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USO DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR SEM DISSOLUÇÃO EM SOLVENTE DEUTERADO (RMN NO-D) PARA ESTUDO FORENSE Lucas de Almeida Gama, Alvaro Cunha Neto, Wanderson Romão, Bianca Bortolini Merlo QUALIFICAÇÃO DE ARTIGO

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USO DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR SEM DISSOLUÇÃO EM SOLVENTE

DEUTERADO (RMN NO-D) PARA ESTUDO FORENSE

Lucas de Almeida Gama, Alvaro Cunha Neto, Wanderson Romão, Bianca Bortolini Merlo

QUALIFICAÇÃO DE ARTIGO

2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

OBJETIVOS

METODOLOGIA

RESULTADOS E DISCUSSÃO

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGRADECIMENTOS

3

INTRODUÇÃO

Com o aumento da criminalidade no mundo:

Estudos aprofundados do cenário e dos vestígios

oriundos de um crime;

Países por todo o mundo têm tomado medidas de

prevenção contra o mercado de drogas de abuso;

Brasil desenvolve política para a prevenção de drogas

na qual foram inseridas listas de insumos proibidos ou

de severo regime de fiscalização.

4

INTRODUÇÃO

Ações como a consolidação do projeto PeQui (Perfil

Químico de Drogas) e parcerias/cooperações com

instituições forenses do mundo estão sendo

estabelecidas para identificar rotas do tráfico de drogas

e ainda contribuir com dados e estatísticas que

consigam apontar as tendências deste mercado ilícito.

5

INTRODUÇÃO

O consumo de drogas psicotrópicas, que afetam o

sistema nervoso central (SNC), teve seu panorama de

uso modificado durante os anos:

Rituais religiosos e voltados para o bem-estar;

Uso inconsequente e abusivo que as tornaram um

problema de saúde e segurança pública.

6

INTRODUÇÃO

São classificadas de acordo com sua capacidade de

modificar o SNC:

Depressoras (opiáceos/opióides, etanol e

barbitúricos).

7

INTRODUÇÃO

Estimulantes (cocaína, anfetaminas e anorexígenos).

8

INTRODUÇÃO

Perturbadoras (alucinógenos, psilocibina, mescalina e

canabinóides).

9

INTRODUÇÃO

Dentre os estimulantes, a cocaína é a droga mais

apreendida no Brasil.

Alcaloide, majoritário, extraído das folhas do arbusto do

gênero Erytroxylum.

Mundialmente comercializada sob as formas: cloridrato

(chamada de cocaína) e base livre (pasta base, cocaína

base livre, merla, free-base e crack).

10

INTRODUÇÃO

11

INTRODUÇÃO

O cultivo de coca no mundo diminuiu e foi acompanhado

pelo decréscimo do uso de cocaína em muitos países

sul-americanos porém no Brasil o consumo teve um

aumento substancial.

Possui região de fronteira com os maiores produtores de

cocaína do mundo (Colômbia, Bolívia e Peru), além de

ter grande região litorânea no Oceano Atlântico o que

permite escoar as drogas para a Europa e África.

12

INTRODUÇÃO

No comércio ilícito utiliza-se dois tipos de substâncias:

Adulterantes: compostos farmacologicamente ativos

que potencializam, minimizam ou mascaram os seus

efeitos (cafeína, fenacetina, lidocaína entre outros);

Diluentes: farmacologicamente inativos que apenas

aumentam o peso da amostra (açucares e derivados

entre outros).

13

INTRODUÇÃO

As técnicas cromatográficas são as mais disseminadas

para o estudo de drogas de abuso, porém a

dependência de etapas de derivatização e a utilização

de padrões analíticos de alta pureza para a

quantificação, tornam as análises mais demoradas e

elevam o custo.

14

INTRODUÇÃO

O uso da Ressonância Magnética Nuclear (RMN) se justifica:

Técnica não invasiva;

Possibilita elucidação estrutural de drogas, identificação e

quantificação das mesmas juntamente com seus adulterantes,

diluentes, alcaloides e metabólitos em apenas uma análise;

Ausência de etapas de derivatização;

Possibilidade de se utilizar padrões de referência que não

possuam alta pureza.

15

INTRODUÇÃO

Os estudos de RMN de hidrogênio (¹H) são normalmente

realizados com o uso de solventes deuterados mas não

há necessidade da utilização deste tipo de solvente e o

não emprego diminui o custo das análises de

ressonância.

Espectroscopia de RMN No-D também conhecida como

RMN de próton não deuterado ou sem solvente

deuterado é uma metodologia para determinação de

concentração de reagentes e acompanhamento de

reações.

16

INTRODUÇÃO

Baseada em espectros de ¹H obtidos para amostras

dissolvidas em solventes comuns de laboratório.

Os espectros possuem relações sinais/ruídos (S/N) e

resoluções adequadas para rotinas experimentais,

podendo ser utilizada ainda para obter valores

quantitativamente confiáveis.

17

INTRODUÇÃO

Esta técnica possui vantagens econômicas (menor gasto

com solventes), de escala (automatização dos

experimentos) e de operação (uso do próprio solvente

de uma reação química).

18

INTRODUÇÃO

Experimentos de RMN No-D podem ser realizados unlocked, já para

a realização de shimming pode ser utilizado:

Uso de tubo de referência;

Utilização de shimming considerado ótimo para o tipo de

amostra analisada;

Uso de capilar;

gradient shimming;

Shimming utilizando o FID da amostra;

Shimming utilizando o espectro da amostra.

19

INTRODUÇÃO

Comparações entre a quantificação por RMN No-D e

titulação calorimétrica tem obtido excelente

concordância com os valores padrões para ambas,

sendo a RMN uma técnica mais rápida.

20

OBJETIVOS

Estudar apreensões de cocaína realizadas no Estado do

Espírito Santo por RMN No-D e ainda demonstrar a

possibilidade de estudo de outras drogas de abuso por

esta técnica.

21

METODOLOGIA

Materiais

71 apreensões de cocaína;

1 amostra dos padrões de cocaína, fenacetina,

cafeína, lidocaína;

1 apreensão de metilona;

1 apreensão de ecstasy.O

O

O

ON

N

N

N

N

O

O

N

OO

H

N

O

N

H

22

METODOLOGIA

Espectroscopia de RMN

550 µL de solução 0,1 M de cada padrão

550 µL de soluções 0,3 M das apreensões

(considerando a massa sendo apenas cocaína)

Duas soluções de 550 µL das apreensões de metilona

e ecstasy foram preparadas pela dissolução de um

cristal de metilona e metade de um comprimido de

ecstasy e então filtradas.

23

METODOLOGIA

Todas as soluções foram preparadas em álcool metílico (Vetec

Química Fina LTDA, Brasil) e colocadas em tubos de RMN de 5 mm.

Utilizou-se capilar com metanol deuterado (Cambridge Isotope

Laboratories Inc, EUA), CD3OD, para adquirir espectros de RMN de

¹H em temperatura ambiente (25°C) usando uma sonda de líquidos

5mm BroadBand 1H/19F/X em um espectrômetro de 400 MHz Varian

Agilent®, modelo VNMRS 400.

Todos os espectros foram obtidos com at = 20 s (tempo de

aquisição), d1 = 20 s (tempo de espera), pulso = 22° (3,8 µs) e nt

= 8 (número de transientes).

24

METODOLOGIA

O solvente utilizado para realizar este experimento foi o

metanol, pois ele solubiliza todos os adulterantes

estudados além do fato de seu sinal em RMN ter um

deslocamento químico fora da região de hidrogênios

aromáticos, possibilitando a identificação dos

adulterantes.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A retirada de água do metanol, utilizado para dissolver

as amostras, melhora a resolução do espectro e diminui

variações no deslocamento químico dos sinais quando

comparado os espectros de No-D NMR e os de RMN

convencional, esta secagem foi realizada utilizando

NaSO4.

A região espectral de hidrogênios aromáticos é a que

permite melhor distinção entre a cocaína e seus

adulterantes.

26

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o padrão de cocaína, figura abaixo, esta região demonstra uma boa relação S/N com a utilização de solução em metanol contendo no tubo de ressonância um capilar com metanol deuterado.

Fig. 1. Expansão do espectro de RMN ¹H na região de hidrogênios aromáticos para o padrão de cocaína.

27

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os espectros foram adquiridos com um tempo de análise,

aproximadamente, 2x menor quando comparado à Cromatografia

Gasosa (CG) que é a técnica utilizada pela polícia brasileira e a mais

empregada para estudo de drogas ilícitas. A CG necessita de

padrões de quantificação de alta pureza porém é mais barata por

análise do que a RMN que não necessita de alta pureza de

reagentes e tem seus maiores custos relacionados a compra do

equipamento, manutenção do campo magnético e a utilização de

solvente deuterado.

28

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para utilizar a RMN deve-se conseguir analisar mais amostras em

um menor tempo garantindo uma qualidade superior ou igual dos

resultados obtidos para a cromatografia e o custo/benefício deve

ser viável para sua utilização em rotina.

A técnica de RMN No-D permite a não utilização de solvente

deuterado para dissolver as amostras fazendo com que o custo de

solvente diminua consideravelmente sendo até menor que a da CG.

O uso de capilar com solvente deuterado é proposto devido a

qualidade do sinal quando se realiza lock e autoshimming e o

tempo gasto para obter o espectro de RMN-¹H.

29

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A figura abaixo mostra dois espectros de uma apreensão de cocaína

com expansão na região de hidrogênios aromáticos.

Fig. 2. Ampliação da região dos aromáticos de espectros de apreensões de cocaína. (a)

solubilizada em metanol deuterado, (b) solubilizada em metanol comercial.

30

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A identificação de sinais de dois adulterantes da cocaína, neste

exemplo cafeína e prometazina, não foi prejudicada demonstrando

que as análises de RMN No-D podem substituir as RMN

convencionais para identificação de cocaína e seus adulterantes

permitindo estabelecer tendências do mercado ilícito e dos locais

ou áreas onde os mesmos são utilizados. Uma vantagem da boa

qualidade espectral da RMN No-D é a de possibilitar a quantificação

relativa e absoluta da cocaína e seus adulterantes.

31

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam obtidos os espectros de RMN No-D-1H de 71 apreensões de cocaína do período de janeiro à junho de 2012 e a partir dos mesmos foi possível realizar a distribuição de adulterantes no Espírito Santo. Os deslocamentos químicos na região dos aromáticos utilizados para identificar os adulterantes estão representados em Fig. 4.

Fig. 3. Expansão da região de aromáticos de misturas de padrões. (a) cocaína e cafeína, (b) cocaína, cafeína e

fenacetina, (c) cocaína, cafeína, fenacetina e lidocaína.

32

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os principais adulterantes encontrados nas apreensões de cocaína

foram a cafeína, lidocaína e fenacetina sendo que outros

adulterantes estão presentes em algumas amostras.

Fig. 4. Avaliação de adulterantes por região do Espírito Santo.

33

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A região metropolitana do estado possui a maior quantidade de

apreensões e ainda a maior utilização de cafeína, lidocaína e

fenacetina. A região metropolitana é a região com maior número de

apreensões e maior quantidade de adulterações demonstrando

assim ser a mais diversificada. A adulteração por cafeína se mostra

predominante na região metropolitana o que indica que as

apreensões feitas nas outras regiões podem ser provenientes de

amostras de cocaína que vieram da região metropolitana.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fenacetina na região sul não possui grande representatividade

assim a apreensão com fenacetina pode ter vinda de outra região.

As apreensões sem adulterantes não demonstra tendência pois a

quantidade de apreensões por região são muito próximas.

35

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A RMN No-D pode ser utilizada para analisar outras drogas ilícitas.

As regiões circuladas são sinais de Ecstasy e Metilona.

Fig. 5. Espectro de RMN No-D-¹H para Ecstasy e Metilona, as regiões circuladas representam

sinais sem sobreposição de adulterante.

36

CONCLUSÃO

O uso de solvente deuterado pela RMN convencional é

um dos problemas da técnica para que seja utilizada em

análises de rotina devido ao preço do reagente, porém

com a metodologia de RMN No-D é possível reduzir o

gasto devido a utilização de metanol comercial para a

dissolução das amostras.

37

CONCLUSÃO

O emprego da RMN é justificável pois além do fato de fornecer

dados sobre novas drogas, pureza de padrões e quantificar drogas

e adulterantes pode ainda estabelecer tendências do mercado

ilícito.

Durante investigações policiais é importante entender a logística da

droga para facilitar as investigações que normalmente possuem

inúmeras informações, entretanto conhecendo-se as tendências

pode-se estabelecer relevantes ligações entre apreensões e crimes

cometidos em diferentes locais.

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CONCLUSÃO

A técnica de RMN No-D se mostrou mais rápida que as

análises por CG, que são utilizadas pela Polícia Civil do

Estado do Espírito Santo, mostrando assim que pode ser

utilizada sem detrimento do tempo dos peritos

responsáveis por essa análises.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

L.E. Dorea, V.P. Stumvoll, V. Quintela, Criminalística, fifth ed., Millennium editora, Campinas/SP, 2012.

J.A. Velho, G.C. Geiser, A. Espindula, Ciências Forenses – Uma introdução às principais áreas da Criminalística Moderna, Millennium editora, Campinas/SP, 2012.

A.O. Maldaner, E.D. Botelho, J.J. Zacca, M.L. Vieira, Gerenciamento de ações voltadas para obtenção de Perfis Químicos de Drogas – Projeto PeQui da Polícia Federal, in: Proceedings of the 34th Annual Meeting of the Brazilian Chemical Society, Santa Catarina/Brazil, May 23-26, 2011.

W. Romão, N.V. Schwab, M.I.M.S. Bueno, R. Sparrapan, M.N. Eberlin, A. Martiny, B.D. Sabino, A.O. Maldaner, Química Forense: Perspectivas sobre novos métodos analíticos aplicados à documentoscopia, balística e drogas de abuso, Quim. Nova Vol. 34 (10) (2011) 1717-1728.

UNODC, World Drug Report 2013, UNODC, Vienna, 2013.

UNODC, Recommended Methods for the Identification and Analysis of Cocaine in Seized Materials, UNODC, Vienna, 2013.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

R.C.S. Junior, C.S. Gomes, S.S.G. Júnior, F.V. Almeida, T.S. Grobério, J.W.B. Braga, J.J. Zacca, M.L. Vieira, E.D. Botelho, A.O. Maldaner, Demystifying “oxi” cocaine: Chemical profiling analysis of a “new Brazilian drug” from Acre State, Forensic Sci. Int. 221 (2012) 113-119.

B. Pagano, I. Lauri, S. De Tito, G. Persico, M.G. Chini, A. Malmendal, E. Novellino, A. Randazzo, Use of NMR in profiling of cocaine seizures, Forensic Sci. Int. 231 (2013) 120-124.

T.R. Hoye, B.M. Eklov, T.D. Ryba, M. Voloshin, L.J. Yao, No-D NMR (No-Deuterium Proton NMR) Spectroscopy: A simple yet powerful method for analyzing reaction and reagent solutions, Org. Lett. Vol. 6 (6) (2004) 953-956.

T.R. Hoye, B.M. Eklov, M. Voloshin, No-D NMR Spectroscopy as a convenient method for titering organolithium (RLi), RMgX, and LDA solutions, Org. Lett. Vol. 6 (15) (2004) 2567-2570.

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AGRADECIMENTOS

Os autores são gratos à Polícia Civil do Estado do Espírito Santo e as agências de fomento FAPES e CAPES.

A todos presentes por qualificarem este artigo.

OBRIGADO!!