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Coleção Psicologia Clínica e Cultura UnB Organizadoras Terezinha de Camargo Viana Gláucia Starling Diniz Liana Fortunato Costa Valeska Zanello Psicologia Clínica e Cultura Contemporânea Volume I

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  • Coleo Psicologia Clnica e Cultura UnB

    Organizadoras

    Terezinha de Camargo VianaGlucia Starling DinizLiana Fortunato Costa

    Valeska Zanello

    Psicologia Clnica eCultura Contempornea

    Volum

    e I C

    oleo Psicologia C

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    BP

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    www.psicc.unb.br

    Programa de Ps-Graduao emPsicologia Clnica e Cultura

    Instituto de Psicologia

    Volume I

  • P974 Psicologia clnica e cultura contempornea / Terezinha de Camargo Viana... et. all. (orga-nizadoras) -- Braslia: Liber Livros, 2012.555p. (Coleo Psicologia Clnica e Cultura UnB 1)ISBN: 978-85-7963-114-61. Psicologia clnica 2. Psicanlise 3. Psicoterapia e Tratamento 4. Saude Mental... 5. Trans-tornos alimentares 7. Drogadio.. Adolescncia. 9. Gnero e violncia. Avaliao Psicolgica.. I.Terezinha de Camargo Viana II.Glucia Starling Diniz III. Liana Fortunato Costa. IV. Valeska Zanello.V. Ttulo.CDU 159.9:364.658=133.1=134.3

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Psicologia : Psicoterapia : Problemas sociais 159.9:364.6582. Problemas sociais: Psicologia 364.658:159.9

    REITOR

    Ivan Marques de Toledo Camargo

    DECANO DE PS-GRADUAO

    Jaime Martins de Santana

    DIRETOR DO INSTITUTO DE PSICOLOGIA

    Hartmut Gunther

    CHEFE DO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLNICA

    Balsem Pinelli Junior

    COORDENADORA DO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM PSICOLOGIA CLNICA E CULTURA

    Terezinha de Camargo Viana

    FUNDAO UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    CONSELHO EDITORIAL

    Bernadete A. Gatti

    Iria Brzezinski

    Maria Clia de Abreu

    Osmar Favero

    Pedro Demo

    Rogrio de Andrade Crdova

    Sofia Lerche Vieira

    PROJETO GRFICO, CAPA E DIAGRAMAO

    Leandro Celes

    EDITORA

    Liber Livro Editora Ltda

    www.liberlivro.com.br

  • Organizao

    Terezinha de Camargo Viana

    Glucia Starling Diniz

    Liana Fortunato Costa

    Valeska Zanello

    Programa de Ps-Graduao em Psicologia Clnica e Cultura

    Universidade de Braslia

    2012

    Psicologia Clnica e Cultura Contempornea

    Coleo Psicologia Clnica e Cultura UnB - Volume I

  • Sumrio

    Sobre os autores 10

    Apresentao 26

    Vidas fazendo histria e construindo histrias de vida 32

    Teresa Cristina O. Carreteiro

    Grupo multifamiliar com adolescentes que cometeram abuso sexual 47

    Bruno NogueiraLiana Fortunato Costa

    A proteo integral no sistema de garantia de direitos criana e ao adolescente no Brasil 67

    Maria Ins GandolfoRaquel Cairus

    Investigacin-intervencin sobre la vida en la calle desde una perspectiva socio-clnica 87

    Elvia Taracena

    Trabalho e juventude em Acari: criando dispositivos de reflexo e interveno 141

    Teresa Cristina O. C. CarreteiroAlan Teixeira LimaBianca Cauper BohnertCludia Valente Lopes Daniela Serrina de Lima RodriguesLeticia de Luna FreireLuciana Ribeiro BarbosaMarcos Csar da Rocha Salema

  • De escravo a herdeiro: o pedido silencioso de alcoolistas no contexto do acolhimento 155

    Luiz Felipe Castelo Branco da Silva Maria Ftima Olivier Sudbrack

    Do sujeito a lei, da lei ao sujeito: acolhimento psicossocial de usurios de drogas no contexto da Justia 171

    Adriana Barbosa Scrates Maria Ftima Olivier Sudbrack

    Quest lamour devenu dans les socits librales avances 193

    Eugene Enriquez

    Linhas do desenvolvimento da psicanlise contempornea 204

    Luiz Augusto Monnerat Celes

    Novos tipos clnicos na psicanlise dos anos 2010 227

    Christian Ingo Lenz Dunker

    Corpo em psicanlise e obesidade 242

    Eliana Rigotto Lazzarini Carolina Frana Batista Terezinha de Camargo Viana

    Corpo e dor na clnica contempornea 256

    Mrcia Cristina MaessoDaniela Scheinkman ChatelardAndrea Hortlio Fernandes

    Narcisismo e estados limites 268

    Mrcia Teresa Portela de CarvalhoEliana Rigotto Lazzarini Terezinha de Camargo Viana

    O Aleph, a condensao e o umbigo do sonho 281

    Tain Pinto Tania Rivera

    A interao alimentar me-beb em crianas com transtornos da alimentao 297

  • Dione de Medeiros Lula ZavaroniTerezinha de Camargo VianaMassimo Ammaniti

    O lugar do psicanalista com uma criana autista: estar l para ser encontrado 313

    Maria Izabel TafuriGilberto Safra

    Algumas contribuies da teoria dos atos de fala para a pesquisa e avaliao das (psico)terapias 330

    Valeska ZanelloFrancisco Martins

    Adolescncia na psicanlise: nascimento do conceito e perspectivas tericas atuais 349

    Las Macdo Vilas BoasDeise Matos do Amparo

    Preveno em perinatalidade: uma pesquisa internacional 366

    Maria Izabel TafuriDione Lula ZavaroniMaria do Rosrio Dias VarelaMaria Cicilia de Carvalho RibasClaude Schauder Janana Frana

    Dos prdromos da interveno precoce nas psicoses fenomenologia das primeiras crises psquicas graves 380

    Ileno Izdio da CostaNercia Regina de Carvalho

    Famlia e sade mental: a percepo dos adolescentes e de seus pais/cuidadores 414

    Jlia Sursis Nobre Ferro Bucher-MaluschkeCamila de Aquino MoraisDeise Matos do AmparoMaria Aparecida PensoKarl Christoph Kppler

  • 8

    Casamento e famlia: uma reflexo sobre desafios da conjugalidade contempornea 430

    Glucia DinizTerezinha Fres-Carneiro

    Sexismo e heterossexismo: do impacto sobre a sade s possibilidades de preveno 448

    Sheila Giardini MurtaZilda A. P. Del Prette Almir Del Prette Valeska Zanello

    O conceito de crise na Clnica da Interveno em Crise 470

    Marcelo TavaresBlanca Susana Guevara Werlang

    Hipnose, espiritualidade & cultura: problemas de pesquisa clnica 494

    Mauricio S. Neubern

    Registro Clnico: funes e benefcios 514

    Meirilane NavesMarcelo TavaresAlexandre DomanicoAnna Elisa de Villemor-Amaral

    Uma viso binocular sobre o sonho e o sonhar: o encontro entre psicologia e antropologia 532

    Roque GuiVera Lucia Decnop Coelho

  • 9

  • 10

    Sobre os autoresAdrianaBarbosaScrates

    Universidade de Braslia

    Doutoranda em Psicologia Clnica e Cultura - PPG PsiCC/PCL/IP/UnB. Mestre em Psicologia Clnica e Cultura, PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Especialista em Teoria Psicanaltica. [email protected]

    AlanTeixeiraLimaUniversidade Federal Fluminense - UFF

    Atua como psiclogo clnico nos seguintes contextos: chefe da Seo Psicossocial na UFF; membro da Equipe de Referncia Infanto-juvenil para aes de ateno ao uso de lcool e outras Drogas (ERIJAD); e membro do Ncleo de Apoio Estratgia Sade da Famlia (NASF). Realiza pesquisas sobre as seguintes temticas: ateno psicssocial, trabalho, drogas, juventude, violncia, cidadania, gesto e polticas pblicas.

    AlexandreDomanicoFaculdade de Cincias Sociais e Tecnolgicas FACITEC

    Escola Nacional de Administrao Pblica ENAP

    Professor na graduao em Administrao e na ps-graduao em Gesto de Pessoas, FACITEC. Professor na ps-graduao em Gesto de Pessoas, ENAP. Especialista em Administrao Estratgica de Sistemas de Informaes, FGV. Mestre em Psicologia Clnica, UnB. Consultor organizacional desde 1996. Psiclogo. Atuao em Psicologia Clnica com abordagem psicodinmica (2000-2010). [email protected]

  • 11Sobre os autores

    AlmirDelPretteUniversidade Federal de So Carlos

    Professor Titular. Orientador nos Programas de Educao Especial e Psicologia. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Experincia na rea de Psicologia com nfase em Processos Grupais e de Comunicao. Temas de pesquisa: habilidades sociais, competncia social, assertividade, interveno em grupo e desenvolvimento interpessoal. [email protected]

    AndreaHortlioFernandesUniversidade Federal da Bahia

    Professora adjunta do Instituto de Psicologia da UFBA onde atua na graduao e ps-graduao. Ps-doutora em Psicologia Clnica e Cultura, PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Mestre em Psicanlise, Universit de Paris VIII. Doutora em Psicopatologia Fundamental e Psicanlise, Universit de Paris VI. Psicanalista. [email protected]

    AnnaElisadeVillemor-AmaralUniversidade So Francisco - Faculdade de Psicologia da PUC/So Paulo

    Professora Associada Doutora do Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Universidade So Francisco. Professora da Faculdade de Psicologia da PUC/So Paulo. Graduao em psicologia, PUC/SP. Mestrado e doutorado em Cincias, UNIFESP/EPM. Ps-doutorado, Universidade de Savoia, Frana (2003). Lder do grupo de pesquisa Avaliao Psicolgica em Sade Mental. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. Coordenadora do GT de Mtodos Projetivos da ANPEPP (2008 a 2012). Desenvolve pesquisas na rea de psicologia da sade e psicopatologia com Mtodos Projetivos. [email protected]

    BiancaCauperBohnertUniversidade Federal Fluminense - UFF

    Aluna de Graduao do Curso de Psicologia, UFF; bolsista da UFF. Estagiria da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro

  • 12

    BlancaSusanaGuevaraWerlangPontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul

    Diretora (2005 a 2009) e Professora Titular da Faculdade de Psicologia da PUC/RGS. Psicolloga. Especializao em Diagnstico Psicolgico. Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade, PUC/RGS. Doutorado em Cincias Mdicas/Sade Mental, Universidade Estadual de Campinas. Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Membro do Grupo de Trabalho institudo para implantar a Estratgia Nacional de Preveno ao Suicdio do Ministrio da Sade, Brasil (2005- 2006). Membro da Comisso Consultiva em Avaliao Psicolgica do Conselho Federal de Psicologia. [email protected]

    BrunoNogueiradaSilvaCostaUniversidade de Braslia

    Mestre em Psicologia Clnica e Cultura - PPG PsiCC/PCL/IP/UnB. Psiclogo do Centro de Ateno e Estudos Psicolgicos (CAEP) do Instituto de Psicologia da UnB. [email protected]

    CamiladeAquinoMoraisUniversidade de Braslia

    Doutoranda em Psicologia Clnica e Cultura - PPG PsiCC/PCL/IP/UnB. Bolsista do CNPqPsicloga. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento, UFRGS. [email protected]

    CarolinaFranaBatistaUniversidade de Braslia

    Mestranda do Programa Ps-graduao em Psicologia Clnica e Cultura - Bolsista do CNPq. Especializao em Teoria Psicanaltica, UnB. Psicloga Clnica. [email protected]

  • 13Sobre os autores

    ChristianIngoLenzDunkerUniversidade de So Paulo

    Professor Associado do Departamento de Psicologia Clnica do Instituto de Psicologia da USP. Ps-doutorado - Manchester Metropolitam University. Livre Docncia - Instituto de Psicologia da USP. Psicanalista. Analista Membro da Escola de Psicanlise do Forum do Campo Lacaniano. Autor de Estrutura e constituio da clnica psicanalitica - Prmio Jabuti 2012 Melhor Livro de 2012 em Psicologia e Psicanlise.

    ClaudeSchauderUniversidade de Strasbourg-Frana

    Professor Associado da Faculdade de Psicologia da Universidade de Strasbourg-Frana, Orientador de Mestrado e de Doutorado. Psiclogo. Presidente da Associao Lire Dolto aujourdhui-Paris-Frana. Coordenador da Pesquisa Internacional sobre Preveno em Parentalidade: estudo comparativo inter-cultural e do Plano de Perinatalidade na Frana-2005-2007). [email protected]

    CludiaValenteLopesUniversidade Federal Fluminense - UFF

    Psicloga.

    DanielaScheinkmanChatelardUniversidade de Braslia

    Professora Adjunta do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Graduao em Psicologia, Universidade Santa rsula. Mestrado em Psicanalise, Universite de Paris VIII. Doutorado em Filosofia, Universite de Paris VIII. Autora do livro O Conceito de Objeto na Psicanlise: do fenmeno escrita. Ed. Universidade de Braslia, 2005. Membro fundador da Abeb - Associao Brasileira de Estudos sobre o Beb. Temas de pesquisa: transferncia, constituio subjetiva, objeto, sujeito, gozo e desejo. Analista membro da Escola dos Fruns do Campo Lacaniano-IF. [email protected]

  • 14

    DanielaSerrinadeLimaRodriguesUniversidade Federal Fluminense - UFF

    Psicloga.

    DeiseMatosdoAmparoUniversidade de Braslia

    Professora do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Doutora em Psicologia - UnB. Ps-Doutorado - Laboratrio de Psicopatologia Clnica da Universidade Paris Descartes - Frana. Bolsista de Produtividade do CNPq e pesquisadora da FAP/DF. Temas de pesquisa: psicopatologia, mtodo de Rorschach, psicodiagnstico, risco psicossocial, violncia, adolescncia. Presidente da Associao Brasileira de Rorschach e Mtodos Projetivos - ASBRO (2011/2014). [email protected]

    DioneLulaZavaroniUniversidade de Braslia

    Psicloga. Doutora em Psicologia Clnica e Cultura-UnB. Pesquisadora do Laboratrio de Psicanlise e Subjetivao e do PPGPsiCC, Coordenadora do Grupo de Atendimento a Crianas com Dificuldades e Transtornos da Alimentao.Vice-coordenadora do Centro de Atendimento e Estudos Psicolgicos CAEP/IP/UnB. [email protected]

    ElianaRigottoLazzariniUniversidade de Braslia

    Professora Adjunto do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Doutorado em Psicologia e Mestrado em Psicologia Clnica, UnB. Psicloga clnica. Especialista em Teoria Psicanaltica - UnB e Psicodrama Teraputico - Federao Brasileira de Psicodrama. Temas de Pesquisa: psicanlise, narcisismo e cultura contempornea, distrbio alimentar (anorexia, bulimia, obesidade) e interveno teraputica. [email protected]

  • 15Sobre os autores

    ElviaTaracenaUniversidad Nacional Autnoma de Mxico

    Profesora Investigadora de la Facultad de Estudios Superiores-Iztacala de la Universidad Nacional Autnoma de Mxico. [email protected]

    EugeneEnriquezUniversit Paris VII Denis Diderot.

    Professor emrito do Laboratoire de Changement Social. Redator chefe da Nouvelle Revue de Psychosociologie. Fundador do CIRFIP Centre International de Recherche, Formation et Intervention Psychosociologiques.

    FranciscoMartinsUniversidade Catlica de Braslia - Universidade de Braslia

    Professor na Graduao e na Ps-graduao da Universidade Catlica de Braslia. Professor Titular aposentado da Universidade de Braslia e Pesquisador Colobaorador Senior doDepartamento de Psicologia Clinica e do PPG PsiCC. Mestrado em Psicologia pela UnB (1982). Mestrado (1984) e Doutorado em Psicologia, Universidade de Louvain (1986). Ps-doutorado na Universidade de Louvain (1998) e Kent University (Inglaterra). Temas de pesquisa: psicopatologia; psicoterapia; sade mental; linguagem, atos de fala, metfora; placebo e processos de cura. [email protected]

    GilbertoSafraUniversidade de So Paulo

    Professor Titular do Instituto de Psicologia (USP). Professor assistente doutor da PUC/SP. Graduao em Psicologia (1976), mestrado em Psicologia Clnica pela Universidade de So Paulo (1984) e doutorado em Psicologia Clnica pela Universidade de So Paulo (1990). Coordenador do LET- Laboratrio de Estudos da Transicionalidade e do Instituto Sobornost. Temas de pesquisa: psicanalise, psicanalise-clinica-winnicott, psicologia, psicanalise-winnicott e pesquisa- psgraduao.

  • 16

    GluciaRibeiroStarlingDinizUniversidade de Braslia - UnB

    Professora do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Graduao em Psicologia, UFMG. Especializao em Sade Coletiva pela Escola de Sade de Minas Gerais/UFMG/FIOCRUZ. Mestrado e Doutorado no Marriage And Family Therapy Program - United States International University/Alliant International University, EUA. Temas de pesquisa: famlia; casamento contemporneo; interao gnero, casamento e trabalho; gnero e violncia; gnero e sade mental. [email protected]

    IlenoIzdiodaCostaUniversidade de Braslia - UnB

    Professor Adjunto do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Coordenador do Grupo Personna - Estudos e Pesquisas sobre perverso, psicotia e criminalidade e do Grupo de Interveno Precoce nas Psicoses - GIPSI. Presidente da Associao de Sade Mental do Cerrado (ASCER). Temas de pesquisa: psicoses, esquizofrenia, psicopatologia, sade mental, psicoterapias, psicanlise, famlia, casal, teoria sistmica, filosofia da mente e da linguagem, interveno precoce nas psicoses, polticas pblicas em sade mental, lcool e outras drogas, luta antimanicomial e reforma psiquitrica. [email protected]

    JananaFranaUniversidade de Braslia - UnB

    Doutoranda do Programa de Psicologia Clnica e Cultura, PCL/IP/UnB. Pesquisadora do Laboratrio de Psicopatologia e Psicanlise. Membro da equipe da pesquisa Preveno em Parentalidade: estudo comparativo intercultural. Psicloga. [email protected]

  • 17Sobre os autores

    JliaSursisNobreFerroBucher-MaluschkeUniversidade Catlica de Braslia

    Doutora em Psicologia e Sexologia pela Universidade Catlica de Louvain, Blgica; Fullbright Scholar na St. Johns University, New York, EEUU. Ps-doutorado na Universidade de Tbigen, Alemanha. Professora Emrita da Universidade de Braslia, UNB. Professora da Ps-graduao em Psicologia - UCB. Docente colaboradora do PPGPsiCC. Coordenadora do GT: Famlia, Processos de Desenvolvimento e Promoo da Sade da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Psicologia ( ANPEPP). [email protected]

    KarlChristophKpplerTechnische Universitt Dortmund

    Psiclogo, Albert-Ludwigs-Universitt Freiburg (1987). Mestrado Childrens Rights - Universite de Fribourg (2004). Mestrado Psicologia (1990) e Doutorado em Psicologia - Albert-Ludwigs-Universitt Freiburg (1994). Diretor do Conruhr Amrica-Latina - Universittsallianz Metropole Ruhr. Professor - Technische Universitt Dortmund.

    LasMacdoVilasBoasUniversidade de Braslia

    Mestranda do Programa de Ps-graduao em Psicologia Clnica e Cultura . Bolsista de Mestrado - CNPq. Psicloga.

    LeticiadeLunaFreireUniversidade Federal Fluminense - UFF

    Psicloga. Pesquisadora da UFF. Doutorado em Antropologia, UFF. Mestrado em Psicologia Social, UERJ.

  • 18

    LianaFortunatoCostaUniversidade de Braslia

    Professora do Programa de Ps-graduao em Psicologia Clnica e Cultura - PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Psicloga. Terapeuta Conjugal e Familiar. Psicodramatista. Doutora em Psicologia Clnica pela USP. Ps-doutorado em Psicossociologia Histria de Vida, UFF. Temas de pesquisa: relaes interpessoais; famlia; abuso sexual; comunidade; adolescncia; excluso social; e violncia sexual. [email protected]

    LucianaRibeiroBarbosaUniversidade Federal Fluminense - UFF

    Psicloga. Curso de Especializao em Sade da Famlia pela ENSP - Escola Nacional de Sade Pblica Srgio Arouca, FIOCRUZ. Trabalha no NASF-Ncleo de Apoio Sade da Famlia (Janaba-MG).

    LuizAugustoMonneratCeles Universidade de Braslia

    Pesquisador Colaborador Senior Programa de Ps-Graduao em Psicologia Clnica e Cultura (IP-UnB). Professor Titular aposentado do Departamento de Psicologia Clnica da UnB, tendo atuado na graduao, ps-graduao estrito senso e lato senso. Doutor em Psicologia Clnica - PUC-Rio. Ps-doutorados - UCL, Blgica, 1996; PUC-SP, 2003; PUC-Rio, 2010. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Temas de pesquisa: clnica psicanaltica, temporalidade, sexualidade, pulso, Freud e processos de subjetivao. [email protected]

    LuizFelipeCasteloBrancodaSilvaCentro de Ateno Psicossocial em lcool e outras Drogas - Sobradinho II, DF

    Mestre em Psicologia Clnica e Cultura (PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Terapeuta Familiar e de Casais (PUCGO); Especialista em Teoria e Prtica Junguiana (UVA-RJ); Gerente do CAPSad-Sobradinho II, Distrito Federal. Docente do Centro Regional de Referncia - Universidade de Braslia.

  • 19Sobre os autores

    MarceloTavaresUniversidade de Braslia

    Professor Adjunto do Departamento de Psicologia Clnica e do PPG PsiCC/ PCL/IP/UnB. Graduao em psicologia - UFMG. Mestre e Doutor em Psicologia Clnica - United States International University. Especialista em Psicanlise - Teorias das Relaes Objetais, Washington School of Psychiatry. Coordenador do Ncleo de Interveno em Crise e Preveno do Suicdio desde 1995. Membro do Grupo de Trabalho para implantar a Estratgia Nacional de Preveno ao Suicdio do Ministrio da Sade, Brasil (2005- 2006). Membro da Comisso Consultiva em Avaliao Psicolgica do Conselho Federal de Psicologia. Temas de pesquisa: psicoterapia; interveno em crise e seus temas correlatos - a psicopatologia, o psicodiagnstico clnico, as tcnicas de interveno, e a preveno em Sade Mental. [email protected]

    MrciaCristinaMaessoUniversidade de So Paulo

    Doutora em Psicologia Clnica pelo Instituto de Psicologia da USP. Psicanalista. Ps-doutoranda do Programa de Psicologia Clnica e Cultura IP/ UnB. [email protected]

    MrciaTeresaPorteladeCarvalhoUniversidade de Braslia

    Pesquisadora Colaboradora Plena do Laboratrio de Subjetivao e Psicanlise. Professora Substituta do Departamento de Psicologia Clnica. Doutora em Psicologia Clnica e Cultura (UnB), Especialista em Teoria Psicanaltica e Gestalt Terapia. [email protected].

    MarcosCsardaRochaSalemaUniversidade Federal Fluminense - UFF

    Psiclogo.

  • 20

    MariaAparecidaPensoUniversidade Catlica de Braslia

    Professora do Programa de Ps-Graduao em Psicologia, UCB. Psicloga. Doutora em Psicologia pela Universidade de Braslia. Ps-doutorado no Programa de Ps-graduao em Psicologia, Universidade Federal Fluminense. Assessora Tcnica do Ncleo de Sade do Adolescente da Secretaria de Sade do Distrito Federal. [email protected]

    MariaCiciliadeCarvalhoRibasUniversidade Federal de Pernambuco

    Professora Adjunta de Psicologia do CAV-UFPE.Doutora em Psicologia Clinica, Universite Paris 5. Pesquisadora colaboradora do projeto de pesquisa Preveno em Parentalidade: estudo comparativo intercultural. [email protected]

    MariadoRosrioDiasVarelaUniversidade Paulista Campus Braslia

    Professora titular e coordenadora do Curso de Psicologia/Unip/Braslia. Psicloga e psicanalista. Doutora em Psicologia Clnica e Cultura. Pesquisadora do Projeto Preveno em Parentalidade: estudo comparativo intercultural conjuntamente com o Laboratrio de Psicopatologia do IP/UnB. [email protected]

    MariaFtimaOlivierSudbrackUniversidade de Braslia

    Professora Titular do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/ PCL/IP/UnB. Coordenadora do Programa de Estudos e Ateno s Dependncias Qumicas PRODEQUI. Doutora- Psicologia, Universit de Paris XIII. Ps-Doutora em Psicossociologia, Universit Paris VII. Especialista - Terapia Familiar e Psicologia Jurdica , CEFA- Centre dEtudes de la Famille/Paris). Coordenadora - Comit Gestor do Programa de Proteo de Adolescentes Ameaados de Morte/PPCAAM/ DF. [email protected]

  • 21Sobre os autores

    MariaInsGandolfoConceioUniversidade de Braslia

    Professora do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Psicloga. Especialista em Psicologia Hospitalar. Psicodramatista. Doutora em Psicologia, UnB. Ps-doutorado, UFF. Bolsista de Estgio Snior da CAPES-University of Toronto. Coordenadora do Laboratrio de Famlia, Grupos e Comunidades. Pesquisadora do Programa de Estudo e Ateno s Dependncias Qumicas. Temas de pesquisa: drogadio, adolescentes em conflito com a lei, violncia, mtodos qualitativos em pesquisa, incluso social, psicodrama e sociodrama, fatores de risco, sade e reabilitao. [email protected]

    MariaIzabelTafuriUniversidade de Braslia

    Professora Adjunto - Departamento de Psicologia Clnica/IP/UnB. Doutora em Psicologia, USP. Psicloga e Psicanalista. Coordenadora no Brasil da Pesquisa internacional Preveno em Parentalidade: estudo comparativo intercultural. Pesquisadora do Laboratrio de Psicopatologia e Psicanlise, IP/UnB. Membro Fundador da ABEBE - Associao Brasileira de Estudos sobre o Beb. Membro Fundador da ABRAFIPP. Presidente da ABENEPPI/DF. [email protected]

    MassimoAmmanitiUniversidade de Roma La Sapienza

    Professor de Psicopatologia do Desenvolvimento. Membro do Board of Directors della World Association of Infant Mental Health (WAIMH). Presidente da Associazione Italiana per la Salute Mentale Infantile. Psicanalista da International Psychoanalytical Association. [email protected]

    MauricioS.Neubern Universidade de Braslia

    Professor Adjunto do Departameto de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Doutor em Psicologia pela UnB, com estgio sanduche no Laboratoire de Changement Social, Universit Paris VII. Temas de pesquisa:

  • 22

    Complexidade das Relaes Teraputicas, hipnose, dores crnicas, epistemologia da clnica, psicoterapia, religio, sistemas culturais de cura e cuidado, corpo, subjetividade e cultura. Vice-presidente da Associao Brasileira de Hipnose. Fundador do Instituto Milton Erickson de Braslia. [email protected]

    MeirilaneNavesUniversidade de Braslia

    Doutoranda em Psicologia Clnica e Cultura. Mestre em Psicologia Clnica e Cultura. Membro do Ncleo de Interveno em Crise e Preveno do Suicdio. Graduao em psicologia, UFU. Integrante do Programa de Promoo da Sade Integral da UnB, Coordenadoria de Interveno em Crise (desde 2003) funes: Coordenadora Executiva (20032009), Coordenadora Clnica (20102011) e Supervisora Institucional (2011-2012). Bolsista do Projeto REUNI (20092010). [email protected]

    NerciaReginadeCarvalho SilvaUniversidade Federal do Maranho

    Psicloga Clnica da UFMA. Especialista em Biotica (UnB). Mestre em Psicologia Clnica e Cultura, PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Ex-integrante do GIPSI - Grupo de Interveno Precoce nas Psicoses.

    RaquelCairusSecretaria de Estado do Desenvolvimento Social - GDF

    Psicloga da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social do Governo do Distrito Federal. Mestre em Psicologia Clnica e Cultura. [email protected]

    RoqueTadeuGuiDoutor em Psicologia Clnica e Cultura, PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Mestre em Psicologia pela Universidade de Braslia (UnB). Psiclogo e psicoterapeuta junguiano. [email protected]

  • 23Sobre os autores

    SheilaGiardiniMurtaUniversidade de Braslia

    Professora Adjunta e Orientadora no PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Doutora em Psicologia Social e do Trabalho, UnB. Estgio de doutoramento na Queensland University of Technology - Brisbane, Austrlia. Ps-Doutorado, UFSCar. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Temas de pesquisa: desenvolvimento e avaliao de programas de preveno primria a riscos para transtornos mentais e promoo de competncias associadas sade mental. [email protected]

    TainPintoMestre em Psicologia Clnica e Cultura, PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Psicloga. [email protected]

    TaniaRiveraUniversidade Federal Fluminense Universidade de Brasilia

    Professora da UFF e Professora Colaboradora do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Graduao em Psicologia pela UnB. Mestrado e Doutorado em Psicologia pela Universit Catholique de Louvain, Blgica. Ps-Doutorado em Artes Visuais na escola de Belas-Artes, UFRJ. (2006). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Psicanalista. Atua nas reas de teoria e clnica psicanalticas e fundamentos e crtica das. [email protected]

    TeresaCristinaOthenioCordeiroCarreteiroUniversidade Federal Fluminense - UFF

    Professora titular do Programa de Ps-graduao em Psicologia. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Graduada em Psicologia, PUC/RJ. Doutorado em Psicologia Social Clnica - Universite de Paris VII. Ps-doutorado em Sociologia Clinica, Universit de Paris VII. Coordenadora do Laboratrio NUPESV-UFF. Associada ao Laboratoire de Changement Social e ao Institut Internacional de Sociologie Clinique, Frana. [email protected]

  • 24

    TerezinhadeCamargoVianaUniversidade de Braslia

    Professora Associada do Departamento de Psicologia Clnica e Coordenadora do Programa de Ps-graduao em Psicologia Clnica e Cultura. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Coordenadora do Curso de Especializao em Teoria Psicanaltica Psicloga Clnica. Doutorado (USP). Ps-doutorados: Antropologia (UNICAMP) e Psicologia Clnica - Instituto Superior de Psicologia Aplicada, ISPA-Lisboa. Temas de Pesquisa: psicanlise, subjetivao, teoria psicanaltica, transtornos alimentares, feminilidade, cultura, esttica, literatura, arte e psicoterapia. [email protected]

    TerezinhaFres-CarneiroPontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro

    Professora Titular. Graduao em Psicologia, PUC/RJ. Especializao em Psicologia Clnica - Interveno Familiar, PUC/RJ. Mestrado em Psicologia Clnica pela PUC/RJ. Doutorado em Psicologia Clnica pela PUC/SP. Ps-doutorado pela Universidade de Paris V-Sorbonne. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Tem experincia na rea de Psicologia, com nfase em Tratamento e Preveno Psicolgica. Temas de pesquisa: avaliao familiar, entrevista familiar, pesquisa em psicologia. [email protected]

    ValeskaZanelloUniversidade de Braslia

    Professora Adjunta do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Graduao em Psicologia (1997), graduao em Filosofia (2005) e doutorado em Psicologia pela UnB (2005), com perodo de doutorado-sanduche no Instituto Superior de Filosofia, Universithe Catholique de Louvain/Blgica (2004). Especializao em Psicopedagogia pela UFRJ (1999) e em Filosofia e Existncia pela UCB (2007). Temas de pesquisa: Sade mental, Psicopatologia, Gnero, Psicanlise e Filosofia da Linguagem. [email protected]

  • 25Sobre os autores

    VeraLuciaDecnopCoelhoUniversidade de Braslia

    Professora aposentada e Pesquisadora Colaboradora Plena do Departamento de Psicologia Clnica e do PPGPsiCC/PCL/IP/UnB. Graduao em Psicologia pela UFF. Mestrado em Psicologia, FGV/RJ. Mestrado e Doutorado em Psicologia - Case Western Reserve University. Temas de pesquisa: envelhecimento, com nfase em questes psquicas e scio-culturais da maturidade e da velhice; estratgias de preveno, promoo e tratamento em sade mental de idosos e seus familiares no contexto do Sistema Pblico de Sade; modalidades de interveno grupal de carter multi/interdisciplinar. [email protected]

    ZildaA.P.DelPretteUniversidade Federal de So Carlos

    Professora Titular. Orientadora nos Programas de Educao Especial e Psicologia, Departamento de Psicologia. Graduao em Psicologia, UEL. Mestrado em Psicologia Social, UFPB. Doutorado em Psicologia Experimental, USP. Ps-Doutorado em Psicologia das Habilidades Sociais, Universidade da Califrnia. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Temas de pesquisa: relaes Interpessoais; habilidades sociais; competncia social; assertividade; prtica pedaggica; e desenvolvimento interpessoal [email protected]

  • 26

    Apresentao

    O sculo XXI se inicia sob o signo de intensas mudanas sociais e tecnolgicas. Giddens

    em Mundo em descontrole: o que a globalizao est fazendo de ns afirma que vivemos

    em um mundo em descontrole e que tal descontrole produto de dinmicas ligadas

    globalizao e aos processos econmicos e sociais que lhe do sustentao. Tais movi-

    mentos influenciam profundamente a vida cotidiana, mudam a vida social e as formas

    de insero no mundo do trabalho e transformam, tambm, a vida privada e os proces-

    sos afetivo-relacionais.

    A preocupao com esse embate entre velhos e novos modelos e seu impacto sobre a

    condio humana e social marca a produo cientfica em reas como a psicologia, a

    sociologia, a histria, a literatura, dentre outras. Atravessa continentes e busca desnu-

    dar a complexidade de fatores que afetam a vida contempornea. Reflexes de Giddens

    (2005) e de Jablonski (1991/1998) um ingls, o outro brasileiro; um escrevendo na

    metade da primeira dcada do sculo XXI e o outro problematizando processos que j

    anunciavam mudanas e rupturas em nossa forma de viver ao longo da ltima dcada

    do sculo XX constituem exemplos desse comprometimento. Ambos os autores cha-

    mam ateno para o fato que vivemos em um mundo que privilegia o instante, a rup-

    tura, o descartvel, as novidades, ou seja, tudo que revele desapego e que se oponha a

    qualquer ideia de permanncia. O fato que o acesso a formas de comunicao rpidas

    est a alterar o modo de funcionar das pessoas e suas expectativas pessoais, relacionais

    e sociais (Diniz, 2012).

  • 27Apresentao

    Vivemos, portanto, em um novo tempo pautado pela secularizao da vida, pela minimi-

    zao dos preceitos e da moral religiosa, pelo aumento da longevidade, pelo surgimento

    de novas tecnologias de fertilizao e de controle da natalidade. Tudo isso, associado

    s mudanas nos eixos estruturantes das relaes, ou seja, ao valor dado ao afeto e ao

    amor, sexualidade, individualidade, ao sucesso pessoal, profissional e financeiro,

    satisfao obtida na relao e no trabalho, tem produzido impactos profundos em todas

    as reas da vida (Diniz, 2012; Jablonski 1991/1998).

    Ao revisitar e refletir sobre trabalhos que pautaram a construo de uma suposta identi-

    dade cultural brasileira, Rago (2006) aponta que esses tinham em comum a busca por

    pontos fixos, por uma essencia, oculta nas profundezas da terra e da psique (pg. 4).

    No entanto, a autora contundente ao afirmar que:

    (...) as constantes desterritorializaes a que somos expostos cotidianamente tm abalado to profundamente o sentimento de pertencimento a um grupo fixo, como a Nao; que necessitamos de outros operadores conceituais para a compreenso do presente, para nos situarmos no mundo e, tambm, para reorganizarmos nosso espao interno, delimitando a constituio de novas subjetividades fugazes e mutantes, antes impensveis (pg. 4).

    Tais mudanas colocam vrios desafios para ns, psiclogos. Koocher (2007) aponta

    que um deles (re) pensar o papel social da psicologia e sua misso de contribuir para

    a sade e o bem estar das pessoas. Outro desafio, segundo o autor, considerar como

    as novas tecnologias vo afetar a forma de prestao de servios distncia e por meios

    eletrnicos. E uma vez que esses dois processos nos colocam desafios ticos, o autor nos

    convida a (re) ver nossas responsabilidades enquanto pessoas e profissionais.

    O Programa de Ps-graduao em Psicologia Clnica e Cultura, ao eleger o debate entre a

    Clnica e as vrias dimenses da Cultura como o eixo articulador de sua estrutura de

    ensino e pesquisa, assume o compromisso claro de contribuir com essa reflexo. O

    livro que ora apresentamos Psicologia Clnica e Cultura Contempornea tem a pretenso

    de lanar luz sobre a multiplicidade de possibilidades de se pensar e fazer a psicologia

    clnica na atualidade.

    Falemos brevemente como estruturamos Psicologia Clnica e Cultura Contempornea.

    Como linhas a entrelaar os discursos, esto os produtos do conhecimento gerado por

    projetos de pesquisa abrigados nas quatro linhas de pesquisa do PPGPsiCC 1. Pro-

  • 28

    cessos Interacionais no Contexto do Casal, da Famlia, do Grupo e da Comunidade; 2.

    Psicanlise, Subjetivao e Cultura; 3. Psicopatologia, Psicoterapia e Linguagem; 4. Sa-

    de Mental e Cultura. Contudo, tal disposio primeira de organizao no se pretende

    restrita ao nosso programa de ps-graduao. Temos que dizer que nossa produo

    construda num contexto de permanente de interlocuo e de estabelecimento de redes

    e parcerias com colegas de outras universidades do pas e do exterior buscamos evi-

    denciar esta faceta em diferentes trabalhos. Dessa forma, podemos dizer que o conjunto

    dos trabalhos apresentados permite um debate significativo e ampliado e no cenrio da

    psicologia clnica.

    As pesquisas psicoclnicas sobre a realidade brasileira contempornea exigem ateno

    especial. Os dados censitrios e dados referentes s polticas pblicas e s diretrizes ju-

    rdicas oferecem um parmetro importante de anlise de mudanas que vm ocorrendo

    em diversas reas da vida. Resultados do Censo Brasileiro do ano de 2010 foram articu-

    lados com resultados de outras pesquisas para apresentar desafios e dilemas que mar-

    cam a conjugalidade contempornea. A situao de crianas e adolescentes analisada

    do ponto de vista de um aparato jurdico de acolhimento e preveno de excluso social.

    Refletir sobre dispositivos polticos e examinar as proposies c diretrizes presentes

    nas polticas pblicas voltadas para a proteo integral de crianas, de adolescentes, da

    mulher e das famlias uma tarefa presente em vrios momentos de Psicologia Clnica

    e Cultura Contempornea. Alm de problematizar aspectos das Polticas Nacionais vol-

    tadas para esses grupos, os/as autores/as discutem as possibilidades de insero e os

    limites que essas polticas colocam para a atuao de psiclogos.

    Ainda com relao situao de crianas, de adolescentes e de jovens configuram-se

    importantes reas de estudos: os distrbios alimentares presentes na primeira infncia,

    desafios do autismo infantil, pesquisa internacional que explora a constituio da pa-

    rentalidade no mundo atual constituem algumas das temticas endereadas. No texto

    que abre Psicologia Clnica e Cultura Contempornea, dados de pesquisa sobre a histria

    laboral de jovens deixam claras as implicaes de viver em um cenrio de competio,

    de dificuldade de acesso ao trabalho, de instabilidade e precariedade que podem gerar o

    medo constante do desemprego. A vida nas ruas, mltiplas formas de trabalho infantil,

    assim como outras vrias circunstncias que levam ao uso e ao trfico de drogas, foram

    temas objeto de pesquisas-intervenes.

  • 29Apresentao

    As violncias, dentre elas o abuso sexual, ocupa um espao importante tanto na mdia

    quanto na academia. O estudo de dinmicas conjugais e familiares constitui uma ferra-

    menta fundamental para a compreenso das manifestaes da sexualidade e da violn-

    cia, em especial de fatores que geram situaes de abuso sexual de meninos e meninas.

    Pesquisa- interveno realizada com adolescentes que cometeram abuso sexual e suas

    famlias aponta o uso do Grupo Multifamiliar como estratgia eficaz para conhecer o

    pensamento e a realidade de vida desses adolescentes e de suas famlias. Ao mesmo

    tempo, essa tcnica permite criar um contexto propcio reviso dos parmetros fami-

    liares, sociais e culturais que permeiam a construo da identidade masculina para que

    os jovens possam encontrar formas adequadas de exerccio de sua sexualidade.

    H que se dizer, tambm, que sexualidade pensada em perspectivas diversas em Psico-

    logia Clnica e Cultura Contempornea. A constituio da sexualidade problematizada,

    com diferentes nfases, em textos de orientao psicanaltica. Outra vertente parte de

    uma crtica aos modelos heteronormativos. Com base em uma perspectiva de gnero,

    questiona-se as prticas culturais que estabelecem modelos rgidos para os papis de

    gnero, que categorizam como desviante uma orientao sexual que no seja heteroafe-

    tiva. Interessa psicologia clnica, em sua articulao com uma crtica aos parmetros

    culturais normativos e hegemnicos, apontar os impactos do sexismo e do heterosse-

    xismo, da discriminao e dos preconceitos sobre a sade e, em especial, sobre a sade

    mental. Um segundo passo propor estratgias de aes preventivas no contexto das

    polticas pblicas.

    O dilogo crtico com as polticas pblicas envolve tambm pensar a questo das psico-

    patologias e, consequentemente, os desafios relacionados avaliao dos prdomos e a

    oferta de tratamento diante das manifestaes das primeiras crises psicticas. Torna-se

    fundamental entender o que constitui uma crise e as dimenses que atestam sua gra-

    vidade. A maneira como o/a profissional concebe a crise, influencia o modo como ele/a

    trata pessoas com sofrimento psquico grave.

    Um nmero expressivo de trabalhos de Psicologia Clnica e Cultura Contempornea rela-

    cionam-se a questes especficas que comparecem no fazer clnico e s demandas clni-

    cas na atualidade as novas patologias e tipos clnicos, a avaliao das psicoterapias, os

    instrumentais de registros e avaliaes clnicas, a discusso quanto as diferentes moda-

    lidades de interveno clnica (hipnose, psicoterapias existenciais, psicanlise, atendi-

  • 30

    mento emergencial, etc.) a psicossomtica e as questes da corporeidade, o sonhar e a

    cultura, a discusso sobre os diferentes espaos de se fazer a clinica psi.

    Novos tipos clnicos, ou seja, novas formas de subjetivao e manifestaes de adoeci-

    mento so pensadas a partir da interlocuo/sobreposio entre modos de ser e estar no

    mundo de personagens de mitos e textos clssicos e de personagens do agora, produtos

    de um cotidiano marcado por exigncias, presses e limitaes de natureza diversa.

    Um conjunto de estudos propem, com base em uma leitura psicanaltica, reflexes

    sobre a constituio do sujeito como processual e imbricada de forma indissocivel,

    cultura. A partir da pergunta Por que evocar o amor? o papel central do amor na

    dinmica entre o si mesmo e outro, na produo da coeso grupal, na constituio dos

    laos sociais, assim como na preveno das patologias narcsicas. A psicanlise tambm

    problematizada tanto como prtica clnica de subjetivao, na singularidade de cada

    sujeito, quanto como teoria e crtica da cultura. Assim as divergncias presentes no inte-

    rior da psicanlise assim como as linhas da psicanlise contempornea so exploradas.

    A riqueza de eixos tericos e metodolgicos marca a produo terica do PPGPsiCC.

    Em um dos captulos a hipnose pensada como dispositivo metodolgico em contextos

    clnicos onde as pessoas apresentam temticas de cunho espiritual. Questes explo-

    radas em Psicologia Clnica e Cultura Contempornea revelam que a pesquisa e o fa-

    zer clnico atravessam as vrias fazes do ciclo vital e de desenvolvimento; promovem

    a articulao entre diversas categorias gnero, raa, classe, idade, nvel educacional,

    condies de vida, de sade e de acesso a bens, servios, ao trabalho, lazer e cultura.

    O pessoal, o relacional e o poltico so vistos como indissociveis. O texto mostra ainda

    a importncia de entender especificidades da cultura brasileira em sua articulao com

    processos clnicos.

    Psicologia Clnica e Cultura Contempornea evidencia com propriedade a imbricada tes-

    situra entre a produo de conhecimento a pesquisa, e o compromisso da psicologia

    clnica com a construo e investigao de estratgias de atuao. Como bem aponta

    Elvia Taracena, uma das autoras deste livro, aponta uma caracterstica fundamental da

    produo de conhecimento na rea clnica, em seus mltiplos contextos: la necesidad

    de hacer una investigacion ligada al campo de la intervencion que permita caracterizar la

    complejidad del fenomeno de la vida..

  • 31Apresentao

    Em Psicologia Clnica e Cultura Contempornea, as coautorias entre docentes e discen-

    tes, entre docentes do PPG PsiCC e de outros programas no pas e no exterior, assim

    como as autorias nacionais e internacionais deixam claro que pensar as mltiplas arti-

    culaes entre a clnica e a cultura exige abertura para dilogos que revelem o encontro

    de distintas estratgias metodolgicas e perspectivas dentro do campo do saber e do

    fazer clnico. Esperamos que os vrios textos apresentados nesse livro fomentem re-

    flexes que tenham o potencial de mobilizar novos dilogos entre o grupo de autores e

    outros colegas de diversos campos de produo do conhecimento e de atuao. Ousa-

    mos desejar que o prximo volume dessa coletnea que ora se inicia, j contenha frutos

    desse dilogo ampliado!

    Desejamos a todos/as uma tima leitura!

    Terezinha de Camargo Viana

    Glucia Starling Diniz

    Liana Costa Fortunato

    Valeska Zanello

    Referncias

    Diniz, G. R. S. (2012). At que a vida - ou a morte - os separe: anlise de paradoxos das

    relaes violentas. Em Terezinha Fres-Carneiro (org). Captulo de livro no prelo. So

    Paulo: Editora Casa do Psiclogo

    Giddens, A (2005). Mundo em descontrole: o que a globalizao est fazendo de ns. Rio

    de Janeiro/So Paulo: Editora Record.

    Jablonski (1991/1998). At que a vida nos separe: a crise do casamento contemporneo.

    Rio de Janeiro: Agir.

    Koocher, Gerald P. (2007). Twenty-first century ethical challenges for psychology.

    American Psychologist, Vol 62(5), 375-384.

    Rago, M. (2006). Sexualidade e identidade na historiografia brasileira. Revista Aulas,

    Dossi Identidades Nacionais, Glaydson Jos da Silva (Org), 2.

  • 32

    Vidas fazendo histria e construindo histrias de vida

    TeresaCristinaO.Carreteiro

    Este texto composto de duas partes que se articulam. 1Na primeira parte sero discuti-

    das e problematizadas vrias perspectivas que compem o campo de estudo da histria

    de vida. O propsito traar aproximaes entre estas discusses com a perspectiva

    terica e metodolgica denominada Romance Familiar e Trajetria Social. A segunda

    parte discorrer sobre uma pesquisa que teve por objeto a histria de vida laboral de jo-

    vens. Sero debatidas duas zonas de sentido, fruto da anlise: a obrigao de se adquirir

    muitas formaes acadmicas e o servio pblico como campo de projetos profissionais.

    Histria,histriadevidaenarrao

    Todo indivduo participa da construo de uma pluralidade de campos histricos: do

    grupo familiar, comunitrio, social, entre outros. Aqui a referncia ao indivduo con-

    1 Conferncia dada como Aula Inaugural no Programa de Ps graduao em Psicologia Clnica e Cultura, Universidade de Brasilia, em novembro de 2012.

  • 33Vidas fazendo histria e construindo histrias de vida

    siderada de modo bastante amplo, tanto aqueles que so invisibilizados pela socieda-

    de, quanto os que so visibilizados, ou os que tm uma hiper visibilidade. Pensamos

    que a Histria no feita s pelos poderosos, mas por todos os humanos. Ela uma

    construo e enquanto tal ela se presta a mltiplas interpretaes e leituras. A Histria

    est sempre sendo construda e reconstruda, como qualquer outra disciplina social ou

    humana, recebe influencias da conjugao de foras que se apossam dela e de outras

    foras que lutam por faz-lo (Deleuze, 1962).

    Se deslocarmos as ideias sobre as foras histricas e sociais para o plano dos sujeitos,

    diremos que elas tm influencias nas construes das subjetividades. No entanto, exis-

    tir uma relao dialtica continua entre ser influenciado pelas produes da histria

    e influenciar as mesmas. Deste modo as vrias modalidades interpretativas histricas

    e sociais e as construes subjetivas esto sempre podendo passar por reconstrues.

    Uma das ideias exposta por Freud em Psicologia das Massas e anlise do eu que as

    relaes que interferem no indivduo desde a sua infncia so tambm relaes sociais.

    Ele diz a conhecida frase: Na vida psquica do indivduo considerado isoladamente o

    outro intervm regularmente como modelo, objeto, suporte e adversrio. Por este fato

    a psicologia individual ao mesmo tempo, e simultaneamente, uma psicologia social

    (Freud, 1981, p. 123). Pode-se desmembrar esta ideia em outras (Carreteiro, 1993): - a

    identificao, qualquer que seja ela, j traz um social incorporado e as grandes noes

    do pensamento freudiano (pulses, fantasias, projees etc.) no podem ser circunscri-

    tas unicamente na perspectiva do pensamento individual, agem igualmente no campo

    social.

    A narrativa uma modalidade de compreenso das condies scio histricas de pro-

    duo de vida dos sujeitos humanos. Ela permite observar o conjunto de eixos que

    intervm nas histrias de vida (psquicos, familiares, coletivos, sociais, econmicos e

    tantos outros). atravs da articulao entre as diversas dimenses que atravessam o

    indivduo que a construo subjetiva se faz, mantendo sempre certo nvel de abertura,

    visto que a vida nas suas vrias dimenses continua sempre pulsando.

    A narrativa oral ou escrita um principio de expresso do ser vivo, que narra seus suces-

    sos, evoca suas experincias, sentimentos e emoes, sempre vinculados a seu universo

    social (Enriquez, 2002, p. 36). A anlise da histria de vida vai buscar compreender o

  • 34

    trabalho da incorporao da herana ligada s origens sociais, familiares e institucio-

    nais. Ela permite estudar as modalidades, de como a histria coletiva tem influncia

    sobre os destinos individuais (Gaulejac, 2005).

    Diversos campos tericos estudam as narrativas de vida (Pineau & Le Grand, 1993). Nes-

    te texto nos focalizaremos sobre o denominado Romance Familiar e Trajetria Social

    (Gaulejac & Levy, 2000), que faz uma vinculao entre o que da ordem do psquico

    e o que da ordem do social. Mas, antes de abord-lo, percorreremos perspectivas que

    tm proximidades tericas e que auxiliam a melhor adentrar o campo de nosso estudo.

    A perspectiva etno sociolgica, na qual se situa Bertaux (1971, 1980), tem por objetivo

    estudar um fragmento particular de realidade social histrica, compreender como ele

    funciona e como se transforma, enfocando as configuraes das relaes sociais, os

    mecanismos, os processos, as lgicas de ao que o caracterizam. Em sua obra, Bertaux

    prope chamar a histria de vida de abordagem biogrfica (approche biographique).

    Esta denominao ressalta a construo progressiva de uma nova abordagem sociolgi-

    ca, a qual permite conciliar observao e reflexo. Estudando as questes voltadas para

    o trabalho, prope denominar as narrativas de vida como narrativas de prticas. Sugere

    que elas sejam compreendidas no como um objeto nico, do qual se busca apreender o

    sentido, mas sim como um conjunto de relaes pessoais e interpessoais. As narrativas

    de prticas permitem a reconstruo da lgica de produo destas prticas e sua vincula-

    o nas relaes sociais. Cada narrativa de prtica concebida como a de um ser huma-

    no, que influenciado sucessivamente por diferentes subconjuntos de relaes sociais.

    A narrativa de prtica favorece a observao do processo de distribuio dos seres hu-

    manos nas relaes sociais, o qual Bertaux denomina processo de antropo-distribuio.

    Concebe a produo antroponmica como a produo da energia humana (Bertaux,

    1973), tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo (concretizao na prxis.

    Ex: energia do arteso, do homem de negcios, da dona de casa, entre outros). A fam-

    lia, para o autor, o lugar principal de produo antroponmica. No se refere fam-

    lia no sentido global, mas especfico: operria, burguesa, camponesa, entre outras. As

    relaes, que determinam as prticas de cada uma delas, so diferentes. O que vai ser

    determinante a vinculao das famlias nas relaes de classe.

  • 35Vidas fazendo histria e construindo histrias de vida

    O ser humano vai ser portador da maneira como ele produzido. Pode-se, deste modo,

    afirmar que ele portador de traos de prticas. Esta questo importante, pois toda

    narrativa contm elementos que se vinculam a forma como o narrador se insere no es-

    pao social do qual faz parte. A ideia implcita que a perspectiva social tem uma forte

    influncia na construo do humano, e as modalidades de prticas sociais so incorpo-

    radas ao sujeito.

    atravs das narrativas que o sentido que os indivduos do para suas aes vai poder

    ser apreendido. Toda narrativa far referncias, implcitas ou explcitas, a diversos per-

    tencimentos sociais, a uma variedade de instituies, grupos (famlia, escola, trabalho,

    vida associativa, amigos etc.) e organizaes. Deste modo, a dimenso coletiva est sem-

    pre presente na narrativa. Quando ela oral se dirige sempre a um outro, seja o ouvinte

    uma pessoa, um grupo ou ainda um pesquisador. Quando escrita, pode, ou no, ser

    dirigida a um pblico bem especifico, como o citado acima.

    Quando estudamos a histria de vida podemos dizer que a narrativa autobiogrfica

    uma prtica humana (Ferrarotti, 1983). Ferrarotti considera, se inspirando em Sartre,

    que toda prtica individual humana uma atividade sinttica, uma totalizao ativa do

    conjunto do contexto social. Uma vida uma prtica que se apropria de relaes sociais,

    as interiorizando e as retransformando em estruturas psicolgicas, atravs da atividade

    de desestruturao-reestruturao. Em cada um de nossos atos, sonhos, delrios e com-

    portamentos, encontramos o sistema social. Para este autor, todo indivduo um plo

    ativo na rede de relaes. Quando afirma que ele tem uma prtica sinttica quer signi-

    ficar que ele se apropria do social, o midiatizando, o filtrando e o projetando em outra

    dimenso, ou seja, a dimenso de sua subjetividade.

    Porque pensamos que a narrao da histria de vida permite conhecer no s os in-

    divduos, mas ainda o contexto social no qual eles foram produzidos? Pois Se cada

    indivduo representa a reapropriao singular do universo social e histrico que o cerca,

    poderemos conhecer o social partindo da especificidade irredutvel de uma prtica in-

    dividual (Ferrarotti, 1983, p. 51). Por isto o autor considera ser possvel conhecer uma

    sociedade atravs de uma biografia, o que se desdobra na ideia de que uma biografia

    no unicamente a narrativa de experincias vividas por um indivduo, mas ela se apre-

    senta tambm como uma microrrelao social.

  • 36

    Consideramos que a escuta e a anlise das narrativas biogrficas devem poder estar

    atentas a vrios aspectos: as zonas cronificadas que se repetem, assim como as sinaliza-

    es de movimentos espontneos e novos que participam de sua construo. A escuta

    plural vai ser sensvel pluralidade de dimenses que compem as narrativas. Por elas

    no serem unificadas, mas poliformes, a escuta deve poder detectar as nuances que as

    compem. Elas tm sincronias, ambiguidades, contradies e ainda vrias oscilaes

    pulsatrias, mesmo que estas sejam difceis de serem apreendidas. a escuta sensvel

    que vai poder detectar estas dimenses e buscar, junto com o narrador, construir sen-

    tidos. Estes no devem ser postulados como fixos, pois so sempre passveis de serem

    reconstrudos. Os sentidos no so visto como compondo verdades, mas hipteses, que

    mudam segundo as foras que as atravessam. Aqui seguimos Morin (1990), para quem

    os fenmenos so sempre muito mais complexos do que podemos apreender. Enriquez

    (2002) tambm ajuda a pensar esta questo, ao afirmar que todo fenmeno ter zonas

    de desconhecimento. Estes dois autores ajudam a se ter uma posio de humildade na

    elaborao de sentidos.

    A narrativa ter sempre um interlocutor real ou imaginrio (Rhaume, 2012). A dimen-

    so relacional funciona como um suporte de acolhimento da produo da narrativa.

    Deve-se considerar que lugar social e simblico se est ocupando e a quem se fala (tanto

    a dimenso psquica, quanto social). Enfim, existe um conjunto de foras que partici-

    pam na construo narrativa.

    As formas e os contedos que se desenvolvem ao longo da narrativa tm uma relao

    com o interlocutor e com o tipo de vnculo estabelecido entre o que escuta e o que narra

    sua vida. No caso de uma pesquisa entre entrevistado e entrevistador, se forma uma

    espcie de feedback circular.

    A histria s acessvel pela memria, que coletiva e simblica. A memria sempre

    percebida em uma perspectiva dinmica, ela est sempre sendo reconstruda, seu senti-

    do buscado atravs de um trabalho de interpretao, que determinado pela situao

    atual daquele que narra sua histria e do conjunto de circunstncias presentes, na qual

    se inclui a relao com o pesquisador. Entre os elementos presentes esto tambm as

    exigncias do inconsciente. O trabalho da memria no existe sem o do luto e da perda.

    Ricoeur nos diz que estes trabalhos afetam nossos esforos para narrar de outros mo-

    dos nossas histrias de vida, sejam elas individuais ou coletivas (Ricur, 2004, p. 2).

  • 37Vidas fazendo histria e construindo histrias de vida

    neste ponto que podemos introduzir a perspectiva do Romance Familiar e Trajetria

    Social (RFTS) (Gaulejac, 2002). Ao mesmo tempo em que ela tem proximidades com

    as outras abordagens descritas, ela articula as dimenses scio histricas s exigncias

    do inconsciente. Poder pensar no engendramento destas dimenses nos faz evitar cair

    em posies extremas, que so de um lado o sociologismo e, do outro, o psicologismo.

    Trata-se de ter leituras mltiplas, que se vinculam e permitem anlises transdisciplina-

    res. Uma das originalidades do mtodo Romance Familiar e Trajetria Social poder

    vincular a realidade objetiva dos fatos sociais e a realidade da experincia subjetiva. A

    hiptese levantada que a histria pessoal produzida por uma multideterminao

    de fatores (psquicos, sociais, ideolgicos, econmicos, polticos, entre outros) e que a

    construo subjetiva vai depender da arte de cada sujeito de se construir em permann-

    cia a partir dos diferentes eixos que o atravessam (Carreteiro, 2002).

    Os estudos e pesquisa oriundos da abordagem RFTS mostram existir em toda narrativa

    de vida uma forte tenso entre o sujeito produto da histria (que sofre o peso da hist-

    ria) e o sujeito agente de historicidade, ou seja, aquele que quer ser autor de sua histria

    e ser reconhecido como construtor de histria.

    Perspectivasmetodolgicas

    Toda pesquisa na orientao RFTS tem uma viso de emancipao, ou seja, considera

    que os sujeitos no so informantes, mas ativos no processo de pesquisa e capazes, com

    os recursos que lhes so disponveis, de traarem hipteses sobre suas vidas, refletindo

    sobre as influncias que as determinam. Isto abre brechas para o desenvolvimento da

    funo de historicidade, que remete a compreenso, por parte dos sujeitos, dos modos

    atravs dos quais eles so produzidos pela histria e das possveis opes que tiveram

    na construo de suas trajetrias, considerando as determinaes sociais, conscientes e

    inconscientes. No possvel transformar o passado, mas sim mudar as relaes que

    se tm com ele. Neste ponto voltamos questo da memria. Ela dinmica e pode

    sempre ser mobilizada pelo presente.

    A viso de emancipao que existe nestas pesquisas nos remete a um outro elemento:

    as transformaes que os narradores podem vivenciar, decorrente do trabalho sobre

    suas histrias de vida. Podem ocorrer efeitos de mudanas, mesmo quando estes no

  • 38

    foram previstos na construo da pesquisa. Outras vezes eles so esperados, quando se

    trata de uma pesquisa- interveno.

    As pesquisas sobre histria de vida tm vrios objetivos. Pode-se, por exemplo, realizar

    o desenvolvimento do conjunto de uma histria de vida, deixando que o narrador faa as

    pontuaes que julgar conveniente. Outra possibilidade pesquisar recortes precisos.

    Os exemplos so inmeros: narrativas laborais, escolares, amorosas, entre tantas ou-

    tras. Qualquer que seja a dimenso analisada importante o pesquisador ter claro que

    toda narrao uma produo. Ela sempre uma interpretao, como j dissemos, feita

    pelo narrador de parte de sua vida, que, por sua vez, ter elementos do grupo social no

    qual aquela narrativa se constri. A escuta do pesquisador tambm passar por filtros.

    importante lembrar Bourdieu (2004), quando se diz que a histria sempre narrada

    em um momento diferente de quando ela foi vivida. A narrao sempre ocorre a poste-

    riori (aprs coup) e ai ento que lhe atribumos um sentido e uma ordenao. O autor

    considera ser uma iluso atribuir s biografias uma lgica sequencial. Neste sentido, a

    ordenao biogrfica ser sempre uma construo, o que Bourdieu denomina de iluso

    biogrfica. O mundo no qual a biografia foi construda sem ordenao.

    Na maioria das vezes a pesquisa em cincias humanas no faz parte de uma encomen-

    da submetida ao pesquisador. A questo da demanda deve ento ser considerada, visto

    no ser o narrador que se dirige ao pesquisador com uma demanda de investigao. O

    que ocorre o inverso. Nestes casos podemos dizer que a demanda do pesquisador.

    ele que se voltar a determinadas pessoas e solicitar que narrem aspectos de suas

    trajetrias de vida. Takeuti (2009) considera que os pesquisadores captam demandas da

    sociedade, ou seja, de problemas que remetem a indivduos em situaes reais tensas. A

    pesquisa s se realizar em um solo profcuo se dois aspectos forem respeitados:

    Se a temtica trabalhada compuser um campo de interesse ou preocupao ao nar-

    rador. Neste caso, ao longo do desenvolvimento da(s) entrevista(s), podemos ver

    que h um compartilhamento da demanda. Se ela, no incio, pertencia ao pesqui-

    sador, medida que avana, tambm apropriada pelo narrador.

    Se houver confiana da parte do narrador no pesquisador. Ele sente isto de vrias

    maneiras. Percebe que a escuta no unicamente em relao ao que narra, mas

    que h um interesse nele enquanto sujeito. Os narradores apreendem, de algum

  • 39Vidas fazendo histria e construindo histrias de vida

    modo, quando a escuta instrumentalizada, e a diferenciam de uma escuta da

    pessoa.

    O pesquisador deve ter tanto uma ateno ao narrador quanto a sua prpria implicao

    na pesquisa. No que se refere ao primeiro, sua escuta se voltar ao que este diz, sente,

    as reflexes expostas e as formas de comunicao. Mas, ao mesmo tempo, estar atento

    repercusso que o narrador e a narrativa tm sobre ele. Aqui retomamos os termos

    psicanalticos de transferncia e contra transferncia na pesquisa, levando tambm em

    considerao os elementos scio histricos. Os elementos transferncia e contra trans-

    ferncia no so alvos diretos do trabalho de pesquisa, mas podem orientar a elaborao

    reflexiva do pesquisador e o tipo de interao que ele mantm com o narrador. Dito de

    outro modo, o trabalho de pesquisa no feito sobre a transferncia e a contra transfe-

    rncia, mas estes elementos devem ser considerados (Revault dAllonnes, 1989).

    Entre os objetos metodolgicos podem ser construdos suportes mediadores que fa-

    cilitam a produo da narratividade. Alguns auxiliam a objetivao da histria de vida

    (rvore genealgica, fotos, correspondncias, entre outros), outros auxiliam a expressi-

    vidade, como os desenhos e as dramatizaes (Penso, Conceio, Costa & Carreteiro,

    2012). Muitos destes mediadores, em um primeiro tempo, servem como tela objetiva ou

    projetiva. Eles so executados em um momento e, s posteriormente, se solicita que se

    comente sobre o que foi produzido. Os suportes so importantes, pois criam uma dis-

    tncia em relao ao vivido. s, no segundo tempo, quando a narratividade solicitada

    que uma reflexo mais ativa engendrada.

    A construo metodolgica pode ser ento bastante variada. Ela vai depender do grupo,

    ou das pessoas que esto participando da pesquisa, e dos objetos de estudo do pesquisa-

    dor. A construo metodolgica feita em funo do objeto pesquisado.

    Umapesquisaemanlise

    Trata-se de uma pesquisa que focalizou a histria laboral. O recorte aqui apresentado se

    voltar para o projeto profissional de jovens adultos, onde este foi analisado a partir da

    metodologia de historia de vida laboral. Era solicitado aos entrevistados que narrassem

    suas trajetrias de trabalho a partir de eixos temticos, que pudessem cobrir de modo

    cronolgico os estudos e as formaes realizadas, as influncias familiares e de contex-

  • 40

    to, e as ideias referentes aos contextos empregatcios atuais. Antes de nos focarmos na

    pesquisa propriamente dita, abordaremos questes atuais relativas ao trabalho, anali-

    sando suas repercusses subjetivas.

    Axel Honnett (2000) afirma que tanto Hegel quanto Mead insistem sobre a necessida-

    de que cada indivduo tem de ser reconhecido como um sujeito singular, digno de amor,

    digno de ser considerado como um verdadeiro cidado, reconhecido pelos outros e os

    reconhecendo.

    Ter um trabalho se constitui como um dos smbolos da contribuio do indivduo para

    a sociedade em que se encontra. Sem trabalho, ou com trabalhos precrios, sem ser re-

    conhecido como digno de estima, o indivduo se qualifica como um cidado diminudo

    (Carreteiro, 1993), acendendo minimamente a estima de si. Isto gerador de sofrimen-

    to, pois ele se v distanciado dos grandes projetos da sociedade, se sente responsvel

    por seu fracasso e tem grande insegurana em relao ao futuro (Sennett, 2004). Deste

    modo, inferimos que a precariedade e a instabilidade presentes no mercado de trabalho

    so geradoras de sofrimento, pois os sujeitos temem se aproximar da figura de inuti-

    lidade social (Carreteiro, 1999), que os remete a ausncia de reconhecimento, que os

    alimenta narcisicamente.

    Ao mesmo tempo em que se refere a uma atividade econmica, o trabalho um aspecto

    central na construo subjetiva (Carreteiro & Barros, 2011; Gaulejac, 2011). O traba-

    lho, considerado na sua complexidade, envolve vrios campos da vida humana, como

    o fazer, o ter e o ser, enfim, nada lhe escapa (Gaulejac, 2011). Todo trabalhador atende

    continuamente s demandas do psiquismo e do social, o que remete a pensarmos em

    uma perspectiva clnica (Lhuilier, 2006). As prticas laborais produzem sentido se refe-

    rindo, por um lado, prpria atividade do trabalho (Clot, 2011) e, por outro, permitindo

    a construo progressiva dos sujeitos ao longo de suas vidas (Amado & Enriquez, 2011).

    As grandes mudanas ocorridas nesse ltimo quarto de sculo acarretaram um movi-

    mento em que as pessoas se responsabilizam individualmente pela situao contempo-

    rnea de desemprego, trabalho informal e instabilidade empregatcia. Percebe-se que

    se invertem cruelmente as lgicas de compreenso da situao: se retira do mercado de

    trabalho a causalidade e a localiza no indivduo, lhe atribuindo a responsabilidade, por

    exemplo, pelo desemprego. Essa uma das questes inerentes prpria organizao

  • 41Vidas fazendo histria e construindo histrias de vida

    neoliberal do trabalho. As exigncias sobre as pessoas no cessam de aumentar, dando-

    -lhes a sensao de estarem sempre aqum.

    Os cmbios acelerados nas atividades laborais tm atingido todo e qualquer trabalhador.

    Na pesquisa que mencionamos interrogamos sobre as diferenas nas formas de socia-

    lizao referentes ao trabalho de duas geraes (50-60 e 20-30) de uma mesma famlia,

    que eixos as atravessam, que representaes constroem sobre os contextos de trabalho,

    que valores lhes associam e o que transmitem ou pretendem transmitir s prximas

    geraes. O recorte que fazemos neste texto nos far abordar somente a gerao mais

    nova e destacar duas zonas de sentido (Gonzlez-Rey, 2002): A obrigao de se adquirir

    muitas formaes e O servio pblico como campo de projetos profissionais.

    Aobrigaodeseadquirirmuitasformaes

    Sennett (2004) aponta, como consequncia do novo capitalismo, a sensao de inse-

    gurana. Esta assola o conjunto da sociedade e no oferece condies para se planejar o

    futuro em longo prazo. Em face desta realidade os jovens adultos pensam, seguindo os

    ditames do mercado, que devem se equipar com cursos e formaes diversas para poder

    enfrentar o mercado de trabalho.

    Esta gerao vivncia a instabilidade empregatcia e sente a obrigao de adquirir qua-

    lificaes contnuas para ingressar, continuar ou evoluir no mercado de trabalho. H

    o sentimento de estar sempre aqum das exigncias demandadas. Pode-se aproximar

    este aspecto do que Erhenberg (1998) denomina indivduo insuficiente, aquele que

    incorpora as exigncias sociais de se superar continuamente.

    Mas as formaes tambm tm efeitos paradoxais, visto que h jovens que tm cursos

    universitrios e esto exercendo empregos de nvel mdio. Eles, apesar da escolaridade,

    no conseguiram encontrar empregos compatveis com suas formaes. Muitos deles,

    aps a concluso dos estudos e um perodo de desemprego, assumem a estratgia de

    no mencionar no currculo a escolaridade superior. No entanto estas mesmas pessoas

    no abandonam o interesse de realizar cursos.

    Os jovens, geralmente de extratos sociais mdios ou altos, sabedores da grande compe-

    tio existente no mercado de trabalho, sentem que devem estar sempre se atualizando.

  • 42

    Este um modo de se manterem competitivos e tentarem fazer face s exigncias sem-

    pre maiores de seus trabalhos. Vivem uma presso para no se tornarem obsoletos em

    suas formaes e competncias. Adquirir novos conhecimentos compe as diretrizes

    que se obrigam a seguir. A frase deve-se ter um diferencial bastante comum entre os

    jovens. H nesta ideia um quadro implcito de competio, onde os mais qualificados

    so os que tm melhores postos.

    As anlises apontaram que presente, entre muitos jovens com nvel de escolaridade

    universitrio, o desejo de ter um emprego na funo pblica.

    Oserviopblicocomocampodeprojetosprofissionais

    A instabilidade e os processos de intensificao presentes no mundo do trabalho levam

    muitos jovens a terem como projeto realizar concursos para se tornarem funcionrios

    pblicos.

    Este dado em nossa pesquisa foi mais presente em pessoas que tinham nvel universit-

    rio. Havia famlias que tinham forte inscrio no pblico. Deste modo, o pblico era, de

    um lado, um aspecto da herana familiar e, do outro, era reforado pelo difcil contexto

    empregatcio atual, onde a instabilidade adquire um peso determinante. Para outras

    pessoas, o pblico no se inscrevia como herana, mas era mobilizado por questes de

    contexto. Para todos, o pblico era considerado como promotor de estabilidade. No

    eram as condies previdencirias que eram mobilizadas, mas sim evitar um contexto

    instvel.

    Havia pessoas com nvel universitrio que realizavam os concursos disponveis para

    o nvel mdio. O objetivo era ter um trabalho e, posteriormente, continuar realizando

    concursos at alcanar a funo almejada. Neste sentido se pode dizer que a maior parte

    do cotidiano deles se concentra em estudar para concursos. Podemos denomin-los

    subjetividades concursantes (Oliveira, 2010). No entanto, estas pessoas constroem tra-

    jetrias mutantes, quando almejam encontrar outro lugar profissional dentro do servio

    pblico.

  • 43Vidas fazendo histria e construindo histrias de vida

    Estudar e realizar concursos condensam aspectos que so muito evidentes no mercado

    de trabalho atual: a exigncia de se estudar e a forte competio. O numero de vagas

    nos concursos pequeno face ao grande numero de candidatos, da os entrevistados

    se sentirem obrigados a estudarem muito. O cotidiano se concentra em torno de uma

    rgida rotina de estudos. Muitos se sentem culpados quando esto realizando atividades

    que lhes afastam dos estudos.

    Se fizermos uma vinculao entre a primeira parte deste texto e esta segunda, onde

    citamos brevemente a pesquisa sobre histria de vida laboral, podemos elaborar as se-

    guintes construes:

    As narrativas laborais dos jovens que almejam ter uma funo pblica e os que j

    esto no servio pblico se apresentam como traos de prticas sociais dos con-

    curseiros. Eles expem suas ideias sobre o mercado de trabalho, como compem

    os seus cotidianos e suas angstias. Os que ainda no conseguiram ingressar nar-

    ram seus sentimentos, suas ansiedades e os medos de fracasso. Outros esto to

    mobilizados que apresentam traos depressivos bastante acentuados.

    Os que j tm um trabalho pblico querem alcanar outra funo que corresponda

    mais aos seus anseios e ambies profissionais. Eles, em vrias ocasies, se sentem

    desencorajados por estarem construindo suas vidas em torno de dois plos: traba-

    lho e estudo. Muitos parecem dilacerados entre continuar a rgida rotina estabele-

    cida ou se acomodar em uma posio j conquistada.

    Muitas famlias participam ativamente do processo de estudo dos filhos, o que nos

    leva a pensar em famlias concursantes. So aquelas que criam todas as condi-

    es para facilitarem o estudo dos filhos. Elas projetam neles seus ideais ou os

    acompanham em seus ideais.

    Contratransferncianapesquisa

    A equipe desta pesquisa de jovens bolsistas, que ainda no concluram o curso de

    Psicologia, ou de jovens psiclogas, que tm pouco tempo de formadas e ainda vivem

    uma indefinio profissional. Este fato muitas vezes cria uma grande identificao com

    os narradores. necessrio poder forjar condies de elaborao para estabelecer uma

    distanciao entre narrador e pesquisador, para que uma escuta atenta s nuances da

  • 44

    narrativa possa ocorrer. A possibilidade de ter um grupo de pesquisa permite este traba-

    lho, pois cada pesquisador contribui com vises diferentes da anlise da situao.

    Concluso

    A pesquisa com a histria de vida laboral tem mostrado as grandes contradies exis-

    tentes no mundo hiper moderno. Ao mesmo tempo em que as referncias em todos os

    campos so volteis, fludas (Bauman, 2002), e os sujeitos sociais parecem se adequar

    a esta fluidez, existe o desejo de se ter referncias mais estveis. isto que observamos

    no campo empregatcio, quando muitos jovens optam pelo servio pblico como lugar

    de realizao profissional. No entanto, para poderem tentar viabilizar este projeto, em-

    penham um tempo enorme e uma grande mobilizao psquica. Surgem sentimentos

    diversos, frutos do desconhecimento de como ser o resultado do esforo para a reali-

    zao dos concursos. Os sujeitos concursantes se angustiam, pois duvidam, em muitos

    momentos, se podero construir um lugar social mais slido pelo trabalho.

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  • 47 Grupo multifamiliar com adolescentes que cometeram abuso sexual

    Grupo multifamiliar com adolescentes que cometeram abuso sexual

    BrunoNogueira

    LianaFortunatoCosta

    Esse texto tem por objetivo apresentar uma metodologia de atendimento grupal a ado-

    lescentes que cometeram ofensa sexual.2 Desde 2001, autores vinculados ao Progra-

    ma de Ps-graduao em Psicologia Clnica e Cultura da Universidade de Braslia e ao

    Programa de Ps-graduao em Psicologia da Universidade Catlica de Braslia, em

    pesquisa interinstitucional, vm desenvolvendo adaptaes da metodologia de Grupo

    Multifamiliar para diferentes contextos de interveno psicossocial (Costa, Penso &

    Almeida, 2005; Costa, Almeida, Ribeiro & Penso, 2009). A partir de 2009, iniciou-

    -se mais uma experincia em continuidade a essas adaptaes, desta vez em relao a

    2 Texto baseado em Nogueira, B. (2012). Grupo multifamiliar com adolescentes que cometeram abuso sexual. Dissertao de mestrado em Psicologia Clnica e Cultura. Universidade de Braslia. Orientadora Liana Costa Fortunato.

  • 48

    adolescentes que cometeram ofensa sexual e suas famlias (Costa, Ribeiro, Junqueira,

    Meneses & Stroher, 2011). Em 2012, o primeiro autor desse texto buscou investigar so-

    bre a expresso da sexualidade envolvendo esses sujeitos, ainda na perspectiva de cons-

    truo de conhecimento no contexto do Grupo Multifamiliar. Sendo assim, o texto trata

    principalmente da descrio desse mtodo de atendimento grupal a esses adolescentes

    e suas famlias.

    AdolescentesqueCometeramAbusoSexual

    A definio de cometimento de violncia sexual por adolescentes muito ampla e no

    oferece a possibilidade de elaborao de um perfil do agressor, pois no estamos falando

    de pedofilia (Oliver, 2007; Seto, 2009). Nossa referncia para apontar a conduta do ado-

    lescente que comete ofensa sexual baseia-se nas observaes de Chagnon (2008) que

    aponta esse ato violento como decorrncia de um acting out, produzido pela constncia

    de prticas educativas familiares erradas, ou seja, violentas.

    A Vara da Infncia e da Juventude do Tribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios

    identificou, no perodo de 2010 a 2011, uma incidncia maior de abuso sexual cometido

    por adolescentes, mais do que por adultos (VIJ/CEREVS, 2011), resultado diferente do

    que as pesquisas tradicionalmente apontam (Abrapia, 2003; Aded, Dalcin & Cavalcanti,

    2007). O resultado da VIJ/DF nos interessa, pois se trata de nosso contexto de estudo e

    atuao. No entanto, necessrio mais pesquisas para identificar se a maior incidncia

    desses atos cometida por adolescentes, e vlido considerar pesquisas que afirmam

    que as primeiras experincias de abuso sexual de adultos foram no perodo da adoles-

    cncia (Oliver, 2007).

    A literatura internacional tem produzido ao longo de cinco dcadas muitas informaes

    sobre adolescentes que cometeram abuso sexual. Worling e Langstrm (2003) identi-

    ficaram que no o fato do adolescente ter sofrido abuso sexual na sua infncia que

    configura um fator determinante para reproduzir a violncia. As histrias de violncia

    entre pais e filhos e o isolamento social constituem, para esses autores, como os fatores

    de risco para o desenvolvimento de uma sexualidade ofensiva nos adolescentes. O uso

    de uma pedagogia da violncia como recurso educativo dos pais e relaes familiares ad-

    jetivadas pela ausncia de trocas afetivas so caractersticas geralmente encontradas em

  • 49Grupo multifamiliar com adolescentes que cometeram abuso sexual

    famlias de adolescentes que cometeram abuso sexual (Chagnon, 2008; Costa, 2012;

    Marshall, 2001).

    Para se obter o efeito esperado, os fatores de proteo que auxiliam no combate a situ-

    aes individuais, familiares e sociais de riscos devem ser de natureza transversal. Na

    dimenso individual, as pesquisas identificaram que o desenvolvimento de orientao

    pr-social, a estimulao da resilincia, o desenvolvimento para a autonomia, autoesti-

    ma e autoeficcia representam objetivos a serem alcanados no tratamento. Na dimen-

    so familiar, os fatores protetivos so relaes significativas e ntimas pelo menos com

    um dos pais, valores parentais pr-sociais, superviso / monitoramento dos pais, rela-

    es de cuidado e proteo estveis. No ambiente escolar, as relaes positivas entre pro-

    fessores e adolescentes, e o envolvimento destes ltimos com as atividades escolares,

    configuram em importantes fatores de proteo. Na dimenso da comunidade, alguns

    dos fatores protetivos so as atividades recreativas e o relacionamento com outros adul-

    tos com valores pr-sociais. E por fim, na relao com os grupos de pares, os fatores de

    proteo so relaes positivas e ntimas e relaes com amigos com valores pr-sociais

    (Rich, 2009; Rogers, 2000).

    OsGruposMultifamiliaresemSituaesdeAbusoSexual

    A proposta dos Grupos Multifamiliares (GM) possui sua gnese na Terapia Multifa-

    miliar adotada por psiclogos e assistentes sociais nos Estados Unidos e no Canad

    (Laquer, 1976). Os fundamentos epistemolgicos dessa metodologia so a psicoterapia

    de grupo e a terapia familiar (Narvaz, 2010). O GM articula vrios fatores facilitadores

    identificados pela psicoterapia de grupo (vivncia comum do sofrimento, reao de es-

    pelho pelas ressonncias e identificaes, experincia emocional corretiva, solidarieda-

    de e oportunidade de troca e ajuda mtua, entre outros) com as noes sistmicas da

    terapia familiar (circularidade, criatividade, espontaneidade).

    A adaptao do GM para situaes de abuso sexual foi estudada extensamente por Cos-

    ta et a., 2005, Costa et al., 2009 e Costa et al., 2011, como j apontado na introduo

    desse texto. O GM considerado como um modelo de atendimento psicossocial que

    se fundamenta em cinco aportes tericos: o da Psicologia Comunitria, com a proposta

    de Santos (1999) de articular diferentes saberes cientficos e populares; o da Psicologia

    Social Crtica e Histrica, a qual percebe o ser humano em uma relao dialtica com

  • 50

    o seu meio (Lane & Sawaia, 1995); o da Terapia Familiar que concebe a famlia como

    um sistema, e consequentemente, a relao familiar o ponto focal do trabalho tera-

    putico (Minuchin, Colapinto & Minuchin, 1999). Em outras palavras, a valorizao

    maior a da dimenso interpsquica. O Sociodrama (Moreno, 1993) outro aporte que

    fundamenta este GM, ao conceber o grupo como protagonista e as famlias possuindo

    objetivos em comum. E, por fim, o ltimo marco terico a Teoria das Redes Sociais

    (Sluzki, 1996) que enfoca a interao humana como troca de experincia desenvolven-

    do a capacidade autorreflexiva e autocrtica.

    Essa articulao busca atender ao pblico alvo, que so famlias pertencentes s classes

    D (renda familiar de dois a quatro salrios mnimos) e E (renda familiar at dois salrios

    mnimos), e que pouco tm acesso aos profissionais da sade mental, e o atendimento

    raramente efetivado na perspectiva sistmica (a famlia como cliente). Alm disso, o

    modelo de atendimento deve considerar ainda as atribuies da interface Psicologia e

    Direito (Costa et al., 2005; Costa et al., 2011), pois esses adolescentes so, muitas vezes,

    encaminhados pelo sistema justia

    O mtodo do GM apresenta vrias vantagens, principalmente no contexto da sade p-

    blica. Narvaz (2010) lista estas vantagens: o grupo possibilita aos participantes diminu-

    rem a intensidade do controle e das defesas, de modo que permita o desenvolvimento

    de uma discusso livre; os membros so encorajados a responder uns aos outros espon-

    taneamente; o GM estimula as famlias mutuamente, de modo que aspectos saudveis e

    criativos emerjam com a inteno de romper com os padres disfuncionais mantenedo-

    res do sistema (o grupo promove novas vises e narrativas sobre os problemas compar-

    tilhados, de modo que a famlia construa novos significados sobre suas dificuldades); as

    famlias podem significar o grupo como uma comunidade empenhada na resoluo dos

    problemas; o GM promove a formao de redes de apoio recproco entre os membros;

    o GM neutraliza o isolamento de famlias (principalmente quando estas vivenciam si-

    tuaes de violncia), oferecendo fora, objetividade e modelos de um grupo de iguais;

    o GM possibilita a construo de um espao de escuta diferenciado, fundamentado em

    relaes de confiana, de solidariedade e de ao coletiva. Alm destes benefcios, o GM

    um modelo de terapia breve; e com um investimento no to oneroso para a sade

    pblica. Costa et al. (2005) identificaram outro importante benefcio do GM no contexto

    jurdico. Ele pode ocorrer enquanto o moroso processo judicial tramita, de modo que

  • 51Grupo multifamiliar com adolescentes que cometeram abuso sexual

    o atendimento do GM possa contribuir com a justia na concluso dos casos de abuso

    sexual.

    Como todo mtodo de interveno, o GM apresenta alguns limites. O GM pode apre-

    sentar um menor controle sobre os casos, e dessa forma pode comprometer a eficcia

    da teraputica. Identificou-se tambm que h a possibilidade do terapeuta no se en-

    volver ativamente com alguma famlia, uma vez que o grupo que o cliente, e no uma

    famlia especfica. O GM oferece perigo de uma identificao predominantemente pro-

    blemtica com outras famlias que tm funcionamento semelhante ao dele, e permite

    que a presso sobre os