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- GUIA DE LEITURA - PARA O PROFESSOR Quem tem medo de Virginia? Kyo Maclear Ilustrações Isabelle Arsenault Tradução Maria Luiza X. de A. Borges Nível leitor a partir de 8 anos Ciclo escolar 3º - 4º anos 32 páginas A AUTORA Kyo Maclear nasceu em Londres, Inglaterra, em 1970, e mora em Toronto, Canadá. É bacharel em Artes e História da Arte e mestre em Estudos Culturais pela Universidade de Toronto. Em 2007, estreou com o romance The letter opener (O abridor de carta); em 2009, recebeu o K. M. Hunter Artist Award, prêmio concedido pelo Conselho de Artes de Ontário, Canadá, na categoria Literatura. Para saber mais sobre seus livros para crianças, acesse: kyomaclearkids.com (em inglês). A ILUSTRADORA Isabelle Arsenault nasceu em Quebec, Canadá, em 1978. É formada em Design Gráfico pela Universidade de Quebec, em Montreal. Recebeu o prestigioso Governor General’s Literary Award na categoria Ilustração três vezes: em 2005, por seu primeiro livro infantil, Le coeur de Monsieur Gauguin (O coração do Senhor Gauguin); em 2012, por Quem tem medo de Virginia?; em 2013, por Jane, le renard et moi (Jane, a raposa e eu). Para saber mais sobre seu trabalho, acesse: www.isabellearsenault.com (em francês). TEMAS Família / Depressão / Arte / Imaginação O LIVRO Virginia acorda de mau humor, sentindo- -se triste e “indócil como um lobo” (p. 2); a irmã, Vanessa, faz de tudo para alegrá-la, sem sucesso, até que tem uma ideia: dar vida ao desejo de Virginia de ter um lugar perfeito para onde voar quando tudo parece ruim e sombrio. Entram em cena, assim, o poder da arte e o da imagi- nação criativa, capazes de amenizar a tristeza e ajudar a enfrentar os humores e sentimentos mais difíceis. A história de Kyo Maclear possui diferentes camadas de significado, que podem ser lidas de modo independente, mas que se complementam, contribuindo para a com- preensão geral. As belas ilustrações de Isabelle Arsenault dialogam em profundidade com o texto, iluminando esse conto de amor fraternal.

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- GUIA DE LEITUR A -PA R A O P R O F E S S O R

Quem tem medo de Virginia?

Kyo MaclearIlustrações Isabelle ArsenaultTradução Maria Luiza X. de A. BorgesNível leitor a partir de 8 anos Ciclo escolar 3º - 4º anos32 páginas

a autora Kyo Maclear nasceu em Londres, Inglaterra, em 1970, e mora em Toronto, Canadá. É bacharel em Artes e História da Arte e mestre em Estudos Culturais pela Universidade de Toronto. Em 2007, estreou com o romance The letter opener (O abridor de carta); em 2009, recebeu o K. M. Hunter Artist Award, prêmio concedido pelo Conselho de Artes de Ontário, Canadá, na categoria Literatura. Para saber mais sobre seus livros para crianças, acesse: kyomaclearkids.com (em inglês).

a ilustradora Isabelle Arsenault nasceu em Quebec, Canadá, em 1978. É formada em Design Gráfico pela Universidade de Quebec, em Montreal. Recebeu o prestigioso Governor General’s Literary Award na categoria Ilustração três vezes: em 2005, por seu primeiro livro infantil, Le coeur de Monsieur Gauguin (O coração do Senhor Gauguin); em 2012, por Quem tem medo de Virginia?; em 2013, por Jane, le renard et moi (Jane, a raposa e eu). Para saber mais sobre seu trabalho, acesse: www.isabellearsenault.com (em francês).

TEMAS Família / Depressão / Arte / Imaginação

o livro Virginia acorda de mau humor, sentindo-

-se triste e “indócil como um lobo” (p. 2); a irmã,

Vanessa, faz de tudo para alegrá-la, sem sucesso,

até que tem uma ideia: dar vida ao desejo de

Virginia de ter um lugar perfeito para onde voar

quando tudo parece ruim e sombrio. Entram

em cena, assim, o poder da arte e o da imagi-

nação criativa, capazes de amenizar a tristeza

e ajudar a enfrentar os humores e sentimentos

mais difíceis. A história de Kyo Maclear possui

diferentes camadas de significado, que podem

ser lidas de modo independente, mas que se

complementam, contribuindo para a com-

preensão geral. As belas ilustrações de Isabelle

Arsenault dialogam em profundidade com o

texto, iluminando esse conto de amor fraternal.

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Q u e m t e m m e d o d e V i r g i n i a ? • K y o m a c l e a r

OBRA EM CONTEXTO

f o n t e s d e i n s p i r a ç ã o

O conhecimento das referências externas à obra, embora não

seja imprescindível, pode contribuir para a interpretação da

história em outro nível. A inspiração para o livro foi a relação

muito próxima entre a escritora inglesa Virginia Woolf (1882-

-1941) e sua irmã, a pintora Vanessa Bell (1879-1961). Um

irmão delas, Thoby Stephen (1880-1906), também é mencio-

nado, ainda que não apareça.

Bloomsberry, lugar inventado pelas irmãs, é na verdade um

trocadilho de Bloomsbury, grupo de intelectuais que existiu

entre o início do século XX e os anos 1930 e do qual Virginia,

Vanessa e Thoby faziam parte. Seu nome remete ao distrito na

região central de Londres, próximo ao qual viviam ou trabalha-

vam os escritores, artistas e outros que o constituíram. Reunidos

de modo informal, mais por laços de amizade e casamento do

que por alguma plataforma literária ou filosófica, seus membros

compartilhavam o desejo de subverter a moral e os costumes

da Inglaterra vitoriana, tanto em termos estéticos como com-

portamentais. O grupo teve importante papel modernizador na

cultura e exerceu influência na literatura, nas artes, na crítica e

em movimentos como o feminismo.

Quem tem medo de Virginia? aproveita a cumplicidade

entre as irmãs para construir um retrato do amor e do cui-

dado fraternal. Elas são diferentes, mas possuem afinidades.

Vanessa é a irmã “solar”, alegre: veste-se de amarelo (cor de seu

vestido preferido) e exprime-se por meio da pintura e do de-

senho. Virginia é a irmã triste, que usa vestido azul, conforme

vemos quando se transforma novamente em menina. Há aqui

a sugestão de mais um trocadilho, com a palavra blue, que

em inglês, além de designar a cor, tem o sentido figurado de

tristeza, melancolia. Em sua raiva, Virginia grita para Vanessa:

“Não use esse vestido. Amarelo é alegre demais!” (p. 6).

Muitos estudiosos da vida e da obra de Virginia Woolf

acreditam que ela sofria de depressão, doença que teria sido

desencadeada, entre outros fatores, pela morte da mãe, em

1895, quando Virginia tinha 13 anos, e que a levou a cometer

trocadilho e outrosrecursos de linguagem

Quem tem medo de Virginia? é uma narrativa em prosa, mas o texto de Kyo Maclear possui algumas características que o aproximam da linguagem poética. A autora escreve com concisão e brevidade e usa recursos estilísticos e figuras de linguagem como o paralelismo e outras repetições, especialmente a paronomásia, conhecida popularmente como trocadilho. Trata-se da aproximação de palavras diferentes que possuem semelhança fônica, etimológica ou formal. É o que vemos em Bloomsberry/Bloomsbury e em wolf/Woolf, remetendo aos possíveis sentidos dos termos em inglês.

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suicídio, aos 59, em meio à Segunda Guerra Mundial. Os pro-

blemas mentais de Woolf, contudo, não impediram que ela

tivesse papel fundamental no modernismo literário, inovando

a própria forma do romance.

Outra referência diz respeito ao título do livro em por-

tuguês. Ele está relacionado a Quem tem medo de Virginia

Woolf?, peça de 1962 do dramaturgo norte-americano Edward

Albee, cujo tema central é a crise de um casal de meia-idade.

Aí se faz um trocadilho entre a palavra wolf (lobo) e o nome

Woolf (presente também no título original do livro, em inglês:

Virginia Wolf), remetendo à canção “Who’s afraid of the big

bad wolf?” (“Quem tem medo do lobo mau?”), do desenho

animado da Disney Os três porquinhos (1933). Segundo o

próprio Albee, o lobo mau simbolizaria em sua obra uma vida

transcorrida sem falsas ilusões; ele seria a realidade, com seus

desafios, limites e dificuldades. No caso da obra de Maclear, o

lobo representa o estado emocional da personagem Virginia,

que será confrontado por sua irmã.

l o b o e l o b i s o m e m

A figura do lobo não é, em si mesma, positiva nem negativa: sua

interpretação depende de cada época e lugar. Na cultura indígena

norte-americana, por exemplo, o lobo é considerado fonte de

sabedoria, uma espécie de mestre ou guia; no mito fundador

de Roma, os irmãos Rômulo e Remo teriam sido salvos e alimen-

tados por uma loba, que se tornou um dos símbolos do lugar.

Todavia, na cultura europeia, a imagem negativa do lobo

também se manifesta com muita força. Aparições mais antigas

remetem à Bíblia, e a representação de Cristo como Cordeiro de

Deus daria margem à visão do lobo como predador, reforçada

pela contraposição à loba símbolo do Império Romano. No

caso de contos de fadas como Os três porquinhos e Chapeuzinho

Vermelho, o lobo representa a ameaça, o mal.

Em Quem tem medo de Virginia?, é evocada principalmente

a lenda do lobisomem, originária da cultura popular europeia

(embora apareçam homens-lobo em outras culturas, como no

Sudeste Asiático). O mal, aqui, está associado à transformação

do homem em lobo, à bestialização. O relato mais antigo de

um homem virando lobo vem da mitologia grega: o rei Licáon

teria sido castigado por sua impiedade, sendo transformado

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por Zeus em lobo — lykos, em grego. Da mesma raiz vem a

palavra licantropia, que significa transformação do homem em

lobo e também é nome de uma doença mental, na qual a pessoa

acredita que se tornou lobo ou outro animal.

Em certas tribos antigas da Europa Oriental, determinadas

pessoas nasciam com uma mecha de pelo no corpo ou marca

na cabeça, o que determinaria seu poder de metamorfosear-se

em animal ou peixe, e as más escolheriam converter-se em lo-

bos sedentos de sangue. Nas versões mais conhecidas da lenda,

contudo, a transformação é involuntária, ocorrendo em noite

de lua cheia. Em alguns relatos clássicos, o lobisomem seria

vítima de uma maldição hereditária, o que o colocaria em uma

posição ambígua, já que poderia ser uma boa pessoa aprisio-

nada na forma de fera. O lobisomem seria, assim, um símbolo

da própria ambiguidade da natureza humana; representaria o

que foge ao controle, o lado sombrio que todos possuem e que

é normalmente reprimido.

Na história de Maclear, a lenda do lobisomem tem várias

ressonâncias. Como o homem-lobo, Virginia também parece

acometida por um mal (a tristeza, a melancolia) que ela não con-

trola totalmente, mas cuja origem está relacionada ao confronto

da própria subjetividade com o mundo objetivo. Afinal, o lobo

é o ancestral do cão: caberá a Virginia, com a ajuda de Vanessa e

da arte, a tarefa de domesticar o animal que há dentro de si.

o ta b u da d e p r e s s ã o

Em Quem tem medo de Virginia?, não há menção explícita à

depressão. O comportamento da menina, característico dos

lobos, pode ser interpretado como uma mistura de mau hu-

mor, tristeza e melancolia. Outra camada de leitura sugere,

contudo, que ela sofre de depressão. Essa interpretação é válida

não só pela referência a Virginia Woolf, como pela própria

caracterização da personagem: primeiro ela acorda irritada,

“indócil como um lobo” (p. 2), grunhindo, rosnando e agindo

de modo estranho. Em seguida, apesar dos esforços da irmã,

nada a deixa feliz, nada a alegra. Virginia passa o dia todo de-

baixo das cobertas, imóvel, quase sem se comunicar: “Depois

não falou mais nada. Com ninguém” (p. 11).

A depressão não deve ser confundida com tristeza ou mau

humor, tampouco com melancolia, embora muitas vezes as

palavras sejam utilizadas como sinônimos. Existe uma tradição

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no pensamento ocidental de vincular melancolia e gênio cria-

tivo, enquanto a depressão como doença mental é, no limite,

paralisante, podendo tornar-se insuportável.

A depressão pode afetar diferentes faixas etárias. Seu diag-

nóstico, porém, é mais difícil na infância, já que a criança

tem mais dificuldade em identificar e falar sobre os próprios

sentimentos. Por isso mesmo, o sofrimento psíquico infantil

costuma manifestar-se em problemas físicos, como dores ab-

dominais ou de cabeça constantes, mudanças no apetite e no

sono. A criança somatiza o sofrimento porque é mais fácil para

ela explicar as dores físicas, concretas, do que as emoções que

sente. A depressão infantil pode também traduzir-se em medo

e retraimento excessivos, que acabam reforçando sentimentos

como incapacidade, baixa autoestima e insegurança. Por essa

razão, crianças deprimidas evitam ao máximo assumir riscos,

deixando de enfrentar os desafios e obstáculos necessários a seu

crescimento e amadurecimento. Tal retraimento pode tornar

ainda mais difícil o diagnóstico da doença.

Em muitos casos, contudo, as pessoas diagnosticadas com

depressão (crianças ou adultos) não possuem de fato a doença.

Isso porque vivemos uma época de recusa e estigmatização da

tristeza e de outras disposições de espírito melancólicas. O ritmo

do capitalismo avançado tende a rechaçar como “improdutivos”

os estados subjetivos mais introspectivos e contemplativos. Logo,

o pensamento hegemônico tende a tratar a tristeza e a melancolia

como patologias, classificando-as como formas de depressão.

Quem tem medo de Virginia? suscita a discussão sobre os

conceitos de melancolia e depressão, frequentemente incom-

preendidos ou tratados como tabu. Nesse sentido, o título em

português é também uma provocação, apontando para a difi-

culdade em lidar com esses temas e a urgência em enfrentá-los.

o p o d e r da a rt e

Vanessa faz de tudo para animar a irmã: oferece-lhe guloseimas,

traz o gato, toca violino, propõe que façam caretas para o irmão.

Virginia esconde-se sob as cobertas, pede para ser deixada em

paz, fica em silêncio absoluto.

Em uma bela cena de compaixão, Vanessa tenta colocar-se no

lugar da irmã: “Deitei ao seu lado. Éramos dois montes quietos

sob o cobertor. Afundamos entre os travesseiros. Contemplamos

melancolia e gênio criativoO vínculo entre melancolia e genialidade é antigo, constituindo longa tradição no pensamento filosófico e literário ocidental, desde a Grécia Antiga até o Romantismo. Em textos de Platão (c. 428-c. 348 a.C.) e nos escritos atribuídos a Aristóteles (384- -322 a.C.) já aparecia a descrição de gêniose heróis melancólicos e sua característicaalternância entre exaltação e desespero,autoafirmação e autodepreciação,inspiração criativa e prostração.

O temperamento melancólico passou a ser visto negativamente por algumas correntes de pensamento e teólogos cristãos da Idade Média, mas foi reabilitado a partir do século XVI, elevado e admirado pelos humanistas. Já no Romantismo, momento histórico que corresponde à maturidade dos valores burgueses, o sujeito melancólico não se encaixava nos ideais e normas de uma época que celebrava o “progresso” e as conquistas da modernidade. A culpa e a autorrecriminação melancólicas eram também um modo involuntário de “resistência”, que seria então transformado em ideal artístico pela literatura romântica. A posição excêntrica do melancólico em relação aos valores dominantes o transformava em crítico social. Daíos heróis românticos, sonhadores eapaixonados, mas também muitas vezesdoentes, frágeis, loucos, obcecados,melancólicos ou mesmo suicidas, surgiremcomo a voz crítica à racionalidade e àmarcha triunfante do mundo burguês,com seus negócios, sua administração eseus valores morais, religiosos e políticos— contrapondo-lhes não só o sonhoe a contemplação, como por vezes amonstruosidade, a morbidez e a nostalgiade tradições pré-modernas e pagãs.

A visão do melancólico como um “ser de exceção”, atormentado e com uma aptidão superior para a criação artística e o pensamento, foi modificada com o surgimento da psiquiatria moderna e com o uso psicanalítico do termo melancolia.No livro O tempo e o cão: a atualidade dasdepressões, a psicanalista Maria Rita Kehlinvestiga o rompimento que Sigmund Freud(1856-1939) operou naquela tradiçãoao utilizar a palavra melancolia em suaexplicação do que a psiquiatria chamavaentão de “psicose maníaco-depressiva”.

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o céu pela janela. Observamos as nuvens: um barco a vela esfu-

maçado, uma lhama voadora e um castelo flutuante. Era como

um mundo paralelo. Ainda assim, minha irmã não falava nada.

Com ninguém” (p. 12). O final desse trecho retoma o da página

anterior, reforçando a mudez e o fechamento de Virginia. A

brincadeira de ver formas nas nuvens não ajuda a melhorar o

estado da menina, que parece pertencer a um mundo paralelo.

Vanessa tem de implorar à irmã que lhe dê alguma pista

do que ajudaria a melhorar sua tristeza. É então que Virginia

enuncia o desejo que parece impossível de realizar: “Se eu es-

tivesse voando, viajaria para um lugar perfeito. Um lugar com

bolos confeitados, flores lindas, árvores incríveis para subir e

absolutamente nenhuma tristeza” (p. 15). Não está em nenhum

mapa. É um lugar imaginário, ao qual Virginia dá o nome de

Bloomsberry. Sua resposta tem duplo sentido: ela imagina um

lugar que corresponde de fato a seu desejo — a eliminação da

tristeza, a perfeição — já sabendo que ele não existe, o que lhe

permitirá enfiar-se debaixo das cobertas de novo.

Contudo, é justamente a inexistência do lugar perfeito que

dá a Vanessa a ideia que transformará tudo: criar Bloomsberry

com suas tintas e pincéis. Afetuosa, ela deixa a criatividade

correr solta, pintando um mundo belo e funcional: “Pintei um

balanço e uma escada que chegava à janela; assim, o que estivesse

embaixo poderia subir” (p. 21).

Com sua arte, Vanessa figura o desejo de voo da irmã. Às

imagens anteriores de depressão, afundamento, interiorização,

fechamento, contrapõem-se agora as de ascensão, elevação,

exterioridade, abertura. “Trouxe o que estava do lado de fora

para dentro” (p. 22). No plano das ilustrações, os tons de cinza

e azul são substituídos pelo fundo amarelo e pelo colorido das

flores, dos doces, dos pássaros e das borboletas.

De todo modo, é importante notar que a função da arte,

aqui, não é distanciar ou alienar a personagem de si mesma e

de seus desafios, e sim permitir que ela consiga transformá-los

em energia criadora e crítica. Prova disso é que a construção de

Bloomsberry não fica perfeita. Virginia critica: “As flores estão

murchas”, “As árvores parecem pirulitos”, “Aquele arbusto parece

um elefante” (p. 26). No entanto, acha graça nessa imperfeição;

na verdade, deixa de ver as falhas do mundo como um problema

intransponível, reajustando sua percepção sobre elas: “É perfeito,

estou amando” (p. 26). Antes, nada a satisfazia, nada a fazia feliz.

Ela projetava então a existência de um mundo perfeito, que sabia

Foi nesse contexto que, como diz Kehl, a “aura romântica” dos melancólicos, oscilando entre o gênio e a loucura, se perdeu.

A psicanalista mostra então como o filósofo alemão Walter Benjamin (1892--1940) resgatou o sentido pré-freudianoda palavra melancolia, sobretudo emsua interpretação da obra do poetafrancês Charles Baudelaire (1821-1867),relacionando “o desencanto e a falta devontade do melancólico diretamente aoefeito de um desajuste ou mesmo de umarecusa das condições simbólicas do laçosocial” (p. 76). Aqui, o melancólico énovamente investido da capacidade decrítica social. Kehl busca assim articular,em seu estudo, a depressão como sintomasocial do século XXI e a melancolia nosentido antigo, pré-freudiano. O depressivoou melancólico sofre por não se adequarsocialmente, por não cumprir o imperativode felicidade, alegria e sucesso, queaparece como ideal social de nosso tempo.No entanto, sua recusa da ideologiadominante, ainda que inconsciente ouinvoluntária, é um modo de denunciar essamesma ideologia e apontar para a buscade outro modelo, de outro modo de vida.

A sua maneira, o melancólico propõe outro tempo, outro ritmo, um desaceleramento da vida contemporânea, que permitiria a expansão de aspectos fundamentais do mundo psíquico: a contemplação, a memória, o devaneio, a imaginação. No livro de Maclear, a tristeza de Virginia é a condição que propicia o exercício da fantasia e da arte de Vanessa. Tendo como mote a sugestão da irmã, ela cria Bloomsberry, dando asas à imaginação: “Eu o fiz exatamente como me soava” (p. 18). Finalmente, Virginia participa dessa construção, canalizando seus sentimentos por meio da arte.

a função da arteNo livro Reflexões sobre a arte, Alfredo Bosi investiga e expõe, de modo bem didático, a natureza e as funções da arte como “modo específico de os homens entrarem em relação com o universo e consigo mesmos” (p. 8). O crítico literário trata de três momentos ou dimensões do processo artístico que podem ocorrer simultaneamente: a arte como cons-trução, conhecimento e expressão.

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ser impossível, pois não há mundo sem falhas ou tristeza. Agora,

é capaz de lidar com os problemas, sem sentir a necessidade de

voar, tampouco de enfiar-se debaixo das cobertas. Não deixa

de ser ela mesma, mas está diferente; consegue compreender

melhor a si mesma e ao mundo.

Virginia interessa-se por algo fora dela e ao final toma parte

na criação de Bloomsberry, inventando, depois de fazer com a

irmã pássaros e borboletas de papel colorido, uma história que

representa a própria passagem da tristeza melancólica para a

disposição alegre: “E Virginia contou a história de uma lesma

de casca cinzenta que atravessou a Terra e chegou ao topo de

uma montanha sem se dar conta disso” (p. 23). No final, o que

está dentro já é capaz de sair, do jardim pintado para o jardim

real: “Agora vamos brincar lá fora” (p. 29), propõe ela, pegando

a mão de Vanessa.

Assim como a lesma, Virginia foi aos poucos saindo de seu

estado letárgico sem se dar conta disso. Vê-se que o que fun-

ciona melhor nesse caso não é o confronto direto, mas a ação

indireta, aparentemente desinteressada, da criação artística.

Virginia utiliza um recurso comum às crianças quando tentam

elaborar seus sentimentos: a criação de personagens e histórias

que representam, de modo indireto, o que estão vivendo.

Bosi menciona ainda, embora sem explorá-la, a relação incontornável entre arte e processo social. A obra de arte é produzida em certa época e em determinado lugar, físico e social. Da mesma forma, o receptor da arte “é sempre um homem do seu tempo” (p. 7). Assim, os três momentos do processo artístico (o fazer, o conhecer e o se expressar) não podem ocorrer dissociados dessas circunstâncias, mas relacionando-se com elas, em maior ou menor grau, de um modo ou de outro. Indo além, a arte pode mesmo assumir uma função predominantemente social, no sentido de uma participação ou intervenção ativa e construtiva no processo social.

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i l u s t r a ç õ e s e p r o j e to g r á f i c o

Em Quem tem medo de Virginia?, as ilustrações e o projeto

gráfico têm papel especial. As imagens e os tamanhos de letra

não apenas ilustram a história, no sentido literal e no figurado,

mas são parte fundamental dela. Afinal, como vimos, um dos

principais temas do livro é o poder da arte. Há um diálogo

íntimo e necessário, mutuamente iluminador, entre o texto de

Kyo Maclear e a arte de Isabelle Arsenault, que presentifica a

ideia da criatividade como meio de elaboração dos conflitos,

internos e externos, que nos afligem.

Desde o começo, vê-se a predominância dos tons de cinza e azul,

com sombras esfumaçadas nos cantos da casa. Há alguns detalhes

em vermelho (nos livros, nas flores, na roupa da amiga que toca a

campainha, remetendo à caracterização clássica de Chapeuzinho

Vermelho) e amarelo (no vestido de Vanessa), contrapondo-se

a uma Virginia já indócil, com orelhas e mãos de lobo. O uso de

letras maiúsculas nas falas dela, com algumas palavras grifadas,

reforça seu mau humor, sua irritabilidade, contrapondo-se à suave

e intimista escrita à mão, em letras cursivas. O ápice da raiva ocorre

quando Virginia grita com o inocente passarinho: “Pare com essa

algazarra!” (p. 6). Então, nas páginas 7 a 9, personagens, bichos e

objetos como que se espalhassem pelos ares, reproduzem o que

diz o texto: “A casa inteira afundou. Tudo ficou de cabeça para

baixo. O que brilhava escureceu. O que era alegre ficou triste”.

Assim, as figuras tornam-se sombras, projetadas contra o fundo

azul acinzentado, no qual se veem alguns riscos amarelos. É como

se a tinta azul, representando a tristeza, não tivesse ainda coberto

totalmente a camada anterior, alegre e luminosa.

As cores só voltam com força na página 18, quando Vanessa

começa a dar forma a Bloomsberry, que aparece exuberante

nas páginas 22 e 23. Aqui vemos o uso de diferentes técnicas,

como pintura e colagem, acentuando a imbricação entre texto

e ilustrações: “Com papel colorido, fizemos pássaros turquesa e

borboletas roxas” (p. 23). De fato, Arsenault emprega técnicas

mistas, como grafite, aquarela, guache, usadas com sofistica-

ção e habilidade, para compor de maneira expressiva o clima

familiar e íntimo da história.

Terminada a obra, o mundo das irmãs sofre nova transforma-

ção, conforme vemos nas páginas 24 e 25: “A casa inteira emergiu.

Tudo voltou ao lugar. O que estava escuro brilhou. O que estava

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triste ficou alegre”. Aqui, o texto está em uma espécie de paralelis-

mo com o da página 9: a estrutura sintática das frases é mantida,

mas inverte-se o sentido. O mesmo ocorre com as imagens: os

personagens, bichos e objetos das páginas 7 a 9 reaparecem, mas

em posição oposta e virados para cima; a cor que predomina no

fundo é o amarelo, e apenas alguns riscos deixam entrever o azul

da tristeza, agora em segundo plano. No entanto, as personagens

continuam sendo silhuetas escuras, até as páginas 28 e 29, quando

finalmente vemos o verdadeiro rosto de Virginia e o laço azul no seu

cabelo — laço que, nas sombras da tristeza, parecia orelhas de lobo.

a i n f â n c i a e s e u s c o n f l i to s

Em Quem tem medo de Virginia?, Kyo Maclear trata a infância sem

mistificação. Muitas vezes os adultos idealizam esse período da

vida como uma idade de ouro, projetando nele o sentimento de

felicidade plena, por comparação à vida adulta e a seus desafios

e exigências. Maclear lembra-nos de como a infância pode ser

uma época turbulenta, cheia de desafios e emoções complexas.

Os sentimentos tratados no livro poderão ser facilmente reco-

nhecidos pelas crianças como algo familiar, e elas serão capazes

de identificar-se seja com o mau humor e a tristeza de Virginia,

seja com a preocupação e o afeto de Vanessa. Como afirma a

própria autora em seu site:

Os adultos adoram projetar felicidade nas crianças, ignorando

o fato de que a infância é um período muito intenso para a

maioria. A vida é épica no parquinho. Há drama e confusão,

injustiça e ansiedade. Almas são esmagadas e corações são

quebrados diariamente. É de espantar que crianças mais novas

chorem várias vezes ao dia?

Ao tratar da infância sem condescendência, Maclear inscreve-

-se em uma linhagem de autores cujas obras abordam seu lado

sombrio, dando relevo a sentimentos como medo, tédio, tristeza e

angústia. Mais do que isso, lembra-nos de como esses sentimen-

tos são mais comuns do que gostaríamos, fazendo parte da vida

de todos, adultos e crianças, com maior ou menor intensidade.

Falar sobre eles, e permitir que as crianças, a seu modo, falem

sobre eles também, é o primeiro passo para torná-los menos

assustadores e acalmar o lobo que há em nós.

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Q u e m t e m m e d o d e V i r g i n i a ? • K y o m a c l e a r

NA SALA DE AULA

1 Antes e depois da leitura, explore com os alunos, de modo

acessível, as principais referências do livro. Explique que

as personagens remetem às irmãs reais, mostre fotografias

delas, fale sobre o lugar e a época em que nasceram, sua

importância na literatura e nas artes, a ligação que tinham

e comente brevemente sobre a tristeza que acometia Virgi-

nia desde cedo. Mostre os trocadilhos (mesmo em inglês),

chame a atenção para a variação de tamanhos e estilos de

letra etc.

2 Converse com as crianças sobre o fato de Virginia ser repre-

sentada como um lobo a maior parte do livro e peça que

digam por que isso acontece. Em seguida, sugira que façam

uma pesquisa, em casa, sobre diferentes representações do

lobo, como bom ou mau, animal ou antropomorfizado,

na mitologia, em contos tradicionais, filmes, livros etc. Os

resultados da pesquisa podem ser apresentados depois em

sala de aula.

3 Inspirados por Bloomsberry, proponha aos alunos que

criem um lugar imaginário ideal, onde gostariam de estar

ou se refugiar. Primeiramente, escreverão sobre o local,

descrevendo-o: existe em nosso mundo? Pode ser localizado

em um mapa? Quais são suas características físicas? Quem

o habita? Como se chama? Estimule a criação apresentando

outros exemplos literários de lugares imaginários, como a

Pasárgada de Manuel Bandeira (do poema “Vou-me embora

pra Pasárgada”). Depois, na aula de Artes, eles ilustrarão

esse lugar. Tomando a arte de Arsenault como exemplo,

sugira a utilização de técnicas mistas na composição das

ilustrações. Ao final, pode-se fazer uma exposição com os

trabalhos.

4 Selecione alguns trocadilhos simples e apresente-os à classe.

Divida a turma em grupos de quatro e peça que escolham

um deles com base no qual criarão frases ou mini-histórias,

para serem escritas e desenhadas em suportes incomuns,

como pedras ou garrafas pet.

Para saber mais

Para o professor

FILMES

• As horas (The hours). Direção: StephenDaldry. Estados Unidos e Inglaterra, 2002.114 min.

Os últimos dias de Virginia Woolf são mostrados em paralelo com duas outras histórias relacionadas a suicídio. Baseado no romance de Michael Cunningham e que lhe rendeu o Pulitzer.

• Grafitti Fine Art. Direção: Jared Levy.Brasil, 2011. 36 min.

Documentário que discute a relação entre arte e espaço urbano e as funções da arte do grafite, com cenas e depoimentos colhidos em São Paulo. Aborda também a crise nessa forma de arte, que passa a ser incorporada pelo mercado e por galerias. Disponível em: <http://graffitifineart.com>. Acesso em: nov. 2015.

• Quem tem medo de Virginia Woolf?Direção: Mike Nichols. Estados Unidos,1966. 131 min.

Um casal de intelectuais de meia-idade recebe um casal jovem em sua casa após uma festa. Com todos embriagados, as confissões vão se tornando mais ácidas e a verdade se revela ao passar das horas.

INTERNET

• DEPRESSÃO infantil e na adolescência.Entrevista do médico Drauzio Varellacom a psiquiatra Sandra Scivolettosobre o assunto. Disponível em:<http://drauziovarella.com.br/crianca-2/depressao-infantil-e-na-adolescencia>.Acesso em: nov. 2015.

LIVROS

• BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte.São Paulo: Ática, 1991.

Apresentação didática e objetiva da natureza e das funções da arte.

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Q u e m t e m m e d o d e V i r g i n i a ? • K y o m a c l e a r

5 A escritora Virginia Woolf escrevia um tipo de prosa bas-

tante introspectiva. Convide, então, os alunos a escrever

sobre sentimentos, na forma de um diário ou de uma carta

(virtuais ou não). Para tanto, eles escolherão colocar-se no

lugar de Virginia ou no de Vanessa, ou seja, como a pessoa

que sofre porque precisa de ajuda ou como alguém que

sofre tentando ajudar o outro. Os alunos não devem se ater

ao que está no livro: a ideia é imaginar conflitos e situações

diferentes, usando as próprias experiências. Como estímulo,

leve para a sala de aula alguns exemplos literários de prosa

introspectiva ou de exploração psicológica, de preferência

escrita em primeira pessoa, que seja acessível às crianças.

• KHEL, Maria Rita. O tempo e o cão:a atualidade das depressões. São Paulo:Boitempo, 2009.

Em três ensaios, a psicanalista e escritora paulista discorre sobre a depressão como sintoma social contemporâneo.

• PERES, Urania Tourinho. Depressão emelancolia. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

Com diferentes abordagens, ambas as obras fornecem subsídios para o leitor contextualizar historicamente, definir e compreender melhor os conceitos de melancolia e depressão.

Para o aluno

• ANTOINE-ANDERSEN, Véronique. Artepara compreender o mundo. São Paulo:Edições SM, 2007.

Com abordagem crítica, texto bem-humorado e reproduções de obras de todos os tempos, proporciona verdadeiro debate sobre a função da arte.

• BUARQUE, Chico. ChapeuzinhoAmarelo. 13. ed. Rio de Janeiro: JoséOlympio, 2003.

Brincando com a história de Chapeuzinho Vermelho e fazendo uso de trocadilhos e jogos de palavras, Chico Buarque constrói uma fábula sobre os medos de coisas reais ou imaginárias e sua superação.

• SENDAK, Maurice. Onde vivem osmonstros. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

Sendak é um dos principais autores de literatura infantojuvenil, tendo influenciado Kyo Maclear na abordagem de aspectos problemáticos da infância, sem idealizá-la. Nesse livro, Max é colocado de castigo e elabora sentimentos como raiva e frustração por meio da imaginação.

• TAN, Shaun. Regras de verão. São Paulo:Edições SM, 2014.

Dois garotos, um mundo à parte, onde cada ato mínimo pode deflagrar eventos surpreendentes. Por sorte, há regras para afastar os riscos e a experiência do mais velho para ensinar o mais novo. elaboração do guia Chantal Castelli (poeta e doutora em Teoria Literária

e Literatura Comparada pela USP); edição Lígia Azevedo e Graziela R. S. Costa Pinto; preparação Marcia Menin; revisão Carla Mello Moreira