puc/sp são paulo 2005

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EDNA ROSÉLE DA CONCEIÇÃO NEVES UMA TRAJETÓRIA PELA HISTÓRIA DA ATIVIDADE EDITORIAL BRASILEIRA: LIVRO DIDÁTICO DE MATEMÁTICA, AUTORES E EDITORAS. MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA PUC/SP São Paulo 2005

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Page 1: PUC/SP São Paulo 2005

EEDDNNAA RROOSSÉÉLLEE DDAA CCOONNCCEEIIÇÇÃÃOO NNEEVVEESS

UMA TRAJETÓRIA PELA HISTÓRIA DA ATIVIDADE

EDITORIAL BRASILEIRA: LIVRO DIDÁTICO DE

MATEMÁTICA, AUTORES E EDITORAS.

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA

PUC/SP

São Paulo

2005

Page 2: PUC/SP São Paulo 2005

EDNA ROSÉLE DA CONCEIÇÃO NEVES

UMA TRAJETÓRIA PELA HISTÓRIA DA ATIVIDADE

EDITORIAL BRASILEIRA: LIVRO DIDÁTICO DE

MATEMÁTICA, AUTORES E EDITORAS.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de MESTRE

PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA,

sob a orientação do Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio.

PUC/SP

São Paulo

2005

Page 3: PUC/SP São Paulo 2005

Banca Examinadora

________________________________________

Prof. Dr. Sérgio Nobre

________________________________________

Profa. Dra. Laurizete Ferragut

________________________________________

Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio

Page 4: PUC/SP São Paulo 2005

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta

Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________

Page 5: PUC/SP São Paulo 2005

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me capacitado física e mentalmente, diante

dos desafios que surgiram ao longo desta jornada, fez-me prosseguir

em busca daquilo que Ele tinha para mim.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio, que veio

nesta jornada num momento muito especial. Com entusiasmo e

seriedade, carinhosamente, conduziu-me a participar do seu grupo de

orientandos. A confiança que depositou em mim, desde o começo,

sobretudo a paciência, simplicidade, bom humor e amizade foram

fatores muito importantes no processo de elaboração do trabalho, que

guardarei para sempre na memória. Muito obrigada.

Aos Prof. Dr. Paulo Sérgio Nobre e Profa. Dra. Laurizete

Ferragut Passos, integrantes da banca examinadora, pelas sugestões

que contribuíram no enriquecimento do trabalho.

Aos professores do Programa do Mestrado Profissional em

Educação Matemática, pelas experiências e conhecimento

compartilhados durante o curso.

Ao meu esposo Paulo, pelo constante incentivo, paciência e

companheirismo nos momentos difíceis e, sobretudo pela compreensão

de minhas ausências, sempre demonstrando seu amor.

A minha irmã Rosana, que acompanhou o trabalho com

entusiasmo e, nos momentos que precisou contar comigo, entendeu

minha ausência com paciência.

Page 6: PUC/SP São Paulo 2005

Ao meu pai, Sebastião, por me ensinar a ir atrás dos meus

sonhos e às minhas mães, Zilda e Cida, pela confiança que sempre

tiveram em mim.

A minha querida família, que acompanharam o trabalho com

grande expectativa e muito carinho. Em especial ao meu sobrinho

Matheus, pelo seu doce sorriso e alegria que me trouxe paz e

serenidade a cada dia de caminhada.

Aos colegas de mestrado, pelo espírito de equipe e pela

amizade demonstrados durante todo o curso. Em especial, Ana Paula,

Clemente, Ieda, Terezinha e Ângela, por estarem presentes nos

momentos mais significativos desta caminhada, compartilhando anseios

e realizações.

Registro meus agradecimentos a Srta. Tânia, responsável

pelo acervo histórico da Ibep/Nacional; à Sra. Marta, Sra, Leila e Sra. Isis

do setor de relacionamento da Editora do Brasil; ao Prof. Lafayette

Megale, editor de matemática da FTD; ao Prof. Dr. José Luiz Goldfarb, da

CBL, que gentilmente forneceram informações sobre a história da

empresa. Em especial ao Prof. Valdemar Vello, pelo atendimento solícito

e gentil que contribuíram de maneira significativa na elaboração do

trabalho. Além de tornar possível o acesso às obras de seu acervo

particular.

Na Biblioteca Municipal, Mario de Andrade, de São Paulo,

contei com a solicitude das bibliotecárias da seção de obras raras. Nas

Bibliotecas da Universidade de São Paulo: FE, FFCLCH, IME, Bibliotecas

da PUC/SP: Ciências Exatas e Nadir Gouvêa e Biblioteca Mario Covas,

recebi atenção dos bibliotecários.

A Capes pelo apoio financeiro.

Por fim, agradeço a todos os amigos que, torcendo pelo

meu sucesso, compartilharam comigo cada momento desta jornada.

Page 7: PUC/SP São Paulo 2005

Ao Paulo e Ao Paulo e Ao Paulo e Ao Paulo e Matheus,Matheus,Matheus,Matheus,

meu carinho meu carinho meu carinho meu carinho.

Page 8: PUC/SP São Paulo 2005

RESUMO

Este trabalho relata a história do livro didático de matemática e o

surgimento de editoras de didáticos brasileiros a partir da segunda metade do

século XX.

Para a melhor compreensão dos fatos, a pesquisadora começa o relato

no período correspondente do Brasil colonial, quando inaugurada a imprensa

de tipos móveis dando início ao desenvolvimento cultural no País. Depois de

determinado período, o setor de livros começa a surgir timidamente primeiro

com investimento de estrangeiros que pouco a pouco vai crescendo em razão

da necessidade do País investir em educação. No começo do ensino brasileiro

de matemática, os professores utilizavam livros europeus para ministrarem

suas aulas, mas com o tempo alguns professores brasileiros, tomam a iniciativa

de escrever seus próprios livros, com novas propostas para o ensino de

matemática brasileiro que resultam em polêmicas discussões. Estes serão

reconhecidos como os primeiros autores de didáticos de matemática. Com o

crescimento da população e o desenvolvimento industrial, verifica-se um

aumento de matrículas nas escolas públicas e tem início às políticas públicas,

com o governo investindo em educação e propondo a distribuição de livros

didáticos às crianças de baixa renda. O livro didático foi se transformando em

importante mercadoria que atraía muitas empresas editoriais que se

interessavam pelos programas do governo e ter seus livros adotados para as

escolas públicas. Dentro desse contexto, pode-se situar o papel dos autores de

livros brasileiros de matemática na formação do ensino de matemática e a

função das editoras que os publicam, buscando identificar quais as razões que

levaram as empresas editoriais ao crescente desenvolvimento de produção e

de comercialização cujo “produto” principal é o livro didático.

Palavras-chave: Livro didático de matemática; editora; autores; história

do livro didático; políticas públicas.

Page 9: PUC/SP São Paulo 2005

ABSTRACT

This work reports a history of mathemetic’s textbook and the arise of

publishing houses of Brasilian’s textbooks since the second half of the 20th

century.

In order to improve the understanding of the facts, the researcher starts

the report in the Brazil’s colonial period , when the moveable types press had

just began , thus , starting the culural development in the country . After a specif

period , books sector timidly start rising with foreign investments at first and little

by little it grows due to the country’s needing of educational investments . In the

beginning of Brazilian mathemathic’s instruction , the teachers gave classes

using Europeans books but with the time some of them started writing their own

books , with new proposal for Brazilian mathematical teaching which lead to

controversal debates . This people will be recognized as the first mathematic

textbook’s authors . With the population growth and industrial development we

find a public school registration growth and the beginning of public policies for

education with governmental investments in education and proposies for the

distribuition of textbook’s for low income children . The texbook became an

important merchandise that attracted many publishing companies interested on

governmental programs and on the decisie of adaptind they books adopted in

the public schools . Within this context , we could stablish the role of Brazilian

authors of mathematical books regarding the mathematical teaching formation

and the function of the publishing houses that publish them , investigating to

identify which was the reasons that took the publishing houses to increase the

production and trading of textbook.

Keywords: mathemetic’s textbook; publishing houses; authors; history

of mathemetic’s textbook; public policies.

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Grandes coisas fez o Senhor por nós,

E por isso estamos cheios de alegria !

Salmo 126:3

Page 11: PUC/SP São Paulo 2005

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................ .... 001

CAPÍTULO I – BREVE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENS A

NO BRASIL ................................................................... 005

Surge a primeira imprensa no Brasil............................................................... 007

A imprensa após a independência.................................................................. 009

CAPITULO II – COMENTANDO A RESPEITO DA HISTÓRIA DA

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA BRASILEIRA .......................... 012

A Educação Matemática após a década de 1920 .......................................... 016

Um olhar especial para a Educação Matemática ........................................... 018

CAPÍTULO III – A TRAJETÓRIA DO LIVRO DE MATEMÁTICA

NO BRASIL ....................................................................... 029

Os primeiros livros impressos no Brasil ........................................................ 029

Livros de Matemática do Século XX e seus autores ..................................... 036

CAPÍTULO IV – A ATIVIDADE EDITORIAL DE LIVROS DIDÁ TICOS

BRASILEIROS .................................................................. 042

Surgem as Primeiras Editoras....................................................................... 043

A atividade editorial é atraída por São Paulo................................................. 049

Quatro Editoras de Didáticos de Matemática e suas Contribuições.............. 053

Page 12: PUC/SP São Paulo 2005

Companhia Editora Nacional ......................................................................... 053

IBEP e Companhia Nacional ......................................................................... 059

Editora do Brasil ............................................................................................ 062

Editora FTD ................................................................................................... 064

Editora Scipione ............................................................................................. 071

CAPÍTULO V – A POLÍTICA DO LIVRO DIDÁTICO BRASILEIR O ............ 075

Governantes e o Livro Didático. Do INL ao PNLD ........................................ 078

O Mercado Editorial ....................................................................................... 087

Comentando sobre a Produção do Livro Didático ......................................... 090

Panorama da Produção e Vendas do Livro Didático ..................................... 092

Práticas Comerciais das Editoras .................................................................. 094

CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................. 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 109

Page 13: PUC/SP São Paulo 2005

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Faturamento e Exemplares Vendidos – 2001/2002 ..................... 097

Quadro 2 - Produção de Livros Didáticos – 2001/2002................................... 098

Quadro 3 –Evolução das compras pelo governo: 1992 - 2002....................... 099

LISTA DAS FIGURAS

Figura 1: Capa do Livro O Homem que Calculava, de Malba Tahan (em

espanhol e em português)............................................................... 022

Figura 2: Al-Karismi de Malba Tahan............ ................................................ 023

Figura 3: Coleção Curso Moderno de Osvaldo Sangiorgi.............................. 026

Figura 4: Capa da Revista Scientific American Brasil..................................... 028

Figura 5: Contra-capa do livro Exame de Bombeiros, de Alpoym................. 030

Figura 6: Exame de Bombeiros: página inicial do conteúdo de geometria ... 031

Figura 7: Fac-Simile do livro Exame de Artilharia, de Alpoym ....................... 032

Figura 8: Exemplos de figuras usadas nos exercícios do livro Exame de

Artilheiro,de Alpoym ........................................................................ 032

Figura 9: Exercício do livro Exame de Artilheiro, de Alpoym ........................ 033

Figura 10: Contra-capa do livro Elementos de Geometria, de Legendre ...... 034

Figura 11: Contra-capa do livro Tratado Elementar de Trigonometria, de

Lacroix ........................................................................................... 035

Figura 12: Contra-capa do livro As Idéias Fundamentaes da Matemática (1929),

de M. Amoroso Costa...................................................................... 037

Figura 13: Capa dos livros de Ary Quintella: Matemática para o primário e

Matemática para o ginásio ......................................................... 040

Figura 14: Interior da sede da Livraria Garnier,.............................................. 045

Figura 15: Livraria Francisco Alves (1915)..................................................... 047

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Figura 16: Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco...... 050

Figura 17: Livraria Teixeira (1920)................................................................. 051

Figura 18: Capa do livro de Monteiro Lobato Urupês..................................... 054

Figura 19: Editora do Brasil, à Rua Cons. Nébia, 887, por volta de 1990.......063

Figura 20: Capa do Livro Tábuas de Logaritmos (1937) .............................. 068

Figura 21: Sede provisória da primeira matriz da Editora FTD....................... 069

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CBL – Câmara Brasileira do Livro

COLTED – Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação

ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

FAE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação

FENAME – Fundação Nacional do Material Escolar

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FFCLH – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras

FTD – Frère Théophane Durand

IBEP – Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas

INL – Instituto Nacional do Livro

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

PLIDEF – Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental

PNLD – Programa Nacional do Livro Didático

PUC – Pontifícia Universidade Católica

SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica

SBEM – Sociedade Brasileira de Educação Matemática

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SBHMat – Sociedade Brasileira de História da Matemática

SBM – Sociedade Brasileira de Matemática

SGEm – Grupo de Estudo Internacional sobre Etnomatemática

SMSP – Sociedade de Matemática de São Paulo

SNEL – Sindicato dos Editores

USAID – United States Agency for Intenacional Development

Page 17: PUC/SP São Paulo 2005

1

INTRODUÇÃO

O livro didático faz parte de uma evolução que conduziu de certa

forma ao desenvolvimento da indústria editorial e conseqüentemente o

desenvolvimento tecnológico da produção editorial e gráfica. Sua importância

dentro do sistema de ensino tem despertado a atenção de um crescente

número de pesquisadores.

Nosso estudo procura conhecer a trajetória da atividade editorial do

livro didático de Matemática no Brasil e sua relação no processo do ensino

brasileiro da matemática.

Ao abraçarmos o tema não era nossa intenção fazer uma análise do

conteúdo do livro didático de matemática, pois a PUC/SP possui um grupo que

realiza este estudo, também não era nossa intenção realizar uma análise

estatística de resultados e, sim, conhecer a história da atividade editorial e seus

autores, que de certa forma está relacionada à história da imprensa e do livro.

Ao caminharmos pelo processo de desenvolvimento da história da atividade

editorial e seus autores, foi de fundamental importância conhecermos alguns

momentos da história da Educação, em particular da Educação Matemática, e

sabermos o que estava se passando na época e quais foram as influências

sofridas, direta ou indiretamente no processo da construção da história do livro

didático de matemática.

Conhecer a história da atividade editorial do Brasil e seus autores,

certamente, é um desafio muito gratificante, por todas as razões acima citadas.

É uma trajetória que nos faz conhecer nossa própria história cultural.

Page 18: PUC/SP São Paulo 2005

2

Pensamos não ser possível estudar um assunto, sem conhecer sua origem.

Mas, também, é verdade que o estudo detalhado, desde a origem torna-se

bastante extenso e embora seja fascinante exige muito tempo de pesquisa. Por

esta razão, nosso trabalho refere-se a breves trajetórias, momentos

importantes de nossa história, no processo de desenvolvimento da atividade

editorial e seus autores.

O livro didático que, no início do ano letivo, chega às mãos de

milhões de brasileiros, educadores e educandos, leva consigo além de um

conteúdo didático, a história de uma trajetória que, ao longo de sua existência,

envolveu muitas pessoas que de alguma maneira, estavam empenhadas em

sua realização.

O processo de produção de um livro começa quando o autor, que é

alguém competente em determinado assunto e que a pretende universalizar

sua vivência específica, dá vida a uma idéia original e apresenta a uma editora.

O editor é o profissional competente em determinado assunto que entende de

comunicação escrita para colaborar com o autor em sua criação. O editor de

livro didático é responsável por textos que servem para instruir e educar, por

este motivo seu trabalho é muito importante.

Atualmente, o mercado de livros didáticos no Brasil é considerado

um excelente negócio que se concentra nas mãos de algumas poucas editoras.

Saber quais são as Editoras e por quais razões se tornaram líderes no

mercado é, também, um bom motivo para se estudar sua história.

O mercado do livro didático demorou um tempo para ser atraído

pelas Editoras, pois a própria história da educação no Brasil demorou a se

desenvolver, por falta de interesse de seus governantes em investir na cultura

Page 19: PUC/SP São Paulo 2005

3

do País. A transformação, política e cultural, brasileira começa na década de

1930, momento em que a história do livro didático também se inicia em meio de

decretos, leis e medidas governamentais.

Para traçarmos a trajetória da história do livro didático e seus

autores de matemática, utilizamos como pesquisa fontes teóricas,

considerando a imprensa, livros didáticos, autores e realizamos pesquisas nas

editoras, destacando aquelas que tiveram importância mais significativa no

didático de matemática, com ênfase em sua história e revelando os autores e

as coleções mais importantes a partir da década de 1950.

No capítulo um, realizamos uma abordagem sobre a história da

imprensa no Brasil, em seguida, uma breve trajetória sobre a história do livro

no Brasil que, muitas vezes, confunde-se com a história da imprensa,

comentando sobre os primeiros livros aqui escritos e os primeiros também aqui

impressos.

No capítulo dois, estaremos comentando a respeito da história da

educação, com ênfase na educação matemática, com a intenção de conhecer

os educadores de matemática que estavam preocupados, em determinada

época, em escrever e universalizar suas idéias e experiências em livros.

No capítulo três, traçamos uma breve trajetória sobre o

desenvolvimento do livro de matemática brasileiro, destacando as coleções,

livros e seus autores que tiveram importância relevante no processo da

formação da educação no Brasil. Neste capítulo, conhecemos os primeiros

livros de matemática escritos no Brasil e seus autores e aqueles que foram

sucesso no decorrer do século XX, com ênfase nas décadas de 1950 em

diante.

Page 20: PUC/SP São Paulo 2005

4

No capítulo quatro, traçamos uma breve trajetória da história da

atividade editorial e sua importância no processo da construção do saber

escolar no Brasil, com ênfase à educação matemática. Conhecemos os livros

mais importantes de cada época, não apenas pelo número de vendagem, mas

também pela inovação que proporcionaram.

No capítulo cinco, comentamos sobre momentos da política do livro

didático, conhecendo comissões, leis e decretos que controlam o livro didático,

e procuramos entender como se processa a produção do livro didático.

Para conhecer a história das editoras, apoiamo-nos em entrevistas

realizadas nas Editoras, concedidas por pessoas que, de alguma maneira,

estão ligadas à sua história.

E, finalmente, no capítulo seis tiramos nossas conclusões, após

esse breve trajeto sobre a história da atividade editorial brasileira.

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5

CAPÍTULO I

BREVE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENSA NO BRASIL

Com o apoio das obras de Hallewell1 (1985) – um dos estudos mais

completos sobre a história do livro e Werneck2 (1983) – uma excelente

pesquisa a respeito da imprensa brasileira, apresentamos uma breve história

da imprensa de tipos no Brasil para traçar uma trajetória do tema nas últimas

décadas.

Antes do surgimento da imprensa, os livros eram copiados à mão e

eram feitos poucos exemplares de cada obra, pois além de trabalhoso a

produção tomava muito tempo.

As bibliotecas da Antiguidade estavam repletas dos “primeiros

livros”, que eram textos gravados em tabuinhas de barro cozido ou fibras

vegetais e tecidos, e foram sendo modificados progressivamente até chegarem

às grandes tiragens, impressos mecanicamente em papel.

No século XV com a invenção da imprensa de tipos por Johann

Gutenberg foi possível massificar o processo que permitiu a expansão do saber

pelo mundo com mais velocidade, proporcionando facilidade de leitura e

transporte, além possibilitar em todas as épocas, transmitir fatos,

acontecimentos históricos, descobertas, tratados ou simplesmente

entretenimento.

1 HALLEWELL, L. – O Livro no Brasil: sua história. São Paulo: T. A. Queirós/EDUSP, 1985. 2 SODRÉ, Nelson Werneck – História da Imprensa no Brasil, São Paulo, Martin: Martins Fontes, 1983.

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6

No século XVI a imprensa chegou aos países eslavos (Moscou

1563), à América (México, 1540) e à Índia (Goa, 1557). No Brasil, entre 1630 e

1655, surgem as primeiras notícias de se ter uma imprensa, quando os

holandeses que ocupavam o Nordeste brasileiro tinham a intenção de trazer a

tipografia para facilitar o trabalho administrativo das colônias, porém nada há

de oficial.

Mas, no Rio de Janeiro, no ano de 1747, Antonio Isidoro concretiza

esse acontecimento, quando desembarcando no Brasil e relata ter vendido seu

negócio em Lisboa para saldar dívidas e migrou para cá, na esperança de

obter sucesso nos negócios tipográficos. Mas, não demorou muito tempo para

que verificasse que o negócio de impressão de livros no Brasil não era “um

bom negócio” e era impossível viver da impressão de livros, pois estes tinham

um custo muito alto em razão da falta de mão-de-obra qualificada. Assim, os

artigos empregados na impressão eram importados, o que elevava ainda mais

o custo, estando acima dos recursos financeiros da maioria das pessoas. Um

fator mais agravante era o fato de Portugal ter como atitude querer isolar a

colônia de toda e qualquer influência externa, pois queria ter o domínio sobre o

território da nova colônia para poder explorar as riquezas que as terras podiam

oferecer aos colonizadores.

Além disso, as condições sociais e culturais não favoreciam a

imprensa, pois poucos sabiam ler e, segundo Hallewell (1985) os que sabiam,

não se interessavam por jornais.

Page 23: PUC/SP São Paulo 2005

7

SURGE A PRIMEIRA IMPRENSA NO BRASIL

Com a chegada da família real em 1808, o Brasil deixa de ser

colônia e a primeira medida que D. João tomou foi a abertura dos portos, que

permitiu, sobretudo à Inglaterra a comercialização de seus produtos

diretamente com nosso País, sem intermédio dos portugueses e acabando com

a relação que caracterizava a colônia que era a obrigação de só comercializar

com sua metrópole.

D. João veio acompanhado de sua corte e da estrutura

administrativa do império português e, passou a ter como centro político-

administrativo a cidade do Rio de Janeiro, onde precisou tomar certas medidas,

para melhor adaptação da família real. Assim, criadas várias instituições de

caráter cultural: a Escola de Anatomia, a Escola Médica e o Jardim Botânico,

além do Banco do Brasil. Outra medida adotada por D. João, foi a autorização

da Imprensa Régia, mas funcionando sob forte censura, a fim de impedir

qualquer atitude contra o reino. A impressão de textos que era proibida pela

administração colonial, agora começa a funcionar, porém, totalmente

controlada.

Na época do Brasil colonial, não havia imprensa, nem universidade,

nem livros. No entanto, após a chegada da família real, foram lançados seus

dois primeiros jornais: o Correio Braziliense, que surgiu no dia primeiro de

junho de 1808, um jornal integrado à imprensa brasileira, cujo fundador foi

Hipólito da Costa, jornalista brasileiro, que escrevia e dirigia o jornal em

Page 24: PUC/SP São Paulo 2005

8

Londres. Três meses após seu lançamento, no dia 10 de setembro de 1808,

surge a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal impresso no País, cujo

conteúdo não atraía a atenção do público, conforme comentário a respeito.

Por meio dela só se informava ao público, com toda a fidelidade, do

estado de saúde de todos os príncipes da Europa e, de quando em

quando, as suas paginas eram ilustradas com alguns documentos de

oficio, notícias dos dias natalícios, odes e penegíricos da família

reinante. Não se manchavam essas paginas com as efervescências

da democracia, nem com a exposição de agravos. A julgar-se do

Brasil pelo seu periódico, devia ser considerado um paraíso terrestre,

onde nunca se tinha expressado um queixume. (ARMITAGE3 citado

por WERNECK, 1983, p. 20)

Segundo Hipólito da Costa, fundador de O Correio Brasiliense, citado

por Werneck (1983, p. 23), o jornal pretendia influenciar e conquistar a opinião

pública e procurava divulgar mensalmente o estudo das questões mais

importantes que afetavam a Inglaterra, Portugal e Brasil.

Em 1810, foi anexada à Impressão Régia uma fundição de tipos que

permitiu a arte da gravura e teve como conseqüência o surgimento de

profissionais de artífices, desenhistas, gravadores e tipógrafos que vinham de

fora e outros que aprendiam o ofício aqui.

A imprensa periódica começa a conquistar espaço, tanto que em

1821, aparecem mais duas tipografias no Rio de Janeiro, A Nova Tipografia e a

de Moreira e Garcez. No ano seguinte, instalaram-se mais quatro: a de Silva

Porto e Cia., de Felizardo Joaquim da Silva Moraes e Manuel Joaquim da Silva

Porto; a de Santos e Sousa; a do Diário do Rio de Janeiro, de Zeferino Vito de

Meireles, e a de Torres e Costa, de Inocêncio Francisco Torres e Vicente 3 John Armitage – historiador inglês.

Page 25: PUC/SP São Paulo 2005

9

Justiniano da Costa. Fora as que funcionavam em outros Estados: Bahia,

Pernambuco e Maranhão.

A IMPRENSA APÓS A INDEPENDÊNCIA

Em 1820, com a Revolução do Porto finda o absolutismo português

e inicia-se a pressão da elite brasileira pela independência do Brasil, ocasião

em que a imprensa desempenhou um importante papel, mas que custou muitas

agressões e perseguições a jornalistas, liderada pela aristocracia rural

brasileira que se opunha à liberdade de imprensa que ganhava força.

Em 2 de março de 1821, quando D. João deixa o Brasil, decreta a

abolição da censura prévia e regula a liberdade de imprensa, até que fosse

elaborada uma nova regulamentação. O decreto não termina com a censura da

atividade editorial que estava sob o controle do poder real, mas altera o modo

que ela era exercida, passando a ser aplicada nas provas impressas e não nos

originais.

Em 12 de julho de 1821, Portugal decreta uma lei complementar que

inclui a liberdade de imprensa, sendo esta a primeira lei de imprensa

portuguesa introduzida no Brasil.

Com a liberdade de imprensa, surgem novos jornais dentre os quais

destacam-se os Pasquins, pequenas publicações que usavam o humor e a

sátira como arma, como "O Narciso", "Dr. Tirateimas", "O Martelo", "Brasil

Aflito", e começa a edição de livros.

Page 26: PUC/SP São Paulo 2005

10

A Imprensa Nacional, antiga Impressão Régia, começa a obter

novos investidores e inicia um processo de produção diversificada com a

produção de jornais, livros, revistas, almanaques, folhinha, entre outros. O Rio

de Janeiro que, até 1813, possuía somente duas livrarias pertencentes aos

franceses, Paul Martin Filho e Jean Robert Bourgeois, após o Brasil tornar-se

independente de Portugal, inaugura outras livrarias e a venda de livros começa

a ser vista como um “bom negócio”, porém totalmente dominado por editores

franceses ou portugueses e, até 1919, o único editor brasileiro era Paula Brito.

O Brasil inicia o processo de expansão no comércio de livros com

um público razoável, necessitado de informação e que busca com a leitura a

libertação do sentimento de colonização. Nesse momento, o livro passa a ser

importante. Lentamente o público para literatura foi sendo conquistado e inicia

com o folhetim, uma espécie de imitação do romantismo europeu e que aqui

fazia muito sucesso, sendo considerado a melhor atração do jornal.

Uma das maiores características da época foi a participação de

grandes escritores na imprensa local, pois, quase todos os autores brasileiros

de ficção participavam do folhetim, tais como: Machado de Assis, Raul

Pompéia, Joaquim Manoel de Macedo, Manuel Antonio de Almeida e Aluízio de

Azevedo.

A imprensa e a literatura, que até o final do século XIX, confundiam-

se, passam a ter atividades distintas e, no início do século XX, surgem as

empresas jornalísticas, com equipamentos gráficos necessários para produção,

em lugar dos pequenos jornais de folhas tipográficas.

O jornal torna-se uma empresa capitalista e provoca grandes

mudanças no país, pois a imprensa deixa de ser artesanal e passa a ser

Page 27: PUC/SP São Paulo 2005

11

industrial. Segundo Werneck (1983) a imprensa deixa de ser pequena e passa

a ser grande empresa que precisa da mão-de-obra especializada e melhor

qualificada para operar o maquinário importado.

Page 28: PUC/SP São Paulo 2005

12

CAPÍTULO II

COMENTANDO A RESPEITO DA HISTÓRIA DA

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA BRASILEIRA

Um importante percurso da história da atividade editorial do livro

didático de matemática no Brasil passa pela história da educação matemática,

na qual podemos conhecer a respeito de seus autores, comentar sobre a

situação da época e observar as possíveis dificuldades que envolviam o

processo de formação e desenvolvimento de um modelo ideal para o

aprendizado da matemática em nosso país.

A educação na colônia recebeu pouca atenção da coroa portuguesa.

A igreja católica, em especial, a Companhia de Jesus foi o principal agente da

educação escolar nos primeiros tempos de vida colonial. Os padres jesuítas

catequizaram os índios, impondo-lhes a fé cristã, enquanto lhes ensinavam a

ler e a escrever. Fundaram colégios e seminários e ofereciam educação

básica, para a população de colonos. Conforme cita Montellato (2000, p.172),

só os mais ricos continuavam seus estudos, podendo escolher entre a

educação superior religiosa ou a Universidade de Coimbra, em Portugal.

D’Ambrosio (1999, p.13) ressalta que no tempo de colônia, apesar do pouco

interesse, no Brasil, a matemática começa a se destacar com os “padres

matemáticos”, ou seja, padres que tinham formação em matemática, vindos de

Portugal como o Padre Valentin Stancel (1621-1705), Bartolomeu Gusmão

(1685-1724), conhecido como “Padre Voador”, Domenico Capassi (1694-1736)

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13

e Diogo Soares (1684-1748) considerados os padres matemáticos. Na época,

surgem os primeiros livros de matemática escritos no Brasil, por José

Fernandes Pinto Alpoim (1700-1765): Exame de Artilheiro (1744) e Exame de

Bombeiro (1748), ambos impressos na Europa.

No final do século XVII era de dezessete o número de instituições de

ensino mantidas pelos jesuítas, compunha-se de 17, época em que foram

expulsos do Brasil. Fato interessante é que, grande parte dos professores

dessas 17 instituições jesuítas realizaram seus estudos no Brasil como, por

exemplo, o Padre Vieira. Eles prepararam os primeiros bacharéis para os

estudos superiores, em Coimbra ou na Europa, pois no Brasil não existiam

escolas superiores. A Universidade de Coimbra passou a exercer papel

importante na formação da elite brasileira e quase todos os homens graduados

nos três primeiros séculos, foram nela formados em letras, medicina ou

magistratura.

No período de 1759, data da expulsão dos jesuítas do Brasil, a 1808,

data da chegada da família real, comenta Azevedo (1971, p. 257), “abriu-se um

parênteses de quase meio século, intervalo caracterizado pela desorganização

e decadência do ensino colonial”.

Após a chegada da família real iniciou-se a modernização. Tornou-

se necessário a construção de escolas, estradas de ferro para transporte de

mercadorias e pessoas, além de construção de casas e pontes, pois começa a

desenvolver a migração de pessoas de uma região para outra. Na capital

colonial, quase não existiam livrarias, só algumas pequenas, então, D. João VI,

em 1810, cria a primeira Biblioteca Pública com os próprios livros e que

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14

originou a Biblioteca Nacional, atualmente, uma das mais importantes do

continente americano.

Com a criação da biblioteca, de escolas superiores, de museu, do

jardim botânico, o Rio de Janeiro torna-se o centro cultural nacional.

Na época colonial, a Matemática era usada para promover a defesa

nas estratégias militares. Para garantir a independência do Brasil, D. Pedro I

precisou vencer e expulsar as tropas portuguesas que se opunham à

separação entre Brasil e Portugal. Aqui não se tinha um exército organizado e,

por esta razão, D. Pedro I contratou experientes militares, ingleses e franceses,

para organizar e comandar a luta.

Em 1808, foi criada a Academia de Marinha e com a necessidade de

médicos e cirurgiões cria-se na Bahia, o curso de cirurgia, instalado no Hospital

Militar e, no Rio de Janeiro os cursos de anatomia e cirurgia. Em 1811, foi

criada a Academia Real Militar de Ciências, Física, Matemática e Naturais, para

atender a necessidade fundamental de formar oficiais e engenheiros, civis e

militares. O curso tinha duração de quatro anos e os principais livros adotados

eram os estrangeiros de Euler, Bézout, Monge e Lacroix.

Inicia-se, então, a criação de diversos cursos técnicos em economia,

agricultura e indústria, em razão da necessidade de homens com instrução

técnica, principal objetivo do programa de educação, durante todo o período de

D. João VI, formação prática e imediata que rompe definitivamente com o

programa escolástico e literário do período colonial.

A proclamação da independência brasileira por D. Pedro I, no dia 7

de setembro de 1822, oficializa o rompimento com Portugal e, em 1823, em

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15

debates realizados na Constituinte, é anunciada uma orientação nova na

política educacional que aboliu os privilégios do Estado para dar instrução.

No ano de 1837, é fundado o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro,

instituição de ensino secundário, onde os estudantes, após sete anos de

estudos, recebiam, pelo Ministro do Império, o grau de bacharel em Ciências

Físicas e Matemáticas. Entretanto, a vontade de muitos era que se criasse uma

Universidade no Brasil e por esta razão, no ano de 1843, o então, Conselheiro

Paulino José Soares de Sousa, propôs em projeto, apresentado para exame ao

Conselho de Estado, a criação de uma Universidade com quatro faculdades:

Teologia, Direito, Medicina e Ciências Naturais e Matemáticas.

Em 1842, foi instituído o grau de Doutor em Ciências em Matemática

e, em 1848, tem-se o 1º doutor, Joaquim Gomes de Souza (1829-1863). Em

1874, surge a Escola Politécnica, uma escola exclusiva para o ensino das

engenharias.

Em 1896, no período republicano, houve a reforma nos estatutos da

escola que extinguiu os chamados Cursos Científicos de Ciências Físicas e

Matemáticas e o Curso de Ciências Físicas e Naturais, assim o ensino da

Matemática superior no Brasil passou, a partir de 1896 até 1933, a ser

ministrado exclusivamente como disciplina dos cursos de engenharia e durante

esse período cessou a formação do Engenheiro-Matemático no Brasil.

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16

A MATEMÁTICA APÓS A DÉCADA DE 1920

O ensino e o desenvolvimento da Matemática retornou

acentuadamente em nosso País em 1934, com a fundação da Universidade de

São Paulo (USP) e de sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

Durante o período que a Matemática esteve ligada ao curso de

engenharia não houve pesquisa científica básica ao ensino de Matemática.

Somente a partir da década de 1910, um grupo de homens ligados à ciência

resolveu trabalhar em prol da elevação do nível da cultura científica no País.

Fundou-se, então, a Sociedade Brasileira de Ciências (1916) que mais tarde foi

transformada em Academia Brasileira de Ciências e Manuel Amoroso Costa foi

um dos grandes homens que trabalhou em prol dessa idéia.

Em 1917, iniciou-se a publicação da Revista da Sociedade Brasileira

de Ciências que divulgava os principais resultados das pesquisas de seus

membros da sociedade. Em 1920, segundo Silva (2003, p.132), a revista

mudou o nome para Revista de Ciências e, em 1929, assumiu a forma

periódica com o título de Anais da Academia Brasileira de Ciências, que é

mantido até os dias de hoje.

Em 1922, foi realizada em São Paulo a polêmica Semana de Arte

Moderna reunindo artistas plásticos e escritores que apresentavam uma nova

proposta para a cultura nacional. A partir desta data, a matemática brasileira

começa a aparecer no cenário internacional com a visita de Amoroso Costa a

Paris, em março de 1928, a convite do Instituo Franco-Brasileiro e dá um curso

na Sorbonne, sobre Geometrias não-Archimedianas.

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17

A partir da década de 1930, começa no Brasil, o chamado “segundo

período de desenvolvimento da Matemática Superior” que teve como

conseqüência, em 1934 no Estado de São Paulo, a fundação da Universidade

de São Paulo, com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), que

passou a formar profissionais ligados ao magistério e à pesquisa científica

proporcionando o desenvolvimento do ensino da matemática superior fora das

escolas de Engenharia.

A comunidade matemática brasileira, em 1934, formada por alguns

matemáticos como Otto de Alencar Silva, Manoel Amoroso Costa, Lélio Gama

e Theodoro Ramos, começa a se fortalecer e a se preocupar com a realização

de pesquisas matemáticas que, para tanto, era necessário formar seguidores.

Segundo Silva (2003, p. 133) era preocupação de alguns mestres, a

formação de discípulos em suas áreas de pesquisas. Essas inquietações

levaram à necessidade de se criar Associações, Revistas periódicas de

Matemática para troca de experiências e divulgação dos resultados das

pesquisas. Outro fator importante que surge nesse processo de

desenvolvimento da comunidade matemática foi o desejo de se publicar livros

didáticos de Matemática.

Em 1945, é fundada a Sociedade de Matemática de São Paulo

(SMSP), na USP e, extinta em 1969, com a fundação da Sociedade Brasileira

de Matemática (SBM). Em 1988, foi fundada a Sociedade Brasileira de

Educação Matemática (SBEM), cujo objetivo é congregar profissionais da área

de Educação Matemática.

A partir da década de 1960, as escolas secundárias sofrem com a

falta de professores de matemática. Por esse motivo o ensino superior em

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18

Matemática começa a se expandir no início da década de 1970, quando o

governo brasileiro inicia um programa de incentivo financeiro para alunos de

pós-graduação.

Começam as matrículas em programas de mestrado e doutorado em

Matemática, por professores de várias instituições de ensino no País. Os

resultados do incentivo em pós-graduação, na década de 1970, foram as

centenas de artigos escritos e publicados por matemáticos brasileiros em

conceituadas revistas internacionais.

UM OLHAR ESPECIAL PARA A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Entre muitos fatos importantes que marcaram a história da

matemática no Brasil, gostaríamos de destacar alguns educadores que

trataram a Educação Matemática com especial atenção, formando, assim, um

conceito e uma conscientização de sua importância.

Na década de 1930, o professor Euclides de Medeiros Guimarães

Roxo (1800-1950) propôs uma mudança no currículo e na metodologia

adotados pelo Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, do qual era Diretor. Sua

proposta tinha como base características do movimento internacional de Felix

Klein e representou uma grande mudança nos programas de Matemática do

Colégio Pedro II1.

1 Criado em 1739 como Colégio de Órfãos de São Pedro, Rio de Janeiro, sempre foi gratuito e, durante muito tempo, um reduto da elite brasileira. Ali lecionaram Euclides da Cunha, Joaquim Nabuco e Benjamin Constant, tendo como alunos o imperador Pedro II, os presidentes Rodrigues Alves. Nilo

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19

Segundo o Prof. João Bosco Pitombeira de Carvalho2 essa proposta

de reforma curricular representava uma “radical mudança para os programas

do ensino da Matemática” e apresentava todas as idéias modernizadoras,

defendidas internacionalmente para modernização do ensino da Matemática.

Euclides Roxo escreveu a coleção de Matemática Elementar, cuja

iniciativa ocasionou resistências por parte de alguns professores que criticavam

publicamente seus livros e novas propostas. O próprio Euclides Roxo dizia que

o programa da coleção representava a primeira tentativa, feita no Brasil, para

renovação dos métodos de ensino da Matemática, no curso secundário, de

acordo com o movimento de reforma.

Em 1937, escreveu o livro A Matemática na Educação Secundária,

procurando caracterizar e indicar as principais tendências e diretrizes dos

movimentos de reforma, tratando apenas dos problemas mais gerais e dos

pontos mais característicos da Escola Nova em relação à Matemática. Na

introdução do livro, ele afirma que o conteúdo exposto, não apresenta

nenhuma idéia original e nenhum ponto de vista pessoal. Conforme Dassie3,

em artigo para a Revista da Sociedade Brasileira de História da Matemática

(SBHMat), volume 2, 2001/2002: “Trata-se de uma coleção verdadeiramente

revolucionária para a época, e que provocou imediatamente ira em alguns e

apoio em outros.”

Na década de 1940, Julio César Mello e Souza - Malba Tahan, inicia

sua carreira de professor no Externato do Colégio Pedro II, com as turmas

Peçanha, Hermes da Fonseca e Washington Luiz e escritores como Pedro Nava e Manuel Bandeira. Nova Escola, set. 2000. 2 Prof. do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Educação da PUC-RJ, em capítulo do livro Euclides Roxo e a Modernização do Ensino de Matemática no Brasil, organizado por WAGNER RODRIGUES VALENTE. São Paulo. Biblioteca do Educador Matemático. 2003, p. 94 e 95. 3 Bruno Alves Dassie – Mestre em Matemática (PUC/RJ).

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20

suplementares. Tornou-se, depois de um tempo, catedrático do Colégio Pedro

II, do Instituto da Escola Normal, da Escola Normal da Universidade do Brasil e

da Faculdade Nacional da Educação, onde recebeu o título de Professor

Emérito.

Para transmitir conteúdos pedagógicos, criou uma didática própria e

divertida, respeitada até os dias de hoje. Quando lecionava no Instituto de Educação

do Rio de Janeiro, teve a iniciativa de criar uma nova disciplina para o

aperfeiçoamento dos professores: a arte de contar histórias.

Seus métodos de ensino eram avançados para a época. Suas aulas eram

criativas, movimentadas e divertidas. Procurava trabalhar com estudo dirigido e

gostava de usar objetos para ilustrar as aulas. Defendia o trabalho em grupo e

colocava os alunos mais fortes para ajudar os mais fracos. Era totalmente a favor do

uso de jogos em sala de aula que, atualmente, são muito valorizados e acreditava que

todas escolas precisava de um laboratório de matemática.

Malba Tahan foi o precursor de uma nova tendência que se afirma,

conquistando muitos adeptos em todo o Brasil. Ele foi o primeiro a trabalhar

com a História da Matemática e com a interdisciplinaridade. Sua fama como

pedagogo se espalhou-se e ele passou a ser convidado para palestras em todo o

País, que foram mais de 2.000 ao longo de sua vida.

Malba Tahan tem sido tema de diversas pesquisas no Brasil, entre

elas, a de Cristiane Coppe de Oliveira, da Unesp de Rio Claro e no exterior

como, por exemplo, a do professor John Conway da Universidade de

Princeton. Sua obra tem sido citada em revistas internacionais como Science,

Book Report e outras do gênero, no Brasil foi comentada pela

Superinteressante e Nova Escola. Foi comentada pela profa. Rossana Taziolli

da Societá Italiana di Scienze Matematiche e Fisiche.

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21

Não podemos deixar de exaltar a importância de sua literatura para

a história da educação brasileira que tem sido reconhecida por muitas

gerações como seu livro mais famoso O Homem que Calculava, com mais de

45 edições, que, em sua história usa a matemática para resolver problemas.

Esta obra foi premiada pela Academia Brasileira de Letras quando, em 1972,

em sua 25ª edição e editada em outros países como Espanha, EUA e

Alemanha, sendo indicada nesses países como livro paradidático.

Apesar de Julio César ter sido uma pessoa carismática e encantar os

alunos, alguns tradicionalistas não aprovavam seu interesse pelo cotidiano da

Matemática, conta o professor Valdemar Vello, editor de livros didáticos da Editora

Scipione e colecionador de sua obra.

Em homenagem ao centenário de seu nascimento ocorrido no ano

de 1995 a Câmara Municipal da cidade de São Paulo e a Assembléia

Legislativa do Estado do Rio de Janeiro criaram o Dia da Matemática a ser

comemorado todo dia 6 de maio e, em 2004, de acordo com Lei de autoria da

Deputada Raquel Teixeira, o Congresso Nacional aprova a escolha da data.

“Pretende-se, nessa data, divulgar a Matemática como área de

conhecimento, sua história e suas aplicações no mundo contemporâneo e sua

ligação com outras áreas de conhecimento4”.

4 Educação Matemática em Revista no 16, maio de 2004.

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Fig. 1 – Capa do livro O Homem que Calculava de Malba Tahan (em espanhol e em português)

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23

Fig. 2 – Capa do livro Al Karismi de Malba Tahan (coleção particular do prof. Valdemar Vello)

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24

Nos anos de 1960, o professor Osvaldo Sangiorgi acreditava que o

tempo, o exercício e a autocrítica fossem responsáveis pela formação de bons

professores que tinham a tarefa de iniciar as crianças na aritmética e na

geometria, cujas noções são importantíssimas para toda a vida, foi considerado

o líder do Movimento da Matemática Moderna.

A linha para a qual Sangiorgi acenava foi efetivamente seguida. Os

novos textos escolares procuraram introduzir conteúdo novo,

harmonizando com a parte do conteúdo clássico digno a ser mantido,

e, ao mesmo tempo, injetando ambas uma dinâmica de

procedimentos e recursos considerada significativamente mais

eficiente para favorecer o desenvolvimento do aluno. No ensino

ginasial, Osvaldo Sangiorgi, reviu e ampliou a série de livros de texto

que preparara para a Editora Nacional, ajustando-a a um esquema de

“Curso Moderno de Matemática”. Um guia do professor foi elaborado

para cada volume, Os compêndios ganharam feição gráfica mais

atrativa, mais ilustrações e uma cor adicional para destacar pontos

importantes, indicar subtítulos, facilitar a compreensão das figuras,

etc. (PFROMM NETO, 1974 p. 82).

Em 1963, a coleção Curso Moderno, editado pela Companhia

Nacional, recebeu o prêmio Jabuti5. Achamos interessante destacar o Prefácio

do Volume I e verificar que ele se referia ao estudo da Matemática sendo

realizado de uma maneira diferente, mais moderna.

5 Prêmio concedido, anualmente, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), é o mais tradicional e importante prêmio literário brasileiro, que teve início em 1959.

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Uma palavra para você que inicia o Ginásio meu caro estudante:

Você vai iniciar agora o estudo da Matemática de um modo diferente

daquele pelo qual seus irmãos e colegas mais velhos estudaram.

Sabe por quê?

Porque Matemática, para eles, na maioria das vezes, era um “exagero

de cálculos”, “problemas complicados”, “trabalhosos e fora da

realidade”, que a tornavam, quase sempre, um fantasma!

Hoje na Era Atômica em que vivemos, isto é trabalho para máquinas

(os fabulosos computadores eletrônicos de que tanto falam os

jornais...), razão pela qual você vai aproveitar o seu precioso tempo

aprendendo o verdadeiro significado e as belas estruturas da

Matemática Moderna. Então, você poderá, por exemplo, notar uma

certa semelhança entre o modo de raciocinar em Matemática e nas

outras matérias de seus estudos, como Português, História,

Geografia, Ciências, Música, Educação Física, etc.

Conhecer Matemática dessa forma é o principal objetivo deste livro

em que você vai começar a estudar e que se completará com o

auxílio indispensável de seu professor.

Vamos, pois, estudar Matemática com prazer!

E, em seguida, dirige uma palavra aos professores referindo-se ao

“método moderno” do livro de matemática:

Esse novo método fará com que o aluno note certa semelhança entre

o modo de raciocinar em Matemática e o modo de raciocinar nas

outras disciplinas porque elas também utilizam estruturas mentais

que estão em total correspondência com as estruturas matemáticas.

Por causa do Movimento da Matemática Moderna, a Matemática foi

manchete dos jornais diários e, na década de 60 a maioria dos livros didáticos

de Matemática, passou a adotar esse padrão de “modernização”.

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26

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CAPÍTULO III

A TRAJETÓRIA DO LIVRO DE

MATEMÁTICA NO BRASIL

OS PRIMEIROS LIVROS IMPRESSOS NO BRASIL

No ano de 1744, o grande destaque da literatura didática da

matemática brasileira, é da autoria de José Fernandes Pinto Alpoim, com as

obras Exame de Artilheiros e Exame de Bombeiros, que teve a iniciativa de

escrever estes dois “manuais escolares” para uso de seus alunos nas aulas de

Artilharia, onde ele exercia o cargo de Mestre da Aula de Artilharia no Rio de

Janeiro. Os dois “manuais escolares” foram os primeiros livros de matemática

escritos por brasileiro.

A impressão Régia começou a imprimir livros no Brasil, no ano de

1808, com Observações sobre o Comércio Franco no Brasil, de Silva Lisboa.

Em 1809, foram realizadas várias traduções de textos europeus de

matemática, sendo os primeiros livros de matemática, traduzidos, impressos no

Brasil: Os Elementos de Geometria, de Legendre, tradução de Araújo

Guimarães; Tratado de Trigonometria, do mesmo Legendre, os Elementos de

Álgebra, de Leonhard Euler. Em 1810, foi lançado o Tratado de Aritmética, de

Lacroix e traduzido por Silva Torres. No ano de 1812, os Elementos de

Geometria Descritiva, de Gapard Monge e traduzido por José Vitorino dos

Santos e Souza.

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Fig. 6 – Contra-capa do Livro Exame de Bombeiros, 1748 José Fernandes Pinto Alpoym

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Fig. 7 – Página de introdução ao conteúdo de geometria do livro Exame de Bombeiros de Alpoym

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Fig 8- Fac-Simile (1987) do livro Exame de Artilheiro (1744) José Fernandes Pinto ALPOYM

Fig. 9 - Exemplos de figuras usadas nos exercícios do livro Exame de Artilheiro – ALPOYM

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33

Fig. 10 - Exercício do livro Exame de A rtilheiro de ALPOYM

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Fig. 11 – Contra-capa do livro Elementos de Geometria, 1886 Adrian Maris LEGENDRE

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35

Fig. 12 – Contra-capa do livro Tratado Elementar de Trigonometria, 1823 Silvestre François LACROIX

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LIVROS DE MATEMÁTICA DO SÉCULO XX E SEUS AUTORES

Não é nossa intenção relacionar todas as coleções ou livros

didáticos, nem analisar seu conteúdo, mas conhecer a trajetória de sua história,

em um determinado período e saber como aconteceu seu processo de

desenvolvimento, bem como conhecer algumas empresas responsáveis pela

sua divulgação e seu envolvimento no processo de crescimento, mesmo que

muitas vezes tenha passado por dificuldades ou submetidas às medidas

governamentais, permanecem nesse “negócio” que, ao longo dos anos, atraiu

muitas pessoas que desejavam manter o nível e a qualidade elevados e

atender as exigências do público, cada vez mais necessitado de novidade.

A Coleção FTD, impressa na Europa, conquista o público das

escolas brasileiras, sobretudo as particulares e católicas. Para a época, a

coleção trazia uma prática diferente, pois para cada título havia o livro do aluno

e o livro do professor. Atualmente este método é usado por todas editoras. A

coleção era composta de livros para as séries iniciais até curso para admissão

em escolas superiores. Pfromm Netto1 (1974, p. 77) comenta que os livros da

coleção eram sucintos nas explicações, os textos eram, contudo, repletos de

problemas, exercícios, recapitulações e ‘exercícios orais’.

A partir do início de 1900, inauguram as Editoras especializadas em

livros didáticos. O mercado torna-se bastante atraente com as concorrências

pelo comércio do livro didático. Vários matemáticos ilustres tiveram suas obras

1 PFROMM-NETO, Samuel (professor, psicólogo, pedagogo e um dos diretores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo)

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editadas, como Otto de Alencar (1874-1912), M. Amoroso Costa (1885-1929),

As Idéias Fundamentais da Matemática e outros.

Fig. 5 – Contra-capa do livro As Idéias Fundamentaes da Matemática (1929), de M. Amoroso Costa

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38

No ano de 1907, começa a história do livro didático de matemática

que teve vida mais longa. Trata-se do Aritmética Elementar Ilustrada, de

Antonio Trajano, para ensino primário. Segundo ZAMBONI2 (1991, p.6), no

Brasil não houve livro que atingisse tantas gerações de crianças e jovens.

No período de 1920 a 1930, destaca-se o compêndio de

matemática, de Euclides Roxo, professor de matemática do Colégio Pedro II.

No ano de 1942, novos livros passam a ser adotados pelas escolas

como Curso de Matemática, de Algacyr Munhoz Maeder, professor do Colégio

Estadual do Paraná, editado pela Melhoramentos; Matemáticas, de Ary

Quintella, professor do Colégio Militar, editado pela Nacional, Matemática

(destinada à 1ª série dos cursos Clássicos e Científicos), de F. Furquim de

Almeida, João B. Castanho, Edison Farah e Benedito Castrucci da Editora do

Brasil, entre outras.

Na década de 1950, foram introduzidos ao currículo de matemática,

novos conteúdos, com a finalidade de envolver a criança em um tipo de

aprendizagem que fosse mais ativo. Essa mudança iniciou-se início no exterior

com o movimento de renovação no ensino da matemática e chegando ao

Brasil, foi amplamente divulgada nos congressos nacionais de ensino da

matemática, onde surgem os favoráveis à idéia, mostrando seus trabalhos com

propostas de novos conteúdos e novos métodos de trabalho.

No início da década de 1960, o Grupo de Estudos do Ensino de

Matemática de São Paulo foi de grande importância, desenvolvendo pesquisas

e experiências do qual participava o professor Osvaldo Sangiorgi, do Instituto

2 ZAMBONI, Ernesta – Que história é essa? – uma proposta analítica dos livros paradidáticos de história. Tese de doutorado. Campinas, Unicamp, 1991, p.6.

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39

de Educação “Padre Anchieta” e Assistente de Geometria Analítica da

Faculdade de Filosofia da Universidade Mackenzie.

Sangiorgi definiu uma nova linha para transmitir os conteúdos

matemáticos e que fossem mais eficientes no desenvolvimento do aluno. Ele

conquistou efetivamente seguidores dessa linha que procuravam ajustar os

livros a um esquema de “curso moderno de matemática”. Realizou também

uma revisão em seus livros que ganharam um visual mais atraente, mais

ilustrativo com adição de uma cor para destacar tópicos importantes. Os livros

didáticos de matemática publicados na década de 1960 passam a adotar um

padrão mais “moderno”.

De modo geral, podemos notar nessas obras a preocupação com o

emprego da linguagem mais simples, exemplos mais numerosos para melhor

compreensão, porém contávamos com poucos recursos tipográficos.

Vamos observar o prefácio do Volume 1 da Coleção Didática do

Brasil Curso Colegial – Matemática, de João Batista Castanho, Edison Farah e

Benedito Castrucci, 1960, da Editora do Brasil, com relação à “matemática

moderna” que todos estavam preocupados em transmitir:

Esta nova edição de nosso livro destinado à 1ª série colegial acha-se

de acordo com a última reforma de programas. Devido à extensão do

assunto , na parte referente à Geometria, omitimos diversas

demonstrações , o que esperamos não afete a visão de conjunto.

Agora observamos o que diz Ary Quintella no prefácio de um de

seus livros mais popular, Matemática para a Série Ginasial, 1963, 105ª Edição,

Companhia Editora Nacional.

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40

Procuramos, assim obedecer aos preceitos da Didática Especial da

Matemática em seu aspecto mais moderno. Encontram-se no texto

algumas sugestões sobre o uso de material didático muito simples,

pois julgamos ser seu emprego indispensável nas primeiras séries.

Grande preocupação tivemos, também, em tornar o livro didático

atraente e de uso constante do aluno na aula e fora dela, para o que

contamos com o decidido apoio da Companhia Editora Nacional, o

que com prazer registramos.

Notamos a preocupação dos autores em atender aos novos

preceitos de modernização.

Fig. 13 – Duas importantes obras de Ary Quintella: Matemática para o primário e

Matemática para o ginásio

A partir da década de 1970, começam a surgir inovações nos livros

de matemática que aparecem com textos mais adequados à realidade dos

alunos e preparados de acordo com novas legislações de ensino e

apresentando novo formato.

Page 56: PUC/SP São Paulo 2005

41

A indústria editorial procura diversificar sua produção, buscando o

livro certo para cada tipo de leitor. Ocorre uma multiplicação da busca pelo

mercado de livro, entre jovens, adolescentes, crianças na escola e pré-escola e

jovens adultos. Em meio a essa adaptação para atender novos clientes, a

indústria de livro didático procura acompanhar as mudanças ocorridas,

utilizando-se dos avanços tecnológicos, com máquinas modernas que

permitem a grande produção.

Hoje, são quase 600 editoras em atividade no Brasil, destacando-se

a IBEP/Nacional, FTD, do Brasil, Scipione, Ática, Saraiva, Moderna e Atual,

que têm suas coleções e autores de matemática, inseridos no Programa

Nacional de Livros Didáticos/2005 (PNLD/2005).

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42

CAPÍTULO IV

A ATIVIDADE EDITORIAL DE LIVROS DIDÁTICOS BRASILEIROS

Ao realizarmos uma breve trajetória sobre a história do livro didático

brasileiro e conhecermos o desenvolvimento da atividade editorial de didáticos,

observamos dois fatores importantes. O primeiro é o fato de que a Impressão

Régia, no Rio de Janeiro, e outras editoras que foram sendo criadas com

trabalhos de livreiros estrangeiros que vinham para se instalar por aqui, tiveram

papel importante, no que viria a ser uma indústria nacional do livro. O segundo

fato é que a história do livro didático no Brasil teve seu desenvolvimento em a

decretos, leis e medidas do governo ao longo dos anos.

A Impressão Régia tinha a pretensão de ajudar a expandir e

melhorar a educação pública e por esta razão produziu os primeiros manuais

escolares para os cursos da Academia Real Militar, criados por D. João VI, cuja

composição, era, na maioria das vezes, traduções francesas sobre matemática

e física.

No final do século XIX e início do século XX, as editoras do Brasil,

utilizavam as impressões de Portugal, França e Alemanha. Nesta época, o

público para literatura ainda era bastante limitado e muito raramente ocorria a

impressão de livros aqui, até mesmo os livros didáticos.

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43

SURGEM AS PRIMEIRAS EDITORAS

... praticamente todas as editoras brasileiras (e portuguesas) eram

propriedade pessoal de um indivíduo, ou de sociedades de pequena

duração entre duas ou três pessoas... O conceito de propriedade de

uma empresa no sentido moderno, ou seja, a investidura da

propriedade numa sociedade anônima perpétua e impessoal

possuída por grande número de acionistas, cujas ações mudam

freqüentemente de mãos, é praticamente desconhecido no comércio

de livros no Brasil pelo menos até depois da segunda guerra mundial.

(HALLEWELL, 1985 p. 215).

A Editora de Silva e Serva, 1819, em Salvador, publicou,

aproximadamente, 176 títulos, a maioria de assuntos religiosos, direito e

medicina. A Editora de Plancher, Rio de Janeiro, 1824, cujo editor era Pierre

René François Plancher de la Noé, produzia obras políticas ou administrativas,

porém foi a responsável pela publicação da primeira novela brasileira, Statira e

Zoroastes, por Lucas José de Alvarenga, em 1826.

No Maranhão, a impressão foi introduzida em novembro de 1821,

pelo governador Bernardo da Silveira Pinto. Mas, as primeiras impressoras

privadas surgiram em 1822. Assim, inicia-se o processo de impressão em

outras províncias como Recife, Pará e Paraíba.

O Brasil, do final do século XIX, tinha como referência a cultura

francesa, o que chamou a atenção de alguns livreiros-editores europeus que

buscavam expandir seus negócios em novas terras. Por esta razão,

começaram a surgir no Rio de Janeiro as primeiras editoras do Brasil.

Page 59: PUC/SP São Paulo 2005

44

Em 1833, a Livraria Universal, fundada por Eduard Laemmert, foi a

primeira a se instalar no Rio de Janeiro. Seu sucesso aconteceu quando

Eduard decide ampliar seus negócios e adquirir três impressoras. Para dominar

o negócio, decide ir à Paris e aprender tipografia. Em sociedade com seu irmão

Heinrich, inaugura a Typographia Universal, em janeiro de 1838, tornando a

Livraria, também, em Editora que fez com que seu faturamento aumentasse. A

Typographia Universal pouco investiu em livros didáticos, porém um de seus

sucessos foi o livro Por que me ufano do meu país, de Afonso Celso, em

homenagem aos quatrocentos anos do descobrimento do Brasil. Sua leitura

tornou-se obrigatória nas escolas secundárias, o que levou a esgotar a primeira

edição. A obrigatoriedade de se adotar um certo livro, nas escolas, já indica

que isso representa um bom negócio para a empresa.

Uma das mais importantes editoras brasileiras foi a Livraria Garnier,

que funcionou desde 1844 a 1934, no Rio de Janeiro e dividia o mercado de

livros com a Universal. Como muitos livreiros franceses Baptiste Louis Garnier

resolveu tentar a sorte no ramo de livros, aqui no Brasil, pois era um País novo

e propício para o desenvolvimento. Garnier concentrou sua publicação em

literatura e negociava outros artigos em sua loja, além dos livros. Começou a

editar livros, em pequena escala e mandava imprimir seus volumes em Paris e

Londres, o que lhe rendeu a antipatia dos tipógrafos brasileiros. Ele foi o

primeiro editor brasileiro a considerar a edição como atividade diferente da

impressão, pois, na época, muitos editores eram obrigados a recorrer a

Impressão Régia para realizar seus trabalhos gráficos, porém Garnier escolheu

trabalhar dessa maneira por motivos comerciais.

Page 60: PUC/SP São Paulo 2005

45

Garnier alcançou grande êxito nesse negócio, sendo considerado o

principal responsável pelo início do desenvolvimento editorial no Brasil. Um dos

fatores importantes para o sucesso da Livraria foi o público leitor,

principalmente de romances que aumentava a cada dia, sendo este o seu

campo de domínio: literatura de ficção nacional e estrangeira.

Assim, praticamente, todos os romancistas da época tiveram suas

obras publicadas por ele. Também podem ser apontados outros fatores que

contribuíram para o desenvolvimento, como a política correta da empresa em

pagar regularmente os direitos autorais e possuir um grupo de profissionais

qualificado, de redatores-revisores e tradutores. (PAIXÃO, 1996, p. 16).

Fig. 14 – Interior da sede da Livraria Garnier, na Rua do Ouvidor (à tarde era usada para reunião entre escritores e intelectuais)

Garnier também não se especializou em didáticos, mas podemos

destacar um autor de didático que foi bem reconhecido, Felisberto Rodrigues

Page 61: PUC/SP São Paulo 2005

46

Pereira de Carvalho, autor de Arythmetica das Escolas Primárias (1888) e de

Exercícios de Arithmetica e Geometria (1890).

No final do século XIX a Francisco Alves, destacava-se como grande

empresa editorial, especializada em didáticos, controlando totalmente o

mercado da literatura escolar.

A história da Francisco Alves tem início em 1882, mas, foi no ano de

1854, que o português Nicolau Alves, no Rio de Janeiro, fundou a Livraria

Clássica, especializada em livros escolares e acadêmicos. Ele e o sócio

Antonio Joaquim Ribeiro de Magalhães obtiveram tamanho sucesso nesse

ramo que estavam pensando ampliar o negócio e, para isso, estavam

precisando de ajuda quando Nicolau enviou uma carta ao sobrinho que vivia

em Portugal, Francisco Alves, perguntando se havia interesse em se juntar a

ele no negócio. Francisco Alves aceitando o convite, chega ao Brasil, no ano

de 1882.

Com seu temperamento forte começa a se destacar e, em pouco

tempo, Francisco Alves adquire as partes de seus sócios e amplia a Livraria.

Logo se transforma em editor e inicia seu pioneirismo no Brasil a fazer livros

didáticos, que passa a ser seu principal produto. Era tido como grosseiro e rude

com os funcionários, pois exigia deles o mais alto nível profissional e para isso

pagava muito bem. Era persistente e arrojado, mantendo seu negócio sempre

em expansão. Às vezes, chegava a ser generoso, quando doava livros às

escolas. Um dos motivos que o manteve no controle na área de didáticos foi o

preço baixo e, outro motivo foi o fato de comprar seus adversários como, por

exemplo, a Laemmert em 1910. Ele usava esse tipo de negócio para ter o

direito de suas publicações e chegou a comprar um total de dez editoras.

Page 62: PUC/SP São Paulo 2005

47

A cidade de São Paulo começa a atrair novos investidores e

Francisco Alves, com seu faro para os negócios resolve abrir uma filial por lá, o

que ocorre em 1883.

A Casa Alves, como era chamada, tinha uma forma inovadora de se

relacionar com autores e grande visão empresarial para o futuro. Ela chegou a

conquistar o mercado europeu e deteve por muito tempo o monopólio do livro

escolar.

No ano de 1917, com o falecimento de seu fundador, a Casa Alves

era líder no mercado de livros, e seus sucessores conseguiram mantê-la nesse

posto até 1925, ano em que surge para revolucionar o mercado de livros, a Cia

Editora Nacional, fundada por Monteiro Lobato e Octalles Marcondes Ferreira,

com um novo contexto histórico e cultural, tirando a posição de liderança da

Francisco Alves, que em 1972, volta a chamar-se Livraria Francisco Alves

Editora e é a mais antiga editora do Rio de Janeiro com atividade ininterrupta,

publicando atualmente obras de ficção.

Fig. 15 – Livraria

Francisco Alves à Rua

São Bento, em São Paulo (1915).

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48

No final do século XIX e início do século XX, surge em São Paulo,

para competir no mercado de didáticos, a empresa de origem francesa, FTD.

Foi no ano de 1897, que, chegam ao Brasil os irmãos Maristas sob

determinação de Frère Théophane Durand - FTD e, dão início à Província

Marista do Brasil, com a fundação de uma escola em Congonhas de Campos,

Minas Gerais. No decorrer dos vinte anos seguintes, foram crescendo as

Províncias Maristas por todo país. A FTD que já fazia parte da rotina dos

colégios maristas na França acompanhou os irmãos Maristas por todo o

mundo, possibilitando surgir traduções e adaptações de várias obras de

utilização universal, bem como livros escritos dentro das exigências específicas

de cada cultura, nos diversos países.

Em 1902, o Irmão Isidoro Dumont, inicia sua missão educativa no

Brasil e logo verifica que seria viável dedicar-se ao crescimento de uma FTD

aqui. Irmão Isidoro, como era chamado, era licenciado em matemática na

França e dedicou-se pessoalmente à produção de novos livros de aritmética,

álgebra, geometria, trigonometria e outros. Lutou para a realização do projeto

de uma FTD brasileira e, selecionou seus colaboradores, dentre aqueles com

melhor preparo acadêmico.

Conforme Megale (2003), em quatro décadas, fez da FTD a mais

completa editora de livros escolares do País, a única a cobrir, na época, todas

as áreas de ensino. Os livros produzidos pela FTD tinham um esquema a ser

seguido, denominado método FTD.

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A ATIVIDADE EDITORIAL É ATRAÍDA POR SÃO PAULO

Se hoje podemos dizer que São Paulo é a capital brasileira dos

“grandes negócios”, essa posição de destaque nem sempre foi assim... A

atividade editorial de livros didáticos que, atualmente se tornou um dos

negócios mais promissores no Brasil, teve seu início com estrangeiros que

vinham para cá desejosos de obter sucesso comercial. Com a população

intelectual que se criou novos rumos foram sendo tomados para o livro didático,

que passou a ser de interesse não somente de seus autores e editores, mas

também do governo.

Mas, vamos observar como tudo começou...

Em 1828, a cidade de São Paulo foi escolhida para abrigar uma das

novas escolas de Direito, fato importante que marcou a história do

desenvolvimento da cidade.

No início, o número de estudantes que concluíam o curso era muito

pequeno, inferior a dez, e isso refletiu na ausência de publicações na província.

Ma, em 1855, apesar de poucos habitantes, em torno de 15 mil, o número de

estudantes chegou a 600 e a cidade era considerada mais intelectual e menos

comercial que qualquer outra cidade brasileira.

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50

Fig. 16 – Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. À sua volta estavam reunidas as poucas Livrarias.

Na época, havia três livrarias e três gráficas na cidade que só

imprimiam livros por encomenda dos autores e, os estudantes da Faculdade de

Direito, muitas vezes, precisavam recorrer à corte para suprir suas

necessidades de impressão.

A mais conhecida delas era a dos irmãos portugueses José

Fernandes de Sousa, e Antonio Maria, fundada em 1876, na Rua São Bento,

com o nome de Grande Livraria Paulista e depois passou a chamar-se Livraria

Teixeira.

Nos anos de 1888 a Livraria Teixeira passa a editar livros, como os

romances de Júlio Ribeiro, Casimiro de Abreu Joaquim José de Macedo, entre

outros. Com a morte de José Fernandes de Sousa, em 1929, José Vieira

Pontes, acabou se tornando único dono da Livraria.

Page 66: PUC/SP São Paulo 2005

51

Fig. 17 – Livraria Teixeira na Rua São João, por volta dos anos de 1920.

A cidade de São Paulo sofre um crescimento repentino em sua

população, com a vinda de flagelados, fugindo da seca no sertão do Nordeste.

Essa migração continuou pelos anos seguintes e, em 1893, São Paulo contava

com uma população de 192.409 habitantes, passando a ser a segunda maior

cidade do País. No início do século XX, a cidade se igualava ao Rio de Janeiro

em número de habitantes, que era de 239.820.

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Nos anos de 1860, o mercado de livros começa a crescer em São

Paulo e a atrair livreiros para cá. Um deles foi o livreiro Baptista Louis Garnier,

dono da famosa Livraria Garnier, no Rio de Janeiro, que observando o

crescimento da cidade de São Paulo, resolveu abrir uma filial na cidade, sob a

direção de seu funcionário desde 1850, o francês Anatole Louis Garraux.

A Casa Garraux foi instalada no Largo da Sé, e comercializava em

sua loja, além de livros, material de escritório. Logo ficou famosa, nesse

mesmo ano, publicou seu catálogo de livros, sendo a maioria livros jurídicos.

A vida cultural de São Paulo começa a se destacar nos anos de

1920. A Casa Garraux é freqüentada diariamente por pessoas importantes da

sociedade política e intelectual, entre eles autores modernistas.

Nos anos de 1914, Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, compra uma

biblioteca de livros jurídicos, no Largo do Ouvidor, São Paulo, e monta um sebo

com o nome de Livraria Acadêmica Jurídica.

Em 1817, a Livraria lança o livro Casamento Civil, de Aniceto Correa

e ganha status de editora. Durante 30 anos, a Editora dedica-se,

exclusivamente, à área jurídica. Esse quadro mudaria, em 1944, após o

falecimento de Saraiva, e a editora passa para as mãos de seus três filhos, que

expandiram o número de livrarias e diversificaram a linha editorial.

Na década de 1960, a Saraiva começa a interessar-se por livros

didáticos e, na década de 1970 consagra-se como uma das maiores editoras

desse segmento, para primeiro e segundo graus. Em 1978, também, se

destaca com edições para a universidade.

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53

QUATRO EDITORAS DE LIVROS DIDÁTICOS DE

MATEMÁTICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES

A atividade editorial, enquanto agente da cultura,

reflete passo a passo as transformações da

sociedade brasileira. No entanto, sabemos o

quanto é pouco conhecido o pioneirismo e a garra

de editores do passado que, à frente de casas

publicadoras ousadas para o seu tempo,

possibilitaram ao setor atingir em nossos dias a

plena maturidade.

José Bantim Duarte1

COMPANHIA EDITORA NACIONAL

Um país se faz com homens e livros.

Monteiro Lobato

Em 1917, Monteiro Lobato inicia sua atividade editorial no Brasil,

trazendo na cabeça lindas histórias infantis e um grande sonho: tornar-se

editor.

José Bento de Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882, em

Taubaté. Formou-se bacharel na Faculdade de Direito de São Paulo em 1904.

Nos anos seguintes foi promotor público em Areias (SP) e fazendeiro

em Buquira, hoje com o seu nome “Monteiro Lobato” (SP).

1 DUARTE, José Bantim Diretor Editorial da FTD

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54

Nos tempos livres, que tinha enquanto era fazendeiro, Lobato

gostava de escrever contos que falava sobre a vida da fazenda e a vizinhança

caipira, chegando a criar personagens tipicamente da roça como o famoso

“Jeca Tatu”. Escrevia para os periódicos O Estado de São Paulo que tinha

grande prazer em publicar seus trabalhos. Vida Moderna e Revista do Brasil.

Na época, Lobato percebeu que o mercado editorial estava

oferecendo uma boa oportunidade para iniciar seu próprio negócio. Então, no

ano de 1917, vendeu sua fazenda e utilizou parte do dinheiro para financiar a

publicação do livro Saci-Pererê, e de seu mais famoso livro de contos Urupês,

cujas obras foram impressas na gráfica do “O Estado de S. Paulo”.

Urupês foi um sucesso conquistando grande público. Com dois

meses de lançamento, já havia tido duas impressões esgotadas e, até 1923, já

haviam sido feitas nove impressões em total de trinta mil exemplares, algo

inédito, nunca antes acontecido no Brasil, com um livro brasileiro de ficção.

Fig. 18 - Urupês, de Monteiro Lobato, que tratava criticamente a

situação do campo brasileiro.

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55

Em 1918, quando escrevia para a Revista do Brasil, surgiu

comentário, entre seus companheiros, da hipótese de se criar uma nova editora

de obras literárias nacionais. Com a idéia amadurecida, Lobato tomou algumas

providências e adquiriu a Revista do Brasil para utilizá-la como ponto de

distribuição e aumentar os pontos de venda. Em seguida, encaminhou uma

circular para os vários endereços de papelarias, jornal, farmácias, armazéns,

açougues além dos endereços fornecidos por amigos e conhecidos de todo o

país. A estratégia utilizada por Lobato em sua Circular, era simples e direta,

como podemos observa:

Vossa Senhoria tem o seu negócio montado, e quanto mais coisas

vender, maior será o lucro. Quer vender também uma coisa chamada

´livro´? Vossa Senhoria não precisa inteirar-se do que essa coisa é.

Trata-se de um artigo comercial como qualquer outro; batata,

querosene ou bacalhau. É uma mercadoria que não precisa examinar

nem saber se é boa nem vir a esta escolher. O conteúdo não

interessa a V.Sa. e, sim ao seu cliente, o qual dele tomará

conhecimento através das nossas explicações nos catálogos,

prefácios etc. E como V.Sa., receberá esse artigo em consignação,

não perderá coisa alguma no que propomos. Se vender os tais

´livros´, terá uma comissão de 30p.c.; se não vendê-los, no-los

devolverá pelo Correio, com o porte por nossa conta. Responda se

topa ou não topa. (LOBATO, apud HALLEWEL, 1985 p.245)

Assim, Lobato conseguiu uma rede de quase dois mil distribuidores

por todo Brasil e revolucionou a indústria editorial brasileira, sob críticas,

sobretudo da elite, que via nessas ações o rebaixamento dos valores

intelectuais.

Page 71: PUC/SP São Paulo 2005

56

Lobato não se abalou com as críticas, pois importava-se com a

aprovação do público. Ele próprio considerava-se um editor revolucionário que

abria a porta para os novos, pois gostava de lançar novos nomes. Acreditava

que a literatura necessitava de uma inovação.

No ano de 1919, a firma editorial Revista do Brasil tornou-se Cia.

Monteiro Lobato, em sociedade com Octalles Marcondes Ferreira, um jovem

guardador de livros com muita ambição e disposição para trabalhar que Lobato

conheceu quando adquiriu a Revista do Brasil.

Em 1920, publicou A Menina do Narizinho Arrebitado, seu primeiro

livro para crianças, cuja história se passa no Sítio do Pica-pau Amarelo. Nos

anos seguintes, lançou inúmeros livros com as aventuras das personagens do

Sítio, pelos quais é considerado o fundador da literatura infantil brasileira.

A editora tornou-se motivo de recomendação e, em 1920, vendia em

média, quatro mil livros por mês e no ano seguinte publicava uma nova edição

a cada semana. Em dezembro de 1922, A Monteiro Lobato & Cia. amplia sua

participação societária. Lobato e Octalles M. Ferreira ganham nove sócios:

Martinho Prado, José Carlos de Macedo Soares, Paulo Prado, Alberto Seabra

e Alfredo Machado, Heitor de Morais, Renato Maia, Alfredo Costa e José

Antonio Nogueira e inauguram a Companhia Gráfica-Editora Monteiro Lobato

S.A.

No final de 1924 e início de 1925, a Cia. Gráfico-Editora Monteiro

Lobato S.A. sofre um abalo financeiro pelas dívidas contraídas pela importação

de maquinário e matéria-prima. São Paulo sofre com a Revolução Paulista que

causou grande prejuízo ao comércio, além da seca ocorrida, que obriga a

empresa de fornecimento de energia, Light, a cortar dois terços do

Page 72: PUC/SP São Paulo 2005

57

fornecimento de energia. Outro fator que atinge diretamente as transações

feitas por Lobato, foram as mudanças feitas pelo governo de Artur Bernardes,

na orientação bancária.

A editora de Lobato entra em crise terminal, com um enorme

maquinário parado, matéria-prima importada sem utilização e, muitos

compromissos a saldar.

No dia 24 de julho de 1925, Monteiro Lobato e o jurista Waldemar

Ferreira dão entrada no requerimento de autofalência da Companhia Gráfico-

Editora. A falência precoce, pois a empresa havia iniciado inovações na

atividade editorial, com a impressão das edições no País e a distribuição de

livros por todas capitais e cidades.

Em 15 de setembro do mesmo ano, realiza-se no Rio de Janeiro a

assembléia de constituição da Companhia Editora Nacional, partindo para o

lado editorial, tendo contando com o acervo editorial da antiga empresa. Com o

espírito inovador de Lobato, as obras ganharam vida, novos escritores

nacionais imprimiam milhares de exemplares, além de coleções que começam

a ganhar abertura.

No final de 1926, a empresa transfere sua matriz para São Paulo, de

olho no mercado emergente e, inaugura uma sua trajetória de crescimento

lento, mas firme, quando no ano de 1927, Monteiro Lobato parte aos Estados

Unidos, como Adido Cultural e a Editora fica sob a responsabilidade de

Octalles Marcondes.

A Companhia Editora Nacional passou por várias crises, em 1929, a

recessão; em 1930 e 1932 as revoluções e a falta de matéria-prima, porém, no

início dos anos 1930 a Companhia Editora Nacional era a maior editora de

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58

livros de São Paulo e, no ano de 1938, já era responsável por quase um terço

da produção do País.

Octalles Marcondes abraçou a atividade editorial com muita

dedicação e tornou a Nacional em grande semeadura de cultura e saber e,

chega à década de 1970 como a maior e mais lucrativa editora do País.

Entre seus livros, destacamos a importante coleção Brasiliana, que

até os dias de hoje é utilizada para pesquisas. Na área de didáticos, conta com

o prestígio de autores internacionais. Na área de Didáticos de Matemática

destacamos os seguintes autores: Ary Quintella, professor catedrático do

Colégio Militar, tem suas obras editadas pela Nacional, desde a década de

1940, para o curso ginasial e colegial, além do guia destinado ao exame de

madureza; Thales Mello Carvalho com livros de Matemática para os cursos

Clássicos e Científicos, 1944; Carlos Calioli e Nicolau D’Ambrósio, com os

seguintes títulos: Matemática (Aritmética e Geometria) para o curso Comercial

Básico, 1940, Geometria Intuitiva e Aritmética Prática do Ginásio Comercial,

1956; Aritmética Prática, 1959; Nicolau D’Ambrosio e Ubiratan D’Ambrosio com

a obra Matemática Comercial e Financeira para os Cursos Colegiais de

Comércio, 1957; Oswaldo Sangiorgi, com as seguintes obras: Matemática

Curso Ginasial – 1ª série, 1953; Matemática e Estatística para os Institutos de

Educação e Escolas Normais, 1963; Matemática 1 – Curso Moderno para os

Ginásios, 1969 e Matemática 2 – Curso Moderno para o Colegial, 1969 e

Manuel Jairo Bezerra com o livro para o Curso Clássico e Científico.

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Com a morte de Octalles Marcondes, no ano de 1973, sua família

vende a Editora a José Olympo que a compra com a ajuda do Governo. A

empresa acaba ficando sob o controle do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico – BNDE e, em poucos anos, deixa de ser líder no mercado editorial,

caindo para a quinta colocação entre as gráficas.

No ano de 1980, a Companhia Editora Nacional é adquirida pelo

Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas – IBEP, e dessa forma passa a

formar um dos maiores grupos editoriais: IBEP Companhia Editora Nacional.

IBEP E COMPANHIA EDITORA NACIONAL

O IBEP - Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas fundado, na

1965, à Rua Senador Feijó, centro de São Paulo, é uma das maiores

referências de qualidade no mercado nacional de livros didáticos com capital

genuinamente brasileiro. Seus idealizadores, Jorge Antonio Miguel Yunes e

Paulo Cornado Marte, tinham como meta renovar os livros didáticos

distribuídos em escolas de todo o País produzindo obras que satisfizessem

professores e alunos em sala de aula.

Em 1980, por meio de leilão do BNDES, o IBEP comprou a

Companhia Editora Nacional que trouxe consigo uma grande linha de livros

didáticos e paradidáticos do Ensino Infantil ao Ensino Fundamental.

Seus fundadores, unindo conhecimento administrativo com visão

editorial, apostavam no potencial dos livros didáticos que, vivia em crescente

Page 75: PUC/SP São Paulo 2005

60

expansão mantendo no dia-a-dia da produção, uma relação direta com os

autores.

Além do mais, o formato dos livros precisavam ser revistos e

atualizados — muitos dos quais se mantinham nas escolas por décadas e

décadas sem nenhuma reformulação em seu conteúdo didático. Inovar era a

palavra de ordem da editora. Sendo assim, professores contratados

exclusivamente pelo IBEP agregaram elementos ao texto como ilustrações e

quadrinhos. Um sistema de produção e distribuição foi criado para que

atendesse rapidamente as livrarias, as escolas e as vendas para o governo. No

mais, a editora promoveu o acesso do livro didático a todas as camadas

sociais, além de criar edições específicas para diferentes regiões do País.

Uma das primeiras inovações do IBEP foi a impressão de livros em

duas e quatro cores em 1969. Os desenhos de Rodolfo Zalla e Eugênio

Colonnese ilustraram os livros História do Brasil e História Geral, do professor

Julierme de Abreu de Castro, para 5ª e 6ª séries em quadrinhos, sucesso como

primeiro exemplar escolar produzido nesse formato por uma editora brasileira.

A partir de então, as ilustrações nos livros didáticos não eram mais

simples acompanhamentos das disciplinas, mas, com a entrada da editora no

mercado, introduziram uma nova linguagem ao conteúdo educacional,

oferecendo aspectos lúdicos às obras.

O IBEP participou de todos os programas educacionais do governo

para o fornecimento de livros didáticos desde a sua fundação. Em agosto de

1994 a editora venceu a concorrência da Fundação de Assistência do

Estudante (FAE) para distribuição de 11,5 milhões de livros didáticos a seis

milhões de crianças. O curioso é que os dois livros — Viajando com as

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Palavras e Viajando com os Números, de português e de matemática, foram

escritos pela professora Déborah Pádua Mello Neves, autora do IBEP desde

1970 com mais de 100 títulos escritos. Naquele ano, Deborah tornou-se a

escritora que mais vendeu livros no Brasil superando os best-sellers da

literatura brasileira.

Até 1995, a avaliação das obras era tarefa exclusiva dos docentes

das escolas públicas, a partir de então, com a implantação do PNLD (Programa

Nacional de Livros Didáticos) o MEC (Ministério da Educação) cria uma

comissão para selecionar as obras uniformizando seu uso em diferentes

regiões do Brasil.

Segundo dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL), nos últimos

dez anos, o mercado de obras didáticas duplicou, atingindo a marca de 120

milhões de unidades compradas pelo governo e distribuídas a escolas da rede

pública de todo o País.

O IBEP, com uma política que preza pela qualidade da produção,

conseguiu acompanhar essa demanda. Das 14 coleções que inscreveu no

Programa Nacional de Livros Didáticos 2004 (PNLD), 12 foram aprovadas,

sendo a editora com o maior número de livros recomendados com distinção

pelo MEC.

Em outubro de 2004, a editora mudou para um espaço que permite a

adequação da nova realidade e visão que a empresa está desenvolvendo.

Também há a intenção de ampliar os serviços, oferecendo o parque gráfico

para a impressão de produtos de terceiros, com o objetivo de evitar a

centralização na própria produção. Com os novos equipamentos adquiridos

Page 77: PUC/SP São Paulo 2005

62

pela empresa, o parque gráfico será utilizado para produzir livros, revistas,

jornais, folhetos e outros impressos.

Neste mesmo ano, já foram aprovadas 150 novas obras, de

literatura e, o lançamento de três dicionários. Na área de didáticos, que é o

forte da empresa, já existem mais de 20 coleções com lançamentos previstos

para os próximos dois anos. Atualmente, conta com produção diária de cerca

de 90 mil livros e um milhão e, 400 mil cadernos, o parque gráfico ocupa área

de 32 mil metros quadrados. É dotado de equipamentos para pré-impressão,

impressão e acabamento, além de expedição e estoque.

EDITORA DO BRASIL

Parte das informações sobre a história da Editora foram adquiridas

em entrevista, realizada no dia 17 de maio de 2005, com a Sra. Isis Valéria

Gomes, que foi gerente editorial de todas as áreas de publicação da Editora do

Brasil que a partir de 2002 passou a exercer a função de Consultora para todas

as áreas Institucionais da empresa, com total responsabilidade de responder às

questões que são indagadas sobre a empresa.

A Editora do Brasil nasceu no ano de 1944, em um pequeno local da

Rua Conselheiro Nébias, 887, endereço atual da empresa, no final do governo

Getúlio Vargas, quando um grupo de empresários brasileiros formou a idéia de

fazer uma grande editora de livros didáticos, entre eles, o fundador da empresa,

Dr. Carlos Costa, na área da Biologia e o Dr. Victor Musumeci, um grande

historiador.

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63

Dr. Carlos Costa era médico e grande autor de biologia para o curso

científico, cujos livros eram editados pela Companhia Editora Nacional, que na

época, tinha como editor principal Monteiro Lobato, e seu editor assistente, o

jovem Manoel Neto. Com a idéia da criação de uma nova editora, Dr. Carlos

convida o Sr. Manoel Neto para ser editor da nova empresa e transfere, depois

de certo tempo seu livro de biologia da Companhia Editora Nacional para a

Editora do Brasil.

A vocação didática cresceu com o País e desde o início dos

programas públicos a Editora do Brasil destacou-se com um trabalho de

qualidade que resultou em grande prestígio no mercado editorial muito em

função da ação de seus sócios, professores eméritos de várias áreas do

conhecimento e já autores publicados com grande aceitação, destacando-se na

área de biologia o Dr. Carlos Costa e na área de história o Dr. Victor Musumeci.

Fig. 19 – Editora do Brasil, na Rua Cons. Nébias, 887, por volta de 1990.

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Desde o início de suas atividades, a Editora do Brasil alcançou

grande sucesso editorial sendo líder de mercado em todos os segmentos da

educação Primária, Ginasial e Secundária, hoje Ensinos Fundamental e Médio.

Nas décadas de 1940 e 1950, a Editora publicou duas importantes

obras de Matemática que faziam parte da Coleção Didática do Brasil,

destinadas aos cursos Clássicos e Científicos. Uma delas foi Elementos de

Matemática, de Antenor de Paiva e Souza e a outra Matemática cujos autores

eram os professores Fernando Furquim de Almeida, João B. Castanho, Edison

Farah e Benedito Castruci. Mas, a coleção de matemática mais popular e com

maior número de vendagem é a Praticando Matemática, de Álvaro Andrini

Quando procuramos saber sobre o acervo histórico da empresa,

fomos informados de que a empresa conserva alguns exemplares dos

principais títulos que conseguiu salvar de uma enchente sofrida nos anos 1990,

a qual trouxe grande prejuízo ao acervo, fazendo com que perdessem a

referência histórica.

Atualmente, a Editora do Brasil está posicionada entre as dez

maiores editoras brasileiras de livros didáticos.

EDITORA FTD

Grande parte da história da FTD nos foi contada por meio de um

livro que marcou a comemoração dos 100 anos de existência da FTD no Brasil,

concedido pelo Prof. Lafayette Megalle, Editor de Matemática da FTD, quando

nos deu uma entrevista no dia 28 de abril de 2005, em visita à Editora.

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Fundada pelos Irmãos Maristas, que chegaram ao Brasil em 1897,

estabeleceu-se primeiro em Congonhas do Campo - MG, cuja missão principal

era educar.

O estilo educativo marista baseia-se em uma visão integral, que se

propõe a comunicar valores, tendo como principais atributos o amor, a

presença amiga do educador junto ao educando, o valor do esporte, a

constância no trabalho e o espírito de família. O Padre José Bento Marcelino

(1789-1840), fundador da Congregação Marista acreditava que para educar era

essencial ter amor ao educando. Essa valorização ao amor surgiu desde a

infância, quando Marcelino desistiu de freqüentar a escola, após o primeiro dia

de aula, quando testemunhou a atitude violenta de um professor contra um

aluno. Voltou para casa, no interior da França, assustado e, decidido a ajudar

seu pai na lavoura. Mas, quando estava com 14 anos de idade, foi introduzido

ao Seminário Menor, onde passou uma etapa de verdadeiro crescimento

humano e espiritual e decidiu fazer o possível para que as crianças tivessem

pleno acesso à educação.

Com seus primeiros seguidores, Marcelino Champagnat entregou-se

com enorme entusiasmo à missão de educar as crianças e os jovens. Elaborou

e aperfeiçoou um sistema de valores educativos, propondo abordagens

pedagógicas inovadoras e eficazes.

Entre 1817 e 1824, iniciou uma escola primária em La Valla, França,

utilizando-a como um centro de formação docente para seus jovens Irmãos. A

comunidade não parava de crescer. Champagnat e seus Irmãos participaram

da construção de sua nova casa. Em 1825, ficava pronta uma grande casa de

formação, abrigo de mais de cem pessoas, que ganhou o nome de "Nossa

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Senhora de L'Hermitage". Livre da função de pároco, Champagnat passou a se

dedicar inteiramente à sua Congregação: à formação e acompanhamento

espiritual, pedagógico e apostólico dos seus Irmãos, à visita às escolas e à

fundação de novas obras. O local passou a ser um espaço de aprimoramento

da Pedagogia Marista, de seus princípios e de suas práticas.

Champagnat acreditava que para educar era essencial ter-se

vocação e preparo profissional e dedica-se à formação de bons educadores.

Em 1853, publica o livro Guide dês Écoles (Guia das Escolas), considerado

uma obra-mestra da pedagogia, que estava além de seu tempo.

No desejo de tornar Jesus Cristo conhecido por todos, acredita que

a escola é o meio privilegiado para essa missão de evangelização. No final do

século XIX, já eram mais de cinco mil Maristas trabalhando em educação,

espalhados por várias cidades do mundo, chegando ao Brasil em 1897.

O nome FTD surge da sigla de Frère Théophane Durand que

assumiu a direção da Congreção Marista, em 1883. Nesta época, muitos livros

publicados pelos Maristas eram adotados em várias escolas da França. Livros

esses, escritos em uma linguagem pedagogicamente qualificada de história,

geografia, aritmética, ciências físicas e naturais e outras disciplinas e que

passaram a integrar a rica coleção sob o título Coleção de Livros Didáticos

FTD.

Por volta de 1890, a sigla FTD foi registrada com a necessidade de

se abrir uma empresa editorial e passou a administrar legalmente as edições já

existentes e ampliou o número com obras novas.

A história dos Maristas no Brasil começa em 1897, quando chegam

para fundar uma escola em Congonhas do Campo em Minas Gerais a pedido

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de Dom Silvério Gomes Pimenta. Na pequena escola em Congonhas do

Campo, surgiram seguidores da filosofia Marista que multiplicaram as obras de

São Marcelino Champagnat2 pelo Brasil.

No ano de 1917, para comemorar os vinte anos que os Maristas

estavam presentes no Brasil e o centenário da fundação da Congregação, foi

publicado em francês um livro histórico com o título Vingt Ans de Brésil, 1897-

1917, que se tornou fonte valiosa da história da origem da FTD no Brasil.

Foram as dificuldades dos professores franceses em dar aulas em

português e não terem livros que levaram o diretor de escola, Irmão Andrônico

(1856-1903) a iniciar traduções e adaptações de alguns livros da FTD francesa

para o Brasil.

O primeiro livro FTD no Brasil foi Exercícios de Cálculo sobre as

Quatro Operações, em 1902. A partir daí, a cada ano com maior intensidade,

os Irmãos dedicaram-se às tarefas de traduzir os livros de currículo comum à

França e ao Brasil, além de criar textos para o ensino de língua portuguesa, de

história e de geografia do Brasil e produzir os primeiros Atlas escolares

brasileiros.

No início do século XX, o livro de matemática mais adotado no Brasil

era Aritmética Elementar Ilustrada, de Antônio Trajano. Segundo Pfromm Neto

(1974) foi o livro de vida mais longa e foi recebido com grande satisfação por

muitos estabelecimentos importantes de educação.

No ano de 1902, chega ao Brasil o Irmão Isidoro Dumont (1874-

1941) como sucessor do Irmão Andrônico (1856-1903), na direção do Colégio

do Carmo em São Paulo. Irmão Isidoro que era licenciado em matemática na 2 O Padre José Bento Marcelino Champagnat (1749-1840), foi canonizado pelo Papa João Paulo II no dia 18 de abril de 1999.

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França manteve sob seu controle as publicações dos novos livros de

aritmética, álgebra, geometria, trigonometria e outros. Quase todas as escolas

brasileiras adotavam os livros FTD, mas um dos livros que se tornou símbolo

da FTD foi o Novas Taboas de Logarithmos (1919).

Fig. 20 – Novas Tábuas de Logaritmos Coleção de Livros Didáticos FTD, 1937

A empresa demorou a se constituir como empresa editorial, pois a

impressão e acabamento de suas obras eram feitos na França, na cidade de

Lyon, o que durou por três décadas. No ano de 1911, o Irmão Isidoro contrata

os serviços de distribuição e de comercialização do livreiro Francisco Alves.

Nos anos de 1950 o setor editorial começa a sofrer transformações e

o campo didático sofre modificações nos currículos. Surgem novas editoras.

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Após o falecimento do Irmão Isidoro, em 1941, a Editora FTD diminui

a produção e edição de livros, perdendo parte de seu espaço conquistado. Em

março de 1956, os administradores Maristas assinam com a Editora do Brasil

“contrato de cessão e transferência de direitos relativos à propriedade e à

autoria das obras que compõem a coleção de livros didáticos FTD, dos Irmãos

Maristas”. A partir de então, a Editora do Brasil passou a controlar a produção

editorial e gráfica das obras da FTD. A união entre as empresas durou por sete

anos, sem o êxito esperado por ambas as partes.

No ano de 1963, a FTD rescinde contrato com a Editora do Brasil e

transforma-se em Editora FTD S.A. Sob a direção do Irmão Savério Ronchi, a

empresa contratou autores não Maristas, pois pretendia lançar ao público uma

FTD de cara nova. Entre eles, na área de matemática, estavam os professores

Benedito Castrucci e Alcides Bóscolo da USP.

No dia 11 de junho de 1966, foi inaugurada em São Paulo, a

primeira matriz FTD, na Rua Lavapés, no bairro do Cambuci.

Fig. 21 – Sede provisória da primeira matriz da Editora FTD, no bairro do Cambuci, em São (centro da foto)

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A empresa começa a retomar seu crescimento e a matriz de São

Paulo já não comporta e necessita de novo espaço físico. A empresa adquire o

edifício da Rua Rui Barbosa, na região central da capital paulista e, em 1980,

instala a filial na Avenida Hermano Marchetti, na Lapa. Na década de 1990, o

editorial passa a atuar separado do comercial na Rua Manoel Dutra.

Hoje, os maristas são responsáveis pela formação de mais de

170.000 pessoas, entre alunos matriculados em Educação Infantil, Ensino

Fundamental, Ensino Médio e Nível Superior (Graduação e Extensão), Escolas

conveniadas e Centros Sociais.

Distribuídos, pelo Brasil, em quatro regiões administrativas

denominadas províncias: Amazonas, Brasil Norte, Rio de Janeiro, Brasil

Centro-Sul e Rio Grande do Sul, há sessenta escolas próprias, oito escolas

conveniadas, quarenta e nove obras sociais de formação marista, dezenove

centros de formação humana, sete veículos de comunicação entre rádios e

jornais, além de sei programas veiculados na Rede Vida de TV, sei hospitais,

quatro universidades e cento e dez comunidades religiosas.

As obras da FTD são bem avaliadas em relação ao proposto pelos

órgãos governamentais ligados à educação e ocupam posição de honra em

relação às obras aprovadas pela Secretaria de Ensino Fundamental (SEF) e do

Ministério da Educação (MEC).

A missão dos novos diretores da FTD é manter os ideais que

nortearam os criadores da editora, cujo resultado leva para as escolas livros de

excelente qualidade editorial e alto retorno pedagógico.

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EDITORA SCIPIONE

Para conhecermos um pouco da história da Editora Scipione,

procuramos o professor Valdemar Vello, Assistente Editorial de Matemática da

Ática, hoje parte integrante do Grupo Abril Educação que nos concedeu a

entrevista no dia 20 de maio de 2005, quando de nossa visita à Editora.

Procuramos saber se a Editora Scipione possui um acervo histórico

e segundo o Prof. Vello, ela possui um acervo de suas próprias obras que

conta com todas as edições de um determinado livro ou coleção e, que faz

parte de uma biblioteca especial da Editora, uma espécie de controle que

envolve o acompanhamento e a evolução de um produto, em particular.

A respeito da história da Editora Scipione ele nos conta que o

desejo do Prof. Scipione Di Pierro Netto de atuar diretamente como editor,

toma impulso logo após o lançamento de sua Revista Educação e Matemática,

em módulo, no ano de 1979, após o encontro no Teatro da Universidade

Católica (TUCA3), de professores de física, química e matemática. Na época,

o professor Scipione procurou pelo diretor da Ática, o Prof. Anderson

Fernandes Dias para se orientar sobre a inclusão no mercado de livros.

Em 1979 inicia suas atividades editoriais e permanece até o ano de

1983. Na época, a Editora chamava-se Scipione, Autores e Editores, e tinha

característica familiar. Editava seus próprios livros em parceria com seus

alunos e também de alguns autores que estavam próximos a seu trabalho.

3 Fundado em 1965, é um importante marco cultural para a cidade de São Paulo e para o País. Durante a Ditadura Militar, o TUCA foi palco de importantes manifestações políticas, desempenhando um papel significativo no contexto histórico brasileiro. Servindo aos interesses culturais, educacionais, artísticos, políticos e sociais dos universitários e da população paulistana.

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Com o crescimento da editora, começa a surgir uma certa

impossibilidade de se adequar o trabalho de educação em sala de aula de

professor e pesquisador com o trabalho de editor que exige muito tempo de

dedicação.

No final de 1983, o professor Scipione oferece a compra da empresa

ao professor Anderson, da Ática, este aceita, pois pretendia treinar seus

próprios filhos em uma empresa em fase de crescimento, para que

aprendessem da mesma maneira que ele aprendeu. A Scipione, Autores e

Editores foi adquirida pela família Fernandes Dias em setembro de 1983, nesta

época a empresa possuía um catálogo de cinco títulos e um volume de vendas

de quase 100 mil exemplares por ano.

Em 1983, Prof. Vello que já era funcionário da Ática, passa a

trabalhar na Scipione e acompanha esse processo de transição de

proprietários e sugere que a empresa passe a ser chamada de Editora

Scipione, pois apresentava em seu catálogo obras muito importantes e o nome

havia se tornado muito forte. Mesmo após a venda, o professor Scipione

manteve uma sala na Editora, para atender seus conhecidos e orientar as

pessoas que o procuravam.

No princípio, pensou-se em manter poucos funcionários na empresa,

em torno de seis, porém, após o primeiro mês, a empresa já contava com um

número de vinte funcionários e depois de seis meses já eram em torno de 50

funcionários.

No ano seguinte, com o lançamento das primeiras coleções voltadas

para o ensino de 1ª a 4ª séries, alcançou a marca de dois milhões de

exemplares no mercado governamental e, nos dois primeiros anos já estava

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73

firme no mercado alcançando um crescimento extraordinário, chegando a

ocupar em certo período o segundo lugar no mercado brasileiro, ficando a

primeira posição com a Ática.

No decorrer dos anos seguintes, sempre esteve ocupando a terceira

posição no mercado brasileiro, perdendo espaço, somente nos últimos anos,

em razão da forte concorrência, mesmo assim se mantém entre as cinco

primeiras posições.

No ano de 1984, com o objetivo de acompanhar as tendências do

mercado editorial, a Scipione apresentou ao público sua primeira coleção de

livros paradidáticos, a série Reencontro, os maiores clássicos da literatura

universal recontados por escritores de talento, em uma linguagem acessível e

agradável, que estimula e cativa o leitor. Sua aceitação no mercado foi tal que,

hoje, conta com mais de setenta clássicos da literatura universal.

Ao longo desses anos, a Scipione vem ampliando não só o número

de títulos, mas o de leitores e prêmios, o que estimulou a criação da série

Reencontro Infantil, voltada para crianças a partir de nove anos, e da série

Reencontro Filosofia, que contempla obras dos grandes filósofos, voltadas para

jovens.

No ano de 1987, a Scipione muda-se para a praça Carlos Gomes,

46, no bairro da Liberdade. Com a expansão de sua capacidade de

comercialização, em 1989, assina novos contratos de distribuição e inaugura

as filiais de São Paulo e Rio de Janeiro e, também, inaugura sua Central de

Armazenagem em Itapecerica da Serra, ganhando novos contornos de infra-

estrutura e logística de operações.

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Em 1999, a Scipione foi adquirida pela Editora Abril em parceria com

o grupo franco-espanhol Havas Anaya, controlado pelo grupo francês Vivendi

Universal Publishing, e registra, hoje, mais de 1.400 títulos em seu catálogo,

além de cinco filiais sediadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador

e Recife, vinte e sete representantes em todo o Brasil e o site Scipione

Interativa, que inaugura uma nova fase de prestação de serviços a professores,

pais e alunos

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CAPÍTULO V

A POLÍTICA DO LIVRO DIDÁTICO BRASILEIRO

Ao estudar o livro didático visando a sua trajetória histórica,

passamos por caminhos que revelam os problemas que estão inseridos além

do sistema educacional e que envolvem toda a sociedade brasileira, ou seja, o

Estado, o mercado e a indústria cultural.

Acreditamos ser de grande importância estar falando sobre a

situação política que o Brasil estava passando, durante o período que estamos

estudando o desenvolvimento da história do livro didático brasileiro de

matemática, a fim de traçar um elo entre a política social e a produção do livro

didático em geral.

Neste sentido vamos iniciar uma breve trajetória sobre os

personagens que, a nossos olhos, são os principais envolvidos no processo de

construção da história e evolução da produção do livro didático: os

governantes, os autores e os editores.

A história da educação no Brasil mostra que em razão de muitos

fatores políticos, tivemos uma certa lentidão no processo de desenvolvimento

da produção do livro brasileiro, comparando nossa história com a de outros

países colonizados em mesma época.

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Mas, foi com o livro didático que o mercado editorial brasileiro

começou a se desenvolver e a atrair muito interesse entre aqueles que

estavam ligados à atividade de livros.

Assim, iniciam-se discussões em torno do livro didático cujo

propósito era atingir apenas o público de estudantes e de professores, mas,

rapidamente, foi se revelando como um “produto” de importância estratégica

para existência e funcionamento do sistema educacional, como um todo,

influenciando amplamente os setores do mercado editorial e as instituições

estatais. Em resumo, o livro didático começa a funcionar como instrumento de

ensino no processo pedagógico nas escolas e como fonte de lucro para

editores e organizações estatais.

No que se refere a sua produção e comercialização, buscamos

entender qual o papel dos órgãos oficiais e das editoras particulares, no

compromisso com a educação e com uma distribuição correta e de qualidade.

Procuramos conhecer a política utilizada e capaz de nos indicar quem pode

escrever um livro didático e quem pode publicar o livro didático e como são

feitas as escolhas para, finalmente, alcançar seu público principal: o aluno.

Pesquisadores, críticos, políticos e professores discutem a polêmica

criada em torno da produção do livro didático relacionada ao lucro que ele pode

oferecer e que o torna em “produto” muito lucrativo. Há quem diga que muitas

editoras que publicam o livro didático, não passam de verdadeiras empresas

capitalistas que visam somente ao lucro e não têm compromisso com a

educação.

Por outro lado, existem os defensores que sugerem o cuidado para

não julgar erroneamente, pois como todo negócio existem os bons e os ruins e

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77

muitas editoras brasileiras de didáticos têm mostrado grande compromisso com

a educação e o saber, buscando sempre a renovação e adaptando-se às novas

exigências da educação.

Conforme cita Oliveira (1984), no processo de ensino, o livro didático

sofre influência de natureza legal, técnica, política e organizacional decorrente

dos problemas gerais da educação e da escola. O autor apresenta um

depoimento feito pelo professor Scipione, durante uma Mesa Redonda sobre o

Livro Didático, em 1º de outubro de 1981, promovida pela ABNT1 e

FUNBECC2:

O nosso ensino tem mudado bastante, principalmente na década de

70. Foi uma década que praticamente convulsionou todo nosso

ensino de 1º e 2º graus. A Lei nº 5.692 e outras medidas que foram

sendo tomadas modificaram bastante o panorama educacional. E, em

função disso, as editoras tiveram que correr atrás desse processo,

procurando mudar o livro. E muitas vezes acabaram sendo tachadas

de interesseiras, com a mudança que fizeram. (SCIPIONE, citado por

OLIVEIRA, 1985, p. 70).

O fato é que muitas pesquisas realizadas no Brasil sobre esse

assunto mostram que a produção de didáticos tornou-se um negócio lucrativo e

com bom desenvolvimento, tanto na qualidade como na quantidade.

1 Fundada em 1940, a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – é o órgão responsável pela normalização técnica no país, fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro.É uma entidade privada, sem fins lucrativos, reconhecida como Fórum Nacional de Normalização, único, através da Resolução n.º 07 do CONMETRO, de 24.08.1992. 2 Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências

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O crescimento acontece no período chamado “milagre econômico

brasileiro”, entre 1968 a 1975, continuou crescendo, mesmo na época de

recessão, verificando-se o surgimento de novas editoras.

Segundo Pinsky, na época da recessão econômica, nos anos de

1980,

... enquanto milhares de empresas eram fechadas, o desemprego

grassava, a fome e a miséria alimentavam de dólares os banqueiros

americanos, as editoras de livros didáticos só faziam crescer.

Empresas tradicionais como IBEP/Nacional, Editora do Brasil,

Saraiva, se expandiam enquanto, várias firmas novas como Moderna,

Lê e Atual saiam do zero e, em quatro ou cinco anos já se tornavam

prósperas e sólidas. (PINSKY, 1985, p. 23).

OS GOVERNANTES E O LIVRO DIDÁTICO

DO INL AO PNLD

No Brasil, o primeiro contato, que a maioria das pessoas tem com o

livro, acontece na escola, por meio do livro didático, quando se inicia o

desenvolvimento da leitura e da escrita. É também por meio dos livros didáticos

que a criança começa a ter uma visão da sociedade, esses motivos já mostram

quão importante é a transmissão de informações que, certamente, serão

influenciáveis na formação dos valores ideológicos e culturais do cidadão.

No Brasil, houve períodos de tentativa de censura da produção de

livros e, no caso de didáticos, órgãos federais que executavam as leis da

educação apresentam uma maneira de avaliar os livros de forma que estes

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fossem aceitos se seguissem seus critérios. Vamos, então, fazer um breve

relato sobre a influência do Estado na produção de livros didáticos, além do

fornecimento de recursos financeiros.

Essa trajetória inicia-se em 1929, com a criação do Instituto Nacional

do Livro (INL) que, de imediato, não sai do papel. Só em 1934, quando

Gustavo Capanema torna-se ministro da Educação do governo do presidente

Getúlio Vargas, o INL recebe suas primeiras atribuições: a edição de obras

literárias para a formação cultural da população, a elaboração de uma

enciclopédia e de um dicionário nacionais e a expansão do número de

bibliotecas públicas.

Na década de 1930 os programas da Reforma Francisco Campos

tiveram importante influência na organização do livro didático de matemática.

Conforme Carvalho (2003, p.94), tratava-se de uma reforma curricular que

apresentava uma mudança radical nos programas de ensino de matemática,

tendo como referência idéias modernizadoras defendidas pelo movimento

internacional para a modernização do ensino da Matemática. Mas, é importante

mencionar que as reformas de ensino alteraram os programas de currículos,

interferindo no processo de produção do livro didático e conseqüentemente na

relação dos envolvidos nesse processo.

Em 1938, o Decreto-lei nº 1006, de 30 de dezembro de 1938, foi a

primeira medida governamental de legislar e controlar o livro didático e, por

meio desse mesmo decreto, é instituída a Comissão Nacional do Livro Didático

(CNLD) para tratar da produção, controle e circulação dessas obras.

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No governo de Getúlio Vargas (1932-1945), o setor de livros passa

por um momento de grande expansão, pois a taxa de importação sofre uma

desvalorização em razão da queda nas importações do café.

Segundo Paixão (1996), o resultado é que, pela primeira vez, o livro

produzido no Brasil pode custar mais barato que o trazido do exterior.

Durante esse período torna-se evidente o crescimento do interesse

da população pela leitura e a produção de livros continua crescendo, sobretudo

após a Segunda Guerra Mundial, em razão da dificuldade de importação.

Entre os anos de 1936 e 1944, há um aumento de editoras e no

início dos anos de 1950, o Brasil já produzia quatro mil títulos e quase vinte

milhões de exemplares por ano. (PAIXÃO, 1996, p.81).

No período de Vargas, foram valorizados nossos símbolos populares

como o samba, o carnaval, o futebol, mas sob censura. Por meio do decreto do

Estado Novo, que trouxe para o cotidiano a propaganda política, Vargas passa

a ser um ditador. Em 27 de dezembro de 1939 Vargas criou o Departamento de

Imprensa e Propaganda (DIP), órgão responsável pela censura e divulgação da

política de comunicação da ditadura junto à sociedade. Seu principal objetivo

era atrair a população e, portanto, todos os meios de comunicação de massa

foram usados para divulgar a imagem de um governo que concedia ao

trabalhador tudo o que era necessário para sua vida.

Ao longo do período de Vargas, muitas coisas floresceram entre

elas, a literatura. Os autores modernistas encontram apoio para publicarem

suas obras no editor José Olympio que tinha sua livraria no Rio de Janeiro,

conforme Paixão:

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O país parece estar sendo redescoberto, e a indústria do livro

desempenha nisso um papel fundamental. O desejo de Lobato de ver

o livro como um instrumento de pensamento e difusão da cultura da

nação começa a tornar-se realidade. As coleções de José Olympio e

da Companhia Editora Nacional realizarão alguns dos

empreendimentos editoriais mais notáveis da história do livro no

Brasil. (PAIXÃO, 1996, p. 81).

Passados onze anos (1934/1945), finda a guerra, Getúlio Vargas cai

e Gustavo Capanema deixa o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Não

estavam, ainda, concluídos o dicionário nem a enciclopédia, mas as bibliotecas

cresceram para além do Rio de Janeiro e de São Paulo, graças à oferta de

acervo oferecido pelo Governo Federal.

O mercado editorial passa por um período difícil e muitas editoras

são fechadas, apesar do setor estar com sua produção estabilizada. O País

passa por uma transformação econômico-cultural e tem início a modernização

das principais cidades com ônibus, telefone, anúncios luminosos, prédios, com

o Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek. O período de Juscelino

foi muito importante para o crescimento da indústria brasileira e o setor gráfico

teve um crescimento significativo.

Com o desenvolvimento populacional urbano e a aceleração

industrial durante os anos de 1950, as principais cidades brasileiras, como São

Paulo, estavam recebendo pessoas para o trabalho operário, mas que

necessitavam de uma adequação às novas funções como um mínimo de

escolaridade. Em conseqüência desse fato, seus filhos começam no estudo

regular e surgem os problemas de falta de material para desenvolvimento das

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tarefas, como lápis, caderno e, em especial, livros que eram considerados

como material de luxo e que poucos poderiam adquirir.

Nesse período, iniciaram-se as manifestações parlamentares sobre

o livro didático, e em meio a críticas sobre plano de governo surge a

concordância referente à existência de um problema que precisa de solução

parlamentar com relação aos altos custos dos livros que não permitem seu

acesso à maioria das famílias brasileiras, gerando uma situação abusiva. “Fala-

se de ‘comercialização da educação’, da ‘industrialização da pedagogia’, do

‘truste dos livros’ e do abuso na exploração daqueles que procuram a

educação”. (OLIVEIRA, 1984, p. 47).

Entre vários personagens que estavam participando dessa

movimentação política, estavam os universitários e intelectuais de esquerda

como Caio Prado Jr. e Florestan Fernandes. Em meio a este cenário, o setor

editorial passa a publicar títulos formados com palavras em evidência:

ideologia, consciência nacional, realidade e revolução.

Nessa época, a Editora Brasileira, de Ênio Silveira e a Brasiliense,

de Caio Prado Jr. eram as responsáveis por tais publicações, enfrentando

muitos obstáculos para se manterem no mercado editorial.

Na década de 1960, com a expansão escolar, aumenta no Brasil a

preocupação com o livro didático. O Banco Mundial com sua política de

empréstimos referente à educação de países “em desenvolvimento” tem

participação muito importante no investimento de material escolar e de livros.

Timidamente, surge a política do livro didático com recursos do

governo federal, pois o governo não tinha definido uma estratégia que fosse

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eficiente para o problema e prosseguia as acusações referentes à especulação

comercial do livro didático.

O golpe dado pelos militares em 31 de março de 1964 atingiu em

cheio a democracia. É verdade que a intromissão dos militares no governo já

acontecia desde o Império, mas, em 1964, a intervenção foi mais longe e

incorporou perseguição, tortura e morte ao dia-a-dia dos brasileiros.

O golpe militar teve o apoio dos industriais e veio para barrar as

reformas de Juscelino. Para calar a oposição e se firmarem no poder, os

golpistas criaram dispositivos legais: a Lei de Greve, que proibia as

paralisações e a censura à imprensa, com as Leis de Imprensa e de Segurança

Nacional (1967) e o Ato Institucional nº 5, AI-5 (1968), que atingiu Órgãos como

a revista Veja e os jornais O Estado de S. Paulo e o Jornal do Brasil.

No campo cultural houve a censura de peças teatrais, letras de

música, roteiros de filmes e sinopses de novelas. Os livros que eram

considerados perigosos por suas idéias foram proibidos. Muitos títulos foram

condenados e diversos autores e editores presos.

Em 1966, foi criada a Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático

(COLTED), pelo Decreto nº 59.355, de 4/10/66, que tinha como objetivo

comprar livros didáticos das editoras e distribuí-los. A COLTED veio fortalecer o

comércio de livros e beneficiar o setor industrial, pois, em apenas seis meses

de seu início, uma quantia significativa de dólares estava sendo investida neste

setor.

No final de 1969, por meio de uma seleção nos níveis de 1º e 2º

graus que a COLTED realizou nas escolas, ouvindo professores sobre livros

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84

existentes e disponíveis, foram enviados às escolas cerca de 15.676.000 livros,

e 5.874.320 foram emprestados aos alunos.

A COLTED também distribuiu livros às universidades com desconto

de 30% a 35%. Realizou seminários para editores e profissionais da área e, em

1968, em conjunto com a CBL, SNEL e USAID foi realizado o “I Encontro de

Editores e Livreiros no Brasil”, que acontece, anualmente, até os dias de hoje.

A COLTED foi absorvida pelo INL, em 1971, no Ministério da

Educação de Jarbas Passarinho, tendo o fornecimento gratuito de livros

didáticos extinto pelo fato do ministro considerar que os pais que poderiam

pagar, deveriam fazê-lo.

Nos anos de 1970, aparece a classe média com seus filhos

freqüentando as escolas particulares que têm liberdade de adotarem os livros

didáticos que acharem de melhor qualidade. As editoras, então, passam a ter

critérios para produção de livros, de maneira que, para uma mesma disciplina e

mesma série são produzidos livros com conteúdos diferentes.

Essas editoras não estão preocupadas com o ensino-

aprendizagem, mas, sim, com a produção e distribuição de livros. Surgem,

também, os livros “descartáveis” ou “consumíveis” que são aqueles em que o

aluno responde as questões no próprio livro, não podendo ser repassado para

outro aluno, o que era interessante para as empresas editoriais.

O livro didático, “produto” de grande influência na aprendizagem e

no desempenho dos alunos, atrai um grande mercado e torna-se muito

importante economicamente.

Page 100: PUC/SP São Paulo 2005

85

Em 1971, o INL desenvolve o programa do Livro Didático para o

Ensino Fundamental (PLIDEF) e, em 1976 com a extinção do INL foi criada a

Fundação Nacional do Material Escolar (FENAME).

O volume de distribuição de livros didáticos torna-se elevado,

gerando um montante bastante interessante e as empresas editoras

particulares, tomam interesse em participar na venda para esses programas e

muitas delas crescem por causa deles.

O Estado inicia o subsídio da compra de grande número de livros e o

número de editoras também cresce, e o que aparentemente seria solução para

resolver o problema de aluno carente e fornecer produto de qualidade, toma

um sentido diferente. Pinsky faz uma séria crítica a esse respeito.

... graças aos esquemas de corrupção tão comuns em nosso país

nas últimas duas décadas, as editoras costumavam vender ao

governo livros estocados: eram aqueles produzidos para mercado,

não eram aceitos e ficavam nos depósitos da empresa editorial sem

valor comercial. Vende-los ao governo sempre foi um bom negócio.

Nesses casos, a decisão da compra, feita de maneira centralizada,

sem consulta a professores e escolas, nada tinha a ver com a

realidade dos alunos. De resto, às vezes sequer os livros chegavam

aos alunos. (PINSKY, 1985, p. 26).

Nos anos de 1980, o mercado de livro didático representava metade

do total de livros produzidos no País. O Estado transfere anualmente, um

capital de quase três bilhões de cruzados (moeda corrente) para o setor

privado das editoras. Segundo o Sindicato Nacional de Editores de Livros

(SNEL) o mercado do livro didático era disputado por trinta editoras

Page 101: PUC/SP São Paulo 2005

86

especializadas na área e somente dez dessas controlavam mais de 92% da

produção consumida pelo Estado.

Com o apoio de programas federais ao livro didático muitas editoras

conseguiram sobreviver e o apoio começa a ter função importante na produção

dos livros, chegando a se tornar uma tendência para algumas editoras. Para

Oliveira (1984), fica claro que existe uma nítida tendência ‘oligopolística’, com

cerca de cinco editoras que concentram mais da metade do mercado de

encomendas via poder público.

Em 1983, com a extinção da FENAME, foi criada a Fundação de

Assistência ao Estudante (FAE) que incorpora o PLIDEF. Nesta década, o

Brasil passa por uma situação muito importante, pois com o fim da ditadura

militar, em 1984, a abertura política chega ao auge com a campanha pelas

Diretas-já. Em novembro de 1993, estudantes brasileiros saem às ruas levando

o verde-amarelo da bandeira brasileira em protesto contra a corrupção.

Em meio às mudanças políticas, no decorrer das décadas foram

inúmeras as formas experimentadas pelos governantes para levar o livro

didático à escola durante sessenta e sete anos, de 1929 a 1996.

Na década de 1990, o MEC passou a olhar rigorosamente para os

livros didáticos, em razão da presença constante de erros conceituais,

ausências de informações essenciais à formação dos alunos, além dos

preconceitos e da falta de qualidade gráfica.

Em 1995, criou-se o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD),

com a finalidade de se estabelecer critérios para a avaliação dos livros

didáticos. A partir de 1997, as políticas públicas para o livro didático são

Page 102: PUC/SP São Paulo 2005

87

representadas pelo PNLD, e executadas por meio do Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE).

O Ministério da Educação passa a adquirir livros didáticos, de forma

contínua e massiva. Todos os estudantes do ensino fundamental passam a

receber livros didáticos de todas as disciplinas. O programa avança e, em

2001, começa a distribuição de dicionários de Língua Portuguesa aos alunos

de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental e de livros em braile para os alunos

cegos. No ano seguinte, os alunos de 4ª e 5ª séries passam a receber a

coleção Literatura em Minha Casa. Em 2003, dicionários são entregues aos

alunos da 1ª, 7ª e 8ª séries.

Em 2004, o Ministério da Educação cria o Programa Nacional do

Livro para o Ensino Médio (PNLEM). Em 2005, o PNLEM beneficiou 1,3 milhão

de alunos de 5.392 escolas de ensino médio. Foram distribuídos 2,7 milhões de

livros das disciplinas de português e de matemática.

O MERCADO EDITORIAL

O livro didático faz parte de uma evolução que conduziu de certa

forma, ao desenvolvimento da indústria editorial e conseqüentemente, o

desenvolvimento tecnológico da produção editorial e gráfica. Dentro do sistema

de ensino, sua importância tem merecido a atenção por parte de um crescente

número de pesquisadores, como observa Oliveira.

Page 103: PUC/SP São Paulo 2005

88

O livro didático enquanto capítulo da história do livro e da produção

editorial observamos que ele vem sendo pensado como

apresentando características particulares que o identificam não

apenas como uma mercadoria, mas como um produto especial, com

função e destinação específicas. (OLIVEIRA,1984, p. 21).

Nos anos de 1960, aconteceu uma considerável expansão da escola

pública com grande número de matrículas nos três níveis de ensino (primário,

secundário e superior), com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) e, de acordo com Paixão (1998), em 1968,

encontravam-se à venda no Brasil cerca de 2.500 títulos de didáticos

publicados por cerca de sessenta editoras, entre elas, a Melhoramentos e a

Francisco Alves voltadas à publicação do ensino primário, e a Nacional e a

Editora do Brasil, para o segundo grau.

Com a criação da COLTED, o mercado de livro escolar foi favorecido

com um investimento que lhe permitiu um grande passo no mercado de livros

didáticos, chegando ao número de seis mil publicações.

Na época, as editoras Olympo e Abril publicavam o material didático

destinado ao programa do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).

No ano de 1979 os didáticos representavam quase 36% do mercado editorial e

esse número foi crescendo nos anos seguintes e, em 1983, o Instituto

Brasileiro de Edições Pedagógicas (IBEP) de Jorge Yunes e Paulo Marti,

detinha 30% do mercado de didáticos, graças ao livro de língua portuguesa de

Hermínio Geraldo Sargentim.

A Editora Moderna de Ricardo Feltre, após 1968, destacou-se

publicando didáticos para o segundo grau e a Editora FTD, dos Irmãos

Page 104: PUC/SP São Paulo 2005

89

Maristas, conquistou o mercado editorial com o grande sucesso de suas obras

de matemática, entre elas a de Benedito Castrucci “A Conquista da

Matemática”.

A Editora Nacional publicava a série ginasial de “Curso Moderno de

Matemática”, de Osvaldo Sangiorgi. A Editora do Brasil e Scipione, também,

permaneceram no mercado de didáticos e tiveram suas obras entre as mais

vendidas.

Nos anos de 1970 e 1980, com importantes iniciativas que

marcaram a transição dos livros didáticos, surge Editora Ática, criada em 1965,

despontando como uma empresa que procura mostrar o livro didático de forma

mais lúdica e ágil, além de investir em uma linha que conquistou professores e

alunos: os livros paradidáticos. Contava com uma ótima estratégia de

marketing que envolvia os professores e uma política de vendas com preços

baixos, graças às grandes tiragens.

No início dos anos de 1970, a empresa derrubou títulos tradicionais

do mercado com o lançamento da coleção Estudo Dirigido de Português, de

Reinaldo Mathias Ferreira, cujos dois primeiros exemplares da série venderam

um milhão de exemplares. O fato representou uma grande virada na trajetória

do livro didático e a empresa conquistou a primeira posição na publicação de

didáticos.

No final do século XX, constata-se que algumas editoras que

estavam entre as posições mais elevadas do mercado, foram vendidas para

grandes multinacionais, como, por exemplo, a Editora Moderna que foi

comprada pela espanhola Santillna.

Page 105: PUC/SP São Paulo 2005

90

COMENTANDO SOBRE A PRODUÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO

Verifica-se que a produção do livro é um assunto bastante complexo

que envolve uma série de fatores que sugerem uma atenção especial e, um

estudo detalhado, como por exemplo, análise do controle editorial e gráfico, a

correta política de produção do papel, preço de venda de um livro ao público,

edição, re-edição, os direitos autorais, as traduções, etc.

Olhando por esta perspectiva, vamos comentar, de maneira ampla, a

respeito da produção de livros didáticos, com o auxílio de pesquisadores e,

profissionais que estão atuando no ramo, como o editor de matemática da FTD,

Lafayette Megale que, em entrevista realizada em maio de 2005, falou a

respeito de sua visão sobre o processo de produção de um livro didático que,

segundo ele, é realizado em três fases principais: o trabalho intelectual, o

trabalho industrial e o trabalho comercial.

Após meses ou anos de trabalho, envolvendo autoria e edição, é

consumida a fase do trabalho intelectual com a existência de um texto em

totais condições de ser publicado. Esse texto vai se transformar em um produto

distribuído em páginas impressas que seguem projeto gráfico em um visual rico

e atraente para auxiliar o leitor no domínio das idéias que a obra contém.

Tudo começa com um autor, que irá escrever uma conseqüência

daquilo que estudou, leu e, sobretudo do que viveu. Quando se trata de livro

didático, irá escrever uma conseqüência dos efeitos que a visão pessoal

produziu nos alunos que teve e nos resultados que conquistou. Fica claro que,

sem autor não há editoras nem livros.

Page 106: PUC/SP São Paulo 2005

91

Que função tem a editora quando recebe os originais do autor, na

transformação do impresso em livro? Esta é a função do editor, que tem a

responsabilidade de assegurar que os originais do autor resultarão em um texto

correto (conteúdo e linguagem), claro, elegante, gostoso de ler e adaptado aos

objetivos da obra.

Cabe ao editor realizar, com seus colaboradores, as tarefas de

redação, redução ou ampliação de textos, avaliação e retificações nas

atividades propostas, pesquisas adicionais, conferência e complementação das

informações, confirmação de uso das imagens (fotos, ilustrações, obras de

arte, cartografia, infográficos, diagramas) e tudo o que for necessário, caso a

caso, para que os originais sejam transformados em um livro de qualidade.

O autor é o criador de idéias que dão nascimento a um texto que se

torna a origem de uma obra, daí o nome de originais dado ao que ele

apresenta a uma editora. O editor é o profissional do texto, no caso do livro

didático, de textos usados para instruir e educar.

Atualmente, a produção de livros não depende apenas do autor e do

editor, mas por trás da criação de um livro estão os personagens

indispensáveis, representados por profissionais que têm a missão de

transformar, certo conteúdo, no formato do livro que tenha atingido o maior

sucesso em sua disciplina, esses são os chamados colaboradores. Pfromm-

Neto comenta a respeito:

No passado, o escritor entregava os manuscritos ao editor e este

providenciava a impressão e distribuição às livrarias. Presentemente,

há editoras que contratam escritores ou grupos de escritores para a

elaboração de um livro específico. Fornecem assessores e pessoal

auxiliar aos autores durante a elaboração da obra, e, em muitos

Page 107: PUC/SP São Paulo 2005

92

casos, o texto acaba sendo reescrito de acordo com os padrões de

inteligibilidade, extensão e organização dos capítulos, associação

texto-ilustrações, etc. Finalmente é utilizado (muitas vezes desde o

planejamento inicial da obra) o serviço de vários especialistas –

ilustradores, pesquisadores, pesquisadores de material iconográfico,

diagramadores e outros – na preparação da obra. (PFROMM NETO,

1974, p. 228).

Para Martins Filho3, no conjunto dos trabalhos editoriais, há uma

série de colaborações que envolvem desde a escolha do texto, até a

distribuição do produto já elaborado ao público e resumidamente, explica que o

processo de edição de um livro passa por duas etapas importantes: a primeira

que ele chama de ‘artesanal’ é aquela que a editora tem o controle e pode

interferir, por exemplo, revisões de provas e normalizações e a segunda que

ele chama de ‘industrial’ é aquela realizada pela gráfica que passa a assumir o

controle da impressão e acabamento, por exemplo.

PANORAMA DA PRODUÇÃO E VENDAS DO LIVRO DIDÁTICO

Com a finalidade de se conhecer a produção do livro didático de

matemática, foi solicitado à Câmara Brasileira do Livro (CBL), informações a

respeito de coleções/livros, autores, editoras e quantidades de vendas, no

período de 1950 a 2000. Tais informações teriam importância significativa na

visualização do desempenho de cada coleção/livro e respectiva editora, mas a

CBL nos informou que a pesquisa que realiza sobre a indústria editorial

3 PLÍNIO MARTINS FILHO é Professor da ECA-SP, no curso de Produção Editorial.

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93

brasileira, desde 1990 e, a partir de 2000, com a colaboração do Sindicato

Nacional dos Editores de Livros tem como objetivo fornecer aos editores,

livreiros e distribuidores, um completo panorama da indústria do livro brasileiro

e, na utilização como instrumentos de avaliação do seu desempenho e no

estudo de tendências, sendo praticamente impossível avaliar cada livro,

separadamente, conforme relatório, de 2002, a seguir:

Em primeiro lugar, trata-se de informações recolhidas junto às

editoras. Ou seja, as informações dizem respeito ao que as editoras

produzem e sua venda para o “primeiro cliente”. Esse primeiro cliente

pode ser uma livraria, um distribuidor, o governo ou mesmo o

consumidor final, atendido diretamente pela editora. É importante

ressaltar isso porque o dado de faturamento declarado pela editora é

o resultado da soma total dessas operações, que são feitas com

diferentes descontos sobre o chamado “preço de capa”. Assim, para

uma livraria o desconto pode variar de 30% a 50%, para um

distribuidor pode ser bem mais que isso e para o consumidor final

(atendido via marketing direto, por exemplo) pode ser sem nenhum

desconto. Os preços de venda para o governo, além disso, podem

incluir cálculos muito diferentes que traduziriam um preço unitário

muito mais baixo que o da venda para livrarias, distribuidores e

clientes finais.

Duas observações em função desse método: 1) o faturamento não

traduz o resultado econômico do setor ou a saúde financeira das

empresas, posto que não considera os custos gerais das empresas;

2) O faturamento dividido pelo número de exemplares não permite a

“descoberta” de um “preço médio” qualquer dos livros vendidos, pois

a quantidade de exemplares vendidos para cada um desse tipo de

clientes pode alterar substancialmente o faturamento sem que haja,

necessariamente, variação no “preço de capa”.

Outra observação importante deve ser feita sobre os chamados

“subsetores editoriais”. Na nossa pesquisa dividimos as editoras em

quatro subsetores: editoras de livros didáticos, editoras de obras

gerais, editoras de livros religiosos e editoras de livros técnico-

científicos. Esses subsetores agrupam as editoras, segundo o

Page 109: PUC/SP São Paulo 2005

94

principal tipo de atividade editorial a que se dedi cam , mas isso

não quer dizer que todos os livros que uma editora produza sejam

restritos a essa grande divisão. Assim, uma editora cuja principal

atividade esteja na área de livros didáticos, também produz livros

técnico-científicos ou de obras gerais. E isso acontece em todos os

subsetores.

É impossível coletar os dados de faturamento das editoras por tipo

de livro vendido. Portanto, os dados de faturamento dizem respeito

ao conjunto da produção dessa editora, que foi agrupada com outras

do mesmo tipo em cada um dos subsetores editoriais.

Entretanto, as informações sobre a produção dos diferentes tipos de

livros, independente de que “tipo” de editora os produziu podem ser

vistos e analisados nas tabelas de produção por classificação

temática, que não considera as vendas, mas tão somente o tipo de

livros produzidos.

Quanto aos canais de comercialização, deve-se repetir a observação

inicial: apuramos as vendas para o primeiro cliente. Dessa forma,

quando o editor declara que vendeu x exemplares para distribuidoras,

isso certamente supõe que esses livros, por sua vez, foram

revendidos pelas distribuidoras a livrarias, clientes finais ou mesmo

órgãos governamentais, já que não se pode acompanhar toda a

trajetória do livro até seu leitor final. (Relatório CBL, 2002).

PRÁTICAS COMERCIAIS DAS EDITORAS

Na trajetória da história do mercado editorial brasileiro, constata-se

que sua formação teve como base, editoras que concentravam suas atividades

no mercado de livros didáticos, que surgiram a partir de livrarias.

Conforme relata a CBL, o Brasil possui aproximadamente 1.200

editoras que se concentram em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto

Page 110: PUC/SP São Paulo 2005

95

Alegre e Belo Horizonte, destacando-se no segmento de didático as Editoras:

Ática-Scipione, IBEP/Nacional, FTD, do Brasil, Sara iva/Atual e Moderna.

O principal comprador da indústria editorial brasileira é o governo,

embora as editoras reclamem pelo fato dos preços pagos por ele serem mais

baixos.

Atualmente, a compra de livros didáticos nas escolas públicas é

realizada por intermédio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), órgão

mantido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) com

recursos financeiros do Orçamento Geral da União e da arrecadação do

salário-educação.

Em todos os estados, a compra é realizada de maneira centralizada

e a escolha pode ocorrer nas escolas ou delegacias de ensino, com exceção

do Estado de São Paulo que optou pela descentralização, tendo a Secretaria

Estadual de Educação responsável pelo recebimento dos recursos da FNDE e

pela execução do programa.

Entre 1994 e 2004, o PNLD investiu R$ 3,7 bilhões na compra de

1.026 bilhão de unidades, distribuídos para uma média anual de 30,8 milhões

de alunos, matriculados em cerca de 172,8 mil escolas. A distribuição dos livros

é feita diretamente pelas editoras às escolas, por meio de um contrato entre o

FNDE e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).

A venda do livro didático é realizada de modo diferente da venda de

outros livros, pois a grande parte é realizada nas escolas e quem escolhe o

livro a ser adotado são os professores. Sua comercialização acontece no início

do período escolar para as escolas particulares e, para as escolas públicas em

período determinado pelo Governo Federal. As livrarias não contam com

Page 111: PUC/SP São Paulo 2005

96

estoques para os didáticos e, em caso de necessidade, a compra poderá ser

efetuada diretamente nas editoras, que possuem em suas próprias livrarias.

Resumindo-se, quem determina o comércio do livro didático são as

escolas públicas que indicam os livros para o ensino fundamental e, a partir de

2005 para o ensino médio, e as instituições particulares que adotam os livros

no início do ano podendo ser comprados diretamente em livrarias.

A seguir, estão alguns quadros informativos a respeito da produção

e faturamento editorial.

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97

Quadro 1

Faturamento e Exemplares Vendidos - 2001/2002

FATURAMENTO (R$)

EXEMPLARES VENDIDOS

EDITORAS DE

LIVROS

2001 2002 2001 2002 Didáticos 749.000.000 775.000.000 58.500.000 53.000.000

Obras Gerais 460.000.000 463.000.000 66.200.000 54.500.000

Religiosos 173.000.000 183.000.000 35.700.000 29.700.000

Científicos,

Técnicos e

Profissionais

433.000.000 378.000.000 22.500.000 21.200.000

TOTAL

MERCADO 1.815.000.000 1.799.000.000 182.900.000 158.400.000

PNLD

Centralizado 358.500.000 228.000.000 92.100.000 59.000.000

PNLD

Descentralizado 47.500.000 75.000.000 9.900.000 18.500.000

PNBE 46.000.000 59.000.000 14.500.000 82.000.000

Programa Leia

Mais 20.000.000 2.700.000

TOTAL

GOVERNO 452.000.000 382.000.000 116.500.000 162.200.000

TOTAL GERAL 2.267.000.000 2.181.000.000 299.400.000 320.600.000

299.400.000 320.600.000

Fonte: CBL

Verifica-se que, no período de 2001 a 2002, a quantidade de livros

comercializados caiu e o faturamento do setor permaneceu.

Page 113: PUC/SP São Paulo 2005

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Quadro 2

Produção de Livros Didáticos - 2001/2002

Livros Didáticos 2001 2002 VAR %

TÍTULOS* 9.850 12.800 30

EXEMPLARES PRODUZIDOS – Total 188.500.000 171.600.000 - 9

Mercado 86.500.000 63.100.000 - 27

Governo 102.000.000 108.000.000 6

FATURAMENTO (R$) – Total 1.155.000.000 1.093.000.000 -5

Mercado 749.000.000 775.000.000 3

Governo 406.000.000 318.000.000 - 22

EXEMPLARES VENDIDOS – Total 160.500.000 161.000.000 -

Mercado 58.500.000 53.000.000 - 9

Governo 102.000.000 108.000.000 6 • Inclui produção para os programas do governo. Fonte: CBL

A comparação entre os anos de 2001 e 2002 demonstra um

decréscimo de 9% nas vendas de livros didáticos para os alunos das escolas

privadas. Segundo a CBL, a queda vem ocorrendo desde 1999, cujos motivos

apontam, entre outros, para a reutilização de livros por causa da queda do

poder de compra e a migração dos alunos das escolas particulares para as

públicas.

Page 114: PUC/SP São Paulo 2005

99

Quadro 3

Evolução das Compras pelo Governo*

1992 – 2002

ANO Nº DE EXEMPLARES

1992 19.909

1993 55.524

1994 44.376

1995 156.568

1996 120.151

1997 123.772

1998 180.374

1999 64.160

2000 134.808

2001 116.500

2002 162.200

*FNDE (FAE), governos estaduais e municipais Fonte: CBL

ÉÉ iimmppoorrttaannttee eennffaattiizzaarr qquuee aass vveennddaass aaoo GGoovveerrnnoo aattrraavvééss ddaass

ccoommpprraass eeffeettuuaaddaass ppeelloo FFNNDDEE ppaarraa oo PPrrooggrraammaa NNaacciioonnaall ddee BBiibblliiootteeccaass

EEssccoollaarreess ee PPrrooggrraammaa NNaacciioonnaall ddoo LLiivvrroo DDiiddááttiiccoo,, eemm 11999988 ccrreesscceerraamm 2277%% eemm

rreellaaççããoo aaoo aannoo aanntteerriioorr..

Em 1999, ocorreu uma queda na venda dos livros didáticos, comparado

a 1998, pelos possíveis motivos citado anteriormente, ou seja, a migração de

alunos das escolas particulares para as escolas públicas e o reaproveitamento

de livros pelos alunos, além de verificar-se a produção de apostilas

Page 115: PUC/SP São Paulo 2005

100

confeccionadas nas próprias escolas, cujo material é, na verdade, uma reunião

de partes de livros de várias editoras, pelo qual não se pagam direitos autorais.

Além disso, variações desse setor são estreitamente ligadas às

demandas governamentais que atrasou seu cronograma de compras do

Governo e diminuiu o número de livros comprados.

No ano de 2000, o Setor Editorial Brasileiro, retomou seu crescimento,

em consonância com o aumento da estabilidade econômica e com a volta do

clima de confiança na economia brasileira.

Conforme CBL, o aquecimento da economia, aliado a uma maior

agressividade nas estratégias de marketing foram citados pelos editores como

fatores preponderantes para o crescimento das vendas de livros, decisivos no

aumento da inserção de seu produto no mercado.

Page 116: PUC/SP São Paulo 2005

101

CAPÍTULO VICAPÍTULO VICAPÍTULO VICAPÍTULO VI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo sobre a atividade editorial do livro didático de matemática

revelou que o mercado editorial é responsável pela produção e comercialização

de “produtos” que envolvem diferentes tipos de profissionais e órgãos

governamentais.

No percurso estudado, conseguimos reunir fatos importantes que

envolveram o processo de surgimento da indústria de livros, porém

gostaríamos de esclarecer que esse estudo representa apenas uma parte de

tudo que poderá ser acrescentado, pois são poucos os estudos realizados a

respeito do tema que abrange a imprensa, a educação matemática, a indústria

de livros, os autores, os professores e os alunos.

As visitas realizadas às editoras durante a pesquisa mostraram-nos

enormes desafios com relação aos livros didáticos de matemática que

necessitam de um tempo mais longo para exploração.

Um dos desafios que merece ser tratado, é a falta de um acervo

histórico na maioria das editoras, que nos deixou em muitos momentos

preocupados, nos obrigando a recorrer a bibliotecas para obter um exemplar

editado por elas, cuja data de edição não era anterior a 1950.

Com exceção da Editora Nacional, atualmente IBEP/NACIONAL, que

possui um acervo memorável e acessível, são raras as editoras que dispõem

Page 117: PUC/SP São Paulo 2005

102

de um acervo histórico, o que nos revelou ser estranho, pois acreditávamos

que elas seriam nosso maior referencial no sentido de se conhecer as obras e

autores de matemática por elas editados, nas distintas décadas que fazem

parte de sua história e da história cultural de nosso País.

Imaginávamos que os livros para as editoras seriam como um álbum

de família que, carinhosamente, registramos o nascimento, o crescimento,

acompanhamos o desenvolvimento, o sucesso, o amadurecimento e a velhice

de uma parte muito especial da família que ficará registrado para que outras

pessoas possam vir a conhecer...

Mas, o que conseguimos verificar foi uma certa falta de interesse por

esta memória e um grande interesse pelo presente, pelas exigências do

“mercado comercial” que se torna cada vez mais competitivo. Não estamos

criticando seu interesse em se manter no “mercado”, porque isso faz parte da

dinâmica do mundo: todos precisamos estar atentos para não sermos

atropelados no meio do caminho. O que nos deixou preocupados foi o

desinteresse pelo resgate da história do livro didático e de seus autores, pois

constatamos que muitos relatos estão registrados apenas na memória de

“alguém” que assistiu ou acompanhou ao surgimento de uma ou outra editora

ou que trabalhou por muitos anos em determinada editora.

Percebemos que no processo de desenvolvimento do livro didático,

muitos foram os obstáculos enfrentados, pela própria história da evolução do

ensino no Brasil, mas, durante a pesquisa percebemos que não se falam muito

a respeito desses problemas e dificuldades, temos a impressão de que está

tudo bem do jeito que está “agora” e que o passado não importa.

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Sentimos falta de informações sobre a quantidade de produção e

venda de edições publicadas nas décadas passadas, pois, atualmente,

sabemos que existem órgãos oficiais que fazem os registros do faturamento

por editora e, sobretudo, para as editoras e distribuidoras, visando ao interesse

comercial, porém essas informações podem servir de importantes fontes no

processo de construção da história do didático e sua política de produção.

Este trabalho procurou percorrer pela história do mercado editorial e

conhecer mais detalhadamente quatro editoras que produzem o livro de

matemática no País. Durante seu trajeto, encontramos certos problemas que

desejamos relatar para tentar concluir o trabalho.

No início do estudo sobre a história do livro didático de matemática

no Brasil, notamos que ele não podia ser estudado de forma isolada e, para

que pudéssemos entender seu funcionamento, precisávamos considerar as

políticas de poder e de economias que envolvem a sociedade brasileira no

decorrer das décadas, pois sua história, em muitos aspectos, confunde-se com

a da própria sociedade.

No Brasil, os primeiros contatos com a leitura foi por meio da

imprensa que era controlada pelo governo, pois apenas a elite poderia ter

acesso a ela. A censura pela liberdade de expressão foi marca registrada em

diferentes épocas da história de nosso País, e os governantes utilizaram-se

desse poderoso instrumento de comunicação para levar a população a sua

doutrina. Entretanto, é importante ressaltar que, nos primeiros momentos do

livro no Brasil, ele simbolizou a liberdade de um povo que iniciava a formação

de sua própria cultura.

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104

Ao longo de seu percurso, o livro didático tem sido criticado,

decretado, produzido e distribuído, porém existem pouquíssimos estudos a

respeito de seu surgimento e, menos ainda quando falamos do didático de

matemática. Os estudos mais freqüentes que tratam dos livros didáticos, em

geral, abordam a respeito de seu conteúdo ou sobre seu uso pelo professor.

No período de 1920 a 1950, quando o País passa por grandes

mudanças políticas, o livro didático de matemática também sofre um processo

de renovação, mudando o modo como era apresentado, assim como seu

conteúdo. Pfromm Neto (1985, p. 79) escreve sobre isso.

As décadas de 20 a 30 representaram um período de transição

importantes na educação e no livro didático brasileiro. Época de

reformas educacionais, de consolidação da impressão de textos

escolares no Brasil, de renovação de idéias e procedimentos, é

marcada, no domínio da literatura escolar de matemática, pelo

aparecimento de várias obras que, além de corresponderem às

modificações de currículos e programas, representam o progresso

considerável sobre o padrão de livro didático vigente até a Primeira

Guerra Mundial.

A história do livro didático de matemática brasileiro surge em função

das guerras, na época da colonização, como recurso para resolver problemas

estratégicos de defesa e de engenharia. Apesar das reformas educacionais

que trouxeram uma evolução em relação ao livro didático de matemática,

percebemos que existem discussões polêmicas quanto à sua utilização no

processo ensino-aprendizagem.

Um fato que é facilmente detectado nessa a trajetória, refere-se aos

órgãos oficiais criados especialmente para tratar do livro didático, que nunca se

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preocuparam em contar sua história e sendo esta a razão de não existir uma

memória das políticas públicas desenvolvidas em relação ao livro didático,

ocorrendo que a cada governo surgem iniciativas repetitivas que não levam em

consideração, o que já foi criado e, até mesmo, concretizado; assim como

decretos refeitos, criação de novas comissões e instituições (COLTED, INL,

FENAME, FAE, PNLD).

No decorrer de sua história, o livro didático no Brasil assume o papel

de ser destinado à criança carente de recursos financeiros, em uma população

de estudantes de baixa renda que representam mais de 60% da população de

estudantes na escola.

Observamos que a importância dada ao livro didático e ao controle

crescente sobre ele exercido pelo governo federal, decorrem da percepção de

que é necessário compensar, por vias políticas públicas, as desigualdades

criadas por um sistema econômico e social injusto, com enormes

desigualdades sócio-econômicas.

Sentimos a necessidade de uma discussão mais ampla, envolvendo

professores, alunos, cientistas, pesquisadores, editores, distribuidores e

políticos, em torno do livro didático. Essa polêmica discussão que esteve

bastante presente nas décadas de 1980 e 1990, recebeu atenção do MEC,

quando na década de 1990 passou a atentar rigorosamente aos problemas

apontados no conteúdo dos livros didáticos.

As decisões referentes ao livro didático eram tomadas por técnicos e

assessores do governo que, em muitos casos, estavam pouco familiarizados

com os problemas da educação. Muitas vezes não qualificados para garantir a

complicada questão da produção do livro didático de qualidade que gerou um

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grande problema em discussão, e o resultado foi a criação do Programa

Nacional do Livro Didático (PNLD) constituído por um grupo de trabalho que

recebeu capacitação para avaliar os livros didáticos.

A primeira avaliação foi publicada no Guia dos Livros Didáticos de

1997, segundo informações obtidas da Revista Nova Escola de março de 2001,

muitos acreditavam que o Guia de Livros Didáticos poderia ser a solução aos

problemas de escolha dos docentes, porém ainda não se atingiu esse objetivo,

em razão dos movimentos erráticos de professores e avaliadores.

Atualmente, a coordenação de avaliação do PNLD está dividida

entre a USP, a UNESP, e as federais de Pernambuco e Minas Gerais,

observando-se o tempo de formação e a titulação do professor, além de

escolher várias regiões diferentes.

Quando percorremos pela história do surgimento das editoras de

livros, constatamos que, nas últimas décadas elas passaram por processos de

adaptação ao sistema governamental, e as mais importantes no setor de livros

didáticos constituíram parcerias ou foram vendidas para estrangeiros,

mantendo o mesmo nome. Essas empresas possuem um parque editorial

equipado com máquinas modernas capazes de imprimir grandes quantidades e

atender a grande demanda do mercado. Para completar, contam com equipe

de pessoal especializado para tratar de cada parte da produção de um livro e

atender um público que se torna cada vez mais exigente.

Os novos autores de matemática são poucos, e as obras mais

“conhecidas” estão sempre se adaptando às exigências dos currículos ou dos

programas da educação.

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No decorrer da história percebemos, que o ponto de partida para o

sucesso de produção e comercialização do livro iniciou-se, quando o setor de

livros didáticos começou a ser explorado. O setor livreiro se beneficiou da

incapacidade do governo de gerir de forma responsável a política do livro

didático, lançando em grandes quantidades milhões de livros descartáveis e de

má qualidade por todo Brasil, realizando seu “bom negócio”, mas, prejudicando

sistematicamente as crianças, especialmente as carentes, para as quais o livro

didático é, na verdade, o único livro que têm acesso.

Ainda hoje existe discussão em relação à preferência do governo por

certas editoras que por vários anos re-editam seus exemplares para serem

distribuídos pelo programa de governo.

Podemos concluir que os números estudados por pesquisadores nos

mostram que a produção do livro didático, inclusive o de matemática, vem

assumindo grandes proporções no Brasil.

Conforme Revista Nova Escola, de março de 2001, em 1999, 56%

dos livros publicados no País eram didáticos e paradidáticos. A indústria do

livro concorre com outras produções da indústria cultural, embora os editores

reclamem, conseguem realizar excelentes negócios, sem correr os riscos de

mercado, já que o Estado compra mais da metade da produção do livro

didático.

Concluímos, também, que o tema mais explorado nas pesquisas

realizadas sobre o livro didático brasileiro de matemática, refere-se a análise de

seu conteúdo. No Brasil, o estudo sobre a história do livro de matemática ainda

não havia sido explorado, pois sentimos falta de textos referentes ao assunto.

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Durante a pesquisa, em muitos momentos, sentimos a impressão de

estar deixando escapar algo, mas acreditamos que essa seja a impressão que

temos quando trabalhamos com tema tão abrangente e tão rico de ser

explorado. Como escreve D’Ambrósio (2004, p. 29) “Não é sem razão que a

história vem aparecendo como um elemento motivador de grande importância”.

Finalmente, queremos ressaltar que a análise histórica pode

esclarecer o papel do texto escrito nas várias formas de ensino encontradas

em épocas diferentes (SCHUBRING, 2003, p. 3).

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