quem paga a conta? os principais anunciantes da (rj, 1948 ......anunciantes da revista do rádio,...

16
Quem paga a conta? Os principais anunciantes da Revista do Rádio (RJ, 1948-1959) JOÃO LUCAS POIANI TRESCENTTI 1 Eu, e quase a totalidade de minha geração, somos filhos do rádio. E como se pode notar nas mais variadas formas de atuação cultural, essa herança é altamente positiva. No meu caso, o rádio era um verdadeiro vício. Na adolescência cheguei a ser reprovado na escola e recebi do meu pai o veredito correto da causa do meu fracasso estudantil: ‘Se você estudasse uma fração do tempo que perde ouvindo rádio, isso não aconteceria’. Mal sabia meu pai, e nem mesmo eu poderia imaginar, que era exatamente aquela a informação de que eu precisava e a que eu deveria cada vez mais me dedicar, pois daí viria a base de minha futura profissão: letrista de música popular. (Depoimento de Abel Silva a MELLO, 2017: 69) 2 O excerto acima não se particulariza pela objetividade, antes circunscreve-se à evocação memorialística de trajetória individual e mesmo que romantizada sobre um veículo de comunicação, o que poderia despertar, nos leitores da mesma geração, lembranças e saudosismo. A despeito disso ou melhor, justamente por isso , o trecho ajuda a compreender o que nos instigou a realizar a presente pesquisa. 3 O rádio de minha infância e adolescência, vividas nos anos 2000, embora totalmente diferente daquele da época de Abel Silva (1945-), ainda se fez presente em meu cotidiano, no interior de São Paulo. De modo diverso à história do letrista, felizmente nunca reprovei de ano por ouvir rádio em excesso e acabei por não escolher profissão que me permitisse interagir com o veículo direta e constantemente, uma vez que optei por cursar História. É certo que foi durante a graduação que me interessei pelo estudo de impressos e de questões próprias da história social e cultural, mantendo com o rádio apenas a relação de ouvinte. Contudo, no fim do curso, em busca de tema de pesquisa, com a tensão comum de aspirante à pós-graduação, deparei-me com o acervo da Revista do Rádio (RJ, 1948-1970) na Hemeroteca Digital Brasileira 4 . Avizinhava- se a possibilidade de estudar a história do rádio a partir da perspectiva daquele impresso? Talvez não... Ao folhear, mesmo que rapidamente, alguns números da revista, percebi que, evidentemente, além de o conteúdo dizer respeito àquele veículo, os anúncios eram abundantes. 1 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História da Unesp Assis/SP, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Tania Regina de Luca. 2 O autor não mencionou a data em que este depoimento ocorreu. 3 Tomamos a liberdade de, em algumas partes desta introdução, nos valermos da primeira pessoa do singular. 4 Especialmente sobre o acervo da revista e sua disponibilidade on-line, consultar GIANELLI, 2016.

Upload: others

Post on 04-Aug-2021

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

Quem paga a conta? Os principais anunciantes da Revista do Rádio (RJ, 1948-1959)

JOÃO LUCAS POIANI TRESCENTTI1

Eu, e quase a totalidade de minha geração, somos filhos do rádio. E como se pode notar nas mais

variadas formas de atuação cultural, essa herança é altamente positiva. No meu caso, o rádio era um

verdadeiro vício. Na adolescência cheguei a ser reprovado na escola e recebi do meu pai o veredito correto da

causa do meu fracasso estudantil: ‘Se você estudasse uma fração do tempo que perde ouvindo rádio, isso não

aconteceria’. Mal sabia meu pai, e nem mesmo eu poderia imaginar, que era exatamente aquela a informação

de que eu precisava e a que eu deveria cada vez mais me dedicar, pois daí viria a base de minha futura

profissão: letrista de música popular. (Depoimento de Abel Silva a MELLO, 2017: 69)2

O excerto acima não se particulariza pela objetividade, antes circunscreve-se à evocação

memorialística de trajetória individual e mesmo que romantizada sobre um veículo de

comunicação, o que poderia despertar, nos leitores da mesma geração, lembranças e

saudosismo. A despeito disso – ou melhor, justamente por isso –, o trecho ajuda a compreender

o que nos instigou a realizar a presente pesquisa.3

O rádio de minha infância e adolescência, vividas nos anos 2000, embora totalmente

diferente daquele da época de Abel Silva (1945-), ainda se fez presente em meu cotidiano, no

interior de São Paulo. De modo diverso à história do letrista, felizmente nunca reprovei de ano

por ouvir rádio em excesso e acabei por não escolher profissão que me permitisse interagir com

o veículo direta e constantemente, uma vez que optei por cursar História. É certo que foi durante

a graduação que me interessei pelo estudo de impressos e de questões próprias da história social

e cultural, mantendo com o rádio apenas a relação de ouvinte. Contudo, no fim do curso, em

busca de tema de pesquisa, com a tensão comum de aspirante à pós-graduação, deparei-me com

o acervo da Revista do Rádio (RJ, 1948-1970) na Hemeroteca Digital Brasileira4. Avizinhava-

se a possibilidade de estudar a história do rádio a partir da perspectiva daquele impresso? Talvez

não...

Ao folhear, mesmo que rapidamente, alguns números da revista, percebi que,

evidentemente, além de o conteúdo dizer respeito àquele veículo, os anúncios eram abundantes.

1 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História da Unesp Assis/SP, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª

Tania Regina de Luca. 2 O autor não mencionou a data em que este depoimento ocorreu. 3 Tomamos a liberdade de, em algumas partes desta introdução, nos valermos da primeira pessoa do singular. 4 Especialmente sobre o acervo da revista e sua disponibilidade on-line, consultar GIANELLI, 2016.

Page 2: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

O passo seguinte foi recorrer à bibliografia, o que me possibilitou constatar a existência de

vários estudos (FREYRE, 20105; SCHWARCZ, 20176; FIGUEIREDO, 1998; PADILHA,

2001; CASTRO, 2004; BAMMANN, 2016; SANTINI, 2018) que evidenciaram o quanto as

propagandas são fontes importantes e como podem ser mobilizadas como porta de entrada para

a compreensão de questões sociais e políticas, além de transmitir impressões, valores, hábitos

e comportamentos próprios de sua época.

Especialmente no que diz respeito às pesquisas sobre a Revista do Rádio, ainda que o

trabalho mais importante seja o de Faour (2002), há vários outros, entre eles o de Paola Borges

(2017), que se valeu de algumas propagandas da publicação fluminense com a intenção de

identificar como se construiu a imagem das mulheres. Logo, ninguém ainda havia mobilizado

sistematicamente as peças publicitárias enquanto fonte, o que permite perscrutar os anunciantes

e os produtos ofertados no cotidiano da década de 1950, período ainda considerado lacunar na

historiografia (PINTO, 2012). Neste texto, pretendemos apresentar o rol dos principais

anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que

compareceram com maior frequência.7 De saída, foi preciso sistematizar todos os anúncios, que

somaram quantidade expressiva8, tarefa desafiadora e por vezes cansativa, mas imprescindível

para obter um quadro seguro e que exigiu a construção de uma metodologia própria para

organizar esse vasto material.

O rádio surgiu no Brasil em 1922 e foi, inicialmente, utilizado para fins educativos. No

entanto, o Decreto número 21.111, assinado por Getúlio Vargas em março de 1932, autorizou

a divulgação de anúncios, o que abriu a possibilidade de o veículo distanciar-se das

características educacionais e firmar-se como entretenimento (TOTA, 1990; CHAGAS, 2012).

Foi ao longo das décadas de 1940 e 1950 que o novo meio de comunicação popularizou-se e

atingiu público amplo, divulgando conteúdo político (HAUSEN, 1997) e também cultural, o

que muito favoreceu na construção do imaginário social e de alguns elementos da identidade

da nação, a exemplo de expressões da linguagem (CALABRE, 2002). O veículo, que ainda não

5 A primeira edição é de 1961. 6 A ordem das referências é cronológica e embora nos valemos da edição de 2017, cabe lembrar que a primeira

publicação da obra desta autora é de 1987. 7 Há de se dizer, que os dados ainda não estão completos, uma vez que a pesquisa encontra-se em fase de execução

e que, por isso, quando as considerações numéricas apresentadas ao longo deste texto forem de caráter provisório,

faremos o devido comentário. 8 Foram localizados 12.509 anúncios, sem a exclusão das repetições. Esse número ainda tem o caráter provisório,

uma vez que não se deu o processo de revisão, porque no momento trabalha-se na identificação dos anunciantes.

Page 3: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

enfrentava a concorrência direta da televisão, era o principal meio de comunicação de massa,

num país com largos contingentes de analfabetos, talvez por ser ciente desse detalhe o jornalista

José Paulo de Andrade (1942-2020) utilizasse até seus últimos dias a expressão: “O rádio é a

TV com imaginação”, assertiva que encontra eco na bem humorada charge abaixo reproduzida,

publicada na própria Revista do Rádio e assinada por Carlos Buriti, possivelmente o

pseudônimo de algum caricaturista:

Figura 1: Charge sobre ouvintes e espectadores.

Fonte: Revista do Rádio, ano 04, n. 70, p. 39, 09 jan. 1951. Disponível na Hemeroteca Digital

da Biblioteca Nacional.

Page 4: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

Em concomitância com o desenvolvimento do rádio, circulava o periódico fluminense

de nome homônimo, cujo recorte aqui estabelecido abrange, desde o primeiro número, em 1948,

até o 531, em 19599, momento em que a publicação alterou seu nome para Revista do Rádio e

TV, evidências de sua aproximação com o outro veículo de comunicação surgido no Brasil em

1950, o que sugere seu ingresso em nova fase. Como o próprio título original indica, tratava-se

de revista especializada em noticiar temas próprios do meio radiofônico e, além de contar com

muitos textos, suas páginas também eram repletas de fotografias, cuja atenção recaia na vida

pública e privada dos artistas (cantores, cantoras, músicos, humoristas). A publicação tampouco

se furtava a evidenciar o cotidiano dos responsáveis, diretos ou indiretos, pela programação

(radialistas, escritores de novelas e produtores), (FAOUR, 2002) divulgar anedotas e conteúdo

humorístico, e, mesmo que timidamente, contribuir com algumas pitadas de informações sobre

o debate político (CALABRE, 2006; FERNANDES; CHAGAS; DIAS, 201810). É importante

considerar que o impresso já cumpria, antes mesmo da existência da televisão, o papel de

divulgador da imagem de astros e estrelas, o que contribuiu para a construção da figura pública

dos artistas.

É importante destacar que, além de conteúdo sobre o que se veiculava no rádio, na

revista havia quantidade expressiva de anunciantes11, indício de que sua circulação era

significativa. Em termos do contexto, é bom ter presente que, na época de seu lançamento

(1948), ainda vivia-se o otimismo em relação a se ter derrotado os regimes autoritários. No

Brasil, por sua vez, estava em vigência a nova Constituição (1946), desta feita elaborada pelos

representantes do povo. Vargas ainda repousava em São Borja, mas foi durante o período

abarcado pela pesquisa que ele foi eleito e cumpriu a promessa de só morto sair do Catete. Seu

sucessor, também escolhido pelo povo, Juscelino Kubitscheck, colocou em marcha o seu plano

de 50 anos em 5, inaugurando a fase do nacional-desenvolvimentismo. Aprofundava-se a

tentativa de modernizar o país.

A imprensa, por sua vez, não ficou alheia a este processo de modernização: “O ritmo

cada vez mais acelerado da vida moderna exigia adaptações para tornar os jornais veículos

dinâmicos para as notícias e para a propaganda.” (RIBEIRO, 2003: 150). Novos títulos surgiram

9 É importante mencionar que os números 121 e 330 não estão disponíveis na Hemeroteca Digital e que há alguns

casos, entre o total de exemplares analisados, em que acontece de ter páginas avariadas ou faltantes. 10 A respeito da relação entre a revista e a política, ver, em especial, FERNANDES; CHAGAS; DIAS, 2018. 11 Até este momento, contabilizaram-se 370 anunciantes.

Page 5: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

nas bancas, a exemplo de Tribuna da Imprensa (RJ, 1949) e Última Hora (RJ, 1951), que

nasceram sob a égide das transformações gráficas e editoriais, modificações pelas quais, na

mesma época, também passaram outros jornais, como o Diário Carioca (RJ, 1928) e o Jornal

do Brasil (RJ, 1891). Tendo em vista essa conjuntura, rapidamente sumarizada, cabe perguntar:

quem mais anunciava numa publicação dedicada exclusivamente ao rádio?

Gilberto Freyre está entre os primeiros a perceber a importância de propagandas, tanto

que seu livro sobre anúncios de escravos nos jornais do século XIX, cuja primeira edição data

de 1961, constitui-se em fonte importante para os que se interessam pelo tema. De fato, o

interesse do sociólogo pelos anúncios data dos anos 1930, como esclarece o prefácio escrito por

Costa e Silva (2010: 11-23) para a quarta edição do livro. Freyre, por sua vez, não deixou de

pontuar que essa documentação era pouco mobilizada pelos que se debruçavam sobre os

impressos periódicos (FREYRE, 2010: 25-40). E, é bom lembrar, que por muito tempo as

instituições de guarda descartavam os anúncios no momento de encadernar as coleções de

jornais e revistas. É fato que, atualmente, a situação é bem diversa, uma vez que várias pesquisas

já demonstraram as potencialidades desse material para a reconstrução do passado.

Especialmente no que diz respeito aos anúncios da Revista do Rádio, foi preciso

desenvolver uma metodologia, para o que muito contribuiu os estudos de Castro (2004; 2005).

Noutros termos, foi essencial levar a cabo um trabalho sistemático e que localizasse todos os

anúncios publicados na revista, o que só foi possível a partir da organização dos dados numa

tabela contendo informações sobre o momento de publicação (data, página, número da revista,

presença ou não de ilustração, agência responsável pela produção do material e breve descrição

do conteúdo de cada peça publicitária).

O passo seguinte foi identificar os anunciantes publicados entre fevereiro/1948 e

novembro/1959, o que totalizou o trabalho com 531 exemplares. O objetivo deste texto é

justamente discutir o papel dos principais anunciantes, ou seja, a atenção recaiu sobre as razões

sociais mais frequentes, o que permitiu elaborar a Tabela 1:

Tabela 1: Principais anunciantes da Revista do Rádio (1948-1959) por natureza.

Anunciantes Quan.

%

Revista do Rádio Editora Ltda. (impressos) 1715 13,71

Loja A Nobreza (roupas) 393

3,14

Laboratório Jardim (medicamentos)

365

2,91

Page 6: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

Ruy Mafra e Irmão (eletrodomésticos)

357

2,85

Bazar Regal (1948-1951); Lojas Regal (1951-1959)

(eletrodomésticos e artigos para casa)

314

2,51

Agostinho e Cia. Ltda. (19/12/1950-31/01/1954); Agostinho

S.A. - O Camizeiro (01/02/1954-25/04/1957) (eletrodomésticos

e artigos para casa e de uso pessoal)

268

2,14

Jaime Mendes de Freitas e sócios (sapataria)

245

1,95

Indústrias Macedo Serra Ltda. (higiene pessoal e limpeza)

234

1,87

Laboratório Juventude Alexandre Ltda. (embelezamento)

226

1,80

Álvaro - Gravador (serviços de gravação)

198

1,58

Indústrias Antisardina Ltda. (embelezamento)

179

1,43

Mário Mascarenhas (aulas de instrumentos musicais, danças e

cursos de idiomas)

173

1,38

Unilever (higiene pessoal e limpeza) 172

1,37 Johnson & Johnson (higiene pessoal)

171

1,36

Hugo Molinari e Cia. Ltda. (medicamentos)

158

1,26

Neno Rádio Elétrica Ltda. (1948-1954); Casa Neno S.A. Importação e Comércio (1955 em diante) (eletrodomésticos)

149

1,19

Castro Lopes Brandão & Cia. Ltda. (artigos para casa e de uso

pessoal)

139

1,11

Importação Comércio e Indústria Francolite Ltda. (fabricação

máquinas de costura)

134

1,07

Dr. Pires (embelezamento)

130

1,04

Casa Liberal de Máquinas Ltda. (venda máquinas de costura)

116

0,92

Otto Freiberger - Oficina de Peles (roupas)

111

0,88

Clínica Dr. Santos Dias (atendimento médico)

110

0,87

Carlos Pereira Indústrias Químicas S.A. (higiene pessoal e

limpeza)

102

0,81

Fonte: Dados organizados pelo autor.

De saída, é preciso esclarecer que a tabela contempla o rol de anunciantes que figuraram

mais de cem vezes, o que permite tecer algumas considerações sobre essa presença. Salta aos

Impressos

Eletrodomésticos/artigos para casa e de uso pessoal

Higiene pessoal/beleza/limpeza

Roupas/calçados

Medicamentos

Serviços

Máquinas

Legenda

Page 7: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

olhos o fato de a Revista do Rádio Editora Ltda. comparecer em primeiro lugar (1715 vezes), o

que representa 13,71% do total geral.

Especialmente no que diz respeito à Editora, constata-se que ela é a única do gênero

entre os anunciantes principais e foi responsável pela difusão de vários produtos, a saber: as

revistas Vamos Cantar?, anunciadas em 689 oportunidades, cujas imagens exemplificam

abaixo, o Álbum do Rádio, em 365 vezes, título depois alterado para Álbum do Rádio e TV

presente em 39 ocasiões e o Álbum do Rádio de São Paulo, em 21 delas. Vamos Rir!, figurou

outras 198 vezes, a própria Revista do Rádio, em 148 ocasiões, a Revista dos Fans, em 56 delas,

a Revista do Esporte, em 26, a revista infantil Chico e Chica, em somente 8 ocasiões e o

Suplemento de Carnaval, também pouco expressivo, apenas 5 vezes. Vamos Cantar? e Vamos

Rir!, apareceram num único anúncio 54 vezes, a Revista do Rádio e Vamos Cantar?, com duas

ocorrências e o Álbum do Rádio e o Suplemento de Carnaval, apenas uma vez em conjunto. A

lista ainda continua com os anúncios dos títulos de livros editados pela empresa, a maioria deles

do próprio diretor, Anselmo Domingos, cujas aparições contabilizaram 29 entradas. Ainda no

que diz respeito a livros, o título Anedotas do Rádio, de autoria de Nestor de Holanda, foi

anunciado 58 vezes e o Anedotas de Papagaio, de Jorge Murad, contou com apenas 13

inserções. Para encerrar essa lista, foram 03 as peças publicitárias das Oficinas Gráficas da

Editora e que, apesar de pouco significativas, demonstram que a empresa também servia àquela

praça com trabalhos de impressão.

Figura 2: Anúncios da Revista Vamos Cantar?

Fonte: Respectivamente, Revista do Rádio, ano 04, n. 89, p. 38, 22 maio 1951 e ano 12, n.

531, p. 58, 21 nov. 1959. Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Page 8: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

A partir da segunda rubrica, a natureza dos anunciantes se altera, uma vez que os

produtos ofertados por eles são completamente distintos do grupo anterior (impressos) e a

esmagadora maioria deles diz respeito ao uso pessoal e no lar.12

Os espaços do ambiente doméstico e seus devidos objetos necessitavam de limpeza.

Para executá-la, era possível recorrer às ceras, removedores para assoalhos, lustra móveis,

produtos que contavam com várias propagandas. O ambiente devidamente limpo e asseado

requeria móveis com destacada qualidade. Especificamente na cozinha, lugar majoritariamente

imperativo às mulheres, por exemplo, era necessário possuir mobiliários modernos, como fez

questão de salientar a propaganda da Casa Neno, ao anunciar a venda da Cozinha Americana:13

“Moderna, confortável, e muito prática, a Cozinha Americana é um sonho que a Senhora pode

realizar, adquirindo aos poucos as peças avulsas do maravilhoso conjunto de aço esmaltado,

que tanto conforto e beleza dará ao seu lar.” (Revista do Rádio, ano 6, n. 224, p. 22, 26 dez.

1953). Outros espaços da casa também eram ocupados por vários aparelhos, a muitos deles,

inclusive, era reservado um lugar privilegiado, a exemplo das próprias máquinas de costura.

Figura 3: Anúncio de Importação, Comércio e Indústria Francolite Ltda., fabricante

das máquinas de costura Vigorelli.

12 Aqui, cabe esclarecer que as classificações são sempre muito complexas, ou seja, optou-se por inserir Agostinho

e Cia. Ltda., razão social alterada para Agostinho S.A. – O Camizeiro, e Castro Lopes Brandão e Cia. Ltda. na

categoria eletrodomésticos, artigos para casa e de uso pessoal, uma vez que sugerem ser lojas mais amplas, com

destaque a departamentos, que além de voltados para a venda de eletrodomésticos e artigos para casa (louças,

talheres, porcelanas), possuíam seção de roupas, o que demonstra uma pluralidade de produtos. Esse é o motivo

pelo qual essas duas razões sociais não foram inseridas entre aquelas cuja venda é exclusivamente de roupas, caso

de A Nobreza e Otto Freiberger – Oficina de Peles. Tal justificativa deve-se repetir com as máquinas, rubrica

escolhida para razões sociais que vendiam ou fabricavam exclusivamente máquinas de costura, o que não se aplica

a outras empresas que, além de comercializarem esse item, apresentam outros muito variados. 13 Razão social: Neno Rádio Elétrica Ltda. (1948-1954); Casa Neno S.A. Importação e Comércio (1955 em diante).

Page 9: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

Fonte: Revista do Rádio, ano 09, n. 355, p. 20, 30 jun. 1956. Disponível na Hemeroteca

Digital da Biblioteca Nacional.

"Em sua casa, como em todos os lares, existe o lugar certo, o recanto próprio para a

máquina de costura. Vigorelli ocupará sempre esse lugar de honra e... 'entrará para a família'.

Estará permanentemente ligada ao doce ambiente de atividade doméstica por muitas gerações.”

(Revista do Rádio, ano 9, n. 355, p. 20, 30 jun. 1956). A propaganda transmite a ideia de que

Page 10: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

possuir Vigorelli é sinônimo de prestígio e bom gosto e personifica-a, uma vez que não se trata

apenas de item doméstico, mas objeto que integra o grupo familiar. Só Vigorelli resiste ao

tempo e torna-se elemento de várias gerações, algo que, inclusive, pode sugerir a ilustração,

cuja presença é de mulheres e criança. O ato de coser, sugere o texto do anúncio, torna-se

prazeroso e prolonga-se no tempo devido à destacada qualidade de Vigorelli. Aquela atividade,

vale lembrar, não se restringia apenas à confecção ou reparo de roupas da família, mas à fonte

de renda, algo que também pode indicar a imagem do manequim, ao fundo, possivelmente

representando um ateliê.

As máquinas de costura poderiam ser adquiridas em várias lojas, a exemplo do Bazar

Regal, mais tarde (1951), Lojas Regal, a já citada Casa Neno, a Casa Liberal de Máquinas Ltda.

e a razão social Ruy Mafra e Irmão, dessa última destacam-se dois anúncios, na sequência, em

que, além de ser possível perceber a referência às máquinas de costura, pode-se notar também

que, passados pouco mais de um ano, desde a publicação do primeiro anúncio da empresa na

revista, a mesma ampliou a oferta de seu rol de produtos:

Figura 4: Anúncios de Ruy Mafra e Irmão.

Fonte: Respectivamente, Revista do Rádio, ano 05, n. 133, p. 18, 25 mar. 1952 e ano 06, n.

213, p. 30, 06 out. 1953. Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Ainda que as roupas pudessem ser confeccionadas por costureiras, havia a possibilidade

de comprá-las prontas, em lojas especializadas ou em outras cujas propagandas sugeriam

possuir diversas seções, onde também era possível adquirir roupas de cama e mesa (cobertores,

lençóis, fronhas, colchas, tapetes) e artigos para casa (louças, cristais, faqueiros, lustres,

pratarias). A higienização desses itens era indispensável e, justamente por isso, sabões faziam-

Page 11: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

se essenciais para o desempenho da tarefa, como bem sugerem as propagandas das Indústrias

Macedo Serra (Sabão Cardeal) e da Unilever (Sabão Rinso):

Figura 5: Anúncios das Indústrias Macedo Serra e da Unilever.

Fonte: Respectivamente, Revista do Rádio, ano 07, n. 274, 4ª capa, 11 dez. 1954 e ano 10, n.

410, p. 36, 20 jul. 1957. Disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Na Revista do Rádio, também foram divulgados produtos destinados à higiene do corpo,

a exemplo de fraldas, talcos, cremes contra assadura, óleos, lavandas e que embora não fossem

utilizados pelas mulheres, mesmo assim, ao que tudo indica, as propagandas as tinham por mira,

uma vez que eram itens dedicados aos bebês, cujo cuidado era tarefa materna.

Page 12: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

Figura 6: Anúncio de O Camizeiro.

Fonte: Revista do Rádio, ano 09, n. 344, 3ª capa, 14 abr. 1956. Disponível na Hemeroteca

Digital da Biblioteca Nacional.

Àquela lista de higiene, pode-se acrescentar absorvente e higienizador íntimo das

mulheres, sabonetes, cremes e escovas dentais, loção contra caspa e queda de cabelo,

eliminador de rugas, produto para melhorar a aparência dos seios, itens cujo objetivo não dizia

respeito apenas à sensação de conforto e segurança, mas também à construção da beleza,

especialmente feminina, que deveria ser exibida, o que bem sugere a peça publicitária da loja

O Camizeiro, onde era possível adquirir roupas modernas que proporcionariam juventude,

atração e beleza.

Page 13: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

Tal variedade de produtos tampouco excluiu os medicamentos, a exemplo de tônicos

contra o esgotamento físico e mental, remédio contra gripes, resfriados, asma, tosse e bronquite

e para o grande desconforto gerado pela prisão de ventre. Não se pode esquecer de que havia

médicos cujos tratamentos diziam respeito às mais variadas especialidades, desde o cuidado

com a estética facial à velhice precoce, disfunção sexual, doenças do coração, o que também

indica que as pessoas se preocupavam com a saúde e o bem-estar e com a própria aparência, na

tentativa, quem sabe, de realizar o sonho da jovialidade.

Em suma, é importante observar que a Revista do Rádio Editora Ltda. figura no topo da

lista, enquanto a quantidade de vezes em que compareceram outros anunciantes tende a mostrar-

se mais tímida, em relação ao primeiro colocado, sobretudo os que aparecem em últimas

posições na tabela. No entanto, é possível considerar esses dados por ângulo diferente. De outro

modo, a tabela não só ajudou a responder à questão sobre qual a natureza dos anunciantes

principais, mas também contribuiu para perceber que aqueles cujos produtos são de ordem

pessoal (roupas, calçados, higiene e beleza) e de uso doméstico (eletroeletrônicos, objetos do

cotidiano e da limpeza do lar) são os que mais se destacaram.

Este texto, mesmo que ainda breve, pôde evidenciar como se estruturava o mercado da

propaganda no Brasil e a respectiva adequação entre o leitor privilegiado da revista, ainda que

não único: o feminino. É importante considerar que se nota uma identidade entre o público a

que se destinava o anúncio, a revista e os próprios anunciantes. Noutras palavras, a escolha dos

anunciantes, e que recaia sobre este veículo, era bem calculada, uma vez que os produtos

vendidos por eles visavam sobretudo as mulheres. Estudar esse material é fundamental, porque

a análise das peças publicitárias revela elementos da sociedade daquela época, o padrão de

consumo e a preocupação com a beleza e a higiene.

Da ordem do futuro, será necessário perceber a estrutura desse mundo do mercado e

como ela aparenta ser bastante sofisticada, especialmente a relação entre anunciante, veículo e

público. O desafio que se avizinha é verificar os argumentos de persuasão na venda desses

produtos, isto é, quais os meios de convencimento? Ou mesmo, há agências de publicidade? Se

sim, quais são elas? É possível estudá-las? Respostas para outra oportunidade. Por ora,

repousamos a pena.

Fonte

Page 14: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

Revista do Rádio (RJ, 1948-1959). Disponível on-line no sítio da Hemeroteca Digital Brasileira,

da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Referências

BAMMANN, Kellen. Por trás de uma tampinha de Coca-Cola, um mundo de coisas boas: O

American Way of Life nas páginas de O Cruzeiro e Manchete (1950-1959). 2016. 203 f. Tese

(Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.

BORGES, Paola Giuliana. Cantoras do rádio e mulheres – um estudo sobre representações

femininas no Brasil da década de 1950. 2017. 233 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) –

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,

2017.

CALABRE, Lia. No tempo do rádio: Radiodifusão e cotidiano no Brasil. 1923-1960. 2002.

Tese (Doutorado em História), Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2002.

CALABRE, Lia. Rádio e política: o caso do Parlamento em ação. In: NEVES, Lucia Maria

Bastos; MOREL, Marco; FERREIRA, Tania Maria Bessone da Cruz (orgs.). História e

imprensa: representações culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro: DP&A; Rio de Janeiro:

Faperj, 2006, p. 400-413.

CASTRO, Maria Helena Steffens de. O Literário como sedução. A publicidade na revista do

Globo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

CASTRO, Maria Helena Steffens de. A publicidade na revista do Globo. QUEIROZ, Adolpho

(org.). Propaganda, História e Modernidade. Piracicaba: Editora Degaspari, 2005. p. 129-149.

CHAGAS, Genira. Radiodifusão no Brasil: poder, política, prestígio e influência. São Paulo:

Atlas, 2012.

COSTA E SILVA, Alberto da. A Escravidão nos anúncios de jornal. In.: FREYRE, Gilberto.

O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. 4. ed. São Paulo: Global Editora,

2010. p. 11-19 (apresentação do livro).

FAOUR, Rodrigo. Revista do Rádio – Cultura, Fuxicos e Moral nos anos dourados. Rio de

Janeiro: Relume-Dumará; Rio de Janeiro: Prefeitura Municipal, 2002.

FERNANDES, Carla; CHAGAS, Genira; DIAS, Lúcia. Resistência e popularidade na

campanha presidencial de 1950: o retorno de Getúlio Vargas à Presidência da República.

ECCOM, SP, v. 09, n. 17, p. 139-150, jan./jun. 2018.

Page 15: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

FIGUEIREDO, Anna Cristina Camargo Moraes. “Liberdade é uma calça velha, azul e

desbotada”: Publicidade, Cultura de Consumo e Comportamento Político no Brasil. São Paulo:

Hucitec, 1998.

FREYRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. 4. ed. São

Paulo: Global Editora, 2010.

GIANELLI, Carlos Gregório dos Santos. O acervo digitalizado da Revista do Rádio na

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional: reflexões e usos da história digital no tempo

presente. Escritas, TO, v. 08, n. 02, p. 08-27, jan./jun. 2016.

GOLDFEDER, Miriam. Por trás das ondas da Rádio Nacional. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

1980.

HAUSSEN, Doris Fagundes. Rádio e Política – Tempos de Vargas e Perón. Porto Alegre:

EDIPUCRS, 1997.

HUPFER, Maria Luisa Rinaldi. As rainhas do rádio: símbolos da nascente indústria cultural

brasileira. São Paulo: Senac Editoras, 2009.

JOWETT, Garth S.; O’DONNELL, Victoria. Propaganda & Persuasion. 6. ed. Washington:

Sage, 2015.

MELLO, Zuza Homem de. Copacabana: a trajetória do samba-canção (1929-1958). São Paulo:

Editora 34; Edições Sesc São Paulo, 2017.

OLIVEIRA, Cláudia de. A iconografia do moderno: a representação da vida urbana. In:

OLIVEIRA, Cláudia de; VELLOSO, Mônica Pimenta; LINS, Vera. O moderno em revistas:

representações do Rio de Janeiro de 1890 a 1930. Rio de Janeiro: Garamond, 2010. p. 111-266.

PADILHA, Márcia. A cidade como espetáculo – publicidade e vida urbana na São Paulo dos

anos 20. São Paulo: Annablume, 2001.

PINTO, Theophilo Augusto. Gente que brilha quando os maestros se encontram: música e

músicos da ‘Era de Ouro’ do rádio brasileiro (1945-1957). 2012. 361 f. Tese (Doutorado em

História), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Jornalismo, literatura e política: a modernização da imprensa

carioca nos anos 1950. Estudos Históricos, RJ, n. 31, p. 147-160. 2003.

SANTINI, Valesca Henzel. “Joias modernas, elegantes e de último gosto.” A atuação dos

ourives joalheiros em São Paulo em meados do século XIX. In: HISTÓRIA E DEMOCRACIA,

PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO, 2018, Guarulhos. Anais... Guarulhos, SP: ANPUH NACIONAL, 2018, p. 1-15.

Page 16: Quem paga a conta? Os principais anunciantes da (RJ, 1948 ......anunciantes da Revista do Rádio, entre 1948 e 1959, tendo em mira identificar aqueles que compareceram com maior frequência

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro. Jornais, escravos e cidadãos em São

Paulo no final do século XIX. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

TOTA, Antonio Pedro. A locomotiva no ar: rádio e modernidade em São Paulo, 1924-1934.

São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura; São Paulo: PW, 1990.