 03/12 do mesmo ano, havendo a devedora interposto embargos a execução, recebidos no efeito suspensivo no dia 05/02/2004.

A Lei 11.232 somente veio a vigorar no dia 24/06/2006. Assim, a audiência no processo de embargos ocorreu no dia 01/06/2006, ainda se deu sob a égide da lei anterior e sendo por sentença julgados improcedentes os embargos para prosseguir na execução, no dia 16/04/2007, com publicação no órgão oficial, no dia 23/04/2007, aviou a apelante TÊXTIL RED POINT Ltda., apelação no dia 10/05/2007.

Na verdade, o regime jurídico adotado era o da execução de sentença, contido no livro II do CPC, tendo ultimado nesta fase, não só a inicial, a citação, a penhora, intimação da penhora, embargos do devedor e audiência. A lei processual, conforme definido por Chiovenda, tem aplicação imediata, mas expressamente declara o art. 1211 do CPC que as novas disposições do Processo Civil, ao entrarem em vigor, aplicar-se-ão aos processos pendentes. No entanto, no caso em espécie, não houve cumprimento de sentença, não houve impugnação e, por mais que queiramos dar aos embargos e a tramitação observada nestes autos, dissocia inteiramente da norma renovadora, que altera

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não só alguns dispositivos legais para a execução da sentença, mas todo o sistema de satisfação do julgado.

Diz Nelson Nery Júnior, em Tempus REGIT Processum: apontamentos sobre Direito transitório processual (recursos, cumprimento da sentença e execução de título extrajudicial), estudos em homenagem ao Professor Humberto Theodoro Júnior, Execução Civil, Editora dos Tribunais, 2007, p. 904: "A proposta de nova regra de direito intertemporal processual, idealizada por Remo Caponi, regra essa que denomina de tempus REGIT processum, segundo a qual a exigência da ordem pública processual impõe a aplicação da nova lei aos processos em curso, só não podendo modificar a litispendência, "única situazione acquisita" (Rivista di Diritto Processuale, Padova: Cedam, ano LXI, p. 449-462, 2006), não pode ser aplicada ao direito brasileiro, em face da expressa disposição da Constituição Federal, art. 5º, inciso XXXVI que garante a todos o respeito da lei nova ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada.

Havendo sido praticados atos processuais jurídicos perfeitos, estes não podem ser atingidos nem modificados pela superveniência da lei processual nova. Para nós, no Brasil, tempus REGIT processum significa que a lei nova se aplica aos processos em curso apenas para o futuro. Mesmo para o direito italiano, a proposta de Remo Caponi é de iure condendo, pois de iure condito o entendimento doutrinário predominante é no sentido da irretroatividade da lei nova processual, que não pode atingir atos já praticados no processo em curso."

Assim, com esse entendimento, citando Humberto Theodoro e Nelson Nery, entende que, uma vez iniciado o processo de execução do título judicial, sob o regime da lei anterior, não se poderá, sob a égide do entendimento de cumprimento da sentença, modificar o procedimento do curso da ação.

É que o processo de execução de sentença, como aqui processado, goza de autonomia em atos determinados processualmente que foram aqui executados e transmudar, na fase de sentença ou na fase de recurso, seria tripudiar sobre o ato jurídico perfeito e o direito adquirido.

Da análise que fiz destas premissas, cheguei à conclusão de que, neste caso específico, é de se conhecer do recurso como apelação, em respeito ao direito adquirido à regularidade do processo de execução de sentença.

Com tais argumentos, afasto a preliminar, data venia.

O SR. DES. FERNANDO CALDEIRA BRANT:

VOTO

Sr. Presidente, estou pedindo vista na preliminar.

SESSÃO DO DIA 05.03.2008

O SR. DES. PRESIDENTE:

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 20.02.2008, a pedido do

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Desembargador Vogal, quando, então, a Desembargadora Revisora suscitou preliminar de não-conhecimento do recurso, que foi rejeitada pelo Relator.

O SR. DES. FERNANDO CALDEIRA BRANT:

VOTO

Em que pesem os fundamentos trazidos pelo eminente Relator em seu voto, acompanho a nobre Revisora, na preliminar suscitada, esclarecendo que, com a entrada em vigor da Lei 11.232/05, em junho de 2006, houve considerável reforma no Código de Processo Civil, passando os embargos à execução a serem denominados impugnação quando se trate de cumprimento de sentença (art. 475-I e seguintes do CPC).

Dessa maneira, diante do princípio tempus REGIT actum, para o caso em exame, devem ser aplicadas as alterações trazidas pela Lei 11.232/05. Venho entendendo, tal como foi exposto pela eminente Desembargadora Revisora, que, em que pese o art. 475-M, §3º, do CPC definir como agravo de instrumento o recurso cabível contra decisão que resolve impugnação, pelo princípio da fungibilidade é possível conhecer a apelação interposta, desde que observado o prazo legal de 10 dias previsto para o agravo de instrumento.

Firme em tais considerações, uma vez que o recurso de apelação apresentado pela recorrente ultrapassou o prazo cabível para o agravo de instrumento, acompanho a Desembargadora Revisora, para não conhecer da apelação.

SÚMULA : DE OFÍCIO, NÃO CONHECERAM DO RECURSO, VENCIDO O RELATOR.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0079.04.121688-2/001

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Número do processo:

1.0024.00.018871-4/001(1)

Númeração Única:

0188714-35.2000.8.13.0024

Relator: Des.(a) DUARTE DE PAULA Relator do Acórdão: Des.(a) DUARTE DE PAULA Data do Julgamento: 17/12/2008 Data da Publicação: 16/01/2009 Inteiro Teor: EMENTA: AÇÃO MONITÓRIA - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - ALTERAÇÕES DA LEI 11.232/05 - APLICABILIDADE IMEDIATA - INTIMAÇÃO PESSOAL DO EXECUTADO - FALTA DE PREVISÃO LEGAL - INTIMAÇÃO NA PESSOA DOS PROCURADORES - POSSIBILIDADE - INTELIGÊNCIA DO ART. 475-J, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. A Lei 11.232/05 trouxe nova disposição acerca da execução de sentença, a qual deixou de ser processada por meio de procedimento autônomo para correr no corpo do processo de conhecimento, como mera fase de cumprimento de sentença. Consoante tendência que vem se consolidando em nossos pretórios, não há, especialmente, se ausente o devedor, necessidade de sua intimação pessoal para cumprimento espontâneo da obrigação, na forma do art. 475-J, do Código de Processo Civil, podendo ser dirigida a seu advogado, através da imprensa oficial.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 1.0024.00.018871-4/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - AGRAVANTE(S): BANCO BANDEIRANTES S.A. - AGRAVADO(A)(S): CARLOS ALBERTO LIMP - RELATOR: EXMO. SR. DES. DUARTE DE PAULA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 11ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 17 de dezembro de 2008.

DES. DUARTE DE PAULA - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. DUARTE DE PAULA:

VOTO

Trata-se de agravo de instrumento interposto pelo BANCO BANDEIRANTES S.A. contra a r. decisão proferida nos autos de cumprimento de sentença movida em face de CARLOS ALBERTO LIMP, que indeferiu o pedido para que fosse o executado intimado na pessoa de seu advogado.

Aduz o agravante que a r. decisão agravada viola o disposto na Lei 11.232/05, que acrescentou o art. 475-J ao Código de Processo Civil, que admite a possibilidade de o devedor ser intimado, na pessoa de seu advogado, a fim de que seja efetuado o pagamento do valor previsto no título executivo judicial.

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Conheço do recurso, presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

É notório que o Código de Processo Civil vem sofrendo nos últimos tempos alterações significativas na sua estrutura, cujo objetivo principal é o de transformar o processo em autêntica ferramenta apta a atender às finalidades do direito material, de forma ativa, célere e, principalmente, com a efetividade imprescindível.

Como é sabido, com a entrada em vigor da Lei 11.232, de 23/12/05, inúmeras alterações ocorreram no procedimento relativo à execução de títulos executivos judiciais, tendo sido acrescido ao Título VIII do Código de Processo Civil, que regula o procedimento ordinário, o Capítulo X, que trata do cumprimento da sentença.

Dito isso e analisando a questão posta no presente feito, verifica-se que o inconformismo do agravante prende-se ao indeferimento do pedido de intimação do advogado do devedor no novo procedimento de cumprimento de sentença, feito de acordo com o disposto art. 475-J, do Código de Processo Civil, introduzido pela Lei 11.232/05.

Cumpre ressaltar, que por se tratar de alteração legislativa recente, não se encontra a posição pacificada na doutrina ou na jurisprudência, que vem pacificando o entendimento, com interpretação sistemática com outros dispositivos do procedimento.

Dessa forma, apresento uma interpretação que me parece ser a mais condizente com a vontade do legislador, a mens legis, ao perpetrar tantas mudanças no procedimento executivo que, frisa-se, deixou de ser um processo autônomo à ação de conhecimento.

Nesse diapasão, verifica que as alterações na legislação foram realizadas para dar mais celeridade e eficiência à execução dos julgados, trazendo rapidez e efetividade ao cumprimento das sentenças, com eliminação de procedimentos considerados entraves a real satisfação do credor como ao andamento do processo executivo.

Assim, entendo, não mais ocorrendo a citação do devedor para pagar ou nomear bens a penhora, resta despicienda a sua intimação pessoal, principalmente, quando não localizado ou ausente, o que demandaria tempo relevante do procedimento, e não produziria o almejado efeito da celeridade, constituindo uma simples mudança de forma, sem alteração do conteúdo.

Coadunando a tal posicionamento, prelecionam NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NEY, in verbis:

"O devedor deverá ser intimado para que, no prazo de quinze dias a contar da efetiva intimação, cumpra o julgado e efetue o pagamento da quantia devida. A intimação do devedor deverá ser feita na pessoa de seu advogado, que é o modo determinado pela Reforma da Lei 11.232/05 para a comunicação do devedor na liquidação de sentença e na execução para cumprimento da sentença. A intimação do advogado do devedor, que se faz, de regra, pela imprensa oficial, para cumprimento do julgado é ato de ofício do juiz, em decorrência do impulso oficial do CPC 262..." (Código de Processo Civil

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Comentado, 9ª Edição. Editora Revista dos Tribunais, p. 641).

Com efeito, denota que o artigo 475-J, CPC, determina que o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, efetue esse pagamento no prazo de quinze dias, e como bem observou o ilustre e culto magistrado, mesmo em fase de liquidação de sentença, não poderia entender possível a intimação na pessoa do advogado, se a obrigação é personalíssima e deve ser cumprida pessoalmente somente pelo devedor.

Para tanto, deverá ser intimado o devedor a vir cumprir espontaneamente a sentença na pessoa de seu advogado, por ato de ofício do juiz, vale dizer, até mesmo sem necessidade de provocação.

Dessa forma, quis o legislador que a ação de conhecimento, a liquidação da sentença e o seu efetivo cumprimento se dessem em um único processo, sem a instauração de um novo procedimento, dispensando-se a renovação da citação, pelo que não há falar em intimação pessoal do devedor, o que afastaria a nova sistemática do procedimento executivo.

Neste sentido, o colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, já teve oportunidade de decidir:

"LEI 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor" (REsp. 954859/RS, Recurso Especial 2007/0119225-2, Rel. Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ 27/08/07 p. 252).

Nesse mesmo sentido, ao analisar casos semelhantes, tem se manifestado a jurisprudência deste egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, reconhecendo como legitima a intimação do advogado do devedor para que dê cumprimento à sentença exeqüenda:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE SENTENÇA - INTIMAÇÃO DO DEVEDOR EM NOME DE SEU ADVOGADO - DIÁRIO OFICIAL - ART. 475-J, DO CPC. A intimação a que se refere o art. 475-J, do Código de Processo Civil, introduzido pela Lei 11.232/05, faz-se na pessoa do advogado do devedor, pela imprensa oficial. (Agravo de Instrumento 1.0024.97.036980-7/001, Rel. Des. Alvimar de Ávila, j. 24/01/07).

AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUPRIMENTO DE SENTENÇA - QUANTIA CERTA - INTIMAÇÃO NA PESSOA DO ADVOGADO. Conforme a reforma do CPC, Lei 11.232/05, a intimação do devedor para o cumprimento de sentença, tratando-se de obrigação por quantia certa, deve ser feita na pessoa de seu advogado, mediante publicação no Diário Oficial de Minas Gerais. (Agravo de Instrumento 1.0024.03.922304-5/001, Rel. Des. Cabral da Silva, j. 25/09/07).

AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DA SENTENÇA - DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR - DESPROVIMENTO.

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Em se tratando de obrigação de pagar quantia certa, não há falar na necessidade de intimação pessoal dos devedores para adimpli-la, bastando que a intimação dê-se na pessoa de seu procurador, via publicação no Diário Oficial, a exemplo do disposto no §1º, do artigo 475-J, do CPC. (Agravo de Instrumento 1.0024.07.447065-9/001, Rel. Des. Batista de Abreu, j. 27/07/07).

PROCESSUAL CIVIL - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - INTIMAÇÃO PESSOAL DO EXECUTADO -FALTA DE PREVISÃO LEGAL - INTIMAÇÃO NA PESSOA DOS PROCURADORES - RECURSO PROVIDO. O devedor deve ser intimado para que, no prazo de quinze dias a contar da efetiva intimação, cumpra o julgado e efetue a pagamento da quantia devida. A intimação do devedor deve ser feita na pessoa de seu advogado, que é o modo determinado pela Reforma da Lei 11232/05 para comunicação do devedor na liquidação de sentença e na execução para cumprimento da sentença. (Agravo de Instrumento 1.0701.03.051884-2/001, Rel. Des. José Flávio de Almeida, j. 24/03/07).

AGRAVO DE INSTRUMENTO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - INTIMAÇÃO DO DEVEDOR - ART. 475-J, CPC. De acordo com a nova sistemática adotada pelo Código de Processo Civil, a intimação do devedor para cumprimento de obrigação por quantia certa estabelecida em sentença, deve ser feita através do seu advogado, mediante publicação no Diário Oficial. Agravo provido. (Agravo de Instrumento 1.0024.03.163314-2/001, Relª. Desª. Evangelina Castilho Duarte, j. 20/11/07).

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. LEI 11.232/05. INTIMAÇÃO DO DEVEDOR PARA PAGAMENTO. MULTA. ART. 475-J, DO CPC. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. A comunicação do devedor, em sede de cumprimento da sentença, se dá mediante intimação de seu procurador, o que ocorre por meio do Diário Oficial. (Agravo de Instrumento 1.0073.01.002900-4/001, Rel. Des. Bitencourt Marcondes, j. 08/03/07).

EXECUÇÃO - INTIMAÇÃO PESSOAL DO EXECUTADO - IMPOSSIBILIDADE - INTIMAÇÃO NA PESSOA DE SEU ADVOGADO. Em havendo transcorrido o prazo para o cumprimento voluntário pelo devedor da obrigação constante da sentença condenatória transitada em julgado e, interpondo o credor petição requerendo o cumprimento da referida sentença, deverá o Juiz determinar a intimação do executado na pessoa de seu advogado, na forma do art. 475-J do CPC. (Agravo de Instrumento 1.0702.01.012808-1/001, Rel. Des. Unias Silva - j. 27/03/07).

Pelo exposto, dou provimento ao recurso, para reformar a r. decisão agravada, determinando que a intimação do devedor se dê pelo seu advogado, pela imprensa oficial.

Custas recursais, pelo agravado.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): SELMA MARQUES e AFRÂNIO VILELA.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO.

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.0024.00.018871-4/001

Número do processo:

1.0702.06.266251-6/001(1)

Númeração Única:

2662516-57.2006.8.13.0702

Relator: Des.(a) PEREIRA DA SILVA Relator do Acórdão: Des.(a) PEREIRA DA SILVA Data do Julgamento: 20/11/2007 Data da Publicação: 30/11/2007 Inteiro Teor:

EMENTA: EMBARGOS À EXECUÇÃO. ADVENTO DA LEI 11.232/05. RECEBIMENTO COMO IMPUGNAÇÃO À EXECUÇÃO. REJEIÇÃO DA IMPUGNAÇÃO. CONTINUIDADE DA EXECUÇÃO. RECURSO CABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO E NÃO APELAÇÃO. ARTIGO 475-M, DO CPC. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. Em que pese a execução ter se iniciado antes da entrada em vigor da Lei 11.232/2005, o recurso cabível contra a decisão que rejeita os embargos à execução, recebidos como impugnação, é o agravo de instrumento, nos termos do § 3°, do Artigo 475-M, do Código de Processo Civil. Não se aplica o princípio da fungibilidade recursal porque o recurso de apelação foi interposto após o prazo de dez dias previstos para a interposição do agravo de instrumento. Recurso não conhecido.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0702.06.266251-6/001 - COMARCA DE UBERLÂNDIA - APELANTE(S): CENTER LAR MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO LTDA E OUTRO(A)(S) - APELADO(A)(S): PAULO REGIS DA SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. PEREIRA DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 10ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NÃO CONHECER DO RECURSO.

Belo Horizonte, 20 de novembro de 2007.

DES. PEREIRA DA SILVA - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. PEREIRA DA SILVA:

VOTO

Trata-se de recurso de apelação aviado pela empresa CENTER LAR MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO LTDA. e OUTROS contra a decisão proferida pela MMª. Juíza de Direito da 3ª. Vara Cível da Comarca de Uberlândia, que rejeitou os Embargos à Execução, recebidos como impugnação, interposta em desfavor da

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execução de sentença que lhes move PAULO RÉGIS DA SILVA, ora Apelado.

Os Apelantes, em suas razões recursais de fls. 38/50, defendem a tese de ilegitimidade passiva dos fiadores na execução e alegam existência de excesso de execução.

O Apelado, em suas contra-razões de apelação (fls. 56/60), pugna pela manutenção da decisão recorrida.

Este, o breve relatório.

P R E L I M I N A R

NÃO-CONHECIMENTO DO RECURSO

Estou instalando, de ofício, a preliminar de não conhecimento do recurso, por não ser este o recurso cabível para combater a decisão guerreada.

A execução de sentença foi ajuizada ainda nos termos do procedimento antigo, antes do advento da Lei 11.232/2005.

Todavia, os Embargos à Execução foram aviados em 13/06/2006, e a decisão prolatada em 14/02/2007, já quando em vigor as alterações do procedimento relativo à execução de sentença, tanto é que, quando da prolação da decisão atacada, a ilustre Juíza recebeu os embargos como impugnação, na forma do novel artigo 475-J, § 1°, do Diploma Adjetivo.

Em seguida, a impugnação foi rejeitada, determinando-se o prosseguimento da execução.

Ficou claro, nos autos, portanto, que não houve extinção da execução manejada pelo credor, não havendo que se falar, pois, em extinção do processo, quando seria cabível, então, o recurso de apelação.

No caso em questão, deve ser aplicado o § 3°, do Artigo 475-M:

"Art. 475-M. omissis

(...)

§ 3° = A decisão que resolver a impugnação é recorrível mediante agravo de instrumento, salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá apelação."

Em que pese a execução, no caso em questão, ter se iniciado antes da entrada em vigor da Lei 11.232/2005, para a interposição do recurso cabível contra os embargos recebidos como impugnação, deve ser aplicado o novo procedimento.

Não se trata de aplicação da multa prevista no artigo 475-J, do CPC, quando já realizado o ato de penhora, caso no qual não se aplicaria o novo procedimento.

Nem venha se falar na aplicação do princípio da fungibilidade recursal, uma vez

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que o presente recurso de apelação foi interposto após os 10 dias previstos para o Agravo de Instrumento.

Neste sentido, este Tribunal já teve a oportunidade de se manifestar, mostrando-se pacífica em relação à matéria:

"RECURSO DE APELAÇÃO - EXECUÇÃO DE SENTENÇA - DIREITO INTERTEMPORAL - APLICAÇÃO DA LEI N.º 11.232/05 - ATOS PROCESSUAIS - EFICÁCIA IMEDIATA - EMBARGOS À EXECUÇÃO - PROCEDIMENTO INADEQUADO - IMPUGNAÇÃO - DECISÃO QUE OS REJEITA - RECURSO CABÍVEL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - APELAÇÃO NÃO CONHECIDA".

"A sistemática processual aplicada no Direito Pátrio se acha disciplinada pelo art. 1.211 do Digesto Processual. Ao entrar em vigor, suas disposições aplicar-se-ão desde logo aos processos pendentes não alcançando, todavia, os atos pretéritos, nem seus efeitos. Dessa forma, constitui erro processual a interposição de embargos de devedor, em autos de execução de sentença, após à vigência da Lei 11.232/95, que alterou as regras do procedimento executivo, estabelecendo que a defesa do executado se fará através de impugnação, nos próprios autos, e que a decisão que a resolve é recorrível mediante agravo de instrumento de instrumento. O recurso de apelação, interposto a partir de então, não deve ser conhecido por inadequado".

"V.v.: Uma vez que o juízo primevo deixou perpetuar o erro nos autos, não intervindo no momento oportuno, não pode a parte em fase recursal sofrer as conseqüências da omissão anterior". (AC 1.0686.06.179.970 - 2/001. Relator: Desembargador ANTÔNIO DE PÁDUA)

"APELAÇÃO - EXECUÇÃO DE SENTENÇA - RECURSO CABÍVEL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - ART. 475M DA LEI 11.232/05 - TEORIA DO ISOLAMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS".

"Prevalece na doutrinária e jurisprudência a teoria do isolamento dos atos processuais, no qual a lei nova não atinge os atos pretéritos nem os seus efeitos, mas deve ser aplicada nos subseqüentes à sua entrada em vigor".

"O ato judicial que julga a IMPUGNAÇÃO se trata de simples decisão interlocutória, uma vez que não extingue o processo de EXECUÇÃO, logo, o RECURSO CABÍVEL é o de AGRAVO de instrumento, nos termos do art. 475 M do CPC, introduzido pela Lei 11.232/05".

"A interposição de RECURSO de APELAÇÃO constitui erro grosseiro, que impede a aplicação do princípio da fungibilidade recursal e enseja o seu não-conhecimento". (AC 1.0024.02.651.137 - 8 /002. Relator: Desembargador SALDANHA DA FONSECA)

Ainda no mesmo sentido vamos encontrar: AC 1.0024.05.802.821 - 8/001 (Des. Irmar Ferreira Campos); AC 1.0024.05.815.284 - 4/001 (Des. Tarcísio Martins Costa); AC 1.0024.96.084.644 - 2/001 (Desemb. Selma Marques) e, ainda, AC 1.0069.03.011.600 - 3/001 (Des. Alvimar de Ávila).

Com tais considerações, NÃO CONHEÇO DO RECURSO AVIADO, determinando o

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retorno dos autos à Vara de origem, para as providências cabíveis.

Custas recursais, na forma da lei, pela parte Apelante.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): CABRAL DA SILVA e ROBERTO BORGES DE OLIVEIRA.

SÚMULA : NÃO CONHECERAM DO RECURSO.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0702.06.266251-6/001

Processo

EDcl nos EDcl no AgRg no Ag 1234996 / SP EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 2009/0181337-9

Relator (a ) Ministro SIDNEI BENETI (1137)

Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA

Data do Julgamento 28/06/2011

Data da Publicação/Fonte DJe 01/07/2011

Ementa

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.

DECISÃO AGRAVADA. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA.

TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DO ADVOGADO. EFEITOS INFRINGENTES.

ACOLHIMENTO.

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1.- De fato, compulsando os autos, verifica-se que as alegações do ora Embargante são plausíveis,

pois no que tange à alegada ofensa ao art. 475-J do Código de Processo Civil, esta Corte possui

entendimento firmado no sentido de que concedida a oportunidade para o adimplemento voluntário do crédito

exeqüendo, o não pagamento no prazo de quinze dias importará na incidência de multa no percentual

de dez por cento sobre o montante da condenação (art. 475-J do CPC),

compreendendo-se o termo inicial do referido prazo o primeiro dia

útil seguinte à data da publicação de intimação do devedor na pessoa

de seu advogado, na Imprensa Oficial (REsp 940.274/MS DJe

31.05.2010, Rel. para Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA).

2.- Embargos de Declaração acolhidos, com efeitos infringentes, paradar provimento ao Agravo Regimental.

Acórdão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,

por unanimidade, acolher os embargos de declaração, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva,

Nancy Andrighi e Massami Uyeda (Presidente) votaram com o

Sr. Ministro Relator.

Informações Complementares

Aguardando análise.

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CUMPRIMENTO. SENTENÇA. HONORÁRIOS. : CUMPRIMENTO. SENTENÇA. HONORÁRIOS., Lei 11232/05

A Turma entendeu que incidem honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença, regramento instituído pela Lei n. 11.232/2005, caso o credor seja obrigado a atuar no processo em busca de satisfação da dívida. Se o advogado da parte continua atuando no feito, haverá de ser remunerado por isso, sendo certo que a fixação da verba honorária prevista na sentença, por óbvio, somente levou em consideração o trabalho desenvolvido até aquela fase do processo. Precedente citado: REsp 978.545-MG, DJ 1º/4/2008. REsp 1.053.033-DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 9/6/2009.

STJ - EMBARGOS À EXECUÇÃO. TÍTULO JUDICIAL.

LEI N. 11.232/2005.

Data da publicação da decisão - 7/6/2011

EMBARGOS À EXECUÇÃO. TÍTULO JUDICIAL. LEI N. 11.232/2005.

Trata-se de REsp em que a controvérsia reside em saber qual o recurso cabível, apelação ou agravo de instrumento, contra decisão de improcedência de embargos à execução de título judicial opostos antes do advento da Lei n. 11.232/2005, mas julgados após a sua entrada em vigor. No julgamento do especial, entre outras considerações, ressaltou a Min. Relatora que a adoção de qualquer dos mencionados recursos, como regra absoluta e conforme o caso, acarretará prejuízo a uma das partes, que pode ser surpreendida por alterações procedimentais surgidas no decorrer da ação que trazem incerteza sobre como atuar no processo. Observou que a razoabilidade deve ser aliada do Poder Judiciário nessa tarefa, de forma que se alcance efetiva distribuição de Justiça. Assim, entendeu que a melhor solução é admitir que, não tendo havido expressa conversão dos ritos processuais pelo juízo em primeiro grau de jurisdição, alertando as partes de que os “embargos” passaram a ser simples “impugnação”, tal como ocorreu na hipótese, é a apelação o recurso apropriado para atacar a decisão que, sob a égide da Lei n. 11.232/2005, julgou os embargos do devedor em respeito, inclusive, ao princípio da segurança jurídica, norma que informa a aplicação do art. 6o, §§ 1o e 2º, da LICC. Anote-se, por fim, não se desconhecer que as normas processuais têm imediata aplicação, todavia a utilização cega da regra geral de direito intertemporal poderia acarretar desastrosas consequências, daí seu emprego requerer temperamentos, tal como no caso. Esse entendimento foi acompanhado pelos demais Ministros da Turma, que, ao final, conheceu do recurso e lhe deu provimento para determinar que o tribunal de origem julgue o mérito da apelação interposta pela recorrente. Precedentes citados: REsp 1.044.693-MG, DJe 6/8/2009, e REsp 963.977-RS, DJe 5/9/2008. REsp 1.062.773-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/6/2011

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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA (ART. 475-J) - INTIMAÇÃO DO ADVOGADO

AGRAVO REGIMENTAL - RECURSO ESPECIAL - ARTIGO 475-J DO CPC – TERMO INICIAL PARA A INCIDÊNCIA DA MULTA

O termo inicial do prazo de que trata o artigo 475-J, caput, do Código de Processo Civil é o próprio trânsito em julgado da sentença condenatória, não sendo necessário que a parte vencida seja intimada pessoalmente ou por seu patrono para saldar a dívida. Agravo improvido.(STJ – 3ª T., AgRg no REsp nº 1.076.882/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 08.10.2008)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEI N. 11.232/2005. ARTIGO 475-J. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE VENCIDA.

DESNECESSIDADE

1. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor.2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la.3. Deve a parte vencida cumprir espontaneamente a obrigação, emquinze dias, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%.4. Agravo regimental desprovido.(STJ – 4ª T., AgRg no Ag nº 1.046.147/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 06.10.2008)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. LEI 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE.

SÚMULA 83/STJ

1. "Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la" (REsp 954.859/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU de 27.08.07). O executado deve cumprir espontaneamente a obrigação, no prazo de quinze dias, sob pena de multa de 10% sobre o valor da condenação.2. Agravo regimental não provido(STJ – 2ª T., AgRg no REsp nº 1.024.631/SP, Rel. Min. Castro Meira, DJe 10.10.2008)

LEI 11.232/2005. ARTIGO 475-J, CPC. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. MULTA. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO DA PARTE VENCIDA. DESNECESSIDADE

1. A intimação da sentença que condena ao pagamento de quantia certa consuma-se mediante publicação, pelos meios ordinários, a fim de que tenha início o prazo recursal. Desnecessária a intimação pessoal do devedor.

2. Transitada em julgado a sentença condenatória, não é necessário que a parte vencida, pessoalmente ou por seu advogado, seja intimada para cumpri-la.

3. Cabe ao vencido cumprir espontaneamente a obrigação, em quinze dias, sob pena de ver sua dívida automaticamente acrescida de 10%. (STJ - 3ª T., REsp nº 954.859/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 27/08/2007, p. 252)

AGRAVO - INDENIZAÇÃO - EXECUÇÃO - ARTIGO 475- J - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Início do prazo a partir do trânsito em julgado da decisão - Aplicabilidade - Intimação do devedor - Desnecessidade - Efeitoautomático do trânsito - Reconhecimento - Multa de 1 0% - Incidência - Imposição. (TJ/SP - 27ª C. D. Priv., Ag. Inst. nº 1.103.101-00/6, Rel. Des. Cambrea Filho, Julg. 11/12/2007)

SENTENÇA

Cumprimento - Prazo de quinze dias para pagamento previsto no art 475-J do CPC, sob pena de multa de dez por cento — Termo iniciai - Intimação do devedor na pessoa de seu advogado - Princípio da oficialidade que não impera no processo civil — Precedentes da Corte — Decisão reformada — Agravo provido. (TJ/SP - 6ª C. D. Priv., Ag. Inst. nº 519.051-4/6-00, Rel. Des. Percivl Nogueira, Julg. 6/12/2007)

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PRAZO - RECURSO - AGRAVO DE INSTRUMENTO

Decisão publicada no Diário Oficial do dia 17 de setembro de 2007 - Recurso interposto no dia 27 - Decêndio estabelecido pelo artigo 522 do Código de Processo Civil obedecido - Contagem dos prazos fixados em dia - Exclusão do dia do começo e inclusão do vencimento - Tempestividade evidenciada - Preliminar rejeitada. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - Pedido de levantamento de quantia penhorada - Deferimento - Existência de Recursos Especial e Extraordinário - Irrelevância - Ausência de efeito suspensivo - Caução - Dispensa - Inexistência de risco de dano em decorrência da idoneidade financeira - Agravo não provido. INTIMAÇÃO - CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - Intimação do devedor, na pessoa de seu advogado -Admissibilidade - Recurso não provido. (TJ/SP - 21ª C. D. Priv., Ag. Inst. nº 7.186.420-9, Rel. Des. Itamar Gaino, Julg. 28/11/2007)

AGRAVO INTERNO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. MULTA 475-J. DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR

Para incidência da multa prevista no artigo 475-J do CPC basta que o devedor tenha sido intimado para cumprir a obrigação através de seu procurador. Desnecessária é a intimação pessoal do devedor. Precedentes deste tribunal. AGRAVO NÃO PROVIDO. (TJ/RS - 12ª C. Cív., Ag. Inst. nº 70022191209, Rel. Des. Cláudio Baldino Maciel, Julg. 13/12/2007)

AGRAVO INTERNO. INCIDÊNCIA DA MULTA PREVISTA NO ARTIGO 475-J DO CPC. INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. DESNECESSIDADE

Para incidência da multa prevista no artigo 475-J do CPC basta que a parte tenha sido intimado para cumprir a obrigação através de seu procurador. Desnecessária é a intimação pessoal do devedor. Precedentes deste tribunal. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (TJ/RS - 12ª C. Cív., Ag. Inst. nº 70022073282, Rel. Des. Cláudio Baldino Maciel, Julg. 13/12/2007)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTIMAÇÃO PESSOAL PARA PAGAMENTO ESPONTÂNEO DO DÉBITO. ART. 475-J, DO CPC

Desnecessária a intimação pessoal para o cumprimento da obrigação, bastando a intimação do advogado do devedor na forma dos arts. 236 e 237 do CPC. Art. 475-J, do CPC. AGRAVO IMPROVIDO. (TJ/RS - 11ª C. Cív., Ag. Inst. nº 70021814447, Rel. Des. Bayard Ney de Freitas Barcellos, Julg. 12/12/2007)

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Marco inicial do prazo para Cumprimento voluntário. Contagem que se inicia após intimaçãoPara cumprimento do acórdão. Multa indevida. Afastamento. (TJ/SP - 15ª C. D. Privado, Ag. Inst. nº 7.161.187-3, Rel. Des. José Arnaldo da Costa Teles, Julg. 16/10/2007)

EXECUÇÃO DE SENTENÇA

Incidência de juros moratórios após trânsito em julgado - Possibilidade - Aplicação da Súmula 254 do S.T.F. - Intimação pessoal para pagamento em 15 dias, sob pena de incidência de multa - Art. 475-J do C.P.C. - Inadmissibilidade, com temperamento - Prazo que começa a fluir do "cumpra-se" quando a parte não tem conhecimento do valor a pagar ou meios para calculá-lo adequadamente - Presunção relativa - Instituição financeira que detém capacidade para apurar o quantum devido - Agravo desprovido. (TJ/SP - 22ª C. D. Priv., Ag. Inst. nº 7.167.920-2, Rel. Des. Andrade Marques, Julg. 13/11/2007)

EXECUÇÃO

Execução de sentença - Interpretação do artigo 475-J e artigo 475- L, ambos do CPC - Devedor intimado para o cumprimento da sentença transitada em julgado, deverá, no prazo do artigo 475-J, CPC, efetuar depósito do montante da condenação, sob pena de não o fazendo incorrer na multa de 10%, e, no mesmo prazo, poderá opor a impugnação prevista no artigo 475-L, CPC, versando tãosomente sobre as matérias ali elencadas - Hipótese em que a Apelante além de ter interposto embargos do devedor, que hoje não mais existem, não obedeceu o prazo do artigo 475-J e nem as matérias elencadas no artigo 475-L, ambos do CPC - Correta pois a sentença que extinguiu os embargos, com espeque nos artigos 3°., c.c. 267, VI (carência da ação por falta de interesse e possibilidade jurídica do pedido)- Recurso não provido. (TJ/SP - 19ª C. D. Priv., Ap. Cí. nº 7.137.833-5, Rel. Des. Paulo Hatanaka, Julg. 06/11/2007)

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CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - NOVA SISTEMÁTICA PROCESSUAL - INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR - FALTA DE PREVISÃO LEGAL

O devedor deverá ser intimado, pessoalmente, para o cumprimento da sentença, no prazo de quinze dias a contar da sua efetiva intimação, para efetuar o pagamento da importância devida, pena de cominação de multa de dez por cento. Na liquidação de sentença (artigo 475-A), cujos atos são puramente procedimentais, a parte será intimada na pessoa de seu advogado (artigo 475-A, § 1º), porque não existe um ato sequer que a parte leiga pudesse praticar, já que se exercita falando, manifestando nos autos. Uma vez acertada ou dispensada a liquidação, determina a Lei art. 475-J que caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento. O prazo será contado a partir da intimação do devedor, pessoalmente, porque o ato a ser praticado, - pagamento - não depende da representação processual.

A intimação feita é simplesmente para efetuar o pagamento e nada mais, sob pena de cominação da multa de dez por cento. Qualquer exceção, que resulte num fato processual, só exercido por advogado, é relegado para a etapa seguinte de cumprimento da sentença via de impugnação. Quando a lei se contentar com a intimação da parte na pessoa de seu advogado ela o diz, expressamente, como no § 1º do artigo 475-A (§ 1o Do requerimento de liquidação de sentença será a parte intimada, na pessoa de seu advogado) ou no § 1º do artigo 475-J verbis: ""§ 1o Do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237, ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de quinze dias." (TJ/MG - 16ª C. Cív., Ag. Inst. nº 1.0024.01.565855-2/001, Rel. Des. Sebastião Pereira de Souza, Julg. 08/08/2007)

AÇÃO DE COBRANÇA - ART. 475-J DO CPC - INTIMAÇÃO NA PESSOA DO PROCURADOR - POSSIBILIDADE - RENOVAÇÃO EQUIVOCADA DO ATO INTIMATÓRIO - EFEITOS DA INTIMAÇÃO

ANTERIOR - MANUTENÇÃO - DEPÓSITO INTEMPESTIVO - MULTA - APLICABILIDADE

O art. 475-J do CPC não comporta previsão expressa acerca da necessidade de intimação da parte executada para pagar o débito exeqüendo. Não obstante, como toda e qualquer execução por quantia é, de regra, precedida de cálculo do exeqüente, entende-se que o cumprimento de sentença inicia-se com o requerimento do credor - que deverá apresentar planilha atualizada do débito - e, só então, o devedor será intimado para pagar o valor apresentado no prazo de quinze dias. Nesse contexto, a intimação do devedor poderá se dar na pessoa de seu advogado, representante legal ou pessoalmente, por aplicação analógica do art. 475-J, §1º, do CPC. A renovação do ato intimatório, realizada por equívoco, não tem o condão de elidir os efeitos advindos da primeira intimação, quando esta se deu regularmente na pessoa do procurador do devedor. Desse modo, verificando-se que a efetiva intimação do devedor se realizou em 02.08.2006 e o depósito em juízo do valor exeqüendo somente em 22.02.07, resta evidenciada a possibilidade de aplicação da multa prevista no art. 475-J do CPC. (TJ/MG - 18ª C. Cív., Ag.. Inst. nº 1.0480.01.028015-8/002, Rel. Des. Elpídio Donizetti, Julg. 02/10/2007)

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL - IMPOSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA DA MULTA DO ART. 475-J DO CPC ANTE O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA DE

REVISIONAL ANTERIORMENTE À ENTRADA EM VIGOR DA LEI N. 11.232/05 - INAPLICABILIDADE DE LEI NOVA AOS ATOS PROCESSUAIS JÁ PRATICADOS - DECISÃO MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO

"A novatio legis, de cunho processual, tem aplicação imediata e alcança o processo em curso no ponto em que este se encontra, respeitando os atos processuais praticados e disciplinando os realizados a partir de sua vigência." (STJ, REsp. n. 35.160/SP, Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini, DJU de 18.03.96). "Consoante a nova sistemática do CPC, prevista no art. 475-J, e seus parágrafos, o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa, terá 15 dias para efetuar o pagamento. Não efetuando, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de 10%. Isto ocorre independentemente de intimação do devedor para pagamento, fluindo o prazo da intimação da publicação da sentença." (TJ/RS - 1ª C. D. Com., Ag. Inst. nº 70018090605, Rel. Des. Marilene Bonzanini Bernardi, Julg. 20.12.06).

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A Lei nº 11.232 na jurisprudência do STJ

Pouco mais de três anos após sua vigência, a Lei nº 11.232/2005 começa a ter seus contornos definidos pela jurisprudência do STJ (que, no atual cenário, é de pronto seguida pelas instâncias inferiores). Eis algumas das matérias já enfrentadas pela corte:

Termo inicial da multa de 10%: o prazo de quinze dias para pagamento começa com o trânsito em julgado da sentença condenatória, independentemente de intimação específica para pagamento. Precedentes: REsps 954.859⁄RS, AgRg no Ag 1056559/RS, AgRg no Ag 1080177/RS, AgRg no REsp 1046835/RS, dentre outros.

Inaplicabilidade da multa de 10% para sentenças transitadas em julgado antes da Lei nº 11.232/2005: a multa de 10% surge com o não pagamento da dívida 15 dias após o trânsito em julgado da sentença (ou acórdão). Contudo, quanto a processos em tramitação, se o trânsito em julgado foi anterior à vigência da nova lei, a multa de 10%, por envolver direito material, é inaplicável. Precedentes: REsp 1079199 / DF, REsp 962362 / RS. Obs: há decisão admitindo a incidência da multa de 10% mesmo que o trânsito em julgado tenha ocorrido antes da vigência da Lei nº 11.232/2005, desde que, neste caso, haja nova intimação do devedor, na pessoa de seu advogado, para efetuar o pagamento em quinze dias (MC 14258 / RJ). Tenho seguido esse entendimento.

Honorários: cabem honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença, mesmo se tratando de fase e não processo autônomo. Particularmente, eu entendia em sentido contrário, contudo, o argumento no leading case foi que, ao instituir a multa de 10% no art. 475-J, o legislador estabeleceu uma punição para o devedor recalcitrante; assim, caso não existissem honorários nessa fase de cumprimento de sentença, a multa acabaria sendo anulada e estaria perdido o espírito da lei. Entendo que cabem honorários autônomos quanto ao incidente de impugnação ao cumprimento de sentença. Precedentes: AgRg no Ag 1034880/RJ, REsp 1050435 / SP, REsp 987388 / RS, REsp 978545 / MG.

Recurso contra a decisão que julga embargos à execução de título judicial:

na sistemática anterior, os embargos à execução de título judicial eram decididos por sentença, contra a qual era oponível apelação; a partir da Lei 11.232, os embargos se transformaram incidente de impugnação ao cumprimento de sentença, resolvidos por decisão interlocutória, passível de questionamento por agravo de instrumento. A questão que restou era: qual recurso cabível contra sentença que resolve embargos à execução de título extrajudicial após o advento da Lei nº 11.232/2005? Prevaleceu o entendimento (já tradicional) de que o recurso adequado é aquele existente ao tempo da publicação da sentença. Portanto, proferida sentença em embargos à execução de título judicial após a Lei 11.232, o recurso contra ela será o agravo de instrumento. Precedentes: REsp 1048657/RS, REsp 1043016/SP. Em sentido contrário

(entendendo caber apenas apelação): REsp 974873 / RS. Obs: há julgados da 3ª Turma, de relatoria da Min. Nacy Andrighi, aceitando o manejo de apelação se o juiz não converte os embargos em impugnação antes de julgá-los (REsp 963977/RS e MC 14589/RS). É possível, nestes casos, aplicar-se o princípio da fungibilidade, observados seus pressupostos (boa-fé, erro não grosseiro, prazo do recurso menor) - REsp 1.044.693-MG. REsp 1.033.447-PB.

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Recurso contra decisão que resolve liquidação de sentença após a Lei 11.232/2005: o raciocínio é similar ao dos embargos: no sistema antigo, a liquidação era processo autônomo, resolvido por sentença, que atraía apelação; agora, é mera fase processual, resolvida por interlocutória, contra a qual é oposto agravo de instrumento, que será o recurso cabível mesmo que a liquidação tenha começado sob a égide da lei antiga. Precedentes: AgRg no Ag 987.290/RS, AGRG NO RESP 825690-RJ, AG 950260-MA, AG 946131-RS.

Carta de sentença: a Lei nº 11.232 já previu expressamente que o credor deverá instruir o pedido de execução provisória, acabando com o instituto da carta de sentença. Mas teve gente que insistiu. O STJ apenas reafirmou o que disse a lei. Precedente: AgRg na MC 14385/RJ.

Possibilidade de ingresso de ação de conhecimento com base em título executivo: diante das peculiaridades do novo procedimento de cumprimento de sentença, o STJ entendeu possível que o detentor de título executivo extrajudicial, ao invés de executá-lo, ingresse com ação de conhecimento a fim de se valer dos benefícios dos institutos do cumprimento de sentença. Precedente: REsp 717.276/PR.

Intimação da penhora: na lei antiga, o devedor tinha que ser intimado pessoalmente (intimação real ou ficta – por edital) da penhora e para ingressar com embargos. Na nova lei, a intimação se dá na pessoa do advogado. No caso concreto, a execução se iniciou sob a lei antiga e a penhora se deu sob tal regime; contudo, com o advento da Lei 11.232, o STJ entendeu possível que o devedor seja intimado da penhora (e para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença) na pessoa de seu advogado. Precedente: REsp 1.043.016-SP, DJe 23/6/2008; MC 13.951-SP, DJe 1º/4/2008, e REsp 1.026.610-RS, DJ 12/8/2008. REsp 1.076.080-PR.

Termo inicial do prazo para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença: o prazo para apresentar impugnação começa, havendo depósito por parte do executado, na data do depósito, independentemente de intimação específica do executado para impugnar. Precedentes: REsp 163.990-SP, DJ 9/11/1998. REsp 972.812-RJ.

Como se vê, mesmo no seio do STJ há divergências sobre determinadas matérias, o que certamente ensejará mudanças de posicionamento. No entanto, nestes três anos, foi possível traçar alguns contornos acerca da aplicabilidade e alcance da Lei nº 11.232/2005 que, reconheça-se, trouxe muito mais dinamismo para nosso direito processual civil.

Atualizando o seu post com mais um julgado:

PROCESSUAL CIVIL – MULTA DO ART. 475-J DO CPC – INCIDÊNCIA NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA – IMPOSSIBILIDADE – INCOMPATIBILIDADE LÓGICA – NECESSIDADE DE AFASTAMENTO DA MULTA. 1. O artigo 475-J, com redação dada pela Lei n. 11.232/2005, foi instituído com o objetivo de estimular o devedor a realizar o pagamento da dívida objeto de sua condenação, evitando assim a incidência da multa pelo inadimplemento da obrigação constante do título executivo. 2. A execução provisória não tem como escopo primordial o pagamento da dívida, mas sim de antecipar os atos executivos, garantindo o resultado útil da execução. 3. Compelir o litigante a efetuar o pagamento sob pena de multa, ainda pendente de julgamento o seu recurso, implica em obriga-lo a praticar ato incompatível com o seu direito de recorrer (art. 503, parágrafo único do CPC), tornando inadmissível o recurso. 4. Por incompatibilidade lógica, a multa do artigo 475-J do CPC não se aplica na execução provisória. Tal entendimento não afronta os princípios que inspiraram o legislador da reforma. Doutrina.

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Recurso especial provido. (REsp 1.100.658/SP, rel. Min. Humberto Martins, 2ª Turma, jugado em 07/05/2009, DJ-e 21/05/2009)

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1) PROCESSO CIVIL MODERNO – EXECUÇÃO

AUTOR: JOSÉ MIGUEL GARCIA MEDINA;

2) A EXECUÇÃO CIVIL

AUTOR: RODOLFO KRONEMBERG HARTMANN;

3) CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO

AUTOR: FREDIE DIDIER JR .;

4) MANUAL DA EXECUÇÃO

AUTOR: ARAKEN DE ASSIS;

5) PROCESSO CIVIL

AUTOR: MISAEL MONTENEGRO FILHO