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Vanessa Aparecida Ricardo Anastacio Letras- Licenciatura em Língua Portuguesa. Dissertação apresentada ao Curso de Formação de Professores do Estado de São Paulo. Novembro/212. “Como a língua pressupõe o uso e, portanto, a sua atualização concreta, determinada pela situação e pelo contexto de produção, necessariamente estudá-la significa olhar e tentar compreender a composição de texto (e sua correlação com o gênero que o constitui) e a situação de interação na qual ele está inserido.” A partir dessa afirmação, pensemos: como deve ser o ensino da gramática da Língua Portuguesa? Muito se tem questionado nas discussões de ensino de Língua Portuguesa o estudo da gramática, se ela deve ou não ser ensinada e, se sim, como deve ser esse ensino. Deve ser sistematizado?! Decorado, regrado, o texto pelo texto um fim em si mesmo?! Embora saiba se que a gramática normativa não garante o ensino da 'fala, da leitura e da escrita' com precisão, é preciso que haja o seu ensino na escola, tendo em vista que esse é o ambiente o qual tem o papel de oferecer condições ao aluno de adquirir competências a respeito de sua língua para usá-la de acordo com as diferentes situações a que vivencia. Durante o percurso no presente módulo, estudamos através da concepção interacionista da linguagem que esse ensino, no entanto, não pode nem deve ser proposto apenas com teorias gramaticais, que propõe o ensino da língua como um fim em si mesma, de caráter homogênea, com a função apenas de expressar ideias dentro de determinada organização lógica de pensamento. Para que a gramática atinja sua finalidade e seus objetivos, é preciso que ela seja concebida através de seu uso, isto é, para que o indivíduo aprenda a respeito de sua língua é preciso que atue diretamente no processo de cognição, realizando ações por meio da linguagem que não é apenas elemento da exteriorização do pensamento ou um código de transmissão e retransmissão de informações, mas agente de interação comunicativa dentro de determinado contexto histórico, social, cultural, ideológico, etc. A maior dificuldade em relação à aprendizagem da língua materna, por parte dos alunos, de acordo com a gramática normativa (norma culta) é talvez, em relação a sua própria cultura, que diversas vezes é incompatível, resultando em frustrações, reprovações e discriminações que iniciam-se no próprio ambiente escolar (preconceito linguístico) atingindo a vida pessoal, social, etc. levando-os a concluírem a vida escolar sem saber ler e escrever corretamente e, consequentemente, tendo a vida profissional, pessoal, social prejudicadas. Refletindo a respeito de todas essas constatações, é possível afirmar portanto que, o ensino da gramática, bem como sua concepção não deve ser tida como

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Page 1: Proposta o-ensino-da-gramatica-em-lingua-portuguesa

Vanessa Aparecida Ricardo AnastacioLetras- Licenciatura em Língua Portuguesa.Dissertação apresentada ao Curso de Formação de Professores do Estado de São Paulo.Novembro/212.

“Como a língua pressupõe o uso e, portanto, a sua atualização concreta, determinada pela situação e pelo contexto de produção, necessariamente estudá-la significa olhar e tentar compreender a composição de texto (e sua correlação com o gênero que o constitui) e a situação de interação na qual ele está inserido.” A partir dessa afirmação, pensemos: como deve ser o ensino da gramática da Língua Portuguesa? Muito se tem questionado nas discussões de ensino de Língua Portuguesa o estudo da gramática, se ela deve ou não ser ensinada e, se sim, como deve ser esse ensino. Deve ser sistematizado?! Decorado, regrado, o texto pelo texto um fim em si mesmo?! Embora saiba se que a gramática normativa não garante o ensino da 'fala, da leitura e da escrita' com precisão, é preciso que haja o seu ensino na escola, tendo em vista que esse é o ambiente o qual tem o papel de oferecer condições ao aluno de adquirir competências a respeito de sua língua para usá-la de acordo com as diferentes situações a que vivencia.Durante o percurso no presente módulo, estudamos através da concepção interacionista da linguagem que esse ensino, no entanto, não pode nem deve ser proposto apenas com teorias gramaticais, que propõe o ensino da língua como um fim em si mesma, de caráter homogênea, com a função apenas de expressar ideias dentro de determinada organização lógica de pensamento. Para que a gramática atinja sua finalidade e seus objetivos, é preciso que ela seja concebida através de seu uso, isto é, para que o indivíduo aprenda a respeito de sua língua é preciso que atue diretamente no processo de cognição, realizando ações por meio da linguagem que não é apenas elemento da exteriorização do pensamento ou um código de transmissão e retransmissão de informações, mas agente de interação comunicativa dentro de determinado contexto histórico, social, cultural, ideológico, etc.A maior dificuldade em relação à aprendizagem da língua materna, por parte dos alunos, de acordo com a gramática normativa (norma culta) é talvez, em relação a sua própria cultura, que diversas vezes é incompatível, resultando em frustrações, reprovações e discriminações que iniciam-se no próprio ambiente escolar (preconceito linguístico) atingindo a vida pessoal, social, etc. levando-os a concluírem a vida escolar sem saber ler e escrever corretamente e, consequentemente, tendo a vida profissional, pessoal, social prejudicadas.Refletindo a respeito de todas essas constatações, é possível afirmar portanto que, o ensino da gramática, bem como sua concepção não deve ser tida como

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uma verdade única, absoluta e acabada, que não deve-se adotar uma doutrina de repetições, aplicando métodos totalmente teóricos sem relação de sentido, até porque o propósito, a finalidade do ensino da gramática não é apenas proteger ou conservar a composição estrutural da língua, mas auxiliar o falante, usuário o conhecimento a respeito de sua própria língua e, para que isso aconteça, esse ensino deve ser o mais dinâmico possível, o conteúdo deve ser passado de forma mais reflexiva através de atividades contextualizada e interdisciplinares, individuais e/ou coletivas que induzam os alunos a conhecer as variedades, a mobilização da língua através de estudos e pesquisas que envolvam a leitura, a compreensão e a produção textual, construindo seu próprio conhecimento, adquirindo suas próprias competências linguísticas.O ensino deve abranger de maneira harmônica a gramática à sua aplicabilidade, isto é, contextualizar o uso, sem descartar as terminologias as nomenclaturas e as regras, que são fundamentais para o desenvolvimento educacional, cultura e social dos alunos. O aluno somente será capaz de interiorizar o conhecimento da estrutura gramatical, se esta for contextualizada em situações ou contextos comunicativos.Nesse sentido de ensino, retomamos ao discurso dos gêneros, como recursos para positivar o ensino da língua portuguesa, da gramática, quanto mais variado for o contato dos alunos com os diferentes gêneros textuais, maior será sua facilidade de assimilação das regularidades que determinam o uso da norma culta/padrão, bem como sua estrutura e seus elementos constitutivos clareza, coesão, coerência, objetividade entre outros.A ampliação das competências e habilidades discursivas do aluno se construirá portanto, por meio de práticas que levem-no a compreender outras exigências de adequação da linguagem como a argumentação a situacionalidade, intertextualidade, informatividade, concordância, regência e informalidade (Diretrizes Curriculares (p. 36).Por fim, considerando o texto como foco nas aulas de ensino da gramática, trabalhando a formulação de atividades que conduzam os alunos à reflexão da flexibilidade da língua acerca dos diversos gêneros, bem como a proposição de atividades que priorizem os textos redigidos pelos próprios alunos; produção, revisão, reestruturação e refacção textual, permitirá a exploração das categorias gramaticais, no entanto, não se enfatizará na categoria em si, mas em sua função para a (re)construção de sentido, que será, efetivamente construída quando o leitor é capaz de 'agir no texto e sobre o texto' isto é, de compreender e interpretar, argumentar, elaborar perguntas, levantar hipóteses acerca do uso de determinados elementos linguísticos, relacionando-o a sua contextualização cultural, histórica, social etc.

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O desenvolvimento da competência textual do aluno está associado a sua competência comunicativa/discursiva, o que implica, para uma significativa produção leitora e escritora, a realização de análise linguística, já que a competência textual não pode prescindir do estabelecimento de relações entre os recursos expressivos presentes em um texto e os efeitos de sentido que provocam no leitor. Assim, considerando-se que os recursos expressivos utilizados por um autor provêm das escolhas que opera nos elementos oferecidos pela língua, o que o professor pode propor ao aluno como procedimento de leitura intrinsecamente ligado aos mecanismos gramaticais. Em outras palavras: o aluno, para sua leitura produzir sentido, observa que elementos gramaticais no texto do autor? O desenvolvimento da competência textual do aluno está associado à sua competência comunicativa/discursiva, o que implica, para uma significativa produção leitora e escritora, a realização de análise linguística, já que a competência textual não pode prescindir do estabelecimento de relações entre os recursos expressivos presentes em um texto e os efeitos de sentido que provocam no leitor. Assim, considerando-se que os recursos expressivos utilizados por um autor provêm das escolhas que opera nos elementos oferecidos pela língua, o que o professor pode propor ao aluno como procedimento de leitura intrinsecamente ligado aos mecanismos gramaticais? Em outras palavras: o aluno, para sua leitura produzir sentido, observa que elementos gramaticais no texto do autor? Discursar a respeito da leitura remete-nos à questão da produção de sentidos, construídos no contexto interativo e recíproco entre o autor e o leitor via texto, os quais se expressam de maneira distintas, de acordo com a subjetividade do leitor, bem como seus conhecimentos de mundo, suas experiências e valores, os quais se expressam de maneiras diferentes, nesse sentido, podemos dizer que o texto constrói-se a partir de cada leitura, sua compreensão é orientada pelas marcas gráficas do texto, e sobretudo, pelo que estas marcas têm a dizer e pelo modo como o leitor apreende e interpreta a intenção pretendida pelo autor.O texto é unidade significativa composta por duas estruturas fundamentais para seu entendimento: coesão e coerência, os elementos gramaticais são os conectivos que oferecem através deles e das ligações que estabelecem é que se dará a construção de sentido; coerência.Dos elementos conectivos e coesivos de um texto faz parte os pronomes, os advérbios, adjetivos, interjeições, metáforas, pleonasmos, ironia, etc. É fundamental que em seu 'repertório mental' o aluno saiba identificar e distinguir tais recursos.Exemplo, quando pronunciamos: “Ela comeu uma caixa de chocolate”, ora evidente que não estamos falando do objeto caixa, mas, sim o que está dentro dela; metonímia, é preciso que o aluno saiba identificar essa comparação objetiva, para que a ele faça sentido o que está sendo dito;O uso de recursos expressivos possibilitam uma leitura para além dos elementos superficiais do texto e auxiliam o leitor na construção, reconstrução de sentidos, quando pronunciamos por exemplo: “Cuide do que for verdadeiro, cuide bem do seu amor”,o indivíduo precisa saber qual o conceito de verdadeiro e de amor,

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tendo conhecimento de tais significados há várias interpretações possíveis para essa única frase, o verdadeiro pode ser um bem material, ou alguém, uma crença ou convicção filosófica, logo há uma imensidão de coisas, objetos e/ou a pessoas que podem vir a ser o 'verdadeiro, o amor' ... É através da observação dos recursos expressivos da linguagem presentes nos textos, que será possível que os alunos construam sentidos, relacionando textos/contextos, mediante a natureza, a função, a organização e a estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores).