psicopedagogia: regulamentação e identidade...

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1 PSICOPEDAGOGIA: Regulamentação e Identidade Profissional Elaine Soares de Amorim 1 Resumo: Este trabalho se propõe a pesquisar a história da Psicopedagogia, seu campo de atuação, o objeto de estudo e a trajetória da regulamentação profissional. Tem como objetivo ressaltar o contexto do surgimento da Psicopedagogia e destacar o movimento desse campo de conhecimento no Brasil. Esse trabalho se propõe também a descrever a importância da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp, como órgão que representa a classe, fundamental na luta pela regulamentação da profissão. Por fim, ensejamos refletir sobre o papel social da Psicopedagogia e discorrer sobre a construção da identidade do(a) psicopedagogo(a) e o papel da regulamentação em contribuir para a constituição dessa categoria profissional. O trabalho se baseia em pesquisa bibliográfica, utilizando como referenciais teóricos autores da Psicopedagogia e a interlocução com alguns autores da educação. Palavras-chave: Psicopedagogia; Atuação Profissional; Regulamentação Profissional Introdução Dados do Censo Escolar 2010 indicam que houve crescimento no número de matrículas na Educação Infantil e na Educação Básica. A creche é a etapa de ensino com maior crescimento, que registrou um aumento na ordem de 9%, o que corresponde a 168.290 novas matrículas. As matrículas no Ensino Fundamental e Médio registram, de acordo com dados do Censo Escolar 2010, certo equilíbrio, apresentando, para aquele, um decréscimo de 2,2% com relação aos dados coletados em 2009. 1 Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais, Pós-Graduada em Gestão de Projetos Educacionais pelo Centro Universitário UNA e Pós-Graduada em Psicopedagogia pela Universidade FUMEC.

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PSICOPEDAGOGIA: Regulamentação e Identidade Profissional

Elaine Soares de Amorim1

Resumo: Este trabalho se propõe a pesquisar a história da Psicopedagogia, seu campo

de atuação, o objeto de estudo e a trajetória da regulamentação profissional. Tem como

objetivo ressaltar o contexto do surgimento da Psicopedagogia e destacar o movimento

desse campo de conhecimento no Brasil. Esse trabalho se propõe também a descrever a

importância da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp, como órgão que

representa a classe, fundamental na luta pela regulamentação da profissão. Por fim,

ensejamos refletir sobre o papel social da Psicopedagogia e discorrer sobre a construção

da identidade do(a) psicopedagogo(a) e o papel da regulamentação em contribuir para a

constituição dessa categoria profissional. O trabalho se baseia em pesquisa

bibliográfica, utilizando como referenciais teóricos autores da Psicopedagogia e a

interlocução com alguns autores da educação.

Palavras-chave: Psicopedagogia; Atuação Profissional; Regulamentação Profissional

Introdução

Dados do Censo Escolar 2010 indicam que houve crescimento no número

de matrículas na Educação Infantil e na Educação Básica. A creche é a etapa de ensino

com maior crescimento, que registrou um aumento na ordem de 9%, o que corresponde

a 168.290 novas matrículas. As matrículas no Ensino Fundamental e Médio registram,

de acordo com dados do Censo Escolar 2010, certo equilíbrio, apresentando, para

aquele, um decréscimo de 2,2% com relação aos dados coletados em 2009.

1 Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais, Pós-Graduada em

Gestão de Projetos Educacionais pelo Centro Universitário UNA e Pós-Graduada em Psicopedagogia pela

Universidade FUMEC.

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A política do Ministério da Educação que estabelece a Educação Inclusiva

como prioridade consolidou-se em resultados positivos. Constata-se em 2010 um

aumento de 10% no número de matrículas nessa modalidade de Ensino. Igualmente

positivos foram os resultados divulgados no Censo 2010 com relação às matrículas em

Escolas localizadas em áreas remanescentes de quilombos e à Educação Indígena. As

políticas voltadas para a valorização da diversidade sociocultural no espaço escolar e a

adoção de estratégias específicas para as áreas remanescentes de quilombos

expressaram em um aumento no número de matrículas de 4,9%. A Educação Indígena

chegou, em 2010, a 246.793 matrículas na Educação Básica, o que corresponde a um

crescimento de 7,3%, reflexo também de políticas voltadas para a redução das

desigualdades educacionais e respeito à diversidade cultural.

A Educação de Jovens e Adultos - EJA apresentou queda de 5% no número

de alunos matriculados, de acordo com o Censo 2010. Segundo dados da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD/IBGE 2009, o Brasil tem uma população

de 57,7 milhões de pessoas com mais de 18 anos que não frequentam escola e que não

têm o Ensino Fundamental completo. Esse contingente poderia ser considerado uma

parcela da população a ser atendida pela EJA.

Os números são contundentes, ou seja, o atendimento da EJA é muito

aquém do que poderia ser. De acordo com o Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira - INEP, essa questão precisa ser melhor analisada e os dados do Censo podem

contribuir para um diagnóstico e para a proposição de políticas de ampliação da oferta

dessa modalidade de ensino. O Censo revelou também que tem diminuído o número de

escolas que oferecem EJA e isso pode sinalizar um problema, sobretudo para o

trabalhador que precisa de motivação para voltar à escola. Menos escolas, mais

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dificuldades, sobretudo nos grandes centros urbanos em que o deslocamento pode se

tornar um impeditivo para acesso aos locais de oferta.

Para a Educação Profissional, o Censo 2010 apontou que os números

sinalizam a manutenção de sua expansão, com crescimento de 7,4%, ultrapassando

900.000 matrículas em 2010. Com relação à Educação Superior, os dados do último

Censo, que não é o mesmo no qual são divulgados os resultados da Educação Básica,

demonstram que, apesar da diminuição no número de Instituições de Ensino Superior, a

oferta de vagas, o número de ingressantes, bem como o número de matrículas e de

concluintes mantiveram crescimento semelhante ao dos anos anteriores.

Nesse contexto e analisando de uma maneira geral o cenário da Educação

Brasileira, em todos os níveis e modalidades de ensino, percebemos que a demanda por

educação aumentou, as vagas foram ampliadas e políticas para assegurar os direitos à

educação foram desenvolvidas e implementadas. No entanto, ainda encontramos na

realidade das salas de aulas e dos ambientes educacionais obstáculos que impedem o

bom desempenho do aluno no processo de aprendizagem e na formação do sujeito como

um todo. Longe de promover a autonomia e desenvolver as potencialidades dos

indivíduos, nossos espaços educacionais se configuram quase sempre como cenários em

que o fracasso e o desenvolvimento insatisfatório predominam.

Essa realidade nos impele a repensar o processo educacional brasileiro, na

medida em que é possível programar e implementar ações direcionadas ao

desenvolvimento de uma educação de excelência. Pensar desta maneira é perceber o

processo educacional sob a perspectiva global da pessoa que aprende, com suas

potencialidades e suas dificuldades. Pode-se dizer ainda que pensar o processo

educacional hoje é considerar a complexidade humana em suas relações com o mundo,

de maneira sistêmica e holística.

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Diante de tal desafio, o profissional da Psicopedagogia, por reunir em sua

formação conhecimentos de diversas áreas, é o um dos profissionais que pode contribuir

para que o processo de ensino e aprendizagem seja pensado para as complexidades dos

dias atuais. A Psicopedagogia é considerada atualmente como um campo de

conhecimento de caráter transdisciplinar que se constituiu pela emergência de

conhecimentos de campos afins, produzindo uma nova maneira de encarar o sujeito que

aprende/ensina e o objeto deste processo: a aprendizagem humana, configurando-se

como uma área privilegiada para o pensamento complexo.

De acordo com Visca, em artigo no qual antevia o papel da Psicopedagogia

no terceiro milênio, “os estudos futuros necessariamente facilitarão a distinção do

objeto de estudo da Psicopedagogia dos objetos de estudo da Psicologia e da Pedagogia;

e ao mesmo tempo a complementaridade destas três áreas do conhecimento.” (VISCA,

1999, p. 1)

Enquanto campo de atuação transdisciplinar, a Psicopedagogia busca

estudar os fenômenos humanos em toda sua complexidade, sem os limites impostos

pelas disciplinas, aproximando-se muito mais de uma visão integradora e sistêmica que

impregna os novos conceitos científicos. O estudo dos fenômenos humanos proposto

pela Psicopedagogia incide, de acordo com a natureza de seu objeto de estudo, sob o

âmbito educacional.

Por essa característica integradora e transdisciplinar, o psicopedagogo é uma

figura importante na constituição da dinâmica escolar e acadêmica. Sua atividade

caracteriza-se pelo aspecto interacional, por isso pode e deve fazer parte de uma equipe

transdisciplinar atuando nas questões relacionadas às problemáticas docente, discente e

administrativa. Isso lhe permite enxergar a educação e os atores nela envolvidos em sua

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totalidade, criando condições para melhorar o processo de aprendizagem escolar,

atuando tanto na prevenção quanto na resolução de conflitos.

O psicopedagogo, atuando como o sujeito que aprende e ensina, ou seja, o

sujeito aprendentensinante estabelece uma investigação criteriosa e multidisciplinar

capaz de enxergá-lo a partir de uma perspectiva bio-psico-social. Em outras palavras,

fatores orgânicos, afetivos, cognitivos e culturais fundamentam as hipóteses

psicopedagógicas norteadoras das estratégias capazes de criar a situação mais adequada

para que a aprendizagem ocorra.

Na prática, o psicopedagogo, além de agregar saberes de diversas áreas, atua

com mecanismos pedagógicos e psicológicos que possibilitam compreender a dinâmica

da aprendizagem, agindo de forma preventiva e terapêutica. Em termos preventivos, age

nas escolas junto aos professores, alunos e suas famílias ou na formação de

profissionais da educação. No campo terapêutico, o psicopedagogo diagnostica as

possibilidades e as dificuldades de aprendizagem, elaborando, junto a outros

profissionais, mecanismos de intervenção dirigidos para potencializá-las ou remediá-las.

A Psicopedagogia contempla um vasto campo de investigação dos fenômenos do

processo educacional e vem contribuindo com publicações relevantes a respeito de seu

objeto de estudo: o processo de aprendizagem humana.

É importante ressaltar que a pesquisa proposta pelo artigo em questão levou

em consideração tais publicações, inclusive trabalhos científicos publicados na Revista

Psicopedagogia editada pela Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp. Tal

acervo constitui os pilares nos quais a prática psicopedagógica se fundamenta. A partir

daí percebemos que o exercício profissional da Psicopedagogia requer, além de

formação específica em cursos de especialização, a regulamentação da profissão, que,

apesar de não ter sido legalizada, sua prática está presente nos ambientes escolares,

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acadêmicos e sociais. Nesse contexto, percebemos que a Psicopedagogia tem

fundamental importância no desenvolvimento do processo educacional e possui

subsídios científicos que dão o devido suporte à sua prática.

A luta pela regulamentação da profissão de psicopedagogo(a) iniciada em

1997 ainda não terminou, mas avançou sobremaneira. O presente artigo oportuniza

descrever a trajetória histórica da regulamentação profissional, refletindo sobre sua

importância como mecanismo de solidificação da identidade profissional e de sua

prática, cuja demanda se mostra cada vez mais crescente, no âmbito das instituições

públicas e privadas.

Fundamentos históricos da Psicopedagogia

A Psicopedagogia teve seu início no século XX na França com os autores

Françoise Dolto, Julian Ajuriaguerra, Pichon-Riviére, Pierre Vayer, Louise Picg, dentre

outros, realizando estudos para resolver problemas de fracasso escolar e articulando tais

intervenções com a Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia. Na época, o

problema do fracasso escolar estava associado a problemas de conduta e

comportamento, ao desenvolvimento cognitivo, afetivo, emocional, orgânico e motor.

Expandiu-se pela Europa, Estados Unidos e, mais recentemente, na

Argentina ainda com ênfase nos aspectos relacionados com o insucesso escolar. Nesse

período, as dificuldades e/ou problemas de aprendizagem apresentavam caráter médico

e eram tratados com procedimentos remediativos. Os primeiros Centros

Psicopedagógicos foram criados na França, na década de 40, com o intuito de

desenvolver um trabalho voltado para crianças com problemas escolares ou

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comportamentais atendidas por uma equipe de profissionais da área psicológica,

psicanalítica e pedagógica.

O movimento da Psicopedagogia no Brasil inicia com forte influência da

Argentina, seja pela proximidade geográfica ou pelo fácil acesso à literatura. Há

registros bibliográficos de trabalhos de autores argentinos tais como Sara Paín, Jorge

Visca e Alicia Fernández, os quais constituem os primeiros esforços no sentido de

sistematizar um corpo teórico próprio da Psicopedagogia. Nádia Bossa ressalta que a

origem do pensamento argentino acerca da Psicopedagogia é marcada por traços dos

estudos e pesquisas realizados na França e destaca que

a literatura francesa influencia as ideias sobre Psicopedagogia na Argentina, a

qual, por sua vez, influencia a práxis brasileiras. A psicpedagogia francesa

apresenta algumas considerações sobre o termo Psicopedagogia e sobre a

origem dessas idéias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador

do primeiro centro médico psicopedagógico na França, em que se percebem

as primeiras tentativas de articulação entre medicina, psicologia, psicanálise e

pedagogia, na solução dos problemas de comportamento e de aprendizagem.

(BOSSA, 2007, p. 39)

Na Argentina, a Psicopedagogia já surge como um curso de graduação, na

década de 60. No entanto, a atividade psicopedagógica já era exercida antes mesmo da

criação do curso. Profissionais que possuíam outra formação, ao encontrarem demandas

específicas de dificuldades de aprendizagem, vislumbraram a necessidade de ocupar um

espaço que pedagogos e psicólogos não conseguiam preencher. Com isso, alternativas

de intervenção foram criadas, com o objetivo de resolver os problemas de fracasso

escolar, cada vez mais recorrentes. Segundo Maria Regina Peres

a Psicopedagogia passa a despertar a atenção de vários países que,

preocupados com os altos índices de fracassos escolares, passam a buscar

novas alternativas de trabalho. Dentre estes países, na Argentina, a

Psicopedagogia tem recebido um enfoque especial, sendo considerada uma

carreira profissional. (PERES, 1998, p. 42)

No Brasil, a Psicopedagogia teve início da década de 70, mas pode-se dizer

que o movimento da Escola Nova, nos anos 1920, agregou um novo olhar sobre a

educação brasileira. Esse novo olhar propunha um atendimento holístico às

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necessidades do educando e à realidade do país com vistas ao desenvolvimento do

processo educacional. O documento do Manifesto dos Pioneiros da Educação traduz

alguns dos elementos pontuados por John Dewey, dentre eles a compreensão de que o

ensino deve basear-se na experiência em função dos interesses da criança e a concepção

da escola como uma sociedade em miniatura. Os escolanovistas defendiam que a

educação abandonasse o empirismo grosseiro que reinava no pensamento pedagógico e

adotasse métodos científicos de forma que correspondesse às necessidades da sociedade

urbano-industrial que se desenvolvia. Uma das formas pelas quais essa aplicação dos

métodos científicos à educação iria ocorrer seria através da utilização dos instrumentos

da Psicologia.

Os ideais propostos pela Escola Nova corroboram com os pressupostos

psicopedagógicos, no sentido do desenvolvimento pleno do educando e de considerar

suas necessidades e o contexto no qual se insere. Naquele momento o termo

Psicopedagogia não se consolidava como um campo de conhecimento e de investigação

científicas, mas encontramos aportes significativos e característicos dos entendimentos

psicopedagógicos, o que não nos impede de pensar que ali iniciava um vasto espaço de

discussões e pesquisas em torno do que hoje chamamos de Psicopedagogia.

Historicamente registrado é que no Brasil a Psicopedagogia surgiu na

década de 70 e a principal atuação dos especialistas na área era a intervenção nos

problemas de aprendizagem associados às disfunções neurológicas, ou seja, ainda

mantendo a visão medicalizante de suas origens. Nesse período, no Brasil, os altos

índices de evasão escolar e repetência impulsionaram alguns profissionais a se

dedicarem ao diagnóstico e intervenção dirigidos para os problemas de aprendizagem.

Para isso, eles se basearam nos referenciais teóricos desenvolvidos na França e

Argentina.

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Na década de 80 tem início em São Paulo, no Instituto Sedes Sapientiae, o

primeiro curso de Psicopedagogia. Os primeiros profissionais lá formados foram

responsáveis pela criação da Associação Paulista de Psicopedagogia, atual Associação

Brasileira de Psicopedagogia - ABPp, com expressiva representatividade no território

nacional. Para Fagali, o Instituto Sedes Sapientiae foi pioneiro no desenvolvimento do

curso de Psicopedagogia. Ela ressalta que

a retomada das raízes do curso de formação em Psicopedagogia do Sedes

Sapientiae justifica-se por ter sido um curso pioneiro na realidade de São

Paulo, gerador de líderes de mudança que prosperaram em projetos como o

da construção da Associação de Psicopedagogia em São Paulo. (FAGALI,

2007, p. 19-20)

Desde o surgimento no Brasil, houve uma evolução no conceito de

Psicopedagogia. Quando surgiu, teve uma visão organicista e patologizante da

dificuldade de aprendizagem. Seu objetivo era fazer a reeducação das crianças

portadoras de deficiências. Avançou, para um campo de conhecimento interdisciplinar,

ao considerar seu objeto de estudo o processo de aprendizagem com todas as variáveis

que nele interferem. Seu objetivo passou a ser a investigação da etiologia da

dificuldade, seu significado para a criança e sua família, a sua modalidade de

aprendizagem e reais possibilidades para aprender. Atualmente, define-se a

Psicopedagogia como uma área de conhecimento transdisciplinar, cujo objeto de estudo

é o ser cognoscente e que tem como objetivo facilitar a construção da aprendizagem e

da autonomia desse ser identificando e clarificando os obstáculos que possam impedir

que esta construção se faça.

A Associação Brasileira de Psicopedagogia

Desde 1980, data da criação da ABPp, os psicopedagogos brasileiros

contam com o apoio desta associação, que se preocupa com os interesses e os anseios da

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classe e luta pelos seus direitos. Além disso, a Associação Brasileira de Psicopedagogia

contribuiu e contribui para que os profissionais da Psicopedagogia construam espaços

de discussões, estudos e pesquisas sobre a teoria e a prática psicopedagógicas. Peres

aborda que

ao longo de sua existência a associação tem promovido vários encontros e

congressos visando dentre outras coisas refletir sobre: a formação do

psicopedagogo, a atuação psicopedagógica objetivando melhorias da

qualidade de ensino nas escolas, a identidade profissional do psicopedagogo,

o campo de estudo e atuação do psicopedagogo, o enfoque psicopedagógico

multidisciplinar. (PERES, 1998, p. 43)

A ABPp divulga o campo de atuação da Psicopedagogia por meio de

publicações, publicações de casos e situações de aprendizagem que se destinam a

pesquisas e experiências, nos Boletins e na Revista Psicopedagogia. Tem contribuído

para que a Psicopedagogia assuma uma nova feição no cenário educacional brasileiro a

partir de um redimensionamento da concepção de problema da aprendizagem. Esse fato

é perceptível tendo em vista uma linha cronológica de eventos promovidos pela

Associação e pelos temas que marcam essa transformação. Destaque neste ano de 2010

para as comemorações dos trinta anos da Psicopedagogia no Brasil, com eventos

direcionados à consolidação da Psicopedagogia no território nacional brasileiro.

Essa característica da Associação Brasileira de Psicopedagogia, de ser um

órgão que representa a classe, luta pelos seus direitos e pela formação na área, é peculiar

se pensarmos na forma de sua organização institucional, composta por um Conselho

Nacional que reúne membros de diversos segmentos e de diversas regiões do país e se

compõe da seguinte maneira: Conselho Nato, constituído pelos ex-presidentes da ABPp,

que passam a integrá-lo ao final de cada gestão; Conselheiros eleitos, que representam

os associados de todo o Brasil e os representantes das Seções e Núcleos.

Com o intuito de propor uma identidade própria à Psicopedagogia no Brasil

e difundir os conhecimentos na área, a Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp

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-organizou um documento acerca da identidade profissional do psicopedagogo e dos

objetivos dessa área do conhecimento. O documento passou por várias reformulações na

tentativa de entrelaçar o conteúdo de formação e a atuação profissional. Desse

documento originou, em 1992, o Código de Ética do Psicopedagogo2.

De acordo com Mônica Hoehne Mendes, a discussão em torno da questão

do reconhecimento da profissão gerou grande inquietação entre vários segmentos

acadêmicos. Ela considera que o Código de Ética era essencial e necessário, tendo em

vista que a profissão não era reconhecida. Ainda segundo Mônica Hoehne Mendes “este

passou a ser o documento norteador dos princípios da Psicopedagogia, das

responsabilidades gerais dos psicopedagogos, das relações destes com outras profissões,

sobre a importância do sigilo, etc.” (MENDES, 1998, p. 202-203).

Campo de Conhecimento da Psicopedagogia

A Psicopedagogia, como vimos, nasceu da necessidade de uma melhor

compreensão do processo de aprendizagem humana e se tornou uma área de estudo

específica que busca conhecimento em outros campos e cria seu próprio objeto de

estudo: o processo de aprendizagem humana, seus níveis de desenvolvimento e a

influência do meio nesse processo.

É uma área de conhecimento que se dirige para o estudo da aprendizagem

enquanto processo inerente ao ser humano, configurando-se no âmbito das ciências

humanas. Nesse sentido, o objeto de estudo da Psicopedagogia é a aprendizagem

humana e o ser que aprende é o sujeito para o qual a Psicopedagogia se dirige.

2 Elaborado pelo Conselho Nacional do biênio 1991/1992 e reformulado pelo Conselho Nacional

e nato do biênio 1995/1996. Disponível em www.abpp.com.br

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Considerando que a Psicopedagogia é um campo de conhecimento

contemporâneo, ela se difere de outros campos como área de atuação e de reflexão, pois

leva em consideração a objetividade e subjetividade humanas e o conhecimento das

diversas formas de aprender. Ocupa-se dos problemas relacionados com a aprendizagem

humana, atuando em áreas próximas à Psicologia e à Pedagogia. Evoluiu para atender às

demandas sociais relacionadas aos problemas de aprendizagem e ao fracasso escolar,

constituindo-se, assim, numa prática. Sobre o campo de atuação da Psicopedagogia,

Nádia Bossa nos apresenta que

como se preocupa com o problema de aprendizagem, deve ocupar-se

inicialmente do processo de aprendizagem. Portanto vemos que a

Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se

aprende, como esta aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada

por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como

reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. Este objeto de estudo, que é um sujeito

a ser estudado por outro sujeito, adquire características específicas a

depender do trabalho clínico ou preventivo. (BOSSA, 2007, p. 24)

O psicopedagogo deve agregar conhecimentos multidisciplinares na sua

atuação profissional, tendo em vista que, nas avaliações diagnósticas, é necessária a

interpretação de diferentes dados. Esses conhecimentos auxiliarão o profissional da

Psicopedagogia na compreensão do quadro diagnóstico e a escola na melhor

metodologia de trabalho.

Campo de Atuação da Psicopedagogia

O campo de atuação da Psicopedagogia é focado na intervenção do processo

de aprendizagem, na avaliação das potencialidades, no diagnóstico e tratamento dos

seus obstáculos, sendo o psicopedagogo o profissional responsável por detectar e tratar

possíveis obstáculos relacionados à aprendizagem escolar.

Pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e terapêutica, para

compreender e intervir nos processos de desenvolvimento da aprendizagem humana,

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recorrendo a várias estratégias na tentativa de solucionar os problemas que podem

surgir.

Numa linha preventiva, o psicopedagogo é o profissional indicado para

assessorar e esclarecer a escola a respeito de diversos aspectos do processo de ensino-

aprendizagem. No espaço escolar o psicopedagogo pode contribuir para o

esclarecimento das dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas

deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares, sejam eles

ligados a fatores organizacionais ou metodológicos. Ele poderá atuar ainda

preventivamente junto aos docentes explicando sobre habilidades, conceitos e princípios

para que ocorra a aprendizagem; pode também trabalhar na formação continuada, na

reflexão sobre currículos e projetos e atuar junto às famílias dos alunos que apresentam

dificuldades de aprendizagem.

Laura Monte Serrat Barbosa apresenta que o espaço da instituição escolar

requer mais preparo do psicopedagogo do que o espaço clínico. Para ela,

a intervenção psicopedagógica na instituição escola se dirige ao sujeito

aprendente que sustenta o aluno, sua relação com os seus pares e com o

professor; ao sujeito ensinante que sustenta o professor, sua relação com o

grupo de alunos, com os pais e com o psicopedagogo, assim como ao sujeito

aprendente que também se encontra no professor; e ao sujeito aprendente

que se encontra no próprio psicopedagogo. (BARBOSA, 2001, p. 19)

Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de

aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e

professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas da saúde -

psicólogos, psicomotricistas, fonoaudiólogos, psiquiatras e psicanalistas, pois tais

dificuldades são multifatoriais em sua origem e muitas vezes exigem uma abordagem

multidisciplinar tanto na Saúde como na Educação, como, por exemplo, no atendimento

em ambientes hospitalares.

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No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir para a

compreensão e o estabelecimento de vínculos positivos entre as pessoas, ou seja, com a

melhoria da qualidade das relações inter e intrapessoais dos indivíduos que trabalham

na empresa. O papel do psicopedagogo é intervir nos fatores que prejudicam o bom

andamento ou funcionamento na dinâmica grupal em uma empresa, adequando o

conteúdo do planejamento da ação pedagógica, bem como das relações humanas que se

estabelecem no âmbito empresarial. Faz-se a intervenção de acordo com a finalidade e o

objetivo da instituição, partindo da história da organização e suas características

próprias.

A contribuição da Psicopedagogia para o campo empresarial é a de levar a

vivência da organização ao grupo, tomando como base o desenvolvimento cognitivo

para um maior e melhor desempenho onde está inserida, dando importância às

atividades e ações, mostrando objetivos, metas e a missão, atuando de forma direta e

clara com seus funcionários. Caracteriza-se também como um enfoque preventivo,

dando sentido ao sujeito na busca do significado da aprendizagem e reflexão de ações

assumindo a maturação.

Regulamentação da Profissão de Psicopedagogo

A práxis psicopedagógica vai muito além da junção de saberes estanques.

Há formação e espaços de atuação específicos para o profissional da Psicopedagogia na

sociedade brasileira, o que pode ser constatado pela criação do cargo de

psicopedagogo(a) em diversos municípios de vários estados brasileiros, que são

contratados mediante concursos públicos.

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Por que, então, regulamentar essa profissão, visto que tal necessidade

sempre esteve presente no coração dos profissionais que abraçam seu trabalho com

responsabilidade e dedicação e já vêm atuando há 30 anos? A necessidade de

regulamentação é demanda de um grupo ou de toda a sociedade?

Impulsionada pelas solicitações de representantes de vários Institutos e

Universidades brasileiras, o Conselho Nacional da Associação Brasileira de

Psicopedagogia definiu, em 1994, como prioridade a regulamentação da profissão de

psicopedagogo. Desse modo, a ABPp discutiu e chegou a aspectos considerados

norteadores do processo da regulamentação da profissão em Psicopedagogia, incluindo

o questionamento de qual seria a linha mestra a ser adotada por um curso de formação

em Psicopedagogia. Nesse contexto, inseriu-se a figura daquele que iria assumir esta

tarefa em nível nacional, o Deputado Federal Barbosa Neto, que se predispôs a realizar

um estudo mais aprofundado sobre a legislação vigente, no sentido de concretizar a

proposta de regulamentação. Esse deputado viabilizou um contato com o ministro da

Educação Paulo Renato de Souza em setembro de 1995 e, a partir daí, vários

documentos foram elaborados, contando com a colaboração de todas as sessões

Regionais da ABPp.

O primeiro resultado desse trabalho foi apresentado durante o III Congresso

Brasileiro de Psicopedagogia e o VII Encontro de Psicopedagogos, em São Paulo, em

julho de 1996, com um Relato de Trabalho intitulado A Regulamentação da Profissão

Assegurando o Reconhecimento do Psicopedagogo. Sendo que o processo de

aprimoramento desse documento prosseguiu durante o segundo semestre de 1996 e foi

apresentado na Câmara dos Deputados Federais pelo Deputado Barbosa Neto. Em 14 de

maio de 1997 foi votado e aprovado pela 1ª Comissão do Trabalho, graças ao empenho

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e garra da ABPp, das seções Regionais, das Instituições de ensino, da comunidade e dos

políticos que assumiram nossa causa.

Após esta aprovação o Projeto de Lei nº 3.124 de 1997 foi encaminhado à 2ª

Comissão que é a de Educação, Cultura e Desporto. Nesta comissão, tendo em vista o

caráter polêmico, foram propostas audiências públicas para aprofundamento do tema. A

primeira ocorreu em 18 de junho de 1998 e a segunda em 06 de junho de 2000. A

aprovação nessa comissão ocorreu em 12 de setembro de 2001 após um trabalho

exaustivo da relatora Marisa Serrano, do Deputado Barbosa Neto e dos psicopedagogos

que de forma competente articularam tal discussão no Brasil.

Em 20 de setembro de 2001, a regulamentação profissional teve mais um

ganho político com a aprovação do Projeto de Lei nº 10.891 do Deputado Estadual de

São Paulo, Claury Alves da Silva, que "autoriza o poder Executivo a implantar

assistência psicológica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino

básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem".

Em 2004, outro passo foi dado em relação ao reconhecimento do trabalho

do profissional e à consolidação da identidade psicopedagógica, com a inclusão da

Psicopedagogia na CBO - Classificação Brasileira de Ocupação, fazendo parte da

família 2394: avaliadores e orientadores de ensino. A CBO tem por finalidade a

identificação das ocupações no mercado de trabalho para fins classificatórios junto aos

registros administrativos e domiciliares. Os efeitos de uniformização pretendida pela

Classificação Brasileira de Ocupações são de ordem administrativa e não se estendem

às relações de trabalho, mas abre a possibilidade da inclusão do psicopedagogo nos

planos de carreiras do serviço público e abre possibilidades de identificação junto ao

Código de Ocupação Internacional, que já previa para outros países essas classificações

no caso de profissionais de Psicopedagogia.

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Em 2007, o Projeto proposto pelo Deputado Barbosa Neto foi arquivado. No

entanto, no dia 17 de dezembro de 2008, a Comissão de Trabalho, de Administração e

Serviço Público aprovou o Projeto de Lei nº 3.512 da Deputada Federal Raquel Teixeira

que regulamentava a atividade profissional do psicopedagogo. Por esta nova proposta, a

profissão poderia ser exercida pelo portador de diploma de graduação em

Psicopedagogia, pelo diplomado em Psicologia e Pedagogia e pelo licenciado que

concluir o curso de especialização em Psicopedagogia. O projeto tramitou em caráter

conclusivo, sendo aprovado por unanimidade na Câmara Federal em 2009 e

encaminhado para votação no Senado. Em março de 2010 a Comissão de Constituição e

Justiça e de Cidadania aprovou, por unanimidade, a redação final do Projeto de Lei e,

em abril de 2010, foi remessado ao Senado Federal por meio de Ofício à Mesa Diretora

da Câmara dos Deputados, onde permanece aguardando votação.

Em abril de 2011, o Deputado Neilton Mulin apresentou à Câmara o Projeto de

Lei nº 7.855/10, semelhante ao Projeto da Deputada Raquel Teixeira. O Projeto tramita

em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família;

de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de

Cidadania. Além dos itens elencados no Projeto de 2008, a proposta do Deputado

Neilton Mulin pretende também agregar a Psicopedagogia institucional à qualidade de

humanização em pediatrias. Segundo Mulin, a atuação institucional do Psicopedagogo

trará uma resposta considerável no processo de assimilação e desenvolvimento

favorável em casos de internações de pacientes infantis por períodos prolongados. Os

idosos também poderão ser atendidos pelos profissionais da área, em atividades

preventivas de incapacidades psíquicas, cognitivas e emocionais, que protejam e

preservem a maior independência e qualidade de vida. Para o Deputado, autor do

Projeto, estimular o raciocínio lógico motivará a produção de modificações nas

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estruturas cognitivas dos indivíduos, expandindo e potencializando a aprendizagem,

aumentando a eficiência mental e melhorando a qualidade do desempenho intelectual.

Considerações Finais

O cenário da educação brasileira configura, conforme resultados do último

Censo, em crescimento no número de matriculas em todos os níveis e modalidades de

ensino. Isso nos faz refletir sobre a qualidade do processo educacional e a função social

que as instituições de ensino agregam. As questões que permeiam a excelência

educacional e o desenvolvimento holístico do ser aprendente tornam-se cada vez mais

presentes no direcionamento das políticas públicas em educação. É nesse panorama que

cresce a necessidade do profissional da piscopedagogia, visto que sua prática incide

essencialmente sobre o fenômeno da aprendizagem. Aprendizagem em seu processo

macro, num processo educativo na vida, na sociedade e nas relações.

Os espaços educacionais, no cumprimento de sua função social, devem

desenvolver, nas crianças e jovens, competências e habilidades condizentes com as

exigências da contemporaneidade. Nesse sentido, faz-se necessária a reflexão das ações

pedagógicas por todos os atores envolvidos no processo educacional, no que diz

respeito a conhecer e reconhecer a importância do sujeito da aprendizagem, a entender o

que pode facilitar ou impedir que se aprenda. Auxiliando professores e todos aqueles

envolvidos com o processo de ensino e aprendizagem surge a Psicopedagogia, campo

de conhecimento que se ocupa com os problemas de aprendizagem, numa visão

transdisciplinar, podendo orientar comunidade escolar e acadêmica na perspectiva de

transformar as relações com o aprender e o ensinar.

As questões em torno da formação do psicopedagogo e da regulamentação

profissional aliadas ao contexto global da atuação desse novo agente social explicam a

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importância crescente da Psicopedagogia que, na sua concepção atual, já nasce com

uma perspectiva globalizadora condizente com os rumos da aprendizagem na

atualidade, ocupando um lugar privilegiado, sistêmico, consoante os novos paradigmas

científicos de natureza complexa e transdisciplinar, porque justamente não está em um

único lugar. Sua força está localizada no poder de transitar entre a objetividade e a

subjetividade, entre o ensinante e o aprendente. Nesse sentido, a Psicopedagogia tem

um papel social relevante, uma vez que sua atuação contribui para a superação do

fracasso escolar e acadêmico, tão presente em nossos espaços educacionais.

A regulamentação profissional é mais uma conquista empenhada pela

Psicopedagogia e também pela sociedade brasileira como um todo, pois o

psicopedagogo já conquistou seu papel e seu espaço de trabalho nas comunidades em

que atua. Enquanto isso não acontece, e como ocorre com outros profissionais nesta

situação, cada um é responsável por sua atuação no mercado de trabalho, cabendo ao

Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp regular a atuação

dos psicopedagogos.

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