promovendo a transparência e o diálogo sobre as barragens e o desenvolvimento em moçambique...
DESCRIPTION
Relatório da reunião com o mesmo título, que decorreu em Maputo em Novembro de 2007TRANSCRIPT
R E L A T Ó R I OO r g a n i z a ç ã o d a c o n f e r ê n c i a
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre as barragens e o
desenvolvimento em Moçambique
F i n a n c i a d o r e s
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre as barragens e o
desenvolvimento em Moçambique
R E L A T Ó R I O
2
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
Ficha Tecnica
Título: Promovendo a Transparência e o diálogo so-
bre as barragens e o desenvolvimento em
Moçambique
Publicação: Justiça Ambiental - JA
Textos: Ana Alexandra Araujo do Rosário
Revisão de Textos: Janice Lemos e Silva Dolores
Layout e Produção Gráfica: Lourenço Dinis Pinto
Tiragem: 300 exemplares
Distribuição gratuita
Maputo, Dezembro de 2008
3
Índice
Prefácio .....................................................................................................................................................5
Acrónimos .................................................................................................................................................7
1. Background ...........................................................................................................................................9
1.1. Histórico das grandes barragens ....................................................................................................... 9
1.2. Planos de Moçambique para barragens ........................................................................................... 9
2. Sessão de abertura .............................................................................................................................11
2.1. Discurso de abertura ....................................................................................................................... 11
2.2. Introdução ....................................................................................................................................... 12
2.3. Keynote: barragens, rios e mudanças climáticas em África: um negócio arriscado ....................... 13
2.3.1 Resumo .................................................................................................................................. 13
2.3.2 Discussão ............................................................................................................................... 14
3. Custos e benefícios de Mphanda Nkuwa: perspectiva nacional e regional ........................................15
3.1. Identificar problemas com Mphanda Nkuwa ................................................................................... 15
3.1.1 Resumo .................................................................................................................................. 15
3.1.2 Discussão ............................................................................................................................... 16
3.2. Rede energética da África Austral (SAPP - the Southern Africa Power Pool), modelos de ..................
desenvolvimen to “trickle-down vs. Trickle-up” ............................................................................... 16
3.2.1 Resumo .................................................................................................................................. 16
3.2.2 Discussão ............................................................................................................................... 18
3.3. Perspectiva das comunidades sobre barragens no Zambeze ........................................................ 19
3.3.1 Resumo .................................................................................................................................. 19
3.3.2 Discussão ............................................................................................................................... 19
3.4. Gestão dos recursos hídricos na bacia do Zambeze ...................................................................... 19
3.4.1 Resumo .................................................................................................................................. 19
3.4.2 Discussão ............................................................................................................................... 20
4. Impactos ambientais dos projectos de barragens no Zambeze ........................................................21
4.1. Projecto do delta do Zambeze, ligando futuros ............................................................................... 21
4.1.1 Resumo .................................................................................................................................. 21
4.2. Impactos sociais da barragem de Cahora Bassa (HCB) ................................................................. 22
4.2.1 Resumo .................................................................................................................................. 22
4.3. As experiências do delta do Zambeze ............................................................................................ 23
4.3.1 Resumo .................................................................................................................................. 23
5. Impactos sociais nos projectos de barragens no Zambeze ...............................................................24
5.1. Trabalho de Basilwizi no Vale do Zambeze, Zimbabué – “reparando vidas destruídas” ................. 24
5.1.1 Resumo .................................................................................................................................. 24
5.1.2 Discussão ............................................................................................................................... 25
5.2. Comunidades realocadas em Sinazongwe, Vale Gwembe Valley, Zâmbia .................................... 25
5.2.1 Resumo .................................................................................................................................. 25
5.2.2 Discussão ............................................................................................................................... 26
6. Implicações sociais de projectos de barragens em África .................................................................27
6.1. Herança das grandes barragens em África ..................................................................................... 27
6.1.1 Resumo .................................................................................................................................. 27
6.1.2 Discussão ............................................................................................................................... 28
6.2. Comunidades afectadas por barragens (Nigéria), impactos nas terras húmidas de Hadeija Nguru 29
6.2.1 Resumo .................................................................................................................................. 29
Índice
4
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
7. De sudão a Moçambique: Papel da China: ........................................................................................31
7.1. Caso de estudo da barragem de Merowe ...................................................................................... 31
7.1.1 Resumo .................................................................................................................................. 31
7.1.2 Discussão ............................................................................................................................... 32
7.2. O papel da China em Mphanda Nkuwa e florestas em Moçambique ............................................. 33
7.2.1 Resumo .................................................................................................................................. 33
7.2.2 Discussão ............................................................................................................................... 34
8. Perspectivas mais abrangentes ..........................................................................................................35
8.1. “A praga do recurso” e grandes barragens em África .................................................................... 35
8.1.1 Resumo .................................................................................................................................. 35
8.1.2 Discussão ............................................................................................................................... 36
8.2. O papel da participação da comunidade em projectos de desenvolvimento: o caso do projecto da
barragem de Bujagali ..................................................................................................................... 37
8.2.1 Resumo .................................................................................................................................. 37
8.2.2 Discussão ............................................................................................................................... 37
8.3. Gestão integrada de recursos hídricos: que desafios se colocam? ................................................. 38
8.3.1 Resumo .................................................................................................................................. 38
8.3.2 Discussão ............................................................................................................................... 40
9. Estratégias para o futuro – o que aprendemos? .................................................................................41
9.1. A nova cultura da água, uma visão alternativa ................................................................................ 41
9.1.1 Resumo .................................................................................................................................. 41
9.1.2 Discussão ............................................................................................................................... 42
9.2. Analisando a comissão mundial de barragens em África e na África do Sul .................................. 43
9.2.1 Resumo .................................................................................................................................. 43
9.2.2 Discussão ............................................................................................................................... 44
9.3. Relacionando os impactos das cheias com as barragens Nigerianas ........................................... 46
9.3.1 Resumo .................................................................................................................................. 46
9.4. Diálogo nacional com multi-stakeholders das barragens no Togo .................................................. 48
9.4.1 Resumo .................................................................................................................................. 48
10. Resultados dos grupos de trabalho .................................................................................................49
11. Constatações e recomendações de apresentações de ONG´s Africanas realizadas no seminário 52
Programa da Conferência .......................................................................................................................57
Lista dos participantes ............................................................................................................................59
5
PrefácioO documento apresentado em seguida constitui os
procedimentos da Reunião “Promovendo a Trans-
parência e o Diálogo sobre Barragens e Desen-
volvimento em Mocambique: aprendendo com os
acontecimentos do passado em relação a grandes
barragens em África”, organizada pela JA! Justiça
Ambiental,de 19 a 21 de Novembro de 2007 em
Maputo, Moçambique.
Gostaríamos inicialmente de pedir imensas des-
culpas pela demora na publicação dos procedi-
mentos deste encontro. A reunião foi feita em duas
línguas (inglês e português) o que levou a que as
apresentações feitas em inglês tivessem que ser tra-
duzidas para português e vice versa. Apesar de ter-
mos contratado uma empresa profissional de tradu-
ção simultânea para fazer a tradução na conferência
e a gravação em áudio de todas as intervenções,
verificamos que houve algumas falhas na gravação
e tivemos que recorrer às notas do secretariado.
Pelo inconveniente causado, a Justiça Ambiental
envia as mais sinceras desculpas por todas as difi-
culdades ao longo do processo que vai da reunião à
publicação dos procedimentos. A Justiça Ambiental
acredita que apesar de todas as dificuldades, o re-
sultado foi positivo e crucial para a partilha de conhe-
cimento e experiências, para o inicio de um diálogo
franco e transparente entre todas as partes envolvi-
das e para a promoção de um debate nacional mais
informado sobre o desenvolvimento dos nossos re-
cursos hídricos através da partilha de experiências
em impactos e benefícios de grandes barragens, por
parte de outros países de África, Europa e América.
Com a participação da sociedade civil de vários
países e representantes do nosso governo e com
as experiências partilhadas e discutidas neste en-
contro sobre a temática de barragens e energia,
tínhamos esperança que a reunião tivesse continui-
dade e que pudéssemos testemunhar o principio
de um processo mais participativo e transparente
nas questões hídricas do nosso país, talvez o inicio
de um futuro processo de diálogo sobre as directri-
zes da Comissão Mundial de Barragens.
Decisões como a construção da proposta bar-
ragem de Mphanda Nkuwa, só deveriam ser apro-
vadas após um processo transparente e participati-
vo. Infelizmente não é o que se está a passar neste
projecto, a falta de transparência, a arrogância do
nosso governo e o constante “não querer ouvir” as
preocupações da sociedade civil, mais uma vez fi-
caram patente nas respostas e posições não só
apresentadas na reunião como nas entrevistas feitas
ao nosso Ministro de energia.
Foi com sacrifício, muito trabalho voluntário, apoio
de várias organizações e poucos fundos que conse-
guimos finalmente realizar esta reunião e é triste que
não haja uma continuidade no diálogo entre a socie-
dade civil e o nosso governo.
O nosso pais é rico em recursos naturais, mas
só com transparência no uso dos nossos recursos,
decisões participativas com base não só no princi-
pio da precaução como também numa visão mais
ampla pensando nas futuras gerações, é que Mo-
çambique poderá ser um país mais justo e ambien-
talmente sustentável.
A JA vai continuar a monitorar o processo do pro-
jecto da proposta barragem de Mphanda Nkuwa, e a
promover o diálogo até que todas as preocupações
sejam respondidas. Só assim é que poderemos ter a
certeza que este projecto vai beneficiar o povo, senão
for o caso, continuaremos a lutar para que esta barra-
gem não seja construída, na esperança que o nosso
governo seja justo e imparcial nas suas decisões.
Neste momento esta a decorrer uma petição so-
bre a futura construção da barragem de Mphanda
Nkuwa na Internet que em menos de três semanas
já alcançou mais de 1000 assinaturas, muitas das
quais são de Moçambicanos, provando que, real-
mente, não é viável para Moçambique a maneira
como este projecto está a ser conduzido, apenas é
viável para uma pequena elite, que mais uma vez vai
enriquecer à custa do povo.
Para terminar queremos agradecer ao Exmo Ex
Ministro do Ambiente Sr. Luciano de Castro, pelo seu
discurso de abertura da reunião, aos nossos financia-
dores porque sem eles não seria possível realizar esta
reunião, Oxfam Novib, Oxfam-Intermon, Cooperação
Francesa e Action Aid, e às organizações que financia-
ram directamente como o ARN (African River Network,
juntamente com a GGF”Global Greengrants Fund”), IR
(International Rivers) e Environmental Defense.
Aos nossos parceiros, ARN, IR e Environmental
Defense, não podemos deixar de agradecer o vosso
constante apoio e parceria.
A Luta Continua
Anabela Lemos
Directora
Justiça Ambiental
Prefácio
6
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
7
Acrónimos
AESNP AES Nile Power
ARA Administração Regional de Águas
ARN Rede Africana de Rios
BEL Bujagali Energy Limited
BM Banco Mundial
DDP Dams in Development Project
DEAT Departamento de Assuntos Ambientais e Turismo
DME Departamento de Energias Minerais
DWAF Departamento dos Assuntos Hídricos
ESKOM Electricity Supply Commission
EUA Estados Unidos da América
FMI Fundo Monetário Internacional
HCB Hidroeléctrica de Cahora Bassa
HIV Human Immunodeficiency Virus
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change
IUCN International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources
JA Justiça Ambiental
KYB Komadugu Yobe Basin
NAPE National Association of Professional Environmentalists
NEPA National Electric Power Authority
NEPAD New Partnership for Africa's Development
ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
OSC Organizações da Sociedade Civil
PHCN The Power Holding Company of Nigeria
PIB Produto Interno Bruto
RBDA River Basin Development Authority
SADC Southern African Development Community
SAPP The Southern Africa Power Pool
SIDA Síndroma da Imuno-Deficiência Adquirida
SWAPHEP Society for Water and Public Health Protection
UNEP United Nations Environment Program
WCD World Comission on Dams
WWF World Wide Fund for Nature
ZRA Zimbabwe River Authorities
Acrónimos
8
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
9
1. Background1.1. Histórico das Grandes
BarragensO acesso à água e à electricidade foi identificado
como o principal factor limitante do desenvolvimento
sócio-económico em vários países. Muitas pessoas
não têm acesso a uma fonte de água segura e/ou
não têm electricidade. A demanda da água para
energia hidroeléctrica, irrigação, indústria, água po-
tável e saneamento, manutenção do ecossistema
e para o desenvolvimento do turismo e recreação
requer uma acção de uma forma integrada para o
desenvolvimento sustentável da água. Durante mi-
lhares de anos, o Homem construiu barragens para
vários fins. Hoje em dia, as barragens cresceram
em escala e muitas vezes inundam grandes parce-
las de terra e podem ter graves e irreversíveis im-
pactos sociais e ambientais.
A Comissão Mundial de Barragens (WCD) reve-
lou que as grandes barragens geralmente custam
mais do que o previsto, e produzem menos bene-
fícios que aqueles que os proponentes reivindicam.
A WCD revelou também que 40-80 milhões de pes-
soas por todo o mundo tiveram que ser realocadas
devido às barragens e muitos ficaram em pior situ-
ação. Devido às realocações forçadas, fracas com-
pensações e impactos não compensados nos seus
meios de subsistência, os Africanos afectados pe-
las barragens e seus aliados estão a tentar alertar o
público sobre as injustiças sociais e ambientais das
grandes barragens, alternativas a tais projectos e
métodos futuros para um melhor planeamento para
os recursos hídricos e energia. Reconhecemos que
a ecologia do nosso meio ambiente, a economia
dos nossos meios de subsistência e a nossa es-
trutura social estão interligadas com o nosso direito
humano ao desenvolvimento e com o nosso direito
humano de participar nesse desenvolvimento.
1.2. Planos de Moçambique para Barragens
Moçambique tem assistido a um grande fluxo de
investimentos desde o fim da Guerra Civil e da ins-
talação da democracia. Um dos locais para o inves-
timento tem sido o Vale do Zambeze, principalmen-
te sob a forma de energia hidroeléctrica. O NEPAD1
e o Governo Moçambicano têm como prioridade a
construção de barragens hidroeléctricas ao longo
do Rio Zambeze, estando Mphanda Nkuwa no topo
das prioridades.
Acredita-se que a criação e a disponibilidade
de energia a baixo custo promovem o desenvolvi-
mento na região, especialmente das indústrias que
requerem grandes quantidades de energia como a
indústria de alumínio. Actualmente a energia produ-
zida em Moçambique é quase totalmente dirigida
à exportação para o “Southern Africa Power Pool”
e para indústrias como a de fusão de alumínio na
Beira. A proposta para a construção de Mphanda
Nkuwa está a progredir rapidamente, visto que o
Governo chinês já se comprometeu a construí-la,
levantando preocupações de que os padrões de
boas práticas poderão não ser cumpridos, incluin-
do os que se referem à participação pública. A po-
tencial velocidade da industrialização poderá deixar
as populações da região não preparadas para as
grandes mudanças que aguardam o Vale do Zam-
beze.
Ao mesmo tempo, um significativo projecto de
pesquisa científica está em curso para restaurar o
Baixo Zambeze através da melhoria dos padrões
de descarga de Cahora Bassa para se assemelhar
mais ao fluxo natural. Este esforço será minado se a
Barragem de Mphanda Nkuwa for construída.
O vale do Zambeze já sofreu grandes mudanças
ecológicas e os respectivos impactos sociais resul-
tantes destas, devido à enorme Barragem de Caho-
ra Bassa, um projecto que já foi reconhecido pelas
Nações Unidas como uma das grandes barragens
de África menos estudadas e mais ambientalmen-
te destrutivas. A perda das cheias anuais, ricas em
sedimentos e nutrientes, causou uma grande de-
gradação na pesca de subsistência, agricultura e
actividades de pecuária. As descargas ocasionais
em época seca surpreendem as comunidades do
1. Background
1 New Partnership for Africa's Development – Nova Parceria para o Desenvolvimento de África
10
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
Zambeze, arrastando grandes plantações e cau-
sando graves problemas de insegurança alimentar.
O regime de descarga imposto pela Barragem de
Cahora Bassa causou uma perda anual de 10-20
milhões de dólares na indústria de camarões, que é
a segunda mais importante fonte de rendimento do
país e da qual dependem milhares de pessoas.
O impacto de Cahora Bassa e de outras gran-
des barragens na região não são amplamente
compreendidas pelo público, nem, mais alarmante
ainda, nos círculos de poder onde as decisões so-
bre o próximo projecto de barragem em Moçambi-
que serão feitas. A África do Sul começou recente-
mente a incorporar as lições da WCD como política
nacional. Todas estas lições são valiosas para uma
discussão pública em Moçambique.
Por este motivo, o JA! Justiça Ambiental, orga-
nizou esta conferência de três dias2 que envolveu
delegados da sociedade civil e Organizações Não
2 ANEXO I – Agenda da Conferência
Governamentais (ONGs) de vários países de África
e de outros que apresentarem a sua experiência e
seu conhecimento sobre o assunto. Este encontro
teve os seguintes principais objectivos:
1. Promover um debate nacional mais informado
sobre o desenvolvimento dos nossos recursos
hídricos, em parte através da partilha de experi-
ências sobre os impactos e benefícios de gran-
des barragens por parte de outros países de
África Austral
2. Direccionar assuntos que possam surgir de
ecossistemas danificados pelas barragens, visto
que nos países em desenvolvimento as condi-
ções básicas necessárias para a conservação
de uma determinada espécie ou habitat são
normalmente escassas
3. Debater as recomendações da WCD, e avaliar a
necessidade e os mecanismos para um diálogo
nacional sobre este assunto.
11
2.1. Discurso de Abertura
(Luciano de Castro, Ministro para a Coordenação
da Acção Ambiental de Moçambique, MICOA)
“Distintos Convidados,
Distintos Delegados,
Caros Participantes,
Minhas Senhoras, Meus Senhores,
Queiram, distintos participantes a esta conferência,
aceitar as minhas saudações e associarem-se a
mim para juntos enaltecermos este momento subli-
me, em que profissionais de longa experiência na
área de uso e aproveitamento dos recursos hídri-
cos, académicos, profissionais da área do ambien-
te e representantes de diferentes grupos de interes-
se, estamos nestes três dias, sentados à mesma
mesa para debatermos os aspectos relacionados
com o uso e aproveitamento dos recursos hídricos,
concretamente, a construção e exploração de bar-
ragens conforme consta no programa de trabalho
desta conferência.
Sentimo-nos particularmente honrados por ter-
mos sido convidados para tomarmos parte neste
evento e quero, por isso, em nome do Ministério
para a Coordenação da Acção Ambiental e eu pes-
soalmente, saudar e agradecer à Justiça Ambiental,
na sua qualidade de organizadora da conferência.
Temos a certeza que será salutar ouvirmos a
experiência dos outros países, auscultarmos a an-
siedade e as expectativas das comunidades resi-
dentes e da sociedade civil em geral, revisarmos as
políticas do Governo sobre as matérias em questão,
para cada parte dar a sua contribuição sobre como
melhor participarmos na planificação, projecção e
execução dos programas de desenvolvimento dos
nossos países.
O exercício que vamos fazer terá como fim a
nossa participação activa nos esforços que os go-
vernos fazem para promoverem o bem-estar dos
povos, das nações e dos países.
Moçambique como país pobre, que se abate
com muitos eventos extremos da natureza, os ci-
clones, cheias e secas, precisa de sinergias para
melhor enfrentar estas calamidades e usar os re-
cursos disponíveis para o bem-estar das comuni-
dades.
Por esta razão, o Governo define o combate e a
erradicação da pobreza absoluta em Moçambique
como sendo uma missão cujo cumprimento não
podemos adiar. Não devemos deixar este fardo
como um legado para os filhos dos nossos filhos,
passando o sofrimento e a miséria, de geração
para geração.
Minhas Senhoras, Meus Senhores,
Moçambique não é um país industrializado e os re-
cursos naturais constituem a base do desenvolvi-
mento que pretendemos alcançar.
A exploração dos recursos florestais e faunísti-
cos, recursos pesqueiros, recursos minerais, o uso
e aproveitamento da terra e dos recursos hídricos,
podem proporcionar oportunidades de emprego,
desenvolvimento de actividades de geração de
rendimento pelas comunidades e tornar as famílias
auto-suficientes.
Sabemos que o nosso país é dotado deste vas-
to manancial e alguns desses recursos ainda não
foram prospectados nem quantificados na sua to-
talidade, o que significa que esses jazigos, filões ou
stocks não estão ainda a ser explorados.
Não obstante esta situação, temos a plena
consciência de que o que a Mãe Natureza nos dá
não dura para sempre. É necessário cultivar a terra
de uma forma a que ela produza hoje e continue
a produzir no futuro para alimentar as futuras ge-
rações.
Para regular este processo, o Governo produ-
ziu e aprovou recentemente a Estratégia Ambiental
para o Desenvolvimento Sustentável de Moçambi-
que, um instrumento que tem por objectivo estabe-
lecer as bases para um compromisso aceitável e
equilibrado entre o progresso socio-económico e a
preservação ambiental.
Minhas Senhoras, Meus Senhores,
A Estratégia Ambiental para o Desenvolvimento
Sustentável de Moçambique define de forma clara,
os objectivos a atingir em cada área de activida-
de, promovendo a harmonização entre os objecti-
vos de desenvolvimento económico e social com a
preservação ambiental, para que, efectivamente, o
desenvolvimento sustentável seja um princípio plas-
mado nos programas de desenvolvimento, desde a
fase de planificação até à implementação.
2. Sessão de Abertura
2. Sessão de Abertura
12
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
Nesta perspectiva, o uso sustentável dos recur-
sos hídricos é visto como um dos factores impulsio-
nadores do desenvolvimento do país.
As populações dos nossos países vão crescen-
do à medida que o tempo passa e as nossas eco-
nomias só se tornarão prósperas e robustas com o
surgimento de novas indústrias e outras formas de
actividade produtiva. Com estas situações, as ne-
cessidades em água também vão aumentando.
Desta forma, o desenvolvimento económico e
social de toda a região da SADC (Southern African
Development Community – Comunidade para o De-
senvolvimento Africano), coloca desafios ambientais
que só a definição e implementação de estratégias
correctas por todos os países da região, permitirá a
concretização dos programas de desenvolvimento
em cada país, sem lesar os vizinhos com quem um
determinado recurso é partilhado.
Para terminar, gostaria de reiterar que a nos-
sa participação nesta conferência prova, uma vez
mais, que em Moçambique estão criadas as con-
dições, para que todas as partes, interessadas e
potencialmente afectadas pela construção de em-
preendimentos, possam interagir e manter um di-
álogo construtivo, na senda do desenvolvimento
sustentável.
Com estas palavras, declaro aberta a Conferên-
cia sobre Barragens e Desenvolvimento em Mo-
çambique e estou certo de que a contribuição que
sairá de cada participante, é o condimento apro-
priado para que o evento seja coroado de êxito.
Muito obrigado!”
2.2. Introdução(Anabela Lemos, Directora da JA! Justiça Ambien-
tal)
A Directora da JA! prosseguiu com a conferência e
iniciou agradecendo a presença do Exmo. Ministro
e todos os participantes. Constatou ser a primeira
vez que em Moçambique se juntam participantes
de vários países Africanos para compartilhar expe-
riências sobre barragens e assuntos relacionados
com impactos e benefícios das barragens. Em se-
guida discursou:
Os recursos hídricos em África continuam frá-
geis, muitas vezes devido à má gestão da água e
não propriamente à escassez de água. Porém, há
uma preocupação crescente relacionada com o
stress causado pelas grandes barragens nos recur-
sos hídricos, pelo crescimento da população, pelas
mudanças climáticas, pelos insustentáveis padrões
de consumo e uso descontrolado.
Moçambique está agora a entrar numa fase de
crescimento industrial, que inclui planos de novas
grandes barragens no rio Zambeze. É importante
analisar tanto as boas como as más experiências
entre as diferentes partes interessadas de modo a
reduzir os riscos, melhorar a partilha de benefícios e
promover uma visão partilhada de desenvolvimento
que leve em conta a voz das comunidades em re-
lação a projectos de infra-estruturas de grande en-
vergadura. Somente através de um diálogo aberto
com os vários stakeholders se consegue alcançar
o uso verdadeiramente sustentável e eficiente dos
nossos recursos hídricos afim de obter o desenvol-
vimento socio-económico.
A JA! Teve a iniciativa de realizar este ”workshop”
público de 3 dias que trará oradores da região com
experiência em lidar com os impactos de grandes
barragens na África Austral. A intenção é abrir o di-
álogo através das lições aprendidas com as bar-
ragens existentes na região, e de discutir formas
para que Moçambique possa evitar a “regra global”
onde os custos reais de uma barragem excedem
sempre os custos previstos, com um desempe-
nho económico abaixo do previsto, ruptura social e
destruição ecológica típica de projectos de grandes
barragens.
Terminando a Sra. Anabela Lemos, desejou aos
participantes uma abordagem aberta e transparen-
te de modo a que se possa concretizar os objecti-
vos da conferência.
13
2.3. Keynote: Barragens, Rios e Mudanças Climáticas em África: Um Negócio arriscado
(Apresentação por Lori Pottinger, Directora, Progra-
ma para África, Rede Internacional dos Rios)
2.3.1 Resumo
O IPCC3 acredita que a África Austral irá sofrer uma
diminuição de recursos hídricos devido às mudan-
ças climáticas. A super dependência na energia hi-
droeléctrica já causa blackouts, que afectam a eco-
nomia em todo o continente.
As estratégias de adaptação deveriam concen-
trar-se em ajudar as populações pobres que são as
mais vulneráveis a catástrofes naturais e a desas-
tres relacionados com clima. A África Austral tem
muito a perder com o aumento de temperatura, de
evaporação e da redução dos fluxos dos rios. Re-
agir agora com medidas rentáveis e “sem comple-
xos”, em vez de represas grandes e caras, poderá
impedir a crise de se tornar uma catástrofe.
Adaptação do Fornecimento de Energia:
• Agirimediatamenteparareduzirahidro-depen-
dência
• Definir padrões e desenvolver programas efi-
cientes
• Descentralizarossistemasdeenergiaparare-
duzir perdas de transmissão, preços
• Tirarproveitodaenergiasolar,energiasolartér-
mica, biogás
• Planos de desenvolvimento bottom-up, e não
trickle-down baseados em indústrias de grande
consumo energético
Adaptação para controlo de inundação:
• Inundações: catástrofes naturaismais destruti-
vas, frequentes e caras – estão a piorar
• Número de pessoas estimado pela ONU que
viverá em locais de inundações potencialmente
danificadoras antes de 2050: 2 biliões
• Aumentoemrelaçãoàsituaçãoactual:100%
• Númerode“grandesinundações”aumentando
no mundo inteiro
• ModelosdediqueserepresasafalharnosEUA
e noutros lugares; resulta em aumento de pre-
ços dos danos de inundações.
Soluções Soft-Path para inundações
Pobre manutenção das barragens em África piora
os impactos das inundações. A abertura das com-
portas da barragem afectou milhares de pessoas
na Etiópia e no Ghana em 2007 e outros milhares
na Nigéria. Kariba é uma grande preocupação de
segurança. Tem havido conflito de interesses em
barragens de múltiplo uso: conflito entre controlo de
inundações, armazenamento de água, produção
electricidade.
• Melhorar sistemasdepreparaçãoparadesas-
tres e de aviso de inundações
• Sistemasdeavisode inundaçõese formações
baseadas nas comunidades
• Subirosedifícios
• Avaliaçõesdasegurançadasbarragens
• Deslocarodesenvolvimentoparaforadasplaní-
cies de inundação (muitas vezes mais barato do
que a reconstrução depois das inundações)
Papel da China no Desenvolvimento de África: Que Modelo é mais Adequado?
Os rios e as barragens da China estão em estado
deplorável. A nação está a atingir os seus limites
da capacidade de projectar soluções para as crises
de água, de energia e de inundações. Existe uma
solução bem melhor que a China poderia trazer
para Moçambique e África em geral, pois deu um
grande passo em direcção ao desenvolvimento de
energia sustentável:
• Maisde19GWdepequenasenergiashidroe-
léctricas, primeira no mundo
• 180 milhões de fornos limpos (Clean stoves)
(preço: $10-12 não subsidiado)
• ProgramadebiogásNaturalajudouaconstruir
17 milhões de digestores de biogás, espera,
eventualmente, cobrir um quarto das casas ru-
rais.
• OprogramadebiogásdaChinaajudouareduzir
o desflorestamento, a gerir resíduos animais e
humanos, fornece uma energia limpa.
• AChinaélíderemenergiasolartérmica,energia
solar fotovoltaica (solar PV) e tem um mercado
em crescimento de turbinas domésticas de ven-
to.
Que Preço terá Mphanda Nkuwa?
• SeráumabarragemdeUS$2biliõesomelhor
investimento para as necessidades de desen-
volvimento de Moçambique?
3 New Partnership for Africa’s Development – Nova Parceria para o Desenvolvimento de África
2. Sessão de Abertura
14
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
• Quais são os preços "externos" deste projec-
to (ambiental, social, impacto na adaptação às
mudanças climáticas, possibilidade de corrup-
ção, oportunidade de custos para outras neces-
sidades de desenvolvimento) e quem os paga-
rá?
• PoderáoZambezeeasuapopulaçãosobrevi-
ver a mais grandes barragens?
2.3.2 Discussão
Hope Ogbeide mostrou-se preocupado em saber
como e quem se pode contactar na China para ex-
por as dificuldades que têm no funcionamento das
barragens. Lori respondeu que é difícil contactar a
China sobre estes assuntos e que é responsabilida-
de do Governo, que aceitou a assistência para o de-
senvolvimento, exigir padrões elevados equivalentes
aos da China. A China não tem oferecido as melho-
res soluções apesar de ela própria ter padrões mais
elevados gerados pelo desenvolvimento de energias
alternativas. O melhor para os países é a sociedade
civil juntar-se ao Governo e juntos procurarem a me-
lhor forma de obter padrões correctos.
Ali Askouri disse que a energia solar não é, nor-
malmente, bem aceite em África pois a viabilidade
deste tipo de energia não é reconhecida. Pergun-
tou que tipos de campanhas poderiam ser feitas
para consciencializar África sobre a viabilidade das
energias alternativas. Lori respondeu que África
tem peritos em energia solar, mas que é um pro-
jecto complexo com elementos que precisam de
ser mudados. Disse que a energia solar fotovoltaica
é importante nas populações rurais sem acesso à
electricidade, mas que podem comprar um painel
solar. No Quénia, especialistas acreditam na poten-
cialidade de uma indústria solar. O Banco Mundial,
em alguns projectos, apareceu apenas para de-
sembolsar grandes valores e abandonou antes do
programa estar completamente estabelecido. Uni-
versidades Sul-africanas desenvolveram projectos
de energia solar, mas não tiveram capacidade de
levar para o mercado. É necessário um compro-
misso de quem é de direito em relação à energia
solar para que esta seja usada na indústria e nas
residências.
Kugondza Robert questionou a razão da China
querer direccionar, no mundo inteiro, o desenvolvi-
mento de energias para a construção de barragens
que são ambientalmente desfavoráveis se, na pró-
pria China o desenvolvimento energético está vira-
do para energias alternativas. Sugeriu que pode ser
uma estratégia para “sufocar” o desenvolvimento
energético no mundo. A Lori disse que a China está
a explorar África pelos seus recursos naturais, rece-
bendo algo em troca das construções. A China usa
os recursos Africanos para construir em África. Afir-
mou que há coisas boas que surgem destas rela-
ções com a China, mas apenas se estas não forem
exploradoras. A indústria chinesa de barragens está
a atingir o seu limite em termos de espaço para a
construção e a solução é exportar mão-de-obra e
conhecimentos para outros países.
Boniface Mutale mostrou-se preocupado com
o facto de alguns especialistas americanos, que ti-
nham a intenção de inspeccionar a barragem de
Kariba, não terem conseguido permissão de acesso
ao respectivo local. Visto que a falta de inspecção
da barragem pode ser perigoso, questionou se há
alguma coisa que a sociedade civil pode fazer para
forçar o Governo Zimbabueano a permitir a avalia-
ção da barragem. A Lori referiu que o Zimbabué
não tem dinheiro para as manutenções necessárias
e duvida que a Zâmbia possa arcar com as des-
pesas. Se algo acontecer à barragem de Kariba,
a região toda sofrerá. Por isso, a sociedade civil e
todos os Governos da região da África Austral de-
veriam levantar este problema de modo a criar uma
pressão internacional.
15
3.1. Identificar problemas com Mphanda Nkuwa
(Apresentação por Daniel Ribeiro, Justiça Ambiental)
3.1.1 Resumo
Porquê tanta preocupação em volta das barragens?
Mphanda Nkuwa é um dos maiores projectos
energéticos que Moçambique está a planear. Se
se usar a base de dados, por exemplo do Banco
Mundial, do Banco de Desenvolvimento Africano e
Comissão Mundial de Barragens, e se se estabe-
lecer um padrão normal, nota-se que há grandes
perigos na construção das barragens. Por exemplo,
normalmente:
• amédiadeatrasodaconstruçãoéde2anos
acima do planeado
• amédiaestimadadoscustosacimadoestima-
do é de 57% (no caso deMphanda Nkuwa o
custo poderá ser de US$3 milhões em vez dos 2
milhões estimados)
• metadedasbarragensnãotemlucro,tempre-
juízo.
Aspectos económicos
O plano económico principal é produzir energia
hidroeléctrica para fornecer aos países vizinhos e
estimular indústrias de grande consumo energéti-
co em Moçambique (por exemplo do alumínio). Um
estudo do Brasil mostrou que a indústria de alumí-
nio não é um bom plano para o desenvolvimento. O
melhor plano é o país possuir pequenas, médias e
grandes indústrias e diversificar o tipo de indústria.
Um estudo do economista Moçambicano, Castel
Branco mostra que se analisarmos somente a Mo-
zal notam-se muitos aspectos positivos, no entanto,
o efeito no mercado de Moçambique é negativo. É
necessário analisar este caso e ver o que se pode
melhorar para que não se use o mesmo modelo
para Mphanda Nkuwa que vai incentivar o estabele-
cimento de mais indústrias de grande necessidade
energética.
A ESKOM4 domina quase todo monopólio da
África Austral. A barragem de Cahora Bassa (HCB)
já vendeu electricidade a pouco mais de 2 cêntimos
por KW por hora enquanto Moçambique comprava
a 15,7. Há outros projectos que pretendem forne-
cer electricidade para o mesmo mercado, como a
Grande Inga com capacidade de mais de 30 mil
MW. É importante ver, se todos fornecerem para a
mesma rede, o que acontecerá com a electricidade
em excesso, com o preço da energia e com a efec-
tividade económica de Mphanda Nkuwa.
Há riscos no planeamento de Mphanda Nkuwa
com base no regime de maneio da HCB, pois já foi
provado que o regime de HCB tem grandes proble-
mas sociais e ambientais. Se, depois da construção
de Mphanda Nkuwa decidirem corrigir o regime de
HCB, os problemas serão mais graves pois Mphan-
da Nkuwa estará a ser construída com base num
regime errado.
Aspectos Sócio-ambientais
Especialistas com experiências de barragens em
outras partes de África com a mesma realidade que
a nossa já apresentaram problemas. É necessário
um debate com base nessas informações para se
compreender os possíveis riscos. Um dos perigos
3. Custos e Benefícios de Mphanda Nkuwa: Perspectiva Nacional e Regional
Daniel RibeiroOficial de Programas da Justiça Ambiental
4 Electricity Supply Commission – Comissão para Fornecimento de Electricidade
3. Custos e Benefícios de Mphanda Nkuwa: Perspectiva
Nacional e Regional
16
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
é os riscos sísmicos. A região dos grandes lagos
de África está a separar-se a uma velocidade de
milímetros por ano, o que provoca terramotos e ac-
tividades sísmicas. O maior terramoto em África até
agora registou-se a 200 Km de Mphanda Nkuwa.
Especialistas já afirmaram que a estimativa da falha
é inferior à sua real capacidade. Os registos dispo-
níveis são baseados em apenas 42 anos, que em
termos geológicos são insignificantes. Por este mo-
tivo, uma decisão pode ser perigosa devido à insu-
ficiência de dados e porque Mphanda Nkuwa vai
estar a 25-50m da falha. Não há registo desta falha
alguma vez ter estado activa, mas há falhas que
só estão activas uma vez em cada 100 ou mesmo
1000 anos.
Uma das razões principais pela qual a maioria
das barragens cria prejuízos é a falta de manuten-
ção. A actividade sísmica mal calculada aumen-
ta o custo de manutenção. Às vezes estes custos
são demasiado altos e o projecto perde viabilidade.
Uma vez instalado um projecto, todos os anos se-
rão gastas grandes somas em manutenção, para
evitar que a barragem quebre.
3.1.2 Discussão
Luís Fernandes afirmou não ter ficado claro se é
ambientalmente viável construir a barragem de
Mphanda Nkuwa segundo o ponto de vista da JA.
Daniel Ribeiro respondeu que de acordo com a in-
formação disponível dos especialistas, não é viável.
Daniel acrescentou que os sedimentos não foram
considerados nos estudos feitos até ao momento,
havendo sistemas que dependem de sedimentos
e que as barragens travam estes sedimentos cau-
sando danos ambientais. Outro aspecto é a falta
de informação e de um estudo aprofundado. Da-
niel chamou a atenção para as diferenças entre
uma barragem hidroeléctrica e uma de controlo de
cheias. A hidroeléctrica necessita de reservas de
água para produzir electricidade ao contrário da ne-
cessidade para controlo de cheias. Uma barragem
pode suportar as duas funções, mas exige grandes
cuidados. Finalizando, Daniel mencionou que existe
o perigo de mudanças climáticas pois a Bacia do
Zambeze terá mais cheias e mais secas, e isto não
está incluído nos estudos apesar de se mencionar
o aquecimento global.
3.2. Rede Energética da África Austral (SAPP - The Southern Africa Power Pool), Modelos de Desen-volvimento “Trickle-down vs. Trickle-up”
(Terri Hathaway, Rede Internacional para os Rios,
EUA)
3.2.1 Resumo
A SADC5 afirma que o processo de planeamento
de lucro irá aliviar a pobreza da região. Esta filosofia
defende que se se aumentar o crescimento eco-
nómico e industrial, aumentar-se-á o PIB (Produto
Interno Bruto) e haverá um efeito trickle-down pois a
economia irá criar empregos. No entanto, o trickle-
down é baixo ou inexistente. Os processos trickle-
down levam décadas e gerações para que se note
um efeito, e isto é se funcionar correctamente.
25%dapopulaçãodaSADCéurbanaeviveem
áreas onde provavelmente já há rede eléctrica e
75%dapopulaçãoéruraleamaiorpartenãotem
acesso à electricidade.
Momentum do projectos
O processo de planeamento de projectos de ener-
gia na região da SADC, normalmente, segue a se-
guinte ordem:
1. Os Governos nacionais priorizam os seus pro-
jectos e submetem-nos à SAPP (Southern Afri-
can Power Pool).
Terri HathawayRede Internacional para os Rios, EUA
5 Southern African Development Community – Comunidade para o Desenvolvimento da Áfica Austral
17
2. Forma-se um grupo de trabalho de planeamen-
to que identifica os projectos prioritários para a
região (como a Mphanda Nkuwa).
3. Projectos começam a ser acelerados, às vezes
de tal maneira que não se consegue fazer uma
avaliação concreta sobre os riscos e tomar-se
uma decisão apropriada.
4. Por último, o público e a sociedade civil têm co-
nhecimento do projecto quando se começa a
tratar do processo de construção e é-lhes dada
a possibilidade limitada de participar na avalia-
ção de impactos, de consulta e de debates pú-
blicos. Os residentes da região não podem ter
opinião no processo de planeamento regional.
O Banco para o Desenvolvimento Africano e outros
bancos de desenvolvimento pensam em dar o po-
der de empréstimo às comunidades económicas
regionais de modo a que se implementem projec-
tos de energia regionais. No futuro poder-se-ão ver
projectos como Mphanda Nkuwa a ser construídos
e financiados através de comunidades económicas
regionais.
O caso de Mphanda Nkuwa foi primeiro entre-
gue à NEPAD6. Em seguida, dentro da SADC pre-
tendia-se uma rede centralizada para trazer desen-
volvimento industrial para a região. Depois, a SAPP
e a ESKOM perceberam a existência de benefícios
na construção de Mphanda Nkuwa para eles e para
o que eles fazem. Finalmente, em 2006, houve um
acordo entre o Governo de Moçambique e o Banco
Chinês Exim para um financiamento para o projec-
to. Foi apenas aqui que o projecto se tornou público.
Décadas de trabalho sobre o projecto já foram gas-
tas e torna-se difícil criar espaço para discussão e
novas tomadas de decisão, onde o público, poten-
ciais consumidores e aqueles com preocupações
ambientais e económicas poderão influenciar nas
decisões do projecto.
Outra visão potencial é o planeamento de ener-
gia a favor dos pobres, com os seguintes pontos
chaves:
1. Alcançando os mais pobres, a grande maioria e a pobreza urbana
Muitos especialistas em energia afirmam que o
problema em África não é o fornecimento mas sim
a distribuição de energia. Envolver a maioridade
rural na rede é um processo caro e irá levar ge-
rações para se conseguir. A distribuição é a parte
mais cara pois há comunidades que estão muito
dispersas. O que o Banco Mundial, a SAPP e outros
fazem, é usar linhas de transmissão mais elevadas
e mais baratas para levar energia, por exemplo, do
Congo para a África do Sul, onde há uma economia
para absorver esta energia, mas não haverá distri-
buição em vilas e cidades rurais. Deve-se pensar
que a electrificação não é o único serviço moderno
de energia e pensar sobre os consumidores, as po-
pulações rurais e comunidades que cozinham com
biomassa e outros tipos de energia moderna a que
têm acesso. Estes precisam de ser envolvidos no
plano de energia.
2. Energia e Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs)
Existem 8 ODMs. Nenhum destes poderá ser atingi-
do sem aumentar o acesso à energia para aqueles
com pouco desenvolvimento. O Banco Mundial e
outros estão apenas concentrados em aumentar o
PIB do país.
3. Criando empregos locais
Há uma grande oportunidade para Governos Afri-
canos e outros formarem empregos locais, pondo
em funcionamento políticas para criar sectores lo-
cais de energia. A revista African Business dizia que
apenasentre5e10%dosjovensirãoencontrarem-
prego no sector formal. Um sector local de energia
poderia criar novos empregos, melhorando o sector
de energias renováveis.
4. Um futuro de energias sustentáveis
Há projectos que em escala menor e mais descen-
tralizados alcançariam melhor as pessoas com ne-
cessidades energéticas. Por exemplo: energia so-
lar, energia eólica, energia geotérmica e pequenas
barragens. É necessário ter projectos que mitigam
as mudanças climáticas. Projectos como Mphanda
Nkuwa vão aumentar a hidro-dependência.
Há 167 milhões de pessoas rurais na África Aus-
tral, assume-se que a maioria não tem acesso à
electricidade. Num relatório de 2004 da New Econo-
mics Foundation na Inglaterra, foi dito que, assumin-
do 5 pessoas por casa e um custo de US$100 por
pessoa para instalar energia solar fotovoltaica, para
dar acesso à electricidade a todos no Sul de África,
seriam necessários cerca de US$16.7 biliões. Este
valor é baixo quando se compara com o projecto da
Grande Inga que custou cerca de US$50 biliões.
Há barreiras que devemos enfrentar e é neces-
sário:
6 New Partnership for Africa’s Development – Nova Parceria para o Desenvolvimento de África
3. Custos e Benefícios de Mphanda Nkuwa: Perspectiva
Nacional e Regional
18
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
1. Uma visão governamental, políticas e estraté-
gias proactivas e a longo prazo, para permitir
um ambiente para energia rural e renovável.
2. Providenciar alocação de orçamento adequado
para projectos são necessários.
3. Subsídios a curto prazo para electrificação rural
ou serviços de energia renovável moderna em
áreas rurais. Muitas pessoas não podem pagar
o mais barato sistema solar fotovoltaico, mas
com actividades geradoras de emprego não se
necessitará de subsídios a longo prazo.
4. Mecanismos de financiamento para os consu-
midores terem acesso à energia.
5. Bancos de desenvolvimento devem redireccio-
nar os orçamentos em direcção às energias re-
nováveis e à provisão de energia rural. Continua
a haver um desequilíbrio entre o dinheiro direc-
cionado para projectos grandes e o que está a
ser fornecido à electrificação rural.
6. Apoio técnico e programas a longo prazo de
treino sobre energias renováveis.
Como atingir o equilíbrio entre redes cen-trais que precisam de cidades e crescimen-to económico e a necessidade de aliviar a pobreza e a pobreza energética?
• Combinaroplaneamentodentroeforadarede,
e não desenvolver apenas um.
• Um planeamento participativo e transparente
que inclua os potenciais consumidores e as co-
munidades que serão afectadas.
• Integrarosplaneamentosderecursosedeba-
cias para que todos os riscos e benefícios sejam
levados em conta.
• Mudarofocodosbancosqueoferecemfinan-
ciamento e influenciam as estratégias dos pro-
jectos.
Conclusão:
• Uma rede regionalnão iráafectarsignificativa-
mente a maioria dos Africanos que hoje sofrem
por pobreza severa de energia.
• OsserviçosdeenergiaparaosAfricanosmais
vulneráveis devem ser priorizados e integrados
em planeamento de energia.
• Osplanosdeenergiadevemsertransparentes
e acessíveis para os consumidores e grupos de
interesse públicos.
3.2.2 Discussão
Sérgio Elísio perguntou a Terri Hathaway que usos
estão previstos para os painéis solares, para além
da iluminação e aquecimento de água, nos custos
mencionados por ela, pois há indústrias e outros
que necessitam de energia e são indispensáveis
para uma vida sustentável. A Terri respondeu que
o cálculo dos custos foi superficial e apenas para
mostrar que se deve pensar em energias alterna-
tivas, em vez de esperar pelo efeito trickle-down.
Terri leu uma passagem de um relatório7 sobre o
preço das energias em termos de pobreza e mu-
danças climáticas. Esta passagem dizia que nos
próximos 10 anos as energias renováveis poderiam
desenvolver em muitos países e que o cálculo mi-
nucioso dos custos seria difícil. Fazendo um cálculo
superficial, estima-se que fornecer energia solar a
uma vila de 50 casas custaria US$25,000 e assu-
mindo que uma casa possui em média 5 pessoas,
então, para os 500 milhões de pessoas sem electri-
cidade existentes nesta região, o custo total estima-
do poderia ser de US$50 Biliões. Com base nisto
e no facto de 17.6 milhões de moçambicanos não
terem acesso à electricidade, o custo seria US$1.76
biliões que é inferior ao custo de Mphanda Nkuwa.
No entanto, não quer dizer que a energia solar foto-
voltaica seja a solução mas sim que se deve olhar
para alternativas.
Outro participante perguntou à Terri se seria
possível conseguir alguém que invista em projectos
de energias alternativas para o continente africano.
Terri respondeu com uma citação dum relatório de
pesquisa sobre energia africana da Policy Network,
que dizia que o capital necessário para energias re-
nováveis é geralmente mais baixo que o para inves-
timentos convencionais e centralizados. Isto permite
que os países africanos iniciem uma fase de pro-
gramas de energia que não afastem os investimen-
tos da nutrição básica, saúde, educação e outros.
É necessário que o Governo ofereça um ambiente
favorável ao desenvolvimento das energias alterna-
tivas. Fala-se muito sobre trocas de carbono, que é
um tópico controverso, mas o objectivo desta troca
era apoiar as energias renováveis e outros projec-
tos. O Banco Mundial e outros deveriam garantir o
sucesso destes projectos e a formação de um ór-
gão de capacitação técnica em cada país.
7 Documento não publicado de Ashden Award, Renewable Energy Application Form, Solar Energy to Meet Basic Needs in the Himalayas: the Barefoot Approach.
19
3.3. Perspectiva das Comu-nidades sobre Barragens no Zambeze
(Apresentação Chivio Cheiro – “Vozes do Zambe-
ze”, Moçambique)
3.3.1 Resumo
O projecto “Vozes do Zambeze” tem como objec-
tivo proteger e defender as comunidades ao longo
do Rio Zambeze. O projecto começou em Mphan-
da Nkuwa, distrito de Changara. Foi feito um le-
vantamento de problemas, uma disseminação de
informação sobre a construção de barragens e as
respectivas consequências e riscos. As preocupa-
ções levantadas pelas comunidades em relação à
construção da barragem de Mphanda Nkuwa fo-
ram as seguintes:
• Aberturasdasbarragens:ascomunidadesnão
recebem as informações a tempo, dificultando
as actividades ao longo do rio.
• Falta de informação: as comunidades pedem
informação sobre a construção da barragem e
sobre os impactos que ela vai causar.
• Reassentamento:AscomunidadesdeChirodzi-
Sanangué, Luzinga e Chacoccoma vão ser afec-
tadas directamente pelo projecto de Mphanda
Nkuwa. As comunidades de Chirodzi-Sanangué
têm maior número de pessoas e serão evacua-
dos para um lugar ainda desconhecido. As co-
munidades pedem que, antes de se construir a
barragem, se faça uma estimativa de tudo o que
vão perder e que se verifique a qualidade do lo-
cal onde vão ser colocados.
• Benefícios:alguns jovens locaisdevemserbe-
neficiados pelo projecto, como compensação.
Pedem ainda que não se faça como em Cahora
Bassa que as comunidades não tiveram com-
pensações nem reassentamento.
3.3.2 Discussão
Pablo Jorda pediu que se explicasse como se está
a trabalhar com as comunidades e como o Governo
está a ouvir e a ter em conta as necessidades das
comunidades. Chivio respondeu que têm estado a
trabalhar com as comunidades para ouvir as suas
preocupações e levantar os problemas relaciona-
dos com a construção da barragem. Estas preo-
cupações são então apresentadas ao Governo que
posteriormente vai discutir com as instituições que
vão fazer as barragens, para arranjar soluções para
os problemas apresentados pelas comunidades.
3.4. Gestão dos Recursos Hí-dricos na Bacia do Zam-beze
(Apresentação por Manuel Malaze, “ARA-Zambe-
ze”, Moçambique)
3.4.1 Resumo
Enquadramento legal e institucional
Em 91 foi aprovada a Lei das Águas, que estabele-
ce o princípio da gestão descentralizada dos recur-
sos hídricos através das Administrações Regionais
de Águas (ARAs). Essas ARAs são tituladas pelo
Ministério das Obras Públicas e Habitação através
da Direcção Nacional de Águas. O ARA-Zambeze
estabeleceu-se efectivamente em Tete em finais de
2002 e as suas actividades começaram em 2003.
Papel e Atribuições do ARA-Zamebeze
• Preparaçãoeimplementaçãodoplanodeocu-
pação hidrológica: estações de observação hi-
drológica da bacia para aquisição de informa-
ção sobre o desenvolvimento ou evolução da
situação hidrológica;
• Administraçãoecontroledodomíniopúblicohí-
drico;
• Cadastrodeusoeaproveitamentodeágua;
• Licenciamentoeconcessãodousoeaproveita-
mento de água;
• Cobrançadetaxasdeusoeaproveitamentode
água bruta;
• Projectar,construireexplorarobrashidráulicas;
• Conciliarconflitosdecorrentesdousoeaprovei-
tamento de água;
• Aplicarsançõeseeliminarusoseaproveitamen-
tos não autorizados;
• Encerrarfontesdepoluiçãodeágua;
• Propordefiniçãodezonasdeprotecção;
• Gestãodobancodedadosderecursoshídricos,
incluindo de utentes e da qualidade da água.
É papel da ARA-Zambeze proteger e realizar o
desenvolvimento e a gestão integrada e participa-
tiva dos recursos hídricos da Bacia do Zambeze. A
ARA-Zambeze ausculta a opinião pública sobre o
desenvolvimento dos recursos hídricos da bacia do
Zambeze e sobre a maneira como a própria ARA
gere esses recursos hídricos.
3. Custos e Benefícios de Mphanda Nkuwa: Perspectiva
Nacional e Regional
20
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
Gestão integrada dos recursos hídricos
Previsão e monitoramento hidrológico
Época Chuvosa 2006/2007
As previsões da região centro para a época chuvo-
sa indicavam que iam ocorrer chuvas normais com
tendência para acima do normal. O que se consta-
tou foi que no dia 1 de Janeiro choveu intensamen-
te em toda a Bacia. Isto continuou com uma certa
gravidade até ao dia 15 de Janeiro e repetiu-se em
Fevereiro. Devido às chuvas muito intensas, come-
çou a haver subida do nível hidrométrico e por volta
do dia 9 de Janeiro, os níveis de Caia e de Muta-
ra, estavam a atravessar o nível de alerta 5. Nes-
sa época houve 2 meses com níveis hidrométricos
acima do nível de alerta causando cheias no Baixo
Zambeze nesse período. Nas cheias de 2006/2007,
o problema principal no Zambeze foi a contribuição
do Rio Luangwa. Estas cheias foram inferiores às
registadas em 2001/2002.
Época Chuvosa 2007/2008
As previsões para esta época indicavam chuvas
com tendência para acima do normal para Janeiro,
Fevereiro e Março. Regionalmente, Moçambique
partilha a Bacia do Zambeze com outros 7 países,
por isso importava saber as previsões para os ou-
tros países que também indicavam chuva acima do
normal. Porque a Bacia do Zambeze estará carre-
gada de chuvas acima do normal, toda essa chuva
converter-se-á em escoamento que irá para Mo-
çambique. Todos os rios incluindo o principal terão
muita água.
Monitoramento
Estações de Monitoramento
Em 2002 tinha apenas 30 estações, neste momen-
to tem uma rede de 111 estações o que a torna ca-
paz de melhorar o desempenho no monitoramento.
Houve desenvolvimento e já tem equipamento que
permite, em tempo real, saber o que está a acon-
tecer na Bacia do Zambeze. Tem cerca de 100 lei-
tores que cobrem as 111 estações. Um leitor, por
vezes, fica responsável por duas estações, em que
uma é pluviométrica e outra hidrométrica e às vezes
evaporométrica.
Rede de Comunicação
Tem um sistema de comunicações usado para
contactar outras administrações ou postos admi-
nistrativos em toda a Bacia do Zambeze. Possui 9
rádios de rede fixa própria, 17 de rede fixa de apoio,
5 de rede móvel (carros e barco) e telefones fixos e
celulares.
Fluxo de Informação
A ARA-Zambeze recolhe dados através dos leito-
res, colaboração institucional e da Internet, faz a
análise e o processamento destes dados e em se-
guida faz a divulgação dos resultados às autorida-
des administrativas, às comunidades, à imprensa e
aos utentes.
3.4.2 Discussão
João Lukombo afirmou não ter ficado claro se existe
troca de informação entre Moçambique e os outros
países atravessados pela Bacia do Zambeze. Em
seguida, perguntou se está prevista a construção
de barragens ao longo do Zambeze para ajudar no
controle das cheias. Disse ainda, que em Angola, a
barragem Gove foi construída para abastecimento
hidroeléctrico e para o regulamento do caudal para
prevenir cheias. Manuel respondeu que existe tro-
ca de informação com os países vizinhos e que se
está a tornar cada vez mais efectiva. Afirmou que
tinha encontros marcados com hidrólogos da bacia
do Zambeze com o objectivo de reforçar a troca
de informação. Há encontros desde 2006 e Angola
ainda não participou apesar de ter sido convidada.
Anabela de Lemos afirmou que em Dezembro
tiraram fotografias à Bacia do Zambeze e a barra-
gem estava cheia, acima dos níveis seguros. Pedi-
ram informação a Cahora-Bassa sobre este assunto
e sobre os níveis de segurança, mas não recebe-
ram qualquer resposta. Manuel respondeu que em
Dezembro a Albufeira esteve abaixo da curva guia,
e só em Janeiro e Fevereiro é que esteve acima.
Afirmou ainda que não pode responder pelo proble-
ma de comunicação entre a HCB e a JA.
Daniel Ribeiro disse ter conseguido dados sobre
o nível guia através da ARA-Zambeze e de outras
pessoas que estavam ligadas a este assunto. No
entanto, havia contradição entre os dados. Em De-
zembro a HCB começou a descarregar água para
atingir a curva guia pois estavam acima do nível de
segurança. A 6 de Janeiro a HCB teve que dimi-
nuir a descarga pois estava a 22cm acima do nível
guia, contradizendo a informação dada pela ARA-
Zambeze, que provavelmente é quem tem a infor-
mação certa. Apesar de ser uma questão entre a
HCB e a JA os dados são do domínio público, por
isso perguntou qual a melhor maneira de conseguir
informação concreta e a tempo sobre os níveis da
água da HCB. Manuel respondeu que se deve obter
a informação através da ARA-Zambeze.
21
4.1. Projecto do Delta do Zambeze, Ligando Futuros
(Apresentação de José Chiburre, WWF,
Moçambique)
4.1.1 Resumo
Potencialidade do Delta do Zambeze
• 4coutadas;
• ReservadeMarromeu:conhecidacomoamaior
reserva de búfalos em África;
• CompanhiaAçucareiradeSena.
• Muitas concessões florestais: potencial para o
desenvolvimento tanto empresarial como das
comunidades;
• Pescaeagricultura;
• Navegaçãoempequenaescalaparafinslucra-
tivos;
• BancodeSofala:conhecidocomoumdosme-
lhores para captura de camarão.
Problemas no Delta
• Invasãodasplantasnosriosefluentes;
• Dificuldadesdenavegação:afectaosistemade
transporte de açúcar pela Companhia de Sena
que leva o açúcar da fábrica para o mar, e do
mar para a Beira. Quando o caudal do Rio Zam-
beze é baixo, a navegação é dificultada.
Pressupostos dos Problemas
Entre outros existem os seguintes pressupostos:
1. Regulação dos fluxos do Rio Zambeze através
das barragens que retêm água para produzir
energia. De 1939 a 1959 havia fluxos elevados
de água e de 1979 a 1999, após a construção
da HCB, verificou-se níveis baixos do fluxo. Ana-
lisando as descargas da barragem dentro do
período de um ano de 1939 a 1959, nota-se
que nos primeiros 3 meses havia muito fluxo/
cheias que baixava à medida que nos aproxi-
mássemos do período seco. Após a construção
da HCB, nota-se um fluxo mais estável do que o
fluxo anterior.
2. Mudanças Climáticas: difícil medir os impactos
das mudanças climáticas. Mas, é necessário re-
conhecer que pode ter influência.
Objectivos do Projecto
Melhorar a gestão das águas do rio de modo a que
se minimize os prejuízos sem reduzir os benefícios,
ou seja, continuar a ter energia eléctrica sem reduzir
a água no Delta.
Objectivo I
Influenciar o fluxo das águas do rio de modo a atin-
gir, não o fluxo natural, mas um fluxo que tenda a
ser o natural. A secagem das terras húmidas tem
tido os seguintes efeitos:
• Aumentodoscasosdeconflitohomem-animal:
Antes, os rios efluentes levavam a água até às
zonas externas ao leito do Rio Zambeze onde
os animais bebiam, agora, essas zonas ficam
secas e os animais têm que ir até ao Rio Zam-
beze. Neste percurso, os animais passam por
comunidades.
• Reduçãodossedimentos.Quandoaságuases-
correm arrastam sedimentos úteis para a produ-
ção agrícola e para a vida das populações que
vivem no Delta.
• ReduçãodopescadodobancodeSofala.Um
estudo mostrou uma correlação directa entre o
fluxo de água e a captura do camarão: quanto
maior for o fluxo maior é a captura. Moçambique
perde cerca de US$30.000.000,00/ano.
• Aumento do custo de rega na Companhia de
Sena devido ao facto do lençol freático tender a
baixar.
4. Impactos Ambientais dos Projectos de Barragens no Zambeze
José ChiburreWWF, Moçambique
4. Impactos Ambientaisdos Projectos de
Barragens no Zambeze
22
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
• Maiorimpactonegativodascheias:normalmen-
te existem cheias de 5 em 5 anos, as pessoas
instalam-se nas zonas próximas do rio e quando
começam as cheias o impacto é maior porque
as pessoas não querem sair.
Objectivo II
• Melhorarascondiçõesdevidadascomunida-
des através da capacitação em gestão, merca-
dos, advocacia, entre outras;
• Criarparceriasentreosectorprivadoeasco-
munidades de modo a que estas possam be-
neficiar das actividades realizadas pelo sector
privado;
• Exploração das potencialidades existentes na
zona;
• Mitigaroconflitohomem–animal.
4.2. Impactos Sociais da Bar-ragem de Cahora Bassa (HCB)
(Apresentação Eduardo Nhabanga, Justiça Am-
biental, Moçambique)
4.2.1 Resumo
Cerca de 42,000 pessoas foram reassentadas pela
barragem, duas vezes mais do que tinha sido pla-
neado, o que provocou um agravamento na pobre-
za das pessoas e das doenças.
Durante muitos anos não foi produzida energia
por sabotagem das linhas, mas ainda hoje a maior
parte dos moçambicanos não beneficiam da elec-
tricidade da HCB.
A modificação do padrão de inundação da HCB
afecta cerca de 700,000 pessoas que dependem
do rio e vivem na Bacia do Zambeze e tem impac-
tos nas zonas de pasto, nos rendimentos de colhei-
tas, de indústrias pesqueiras e caça, na qualidade
da água, transporte do rio e do delta.
No Baixo Zambeze há problemas de pasto ade-
quado pois o pasto é directamente afectado pelos
padrões de inundação do Zambeze. A disponibili-
dade de pasto de qualidade na estação seca é crí-
tica, dependendo da inundação durante a estação
húmida. O número de gado aumentou devido ao
regresso das inundações anuais regulares.
Agricultura
Há impactos negativos na agricultura de subsis-
tência e na comercial. A passagem de sedimen-
tos ricos em nutrientes é bloqueada a montante da
barragem provocando redução da fertilidade dos
solos, erosão dos bancos de areia e invasão salina
que permite a invasão de espécies exóticas. Con-
sequentemente, os impactos danificam o ecossis-
tema do Delta.
Pesca
As terras húmidas e as florestas de mangal servem
de local de desova e viveiros para várias espécies de
água doce e salgada. Desde a construção da HCB
verificou-se uma redução significativa na quantida-
de de peixe capturado no Baixo Zambeze. O valor
anual, que iria resultar duma melhoria do padrão
de inundação, poderá ser medidos em milhões de
dólares americanos.
A indústria de camarão sofreu graves impactos
devido às alterações do fluxo do rio. De acordo com
António Inguane, restaurar o fluxo natural da jusan-
te, em 2 anos de gestão melhorada de águas, leva-
ria a um aumento da produtividade do camarão até
23
cercade20%,causandoumaumentonareceitade
US$1,000,000 a US$30,000,000 por ano.
As inundações continuam
A inundação de 1978, primeira inundação des-
de a materialização da HCB, causou 45 mortos e
100,000 pessoas deslocadas e um prejuízo de cer-
ca de US$ 62,000,000. Estas inundações destruí-
ram a crença de que a barragem traria finalmente o
controle das cheias.
Conclusão
As barragens a montante têm tido impactos a longo
prazo nas comunidades e nas economias locais a
jusante. Estes impactos poderão ser mitigados com
a adopção de fluxos ecológicos para a Barragem
de Cahora-Bassa. A resolução destes problemas
deve ser priorizada.
4.3. As Experiências do Delta do Zambeze
(Apresentação de Patrocínio da Silva, Coordenador
GPZ/UGP Marromeu, Moçambique)
4.3.1 Resumo
O Delta do Zambeze é uma grande planície de alu-
vião de 1,2 milhões de hectares, tem grande poten-
cial de recursos humanos, grande biodiversidade e
áreas de conservação.
Consequências e Efeitos das Barragens
Quando as barragens são construídas, interrompem
o curso natural das águas. Os vários empreendi-
mentos construídos ao longo da Bacia do Zambeze
interromperam o curso natural das águas do Zam-
bezeemmaisde70%Oefeito imediatoésentido
a jusante, nas zonas mais baixas e mais perto do
Oceano Índico (Baixo Zambeze e Delta do Zambe-
ze). As consequências são as seguintes:
• Ferry-boatdaCompanhiadeSena,que trans-
porta 300 contentores de açúcar (900Kg) num
trajecto de 100Km entre Marromeu e Chinde,
fica enterrado nos bancos do leito do Rio Zam-
beze durante as suas viagens.
• Reduçãodas actividades económicasde uma
zona rica em recursos, mas com níveis extre-
mos de pobreza absoluta,
• Reduçãodequalidadedevida;
• Reduçãodeprodutividadeagrícola;
• Reduçãodeoutrasactividadesourendimentos
que a população pratica;
• Reduçãodafaunabravia:em1982havia45,000
búfalos na Reserva de Búfalos em Marromeu, as
contagens feitas em 2007 revelaram 7000 búfa-
los, meses antes eram 2000 búfalos, portanto
houve uma taxa de crescimento importante.
A zona de Marromeu é uma terra húmida de impor-
tância internacional, no entanto está cada vez mais
seca. Nas últimas queimadas na Reserva de Búfa-
los, na primeira semana de Novembro, observou-se
centenas de búfalos em terras negras, sem qualquer
área de capim verde. Por este motivo, os búfalos
aproximaram-se do Oceano Índico para comer a últi-
ma vegetação junto à costa da Reserva de Búfalos.
A flora também está a sofrer. No delta, observam-
se muitos metros de mangal a morrer por intrusão
salina, alteração de pH e alterações meteorológicas
na Bacia do Zambeze, em particular a nível do Delta.
Problemas a ser estudados, aprofundados,
quantificados e medidos
1. Mortalidade nos mangais
2. Mortalidade do camarão: Há uma alta mortali-
dade do camarão porque este desenvolve-se
nas raízes dos mangais e se não tiverem a força
hidrostática das águas do rio para regressar ao
mar, morrem.
3. Redução dos níveis freáticos: parece ter baixado
de 7 para 14 metros.
4. Intrusão salina crescente: há intrusão salina nos
18 mil hectares de cana-de-açúcar, o que afec-
ta a produtividade da Companhia de Sena.
5. As pastagens naturais e ricas, em Marromeu es-
tão a sofrer alterações. As Hyparrhenias e outros
pastos preferidos pelos búfalos estão a reduzir
de tamanho e de densidade.
6. Algumas espécies animais estão a reduzir em
número. Nota-se na distribuição de cotas de
caça para as empresas de safaris. A popula-
ção de leões reduziu muito em Marromeu e as
populações de pala-palas, de gondongas e de
“shangos”, aumentaram significativamente pela
falta de leões. Outras espécies também passa-
ram para a categoria de vulnerável devido à falta
de água e de pastos de qualidade e ao aumento
da caça furtiva.
7. Novas espécies vegetais. A Acacia xanthophlo-
ea, que não existia no Delta do Zambeze nem
nas sub-bacias de alguns rios tributários, agora
é abundante.
8. As queimadas em terras secas são mais fre-
quentes: devastam centenas de quilómetros de
florestas e de pastagens, como a terra já não é
húmida, as queimadas já são uma calamidade
natural que anualmente destrói recursos renová-
veis no Delta do Zambeze.
4. Impactos Ambientaisdos Projectos de
Barragens no Zambeze
24
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
5.1. Trabalho de Basilwizi no Vale do Zambeze, Zimba-bué – “Reparando vidas destruídas”
(Boniface S. Mutale, Director, Basilwizi, Zimbabué)
5.1.1 Resumo
Background de Basilwizi
Entre os anos de 1957 e 1964, as populações Tonga
e Korekore (T&K) no Zimbabué e na Zâmbia foram
reassentadas por causa da barragem de Kariba e
do resultante lago. Estas foram para áreas áridas
com baixa pluviosidade, sem capacidade para ac-
tividades agrícolas. As áreas para actividades de
sustento dependentes do rio e de caça foram tor-
nadas restritas pelo Governo. A barragem de Kariba
agora é importante para a economia Zimbabueana
devido à energia hidroeléctrica, pesca e turismo,
mas isto tornou os povos T&K indígenas pobres.
Estes ainda lutam contra:
• Faltadecomidaperenemanifestadaatravésde
malnutrições
• Gravefaltadeáguapotáveleelectricidade.Pes-
soas afectadas pela barragem andam 10 km à
procura de água e lenha para energia.
• Faltadeacessoàirrigaçãoeoutrasinfra-estru-
turas.
• Máscondiçõesdeabastecimentodeáguaede
saneamento
• Faltadehabilidadeseprofissionaisemtodosos
sectores, principalmente em saúde e educação
• As pessoas viajam longas distâncias para ter
acesso a serviços básicos – não é consistente
com os Objectivos de Desenvolvimento do Milé-
nio (ODMs)
Por causa destes problemas, o Basilwizi foi formado
pelas populações afectadas para exigir que sejam
consideradas pelas autoridades na distribuição e
uso dos recursos locais e melhoramento das condi-
ções de vida no Vale do Zambeze.
Objectivos de Basilwizi:
• Capacitarascomunidadesetorná-lascapazes
de advogar por mudanças de desenvolvimento
e pela sua inclusão nos processos de tomadas
de decisão.
• Assistir as comunidades para melhorar o seu
bem-estar sócio-económico, pelo estabeleci-
mento de projectos de desenvolvimento centra-
dos nas populações.
• Facilitar a introdução de legislação, políticas,
procedimentos e práticas que permitam o aces-
so, uso e controle dos recursos naturais pelas
comunidades afectadas.
Actividades de Basilwizi:
• Actividadesdecapacitaçãoviradasparaasha-
bilidades das comunidades
• Advocaciaelobbying
• Organizaçãodeconferências
• Trocadevisitasporpartederepresentantesdas
comunidades
• Networking com organizações com a mesma
linha de pensamento
• Pesquisaedocumentação,edisseminaçãode
informação
Resultados
Sensibilização: sobre as condições da população
Tonga, a vários níveis do Governo e outros stakehol-
ders.
Unificação da População Tonga: juntou as popu-
lações afectadas para reflectirem sobre os proble-
mas comuns em conjunto, de modo a fortalecer a
voz do povo.
Grupos de Lobby Distritais: estabeleceu e trei-
nou grupos de lobby distritais e pessoas focais a
nível do povo que planeiam e implementam acções
de advocacia.
Lobby para Mudança da Política de Educação:
através de lobby e advocacia o Governo reconhece
agora o Tonga e outras línguas marginalizadas e
concordou em ensiná-las até à 7ª classe. O com-
promisso do Governo está, no entanto, ainda por
ser visto.
Resposta do Governo
O Governo está a trabalhar num esquema de irriga-
ção que se espera que acomode cerca de 100 far-
meiros no distrito de Binga, como parte de medidas
de restauração do sustento das comunidades. No
entanto, isto está parado devido a falta de fundos.
A ZRA (Zimbabwe River Authorities) também está
a planear um esquema de irrigação assim como
5. Impactos Sociais nos Projectos de Barragens no Zambeze
25
5. Impactos Sociais nos Projectos de Barragens
no Zambeze
outros projectos nas comunidades afectadas. Algu-
mas pessoas de negócios concordaram em discu-
tir com as comunidades locais, maneiras de estas
contribuírem para melhorar as suas condições de
vida.
Desenvolvimentos Negativos
O Governo do Zimbabué está a trabalhar numa
barragem que irá deslocar cerca de 5000 pessoas
no Vale do Zambeze. Isto é constrangedor pois é
a mesma população que foi deslocada pela bar-
ragem de Kariba e porque o Governo não está a
questionar as comunidades afectas sobre os pla-
nos de reassentamento. A população teme que o
Governo não lhes dará tempo suficiente para se
prepararem para o reassentamento. Nenhuma ter-
ra foi ainda disponibilizada para as pessoas.
Desafios
• Percepção negativa dos governos sobre as
ONGs
• Condiçõespolíticaseeconómicasdesfavoráveis
que resultam na falta de programas importan-
tes, como por exemplo combustível.
• Máscondiçõesdarededeestradasedeoutras
infra-estruturas.
5.1.2 Discussão
Tarciso Yacor afirmou que Boniface Mutale não
apresentou alternativas de subsistência para as po-
pulações e não falou de formações técnicas, troca
de experiências, sensibilização, especificamente
em termos de sobrevivência da comunidade. Bo-
niface respondeu que como organização primeiro
querem assegurar que as populações têm capaci-
dade para advogar os seus direitos.
5.2. Comunidades realoca-das em Sinazongwe, Vale Gwembe Valley, Zâmbia
(Apresentação de Nyambe Luhila, Oficial de Projec-
tos, Kaluli Development Foundation, Zâmbia)
5.2.1 Resumo
A construção da barragem de Kariba, que afectou
directamente 55.000 pessoas, maioritariamente pes-
soas de Tonga e de Goba, e as consequentes cheias
na melhor parte para a agricultura do Vale Gwembe
(Vale do Zambeze) resultaram numa superpopula-
ção das restantes zonas. As pessoas instalaram-se
em volta da pouca terra arável na margem do lago,
nas colinas e vales do rio, o que causou um aumento
na pressão demográfica, severa falta de água para
uso doméstico e sobrevivência e erosão do solo. Isto
exigiu propostas para reassentar um grande número
de pessoas fora do vale para restabelecer o equilí-
brio entre a população, o solo e a água.
Através do seu Sustainable Agriculture Project
(Projecto de Agricultura Sustentável), a Kaluli Deve-
lopment Foundation (Fundação para o Desenvolvi-
mento de Kaluli) tem estado a trabalhar para melho-
rar e assegurar o sustento e a segurança alimentar
das comunidades rurais no Distrito Sinazongwe
pela implementação de uma adequada produção
agrícola/gado com baixo input externo e de tecno-
logias de conservação ambientais.
O foco principal estava na conservação de solo
e de água com melhoramento da fertilidade de solo
e educação de conservação em escolas e comuni-
dades. O Water Supply and Sanitation project (Pro-
jecto de Fornecimento de Água e Saneamento), por
outro lado, agia em virtude das comunidades rurais
através da construção de represas para gado e pe-
Nyambe LuhilaOficial de Projectos, Kaluli Development Foundation,
Zâmbia
26
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
quena irrigação. A água para gado e seres huma-
nos tem sido o foco principal visto que a maior parte
de reassentamentos são longe da albufeira.
O que foi alcançado nestes projectos foi resultado
da participação das comunidades nas actividades
do projecto. Enquanto os governos podem assumir
as responsabilidades de compensar as comunida-
des afectadas a um nível maior, as ONGs trabalham
através da cooperação com o povo. Quando a com-
pensação é usada como uma abordagem e não
como um trabalho conjunto, a comunidade não se
sente responsável pelas actividades e a manuten-
ção e uso a longo prazo das infra-estruturas pode
ser afectada. Líderes tradicionais são essenciais em
motivar as comunidades na direcção da advocacia
pelos seus direitos e instrumentais em assegurar a
participação da comunidade em projectos comu-
nitários. A melhor realização de um governo, entre
outras, é de providenciar um ambiente favorável
para o envolvimento da sociedade civil para tratar de
assuntos que afectam as comunidades deslocadas
como resultado de grandes barragens.
5.2.2 Discussão
Sérgio Elísio afirmou estar envolvido no desenvolvi-
mento de Mphanda Nkuwa e que este projecto es-
tava ainda numa fase incipiente em relação a estas
questões. Disse ter havido um estudo que englobou
todas as vertentes, técnica, económica, ambiental e
social. O estudo ambiental parou, daí não haver um
plano de acção para o reassentamento. A intenção
do Governo é desenvolver o projecto de Mphanda
Nkuwa com uma parceria entre o sector Privado e
o Público e por este motivo nesta fase incipiente não
se pôde desenvolver o plano de acção para o re-
assentamento, pois significaria hipotecar o projec-
to no início. Existe uma lei Ambiental que prevê as
questões de reassentamento da população, e nela
estão todos os direitos que a população tem. Para
o licenciamento do desenvolvimento do projecto, as
comunidades serão convidadas a sugerir um local
para serem reassentadas. Sérgio afirmou ainda que
os direitos das comunidades serão preservados de
acordo com a lei.
27
6. Implicações Sociais de Projectos de
Barragens em África
6.1. Herança das Grandes Barragens em África
(Apresentação de Liane Greeff, África do Sul)
6.1.1 Resumo
60%dosmaioresriosdomundotêmbarragens,o
que causa grande redução da biodiversidade aquá-
tica e mudanças radicais nos fluxos normais dos rios.
Em relação ao Zambeze, um dos problemas da bar-
ragem de Mphanda Nkuwa é a mudança no padrão
das cheias e o impacto que esta terá nas comunida-
des. Outras consequências relevantes incluem:
• Obstrução das migrações dos peixes o que
pode matar muitas pessoas à fome.
• Modificação das características da água e do
habitat
Todas estas mudanças têm impactos sociais nas
comunidades dependentes dos rios.
Grandes Barragens e Necessidades Huma-nas: Registo de África
Em África, mesmo após vários anos desde a cons-
trução de várias barragens, ainda há populações
afectadaseempobrecidas.4%dosolodoGhanafoi
inundado devido à barragem de Akosombo, no en-
tanto70%aindanãotemacessoàelectricidade.Os
estuários dos Rios Nilo e Volta estão a ser devasta-
dos pelas grandes barragens, afectando os peixes
do oceano, porque é em muitos destes estuários
que estes procriam e desovam.
A Zâmbia e o Zimbabué têm duas vezes maior
capacidade de armazenamento de água por pes-
soa que a Austrália, no entanto, os impactos das
barragens na pobreza têm sido mínimos e muitos
continuam sem água.
Audição de Comunidades Afectadas por Grandes Barragens na África Austral
Segundo a WCD, as barragens trouxeram benefí-
cios, mas, muitas vezes, os custos sociais e am-
bientais têm sido inaceitáveis e evitáveis. É im-
portante olhar para as alternativas antes de se
prosseguir com uma barragem. Muitas vezes os
custos são maiores que os benefícios. Foram fei-
tas audições onde as comunidades das barragens
da África Austral falaram sobre as suas histórias, e
fizeram uma declaração a que chamaram “A De-
claração de Promessas Quebradas”:
• “Perdemosasnossasformasdesustentoenão
conseguimos recuperá-las”: não receberam ter-
ras em troca, as suas casas foram demolidas,
perderam o controle dos recursos naturais, a vida
selvagem desapareceu, os valores culturais e ra-
ízes foram destruídas e membros das famílias e
comunidades foram violentamente afastados.
• “As grandes barragens causaram uma dimi-
nuição no nosso padrão de vida, nosso nível de
saúde, os recursos que antes usávamos livre-
mente agora são caros.”
• “NaÁfricaAustral houve umenormeaumento
do HIV/SIDA devido às grandes barragens e às
migrações urbanas e conflitos nas nossas co-
munidades onde antes não havia.”
Aprender com as experiências africanas, especialmente com a Barragem de Maguga
É necessário aprender com outras experiências
africanas. O único exemplo em que as populações
ficaram melhores depois do reassentamento é o da
Barragem de Maguga. Esta foi feita através da sua
própria experiência e do aprendido com os erros
dos outros. A comunidade está capacitada para
negociar o seu próprio reassentamento, puderam
usar dinheiro e construíram as suas casas segundo
as suas próprias especificações. A água também
ficou disponível através de canais de irrigação. Têm
boas escolas e clínicas e há apoio para agricultura.
Há um processo de resolução de conflitos indepen-
dente, a que as comunidades podem recorrer se
sentirem que as promessas não foram cumpridas.
Recomendações
Estas resultaram do encontro das comunidades
afectadas da África Austral, 2006:
1. Tomadas de decisão são de extrema importân-
cia. As comunidades apoiam a WCD e pedem
diálogos nacionais.
2. As barragens devem ser vistas como meios de
desenvolvimento e opções alternativas de de-
senvolvimento devem ter oportunidades iguais.
3. Comunidades afectadas devem poder participar
como parceiros equiparados no processo.
4. Um processo transparente deve ser estabeleci-
do para facilitar acordos em aspectos chave dos
projectos, incluindo compensação, reassenta-
mento e partilha de benefícios.
6. Implicações Sociais de Projectos de Barragens em África
28
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
5. Assegurar a participação eficiente das popula-
ções nas tomadas de decisão e implementação
do processo através de:
- Empoderamento das comunidades
- Aumento do envolvimento dos meios de co-
municação e das ONGs
- Facilitação do desenvolvimento de comités
comunitários
- Fortalecimento das estruturas locais já exis-
tentes
- Fornecimento de capacitações e programas
de treinamento
- Tornar todos os documentos do projecto dis-
poníveis.
- Oferta de fundos para participação.
6. De modo a assegurar que os projectos sejam
implementados correctamente e que as pro-
messas não sejam quebradas; o Governo, au-
toridades do projecto e outros responsáveis pelo
projecto devem assegurar que sejam feitos con-
tratos para programas de compensação e re-
assentamento que devam ser acordados com
as comunidades afectadas e, deve haver uma
perícia legal independente do governo disponí-
vel para as comunidades.
7. Problemas sobre reassentamento e compensa-
ção devem ser resolvidos para a satisfação das
comunidades antes da construção começar. Os
marcos do progresso devem ser estabelecidos
e as sanções impostas caso estes não sejam
atingidos.
8. Enquanto as barragens existirem, estas devem
ser monitoradas, assim como a sua segurança
e os impactos na saúde e saneamento das co-
munidades.
9. As comunidades pedem que a lei internacional
que protege os direitos humanos básicos seja
seguida quando se constrói uma barragem em
África.
10. Finalmente, o problema de sustentabilidade
ambiental é muito importante. As pessoas, cujo
sustento depende da terra, devem assegurar
que terão a chance de viver com dignidade.
“É nosso dever deixar, para as futuras gerações,
um planeta Terra seguro que sustente as suas vidas
como sustenta todos nós.”
6.1.2 Discussão
Patrocínio da Silva afirmou que as experiências mun-
diais e africanas têm que ser retidas e reflectidas
para não se cometer os mesmos erros. Ofereceu
ainda exemplos de necessidades de translocações
de comunidades residentes em alguns projectos de
desenvolvimento de recursos naturais. As estrutu-
ras Governamentais e seus parceiros devem evitar
cometer erros ou então irão criar conflitos perma-
nentes que vão afectar as vidas das comunidades,
prestígio do Estado e a imagem do Governo. Criti-
cou ainda o facto de Sílvio Elísio ter afirmado não
se poder negociar com as comunidades que vão
ser afectadas pela barragem, antes de se terminar
as negociações entre o sector público e o privado,
e afirmou ainda que se deve ter em conta a apre-
sentação da Liane, pois já tem alguma experiência
africana neste assunto.
Thabang informou que as conferências da Áfri-
ca Austral e Oriental sobre mega infra-estruturas
de água realizada na Suazilândia deixou claro que
o melhor processo é aquele que envolve todos os
stakeholders.
Anabela de Lemos afirmou que o processo não
está a ser transparente. As decisões estão a ser to-
madas e o processo a andar sem que as comu-
nidades saibam para onde vão. Disse ainda que
quando se levanta alguma preocupação é-se ata-
cado e não se recebe informação.
Sérgio Elísio afirmou que a sua intervenção foi
mal interpretada. Disse que sempre houve a preo-
cupação do Governo em envolver as comunidades
desde o início do projecto. Foram feitas ausculta-
ções públicas e explicou-se à população o que vai
acontecer. Clarificou que, apesar de Nyambe Luhila
ter recomendado que para Mphanda Nkuwa o ide-
al seria negociar agora o pacote de compensação,
ainda não foi desenvolvido o plano de reassenta-
mento. Isto porque o Governo ainda está à procura
de parceiros para desenvolver o Projecto, mas que
o Governo terá a obrigação de seguir a Lei Ambien-
tal.
Liane Greeff afirmou estar na lei que as pessoas
deveriam ter as mesmas ou melhores condições
após o reassentamento, no entanto, raramente
acontece. Na verdade, toda gente quer que as po-
pulações afectadas estejam melhor do que antes,
mas nem sempre é fácil atingir este objectivo. Há
muito que se pode fazer desde já envolvendo as
comunidades. Quanto mais aberto for o processo e
quanto mais cedo houver diálogos com as comuni-
dades, mais facilmente se conseguirão soluções.
José Chiburre afirmou que parece haver uma
procura de financiamento sem se saber quais são
os modelos de compensação. Disse que os finan-
ciadores deveriam saber primeiro quais serão os
mecanismos de reassentamento e de beneficiação
29
6. Implicações Sociais de Projectos de
Barragens em África
e se estão a investir numa causa justa. O orçamen-
to para financiamento deveria incluir os gastos do
reassentamento.
Hope Ogbeide reprovou o facto de o governo e
o sector privado criticarem o trabalho dos oposito-
res dos processos de desenvolvimento, pois esta
oposição pretende estabelecer um acordo entre as
comunidades afectadas e as organizações da so-
ciedade civil, governo e todas as outras partes in-
tegrantes. É necessário uma participação colectiva
e as pessoas não podem continuar a monopolizar
os recursos em benefício de apenas algumas. Em
relação às tomadas de decisão, as comunidades
têm uma participação muito limitada, este mode-
lo de processo não tem funcionado e tem criado
muitos problemas. Deve-se arranjar uma solução
melhor através do envolvimento das comunidades
no início dos projectos e da auscultação sobre as
suas necessidades.
Ali Askouri afirmou que é necessário haver um
acordo sobre o que significa participação, pois o go-
verno escolhe os representantes das comunidades
afectadas, e em muitos dos casos estes represen-
tantes têm algum tipo de ligação com o governo,
por isso não se preocupam muito em defender e
reflectir os interesses das comunidades afectadas.
Em muitos países africanos, o Governo sabe que
é sempre o mais forte e que ninguém vai obrigar
o Governo a honrar os seus compromissos. Para
finalizar sugeriu que se tentasse usar o termo “co-
munidades beneficiárias” e não comunidades afec-
tadas.
Liane Greeff afirmou que a conferência sobre
barragens da África Austral e Oriental, que o Tha-
bang mencionou, estabeleceu que a partilha de
benefícios é a uma das maneiras de garantir a jus-
tiça para as comunidades afectadas quando existe
um projecto de beneficiários. No entanto, na maior
parte das barragens, as comunidades afectadas
não são beneficiadas, mas a Comissão Mundial de
Barragens declarou que as comunidades afectadas
deveriam ser as primeiras a receber os benefícios
de qualquer projecto. Quando um reassentamento
não é bem feito, como no caso da barragem de
Kariba, irá perseguir tudo o que o Governo fizer de
mal, por isso, é para o benefício de todos que o re-
assentamento seja bem feito.
Sena Alouka concluiu que todos concordam que
a participação é um aspecto que deve ser incluído
nas fases iniciais do caso de Mphanda Nkuwa. É
importante que as comunidades sejam envolvidas
em todas as fases do projecto.
6.2. Comunidades Afectadas por Barragens (Nigéria), impactos nas terras húmi-das de Hadeija Nguru
(Apresentação de Muslim Idris, Hikyb-wdi, Nigéria)
6.2.1 Resumo
A Bacia de Komadugu Yobe (KYB) é uma zona ári-
da a semi-árida da Bacia do Grande Lago Chade.
Esta é uma fonte Internacional de águas partilhadas,
cuja gestão é de extrema importância para as rela-
ções diplomáticas entre a Nigéria e 4 outros Países
que partilham esta bacia. A bacia possui um gran-
de potencial a nível de turismo, pequenas e médias
indústrias, gestão de ecossistemas e conservação
de habitats. A KYB compreende também as terras
húmidas de Hadejia-Nguru, local de extrema im-
portância económica e ecológica. As terras húmi-
das fornecem recursos naturais para 10 milhões de
pessoas.
A construção de barragens (Tiga e Challawa) no
rio Hadejia levaram a uma forte alteração do padrão
natural do fluxo de água, causando mudanças no
ambiente e no sustento das comunidades ao longo
do rio. A alteração do padrão do fluxo de água pro-
vocou acumulação de lodo, principalmente na área
das terras húmidas. A erva invasora Typha flores-
ceu no rio e bloqueou os canais naturais inundando
a estrada principal que liga os seis estados. A fra-
ca gestão das barragens resulta, normalmente, em
Muslim Idris, Hikyb-wdi,Nigéria
30
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
inundações excessivas que levam à perda de vidas
e propriedades. Resíduos industriais são também
descarregados no rio provocando sérios riscos am-
bientais e causando a morte massiva de peixes e de
diversa vida aquática. Isto também constitui sérios
riscos para o ser humano e para o gado que usam
os recursos do rio. Todos estes factos aumentam
o nível de pobreza dos 10 milhões de pessoas que
dependem do rio e leva ao aumento de conflitos, so-
bretudo entre os agricultores e os criadores de gado.
Os problemas da gestão de água na KYB incluem:
• Escassezdeágua
• Fragmentação injusta e não coordenação da
gestão
• Aumento da população e de grupos vulnerá-
veis,
• Invasãodeervasaquáticas,notavelmenteTypha
domingenis,
• Ambientedegradado,
• Potencialdedesenvolvimentonãoutilizado,
• Operação e manutenção não adequadas das
infra-estruturas de água existentes,
• Problemasoperacionaisnagestãodasbarragens,
• DesenvolvimentoeoperaçãodosRBDA8s com-
petitiva e unilateral,
• Cheiasextremamentegrandesepequenas,
• Faltadeoupobrecoordenação,
• Faltadeoupobregestãoestratégicaintegrada,
fraqueza institucional,
• Causassócio-políticasouderaiz,
• Dadospobreselacunasnoconhecimentosubs-
tancial,
• Trabalhoslegaisepolíticosfracos,
• Geralmentepreparaçãoinadequadados
stakeholders para participação efectiva,
• Consultaevontadepolíticainsuficiente,
• Ausênciadegruposdeadvocaciadecomunida-
des e baixa participação civil a todos os níveis,
• Aumentodapressãopopulacionalsobreosre-
cursos de água e da migração
Recentemente, devido à falta de fornecimento de
energia eléctrica na cidade de Kano, o Governo
quis utilizar as duas barragens (Tiga e Challawa
Gorge) para geração de energia. No entanto, de-
vido ao baixo valor económico e à pressão política
dos stakeholders, a ideia foi abandonada. As duas
barragens juntas só podem produzir 18 MW devido
às deficiências técnicas. As duas foram inicialmente
desenhadas também para produzir energia, além
de fornecimento de água para irrigação e para con-
sumo doméstico. O novo conceito é utilizar agora
os 18 MW e adicionar gasóleo para se alcançar o
objectivo pretendido. Um estudo de praticabilidade
está actualmente em curso.
Lições aprendidas na bacia:
• Melhoramentodasligaçõesinstitucionaisesec-
toriais,
• Aumentodovaloreconómicolocal,
• Reduçãooueliminaçãodosriscosdesegurança
(como por exemplo assaltos a mão armada e
influxo de imigrantes de países vizinhos),
• Sólida recolhadedadosegestãode informa-
ção,
• Protecçãoambientalmelhorada,
• Abordandofraquezasinstitucionais
• Boa vontadee transparênciaem todososde-
senvolvimentos futuros na bacia.
A formação de várias instituições ajudou na unifi-
cação e compreensão dos problemas da bacia
de uma maneira coordenada e sustentável, aju-
dando assim nos problemas da comunidade. Isto
não poderia ter sido alcançado sem a cooperação,
assistência e boa vontade dos parceiros doadores
que levaram a cabo programas de sensibilização.
O esforço desta organização institucional forçou o
Governo, a nível local, estatal e federal, a fornecer
fundos no valor de 1.7 biliões de Naira para dirigir
algumas questões chave bem como para comprar
máquinas para cortar Typha e contratos de adjudi-
cação para construção de diques ao longo do Rio
Hadejia para uma gestão de água eficaz que irá re-
solver todas as questões.
8 River Basin Development Authority
31
7. De Sudão a Moçambique: Papel da China
7.1. Caso de estudo da Barra-gem de Merowe
(Apresentação de Ali Askouri, Sudão)
7.1.1 Resumo
A ideia do projecto da Barragem de Merowe nas-
ceu em 1946. O projecto iniciou em Junho de 2003
e irá criar uma represa de 174 km. Localiza-se no
Norte do Sudão nas Quartas Cataratas do Nilo.
O custo total exacto não é conhecido, mas será
entre 2 e 2.5 biliões de USD. O contratante do pro-
jecto é a CCMDJV, um empreendimento conjunto
entre duas companhias chinesas de engenharia.
Também há companhias europeias envolvidas.
Comunidades Afectadas
No início de 2007 estimou-se que mais de 75.000
pessoas foram afectadas por esta barragem, mas
alguns estimam que é mais do que 100.000 pesso-
as. O Governo ainda não admite isto, porque quer
reduzir os custos de compensação para que o pro-
jecto seja factível. Existem 3 grupos afectados pelo
projecto:
Hamdab: local da barragem. Este era o 1º nome
do projecto, mas mudaram para Merowe, lugar que
pertence a um grupo com grande influência na po-
lítica.Representa8%dascomunidadesafectadase
foi deslocado à força para o deserto, zona Al Mul-
taga.
Amri: cerca de 25% das comunidades afecta-
das. Metade deste grupo foi deslocado para o de-
serto, outra metade ainda permanece na vila. As
autoridades da barragem vão começar a encher a
represa mas não têm alternativas, nem casas nem
terras, para a população remanescente.
Manasir:cercade67%dascomunidadesafec-
tadas. As autoridades da barragem decidiram des-
locá-los para 2 áreas de reassentamento, Al Maka-
brab e Al Fiddah também no deserto. Este grupo
ainda não se mudou e Al Makabrab ainda não está
pronta. Apenas cerca de 165 famílias mudaram-se
para Al Makabrab nas 2 últimas semanas.
Violação de Padrões Internacionais
O único estudo de impacto ambiental independente
sobre este projecto foi feito pela Lahmeyer Interna-
tional em 2002, o que é um conflito de interesses
visto ser a própria consultora da barragem. Neste
estudo, Lahmeyer aceitou que não havia nenhum
estudo de reassentamento, pelo menos até 6 me-
ses antes da construção. O estudo de impacto na
saúde independente feito em 1992 identificou 20
maiores impactos negativos na saúde, mas no es-
tudo de Lahmeyer isto não foi mencionado. Nenhu-
ma medida de precaução foi adoptada e os efeitos
da barragem na população da jusante foram igno-
rados.
Pequenos farmeiros da jusante irão enfrentar di-
ficuldades para irrigar as plantações devido à redu-
ção do nível do Nilo e serão afectados pela redu-
ção da siltação anual. Dois especialistas visitaram
os locais de reassentamento e determinaram que o
projecto viola as normas do Banco Mundial.
Violação dos Direitos Humanos
30 de Setembro: pessoas de Hamdab e crianças
da Vila Korgheli foram brutalmente atacadas pela
polícia. Altayeb Mohammed Altayeb (Presidente da
União de Populações Afectadas) e Abdel Mutalab
Tai Allha (Union Deputy President) foram detidos.
1 de Dezembro: a polícia atacou a população
da Vila de Korgheli, que se recusou a ir para o de-
serto, para que a construção pudesse começar.
A polícia encerrou a escola primária e o centro de
saúde para forçá-los a sair da vila.
Dezembro 2004: A Segurança da Barragem
prendeu 4 membros do Comité de Manasir. Havia
1 comité para as 3 comunidades e para enfraque-
cer as comunidades afectadas, decidiram separá-
lo. As pessoas para os comités foram escolhidas
7. De Sudão a Moçambique: Papel da China
Ali AskouriSudão
32
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
pelas Autoridades da Barragem e são com quem
normalmente estas Autoridades interagem.
Novembro 2005: os contratantes chineses ocu-
param o poço de água no deserto de Bayouda, im-
pedindo o acesso dos Manasir à água. Disseram que
precisavam de água para os materiais de construção
e para uso doméstico. No deserto a água é pouca e
não chega para construção, beber e uso doméstico.
22 de Abril, 2006: a milícia da barragem arma-
da atacou o povo Amri matando 3 e ferindo mais
de 40 pessoas.
2006: as autoridades da barragem fecharam as
comportas, casas foram alagadas e as pessoas fu-
giram durante a noite para as montanhas mais pró-
ximas. Queriam forçar as famílias a ir para o deserto
onde poucas casas foram construídas. As autorida-
des recusaram o acesso dos meios de comunica-
ção assim como a ajuda para entrarem na zona.
Conseguiu-se, no entanto, que jornalistas entras-
sem nas casas para onde as pessoas foram leva-
das, havia uma média de 5 famílias em cada casa
de 2 quartos. Estima-se que 800 famílias não têm
casas e vivem ao ar livre. Algumas estão a construir
as suas próprias casas.
Lições Aprendidas
• Osprojectosdebarragenssãodesenvolvimen-
tos do tipo top-down e funcionam na China mas
não em muitos países. Todos os projectos de
barragens em África são apoiados pela China
e seguem o tipo top-down. A China encoraja os
seus parceiros africanos a recusar qualquer par-
ticipação das comunidades afectadas nos pro-
cessos de tomadas de decisões.
• Oscontratanteschinesesnãorespeitamasleis
africanas locais nem as leis tradicionais de pro-
priedade.
• Os contratantes chineses ignoram os direitos
humanos. Enquanto toda a violação ocorre nas
comunidades, os contratantes e trabalhadores
chineses recusam que esta existe.
• Resistênciadopovobemorganizadajuntamen-
te com uma campanha mundial nos meios de
comunicação são meios eficazes para as co-
munidades afectadas usarem.
• Projectos com apoio dos chineses não são
transparentes. Até agora, o projecto tem estado
na “inexistência” por 5 anos. Não tem havido re-
latórios.
• Pela experiência no Sudão, a China está em
África para se aproveitar dos recursos apesar do
sofrimento da população africana.
• Oscontratanteschinesesoferecempoucas(ou
nenhuma) oportunidades de emprego às comu-
nidades locais. Neste projecto havia 5000 chine-
ses a trabalhar e apenas um lugar de motorista
para a comunidade afectada. Os chineses nem
compram produtos no mercado local.
• As comunidades afectadas precisam de estar
unidas e bem organizadas e precisam de procu-
rar apoio e recursos dentro dos próprios países
e de ONGs internacionais, porque, assim que o
assunto se tornar público, o Governo irá prestar
atenção.
• Osgovernanteschinesesnãosabemnadaso-
bre África e a natureza das sociedades africa-
nas. Por isso apoiam o sistema top-down.
7.1.2 Discussão
Um dos participantes perguntou qual o papel do Go-
verno em relação aos problemas das violações dos
direitos humanos e impactos ambientais negativos
trazidos pelo projecto. o Ali Askouri respondeu que
o papel do Governo no Sudão parece ser bastante
negativo e destrutivo, este não respeita os direitos
humanos. As milícias que atacaram a população
eram do Governo. Quando tentaram saber quem
realmente efectuou os ataques, o procurador-geral
disse que iria montar um comité de investigação e
que publicaria um relatório após 10 dias. No entan-
to, ainda não houve resposta. A única exigência das
comunidades é de terem água disponível, porque o
deserto é muito quente e o Nilo é a única fonte de
água.
Outro participante comentou que em Espanha,
surgiram notícias de que o Sudão pode ser a pri-
meira colónia moderna da China. Ali respondeu
que acredita que isto seja verdade e que a China
vai colonizar outros países africanos.
A Terri Hathaway questionou sobre a função da
Barragem de Merowe, pois a Etiópia possui uma
campanha para construir várias grandes barra-
gens hidroeléctricas para exportar energia para pa-
íses vizinhos. A Terri perguntou como será usada
a energia e se o Sudão tem capacidade para ab-
sorver toda a energia. Ali respondeu que já ouviu
falar sobre uma ligação das redes eléctricas entre
o Sudão e a Etiópia mas que acha que o projecto
não andará para frente pois poucos oficiais do Go-
verno irão beneficiar desta ligação. Seria melhor se
a Barragem de Merowe fosse construída na Etiópia,
pois a barragem aumenta a evaporação devido às
altas temperaturasdoSudão.Os8%doNiloper-
tencentes ao Sudão evaporar-se-ão da represa da
barragem. Este é um aspecto que se deve ter em
33
7. De Sudão a Moçambique: Papel da China
conta pois há escassez de água doce nestas zo-
nas. Ali Askouri afirmou ainda ter ouvido dizer que
se pretende que a energia produzida pela Merowe
seja transportada para o Egipto e depois para o Mé-
dio Oriente, mas duvida que isto aconteça. Ouviu
também que a barragem tem 40 anos de tempo de
vida por causa da siltação.
Um participante afirmou preocupar-se com o
facto de parecer haver falta de coordenação entre
as nações ao longo do rio Nilo. Ali afirmou não po-
der comentar sobre o assunto e que a Lori Pottinger
era mais indicada para o fazer mas que acha que
há muitos problemas históricos e teorias de conspi-
ração entre estes países. Disse que é difícil confia-
rem uns nos outros porque o Egipto quer manter o
acordo antigo sobre o Nilo enquanto os outros paí-
ses querem um novo acordo. A água do Nilo não é
suficiente. É necessário introduzir um novo sistema
de gestão da água.
7.2. O Papel da China em Mphanda Nkuwa e flores-tas em Moçambique
(Apresentação de Daniel Ribeiro, Justiça Ambiental,
Moçambique)
7.2.1 Resumo
A China está a tornar-se numa grande influência
em África, principalmente porque as barragens são
recursos necessários para o crescimento da China.
Há pessoas que subestimam a pressão deste cres-
cimento. Se a China tiver uma diminuição de 1%
no crescimento PIB (Produto Interno Bruto), perderá
cerca de 150 milhões de empregos, o equivalente a
toda força laboral dos Estados Unidos da América.
A maior parte dos recursos de que este crescimen-
to depende, vem de África. Assim, há um interesse
em aumentar os projectos e a influência em África.
Há aspectos positivos e negativos desta relação:
Positivos:
• A China tem boas taxas de juro comparadas
com as de outros investidores estrangeiros. Esta
é uma vantagem para países africanos em que
os juros são normalmente um grande problema.
• Osseusengenheiroseempresasdeconstrução
têm salários muito mais baixos que do Ociden-
te.
Quantas mais pessoas estiverem interessadas nos
mesmos recursos, o valor destes aumenta.
Negativos:
• Padrõessociaiseambientaisdachina;
• EstratégiapolíticadaChinaqueéumaestratégia
“sem interferência”, isto é, a China não interfere
com as políticas do país, dando a este a liber-
dade de decidir a sua própria direcção mas, por
este motivo, alimenta os sistemas opressivos.
• Amaiorpartedamão-de-obradestesprojectos
é da China, pois a China tem um grande proble-
ma de desemprego e a solução para este é criar
empregos fora da China. Por isso os países não
desenvolvem capacidades nem habilidades nas
suas comunidades e quando a China se retira,
os países não sabem como manter e gerir cor-
rectamente os projectos.
É importante ver o que se considera um bom padrão
e quem não tiver este padrão deve ser confrontado.
Cada investidor tem vantagens e desvantagens.
Experiências de Moçambique com a China
Numa reunião em Beijing, ONGs de África e de ou-
tros países discutiram com ONGs chinesas as suas
34
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
experiências com a China e a maioria eram más
experiências.
Um dos vizinhos de Moçambique teve grandes
problemas com a China. Quando a China estava
à procura de um local para uma barragem, o país
insistiu que as componentes ambientais fizessem
parte da avaliação mas a China criticou e aconse-
lhou que dessem prioridade económica à sua de-
cisão. Esta pressão mostra o tipo de pressão que
se pode esperar dos investimentos, e os impactos
sociais e ambientais acabam por se tornar um fardo
porque o interesse da China está no crescimento
económico e nos recursos. Por isso, é importante
apresentar os interesses da comunidades ou estes
não serão respeitados. Mesmo na China houve um
caso de produção de baterias recarregáveis que
estava a ter elevados números de cancro e mortes
por causa de envenenamentos.
A experiência de Moçambique com a China é
principalmente no pequeno sector privado de ma-
deiras e pescas. Moçambique tem uma vasta cos-
ta e grandes dificuldades para o seu controle. Em
Outubro de 2005, um dos navios chineses aportou
em Moçambique e tinham mais de 4 toneladas de
barbatanas de tubarão. Quando este caso foi apre-
sentado à China, a resposta foi “Não é nossa res-
ponsabilidade monitorar às vossas águas”.
O projecto da JA! sobre florestas juntou os Mi-
nistérios da Agricultura, do Trabalho, da Migração
e da Saúde, e todos foram a cada companhia ma-
deireira em Pemba para ver as condições dos tra-
balhadores. A maioria tinha trabalhadores ilegais,
alguns eram da China. Muitas destas companhias
recebem constantemente multas devido à maneira
como operam. Foi noticiado que 500 contentores
de madeira ilegal foram encontrados em Nacala
e no início de 2007 cerca de 100 contentores em
Pemba.
A China quer toros, embora a lei Moçambicana
não o permita para certas espécies. Para a expor-
tação destes toros não é necessário pagar taxas e
o processamento destas madeiras é muito eficien-
te. A China não está interessada em processar esta
madeira em Moçambique porque a média de per-
daéde50%,eMoçambiquepagataxassobama-
deira processada.
Moçambique pode usar a estratégia “sem inter-
ferência” a seu favor dependendo apenas dos inte-
resses e padrões do país. As comunidades preci-
sam de ter uma visão forte apoiada pelo Governo.
Há casos em que a China respeitou estes interes-
ses e padrões do país.
Se as condições e padrões da China são acei-
tes, então as comunidades irão sofrer as conse-
quências. As empresas chinesas usam os recursos
e as comunidades é que têm que enfrentar os pro-
blemas. É importante garantir que os países benefi-
ciem das taxas baixas, custos baixos de construção,
perícia da China e da estratégia “sem interferência”
de uma maneira positiva, não esquecendo de ter
em conta os problemas ambientais e sociais.
7.2.2 Discussão
Um dos participantes comentou que Daniel Ribeiro
chamou a atenção sobre o cuidado que se deve ter
com a corporação chinesa. Comentou ainda que
no caso específico de Angola e Moçambique, a
China foi um dos aliados no movimento de liberta-
ção. Moçambique também deve ter atenção à Áfri-
ca do Sul. O participante lembrou que Ali Askouri
mencionou a nova forma de colonização, e sugeriu
que este problema com a nova colonização seja do
comportamento dos dirigentes que facilitam esta
situação, pois os estrangeiros, apesar das boas in-
tenções, irão aproveitar-se da facilidade e irão ex-
plorar o país.
34
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
35
8. Perspectivas mais abrangentes
8.1. “A Praga do Recurso” e Grandes Barragens em África
(Apresentação de Korinna Horta, Defesa Ambiental,
EUA)
8.1.1 Resumo
O fenómeno “maldição dos recursos” (resource
curse) é visível em muitos países ricos em recur-
sos naturais. Esta riqueza é muitas vezes associa-
da à degradação ambiental, violação dos direitos
humanos, corrupção e, em alguns casos, conflito
armado. Ela gera desigualdades extremas entre as
elites, que utilizam as receitas da exportação dos
recursos em benefício próprio, e a população, que
luta pela mera sobrevivência. O resultado é que
países que dependem da exportação dos seus
recursos naturais – cujas receitas são facilmente
roubáveis – também são muitas vezes os países
com os mais baixos indicadores sociais. Na Nigé-
ria, por exemplo, a degradação ambiental no Delta
do Níger gerou sofrimento das populações locais e
ondas crescentes de violência. Outro exemplo é a
República Democrática do Congo onde cerca de 4
milhões de pessoas, perderam a vida devido a con-
flitos armados, muitos com origem na exploração
ilegal dos recursos.
O projecto de água do Lesoto desvia as águas
do rio Orange do seu fluxo natural para a Província
de Gauteng na África do Sul. Em 1986 o regime do
Apartheid e o Governo do Lesoto assinaram o acor-
do sobre o projecto. A primeira fase deste projec-
to custou US$3.5 biliões e incluiu a construção de
duas grandes barragens, Katse e Mohale. Mohale
inundou as terras mais férteis do Lesoto. 20 mil pes-
soas foram afectadas pela Barragem de Katse, per-
deram as suas terras, pastagens e outros recursos.
Houve medidas de compensação que foram mal
geridas. Foi estabelecido um Fundo para o Desen-
volvimento que foi fechado por não ter sido eficaz em
financiar projectos para beneficiar as comunidades
afectadas. O regime do Apartheid estava sujeito a
sanções internacionais, mas, o Banco Mundial (BM)
co-financiou o projecto declarando que este serviria
para a redução da pobreza no Lesoto. A ideia era
que as receitas da venda de água para a África do
Sul seriam investidas em programas de desenvol-
vimento. A participação do BM tornou necessário
incluir uma cláusula no acordo dizendo que a po-
pulação afectada deveria, no mínimo, manter o seu
nível de vida. Mas, até esta promessa acabou por
não ser cumprida.
Em 1996 a própria entidade para-estatal do Le-
soto, a Lesotho Highlands Water Authority, reco-
nheceu nos seus documentos que os impactos do
projecto sobre as populações eram muito maiores
do que tinha sido previsto e que os problemas eram
tão graves que estavam a levar à desintegração do
tecido social nas áreas afectadas.
O HIV/SIDA não existia nas montanhas do Leso-
to antes da construção das barragens. No entanto,
a população tornou-se vulnerável com a vinda de
milhares de trabalhadores migrantes para a região.
O projecto petrolífero Chade/Camarões também
foi financiado pelo BM. Trata-se do maior investi-
mento on-shore em África. O petróleo é explorado
por um consórcio liderado por Exxon Móbil. Como
a região é politicamente instável, o consórcio exigiu
a participação do BM como seguro contra os riscos
políticos. Uma campanha internacional, liderada por
organizações da sociedade civil no Chade, conse-
guiu atrasar a construção do projecto por 2 anos.
Em resposta, o BM tomou medidas com a inten-
ção de garantir que o dinheiro do petróleo serviria
para a redução da pobreza. Estas medidas eram
insuficientes dada a falta de respeito por direitos de-
mocráticos. Em 2007, os peritos da monitorização
declararam que queriam fazer uma avaliação da
utilização das receitas petrolíferas, mas não con-
8. Perspectivas mais abrangentes
Korinna HortaDefesa Ambiental, EUA
36
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
seguiram porque os ministérios não tinham dados
disponíveis dos investimentos nos sectores sociais.
O BM e o FMI (Fundo Monetário Internacional) reco-
nhecem agora que as verbas estão a ser utilizadas
para fins militares e para combater uma rebelião no
país na região fronteiriça com a Darfur (Sudão). O
Chade vive uma luta interna pelo controle das recei-
tas petrolíferas. As Nações Unidas decidiram, em
Setembro de 2007, enviar tropas de paz para esta
região. A sede de petróleo gera conflitos que depois
se tenta resolver com o envio de militares. A situa-
ção do Chade piorou desde que o país se tornou
exportador de petróleo. Os indicadores sociais do
Chade sofreram uma baixa nos últimos anos.
Nos Camarões as populações que vivem ao lon-
go do oleoducto também viram uma degradação
das suas condições de vida. Entre os mais afec-
tados encontra-se um povo pigmeu que continua
a viver da caça e da colheita. Um fundo de desen-
volvimento para este povo foi estabelecido para o
compensar pela perda da floresta. Mas, o fundo foi
mal gerido e os montantes eram demasiado redu-
zidos. O fundo previa financiar todos os programas
de educação, saúde e desenvolvimento agrícola.
Sabe-se que os últimos anos da guerra civil em
Angola foram financiados pelos diamantes e pelo
petróleo. Hoje, biliões de dólares entram nos cofres
do Estado Angolano. O crescimento da economia
deAngolade35%poranoéomaisaceleradono
mundo. No entanto, há pouca melhoria nos indica-
dores sociais, por exemplo, a mortalidade infantil e
os milhares de mortos em Luanda por causa de
uma epidemia de cólera apesar de o país ser sufi-
cientemente rico para que toda a população pudes-
se beber água mineral.
Moçambique tem todas as possibilidades para
evitar a “maldição dos recursos”. O país é reco-
nhecido a nível internacional como uma história de
sucesso. É um dos países que recebe mais ajuda
internacional mas, o crescimento económico está
largamente baseado em alguns mega-projectos.
Segundo um relatório do BM, em Moçambique os
recursos naturais são essenciais para o crescimento
e a redução da pobreza e os quadros legais e admi-
nistrativos para a exploração destes recursos foram
concebidos para proteger os pobres, mas que na
prática o resultado é o contrario. O BM acrescenta
que há uma falta de conhecimento sobre a relação
entre pobreza e o acesso das comunidades e o uso
dos recursos naturais e que não existem estudos
que tentem compreender as perspectivas das co-
munidades. Outro relatório diz que os esforços do
próprio BM de melhorar a governação conseguiram
pouco até à data e que o sucesso dependerá de
paciência e persistência. Mudanças rápidas não
são prováveis porque os beneficiários do sistema
actual podem tentar impedir a sua reforma. Com a
boa vontade de pessoas dentro e fora do Governo,
Moçambique ainda se pode tornar numa verdadei-
ra história de sucesso em que o desenvolvimento
tenha em conta as prioridades das próprias popu-
lações.
8.1.2 Discussão
Um dos participantes afirmou ter conversado com
a Korinna Horta e falaram sobre os países africanos
produtores de petróleo. Afirmou ainda ter perguntado
como a Líbia, o Egipto ou a Tunísia têm gerido os re-
cursos petrolíferos. A resposta que teve foi que essa
zona não tem tanta atenção. No entanto, o Golfo da
Guiné é uma zona alternativa que os americanos
têm e controlam a partir da Nigéria, Sudão, Cama-
rões, entre outros. Pode-se dizer que é uma grande
zona de influência onde na maioria são maus ges-
tores de recursos. Há países potenciais produtores
de petróleo, como o Benin, o Togo e Moçambique.
Este último tem a vantagem de ser uma referência
em boa governação em comparação com Angola.
O participante perguntou então se a Korinna acredi-
ta que Moçambique vai ser uma excepção à regra.
Korinna Horta respondeu que é assunto difícil e que
não podia responder à pergunta, apenas podia dizer
que era da sua esperança que sim.
Sena Alouka disse que muitos países afirmam
ter petróleo e perguntou qual deveria ser a abor-
dagem e o que se deveria fazer nestes países. A
Korinna respondeu que se deve reforçar a preocu-
pação das organizações da sociedade civil que têm
trabalhado com explorações de petróleo. Não é
objectivo das ONGs, nem das comunidades, parar
os projectos, mas estas devem exigir as condições
ideais para que o ambiente seja protegido e que as
receitas sejam distribuídas equitativamente. O pro-
blema é como atingir essas condições. Em casos
complicados, é importante o contacto entre ONGs
nacionais, internacionais e locais e tentar chamar a
atenção de várias instituições como o Banco Mun-
dial e o Banco para o Desenvolvimento Africano.
37
8. Perspectivas mais abrangentes
8.2. O Papel da Participação da Comunidade em Pro-jectos de Desenvolvimen-to: O Caso do Projecto da Barragem de Bujagali
(Apresentação de Betty Obbo, National Association
of Professional Environmentalists, Uganda)
8.2.1 Resumo
O projecto de Bujagali apareceu duas vezes no
Uganda. Na primeira vez, gerido pela AES Nile Po-
wer (AESNP), parou-se o projecto devido a irregula-
ridades e ilegalidades no processo de avaliação do
projecto. Agora, segunda vez, está a ser acelerado
em direcção à implementação sob uma gestão di-
ferente, localmente registado como Bujagali Energy
Limited (BEL - Energia Bujagali Limitada). O projec-
to já assegurou o apoio financeiro a partir de várias
instituições financeiras internacionais.
A NAPE (National Association of Professional
Environmentalists9) trabalhou com as comunida-
des afectadas pela construção da barragem para
amplificar os seus problemas sociais, económicos
e ambientais relacionados com o projecto e para
fortalecê-los de modo a exigirem um reassenta-
mento justo antes que o projecto inicie. Das duas
vezes a NAPE trabalhou com organizações da so-
ciedade civil e as pessoas afectadas pela barragem
apresentaram uma reclamação ao Painel de Ins-
pecção do Banco Mundial. Na primeira vez o Pai-
nel fez uma investigação e lançou um relatório que
dizia que de facto havia irregularidades no projecto
e muitas agências de crédito de exportação saíram
do projecto. No ressurgimento do projecto, e com
a apresentação de mais uma reclamação ao Pai-
nel de Inspecção e ao Banco de Desenvolvimento
Africano, os dois bancos estão a levar a cabo uma
investigação conjunta sobre o projecto.
A NAPE está a liderar um processo de diálogo
nacional no Uganda, o Uganda Dams Dialogue (Di-
álogo sobre Barragens do Uganda) que completou
a sua 2ª fase depois de levar a cabo um estudo
abrangente e de produzir um relatório. A NAPE tam-
bém liderou uma campanha para salvar a Floresta
de Mabira da destruição.
Resultados da Intervenção da NAPE
• O Governo e o promotor de desenvolvimento
agora ouvem as preocupações da comunidade
afectada e começaram a tratar destes assuntos
• OGovernoagorapromovefontesdeenergiaal-
ternativa
• OGovernoabandonouoplanodeentregaraflo-
resta de Mabira
Lições aprendidas
• Diálogoéamaneiradeavançaredeveserpro-
movido se decisões realísticas têm de ser toma-
das em relação ao desenvolvimento de projec-
tos de barragens
• Diálogoéumprocesso“giveandtake” (“dare
receber”) por isso, os stakeholders devem inves-
tir nele de igual forma.
Conclusões
• Todososprojectosdedesenvolvimentodevem
ser desenvolvimento para o povo.
• Aparticipaçãodestakeholderséachaveparao
sucesso de todo o projecto de desenvolvimento.
8.2.2 Discussão
Tarciso Yacor perguntou à Betty Obbo sobre a gran-
deza da NAPE visto terem conseguido uma partici-
pação do Banco para o Desenvolvimento Africano
e do Banco Mundial. Betty respondeu que a NAPE
é uma sociedade com cerca de 80 membros, 14
trabalhadores a tempo inteiro.
Betty ObboNational Association of Professional Environmentalists,
Uganda
9 Associação Nacional de Ambientalistas Profissionais
38
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
Tarciso, novamente, perguntou à Betty como é
que a NAPE fez para conseguir as compensações
para as famílias, ao que Betty respondeu que foram
cerca de 150 pessoas colocadas em áreas diferen-
tes. Kugondza Robert, também da NAPE, adicio-
nou que a NAPE trabalha com outras organizações,
muitas das quais estão viradas para o ambiente
e/ou para o desenvolvimento. Estas organizações
foram sensibilizadas pela NAPE e fazem parte da
campanha. No caso da barragem de Bujagali, é
necessário falar-se de vários aspectos, alguns dos
quais as próprias comunidades não entendem.
Apresentar o caso ao Banco Mundial ou ao Banco
para o Desenvolvimento Africano não depende do
tamanho da organização, mas sim de quão realis-
tas e desafiantes são os assuntos.
Sena Alouka perguntou à Betty se há casos de
barragens no Uganda que tenham afectado co-
munidades, ao que Betty respondeu que quando
as barragens foram construídas, não se fizeram
estudos de impacto ambiental e agora estão a fa-
zer os estudos dos impactos dessas barragens e
a abordar o assunto no diálogo sobre barragens
para que o Governo não cometa os mesmos er-
ros nos próximos projectos. Kugondza adicionou
que a Barragem de Owen Falls foi a primeira a ser
construída e que foi expandida devido ao aumento
de necessidade de energia. Esta expansão foi feita
sem se fazer um estudo de impacto ambiental, o
que fez com que se reforçasse a advocacia con-
tra a barragem de Bujagali, pois a barragem com
a extensão deveria produzir 200MW, mas apenas
produz 40MW, não tendo sido então o dinheiro não
foi usado eficientemente.
8.3. Gestão Integrada de Re-cursos Hídricos: que De-safios se colocam?
(Apresentação de Ebenizário Chonguiça, IUCN,
Moçambique)
8.3.1 Resumo
Conceito de gestão
É todo o mecanismo de manipulação de determi-
nados processos para se atingir um fim ou objectivo
ideal. Quando se fala de gestão dos recursos hídri-
cos pode ser na perspectiva pura e simplesmente
do hidrólogo ou na perspectiva de um sociólogo,
economista ou instituição. Para se definir o objectivo
ideal da gestão, deve-se considerar os seguintes
elementos básicos:
- Definir Objectivos
- Constrangimentos para atingir o determinado
objectivo
- Constrangimentos Técnicos
A seguir, é necessário equacioná-lo no contexto de
uma bacia hidrográfica, ou seja, organizar, analisar
e integrar os objectivos, constrangimentos e técni-
cas de forma a que os processos de planificação,
tomada de decisões e implementação sejam o
mais eficiente e efectivos possível.
Ebenizário ChonguiçaIUCN, Moçambique
39
8. Perspectivas mais abrangentes
Gestão adaptativa
É importante considerar-se a natureza adaptativa do
programa de gestão. O conceito de gestão adapta-
tiva cria espaço para a realização de correcções e
ajustamentos à medida que se vai implementando
o plano de gestão.
A gestão deve ver a bacia como uma unidade
funcional de planificação e gestão de recursos hí-
dricos que tem uma definição física. Para objecti-
vos mais amplos, pode-se definir como uma bacia
social.
Potencial dos recursos hídricos em Mo-çambique
Moçambique tem 13 principais bacias das quais 9
são internacionais. O país tem um total de 216 km3/
ano de volumes médios de escoamento anuais,
sendo 116 km3 gerados fora do território nacional
e 100 km3 gerados internamente. O Rio Zambe-
zecontribui comcercade50%dosescoamentos
anuais.
A disponibilidade de água per capita de Moçam-
bique, só com base nos recursos gerados nacional-
mente, tem cerca de 5500m3/habitante/ano, o que
pode ser uma disponibilidade significativa compa-
rado com outros países. No entanto, tem que existir
capacidade de utilização. África é rica em recursos
naturais, mas é muito pobre, pois não tem capaci-
dade de converter o capital natural em bens e ser-
viços úteis à sociedade.
Gestão de Bacias Hidrográficas
Deve-se ter em conta também:
• Conceitodeusomúltiplo:Produçãodemaisde
um produto ou serviços a partir de um único re-
curso. É um conceito chave na gestão de bacias
e amplamente aceite mas de difícil implementa-
ção.
• Magnitude dos esforços de gestão investidos
em cada uma da práticas.
Uso múltiplo
• Aplicadoaumaárea–gestãodeváriosprodutos
de recursos naturais ou combinação de produ-
tos numa dada área.
- Relações entre os produtos/combinações:
é necessário ver qual a situação adequada
para a sociedade, sabendo que não é possí-
vel satisfazer todos:
- Complementares: incremento de um re-
sulta no incremento de outro.
- Suplementares: incremento de um não
afecta o outro.
- Competitivas: incremento de um prejudi-
ca o outro.
• Aplicado a um recurso – uso do recurso para
propósitos variados.
Uso Múltiplo no Contexto das Bacias Hidro-gráficas
• Determinação dos níveis de aptidão de terras
para os vários tipos de uso
• Análise de custos e benefícios associados a
usos alternativos
• Reconhecimentodeexternalidadesouimpactos
off-site associados aos usos alternativos
Para uma avaliação económica das alter-nativas de uso múltiplo é necessário:
• Selecçãodamelhoropçãoaseguir
• Avaliaçãoeconómica combinada coma satis-
fação dos objectivos do uso múltiplo geralmente
definidos por grupos sociais que pagam e bene-
ficiam da implementação do plano
Externalidades
Efeitos das decisões tomadas por uma parte sobre
os ganhos ou perdas de outras partes
• Externalidade técnica: afecta partes terceiras
através das mudanças nas funções de produ-
ção/eficiência nos sistemas
• Externalidadepecuniária:afectapartesterceiras
através do mercado/distribuição das receitas
Análise de Externalidades
Na perspectiva ideal da planificação e gestão dos
recursos é necessário que exista uma perspecti-
va de formulação de várias opções de cenários e
deve-se ver qual destas melhora o statu quo, ana-
lisando custos e benefícios. As reuniões e auscul-
tações públicas constituem o modelo usado para
definir consensos, criar a transparência, integração
e inclusão. No entanto, alguns dizem que não pas-
sa de uma ilusão de inclusão.
Existem ferramentas técnicas e científicas dispo-
níveis para analisar a aptidão da bacia a gerenciar
e que partem de princípios simples. Estas ajudam a
gerir o uso do recurso.
Aspectos Políticos e Institucionais
Para formular uma política de gestão de recursos
hídricos tem de haver:
• Políticadegestãoderecursoshídricos
- Partilha de recursos pelos sectores
- Normas e regulação
- Arranjos institucionais:
40
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
- Papeis e responsabilidades dos vários inter-
venientes
- Administrações regionais de águas
- Comités de bacias
- Usuário
8.3.2 Discussão
Tarciso Yacor afirmou que houve um terramoto em
2006 de 7.5 na escala de Richter que abalou Mo-
çambique e perguntou a Ebenizário Chonguiça se
ele, como hidrólogo, continuaria com um projecto
planeado para a zona do Zambeze tendo em con-
ta o risco sísmico. Ebenizário disse que a resposta
deveria ser baseada em análises técnicas e deta-
lhadas e que depende da natureza do projecto que
se pretende empreender e, ainda, que é necessário
ver que tipo de pressupostos técnicos se podem co-
locar no terreno para minimizar os efeitos da sismi-
cidade. Ebenizário afirmou ainda que existem zonas
mais sísmicas que Moçambique, como por exemplo
o Japão e a Califórnia, em que com o conhecimen-
to técnico da zona fazem-se empreendimentos que
se ajustem a esse risco. Concluiu então dizendo que
se trata de uma questão de gestão de riscos, que é
sempre uma questão probabilística, e o importante é
reduzir a probabilidade do incidente ocorrer.
Ali Askouri comentou ter entendido que o pro-
cesso de tomada de decisão sobre barragens não
se baseia simplesmente em questões de pratica-
bilidade, económicas e de benefícios, mas que
também inclui factores políticos. Ali afirmou que em
todo mundo é difícil encontrar comunidades afecta-
das que tenham participado da tomada de decisão
em construções de barragens e afirmou ainda que
o papel das comunidades afectadas na tomada de
decisões é ainda um assunto que se fala em con-
ferências de várias instituições, mas que ainda não
se verifica na prática e os governos continuam a to-
mar as decisões a favor deles mesmos e não das
comunidades. Ebenizário disse que os governos
dizem ser representantes do povo por terem sido
eleitos democraticamente e que por isso o proble-
ma começa com o processo de eleição dos repre-
sentantes, o grau de transparência nas eleições e a
forma como a sociedade se organiza para ter uma
voz. Ainda não se descobriu uma forma efectiva
de empoderar os segmentos mais frágeis da so-
ciedade que corresponde ao acesso à informação,
ao conhecimento, às tecnologias e à criação de
organizações comunitárias funcionais que tornem
as comunidades audíveis. Nos países africanos há
uma marginalização cada vez maior dos segmen-
tos mais frágeis da sociedade. Ebenizário afirma
que fica ainda por se descobrir como se pode criar
um empoderamento real das comunidades e como
se assegura que os representantes do governo são
realmente representantes das comunidades.
41
9. Estratégias para o Futuro - O Que aprendemos?
9.1. A Nova Cultura da Água, uma Visão Alternativa
(Apresentação de Santiago Martin Barajas, Ecolo-
gists in Action, Espanha)
9.1.1 Resumo
Espanha é o país do mundo com mais barragens
por habitante e superfície. Actualmente há mais de
1000 grandes barragens construídas em Espanha.
Durante todo o século XX, a política hidráulica espa-
nhola avançou na construção de grande quantidade
de barragens. Esta política tem o objectivo de tornar
o recurso hídrico disponível para outros usos.
Consequências da grande construção de barra-
gens:
• Destruiçãodemaisde1000grandesvaleseto-
dos os seus valores ecológicos.
• Alterações graves nos regimes dos rios, que
podem afectar negativamente o ambiente e a
economia. Exemplo: num país mediterrânico
quando se construiu uma represa deixaram de
ir sedimentos do rio Nilo para o mar. Isto alterou
o ciclo de vida da sardinha que praticamente se
extinguiu e deixou milhares de famílias em vá-
rios países sem meios de subsistência.
• EmEspanhahá8000núcleosdepopulaçãoe
mais de 500 povos submergidos pelas águas
das barragens. Com isto surgiu um grande pro-
blema social e perderam-se terras férteis, o que
por sua vez teve consequências económicas
negativas.
Em Espanha há muitos casos de barragens que
não serviram para regar, para beber e nem para
produção de actividades.
Um dos principais problemas que temos com
a produção de energia eléctrica é o facto destas li-
bertarem água para produzir energia nas horas em
que há maior consumo de energia (às 8 da manhã)
e fecharem as comportas ao fim da tarde ficando
quase nenhuma água disponível para as popula-
ções beberem e para actividades agrícolas.
Em Espanha, a gestão de água mudou muito
desde que se aprovou a lei de águas em 1985. Esta
lei declara que toda a água é pública. Um artigo
diz que a utilidade da água prioritária é dar de be-
ber água potável às populações, em seguida vem
a produção agrícola e só depois a hidroeléctrica.
Saiu recentemente uma norma que diz que o uso
ambiental, ou seja garantir que o rio e a bacia te-
nham água necessária para que vivam os peixes
e as plantas em seu redor, está acima de todas as
utilidades excepto da água para beber.
Mobilização
Nos anos 90 houve uma grande movimentação
social no país relacionada com a água. O Governo
pretendia construir 272 novas barragens e 14 gran-
des condutas de água de umas bacias para outras.
Grande parte da sociedade civil espanhola opôs-se
a esta decisão. Foram feitas dois tipos de acções:
• Viainstitucional:participaçãoactivadasocieda-
de civil em órgãos consultivos do Ministério do
Meio Ambiente, como o Conselho Nacional de
Água, cujo presidente é o Ministro do Meio Am-
biente. É neste Conselho que se discutem pri-
meiro todas as leis e normas relacionadas com
água. A partir deste existem os Conselhos de
Água de cada bacia hidrográfica. Discutiu-se te-
mas ligados à gestão de água.
• Viadamobilizaçãosocial:mediantemanifesta-
ções pacificas nas ruas contra a construção das
9. Estratégias para o Futuro - O Que aprendemos?
Santiago Martin BarajasEcologists in Action, Espanha
42
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
barragens e das grandes condutas. Elaboram-
se relatórios, estudos, fazem-se conferências
sobre o tema, actividades judiciais nos tribunais
de justiça para paralisar projectos que se consi-
dera serem negativos e fazem-se campanhas
de consciencialização à cidadania.
Resultados das actividades ecologistas
• Mudançaaníveldaopiniãopública
• O Governo abandonou a ideia da construção
de muitas grandes barragens que iriam inundar
povos e da construção de todas condutas que
ligariam bacias.
• Organizações emovimentos ecologistas inclu-
íram artigos novos na Lei de Águas espanhola
e já estão em vigor. Um destes diz que para se
construir barragens é necessário um estudo de
impacto ambiental, social, económico e hidroló-
gico.
• Antesodinheirodestinava-seàconstruçãode
barragens e de condutas e gastava-se pouco a
reduzir as perdas na rede de distribuição. Ago-
ra o maior investimento económico do Governo
é para a redução das perdas de água nas tu-
bagens e para o tratamento e reutilização das
águas residuais das cidades.
Conclui-se então que se avançou bastante no tema
da água em Espanha e pensa-se que isto se deva
em grande parte à sociedade civil, que se mobilizou
para enfrentar o Governo e colaborar com estes. A
consciencialização da população pressiona o Go-
verno.
A água é um recurso natural. É fundamental para
a vida gerir este recurso sustentavelmente, ou seja,
garantir que este estará sempre ao serviço das ne-
cessidades básicas dos cidadãos e da natureza.
9.1.2 Discussão
Um dos participantes perguntou a Santiago Bara-
jas se é possível dispensar o uso ou a construção
de barragens no mundo e que alternativas existem
para substituir as barragens, visto que estas provo-
cam alterações ambientais e ecológicas. Santiago
respondeu que a água é um recurso natural neces-
sário e que deve estar disponível para as pessoas
beberem e para regar os campos, mas também
serve para produzir electricidade que também é
necessária. Santiago afirmou que antes de chegar
a Moçambique leu que é um país exportador de
electricidade, no entanto a percentagem de popu-
lação que tem acesso à energia eléctrica é muito
baixa em Moçambique. Pode-se então concluir que
a água não está inteiramente ao serviço dos inte-
resses da população ao contrário do que seria cor-
recto. É perfeitamente possível ter água para beber,
regar e para produzir electricidade sem provocar
grandes inundações e danos ambientais e sociais.
Em Espanha há muitas pequenas barragens, que
têm no máximo 5 a 6 metros de altura, que não
causam inundações e produzem electricidade que
é consumida pela comunidade local que vive nes-
sas zona. Então essa água está disponível para vá-
rios usos, melhorando a qualidade de vida. Há que
estender este modelo. É uma produção eléctrica
descentralizada e os benefícios para a população,
especialmente a rural, são maiores. Em relação às
energias alternativas, em Espanha há um plano de
desenvolvimentodeenergiaeólica.10%daprodu-
ção de electricidade em Espanha é eólica. Este tipo
de energia é limpa e não afecta as populações, tal
como a energia solar. Santiago disse que este mo-
delo de pequenas centrais de produção seria o ide-
al, em Moçambique, para melhorar a qualidade de
vida da vasta população rural.
43
9. Estratégias para o Futuro - O Que aprendemos?
9.2. Analisando a Comissão Mundial de Barragens em África e na África do Sul
(Apresentação de Bryan Ashe, “Earth Life”, África
do Sul)
9.2.1 Resumo
Comissão Mundial de Barragens
Iniciou nos anos 90, quando havia muitos confli-
tos entre a sociedade civil e o Banco Mundial e os
construtores de barragens. Nessa altura não havia
interacção entre todos os stakeholders. Um relató-
rio do Banco Mundial confirmou que muitas coisas
estavam erradas e isto desencadeou protestos no
mundo inteiro. A primeira reunião das Comunidades
Afectadas por Barragens foi em Curitiba, no Brasil,
e mais tarde com apoio da IUCN10 em Gland, Suiça.
Estas reuniões deram início aos diálogos sobre a
Comissão Mundial de Barragens (WCD). O proces-
so estendeu-se por toda a África Austral. A primeira
audiência e a preparação da WCD foi em 1999, em
Cape Town, África do Sul, e muitas das pessoas
que formam a Rede Africana de Rios (ARN) na Áfri-
ca Austral, estavam presentes.
Em 2000, surgiram muitos documentos que
serviram de guias para como as barragens devem
ser construídas tendo em conta os direitos da po-
pulação. A WCD foi facilitada por Kader Asmal, ex.
Ministro das Águas e constituída por várias pessoas
do ramo. Dois dos comissários eram Medha Patkar
da Índia e Joji Cariño das Filipinas, duas activistas
de destaque no assunto de barragens.
A WCD analisou casos de estudo do mundo in-
teiro. Reviu todos os casos e analisou-os segundo
as várias perspectivas dos stakeholders. O resulta-
do foram prioridades estratégicas para seguir em
frente. Algumas das prioridades foram:
• Informarantesdoconsentimento
• Partilhadebenefíciosparacomunidadesafecta-
das por barragens
• Partilhade rios:agestãode rios internacionais
deve ser através de conversas entre a socieda-
de civil e todos os parceiros para discutir o me-
lhor processo.
O mais importante do documento publicado em
2000 foi a mensagem de Kader “São os países em
desenvolvimento que menos podem suportar os er-
ros cometidos pelo mundo desenvolvido”.
Na África do Sul, houve uma reunião de enge-
nheiros com a WCD para uma revisão técnica do
processo. Os engenheiros questionaram a alian-
ça, a capacidade técnica e o que as comunidades
afectadas sabiam sobre barragens, por sua vez, a
WCD questionou o que os engenheiros sabiam so-
bre assuntos sociais. Foi então que acordaram a
Iniciativa Sul-africana para a WCD, que iniciou em
2001 com reuniões e ainda:
• Abordagensanalíticas
• FórunsAnuaisMulti-Stakeholders
• RelatóriodeAvaliação
• RelatórioSubstancial
• Sub-comitédeReparações
No início as reuniões eram muito tensas, mas no
final as pessoas começaram a discutir de uma for-
ma mais organizada, e conseguiu-se desenvolver
um entendimento com este processo. As pessoas
começaram a entender mais sobre como as barra-
gens devem ser construídas e sobre assuntos am-
bientais e sociais e também que pessoas diferentes
podem trabalhar em conjunto.
Resultados da Iniciativa Sul-africana:
• A Estratégia dos Recursos Hídricos Nacionais
(National Water Resources Strategy) foi lançada
Bryan AsheEarth Life”, África do Sul
10 International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources – União Internacional para a Conservação da Natu-reza e de Recursos Naturais.
44
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
e propôs 20 novas barragens, duas foram cons-
truídas.
• UmarecomendaçãoparaumaAuditoriaSocial
que tem sido feita pelo Departamento dos As-
suntos Hídricos (DWAF).
• Uma Estrutura de Avaliação Social, que ainda
é um esboço, que inclui recomendações da
WCD.
Em 2003, os engenheiros enfrentaram cara- a- cara
comunidades que foram deslocadas por causa da
construção de uma barragem feita por eles.
Esta foi a mensagem feita pela ex. Ministra para
os Assuntos Hídricos, Sonjica, em 2005, actualmen-
te Ministra da Energia na África do Sul: “Na tradição
da nossa transformação política, a Iniciativa Sul Afri-
cana, incluindo membros do meu Departamento,
trabalhou incansavelmente durante os últimos 3
para construir o consenso em como devemos re-
agir ao Relatório da WCD e como aqui na AS po-
demos melhorar a nossa tomada de decisão em
barragens - o último objectivo do processo inteiro.”
O serviço de energia ESKOM só se juntou a
este processo muito perto do fim, o Departamen-
to de Energias Minerais (DME) não se apanhava, o
Departamento de Assuntos Ambientais e Turismo
(DEAT) foi convidado mas pareceu estar ausente
e silencioso durante todo o processo. Infelizmen-
te, nem todos os departamentos governamentais
participaram nesta iniciativa. Para se fazer esta ini-
ciativa é essencial ter presente os departamentos
de energia, especialmente em países onde existe
energia hidroeléctrica.
Acções fora da África do Sul
A recomendação dada foi que todas as compa-
nhias sul-africanas a trabalharem fora do país de-
veriam seguir as guias da WCD.
Um processo que apoiou a iniciativa Sul-africana
foi a UNEP-DDP (United Nations Environment Pro-
gram – Dams in Development Project), que iniciou
em Novembro de 2001 em Nairobi, Quénia. Este
processo foi estabelecido com o objectivo de pro-
mover um diálogo para melhorar a tomada de de-
cisão, o planeamento e a gestão de barragens, as
suas alternativas baseavam-se nos valores e nas
prioridades estratégicas da WCD.
Na região da SADC, tem havido um Processo
Consultivo com o objectivo de definir o futuro papel
de SADC e a política do seu envolvimento em bar-
ragens e no desenvolvimento na região.
Na África do Sul, em 2006, houve uma Confe-
rência Ministerial Africana sobre Energia Hidroeléc-
trica e Desenvolvimento Sustentável, onde:
• AdeclaraçãodasONGsapresentadaaosminis-
tros
• AscomunidadesAfectadasporBarragensfize-
ram uma apresentação
• Nãohouveconflitos
• ADeclaraçãoMinisterialreflectiuasnecessida-
des das comunidades afectadas
• SedesenvolveuumesboçodoMapadeBarra-
gens e Desenvolvimento da UNEP.
• Adeclaraçãodissequesedeveconsultarosci-
dadãos pelo interesse da transparência.
As Organizações da Sociedade Civil (OSC) tiveram
um papel importante em termos de diálogo nacio-
nal em África, através, também de processos multi-
stakeholder. Todos os processos têm problemas de
fundos.
Fórum Final de Barragens e Desenvolvimento da
UNEP trouxe o compêndio DDP de melhores práti-
cas que foi contra a WCD pois foi influenciado pelos
bancos e pessoas que escolheram casos de estudo
pobres. Algumas ONGs afastaram-se desse fundo
porque sentiram que era muito pobre e deteriorava
a riqueza da WCD.
9.2.2 Discussão
Um dos participantes, pertencente a uma das co-
munidades que serão afectadas pela construção
da Barragem de Mphanda Nkuwa, disse que como
comunidade afectada é lamentável ouvir o que
aconteceu com as pessoas afectadas no Sudão. O
participante sugeriu que se aderisse às recomen-
dações da WCD pois pretendem evitar que haja
problemas como houve no caso da Barragem de
Cahora Bassa (HCB). Concordou que a HCB traz
muitos benefícios para o estado, mas que as co-
munidades perto do rio não recebem benefícios. O
participante afirmou também que há comunidades
que desapareceram ou estão dispersos e que pre-
vêem que a Barragem de Mphanda Nkuwa vá tra-
zer problemas adicionais. Mostrou o seu interesse
pela mudança da situação das comunidades em
relação à Barragem de Cahora Bassa, enfatizando
que as comunidades não estão contra as barragens
e apenas desejam que as comunidades também
recebam os benefícios. O participante mostrou que
acredita que quem terá acesso aos benefícios pro-
metidos pelos promotores da Barragem de Mphan-
da Nkuwa serão apenas as pessoas que terão con-
dições para pagar energia e lenha.
Sérgio Elísio afirmou que o estudo de Mphanda
Nkuwa foi feito na altura em que a WCD publicou
as recomendações. Afirmou que seguiram apenas
45
9. Estratégias para o Futuro - O Que aprendemos?
as recomendações da WCD com que concordam.
A WCD foi financiada também pelo Banco Mundial
que rejeitou o relatório e disse que o guia produzido
pela WCD não é de implementação obrigatória. Em
Moçambique existe uma lei ambiental e por isso só
seguiram os aspectos em que concordavam com a
WCD. O relatório da WCD teve que ser submetido
à UNEP para seguimento pois o estudo baseou-se
apenas nas barragens mais problemáticas de um
universo vasto. Relativamente à intervenção de um
dos representantes da comunidade de Mphanda
Nkuwa, afirmou que o projecto é o que se chama
de barragem de “fio de água”, e terá uma gran-
de produção de energia com as novas tecnologias
existentes, é possível que chegue 1500MW. No
entanto, a barragem terá uma albufeira de apenas
100km2. Na altura do estudo identificou-se cerca
de 200 famílias, cerca de 1400 pessoas na área de
Mphanda Nkuwa. O participante afirmou também
que na altura sabiam que quando o projecto fosse
desenvolvido surgiria o oportunismo para se tentar
usufruir de alguma compensação. O projecto in-
corpora uma perspectiva de reassentamento para
a população, cujos custos foram avaliados duran-
te o estudo e sofrerão uma optimização na altura
da implementação do projecto. Disse ainda que as
ONGs que trabalham no terreno não podem criar
uma falsa expectativa de que as populações terão
que beneficiar do projecto. Existe uma lei ambiental
que será seguida pelo projecto. A vila de reassen-
tamento será completamente assistida em termos
de fornecimento de água potável e de energia, sa-
neamento, construção de escolas e hospitais, ou
seja, irá funcionar como um município. A zona de
Mphanda Nkuwa é árida e não se pratica agricul-
tura, apenas alguma actividade pescatória. Afirmou
ser necessário capacitar e educar a população de
modo a que mandem os filhos para escola. Afirmou
que se pode pensar em arranjar um sistema de irri-
gação para os que praticam a agricultura e ensinar
a pescar, mas nunca dar o peixe, para que as pes-
soas não vivam de uma forma dependente.
Um outro participante mostrou-se chocado em
ouvir que os 100km2 que serão usados para a al-
bufeira de Mphanda Nkuwa não têm nada, enquan-
to pertencem a uma população que habita lá. Infor-
mou ainda que 6 meses após o reassentamento de
muitas das comunidades do distrito de Marromeu,
estas continuariam sem água se as ONGs não ti-
vessem ajudado. As comunidades ainda estão no
meio do mato e muitas delas não têm terra para
cultivar.
Daniel Ribeiro respondeu ao comentário de Sér-
gio Elísio dizendo que a WCD usou uma base de
dados do Banco Mundial e do Banco para o Desen-
volvimento Africano e não fez uma escolha apenas
de maus exemplos. O estudo diz que se deve anali-
sar e contextualizar a WCD com a realidade do país.
A WCD incluía técnicos dos diversos sectores de
construção de barragens, sector privado, académi-
cos, ONGs e Sociedade Civil. O Daniel afirmou que,
ao contrário do que Sérgio disse, a agricultura e a
pesca são actividades de base da comunidade de
Mphanda Nkuwa. Em relação aos impactos sobre
as comunidades, segundo a lei, as comunidades
devem ser reassentadas em condições iguais ou
melhores que as condições em que viviam anterior-
mente. Segundo o Daniel, quando se vê pessoas a
viver abaixo da linha de pobreza e a sofrer, tem-se
não só a possibilidade, mas também a responsabi-
lidade de melhorar a vida destas.
Bryan Ashe afirmou que o debate da presente
conferência seguia o formato da WCD, havendo
uma conversa entre as várias partes dos projec-
tos. Bryan enfatizou que é este o objectivo da WCD,
desenvolver um entendimento de modo a resolver
conflitos entre as partes. A única maneira de se
entenderem é conversando sobre os assuntos em
questão. Antes de qualquer grande projecto tem
que haver um debate entre as várias partes para
que não se faça um plano de reassentamento ina-
dequado à situação. A Suazilândia possui exem-
plos de reassentamentos bem feitos, as comuni-
dades tinham o direito de rejeitar o local se não o
achassem apropriado. Em relação à energia, Bryan
afirmou ter visto a barragem de Cahora Bassa onde
se vê linhas de energia a passar por cima das co-
munidades locais sem que estas tenham acesso
a essa energia. Em muitas barragens do mundo
verificou-se o surgimento de muitos problemas que
ainda hoje assolam o governo por não ter havido
partilha de benefícios com as comunidades.
Hope Ogbeide dirigiu-se à comunidade de
Mphanda Nkuwa dizendo que primeiro devem as-
segurar que ninguém os engana fazendo-os acre-
ditar no que eles não devem acreditar; devem exigir
que o Governo e os constructores das barragens
os informem sobre a situação: qual será o preço da
barragem para as comunidades, como irá afectar
as comunidades, qual será a compensação. É ne-
cessário negociar sobre a situação. Segundo Hope,
a barragem da Suazilândia, foi bem sucedida pois
as comunidades tiveram a oportunidade de nego-
ciar e ficaram satisfeitas com o reassentamento.
Após uma barragem ser construída, não se pode
ter certeza absoluta sobre o que irá acontecer exac-
tamente e, por isso, é necessário que as comuni-
dades tenham a informação necessária para que
46
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
possam negociar sobre o que realmente é melhor
para elas. As ONGs podem apoiar as comunida-
des no processo, levando-as, por exemplo, a con-
versar com outras comunidades afectadas. Hope
dirigiu-se também aos constructores das barragens
dizendo que estes não se devem ofender pelo facto
das ONGs apoiarem as comunidades e fazerem o
que eles deviam fazer. Muitas vezes os engenhei-
ros que deviam aconselhar o governo, escondem
informação das populações. É dever do governo e
dos engenheiros e constructores de barragens de
informar às comunidades sobre o que pretendem
fazer e garantir que os direitos das comunidades
sejam protegidos. As comunidades, por sua vez,
têm o direito de questionar sobre o assunto e de
criticar o local de reassentamento caso este não
as satisfaça. Caso o governo não proteja os direi-
tos das comunidades, as ONGs estarão lá para o
fazer. Hope acrescentou ainda que os conflitos que
podem surgir como resultado dos projectos podem
ser evitados através de conversas entre as partes
integrantes. Enfatizou ainda que é este é o objec-
tivo das ONGs e não de criar expectativas falsas.
É necessário falar-se também das populações que
vivem a jusante e a montante, pois estas também
são afectadas. Hope finalizou dizendo que Moçam-
bique não está sózinho na luta e que deverá apren-
der com os outros.
Terri mostrou-se satisfeita com o debate e disse
que também é necessário falar dos efeitos que a
Mozal tem sobre Moçambique. A indústria do alu-
mínio absorve 2 a 3 vezes a quantidade de elec-
tricidade que é absorvida por todo Moçambique.
Um projecto de exportação como o de Mphanda
Nkuwa continuará com esse modelo de desenvol-
vimento.1%dapopulaçãoruralmoçambicanatem
acesso à electricidade. Agora, tendo já passado
metade do tempo para atingir os objectivos do mi-
lénio, Moçambique deveria procurar investir num
desenvolvimento a favor das comunidades. Se o
Governo fizesse um estudo de como reassentar as
pessoas o melhor possível, aumentaria a confiança
das comunidades e da sociedade civil no projec-
to e ajudaria a obter potenciais investidores para o
projecto. Se o Governo não está disposto a fazer o
estudo, o melhor para as comunidades é que se
organizem e garantam que têm uma lista das ne-
cessidades para o reassentamento para que não
sejam prejudicadas.
9.3. Relacionando os impac-tos das cheias com as Barragens Nigerianas
(Apresentação de Hope Ogbeide, Society for Water
and Public Health Protection, Nigéria)
9.3.1 Resumo
A experiência é o melhor professor quando se
aprende com as experiências dos outros, e com
base nas lições aprendidas daí, é possível fazer-se
melhor.
Foram muitos os lugares no Mundo onde o am-
biente foi destruído, mas África tem a sua natureza
intacta, pelo menos até certo ponto. Os recursos
pertencem a todos os africanos e devem ser pre-
servados para as gerações seguintes.
Na Nigéria, mais de 350 comunidades são inun-
dadas todos os anos, tendo como causa principal
as barragens. As cheias são dos desastres natu-
rais mais comuns e destrutivos, e estão a tornar-se
cada vez mais frequentes devido às mudanças cli-
máticas. As cheias não são todas naturais, algumas
são causadas ou agravadas pelas barragens que
avariam ou que são mal geridas.
Barragem Hidroeléctrica de Kainji
A construção da barragem deslocou 41,654 pesso-
as de 239 vilas e cidades. Estas foram reassenta-
das em 141 novas comunidades.
Em Outubro de 1998, uma inundação cobriu
cerca de 500 casas, várias terras de cultivo e ou-
tras propriedades no valor de biliões de Naira. Este
desastre afectou mais de 15 comunidades. Cerca
de 40,000 pessoas foram deslocadas e mais de 50
morreram.
Os responsáveis pela gestão da Barragem de
Kainji disseram que o desastre foi devido a um de-
feito estrutural e que a própria barragem se deslo-
cou um pouco por causa do envelhecimento. Uma
fonte do Governo disse que a falha da barragem
foi por negligência. A comunidade disse que para
além do defeito estrutural, uma das causas do de-
sastre foi o facto de ter havido um período de seca
e, apesar dos farmeiros pedirem água, esta não
podia ser libertada. Por isso, a reserva ficou cheia e
a NEPA11 (agora PHCN12) abriu as comportas para
reduzir a água da reserva após uma chuva intensa.
11 National Electric Power Authority12 The Power Holding Company of Nigeria
47
9. Estratégias para o Futuro - O Que aprendemos?
Também culparam o equipamento de aviso da bar-
ragem obsoleto.
Uma das coisas que foram prometidas às co-
munidades foi a electricidade. Mas até esta confe-
rência ainda não têm. Esta comunidade foi bem su-
cedida em levar o caso ao tribunal, que por sua vez
ordenou que se fornecesse energia à comunidade.
Desastre da Barragem de Gusau
Esta barragem tem uma ponte de ligação entre a
cidade de Gusau e outras cidades vizinhas. Como
resultado da inundação, a ponte foi destruída e to-
dos os tubos de água quebraram. Havia falta de
fornecimento de água e o ambiente estava repleto
de fezes.
A inundação arrastou mais de 500 casas. As
casas ficaram em ruínas e cobertas por água. O
apoio do Governo incluiu apenas alimentos, esteiras
e centros de saúde temporários.
As pessoas afectadas culparam o Governo de
negligência, dizendo que o desastre poderia ter sido
evitado se este tivesse prestado atenção aos avisos
prévios de uma inundação dados por especialistas.
Com base nos relatórios da barragem, os especia-
listas disseram que esperavam mais chuva e que se
não se libertasse água, a barragem poderia quebrar,
mas a companhia de engenharia não quis ouvir. As
comunidades estavam zangadas porque sentiram
que a companhia de engenharia estava a ser prote-
gida pelo Governo e que estava a haver algum tipo
de corrupção. Não houve nenhum plano de gestão
sustentável do desastre e nem de reassentamento
ou compensação das comunidades afectadas.
SWAPHEP13:
• Semináriocomacomunidade–paraqueapre-
sentem os seus próprios casos
• EducaçãoPública:actividadesemmeiosdeco-
municação e conferências públicas
• Diálogos da Comissão Mundial de Barragens:
começa com organizações da Sociedade Civil.
Foram organizados fóruns de consulta e criou-
se um fórum para as Barragens e Desenvolvi-
mento da Nigéria.
Lições aprendidas:
• Informação é a chave: comunidades e orga-
nizações precisam de estar equipadas com
informação. Na Nigéria, é muito difícil obter in-
formação sobre questões de desenvolvimento,
especialmente sobre barragens. Os estudos
feitos pela SWAPHEP serviram para conseguir
informações.
• Redes:apoiodeváriasorganizações.Agências
e oficiais do Governo respeitarão os que tiverem
apoio em todas partes do país. É importante ga-
rantir ligações a todas as redes.
• Legitimidade: conseguir o apoio das comuni-
dades afectadas. As comunidades afectadas
devem reconhecer e apoiar o interessado em
ajudar.
• Operadores comunitários: as comunidades é
que devem contar as sua experiências enquanto
os outros facilitam o processo.
• Parcerias: com o governo e organizações da
sociedade civil. É importante ter o apoio de
pessoas do governo que simpatizem com a
causa.
• Aestratégiadoolhodaáguia:implantarpessoas
de confiança em locais estratégicos.
• Poderdamultidão:apoio internacional.Ospaí-
ses precisam de se unir, para que os governos
dêem importância à causa.
13 Society for Water and Public Health Protection – Sociedade para Protecão da Água e Saúde Pública
48
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
9.4. Diálogo Nacional com Multi-Stakeholders das barragens no Togo
(Apresentação de Sena Alouka, Young Volunteers
for Environment, Togo)
9.4.1 Resumo
Exemplos de desastres causados por negligência:
• 13 Dezembro 1984: morreram 8000 no desas-
tre industrial na cidade de Bhopal
• 1912: O Titanic afunda por negligência
• 26deAbrilde1986:AcidentenucleardeCher-
nobyl por negligência
As pessoas dizem que os jovens são os líderes do
amanhã, no entanto alguns jovens já começaram a
tentar resolver os problemas de hoje.
No Togo foi criada a organização Young Volun-
teers for Environment (Jovens Voluntários pelo Am-
biente):
• Estáespalhadaportodoopaís.
• Possui um programa de televisão chamado
“Eco-desenvolvimento” que inclui um jogo edu-
cativo sobre a água, imitando os sons da natu-
reza.
• JustiçaSocial:
- Há pessoas que trabalham em áreas onde
há exploração mineira (fosfato)
- As crianças não podem sorrir porque o fosfa-
to no lençol de água lhes corroeu os dentes
• Temomesmopresidenteà37anos
- Quem reclamasse da barragem era enviado
para a cadeia.
• Oacordocolonialdabarragemfoiseladonuma
garrafa que foi posta dentro do betão na cons-
trução, por este motivo ninguém sabe o que está
escrito no acordo.
• Foiaprimeiravezem30anosqueumaOrgani-
zação Não Governamental pôde dizer “NÃO”.
- A Organização organizou as comunidades e
estabeleceu um diálogo nacional sob as re-
comendações da WCD.
• Liçõesaprendidas:
- É importante incluir a Juventude no processo
porque têm muita energia e estão ansiosos
pelo futuro.
Sena AloukaYoung Volunteers for Environment, Togo
49
9. Estratégias para o Futuro - O Que aprendemos?
O trabalho em grupo consistia em discutir e propor
recomendações de modo a melhorar o processo
do Projecto Mphanda Nkuwa no contexto das sete
recomendações da Comissão Mundial de Barra-
gens, que se seguem:
1. Conquista de aceitação pública
2. Avaliação abrangente das opções
3. Aproveitamento das barragens existentes
4. Preservação de Rios e Meios de Subsistência
5. Reconhecimento dos Direitos Adquiridos e Parti-
lha de Benefícios
6. Garantia de Cumprimento
7. Partilha de Rios para a Paz, Desenvolvimento e
Segurança
O resumo dos resultados:
1. Conquista de aceitação pública
• A informaçãosobreosprojectosdeveseram-
pla, clara e transparente desde a fase inicial do
projecto. A informação deve incluir impactos,
vantagens e desvantagens;
• Osprojectosdevemteraaceitaçãodascomuni-
dades directamente afectadas;
• HánecessidadedesensibilizarapopulaçãoMo-
çambicana sobre os efeitos das grandes barra-
gens, utilizando os meios de comunicação, in-
cluindo rádios comunitárias.
• Hánecessidadedecriar umórgãodeconsul-
ta sobre questões relativas ao uso e gestão de
água, onde devem estar presentes representan-
tes do Governo, sociedade civil, comunidades e
sector privado. Todos os projectos de água de-
verão passar por este órgão permanente.
• AsONGsdevemajudaraempoderarascomu-
nidades afectadas para que estas comunidades
tenham participação informada nos processos
de consulta e sejam capazes de reclamar os
seus direitos.
• AsONGsdevemtrabalharcomoGovernopara
flexibilizar a sua posição, ouvir as comunidades
afectadas e ser capaz de modificar o seu posi-
cionamento depois da consulta.
• Devemserproporcionadoseventosquepermi-
tam a troca de experiência entre as comunida-
des de Mphanda Nkuwa e uma comunidade da
Suazilândia que tenha tido muito êxito no seu
processo de reassentamento.
• No caso do reassentamento ser inevitável, as
comunidades têm direito a que as novas con-
dições de vida (inclui casa, meios de sustento,
pesca, machambas, etc.) sejam melhores que a
situação original, e não como define a Lei: iguais
ou melhores.
2. Avaliação abrangente das opções
• Osprojectosdegrandesbarragensdevemser
submetidos a estudos de impacto ambiental,
económico, social e estratégico e os resultados
devem ser divulgados publicamente.
• OGovernodeMoçambiquedevemudaroob-
jectivo da produção de energia, ou seja, deve
deixar de produzir energia para os grandes in-
vestimentos e para exportação e passar a pro-
duzir para a população Moçambicana, pois cer-
cade89%dosMoçambicanosaindanão tem
acesso à energia.
• Aproduçãodeenergiadeveestarorientadapara
o consumo local, deve ser descentralizada.
• Como alternativas às grandes barragens deve
ser analisada a opção de construção de peque-
nas barragens para reservatórios de água e pro-
dução de energia para as comunidades rurais.
• Deveserdadamaiorimportânciaaodesenvol-
vimento e uso de fontes alternativas de energias
renováveis, com menores impactos ambientais
e sociais (eólica, solar, etc).
3. Aproveitamento das barragens existentes
Em Moçambique a Legislação define que a ope-
ração das barragens deve ter como prioridade a
satisfação das necessidades humanas e a manu-
tenção dos ecossistemas.
• Asbarragenssãoprojectosúteismascontradi-
tórios nos seus objectivos.
• As barragens existentes devem ser aproveita-
das para objectivos actuais, para a mitigação
das secas e cheias e para a manutenção do
ecossistema (aplicar fluxos ecológicos);
• Énecessárioquesejamendereçadoseresolvi-
dos os conflitos existentes resultantes das bar-
ragens já existentes não só entre os afectados
mas também partes interessadas na gestão.
• Deveráhaverpartilhadebenefíciospara todos
os afectados.
• Face ao fenómeno de mudanças climáticas,
que agravam os incidentes de cheias e secas, é
10. Resultados dos grupos de trabalho
50
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
necessário que sejam levadas a cabo activida-
des de educação das comunidades para a sua
adaptação ao fenómeno de mudanças climáti-
cas. A educação deve ser permanente de modo
a fazer com que as pessoas possam reagir com
rapidez a qualquer evento.
• Temsidodifícilascomunidadesadaptarem-se
as estas mudanças sem que tenham algum
apoio e capacitação, é preciso que entendam o
fenómeno de mudanças climáticas e potenciais
impactos.
• É de salientar que é possível no âmbito das
mudanças climáticas utilizar as barragens para
fornecer água, ou gerir cheias artificiais para si-
tuações de secas prolongadas visando a manu-
tenção dos sistemas ecológicos.
4. Preservação de Rios e Meios de Subsistência.
• Águaévidaepreservarosriosémanteraágua,
é manter a vida!
• Preservaçãoegestãointegradadosrecursoshí-
dricos deve ser feita de forma participativa e in-
tegrada, incluindo todos os stakeholders e con-
siderando todos os ecossistemas;
• Moçambique deve aproveitar as experiências
dos outros países de África e não só para que
não cometa os mesmos erros que estes na bus-
ca de desenvolvimento, mas também para que
o desenvolvimento seja através do uso sustentá-
vel dos recursos hídricos e recursos naturais no
geral.
• Emqualquerrioháváriosinteressesquedevem
ser acomodados, as comunidades residentes,
as indústrias locais e demais afectados e inte-
ressados, daí que a gestão destes deve ser feita
de modo a integrar todos os interesses.
5. Reconhecimento de direitos adquiridos
• Este deve ser feito não só apenas através do
quadro legal, mas com envolvimento das comu-
nidades.
• necessidadedelegalizaçãodascomunidades.
• necessidadedecadastrarascomunidades.
• necessidade de montar uma unidade perma-
nente autónoma responsável pelos estudos de-
mográficos.
• Recenseamento dos membros da comunida-
des.
• Oplanodereassentamentodevesermaiscom-
pleto, deve envolver também as comunidades
hospedeiras para evitar possíveis conflitos.
• comoconsequênciadoreassentamentofala-se
muito em recorrer-se à lei e baseá-mo-nos no
facto de que as comunidades devem ficar nas
mesmas condições ou melhores condições, não
concordamos com este aspecto e julgamos que
deve ser revista para assegurar que as comuni-
dades ficam sempre em melhores condições.
• Necessidadedeconsiderarestascomunidades
vulneráveis, pois necessitam de maior apoio.
• Dotaracomunidadedecartõesdeidentificação
no sentido de evitar intrusos, se esses cartões
servem para dotar essa comunidade de direitos,
doações, ou algo do género.
• Foireferidoque:oquadrolegalexistentenoPaís
é suficiente para assegurar o reconhecimento
dos direitos adquiridos pelas comunidades lo-
cais a serem afectadas pela construção de bar-
ragens;
• Foisalientadoqueéimportanteacorrectaapli-
cação das leis existentes e que o Governo tem
um papel determinante nesse processo de re-
conhecimento dos direitos;
• FoisublinhadoquepeloRegulamentodaAvalia-
ção do Impacto Ambiental compete ao Governo
informar as populações afectadas, ouvir as suas
preocupações, identificar as questões mais criti-
cas, alcançar consensos, e satisfazer os interes-
ses mais básicos das comunidades atingidas.
• FoireferidoquecompeteaoGovernoreconhe-
cer a necessidade de envolver as comunidades
atingidas desde o início do processo.
• Salientou-sequeénecessáriorectificaroserros
cometidos agora no projecto Mphanda Nkuwa e
melhorar este porque este projecto vai ser e terá
que ser diferente;
6. Garantia de Cumprimento
• Criarumcomiténacionalparabarragensenvol-
vendo a sociedade civil, ONGs, este comité irá
criar sub-comités para cada projecto de barra-
gem e o comité será responsável por punições
em caso de incumprimento.
• FoisublinhadoqueMoçambiquetemboalegis-
lação ambiental e tem instituições que defen-
dem o desenvolvimento sustentável e que po-
dem fazer cumprir as leis e seus regulamentos;
• Asociedadecivil eascomunidadesafectadas
têm que ser envolvidas e chamadas para a con-
sulta pública como está previsto no Regulamen-
to do Impacto Ambiental;
• Éimportantedinamizaracriaçãoeofunciona-
mento da Comissão Nacional de Barragens e os
51
10. Resultados dos grupos de trabalho
comités de cada barragem envolvendo repre-
sentantes da sociedade civil, das comunidades
afectadas e das universidades;
• Os mecanismos de diálogo entre o Governo,
a sociedade civil e as comunidades afectadas
podem ser vários. Contudo, o mais importante
é a vontade política do Governo que deve res-
peitar a identidade, a dignidade, a auto-estima,
as características demográficas, antropológicas,
as manifestações culturais, os meios de vida
das comunidades afectadas e prevenir o erro
de praticas violentas que causam traumas nas
comunidades, provocam pânico e induzem ao
aparecimento de murmúrios que só prejudicam
o Governo e os investidores;
• NocasoespecíficodoprojectodaBarragemde
Mphanda Nkuwa, foi proposto que o Governo
deve criar uma Unidade Técnica com autonomia,
envolvendo especialistas e técnicos do Governo,
das comunidades e da sociedade civil, para estu-
dar e investigar as características demográficas,
culturais, económicas e sociais das comunidades
afectadas e promover diálogos e os consensos
relativamente à transparência para novas áreas;
• Foipropostoqueascomunidadesdevemserle-
galizadas e conseguir-se que elas tenham per-
sonalidade jurídica, apoiar a realização da as-
sembleia geral de cada comunidade e a escolha
livre dos seus líderes que devem ter os bilhetes
de identidade e as suas contas bancárias para
receber os fundos transferidos e donativos;
• Foisalientadoqueéimportanterealizarocadastro
de cada comunidade e de cada família e a emis-
são de um cartão que identifique cada membro
com sua fotografia, idêntica ao cartão eleitoral,
poderá prevenir infiltrações e abusos por parte de
pessoas de fora da área de cada projecto;
• Foipropostoqueascomunidadesdistantesda
área do projecto e que receberão no seu seio ou
na sua vizinhança as comunidades afectadas,
devem também ser informadas e capacitadas
para interagirem de forma saudável;
• Foi proposto que as compensações a serem
discutidas e acordadas com as comunidades
afectadas devem incluir:
- A Componente económica – Como micro
projectos que beneficiem os afectados como
pequenos regadios, moagens, etc.
- A Componente Social – Unidades escolares,
sanitárias e outro equipamento social.
- Componente Financeira: valores monetários.
• Foi salientadoque oPlanodeReassentamen-
to é um instrumento muito importante, deve ser
bem feito e com todos os detalhes importantes
trabalhados e propostos pelos especialistas e
técnicos da Unidade Técnica e deve reflectir os
acordos alcançados com as comunidades afec-
tadas;
• Foi unânimea opiniãodequeas condiçõesa
serem criadas nas novas áreas de reassenta-
mento devem ser melhores e não iguais àque-
las que existem nos locais onde residem actu-
almente as comunidades a serem afectadas
pelos projectos de barragens;
Nota: todos estes comentários foram debatidos na
reunião, nada foi mudado ou adicionado que não
tenha sido discutido durante a reunião; não faria ne-
nhum sentido pois estas conclusões foram tiradas
de um trabalho feito em grupo. Por falta de tempo
não se discutiu o ponto 7 “Partilha de Rios para a
Paz, Desenvolvimento e Segurança” mas se todas
estas directrizes forem seguidas durante o proces-
so, só se poderá ir ao encontro na partilha dos rios
para a paz, desenvolvimento e segurança.
52
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
11. Constatações e recomendações de apresentações de ONG´s Africanas realizadas no seminário
“Promovendo o Diálogo e a Transparência em Barra-gens e Desenvolvimento: Aprendendo através de Experi-ências Passadas sobre Grandes Barragens”,
Realizado em Maputo, Moçambique, 19-21 de Novem-bro, 2007
Juntaram-se num encontro representantes da so-
ciedade civil Moçambicana e oficiais do governo,
Comunidades Africanas afectadas pelas barragens
e peritos internacionais1, com o objectivo de discutir
assuntos relacionados com o desenvolvimento de
grandes barragens em África, como aplicar as li-
ções aprendidas destes projectos de barragens do
passado, de forma a melhorar o planeamento ener-
gético em Moçambique, bem como abordar de
forma correcta o controverso projecto de Mphanda
Nkuwa, avaliado em US$2,5 biliões, actualmente
uma das prioridades do governo Moçambicano.
De seguida são apresentadas lições importan-
tes retidas no legado das barragens em África, que
acreditamos que levará para caminhos positivos o
desenvolvimento de todas as barragens em Mo-
çambique, incluindo a de Mphanda Nkuwa.
Lições Aprendidas: Impactos Sociais• Ascomunidadesreassentadasoupressionadas
pelas mudanças a jusante do rio são constan-
temente abandonadas e deixadas ainda mais
pobres no processo de desenvolvimento das
barragens em África, não tendo ainda beneficia-
do das vantagens que estes projectos trazem.
Desta forma, deve-se garantir a partilha equitati-
va de benefícios às comunidades afectadas.
• O planeamento dos processos de reassenta-
mento feito do topo para a base têm fracas-
sado de forma quase universal no objectivo de
restaurar a vida das pessoas. As comunidades
residentes em áreas a ser afectadas por pro-
jectos de barragens deveriam ser envolvidas na
primeira fase de planeamento do projecto, de
forma a garantir uma avaliação de opções com-
preensiva, evitar conflitos e promover um desen-
volvimento hídrico e energético relevante com o
contexto local e equitativo para os pobres.
• Umavezdestruídosou reduzidososmeiosde
subsistência, torna-se muito difícil restaurá-los.
Só através do envolvimento precoce das co-
munidades afectadas é que ocorrem reassen-
tamentos e recuperação de meios de subsis-
tência bem sucedidos. Virtualmente todos os
programas de reassentamento de grandes bar-
ragens falharam na prevenção do aumento do
empobrecimento das comunidades afectadas.
É necessário assegurar um diálogo entre ambas
as partes, pois esta comunicação é crítica para
garantir que os que mais tem a perder nos pro-
jectos de barragens se tornem beneficiários dos
mesmos.
• MoçambiquedeveriaseguiroexemplodaBarra-
gem de Maguda, em Suazilândia, que é um dos
poucos projectos em África em que as pessoas
reassentadas disseram estar satisfeitas com o
Resumido pela JA! Justiça Ambiental
“São os países em desenvolvimento que menos se podem
permitir a cometer os erros de países desenvolvidos.”
Kader Asmal, Presidente da Comissão Mundial de Barragens, 2000
1 A maior parte das apresentações do seminário estão disponíveis sob a forma de Powerpoint (e em dois casos, filmes em DVD) da JA!
53
11. Constatações e recomendações de apresentações de ONG s Africanas
realizadas no seminário
projecto de desenvolvimento e reassentamen-
to pelo qual tiveram experiência. Neste projec-
to, foram dados poderes de decisão às comu-
nidades locais para negociar os seus próprios
pacotes de reassentamento, onde este incluía
programas de benefício de partilha, um meca-
nismo independente de resolução de disputas,
boas escolas e postos de saúde nas novas co-
munidades, sistemas de irrigação agrícola nas
novas áreas e programas de capacitação. Foi
permitido às comunidades desenhar e construir
as suas casas e fornecido auxílio na escolha dos
novos terrenos.
• N.B.:Noencontro,algunsoficiaisdogovernode-
claram para o efeito, que de momento não ha-
via necessidade de alongar diálogos, que é difícil
engrenar com comunidades afectadas, que Mo-
çambique não iria cometer os erros do passado
verificados em outras barragens de África, bem
como outros comentários do género. Os organi-
zadores da conferência saudaram a participação
dos representantes do governo presentes no en-
contro, embora algumas vezes estes estivessem
em contradição directa às evidências apresen-
tadas e parecendo insinuar que os planeadores
de projectos energéticos em Moçambique não
concordavam que haveria lições a aprender a
partir das evidências apresentadas. Nós acredi-
tamos que tais comentários suportam o nosso
argumento de que Moçambique necessita de
um diálogo com vários intervenientes mais cedo
do que é sugerido, com maior transparência, na
questão de planeamento de barragens.
Lições Aprendidas: O de-senvolvimento de projectos energéticos deve ser balan-ceado de forma a contabili-zar as diversas necessidades de desenvolvimento em Mo-çambique• O desenvolvimento energético em Moçambi-
que, nos dias de hoje, tem sido sobrecarregado
em direcção a exportações e ao crescimento
de indústrias de produção energética intensiva.
Esta abordagem não abarca as necessidades
da maior parte da nossa população, nem a na-
ção beneficia verdadeiramente de forma directa
do desenvolvimento energético.
- Nós arriscamos a tornarmo-nos vítimas da
“maldição dos recursos” que tem afligido tan-
tas outras nações Africanas que se apoiaram
demasiado na exportação das suas riquezas
naturais. Esta maldição de recursos pode re-
sultar no aumento de conflitos internos, opor-
tunidades sustentáveis de trabalho perdidas,
corrupção, perpetuação de uma distribuição
injusta dos benefícios e custos de desenvol-
vimento.
- De forma a evitar esta abordagem de mal-
dição de recursos, Moçambique tem que
encontrar um equilíbrio melhor entre o de-
senvolvimento da rede energética de larga
escala e os programas de electrificação des-
centralizada para o desenvolvimento rural.
Deve-se dar prioridade a um planeamento
energético favorável aos pobres de forma a
atingir os objectivos de Desenvolvimento do
Milénio. Deve ser dada prioridade a projectos
energéticos de larga escala que estejam de
acordo com as necessidades nacionais.
• Moçambique deve rejeitar osmodelos de de-
senvolvimento extractivos, exploratórios e irres-
ponsáveis agora oferecidos pela China, e pro-
curar trabalhar com a China de forma a garantir
projectos de desenvolvimento mais sustentáveis
e progressivos.
- Existe em África um recorde de projectos de
construção de barragens nos quais os pa-
drões de mitigação social e ambiental foram
atirados para segundo plano em detrimento
de factores económicos. Como foi exemplifi-
cado no caso do Sudão, a China tem apoiado
governos repressivos e autoritários que violam
os direitos humanos dos seus cidadãos. Os
benefícios destas barragens são ainda meno-
res, pois a China emprega sua própria mão-
de-obra na construção das barragens.
- Os padrões internos de reassentamento em
barragens na China são melhores dos que
os aplicados internacionalmente.
- Dentro das suas fronteiras a China está a
dar prioridade a projectos que melhor se
enquadram com as necessidades de Mo-
çambique. A China possui vários programas
que favorecem o desenvolvimento rural que
surgiram antes de terem iniciado a dar ên-
fase à industrialização. A China tem dado
uma importância maior à produção e esta-
belecimento de energias renováveis, o que
resultou no aumento de capacidade do seu
sector energético, na criação de mais postos
de trabalho, caminhando na direcção de um
suprimento energético mais sustentável.
54
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
- A energia FV, a térmica solar, o biogás, os di-
gestores, sistemas hídricos micro e mini são
alguns dos exemplos de energias renováveis
a ser amplamente desenvolvidos pela China
e que Moçambique deveria explorar. Forne-
cer energia solar de forma universal a todos
os Moçambicanos actualmente sem acesso
a electricidade teria menor custo que a cons-
trução de Mphanda Nkuwa2.
- O Governo Moçambicano deveria procurar
de forma activa um desenvolvimento coope-
rativo com a China que enfatizasse projectos
de desenvolvimento energéticos descentra-
lizados e sustentáveis, idênticos aos que a
China está a dar prioridade para o seu País.
Lições Aprendidas: Deve-se tomar em consideração os custos ambientais, dar prio-ridade a planos para sua re-solução e incluir estes nos orçamentos de projectosOs custos ambientais raramente tem sido tomados
em consideração em projectos de construção de
barragens em África, deixando um legado de pro-
blemas de alto custo para os quais não existem fun-
dos para solucioná-los. Só o exemplo do Zambeze
é bastante preocupante:
• A gestão de barragens existentes no Zambe-
ze com o objectivo de maximizar a geração de
energia resultou em grandes mudanças no re-
gime de fluxo a jusante, que causou impactos
significantes no ecossistema do delta, em parte
pela intrusão de água salgada e consequente
decréscimo de disponibilidade de água nestes
sistemas.
• Os ecossistemas a jusante recebem um fluxo
reduzido de sedimentos, causando um impacto
na flora e fauna do rio, tal como peixe, camarão
e plantas ribeirinhas.
• Areduçãoda flora ribeirinhacontribuiparaum
aumento da erosão das margens dos rios. As
mudanças de fluxo a jusante, os regimes das
cheias e cargas de sedimento perturbaram a
capacidade local das comunidades na prática
de agricultura à margem do rio, diminuíram a
capacidade de captura de peixe, e por vezes,
torna o próprio transporte ao longo do rio mais
difícil.
• Estes altos custos associados amudanças no
rio ainda não foram considerados pelos plane-
adores de novos projectos de barragens, nem
criadas compensações pelos que desenvolve-
ram barragens no passado.
• Desta forma, factoressociaiseambientaisex-
ternos terão que se tornar mais internos – como
componentes chaves na análise de projectos de
desenvolvimento, e com o mesmo peso que os
aspectos económicos.
• Oplaneamentoparaodesenvolvimentodaba-
cia deverá considerar toda a bacia do rio de for-
ma integrada para garantir uma gestão hídrica
adequada, devendo também envolver as partes
interessadas e afectadas locais em todas as fa-
ses deste planeamento, de forma a que as deci-
sões não sejam tomadas somente pelas institui-
ções politicas internacionais (p. ex. SADC). Este
aspecto é importante na gestão de uma distri-
buição equitativa de custos e benefícios.
• AEspanhaadoptouumnovoplaneamentohídri-
co participativo, que promove um modelo mais
descentralizado e sustentável dos recursos hídri-
cos do que a construção de grandes barragens.
Nós deveríamos tentar aprender estas lições de
criar “uma nova cultura de hídrica”, a exemplo
do que a Espanha está a fazer.
Lição Aprendida: As mudan-ças climáticas irão alterar os rios da África Austral, deven-do desta forma, tomar em consideração a viabilidade das barragens• Moçambiquedeverátomaremconsideraçãoas
mudanças climáticas em todos os planeamen-
tos energéticos e desenvolvimento de projectos.
Espera-se que as mudanças climáticas venham
a alterar severamente a hidrologia dos rios de
Moçambique, trazendo ainda mais cheias e se-
cas. A nação deverá dar prioridade aos secto-
res energéticos e hídricos e à gestão de cheias,
com medidas urgentes de adaptação a mudan-
ças climáticas. Alguns passos chaves são:
2 “O Preço do Poder. A Pobreza, Mudanças Climáticas, a Esperada Crise Energética e Revolução de Energias Renováveis ” declaram que custa aproximadamente $25,000 para fornecer energia FV a uma aldeia com 50 pessoas. Moçambique tem aproximadamente 17.6 milhões de pessoas sem acesso a electricidade, que trará, a este nível, um custo aproximado de $1.76 biliões para fornecer energia solar universal.
55
11. Constatações e recomendações de apresentações de ONG s Africanas
realizadas no seminário
- Tal como as nações da SADC, Moçambique
é demasiadamente dependente de energia
hidroeléctrica. Os riscos eminentes desta de-
pendência hidroeléctrica contínua com mu-
danças climáticas no horizonte incluem um
aumento de custos na economia, a nível so-
ciais e ambientais, menores benefícios e um
aumento do potencial risco de desastres.
- Todos os projectos hídricos e energéticos
propostos devem ser avaliados de forma in-
dependente na sua capacidade de auxiliar
Moçambique a adaptar-se melhor a mudan-
ças climáticas e à hidrologia cada vez menos
previsível e errática.
- Deverá ser dada prioridade a soluções direc-
cionadas em energias renováveis e medidas
de eficiência hídrica, de forma a auxiliar a dis-
seminação e o desenvolvimento energético
em regiões actualmente sem energia eléc-
trica e aumentar a segurança contra mudan-
ças climáticas.
- Grandes barragens, em especial barragens
hidroeléctricas, não são soluções viáveis para
controlo de cheias neste período de mudan-
ças climáticas. Dever ser dada prioridade a
soluções de gestão de cheias que não fa-
çam uso de engenharia, tal como sistemas
de prevenção melhorados, planeamento de
respostas a calamidades para comunidades
a jusante das barragens, planos operacionais
de gestão de barragens que garantem es-
paço suficiente nos reservatórios de forma a
armazenar excedente de águas no período
das chuvas, restaurando os mangais, bem
como outras soluções “soft-path” de gestão
de cheias.
- Todas as barragens estão a tornar-se cada
vez mais perigosas com as mudanças cli-
máticas. As avaliações de segurança das
barragens deverão tornar-se cada vez mais
rigorosas e regulares, devendo-se também
realizar uma análise mais profunda das bar-
ragens já existentes, o potencial impacto de
rompimento de barragens, de forma a de-
senvolver planos de emergência para as áre-
as a jusante.
- Deve ser dada prioridade a projectos que
melhorem a capacidade dos ecossistemas
e das comunidades que deste dependem,
para melhor resistir aos impactos das mu-
danças climáticas. Um dos exemplos supor-
tado por nós é a re-operação da Barragem
de Cahora Bassa, de forma a providenciar
cheias anuais no início da época chuvosa. Os
peritos acreditam que tal feito pode ser al-
cançado sem perdas no custo hidroeléctrico,
e trazer grandes benefícios ao delta do Zam-
beze, que tem sido gravemente danificado
pelas barragens a montante. Este processo
também poderá melhorar a capacidade de
armazenamento de água na barragem du-
rante o período restante da época chuvosa.
Lições aprendidas: Um pro-cesso de planeamento de construção de grandes barra-gens (ou qualquer outro pro-jecto com impacto social e ambiental significante) aberto e transparente é crítico para o sucesso do projectoAs grandes barragens de África têm tido custos eco-
nómicos, ambientais e sociais persistentes e signi-
ficativos. Moçambique não se pode dar ao luxo de
cometer estes erros. Um elemento chave que pode
ajudar a reduzir os impactos no desenvolvimento
de futuras barragens é atráves de um processo de
planeamento aberto, que inclua a sociedade civil e
as comunidades afectadas. Um diálogo a nível na-
cional entre as várias partes interessadas, com uma
representação igual e com poder de decisão de
todos os intervenientes poderia ser um bom pas-
so inicial com o objectivo de resolver divergências,
analisar problemas e sugerir alternativas.
• Processos com várias partes interessadas e
afectadas são importantes, mas para que sejam
genuínos e efectivos, estes devem ser:
- Inclusivos
- Transparentes
- Responsabilizado ao público
- Considerados todos os aspectos do projecto,
não só os aspectos económicos, mas tam-
bém custos sociais e ambientais
- Estar bem definidos desde o inicio do pro-
cesso e não só no fim
- Capazes de criar proximidade entre os vários
intervenientes
• OprocessodeMphandaNkuwadeverásermais
transparente e participativo. A actual abordagem
de portas fechadas poderá resultar na repetição
de problemas do passado, e a um projecto que
na sua conclusão fracasse no objectivo de de-
senvolvimento. Algumas recomendações es-
56
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
pecíficas de forma a dirigir-se a este problema
poderão ser:
• Começardeimediatoaincluirascomunidades
afectadas no processo de planeamento. As au-
toridades moçambicanas de planeamento de
barragens devem desenvolver e implementar
um plano em cooperação com as comunidades
afectadas e a sociedade civil, de forma a trazer
as comunidades afectadas à mesa do projecto
Mphanda Nkuwa.
• A tomadadedecisõesdeve- sebasearnuma
análise completa de todos as questões e num
processo transparente de partilha de informa-
ção. As autoridades responsáveis pelo projecto
devem começar de imediato a divulgar toda a
informação e estudos disponíveis sobre o pro-
jecto. Ainda há falta de informação critica – tal
com os estudos de sedimentação, análise sís-
mica, a justificação económica para a realização
do projecto – todos estes aspectos devem ser
considerados o quanto antes.
• Acorrupçãoéumsérioproblemaemprojectos
de grandes barragens. As Protecções, tais como
as recomendadas pelo CMB e a Transparência
Internacional devem ser postas no seu lugar de
forma a assegurar que a corrupção não influen-
cie no processo de planeamento e construção
de Mphanda Nkuwa e de futuras barragens de
Moçambique. Deve-se dar lugar a uma maior
transparência baseada em princípios tais como
“publique o que paga”, em casos de grandes
projectos de desenvolvimento como é o caso de
Mphanda Nkuwa.
• AntesqueMphandaNkuwasigaadiante,deve-
se considerar os problemas das barragens cons-
truídas no passado. Também pode-se avançar
com um plano de restaurar os fluxos naturais
de Cahora Bassa em diante, e estabelecer um
processo entre as partes interessadas de forma
a dirigir-se a outros impactos pendentes rela-
cionados com a construção de barragens, tais
como as comunidades a jusante, industrias e
ecossistemas.
57
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre as
barragens e o desenvolvimento em Moçambique:
Aprendendo com os acontecimentos do passado
em relação a grandes barragens em africa.
19-21 de Novembro de 2007
Data: 19/20/21 de Novembro de 2007;
Local: Kaya Kwanga;
Promotor: JA! Justiça Ambiental;
Participantes: Lista em anexo
A JA! Justiça Ambiental, promoveu uma conferên-
cia afim de promover maior transparência e diálogo
em assuntos relacionados com barragens e desen-
volvimento em Moçambique. A reunião teve lugar
em Maputo, Moçambique.
O referido evento, contou com delegados da so-
ciedade civil e ONG’s do Lesotho, Uganda,Tanzania,
Nigéria, Zimbabwe, Zâmbia, Kenya,Congo,Togo,An
gola,Swazilandia, Africa do Sul, Brasil, Estados Uni-
dos da América e Europa para apresentarem a sua
experiência e seu conhecimento sobre barragens.
A conferência teve lugar no local e data supra-
citado, na cidade de Maputo em Moçambique, e
seguiu a seguinte ordem de trabalho:
Dia 1 (19/11/07)
08h30-10h00: Abertura e introdução do Workshop:
• Abertura:MinistroparaaCoordenaçãodaAcção
Ambiental de Moçambique (MICOA)
• Introdução:AnabelaLemos,JustiçaAmbiental
• Keynote: Lori Pottinger, Directora, Programa
paraAfrica, Rede Internacional dosRios: "Bar-
ragens, Rios e Mudanças Climáticas em Africa”:
“UmNegócioarriscado"
10h00-10h15: Intervalo de Café
10h15-11h30: Custos e Benefícios de Mphanda Nkuwa: Perspectiva Nacional e Regional
• DanielRibeiro,JustiçaAmbiental(Moçambique):
Identificar Problemas com Mphanda Nkuwa
• TerriHathaway,RedeInternacionalparaosRios
(USA): Rede Energética de Africa Austral (The
Southern African Power Pool),” trickle down vs.
trickle up” modelos de desenvolvimento
• VozesdoZambeze(Moçambique):Perspectiva
das Comunidades sobre Barragens no Zambe-
ze
11h30-12h45: Impactos Ambientais dos Projectos de Barragens no Zambeze
• José Chibunto, WWF (Moçambique): Projecto
do Delta do Zambeze
• Eduardo Nhambanga, Justiça Ambiental (Mo-
çambique):
• Dr.PatrociniodaSilva,Coordenador,GPZ/UGP
Marromeu (Moçambique):
A Experiência no Delta do Zambeze
12h45-13h45:Almoço
13h45-14h40: Impactos Sociais nos Projec-tos de Barragens no Zambeze
• Boniface S. Mutale, Director, Basilwizi (Zimba-
bwe): Realocação involuntária das Comunida-
des noVale do Zambeze.
• NyambeLuhila,Oficial deProjectos,KaluliDe-
velopment Foundation (Zambia): Comunidades
realocadas em Sinazongwe
14h40-14h55: Intervalo de Café
14h55-15h50: Implicações Sociais de Pro-jectos de Barragens em Africa
• LianeGreeff(AfricadoSul):HerançadasGran-
des Barragens em Africa
• Dr.IdrisMusilim,Presidente,ComunidadesAfec-
tadas por Barragens (Nigeria), impactos nas ter-
ras húmidas de Hadeija Nguru Wetlands
15h50-17h25: De Sudão a Moçambique: Papel da China:
• AliAskouri,(Sudão):CasoestudodaBarragem
de Merowe
• DanielRibeiro,JustiçaAmbientaleCarlosSerra,
Professor, UEM (Moçambique):
O Papel da China em Mphanda Nkuwa e flores-
tas em Moçambique
Fecho da Reunião pelo moderador Sena Alouka,
Africa Rivers Network
Programa da Conferência
Relatório sobre a Conferência
58
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
Dia 2 (20/11/07)
08h30-08h50: Sumário das experiências do primeiro dia
Thabang Ngcozela – Environmental Monitoring
Group (South Africa)
08h50-10h25: Perspectivas mais abrangen-tes:
• KorinnaHorta,EconomistaSenior,DefesaAm-
biental (USA): “A Praga do Recurso” e Grandes
Barragens em Africa
• Betty Obbo, Oficial de Programas, (National
Association of Professional Environmentalists)
Uganda: Organizando, Educação e a Barragem
de Bujagali Brasil: Lições do Brasil (POR CON-
FIRMAR)
• ARA-Zambeze(Moçambique):“GestãodosRe-
cursosHídricosnaBaciadoZambeze"
• Dr.EbenizárioChonguiça,IUCN(Moçambique):
Gestão Integrada de Recursos Hídricos- que De-
safios se colocam
10h25-10h40: Intervalo de Café
10h40-12h15: Estratégias para o Futuro – O Que aprendemos
• SantiagoMartinBarajas,Director,Ecologistasem
acção (Ecologists in Action) Espanha: A Nova
Cultura da Água, uma Visão Alternativa
• BryanAshe,“EarthLife”AfricadoSul:Análiseda
Comissão Mundial de Barragens em Africa in-
cluindo o processo na Africa do Sul
• HopeOgbeide,Director,SociedadeparaaPro-
tecção da Água e Saúde Pública (Society for
Water and Public Health Protection) Nigeria:
Relacionando os impactos das cheias com as
Barragens Nigerianas fazendo reuniões com a
comunidade, Comissão Mundial de Barragens e
Educação Publica
• Sena Alouka, Coordenador Nacional,”Jovens
Voluntários Ambientalistas” (Young Volunteers
for Environment)Togo: Diálogo Nacional com
Multi-Stakeholders das barragens no Togo
12h15 – 13h15: Almoço
13h15-14h15: O que se segue para Mphan-da?: Trabalho em grupo estratégia futura (moderado por Sena Alouka)
• ConquistadaAceitaçãoPública
• AvaliaçãoAbragentedasOpções
• AproveitamentodasBarragensExistentes
• PreservaçãodeRioseMeiosdeSubsistência
• ReconhecimentodeDireitosAdquiridoseCom-
partilhamento de Benefícios
• GarantiadeCumprimento
• CompartilhamentodeRiosParaaPaz,Desen-
volvimento e Segurança
Um grupo para cada
14h15-14h30: Intervalo de Café
14h30-16h10: Relatório dos Trabalhos em Grupo e discussão
Fecho da Reunião pelo moderador Sena Alouka,
Africa Rivers Network
Dia 3 (21/11/07)
08h30-08h45: Sumário das experiências do primeiro dia
Thabang Ngcozela – Environmental Monitoring
Group (South Africa
08h45-09h15: Dr. Carlos Bento
Universidade Eduardo Mondlane /Museu de História
Natural Moçambique: Barragem de Cabora Bassa,
seus Impactos
09h15-12h30: (incluindo intervalo para café) Preparação do documento sobre as li-ções aprendidas e soluções futuras para a Mphanda Nkuwa
• Introduçãoaumprocessodeconsenso
• Gruposdetrabalhoparafazerorascunhododo-
cumento, responder a questões e sugerir mu-
danças
• Relatóriodecadagrupo.
• Moderaroprocesso
• Finalizareadpotarodocumento
12h30-12h40: Sumário e Fecho da Reunião
Almoço
59
No Nome Pais Instituicao Contacto Email
1 Ali Askouri UK-Sudan Plankhi Research 07946600238 [email protected]
2 Ailton Rego Moçambique Ministerio de Energia/ Dep 21-327600 [email protected]
3 Alfredo Agostinho Mondlane Moçambique DPEC 82-4238740 [email protected]
4 Anabela Lemos Moçambique JA!- Justiça Ambiental 21 496668 [email protected]
5 Américo A. Macandza Moçambique Actionaid 82-4058190 -
6 Augusto Samuel Nhampule Moçambique Ministério 82 5624650 [email protected] das Pescas
7 Aurelio Muyanga Moçambique Jornal Vertical 82 8864340 [email protected]
8 Belinha Albino Moçambique Actionaid -
9 Berta Macuacua Moçambique Kulima [email protected]
10 Boniface Mutale Zimbabwe Basilwizi 26-39230351/3 [email protected]
11 Borvina Estrela Moçambique Actionaid 82-212616 -
12 Bryan Ashe R.S.A SAWC 27-826521533 [email protected]
13 Benilde Mourana Moçambique JA!- Justiça Ambiental 21 496668 [email protected]
14 Carlos Seventine Moçambique Funab- Fundo do Ambiente 82-3025419 [email protected]
15 Chivio Eliem Cheiro Moçambique Vozes de Zambeze 82 3857276 [email protected]
16 Custódio Voabil Moçambique Privado 82-3151410 [email protected]
17 Carolina d'essen Brasil Universidade E. Mondlane 82-5324053
18 Carlos Mutola Moçambique Ciedima 82-4709100 [email protected]
19 Carlos Serra Moçambique JA!- Justiça Ambiental 82 0715130 [email protected]
20 Denis Mandevane Moçambique CTV- Centro Terra Viva 21 416131 [email protected]
21 Daniel Ribeiro Moçambique JA!- Justiça Ambiental 82-7674551 [email protected]
22 Ebenizario Chonguiça Moçambique IUCN 82-7722911 [email protected]
23 Edna Collinson Moçambique Ministerio Finanças 82 3914890 [email protected]
24 Eugénio Macamo Moçambique FAO [email protected]
25 Eusebio Mata Espanha Intermon-Oxfam 82-3273140
26 Eduardo Nhabanga Moçambique JA!- Justiça Ambiental 82-3834957 [email protected]
27 Feliciano Mataveia Moçambique INGC- Instituto Nacional de Gestão 82 8277810 [email protected]
de Calamidades
28 Fernando Gais Moçambique Actionaid -
29 Gabriel Tembe Moçambique Ministério de Planificação 82 3216160 [email protected]
30 Giovanni Buzzo Italia Cooperacao Italiana 82 7962735 [email protected]
31 Gizela Zunguze Moçambique JA!- Justiça Ambiental 21 496668 [email protected]
32 Hope Ogbeide Nigeria Swaphep [email protected]
33 Idris Musilim Nigeria Hikyb-wbi 234-8037863970 [email protected]
34 Jaime Comiche Moçambique Pnud 82-3010410 [email protected]
35 Joao de Lima Moçambique Minist. de Energia [email protected]
36 Janice Lemos Moçambique JA!- Justiça Ambiental 21 496668 [email protected]
37 Joao Lukombo Angola [email protected]
38 José A. Chiburre Moçambique WWF 82-3885870 [email protected]
39 Jose Luis Garcia Barahona Espanha Intermon-Oxfam 82-8660480 [email protected]
Lista dos Participantes
Lista dos Participantes
60
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre
as barragens e o desenvolvimento em Moçambique
40 Joshua Dimon U.S.A University Berkeley 82-6066709 [email protected]
41 Kenneth Msibi Swazilandia MNRE +268-404-8031 [email protected]
42 Korinne Horta Portugal Environmental Defense khorta@environment defense.org
43 kugonza Robert Uganda NAPE/ARN 256-772-626987 [email protected]
44 Lazaro dos Santos Zucula Moçambique Actionaid
45 Leonid Santana Chimarizene Moçambique Ministério das pescas 82-8430230 [email protected]
46 Levis Roberto Fernandes Moçambique Ministério das Finanças 82-5803269 [email protected]
47 Liane Greeff S.A Researcher [email protected]
48 Lily Namboro Moçambique Direccao Nacional de Aguas 21-322191/2 [email protected]
49 Lisete Dias Moçambique Ara-Sul 21-306729/30 [email protected]
50 Lori Pottinger U.S.A International Rivers [email protected]
51 Luciano de Castro Moçambique Micoa -
52 Luis Fernandes Moçambique Ministério Finanças [email protected]
53 Manuel Malaze Moçambique Ara-Zambeze [email protected]
54 Marcelo Dias Moçambique Ara-Zambeze 82-1572530 [email protected]
50 Maria Alice Nhatumbo Moçambique Actionaid 82-8626820 -
51 Melissa Bonneton França Embaixada da França -
52 Mevasse Sibia Moçambique FNP- Forum Para Natureza em Perigo 82-3955860 [email protected]
53 Mirriam Kubi S.A EMG 083-2075537
55 Narcisa Cardoso Moçambique ISPT 82-6046919 -
56 Narcisa Sabonete Moçambique Vozes de Zambeze -
57 Natasha Aragão Moçambique Consultec 21-491555 [email protected]
58 Nhambe Luhila Zambia Kaluli Development Foundation +260977691149 [email protected]
59 Nilsa Carimo Moçambique Minist. Energia/Utip 82-3094820 [email protected]
60 Norman S. Maunso Swazilandia Acat Swazilandia +268-4044738 [email protected]
61 Betty Obbo Uganda Nape [email protected]
62 Oscar J. Chichogue Moçambique Engenheiro Florestal 82-3333560 [email protected]
63 Pablo Jorda Espanha E.S.F. 82-5899358 [email protected]
64 Patrocinio da Silva Moçambique GPZ 82-3154030
65 Paulino Antonio Moçambique Actionaid 82-7388182
66 Pedrito Adriano Soquir Moçambique Ara-Zambeze 82-5656070 [email protected]
67 Raimundo Menezes Moçambique Direção Nacional das Águas 84-4160350 [email protected]
68 Rosaque Guale Moçambique HCB-Songo [email protected]
69 Santiago Martin Barajas Espanha Ecologistas En Accion 0034656225083 [email protected]
70 Satenda Jovencio Moçambique Vozes de Zambeze 82-6049514
71 Sena Alouka Togo Jve +228-9216740 [email protected]
72 Sergio J. Elisio Moçambique Minist. Energia/Utip 82-3297060 [email protected]
73 Tarciso Yacor Moçambique Unac 825297897 [email protected]
74 Terri Hathaway Camaroes International Rivers [email protected]
75 Thebary Nhcoren S.A E.G.M [email protected]
76 Theodor Oberhuber Espanha Ecologista 91-5312739 [email protected]
77 Vanessa Cabanelas Moçambique Global Water Partnership 82-8721390 [email protected]
78 Vera Fumo Moçambique Abiodes [email protected]
79 Vera Ribeiro Moçambique Geasphere 82-3885103 [email protected]
R E L A T Ó R I OO r g a n i z a ç ã o d a c o n f e r ê n c i a
Promovendo a Transparência e o diálogo sobre as barragens e o
desenvolvimento em Moçambique
F i n a n c i a d o r e s