prova i - resumos

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A polêmica em torno da centralidade do trabalho Teses sobre a perda da centralidade Questionamento: O fato de o significado do trabalho ter mudado equivale à perda de sua centralidade? E qual é o significado e o que caracteriza uma atividade como trabalho? Ação X Trabalho Trabalho X Emprego André Gorz, pontos básicos: O trabalho é uma atividade pré-programa, submetida ao funcionamento de um aparelho, o que não dá espaço para a iniciativa pessoal. O trabalhador não se identifica com “seu” trabalho e, com isso, desaparece o sentimento de pertencer a uma classe. Questionamento: O trabalhador não se identifica com o que produz, mas se identifica com o que o trabalho lhe proporciona (dinheiro, status, inserção social) e, talvez isso já seja o suficiente para ele se sentir como parte da classe trabalhadora. O neoproletário está condenado ao desemprego de suas capacidades enquanto espera pelo desemprego puro e simples. (Ou seja, desenvolve um trabalho alienado enquanto espera pelo inevitável, que é ficar desempregado) A evolução tecnológica caminha no sentido de uma abolição dos produtores sociais, de uma marginalização do trabalho socialmente necessário sob o efeito da revolução da informática. Questionamento: O trabalho intelectual é mais valorizado hoje em dia, e talvez seja o mais característico, mas em todas as áreas o trabalho manual ainda é necessário. Ex: Por mais que a farmacologia tenha avançado muito nos últimos anos, isso não pôde substituir o trabalho das enfermeiras, no tratamento dos doentes, para lidar com os imprevistos nos tratamentos, etc. Nas indústrias ocorre o mesmo; o avento das máquinas não é capaz de substituir o trabalho intelectual humano. O tempo necessário para a produção daquilo que é útil à vida está em rápida diminuição. Questionamento: 1° quem consegue distinguir o que é necessário à vida hoje? Por mais que digamos que os alimentos são o necessário, ainda assim não seriam todos os tipos de alimentos que são produzidos, sem falar dos eletrodomésticos e eletrônicos dos quais somos extremamente dependentes. 2° A produção pode estar mais rápida, ma o consumo aumentou absurdamente, então ainda produz-se muito. Claus Offe, J. Habermas, Dominique Medá Apesar de a maior parte da população ser dependente de salário, o trabalho tornou-se menos central para os indivíduos e a coletividade. Questionamento: Os que não dependem de sálario dependem de quê então? O trabalho não é mais visto como um dever. E não oferece um suporte adequado para a construçao da identidade. Questionamento: Creio que podemos falr isso do trabalho FORMAL, mas quando este não funciona, o informal toma o seu lugar. Ex: traficante trabalha? Esse trabalho ajuda-o na formação da sua identidade? Creio que a resposta para ambas as perguntas é sim. O trabalho saiu de cena e, hoje, são os conflitos sociais e políticos que

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Prova de Psicologia Escolar

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A polmica em torno da centralidade do trabalhoTeses sobre a perda da centralidade Questionamento: O fato de o significado do trabalho ter mudado equivale perda de sua centralidade? E qual o significado e o que caracteriza uma atividade como trabalho?Ao X TrabalhoTrabalho X EmpregoAndr Gorz, pontos bsicos: O trabalho uma atividade pr-programa, submetida ao funcionamento de um aparelho, o que no d espao para a iniciativa pessoal. O trabalhador no se identifica com seu trabalho e, com isso, desaparece o sentimento de pertencer a uma classe.Questionamento: O trabalhador no se identifica com o que produz, mas se identifica com o que o trabalho lhe proporciona (dinheiro, status, insero social) e, talvez isso j seja o suficiente para ele se sentir como parte da classe trabalhadora. O neoproletrio est condenado ao desemprego de suas capacidades enquanto espera pelo desemprego puro e simples. (Ou seja, desenvolve um trabalho alienado enquanto espera pelo inevitvel, que ficar desempregado) A evoluo tecnolgica caminha no sentido de uma abolio dos produtores sociais, de uma marginalizao do trabalho socialmente necessrio sob o efeito da revoluo da informtica.Questionamento: O trabalho intelectual mais valorizado hoje em dia, e talvez seja o mais caracterstico, mas em todas as reas o trabalho manual ainda necessrio. Ex: Por mais que a farmacologia tenha avanado muito nos ltimos anos, isso no pde substituir o trabalho das enfermeiras, no tratamento dos doentes, para lidar com os imprevistos nos tratamentos, etc. Nas indstrias ocorre o mesmo; o avento das mquinas no capaz de substituir o trabalho intelectual humano. O tempo necessrio para a produo daquilo que til vida est em rpida diminuio.Questionamento: 1 quem consegue distinguir o que necessrio vida hoje? Por mais que digamos que os alimentos so o necessrio, ainda assim no seriam todos os tipos de alimentos que so produzidos, sem falar dos eletrodomsticos e eletrnicos dos quais somos extremamente dependentes. 2 A produo pode estar mais rpida, ma o consumo aumentou absurdamente, ento ainda produz-se muito.Claus Offe, J. Habermas, Dominique Med Apesar de a maior parte da populao ser dependente de salrio, o trabalho tornou-se menos central para os indivduos e a coletividade.Questionamento: Os que no dependem de slario dependem de qu ento? O trabalho no mais visto como um dever. E no oferece um suporte adequado para a construao da identidade.Questionamento: Creio que podemos falr isso do trabalho FORMAL, mas quando este no funciona, o informal toma o seu lugar. Ex: traficante trabalha? Esse trabalho ajuda-o na formao da sua identidade? Creio que a resposta para ambas as perguntas sim. O trabalho saiu de cena e, hoje, so os conflitos sociais e polticos que prevalecem: paz, desarmamento, proteo ambiental, defini e instituio de paps sexuais, direitos civis e humanos.Questionamento: Conseguimos separar todas essas questes do fator trabalho? O estigma do desemprego est enfraquecendo. A centralidade do trabalhado foi substituda pela da esfera comunicacional ou da intersubjetividade.Questionamento: O fato do desemprego ser comum, normal, no o torna mais desejvel. Estar desempregado te priva de estar inserido socialmente, de atuar no mercado, por no ter dinheiro,etc. Sobre a centralidade do trabalho, qual a primeira pergunta que fazemos quando conhecemos algum? O conceito de trabalho resultado de uma construo histrica. Podemos assegurar o mesmo nvel de produo com cada vez menos trabalho.Questionamento: 1 Se o conceito de trabalho mudou ao longo dos anos, recebendo novos atributos (mas continuou sendo trabalho), por que o fato de ele estar mais intelectualizado hoje leva esses autores a afirmar que o trabalho acabou? 2 A produo industrial a nica forma de trabalho? Mesmo na poca em que ela era hegemnica, s existia essa forma? A prestao de servios, por exemplo, no pode ser considerada trabalho? O trabalho no a nica forma de os indivduos se desenvolverem e se realizarem. Algumas enquetes mostram que os indivduos que tm uma renda assegurada, desejam realizar outras atividades livremente escolhidas, assim como suas modalidades e seus ritmos, no pensando sua realizao exclusivamente sob a forma de trabalho.Questionamento: Quem vai bancar essas outras atividades? O trabalho pode no ser o nico meio de realizao, mas uma espcie de moeda de troca para o indivduo buscar realizao em outra atividade.Refutao das teses acima Ao x Trabalho Aumento do tempo livre o trabalho que d sentido e legitimidade circulao monetria, sendo necessrio contrapeso s foras de dissociao liberadas pelo dinheiro. isto que explicaria a degradao do carter dos indivduos a quem se oferece uma renda sem exigir trabalho em contrapartida. Neste caso, o vinculo social deturpado e se torna pura relao de dependncia. EX: programas Fome Zero, Bolsa Famlia e afinsQuestionamento: Os programas assistencialistas governamentais precisam oferecer uma contrapartida ao indivduo, condies de ele andar com as prprias pernas, e no ficar dependente desses programas pra sempre. Lgica do capital (O trabalho caracterizado pelo salrio; acabar com o trabalho seria fazer ruir todo o sistema capitalista) Trabalho vivo x trabalho morto (Concreto x Abstrato)Concluso Nenhuma outra atividade (esporte, arte, lazer em geral) pode ocupar o lugar no trabalho Trabalho e formao da identidade Segundo Lukcs, o trabalho identificado como o instante inicial da sociabilidade. estranho pensar que o ser humano s se insere realmente na sociedade atravs do seu trabalho mas, na infncia (que a nossa sociedade determinou que uma fase de formao, portanto o indivduo no pode trabalhar) ainda assim sua sobrevivncia depende do trabalho de algum. Chasin (1993) tambm diz que o trabalho fundante, isto , ele a base a partir da qual se agrega uma nova forma de ser aos seres anteriormente existentes. possvel excluir o trabalho na esfera terica, mas no se pode exclu-lo da realidade. Ex: os autores que defendem que o trabalho acabou so o qu? Trabalhadores.

A FUNO PSICOLGICA DO TRABALHO1 - O lugar do trabalho no mbito da psicologia do trabalhoClot faz uma crtica nessa parte do captulo aos autores que dizem que o trabalho uma atividade dentre muitas outras, para ele o trabalho sempre foi central e ocupa na vida pessoal e social de todos que trabalham uma funo nica. Hoje o trabalho toma o lugar de objeto no qual os homens buscam auto realizao. um objeto que caracteriza, d identidade aos sujeitos. Segundo Clot atravs do trabalho que o homem se constitui, sendo assim, com esse papel to importante na vida material e psquica do sujeito no possvel caracteriza-lo como uma atividade qualquer para a psicologia do trabalho, o trabalho tem sim sua funo psicolgica especfica.2 - Uma terceira via: a atividade policntricaO autor relata que a possibilidade do trabalhador se mostrar como sujeito est na flexibilidade em que h na pr- ocupao e o trabalho em si. O que transforma, no trabalho, o operador em sujeito ausncia de coincidncia entre todas as atividades que o pr-ocupam, por exemplo, a vida fora de casa, a famlia e as atividades que o rodeiam fora do ambiente de trabalho.Em outro ponto, Clot ressalta como o trabalho prescrito se diferencia do real, refletindo assim no sujeito que se encontra ali ser o sujeito de seus atos tambm conseguir desfazer-se de um dado perfil, chegar a libertar-se do curso das atividades em que se acha engajado o autor refere-se ao fato de que o sujeito ao prestar seu trabalho desprende-se dos seus afazeres fora do trabalho e encontra ali o reconhecimento de si prprio naquilo que faz. Outro ponto importante que Clot ressalta mesclar os gneros e isso implica na troca de funes que podem ocorrer em uma empresa ou indstria. A tarefa aquilo que deve ser feito, a atividade o que se faz (Leplat e Hoc 1983). Clot conclui que a atividade do sujeito no se volta unicamente para o objeto da tarefa, mas tambm para atividade dos outros que se baseiam nessa tarefa, e para as outras atividades. Pensando nisso como exemplo dado no texto de uma operadora de mquina que ao ver um problema tcnico e com a impossibilidade de chamar o mecnico para auxilia-la, no caso por falta de tempo, orienta para ela mesma resolver a situao, est deslocando um trabalho para outro e consequentemente podendo causar riscos aos trabalhadores daquela fbrica. Clot conclui o captulo dizendo que so essas tenses vitais que o sujeito transforma quando consegue, em intenes mentais, as prprias intenes que ele tentar ento fazer prevalecer na tarefa que lhe confiada, partilhar com os outros e, eventualmente, por a servio de um gnero de situaes a promover. 3 - Trabalhar: sair de siSair de si no significa uma despersonalizao do trabalho e sim a ruptura entre as procupaes pessoais do sujeito e as ocupaes sociais de que este deve desincumbir-se. Segundo Clot, o sujeito tem a capacidade de deixar os problemas pessoais de lado quando precisa assumir seu papel no campo do trabalho, ele precisa responder a demanda atual e assumir o seu gnero de trabalho e, durante o tempo que necessrio ficar nesse papel consegue se desligar dos problemas que tem de lidar na vida pessoal. Portanto o sujeito no despersonaliza o trabalho, no deixa de colocar sua identidade naquilo que faz por deixar de fora suas pr-ocupaes pessoais, e sim assume seu papel e se foca no que deve fazer no momento se ocupando de sua atividade no contexto do trabalho, ou seja, assumindo seu papel de trabalhador.4 - Uma psicologia histrico-culturalSegundo o texto, o trabalho tem papel imprescindvel no desenvolvimento individual, na construo do prprio valor e na contribuio de cada um para a formao do patrimnio histrico-cultural humano. A psicologia histrico-cultural remete a um homem simblico, que se serve de convenes sociais e de um sistema de smbolos e signos organizados de maneira coletiva, liberto dos dados imediatos, para que os produtos do trabalho de uma gerao no sejam perdidos para aquela que sucede (pg 76). Sendo assim, o trabalho produz simultaneamente conservao e transmisso, inveno e renovao (pg 80). No entanto, os resultados da experincia humana se conservam em uma memria impessoal e que perpassa as geraes fazendo perpetuar a experincia humana. O texto cita Wallon como um dos psiclogos que melhor ajuda a perceber que a ao de trabalho em resposta a tarefa prescrita no tem valor em si mesma. Privado de toda imediatiedade em seu vnculo com o mundo, o homem vive apenas pela mediao de uma diviso do trabalho que o situa entre seus semelhantes na medida em que o interpela a classificar-se entre os outros (pg 79). Portanto, a funo psicolgica do trabalho indissociavelmente trabalho sobre si e trabalho no mundo dos outros e das coisas. E isso para sair de cada prova desenvolvendo seu poder de ao graas aos outros, embora sempre correndo o risco de que a ocasio assim oferecida seja fonte de sofrimento (pg 79). O trabalho inscreve o sujeito no mundo, por isso, seja esse o motivo do grande sofrimento que causa em termos psicolgicos ser privado de emprego. interessante destacar tambm que o trabalho uma atividade que engaja o sujeito num processo sem sujeito. Cabe a ele identificar -se com essa atividade, individual e coletivamente, reapropriando-se dessa parte no intencional de sua existncia, fundo invisvel e pressuposto simblico de toda ao de trabalho (pg 82). 5 - A barreira dos gnerosDe acordo com Yves Clot, gnero (...) o sistema aberto de regras impessoais no escritas que definem, num meio dado, o uso dos objetos e o intercmbio entre as pessoas: uma forma de rascunho social que esboa as relaes dos homens entre si para agir sobre o mundo. (p. 50). a histria da atividade compartilhada por um certo grupo de trabalhadores onde o trabalhador ali inserido pode prever, parcialmente, os resultados de suas aes no trabalho executado. como se fossem diretrizes do que fazer e do que no fazer em situaes precisas, como agir com os demais colegas de trabalho, etc.No livro, Clot exemplifica isso com o caso das enfermeiras chefes de equipe que executam funes do gnero mdico e do gnero administrativo.No entanto, o gnero social, ao definir as fronteiras mveis do aceitvel e do inaceitvel no trabalho, ao organizar o encontro do sujeito com seus limites, requer o estilo pessoal.O estilo pessoal onde a pessoa se liberta do caminho de atividades esperadas para dado gnero, onde ela modifica sua forma de trabalho, coloca um pouco de si naquilo que faz. a transformao do trabalho prescrito no trabalho real.Os critrios de avaliao do ambiente de trabalho so diferentes, se tem ali o conjunto de normas prescritas, mas dentro da possibilidade de mobilidade, cada pessoa modifica de forma diferente essas normas e cria seu estilo pessoal. Os valores e ideais profissionais que estimulam ao do trabalho tambm no so idnticos para os indivduos, ainda que dentro de um mesmo gnero, pois as pr-ocupaes extraprofissionais geram em cada indivduo um significado diferente para aquilo que faz.6 - Um trabalho para si: linguagem e tcnicaAssim como ocorre com a linguagem, o processo de transformao do trabalho em trabalho para si complexo, pois envolve a transformao do gnero das atividades esperadas para, assim, torna-las suas. Mas, para isso, necessrio se ter um bom domnio dos gneros requeridos numa situao para que, mesmo saindo do curso de atividades esperadas, o trabalho realizado ainda esteja em certa conformidade com o gnero a qual pertence.Vygotsky fala dos signos da lngua como instrumentos psicolgicos cuja vocao realizar uma ao, assim como os instrumentos tcnicos, mas ambos se diferenciam pela direo de sua ao. O instrumento psicolgico no provoca a mudana no objeto em primeira instncia como a ferramenta o faz. A ferramenta serve de mediao atividade que liga o homem primeiro ao mundo das coisas e depois o liga aos outros homens. J o signo inverte essa ordem ligando, primeiro, o homem aos outros homens e s depois ao mundo das coisas.E se o assdio no fosse moral? Muitas teorias analisam o assdio sob uma perspectiva puramente moral ou psicolgica; no entanto, devemos analis-lo tambm de acordo com a perversidade dos modelos contemporneos de gesto; Assdio moral: Uma violncia de natureza simblica, repetida de forma sistemtica e que atinge seriamente a sade mental dos trabalhadores; Segundo Hirigoyen (2000), o assdio em um local de trabalho entendido como toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano a personalidade, a dignidade ou a integridade fsica ou psquica de uma pessoa, pr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho; Pode se manifestar de vrias maneiras, desde a exigncia de tarefas impossveis at o isolamento do indivduo ou sua exposio ao ridculo; Dois vieses tpicos para a explicao do assdio moral: 1) a tendncia a psicologizao dos conflitos interpessoais no trabalho; e 2) a judicializao desses conflitos; Soboll (2008) identifica que no so apenas as caractersticas individuais as responsveis pela determinao da violncia nas organizaes. Salvo raras excees, as atitudes abusivas encontram suas razes na prpria organizao do trabalho, sendo um reducionismo tratar o assdio do ponto de vista individual; Freitas, Heloani e Barreto (2008) afirmam ser preciso buscar no contexto social e organizacional mais amplo razes de um fenmeno que se expressa na interao de pessoas no cotidiano do trabalho, mas que no se confunde com uma prtica resultante meramente de conflitos pessoais ou antipatias aleatrias; Trata-se de uma prtica que pode se manifestar de formas variadas, mais ou menos sutis, mas que implica sempre na exposio freqente dos trabalhadores a situaes vexatrias e constrangedoras, acarretando sentimentos de menos-valia, insatisfao, desnimo, indignao e afetando, com o passar do tempo, sua autoestima e sade mental. Determinaes do assdio moral: Perspectiva estritamente psicolgica: os conflitos no mbito das relaes interpessoais seriam provocados por uma espcie de choque de personalidades, ou seja, so as diferenas e os atributos individuais que estariam na sua origem. Por isso, tenta-se com certa freqncia, caracterizar o perfil psicolgico dos assediadores e dos assediados, sendo os primeiros quase sempre taxados como perversos e os segundos como frgeis e indefesos; Assim, no se trata fundamentalmente de uma reestruturao do mundo do trabalho que transforma as relaes de trabalho e induz comportamentos ditos de assdio - ao criar situaes de conflitos interpessoais e dramas profissionais -, mas sim de uma ocupao dos postos estratgicos de trabalho por indivduos que j so perversos antes mesmo de viverem essas situaes; Em geral, nesse tipo de anlise, as questes relativas as formas de sociabilidade contempornea, aos modos de gesto e organizao do trabalho so desconsideradas ou apenas citadas como parte do contexto em que o assdio ocorre, sem que se estabeleam as mediaes necessrias entre eles e o problema examinado; A relao entre os chamados conflitos interpessoais e as contradies e os paradoxos existentes na organizao do trabalho, nos modelos organizacionais e nas prticas de gesto, sequer chega a ser considerada ou tratada apenas de forma pontual; Mesmo aqueles que levam em conta aspectos do trabalho tambm tm falhado ao cair em uma espcie de sociologismo que privilegia os fatores sociais, desconsiderando aqueles de ordem pessoal; Luckcs (2010): a violncia no uma relao extraeconmica, mas uma determinao inerente as relaes de produo capitalistas; So exemplos tpicos desse tipo de anlise, as freqentes tentativas de associar o assdio moral a um dado perfil psicolgico das vtimas e dos assediadores. Escapa a esse tipo de anlise que a personalidade s pode se constituir a partir de um processo histrico/social; As anlises que tomam a personalidade como ponto de partida para a compreenso desse fenmeno operam uma inverso ontolgica ao pressupor a primazia das caractersticas pessoais, consideradas at mesmo de forma independente das relaes sociais e da sociabilidade instaurada pela lgica do capital. Tendncia a judicializao: O pressuposto de que, por detrs das condutas dos agressores, haveria um propsito claro e deliberado de arruinar a vida da vtima tem promovido a transferncia das tentativas de resoluo do assdio moral para a esfera jurdica; Nesse caso, acredita-se que esse problema s poder ser resolvido no mbito jurdico, gerando a procura de culpados, o que geralmente afasta a possibilidade de transformao da organizao do trabalho, isto , de tomar o problema em sua raz; Ao colocar acento exclusivamente na relao entre dois indivduos, o agressor e a vtima, essa discusso pode abrir caminho para a criminalizao das condutas mais do que para as transformaes da organizao do trabalho que as solicita (Clot, 2005); CLOT: A funo da psicologia seria a de oferecer a escuta nas organizaes, levando as pessoas a mobilizarem cada vez mais seus recursos para suportar o insuportvel; Necessidade de escutar os trabalhadores, mas sem procurar intervir no prprio trabalho; Afirma que a maior fonte de sofrimento dos trabalhadores se encontra na impossibilidade de se reconhecerem naquilo que fazem e no na ausncia do reconhecimento de chefes ou colegas; O motivo dos problemas no mbito do trabalho a ausncia de debates internos entre os coletivos profissionais acerca de questes relativas ao prprio trabalho. Podemos entender o assdio moral, em sua forma atual, como uma manifestao particular das relaes de poder e da violncia entranhadas na economia e nos processos de produo; A ciso existente entre o planejamento e a execuo do trabalho retira dos trabalhadores o poder de modificar a organizao de sua atividade; No se trata de negar o lugar da subjetividade na compreenso do assdio moral, mas de redimensionar o seu peso e entender como os atos individuais se articulam ao contexto no qual a atividade se realiza e a forma pela qual ele se articula com a ordem mais geral ditada pela produo de valor; O contexto das aes sociais determinante da prpria interao que, de outra forma, permanece incompreensvel (Goffman). Entendemos o assdio moral como o resultado da atividade dos prprios indivduos, bem como das condies concretas sob as quais produzem e reproduzem suas existncias; No se trata de transformar assediados em vtimas e assediadores em culpados, mas de reconhecer as condies sociais de produo que os colocam nessas relaes antagnicas; As razes do assdio moral esto nas articulaes entre as polticas empresariais, os modelos de gesto, os modos de organizao do trabalho e os aspectos subjetivos e interpessoais; O assdio moral deve ser apreendido a partir de uma perspectiva mais ampla que considera desde o contexto econmico e poltico, at o contexto organizacional e do trabalho, passando pela singularidade de seus protagonistas.

Palestra Yves Clot

A comunidade cientfica deveria deixar ao trabalhador a possibilidade de ele mesmo afetar e controlar a psicologia do trabalho mediante formas de cooperao entre eles, como a co-anlise do trabalho, que o dispositivo de transformao. Oddone tem um esprito prtico e tem o interesse, a preocupao, de saber como, no o que os trabalhadores sabem, mas como. Eu [Yves Clot] me perguntava como os trabalhadores sabem e o dispositivo metodolgico, o que eu denominei clnica da atividade, que seria o meio de mudar a psicologia do trabalho junto com os trabalhadores, e vice-versa, pois esse dispositivo permite que os trabalhadores, com a psicologia do trabalho, desenvolvam sua capacidade de agir. O trabalho de Oddone est vinculado ao movimento dos conselhos de trabalhadores nos locais de trabalho, em Turim (Itlia) na dcada de 70. A perspectiva de Oddone influenciada por esse movimento dos conselhos nos locais de trabalho e ele considera importante a participao dos trabalhadores na psicologia do trabalho. Ele tambm se preocupa com o enfraquecimento do movimento dos trabalhadores. A ergonomia prope a distino entre trabalho prescrito e trabalho real, entre tarefa e atividade. A psicologia do trabalho analisa o trabalho no sentido dado pela ergonomia. Clnica do trabalho: visa a ao sobre o campo profissional e busca desenvolver a capacidade de agir dos trabalhadores sobre eles mesmos e sobre o campo profissional. Clnica do trabalho porque uma idia de que uma disciplina clnica, no sentido mdico: tem como objeto uma doena nas situaes reais de trabalho. Baseia-se na idia de que a psicologia do trabalho vai partir do campo (da realidade de trabalho) e voltar ao campo. uma idia de que no h psicologia do trabalho sem transformao da situao de trabalho. Qual a relao entre a clnica do trabalho e a ergonomia? A clnica do trabalho busca transformar o trabalho. Isso justamente o que partilha com a ergonomia. A ergonomia de Wisner apresenta a concepo de que se deve adaptar o trabalho ao homem e no o homem ao trabalho, e toda a tradio da psicologia industrial visa justamente adaptar o homem ao trabalho, quer dizer, conform-lo. Ela analisa a disfuno, mas a disfuno dos homens e no a disfuno da situao, da organizao. A tradio ergonmica tem como objetivo a ao, a transformao. O objetivo compreender para transformar. Nesse sentido, a ergonomia tambm clnica; um dispositivo de transformao da situao e de restaurao da sade. por isso que clnica, por buscar transformar a situao, e clnica tambm em funo do modelo terico. No podemos tratar da atividade sem tratar da subjetividade. De certa forma, a diferena entre a ergonomia e a clnica da atividade reside no fato de que atividade e subjetividade so inseparveis e essa subjetividade que interessa na situao de trabalho para a clnica do trabalho. A clnica a ao para restituir o poder do sujeito sobre a situao. Na clnica do trabalho a questo do coletivo o problema central. No o coletivo como grupo, mas o coletivo como recurso para o desenvolvimento da subjetividade individual; o coletivo no indivduo que nos interessa. Por isso Vigotski to importante. Vigotski apresenta a idia de que o social no simplesmente uma coleo de indivduos, no simplesmente o encontro de pessoas; o social est em ns, no corpo, no pensamento; de certa maneira, um recurso muito importante para o desenvolvimento da subjetividade. O coletivo, nesse sentido, entendido como recurso para o desenvolvimento individual. isso o que interessa clnica da atividade. H uma dimenso coletiva e subjetiva. Ives Clot: A concepo que tenho da clnica buscar a transformao, por isso minha afinidade com Oddone. A clnica no apenas para conhecer, mas um dispositivo de ao e do conhecimento para a ao, para a transformao, por isso minha ligao com Oddone. (...) Para mim o interesse reside no no conhecimento em si, na descrio, mas na transformao. A gesto tende a individualizar as questes e os socilogos tm insistido muito nisso, mas o real do trabalho impe, cada vez mais, um trabalho coletivo; para fazerem face ao real, os trabalhadores tm que faz-lo juntos. O coletivo solicitado e, ao mesmo tempo, interditado: essa a causa profunda do sofrimento no nvel profissional. Se a demanda da empresa a construo da coleo, ns buscamos a construo do coletivo. H uma estratgia de prescrio da subjetividade, de conformar-se aos ideais das empresas. Ns utilizamos o dispositivo da ao para desenvolver o coletivo. A atividade no operao (gesto visvel, detalhe etc.), mas sim o que feito e o que ainda no foi feito. O sonho parte da atividade. Inclui o que eu fiz e o que eu no fiz. O que eu no fiz, paradoxalmente, faz parte da atividade. RESUMINDO A clnica da atividade visa a restaurar o ambiente do trabalho normal. Trata-se de redescobrir ou de reencontrar o recurso interno do meio profissional considerado. O problema no desenvolver a interpretao do pesquisador, os diferentes modelos de interpretao do real, do lado do pesquisador; o importante desenvolver a interpretao dos trabalhadores, no a do pesquisador. um dispositivo com o qual os trabalhadores reinterpretam a sua interpretao e desenvolvem a sua interpretao sobre o trabalho que fazem. Isso psicologia: o desenvolvimento do pensamento e da atividade dos trabalhadores por eles mesmos. Os operadores, os trabalhadores, transformam-se em sujeitos da interpretao e da observao e no se reduzem a objeto da interpretao e da observao dos pesquisadores.

Instrumentalizar a ao I. OddoneOddoni, em companhia com outros especialistas, se deu conta do impasse em relao simples denncia das condies de trabalho inaceitveis. Assim, procura meios de apoiar os coletivos de trabalho em sua tentativa, para manter, inicialmente, e, em seguida, ampliar seu raio de ao. Em vez de uma nova psicologia de trabalho, pretendemos propor um novo modo de desenvolvimento para essa psicologia, ou seja, fazer de outra maneira a psicologia do trabalho. Uma psicologia do trabalho que ajude a ampliar o poder de ao dos coletivos de trabalhadores no meio de trabalho e sobre eles mesmos.De fato, no mundo sindical em que se desenrolou a experincia dirigida por Oddone, procurava-se ento, sair da monetarizao dos riscos: a sade no est venda. At ento, esse slogan permanecia vazio de sentido: qualquer denncia das nocividades era acompanhada, inevitavelmente, de uma demanda salarial compensatria. Assim, a denncia sem ao acabava agravando a situao.1. Duas vias para sair desse dilemaA primeira via passava pela modificao do papel do mdico e do psiclogo da empresa atravs da substituio de um profissional ruim por um bom especialista que estivesse disposto a reconhecer a validade do protesto dos trabalhadores. A segunda via implicava que fossem procurados novos critrios para permitir a definio dos ndices de nocividade, assim como novas formas de participao dos operrios. Foi na ltima via que Oddone se engajou. a que se encontra a origem do que se designou por comunidades cientficas ampliadas e da ideia de um grupo operrio homogneo, instrumento vivo da avaliao dos riscos e de validao das solues elaboradas. Da, surge uma mobilizao subjetiva voltada para a supresso do risco profissional: um meio vital para apoiar uma experincia coletiva de retomada em mos do trabalho por aqueles que o fazem.1. Apropriar-se do meioDe fato, existe uma parcela considervel da prpria experincia que escapa aos trabalhadores. necessrio que os conceitos espontneos germinem para cima por intermdio dos conceitos cientficos, a fim de que novos conhecimentos emanem desse processo. A experincia dos operrios deve ser transformada, para que enfim, possa ser reconhecida. A transmisso da experincia do trabalhador equivale sempre a um desenvolvimento dessa experincia. Reconhec-la implica-la em uma histria que a modifica. Assim, o grupo homogneo que se torna protagonista da anlise do meio e garante a validao coletiva dos resultados obtidos com os especialistas, no apenas um grupo social passageiro uma vez que a validao coletiva um processo que tm continuidade histrica. O meio profissional nunca somente um meio social, mas tambm um meio histrico.A ergonomia tem de enfrentar, de forma mais contundente do que nunca, a questo do lugar dos trabalhadores na produo dos conhecimentos sobre seu trabalho. O problema da expertise no meio profissional est bem longe de ser superado.1. Gnero de atividades e grupo homogneoGnero profissional do coletivo de trabalho: Algo nos escapava. Era como se, por trs desses comportamentos (dos operrios), houvesse um no sei qu feito de regras de conduta e de estratgias individuais que em parte, unificavam esses trabalhadores e, em parte, os diferenciavam. Existe uma estruturao do comportamento em planos individuais orgnicos, organicamente reunidos na conscincia coletiva. Tais estratgias de ao dizem respeito s relaes com a tarefa, com os colegas de trabalho, com a hierarquia e com a organizao do mundo do trabalho. De maneira geral, encontra-se no gnero profissional do coletivo de trabalho, uma gama de atividades obrigatrias, possveis ou proibidas, comporta o espectro de possibilidades referentes maneira de agir e de pensar em certo meio. So atividades pr-organizadas que se impe como autoridade e indicam o tom para agir nesse meio. So, portanto, coeres e, ao mesmo tempo, meios de agir. As leis do gnero tomam a dianteira do comportamento delimitando, no de maneira definitiva, o campo de atividades possveis e impossveis, sua conexo e sucesso. Elas liberam os sujeitos dos passos em falso da ao.Dessa forma, o gnero profissional conserva e transmite a histria social. Entretanto, necessita de manuteno. Se esses recursos se esgotam, ento, a vida e a funo psicolgica do trabalho se encontram gravemente reduzida. A ausncia, a falncia, ou ainda, a perda dessa postura simblica e coletiva da ao individual esto na origem da maioria das experincias penosas suportadas.1. Estilos de atividades e desenvolvimento psicolgicoOddoni objetiva compreender como esse coletivo de trabalho vive, transforma-se e conserva sua funo psicolgica. Isso abarca como cada um assume a responsabilidade pelo desenvolvimento do gnero, explicar a formao e a transformao dos gneros pela estilizao. Tal postura pressupe considerar que os sujeitos abordados pelas cincias sociais no so foradamente aqueles que representam a norma, mas tambm aqueles que a pesquisa tradicional considera como transgressores e que o so, na medida em que tendem a antecipar uma organizao do trabalho menos alienada.A instruo ao ssia coloca em circulao essas estilizaes. um procedimento suscetvel de tornar a experincia j feita, disponvel para experincias a fazer. Da interao entre o dar as instrues e o receber as instrues emerge uma tomada de conscincia simultnea. Significa a ruptura com a psicologia monolgica para penetrar no domnio de uma psicologia dialgica.1. A vida do gneroCada sujeito interpe, entre ele e o gnero coletivo a que pertence, os prprios retoque do gnero. Ele o repete, sem repetir, uma repetio que vai alm da repetio. Cada instruo ao ssia faz reviver o gnero de um modo pessoal, nico do especfico sujeito trabalhador. Verifica-se uma redisposio, por cada sujeito, das relaes com a tarefa, com os coletivos, com a hierarquia ou com os sindicatos. O estilo se libera do gnero no por sua negao, mas pela vida de sua renovao. Consequentemente, a instruo ao ssia confere visibilidade ao gnero e o torna suscetvel de ser discutido. um meio de abordar os planos implcitos e subtendidos que organizam a atividade em um grupo homogneo de trabalhadores. Desse modo, a instruo ao ssia uma tcnica que permite que um gnero possa permanecer vivo.Atravs dessas contribuies de I. Oddoni, a psicologia do trabalho poderia efetivamente ter a tarefa de assessorar os coletivos profissionais nesta obra se recriao dos meios.