publicação da coordenadoria de … · 2004-06-10 · página 2 • opinião de 7 a 13/6/2004...

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Publicação da Coordenadoria de Comunicação Social - Ano XIX, nº 688, de 24 a 30 de maio de 2004 www.usp.br/jorusp Greve: negociações continuam A greve dos professores e funcioná- rios das universidades estaduais pau- listas, iniciada em maio, tem provo- cado paralisação parcial das unida- des da USP, Unicamp e Unesp. Na USP, serviços como os restaurantes universitários, as creches e os ôni- bus circulares não estão funcionan- do. O Conselho de Reitores e o Fó- rum das Seis, que reúne os sindica- tos de docentes e servidores, fazem nesta semana a quarta rodada de ne- gociações sobre o reajuste salarial das categorias, que reivindicam 16% de reposição. Tanto os reitores quan- to as lideranças dos trabalhadores têm procurado os Poderes Executi- vo e Legislativo para propor mudan- ças no financiamento das universi- dades públicas. Uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2005 pede que o percentual do ICMS des- tinado ao custeio do ensino superior público de São Paulo seja elevado de 9,57% para 11,6%. Página 3 O Centrinho de Bauru – o hospital da USP especializado no tratamento de anomalias craniofaciais – faz mais do que restaurar a surdez de milhares de pessoas. Ele também colabora para in- cluir os portadores de deficiência audi- tiva no mercado de trabalho. Através A cidadania amplificada do Núcleo Integrado de Reabilitação e Habilitação (Nirh), o Centrinho fornece capacitação profissional a jovens com surdez e ainda faz a intermediação com empresas interessadas em contratar es- ses jovens. Mais de 50 pessoas foram beneficiadas com emprego e carteira assinada desde 1999, quando começou o projeto – realizado em parceria com a Fundação para o Estudo e Tratamen- to das Deformidades Craniofaciais (Fun- craf). As empresas ensinam uma fun- ção e a Funcraf garante benefícios como ajuda de custo mensal, vales- transporte e vales-alimentação. “O nos- so objetivo não é ser assistencialista, mas fazer com que os deficientes audi- tivos tenham suas habilidades reco- nhecidas e exploradas”, afirma a coor- denadora do Nirh, pedagoga Maria José Monteiro Benjamin Buffa. Páginas 6 e 7 Lideranças negras e pesquisadores da questão racial acreditam que o siste- ma de cotas para afro-descendentes vai mudar para melhor o nível do ensi- no universitário brasileiro. Eunice Apa- recida de Jesus Prudente, professora da Faculdade de Direito da USP, ga- rante que a concessão de cotas é cons- titucional e que depois delas a Univer- sidade, democratizada, nunca mais será a mesma. “Muda no sentido ideo- lógico e no sentido prático”, concorda outra professora, Emanuelle Oliveira, que dá aulas na Universidade Vander- bilt, Tennessee, EUA, e estuda a ques- tão do negro no Brasil. No sentido prá- tico, porque, tendo acesso ao ensino superior gratuito, os afro-descendentes terão diminuídas também as desvan- tagens em relação aos brancos no campo de trabalho. O sistema de co- tas foi um dos temas do seminário in- ternacional sobre o negro na mídia pro- movido pela Escola de Comunicações e Artes da USP, nos dias 25 e 26 de maio, no Sesc Paulista. Página 4 Ensino superior de cara nova A desnutrição não é apenas uma con- dição decorrente da deficiência de ali- mento, mas ocorre tanto por falta quan- to por excesso de comida. A carência de nutrientes básicos causada por uma dieta inadequada pode caracterizar a chamada fome oculta, uma situação que independe da sensação de apetite. No Brasil registra-se tanto a elevada ocor- rência de obesidade quanto de subnu- O combate à fome, segundo a ciência trição, dependendo das condições geo- gráficas e sociais analisadas. Um em cada dez homens adultos ricos na Re- gião Sudeste é obeso. Já entre as cri- anças abaixo de 5 anos residentes na Região Nordeste o índice de subnutri- ção chega a 20%. A ocorrência de ane- mia entre as mulheres grávidas é de mais de 40%, o que pode prejudicar o desenvolvimento dos bebês. Esses fo- ram alguns dados apresentados duran- te o ciclo de palestras “Produção de alimentos: busca de soluções para a fome no mundo”, realizado nos dias 18 e 19 de maio na Faculdade de Saúde Pública e na Faculdade de Ciências Far- macêuticas da USP. O encontro – que teve o objetivo de propor formas de acesso da população a uma alimenta- ção adequada – apresentou pesquisas feitas em várias universidades brasilei- ras que favorecem a maior produção, a melhor qualidade e a ampliação da dis- tribuição dos alimentos. Página 12 JornaUSP.p65 04.06.04, 12:30 PM 1 Black

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Publicação da Coordenadoria de Comunicação Social - Ano XIX, nº 688, de 24 a 30 de maio de 2004www.usp.br/jorusp

Greve: negociações continuamA greve dos professores e funcioná-rios das universidades estaduais pau-listas, iniciada em maio, tem provo-cado paralisação parcial das unida-des da USP, Unicamp e Unesp. NaUSP, serviços como os restaurantesuniversitários, as creches e os ôni-bus circulares não estão funcionan-do. O Conselho de Reitores e o Fó-rum das Seis, que reúne os sindica-tos de docentes e servidores, fazemnesta semana a quarta rodada de ne-gociações sobre o reajuste salarialdas categorias, que reivindicam 16%de reposição. Tanto os reitores quan-to as lideranças dos trabalhadorestêm procurado os Poderes Executi-vo e Legislativo para propor mudan-ças no financiamento das universi-dades públicas. Uma emenda à Leide Diretrizes Orçamentárias de 2005pede que o percentual do ICMS des-tinado ao custeio do ensino superiorpúblico de São Paulo seja elevadode 9,57% para 11,6%. Página 3

O Centrinho de Bauru – o hospital daUSP especializado no tratamento deanomalias craniofaciais – faz mais doque restaurar a surdez de milhares depessoas. Ele também colabora para in-cluir os portadores de deficiência audi-tiva no mercado de trabalho. Através

A cidadania amplificadado Núcleo Integrado de Reabilitação eHabilitação (Nirh), o Centrinho fornececapacitação profissional a jovens comsurdez e ainda faz a intermediação comempresas interessadas em contratar es-ses jovens. Mais de 50 pessoas forambeneficiadas com emprego e carteira

assinada desde 1999, quando começouo projeto – realizado em parceria coma Fundação para o Estudo e Tratamen-to das Deformidades Craniofaciais (Fun-craf). As empresas ensinam uma fun-ção e a Funcraf garante benefícioscomo ajuda de custo mensal, vales-

transporte e vales-alimentação. “O nos-so objetivo não é ser assistencialista,mas fazer com que os deficientes audi-tivos tenham suas habilidades reco-nhecidas e exploradas”, afirma a coor-denadora do Nirh, pedagoga Maria JoséMonteiro Benjamin Buffa. Páginas 6 e 7

Lideranças negras e pesquisadores daquestão racial acreditam que o siste-ma de cotas para afro-descendentesvai mudar para melhor o nível do ensi-no universitário brasileiro. Eunice Apa-recida de Jesus Prudente, professorada Faculdade de Direito da USP, ga-rante que a concessão de cotas é cons-titucional e que depois delas a Univer-sidade, democratizada, nunca maisserá a mesma. “Muda no sentido ideo-lógico e no sentido prático”, concordaoutra professora, Emanuelle Oliveira,

que dá aulas na Universidade Vander-bilt, Tennessee, EUA, e estuda a ques-tão do negro no Brasil. No sentido prá-tico, porque, tendo acesso ao ensinosuperior gratuito, os afro-descendentesterão diminuídas também as desvan-tagens em relação aos brancos nocampo de trabalho. O sistema de co-tas foi um dos temas do seminário in-ternacional sobre o negro na mídia pro-movido pela Escola de Comunicaçõese Artes da USP, nos dias 25 e 26 demaio, no Sesc Paulista. Página 4

Ensino superior de cara nova

A desnutrição não é apenas uma con-dição decorrente da deficiência de ali-mento, mas ocorre tanto por falta quan-to por excesso de comida. A carênciade nutrientes básicos causada por umadieta inadequada pode caracterizar achamada fome oculta, uma situação queindepende da sensação de apetite. NoBrasil registra-se tanto a elevada ocor-rência de obesidade quanto de subnu-

O combate à fome,segundo a ciência

trição, dependendo das condições geo-gráficas e sociais analisadas. Um emcada dez homens adultos ricos na Re-gião Sudeste é obeso. Já entre as cri-anças abaixo de 5 anos residentes naRegião Nordeste o índice de subnutri-ção chega a 20%. A ocorrência de ane-mia entre as mulheres grávidas é demais de 40%, o que pode prejudicar odesenvolvimento dos bebês. Esses fo-ram alguns dados apresentados duran-te o ciclo de palestras “Produção dealimentos: busca de soluções para afome no mundo”, realizado nos dias 18e 19 de maio na Faculdade de SaúdePública e na Faculdade de Ciências Far-macêuticas da USP. O encontro – queteve o objetivo de propor formas deacesso da população a uma alimenta-ção adequada – apresentou pesquisasfeitas em várias universidades brasilei-ras que favorecem a maior produção, amelhor qualidade e a ampliação da dis-tribuição dos alimentos. Página 12

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Página 2 • De 7 a 13/6/2004Opinião

Jornal da USP, em sua edi-ção 687 (de 17 a 23 demaio), estampou uma maté-

ria intitulada “Rio São Francisco, dabonança à escassez”, de autoria dosenhor José Vieira Camelo Filho.Embora esse texto contribua paraque o leitor entenda a importânciado São Francisco para nosso país, areportagem demanda reparos daque-les que acompanham o debate can-dente em torno desse grande rio.

Essas observações são indispensá-veis, uma vez que o autor da maté-ria, de saída, afirmou que, diante daproblemática do São Francisco,“torna-se necessária a elaboração deuma análise crítica e uma tomadade posição serena da comunidadecientífica”. Ora,esse artigo nãoreal iza uma“análise crítica”da questão bási-ca que está nocentro das dis-cussões sobre oVelho Chico –o projeto gover-namental detransposição desuas águas. Naverdade, sobreesse aspecto essencial, esconde da-dos fundamentais, apresentando umquadro que tão somente corroboraopiniões dos que apóiam esse mal-sinado projeto.

Vejamos as omissões do articulis-ta. Em primeiro lugar, ele não po-deria esquecer que, pela legislaçãovigente, não é possível adotar qual-quer decisão a respeito de qualquerrio sem a concordância do comitê

de sua bacia. No caso do São Fran-cisco, em histórica reunião realiza-da em outubro do ano passado, nacidade de Penedo, em que partici-param o vice-presidente da Repúbli-ca, José Alencar, os ministros Mari-na Silva e Ciro Gomes e os gover-nadores de Sergipe e Alagoas, o co-mitê da bacia tomou uma posiçãoinsofismável contra o projeto datransposição, propondo que seja eleconvertido em um grande programade desenvolvimento sustentável e in-tegrado do semi-árido brasileiro.

Além disso, naquele conclave ovice-presidente da República garan-tiu que haverá uma grande aberturapara um diálogo, dentro do governofederal, sobre a proposta da trans-

posição, assegu-rando que nadaserá decididoenquanto o co-mitê da bacia doVelho Chico nãose posicionaratravés do Planode Recursos Hí-dricos do SãoFrancisco.

Todavia, ape-sar disso, a im-prensa vem di-

vulgando declarações – tanto dopresidente da República comoprincipalmente de Ciro Gomes –proclamando que de qualquer ma-neira o governo impulsionará oprojeto, passando por cima de to-das as opiniões desfavoráveis aessa proposta.

Aqui é indispensável um examedo posicionamento de Lula sobre aquestão. Na campanha eleitoral,

Lula nunca defendeu esse projeto.Porém, ao assumir a Presidência daRepública, inesperadamente anun-ciou o seu desejo de levar parte daságuas do Velho Chico para o Nor-deste setentrional. O que teriaocorrido? A hipótese mais viável éque essa atitude decorre de umaexigência apresentada por Ciro Go-mes, quando Lula solicitou seuapoio no segundo turno da eleiçãopresidencial, em novembro de 2002.Então, o político cearense reivindi-cou que Lula colocasse em sua pla-taforma de governo a proposta deexecutar o plano da transposição.Evidenciou-se assim que, para o atu-al ministro da Integração Nacional,o essencial é eleger-se governador doCeará em 2006. E que, para tanto,necessita se apresentar como o polí-tico que “leva água para o Ceará”.Pois bem, no texto divulgado peloJornal da USP, nenhuma palavra foidita a propósito dessa reviravolta sur-preendente na conduta de Lula.

Além disso, nessa matéria do Jor-nal da USP, chama a atenção nãotrazer uma só linha sobre o fato de,até agora, não haver sido aprovadoo Relatório sobre o Impacto Ambi-ental (Rima) do projeto. Um arre-medo de Rima, anos atrás, foi apre-sentado pelo lobby que intenta apro-var essa proposta. Mas esse docu-mento (sic) foi recolhido pelo go-verno por não estar de acordo comas normas e exigências legais.

Apesar de manifestar-se pela neces-sidade de uma análise crítica sobre aproblemática do São Francisco, o se-nhor Vieira Camelo Filho sequer sereferiu às razões, apresentadas por inú-meros especialistas e representantes dediversas instituições, que condenamo projeto do desvio de águas do SãoFrancisco. Por isso, é indispensávelcontrapor à propaganda subliminar doprojeto governamental, feita na maté-ria do Jornal da USP, alguns dos ar-gumentos contrários ao projeto do lo-bby que batalha pelo desvio de águasdo São Francisco. Resumidamente,eles são os seguintes.

1 – O projeto que propõe levarágua do São Francisco para certasáreas do Nordeste setentrional é umafalsa solução para os problemas dasmassas pobres que vivem naquelaregião. Ele apenas representa a con-tinuidade da política oligárquica do

Nordeste, onde quem controla a águatem o poder local – como proclamouWaldir Pires (hoje figura de desta-que no governo do PT). Lembrandoque muitas localidades próximas aoSão Francisco não dispõem inclusi-ve de abastecimento de água, esseex-governador da Bahia insiste queo problema fundamental da misériaem certas regiões do Nordeste não éa carência de água, mas a gestão daeconomia, inclusive do uso da águadisponível. O professor Aldo Rebou-ças, da USP, nos adverte: “O quemais falta no semi-árido do Nordes-te brasileiro não é água, mas deter-minado padrão cultural que agregueconfiança e melhore a eficiência dasorganizações públicas e privadas en-volvidas no negócio da água” (revis-ta Estudos Avançados, número 29, dejaneiro a abril de 1997, página 128).

2 – O projeto tem como objetivobásico abastecer açudes já existentes,não visa a promover transformaçõesefetivas na realidade econômica e so-cial do Nordestesetentrional. As-sim, objetiva car-rear vultosos re-cursos públicospara a “indústriadas secas”, a fimde manter inalte-rado o status quodos que domi-nam o Nordeste.

3 – O projetoenvolve um gas-to fantástico derecursos, quando tão só com umaparcela dessas verbas é possível re-solver muitos dos problemas das po-pulações pobres que vivem no valedo São Francisco, inclusive o abas-tecimento de água e o saneamentobásico de suas cidades.

4 – A transposição de águas doSão Francisco pode inviabilizar odesenvolvimento de projetos de ir-rigação na própria bacia do VelhoChico, vale dizer, em Minas Gerais,na Bahia, em Pernambuco e nos Es-tados de Sergipe e Alagoas. Segun-do um levantamento da Codevasf(Companhia de Desenvolvimentodos Vales do São Francisco e doParnaíba), existem três milhões dehectares de terras apropriadas parairrigação no vale do médio e do sub-médio São Francisco. Conforme es-

clarece o professor Alberto Daker,professor da Universidade de Vi-çosa, em Minas Gerais, cada hec-tare irrigado com a transposiçãodeixaria sem irrigação, no mínimo,dois ou três hectares localizadosnas margens do São Francisco.

5 – Os impactos ambientais quepodem ser causados pela execuçãodo plano de transposição são inú-meros. Isso porque o projeto nãoanalisou as prováveis conseqüên-cias para o atendimento das cres-centes demandas hídricas no valedo São Francisco. Ademais, elenão apresenta um cenário transpa-rente das demandas hídricas nasbacias receptoras. Além disso, nãocoloca como prioritárias as ativi-dades voltadas para a revitalizaçãodo São Francisco e não examinaos prejuízos que podem ser provo-cados pelos graves atentados à bi-odiversidade na região.

6 – Por último, o projeto é noci-vo porque seu propósito real é

abrir caminhoexclusivamentepara inves t i -mentos dosa g r o n e g ó c i o svoltados para ae x p o r t a ç ã o .Além disso, ad-verte o pesqui-sador João Su-assuna, da Fun-dação JoaquimNabuco: “Daforma que o

projeto de transposição está sendoproposto atualmente, interessa, emuito, aos grandes empreiteiros,aos fabricantes de equipamentos degrande porte, aos que buscam fi-nanciamento eleitoral, aos propri-etários de terras que serão indeni-zados pela passagem de canais,aquedutos e construção de reser-vatórios de terras” (Texto “Rio SãoFrancisco – Conflitos nos usos desuas águas”, junho de 1999, dis-ponível no endereço eletrônicowww.fundaj. gov.br).

O

Marco Antônio Tavares Coelho([email protected]) é jorna-lista, editor-executivo da revista Estu-dos Avançados, do Instituto de Estu-dos Avançados (IEA) da USP, e autordo livro Rio das Velhas – Memória edesafios (Editora Paz e Terra)

Verdades sobreas águas do Velho Chico

MARCO ANTÔNIO TAVARES COELHO

O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo (USP),publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comu-nicação Social (CCS) da USP. Fotolito e Impressão: Imprensa Oficial doEstado de São Paulo. Redação, Administração e Publicidade: Edifício daAntiga Reitoria, avenida Professor Luciano Gualberto, travessa J, 374, 8ºe 5º andares, Cidade Universitária, São Paulo (SP), CEP 05508-900. Tele-fones: (011) 3091-3965, 3091-4419, 3815-4398 e 3031-7800. Fax: (011)3091-4309. E-mail: [email protected], site: www.usp.br/jorusp. Publicida-de: 3091-4399, e-mail: [email protected]. Assinaturas: 5º andar, telefone:3091-4433. Exemplares: 3091-4414, e-mail: [email protected].

Editores: Jorge Maruta (Fotografia), Moisés Dorado dos Santos (Arte) e RobertoC. G. Cast ro . Redação: Aparecida Roxo, Cecí l ia Bastos , Claudia Costa , Cr íc iaGiamatei, Cristina Corsalleti, Flávio Alves Machado, Francisco Emolo, Izabel Leão,Leila Kiyomura Moreno, Leonor Teshima Shiroma, Maria Angela De Conti Orte-ga, Miguel Glugoski , Osvaldo José dos Santos , Paulo Hebmüller , Pr isci la Nery,Sílvia Vieira e Sylvia Miguel.

Reitor Adolpho José Melfi

Vice-reitorHélio Nogueira da Cruz

Coordenadora de Comunicação SocialCremilda Medina

Diretor de Mídias ImpressasMarcello Rollemberg

O projeto de transposiçãodas águas do SãoFrancisco é uma

falsa solução para osproblemas da região, poisrepresenta a continuidade

da política oligárquica

A transposição exigerecursos enormes,

que podem serusados para solucionar

os problemas dapopulação, inclusive deabastecimento de água

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• Página 3De 7 a 13/6/2004 Universidade

trabalhadores”, afirmou. O DiretórioCentral dos Estudantes (DCE) e aAssociação dos Pós-Graduandos(APG-Capital) têm manifestadoapoio à greve.

Na terça-feira da semana passada,o sindicato fez um piquete em fren-te à Reitoria, na Cidade Universitá-ria, bloqueando o acesso dos funci-onários. Os diversos setores que fun-cionam no prédio distribuíram-sepor outras instalações do campus.No ato, os manifestantes protesta-ram contra o cancelamento da reu-nião entre o Sintusp e o reitor Adol-pho José Melfi para discutir sobre oaumento do valor do auxílio-alimen-tação, que deveria ter ocorrido nodia 28 de maio. Ainda não há datapara essa negociação.

De acordo com decisão do Cru-esp, cada universidade deve estipu-lar o benefício separadamente, poisa situação é diferenciada. Enquantona USP o auxílio é de R$ 45,00, naUnesp chega a R$ 120,00. A Uni-camp não possui o sistema. Os ser-vidores querem um valor unificadode R$ 130,00, o equivalente a meiosalário mínimo. Na reunião do dia20 de maio entre o Cruesp e o Fó-rum das Seis, o Conselho estipulouum prazo de 30 dias para que fos-sem agendados encontros sobre otema. Na assembléia do dia 25 demaio, os funcionários da USP deci-diram que o movimento não deve-ria recuar diante de qualquer pro-posta de aumento para o auxílio-ali-mentação enquanto não houvessedefinição sobre o reajuste salarial.

passada, a adesão entre os professo-res havia atingido quatro das 20 uni-dades, de acordo com a assessoria deimprensa da Reitoria. Porém, ainda se-gundo a assessoria, cerca de 80% dosestudantes continuavam com suas au-las normalmente. Entre os funcionári-os, na avaliação do Sindicato dos Tra-balhadores da Unicamp (STU), apro-ximadamente 70% estavam paralisados.

Na USP, as assembléias de profes-sores e funcionários determinaram ocomeço da greve para o dia 27 demaio. Para a Associação dos Docen-tes da Universidade (Adusp), até oinício da semana passada 55% dosprofessores haviam aderido ao movi-mento. O Sindicato dos Trabalhado-res (Sintusp) avaliava em 75% o to-tal de funcionários paralisados. A as-sessoria de imprensa da Reitoria con-firmou o crescimento da adesão, noscampi da capital e do interior, masnão fez referência a números. Servi-ços como as creches, os restaurantesuniversitários e os ônibus circularesnão estão funcionando.

“Não queremos uma greve longa,mas estamos preparados para ela”,disse Magno de Carvalho, diretor doSintusp, numa das assembléias de ser-vidores. Como os grevistas buscamo apoio dos estudantes, Carvalho fezquestão de esclarecer que o movimen-to não é contra a criação de novasvagas no ensino superior público, aexemplo do que tem acontecido coma expansão da Unesp no interior oucom o investimento da USP na zonaleste. “Só não queremos que issoaconteça às custas dos salários dos

O Cruesp reconheceu que os ín-dices de arrecadação do Estado deSão Paulo cresceram acima do pre-visto em abril. Para o seu presi-dente, entretanto, é necessário es-perar mais para que a tendência seconsolide. “Essas variações são sa-zonais, e é preciso acompanhá-laspor alguns meses para se fazer algoracional e que respeite a capacida-de das universidades de financiarsuas operações”, afirma Carlos Hen-rique de Brito Cruz, também reitorda Unicamp. “Estamos torcendo mui-to para que isso continue acontecen-do ao longo do ano, porque facilita apossibilidade de, na data mais ante-cipada possível, oferecer algum rea-juste.” O Cruesp se comprometeu apromover reuniões bimestrais de suacomissão técnica com o Fórum dasSeis para acompanhar os números daarrecadação. O custeio das univer-sidades é feito a partir do repassede 9,57% do Imposto sobre Circu-lação de Mercadorias e Serviços(ICMS) recolhido pelo Estado. Osservidores estão pedindo a revisãoda alíquota (veja quadro).

Adesão – A Unesp foi a primei-ra das universidades estaduais a de-flagrar a greve. Em algumas de suasunidades, a paralisação foi inicia-da já no dia 11 de maio. Segundoo professor Milton Vieira do PradoJr., presidente da Associação dosDocentes da Unesp (Adunesp) e co-ordenador do Fórum das Seis, 14dos 15 campi estão parados. NaUnicamp, até o início da semana

Entidadesquerem

mudanças no or-çamento

Debates sobre aarrecadação estadual eos porcentuaisorçamentários destinadosà educação integram apauta do movimento defuncionários e professoresda USP, Unicamp eUnesp e também têmmotivado gestões doCruesp. No dia 19 demaio, o presidente doConselho, CarlosHenrique de Brito Cruz,fez uma exposição aosdeputados da Comissãode Cultura, Ciência eTecnologia daAssembléia Legislativa doEstado (Alesp) edefendeu a revisão dadestinação de 5% dossalários dos servidoresautárquicos dasuniversidades para aSecretaria da Fazenda.O desconto, determinadono ano passado por leicomplementar, atingepraticamente a totalidadedos professores e umaparcela dos funcionários(que, na maioria, nãosão autárquicos, e simcontratados pelo regimeda CLT). O Cruespclassifica a situaçãocomo “injusta” e querque o porcentual –atualmente recolhidopara prover um fundoprevidenciário dosservidores públicos aindapor ser formulado – sejamantido nasuniversidades, que arcamcom o pagamento dosinativos. De acordo comBrito Cruz, os deputadosJonas Donizete (PSB) eCélia Leão (PSDB),respectivamentepresidente e vice dacomissão,comprometeram-se acolocar o tema emdiscussão na Casa.O Fórum das Seistambém tem procurado oExecutivo e o Legislativo.No dia 1º, ossindicalistas participaramde audiência pública naAlesp com o secretárioda Fazenda, EduardoRefinetti Guardia, e nodia 3 estariam em sessãopública da Comissão deCultura, Ciência eTecnologia. Ostrabalhadores queremque o porcentual doICMS destinado aocusteio das universidadespúblicas aumente dosatuais 9,57% para11,6%. Já está emdebate entre osdeputados uma emendasubstitutiva contendo essaalteração na Lei deDiretrizes Orçamentárias(LDO) para o ano de2005. Outra emendapede que no mínimo 36%das receitas tributáriastotais do Estado sejamdestinadas à educaçãopública, em todos osníveis – atualmente oporcentual é de 30%.Nas próximas edições oJornal da USP traráa coberturadessas discussões.

GREVE

Mobilização e debateMovimento nas universidades estaduais paulistas, iniciado no mês passado,

coloca em pauta o financiamento do ensino superior público do Estado

uncionários e professoresdas três universidades públi-cas de São Paulo permanecem

em greve enquanto aguardam a de-finição sobre o reajuste salarial dascategorias, cuja data-base é no mêsde maio. Nesta semana, o Conselhode Reitores das Universidades Esta-duais Paulistas (Cruesp) e o Fórumdas Seis – que integra os sindicatosde docentes e servidores da USP,Unicamp e Unesp – voltarão a sereunir para debater o tema. As prin-cipais reivindicações do movimentosão o reajuste de 16%, a definiçãode uma política salarial e o auxílio-alimentação no valor de R$ 130,00.

Até o momento, já foram realiza-dos três encontros entre as duas re-presentações, sempre na Reitoria daUnicamp, em Campinas. Em todasas oportunidades, o Cruesp tem man-tido a posição de que não é possívelconceder aumento agora devido àalta proporção de gastos com pes-soal. “Os níveis de comprometimen-to de orçamento com as folhas depagamento existentes – 95,29% naUnicamp, 93,40% na Unesp e86,96% na USP – não permitem aoCruesp realizar qualquer reajuste sa-larial neste momento”, diz o comu-nicado emitido pelo Conselho apósa reunião do dia 28 de maio. Segun-do estudos do Cruesp, caso fosseconcedido o reajuste de 16% pedidopelo Fórum, o comprometimento doorçamento da USP com a folha depagamento seria de cerca de 96%,enquanto na Unesp e na Unicampesse valor passaria dos 100%.

F

Servidoresem ato na

Unicamp (aolado), durante

reunião denegociação

entre o Cruespe o Fórum das

Seis (abaixo,à direita):

paralisaçãoatingiu as trêsuniversidades

públicaspaulistas

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Página 4 • De 7 a 13/6/2004Universidade

ideranças negras e pesquisa-dores da questão racial acre-ditam que o sistema de cotas

vai mudar completamente a cara dauniversidade brasileira. “Ela nuncamais será a mesma, vai se democrati-zar e muita gente tem medo disso”,afirma a professora Eunice Apareci-da de Jesus Prudente, da Faculdadede Direito da USP e do Núcleo deEstudos Interdisciplinares do NegroBrasileiro, também da USP. Com Eu-nice, que no início da carreira do-cente teria enfrentado certa resistên-cia de alunos em razão de sua cor,concorda Emanuelle Oliveira, umaloura formada em jornalismo e histó-ria na PUC do Rio de Janeiro, pro-fessora de Língua e Literatura Brasi-leira na Vanderbilt University, noTennessee (Estados Unidos) e pes-quisadora do movimento negro noBrasil. Para ela, a universidade decara nova promoverá cada vez maisdebates sobre racismo e exclusão einclusão social, diminuindo ao mes-mo tempo a desigualdade de chan-ces no mercado de trabalho, graçasao acesso dos agora discriminadosao conhecimento superior. “Mudano sentido ideológico e muda nosentido prático”, resume a carioca.A mesma esperança de universida-des renovadas, depois de implanta-das as cotas, anima o professor Ed-son Cardoso, da Universidade deBrasília e assessor para assuntossociais do Senado, que, emboraaparentando ser branco, declarater um pingo de sangue negro nasveias, suficiente para se incluir en-tre os afro-descendentes. Os trêsprofessores, e vários outros, par-ticiparam do Seminário Internacio-nal Mídia e Etnia, promovido pelaEscola de Comunicações e Artesda USP, nos dias 25 e 26 de maio,no Sesc Paulista.

Se todos os participantes defen-deram o sistema de cotas, ficou tam-bém evidente que não há entre elesconsenso em relação a vários pon-

NEGROS

A universidadede perfil novo

Pesquisadores negros e brancos defendem sistema de cotas e garantem que o nível do ensinosuperior será elevado. Em outros pontos não há concordância entre os próprios afro-descendentes

tos importantes na implantação daspolíticas de inclusão social dos ne-gros. Uma polêmica animada seguiu-se à intervenção de um convidadonorte-americano, Ira Moseley, doYou Entertainment Group, de NovaYork. O empresário disse que a suaorganização tem muitos planos parao Nordeste, em especial para a Bahia,em setores como lazer, turismo, co-municação, cinema, audiovisual, co-mércio, e está interessada em esta-belecer parcerias com empresas bra-sileiras. No turismo, por exemplo,a proposta é incentivar as viagensde negros brasileiros para os Esta-dos Unidos, e vice-versa, e para fa-cilitar as coisas seria interessantecriar um roteiro aéreo entre Salva-dor e Nova York sem escalas, evi-tando-se a incômoda descida no Riode Janeiro, o que só alonga, atrasae encarece as viagens.

Lógica do capital – Outro projetodos empresários negros norte-ame-ricanos diz respeito à criação de cur-sos e treinamento de pessoal na in-dústria da mídia. “Queremos trans-ferir nossa tecnologia para vocês;queremos sair do macro para o mi-cro”, disse Moseley. Ele só não es-perava a reação de um dos compo-nentes da mesa (no segundo dia doseminário), o jornalista e professorda Universidade Federal da Bahia,Fernando Conceição, que investiucontra as atividades e os planos donorte-americano para a Bahia, queconsiderou interesseiros, fiéis à ló-gica do capital, uma aliança com em-presas capitalistas; puro “money,money”. “O que sobra para os ne-gros baianos?”, perguntou. Antes daresposta do expositor, intervieram acoordenadora do debate – que erasobre políticas compensatórias e le-gitimidade –, Rosângela Malachias(Ryoichi Sasakawa Fellow/ProgramaRaça Desenvolvimento e Desigual-dade Social Brasil-Estados Unidos),que considerou legítima a discussão

sobre idéias como mercado e poder;e o professor Edson Cardoso, quedisse nada ter contra o capital, des-de que não haja exclusão dos ne-gros. Moseley rebateu as críticas deConceição, dizendo que não era ca-pitalista nem socialista, mas preocu-pado com o futuro de seu povo. “Aquestão não é de polêmica, mas desobrevivência e eu quero aprender ame relacionar.” Disse que o governodos Estados Unidos está preocupa-do com a concorrência do Brasil, quecresce em setores importantes comofabricante de aviões (Embraer), gran-de produtor de soja e criador degado. No entanto, o empresário achaque o Brasil precisa ser mais atuan-te na área de marketing e criar seupróprio programa de ação e seu mo-delo de exportação. “Nunca vi umcomercial de TV nos Estados Uni-dos dizendo venham conhecer oBrasil. Se a Alca funcionar, o Paístem que diversificar seus produtos efazer com que os outros países oscomprem. Se sensibilizar os afro-ame-ricanos a vir ao Brasil se tornarámais forte. Eu quero comprar coisasfeitas pelo meu povo.”

Além de polêmicas internas, o mo-vimento pela igualdade racial quei-xa-se também de resistências ou mávontade externas. O processo de in-clusão das minorias na universidadepública anda devagar, na opinião daprofessora Dilma de Melo Silva, daECA, que coordenou a segunda mesado primeiro dia dos debates. Seriaum eterno recomeçar, pois seminári-os como esse foram feitos anos an-tes e com as mesmas recomendaçõesfinais à direção das universidades eaos professores. Pouco adianta; otempo passa e medidas práticas nãoaparecem. Outras vezes, o meio aca-dêmico recorre a ironias, como a deapelidar de “navio negreiro” os pro-fessores doutores que aceitam ori-entar pós-graduandos negros.

De ironia também se valeu umapessoa da platéia quando, no deba-

te que se seguiu a uma das sessões,mandou para os expositores uma“pergunta”, ou um comentário, di-zendo que as relações entre brancose negros no Brasil são realmenteamistosas e a prova é que a coorde-nação do seminário sobre inclusãode afro-brasileiros coube a uma lou-ra. Às vezes nem os norte-america-nos se entendem. Foi quando veio àbaila a atuação de Condolezza Rice,assessora do presidente George W.Bush. Judith Williams, da VanderbildUniversity, disse que conhece Ricepessoalmente, mas não a aprecia: sópensa nela, apresenta-se como ne-gra apenas quando lhe convém, fazo papel de um soldado fiel ao seuchefe de exército. “Se dependessede mim, eu a botaria para fora danossa raça”, disse Judith. MasRhonda Collier, da Limscomb Uni-versity, defendeu a assessora deBush, afirmando que é o exemplode uma pessoa negra que alcançouum dos postos mais altos dos Esta-dos Unidos e merece respeito.

Problemas há igualmente em ou-tros setores, alguns analisados noseminário: os negros na mídia(Ricardo Alexino Ferreira, daUnesp), o negro nas novelas (Den-nis de Oliveira, da ECA) e o negroe o Estatuto da Igualdade Social(Edson Cardoso, da UnB).

Constitucional – Eunice Apareci-da defende as cotas para negros por-que, segundo ela, o Brasil vive soba égide de uma Constituição (de1988) voltada para as questões soci-ais. Por ser a primeira Carta presidi-da pela atuação da sociedade civil,possui espírito de integração nacio-nal. A professora de Direito entendeque é perfeitamente cabível e cons-titucional a interpretação de que osdesiguais devem ser tratados dife-rentemente, na proporção das suasdesigualdades. O fato é que já exis-te na legislação uma prática de açõesafirmativas para as mulheres, com

grande sucesso nos municípios, e seisso ainda não ocorre em nível esta-dual e federal é, segundo EuniceAparecida, pela má política dos par-tidos, ainda muito discriminatórios emachistas. Quanto aos afro-descen-dentes, ela e a carioca Emanuelle Oli-veira concordam no seguinte: não setrata de alguns negros discriminadospor algum tempo, mas de todos osnegros discriminados por todo otempo histórico. Daí a legitimidadede ações diferenciadas. Pesquisas daONU da década de 80 indicam quese a inclusão da mulher continuar noritmo atual serão necessários 400anos para se alcançar a igualdade to-tal entre homens e mulheres, com asmesmas condições de presença nosparlamentos e nas empresas. Commaior razão é preciso acelerar a inte-gração de grupos minoritários comoos afro-descendentes, com políticasafirmativas, inclusive nas universi-dades. “Estou aguardando a USP to-mar posição”, diz Eunice Aparecida,que não vê bom futuro para as pes-soas que entram na justiça contraas cotas, alegando inconstitucio-nalidade. A professora da Faculda-de de Direito está convencida deque todos os recursos, mesmo queaceitos nas primeiras instâncias,serão derrubados no Supremo Tri-bunal Federal, uma vez que o pró-prio Supremo, em edital de chama-da de candidatos jornalistas parao seu serviço, estabeleceu que20% dos cargos seriam reservadosa afro-descendentes. “É o Supre-mo Tribunal Federal que vai dizerda constitucionalidade das leis edos atos normativos no Brasil eele já se posicionou pelas cotas,pela própria atuação nos concur-sos públicos”, assegura EuniceAparecida. Embora insista na ne-cessidade de cotas, ela reconhecevalor à decisão da USP que, juntocom o governo do Estado, assu-mirá cursinhos preparatórios gra-tuitos para 5 mil alunos da zonaleste de São Paulo.

Outra alegação de opositores dapolítica de concessão de bolsas noensino superior, a de que o ingressofacilitado de afro-descendentes ou deoutras minorias sociais concorrerápara rebaixar o nível do ensino uni-versitário, é rebatida pela professoraEmanuelle Oliveira. Segundo ela, asprimeiras universidades brasileiras aimplantar o sistema de cotas foram asestaduais da Bahia e do Rio de Janei-ro. Na instituição baiana já existemavaliações confirmando que os alu-nos que ingressaram mediante cotassão os melhores dos cursos. As mi-norias tradicionalmente saem-se mui-to bem porque, pressionadas, costu-mam se dedicar mais aos estudos. Emcaso, por exemplo, de descendentesde japoneses e coreanos, diz a pro-fessora que o fator cultural é im-portante: “A cultura os empurrapara uma ascendência cultural. Nocaso dos negros, o impacto da es-cravidão e do branqueamento apósa escravidão foi muito efetivo e onegro tem que conviver com uma es-pécie de inferiorização, e superá-la”.

Emanuelle exibiu no seminário umvídeo que intrigou a platéia. Um jo-vem marginal, branco, mascarado, re-vólver em punho, usando de lingua-gem superintelectualizada, justificavaa opção pelo crime, citando filósofos,sociólogos e escritores de vários pa-íses e línguas. O suspense acabouquando as luzes se acenderam e a pro-fessora explicou que a entrevista erauma ficção, realizada por alunos da Fa-culdade de Comunicação Social daUniversidade Federal do Rio de Janei-ro, com o propósito de mostrar o po-der paralelo do tráfico, a inversão so-cial e a questão racial. “Hoje sabemosque a imagem predominante dos trafi-cantes na mídia é de negros e mulatose que há uma relação paternalista dasesquerdas com as classes populares”,disse Emanuelle. E não é raro encon-trar entre os marginais tipos próximosdo jovem branco do vídeo, conformeatesta Caco Barcelos, jornalista estu-dioso do crime no Brasil.

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• Página 5De 7 a 13/6/2004 UniversidadeAMÉRICA LATINA

SYLVIA MIGUEL

Chile em focona política externa

hile: a democracia consolida-da. Esse foi o tema da pales-tra realizada pelo embaixador

Gelson Fonseca Júnior em visita àFaculdade de Economia, Administra-ção e Contabilidade (FEA) da USP,no dia 24 de maio. A apresentaçãointegrou a série Seminários de Rela-ções Internacionais, que no 31 demaio ainda trouxe o também embai-xador Samuel Pinheiro Guimarães, se-cretário-executivo do Ministério dasRelações Exteriores, para falar sobrea atual política externa brasileira.Abertos ao público, os semináriossão organizados pela professora Ma-ria Hermínia Tavares de Almeida, co-ordenadora do curso de RI da USP.

Representante permanente do Bra-sil na ONU, o embaixador Gelson Fon-seca disse que a primeira impressãoque se tem do Chile hoje é que setrata de um país relativamente orga-nizado e que em relação aos paísesandinos funciona muito bem. “Issoem parte é verdadeiro. Os númerosda economia chilena são muito sau-dáveis e apontam boas perspectivasde crescimento”, disse. Apesar des-se relativo sucesso, o modelo econô-mico adotado no país ainda apresen-ta problemas, sendo a concentraçãode renda e necessidade de um saltotecnológico e de comércio exterior osmais graves”, afirmou.

“Os números da economia chile-na são excelentes, principalmente secomparados com os do Brasil. O paíscresceu 3,5% em 2003, a inflaçãogira em torno de 1%, o déficit pú-blico, em 0,8%, a renda per capita éde US$ 4,5 mil e os salários tiveramaumento real em torno de 4%”,acrescentou o embaixador. “A cha-ve do sucesso por trás desses nú-meros está no fato de que o modeloeconômico baseado na abertura demercados se adequou muito bem àspotencialidades do país.”

Construído conscientemente, e emgrande parte pelo regime militar, omodelo neoliberal se aperfeiçoou aolongo de cerca de 20 anos e ganhoucredibilidade no exterior, afirmouFonseca. Num território de cerca de15 milhões de habitantes, o mercadointerno relativamente limitado fez osgovernantes acordarem para a neces-sidade de um “desenvolvimentopara fora”, disse. Nesse sentido, aintervenção do Estado foi fundamen-

tal. “Alguns setores, entre eles a vini-cultura, além da indústria pesqueira,de cobre e celulose, ganharam compe-titividade no mercado externo graçasà orientação do Estado”, afirmou.

Mas o mesmo modelo que produzcrescimento paradoxalmente pareceimpedir o país de prosperar aindamais. “Apesar dos números macroe-conômicos, o Chile ainda não con-seguiu promover um salto nas expor-tações de produtos de maior valoragregado”, disse, referindo-se a itensque demandam mais tecnologia nasua fabricação e que conseqüente-mente pesam mais favoravelmente nabalança comercial.

Segundo Fonseca, essa incapaci-dade de agregar valor aos itens deexportação ocorre em parte porqueos grandes aportes de investimen-tos estrangeiros que chegaram aopaís entre o final dos anos 80 e mea-dos dos 90 especialmente para pro-mover a privatização da indústriachilena, agora estão escassos.

“O atual modelo econômico em nadaajudou até o momento para reduzir asdisparidades de renda”, disse. Segun-do o embaixador, as taxas de pobrezae indigência praticamente não muda-ram ao longo de 20 anos. “Em 1980,por exemplo, 30% da população viviana linha de pobreza, o que permanecequase inalterado até hoje.”

O embaixador discorreu especial-mente sobre os fundamentos macro-econômicos e pensamento políticochilenos. Citou Mercosul e Alca nofinal da palestra para dizer que ape-sar dos acordos bilaterais de comér-cio que o Chile tem firmado com ou-tros países, tal política exterior emnada compromete a diplomacia co-mercial com o Brasil.

O Chile, que não integra o Merco-sul como membro e sim como paísassociado desde 1997, “está muitoadiantado na questão de tratados in-ternacionais e vem mantendo acor-dos de livre comércio com os Esta-dos Unidos e União Européia”, des-tacou Fonseca. “Essa situação nãogera atritos com os interesses doMercosul nem do Brasil. Estudosmostram que os itens de interessecomercial do Brasil e do Chile nãosão os mesmos. Mesmo assim, a re-lação do Chile com o Mercosul pre-cisa ser aprofundada e pequenosacertos precisam ser feitos.”

Com relação à Alca, o embaixa-dor acha a questão mais complica-da porque é como se o Chile “tor-cesse para que dois times ganhas-sem”. É que a Alca implantadacomo querem os Estados Unidospoderia trazer “mais disciplina co-mercial na América Latina e o Chi-le teria mais segurança em termosde investimentos”, por exemplo.“Por outro lado, se o Brasil conse-guisse o que pleiteia na Alca, oChile também sairia ganhando por-que o que os chilenos não conse-guiram nesses acordos com os nor-te-americanos é justamente aquiloque o Brasil quer, ou seja, a regu-lação dos mercados agrícolas e ofim do antidumping”, afirmou.

Tradições – Servido por belas prai-as do Pacífico, montanhas, florestas,

deserto, vulcões e neve, o Chile pos-sui ainda um outro fascínio que atraituristas em todas as estações do ano:a tradicional cultura dos seus povosprimitivos. O conservadorismo é jus-tamente uma característica culturalque muito influencia os rumos da po-lítica e da economia, disse o embaixa-dor Fonseca em sua palestra na salada Congregação da FEA.

Ao contrário do Brasil, os parti-dos políticos chilenos têm marca-da identidade e forte papel na polí-tica e, além disso, o atual regimede coalizão se mantém no governohá 14 anos, afirmou Fonseca. “Sehá um país conservador e que pre-za tradições na América Latina,esse país é o Chile e isso tem con-seqüências na política e na econo-mia”, disse o embaixador. Por esteponto de vista, as próximas elei-ções chilenas trarão uma grandenovidade, afirmou o embaixador, jáque os mais fortes candidatos àPresidência são duas mulheres.

Segundo o embaixador, as figurasdo ditador Augusto Pinochet e doex-presidente socialista Salvador Alli-ende permanecem até hoje como fan-tasmas a nortear os rumos da políti-ca e da economia. “Por um lado, Alli-ende queria implantar o socialismoatravés da democracia. Por outro, Pi-nochet é um exemplo de como a di-tadura pode chegar a excessos incrí-veis. Daí o país hoje ser tão preocu-pado em preservar consensos. Poresta razão também é que se consoli-dou a transição do regime militarpara a democracia”, disse.

“Em comparação com os vizinhosandinos, não há sinais de crise ins-titucional no Chile e as eleiçõesprevistas para outubro próximo de-verão transcorrer dentro de um ce-

C

nário de normalidade política”, afir-mou o embaixador, ex-assessor Es-pecial da Presidência da Repúblicano governo Collor e no primeiromandato de Fernando HenriqueCardoso. “As liberdades de im-prensa e de associação política es-tão garantidas. Esses preceitos, ali-ados a um quadro de não-violên-cia política, corroboram o estadodemocrático de direito em que opaís se configura”, disse.

“No Chile não existe violênciapolítica a não ser por alguns pou-cos eventos localizados que emnada abalam o sistema político”,disse Fonseca, referindo-se à atu-ação de grupos ligados às causasde povos primitivos como os ma-puche, por exemplo. “Além disso,uma polícia eficiente e não corrup-ta garante qualidade na segurançaurbana”, acrescentou.

Sobre uma bomba de efeito mo-ral colocada no Consulado do Bra-sil no Chile em 23 de março últi-mo, Fonseca afirmou que na açãofoi utilizado “um artefato sem ne-nhum poder de destruição” e quea volta do terrorismo no Chile estádescartada. A bomba explodiuapós a evacuação do prédio doconsulado em Santiago e destruiucompletamente um banheiro femi-nino, de acordo com informaçõesda Agência Brasil. O Movimientode Izquierda Revolucionário (MIR)reclamou para si o atentado, masdepois desmentiu a ação. Segun-do a Agência Brasil, um telefone-ma anônimo relacionava o fato àdetenção de “prisioneiros políti-cos” no Brasil, que seriam os chi-lenos que em 2001 participaram doseqüestro do publici tár io Wa-shington Olivetto.

Evento organizado pelo curso de Relações Internacionais traz à Cidade Universitária o embaixador do Brasil no Chile, Gelson Fonseca

O seminário na FEA sobre

o Chile, umdos mais

estáveis paísesda AméricaLatina: país

cresceu 3,5%em 2003, a

inflação giraem torno

de 1%,a renda percapita é de

US$ 4,5 mile os salários

tiveramaumento

real de 4%

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mpliar o repertório da pessoacom deficiência auditiva eabrir novas possibilidades de

trabalho para promover a sua inclu-são social parece difícil – e é. Mas,ao empunhar essa “bandeira”, o Nú-cleo Integrado de Reabilitação e Ha-bilitação (Nirh), uma unidade doHospital de Reabilitação de Anoma-lias Craniofaciais da USP, o Centri-nho, em Bauru, colabora para abriros olhos – e os ouvidos – do empre-sariado para as múltiplas potencia-lidades da chamada “população sur-da”. O núcleo atua em parceria coma Fundação para o Estudo e Trata-mento das Deformidades Craniofa-ciais (Funcraf), entidade que apóiao hospital há mais de 18 anos.

Ao mesmo tempo, os alunos ma-triculados na unidade aprendem aromper as limitações impostas pelosilêncio para garantir menos barrei-ras e mais caminhos livres no con-vívio social. Na rotina de trabalho,curso de Libras (Língua Brasileirade Sinais), aulas de língua portugue-sa, educação artística e demais ati-vidades educativo-pedagógicas, queampliam o repertório do usuário eabrem possibilidades de inclusão so-cial. As aulas ocorrem de segunda asexta-feira, no período da tarde.

E, desde que a capacitação pro-fissional e a intermediação comempresas começaram a ser siste-matizadas pelo Nirh, em 1999,mais de 50 jovens foram direta-mente beneficiados com empregoe carteira assinada – alguns, nopróprio Centrinho. Nascido comdeficiência auditiva, Saulo JoséGarcia, 21 anos, é um deles. Au-xiliar administrativo da pós-gra-

Unidade de hospital da USP de Bauru ensina língua de sinais, orienta sobre as leis trabalhistase encaminha jovens com deficiência auditiva ao mercado após processo de capacitação

CIDADANIAELAINE DE SOUSA e JOÃO PEDRO FEZA, de Bauru

Núcleo do Centrinho “amplifica”habilidades dos surdos

duação do hospital, hoje ele temum dia-a-dia tão corrido quanto ode qualquer jovem de sua idade.“Além de trabalhar no Centrinho,me formei técnico em instalaçãode som e agora estou cursandoelétrica e mecânica”, conta. Afi-cionado por som, Saulo venceu asbarreiras da deficiência auditivafazendo fonoterapia por nove anose participando das atividades doNirh. “Futuramente, penso em tra-balhar com som, já que, hoje,ouço bem com o aparelho auditi-vo e me comunico normalmente.”O entusiasmo não é exclusivida-de do ex-aluno do núcleo: “Atu-almente, já somos parceiros de 13

empresas”, comemora a psicólo-ga Oleana Rodrigues Maciel deAndrade, do Nirh.

Mas, para atingir resultados posi-tivos (e contínuos), o trabalho diá-rio tem foco centrado no estímuloao desenvolvimento das habilidadesdesses cidadãos surdos com idadelimite de 30 anos (e devidamentematriculados no hospital). No cursopreparatório para o mercado de tra-balho, por exemplo, adolescentesacima de 16 anos de idade partici-pam de atividades em grupo em quesão abordados aspectos de autoco-nhecimento, informações sobre omundo do trabalho e escolha de umacarreira. Na prática, eles recebem

desde noções básicas sobre cidadaniae identidade pessoal até orientaçõessobre leis trabalhistas e meios e re-cursos para obter documentos, comoRG, CPF e carteira de trabalho.

Depois do curso, os pacientes vãoconhecer a prática do trabalho emempresas conveniadas com o núcleo.“As empresas oferecem vagas paraos pacientes, comprometendo-se aensinar a eles uma função”, explicaa assistente social Célia Cristina Lo-bato, também do Nirh. “Em contra-partida, a Funcraf garante benefíci-os enquanto eles são treinados, comoajuda de custo mensal e vales trans-porte e alimentação.” O treinamen-to acontece por um período máximo

de seis meses. Depois, o jovempode retornar para o núcleo para termais aulas, enquanto aguarda novacolocação no mercado de trabalho.Durante o “estágio” na empresa,uma assistente social e uma psicó-loga do Nirh acompanham o desen-volvimento do paciente e intervêmnas dificuldades apresentadas, as-sessorando o empregador para fa-cilitar o processo de inclusão dapessoa com deficiência. Só em2003, dez treinandos foram para omercado de trabalho.

Do papel à prática – Regulamentadaem 1999 pelo decreto 3.298, a lei8.213/91, que estipula pisos percentu-

A

Mais de 50 jovens com problemas auditivos, como

Giancarlo deAraújo: ajudadopelo convênuodo núcleo com

13 empresas

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• Página 7De 7 a 13/6/2004EspecialEspecial

Sim, eles estãono mercadode trabalho

Sabe o que AlessandroSoares dos Santos, 25 anos,Ana Paula AparecidaCunha, 23, Danilo Bispo deMoraes, 20, seu irmãogêmeo Davilson Bispo deMoraes, Denilson GrassiLourenço, 20, ElizângelaConceição Silva Celestino,18, Giancarlo Silva deAraújo, 20, RobsonAlexandre Abílio, 20, e TaizeCristina Silva Galhardo, 21,têm em comum, além damesma faixa etária e dadeficiência auditiva? Todosforam incluídos no mercadode trabalho graças aparcerias entre o NúcleoIntegrado de Reabilitação eHabilitação (Nirh) eempresas bauruenses. Ashistórias de vida dessesjovens são muito parecidas:todos têm sonhos,convivem com limitações eaprendem, a cada dia, aexplorar o que eles têm demelhor. Assim, vãodiversificando esse Brasil, queinsiste em buscar igualdades.Fundado em 1991, o Nirhrecebeu, recentemente,certificado de “tecnologiasocial” da Fundação Bancodo Brasil por serconsiderado, entre 634instituições analisadas,modelo eficiente detransformação social, comviabilidade demultiplicação para outrasregiões do País. Ocertificado é conseqüênciada participação do Nirh, em2003, no Prêmio FundaçãoBanco do Brasil deTecnologia Social, cujoresultado, divulgado emsetembro/03, declarou aunidade do Centrinho umadas 96 ações consideradasefetivamente de tecnologiasocial. Desde então, otrabalho do Nirh estácadastrado no banco detecnologias sociais daFundação, disponibilizadono endereço eletrônicowww.cidadania-e.com.br .

ais diferenciados de contratação de em-pregados com deficiência, dependen-do do tamanho da empresa, começa aser levada a sério, 13 anos depois.

Segundo a política de cotas, asempresas com mais de 100 funcio-nários devem reservar de 2% a 5%das vagas a pessoas com deficiên-cia. “O nosso objetivo não é ser as-sistencialista. Não queremos apenasconseguir um emprego para os defi-cientes auditivos. Queremos que elestenham suas habilidades reconheci-das e exploradas”, complementa a co-ordenadora do Nirh, pedagoga MariaJosé Monteiro Benjamin Buffa.

Mesmo que timidamente, o tão es-perado reconhecimento tem ocorri-do. É o que conclui a pesquisa deCélia Lobato, especialista na área deSaúde e Reabilitação pelo Curso deEspecialização em Serviço Socialoferecido gratuitamente pelo Centri-nho. Em seu estudo, Célia analisoucinco empresas da cidade de Bauru.“Pesquisamos a responsabilidade so-cial das empresas bauruenses na in-clusão de pessoas deficientes, ana-lisando a relação de parceria com oNirh, e identificamos que os empre-sários entrevistados acreditam nopotencial das pessoas deficientes”,informa. Mas a pesquisa também re-velou que os empregadores se sen-tem mais seguros em contratar defi-cientes ao ter o respaldo de progra-mas que prestem informações sobrea deficiência e as formas de lidarcom ela e dêem apoio no processode inclusão, a exemplo do Nirh.

Outra monografia do curso na áreade Saúde e Reabilitação – intitulada“A pessoa portadora de deficiênciaauditiva e o direito ao trabalho” –,da assistente social Ana Maria de

Castro Alves Machado, estuda 71empresas de Bauru que se enqua-dram na lei de cotas para contrata-ção de pessoas deficientes e não sãoparceiras do Nirh. Dados prelimi-

nares da pesquisa, iniciada no fi-nal de 2003, apontam que a

maior dificuldade de contra-tação enfrentada pelas em-presas bauruenses ainda éencontrar deficientes quali-ficados para o perfil dasvagas. “Um dos objetivosdo estudo é diagnosticaro perfil do trabalhadorcom deficiência auditivaexigido no mercado detrabalho e relacioná-locom a capacitação reali-zada no Nirh”, explicaAna Maria.

O confinamento de al-guns deficientes e a faltade apoio ou estrutura fa-

miliar são alguns dos fato-res apontados como respon-

sáveis pela falta de qualifi-cação. Mas não é tudo. Afi-

nal, no Brasil, deficientes enão-deficientes sofrem com a

falta de emprego e, muitas vezes,são submetidos aos chamados su-bempregos. No caso das pessoascom deficiências, como os surdos,por exemplo, soma-se o preconcei-to e a dúvida sobre a existência dehabilidades. Por outro lado, a ex-periência da equipe do núcleo in-dica: apesar da dificuldade deconscientização dos empregado-res em relação às habilidades daspessoas com deficiência, em Bau-

ru diversos empresários reconhe-cem as potencialidades dos sur-dos. “Prova disso é que o empre-sariado também costuma solicitaraulas de Libras para seus funcio-nários, num gesto digno de res-peito às diferenças”, completa acoordenadora Maria José Buffa.

Foi o que fez a empresa bauruen-se Tilibra (maior fabricante de pro-dutos de papelaria da América Lati-na). “Logo que iniciamos o treina-mento profissional de deficientes au-ditivos, optamos por solicitar o cur-so para melhorar o relacionamentoentre funcionários não-deficientes eos recém-contratados”, conta a che-fe do setor de recrutamento, seleçãoe treinamento da empresa, SandraMaria Florêncio de Oliveira Mello.

“O importante é que a gente saibaexplorar as habilidades deles paraencaixar o perfil à função ideal”,acrescenta o gerente-geral do Auto-Posto Sem Limites (Rede Graal), emBauru, José Carlos da Silva. “Aquieles têm se saído muito bem em fun-ções que não exigem comunicaçãodireta com o público e, onde traba-lham, são muito atenciosos e ágeis”,completa Luiz Carlos Seabra, técni-co de segurança do trabalho e res-ponsável pelas contratações do pos-to. Atualmente, os três jovens defici-entes auditivos que trabalham no pos-to atuam na área de serviços gerais.

Experiências de vida – Outra par-ceira do Nirh é a sede dos Correi-os de Bauru (Diretoria RegionalSão Paulo Interior), que tem emseu quadro funcional, atualmente,

21 jovens que passaram pelo cur-so de capacitação profissional donúcleo. Ao todo, a Regional dosCorreios São Paulo Interior possui224 funcionários com deficiência,46 só em Bauru. Para o supervisorde mão-de-obra alternativa emBauru, Daniel Cirilo da Silva, odeficiente “é, sem dúvida, um fun-cionário como outro qualquer”.

“A contratação de pessoas comalgum tipo de deficiência traz paraa empresa e seus colaboradores ex-periências de vida muito ricas. Sãoexemplos de gente que batalhamuito para expressar seus valorese desafiar limites”, reconhece Jo-selma Regilda dos Passos, subge-rente de relação do trabalho do se-tor de Recursos Humanos da sededos Correios de Bauru. “A convi-vência com os deficientes nos fazexercitar habilidades que desco-nhecíamos”, assegura.

Os números revelam, contudo, adimensão das barreiras que aindarestam ser transpostas. No Brasil, hácerca de 24,5 milhões de pessoascom algum tipo de deficiência, oequivalente a 14,5% da população,segundo o IBGE (Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística). Entreeles, estima-se que 9 milhões estejamem idade de trabalhar, mas apenas ummilhão tem alguma atividade.

É fato que muita coisa melhoroupara as pessoas com deficiência au-ditiva desde o início da década de90. Porém, há tantos desafios aindapela frente que esta é, sem dúvida,uma reflexão que merece bem maisdo que um minuto de silêncio.

Ana Paula: inclusão no mercado de trabalho Elizângela, de 18 anos, é uma das jovens que o Nirth ajudous auditivos, como Giancarlo, já foram beneficiados

O objetivo doNúcleo não é ser

assistencialista,mas sim desenvolver as

habilidades dodeficiente auditivo

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Página 8 • De 7 a 13/6/2004Cultura

magens de células, neu-rônios, veias, detalhes docérebro e ainda fotografias do

sarcófago de Tutancamon apareciamna tela tão reais que davam a sensa-ção de se poder tocá-los e manuseá-los. Assim foi a palestra “Projeção3D no ensino das ciências biológi-cas e humanas”, realizada pelo pro-fessor Ciro Ferreira da Silva, do De-partamento de Histologia e Embrio-logia do Instituto de Ciências Bio-médicas (ICB) da USP, apresentadano dia 19 de maio, para professorese alunos interessados na técnica daestereoscopia como uma proposta deincrementar as aulas expositivas.“Como o próprio título da exposiçãodiz, quero mostrar o quanto é possí-vel aplicar a técnica da estereosco-pia tanto na área biológica quantonas humanas, possibilitando que ob-jetos históricos importantes saiamdos museus e sejam mostrados paraum grande número de pessoas deuma forma lúdica e de fácil visuali-zação”, explica o professor Silva. “Atécnica facilita o entendimento daspeças utilizadas no estudo das ciên-cias biológicas, por exemplo.”

A apresentação foi feita em um te-lão, utilizando dois sistemas de da-tashows sincronizados. Antes de en-trar na sala, a platéia recebeu óculosescuros de polarização, que têm afunção de sobrepor corretamente asimagens geradas separadamente pe-los dois aparelhos. É daí que vem asensação de que as imagens são re-ais, pois os óculos agrupam as ima-gens dando perspectiva e profundi-dade. “Essa técnica permite que oensino fique mais dinâmico e o alu-no não se sinta aborrecido com au-las simplesmente expositivas”, escla-rece Silva. “Quero que os educado-res e educandos se dediquem às tec-nologias do ensino que podem me-lhorar a qualidade do conhecimentotransmitido, por isso procuro incen-tivar cada vez mais o uso da estere-oscopia na sala de aula”, ressalta.

Os equipamentos para desenvol-ver a técnica da estereoscopia comimagens estáticas já existem no De-partamento de Histologia e Embrio-logia do ICB e se compõem de um

EDUCAÇÃO

IZABEL LEÃO

Para ensinarmais emelhor

Através da técnica da estereoscopia, professordisponibiliza para interessados em geral um sistema

de ensino tridimensional, que pode ser usado emdisciplinas de exatas, biológicas e humanas

microscó-pio eletrônico, umalupa, câmeras de vídeo e outrosaparelhos. “Cabe à equipe coletaro material e selecioná-lo para serfotografado. Já estamos montandomaterial sobre os embriões. Esta-mos fotografando esses embriõesnas diferentes fases do desenvol-vimento. Vamos dissecá-los e mos-trar os diferentes órgãos e comoeles são formados. Montaremosuma aula completa sobre embriões,tudo nessa técnica”, explica Silva.

Origens – A palavra estereosco-pia deriva dos termos gregos stere-os e skopein, que significam “sóli-do ou relevo” e “ver” – ou seja, vi-são em relevo. A freqüente interpre-tação de “estéreo” no sentido de“dois” é resultante do fato de ne-cessitarmos de dois olhos e doisouvidos para vermos e ouvirmos es-pacialmente. É um fenômeno natu-ral que ocorre quando uma pessoaobserva uma cena: são obtidas si-multaneamente duas imagens dacena a partir de pontos de observa-ção ligeiramente diferentes. A visãoestereoscópica resulta do fato deque o olho humano, em decorrênciada sua localização na face, enxergaimagens ligeiramente diferentes dacena. O cérebro, então, funde asduas imagens em uma única e, nes-se processo, obtém informaçõesquanto à profundidade, distância,posição e tamanho dos objetos pre-sentes na cena, gerando a sensa-ção de visão 3D (tridimensional).

A estereoscopia é uma reproduçãoartificial da visão humana, que é pos-sível pela existência de células fo-tossensíveis na retina. A forma davisão humana é tridimensional. Issoocorre porque a visão resultante daposição alinhada dos olhos permiteque um objeto seja visto de ângulosligeiramente diferentes, um mais à di-reita e outro mais à esquerda. O pro-cessamento dessas informações pelosistema nervoso central propicia a

percepção de profundida-de. Quando já houve con-

tato com o objeto, há uma no-ção imediata de tridimensionali-

dade, pela evocação de dados con-tidos na memória. “Uma imagem valemais do que mil palavras. Já uma ima-gem 3D vale mais do que mil ima-gens bidimensionais”, ressalta Silva.

A técnica da estereoscopia podeser usada em qualquer área do co-nhecimento, acrescenta o professor.Nas biológicas, estudos compro-vam que a qualidade final da ima-gem na luz polarizada é a melhorporque não altera a coloraçãonatural da peça fotografada,mantendo traços níti-dos, com menor custo.Segundo Silva, essatécnica permite umamelhora no apren-

I

dizado e facilitação da memorização,menor necessidade de cadáveres esegmentos anatômicos para o estu-do prático e também um menor con-tato com substâncias conservantestóxicas, como o formol. “Quandoutilizamos a estereoscopia na ana-tomia, não precisamos ter alunosdissecando cadáveres. A disseca-ção é uma prática muito trabalhosa,porque é feita por etapas e cadauma delas é fotografada para mos-trar com detalhes todo o processo.Você parte do todo para o específi-co. É como um escultor que de umbloco de mármore chega à escultu-ra. Vai-se atrás das estruturas mos-trando o processo. O aluno precisaolhar a partir da superfície o que temdentro do corpo”, explica.

Nos fins do século passado e co-meço deste, a estereoscopia atin-giu grande divulgação como entre-

tenimento. As primeiras máquinasestereoscópicas, que possibilita-ram uma simples imagem de estere-ograma, foram fabricadas logo a se-guir à invenção da fotografia. Ou-tros dispositivos necessários à ob-servação de estereogramas usufru-íram de um considerável aperfeiço-amento, criando-se, por exemplo,os óculos verde-vermelhos, aindahoje muito divulgados.

O professor explica que, além dasimagens fixas, a estereoscopiapode se transformar num filme. Aoinvés de se trabalhar com duas câ-meras estáticas, é possível colocarduas videocâmeras, lado a lado, efilmar a cena. Cada câmera terá umaperspectiva diferente e depois épreciso projetar a imagem e sincro-nizá-la. “Nesse caso, a sincroniza-ção é feita com um equipamento es-pecífico, que é muito caro.”

JornaUSP.p65 04.06.04, 12:33 PM8

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Filme de amor

Mostra Viga CênicaSamwaad,

de Ivaldo Bertazzo

O coreógrafo criou o projeto Dan-ça Comunidade dirigido a jovens daperiferia e são eles, mais de 50, queestão no espetáculo Samwaad –Rua do encontro, dançando ritmosde samba, choro, música de rua eindiana. A trilha sonora assinadapelo indiano Madhup Mudgal foielaborada durante apresentaçãode sambistas de escola de sambae músicos da Índia, tocando jun-tos. O próprio nome do espetácu-lo vem desse cruzamento,Samwaad significa harmonia doencontro. Essa mistura de identi-dades perpassa toda a coreogra-fia, que tem como cenário umaimensa rua. É lá que oassos eacordes indianos se juntam aocompasso marcado do samba, sobo comando do diretor de bateriaRafael Y. Castro, com entrada aovivo de ritmistas. A direção e aconcepção são do próprioBertazzo e a cenografia e o figuri-no, de Chico Spinoza. Em cartaz até27 de junho, de quarta a domin-go , às 21h. No Sesc Belenzinho(av. Álvaro Ramos, 915, tel. 6602-3700). Ingressos: de R$ 7,00 a R$20,00.

Licores da Carne

Nesta semana será apresenta-do o espetáculo Loucura, de GabrielMiziara e Marcelo Lazzaratto. Éuma adaptação livre de textos deautores como Fernando Pessoa,Dostoievsky, Artaud, Jung,Maupassant, Santo Agostinho,Rainer Maria Rilke, Albert Camus eGeorg Büchner, mostrando um diada vida de um homem com suas

angústias e indagações. A inter-pretação é de Gabriel Miziara, comdireção do próprio Lazzaratto. Oespetáculo integra a Mostra VigaCênica que vai até 27 de junho.Sexta e sábado , às 21h, e do-mingo , às 19h. No Viga EspaçoCênico (r. Capote Valente, 1.323,tel. 3801-1843). Os ingressoscustam R$ 10,00.

A mostra Semanas deDança apresenta nestasemana a ousada coreo-grafia do francês AngelinPreljocaj, Liqueurs de Chair(Licores da Carne), com oBalé da Cidade de São Pau-lo. O espetáculo inclui ce-nas de nu masculino e ain-da um músico convidado,o saxofonista Ramiro Mar-ques que interpreta a com-posição do francêsLaurent Pittigant, que compôs a tri-lha sonora original, além de umaescultura de Frèderic Lê Junter. Arealização do cenário e da escultura

é de Jean Pierre Tortil. Apresenta-ções de quarta a sábado , às 21h,e domingo , às 20h, no Centro Cul-tural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000,tel. 3277-3611). Grátis.

Festival do Minuto

Com o tema Mínima Diferença, oFestival do Minuto de 2004 selecio-nou 22 filmes para a mostra compe-titiva. Para quem não pôde conferir aexibição dos filmes na semana pas-sada, quando ocorreu o festival, podeassistir aos vídeos neste final desemana no Museu da Imagem e doSom (MIS, na av. Europa, 158, Jar-dins), com sessões gratuitas na sex-ta, no sábado e no domingo às20h. Compõem a mostra: 537, deFernanda Simionato; A mínima dife-rença é que faz a distância entre eue você, de Gabriel Lopez; A porta, deHelton Ladeira; A vagabunda mora aolado, de Rafael Gomes; Alacridade,de Rafael Mejias; Aparecido, de MichelKatz; Assim no céu como na terra, deLuis Coelho; Clínica Santa Clara, deValter Chiamareli Junior; Criando in-trigas, de Daniel Rotatori; D#, de Paulode Castro; Destino Cidade Ademar,de Roberto Andreoli; Diversidadepositiva, de Lila Rodrigues; e Skina,de Patrícia Franco.

Filmes arábes

Seis filmes – cinco deles inéditosno Brasil – e um documentário mos-tram tendências do cinema de lín-gua árabe na mostra Cinemam ára-be, que vai até 27 de junho noMuseu de Arte Moderna (MAM) doParque Ibirapuera. Neste final desemana são exibidos o sírio Terrados estrangeiros (1998), de AkramZaatari, que se passa no início doséculo 20 quando o império otomanovive uma época turbulenta, entredesigualdades, influência européiae tensões políticas (sábado , às14h); o argelino A nouba das mulhe-res do monte Chenoua (1978), deAssia Djebbar, mesclando lembran-ças e histórias ancestrais da região(sábado e domingo , às 16h); eInch’állah dimanche (2001), deYamina Benguigui, sobre uma mu-lher que sai de sua Argélia natal parair a França encontrar o marido (do-mingo , às 14h). No ParqueIbirapuera, s/no, portão 3, tel. 5549-0688, ramal 1.145. Entrada franca.

Grandes bilheterias

O Centro Cultural São Paulo exi-be a partir desta terça a mostraGrandes Bilheterias do Cinema Bra-sileiro, trazendo fi lmes comoCarandiru (2002), de HectorBabenco, inspirado no livro do mé-dico Dráuzio Varella, que freqüen-tou a Casa de Detenção e recolheudepoimentos dos presos, inclusi-ve sobre o massacre de 1992; eCidade de Deus (2002), deFernando Meirelles, que conta ahistória de um menino que vive nafavela carioca conhecida como umdos locais mais violentos da cida-de. Ainda serão exibidos clássi-cos como Lúcio Flávio, o passa-geiro da agonia (1997), de HectorBabenco; Nem Sansão, nemDalila (1954), de Carlos Manga; eA dama do lotação (1978), deNeville D´Almeida; e O cangaceiro(1953), de Lima Barreto. Na r.Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611.Grátis. Programação completa nosite www.prodam.gov.br/ccsp.

A princípio se chamaria Filmepornográfico. Filme de amor, onovo longa de Júlio Bressane, foiinspirado livremente no mito dastrês Graças, criadas por Vênus.No filme, as três Graças não sãotrês mulheres, mas os amigos Hilda,Matilda e Gaspar. Eles se reúnempara o final de semana num sobra-do pobre do decadente centro doRio. Conversam, bebem, usamdrogas e buscam o prazer e novassensações. Apesar de pobres emoradores da periferia, eles sãocultos e têm conversas bastanteintelectuais e sensíveis, que inclu-sive relem-bram outros filmes docineasta. É um intervalo em suasrotinas, para as quais retornamtão logo a semana começa. Ementrevistas, o cineasta, reconhe-cido por suas produções pesso-

Fernando Elias (em sua terceiraparceria com o diretor) e Bel Garciae Josie Antello, experientes atri-zes de teatro que estreiam no cine-ma. A fotografia é de Walter Car-valho e tem a pintura como refe-rência, especialmente do francêsBalthus. Esta é a 26ª produção deBressane, cineasta de Matou afamília e foi ao cinema (1969) eDias de Nietzche em Turim (2001),que se preocupa em investigar eexperimentar a linguagem cinema-tográfica. O novo filme já recebeutrês prêmios no Festival de Brasíliae foi selecionado para diversosfestivais europeus e americanos.Em cartaz em salas de São Paulo.

ais e experimentais, afirmou que olonga é “uma colcha de retalhos emtorno de dois grandes clichês: ofilme e o amor”. No elenco estão

Segundas em Cena

A artista mexi-cana Frida Kahlo,que partiu de suaind iv idual idadepara construirsua arte, inspirouo espetáculo deteatro-dança Fei-to licor de tulipas,que integra o Pro-jeto Mutirão 9.Frida, que diziapintar a si mesmapor ser o assuntoque melhor co-nhecia, é exem-plo de como asmulheres podem expressar na arteseu sofrimento emocional (para apintora, foram as traições do ma-rido Diogo Rivera) e físico (porcausa do grave acidente de ôni-bus que a deixou deficiente). Ela

Lendo Harold Pinter

A dramaturgia do inglês HaroldPinter é o foco do projeto LendoPinter da Cultural Inglesa, que reú-ne peças inéditas do autor escritasentre as décadas de 50 e 90. Comtradução e direção de AlexandreTenório, o ciclo de leituras faz ho-menagem a um dos maiores drama-turgos do século 20 que ainda hojecontinua produzindo. Na progra-mação: Velhos tempos (1971), umjogo de disputa pela memória deuma mulher entre o marido e suamelhor amiga (com DeniseWeinberg, Juan Alba e Clara Car-valho), nesta segunda ; A estufa(1958), uma análise tenebrosa ehilariante do poder burocrático vis-to por meio de intrigas e assassina-tos numa instituição para doentesmentais, administrada como umalinha de produção industrial (comLaerte Mello, Marco Antônio Pâmio,Paula Lopes e outros), no dia 14 dejunho; e Do pó ao pó (1996), em queum professor universitário luta paradescobrir a verdade sobre o pas-sado de sua esposa (com DeniseWeinberg e Alexandre Tenório), nodia 21 de junho. Sempre às 20h, naCultura Inglesa Higienópolis (av.Higienópolis, 449, tel. 3826-4322).

Esse programa do Sesc Pinhei-ros traz neste mês peças do diretorJosé Renato, fundador do Teatrode Arena em São Paulo que estáiniciando um novo movimento cultu-ral com o Teatro dos Arcos,engajado na discussão de proble-mas atuais. As apresentações sãoseguidas de bate-papo e comentá-

rios sobre o processo de criação.A primeira, na próxima segunda ,é a comédia dramática RG, comtexto de Evaldo Mocarzel, que re-trata o conflito de um morador derua ao perceber o sumiço de suacarteira de identidade. Ainda estãona programação Alegres Gulosas,uma farsa sobre a condição huma-

na num bairro periférico de umagrande cidade (dia 21); e Os Arqui-vistas, que captura um momento navida de alguns funcionários da se-ção de arquivos da Prefeitura deSão Paulo na véspera do golpemilitar de 64 (dia 28). O Sesc fica naav. Rebouças, 2.876, tel. 3815-3999. Ingressos de R$ 4,00 a R$10,00.

O universo feminino através da vida da artista mexicana

Frida Kahlo

cortou seu longo cabelo para rom-per com a imagem de feminilidadee com o marido, que confessavaamá-la por causa dos cabelos; epassou a trair Rivera com amantesde ambos os sexos. A força e a

fragilidade dessamulher emblemáticasão ampliadas napeça para todas asoutras mulheres – nopalco ou na platéia –que sofrem e supe-ram os mesmos di-lemas. No espetá-culo, alegorias, hu-mor, memória afetivae poesia são utiliza-dos para retratar ouniverso feminino.Com a Gradis-ca Cia.de dança, e criaçãoe direção de Bárba-

ra Eliask e Sheila Alvarenga. Emtodas as quartas do mês, às 21h.No Espaço 2 de Artes (r. Clélia, 33,2o piso do Shopping Pompéia, tel.3864-3129). Ingressos: R$ 12,00 eR$ 6,00.

A peça se passa em um set defilmagem e o público é transforma-do já na bilheteria do teatro emcandidato a um teste de VT. Noenredo, um cineasta italiano e suaequipe vão rodar seu novo filmecom cenas que marcaram o cine-ma mundial, onde as pessoas daplatéia fazem o papel dos atoresde filmes como O Circo, de CharlesChaplin, Cantando na chuva, deGene Kelly e Stanley Donen, e

Ocinemadentro

do teatro

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Teste de VT

Titanic, James Cameron. Tudoserá gravado e mostrado simulta-neamente através de monitores.Para isso, a peça mescla a lingua-gem clownesca com maquetes eanimação de computador. Em car-taz até 14 de julho, terças e quar-tas , às 20h (nos dias 15 e 16 dejunho não haverá espetáculo). NoCentro Cultural São Paulo (r.Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611).Ingressos: R$ 10,00.

O que diz MoleroGero Camilo

Estréia nesta sexta o espetácu-lo EntreAtos, com três peças curtasno mesmo bloco e escritas por GeroCamilo. Uma secretária, um desem-pregado, uma telefonista, um con-tador: os personagens dessas co-médias abrem espaço para as pe-quenas causas do cotidiano. EmCafé com torradas, o personagemFulano espera numa fila com umasenha na mão. Também ao públicosão distribuídas senhas. O motivosó é revelado no desfecho da peça.Quem dará o veredicto mostra umatelefonista que decide não sair maisde casa, porque está cansada deter que bater ponto todo dia, dapressa, dos ônibus, dos elevado-res. Em Um quatro cinco, duaspessoas marcam um encontro peloDisque Amizade e o que contamuma a outra pode não passar dementiras. Com Marat Descartes ePaula Cohen, ambos formados pelaEscola de Arte Dramática (EAD) daUSP. A direção é de Gero Camilo eIvan Andrade. Em cartaz até 11 dejulho, às sextas e aos sábados ,às 21h, e aos domingos , às 20h.No Centro Cultural São Paulo (r.Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 3277-3611). Os ingressos custam R$12,00.

Essa peça escrita em 1977 porDinis Machado e dirigida porAderbal Freire Filho (Prêmio Shellde melhor diretor) está em cartazno Teatro Sesc Anchieta. É umromance desenfreado quereconstitui através de episódios,a vida de um personagem, o ra-paz. Através de dois investigado-res que lêem um relatório deMolero, o público conhece a traje-tória do rapaz, cheia de amor,sol idão, sofr imento, procura,

espera, humor e arte, e de perso-nagens fascinantes, como um ven-dedor de sapatos, uma candidata aatriz, uma turma de adolescentes eoutros cem personagens. O ro-mance de Machado é uma fusão degêneros, da comédia a tragédia, echeio de poesia. A temporada vaiaté 1o de agosto, sextas , às 21h,sábados , às 20h, e domingos ,às 19h. O teatro fica na r. Dr. VilaNova, 245, tel. 3234-3000. Os in-gressos custam R$ 20,00.

Amigos seencontramem um fimde semana,que prometeser mais doque apenasum intervaloem suasrotinas

Romance-em-cena da obra do português Dinis Machado

Balé da Cidade em coreografia de Preljocaj

JornaUSP.p65 04.06.04, 12:33 PM9

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Beth Carvalho e Flô Menezes

As cantoras Beth Carvalho e Célia se apresentam com o Quinteto emBranco e Preto neste final de semana no Sesc Vila Mariana. Juntos, elescantam e tocam sucessos e memórias do samba. No sábado , às 21h, eno domingo , às 18h. No mesmo local acontece a 5ª Bienal de MúsicaEletroacústica de São Paulo, que busca oferecer um panorama interna-

cional dessa vertentemusical. Abertura com oespetáculo “Hymnen”(sexta , às 18h) segui-da do lançamento do CDe do livro A acústica mu-sical em palavras esons, de Flô Menezes(às 21h; com ingressosválidos para os dois con-certos: de R$ 5,00 a R$15,00). No decorrer dosábado e do domingo hávárias apresentaçõesgratuitas na unidade doSesc. Na r. Pelotas, 141,tel. 5080-3000.

17 anos da Estação Ciência

Bob Wolfenson

Celso Viáfora

O músico lança seu sexto dis-co, Palavra!, nesta quinta , às19h, no Centro Cultural São Paulo.O álbum tem parcerias marcantesde Celso Viáfora com Ivan Lins eVicente Barreto, além de partici-pações de Wagner Tiso, YamandúCosta, Seu Jorge, Demônios da

Garoa, entre outras. As cançõesmisturam diversos matizes sono-ros, como samba, choro, bala-das, eletrônica e orquestra decordas. Na r. Vergueiro, 1.000,Paraíso, tel. 3277-3611. Entradafranca, com retirada de senhasuma hora antes.

Chico Teixeira no Arena

Tosca, de Puccini

A ópera em três atos Tosca, deGiacomo Puccini (1900), é apre-sentada em São Paulo pela Or-questra do Teatro allá Scala e peloConservatório Giuseppe Verdi, deMilão, com entrada gratuita. O libretoé de Giuseppe Giacosa e LuigiIllica. A apresentação integra o pro-

jeto Ópera Comentada da CulturaInglesa, com o professor e críticoLauro Machado Coelho. Cantadaem italiano e com legendas em in-glês. No sábado , às 15h, no TeatroCultura Inglesa do Centro BrasileiroBritânico (r. Ferreira de Araújo, 741,Pinheiros, tel. 3039-0553).

Mawaca

O composi tor , cantor einstrumentista se apresenta noTeatro de Arena durante o mêsde junho. O show “ChicoTeixeira no Arena” será regis-trado em CD e DVD e traz com-posições próprias e interpreta-ções de clássicos da música

brasileira. Chico Teixeira faz voze violão acompanhado de baixode pau, bateria e piano. Apre-sentações todos os sábados , àmeia-noite, na r. Teodoro Baima,94, tel. 3256-9463. O valor dosingressos é “pague quanto der”,estipulado pelo público.

O grupo lança seu novo CD, com ritmos de várias etnias

O grupo de música étnica lançaseu último álbum Mawaca pra todocanto neste sábado , às 21h, noTeatro Crowne Plaza. O discotraz composições próprias doMawaca e novos arranjos. Oshow também tem participaçãoespecial de Thomas Howard. Di-

rigido por Magda Pucci, o grupofaz nesse novo trabalho uma mis-tura de ritmos indígenas, indianose búlgaros com as mandalas, oscordéis e os mantras como panode fundo. Na r. Frei Caneca, 1.360,Cerqueira César, tel. 289-0985.Ingressos: R$ 15,00.

O rapto do serralho

A ópera em três atos de Mozart(1782) para libreto de GottliebStephanie tem apresentações nes-ta semana no Theatro São Pedro. Orapto do serralho mostra Belmontedesembarcando na costa turca àprocura de sua noiva, raptada por

piratas. O namorado se passa porum arquiteto famoso para resgatara amada. Direção do maestro RuyHomem de Mello, com dez solistas.De quarta a sábado , às 20h30, nar. Barra Funda, 171, tel. 3667-0499.Ingressos: R$ 20,00 e R$ 10,00.

Em comemoração ao seu aniver-sário, a Estação Ciência sedia di-versos eventos. É aberta nestaterça a exposição “Memória FFCL/FFLCH/USP – USP 70 Anos”, orga-nizada pela Faculdade de Filosofia,Letras e Ciências Humanas, reu-nindo painéis e fotografias quecontam a história da faculdade. Napróxima quarta , às 20h, aconte-ce um concerto com o Coralusp; eno próximo domingo , estréia oespetáculo infantil Marte, a viagem– uma comédia no espaço, comtexto e direção de Renata Soffredini,que trabalha com elementos da as-tronomia. Até o fim do mês, aindaestão programadas a exposição“Allosaurus Fragilis e PterossauroAnhanguera – Momentos da VidaPrimitiva”, uma réplica do esqueletodo dinossauro com 12 metros decomprimento e três metros e meio

de altura, além de fósseisde plantas e organismosexistentes há milhões deanos, com curadoria do pro-fessor Luiz Eduardo Anelli(abertura dia 23, às 15h,com lançamento do vídeoinstitucional da Estação Ci-ência); e o show de físicano dia 24, às 15h, organiza-do pelo Laboratório do Ins-tituto de Física da USP. Tam-bém acontecem várias pa-lestras: “Dinossauros ePterossauros: quem são, deonde vieram, como viviam epara onde foram?”, com oprofessor Luiz Eduardo Anelli, doInstituto de Geociências (dia 22,às 14h); “São João, o precursor eseu ciclo de fogo”, com ToninhoMacedo, presidente da ComissãoPaulista de Folclore da Secretaria

de Estado da Cultura de São Paulo(dia 23, às 20h); “Geociências naIndústria do Petróleo”, com CiroAppi (dia 25, às 15h); e a mesa-redonda “Jogos na Educação –uma ferramenta para o professor,

uma diversão para o aluno” (dia 30,das 8h30 às 12h). A Estação Ciên-cia fica na r. Guaicurus, 1.274/1.394, Lapa, tel. 3675-8828). Maisinformações no site www.eciencia.usp.br. Grátis.

Waldomiro de Deus

Design baiano

O artista plástico Waldomiro deDeus, um dos maiores primitivistasbrasileiros, representante da artenaif, apresenta cerca de cinqüentaobras no Museu Brasileiro da Escul-tura (MuBE). Em “44 anos de artes”estão pinturas das quatro últimasdécadas de sua carreira. Muitasvezes com colorido inspirado nofolclore nacional, são imagens reli-giosas, cotidianas e que procuram

traduzir os sentimentos do povo,especialmente de sua terra natal, oEstado da Bahia. A exposição temcuradoria de Radha Abramo e incluitelas como O passeio, Choro dacrise, Fracassado, Escravos, Oasteróide e Copa nossa. Em cartazaté 17 de junho, de terça a domin-go , das 10h às 19h. O MuBE fica naav. Europa, 218, Jardim Europa, tel.3081-8611. Entrada franca.

Detalhe doMunzuá, uma

armadilha de pesca

Está em cartaz a exposição“Design Popular da Bahia”, noMuseu da Casa Brasileira(MCB). São objetoscotidianos que re-velam o traba-lho de artis-tas, quem u i t a sv e z e sp r e c i -s a mvencero desa-f io dasobre-v i v ê n -c ia eda ex-c l u s ã osocial. Sãod e s i g n e r sp o p u l a r e s ,p e s c a d o r e s ,lambe-lambes,ambulantes e outrospersonagens do cotidianode Salvador e do interior do Esta-do. Na mostra estão carrinhos decafé, sorvete e p ipoca,lamparinas, churrasqueiras, fo-gareiros. Também integram a ex-posição peças de comunicaçãoelaboradas por adolescentes doEstúdio Cipó de Multimeios, comofotografias e croquis que retra-

tam a história desses artistaspopulares, o processo de fabri-

cação e as formasde uso dos pro-

dutos. Visitação até 11 de julho,de terça a domingo , das 10h às18h. O museu fica na av. Brig.Far ia L ima, 2.705, Jard imPaulistano, tel. 3032-3727. In-gressos: R$ 4,00 e R$ 2,00 (es-tudantes); aos domingos a entra-da é franca.

As formas de Gaudí

O catalão que marcou a paisagem de Barcelona e que transformou aarquitetura de seu tempo tem sua obra revista no Instituto Tomie Ohtake.A exposição “Gaudí – A procura da forma” busca mostrar como forma eestrutura se fundem em seus projetos, bem como a teoria, a prática, a artee a técnica. São maquetes em pequenas e grandes escalas (até 11 metrosde altura), fotografias, desenhos, móveis e vídeos. A mostra é dividida emseções aparentemente técnicas, mas que esclarecem aos visitantes asformas complexas criadas pelo arquiteto. Por exemplo, a parte AbóbodasConvexas é focalizada nessas estruturas da Igreja da Sagrada Família e

da Colônia de Güell.Escadas em cara-col dos mesmoslugares e da CasaMilá estão separa-das em outromódulo. Vídeossobre a obra, vidae a época de Gaudítambém são exibi-dos na exposição.Em cartaz até 25de julho, de terçaa domingo , das11h às 20h. Na av.Faria Lima, 201(entrada pela r.Coropés), Pinhei-ros, tel. 6844-1900. Entrada gra-tuita.

Recortes das construções da cidade no ensaio Antifachada

Fotografias inéditas de BobWolfenson estão expostas no Mu-seu de Arte Brasileira da Faap. Soba curadoria do pesquisador e críticode fotografia Rubens FernandesJúnior, a mostra traz dois ensaiosintitulados Antifachada e Encader-nação Dourada. O primeiro reúne 40imagens de construções da cidadede São Paulo que, nas lentes deWolfenson, ganham recortes irre-gulares, com uma cidade sem hori-zontes, nem céu e nem chão, num

amontoado de janelas. Já o segun-do ensaio traz cerca de 70 fotogra-fias de um álbum da intimidade co-tidiana, uma produção simples, semo glamour de imagens encomenda-das, mas que registra pessoas queforam clicadas pelo artista e assimsua trajetória. Até 4 de julho, deterça a sexta , das 10h às 21h, esábados, domingos e feriados ,das 13h às 18h, com entrada gra-tuita. O museu fica na r. Alagoas,903, Pacaembu, tel. 3662-7198.

Arcos da CasaBatlló, uma dasimpressionan-tes construçõesdo arquitetocatalão

Beth Carvalho cantacom Célia e

Quinteto em Brancoe Preto no Sesc Vila

Mariana, ondetambém acontecefestival de música

eletroacústica

Dinossauros epterossauros são

um dos temasdas palestrasque integram

as comemorações

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Problemas renais

Jornalismo social

Pesquisas científicas

A Escola do Futuro, núcleo ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, estácom inscrições abertas para o Programa Conexões Científicas, dirigido aalunos de qualquer curso de pós-graduação stricto sensu da USP quetenham interesse no tema Inclusão Digital. Os candidatos devem enviar atéo dia 11 de junho por e-mail ([email protected]) nome para pesquisade currículo no CNPq, tema da dissertação ou tese, nome do orientador eunidade onde está cursando a pós-graduação. A duração da bolsa é deoito meses. Nesta semana, dia 9 de junho, haverá apresentação aberta aopúblico sobre o resultadodas últimas três pesqui-sas realizadas pelo pro-grama, que estudaram oAcessa São Paulo, inicia-tiva do governo estadualpara democratizar o aces-so à Internet pela popula-ção de baixa renda (paraparticipar do evento é pre-ciso se inscrever pelo tel.3091-6325).

Prêmio de fotografia

Aspectos da cultura brasileiraserão contemplados no PrêmioPorto Seguro de Fotografia, queestá com inscrições abertas até 27de junho. Podem participar fotógra-fos brasileiros ou residentes noBrasil, sendo que cada participan-te deve enviar de três a dez foto-grafias, impressas em qualquersuporte, coloridas, em preto-e-branco ou imagens manipuladaspor computador. O tema dessaedição é Mitos, Sonhos e Realida-de: Terra Brasilis, que visa a refle-tir sobre a identidade cultural bra-sileira. Serão distribuídos um totalde R$ 55 mil em cinco categorias:Prêmio Porto Seguro São Paulo,

Prêmio Porto Seguro Brasil e Prê-mio Porto Seguro Pesquisas Con-temporâneas (para trabalhos quecaracterizem uma reflexão con-temporânea na iconografia e nodesenvolvimento técnico); além deprêmios especiais, com indicaçõesfeitas por uma comissão e aindaRevelação para um fotógrafoiniciante. As inscrições podem serfeitas pessoalmente (de segundaa sexta, das 12h às 17h) ou porcorreio no Espaço Porto SeguroFotografia (al. Barão de Piracicaba,740, Campos Elíseos, CEP 01216-010, São Paulo, SP). Informaçõesno site www.portoseguro.com.br/fotografia.

Design de jóias

Estudantes de graduação, pós-graduação e especialização emdesign (gráfico, de produto ou deinterior, desenho industrial, artesplásticas, arquitetura e moda), devi-damente matriculados, podem con-correr com projetos na CategoriaRevelação do Prêmio AngloGoldDesigner Fórum Brasil 2004. Serãolevados em conta a originalidade ecriatividade do design de jóias, quena segunda edição do concursotem como tema Raízes e Formas. Osparticipantes devem expressar suavisão das raízes brasileiras, sejam

elas culturais, étnicas ou da forma-ção do povo brasileiro, criando as-sim jóias-conceito. O ouro deve sero material predominante, mas po-dem ser usadas pedras preciosasnacionais e outros materiais natu-rais e sintéticos, como esmalte,laca, madeira, fibras e seda. Oregulamento e a ficha de inscriçãoestão no site www.anglogold.com/designerforumbrasil ou pelo tel.(31) 3589-1660. A inscrição égratuita e vai até 25 de junho.Ainda há a Categoria Designerpara profissionais.

Novos coreógrafos

O Concurso de Dança Novos e NovíssimosCoreógrafos Intérpretes do Centro Cultural SãoPaulo vai selecionar projetos inéditos criados einterpretados por novos coreógrafos e/ou intér-pretes, em solos, duos e trios. Serão contempla-dos seis trabalhos, com R$ 6 mil para cada um,além da participação em mostra de dança (entre11 de agosto e 12 de setembro). Só podemconcorrer artistas residentes na cidade de SãoPaulo, e que tenham pelo menos cinco anos deestudos em criação e interpretação em dança oude outros procedimentos corporais que propici-em ferramentas para a cena. Os solos deverãoter no mínimo 15 minutos e no máximo 30; e duose trios, 20 e 40 minutos. As inscrições devem serfeitas pessoalmente até 1o de julho, na Divisão deArtes Cênicas e Música do Centro Cultural SãoPaulo (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso), de segundaa sexta, das 14h às 17h. Mais informações pelotel.3277-3611, ramal 248.

Rumos no Itaú

O Prêmio Caixa de JornalismoSocial tem como objetivo premiar aexcelência jornalística nas áreasde Habitação, Saneamento Básico,Meio Ambiente, Saúde Preventiva,Ensino Fundamental e Inclusão Ban-cária. São sete premiações: Jorna-lismo Impresso, Radiojornalismo,Telejornalismo, Webjornalismo,Fotojornalismo, Prêmio Especial doJúri (matéria sobre inclusão bancá-ria) e Grande Prêmio Caixa de Jor-nalismo Social. Podem ser inscritasmatérias veiculadas entre 1o de ju-

lho e 30 de junho de 2004. Ao todoserão R$ 80 mil em prêmios, além detroféu de autoria de artista brasilei-ro, certificados e assinatura daRevista Imprensa, realizadora doconcurso em parceria com a CaixaEconômica Federal. As inscriçõesdevem ser feitas até 10 de julho nosite www.portalimprensa.com.br/premiocaixa.asp. Mais informaçõespodem ser obtidas pelo tel. 6606-1351, com Márcia Francez ou no e-mail [email protected].

Proteção radiológica

No período de 14 a 25 de junhoserá realizado o Curso de ProteçãoRadiológica, promovido pelo Institu-to de Ciências Biomédicas da USP.O objetivo é fornecer informaçõesbásicas de proteção radiológica,para o licenciamento de laboratóriose usuários de fontes emissoras deradiação ionizante em instalaçõesde pesquisa, além de treinamento ereciclagem de conhecimentos naárea. No programa estão assuntoscomo Características e modos de

interação da radiação, Efeitos bioló-gicos das radiações ionizantes,Detectores de radiação, Legislaçãoe normas de proteção radiológica eAplicações da radiação em outrasáreas, entre outros. As inscriçõespodem ser feitas até o início docurso na Biblioteca do ICB (Av. Prof.Lineu Prestes, 2.415, Cidade Uni-versitária, tel. 3091-7438), com Mariado Socorro. São 50 vagas e o pre-enchimento será de acordo com aordem de inscrição.

Seminário sobre museusFórum de dança

Curso de inverno de Patologia

Telejornalismo no Senac

Pesquisas do SFI

George J. Gumerman, vice-presi-dente de Assuntos Acadêmicos doSante Fé Institute, vai ministrar no dia9 de junho, uma conferência sobre ofuncionamento do instituto, seus te-mas de pesquisa e como são desen-volvidos. Os interesses de pesquisade Gumerman estão centrados nacomplexidade da evolução cultural eadaptação das populações antigasao ambiente sudoeste da América doNorte e, recentemente, tem trabalha-do com especialistas em modelagemcomputacional e cientistas sociais

na criação de simulações baseadasem agentes – o que propicia novaspercepções sobre a evolução dacultura –, para comparar a trajetóriaevolutiva de um grupo pré-históricoreal com a simulação de um grupoartificial. A conferência será em in-glês e acontece às 15h, no Auditóriodo Instituto de Estudos Avançados(IEA) da USP, av. Prof. LucianoGualberto, trav. J, 374, térreo, Cida-de Universitária. Informações pelotel. 3091-4442 ou pelo [email protected].

A especialista francesa LilianeBoccon-Gibod, chefe do Serviçode Patologia do Hospital d’EnfantsArmand Trosseau de Paris, refe-rência na investigação de proble-mas renais, vai ministrar duas pa-lestras na Faculdade de Medicinade Ribeirão Preto (FMRP) da USP.No dia 14 de junho, o assunto é“Anomalias Congênitas do SistemaUrinário” e no dia 15, “NeoplasiasRenais Pediátricas”. Sempre às 11h,

no Anfiteatro Prof. Dr. HumbertoMenezes da FMRP (av. Bandeiran-tes, 3.900, Ribeirão Preto, SP). Aspalestras são dirigidas a profissi-onais da área de saúde e ministra-das em inglês. As inscrições sãogratuitas e podem ser feitas pelotel. (16) 602-3075. O evento inte-gra as comemorações dos 50 anosdo Departamento de Patologia dafaculdade, que vai reunir váriasatividades científicas durante o ano.

Até 31 de agosto, artistas, pro-dutores e estudantes de Jornalis-mo de todo o Brasil podem se ins-crever no Rumos Itaú Cultural 2004/2005, programa de estímulo à pro-dução cultural. Podem ser envia-dos projetos na área de Música enas inéditas Literatura –Audioficções e Jornalismo Cultural.Os músicos selecionados por umacomissão formada por profissionaisreconhecidos, entre músicos, críti-cos e produtores, serão premiadoscom uma série de atividades dedifusão, e duas faixas na coleção deCDs Cartografia, além de espetácu-los que darão origem a uma série deprogramas de TV e DVDs. No casoda Literatura, o objetivo é promoversua inserção na produção

fonográfica, revelando e difundin-do o trabalho de autores e roteiristasdos últimos 20 anos (são duas ca-tegorias: Adaptação de Texto Inédi-to e Adaptação de Texto Publicado,sendo selecionadas no mínimo seisobras, que vão compor dois CDs; osselecionados ainda vão ganhar prê-mios em dinheiro e uma coleção com16 livros); E em Jornalismo Cultural,podem se inscrever – individual-mente ou em duplas – estudantes deJornalismo cursando o 4o, 5o ou 6o

semestre em agosto de 2004 (osselecionados vão participar do La-boratório Multimídia, desenvolven-do matérias). O regulamento com-pleto e fichas de inscrição podemser acessados no site www.itaucultural.org.br/rumos2004.

Estudos no Japão

O governo do Japão, através de seuMinistério da Educação, Cultura, Esporte,

Ciência e Tecnologia, está oferecendobolsas de estudo para estudantesbrasileiros que queiram aprofundaros estudos em universidades japo-

nesas. São elas: Bolsas de Pesquisa(pós-graduação), Bolsa de Gradua-ção, Bolsa para Escolas Técnicas Su-periores e Bolsa para CursosProfissionalizantes em várias áreas dasCiências Humanas, Exatas e Biomédicase Naturais. Entre os cursos estão Ae-

ronáutica e Marinha Mercante. Haveráseleção, com exames em inglês ou japonês.As inscrições vão até 30 de junho, noConsulado Geral do Japão em São Paulo(av. Paulista, 854, 1o andar). Informaçõespelo site www.sp.br.bem-japan.go.jp oupelo tel. 287-0100.

De 19 de junho a 17 de julho,sempre aos sábados, das 9h às12h30, será realizada a Oficina deTelejornalismo I – Prática de Texto,com Everton Constant, editor doJornal do Terra (web-telejornal doportal Terra). No mesmo período(das 14h às 17h30) acontece oworkshop Jornalismo Cultural –Especialização em Cinema, com

Sérgio Rizzo, crítico da Folha de S.Paulo e das revistas Set e Educa-ção e mestre em Cinema pela Esco-la de Comunicações e Artes (ECA)da USP. O valor de cada curso é deR$ 400,00. Informações e inscri-ções no Centro de Comunicação eArte do Senac (r. Scipião, 67, tel.3866-2500) ou ainda no sitewww.sp.senac.br/ijor.

Tela de Paulo Camargo criada para o Departamento de Patologia

Já estão abertas as inscriçõesaté 26 de junho para 1º Curso deInverno de Patologia, promovidopelo Programa de Pós-Graduaçãoem Patologia Humana e Experimen-tal da Faculdade de Medicina deRibeirão Preto da USP. Os objetivossão difundir conhecimentosatualizados sobre a área, além defomentar o interesse dos alunospara a carreira científica. São au-las teóricas e práticas, além depalestras de pesquisadores quevão mostrar seus trabalhos. Entreos temas abordados estão Patolo-

gia do Desenvolvimento, Câncer eAtividade Física, Identificação Mé-dico-Legal, Microquimerismo: Im-plicações nos Testes de Investi-gação Genética, entre outros. Ocurso será realizado de 19 a 30 dejulho. As inscrições são gratuitase podem ser feitas no site www.rpa.fmrp.usp.br/inverno. É preci-so estar matriculado em curso degraduação na área de CiênciasBiológicas. Haverá seleção atra-vés de currículo e análise de cartade recomendação do orientadorou professor.

Nos dias 19 e 20 de junho acon-tece o 1o Encontro de Professoresde Dança do Estado de São Paulo,que vai discutir as leis que regula-mentam a atividade dos professo-res de dança e a formação denovos profissionais, além de refle-tir sobre a prática pedagógica eartística. O objetivo é fazer ummapeamento sobre a área, envol-vendo questões como os proble-mas enfrentados pela categoria atédimensões políticas, programas everbas públicas e ações educaci-onais, incluindo parâmetros para a

avaliação da qualidade das diferen-tes práticas de ensino da dança. Oevento reúne mesas de discussão,grupos de trabalho e plenárias deavaliação, contando com a partici-pação de representantes de órgãospúblicos e de instituições privadas.Haverá ainda um debate sobre osprocessos de formação de artistasda dança. A organização é do Fórumde Dança SP. Na Oficina CulturalOswald de Andrade (r. Três Rios,363, Bom Retiro). Informações einscrições pelo e-mail [email protected].

O Centro Cultural Banco do Brasilrealiza de 20 a 24 de julho o seminá-rio Museus e Exposições no SéculoXXI: Vetores e Desafios Contempo-râneos, com o apoio do curso deespecialização em Museologia doMuseu de Arqueologia e Etnologia(MAE) da USP. Serão abordadosassuntos como Principais camposda ação museológica, Implantaçãode novos museus: desafiosmetodológicos, Gestão expositiva:

principais instrumentos de controleprocessual, Embalagem e logísticade transporte de bens patrimoniais,Conservação de obras têxteis, óle-os sobre tela, artefatos arqueológi-cos, entre outros. As inscriçõescustam R$ 25,00 e podem ser feitasaté 5 de julho pelo correio paraExpomus (r. Prof. João Brito, 124,CEP 04535-080, São Paulo, SP).Mais informações podem ser obti-das no site www.expomus.com.br.

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esquisa de Orçamentos Fami-liares 2002-2003, divulgada nodia 19 de maio pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), mostra que quase 47% dosbrasileiros restringem sua alimenta-ção devido à renda. Dentre as 48,5milhões de famílias residentes nopaís, 13% afirmam que a falta de co-mida é constante, o que significamais de 24 milhões de pessoas comfome no Brasil. A mesma pesquisamostra que nos últimos 28 anos oconsumo per capita de arroz caiu54%, enquanto o índice de consumode refrigerante subiu 590%. Esses re-sultados compõem um cardápio na-cional que traz pouca carne e muitoaçúcar, revelando uma alimentaçãodeficitária e de má qualidade.

Conscientes desse quadro, pes-quisadores brasileiros estão desen-volvendo novos projetos a fim demaximizar o acesso à alimentaçãoadequada. Para isso, busca-se oti-mizar a produção, aumentar a quali-dade do alimento e diminuir as de-sigualdades na distribuição do mes-mo, englobando uma série de açõesconjuntas que vão desde a reformaagrária até a biotecnologia.

Tal panorama científico foi apresen-tado no ciclo de palestras “Produçãode alimentos: busca de soluções paraa fome no mundo”, realizado nos dias18 e 19 de maio na Faculdade de Saú-de Pública e na Faculdade de CiênciasFarmacêuticas da USP. Nos dois diasde conferência, foram apresentadaspesquisas de várias universidadesbrasileiras com foco na questão ali-mentar, buscando assim incentivar odesenvolvimento de trabalhos com amesma preocupação na USP. Tambémera objetivo das palestras divulgar oPrêmio Jovem Cientista, um concursopromovido pelo CNPq cujo tema atualé justamente o problema da fome (leiao texto abaixo).

Fome oculta – Ao contrário do quese pode imaginar, fome não é ape-nas uma condição decorrente da de-ficiência de alimento. De acordo como presidente da Sociedade Latino-Americana de Nutrição, Hélio Van-nucchi, a desnutrição ocorre tantopor falta quanto por excesso de co-mida. Além disso, a carência de nutri-entes básicos causada por uma dietainadequada pode caracterizar a chama-da fome oculta, uma situação que in-depende da sensação de apetite.

De acordo com os dados apresen-tados por Vannucchi, o Brasil se en-contra em um estado de transiçãoque abriga tanto a elevada ocorrên-cia de obesidade quanto de subnu-trição, dependendo das condiçõesgeográficas e sociais analisadas.Registros da Associação Brasileirapara o Estudo da Obesidade (Abe-so) revelam que um em cada dez ho-mens adultos ricos na Região Su-deste é obeso. Já entre as criançasabaixo de 5 anos residentes na Re-gião Nordeste do País o índice desubnutrição chega a 20%.

Outro dado alarmante diz respei-to à ocorrência de anemia entre asmulheres grávidas, condição quepode afetar o desenvolvimentosaudável dos bebês. Segundo Van-nucchi, o índice brasileiro é demais de 40%, um número alto mes-mo para países em desenvolvimen-to. A boa notícia é que o simplestratamento realizado a partir da ad-ministração de ferro, vitamina A evitamina C mostra alta taxa de efi-cácia para esses casos.

Uma das etapas na busca da ali-

NUTRIÇÃO

THIAGO SCARELLI, especial para o JORNAL DA USP

A ciência contra a fomeO desenvolvimento de novas tecnologias alimentares é uma responsabilidade

social da pesquisa brasileira, defendem cientistas durante ciclo de palestras na USP

mentação ideal passa pela tecnolo-gia de produção agrícola, área queé em grande parte responsabilida-de da pesquisa universitária. Umexemplo é o estudo responsávelpor identificar a ação das poliami-nas, substâncias orgânicas funda-mentais para o crescimento dos se-res vivos. Em palestra na Faculda-de de Saúde Pública, Maria BeatrizAbreu Glória, professora da Univer-sidade Federal de Minas Gerais,apresentou os resultados desse es-tudo, que já aponta para ativida-des concretas tanto na correção daalimentação infantil quanto na oti-mização da produção agrícola.

As poliaminas estão relacionadascom a formação de proteínas no me-tabolismo celular e, por isso, são fun-damentais no crescimento e na dife-renciação das células. Segundo Ma-ria Beatriz, as poliaminas estão pre-sentes em todos os tecidos do cor-po e são sintetizadas normalmente àmedida que são requisitadas. “Masem uma fase de crescimento essaquantidade produzida pode não sersuficiente, daí a importância de in-gerir as poliaminas pela dieta”, ex-plica a pesquisadora.

O mesmo estudo analisou a pro-porção do composto em diversos ti-pos de leite, revelando que o leitematerno é naturalmente rico em poli-aminas, especialmente no primeiromês. No recém-nascido, elas promo-vem o crescimento, a maturação ade-

Jovem Cientistadestaca a alimentação

O Prêmio Jovem Cientista,promovido pelo ConselhoNacional deDesenvolvimento Científicoe Tecnológico desde 1981,traz este ano o tema“Produção de Alimentos:Busca de Soluções para aFome no Mundo”. Ainiciativa tem por objetivoestimular a pesquisa, revelartalentos e investir nosestudantes brasileiros quebuscam alternativas paraquestões de interesse social.O concurso contemplará ostrês primeiros colocadosdas categorias estudante(alunos de graduação comaté 30 anos de idade) egraduado (pesquisadorformado com até 40 anos)com prêmios que vão deR$ 2 mil a R$ 15 mil. Todosos orientadoresresponsáveis pelostrabalhos vencedoresganharão um computadore a instituição à qual estivervinculado o maior númerode trabalhos com méritocientífico receberá

R$ 30.000,00. Osganhadores receberãopassagem e hospedagempara participarem dacerimônia de entrega dosprêmios, realizada emBrasília com a presença dopresidente da República.Para este ano, os assuntospossíveis são: redução deperdas e aproveitamento desubprodutos; utilização debiotecnologia na produçãode alimentos; tecnologiasapropriadas aoprocessamento de alimentosem pequena escala;segurança alimentar:garantindo o acesso regularà comida na quantidade ecom a qualidaderecomendadas; produtosalimentícios regionais compotencial mercadológico.As inscrições estãoabertas até 30 de julho.Mais informações podemser obtidas noendereço eletrônicowww.jovemcientista.cnpq.brou pelo telefone(21) 3232-8871.

quada do trato gastro-intestinal eprevinem alergias. Esses resulta-dos são fundamentais na elabora-ção de compostos destinados àalimentação infantil.

Já nas experiências com animais,a administração das poliaminas pro-moveu aumento de ganho de pesoe, em alguns casos, com menor con-sumo de ração. A mesma substân-cia, quando aplicada na casca dosvegetais, inibe o envelhecimento ce-lular e garante maior vida de prate-leira às frutas e às verduras.

Outra pesquisa que se dedica àbusca de componentes naturalmen-te benéficos trata do caráter antio-xidante presente nas frutas. A pes-quisadora Elma Wartha, aluna depós-graduação da Faculdade de Ci-ências Farmacêuticas, há um anodesenvolve uma pesquisa sobre ocaju. Ela já identificou no alimentocompostos com atividade antioxi-dante, capazes de retardar o enve-lhecimento celular e prevenir doen-ças cardiovasculares, câncer e ou-tras patologias relacionadas aos ra-dicais livres. Segundo Elma, o cajufoi escolhido por ser abundante emgrande parte do Nordeste e apre-sentar baixo custo. A faculdadetambém desenvolve pesquisas namesma linha com cacau, romã, pe-qui, azeitona, café e girassol.

Má distribuição – O problema daalimentação insuficiente, porém, nãopode ser resolvido apenas com amelhoria na qualidade do cardápio.Informações da FAO (Organizaçãodas Nações Unidas para a Agricul-tura e Alimentação) indicam que adisponibilidade mundial de alimen-tos é de 2.960 kcal diárias por pes-soa, índice superior à porção diáriarecomendada para adultos. A recen-te pesquisa do IBGE também apre-senta uma surpreendente relação:os pobres tomam seis vezes menosleite do que os ricos. Essa conflu-ência de dados liga a alimentaçãodeficitária a dois outros fatores: de-sigual distribuição de comida e in-suficiência na renda familiar.

Para Arthur Silva, aluno de pós-graduação interdisciplinar na USP,esse problema pode ser minimizadoatravés de uma política de inovaçãoregional que mantenha o produtorna área rural por meio da geraçãode renda pela produção agrícola. Se-gundo Paulo César Stringheta, pro-fessor da Universidade Federal deViçosa, o desenvolvimento de pro-jetos congêneres em Minas Geraistem diminuído o êxodo rural e pro-porcionado aos agricultores a pro-dução de alimentos orgânicos commaior valor de mercado. Na base doprograma idealizado pelos pesquisa-dores estão a sustentabilidade am-biental, a produção agrícola eficien-te que respeite as culturas locais ea manutenção do sistema pela ca-pacitação dos agricultores. Assim,a produção regional de alimentoscontribui para geração de renda nocampo e previne o inchaço urbano.

Arthur Silva ressalta ainda a obri-gação social da universidade nodesenvolvimento desses projetos,os quais relacionam a pesquisa aca-dêmica diretamente com a comuni-dade. Segundo ele, “o debate so-bre as tecnologias de produção edistribuição de alimentos traz paraa USP maior poder de discutir no-vas idéias. Daqui a gente tem quesair com uma proposta para ajudara população, que é o objetivo finalda universidade”.

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Idéias quesaem doslaboratórioscientíficos:pesquisadorestrabalham paraelevar aprodução,melhorar aqualidade eampliar adistribuiçãode alimentosno Brasil

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