puc/sp são paulo 2005
TRANSCRIPT
EEDDNNAA RROOSSÉÉLLEE DDAA CCOONNCCEEIIÇÇÃÃOO NNEEVVEESS
UMA TRAJETÓRIA PELA HISTÓRIA DA ATIVIDADE
EDITORIAL BRASILEIRA: LIVRO DIDÁTICO DE
MATEMÁTICA, AUTORES E EDITORAS.
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA
PUC/SP
São Paulo
2005
EDNA ROSÉLE DA CONCEIÇÃO NEVES
UMA TRAJETÓRIA PELA HISTÓRIA DA ATIVIDADE
EDITORIAL BRASILEIRA: LIVRO DIDÁTICO DE
MATEMÁTICA, AUTORES E EDITORAS.
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de MESTRE
PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA,
sob a orientação do Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio.
PUC/SP
São Paulo
2005
Banca Examinadora
________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Nobre
________________________________________
Profa. Dra. Laurizete Ferragut
________________________________________
Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me capacitado física e mentalmente, diante
dos desafios que surgiram ao longo desta jornada, fez-me prosseguir
em busca daquilo que Ele tinha para mim.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio, que veio
nesta jornada num momento muito especial. Com entusiasmo e
seriedade, carinhosamente, conduziu-me a participar do seu grupo de
orientandos. A confiança que depositou em mim, desde o começo,
sobretudo a paciência, simplicidade, bom humor e amizade foram
fatores muito importantes no processo de elaboração do trabalho, que
guardarei para sempre na memória. Muito obrigada.
Aos Prof. Dr. Paulo Sérgio Nobre e Profa. Dra. Laurizete
Ferragut Passos, integrantes da banca examinadora, pelas sugestões
que contribuíram no enriquecimento do trabalho.
Aos professores do Programa do Mestrado Profissional em
Educação Matemática, pelas experiências e conhecimento
compartilhados durante o curso.
Ao meu esposo Paulo, pelo constante incentivo, paciência e
companheirismo nos momentos difíceis e, sobretudo pela compreensão
de minhas ausências, sempre demonstrando seu amor.
A minha irmã Rosana, que acompanhou o trabalho com
entusiasmo e, nos momentos que precisou contar comigo, entendeu
minha ausência com paciência.
Ao meu pai, Sebastião, por me ensinar a ir atrás dos meus
sonhos e às minhas mães, Zilda e Cida, pela confiança que sempre
tiveram em mim.
A minha querida família, que acompanharam o trabalho com
grande expectativa e muito carinho. Em especial ao meu sobrinho
Matheus, pelo seu doce sorriso e alegria que me trouxe paz e
serenidade a cada dia de caminhada.
Aos colegas de mestrado, pelo espírito de equipe e pela
amizade demonstrados durante todo o curso. Em especial, Ana Paula,
Clemente, Ieda, Terezinha e Ângela, por estarem presentes nos
momentos mais significativos desta caminhada, compartilhando anseios
e realizações.
Registro meus agradecimentos a Srta. Tânia, responsável
pelo acervo histórico da Ibep/Nacional; à Sra. Marta, Sra, Leila e Sra. Isis
do setor de relacionamento da Editora do Brasil; ao Prof. Lafayette
Megale, editor de matemática da FTD; ao Prof. Dr. José Luiz Goldfarb, da
CBL, que gentilmente forneceram informações sobre a história da
empresa. Em especial ao Prof. Valdemar Vello, pelo atendimento solícito
e gentil que contribuíram de maneira significativa na elaboração do
trabalho. Além de tornar possível o acesso às obras de seu acervo
particular.
Na Biblioteca Municipal, Mario de Andrade, de São Paulo,
contei com a solicitude das bibliotecárias da seção de obras raras. Nas
Bibliotecas da Universidade de São Paulo: FE, FFCLCH, IME, Bibliotecas
da PUC/SP: Ciências Exatas e Nadir Gouvêa e Biblioteca Mario Covas,
recebi atenção dos bibliotecários.
A Capes pelo apoio financeiro.
Por fim, agradeço a todos os amigos que, torcendo pelo
meu sucesso, compartilharam comigo cada momento desta jornada.
Ao Paulo e Ao Paulo e Ao Paulo e Ao Paulo e Matheus,Matheus,Matheus,Matheus,
meu carinho meu carinho meu carinho meu carinho.
RESUMO
Este trabalho relata a história do livro didático de matemática e o
surgimento de editoras de didáticos brasileiros a partir da segunda metade do
século XX.
Para a melhor compreensão dos fatos, a pesquisadora começa o relato
no período correspondente do Brasil colonial, quando inaugurada a imprensa
de tipos móveis dando início ao desenvolvimento cultural no País. Depois de
determinado período, o setor de livros começa a surgir timidamente primeiro
com investimento de estrangeiros que pouco a pouco vai crescendo em razão
da necessidade do País investir em educação. No começo do ensino brasileiro
de matemática, os professores utilizavam livros europeus para ministrarem
suas aulas, mas com o tempo alguns professores brasileiros, tomam a iniciativa
de escrever seus próprios livros, com novas propostas para o ensino de
matemática brasileiro que resultam em polêmicas discussões. Estes serão
reconhecidos como os primeiros autores de didáticos de matemática. Com o
crescimento da população e o desenvolvimento industrial, verifica-se um
aumento de matrículas nas escolas públicas e tem início às políticas públicas,
com o governo investindo em educação e propondo a distribuição de livros
didáticos às crianças de baixa renda. O livro didático foi se transformando em
importante mercadoria que atraía muitas empresas editoriais que se
interessavam pelos programas do governo e ter seus livros adotados para as
escolas públicas. Dentro desse contexto, pode-se situar o papel dos autores de
livros brasileiros de matemática na formação do ensino de matemática e a
função das editoras que os publicam, buscando identificar quais as razões que
levaram as empresas editoriais ao crescente desenvolvimento de produção e
de comercialização cujo “produto” principal é o livro didático.
Palavras-chave: Livro didático de matemática; editora; autores; história
do livro didático; políticas públicas.
ABSTRACT
This work reports a history of mathemetic’s textbook and the arise of
publishing houses of Brasilian’s textbooks since the second half of the 20th
century.
In order to improve the understanding of the facts, the researcher starts
the report in the Brazil’s colonial period , when the moveable types press had
just began , thus , starting the culural development in the country . After a specif
period , books sector timidly start rising with foreign investments at first and little
by little it grows due to the country’s needing of educational investments . In the
beginning of Brazilian mathemathic’s instruction , the teachers gave classes
using Europeans books but with the time some of them started writing their own
books , with new proposal for Brazilian mathematical teaching which lead to
controversal debates . This people will be recognized as the first mathematic
textbook’s authors . With the population growth and industrial development we
find a public school registration growth and the beginning of public policies for
education with governmental investments in education and proposies for the
distribuition of textbook’s for low income children . The texbook became an
important merchandise that attracted many publishing companies interested on
governmental programs and on the decisie of adaptind they books adopted in
the public schools . Within this context , we could stablish the role of Brazilian
authors of mathematical books regarding the mathematical teaching formation
and the function of the publishing houses that publish them , investigating to
identify which was the reasons that took the publishing houses to increase the
production and trading of textbook.
Keywords: mathemetic’s textbook; publishing houses; authors; history
of mathemetic’s textbook; public policies.
Grandes coisas fez o Senhor por nós,
E por isso estamos cheios de alegria !
Salmo 126:3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................ .... 001
CAPÍTULO I – BREVE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENS A
NO BRASIL ................................................................... 005
Surge a primeira imprensa no Brasil............................................................... 007
A imprensa após a independência.................................................................. 009
CAPITULO II – COMENTANDO A RESPEITO DA HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA BRASILEIRA .......................... 012
A Educação Matemática após a década de 1920 .......................................... 016
Um olhar especial para a Educação Matemática ........................................... 018
CAPÍTULO III – A TRAJETÓRIA DO LIVRO DE MATEMÁTICA
NO BRASIL ....................................................................... 029
Os primeiros livros impressos no Brasil ........................................................ 029
Livros de Matemática do Século XX e seus autores ..................................... 036
CAPÍTULO IV – A ATIVIDADE EDITORIAL DE LIVROS DIDÁ TICOS
BRASILEIROS .................................................................. 042
Surgem as Primeiras Editoras....................................................................... 043
A atividade editorial é atraída por São Paulo................................................. 049
Quatro Editoras de Didáticos de Matemática e suas Contribuições.............. 053
Companhia Editora Nacional ......................................................................... 053
IBEP e Companhia Nacional ......................................................................... 059
Editora do Brasil ............................................................................................ 062
Editora FTD ................................................................................................... 064
Editora Scipione ............................................................................................. 071
CAPÍTULO V – A POLÍTICA DO LIVRO DIDÁTICO BRASILEIR O ............ 075
Governantes e o Livro Didático. Do INL ao PNLD ........................................ 078
O Mercado Editorial ....................................................................................... 087
Comentando sobre a Produção do Livro Didático ......................................... 090
Panorama da Produção e Vendas do Livro Didático ..................................... 092
Práticas Comerciais das Editoras .................................................................. 094
CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................. 101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 109
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Faturamento e Exemplares Vendidos – 2001/2002 ..................... 097
Quadro 2 - Produção de Livros Didáticos – 2001/2002................................... 098
Quadro 3 –Evolução das compras pelo governo: 1992 - 2002....................... 099
LISTA DAS FIGURAS
Figura 1: Capa do Livro O Homem que Calculava, de Malba Tahan (em
espanhol e em português)............................................................... 022
Figura 2: Al-Karismi de Malba Tahan............ ................................................ 023
Figura 3: Coleção Curso Moderno de Osvaldo Sangiorgi.............................. 026
Figura 4: Capa da Revista Scientific American Brasil..................................... 028
Figura 5: Contra-capa do livro Exame de Bombeiros, de Alpoym................. 030
Figura 6: Exame de Bombeiros: página inicial do conteúdo de geometria ... 031
Figura 7: Fac-Simile do livro Exame de Artilharia, de Alpoym ....................... 032
Figura 8: Exemplos de figuras usadas nos exercícios do livro Exame de
Artilheiro,de Alpoym ........................................................................ 032
Figura 9: Exercício do livro Exame de Artilheiro, de Alpoym ........................ 033
Figura 10: Contra-capa do livro Elementos de Geometria, de Legendre ...... 034
Figura 11: Contra-capa do livro Tratado Elementar de Trigonometria, de
Lacroix ........................................................................................... 035
Figura 12: Contra-capa do livro As Idéias Fundamentaes da Matemática (1929),
de M. Amoroso Costa...................................................................... 037
Figura 13: Capa dos livros de Ary Quintella: Matemática para o primário e
Matemática para o ginásio ......................................................... 040
Figura 14: Interior da sede da Livraria Garnier,.............................................. 045
Figura 15: Livraria Francisco Alves (1915)..................................................... 047
Figura 16: Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco...... 050
Figura 17: Livraria Teixeira (1920)................................................................. 051
Figura 18: Capa do livro de Monteiro Lobato Urupês..................................... 054
Figura 19: Editora do Brasil, à Rua Cons. Nébia, 887, por volta de 1990.......063
Figura 20: Capa do Livro Tábuas de Logaritmos (1937) .............................. 068
Figura 21: Sede provisória da primeira matriz da Editora FTD....................... 069
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CBL – Câmara Brasileira do Livro
COLTED – Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação
ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
FAE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação
FENAME – Fundação Nacional do Material Escolar
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
FFCLH – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
FTD – Frère Théophane Durand
IBEP – Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas
INL – Instituto Nacional do Livro
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação
PLIDEF – Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental
PNLD – Programa Nacional do Livro Didático
PUC – Pontifícia Universidade Católica
SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica
SBEM – Sociedade Brasileira de Educação Matemática
SBHMat – Sociedade Brasileira de História da Matemática
SBM – Sociedade Brasileira de Matemática
SGEm – Grupo de Estudo Internacional sobre Etnomatemática
SMSP – Sociedade de Matemática de São Paulo
SNEL – Sindicato dos Editores
USAID – United States Agency for Intenacional Development
1
INTRODUÇÃO
O livro didático faz parte de uma evolução que conduziu de certa
forma ao desenvolvimento da indústria editorial e conseqüentemente o
desenvolvimento tecnológico da produção editorial e gráfica. Sua importância
dentro do sistema de ensino tem despertado a atenção de um crescente
número de pesquisadores.
Nosso estudo procura conhecer a trajetória da atividade editorial do
livro didático de Matemática no Brasil e sua relação no processo do ensino
brasileiro da matemática.
Ao abraçarmos o tema não era nossa intenção fazer uma análise do
conteúdo do livro didático de matemática, pois a PUC/SP possui um grupo que
realiza este estudo, também não era nossa intenção realizar uma análise
estatística de resultados e, sim, conhecer a história da atividade editorial e seus
autores, que de certa forma está relacionada à história da imprensa e do livro.
Ao caminharmos pelo processo de desenvolvimento da história da atividade
editorial e seus autores, foi de fundamental importância conhecermos alguns
momentos da história da Educação, em particular da Educação Matemática, e
sabermos o que estava se passando na época e quais foram as influências
sofridas, direta ou indiretamente no processo da construção da história do livro
didático de matemática.
Conhecer a história da atividade editorial do Brasil e seus autores,
certamente, é um desafio muito gratificante, por todas as razões acima citadas.
É uma trajetória que nos faz conhecer nossa própria história cultural.
2
Pensamos não ser possível estudar um assunto, sem conhecer sua origem.
Mas, também, é verdade que o estudo detalhado, desde a origem torna-se
bastante extenso e embora seja fascinante exige muito tempo de pesquisa. Por
esta razão, nosso trabalho refere-se a breves trajetórias, momentos
importantes de nossa história, no processo de desenvolvimento da atividade
editorial e seus autores.
O livro didático que, no início do ano letivo, chega às mãos de
milhões de brasileiros, educadores e educandos, leva consigo além de um
conteúdo didático, a história de uma trajetória que, ao longo de sua existência,
envolveu muitas pessoas que de alguma maneira, estavam empenhadas em
sua realização.
O processo de produção de um livro começa quando o autor, que é
alguém competente em determinado assunto e que a pretende universalizar
sua vivência específica, dá vida a uma idéia original e apresenta a uma editora.
O editor é o profissional competente em determinado assunto que entende de
comunicação escrita para colaborar com o autor em sua criação. O editor de
livro didático é responsável por textos que servem para instruir e educar, por
este motivo seu trabalho é muito importante.
Atualmente, o mercado de livros didáticos no Brasil é considerado
um excelente negócio que se concentra nas mãos de algumas poucas editoras.
Saber quais são as Editoras e por quais razões se tornaram líderes no
mercado é, também, um bom motivo para se estudar sua história.
O mercado do livro didático demorou um tempo para ser atraído
pelas Editoras, pois a própria história da educação no Brasil demorou a se
desenvolver, por falta de interesse de seus governantes em investir na cultura
3
do País. A transformação, política e cultural, brasileira começa na década de
1930, momento em que a história do livro didático também se inicia em meio de
decretos, leis e medidas governamentais.
Para traçarmos a trajetória da história do livro didático e seus
autores de matemática, utilizamos como pesquisa fontes teóricas,
considerando a imprensa, livros didáticos, autores e realizamos pesquisas nas
editoras, destacando aquelas que tiveram importância mais significativa no
didático de matemática, com ênfase em sua história e revelando os autores e
as coleções mais importantes a partir da década de 1950.
No capítulo um, realizamos uma abordagem sobre a história da
imprensa no Brasil, em seguida, uma breve trajetória sobre a história do livro
no Brasil que, muitas vezes, confunde-se com a história da imprensa,
comentando sobre os primeiros livros aqui escritos e os primeiros também aqui
impressos.
No capítulo dois, estaremos comentando a respeito da história da
educação, com ênfase na educação matemática, com a intenção de conhecer
os educadores de matemática que estavam preocupados, em determinada
época, em escrever e universalizar suas idéias e experiências em livros.
No capítulo três, traçamos uma breve trajetória sobre o
desenvolvimento do livro de matemática brasileiro, destacando as coleções,
livros e seus autores que tiveram importância relevante no processo da
formação da educação no Brasil. Neste capítulo, conhecemos os primeiros
livros de matemática escritos no Brasil e seus autores e aqueles que foram
sucesso no decorrer do século XX, com ênfase nas décadas de 1950 em
diante.
4
No capítulo quatro, traçamos uma breve trajetória da história da
atividade editorial e sua importância no processo da construção do saber
escolar no Brasil, com ênfase à educação matemática. Conhecemos os livros
mais importantes de cada época, não apenas pelo número de vendagem, mas
também pela inovação que proporcionaram.
No capítulo cinco, comentamos sobre momentos da política do livro
didático, conhecendo comissões, leis e decretos que controlam o livro didático,
e procuramos entender como se processa a produção do livro didático.
Para conhecer a história das editoras, apoiamo-nos em entrevistas
realizadas nas Editoras, concedidas por pessoas que, de alguma maneira,
estão ligadas à sua história.
E, finalmente, no capítulo seis tiramos nossas conclusões, após
esse breve trajeto sobre a história da atividade editorial brasileira.
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CAPÍTULO I
BREVE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENSA NO BRASIL
Com o apoio das obras de Hallewell1 (1985) – um dos estudos mais
completos sobre a história do livro e Werneck2 (1983) – uma excelente
pesquisa a respeito da imprensa brasileira, apresentamos uma breve história
da imprensa de tipos no Brasil para traçar uma trajetória do tema nas últimas
décadas.
Antes do surgimento da imprensa, os livros eram copiados à mão e
eram feitos poucos exemplares de cada obra, pois além de trabalhoso a
produção tomava muito tempo.
As bibliotecas da Antiguidade estavam repletas dos “primeiros
livros”, que eram textos gravados em tabuinhas de barro cozido ou fibras
vegetais e tecidos, e foram sendo modificados progressivamente até chegarem
às grandes tiragens, impressos mecanicamente em papel.
No século XV com a invenção da imprensa de tipos por Johann
Gutenberg foi possível massificar o processo que permitiu a expansão do saber
pelo mundo com mais velocidade, proporcionando facilidade de leitura e
transporte, além possibilitar em todas as épocas, transmitir fatos,
acontecimentos históricos, descobertas, tratados ou simplesmente
entretenimento.
1 HALLEWELL, L. – O Livro no Brasil: sua história. São Paulo: T. A. Queirós/EDUSP, 1985. 2 SODRÉ, Nelson Werneck – História da Imprensa no Brasil, São Paulo, Martin: Martins Fontes, 1983.
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No século XVI a imprensa chegou aos países eslavos (Moscou
1563), à América (México, 1540) e à Índia (Goa, 1557). No Brasil, entre 1630 e
1655, surgem as primeiras notícias de se ter uma imprensa, quando os
holandeses que ocupavam o Nordeste brasileiro tinham a intenção de trazer a
tipografia para facilitar o trabalho administrativo das colônias, porém nada há
de oficial.
Mas, no Rio de Janeiro, no ano de 1747, Antonio Isidoro concretiza
esse acontecimento, quando desembarcando no Brasil e relata ter vendido seu
negócio em Lisboa para saldar dívidas e migrou para cá, na esperança de
obter sucesso nos negócios tipográficos. Mas, não demorou muito tempo para
que verificasse que o negócio de impressão de livros no Brasil não era “um
bom negócio” e era impossível viver da impressão de livros, pois estes tinham
um custo muito alto em razão da falta de mão-de-obra qualificada. Assim, os
artigos empregados na impressão eram importados, o que elevava ainda mais
o custo, estando acima dos recursos financeiros da maioria das pessoas. Um
fator mais agravante era o fato de Portugal ter como atitude querer isolar a
colônia de toda e qualquer influência externa, pois queria ter o domínio sobre o
território da nova colônia para poder explorar as riquezas que as terras podiam
oferecer aos colonizadores.
Além disso, as condições sociais e culturais não favoreciam a
imprensa, pois poucos sabiam ler e, segundo Hallewell (1985) os que sabiam,
não se interessavam por jornais.
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SURGE A PRIMEIRA IMPRENSA NO BRASIL
Com a chegada da família real em 1808, o Brasil deixa de ser
colônia e a primeira medida que D. João tomou foi a abertura dos portos, que
permitiu, sobretudo à Inglaterra a comercialização de seus produtos
diretamente com nosso País, sem intermédio dos portugueses e acabando com
a relação que caracterizava a colônia que era a obrigação de só comercializar
com sua metrópole.
D. João veio acompanhado de sua corte e da estrutura
administrativa do império português e, passou a ter como centro político-
administrativo a cidade do Rio de Janeiro, onde precisou tomar certas medidas,
para melhor adaptação da família real. Assim, criadas várias instituições de
caráter cultural: a Escola de Anatomia, a Escola Médica e o Jardim Botânico,
além do Banco do Brasil. Outra medida adotada por D. João, foi a autorização
da Imprensa Régia, mas funcionando sob forte censura, a fim de impedir
qualquer atitude contra o reino. A impressão de textos que era proibida pela
administração colonial, agora começa a funcionar, porém, totalmente
controlada.
Na época do Brasil colonial, não havia imprensa, nem universidade,
nem livros. No entanto, após a chegada da família real, foram lançados seus
dois primeiros jornais: o Correio Braziliense, que surgiu no dia primeiro de
junho de 1808, um jornal integrado à imprensa brasileira, cujo fundador foi
Hipólito da Costa, jornalista brasileiro, que escrevia e dirigia o jornal em
8
Londres. Três meses após seu lançamento, no dia 10 de setembro de 1808,
surge a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal impresso no País, cujo
conteúdo não atraía a atenção do público, conforme comentário a respeito.
Por meio dela só se informava ao público, com toda a fidelidade, do
estado de saúde de todos os príncipes da Europa e, de quando em
quando, as suas paginas eram ilustradas com alguns documentos de
oficio, notícias dos dias natalícios, odes e penegíricos da família
reinante. Não se manchavam essas paginas com as efervescências
da democracia, nem com a exposição de agravos. A julgar-se do
Brasil pelo seu periódico, devia ser considerado um paraíso terrestre,
onde nunca se tinha expressado um queixume. (ARMITAGE3 citado
por WERNECK, 1983, p. 20)
Segundo Hipólito da Costa, fundador de O Correio Brasiliense, citado
por Werneck (1983, p. 23), o jornal pretendia influenciar e conquistar a opinião
pública e procurava divulgar mensalmente o estudo das questões mais
importantes que afetavam a Inglaterra, Portugal e Brasil.
Em 1810, foi anexada à Impressão Régia uma fundição de tipos que
permitiu a arte da gravura e teve como conseqüência o surgimento de
profissionais de artífices, desenhistas, gravadores e tipógrafos que vinham de
fora e outros que aprendiam o ofício aqui.
A imprensa periódica começa a conquistar espaço, tanto que em
1821, aparecem mais duas tipografias no Rio de Janeiro, A Nova Tipografia e a
de Moreira e Garcez. No ano seguinte, instalaram-se mais quatro: a de Silva
Porto e Cia., de Felizardo Joaquim da Silva Moraes e Manuel Joaquim da Silva
Porto; a de Santos e Sousa; a do Diário do Rio de Janeiro, de Zeferino Vito de
Meireles, e a de Torres e Costa, de Inocêncio Francisco Torres e Vicente 3 John Armitage – historiador inglês.
9
Justiniano da Costa. Fora as que funcionavam em outros Estados: Bahia,
Pernambuco e Maranhão.
A IMPRENSA APÓS A INDEPENDÊNCIA
Em 1820, com a Revolução do Porto finda o absolutismo português
e inicia-se a pressão da elite brasileira pela independência do Brasil, ocasião
em que a imprensa desempenhou um importante papel, mas que custou muitas
agressões e perseguições a jornalistas, liderada pela aristocracia rural
brasileira que se opunha à liberdade de imprensa que ganhava força.
Em 2 de março de 1821, quando D. João deixa o Brasil, decreta a
abolição da censura prévia e regula a liberdade de imprensa, até que fosse
elaborada uma nova regulamentação. O decreto não termina com a censura da
atividade editorial que estava sob o controle do poder real, mas altera o modo
que ela era exercida, passando a ser aplicada nas provas impressas e não nos
originais.
Em 12 de julho de 1821, Portugal decreta uma lei complementar que
inclui a liberdade de imprensa, sendo esta a primeira lei de imprensa
portuguesa introduzida no Brasil.
Com a liberdade de imprensa, surgem novos jornais dentre os quais
destacam-se os Pasquins, pequenas publicações que usavam o humor e a
sátira como arma, como "O Narciso", "Dr. Tirateimas", "O Martelo", "Brasil
Aflito", e começa a edição de livros.
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A Imprensa Nacional, antiga Impressão Régia, começa a obter
novos investidores e inicia um processo de produção diversificada com a
produção de jornais, livros, revistas, almanaques, folhinha, entre outros. O Rio
de Janeiro que, até 1813, possuía somente duas livrarias pertencentes aos
franceses, Paul Martin Filho e Jean Robert Bourgeois, após o Brasil tornar-se
independente de Portugal, inaugura outras livrarias e a venda de livros começa
a ser vista como um “bom negócio”, porém totalmente dominado por editores
franceses ou portugueses e, até 1919, o único editor brasileiro era Paula Brito.
O Brasil inicia o processo de expansão no comércio de livros com
um público razoável, necessitado de informação e que busca com a leitura a
libertação do sentimento de colonização. Nesse momento, o livro passa a ser
importante. Lentamente o público para literatura foi sendo conquistado e inicia
com o folhetim, uma espécie de imitação do romantismo europeu e que aqui
fazia muito sucesso, sendo considerado a melhor atração do jornal.
Uma das maiores características da época foi a participação de
grandes escritores na imprensa local, pois, quase todos os autores brasileiros
de ficção participavam do folhetim, tais como: Machado de Assis, Raul
Pompéia, Joaquim Manoel de Macedo, Manuel Antonio de Almeida e Aluízio de
Azevedo.
A imprensa e a literatura, que até o final do século XIX, confundiam-
se, passam a ter atividades distintas e, no início do século XX, surgem as
empresas jornalísticas, com equipamentos gráficos necessários para produção,
em lugar dos pequenos jornais de folhas tipográficas.
O jornal torna-se uma empresa capitalista e provoca grandes
mudanças no país, pois a imprensa deixa de ser artesanal e passa a ser
11
industrial. Segundo Werneck (1983) a imprensa deixa de ser pequena e passa
a ser grande empresa que precisa da mão-de-obra especializada e melhor
qualificada para operar o maquinário importado.
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CAPÍTULO II
COMENTANDO A RESPEITO DA HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA BRASILEIRA
Um importante percurso da história da atividade editorial do livro
didático de matemática no Brasil passa pela história da educação matemática,
na qual podemos conhecer a respeito de seus autores, comentar sobre a
situação da época e observar as possíveis dificuldades que envolviam o
processo de formação e desenvolvimento de um modelo ideal para o
aprendizado da matemática em nosso país.
A educação na colônia recebeu pouca atenção da coroa portuguesa.
A igreja católica, em especial, a Companhia de Jesus foi o principal agente da
educação escolar nos primeiros tempos de vida colonial. Os padres jesuítas
catequizaram os índios, impondo-lhes a fé cristã, enquanto lhes ensinavam a
ler e a escrever. Fundaram colégios e seminários e ofereciam educação
básica, para a população de colonos. Conforme cita Montellato (2000, p.172),
só os mais ricos continuavam seus estudos, podendo escolher entre a
educação superior religiosa ou a Universidade de Coimbra, em Portugal.
D’Ambrosio (1999, p.13) ressalta que no tempo de colônia, apesar do pouco
interesse, no Brasil, a matemática começa a se destacar com os “padres
matemáticos”, ou seja, padres que tinham formação em matemática, vindos de
Portugal como o Padre Valentin Stancel (1621-1705), Bartolomeu Gusmão
(1685-1724), conhecido como “Padre Voador”, Domenico Capassi (1694-1736)
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e Diogo Soares (1684-1748) considerados os padres matemáticos. Na época,
surgem os primeiros livros de matemática escritos no Brasil, por José
Fernandes Pinto Alpoim (1700-1765): Exame de Artilheiro (1744) e Exame de
Bombeiro (1748), ambos impressos na Europa.
No final do século XVII era de dezessete o número de instituições de
ensino mantidas pelos jesuítas, compunha-se de 17, época em que foram
expulsos do Brasil. Fato interessante é que, grande parte dos professores
dessas 17 instituições jesuítas realizaram seus estudos no Brasil como, por
exemplo, o Padre Vieira. Eles prepararam os primeiros bacharéis para os
estudos superiores, em Coimbra ou na Europa, pois no Brasil não existiam
escolas superiores. A Universidade de Coimbra passou a exercer papel
importante na formação da elite brasileira e quase todos os homens graduados
nos três primeiros séculos, foram nela formados em letras, medicina ou
magistratura.
No período de 1759, data da expulsão dos jesuítas do Brasil, a 1808,
data da chegada da família real, comenta Azevedo (1971, p. 257), “abriu-se um
parênteses de quase meio século, intervalo caracterizado pela desorganização
e decadência do ensino colonial”.
Após a chegada da família real iniciou-se a modernização. Tornou-
se necessário a construção de escolas, estradas de ferro para transporte de
mercadorias e pessoas, além de construção de casas e pontes, pois começa a
desenvolver a migração de pessoas de uma região para outra. Na capital
colonial, quase não existiam livrarias, só algumas pequenas, então, D. João VI,
em 1810, cria a primeira Biblioteca Pública com os próprios livros e que
14
originou a Biblioteca Nacional, atualmente, uma das mais importantes do
continente americano.
Com a criação da biblioteca, de escolas superiores, de museu, do
jardim botânico, o Rio de Janeiro torna-se o centro cultural nacional.
Na época colonial, a Matemática era usada para promover a defesa
nas estratégias militares. Para garantir a independência do Brasil, D. Pedro I
precisou vencer e expulsar as tropas portuguesas que se opunham à
separação entre Brasil e Portugal. Aqui não se tinha um exército organizado e,
por esta razão, D. Pedro I contratou experientes militares, ingleses e franceses,
para organizar e comandar a luta.
Em 1808, foi criada a Academia de Marinha e com a necessidade de
médicos e cirurgiões cria-se na Bahia, o curso de cirurgia, instalado no Hospital
Militar e, no Rio de Janeiro os cursos de anatomia e cirurgia. Em 1811, foi
criada a Academia Real Militar de Ciências, Física, Matemática e Naturais, para
atender a necessidade fundamental de formar oficiais e engenheiros, civis e
militares. O curso tinha duração de quatro anos e os principais livros adotados
eram os estrangeiros de Euler, Bézout, Monge e Lacroix.
Inicia-se, então, a criação de diversos cursos técnicos em economia,
agricultura e indústria, em razão da necessidade de homens com instrução
técnica, principal objetivo do programa de educação, durante todo o período de
D. João VI, formação prática e imediata que rompe definitivamente com o
programa escolástico e literário do período colonial.
A proclamação da independência brasileira por D. Pedro I, no dia 7
de setembro de 1822, oficializa o rompimento com Portugal e, em 1823, em
15
debates realizados na Constituinte, é anunciada uma orientação nova na
política educacional que aboliu os privilégios do Estado para dar instrução.
No ano de 1837, é fundado o Colégio Pedro II no Rio de Janeiro,
instituição de ensino secundário, onde os estudantes, após sete anos de
estudos, recebiam, pelo Ministro do Império, o grau de bacharel em Ciências
Físicas e Matemáticas. Entretanto, a vontade de muitos era que se criasse uma
Universidade no Brasil e por esta razão, no ano de 1843, o então, Conselheiro
Paulino José Soares de Sousa, propôs em projeto, apresentado para exame ao
Conselho de Estado, a criação de uma Universidade com quatro faculdades:
Teologia, Direito, Medicina e Ciências Naturais e Matemáticas.
Em 1842, foi instituído o grau de Doutor em Ciências em Matemática
e, em 1848, tem-se o 1º doutor, Joaquim Gomes de Souza (1829-1863). Em
1874, surge a Escola Politécnica, uma escola exclusiva para o ensino das
engenharias.
Em 1896, no período republicano, houve a reforma nos estatutos da
escola que extinguiu os chamados Cursos Científicos de Ciências Físicas e
Matemáticas e o Curso de Ciências Físicas e Naturais, assim o ensino da
Matemática superior no Brasil passou, a partir de 1896 até 1933, a ser
ministrado exclusivamente como disciplina dos cursos de engenharia e durante
esse período cessou a formação do Engenheiro-Matemático no Brasil.
16
A MATEMÁTICA APÓS A DÉCADA DE 1920
O ensino e o desenvolvimento da Matemática retornou
acentuadamente em nosso País em 1934, com a fundação da Universidade de
São Paulo (USP) e de sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
Durante o período que a Matemática esteve ligada ao curso de
engenharia não houve pesquisa científica básica ao ensino de Matemática.
Somente a partir da década de 1910, um grupo de homens ligados à ciência
resolveu trabalhar em prol da elevação do nível da cultura científica no País.
Fundou-se, então, a Sociedade Brasileira de Ciências (1916) que mais tarde foi
transformada em Academia Brasileira de Ciências e Manuel Amoroso Costa foi
um dos grandes homens que trabalhou em prol dessa idéia.
Em 1917, iniciou-se a publicação da Revista da Sociedade Brasileira
de Ciências que divulgava os principais resultados das pesquisas de seus
membros da sociedade. Em 1920, segundo Silva (2003, p.132), a revista
mudou o nome para Revista de Ciências e, em 1929, assumiu a forma
periódica com o título de Anais da Academia Brasileira de Ciências, que é
mantido até os dias de hoje.
Em 1922, foi realizada em São Paulo a polêmica Semana de Arte
Moderna reunindo artistas plásticos e escritores que apresentavam uma nova
proposta para a cultura nacional. A partir desta data, a matemática brasileira
começa a aparecer no cenário internacional com a visita de Amoroso Costa a
Paris, em março de 1928, a convite do Instituo Franco-Brasileiro e dá um curso
na Sorbonne, sobre Geometrias não-Archimedianas.
17
A partir da década de 1930, começa no Brasil, o chamado “segundo
período de desenvolvimento da Matemática Superior” que teve como
conseqüência, em 1934 no Estado de São Paulo, a fundação da Universidade
de São Paulo, com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), que
passou a formar profissionais ligados ao magistério e à pesquisa científica
proporcionando o desenvolvimento do ensino da matemática superior fora das
escolas de Engenharia.
A comunidade matemática brasileira, em 1934, formada por alguns
matemáticos como Otto de Alencar Silva, Manoel Amoroso Costa, Lélio Gama
e Theodoro Ramos, começa a se fortalecer e a se preocupar com a realização
de pesquisas matemáticas que, para tanto, era necessário formar seguidores.
Segundo Silva (2003, p. 133) era preocupação de alguns mestres, a
formação de discípulos em suas áreas de pesquisas. Essas inquietações
levaram à necessidade de se criar Associações, Revistas periódicas de
Matemática para troca de experiências e divulgação dos resultados das
pesquisas. Outro fator importante que surge nesse processo de
desenvolvimento da comunidade matemática foi o desejo de se publicar livros
didáticos de Matemática.
Em 1945, é fundada a Sociedade de Matemática de São Paulo
(SMSP), na USP e, extinta em 1969, com a fundação da Sociedade Brasileira
de Matemática (SBM). Em 1988, foi fundada a Sociedade Brasileira de
Educação Matemática (SBEM), cujo objetivo é congregar profissionais da área
de Educação Matemática.
A partir da década de 1960, as escolas secundárias sofrem com a
falta de professores de matemática. Por esse motivo o ensino superior em
18
Matemática começa a se expandir no início da década de 1970, quando o
governo brasileiro inicia um programa de incentivo financeiro para alunos de
pós-graduação.
Começam as matrículas em programas de mestrado e doutorado em
Matemática, por professores de várias instituições de ensino no País. Os
resultados do incentivo em pós-graduação, na década de 1970, foram as
centenas de artigos escritos e publicados por matemáticos brasileiros em
conceituadas revistas internacionais.
UM OLHAR ESPECIAL PARA A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Entre muitos fatos importantes que marcaram a história da
matemática no Brasil, gostaríamos de destacar alguns educadores que
trataram a Educação Matemática com especial atenção, formando, assim, um
conceito e uma conscientização de sua importância.
Na década de 1930, o professor Euclides de Medeiros Guimarães
Roxo (1800-1950) propôs uma mudança no currículo e na metodologia
adotados pelo Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, do qual era Diretor. Sua
proposta tinha como base características do movimento internacional de Felix
Klein e representou uma grande mudança nos programas de Matemática do
Colégio Pedro II1.
1 Criado em 1739 como Colégio de Órfãos de São Pedro, Rio de Janeiro, sempre foi gratuito e, durante muito tempo, um reduto da elite brasileira. Ali lecionaram Euclides da Cunha, Joaquim Nabuco e Benjamin Constant, tendo como alunos o imperador Pedro II, os presidentes Rodrigues Alves. Nilo
19
Segundo o Prof. João Bosco Pitombeira de Carvalho2 essa proposta
de reforma curricular representava uma “radical mudança para os programas
do ensino da Matemática” e apresentava todas as idéias modernizadoras,
defendidas internacionalmente para modernização do ensino da Matemática.
Euclides Roxo escreveu a coleção de Matemática Elementar, cuja
iniciativa ocasionou resistências por parte de alguns professores que criticavam
publicamente seus livros e novas propostas. O próprio Euclides Roxo dizia que
o programa da coleção representava a primeira tentativa, feita no Brasil, para
renovação dos métodos de ensino da Matemática, no curso secundário, de
acordo com o movimento de reforma.
Em 1937, escreveu o livro A Matemática na Educação Secundária,
procurando caracterizar e indicar as principais tendências e diretrizes dos
movimentos de reforma, tratando apenas dos problemas mais gerais e dos
pontos mais característicos da Escola Nova em relação à Matemática. Na
introdução do livro, ele afirma que o conteúdo exposto, não apresenta
nenhuma idéia original e nenhum ponto de vista pessoal. Conforme Dassie3,
em artigo para a Revista da Sociedade Brasileira de História da Matemática
(SBHMat), volume 2, 2001/2002: “Trata-se de uma coleção verdadeiramente
revolucionária para a época, e que provocou imediatamente ira em alguns e
apoio em outros.”
Na década de 1940, Julio César Mello e Souza - Malba Tahan, inicia
sua carreira de professor no Externato do Colégio Pedro II, com as turmas
Peçanha, Hermes da Fonseca e Washington Luiz e escritores como Pedro Nava e Manuel Bandeira. Nova Escola, set. 2000. 2 Prof. do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Educação da PUC-RJ, em capítulo do livro Euclides Roxo e a Modernização do Ensino de Matemática no Brasil, organizado por WAGNER RODRIGUES VALENTE. São Paulo. Biblioteca do Educador Matemático. 2003, p. 94 e 95. 3 Bruno Alves Dassie – Mestre em Matemática (PUC/RJ).
20
suplementares. Tornou-se, depois de um tempo, catedrático do Colégio Pedro
II, do Instituto da Escola Normal, da Escola Normal da Universidade do Brasil e
da Faculdade Nacional da Educação, onde recebeu o título de Professor
Emérito.
Para transmitir conteúdos pedagógicos, criou uma didática própria e
divertida, respeitada até os dias de hoje. Quando lecionava no Instituto de Educação
do Rio de Janeiro, teve a iniciativa de criar uma nova disciplina para o
aperfeiçoamento dos professores: a arte de contar histórias.
Seus métodos de ensino eram avançados para a época. Suas aulas eram
criativas, movimentadas e divertidas. Procurava trabalhar com estudo dirigido e
gostava de usar objetos para ilustrar as aulas. Defendia o trabalho em grupo e
colocava os alunos mais fortes para ajudar os mais fracos. Era totalmente a favor do
uso de jogos em sala de aula que, atualmente, são muito valorizados e acreditava que
todas escolas precisava de um laboratório de matemática.
Malba Tahan foi o precursor de uma nova tendência que se afirma,
conquistando muitos adeptos em todo o Brasil. Ele foi o primeiro a trabalhar
com a História da Matemática e com a interdisciplinaridade. Sua fama como
pedagogo se espalhou-se e ele passou a ser convidado para palestras em todo o
País, que foram mais de 2.000 ao longo de sua vida.
Malba Tahan tem sido tema de diversas pesquisas no Brasil, entre
elas, a de Cristiane Coppe de Oliveira, da Unesp de Rio Claro e no exterior
como, por exemplo, a do professor John Conway da Universidade de
Princeton. Sua obra tem sido citada em revistas internacionais como Science,
Book Report e outras do gênero, no Brasil foi comentada pela
Superinteressante e Nova Escola. Foi comentada pela profa. Rossana Taziolli
da Societá Italiana di Scienze Matematiche e Fisiche.
21
Não podemos deixar de exaltar a importância de sua literatura para
a história da educação brasileira que tem sido reconhecida por muitas
gerações como seu livro mais famoso O Homem que Calculava, com mais de
45 edições, que, em sua história usa a matemática para resolver problemas.
Esta obra foi premiada pela Academia Brasileira de Letras quando, em 1972,
em sua 25ª edição e editada em outros países como Espanha, EUA e
Alemanha, sendo indicada nesses países como livro paradidático.
Apesar de Julio César ter sido uma pessoa carismática e encantar os
alunos, alguns tradicionalistas não aprovavam seu interesse pelo cotidiano da
Matemática, conta o professor Valdemar Vello, editor de livros didáticos da Editora
Scipione e colecionador de sua obra.
Em homenagem ao centenário de seu nascimento ocorrido no ano
de 1995 a Câmara Municipal da cidade de São Paulo e a Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro criaram o Dia da Matemática a ser
comemorado todo dia 6 de maio e, em 2004, de acordo com Lei de autoria da
Deputada Raquel Teixeira, o Congresso Nacional aprova a escolha da data.
“Pretende-se, nessa data, divulgar a Matemática como área de
conhecimento, sua história e suas aplicações no mundo contemporâneo e sua
ligação com outras áreas de conhecimento4”.
4 Educação Matemática em Revista no 16, maio de 2004.
22
Fig. 1 – Capa do livro O Homem que Calculava de Malba Tahan (em espanhol e em português)
23
Fig. 2 – Capa do livro Al Karismi de Malba Tahan (coleção particular do prof. Valdemar Vello)
24
Nos anos de 1960, o professor Osvaldo Sangiorgi acreditava que o
tempo, o exercício e a autocrítica fossem responsáveis pela formação de bons
professores que tinham a tarefa de iniciar as crianças na aritmética e na
geometria, cujas noções são importantíssimas para toda a vida, foi considerado
o líder do Movimento da Matemática Moderna.
A linha para a qual Sangiorgi acenava foi efetivamente seguida. Os
novos textos escolares procuraram introduzir conteúdo novo,
harmonizando com a parte do conteúdo clássico digno a ser mantido,
e, ao mesmo tempo, injetando ambas uma dinâmica de
procedimentos e recursos considerada significativamente mais
eficiente para favorecer o desenvolvimento do aluno. No ensino
ginasial, Osvaldo Sangiorgi, reviu e ampliou a série de livros de texto
que preparara para a Editora Nacional, ajustando-a a um esquema de
“Curso Moderno de Matemática”. Um guia do professor foi elaborado
para cada volume, Os compêndios ganharam feição gráfica mais
atrativa, mais ilustrações e uma cor adicional para destacar pontos
importantes, indicar subtítulos, facilitar a compreensão das figuras,
etc. (PFROMM NETO, 1974 p. 82).
Em 1963, a coleção Curso Moderno, editado pela Companhia
Nacional, recebeu o prêmio Jabuti5. Achamos interessante destacar o Prefácio
do Volume I e verificar que ele se referia ao estudo da Matemática sendo
realizado de uma maneira diferente, mais moderna.
5 Prêmio concedido, anualmente, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), é o mais tradicional e importante prêmio literário brasileiro, que teve início em 1959.
25
Uma palavra para você que inicia o Ginásio meu caro estudante:
Você vai iniciar agora o estudo da Matemática de um modo diferente
daquele pelo qual seus irmãos e colegas mais velhos estudaram.
Sabe por quê?
Porque Matemática, para eles, na maioria das vezes, era um “exagero
de cálculos”, “problemas complicados”, “trabalhosos e fora da
realidade”, que a tornavam, quase sempre, um fantasma!
Hoje na Era Atômica em que vivemos, isto é trabalho para máquinas
(os fabulosos computadores eletrônicos de que tanto falam os
jornais...), razão pela qual você vai aproveitar o seu precioso tempo
aprendendo o verdadeiro significado e as belas estruturas da
Matemática Moderna. Então, você poderá, por exemplo, notar uma
certa semelhança entre o modo de raciocinar em Matemática e nas
outras matérias de seus estudos, como Português, História,
Geografia, Ciências, Música, Educação Física, etc.
Conhecer Matemática dessa forma é o principal objetivo deste livro
em que você vai começar a estudar e que se completará com o
auxílio indispensável de seu professor.
Vamos, pois, estudar Matemática com prazer!
E, em seguida, dirige uma palavra aos professores referindo-se ao
“método moderno” do livro de matemática:
Esse novo método fará com que o aluno note certa semelhança entre
o modo de raciocinar em Matemática e o modo de raciocinar nas
outras disciplinas porque elas também utilizam estruturas mentais
que estão em total correspondência com as estruturas matemáticas.
Por causa do Movimento da Matemática Moderna, a Matemática foi
manchete dos jornais diários e, na década de 60 a maioria dos livros didáticos
de Matemática, passou a adotar esse padrão de “modernização”.
26
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29
CAPÍTULO III
A TRAJETÓRIA DO LIVRO DE
MATEMÁTICA NO BRASIL
OS PRIMEIROS LIVROS IMPRESSOS NO BRASIL
No ano de 1744, o grande destaque da literatura didática da
matemática brasileira, é da autoria de José Fernandes Pinto Alpoim, com as
obras Exame de Artilheiros e Exame de Bombeiros, que teve a iniciativa de
escrever estes dois “manuais escolares” para uso de seus alunos nas aulas de
Artilharia, onde ele exercia o cargo de Mestre da Aula de Artilharia no Rio de
Janeiro. Os dois “manuais escolares” foram os primeiros livros de matemática
escritos por brasileiro.
A impressão Régia começou a imprimir livros no Brasil, no ano de
1808, com Observações sobre o Comércio Franco no Brasil, de Silva Lisboa.
Em 1809, foram realizadas várias traduções de textos europeus de
matemática, sendo os primeiros livros de matemática, traduzidos, impressos no
Brasil: Os Elementos de Geometria, de Legendre, tradução de Araújo
Guimarães; Tratado de Trigonometria, do mesmo Legendre, os Elementos de
Álgebra, de Leonhard Euler. Em 1810, foi lançado o Tratado de Aritmética, de
Lacroix e traduzido por Silva Torres. No ano de 1812, os Elementos de
Geometria Descritiva, de Gapard Monge e traduzido por José Vitorino dos
Santos e Souza.
30
Fig. 6 – Contra-capa do Livro Exame de Bombeiros, 1748 José Fernandes Pinto Alpoym
31
Fig. 7 – Página de introdução ao conteúdo de geometria do livro Exame de Bombeiros de Alpoym
32
Fig 8- Fac-Simile (1987) do livro Exame de Artilheiro (1744) José Fernandes Pinto ALPOYM
Fig. 9 - Exemplos de figuras usadas nos exercícios do livro Exame de Artilheiro – ALPOYM
33
Fig. 10 - Exercício do livro Exame de A rtilheiro de ALPOYM
34
Fig. 11 – Contra-capa do livro Elementos de Geometria, 1886 Adrian Maris LEGENDRE
35
Fig. 12 – Contra-capa do livro Tratado Elementar de Trigonometria, 1823 Silvestre François LACROIX
36
LIVROS DE MATEMÁTICA DO SÉCULO XX E SEUS AUTORES
Não é nossa intenção relacionar todas as coleções ou livros
didáticos, nem analisar seu conteúdo, mas conhecer a trajetória de sua história,
em um determinado período e saber como aconteceu seu processo de
desenvolvimento, bem como conhecer algumas empresas responsáveis pela
sua divulgação e seu envolvimento no processo de crescimento, mesmo que
muitas vezes tenha passado por dificuldades ou submetidas às medidas
governamentais, permanecem nesse “negócio” que, ao longo dos anos, atraiu
muitas pessoas que desejavam manter o nível e a qualidade elevados e
atender as exigências do público, cada vez mais necessitado de novidade.
A Coleção FTD, impressa na Europa, conquista o público das
escolas brasileiras, sobretudo as particulares e católicas. Para a época, a
coleção trazia uma prática diferente, pois para cada título havia o livro do aluno
e o livro do professor. Atualmente este método é usado por todas editoras. A
coleção era composta de livros para as séries iniciais até curso para admissão
em escolas superiores. Pfromm Netto1 (1974, p. 77) comenta que os livros da
coleção eram sucintos nas explicações, os textos eram, contudo, repletos de
problemas, exercícios, recapitulações e ‘exercícios orais’.
A partir do início de 1900, inauguram as Editoras especializadas em
livros didáticos. O mercado torna-se bastante atraente com as concorrências
pelo comércio do livro didático. Vários matemáticos ilustres tiveram suas obras
1 PFROMM-NETO, Samuel (professor, psicólogo, pedagogo e um dos diretores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo)
37
editadas, como Otto de Alencar (1874-1912), M. Amoroso Costa (1885-1929),
As Idéias Fundamentais da Matemática e outros.
Fig. 5 – Contra-capa do livro As Idéias Fundamentaes da Matemática (1929), de M. Amoroso Costa
38
No ano de 1907, começa a história do livro didático de matemática
que teve vida mais longa. Trata-se do Aritmética Elementar Ilustrada, de
Antonio Trajano, para ensino primário. Segundo ZAMBONI2 (1991, p.6), no
Brasil não houve livro que atingisse tantas gerações de crianças e jovens.
No período de 1920 a 1930, destaca-se o compêndio de
matemática, de Euclides Roxo, professor de matemática do Colégio Pedro II.
No ano de 1942, novos livros passam a ser adotados pelas escolas
como Curso de Matemática, de Algacyr Munhoz Maeder, professor do Colégio
Estadual do Paraná, editado pela Melhoramentos; Matemáticas, de Ary
Quintella, professor do Colégio Militar, editado pela Nacional, Matemática
(destinada à 1ª série dos cursos Clássicos e Científicos), de F. Furquim de
Almeida, João B. Castanho, Edison Farah e Benedito Castrucci da Editora do
Brasil, entre outras.
Na década de 1950, foram introduzidos ao currículo de matemática,
novos conteúdos, com a finalidade de envolver a criança em um tipo de
aprendizagem que fosse mais ativo. Essa mudança iniciou-se início no exterior
com o movimento de renovação no ensino da matemática e chegando ao
Brasil, foi amplamente divulgada nos congressos nacionais de ensino da
matemática, onde surgem os favoráveis à idéia, mostrando seus trabalhos com
propostas de novos conteúdos e novos métodos de trabalho.
No início da década de 1960, o Grupo de Estudos do Ensino de
Matemática de São Paulo foi de grande importância, desenvolvendo pesquisas
e experiências do qual participava o professor Osvaldo Sangiorgi, do Instituto
2 ZAMBONI, Ernesta – Que história é essa? – uma proposta analítica dos livros paradidáticos de história. Tese de doutorado. Campinas, Unicamp, 1991, p.6.
39
de Educação “Padre Anchieta” e Assistente de Geometria Analítica da
Faculdade de Filosofia da Universidade Mackenzie.
Sangiorgi definiu uma nova linha para transmitir os conteúdos
matemáticos e que fossem mais eficientes no desenvolvimento do aluno. Ele
conquistou efetivamente seguidores dessa linha que procuravam ajustar os
livros a um esquema de “curso moderno de matemática”. Realizou também
uma revisão em seus livros que ganharam um visual mais atraente, mais
ilustrativo com adição de uma cor para destacar tópicos importantes. Os livros
didáticos de matemática publicados na década de 1960 passam a adotar um
padrão mais “moderno”.
De modo geral, podemos notar nessas obras a preocupação com o
emprego da linguagem mais simples, exemplos mais numerosos para melhor
compreensão, porém contávamos com poucos recursos tipográficos.
Vamos observar o prefácio do Volume 1 da Coleção Didática do
Brasil Curso Colegial – Matemática, de João Batista Castanho, Edison Farah e
Benedito Castrucci, 1960, da Editora do Brasil, com relação à “matemática
moderna” que todos estavam preocupados em transmitir:
Esta nova edição de nosso livro destinado à 1ª série colegial acha-se
de acordo com a última reforma de programas. Devido à extensão do
assunto , na parte referente à Geometria, omitimos diversas
demonstrações , o que esperamos não afete a visão de conjunto.
Agora observamos o que diz Ary Quintella no prefácio de um de
seus livros mais popular, Matemática para a Série Ginasial, 1963, 105ª Edição,
Companhia Editora Nacional.
40
Procuramos, assim obedecer aos preceitos da Didática Especial da
Matemática em seu aspecto mais moderno. Encontram-se no texto
algumas sugestões sobre o uso de material didático muito simples,
pois julgamos ser seu emprego indispensável nas primeiras séries.
Grande preocupação tivemos, também, em tornar o livro didático
atraente e de uso constante do aluno na aula e fora dela, para o que
contamos com o decidido apoio da Companhia Editora Nacional, o
que com prazer registramos.
Notamos a preocupação dos autores em atender aos novos
preceitos de modernização.
Fig. 13 – Duas importantes obras de Ary Quintella: Matemática para o primário e
Matemática para o ginásio
A partir da década de 1970, começam a surgir inovações nos livros
de matemática que aparecem com textos mais adequados à realidade dos
alunos e preparados de acordo com novas legislações de ensino e
apresentando novo formato.
41
A indústria editorial procura diversificar sua produção, buscando o
livro certo para cada tipo de leitor. Ocorre uma multiplicação da busca pelo
mercado de livro, entre jovens, adolescentes, crianças na escola e pré-escola e
jovens adultos. Em meio a essa adaptação para atender novos clientes, a
indústria de livro didático procura acompanhar as mudanças ocorridas,
utilizando-se dos avanços tecnológicos, com máquinas modernas que
permitem a grande produção.
Hoje, são quase 600 editoras em atividade no Brasil, destacando-se
a IBEP/Nacional, FTD, do Brasil, Scipione, Ática, Saraiva, Moderna e Atual,
que têm suas coleções e autores de matemática, inseridos no Programa
Nacional de Livros Didáticos/2005 (PNLD/2005).
42
CAPÍTULO IV
A ATIVIDADE EDITORIAL DE LIVROS DIDÁTICOS BRASILEIROS
Ao realizarmos uma breve trajetória sobre a história do livro didático
brasileiro e conhecermos o desenvolvimento da atividade editorial de didáticos,
observamos dois fatores importantes. O primeiro é o fato de que a Impressão
Régia, no Rio de Janeiro, e outras editoras que foram sendo criadas com
trabalhos de livreiros estrangeiros que vinham para se instalar por aqui, tiveram
papel importante, no que viria a ser uma indústria nacional do livro. O segundo
fato é que a história do livro didático no Brasil teve seu desenvolvimento em a
decretos, leis e medidas do governo ao longo dos anos.
A Impressão Régia tinha a pretensão de ajudar a expandir e
melhorar a educação pública e por esta razão produziu os primeiros manuais
escolares para os cursos da Academia Real Militar, criados por D. João VI, cuja
composição, era, na maioria das vezes, traduções francesas sobre matemática
e física.
No final do século XIX e início do século XX, as editoras do Brasil,
utilizavam as impressões de Portugal, França e Alemanha. Nesta época, o
público para literatura ainda era bastante limitado e muito raramente ocorria a
impressão de livros aqui, até mesmo os livros didáticos.
43
SURGEM AS PRIMEIRAS EDITORAS
... praticamente todas as editoras brasileiras (e portuguesas) eram
propriedade pessoal de um indivíduo, ou de sociedades de pequena
duração entre duas ou três pessoas... O conceito de propriedade de
uma empresa no sentido moderno, ou seja, a investidura da
propriedade numa sociedade anônima perpétua e impessoal
possuída por grande número de acionistas, cujas ações mudam
freqüentemente de mãos, é praticamente desconhecido no comércio
de livros no Brasil pelo menos até depois da segunda guerra mundial.
(HALLEWELL, 1985 p. 215).
A Editora de Silva e Serva, 1819, em Salvador, publicou,
aproximadamente, 176 títulos, a maioria de assuntos religiosos, direito e
medicina. A Editora de Plancher, Rio de Janeiro, 1824, cujo editor era Pierre
René François Plancher de la Noé, produzia obras políticas ou administrativas,
porém foi a responsável pela publicação da primeira novela brasileira, Statira e
Zoroastes, por Lucas José de Alvarenga, em 1826.
No Maranhão, a impressão foi introduzida em novembro de 1821,
pelo governador Bernardo da Silveira Pinto. Mas, as primeiras impressoras
privadas surgiram em 1822. Assim, inicia-se o processo de impressão em
outras províncias como Recife, Pará e Paraíba.
O Brasil, do final do século XIX, tinha como referência a cultura
francesa, o que chamou a atenção de alguns livreiros-editores europeus que
buscavam expandir seus negócios em novas terras. Por esta razão,
começaram a surgir no Rio de Janeiro as primeiras editoras do Brasil.
44
Em 1833, a Livraria Universal, fundada por Eduard Laemmert, foi a
primeira a se instalar no Rio de Janeiro. Seu sucesso aconteceu quando
Eduard decide ampliar seus negócios e adquirir três impressoras. Para dominar
o negócio, decide ir à Paris e aprender tipografia. Em sociedade com seu irmão
Heinrich, inaugura a Typographia Universal, em janeiro de 1838, tornando a
Livraria, também, em Editora que fez com que seu faturamento aumentasse. A
Typographia Universal pouco investiu em livros didáticos, porém um de seus
sucessos foi o livro Por que me ufano do meu país, de Afonso Celso, em
homenagem aos quatrocentos anos do descobrimento do Brasil. Sua leitura
tornou-se obrigatória nas escolas secundárias, o que levou a esgotar a primeira
edição. A obrigatoriedade de se adotar um certo livro, nas escolas, já indica
que isso representa um bom negócio para a empresa.
Uma das mais importantes editoras brasileiras foi a Livraria Garnier,
que funcionou desde 1844 a 1934, no Rio de Janeiro e dividia o mercado de
livros com a Universal. Como muitos livreiros franceses Baptiste Louis Garnier
resolveu tentar a sorte no ramo de livros, aqui no Brasil, pois era um País novo
e propício para o desenvolvimento. Garnier concentrou sua publicação em
literatura e negociava outros artigos em sua loja, além dos livros. Começou a
editar livros, em pequena escala e mandava imprimir seus volumes em Paris e
Londres, o que lhe rendeu a antipatia dos tipógrafos brasileiros. Ele foi o
primeiro editor brasileiro a considerar a edição como atividade diferente da
impressão, pois, na época, muitos editores eram obrigados a recorrer a
Impressão Régia para realizar seus trabalhos gráficos, porém Garnier escolheu
trabalhar dessa maneira por motivos comerciais.
45
Garnier alcançou grande êxito nesse negócio, sendo considerado o
principal responsável pelo início do desenvolvimento editorial no Brasil. Um dos
fatores importantes para o sucesso da Livraria foi o público leitor,
principalmente de romances que aumentava a cada dia, sendo este o seu
campo de domínio: literatura de ficção nacional e estrangeira.
Assim, praticamente, todos os romancistas da época tiveram suas
obras publicadas por ele. Também podem ser apontados outros fatores que
contribuíram para o desenvolvimento, como a política correta da empresa em
pagar regularmente os direitos autorais e possuir um grupo de profissionais
qualificado, de redatores-revisores e tradutores. (PAIXÃO, 1996, p. 16).
Fig. 14 – Interior da sede da Livraria Garnier, na Rua do Ouvidor (à tarde era usada para reunião entre escritores e intelectuais)
Garnier também não se especializou em didáticos, mas podemos
destacar um autor de didático que foi bem reconhecido, Felisberto Rodrigues
46
Pereira de Carvalho, autor de Arythmetica das Escolas Primárias (1888) e de
Exercícios de Arithmetica e Geometria (1890).
No final do século XIX a Francisco Alves, destacava-se como grande
empresa editorial, especializada em didáticos, controlando totalmente o
mercado da literatura escolar.
A história da Francisco Alves tem início em 1882, mas, foi no ano de
1854, que o português Nicolau Alves, no Rio de Janeiro, fundou a Livraria
Clássica, especializada em livros escolares e acadêmicos. Ele e o sócio
Antonio Joaquim Ribeiro de Magalhães obtiveram tamanho sucesso nesse
ramo que estavam pensando ampliar o negócio e, para isso, estavam
precisando de ajuda quando Nicolau enviou uma carta ao sobrinho que vivia
em Portugal, Francisco Alves, perguntando se havia interesse em se juntar a
ele no negócio. Francisco Alves aceitando o convite, chega ao Brasil, no ano
de 1882.
Com seu temperamento forte começa a se destacar e, em pouco
tempo, Francisco Alves adquire as partes de seus sócios e amplia a Livraria.
Logo se transforma em editor e inicia seu pioneirismo no Brasil a fazer livros
didáticos, que passa a ser seu principal produto. Era tido como grosseiro e rude
com os funcionários, pois exigia deles o mais alto nível profissional e para isso
pagava muito bem. Era persistente e arrojado, mantendo seu negócio sempre
em expansão. Às vezes, chegava a ser generoso, quando doava livros às
escolas. Um dos motivos que o manteve no controle na área de didáticos foi o
preço baixo e, outro motivo foi o fato de comprar seus adversários como, por
exemplo, a Laemmert em 1910. Ele usava esse tipo de negócio para ter o
direito de suas publicações e chegou a comprar um total de dez editoras.
47
A cidade de São Paulo começa a atrair novos investidores e
Francisco Alves, com seu faro para os negócios resolve abrir uma filial por lá, o
que ocorre em 1883.
A Casa Alves, como era chamada, tinha uma forma inovadora de se
relacionar com autores e grande visão empresarial para o futuro. Ela chegou a
conquistar o mercado europeu e deteve por muito tempo o monopólio do livro
escolar.
No ano de 1917, com o falecimento de seu fundador, a Casa Alves
era líder no mercado de livros, e seus sucessores conseguiram mantê-la nesse
posto até 1925, ano em que surge para revolucionar o mercado de livros, a Cia
Editora Nacional, fundada por Monteiro Lobato e Octalles Marcondes Ferreira,
com um novo contexto histórico e cultural, tirando a posição de liderança da
Francisco Alves, que em 1972, volta a chamar-se Livraria Francisco Alves
Editora e é a mais antiga editora do Rio de Janeiro com atividade ininterrupta,
publicando atualmente obras de ficção.
Fig. 15 – Livraria
Francisco Alves à Rua
São Bento, em São Paulo (1915).
48
No final do século XIX e início do século XX, surge em São Paulo,
para competir no mercado de didáticos, a empresa de origem francesa, FTD.
Foi no ano de 1897, que, chegam ao Brasil os irmãos Maristas sob
determinação de Frère Théophane Durand - FTD e, dão início à Província
Marista do Brasil, com a fundação de uma escola em Congonhas de Campos,
Minas Gerais. No decorrer dos vinte anos seguintes, foram crescendo as
Províncias Maristas por todo país. A FTD que já fazia parte da rotina dos
colégios maristas na França acompanhou os irmãos Maristas por todo o
mundo, possibilitando surgir traduções e adaptações de várias obras de
utilização universal, bem como livros escritos dentro das exigências específicas
de cada cultura, nos diversos países.
Em 1902, o Irmão Isidoro Dumont, inicia sua missão educativa no
Brasil e logo verifica que seria viável dedicar-se ao crescimento de uma FTD
aqui. Irmão Isidoro, como era chamado, era licenciado em matemática na
França e dedicou-se pessoalmente à produção de novos livros de aritmética,
álgebra, geometria, trigonometria e outros. Lutou para a realização do projeto
de uma FTD brasileira e, selecionou seus colaboradores, dentre aqueles com
melhor preparo acadêmico.
Conforme Megale (2003), em quatro décadas, fez da FTD a mais
completa editora de livros escolares do País, a única a cobrir, na época, todas
as áreas de ensino. Os livros produzidos pela FTD tinham um esquema a ser
seguido, denominado método FTD.
49
A ATIVIDADE EDITORIAL É ATRAÍDA POR SÃO PAULO
Se hoje podemos dizer que São Paulo é a capital brasileira dos
“grandes negócios”, essa posição de destaque nem sempre foi assim... A
atividade editorial de livros didáticos que, atualmente se tornou um dos
negócios mais promissores no Brasil, teve seu início com estrangeiros que
vinham para cá desejosos de obter sucesso comercial. Com a população
intelectual que se criou novos rumos foram sendo tomados para o livro didático,
que passou a ser de interesse não somente de seus autores e editores, mas
também do governo.
Mas, vamos observar como tudo começou...
Em 1828, a cidade de São Paulo foi escolhida para abrigar uma das
novas escolas de Direito, fato importante que marcou a história do
desenvolvimento da cidade.
No início, o número de estudantes que concluíam o curso era muito
pequeno, inferior a dez, e isso refletiu na ausência de publicações na província.
Ma, em 1855, apesar de poucos habitantes, em torno de 15 mil, o número de
estudantes chegou a 600 e a cidade era considerada mais intelectual e menos
comercial que qualquer outra cidade brasileira.
50
Fig. 16 – Faculdade de Direito de São Paulo, no Largo São Francisco. À sua volta estavam reunidas as poucas Livrarias.
Na época, havia três livrarias e três gráficas na cidade que só
imprimiam livros por encomenda dos autores e, os estudantes da Faculdade de
Direito, muitas vezes, precisavam recorrer à corte para suprir suas
necessidades de impressão.
A mais conhecida delas era a dos irmãos portugueses José
Fernandes de Sousa, e Antonio Maria, fundada em 1876, na Rua São Bento,
com o nome de Grande Livraria Paulista e depois passou a chamar-se Livraria
Teixeira.
Nos anos de 1888 a Livraria Teixeira passa a editar livros, como os
romances de Júlio Ribeiro, Casimiro de Abreu Joaquim José de Macedo, entre
outros. Com a morte de José Fernandes de Sousa, em 1929, José Vieira
Pontes, acabou se tornando único dono da Livraria.
51
Fig. 17 – Livraria Teixeira na Rua São João, por volta dos anos de 1920.
A cidade de São Paulo sofre um crescimento repentino em sua
população, com a vinda de flagelados, fugindo da seca no sertão do Nordeste.
Essa migração continuou pelos anos seguintes e, em 1893, São Paulo contava
com uma população de 192.409 habitantes, passando a ser a segunda maior
cidade do País. No início do século XX, a cidade se igualava ao Rio de Janeiro
em número de habitantes, que era de 239.820.
52
Nos anos de 1860, o mercado de livros começa a crescer em São
Paulo e a atrair livreiros para cá. Um deles foi o livreiro Baptista Louis Garnier,
dono da famosa Livraria Garnier, no Rio de Janeiro, que observando o
crescimento da cidade de São Paulo, resolveu abrir uma filial na cidade, sob a
direção de seu funcionário desde 1850, o francês Anatole Louis Garraux.
A Casa Garraux foi instalada no Largo da Sé, e comercializava em
sua loja, além de livros, material de escritório. Logo ficou famosa, nesse
mesmo ano, publicou seu catálogo de livros, sendo a maioria livros jurídicos.
A vida cultural de São Paulo começa a se destacar nos anos de
1920. A Casa Garraux é freqüentada diariamente por pessoas importantes da
sociedade política e intelectual, entre eles autores modernistas.
Nos anos de 1914, Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, compra uma
biblioteca de livros jurídicos, no Largo do Ouvidor, São Paulo, e monta um sebo
com o nome de Livraria Acadêmica Jurídica.
Em 1817, a Livraria lança o livro Casamento Civil, de Aniceto Correa
e ganha status de editora. Durante 30 anos, a Editora dedica-se,
exclusivamente, à área jurídica. Esse quadro mudaria, em 1944, após o
falecimento de Saraiva, e a editora passa para as mãos de seus três filhos, que
expandiram o número de livrarias e diversificaram a linha editorial.
Na década de 1960, a Saraiva começa a interessar-se por livros
didáticos e, na década de 1970 consagra-se como uma das maiores editoras
desse segmento, para primeiro e segundo graus. Em 1978, também, se
destaca com edições para a universidade.
53
QUATRO EDITORAS DE LIVROS DIDÁTICOS DE
MATEMÁTICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES
A atividade editorial, enquanto agente da cultura,
reflete passo a passo as transformações da
sociedade brasileira. No entanto, sabemos o
quanto é pouco conhecido o pioneirismo e a garra
de editores do passado que, à frente de casas
publicadoras ousadas para o seu tempo,
possibilitaram ao setor atingir em nossos dias a
plena maturidade.
José Bantim Duarte1
COMPANHIA EDITORA NACIONAL
Um país se faz com homens e livros.
Monteiro Lobato
Em 1917, Monteiro Lobato inicia sua atividade editorial no Brasil,
trazendo na cabeça lindas histórias infantis e um grande sonho: tornar-se
editor.
José Bento de Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882, em
Taubaté. Formou-se bacharel na Faculdade de Direito de São Paulo em 1904.
Nos anos seguintes foi promotor público em Areias (SP) e fazendeiro
em Buquira, hoje com o seu nome “Monteiro Lobato” (SP).
1 DUARTE, José Bantim Diretor Editorial da FTD
54
Nos tempos livres, que tinha enquanto era fazendeiro, Lobato
gostava de escrever contos que falava sobre a vida da fazenda e a vizinhança
caipira, chegando a criar personagens tipicamente da roça como o famoso
“Jeca Tatu”. Escrevia para os periódicos O Estado de São Paulo que tinha
grande prazer em publicar seus trabalhos. Vida Moderna e Revista do Brasil.
Na época, Lobato percebeu que o mercado editorial estava
oferecendo uma boa oportunidade para iniciar seu próprio negócio. Então, no
ano de 1917, vendeu sua fazenda e utilizou parte do dinheiro para financiar a
publicação do livro Saci-Pererê, e de seu mais famoso livro de contos Urupês,
cujas obras foram impressas na gráfica do “O Estado de S. Paulo”.
Urupês foi um sucesso conquistando grande público. Com dois
meses de lançamento, já havia tido duas impressões esgotadas e, até 1923, já
haviam sido feitas nove impressões em total de trinta mil exemplares, algo
inédito, nunca antes acontecido no Brasil, com um livro brasileiro de ficção.
Fig. 18 - Urupês, de Monteiro Lobato, que tratava criticamente a
situação do campo brasileiro.
55
Em 1918, quando escrevia para a Revista do Brasil, surgiu
comentário, entre seus companheiros, da hipótese de se criar uma nova editora
de obras literárias nacionais. Com a idéia amadurecida, Lobato tomou algumas
providências e adquiriu a Revista do Brasil para utilizá-la como ponto de
distribuição e aumentar os pontos de venda. Em seguida, encaminhou uma
circular para os vários endereços de papelarias, jornal, farmácias, armazéns,
açougues além dos endereços fornecidos por amigos e conhecidos de todo o
país. A estratégia utilizada por Lobato em sua Circular, era simples e direta,
como podemos observa:
Vossa Senhoria tem o seu negócio montado, e quanto mais coisas
vender, maior será o lucro. Quer vender também uma coisa chamada
´livro´? Vossa Senhoria não precisa inteirar-se do que essa coisa é.
Trata-se de um artigo comercial como qualquer outro; batata,
querosene ou bacalhau. É uma mercadoria que não precisa examinar
nem saber se é boa nem vir a esta escolher. O conteúdo não
interessa a V.Sa. e, sim ao seu cliente, o qual dele tomará
conhecimento através das nossas explicações nos catálogos,
prefácios etc. E como V.Sa., receberá esse artigo em consignação,
não perderá coisa alguma no que propomos. Se vender os tais
´livros´, terá uma comissão de 30p.c.; se não vendê-los, no-los
devolverá pelo Correio, com o porte por nossa conta. Responda se
topa ou não topa. (LOBATO, apud HALLEWEL, 1985 p.245)
Assim, Lobato conseguiu uma rede de quase dois mil distribuidores
por todo Brasil e revolucionou a indústria editorial brasileira, sob críticas,
sobretudo da elite, que via nessas ações o rebaixamento dos valores
intelectuais.
56
Lobato não se abalou com as críticas, pois importava-se com a
aprovação do público. Ele próprio considerava-se um editor revolucionário que
abria a porta para os novos, pois gostava de lançar novos nomes. Acreditava
que a literatura necessitava de uma inovação.
No ano de 1919, a firma editorial Revista do Brasil tornou-se Cia.
Monteiro Lobato, em sociedade com Octalles Marcondes Ferreira, um jovem
guardador de livros com muita ambição e disposição para trabalhar que Lobato
conheceu quando adquiriu a Revista do Brasil.
Em 1920, publicou A Menina do Narizinho Arrebitado, seu primeiro
livro para crianças, cuja história se passa no Sítio do Pica-pau Amarelo. Nos
anos seguintes, lançou inúmeros livros com as aventuras das personagens do
Sítio, pelos quais é considerado o fundador da literatura infantil brasileira.
A editora tornou-se motivo de recomendação e, em 1920, vendia em
média, quatro mil livros por mês e no ano seguinte publicava uma nova edição
a cada semana. Em dezembro de 1922, A Monteiro Lobato & Cia. amplia sua
participação societária. Lobato e Octalles M. Ferreira ganham nove sócios:
Martinho Prado, José Carlos de Macedo Soares, Paulo Prado, Alberto Seabra
e Alfredo Machado, Heitor de Morais, Renato Maia, Alfredo Costa e José
Antonio Nogueira e inauguram a Companhia Gráfica-Editora Monteiro Lobato
S.A.
No final de 1924 e início de 1925, a Cia. Gráfico-Editora Monteiro
Lobato S.A. sofre um abalo financeiro pelas dívidas contraídas pela importação
de maquinário e matéria-prima. São Paulo sofre com a Revolução Paulista que
causou grande prejuízo ao comércio, além da seca ocorrida, que obriga a
empresa de fornecimento de energia, Light, a cortar dois terços do
57
fornecimento de energia. Outro fator que atinge diretamente as transações
feitas por Lobato, foram as mudanças feitas pelo governo de Artur Bernardes,
na orientação bancária.
A editora de Lobato entra em crise terminal, com um enorme
maquinário parado, matéria-prima importada sem utilização e, muitos
compromissos a saldar.
No dia 24 de julho de 1925, Monteiro Lobato e o jurista Waldemar
Ferreira dão entrada no requerimento de autofalência da Companhia Gráfico-
Editora. A falência precoce, pois a empresa havia iniciado inovações na
atividade editorial, com a impressão das edições no País e a distribuição de
livros por todas capitais e cidades.
Em 15 de setembro do mesmo ano, realiza-se no Rio de Janeiro a
assembléia de constituição da Companhia Editora Nacional, partindo para o
lado editorial, tendo contando com o acervo editorial da antiga empresa. Com o
espírito inovador de Lobato, as obras ganharam vida, novos escritores
nacionais imprimiam milhares de exemplares, além de coleções que começam
a ganhar abertura.
No final de 1926, a empresa transfere sua matriz para São Paulo, de
olho no mercado emergente e, inaugura uma sua trajetória de crescimento
lento, mas firme, quando no ano de 1927, Monteiro Lobato parte aos Estados
Unidos, como Adido Cultural e a Editora fica sob a responsabilidade de
Octalles Marcondes.
A Companhia Editora Nacional passou por várias crises, em 1929, a
recessão; em 1930 e 1932 as revoluções e a falta de matéria-prima, porém, no
início dos anos 1930 a Companhia Editora Nacional era a maior editora de
58
livros de São Paulo e, no ano de 1938, já era responsável por quase um terço
da produção do País.
Octalles Marcondes abraçou a atividade editorial com muita
dedicação e tornou a Nacional em grande semeadura de cultura e saber e,
chega à década de 1970 como a maior e mais lucrativa editora do País.
Entre seus livros, destacamos a importante coleção Brasiliana, que
até os dias de hoje é utilizada para pesquisas. Na área de didáticos, conta com
o prestígio de autores internacionais. Na área de Didáticos de Matemática
destacamos os seguintes autores: Ary Quintella, professor catedrático do
Colégio Militar, tem suas obras editadas pela Nacional, desde a década de
1940, para o curso ginasial e colegial, além do guia destinado ao exame de
madureza; Thales Mello Carvalho com livros de Matemática para os cursos
Clássicos e Científicos, 1944; Carlos Calioli e Nicolau D’Ambrósio, com os
seguintes títulos: Matemática (Aritmética e Geometria) para o curso Comercial
Básico, 1940, Geometria Intuitiva e Aritmética Prática do Ginásio Comercial,
1956; Aritmética Prática, 1959; Nicolau D’Ambrosio e Ubiratan D’Ambrosio com
a obra Matemática Comercial e Financeira para os Cursos Colegiais de
Comércio, 1957; Oswaldo Sangiorgi, com as seguintes obras: Matemática
Curso Ginasial – 1ª série, 1953; Matemática e Estatística para os Institutos de
Educação e Escolas Normais, 1963; Matemática 1 – Curso Moderno para os
Ginásios, 1969 e Matemática 2 – Curso Moderno para o Colegial, 1969 e
Manuel Jairo Bezerra com o livro para o Curso Clássico e Científico.
59
Com a morte de Octalles Marcondes, no ano de 1973, sua família
vende a Editora a José Olympo que a compra com a ajuda do Governo. A
empresa acaba ficando sob o controle do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico – BNDE e, em poucos anos, deixa de ser líder no mercado editorial,
caindo para a quinta colocação entre as gráficas.
No ano de 1980, a Companhia Editora Nacional é adquirida pelo
Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas – IBEP, e dessa forma passa a
formar um dos maiores grupos editoriais: IBEP Companhia Editora Nacional.
IBEP E COMPANHIA EDITORA NACIONAL
O IBEP - Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas fundado, na
1965, à Rua Senador Feijó, centro de São Paulo, é uma das maiores
referências de qualidade no mercado nacional de livros didáticos com capital
genuinamente brasileiro. Seus idealizadores, Jorge Antonio Miguel Yunes e
Paulo Cornado Marte, tinham como meta renovar os livros didáticos
distribuídos em escolas de todo o País produzindo obras que satisfizessem
professores e alunos em sala de aula.
Em 1980, por meio de leilão do BNDES, o IBEP comprou a
Companhia Editora Nacional que trouxe consigo uma grande linha de livros
didáticos e paradidáticos do Ensino Infantil ao Ensino Fundamental.
Seus fundadores, unindo conhecimento administrativo com visão
editorial, apostavam no potencial dos livros didáticos que, vivia em crescente
60
expansão mantendo no dia-a-dia da produção, uma relação direta com os
autores.
Além do mais, o formato dos livros precisavam ser revistos e
atualizados — muitos dos quais se mantinham nas escolas por décadas e
décadas sem nenhuma reformulação em seu conteúdo didático. Inovar era a
palavra de ordem da editora. Sendo assim, professores contratados
exclusivamente pelo IBEP agregaram elementos ao texto como ilustrações e
quadrinhos. Um sistema de produção e distribuição foi criado para que
atendesse rapidamente as livrarias, as escolas e as vendas para o governo. No
mais, a editora promoveu o acesso do livro didático a todas as camadas
sociais, além de criar edições específicas para diferentes regiões do País.
Uma das primeiras inovações do IBEP foi a impressão de livros em
duas e quatro cores em 1969. Os desenhos de Rodolfo Zalla e Eugênio
Colonnese ilustraram os livros História do Brasil e História Geral, do professor
Julierme de Abreu de Castro, para 5ª e 6ª séries em quadrinhos, sucesso como
primeiro exemplar escolar produzido nesse formato por uma editora brasileira.
A partir de então, as ilustrações nos livros didáticos não eram mais
simples acompanhamentos das disciplinas, mas, com a entrada da editora no
mercado, introduziram uma nova linguagem ao conteúdo educacional,
oferecendo aspectos lúdicos às obras.
O IBEP participou de todos os programas educacionais do governo
para o fornecimento de livros didáticos desde a sua fundação. Em agosto de
1994 a editora venceu a concorrência da Fundação de Assistência do
Estudante (FAE) para distribuição de 11,5 milhões de livros didáticos a seis
milhões de crianças. O curioso é que os dois livros — Viajando com as
61
Palavras e Viajando com os Números, de português e de matemática, foram
escritos pela professora Déborah Pádua Mello Neves, autora do IBEP desde
1970 com mais de 100 títulos escritos. Naquele ano, Deborah tornou-se a
escritora que mais vendeu livros no Brasil superando os best-sellers da
literatura brasileira.
Até 1995, a avaliação das obras era tarefa exclusiva dos docentes
das escolas públicas, a partir de então, com a implantação do PNLD (Programa
Nacional de Livros Didáticos) o MEC (Ministério da Educação) cria uma
comissão para selecionar as obras uniformizando seu uso em diferentes
regiões do Brasil.
Segundo dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL), nos últimos
dez anos, o mercado de obras didáticas duplicou, atingindo a marca de 120
milhões de unidades compradas pelo governo e distribuídas a escolas da rede
pública de todo o País.
O IBEP, com uma política que preza pela qualidade da produção,
conseguiu acompanhar essa demanda. Das 14 coleções que inscreveu no
Programa Nacional de Livros Didáticos 2004 (PNLD), 12 foram aprovadas,
sendo a editora com o maior número de livros recomendados com distinção
pelo MEC.
Em outubro de 2004, a editora mudou para um espaço que permite a
adequação da nova realidade e visão que a empresa está desenvolvendo.
Também há a intenção de ampliar os serviços, oferecendo o parque gráfico
para a impressão de produtos de terceiros, com o objetivo de evitar a
centralização na própria produção. Com os novos equipamentos adquiridos
62
pela empresa, o parque gráfico será utilizado para produzir livros, revistas,
jornais, folhetos e outros impressos.
Neste mesmo ano, já foram aprovadas 150 novas obras, de
literatura e, o lançamento de três dicionários. Na área de didáticos, que é o
forte da empresa, já existem mais de 20 coleções com lançamentos previstos
para os próximos dois anos. Atualmente, conta com produção diária de cerca
de 90 mil livros e um milhão e, 400 mil cadernos, o parque gráfico ocupa área
de 32 mil metros quadrados. É dotado de equipamentos para pré-impressão,
impressão e acabamento, além de expedição e estoque.
EDITORA DO BRASIL
Parte das informações sobre a história da Editora foram adquiridas
em entrevista, realizada no dia 17 de maio de 2005, com a Sra. Isis Valéria
Gomes, que foi gerente editorial de todas as áreas de publicação da Editora do
Brasil que a partir de 2002 passou a exercer a função de Consultora para todas
as áreas Institucionais da empresa, com total responsabilidade de responder às
questões que são indagadas sobre a empresa.
A Editora do Brasil nasceu no ano de 1944, em um pequeno local da
Rua Conselheiro Nébias, 887, endereço atual da empresa, no final do governo
Getúlio Vargas, quando um grupo de empresários brasileiros formou a idéia de
fazer uma grande editora de livros didáticos, entre eles, o fundador da empresa,
Dr. Carlos Costa, na área da Biologia e o Dr. Victor Musumeci, um grande
historiador.
63
Dr. Carlos Costa era médico e grande autor de biologia para o curso
científico, cujos livros eram editados pela Companhia Editora Nacional, que na
época, tinha como editor principal Monteiro Lobato, e seu editor assistente, o
jovem Manoel Neto. Com a idéia da criação de uma nova editora, Dr. Carlos
convida o Sr. Manoel Neto para ser editor da nova empresa e transfere, depois
de certo tempo seu livro de biologia da Companhia Editora Nacional para a
Editora do Brasil.
A vocação didática cresceu com o País e desde o início dos
programas públicos a Editora do Brasil destacou-se com um trabalho de
qualidade que resultou em grande prestígio no mercado editorial muito em
função da ação de seus sócios, professores eméritos de várias áreas do
conhecimento e já autores publicados com grande aceitação, destacando-se na
área de biologia o Dr. Carlos Costa e na área de história o Dr. Victor Musumeci.
Fig. 19 – Editora do Brasil, na Rua Cons. Nébias, 887, por volta de 1990.
64
Desde o início de suas atividades, a Editora do Brasil alcançou
grande sucesso editorial sendo líder de mercado em todos os segmentos da
educação Primária, Ginasial e Secundária, hoje Ensinos Fundamental e Médio.
Nas décadas de 1940 e 1950, a Editora publicou duas importantes
obras de Matemática que faziam parte da Coleção Didática do Brasil,
destinadas aos cursos Clássicos e Científicos. Uma delas foi Elementos de
Matemática, de Antenor de Paiva e Souza e a outra Matemática cujos autores
eram os professores Fernando Furquim de Almeida, João B. Castanho, Edison
Farah e Benedito Castruci. Mas, a coleção de matemática mais popular e com
maior número de vendagem é a Praticando Matemática, de Álvaro Andrini
Quando procuramos saber sobre o acervo histórico da empresa,
fomos informados de que a empresa conserva alguns exemplares dos
principais títulos que conseguiu salvar de uma enchente sofrida nos anos 1990,
a qual trouxe grande prejuízo ao acervo, fazendo com que perdessem a
referência histórica.
Atualmente, a Editora do Brasil está posicionada entre as dez
maiores editoras brasileiras de livros didáticos.
EDITORA FTD
Grande parte da história da FTD nos foi contada por meio de um
livro que marcou a comemoração dos 100 anos de existência da FTD no Brasil,
concedido pelo Prof. Lafayette Megalle, Editor de Matemática da FTD, quando
nos deu uma entrevista no dia 28 de abril de 2005, em visita à Editora.
65
Fundada pelos Irmãos Maristas, que chegaram ao Brasil em 1897,
estabeleceu-se primeiro em Congonhas do Campo - MG, cuja missão principal
era educar.
O estilo educativo marista baseia-se em uma visão integral, que se
propõe a comunicar valores, tendo como principais atributos o amor, a
presença amiga do educador junto ao educando, o valor do esporte, a
constância no trabalho e o espírito de família. O Padre José Bento Marcelino
(1789-1840), fundador da Congregação Marista acreditava que para educar era
essencial ter amor ao educando. Essa valorização ao amor surgiu desde a
infância, quando Marcelino desistiu de freqüentar a escola, após o primeiro dia
de aula, quando testemunhou a atitude violenta de um professor contra um
aluno. Voltou para casa, no interior da França, assustado e, decidido a ajudar
seu pai na lavoura. Mas, quando estava com 14 anos de idade, foi introduzido
ao Seminário Menor, onde passou uma etapa de verdadeiro crescimento
humano e espiritual e decidiu fazer o possível para que as crianças tivessem
pleno acesso à educação.
Com seus primeiros seguidores, Marcelino Champagnat entregou-se
com enorme entusiasmo à missão de educar as crianças e os jovens. Elaborou
e aperfeiçoou um sistema de valores educativos, propondo abordagens
pedagógicas inovadoras e eficazes.
Entre 1817 e 1824, iniciou uma escola primária em La Valla, França,
utilizando-a como um centro de formação docente para seus jovens Irmãos. A
comunidade não parava de crescer. Champagnat e seus Irmãos participaram
da construção de sua nova casa. Em 1825, ficava pronta uma grande casa de
formação, abrigo de mais de cem pessoas, que ganhou o nome de "Nossa
66
Senhora de L'Hermitage". Livre da função de pároco, Champagnat passou a se
dedicar inteiramente à sua Congregação: à formação e acompanhamento
espiritual, pedagógico e apostólico dos seus Irmãos, à visita às escolas e à
fundação de novas obras. O local passou a ser um espaço de aprimoramento
da Pedagogia Marista, de seus princípios e de suas práticas.
Champagnat acreditava que para educar era essencial ter-se
vocação e preparo profissional e dedica-se à formação de bons educadores.
Em 1853, publica o livro Guide dês Écoles (Guia das Escolas), considerado
uma obra-mestra da pedagogia, que estava além de seu tempo.
No desejo de tornar Jesus Cristo conhecido por todos, acredita que
a escola é o meio privilegiado para essa missão de evangelização. No final do
século XIX, já eram mais de cinco mil Maristas trabalhando em educação,
espalhados por várias cidades do mundo, chegando ao Brasil em 1897.
O nome FTD surge da sigla de Frère Théophane Durand que
assumiu a direção da Congreção Marista, em 1883. Nesta época, muitos livros
publicados pelos Maristas eram adotados em várias escolas da França. Livros
esses, escritos em uma linguagem pedagogicamente qualificada de história,
geografia, aritmética, ciências físicas e naturais e outras disciplinas e que
passaram a integrar a rica coleção sob o título Coleção de Livros Didáticos
FTD.
Por volta de 1890, a sigla FTD foi registrada com a necessidade de
se abrir uma empresa editorial e passou a administrar legalmente as edições já
existentes e ampliou o número com obras novas.
A história dos Maristas no Brasil começa em 1897, quando chegam
para fundar uma escola em Congonhas do Campo em Minas Gerais a pedido
67
de Dom Silvério Gomes Pimenta. Na pequena escola em Congonhas do
Campo, surgiram seguidores da filosofia Marista que multiplicaram as obras de
São Marcelino Champagnat2 pelo Brasil.
No ano de 1917, para comemorar os vinte anos que os Maristas
estavam presentes no Brasil e o centenário da fundação da Congregação, foi
publicado em francês um livro histórico com o título Vingt Ans de Brésil, 1897-
1917, que se tornou fonte valiosa da história da origem da FTD no Brasil.
Foram as dificuldades dos professores franceses em dar aulas em
português e não terem livros que levaram o diretor de escola, Irmão Andrônico
(1856-1903) a iniciar traduções e adaptações de alguns livros da FTD francesa
para o Brasil.
O primeiro livro FTD no Brasil foi Exercícios de Cálculo sobre as
Quatro Operações, em 1902. A partir daí, a cada ano com maior intensidade,
os Irmãos dedicaram-se às tarefas de traduzir os livros de currículo comum à
França e ao Brasil, além de criar textos para o ensino de língua portuguesa, de
história e de geografia do Brasil e produzir os primeiros Atlas escolares
brasileiros.
No início do século XX, o livro de matemática mais adotado no Brasil
era Aritmética Elementar Ilustrada, de Antônio Trajano. Segundo Pfromm Neto
(1974) foi o livro de vida mais longa e foi recebido com grande satisfação por
muitos estabelecimentos importantes de educação.
No ano de 1902, chega ao Brasil o Irmão Isidoro Dumont (1874-
1941) como sucessor do Irmão Andrônico (1856-1903), na direção do Colégio
do Carmo em São Paulo. Irmão Isidoro que era licenciado em matemática na 2 O Padre José Bento Marcelino Champagnat (1749-1840), foi canonizado pelo Papa João Paulo II no dia 18 de abril de 1999.
68
França manteve sob seu controle as publicações dos novos livros de
aritmética, álgebra, geometria, trigonometria e outros. Quase todas as escolas
brasileiras adotavam os livros FTD, mas um dos livros que se tornou símbolo
da FTD foi o Novas Taboas de Logarithmos (1919).
Fig. 20 – Novas Tábuas de Logaritmos Coleção de Livros Didáticos FTD, 1937
A empresa demorou a se constituir como empresa editorial, pois a
impressão e acabamento de suas obras eram feitos na França, na cidade de
Lyon, o que durou por três décadas. No ano de 1911, o Irmão Isidoro contrata
os serviços de distribuição e de comercialização do livreiro Francisco Alves.
Nos anos de 1950 o setor editorial começa a sofrer transformações e
o campo didático sofre modificações nos currículos. Surgem novas editoras.
69
Após o falecimento do Irmão Isidoro, em 1941, a Editora FTD diminui
a produção e edição de livros, perdendo parte de seu espaço conquistado. Em
março de 1956, os administradores Maristas assinam com a Editora do Brasil
“contrato de cessão e transferência de direitos relativos à propriedade e à
autoria das obras que compõem a coleção de livros didáticos FTD, dos Irmãos
Maristas”. A partir de então, a Editora do Brasil passou a controlar a produção
editorial e gráfica das obras da FTD. A união entre as empresas durou por sete
anos, sem o êxito esperado por ambas as partes.
No ano de 1963, a FTD rescinde contrato com a Editora do Brasil e
transforma-se em Editora FTD S.A. Sob a direção do Irmão Savério Ronchi, a
empresa contratou autores não Maristas, pois pretendia lançar ao público uma
FTD de cara nova. Entre eles, na área de matemática, estavam os professores
Benedito Castrucci e Alcides Bóscolo da USP.
No dia 11 de junho de 1966, foi inaugurada em São Paulo, a
primeira matriz FTD, na Rua Lavapés, no bairro do Cambuci.
Fig. 21 – Sede provisória da primeira matriz da Editora FTD, no bairro do Cambuci, em São (centro da foto)
70
A empresa começa a retomar seu crescimento e a matriz de São
Paulo já não comporta e necessita de novo espaço físico. A empresa adquire o
edifício da Rua Rui Barbosa, na região central da capital paulista e, em 1980,
instala a filial na Avenida Hermano Marchetti, na Lapa. Na década de 1990, o
editorial passa a atuar separado do comercial na Rua Manoel Dutra.
Hoje, os maristas são responsáveis pela formação de mais de
170.000 pessoas, entre alunos matriculados em Educação Infantil, Ensino
Fundamental, Ensino Médio e Nível Superior (Graduação e Extensão), Escolas
conveniadas e Centros Sociais.
Distribuídos, pelo Brasil, em quatro regiões administrativas
denominadas províncias: Amazonas, Brasil Norte, Rio de Janeiro, Brasil
Centro-Sul e Rio Grande do Sul, há sessenta escolas próprias, oito escolas
conveniadas, quarenta e nove obras sociais de formação marista, dezenove
centros de formação humana, sete veículos de comunicação entre rádios e
jornais, além de sei programas veiculados na Rede Vida de TV, sei hospitais,
quatro universidades e cento e dez comunidades religiosas.
As obras da FTD são bem avaliadas em relação ao proposto pelos
órgãos governamentais ligados à educação e ocupam posição de honra em
relação às obras aprovadas pela Secretaria de Ensino Fundamental (SEF) e do
Ministério da Educação (MEC).
A missão dos novos diretores da FTD é manter os ideais que
nortearam os criadores da editora, cujo resultado leva para as escolas livros de
excelente qualidade editorial e alto retorno pedagógico.
71
EDITORA SCIPIONE
Para conhecermos um pouco da história da Editora Scipione,
procuramos o professor Valdemar Vello, Assistente Editorial de Matemática da
Ática, hoje parte integrante do Grupo Abril Educação que nos concedeu a
entrevista no dia 20 de maio de 2005, quando de nossa visita à Editora.
Procuramos saber se a Editora Scipione possui um acervo histórico
e segundo o Prof. Vello, ela possui um acervo de suas próprias obras que
conta com todas as edições de um determinado livro ou coleção e, que faz
parte de uma biblioteca especial da Editora, uma espécie de controle que
envolve o acompanhamento e a evolução de um produto, em particular.
A respeito da história da Editora Scipione ele nos conta que o
desejo do Prof. Scipione Di Pierro Netto de atuar diretamente como editor,
toma impulso logo após o lançamento de sua Revista Educação e Matemática,
em módulo, no ano de 1979, após o encontro no Teatro da Universidade
Católica (TUCA3), de professores de física, química e matemática. Na época,
o professor Scipione procurou pelo diretor da Ática, o Prof. Anderson
Fernandes Dias para se orientar sobre a inclusão no mercado de livros.
Em 1979 inicia suas atividades editoriais e permanece até o ano de
1983. Na época, a Editora chamava-se Scipione, Autores e Editores, e tinha
característica familiar. Editava seus próprios livros em parceria com seus
alunos e também de alguns autores que estavam próximos a seu trabalho.
3 Fundado em 1965, é um importante marco cultural para a cidade de São Paulo e para o País. Durante a Ditadura Militar, o TUCA foi palco de importantes manifestações políticas, desempenhando um papel significativo no contexto histórico brasileiro. Servindo aos interesses culturais, educacionais, artísticos, políticos e sociais dos universitários e da população paulistana.
72
Com o crescimento da editora, começa a surgir uma certa
impossibilidade de se adequar o trabalho de educação em sala de aula de
professor e pesquisador com o trabalho de editor que exige muito tempo de
dedicação.
No final de 1983, o professor Scipione oferece a compra da empresa
ao professor Anderson, da Ática, este aceita, pois pretendia treinar seus
próprios filhos em uma empresa em fase de crescimento, para que
aprendessem da mesma maneira que ele aprendeu. A Scipione, Autores e
Editores foi adquirida pela família Fernandes Dias em setembro de 1983, nesta
época a empresa possuía um catálogo de cinco títulos e um volume de vendas
de quase 100 mil exemplares por ano.
Em 1983, Prof. Vello que já era funcionário da Ática, passa a
trabalhar na Scipione e acompanha esse processo de transição de
proprietários e sugere que a empresa passe a ser chamada de Editora
Scipione, pois apresentava em seu catálogo obras muito importantes e o nome
havia se tornado muito forte. Mesmo após a venda, o professor Scipione
manteve uma sala na Editora, para atender seus conhecidos e orientar as
pessoas que o procuravam.
No princípio, pensou-se em manter poucos funcionários na empresa,
em torno de seis, porém, após o primeiro mês, a empresa já contava com um
número de vinte funcionários e depois de seis meses já eram em torno de 50
funcionários.
No ano seguinte, com o lançamento das primeiras coleções voltadas
para o ensino de 1ª a 4ª séries, alcançou a marca de dois milhões de
exemplares no mercado governamental e, nos dois primeiros anos já estava
73
firme no mercado alcançando um crescimento extraordinário, chegando a
ocupar em certo período o segundo lugar no mercado brasileiro, ficando a
primeira posição com a Ática.
No decorrer dos anos seguintes, sempre esteve ocupando a terceira
posição no mercado brasileiro, perdendo espaço, somente nos últimos anos,
em razão da forte concorrência, mesmo assim se mantém entre as cinco
primeiras posições.
No ano de 1984, com o objetivo de acompanhar as tendências do
mercado editorial, a Scipione apresentou ao público sua primeira coleção de
livros paradidáticos, a série Reencontro, os maiores clássicos da literatura
universal recontados por escritores de talento, em uma linguagem acessível e
agradável, que estimula e cativa o leitor. Sua aceitação no mercado foi tal que,
hoje, conta com mais de setenta clássicos da literatura universal.
Ao longo desses anos, a Scipione vem ampliando não só o número
de títulos, mas o de leitores e prêmios, o que estimulou a criação da série
Reencontro Infantil, voltada para crianças a partir de nove anos, e da série
Reencontro Filosofia, que contempla obras dos grandes filósofos, voltadas para
jovens.
No ano de 1987, a Scipione muda-se para a praça Carlos Gomes,
46, no bairro da Liberdade. Com a expansão de sua capacidade de
comercialização, em 1989, assina novos contratos de distribuição e inaugura
as filiais de São Paulo e Rio de Janeiro e, também, inaugura sua Central de
Armazenagem em Itapecerica da Serra, ganhando novos contornos de infra-
estrutura e logística de operações.
74
Em 1999, a Scipione foi adquirida pela Editora Abril em parceria com
o grupo franco-espanhol Havas Anaya, controlado pelo grupo francês Vivendi
Universal Publishing, e registra, hoje, mais de 1.400 títulos em seu catálogo,
além de cinco filiais sediadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador
e Recife, vinte e sete representantes em todo o Brasil e o site Scipione
Interativa, que inaugura uma nova fase de prestação de serviços a professores,
pais e alunos
75
CAPÍTULO V
A POLÍTICA DO LIVRO DIDÁTICO BRASILEIRO
Ao estudar o livro didático visando a sua trajetória histórica,
passamos por caminhos que revelam os problemas que estão inseridos além
do sistema educacional e que envolvem toda a sociedade brasileira, ou seja, o
Estado, o mercado e a indústria cultural.
Acreditamos ser de grande importância estar falando sobre a
situação política que o Brasil estava passando, durante o período que estamos
estudando o desenvolvimento da história do livro didático brasileiro de
matemática, a fim de traçar um elo entre a política social e a produção do livro
didático em geral.
Neste sentido vamos iniciar uma breve trajetória sobre os
personagens que, a nossos olhos, são os principais envolvidos no processo de
construção da história e evolução da produção do livro didático: os
governantes, os autores e os editores.
A história da educação no Brasil mostra que em razão de muitos
fatores políticos, tivemos uma certa lentidão no processo de desenvolvimento
da produção do livro brasileiro, comparando nossa história com a de outros
países colonizados em mesma época.
76
Mas, foi com o livro didático que o mercado editorial brasileiro
começou a se desenvolver e a atrair muito interesse entre aqueles que
estavam ligados à atividade de livros.
Assim, iniciam-se discussões em torno do livro didático cujo
propósito era atingir apenas o público de estudantes e de professores, mas,
rapidamente, foi se revelando como um “produto” de importância estratégica
para existência e funcionamento do sistema educacional, como um todo,
influenciando amplamente os setores do mercado editorial e as instituições
estatais. Em resumo, o livro didático começa a funcionar como instrumento de
ensino no processo pedagógico nas escolas e como fonte de lucro para
editores e organizações estatais.
No que se refere a sua produção e comercialização, buscamos
entender qual o papel dos órgãos oficiais e das editoras particulares, no
compromisso com a educação e com uma distribuição correta e de qualidade.
Procuramos conhecer a política utilizada e capaz de nos indicar quem pode
escrever um livro didático e quem pode publicar o livro didático e como são
feitas as escolhas para, finalmente, alcançar seu público principal: o aluno.
Pesquisadores, críticos, políticos e professores discutem a polêmica
criada em torno da produção do livro didático relacionada ao lucro que ele pode
oferecer e que o torna em “produto” muito lucrativo. Há quem diga que muitas
editoras que publicam o livro didático, não passam de verdadeiras empresas
capitalistas que visam somente ao lucro e não têm compromisso com a
educação.
Por outro lado, existem os defensores que sugerem o cuidado para
não julgar erroneamente, pois como todo negócio existem os bons e os ruins e
77
muitas editoras brasileiras de didáticos têm mostrado grande compromisso com
a educação e o saber, buscando sempre a renovação e adaptando-se às novas
exigências da educação.
Conforme cita Oliveira (1984), no processo de ensino, o livro didático
sofre influência de natureza legal, técnica, política e organizacional decorrente
dos problemas gerais da educação e da escola. O autor apresenta um
depoimento feito pelo professor Scipione, durante uma Mesa Redonda sobre o
Livro Didático, em 1º de outubro de 1981, promovida pela ABNT1 e
FUNBECC2:
O nosso ensino tem mudado bastante, principalmente na década de
70. Foi uma década que praticamente convulsionou todo nosso
ensino de 1º e 2º graus. A Lei nº 5.692 e outras medidas que foram
sendo tomadas modificaram bastante o panorama educacional. E, em
função disso, as editoras tiveram que correr atrás desse processo,
procurando mudar o livro. E muitas vezes acabaram sendo tachadas
de interesseiras, com a mudança que fizeram. (SCIPIONE, citado por
OLIVEIRA, 1985, p. 70).
O fato é que muitas pesquisas realizadas no Brasil sobre esse
assunto mostram que a produção de didáticos tornou-se um negócio lucrativo e
com bom desenvolvimento, tanto na qualidade como na quantidade.
1 Fundada em 1940, a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – é o órgão responsável pela normalização técnica no país, fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro.É uma entidade privada, sem fins lucrativos, reconhecida como Fórum Nacional de Normalização, único, através da Resolução n.º 07 do CONMETRO, de 24.08.1992. 2 Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências
78
O crescimento acontece no período chamado “milagre econômico
brasileiro”, entre 1968 a 1975, continuou crescendo, mesmo na época de
recessão, verificando-se o surgimento de novas editoras.
Segundo Pinsky, na época da recessão econômica, nos anos de
1980,
... enquanto milhares de empresas eram fechadas, o desemprego
grassava, a fome e a miséria alimentavam de dólares os banqueiros
americanos, as editoras de livros didáticos só faziam crescer.
Empresas tradicionais como IBEP/Nacional, Editora do Brasil,
Saraiva, se expandiam enquanto, várias firmas novas como Moderna,
Lê e Atual saiam do zero e, em quatro ou cinco anos já se tornavam
prósperas e sólidas. (PINSKY, 1985, p. 23).
OS GOVERNANTES E O LIVRO DIDÁTICO
DO INL AO PNLD
No Brasil, o primeiro contato, que a maioria das pessoas tem com o
livro, acontece na escola, por meio do livro didático, quando se inicia o
desenvolvimento da leitura e da escrita. É também por meio dos livros didáticos
que a criança começa a ter uma visão da sociedade, esses motivos já mostram
quão importante é a transmissão de informações que, certamente, serão
influenciáveis na formação dos valores ideológicos e culturais do cidadão.
No Brasil, houve períodos de tentativa de censura da produção de
livros e, no caso de didáticos, órgãos federais que executavam as leis da
educação apresentam uma maneira de avaliar os livros de forma que estes
79
fossem aceitos se seguissem seus critérios. Vamos, então, fazer um breve
relato sobre a influência do Estado na produção de livros didáticos, além do
fornecimento de recursos financeiros.
Essa trajetória inicia-se em 1929, com a criação do Instituto Nacional
do Livro (INL) que, de imediato, não sai do papel. Só em 1934, quando
Gustavo Capanema torna-se ministro da Educação do governo do presidente
Getúlio Vargas, o INL recebe suas primeiras atribuições: a edição de obras
literárias para a formação cultural da população, a elaboração de uma
enciclopédia e de um dicionário nacionais e a expansão do número de
bibliotecas públicas.
Na década de 1930 os programas da Reforma Francisco Campos
tiveram importante influência na organização do livro didático de matemática.
Conforme Carvalho (2003, p.94), tratava-se de uma reforma curricular que
apresentava uma mudança radical nos programas de ensino de matemática,
tendo como referência idéias modernizadoras defendidas pelo movimento
internacional para a modernização do ensino da Matemática. Mas, é importante
mencionar que as reformas de ensino alteraram os programas de currículos,
interferindo no processo de produção do livro didático e conseqüentemente na
relação dos envolvidos nesse processo.
Em 1938, o Decreto-lei nº 1006, de 30 de dezembro de 1938, foi a
primeira medida governamental de legislar e controlar o livro didático e, por
meio desse mesmo decreto, é instituída a Comissão Nacional do Livro Didático
(CNLD) para tratar da produção, controle e circulação dessas obras.
80
No governo de Getúlio Vargas (1932-1945), o setor de livros passa
por um momento de grande expansão, pois a taxa de importação sofre uma
desvalorização em razão da queda nas importações do café.
Segundo Paixão (1996), o resultado é que, pela primeira vez, o livro
produzido no Brasil pode custar mais barato que o trazido do exterior.
Durante esse período torna-se evidente o crescimento do interesse
da população pela leitura e a produção de livros continua crescendo, sobretudo
após a Segunda Guerra Mundial, em razão da dificuldade de importação.
Entre os anos de 1936 e 1944, há um aumento de editoras e no
início dos anos de 1950, o Brasil já produzia quatro mil títulos e quase vinte
milhões de exemplares por ano. (PAIXÃO, 1996, p.81).
No período de Vargas, foram valorizados nossos símbolos populares
como o samba, o carnaval, o futebol, mas sob censura. Por meio do decreto do
Estado Novo, que trouxe para o cotidiano a propaganda política, Vargas passa
a ser um ditador. Em 27 de dezembro de 1939 Vargas criou o Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), órgão responsável pela censura e divulgação da
política de comunicação da ditadura junto à sociedade. Seu principal objetivo
era atrair a população e, portanto, todos os meios de comunicação de massa
foram usados para divulgar a imagem de um governo que concedia ao
trabalhador tudo o que era necessário para sua vida.
Ao longo do período de Vargas, muitas coisas floresceram entre
elas, a literatura. Os autores modernistas encontram apoio para publicarem
suas obras no editor José Olympio que tinha sua livraria no Rio de Janeiro,
conforme Paixão:
81
O país parece estar sendo redescoberto, e a indústria do livro
desempenha nisso um papel fundamental. O desejo de Lobato de ver
o livro como um instrumento de pensamento e difusão da cultura da
nação começa a tornar-se realidade. As coleções de José Olympio e
da Companhia Editora Nacional realizarão alguns dos
empreendimentos editoriais mais notáveis da história do livro no
Brasil. (PAIXÃO, 1996, p. 81).
Passados onze anos (1934/1945), finda a guerra, Getúlio Vargas cai
e Gustavo Capanema deixa o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Não
estavam, ainda, concluídos o dicionário nem a enciclopédia, mas as bibliotecas
cresceram para além do Rio de Janeiro e de São Paulo, graças à oferta de
acervo oferecido pelo Governo Federal.
O mercado editorial passa por um período difícil e muitas editoras
são fechadas, apesar do setor estar com sua produção estabilizada. O País
passa por uma transformação econômico-cultural e tem início a modernização
das principais cidades com ônibus, telefone, anúncios luminosos, prédios, com
o Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek. O período de Juscelino
foi muito importante para o crescimento da indústria brasileira e o setor gráfico
teve um crescimento significativo.
Com o desenvolvimento populacional urbano e a aceleração
industrial durante os anos de 1950, as principais cidades brasileiras, como São
Paulo, estavam recebendo pessoas para o trabalho operário, mas que
necessitavam de uma adequação às novas funções como um mínimo de
escolaridade. Em conseqüência desse fato, seus filhos começam no estudo
regular e surgem os problemas de falta de material para desenvolvimento das
82
tarefas, como lápis, caderno e, em especial, livros que eram considerados
como material de luxo e que poucos poderiam adquirir.
Nesse período, iniciaram-se as manifestações parlamentares sobre
o livro didático, e em meio a críticas sobre plano de governo surge a
concordância referente à existência de um problema que precisa de solução
parlamentar com relação aos altos custos dos livros que não permitem seu
acesso à maioria das famílias brasileiras, gerando uma situação abusiva. “Fala-
se de ‘comercialização da educação’, da ‘industrialização da pedagogia’, do
‘truste dos livros’ e do abuso na exploração daqueles que procuram a
educação”. (OLIVEIRA, 1984, p. 47).
Entre vários personagens que estavam participando dessa
movimentação política, estavam os universitários e intelectuais de esquerda
como Caio Prado Jr. e Florestan Fernandes. Em meio a este cenário, o setor
editorial passa a publicar títulos formados com palavras em evidência:
ideologia, consciência nacional, realidade e revolução.
Nessa época, a Editora Brasileira, de Ênio Silveira e a Brasiliense,
de Caio Prado Jr. eram as responsáveis por tais publicações, enfrentando
muitos obstáculos para se manterem no mercado editorial.
Na década de 1960, com a expansão escolar, aumenta no Brasil a
preocupação com o livro didático. O Banco Mundial com sua política de
empréstimos referente à educação de países “em desenvolvimento” tem
participação muito importante no investimento de material escolar e de livros.
Timidamente, surge a política do livro didático com recursos do
governo federal, pois o governo não tinha definido uma estratégia que fosse
83
eficiente para o problema e prosseguia as acusações referentes à especulação
comercial do livro didático.
O golpe dado pelos militares em 31 de março de 1964 atingiu em
cheio a democracia. É verdade que a intromissão dos militares no governo já
acontecia desde o Império, mas, em 1964, a intervenção foi mais longe e
incorporou perseguição, tortura e morte ao dia-a-dia dos brasileiros.
O golpe militar teve o apoio dos industriais e veio para barrar as
reformas de Juscelino. Para calar a oposição e se firmarem no poder, os
golpistas criaram dispositivos legais: a Lei de Greve, que proibia as
paralisações e a censura à imprensa, com as Leis de Imprensa e de Segurança
Nacional (1967) e o Ato Institucional nº 5, AI-5 (1968), que atingiu Órgãos como
a revista Veja e os jornais O Estado de S. Paulo e o Jornal do Brasil.
No campo cultural houve a censura de peças teatrais, letras de
música, roteiros de filmes e sinopses de novelas. Os livros que eram
considerados perigosos por suas idéias foram proibidos. Muitos títulos foram
condenados e diversos autores e editores presos.
Em 1966, foi criada a Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático
(COLTED), pelo Decreto nº 59.355, de 4/10/66, que tinha como objetivo
comprar livros didáticos das editoras e distribuí-los. A COLTED veio fortalecer o
comércio de livros e beneficiar o setor industrial, pois, em apenas seis meses
de seu início, uma quantia significativa de dólares estava sendo investida neste
setor.
No final de 1969, por meio de uma seleção nos níveis de 1º e 2º
graus que a COLTED realizou nas escolas, ouvindo professores sobre livros
84
existentes e disponíveis, foram enviados às escolas cerca de 15.676.000 livros,
e 5.874.320 foram emprestados aos alunos.
A COLTED também distribuiu livros às universidades com desconto
de 30% a 35%. Realizou seminários para editores e profissionais da área e, em
1968, em conjunto com a CBL, SNEL e USAID foi realizado o “I Encontro de
Editores e Livreiros no Brasil”, que acontece, anualmente, até os dias de hoje.
A COLTED foi absorvida pelo INL, em 1971, no Ministério da
Educação de Jarbas Passarinho, tendo o fornecimento gratuito de livros
didáticos extinto pelo fato do ministro considerar que os pais que poderiam
pagar, deveriam fazê-lo.
Nos anos de 1970, aparece a classe média com seus filhos
freqüentando as escolas particulares que têm liberdade de adotarem os livros
didáticos que acharem de melhor qualidade. As editoras, então, passam a ter
critérios para produção de livros, de maneira que, para uma mesma disciplina e
mesma série são produzidos livros com conteúdos diferentes.
Essas editoras não estão preocupadas com o ensino-
aprendizagem, mas, sim, com a produção e distribuição de livros. Surgem,
também, os livros “descartáveis” ou “consumíveis” que são aqueles em que o
aluno responde as questões no próprio livro, não podendo ser repassado para
outro aluno, o que era interessante para as empresas editoriais.
O livro didático, “produto” de grande influência na aprendizagem e
no desempenho dos alunos, atrai um grande mercado e torna-se muito
importante economicamente.
85
Em 1971, o INL desenvolve o programa do Livro Didático para o
Ensino Fundamental (PLIDEF) e, em 1976 com a extinção do INL foi criada a
Fundação Nacional do Material Escolar (FENAME).
O volume de distribuição de livros didáticos torna-se elevado,
gerando um montante bastante interessante e as empresas editoras
particulares, tomam interesse em participar na venda para esses programas e
muitas delas crescem por causa deles.
O Estado inicia o subsídio da compra de grande número de livros e o
número de editoras também cresce, e o que aparentemente seria solução para
resolver o problema de aluno carente e fornecer produto de qualidade, toma
um sentido diferente. Pinsky faz uma séria crítica a esse respeito.
... graças aos esquemas de corrupção tão comuns em nosso país
nas últimas duas décadas, as editoras costumavam vender ao
governo livros estocados: eram aqueles produzidos para mercado,
não eram aceitos e ficavam nos depósitos da empresa editorial sem
valor comercial. Vende-los ao governo sempre foi um bom negócio.
Nesses casos, a decisão da compra, feita de maneira centralizada,
sem consulta a professores e escolas, nada tinha a ver com a
realidade dos alunos. De resto, às vezes sequer os livros chegavam
aos alunos. (PINSKY, 1985, p. 26).
Nos anos de 1980, o mercado de livro didático representava metade
do total de livros produzidos no País. O Estado transfere anualmente, um
capital de quase três bilhões de cruzados (moeda corrente) para o setor
privado das editoras. Segundo o Sindicato Nacional de Editores de Livros
(SNEL) o mercado do livro didático era disputado por trinta editoras
86
especializadas na área e somente dez dessas controlavam mais de 92% da
produção consumida pelo Estado.
Com o apoio de programas federais ao livro didático muitas editoras
conseguiram sobreviver e o apoio começa a ter função importante na produção
dos livros, chegando a se tornar uma tendência para algumas editoras. Para
Oliveira (1984), fica claro que existe uma nítida tendência ‘oligopolística’, com
cerca de cinco editoras que concentram mais da metade do mercado de
encomendas via poder público.
Em 1983, com a extinção da FENAME, foi criada a Fundação de
Assistência ao Estudante (FAE) que incorpora o PLIDEF. Nesta década, o
Brasil passa por uma situação muito importante, pois com o fim da ditadura
militar, em 1984, a abertura política chega ao auge com a campanha pelas
Diretas-já. Em novembro de 1993, estudantes brasileiros saem às ruas levando
o verde-amarelo da bandeira brasileira em protesto contra a corrupção.
Em meio às mudanças políticas, no decorrer das décadas foram
inúmeras as formas experimentadas pelos governantes para levar o livro
didático à escola durante sessenta e sete anos, de 1929 a 1996.
Na década de 1990, o MEC passou a olhar rigorosamente para os
livros didáticos, em razão da presença constante de erros conceituais,
ausências de informações essenciais à formação dos alunos, além dos
preconceitos e da falta de qualidade gráfica.
Em 1995, criou-se o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD),
com a finalidade de se estabelecer critérios para a avaliação dos livros
didáticos. A partir de 1997, as políticas públicas para o livro didático são
87
representadas pelo PNLD, e executadas por meio do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE).
O Ministério da Educação passa a adquirir livros didáticos, de forma
contínua e massiva. Todos os estudantes do ensino fundamental passam a
receber livros didáticos de todas as disciplinas. O programa avança e, em
2001, começa a distribuição de dicionários de Língua Portuguesa aos alunos
de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental e de livros em braile para os alunos
cegos. No ano seguinte, os alunos de 4ª e 5ª séries passam a receber a
coleção Literatura em Minha Casa. Em 2003, dicionários são entregues aos
alunos da 1ª, 7ª e 8ª séries.
Em 2004, o Ministério da Educação cria o Programa Nacional do
Livro para o Ensino Médio (PNLEM). Em 2005, o PNLEM beneficiou 1,3 milhão
de alunos de 5.392 escolas de ensino médio. Foram distribuídos 2,7 milhões de
livros das disciplinas de português e de matemática.
O MERCADO EDITORIAL
O livro didático faz parte de uma evolução que conduziu de certa
forma, ao desenvolvimento da indústria editorial e conseqüentemente, o
desenvolvimento tecnológico da produção editorial e gráfica. Dentro do sistema
de ensino, sua importância tem merecido a atenção por parte de um crescente
número de pesquisadores, como observa Oliveira.
88
O livro didático enquanto capítulo da história do livro e da produção
editorial observamos que ele vem sendo pensado como
apresentando características particulares que o identificam não
apenas como uma mercadoria, mas como um produto especial, com
função e destinação específicas. (OLIVEIRA,1984, p. 21).
Nos anos de 1960, aconteceu uma considerável expansão da escola
pública com grande número de matrículas nos três níveis de ensino (primário,
secundário e superior), com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) e, de acordo com Paixão (1998), em 1968,
encontravam-se à venda no Brasil cerca de 2.500 títulos de didáticos
publicados por cerca de sessenta editoras, entre elas, a Melhoramentos e a
Francisco Alves voltadas à publicação do ensino primário, e a Nacional e a
Editora do Brasil, para o segundo grau.
Com a criação da COLTED, o mercado de livro escolar foi favorecido
com um investimento que lhe permitiu um grande passo no mercado de livros
didáticos, chegando ao número de seis mil publicações.
Na época, as editoras Olympo e Abril publicavam o material didático
destinado ao programa do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).
No ano de 1979 os didáticos representavam quase 36% do mercado editorial e
esse número foi crescendo nos anos seguintes e, em 1983, o Instituto
Brasileiro de Edições Pedagógicas (IBEP) de Jorge Yunes e Paulo Marti,
detinha 30% do mercado de didáticos, graças ao livro de língua portuguesa de
Hermínio Geraldo Sargentim.
A Editora Moderna de Ricardo Feltre, após 1968, destacou-se
publicando didáticos para o segundo grau e a Editora FTD, dos Irmãos
89
Maristas, conquistou o mercado editorial com o grande sucesso de suas obras
de matemática, entre elas a de Benedito Castrucci “A Conquista da
Matemática”.
A Editora Nacional publicava a série ginasial de “Curso Moderno de
Matemática”, de Osvaldo Sangiorgi. A Editora do Brasil e Scipione, também,
permaneceram no mercado de didáticos e tiveram suas obras entre as mais
vendidas.
Nos anos de 1970 e 1980, com importantes iniciativas que
marcaram a transição dos livros didáticos, surge Editora Ática, criada em 1965,
despontando como uma empresa que procura mostrar o livro didático de forma
mais lúdica e ágil, além de investir em uma linha que conquistou professores e
alunos: os livros paradidáticos. Contava com uma ótima estratégia de
marketing que envolvia os professores e uma política de vendas com preços
baixos, graças às grandes tiragens.
No início dos anos de 1970, a empresa derrubou títulos tradicionais
do mercado com o lançamento da coleção Estudo Dirigido de Português, de
Reinaldo Mathias Ferreira, cujos dois primeiros exemplares da série venderam
um milhão de exemplares. O fato representou uma grande virada na trajetória
do livro didático e a empresa conquistou a primeira posição na publicação de
didáticos.
No final do século XX, constata-se que algumas editoras que
estavam entre as posições mais elevadas do mercado, foram vendidas para
grandes multinacionais, como, por exemplo, a Editora Moderna que foi
comprada pela espanhola Santillna.
90
COMENTANDO SOBRE A PRODUÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO
Verifica-se que a produção do livro é um assunto bastante complexo
que envolve uma série de fatores que sugerem uma atenção especial e, um
estudo detalhado, como por exemplo, análise do controle editorial e gráfico, a
correta política de produção do papel, preço de venda de um livro ao público,
edição, re-edição, os direitos autorais, as traduções, etc.
Olhando por esta perspectiva, vamos comentar, de maneira ampla, a
respeito da produção de livros didáticos, com o auxílio de pesquisadores e,
profissionais que estão atuando no ramo, como o editor de matemática da FTD,
Lafayette Megale que, em entrevista realizada em maio de 2005, falou a
respeito de sua visão sobre o processo de produção de um livro didático que,
segundo ele, é realizado em três fases principais: o trabalho intelectual, o
trabalho industrial e o trabalho comercial.
Após meses ou anos de trabalho, envolvendo autoria e edição, é
consumida a fase do trabalho intelectual com a existência de um texto em
totais condições de ser publicado. Esse texto vai se transformar em um produto
distribuído em páginas impressas que seguem projeto gráfico em um visual rico
e atraente para auxiliar o leitor no domínio das idéias que a obra contém.
Tudo começa com um autor, que irá escrever uma conseqüência
daquilo que estudou, leu e, sobretudo do que viveu. Quando se trata de livro
didático, irá escrever uma conseqüência dos efeitos que a visão pessoal
produziu nos alunos que teve e nos resultados que conquistou. Fica claro que,
sem autor não há editoras nem livros.
91
Que função tem a editora quando recebe os originais do autor, na
transformação do impresso em livro? Esta é a função do editor, que tem a
responsabilidade de assegurar que os originais do autor resultarão em um texto
correto (conteúdo e linguagem), claro, elegante, gostoso de ler e adaptado aos
objetivos da obra.
Cabe ao editor realizar, com seus colaboradores, as tarefas de
redação, redução ou ampliação de textos, avaliação e retificações nas
atividades propostas, pesquisas adicionais, conferência e complementação das
informações, confirmação de uso das imagens (fotos, ilustrações, obras de
arte, cartografia, infográficos, diagramas) e tudo o que for necessário, caso a
caso, para que os originais sejam transformados em um livro de qualidade.
O autor é o criador de idéias que dão nascimento a um texto que se
torna a origem de uma obra, daí o nome de originais dado ao que ele
apresenta a uma editora. O editor é o profissional do texto, no caso do livro
didático, de textos usados para instruir e educar.
Atualmente, a produção de livros não depende apenas do autor e do
editor, mas por trás da criação de um livro estão os personagens
indispensáveis, representados por profissionais que têm a missão de
transformar, certo conteúdo, no formato do livro que tenha atingido o maior
sucesso em sua disciplina, esses são os chamados colaboradores. Pfromm-
Neto comenta a respeito:
No passado, o escritor entregava os manuscritos ao editor e este
providenciava a impressão e distribuição às livrarias. Presentemente,
há editoras que contratam escritores ou grupos de escritores para a
elaboração de um livro específico. Fornecem assessores e pessoal
auxiliar aos autores durante a elaboração da obra, e, em muitos
92
casos, o texto acaba sendo reescrito de acordo com os padrões de
inteligibilidade, extensão e organização dos capítulos, associação
texto-ilustrações, etc. Finalmente é utilizado (muitas vezes desde o
planejamento inicial da obra) o serviço de vários especialistas –
ilustradores, pesquisadores, pesquisadores de material iconográfico,
diagramadores e outros – na preparação da obra. (PFROMM NETO,
1974, p. 228).
Para Martins Filho3, no conjunto dos trabalhos editoriais, há uma
série de colaborações que envolvem desde a escolha do texto, até a
distribuição do produto já elaborado ao público e resumidamente, explica que o
processo de edição de um livro passa por duas etapas importantes: a primeira
que ele chama de ‘artesanal’ é aquela que a editora tem o controle e pode
interferir, por exemplo, revisões de provas e normalizações e a segunda que
ele chama de ‘industrial’ é aquela realizada pela gráfica que passa a assumir o
controle da impressão e acabamento, por exemplo.
PANORAMA DA PRODUÇÃO E VENDAS DO LIVRO DIDÁTICO
Com a finalidade de se conhecer a produção do livro didático de
matemática, foi solicitado à Câmara Brasileira do Livro (CBL), informações a
respeito de coleções/livros, autores, editoras e quantidades de vendas, no
período de 1950 a 2000. Tais informações teriam importância significativa na
visualização do desempenho de cada coleção/livro e respectiva editora, mas a
CBL nos informou que a pesquisa que realiza sobre a indústria editorial
3 PLÍNIO MARTINS FILHO é Professor da ECA-SP, no curso de Produção Editorial.
93
brasileira, desde 1990 e, a partir de 2000, com a colaboração do Sindicato
Nacional dos Editores de Livros tem como objetivo fornecer aos editores,
livreiros e distribuidores, um completo panorama da indústria do livro brasileiro
e, na utilização como instrumentos de avaliação do seu desempenho e no
estudo de tendências, sendo praticamente impossível avaliar cada livro,
separadamente, conforme relatório, de 2002, a seguir:
Em primeiro lugar, trata-se de informações recolhidas junto às
editoras. Ou seja, as informações dizem respeito ao que as editoras
produzem e sua venda para o “primeiro cliente”. Esse primeiro cliente
pode ser uma livraria, um distribuidor, o governo ou mesmo o
consumidor final, atendido diretamente pela editora. É importante
ressaltar isso porque o dado de faturamento declarado pela editora é
o resultado da soma total dessas operações, que são feitas com
diferentes descontos sobre o chamado “preço de capa”. Assim, para
uma livraria o desconto pode variar de 30% a 50%, para um
distribuidor pode ser bem mais que isso e para o consumidor final
(atendido via marketing direto, por exemplo) pode ser sem nenhum
desconto. Os preços de venda para o governo, além disso, podem
incluir cálculos muito diferentes que traduziriam um preço unitário
muito mais baixo que o da venda para livrarias, distribuidores e
clientes finais.
Duas observações em função desse método: 1) o faturamento não
traduz o resultado econômico do setor ou a saúde financeira das
empresas, posto que não considera os custos gerais das empresas;
2) O faturamento dividido pelo número de exemplares não permite a
“descoberta” de um “preço médio” qualquer dos livros vendidos, pois
a quantidade de exemplares vendidos para cada um desse tipo de
clientes pode alterar substancialmente o faturamento sem que haja,
necessariamente, variação no “preço de capa”.
Outra observação importante deve ser feita sobre os chamados
“subsetores editoriais”. Na nossa pesquisa dividimos as editoras em
quatro subsetores: editoras de livros didáticos, editoras de obras
gerais, editoras de livros religiosos e editoras de livros técnico-
científicos. Esses subsetores agrupam as editoras, segundo o
94
principal tipo de atividade editorial a que se dedi cam , mas isso
não quer dizer que todos os livros que uma editora produza sejam
restritos a essa grande divisão. Assim, uma editora cuja principal
atividade esteja na área de livros didáticos, também produz livros
técnico-científicos ou de obras gerais. E isso acontece em todos os
subsetores.
É impossível coletar os dados de faturamento das editoras por tipo
de livro vendido. Portanto, os dados de faturamento dizem respeito
ao conjunto da produção dessa editora, que foi agrupada com outras
do mesmo tipo em cada um dos subsetores editoriais.
Entretanto, as informações sobre a produção dos diferentes tipos de
livros, independente de que “tipo” de editora os produziu podem ser
vistos e analisados nas tabelas de produção por classificação
temática, que não considera as vendas, mas tão somente o tipo de
livros produzidos.
Quanto aos canais de comercialização, deve-se repetir a observação
inicial: apuramos as vendas para o primeiro cliente. Dessa forma,
quando o editor declara que vendeu x exemplares para distribuidoras,
isso certamente supõe que esses livros, por sua vez, foram
revendidos pelas distribuidoras a livrarias, clientes finais ou mesmo
órgãos governamentais, já que não se pode acompanhar toda a
trajetória do livro até seu leitor final. (Relatório CBL, 2002).
PRÁTICAS COMERCIAIS DAS EDITORAS
Na trajetória da história do mercado editorial brasileiro, constata-se
que sua formação teve como base, editoras que concentravam suas atividades
no mercado de livros didáticos, que surgiram a partir de livrarias.
Conforme relata a CBL, o Brasil possui aproximadamente 1.200
editoras que se concentram em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto
95
Alegre e Belo Horizonte, destacando-se no segmento de didático as Editoras:
Ática-Scipione, IBEP/Nacional, FTD, do Brasil, Sara iva/Atual e Moderna.
O principal comprador da indústria editorial brasileira é o governo,
embora as editoras reclamem pelo fato dos preços pagos por ele serem mais
baixos.
Atualmente, a compra de livros didáticos nas escolas públicas é
realizada por intermédio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), órgão
mantido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) com
recursos financeiros do Orçamento Geral da União e da arrecadação do
salário-educação.
Em todos os estados, a compra é realizada de maneira centralizada
e a escolha pode ocorrer nas escolas ou delegacias de ensino, com exceção
do Estado de São Paulo que optou pela descentralização, tendo a Secretaria
Estadual de Educação responsável pelo recebimento dos recursos da FNDE e
pela execução do programa.
Entre 1994 e 2004, o PNLD investiu R$ 3,7 bilhões na compra de
1.026 bilhão de unidades, distribuídos para uma média anual de 30,8 milhões
de alunos, matriculados em cerca de 172,8 mil escolas. A distribuição dos livros
é feita diretamente pelas editoras às escolas, por meio de um contrato entre o
FNDE e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
A venda do livro didático é realizada de modo diferente da venda de
outros livros, pois a grande parte é realizada nas escolas e quem escolhe o
livro a ser adotado são os professores. Sua comercialização acontece no início
do período escolar para as escolas particulares e, para as escolas públicas em
período determinado pelo Governo Federal. As livrarias não contam com
96
estoques para os didáticos e, em caso de necessidade, a compra poderá ser
efetuada diretamente nas editoras, que possuem em suas próprias livrarias.
Resumindo-se, quem determina o comércio do livro didático são as
escolas públicas que indicam os livros para o ensino fundamental e, a partir de
2005 para o ensino médio, e as instituições particulares que adotam os livros
no início do ano podendo ser comprados diretamente em livrarias.
A seguir, estão alguns quadros informativos a respeito da produção
e faturamento editorial.
97
Quadro 1
Faturamento e Exemplares Vendidos - 2001/2002
FATURAMENTO (R$)
EXEMPLARES VENDIDOS
EDITORAS DE
LIVROS
2001 2002 2001 2002 Didáticos 749.000.000 775.000.000 58.500.000 53.000.000
Obras Gerais 460.000.000 463.000.000 66.200.000 54.500.000
Religiosos 173.000.000 183.000.000 35.700.000 29.700.000
Científicos,
Técnicos e
Profissionais
433.000.000 378.000.000 22.500.000 21.200.000
TOTAL
MERCADO 1.815.000.000 1.799.000.000 182.900.000 158.400.000
PNLD
Centralizado 358.500.000 228.000.000 92.100.000 59.000.000
PNLD
Descentralizado 47.500.000 75.000.000 9.900.000 18.500.000
PNBE 46.000.000 59.000.000 14.500.000 82.000.000
Programa Leia
Mais 20.000.000 2.700.000
TOTAL
GOVERNO 452.000.000 382.000.000 116.500.000 162.200.000
TOTAL GERAL 2.267.000.000 2.181.000.000 299.400.000 320.600.000
299.400.000 320.600.000
Fonte: CBL
Verifica-se que, no período de 2001 a 2002, a quantidade de livros
comercializados caiu e o faturamento do setor permaneceu.
98
Quadro 2
Produção de Livros Didáticos - 2001/2002
Livros Didáticos 2001 2002 VAR %
TÍTULOS* 9.850 12.800 30
EXEMPLARES PRODUZIDOS – Total 188.500.000 171.600.000 - 9
Mercado 86.500.000 63.100.000 - 27
Governo 102.000.000 108.000.000 6
FATURAMENTO (R$) – Total 1.155.000.000 1.093.000.000 -5
Mercado 749.000.000 775.000.000 3
Governo 406.000.000 318.000.000 - 22
EXEMPLARES VENDIDOS – Total 160.500.000 161.000.000 -
Mercado 58.500.000 53.000.000 - 9
Governo 102.000.000 108.000.000 6 • Inclui produção para os programas do governo. Fonte: CBL
A comparação entre os anos de 2001 e 2002 demonstra um
decréscimo de 9% nas vendas de livros didáticos para os alunos das escolas
privadas. Segundo a CBL, a queda vem ocorrendo desde 1999, cujos motivos
apontam, entre outros, para a reutilização de livros por causa da queda do
poder de compra e a migração dos alunos das escolas particulares para as
públicas.
99
Quadro 3
Evolução das Compras pelo Governo*
1992 – 2002
ANO Nº DE EXEMPLARES
1992 19.909
1993 55.524
1994 44.376
1995 156.568
1996 120.151
1997 123.772
1998 180.374
1999 64.160
2000 134.808
2001 116.500
2002 162.200
*FNDE (FAE), governos estaduais e municipais Fonte: CBL
ÉÉ iimmppoorrttaannttee eennffaattiizzaarr qquuee aass vveennddaass aaoo GGoovveerrnnoo aattrraavvééss ddaass
ccoommpprraass eeffeettuuaaddaass ppeelloo FFNNDDEE ppaarraa oo PPrrooggrraammaa NNaacciioonnaall ddee BBiibblliiootteeccaass
EEssccoollaarreess ee PPrrooggrraammaa NNaacciioonnaall ddoo LLiivvrroo DDiiddááttiiccoo,, eemm 11999988 ccrreesscceerraamm 2277%% eemm
rreellaaççããoo aaoo aannoo aanntteerriioorr..
Em 1999, ocorreu uma queda na venda dos livros didáticos, comparado
a 1998, pelos possíveis motivos citado anteriormente, ou seja, a migração de
alunos das escolas particulares para as escolas públicas e o reaproveitamento
de livros pelos alunos, além de verificar-se a produção de apostilas
100
confeccionadas nas próprias escolas, cujo material é, na verdade, uma reunião
de partes de livros de várias editoras, pelo qual não se pagam direitos autorais.
Além disso, variações desse setor são estreitamente ligadas às
demandas governamentais que atrasou seu cronograma de compras do
Governo e diminuiu o número de livros comprados.
No ano de 2000, o Setor Editorial Brasileiro, retomou seu crescimento,
em consonância com o aumento da estabilidade econômica e com a volta do
clima de confiança na economia brasileira.
Conforme CBL, o aquecimento da economia, aliado a uma maior
agressividade nas estratégias de marketing foram citados pelos editores como
fatores preponderantes para o crescimento das vendas de livros, decisivos no
aumento da inserção de seu produto no mercado.
101
CAPÍTULO VICAPÍTULO VICAPÍTULO VICAPÍTULO VI
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo sobre a atividade editorial do livro didático de matemática
revelou que o mercado editorial é responsável pela produção e comercialização
de “produtos” que envolvem diferentes tipos de profissionais e órgãos
governamentais.
No percurso estudado, conseguimos reunir fatos importantes que
envolveram o processo de surgimento da indústria de livros, porém
gostaríamos de esclarecer que esse estudo representa apenas uma parte de
tudo que poderá ser acrescentado, pois são poucos os estudos realizados a
respeito do tema que abrange a imprensa, a educação matemática, a indústria
de livros, os autores, os professores e os alunos.
As visitas realizadas às editoras durante a pesquisa mostraram-nos
enormes desafios com relação aos livros didáticos de matemática que
necessitam de um tempo mais longo para exploração.
Um dos desafios que merece ser tratado, é a falta de um acervo
histórico na maioria das editoras, que nos deixou em muitos momentos
preocupados, nos obrigando a recorrer a bibliotecas para obter um exemplar
editado por elas, cuja data de edição não era anterior a 1950.
Com exceção da Editora Nacional, atualmente IBEP/NACIONAL, que
possui um acervo memorável e acessível, são raras as editoras que dispõem
102
de um acervo histórico, o que nos revelou ser estranho, pois acreditávamos
que elas seriam nosso maior referencial no sentido de se conhecer as obras e
autores de matemática por elas editados, nas distintas décadas que fazem
parte de sua história e da história cultural de nosso País.
Imaginávamos que os livros para as editoras seriam como um álbum
de família que, carinhosamente, registramos o nascimento, o crescimento,
acompanhamos o desenvolvimento, o sucesso, o amadurecimento e a velhice
de uma parte muito especial da família que ficará registrado para que outras
pessoas possam vir a conhecer...
Mas, o que conseguimos verificar foi uma certa falta de interesse por
esta memória e um grande interesse pelo presente, pelas exigências do
“mercado comercial” que se torna cada vez mais competitivo. Não estamos
criticando seu interesse em se manter no “mercado”, porque isso faz parte da
dinâmica do mundo: todos precisamos estar atentos para não sermos
atropelados no meio do caminho. O que nos deixou preocupados foi o
desinteresse pelo resgate da história do livro didático e de seus autores, pois
constatamos que muitos relatos estão registrados apenas na memória de
“alguém” que assistiu ou acompanhou ao surgimento de uma ou outra editora
ou que trabalhou por muitos anos em determinada editora.
Percebemos que no processo de desenvolvimento do livro didático,
muitos foram os obstáculos enfrentados, pela própria história da evolução do
ensino no Brasil, mas, durante a pesquisa percebemos que não se falam muito
a respeito desses problemas e dificuldades, temos a impressão de que está
tudo bem do jeito que está “agora” e que o passado não importa.
103
Sentimos falta de informações sobre a quantidade de produção e
venda de edições publicadas nas décadas passadas, pois, atualmente,
sabemos que existem órgãos oficiais que fazem os registros do faturamento
por editora e, sobretudo, para as editoras e distribuidoras, visando ao interesse
comercial, porém essas informações podem servir de importantes fontes no
processo de construção da história do didático e sua política de produção.
Este trabalho procurou percorrer pela história do mercado editorial e
conhecer mais detalhadamente quatro editoras que produzem o livro de
matemática no País. Durante seu trajeto, encontramos certos problemas que
desejamos relatar para tentar concluir o trabalho.
No início do estudo sobre a história do livro didático de matemática
no Brasil, notamos que ele não podia ser estudado de forma isolada e, para
que pudéssemos entender seu funcionamento, precisávamos considerar as
políticas de poder e de economias que envolvem a sociedade brasileira no
decorrer das décadas, pois sua história, em muitos aspectos, confunde-se com
a da própria sociedade.
No Brasil, os primeiros contatos com a leitura foi por meio da
imprensa que era controlada pelo governo, pois apenas a elite poderia ter
acesso a ela. A censura pela liberdade de expressão foi marca registrada em
diferentes épocas da história de nosso País, e os governantes utilizaram-se
desse poderoso instrumento de comunicação para levar a população a sua
doutrina. Entretanto, é importante ressaltar que, nos primeiros momentos do
livro no Brasil, ele simbolizou a liberdade de um povo que iniciava a formação
de sua própria cultura.
104
Ao longo de seu percurso, o livro didático tem sido criticado,
decretado, produzido e distribuído, porém existem pouquíssimos estudos a
respeito de seu surgimento e, menos ainda quando falamos do didático de
matemática. Os estudos mais freqüentes que tratam dos livros didáticos, em
geral, abordam a respeito de seu conteúdo ou sobre seu uso pelo professor.
No período de 1920 a 1950, quando o País passa por grandes
mudanças políticas, o livro didático de matemática também sofre um processo
de renovação, mudando o modo como era apresentado, assim como seu
conteúdo. Pfromm Neto (1985, p. 79) escreve sobre isso.
As décadas de 20 a 30 representaram um período de transição
importantes na educação e no livro didático brasileiro. Época de
reformas educacionais, de consolidação da impressão de textos
escolares no Brasil, de renovação de idéias e procedimentos, é
marcada, no domínio da literatura escolar de matemática, pelo
aparecimento de várias obras que, além de corresponderem às
modificações de currículos e programas, representam o progresso
considerável sobre o padrão de livro didático vigente até a Primeira
Guerra Mundial.
A história do livro didático de matemática brasileiro surge em função
das guerras, na época da colonização, como recurso para resolver problemas
estratégicos de defesa e de engenharia. Apesar das reformas educacionais
que trouxeram uma evolução em relação ao livro didático de matemática,
percebemos que existem discussões polêmicas quanto à sua utilização no
processo ensino-aprendizagem.
Um fato que é facilmente detectado nessa a trajetória, refere-se aos
órgãos oficiais criados especialmente para tratar do livro didático, que nunca se
105
preocuparam em contar sua história e sendo esta a razão de não existir uma
memória das políticas públicas desenvolvidas em relação ao livro didático,
ocorrendo que a cada governo surgem iniciativas repetitivas que não levam em
consideração, o que já foi criado e, até mesmo, concretizado; assim como
decretos refeitos, criação de novas comissões e instituições (COLTED, INL,
FENAME, FAE, PNLD).
No decorrer de sua história, o livro didático no Brasil assume o papel
de ser destinado à criança carente de recursos financeiros, em uma população
de estudantes de baixa renda que representam mais de 60% da população de
estudantes na escola.
Observamos que a importância dada ao livro didático e ao controle
crescente sobre ele exercido pelo governo federal, decorrem da percepção de
que é necessário compensar, por vias políticas públicas, as desigualdades
criadas por um sistema econômico e social injusto, com enormes
desigualdades sócio-econômicas.
Sentimos a necessidade de uma discussão mais ampla, envolvendo
professores, alunos, cientistas, pesquisadores, editores, distribuidores e
políticos, em torno do livro didático. Essa polêmica discussão que esteve
bastante presente nas décadas de 1980 e 1990, recebeu atenção do MEC,
quando na década de 1990 passou a atentar rigorosamente aos problemas
apontados no conteúdo dos livros didáticos.
As decisões referentes ao livro didático eram tomadas por técnicos e
assessores do governo que, em muitos casos, estavam pouco familiarizados
com os problemas da educação. Muitas vezes não qualificados para garantir a
complicada questão da produção do livro didático de qualidade que gerou um
106
grande problema em discussão, e o resultado foi a criação do Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD) constituído por um grupo de trabalho que
recebeu capacitação para avaliar os livros didáticos.
A primeira avaliação foi publicada no Guia dos Livros Didáticos de
1997, segundo informações obtidas da Revista Nova Escola de março de 2001,
muitos acreditavam que o Guia de Livros Didáticos poderia ser a solução aos
problemas de escolha dos docentes, porém ainda não se atingiu esse objetivo,
em razão dos movimentos erráticos de professores e avaliadores.
Atualmente, a coordenação de avaliação do PNLD está dividida
entre a USP, a UNESP, e as federais de Pernambuco e Minas Gerais,
observando-se o tempo de formação e a titulação do professor, além de
escolher várias regiões diferentes.
Quando percorremos pela história do surgimento das editoras de
livros, constatamos que, nas últimas décadas elas passaram por processos de
adaptação ao sistema governamental, e as mais importantes no setor de livros
didáticos constituíram parcerias ou foram vendidas para estrangeiros,
mantendo o mesmo nome. Essas empresas possuem um parque editorial
equipado com máquinas modernas capazes de imprimir grandes quantidades e
atender a grande demanda do mercado. Para completar, contam com equipe
de pessoal especializado para tratar de cada parte da produção de um livro e
atender um público que se torna cada vez mais exigente.
Os novos autores de matemática são poucos, e as obras mais
“conhecidas” estão sempre se adaptando às exigências dos currículos ou dos
programas da educação.
107
No decorrer da história percebemos, que o ponto de partida para o
sucesso de produção e comercialização do livro iniciou-se, quando o setor de
livros didáticos começou a ser explorado. O setor livreiro se beneficiou da
incapacidade do governo de gerir de forma responsável a política do livro
didático, lançando em grandes quantidades milhões de livros descartáveis e de
má qualidade por todo Brasil, realizando seu “bom negócio”, mas, prejudicando
sistematicamente as crianças, especialmente as carentes, para as quais o livro
didático é, na verdade, o único livro que têm acesso.
Ainda hoje existe discussão em relação à preferência do governo por
certas editoras que por vários anos re-editam seus exemplares para serem
distribuídos pelo programa de governo.
Podemos concluir que os números estudados por pesquisadores nos
mostram que a produção do livro didático, inclusive o de matemática, vem
assumindo grandes proporções no Brasil.
Conforme Revista Nova Escola, de março de 2001, em 1999, 56%
dos livros publicados no País eram didáticos e paradidáticos. A indústria do
livro concorre com outras produções da indústria cultural, embora os editores
reclamem, conseguem realizar excelentes negócios, sem correr os riscos de
mercado, já que o Estado compra mais da metade da produção do livro
didático.
Concluímos, também, que o tema mais explorado nas pesquisas
realizadas sobre o livro didático brasileiro de matemática, refere-se a análise de
seu conteúdo. No Brasil, o estudo sobre a história do livro de matemática ainda
não havia sido explorado, pois sentimos falta de textos referentes ao assunto.
108
Durante a pesquisa, em muitos momentos, sentimos a impressão de
estar deixando escapar algo, mas acreditamos que essa seja a impressão que
temos quando trabalhamos com tema tão abrangente e tão rico de ser
explorado. Como escreve D’Ambrósio (2004, p. 29) “Não é sem razão que a
história vem aparecendo como um elemento motivador de grande importância”.
Finalmente, queremos ressaltar que a análise histórica pode
esclarecer o papel do texto escrito nas várias formas de ensino encontradas
em épocas diferentes (SCHUBRING, 2003, p. 3).
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