caderno resumos do i congresso da sociedade brasileira de filosofia analítica

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Caderno de Resumos I Congresso da Sociedade Brasileira de Filosofia Analítica Adiano Naves de Brito (organizador) 31 de maio a 2 de junho de 2010 São Leopoldo – RS – Brasil

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Caderno Resumos do I Congresso da Sociedade Brasileira de Filosofia Analítica - 2010

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Caderno de ResumosI Congresso da

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Adiano Naves de Brito(organizador)

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Caderno de ResumosI Congresso da

Sociedade Brasileira de Filosofia Analítica

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PresidenteAdriano Naves de Brito (UNISINOS)

Vice-PresidenteCláudio Costa (UFRN)

1º SecretárioAndré Leclerc (UFC)

TesoureiroDarlei Dall’Agnol (UFSC)

2º SecretáriaSofia Inês Albornoz Stein (UNISINOS)

Conselho fiscalDanilo Marcondes de Souza Filho (PUC-Rio)

Nelson Gonçalves Gomes (UnB)Paulo Roberto Margutti Pinto (FAJE-BH)

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Adiano Naves de Brito(organizador)

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I CongreSSo da SoCIedade BraSIleIra de FIloSoFIa analíTICa

Coordenação geralAdriano Naves de Brito (UNISINOS)

Comitê CientíficoAndré Leclerc (UFC) Cláudio Costa (UFRN)

Danilo Marcondes (PUR-RJ) Darlei Dall’Angnol (UFSC)Guido Imaguirre (UFRJ)

Luiz Alberto Peluso (UFABC)Marco Ruffino (UFRJ)

Maria Cecília de Carvalho (UFPI). Nelson Gomes (UnB)Sofia Inês Albornoz Stein (UNISINOS)

Comitê organizadorAdriano Naves de Brito (Coordenador/UNISINOS)

Elisângela Pereira Machado (UNISINOS)Jasson da Silva Martins (UNISINOS)

Luan Carlos Nesi (UNISINOS)Martha Helena Sander (UNISINOS)

Mônica Gonçalves Leite (UNISINOS)Sergio Guilherme Santos Portella (UNISINOS)

Viviane Zarembski Braga (UNISINOS)

dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C749c Congresso da Sociedade Brasileira de Filosofia Analítica (1. : 2010 : São Leopoldo, RS).

Caderno de resumos [do] I Congresso da Sociedade Brasileira de Filosofia Analítica / Adriano Naves de Brito (Organizador). – São Leopoldo: SBFA, 2010.

ISBN 978-85-65843-01-0

90 p.

1. Filosofia. 2. Filosofia analítica. I. Brito, Adriano Naves de. II. Título.

CDU 1

Bibliotecário responsável: Cristiane Pozzebom CRB 10/1397

Projeto gráfico e editoração:José Luiz Dias da Silva

[email protected]

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Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Resumo das conferências plenárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Conferências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Mesa Redonda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Resumos das comunicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

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apresentação

Valinhos, cidade do interior paulista nas imediações de Campinas, testemu-nhou em 1991 o primeiro encontro de âmbito nacional no qual a ideia de uma Sociedade Brasileira de Filosofia Analítica (SBFA) circulou francamente. Os des-vãos da história que vai daquela modesta reunião a este primeiro congresso esconde um grande número de anônimos esforços para dar vida àquela ideia. A todos esses esforços e a seus protagonistas prestamos, ao entregar este caderno de resumos do I Congresso da SBFA a seus participantes, a justa homenagem da comunidade filo-sófica que aqui se reúne para, no espírito que melhor caracteriza a filosofia analítica, submeter argumentos ao escrutínio público.

A geografia em que este congresso foi pensado foi outra, foi meridional. Na reunião de fundação da SBFA, em outubro de 2008, na cidade serrana de Canela, no Rio Grande do Sul, sob os auspícios da Anpof, que lá realizava o seu XII Encontro Nacional, a assembleia que constituiu a Sociedade também deliberou sobre a reali-zação de seu primeiro evento. O que o leitor tem nas mãos é o resultado que aquele grupo fundador se pôs como meta e que, oxalá, esteja à altura das expectativas que então erguíamos.

A acolhida pela comunidade filosófica nacional e internacional ao chamamen-to por trabalhos foi um sinal inequívoco da demanda por um espaço próprio para a reunião da corrente analítica no país e da oportunidade da fundação da SBFA. Foram mais de cem submissões, das quais o comitê científico do congresso selecio-nou, pelo sistema de duplo cego, algo em torno de setenta por cento dos trabalhos. O leque de ofertas que têm à disposição os participantes do congresso é variado e dá uma viva noção da abrangência dos interesses da corrente analítica neste início de século, também em terras brasileiras.

A todos que com seu interesse forneceram a matéria prima para reunirmos neste volume este qualificado conjunto de resumos, a nossa gratidão. E aos que com seu empenho fizeram esta seleção, nosso reconhecimento. Estamos igualmente em dívida para com os órgãos que financiaram esta empreitada, notadamente a Capes, o CNPq e a Fapergs; e de modo especial, por ter acolhido a SBFA em seu nascimento e a este I Congresso com generosa hospitalidade, à Unisinos. Devemos finalmente agradecer aos alunos e alunas da graduação e pós-graduação em Filosofia da Uni-sinos que trabalharam na organização local do evento, a Luan Carlos Nesi, respon-sável pela página da Sociedade, e de modo particular a Jasson da Silva Martins, a

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cujas diligências deve-se, entre outras coisas, que este caderno tenha sido concluído a tempo de alcançar os seus leitores.

À história da SBFA, aduzimos, todos os aqui reunidos, mais este capítulo de cuja importância devemos ter consciência. Nosso desejo é que a este congresso ou-tros mais se somem e que possamos, em breve, dizermo-nos os versos do bardo popular de Valinhos, Adoniram Barbosa, “Ói nóis aqui traveis”.

Que tenhamos todos um excelente congresso!

Em nome da direção da SBFAAdriano Naves de BritoPresidente

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resumo das conferências plenárias

Conferências

The Publicity of Meaning and the Interiority of MindBarry C. SmithUniversity of London/Inglaterrawww.philosophy.sas.ac.uk

How can we reconcile the inner and conscious dimension of speech with its outer and public dimension? If what people mean by their words involves, or consists in, what they have in mind when they speak then how can what someone has in mind – the meaning the speaker attaches to her words – be at the same time pu-blicly accessible to others on the basis of her behaviour? The issue is whether there is a notion of the linguistic meaning of an expression that can do justice to both speakers’ inner experience of comprehension and to what is outwardly available in their public practice. I shall argue for an account that reconciles what is immediately available to the language user – from the first person point of view – with what is outwardly accessible to the listener who perceives the speaker’s use of language.

Untying a Knot From The Inside out: reflections on The ‘Paradox’ of SupererogationMark TimmonsState University of Arizona/[email protected]

A supererogatory action is supposed to be an action that is both good to do, indeed, the morally best act to perform in some circumstance, yet an one that is also not morally required. But how can an action that is morally best to perform be one that is not also morally required? The very idea of a supererogatory action has struck some as paradoxical. This paper addresses this alleged paradox by first making a

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phenomenological case for the reality of instances of genuine supererogatory ac-tions, and then, by reflecting on the relevant phenomenology, explaining why there is no genuine paradox. The main claim of the paper is that one can make sense of supererogation by recognizing what we call a ‘merit-conferring’ role that moral re-asons can play – a role that allows for actions that are morally good, indeed morally best, yet are also not morally required.

a different model for empirical conceptsRuth Garrett MillikanUniversity of Connecticut/[email protected]

Empirical concepts tend to be modeled by contemporary philosophers and psycho-logists as tools for “cutting up” the world, grouping parts into whole individuals, grouping individuals into kinds, and so forth. A prosperous industry then debates whether these groupings reflect natural joints in the world or are merely scores scratched by language. I propose that basic empirical concepts involve abilities to recognize, not other parts of the same thing or other things with the same proper-ties, but the very same entities again and involve, paradigmatically, the ability to do this in a great variety of alternative ways. Concepts of individuals now turn out to be the best models of empirical concepts. Whether you and I are talking about the same person when we refer to “Jane at the party last night,” so that I should take the information you give me to be more information about the same, is not a problem about, say, how to group temporal-person-stages into a whole person, but a problem about objective identity. The selfsames that many other basic empirical concepts correspond to also are not nominal but are real and empirically discovered.

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Mesa redonda

Tema: Filosofia Analítica na AL e no Brasil: avaliação e perspectivas

Moderador: Adriano Naves de Brito (UNISINOS)

Componentes: Sara Albieri (USP); Nelson Gomes (UnB); Luiz Alberto Peluso (UFABC); Olbeth Hansberg (UNAM-México)

O que é fazer filosofia analítica no Brasil e na América Latina? De que modo esta corrente filosófica se estabeleceu em nosso continente, em especial no Brasil. Por que sua chegada foi tardia na América Latina? Quão determinante é a língua ingle-sa para a filosofia analítica? O ambiente filosófico no Brasil e na América Latina é razoavelmente diversificado e passa por constante transformação. Nesse quadro, vale a pena discutir a natureza da filosofia analítica e as suas relações com as demais cor-rentes de pensamento? Pode a filosofia analítica inserir-se no mundo universitário brasileiro por meio de trabalhos específicos e direcionados? Pode ela inserir-se no mundo cultural do nosso país e continente? O que se espera da Sociedade Brasilei-ra de Filosofia Analítica, em termos do desenvolvimento dessa linha filosófica? A mesa tem por objetivo discutir com o público esses temas a partir da perspectiva de seus quatro componentes.

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resumos das comunicações

o que é uma sentença condicional?Adriano Marques da SilvaUniversidade Federal do Rio Grande do [email protected]

Esta comunicação tem como objetivo esclarecer os conceitos centrais envolvidos no estudo da formalização das sentenças condicionais. Mais especificamente, em-preendemos uma análise comparativa de duas das principais e mais tradicionais propostas de formalização dos condicionais (Lewis e Adams propostas responsáveis pela inauguração de vertentes de análise que ainda se fazem presentes no debate contemporâneo sobre o tema. Visamos, fundamentalmente, o esclarecimento das principais assunções presentes nessas propostas. Com base em certas técnicas de desambiguação presentes em Bennett e em Lycan buscamos explicitar como es-sas assunções articulam-se, efetivamente, aos objetivos almejados pelas abordagens inaugurais. Os resultados que, se seguem, mostram que existe um pressuposto, não explicitamente declarado, tácito, a definição do objeto de estudo dessas teorias, isto é, a definição de sentença condicional. Argumentamos que, apesar de não claramen-te declarada, a definição do objeto de estudo desempenha um papel fundamental na própria inteligibilidade do debate.

Semantics and Moral ValuesAdriano Naves de BritoUniversidade do Vale do Rio dos [email protected]

The core idea of the theory I wish to defend in this paper is that it is meaningful to establish a comparison between the way meanings are expressed in social discourse via utterances, and the way moral values are recognized as such. The premise is that “true and false” or “good and bad” are values that share similar operational struc-tures. The first part of the paper will demonstrate what can be understood by the term “naturalized values” in relation with morality. On the second part, I will deal

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with the problem of explaining moral obligation on natural terms. In order to do that I will analyze moral value in general, and universalism and egalitarianism in particular. To sum up my argument on this point, I will explain the objective validity of universalism and egalitarianism, two paramount values of morality, by means of the asymmetry between indignation and guilt, which is fundamental to morality as a system of reciprocal demands, but which does not characterize specific morals based on agreements. I intend to argue, therefore, that moral values can be founded on the economy of human feelings and, in particular, on affections such as indigna-tion and guilt. To this end, semantics will be used as a model for understanding the nature and dynamics of moral values.

Justification without awereness? Sobre o argumento de Michael Bergmann contra o internalismoAlexandre Meyer LuzUniversidade Federal de Santa [email protected]

Em diversos artigos e particularmente em seu livro Justification Without Awareness (Oxford: Oxford University Press, 2006), Michael Bergmann sugere uma releitura do famoso ataque de Laurence BonJour ao externalismo epistemológico. Relem-brando, grosso modo, BonJour sugere (em The Structure of Empirical Knowledge. Cambridge: Harvard University Press, 1985) com o auxílio de contra-exemplos que se S não tem indicações sobre a confiabilidade de um processo formador de crença R (ou, pior, se S não crê na confiabilidade de R, por exemplo), então mesmo que S possua R e que R seja efetivamente um processo confiável de formação de crenças para S, então S não pode estar justificado em crer nas crenças que lhe são entregues por R. Esta espécie de ataque exigiu reformulações na estratégia externalista, de modo a permitir que o externalista algum tratamento para o problema causado pela eventual incoerência entre as crenças entregues a S por R e as crenças de S sobre R. Bergmann, por sua vez, sugerirá que este tipo de argumento deve ser contado, de fato, como um argumento contra o internalismo: para satisfazer o requisito de acesso (àquilo que justifica a crença) exigido por BonJour, o internalista deverá ou 1) enfraquecer o requisito de acesso de tal modo que a tese internalista perderá seu apelo ou 2) fortalecer o requisito de acesso ao ponto de abrir as portas para o ceti-cismo radical. Em nossa comunicação pretendemos avaliar os dois cornos do dile-ma proposto por Bergmann, aceitando o segundo, mas defendendo que o primeiro corno é simplesmente falso. Pretendemos voltar à estratégia bonjouriana original para 1) defender sua correção e 2) mostrar que o internalismo possui ferramentas

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conceituais mais adequadas para um tratamento adequado do problema ali sugerido e que, deste modo, não há falta de apelo em favor da manutenção de alguma forma de internalismo moderado.

Uma proposta de reformulação para as definições griceanas de significação não-natural e de comunicaçãoAna Leda se AraujoUniversidade Federal da Paraí[email protected]

Em seu artigo intitulado Meaning (1957), Grice define o que ele chama a “sig-nificação não-natural” a partir das intenções de um comunicador. Ele defende a ideia de que a significação dos enunciados da linguagem depende das intenções de significações dos locutores. Segundo esta definição, o comunicador C provoca intencionalmente o efeito E no ouvinte O do fato que este ouvinte reconhece a intenção do comunicador. Isto dito, o caráter intencional da significação do locutor, uma vez apreendido pelo interlocutor, é suficiente para a comunicação humana. Mas, o que há na base desta intencionalidade da mente para que ela seja apreendida pelo interlocutor quando da enunciação do locutor? Neste trabalho chamaremos a atenção sobre o fato de que não podemos assumir o modelo de base de Grice de maneira não crítica e sem ver as dificuldades que ele comporta: mostraremos que existem problemas concernentes à formulação da definição mesma de significação não-natural e também à questão de sua aplicação, se se pode definir um ato de co-municação em termos da realização somente dessas intenções griceanas. A fim de dar conta destes problemas, proporemos alguns refinamentos a sua análise descritiva da comunicação, apresentando em seguida nossa própria reformulação da definição de significação não-natural e de comunicação. Para isso, faremos uso da máxima de relevância – apresentando inicialmente um tratamento formal para essa máxima: seus graus de relevância e sua generalização a todos os tipos de atos de discurso – como uma ponte conceitual ligando a análise griceana da significação a sua teoria normativa da cooperação.

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o antipsicologismo fregeano e a caracterização do psicologismo na alemanha do século XIXAnderson Bogéa da SilvaUniversidade Federal da Paraí[email protected]

Este trabalho pretende investigar como se constituiu o psicologismo na Alemanha do século XIX, e, por conseguinte, analisar mais adequadamente o antipsicologismo sustentado e esboçado por Gottlob Frege (1848-1925) ao longo de sua obra. A fim de compreender a que Frege se referia quando utilizava a expressão “psicologismo”, buscou-se delinear as possíveis bases teóricas desta doutrina, chegando a sugerir possíveis raízes nas teorias ideacionistas da modernidade. Percebe-se que o psico-logismo localizado no século XIX tem uma relação essencial com a emergente psi-cologia experimental daquele período, tendo em vista principalmente o surgimento do primeiro laboratório de psicologia experimental em 1879, fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm M. Wundt (1832-1920). Esta relação se sustenta ao menos em dois pontos, a influência do empirismo inglês de autores como John Stuart Mill (1806-1873) e o modelo de objetividade das ciências naturais. Tal análise buscou entender como um possível rechaço de muito do que se entendia como pensamento especulativo se fundamentava na expansão científica em meados do século XIX. Hans Sluga (1980) atribuiu tal expansão a uma série de transformações sociais, his-tóricas, políticas e filosóficas, que culminam de certa maneira com o próprio declí-nio do hegelianismo, e o advento de algumas descobertas científicas, como indicou Friedrich Engels (1886) em seu artigo sobre o declínio da filosofia clássica alemã no século XIX. Essa expansão se caracterizou principalmente pela corrente do na-turalismo científico oitocentista, e que tinha como alguns de seus expoentes Otto Gruppe (1851-1921) e Heinrich Czolbe (1819-1873). A partir disso, parte-se a um resgate das bases naturalistas do psicologismo através de tais considerações de Slu-ga. Por fim, apesar de entender que o antipsicologismo fregeano não necessariamen-te segue de uma ontologia realista ou de uma semântica, que tem como principal argumento a intersubjetividade, percebe-se que estes elementos que caracterizam a objetividade fregeana sustentam teoricamente a posição antipsicologista deste autor. Conclui-se que o modelo (princípio) de objetividade proposto por Frege, que difere daquele das ciências naturais, e de caráter eminentemente platonista, pelo menos em seus principais aspectos, surge como uma engenhosa ferramenta de combate às tendências psicologistas daquele período.

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Como vencer uma batalha com o cético: um guia contextualistaAndré Joffily AbathUniversidade Federal da Paraí[email protected]

Segundo contextualistas acerca do conhecimento proposicional, os requerimentos para que um sujeito saiba que p podem variar de acordo com o contexto em que o conhecimento é atribuído, em uma escala com graus de exigência. Alguns contex-tos de atribuição estabelecem requerimentos pouco exigentes para o conhecimento, enquanto outros estabelecem requerimentos em altos graus de exigência. Tais va-riações nos requerimentos nos permitem dar uma forma de resposta ao problema do ceticismo. Afinal, contextos de atribuição em que hipóteses céticas são consi-deradas são, para o contextualista, contextos extremamente exigentes, exigentes ao ponto de os sujeitos não satisfazerem os requerimentos em jogo em tais contextos. Ou seja, em tais contextos, os sujeitos não possuem conhecimento. Mas isso não significa que os sujeitos não possuam conhecimento em qualquer contexto de atri-buição. Afinal, em contextos em que hipóteses céticas não são consideradas, os requerimentos para o conhecimento são mantidos em um grau baixo de exigência, e podem ser satisfeitos pelos sujeitos. Assim, o contextualista busca preservar uma suposta intuição de que, em contextos ordinários, nosso conhecimento é preserva-do, mas que, em contextos envolvendo hipóteses céticas, nosso conhecimento nos é roubado. Defenderei uma posição distinta, segundo a qual mesmo em casos em que hipóteses céticas são levantadas, nosso conhecimento pode ser preservado. De forma a defender tal posição, precisarei considerar o que chamo de o “problema do cabo de guerra epistêmico”. Uma situação de cabo de guerra epistêmico surge em cenários em que um dos participantes em uma conversação busca elevar os re-querimentos para o conhecimento, enquanto outro participante busca manter tais requerimentos em um grau mais baixo. O problema é: em que ponto ficam, então, os requerimentos? Buscarei mostrar que, quando confrontados pelo cético – que busca elevar os requerimentos para o conhecimento – podemos mantê-los em um grau baixo de exigência, preservando nosso conhecimento, e, assim, derrotar o céti-co no cabo de guerra epistêmico. Segundo David Lewis, uma hipótese cética, uma vez que seja apresentada, torna-se objeto de atenção, não sendo assim ignorada. Por não ser ignorada, precisa ser afastada, em cujo caso os requerimentos para o co-nhecimento são elevados. Parece-me, porém, que Lewis não compreende adequa-damente os fenômenos da atenção e ignorância. Há formas distintas de atenção e ignorância. Há, por exemplo, a atenção seletiva, em que o sujeito intencionalmente opta por voltar a sua atenção para um objeto X (ou informação X), em detrimento de um objeto Y (ou informação Y) que lhe é apresentado. E há o que chamarei

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de ignorância seletiva, em que um sujeito, embora seja apresentado a X, inibe sua atenção de ser voltada para X. Defenderei que podemos ignorar seletivamente hi-póteses céticas. Ou seja, podemos optar por inibir nossa atenção de ser voltada às hipóteses céticas levantadas. Defenderei, também, que, se ignorarmos as hipóteses céticas seletivamente, as estamos ignorando apropriadamente. Ao assim fazermos, evitamos que as hipóteses céticas precisem ser afastadas, e que os requerimentos para o conhecimento sejam elevados. Salvamos, assim, nosso conhecimento, e ven-cemos o cabo de guerra epistêmico com o cético.

anscombe e a possiblildade do conhecimento prático puroAndré KlaudatUniversidade Federal do Rio Grande do [email protected]

Elizabeth Anscombe argumenta que temos conhecimento não-observacional de nossas ações. Esse é o conhecimento prático que é “a causa do que ele compreende”. Há também, segundo ela, conhecimento não-observacional, p.ex., da posição das minhas pernas. Esse, no entanto, é um conhecimento especulativo, que depende do objeto e de suas características para ser conhecimeto. Ele tem a direção de ajuste mente-mundo. O conhecimento prático genuíno é conhecimento do que estamos fazendo ao fazermos o que fazemos, o que faz dele condição de possibilidade da identidade de eventos que são ações. Sem esse conhecimento nem mesmo estarí-amos agindo. A direção de ajuste nesse caso é mundo-mente. O que é peculiar ao conhecimento prático é que ele é um conhecimento, não-observacional, do que é um fato no mundo: a nossa ação. E não um conhecimento restrito às nossas intenções ou ao que vai até os limites dos nossos corpos. Tomando a posição de Anscombe sobre o conhecimento prático como modelo de análise, o meu trabalho procura exa-minar a possibilidade do conhecimento prático puro segundo Kant. Não este ligado à crença racional (moral) na existência de Deus e na vida futura, mas este da liberdade prática, que pode ser conhecida através da experiência como uma causa natural, mas cuja natureza é ser uma causalidade da razão na determinação da vontade, ou seja, na produção da escolha livre em relação à ação.

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Spontaneous linguistic understandingAndré LeclercUniversidade Federal do Ceará/[email protected]

While the theory of meaning has always been a main concern in analytic philoso-phy, the theory of linguistic understanding, strangely enough, did not received the same attention. There are surely reasons explaining why it has been so. I suspect that most philosophers thought (correctly) that the theory of meaning should come first. Perhaps they also thought (incorrectly) that once we have the right theory of mea-ning, the theory of understanding should follow easily, simply because what we un-derstand is meaning. Spontaneous linguistic understanding, as we shall see, involves much more than meaning and the ability to calculate compositionally the meaning of complex expressions from the meanings of simpler ones; it also relies on other abilities or skills, inferential abilities, mindreading underlying the recognition of speaker’s expectations and intentions, background (encyclopedic) knowledge about how things are and can be, and how things are usually made by people. Sentences mean something, but speakers also mean something. We are able to understand sentences, languages or bits of a determinate language; we also understand utteran-ces made in specific occasions of use. When a speaker says something, the semantic content of his/her utterance determines only in part what is said by the utteran-ce. In many occasions, what the sentences means is totally irrelevant and is never taken into account or computed by the hearer. What is immediately understood are the intuitive truth-conditions, not the ones the sentences have taken one by one, in isolation. Meanings in natural languages are not well-defined. We always apply unspecific meanings in specific situations of use. The unspecific meaning is what we know when we know a language; the specific meaning is a richer semantic value de-rived in context. So it is useful to distinguish two kinds of linguistic understanding. Firstly, the “occurrent understanding” of utterances; in that case what we unders-tand is what the speaker means in the context of utterance. The understanding of utterances is the understanding of (linguistic) actions performed for such and such a reason, and it usually deals with tokens. Secondly, we also have a “dispositional un-derstanding” of sentences, expressions, bits of language, usually considered as types; in that case, we understand what sentences mean, and they mean what they do in virtue of conventions and rules, that is, social regularities of a certain type.

The first kind of understanding clearly depends on the second kind of understan-ding. Quick (spontaneous) occurrent understanding presupposes the existence of a huge set of dispositions acquired along the first years of a child’s life (in the case

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of a mother tongue). These dispositions, I suppose, are somehow realized in the brain. Without these dispositions, not even segmentation and discourse recognition would be possible. I shall present and defend the following theses: 1. Occurrent linguistic understanding is context-sensitive in natural languages, while dispositional understanding (our semantic knowledge of a language) must be relatively stable; 2. There are experiences of linguistic understanding; they are experiences of unders-tanding utterances; 3. These experiences are in many respects alike perceptions and do not involve essentially inferences; 4. Most people on Earth enjoy these experien-ces in their mother tongue; 5. These theses, independently motivated, make sense, taken jointly, when they are seen as part of a bottom-top pragmatic approach.

a liberdade como ilusão transcendentalAndré Luiz Olivier da SilvaUniversidade do Vale do Rio dos [email protected]

A ideia de liberdade constitui um ponto central e problemático na filosofia de Kant, sobretudo, quando analisada sob a perspectiva da razão prática, no que tange à apro-priação dos recursos especulativos da razão pura. O objetivo prático de Kant é ex-trair um princípio supremo da moralidade a partir dos conceitos da razão pura, em especial da ideia transcendental de liberdade. Seu objetivo é vincular a razão pura à razão prática, inferindo juízos (juízos sintéticos a priori) a partir de conceitos puros. O problema é que a liberdade, como uma ideia cosmológica contraposta ao mundo natural, não encontra nenhum objeto que caia sob seu conceito. Como o mundo é completamente determinado pela lei natural da causalidade, não há sentido fa-lar em liberdade. Aliás, a própria ideia de uma causa primeira, como a origem de todas as coisas do mundo, não encontra um objeto que signifique o seu conceito. Por detrás da causa “primeira”, parece haver outra causa, e assim por diante, até o infinito, de sorte que não se pode pensar numa causa que determine livremente a ação moral. Desse modo, os juízos inferidos correm o risco de serem desviados do raciocínio lógico, enredando-se em dialética ao ultrapassar o terreno da experiência. Ao raciocinar sobre o conjunto das experiências possíveis e, dessa maneira, sobre a totalidade dos fenômenos, a mente elabora a ilusão ou aparência transcendental, formulada mediante a síntese das séries das experiências possíveis. Nestes raciocí-nios dialéticos, os juízos entram em contradição e a ação do ser humano aparenta ser, ao mesmo tempo, livre e determinada causalmente, conforme constata Kant na terceira antinomia da razão pura. Como solução, a antinomia requer, para além de uma proposta positiva e transcendental, um projeto verdadeiramente crítico, centra-do mais no reconhecimento dos limites da razão pura do que na possibilidade dos

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juízos sintéticos a priori. Esta antinomia consiste no conflito de ideias transcenden-tais, mais precisamente na polarização entre liberdade (ideia de liberdade) e deter-minismo (ideia de causalidade). E embora Kant deixe transparecer que as maiores dificuldades encontram-se na tese a favor da liberdade, a razão, por sua vez, mani-festa um interesse prático para solucionar o terceiro conflito de leis da razão pura. A solução para este conflito entre as ideias transcendentais encontra-se na distinção noumeno e fenômeno proposta por Kant na “analítica transcendental” dos conceitos e dos princípios contida na primeira Crítica. Também na Fundamentação, quando Kant percorre, analiticamente, o trajeto que vai da razão vulgar até o conhecimento filosófico, é possível identificar, sem exceder a experiência, as bases de um princípio para a moralidade. Nesse sentido, o presente trabalho não visa propriamente apre-sentar uma solução para a terceira antinomia, embora a ilusão possa ser desfeita mediante o interesse prático que se manifesta em todo agente moral. O trabalho pretende mostrar que o esclarecimento do problema proposto por Kant (como são possíveis os juízos sintéticos a priori) pode ser mais relevante do que a exposição de uma resposta esclarecida para a terceira antinomia.

Modal kinds and modal logicAndrea SauchelliUniversity Hong Kong/[email protected]

What is the distinction between possible and necessary existence? Can the mind survive after the dissolution of the body? Is a person morally responsible for what he has done only if he could have done otherwise? These are only a few among the various philosophical questions in which modal notions play a central role. How can we judge these ascriptions? The senses or kinds of modalities debated by phi-losophers are various and can change according to different contexts of discourse. In this paper I claim that debatable modal ascriptions cannot be pure, in the sense that there is no such a thing as an unqualified attribution of possibility or neces-sity (or any other modal case) that is evaluable. In other terms, claims of the form “it is possible that P” or “it is necessary that Q” are evaluable iff a specific kind of modality is presupposed or intended in the modal qualification of P by the agent uttering the modal claim in question. These modal kinds can be varied and not always easily specifiable by the speaker. John Divers has claimed that the logical, analytical, metaphysical, nomological, epistemic, and doxastic kinds of modality can be extended to any “circumscribable set of considerations, no matter how trivial or parochial”. Borrowing the terminology of possible worlds, for every possible res-triction over a domain of possible worlds, there is a corresponding modal kind. My

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point here is that, given this variety of kinds, a modal judgement of the form “◊P”, is not evaluable unless “◊” has been previously specified: a domain of quantification associated to ◊, a specification that allows the determination of the kind of modality at issue, should be recognised. In other terms “◊P” must be always understood as “◊KP”, where “◊K” means “it is K-possible that”, if it has any truth-value. In the first section of this paper I draw a comparison between the qua problem for refe-rence fixing for general terms and modal ascriptions. In the second section I explain how this problem can be solved for modal attributions. In particular, I introduce a disambiguating function which associates sets of worlds to modal operators. This association is meant to represent formally the intuition that sets of worlds define different modal kinds and that modal kinds are essential for the evaluation of modal claims. My main point is that only when we have specified which kind of modality is intended, we can evaluate the modal claim at issue.

Vaguedad y aires de familiaAntonio Ramirez-VictorioUniversidad Nacional Mayor de San Marcos/[email protected]

En esta ponencia voy a exponer brevemente lo que se entiende en el debate contem-poráneo por vaguedad semántica. A continuación precisaré lo que sospecho le deben los desarrollos actuales a la noción de air4es de familia trabajada por Ludwig Witt-genstein. Para lo primero voy a recurrir a los trabajos de Tim Williamson y Achille Varzi, entre otros; para lo segundo, especial pero no exclusivamente, a las Investiga-ciones Filosóficas. Mi exposición, asimismo, buscará echar luz sobre el problema de las posibilidades de esclarecer los términos vagos. Esto es, sobre en qué medida las operaciones elucidatorias lograrían tener éxito con el lenguaje vago al que esperan enfrentarse. En este camino, voy a ensayar una defensa del argumento, en una versión moderada, según el cual la vaguedad no es completamente eliminable.

Contextualismo, externalismo e atribuições de conhecimentoArthur Viana LopesUniversidade Federal da Paraí[email protected]

O contextualismo epistêmico é uma das posições mais debatidas na epistemolo-gia mais recente. Em uma de suas variações mais populares (e.g., Keith DeRose, Stewart Cohen, Gail Stine) o contextualismo constitui uma posição semântica sobre

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o verbo conhecer. Grosso modo, a tese básica desta variação do contextualismo é a de que as condições de verdade de uma sentença de conhecimento da forma “S sabe que p” depende do contexto onde uma sentença deste tipo é proferida. Este tipo de contextualismo é, portanto, também caracterizado por não constituir uma teoria do conhecimento, mas uma teoria sobre atribuições de conhecimento. Embora contextua-listas como DeRose claramente enfatizem esta distinção, é comumente defendido que o contextualismo pode ser muito relevante para problemas epistemológicos tra-dicionais, sendo especialmente útil em lidar com puzzles relacionados ao ceticismo, sendo essa utilidade uma das principais motivações para a crescente popularidade do contextualismo. O externalismo epistemológico, por sua vez, é uma posição que tem defendido a existência de critérios a serem satisfeito em qualquer caso de co-nhecimento, critérios que um atribuidor de conhecimento pode não estar ciente ao proferir uma sentença de conhecimento. A ideia básica do contextualista é a de que o que está em jogo em contextos céticos são requerimentos muito rigorosos para uma atribuição correta de conhecimento, requerimentos distintos dos existen-tes nas atribuições que ocorrem em situações ordinárias. Se possibilidades céticas são levantadas em uma conversação, tipicamente há uma mudança de standards, viz., uma mudança nas condições de verdade de sentenças de conhecimento, que torna atribuições ordinárias como “eu sei que tenho duas mãos”, “ela sabe que está usando calças jeans”, falsas, mas apenas nesse novo contexto. Neste trabalho nós argumen-taremos que o contextualismo, apenas com sua tese semântica, falha em fornecer uma resposta satisfatória ao cético. Primeiro, é necessário observar que (i) existe uma distinção, sustentada especialmente pelo externalismo, entre dois tipos com-pletamente diferentes de condições de verdade para sentenças de conhecimento: (1) um tipo que envolve uma tese substantiva para posse de conhecimento, viz., reque-rimentos necessários, e (2) um tipo relacionado à critérios ordinários para atribuição de conhecimento. Segundo, (ii) o problema cético é um problema que envolve teses substantivas sobre conhecimento. Uma conclusão básica de um argumento cético é a de que nossas atribuições de conhecimento ordinárias são falsas porque não satis-fazemos alguns critérios céticos necessários. Assim, (iii) o contextualista deve então optar entre (3) assumir a tese mais substantiva de que os requerimentos que variam contextualmente são mesmo requerimentos para posse de conhecimento, ou (4) ata-car diretamente a pretensão normativa tradicional da epistemologia de encontrar critérios invariantistas necessários e suficientes para o conhecimento. Nós também defenderemos que (iv) ambas as alternativas são problemáticas. O problema de (3) é a atribuição consequente de verdade a algumas sentenças contraditórias (fornecere-mos exemplos). O problema de (4) é o fato de o externalismo apresentar condições necessárias robustas o bastante para salvar as pretensões normativas da análise con-ceitual do conhecimento.

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a Meta-normative account of Political JusticeBenjamin HerscovitchUniversity Of Sydney/Austrá[email protected]

One of the most pressing questions of political philosophy concerns the appro-priate response to diversity. Solutions that demand the imposition of the means of organising society recommended by a specific comprehensive conception of jus-tice are prima facie morally problematic. At the same time, a thoroughly laissez--faire approach to diversity seems equally unpalatable. In this paper I will argue that the coordination problem of normative political philosophy is best solved by means of a meta-normative account of political justice that attributes political jus-tness to whatever institutions happen to embody the substance of the overlapping consensus of normative commitments of all politically reasonable subjects. The claim that something approximating equilibrium between competing interests and conceptions of the good can be reached by means of this meta-normative account of political justice will be made on the basis of an appropriation and extension of the meta-normative thesis that I claim undergirds John Rawls’ post-1980 work. In particular, I will argue that underlying Rawls’ political justification of liberal democratic institutions is the meta-normative thesis that, beyond the minimal requirement that institutions embody the normative commitments of all politically reasonable subjects, there is nothing that can be legitimately demanded of them. In making use of Rawls’ argument for liberal democratic institutions in this way I will advance an unorthodox (and some would say manifestly incorrect) conventionalist reading of Rawls, which has him concerned exclusively with exis-ting practices.

Information overload: The logic of Being Informed and extended MindsBernardo AlonsoUniversidade Federal do Rio de [email protected]

Informational reading of KTB (Brouwer’s System), as proposed in Floridi 2006, formalizes the relation of “being informed”. To be more precise, in that paper it is argued that there is an information logic (IL), different from epistemic logic (EL) and from doxastic logic (DL) (Hintikka, 1962), that formalizes the relation “a is informed that p” (holds the information). This sense of “being informed” is related to cognitive issues and to the logical analysis of an agent’s “possession” of a belief or

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a piece of knowledge. In this paper we examine the process of combining a number of cognitively interpretable normal modal logics (NML) through the combination of axioms that satisfies IL. The motivation behind rebuilding Floridi’s task is to analyse in detail two main philosophical consequences: Information overload and the dethroning of the Kp → Bp principle (Girle, 2000). We argue that these two epistemological consequences of IL pose a risk to theories about active externa-lism, such as “The Extended Mind” (Chalmers and Clark, 1998), bringing to light a weird kind of factual omniscience, with no logics that attribute such epistemic divinity to their agents. It is claimed that, to avoid this unexpected consequence, contents that were coupled to a cognitive system must have previously been cons-ciously endorsed.

Wittgenstein e a compreensão dos fenômenos mentaisBortolo VallePontifícia Universidade Católica do Paraná[email protected]

Wittgenstein parece dedicar uma especial atenção à noção de objeto intencional. Para ele parece estranho o posicionamento de Brentano segundo o qual tal objeto é interno, uma vez que sua existência ou inexistência fora da mente não apresenta ne-nhuma diferença na natureza do estado mental. O mero uso do recurso da represen-tação ou da imagem deixa sem solução o problema de saber: o que faz da represen-tação o objeto de um desejo? O projeto procura analisar os constituintes daquilo que confere identidade a um “estado mental interno” (interioridade), no âmbito dos seus contextos produtores. Sabemos que no solipsismo transcendental do Tractatus, “eu” sou a única pessoa que existe porque a linguagem é minha linguagem, rejeitando proposições empíricas acerca do mundo externo ou de outras mentes. A noção de experiência privada, reconsiderada por Wittgenstein em seus escritos tardios, evi-dencia que a mesma é uma ilusão, uma espécie de miragem que indica algo no inte-rior do sujeito para lá da forma linguística. O filósofo Vienense procura mostrar que é na concretude da gramática que acontece a compreensão daquilo que usualmente se chama de interior. Não se pode inferir, conforme argumentos de Wittgenstein, algo como uma intencionalidade, que tomaria o interior como um ponto localizado e plausível de privacidade. (Este resumo faz parte da mesa redonda: “Filosofia da mente: o naturalismo e suas críticas”).

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os mini-ambientes cognitivos em alvin Plantinga e a proposta de Michael BergmannBruno Henrique Uchôa da Silva GomesUniversidade Federal da Paraí[email protected]

Alvin Plantinga reivindica que garantia, ao invés de justificação, é aquilo que quan-do adicionado à crença verdadeira produz conhecimento. Ele alega que garantia escapa a exemplos de Gettier. Em sua análise substantiva de garantia, ele elabora quatro condições que, segundo ele, são necessárias e suficientes ao conhecimen-to. Tendo elaborado originalmente tais condições em Warrant: The current debate (1993) e em Warrant and proper function (1993), elas passam por reformulação em Respondeo (1996) e em Warranted Christian belief (2000). As condições originais de sua teoria são: (1) a crença deve ser produzida por um segmento ou módulo funcio-nando apropriadamente no mecanismo cognitivo de S; (2) o módulo de S deve estar funcionando em um ambiente suficientemente similar ao tipo de ambiente para o qual as faculdades cognitivas de S foram designadas; (3) os módulos do plano de de-sígnio que governam a produção de B almejam a verdade; (4) os módulos do plano de desígnio que governam a produção de B são tais que existe uma alta probabilida-de objetiva de que as crenças formadas de acordo com seus módulos sejam verdadei-ras. A principal controvérsia na teoria de Plantinga se deve a segunda condição, à do ambiente cognitivo. Mesmo sendo duas vezes reformulada, esta condição não parou de sofrer críticas. Michael Bergmann em Externalist justif ication without reliability (2004) apresenta uma proposta de garantia por função apropriada – baseada na de Plantinga – que exclui a segunda e problemática condição e propõe uma quinta, a saber, a ausência de anuladores. Sendo assim, nosso problema gira em torno de saber se a proposta de Bergmann, que exclui a segunda condição, caminha em uma direção melhor no sentido de apresentar uma proposta em epistemologia que não desmorone perante exemplos de Gettier. Para isto, apresentaremos as formulações de Plantinga e, em seguida, a proposta de Bergmann, para podermos avaliar se tal proposta pode ser apresentada como uma solução viável. (Este resumo faz parte da mesa redonda: “Filosofia da mente: o naturalismo e suas críticas”).

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Could naturalized epistemology allow a complementary role to philosophy?Byron KaldisBerkeley/[email protected]

Unity of science, understood as homogeneously unified scientific discourse so-vereign in grounding all types of knowledge, demands that knowledge be repre-sented by science alone, once philosophy, purveyor of the a priori, is replaced as obsolete. However, naturalized epistemology, the desired backbone of such a unity, suffers from circularity and normativity that undermine its alleged a-philosophi-cal purity, thus becoming self-reflective. This opens up a complementary role for philosophy challenging this vaunted exclusiveness of uniform science. However, the paper shows, the interrelationship is not straightforwardly continuous and is best captured by a Hegelian model, rather than as in recent attempts at a dyna-mic interrelationship of science and philosophy via a ‘reformed Kantian a priori’. Complementarity is moreover evident as naturalized epistemology cannot avoid encountering deeper questions about personhood and truth, which are yet again essentially philosophical.

análise linguística e categorização ontológicaCelso R. BraidaUniversidade Federal de Santa [email protected]

O problema a ser abordado é o da interconexão entre a plataforma analítica da análise gramatical e a da análise ontológica enquanto instrumento para elucidação de diferenças categoriais, tendo como orientação principal a suposição de que a dizibilidade, e a correspondente noção de sentido de uma frase, determina e de-limita o horizonte dos conceitos ontológicos e o espaço lógico de atribuição de diferenças categoriais. Em geral, dessa suposição e do fato de que há múltiplas formas de significar e várias gramáticas, conclui-se pela relatividade ontológica e pela dissolução da noção mesma de categoria ontológica. Contra essa conclusão, argumenta-se aqui pela assimetria entre conceitos semântico-gramaticais e con-ceitos ontológicos, com o objetivo de expor a análise da linguagem e as noções gramaticais como vias inseguras para o estabelecimento de categorias ontológicas. Para isso, analisam-se as relações entre conceitos gramaticais e conceitos onto-lógicos em três tipos básicos de expressões: verbos, possessivos e preposições. A partir da distinção entre posição e função gramatical de expressões e correlatos papéis

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temáticos codificados, ao se considerar não apenas as palavras que exercem essas funções em frases significativas, mas os tipos de signif icados que podem ser postos nessas correlações de papéis temáticos, sobretudo ao se considerar não apenas o ter sentido de uma frase, mas também sua eficácia ou verdade, pode-se estabelecer uma correlação entre a aceitação de uma ontologia e o uso de estruturas frasais. Porém, essa correlação não implica determinação nem espelhamento entre onto-logia e linguagem. A ideia é considerar o conteúdo semântico, de expressões em frases em que se combinam diferentes funções gramaticais, no que diz respeito ao fazer/não-fazer sentido a combinação de papéis temáticos como índice de uma estruturação ontológica. Desse modo, penso poder mostrar que o conhecimento de uma linguagem, enquanto habilidade de construir e de compreender diferentes estruturas frasais com sentido, implica um conhecimento de estruturas de realidade e de estruturas de pensamento. Todavia, se a ideia de suposição ontológica está contida na estrutura de papéis temáticos, então a categorização gramatical não é um bom guia para se explicitar comprometimentos dos falantes com uma ou outra ontologia, pois uma linguagem, e mesmo uma linguagem formal regimentada, por ela mesma e por sua estruturação gramatical, não implica e muito menos impõe esta ou aquela estruturação ontológica. O argumento principal é que as mesmas funções e estruturas gramaticais são utilizadas para codificarem diferentes estados de coisas e tipos de relações ontológicas, no preciso sentido de que estruturas de funções semânticas e posições sintáticas podem ser agenciadas para frasear diferen-tes estruturas de papéis temáticos. Decorre disso uma indeterminação ontológica da gramática, ou melhor, uma independência explícita entre noções gramaticias e noções ontológicas. Por conseguinte, para efeitos de análise ontológica, a análise da linguagem não desvela o comprometimento com este ou aquele quadro ontológico, mas sim explicita em termos de um quadro de conceitos ontológicos o que está codificado numa frase, usada numa situação e num contexto, de modo a esclarecer as suas relações referenciais e inferenciais.

Correspondentismo e coerentismo em The Structure and Content of Truth de davidsonCésar Fernando MeurerUniversidade do Vale do Rio dos [email protected]

O artigo analisa The structure and content of truth, de Donald Davidson. Centra-da no entendimento das assim denominadas posições “epistêmicas” e “realistas”, a investigação procura compreender porque o autor não concede méritos para essas concepções de verdade. Segundo Davidson, a maioria das propostas contemporâ-

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neas ou humanizam a verdade, tornando-a epistêmica, ou promovem alguma forma de correspondência. Todavia, estas posições “estão fundamentalmente equivocadas [...] pelo fato de que ambas convidam ao ceticismo”.

aportes da concepção estruturalista das teorias científicas para a reflexão metateórica acerca das ciências sociaisCláudio de Abreu JúniorUNQ/UNTF/ANPCT – [email protected]

Tanto em seus aspectos teóricos como em seus aspectos práticos, o trabalho científi-co está estreitamente vinculado a uma determinada concepção de teoria. De acordo com a concepção clássica, pode-se dizer, de modo geral e sem entrar em pormenores, que uma teoria é um conjunto de enunciados que é organizado dedutiva ou axioma-ticamente. Esta concepção, que surge principalmente a partir de uma reflexão acerca da física, se instaura não só como uma metateoria para uma das disciplinas cientí-ficas (a física), mas sim como uma metateoria sobre as teorias científicas em geral, independente da disciplina considerada, seja ela pertencente às ciências naturais ou às ciências sociais. Os limites desta concepção foram historicamente apontados em parte pela concepção historicista e em parte pelas concepções contemporâneas (concepções semânticas, uma família de concepções que compartem a ideia básica de que a natureza, a função e a estrutura das teorias são mais bem entendidas quan-do sua caracterização, análise ou reconstrução metateórica foca os modelos que a teoria em questão determina: diferentemente da concepção clássica, contemporane-amente se entende que apresentar uma teoria é apresentar uma classe de modelos). Neste trabalho, fazendo uso de trabalhos metateóricos de uma concepção semân-tica – a concepção estruturalista das teorias científicas (para esta concepção, o tipo mais simples de estrutura conjuntista que poderia ser identificado com, o poderia servir como reconstrução lógica de, de uma teoria empírica é denominado elemento teórico e pode ser identificado, em uma primeira aproximação, com o par ordenado consistente no núcleo K e o campo de aplicações intencionais I: T = K, I) – tem-se por objetivo mostrar o quanto esta concepção está capacitada para tratar, além das características gerais da atividade científica, também de características peculiares às ciências sociais, como, por exemplo, as apontadas por Merton (1968) e discutido ao menos em Cooper; Wolf (1980), Lorenzano (2010) e Lorenzano; Abreu Jr. (2010). Como salienta Druwe (1987), parece evidente que um estudo voltado à “natureza” e um estudo voltado à sociedade são distintos: tratam de campos distintos, têm diferentes aplicações, apresentam universos de discurso distintos; ainda mais, me-todologicamente existem importantes distinções. Além dessas distinções, a maioria

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das ciências sociais tem por objeto de estudo a ação humana (Balzer, 1996). Depois de apresentar, brevemente, as principais notas características da concepção clássica das teorias científicas serão apresentadas as notas características da concepção es-truturalista e, então, num terceiro momento, o foco estará no modo pelo qual está última concepção engloba a primeira, melhorando-a e desenvolvendo-a. Por fim, será indicada a estratégia usada costumeiramente pelo estruturalismo metacientífico para o trato das disciplinas que focam elementos relacionados com a ação humana.

as contribuições do evolucionismo para a compreensão dementeCleverson Leite BastosPontifícia Universidade Católica do Paraná[email protected]

O maior crítico do Darwinismo Sintético, a partir da própria biologia, é Stephen Jay Gould. Segundo Dennett, Gould prestou um mau serviço à ciência por defender um tipo “próprio” de neodarwinismo, entendendo o princípio de seleção natural como momentos de equilíbrio pontuado, que teria como força motriz não a famosa “cunha” ou o “leque” de Darwin, mas os fenômenos de extinção em massa. A direção do pro-jeto no qual trabalhamos visa resgatar o enfoque do darwinismo na estrita perspectiva de Dennett, no que concerne a mente, seu aporte instrumental e evolutivo, como “um” modelo ou metáfora da mente, fornecendo ferramentas heurísticas para a Psicolo-gia em geral e a Psicologia Evolutiva em especial. As descrições comportamentais oriundas da sociobiologia e da psicologia evolutiva (década de 70) fazem lembrar as práticas politicamente não admitidas como corretas, como já ocorreu anteriormente quando o darwinismo social fundiu teoria econômica (A. Smith) e teoria das espécies (Darwin), justificando as desigualdades sociais impostas pelo novo modelo econômi-co de então, a revolução industrial. A justificativa da pesquisa é que estes aprouches da psicologia evolutiva não incorram nos mesmos erros do darwinismo social. (Este re-sumo faz parte da mesa redonda: “Filosofia da mente: o naturalismo e suas críticas”).

a “pessoa” como particular de base na ontologia de StrawsonCristina de Moraes NunesUniversidade Federal de Santa [email protected]

Strawson apresenta o seu conceito primitivo de pessoa com o objetivo de acabar com o suposto dualismo presente na teoria não possessiva do “eu” defendida por Wittgenstein, pois ela estabelece dois usos do termo “eu” que são distintos entre

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si, de modo que a referência difere em cada caso. Esse tipo de teoria, segundo ele, refere-se a dois tipos de sujeitos, no qual um sujeito estaria sendo representado pelo corpo, enquanto o outro seria um “não-sujeito”, e estaria sendo representado pelo “eu”, o qual não tem “posse” de estados de consciência e experiências. Des-se modo, Strawson afirma que se estaria negando a existência de um sujeito em primeira pessoa, criando problemas também de natureza ontológica. O conceito “primitivo” de pessoa e os corpos materiais são considerados por Strawson como sendo particulares básicos, eles são os elementos ontológicamente prioritários em nosso esquema conceitual. Há uma diferença entre eles que é o fato dos corpos ma-teriais serem considerados básicos desde a sua identificação, enquanto o conceito de pessoa é um particular básico desde o seu pensamento identificante. Essa primi-tividade lógica do conceito de pessoa refere-se a apenas um referente ao qual pode ser adscritos tanto estados de consciência como características corporais. Straw-son concorda com Wittgenstein que para adscrever predicativos ou termos gerais é necessário fazer uso de regras ou critérios para a sua correta aplicação, porém ambos diferem com relação ao tipo de critério que utilizam. Segundo Strawson, Wittgenstein está equivocado ao utilizar os sintomas, que são algo falível, como os elementos objetivos que permitem a aplicação de um critério, mantendo ainda uma dicotomia entre subjetivo e objetivo. A solução encontrada por Strawson para esse caso é a utilização do critério que é meramente adscritivo. Esse critério ads-critivo não necessita da identificação de seu referente, sendo que, ele torna possível a adscrição de estados de consciência e experiências a esse conceito logicamen-te primitivo de pessoa. Com relação aos estados de consciência e as experiências, Strawson afirma que, eles são considerados particulares não básicos, porque devem a sua identidade como particular ao conceito primitivo de pessoa, ao qual são de-pendentes com relação a sua identificação. Strawson chama a atenção para o fato de que há uma diferença para a auto-adscrição e a alheio-adscrição dessas expe-riências, sendo que, para a alheio-adscrição utilizamos de um critério logicamente adequado, baseado na observação do comportamento do outro, enquanto que, para a auto-adscrição não necessitamos utilizar de critérios para sua adscrição, porque o pensamento identificante é que nos permite fazer tal coisa. Strawson salienta para o fato de que só é permitido se auto-adscrever sensações apenas se já estiver prepa-rado para adscrevê-las as demais pessoas que são também sujeitos de experiências. Isso é possível, porque os predicados tanto em primeira ou terceira pessoa possuem o mesmo significado e o mesmo sentido, sendo que, aprender o seu uso é aprendê--lo em ambos os seus aspectos de uso.

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relativism and Binding: The Variadic Functions approachDan ZemanUniversitat de [email protected]

The main concern of the paper is one argument that has recently surfaced in the debate between contextualism and relativism about predicates of personal taste (PPTs), argument that parallels the one found in the debate between truth-con-ditional semantics and truth-conditional pragmatics concerning meteorological sentences such as “It is raining”. The first section is dedicated to settling the ter-minology: I will use “contextualism” to refer to any view for which context has a content-determinative role and “relativism” to refer to any view for which context has a circumstance-determinative role (in the terms of MacFarlane (2009)). Section 2 introduces PPTs (expressions such as “tasty”, “fun”, “disgusting” and their ilk) and presents the argument against relativism recently put forward by Johnathan Scha-ffer (ms.). The argument is that the best way to make sense of the bound reading of (1) Everyone got something tasty. is to posit a hidden variable for judges in the lo-gical form, (1) being thus represented as Everyonei got something tasty for xi. Sec-tion 3 draws the parallel between the argument above and the argument employed by Jason Stanley (2000) in order to argue in favor of truth-conditional semantic approaches to sentences like “It is raining” – an argument known as the Binding Argument. Stanley has argued that the bound reading of (2) Everytime John lights a cigarette, it is raining, cannot be rendered in a truth-conditional pragmatic fra-mework, since the theory’s resources are too poor to make such a reading available. In the same vein as Schaffer’s, Stanley’s solution involves postulating a hidden ar-gument for locations in the logical form of (2). Moreover, since there is no binding without a bindable variable, Stanley claims that a variable for locations needs to be postulated even in the unembedded sentence “It is raining”. Section 4 surveys a number of answers to the Binding Argument that try to escape this conclusion. The first is Peter Pagin’s (2005), which consists in the claim that the bound reading of (2) could be rendered by quantification over contexts in the meta-language instead of quantification over locations in the object-language. The second answer is Peter Lasershon’s (2008), which consists in quantification over indices. In Lasersohn’s system, quantifiers introduce both a pronomial element in the syntax and a sen-tence-abstract-forming operator that binds the index in the meta-language. After criticizing both answers, I offer my own solution inspired by François Recanati’s (2002) reply to the Binding Argument, which consists in employing variadic func-tions (functions from predicates to predicates whose effect is that of increasing or decreasing the adicity of the input predicate). I present the details of Recanati’s

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solution in the “It is raining” case and then apply the formal machinery to (1). To this end, I define a subjectual variadic operator Circsubject, which functions in the same way as Recanati’s locational variadic operator Circlocation. In the last section I consider some common objections to the variadic function approach and sketch an answer to one of the most serious of these.

Percepção e interpretação da ação intencionalDaniel de Luca Silveira de NoronhaUniversidade Federal de Minas [email protected]

De acordo com a teoria causal da ação, formulada por Donald Davidson, movimen-tos corporais são interpretados como ações intencionais somente à luz de estados mentais dotados de conteúdo conceitual, como o desejo e a crença. Nesse viés, Davi-dson entende que a relação entre percepção e ação é obrigatoriamente mediada pela crença: a percepção causa o conteúdo conceitual da crença; essa, por sua vez, integra o complexo racional-causal da ação enquanto fornece estratégias para a realização dos fins. Diferentemente do quadro davidsoniano, procuro estabelecer condições menos fortes para a compreensão da ação intencional. Essa tarefa pode ser realizada através de uma conexão direta entre percepção e ação. Com efeito, parece possível postular ações intencionais compreendidas em bases estritamente perceptuais, sobre as quais se desenvolvem fenômenos de atenção conjunta em, por exemplo, crian-ças em fase pré-linguística. Assim, o argumento de Davidson se revelará como um modo superior, mas não-obrigatório, de compreender as ações intencionais. Minha argumentação será dividida em três partes. Na primeira parte procurarei explicar a noção de conteúdo não-conceitual da percepção. Para isso, levarei em conta os argumentos de Gareth Evans. O objetivo é mostrar que os modos de apresentação do conteúdo perceptual co-variam com alterações da localização corporal. Em torno dessa co-variação surgem expectativas perceptuais. A percepção é, então, compreen-dida enquanto exploração ativa do ambiente, organizada em torno de expectativas com relação a diferentes perspectivas que, enquanto aspectos da realidade mesma, podem ser acessados em virtude dessa exploração. A ideia de que a percepção en-volve exploração do mundo permite tratar o conteúdo não-conceitual da percepção a partir do foco da atenção. Assim, na segunda parte da argumentação, procurarei evidenciar que a atenção é em parte dirigida aos aspectos dos objetos que nos per-mitem tanto manipula-los quanto ajustar nossas ações tomando-os como referência. Nesse nível da ação, modos de apresentação dos objetos são capturados em função de sua potencialidade motora. Dessa forma, poderá emergir a ideia de que a percep-ção é ela mesma intencional e, enquanto tal, pode estar integrada à ação sem a me-

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diação da crença. Para completar o quadro alternativo àquele traçado por Davidson, pretendo mostrar que esse conteúdo não-conceitual integrado à ação está disponível para mais de uma criatura, de modo a permitir a interpretação da ação intencional. Nessa última parte da argumentação, meu propósito é trazer à tona algumas expe-riências que confirmam essa tese. Os trabalhos de Michael Tomasello e Amanda Woodward mostram que crianças em fase pré-linguística são capazes de perceber objetos enquanto objetos da atenção perceptual de outra pessoa. Elas se mostram sensíveis às diversas perspectivas que um outro pode assumir diante dos objetos e parecem compreender, de forma prática, que tais perspectivas decorrem de um con-trole voluntário da atenção. A partir dessa compreensão, conseguem distinguir mo-vimentos corporais direcionados a objetos de movimentos não-direcionados. Enfim, sem a necessidade da mediação conceitual da crença, a percepção parece possibilitar a interpretação de movimentos corporais como ações intencionais.

Uma análise conceitual do cuidado e suas implicações éticasDarlei Dall’agnolUniversidade Federal de Santa Catarina/[email protected]

O presente trabalho apresenta uma análise conceitual, ou seja, explicita as condições necessárias e suficientes para um uso adequado do termo ‘cuidado.’ O ponto de par-tida da discussão é a proposta de Noddings, feita em Caring, segundo a qual “logica-mente, nós temos a seguinte situação (W, X) como sendo uma relação de cuidado se e somente se: i) W cuida de X (...) e ii) X reconhece que W cuida de X.” (1984, p.69) Essa análise é, todavia, circular, pois não se pode usar o analysans ‘cuidar’ para ex-plicitar o analysandum ‘cuidado’. Além disso, a última condição não parece ser nem sequer ser suficiente, pois X não precisa de fato reconhecer que está sendo cuidado. Há vários contra-exemplos que mostram que o cuidado existe, mesmo que ele não seja reconhecido (o caso de Terri Schiavo pode ser invocado aqui como ilustração). Desse modo, outra crítica que se pode fazer é que a análise proposta por Noddings não apresenta condições suficientes para empregar o termo ‘cuidado.’ É necessário, então, perguntar novamente: sob que condições necessárias e suficientes um indi-víduo W cuida de X? Uma resposta provisória pode ser feita nos seguintes termos: W cuida, num sentido geral, de X sse: i) W simpatiza com X; ii) o bem-estar de X preocupa; iii) W beneficia X por ela mesma. É claro que cada uma dessas condições precisa ser melhor comentada, por exemplo, em que sentido um sentimento moral é condição para que exista o cuidado. Todavia, o objetivo central é extrair dessa análise o significado eminentemente moral da atitude da cuidadora (a pessoa que cuida), sendo esta uma expressão de um saber (de um saber-como e não, simplesmente, de

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um saber-que) que consiste, assim a terceira condição revela, numa forma de valorar intrinsecamente uma pessoa (aquela que é cuidada). Essa valoração intrínseca, como mostrou Darwall em Welfare and Rational Care, implica um incremento do bem--estar da cuidada por ela mesma. Em outros termos, o cuidado é “altruísta,” isto é, W sabe-como cuidar de X se o objeto do cuidado está focado na pessoa cuidada. É claro que, numa análise posterior, será necessário explicitar o que é entendido por ‘bem-estar,’ mas esse não é um problema para uma análise provisória do ‘cuidado’ que pode ser constituída de conceitos não analisados. Uma objeção poderia ser le-vantada, aqui, sob a forma de uma série de questões: são todos os tipos de cuidado analisáveis dessa forma? Não é possível cuidar de um objeto, por exemplo, de uma caneta? etc. O trabalho defende, então, que, de fato, há vários tipos de cuidado (ma-ternal, médico etc.) e subtipos (no cuidado médico, há cuidados básicos, cuidados paliativos etc.) e que, entre eles, existem “semelhanças de família.” Por conseguinte, não é necessário assumir uma perspectiva epistêmica fundacionista. Finalmente, o trabalho discute outras implicações éticas do ‘cuidado’ a partir da análise proposta, por exemplo, se ele gera razões para agir que são relativas-ao-agente ou neutras.

Coerentismo Moral em John rawls: uma análise do equilíbrio reflexivo (reflective equilibrium)Denis Coitinho SilveiraUniversidade Federal de [email protected]

A ideia basilar é refletir sobre as características justificacionais do coerentismo mo-ral em Rawls, analisando seu construtivismo político como um modelo compatibi-lista entre realismo e antirrealismo, que defende que a justificação é superior a co-nexão entre justificação e verdade; negando, porém, que teorias epistêmicas possam garantir a verdade objetiva de fatos morais. Rawls defende uma teoria coerentista de justificação em ética que enfatiza que uma crença p é justificada como parte de um sistema coerente de crenças p’s, procurando afastar-se de um modelo fundaciona-lista que assegura que uma crença moral p é justificada em caso de p ser igualmente (a) fundamentado, isto é, autojustificado e (b) baseado em um tipo de inferência de crenças fundamentadas. A coerência se dá entre os princípios de justiça, teoria da justiça como equidade e juízos morais ponderados em equilíbrio reflexivo amplo (wide reflective equilibrium). Os princípios são construídos a partir da teoria da justiça como equidade, e servem para mostrar quais juízos morais podem ser to-mados como corretos (juízos morais ponderados – considered judgments). Por sua vez, estes juízos morais ponderados (como os que afirmam que a tolerância religiosa é boa e a escravidão é má) servem de referência para a formulação da teoria (TJ, I,

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§ 4, 9). Nota-se que este modelo é inferencial, pois garante a correção dos juízos e princípios morais a partir de uma teoria moral que se apresenta como melhor candidata para cumprir a sua função de garantia da estabilidade (stability) social a partir da ideia de uma sociedade como um sistema equitativo de cooperação. Assim, o equilíbrio reflexivo possibilita a melhor configuração da situação inicial equitativa, pois (a) expressa pressuposições razoáveis e (b) produz princípios que combinam com os juízos morais comuns. Ele é um procedimento coerentista que visa a jus-tificação a partir desta harmonia entre os juízos e os princípios morais no interior da posição original, caracterizando-se por procurar estabelecer a regra a partir do uso, evitando uma reivindicação fundacionalista para os critérios universais. Sua es-tratégia de justificação está em assegurar que os fatos morais – quais instituições sociais, políticas e econômicas são justas e injustas, por exemplo – são produto de um processo de construção em que agentes racionais, sob determinadas condições formais e substanciais, estabelecem um acordo sobre os princípios para regular suas relações. Como Rawls não defende uma posição intuicionista ou naturalista, não se percebe o uso da categoria de fato moral. Entretanto, os juízos morais ponderados em equilíbrio reflexivo amplo podem ocupar o lugar dos fatos morais, pois servem de orientação aos princípios no momento em que são tomados como pressupostos morais da teoria da justiça como equidade. A objetividade dos princípios morais construídos não consiste na defesa de uma ordem moral independente do próprio acordo, mas na aceitação de um ponto de vista social imparcial que tem por pres-supostos certos valores políticos, como o ideal de cidadania democrática e dever de civilidade, por exemplo (PL, IV e VI).

Ceticismo e princípio de fechamentoDayvide Magalhães se OliveiraUniversidade Federal do Piauí[email protected]

Dentro do cenário epistêmico podemos encontrar lugar certo para debates referen-tes às propostas céticas – seja no intuito de refutá-las, seja no intuito de lhes oferecer apoio. Desse modo, tem sido lugar comum aos epistemólogos o campo de batalha argumentativa frente às hipóteses céticas. Contudo, é o caso de ser aqui alegado que nem toda incredulidade pode ser aceita como ceticismo e que também não há somente um tipo característico de argumento cético. É necessário, pois, tornar clara a distinção entre mera incredulidade quotidiana (ordinary) e ceticismo filosófico, e entre tipos de argumentos céticos – há vasta tipificação de argumentos céticos. Falando a grosso modo, enquanto que mera incredulidade pressupõe dúvidas (que podem ser dirimidas e que, portanto, não implica na impossibilidade de conheci-

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mento), o ceticismo filosófico implica ausência efetiva de conhecimento (seja de modo global ou específico). Não faremos aqui, dada exigência de brevidade, um elencamento de tipos de argumentos céticos. Basta-nos, por hora, focar nosso ponto em um tipo específico: o ceticismo acadêmico. Tal tipo de argumento cético pode ser apresentado da seguinte maneira: Se S sabe que p, então S sabe que ~sk; S não sabe que ~sk; portanto, S não sabe que p (leiamos S como um sujeito qualquer, p como uma proposição qualquer e sk como hipótese cética). Tradicionalmente o cé-tico acadêmico (ou de inspiração cartesiana), segundo o modo como é apresentado no cenário epistêmico, tem se valido do princípio de fechamento (pf ) para defender sua hipótese cética (sk). No seu modo mais simplório, podemos apresentar pf com as seguintes formas: se S sabe que p e p implica ~q, então S sabe que ~q; ou ainda, se S está justificado em crer que p e p implica ~q, então S está justificado em crer que ~q. Uma possível resposta anticética seria então negar a verdade de pf. Peter Klein segue outro itinerário: alega que pf é verdadeiro e, porque pf é verdadeiro, o cético corre em petição de princípio. Fred Dretske segue, entretanto, na contramão de Klein: alega que pf não é verdadeiro e, porque pf não é verdadeiro, o cético aqui em questão fracassa. Peter Klein propõe que o que Fred Dretske chama de pf é na verdade princípio de transferência da evidência (te – um tipo específico de pf ). Desse modo Dretske não teria êxito, segundo Klein, ao afirmar pf como falso. Nossa proposta é alegar, ao lado de Peter Klein, que pf é verdadeiro e verificar o quão bom é o argumento de Peter Klein frente ao argumento do cético acadêmico.

Frege antecipou a teoria da redundancia da verdade?Dirk GreimannUniversidade Federal do Ceará/[email protected]

De acordo com a teoria da redundancia da verdade (TRV), a palavra “verdadeiro” e superfluo no sentido que toda sentenca na qual esta palavra ocorre pode ser tradu-zida numa sentenca na qual ela nao ocorre. A base da TRV e a hipotese linguistica de que uma sentenca da forma “E verdade que p” nao diz mais nem menos do que a sentenca correspondente mais simples “p”. Usualmente, Frank Ramsey e consi-derado como o inventor da TRV. Contudo, muitos anos antes do Ramsey, Frege ja defendeu a tese que a sentenca “E verdade que a agua do mar e salgado” expressa o mesmo sentido que a sentenca “A agua do mar e salgado”. Por isso, alguns co-mentardores (por exemplo Paul Horwich e Tylor Burge) interpretam a concepcao fregeana da verdade como uma versao da TRV. A meta da minha palestra será de-terminar a relacao entre a concepcao fregeana da verdade e a TRV. O problema e que esta concepcao contem varias teses que parecem ser incompativel com a TRV,

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como, por exemplo, a tese da normatividade epistemica da verdade. Na primeira parte da palestra, as ideias basicas da TRV serao recapituladas e varias versoes desta teoria serao distinguidas. Na segunda parte, o aparente conflito da TRV com outras partes da concepcao fregeana da verdade sera explicado. Finalmente, na terceira par-te algumas tentativas para resolver este conflito (Sluga, Soames) serao discutidas. A conclusao sera que Frege antecipou a TRV sim, mas uma versao muito especial que e essencialmente diferente das versoes contemporaneas da TRV.

os reduplicativos e a redução das proposições relacionais a não-relacionais em leibnizEdgar da Rocha MarquesUniversidade do Estado do Rio de [email protected]

Em seu célebre livro Leibniz’ Theory of Relations, Mugnai, seguindo pela trilha aberta por Angelelli em seu artigo On Identity and Interchangebility in Leibniz and Frege, sugere que certas expressões usadas na análise leibniziana de proposições que tratam de relações de conexão assimétricas, como eo ipso e quatenus, sejam compreendidas como reduplicativos. Em termos da lógica medieval e moderna, reduplicativos são expressões – como qua, inquantum, quatenus, secundum quod, dentre outras – que exercem em uma sentença ou a função de caracterizar um modo especial de conceber um determinado ente ou a de expressar uma condição para a atribuição de um dado predicado a certo sujeito. Quando dizemos, por exemplo, usando uma expressão em língua portuguesa equivalente a quatenus, que Sócrates, na medida em que é homem, é racional, nós não estamos simplesmente afirmando que Sócrates é homem e que Sócrates é racional, mas sim que a atribuição da racio-nalidade a Sócrates é mediada pela atribuição a ele da humanidade, significando isso que é enquanto é homem que Sócrates é racional, e não enquanto considerado sob uma outra perspectiva. Não podemos dizer, para permanecer no mesmo exemplo, que Sócrates na medida em que é um animal é racional, quer dizer, ele não é racional enquanto animal, mas sim enquanto homem. O vínculo estabelecido, por meio de um reduplicativo, entre a aplicação de dois predicados distintos a um mesmo sujeito pode ser de origem causal (reduplicatio gratia causae) ou expressar o acompanha-mento necessário de um pelo outro (reduplicatio gratia concomitantiae), mas não cabe me alongar sobre esse ponto nos quadros de um resumo. O ponto importante para Mugnai é que sentenças contendo reduplicativos se deixam analisar em um conjunto de proposições que possuem formas lógicas distintas da proposição origi-nal. Dessa maneira uma sentença como “Paris é amante e eo ipso Helena é amada” não constituiria a etapa final da análise da sentença relacional original “Paris ama

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Helena”, mas sim uma etapa intermediária, a qual poderia prosseguir – ainda que Leibniz não o faça de fato – com a análise da sentença reduplicativa. Sua hipótese, para ser mais específico, é a de que os reduplicativos que funcionam como conecti-vos sentenciais em sentenças complexas como “Paris é amante e eo ipso Helena é amada” expressam uma conexão de natureza causal entre os estados de coisas descri-tos pelas sentenças conectadas por eles. Vários pontos são obscuros em relação a essa hipótese interpretativa de Mugnai. Destaco aqui três a serem criticamente analisa-dos em minha comunicação. Em primeiro lugar, não é de maneira nenhuma claro que conectivos sentenciais possam ser caracterizados como reduplicativos, uma vez que esse uso não se encontra na tradição da lógica dos reduplicativos. Em segundo lugar, ainda que se conceda que conectivos possam desempenhar esse papel, não é claro que eles possam expressar – ou estabelecer – um vínculo causal da natureza pretendida por Mugnai. Em terceiro lugar, não está claro qual seria a análise a se realizar dessas sentenças. Partindo desses três pontos, mostrarei, em minha comuni-cação, que é falsa a hipótese interpretativa de Mugnai.

Uma abordagem contextualista da posse de conceitosEduarda Calado BarbosaUniversidade Federal da Paraí[email protected]

Alguns filósofos, como Davidson e Brandom, são famosos por defenderem que, em última instância, é a linguagem que separa os seres que possuem conceitos dos que não possuem. Supõem que possuir um conceito C requer que um sujeito domine as inferências que podem ser feitas a partir de C e que levam a C, e/ou possua um vasto conjunto de crenças envolvendo C. Outros filósofos, como Fodor e Dretske, discordam de tal ideia, e supõem que seres não linguísticos podem também possuir conceitos. Para eles, não é o domínio de uma linguagem que separa os seres que possuem conceitos daqueles que não possuem. Afinal, tomam como requerimento para a posse de um conceito (para um dado X) que um organismo seja capaz de discriminar X daquilo que não é X, de reconhecer X perceptualmente, ou ainda de representar X mentalmente (ou pensar em X como X). Contudo, o debate entre tais filósofos tem sido marcado por uma escassez de argumentos substantivos, e por uma reafirmação das intuições de ambas as partes, levando, em alguns casos, ao que parece ser uma disputa meramente verbal. Nosso objetivo, neste trabalho, é o de contribuir para tal debate; não em defesa de uma das posições, mas opondo-nos ao que ambas as partes do debate possuem em comum: a suposição de que existem requerimentos fixos para a posse de conceitos. Defenderemos uma posição contex-tualista, segundo a qual os requerimentos para a posse de conceitos podem variar

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de acordo com o contexto em que o conceito é atribuído, em uma escala com graus de exigência. Em seguida, mostraremos que uma consequência dessa posição é que, em certos contextos, o domínio de uma linguagem pode ser um requerimento para a posse de conceitos, enquanto que, em outros contextos, pode não ser. Em linhas gerais, nossa argumentação seguirá os seguintes passos. Primeiramente, defende-remos que a noção de possuir um conceito pode ser tomada como equivalente à noção de saber o que algo é. Afinal, não parece haver uma forma clara e intuitiva de compreender a ideia de possuir um conceito de algo, senão como equivalente à ideia de saber o que esse algo é – como parecem sugerir várias referências na literatura e em usos cotidianos. Em seguida, apresentaremos boas razões para acreditarmos no contextualismo acerca do conhecimento do que algo é; de início, utilizando-nos de alguns exemplos de shifting arguments; depois, lidando com uma possível objeção inicial à posição. Em respondendo a tal objeção, apresentamos mais um argumento a favor do contextualismo acerca do conhecimento do algo é. Nosso passo final con-sistirá, então, em – dado que assumimos a equivalência entre conhecimento do que algo (um X) é e a posse do conceito (de X) – transportar nossas conclusões acerca do conhecimento do algo é para nossas considerações sobre posse de conceitos.

a possibilidade epistêmica na esteira de MooreEduardo Silva RibeiroPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/[email protected]

O reconhecimento da possibilidade epistêmica como uma noção genuína e autôno-ma com respeito a outros tipos de possibilidade (lógica, causal, etc.) remonta, pelo menos, ao esforço de G.E. Moore, em seu Commonplace Book, de distingui-la de outras noções modais e caracterizá-la como correlata da noção epistêmica de cer-teza. Segundo a definição de Moore, “‘É [epistemicamente] possível que p’ = ‘não é certo que não-p’”. Refinamentos ulteriores não tardaram a aparecer. Assim, Ian Hacking tomará o valor de verdade associado ao conteúdo de asserções de possibi-lidade epistêmica como sendo determinado por dois fatores: a situação epistêmica dos membros de uma “comunidade relevante” e uma noção – algo obscura – de “in-vestigação praticável”. Um estado de coisas será, então, possível sse (i) os membros da comunidade relevante não souberem não ser o caso, e (ii) nenhuma “investiga-ção praticável” for capaz de revelar não ser o caso. Paul Teller rejeita a proposta de Hacking, oferecendo uma versão própria. Na versão de Teller, uma proposição p é epistemicamente possível exatamente quando, satisfeita a cláusula que exige que ninguém na comunidade relevante saiba que p, não houver nenhum membro da comunidade tal que, se ele viesse a conhecer todas as proposições sabidas coletiva-

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mente pela comunidade, ele poderia, “tendo como base, dados, ou evidência a força do seu conhecimento de tais proposições”, vir a saber que p é falsa. A inadequação da proposta de Teller é evidenciada por argumentos oferecidos por Keith DeRose. DeRose defende um certo grau de flexibilização no que contará como comunida-de relevante. A sua proposta é, contudo, rejeitada por Michael Huemer, por não ser “suficientemente informativa para ser satisfatória”. Nosso objetivo será percor-rer essa ramificação da literatura que vai de Moore a Huemer, discutindo aspectos importantes das propostas e dos contraexemplos. Por fim, veremos uma potencial inadequação da proposta de Huemer, ligada à indispensabilidade de uma ideia não inteiramente livre de problemas, a saber: a de “desconsideração” (dismissal), ideia essa a ser explicitada na apresentação.

de traducción radical y prácticas socialesEduardo SotaUniversidad Nacional de Córdoba/[email protected]

Un rasgo conspicuo de la filosofía analítica vigente es su indagación en los esce-narios antropológicos exóticos, en los cuales nos encontramos con comunidades completamente extrañas y aisladas. Entre las tesis más interesantes al respecto, po-demos sin duda, distinguir la de la Traducción Radical –ya que nos sitúa de lleno en los problemas que se le plantean al antropólogo-lingüista frente al lenguaje ‘selvanés’ – de Quine la que será comparada y evaluada, al respecto, con la posici-ón que podamos inferir del Wittgenstein tardío. Ahora bien, la tesis en cuestión procede del conductismo profesado por Quine para quien la semántica finca su legitimidad en la teoría de la referencia, mientras la teoría de la significación es un retroceso a la jungla metafísica del esencialismo aristotélico. A tales efectos, pro-pone el experimento mental de la traducción radical cuyo resultado negativo reza lo siguiente: “es posible confeccionar manuales de traducción de una lengua a otra de diferentes modos, todos compatibles con la totalidad de las disposiciones ver-bales y, sin embargo, todas incompatibles unas con otras” (1968). A semejanza de la socialización en el lenguaje materno por parte de un niño, la entrada al lenguaje ‘selvanés’ por parte del lingüista es por medio de las oraciones observacionales. Es precisamente la situación observable la que comparten tanto la oración observacio-nal del nativo como la traducción del lingüista. Así, no hay una caja negra por de-trás de la conducta observable en la que en tal interior residan hechos ocultos cuyo probable descubrimiento nos permitirían discriminar la traducción correcta de la incorrecta. Sólo se cuenta con los datos proporcionados por la conducta mani-fiesta en circunstancias públicamente reconocible y la propia ontología y patrones

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lingüísticos que impone el lingüista en su tarea de traducir. Ahora bien, dado que sólo disponemos de la magra entrada de los significados estimulativos en nuestros receptores sensoriales, ¿desde dónde se suministran ‘valores inconmensurables’ a los distintos posibles manuales de traducción? La línea de respuesta, seguramente en discordancia con el naturalismo científico e indeseable para Quine, es el de una estrategia hermenéutica en las ciencias del hombre. Aquello que exceda la eviden-cia conductual requiere de la actividad interpretativa-constructiva; así, pues, no se trata de confeccionar el manual correcto, sino mejores o peores esquemas generales de traducción en orden a obtener una mayor fluidez en la conversación. Este papel es llevado a cabo por las hipótesis analíticas que son por ello constructos inter-pretacionales creativos. Ahora bien, y ya con Wittgenstgein, sin bien concibe que cualquier extrapolación de reglas a partir de la conducta neutralmente descripta es indeterminada, pierden gradualmente ese carácter en tanto ese carácter en tanto la relación entre una regla y su aplicación es interna. El desarrollo de esta perspec-tiva nos mostrará que el inescapable componente hermenéutico en la traducción quineana es dispensable en los juegos de lenguaje que reposan en la práctica social de carácter normativo. Para Wittgenstgein, la interpretación no determina el uso correcto ni da cuenta de la comprensión ya que la aplicación de la interpretación puede ser interpretada de varios modos.

Sobre uma reforma da hierarquia de ChateaubriandFrank Thomas SautterUniversidade Federal de Santa [email protected]

Oswaldo Chateaubriand propõe, em Logical Forms, uma hierarquia composta de três categorias de entes – objetos, propriedades e estados de coisas – que é utilizada por ele para fornecer um sistema filosófico completo das ciências for-mais. Essa hierarquia difere de hierarquias mais tradicionais por permitir que uma “mesma” propriedade tenha distintas aridades em um mesmo nível hierárquico – por exemplo, a propriedade de primeira ordem de Identidade admite aridades finitas arbitrárias – e que uma “mesma” propriedade ocorra em distintos níveis hierárquicos – por exemplo, a propriedade de Existência ocorre em quaisquer ní-veis hierárquicos, à exceção do nível mais fundamental. A primeira característica é essencial para o estabelecimento de condições de identidade e de diferença e a segunda característica é essencial para a caracterização de propriedade lógica (propriedade que ocorre em um segmento final da hierarquia) e de verdade lógica (verdade que admite análise exclusivamente em termos de propriedades lógicas). Uma dificuldade da proposta de Chateaubriand é explicar o vínculo entre as di-

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versas ocorrências da “mesma” propriedade em distintos níveis hierárquicos – por exemplo, qual é o vínculo entre a propriedade de Existência de primeira ordem e a de segunda ordem? – e outra dificuldade é a não admissão do limite de uma pro-priedade cumulativa, da propriedade absoluta, como membro da hierarquia – por exemplo, a Existência simpliciter não é um membro da hierarquia, mas apenas a propriedade de Existência de primeira ordem, de segunda ordem etc. Para solucio-nar a primeira dificuldade proponho a utilização da noção aristotélica de signifi-cado focal. Quanto à segunda dificuldade, examino alternativas que, sem prejuízo à integridade do sistema de Chateaubriand, poderiam admitir propriedades abso-lutas. Também discuto a possibilidade de internalizar, na hierarquia, a categoria de propriedade, de tal modo que ‘ser uma propriedade’ é uma propriedade e, em particular, é uma propriedade lógica. Essa possibilidade não é admitida no sistema original de Chateaubriand. Semelhantemente, discuto a possibilidade de interna-lizar na hierarquia, em certo sentido, as categorias de objeto e de estado de coisas por intermédio, respectivamente, das propriedades ‘ser um objeto’ e ‘ser um estado de coisas’. Tais propriedades, a exemplo da propriedade ‘ser uma propriedade’, são propriedades lógicas.

language, Truth, and representation dependenceGeorge [email protected]

The central task of this paper is to argue that the concept of representation depen-dence at the heart of the debate between alethic realism and antirealism is empty. By “empty” I mean not that claims about representation dependence are false, but rather that they are devoid of real content (neither true nor false), even though they may have the appearance of sense. I will begin by briefly discussing the relevant aspects of the alethic realism/antirealism debate and the general structure of my argument for the emptiness of representation dependence. Next I will lay out a key way in which Wittgenstein argues that language is autonomous, i.e., that the legiti-macy of concepts cannot be verified by appeal to reality. Appealing to the autonomy of language I will then argue in detail for the claim that the notion of representation dependence mentioned above is empty.

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Wittgenstein e os limites da epistemologia críticaInês Lacerda AraújoUniversidade Federal do Paraná[email protected]

Wittgenstein na segunda parte de Investigações Filosóficas e em Da Certeza apre-senta noções que podem ser agrupadas sob uma problemática, a de uma epistemo-logia que renova o conceito do que tradicionalmente se entende por conhecimento e por conhecimento científico. Wittgenstein contribui com conceitos inovadores e revolucionários, como o de linguagem cotidiana em uso normal pertencente a uma prática, o significado como uso em um quadro herdado de referência, o papel do contexto, os vocabulários que servem como ferramentas, a conexão da linguagem à ação. A proposição deixa de desempenhar papel central e passa a ser considerada como um entre os inumeráveis jogos ou possibilidades de uso que a gramática fornece em nossas formas de vida, e não mais o fulcro da linguagem e do mun-do. A gramática fornece paradigmas (Vorbilden), que são instrumentos para fazer comparações, para ensinar, para atribuir significado, ou seja, são instrumentos da linguagem. Representar ou qualquer outra função da linguagem depende de mé-todos especiais, que são auxiliares para certos usos. Estes seguem regras e critérios relacionados aos jogos de linguagem que respondem a necessidades específicas de nosso fluxo vital. Nesta proposta de trabalho delineamos os pressupostos gerais daquilo que poderia chamar-se uma “epistemologia wittgensteiniana”, que podem ser encontrados em uma concepção de conhecimento, de ciência, de objetividade, de verdade e de certeza inteiramente renovados pela nova perspectiva da virada pragmática. Holismo e contextualismo decorrem de levar em conta os jogos de linguagem usados em situações que requerem conceitos; e ainda, analisar o uso do compreender, do saber, do conhecer nas suas diversas modalidades de empre-go, essa nova abordagem crítica, dissolve renitentes problemas epistemológicos. O problema desta comunicação é mostrar que tais noções revolucionárias não foram inteiramente assimiladas por três epistemólogos: T. Kuhn, Feyerabend e Rorty (a este último o título de epistemólogo não caberia por razões que pretendemos desenvolver). Wittgenstein é ponto de referência obrigatório para eles, veremos em que aspectos, porém há certos dilemas e paradoxos decorrentes de conceitos centrais de cada um dos filósofos acima mencionados. Enquanto eles trabalham com os conceitos e pressupostos holísticos próprios à virada pragmática, estão bem municiados para sustentar uma epistemologia crítica e levar adiante os resultados da virada pragmática de Wittgenstein. Porém, na medida em que se afastam dos pressupostos básicos de Wittgenstein, limitam os efeitos benéficos que são por

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eles mesmos adotados. Pensamos que um retorno ao áspero solo wittgensteiniano dissolveria as dificuldades e obstáculos que iremos apontar. Assim, o terreno para uma epistemologia aberta, realmente crítica e produtiva pode ser cultivado.

“Isto não me interressa!” – Wittgenstein, escadas e teorias éticasJanyne SattlerUniversité du Québec à Montreal/Canadá[email protected]

Muito já foi dito a respeito da metáfora da escada tal como ela aparece no parágrafo 6.54 do Tractatus Logico-Philosophicus de Wittgenstein e, de uma forma ou de outra, ela parece ser crucial para a compreensão geral da obra e da tarefa aí atribuída à filosofia. A maior parte dos comentadores parece estar de acordo quanto à neces-sidade de tal “escada” para o alcance de uma “visão correta do mundo” – ainda que discordem do “conteúdo” desta “visão correta.” Mas, será que as coisas são realmente assim? Será que esta escada é realmente crucial e necessária para a compreensão do Tracatus e de tudo o que ele engendra? Uma observação contida em Cultura e Valor poderia muito bem nos fazer duvidá-lo, e é precisamente sobre esta observação que trataremos aqui com detalhe. Ao contrário do que é dito no parágrafo 6.54, Witt-genstein diz aí que “o que é acessível através de uma escada não lhe interessa.” O ob-jetivo deste artigo é investigar o quanto esta observação se aproxima ou se afasta do Tractatus ao tomarmos como parâmetro a “visão correta do mundo” desde o ponto de vista da ética: aquela significaria por exemplo (entre outras coisas) a compreensão dos limites da linguagem e a compreensão do sentido da vida no desaparecimento dos problemas. Segundo o Tractatus esta compreensão não é alcançada senão através de um processo (6.521), ou seja, através de uma “escada.” No entanto, segundo a observação em questão um tal processo é ou bem inútil ou bem moralmente incor-reto: “eu poderia dizer: se o lugar para onde eu desejo ir só fosse alcançável através de uma escada, eu desistiria de chegar até ele. Pois lá onde eu realmente devo ir, aí, na verdade, eu já devo estar.” O que poderia significar esta recusa radical da “esca-da”? A resposta a este problema passará pela investigação das seguintes questões: 1. Teria Wittgenstein mudado radicalmente seu modo de pensar o método ético--filosófico depois do Tractatus, dado que a observação de Cultura e Valor date de 1930, ou seja, de uma década mais tarde? 2. Ou poderíamos na verdade encontrar no próprio Tractatus alguns indícios que já corroborassem esta recusa? Devemos por exemplo analisar atentamente aquela passagem do Prefácio segundo a qual esta obra não pode ser entendida senão por quem já pensou “por si próprio o que nele vem expresso.” Esta maneira de colocar as coisas poderia significar uma recusa de um

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processo de compreensão lógica e ética e isto significaria por sua vez uma espécie de predisposição moral (neste caso necessária) à visão correta do mundo. Ou seja: os objetivos ético-filosóficos do Tractatus não seriam alcançáveis senão por aqueles que estivessem predispostos à obtê-los. 3. Ou será que poderíamos encontrar uma clarificação para esta questão nesta outra observação de Wittgenstein, igualmente datada de 1930, onde ele diz que em se tratando de uma teoria, “mesmo que ver-dadeira, isso não lhe interessa”? A resposta a estas questões nos dirá se a escada de Wittgenstein é finalmente moralmente dispensável ou absolutamente necessária.

epistemology Within nature: Should the armchair be Placed in the garden?Jean-Marie ChevalierUniversité Paris-Est, Institut Jean-Nicod/[email protected]

Epistemology Within Nature: Should the Armchair be Placed in the Garden? Analytic philosophy has been much reproached for its lack of experience concerning the particular topics it deals with. Epistemology in particular has often been dubbed “armchair philosophy”, dealing merely with mental contents or rational behavior of some abstract, imaginary agent. On the contrary, the cognitive sciences that have been developing for half a century investigate the very factual aspects of mind. Now, can they help each other? Is a synthesis of the two possible? Each of them taken separately seems to miss some part of the problem, and one could say in a Kan-tian style that whereas epistemology without nature is empty, cognitive psychology without norms is blind. My purport is to wonder how the epistemological appro-ach can be enriched by some factual traits. In other words, the armchair should be placed in nature: this is a claim for a “garden bench philosophy” (or garden swing, or maybe a hammock!). First of all in this paper I briefly consider the overlooked history of contemporary epistemology: strangely enough, the story of its birth from logic and psychology in the 19th and 20th c. still remains to be written. Neverthe-less, it is well known that the particular circumstances of its context made it a strong opponent to psychology. But one forgets sometimes that it in fact is founded upon a strange logic, full of beliefs, doubts and action. I here characterize this ambiguous relation both to logic and psychology. I then consider the relations “garden bench epistemology” should entertain with norms. A complete naturalization, that is, a re-duction to natural processes or even an elimination of norms (or of intentionality), is out of the question. In the same way, we should exclude the view that norms of thought are completely separate from actual thinking (that is, anti-psychologism), as well as the idea that the discourse on norms parallels the discourse on facts in

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an impermeable way –for instance McDowell’s “liberal naturalism,” which I shor-tly compare to Davidson’s mental anomalism. The correct view appears to be that norms supervene on facts, be they either social (cf. Foucault; Brandom) or psycho-logical. In my last part I try to show how rationality can supervene on psychological facts. To this purpose I consider the role of Peirce’s concept of self-control in the birth of rationality. The problem can be rephrased in the following way: do the laws of thought bear on laws of the mind? I rapidly examine a few answers (Frege’s idea that they indeed do; Wittgenstein’s criticism; Fodor’s claim that connectionism is a kind of associationalism; Millikan’s concept of function), to argue against the so--called laws of mind. The result of my examination is that “garden bench epistemo-logy” can benefit from natural sciences on condition that it gets rid of the search for laws of psychology, since its function is precisely to reveal the rise of law.

Hiato explicativo: existirá tal problema?João de Fernandes TeixeiraUniversidade Federal de São Carlos/[email protected]

Trata-se de um trabalho sobre o hiato explicativo (explanatory gap) proposto pelo filósofo americano Joseph Levine, em 1982. Desde então o hiato explicativo tor-nou-se um dos principais problemas da filosofia da mente. Argumentaremos que o hiato explicativo é um pseudoproblema que deve ser eliminado. Essa posição já foi sustentada por Michael Tye, mas nosso argumento é diferente. Partimos da crítica de Kant à psicologia racional e, com base nela mostramos que a ideia de um hiato explicativo baseia-se numa confusão conceitual entre as ideias de “terceira pessoa” e de “intersubjetivo”. (Este resumo faz parte da mesa redonda: “Filosofia da mente: o naturalismo e suas críticas”).

relações de Identidade e Indistinguibilidade em lógica de Primeira ordemJonas Rafael Becker ArenhartUniversidade Federal de Santa [email protected]

Duas propostas acerca do problema da individuação centram parte de suas dispu-tas nos conceitos de identidade e indistinguibilidade: são as chamadas teorias de feixes de propriedades e as teorias que admitem algum tipo de substrato. Segundo a teoria dos feixes, a noção de indivíduo pode ser reduzida a coleções ou feixes de

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propriedades. Especificar um indivíduo seria listar, de algum modo, todas as suas propriedades. Para garantir que dois indivíduos não instanciarão todas as mesmas propriedades e ainda assim possam contar como dois, os proponentes desta teo-ria recorrem ao Princípio da Identidade dos Indiscerníveis (PII), segundo o qual quaisquer dois itens que instanciem as mesmas propriedades são de fato um e o mesmo item. Assim, se entendermos a indistinguibilidade como uma relação entre objetos que possuem todas as mesmas propriedades, teremos que segundo esta con-cepção, identidade e indistinguibilidade devem coincidir. Segundo a teoria rival, a individualidade de um item não pode ser estabelecida apenas pelos seus atributos, mas carece ainda de algo que esteja além destes, algo que transcenda os atributos e sirva para particularizar cada item. Este componente adicional, que os proponentes da teoria se esforçam por tornar plausível e claro, serviria para dar conta justamente da possibilidade de que dois itens possam partilhar todos os mesmos atributos e ainda assim não serem os mesmos indivíduos, ou seja, segundo os proponentes desta teoria, PII pode falhar, é possível que existam itens que partilhem os mesmos atributos e não sejam iguais. Assim, grande parte da disputa centra-se acerca da possibilidade de mantermos os conceitos de identidade e indistinguibilidade sepa-rados. Os defensores da teoria dos feixes deverão sustentar que isto não é possível, e os proponentes de uma teoria do substrato defenderão que esta separação deve ser feita. Neste trabalho investigaremos estas duas noções de um ponto de vista da lógica clássica de primeira ordem. Vamos discutir como a identidade é tratada de um ponto de vista sintático e semântico, apresentando o fato de que a relação de identidade entre os objetos do domínio de interpretação nem sempre é a relação que interpreta o símbolo de identidade na linguagem, quando a axiomatizamos do modo usual. Deste modo, algumas vezes estamos na verdade falando de uma relação mais forte que a identidade, que se pode sugerir ser certo tipo de indistin-guibilidade, e assim, estes conceitos acabam por se manter separados na semântica. Para a relação de indistinguibilidade, discutiremos a possibilidade de introduzi-la como uma nova relação primitiva na linguagem. Argumentaremos que ela pode ser diferenciada da relação de identidade se for tratada como uma relação que não é compatível com todos os predicados que estão presentes na linguagem, ou seja, se houver uma relação ou propriedade P tal que para termos x e y, teremos que eles são indistinguíveis, mas x possui P e y não, ou vice versa. Assim, novamente estes conceitos poderiam ser mantidos separados. Argumentaremos que esta maneira de tratá-los podem nos ajudar a dar mais rigor em algumas disputas metafísicas acerca da individualidade.

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Memes e intencionalidade: uma crítica a dennettJosé Sergio Duarte Da FonsecaUniversidade Federal do Piauí[email protected]

A palestra tem como objetivo mostrar as falhas no projeto dennettiano de uma explicação naturalista da intencionalidade da consciência. Tal projeto tem por base uma visão extrínseca e de terceira pessoa da intencionalidade, a partir da adoção da perspectiva intencional com respeito aos organismos humanos e de uma descrição adaptacionista da evolução do projeto que possibilitou da intencionalidade pres-ciente que caracteriza a consciência humana. A consciência humana é descrita como largamente constituída por memes, que surgem em nossa história evolutiva quando passamos a possuir a capacidade de processamento adequado da linguagem. Será mostrado que a falha deste projeto está na impossibilidade de caracterização não circular de nossa capacidade de adotar a perspectiva intencional em termos de me-mes, ou seja, será mostrado que o projeto dennettiano repousaria sobre a pressupo-sição não inferencial de que somos capazes de adotar a perspectiva intencional. Será defendida a hipótese de que tal dificuldade se deve ao fato de que a perspectiva de terceira pessoa não seria adequada para a descrição de nossa capacidade de atribui-ção de estados mentais a outros seres humanos. Por fim, será examinada a proposta de caracterização desta capacidade em termos de segunda pessoa, advogada pelos defensores da cognição incorporada e situada (S. Gallagher, D. Hutto, D. Zahavi) para verificar se tal proposta é ou não uma alternativa viável ao projeto dennettiano.

o valor cognitivo da arteJosé Sérgio R. N. MirandaUniversidade Federal de Ouro [email protected]

O tema deste trabalho é o debate entre autores cognitivistas e anti-cognitivistas acerca do valor da arte, i.e., entre os autores que defendem que o valor de uma obra de arte reside no facto de que ela proporciona um conhecimento não-trivial acerca do mundo e os que recusam essa tese. O foco principal da minha discussão é a tese cognitivista de que o conhecimento proporcionado pela arte deve ser não-propo-sicional. Visto que a aceitação do conteúdo veiculado por uma obra de arte não dependeria de respostas a questões sobre a verdade e justificação, parece bastante razoável assumir que o conhecimento proporcionado por uma obra de arte deve ser não-proposicional. Os candidatos privilegiados para caracterizar esse conhecimento são os seguintes: o conhecimento prático (know-how) e o experiencial (empatia).

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Uma obra literária, por exemplo, propiciaria ao leitor um conjunto de situações bas-tante complexas nas quais ele tem de avaliar as ações das personagens, ampliando e refinando com isso a sua capacidade para julgar moralmente. Uma peça musical, por exemplo, deveria colocar-nos em posição adequada para esclarecer diferentes pontos de vista, emoções e sentimentos que, de outro modo, permaneceriam fora do nosso alcance. Contra a tese do conhecimento experiencial, procuro mostrar que o cogni-tivista confunde o comentário sobre a arte com a experiência ou vivência propiciada pela obra de arte. Somente pode haver esclarecimento de qualquer ponto de vista, emoção ou sentimento se houver um background de proposições que determine que tipo de ponto de vista, emoção ou sentimento é correcto para esta ou aquela manifestação artística. Assim, se a arte pode veicular algum tipo de conhecimento, este seria um conhecimento trivial, uma vez que ele já estaria determinado pelo co-mentário, e não seria dado isolada e imediatamente pela experiência ou vivência que a obra de arte propicia. Contra a tese do conhecimento prático, pode-se alegar que o valor de uma obra de arte não pode residir nesse conhecimento, pois tanto uma boa obra quanto uma ruim podem propiciar situações complexas nas quais o indivíduo deve exercitar a habilidade para avaliar e julgar moralmente. Como se isso não fosse o suficiente, não há qualquer garantia de que a experiência e a vivência da arte levem um indivíduo a avaliar e julgar moralmente de maneira apropriada. É concebível que um indivíduo, apesar do seu repertório cultural, avalie e julgue incorretamente em todas as situações reais que encontrar. Isso parece tão absurdo quanto dizer que alguém sabe que p ou sabe como fazer F, mas se engana ou sempre falha. Como en-tão explicar o valor da arte? Uma saída cognitivista seria aqui admitir que uma obra de arte possui outras virtudes que a de revelar a verdade e propiciar o conhecimento e que essas virtudes são epistêmicas.

Semântica informacional e conteúdo mentalKarla ChediakUniversidade do Estado do Rio de Janeiro/[email protected]

Nesta apresentação, argumentarei que, com base na semântica informacional desen-volvida por Fred Dretske, é possível atribuir-se estados mentais representacionais a criaturas sem linguagem, mas não estados de crença. Estruturas neurofisiológicas podem ser compreendidas como tendo a função de carregar informação sobre algo que lhes é externo a fim de guiar o comportamento de um organismo. Neste sen-tido, o fato de ser requerido por carregar certa informação (e não as outras que lhe estejam associadas, lógica ou nomologicamente) seria o bastante não apenas para distinguir sistemas informacionais de sistemas representacionais, mas também para

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determinar seu conteúdo. No entanto, o conteúdo informacional não é suficiente para individuar crenças. Isso fica claro quando consideramos que crenças forma-das por termos co-referenciais não são idênticas umas às outras. Porém, o fato de tais crenças não serem idênticas não significa que seus conteúdos sejam diferentes. Pode-se admitir que o conteúdo seja o mesmo, mas que o modo como esse con-teúdo é conceitualizado seja diferente. O que não é possível, como bem defende McLaughlin quando apresenta o princípio do conteúdo codificado para crenças (The Encoded Content Principle for Beliefs), é que duas crenças sejam exatamente as mesmas tanto no seu conteúdo quanto na maneira como codificam seu conteúdo. Desse modo, se aceitarmos que a distinção entre conceitos simples e conceitos com-plexos e entre diferentes modos de conceitualização só ocorre no interior de uma linguagem proposicional, não cabe atribuir crenças a seres sem linguagem. Porém, isso não impede que se reconheça a existência de estados mentais representacionais com conteúdo semântico em criaturas sem linguagem, uma vez que o conteúdo re-presentacional estaria fixado em “estruturas tipos” que, embora careçam de estrutura composicional, poderiam desempenhar papel relevante nas relações cognitivas entre o organismo e seu meio ambiente.

Frege versus o psicologismo: os argumentos fregeanos contra a lógica psicologistaKariel Antonio GiaroloUniversidade Federal de Santa [email protected]

O presente trabalho tem como objetivo principal expor e analisar os argumentos utilizados por Frege na sua famosa crítica ao influxo da psicologia em assuntos ló-gicos. Segundo Frege, os lógicos de seu tempo estavam, em sua grande maioria, infectados pelo mal do psicologismo e tal situação fazia com que grande parte das contribuições desses autores ao desenvolvimento da lógica, ao invés, de trazer clare-za acabavam por borrar certas distinções. O psicologismo é uma postura filosófica surgida no século XIX como um desdobramento do naturalismo. O naturalismo ti-nha como propósito atacar algumas teses centrais do idealismo objetivo hegeliano e da metafísica especulativa de um modo geral. Algumas teses polêmicas do naturalis-mo e que deram origem ao psicologismo dizem respeito à relação entre lógica e psi-cologia. Segundo os naturalistas, a lógica trata das leis concernentes ao pensamento e, uma vez que, o pensamento é algo psicológico, a lógica, portanto, nada mais é do que um ramo da psicologia. A lógica com isso deixa de ser uma ciência autôno-ma para angariar seu fundamento em outra ciência mais fundamental. Esse caráter de dependência que a lógica possui com respeito à psicologia se baseia, em certo

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aspecto, na confusão referente ao uso comum de certos conceitos. A lógica, costu-meiramente, é definida como arte de pensar, raciocinar, julgar. Tais conceitos, entre-tanto, podem ser encontrados também na psicologia. Assim, pelo fato de fundar as raízes nos mesmos conceitos essenciais à psicologia, os lógicos psicologistas tomam a lógica como um mero desdobramento desta última. No Prólogo às Leis Básicas da Aritmética, e nos artigos Über Sinn und Bedeutung e Der Gedanke, podemos encontrar algumas das teses fregeanas contra o psicologismo. De acordo com Frege, os lógicos psicologistas ignoram certas distinções fundamentais na lógica, como por exemplo, entre Ser verdadeiro (Wahrsein) e tomar como verdadeiro (Fürwahrhal-ten), entre sentido (Sinn) e representação (Vorstellungen), entre a esfera do objetivo e a esfera do subjetivo. Assim a noção fregeana de verdade e a noção fregeana de sentido possuem um caráter determinante na tentativa de refutação do psicologis-mo. Um conceito adequado de verdade e uma noção de sentido que não se confunda com representações mentais são as bases para criticar a lógica psicologista. Desse modo, pode-se dizer que as críticas de Frege ao psicologismo são essencialmente semânticas, baseadas nas noções de significado, referência e condições de justifica-ção. Em Der Gedanke, Frege critica a confusão entre ser verdadeiro e tomar como verdadeiro. O conceito de verdade é fundamental na lógica e esta busca discernir as leis do ser verdadeiro (Wahrsein). Tais leis, no entanto, não devem ser confundidas com as leis do tomar algo como verdadeiro (Fürwahrhalten). As leis lógicas devem ser normas para alcançar a verdade e a verdade não deve ser confundida com o ato subjetivo de tomar algo por verdadeiro, não há na lógica, lugar para um conceito relativístico de verdade. É evidente a importância que a refutação do psicologismo tem sobre a filosofia fregeana, principalmente no que tange a fundamentação da aritmética. Frege lutou não simplesmente contra alguns autores que defendiam essa posição, mas contra todo o corpus da doutrina. A conclusão fregeana é muito clara: lógica e psicologia são duas ciências distintas e a lógica não necessita, em seu alicer-ce, da psicologia.

Funcionamento da mente: Pinker ou Fodor?Kleber Bez Birolo CandiottoPontifícia Universidade Católica do Paraná[email protected]

Pinker, em sua obra How the mind works publicada em 1997, promoveu a con-junção entre “teoria computacional de mente” e “biologia evolucionária” como uma proposta heurística para os estudos sobre o funcionamento da mente, denominado por Jerry Fodor como Nova Síntese. Nesta síntese, que também é conhecida por “psicologia evolucionária”, Pinker afirma ser a mente um sistema de órgãos de com-

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putação resultante da seleção natural, negando a concepção de entidade única. A mente humana, segundo Pinker, é composta por uma série de faculdades que se es-pecializaram em resolver determinados problemas de caráter adaptativo. Entretanto, este modelo explicativo tem recebido críticas de filósofos como Fodor, especialmen-te em seu livro The mind doesn’t work that way publicado em 2000. Nesta obra, Fodor identifica limitações à Nova Síntese no que diz respeito ao emprego tanto da metáfora computacional quanto da Teoria da Evolução. O presente trabalho, ao apresentar o debate entre estes autores, propõe identificar o que está em jogo nesta discussão, bem como avaliar seus resultados à filosofia da mente. (Este resumo faz parte da mesa redonda: “Filosofia da mente: o naturalismo e suas críticas”).

Carnap’s position in the epistemological tradition The role of the distinction between internal and external questionsLinda PerfranceschiUniversity of Verona/[email protected]

The distinction between internal and external questions has been explicited by Carnap in 1950 and was subsequently criticized by Quine on the basis of its close derivation from synthetic-analytic distinction, which is for Quine an unfounded empiristic dogma. The aim of this paper is a) to analyse this distinction beyond the strictly semantic sphere within which, initially, it seems to be explicited and applied by Carnap himself; b) to deepen the main passages of Quine’s criticism c) to evaluate the comparison from an epistemological point of view. The main premise from which this topic starts is that the distinction between internal and external questions is not simply a trick used by Carnap, in the so-called semantic phase of his thought, to determine which is the status of abstract entities just in semantics, but it is rather a central distinction that has its origins in the Au-fbau (1928) and that it represents, in some ways, the development of Carnap’s thought itself. The second premise is based on the possibility of considering the Quinean criticism as a misleading interpretation of the Carnapian distinction. In full harmony with what has been mentioned as a sort of Carnapian renaissance (Price 1997, 2007), the objective is to show how, in a misleading way – just after the apparently definitive Quine’s criticism – Carnap’s proposal has been abando-ned too quickly, considering it as an expression of his epistemological founda-tionalism. Actually the idea which leads the work is that Carnap’s position, as it has always been considered from an historical point of view in the spectrum of the different epistemological positions, could be revised in a less foundationalist direction. Despite the claims Quine made, we came to the conclusion that the

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internal/external distinction is more fundamental than that between analytic and synthetic and though maintaining a close relationship it is, to all intents and pur-poses, independent.

¿Ha sido refutada la teoría descriptiva de la referencia?Luis Fernández MorenoUniversidad Complutense de [email protected]

En la Filosofía del Lenguaje contemporánea se mantiene generalmente que la te-oría descriptiva de la referencia – para abreviar, el descriptivismo – con respecto a diferentes tipos de términos, como los nombres propios y los términos de género natural, es una teoría que ha sido refutada, debido a las objeciones formuladas con-tra ella por los promotores de la teoría causal, como Kripke y Putnam. El objetivo de esta comunicación es cuestionar esa tesis y alegar que el descriptivismo, al me-nos acerca de los términos de género natural, todavía puede ser mantenido. A este respecto centraré mis consideraciones en uno de los tipos principales de términos de género natural, los denominados “términos de sustancia”, como “oro” y “agua”, y esbozaré una versión del descriptivismo acerca de dichos términos que sea inmu-ne frente a las principales objeciones formuladas por los promotores de la teoría causal. Esta versión del descriptivismo está basada en la extensión a los términos de sustancia de algunas de las propuestas de descriptivistas contemporáneos como Searle y Strawson acerca de los nombres propios. De acuerdo con Searle y Straw-son la referencia de un nombre propio es determinada por un número suficiente de las descripciones que los hablantes asocian con el nombre, pero estos autores aceptan diferentes tipos de descripciones. Entre las descripciones que el hablante medio puede asociar con un término, ambos autores incluyen descripciones en las que el hablante delega la referencia del término en otros hablantes. A este respecto el descriptivismo puede aceptar la tesis de Putnam de la división del trabajo lin-güístico, según la cual el hablante medio está dispuesto a deferir la determinación de la referencia de los términos de género natural en otros miembros de la comuni-dad lingüística, a los que Putnam alude como “expertos”, y el descriptivismo puede alegar que todos los hablantes asocian descripciones con los términos de sustancia que usan, aunque algunas de las descripciones asociadas por los no-expertos tienen la función de deferir la referencia de esos términos en su referencia en el uso por parte de expertos. Ahora bien, los expertos acerca de una sustancia, como oro, aso-ciarán con el término “oro” un conjunto de descripciones identificadoras y al menos algunas de ellas no involucrarán la noción de referencia; de este modo se cumple la condición de no-circularidad exigida por Kripke al descriptivismo. Llegados a este

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punto el descriptivismo puede sostener que la referencia del término “oro”, tal como es usada por los expertos y, por tanto, también por el resto de los miembros de nues-tra comunidad lingüística, es la sustancia que satisface un número suficiente de las descripciones que los expertos acerca del oro asocian con el término “oro”. Por tanto, la tesis del descriptivismo según la cual la referencia de los términos de sustancia es determinada por un número suficiente de las descripciones asociadas con ellos se aplica, en sentido estricto, de acuerdo con esta versión del descriptivismo, sólo a los expertos acerca de la sustancia en cuestión.

notas sobre o conceito de conceitoLuís Felipe Netto LauerUniversidade Federal de Santa [email protected]

Neste trabalho será abordado o problema sobre qual o estatuto e em que consiste o emprego filosófico (“adequado”) da palavra conceito? A partir de uma reconsideração da proposta apresentada por Ernst Tugendhat nas “Lições Introdutórias à filosofia analítica da linguagem” (especialmente Lições 8 a 12), e na “Propedêutica lógico--semântica” (especificamente no capítulo intitulado “Termos gerais, conceitos, clas-ses”), pretendo reconstruir o debate entre o autor e as concepções conceitualista e funcionalista sobre os conceitos. Viso a estabelecer em que medida a teoria analítico--linguística sobre o modo como devemos entender conceitos adequadamente e so-bre o papel que eles desempenham para a compreensão da significação de frases enunciativas (singulares) faz justiça seja à posição formal-ontológica de Husserl, seja à semântica fregeana. Procurarei mostrar que, por detrás da estratégia de legitimar a análise lógico-semântica esconde-se a pressuposição de que somente podemos nos referir a algo ou predicar-lhe o que quer que seja no contexto de uma linguagem de-terminada e de suas regras de uso. Supõe-se aí uma passagem das noções semânticas às noções ontológicas pela via da explanação das conexões inferenciais do conteúdo sentencial – ou seja, por meio da estipulação de uma relação de dependência da on-tologia para com a semântica formal. Isto implica que, no caso específico do proble-ma que queremos abordar – como devemos entender conceitos adequadamente – o estabelecimento do domínio de referência e das categorias elementares com as quais pretendemos estruturá-lo depende da explicação daqueles aspectos característicos do uso de certas expressões no interior de uma linguagem. Deste modo, Tugendhat parece transferir o caráter predicativo atribuído aos conceitos àquilo que Frege de-nominou expressões funcionais e cuja capacidade de indicar (andeuten) é justamente o que nos permite apreender o que há de essencial em uma função. Em linhas ge-rais, duas perspectivas podem então ser exploradas: se é correto afirmar que 1) a

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condenação da posição conceitualista – identificada com a teoria da significação de Husserl – dá-se em função de sua tentativa equivocada de explicitar o conteúdo sentencial com base em noções dependentes do domínio de referência, não é me-nos acertado que 2) para evitar a tese de que a linguagem e as noções semânticas seriam um reflexo do domínio de referência, a teoria analítico-linguística acaba por tornar o domínio de referência o reflexo das propriedades semânticas das expres-sões de uma dada linguagem – o que nos condicionaria a pensar conceitos como uma sorte de expressões lógico-linguísticas (termos gerais ou predicados). Pretendo mostrar que é possível escapar a este impasse defendendo a tese segundo a qual noções semânticas e ontológicas são complementares: segue-se que, se o conceito é essencialmente predicativo, isto se deve justamente ao fato de ser referência de um predicado. Parece haver aí uma contraparte ontológica correspondente à categoria lógico-linguística dos predicados que, se não pode ser explicitada satisfatoriamente mediante uma teoria objetivística, tampouco o pode mediante uma de cunho pura-mente analítico-linguístico.

Solução epistêmica para o paradoxo da análiseLuis Fernando Munaretti da RosaPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do [email protected]

Há, pelo menos, duas formas de paradoxo da análise. A primeira delas, diz respeito à tarefa de justificar como uma análise pode ser ao mesmo tempo verdadeira e in-formativa. A segunda, diz respeito tão somente ao valor de verdade de proposições dentro do contexto do operador ‘... é uma análise de...’. Irei apresentar, na minha co-municação, as duas formas do paradoxo, mostrando quais são as premissas assumi-das em ambas. Em seguida, indicarei quais destas premissas são assumidas sem boa justificação. Isso pode conduzir a tentativas de solucionar o paradoxo. O paradoxo da análise, em sua primeira forma, surge do seguinte modo. Assuma-se que a se-guinte proposição é verdadeira: para todo x, x é mãe sse x é uma fêmea genitora com filhos. Esta proposição estaria expressando a análise do conceito de mãe. Se esta análise está correta, então ‘mãe’ e ‘fêmea genitora com filhos’ estão pelo mesmo con-ceito. Logo, estes termos são intercambiáveis em contextos proposicionais sem troca de significado. Isso quer dizer: duas sentenças assertivas com estes termos trocados expressam a mesma proposição. Portanto, a proposição expressa em 1) deve ser a mesma que a expressa em: para todo x, x é mãe sse x é mãe, que também pode ser ex-pressa pela sentença ‘ser mãe é ser mãe’. Tanto 1) quanto 2) são verdadeiras. Porém, 1) é uma proposição informativa, enquanto 2) não o é. Como pode ser o caso que 1) e 2) expressam uma mesma proposição, e esta mesma proposição é informativa no

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primeiro caso, mas não no segundo? Uma mesma coisa é e não é informativa – há aqui uma contradição, e esta é paradoxal na medida em que suas premissas parecem ser não problemáticas. O paradoxo em sua segunda forma surge do seguinte modo: Assuma-se que a seguinte proposição é verdadeira: 1’) Uma análise do conceito de mãe é a de que ser mãe é ser uma fêmea genitora com filhos. Se a proposição 1’) está correta, então, novamente, ‘mãe’ e ‘fêmea genitora com filhos’ são intercambi-áveis salva veritate. Portanto, a seguinte proposição tem de ser verdadeira: 2’) Uma análise do conceito de mãe é a de que ser mãe é ser mãe. Mas não é o caso que 2’) é verdadeira (‘mãe’ não analisa ‘mãe’). Bem, quais são as premissas envolvidas na demonstração deste paradoxo? P1 – os dois termos relacionados na análise denotam um mesmo conceito. P2 – em função de os dois termos denotarem o mesmo concei-to, eles são intercambiáveis em contextos proposicionais não somente salva veritate, mas também salva significatione. Argumentarei que se pode corrigir P1 dizendo que não é verdade que eles denotam o mesmo conceito, mas a mesma classe, e que a igualdade intensional aqui é matéria epistemológica, por um lado, e nominal, por outro; argumentarei que se pode corrigir P2 dizendo que os termos são intercam-biáveis salva significatione em casos em que os agentes epistêmicos que analisam o conceito em questão sabem da relação entre os termos relacionados.

Conhecimento e alternativas relevantesLuis Fernando dos Santos SouzaUniversidade Federal de Sergipe/Universidade Federal do Piauí[email protected]

O conceito de Alternativa Relevante (RA) vem sendo utilizado como uma fer-ramenta epistemológica pelo menos depois dos escritos de Fred Dretske e Alvin Goldman a partir da segunda metade o século XX, mais especificamente no en-torno dos anos sessenta e setenta. A incorporação deste novo elemento à análise do conhecimento tem por principal virtude combater um determinado tipo de ceticismo, aquele que nega conhecimento de proposições acerca do mundo externo, tais como “está chovendo”... E combater o problema de Gettier, ou o problema da crença acidentalmente verdadeira, além de dar uma explicação bastante persuasiva acerca das nossas atribuições de conhecimento. Através da análise do conceito de Alternativa Relevante e suas pretensões tentaremos constatar sua eficácia através de um teste contra o ceticismo que vê como um princípio subjacente às nossas atribuições de conhecimento o princípio de fechamento. Por essa razão analisare-mos os argumentos de Dretske contra o fechamento e Gail Stine em favor deste princípio mostrando como ambos se utilizam do mesmo expediente teórico, as Alternativas Relevantes.

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Filosofando para além de Heidegger e WittgensteinLuiz HebecheUniversidade Federal de Santa [email protected]

Meu propósito sinteticamente é expor aproximações entre o que Heidegger en-tende por maquinação (e vivência) e o que Wittgenstein entende pela figura da máquina como fonte de ilusões gramaticais. Esse tema se situa nos limites entre a filosofia analítica e a dita continental. Ele também poderá lançar mais luzes sobre o diálogo entre esses dois filósofos e também quiçá apontar caminhos para novos modos de considerar a atividade filosófica. Um deles chamo provisoriamente de “gramática da faticidade”.

reflexões sobre o antiessencialismo em richard rortyMarcelo Corrêa GiacominiUniversidade Federal de Minas [email protected]

Esta proposta de comunicação tem por objetivo fundamental discutir e refletir sobre o tema do antiessencialismo na obra do filósofo americano Richard Rorty. Embora o próprio autor expresse que seu antiessencialismo seja apenas mais um rótulo de se denominar o pragmatismo (desenvolvido por ele de acordo com uma corrente de pensamento principalmente desenvolvida pela filosofia americana), o antiessencia-lismo em Rorty, assim pensamos, teria um papel importante seja em sua empreitada de criticar o dualismo presente em certa tradição da filosofia grega, principalmente o dualismo de tradição platônica; seja por contribuir para o debate contemporâneo circunscrito às teorias (principalmente elaboradas pela filosofia analítica e/ou da linguagem) sobre o realismo e à metafísica. Por isso, o questionamento geral, que será posto em discussão, será o da pergunta, já clássica, incitada pela obra rortyana: os objetos ou as coisas possuem uma essência ou uma realidade intrínseca? Para tentar responder essa pergunta, o posicionamento central de Rorty, segundo sua análise antiessencialista que pretendemos discutir neste trabalho, seria a tese de que, primeiramente, não haveria uma realidade que estaria do lado de fora da lingua-gem, pertencente às coisas como propriedades intrínsecas a elas; em segundo lugar e, consequentemente, nenhuma sentença ou enunciação, que seja justificadamente verdadeira em relação aos objetos, se aproximaria, mais ou menos, daquilo que se denominaria a essência das coisas. Em outras palavras, ao admitir que não haveria determinadas propriedades que seriam essenciais às coisas, Rorty procuraria afirmar que não deveríamos nos questionar mais o que as coisas realmente são, independen-

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te de nossas sentenças sobre elas ou da relação que essas sentenças possuiriam em face do conjunto ou da rede de crenças formada por outras sentenças verdadeiras. Procurando, dessa forma, refutar determinados tipos de concepções essencialistas, Rorty provocaria o vocabulário metafísico propondo, com isso, que seria válido con-siderarmos a importância da prática e da ação humanas, sem que seja necessário de-terminar a separação entre uma realidade intrínseca das coisas, que busca conceber na realidade uma verdade incondicional e necessária, e outra realidade que viveria no mundo das aparências, tida pelos metafísicos como contingente e relativista. Diante dessas considerações preliminares, procuraremos, portanto, nesta comunicação, tra-zer à luz o tema antiessencialista de Rorty, tentando mostrar como os argumentos que o envolvem teriam um peso importante nos posicionamentos do autor que vão de encontro com a tradição dualista-metafísica, assim como tentar colocar Rorty no centro das discussões sobre a antítese entre essencialismo e antiessencialismo. Nesse sentido, colocando-se o antiessencialismo como um dos pontos centrais do discurso rortyano, poder-se-ia fomentar, ainda mais, suas perspectivas pragmáticas em rela-ção ao historicismo, no que tange principalmente à epistemologia, bem como em relação à ética e aos debates que envolvem o engajamento teórico-político de Rorty.

absolute Truthmaking and Simple FactsMarcello Oreste FioccoUniversity of California/[email protected]

Many philosophers defend a Truthmaking Principle along the lines of (TM): (TM) Necessarily, if <p> is true, then there is some entity in virtue of which it is true (where <p> is a proposition). So <that the rose is red> is true in virtue of the state of affairs of the rose’s being red (or some other entity). However, even ardent su-pporters of (TM) maintain that the application of the principle is limited. Many deny, for example, that analytic truths are made true in virtue of some entity. Other supporters of (TM) maintain that the principle must be weakened in light of di-fficulties finding truthmakers for certain modal claims, negative existentials, claims about the past or future, and disjunctive claims. There is, then, strong support for the notion that truth is grounded in the nature of reality-and yet a good deal of hedging with respect to this notion. In this paper, I defend an absolute principle of truthmaking: Any and every true proposition is made true in virtue of some entity. I present na argument for this principle, and then provide an account of the truthmakers that accompanies it. The account of facts I propose provides a ground in reality for even the most perplexing truths. I illustrate this result and so take this account of facts to corroborate my argument for absolute truthmaking.

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Commands and claimsMarco Antonio Oliveira de AzevedoInstituto Porto [email protected]

The conception that law is command was a commonplace in the philosophy of law at least until the middle of the 20th century. Gerald Postema remarked that contemporary jurisprudence has abandoned the language of command, but “it is an interesting question whether, or to what extent, it has abandoned the conceptual model to which that language pointed” (Postema, 2001, p. 474). Notwithstanding Hart’s and Kelsen’s modifications of the command conception, the fact is that “commands” remains central in the conceptual domain of philosophical jurispru-dence. But law is not command. If Herbert Hart is correct, a command is binding only if there is a right of being obeyed, and this implies legal authority (Hart, 1994, p. 58). But it presupposes that duties and rights are prior to commands, and that one of the main functions of law is to state duties and rights in a broad sense. As a consequence, to enforce compliance is not exactly the core or essential function of law (it is a function of some institutions and officials whose powers and privileges are warranted by – secondary – laws). My aim in this work is to take some steps in the argument for the thesis that the main function of law is to create or to grant rights to individuals besides stating them. Following a hohfeldian terminology, we can understand rights in a narrow sense as comprehending claims, privileges, po-wers and immunities, and, in a broad sense, as clusters or molecules of those atoms (Thomson, 2002). In this paper I will concentrate myself on the contrast of com-mands and claims. My point will be that since commands are utterances addressed to “inferiors”, claims are utterances or statements addressed the other way around: they are addressed to “superiors”. Would that imply that superiors cannot have claims against their inferiors? Not at all. This would be right only in the case of some “commands”, that is, in the case of unlawful commands. A robber can make a command to a person without having any claims of being obeyed. The difference between the robber and the official is exactly this: while the robber cannot claim obedience over its victim, the official can claim obedience over those within his subordination. Then, what makes a command a valid one is that it is warranted by some right: a claim of being obeyed. One of the main criticism of the traditio-nal positivist account of law’s authority as the political authority of a commander (mainly Hobbes’s, Bentham’s and Austin’s views) is that law must provide reasons for action and mere habits of obedience don’t provide “internal” reasons for action. Law’s obedience cannot be then only a matter of habit. That is one of the most important Hart’s criticisms on Austin’s traditional account. My point will be that

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rights are proper reasons for action. More specifically, claims (legal claims) are pre-eminent reasons for action (in some situations, even “sufficient” ones). Following the correlativity thesis, to have a claim is to have a claim against someone else, the duty-bearer. Then, a command can constitute a reason for action if it is true that the commanded has a duty of obeying and the commander a right of being obeyed. In this case, to command involves making an appeal “not to fear, but to respect for authority” (Hart, 1994, p. 20).

Inferência da melhor explicação: o problema da descrição da evidência a ser explicadaMarcos Rodrigues da SilvaUniversidade Estadual de Londrina/Fundação Araucá[email protected]

Um dos problemas centrais do debate realismo/anti-realismo é o problema da aceitação de teorias científicas: qual deve ser a atitude epistemológica de um cien-tista diante de uma teoria científica bem sucedida? De modo geral realistas argu-mentam que a aceitação de uma teoria bem sucedida instrumentalmente implica a crença na sua verdade. Já para anti-realistas o sucesso das teorias não nos autoriza a crer na verdade das teorias, devendo nos limitar a, por exemplo, acreditar em sua adequação empírica. Um importante argumento realista é o argumento da infe-rência da melhor explicação, formulado por Gilbert Harman: “Ao se construir [a inferência da melhor explicação] se infere, do fato de que uma certa hipótese ex-plicaria a evidência, a verdade desta hipótese. Em geral existem diversas hipóteses que poderiam explicar a evidência, de modo que se deve ser capaz de rejeitar todas tais hipóteses alternativas antes de se estar seguro em fazer a inferência. Assim se infere, da premissa de que uma dada hipótese forneceria uma explicação “melhor” para a evidência do que quaisquer outras hipóteses, a conclusão de que esta deter-minada hipótese é verdadeira”. A partir deste enunciado, e com o auxílio de uma formulação de Stathis Psillos, podemos então apresentar o seguinte argumento: a) uma evidência E deve ser explicada; b) a hipótese H explica melhor E do que ou-tras hipóteses rivais; c) conclusão: H é passível de crença em sua verdade. Do ponto de vista da epistemologia (ou seja: daquilo que se quer compreender acerca das razões da crença de um cientista em uma certa hipótese) o argumento parece des-crever de modo adequado os caminhos que são percorridos a fim de se legitimar a aceitação de uma hipótese pela comunidade científica. Porém é alegado por alguns filósofos (como Bas van Fraassen) que a aceitação não teria apenas uma dimensão epistemológica, mas igualmente uma dimensão pragmática, dimensão esta que nos auxiliaria a identificar os compromissos (não-epistemológicos) do cientista (que

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aceita uma teoria) com o programa de investigação no qual está imerso. Partindo desta orientação pragmática, esta comunicação pretende apresentar uma dificulda-de ao estabelecimento da premissa (a) antes mencionada do argumento da inferên-cia da melhor explicação. A dificuldade seria a de que nem sempre a descrição de uma evidência que precisa ser explicada poderia ser compartilhada pelos cientistas de algum modo envolvidos na busca desta explicação. Assim, a despeito destes cientistas compartilharem o reconhecimento de importância quanto a uma evidên-cia específica, a diversidade de seus interesses investigativos poderia conduzi-los a assimilações distintas dos resultados de uma pesquisa acerca da evidência. Neste trabalho são apresentados resultados de uma investigação historiográfica feita pelo autor e que são pretendidas como um suporte para a discussão filosófica a respeito da assimilação, por parte de alguns cientistas no início da década de 50 do século passado, do enunciado proposto por Ronald Giere – “os padrões de raio-x da molé-cula de DNA devem ser explicados” – para descrever um dos principais problemas científicos da genética molecular.

liberdade e anomalia do mentalMaria Cristina de Távora SparanoUniversidade Federal do Piauí/CNPq/[email protected]

Liberdade impõe-se como problema filosófico ao opor-se a qualquer forma de de-terminismo. Ao criarmos uma brecha no curso dos eventos regidos pelas leis da natureza estabelecemos uma realidade que, por não submeter-se a essas leis, é cons-ciência de uma realidade mais fundamental e autônoma que a própria natureza – a liberdade. Reconciliar liberdade e determinismo causal em filosofia é uma questão que remonta a Kant. Davidson não pretende eliminar a oposição entre liberdade e determinismo causal. Com sua tese do monismo anômalo ao tratar o problema da liberdade numa perspectiva anômala procura a interação entre eventos físicos (segundo as leis da natureza) e eventos mentais (ações que supõem um agente, in-tenções e desejos). Para tanto apela a três princípios, enfatizando o papel do terceiro: Princípio da interação causal entre o físico e o mental; Princípio do caráter nomolo-gico da causalidade; Princípio do anomalismo do mental – que diz que não há uma lei estrita sob a qual eventos mentais estejam submetidos e possam ser explicados. A solução seria a interação, que só é possível havendo identidade entre mental e físico. Davidson afirma que os eventos são físicos, mas rejeita a formulação materialista para eventos físicos negando a existência de leis psicofísicas.No entanto, postula a “superveniência” para os eventos mentais, i. é, a dependência do mental ao físico. A tese da superveniência de Davidson é o que vai caracterizar o monismo sem redução

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nomológica. Como isso é possível? O “pulo do gato” dessa tese aparentemente con-traditória deve-se ao que Davidson chama de identidade token-token, i.e., descrição de ocorrências psicofísicas, onde eventos mentais são eventos individuais e particu-lares que ao serem descritos, com a ocorrência de um agente apresentam uma ins-crição linguística. Tais eventos ao serem descritos, de uma maneira e não de outra, estão submetidos ao caráter nomológico da linguagem. Podemos somente dizer que um evento causou outro e afirmamos seu caráter nomológico quando são descritos.Ao ocorrerem mudanças, a ocorrência é produzida pelos próprios eventos físicos e o vocabulário psicológico utilizado na descrição dos eventos, o que os caracteriza como mentais não tem poder causal. A superveniência do mental ao físico é relativa a cada evento em particular, mas a produção de eventos é independente desse fator. Eventos mentais não causam eventos físicos, mas como estão submetidos ao físico se alteram caracterizando uma anomalia, mas nunca uma redução psicofísica. O estranho na teoria davidsoniana é como estabelecer uma relação causal sem esta relação estar subsumida a uma lei psicofísica ou uma relação legal menos estrita ou heterônoma. Como reconciliar a ação desses eventos com a liberdade? Qual o padrão que se apresenta aqui e o que aproxima a liberdade da anomalia? Essas são questões que evocam a teoria kantiana (principalmente o terceiro conflito das ideias trancendentais) mas resgatam tanto a questão do físico-mental como o papel da descrição desses eventos. Este trabalho tem como proposta tratar dessas relações e da ação livre e anômala.

la metáfora en la construcción de categorías lingüísticasMario PortillaUniversidad de Costa [email protected]

El concepto de categorías difusas, expresadas por prototipos, desarrollado por Witt-genstein, opuesto a la noción platónica de categorías discretas, parece más fructífero para analizar funcionamiento de las estructuras gramaticales del lenguaje humano. En el presente trabajo se ilustra como la gramaticalización de posibles categorías lingüísticas abstractas se materializa en las lenguas particulares por medio de la implementación de procesos de extensión metafórica o analógica con una base cog-nitiva, mediante el análisis del surgimiento de la categoría de plural en las llamadas lenguas criollas.

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Kant e o papel da linguagem na constituição do gostoMartha Helena SanderUniversidade do Vale do Rio dos [email protected]

Pretendo apresentar a argumentação de Kant na obra Crítica da Faculdade do Juízo, tendo em vista explicar o papel da linguagem na constituição do gosto. Na obra em questão, Kant investiga a capacidade humana de distinguir a beleza nos objetos, sendo a faculdade do ânimo um complemento da faculdade de conhecimento, apa-recendo como mediadora da faculdade do entendimento e da razão. Nos juízos de gosto expressamos o sentimento provocado por um dado objeto, bem como nosso desejo de que todos que o contemplem nas mesmas condições sintam o mesmo. Desse modo, o juízo expresso é subjetivo mas ganha objetividade. É a pessoa que julga quem comunica seu gosto por meio de um juízo com pretensão de universa-lidade, pois os objetos dos sentidos são objetos do comprazimento, embora a sen-sação de agrado não pode ser representada. O tratamento dado aos sentimentos na terceira crítica kantiana é o tema deste estudo, mais especificamente no que tange à sua expressão nos juízos de gosto. O objetivo é mostrar como, para o Kant da Crítica do Juízo, a relação entre os sentimentos permite a universalidade sem conceitos que torna comunicável o gosto.

Simpatia e sentimentos: uma relação entre a sociabilidade animal e o fenômeno moralMatheusde Mesquita SilveiraUniversidade do Vale do Rio dos [email protected]

Meu objetivo neste trabalho é apresentar uma visão naturalizada de um sistema de moralidade, visto aqui como a capacidade de fazer exigências mútuas. Defenderei esse posicionamento apresentando uma possível relação existente entre a aptidão social de certas espécies animais e a existência de um sistema de moralidade dentro do grupo em que vivem. David Hume, nas obras Tratado da Natureza Humana e Investigações sobre os Princípios da Moral, fundamenta nos sentimentos o modo como o ser humano realiza distinções morais. Segundo o autor, a qualidade natural da simpatia faz com que certos sentimentos adquiram força moral, uma vez que os interesses dos membros de determinado grupo convergem para um lugar comum, fazendo com que estes percam sua característica individualista, transformando-se num interesse social, onde o que é bom para um é o que será bom para todos. Jesse

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Prinz, no artigo Emotional Basis of Moral Judgements reforça o argumento de Hume, apresentando o resultado de diversos estudos obtidos pelas ciências cogni-tivas, como a psicologia e a neurociência cognitiva, que apontam para uma forte li-gação existente entre sentimentos e moral, sendo estes necessários para que se possa fazer qualquer tipo de distinção desta espécie. Esse comportamento é observável em espécies que há muito tempo se separaram da humana, mas que, assim como os hu-manos, são considerados animais sociais. Alcateias de lobos (Canis lúpus) tem sido usadas, por muito tempo, como exemplos em descrições de relações comportamen-tais entre membros de grupos sociais. O biólogo L. David Mech, no artigo Status, Dominance, and Division of Labor in Wolf Packs, apresenta uma descrição bas-tante precisa do comportamento de uma alcateia de lobos selvagens, argumentando em favor de que sentimentos como culpa, vergonha e cuidado são reguladores do comportamento do grupo, fazendo da hierarquia da alcateia algo muito semelhante a encontrada em famílias humanas. Apresentando o vínculo entre sentimento e o modo como são formados juízos morais e, mostrando que não somente os seres humanos, mas outras espécies de animais sociais realizam estas distinções de modo semelhante, parece constituir um forte argumento em favor de uma teoria que ex-plique o fenômeno moral em bases naturais.

Verdade, certeza e a questão dos fundamentos da linguagem em WittgensteinMirian DonatUniversidade Estadual de [email protected]

Este trabalho tem como objetivo mostrar a distinção que Wittgenstein realiza entre dois tipos de proposições, as proposições gramaticais e as proposições empíricas, tendo em vista uma segunda distinção, aquela entre verdade e certeza, que por sua vez permitirá compreender o modo como Wittgenstein elabora a questão relativa aos fundamentos das práticas linguísticas. Segundo Wittgenstein, a verdade é pró-pria de um jogo de linguagem, ou seja, é de uma proposição empírica de um jogo de linguagem específico que dizemos ser verdadeira ou falsa, a qual demanda algum tipo de prova, justificação ou mesmo evidência para que seja aceita como verdadei-ra. Entretanto, a certeza é própria das proposições gramaticais, e como tal elas são anteriores aos jogos de linguagem, e nesse sentido ela é como que a condição para estes últimos. Segundo Wittgenstein, as proposições gramaticais pertencem a uma categoria distinta das proposições empíricas, por isso, delas não se pode afirmar serem verdadeiras ou falsas, como também não faz sentido exigir provas ou justifica-

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tivas, ou ainda colocá-las em dúvida. É neste sentido que Wittgenstein afirma que as proposições gramaticais são parte dos fundamentos das nossas práticas linguísti-cas; as proposições gramaticais fundamentam a verdade das proposições empíricas. Contudo, se as proposições gramaticais fundamentam a verdade das proposições empíricas, elas próprias não são fundamentadas, pois como afirma textualmente Wittgenstein: “se a verdade é o que é fundamentado, então o fundamento não é verdadeiro nem falso”, ou seja, não faz sentido dizer daquilo que é fundamento que é verdadeiro ou falso.

Sobre o naturalismo de Quine e a SubdeterminaçãoNastassja Saramago de Araujo PugliesePontifícia Universidade Católica do Rio de [email protected]

Na defesa que W. V. Quine faz do empirismo, há uma tensão conceitual raramente levada em consideração pelos comentadores. Ainda que Quine defenda o naturalis-mo – uma versão forte do empirismo – ele aceita a subdeterminação e usa procedi-mentos a priori como técnica para investigação filosófica. Desta maneira, podemos dizer que sua epistemologia é menos fundada na experiência do que parece à pri-meira vista e o empirismo que ele defende apresenta fragilidades. O ponto de vista de Quine sobre a tese da subdeterminação nos fornece boas razões para interpretar seu empirismo como uma doutrina controversa. Analisando as diferentes formula-ções da tese da subdeterminação e as considerações dadas a priori para mitigar seus efeitos, sugiro as seguintes conclusões: (I) a formulação para a subdeterminação em que teorias empiricamente equivalentes são intraduzíveis entre si não é trivial, e que a (II) solução de Quine para o problema da subdeterminação contradiz seus pró-prios princípios empiristas. Para um naturalismo forte, a subdeterminação e os mé-todos a priori devem ser negados, mas Quine assume a tese da subdeterminação e utiliza tais métodos não-empíricos para esta investigação filosófico-epistemológica. Consequentemente, interpreto que (III) Quine valoriza mais as teorias do que a experiência. A partir desta terceira conclusão, sugiro que (IV) Quine não fortalece, mas inverte a tese tradicional do empirismo ao indicar que a experiência pode ser determinada pelas teorias.

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Filosofia experimental: implicações do “efeito Knobe” para a filosofia moral, da linguagem e do direitoNoel StruchinerPontifícia Universidade Católica do Rio de [email protected]

A principal preocupação da filosofia da linguagem ordinária tem sido a de esclarecer fenômenos, problemas concretos e questões de significado a partir da análise da lin-guagem cotidiana, utilizada por pessoas comuns em situações rotineiras. Tal postura foi severamente criticada por filósofos analíticos mais tradicionais. Por outro lado, a filosofia da linguagem ordinária tem sido alvo de críticas de um movimento mais recente que concorda com a proposta dos filósofos da linguagem ordinária, mas não com a metodologia utilizada para a sua realização. Os filósofos experimentais sus-tentam que os filósofos da linguagem ordinária realizam uma “filosofia de poltrona”, ainda muito parecida com a análise conceitual de seus antepassados. Quando filóso-fos de Oxbridge falam sobre a linguagem cotidiana das pessoas comuns, não fazem uma investigação empírica e sociológica sobre como as pessoas de fato usam certos termos, expressões ou conceitos, mas assumem que as suas intuições sobre como a linguagem é utilizada são suficientes para a pesquisa. Entretanto, se queremos in-vestigar o significado a partir dos usos, então temos que ir além da filosofia de pol-trona para realizar experimentos empíricos. No presente trabalho, serão discutidas algumas das contribuições da filosofia experimental para a filosofia da linguagem, principalmente para a análise de conceitos que são caros à filosofia moral, da ação, e do direito, em especial o conceito de intencionalidade. Joshua Knobe, em escritos recentes, apresentou os seguintes cenários alternativos para analisar como funciona a atribuição do conceito de intencionalidade: 1: O vice-presidente de uma empresa procura o presidente do conselho e diz: “Nós estamos pensando em implementar uma nova estratégia para a empresa. A estratégia vai aumentar os nossos lucros, mas também vai prejudicar a natureza”. O presidente do conselho responde: “Eu não me importo com a natureza. Eu quero é maximizar os lucros da empresa. Pode imple-mentar a nova estratégia”. A nova estratégia é implementada. Conforme previsto, os lucros da empresa aumentam e a natureza é prejudicada. 2: O vice-presidente de uma empresa procura o presidente do conselho e diz: “Nós estamos pensando em implementar uma nova estratégia para a empresa. A estratégia vai aumentar os nos-sos lucros e também vai beneficiar a natureza”. O presidente do conselho responde: “Eu não me importo com a natureza. Eu quero é maximizar os lucros da empresa. Pode implementar a nova estratégia”. A nova estratégia é implementada. Conforme previsto, os lucros da empresa aumentam e a natureza é beneficiada. A pergunta colocada por Knobe em ambos os casos é se o efeito colateral esperado (prejudicar

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a natureza no primeiro cenário ou beneficiar a natureza no segundo) foi intencio-nalmente causado pelo presidente do conselho. Curiosamente, embora o presidente tenha dito exatamente a mesma coisa em ambos os casos, as respostas das pessoas revelam uma assimetria significativa. Diante do primeiro cenário, a maior parte das pessoas diz que o prejuízo foi causado intencionalmente, enquanto no segundo ce-nário a maioria diz que o benefício não foi causado intencionalmente. Os resultados deste trabalho serão discutidos, assim como suas implicações para a filosofia moral, da linguagem e do direito.

recasting rawls’s Constructivism: antirealism and Moral PhenomenologyNythamar de OliveiraPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/[email protected]

Rawls’s critical recasting of “Kantian Constructivism” has come under attack on two fronts: (1) it mistakenly assumes that Kant’s moral philosophy cannot be identified with moral realism or intuitionism, and (2) it fails to distinguish Rawls’s allegedly “political” constructivism from Kant’s “moral constructivism,” in that the latter’s su-pposedly “comprehensive” view of morality undermines a freestanding conception of the political. In this paper, I seek to show that (1) and (2) might be regarded as independent claims, as shown by Allen Wood’s defense of Kant’s moral realism and Thomas Pogge’s recasting of Kantian constructivism as a political construc-tivism in Rawlsian terms. I shall argue that they are both unsuccessful as Rawls’s “Kantian interpretation” of anti-realism can be proven to be correlated with the distinction between moral and political constructivism, in light of what Mark Tim-mons has dubbed a “moral phenomenology” that paves the way for a weak version of social constructionism. Furthermore, Timmons has convincingly argued that a major motivation behind many forms of contractualism comes down to avoiding commitment to moral realism, even when avoidance in moral metaphysics and se-mantics could be suspected as a “metaethical quietism” like Rawls’s own version of contractarian constructivism. According to moral realists, there are moral facts, pro-perties, relations, and objects, which exist mind-independently and can be said to be stance-independent and independent of our conceptions and beliefs about moral reality. Moral anti-realists simply deny this, either because they do not believe that moral facts and properties exist at all, or because, to the extent that they may be said to exist, they are mind-dependent or constructed. Rawls agrees with coherentists in that there are no intrinsically justified moral beliefs that can count as a basic belief or as a single foundation for a moral epistemological system. Hence, political constructivism is to be regarded as a non-foundationalist, coherentist alternative to

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realist and intuitionist theories. On the one hand, the paper seeks to make a case for moral anti-realism after the surge of “new wave realism” and antirealist res-ponses, particularly what has been dubbed “moral irrealism,” of which Timmons’s ethical contextualism turns out to be a highly defensible version. On the other hand, it argues for a reasonable version of relativism from a “moral phenomenological” standpoint of pluralism, without subscribing to moral skepticism or talking past one another as comprehensive perspectives seek to interact and dialogue with one another. Timmons’s contextualist moral epistemology is thus evoked, as it recogni-zes that there are moral beliefs that are epistemologically basic in providing a basis for the justification of non-basic moral beliefs. And yet, it is shown that Timmons ultimately suspects that Rawls’s constructivism inevitably falls into moral relativism and cannot consistently cohere with its recourse to a wide reflective equilibrium and a reasonable pluralism.

as aporias dos contra-exemplos de gettierPatrícia KetzerUniversidade Federal de Santa [email protected]

Na década de 60, Edmund Gettier formulou um conjunto de contra-exemplos de-monstrando que as condições de crença, verdade e justificação não são suficientes para o conhecimento, e desta forma, abalou a epistemologia como um todo por questionar a definição de conhecimento aceita até então. O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar e reconstruir os contra-exemplos de Gettier, formulados no artigo É o conhecimento crença verdadeira justificada?, analisar as problemáticas apresentadas por estes para a justificação, e em particular para o fundacionalismo. Além de apresentar algumas das alternativas formuladas no decorrer da literatura com o objetivo de solucionar o problema colocado pelos con-tra-exemplos, e avaliar sua viabilidade. Nos contra-exemplos, a crença verdadeira justificada é inferida de uma crença falsa, mas para a qual se tem boas evidências. Assim, Gettier demonstra que nem a evidência, nem o processo inferencial podem garantir que a crença seja conhecimento, como supunham os fundacionalistas. O processo através do qual o crente dos casos Gettier justifica sua crença é perfeita-mente correto. Ele parte de uma evidência, formula uma proposição, e desta pro-posição deriva uma segunda proposição, sustentada pela anterior, bem como pela evidência que deu origem a esta. E deste processo resulta uma crença verdadeira justificada, mas cuja verdade não deriva da conclusão que a sustenta. O processo é admitido como bom o suficiente, no entanto, a conclusão não é conhecimento. Diante disto, as soluções buscadas pelos filósofos foram várias: tentar demonstrar

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que os exemplos não funcionam; admitir que funcionam e tentar encontrar uma quarta condição para definição tradicional, que os exclua; aceitar os exemplos e modificar a definição tradicional de forma a incluí-los. Feldman afirma que o que impossibilita o conhecimento nos contra-exemplos é a presença de uma falsidade, na base ou nas proximidades da crença, hipótese esta que será explorada no presen-te trabalho. Para solucionar a questão, sugere que se adicione uma quarta condição para o conhecimento, a saber, que a justificação de uma crença não dependa de qualquer falsidade. Entretanto, apesar de inúmeras tentativas dos epistemólogos o problema continua em aberto.

racionalismo crítico: alternativa para a crise da razãoPaulo Eduardo De OliveiraPontifícia Universidade Católica do Paraná[email protected]

O racionalismo crítico de Karl Popper, expresso a partir da publicação de sua Logik der Forschung, de 1934, e, também, de sua The Open Society and Its Enemies, de 1945, insere-se num empenho filosófico para resistir à tendência cética que a crise das ciências positivas, sobretudo depois do fracasso do positivismo lógico, gerou. Tendo vivido num momento crucial da história da ciência (desenvolvimento da psicanálise, ascensão dos regimes comunistas, surgimento da teoria da relatividade), Popper enfrenta o problema de redescobrir um critério de demarcação científica que seja logicamente válido (sem os problemas que a lógica indutiva apresenta) e não fuja ao princípio da racionalidade. Não obstante os limites da ciência, a falibilidade do conhecimento humano e os erros que cometemos, não precisamos ceder à ten-tação cética de desacreditar no caráter racional dos empreendimentos científicos. O critério de falseabilidade proposto por Popper torna-se, por assim dizer, uma forma crítica de superar, de um lado, o dogmatismo positivista; de outro, o relativismo epistemológico: embora não seja possível, como afirma Popper, dar razões positivas da defesa de uma teoria, pode-se dar razões críticas para sustentá-la ou rejeitá-la. Isso não implica nenhuma concessão ao irracionalismo. Muito pelo contrário, abre à perspectiva crítica, ao debate, ao enfrentamento das teorias e isso, para Popper, caracteriza, justamente, a racionalidade. A crise da filosofia da ciência, assim, passa a ser, depois de Popper, reconhecida como momento oportuno para se desenvolver uma nova atitude frente à ciência, à racionalidade e à própria filosofia. Neste senti-do, o desdobramento da filosofia de Popper em uma epistemologia crítica e em uma teoria política igualmente criticista nos leva a compreender o importante papel da razão, num período de crise dos valores, da ciência e da racionalidade humana. En-quanto, para Popper, o irracionalismo (como também o dogmatismo) pode repre-

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sentar um perigo para a humanidade, a racionalidade crítica é uma alternativa para a solução de alguns de nossos principais problemas e de nossas crises filosóficas, éticas e epistemológicas.

as luck would have it: content, reasoning, and contextPaulo FariaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul/[email protected]

Judgments about the validity of at least some elementary inferential patterns (say modus ponens) are a priori if anything is. Yet a number of empirical conditions must in each case be satisfied in order for a particular inference to instantiate a particular inferential pattern. We may on occasion be entitled to presuppose that such con-ditions are satisfied (and the entitlement may even be a priori), yet only experience could tell us that such was indeed the case. Current discussion about a perceived incompatibility between content externalism and first-person authority exemplifies how damaging the neglect of such empirical presuppositions of correct reasoning can be. An externalistic view of mental content is ostensibly incompatible with the assumption that a rational subject should be able to avoid inconsistency no matter what the state of her empirical knowledge may be. That fact, however, needs not be taken (as it often is) as a reductio of externalism: alternatively, we may reject the assumption, adding to the agenda of a philosophical investigation of rationality an examination of the vicissitudes of logical luck. I offer an illustration and defense of that alternative, drawing (and hopefully improving) on previous work by Roy Sorensen. Like Sorensen, I hold that current debates about content externalism (specifically as they bear on the apriority of our logical abilities) are fruitfully illu-minated when set against the framework provided by comparison with the prima facie unrelated topic of moral luck. Unlike Sorensen, I offer an account of logical luck which makes essential use of a distinction between excusable and inexcusable ignorance – something which current approaches to the ‘externalism and inference’ debate (relying, as they do, on the ‘slow switching’ thought experiments introduced by Burge) have made all but invisible. The main point is that in “real life” (as op-posed to science fictional) instances of reasoning through changing contexts, the relevant facts about the environment which, as it may happen, the subject actually ignores will often be facts of which she is fully apprised (if only she cares to know) in close enough – and, moreover, epistemically accessible – possible worlds. Now epistemic accessibility is a blatantly insufficient if obviously necessary condition of inexcusability of ignorance. What has to be added to the picture is an account of epistemic responsibility such that given a set of conditions R1…Rn specifying the

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subject’s role as an epistemic agent (e.g. as eyewitness, informant, expert, etc.) and a further set of conditions C1…Cn specifying the circumstances in which the role is to be exercised (e.g. S is engaging in small talk, or preparing a lecture, or subpoe-naed to testify under oath), the conjunction ‘S can know that p & conditions R1…Rn, C1…Cn are fulfilled’ will entail ‘S ought to know that p’. I offer an outline of such an account.

analiticidadePedro MerlussiUniversidade Federal de Ouro [email protected]

A noção de analiticidade desempenhou e continua a desempenhar um papel im-portante no debate filosófico. A importância desta noção ganhou destaque com Immanuel Kant (1724-1804) e, desde então, a analiticidade continuou a ser am-plamente debatida pelos filósofos contemporâneos, seja levantando objeções ao uso desta noção, seja propondo novas definições para acomodar nossa intuição do que são frases analíticas. A importância da analiticidade deve-se principalmente a dois motivos. O primeiro deles é que ela capta um fenômeno semântico em si importan-te. Por exemplo, frases analíticas como “Nenhum solteiro é casado” e “Chove ou não chove” são intuitivamente muito diferentes de frases como “A radioatividade causa câncer” e “Água é H2O”. Já o segundo motivo é que a noção de analiticidade exerce uma função central na discussão entre racionalistas e empiristas acerca da existência do conhecimento a priori. Um dos intuitos principais dos filósofos empiristas era explicar que todo conhecimento a priori é um mero conhecimento de verdades ana-líticas. Em um primeiro momento, o presente trabalho tem por objetivo abordar o fenômeno semântico captado pela noção de analiticidade. Será possível apresentar uma definição explícita de analiticidade a fim de captar nossas intuições básicas do que são frases analíticas? Será que há uma distinção fundamental entre frases analíticas e não analíticas? Argumentarei que sim, mas apresentarei inicialmente as principais tentativas de definições desta noção e seus principais problemas. Argu-mentarei nesta parte contra as definições de Kant e Frege, respectivamente. Justa-mente por isso este trabalho também pode ser considerado como uma introdução geral ao problema da analiticidade. Já em um segundo momento, apresentarei a importância da noção de analiticidade no debate entre racionalistas e empiristas acerca do conhecimento a priori.

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Charles S. Peirce e o duplo aspecto do realRachel HerdyPontifícia Universidade Católica do Rio de [email protected]

A definição do “real” de Charles S. Peirce coloca-nos diante de um paradoxo: o real é independente de pensamentos particulares e idiossincrasias individuais, embora venha a ser o resultado da Opinião Final de uma comunidade de investigadores. Para Peirce, o real é independente “não necessariamente do pensamento em geral, mas somente do que você ou eu ou qualquer número finito de homens possa pensar sobre ele; [...] embora o objeto da opinião final dependa do que seja tal opinião, o que tal opinião é não depende do que você ou eu ou qualquer homem pensa” (CP, 5.408). Assim, ao mesmo tempo em que Peirce insiste na validade da doutrina do “realismo escolástico extremo” em oposição ao nominalismo, rejeita a noção de um objeto externo absolutamente independente do pensamento, de uma “coisa-em--si” que não pode ser conhecida pelo homem. Isso porque, pragmaticamente falan-do, especular sobre a coisa-em-si, a qual jamais pode ser conhecida, não faz o menor sentido. Assim, o real possui um tipo diferente de independência com relação ao pensamento: o real possui um elemento cognitivo, de modo que sua independência não pode ser considerada de forma absoluta (CP 5.503, 1905).

Neste artigo, pretendo analisar o paradoxo do “realismo escolástico extremo” de Peirce e explorar a ideia de que a filosofia de Peirce oferece uma teoria social do real de caráter não-nominalista.

acerca da noção de sentido em Wittgenstein: algumas dificuldadesRaquel Albieri KrempelUniversidade de São [email protected]

Uma constante em todas as fases do pensamento de Wittgenstein é a consideração dos problemas e enunciados da filosofia tradicional como sendo desprovidos de sentido. Não se trata apenas de dizer que as teorias filosóficas são falsas, ou que as questões levantadas tradicionalmente pela filosofia são incontestáveis, e por isso desinteressantes. Desde o Tractatus até Sobre a certeza, Wittgenstein declarada-mente atribui aos enunciados filosóficos o estatuto de contra-sensos, ainda que as razões para tanto variem em cada uma das fases de seu pensamento. Para o último Wittgenstein, que é o que nos interessará aqui, os limites do sentido são garanti-dos pelas regras da gramática. Wittgenstein entende por ‘gramática’ as regras que

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regem o uso comum que fazemos de certos termos ou enunciados, em especial aqueles que tiveram seu significado desvirtuado pelas teorias filosóficas. A função da filosofia, segundo ele, deve ser a explicitação dessas regras que se manifestam no uso comum da linguagem, e não a criação a priori de novos significados. Por oposição às teorias filosóficas tradicionais, Wittgenstein pretende atribuir à nova filosofia uma função descritiva, e não normativa, com respeito à linguagem. O que justifica considerar o discurso filosófico como sem sentido, segundo Wittgens-tein, é precisamente a alegação de que nele a linguagem “sai de férias”, porque as palavras deixam de ser empregadas com seus significados usuais. Desse modo, a falta de sentido da filosofia tradicional tem a ver com o não cumprimento das regras gramaticais, as quais seriam condição de possibilidade de qualquer discurso significativo. Meu objetivo nesta comunicação será apresentar alguns problemas provocados pela concepção de “sentido” no último Wittgenstein. Os argumentos giram em torno de dificuldades decorrentes da noção de “regra”, fundamental para a determinação do discurso significativo. De maneira resumida, as duas classes de questões que pretendo levantar são as seguintes: (1) Como é possível apreender as regras gramaticais a partir da mera observação do uso da linguagem? Dado que um certo termo, por exemplo, pode aparecer em diferentes contextos, como podemos precisar quando está sendo bem ou mal empregado? A determinação das regras parece ir além da mera descrição do uso da linguagem, contendo já um traço nor-mativo. Se esse é o caso, é preciso reconhecer que a postura de Wittgenstein não deixa de assumir certos pressupostos teóricos. Isso talvez nos force a concluir, a despeito da vontade do filósofo e da maior parte de seus comentadores, que seus escritos apresentam características comuns a vários sistemas filosóficos, e que por isso pode igualmente se tratar de um apanhado de contra-sensos. (2) Mesmo que aceitemos a concepção de que a filosofia tradicional viola regras gramaticais, é pre-ciso reconhecer que o jogo de linguagem filosófico não parece ser desprovido de regras, isto é, não parece tratar-se de um uso da linguagem totalmente arbitrário. Mas, se o discurso filosófico também é regrado, deve-se concluir então que, para Wittgenstein, a mera existência de regras que regem os usos de expressões linguís-ticas não é condição suficiente para a formação de um discurso significativo. Parece ser legítimo questionar em que as regras utilizadas no contexto filosófico diferem daquelas utilizadas nos contextos comuns, para que as primeiras sejam considera-das inválidas e as segundas válidas.

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Ser é ser o sujeito de uma predicação: paralelos entre a noção grega de existência e o slogan de QuineRenato Matoso Ribeiro Gomes BrandãoPontifícia Universidade Católica do Rio de [email protected]

O estudo detalhado do verbo “ser” tem sido de muito valor para os comentadores de filosofia antiga e tem colaborado para o esclarecimento de uma série de questões de caráter tanto textual quanto filosófico. Como sabemos, o verbo “ser” e seus derivados possuem papel fundamental na construção do vocabulário filosófico e, particular-mente, a importância dada aos seus derivados nominais nos textos clássicos da filo-sofia torna necessário o desenvolvimento de uma teoria geral para compreensão das ocorrências deste verbo. Somente devidamente amparados por uma teoria linguís-tica adequada, os comentadores de filosofia antiga podem compreender o emprego destes termos em textos clássicos, assim como as implicações filosóficas decorrentes. A principal crítica desferida contra o conceito de Ser baseia-se na alegação de que este conceito foi forjado a partir da confusão entre os vários usos do verbo “ser” que a lógica distingue, mas que os filósofos foram incapazes de distinguir. Dentre estes usos distintos do verbo “ser”, dois tornaram-se amplamente reconhecidos por parte dos linguistas e gramáticos, figurando como os principais usos do verbo “ser”. São eles o uso predicativo e o uso existencial. Nossa intenção é apresentar algumas das teorias mais recentes com relação ao uso do verbo “ser” grego. Apresentaremos, portanto, a teoria desenvolvida pelo professor Charles Kahn para os usos do verbo einai no período clássico. Pretendemos ilustrar como esta nova teoria oferece uma base conceitual adequada para compreensão dos usos deste verbo em textos clássicos da filosofia, superando as teorias baseadas na dicotomia existencial-predicativo. Em um segundo momento, investigaremos a relação entre o conceito de existência que emerge da análise de textos da tradição grega clássica com a noção de existência empregada na filosofia da lógica moderna. Seguindo a intuição do professor Char-les Kahn, pretendemos apresentar o resultado de um estudo comparativo realizado previamente que indica fortes paralelos entre a concepção de existência expressa em textos da tradição grega clássica, nos quais a afirmação de existência está sempre re-lacionada a um contexto predicativo bem definido e a noção moderna de existência expressa pela máxima de Quine: “ser é ser o valor de uma variável”.

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duty and the conflict of duties in the Kant’s moral theoryRicardo Bins di NapoliUniversidade Federal de Santa [email protected]

This article deals with the question of the conflict of duties in Kant’s moral theory. It aims at situating and discussing the denial of this conflict of duties presented by Kant. The three most important works about moral philosophy by Kant were considered. Initially, it is shown that the Kantian approach to conflict of duties is demonstrated through the exposition of a passage from THE METAPHYSICS OF MORALS, in which Kant mentions that a collision of duties would be inconceivable in his ethical system. It is defended that the Kantian argument in the present passage is vague and is based almost entirely on the concept of “ground of obligation”, which the author does not clearly elucidate. Besides, the examples used in the casuistic of the work do not answer the question of the denial of conflict, making the interpretation harder. Thir-dly, with the objective of enlarging the interpretation focus, it is tried to identify if this denial made by Kant in the METAPHYSICS OF MORALS would have support in his other works about ethics: GROUNDWORK OF THE METAPHYSICS OF MORALS and CRITIQUE OF PRACTICAL REASON. It is concluded that, it can be stated that Kant uses three arguments for the denial of the moral conflict.

Cuán antiescéptica es la posición de donald davidsonRicardo Joaquín Navia AnteloUniversidad de la República, Montevideo/Sistema Nacional de [email protected]

Hace algún tiempo presenté un trabajo sobre “El argumento antiescéptico de Do-nald Davidson y sus innovaciones radicales”. Más recientemente he leído algunos artículos sobre dicho argumento que plantean ciertas objeciones que me parece no son acertadas. Quisiera analizar esas objeciones como forma de retrabajar las inno-vaciones que intentábamos resaltar en aquel artículo. La argumentación antiescépti-ca de Davidson consta de dos pasos o dos argumentos sucesivos: un argumento por la naturaleza verídica de la creencia y un argumento que se apoya en el externalismo semântico. El primer argumento es un resultado de la situación de interpretación radical y concluye en que la mayoría de las creencias del hablante sobre su entorno, especialmente “aquellas que… guardan cohesión con el cuerpo principal de sus otras creencias, son en general verdaderas”, dada la naturaleza causal de la creencia. Lo cual, a su vez, nos conduce directamente al argumento del externalismo del signi-ficado. Efectivamente, para la tradición cartesiana los únicos conocimientos que

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son autoevidentes son los que versan sobre nuestros propios pensamientos, luego la epistemología internalista (empirista o racionalista) sostiene que la justificación de cualquier creencia sólo puede apoyarse en las propias representaciones del sujeto. Davidson en su segundo argumento abandona totalmente este cuadro. Parte de una concepción externalista en semántica. Los contenidos de una creencia tienen una relación causal con los objetos que expresan, por tanto la creencia es básicamente ve-rídica por naturaleza. Una primera objeción ha sido que la apelación al principio de caridad en el contexto de una respuesta al escéptico, es asumir el punto en cuestión. Creo que esta objeción tendría dos respuestas. La breve es que Davidson reconoce que eso es una presuposición pero no una prueba de la verdad de las oraciones sobre los objetos de un mundo exterior. Una respuesta más de fondo apuntaría, a que esta situación de interpretación radical, de alguna manera, “espeja” la situación de génesis y funcionamiento real del significado y la verdad, que luego el autor explicita en la idea de triangulación. Una segunda objeción es la de que apoyarse en el externalis-mo en una argumentación antiescéptica constituye una gruesa petición de principio, en tanto el externalismo presupone la existencia de objetos externos. Sin embargo, considerado globalmente el planteo externalista no constituye a mi modo de ver una presuposición falaciosa sino una suposición derivada por necesidad desde dentro mismo de la reflexión de matriz cartesiana. El planteo cartesiano no asume la exis-tencia de objetos externos a costa de suponer pensamientos sin relación causal, pero eso le quita – no solo la posibilidad de responder al escéptico – sino la posibilidad de explicar su propia capacidad para distinguir entre lo correcto y lo incorrecto. La tercera objeción que deseamos considerar tiene que ver con “la manera... en que la causa determina el significado de nuestras proferencias o el contenido de nuestros pensamientos y creencias” (Plinio Junqueira Smith, p. 68) y si ese modo de identifi-car causas nos da un mundo objetivo o sólo un mundo subjetivo. La diferencia que tenemos en esto con PJS es que nosotros entendemos que esos objetos identificados en la triangulación de los hablantes son los objetos del mundo público.

Mundos Plausíveis e a defesa do livre arbítrio de alvin Plantinga1

Ricardo Sousa SilvestreUniversidade Federal de Campina Grande/Universidade Federal da Paraí[email protected]

Um dos tópicos mais debatidos dentro da filosofia analítica da religião é sem som-bra de dúvida o problema do mal. Uma parte fundamental desse debate consiste na

1 Trabalho parcialmente financiado pelo CNPq (Edital MCT/CNPq Nº 03/2009).

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construção e análise crítica de argumentos que tenham entre suas premissas propo-sições relacionadas com a existência do mal e como conclusão a proposição de que Deus não existe ou de que a crença em um Deus onibenevolente e onipotente não é racionalmente sustentável. Tais argumentos têm sido formulados tanto em versões dedutivas, que tentam mostrar que a existência do mal é inconsistente com a exis-tência de Deus, como em versões indutivas, que visam mostrar que a existência do mal de certa forma serve de evidência contra a existência de Deus. Enquanto que a primeira classe de argumentos caracteriza o que chamamos de o problema lógico do mal, a segunda caracteriza o chamado problema evidencial ou indutivo do mal. Um dos movimentos mais importantes dentro do debate acerca de Deus e o mal foi a elaboração por Alvin Plantinga de sua célebre defesa do livre arbítrio. Em seu livro The Nature of Necessity de 1974, por exemplo, Plantinga faz uso de uma refinada teoria dos mundos possíveis, demonstrando, entre outras coisas, que é possível que Deus não poderia ter criado um mundo contendo seres livres que sempre fazem o bem. No entanto, apesar de tal framework de mundos possíveis desempenhar um papel fundamental dentro da argumentação de Plantinga, e apesar de que em diversos momentos haver uso de notação simbólica, não há o que nós poderíamos chamar de uma formalização do problema, com os diversos movimentos argumen-tativos, por exemplo, representados em uma linguagem formal, e a estrutura se-mântica necessária à solução do problema sendo completamente detalhada. Tra-dicionalmente uma defesa como a de Plantinga está associada ao problema lógico do mal, supostamente não sendo útil na refutação de um argumento evidencial do mal. Trivialmente o conceito chave da defesa de Plantinga é o conceito de mundo possível. Convém notar, no entanto, que esse conceito guarda notórias semelhanças com uma noção de fundamental importância para o raciocínio indutivo: a noção de mundo plausível. Grosso modo, enquanto que um mundo possível é caracterizado apenas negativamente (como um estado de coisas maximal consistente), um mundo plausível precisa em adição a isso de uma caracterização positiva, caracterização essa que pode vir, por exemplo, da aplicação de um conjunto de regras indutivas a uma situação particular. Nosso objetivo nesse trabalho é duplo. Primeiramente desejamos apresentar o que podemos chamar de uma formalização da defesa do livre arbítrio de Plantinga, evidenciando, entre outras coisas, os aspectos formais e semânticos envolvidos na sua argumentação. Segundo, fazendo uso dessa análise e da teoria de mundos plausíveis descrita no nosso livro Induction and Plausibility (Lambert Academic Publishing, 2010), desejamos investigar até que ponto a defesa do livre arbítrio de Plantinga pode ser estendida de forma a ser aplicada ao problema evi-dencial do mal.

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Quasi-intentionalismRoberto Horácio de Sá PereiraUniversidade Federal do Rio de Janeiro/[email protected]

Any satisfactory view on the content of visual experience and its so-called pheno-menal character (what is like to undergo the experience) has to meet at least five constraints. First, experience does have a representation content in the same way as propositional attitudes. Intuitively, we are inclined to think that an experience is accurate or inaccurate, depending on how the world is like, and that can only happens, if experience places satisfaction conditions on the world which can be fulfilled or not. Call this the content constraint. Second, experiences are assessable for accuracy in virtue of their phenomenology. The idea is that the phenomenal character determines the content of experience in the following terms: necessarily, if two token experiences place different satisfaction conditions on the world, then they cannot have the same phenomenal character. Call this the phenomenological constraint. Needless to say: this general constraint is agnostic on all possible ways of understanding the relationship between phenomenology and representational con-tent of experience. Third, the perceived particular object makes a different for expe-rience. If a particular object is replaced by a different but qualitative identical object, the experience changes. Call this the particularity constraint. Fourth, experiences of different but qualitative identical objects, and also veridical and hallucinatory may share a same phenomenal character. In other words, experiences of different particular objects and veridical and hallucinatory experiences are introspectively in-distinguishable. Call this the indistinguishability constraint. Fifth and lastly, the phenomenal character of experiences is individuated narrowly in the sense that it doesn’t mention any particular objects. Call this the internalist constraint. The pro-blem is that there seems to be no way of meeting the five constraints at the same time. In this communication, my aim is to advance a new view-point both on the phenomenal character of visual experience and on its representational content whi-ch I call here the two-aspect picture. I argue in favor of two theses. The first is what I call the Russellian singular view on the content of experience understood as a complete singular proposition consisting not only of properties but also of particu-lar objects themselves. The second is what I call here quasi-intentionalism. Rather than equating the phenomenal character and a singular proposition (strong inten-tionalism), my aim is to support the alternative claim that the phenomenal charac-ter of experience is better seen as the de re mode of presentation of those singular propositions, based on the acquaintance relation the subject bears to the things in her vicinity. If the representational content of experience a singular proposition, the

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phenomenal character is rather its narrow, subjective aspect whose function is to deliver those singular propositions in every context of experiential content. To put it in slightly different terms, an experience represents de re a singular proposition when a transitory mental file is opened in S’s mind on the basis of the relation the subject bears to the object she is acquainted with, conveying the information that a property is instantiated by that object.

o teste de ramsey, condicionais e StalnakerRodrigo César Thadeu Barros PereiraUniversidade Federal de Minas [email protected]

A apresentação consistirá, basicamente, em uma breve exposição da semântica de condições de verdade para sentenças condicionais proposta por Robert Stalnaker. Evidentemente, sua teoria é uma resposta à questão “Quando uma sentença con-dicional, ‘se, então ’, pode ser dita verdadeira (ou falsa)?”. Dentre os tópicos que pretendo desenvolver estão: a relação de sua teoria com o assim conhecido teste de Ramsey, um procedimento de decisão para determinar se dada sentença condicio-nal é aceitável em determinado estado de crença; a consequente lógica condicional oriunda da semântica proposta, sua aparente adequação a um conjunto amplo de in-tuições sobre inferências ordinárias envolvendo condicionais; a capacidade da teoria em oferecer um tratamento unificado das semânticas de condicionais indicativos e subjuntivos, realocando no campo da pragmática a aparente discrepância semântica entre estes tipos. Além disso, atrelado a estes pontos, pretendo mencionar as críticas mais salientes na literatura a sua teoria, a saber, as críticas de Van McGee, quanto à invalidação da regra de importação-exportação, ao que tudo indica, inocente, uma vez que não se produziu contra-exemplos a ela, de D. Edgington, por tornar ‘verda-de’ e ‘condições de verdade’ radicalmente dependentes do contexto de elocução, de S. Read, acusando-a de não ser capaz de distinguir a diferença de valor entre certos pa-res de condicionais com antecedentes impossíveis, e, por fim, particularmente aque-la que dá origem ao debate clássico entre D. Lewis e Stalnaker, que culmina, por sua vez, nos assim conhecidos resultados de trivialidade, que mostrariam basicamente que ‘verdade’ talvez não seja o conceito semântico correto para a compreensão das sentenças condicionais (de seu sentido).

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a relação entre mal-entendidos e implicaturas conversacionaisRodrigo Jungmann de CastroUniversidade Federal de Sergiperodrigo_ [email protected]

Há consenso entre os filósofos em que um tratamento adequado da comunicação humana não pode esgotar-se no exame do significado literal dos enunciados. Além disso, é necessário examinar o que é transmitido no nível pragmático das assim chamadas implicaturas conversacionais. Nesse sentido, é de vital importância es-tabelecer as intenções comunicativas do enunciador. Contudo, embora a literatura em pragmática esteja repleta de exemplos sobre a comunicação bem-sucedida, não foi dada, ao nosso ver, atenção suficiente aos casos de comunicação equivocada, em que ocorrem os mal-entendidos. Defendemos a tese de que grande parte dos mal--entendidos surgem no nível pragmático. Trata-se de implicaturas conversacionais meramente putativas e aparentes, que não integram as intenções comunicativas do enunciador. Nesse sentido, tencionamos, em primeiro lugar, oferecer uma explicação de inspiração griceana para o surgimento de tais mal-entendidos. Eles envolvem, ao nosso juízo, implicaturas conversacionais canceláveis em princípio, mas que, por razões variadas não são de fato canceladas. Nosso objetivo ulterior é o de avançar no sentido de fornecer uma tipologia pragmática dos mal-entendidos, fundada na linha de investigação teórica acima delineada.

Sobre as equações no Tractatus logico-PhilosophicusRogério Fabianne Saucedo CorrêaUniversidade Federal de Santa Mariarogé[email protected]

O debate sobre a natureza das equações no Tractatus Logico-Philosophicus di-vide-se em duas posições excludentes. De acordo com Frascolla, no artigo The Tractatus system of arithmetic, as equações são contra-sensos. Esta posição não pode ser sustentada, caso aceitemos a interpretação defendida por Kremer em Ma-thematics and meaning in the Tractatus. Para Kremer, as equações não são contra--sensos, mas sem sentido. Isso significa dizer que elas possuem a mesma natureza das tautologias e contradições. Uma consequência dessa posição é a tese segundo a qual o conhecimento matemático é um tipo de conhecimento como habilidade. Nesse sentido, meu objetivo nesse trabalho é duplo. Por um lado, mostrarei que equações não são nem contra-sensos nem sem sentido, uma vez que elas não pos-suem nenhuma pretensão proposicional. Por outro lado, mostrarei que isso não

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implica na recusa da tese sobre o conhecimento matemático como habilidade. Para tanto, porém, devemos conceber as equações como regras e o conhecimento mate-mático como o domínio de regras.

Pragmática: o instrumental de análise das interações polêmicasRúbia Liz Vogt de OliveiraUniversidade do Vale do Rio dos [email protected]

Interações polêmicas são constantes na ciência. Um olhar atento para a história da ciência revela a presença nevrálgica das dicotomias ao longo do desenvolvimento crí-tico do saber científico. Contudo, a filosofia pouco interesse destinou às controvérsias, sendo que o estudo das interações polêmicas foi negligenciado. Tal se deu por dife-rentes motivos, dentre os quais figuram a inclinação dos filósofos para a abstração – e, por consequência, seu desleixo em relação ao estudo de caso das interações polêmicas, que são uma atividade empírica, e o ensino didático da história da ciência, o qual con-ta uma história idealizada, livre de conflitos. Os normativistas também estão atrelados a uma história da ciência idealizada. Tendo em mente o dever ser, eles se desgostam ante a presença generalizada das polêmicas na ciência, pois as consideram desneces-sárias à evolução do saber científico (além delas serem, segundo eles, prejudiciais à reputação dos cientistas). A tarefa do estudo das interações polêmicas resta, portanto, às disciplinas relacionadas ao estudo dos usos da linguagem, tais como pragmática, análise conversacional e dialógica e retórica. Marcelo Dascal – filósofo contempo-râneo – sustenta que, apesar das interações polêmicas serem trechos elaborados do discurso, as polêmicas intelectuais (científicas, filosóficas, etc) constituem-se numa interação dialógica. Assim, é possível utilizar, para a sua compreensão os conceitos da pragmática griceana elaborados para a análise da conversação. Há, de qualquer for-ma, diferenças entre a interação polêmica, organizada textualmente, e a fala, situada no campo da oralidade, o qual é marcado por enunciações espontâneas. Ademais, a audiência, presença virtual nas controvérsias, faz com que elas se constituam como quase-diálogos, e não como diálogos. O uso da pragmática para o estudo das con-trovérsias dá-se, também, porque interações polêmicas são, antes de tudo, fenômenos linguísticos. Neste ponto, fica evidente a insuficiência da abordagem semântica, que trata o desacordo em questão na polêmica como um problema de fundo lógico. Além disso, a visão semântica é demasiado abstrata para poder absorver certas caracterís-ticas das controvérsias. Isso ocorre porque as regras da semântica são por demasiado rígidas, ao passo que as regras da pragmática são heurísticas; estas, assumindo caráter de pressupostos, não objetivam provar cabalmente, mas sim, persuadir com a raciona-lidade do razoável, do presumível no contexto dado.

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Uma defesa do descritivismo como teoria da referência dos nomes própriosSagid Salles FerreiraUniversidade Federal de Ouro [email protected]

Cotidianamente usamos um conjunto de expressões para captar, selecionar ou refe-rir a uma determinada coisa particular. Expressões desse tipo incluem nomes pró-prios, como “Platão” ou “João”, descrições definidas, como “o rei da França” ou “o autor da República”, demonstrativos, como “este” ou “isto”, etc. Nosso uso cotidiano de tais expressões parece não envolver problema algum. Mas, infelizmente (ou fe-lizmente?), há problemas filosóficos dificílimos envolvidos aí. Um desses problemas é o problema da referência dos nomes próprios. Como conseguimos selecionar ou referir às coisas através de nomes? Como posso me referir a Platão, que viveu há mais de dois mil anos atrás, apenas usando o nome “Platão”? É com este problema que me ocuparei nessa comunicação. Duas das principais respostas a essas perguntas são dadas pela teoria causal e pela teoria descritivista. A primeira (defendida por Kripke, Donnellan e Devitt) afirma que conseguimos nos referir às coisas usando nomes porque há uma cadeia causal que liga nosso proferimento do nome ao objeto referido. Desse modo, consigo me referir à Platão, usando o nome “Platão”, porque meu proferimento do nome está causalmente conectado com a pessoa Platão. Os defensores do descritivismo (dentre eles, Russell, Brian Loar e Searle) afirmam que conseguimos nos referir às coisas através de nomes porque conseguimos identifica--las por meio de descrições definidas. Assim, se consigo me referir à Platão, usando o nome Platão, é porque possuo (ou minha comunidade possui) pelo menos uma descrição definida que é unicamente satisfeita por Platão. Posso saber, por exemplo, que ele é “o autor da República”. Nesse contexto, o descritivista aceitaria a ideia de que só posso me referir à Platão se conhecer (ou se for de conhecimento de minha comunidade) uma descrição desse tipo acerca dele. Entretanto, defensores da cadeia causal vêm sustentando que tal condição não pode ser satisfeita. É muito comum pensar que uma criança possa perguntar a seus pais “quem foi Platão?”, mesmo sem conhecer nenhuma descrição que Platão seja o único a satisfazer. E não diríamos que nesse caso a criança não teve sucesso em referir-se a Platão. Ao contrário, a criança tem sucesso em se referir, porque ela faz parte de uma cadeia causal que liga seu proferimento do nome à coisa referida. Meu objetivo específico nessa apre-sentação é argumentar que essa objeção não é tão forte quanto parece. Defenderei que sempre que fazemos perguntas como “quem é Platão?”, “quem é Sócrates?”, etc. possuímos uma descrição que é univocamente satisfeita pelo portador do nome. Tais descrições serão descrições do tipo “a pessoa referida pelo autor desse livro”, “a pes-

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soa mencionada por x”, etc.. Por exemplo, a criança poderia ter feito a pergunta ao ouvir seus pais falando de Platão; nesse caso, ao fazer a pergunta, ela já conheceria a descrição “a pessoa de quem meus pais falavam”, que é unicamente satisfeita por Platão. Concluirei que não é possível referir à coisa alguma sem possuir pelo menos uma descrição desse tipo.

História e Ficcionalismo: reflexões sobre o papel da narração na constituição do conhecimento históricoSara AlbieriUniversidade de São [email protected]

Já há algumas décadas, os problemas relacionados à linguagem de ficção têm fre-quentado as discussões filosóficas contemporâneas. A partir do primeiro quartel do século XX, as reflexões de B. Russell sobre o emprego de nomes sem referência pas-saram a suscitar o interesse recorrente de lógicos e filósofos da linguagem acerca das questões da referência e da verdade nas obras de ficção. Mais recentemente, o termo “ficcionalismo”, como questão mais ampla, passou a designar o ponto de vista filosó-fico segundo o qual certas alegações produzidas em discursos de diferentes autores e áreas de discussão não pretenderiam à verdade literal, mas seriam propostas como uma espécie de “ficção”. No universo de discussão da epistemologia da história, a questão das fronteiras entre a narrativa histórica e o discurso de ficção veio à tona a partir dos anos de 1970, quando filósofos e teóricos da história passaram a refletir sobre uma anunciada “volta da narrativa”. Tal retorno supostamente lançaria uma pá de cal sobre as pretensões da história à cientificidade. Afinal, desde a segunda me-tade do século XIX a história firmava-se como disciplina e como ofício acadêmico começando justamente por recusar as práticas centenárias do fazer histórico, centra-das no relato e na memória. A nova ciência da história assentava sobre o documento, construindo seu saber a partir da análise crítica das fontes empíricas. O advento do chamado “giro linguístico”, ao longo do século XX, propiciou o questionamento dos modelos de construção do conhecimento, sobretudo nas humanidades, a partir de formulações variadas de ficcionalismo – tudo o que consideramos “realidade” de fato seria fruto da convenção de nomear e descrever, chamada “linguagem”. Os saberes históricos, constituídos intrinsecamente pela narrativa, mostraram-se parti-cularmente vulneráveis às críticas que os aproximavam do discurso literário. Muitos historiadores e teóricos da história passaram a acolher o vocabulário da ficção para designar as operações conceituais da explicação histórica. O questionamento radical da cientificidade da história desembocou num perigoso vale-tudo hermenêutico que é preciso começar a diagnosticar. Para tal pretendem contribuir as reflexões seguin-

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tes. O discurso histórico é construído tendo por horizonte a veracidade do narrado. Contudo, a mera remissão à existência factual do objeto do discurso historiográfico coloca problemas. Se na literatura o objeto foi tramado na imaginação, no discurso histórico o objeto – antes vestígio ou indício – ganha sua forma histórica a partir das balizas teóricas assumidas pelo historiador. É certo que a verossimilhança é um atributo que pode servir também ao discurso da ficção. Se a reconstrução da verdade histórica deve guiar-se pelo que é possível, plausível ou razoável, ao discurso de fic-ção também se poderia pedir que atendesse à mesma exigência. Para tentar dirimir tais ambiguidades, cabe lembrar a sempre citada afirmação aristotélica, segundo a qual haveria mais ciência na poesia do que na história, por aquela se ocupar do geral e esta do particular. Menos lembrado é o comentário, no mesmo trecho da Poética, que vincula a qualidade da poesia aos critérios de necessidade e verossimilhança – àquilo que é possível ou plausível que ocorra, e por necessidade, dada a situação humana. Sua medida de verossimilhança é tratar da condição humana em sua gene-ralidade, de modo a ser reconhecida por todos os homens. Enquanto que a história deve narrar o episódio particular, “aquilo que Alcebíades viveu e sofreu”. Penso que a narração literária não exige ser confrontada com outras interpretações, nem com documentos. Ela pode aludir ao tempo e aos homens, mas não é sua quase-verdade que está em causa: ela trata da condição humana – enquanto condição genérica – e tal será seu critério de verossimilhança. Enquanto que a história deve consistir num relato verossímil daquelas circunstâncias narradas, e não outras – a quase-verdade sobre o que Alcebíades viveu e sofreu. Defendo que a história tem a pretensão de dar a conhecer o que é narrado, enquanto, numa mesma operação discursiva, pretende oferecer para aqueles eventos a melhor explicação. Para tanto, recorre a conceitos e generalizações, disponíveis na historiografia e em outras ciências, as humanas e por vezes as naturais. Ela narra os eventos, recortados em sua temporalidade enquanto subsumidos nesse aparato teórico – que lhes confere inteligibilidade, tal como em qualquer empreendimento de conhecimento.

Quine and Millikan: garments of contextualismSofia Inês Albornoz SteinUniversidade do Vale do Rio dos Sinos/[email protected]

Starting from the analysis of how Millikan uses the notions of “representation” and “searching the natural domain”, we intend to show how her naturalism differs from the behaviorist view of meaning held by Quine. Despite the naturalistic and empi-ricist background shared by both, as well as their Wittgensteinian view of meaning, both her more distinct evolutionary position, as her use of terms considered by Qui-

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ne mentalistic, for instance ‘intentionality’ and ‘representation’, deviate Millikan’s semantic analysis from the analysis conducted by Quine. Thus, the aim of our pre-sentation will be to show, starting from initial approaches between them, some dis-tinctive features that permit individuate both Millikan’s and Quine’s contextualism. Initially, it will be useful not only to present the definitions of “intentional represen-tation” (Millikan, 2000, 2004) and “stimulus meaning” (Quine, 1960, 1974), but also examples of how these authors explain the learning and use of expressions: names, indexicals, predicates and quantifiers. The nearing of the contextualist views of the-se authors can be made if one takes into account some shared features: 1. semantic naturalism; 2. semantic contextualism; 3. the anti-Fregean standpoint in relation to meaning: adherence to the semantic view of the late Wittgenstein. These same three points of approach can also help to identify the distinctive aspects of their semantics: a. an more intense application of the evolutionary theory in semantics by Millikan, in her theory of purposes, b. the use of the concept of internal and external representation by Millikan, which overcomes Quinean behaviorism, c. an apparent dispensability, in Millikan, of a logical-ontological discourse, still present in Quine. Both can be classified as contextualists, in a strong sense of the term, for subordina-ting meaning, communication and understanding, of sentences and phrases, to ex-perienced situations, which include utterances of the same sentence. However, it is very unique how each one describes and explains what happens during a succession of utterances of the same sentence or phrase in different situations that share some similarities. Quine focuses on shared stimulus situations that keep similar aspects, while Millikan focuses on the network of natural purposes, including the coopera-tive purposes of communication.

Sobre o significado e a extensão do termo ‘bioética’Vera VidalFundação Oswaldo Cruz – [email protected]

O termo ‘bioética’ surge na segunda metade do século XX, criado por profissionais da área medica que almejavam aproximar as reflexões filosóficas do avanço surpre-endente que ocorria no campo das Ciências da Vida. Este interesse se expandiu para pesquisadores de outras áreas das Ciências Naturais, Sociais e Humanas que também passaram a se preocupar em questionar os avanços das tecnociências e as repercussões de seus resultados sobre a humanidade e a natureza. Inicialmente, o enfoque filosófico dominava estes questionamentos, mas logo se passou a utilizar outros enfoques como o jurídico, o sociológico, o psicológico, o econômico entre

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outros. Constituía-se então um conjunto de pesquisas inter, multi e transdiciplinares com o objetivo de questionar os avanços das ciências em geral e mais especifica-mente das biociências, por serem as que estavam apresentando resultados que in-terferiam profundamente nos seres vivos e na natureza, como jamais ocorrera antes na historia da ciência. Este conjunto de teóricos passou a designar seu campo de investigação com o termo ‘bioética’. Nossa reflexão se fará no campo da epistemo-logia analítica e visamos questionar o significado e a referencia do termo ‘bioética’. Nosso objetivo será o de defender nossa posição de que este termo tem significado ambíguo e referencia imprecisa e, assim, não e capaz de delimitar uma área de es-tudo precisa. Não fica claro que tipo de reflexão pertence ao campo da bioética e não ao da filosofia, sociologia, direito. Os estudos que se pretende desenvolver no campo da bioética não tem metodologia especifica, os objetivos são múltiplos, assim como os enfoques e a formação dos pesquisadores não tem como ser especifica para esta área. Nossos argumentos tentarão levar ao resultado de que o uso deste termo criou uma enorme confusão epistemológica, pois não se consegue definir a natureza desta área de investigação, sua metodologia especifica, os limites que a separam dos demais saberes, a formação que devem ter os profissionais desta área de estudos, as temáticas que devem ser ai abordadas, os objetivos específicos que devem nortear suas pesquisas e reflexões. A referencia do termo ‘bioética’ sendo tão imprecisa, as-sim como a amplidão e ambiguidade de seu significado, da margem a que reflexões extremamente diversas, pouco precisas e sem muito rigor se outorguem o direito de se auto-nomearem de reflexões bioéticas, sem que se perceba com clareza como se organiza este campo do saber. Cremos que se conseguiria resultados muito mais rigorosos se as reflexões sobre os avanços das Ciências – questão de extrema impor-tância e urgência – se fizesse no dialogo entre os saberes já constituídos, com meto-dologia especifica, linguagem rigorosa, objeto de investigação e objetivos bem cla-ros, como a ética filosófica, a filosofia da natureza, a filosofia da ciência, as ciências jurídicas, as Biociências, a teologia, a sociologia e a psicologia do conhecimento, as ciências econômicas, as ciências políticas e as demais ciências naturais, matemáticas, humanas e sociais. Da reflexão e discussão interdisciplinar destes cientistas, teólogos e filósofos, parece-nos que poderiam surgir resultados muito mais rigorosos e ob-jetivos que no interior de um novo campo do saber designado de bioética, no qual parece difícil de se conseguir um mínimo de consenso e rigor que possa gerar bons resultados teóricos.

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Pensamentos diáfanos: autoconhecimento, transparência e racionalidadeWaldomiro José da Silva FilhoUniversidade Federal da Bahia/[email protected]

O tema do autoconhecimento tornou-se um problema central no debate filosófico contemporâneo, sobretudo, a partir da influência das teses do externismo semânti-co ou anti-individualismo. Neste trabalho permanecerei neutro em relação à dispu-ta compatibilismo/incompatibilismo, mas discutirei uma noção que, na minha opi-nião, pode contribuir para entendermos melhor o problema do autoconhecimento, a saber, a noção de transparência do conteúdo mental. Para muitos filósofos, o problema principal do anti-individualismo encontra-se no fato de que ele depende da noção de ‘incomplete understanding’ (a tese segundo a qual uma pessoa tem um entendimento incompleto do significado das suas palavras e do conteúdo dos seus pensamentos e outras atitudes proposicionais) e essa ideia de ‘incomplete unders-tanding’ afeta a racionalidade da crença. Entre os filósofos incompatibilistas (Bo-ghossian; McKinsey), de fato, há um consenso de que o anti-individualismo está baseado na ideia de que os nossos pensamentos e crenças podem não ser transpa-rentes, ou seja, podemos não conhecer o conteúdo dos nossos pensamentos e cren-ças – e a ausência de transparência afeta o sentido comum de autoconhecimento e, sobretudo, o sentido de racionalidade. Por outro lado, também entre os filósofos que defendem posições externistas e compatibilistas (Davidson; Brown; Sawyer) há a opinião de que, realmente, a ideia de ‘incomplete understanding’ oferece uma grave dificuldade para nossa compreensão do sentido da racionalidade e que uma posição externalista poderia dispensar essa noção. Davidson é explicitamente crí-tico em relação ao anti-individualismo, pois considera que a possibilidade de uma pessoa estar errada, confusa ou parcialmente informada em relação aos significados de um palavra e, com isso, de estar enganada, confusa ou parcialmente informada a respeito dos seus pensamentos e crenças compromete seriamente a autoridade da primeira pessoa. Para Sarah Sawyer, o ‘incomplete understanding’ não é central para o anti-individualismo e este não necessita se sustentar na possibilidade de en-tendimento incompleto e erro conceitual. Jessica Brown, partindo do princípio de que faz parte da nossa autoconcepção sermos sujeitos críticos e reflexivos em rela-ção aos nossos próprios pensamentos, sugere que devemos supor que o ‘incomplete understanding’ deve, no mínimo, ter limites, pois essa nossa concepção da nossa própria capacidade de avaliar reflexivamente nossos pensamentos coloca limites na extensão do nosso entendimento incompleto. Neste trabalho, então, defenderei duas ideias. A primeira é que, de fato, o anti-individualismo lança uma crítica à

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concepção epistêmica de transparência (ou de ‘full understanding’) dos conteúdos ou de conhecimento do conteúdo. Minha tese será: do ponto de vista epistêmico, nossas crenças não são transparentes porque não conhecemos nossas crenças de modo completo. A segunda ideia é que, de um lado, o debate acerca do autoconhe-cimento fora conduzido de modo enquivocado ao se concentrar na problemática noção de ‘knowledge of content’ e, do outro, o anti-individualismo não é incompa-tível com um outro tipo de transparecia não-epistêmica.

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