proletarização e sindicalismo de professores na ditadura militar

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Proletarização e Sindicalismo de professores na Ditadura Militar (1964-1985) Emerson Mathias Orientando de Iniciação Científica do PPGE – Sindicalismo Docente na América Latina (1990-2010), Universidade Nove de Julho. São Paulo, SP – Brasil Financiado bolsa graduação iniciação científica - CNPq Nesta obra Amarílio Ferreira Jr., e Marisa Bittar abordam as transformações ocorridas com os professores do ensino básico no período da ditadura militar (1964-1985). Para efeito de organização, o livro foi dividido em seis capítulos. Em seu primeiro capítulo apontam que o golpe de 1964, foi fruto de um arranjo político já tradicional desde o período da independência (1808-1822), uma política elitista e excludente com o poder exercido pelas classes superiores. Essa política concentrou a renda na mão de uma pequena fração da população (elite) durante o regime militar, aumentando o abismo econômico entre as classes sociais no Brasil. Segundo os autores esse período de 1964 a 1985 pode ser visto como uma fase terminal da Revolução Burguesa que teve início em 1930. No segundo capítulo, analisam a repressão política no regime militar. As perseguições de cidadãos civis e militares, a cassação dos direitos políticos, a supressão das liberdades democráticas por meio da repressão jurídica, veio presidida da repressão física dos opositores do regime militar. Ferreira e Bittar, abordam a repressão ideopolítica aplicada pelo regime em todos setores da sociedade. Citam Cerqueira, que analisa a repressão aos intelectuais, artistas, estudantes, cinema e seus diretores, a música popular, seus cantores e compositores, principalmente a bossa nova com identificação a questão social. Esse obscurantismo atinge a universidade, com expulsão de físicos, médicos, juristas, historiadores, cientistas sociais, entre outros. Apresentam um quadro com todos aparelhos de repressão de Estado para fechar este capítulo.

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Proletarização e Sindicalismo de professores na Ditadura Militar (1964-1985)

Emerson Mathias

Orientando de Iniciação Científica do PPGE – Sindicalismo Docente na América Latina (1990-2010), Universidade Nove de Julho. São Paulo, SP – Brasil

Financiado bolsa graduação iniciação científica - CNPq

Nesta obra Amarílio Ferreira Jr., e Marisa Bittar abordam as

transformações ocorridas com os professores do ensino básico no período da

ditadura militar (1964-1985).

Para efeito de organização, o livro foi dividido em seis capítulos. Em

seu primeiro capítulo apontam que o golpe de 1964, foi fruto de um arranjo

político já tradicional desde o período da independência (1808-1822), uma

política elitista e excludente com o poder exercido pelas classes superiores.

Essa política concentrou a renda na mão de uma pequena fração da população

(elite) durante o regime militar, aumentando o abismo econômico entre as

classes sociais no Brasil. Segundo os autores esse período de 1964 a 1985 pode

ser visto como uma fase terminal da Revolução Burguesa que teve início em

1930.

No segundo capítulo, analisam a repressão política no regime militar.

As perseguições de cidadãos civis e militares, a cassação dos direitos políticos,

a supressão das liberdades democráticas por meio da repressão jurídica, veio

presidida da repressão física dos opositores do regime militar. Ferreira e Bittar,

abordam a repressão ideopolítica aplicada pelo regime em todos setores da

sociedade. Citam Cerqueira, que analisa a repressão aos intelectuais, artistas,

estudantes, cinema e seus diretores, a música popular, seus cantores e

compositores, principalmente a bossa nova com identificação a questão social.

Esse obscurantismo atinge a universidade, com expulsão de físicos, médicos,

juristas, historiadores, cientistas sociais, entre outros.

Apresentam um quadro com todos aparelhos de repressão de Estado

para fechar este capítulo.

Para os autores no terceiro capítulo, a transição democrática

protagonizada pela sociedade brasileira que caracterizou-se por apresentar no,

âmago do processo, elementos de continuidade e de ruptura com a

modernização conservadora.

Abordam que a Igreja Católica promoveu a expansão quantitativa das

comunidades eclesiásticas de base, que desempenharam um papel

preponderante no surgimento de movimentos sociais que questionavam o

modelo econômico do regime militar. Analisam as sucessões presidenciais, as

crises econômicas, a eleição nacional de 1974 e as eleições parlamentares de

1974 e 1978, como fatos importantes que levaram ao processo de

proletarização do professorado.

Ferreira e Bittar, afirmam que o término desta fase foi marcado por três

acontecimentos que se articulavam no âmbito do processo da transição

democrática, a revogação do AI-5 (1978), a ascensão social do novo

movimento sindical, impulsionado pelo crescimento industrial, que estava

assentado numa concepção de luta operária vinculadas às organizações por

local de trabalho e por fim, mudanças no comportamento sociopolítico das

classes médias na forma de inserir e de organizar no interior das relações

sociais de produção capitalistas, isto é, formação organizada de categorias

profissionais das classes médias, que se incluíram em razão de interesses de

vida e de trabalho no movimento sindical geral dos trabalhadores.

No quarto capítulo, os autores abordam a origem social dos professores,

por meio do modo de produção do capitalismo urbano industrial que

influenciaram nas formações sócio econômicas historicamente dadas, as

classes sociais são sempre produtos decorrentes de caráter da propriedade dos

meios de produção, da forma de organização e da distribuição/consumo da

produção que as caracterizam.

Esses processos definem a classe de onde originam-se os professores.

Análises feitas no Brasil mostram que, pela origem social, profissão e renda

dos pais e maridos, os professores pertencem às classes médias.

Para os autores, o crescimento da classe média aumentando o efetivo

quantitativo no conjunto da população economicamente ativa, influencia o

crescimento econômico e confirma a tendência histórica de achatamento

salarial que remunera essa mesma força de trabalho não vinculada diretamente

às riquezas materiais. Apontam duas vertentes das estruturas de classes da

sociedade brasileira na década de 1970 que formaram a nova categoria de

professores. A primeira foi a burguesia ou das altas classes médias que

sofreram uma proletarização no curso da monopolização das relações de

produção capitalista. A segunda surge da massificação da educação

universitária e a facilitação do acesso das classes médias baixas ou camadas

dos trabalhadores urbanos. Neste período os professores com sua organização e

mobilização sindical passaram a ser uma categoria importante no universo

social das classes médias.

No quinto capítulo, Ferreira e Bittar fazem uma abordagem das

reformas educacionais do professorado durante o regime militar. As leis

criadas pelo regime militar implementaram reformas jurídicas no campo

educacional, leis que reorganizaram o ensino superior, reestruturou o antigo

primário e ginásio, criando o ensino de 1º e 2º graus.

Segundo os autores, o professorado não tinha mais o perfil do passado,

com origem nas camadas médias urbanas e nas próprias elites. Com as

mudanças estruturais do pais e as reformas, essa categoria não se assemelha

mais com a anterior e fica submetida a condições de trabalho diversas e

desfavoráveis. Essas condições levaram o professorado brasileiro a um

processo de arrocho salarial e deteriorou as condições de vida e trabalho, tanto

que o fenômeno das greves entre 1970 e 1980, tiveram como base objetiva de

manifestação a própria existência material dos professores públicos estaduais

de 1º e 2º graus.

Abordam que o achatamento salarial e a rápida queda no padrão de vida

e de trabalho do professorado acabou por desenvolver uma consciência

política, tal como já estava posta para a classe operária fabril. A categoria dos

professores do ensino básico, conquistou a identidade sociopolítica que a

colocava nos anos 1980, como uma das mais importantes interlocutoras da

educação pública.

Os autores concluem a obra abordando que, a manutenção e o

recrudescimento de traços estruturais do passado na nova ordem institucional

inaugurada com o fim da ditadura militar, impediram que a democratização

ultrapassa-se os limites do âmbito político. O agravamento das condições de

vida e de trabalho dos professores na década de 1990, em todo o Brasil, fez

levas de docentes abandonarem a profissão pela impossibilidade de subsistirem

do seu próprio trabalho.

Para Ferreira e Bittar, a mercantilização da educação teve um impacto

negativo no processo de formação de professores, o principal agente

educacional na construção da escola pública e contemporânea. A ditadura

militar com suas reformas educacionais colocou em extinção a antiga carreira

(profissionais liberais) e criou a atual categoria dos professores do ensino

básico. Esse processo com o rebaixamento das condições econômicas e a

formação acadêmica dos professores, foi uma combinação perversa que vem se

constituindo num dos principais problemas da escola pública até os dias atuais.