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Projeto: língua nacional Olá professor(a), Este projeto tem como objetivo sugerir diferentes propostas para o trabalho com a língua nacional. Para entender o que aqui se chama de língua nacional, vale o registro de que, no Brasil, temos a língua portuguesa como oficial (reconhece-se aqui outras línguas que não são oficiais, como as de comunidades indígenas); entretanto nossa língua portuguesa foi afetada por outras línguas que a transformaram e a tornaram muito singular, quando comparada aos outros países que também falam a língua portuguesa. Escolas de Língua Portuguesa, no mundo, sempre têm turmas que querem aprender o português de Portugal e turmas que querem aprender o português do Brasil. Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua portuguesa, e compreendê-los como um traço muito particular e significativo da nossa cultura. Imagem disponível em http://pixabay.com/pt/brasil-pavilh%C3%A3o-rodada-bot%C3%A3o-150403/?oq=brasil Acesso em 26 de abril de 2014. Introdução Como introdução, sugere-se dois momentos: um, para o professor e outro, para o aluno. Para o professor, são sugeridas as seguintes leituras:

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Page 1: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Projeto: língua nacional

Olá professor(a),

Este projeto tem como objetivo sugerir diferentes propostas para o trabalho com a língua

nacional. Para entender o que aqui se chama de língua nacional, vale o registro de que, no Brasil,

temos a língua portuguesa como oficial (reconhece-se aqui outras línguas que não são oficiais,

como as de comunidades indígenas); entretanto nossa língua portuguesa foi afetada por outras

línguas que a transformaram e a tornaram muito singular, quando comparada aos outros países

que também falam a língua portuguesa. Escolas de Língua Portuguesa, no mundo, sempre têm

turmas que querem aprender o português de Portugal e turmas que querem aprender o português

do Brasil.

Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua portuguesa, e compreendê-los

como um traço muito particular e significativo da nossa cultura.

Imagem disponível em http://pixabay.com/pt/brasil-pavilh%C3%A3o-rodada-bot%C3%A3o-150403/?oq=brasil – Acesso em 26 de abril de 2014.

Introdução

Como introdução, sugere-se dois momentos: um, para o professor e outro, para o aluno. Para o professor, são sugeridas as seguintes leituras:

Page 2: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Fonte: http://www.skoob.com.br/livro/39613-portuguEs_ou_brasileiro

http://talubrinandoescritoschapadadoarapari.blogspot.com.br/2010/12/preconceito-que-cala-lingua-que.html

Os livros pertencem ao autor Marcos Bagno. Para conhecê-lo melhor, segue um link para uma de suas entrevistas:

http://talubrinandoescritoschapadadoarapari.blogspot.com.br/2010/12/preconceito-que-cala-lingua-que.html

Para os alunos, sugere-se a música de Caetano Veloso — o musicista, ensaísta e poeta caminhará neste projeto inúmeras vezes.

Língua

Caetano Veloso

Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões

Gosto de ser e de estar

E quero me dedicar a criar confusões de prosódia

E uma profusão de paródias

Que encurtem dores

E furtem cores como camaleões

Gosto do Pessoa na pessoa

Da rosa no Rosa

E sei que a poesia está para a prosa

Assim como o amor está para a amizade

E quem há de negar que esta lhe é superior?

E deixe os Portugais morrerem à míngua

"Minha pátria é minha língua"

Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó

O que quer

O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas

E o falso inglês relax dos surfistas

Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!

Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda

E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate

E - xeque-mate - explique-nos Luanda

Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo

Page 3: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Sejamos o lobo do lobo do homem

Lobo do lobo do lobo do homem

Adoro nomes

Nomes em ã

De coisas como rã e ímã

Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã

Nomes de nomes

Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé

e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó

O que quer

O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção

Está provado que só é possível filosofar em alemão

Blitz quer dizer corisco

Hollywood quer dizer Azevedo

E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo

A língua é minha pátria

E eu não tenho pátria, tenho mátria

E quero frátria

Poesia concreta, prosa caótica

Ótica futura

Samba-rap, chic-left com banana

(- Será que ele está no Pão de Açúcar?

- Tá craude brô

- Você e tu

- Lhe amo

- Qué queu te faço, nego?

- Bote ligeiro!

- Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!

- Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!

- I like to spend some time in Mozambique

- Arigatô, arigatô!)

Nós canto-falamos como quem inveja negros

Que sofrem horrores no Gueto do Harlem

Livros, discos, vídeos à mancheia

E deixa que digam, que pensem, que falem.

Disponível em http://letras.mus.br/caetano-veloso/44738/ - Acesso em 26 de abril de 2014.

Atividades iniciais de introdução

Peça que os alunos procurem em dicionários, livros de literatura, internet informações sobre os seguintes trechos da música:

Quem é ou o que é? Luís de Camões

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paródias

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Pessoa (Fernando Pessoa)

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Rosa (Guimarães Rosa)

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Mangueira (Rio de Janeiro)

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imperialistas

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Carmem Miranda

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Scarlet Moon

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Page 5: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Chevalier

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Glauco Mattoso

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Barnabé

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Maria da Fé

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Flor do Lácio

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Hollywood

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Azevedo (Aloísio Azevedo)

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Gueto do Harlem (Harlen)

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Mozambique (Moçambique)

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Luanda

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Recôncavo (Bahia)

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Para ouvir a música: https://www.youtube.com/watch?v=tX7cqBreLUY

O Dramaturgo Luiz Antonio Ribeiro, definido pelo blog — http://literatortura.com/2013/09/cancao-lingua-caetano-veloso-minucioso-tratado-lingua-portuguesa/ —, como ―dramaturgo, letrista, crítico e flamenguista‖, é bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, e, sobre a música de Caetano, publicou o seguinte texto, no mesmo endereço eletrônico.

Este texto irá auxiliar o professor na discussão da música de Caetano Veloso.

As discussões sobre nossa Língua Portuguesa sempre suscitaram muitas questões que, na maioria das vezes, não puderam ser respondidas com precisão ou sem levar em conta idiossincrasias pessoais e de um momento histórico. Acontece que toda discussão da língua é uma meta-discussão que inclui, em si, as impossibilidades da própria. De qualquer forma, sempre me interessou a relação que temos entre gramática, uso comum e diferenças com o português de Portugal. O linguista Marcos Bagno, no livro Português ou Brasileiro?, questiona se ainda falamos português ou já podemos dizer que somos falantes e viventes de uma língua ―brasileira‖. Questões teóricas à parte, o que se pode dizer é que a língua é sempre viva e deve ser celebrada por aquilo que ela manifesta: a cultura, a música, a arte, o pensamento, enfim, as subjetividades.

Para isso, resolvi analisar, passo a passo, a canção Língua, de Caetano Veloso, a fim de esmiuçar diversas questões sobre nossa língua mãe nela expostas. Como metodologia, a matéria seguirá assim: cito a letra de Caetano e, embaixo, faço a breve análise referente ao trecho.

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Língua Caetano Veloso

Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões

A canção começa, não por acaso, com a palavra ―gosto‖, que pode remeter também ao gostar, no sentido comum, de ter preferência por algo, como também do sentido do paladar – língua como parte do corpo e não como apenas linguagem, objeto da fala, o que é criado no horizonte de expectativa criado por Caetano.

Gostar de roçar a língua de Luís de Camões é quase uma celebração sexual do encontro das duas pontas de nossa língua: a falada pelo poeta português escritor d’Os Lusíadas, principal formatador do que conhecemos como Língua Portuguesa, com aquilo que se tem de mais contemporâneo: a música popular e a língua do rap.

Gosto de ser e de estar

Gostar de ser e de estar é se ver diferente e, quem sabe, melhor do que a Língua Inglesa, na qual o verbo to be concentra os dois em apenas um. Enquanto ser remete a uma permanência, a uma possibilidade de essência, o estar é uma posição transitória, um estado, coisas que não podem ser expressas, pelo menos não com nossa precisão, pela língua anglo-saxã.

E quero me dedicar a criar confusões de prosódia E uma profusão de paródias

Que encurtem dores E furtem cores como camaleões

Eis a função do poeta: confundir prosódias, ou seja, tipos de fala, sotaques, ritmos, acentos, misturando tudo em um amálgama poético. Profundir paródias, também uso do poeta, está ligado ao fato de Caetano, entre outras coisas, se utilizar do rap para contar sua história da língua.

A paródia é um termo grego que vem de para – ao lado (paralela) e odes (canto), então uma paródia é uma forma de cantar ao lado, que se refere ao original, mas transformando e, muyitas vezes, ironizando o texto de referência. No caso de Língua, Caetano canta ao lado de um estilo fixo – o rap – o seu rap celebração, cuja função seria, segundo ele, encurtar as dores e furtar as cores (quem não se lembra daquelas réguas furta-cor que usávamos na infância?), como um camaleão.

Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa

Aqui temos a utilização dupla dos substantivos: Pessoa – Fernando Pessoa e Rosa – Guimarães Rosa, ambos sendo, ao mesmo tempo, pessoas e rosas.

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E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade

E quem há de negar que esta lhe é superior?

A relação entre amor e amizade foi muito explorada no decorrer da nossa história. Segundo Aristóteles, a amizade é superior ao amor, porque dela se extrai uma relação moral, ou seja, existe nela uma incondicionalidade da bondade, diferente do pathos do amor, que gera uma espécie de cegueira e engano no amador. É por isso que Caetano afirma, nesse ponto, que a poesia está para prosa, assim como o amor está para a amizade: a prosa é controlada, moral, útil, enquanto a poesia é o extravasamento do sentimento, mesmo que isto represente um fato ―imoral‖.

E deixe os Portugais morrerem à míngua “Minha pátria é minha língua”

Fala Mangueira! Fala!

“Minha Pátria é minha língua” é uma frase do poema de O Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa, no qual ele diz que seu apego não está ligado à nação, à pátria como um território, uma terra, que tudo isso lhe pode ser retirado, mas sua língua é sua grande referência de sentimento nacional, de pertencimento. Por isso, em língua, “minha pátria é minha língua” se resume, apenas, em “Fala Mangueira”, para dar voz à nossa voz.

Flor do Lácio Sambódromo

Lusamérica latim em pó O que quer

O que pode esta língua?

Última Flor do Lácio é como ficou conhecida nossa Língua Portuguesa. As línguas neolatinas são todas conhecidas como línguas do ―lácio‖, região europeia. O termo chega até nós pelo poema de Olavo Bilac, lembrando que o português é chamado de inculto justamente por que vem do latim vulgar:

“Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura”

Sambódromo é uma das palavras mais recentes do português, criação tipicamente brasileira que mistura samba – de origem africana – e o sufixo dromos – do grego, lugar onde se corre (autódromo, kartódromo).

Flor do Lácio Sambódromo é contar a história de nossa língua em uma linha.

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Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas E o falso inglês relax dos surfistas

Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!

A sintaxe dos paulistas é conhecida por grande parte de nossa população; por isso, vou dar apenas um exemplo: aquela parte italianada, principalmente da Mooca que se utiliza de frases, como: Mas vê se não ME pega uma gripe! Mas vê se não ME fica na chuva! Esse ―me‖ sem função sintática, apenas de cunho enfático representa bem aquilo que Caetano tentou dizer.

O falso inglês relax dos surfistas é aquele do: “po brother…coé…mó vibe…”. Precisa dizer mais?

Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda

E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate E – xeque-mate – explique-nos Luanda

Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo

Quem não conhece, devia conhecer a dicção que Caetano destaca de Carmem Miranda. Ela possui uma forma única de cantar - apressada, silábica, rítmica, percussiva - apenas alguns dos motivos que fizeram os americanos se apaixonarem pelo seu canto.

Vídeo de Carmem Miranda: https://www.youtube.com/watch?v=e4WZVQAh_Hw

A questão é que, de certa forma, ficamos ―mirandados‖, ou seja, mesmo que Carmem negue, ficamos ―americanizados‖, e foi preciso um Chico Buarque nos trazer de volta para África – e o fez – com a canção Morena de Angola, que nos religa, definitivamente, com Luanda, apesar da televisão afirmar e tentar nos criar para o contrário.

Sejamos o lobo do lobo do homem Lobo do lobo do lobo do homem

Thomas Hobbes afirmou que “o homem é o lobo do homem”- para dizer que somos nossos próprios algozes e agentes de nossa própria destruição, e, de certa forma, servimos de alimento a nós mesmos. O Movimento Antropofágico Brasileiro, a partir do manifesto de Oswald de Andrade, se utiliza do conceito que Caetano resignifica na canção: ser o lobo do lobo do lobo do lobo do homem…

Trata-se de um movimento espiral e infinito de se alimentar de todas as culturas, manifestações, estilos e proposições culturais, incorporá-las e transformá-las para nosso contexto. Se o homem é o lobo do homem, é preciso, então, comer o lobo e comer o homem.

Adoro nomes Nomes em ã

De coisas como rã e ímã Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã

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Adorar os nomes em ã tem a ver com o fato de que o til, o som nasal na vogal A fazendo um Ã-AN como diferença estrutural é uma das características principais do português. Adorar nossa língua é, por fim, adorar nosso til.

Nomes de nomes Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé

e Maria da Fé

Quem não conhece alguém que tenha um nome baseado em um nome de outra pessoa? Scarlet Moon de Chevalier é Scarlet Moon, uma brasileira – de Chevalier – esposa de Lulu Santos, falecida há pouco tempo. Glauco Mattoso é o poeta concreto que tem esse nome porque tinha um glaucoma que poderia matá-lo. Maria da Fé – é de nossas eternas Marias com nomes filhotes da mãe de Jesus! Eis a formação dos nomes brasileiros com seus Allain Dellons da Silva, gêmeas Grace e Kelly, entre outros.

Se você tem uma ideia incrível é melhor fazer uma canção Está provado que só é possível filosofar em alemão

Como a filosofia tradicional é, em geral, toda alemã, cria-se uma ideia de que aqui não se faz filosofia. Creio que faz, mas uma filosofia ainda mais intensa, como a dessa canção que agora analiso. Concordo com Caetano: se houver uma ideia incrível – faça uma canção e deixe as filosofias para a Alemanha; afinal, algumas violências vieram justamente dessas filosofias.

Blitz quer dizer corisco Hollywood quer dizer Azevedo

E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo

Atualmente esses termos, como Blitz ou Hollywood, já foram incorporados à nossa língua, mas é possível, em alguns dicionários antigos, realmente ver que a cidade dos filmes americanos vem de uma palavra que era traduzida aqui como ―Azevedo‖. Não consegui achar o motivo, não há registros, mas só a menção numa canção já é um registro, ou não?

A língua é minha pátria E eu não tenho pátria, tenho mátria

E quero frátria

A pátria, pelo termo, vem daquele que é nosso pai. Assim, a língua, representante da pátria, seria uma espécie de pai. Entretanto conhecemos o português como ―Língua mãe‖ e até nosso país é mãe até em nosso hino: “dos filhos desse solo, és MÃE gentil, pátria amada, Brasil.”

No entanto, tanto a imagem do pai como da mãe, desde as questões freudianas até as foucaultianas, são palco de traumas e poderes. Caetano, então, propõe que a língua seja frátria – irmã – e que esteja ao lado, não por cima, numa hierarquia.

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Poesia concreta, prosa caótica Ótica futura

Samba-rap, chic-left com banana (- Será que ele está no Pão de Açúcar?

- Tá craude brô - Você e tu - Lhe amo

- Qué queu te faço, nego? - Bote ligeiro!

- Arigatô, arigatô!)

Caetano, aqui, aponta nossos usos e nossos futuros: por um lado, uma poesia concreta e uma prosa caótica, ao lado de um samba-rap, ritmo da própria canção que ele fez, e de outros vários usos da nossa língua pelo nosso povo, das maneiras mais diversas, misturando inglês, vozes verbais, mudando inclusive o uso dos pronomes.

Nós canto-falamos como quem inveja negros Que sofrem horrores no Gueto do Harlem

Livros, discos, vídeos à mancheia E deixa que digam, que pensem, que falem.

E, para finalizar, nossos invejosos daqui, das línguas de lá, querendo imitar os americanos e seu jeito medíocre e quase tribal de falar (uma língua de apenas justaposições, sem nada de arco-íris, apenas arcos de chuva [rainbow]). Enfim, inveja essa para quê?

Sendo assim, que fale nossa canção, que fale Jair Rodrigues: deixa que digam, que pensem, que falem.

Vídeo de Jair Rodrigues: https://www.youtube.com/watch?v=LRkyLtoITNc

Referências do autor do texto:

Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro

Twitter: http://www.twitter.com/ziul

Vamos caminhar juntos: de onde veio a língua portuguesa? E a língua brasileira portuguesa, língua nacional?

Posteriormente às atividades e à discussão, caso seja possível, propõe-se uma visita ao museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. O museu se encontra na Estação da Luz.

Veja um link sobre o museu: https://www.youtube.com/watch?v=Z7zMR1TIF6s - A partir dos 2 minutos.

Para aqueles que não podem conhecer o museu, em determinado momento do trajeto pelos

artefatos que lá se encontram, um belíssimo vídeo é exibido, mostrando de onde vem a língua

portuguesa, com a narração maravilhosa de Fernanda Montenegro. Acesse o link a seguir para

visualizar o trabalho: https://www.youtube.com/watch?v=2LNopxcBVms

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Mostre para os alunos, posteriormente, os países e informações que falam a língua portuguesa no mundo.

País Área População Percentual do total de falantes

Região

10.730.678 258.456.615 98%

Brasil 8.510.767,089 201.032.714 78,58% America

Moçambique 801.590 22.061.451 8,85% África

Angola 1.246.700 20.609.300 6,59% África

Portugal 92.201 10.848.692 100% Europa Guiné-Bissau 36.544 1.586.000 0,66% África Timor-Leste 14.874 947.000 0,39% Oceania Cabo Verde 4.033 420.979 0,17% África São Tomé e Príncipe 1.001 157.000 0,06% África

Macau 28,63 538.000 0,04% Ásia

Guiné 28.051 616.459 0,01% África

Posteriormente, peça que os alunos indiquem, em um mapa-múndi, quais são esses países.

Neste momento, relembre, com os alunos, a história de como a língua portuguesa chegou ao Brasil. No mesmo mapa utilizado anteriormente, peça que os alunos liguem com uma seta todos os outros países e continentes que influenciaram a nossa língua portuguesa no Brasil, diferentemente da de Portugal, como:

O francês

O holandês

O espanhol

O italiano

O árabe

O japonês

As línguas Africanas

O inglês (EUA e Inglaterra)

E principalmente: as línguas de comunidades indígenas, como o Tupi e o Guarani.

Como a nossa língua é tão original?

Nesta parte, sugere-se que o professor trabalhe com os alunos a origem das palavras. Atividade de pesquisa

Procedimentos

1- Leia todos os procedimentos, antes de iniciar. 2- Leia todas as questões, antes de respondê-las. 3- Indique a fonte bibliográfica. 4- Procure consultar sites confiáveis (o professor pode orientar os alunos, pré-selecionando

algumas páginas que apresentam informações confiáveis e precisas).

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QUESTÃO 01 DETERMINE a origem das palavras que foram incorporadas à língua portuguesa do Brasil, preenchendo o quadro a seguir, como no modelo. Ao final, REGISTRE a fonte de sua pesquisa (web)

ORIGEM DAS PALAVRAS

Palavra na língua portuguesa

Origem estrangeira da palavra

Significado da palavra no dicionário

Imagem

Abajur francês Objeto para iluminar mesas ou quartos.

Ateliê

Baguete

Bangalô

Basquetebol

Batom

Page 14: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Bege

Bife

Bijuteria

Bistrô

Blecaute

Boate

Boxe

Bufê

Page 15: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Buquê

Capô

Carrossel

Cassetete

Chique

Chofer

Clipe

Comitê

Page 16: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Coquetel

Creme

Croquete

Cupom

Debutar

Decolagem

Esporte

Esqui

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Estresse

Folclore

Guichê

Maiô

Maquiagem

Menu

Náilon

Nocaute

Page 18: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Omelete

Piquenique

Purê

Rali

Repórter

Suéter

Tênis

Page 19: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Teste

Time

Toalete

Voleibol

Abacaxi

Anhangabaú

Bauru

Page 20: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

Boipeba

Buriti

Catapora

Gambá

Lista de 10 palavras incorporadas ao

português do Brasil e que vieram do

Continente Africano

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Fonte das pesquisas realizadas (de acordo com ABNT):

Ao terminar o exercício desta atividade e corrigi-la, propõe-se que os estudantes pesquisem, em

livros de gramática, conceitos para os termos a seguir.

Esses termos são importantes para se compreender as diferença entre os idiomas.

Ao final, peça aos alunos que os conceitos sejam lidos em voz alta e que eles comparem as

diferentes definições encontradas.

Atividade de pesquisa:

QUESTÃO 01 CONCEITUE os termos a seguir, exemplificando, quando possível.

Page 22: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

VARIEDADE LINGUÍSTICA

CONCEITO 1

FONTE

CONCEITO 2

FONTE

EXEMPLOS

NORMA-PADRÃO

CONCEITO 1

FONTE

Page 23: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

CONCEITO 2

FONTE

EXEMPLOS

GÍRIA

CONCEITO 1

FONTE

CONCEITO 2

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FONTE

EXEMPLOS

Considerações finais

Sugere-se, agora, alguns vídeos e documentários sobre a língua portuguesa. Destacam-se três

deles e, aqui, seus links foram disponibilizados:

1º- Programa Língua Viva - (UNESP): https://www.youtube.com/watch?v=7STbGmSB6hw

―A partir do cotidiano de uma família brasileira de classe média, o documentário "Língua Viva" mostra as variações do

uso da Língua Portuguesa, principalmente por meio do contato com as novas tecnologias (Internet, celular, redes

sociais) e suas influências na oralidade e na escrita. Os temas abordados no dia a dia familiar são aprofundados com

depoimentos de especialistas da área da linguística. Entre os assuntos discutidos, destacam-se as variações no uso

da língua entre as gerações e nas diversas situações de comunicação, uso de gírias e estrangeirismos e abreviações

da escrita, sem esquecer o papel da escola nesse contexto. Assista, divirta-se e aprenda com as experiências da

família Souza no "Língua Viva".

2º - Português, a língua do Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=-bbT7QmdNSE

O documentário apresenta depoimentos de 16 Acadêmicos, membros da Academia Brasileira de Letras, sobre o

atual estado da Língua Portuguesa. A nossa realidade idiomática é mostrada com as cores do Brasil na experiência

personalíssima de cada Acadêmico. O diretor escolheu como cenário a Casa de Machado de Assis que,

simbolicamente, representa a Casa da Língua Portuguesa. No documentário, os depoimentos se sucedem,

registrados sempre com a presença do próprio Nelson, o grande anfitrião deste encontro de notáveis.

Page 25: Projeto: língua nacional · Para entender o que aqui se chama de língua nacional, ... Este projeto procura identificar esses traços específicos da língua ... Sejamos o lobo do

3º - Língua: vidas em português

Direção: Nelson Pereira dos Santos Gênero: Documentário Origem: Brasil Ano: 2007 Duração: 72 minutos Tipo: Longa-metragem https://www.youtube.com/watch?v=sTVgNi8FFFM

―Todo dia, duzentas milhões de pessoas levam suas vidas em português. Fazem negócios e escrevem poemas. Brigam no trânsito, contam piadas e declaram amor. Todo dia a língua portuguesa renasce em bocas brasileiras, moçambicanas, goesas, angolanas, japonesas, cabo-verdianas, portuguesas, guineenses. Novas línguas mestiças, temperadas por melodias de todos os continentes, habitadas por deuses muito mais antigos e que ela acolhe como filhos. Língua da qual povos colonizados se apropriaram e que devolvem agora, reinventada. Língua que novos e velhos imigrantes levam consigo para dizer certas coisas que nas outras não cabe.‖

Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-174906/