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PROPOSTA METODOLÓGICA: HUMANIZANDO A DRENAGEM MUNICIPAL ATRAVÉS DA FOTOINTERPRETAÇÃO E PESQUISA DE CAMPO Nubia Caramello [email protected] Aldina Gomes de Assunção [email protected] Charlles da Silva Barata [email protected] Veronica Ribeiro da Silva Cordovil [email protected] Luis Fernando Lima Maia [email protected] Resumo: O presente artigo busca inserir os alunos do ensino fundamental dentro do contexto de estudo da Geomorfologia Fluvial Local, acreditando que o conceito dessa ciência contribui no processo de ensino- aprendizagem da Geografia, integrando a análise do meio físico ao de análise do meio ambiente humano. O entendimento da sociedade sobre a drenagem do Município de Rolim de Moura - RO, trás uma contribuição histórica e geográfica ao ensino da geografia regional. Desta maneira, para a identificação dos rios existentes, utilizou-se como referência de comparação a metodologia da carta temática desenvolvida em 2004 pelo SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia). E para parâmetro de fotointerpretação, utilizaram-se as chaves interpretativas, aliado à estrutura do relevo, buscado a identificação de bacias, sub-bacias e micro-bacias dentro da escala local. O desenvolvimento da pesquisa-aplicada trouxe três contribuições: a primeira voltada para os fatores, que originam a escolha dos nomes dos rios próximos ao espaço de vivência. A segunda contribuição levou a constatação de que alguns corpos hídricos contido na carta imagem de referência do presente estudo, não existem mais. A terceira voltada ao papel do ensino-aprendizagem da geografia, tornando o espaço vivido em elemento presente nos diálogos, contribuindo para que o jovem estudante através da informação possa tomar nova postura sobre o espaço geográfico que habita. Palavras-chave: fotointerpretação, geomorfologia fluvial, ensino da Geografia. Abstract: This article aims to insert students of elementary school within the context of Local Fluvial Geomorphology’s study, believing that the concept of this science contributes in the process of teaching and learning of geography, instating the physical field’s analysis to the human environment’s analysis. The understanding of society about the drainage of the City of Rolim de Moura - RO, brings a historical and geographical contribution to the teaching of regional geography. Thus, in aim to identificate existing rivers, used as reference for comparing the methodology of thematic maps developed in 2004 by SIPAM (the Amazon Protection System). And to a photointerpretation’s parameter were used interpretative keys, coupled to the structure of relief, sought to identify basins, sub-basins and micro-basins within the local scale. The development of applied research has three contributions: the first devoted to the factors that cause the choice of names of rivers near the area of experience. The second contribution has led to the fact that some water bodies in the letter of reference image of the present study, there isn’t anymore. The third focuses on the role of teaching and learning of geography, making the living space in element presented in the dialogues, contributing for the young student through the information to take new position on the geographic area living. Keywords: photointerpretation, fluvial geomorphology, teaching of geography. INTRODUÇÃO A região Amazônica em todo processo de formação territorial compôs “ilhas” de intencionalidade, que teve e continuar a ter, seu reflexo imediato nos recursos hídricos em diferentes escalas (BRANCO, 1995). Com intuito de melhor compreender esse fenômeno em escala local, buscamos inserir a pesquisa no estudo geográfico, utilizando como objeto de estudo a Geomorfologia fluvial local, acreditando que os conceitos dessa ciência possam contribuir no processo de ensino-aprendizagem da Geografia, aproximando assim, a análise do meio físico ao do ambiente antrópico dentro de uma percepção do espaço integrado.

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Page 1: PROPOSTA METODOLÓGICA: HUMANIZANDO A DRENAGEM … · É fato que durante muitos séculos os mapas foram privilégio da elite, porém com o avanço da globalização e da divulgação

PROPOSTA METODOLÓGICA: HUMANIZANDO A DRENAGEM MUNICIPAL ATRAVÉS DA FOTOINTERPRETAÇÃO E PESQUISA DE CAMPO

Nubia Caramello

[email protected] Aldina Gomes de Assunção

[email protected] Charlles da Silva Barata

[email protected] Veronica Ribeiro da Silva Cordovil

[email protected] Luis Fernando Lima Maia [email protected]

Resumo: O presente artigo busca inserir os alunos do ensino fundamental dentro do contexto de estudo da Geomorfologia Fluvial Local, acreditando que o conceito dessa ciência contribui no processo de ensino-aprendizagem da Geografia, integrando a análise do meio físico ao de análise do meio ambiente humano. O entendimento da sociedade sobre a drenagem do Município de Rolim de Moura - RO, trás uma contribuição histórica e geográfica ao ensino da geografia regional. Desta maneira, para a identificação dos rios existentes, utilizou-se como referência de comparação a metodologia da carta temática desenvolvida em 2004 pelo SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia). E para parâmetro de fotointerpretação, utilizaram-se as chaves interpretativas, aliado à estrutura do relevo, buscado a identificação de bacias, sub-bacias e micro-bacias dentro da escala local. O desenvolvimento da pesquisa-aplicada trouxe três contribuições: a primeira voltada para os fatores, que originam a escolha dos nomes dos rios próximos ao espaço de vivência. A segunda contribuição levou a constatação de que alguns corpos hídricos contido na carta imagem de referência do presente estudo, não existem mais. A terceira voltada ao papel do ensino-aprendizagem da geografia, tornando o espaço vivido em elemento presente nos diálogos, contribuindo para que o jovem estudante através da informação possa tomar nova postura sobre o espaço geográfico que habita. Palavras-chave: fotointerpretação, geomorfologia fluvial, ensino da Geografia. Abstract: This article aims to insert students of elementary school within the context of Local Fluvial Geomorphology’s study, believing that the concept of this science contributes in the process of teaching and learning of geography, instating the physical field’s analysis to the human environment’s analysis. The understanding of society about the drainage of the City of Rolim de Moura - RO, brings a historical and geographical contribution to the teaching of regional geography. Thus, in aim to identificate existing rivers, used as reference for comparing the methodology of thematic maps developed in 2004 by SIPAM (the Amazon Protection System). And to a photointerpretation’s parameter were used interpretative keys, coupled to the structure of relief, sought to identify basins, sub-basins and micro-basins within the local scale. The development of applied research has three contributions: the first devoted to the factors that cause the choice of names of rivers near the area of experience. The second contribution has led to the fact that some water bodies in the letter of reference image of the present study, there isn’t anymore. The third focuses on the role of teaching and learning of geography, making the living space in element presented in the dialogues, contributing for the young student through the information to take new position on the geographic area living. Keywords: photointerpretation, fluvial geomorphology, teaching of geography. INTRODUÇÃO A região Amazônica em todo processo de formação territorial compôs “ilhas” de intencionalidade, que

teve e continuar a ter, seu reflexo imediato nos recursos hídricos em diferentes escalas (BRANCO,

1995). Com intuito de melhor compreender esse fenômeno em escala local, buscamos inserir a

pesquisa no estudo geográfico, utilizando como objeto de estudo a Geomorfologia fluvial local,

acreditando que os conceitos dessa ciência possam contribuir no processo de ensino-aprendizagem da

Geografia, aproximando assim, a análise do meio físico ao do ambiente antrópico dentro de uma

percepção do espaço integrado.

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A proposta surgiu a partir do questionamento sobre os parâmetros necessários para direcionar o olhar

do jovem ao meio físico ao seu redor, buscando no espaço vivido a possibilidade de interagir o meio

físico com a própria história local, procurando correlacionar o conhecimento da Geomorfologia fluvial

local e as transformações ambientais da década de 80 aos dias atuais. Tais informações foram

processadas através da aplicação de duas oficinas de fotointerpretação intitulada “Fotointerpretação e

Espaço Vivido”, utilizando como recurso metodológico um conjunto de imagens espaciais impressas e

digitais.

O projeto foi realizado com duas escolas: Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisca Duram e

a Escola Municipal de Ensino Fundamental José Veríssimo, ambas localizadas na área rural do

Município de Rolim de Moura - RO, a proposta alcançou um total de 50 alunos, proporcionando

situações de envolvimento com as pesquisas ambientais na localidade a qual pertence, por meio de

pesquisa de campo, leitura fotointerpretativa de imagens espaciais, construção de legendas e

identificação histórica e geográfica da malha fluvial que faz parte do seu cotidiano. O projeto

possibilitou também, um ensaio para a produção de um mapa da drenagem do município de Rolim de

Moura contendo o nome dos rios identificado pelos alunos, partindo do princípio da construção de

espaços geográficos, influenciados pela cultura local.

A opção pelo cenário da aplicação metodológica nesse recorte territorial ocorreu devido à

possibilidade de parceria entre os professores de geografia das escolas rurais, o apoio da Secretaria

Municipal de Educação e Cultura – SEMEC, e pelo conhecimento da realidade local por parte de

pesquisadores. Realidade que configura uma preocupante dinâmica ambiental, que é o elevado índice

de desmatamento atingindo um desflorestamento original em mais de 90% (SEDAM, 2005), fator que

classifica Rolim de Moura, entre os municípios mais desmatados do estado de Rondônia. O Município

possui uma população de 47.382 habitantes, sendo que 41,13% dessa população são predominante

jovem (Fig.01) (IBGE, 2000).

Fig. 01 - População Residente Zona Urbana e Rural e População por

Faixa Etária do Município Rolim de Moura. Fonte: IBGE, Censo 2000.

Essa predominância jovem nos motiva e evidencia-se a importância de se investir em estudos

metodológicos educacionais, envolvendo o cenário ambiental local.

Partindo do presente contexto o artigo tem como objetivo inserir os alunos do ensino fundamental

dentro do contexto de estudo da Geomorfologia fluvial local, acreditando que o conceito dessa ciência

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contribui no processo de ensino-aprendizagem da Geografia, integrando a análise do meio físico ao de

análise do meio ambiente humano.

REFERENCIAL TEÓRICO

Identificar a percepção do espaço para cada jovem auxilia na interpretação do sentido humano do

espaço, Lefebvre segundo Ferreira (2003, p. 124 -125), propõe três concepções de pensar o espaço:

I. O espaço físico – percebido – que estaria representado em suas construções, atividades,

tipos de distribuição em sua concretude;

II. O espaço mental – concebido – que seria idealizado através de representações mentais. Não

resta dúvida que mesmo o espaço concebido esteja amarrado às relações de produção e é

socialmente produzido;

III. O espaço social – vivido – que englobaria dialeticamente os outros dois e que seria o

espaço de todas as simultaneidades, oportunidades e lutas.

A percepção desses espaços, e da interseção dos mesmos são elementos para se compreender a

dinâmica de interpretação que o jovem possui sobre seu espaço cotidiano e os elementos geográficos

que se destacam ao seu olhar para o lugar de vivencia. Percebemos que o ser humano e o espaço

natural estão intrínsecos no sentido de interdependência1, mediado pelo significado do lugar pela

cultura nata ou imposta2. A geógrafa Ana Fani (apud CARLOS, 1996) acrescenta ainda uma dimensão

histórica na concepção do lugar. Esta diz respeito à prática cotidiana, ou seja, às concepções que

surgem do plano do vivido, e neste sentido é bastante similar à percepção humanística.

Pensar o lugar:

“[...] significa pensar a história particular (de cada lugar), se desenvolvendo, ou melhor, se realizando em função de uma cultura/tradição/língua/hábitos que lhe são próprios, construídos ao longo da história e o que vem de fora, isto é, que se vai construindo e se impondo como conseqüência do processo de constituição do mundial” (CARLOS, 1996:20).

Dentro de um diálogo de análise com as variáveis da Geografia, Yi-Fu Tuan (1983:153), busca na

subjetividade a formação conceitual de lugar para o indivíduo “lugar é uma pausa no movimento”, a

pausa permite que uma localidade se torne um centro de reconhecido valor.

1 A interdependência que aqui nos referimos relaciona-se ao fato sócio-ambiental do homem depender dos recursos que o meio natural pode lhe oferecer, e por outro lado da necessidade do meio natural ter seus limites “respeitados”, discurso hoje comum por ecologistas. 2 Uma das características da globalização é universalizar culturas, a esse fato denominamos cultura imposta, que mesmo adotada pelo individuo de forma voluntária é mediada pela dinâmica de mercado. Ex: coca-cola, usar tênis Star, músicas e danças estrangeiras, a moda, entre outros.

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A fotointerpretação nesse sentido contribui para que a escala do olhar, para o espaço de vivência tenha

novos sentidos, proporcionado pela identificação das características físicas diferenciadas dos lugares

influenciado pela dinâmica de construção do espaço antrópico.

É fato que durante muitos séculos os mapas foram privilégio da elite, porém com o avanço da

globalização e da divulgação de novas tecnologias, eles passaram a estar à disposição de uma sociedade

mais ampla, e para vários fins, entre eles o ensino da Geografia. O domínio da linguagem do mapa é tão

importante para o cidadão como o raciocínio numérico e a comunicação verbal. Três formas de

linguagem integraram-se nos Atlas escolares: o mapa, a fotografia e o texto escrito. Para Ferreira &

Martinelli (1995) o mapa é a representação gráfica reduzida e seletiva dos espaços, a fotografia pode

melhor expor os conceitos geográficos e o texto constitui uma legenda explicativa das fotografias e dos

mapas. Moran apud Matias (2001:36) apontam que (...) o não mostrar equivale a não existir, a não

acontecer. O que não serve de existência, um fato mostrado com imagem e palavra tem mais força que

se for mostrado somente com palavra. Muitas situações importantes do cotidiano perdem força por

não ter sido valorizadas pela imagem (...).

Reforçando essa visão, Simielli afirma que:

Os mapas nos permitem ter domínio espacial e fazer síntese dos fenômenos que ocorrem num determinado espaço. No nosso dia-a-dia ou no dia-a-dia do cidadão, pode-se ter a leitura do espaço por meio de diferentes informações e, na cartografia por diferentes formas de representar estas informações. Pode-se ainda ter diferentes produtos representando diferentes informações para diferentes finalidades: mapas de turismo, mapas de planejamento, mapas rodoviários, mapas de minerais, mapas geológicos, entre outros (SIMIELLI, 2003:94).

Com base nos conceitos e fatos aqui expostos acreditamos que a geotecnologia cartográfica, aliada a

leitura e entendimento que cada morador faz de sua região, contribuirá para a construção de novos

parâmetros, para auxiliar na leitura do ambiente em busca de um envolvimento cada vez maior de

multiplicadores ambientais, como dizia Paulo Freire:

“O homem não pode participar ativamente na sociedade, na transformação da realidade e da sua própria capacidade para o transformar.[... ] ninguém luta contra forças que não entende, cuja importância não meça, cujas formas e contornos disciernas, [...] a realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre é assim nas forças sociais [...]. a realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer”(FREIRE, 1997:48).

Segundo a ótica do Prof. Aziz Ab`saber :

“Garantir a existência de um ambiente sadio para toda a humanidade implica uma conscientização realmente abrangente, que só pode ter ressonância e maturidade através da educação voltada para analise das transformações ambientais naturais e antrópica. Um processo educativo que envolva ciência, ética e uma renovada filosofia de vida; um processo realmente amplo, um chamamento à responsabilidade planetária dos membros de uma assembléia de vida, dotados de atributos e valores essenciais, ou seja, uma capacidade de escrever sua própria história informar-se permanentemente do que esta acontecendo em

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todo o mundo, criar culturas e recuperar valores essenciais da condição humana e acima de tudo refletir sobre o futuro do planeta” (REIGOTA, 2004:20).

Nesse sentido, a buscar de mecanismos que contribuam para uma melhor compreensão do espaço

geográfico, poderá contribuir na leitura sócio-educativa sobre o ambiente de vivência.

MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa enquadra-se no tipo de pesquisa-ação (Thiollent, 1997), os pesquisadores e participantes

representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. É

um método de interpretação dinâmica e totalizante da realidade, considera que os fatos não estão fora

de um contexto social, político ou econômico.

A metodologia investigativa foi aplicada para estudantes do ensino fundamental, em duas escolas na

área rural do Município de Rolim de Moura, buscando incorporar o conteúdo curricular da série a

geotecnologia. Desta forma, busca-se a identificação dos rios presente na Carta Temática de

Referência de Comparação, desenvolvida em 2004 pelo SIPAM – (Sistema de Proteção da Amazônia).

A imagem utilizada LANDSAT de 1980, data o período de início da colonização municipal e imagem

a LANDSAT de 2007, apontam a situação atual da área em estudo, sendo que as duas imagens foram

analisadas no programa SPRING 4.3.3.

Como parâmetro para fotointerpretação, foi utilizado às chaves interpretativas proposta por

FLORENZANO (2002), sendo as chaves interpretativas elementos indicadoras das diferentes

características do ambiente, proporcionando a reflexão sobre como elementos até então intitulados

singulares, apresentam aspectos próprios que permitem sua diferenciação tendo como exemplo: o

aspecto da coloração da vegetação em terra firme do aspecto da vegetação as margem dos corpos

hídricos. No Quadro 01, apresentamos de forma sistematizada as informações trabalhadas com os

jovens participantes da oficina, tendo como recurso visual o conjunto de imagens presente na Figura

02, utilizados como elemento interpretativo dos conceitos estudados.

Quadro 01 – Sistematização da Informação Trabalhada na Oficina com os Alunos

Chaves interpretativas

Dados analisados Observações

Forma

A forma é um elemento de interpretação tão importante, que alguns objetos, feições ou superfícies são identificadas apenas com base nesse elemento. Assim, estradas e rios são facilmente identificados pela sua forma linear (e curvilínea), as construções como casas, prédios de apartamentos costumam ter formas regulares e bem definidas (quadrados e retângulos), campos de futebol (retangular), as áreas de cultivo caracterizam-se pela sua forma geométrica, mais comumente retangular,

De modo geral, formas irregulares são indicadoras de objetos Naturais (matas, lagos, feições de relevo, pântanos, etc.), enquanto formas regulares indicam objetos artificiais ou culturais, construídos pelo homem (indústrias, aeroportos, áreas de reflorestamento, áreas agrícolas, etc.),

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Fonte: FLORENZANO, 2002 e CUNHA, 2005. Organizado por Caramello, 2009.

Quanto maior o conhecimento físico e geomorfológico de uma área de estudo maior a facilidade de

informação que podemos obter para interpretar as imagens de satélite, fato que justifica a importância

ou em faixas, e as áreas de culturas irrigadas por sistemas de pivô central apresentam formas circulares.

Cor

As variações da cena fotografada ou imageada são representadas por diferentes cores. (Figura 2) Em uma imagem colorida, a cor do objeto vai depender da quantidade de energia que ele refletir, da mistura entre cores no momento do processamento da imagem, e da cor que for associada às imagens originais em preto e branco.

É mais fácil interpretar imagens coloridas do que em preto e branco, porque o olho humano distingue cem vezes mais cores do que tons de cinza.

Tonalidade

Nesse aspecto interpretam-se os tipo de variações da imagem, da cena fotografada ou imageada são representadas por diferentes tonalidades, ou tons de cinza, que variam do branco ao preto.

Quanto mais luz ou energia um objeto refletir, mais a sua representação na fotografia ou imagem vai tender ao branco e, quanto menos energia refletir(absorver mais energia), mais a sua representação na fotografia ou imagem vai tender ao preto.

Textura

A textura refere-se ao aspecto liso (e uniforme) ou rugoso dos objetos em uma imagem. Ela contém informações quanto às variações (frequência de mudanças) de tons ou níveis de cinza/cor de uma imagem. A textura é um elemento muito importante na identificação de unidades de relevo.

Áreas do Relevo: a textura lisa corresponde a áreas de relevo plano, enquanto que a textura rugosa corresponde a áreas de relevo acidentado e dissecado pela drenagem, Cobertura Vegetal: observa-se com relação à cobertura vegetal, que uma área de mata, que é mais heterogênea, é representada em uma fotografia aérea, e até mesmo em imagens de satélites, por uma textura mais rugosa do que uma área de reflorestamento, que é mais rugosa em relação a uma área de cultura.

Tamanho É uma função da escala de uma fotografia ou imagem, é relativo aos objetos na imagem, também é um elemento importante na identificação de objetos.

Em função do tamanho, pode-se distinguir uma residência de uma indústria, uma área industrial de uma residencial, grandes avenidas de ruas de tráfego local, um sulco de erosão de uma voçoroca, uma agricultura de subsidência de uma agricultura comercial, etc.

Padrão O padrão pode ajudar na identificação de objetos, uma vez que ele se refere ao arranjo espacial ou à organização desses objetos em uma superfície.

Em fotografias aéreas e em imagens de alta resolução espacial, podemos associar um padrão de linhas sucessivas a culturas plantadas em fileiras, Os padrões espaciais das unidades habitacionais e do arruamento de uma cidade podem se indicadores do nível sócio-econômico de seus habitantes.

Localização

A localização geográfica de um objeto pode ajudar muito na sua identificação em uma imagem. As áreas urbanas, por exemplo, podem ser identificados por sua proximidade de rodovias, rios e litorais. O conhecimento existente sobre o tipo de clima, a geologia, o relevo, a vegetação e o tipo de ocupação de uma região são utilizados no processo de interpretação de uma imagem. Esse conhecimento evita confundir, por exemplo, uma vegetação de cerrado, típica dos chapadões do Brasil central com uma vegetação de caatinga típica da região semi-árida do Nordeste brasileiro.

Quanto maior é o conhecimento sobre a área de estudo, maior é a quantidade de informação que podemos obter, a partir da interpretação de fotografias ou imagens desta área. A associação e comparação de alvos conhecidos no terreno (lagos, rios, cidades, áreas de reflorestamento, áreas de cultivos, etc.), com a sua representação (correspondência) em uma imagem, facilita a identificação dos componentes da paisagem, familiarizando-nos com essa forma de representação do espaço.

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da pesquisa de campo e do conhecimento local, em uma intervenção pedagógica como essa, aliado aos

conceitos científicos (FLORENZANO, 2002).

Nesse sentido a Geomorfologia fluvial no tópico de fisiografia fluvial, com base em Cunha (2005:212-

226) contribui para a identificação dos divisores das águas, o conjunto de afluentes, a influência do

relevo, ajudando na delimitação de bacias e sub-bacias hidrográficas. Outro aspecto importante que os

conceitos da Geomorfologia fluvial referem-se está relacionado ao processo de erosão que se acentua

com a retirada da vegetação ciliar, tendo como conseqüência o assoreamento de vários corpos hídricos

localizado pelos jovens envolvidos na pesquisa.

Com base nesses conceitos, a pesquisa-ação consistiu em quatro fases metodológicas:

• 1ª fase: A primeira envolveu o contato com a SEMEC e apresentação da proposta de aplicação

da oficina “Fotointerpretação e Espaço Vivido”, bem como os objetivos imediatos da pesquisa.

Através dessa Secretaria foi realizado o primeiro contato com os professores de ambas as

escolas, os professores envolvidos orientaram sobre os procedimentos necessários para que a

oficina fosse desenvolvida – consistindo em proceder junto aos alunos o levantamento do nome

dos rios que fazem parte do trajeto da casa a escola, considerando que a maioria dos alunos

percorre de 10 a 30 km, diariamente, para estarem na escola. Na identificação dos rios e a

localização dos mesmos utilizou-se a carta imagem temática “Hidrologia de Rolim de Moura”,

desenvolvida pelo SIPAM, imagem C, presente no conjunto de imagens utilizadas na oficina

(Fig. 02); caberia ao professor escolher com qual turma seria desenvolvido a proposta, tendo

em vista, que o professor é o melhor conhecedor da realidade dos alunos.

• 2ª fase: Desta forma os professores desenvolveram a segunda etapa do trabalho, envolvendo

neste momento todas as turmas que lecionavam, o levantamento sobre os problemas ambientais

próximos aos rios, identificando junto aos alunos os rios que passavam nas linhas em que

moram ou os rios que estão presentes no percurso diário na sua ida à escola, e por qual nome

esses rios são conhecidos. Salientando aqui, que os órgãos oficiais na maioria das vezes

classificam os mananciais maiores e desconsideram no nível de intitulação nominal os

afluentes desses. Porém os moradores locais utilizam o rio não apenas como recurso de

sobrevivência, mais também como ponto de referência, dessa forma no sistema de drenagem do

município foi possível à identificação de que alguns afluentes são conhecidos por seus

moradores. Na atividade em campo os pais dos alunos foram os principais informantes,

contribuindo na identificação da origem do nome de córregos, igarapés e rios que fazem parte

da malha hidrográfica do município, buscando sobre a origem do nome de alguns rios, a

importância e influência dos rios na escolha da moradia atual, intermediando sua humanização.

Com posse dessas informações os alunos trocaram junto aos colegas e professor de Geografia,

dados que consideraram essenciais e trouxeram para a oficina.

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• 3ª fase: O terceiro momento foi à aplicação das Oficinas de Fotointerpretação (Fig. 02) em

ambas as escolas envolvidas, tendo cada uma a duração de cinco horas de atividades

desenvolvidas pela equipe de pesquisadores. A atividade prática da oficina foi desenvolvida em

grupos de trabalho, com três componentes cada grupo, devido o laboratório de informática de

cada escola possuir apenas 10 computadores.

Figura 02 - Conjunto de Imagens utilizada na oficina “Fotointerpretação e Espaço Vivido”

Fig. 02 - Conjunto de Imagens Utilizadas na Oficina. Fonte: Imagem A, B e D construídas com dados pertencentes ao Banco de Dados do LABOGEOPA (A – imagem

LANDSAT, composição 3R4G5B, processada no software SPRING 4.3.3; B – Carta base da hidrografia, estradas, divisão latifundiária do Município de Rolim de Moura-RO) e C – Carta temática da hidrologia do Município em estudo,

desenvolvida em 2004.

DISCUSSÃO TEÓRICA

A discussão teórica foi estruturada dentro da seguinte pauta:

3.1. O espaço onde vivemos e a Geotecnologia: leitura que buscamos desenvolver junto com os

alunos, demonstrando de que forma a geotecnologia pode fornecer dados sobre relevo, vegetação,

hidrografia, clima, solo e a importância desse conhecimento para um planejamento rural e urbano.

3.2. Transformação do espaço natural em espaço construído: utilizamos nessa leitura imagens

antigas e atuais do município, envolvendo diversos cenários como áreas degradadas, dialogando em

como esse fator contribuem para o desequilíbrio da balança sócio-ambiental.

B A

B A

D C

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3.3. Os caminhos das águas: entre os elementos ambientais degradados utilizamos a água como fio de

diálogo, para aplicação de conceitos de Geomorfologia Fluvial e identificação de bacias hidrográficas.

Utilizando o conjunto de imagens A, B e C, para responder as seguintes questões:

A. No mapa da hidrologia de Rolim de Moura, identifique as bacias hidrográficas

existente no Município.

B. O número de afluente da margem direita e esquerda em cada bacia.

C. A bacia a qual faz parte (pinte de amarelo).

D. Os pontos prováveis em que visualizou erosão (vermelho).

3.4. A importância da Geomorfologia na identificação das bacias hidrográficas: Com base na

atividade anteriormente desenvolvida, na qual utilizaram uma imagem plana para identificação dos

interflúvios e assim identificar as bacias e sub-bacias hidrográficas, sendo exposta a forma que a

altimetria contribui com os caminhos das águas. Para essa leitura utilizamos à imagem temática D

(Fig.02).

3.5. Tecnologia como aliada a leitura Ambiental: Utilizamos nesse tópico as noções básicas do

sensoriamento remoto e das chaves interpretativa apresentada por Florenzano, presente na obra

“Imagens de Satélite para Estudos Ambientais (2002)”. Cujas informações sistematizadas aplicadas na

oficina podem ser visualizadas no quadro 01. Para averiguar o nível de conhecimento obtido nessa

etapa utilizamos à imagem A (Fig. 02) e a imagem Fig. 03.

Figura 03. Elementos Geográficos no espaço.

Fonte: Curso presencial de desenvolvido em Cachoeira Paulista-SP em maio de 2006, material cedido pela palestrante Teresa Florenzano. Em CD-ROM.

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3.6. Rolim de Moura e a História do nome dos Rios: Nessa etapa foi realizado um diálogo sobre as

transformações no município utilizando duas imagens LANDAST, retratando a escala temporal de

1980 e 2007. Após a fotointerpretação das duas imagens, os alunos socializaram para as informações

obtidas em campo. Identificando e construindo passo a passo o nome dos rios que fazem parte de seu

espaço de vivência. Fase nas quais os alunos apresentaram o conhecimento local, identificando o nome

dos rios e o fato que os originou.

• 4ª fase: Destina ao processamento das experiências adquiridas com a aplicação da pesquisa-

ação, como envolvemos as duas escolas pólos, um sentido Leste de Rolim de Moura, e o outro

sentido Oeste, as contribuições foram unidas após a aplicação das duas oficinas e

confeccionado pela equipe de pesquisadores o ensaio da carta temática “Humanizando a

Drenagem Municipal de Rolim de Moura”, produto em que foram também identificadas e

intituladas as bacias hidrográficas pelos alunos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O conhecimento do espaço local juntando-se a introdução de novos conceitos sobre a drenagem do

município, processado através da fotointerpretação, gerou um novo conceito sobre o cenário

parcialmente conhecido, proporcionando o surgimento de uma Carta Temática sobre os nomes de cada

rio identificado pelos moradores, demonstrando o elo entre um elemento físico - a água - e seus

percursos a um fato histórico, que é a origem do nome dos rios popularmente conhecido (Fig. 04).

O desenvolvimento do processo de aplicação das oficinas trouxe algumas questões que consideramos

relevantes dentro do uso da metodologia apresentada: a primeira se deve ao fato de que os alunos

nunca tiveram contatos com imagens de satélites, anteriormente ao projeto, não apresentaram

dificuldade em assimilar a tecnologia ao conteúdo proposto. O que demonstra que uma tecnologia de

ponta, pode ser utilizada em qualquer lugar seja na área urbana, rural, regiões periféricas, com ou sem

a presença de computadores ou internet.

As noções de sensoriamento remoto apresentadas foram suficientes para desenvolvimento da oficina,

contribuindo na interpretação da imagem de satélite, identificando dentro da mesma as bacias e sub-

bacias hidrográficas, a influência da rugosidade do relevo no processo de drenagem dos rios e o local

onde vivem.

As informações trabalhadas nas oficinas apresentaram um resultado surpreendente sobre a importância

dos conceitos científicos do meio físico para dentro dos espaços escolares, possibilitando a

aproximação do olhar do jovem ao espaço em que vive, e que também devido ao cotidiano torna-se tão

comum aos olhos que muitas vezes passam despercebidos.

As imagens são fortes aliadas na leitura espacial, contribuindo para a fotointerpretação mais ampla,

fato observado pela surpresa de cada aluno, durante a identificação do percurso dos rios.

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Fig. 04 - Ensaio da Carta de Drenagem Humanizada do Município de Rolim de Moura-RO

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Abaixo apresentamos os rios identificados na oficina, de acordo com a Figura 04 e o significado dos

nomes de alguns rios para os moradores locais.

1. Rio Anta Atirada, segundo os primeiros moradores esse rio tinha uma grande quantidade de Antas,

que eram mortas a tiro;

2. Corgão (L): pequeno corgo;

3. Jacaré: devido à grande quantidade da espécie no inicio da colonização;

4. Rio Sr. Baldino: O nome é homenagem ao morador ribeirinho;

5. Cachoeira: Conhecido por esse nome devido à cachoeira turística que existe no local;

6. Bamburro (Pardo)

7. São Pedrinho: Deságua no São Pedro;

8. Vazante: No tempo da seca ele seca;

9. Rio do Geovane: O rio atravessa dentro das terras dele, em quase todo seu percurso;

10. Rio do Evaldo: Banha suas terras;

11. Rio Brilhante: Águas claras;

12. Corgão (w): Corgo maior que outros próximos.

13. Rio Balneário: Rio do Balneário Municipal, construído como atividade de lazer.

14. Rio da Fazenda: Atravessa a fazenda toda.

15. Igarapé D´Alincourt: Rio que deságua no D´Alincourt

16. Rio Capixaba: Homenagem a família Capixaba.

17. Rio D`Alincourt: Homenagem para um militar que mantinha a mata ciliar de sua área.

18. Rio Palha

19. Manicoré

20. Rio São Pedro: (Rio Rolim de Moura – nome oficial, porém, não conhecido assim pelos

moradores).

Outro fator observado foi de que os rios possuem nomes, como elemento familiar e não apenas como

um recurso natural. A origem dos nomes está ligada à existência de algum morador próximo, ao

tamanho do rio, valor de recreação, paisagem, ao um fato acontecido em um trajeto do rio ou até

mesmo, presença de animais ainda no período de colonização, evidenciado hoje pelos alunos como

extintos, tomando pelo exemplo o rio Anta e o rio Jacaré (afluente do rio Anta).

Na carta temática apresentamos o nome de vinte rios dos quais quatro já são oficialmente conhecidos e

os dezesseis são nomes de referências trazidas pelos jovens pesquisadores.

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