projeto latino americano - tie-brasil.org - encontro sindical do cone sul... · relatório do...

24
Projeto Latino Americano O Movimento Sindical Diante Dos Desafios Da Crise Relatório do Encontro de Intercâmbio Sindical do Cone Sul Transnationals Information Exchange 2002

Upload: vuonglien

Post on 06-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Projeto Latino Americano

O Movimento SindicalDiante Dos Desafios

Da Crise

Relatório do Encontro de IntercâmbioSindical do Cone Sul

Transnationals Information Exchange2002

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

Publicado por: Transnationals Information ExchangeTexto: Taller de Estudios Laborales - TEL-ArgentinaTradução: Maurício MinolfiEditor: Sérgio Luís BertoniCapa: TIE -BrasilImpresso em Abril de 2002.

O conteúdo dessas palestras foi desenvolvido durante asreuniões e debates ocorridos no Primeiro Encontro deTrabalhadores no Cone Sul realizado em Buenos Aires emjaneiro de 2002.

© 2002, Transnationals Information Exchange

TIE – Transnationals Information Exchange 2

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

Projeto Latino Americano

O Movimento SindicalDiante Dos Desafios

Da Crise

Relatório do Encontro De IntercâmbioSindical Do Cone Sul

(Buenos Aires, 20 a 22 de Janeiro de 2002)

Este seminário e publicação somente forampossíveis graças ao apoio de

P.S.O.

TIE – Transnationals Information Exchange 3

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

ÍNDICE

Introdução 5

O Encontro 7

A Mesa Redonda-Debate 8

Anotações sobre as intervenções 12

TIE – Transnationals Information Exchange 4

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

Movimento Sindical

diante dos desafios da crise”

Introdução

Durante os dias 20, 21 e 22 de Janeiro de 2002,respondendo a uma convocatória do Taller de EstudiosLaborales (TEL), sindicalistas de Brasil, Uruguai, Chile e denosso país reuniram-se para analisar e debater os principaisproblemas e desafios que enfrenta o movimento sindical eoperário na atualidade.

Colaboraram com a organização do encontro osescritórios de Transnationals Information Exchange (TIE) deBrasil e Chile.

A proposta foi oferecer um espaço, por fora dos âmbitosorgânicos de discussão e decisão, onde os assistentespudessem refletir e trocar idéias, colocando livremente dúvidas,idéias não elaboradas totalmente, e preocupações.

Consideramos que esse tipo de espaços informais sãosempre necessários, já que os compromissos e obrigações dosâmbitos orgânicos colocam inevitavelmente certas limitações àreflexão coletiva. Mas, são ainda mais necessários emmomentos de crise e de mudanças rápidas como as queestamos vivendo, já que enfrentamos desafios graves eurgentes, com muitas novidades, e muitas verdades préviasresultam, pelo menos, insuficientes.

TIE – Transnationals Information Exchange 5

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

A possibilidade de realizar este reflexão junto àmilitantes de diferentes ramos de produção, com diferentesníveis de responsabilidade e provenientes de vários países eprovíncias fizeram com que o mesmo fosse ainda maisinteressante.

Não tínhamos nos proposto chegar a acordos econclusões específicas, e por isso a discussão girou em torno detemas mais gerais. No entanto, acreditamos que o resultado nãofoi uma divagação sem objetivos – já que os participantes sãotodos militantes diretamente vinculados e comprometidos comlutas sociais e políticas concretas dos Trabalhadores e do povo.Nossa aposta é que todos levem deste encontro conceitos,contatos e propostas de ação que sirvam para elevar suacapacidade de luta cotidiana nos lugares de trabalho, nos seussindicatos e na sociedade.

Constam aqui as opiniões e conceitos mais destacados,no nosso entender, ditos e ouvidos durante o Encontro Sindical doCone Sul. Podemos concordar com alguns e discordar comoutros. De fato, nós do TEL não concordamos com muitos deles.Apesar disso, acreditamos que são úteis para estimular, ordenar eenriquecer a análise política. Constituem temas e idéias paraserem incorporadas num debate que apenas começa.

Agradecemos ao TIE, a Casa de Nazareth, a FederaçãoJudicial Argentina, a ATE-Sur e a todos os companheiros eorganizações que de uma ou outra maneira colaboraram para queeste encontro fosse possível.

TALLER DE ESTÚDIOS LABORALESBuenos Aires, Março de 2002.

TIE – Transnationals Information Exchange 6

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

Organização e outras atividades

A atividade central do encontro foi um debate emplenária com a presença de uma quantidade limitada deconvidados realizado durante os dias 21 e 22 de Janeiro.

O 22 pela noite foi organizada uma Mesa Redonda-Debate aberta ao público.

Simultaneamente, foram organizadas atividades paraque os convidados estrangeiros pudessem entrar em contatocom organizações populares.

O Encontro

O funcionamento foi em forma de plenária durante duasjornadas. Com o objetivo de organizar minimamente o debate,foram propostos dois eixos de reflexão:

1 . O primeiro dia abordou-se os principais problemas edesafios do movimento sindical e operário na hora atual.

2 . Durante o segundo dia, o eixo proposto foi tarefas elinhas de ação do movimento sindical e operário.

O caráter aberto do temário procurava deixar espaçopara que os participantes pudessem colocar e compartirfrancamente suas principais inquietudes.

TIE – Transnationals Information Exchange 7

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

A Mesa Redonda-Debate

O 22 de Janeiro à tarde e como fechamento do encontrorealizou-se uma mesa redonda na qual se apresentaram, eforam colocadas em discussão, as principais idéias que surgiramdurante o encontro.

Aconteceu na Federação Judicial Argentina contandocom a presença de cerca de 100 pessoas – pertencentes na suamaioria a organizações sindicais, sociais e políticas.

A atividades foi coordenada pelo TEL-Argentina e asexposições foram realizadas por um companheiro de cada país -eleito pelos integrantes de cada delegação. Nesse sentido, asexposições foram realizadas por Adi dos Santos Lima, de Brasil;Héctor Velázquez, de Chile; Luis Puig, del Uruguai; y LuisBazán, de Argentina.

Outras atividades

No Domingo, 20 de Janeiro, os convidados estrangeirosforam levados para observar a Primeira Assembléia Interbarrial –que reuniu no Parque Centenário delegados de dezenas deassembléias populares de Buenos Aires.

Segunda 21, de manhã, vários participantes foram até aponte Pueyrredón para se solidarizar com os Trabalhadoresdesempregados da região sul da Grande Buenos Aires, quehaviam bloqueado essa via de acesso.

TIE – Transnationals Information Exchange 8

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

Realizaram-se também entrevistas com deputadosfederais e com a presidenta das Mães da Praça de Maio, Hebede Bonafini.

Comentários sobre o Debate

Além do caráter internacional do evento, a situação quevive o nosso país fez com que o debate fosse centralizado naArgentina. Os convidados internacionais, solidariamente, fizeramum esforço para entender uma realidade relativamente diferentee muito complexa, acabando por analisar tudo a partir daexperiência histórica dos seus próprios países.

Houve diferentes caracterizações a situação queatravessa o país, destacando-se a importância e ao mesmotempo a dificuldade de fazer esta reflexão “no mesmo momento”em que os fatos estavam ocorrendo.

Houve acordo no que se refere ao caráter estrutural eintegral da crise. Alguns falaram sobre a crise do modelo neo-liberal, enquanto que outros referiram-se a uma crise do sistemacapitalista na Argentina.

Diante disto, observou-se o caráter desigual, setorial efragmentado da mobilização e do seu conteúdo ideológicoheterogêneo.

Em geral, houve acordo em assinalar as limitações domovimento sindical para orientar e elevar a luta popular, emboraisso tenha sido atribuído a diferentes causas.

TIE – Transnationals Information Exchange 9

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

Existiram numerosas perguntas e questionamentos,embora com diferentes matizes, sobre o papel das organizaçõessindicais durante as jornadas de 19 e 20 de dezembro. Oquestionamento apontou a ausência das mesmas durante osfatos ocorridos e também nos dias que se seguiram.

Para explicar isso, alguns enfatizaram as concepçõespolíticas e ideológicas da maioria dos dirigentes sindicais,enquanto que outros destacaram a fragmentação social daclasse trabalhadora e as suas limitações ideológicas e políticas,a partir de concepções predominantes no seu interior.

Mas no geral, houve acordo em reconhecer as forteslimitações expressadas pelo movimento operário paradesenvolver um papel principal e dar respostas adequadas aosdesafios do momento.

Houve importantes diferenças em relação ao papel quepoderiam haver desempenhado os sindicatos num situação decrise como a atual. Enquanto alguns afirmavam que ossindicatos pela sua natureza não podem dar as respostasnecessárias, outros opinaram que os sindicatos podemdesenvolver um papel de relevo nesta situação.

Houve numerosas intervenções, afirmando aimprescindível necessidade de transformar o movimento sindical.Enquanto que alguns falaram sobre aprofundar mudanças jáexistentes (os vinculados à CTA), outros (sem ligação anenhuma central) mencionaram a necessidade de começar estatarefa, resgatando somente experiências pontuais.

TIE – Transnationals Information Exchange 10

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

Foi proposto trabalhar numa perspectiva de construirorganizações operárias com independência de classe, reforçar aidentidade de classe e, a partir disso, definir uma política para oresto do campo popular.

Além da diversidade de visões, houve consenso sobre anecessidade de realizar o máximo dos esforços para que amobilização popular consiga uma perspectiva própria.

A generalidade e diversidade dos temas abordadosimpediu que se estudassem tarefas concretas, embora algumaspropostas foram efetuadas nesse sentido.

Houve acordo na necessidade de articular a organizaçãoe a luta sindical com as outras formas organizativas e de lutapopular (piquetes de desempregados, “panelaços”, ações deusuários, consumidores e pequenos poupadores, etc.)

Foi proposto, por exemplo, abrir os sindicatos para queem suas sedes funcionem as assembléias populares. Tambémforam mencionados exemplos de articulação entre a luta sindicale as reclamações de usuários.

Ocorreram numerosas intervenções que pediram paradeixar de lado os sectarismos e o dogmatismo e para que todomundo se dispusesse a ouvir e considerar visões ou propostasdiferentes das próprias.

Pediu-se que este debate fosse levado para os locais detrabalho e para coletivizar as propostas e inquietudes com amaior quantidade possível de trabalhadores.

TIE – Transnationals Information Exchange 11

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

Anotações sobre as Intervenções

Para relatar e compartilhar o conteúdo da discussãoreunimos num mesmo parágrafo as opiniões coincidentesretiradas. Apresentamos, também, a seguir, em forma resumida,anotações que fizemos sobre as diferentes intervenções asquais foram agrupadas por temas. Como pode ser observadoatravés da leitura, houve coincidências e diferenças.

Dadas as características deste encontro, decidimostranscrever as anotações que tomamos das diferentesintervenções, sem fazer referência ao expositor. Pensamos queneste tipo de debates o importante é resgatar o que foi dito enão quem o disse.

Além do mais, nada seria votado e o respaldo quantitativo dasdistintas posições não era relevante.

Nos parece importante destacar que conseguimosexpressar e discutir as diferentes opiniões, inclusive com críticase questionamentos diretos, com respeito e companheirismo.

A seguir, o que foi dito durante o debate:

Fragmentação e Isolamento

No Brasil, o modelo prejudicou os Trabalhadores, masos efeitos não foram somente econômicos. Dividiu edesmobilizou. É necessário estudar e denunciar os novosmétodos de produção e as estratégicas empresarias no local detrabalho.

TIE – Transnationals Information Exchange 12

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

Resistiu-se à privatização, mas houve aspectos impostospelas empresas privadas que não foram enfrentadas a fundo,como no caso do pagamento em espécie ou “bancarização” dossalários.

Há problemas em nível político-partidário, mas nos locaisde trabalho também os há. Lá as empresas aumentam aexploração e nos fazem enfrentar e competir entre nós com assuas novas estratégias e métodos de trabalho. Nenhumsindicato, inclusive a CTA, que possui uma linha falara sobreestes temas.

Para se opor à fragmentação e ao isolamento, deve-secontinuar no caminho, já transitado por muitos, de vincular a lutasetorial com resto da sociedade e unificar as relações e as lutascom os usuários, desempregados, terceirizados, da economiainformal, com vizinhos com problemas ambientais ou desegurança, etc. Vários concordaram em articular a luta sindicalcom o conflito social.

Outra forma de coordenar a luta sobre temas geraisentre todos os setores envolvidos é a discussão regional, comopropôs um companheiro argentino do setor de laboratórios (ondeperderam-se 20 mil postos de trabalho nos últimos anos) comrelação a um tema vital para toda a população como é o casodos medicamentos.

Para aumentar forças, é necessário “botar pra fora” osconflitos e vincular-se à comunidade, formando organizações deoperários e vizinhos.

Pedir nos locais de trabalho que sejam preenchidos ospostos de trabalho vagos. Fazer um bloco com osdesempregados para reclamar de dentro e de fora.

TIE – Transnationals Information Exchange 13

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

Falta de Comunicação e Desinformação

No Brasil, a direita utiliza na sua campanha eleitoral osacontecimentos da Argentina como prova de que eles têm razãosobre a necessidade de desenvolver os programas de ajuste.Por isso a importância deste tipo de encontros para conhecer osfatos e difundir a versão operária dos mesmos. Também sãonecessários para desenvolver formas de unidade. Há umacampanha de intimidação que vem sofrendo o PT e queproduziu assassinatos como o ocorrido com o prefeito de SantoAndré, no estado de São Paulo.

É necessário denunciar o chamado modelo chileno, queé mostrado pela direita como um exemplo (Dualde dissepublicamente que esse é o modelo que ele gosta). No Chile,passa a mesma coisa que no Brasil. O governo e a direitaadvertem que se o modelo não é mantido acontecerá a mesmacoisa que na Argentina – enquanto que a realidade é que a criseeconômica e a violência social argentinas são conseqüência daaplicação “a ferro e a fogo” do programa do grande capitaltransnacional, que com diferentes variantes vem sendo aplicadoem nossos países e em quase todo o mundo.

O movimento sindical deve desenvolver o seu próprioponto de vista e suas próprias propostas e encontrar a forma dechegar com isso ao conjunto dos companheiros.

A luta ideológica foi o eixo central em toda esta etapa. Omodelo neo-liberal se impôs porque muitos trabalhadores eamplos setores da população acreditaram que o mesmo era omelhor e, pelo menos, o único possível. Isto, junto ao temor de

TIE – Transnationals Information Exchange 14

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

perder o trabalho, fez com que muitos companheiros aceitassemresignados.

A divisão do movimento operário argentino é outro fatorde desinformação, já que impede unificar e centralizar também ainformação.

Divisão e Organização Sindical

Com relação ao governo Menem surgiram duas respostasopositoras dentro do movimento operário: a CTA e o MTA. Mas,apesar de que se afirma a unidade de ação, a mesma apenas éconcretizada.

A divisão só pode ser superada se há luta política eideológica. A discussão e a participação não dividem, mas,fortalecem.

Há que se romper com as práticas do passado, comoacreditar que se é dono da verdade. Falta convivência política,mas devemos ter cuidado com a política partidária. Os Sindicatosnão podem seguir funcionando do mesmo jeito e devem mudar.Hoje muitos Trabalhadores seguem afilados na marra só porqueexiste a “Obra Social” ou o “Hotel do Sindicato”.

Como aconteceu no Brasil, durante a década de 80, naArgentina faz falta uma profunda transformação do movimentosindical.

É preciso disputar a direção dos Sindicatos, superandotodas as dificuldades: pequena participação, perseguições, etc.Muitos dirigentes se confundem com um discurso crítico,enquanto dão aval na prática aos planos do capital. Foramapresentados casos onde a unidade para recuperar o Sindicato eresistir foi possível. Um caminho foi procurar as coisas que unem,

TIE – Transnationals Information Exchange 15

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

buscar pontos comuns que permitam construir acordos comoutros setores opositores.

Há um divórcio muito grande entre os dirigentes e o povo.Em nenhum Sindicato, trabalham. Há muitos que não possuemnenhuma representatividade e por isso se acertam com ospatrões porque são aqueles os únicos que lhes dão legitimidade.

Faz falta uma análise mais profunda que explique asituação do movimento sindical, que supere a discussão sobre osdirigentes e procure os fatores estruturais, ideológicos eeconômicos que afetaram aos Trabalhadores. Falta tambémanalisar como construir sob condições repressivas e de temor aodesemprego.

Há que quebrar com o conceito de delegação e avançarnas formas de democracia direta, especialmente num momentoonde não há quadros e é necessário formar novos.

A assembléia é a melhor ferramenta participativa,formativa e de democracia sindical.

No Chile, a baixa politização e consciência da base é umafonte de grande debilidade para os Sindicatos. Como Sindicato,temos a representação dos Trabalhadores e falamos em seunome, mas daí a conseguir mobilizá-los há uma distância. Poroutro lado, a parte dos sindicalizados é minoritária e o desafio écomo organizar o conjunto dos Trabalhadores. Temos que brigarmenos entre nós e não perder de vista quem é o nosso inimigo.Não delegar a construção da nossa força e a defesa de nossosinteresses no estado.

TIE – Transnationals Information Exchange 16

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

O medo do desemprego nos limita muito. Há ceticismo emamplos setores. Não reverter a redução salarial desmoralizou.Muitos companheiros participaram das mobilizações dos dias 19 e29, mas isso não refletiu na participação sindical que segue sendomuito baixa. A situação geral de mobilização não se reflete noslocais de trabalho.

Em muitas lutas sindicais a força veio da relação com acomunidade. Há que procurar a unidade na ação e desenvolverum pensamento próprio.

Os setores críticos e combativos devem quebraresquemas e aproveitar todos os espaços para que tenham outroconteúdo, atingir muitas pessoas e disputar a direção. Muitoscriticam a CTA, mas não reconhecem que lá sim se pode disputara direção.

Há que se combinar as reivindicações políticas com asdemandas concretas, já que é assim que se constrói. Nessesentido o debate sobre os planos “Trabajar” foi saldado na prática.Lutar para obtê-los permitiu mobilizar e organizar a milhares dedesempregados.

Os Sindicatos devem levantar com energia a bandeira daliberdade de Alí e de todos os lutadores presos e lembrar eprestar homenagem aos que caíram. Com medidas concretascomo enviar fax e cartas solidárias ou colocar nos locais sindicaise de trabalho placas que relembrem os mártires das jornadas dedezembro e organizando campanhas. É necessário assumir edefender a todos por igual sem especulações nem sectarismos.

Com relação à construção sindical hoje nos locais detrabalho, em meio às condições repressivas por parte das

TIE – Transnationals Information Exchange 17

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

empresas e também dos próprios Sindicatos o medo dodesemprego e da demissão que obrigam a tomar precauçõesestremas. É fundamental o trabalho sobre a consciência doscompanheiros. Os companheiros devem discutir política e decidir.Há que enfrentar uma forte ofensiva ideológica da patronal, mastambém velhos conceitos que nos fazem mal como o dadelegação, pela qual o delegado é o que deve solucionar osproblemas e conseguir benefícios para os companheiros.

Solidariedade e Luta Internacional

Deve-se avançar na construção efetiva da solidariedadeinternacional dos que lutam superando a falta de trabalho e acumplicidade dos grandes aparelhos sindicais internacionais.

A necessária articulação das lutas a nível internacionalchoca contra fortes orientações nacionalistas-protecionistaspresentes entre os Trabalhadores e nos Sindicatos. Essa visãoleva a priorizar os acordos com as patronais locais e a competircom os Trabalhadores de outros países. Devemos estudar comoresolver essa contradição.

É necessário chamar a atenção sobre a ameaça da ALCAe realizar um forte trabalho de denúncia e divulgação entre oconjunto dos Trabalhadores, já que se entre os dirigentes começaa ser conhecido o assunto e já aconteceram algumasdeclarações, na base é algo pouco conhecido e não háconsciência sobre os tremendos efeitos negativos que aaprovação desse tratado de livre comércio trará a nossos países eem especial à população trabalhadora.

TIE – Transnationals Information Exchange 18

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

Diante da ameaça da ALCA é correto defender oMercosul.

Saída da Crise e Papel dos Sindicatos

Existe um fracasso e desprestígio total: partidostradicionais, sindicatos, Estado, empresários. Embora nãoconseguimos disputar a direção da maioria dos Sindicatos, existeuma situação favorável para a construção de uma direçãoclassista.

O que agora está em discussão é um modelo que falhou.E se este não serve então outro é possível. Mas se deve procuraruma resposta do conjunto.

Houve ausência das organizações sindicais e dos seusdirigentes durante o levante popular de dezembro, colocando emdúvida se os Sindicatos são um instrumento válido para a lutapolítica que está colocada neste momento.

É falsa a oposição entre objetivos políticos e demandasconcretas (Plano “Trabajar”, por exemplo). Deve-se dar respostasàs necessidades e preocupações mais imediatas das pessoas. Háque tratar de conseguir reivindicações parciais porque as mesmasacumulam para a luta pelo fato de mudar a situação geral.

A saída da crise é um governo dos trabalhadores, masessa tarefa não pode ser realizada só pelos Sindicatos.O eixo da luta sindical hoje passa por defender o trabalho eresistir à redução salarial, mas ao mesmo tempo é necessárioquebrar a concepção de conciliação de classes e o pensamentoque afirma que governar é coisa para outras pessoas.

TIE – Transnationals Information Exchange 19

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

Nestes momentos, o Sindicato não é o âmbito deencontro e unidade de toda a classe. Faz falta uma novaorganização da classe e uma política própria.

Os objetivos básicos do Sindicato são defender aestabilidade, obter convênios favoráveis e atender socialmenteaos sócios. O movimento sindical tem limites e a forma deresolver a crise atual é política. Mas o surgimento de umaalternativa política dos Trabalhadores vai se dar quando existarecuperação da identidade de classe.

O setor mais dinâmico atualmente é o movimento dedesempregados. Por isso, deve-se avançar na aliança com eles.

Apesar da escassa participação do movimento sindical dolevante popular 19/20, o mesmo foi resultado de um longoprocesso de denúncias e resistências no qual o movimentosindical opositor teve muito a ver. Há havido lutas e novas formasde luta. O levante popular não pode ser entendido sem levar emconsideração as lutas prévias de Trabalhadores e Sindicatos.

A recomposição da força dos Trabalhadores é, primeiro,política e depois sindical. O mais urgente, portanto, é aconstrução de um projeto político. Alternativa política ereestruturação sindical andam de mãos dadas. Os distintosmodelos sindicais expressam projetos políticos prévios.

Diante da crise, a tarefa é construir uma alternativa degoverno. O movimento sindical é apenas uma parte do movimentooperário, que é quem expressa os interesses históricos da classetrabalhadora. Na Argentina, o movimento operário não é a colunavertebral nem o cérebro do movimento popular. Falta organização

TIE – Transnationals Information Exchange 20

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

autônoma da classe. A tarefa é construir poder popular com apolítica de Frente Único pela base. Formar órgãos ágeis dediscussão e direção política. Se não há saída popular para a crisevá ocorrer outra com repressão e mais exploração. Agora não hátempo de reestruturar o movimento sindical. A saída é política enão sindical.

Faz falta uma plataforma mínima em torno dos direitosdemocráticos e das necessidades básicas. É necessário intervircom colocações claras, que permitam obter algumas conquistasconcretas. O movimento sindical não deve ficar só nareivindicação. Deve oferecer seus locais aos distintos setoresmobilizados.

Ninguém dirige tudo e todos dirigem uma parte. Por essarazão, há que buscar formas de coordenação e unidade.

A recuperação de um sindicalismo independente,solidário e democrático é necessária para a construção de umprojeto político dos Trabalhadores.

A política existe nos Sindicatos, mas não deve ser oprincipal, senão a luta de reivindicação. Os Sindicatos devemacompanhar as lutas que estão sendo travadas. Foi correto ir comas bandeiras nos dias 19 e 20 como alguns o fizeram. Agoradevemos participar das Assembléias Populares.

Há que unir todas as forças possíveis. Eles têm o poder,mas não a governabilidade. Temos que bater no poder econômicoe não somente nos políticos.

Os Trabalhadores dos outros países do Cone Sul estãoolhando para a Argentina. O que aconteça aqui influenciará muitotambém no seu destino. É necessário armar redes solidárias para

TIE – Transnationals Information Exchange 21

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

o que possa vir acontecer. Argentina está mudando e daquisurgirão muitas coisas novas, novas experiências de organização,novos dirigentes.

Independência de Classe e Projeto Político dosTrabalhadores

Diante do sucateamento do estado e do aparelhoprodutivo argentina e a falta total de autonomia diante dosorganismos internacionais parece cada vez mais difícil recuperaro tipo de inserção que tinha antigamente a Argentina e resultaevidente a ausência de um projeto alternativo e com credibilidadepara oferecer, a partir dos Trabalhadores, como saída para acrise. A proposta de CTA coloca a redistribuição da riqueza eMoyano, uma volta a 1945/55. O que faz falta é uma alternativaao sistema capitalista.

É possível tomar e resgatar aspectos do modelo doprimeiro governo de Perón, sem que isso signifique “voltar” a1945.

Qualquer que seja o projeto levantado pelosTrabalhadores, até o mais reformista, precisa de uma forçaindependente da classe trabalhadora para poder implementá-lo.

Faz falta uma alternativa política que dê resposta a todasas lutas. A CTA abandonou o projeto original de uma PropostaPolítica dos Trabalhadores (PPT) e isso se deve ao fato que, domesmo jeito que acontece com a CGT e o MTA, não se tem umavisão classista que os faça ver a necessidade de um projetopróprio.

TIE – Transnationals Information Exchange 22

Relatório do Encontro De Intercâmbio Sindical Do Cone Sul

A crise é também nossa já que não podemos darrespostas efetivas diante da situação atual. Assim, por exemplo,houve expectativas de reativação com a desvalorização, mascomo não temos poder de intervenção os empresáriosprocuraram outra volta para seu exclusivo benefício.

As alianças que se implementaram com setoresempresariais, a partir de todas as centrais sindicais, carecem deacordos concretos que contemplem os interesses dosTrabalhadores, como condições de trabalho, estabilidade, salário,etc.

Há pouca autocrítica. Vê-se a crise no outro e não nopróprio. Falta vontade unitária quando se começa dividindo.Precisamos entender o que ocorre e não aquilo que queremosque ocorra. Na CTA, faltam outras consignas que nos unam comoclasse, além do seguro de emprego e o FRENAPO.

Há que incluir nas denúncias a exploração e começar adefinir um programa dos Trabalhadores. Para isso, teríamos queorganizar um encontro programático, bem organizado, desindicatos classistas.

Os Sindicatos devem ter definições estratégicas, por exemplo, sedefinirem como anti-capitalistas e não devem se restringir apenasa efetuar reivindicações.A CTA tem seu projeto: Novo Pensamento e FRENAPO, masalém das críticas que essas propostas merecem isso não ésuficiente.

Falta uma orientação política, mas, não pode ter um sóreferencial. Há que socializar as experiências significativas. Háque definir alguns eixos e ouvir aos que vão aderindo. Setores deesquerda existem muitos, mas quais são os significativos? Há que

TIE – Transnationals Information Exchange 23

O Movimento Sindical Diante dos Desafios da Crise

recuperar outras experiências como, por exemplo, a do peronismorevolucionário.

Muitos grupos de esquerda quando ganham um Sindicatolançam de lá um movimento e não se pode acreditar em acumulardesde um único lugar.

Para construir uma alternativa política dos Trabalhadoreshá que terminar com as experiências de frentes de aparelhospartidários da esquerda, armados pela urgência das eleições.

Nesse sentido também é necessário conhecer e analisara experiência dos companheiros de PIT-CNT com a Frente Amplano Uruguai e a da CUT com o PT no Brasil.

TIE – Transnationals Information Exchange 24