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Moacy José Stoffes Junior QUEDA DE CORPOS NA PRESENÇA DE FORÇAS RESISTIVAS Dr. Carlos Mergulhão Junior (orientador) Ji-Paraná-RO, novembro de 2008

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Moacy José Stoffes Junior

QUEDA DE CORPOS NA PRESENÇA DE FORÇAS RESISTIVAS

Dr. Carlos Mergulhão Junior (orientador)

Ji-Paraná-RO, novembro de 2008

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

DEPARTAMENTO DE FÍSICA

CAMPUS JI-PARANÁ

Por: Moacy José Stoffes Junior

QUEDA DE CORPOS NA PRESENÇA DE FORÇAS RESISTIVAS

Trabalho de Conclusão

de Curso submetido ao

Departamento de Física

da Fundação

Universidade Federal de

Rondônia, como

requisito pra obtenção

do titulo de graduação

no curso de Licenciatura

plena em Física.

Ji-Paraná-RO, novembro de 2008

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QUEDA DE CORPOS NA PRESENÇA DE FORÇAS RESISTIVAS

Moacy José Stoffes Junior

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do titulo de

graduação no curso de Licenciatura Plena em Física e aprovado em sua forma final, no

dia 15 de dezembro de 2008, pelo programa de graduação do Departamento de Física da

fundação Universidade Federal de Rondônia, campus de Ji-Paraná.

Banca Examinadora

Dr. Carlos Mergulhão Junior. Orientador

Dr. Walter Trenephol Junior

Drª. Laudilene Olenka

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Dedico,

a meus pais.

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Agradecimentos

Agradeço á minha família, por sempre estar do meu lado e por proporcionar o

apoio financeiro durante esses três anos e meio.

Aos colegas de turma pelo apoio, ajuda e momentos que passamos juntos.

Tenham certeza, vocês moram em meu coração. Em especial a Adilson, Queila,

Geovana, Jamis, Daniela e Mohameds.

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Resumo

O objetivo desse trabalho é analisar os efeitos da ação de forças viscosas de

resistência do ar sobre a dinâmica de um corpo em queda. A princípio foi utilizado à

modelagem usual mediante a aplicação das Leis de Newton resolvendo analiticamente e

depois computacionalmente, via o programa Modellus, as equações resultantes desses

modelos. Foi verificado que realmente existe uma dependência da massa no valor final

do tempo de queda de corpos em dois casos: campos gravitacionais constantes (caso

idealizada) e campos gravitacionais dependentes da altura (caso mais realista).

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Lista de Figuras

FIGURA 2.1.1 Esquema de um corpo em queda livre...............................................................13

FIGURA 2.2.1 Esquema de um corpo em queda na presença de forças de resistência do

ar (baixa velocidade).......................................................................................................16

FIGURA 2.2.2 Esquema de um corpo em queda na presença de forças de resistência do

ar (baixa velocidade).......................................................................................................17

FIGURA 2.2.3 Esquema de um corpo em queda na presença de forças de resistência do

ar (alta velocidade)..........................................................................................................19

FIGURA 2.2.4 Gráfico do tempo de queda versus massa...............................................21

FIGURA 2.2.5 Esquema de um corpo em queda na presença de forças de resistência do

ar......................................................................................................................................22

FIGURA 3.1.1 Esquema de um corpo em queda livre, considerando a aceleração da

gravidade variável com a altura.........................................................................................................25

FIGURA 3.1.2 Esquema de um corpo em queda livre, considerando a aceleração da

gravidade variável com a altura e uma força de resistência do ar proporcional à

velocidade.......................................................................................................................26

FIGURA 3.1.3 Velocidade x Tempo, considerando a força de resistência do ar

proporcional ao quadrado da velocidade com a aceleração da gravidade variável com a

altura................................................................................................................................27

FIGURA 3.1.4 - Espaço x Tempo - queda livre (ausência da resistência do ar).............27

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Lista de Parâmetros

F = Força resultante, em newtons (N).

v = Velocidade, em metros por segundos (m/s).

)(tv = Função horária da velocidade, em metros por segundos (m/s).

)(ts = Função horária do espaço, em metros (m).

g = Gravidade na superfície terrestre, em metros por segundo ao quadrado (m/s2).

b = Coeficiente de arraste linear, em quilogramas por segundo (Kg/s).

k = Coeficiente de arraste quadrático, quilograma por metro (Kg/m).

TV = velocidade terminal ou velocidade limite, em metros por segundos (m/s).

t = Tempo, em segundos(s).

qt = Tempo de queda, em segundos (s).

H = Altura, em metros (m).

m = Massa, em quilogramas (Kg).

Tm = Massa da terra, 5.98x 10 24 quilogramas (Kg).

TR = Raio médio da terra, 6.37x106 metros (m).

G = 6.67x10-11m3s-2 kg-1 Constante de gravitacional universal.

f = Força de resistência do ar, em newtons (N).

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Sumário

1. Introdução......................................................................................................................9

1.1 Aspectos históricos referentes ao movimento vertical dos corpos............................9

1.2 Aplicações do Estudo..............................................................................................11

1.3 Métodos Numéricos e Computacionais...................................................................11

2. Estudo do Movimento Vertical....................................................................................13

2.1 Queda Livre.............................................................................................................13

2.2 Queda na Presença de Forças Viscosas de Resistência do Ar................................15

3. Estudo do Movimento Vertical: Campo Gravitacional variável com a altura............24

3.1 Estudo do Movimento Vertical: Com resistência do ar..........................................26

3.2 Algumas comparações de modelos usando a g constante ou variável....................28

4. Considerações sobre alguns fenômenos que aparecem devido as Forças de

Resistência do Ar.............................................................................................................30

4.1 Perdas de Informação I............................................................................................30

4.2 Perdas de Informação II...........................................................................................31

4.3 Forças Dissipativas..................................................................................................32

5.Conclusão..........................................................................................................34

6. Referências..................................................................................................................35

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1. Introdução

Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo analisar o movimento

vertical de corpos na presença do campo gravitacional terrestre, levando em conta a

força de resistência do ar e a variação do campo gravitacional terrestre com a altura do

corpo e observar o comportamento das grandezas físicas, entre as quais o tempo de

queda, a velocidade terminal, função horária da velocidade e espaço, pois são aspectos

cinemáticos importantes historicamente para o desenvolvimento da Física e várias

aplicações tecnológicas do dia-a-dia humano.

Será abordado o movimento vertical dos corpos em dois cenários distintos. No

primeiro será levado em conta a influência da resistência do ar e no segundo, será

considerado a resistência do ar e a variação do campo gravitacional terrestre com a

altura. Todo o desenvolvimento desse trabalho será feito com base na dinâmica

newtoniana (clássica), uma vez que, as velocidades de corpos usuais são muito menores

que a velocidade da luz, não sendo assim importante levar em conta as correções

relativísticas.

Inicialmente faremos um breve levantamento histórico sobre queda de corpos na

superfície terrestre. Em seguida analisaremos cuidadosamente a idealização clássica, na

qual se despreza a resistência do ar. Depois, discutiremos como o movimento vertical

dos corpos é influenciado pela resistência do ar e pela variação do campo gravitacional

com a altura.

1.1 Aspectos históricos referentes ao movimento vertical dos corpos

Um dos primeiros estudos sistematizados acerca do movimento de corpos foi

feito por Aristóteles (384-322 a. C.) e falava que “corpos mais massivos atingiria o solo

primeiro que corpos menos massivos” (GATTI et al., 2004). Aristóteles acreditava que

a terra ocupava o centro do universo, teoria geocêntrica, e de acordo com a sua

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filosofia, era tendência dos corpos e irem ao seu lugar natural: no caso um corpo feito

de matéria tenderia ir para a terra que também é feito de matéria.

Segundo o modelo de Aristóteles havia apenas quatro elementos: terra, água, ar

e fogo. Assim o elemento terra iria em direção ao centro da terra, o elemento ar acima

da superfície, o elemento água entre o elemento terra e ar. Por esse motivo uma pedra

caía, a fumaça subia. O modelo Aristotélico parecia convincente para a época,

entretanto, não tinha nenhuma sustentação física e experimental, baseava apenas na

observação não cuidadosa dos fenômenos (GATTI et al., 2004).

O modelo de Aristóteles se sustentou por quase 2000 anos, até que a bem

sucedida teoria heliocêntrica de Copérnico triunfou. Mas foi com estudos de Galileu-

Galilei (1564- 1643.) que levou a formulação geral da cinemática da queda dos corpos

(GATTI et al., 2004).

Galileu foi o primeiro que observou a existência de uma força de resistência do

ar. Quando depois de vários experimentos afirmou categoricamente que “se

eliminarmos completamente a influência do ar, todos os corpos atingem ao mesmo

tempo o solo” (HALLIDAY, et al,2002). No entanto Galileu não foi capaz de

determinar quanto essa resistência do ar influenciava no movimento do corpo

(HARRES, 2002).

Isaac Newton (1643- 1727) dedicou boa parte de sua vida ao desenvolvimento

da das leis da dinâmica. A dinâmica newtoniana é uma teoria com grande embasamento

teórico dado pelo desenvolvimento do cálculo diferencial e integral por ele mesmo

desenvolvido em paralelo com outros estudiosos da época.

A teoria de Newton culminou com o seu livro Princípios Naturais da Filosofia

Natural (GATTI et al., 2004). Uma vez que, foi nesse livro que ele enunciou pela

primeira vez três leis fundamentais da dinâmica. Leis essas que fundamentam a Física

clássica até hoje.

A teoria newtoniana sofreu algumas correções que são necessárias quando se

modelam sistemas de alta energia, correções feitas pela Teoria da Relatividade Especial

de Einstein de 1905 e outras correções de natureza quântica necessárias para explicar o

mundo microscópico.

Entretanto nosso estudo vai se concentrar em uma situação macroscópica a

baixas velocidades (situação clássica) que a teoria de Newton pode ser aplicada com

precisão.

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1.2 Aplicações do Estudo

Embora muitas vezes as forças de resistência não sejam percebidas, elas estão

presentes em muitos fenômenos interessantes tais como: aerodinâmica de automóveis,

lançamento de foguetes, pára-quedismo, hidrodinâmica de fluidos viscosos e uma

infinidade de outras aplicações.

É fácil observar que os automóveis de corrida têm sua área secção transversal

diminuída ao máximo para evitar o atrito com o ar. Essa diminuição da área de arraste

terá efeito direto na velocidade final do mesmo, uma vez que a força de resistência do ar

é proporcional ao quadrado da velocidade. O coeficiente de proporcionalidade depende,

entre outras coisas, dessa área, desse modo é tão interessante essa diminuição.

Sabemos que para um objeto vencer a energia potencial gravitacional terrestre

ele tem que ser lançado com certa velocidade inicial. Se não levarmos em conta que

parte da energia cinética inicial é dissipada pela força de resistência ar, esse objeto vai

vencer essa barreira de potencial? Não. As forças de resistência do ar são forças

dissipativas, desse modo nunca fornecem energia a esse objeto e pelo contrário

consomem a sua energia mecânica.

O exemplo mais conhecido de atuação de força de resistência do ar é o caso do

pára-quedista. Quando o mesmo se encontra em uma determinada altura, existe uma

determinada energia potencial associada a ele. Se não existisse nenhuma força

dissipativa atuando, toda essa energia potencial transformaria em energia cinética,

aumentando significativamente sua velocidade final. Dessa forma dificilmente o pára-

quedista sobreviveria ao impacto com o solo. No entanto, a existência de uma força de

resistência do ar faz com que o pára-quedista atinja uma determinada velocidade final

suficientemente pequena para não causar nenhum dano ao mesmo no momento do

impacto com o solo.

1.3 Métodos Numéricos e Computacionais

As equações que modelam sistemas físicos naturais geralmente envolvem um

grande número de parâmetros, o que torna a solução analítica muita complexa ou

impossível de ser obtida. Diante dessas situações devem-se usar métodos numéricos

para se analisar e resolver a equação dinâmica que modela esse sistema.

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Os métodos numéricos computacionais além de ser uma ferramenta poderosa na

solução de problemas complexos, têm sido altamente recomendando e usados para

difundir a Física, até como ferramenta alternativa para o ensino científico.

O uso da informática no ensino fundamental e médio é defendido por vários

autores. No entanto essa utilização é muito reduzida quando se trata do ensino de Física.

Ao longo do desenvolvimento desse trabalho destacaremos como pode ser utilizado um

software educacional para abordar problemas físicos que exigem uma fundamentação

matemática não existente nesses estudantes.

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2. Estudo do Movimento Vertical

O caso em estudo é unidimensional, ou seja, lançamento vertical e queda de um

corpo sob ação da força de gravidade da superfície terrestre. Por ser um movimento

unidimensional, não usaremos a notação vetorial.

Por conveniências de estudo, é muito comum considerar condições ideais, nas

quais são desprezadas inicialmente a força de resistência do ar e qualquer influência de

outros agentes externos ao sistema, como por exemplo, o vento. Os corpos

classicamente estudados são objetos de dimensões pontuais, com sua massa fixa e

concentrada no seu centro de gravidade.

2.1 Queda Livre

A queda livre é o caso mais simples de movimento vertical, onde são

desprezadas todas as influências externas, inclusive a força de resistência do ar. Nesse

caso ideal considera-se apenas a força de atração gravitacional terrestre.

Esse primeiro fenômeno a ser descrito é bastante familiar. Sendo que é de nosso

conhecimento que a Terra provoca no projétil uma aceleração g para baixo.

FIGURA 2.1.1 Esquema de um corpo em queda livre.

y

H

0

r

o

e

r

o

g V0

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Para obter a equação horária inicialmente vamos escrever a equação dinâmica

que modela esse sistema. Podemos fazer isso utilizando a segunda Lei de Newton:

)(tvdt

dmmaF (2.1.1)

Como a única força que atua nesse sistema é a força da gravidade mgF , logo:

mgdt

dvm (2.1.2)

Integrando ambos os membros da equação (2.1.2), teremos

gdttdv

ttv

v

0

)(

0

)( (2.1.3)

Encontramos que:

gtvtv 0)( (2.1.4)

Podemos obter também a equação horária do espaço integrando a equação que

define a velocidade instantânea:

)()( tydt

dtv (2.1.5)

obtendo

dtgtvtdy

t

o

ty

H

)()( 0

)(

(2.1.6)

Sendo sua solução:

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2

02

1)( gttvHty (2.1.7)

Encontramos o )(ty como inicialmente propomos.

Igualando a equação (2.1.7) a zero, podemos encontrar o tempo de queda do

corpo, que é dado por:

g

hgvvtq

22

00 (2.1.8)

Considerando que o corpo é abandonado do repouso 00 v , temos que o tempo de

queda é dado por:

g

Htq

2 (2.1.9)

Como pode-se observar, a massa do corpo não teve nenhuma influência no

tempo de queda do corpo, quando desconsiderado a resistência do ar, confirmando

assim a afirmação de Galileu.

2.2 Queda na Presença de Forças de Resistência do Ar

As leis da Física que regem as forças de atrito entre sólidos são bem definidas

teoricamente. Mas quanto se trata de forças de atrito envolvendo fluidos, os resultados

obtidos se baseiam em investigações experimentais e soluções aproximadas da equação

dinâmica básica da hidrodinâmica: equação de Navier-Stokes.

Todo corpo que se move no seio de um fluido, relativamente a este, experimenta

por parte do fluido a ação de forças que somente exercem a sua influência quando o

corpo se apresenta em movimento relativamente ao fluido. O conhecimento que se tem

destas forças é fruto de investigações experimentais (FERREIRA, 2001).

Quando o corpo passa, o fluido é deslocado por ele, saindo do espaço que está

sendo invadido e refluindo para o espaço que está sendo desocupado. As forças que

aparecem em decorrência do movimento de um corpo no seio de fluido são devido a

duas causas principais:

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FIGURA 2.2.1 Esquema de um corpo em queda na presença de forças de resistência do ar (baixa

velocidade)

O fluido exerce uma força de resistência por dois motivos principais, sendo eles:

1º A viscosidade do fluido, que dá surgimento a forças de atrito interno no fluido

(FERREIRA, 2001).

2º A inércia do fluido, manifestando-se nos choques do móvel com as partículas que

constituem o fluido. O efeito da inércia esta intimamente ligada à densidade e, em altas

velocidades, à compressibilidade do fluido (FERREIRA, 2001).

2.2.1 Queda na Presença de Forças de Resistência do Ar para corpos em baixa

velocidade

Quando o corpo em queda se encontra em baixas velocidades pode-se usar a lei

de Stokes:

“A força de resistência que o fluido exerce sobre o corpo em queda é proporcional a

sua velocidade” (CIÊNCIA VIVA, 2008).

FIGURA 2.2.2 Esquema de um corpo em queda na presença de forças de resistência do ar (baixa

velocidade)

y

H

0

r

o

e

r

o

g V0 bv

v mg bv

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Matematicamente:

bvf (2.2.1)

Usando a segunda lei de Newton temos:

dt

dvmmabvmgF (2.2.2)

Integrando a equação anterior,

dt

vm

bg

dvtv

v

00

(2.2.3)

obtemos após alguns cálculos a equação:

tvm

bg

b

mv

m

bg

b

m

0lnln (2.2.4)

Isolando na equação anterior a variável da velocidade, temos finalmente a

equação das velocidades:

geb

mtv

vm

bg

b

mt

m

b)ln(( 0

)( (2.2.5)

Tomando limite da função horária da velocidade quando o tempo tendo ao

infinito ou quando a aceleração seja zero, teremos a velocidade terminal:

b

mgVT (2.2.6)

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Uma observação interessante que pode ser feita é que a velocidade terminal

independe da velocidade inicial. Isso ocorre pela perda de energia devido ação das

forças de resistência do ar.

Integrando a equação (2.2.5), obtemos

02

2)ln(( 0

)( vb

m

b

gmgte

b

m

b

mHty

vm

bg

b

mt

m

b

(2.2.7)

É impossível isolar analiticamente a variável t da equação (2.2.8), sendo assim,

não podemos analisar analiticamente a influência da massa no seu tempo de queda.

2.2.2 Queda na Presença de Forças de Resistência do Ar para corpos em alta

velocidade

Quando um corpo se desloca no seio de fluido, o fluido exerce sobre ele uma

força de arraste que tende a reduzir a velocidade. A força de arraste aumenta quando a

velocidade do corpo aumenta. Em velocidades baixas, a força de arraste é proporcional

à velocidade (estudado no tópico anterior) e em altas velocidades é aproximadamente

proporcional ao quadrado da velocidade. (TIPLER, 2000).

FIGURA 2.2.3 Esquema de um corpo em queda na presença de forças de resistência do ar (alta

velocidade)

Matematicamente, temos então

y

H

0

r

o

e

r

o

g V0 Kv2

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2kvf (2.2.8)

Usando a segunda lei de Newton, temos:

dt

dvmmakvmgF 2

(2.2.9)

Integrando a equação anterior:

tv

v

dtm

g

vm

k

m

g

dv

vm

k

m

g

dv

0

22

2

1

0

(2.2.10)

Obtemos após vários cálculos a equação de velocidades para este caso:

rr

rr

evm

ke

m

gkv

m

k

m

gk

vm

gk

m

gev

m

gke

m

g

tv

023023

0303

)(

(2.2.11)

onde, tm

gkr .

2

13

(2.2.12)

Tomando limite da função da velocidade quando o tempo tendo ao infinito ou

quando a aceleração seja zero, teremos a velocidade terminal:

k

mgVT (2.2.13)

Integrando a equação (2.2.11), obtemos:

DCBAHty )( (2.2.14)

onde:

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20

020202

023

22lnln

)(

2v

m

k

m

gkev

m

ke

m

gkv

m

k

m

gk

vm

k

m

gkk

mgA rr

020202

023

0 22lnln

)(

2v

m

k

m

gkev

m

ke

m

gkv

m

k

m

gk

vm

k

m

gk

vB rr

02

023

0202

023023

3

22ln

)(

1

ln

)(

1

)(2

.

2

vm

k

m

gk

vm

k

m

gk

evm

k

m

gkv

m

k

m

gk

vm

k

m

gkv

m

k

m

gkm

tgk

k

mgC

r

02

023

0202

023023

3

0

22ln

)(

1

ln

)(

1

)(2

.

2

vm

k

m

gk

vm

k

m

gk

evm

k

m

gkv

m

k

m

gk

vm

k

m

gkv

m

k

m

gkm

tgk

vD

r

Isolar a variável t na equação (2.2.15) é extremamente trabalhoso, no entanto se

considerar que o corpo em queda parte do repouso pode-se isolar o tempo de queda.

m

kg

ee

t

m

kH

m

kH

q

1ln2

(2.2.15)

de onde se observa uma dependência no tempo de queda do valor da massa do corpo.

Para analisar a influência da massa inercial m do corpo no tempo de queda,

construiu-se o gráfico a seguir numericamente usando o EXCEL.

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TEMPO DE QUEDA x MASSA

0,45

0,46

0,47

0,48

0,49

0,5

0,51

0,52

0 500 1000 1500 2000 2500

MASSA

TE

MP

O D

E Q

UE

DA

FIGURA 2.2.4 Gráfico do tempo de queda em (s) versus massa (kg).

Note no gráfico anterior a dependência do tempo de queda com a massa inercial

do corpo. Assim, considerando a resistência do ar, o corpo mais pesado realmente atinge

o solo antes do que o mais leve pois o seu tempo de queda é menor, ressurgindo a

afirmação aristotélica.

Para verificar a consistência da solução obtida, foi tomado o limite de k/m

tendendo a zero na equação (2.2.16), implicando na ausência da resistência do ar, e

fazendo algumas aproximações por séries de Taylor chega-se ao resultado já esperado

para o tempo de queda no vácuo:

g

Htq

2 (2.1.9)

2.2.3 Modelo Geral para um Corpo em queda na Presença de Forças Viscosas

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FIGURA 2.2.5 Esquema de um corpo em queda na presença de forças de resistência do ar.

2kvbvf (2.2.16)

O primeiro termo é considerado no limite de pequenas velocidades e o segundo,

no limite de grandes velocidades. Esta equação contém, na verdade, dois termos de uma

expansão de Taylor em termos da velocidade (NUSSENZVEIG, 1981). O coeficiente de

arrasto depende da forma geométrica do corpo e das propriedades do fluido (ar) no qual

está inserido o corpo em queda.

Analisando as forças que atuam em um corpo em queda livre na presença de

forças viscosas obtemos a equação diferencial:

2kvbvmgdt

dvmF (2.2.17)

Integrando a aceleração em função do tempo, usando a condição inicial 00 v

em 00 t , obteve-se o resultado.

Act

Act

e

eA

c

dtv

2

2

1

1

2)( (2.2.18)

Onde m

bd ,

m

kc ,

2

2

4c

dA

y

H

0

r

o

e

r

o

g V0 Kv2

bv

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23

Partindo da solução obtida anteriormente e efetuando o limite da velocidade

quando o tempo tende ao infinito, teremos

2

2

422)(lim

k

b

k

bA

c

dV tv

t

T

(2.2.19)

Integrando a velocidade em função do tempo, impondo que o espaço inicial é

zero, após vários cálculos, chega-se à função horária:

B

Be

ct

c

dAts

Act

1

1ln

1

2)(

2

(2.2.20)

O estudo do caso geral só é interessante para obtenção de uma forma geral para

escrever a função horária da velocidade e do espaço de um corpo em queda, mas sempre

as equações (2.2.19), (2.2.20) e (2.2.21) recai em um dos casos estudados anteriormente,

pois a força de resistência do ar ou é linear ou é quadrática, inexistindo as duas ao

mesmo tempo.

Os resultados de todos os casos até aqui estudados mostram a dependência da

massa no valor da aceleração de queda (ver eq. 2.2.18) e no tempo de queda quando se

considera a força de resistência do ar.

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3. Estudo do Movimento Vertical: Campo Gravitacional Variável com a Altura

A partir dos estudos de Galileu e de Newton, foi se firmando a idéia que leis

universais governam o movimento dos corpos e podem ser aplicados aos movimentos

ocorridos tanto no céu como na terra. A questão da época é que espécie de força os

corpos exercem um sobre o outro para moverem segundo as leis de Kepler? A resposta

foi dada pela Lei da gravitação Universal de Newton: “Matéria atrai matéria, na razão

direta do produto das massas e inversa do quadrado da distância” (GATTI, 2004).

Matematicamente:

2.

d

MmGF (3.1.1)

Considerando a seguinte situação:

FIGURA 3.1.1 Esquema de um corpo em queda livre, considerando a aceleração da gravidade

variável com a altura.

H

M

m

0

RT

d

(3.1.1)

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No estudo do movimento vertical a equação (3.1.1) é extremamente interessante,

uma vez que, envolve o parâmetro distância do corpo ao centro da Terra, que nesse caso

será a altura y. Inicialmente serão desconsideradas as forças resistivas do ar, podendo

assim aplicar o principio da conservação da energia mecânica.

22 )(.

yR

MmG

d

MmGF

t (3.1.2)

)()(

yR

MmGFdyxV

t

y

(3.1.3)

KyVE )( (3.1.4)

2/1

)(

2

yR

MmGE

mdt

dyv

T

(3.1.5)

Para um determinado valor da energia E teremos um ponto de retorno em:

E

MmGyR (3.1.6)

A fim de obter a função horária y(t), calcula-se a integral abaixo:

tm

yR

MmGE

dyy

y

t

2

))(

(02/1

(3.1.7)

Fazendo uma mudança de variável:

MmG

Eycos (3.1.8)

tm

senE

mMG 2)cos(

)( 2/3

(3.1.9)

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26

Expressão esta que não pode ser resolvida analiticamente.

3.1 Estudo do Movimento Vertical: Com resistência do ar

Considerando a situação a seguir:

FIGURA 3.1.2 Esquema de um corpo em queda livre, considerando a aceleração da gravidade

variável com a altura e uma força de resistência do ar proporcional à velocidade.

Analisando as forças atuantes temos:

2

2. bv

d

MmGF

(3.1.2)

No caso da equação (3.1.2) não se pode aplicar o principio da conservação da

energia mecânica, porque há presença de forças dissipativas. Desse modo fica

impossível a obtenção de forma analítica da solução de (3.1.2), necessitando assim

utilizar algum método numérico.

Utilizando o software Modellus e partindo das equações dinâmicas:

H

M

m

0

RT

d

(3.1.1) bv

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obtemos a presença de uma velocidade terminal:

FIGURA 3.1.3 Velocidade x Tempo, considerando a força de resistência do ar proporcional ao

quadrado da velocidade com a aceleração da gravidade variável com a altura.

Novamente foi observado a dependência do tempo de queda com a massa:

FIGURA 3.1.4 Espaço x Tempo, considerando a força de resistência do ar proporcional ao

quadrado da velocidade, com aceleração da gravidade variável com a altura, para massas

diferentes.

Neste caso foram obtidos os resultados:

Massa do corpo

(Kg)

Tempo de queda

(s)

Módulo da velocidade terminal

(m/s)

1 3704 2,70

10 1719 5,81

Corpo de massa um 1 kg; curva em preto.

Corpo de massa um 10 kg; curva em verde.

Corpo de massa um 100 kg; curva em rosa.

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100 795 12,52

Evidenciando a influência da massa do corpo no valor do tempo de queda e da

velocidade terminal.

3.2 Algumas outras comparações de modelos usando a gravidade constante ou

variável

Resolvendo o modelo para uma altura inicial de 10.000000 m, e considerando

duas situações: situação 1 que corresponde a uma força gravitacional que depende da

altitude e uma outra (situação 2) que independe. Com isto temos as equações:

Usando o programa Modellus, obtemos o gráfico:

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FIGURA 3.2.1 - Espaço x Tempo - queda livre (ausência da resistência do ar)

Note que nos resultados acima, o tempo de queda diverge nos dois casos e esta

divergência aumenta quando se aumenta a altura inicial de queda.

Os resultados obtidos com o Modellus mostraram que o tempo de queda é pouco

influenciado pela variação do campo gravitacional com altura, quando se considera

alturas muito menores que o raio terrestre. Os resultados para o caso com resistência do

ar mantiveram o comportamento observado com o campo gravitacional constante.

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4. Considerações sobre alguns fenômenos que aparecem devido as Forças de

Resistência do Ar

No caso idealizado, queda livre, o corpo em queda tem somente movimento

translacional, pois, a única força existente atua no seu centro de gravidade e está na

direção vertical. Entretanto quando observamos um caso real de um corpo em queda,

nota-se que além do movimento translacional existem outras formas de movimento

devido à ação da força de resistência do ar.

4.1 Perdas de Informação I

Imaginemos a seguinte situação hipotética:

“Um cubo de massa M com seu centro de gravidade localizado no seu centro

geométrico, as arestas desse cubo são diferenciadas pelos números 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Esse

cubo é abandonado em repouso do topo de um prédio, com a identificada com o número

1 para baixo, desconsiderando as forças de resistência do ar. Qual a probabilidade desse

cubo incidir a face identificada com o número 1 no solo desconsiderando as leis da

mecânica?”

Usando a probabilidade estatística temos:

Espaço amostral. (1, 2, 3, 4, 5 e 6 )

Elementos favoráveis. (1)

Probabilidade de um evento acontecer. Elementos favoráveis/ Espaço amostral

P = (1/6) *100% = 16.67%

Usando a estatística 16.67% é o maior valor percentual que podemos afirmar que

o corpo vai incidir face identificada com o número 1.

Considerando agora a mecânica newtoniana, a única força que está atuando

nesse corpo é a força peso, direcionada para baixo e localizada no centro de gravidade

do mesmo. Como não há nenhuma outra força atuando, não haverá nenhum torque para

girar o cubo, logo ele incidirá face identificada com o número 1 no solo.

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Agora vamos considerar a situação hipotética anterior, mas considerando a força

de resistência do ar e variação do campo gravitacional com a altura.

Da probabilidade estatística temos:

Espaço amostral. (1, 2, 3, 4, 5 e 6 )

Elementos favoráveis. (1)

Probabilidade de um evento acontecer. Elementos favoráveis/ Espaço amostral

P = (1/6) *100% = 16.67%

Usando a estatística 16.67% é o maior valor percentual que podemos afirmar que

o corpo vai incidir face identificada com o número 1.

Usando a mecânica newtoniana:

Considerando a mecânica, a força peso é variável com a altura, direcionada para

baixo e localizada no centro de gravidade do mesmo. Mas agora temos a força de

resistência do ar proporcional à velocidade do corpo e em sentido contrário. Como essa

primeira força atua no seu centro de gravidade e a força de resistência do ar não atua

exatamente em seu centro de gravidade. Com isso o somatório dos torques sobre o

corpo não se cancelam fazendo o cubo girar. Se ele cair de uma grande altitude, fica

difícil prever quantas vezes este cubo vai girar, e assim a mecânica newtoniana não

poderá dar nenhuma informação sobre qual face do cubo vai incidir no solo.

Comparando os dois casos

Na primeira situação hipotética (sem resistência do ar), pode-se afirmar que o

cubo incidirá a face identificada com o número 1 no solo. No entanto na segunda

situação a única certeza que temos é o 16.67% da probabilidade estatística. Como nos

dois casos foram dadas as mesmas condições de iniciais, observa-se perda de

informação quando se considera a força de resistência do ar.

4.2 Perdas de Informação II

Se arremessarmos bolinhas do alto de um edifício com velocidades diferentes, a

força de resistência do ar faz com que se aproximem da mesma velocidade terminal,

uma vez que a mesma independe da velocidade inicial. Uma pessoa que esteja na

calçada dificilmente conseguirá dizer a velocidade exata com que as bolinhas foram

arremessadas (BOUSSO e POLCHINSKI, 2004).

A situação apresentada no parágrafo anterior, mostra de forma clara que ocorre

perda de informação devido à força de resistência do ar. Mas o objetivo principal no

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momento é discutir usando um exemplo simples, que as forças dissipativas poderiam

dar uma conexão entre a física clássica e quântica.

Um sistema clássico contém mais informações que um sistema quântico, já que

as variáveis podem levar em conta qualquer valor, enquanto sistemas quânticos só

trabalham com valores discretos que podem ocorrer com certa probabilidade. Desse

modo, para um sistema clássico gerar um sistema quântico ele teria de perder

informação. Isso poderia acontecer naturalmente devido ao atrito e outras forças de

dissipação (BOUSSO e POLCHINSKI, 2004).

A situação descrita no primeiro parágrafo desse tópico observa-se uma vasta

gama de condições iniciais levam ao mesmo tipo de comportamento em longo prazo,

conhecido como atrator. Atratores são discretos, assim como os estados quânticos. As

leis a que eles obedecem derivam, mas diferente das leis de Newton. De acordo com

t’Hooft, as derivadas não são outras senão da mecânica quântica. A natureza, portanto

poderia ser clássica a nível mais detalhado, mas pareceria quântica por causa da

dissipação. Teríamos a mecânica quântica como limite de baixa energia de alguma

teoria mais fundamental (BOUSSO e POLCHINSKI, 2004).

4.3 Forças Dissipativas

São forças de origem interatômicas que geralmente aparecem quando existe

movimento relativo entre dois meios. Estão presentes em quase todos os sistemas físicos

naturais. Uma conseqüência direta da ação das forças dissipativas é que condições

iniciais diferentes podem levar ao mesmo comportamento em longo prazo, ou seja

podem conduzir a presença de um atrator. Um atrator pode ser definido como uma

região do espaço de fase para o qual um sistema dinâmico tende durante a sua evolução

temporal e neste subespaço ele eventualmente se estabiliza. Ou seja, um atrator é um

conjunto de valores no espaço de fase para o qual o sistema migra com o tempo (se for

um fluxo) ou por iterações (se for um mapa). Um atrator pode ser único ponto fixo, uma

coleção de pontos regulamente visitada, ou uma região (bacia de atração). (FIEDLER e

PRADO, 1995).

No caso que estudamos, observamos que a força de resistência do ar tinha duas

contribuições (ver eq. 2.2.18) existe uma velocidade terminal que é independente da

condição inicial, esse comportamento pode ser uma evidência da existência de um

atrator, que leva o corpo em queda a uma velocidade terminal. Entretanto, tal conjectura

precisaria ser verificada.

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Embora interessante o estudo realizado nesse capítulo 4, ele não tem nenhum

embasamento experimental. Portanto as discussões levantadas devem ser consideradas a

nível especulativo, uma vez que, a mecânica quântica é a mais bem sucedida teoria da

física.

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5. Conclusão

Historicamente merecem destaque no contexto deste trabalho de conclusão de

curso, os trabalhos de Galileu Galilei, que experimentalmente chegou a seguinte

conclusão: “se eliminarmos completamente a resistência do ar, materiais caem com a

mesma rapidez” (HALLIDAY, ET. AL., 2002). Desta afirmação segue então uma outra

questão: qual a influência da resistência do ar nesta rapidez, ou seja, como a resistência

do ar influencia o tempo de queda dos corpos? Os resultados encontrados tanto

analiticamente, quanto numericamente, para o tempo de queda de um corpo, na

presença de forças resistivas, confirmam as previsões da física clássica: “a massa do

corpo somente influência o tempo de queda dos corpos quando se considera a força de

resistência do ar na equação dinâmica. Nesta situação, o mais pesado realmente atinge o

solo primeiro”. Por outro lado, os resultados também mostram que o tempo de queda

sofre variações consideráveis quando se trata de grandes trajetórias ou corpos pouco

massivos em situações reais envolvendo corpos em queda livre com resistência do ar.

A idealização clássica da queda livre, embora intuitiva para estudo, não modela

adequadamente casos reais de corpos em queda na presença de forças resistivas. Além

das inconsistências com os resultados experimentais, quando trata o problema de forma

idealizada, também perde muitas informações qualitativas do sistema.

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6. Referências

(1) BOUSSO, R. e POLCHINSKI, J., O Panorama da Teoria de Cordas. Scientific

American, Nº 29, outubro, 2004.

(2) CIÊNCIA VIVA. Força de Resistência do Ar. Artigos, agos. 2008. Disponível em

<http://www.cienciaviva.pt/semanact/edicao2008/>. Acesso em; 20 out. 2008.

(3) FERREIRA, G. F. Leal. Projeteis com Resistência do ar Quadrático na Velocidade.

Revista Brasileira de Física, v. 23, n.3, p. 271-275, set. 2001

(4) FIEDLER-FERRARA Nelson & PRADO, Carmen P. Cintra, Caos - uma

introdução, São Paulo: Editora Edgard Blucher, 1995.

(5) GATTI, SANDRA Regina Teodoro et al. A historia da ciência na formação do

professor de física: subsídios para o curso sobre o tema atração gravitacional visando

mudanças de postura na ação docente. Ciência & Educação, v.10, n. 3, p. 491-500,

2004.

(6) HALLIDAY, David; RESNICK Robert; KRANE, K, Física 1. vol. 1, 4 ed. Rio de

Janeiro: LTC, 2002.

(7) HARRES, João batista Siqueira. Desenvolvimento histórico da dinâmica;

referente à evolução das concepções dos estudantes sobre força e movimento. ln;

Encontro Ibérico-americano sobre Investigação em Educação em Ciências, I, 2002,

Burgos (Espanha).

(8) NUSSENZVEIG, H. Moysés, Curso de Física Básica: Mecânica. vol. 1, 2 ed. São

Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1981.

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(9) TIPLER, Paul A. Física. vol. 1, 4 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.