pseudo choro s

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    A srie composta por seis pe as para viol o solo

    escritas entre 2002 e 2006. O mpeto inicial aliar procedimentos utilizados

    por compositores durante o sculo XX esttica do choro brasileiro. A

    concep o dessa pe a deve muito s idias da prof Dda. Luciana Prass, com

    quem estudei durante todo o per odo da minha gradua o e que influenciou

    de maneira decisiva a minha forma o musical em todos os mbitos,

    especialmente na valoriza o da msica popular e na compreens o dos seus

    contextos e suas poticas. Outras refer ncias s o a obra violon stica de

    Heitor Villa-lobos e os de Garoto (Ann bal Augusto Sardinha).

    H que se salientar que a idia da srie n o uma tentativa

    neocl ssica ou neo-nacionalista. Tampouco se refuta aqui essa tend ncia

    esttica como propulsora de obras de grande valor musical. A busca aqui

    muito mais de rela o entre fontes sonoras distantes, talvez at

    contrastantes, para a cria o de um novo contexto esttico. N o h a

    repeti o de um padr o, tampouco o questionamento de todos os padr es,

    mas a ressignifica o de materiais que carregam em si as suas refer ncias e

    s o postos lado a lado para assumirem uma nova conota o e se articularem

    a partir de u m novo conjunt o de rela es.

    Na proposta de tomada de consci ncia do meu fazer composicional,

    ocorrida de maneira mais aprofundada aps a elabora o do meu trabalho

    de conclus o de curso 1 , procurei debru ar-me nos aspectos geradores ou

    que serviram de estopins para a gera o das minhas inten es expressivas

    em diversos contextos composicionais da minha obra at ent o. Parti com

    isso para a an lise de documentos, rascunhos, textos e outros recursos para

    a compreens o e reestrutura o do meu pensamento no momento da

    1 Inti tulada , escrita sob orientaodo prof. Ms. Alexandre Birnfeld e defendida em novembro de 2005 como requisito concluso d o cur so de Msica da UERGS/FUNDARTE, Mont enegr o RS.

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    concepo das peas. Nesse sentido, pesquisando sobre o movimento

    criador dos , deparei-me com um texto que foi de suma

    importncia para a construo da s rie de peas em questo. Trata-se do

    texto , de Ricardo Tacuchian 2 . Este texto foi lido

    para a r ealizao de um tr abalho acadm ico, no ano de 200 2.

    Nesse artigo, Tacuchian nos fala sobre a constituio do pensamento

    p s-moderno em msica, como reflexo da sociedade p s-industrial. Dentre

    os aspectos levantados pelo texto, destaco o papel fundamental que o

    compositor confere ao ecletismo para a constituio do que ele denomina

    O p s-moderno enterra as velhas polaridades: ou novo ou velho; ounacional ou universal; ou isto ou aquilo. O maniquesmo esttico substitudo por um ou uma simultaneidade ousuperposio de signos de natur eza diferente, independent ement e deserem velhos ou novos. (...) Em outras palavras, signo velho emforma ou contexto novo. (...) antes uma liberdade do uso de novase velhas tcnicas, num contexto original, a servio da inveno e dacomunicao, da expresso e do ldico. (TACUCHIAN, 1992, p. 28)

    Esse artigo foi de suma importncia para a concepo dos, principalmente na id ia de utilizar velhos e novos

    procedimentos em contextos nos quais seria completamente absurdo

    cogitarmos h pouco tempo. Trata-se aqui, acima de tudo da superao das

    polarizaes, das dades, v elho/nov o, r uptur a/ restaurao, e, acima de t udo,

    popular/erudito. Essa pea tem como mpeto justamente a convivncia de

    materiais dspares, talvez at poderamos dizer contraditrios, dentro da

    mesma pea. Todos os recursos composicionais estavam minha disposio,sem juzos de valor ou preconceitos, de maneira a constituir o material e

    realizar o proj eto da pea.

    2 Ver: TACUCHI AN, Ricardo. O p s-moderno e a msica. . Porto Alegre: UFRGS, v.4, n, 5, j un-1992. p.24-31.

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    Nesse sentido, seria inimagin vel at pouco tempo atrs que

    pudssemos ter em uma mesma pea elementos como a srie dodecafnica

    e configuraes meldicas do choro, como arpejos de acordes e baixos

    caractersticos (ver exemplos 1 e 2 ).

    Exemplo 1 - t recho do baseado na [ 77 a 90]

    Exemplo 2 - trecho do com configurao mel dica caracterstica do choro

    [ 27 a 29]

    Na pr tica, um dos aspectos caracter sticos do choro mais utilizadonas peas est relacionado concepo da forma. Em geral, os

    so organizados em trs sees diferentes e contrastantes,

    excetuando-se o N 1, e o N 6 , que

    possuem uma forma ternria simples. O (N 5) possui

    uma forma muito utilizada no choro, a saber, um rond (ABACA). As peas

    N 2 , N 3 e N 4

    tambm so compostas em trs partes, porm sem a repetio da seo

    principal ao fim (com o esquem a form al ABAC).

    Existem algumas configuraes meldicas caractersticas do estilo do

    choro, principalmente na constituio das sees principais, como, por

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    exemplo, os acordes arpejados, que podem ser observados no trecho do

    a seguir:

    Exemplo 3 - Bertissolo, , [42 a 50]

    Observe-se tamb m nesse trecho os baixos em intervalos de quarta

    descendente, alm do aparecimento em outras partes da melodia sendo

    orquestrada nos baixos fazendo referncia da msica dos

    chor es. 3

    De maneira geral, a constitui o do material harmnico dos parte de uma idia bsica: as utiliza es de centros de polariza o

    tonal (n o no sentido tradicional das funes tonais, mas como centros derefer ncia e reiterao) nas se es principais (A) e de diversos

    procedimentos composicionais da msica do s c. XX na constituio das

    diversas outras se es. No choro referido acima, por exemplo, a se oprincipal est com uma escrita polarizada em torno de um , tomando-serecurso expressivo uma srie de digress es do sistema tonal, com o uso deacordes tonalmente n o-ortodoxos (amb guos e com sons adicionados) e aturva o dos movimentos cadenciais. Nas se es B e C, o material

    3 Nome que se d linha caracter stica de baixos desenvolvida em um conjunto regionalpelo violo de sete cordas, caracterizada pela movimentao constante dos baixos, inclusivecom recorrncias da melodia da pea e de contracantos que muitas vezes significam quasetanto quanto o tema principal.

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    harmnico foi constitu do a partir de acordes gerados sobre a

    , fazendo outra vez um a refer ncia

    No Pseudo-choro N 1 , a se o B organizadautilizando frmulas de arpejos de mo direita e acordes repetidos formados

    por campanelas na mo esquerda, como caracterstico em Villa-lobos e Lo

    Brouwer, por exemplo. Este tipo de procedim ento possibilita um a sonoridade

    que refere ao atonalism o livre ( ou pant onalismo) . J no Pseudo-choro N 2

    , alm da sonoridade relacionada ao atonalismo livre,

    encontram-se apari es do , como eixo harmnico e

    intervalar gerador d e outr as rela es derivadas.

    Para a concep o do material harmnico da parte B do

    , foi aplicado um procedim ento de , como

    caracterstico na obra de Alban Berg, com periodicidade de 2, 3, 3, porm

    com algumas diferencia es em rela o aplica o berguiana.

    A srie-de-base utilizada nessa pe a possui, heterodoxamente, os

    quatro primeiros termos constitudos por um arpejo de um acorde diminuto

    em segunda inverso, acorde caracterstico do choro.

    Exemplo 5 - S rie original de

    O procedimento aplicado a essa s rie teve uma diferen afundamental em rela o ao sistema de Berg: enquanto que na escanso

    berguiana h a excluso dos termos que vo sendo agregados nova srie,

    na minha transformao no h essa excluso. Assim, cada processo de

    escanso serial gerou um acorde, de maneira que no necessariamente a

    cada quatr o acordes se completa o t otal crom tico.

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    7

    Exemplo 6 - Escans o serial em 2, 3, 3, realizada na srie de , sem excluso de

    sons

    Uma outra caracter stica de ruptura em rela o ao processo

    berguiano que aqui n o h uma obrigatoriedade de registro, ou seja, cada

    nota pode aparecer em qualquer posi o do acorde ( exceo das

    fundamentais, que so mantidas conforme a ordem de aparecimento). A

    conformao final dos acordes ficou conform e o exem plo a seguir:

    Exemplo 7 - Acordes obtidos atravs do processo de escans o serial realizada na s rie

    original de

    Esses acordes foram utilizados como material harm nico na seo B

    de :

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    8

    Exemplo 8 - Bertissolo, , [24 a 33]

    Utilizao dos acordes gerados por escanso serial

    No Pseudochoro N 4 , o que h uma sobreposio

    das trs transposies possveis para o

    , de Olivier Messiaen 4 , com o segundo de forma retrogradada, de

    maneira a gerar o material de acordes que compe o material sobre o qual

    operei par a a constru o da seo B.

    Para a constituio do material harmnico do Pseudo-choro N 5

    l foram utilizadas dois tipos de acordes formados por

    segundas. Para fins de denominao, chamei substancial menor o conjunto

    de acordes constitudos por e substancial maior o acorde

    de , em referncia minha . Com esses

    4 A respeito dos Modos de Transposi es Limitadas, veja-se MENEZES, Flo. Cotia: Ateli Editorial, 2002 quando afirma que Messiaen prope-nos sete modos distintos, os quaisdenomina ( ), e que tm porcaracterstica comum, como bem afirma sua prpria denominao, a

    a outras alturas. A limitao intrinsecamente matemtica de cada modo em particular fazcom que, aps um nmero possvel de transposies, , com exatamente as mesmas notas. (p. 351 grifos originais)

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    9

    acordes poss vel estabelecerem-se transposies de maneira a gerar otot al crom tico, valendo-se do princ pio da harmonia complement ar.

    Exemplo 9 -

    Exemplo 10 - Acorde de base para

    Esse acorde tambm est invertido e os seus sons est o dispostoscomo sexta maior, s tima menor e nona maior (note-se a progress o por

    segunda maior Ab, Bb, C, D). A partir desse acorde existem seis

    configura es poss veis para a complementa o do total cromtico,

    conforme o som que no segundo acorde tomado como fundamental.

    Finalmente, h que se destacar que o material harm nico do Pseudo-

    choro N 6 , utiliza as redes harm nicas tridimensionais

    de Henri Pousseur, a partir do perfil intervalar do acordo caracter stico do (tera maior, tr tono, quarta justa).

    Um procedimento caracterstico dessas peas, no que diz respeito organiza o r tmica, vem do princpio que chamei de radicaliza o da

    s ncope. A idia consiste em levar a um extremo o processo de articula odos acentos de uma s ncope, a saber, o deslocamento de um quarto detempo (ou seja, uma semicolcheia em 2/4). J que h essa acentua odeslocada nessa medida (de um quarto de tempo metron mico), ent o por

    que n o inserirmos um compasso de um quarto de tempo? O resultado

    dessa id ia foi a inser o de uma s rie de compassos de 1/16 (compassos de

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    10

    uma semicolcheia de 2/ 4) ou 5/ 16 (1 / 4 + 1/ 16), conferindo uma suspens o

    do tempo pulsado, a partir de um tra o caracter stico do estilo da m sica na

    qual a s rie est dialogando (a sncope do choro). Veja-se o exemplo a

    seguir:

    Exemplo 11 - Bertissolo, , [4 a 8 ]

    Observe-se o compasso sublinhado: um 1/16. H um deslocamento

    do acento como na sncope da msica brasileira. Entretanto, o deslocamento

    no ocorre para o compasso anterior, mas sim para um novo compasso

    constitudo apenas de uma semicolcheia.

    A figura representada por trs quilteras, sendo uma na cabea do

    tem po posterior e duas no anterior,

    Exemplo 12 : [ compasso 2]

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    11

    indica um de maneira espec fica. Nesse caso, o primeiro

    tempo dura duas semicolcheias mais duas semicolcheias de qui lter as. Dessa

    forma, devem-se tocar as tr s qui lteras acentuando-se a terceira e

    tomando-a como primeira nota do pr ximo tempo, o que resultaria na

    seguinte escrita literal:

    Exemplo 13 : solu o de escrit a liter al para os

    A op o pela escrita em visa simplificao da

    leitura e compreenso da id ia geradora do t empo art iculado.

    Guilherme Bertissolo

    Port o Alegre, setembr o de 2006

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    12

    = percutir com a m o direita ( m .d. ) fechada sobre as cordas

    = percutir m .d. sobre o tampo

    = percutir r apidament e com o polegar e restant e dos dedos(m .d.) sobre o tampo

    = percutir a mo esquerda sobre o tampo

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    2

    = 60

    6

    2

    2

    6

    3

    3

    2 2

    2 3

    2

    6 5

    3

    2

    Momento Uno

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    = 60 L.V. sempre

    = 72

    BII

    BII

    BII

    p p

    =

    (simile sempre...)

    p

    BII m ip m i p m i p m i p m i mp i p

    i m p i m p mi p i mp mi ip m

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    5

    5

    5

    5 3

    5

    3

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    BIII

    BII

    5

    = 40

    4 6

    4 3

    =

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    = 60

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    2

    4

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    = 75

    6

    2 3

    6

    3 2 1

    BVII

    BVIIBVIII

    BVIII

    Imagens Noturnas

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    BII

    BIX

    2

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    BVII

    BVIII BVII

    BVIII

    BIV

    BIII

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    BIV

    BV

    BV

    BVII

    BIX

    rasg.

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    BIII

    BIII

    p p

    p

    BI

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    BI

    BVIII

    BVII

    BVI

    BV

    p

    p

    p

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    BV

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    BVI

    BVII

    p

    BV

    p

    5

    5

    BVIII

    BVII

    BVI

    BV

    3

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    = 66

    BII

    BI

    BV

    2

    3

    BIV

    BV

    Sinuca de Bico

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    L.V.

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    BVII

    BXI BIX

    BVII

    BXI

    BIX

    BV

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    BIV

    BIII

    BI

    BVII

    BXI

    BIX

    BVIII

    BVII

    BVI

    BV

    BVI

    BVII

    BXI

    BIX

    BVIII

    BVII

    BVI

    BV

    BIV

    BIV

    BIII

    BI

    6

    5

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    2 1

    1

    2

    BVI BIX

    BIX

    3 1

    1

    2

    BIII

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    = 50

    BIII

    2

    5

    BV

    BIII

    2

    BI

    BI

    p

    Caixinha de Fsforo

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    BV

    BIII

    BII

    p

    BIV

    2

    BII

    p4

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    6

    4

    BIV

    BII

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