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CENTRO DE ENSINO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ CESUMAR CRISTIANE VILELA Vinho Novo e Odres Novos Trabalho apresentado ao Centro Universitário de Maringá, como parte da avaliação para o bimestre na disciplina: Exegese e Estudos Bíblicos no NT, do curso de Bacharel em Teologia. Prof.: Marcelo Aleixo Gonçalves

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Page 1: Vinho Novo e Odres Novos - Howard

CENTRO DE ENSINO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ

CESUMAR

CRISTIANE VILELA

Vinho Novo e Odres Novos

Trabalho apresentado ao Centro

Universitário de Maringá, como parte

da avaliação para o 2º bimestre na

disciplina: Exegese e Estudos

Bíblicos no NT, do curso de Bacharel

em Teologia.

Prof.: Marcelo Aleixo Gonçalves

MARINGÁ

2014

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IGREJAS, TEMPLOS E TABERNÁCULOS

A aliança mosaica e os quarenta anos no deserto não se limitaram a formar a fé dos

hebreus; eles têm muito a nos ensinar também sobre a natureza da comunidade do

povo de Deus sobre a igreja. Os três elementos centrais na aliança mosaica eram

sacrifício, sacerdócio e tabernáculo. Juntos, como partes da lei mosaica e acoplados a

ela, constituíam a base revelada para relação de aliança entre Deus e seu povo

escolhido. Também é verdade, mas bem menos enfatizado, que Jesus Cristo é o

cumprimento do tabernáculo (Hb 8-9). “Porque Cristo não entrou em santuário feito

por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por

nós, diante de Deus” (Hb 9.24). O corpo de Cristo é, em certo sentido, “o verdadeiro

tabernáculo”. Assim, a comunidade dos crentes, o “corpo de Cristo”, é também parte

do verdadeiro tabernáculo, pois a igreja é “casa de Deus” (Hb 3.6; 1Tm 3.15),

“santuário” (Ef 2.21; 2Co 6.16), “habitação de Deus” (Ef 2.22).

Na aliança mosaica, o tabernáculo era o símbolo da presença de Deus. “E me farão

um santuário, para que eu possa habitar no meio deles” (Ex 25.8). A ideia central era

habitação de Deus no meio do seu povo. Deus não podia habitar de verdade no

coração das pessoas por causa dos seus pecados e rebeldia; sua habitação tinha de ser

simbólica. Mas para Igreja, o tabernáculo tem seu cumprimento no corpo de Cristo,

como já vimos. Agora Deus habita com o seu povo nos corações e nos corpos da

comunidade dos crentes, mediante a habitação interior do Espírito Santo.

A idéia central do tabernaculo é, claramente, a habitação de Deus. Mas no Novo

Testamento, Deus habita no coração das pessoas, e não apenas entre elas de medo

simbólico. O povo de Deus habitando eternamente em comunhão, na Koinonia, do

Espírito Santo. Dessa forma, vemos uma tríplice progressão: primeiro, Deus habitando

simbolicamente entre o seu povo numa estrutura física chamada tabernáculo.

Segundo, Deus realmente habitando dentro do coração e na comunidade do seu povo

mediante o Espírito Santo. Terceiro, Deus habitando eternamente com o seu povo, em

perfeita e inquebrantável comunhão, na era vindoura.

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O tabernáculo é o símbolo da presença de Deus junto ao seu povo e, como tal, acima

de tudo, é um símbolo móvel. Tudo é feito para ser desmontado e carregado com

facilidade. E isso Não foi ideia de Moisés; era de acordo com o modelo revelado no

monte, como a Escritura repete várias vezes. Se o tabernáculo representa a presença

de Deus, representa com certeza a natureza dinâmica de Deus e a mobilidade do povo

de Deus. Deus começou a peregrinação; ele determinou que ela durasse quarenta

anos; ele criou um povo peregrino. Isso foi para Israel uma grande lição objetiva sobre

a natureza do seu Deus. Segundo o mandado do Senhor, os filhos de Israel partiam e,

segundo o mandado do Senhor, se acampavam; por todo o tempo em que a nuvem

pairava sobre o tabernáculo, permaneciam acampados. Às vezes, a nuvem ficava

desde a tarde até a manhã; quando, pela manhã, a nuvem se erguia, punham-se em

marcha; quer de dia, quer de noite, erguendo-se a nuvem, partiam.

O tabernáculo foi idéia de Deus; foi seu projeto. Ele ordenou sua construção. Mas e

quanto ao templo? Deus enviou palavras ao rei Davi. O rei Davi era rico, próspero e

estava em período de paz. Desse modo, o templo foi ideia de Davi, não de Deus. Além

disso, Davi era rei, e a monarquia também não era ideia de Deus (1Sm8.4-9). Deus

permitiu a construção do templo, mas não por Davi. Este fez os preparativos, mas foi

Salomão quem construiu. Em contraste com o tabernáculo, o projeto não veio o

Monte Sinai. Deus não foi o arquiteto. Enquanto Salomão estava construindo o

templo, uma palavra veio de Deus: “Quanto a esta casa que tu [observe, tu, não eu]

edificas, se andares nos meus estatutos, e executares os meus juízos, e guardares

todos os meus mandamentos, andando neles, cumprirei para contigo a minha palavra,

a qual falei a Davi, teu pai. E habitarei no meio dos filhos de Israel e não desampararei

o meu povo” (1 Rs 6.12-13).

O sinal mais exato da presença de Deus em sua igreja aqui na terra é o tabernáculo,

e apenas de modo secundário o templo. O tabernáculo é o verdadeiro símbolo, pois

mostra de modo mais acurado como Deus age na história. Mas o significado primário e

escatológico. Na realidade concreta Davi peca, a monarquia se degenera, a cidade

santa está cheia de sangue e o culto no templo acaba no final mergulhado num

institucional ismo morto. A glória desta última casa será maior do que a da primeira

(Ag 2.3-9). Aqui se faz uma referência ao futuro escatológico (como em outras

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passagens similares) e não no futuro imediato do templo material, que não podia (e

nunca conseguiu) se comparar ao primeiro templo, se Salomão.O templo material é

apenas a sombra do que está para vir no reino futuro de Deus, quando o Senhor irá

abalar o céu e a terra, o mar e a terra seca (Ag 2.21-23). O templo e o reino

representam mais exatamente o reino escatológico de Cristo, a ser consumado na era

vindoura. Tanto o tabernáculo como o templo representam a habitação de Deus com o

seu povo. Um templo já não é mais necessário. Tudo o que precisavam era de um lugar

para se reunirem como comunidade cristã. O lugar mais natural era o lar (At 2.46;

5.42). O tabernáculo do Testemunho estava entre os nossos pais no deserto, como

determinara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha

visto... até os dias de Davi.Eles resistem ao Espírito Santo por confiar no templo físico,

e não vêem Jesus Cristo como o cumprimento tanto do tabernáculo como do templo,

como sacerdote e rei ao mesmo tempo.

Eles rejeitaram a Jesus Cristo e estão confiando naquilo que já não tem mais

significado. Teologicamente, a igreja não precisa mais de templos. Edifícios não são

essenciais para a verdadeira natureza da igreja, pois o tabernáculo simbolizava a

habitação de Deus, e Deus já habita dentro da comunidade humana dos crentes

cristãos. Um prédio de igreja não ode ser um “lugar santo” em nenhum sentido

especial, pois lugares santos não existem mais, e toda criação é sagrada. O cristianismo

não possui lugares santos, apenas povo santo. Os cristãos sabem que Deus está

presente em todos os lugares, pois a terra é do Senhor.De qualquer forma, a igreja

primitiva não construiu prédios.

A conclusão de que a igreja, teologicamente, não precisa de edifícios é reforçada

pela diferença que já vimos que existe entre o tabernáculo e o templo. Notamos que

aparentemente Deus prefere o tabernáculo ao templo como o sinal de sua habitação

com seu povo, pois o primeiro enfatiza que o Senhor é dinâmico, não estático, móvel,

um Deus de surpresas. E dessa forma, o tabernáculo mostra que o povo de Deus –

igreja – é móvel e flexível, formado por peregrinos. Um templo não pode ser movido;

ele só pode ser destruído. Ele é estático. E assim, na Bíblia Deus não manda a igreja

construir templos. O tabernáculo é o sinal mais exato de sua presença, e mesmo ele já

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se cumpriu e passou. Além disso, edifícios se tornam um retorno à sombra do Antigo

Testamento e uma traição contra a realidade do Novo.

Do ponto de vista teológico, edifícios de igrejas são na melhor das hipóteses

desnecessários e, na pior, idolátricos. Todos os três deixaram de ser instituições e se

tornaram algo vivo, mediante o Espírito de Cristo que dá vida e por meio do seu Corpo,

que somos nós. Segundo John Havlik em people-Centred Evangelism: “A igreja nunca é

um lugar, mas sempre um povo; nunca um curral, mas sempre um rebanho; nunca um

edifício sagrado, mas sempre uma assembleia dos que crêem. A igreja é você que ora,

não onde você ora. Uma estrutura de tijolos mármore não pode ser igreja mais do que

sus roupas de sarja ou cetim podem ser você. ” A igreja é a comunidade do povo de

Deus, a habitação do Espírito de Deus.

A igreja primitiva possuía essas duas qualidades, e os dois primeiros séculos d.C.

foram o período da maior vitalidade e crescimento da igreja até os tempos recentes.

Em outras palavras, a igreja cresceu mais rápido quando não havia a ajuda ou o

impedimento de suas instalações. As instalações de igrejas são uma espécie de

testemunho. Existe cinco coisas acerca da igreja de hoje:

Em primeiro lugar, edifícios de igrejas São um testemunho de nossa imobilidade. Os

cristãos devem ser um povo móvel. No Antigo Testamento, o tabernáculo portátil era o

símbolo da presença de Deus em comunhão com seu povo, como vimos no capítulo

anterior. Antigo Testamento não se cumpre em edifícios impressionantes, mas em

templo feito de carne, ou seja, pessoas comuns. Segundo lugar, edifícios de igrejas são

um testemunho de nossa inflexibilidade. A comunicação será de mão única (se é que

isso é comunicação) – pregador para o povo – isso é ditado pela arquitetura petrifica o

programa. Em terceiro lugar, edifícios da igreja são um testemunho de nossa falta de

comunhão. Não são feitos para comunhão, para a koinonia no sentido bíblico. Prédios

de igrejas são feitos para culto, mas culto sem comunhão se torna frio e divorciado da

realidade. Mas se devemos prestar culto ao Senhor juntos, precisamos estar juntos.

Para que possamos nos comunicar um com outro enquanto cultuamos, precisamos

enxergar um ao outro. E assim, um visitante pode frequentar uma igreja durante

semanas e nunca encontrar a comunhão cativante, calorosa e amorosa que atrai uma

pessoa a Cristo. Em quarto lugar, edifícios de igrejas são um testemunho do nosso

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orgulho. Mas pode ser que tal pensamento não passe de uma racionalização do

orgulho carnal. Podemos esquecer que nosso rei escolhe ser um servo, e somos

chamados para servir a ele servindo a outros. É a igreja que deve buscar o perdido, e

não o contrário. Segundo, a motivação está errada. Tentamos atrair o pecador

apelando ao orgulho (“Temos hoje o prazer e a honra de receber em nossa escola

dominical a visita da Sra. Hackett, mãe da nossa querida Sandra. Esperamos que ela

volte no próximo domingo, com o seu esposo...”). Essa não era a abordagem de Cristo.

Muitas vezes, nossas igrejas acabam competindo entre si no plano arquitetônico. Essa

é a pior face da evangelização.

Um evangelho segundo os padrões do Novo Testamento não precisa causar boa

impressão mediante um edifício atraente. A igreja deve se levantar por Cristo contra as

vaidades da cultura humana. Por fim, edifícios de igrejas são um testemunho das

nossas divisões de classe e raça. A igreja primitiva era uma mistura de ricos e pobres,

judeus e gregos, negros e brancos, incultos e instruídos. Mas com seus prédios, as

igrejas estão anunciando publicamente que isso não é verdade hoje. Escolhem uma

que parece ser “do seu tipo” – uma igreja formada por pessoas com aproximadamente

o mesmo nível de renda e de educação, posição política e cor. Mas o edifício é um

testemunho. É uma placa sinalizadora denunciando ao mundo a consciência de classe

e o exclusivismo da igreja. Nossos prédios, portanto, dão testemunho da imobilidade,

inflexibilidade, falta de comunhão, orgulho e divisões de classes na igreja de hoje.

“Igreja” significa pessoas, a comunidade dos discípulos. Naqueles dias a igreja era

móvel, flexível, acolhedora, humilde, envolvente – e crescia que era uma loucura. “Mas

as pessoas não vão ser atraídas para uma escola ou um pequeno salão. ” Bem, há dois

tipos de pessoas – as que são comprometidas com Cristo e as que não são. As que são

realmente comprometidas com Cristo e sua igreja vão se reunir em qualquer lugar. As

que não são, é verdade, provavelmente não se reunirão num humilde escritório. Mas

isso é irrelevante se a igreja for uma comunidade missionária e se a unidade básica for

o grupo pequeno. Nesse caso, a evangelização ocorre fora da igreja. Por isso, não deve

haver preocupação em atrair os não-comprometidos ao lugar de culto, nem há

motivos para isso. Quando eles encontraram a Cristo, virão para o culto. A igreja deve

formar duas congregações quando crescer e suas instalações ficarem pequenas. A

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unidade básica de uma organização seria o grupo pequeno, e a tese é que toda função

essencial da igreja pode ser desenvolvida efetivamente por meio desses grupos.

A Igreja –Corpo. Programa suas reuniões de culto de acordo com o espaço

disponível em casas, escolas, salões alugados ou outras instalações. Sua estrutura é

orgânica, baseada numa rede de grupos pequenos interligados por experiências de

cultos coletivos de grupo grande. Sua estrutura celular é vista como normal, e não

provisória ou transicional. Essa igreja é espiritualmente completa.

A Igreja-Catedral. É o edifício que determina toda a programação e o estilo de vida

da igreja. Membros desse tipo de igreja só conseguem pensar que uma igreja sem

prédio é como um corpo sem esqueleto.

A Igreja-Tabernáculo. Essa igreja tem um edifício, mas este é estritamente

secundário e funcional.

A Igreja-Fantasma. Esse último tipo se orgulha de não ter nenhum edifício. Sua

existência nebulosa é baseada em reuniões ocasionais, realizadas quase de improviso;

e a despeito de todo o seu discurso acerca da comunidade, pode ser altamente

individualista.

Resumindo; enquanto a Igreja-Corpo reproduz do modo mais claro a experiência do

Novo Testamento, a Igreja-Tabernáculo pode ser uma legítima encarnação da

comunidade do povo de Deus em alguns contextos. Os modelos Catedral e Fantasma

esqueceram ou não conseguiram discernir o significado real da “igreja”.

Uma pequena análise deve revelar se uma igreja é realmente fiel à visão bíblica do

povo de Deus ou se ela sucumbiu ao complexo de edifício. Como podemos descobrir?

Parece-me que qualquer igreja que...

- gaste mais dinheiro em prédios que em projetos na comunidade e em evangelização;

- realize todas as suas reuniões somente “na igreja”;

- coloque manutenção e construção antes da missão e evangelização;

- recuse-se a usar instalações para qualquer atividade que não seja “sagrada”;

- meça a espiritualidade pelo número de corpos humanos dentro das quatro paredes;

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Nesses dias, tão semelhantes aos tempos do Novo Testamento, os edifícios

tradicionais de igreja são um anacronismo que ela mal consegue manter. Isso não quer

dizer que uma igreja nunca deveria possuir propriedades. Mas significa que qualquer

propriedade, qualquer prédio, deve ser encarado sem apego, deve servir para a missão

da igreja e ser uma expressão de uma compreensão mais bíblica da verdadeira

natureza da igreja. Qualquer edifício encarado dessa maneira deve ser funcional – um

meio, não um fim.

A igreja precisa de mais pastores qualificados, melhor treinamento. Mais atenção

para encaminhar aqueles jovens talentosos que Deus pode estar chamando “para o

ministério”. Melhor trabalho de caça-talentos para descobrir os superstars. Uma

quantidade abundante de dons permanece enterrada porque esses talentos são

aparentemente desnecessários. É verdade que ninguém na igreja dá mostras de que

vai se tornar um superstar como o Pastor Jones. Como era a igreja primitiva? Paulo

tinha um impressionante desprezo em relação à ideia de superstar:

Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos

serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo

Deus é quem opera tudo em todos. A manifestação do Espírito é concedida a cada um

visando a um fim proveitoso... Parque, assim como o corpo não é um só membro, mas

muitos. Se disser o pé: porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de

ser do corpo... Mas Deus dispôs os membros, mas um só corpo...

Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo. A uns

estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em

terceiro lugar, mestres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de

línguas (1Co 12.4-7, 12, 14-15, 18-20, 27-28).

Se o pastor é um superstar, então a igreja é um auditório, não um corpo. Essas

palavras são para a igreja de todos os tempos, mesmo que hoje pareçam supérfluas

por termos agora todos os dons organizados. Não precisamos do Espírito para atiçar

dons para o ministério. Só precisamos de superstars para fazer a organização

funcionar. Mas a igreja de Jesus Cristo não pode ser movida a combustível para avião a

jato. Como foi que a igreja primitiva “teve sucesso” sem nossa organização, catedrais

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ou superstars? Suas congregações nunca ouviram que tinham de ter um superstar à

frente delas; por isso, todos os crentes trabalhavam juntos, edificando a comunidade

da fé. Muitos ministros em cada congregação. Como um corpo, cada parte exercendo

sua própria função.

A verdadeira comunhão cristã – que o Novo Testamento grego chama koinonia – é o

dom do Espírito para a igreja.

Essas passagens implicam duas dimensões: a dimensão vertical, da comunhão dos

crentes com Deus, e a dimensão horizontal, da koinonia deles, juntos, mediante o

Espírito Santo. Como James Reid escreveu sobre 2Coríntios 13.13: “Isso não significa

comunhão com o Espírito. É uma comunhão com Deus que ele compartilha, mediante

o Espírito que habita no seu povo, com os que membros do corpo de Cristo. A

comunhão do Espírito Santo é a verdade descrição da igreja. A comunhão espiritual na

igreja que é verdadeira koinonia é dádiva do Espírito; não é só uma característica da

nossa humanidade. É algo sobrenatural. Portanto, há duas coisas que a comunhão do

Espírito Santo não é:

1) não é aquele ambiente social superficial que a palavra comunhão significa em

nossas igrejas hoje. Em geral, esse tipo de “comunhão” não é sobrenatural; é a mesma

coisa que a reunião semanal.

2) por outro lado, Koinonia não é simplesmente uma comunhão mística que existe sem

nenhuma relação com a estrutura da igreja. Mas normalmente você não pode ter

comunhão com outra pessoa que não esteja presente. A comunhão do Espírito Santo

não é um poder que liga espiritualmente as pessoas enquanto estão separadas

fisicamente. Antes, é a profunda comunhão espiritual em Cristo que os crentes

vivenciam quando se reúnem como igreja de Cristo. 1. A Koinonia do Espírito Santo é

comunhão entre os crentes que o Espírito Santo concede. 2. É a comunhão de Cristo

com seus discípulos.

3) É a comunhão da igreja primitiva, descrita no livro de Atos. Os primeiros cristãos

conheciam uma unidade bem especial, unicidade de propósito, amor fraterno e

compartilhamento mútuo – em outras palavras, koinonia.

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4) É a contraparte terrena e antegozo da comunhão eterna do céu. A alegria do céu é a

liberdade da comunhão eterna com Deus e com os companheiros de fé, sem

limitações físicas.

5) É análoga à unidade, companheirismo e comunhão entre Cristo e o Pai. Existe um

paralelo entre a comunhão dentro da Trindade e a koinonia entre os crentes, e dos

crentes com Deus. A oração de Cristo em João 17 é especialmente sugestiva. Jesus

pede que os discípulos sejam um, como ele e o Pai são um.

No Pentecoste, o Espírito Santo deu à igreja nascente, entre outras coisas, o dom da

koinonia. Essa é a única explicação para a comunhão cristã primitiva descrita em Atos.

A criação da comunhão genuína é uma parte essencial da obra do Espírito. Nesse

sentido, a obra do Espírito Santo em cada crente não pode ser separada do que ele

está fazendo na igreja toda – a igreja não como grande número de crentes separados,

mais precisamente como comunidade de fé. A igreja deve fazer provisão suficiente

para poder se reunir a fim de vivenciar a koinonia. A igreja não experimenta a

comunhão do Espírito Santo se ela não se reúne em um ambiente propício à operação

do Espírito Santo.

Em segundo lugar, a comunhão do Espírito Santo naturalmente é ligada à

comunidade. Comunhão sem comunicação seria uma contradição de termos. Assim, a

igreja deve se reunir de tal modo que permita e encoraje a comunicação entre os

membros. O culto tradicional em geral não é a melhor estrutural para se vivenciar a

comunhão do Espírito Santo. Paulo dá-nos o princípio: “Onde está o Espírito do

Senhor, aí há liberdade” (2Co 3.17). O Espírito Santo é o libertador. A liberdade do

Espírito e a koinonia do Espírito caminham juntos. A igreja deve providenciar

estruturas suficientes informais e íntimas para permitir a liberdade do Espírito. O culto

é indispensável como reunião semanal da comunidade cristã. Mas é eficaz somente se

for o compartilhamento integral, por todas as pessoas, da amizade em Cristo que

tiverem experimentado durante aquela semana. A estrutura da igreja deve

proporcionar o estudo da Bíblia no contexto da comunidade.

A koinonia do Espírito Santo é vivenciada com maior probabilidade quando os

cristãos se reúnem informalmente na comunhão dos grupos pequenos. O grupo

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pequeno pode satisfazer os critérios acima. Põe os crentes juntos num ponto no

tempo e no espaço. Seu tamanho pequeno e sua intimidade permitem um alto grau de

comunhão e intercomunicação. Não requer uma estrutura formal; pode manter a

ordem sem sufocar a informalidade e a abertura favorável à liberdade do Espírito. E

por fim, oferece um contexto ideal para o estudo bíblico em profundidade.

No Antigo Testamento, laos “é a sociedade nacional de Israel de acordo com sua

base religiosa e distinção. ” No Novo Testamento, laos ocorre acerca de 140 vezes. É a

palavra que Paulo e Pedro usam para descrever a igreja como um povo, o novo Israel.

Assim, no Novo Testamento “um conceito cristão novo e figurado surge ao lado da

antiga visão biológica e histórica e a empurra para fora. ” A obra de Deus consiste no

chamamento de um povo, seja na Antiga Aliança seja na Nova. Biblicamente, podemos

distinguir pelo menos cinco características do povo de Deus.

1) A igreja é um povo escolhido. É Deus que age para escolher e formar um povo para

si. A igreja é o resultado da soberana graça de Deus (2Tm 1.9). Ela existe porque Deus

agiu graciosamente na história.

2) A Igreja é um povo peregrino. Adão e Eva não foram criados para serem peregrinos.

Deus lhes fez um lar que devia ter sido permanente. Adão e Eva se sentiam em casa no

mundo e em harmonia com seu ambiente – em termos morais, físicos e psicológicos.

Essa era a ecologia original da criação de Deus. Dessa forma, daí para frente a história

da redenção é a história dos atos de Deus chamando um povo para si. A igreja é um

povo peregrino, de “estrangeiros residentes”. A missão da igreja ainda é reconciliação.

3) A igreja é um povo da aliança. A relação entre Deus e seu povo é específica e tem

bases morais e éticas. Um dos principais significados da aliança é que ela coloca o povo

de Deus na história real. A Bíblia é um Livro da Aliança da igreja. O povo de Deus é um

povo “da Palavra”. A Bíblia é normativa para a vida da igreja não por causa de alguma

doutrina particular de inspiração, mas precisamos porque ela é o Livro da Aliança. A

igreja deve dar testemunho acerca dos atos pessoais de Deus através da história – e,

como o livro de Atos deixa claro, principalmente da ressurreição de Jesus Cristo At

2.32; 3.15; 4.33). Yoder enfatiza: a novidade política que Deus traz ao mundo é uma

comunidade dos que servem em vez de dominar, que sofrem em vez de infligir

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sofrimentos, cuja comunhão transpõe fronteiras sociais em vez de reforça-las. Essa

nova comunidade cristã... não é apenas um veículo ou fruto do evangelho; são as

próprias boas novas. Por fim, a igreja é um povo santo.

Em primeiro lugar, cada crente precisa se sentir parte de uma unidade orgânica

maior do povo de Deus. A igreja deve se reunir de um modo que encoraje e expresse

sua condição de povo. A igreja deve reunir-se regularmente como uma grande

congregação. Ela precisa se reunir efetivamente como um povo. O essencial é reunir

um grande grupo de crentes de modo regular e frequente – reuniões periódicas de

congregações menores e células num grande ajuntamento. A igreja precisa de festivais

periódicos que tenham um significado pactual. A igreja precisa de comemorações

análogas ao Dia da expiação e à Festa dos Tabernáculos, não análogas a grandes

concentrações, réveillon ou final de campeonato.

1) Celebração dos atos de Deus: alguns salmos recontam em sequência bíblica os atos

de Deus em relação ao seu povo. Esses salmos provavelmente eram usados nas

grandes assembleias reunidas para culto. Com certeza os atos de Deus podem ser

reconhecidos em vários momentos e pessoas, e isso pode ser legitimamente

celebrado, para dar glórias a Deus.

2) Renovação da aliança: envolve necessariamente o arrependimento, confissão e

nova dedicação a Deus. 3. Avaliação e definição. 4. Renovação de uma visão para o

futuro. Portanto, a base de existência da igreja como um povo deve estar sempre no

centro da própria estruturação da igreja. A igreja se constitui povo de Deus pela

Palavra de Deus.

A mente humana é meramente uma “máquina digital modificada de baixa

velocidade, com múltiplos em água salgada”. Mas a igreja deve conhecer a mente de

Cristo, a imagem renovada de Deus. Essas declarações revelam duas coisas: o caráter

de Jesus Cristo é o padrão para a igreja.

O Novo Testamento está se referindo à totalidade da pessoa humana, como um ser

racional, moral e espiritual. A imagem de Deus faz dos homens seres singulares em um

mundo de coisas, animais e máquinas. Essa singularidade será entendida de maneira

ligeiramente diferente em diferentes épocas e culturas. Elementos que foram

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claramente demonstrados na personalidade e caráter de Jesus Cristo e são, dessa

forma, significativos para a igreja, o seu Corpo.

Espontaneidade é básica à personalidade. Espontaneidade é a imprevisibilidade de

Jesus, que nunca se encaixou nos moldes de ninguém. Espontaneidade é o criativo no

homem e na mulher, a capacidade e o impulso para agir livremente. Kahn e Wiener

escreveram: a moderna sociedade industrial é altamente diferenciada e, por isso

mesmo, requer grande integração para poder funcionar... a maior riqueza e tecnologia

aperfeiçoada nos proporcionam uma gama bem mais ampla de alternativas; mas,

assim que uma dessas alternativas é escolhida, tornam-se indispensáveis regularmente

e imposição de ordem. Essa espontaneidade, singular à personalidade humana e

proporcionada pelo Espírito Santo, está sendo ameaçada pela sociedade tecnológica.

A sociedade tecnológica, é claro, não está muito interessada no que é singular em

cada pessoa, mas sim naquilo que elas têm em comum – o que pode ser contado,

padronizado, computado, manipulado. Precisamos hoje de um medo saudável de

qualquer tendência de reduzir a evangelização e a experiência religiosa a mera

tecnológica. Diante da quantificação da sociedade e da manipulação das pessoas, os

cristãos precisam apregoar que a individualidade é um dom de Deus e parte essencial

da mente de Cristo.

A tecnologia comportamental ira, quando solicitada, gera uma moralidade que

venha ao encontro das necessidades sociais. Tal moralidade tecnológica é totalmente

oposta à fé cristã. A igreja, contudo, é chamada para aprofundar nossa capacidade

moral e dar-lhe significado por meio de relacionamentos centralizados em Cristo, tanto

horizontais como verticais. Nossa consciência moral – que nos foi dada como um

capacita dor de relacionamentos verdadeiros, amorosos e santos – pode muito

facilmente ser manipulada por técnicas “espirituais” que visam manter as pessoas na

linha. Mandar uma criança ficar quieta na igreja porque ali é a casa de Deus, além de

ser uma teologia ruim, pode ser simplesmente uma técnica para induzir um

comportamento desejado.

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Autoconsciência. A igreja de Jesus Cristo não pode nunca se esquecer de que a

autoconsciência é um dom de Deus. Mas como o fundamento indispensável para a

comunicação, para o amor, para os atos de vontade e, portanto, para o culto.

Vontade. A vontade é parte da imagem de Deus e da mente de Cristo. As pessoas

comportam-se de certas maneiras, mas acreditar que esse comportamento brota de

uma escolha consciente é uma ilusão. Os cristãos bíblicos assumem um Deus pessoal,

volitivo e consciente, em lugar da visão embaçada de uma pressuposição empírica. A

fé cristã é impensável sem o fato da vontade de Deus – e por derivação, da vontade do

homem e da mulher.

A mente de Cristo não transforma o cristão num robô controlado pelo Espírito.

Nosso alvo não é ser “controlado” pelo espírito. Antes, mediante a presença do

Espírito, os cristãos são capacitados a exercer livremente sua vontade para fazer a

vontade de Deus. Em nenhum lugar as Escrituras dizem que devemos ser controlados

pelo Espírito; antes somos guiados pelo Espírito, manifestando o fruto do domínio

próprio (Gl 5.22). De todas as pessoas, os cristãos devem ser as mais “voluntariosas”,

mas com sua vontade submissão a Deus, como criaturas diante do Criador.

A igreja deve ser estruturada de forma a afirmar a singularidade e o valor da

personalidade humana. Deve insistir em que o que é verdadeiro acerca de cada pessoa

é verdadeiro também acerca da igreja: ela tem valor porque é obra de Deus. A igreja

existe não para si mesma, mas para servir. Isso é verdade, mas apenas uma meia-

verdade. A igreja é o corpo de Cristo. Se Cristo morreu pela igreja e a ama, então a

igreja tem um valor singular. Independentemente do que ela faz no mundo, a igreja

tem valor e significa porque Deus a criou. A estrutura da igreja deve reconhecer e

honrar a pessoa toda para que a mente de Cristo se torne uma realidade na igreja.

Toda a esfera da vida da pessoa deve ser o campo especial de ação da igreja.

A educação e o treinamento devem focalizar a pessoa e não permitir que ninguém

se perca no grupo, até mesmo durante o uso de dinâmicas de grupo e interação. Em

todas as áreas da vida da igreja deve haver um reconhecimento de que Cristo chama,

salva e habita pessoas específicas para sua glória, e sua obra se manifestará de

maneiras tão variadas quanto os cristais de neve ou as falhas de uma árvore – tão

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variadas como a própria personalidade humana. Nos planos de Deus, a igreja é a

família de Deus e a família é a igreja de Deus.

A estrutura da igreja deve ser flexível e variedade. A estrutura da igreja deve

proporcionar uma variedade de oportunidades para o ministério e para a expressão do

significado da fé em Cristo. A vida da comunidade cristã deve produzir os tipos de

mudanças sugeridas no exemplo a seguir. A tarefa da igreja não é tirar os cristãos das

ruas, mas enviá-los equipados para as tarefas do reino. A comunidade cristã deve ser

estruturada para tal capacidade. A estrutura da igreja deve ser construída sobre os

dons espirituais.

A estrutura da comunidade deve ser baseada em modelos e figuras bíblicos, e não

em modelos tomados da indústria, educação ou governo. O plano de Deus ainda é

“fazer convergir nele, ..Todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.10). A

igreja compartilha com Cristo o segredo de que a presente batalha será ganha por

Jesus, porque a vitória foi conquistada na cruz. A encarnação da mente de Cristo na

igreja requer pensamento claro e reavaliação do modelo estrutural básico da igreja.

A igreja como Corpo de Cristo é um organismo vivo. Todas as figuras da Bíblia para a

igreja indicam modelos de igreja vivos, flexíveis e organizados em células, como já

vimos. O equilíbrio ecológico que sustenta uma igreja saudável, a medida que ela

experimenta a koinonia do Espírito, encarna a mente de Cristo. A vida da igreja pode

ser vista ecologicamente como uma interação dinâmica de muitas partes. Entender a

ecologia da igreja significa discernir os elementos-chave e o modo pelo qual eles se

relacionam entre si. Paulo descreve um quadro ecológico da igreja em 1 Coríntios 12,

usando a analogia do corpo humano. Cada crente é um membro do corpo, e a saúde

do corpo como um todo depende do funcionamento apropriado e da interação de

todos os membros. Ef 4.15-16, Paulo enfatiza igreja como organismo vivo, carismático,

dependente da graça de Deus.

O modelo começa com o propósito da igreja. A igreja deve ser sinal, símbolo e

precursora do Reino de Deus. A igreja existe para o Reino. Falando de modo mais

simples, propósito da igreja é glorificar a Deus. Sendo assim, um modelo ecológico

orienta avida da igreja para a glória de Deus.

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Ao descrever a igreja como a família ou casa de Deus (oikos no grego do Novo

Testamento), é útil enxergar a igreja como uma comunidade de adoração, comunhão e

testemunho. A igreja é uma comunidade ou uma fraternidade de vida compartilhada,

uma koinonia. A igreja desempenha o serviço de adoração, mas mediante uma vida de

louvor a Deus – a igreja como uma contínua doxologia.

Adoração. Os cristãos primitivos “perseveravam... no partir do pão e nas orações”.

Reunindo-se em suas casas bem como em cultos com grupos maiores, os cristãos do

primeiro século mantinham a vitalidade da igreja mediante constante louvor e oração.

A adoração – louvor a Deus e ouvi-lo falar através da Palavra – é central na vida do

povo de Deus. A adoração é, acima de tudo, a igreja louvando a Deus. Na adoração, a

igreja celebra quem Deus é e tudo o que ele tem feito pelo seu povo, e também

renova o compromisso de viver para a glória de Deus.

A adoração é uma janela em um mundo totalmente fechado em si. A adoração muda

nossas vidas, pois por meio dela percebemos novamente que, de fato, vivemos em

dois mundos. A oração individual se completa no louvor coletivo. Deus nos fez para

que o glorifiquemos juntos. Devemos ser uma comunidade de adoração e louvor.

Edificar é oikodomein, construir uma família (oikos) ou comunidade de fé. “No Novo

testamento, a edificação não é usada no sentido subjetivo de intensificação do Espírito

Santo mediante a qual ele cria o povo de Deus e molda sua vida. ” Biblicamente,

edificação é a construção da comunidade tendo como alvo a pessoa e o caráter de

Jesus. Biblicamente, comunhão significa vida compartilhada com base em nosso novo

ser em Jesus Cristo. Ser comunidade cristão significa levar a sério o fato de que os

crentes são membros uns dos outros e, por conseguinte, assumir a responsabilidade

pelo bem-estar dois irmãos em Cristo em suas necessidades sociais, materiais e

espirituais.

Testemunho. Na vida da igreja, a adoração e a comunhão impulsionam o

testemunho da igreja. Antes de sua ascensão, Jesus disse a seus seguidores: “Sereis

minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria e até aos

confins da terra”. (At 1.8). O livro da Atos é a história do testemunho da igreja por todo

o mundo romano, em resposta às palavras de Jesus. Uma igreja fraca em adoração tem

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pouca vontade de testemunhar. Aliás, nem tem muita coisa a testemunha. De modo

semelhante, uma igreja sem uma vida comunitária vigorosa tem testemunho fraco

porque os crentes não estão crescendo em maturidade e aprendendo por um

individualismo exacerbado. Uma comunidade cristã viva tem a inclinação e o poder

para testemunhar. Ela testemunha por causa da sua preocupação com a necessidade

humana e por ter em vista o Reino de Deus que se aproxima. Ecologicamente, o

testemunho não é o propósito principal da igreja, mas o fruto inevitável e necessário

de uma comunidade que adora a Deus e cuida de seus membros com amor.

Adoração, comunhão e testemunho podem ser analisados de várias maneiras. Uma

delas, que parece ter certa lógica natural e equilíbrio, é a que vê a adoração como uma

interação entre instrução, arrependimento e celebração; a comunhão como um

elemento que consiste em disciplina, santificação e dons do Espírito; e o testemunho

como uma combinação de evangelização, serviço e justiça.

Celebração é a igreja no ato de louvar a Deus. Na adoração, a igreja celebra a pessoa

e a obra de Deus usando a música, liturgia, oração espontânea e outros meios.

Adoração não só glorifica a Deus, mas também nos liberta, nos purifica e nos fortalece.

A igreja em adoração celebra um Deus de ação, não de abstração. Adoração é celebrar

os atos de Deus na história e especialmente em Jesus Cristo. A adoração liberta a igreja

para o Reino. Louvamos a Deus não só pelo que ele tem feito, mas também por aquilo

que irá fazer. A Ceia do Senhor é um elemento muito importante nessa grande

celebração. A igreja é a comunidade da Palavra na mesma medida em que ela é a

comunidade do Espírito. A instrução é um componente básico da adoração. Pregação

significa a proclamação pública da Palavra aos não-crentes e o ensino da Palavra aos

crentes como parte da adoração regular. A disciplina significa discipulado, edificação

de uma comunidade de pessoas que sejam verdadeiros discípulos de Jesus.

A santificação é obra do Espírito, pela qual Deus restaura sua imagem nos crentes e

na comunidade da fé. É a manifestação do caráter de Cristo em seu corpo. Em suma,

podemos dizer que a disciplina, a santificação e os dons espirituais constituem a

ecologia da vida comunitária da igreja. O propósito de seu funcionamento conjunto é a

edificação da família de Deus de modo que ela possa de fato viver “para louvar da

glória de sua graça” (Ef 1.6).

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O serviço significa a ação da igreja como serva no mundo, segundo o exemplo de

Cristo. Na ecologia bíblica, a evangelização e o serviço combinam com o testemunho

profético da igreja a favor da justiça, renovando a sociedade e apontando de maneira

genuína para o Reino. Do ponto de vista ecológica, então, a evangelização, o serviço e

a justiça se combinam e interagem para constituir o testemunho da igreja no mundo.

Esse testemunho é alimentado e autenticado pela qualidade da adoração e vida

comunitária da igreja. Este modelo pode ser usado também para explorar as questões

de estrutura da igreja.

A fé cristã dá espaço para dons e criatividade com base na importante doutrina

bíblica dos dons do Espírito. Dons são dados para a comunidade e no contexto da

comunidade. A tendência de negar ou desacreditar os dons espirituais. A negação dos

dons espirituais é sinal de um equívoco básico quanto à natureza dos dons e, no fundo,

sobre a natureza da igreja. Os dons espirituais não podem ser desprezados sem que

haja uma correspondente desvalorização da visão bíblica de igreja e de vida cheia de

Espírito.

A tendência de superindividualizar os dons espirituais. A cada um, porém, é dada a

manifestação do Espírito, visando ao bem comum. Cada dom, concedido pela graça, é

equilibrado pela responsabilidade da comunidade e interação com ela. Cabe ressaltar

neste ponto que os pequenos grupos de estudo bíblico são especialmente úteis. O

grupo pequeno conduzido pelo Espírito constitui uma comunidade e oferece o

contexto tanto para despertar dons como para disciplinar seu uso. Mediante várias

células desse tipo, a comunidade maior da igreja é edificada.

A tendência de confundir os dons espirituais com capacidade inata. Os dons

espirituais resultam da operação do Espírito na vida do crente, de modo que são algo

mais do queo simples uso sábio e fiel de habilidades inatas. A tendência de exagerar

alguns dons e desprezar outros. Todos os dons são importantes, todos os dons são

necessários e todos são dados por Deus para o bem comum. A igreja, em vez de

capacitar todas as pessoas a desenvolver seus dons para o ministério, não só dentro da

igreja, como também junto à sociedade.

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A tendência de separar os dons espirituais da cruz. Cuidar da sua própria vida e

esquecer o bem-estar do grupo e as necessidades do mundo. O ministério não é

determinado exclusivamente pelo desejo pessoal, mas, sim, pela cruz. Mas precisamos

nos aprofundar mais para descobrirmos o verdadeiro significado da crucificação

quando começamos a realmente exercer nossos dons.

A igreja precisa descobrir hoje o que os cristãos primitivos já sabiam: reuniões de

grupos pequenos são essenciais para a vivencia e crescimento cristão. O sucesso de

uma reunião não é medido pelo número de pessoas. Sem o grupo pequeno, a igreja

numa sociedade high-tech simplesmente não experimenta um dos fundamentos mais

básicos do evangelho – a verdadeira, rica e profunda comunhão dos cristãos, a

koinonia.

As Estruturas dos pequenos grupos possuem uma vantagem tais como: maiores

flexibilidades das tarefas, planos, e até sua concentração é eficaz. Além disso, tem

mobilidade, é exclusivo, é pessoal, pode crescer por divisão, pode ser um meio eficaz

para evangelização, requer um mínimo de líderes profissionais e é adaptável a igreja

institucional.

Jess Moody diz: “venceremos o mundo quando percebemos que a comunhão, e não

a evangelização, deve ser nossa ênfase prioritária. Quando demonstramos o Grande

Milagre do Amor, não nos será necessário sair – eles virão até nós” eu diria que nossa

ênfase deve ser a evangelização através da comunhão, e em especial através de

koinonia. Isso é casar o milagre do amor com o convite de Cristo.

É preciso uma nova estrutura de vida congregacional que possibilite encontros

genuínos entre pessoas, um ambiente onde as máscaras do autoengano e da

desconfiança só serão mantidas com muita dificuldade e onde homens e mulheres

começarão a se relacionar uns com os outros no nível de sua verdadeira humanidade

em Cristo. Isso deve ser inserido na própria estrutura da vida da igreja. As igrejas em

geral não têm uma estrutura normativa para verdadeiro compartilhamento e

comunhão. O grupo pequeno, deve ser tanto suplementar como normativo:

suplementar porque não substitui o culto coletivo; normativo no sentido de ser uma

estrutura básica da igreja, tão importante quanto a celebração dos cultos.

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A experiência em muitos lugares ensina que tais reuniões devem ser tanto

normativas como regulares para uma igreja. No momento em que passam a ser

frequentadas por uns poucos piedosos, correm o risco de perder o seu impacto. Isso

não quer dizer que a maioria da congregação participará necessariamente, mas

significa que o padrão ideal de igreja, compartilhado pela liderança responsável, é

centrado em grupos pequenos. O ponto crucial é que as unidades pequenas sejam

vistas, não como um expediente temporário ou uma fórmula especial, mas como uma

estrutura essencial da vida congregacional em nossos dias.

Os grupos existem para servir; são “grupos de capacitação”, preparando os discípulos

para serem obedientes no mundo à semelhança de Cristo. Com o propósito de

obedecer e servir, os grupos pequenos devem colocar diante de si a tarefa objetiva de

estudar a Bíblia.

O grupo pequeno oferece alguma esperança de uma saída para o institucionalismo

sufocante de boa parte da vida da igreja. A maioria das igrejas locais está

sobrecarregada de bagagem organizacional que parece essencial. Uma igreja

missionária não precisa de uma sociedade missionária de mulheres, mas de mulheres

engajadas em missões. Os grupos pequenos em uma igreja, junto com os diáconos ou

a assembleia, podem preencher as exigências institucionais da igreja sem a

necessidade de se estabelecer uma multidão de organizações para completar o quadro

organizacional da denominação para a igreja local. Desse modo, concluímos que a

organização da igreja deve ser funcional para a missão. O tempo nos grupos pequenos

precisa ter em vista os compromissos seculares dos seus membros, para que o

precioso tempo requerido pela igreja seja usado para equipar os santos.

O grupo pequeno pode tornar-se estrutura básica em uma igreja local se houver

visão para isso e vontade de inovar. Entretanto não pode haver mudanças se não

haver uma reavaliação dos programas e das estruturas tradicionais. O grupo pequeno

não é uma panaceia. Nenhum esforço humano pode levar a igreja a uma maior

fidelidade na tarefa de ir ao encontro das necessidades e problemas de nossos dias, a

menos que o Espírito Santo a dirija e preencha. Mas o grupo pequeno é um

componente essencial da vida e estrutura da igreja. Para que as pessoas sejam

movidas pelo Espírito Santo, elas precisam estar abertas para Deus e para os outros – e

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essa abertura desenvolve-se melhor num contexto de comunhão e de apoio amoroso

de outras pessoas que estão buscando sinceramente a Deus. Muitos agora, felizes,

experimentaram aquela comunhão cristã que nunca tinham conhecido. Eles

começaram a ‘carregar as cargas uns dos outros’, e naturalmente a “cuidar uns dos

outros”. Como eles tinham diariamente uma convivência mais intima, tinham também

maior afeição e carinho uns pelos outros . A Bíblia não prescreve nenhum padrão

específico de organização da igreja, mas a necessidade prática da igreja de hoje indica

a necessidade de grupos pequenos como estrutura básica da igreja – como sempre

ocorreu nos melhores períodos da igreja.