a pedra negra (o mundo sombrio, robert e. howard)

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  • 7/24/2019 A Pedra Negra (O Mundo Sombrio, Robert E. Howard)

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    A Pedra Negra

    Bem vindo, leitor!

    Se voc novo por aqui, prepare-se: voc est prestes a conhecer uma obrade Robert E. Howard, mestre da antasia criador de personagens icnicos comoConan, o Brbaroe Solomon Kane!

    Se voc conhece a obra de H. P. Lovecraft(amigo pessoal de Howard), vai per-ceber que A Pedra Negra um clssico do horror csmico ricamente inspiradonos Mitos de Cthulhu. Na trama, o narrador busca respostas em torno de lendasrelacionadas a um monlito sinistro que se eleva entre as montanhas da Hungria,e sobre o qual diz respeito a cultos e objetos de venerao sinistra.

    Familiar, no? Pois Este s o comeo!A Pedra Negra e outros contos clssicos de Robert E. Howard com a mesma

    inspirao lovecrafiana estaro presentes no novo livro da Editora Clock Tower:O Mundo Sombrio: Histrias dos Mitos de Cthulhu . No livro, fizemos uma co-

    letnea exclusiva e indita no Brasil dos contos mais sombrios e impactantes doautor inspirados no horror das obras de H. P. Lovecraf.

    O lanamento do livro est sendo atravs de uma campanha de financiamentocoletivo, que vai, a princpio, at o dia 08/11/2015. Alm dos 14 contos e poemasde Howard, o livro contar tambm com:

    Introduo de S.T. Joshi, a maior autoridade hoje na obra de H. P. Lovecraf; Precio de Rochett Tavares, escritor e estudioso da obra de Robert E. How-

    ard; Biografia completa do Robert E. Howard escrita por Rusty Burke, bigrao

    do autor; Ilustraes de Leander Moura, aclamado ilustrador de temas lovecrafia-

    nos; Um raro texto do prprio H.P. Lovecraf em memria de Robert E. Howard; Seu nome no livro, como colaborador do projeto!

    O livro indito e no tem previso de reimpresso ou reedio, ento trata-se de

    uma oportunidade nica. Saiba mais sobre o projeto e adquira o livro clicando naimagem abaixo:

    http://loja.sitelovecraft.com/produto/o-mundo-sombrio-historias-dos-mitos-de-cthulhu/
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    O Mundo Sombrio A Pedra Negra

    A Pedra Negra

    Dizem que criaturas srdidas de Tempos Antigos ainda espreitamEm sombrios cantos esquecidos do mundo.

    E Portes ainda se abrem para libertar, em certas noites.Formas confinadas no Inferno.

    O Povo do MonlitoJustin Geoffrey

    U LI ISSO PELA primeira vez no estranho livro de Von Junzt, oalemo excntrico que viveu to curiosamente e morreu de ormato horrenda e misteriosa. Foi sorte minha ter acesso ao seu Cul-

    tos Inominveis na edio original, o chamado Livro Negro, publicado emDusseldor em 1839, pouco antes de que a runa que o espreitava tomasseconta do autor. Colecionadores de literatura rara estavam amiliarizadoscom Cultos Inominveis, principalmente devido traduo barata e de-ficiente que oi pirateada em Londres por Bridewall em 1845, e a ediocuidadosamente expurgada, publicada pela Editora Golden Goblin de NovaYork, em 1909. Mas, o volume no qual tropecei oi uma das cpias alemsno expurgadas, com capa pesada de couro negro e echos enerrujados demetal. Duvido que, atualmente, existisse mais do que meia dzia de tais vol-umes no mundo, pois a quantidade publicada no oi grande, e quando oboato de como ora a morte do autor se espalhou, muitos proprietrios dolivro queimaram seus volumes em pnico.

    Von Junzt passou a vida inteira (1795-1840) se aproundando em assun-tos proibidos; viajou por todas as partes do mundo, ez parte de inmerassociedades secretas e leu incontveis originais de livros e manuscritos es-otricos pouco conhecidos; e nos captulos do Livro Negro, que variam desurpreendente clareza de exposio obscura ambiguidade, h afirmaese insinuaes que congelam o sangue do homem pensativo. Ler o que VonJunzt ousou publicar, levanta especulaes inquietantes quanto ao que eleno ousou contar. Quais questes obscuras, por exemplo, estavam contidasnaquelas pginas cuidadosamente escritas que constituam o manuscritono publicado, no qual ele trabalhou incansavelmente por meses antes desua morte, e o qual estava rasgado e espalhado por todo o cho da cmaraechada e trancada, onde Von Junzt oi encontrado morto com as marcasde garras em sua garganta? Nunca se saber, pois o amigo mais prximo do

    E

    autor, o rancs Alexis Ladeau, depois de passar a noite inteira reunindo ospedaos e lendo o que estava escrito, os queimou e cortou a prpria gargantacom uma navalha.

    Mas o contedo do material publicado perturbador o suficiente, mes-mo se or aceita a viso geral de que ele apenas representa os delrios de umlouco. Ali, entre muitas coisas estranhas, encontrei meno Pedra Neg-ra, aquele monlito curioso e sinistro que se eleva entre as montanhas daHungria, e sobre a qual tantas lendas sombrias se aglomeram. Von Junztno devotou muito espao a ela, a maior parte de seu trabalho sombrio dizrespeito a cultos e objetos de venerao sinistra, os quais ele afirmava queexistiam em sua poca, e parecia que a Pedra Negra representa alguma or-dem ou ser perdido e esquecido h sculos. Mas ele alou sobre isso comouma das chaves, uma rase usada muitas vezes por ele, em vrias narrati-

    vas, constituindo uma das obscuridades de seu trabalho. E ele brevementemencionou aparies curiosas perto do monlito na Noite de Solstcio deVero*. Mencionou a teoria de Otto Dostmann, que diz que o monlitoera um remanescente da invaso dos hunos e ora erigido para comemorara vitria de tila sobre os godos. Von Junzt contradisse esta declarao semornecer ato reutatrio algum, apenas observando que atribuir a origemda Pedra Negra aos hunos era to lgico quanto assumir que Guilherme OConquistador construra Stonehenge.

    Esta implicao de importante antiguidade despertou imensamente meuinteresse e, aps algumas dificuldades, consegui localizar uma cpia moadae devorada por ratos do Remanescentes de Imprios Perdidos, de Dost-mann (Berlin, 1809, Editora Der Drachenhaus). Fiquei desapontado aosaber que Dostmann reeriu-se Pedra Negra ainda mais brevemente do queVon Junzt, dispensando a ela poucas linhas, como um arteato comparativa-mente moderno em contraste com as runas greco-romanas da sia Menor,as quais eram seu tema avorito. Ele admitiu sua inabilidade para entender

    os caracteres desfigurados no monlito, mas os declarou indiscutivelmentemongoloides. Entretanto, pelo pouco que sei sobre Dostmann, ele mencio-nou o nome da vila adjacente Pedra Negra, Stregoicavar, um nome neasto,que significava algo como Cidade da Bruxa.

    Um exame minucioso em guias e artigos sobre viagem no me orne-ceu maiores inormaes. Stregoicavar, que no pude encontrar em mapaalgum, encontra-se em uma regio selvagem e pouco requentada, ora darota de turistas casuais. Mas encontrei assunto para pensar no Folclore Ma-giar, de Dornly. Em seu captulo sobre Mitos de Sonhos, ele menciona a

    *No original: Midsummers Night, reere-se ao solstcio de vero, que acontece entre 21 e 25 de junho, a dataexata varia em dierentes culturas. Na Igreja Catlica, a data 24 de junho, dia de So Joo.

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    F G

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    Pedra Negra e relata algumas supersties curiosas relacionadas a ela, es-pecialmente a crena de que se qualquer pessoa dormir perto do monlito,ser eternamente assombrada por pesadelos monstruosos; e citou contosdos camponeses a respeito de pessoas muito curiosas que se aventurarama visitar a Pedra na Noite de Solstcio de Vero e morreram loucas devido aalgo que viram ali.

    Isto oi tudo que pude vislumbrar de Dornly, mas meu interesse oi atmais intensamente despertado quando senti uma aura distintamente sinistrasobre a Pedra.

    A insinuao de antiguidade sombria e a aluso repetitiva a eventos so-brenaturais durante a Noite de Solstcio de Vero tocaram algum instintoadormecido em meu ser, da mesma maneira que se sente, mais do que seescuta, o fluir de algum rio subterrneo sombrio dentro da noite.

    E, repentinamente, vi uma conexo entre esta Pedra e certo poema es-tranho e antstico, escrito pelo poeta louco, Justin Geoffrey: O Povo doMonlito. Investigaes levaram inormao de que Geoffrey realmenteescrevera aquele poema enquanto viajava pela Hungria, e no duvidei deque a Pedra Negra osse exatamente o monlito ao qual ele se reeria em seuestranho verso. Lendo suas estroes novamente, senti mais uma vez as estra-nhas agitaes sombrias de indues subconscientes que percebera quandopela primeira vez li sobre a Pedra.

    Eu andara procurando por um local para passar umas rias breves, e medecidi; ui para Stregoicavar. Um trem antiquado me levou de Temesvar atuma distncia ainda notvel de meu objetivo, e uma viagem de trs dias emum coche que sacudia me trouxe at o pequeno vilarejo que repousa em um

    vale rtil, nas montanhas cobertas de pinheiros. A viagem em si oi tran-quila, mas, durante o primeiro dia, passamos pelo velho campo de batalhade Schomvaal, onde o bravo cavaleiro polaco-hngaro, o Conde Boris Vla-dinoff, ez sua corajosa e inrutera resistncia contra os exrcitos vitoriosos

    de Solimo, o Magnfico, quando o Grande Turco varreu a Europa Orientalem 1526.O cocheiro me mostrou uma grande pilha de pedras despedaadas sobre

    uma colina prxima, debaixo da qual, ele disse, descansam os ossos do bravoConde. Lembro-me de uma passagem de Guerras Turcas, de Larson. Apso conflito (no qual o Conde, com seu pequeno exrcito, repelira a guardaturca que se encontrava na dianteira) o Conde permanecia em p debaixodas paredes semidestrudas do velho castelo na colina, dando ordens quanto disposio de suas tropas, quando um assistente lhe trouxe um pequenoestojo laqueado que oi tomado do corpo do amoso escriba e historiadorturco, Selim Bahadur, que tombara na luta. O Conde pegou dali um rolo de

    pergaminho e comeou a ler, mas logo ficou muito plido devido ao con-tedo e, sem dizer uma palavra, retornou o pergaminho ao estojo e o enfiouem seu capote. Neste instante exato, repentinamente uma bateria turca abriuogo, as balas atingiam o velho castelo, e os hngaros ficaram horrorizadosao ver as paredes desmoronarem em runas, cobrindo completamente o bra-

    vo Conde. Sem um lder, o pequeno exrcito corajoso oi eito em pedaose, durante a guerra avassaladora dos anos seguintes, os ossos dos nobreshomens nunca oram recuperados. Atualmente, os nativos apontam parauma pilha enorme e deteriorada de runas prxima a Schomvaal sob a qual,eles dizem, ainda repousa tudo o que os sculos deixaram do Conde BorisVladinoff.

    Achei o vilarejo de Stregoicavar lrico e sonolento, que aparentementecontradizia seu cognome sinistro, um redemoinho do passado despreza-

    do pelo Progresso. As casas estranhas, e as vestimentas e condutas aindamais estranhas da populao, pertenciam a algum sculo anterior. Eles eramamigveis, ligeiramente curiosos, mas no inquisitivos, embora visitantes domundo externo ossem extremamente raros.

    Dez anos atrs outro americano veio para c e ficou poucos dias no vilare-jo disse o proprietrio da taverna onde eu me hospedara, um indivduojovem e esquisitomurmurou para si mesmo um poeta, eu acho.

    Entendi que ele deveria estar se reerindo a Justin Geoffrey.Sim, ele era poeta, respondi, e escreveu um poema sobre um pouco da

    paisagem prxima a este exato vilarejo. mesmo? O interesse de meu anfitrio oi aguado. Ento, uma vez

    que todos os grandes poetas so estranhos em seus discursos e atitudes, eledeve ter alcanado grande ama, pois suas aes e conversas eram as maisestranhas que j vi.

    Como normal com artistas, respondi, a maior parte de seu reconhec-imento veio com a sua morte.

    Ele est morto, ento?Ele morreu gritando em um hospcio cinco anos atrs.Que pena, que pena, suspirou meu anfitrio com simpatia. Pobre rapaz,

    ele olhou por tempo demais para a Pedra Negra.Meu corao deu um salto, mas disarcei meu interesse ardente e disse ca-

    sualmente. Escutei algo sobre esta Pedra Negra; est em algum lugar prx-imo a este vilarejo, no ?

    Mais prximo do que os cristos gostariam, respondeu. Olhe! Ele mepuxou para uma janela de trelia e apontou para as encostas cobertas de pin-heiros das contemplativas montanhas azuis. L, alm de onde voc enxergaa ace nua daquele penhasco saliente est a Pedra amaldioada. Pudesse ser

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    moda at o p e o p arremessado ao Danbio para ser levado ao oceanomais proundo! Certa vez tentaram destru-la, mas cada homem que usoumartelo ou marreta contra ela teve um final miservel. Portanto, agora todosa evitam.

    O que existe de to maligno sobre ela?, perguntei com curiosidade. algo assombrado pelo demnio, ele respondeu inquieto e com o in-

    dcio de um tremor. Em minha inncia, soube de um homem jovem queveio de terras baixas e riu de nossas tradies. Em sua imprudncia, ele oiat a Pedra em uma Noite de Solstcio de Vero e, ao amanhecer, cambaleoude volta ao vilarejo, mudo e louco. Algo estraalhara seu crebro e selara seuslbios, pois at o dia de sua morte, que chegou logo aps, alou apenas paraproerir blasmias terrveis ou babar bobagens sem nexo.

    Meu prprio sobrinho, quando era muito pequeno, se perdeu nas mon-

    tanhas e dormiu na mata, prximo Pedra e agora, em sua vida adulta, tor-turado por sonhos imundos; a noite se torna horrenda devido a seus gritos,e ele acorda ensopado em suor rio.

    Mas, vamos alar de outra coisa, Herr ; no bom insistir nesse assunto.Comentei a respeito da idade evidente da taverna e ele respondeu com

    orgulho. As undaes tm mais de 400 anos; a casa original oi a nica novilarejo que no se destruiu pelo ogo quando o demnio de Solimo varreuas montanhas. Aqui, na casa que permaneceu nessas mesmas undaes, dito que o escriba Selim Bahadur estabeleceu seu quartel-general enquantoassolava a regio.

    Soube, ento, que os atuais habitantes de Stregoicavar no eram descen-dentes do povo que residia ali antes da invaso turca de 1526. Os muul-manos vitoriosos no deixaram um nico ser vivo nas cercanias por ondepassaram; homens, mulheres e crianas oram varridos em um holocaustorubro de assassinato, deixando uma vasta extenso do pas em silncio ecompletamente deserta. Os moradores atuais de Stregoicavar so descen-

    dentes de ortes colonos vindos dos vales mais baixos, que vieram para ovilarejo arruinado depois que os turcos oram repelidos.Meu anfitrio no alou sobre o extermnio dos moradores originais com

    qualquer ressentimento, e percebi que seus antepassados das terras maisbaixas olhavam para os montanheses com at mais dio e averso do queolhavam para os turcos. Ele oi um tanto vago com relao s causas destarixa, mas disse que os habitantes originais de Stregoicavar possuam o hbitode azer ataques urtivos s plancies e roubar garotas e crianas. Alm disso,alou que eles no eram exatamente do mesmo sangue de seu prprio povo;a vigorosa linhagem eslava-magiar se misturou e miscigenou com uma raaaborgene degradada, at que as raas se undissem, produzindo uma com-

    binao repulsiva. Ele no tinha a menor ideia de quem eram esses abor-genes, mas afirmava que eram pagos e haviam residido nas montanhasdesde tempos imemoriais, antes da chegada dos povos conquistadores.

    Dei pouca importncia a esta histria; enxerguei nela um mero paralelocom a uso das tribos celtas com os aborgenes do Mediterrneo nas colinasGalloway; com a raa miscigenada resultante que, como os pictos, possuiampla participao em lendas escocesas. O tempo tem um curioso eeito deperspectiva sobre o olclore, e, como as histrias dos pictos se entrelaaramcom lendas de uma raa mongoloide mais antiga, logo a eles oi atribuda aaparncia repulsiva dos primitivos atarracados, cuja individualidade se un-diu em narrao lendas pictas, sendo depois esquecida; portanto, pensei,os supostos atributos inumanos dos primeiros aldees de Stregoicavar pode-riam ser atribudos a mitos obsoletos mais antigos dos invasores hunos e

    mongis.Na manh seguinte minha chegada, recebi instrues de meu anfitrio,que as deu com preocupao, e parti para encontrar a Pedra Negra. Umacaminhada de poucas horas nas encostas cobertas de pinheiros me levou ata ace do penhasco de pedra slida e irregular que se projetava de maneiraabrupta da montanha. Uma trilha estreita serpenteava para cima e, subindopor ela enxerguei do alto o vale tranquilo de Stregoicavar que parecia cochi-lar, protegido em ambos os lados pelas grandes montanhas azuis. Choupanaalguma ou qualquer sinal de moradia humana existia entre o penhasco ondeeu estava e o vilarejo. Vi azendas espalhadas pelo vale, mas todas estavamdo outro lado de Stregoicavar, que parecia se encolher diante das encostascontemplativas que escondiam a Pedra Negra.

    O pico dos penhascos provou ser um tipo de planalto densamente ar-borizado. Depois de uma curta caminhada por meio da densa vegetao,cheguei a uma vasta clareira; ao centro, erguia-se uma figura solitria depedra negra.

    Possua ormato octogonal, com aproximadamente cinco metros de al-tura e pouco menos de meio metro de espessura. Evidentemente, j oraextremamente polida no passado, mas agora a supercie estava densamentemarcada, como se esoros selvagens tivessem sido eitos para destru-la;mas os martelos haviam eito um pouco mais do que descamar pequenospedaos da pedra e mutilar os caracteres que um dia evidentemente subiamem uma linha espiral ao redor do objeto, at o topo. A aproximadamente3 metros da base, estes caracteres estavam quase completamente apagados,sendo muito dicil traar sua direo. Mais acima estavam mais aparentes,e consegui me contorcer parte do caminho coluna acima e examin-los deperto. Todos estavam mais ou menos apagados, mas eu tinha certeza de que

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    no simbolizavam linguagem alguma existente hoje na ace da Terra. Estouamiliarizado com todos os hierglios conhecidos por pesquisadores e filol-ogistas e posso dizer, com certeza, que todos os caracteres no se pareciamcom coisa alguma que eu j lera ou ouvira em minha vida. A maior semel-hana a eles que eu j vira oram alguns rabiscos rudes em uma pedra gi-gante e estranhamente simtrica em um vale perdido de Iucat. Lembro-mede que quando apontei para essas marcas, o arquelogo que estava em minhacompanhia afirmou que elas representavam desgaste natural ou o arranharocioso de algum indgena. Para a minha teoria de que a pedra era, na ver-dade, a base de uma coluna desaparecida h muito, ele apenas riu, chamandominha ateno para as suas dimenses, as quais sugeriam que, se ela tivessesido construda com qualquer regra normal de simetria arquitetnica, seriauma coluna de mais de 300 metros de altura. Mas, eu no estava convencido.

    No direi que os caracteres na Pedra Negra ossem similares queles napedra colossal em Iucat; mas uma pedra sugeria a outra. Quanto substn-cia do monlito, de novo eu estava perplexo. A pedra da qual era compostoera de um negro de bri lho dbil, cuja supercie, que no estava golpeada ouspera, criava uma iluso curiosa de semitransparncia.

    Passei a maior parte da manh ali e voltei conuso. Conexo alguma daPedra com qualquer outro arteato no mundo me era insinuada. Era comose o monlito tivesse sido construdo por mos desconhecidas, em uma eradistante e parte do conhecimento humano.

    Retornei ao vilarejo com meu interesse em nada diminudo. Agora, queeu vira o curioso objeto, meu desejo estava ainda mais intensamente agua-do para investigar o assunto e procurar saber quais mos desconhecidas epor qual estranho propsito a Pedra Negra ora construda h tanto tempo.

    Procurei pelo sobrinho do taverneiro e o questionei em relao a seussonhos, mas ele oi vago, apesar das minhas tentativas. Ele no se importouem discuti-los, mas oi incapaz de descrev-los com qualquer clareza. Em-

    bora ele tivesse os mesmos sonhos repetidamente, e apesar de serem terriv-elmente vividos no momento, no deixavam qualquer impresso distinta emsua mente desperta. Ele se lembrava deles apenas como pesadelos caticospelos quais enormes chamas rodopiantes atiravam lnguas horripilantes deogo e um tambor negro rugia incessantemente. Apenas de uma coisa ele serecordava claramente, em um sonho, ele vira a Pedra Negra, no em umaencosta da montanha, mas como um pinculo em um castelo negro colossal.

    Quanto ao resto dos aldees, encontrei-os no inclinados a alar sobre aPedra, com a exceo do proessor da escola, um homem de educao sur-preendente, que passou muito mais tempo no mundo aora do que o restan-te.

    Ele estava muito interessado no que lhe contei sobre as observaes deVon Junzt a respeito da Pedra, e concordou calorosamente com o autoralemo com relao idade alegada do monlito. Ele acreditava que certa

    vez existira um coven* nas vizinhanas, e que possivelmente todos os aldeesoriginais tinham sido membros daquele culto de ertilidade que ameaou ar-ruinar a civilizao europeia e originou os contos de bruxaria. Citou o nomeexato do vilarejo para provar sua concluso; no havia sido originalmentechamado Stregoicavar, ele disse. De acordo com lendas, os construtores ohaviam chamado de Xuthltan, que era o nome aborgene do local no qual o

    vilarejo ora construdo sculos atrs.Este ato despertou novamente em mim uma indescritvel sensao de

    mal-estar. O nome brbaro no sugeria conexes com qualquer raa cita,eslava ou mongol, qual um povo aborgene destas montanhas, sob circun-

    stncias normais, teria pertencido.Era evidente que os magiares e eslavos dos vales mais baixos acreditavamque os habitantes originais do vilarejo eram membros do culto de bruxaria,disse o proessor, devido ao nome que lhe deram; nome que continuou a serusado mesmo depois que os antigos colonos oram massacrados pelos tur-cos e o vilarejo reconstrudo por uma raa mais pura e saudvel.

    Ele no acreditava que os membros do culto tenham erigido o monlito,mas supunha que o usavam como centro de suas atividades, e, repetindo len-das vagas que haviam sido transmitidas antes da invaso turca, desenvolveua teoria de que os aldees degenerados o haviam usado com um tipo de altarno qual oereciam sacricios humanos, usando como vtimas as garotas e osbebs roubados de seus prprios antepassados dos vales.

    Ele no levou em considerao os mitos de estranhos eventos durante aNoite de Solstcio de Vero, nem a lenda curiosa de uma estranha deidade, aqual se dizia que que era invocada pelas bruxas de Xuthltan com cnticos erituais selvagens de flagelao e matana.

    Nunca visitara a Pedra na Noite de Solstcio de Vero, ele disse, mas noteria medo de az-lo; seja o que or que existira ou tenha acontecido ali nopassado, h muito ora envolto nas brumas do tempo e do esquecimento. APedra Negra perdera seu significado, exceto como ligao para um passadomorto e empoeirado.

    Foi enquanto eu retornava de uma visita a este proessor, em uma noi-te aproximadamente uma semana aps minha chegada a Stregoicavar, queuma lembrana repentina me atingiu, era Noite de Solstcio de Vero! Omomento exato em que as lendas se conectavam com terrveis implicaes Pedra Negra. Aastei-me da taverna e caminhei rapidamente pelo vilarejo.* Coven: assembleia de bruxas (especialmente um grupo de 13).

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    Stregoicavar permanecia em silncio; os aldees se retiravam cedo. No vipessoa alguma medida que caminhei rapidamente para ora do vilarejo esubi em direo aos pinheiros que mascaravam as encostas com escuridosussurrante. Uma lua prateada flutuava sobre o vale, inundando penhascose encostas com uma luz estranha e delineando as sombras escuras. Vento al-gum soprava entre os pinheiros, mas misteriosos murmrios e sussurros in-tangveis existiam ora dali. Certamente em tais noites de sculos passados,minha luntica imaginao me disse, bruxas nuas, montadas em vassourasmgicas, voavam sobre o vale, perseguidas por demnios zombeteiros.

    Fui at os penhascos e oi um pouco inquietante notar que a luz ilusriada lua os deixava com uma aparncia misteriosa que eu no notara antes luz antstica, eles pareciam menos como penhascos naturais e mais comoas runas de muralhas construdas por ciclopes e tits, projetando-se das

    encostas das montanhas.Livrando-me desta alucinao com dificuldade, ui at o plat e hesiteipor um momento antes de mergulhar na escurido desencorajante da mata.Uma espcie de tenso oegante pairava sobre as sombras, como um mon-stro invisvel prendendo a respirao para no assustar sua presa.

    Livrei-me da sensao que era natural, considerando a lugubridade dolugar e sua reputao maligna e caminhei pela mata, experimentando o sen-timento desagradvel de estar sendo seguido, e me detive uma vez, com acerteza de que algo na escurido, pegajoso e oscilante, roara contra meurosto.

    Cheguei clareira e vi o alto monlito elevando sua altura sombria acimado gramado. No limite da mata, no lado voltado para os penhascos, existiauma pedra que ormava uma espcie de assento natural. Sentei-me, refletin-do que era provvel que, enquanto estava ali, o poeta louco, Justin Geo-rey, escrevera seu antstico O Povo do Monlito. Meu anfitrio pensouque ora a Pedra que causara a insanidade de Geoffrey, mas as sementes de

    loucura haviam sido semeadas na mente do poeta muito antes de sua vindaa Stregoicavar.Uma espiada em meu relgio me mostrou que era quase meia-noite.

    Recostei-me, esperando qualquer demonstrao antasmagrica que pu-desse aparecer. Um vento noturno raco comeou a soprar entre os ramosdos pinheiros, com uma sugesto inquietante de dbeis flautas invisveis sus-surrando uma melodia sinistra e malvola. A monotonia do som e meu olharpetrificado para o monlito produziram uma espcie de auto-hipnose; mesenti sonolento. Lutei contra este sentimento, mas a dormncia se apoderoude mim contra minha vontade; o monlito parecia oscilar e danar, estran-hamente distorcido a meu olhar e, ento, adormeci.

    Abri meus olhos e tentei me levantar, mas continuava deitado, como seuma mo gelada me agarrasse sem que eu, impotente, pudesse reagir. Umglido terror se apoderou de mim. A clareira no estava mais deserta. Eu es-tava em meio a uma multido silenciosa de pessoas estranhas, e meus olhosarregalados notaram detalhes brbaros esquisitos nas vestimentas, as quaisminha razo me disse que eram antigas e esquecidas, mesmo nessa terraatrasada. Com certeza, pensei, estes eram aldees que vieram at ali para re-alizar alguma antstica assemblia, mas outra espiada me disse que aquelesno eram o povo de Stregoicavar. Eles eram uma raa mais baixa e atarraca-da, cuja ronte era mais baixa, e cujos rostos eram mais largos e estpidos.Alguns tinham caractersticas eslavas e magiares, mas elas eram degradadaspor uma mistura de alguma linhagem estrangeira e mais baixa que eu noconseguia classificar. Muitos vestiam peles de animais selvagens, e toda a

    sua aparncia, tanto de homens como de mulheres, possua uma brutalidadesensual. Eles me apavoraram e repeliram, mas no me deram ateno. For-maram um vasto meio crculo em rente ao monlito e iniciaram um tipo decntico, arremessando seus braos em unssono e balanando seus corposritmicamente da cintura para cima. Todos os olhos estavam fixos no topo daPedra, que parecia invocada por eles. Mas o mais estranho de tudo oi a altade clareza de suas vozes; a menos de 45 metros de mim centenas de homense mulheres estavam, sem equvoco algum, levantando suas vozes em umcntico selvagem, e, ainda assim, suas vozes chegavam at mim como umraco murmrio indistinguvel, como se atravessasse vrias lguas de Espaoou tempo.

    Diante do monlito havia uma espcie de braseiro, do qual subia umaumaa amarela repulsiva, enrolando-se curiosamente em uma espiral quebalanava ao redor da coluna negra, como uma grande cobra que serpentea-

    va.Em um dos lados do braseiro, estavam duas figuras: uma garota jovem,

    totalmente nua, com mos e ps amarrados; e uma criana que aparenta terapenas alguns meses de vida. No outro lado do braseiro, uma velha bruxaestava agachada, com um tipo de tambor negro em seu colo; ela tocava otambor com leves golpes lentos das palmas abertas, mas eu no conseguiaouvir o som.

    O ritmo dos corpos oscilantes oi acelerado e, no espao entre as pessoase o monlito, surgiu uma jovem garota nua, os olhos ardentes, os longos ca-belos negros voando soltos. Girando vertiginosamente em seus calcanhares,ela rodopiou pelo espao aberto e caiu prostrada diante da Pedra, onde per-maneceu imvel. Logo aps, uma figura antstica a seguiu; um homem decuja cintura pendia uma pele de cabra, e cujo rosto estava completamente

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    N O

    O Mundo Sombrio A Pedra Negra

    escondido por uma espcie de mscara eita com uma enorme cabea delobo, de modo que parecia um ser monstruoso de pesadelo, horrivelmentecomposto de elementos tanto humanos quanto bestiais. Segurava um maode longos gravetos de pinheiro, unidos pelas extremidades maiores, e o luarbrilhava em uma corrente pesada de ouro em seu pescoo. Uma correntemenor presa a ela insinuava algum tipo de pingente que no estava aparente.

    As pessoas agitavam seus braos violentamente e pareciam redobrar seusgritos para esta criatura grotesca, que galopava pelo espao aberto com mui-tas cambalhotas e antsticos saltos. Vindo at a mulher que permaneciadiante do monlito, comeou a aoit-la com os gravetos que carregava, eela pulou e girou para os labirintos selvagens da dana mais incrvel que eu

    j vira. Seu algoz danava com ela, mantendo o ritmo selvagem, igualandocada giro e sa lto, enquanto espalhava incessantemente golpes cruis em seu

    corpo nu. E a cada golpe ele gr itava uma nica palavra, de novo e de novo, etodos a gritavam em resposta. Eu conseguia ver o movimento de seus lbios,e, ento, o murmrio raco e longnquo de suas vozes se undiu e misturoucom outro som distante, repetido de novo e de novo com xtase salivante.Mas qual era a palavra, no pude entender.

    Em giros cambaleantes rodopiavam os danarinos selvagens, enquantoos espectadores, ainda em suas trilhas, acompanhavam o ritmo de sua danacom o oscilar de corpos e braos. A loucura crescia nos olhos da devota cam-baleante, e era refletida nos olhos dos espectadores. Mais selvagem e extrav-agante se tornou o renesi rodopiante daquela dana louca, se tornou algobestial e obsceno, enquanto a bruxa velha uivava e tocava o tambor comouma louca, e os gravetos estalavam uma melodia do demnio.

    Sangue escorria dos membros da danarina, mas ela parecia no sentiro aoitamento, exceto como um estmulo para mais perversidades de mov-imento ultrajante; limitada dentro da bruma da umaa amarela, que agoraespalhava tnues tentculos para abraar as duas figuras flutuantes, ela pare-

    cia se undir com aquela bruma nociva e se cobrir com ela. Ento, surgin-do para a clara viso, seguida de perto pela besta que a aoitava, se atirouem uma indescritvel exploso de loucos movimentos dinmicos, e na cristadessa onda louca, repentinamente caiu no gramado, tremendo e oegante,como se completamente superada por seus esoros renticos. O aoita-mento continuou com violncia e intensidade no reduzidas, e ela comeoua se contorcer de bruos em direo ao monlito. O padre ou como eu iriacham-lo a seguiu e enquanto ela se contorcia, aoitava com toda a ora seucorpo desprotegido, que deixava um rastro pesado de sangue na terra pisa-da. Ela alcanou o monlito, e arando oegante, arremessou os braos sobreele, cobrindo a pedra ria com beijos quentes selvagens, como em adoraorentica e proana.

    O padre antstico dava saltos altos, atirando para longe os gravetos mer-gulhados em sangue, e os adoradores, uivando e espumando, se atiraramuns aos outros com unhas e dentes, rasgando suas vestimentas e sua carnesimultaneamente, em uma paixo cega de bestialidade. O padre arrebatou acriana com o longo brao, e, gritando de novo aquele Nome, girou no ar obeb que lamentava e arremessou seu crnio contra o monlito, deixandouma mancha medonha na supercie negra. Petrificado de horror, eu o virasgar o pequeno corpo com seus prprios dedos brutais e arremessar pun-hados de sangue no obelisco; depois, atirar a orma vermelha e despedaa-da no braseiro, apagando as chamas e a umaa em uma chuva carmesim,enquanto os brutos enlouquecidos atrs dele uivavam o Nome, de novo ede novo. Ento, repentinamente, todos caram prostrados, contorcendo-secomo cobras, enquanto o padre lanava suas mos ensanguentadas em um

    amplo movimento, como se em triuno. Abri minha boca para gritar meuhorror e repugnncia, mas apenas um rudo seco soou; uma figura enorme,que parecia um sapo monstruoso, estava agachada no topo do monlito.

    Vi seu contorno inchado, repulsivo e oscilante contra o luar, e, posicio-nados no que deveria ter sido o rosto de uma criatura normal, seus olhosenormes piscavam, refletindo toda a luxria, a ganncia abismal, a obscenacrueldade e o mal monstruoso que tm perseguido os filhos dos homens des-de que seus antepassados se moviam cegos e sem pelos pelas copas das r-

    vores. Naqueles olhos terrveis estavam espelhadas todas as coisas proanas eos segredos vis que dormiam nas cidades embaixo do mar e se escondiam daluz do dia na escurido das cavernas primitivas. E, desse modo, aquela coisamedonha, a qual o ritual proano de crueldade, sadismo e sangue evocou dosilncio das colinas, olhou maliciosamente e piscou para seus adoradoresbestiais, que rastejavam em detestvel humilhao diante dele.

    Ento, o padre com mscara de besta levantou, com suas mos brutas, agarota amarrada que se contorcia debilmente, e a segurou em direo quele

    horror no monlito. E, medida que aquela monstruosidade salivante sor-veu sua respirao com luxria, algo estalou em meu crebro e ca em mi-sericordioso desmaio.

    Abri meus olhos em um ainda plido amanhecer. Todos os acontecimen-tos da noite correram de volta para mim e me levantei de um salto, olhandoao meu redor com espanto. O monlito pairava sombrio e silencioso sobreo gramado, que balanava verde e intacto na brisa da manh. Uns poucospassos rpidos me levaram atravs da clareira; aqui, os danarinos haviampulado e saltado at que o cho ficasse sem grama, e aqui a devota contor-ceu seu caminho doloroso at a Pedra, jorrando sangue na terra. Mas, gotaalguma de carmim existia no gramado intacto. Olhei, tremendo, para o lado

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    P Q

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    do monlito contra o qual o padre bestial despedaara o crnio do bebroubado, mas mancha escura nem cogulo macabro alguns apareciam ali.

    Um sonho! Eu tivera um pesadelo selvagem ou ento encolhi meus om-bros. Que vvida clareza para um sonho!

    Retornei calmamente ao vilarejo e entrei na hospedaria sem ser visto. El me sentei, meditando sobre os estranhos acontecimentos da noite. Mais emais estava propenso a descartar a teoria do sonho. Aquilo que eu vira erauma iluso e sem substncia material, isso era evidente. Mas eu acreditavaque olhara para a sombra refletida de uma ao perpetrada em uma real-idade medonha no passado. Mas, como eu soubera? Quais as provas paramostrar que minha viso ora um encontro de srdidos espectros ao invsde um pesadelo originado em minha mente?

    Como se para uma resposta, um nome brilhou em minha mente Selim

    Bahadur! De acordo com a lenda, este homem, que ora soldado e tambmescriba, comandara a parte do exrcito de Solimo que devastara Stregoi-cavar; parecia lgico o suficiente; e se osse assim, ele ora diretamente dointerior devastado at o sangrento campo de batalha de Schomvaal, bemcomo para sua runa. Levantei-me de um salto com um grito repentino,aquele manuscrito que ora tomado do corpo do turco, e devido ao qual oConde Boris estremeceu, poderia no conter qualquer narrao do que osconquistadores turcos encontraram em Stregoivacar? O que mais poderiater estremecido os nervos de ao do aventureiro polons? E, uma vez queos ossos do conde nunca oram recuperados, o que era mais certo do que oestojo laqueado, com seu misterioso contedo, ainda continuar escondidoembaixo das runas que cobriam Boris Vladinoff? Comecei a azer minhamala com pressa eroz.

    Trs dias mais tarde me encontrei abrigado em um pequeno vilarejo apoucos quilmetros do antigo campo de batalha, e, quando a lua surgiu,estava trabalhando com intensidade selvagem na grande pilha de pedras em

    runas que coroava a colina. O trabalho rduo oi exaustivo. Agora, olhandopara trs, eu no consigo ver como o realizei, embora trabalhasse sem umapausa, do anoitecer at o amanhecer. No momento em que o sol nascia, colo-quei de lado o ltimo emaranhado de pedras e olhei para tudo aquilo queera mortal do Conde Boris Vladinoff, apenas alguns mseros ragmentos deossos despedaados, e entre eles havia um estojo esmagado, cuja supercielaqueada o havia mantido longe da completa decadncia atravs dos sculos.

    Agarrei o estojo com nsia rentica, e, colocando algumas pedras sobreos ossos, parti apressado, pois no queria ser descoberto por camponesesdesconfiados em um ato de aparente proanao.

    De volta minha cmara na taverna, abri o estojo e encontrei o perga-minho relativamente intacto; e havia algo mais ali,num pequeno objeto ach-atado, envolto em seda. Eu estava ansioso para sondar os segredos daquelaspginas amareladas, mas o cansao me proibiu. Desde que deixei Stregoi-

    vacar eu mal havia dormido, e os esoros terrveis da noite anterior me su-peraram. Involuntariamente, ui orado a me esticar em minha cama, e noacordei at o anoitecer.

    Fiz uma rpida reeio, e, em seguida, luz de uma vela bruxuleante, mesentei para ler os organizados caracteres turcos que cobriam o pergaminho.Foi um trabalho dicil, pois no sou proundamente versado na lngua, eo estilo antigo da narrativa me conundia. Mas, medida que trabalhavanele, uma palavra ou rase aqui e a li saltava em minha direo e um crescen-te terror indistinto me apertou em suas garras. Dobrei erozmente minhas

    energias para a tarea, e, como o conto se tornou mais claro e assumiu umaorma mais tangvel, meu sangue gelou nas veias, meus cabelos arrepiarame minha lngua aderiu minha boca. Todas as coisas externas participavamda loucura apavorante daquele manuscrito inernal; at os sons noturnosde insetos e cr iaturas na mata tomaram a orma de murmrios medonhos epassos urtivos de horrores macabros, e o suspiro do vento noturno se trans-ormava em riso de obscena exultao maligna sobre as almas dos homens.

    Finalmente, quando o amanhecer cinzento se esgueirava pela janela detrelias, guardei o manuscrito e desembrulhei o objeto que estava no pedaode seda. Olhando fixamente para ele com olhos atigados, soube que a ver-dade do assunto estava decidida, mesmo que tenha sido possvel duvidar da

    veracidade daquele terrvel manuscrito.Substitu os dois objetos obscenos no estojo e no descansei, dormi ou

    comi at que ele tivesse sido preenchido com pedras e arremessado na cor-rente mais prounda do Danbio, a qual, Deus queira, o tenha levado de

    volta ao Inerno de onde veio.

    No oi um sonho que tive na Noite de Solstcio de Vero, nas colinassobre Stregoicavar. Bom para Justin Geoffrey que ele tenha permanecido aliapenas durante o dia e seguido seu caminho, pois tivesse ele contempladoa assembleia medonha, sua mente louca teria desabado diante disso. Comominha prpria razo suportou, eu no sei.

    No, no oi um sonho; eu contemplei uma reunio repugnante de devo-tos h muito mortos, vindos do Inerno para adorar como antigamente; an-tasmas que se curvavam diante de um antasma, pois o Inerno h muitoreivindicara seu deus horrendo. Ele habitou as colinas h muito, um vestgioperturbador de uma era ultrapassada, mas suas garras obscenas no maisbuscam por almas de seres viventes; seu reino est morto, habitado apenaspelos antasmas daqueles que o serviam em vida.

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    R S

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    Por meio de qual alquimia medonha ou eitiaria ateia os Portes do In-erno so abertos naquela noite horripilante eu no sei, mas vi com meusprprios olhos. E olhei para criaturas no viventes naquela noite, pois omanuscrito escrito pela cuidadosa mo de Selim Bahadur narrou detalhada-mente o que ele e seus cavaleiros encontraram no vale de Stregoicavar; e euli, em detalhes, as obscenidades blasemas que a tortura arranca dos lbiosde adoradores que gritam; e eu li, tambm, sobre a negra caverna sombriaperdida nas colinas, onde os turcos horrorizados cercaram um ser monstru-oso, inchado e chaurdante com aparncia de sapo, e o mataram com ogo eao antigo abenoado em tempos antigos por Muhammad, e com encanta-mentos que eram velhos quando a Arbia era jovem. E, mesmo firme, a vel-ha mo de Selim tremeu quando ele registrou os cataclsmicos e estremece-dores uivos de morte da monstruosidade, a qual no morreu sozinha; dez de

    seus assassinos pereceram com ele, de uma orma que Selim no quis ou nopode descrever.E aquele dolo achatado, esculpido em ouro e envolto em seda, era uma

    imagem dele, e Selim o arrancou da corrente de ouro do pescoo do sumosacerdote mascarado assassinado.

    Bom que os turcos varreram o vale srdido com tochas e ao puro! Taisvises, as quais aquelas montanhas contemplativas haviam observado, per-tenciam escurido e aos abismos de eras perdidas. No, no o medo doser em orma de sapo que me az estremecer noite. Ele est preso no Iner-no com sua horda nauseante, livre apenas por uma hora durante a noite maisestranha do ano, como eu vi. E de seus adoradores, nenhum permanece.

    Mas a constatao de tais coisas, que uma vez se agacharam como bestassobre as almas dos homens, que me traz o suor rio ronte; e eu temo espi-ar novamente as olhas da abominao de Von Junzt. Por ora, entendo suarase repetida de chaves! Sim! Chaves para Portas Externas, conexes comum passado repugnante e, quem sabe, de repugnantes eseras do presente. E

    entendo que os penhascos se paream com muralhas ao luar e porque o so-brinho do taverneiro, assombrado por pesadelos, viu em seu sonho a PedraNegra como um pinculo em um castelo negro ciclpico. Caso os homensalgum dia tenham escavado entre aquelas montanhas, eles podem ter encon-trado coisas incrveis abaixo daquelas encostas mascarantes. Pois, a cavernaonde os turcos prenderam a coisa no era verdadeiramente uma caverna,e eu estremeci ao pensar sobre o gigantesco golo de eras que devem se es-tender entre esta poca e o tempo em a terra estremeceu e erigiu, como umaonda, aquelas montanhas azuis que, surgindo, envolveram coisas inimag-inveis. Possa homem algum tentar arrancar aquele pinculo medonho queos homens chamam de Pedra Negra!

    Uma Chave! Sim, uma Chave, smbolo de um terror esquecido. Aqueleterror despareceu no limbo do qual viera rastejando de maneira asquerosa,na aurora negra da terra. Mas, e quanto s outras possibilidades demonacas,sugeridas por Von Junzt e quanto monstruosa mo que suocou sua vida?Desde que li o que Selim Bahadur escreveu, no posso mais duvidar de coisaalguma no Livro Negro. O homem no oi sempre o mestre da terra? E ele agora?

    E o pensamento retorna a mim, se uma entidade monstruosa como oSenhor do Monlito sobreviveu, de alguma maneira, sua prpria e distantepoca, quais as ormas inominveis que podem agora mesmo espreitar noslugares escuros do mundo?

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