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*2001 - Quinta-feira JORNAL DO C OMMERCIO CIDADE6J i _A_R Q U E O _L O l A S TI ON AD EXISTÊNCIA DE Professor da UFPE diz que o Recife nunca teve fo rtificação de pedra. Para el e, o que foi achado em escavações é um muro de contenção do rio O atquiteto José LUiz Mota Menezes, professor do mestrado e do doutorado em História da Universidade Federal de Per- nambuco (UFPE), está questionando a existência de uma mu- ralha de pedra com a função de proteger o Recife contra o ataque de inimigos no século 17. Partes da fortificação estariam sendo encontra- das em escavações arqueológicas no Bairro do Recife. O profeSsor afirma que a cidade era fortificada sim, mas o sistema de defesa do an- tigo povoado era feito por cercas de madeira. Segundo o professor, foram construídas duas cercas de madeira (paliçadas) no Recife, no século 17. "Em termos de sistema fortifica- do, a paliçada era uma das maneiras mais simples de defesa de uma praça. O obstáculo era feito com paus fmcados na vertical diretamen- te na terra ou em alguma base de alvenaria, dependendo do solo", ex- plica José Luiz Menezes. Uma primeira paliçada, luso-brasileira, envolvendo a povoação, existia em 1630 quando os holandeses chegaram a Pernambuco. Pro- vavelmente foi erguida por Matias de Albuquerque, de acordo com o arquiteto. Após a chegada dos flamengos, foi feita a segunda paliça- da, com a ampliação da região sitiada. Para aumentar a área do povoado e fazer a nova cerca, os holànde- ses construíram um muro no nível do chão, que poderia ter duas utili- dades - proteção das casots contra o rio ou suporte para as madeiras da paliçada. "A proximidade do rio e dos mangues condicionaram a construção desse alicerce", declara José Luiz, referência em evolução urbana no Recife. P ROJETO - Na avaliação do professor, é esse muro de contenção do rio, provavelmente, o que está sendo encontrado nas escavações no Bairro do Recife. Os achados estão localizados nos seguintes pré- dios da Rua do Bom Jesus: Sinagoga KalÚI Zur Israel, Restaurante Do- "'"'<..IA " <• JC IMAGEM natáriO e casa de número 125, que abrigará a Galeria Ranulpho. José Luiz infotm'a que no lado leste, vol- tado para o mar, tambéw não ha- via muralha de pedra. "Tmha o cais de pedra e a cerca de madeira." A construção da paliçada holan- desa começou em 1638 e foi con- cluída no dia 21 de dezembro de 1653. "A estacada de madeira cus- tou 1.200 florins e o serviço fpi exe- cutado por René de Moncliy, co- mo consta no livro Tempo dos Fla- mengos do professor José Antônio Gonsalves de Mello", diz. "Na pu- blicação, o historiadór José Antô- nio não 'faz referência a muralha en- volvendo o povoado, mas em cer- ca e estacada." Sabendo que a cerca de madeira não teria uma vida longa (as paliça- das eram construções ligeiras, fá- . JOLUIZ Cen:as eram de madeira ceis de fazer e de serem denuba- . das), o governador do Brasil holan- dês, Mauncio de Nassau, sugeriu a construção de uma muralha. "Essa muralha, possivelmente de Pedra, nunca foi executada por ser de muito custo e, talvez, desnecessária." O governo de Nassau teve oi- to anos de duração, de 1637 a 1645. A dominação flamenga em Per- nambuco se estendeu por 24 anos, de l630 a 1654. José Luiz acrescenta que a largura do muro encontrado no Bairro do Recife, 80 centímetros, não permite identificá-lo como a muralha que Na& u quis nstruir. "Os tratados de fortificação do período ja- mais indicariam tal largura de base para uma cortina que deveria ter pelo menos quatro metros de altura", destaca o arquiteto. Os judeus àproveitaram o muro como alicerce das suas casas. ESTAMPAS- A primeira paliçada, luso-brasileira, aparece em duas estampas que mostram o Recife de 1630/1631. Um dos desenhos é do gravador holandês Claes ]ansz oonj Visscher (Piscator), feito a par- tir do esboço de uma vista panorâmica e de outra topográfica do po- voado, com representações do ataque dos flamengos a Olindâ e da chegada ao Recife. "Piscator recriou uma possível realidade a partir <.l ( 1 e e esboço, mas a cerca de madeira que protegia o povoado não p<. ·m ser alvo de invenção", destaca. A •t :ia n f' J é a T' Recife de Pernambuco, de autor ignora- do e ieffi datf nht'<' ·· b que ilustra a História da Companhia das Ín- {iias · d'. · Johann de Laet. O livro foi impresso no ano de 11 . s pa, além da paliçada de madeira, aparece uma das portas do ortificado, a Porta do Mar, com seu trapiche. José Luiz afuma que a estampa T' Recife de Pernambuco é de grande pre- cisão e mostra todos os detalhes do sistema montado para defesa da povoação. t INTERPRETANDO DOCUMENTOS DO PASSADO t A construção em ped ra Com base em pesquisas do historiador Jos4 Antônio Gonsalves de Mello, o arquiteto José Luiz Mota Menezes afirma que não houve uma muralha de pedra no Recife, no século 17.Segundoele,apenas os baluart- que faziam a defesa da Porta da Terra, também chamada de Arco do Bom Jesus, eram de pedra (cor marrom).Oarquitetofez a reconstit uição do arco, em desenho, com a proporção das medidas reais correspondentes t A constr ução em madeira A gravura T' Recife de Pernambuco, re.tlizada a partir de um desenho do antigo povo o, mostra o Recife de 1630/31 cercado por uma !içada de madeira (cor amarela). No lado os holandeses teriam construido um muro de contenção do rio, que poderia servir de suporte para a cerca. Provavelmente, é.esse muro que está sendo encontrado nas casas da Rua do Bom Jesus, segl,lndo José Luiz. Também aparece na gravura uma das portas da cidade, a Porta do Mar ou Waterpoort Sem autor identificado e sem data conhecida, a estampa ilustra o livro História da Companhia das fndias Ocidentais,deJohann de Laet. impresso em 1644. P ara arqueólogo, achado é inquestionável O coordenador do Laboratório de Arqueologia da Universidade Fede- ral de Pernambuco (UFPE) e respon- sável pelas escavações no Bairro do Recife, Marcos Albuquerque, aflfllla que a muralha de pedra é inquestio- nável. Desde maio, a equipe do la- boratório faz o acompanhamento ar- queológico do projeto de embuti- menta da fiação elétrica e dos cabos de fibra ótica do Recife Antigo. "Nós sabemos, pela cartografia, que deve ter existido uma cerca de madeira no Recife. É possível que te- nha havido uma paliçada comple- mentando a muralha ou se sobre- pondo a ela, em alguns trechos", de- clara o arqueólogo. "Até o momen- to, o que encontramos de forma con- creta é uma muralha de pedra com um baluarte definido. Achamos tre- chos tanto do lado oeste (voltado pa- ra o rio) quanto do lado leste (volta- do para o mar)", completa. Marcos Albuquerque informa que os achados arqueàlógicos coin- ALBUQUERQUE A existência da muralha de pedra é uma realidade concreta cide*l, em vários trechos, com a plaqta do Recife de 1648, do cartó- gr;afo Comelis Golijath. "Não nego a existência da paliçada, mas houve uma muralha de pedra. Isso é uma realidade concreta. Se a muralha foi registrada pela cartografia ou não, é história", declara. O prefeito do Recife, João Paulo, a secretária-adjunta de Planejamen- to da cidade, Luciana Azevedo, e téc- nicos municipais visitam hoje as es- cavações arqueológicas no Recife Antigo, a partir das 8h. O grupo se reunirá no Escritório de Revitalização do Bairro do Reci- fe, antes da visita. Segundo Luciana Azevedo, os achados arqueológicos mais significativos deverão fazer par- te de um roteiro turístico no Recife Antigo. Ela disse que a forma como essa visitação será efetiyada, na práti- ca, ainda está sendo estuôada por técnicos da prefeitura. Sistemas de defesa feitos com madeira tinham três portas Os sistemas de defesa da povoa- ção do Recife feitos com cercas de madeira tinham três portas. A pri- meira ficava ea parte da terra (I.an- dpoort ou Arco do Bom Jesus), a segunda era junto ao trapiche e depois na entrada da ponte (Pon- tpoort ou Arcos da Conceição e de Santo Antônio) e a terceira en- contrava-se no lado do mar, no cais de atracação das embarca- ções (W,aterpoort). José LUiz Mota Menezes, arqui- teto e professor da UFPE, informa que a Porta da Terra ficava na · atual Rua do Bom Jesus, a antiga Rtia dos Judeus, e era defendida por dois baluartes. ''Visto na pintu. ra atribuída a Frans Post (artista ho- landês da corte de Nassau), eles foram executados- talvez em ter- ra e depois em pedra - e chega- ram ao século 19", afirma. Um pe- queno trecho de um dOs baluartes foi encontrado nas escavações que ocorrem no Recife Antigo. De acordo com o arquitteto, os baluartes foram chamados de Fortim do Bom Jesus. " Mapas co- nhecidos e precisá5 mostram os baluartes ladeando a Porta da Ter- ra, que era desenhada em arco de segundo nonnas es- tabelecidas nos tratados de fortifi- cação, inclusive com seu frontão triangular arrematando a parte su- perior ", declara 6 professor. José LUiz Menezes informa que, provavelmente, havia constru- ções no lado de dentro da porta e que elas podem ter servido de bJ- ses para a edificação da Glpela do Senhor Bom Jesus das Portas. A capela foi erguida na segunda me- tade do século 17, no período lu- so-brasileiro após a expulsão dos holandeses, sobre o arco que ser- viu de porta da cidade. O Arco do Bom Jesus foi demo- lido em 1850, por çleterminação do Governo, para permitir a unifi- cação da área 'fora de portas' com o povo sitiado, e devido à constru- ção do Arsenal da Marinha. A por- ta, que dava saída para Olinda, pe- 1 l.bttft6, (Oi lC'<f JI til Jfl!J. l)!:< l <Jl - quitetO] osé Luiz Menezes, em de- senho e em escala. O arquiteto ressalta que a esca- vação que está sen- do realizada no Bairro do Recife é uma grande contribuição para a história. Segundo ele, o trabalho comprova mapas e outros docu- mentos produzidos sobre a cida- de por historiadores como José Hi- gino Duarte Pereira, Francisco Au- gusto Pereira da Costa, Mário Me- lo, José Antônio Gonsalves de Me- llo e Va.nilMI Bezerm l'. . 1 pelo 1 \1 1 de '>1rt lo eng r 1 t1 Càr8olü pela P ,· que borou oAtlas H.istótioo e Cartográ- fico do Recíte, em 1m do por José Luiz Menezes.

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*2001 -Quinta-feira JORNAL DO COMMERCIO CIDADE6J i ~~--~--~--~------------------------------~--------------------------------------------------------------------------~------

_A_R Q U E O _L O ~G l A

STIONAD EXISTÊNCIA DE Professor da UFPE diz que o Recife nunca teve fortificação de pedra. Para ele, o que foi achado em escavações é um muro de contenção do rio

O atquiteto José LUiz Mota Menezes, professor do mestrado e do doutorado em História da Universidade Federal de Per­nambuco (UFPE), está questionando a existência de uma mu­

ralha de pedra com a função de proteger o Recife contra o ataque de inimigos no século 17. Partes da fortificação estariam sendo encontra­das em escavações arqueológicas no Bairro do Recife. O profeSsor afirma que a cidade era fortificada sim, mas o sistema de defesa do an­tigo povoado era feito por cercas de madeira.

Segundo o professor, foram construídas duas cercas de madeira (paliçadas) no Recife, no século 17. "Em termos de sistema fortifica­do, a paliçada era uma das maneiras mais simples de defesa de uma praça. O obstáculo era feito com paus fmcados na vertical diretamen­te na terra ou em alguma base de alvenaria, dependendo do solo", ex­plica José Luiz Menezes.

Uma primeira paliçada, luso-brasileira, envolvendo a povoação, já existia em 1630 quando os holandeses chegaram a Pernambuco. Pro­vavelmente foi erguida por Matias de Albuquerque, de acordo com o arquiteto. Após a chegada dos flamengos, foi feita a segunda paliça­da, com a ampliação da região já sitiada.

Para aumentar a área do povoado e fazer a nova cerca, os holànde­ses construíram um muro no nível do chão, que poderia ter duas utili­dades - proteção das casots contra o rio ou suporte para as madeiras da paliçada. "A proximidade do rio e dos mangues condicionaram a construção desse alicerce", declara José Luiz, referência em evolução urbana no Recife.

PROJETO - Na avaliação do professor, é esse muro de contenção do rio, provavelmente, o que está sendo encontrado nas escavações no Bairro do Recife. Os achados estão localizados nos seguintes pré­dios da Rua do Bom Jesus: Sinagoga KalÚI Zur Israel, Restaurante Do-

"'"'<..IA ~f " <•JC IMAGEM natáriO e casa de número 125, que abrigará a Galeria Ranulpho. José Luiz infotm'a que no lado leste, vol­tado para o mar, tambéw não ha­via muralha de pedra. "Tmha o cais de pedra e a cerca de madeira."

A construção da paliçada holan­desa começou em 1638 e foi con­cluída no dia 21 de dezembro de 1653. "A estacada de madeira cus­tou 1.200 florins e o serviço fpi exe­cutado por René de Moncliy, co­mo consta no livro Tempo dos Fla­mengos do professor José Antônio Gonsalves de Mello", diz. "Na pu­blicação, o historiadór José Antô­nio não 'faz referência a muralha en­volvendo o povoado, mas em cer­ca e estacada."

Sabendo que a cerca de madeira não teria uma vida longa (as paliça­das eram construções ligeiras, fá-.

JOSÉ LUIZ Cen:as eram de madeira ceis de fazer e de serem denuba-. das), o governador do Brasil holan-

dês, Mauncio de Nassau, sugeriu a construção de uma muralha. "Essa muralha, possivelmente de Pedra, nunca foi executada por ser de muito custo e, talvez, já desnecessária." O governo de Nassau teve oi­to anos de duração, de 1637 a 1645. A dominação flamenga em Per­nambuco se estendeu por 24 anos, de l630 a 1654.

José Luiz acrescenta que a largura do muro encontrado no Bairro do Recife, 80 centímetros, não permite identificá-lo como a muralha que Na& u quis nstruir. "Os tratados de fortificação do período ja­mais indicariam tal largura de base para uma cortina que deveria ter pelo menos quatro metros de altura", destaca o arquiteto. Os judeus àproveitaram o muro como alicerce das suas casas.

ESTAMPAS- A primeira paliçada, luso-brasileira, aparece em duas estampas que mostram o Recife de 1630/1631. Um dos desenhos é do gravador holandês Claes ]ansz oonj Visscher (Piscator), feito a par­tir do esboço de uma vista panorâmica e de outra topográfica do po­voado, com representações do ataque dos flamengos a Olindâ e da chegada ao Recife. "Piscator recriou uma possível realidade a partir <.l ( 1 e e esboço, mas a cerca de madeira que protegia o povoado não p<. '· ·m ser alvo de invenção", destaca.

A •t :ia n f'J é a T' Recife de Pernambuco, de autor ignora-do e ieffi datf nht'<' · · b que ilustra a História da Companhia das Ín-{iias · d'. · Johann de Laet. O livro foi impresso no ano de 11 . s pa, além da paliçada de madeira, aparece uma das portas do ortificado, a Porta do Mar, com seu trapiche. José Luiz afuma que a estampa T' Recife de Pernambuco é de grande pre­cisão e mostra todos os detalhes do sistema montado para defesa da povoação.

t INTERPRETANDO DOCUMENTOS DO PASSADO t A construção em pedra

Com base em pesquisas do historiador Jos4 Antônio Gonsalves de Mello, o arquiteto José Luiz Mota Menezes afirma que não houve uma muralha de pedra no Recife, no século 17.Segundoele,apenas os baluart­que faziam a defesa da Porta da Terra, também chamada de Arco do Bom Jesus, eram de pedra (cor marrom).Oarquitetofez a reconstit uição do arco, em desenho, com a proporção das medidas reais correspondentes

t A construção em madeira

A gravura T' Recife de Pernambuco, re.tlizada a partir de um desenho do antigo povo o, mostra o Recife de 1630/31 cercado por uma !içada de madeira (cor amarela). No lado oest~ os holandeses teriam construido um muro de contenção do rio, que poderia servir de suporte para a cerca. Provavelmente, é.esse muro que está

sendo encontrado nas casas da Rua do Bom Jesus, segl,lndo José Luiz. Também aparece na gravura uma das portas da cidade, a Porta do Mar ou Waterpoort Sem autor identificado e sem data conhecida, a estampa ilustra o livro História da Companhia das fndias Ocidentais,deJohann de Laet. impresso em 1644.

Para arqueólogo, achado é inquestionável O coordenador do Laboratório de

Arqueologia da Universidade Fede­ral de Pernambuco (UFPE) e respon­sável pelas escavações no Bairro do Recife, Marcos Albuquerque, aflfllla que a muralha de pedra é inquestio­nável. Desde maio, a equipe do la­boratório faz o acompanhamento ar­queológico do projeto de embuti­menta da fiação elétrica e dos cabos de fibra ótica do Recife Antigo.

"Nós sabemos, pela cartografia, que deve ter existido uma cerca de madeira no Recife. É possível que te­nha havido uma paliçada comple­mentando a muralha ou se sobre­pondo a ela, em alguns trechos", de­clara o arqueólogo. "Até o momen­to, o que encontramos de forma con­creta é uma muralha de pedra com um baluarte definido. Achamos tre­chos tanto do lado oeste (voltado pa­ra o rio) quanto do lado leste (volta­do para o mar)", completa.

Marcos Albuquerque informa que os achados arqueàlógicos coin-

ALBUQUERQUE A existência da muralha de pedra é uma realidade concreta

cide*l, em vários trechos, com a plaqta do Recife de 1648, do cartó­gr;afo Comelis Golijath. "Não nego a existência da paliçada, mas houve uma muralha de pedra. Isso é uma realidade concreta. Se a muralha foi registrada pela cartografia ou não, é o~tra história", declara.

O prefeito do Recife, João Paulo, a secretária-adjunta de Planejamen­to da cidade, Luciana Azevedo, e téc­nicos municipais visitam hoje as es-

cavações arqueológicas no Recife Antigo, a partir das 8h.

O grupo se reunirá no Escritório de Revitalização do Bairro do Reci­fe, antes da visita. Segundo Luciana Azevedo, os achados arqueológicos mais significativos deverão fazer par­te de um roteiro turístico no Recife Antigo. Ela disse que a forma como essa visitação será efetiyada, na práti­ca, ainda está sendo estuôada por técnicos da prefeitura.

Sistemas de defesa feitos com madeira tinham três portas

Os sistemas de defesa da povoa­ção do Recife feitos com cercas de madeira tinham três portas. A pri­meira ficava ea parte da terra (I.an­dpoort ou Arco do Bom Jesus), a segunda era junto ao trapiche e depois na entrada da ponte (Pon­tpoort ou Arcos da Conceição e de Santo Antônio) e a terceira en­contrava-se no lado do mar, no cais de atracação das embarca­ções (W,aterpoort).

José LUiz Mota Menezes, arqui­teto e professor da UFPE, informa que a Porta da Terra ficava na

· atual Rua do Bom Jesus, a antiga Rtia dos Judeus, e era defendida por dois baluartes. ''Visto na pintu. ra atribuída a Frans Post (artista ho­landês da corte de Nassau), eles foram executados- talvez em ter­ra e depois em pedra - e chega­ram ao século 19", afirma. Um pe­queno trecho de um dOs baluartes foi encontrado nas escavações que ocorrem no Recife Antigo.

De acordo com o arquitteto, os baluartes já foram chamados de Fortim do Bom Jesus. "Mapas co­nhecidos e precisá5 mostram os baluartes ladeando a Porta da Ter­ra, que era desenhada em arco de meio-~, segundo nonnas es­tabelecidas nos tratados de fortifi­cação, inclusive com seu frontão triangular arrematando a parte su­perior", declara 6 professor.

José LUiz Menezes informa que, provavelmente, havia constru­ções no lado de dentro da porta e que elas podem ter servido de bJ­ses para a edificação da Glpela do Senhor Bom Jesus das Portas. A capela foi erguida na segunda me­tade do século 17, no período lu­so-brasileiro após a expulsão dos holandeses, sobre o arco que ser­viu de porta da cidade.

O Arco do Bom Jesus foi demo­lido em 1850, por çleterminação do Governo, para permitir a unifi­cação da área 'fora de portas' com o povo sitiado, e devido à constru­ção do Arsenal da Marinha. A por­ta, que dava saída para Olinda, pe-1 l.bttft6, (Oi lC'<fJ I til Jfl!J. l)!:<l <Jl ­

quitetO] osé Luiz Menezes, em de­senho e em escala.

O arquiteto ressalta que a esca­vação ~ueológica que está sen­do realizada no Bairro do Recife é uma grande contribuição para a história. Segundo ele, o trabalho comprova mapas e outros docu­mentos já produzidos sobre a cida­de por historiadores como José Hi­gino Duarte Pereira, Francisco Au­gusto Pereira da Costa, Mário Me­lo, José Antônio Gonsalves de Me­llo e Va.nilMI Bezerm l'. . 1 pelo ~'> 1 \1 ~ 1 de '>1rt lo eng r 1 t1 Càr8olü pela P , · que ela~ borou oAtlas H.istótioo e Cartográ­fico do Recíte, em 1~ .~ 1m do por José Luiz Menezes.