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6 -··- TCC/UNICAMP M522p 1657 FEF/272 DENISE CRISTINA REATO MENDES PROPOSTA DE ENSINO DE SAPATEADO PARA PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA VISUAL UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA CAMPINAS- 2001

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6 -··-TCC/UNICAMP M522p 1657 FEF/272

DENISE CRISTINA REATO MENDES

PROPOSTA DE ENSINO DE SAPATEADO PARA PESSOAS PORTADORAS

DE DEFICIÊNCIA VISUAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CAMPINAS- 2001

TCC/UNICAMP M522p c

-·~ DENISE CRISTINA REATO MENDES

lllllllllllllllllllllllllllll 1290001657

PROPOSTA DE ENSINO DE SAPATEADO PARA PESSOAS PORTADORAS

DE DEFICIÊNCIA VISUAL

Monografia apresentada à

Faculdade de Educação Física da

Universidade Estadual de Campinas,

Como requisito parcial para o curso

De especialização em Atividade Motora

Adaptada, sob a orientação do Prof. Dr.

José Júlio Gavião de Almeida.

UNIVERSIDADE ESTADUAL OE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CAMPINAS - 2001

1

Agradecimentos

Agradeço a todos que me ajudaram e apoiaram em todas as fases deste

trabalho, à minha familia, aos meus colegas e professores da UNICAMP e ao

meu Orientador.

Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família, minha mãe Tânia, minha inmã

Débora, meu irmão Denis, meu pai Ricardo, meus avós e a uma pessoa muito

especial.

2

SUMÁRIO

Resumo ............................................................................................................. 04

Introdução ................ . ··········· ................... 06

Metodologia ........................................................................................ . . ... 10

Capítulo 1 - Dança .............................................................................. . . ..... 13

Capítulo 2- Deficiência Visual. ................................................. . . .......... .21

2.1. Capacidades Motoras ................................................................. 27

2.2. Dança e Deficiência Visual............. .. .......... ........... .. ........... 32

Discussão .......................................................................................................... 33

Considerações Finais- Proposta Pedagógica de Ensino ................................ 37

1. Em função do Ritmo .............................................. 38

2. Em função da Equilíbrio ......................................... 39

3. Em função do Coordenação Motora ..................... .40

Conclusão ....................................................................................................... .41

Referências Bibliográficas ................................................................................ .42

Anexo- Descrição das aulas ........................................................................... .45

Estratégias de Ensino ...................................................................... 55

3

RESUMO

Este trabalho vem abordar as estratégias de ensino aprendizagem do

sapateado para deficientes visuais (pessoas cegas e com baixa visão).

Através das combinações de passos e ritmos utilizados no sapateado,

sons e movimentos, o deficiente visual poderá melhorar sua comunicação e

compreensão do mundo, dos movimentos humanos, da expressão de

sentimentos e emoções que fazem parte de seus cotidianos, estabelecer

relações afetivas entre as pessoas e a sociedade, sendo uma nova fonte de

aprendizado, diferente e interessante.

O sapateado, é um estilo de dança que se utiliza de sons feitos pela

pessoa que o executa para compor seus passos, e necessita além do ritmo

musical, a adaptação do ritmo corporal, realizada através de passos,

seqüências rítmicas combinadas e estudadas, que desde o início partiram de

uma inspiração, uma emoção, um sentimento do professor ou coreógrafo.

Podendo ser uma nova fonte de aprendizado de ritmo, coordenação motora e

equilíbrio para a pessoa portadora de deficiência visual, além de promover um

maior contato com a arte, a dança e suas emoções.

Neste trabalho, foi dado ênfase na aprendizagem e nos benefícios que o

sapateado pode trazer para as pessoas portadoras de deficiência visual, pois

exige uma série de capacidades físicas para executá-lo. Enfatizamos o ritmo, a 4

coordenação motora e o equilíbrio, que são muito importantes nessa fase

inicial.

Através do estudo das técnicas do sapateado, e da transferência desse

conteúdo para o deficiente visual, pudemos detectar a necessidade de

estratégias específicas para essas pessoas para sua aprendizagem e melhoria

do ritmo, coordenação motora e equilíbrio.

5

INTRODUÇÃO

A motivação para realização desse trabalho surgiu devido ao grande amor

e dedicação de 20 anos em dança como bailarina e 7 anos como professora,

em todas as modalidades, inclusive o sapateado.

Quando estava cursando a faculdade de Educação Física da Pontifícia

Universidade Católica de Campinas - SP, tive a oportunidade de trabalhar

durante um ano no CIAD (Centro Interdisciplinar de Atenção ao Deficiente), em

decorrência da monitoria na disciplina de Atividade Motora Adaptada e grande

interesse por mais essa experiência, tive a iniciativa de efetuar um estudo piloto

com uma das alunas do CIAD, portadora de deficiência visual, com aulas de

sapateado, que foram muito produtivas e satisfatórias por parte da aluna e da

professora.

Este estudo foi retomado durante o curso de Especialização em Atividade

Motora Adaptada, na Faculdade de Educação física da Universidade Estadual

de Campinas, com aulas de sapateado para a mesma aluna, como um resgate

dos movimentos já aprendidos e pesquisa bibliográfica sobre o assunto, para

continuação e aperfeiçoamento do estudo.

O estudo do assunto torna-se relevante pois segundo Laban (1978) o

movimento é a base da comunicação do ser humano e até dos animais, e

através dele podemos expressar sentimentos, pensamentos, emoções e ações 6

sem necessidade de palavras. Então, através deste movimento e do ritmo

também é possível estabelecer relações afetivas entre as pessoas e a

sociedade. O sapateado aborda todas estas questões e pode ser transmitido

ao deficiente visual, sem nenhum problema, podendo dar uma significativa

contribuição em todos os sentidos para a vida dessas pessoas, além de ser

uma dança que utiliza um dos sentidos mais desenvolvidos do deficiente visual

que é a audição.

De acordo com o mesmcb autor o movimento pode revelar diversos i

sentimentos, tais como, a pertonalidade do indivíduo, suas necessidades,

ritmos e formas, podem revelaf atitudes, situações momentâneas, além de

receber influência do ambient, e das pessoas. O movimento, os gestos,

! mesmo que sejam aparentemerte iguais, podem ter inúmeros significados,

' emoções, dependendo da pessor e do sentimento daquele momento. Segundo

' o mesmo autor, a dança, pel9s seus diversos ritmos e formas, conta ao

I

espectador uma estória, transmi'e sentimentos, através de suas expressões, !

seus movimentos, sem necessid~de de palavras e com isso cria seus próprios !

padrões e estilos, buscando val~res contidos no ser humano incorporando a

totalidade da expressão corporal.·.

Comentando especificamente a questão do deficiente visual, de acordo

I com Gândara (1993) a compreerlsão do ritmo é muito importante para todos e

!

também para o deficiente visual, lpois esta consciência rítmica proporcionará a

eles gestos harmoniosos que os i1evará a uma expressão corporal em relação

ao tempo. A dança e o ritmo ~odem ser utilizados como meios para uma

melhor comunicação e compreen~ão do mundo, dos movimentos humanos, da

expressão de sentimentos e emo~ões que fazem parte de seus cotidianos

7

De acordo com Jacob (1981) ambos, o jazz e o sapateado são derivados

de danças africanas trazidas para os EUA pelos escravos negros, e surgiram

no mesmo tempo e lugar, mas, na essência, o jazz focaliza-se no movimento

do corpo, enquanto que o sapateado se concentra no ritmo e trabalho dos pés.

Para que os sons saiam claros e nítidos é necessário estar com os pés

relaxados e treinar seu controle e agilidade. Perto de 1980 foram colocados

imitadores de moedas, parafusados no calcanhares dos sapatos para

intensificar o som, que mais tarde foram substituídos por chapinhas de metal.

Segundo Silva (1999) a perda da capacidade de interpretação e captação

de estímulos visuais consiste na deficiência visual, podendo ter diferentes

graus de comprometimento, total ou parcial, progressiva ou temporária,

congênita ou adquirida. Pode apresentar diferentes e diversas causas que

podem determinar características tanto físicas como psicológicas da pessoa

portadora de deficiência visual, sendo algumas dessas causas, a rubéola

materna, diabetes, tumores, traumatismo, doenças que afetam diretamente o

olho, retinopatia da prematuridade, entre outros.

Para a autora, o desenvolvimento da pessoa portadora de deficiência

visual é realizado de maneira diferenciada pois 85% das experiências

aprendidas no dia a dia são visuais, sendo então o órgão da visão o mais

utilizado para aprendizagem e desenvolvimento das atividades do ser humano.

A interação com o meio ambiente e a hereditariedade são muito importantes

para o desenvolvimento total e harmônico do indivíduo. Quem não pode utilizar

a visão, precisa recorrer a outros órgãos sensoriais como tato, audição ,

cinestesia, para ter condições de captar informações do ambiente, embora, não

seja possível suprir 100% da falta de visão. 8

Além do ritmo, e a coordenação motora de pernas, pés e braços, o

equilíbrio é essencial na execução dos movimentos do sapateado pois é

constante a transferência de peso de uma perna para outra e o apoio em uma

das pernas para a realização de passos. A pessoa portadora de deficiência

visual possui dificuldade na motricidade ampla devido à sua insegurança ao

andar e ao realizar grandes movimentos por não possuírem o referencial visual.

Com isso, o equilíbrio também fica comprometido, mas pode ser trabalhado e

melhorado com a aprendizagem do sapateado. Surge aqui o propósito de

estudar especificamente o ritmo, coordenação motora e equilíbrio para pessoas

portadoras de deficiência visual.

O primeiro e grande diferencial no ensino de sapateado ou de outro estilo

de dança para a pessoa vidente e a portadora de deficiência visual está na

aprendizagem essencialmente pelo visual. Este referencial está incorporado

em pessoas que lidam com a dança, alunos, autores, professores e bailarinos e

é o primeiro a ser descartado quando falamos em deficiência visual. Só porque

as pessoas apresentam uma visão normal, não significa que não tenham

dificuldades de ritmo coordenação e equilíbrio, mas mesmo assim a

aprendizagem evolui mais rapidamente do que para uma pessoa portadora de

deficiência visual, pois a visão simplifica e agiliza uma série de situações que

precisam ser mais detalhados, utilizando outros recursos e sentidos para

compreender. Isto não significa que ele não aprenderá corretamente o que lhe

for transmitido, só demostra que poderá levar um tempo maior.

Palavras-chave: aprendizagem/ sapateado/ deficiência visual/ ritmo/

coordenação/ equilíbrio

9

METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesse trabalho, foi de uma Pesquisa Qualitativa,

envolvendo um Estudo de Caso, através da observação direta intensiva em

função da observação sistemática; combinando pesquisa bibliográfica sobre o

histórico da dança, histórico do sapateado, deficiência visual, capacidades

motoras - coordenação, ritmo e equilíbrio, dança e deficiência visual (tal qual

pode-se observar em nossas referências bibliográficas, base para estes

encaminhamentos), para que se tenha um respaldo teórico na análise e

manipulação de informações, com a pesquisa de campo, com objetivo de

conseguir informações sobre o problema em questão, e assim poder encontrar

respostas e soluções para ele.

Na pesquisa de campo, foram realizadas onze aulas com uma aluna

deficiente visual, que estão descritas em anexo.

A seqüência de uma aula de sapateado é a mesma utilizada para pessoas

videntes e deficientes visuais, o que vai mudar são as estratégias utilizadas na

aprendizagem dos passos e o tempo em que as pessoas aprenderão. Para as

pessoas com visão normal, o professor utiliza recursos visuais e de imitação

primeiramente, e para o deficiente visual utiliza-se a comunicação verbal entre

outros. Para qualquer aluno que esteja aprendendo o sapateado é muito 10

importante a utilização de outros recursos como cantos, palmas, para

evidenciar melhor o som e o ritmo daquele passo ou seqüência.

Durante a realização das aulas foi feita a observação individual e

participante por parte do pesquisador/professor, de maneira sistemática,

procurando avaliar as situações que ocorrerão durante as aulas, anotando o

que julgar de maior importância para o desenvolvimento da pesquisa e

documentado através de filmagens, as evoluções na aprendizagem do

sapateado em diferentes estratégias pedagógicas, interagindo com a aluna a

melhor maneira de aprendizagem dos diferentes passos e combinações do

sapateado, permitindo sugestões e colocações da própria aluna, observando

seu comportamento em aula.

Houve a elaboração de uma coreografia que foi apresentada pela aluna

no final desta fase de pesquisa, pois destas poderão surgir muitas outras.

Através da realização dessas aulas, foi possível desenvolver diferentes

estratégias de ensino aprendizagem, abordando o ritmo, a expressão corporal

e também a técnica na execução dos passos do sapateado, com intuito de

aprendizagem da mesma. Os dias e horários que se realizaram as aulas foram

combinados com a aluna, de acordo com suas possibilidades.

Foram utilizadas músicas dos mais variados ritmos, nacionais e

internacionais, e o material mais importante a ser utilizado é o sapato de

sapateado, que contém as chapinhas metálicas de onde são produzidos os

sons da dança e que é utilizada pela aluna na execução dos movimentos,

expressão de sons e sentimentos.

11

No capítulo 1 abordamos conteúdos sobre a dança, sua história e

evolução, baseando- se em referencial bibliográfico específico sobre alguns

autores como Garaudy, Laban, Ossona, Jacob, entre outros.

No capítulo 2 foram abordados conteúdos sobre Deficiência Visual,

algumas de suas causas, definições e problemas que acarretam, havendo duas

subdivisões, uma sobre capacidades motoras, o desenvolvimento da criança

cega e as capacidades motoras de ritmo, coordenação e equilíbrio com

embasamento de autores com Amiralian, Silva, Bruno, Tubino, Barbanti entre

outros; e outra subdivisão sobre a dança e o deficiente visual com

embasamento principal em Figueiredo.

Em seguida fizemos uma discussão sobre o conteúdo teórico e o

desenvolvimento das aulas, e dentro das considerações finais, viemos sugerir

uma proposta pedagógica de ensino relacionada com sapateado para alunos

com deficiência visual.

12

CAPÍTULO 1.

DANÇA

A dança para todos os povos e em todos os tempos é a expressão através

do movimento do corpo, organizados em seqüências significativas, com

experiências que transcendem o poder das palavras e da mímica, e se prende

à magia, à religião, ao trabalho- festa e ao amor- morte.

É a expressão intensa da relação do homem com a natureza e a

sociedade. Seu ser é um universo inteiro, o lugar da dança está no coração de

todos os homens.

É um modo total de viver a arte, o conhecimento e a religião. É o homem

presente no que faz, enriquecendo a vida e exercendo sobre nós o fascínio do

amar.

" A dança é expressão e celebração da continuidade orgânica entre o

homem e a natureza" (Garaudy, 1980: 17). É o movimento cadenciado e

demoradamente sustentado. Desde o início das sociedades, é através da

dança e do canto que o homem se afirma como membro de uma comunidade

que o transcende às transformações dos ritmos (natureza e humano)

"A dança, dizia Platão, é um dom dos deuses. Ela deve ser consagrada

aos deuses que a ctiaram" ( Garaudy, 1980:27). 13

Com o renascimento surgiram alterações da concepção do mundo e com

isso a arte geral ganhou nova força. Na dança, esta valorização foi significativa

evoluindo e atingindo formas mais estruturadas, com dimensões de espaço e

tempo reduzidas em seus espetáculos, que passaram a ser apresentados em

salões da nobreza e não mais em praças públicas, surgindo assim a

necessidade de se organizar e se anotar os passos da dança, o que foi feito,

segundo Garaudy (1981), por Guglielmo Ebreo, que definiu as qualidades de

um dançarino e mencionou pela primeira vez a palavra balleto, feito pelo

coreógrafo italiano que, segundo Mendes (1987), comentou- se na Itália que os

balés eram composições que compreendiam passos fundamentais.

Segundo Garaudy (1981), foi através de Catarina de Médicis, que se deu

a chegada do balleto à França porque ao casar-se, levou consigo o coreógrafo

da França que transformou o balé de corte em balé teatral.

Segundo Mendes (1987), Jean- Baptise Lully, italiano residente na França,

em 1673, criou bases do que seria dança nobre, a ópera- balé e introduziu

mais dançarinos profissionais. No final do século, o balé francês conquistou

seu mais alto nível em termos técnicos e de criatividade em seus balés

suplantando o balé italiano.

A técnica seria um meio eficaz e efetivo para canalizar movimentos

expressivos atingindo seus propósitos, com plena sintonia entre os dançarinos

e o mundo através da sua comunicação gestual, do conhecimento do corpo e

das possibilidades de movimentos existentes. Com a limpeza do gesto e busca

de expressão, se ganha beleza e emoção trazendo o valor estético da dança.

A dança, no início do século XX, havia se transformado numa arte

decorativa, desumanizada como uma rainha fútil e bonita, embalsamada no 14

seu caixão de vidro. Com sapatilhas rosas, ela estava na situação da Bela

Adormecida, dormindo há cem anos enquanto o mundo mudava

vertiginosamente ao seu redor.

Segundo Garaudy (1981 ), no início do século XX pode-se ver uma

revolução estética da dança com lsadora Duncan que inspirada em estátuas

gregas buscou, em suas formas, uma nova interpretação de movimento. Ela

dançava de pés descalços e com túnicas esvoaçantes recebendo muitas

críticas por se apresentar dessa forma. Buscava inspiração que desse sentido

à sua dança, uma teoria e uma técnica que expressassem os sentimentos e

vontades do homem.

De acordo com o mesmo autor, Marta Graham também foi outra grande

revolucionária estudando o movimento humano como forma de expressão do

que o ser humano é na sua essência. Ela criou uma técnica baseada na

respiração, pois para ela, o ritmo mais importante a ser seguido é o ritmo da

vida.

A dança moderna tem como objetivo exprimir as emoções do ser humano

através dos movimentos corporais. Laban se entregou a observação do

movimento do homem no trabalho, analisando como o seu corpo se move, em

qual direção, velocidade e intensidade.

Segundo Ossona (1988), no mesmo momento de lsadora Duncan, a

Europa Central se baseava em conceitos artísticos e experimentava novas

idéias que se concretizava na dança através do expressionismo com Rudolf

Laban (1879 - 1958). A criatividade de seu trabalho derivou num drama

dançado com profunda significação no movimento.

15

De acordo com a autora, Ruth St. Deris foi a verdadeira pioneira da dança

livre nos Estados Unidos, e sua arte seguiu uma tendência mística. Iniciou com

a dança clássica de pés descalços e mais simplificada, enriquecendo-se com a

escola alemã e com a rítmica de Dalcroze. Marta Graham, Doris Humphney,

Lois Horst e Charles Weidmam que foram figuras vindas desta escola.

Para a autora, o nome Marta Graham é sinônimo de dança moderna

americana. Os mistérios do subconsciente orientaram sua temática,

construindo um sistema de disciplina corporal baseado em tensões, quedas,

suspensões, percursões, recuperações, contrações, com todo o corpo. Há

quase sempre um desprezo do equilíbrio e da simetria com meios expressivos,

pois considera-se que todo movimento é a ruptura do equilíbrio físico, e a

beleza da forma não é pré estabelecida.

"Na dança moderna, dança-se para expressar o homem em relação com o

homem, ou com a natureza, a divindade, a máquina, as paixões, os

coslumes."(Ossona, 1988: 14)

O movimento é uma característica humana, e nós vivemos num mundo de

movimento. A autora diz que o método Laban descreve e compreende o

movimento relacionando força, tempo, espaço e fluência, estimulando assim a

integração corpo e mente.

Nos dias atuais, o tradicional balé clássico recebe influência cultural do

país onde é executado, fazendo com que existam assim diferentes tendências.

Essa influência também ocorre com os outros estilos de dança que foram

surgindo, como o jazz e o sapateado.

De acordo com Jacob (1981) ambos, o jazz e o sapateado são derivados

de danças africanas trazidas para os EUA pelos escravos negros, e surgiram 16

no mesmo tempo e lugar, mas, na essência, o jazz focaliza-se no movimento

do corpo, enquanto que o sapateado se concentra no ritmo e trabalho dos pés.

Segundo a autora, o sapateado e o jazz foram dançados com a mesma

música, por longos anos - "jazz'', partilhando a sofisticação de ritmos e o uso

da improvisação. Ambos eram chamados de 'Jazz dance", na era de ouro

(1920, 30 e 40), com grandes performances de bailarinos e com as grandes

bandas de jazz (Big Jazz Bands), comentando-se que Ernie Smith disse não

ser possível ficar sentado ouvindo a música, pois ela faz você dançar com seu

ritmo propulsivo e penetrante. Jacob (1981) ressalta que os dançarinos de

sapateado deste período combinaram a flexibilidade das pernas, os giros,

piruetas e movimentos acrobáticos do jazz, com os passos do sapateado, e

nessa época, tinham uma pequena instrução formal em dança, pois

aprenderam sua arte nas esquinas das ruas, nos carnavais, nos salões e em

lugares de dança.

A mesma autora, fala do sapateado como sendo um tipo de ritmo

sincopado, de dança tribal dos escravos africanos, misturando passos de

dança trazidos para a América por estilos europeus, como os do Irlandês. Ele

se tornou popular no século XIX, onde negros imitavam brancos e vice-versa.

Perto de 1980 foram colocados imitadores de moedas, parafusados nos

calcanhares dos sapatos para intensificar o som, que mais tarde foram

substituídos por chapinhas de metal.

Jacob (1981) diz que nos lugares de encontro em Nova Yorque e outras

cidades, brancos e negros competiam e negociavam os passos mais

atualizados, observando cada estilo e performance dos outros inspirando-se

nos cruzamentos das linhas raciais. O tap foi combinado com o ballet pelo astro 17

branco Fred Astaire, Eleanor Powell e Gene Kelly. Eles usavam mais o

movimento do corpo do que o complexo trabalho com os pés. Esses bailarinos

instituíram uma postura aberta e elegante dos braços e do corpo, adicionando

uma dimensão espacial para a coreografia de sapateado, Paul Draper,

inventou o gênero chamado ballet-tap, instituindo uma ligação dos passos do

sapateado com os movimentos de braços e pernas do bailei.

De acordo com Portinari (1989) na década de 30, vindo da Broadway,

Fred Astaire levou a elegância de gentleman para o cinema, com cenas

filmadas sem ângulos fantasiosos, quase sempre em cenários singelos. Astaire

virou ídolo com seu corpo, sua leveza, deslizando e sapateando. Formou dupla

histórica com Ginger Rogers, gravou nove filmes em seis anos, sem perder a

majestade. Em preto e branco ou colorido, a dança de Fred Astaire fascinou

multidões. Na década de 50, projetou-se outra estrela, Gene Kelly, que

começou na Broadway e chegou ao cinema com 30 anos. Alguns grandes

momentos dançantes do cinema tiveram nele o coreógrafo e o intérprete, como

Singin'in the Rain (Cantando na Chuva) e Na American in Paris (Sinfonia de

Paris). A partir dos anos 60, os musicais foram escasseando em Hollyvvood,

hoje em dia, a tendência mais comum é transpor para a tela o que já fez

sucesso no palco.

Mas, para Jacob (1981) os sapateadores negros, que primeiramente

utilizaram seus pés, foram responsáveis pelas maiores inovações no

sapateado, trazendo a forma de vida negra dos anos 60.

Grandes nomes com Bill "Bojangles" Robinson, Eddie Rector, John

Bubbles foram revolucionando o sapateado ao longo dos anos. Em 1950,

depois da Broadway e Hollyvvood terem abandonado o tap em favor do bailei, 18

muitos sapateadores transformaram-se em mensageiros para tentar fazer a

arte viver. Durante os anos 70 uma geração de dançarinos jovens dançaram

em colaboração aos velhos tempos de sapateado inserindo e dando

continuidade ao renascimento do sapateado.

Para Jacob (1981) o sapateado tem ênfase clara no trabalho dos pés e

expressão de ritmo através do som. Por este lado, em tese, os sapateadores

são os melhores músicos pois fazem seus próprios sons com os pés, e com as

bandas de jazz dos anos 30 e 40, transformaram-se em verdadeiros

percusionistas produzindo uma variedade de sons e ritmos. Para que os sons

saiam claros e nítidos, é necessário estar com os pés relaxados e treinar os

controles e agilidades dos pés. O tap é costumeiramente dançado numa

atmosfera amigável de competição e desafios, sendo necessário muito treino e

paciência para a aprendizagem.

19

O sapateado no Brasil começa nos anos setenta, no Rio de Janeiro,

recebendo a influência dos Estado Unidos, com a música jazz tradicional,

formando vários núcleos com os professores que vinham dos Estados Unidos.

Um desses núcleos foi formado por Lennie Date, vindo de Nova Iorque,

que não era sapateador mas provocou um grande impacto na década de

setenta, introduzindo o estilo de dança-teatro da Broadway abrindo o caminho

para a consolidação do sapateado no país. E agora, vem ocorrendo, um

processo de "nacionalização" que é a utilização de ritmos brasileiros para aulas

e coreografias de sapateado, que são uma grande fonte de inspiração para os

professores e assim, valorizando a cultura nacional através desta dança,

utilizando a técnica do sapateado americano.

A demanda para aulas de sapateado no Brasil está crescendo todos os

dias, as academias, professores e bailarinos estão se especializando, mas ele

é ainda um fenômeno recente no país. O maior obstáculo para este

desenvolvimento é a dificuldade de encontrar material didático e livros sobre o

assunto.

20

CAPÍTUL02.

DEFICIÊNCIA VISUAL

Segundo Ribas (1985) a pessoa que deixa a vida ou a deficiência

comandá- la poderá estar sujeito a mais limitações, e salvo poucas exceções,

pessoas deficientes não são pessoas doentes. A reabilitação é muito

importante e inclui a parte física, psíquica (emocional) e social, sendo essencial

a integração de toda equipe que trabalha para integrá- lo à sociedade que tenta

desintegrá- lo.

Para o autor, as pessoas são aquilo que sua condição social, sua história

de vida o permitem, a formação da personalidade é influenciada pela família, a

deficiência acaba fazendo as pessoas tomarem certas atitudes perante a vida,

e a grande parte das famílias não está preparada para receber um membro

deficiente.

Segundo Amiralian (1997), quando falamos em pessoas cegas

imediatamente nos vem a imagem de uma pessoa sofrida, que v1ve nas

"trevas" e em eterna "escuridão". A idéia de ficarmos privados

momentaneamente de visão é sem dúvida traumática e perturbadora, e para

nós, a cegueira se identifica com fechar de olhos, acabarem- se as luzes e com

21

as inúmeras dificuldades físicas, motoras, cognitivas e emocionais dessas

situações, acreditando que este seja o estado constante dos sujeitos cegos.

Para a autora as concepções populares sobre a cegueira freqüentemente

se colocam em pólos contraditórios. De um lado são descritos como pobres,

indefesos, inúteis e desajustados, algumas vezes tolos e dignos de piedade,

por outro lado há também a visão do cego possuidor de poderes sobrenaturais,

possuidores de dons, sexto sentido, mas o ver parece ocupar cada vez mais

um lugar de destaque em nossa vida.

Segundo Carroll (1968), quando se trabalha com cegos é importante

distinguir se ele é congênito ou seja, nunca viu antes ou adquirido, que já

possuiu a visão e a perdeu.

Uma das primeiras diferenças que devem ser notadas entre o cego

congênito e o adquirido, no próprio sentido das palavras é a relação de "perda"

daquilo que teve um dia e privação ou seja, aquilo que nunca foi conhecido.

De acordo com o mesmo autor, as pessoas que ficaram cegas na idade

adulta, devido a experiências anteriores, terão maior controle de expressões , e

saberão identificar ( imaginação), aquilo que um dia tiveram a oportunidade de

ver. A visão é o principal sentido utilizado pelas pessoas que a possuem e se

por ventura for perdida, elas terão que desenvolver os outros sentidos; como

tato, audição, que até então eram utilizados secundariamente, ao contrário do

individuo que desde pequeno aprendeu a interpretar informações e situações

da vida com os outros sentidos.

Os aspectos sociais influenciam muito na vida destas pessoas portadoras

de deficiência visual, no que diz respeito a aceitabilidade, as dificuldades de

22

adaptação ao meio, mas não é possível julgar, dizendo se é mais fácil ser

obrigado a enfrentar ou já ter sido criado com esses problemas.

Segundo Silva (1999) a perda da capacidade de interpretação e captação

de estímulos visuais consiste na deficiência visual, podendo ter diferentes

graus de comprometimento, total ou parcial, progressiva ou temporária,

congênita ou adquirida. Pode apresentar diferentes e diversas causas que

podem determinar características tanto físicas como psicológicas da pessoa

portadora de deficiência visual, sendo algumas dessas causas, a rubéola

materna, diabetes, tumores, traumatismo, doenças que afetam diretamente o

olho, retinopatia da prematuridade, entre outros.

De acordo com a autora para uma pessoa ser considerada portadora de

deficiência visual é preciso que ela necessite de ajuda (humana ou material)

para desenvolver sua atividades mesmo após correção e sua classificação

pode ser feita através do déficit da capacidade visual, que envolve a acuidade

visual, campo visual, visão das cores, visão binocular e distúrbios do sentido

luminoso, que segundo Almeida (1995), consiste na cegueira noturna

(sensibilidade à baixa luminosidade) e albinismo (sensibilidade à excessiva

luminosidade).

De acordo com Almeida (1995) e Silva (1999) com suas considerações

podemos adotar três tipos de classificação para a pessoa portadora de

deficiência visual - PPDV.

A classificação que permite à pessoa direito aos atendimentos previstos

na lei, com duas subdivisões baseadas em critérios médicos: cegos e

portadores de visão subnormal.

23

De acordo com Halliday (1975) as tradicionais definições de cegueira e

visão reduzida, ou subnormal, baseiam- se em medidas de acuidade visual

e/ou na restrição do campo visual, que têm sido estabelecidas com base em o

que uma pessoa de visão normal pode ver a uma determinada distância,

permitindo a confirmação da incapacidade da visão em situações legais e

econômicas. Do ponto de vista educacional, a criança cega é aquela que

aprende através do braille e de outros meios relacionados com pouca ou

nenhuma visão residual, e a criança com visão subnormal tem uma visão útil

para propósitos educacionais, sendo porém limitada e necessitando de

recursos especializados.

Para a autora, o grau de eficiência visual nem sempre pode ser

determinado de maneira precisa, os exames médicos podem determinar as

deficiências de tecido e estrutura, os testes de acuidade visual podem ser

realizados, entretanto é possível que não se obtenha a verdadeira acuidade

visual da criança ou os níveis de funcionamento visual que ela é capaz de

atingir, sendo assim, a motivação adequada para ver deve ser encorajada e

desenvolvida, o quanto for possível.

Segundo a autora, relativamente poucas crianças possuem incapacidade

absoluta de distinguir o dia da noite e mesmo aquelas com menor visão podem

ser auxiliadas a desenvolvê-la e se isso não acontecer, haverá uma

deterioração de sua capacidade visual. Portanto, uma definição médica formal

não é a única, nem o critério final para determinação da incapacidade visual de

uma criança.

De acordo com Huggonier - Clayette ( 1 989), a visão das cores, a visão

binocular, a adaptação às diferentes luminosidades além da acuidade visual e 24

campo visual também abrangem a capacidade visual do aluno, e é necessário

dar a devida atenção aos alunos com relação aos distúrbios de visão das cores

que podem ser de distúrbios leves como o daltonismo à ausência total de visão

das cores, para que haja uma adequação das atividades a serem realizadas e

que estas possam promover o desenvolvimento.

Para Amiralian (1997) do ponto de vista médico e educacional o cego não

é aquele que nada enxerga, vivendo na escuridão total, pois é rara a ausência

total da percepção visual, e grande parte daqueles denominados cegos

freqüentemente percebe vultos, distingue claro de escuro. Pensando assim o

conceito de "trevas" é meio metafórico, mas a pessoa que nunca enxergou não

poderá ver nem a escuridão nem a claridade.

De acordo com a autora, até a década de 70, a classificação das pessoas

como cegas baseava- se no diagnóstico oftalmológico, mas constatou- se que

muitas crianças "cegas" liam o braille com os olhos, então, passou- se a

considerar cegos, aqueles que utilizavam o tato, o olfato, a audição como

sentidos primordiais na aquisição de conhecimentos do mundo externo.

De acordo com Silva (1999) o desenvolvimento da pessoa portadora de

deficiência visual é realizado de maneira diferenciada pois 85% das

experiências aprendidas no dia a dia são visuais, sendo então o órgão da visão

mais utilizado para aprendizagem e desenvolvimento das atividades do ser

humano. A interação com o meio ambiente e a hereditariedade são muito

importantes para o desenvolvimento total e harmônico do individuo.

Segundo a autora a pessoa com visão em perfeitas condições, a princípio

não necessita de outros sentidos para saber o que está ocorrendo à sua volta.

Para quem não pode utilizar a visão é preciso recorrer a outros órgãos 25

sensoriais como tato, audição , cinestesia, para ter condições de captar

informações do ambiente, embora, não seja possível suprir 100% da falta de

visão.

Para a autora as condições que a pessoa portadora de deficiência visual

terá na aprendizagem posterior, dependerá de quanto ela foi estimulada

quando criança através da intervenção direta de outras pessoas. O atraso no

desenvolvimento que pode ser de coordenação geral, controle corporal,

equilíbrio estático e agilidades normais pode ocorrer pela falta de estimulação e

de informação de pais e familiares. A criança portadora de deficiência visual

não possui motivação visual para executar certas atividades, possui pouca

mobilidade na vida cotidiana, menor atividade física na infância e adolescência

e superproteção. As crianças que não forem estimuladas dificilmente irão se

movimentar sozinhas e com número reduzido de experiências, terá seu

desenvolvimento motor prejudicado.

Para Amiralian (1997) uma forma de auto- proteção adotada pelos cegos

é o controle da movimentação, e a conseqüência disso na atividade motora

pode ser responsável pela falta de espontaneidade, depressões, deixando- os

reprimidos e assim encontrando sua expressão nos movimentos rítmicos e

repetitivos.

De acordo com a autora, alguns tipos de comportamento são encontrados

com freqüência entre os cegos. As maiores incidências entre cegos congênitos

são descritas como comportamento estereotipado de movimento das mãos,

balanço ou rotação corporal, mostram ausência de reações afetivas, revelando

uma interrupção precoce do desenvolvimento que é influenciado pela ausência

de percepção visual no início da vida. 26

Movimentos rítmicos do corpo, hábito de apertar os olhos ou bater as

mãos na cabeça são considerados comportamentos estereotipados ou

maneirismo, freqüentes em crianças cegas, sendo que o maior problema que

causam é o impacto social negativo, que prejudicam as relações sociais e a

aceitação da criança cega.

Para a autora, elas também sentem perigos e incapacidade de cuidarem

de si mesmas sem que alguém as proteja. Elas têm a necessidade real de um

suporte e proteção do ambiente além de um desejo de independência e auto­

afirmação, apresentando uma tendência em inibir formas de expressão

agressiva, mas demonstrando medo de serem atacados, pois não podem

perceber as expressões dos outros e falta-lhes liberdade de movimentação

para uma corrida ou outra ação defensiva.

2.1. CAPACIDADES MOTORAS

Segundo Bruno (1993), no início do desenvolvimento sensório motor, a

organização da ação motora está relacionado à atuação do sistema visual e às

experiências proprioceptivas. Com a perda visual, as reações de busca visual

estão ausentes e os exercícios funcionais com a cabeça, olhos e com o corpo

são importantes para a reação e integração do sistema vestibular, responsável

pela postura adequada, pelo equilíbrio e os movimentos harmoniosos.

Para a autora o desenvolvimento preceptivo depende da elaboração, da

organização e da qualidade das experiências sensório- motoras vividas. A

ativação e o desenvolvimento dos processos neurais que levam à percepção e

27

orientação no espaço depende da ativação do sistema vestibular em conjunto

com as sensações proprioceptivas, táteis-visuais e auditivas.

Analisando os aspectos motores globais, verificamos que as reações

eefálicas de orientação, a exploração visual e o olhar sucessivo para pessoas e

objetos são responsáveis pelo fortalecimento da musculatura do pescoço, pelo

tônus e a manutenção da cabeça ereta. As crianças com ausência de visão,

tendem a permanecer por mais tempo com a cabeça lateralizada, braços

abertos e elevados, com mãos cerradas, em assimetria, devido à ausência de

reações táteis-cinestésicas e auditivas-visuais.

De acordo com a autora, a criança com perda visual, em virtude da pouca

movimentação, apresenta baixa reação vestibular, e por isso mostra-se tensa e

insegura aos movimentos do corpo, à mudança postura!, prejudicando a

formação de reações de equilíbrio e os primeiros deslocamentos no espaço,

retardando seu desenvolvimento sensório- motor.

Na criança portadora de deficiência visual, a construção da noção espaço-

tempo ocorre através da motivação do toque, pela busca do espaço. E essa

construção vai depender de suas vivências corporais, do conhecimento de si e

do outro, do significado que as pessoas e os objetos adquirem. Muitas crianças

com deficiência visual têm plena condição motora para a marcha, porém não

se deslocam por insegurança e medo de se moverem sem orientação e

controle do ambiente, necessitando de alguém que caminhe junto e lhes dê

segurança através do contato físico.

Segundo Halliday (1975) a criança com limitação visual necessita mais do

que as outras de sentir o prazer de se movimentar, sendo necessário muitas

vezes mostrar-lhe especificamente como se movimentar, executando 28

atividades bem perto delas para que percebam, "vejam" com as mãos o que e

como se executa a atividade proposta, pois a criança que não sabe utilizar seu

corpo e se movimentar, terá um mundo muito limitado e não se sentirá segura

no seu ambiente.

Para a autora, pesquisas demonstram que a visão inicia o processo de

coordenação motora grossa e acredita- se que a criança com limitações visuais

coordena esse pr0eesso através da audição. O que se pode afirmar,

atualmente, é que a coordenação ouvido/mão se desenvolve mais tarde do que

a coordenação alhO/iYlão, sendo compreensível que a criança portadora de

deficiência visual tenha seu desenvolvimento diferente em certas áreas.

Para Negrillé (1987) o desenvolvimento perceptivo- motor está ligado aos

processos de aprendizagem e maturação. Esta ocorre por mudanças interiores

independentes de influências externas, e a aprendizagem recebe estimulas do

meio externo e provoca modificações no comportamento do organismo.

De acordo com o autor, a princípio a aprendizagem tem uma maior

dependência dos aspectos internos (maturação), e depois ela depende mais

das informações que vão sendo armazenadas, vindas do meio e captadas

através dos órgãos sensorias. Para que ocorra o desempenho de uma

habilidade motora, as informações necessárias são captadas pelos receptores

visuais, auditivos e proprioceptivos do sistema sensorial. Um aspecto a ser

observado é que a visão é o sentido dominante e há uma tendência do

indivíduo confiar nela para obter a informação. Para a pessoa portadora de

deficiência visual é necessário adquirir confiança no sistema auditivo e

proprioceptivo para adquirir as mesmas informações.

29

O autor acreaita que a falta de equiliõM corporal pOde ocasionar

transtornos e dificuldades em determinadas habilidades corporais traduzidas

por cooraenação psicomotora.

Segundo o autor, a forma mais elementar de equillbrio é a posição blpede,

e a fase anterior à esta postura desempenha um papel importante para a

aquisição de equillbrio. A estimulação do ato de engatinhar na criança,

proporcionam impressões corporais importantes para o desenvolvimento

psicológico. Ele considera ainda que a presença da visão é um fator tacilitador

para o equilíbrio e deveriam ser estimulados através de exercícios de equilíbrio

com os olhos fechados pois, indicam melhor percepção do espaço e domínio

corporal.

Segundo Barbanti (1986) para a Educação Física e Esportes, um talento,

um potencial refere-se à capacidade, qualidades inatas de uma pessoa, como

por exemplo: forçe, flexibilidade, resistência etc. e habilidade refere-se a coisas

desenvolvidas, aprendidas como habilidade para praticar algum esporte ou

alguma dança. O autor ressalta que as capacidades são determinadas

geneticamente e a habilidade motora depende da experiência de um

movimento específico, automatizado com a repetição. Sendo assim, uma

técnica esportiva, uma técnica de dança são Mbilidáâés motoras.

Em Tubino (1979) encontramos as seguintes definições para ritmo,

coordenação e equilíbrio'

Ritmo: é a qualidade física explicada por um encadeamento de tempo, um

encadeamento dinâmico-energético, uma mudançe de tensão e de repouso,

enfim, uma variação regular com repetições periódicas. (p. 180) 30

Coordenação: é a qualidade física que permite ao homem assumir a

consciência e a execução, levando-o a uma integração progressiva de

aquisições, favorecendo-o a uma ação ótima dos diversos grupos musculares

na realização de uma seqüência de movimentos com um máximo de eficiência

e economia. (p. 180)

Equilíbrio: é a qualidade física conseguida por uma combinação de açêles

musculares com o propósito de assumir e sustentar o corpo sobre uma base,

contra a lei da gravidade. (p. 180)

Para Barbanti (1979) a adaptação à situações variadas com

aprendizagem de novas técnicas e capacidade de dominação de movimentos

complicados consiste na destreza. Quando refere-se à uma técnica particular, é

chamada de específica e quando visa os aspectos fundamentais do

movimento, é chamada geral.

De acordo com o autor, ela é de grande importância para a aprendizagem

motora e o domínio técnico, pois possibilita ao aluno aprender novos

movimentos em menor tempo, dando à ele um melhor poder de orientação,

adaptação, percepção temporal e espacial, precisão, equilíbrio e ritmo, que são

muito utilizados na dança e consequentemente no sapateado. Para ele, a

coordenação está subordinada ao Sistema Nervoso Central, sendo executada

pelos músculos. Ele diz que um movimento coordenado é aquele alcançado

com maior economia de energia, isto é, são movimentos racionais, livres, com

estilo.

O mesmo autor comenta que os mecanismos de regulação do equilíbrio

se origina no labirinto do ouvido interno e a essêneia dele está na posição e

movimentos da cabeça. 31

2.2. DANÇA E DEFICIÊNCIA VISUAL

Para Almeida (1995) desde que a pessoa esteja interessada, não se deve

privar ninguém de seu desenvolvimento e exercício das experiências motoras.

O professor deve preocupar-se em enriquecer as experiências motoras do

deficiente visual, se utilizando de diversos meios, explorando suas habilidades

específicas oportunizando assim o seu desenvolvimento motor.

Para o autor deve-se dar a eles oportunidade para a prática artística do

trabalho com dança e ritmo pois, os problemas que impedem o deficiente visual

de desenvolver suas atividades motoras são de ordem social e cultural, que vai

desde normas e leis que os amparam até o desconhecimento do valor da

prática dessas atividades pelos próprios deficientes visuais.

Segundo Figueiredo (1997) os modelos e padrões da dança são em

grande parte pré- estabelecidos a partir de uma realidade visual, mantendo seu

referencial nas imagens, nos espelhos, nas imitações e repetições. Para ela, o

movimento é uma forma de relação do homem com o mundo, mas esse

movimento terá mesmo um significado se estiver em harmonia com a

experiência e o sentimento pessoal de quem o realiza.

De acordo com a autora devemos olhar com perspectiva diferente, com

maiores possibilidades, respeitando limites, dando maior liberdade para criar e

viver o corpo, oportunizando a todos a possibilidade de experimentar a dança.

A autora constatou opiniões dos deficientes visuais que estavam

envolvidos com a dança, como por exemplo, a dança por puro prazer de

dançar, pela alegria de expressar os sentimentos, pela busca da auto

confiança, quebrando os paradigmas de espelhos e imitações. 32

DISCUSSÃO

Segundo Fux (1983) o ritmo está em todos os movimentos, na respiração,

na circulação do sangue. Quando nos movimentamos, traçamos linhas no

espaço, produzimos diferentes ritmos. Para a autora, a dança está intimamente

ligada com a música e não é possível compreendê-la, sem a experiência da

mobilização corporal.

Segundo Bruno (1993) tem-se encontrado na literatura que a deficiência

visual interfere no desenvolvimento e aquisição dos esquemas cognitivos e na

adaptação ao meio.

É importante refletir como se processa o desenvolvimento cognitivo para

compreendermos como a criança portadora de deficiência visual constrói seu

conhecimento. Na concepção de Piaget, a capacidade de adaptação às novas

situações consiste na inteligência que pode se complementar por dois

processos, que é o da assimilação, quando as coisas e fatos adquirem

significação para o indivíduo e a acomodação, que consiste na modificação de

um esquema pela ação do sujeito. Então, para a autora, a aprendizagem

depende da capacidade do sujeito de se acomodar ao objeto do conhecimento

e assimilá-lo, tornando-<> parte de si mesmo.

De acordo com a autora tenta-se compreender as necessidades da

criança portadora de deficiência visual através do trabalho de intervenção 33

precoce, que vai facilitar a construção do contlecimente, por meio da interação

e comunicação, procurando despertar a curiosidade, o interesse pela

descoberta do mundo, estimulando assim a iniciativa e a autonomia.

O sapateado envolve uma série de qualidades físicas para sua execução.

Para este estilo, algumas são consideradas fundamentais, principalmente na

fase de aprendizagem, quais sejam: ritmo, coordenação de movimentos e

equilíbrio que necessita de consciência corporal. É claro que para uma pessoa

tornar-se um bailarino de sapateado ela necessitará de outras qualidades

físicas como flexibilidade, agilidade, capacidade de memorização e orientação

espacial. Para este trabalho vamos dar ênfase na fase de aprendizagem e nos

benefícios que o sapateado pode trazer para as pessoas portadoras de

deficiência visual.

O equilíbrio é essencial na execução dos movimentos do sapateado pois é

constante as transferências de peso de uma perna para outra e o apoio em

uma das pernas para a realização de passos. A pessoa portadora de

deficiência visual possui dificuldades na motricidade ampla devido à sua

insegurança ao andar, ao realizar grandes movimentos por não possuírem o

referencial visual. Com isso, o equilíbrio também fica comprometido, mas pode

ser trabalhado e melhorado com a aprendizagem do sapateado.

O ensino do sapateado se dá basicamente iniciando-se a aula com um

aquecimento, depois executando passos separadamente indo do mais simples

para o mais complexo, variando de acordo com o nível dos alunos que estão

sendo trabalhados. Os exercícios podem ser feitos na barra, na diagonal (da

sala) ou no centro, e depois de serem feitos separadamente, eles são

combinados uns com os outros, realizando pequenas seqüências coreográficas 34

que podem ou não ser utilizadas em futuras coreografias para apresentação.

Para finalizar a aula é importante um leve relaxamento e alongamento das

musculaturas mais utilizadas ou uma pequena descontração. O treinamento e a

repetição são fundamentais para o aprimoramento da técnica de execução de

passos e maior facilidade na aprendizagem e realização das seqüências, por

isso a maioria do tempo das aulas é gasto praticando os passos e aprendendo

seqüências.

O primeiro e grande diferencial no ensino do sapateado ou de outro estilo

de dança para a pessoa vidente e a portadora de deficiência visual está na

aprendizagem essencialmente pelo visual. Este referencial está incorporado

em pessoas que lidam com a dança, alunos, autores, professores e bailarinos e

é o primeiro que temos que descartar quando falamos em deficiência visual.

Podemos perceber isto também na afirmação de Jacob (1981 ): "Siudents

learn the basic steps by watching and imitating lheir teacher'' (p. 145), dizendo

que alunos aprendem os passos básicos vendo e imitando seus professores.

Para este trabalho utilizaremos outros recursos, enfatizando os outros órgãos

do sentido, mostrando que a dança pode ser aprendida de outras diferentes

formas que não a visualização e a imitação

A seqüência seguida na aula de sapateado é a mesma utilizada para

pessoas videntes e deficientes visuais, o que vai mudar são as estratégias

utilizadas na aprendizagem dos passos e o tempo em que as pessoas os

aprenderão. Para as pessoas com visão normal, o professor utiliza recursos

visuais e de imitação primeiramente, mas não são os únicos, pois o sapateado

necessita muito do ritmo, utilizando também o bater palmas e os cantos para

evidenciar melhor o som e o ritmo daquele passo ou seqüência. Só porque as 35

pessoas apresentam uma visão normal, não significa que não tenham

dificuldades de equilíbrio, ritmo e coordenação, mas mesmo assim a

aprendizagem evolui mais rapidamente do que para uma pessoa portadora de

deficiência visual, pois a visão simplifica e agiliza uma série de fatores que

precisam ser mais detalhados, com utilização de mais de um sentido para sua

compreensão, que a visão pode dar em segundos.

Podemos citar um exemplo que é o reconhecimento do sapato, se o

professor mostra um sapato de sapateado evidenciando as chapinhas da frente

e do calcanhar para seus alunos, eles já terão compreendido, o que não

impedem de depois tocarem o sapato e baterem contra o chão para ouvir o

barulho que fazem, podendo ser apenas uma curiosidade a mais sobre o

instrumento que utilizarão, enquanto que para o deficiente visual este processo

será mais demorado pois ele se utilizará de outros recursos para compreender

aquele instrumento, ocorrendo também em muitas outras situações. Isto não

significa que ele não aprenderá corretamente o que lhe for transmitido, só

mostra que poderá levar um tempo maior.

36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

PROPOSTA PEDAGÓGICA DE ENSINO

Baseando-se na revisão literária realizada, nas aulas descritas e na

experiência como bailarina, professora de Dança e de Educação Física,

teremos a elaboração de uma proposta pedagógica de ensino de passos

básicos do sapateado, para pessoas portadoras de deficiência visual, em

função do ritmo, do equilíbrio e da coordenação motora, que como já

explicamos, são fundamentais nessa primeira fase de aprendizagem, partindo

do princípio que todas as pessoas possam executá-la, independente da

bagagem motora que apresentem no momento,

A intenção desta proposta, além do ensino da técnica do sapateado, é

poder ajudar nas situações cotidianas das pessoas portadoras de deficiência

visual e também possibilitar um maior conhecimento corporal e motor para

aqueles que não tiveram oportunidade de vivenciá-las.

É importante ressaltar que a proposta está sendo apresentada de maneira

separada, mas uma depende da outra, e a ordem de aprendizagem e aplicação

dos exercícios pode ser mudada, alternada, dependendo dos alunos e do

andamento que a classe apresentar, pois o ritmo, a coordenação motora e o

equilíbrio estão diretamente interligados na aprendizagem do sapateado. 37

1. EM FUNÇÃO DO RITMO

• Bater palmas com os alunos, sugerindo ritmos e deixando que os alunos

também criem os ritmos e sons que quiserem.

• Com música, bater palmas procurando perceber o tempo e o contratempo

da música. Depois de percebida essas pequenas diferenças dentro da

música, separar a classe em dois grupos para que uma parte evidencie o

tempo e a outra o contratempo. É importante variar o ritmo da música que

esta sendo ouvida, deixar que todos os alunos passem por todas as fases,

para melhor compreensão, e além das palmas, pode-se usar estalos de

dedos, bater os pés, ou outros materiais alternativos como latas, pedaços

de madeira, garrafas plásticas e até os próprios sapatos utilizados nas

mãos.

• Associação do ritmo característico dos passos da sapateado com palmas e

estalos de dedos. Por exemplo: step heel - palma, estalo de dedos; shuflle

step heel - uma mão raspa na outra (movimento como se estivesse

limpando as mãos) palma, estalo de dedos. Isto pode ser feito com outros

passos e combinações.

• Combinação dos passos de sapateado, com palmas e contagem de tempo.

Por exemplo: shuflle, shuflle, step - duas vezes uma mão raspando na

outra, palma - e 1 e a 2 (tempo). Esse exercício pode ser feito

primeiramente com as mãos, depois com os pés e por último com as mãos

e os pés.

38

• Realização da movimentação dos passos do sapateado, agora com os

sapatos nas mãos.

• Realização dos passos e combinações em pé com os sapatos de

sapateado.

2. EM FUNÇÃO DO EQUILÍBRIO

• Segurando na barra com as duas mãos e depois com uma das mãos: ficar

em um pé e balançar o corpo provocando o desequilíbrio e retomada

(propriocepção), ficar com o apoio na ponta dos pés e no calcanhar.

• Repetir os exercícios em duplas, agora sem apoio fixo.

• Caminhar pelo espaço, previamente conhecido pelos alunos, andando

normalmente, na ponta dos pés, nos calcanhares, pulando com os dois pés,

em um pé só e alternando de uma para o outro (mudança de peso

corporal).

• Equilíbrio em uma perna, com as mãos na barra e depois no centro, através

de passos de ballet (passe - flexão de um dos joelhos encostando a ponta

do pé no joelho da outra perna; aberto e fechado; "avião" - equilíbrio em

uma das pernas com a outra estendida para trás) e correção da postura.

• Realizar os passos do sapateado com as duas mãos na barra, depois com

uma e por último no centro.

39

3. EM FUNÇÃO DA COORDENAÇÃO MOTORA

• Exercícios de polichinelo, passos de amarelinha, chute de bolas.

• Exercícios para percepção de pernas e pés (rotação, flexão, extensão,

abdução, adução). Podem ser realizados exercícios com as pernas inteiras,

do joelho para baixo e só com os tornozelos, em diferentes posições, como

deitados, sentados ou em pé.

o Aprendizagem parte por parte dos passos do sapateado e treino para

aperfeiçoamento.

o Coordenação dos passos, com o equilíbrio, o ritmo dos pés e da música.

40

CONCLUSÃO

Com o respaldo de conteúdos aliado com a experiência como bailarina e

professora, pudemos atingir o objetivo de maneira adequada, propondo

estratégias de ensino de sapateado para deficientes visuais.

É importante enfatizar que para a realização deste trabalho é preciso ter

conhecimento sobre as características do desenvolvimento motor do deficiente

visual, conhecer suas dificuldades para que se proponha atividades

adequadas. O tempo de aprendizagem vai depender de cada aluno,

considerando seu repertório motor e suas experiências anteriores.

O sapateado é um estilo de dança que utiliza - se de sons emitidos pelos

pés, para isso é necessário ter conhecimento de como executar os

movimentos, da necessidade e conscientização do aluno que é preciso deixar

os pés relaxados para realizar os passos e para que os sons estejam nítidos.

Também é importante saber a dificuldade de cada passo e ensinar de maneira

progressiva, sabendo combiná- los entre si.

Esse trabalho foi muito interessante, pois pôde dar a chance para que a

pessoa com deficiência visual se desenvolva e melhore seu domínio motor,

através da dança, da arte, tornando muito mais divertido e prazeroso, além de

mexer com as emoções e a sensibilidade das pessoas. 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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pedagógica da atividade motora para cegos e deficientes visuais. 1995. Tese

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42

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pessoa portadora de deficiência visual. 1997. Dissertação (Mestrado Instituto

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GÂNDARA, M. A expressão corporal do deficiente visual. Campinas, SP: CIP­

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(trad.). São Paulo: Fundação para o livro do cego no Brasil, 1975, 126 p.

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MENDES, M. G. A dança.2"ed., São Paulo: Ática, 1987.

NEGRINE, A A coordenação psicomotora e suas implicações. Porto Alegre: A

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UNICAMP.

TUBINO, M. J. G. Metodologia científfca do treinamento desportivo. Biblioteca

de Educação Física, vol1, São Paulo, SP: Copyright, 1979,214 p ..

44

ANEXO

DESCRIÇÃO DAS AULAS

Em todas as aulas serão realizados um aquecimento que consiste no

alongamento dos principais grupos musculares como pescoço, ombros, braços,

costas, dando ênfase maior nos membros inferiores que são bastante utilizados

no sapateado como coxas, panturrilhas e pés. Além disso, é importante que se

faça um relaxamento das articulações coxo-femural, joelhos e tornozelos

através de oscilações para melhor realização e entendimento dos mecanismos

utilizados na execução dos passos do sapateado. A modificação do

aquecimento pode ser feita através de mudanças de posição, em pé, sentado

deitado, para uma maior diversificação, exploração e interação do aluno com o

ambiente e com a dança.

Após as aulas é importante um alongamento final, em ritmo mais lento que

o aquecimento, para relaxar a musculatura, enfatizando principalmente os

membros inferiores, e relaxamentos com trabalhos de respiração para a

finalização das aulas, também chamado de descontração.

Todas as explicações de como executar corretamente os passos e os

sons por eles produzidos serão feitas sem música para evitar dispersões e

dificuldade no entendimento. Assim que o aluno compreender o passo, ou a

45

seqüência, a música poderá ser colocada para motivação e combinação entre

passos e melodia, fundamental no sapateado.

O sapateado possui uma nomenclatura em inglês que é utilizada em todos

os países, então daremos os significados de cada passo que será utilizado

durante as aulas para melhor compreensão:

Quatro tipos de tap (batida com uma das placas do sapato sem mudar o peso

do corpo) são:

Ba/1 tap: batida com a placa da frente do sapato, utilizando toda a sua

extensão.

Hee/ tap: batida com a placa de trás do sapato, na região do calcanhar.

Toe tap: batida da ponta do sapato (bico)

Tip tap: batida com a placa da frente, apenas na pontinha, som mais suave do

que no ba/1 tap.

Step: batida com a placa da frente, mudando imediatamente o peso do corpo.

Stamp: batida com o pé inteiro no chão mudando imediatamente o peso do

corpo.

Stomp: batida com o pé inteiro no chão, sem mudar o peso do corpo.

Hee/ drop: batida com o calcanhar mantendo ou mudando o peso do corpo,

quando a parte da frente dos pés estão apoiadas no chão.

Step-heel: combinação dos dois passos "ponta-calcanhar'.

Hee/-ba/1 tap: combinação dos dois passos "calcanhar-ponta".

Scaff "chute" para frente, raspando apenas a ponta do calcanhar no chão.

Hop: pequeno salto em uma das pernas sem mudança de peso (salto na perna

direita, queda na perna direita) 46

Leap: pequeno salto de uma perna para outra (salto na perna direita, queda na

perna esquerda).

Scaff hee/ toe: combinação rítmica dos passos podendo ser feita em diferentes

tempos e ritmos (chute com o calcanhar, apoio neste calcanhar e descida da

ponta do pé no chão).

Sal/ change: combinação de dois steps, step-stamp ou stamp-stamp, em 1

tempo musical.

Brush: é um raspão com a placa da frente, para frente, sem mudança de peso.

Spank: é um raspão com a placa da frente, para trás, sem mudança de peso.

Shuf//e: combinação de brush e spank em apenas um tempo musical (é um

dos passos mais importantes do sapateado).

Shuflle step, shufl/e hop, shufl/e Jeap: combinação dos passos citados.

Draw back: step (direita), brush para trás (esquerda) e hei/ drop (direita), e

vice-versa.

Flap: é um pequeno brush seguido de um step, alternando direita e esquerda.

Estes são os alguns dos passos básicos que serão utilizados neste

trabalho, que podem ser combinados entre si com inúmeras possibilidades e

velocidades, dependendo da criatividade do professor e do nível do aluno.

Vamos agora para a descrição individual de cada aula que foi trabalhada

com a aluna deficiente visual, que já possui um bom trabalho anterior, e com

isso uma boa bagagem motora, possibilitando o ensino dos passos com maior

velocidade do que seria para uma pessoa com um esquema corporal não tão

bem trabalhado.

47

1• AULA

• Reconhecimento do sapato, chapinhas da frente e de trás. Neste passo, a

aluna utilizou a percepção tátil para perceber como e do quê era feito o

sapato que ela usaria para produzir som, onde se localizavam as

chapinhas, os parafusos que nela existem para prendê-las ao sapato, enfim

o sapato como um todo. Ela tem todo o tempo que achar necessário para

fazer esse reconhecimento.

• Ouvir os sons produzidos pelo sapato, através das mãos e da execução da

professora. A aluna bate o sapato no chão, da maneira que quiser, com

preocupação apenas em explorar os sons possíveis, sem nenhum

direcionamento do professor. A execução de algumas combinações de sons

feitas pela professora é para enriquecer as possibilidades sonoras que

podem ser produzidas sem nenhuma preocupação técnica, e sim de

chamar a atenção pelo sistema auditivo.

• Andar com o sapato pela sala. De mãos dadas com a professora a aluna irá

percorrer a sala para perceber em seu corpo como é andar com este sapato

de plaquinhas, ela vai sentir como deve distribuir o peso, se ele é

escorregadio ou não e percebendo os sons que estão sendo produzidos

apenas com o andar.

• Exercícios dos 4 tipos de tap (ba// tap, hee/ tap, toe tap e tip tap) na barra

com o apoio das 2 mãos. Este é o primeiro contato com os passos em si. A

barra é muito importante para que o aluno se sinta seguro e comece a

perceber como tem que equilibrar-se com um dos pés. Primeiro cada um

48

dos passos é descrito pela professora, deixando que o aluno execute da

maneira que entendeu. Os movimentos vão sendo corrigidos pela

linguagem oral, direcionando o aluno para uma boa execução dos

movimentos. Neste primeiro contato os passos são feitos separadamente

ainda sem uma combinação rítmica entre os quatro, e feito na mesma

quantidade com os dois pés.

• Exercícios na barra com as duas mãos (step, heel, step-heel e heel-ba/1

tap). Assim como os anteriores, os passos são explicados um a um,

oralmente, dando as direções e correções para que o próprio aluno vá se

corrigindo e percebendo o que seu corpo precisa fazer para realizar aqueles

passos.

2' AULA

• Andar com o sapato pela sala. A professora procura dar as coordenadas da

sala, como largura, comprimento, possíveis obstáculos, para incentivar que

o aluno caminhe sozinho, direcionando- o também através da voz.

• Revisão dos exercícios da aula anterior sentado na chão e com o sapato na

mão. Para uma melhor assimilação e aperfeiçoamento dos passos é muito

importante a repetição e o treinamento. Para a aluna deficiente visual, pode­

se realizar os passos já aprendidos, com os sapatos nas mãos, executando

os movimentos como são feitos nos pés para uma maior conscientização

corporal e incorporação desses novos movimentos e sons.

49

• Revisão dos exercícios da aula anterior na barra com as duas mãos. Com

um melhor conhecimento dos passos, é possível realizar combinações

rítmicas com esses passos, com pequenas variações de tempos e

velocidades, acrescentando um fator motivante que é a música, mas é

recomendável que não esteja muito alta para que o aluno perceba

nitidamente os sons que está produzindo.

• Aprendizagem do scaff, scaff hee/ toe, na barra com as duas mãos. Esta

combinação de passos permite uma grande variedade rítmica, importantes

para melhorar a coordenação de passos com ritmo e assimilação dos

diferentes sons que cada combinação possui. Depois que é descrita pela

professora e compreendida pela aluno, fazemos as variações rítmicas

através de cantos e palmas, e depois com os pés, para complementar e

ajudar no entendimento e nas pequenas diferenças rítmicas que possam

apresentar, facilitando o aprendizado e a compreensão da seqüência.

32 AULA

o Sentados no chão: realização dos passos aprendidos nas aulas anteriores

com os sapatos nas mãos.

o Na barra (2 mãos): Revisão de todos os passos e combinações realizados

na aula anterior sem música, com canto, com palmas e depois com música,

com pequenas variações de velocidade. Essas variações são importantes

para aprimorar os passos, deixando os pés mais ágeis, estabelecendo

50

também alguns desafios para que o aluno os supere, trabalhando com a

motivação.

• Aprendizagem do ba/1 change, que é de fácil entendimento e simples

execução e que independente dos passos utilizados, tem sempre o mesmo

ritmo.

48 AULA

• Na barra (1 mão): Revisão e aperfeiçoamento de todos os passos e

seqüências já aprendidas, executando os exercícios com a direita e a

esquerda, e seqüências em deslocamento para frente e para trás, com

diferentes tipos de música, para maior motivação e também o trabalho da

execução de passos com seus ritmos próprios mas obedecendo e se

encaixando no ritmo musical proposto.

o O treinamento dos passos e combinações é muito importante para fixação

do movimento, do aperfeiçoamento de sua técnica, permitindo ao aluno ter

maior confiança e segurança, e maior domínio do ritmo de cada exercício. É

interessante que o aluno treine os passos em casa, pois irá ajudar ainda

mais na fixação e na coordenação dos passos.

• Após o treinamento das seqüências na barra, o aluno irá realizá-las

novamente, só que agora no Centro, sem apoio das mãos. O ritmo será

mais lento, para que ocorra adaptação principalmente do equilíbrio na

execução dos exercícios, e o professor deve estar perto do aluno, podendo

até em alguns momentos, dar apoio para que o aluno sinta-se mais seguro,

deixando que ele segure nos braços, mãos ou ombros.

51

s•AULA

• Todos os passos aprendidos até agora serão realizados no centro, pois

assim podemos treinar e buscar as melhores maneiras para que o aluno

melhore seu equilíbrio, através dos passos, seqüências, e treinamento.

• Na barra (2 mãos): Aprendizagem do brush, spank e início do shuflle. A

partir desse momento o aluno irá precisar estar mais atento, trabalhando um

pouco mais seu ritmo, coordenação motora e principalmente equilíbrio, pois

haverá maior permanência em uma das pernas para que a outra execute e

aperfeiçoe o passo a ser aprendido, e trocas de peso de uma perna para

outra de maneira um pouco mais complexa, utilizando-se também de saltos

para essas trocas.

s•AULA

• Treinamento de seqüências anteriores no centro.

• Na barra (1 mão): Exercícios de brush, spank e shuflle. Nesses exercícios é

muito importante a correta execução das pernas, joelhos e soltura de pés,

para que não ocorram "vícios" que podem atrapalhar no futuro. Há uma

preocupação do aluno com o som correto, mas é importante enfatizar que

mesmo que demore um pouco mais para o som sair nítido, deve-se

preocupar com o movimento correto, po1s a partir daí o som vai se

aperfeiçoando com o tempo.

• Exercícios variados de shuflle, utilizando diferentes velocidades e direções.

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• Inicio de uma coreografia, de gênero country, colocando seqüências já

aprendidas pelo aluno em aulas anteriores, com uma das mãos na barra.

• Com o início de uma coreografia, iniciamos também o processo de

memorização de passos, ritmo, sons, envolvendo tudo o que está sendo

trabalhado em aula.

7'AULA:

• Exercícios no centro, seqüências rítmicas em deslocamento.

• Exercícios de brush, spank e shuflle no centro, podendo o professor dar

pequeno apoio se necessário para adaptação do equilíbrio.

• Na barra (2 mãos): treinamento de shuflle step, shuflle step heef, shuflle hop

e shuflle /eap. Depois com uma das mãos.

• Ensaio e continuação da coreografia iniciada na aula anterior, ainda com

apoio de uma das mãos.

8'AULA

• Treinamento de tudo o que foi aprendido, em diferentes seqüências, ritmos,

deslocamentos, direções, no centro.

• Execução da coreografia aprendida também no centro da sala.

53

ga AULA

• Exercícios de aperfeiçoamento de técnicas na barra.

• Diferentes combinações e velocidades no centro, com deslocamentos

• Na barra (1 mão): Aprendizagem do draw back (step, brush hee/), em

deslocamento para trás. Esta combinação exige maior coordenação e

equilíbrio, ele é feito com deslocamento para trás e alternância de pernas

na sua execução. Por exemplo: O step ( apoio dos pés apenas na placa da

frente, sem o calcanhar) é feito com o pé direito, imediatamente o brush tem

que ser feito com o pé esquerdo e o hee/ (descida no calcanhar) volta

novamente para o pé direito, começando tudo novamente com a perna

esquerda. Por isso, o aluno precisa ter uma certa segurança e

conhecimento dos passos, que foram treinados em aulas anteriores e

deram suporte para que ele execute esta combinação com maior

tranqüilidade e compreensão do que está fazendo.

• Ensaio da coreografia no centro com mudanças de direção.

10• AULA

• Exercícios na barra e no centro. Treinamento do draw back.

• Na barra (2 mãos): Aprendizagem do flap.

• Ensaio e término da coreografia no centro.

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11• AULA

• Exercícios envolvendo todos os passos aprendidos, com diferentes

músicas, velocidades e deslocamentos, inclusive o f/ap e draw back

recentemente aprendidos.

• Ensaio da coreografia country.

ESTRATÉGIAS DE ENSINO UTILIZADAS

Para a realização dessas aulas, foram utilizadas algumas estratégias de

ensino, que foram descobertas também ao longo do trabalho, através de

situações e necessidades reais.

A explicação de todos os passos e exercícios deve ser feita através de

informações verbais muito claras, dando os detalhes de cada movimento e

posição de pernas e pés. Depois da explicação oral, devemos deixar que o

aluno tente executar o passo da maneira que ele entendeu, e se houver algo

errado, pode -se corrigir através de maiores detalhes na informação verbal,

deixando que o aluno perceba o movimento do professor (informação tátil) e

também em casos de maior especificidade de movimentos, o professor poderá

segurar no aluno conduzindo o movimento correto para uma plena

compreensão.

É importante enfatizar sempre o nome dos passos para que o aluno o

associe ao som que ele produz, conduzindo a execução correta e nítida dos

sons através do professor, colaborando assim para a sua memorização, 55

facilitando a compreensão de passos e combinações futuras de maior

complexidade, ou velocidade.

Quando as combinações começam a ficar mais complexas, o professor

deverá falar o nome dos passos envolvidos, executar as seqüências com

nitidez de sons e ritmo desejados, quantas vezes forem necessárias para que o

aluno os compreenda, executando juntamente com ele, para só depoiS'' deixá-lo

executar sozinho, permitindo que ouça o próprio som, podendo ele mesmo se

corrigir.

Com o tempo e o treinamento, o aluno vai adquirindo maior experiência,

conhecimento dos passos, seus sons característicos, e com isso a

aprendizagem torna-se mais fácil e até mais ágil.

É importante se utilizar de tipos variados de música, com diferentes ritmos

e velocidades, para maior motivação, adaptação dos movimentos à música,

maior segurança e agilidade na execução dos passos, dando liberdade para

que o aluno dê sua sugestão, sua opinião sobre os métodos utilizados, criando

uma interação aluno- professor muito melhor.

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