proposta para implantaÇÃo de nÚcleos … · somos gratos, também, pela sua agradável companhia...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Curso de Pós-Graduação – Especialização em Planejamento e Gestão em Defesa Civil
JJoosséé AAuugguussttoo FFaarr iiaass AAllmmeeiiddaa
PPRROOPPOOSSTTAA PPAARRAA II MM PPLL AANNTTAAÇÇÃÃOO DDEE NNÚÚCCLL EEOOSS
CCOOMM UUNNII TTÁÁRRII OOSS DDEE DDEEFFEESSAA CCII VVII LL EEMM ÁÁRREEAASS DDEE
AASSSSEENNTTAAMM EENNTTOO SSUUBBNNOORRMM AALL DDAA CCII DDAADDEE DDEE
BBEELL ÉÉMM :: TTEENNDDOO CCOOMM OO EENNFFOOQQUUEE AA CCOOMM UUNNII DDAADDEE DDOO
RRII AACCHHOO DDOOCCEE..
Florianópolis - SC Maio / 2006
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Curso de Pós-Graduação – Especialização em Planejamento e Gestão em Defesa Civil
Autor: José Augusto Farias Almeida.
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CCOOMM UUNNII TTÁÁRRII OOSS DDEE DDEEFFEESSAA CCII VVII LL EEMM ÁÁRREEAASS DDEE
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BBEELL ÉÉMM :: TTEENNDDOO CCOOMM OO EENNFFOOQQUUEE AA CCOOMM UUNNII DDAADDEE DDOO
RRII AACCHHOO DDOOCCEE..
Coordenador: Dr. Antonio Edésio Jungles.
Orientador: Dr. Lélio Bringel Calheiros.
Florianópolis - SC Maio / 2006
Monografia de Pós-Graduação apresentada ao Departamento de Engenharia Civil, como requisito para obtenção do Título de Especialista em Planejamento e Gestão em Defesa Civil.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Curso de Pós-Graduação – Especialização em Planejamento e Gestão em Defesa Civil
PPRROOPPOOSSTTAA PPAARRAA II MM PPLL AANNTTAAÇÇÃÃOO DDEE NNÚÚCCLL EEOOSS
CCOOMM UUNNII TTÁÁRRII OOSS DDEE DDEEFFEESSAA CCII VVII LL EEMM ÁÁRREEAASS DDEE
AASSSSEENNTTAAMM EENNTTOO SSUUBBNNOORRMM AALL DDAA CCII DDAADDEE DDEE
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RRII AACCHHOO DDOOCCEE..
Autor: José Augusto Farias Almeida
Monografia de Especialização aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:
----------------------------------------------------------------------------------------------------- Dr. LÉLIO BRINGEL CALHEIROS
Professor Orientador
-------------------------------------------------------------------------------------------------------- ANTONIO EDÉSIO JUNGLES, Dr.
1º Membro
-------------------------------------------------------------------------------------------------------- VALTER ZANELA TANI, Dr.
2º Membro
Florianópolis – SC Maio / 2006.
CredoCredoCredoCredo
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu único Filho Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem, padeceu sob Pôncio Pilatus, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e mortos. Creio no Espírito Santo. Na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém.
AGRADECIMENTOS
Ao nosso Deus, Pai Todo – Poderoso criador do céu e a da terra e Jesus Cristo seu
único filho nosso Senhor.
A minha companheira e colega de Curso Neucirene Silva Castro que em momento
algum poupou esforços e sofrimentos para que pudéssemos, juntos, chegar ao final desse
trabalho e que soube compreender a necessidade de minhas rigorosas exigências nos
momentos em que precisei de sua ajuda na pesquisa e na redação final do trabalho.
Aos meus pais, Milton de Sá Almeida e Astrogilda Farias Almeida, a quem
ofereço mais essa conquista na minha vida profissional.
Ao Cel BM Orlando Antônio Sarmanho Frade, Comandante Geral do CBMPa, que
apostou na nossa capacidade profissional nos apoiando, de forma incondicional, para que
alcançássemos mais essa conquista representando o Corpo de Bombeiros e a Coordenadoria
Estadual de Defesa Civil do Pará.
Ao orientador Dr. Lélio Bringel Calheiros, que acreditou na nossa vontade e na
nossa proposta inovadora nos aceitando como orientando, discutindo e acompanhando cada
etapa de construção do trabalho.
Ao Professor Antonio Edésio Jungles, Dr. cuja participação esteve muito além da
Coordenação no Curso. Foi um Pai, um conselheiro que nos apoiou de forma incansável
demonstrando uma capacidade de liderança irrepreensível na condução do processo de
aprendizado do grupo de alunos. Nos diversos momentos difíceis que enfrentamos durante o
período presencial do curso sempre esteve conosco passando, com muita serenidade, toda a
sua experiência no sentido de manter o grupo unido e motivado desde o início até o final
dessa difícil jornada.
Ao Professor Valter Zanela Tani, Dr. um profissional sempre solícito e atencioso.
Sendo que através de suas aulas, nos oxigenou no sentido de nos manter dedicados ao tema
escolhido, e pelo seu apoio oferecido na correção do presente trabalho que foi fundamental
para que mantivéssemos a calma nos momentos de dificuldade. Somos gratos, também, pela
sua agradável companhia nos momentos de descontração sempre presente para animar o
grupo com seu violão e cavaquinho.
Ao Maj BM Edmilson Farias Lima com quem tenho a honra de compartilhar o
encerramento desse trabalho, haja vista que no ano de 2002, estudamos juntos realizando um
trabalho monográfico cuja idéia central, sobretudo no que se refere a abordagem sociológica,
serviu de base para realização da presente proposta.
A toda equipe de Professores, Palestrantes e Pessoal de Apoio que são os grandes
responsáveis pela execução do Curso de Especialização em Planejamento e Gestão em Defesa
Civil, pois entendemos que, sem as suas participações a conclusão desse aprendizado não
seria possível.
A toda a equipe da Secretaria Nacional de Defesa Civil que tem se dedicado com
afinco ao treinamento, capacitação e formação de novos profissionais de Defesa Civil
objetivando formar pessoas que sejam capazes de realmente contribuir para mudança cultural
da população em busca da segurança global dos habitantes do nosso País.
Aos informantes de instituições públicas e particulares, que colocaram a nossa
disposição seu precioso tempo e sua boa vontade, ajudando-nos a desvendar um pouco mais
da realidade das AAS.
Aos moradores da comunidade do Riacho Doce atingidos pelo incêndio e aos
oficiais e profissionais da Defesa Civil Estadual e Municipal que atuaram no atendimento
dessa ocorrência, pelas informações e atenção no momento das entrevistas.
Ao irmão e amigo João Nilo de Abreu Lima o qual considero um enviado de Deus
que cumpriu sua missão ajudando-me no resgate da minha auto-estima pessoal e profissional
num período muito difícil vivido em minha vida durante o curso.
SUMÁRIO
Capítulo I - Introdução
1.1 – Contextualização......................................................................................................Pág. 13
1.2 – Objetivos
1.2.1 – Objetivo Geral...........................................................................................Pág. 15
1.2.2 – Objetivos Específicos................................................................................Pág. 15
1.3 – Justificativa..............................................................................................................Pág. 15
1.4 – Metodologia.............................................................................................................Pág. 19
Capítulo II – Fundamentação Teórica
2.1 – O Surgimento da Defesa Civil...............................................................................Pág. 22
2.2 - A Política Nacional de Defesa Civil.......................................................................Pág. 25
2.3 - A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Pará...............................................Pág. 35
2.4 - A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Belém.........................................Pág. 40
Capítulo III – Estudo de Caso
3.1 - A Cidade de Belém e o aparecimento das Áreas de Assentamentos Subnormais:
baixadas, ocupações/invasões e suas vulnerabilidades...................................................Pág. 43
3.2 - O Povoamento da Bacia do Tucunduba e o surgimento da ocupação/invasão Riacho
Doce................................................................................................................................Pág. 53
3.3 - Aspectos Sociais e Econômicos da Área de ocupação/invasão Riacho Doce .......Pág. 58
3.4 - Análise e interpretação dos Dados
3.4.1 - Relatório da pesquisa de campo realizada com os moradores da comunidade do
Riacho Doce e com os Profissionais da Defesa Civil......................................................Pág. 71
3.4.2 - Resultados da pesquisa na ocupação/invasão Riacho Doce.....................Pág. 74
3.4.3 - Resultados da pesquisa na Defesa Civil...................................................Pág. 81
3.4.4 - Análise da situação do Incêndio ocorrido na Comunidade do Riacho
Doce.................................................................................................................................Pág. 86
Capítulo IV - Proposta de Implantação de Núcleos de Defesa Civil para Áreas de
Assentamentos Subnormais da cidade de Belém: tendo como enfoque a AAS Riacho
Doce
4.1 – Objetivos .................................................................................................................Pág. 91
4.2 – Condições para a implantação dos NUDECs ..........................................................Pág. 91
4.3 – Metodologia .............................................................................................................Pág. 92
4.4 - Proposta para elaboração de um Programa de Palestras ...........................................Pág. 94
4.5 - Proposta de um modelo de diagnóstico preliminar para AAS da cidade de Belém ..Pág. 90
4.6 – Planilha de Informações ..........................................................................................Pág. 100
Capítulo V - Considerações Finais................................................................................Pág. 101
Glossário ...........................................................................................................................Pág. 104
Referências ........................................................................................................................Pág. 105
ÍNDICES
MAPAS
01 – Região Metropolitana de Belém – Divisão municipal Pág. 49
02 - Região Metropolitana de Belém – Evolução urbana – 1616/1980 Pág. 50
03 - Região Metropolitana de Belém – Áreas urbanas Pág. 51
04 - Região Metropolitana de Belém – Assentamentos subnormais Pág. 52
FOTOS
01 – Tipo de habitação característica da AAS Riacho Doce Pág. 62
02 – Via de acesso interna obstruída por unidade habitacional Pág. 62
03 – Tipo de habitação construída em madeira irregular em área insalubre Pág. 70
04 – Tipo de habitação construída em madeira, tipo palafita e a presença de estivas Pág. 70
05 – Rua da olaria mostrando ponte de madeira atingida pelo incêndio Pág. 89
06 – Parte da área atingida pelo incêndio Pág. 89
07 – Reunião entre o Poder Público Pág. 90
08 – Alojamento dos moradores da AAS Riacho Doce Pág. 90
GRÁFICOS
Resultado da pesquisa de campo com os moradores atingidos pelo incêndio no Riacho Doce 01 – Sexo Pág. 77
02 – Estado Civil Pág. 77
03 – Faixa Etária Pág. 78
04 – Escolaridade Pág. 78
05 – Tempo de moradia Pág. 79
06 – Número de habitantes por residência Pág. 79
07 – Conhecimento sobre situação ou fenômeno que possam causar desastres Pág. 80
08 – Avaliação do desempenho (ação de socorro) operacional do CBMPA Pág. 80
Resultado da pesquisa de campo com os profissionais da Defesa Civil que atuaram no incêndio (Gráficos) 09 – Representativo de Militares e Civil Pág. 84
10 – Tempo de serviço Pág. 84
11 – Conhecimento técnico em Defesa Civil Pág. 85
12 – Avaliação do desempenho (ação de socorro) operacional do CBMPA Pág. 85
TABELAS
01 – As principais propriedades institucionais e suas respectivas áreas Pág. 54
02 – Hierarquização viária do Riacho Doce Pág. 61
03 – Principais tipos de conhecimento sobre situação que pode causar desastre Pág. 75
04 – Sugestões de ações na prevenção de situações que causam desastres Pág. 75
05 – Avaliação do desempenho operacional do CBMPA pelos no Riacho Doce Pág. 76
06 – Avaliação sobre o Sistema de Defesa Civil Pág.81
07 – Avaliação do desempenho operacional do CBMPA pela Defesa Civil Pág. 81
08 – Sugestões para a atuação operacional do CBMPA nas AAS Pág. 82
09 – Planilha de Informações estruturais e sociais da AAS Riacho Doce Pág. 100
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS.
AAS - Áreas de Assentamento Subnormal
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
BM - Bombeiro Militar
CBMPa - Corpo de Bombeiros Militar do Pará
CBM - Corpo de Bombeiros Militar
CODEM - Companhia de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Belém
CEDEC - Coordenadoria Estadual de Defesa Civil Estadual
CIOP - Centro Integrado de Operações
COHAB - Companhia de Habitação do Pará
COMDEC – Coordenadoria Municipal de Defesa Civil.
COMDEC - BL – Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém
COP – Comando Operacional do Corpo de Bombeiros
COSANPA - Companhia de Saneamento do Pará
DAMOS - Distrito Administrativo do Mosqueiro
DAICO - Distrito Administrativo de Iocoarci
DAOUT - Distrito Administrativo de Outeiro
DABEL - Distrito Administrativo de Belém
DABEN - Distrito Administrativo do Benguí
DAENT - Distrito Administrativo do Entroncamento
DASAC - Distrito Administrativo da Sacramenta
DAGUA - Distrito Administrativo do Guamá
DNOS - Departamento Nacional de Obras de Saneamento
ELETRONORTE - Centrais Elétricas do Norte
FUNPAPA - Fundação Papa João XXIII
FUNVERDE - Fundação Parques e Áreas Verdes de Belém
GLP - Gás Liqüefeito de Petróleo (Gás de Cozinha)
HA - Hectare
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPASEP - Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado
IPEA - Instituto de Pesquisa e Estatística da Amazônia
LCCU- Lei Complementar de Controle Urbano
NUDEC- Núcleo Comunitário de Defesa Civil
OBM- Organização Bombeiro Militar Operacional
PARU - Programa de Extensão e Apoio a Reforma Urbana
PDLRD e P - Plano de Desenvolvimento Local do Riacho Doce e Pantanal
PDL- Plano de Desenvolvimento Local
PDU Plano Diretor Urbano do Município de Belém
PFS - Programa Família Saudável
PMB - Prefeitura Municipal de Belém
PM - Polícia Militar
RMB - Região Metropolitana de Belém
SUDAM - Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
SESPA - Secretaria Municipal de Saúde
SEGEP - Secretaria Municipal de Coordenação Geral do Planejamento e Gestão
SESAN - Secretaria Municipal de Saneamento
SOS- Socorro
UBM - Unidade Bombeiro Militar
UFPa – Universidade Federal do Pará
VTR’S- Viaturas
ZEIS- Zona Especial de Interesse Social
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma proposta de implantação de Núcleos Comunitários de
Defesa Civil – NUDECs - para Áreas de Assentamentos Subnormais - AAS: baixadas,
ocupações/invasões da cidade de Belém, tendo como ponto de análise e discussão um grande
incêndio ocorrido no dia 18 de dezembro de 2001, na ocupação/invasão denominada de
Riacho Doce localizada no Bairro do Guamá. Assim, considera-se como fundamental na
construção dessa análise apresentar uma discussão teórica sociológica, abrangendo questões
sociais e históricas do aparecimento dessas áreas na cidade de Belém. Realizou-se pesquisas
com a utilização de dados primários e secundários, em órgãos e instituições diversas e
procedeu-se a levantamentos em registros jornalísticos, relatórios, mensagens oficiais,
cadastros, legislações, indicadores sócio-econômicos, arquivos específicos, diagnósticos
oficiais e outras fontes documentais enfatizando-se o processo de crescimento acelerado da
cidade de Belém nos últimos anos, levando-se a caracterizar as AAS como áreas de risco
social e de riscos de desastres entre os quais pode-se citar os incêndios de grande intensidade
com conseqüências sociais, financeiras, políticas e ambientais. A partir dessa compreensão,
aliou-se o resultado da pesquisa de campo com os moradores da comunidade do Riacho Doce,
com os profissionais que atuaram no atendimento dessa ocorrência, e a Política Nacional de
Defesa Civil, para construir esta proposta que procura mostrar a importância da formação
desses NUDECs para a realização de um trabalho conjunto entre Governo (Coordenadoria
Municipal de Defesa Civil – COMDEC ) e as comunidades dessas Áreas de Assentamentos
Subnormais, uma vez que a união de esforços resultará em ações positivas, as quais
contribuirão para a prevenção e a minimização dos riscos e desastres, tendo como objetivo
principal contribuir para que os moradores dessas áreas vulneráveis desenvolvam
comportamentos preventivos, que possam colaborar significativamente para a sua própria
segurança de um modo geral. Contudo, caso haja a necessidade da atuação dessas
comunidades em algum tipo de desastre, que essa atuação possa ser efetivada segundo um
planejamento participativo exeqüível das ações de resposta, que terá como resultado a
diminuição de danos em casos de ocorrência de eventos adversos (desastres), e que afetam
direta e amplamente a vida da população que reside nessas áreas na cidade de Belém.
Palavras-chaves: Áreas de Assentamento Subnormal – Núcleo de Defesa Civil - Desastres
13
Capítulo I – Introdução
1.1 - Contextualização
O tema desse trabalho trata da elaboração da proposta de implantação de Núcleos
Comunitários de Defesa Civil – NUDECs em Áreas de Assentamento Subnormal – AAS - da
cidade de Belém, tendo como objeto de estudo a ocupação/invasão1 Riacho Doce, localizada
às margens da Bacia do Tucunduba, onde no dia 18 de Dezembro de 2001, ocorreu um
incêndio que atingiu aproximadamente 4.700 m² dessa comunidade, provocando a destruição
de 95 residências, deixando 520 moradores desabrigados e sob a custódia da Defesa Civil
Municipal (Parecer Técnico n.º 052/01 da Coordenadoria da Defesa Civil Estadual – CEDEC).
De acordo com o a definição do CENSO(1991) coordenado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Aglomerado Subnormal ou Área de
Assentamento Subnormal - AAS - é o conjunto constituído por unidades habitacionais
(barracos, casas, etc.), ocupando ou tendo ocupado até período recente, terrenos de
propriedade alheia (pública ou particular) dispostos, em geral, de forma desordenada, densa e
carente, em sua maioria, de serviços públicos essenciais.
Assim, o que caracteriza um aglomerado subnormal é a ocupação desordenada e
que, quando da sua implantação, há ausência de posse da terra regularizada ou título de
propriedade. Dentro dessas características, no caso da cidade de Belém, poderemos alocar
dois grupos, que foram classificados de acordo com as especificidades geográficas do
município e da sua Área Metropolitana: as baixadas e invasões/ocupações. A comunidade do
Riacho Doce está incluída no segundo grupo.
Desse modo, o objetivo desse trabalho é apresentar uma proposta que atenda as
Áreas de Assentamento Subnormal – AAS - da Cidade de Belém, com a finalidade de
desenvolver uma cultura comportamental preventiva na população que habita essas áreas
observando a Política Nacional de Defesa Civil, em consonância com a doutrina internacional
que estabelece as ações de redução de desastres dentro dos seguintes aspectos globais:
prevenção de desastres; preparação para emergências e desastres; respostas aos desastres e
reconstrução. Possibilitando que a ação operacional e preventiva do Sistema Nacional de
Defesa Civil seja de forma eficaz no atendimento a essa população, tendo como resultado a
14
minimização de perdas de bens materiais e a preservação de vidas humanas, bem como o
rápido restabelecimento da normalidade em caso de desastres.
Enfatiza-se ainda, que na construção deste trabalho considera-se fundamental a
apresentação de discussões teórico-metodológicas em relação às áreas de ocupação/invasão,
que atualmente é bastante abordada por autores das Ciências Sociais como Lisboa (1983), que
aponta que grande parte das cidades do Brasil possui favelas, áreas de ocupação/invasão com
casas construídas principalmente de madeira, papelão, plásticos, etc., em terrenos ocupados
ilegalmente.
Nos últimos 40 anos, as dimensões desses assentamentos têm aumentado
extraordinariamente. As causas subjacentes da expansão dessas áreas estão relacionadas não
só com a migração das áreas rurais, mas também com o crescimento natural, dado que as
taxas de natalidade excedem as das Áreas Metropolitanas como um todo.
Um outro fator que sempre contribuiu para o crescimento dessas áreas no Brasil foi
o processo de crescimento econômico das grandes cidades brasileiras com promessas de
emprego, atraindo para essas cidades as populações de outros Estados, principalmente do
Nordeste que acabaram não sendo absorvidas por uma demanda de trabalho que exige mão de
obra especializada, restando a esse contingente populacional, a ocupação das áreas de
periferia dessas cidades, onde as condições de vida são subumanas.
__________________________________
ı Numa definição padronizada constata-se, em primeiro lugar, que “invasão” é uma categoria externa aos agentes sociais diretamente referidos, que é acionada para ilegitimar a posse. O termo “ocupar” segundo o Dicionário Aurélio, significa “estar ou ficar na posse; invadir, conquistar”. Trindade Jr (1993) ao analisar o processo de “ocupação” para além da “Primeira Légua Patrimonial” faz a seguinte definição do termo: “ocupação espontânea” mais conhecida como invasão: estas ocupações são sempre feitas de modo ilegal, em áreas de propriedades do governo ou de terceiros, quase sempre insalubres ou inadequados para habitação imediata e que abrigam uma população remanejada indiretamente de seus locais tradicionais de moradia, num processo nem sempre aparente de conseqüência da especulação imobiliária. Borges (1992) também utiliza o termo “ocupação” como referência a “invasão”. Já Alves (1997) faz uso do termo “invasão” direcionando sua análise sobre a questão para a “natureza” das invasões, considerando esta como uma forma de luta urbana e, mais precisamente, luta pela terra, envolvendo um conflito direto com a justiça e a polícia. A invasão como um produto de ação coletiva transforma-se num ato político, caracterizando-se através de protestos e reivindicações”. ( Formas de Apropriação e Uso do Território, 2000, pág.127). Para efeito deste trabalho utilizaremos as duas definições pelo fato de consideramos que as duas estão diretamente implicadas no processo de construção social e histórico da comunidade do Riacho Doce.
15
1.2 Objetivo
1.2.1 Objetivo Geral
Apresentar uma proposta para a implantação de Núcleos Comunitários de Defesa
Civil – NUDEC – nas Áreas de Assentamento Subnormal – AAS – da cidade de Belém, tendo
como enfoque a comunidade da AAS Riacho Doce, com a finalidade de desenvolver um
modelo de NUDEC que seja eficaz na redução dos desastres envolvendo os seguintes aspectos
globais: prevenção, preparação, resposta e reconstrução.
1.2.2 Objetivos Específicos
• Realizar um estudo de caso referente ao Grande Incêndio ocorrido na
comunidade da AAS Riacho Doce em dezembro de 2001.
• Realizar o levantamento dos aspectos sociais e econômicos da comunidade
da AAS Riacho Doce.
• Verificar as vulnerabilidades da comunidade da AAS Riacho Doce.
• Analisar as condições de preparo da comunidade da AAS Riacho Doce
para o enfrentamento dos desastres.
1.3 Justificativa
A cidade de Belém vem sofrendo intensas mudanças sociais, econômicas,
políticas, financeiras e principalmente um redimensionamento do seu espaço habitacional. No
final do século XIX e inicio do século XX houve uma intensa valorização das áreas centrais
da cidade, fazendo com que grupos sociais menos abastados mudassem para as áreas mais
afastadas da cidade, onde muitas vezes não havia nenhum tipo de saneamento básico ou infra–
estrutura para morar. Assim, essa transferência populacional marcou o início de um processo
de segregação sócio–econômico na cidade de Belém. (UFPa. A Humanização da Cidade:
Diagnóstico sobre Área de Assentamento Espontâneo do Riacho Doce – Seminário 2000:
cidade de Belém).
Outro fator que favorece o inchaço populacional da cidade de Belém está
relacionado a um intenso processo migratório vindo do interior do Estado do Pará e de outros
Estados brasileiros, principalmente do Nordeste (mais efetivamente do Estado do Maranhão),
que também acabou empurrando esses novos habitantes que chegavam à cidade para as áreas
16
de baixada e periferia, dando origem a essas AAS denominadas de “ocupação/ invasão”.
(Borges 1997, pág. 12 e 13 ).
No período dos anos compreendido entre 1960 e 1980 essas AAS tiveram um
crescimento acelerado na cidade de Belém. Segundo Costa (1992) esse fenômeno ocorreu em
função do elevado número de desempregados e de famílias que viviam em situação de
subemprego. Muitas famílias foram levadas a habitar áreas de periferia, as baixadas e os
núcleos surgidos pelo processo de ocupação/invasão.
Nos anos 60 essas AAS passaram ser objeto de estudo e intervenção do Poder
Federal e Municipal, como exemplo, temos a criação do Projeto “Monografia das Baixadas de
Belém”, criado em 1973 que buscava encaminhar soluções para os problemas de infra-
estrutura, saneamento básico, educação e saúde. Contudo, esses projetos não conseguiram
atingir seus objetivos, fazendo com que essas AAS continuassem caracterizadas pela ausência
de um padrão básico de qualidade de vida.
No período de 1980 a 1990 essa realidade social e econômica tão complexa e
excludente sofreu um novo avanço considerável na cidade de Belém. Dados da Diretoria de
Infra – Estrutura da Companhia de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Belém –
CODEM - apontam que até 1994, existiam na cidade de Belém: 49 (quarenta e nove) AAS
declaradas ocupadas e de utilidade Pública pelo Governo do Estado do Pará, perfazendo um
total de 34.200 famílias.
Segundo dados do IBGE-1991 e da CODEM (1997) 11% dos belenenses estão
distantes do atendimento médico e da segurança, como por exemplo, em casos de acidentes de
um modo geral, e que a maioria dessa população habita áreas de ocupação/invasões.
A Prefeitura Municipal de Belém - PMB através da realização de seu Cadastro
Multifinalitário (2000 e 2001), traçou um novo perfil para Região Metropolitana de Belém e
constatou que a maioria das casas de madeira está construída em bairros da cidade de Belém
com grande contingente populacional, onde também ficam localizados as AAS, como
exemplo, temos o bairros da Guamá, um dos mais populosos da cidade de Belém. Segundo o
IBGE (2000) nele vivem 102.161 habitantes.
17
Desse modo, a precariedade de equipamentos urbanos e comunitários nas áreas da:
Educação, Saneamento Básico, Infra-estrutura e Saúde contribuíram para que esses
aglomerados humanos se configurassem como áreas de risco social, contribuindo para a
eclosão e o aumento de diversas problemáticas, sejam no campo da violência e da
criminalidade, ou problemáticas que estejam relacionadas, por exemplo, ao risco de incêndios,
no qual citamos o incêndio ocorrido no dia 18 de Dezembro de 2001 na Comunidade do
Riacho Doce, considerado de grandes proporções, ainda sem justificativa cientifica. (Relatório
da Fundação Papa João XXIII – FUNPAPA 16 de abril de 2002).
Pode-se afirmar que as conseqüências desse incêndio foram múltiplas: sociais,
econômicas, políticas, com prejuízos materiais de grande vulto, causando transtorno às
famílias que lá residiam, obrigando a Prefeitura Municipal de Belém a declarar pelo, então,
Prefeito Edmilson Rodrigues, “ Situação de Emergência “, na área do Riacho Doce atingida
pelo incêndio, e parte integrante do projeto de Macrodrenagem do Igarapé Tucunduba, da
Prefeitura Municipal de Belém. (Decreto n.º 39.521/2001, 19 de Dezembro de 2001/
Prefeitura Municipal de Belém, Gabinete do Prefeito).
Desse modo, além do Decreto de “Situação de Emergência” declarado pelo
Prefeito da cidade de Belém, o Governo do Estado, homologou esse Decreto, em função dos
dados conferidos “In loco” pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil - CEDEC – que
demonstrarem a existência de “Situação de Emergência”, nos termos da Resolução n.º 3, do
Conselho Nacional de Defesa Civil (Decreto n.º 5.095, de 24 de Dezembro de 2001/Governo
do Estado do Pará). Referindo-se que a área do Riacho Doce foi afetada por desastre
(CODAR HT. 21.405 – Incêndio em Edificação com Grande Densidade de Usuários –
Política Nacional de Defesa Civil ).
O Ministro de Estado da Integração Nacional reconheceu no dia 25 de janeiro de
2002, publicado no Diário Oficial da União a “Situação de Emergência” no Município de
Belém restrita à área denominada de Riacho Doce, localizada no projeto de Macrodrenagem
da Bacia do Igarapé do Tucunduba, pelo prazo de 60 (sessenta dias), contado a partir de 19 de
dezembro de 2001.
No campo social e econômico as conseqüências desse incêndio também foram
significativas e bastante relevantes. Segundo o relatório da CEDEC (2001): com 95 casas
18
destruídas e 09 danificadas, com toda a sua infra-estrutura precária destruída, como, por
exemplo, rede de distribuição de água, vias de circulação e rede de energia elétrica. Com um
total de 15 (quinze) unidades comerciais destruídas, a maioria dessas unidades estava
localizada na rua principal (Rua Olaria), e eram pequenos comércios e prestações de serviços,
todos em sua totalidade de usos mistos (residência/comércios).
Os proprietários desses estabelecimentos “comerciais” foram os mais
profundamente atingidos, pois tinham essa atividade como único meio de sobrevivência,
sendo desta forma os prejuízos ainda mais graves o que dificultou a reabilitação das famílias.
Os danos ambientais também foram altos com a contaminação da rede de água. Ainda
segundo a CEDEC a classificação do desastre quanto à intensidade foi de nível III, e
considerado de grande porte.
O aumento de AAS na cidade de Belém: as chamadas ocupações/invasões e
baixadas nos últimos anos é outro fator que também motivou a construção desta proposta. Em
1994 existiam 49 áreas com cerca de 31.000 famílias nas áreas de baixada e 59.585 em áreas
de invasões (CODEM/ 1994). Verifica-se, assim, que em função da precariedade de
equipamentos urbanos e comunitários nessas áreas, tais como: saneamento básico, rede
elétrica em condições adequadas, e pelo fato da maioria das habitações ser construída em
madeira e outros materiais de fácil combustão, como papelão, plástico, etc., essas AAS
passaram a ser consideradas possíveis áreas de altíssimo riscos, que trazem como
conseqüência danos econômicos, sociais, financeiros e ambientais e a possibilidade da perda
de vidas humanas em caso de desastres.
Desse modo, questiona-se: qquuaall oo mmooddeelloo ddee NNúúcclleeoo CCoommuunnii ttáárriioo ddee DDeeffeessaa CCiivvii ll
–– NNUUDDEECC -- ccaappaazz ee nneecceessssáárriioo ppaarraa aattuuaarr nnaa pprreevveennççããoo,, pprreeppaarraaççããoo,, rreessppoossttaa ee rreeccoonnssttrruuççããoo
nnooss ddiivveerrssooss ddeessaassttrreess aa qquuee eessttããoo ssuujjeeii ttaass eessssaass ÁÁrreeaass ddee AAsssseennttaammeennttoo SSuubbnnoorrmmaall –– AAAASS --
ddaa cciiddaaddee ddee BBeelléémm??
Quais as diretrizes eficazes, técnicas, operacionais e educativas capazes e
necessárias para atuar nnaa rreedduuççããoo ddooss ddeessaassttrreess eennvvoollvveennddoo ooss sseegguuiinntteess aassppeeccttooss gglloobbaaiiss::
pprreevveennççããoo,, pprreeppaarraaççããoo,, rreessppoossttaa ee rreeccoonnssttrruuççããoo nessas Áreas de Assentamento Subnormal da
cidade de Belém?
19
Assim, concluí-se enfatizando que o objetivo da proposta elaborada nesse trabalho
é principalmente de atender as Áreas de Assentamento Subnormal - AAS - da cidade de
Belém, através da implantação de Núcleos Comunitários de Defesa Civil cujo significado é de
extrema importância no processo de redução dos desastres ocorridos no âmbito desses
assentamentos já que no momento em que a comunidade é envolvida no planejamento e no
gerenciamento dos riscos, há naturalmente, uma resposta positiva que se inicia desde a
prevenção aos desastres e preparação às emergências até a reconstrução e recuperação dos
cenários afetados.
1.4 Metodologia
Para a realização deste trabalho, além da sistematização do aporte teórico-
metodológico que sustenta a discussão e da revisão bibliográfica sobre Áreas de
Assentamentos Subnormais –AAS – utilizou-se da pesquisa documental e histórica, com um
levantamento de dados primários e secundários, realizado em órgãos e instituições diversas.
Procederam-se levantamentos em registros jornalísticos, relatórios, mensagens oficiais,
cadastros, legislações, indicadores sócio-econômicos, arquivos específicos, diagnósticos
oficiais e outras fontes documentais. A pesquisa de campo foi efetivada através de entrevistas
utilizando um questionário semi-aberto com os moradores que foram vitimados pelo incêndio
e com os profissionais de defesa civil que atuaram no atendimento da ocorrência. Ressalta-se
que sua construção teórico-metodológica deu-se de maneira participativa e intersubjetiva,
somando saberes diversos, ou seja, o depoimento de 120 moradores atingidos pelo incêndio
atualmente residindo em alojamentos construídos pela PMB e depoimento de 21 profissionais
civis e militares que participaram do atendimento dessa ocorrência, as intervenções dos
nossos orientadores e ainda da nossa experiência enquanto profissionais de segurança pública,
trazendo olhares diferenciados: de uma perspectiva operacional e a do saber especializado na
área das Ciências Sociais.
Assim, considerou-se a eleição dos principais conceitos e as questões com as quais
se trabalhou na pesquisa e definiu-se como método para a coleta de dados a pesquisa
qualitativa pelo fato de permitir o aprofundamento do mundo dos significados das ações e
relações humanas, portanto, um aspecto não perceptível e não captável em equações, médias e
estatísticas. E ainda possibilitar a compreensão e percepção de um leque de posturas, valores,
atitudes, percepções, crenças e valores frente ao fenômeno (incêndio ocorrido em
20
dezembro/2001). A utilização estatística serve como instrumento para apreensão dos
fenômenos nos seus aspectos visíveis e concretos.
Logo, a definição do objeto de pesquisa, delineou-se, durante o Curso de
Especialização em Planejamento e Gestão em Defesa Civil – 2004/2005, realizado na
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, a partir dos trabalhos das diversas disciplinas
entre elas Metodologia Científica cujo conteúdo estimulou, também, a construção de
discussões teóricas onde se aliam a cidadania e a prática diária em operações de defesa civil.
Durante o período de preparação inicial foram feitas buscas a vários materiais e artigos em
jornais diversos da cidade de Belém que relatavam o incêndio ocorrido em dezembro de 2001
na ocupação/invasão do Riacho Doce, bem como todos os problemas enfrentados pelos seus
moradores.
Para consolidar a construção do trabalho, contudo, realizou-se visitas de campo a
fim de se efetuar o levantamento “in loco” das vulnerabilidades existentes nessas áreas de
assentamento subnormal. Além disso, consideramos imprescindível a realização de pesquisas
nos relatórios do Corpo de Bombeiros Militar do Pará, da Coordenadoria Estadual e da
Comissão Municipal de Defesa Civil e da FUNPAPA sobre o grande incêndio, permitindo
conhecer a extensão desse fato e as suas conseqüências sociais, econômicas, financeiras e
ambientais. E também no Plano de Desenvolvimento Local implantado no Riacho Doce e
Pantanal pela PMB, nas bibliotecas da CODEM, do IBGE e no Laboratório de Geografia da
UFPa. Em relação ao conteúdo operacional e técnico, o trabalho baseou-se na literatura
fornecida pelo Sistema Nacional de Defesa Civil.
Assim, acredita-se que o histórico dessa ocorrência incentiva a mobilização,
primeiramente na busca de alternativas de atuação operacional e técnica da Defesa Civil para
essas áreas excluídas social e economicamente. Posteriormente concluiu-se que esse trabalho
também poderia abranger principalmente uma perspectiva prevencional e educativa.
A pesquisa começou suas primeiras incursões na comunidade do Riacho Doce a
partir do mês de maio/2005, quando a entrada foi permitida através de contato informal com
as Assistentes Sociais do PDLRD e P- PMB, que nos apresentaram posteriormente os líderes
do Centro Comunitário Riacho Doce.
21
Em relação a coleta de dados tanto com os moradores da comunidade atingida pelo
incêndio, e com os profissionais que atuaram no incêndio, a mesma ocorreu através de
entrevistas realizadas utilizando como instrumento de pesquisa um questionário semi-aberto,
com 3 (três) perguntas.
Quanto a população atingida pelo incêndio, antes da coleta de dados, realizou-se
uma visita no dia 12 de setembro de 2005, no local onde ocorreu o incêndio e nos alojamentos
que ficam localizados no final da ocupação/invasão Riacho Doce, uma área que é limítrofe a
ocupação/invasão Pantanal. Essa visita foi coordenada pelas Assistentes Sociais do PDLRD e
P-PMB.
Nessa visita aos alojamentos contatou-se com a líder do Centro Comunitário
Riacho Doce, que após uma conversa foi informada pela equipe dos objetivos do trabalho,
ficando o compromisso com a equipe, de a mesma repassar para todos os moradores do
alojamento esses objetivos em uma reunião da comunidade. Nessa primeira visita optou-se
pelo dia 22 de setembro/2005, no período da tarde para a realização das entrevistas. Sendo
que os entrevistadores seriam acompanhados pelos membros do Centro Comunitário na visita
as casas do alojamento.
Preliminarmente a equipe decidiu entrevistar um membro de cada família.
Atualmente dos 520 desabrigados, somente 320 estão residindo nos alojamentos, sendo 220
adultos e 100 crianças (Dados do PDLRD e P- PMB). Desse modo, entrevistou-se no dia 22
de setembro/2005, 96 pessoas (aproximadamente 2 (duas) pessoas de cada família).
As principais dificuldades encontradas na pesquisa foram: alguns alojamentos
fechados, algumas famílias resistentes a entrevista, fechando muitas vezes a porta do
alojamento quando informada sobre os objetivos da pesquisa, e que os pesquisadores eram da
Defesa Civil. A equipe respeitou a atitude desses moradores.
Em função desses fatos realizou-se uma reunião com as Assistentes Sociais do
PDLRD e P - PMB e os líderes do Centro Comunitário colocando a necessidade do retorno da
equipe no dia 25 de setembro/2005 para novas entrevistas, ficando programado que os líderes
do Centro Comunitário fariam uma nova reunião com os moradores, esclarecendo os
objetivos da pesquisa, dessa forma, chegou-se a conclusão dos trabalhos.
22
Capítulo II – Fundamentação Teórica
2.1 O Surgimento da Defesa Civil
Nascida da guerra e indispensável na paz, a organização da Defesa Civil teve sua
origem durante a I Guerra Mundial.
Durante a I Guerra Mundial (1914 – 1918), balões dirigíveis da Marinha Imperial
Alemã efetuaram cerca de 200 incursões de bombardeiro contra a Grã-Bretanha, atacando,
principalmente alvos civis. A precariedade dos meios utilizados produziu menos de 2.000
vítimas, entre mortos e feridos, e parcos prejuízos materiais. De fato, o prejuízo maior foi do
lado dos atacantes, cujos frágeis balões foram destruídos às dezenas pelo tempo inclemente
sobre os mares Báltico e do Norte.
O Governo britânico daquela época era formado por competentes administradores,
necessários ao controle de um império que rodeava o planeta. As possibilidades abertas pelo
bombardeio de áreas urbanas começaram a serem estudadas metodicamente, projetando-se as
conseqüências e tentando criar contramedidas. Nas décadas de 20 e 30 outras ações do tipo
chamaram a atenção, como o ataque aéreo japonês contra Shangai e o devastador bombardeio
da cidade de Guernica pela aviação alemã, em 1937, durante a Guerra Civil Espanhola.
A destruição de Guernica confirmou os estudos anteriores e precipitou a tomada de
uma série de medidas pelo governo britânico, tendo em vista o iminente início de mais uma
guerra na Europa. O Ministério do Interior (Home Office) criou uma organização chamada
ARP – Air Raid Precautions ou Precauções contra Ataques Aéreos, que imediatamente
iniciou as atividades já planejadas como: remoção de crianças das áreas de Londres e sudeste
da Inglaterra, para o interior do país; construção de abrigos subterrâneos públicos e incentivos
à construção de abrigos particulares; distribuição de máscaras contra gases e capacetes de aço;
treinamento de pessoal para combate a incêndios, prestação de primeiros socorros, salvamento
de vítimas sob escombros. Outras instruções eram difundidas em larga escala para população,
ensinando a limpar os sótãos de materiais combustíveis; cobrir a janelas para escurecer as
ruas; grudar fita adesiva nos vidros para evitar estilhaçamento e conhecer os toques de alarme
e de fim do ataque. As organizações de voluntários para atuar em emergências cresceram.
Milhares de cidadãos apresentaram-se à Cruz Vermelha, Exército de Salvação, Ambulâncias
de St. George. Organizações governamentais foram criadas para finalidades específicas como
23
os Grupos de Salvamento Pesado, o Real Corpo de Observadores, os Vigilantes Anti-Aéreos e
os Controladores de Danos.
Em 1940, quando a aviação alemã iniciou a campanha de bombardeio, conhecida
como “A Batalha da Inglaterra”, o país estava pronto para se defender. Os observadores, no
litoral e no interior suplementavam a incipiente rede de radares, gerando informação sobre a
quantidade e a rota dos atacantes, o que permitia ao Centro de Controle da Real Força Aérea
prevenir as cidades que poderiam ser atacadas. Enquanto os alarmes soavam e a população
corria para os abrigos e apagava as luzes, como medidas de defesa passiva, os artilheiros
corriam para as suas peças e a aviação de caça decolava para executar a defesa ativa.
A prática das ações de socorro durante e depois dos bombardeios, levou ao
aperfeiçoamento dos métodos de controle das operações. O planejamento conjunto tornou-se
rapidamente necessário pela variedade de origens e atribuições das organizações
intervenientes no processo de salvamento das vítimas. Estas organizações de caráter público
ou privado agrupavam médicos, engenheiros, bombeiros, policiais, socorristas voluntários e
as Forças Armadas, notadamente a Real Força Aérea, operadora dos sistemas de detecção e
alarme. O planejamento destinava-se a garantir a economia de esforços, impedindo
superposições e desperdícios, determinado quem deveria fazer o que, onde e em quais
circunstâncias. Foi montado, portanto, um sistema de organizações.
Para operacionalizar tal sistema, foram criados Centros de Controle Regionais,
interligados entre si e cada um abrangendo diversos Centros Locais que poderiam, por
exemplo, estar a cargo de um bairro de uma grande cidade ou de uma inteira aldeia rural. Esta
organização permitia, ainda que reforços fossem movimentados de um local para outro sem
que qualquer deles ficasse desguarnecido.
Este tipo de organização foi, pouco a pouco, adotado por outros beligerantes
europeus e asiáticos como a Alemanha, a União Soviética e o Japão. Países não envolvidos
diretamente no conflito como Estados Unidos e Brasil também adotaram medidas de proteção
contra possíveis ataques aéreos. Treinamento de pessoal, exercícios de escurecimento das
cidades maiores contra ataques aéreos e até de regiões litorâneas, para atrapalhar navegação
visual de submarinos inimigos que se aproximassem da costa, além da construção de abrigos
24
públicos foram algumas das medidas executadas sob a orientação do Serviço de Defesa
Passiva Civil Anti-Aérea, criado no Brasil em 1942.
Com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, e principalmente, após
o afundamento, na costa brasileira, dos navios de passageiros Arará e Itagiba, totalizando 56
vítimas, o Governo Federal Brasileiro, em 1942, preocupado com a segurança global da
população, principio básico no tratamento das ações de Defesa Civil, estabelece medidas tais
como a criação do Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, a obrigatoriedade do ensino da defesa
passiva em todos os estabelecimentos de ensino, oficiais ou particulares, existentes no país,
entre outras.
Em 1943, a denominação de Defesa Passiva Antiaérea é alterada para Serviço de
Defesa Civil, sob a supervisão da Diretoria Nacional do Serviço da Defesa Civil, do
Ministério da Justiça e Negócios Interiores e extinto em 1946, bem como, as Diretorias
Regionais do mesmo Serviço, criadas nos Estados, Territórios e no Distrito Federal.
Como conseqüência da grande enchente no Sudeste, no ano de 1966, foi criado, no
então Estado da Guanabara, o Grupo de Trabalho com a finalidade de estudar a mobilização
dos diversos órgãos estaduais em casos de catástrofes. Este grupo elaborou o Plano Diretor de
Defesa Civil do Estado da Guanabara, definindo atribuições para cada órgão componente do
Sistema Estadual de Defesa Civil. O Decreto Estadual nº 722, de 18.11.1966, que aprovou
este plano estabelecia, ainda, a criação das primeiras Coordenadorias Regionais de Defesa
Civil – REDEC no Brasil.
Em 19.12.1966 é organizada no Estado da Guanabara, a primeira Defesa Civil
Estadual do Brasil.
Em 1967 é criado o Ministério do Interior com a competência, entre outras, de
assistir as populações atingidas por calamidade pública em todo território nacional.
O Decreto-Lei nº 950, de 13.10.1969, institui no Ministério do Interior o Fundo
Especial para Calamidades Públicas – FUNCAP, sendo regulamentado por intermédio do
Decreto nº 66.204, de 13.02.1970.
Com o intuito de prestar assistência a defesa permanente contra as calamidades
públicas, é criado em 05.10.1970, no âmbito do Ministério do Interior, o Grupo Especial para
Assuntos de Calamidades Públicas - GEACAP.
25
A organização sistêmica da defesa civil no Brasil, deu-se com a criação do Sistema
Nacional de Defesa Civil – SINDEC, em 16.12.1988 , reorganizado em agosto de 1993 e
atualizado por intermédio do Decreto nº 5.376, de 17.02.2005.
Na nova estrutura do Sistema Nacional de Defesa Civil, destaca-se a criação do
Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – CENAD, o Grupo de Apoio a
Desastres e o fortalecimento dos órgãos de Defesa Civil locais.
2.2 A Política Nacional de Defesa Civil
Aprovada pelo Conselho Nacional de Defesa Civil - CONDEC, a Política
Nacional de Defesa Civil é um documento de referência para todos os órgãos de Defesa Civil,
tem sua consolidação evidenciada com a publicação do DECRETO Nº 5.376 DE 17 DE
FEVEREIRO DE 2005, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC e o
Conselho Nacional de Defesa Civil, e dá outras providências.
Estabelece diretrizes, planos, projetos e programas prioritários para o
desenvolvimento de ações de redução de desastres em todo o País, bem como a prestação de
socorro e assistência às populações afetadas por desastres.
A Política Nacional de Defesa Civil foi aprovada pela Resolução nº 2 do
CONDEC de 12 de dezembro de 1994 e publicada no Diário Oficial da União nº 1, de 2 de
janeiro de 1995. Dentre os vários assuntos abordados, destacamos os seguintes aspectos:
I – CONDICIONANTES
1 - Os estudos epidemiológicos demonstram que, no último século, os desastres
naturais produziram danos muito superiores aos provocados pelas guerras.
2 - Os desastres antropogênicos são cada vez mais intensos, em função de um
desenvolvimento econômico e tecnológico pouco atento aos padrões de segurança da
sociedade.
3 - Em numerosos distritos industriais, o desenvolvimento econômico imediatista e
antientrópico provocou a deterioração ambiental e agravou as vulnerabilidades dos
ecossistemas humanos, contribuindo para aumentar os níveis de insegurança aos desastres
tecnológicos.
26
4 - A crise econômica que se desenvolveu no País, principalmente a partir da
década de 70, gerou reflexos altamente negativos sobre o processo de desenvolvimento social
e sobre a segurança das comunidades contra desastres, ao:
• deteriorar as condições de vida e o bem--social de importantes segmentos
populacionais;
• intensificar as desigualdades e desequilíbrios inter e intra-regionais;
•intensificar os movimentos migratórios internos, o êxodo rural e o crescimento
desordenado das cidades;
• intensificar o desenvolvimento de bolsões e cinturões de extrema pobreza, no
entorno das cidades de médio e grande porte.
5 - O crescimento desordenado das cidades, a redução do estoque de terrenos em
áreas seguras e sua conseqüente valorização provocam adensamentos dos estratos
populacionais mais vulneráveis, em áreas de riscos mais intensos.
6 - O desemprego, a especulação, a fome e a desnutrição crônicas, as migrações
descontroladas e a redução dos padrões de bem-estar social, ao implementarem o clima de
incertezas, desesperanças e revolta, promovem desastres humanos relacionados com as
convulsões sociais.
7 - O processo de regressão social, ao atingir o núcleo familiar, contribui para o
crescimento da violência e do número de menores abandonados.
8 - Os estratos populacionais menos favorecidos e os países menos desenvolvidos,
por apresentarem maiores vulnerabilidades culturais, econômicas e sociais, são atingidos
com mais intensidade pelos desastres.
9 - Como conseqüência dos desastres, ocorre estagnação econômica, redução da
receita dos impostos e aumento do custo de vida.
10 - Os desastres agravam as condições de vida da população, contribuem para
aumentar a dívida social, intensificam as desigualdades regionais e as migrações internas,
fazem crescer os bolsões e cinturões de extrema pobreza nos centros urbanos e afetam o
desenvolvimento geral do País.
11 - As ações de resposta aos desastres e de reconstrução exigem quantiosos
gastos e desviam recursos que poderiam ser alocados em programas de desenvolvimento.
12 - Num exame retrospectivo, constata-se que, após muitas décadas de esforço,
foram poucos os avanços alcançados na redução das vulnerabilidades da sociedade
brasileira aos desastres, mesmo àqueles de natureza cíclica.
13 - Há uma importante interação entre:
27
• Desenvolvimento Sustentável
• Redução de Desastres
• Proteção Ambiental
• Bem-estar Social
14 - É imperioso que o processo de planejamento do desenvolvimento nacional
contemple, de forma clara e permanente, a prevenção dos desastres.
II - OBJETIVOS
Finalidade:
O direito natural à vida e à incolumidade foi formalmente reconhecido pela
Constituição da República Federativa do Brasil. Compete à Defesa Civil a garantia desse
direito, em circunstâncias de desastre.
Objetivo Geral:
O objetivo geral da Defesa Civil é a REDUÇÃO DE DESASTRES. A redução dos
desastres é conseguida pela diminuição da ocorrência e da intensidade dos mesmos.
Elegeu-se, internacionalmente, a ação “reduzir”’, porque a ação “eliminar”
definiria um objetivo inatingível.
As ações de redução de desastres abrangem os seguintes aspectos globais:
1. Prevenção de Desastres
2. Preparação para Emergências e Desastres
3. Resposta aos Desastres
4. Reconstrução
Objetivos Específicos
1. Promover a defesa permanente contra desastres naturais ou provocados pelo
homem.
2. Prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações atingidas,
reabilitar e recuperar áreas deterioradas por desastres.
3. Atuar na iminência ou em situações de desastres.
4. Promover a articulação e a coordenação do Sistema Nacional de Defesa Civil -
SINDEC, em todo o território nacional.
28
III – INSTRUMENTOS
1. Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC
1.1. Universo de Atuação
O SINDEC atua na redução de desastres, em todo o território nacional.
1.2. Estrutura
De acordo com Decreto Lei nº 5.376, de 17 de fevereiro de 2005, o SINDEC tem a
seguinte estrutura:
I - órgão superior: o Conselho Nacional de Defesa Civil - CONDEC, responsável
pela formulação e deliberação de políticas e diretrizes do Sistema;
II - órgão central: a Secretaria Nacional de Defesa Civil, responsável pela
articulação, coordenação e supervisão técnica do Sistema;
III - órgãos regionais: as Coordenadorias Regionais de Defesa Civil - CORDEC,
ou órgãos correspondentes, localizadas nas cinco macrorregiões geográficas do Brasil e
responsáveis pela articulação e coordenação do Sistema em nível regional;
IV - órgãos estaduais: Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil - CEDEC ou
órgãos correspondentes, Coordenadoria de Defesa Civil do Distrito Federal ou órgão
correspondente, inclusive as suas regionais, responsáveis pela articulação e coordenação do
Sistema em nível estadual;
V - órgãos municipais: Coordenadorias Municipais de Defesa Civil - COMDEC
ou órgãos correspondentes e Núcleos Comunitários de Defesa Civil - NUDEC, ou entidades
correspondentes, responsáveis pela articulação e coordenação do Sistema em nível
municipal;
VI - órgãos setoriais: os órgãos da administração pública federal, estadual,
municipal e do Distrito Federal, que se articulam com os órgãos de coordenação, com o
objetivo de garantir atuação sistêmica;
VII - órgãos de apoio: órgãos públicos e entidades privadas, associações de
voluntários, clubes de serviços, organizações não-governamentais e associações de classe e
comunitárias, que apóiam os demais órgãos integrantes do Sistema.
29
2. Planejamento em Defesa Civil
As bases do Planejamento em Defesa Civil são os Planos Diretores de Defesa
Civil, em nível municipal, estadual, regional, os quais devem ser permanentemente
atualizados.
Os Planos de Contingência, elaborados para responder às diferentes hipóteses de
desastres, passam a integrar os Pianos Diretores dos diferentes níveis de governo.
Os Planos Plurianuais de Defesa Civil desenvolvem-se em coerência com os
Planos Diretores e em consonância com o Planejamento Governamental.
Os Planos Plurianuais são atualizados anualmente e, em conseqüência, elaboram-
se a Programação Anual e o Orçamento da Defesa Civil.
3. Recursos Financeiros
É importante que sejam previstos recursos para as ações de Defesa Civil, não
apenas no Orçamento Geral da União, como também nos dos Estados e dos Municípios.
Fundo Especial para Calamidades Públicas - FUNCAP - é um instrumento
financeiro previsto para o atendimento emergencial, em ações de Resposta aos Desastres. É
desejável que fundos estaduais e municipais semelhantes sejam instituídos.
De acordo com o Art. 148, inciso I, da Constituição Federal, “A União, mediante
lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios para atender às despesas
extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou em sua
iminência.”
IV- CONCEITUAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS DESASTRES E
CODIFICAÇÃO DE DESASTRES, AMEAÇAS E RISCOS
A – CONCEITUAÇÃO
1. Desastre
• Resultado de eventos adversos, naturais ou provocado pelo homem, sobre um
ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais e conseqüentes
prejuízos econômicos e sociais.
30
• A intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude do evento
adverso e a vulnerabilidade do sistema receptor (cenário) e é quantificada em função de
danos e prejuízos.
2. Risco
• Medida de danos ou prejuízos potenciais, expressa em termos de probabilidade
estatística de ocorrência e de intensidade ou grandeza das conseqüências previsíveis.
• Relação existente entre a probabilidade de que uma ameaça de evento adverso
ou acidente determinado se concretize, com o grau de vulnerabilidade do sistema receptor a
seus efeitos.
3. Dano
• Medida que define a intensidade ou severidade da lesão resultante de um
acidente ou evento adverso.
• Perda humana, material ou ambiental, física ou funcional, que pode resultar,
caso seja perdido o controle sobre o risco.
• Intensidade das perdas humanas, materiais ou ambientais, induzidas às pessoas,
comunidades, instituições, instalações e/ou ecossistemas, como conseqüência de um desastre.
4. Vulnerabilidade
• Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em interação com a
magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos adversos, medidos em termos de
intensidade dos danos prováveis.
• Relação existente entre a magnitude da ameaça, caso ela se concretize, e a
intensidade do dano conseqüente.
5. Ameaça
• Estimativa de ocorrência e magnitude de um evento adverso, expressa em termos
de probabilidade estatística de concretização do evento e da provável magnitude de sua
manifestação.
31
6. Segurança
• Estado de confiança, individual ou coletivo, baseado no conhecimento e no
emprego de normas de proteção e na convicção de que os riscos de desastres foram
reduzidos, em virtude de terem sido adotadas medidas minimizadoras.
7. Defesa Civil
• Conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais e reconstrutivas,
destinadas a evitar ou minimizar os desastres, preservar o moral da população e restabelecer
a normalidade social.
8. Situação de Emergência
• Reconhecimento legal pelo poder público de situação anormal, provocada por
desastre, causando danos suportáveis à comunidade afetada.
9. Estado de Calamidade Pública
• Reconhecimento legal pelo poder publico de situação anormal, provocada por
desastre, causando sérios danos à comunidade afetada, inclusive à incolumidade ou à vida de
seus integrantes.
10. Desenvolvimento Sustentável
• É aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.
• É o uso e gestão responsáveis dos recursos naturais, de modo a propiciar maior
benefício às gerações atuais, mantendo, porém, suas potencialidades para atender às
necessidades e aspirações das gerações futuras, pelo maior espaço de tempo possível.
B - CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS DESASTRES E CODIFICAÇÃO DE
DESASTRES, AMEAÇAS E RISCOS.
A classificação e a codificação dos desastres constam de documentos anexos à
presente Política Nacional de Defesa Civil.
•ANEXO A: CLASSIFICAÇÃO GERAL DOS DESASTRES
•ANEXO B: CODIFICAÇÃO DE DESASTRES, AMEAÇAS E RISCO.
32
V - DIRETRIZES:
Diretriz nº 1:
Atribuir a um único Sistema - o Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC – a
responsabilidade pelo planejamento, articulação, coordenação e gestão das atividades de
Defesa Civil, em todo o território nacional.
Diretriz nº 2:
Implementar a organização e o funcionamento de Coordenadorias Municipais de
Defesa Civil - COMDEC, em todo o território nacional, enfatizando a necessidade e a
importância da resposta, articulada e oportuna, do órgão local.
Diretriz nº 3:
Apoiar estados e municípios na implementação de Planos Diretores de Defesa
Civil, com a finalidade de garantir a redução de desastres, em seus territórios.
Diretriz nº 4:
Promover a ordenação do espaço urbano, objetivando diminuir a ocupação
desordenada de áreas de riscos de desastres, com a finalidade de reduzir as vulnerabilidades
das áreas urbanas aos escorregamentos, alagamentos e outros desastres.
Diretriz nº 5:
Estabelecer critérios relacionados com estudos e avaliação de riscos, com a
finalidade de hierarquizar e direcionar o planejamento da redução de riscos de desastres
para as áreas de maior vulnerabilidade do território nacional.
Diretriz nº 6:
Priorizar as ações relacionadas com a Prevenção de Desastres, através de
atividades de avaliação e de redução de riscos de desastres.
33
Diretriz nº 7:
Implementar a interação entre os órgãos do governo e a comunidade,
especialmente por intermédio das Comissões Municipais de Defesa Civil - COMDEC e dos
Núcleos Comunitários de Defesa Civil - NUDEC, com a finalidade de garantir uma resposta
integrada de toda a sociedade.
Diretriz nº 8:
Implementar programas de mudança cultural e de treinamento de voluntários,
objetivando o engajamento de comunidades participativas, informadas, preparadas e
cônscias de seus direitos e deveres relativos à segurança comunitária contra desastres.
Diretriz nº 9:
Promover a integração da Política Nacional de Defesa Civil com as demais
políticas nacionais, especialmente com as políticas nacionais de desenvolvimento social e
econômico e com as políticas de proteção ambiental.
Diretriz nº 10:
Implementar o Sistema de Informações sobre Desastres no Brasil - SINDESB e
promover estudos epidemiológicos, relacionando as características intrínsecas dos desastres
com os danos humanos, materiais e ambientais e com os prejuízos econômicos e sociais
conseqüentes.
Diretriz nº 11:
Buscar novas fontes de recursos financeiros para o Sistema Nacional de Defesa
Civil - SINDEC, aprimorar os mecanismos existentes e implementar: - os recursos
relacionados com o Fundo Especial para Calamidades Públicas - FUNCAP;- projetos
capazes de atrair apoio tecnológico e/ou financeiro das agências internacionais e/ou de
cooperação bilateral.
34
Diretriz nº 12:
Implementar as atividades do Comitê Brasileiro do Decênio Internacional para
Redução dos Desastres Naturais - CODERNAT - e o intercâmbio internacional, objetivando
concertar convênios de cooperação bilateral e multilateral na área de redução de desastres,
estabelecendo caráter de permanência, a fim de que as ações não se esgotem com o término
do Decênio.
Diretriz nº 13:
Estimular estudos e pesquisas sobre desastres.
Diretriz nº 14:
Implementar projetos de desenvolvimento científico e tecnológico do interesse da
Defesa Civil.
Diretriz nº 15:
Promover a inclusão de conteúdos relativos à redução de desastres, valorização
da vida humana, primeiros socorros e reanimação cardiorrespiratória nos currículos
escolares.
IX - PROJETOS:
Enfatizamos que os 23 (vinte e três) projetos constantes na Política Nacional de
Defesa Civil, são, absolutamente, pertinentes aos objetivos destinados as ações de redução de
desastres, contudo, destacamos os projetos relativos a mudança cultural por considerá-los
imprescindíveis para o entendimento do presente trabalho:
10. PROJETOS DE MUDANÇA CULTURAL
A mudança cultural tem os seguintes fundamentos:
• todos têm direitos e deveres relacionados com a segurança da comunidade
contra desastres;
• todos fazem parte do SINDEC;
• o Núcleo Comunitário de Defesa Civil - NUDEC - é o elo mais importante do
SINDEC;
• todos devem se perguntar: - o que podemos fazer para prevenir desastres?
35
Esses projetos objetivam conscientizar todos os cidadãos sobre:
• o direito natural à incolumidade e à vida;
• a necessidade da existência de um sistema de segurança que os proteja contra
desastres;
• a necessidade de participar desse sistema;
• o fato de que os desastres são provocados ou agravados por ações ou omissões
humanas;
• o dever social de não contribuir e não permitir que outros contribuam para a
degradação ambiental, provocadora e agravadora de desastres.
2.3 A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Pará.
A Constituição Estadual de 5 de Outubro de 1989, no Título VI, da Segurança
Pública, no Capítulo IV, Arts. 200 e 201 definem as atribuições do Corpo de Bombeiros. O
Art. 200, além de fazer referência, em seu inciso VII, as atividades de defesa civil enfatiza
que o Corpo de Bombeiros é uma instituição permanente, força auxiliar e reserva do
exército, subordinando-se ao Governador do Estado e competindo-lhe, dentre outras
atribuições previstas em lei, executar:
I- serviço de prevenção e extinção de incêndios, proteção, busca e
salvamento;
II- socorro de emergência;
III- perícia em local de incêndio;
IV- proteção balneária por guarda –vidas;
V- prevenção de acidentes e incêndios na orla marítima e fluvial;
VI- proteção e prevenção contra incêndio florestal;
VII- atividades de defesa civil, inclusive planejamento e coordenação das
mesmas;
VIII- atividades técnico- científicas inerentes ao seu campo de atuação.
§1º .O Corpo de Bombeiros Militar, sob sua orientação pedagógica e operacional,
promoverá a formação de grupos de voluntários de combate a incêndio, organizando-os em
repartições públicas, empresas privadas, edifícios e em locais dos diversos bairros das
cidades.
36
§ 2º. O Estado implantará, progressivamente, unidades equipadas do Corpo de
Bombeiros Militar nos Municípios, dando preferência aos mais populosos.
Art.201. O Comandante – Geral do Corpo de Bombeiros Militar será nomeado
pelo Governador do Estado, escolhido dentre os oficiais da ativa da corporação, do último
posto do quadro de combatentes, observado o disposto na legislação federal.
Contudo, enfatizamos o Decreto Lei Nº 5.774, de 30 de novembro de 1993, que
define a composição organizacional e cria cargos na Coordenadoria Estadual de Defesa Civil
do Corpo de Bombeiros Militar e tem suas atribuições perfeitamente definidas, onde
destacamos o Art. 5º, inciso IV, que faz referência ao incentivo de criação e estruturação de
Comissões (que é o órgão correspondente a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil) e de
Núcleos de Defesa Civil conforme veremos:
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARÁ estatui e eu sanciono a seguinte
Lei:
Art. 1º - A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil é órgão integrante da composição
organizacional do Corpo de Bombeiros Militar, de acordo com o inciso VII do artigo 200, da
Constituição do Estado do Pará.
Art. 2º - A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil visa atender as necessidades da
população em situação de emergência ou estado de calamidade pública, motivados pelo
desencadeamento de fatores anormais ou adversos, bem como limitar riscos e perdas para a
comunidade, com o fim de preservar ou restabelecer a normalidade da vida comunitária.
§ 1º - Como situação de emergência entende-se aquela decorrente de fatores
anormais e adversos desencadeados sobre a população e que necessita de
medida imediata, para que se evite a declaração do estado de calamidade
pública.
§ 2º - O estado de calamidade pública corresponde á situação de emergência,
quando esta atingir gravemente a comunidade, privando-a total ou
parcialmente do atendimento de suas necessidades básicas.
37
§ 3º - O estado de calamidade pública ou a situação de emergência será
reconhecido por ato do órgão federal competente, à vista de decreto de
prefeito municipal, homologado este pelo Governador do Estado.
Art. 3º - São objetivos da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil os seguintes:
I – Definir as políticas e diretrizes necessárias à promoção de ações de Defesa
Civil;
II – Coordenar a elaboração de planos de ação de Defesa Civil e promover a
integração com planos federais e municipais, quando for o caso;
III – Acompanhar e avaliar a execução desses planos;
IV – Coordenar e promover a captação de recursos para a execução de planos de
ação de Defesa Civil em situações de emergência ou estado de calamidade
pública;
V – Articular-se com órgãos da administração pública federal, estadual ou
municipal, bem como com membros da sociedade civil organizada para o fiel
cumprimento de suas atribuições.
Art. 4º - O exercício das atividades inerentes à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil,
através de seus órgãos competentes se circunscreve estritamente no território político e
geográfico do Estado do Pará.
Art. 5º - À Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, compete:
I – Estabelecer a política de Defesa Civil;
II – Planejar, coordenar e executar, a nível estadual, as atividades inerentes à
Defesa Civil;
III – Orientar e assessorar tecnicamente as atividades de Defesa Civil
desenvolvidas no Estado;
IV – Incentivar a criação e estruturação de Comissões e Núcleos de Defesa Civil;
V – Coordenar a ação de órgãos governamentais, não-governamentais e da
comunidade em geral, quanto à execução de atividades de Defesa Civil;
VI – Promover a capacitação de recursos humanos no âmbito da defesa Civil;
38
Parágrafo único: Á Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, cabe ainda, articular-se com a
união e municípios, a nível dos respectivos órgãos centrais de Defesa Civil, visando a troca
de informações e experiências para o cumprimento dos objetivos contidos no art. 3º desta lei.
Art. 6º - A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil terá a seguinte estrutura organizacional:
I – NÍVEL DE DIREÇÃO GERAL:
a) Coordenadoria Estadual de Defesa Civil
II – NÍVEL DE EXECUÇÃO:
a) Divisão de Coordenação e Operações;
b) Divisão de Apoio Comunitário;
c) Divisão de Administração e Finanças;
c 1 - Seção de Equipamentos Operacionais
c 2- Seção de Execução Orçamentário-Financeira.
Parágrafo único: O organograma contendo a composição organizacional da Coordenadoria
Estadual de Defesa Civil, encontra-se anexo a esta lei.
Art. 7º - Fica criado o cargo de Coordenador Estadual de Defesa Civil, que será exercido
pelo Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar, que, em seus impedimentos, terá seu
substituto nomeado por ato do Poder Executivo.
Parágrafo único: O substituto do Coordenador Estadual de Defesa Civil será um Oficial
Superior do quadro de combatentes do Corpo de Bombeiros Militar.
Art. 8º - Fica criado no âmbito da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil os seguintes
cargos comissionados e funções gratificadas:
- 03(três) Cargos de Assessor – GEP – DAS – 012-3
- 01(um) Cargo de Chefe da Divisão de Coordenação e Operações – GEP – DAS–011-3
- 01(um) Cargo de Chefe da Divisão de Apoio Comunitário – GEP – DAS – 011-3
- 01(um) Cargo de Chefe da Divisão de Administração e Finanças – GEP – DAS – 011-3
- 01(um) Cargo de Secretária – FG – 4
- 01(um) Cargo de Chefe da Seção de Equipamentos Operacionais – FG – 4
- 01(um) Cargo de Chefe da Seção de Execução Orçamentário-Financeira – FG – 4
Art. 9º - Os cargos em comissão serão preenchidos através de ato do Poder executivo,
observadas as seguintes qualificações:
39
I – O de Chefe de Divisão de Coordenação e Operações, por um Oficial
Superior do quadro de combatentes ou civil com curso superior;
II – Os demais cargos, por pessoal civil com formação de nível superior
específica na área, ou por oficial do Corpo de Bombeiros Militar com
qualificação compatível.
Art. 10 - A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, nos municípios do Estado do Pará,
exceto na capital, far-se-á representar pelos Grupamentos e Subgrupamentos de Incêndio do
Corpo de Bombeiros Militar.
Art. 11 - A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, através de seu titular, deverá
encaminhar seu regulamento no prazo de 120(cento e vinte) dias da data de publicação desta
Lei, para aprovação por ato do Poder Executivo.
Art. 12 - As atividades inerentes à Defesa Civil serão consideradas penosas, insalubres e
perigosas, na forma da Lei.
Art. 13 - Os cargos previstos nesta Lei integram o quadro do pessoal do Corpo de Bombeiros
Militar do Estado.
Art. 14 - Até a criação e provimento dos cargos efetivos necessários à Coordenadoria
Estadual de defesa Civil, as atividades inerentes poderão ser desempenhadas por servidores
lotados em outros órgãos da Administração Pública, que após aquela criação e provimento
deverão retornar aos seus respectivos órgãos.
Art. 15 - As despesas oriundas desta Lei ficam por conta dos recursos disponíveis no
orçamento do Estado.
Art. 16 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.
Palácio do Governo do Estado do Pará, em 30 de NOVEMBRO de 1993.
JADER FONTENELLE BARBALHO Governador do Estado.
40
2.4 A Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém
Embora a Política Nacional de Defesa Civil assegure a importância da formação
dos NUDECs para um trabalho conjunto entre Governo e Comunidade, a participação das
Coordenadorias Municipais de Defesa Civil – COMDEC - é considerada imprescindível nesse
processo. A COMDEC de Belém foi criada através de Decreto Lei Municipal Nº 7.269, de 13
de dezembro de 1984, conforme a seguinte transcrição:
A CÂMARA MUNICIPAL DE BELÉM estatui e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º: Fica criada a Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém - COMDEC-
BL órgão integrante do Sistema Estadual de Defesa Civil, diretamente subordinada ao Chefe do Poder Executivo Municipal.
Art. 2º: Entende-se por Defesa Civil, para os efeitos desta lei, o conjunto de
medidas que visam prevenir e limitar riscos, perdas e danos a que está sujeita a população, em decorrência da calamidade pública e situações similares.
Parágrafo Único: As medidas tomadas pela Comissão Municipal de Defesa Civil
de Belém destinam-se a limitar os riscos e perdas a que está sujeita a comunidade.
Art. 3º: A Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém tem por finalidade
coordenar, a nível municipal, os meios para atendimento das necessidades da população, em situações de emergência.
Art. 4º: A Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém manterá estreito
intercâmbio com órgãos federais, estaduais e municipais com o objetivo de receber e fornecer subsídios técnicos para esclarecimentos relativos à defesa civil.
Art. 5º: São atribuições da Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém: a) Promover a integração da Defesa Civil Municipal com entidades públicas e
privadas e com órgãos estaduais, regionais e federais; b) Estudar, definir e propor normas, planos e procedimentos que visam a
prevenção, socorro e assistência à população e recuperação de áreas, quando ameaçadas ou afetadas por diversos fatores;
c) Participar e colaborar com programas coordenados pelo Sistema Nacional de Defesa Civil;
d) Sugerir obras e medidas de proteção com o intuito de prevenir ocorrências
graves; e) Promover campanhas educativas junto às comunidades e estimular o seu
envolvimento, motivando atividades relacionadas com a Defesa Civil;
41
f) Estar atenta às informações de alerta de órgãos competentes para executar
planos operacionais, em tempo oportuno; g) Comunicar aos órgãos superiores quando a produção, o manuseio e o
transporte de produtos de alto risco, oferecerem perigo à população;
h) Estabelecer intercâmbio de ajuda, quando necessário, com outros municípios;
i) Encaminhar à Comissão Estadual de Defesa Civil, ante o desencadeamento de fatores conjunturais adversos, relatórios circunstanciados com a avaliação da situação, compreendendo tipo, amplitude, conseqüência e evolução do evento, características da área afetada, efeitos sobre a população, prejuízos materiais e socorro necessários, enunciando o grau de emergência dos mesmos.
Art. 6º: A Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém compor-se-á de:
I – Presidência II – Conselho Comunitário Art. 7º: O Presidente da Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém será
indicado pelo Chefe do Poder Executivo Municipal. Parágrafo Único: Compete ao Presidente da Comissão Municipal de Defesa Civil
de Belém organizar as atividades da Comissão. Art. 8º: O Conselho Comunitário terá a seguinte composição: I – Um representante do Prefeito. II – Dois representantes do Poder legislativo. III – Um representante da Secretaria Municipal de Administração.
IV – Um representante da Secretaria Municipal de Educação. V – Um representante da Policia Militar do Estado.----------------- VI – Dois representantes de Clubes de Serviços.
VII – Três representantes de Centros Comunitários. Parágrafo Único: O exercício da função de Presidente e Conselheiro da Comissão
Municipal de Defesa Civil de Belém terá caráter gratuito.
Art. 9º: Os servidores públicos designados para colaborar nas ações de
emergência ou de calamidade pública exercerão essas atividades sem prejuízos de funções que ocupam e não farão jus a qualquer espécie de gratificação ou remuneração especial.
Parágrafo Único: A colaboração referida neste artigo será considerada serviço
relevante e constará dos assessoramentos do servidor. Art. 10: Constará obrigatoriamente do currículo das escolas municipais a matéria
“Noções Gerais sobre Defesa Civil”.
42
Art. 11: A Comissão Municipal de Defesa Civil de Belém, no prazo de 90
(noventa) dias após sua instalação elaborará o seu regimento interno, que será homologado pelo Chefe do Poder Executivo.
Art. 12: A presente lei será regulamentada no prazo de 60 (sessenta) dias. Art. 13: esta lei entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 14: Revogam-se as disposições em contrário. Gabinete do Prefeito Municipal de Belém, em 13 de dezembro de 1984.
43
Capítulo III – Estudo de Caso 3.1 A Cidade de Belém e o aparecimento dos Assentamentos Subnormais:
baixadas, ocupações/invasões e suas vulnerabilidades. A Região Metropolitana de Belém - RMB, instituída em 1973, através da Lei
Complementar n.º 14 de 08 de julho de 1973, era constituída primeiramente pelos municípios
de Belém e Ananindeua. Em 1995 a RMB foi ampliada passando a contar, também, com os
Municípios de Marituba, Benevides e Santa Bárbara, sendo incluídos os distritos de Icoaracy,
Val de Cans e Mosqueiro, localizados na cidade de Belém, conforme Lei complementar n.º 27
de 19 de outubro de 1995 (Diário Oficial do Estado do Pará, 22.12.95, Caderno 01.p.02)
Segundo Rodrigues (1996) mais recentemente procura-se estabelecer uma nova
configuração territorial à cidade de Belém e à Região Metropolitana. No recenseamento geral
do IBGE (1991), já trabalhou com um novo distrito, o de Outeiro, extraído de Icoaracy.
Atualmente a RMB possui um total de 1,8 milhões de habitantes (IBGE / CENSO – 2000),
com uma área urbana de 99,53%, sendo considerada uma taxa de urbanização muito superior
à observada para o conjunto da Amazônia e para o Estado do Pará. (conforme mapa nº 01).
Enfatiza Borges (1997) que a condição topográfica da RMB é predominantemente
plana e baixa, resultado de uma superfície levemente acidentada. Nesta superfície encontram-
se os dois elementos básicos desse território: as planícies com suas várzeas ou baixadas, com
topografia igual ou inferior a 4 metros de altitude e as terras firmes cuja topografia varia de 4
a 20 metros.
Como exemplo dessas áreas, observa-se as várzeas da Bacia do Tucunduba que é
considerada a segunda em extensão, com 1.055 ha segundo dados do DNOS, representando
28,6% das áreas de baixada de Belém. A cidade de Belém tem 40 % da área urbana ocupando
as baixadas. (Ferreira, 1995).
Dados do IBGE - CENSO (2000) apontam uma população de 1.279.861 (um
milhão duzentos e setenta e nove mil oitocentos e sessenta e um) habitantes na cidade de
Belém. Apresentando o maior contingente populacional da RMB, com 72,49%. A população
urbana da cidade de Belém corresponde a 1.271.615 (um milhão duzentos e setenta e um mil
seiscentos e quinze) habitantes, que corresponde a 99,35%. A população rural equivale a
44
8.246 (oito mil duzentos e quarenta e seis) habitantes, ou seja, a 0,65%. (conforme mapas nº
2 e 3).
Para efeito administrativo, atualmente, a cidade de Belém passou a ser dividida em
8 (oito) Distritos, conforme Lei Municipal 7.682 de 05 de Janeiro de 1994, dos quais apenas
dois possuem Agências Distritais constituídas (DAMOS e DAICO) e uma Agência Regional
(DAOUT). Os outros Distritos são: DABEL, DABEN, DAENT, DASAC e DAGUA onde
fica localizado o bairro do Guamá e também a ocupação/invasão Riacho Doce.
Desse modo, a espacialização desta taxa de urbanização concentra-se em áreas
significativas da cidade de Belém onde a topografia é baixa, sendo que a altitude de grande
parte da porção continental acha-se em áreas de cota inferior ou igual a 4m. Estes espaços
conhecidas pela denominação de baixadas constituem-se nas áreas de maior índice
populacional: com 218.665 (duzentos e dezoito mil seiscentos e sessenta e cinco) habitantes
na baixada da Baia do Guajará e 322.247 (trezentos e vinte e dois mil duzentos e quarenta e
sete) habitantes na baixada do Guamá. (Censo-1991e1996 – PDLRD e P- PMB)
Segundo o Anuário Estatístico (1997) e dados do IPEA (1997) a cidade de Belém
apresenta como uma das suas principais características a incorporação das áreas de baixadas à
estrutura da cidade. Segundo a CODEM (1986), essas áreas são identificadas por
apresentarem as seguintes características:
a) Elevadas densidades demográficas, decorrentes da apropriação do espaço
realizado através de lotes exíguos que, dadas as condições das baixadas, contribui para
agravar as condições gerais de habitação;
b) Habitações subnormais, desordenadamente distribuídas, obstruindo, não raro o
escoamento hídrico, no já deficiente sistema de macrodrenagem existente;
c) Sistema viário insuficiente, impossibilitando o desenvolvimento do tráfego
normal da cidade além de prejudicar os serviços de transporte coletivo destinado ao
atendimento das populações ali residentes;
d) A circulação interna de pedestres nas baixadas se faz de forma precária em
geral através de estivas quase sempre em péssimo estado de conservação;
45
e) Os transportes coletivos que atendem as baixadas se limitam a circular, dada a
falta de condições para o tráfego interno em sua periferia, obrigando a população das mesmas
a realizar grandes deslocamentos diários, à pé, até os pontos de ônibus;
f) A necessidade de implantação de sistemas convencionais de água natural, de
esgotos sanitários e de coletas de lixo. As alternativas encontradas pela população agravam as
condições sanitárias na área, como podemos exemplificar pelos casos dos dejetos que são
lançados nas áreas alagadas as quais se erguem as palafitas;
g) A impossibilidade de distribuição de energia elétrica através de redes de alta
tensão pelo tipo de solo; e
h) Carência de equipamentos urbanos e comunitários na área da educação e
saúde, o que obriga o deslocamento da população que deles necessita, para áreas de cotas
mais altas.
Verifica-se, pelas características acima expostas, uma situação social de extrema
carência e de precariedade da população residente nessas áreas, que continuaram crescendo e
se agravando nesses 19 (dezenove) anos que separam esse diagnóstico dos dias atuais (2005).
Em muitas ocorrências de desastres nessas áreas a ação operacional dos órgãos de segurança
pública acaba sendo comprometida principalmente pela ausência de condições de infra-
estrutura básica adequada.
Trindade (1997) classifica essas áreas em: Assentamentos Planejados,
“Espontâneos” e Dirigidos. Os Assentamentos Planejados surgiram com a produção de
conjuntos habitacionais, voltados para atender a população de baixa renda, através da
COHAB - Companhia da Habitação do Pará (1965/1990) (1968/ 1993); IPASEP – Instituto de
Previdência e Assistência dos Servidores do Estado do Pará (1955/1989).
Os Assentamentos Espontâneos surgiram através do processo de periferização nas
áreas de baixadas bem localizadas, que logo passam por um processo de arrefecimento
gradativo, em função da dinâmica imprimida às periferias distantes, havendo, portanto, um
processo de reprodução das localizações. Em ambos os vetores de expansão, têm-se
46
verificado a proliferação das ocupações recentes, com significativo populacional. São
consideradas como formas “clandestinas” de ocupação/invasão, que mais tarde passam a ser
reconhecidas pelo Estado. A área de ocupação do Riacho Doce esta incluída nessa segunda
classificação.
As Áreas de Assentamento Dirigidos foram originados pela produção de
habitações na área de expansão da cidade, são os chamados empreendimentos residenciais
populares. Nos casos dos Assentamentos Planejados e Dirigidos, observa-se certa infra-
estrutura adequadas para a vida das famílias residentes. Como na sua grande maioria são
conjuntos habitacionais verticais e horizontais, os mesmos são construídos obedecendo as
regras básicas de segurança.
Ás áreas de baixada, onde estão a maioria dos Assentamentos Espontâneos
apresentam uma outra realidade, as habitações são geralmente constituídas em terrenos cujas
curvas de nível não ultrapassam a cota 4m. Essas áreas foram ocupadas pela população de
baixa renda, principalmente a partir dos anos 50, por estarem localizadas próximas ao
principal centro de comércio e serviços da cidade de Belém, e se tornaram a alternativa mais
viável à população de baixa renda, pois os custos de deslocamento nesses locais eram mais
baratos, em virtude da ausência de serviços públicos, do não pagamento de taxas e por
estarem situadas próximo do local de trabalho.
Nas áreas de baixadas, ocorre um fracionamento dos espaços destinados à
moradia, que acabam restritos a dimensões mínimas. Esses espaços são ocupados, muitas
vezes, por famílias numerosas ou por mais de uma família que habitam uma mesma
residência, fenômeno expresso pelas altas médias de habitantes por domicílio nos setores
integrados pela baixadas: 4,70 habitantes por domicílio na Baixada do Guajará e 4,82 na
Baixada do Guamá. Outro fator que contribui para elevar a densidade dessas áreas é a
exigüidade dos espaços públicos, tais como ruas e praças.
O acesso às residências nessas áreas, face à natureza do terreno faz-se por meio de
estivas que interligam as habitações internamente e permitem o acesso às vias pavimentadas.
Também definem o desenho da malha urbana, sugerindo uma ocupação horizontal que
construída no nível mais elevado, ultrapassa os obstáculos naturais como valas, córregos e
igarapés.
47
Desse modo, a estiva funciona como via de acesso principal e é precursora da via
aterrada que acontece num segundo momento, quando as estivas vão sendo substituídas pela
população, pela ação do Poder Público e, em alguns, casos, por políticos ligados a essas áreas
em época de eleição. Na medida em que as ruas são aterradas, os lotes também vão sendo
aterrados, o que facilita a substituição das palafitas por construções mais estáveis, porém
ainda carentes de infra-estrutura.
Nas áreas de baixadas, propriamente ditas, a maioria das moradias são palafitas,
construídas de madeira e assemelham-se às construções ribeirinhas encontradas na Amazônia.
As unidades habitacionais, em sua maioria, contam com um ou dois cômodos em um
pavimento e fachadas constituídas por uma porta e uma janela, apresentando a média de
cômodos por domicílios em 4,55 na baixada do Guajará e 4,22 na baixada do Guamá.
Em alguns casos, quando possuem maior dimensões, funcionam à semelhança dos
cortiços, com vários cômodos acessados através de uma estiva, tendo, geralmente, como
espaço de uso comum o banheiro.
A água consumida vem de torneiras públicas e/ ou dos igarapés próximos, a
energia elétrica tem instalação provisória ou clandestina, o esgoto sanitário inexiste sendo os
resíduos lançados diretamente no terreno alagável. A média de banheiro por domicílio é
baixíssima, 0,95 na baixada do Guajará e 0,84 na baixada do Guamá.
As áreas de ocupações/invasões localizam-se, em sua maioria, na área de expansão
da malha urbana ocupando terrenos pertencentes tanto ao Poder Público (Federal, Estadual e
Municipal), quanto terrenos particulares.
Assim, esse intenso processo de ocupação/invasão de áreas da RMB teve um
crescimento acelerado na década de 70, seguindo especialmente o eixo de expansão para além
dos limites da “Primeira Légua Patrimonial”, formado pelas Rodovias Augusto Montenegro,
da Avenida Pedro Álvares Cabral, da Estrada do 40 Horas, da Rodovia do Coqueiro e da
Rodovia BR- 316 em direção ao Município de Ananindeua.
Segundo Alves (1997), o processo de ocupações/invasões na RMB foi progressivo
e crescente, no período da segunda metade da década de 70 até os anos 90: 10 invasões entre
1979 e 1982; 29 entre 1983 e 1986 e 44 entre 1987 e 1990. (conforme mapa nº 04)
48
Na cidade de Belém, os dados sistematizados mais recentes, sobre essas áreas
datam de 1996/1997. Em levantamento realizado pela CODEM (1997), aponta que 62,20%
refere-se a ocupações de baixadas e 37,80% a áreas de invasão/ocupação denominadas de
loteamentos irregulares. Esse levantamento identifica, também, o número de famílias
residentes por área, verificando-se cerca de 31.000 famílias que moram em áreas de baixada e
59.585 famílias em áreas de ocupação/invasão.
Além da localização em áreas alagadas, algumas dessas ocupações/invasões
encontram-se em áreas consideradas de risco e proteção ambiental. Do total de 112 (cento e
doze) assentamentos localizados em áreas de baixada, identificou-se 16 (dezesseis) deles
assim distribuídos: sete estão situados também em áreas de proteção ambiental (2.050
famílias); um está situado em área de preservação de manancial (380) famílias; três situam-se
em faixas de domínio da linha de transmissão da ELETRONORTE - Centrais Elétricas do
Norte - (4.350) famílias; dois acham-se em áreas insalubres (lixões) (1.120 famílias); dois,
além de serem áreas alagadas, situam-se em faixas de domínio de linha de transmissão e
lixões (1.300 famílias); e finalmente, uma área situada próximo a linha de transmissão, que
fica localizada na aérea de expansão da pista do Aeroporto de Val de Cans (340) famílias. Na
área de expansão, também foram invadidos alguns conjuntos habitacionais, que estavam
acabados ou em fase de acabamento. Apontam-se um número de cerca de 20 conjuntos
habitacionais invadidos, fato que colaborou para a suspensão das linhas de financiamento da
Caixa Econômica Federal - CEF destinadas à construção de unidades habitacionais na cidade
de Belém. Nas áreas de ocupação/invasão localizadas em terrenos secos, as unidades
habitacionais, assim como nas baixadas, originariamente são de madeira com poucos
cômodos, porém, com uma incidência maior de casas com mais de um pavimento.
Normalmente nessas áreas a infra-estrutura básica é implantada em tempo menor do que na
baixada. A maioria conta com energia elétrica fornecida pela concessionária oficial, a água
consumida vem de poços artesianos e há facilidade na construção de fossa sanitária (aberta ou
fechada). O desenho da malha urbana é mais regular e as casas de madeira são rapidamente
substituídas por construções em alvenaria.
53
3.2 O Povoamento da Bacia do Tucunduba e o surgimento da área de
ocupação/invasão Riacho Doce
Segundo Ferreira ( 1995) até o final da década de 1960, as várzeas ou baixadas
periféricas ao centro da cidade de Belém, não se constituíam ainda em espaços efetivamente
ocupados. Eram destinados, desde o início do século XX (1905), a atividades agropastoris
que, pela política de saneamento implementada pelo Intendente Antônio Lemos (1897 a 1910)
era proibido a prática de construção de estábulos e pastoreio de gados em lugares centrais já
muito povoado, sendo destinados para isso os subúrbios de Belém. Isso significa que havia
atividades agropastoris no centro da cidade de Belém e a política de Lemos ratificou o destino
das várzeas da cidade, periféricas ao centro.
No período Antônio Lemos, impulsionado pela época Áurea da Borracha (1880-
1912), ocorreram numerosas transformações urbanas na cidade de Belém. Lemos apresentou
uma proposta de expansão na qual estendia o traçado até a 1º Légua Patrimonial ( como
convencionou-se denominar á área de terra de aproximadamente 4.110 ha, e que tem como
centro o ponto geográfico coincidente como o local onde a cidade se originou. Sua
demarcação data do início do século XVII, precisamente em 1703), utilizando como princípio
básico o traçado “xadrez”, inclusive nas áreas de baixada, desconsiderando a altimetria do
terreno, a hidrografia e a vegetação.
Até meados do século XX a expansão da malha urbana da cidade de Belém
circunscrevia-se nos limites da 1º Légua Patrimonial de Belém. Mais tarde, precisamente na
década de 40, houve a apropriação de grandes extensões de terras nas imediações do limite da
1º Légua Patrimonial de Belém, por parte de instituições públicas (ENASA, CELPA,
CORREIOS, COSANPA, UFPA,EMBRAPA, AEROPORTO VAL DE CANS,
MINISTÉRIO DA MARINHA, EXÉRCITO E AERONAÚTICA), que ficou conhecida como
“ Cinturão Institucional de Belém”, com uma área aproximada de 52,90 Km², e por vários
fatores passou a se constituir um obstáculo à expansão da malha urbana.
54
As principais propriedades institucionais e suas respectivas áreas.
Tabela 01
Instituições Proprietárias Área / Km²
FCAP e EMBRAPA 15,25
ÁREAS MILITARES, AEROPORTO E ELETRONORTE 13,39
COSANPA 15,68
UFPa 2,51
Fonte: SEPLAN/IDESP. Estruturação Metropolitana de Belém. Plano de
Reavaliação.Belém,1992,p.20) apud FERREIRA, 1995, pp.44-45.
Nos anos 70, em função do acelerado crescimento populacional o esgotamento das
terras altas da Primeira Légua reforçado pela presença do “Cinturão Institucional”, que
dificultava a expansão da cidade de Belém para além da 1º Légua Patrimonial, essas áreas de
baixadas começaram a ser ocupadas por uma população de baixa renda, que procuravam
sempre os locais mais próximos das áreas dotadas de infra-estrutura e do centro gerador de
empregos. Com o passar dos anos, a pressão populacional se intensificou e estimulou também
a ocupação de áreas do próprio “Cinturão Institucional”, rompendo o bloqueio da expansão
urbana, como por exemplo os terrenos da UFPa na várzea da Bacia do Tucunduba. (Borges,
1997,pág.24).
Pode-se enfatizar que o processo de ocupação das baixadas de Belém, aconteceu
de forma desordenada, onde os crescentes fluxos populacionais que chegavam à cidade de
Belém e as famílias de baixa renda expulsas das terras valorizadas, através de
remanejamentos, tentavam redefinir e produzir seus espaços de moradia, sem que as
autoridades públicas tentassem elaborar uma melhor ordenação do espaço urbano e um
planejamento que se articulasse às especificidades ambientais da cidade.
O processo histórico de ocupação da Bacia do Tucunduba e Boyusscuana iniciou-
se segundo Ferreira (1995) a partir do século XVIII, incentivado pelas doação das terras do
Tucunduba que foram doadas pelo Rei de Portugal, através da Carta de Doação da Datta e
Sesmarias em 1728. Essas terras tinham como limite à margem direita do Igarapé do
Tucunduba e os marcos da 1º Légua Patrimonial.
55
Nesse mesmo ano (1728), tais terras foram adquiridas pelos Padres Mercedários,
mediante arrematação pública realizada pelo Governo Municipal, onde implantou uma olaria
para o fornecimento de material para a construção da cidade. Essa área de terra estendia-se a
partir da margem do Igarapé do Tucunduba até o rio Guamá conhecida como fazenda
Tucunduba.
Os Padres Mercedários fizeram a doação das terras para a Santa Casa de
Misericórdia do Pará, que instalou em 1814 o abrigo para Hansenianos da Amazônia
(Lazareto dos Tucunduba) e um pequeno hospício para o internamento dos doentes mentais
da Santa Casa de Misericórdia do Pará, que correspondia ao local da olaria dos Padres
Mercedários juntamente com um cemitério que funcionou de 1814 até 1887.
Segundo Ferreira (1995) voltando ao século XX verifica-se que a produção do
espaço urbano na Bacia do Tucunduba se dá também mediante aos processos de apropriação
gerados pelas ocupações/invasões. Os próprios posseiros promovem a redistribuirão ou a
redivisão das terras, formando um bolsão de pobreza que cresce a cada dia.
Assim, devido a esses movimentos de ocupação/invasão desordenada, muitos
trechos da várzea do Tucunduba já não têm o mesmo nível topográfico e nem a drenagem
natural; a várzea transformou-se em uma área desmatada, ocupada e aterrada, provocando,
com isso, a degradação ambiental desse espaço.
Segundo dados do PDLRD e P a Bacia do Tucunduba é considerada a segunda
maior Bacia Hidrográfica da RMB, com uma área de 10,55 Km², e uma população de 161.499
habitantes, sua extensão abrange os seguintes bairros: Universitário, Montese/Terra Firme,
Guamá, Canudos e Marco e as áreas de ocupação/invasão do Riacho Doce e Pantanal.
Essa Bacia possui 13 canais, com 14.175 m de extensão sendo que 7.865 m são
retificados. O Igarapé do Tucunduba é o principal da Bacia, com 3.600 m de extensão, é o
principal contribuinte para o alagamento dos terrenos localizados na baixada do Guamá.
A área de ocupação/invasão do Riacho Doce está localizada no polígono
compreendido pela Avenida Perimetral, marginal esquerda do Igarapé do Tucunduba, travessa
Barão do Igarapé Miri e o muro da atual área da Cooperativa dos Servidores da UFPa.
56
Enfatiza-se, contudo, que até os anos 80, a margem esquerda do Igarapé do Tucunduba era
ocupada por uma Olaria que aproveitava o tipo de solo para a fabricação de tijolos e por uma
fábrica de palmitos.
Nas margens desse Igarapé existia uma mata de várzea que foi aos poucos
invadida pelas casas dos posseiros que vinham chegando do interior e pelas famílias social e
economicamente carentes que não tinham mais como habitar no centro da cidade de Belém.
A ocupação das várzeas do Igarapé Tucunduba ocorreu enquanto movimento
político no dia 04 de setembro de 1990 em meio a conflitos com os supostos proprietários do
terreno. No entanto, esses conflitos não impediram que o processo de ocupação/invasão da
terra fosse efetivado: os lotes foram divididos, e a construção de barracos de madeira
aconteceu de maneira desordenada, ocupando até mesmo porções do terreno recortados por
pequenos igarapés.
No ano de 1991, o então Governador Jader Barbalho, desapropriou tal área,
denominada de Riacho Doce, através do Decreto n.º 299, de 17 de agosto de 1991. Esta área
desapropriada apresenta confinamento ao Norte com a avenida Barão do Igarapé Miri, ao Sul
com a Avenida Perimetral, a Leste como o Igarapé do Tucunduba e a Oeste com quem de
direito.
No ano de 1992, o mesmo Governo, desapropriou uma outra área através do
Decreto n.º 1.128, de 06 de outubro e publicado no Diário Oficial do Estado no dia 07 de
outubro de 1992. Sendo está denominada de Riacho Doce II, no qual consta nenhuma
referência quanto ao proprietário da área. Apresenta confinamento ao Norte com a avenida
Barão de Igarapé Miri, ao Sul com a Avenida Perimetral, Associação dos servidores da UFPa
e com quem de direito, a Leste com área denominada de Riacho Doce. A união destas duas
áreas corresponde ao que denominamos de Riacho Doce. Contudo, esses decretos não
geraram efeitos jurídicos devido a não efetivação dos meios, em função de nunca terem sido
executados os objetivos para os quais foram feitos, tendo, portanto, caducado.
A CODEM em autuação ao ofício nº 073/2001, da SESAN, forneceu um atestado
no qual informa que em função do regime enfitêutico, as áreas em questão (Riacho Doce)
fazem parte do patrimônio da PMB – por fazerem parte da 1º Légua Patrimonial.
57
Dados do PDLRD e P (2001) apontam que a comunidade do Riacho Doce
localiza-se na zona urbana da cidade de Belém, e encontra-se inserida em uma Zona Especial
de Interesse Social do Tipo 1- ZEIS, segundo o Plano Diretor Urbano da Cidade de Belém,
P.D.U (L ei n.º 7.603, de 13 de janeiro de 1993). De acordo com a Lei Complementar de
Controle Urbanístico – L.C.C.U ( Lei nº 02 de julho de 1999), áreas em questão são
caracterizadas dentro do Zoneamento Ordinário como Zona Habitacional do tipo 2- ZH2-e, de
uso predominantemente habitacional. Nesta Zona, o Coeficiente de Aproveitamento do Solo
(CA) permitido para uso familiar é de 1.4 a 1.8 de uso familiar e de 1.4 a 2.0 de uso
comercial.
Sendo estas áreas pertencentes à Primeira Légua Patrimonial e estando contidas
em uma ZEIS, é admitido pelo P.D.U o lote padrão por família com dimensões mínimas de 60
m² , assim como prevê a L.C.C.U no caso de loteamento para urbanização ou regularização
fundiária de áreas já ocupadas e 90m² para áreas a serem loteadas pelo Poder Público.
Contudo, apesar de todas essas implicações jurídicas, a área de ocupação/invasão
Riacho Doce cresceu com total ausência de saneamento básico, o lixo era acumulado debaixo
das casas ou jogado nas águas do Igarapé do Tucunduba. Também não havia energia elétrica,
ocasionando o aparecimento de linhas clandestinas, conhecidas como “gatos”, expondo os
moradores ao risco de curto circuito que poderiam ocasionar incêndios e outros incidentes.
Verificou-se a falta de água encanada em muitas residências, Em muitos casos a água usada
vem direto do Igarapé do Tucunduba ou de canos quebrados ao longo da Avenida Perimetral
ou ainda de dentro da UFPa.
Assim, com o objetivo de solucionar todos esses problemas de infra-estrutura, um
morador do Riacho Doce, o Sr. Juvenal Mendes Batista, evangélico, fundou o Centro
Comunitário do Riacho Doce, fato que influenciou diretamente a caracterização social e
cultural dessa ocupação/invasão. A liderança desse morador, por exemplo, contribuiu para
que as ruas e passagens fossem nomeadas com referências bíblicas. Outro ponto singular
nessa ocupação/invasão é que as vias de circulação são denominadas de Quadra. Cada rua
recebe uma numeração de quadra, contudo diferente daquilo que aprendemos como uma
quadra em uma área residencial. Por exemplo, a Rua da Paz é conhecida como Quadra - 1.
58
Logo, as ações do Centro Comunitário foram fundamentais para que a comunidade
conseguisse alguns benefícios como: abastecimento de água e instalação da rede elétrica
convencional. Destaca-se que, nesse processo de tentativa de implantar uma infra-estrutura
básica para essa comunidade, foi bastante significativo a ajuda de diversas organizações não
governamentais - ONG’s, em parcerias com as Igrejas Evangélicas e Católica. Contudo,
nesses anos todos de existência, a comunidade do Riacho Doce ainda hoje é caracterizada
como um grande adensamento populacional, com desordenamento sócio-espacial, unidades
habitacionais tipo palafitas, com a necessidade de Serviços Públicos, pois existe a ausência de
Saneamento Básico e Sistema de Drenagem, tornando a vida das famílias residentes expostas
a condições de habitabilidade totalmente insalubres.
O Programa Família Saudável da Prefeitura - PFS da PMB em parceria com a
equipe técnica social e alunos do Programa de Extensão e Apoio a Reforma Urbana – PARU,
do Curso de Serviço Social da UFPa, realizaram no ano de 2001 o cadastramento das famílias
residentes na comunidade do Riacho Doce e Pantanal, totalizando 1.418 famílias. Contudo,
para garantir maior controle da área foi decidido realizar, em junho de 2001,um novo
Cadastro Familiar, que totalizou 1.537 famílias englobando as duas comunidades,
possibilitando que fosse construído o perfil sócio econômico das comunidades do Riacho
Doce e Pantanal. Como nosso trabalho tem como objeto de estudo a comunidade do Riacho
Doce, apresentaremos somente os aspectos sociais e econômicos dessa área de
ocupação/invasão. A comunidade do Pantanal que é limítrofe ao Riacho Doce, possui
características sociais e econômicas similares.
3.3 Aspectos Sociais e Econômicos da Ocupação/Invasão Riacho Doce:
No cadastramento realizado pelo PFS-PMB e Projeto PARU-UFPA foram
visitados 100% dos domicílios da comunidade Riacho Doce, somando 1.349 famílias, com
um total de 5.264 habitantes, com uma média de 4,5 de pessoas por domicílio. Foram
encontrados 106 domicílios fechados.
Do total de famílias cadastradas, 1.157 famílias foram caracterizadas do tipo
principal, ou seja, moram duas ou mais famílias no domicílio, existindo somente uma unidade
familiar que é responsável pela maior parte das despesas de moradia; 192 famílias foram
caracterizadas como do tipo secundário, ou seja, moram duas ou mais famílias no domicílio,
contudo, não existe uma unidade familiar responsável pelas despesas da moradia.
59
Das famílias residentes no Riacho Doce, 33,7% são originarias da RMB; 54,4%
vieram do interior do Estado do Pará e 5,4% de outros Estados Brasileiros (Maranhão,
principalmente). O tempo de moradia oscila entre 1 e 10 anos, muitas das famílias ainda são
as primeiras que ocuparam a área; 442 famílias residem há mais de dez anos na comunidade.
A faixa etária predominante na população é de 20 e 39 anos de idade, com um total
de 1.049 homens e 1.179 mulheres; 94% das crianças de 7 a 14 anos que corresponde a 22 %
da faixa etária estão cursando o Ensino Básico e Fundamental; O Programa Bolsa Escola da
PMB atende 300 famílias incluindo as comunidades do Pantanal e Riacho Doce.
Dos moradores do Riacho Doce 52% possuem o 1º grau incompleto; 5,10% são
analfabetos; 11,10% completaram o 1º grau e 7,95% completaram o 2º grau; 7,2 % foram
alfabetizados e somente 0,6 % cursam o 3º grau.
Verificou-se que 69,86 % das famílias vivem com uma renda de 1 a 3 salários
mínimos; 13,74% vivem com uma renda de menos de 1 salário mínimo; 12,93% vivem com
uma renda superior a 3 salários mínimos. 42% dos habitantes trabalham por conta própria;
29% trabalham com carteira assinada; 16% trabalham sem carteira assinada; 7% estão
desempregados e 6% são aposentados.
A potencialidade econômica dessa comunidade está assim configurada: as pessoas
residentes nessa comunidade vivem através de uma economia de subsistência, em que parte
das famílias sobrevive de práticas econômicas como: a pesca, a comercialização de materiais
vindos de municípios próximos à Belém, bem como o transporte fluvial intermunicipal, que
acaba por provocar uma nova modalidade de transporte urbano ou mesmo intermunicipal.
Observou-se que a economia local tem uma relação muito forte com a economia
de outros municípios e verificou-se a existência de estâncias, lojas de materiais de construção
localizadas às margens esquerda do Igarapé do Tucunduba que recebem produtos como:
madeira, palha, tijolo, diariamente, vindos principalmente de municípios localizados nas
cidades ribeirinhas do interior do Estado do Pará. O meio utilizado para o transporte desses
produtos é o barco, servindo este também para o transporte de passageiros que vêm à cidade
para fazer compras. Existem ainda pequenos comércios: mercearias, bares, mercadinhos,
panificadora, açougue, lojas de eletrodomésticos, quitandas, venda frango e açaí, etc. que
60
ficam localizadas em toda a extensão da Rua da Olaria. Alguns desses comércios funcionam
na residência do morador, tornando essas residências mistas.
Como investimentos no potencial econômico local já foram realizadas obras de
macrodrenagem no Igarapé com o objetivo de garantir navegabilidade, foram construídos dois
portos para atracamento dos barcos e desembargue de mercadorias e passageiros. Os portos
têm áreas para instalação de feiras que deverão ser administradas pelas comunidades do
Riacho Doce e Pantanal, por meio de cooperativas.
A comunidade do Riacho Doce pode ser considerada como área prioritariamente
de uso residencial. No entanto, é possível constatar a prática de diversas atividades
econômicas, principalmente as de uso diário dos moradores como: padarias, bares, farmácias,
açougues, quitandas, vendas de frango e açaí.
O comércio informal, muitas vezes pela limitação do espaço, estendeu-se até o
espaço de uso coletivo para a circulação. Os comércios na área do Riacho Doce estão
concentrados na Rua da Olaria, que serve as duas funções sociais e econômicas: comercial e
residencial. Funciona como um eixo de ligação entre a parte setentrional e meridional do
assentamento, apresentando um intenso fluxo de pedestre, além de apresentar a caixa de via
bem dimensionada. Sendo de grande importância para a comunidade do Riacho Doce, é a rua
que mais concentra uso misto de residências, caracterizando-se ainda como um local de opção
de lazer para os moradores durante o dia e à noite.
A área do Riacho Doce é de elevada densidade populacional e baixo índice de
aproveitamento do solo, em função das casas serem de 1 ou 2 pavimentos. Muitas são
utilizadas de maneira mista, com a parte frontal funcionando com atividades geradoras de
renda, e a moradia localizada na parte do fundos. A qualidade do terreno onde se concentra a
comunidade do Riacho Doce é um dos fatores que condiciona o baixo aproveitamento do
solo.
As vias de acesso ao Riacho Doce existentes na área de entorno garantem uma
acessibilidade satisfatória, pois se constituem por avenidas e ruas que se integram no sistema
Viário Geral da Cidade de Belém.
61
Hierarquização Viária do Riacho Doce
Tabela 02
Classificação Via Trecho
Arterial Existente
Avenida Perimetral Avenida Barão do Igarapé Mirim / Rua
Augusto Corrêa
Rua Augusto Corrêa Avenida Perimetral /Avenida Bernardo
Saião
Coletora
Distribuidora
Existente
Rua Augusto Corrêa Avenida Perimetral / Avenida Barão do
Igarapé Mirim
Avenida Barão do
Igarapé- Miri
Avenida José Bonifácio / Rua Augusto
Corrêa
Coletora
Distribuidora
Projetadas
Marginais do
Igarapé do
Tucunduba
Rua Celso Malcher / Avenida Perimetral
Fonte: SEURB, 1998, de acordo com a Lei n.º 7.603 de 13.01.1993 ( PDL – Riacho Doce e
Pantanal – PMB ).
Comunidades como o Riacho Doce retratam uma maneira de ocupação do solo e
definição do espaço interno bastante peculiar na cidade de Belém. O padrão habitacional
expressa a produção característica das áreas alagadas na cidade de Belém, embora represente
em última análise a reprodução do padrão habitacional ribeirinho de áreas de várzea da
Amazônia. A procedência interiorana da maior parte das famílias residentes nas referidas
áreas reforça a disseminação desse tipo de padrão habitacional.
A madeira apresenta-se como o material predominante nas residências da área do
Riacho Doce, em detrimento a utilização da alvenaria, dos 1.252 domicílios pesquisados,
82,08% (1.164 unidades) são de madeira; 10,78 % (153 unidades) são de alvenaria; 0,14% são
de taipa revestida; 0,42% são taipa não revestida; 0,28% são de material aproveitado.
(conforme fotos nº 01 e 02).
62
Foto 01: A maioria das casas são de madeira com dois pavimentos, construídas de forma
desordenada e sem obedecer ao mínimo de segurança.
Foto 02: As vias de acesso são obstruídas por unidades habitacionais construídas pelos próprios moradores dessas áreas.
63
A Secretaria Municipal de Saneamento – SESAN - classificou as 1.098 edificações
segundo sua tipologia e características afins (SESAN/2001).
Residência A
Unidade residencial em madeira, com área construída média de aproximadamente
40,00 m2 compreendendo 544 unidades habitacionais, corresponde a cerca de 50% das
construções da área.
Residência B
Unidade residencial em madeira, com área construída média de aproximadamente
60,00 m2, compreendendo 193 unidades, corresponde a cerca de 18% das construções da área.
Residência C
Unidade habitacional em alvenaria, com área construída média de
aproximadamente 40,00 m², compreendendo 146 unidades, corresponde a 13% das
construções da área.
Residência D
Unidade habitacional em alvenaria, com área construída média de
aproximadamente 60,0 m², compreendendo 104 unidades, corresponde a 9% das construções
da área.
Comércio A
Unidade comercial (estâncias, bares, pequenos mercados, etc.) em madeira, com
área média construída de aproximadamente, 80,00 m², compreendendo 61 unidades,
corresponde 6% das construções da área.
Comércio B
Unidade comerciais (estâncias, bares, pequenos mercadinhos em madeira e
alvenaria com área média construída de aproximadamente 120,00 m², compreendendo 25
unidades, corresponde a 2% das construções da aérea.
64
Outras
Unidades comerciais/residenciais, com características diferenciadas das demais,
evidenciando-se a existência de revestimentos e pavimentações de melhor padrão,
acabamento geral regular, com área média construída de aproximadamente 100,00 m²,
compreendendo 24 unidades, correspondem a 2% das construções da área.
As residências existentes no Riacho Doce utilizam um Sistema Estrutural baseado
em esteios (vigamento em madeira), que recebem uma estrutura de piso com vigamentos e
ripamentos em madeira, suportando um telhado simples com uma ou duas águas, sem tesouras
estruturais em função das casas e pelo tamanho dos esteios, em sua maioria de pequena
proporção. Utilizam tanto telhas de barro como de fibrocimento.
As construções são predominantemente elevadas do solo, sobre estacas de
madeira, com pequena escada de acesso e circulação externa através de pequenas passarelas
de madeira localmente denominadas de estivas. Pelo fato das famílias do Riacho Doce
estarem assentadas em áreas acometidas de alagamentos, estes agravados pela inexistência de
redes de drenagem superficial.
As casas apresentam diferentes etapas de acabamento e de manutenção. Assim,
prevalece residências de madeira sem acabamento, cujo estado de conservação é péssimo,
além de casas de alvenaria inacabadas. As condições de conservação das estruturas de
madeira de grande parte das casas, cerca de 80% encontra-se em situação precária. O contato
com água, a não utilização de técnicas ou materiais de preservação e a qualidade da madeira
são fatores que contribuem para o comprometimento das estruturas e em algumas residências
existe o risco de desabamento. (conforme fotos nº 03 e 04).
Em muitas residências parte dos banheiros são localizados do lado de fora, em
estruturas isoladas, quando existem. Em outros casos a condição desses espaços é bastante
precária, muitas vezes não utilizando louças sanitárias e apenas estruturas de vedação em
madeira, sendo que os dejetos são lançados diretamente no terreno em função da não
existência de rede coletora de esgoto.
Segundo dados do PFS–PMB 47% das famílias não possuem Unidades Sanitária
adequadas. O PDLRD e P-PMB está desenvolvendo um projeto de doação de cesta de
65
material de construção, voltada para os imóveis que serão remanejados durante o projeto, para
viabilizar a solução dessa problemática.
Outra característica marcante nas habitações é a utilização do “jirau”, que trata-se
de uma espécie de pia localizada na área externa da casa onde lava-se louça e roupas, prepara-
se comidas, serve minimamente de “ jardim” etc. O jirau comumente está acoplado a uma das
janelas da casa, normalmente onde se considera a cozinha. A utilização do jirau justifica-se
também pela falta de espaço na maioria das residências e a utilização de espaços multiuso,
sem definição de compartimentos.
Em função da densidade de ocupação do solo, cerca de 52% das casas do Riacho
Doce são de 2 pavimentos (Cadastro do PDL/Junho 2001). A alternativa de construir as casa
de madeira também se justifica pela qualidade do solo que não é favorável a estruturas
pesadas. Da mesma forma, a alta densidade impossibilita a existência de quintais na maioria
das casas, bem como de arborização.
Em geral as residências de 2 pavimentos apresentam varandas frontais com guarda
corpos vazados, apresentando desenhos geométricos confeccionados em ripas e tábuas de
madeira. Estas varandas normalmente servem para secar roupas na ausência de áreas de
serviço.
A organização interna da habitação apresenta pouca divisão dos cômodos, com um
ou dois quartos, uma sala, que também pode servir de quarto e uma cozinha. A
compartimentação dos ambientes e também substituída pela adoção de espaços
multifuncionais nos quais a utilização da mobília auxilia na definição dos ambientes,
principalmente os de ordem íntima. Também são utilizados lençóis ou cortinas para atribuir
maior privacidade aos moradores.
Evidencia-se ainda que essa organização interna nas residências é dificultada pela
convivência de vários familiares em uma mesma residência em grande parte das edificações.
Ocorre também a existência de muitas residências em um mesmo lote, ou ainda, a
incorporação de outras atividades ao espaço de uso residencial visando garantir a geração de
renda para as famílias. A combinação do duplo uso do espaço residencial apresenta-se com
66
diferentes propostas espaciais, prevalecendo os pequenos comércios na parte frontal do lote,
geralmente em ruas de maior fluxo de pedestres e veículos como a Rua da Olaria.
O Riacho Doce não é servido por sistemas de coleta e tratamento de esgoto, sendo
que os dejetos, são lançados nos cursos d’água existentes e nos próprios terrenos. Dados do
PFS-2001 apontam que 43,86% das famílias têm fossa com solução de esgoto, enquanto
47,03% lançam os dejetos a céu aberto.
Ressalta-se que a área do Riacho Doce é coberta pelo serviço de coleta de lixo,
encontrando-se no setor Belém/Sul dentro do lote 1. A coleta de resíduos sólidos domiciliares
é feita através do sistema “porta a porta” alternativo, utilizando equipamentos de menor porte
como pequenos tratores de menor com articulação e contêineres manuais sob rodízios em
função do problema de acessibilidade interna das áreas e a existência de estivas.
Dados do PFS-2001 relatam que 72,42% das famílias são atendidas pela coleta
pública de lixo 1 domiciliar e cerca de 20,02% destina o lixo a céu aberto, comprometendo
inclusive a trafegabilidade de pedestre e veículos, pelo acúmulo de resíduos nas ruas e
passagens.
O abastecimento de água é precário, com problemas de pressão em diversos pontos
e vazamentos, que são agravados pela existência de áreas alagadas ou passíveis de
alagamento, bem como a não existência de rede coletora de esgoto. As tubulações são fixadas
sob o assoalho das casas e na maioria das vezes cruzam áreas de água estagnada com lixo em
baixo dessas, sendo bastante comum a prática de perfurações da rede de abastecimento devido
aos problemas de baixa pressão.
Praticamente não existem poços tubulares, do tipo Amazonas ou mesmo cisternas,
pois o perfil geológico dessas áreas não permite a utilização desses poços devido a espessura
da camada de argila que alcança cerca de 15 m de profundidade. Dados do PFS–2001
apontam que 89,2% das famílias são atendidas pela rede pública de abastecimento de água.
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Os reservatórios da COSANPA que abastecem o Riacho Doce estão localizados
um no bairro da Terra Firme/Montese e Guamá. A malha de distribuição de água possui
tubulação de 150mm de diâmetro na Rua da Olaria (SESAN / FADESP,1998).
A Rua Olaria apresenta em sua rede de distribuição de energia a maioria dos
componentes de uma rede normal, como transformadores, condutores primários (com apenas
um nível) e secundários, entre outros. Por outro lado o restante das vias apresenta tipos
variados de configuração de rede de distribuição, observando-se a ausência de planejamento e
manutenção. Não existe alimentador primário, apenas secundário, a partir da Rua da Olaria.
Em termos gerais, os postes no Riacho Doce são em sua maioria, de concreto, com
poucos deles apresentando lâmpadas quebradas. O tipo de medição predominante é o
convencional, com o medidor de KW/h instalado na caixa padrão dentro da residência. O
novo tipo de medição adotado pela concessionária de energia elétrica, sugere o medidor de
KW/h instalado em caixa apropriado, fixado ao poste da Rede Pública, esse tipo ainda não
bastante empregado nas residenciais.
Embora a concessionária tenha adotado o ramal de ligação multiplexado com
condutores de alumínio, grande parte das residências no Riacho Doce utiliza o ramal de
ligação com condutores paralelos, observando-se que 61,69% são de alumínio e 8,17% de
cobre. Existem situações improvisadas, não adotadas pela concessionária, onde parte do ramal
de ligação e constituído de condutores multiplexados e a sua continuação com condutores
paralelos. Muitos ramais de ligação estão em péssimas condições, aumentando assim o risco
de acidentes (curto–circuitos).
Os ramais de ligação são os que apresentam maiores problemas, quanto à sua
condição, fora os de condutores paralelos, pois muitos deles encontram-se emendados e
isolados, com pedaços de plásticos; outros com 2 (dois) tipos de bitolas na extensão da fase ou
do neutro. Todas as residências do Riacho Doce utilizam a energia elétrica para a sua
iluminação. Em algumas, as lâmpadas permanecem ligadas ao dia todo, por esquecimento do
consumidor ou pelo fato da iluminação natural não conseguir penetrar no interior das
residências. Outras famílias deixam as lâmpadas ligadas durante a madrugada para prevenir
assaltos.
68
A rede distribuidora local é muito ruim, precisando haver uma melhoria geral
nesse aspecto para que, pelo menos, possa-se ter um mínimo de segurança para a comunidade.
89,49% das famílias possuem energia elétrica da Rede Pública, 10,51% das famílias possui
ligações clandestinas. (PFS-PMB/2000). 40% das unidades consumidoras pagam taxa fixada
pela concessionária e utilizam energia de terceiros, somando as vezes um total de 5 ligações
clandestinas nessas residência.
A comunidade do Riacho Doce tem dentro da área de intervenção e entorno uma
série de equipamentos comunitários, especialmente na Educação (6 Escolas Ensino
Fundamental e Educação Infantil) e Saúde (01Posto do PFS). Considera-se que esta
comunidade está bem servida nesses dois tipos de equipamentos, havendo exceção em
serviços educacionais para a faixa etária de 0 a 6 anos. Para suprir essa fragilidade o PDL RD
e P - PMB prevê a construção de creches com capacidade de atendimento para 150 crianças
(de 0 a 6 anos).
A rede de telefonia é insuficiente, o número de telefones públicos instalados na
área não atende adequadamente a comunidade. Durante o período dos levantamentos do PDL
RD e P-PMB (2001) foi verificado que a Companhia Telefônica estava fazendo a instalação
de telefones domiciliares e de novos telefones públicos comunitários.
A organização comunitária no Riacho Doce teve início durante o processo de
ocupação/invasão no ano de 1990. A institucionalização dessa organização deu-se em 1991,
com a formação do Centro Comunitário Riacho Doce. Atualmente apenas 7% dos moradores
participam dessas associações. Existe um maior envolvimento com os grupos religiosos, 62%
dos habitantes declaram participar de grupos religiosos (Católicos e Evangélicos).
Na Comunidade do Riacho Doce existe ainda a presença das seguintes lideranças:
Formais: 17 lideranças no Plano da Saúde: agentes comunitários do PFS; Informais: 14
lideranças no Plano Religioso, 29 lideranças no Plano Social da Organização, 5 lideranças no
Plano Esportivo e Cultural. As seguintes agências mediadoras: 5 no Plano Religioso, 17 no
Plano Social da Organização, 6 no Plano da Assistência Social
.
Pode-se afirmar que todas essas lideranças são fundamentais na construção de
qualquer trabalho social, educativo, técnico, comunitário, etc. nessa área de ocupação/invasão,
69
que é caracterizada pelo processo de organização de luta pela terra e pela criatividade dos seus
agentes sociais em morar nesses ambientes de terrenos alagáveis e alagados. Formando um
novo traçado urbano totalmente diferente do centro da cidade de Belém.
Até o início do ano (2005) a PMB desenvolvia nas comunidades do Riacho Doce e
Pantanal uma ação denominada de Plano de Desenvolvimento Local - PDL, que está inserida
no projeto de Macrodrenagem e Urbanização da Bacia do Tucunduba. O PDL tem como
objetivo principal contribuir para melhorias de qualidade de vida das famílias residentes no
Riacho Doce e Pantanal, através de projetos de regularização fundiária, infra-estrutura urbana,
melhorias habitacionais, educação ambiental, organização comunitária e geração de emprego
e renda.
O PDL para as áreas do Riacho Doce e Pantanal conta com a mobilização e a
discussão junto às comunidades sobre a intervenção urbanística, através de consultas sociais:
Plano Individual: ações junto às famílias através de visitas domiciliares; Plano de Mediações:
ações junto às entidades, instituições e liderança através de reuniões e oficinas de consulta;
Plano Coletivo: através de consulta junto à comunidade em geral para apresentação de
propostas, discussão e aprovação final do Plano de Desenvolvimento Local. O PDL conta
com recursos da PMB e do Programa Habitar-Brasil / BID, num total de R$ 11 milhões, para
a implantação do projeto.
70
Foto 03: Uma das características dessas áreas é a condição de moradia totalmente insalubre.
Foto 04: Área interna da AAS Riacho Doce, evidenciando a presença de palafitas, casas construídas desordenadamente sobre as águas do Igarapé Tucunduba.
71
3.4 Análise e Interpretação dos Dados:
3.4.1 Relatório da pesquisa no Riacho Doce e com os profissionais da Defesa
Civil
Com base nas discussões teóricas referidas nos capítulos I e II, optou-se por um
questionário semi-aberto com questões que nortearam a pesquisa de campo, utilizada nas
entrevistas com os moradores do Riacho Doce atingidos pelo incêndio e com os profissionais
da Defesa Civil Estadual e Municipal que participaram do atendimento da ocorrência.
As questões feitas para os moradores do Riacho Doce atingidos pelo incêndio
foram:
a) Como você avalia a atuação da Defesa Civil no atendimento do incêndio
ocorrido em dezembro de 2001? Insuficiente, regular, boa ou ótima? Justifique.
b) Você tem algum tipo de conhecimento sobre alguma situação ou fenômeno que
possa causar desastre? ( ) Sim ( ) Não
c) Quais sugestões você daria para que esse tipo de desastre (incêndio) não ocorra?
As questões feitas para os profissionais da defesa civil que participaram do
atendimento dessa ocorrência foram:
a) Você sabe qual é o trabalho da Defesa Civil? ( ) Sim ( ) Não
b) Como você avalia o desempenho dos trabalhos da Defesa Civil na Comunidade
Riacho Doce ? Insuficiente, regular, bom ou ótimo?. Justifique.
c) Quais sugestões operacionais e técnicas que você daria para que ocorrências de
desastres em AAS: baixadas, ocupações/invasões possam ser minimizados?.
72
Os resultados obtidos com essas entrevistas estão apresentados através de tabelas e
gráficos representativos da amostragem trabalhada. Entretanto, convém ressaltar que, por se
ter optado pela análise de conteúdo das respostas, há que se considerar o viés subjetivo das
verbalizações apresentadas, além da necessidade de falar-se de como foi construído o
caminho do presente trabalho. Assim, enfatiza-se a possibilidade de tecer inferências, bem
como atentar para a possível dissimulação das mesmas.
A pesquisa começou suas primeiras incursões na comunidade do Riacho Doce a
partir do mês de maio/2005, quando a entrada foi permitida através de contato informal com
as Assistentes Sociais do PDLRD e P- PMB, que nos apresentaram posteriormente os líderes
do Centro Comunitário Riacho Doce.
Vale lembrar ainda que o incêndio do mês de dezembro/2001, também deixou no
imaginário dessa população um conceito bastante pejorativo da atuação dos Órgãos de
Segurança Pública do Estado nessa ocorrência, verbalizado em todas as entrevistas feitas nos
alojamentos. Concluí-se que esse conceito construído a partir do dia do incêndio precisava ser
reconstruído. Assim, acredita-se que esse trabalho pode ser o caminho para esse processo de
reconstrução.
Em relação a coleta de dados tanto com os moradores da comunidade atingida pelo
incêndio, e com os profissionais que atuaram no incêndio, a mesma ocorreu através de
entrevistas realizadas utilizando como instrumento de pesquisa um questionário semi-aberto,
com 3 (três) perguntas.
Quanto a população atingida pelo incêndio, antes da coleta de dados, realizamos
uma visita no dia 12 de setembro de 2005, no local onde ocorreu o incêndio e nos alojamentos
que ficam localizados no final da ocupação/invasão Riacho Doce, uma área que é limítrofe a
ocupação/invasão Pantanal. Essa visita foi coordenada pelas Assistentes Sociais do PDLRD e
P-PMB.
Nessa visita aos alojamentos foi feito contato com a líder do Centro Comunitário
Riacho Doce, que após uma conversa foi informada pela equipe dos objetivos do trabalho,
ficando o compromisso com a equipe, de a mesma repassar para todos os moradores do
73
alojamento esses objetivos em uma reunião da comunidade. Nessa primeira visita elegeu-se o
dia 22 de setembro/2005, no período da tarde para a realização das entrevistas. Sendo que os
entrevistadores seriam acompanhados pelos membros do Centro Comunitário na visita as
casas do alojamento.
Preliminarmente a equipe decidiu entrevistar um membro de cada família.
Atualmente dos 520 desabrigados, somente 320 estão residindo nos alojamentos, sendo 220
adultos e 100 crianças (Dados do PDLRD e P- PMB). Desse modo, conseguimos entrevistar
no dia 22 de setembro/2005, 96 pessoas (aproximadamente 2 pessoas de cada família).
. As principais dificuldades encontradas na pesquisa foram: alguns alojamentos
fechados, algumas famílias resistentes a entrevista, fechando muitas vezes a porta do
alojamento quando informada sobre os objetivos da pesquisa, e que os pesquisadores eram da
Defesa Civil. A equipe respeitou a atitude desses moradores.
Em função desses fatos optou-se por fazer uma reunião com as Assistentes Sociais
do PDLRD e P - PMB e os líderes do Centro Comunitário colocando a necessidade do retorno
da equipe no dia 25 de setembro/2005 para novas entrevistas, ficando programado que os
líderes do Centro Comunitário fariam uma nova reunião com os moradores, esclarecendo os
objetivos da pesquisa.
Antes de expor os dados propriamente ditos, faz-se necessário explicitar a
amostragem geral. Assim, trabalhou-se com uma população adulta de 120 pessoas dos
moradores atingidos pelo incêndio, escolhida aleatoriamente, com idade superior a 18 anos,
de um total de 220 pessoas, com uma margem cientifica de erro de 6.5% e obtivemos uma
amostra de 146. Entretanto, 26 pessoas recusaram-se a participar das entrevistas cujos
motivos já foram expostos nessa análise.
Trabalhou-se, ainda, com 21 profissionais de Defesa Civil, de um total de 34, com
margem científica de erro de 6.5%, e obteve-se uma amostra de 30 profissionais. Contudo, 09
(nove) não puderam ser entrevistados pelos seguintes motivos: licença especial, férias
regulares, transferências para o interior, missões de caráter especiais. Entrevistou-se nessa
pesquisa um total de 141 pessoas..
74
3.4.2 Resultado da pesquisa na ocupação/invasão Riacho Doce
Na população das 12O pessoas entrevistadas que foram vitimadas pelo incêndio,
verificou-se o seguinte perfil social: 64% são do sexo feminino 36% do sexo masculino (ver
gráfico n.º 01). Em relação ao estado civil houve uma predominância de solteiros com 62% e
casados com 32% (ver gráfico n.º 02).
A faixa etária que prevaleceu foi de 20-30 anos o equivalente a 40% (ver gráfico
n.º 03) O nível de escolaridade dominante foi o ensino fundamental incompleto com 55%
com um índice de analfabetos de 12% (ver gráfico n.º 04).
O tempo de moradia oscilou entre o período de 10 - 15 anos com 52%, apontando
que a maioria das pessoas atingidas pelo incêndio morava no Riacho Doce desde a sua
ocupação/invasão em 1991 (ver gráfico n.º 05). O número de habitantes por residência
predominante foi de 5 a 10 habitantes com 48%.( ver gráfico nº 06).
Em relação aos tipos de conhecimento sobre alguma situação ou fenômeno que
possa causar desastre, 62% disseram que tinham algum tipo de conhecimento adquirido nas
conversas com outros moradores e com os técnicos do PDLRD e P. Contudo, um
conhecimento empírico sobre o fato. 38% relataram que não possuem nenhum tipo de
conhecimento sobre o assunto (ver gráfico n.º 07).
75
Os principais tipos de conhecimento apontados foram:
Tabela 03
Tipos de conhecimentos sobre situação que podem causar desastre n.º de respostas
Evitar que as crianças brinquem com fósforos dentro de casa; 27
Não acender velas e deixar a casa sozinha; 06
Esquecer panelas no fogão e guardanapos perto do fogo; 26
Instalações elétricas com fios descascados e gatos 16
Vazamento de gás de cozinha; 09
Os moradores apontaram sugestões com o objetivo que esse tipo de situação seja
prevenido nessas áreas e caso aconteça possa ter um atendimento mais efetivo.. Essas
sugestões estão contidas na:
Tabela n.º 04
Sugestões de ações na prevenção de situações que causam desastres n.º de respostas
Palestras realizadas pela defesa civil e o CBMPa junto a comunidade 59
Os moradores precisam ter mais atenção na sua casa na prevenção de
acidentes, principalmente com as crianças
26
Urbanização e criar condições de infra-estrutura, melhorar as ruas para que os
bombeiros possam entrar.
12
Integrar o a defesa civil e o CBMPa com a comunidade dessas áreas 08
Melhor manutenção da rede elétrica 04
Palestras da defesa civil, CBMPa e a Prefeitura de Belém 03
Visitas do CBMPa aos comércios e casas da comunidade 02
Distribuir panfletos educativos 02
Visitas do CBMPa à comunidade 02
O Centro Integrado de Operações – CIOp - precisa atender melhor a
população
02
76
A avaliação dos moradores sobre o desempenho (ação de socorro) do CBMPa no
atendimento do incêndio foi: 47% consideraram insuficiente e 34% acharam regular (ver
gráfico 08). As justificativas dessa avaliação estão contidas na:
Tabela n.º 05
Avaliação do desempenho operacional do CBMPa n.º de respostas
Os carros dos bombeiros chagaram atrasados e não conseguiram
apagar o incêndio, salvar nossas casas e nossos bens
25
Faltou água no carro dos bombeiros e não tinham material para puxar
água do Tucunduba, foi necessário chamar os caminhões da
FUNVERDE.
59
Os Bombeiros ficaram “perdidos” e não sabiam o que fazer 09
As mangueiras estavam furadas e não conseguiram chegar ao local
onde as casas estavam pegando fogo.
13
Falta de acesso nas ruas para que os carros do bombeiro chagassem
perto do fogo.
14
O Corpo de Bombeiros não nos deu atenção porque somos pobres, no
incêndio do Líder, fizeram tudo rápido.
03
O CIOP não acreditou nos telefonemas dos moradores da
comunidade, achou que fosse um trote.
07
Foi eficiente no pouco que fez, não houve vítimas fatais. 15
Apesar da falta de material e do difícil acesso ao local, conseguiram
salvar as outras casas.
02
Os Bombeiros ajudaram a retirar os objetos do local do incêndio ,
apesar dos móveis colocados no meio da rua pela população,
impedindo a chegada dos carros.
04
77
Gráficos demonstrativos da pesquisa de campo na ocupação / invasão Riacho Doce
Gráfico 01 – SEXO
Gráfico 02 – ESTADO CIVIL
M AS C U L IN O3 6 %
F E M IN IN O6 4%
6 2 %
1 %1 % 1 % 2 %
3 3 %
D I V O R C IA D O V IÚ V OS E P A R A D O U N IÃ O E S T Á V E LC A S A D O S O L T E I R O
78
Gráfico 03 – FAIXA ETÁRIA
Gráfico 04 – ESCOLARIDADE
10%
11%
55%
12%12%
E N SIN O M É D IO C O M P LET OE N SIN O M É D IO IN C O M P LET OE N SIN O FU N D AM E N T AL C O M P LE T OE N SIN O FU N D AM E N T AL IN C O M P LE T OAN ALFAB E T O S
1 5 - 2 0 A1 3 %
2 0 - 3 0 A4 0 %
5 0 - 6 0 A2 0 %
3 0 - 4 0 A2 4 %
6 0 - 7 0 A3 %
1 5 - 2 0 A 2 0 - 3 0 A 3 0 - 4 0 A 5 0 - 6 0 A 6 0 - 7 0 A
79
Gráfico 05 – TEMPO DE MORADIA
Gráfico 06 – Nº DE HABITANTES POR RESIDÊNCIA
1 - 5 a n o s3 3 %
5 - 1 0 a n o s1 5 %
1 0 - 1 5 a n o s5 2 %
1%11%
48%
39%
1%
1-5 Hab 5-10 Hab 10-15 Hab 15-20 Hab 20-25 Hab
80
Gráfico 07 - Conhecimento sobre situação ou fenômeno que podem causar
desastres:
Gráfico 08 - Avaliação do desempenho (ação de socorro) operacional do CBMPa:
3 4 %
1 2 %7 % 4 7 %
IN S U F IC IE N T E
R E G U L A R
B O A
Ó T IM A
S I M6 2 %
N Ã O3 8 %
81
3.4.3 Resultado da pesquisa na Defesa Civil
Dos 21 profissionais de Defesa Civil entrevistados 33% eram civis e 67% eram
bombeiros militares. (gráfico nº 09). O tempo de serviço que predominou foi de 5-10 anos o
que equivale a 55% (gráfico nº 10)
Desses 21 entrevistados 67% disseram possuir algum curso que os habilite a atuar
pela defesa civil e 33% disseram que não possuíam conhecimentos para atuar nessa área
(gráfico nº 11). As justificativas apontadas pelos entrevistados estão na:
Tabela n.º 06
Avaliação sobre o Sistema de Defesa Civil n.º de respostas
Melhorar o atendimento à população 09
O Coordenador adjunto discute com os seus subordinados sobre
Defesa Civil
05
Os profissionais técnicos em Defesa Civil não repassam o
conhecimento para seus subordinados
04
A CEDEC deveria realizar palestras com o pessoal que trabalha no
setor para discutir a forma de atuação da Defesa Civil
03
Os profissionais de defesa civil entrevistados avaliaram que o desempenho do
CBMPa no atendimento dessa ocorrência foi regular com 42%, bom com 29% e insuficiente
com 24%(ver gráfico n.º 12). As principais justificativas foram:
Tabela n.º 07
Avaliação do desempenho operacional do CBMPa n.º de respostas
Os procedimentos na operação não obedeceram a nenhum tipo de
organização tática operacional
04
Devido a ausência de um trabalho preventivo nessas áreas o resultado foi
abaixo do esperado
02
Falta de um estudo aprofundado e de medidas adequadas no campo
preventivo
03
Falta de material operacional para atender a ocorrência 03
Ocorrência atípica, pelas proporções de tamanho e suas conseqüências 01
Dificuldade de acesso dos carros no local, fiação baixa 04
Dificuldade de abastecer as viaturas 03
82
Faltou comunicação entre os comandantes da operação, as ordens eram
desencontradas.
02
O CIOP não repassou as informações corretas para a guarnição do BM 02
As ações foram integradas e o resultado foi eficaz 05
Foi evitado o alastramento do incêndio para as outras residências 02
Os profissionais da defesa civil entrevistados enfatizaram ainda sugestões diversas,
consideradas pelos mesmos como fundamentais, e que precisam ser implantadas pelo Comando
do CBMPa para que as ocorrências de desastres em AAS possam ser atendidas de maneira
mais efetiva. Essas sugestões foram:
Tabela nº 08:
Sugestões para a atuação operacional do CBMPa nas AAS N.º de respostas
Elaboração de um Plano Operacional com medidas preventivas e de
atuação para essa áreas
04
Treinamento operacional periódico para o efetivo para o atendimento
dessas ocorrências
05
Discussão e implantação desse tipo de planejamento estratégico no CBM 02
Construção de mais OBM’s na cidade de Belém 02
A Defesa Civil deve ser mais eficiente no atendimento dessa ocorrência,
realizando cursos e treinamentos periódicos com o efetivo do CBM
01
Seguir as considerações observadas na Política de Defesa Civil 05
Treinar os atendentes do CIOP para avaliar adequadamente as chamadas
da população
03
Criação de um programa educativo para atuar nessas comunidades entre
CBMPa e PMB
02
Avaliação do atendimento operacional desde o CIOP até as OBM’s e a
Defesa Civil
03
Nota-se que os resultados dessas entrevistas, apesar das diferenças sociais,
econômicas, políticas e culturais entre as populações consultadas (moradores de uma área que
foi atingida por um incêndio que ocasionou a perda total dos poucos bens materiais
conquistados com muita dificuldade, em função de vida de exclusão social e profissionais
83
civis e militares que são treinados dentro de uma missão institucional que enfatiza vidas
alheias e riqueza salvar), falam de um ponto em comum: a necessidade urgente da
implantação de uma Proposta de Intervenção do CBMPa, diretamente relacionada ao
atendimento dessas áreas em casos de incêndio ou outros tipos de ocorrência. Contudo,
conclui-se que o presente trabalho não poderia limitar-se apenas a apresentação de uma
proposta teórica, mas que, principalmente, indicasse caminhos.
Logo, somou-se todo o saber trazido pelos depoimentos dos membros da
comunidade atingida com as análises e sugestões técnicas dos profissionais de defesa civil,
muitos dos quais bombeiros, que participaram da ocorrência, e construir uma Proposta com as
perspectivas preventiva - educativa e operacional específica para AAS. Contudo, esse fato só
tornou-se possível em função da Política Nacional de Defesa Civil, instrumento norteador da
atuação do Sistema Nacional de Defesa Civil, assegurar e incentivar a criação de novos
mecanismos de atendimento técnico-preventivo/operacional para as novas demandas sociais
que as cidades apresentam entre as quais podemos categorizar as AAS.
Desse modo, todo esse processo teórico - metodológico possibilitou a construção
de um Projeto de Implantação de Núcleos Comunitários de Defesa Civil para AAS da cidade
de Belém, atuando no campo preventivo, através da proposta de um programa educativo em
parceria com as lideranças comunitárias realizado através palestras. Essa proposta
apresentaria diretrizes de atuação para o funcionamento e articulação desses NUDEC’s.
84
Gráficos demonstrativos da pesquisa com os profissionais da Defesa Civil
Gráfico 09 – Demonstrativo de Civis X Bombeiros Militares
Gráfico 10 – Tempo de Serviço
B O M B E IR O SM IL IT A R E S
6 7 %
C IV IS3 3 %
55%40%
5%
5-10 ANOS11-20 ANOSAcima de 20 Anos
85
Gráfico 11 – Conhecimento Técnico em Defesa Civil
Gráfico 12 – Avaliação do desempenho (ação de socorro) operacional do CBMPa:
N Ã O3 3 %
S I M6 7 %
S I M N Ã O
INSUFICIENTE24%
REGULAR42%
BOM29%
ÓTIMO5%
INSUFICIENTE
REGULAR
BOM
ÓTIMO
86
3.4.4 Análise da situação do Incêndio ocorrido na Comunidade do Riacho
Doce
Construiu-se essa análise, apresentando algumas hipóteses através da mesclagem
do saber técnico da profissão bombeiro militar, da fala presente nos depoimentos dos
moradores do Riacho Doce atingidos pelo incêndio e do efetivo do CBMPa que atuou no
atendimento dessa ocorrência. Contudo, antes de iniciar essa análise enfatiza-se que nosso
objetivo é principalmente justificar a urgência da implantação da Proposta de Implantação de
NUDECs para AAS da cidade de Belém.
Assim, inicia-se mostrando que, em relação ao atendimento da ocorrência as
principais dificuldades observadas pelo efetivo operacional entrevistado foram:
a) Os procedimentos na operação não seguiram as normas da diretriz
operacional em vigor no CBMPA:
Esse fato, segundo o relato dos militares, pode ter comprometido a Cadeia de
Comando Operacional e influenciado diretamente no desenvolvimento do atendimento da
ocorrência, podendo ter comprometido as ações de combate ao incêndio e controle de pânico.
Os militares ainda evidenciaram que, em alguns momentos, não havia uma seqüência lógica
de ordens, faltando certa sincronia operacional.
Moradores entrevistados disseram que observaram durante o combate ao incêndio,
alguns bombeiros “perdidos”, como se naquele momento tivessem dificuldade de elaborar
uma solução. Sobre esse fato podemos inferir, por exemplo, a ausência de um Plano
Operacional Específico para atender essas AAS nos casos de incêndio e principalmente a
necessidade da criação de Diretrizes Operacionais que possam ser mais discutida com o
efetivo das Organizações de Bombeiros e que seus procedimentos possam ser sempre
utilizados em ocorrências.
b) A ausência de um trabalho preventivo do CBMPa e do Poder Público
nessas AAS:
O pânico tornou-se generalizado nessa ocorrência, muitas famílias, segundo relato
dos moradores e dos militares, corriam sem rumo, retiram seus bens materiais das casas,
colocando-os principalmente no meio da Rua da Olaria, a única via de acesso que permitia a
chegada dos carros dos bombeiros até o local do incêndio.
87
Assim, toda a tentativa de chegar até o local do incêndio pelo CBMPa foi efetivada
pela Rua da Olaria, que possuía uma ponte de madeira que foi atingida pelo fogo. As outras
vias paralelas eram pequenas para entradas das viaturas, que também teve seu acesso
impedido por piquetes que são constantemente colocados pela população no início e final
dessas vias, principalmente as que já foram pavimentadas na ocupação/invasão. (conforme
fotos nº 05 e 06 ).
c) Falta de água no momento da ação de combate a incêndio:
Sabe-se que a maioria das casas era de madeira, material de fácil combustão,
devendo ainda considerar o vento forte no local, conforme relato dos bombeiros. A soma
desses fatores contribuiu sobremaneira para a aceleração da combustão e que fogo se
propagasse rapidamente, queimando mais de 100 edificações.
Nessa ocorrência, como não havia hidrantes urbanos, houve a necessidade do
acionamento de 02 caminhões da FUNVERDE, fato realizado pela Coordenação do PDL RD
e P. Nessa área existem, alguns pontos de abastecimento como: UFPa e o Igarapé do
Tucunduba. Contudo, em função da ausência de um plano de contingência que especificasse
preliminarmente esses pontos para o efetivo dos bombeiros, os mesmos tiveram dificuldade
de suprir a falta de água nas viaturas.
Segundo o efetivo operacional a presença desses caminhões não conseguiu
resolver amplamente o problema da falta de água, em função da insuficiência de mangueiras
ou pela precariedade de algumas, comprometendo o abastecimento dos carros dos bombeiros
e consequentemente na atuação do combate ao incêndio.
d) Recursos Operacionais:
As viaturas utilizadas nessa ocorrência segundo relatório do CIOP n.º 157/ 2001
foram ABT, ABI, AT (03),APM, ACA e Resgate (04), a primeira viatura que chegou foi
uma AT do 1º GBM e logo depois uma ABI do 7º SGBM/I. Contudo, pode-se inferir que não
foram suficientes para suprir a demanda desse incêndio em função dos fatos já relacionados
acima.
88
Em relação ao atendimento do Centro Integrado de Operações:
Os moradores enfatizaram que fizeram várias chamadas para o CIOP e os
atendentes segundo o relato dos moradores inferiram que seria um trote. A primeira chamada
foi feitas às 14h19min, a primeira viatura a chegar foi uma AT do 1º GBM às 14h25min, com
um tempo resposta de 7 minutos. Pode-se inferir que muitos moradores entraram em pânico,
pelo desconhecimento de como agir em uma situação de emergência, fato que pode ter
prejudicando a transmissão de informações para o CIOP.
O contingente operacional relacionou nas entrevistas que o CIOP não repassou os
dados mais específicos sobre ocorrência, o que remete a necessidade urgente da implantação
de um Plano de Contingência conforme apresentado na proposta desse trabalho específico
para essas áreas permitindo que antes de uma ocorrência o efetivo operacional já conheça a
sua infra-estrutura e os recursos que estão em seu entorno em caso de desastre.
f) Em relação ao Poder Público:
A necessidade urgente do Poder Público criar programas de urbanização dessas
áreas, englobando saneamento básico, asfaltamento das vias de acesso, com largura mínima
de 5 m, padronização da rede elétrica, muitos bombeiros disseram que a fiação em algumas
áreas da Rua da Olaria era bastante baixa e o posteamento construído de maneira irregular,
criando obstáculos para a circulação principalmente de viaturas, do efetivo e de seus materiais
no momento da ação de resposta imediata.
Os dois grupos entrevistados colocaram a necessidade urgente do Poder Público
Municipal e Estadual criar uma rede de trabalho integrado no momento dessas ocorrências,
pois diferenças políticas e ideológicas acabam muitas vezes prejudicando principalmente a
população atingida ( Confome foto nº 07).
g) Em relação a Defesa Civil:
Os dois grupos entrevistados enfatizaram a sugestão que o trabalho das Defesas
Civil Estadual e Municipal possa ser realizado de maneira mais integrada, e que sua atuação
não fique restrita somente a uma ação interventiva, mas que possa configurar, talvez em um
trabalho conjunto educativo para essas populações.
89
Conclui-se que o somatório da análise do incêndio ocorrido e de todas essas
entrevistas, possibilitou a construção de instrumentos que nos trouxeram como resultado essas
hipóteses que após serem avaliadas e discutidas pelos órgãos que compõem o Sistema
Nacional de Defesa Civil, possibilitará que o trabalho a ser desempenhado por esse sistema
alcance todos os aspectos previstos na Política Nacional de Defesa Civil no atendimento à
essas áreas que, comprovadamente, apresentam elevado grau de vulnerabilidade a desastres.
Foto 05: A falta de um Plano Emergencial trouxe muitos transtornos para os bombeiros e moradores da AAS Riacho Doce. Algumas viaturas não chegaram até o local, pois as pontes de acesso haviam sido destruídas pelo incêndio. Muitas famílias tiveram dificuldades para abandonar o local.
Foto 06: O incêndio atingiu mais de cem casas. Em alguns casos o socorro não chegou porque o acesso foi obstruído pelos próprios moradores que desconheciam procedimentos de segurança básicos em caso de emergência.
90
Foto 07: Na avaliação da comunidade Riacho Doce as reuniões entre o poder público estadual e municipal para tratar de assuntos relativo as questões voltadas às comunidades que moram em AAS devem ocorrer mais freqüentemente. Não somente em casos extraordinários como ocorreu no dia do incêndio.
Foto 08: Embora, aparentemente os alojamentos construídos pela PMB apresentem boas condições de moradia, as vítimas do incêndio que ocupam esses alojamentos demonstraram insatisfação com os órgãos públicos que atuaram no atendimento às suas famílias.
91
Capítulo IV – Proposta de Implantação de Núcleos Comunitários de Defesa
Civil para AAS da cidade de Belém: tendo como enfoque a AAS Riacho Doce
4.1 Objetivos:
Possibilitar a CEDEC e a COMDEC-BL a elaboração de um estudo estratégico e
técnico sobre a avaliação de riscos de desastre nas áreas de AAS da cidade de Belém;
Mostrar em forma de relatório um diagnóstico preliminar das AAS abrangendo
toda área do assentamento ocupada observando todos os pontos necessários para que se possa
estabelecer critérios de prioridade na implantação desses NUDECs.
Possibilitar que ação da defesa civil, no que tange aos aspectos relativos a
prevenção; preparação; resposta e reconstrução nessas AAS, seja efetivada de maneira
eficiente conforme as considerações da Política Nacional de Defesa Civil.
Promover a interação entre a comunidade dessas áreas e a Defesa Civil, através de
Palestras e Treinamentos a fim de envolvê-las no sentido de mostrar que é possível realizar
mudanças quanto à realidade local vivida por esses moradores através dos NUDECs.
4.2 Condições para a implantação dos NUDECs:
As ações para a implantação dos NUDECs em AAS serão iniciadas através de um
planejamento, começando com a nomeação de uma comissão multidisciplinar a fim de
proceder um estudo de avaliação de riscos de desastres nessas áreas tomando como base o
Manual de Planejamento em Defesa Civil (Volumes I, II, III, IV e V). Ressalta-se que é
imprescindível a participação plena das lideranças e membros da comunidade em todas as
etapas de implantação dos NUDECs.
É de fundamental importância enfatizar-se a necessidade de um diagnóstico,
mesmo preliminar, a fim de se estabelecer critérios de prioridades para a implantação dos
NUDECs nessas áreas, pois através da avaliação de riscos de desastres pode-se ter uma
dimensão real dos riscos a que estão sujeitos os moradores das 49 (quarenta e nove) Áreas de
Assentamento Subnormal existentes na cidade de Belém (CODEM/1994). Esse diagnóstico
será coordenado pela CEDEC e COMDEC-BL tendo como pontos bases suas respectivas
sedes e deverão ter o apoio do Comando Operacional dos Bombeiros e da Diretoria de
92
Serviços Técnico, de modo que se possa ter, ao final do estudo, um levantamento detalhado
das características de tais AAS e, a partir de então, se possam adotar os critérios julgados
necessários para a implantação.
4.3 Metodologia:
A avaliação de riscos de desastres é uma metodologia de planejamento, com
características de estudo de situação, que tem por finalidade identificar os desastres potenciais
de maior prevalência e caracterizar a importância dos mesmos, em função da:
- probabilidade de ocorrência;
- estimativa dos danos previsíveis, caso o desastre se concretize.
A avaliação de risco de desastres desenvolve-se por intermédio dos seguintes
estudos:
- análise da variável ameaça;
- análise da variável vulnerabilidade;
- síntese conclusiva sobre a estimativa de riscos.
Ao se analisar a variável ‘ameaça’, procura-se identificar e caracterizar os
acontecimentos e eventos adversos, enquanto potenciais, em termos de probabilidade de
ocorrência e das magnitudes prováveis.
Ao se analisar a variável ‘vulnerabilidade’, procura-se identificar e caracterizar quais
são os corpos receptivos e sistemas receptores vulneráveis aos efeitos desfavoráveis dos
eventos adversos, os quais podem ser de ordem física, química, biológica e psicológica.
Ao se concluir o estudo de situação, chega-se a uma síntese através da qual estima-se
os riscos, ou seja, a intensidade dos danos e prejuízos previstos, em termos de probabilidade
estatística de ocorrência e grandeza das conseqüências possíveis. A partir dos resultados
desses estudos já se pode estabelecer critérios de prioridades para a implantação dos
NUDECs.
Considerando o Manual de Planejamento em Defesa Civil (Volume I), pode-se
afirmar que, doutrinariamente não existe risco zero ou ausência de riscos e, como já se
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verificou no presente trabalho que essas AAS apresentam elevado grau de vulnerabilidade, e,
portando, são áreas extremamente suscetíveis a diversas ameaças, ao final do processo de
avaliação de riscos alcança-se o objetivo concluindo-se sobre:
- o grau de probabilidade de que determinadas ameaças se concretizem nessas AAS;
- a provável magnitude das mesmas;
- os prováveis danos e prejuízos que poderão ocorrer, caso essas ameaças se
concretizem, com determinadas magnitude, nas condições dos cenários analisados.
Segundo o Manual de Planejamento em Defesa Civil (Volume - I) em função dos
resultados das estimativas, os riscos são hierarquizados, de acordo com escalas comparativas
que variam entre I e V com os seguintes significados:
- Nível de Risco I (mínimo) caracteriza-se por ser muito pouco provável ou
insignificante;
- Nível de Risco II (pequeno) caracteriza-se por ser pouco provável ou pouco
significante;
- Nível de Risco III (médio) caracteriza-se por ser medianamente importante ou
significativo Importante;
- Nível de Risco IV (grande) caracteriza-se por ser importante e
- Nível de Risco V (muito grande) caracteriza-se por ser muito importante.
Assim, de acordo com os resultados obtidos nessa última etapa do estudo de
situação, relacionado com avaliação de riscos de desastres pode-se estabelecer como
prioridade para receber a implantação de NUDECs a AAS que apresentar o Nível de Risco
mais elevado.
Após realização, tabulação e interpretação do diagnóstico de cada AAS, através da
análise de relatório, e levantamento dos dados relacionados à avaliação de riscos de desastres
realizados através de visitas In loco, será construída uma proposta de um Programa de
Implantação de NUDECs, obedecendo a um critério de prioridade com o objetivo de facilitar
a utilização dos recursos disponíveis.
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Situações que não estejam contempladas nesse conjunto serão analisadas e
gerenciadas pela CEDEC e COMDEC – BL, bem como pela comissão multidisciplinar por
ocasião do estudo de avaliação de riscos nas AAS;
Sugere-se ao Poder Público que sejam criados novos projetos de infra-estrutura e
urbanísticos para essas áreas, e que essa proposta de Implantação de Núcleos Comunitários de
Defesa Civil em Áreas de Assentamento Subnormal da cidade de Belém seja avaliada e
possivelmente inserida nesses projetos. Ressalta-se o Projeto que foi desenvolvido pelo Plano
de Desenvolvimento Local – PDL para essas AAS, a exemplo do que acontece na
ocupação/invasão Riacho Doce, no qual o PDL desenvolveu um Projeto Habitacional, de
Esgotamento Sanitário, Geométrico do Sistema Viário, Abastecimento de Água, de
Pavimentação, Sinalização, de Drenagem.
4.4 Proposta para elaboração de um Programa de Palestras:
Com o objetivo de esclarecer as comunidades a serem visitadas pela comissão
multidisciplinar, julga-se importante sugerir a CEDEC e COMDEC – BL que elabore um
programa de palestras educativas para as AAS da cidade de Belém, em parceria com órgãos
públicos, instituições particulares e ONG’s, a fim de esclarecer sobre a importância dos
NUDECs, bem como orientar os moradores dessas áreas quanto a necessidade de se
estabelecer comportamentos preventivos para a minimização dos riscos, desastres e outros
pequenos acidentes; além de sensibilizar e estimular esses moradores para a prática diária
desses comportamentos preventivos;
a) Metodologia:
O conteúdo programático será ministrado através de palestras e treinamentos
práticos;
O local, data, período e a escolha dos facilitadores ficará a cargo das instituições
responsáveis pela implementação e desenvolvimento da proposta;
Deverão participar dessas palestras e treinamentos práticos moradores da AAS da
cidade de Belém;
Sugere-se que após as palestras e treinamentos práticos, todos os participantes
recebam certificados de participação.
95
b) Conteúdo Programático:
Dentre os vários materiais pesquisados sobre NUDECs, encontra-se o Manual de
Formação de NUDECs elaborado pela Sra. Rejane Lucena e por considerar o mais adequado
para as palestras iniciais a serem ministradas às comunidades de AAS e inseriu-se, na íntegra,
alguns pontos para fazer parte do conteúdo programático ora proposto:
O que são Núcleos Comunitários de Defesa Civil.
Os NUDEC´s são Núcleos Comunitários de Defesa Civil, cuja finalidade é
desenvolver um processo de orientação permanente junto à população tendo como principal
objetivo a prevenção e minimização dos riscos de desastres nas áreas de maior
vulnerabilidade nos municípios.
Os NUDEC´s estabelecem um elo formal entre as COMDEC´s responsáveis pelas
ações de Defesa Civil nos municípios e a população. Favorecendo a co-gestão no
planejamento e execução das ações, disseminando o princípio da prevenção no tocante às
áreas de risco.
Este princípio está pautado na Política Nacional de Defesa Civil que estabelece
em sua sétima diretriz o seguinte:
“Implementar a interação entre os órgãos do governo e a comunidade,
especialmente por intermédio das Comissões Municipais de Defesa Civil – COMDEC´s e dos
Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUDEC´s, com a finalidade de garantir uma
resposta integrada de toda a sociedade”.
96
Por que os NUDEC´s são importantes ?
• Promove a integração entre a Defesa Civil e a Comunidade,
aproximando e estimulando a população para participação e construção de uma cultura
voltada a prevenção de riscos.
• Possibilita um planejamento participativo, estimulando a socialização
de experiências, bem como o acesso da comunidade às ações desenvolvidas pela Defesa
Civil.
• Viabiliza espaços participativos e democráticos na comunidade,
articulando os diversos atores sociais para a consolidação de um plano que vise a
construção de princípios para uma melhor convivência com o meio ambiente local.
• Favorece ao indivíduo seu crescimento como ser humano e a sua
integração, consciente e atuante, na comunidade em que vive.
• Envolve a comunidade no sentido de acreditar numa mudança quanto a
realidade local, promovendo espaço para uma construção coletiva, assegurando a
ampliação dos espaços de discussão, tendo perspectiva a prevenção e redução dos riscos
e desastres.
Pontos positivos na implantação dos NUDEC´s
• Disposição e Integração da equipe técnica governamental para realização das
atividades.
• Parcerias com Coordenadorias Estaduais e Municipais de Defesa Civil, Corpo
de Bombeiros e outras instituições que desenvolvam ações voltadas para, segurança pública,
áreas sociais, obras públicas e meio ambiente almejando realizações de cursos, capacitações,
treinamentos, mediante demandas levantadas pelos integrantes dos NUDEC´s e observadas
pela equipe técnica.
• Descentralização das decisões, a partir do envolvimento da comunidade.
• Continuidade no desenvolvimento das ações propostas.
• Monitoramento das ações em caráter permanente.
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• Interação do grupo de líderes e membros da comunidade com a equipe técnica
para a elaboração do planejamento, considerando os seguintes aspectos da Política Nacional
de Defesa Civil:
1. Prevenção de desastres.
2. Preparação para emergência e desastres.
3. Resposta aos desastres.
4. Reconstrução.
• Preparação dos membros voluntários para o enfrentamento de desafios emergenciais e
preventivos (capacidade para solucionar problemas).
• Avaliação permanente das ações planejadas (metas-execução)
Quem pode participar do NUDEC ? Todos os membros que formam a comunidade podem envolver-se na construção
do Núcleo Comunitário de Defesa Civil.
Contudo, sabe-se que as ações espontâneas, inerentes a cada cidadão, são, muitas vezes, retraídas, devido uma espera natural pela iniciativa do Poder Público em fazer com que a proposta seja realizada.
Com base neste contexto, se faz necessário partir da realidade local em que se
pretende atuar, investindo-se na efetivação de um processo que favoreça a integração da família, da igreja, da escola e toda a comunidade.
Desta forma, haverá um incentivo ao desenvolvimento do senso crítico, visando a
formação de cidadãos capazes de intervir direta e positivamente sobre a sua realidade. Para isto, deve-se conjugar esforços para minimização das ameaças, das vulnerabilidades e dos desastres, decorrentes em sua maioria, de ações destrutivas ao meio ambiente.
Trata-se, portanto, de promover a mobilização e sensibilização da comunidade
para que ela possa apropriar-se das potencialidades e dos problemas referentes ao seu meio ambiente local, possibilitando o despertar para o enfrentamento das problemáticas de risco que afetam os cidadãos de forma individual e coletiva.
Qual o papel da COMDEC no processo mobilização e sensibilização dos
NUDEC´s? De acordo com o artigo 13 do Decreto nº 5.376 de 17 de fevereiro de 2005, inciso
XIX, “compete as COMDEC´s promover a mobilização comunitária e a implementação de
98
NUDEC´s, ou entidades correspondentes especialmente nas escolas de nível fundamental e
médio e em áreas de riscos intensificados e ainda, implantar programas de treinamento de
voluntários”.
Neste sentido, no que tange a sensibilização para a formação do NUDEC, e a garantia de uma boa receptividade por parte da comunidade obtendo uma repercussão proveitosa e ao mesmo tempo qualitativa no processo de interação junto aos partícipes, a COMDEC necessita estar bem organizada e em condições de formular um planejamento com ações permanentes, despertando com isso a credibilidade na comunidade, contribuindo com a legitimação da proposta que se apresenta.
É importante que a COMDEC esteja aberta ao desenvolvimento de um
planejamento participativo, voltando-se para a concretização de atividades, com base nos acordos estabelecidos no grupo.
O ponto de partida será principalmente as necessidades prementes da
comunidade, no que refere aos riscos. Daí a importância de interagir com os moradores a fim de realizar um diagnóstico dos problemas relativos a realidade local, para mais uma vez, construir-se coletivamente pressupostos de gestão integrada, quanto ao controle e redução dos riscos nos assentamentos humanos.
c) Resultados Esperados:
A conscientização dos moradores de AAS da cidade de Belém quanto a
importância da implantação de NUDECs em suas comunidades.
d) Recursos Humanos e Materiais:
Ficarão a cargo das instituições que devidamente integradas com as comunidades
que habitam essas AAS serão os responsáveis pela implementação e desenvolvimento do
programa.
Essa proposta deverá ser realizada em sistema de parcerias entre o Poder Público e
a CEDEC, COMDEC - BL.
Propõe-se que o conteúdo programático apresentado nessa proposta possa ser
transformado em uma cartilha para ser distribuída para as comunidades dessas áreas de
assentamento subnormal para discussão durante as palestras.
99
4.5 - Proposta de um modelo de diagnóstico preliminar para AAS da cidade
de Belém:
Com o objetivo de possibilitar a CEDEC e COMDEC – BL a construir um
diagnóstico preliminar englobando a revisão de recursos existentes, dados físicos, estruturais e
sociais nas AAS, a fim de permitir uma ação de atendimento mais rápido e eficaz em casos de
desastres, elaborou-se esta proposta que contribuirá para que os órgãos de resposta do Sistema
de Segurança Pública possam ter um conhecimento preliminar das principais características
dessas áreas, tendo como resultado uma ação rápida e efetiva quando no atendimento de
ocorrências a essas comunidades.
Considerando a análise realizada da situação do incêndio ocorrido na AAS Riacho
Doce e tendo em vista o resultado da pesquisa no que se refere à avaliação das ações de
socorro realizadas com os profissionais do CBMPa e Defesa Civil construiu-se um exemplo
desse diagnóstico através de uma planilha de informações previamente preenchida da área de
ocupação/invasão Riacho Doce com a intenção de que esse levantamento preliminar possa
servir de referência para o atendimento as outras AAS da cidade de Belém.
a) Metodologia:
A metodologia de preenchimento dos dados da planilha de informações deverá ser
elaborada e coordenada pela CEDEC com o apoio da COMDEC – BL.
b) Resultados previstos:
Maior empenho e desempenho do efetivo operacional dos órgãos o Sistema de
Segurança Pública nas ações de resposta, no atendimento de ocorrências na ocupação/invasão
do Riacho Doce;
Diminuição da incidência de danos materiais, financeiros, sociais e ambientais
nessas AAS nos casos de desastres;
Utilização pelo CIOP, que é o órgão que coordena as ações de socorro do Corpo
de Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Civil, da planilha de informações dessa AAS no
atendimento integrado a essas áreas.
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4.6 - Planilha de Informações:
Tabela nº 09
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Pará
Comissão Municipal de Defesa Civil – Belém
Planilha de Informações
Nome da AAS: Ocupação Riacho Doce Bairro: Guamá
Data de Instalação da AAS: março de 1990
Possui Núcleo de Defesa Civil – NUDEC ( ) sim ( X ) não
Caso possua NUDEC informar os dados do representante:
Nome:
Endereço Fone:
N.º de habitantes: 6.947 habitantes
N.º de residências de madeira: 1.164 unidades
N.º de residências em alvenaria: 153 unidades
N.º aproximado de famílias: 1.388
Principais vias de acesso: Rua da Olaria e Marginal do Tucunduba
Ruas internas principais: ainda não existe vias de acesso adequadas. Existe um Plano de
Desenvolvimento Local -PMB que está viabilizado a urbanização dessa área.
Principais vias de acesso: Rua da Olaria e Marginal do Tucunduba
Levantamento de Escolas, Entidades Religiosas, Associações, Clubes:
Hospital, Clínicas e Ponto Socorro, Unidades de Saúde: Hospital Bettina Ferro de Souza,
Pronto Socorro do Guamá, Posto do Programa Família Saudável, Unidade de Saúde da Sespa.
Delegacia mais próxima do assentamento: DP do Guamá
Unidade da PM mais próxima do assentamento: QCGPM
OBM mais próxima do assentamento: 1º GBM
Tempo –Resposta da OBM até o assentamento: aproximadamente 7 minutos
Levantamento das áreas críticas: no momento esses dados não foram levantados.
Lideranças comunitárias: Sra. Maria Edna Rodrigues Telefones :249 20 30
Observações gerais.:
Preenchida por: Belém, / /
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Capítulo V – Considerações Finais
Concluí-se o presente trabalho dizendo que sua construção teórico-metodológica
deu-se de maneira participativa e intersubjetiva, somando saberes diversos, ou seja, o
depoimento de 120 moradores atingidos pelo incêndio atualmente residindo em alojamentos
construídos pela PMB (conforme foto nº 08), o depoimento de 21 profissionais civis e
militares que participaram do atendimento dessa ocorrência, as intervenções dos nossos
orientadores e ainda da nossa experiência enquanto profissionais de segurança pública,
trazendo olhares diferenciados: de uma perspectiva operacional e a do saber especializado na
área das Ciências Sociais.
Assim, todo esse processo de construção deu origem a um fato concreto que é a
necessidade da idealização e criação de uma Proposta elaborada pela Coordenadoria Estadual
de Defesa Civil, baseada na Política Nacional de Defesa Civil, que atendesse especificamente
as Áreas de Assentamento Subnormal – AAS - da cidade de Belém. Logo, essa necessidade
que se tornava eminente a cada dia de elaboração desse trabalho, nos levou a apresentar uma
Proposta de Implantação de Núcleos Comunitários de Defesa Civil- NUDECs - para AAS da
cidade de Belém, atuando principalmente na perspectiva de redução de desastres abrangendo
os seguintes aspectos globais: prevenção de desastres; preparação para emergências e
desastres; resposta aos desastres e reconstrução.
Enfatiza-se, contudo, que essa proposta só tornou-se possível pelo fato da Política
Nacional de Defesa Civil em consonância com o Decreto 5.376 de 17 de fevereiro de 2005,
que dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC e o Conselho Nacional de
Defesa Civil, e dá outras providências, apresentar considerações sobre a necessidade de se
promover a mobilização comunitária e a implantação de NUDECs, ou entidades
correspondentes, especialmente nas escolas de nível fundamental e médio e em áreas de riscos
intensificados e, ainda, implantar programas de treinamento de voluntários. Além disso, o
mesmo Decreto, em seu Art.14. e seus respectivos parágrafos deixa claro como funcionam e
são coordenadas as ações de defesa civil pelos NUDECs.
102
Considera-se importante ressaltar que um dos pontos fundamentais dessa proposta
é a solicitação ao Poder Público Estadual e Municipal da construção e implantação dos
Programas de Urbanização e Infra-estrutura que melhor estruture essas AAS, pois entende-se
que programas desse nível serão de suma importância para a motivação desses moradores no
sentido de mudar seus comportamentos no que se refere as questões prevencionais e,
principalmente, evitando que tantas famílias, como parte das vítimas que até hoje moram nos
alojamentos construídos pela PMB, vejam seus sonhos e concretizações perdidos. Durante as
entrevistas com os moradores, verificou-se que a grande maioria residia desde o inicio da
ocupação, que se deu em 1990. Logo, os bens perdidos nesse incêndio foram construídos com
muita luta e sacrifício nesses anos de moradia em uma área em que as condições de vida são
insalubres.
Esses indivíduos que perderam tudo nesse incêndio são cidadãos numa sociedade
que os exclui, que os marginaliza social e economicamente, empurrando-os para fora do
mercado de trabalho e da produção antes mesmo de nascerem, e que, ao nascerem, são
colocados na sociedade marcados por um estigma que os diferencia, como aqueles que
nascem à parte, na periferia, um local classificado, como além de todas as possibilidades de se
ter uma vida digna, de viver sua cidadania e, portanto, sujeitos a todos os tipos de riscos.
Os profissionais do Sistema de Segurança Pública, sejam Agentes de Defesa Civil,
Bombeiros, Policiais Civis ou Militares, têm uma responsabilidade social, principalmente com
todos aqueles que hoje estão alijados dos direitos básicos da cidadania. Enfatiza-se que esse
caminho foi aprendido nas discussões diárias no Curso de Especialização em Planejamento e
Gestão em Defesa Civil, que abriu um leque de possibilidades de reflexões sobre a vida e a
atuação profissional ao aliar Cidadania e Defesa Civil. Contudo, que essa possibilidade de
atuação mais humanizada e dentro de uma visão holística também possa ser implantada no
campo institucional, dos Estados de todo o Brasil.
Voltando o olhar para a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Pará, acredita-
se que essa atuação humanizada possa abranger uma ação bastante ampla e complexa, assim,
procurando relacioná-la ao trabalho bombeiro militar / defesa civil é que sugere-se para a
melhora do processo de atendimento da população e mais especificamente a população tratada
nessa discussão, a realização de um estudo de avaliação de riscos pela CEDEC, juntamente
103
com a COMDEC – Belém - dessas Áreas de Assentamento Subnormal – AAS - da cidade de
Belém, que devem ser repassados através de treinamentos, seminários e discussões durante a
rotina de trabalho aos Órgãos que compõe o Sistema de Defesa Civil do Estado, porém,
sempre observando a Política Nacional de Defesa Civil.
Entende-se que todas as propostas apresentadas pelo do Sistema Nacional de
Defesa Civil vistas durante o Curso de Especialização caminham interligadas e permeadas por
uma ação preventiva - educativa, através da criação de programas e projetos, englobando
noções básicas de defesa civil para serem desenvolvidos juntos a essas comunidades em
parceria entre o poder público, as lideranças comunitárias e os Órgãos de Defesa Civil.
Todas essas propostas também estão direcionadas pela necessidade de elaborar
projetos principalmente no campo da Segurança Global, que possibilitem que essas
populações possam viver com dignidade e com qualidade de vida, evitando que os fatos como
o acontecido no dia 18 de dezembro de 2001 ocorram novamente.
Após as várias leituras sobre o incêndio, o mesmo passou a ser considerado dentro
do processo de desenvolvimento deste trabalho com um divisor de águas que aponta a
necessidade urgente da apresentação de uma Proposta de Implantação de Núcleos de Defesa
Civil para AAS, que sabemos configurar-se em soluções mínimas para atender uma realidade
de riscos tão complexos. Contudo, conclui-se que essa proposta abre espaço para que novos
trabalhos relacionados a Segurança Global da População possam ser elaborados e
apresentados para essas áreas, contribuindo para aliar Defesa Civil e Cidadania. Fazendo com
que trabalhadores do Sistema também possam atuar nos papéis de educadores e agentes de
mudança cultural.
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GLOSSÁRIO
Altimetria – representação de altitude numa planta topográfica Cortiços - casa de vários compartimentos, cujos quartos são usados como habitação de várias famílias. Conteiners - caixa de grande dimensões para o despacho de mercadoria geral Dejetos - conjunto de matérias fecais. Estivas - tipo de habitação caracterizada por suas pontes de madeira Enfitêutico - contrato pelo qual o proprietário de um imóvel cede a outrem o domínio útil da propriedade, mediante o pagamento de uma pensão anual chamada foro Entorno - área próxima à ocorrência Fundiária -: área agrária Hectare - medida agrária, equivalente a dez mil metros quadrados
Jirau - designação geral de qualquer palanque de construção definitiva ou precária, armação de madeira sobre a qual se edificam as cozinhas de casas
Légua - medida itinerária que equivale a 6.000 a 6.600 metros Limítrofe - limite comum entre duas áreas Multifinalitário - Múltiplas finalidades Ribeirinho - habitante de áreas próximas aos rios da região , ocorre principalmente na região norte Sesmarias - lotes de terra desocupadas que eram distribuídos para o fim de serem explorados economicamente pelos colonos portugueses Subsistência - sobrevivência, sustento Vigamentos - amarrações, colocar vigas
105
Referências
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Guamá CFCH / UFPa. Trabalho de Conclusão de Curso;
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