que eu ando muito afastado de mim

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Que eu ando muito afastado de mim. Houveram altos. Houveram baixos. E o foco parece que alguma hora se perdeu. Tenho lido muito, bebido pouco, fumado demasiado. Tenho pensado. Sei que tudo é processo, que tudo é momento, que a corda estica, e depois relaxa. Respiração. Ando muito voltado pra cá dentro, uma série de fatores que atravanca. É falta de trampo. É falta de pele. É também falta de poesia, falta de horizonte. E deixar apenas a raiva conduzir a dança é negar que pedrinha vire avalanche. Não posso. Que o agora que a gente acredita é o agora que a gente dispõe. Não crer não remove a responsabilidade. Olhar para dentro pressupõe que houve um processo, que pode até ter sido forçado, mas que foi aceito. É preciso arcar com a poesia. Não é apenas o fazer-se outro, mas o se fazer com o que se têm, esta memória, este agregado, crenças que se mesclaram, o quanto que a gente amou, o quanto que a gente perdeu, o quanto que a gente se fudeu. Aqui, abrir mão não funciona. Poeta agrega pra lá na frente arremessar em pedregulho. Sim, existem outros. Mas esse também existe. Até que morra ou até que cumpra a sua sina. Negar apenas é pequeno demais. Possível, já que outros demônios são mais engraçados, mais úteis e menos entulhados de sentimento e dor. Este ruim, demasiado, que poeta agrega e carrega. Que Poeta aguenta. Jumento, mula-sem-cabeça, assombração. Poeta é Cavalo, é Cavaleiro e é Ação. Este agora, apenas outro Dragão. Escrever é dar forma, fio e equilíbrio à Espada. E através desta escrita afiada, ganha-se resplandescente Armadura. O Poeta é o baluarte de sua crença. Luz aonde faltar Força que armado de fé inquebrantável transforma enormidade em palavra. Transubstanciação. Quem eu quero enganar? Duvidar também funciona. Não existe um ponto de vista que seja mais verdadeiro que outro. Tristeza/Alegria, Brahma/Kali, Banana/Torresmo, Ovo e Galinha. Com a honrosa exceção do Orgasmo, todas as dualidades se anulam. Meus pontos de vista em hora alguma vão ser mais certos que os demais. Tudo é relativo, tudo é relativizável, o lance é perceber todo o continuum espaço- temporal como uma mera flutuação de mercado. Hoje o Cristianismo parece em alta, amanhã o Diabo volta pras cabeças e a gente acreditando que existe algum valor intrínseco a uma ou outra destas idéias. Ô gente besta, sô.

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Poema tradicional

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Que eu ando muito afastado de mim

Que eu ando muito afastado de mim. Houveram altos. Houveram baixos. E o foco parece que alguma hora se perdeu. Tenho lido muito, bebido pouco, fumado demasiado. Tenho pensado. Sei que tudo processo, que tudo momento, que a corda estica, e depois relaxa. Respirao. Ando muito voltado pra c dentro, uma srie de fatores que atravanca. falta de trampo. falta de pele. tambm falta de poesia, falta de horizonte. E deixar apenas a raiva conduzir a dana negar que pedrinha vire avalanche. No posso. Que o agora que a gente acredita o agora que a gente dispe. No crer no remove a responsabilidade. Olhar para dentro pressupe que houve um processo, que pode at ter sido forado, mas que foi aceito. preciso arcar com a poesia. No apenas o fazer-se outro, mas o se fazer com o que se tm, esta memria, este agregado, crenas que se mesclaram, o quanto que a gente amou, o quanto que a gente perdeu, o quanto que a gente se fudeu. Aqui, abrir mo no funciona. Poeta agrega pra l na frente arremessar em pedregulho. Sim, existem outros. Mas esse tambm existe. At que morra ou at que cumpra a sua sina. Negar apenas pequeno demais. Possvel, j que outros demnios so mais engraados, mais teis e menos entulhados de sentimento e dor. Este ruim, demasiado, que poeta agrega e carrega. Que Poeta aguenta. Jumento, mula-sem-cabea, assombrao. Poeta Cavalo, Cavaleiro e Ao. Este agora, apenas outro Drago.Escrever dar forma, fio e equilbrio Espada. E atravs desta escrita afiada, ganha-se resplandescente Armadura. O Poeta o baluarte de sua crena. Luz aonde faltar Fora que armado de f inquebrantvel transforma enormidade em palavra. Transubstanciao.

Quem eu quero enganar? Duvidar tambm funciona. No existe um ponto de vista que seja mais verdadeiro que outro. Tristeza/Alegria, Brahma/Kali, Banana/Torresmo, Ovo e Galinha. Com a honrosa exceo do Orgasmo, todas as dualidades se anulam. Meus pontos de vista em hora alguma vo ser mais certos que os demais. Tudo relativo, tudo relativizvel, o lance perceber todo o continuum espao-temporal como uma mera flutuao de mercado. Hoje o Cristianismo parece em alta, amanh o Diabo volta pras cabeas e a gente acreditando que existe algum valor intrnseco a uma ou outra destas idias. gente besta, s. Nada disso importa.Tudo isso importa. Que crena, o que a gente acredita que compe as coisas, o significado que a gente d pro mundo. um significado vazio, no essa a questo. Mas um significado nosso, que pra gente faz um puta sentido. A intensidade que a gente d pra crena na esquerda ou na direita, na loura ou na morena, em deuses ou demnios, em batata-frita ou vatap faz toda a diferena. A bolsa de idias se regula por idias fodendo entre si. Qual crena ser a crena determinante na sua vida? Neste agora? Movimento ou Entropia? Gargalhada ou Asfixia? Sair de si ou se enrolar em volta do prprio umbigo? Isso tudo ego. Ego aplicado, vivo, determinante. Ego vinculante. Acreditar Agir. E toda Crena ferramenta na construo deste porvir.

Creio no Oceano Negro de Tianmat, O Fluxo. Lar de todas as coisas que no so, das coisas que so e daquelas que viro a ser um dia. Como Parte e como Todo, Caos em mim atravessa.Creio no Ain Soph Aur, Luz Ilimitada, Movimento atravs de Ao. Paz atravs de Conquista. Creio na Luz da Manh, determinando o que real na Construo deste Agora. Vontade dirigida ditando o que manifesto. No Agora feito de escolha. Creio em Maa Kali, Me trs vezes negra, Grande, 3 vezes Forte. Na destruio de tudo que em mim me atravanca, de tudo que me acorrenta, de tudo que no gigantesco, de tudo que permanece pequeno.Creio nos 4 que regem a Coroa, no meu Junt: 3 vezes gua, 3 vezes Fogo. Filho e Pai, Marido e Mulher. Creio no Caramujo, na Prata, no Ouro e no Ao. Creio na Tempestade, no Vento e na Terra. Que nasci em um dia de Chuva, e nunca mais parou de chover. Creio em Legb, Senhor das Estradas e Caminhos. Senhor da Foice de Ferro, Guardio das possibilidades. Sem voc, eu no chegava at aqui. Laroy Mojub. Laroy, Exu!Creio nos meus 4 personagens de Jogo. Sol: o riso que devora. Lobo: a urgncia que adianta. Azul: o silncio que fala. E aquele outro, que cria. Que nenhum detenha todo o poder, ns somos de todos os Deuses e Demnios.Percebo cada mscara minha como uma crena, no somente uma forma de me perceberem, mas tambm uma forma de perceber os outros. Laurent, este poeta, velho safado, cada vez mais velho e mais safado. Gabriel, que nunca deixou de ser menino e rir criana.

Acredito na Alegria, no Amor e no Agora. Todo o resto, eu jogo fora. O que foi feito, est desfeito. O mal que veio, eu re-envio. Os Pentagramas so de Fogo. E Agora Festa.

FOI!