projeto finalizado (agosto 2015) final
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projeto de tese de doutorado de Luis F R Borges, em sua versão de fim do 1º semestre do curso, na UnisinosTRANSCRIPT
Luis Fernando Rabello Borges
SITES DE ROCK DIANTE DA RECONFIGURAÇÃO
DA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA NOS ANOS 2000
Projeto de tese de doutorado
São Leopoldo, agosto de 2015.
INTRODUÇÃO
Através deste projeto, proponho a realização de uma tese que toma por base o
seguinte problema de pesquisa: de que forma sites brasileiros de rock lidam, seja em
termos discursivos ou estruturais, com a reconfiguração da indústria do entretenimento
musical vivenciada nos anos 2000?
Inicialmente, a minha ideia era verificar como os sites lidam com a questão apenas
em termos discursivos, e não também estruturais. Mas a divisão por editorias por si só é
representativa de como esses veículos de mídia sobre rock pensam e se posicionam sobre a
indústria do entretenimento musical e como estabelecem seus respectivos lugares de
interação nesse cenário, na medida em que podem revelar variações e ênfases e destaques
em termos de presença de artistas novos e antigos, de discos independentes ou de grandes
gravadoras. Dessa forma, eu não precisaria me deter apenas nos textos que, direta ou
indiretamente, apresentam referências e/ou reflexões sobre o mercado da música.
Quando se fala em reconfiguração do mercado da música, a primeira coisa que
talvez possa vir à mente é a alardeada crise da indústria fonográfica. Esse alarde passou a
acontecer desde o início da popularização do mp3, formato de arquivo de áudio
extremamente leve, a ponto de possibilitar a transferência entre computadores através da
internet, na medida em que ambos – computadores e internet – já possuíam potência e
estabilidade suficientes para a concretização desse tipo de operação em condições
minimamente razoáveis. Paralelamente, apareciam os primeiros softwares voltados
justamente à transferência de arquivos de um computador para outro, no sistema p2p (peer
to peer), mais precisamente o Napster, surgido em 2000, que causou na época toda uma
celeuma entre gravadoras e artistas, temerosos da novidade do compartilhamento ágil e
gratuito de músicas feitas para serem vendidas em lojas sob o formato físico de CDs. O
Napster foi rapidamente – e literalmente – engolido pela indústria fonográfica, ao ser
comprado por uma de suas principais representantes, a multinacional alemã RCA, e a
seguir desativado. Porém, a possibilidade tecnológica de compartilhamento via internet de
arquivos de áudio diretamente de um computador para outro já havia sido descoberta, e aí
começaram a despontar vários softwares similares, como o Kazaa, o eMule e tantos outros,
para desespero de executivos de gravadora e ídolos da música acostumados com as lógicas
comerciais/capitalistas e pouco afeitos à lógica do compartilhamento que começava a ser
imposta pelo mundo digital dos computadores e da internet.
Parto do princípio de que sites de rock passaram a apresentar mais referências e
reflexões envolvendo a indústria do entretenimento musical em geral e à indústria
fonográfica em particular a partir das transformações no mercado da música que passaram
a ocorrer com o advento do mp3 e dos softwares e sites voltados ao download de registros
sonoros. Ou seja, os produtos jornalísticos especializados em rock (como sites e também
revistas e mesmo blogs, sem falar em encartes de jornais e programas de TV e de rádio) de
certa forma passaram a, com mais frequência, tomar a si próprios como objeto, na medida
em que são produtos de consumo pertencentes ao universo da indústria do entretenimento
musical, do qual faz parte também a própria indústria fonográfica, bem como emissoras de
rádio, circuito de shows (casas noturnas) e produtos não exatamente sonoros, como
camisetas, pulseiras, canecas e outros apetrechos.
Essas referências podem ser discursivas ou estruturais. Em termos discursivos,
essas referências podem ser encontradas em qualquer formato de texto jornalístico adotado
nesses sites. E podem ser diretas, em matérias específicas sobre o assunto, e indiretas, em
entrevistas com artistas, resenhas de discos, cobertura de shows, notícias, reportagens e
outros formatos. Já em termos estruturais, pode-se dizer que a própria subdivisão em
seções dos sites é capaz de revelar algumas posturas editoriais a respeito.
A abordagem da indústria do entretenimento musical pode se dar em qualquer um
dos formatos de texto que costumam se fazer presentes nesses produtos de mídia
especializada: entrevista, reportagem (jornalismo interpretativo), notícia (jornalismo
informativo) e crítica (resenha – jornalismo opinativo). Isso me possibilita falar sobre
todos eles mas sem entrar nos méritos de nenhum. Digo isso porque uma boa parte de
estudos voltados a produtos jornalísticos sobre rock tomam por base a crítica musical
(OLIVEIRA, 2011; SALDANHA, 2005; SCHOENHERR, 2005), e a partir daí discutem os
vários tipos de crítica e, também, o que é crítica e o que não é. E, ao mesmo tempo, se
detêm muito pouco nos outros formatos de texto jornalístico citados anteriormente. Longe
de desmerecê-la, a discussão envolvendo crítica musical fica aqui em segundo plano, pois
a prioridade nesta proposição é a atividade de pensar sobre o mercado da música. Ou seja,
o principal é o conteúdo, e não o formato – embora este possa determinar a intensidade
com que o conteúdo é abordado, ou, dito de outro modo, características de abordagem do
mesmo. Enfim, a pesquisa vai encontrar bastante matéria-prima no produto em si, os textos
publicados nos sites, em seus múltiplos formatos.
Ainda sobre o produto em si (textos), reflexões sobre a indústria fonográfica podem
ser encontradas nos mais diversos conteúdos presentes em produtos jornalísticos
especializados em rock, a exemplo de resenhas críticas sobre discos, reportagens sobre
turnês, entrevistas com artistas e notícias sobre recordes de faturamento. E isso vale para
qualquer vertente, ramificação ou tendência do rock, e também para qualquer artista ou
banda, seja ela nacional ou estrangeira, antiga ou recente, famosa ou quase anônima,
vinculada ou não a uma grande gravadora.
A partir da análise dos textos, e de como eles estão distribuídos e hierarquizados
nos sites, irá se tornar possível e interessante realizar entrevistas com os editores e
jornalistas dos mesmos, de forma a elucidar como são (ou eram) as rotinas de atividades no
dia-a-dia desses produtos jornalísticos e, notadamente, como determinados dilemas
relativos à reconfiguração da indústria do entretenimento musical são tratados, de que
forma lidam com essas questões.
O somatório dos dados obtidos através da análise das instâncias do produto e da
produção irá possibilitar, também, a elaboração de um histórico desses sites, bem como o
histórico e as características da relação dos mesmos com a indústria fonográfica.
INTERNET E SEGMENTAÇÃO
Os sites e blogs de rock começaram a surgir efetivamente a partir do início dos anos
2000, mais ou menos na época em que a então principal representante brasileira desse
segmento, a revista Bizz, encerrava seus 16 anos ininterruptos de atividades, em julho de
2001 – a publicação retornaria às bancas em 2005, até o seu segundo e por enquanto
definitivo fechamento, em julho de 2007. Datados ainda da segunda metade dos anos 1990,
os blogs inicialmente eram usados apenas enquanto 'diários virtuais'. Com a elaboração de
sites e ferramentas mais acessíveis – e gratuitos – para a criação de blogs, e sua
consequente popularização, alguns começaram a vislumbrar outros usos para essa
possibilidade tecnológica, inclusive enquanto suporte de produção jornalística e abordando
conteúdos específicos (MABONI, 2007), tal como costuma acontecer em revistas
impressas – ao menos no caso dos blogs que fogem ao caráter amadorístico que ainda hoje
predomina na blogosfera. Além dos blogs, merecem ser mencionadas também as redes
sociais, cujo advento no Brasil se deu a partir de 2004, através do recém-extinto Orkut, e
que acentuou uma das características associadas à internet, a 'personalização'
(MIELNICZUK, 2003), na medida em que o consumo por parte do usuário se dá à medida
que informações vão sendo compartilhadas por seus amigos na página de sua rede social,
envolvendo conteúdos, assuntos, acontecimentos e editorias diversificados, ao mesmo
tempo em que ele próprio igualmente compartilha outras informações e replica algumas
das recebidas.
A respeito da segmentação, notadamente em se tratando de revistas (MIRA, 2001),
considero importante estabelecer uma distinção. Revistas segmentadas que se voltam não
para editorias propriamente ditas, e sim para públicos específicos, abordando questões
estéticas, corporais e comportamentais, não costumam enfrentar problemas em termos de
vendagem em bancas e anunciantes em suas páginas. É o caso de revistas de nudez
feminina voltadas ao público masculino, revistas de estética corporal direcionada para
mulheres recém-adultas e revistas envolvendo dilemas existenciais de meninas pré-
adolescentes. Já revistas que tomam como eixo uma única editoria, como cultura e política,
enfrentam uma dificuldade histórica de se sustentar – quando se sustentam. A maioria dura
poucas edições – quando atingem o plural –, ao passo que outras já se dão por satisfeitas
por conseguirem 'se pagar'. É o caso da Caros Amigos e da Cult, revistas de política e de
cultura, respectivamente, que mesmo não pertencendo a algum grande grupo empresarial
de comunicação possuem mais de 15 anos de existência. Sintomático disso é a editora
Abril Cultural ter promovido em 2013 o fechamento de algumas de suas publicações, como
a Bravo!, revista de cultura que começou independente e depois foi comprada pela Abril,
cuja publicação a lhe proporcionar maior lucro segue sendo a Veja, revista semanal e não-
segmentada – da mesma forma, aliás, que outras revistas campeãs de vendagem de suas
respectivas editoras, como a Época, pertencente à Globo.
Chega a ser até curioso observar que essa supremacia de revistas não-segmentadas
– em que merecem destaque também a IstoÉ e a Carta Capital – vai na contramão de uma
necessidade de especialização bastante alardeada a partir do início dos anos 1980 – uma
necessidade, nas palavras de Moreira, de se “criar produtos específicos para cada segmento
de público ou consumidor” (1997, p.425). A diversidade de temáticas apresentada por
produtos de mídia impressa concebidos até a década anterior passou a ser intensificada em
publicações surgidas na sequência, gerando, segundo Mira, “uma segmentação temática
que procurará captar o gosto de públicos particulares, diferenciados por faixas etárias,
sexo, classe socioeconômica e preferências pessoais” (2001, p.157).
Todavia, a diversidade da oferta proporcionada pela internet intensificou esse
processo de segmentação a tal ponto que, somado de outro lado à personalização
promovida e estimulada por mídias como as redes sociais – que inegavelmente possuem
inúmeras características relevantes em termos de informação e comunicação (cujo
dinamismo, praticidade e gratuidade é útil inclusive para atividades jornalísticas de
entrevista e coleta de dados) –, faz com que haja uma verdadeira 'segmentação da
segmentação', com cada pessoa se tornando um segmento específico, e trazendo consigo os
seus gostos pessoais – e diversificados, sortidos, não-segmentados. Pior para produtos
midiáticos segmentados voltados a editorias específicas.
E esse é o grande dilema enfrentado pelos sites de rock. Se revistas já consolidadas
em suas respectivas editorias, mas não pertencentes a grandes grupos empresariais de
comunicação, enfrentam dificuldades de atrair anunciantes, o que dizer de um produto
publicado na web e que, como tal, sequer pode adquirir recursos financeiros através da
venda em bancas? Ainda mais quando os anunciantes em questão viriam de um mercado
fonográfico que passou a enfrentar dificuldades resultantes justamente do desenvolvimento
da computação e da internet que levou também ao advento dos blogs e das redes sociais, na
medida em que ambos representam alternativas gratuitas de acesso e compartilhamento de
músicas e discos sob a forma de arquivos de áudio – além de filmes e livros em arquivos
de vídeo e texto.
Mesmo diante de todos esses problemas relativos à falta de anunciantes e à própria
crise do mercado da música ao qual pertence, alguns sites têm conseguido trafegar com
desenvoltura nesse contexto desfavorável, estabelecendo uma trajetória duradoura,
consistente e organizada. O que torna ainda mais interessante investigar o funcionamento
desses produtos midiáticos digitais e trazer à tona o seu histórico, seja através da análise de
suas críticas, notícias, reportagens e entrevistas e de como essas postagens se encontram
distribuídas e hierarquizadas em seus respectivos sites, seja por meio de entrevistas com
editores, jornalistas e demais integrantes de sua equipe. Para isso, irei me concentrar em
textos que, independentemente do formato jornalístico adotado, tragam total ou
parcialmente referências e/ou reflexões sobre a indústria do entretenimento que faz parte
de seu dia-a-dia de rotinas produtivas.
(PROCESSO – EXPLORATÓRIO – DE) DEFINIÇÃO DO CORPUS DA PESQUISA
A minha idéia inicial era trabalhar não só com sites, mas também com revistas e
blogs. Estes dois últimos não serão totalmente desconsiderados, mas aparecerão no
trabalho para fins meramente complementares. Até poderão ser mencionadas algumas
matérias isoladas presentes nesses tipos de veículos midiáticos, que por ventura eu venha a
encontrar, sobre questões interessantes relativas a reflexões e referências envolvendo o
mercado da música. Mas nenhuma revista e/ou blog será trabalhado na pesquisa de forma
sistemática. O mesmo vale para os sites que eu optei por deixar de fora do recorte que dará
origem ao corpus da investigação.
Dessa forma, já adianto que eu optei por analisar apenas os sites Floga-se, Na Mira
do Groove e Movin'Up.
E como eu cheguei a esse recorte? Qual foi o processo envolvido até aqui que levou
à opção de suprimir da pesquisa as revistas, os blogs e alguns dos sites?
Inicialmente, tratei de descartar os blogs. Como Foi dito no início deste projeto,
percebi que o ato de lidar com a reconfiguração da indústria do entretenimento musical nos
anos 2000 não se dá apenas discursivamente, mas também em termos estruturais. A
distribuição e hierarquização de conteúdos em seções de lançamento de discos, cobertura
de shows, entrevistas, notícias e reportagens, sem falar nas capas de revistas e páginas
iniciais de sites, pode dizer muito a respeito de como cada veículo se posiciona diante do
mercado da música e dialoga com o mesmo. E a organização de postagens em blogs, de um
modo geral, é meramente cronológica, mais ou menos similar à de uma “linha do tempo”
de redes sociais. Ao menos é o caso de todos os blogs que eu cogitava a possibilidade de
analisar. Diferentemente de sites, que aliás, eu arriscaria dizer, “herdaram” essa
estruturação em editorias justamente das revistas, apresentando também seções
consagradas nas mesmas.
Além desse empecilho estrutural, os blogs costumam apresentar matérias escritas
por uma única pessoa. Não há uma equipe responsável pela produção de conteúdo, como
no caso das revistas e sites cuja possibilidade de análise foi inicialmente levantada nesta
tese ainda em nível de projeto. E, uma vez mais, todos os blogs mencionados na primeira
versão do projeto – ou seja, no anteprojeto – não fogem a essa característica. Por mais que
alguns deles apresentem quase uma postagem por dia, o volume de conteúdo produzido é
bem inferior inclusive ao de uma revista de periodicidade mensal, e mais ainda de um site
em que várias matérias são postadas em um mesmo dia. Sem falar que a existência de mais
de uma pessoa escrevendo tende a assegurar uma maior diversidade de conteúdo e mesmo
de estilo redacional, por mais sutis que possam ser essas diferenças e por mais que haja
uma linha editorial podendo nortear o que se faz presente nas revistas e sites.
Assim, os blogs que poderão aparecer apenas de forma complementar neste
trabalho, que não serão analisados de forma sistemática, são os de André Barcinski, André
Forastieri, Alex Antunes, Régis Tadeu e Ricardo Alexandre, todos com passagens
anteriores por revistas especializadas música – notadamente a Bizz – e cujos respectivos
blogs encontram-se hospedados em grandes portais (Rede Record, Yahoo, UOL e MSN),
além os blogs Trabalho Sujo, Conector e Ronaldo Evangelista, todos sob o guarda-chuva
do site O Esquema e respectivamente de Alexandre Matias, Gustavo Mini – também
vocalista e guitarrista do grupo gaúcho de rock Walwerdes – e o próprio. Aliás, merece
destaque os blogs que Ricardo Alexandre mantinha nos portais do MSN de 2013 até o
início de 2014 e da Rede Record de meados de 2014 até o início de agosto de 2015. Poucos
dias após o encerramento do vínculo profissional com cada empresa, o respectivo blog foi
retirado da rede. Diferentemente de uma revista, a que as pessoas ainda têm acesso
material mesmo após acabar, os conteúdos produzidos por Ricardo Alexandre para esses
blogs não se encontram mais disponíveis, ao menos até segunda ordem. Situação similar
poderia ter acontecido com André Barcinski, que migrou para a Rede Record, mas cujo
blog anterior, no UOL, permanece na rede em função de o jornalista ter continuado a
trabalhar na Folha de São Paulo, vinculada ao portal. Seja como for, esses exemplos
demonstram a falta de perenidade que um blog pode apresentar em função de contar com
uma única pessoa. Acredito que essa situação seria mais difícil de acontecer em um site,
que, por ser abastecido por uma equipe, não se ressentiria tanto da saída de algum
integrante, que poderia inclusive ser substituído por outro. Mais um motivo para eu optar
por eliminar os blogs do recorte da pesquisa.
A seguir, foi a vez das revistas. Não só das extintas Zero, Mosh, OutraCoisa, Bizz
(quanto de seu ressurgimento, entre 2005 e 2007) e mais recentemente da Billboard Brasil,
mas também da Rolling Stone Brasil, a única que permanece na ativa neste momento. A
razão é de ordem empresarial e financeira. Me parece um tanto incompatível abrigar, em
um mesmo recorte, sites e revistas, na medida em que estas possuem fontes de renda fixas
e estabelecidas. Mesmo revistas de menor porte, desprovidas de um sólido alicerce
empresarial promovido por algum grande grupo de comunicação (a exemplo da Bizz, que
era vinculada à editora Abril Cultural) ou que não ostentam uma grande marca (como são
os casos da Rolling Stone e da Billboard), e que por conta disso costumam apresentar
dificuldade em angariar anunciantes, possuem no mínimo o recurso da venda em bancas,
por mais que, pelo mesmo motivo da falta de lastro empreendedor, a distribuição e o
número de cidades e bancas contempladas costumem ser bastante limitadas. Mas sites, ao
contrário, não possuem nem anunciantes e muito menos a venda em bancas. Ou seja, as
lógicas são diferentes. Tanto que, pelo que foi possível observar neste primeiro esforço
mais propriamente exploratório cujo processo teve como resultado a definição do recorte
que está sendo aqui apresentado, os sites seguidamente apresentam uma postura
colaborativa entre eles. É possível um site postar determinada matéria em cujo corpo do
texto figuram links para matérias de outros sites que apresentem conteúdo similar. Outra
possibilidade de um site fazer referência a outro se dá em redes sociais. Por exemplo, o Na
Mira do Groove divulgou, em sua página no Facebook, matéria postada no site sobre o
lançamento do novo álbum da banda Wilco de forma gratuita na internet, e essa divulgação
foi compartilhada pela comunidade do site Floga-se, com direito à citação de trecho da
matéria seguida de elogio ao site “concorrente”. Essa lógica colaborativa e de
compartilhamento (literal) seria impensável entre revistas, que dependem no mínimo da
venda em bancas para arcar com no mínimo os custos de impressão das mesmas,
dificuldade não enfrentada por sites, que entretanto também teriam de assegurar o
pagamento de seus profissionais. Ou as pessoas que trabalham nesses sites não teriam essa
preocupação? Não lucrariam, mas também não teriam maiores prejuízos, pois sites são
bem pouco dispendiosos, ao contrário de revistas, o que possibilitaria a manutenção da
atividade enquanto hobby, e não necessariamente enquanto profissão... seria isso? Ou
conseguem ganhar dinheiro com o site por outras vias que não as dos tradicionais
anunciantes e vendagens em bancas, conseguindo justamente fazer uso da reconfiguração
do mercado da música a qual representam e materializam? Seja como for, esses sites,
enfim, parecem envolver uma outra problematização, diversa das revistas – e mesmo dos
blogs bancados por portais, com os quais os respectivos blogueiros possuem vínculo
profissional – com direito a carteira assinada – e pelos quais são remunerados pelos
serviços prestados.
Sem falar que as revistas em questão possuem – ou possuíam – periodicidade
mensal, ao contrário dos sites, em que são postadas várias matérias por dia e ao final de
cada mês apresentam um volume de conteúdo bem maior do que as revistas poderiam
comportar em suas páginas. O principal dessas postagens realizadas ao longo de cada mês,
e não de uma vez só de mês a mês, é que essa prática gradual favorece a divulgação e
compartilhamento dos conteúdos nas redes sociais tão-logo determinada postagem é feita
no site. Isso favorece, consequentemente, a circulação dos conteúdos.
A propósito da circulação, é importante ser levado em conta, agora, que o fato de os
sites compartilharem conteúdos de outros demonstra que os integrantes de um site
acompanham o que é postado em outros sites – isso quando não há colaborações diretas
entre um site e outro. Dito de outro modo, os produtores de conteúdo de um site são
também leitores dos outros sites. Os produtores são também receptores. Isso remete à
definição de “recepção-produção midiática” (BONIN, 2014), em que, resumidamente
falando, os sujeitos receptores são também produtores de conteúdo, contribuindo também
para colocá-lo em circulação. Para o caso dos sites de rock em questão neste trabalho,
proponho uma inversão do conceito. O que muda é a ênfase. Assim, teríamos uma
“produção-recepção midiática”, em que os produtores são também receptores do conteúdo
posto em circulação pelos sites e pelos sujeitos comunicantes (MALDONADO, 2014) que
fazem uso desses meios (sites e internet) seja como redatores ou leitores.
Mesmo com a supressão de tantos blogs e revistas, ainda restou um número
expressivo de sites: Floga-se, Na Mira do Groove, Movin’Up, Scream y Yell, Catárticos,
Whiplash, Ligado à Música, Guitar Talks e Música Ofensiva. É possível que haja outros.
Mas, até onde eu conheço, são esses. Todos em plena atividade. Os 3 últimos mais
recentes, tendo começado suas atividades em 2014 ou mesmo em 2015, como é o caso do
Ligado à Música. Tanto que eu só fui tomar conhecimento da existência deles neste ano.
Mas, voltando a falar desses 9 sites em sua totalidade, vale destacar algumas características
dos mesmos, enquanto possibilidades de agrupamentos, que por sua vez podem levar a
possibilidade de recorte, das quais eu escolherei uma. Para começar, enquanto os 5
primeiros sites mencionados abordam o rock em um sentido mais amplo (a ponto de
inclusive englobar outros estilos, não exatamente roqueiros, a exemplo da MPB e da
música pop de um modo geral), os 4 últimos dão ênfase ao rock mais tradicional (o
chamado “rock clássico”) e ao metal. Outra possibilidade de subdivisão é visual: quase
todos os sites mencionados possuem uma página inicial que dá destaque a alguns
conteúdos, tal como uma capa de revista, com direito a uso de imagens e fotos, que
também podem aparecer em postagens isoladas – a única exceção é o Whiplash, que não
apresenta esse tipo de recurso gráfico, nem na página inicial e muito menos em matérias
avulsas. Além disso, 2 sites disponibilizam espaços que convidam diretamente o leitor a
participar enquanto colaborador, de forma a transformar o receptor em produtor de
conteúdo: enquanto o Whiplash apresenta os links “Escreve bem e quer colaborar com o
site?”, “Como divulgar bandas, gravadoras e eventos?” e “Siga-nos por E-mail, Facebook,
Twitter, G+, etc”, que apresentam orientações a respeito para o leitor interessado, o Na
Mira do Groove conta com a seção “Serviços” (de assessoria de bandas musicais),
contemplando Releases de Álbuns e Shows, Monitoramento de Redes Sociais, Contato
com a Imprensa e Atualização de Informações. Por fim, outros 2 sites – Scream y Yell e
Catárticos – apresentam no alto de suas respectivas páginas iniciais a logomarca da MTV,
que desde outubro de 2014 deixou a televisão aberta para se tornar um canal a cabo, mas
independentemente disso mantém vínculo com a Abril Cultural, o que denota um lastro
empresarial para esses sites, por menor que seja a atenção que a editora pareça dedicar a
esses sites, que por sua vez não parecem acarretar maiores despesas à editora, a não ser a
remuneração aos seus integrantes – e aí seria o caso de saber em que medida isso acontece.
Com base nesse conjunto de características verificado nesse conjunto de 9 sites, eu
optei por estabelecer um recorte calcado em 3 deles: Floga-se, Na Mira do Groove e
Movin’Up. Os outros 6 sites, assim como os blogs e as revistas, até poderão aparecer no
trabalho, mas, caso isso aconteça, será de forma meramente complementar, com alguma
matéria exemplificando algum conteúdo que venha a fazer presente na pesquisa a partir
dos 3 sites que serão analisados de forma sistemática. Os 3 sites já estão na ativa desde o
final da década passada, não se limitam a vertentes específicas do rock e – ao menos
aparentemente – não possuem vínculo com grupos empresariais de comunicação. São
também aqueles em que aparece de forma mais explicitada a subdivisão em editorias,
notadamente as de lançamentos de discos e coberturas de shows. Além disso, em todos
esses sites costumam aparecer matérias que, direta ou indiretamente, trazem reflexões
sobre a indústria do entretenimento musical e suas reconfigurações verificadas nos anos
2000. E algumas dessas matérias apresentam um teor crítico, diferentemente do que talvez
se pudesse supor de sites que apresentam uma postura colaborativa. O Floga-se, por
exemplo, possui uma seção dedicada apenas a postagens específicas sobre o mercado da
música, denominada “Pense ou Dance”.
E, quando eu falo nesses 3 sites, estou incluindo aí, também, as suas respectivas
páginas no Facebook, que contribuem de forma significativa para intensificar a circulação
via internet do conteúdo publicado no site por produtores que também são receptores desse
mesmo conteúdo.
A partir desse recorte calcado nos sites Floga-se, Na Mira do Groove e Movin’Up,
serão selecionadas as postagens que efetivamente irão constituir o corpus da pesquisa.
Definições como a do intervalo de tempo que compreenderá essa seleção de postagens – se
for o caso – serão feitas a partir deste semestre que se inicia, com o início das atividades
efetivas de orientação.
Caso ainda assim o corpus acabe por se mostrar muito extenso, a minha alternativa
será contemplar apenas aquelas matérias que sejam específicas sobre a reconfiguração da
indústria do entretenimento musical, a exemplo daquelas que podem ser encontradas na
seção “Pense ou Dance” do site Floga-se. Matérias em que essa relação se dá de forma
indireta, em que a temática do mercado da música até aparece, mas não corresponde ao
assunto principal, ficariam de fora do corpus. Em resenhas de discos, coberturas de shows
e entrevistas, encontram-se em primeiro plano, respectivamente, os discos, os shows e os
artistas. O mercado da música em si está em segundo plano. Diferentemente, por exemplo,
da coluna de opinião de Miguel Sokol publicada na edição de maio de 2015, sobre o Tidal,
serviço de streaming inaugurado por Jay-Z e outras estrelas da música pop atual com a
finalidade de assegurar mais lucros do que proporcionam as outras empresas que ocupam
essa fatia de mercado. Esse é um caso típico em que o assunto principal, aquele que se
encontra em primeiro plano, é a indústria do entretenimento musical. Caso seja necessário
refinar ainda mais o recorte, apenas esse tipo de matéria fará parte do corpus da pesquisa.
P.S.: Confesso que achei bem interessante essa possibilidade de analisar apenas
matérias desse tipo, em que referências e/ou reflexões sobre o mercado da música se dão
de forma direta. Inclusive isso está começando a me levar a pensar em algumas
reestruturações no projeto como um todo. A análise poderia resultar em uma espécie de
“história não musical do jornalismo brasileiro de rock”. Mas essas possibilidades de
reestruturações vão ficar para daqui para diante. O presente projeto será poupado disso.
A opção por analisar apenas os textos que abordam de forma direta e específica
questões relativas à indústria do entretenimento musical excluiria também a análise da
estrutura dos sites, ou seja, de como as matérias estão distribuídas e hierarquizadas no
mesmo.
QUESTÕES DE PESQUISA – E PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS
Conforme foi mencionado já no início deste projeto, o problema desta pesquisa é:
de que forma sites brasileiros de rock lidam com a reconfiguração da indústria fonográfica
vivenciada nos anos 2000?
A partir desta pergunta principal, cabe fazer um desdobramento em outras questões.
Algumas delas foram elaboradas com base em outras observações resultantes da atividade
exploratória mencionada na seção anterior deste projeto e não incluídas na mesma.
Eis as questões (aquelas destacadas em azul são as que seriam excluídas):
- De que forma esses sites interagem com indústria fonográfica, circuito de shows
(casas noturnas), emissoras de rádio e outros componentes do mercado da música do qual
fazem parte?
- Como esses demais componentes atuam na configuração desses produtos de mídia
especializada?
- (questão quantitativa) Qual é a presença (proporção) de referências/reflexões
(diretas e indiretas) em cada uma das (entre as) seções de algum site? Onde mais aparece?
- (questão qualitativa) E de que forma(s) essas referências/reflexões se dão em cada
seção, e que diferenças de abordagem existem entre elas?
- O que essa distribuição pode revelar em termos do que determinado site pensa (e
age) a respeito dessas reconfigurações atuais do mercado da música? Que “hierarquias”
podem estar aí presentes?
- Por que alguns artistas independentes aparecem seguidamente e outros nunca
aparecem? (a mesma pergunta vale para artistas “mainstream”)
- Até que ponto essas referências/reflexões são contrárias ou favoráveis a essa
reconfiguração da indústria do entretenimento musical e, inversamente, à indústria
fonográfica tradicional? Será que não respaldam/referendam uma noção mais tradicional –
e viciada – de indústria fonográfica? O próprio destaque, nos portais dos sites, a artistas
consagrados, não seria um indicativo disso?
- Até que ponto a circulação entre os sites (potencializada pelas respectivas
comunidades em redes sociais como o Facebook) influencia no conteúdo (e abordagem)
publicado pelos mesmos? (inclusive no que diz respeito à forte presença dos medalhões do
rock)
- Quais outros fatores além da circulação podem exercer influência, e de que
forma?
- De que forma esses sites são mantidos? O próprio destaque aos cânones do rock
não seria uma estratégia nesse sentido? E em que medida a reconfiguração do mercado da
música é considerada um empecilho ou uma aliada? Até que ponto funciona contra ou é
usada a favor?
- Até que ponto a lógica colaborativa entre os sites favorece o sustento financeiro e
a obtenção de lucro por parte dos mesmos?
- Ou, inversamente, até que ponto esses sites apresentam essa preocupação?
Algumas dessas questões podem ser respondidas através da análise dos textos e da
hierarquização de conteúdos presente na estrutura dos sites, ao passo que outras só podem
ser respondidas por meio de entrevistas com integrantes de suas respectivas equipes.
Lembrando que outras questões certamente surgirão a partir da análise da instância do
produto (postagens e estrutura), algumas das quais passíveis de respostas apenas por parte
da instância da produção (integrantes). E com base nesse conjunto de questões, e em outras
que muito provavelmente surgirão, e mesmo naquelas que muito provavelmente serão
descartadas, serão elaborados os procedimentos metodológicos, com vistas a contemplar
seja produto, seja a produção. Serão definidos que método(s) de análise dos textos e da
estrutura dos sites, bem como que tipo(s) de entrevistas, serão utilizados. Mas, uma vez
mais, trata-se de uma tarefa que começará a ser elaborada a partir deste semestre, quando
as atividades de orientação efetivamente se iniciarem.
PESQUISA DA PESQUISA – parte 1:
1) Impressos (livros):
Dentre os livros que serão trabalhados neste projeto, merecem destaque aqueles que
abordam o desenvolvimento da indústria fonográfica no Brasil, trazendo dados e números
sobre o mercado do disco e suas curvas ascendentes e descendentes. A começar por “Os
Donos da Voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura”, de Marcia
Tosta Dias. Resultante da dissertação de mestrado defendida pela autora em 1997 sob
orientação de Renato Ortiz, o livro foi publicado originalmente em 2000. Optei por utilizar
a segunda edição da obra, de 2008, por contar com acréscimos referentes à alardeada crise
da indústria fonográfica provocada pelo advento do mp3 e outras tecnologias que
possibilitavam a digitalização e o compartilhamento da música, incluindo um capítulo
inteiro a respeito. Além da riqueza de informações sobre os empreendimentos
discográficos no país, a autora o faz tomando por base teórica o conceito de indústria
cultural, que talvez possa ser de grande valia para a minha pesquisa.
Resultantes de pesquisas jornalísticas e não propriamente acadêmicas, outros três
livros também abordam a música pela perspectiva do mercado, trazendo contribuições
relevantes ao assunto. As obras enfatizam respectivamente as décadas de 1970, 1980 e
1990: “Pavões Misteriosos: 1974-1983: a explosão da música pop no Brasil” (2014), de
André Barcinski, “Dias de Luta: o rock e o Brasil dos anos 80” (2002), de Ricardo
Alexandre, também autor de “Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar: 50 causos e
memórias do rock brasileiro (1993-2008)”, publicado em 2013.
Embora sem se deter necessariamente no mercado da música ou em qualquer
temática mais específica, e tampouco apresentar algum recorte temporal, cabe mencionar
aqui “O Dia em que o Rock Morreu”, compilação de textos publicados por André
Forastieri em seu blog realizada pelo próprio e lançada em 2014. Alguns desses textos
remetem ao título do livro por meio de informações sobre o mercado discográfico.
Também podem ser úteis para a pesquisa algumas biografias de personalidades que,
com maior ou menor intensidade, transitaram e transitam pelo mundo nem sempre
encantado das gravadoras, grandes ou não. A primeira delas é “Música, Ídolos e Poder: do
vinil ao download”, autobiografia que André Midani publicou em 2008 sobre suas
inúmeras atividades no ramo ao longo de cerca de quase meio século, incluindo os cargos
de diretor das filiais brasileiras das multinacionais Phonogram e Warner. A outra é “Kid
Vinil: um herói do Brasil”, biografia que não foi escrita pelo próprio, e sim por Ricardo
Gozzi e Duca Belintani. Publicada em 2015, por ocasião do aniversário de 60 anos do
biografado, retrata a trajetória de alguém para quem a atividade de executivo de gravadora
não recebeu tanto destaque, mas foi uma das tantas realizadas por uma persona multimídia
que, como tal, transitou por toda a indústria do disco, tendo sido funcionário de gravadora,
radialista, apresentador de televisão, colunista de jornais impressos e revistas, agitador
cultural, disc-jockey e até mesmo cantor, com destaque à sua participação no grupo
Magazine, que emplacou sucessos como “Sou Boy” e “Tic-Tic Nervoso” nos anos de 1983
e 1984. Assim, ambas as biografias, ainda que de forma não muito sistemática, fornecem
dados importantes envolvendo a indústria do entretenimento musical no país.
Ainda que voltados a emissoras específicas de rádio e televisão, e não a gravadoras
ou manifestações e períodos musicais propriamente ditos, alguns livros trazem
contribuições que, mesmo não sendo tão grandes e diretas, merecem ser consideradas. São
eles: “MTV, Bota Essa P#@% pra Funcionar!” (2014), de Zico Góes, que trabalhou na
MTV Brasil durante quase todos os seus mais de 20 anos de existência, tendo sido por
muitos anos inclusive diretor da emissora que saiu da TV aberta em 2014; “89FM: a
história da rádio rock do Brasil” (2014), mais um livro de Ricardo Alexandre, desta feita
sobre a emissora paulista, no ar desde meados dos anos 1980; e “Continental: a rádio
rebelde de Roberto Marinho” (2007), de Lucio Haeser, sobre a emissora AM gaúcha que
esteve em atividade nos anos 1970 e acabou se tornando uma precursora do formato de
rádio FM jovem que passou a vigorar a partir do final daquela década.
Contribuições igualmente relacionadas à música e seus cenários (inclusive o
fonográfico), ainda que por vieses mais teóricos e conceituais, podem ser encontrados em
outros livros. É o caso de “Rupturas Instáveis: entrar e sair da música pop” (2013), de
Fabrício Silveira, que se dedica a analisar objetos empíricos musicais, extremos ou nem
tanto, dedicando um capítulo específico para cada um, mas apresentando na parte inicial da
obra um conjunto de considerações e definições sobre os conceitos de materialidades da
comunicação (cunhado por Hans Ulrich Gumbrecht) e arqueologia das mídias (sobretudo
Simon Reynolds), conceitos que, ao que me parece, poderão ser – assim como o de
indústria cultural – bastante relevantes para esta pesquisa. Já o conceito de estudos do som
foi amplamente contemplado no livro “Rumos da Cultura da Música: negócios, estéticas,
linguagens e audibilidades” (2010), organizado por Simone Pereira de Sá e que congrega
diversos artigos envolvendo este e outros conteúdos.
Dentre todos esses livros, os únicos que ainda não foram lidos na íntegra por mim
são a autobiografia de André Midani e a publicação sobre a Rádio Continental AM. E do
“Rumos da Cultura da Música” foram lidos apenas os artigos que apresentavam relações
mais diretas com a minha proposta de pesquisa, o que corresponde a um pouco mais da
metade da obra.
2) Digitais (e-books, teses, dissertações, monografias e artigos):
Ao contrário dos livros mencionados acima, nenhum dos textos que abordarei a
partir de agora foram lidos por mim por inteiro. Alguns eu já comecei a ler, mas a maioria
por enquanto mereceu de mim apenas uma leitura dinâmica. Nesse sentido, o que eu
apresentarei na sequência será uma espécie de decupagem desses textos.
O primeiro deles é a monografia de graduação “Rock em revista: o jornalismo de
rock no Brasil”, defendida por Rafael Machado Saldanha em 2005 na UFJF – Universidade
Federal de Juiz de Fora/MG. Trata-se de um dos trabalhos que apresenta relação mais
direta com a minha proposta de pesquisa. Outro trabalho bastante relevante é uma
dissertação sobre crítica musical, “Disputas sociais na crítica musical jornalística: o
potencial polêmico da Folha de São Paulo”, defendida por Rafael Schoenherr em 2005
aqui mesmo, na Unisinos.
Há várias dissertações que, em maior ou menor grau, abordam a indústria
fonográfica. E todas elas em alguma medida tomam como referência a dissertação de
Marcia Tosta Dias publicada em livro. Uma dessas dissertações é também oriunda da
Unisinos, “O Jabá no Rádio: Atlântida, Jovem Pan e Pop Rock” (2006), em que Katia
Suman faz uso de toda a sua experiência em rádio para abordar essa mídia em sua relação
com a indústria fonográfica (mesmo não dedicando nenhum capítulo específico à mesma),
tudo permeado por considerações teóricas sobre indústria cultural, mundialização da
cultura e economia política da comunicação. Outra boa dissertação sobre indústria
fonográfica é “A nova produção independente: indústria fonográfica brasileira e novas
tecnologias da informação e da comunicação”, defendida na UFF em 2006 por Leonardo
De Marchi, que também escreveu vários artigos a respeito (que serão comentados adiante
neste texto), alguns deles em coautoria com sua orientadora Simone Pereira de Sá, que por
sua vez orientou outras dissertações e escreveu outros artigos a serem igualmente
contemplados aqui. Assim como essa dissertação, que antes de partir para a análise de seu
respectivo objeto de estudo (no caso, os chamados artistas independentes) traz capítulos
teóricos sobre a indústria fonográfica, outros trabalhos apresentam estrutura mais ou menos
similar, a exemplo de “Indústria cultural e música: reestruturação da indústria fonográfica e
o mercado da música em Sergipe”, defendida por Demétrio Rodrigues Varjão em 2014 na
UFSE – Universidade Federal do Sergipe e “O balanço do bit: mediações da música na era
digital”, defendida na UFBA em 2013 por Tatiana Rodrigues Lima, que toma como objeto
de estudo a produção inicial de Mallu Magalhães, veiculada exclusivamente via internet.
Ainda que trazendo menos páginas sobre indústria fonográfica do que as duas dissertações
anteriores, merecem ser mencionadas também duas dissertações defendidas na UFF e
orientadas por Simone Pereira de Sá: “Cultura da música na era digital: Pato Fu e a
reconfiguração da indústria fonográfica em tempos de participação” (2011), de Lucas
Laender Waltenberg (que, além de abordar o mercado da música no capítulo 1, também
pode trazer contribuições interessantes no capítulo 2, sobre web 2.0), e “Rock, Rádio FM e
Rio de Janeiro: uma análise das estratégias de incursão da Fluminense 'A Maldita' e a
Cidade 'A Rádio Rock' no domínio das guitarras” (2008), de Heitor da Luz Silva (ver
capítulo 2).
Ainda sobre indústria fonográfica brasileira, cabe destacar alguns artigos. O
primeiro deles é “Segmentação e consumo: a produção fonográfica brasileira –
1965/1999”1, publicado por Eduardo Vicente na edição do 1º semestre de 2008 da revista
ArtCultura. Já o artigo “Recursos de Poder e Estratégias de Conversão de Capitais: um
Estudo Sobre o Campo do Mercado Fonográfico no Brasil”2, que Leonardo Vasconcelos
Cavalier Darbilly, Glauco Knopp e Marcelo Milano Falcão Vieira publicaram na revista
ADM.MADE de janeiro/abril de 2009, toma por base o conceito de “campo social”, de
Pierre Bourdieu, para fazer referência a um “campo da produção cultural” e considerá-lo
um “campo de poder”. Por fim, temos “Origem e desenvolvimento da indústria fonográfica
brasileira”, apresentado por Edison Delmiro Silva no Intercom de 2001.
Alguns autores publicaram vários artigos sobre indústria fonográfica brasileira. Um
deles é Leonardo De Marchi. Assim como em sua dissertação, o assunto principal de seus
artigos é a produção independente de música, mas a análise desse objeto de estudo é
embasada por considerações teóricas sobre o mundo das indústrias do disco. Conteúdo que
ocupa maior ou menor espaço em “A Angústia do Formato: uma História dos Formatos
Fonográficos” (revista e-compós, abril 2005), “O Significado Político da Produção
Fonográfica Independente Brasileira” (revista e-compós, agosto 2007), “Indústria
fonográfica e a Nova Produção Independente: o futuro da música brasileira?” (revista
Comunicação, Mídia e Consumo, julho 2006), “Do marginal ao empreendedor:
transformações no conceito de produção fonográfica independente no Brasil” (Revista
Eco-Pós, v.6 n.2, janeiro-julho 2006) e “Novos negócios fonográficos no Brasil e a
intermediação do mercado digital de música” (Revista Famecos, janeiro-julho 2011), este
último em coautoria com Luis Alfonso Albornoz e Micael Herschmann.
Micael Herschmann e Marcelo Kischinhevsky igualmente publicaram artigos sobre
indústria fonográfica brasileira: “Indústria da Música – uma crise anunciada” (Intercom
2005) e “A indústria da música brasileira hoje – riscos e oportunidades”3. Sobretudo neste
último, os autores tomam como objeto de estudo a produção de música independente,
assim como Leonardo De Marchi, mas mais especificamente o circuito cultural do samba e 1 Revista ArtCultura, Uberlândia, v. 10, n. 16, p. 103-104 121, jan.-jun. 2008.
2 Revista ADM.MADE, ano 9, v.13, n.1, p. 20-37, janeiro/abril, 2009 – Revista do Mestrado em Administração e
Desenvolvimento Empresarial da Universidade Estácio de Sá/RJ – Editora responsável: Isabel de Sá Affonso da Costa.3 FREIRE FILHO, João e JANOTTI JUNIOR, Jeder em 2006, Comunicação & Música popular massiva.
Salvador: EDUFBA, p. 87-110.
choro do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, e a partir da perspectiva da economia política
da comunicação e dos estudos culturais.
Além de todos esses artigos sobre indústria fonográfica, há alguns mais antigos, de
fins dos anos 1990 e início dos anos 2000, que capturam bem o início da digitalização da
música. Três deles são de Militão de Maya Ricardo, todos publicados na Revista Famecos,
da PUCRS, e que tratam de rock, indústria fonográfica e mp3: “Cotidianos na Pós-
Modernidade: técnica, rock e velocidade” (junho 1997), “Indústria Fonográfica no RS: um
futuro possível” (dezembro 1998) e “O mp3 e a Indústria Fonográfica” (junho 2000). O
outro é de Messias Guimarães Bandeira, intitulado “Música e Cibercultura: do fonógrafo
ao mp3 (digitalização e difusão de áudio através da Internet e a repercussão na indústria
fonográfica)” e publicado na Compós de 2000 (ou seria 2001?).
Menos sobre indústria fonográfica e mais sobre digitalização da música, há três
artigos de Simone Pereira de Sá: “A nova ordem musical: notas sobre a noção de “crise” da
indústria fonográfica e a reconfiguração dos padrões de consumo”, “A música na era de
suas tecnologias de reprodução” (revista e-compós, agosto 2006) e, em coautoria com
Leonardo De Marchi “Notas para se pensar a relação entre música e tecnologias da
comunicação” (Revista Eco-Pós, v.6 n.2, agosto-dezembro 2003).
Também dedicado de forma bem específica à digitalização que assola e assombra o
mercado fonográfico, temos o e-book “O futuro da música depois da morte do CD”,
organizado por Irineu Franco Perpétuo e Sergio Amadeu da Silveira. Nessa compilação de
artigos, se fazem presentes “A música na época de sua reprodutibilidade digital”, do
próprio Sérgio Amadeu, e “O CD Morreu? Viva o vinil!”, de Simone Pereira de Sá, entre
muitos outros que também podem ser bem úteis, ainda que aparentemente um tanto
inebriados de um certo otimismo exagerado a respeito do abalo nas estruturas do mercado
do disco, como se isso não reduzisse oportunidades profissionais inclusive de artistas
iniciantes.
Por fim, vale mencionar trabalhos que trazem contribuições para o estudo de alguns
dos conceitos teóricos a serem possivelmente trabalhados na minha pesquisa. Um deles é o
artigo sobre indústria cultural “Crítica e resignação. O trânsito constante entre categorias
nativas e categorias analíticas: a força política e estética da categoria indústria cultural”, de
Elder Maia Alves (Latitude, Vol. 2, n°1, pp.82-105, 2008). Além deste texto, menciono
agora seis dissertações, todas da UFF e orientadas por Simone Pereira de Sá – exceto as
indicadas. A primeira é sobre digitalização da música (capítulo 2) e materialidades da
comunicação (subcapítulo 3.5): “Rádio em tempos de download: a reconfiguração do rádio
FM musical diante das novas tecnologias da informação e da comunicação”, de Jefferson
Mickselly Silva Chagas (UFF, 2010). A segunda envolve materialidades da comunicação
(subcapítulo 1.4): “Guerreiros do metal: disputas em torno do compartilhamento de álbuns
na cena do metal nacional”, de Melina Aparecida dos Santos Silva (UFF, 2013). A terceira
abrange tecnocapitalismo e TICs (ver parte 1): “Tecnocapitalismo, telefonia móvel e
impactos socioculturais”, de Fabíola Orlando Calazans Machado (UFF, 2007 – Dênis de
Moraes). A quarta aborda arqueologia (e tipologias) da escuta, conceito que de certa forma
parece remeter aos estudos do som: “Introdução à arqueologia da escuta ou o nascimento
do cinema sonoro a partir do espírito da ópera”, de Ivan Capeller (UFF, 2005 – Maria
Cristina Franco Ferraz). A quinta é simplesmente sobre crítica musical (ver capítulo 2),
assim como a dissertação de Rafael Schoenherr mencionada há pouco: “A crítica musical
dos anos 1960 e o processo de construção da MPB: uma análise da coluna 'Música
Popular', de Torquato Neto”, de Janaína Faustino Ribeiro (UFF, 2008 – Ana Lúcia Silva
Enne). E a sexta é a dissertação “De inventores a ouvintes: o rádio no imaginário científico
e tecnológico (1920/1930), de Michele Cruz Vieira (UFF, 2010 – Marialva Barbosa).
PESQUISA DA PESQUISA – parte 2:
Definida a opção por um recorte calcado em sites de rock, deixando de lado blogs e
revistas, tratei de procurar especificamente por esse tipo de produto de mídia especializada,
seja combinando as palavras “sites” e “rock”, seja simplesmente colocando os nomes dos
sites – inclusive aqueles que foram descartados. Esses tipos de busca foram expandidos
para outras palavras-chave - “revistas”, “blogs”, “jornalismo”, “imprensa”, “música” – e
suas múltiplas combinações, bem como para nomes de revistas e de blogs.
Dessa forma, o que eu encontrei de mais próximo de sites de rock diz respeito a 2
artigos publicados no Intercom sobre o Whiplash, site que, como já foi visto, acabou
ficando de fora do recorte da pesquisa. Ambos dão ênfase às possibilidades de
interatividade apresentadas por produtos midiáticos desse tipo. Mas cada artigo faz isso a
seu modo. E tanto um quanto o outro, a meu ver, infelizmente apresentaram suas
limitações. O primeiro com o qual eu me deparei foi “O Jornalismo de Rock na
Interatividade da Internet: uma análise do site Whiplash”, de autoria de Verônica Dantas
Meneses e Renato José Maio da Luz, respectivamente professora e acadêmico graduado do
curso de Comunicação Social da UFT – Universidade Federal de Tocantins, e
provavelmente orientadora e orientando de um Trabalho de Conclusão de Curso que deu
origem ao artigo – embora não haja referência alguma nesse sentido na bibliografia.
Apresentado na edição de 2013 do Intercom, em Manaus-AM, o texto se limita a
apresentar uma descrição da estrutura e funcionamento do site e algumas de suas seções,
sem maiores esforços interpretativos. Já o outro, “Webjornalismo e Interatividade no Site
whiplash.net”, é resultado de um curso de especialização em Assessoria de Imprensa da
FAVIP – Faculdade Vale do Ipojuca, sendo de autoria da acadêmica Sthèphanie Villarim
em parceria com o professor orientador Tenaflae Lordêlo. O artigo, apresentado no
Intercom Nordeste de 2012, em Recife-PE, até abora a interatividade do site de uma forma
um pouco mais analítica, mas isso acontece em apenas 4 páginas de um total de 12 do
texto. O restante do espaço do artigo – afora as considerações finais e a bibliografia – é
ocupado por subcapítulos meramente teóricas sobre webjornalismo e sobre interatividade,
em que não há qualquer referência ao site.
Bem mais animador foi o artigo “O Último Show: Descrição da queda da revista
Bizz em sua última fase (2005-2007)”, também apresentado em um Intercom Nordeste, o
de 2009, em Teresina-PI. Apesar de se tratar de uma revista, e não de um site, o artigo
capta justamente as dificuldades que a reconfiguração do mercado da música acabou
impondo a uma importante publicação mensal em sua tentativa de retorno às bancas após
ter funcionado ininterruptamente de 1985 a 2001. Resultado do Trabalho de Conclusão de
Curso de Thiago Meneses Alves orientado por Gustavo Fortes Said no curso de
Comunicação Social da UFPI – Universidade Federal do Piauí, TCC que apresenta o
mesmo título e encontra-se referido na bibliografia, o artigo, assinado por orientando e
orientador, aborda esse novo cenário de produção da informação no capitalismo
contemporâneo e as mudanças na cultura de consumo que o mesmo acarreta, e esses
fatores simbólicos e econômicos aparecem sempre articulados com a trajetória (final) da
revista. O texto ainda traz trechos de entrevistas com alguns dos profissionais da Bizz,
inclusive o editor-chefe Ricardo Alexandre, que encabeçou o retorno da Bizz. Enfim, trata-
se de um artigo aproveitável do início ao fim. Não vejo a hora de tomar contato com o
TCC, que infelizmente não encontrei disponível na rede.
Também encontrei no site do Intercom alguns outros poucos artigos sobre revistas
de rock. Foram 7 sobre a Rolling Stone (2 deles envolvendo também a Billboard), além de
1 sobre a DJ Sound – revista brasileira mais voltada à música eletrônica – e 1 sobre a New
Musical Express – esta uma publicação estrangeira, e das mais renomadas. Ao contrário do
artigo sobre a Bizz, nenhum desses apresenta uma relação mais direta com a
reconfiguração do mercado da música vivenciado nesse início de século 21. De um modo
geral, são temáticas muito específicas, como a guetização no caso do artigo sobre a DJ
Sound e, em se tratando do texto que tomou como objeto empírico a New Musical Express,
a teoria do enquadramento e a vertente de rock inglês dos anos 1990 chamada de britpop.
Mesmo os artigos sobre a Rolling Stone e a Billboard não fogem muito a essa regra,
contemplando cada um conteúdos bem pontuais como contrato de leitura, gêneros
jornalísticos, critérios de noticiabilidade, agenda-setting e análise de discurso (de uma
única edição da revista, a 44). Até há outros 2 artigos um pouco mais promissores: um
sobre jornalismo online e outro, contemplando o conceito de indústria cultural. O primeiro,
porém, se limita a descrever as ferramentas do site da Rolling Stone. Já o segundo não
estabelece maiores articulações entre indústria cultural e a revista.
Assim, os outros 2 artigos que eu incluirei aqui na minha pesquisa da pesquisa feita
no site do Intercom, e que irão se somar aos outros 3 mencionados anteriormente, são
relacionados à indústria fonográfica: “A Questão dos Suportes na Indústria Musical:
concentração, substituição, desmaterialização”, de Eduardo Vicente, e ““Um passo à frente
e você não está mais no mesmo lugar”: os anos 90 e o rock no Brasil”, de Rafael Machado
Saldanha. O primeiro, apresentado no Intercom de 2009, em Curitiba-PR, traça uma breve
história da do mercado fonográfico e de sua crise atual a partir dos suportes dos discos de
vinil, fitas cassete, CD e mp3 – sendo que esse último representa, para Eduardo Vicente,
justamente a desmaterialização dos suportes. Autor do livro “Da vitrola ao iPod: uma
história da indústria fonográfica no Brasil”, resultado de sua tese de doutorado, e de vários
outros trabalhos, ele apresenta em seu artigo diversos dados numéricos e outras
informações para embasar suas argumentações.
Autor da monografia “Rock em Revista: o jornalismo de rock no Brasil”, de 2005,
referida em vários trabalhos envolvendo música e mídia desenvolvidos desde então
(incluindo o presente projeto de tese), Rafael Machado Saldanha apresentou, no Intercom
Sudeste de 2006, artigo resultante de seus estudos já enquanto mestrando. Apesar de dar
ênfase ao mercado fonográfico dos anos 1990, passando também pela década anterior, o
trabalho fornece importantes subsídios para a compreensão das mudanças ocorridas no
mercado fonográfico nos anos 2000, na medida em que a consolidação do CD nos anos
1990, em substituição ao vinil que predominou até os anos 1980, configurou o início da
digitalização na música que viria a desembocar no mp3 a partir dos anos 2000. O autor
também embasa seu artigo com uma vasta quantidade de fontes – inclusive estatísticas.
Além desses artigos, eu encontrei no site do Intercom diversos outros que
apresentam, em maior ou menor grau, relação com a minha proposta de tese. Pesquisei
também o site da Compós, tendo baixado 9 artigos, dos quais 2 se mostraram bastante
relevantes. Ambos também são sobre indústria fonográfica e trazem o nome de Eduardo
Vicente na autoria. O primeiro é “Vida e morte da indústria fonográfica? Impasses e
perspectivas de um cenário em crise”, que igualmente faz uma retrospectiva histórica do
mercado do disco e toma por base as décadas de 1980 e sobretudo 1990 para abordar as
mudanças trazidas pela digitalização no século 21, e o segundo é “Música infinita: serviços
de streaming como espaços híbridos de comunicação e consumo musical”, escrito em
coautoria com Leonardo De Marchi e Marcelo Kischinhevsky e centrado no streaming,
recurso mais recente de consumo de música, diretamente na internet e que dispensa a
necessidade de armazenamento, seja de arquivos digitais ou, mais ainda, de suportes
físicos. A partir daí, os autores abordam a dificuldade de monetização da música daí
resultante. Ainda no site da Compós, também merece menção honrosa o artigo “O rock e
as bases de uma cultura musical pop”, de Renato Costa Villaça, que traça um belo
desenvolvimento do conceito teórico de cultura pop.
Quanto às dissertações e teses defendidas no PPGCOM da Unisinos, pesquisei
aquelas disponibilizadas no site do Programa e confesso que não encontrei nenhuma que
tivesse uma relação mais direta com a minha proposta de tese. Nem mesmo entre as da
linha 3. Aliás, as que mais se aproximaram da minha problemática foram dissertações
orientadas por professores que foram ou são vinculados à linha 1. Desses, apenas 1 é mais
propriamente “audiovisual”. Os outros 2, apesar de possuírem mais relação com a linha 1,
ironicamente são mais “sonoros”. A começar por “O Jabá no Rádio: Atlântida, Jovem Pan e
Pop Rock” (2006), de Katia Suman, já mencionado na pesquisa da pesquisa anterior deste
projeto. Também orientado pelo professor Valério Brittos, vale mencionar “MTV Brasil: o
mercado comercial da música jovem”, de Ana Paola de Oliveira e datado de 2004, época
em que, pelo que me consta, as linhas de pesquisa do PPG ainda eram outras – mas o
orientador, pelo que igualmente me consta, viria a fazer parte da linha 1. Oriunda dessa
mesma linha audiovisual, mas totalmente sonora, é “Entre o novo e o obsoleto: memória,
rastros e aura do hardware na chipmusic” (2014), de Camila Schäfer e orientado por
Suzana Kilpp. Da linha 3, a dissertação que me pareceu mais próxima – ou menos distante
– do meu trabalho é “Interação em trânsito: jornalismo para dispositivos móveis” (2014),
de Diogo Reck Figueiredo sob orientação do meu orientador Fabrício Silveira.
Eu poderia ter mencionado também a minha própria dissertação, “O Processo
Inicial de Formulação de Produtos de Mídia Impressa Brasileira Voltados ao Público
Jovem – um estudo de caso da revista Pop” (2003), mas acho que aí não vale... Sem falar
que ela não se encontra no site do PPG...
Diante desse quadro não muito animador de proximidade (ou falta de) para com o
meu projeto (embora ao mesmo tempo isso seja bastante animador na medida em que
demonstra a existência de poucos trabalhos a respeito – o que se aplica também ao que foi
possível constatar nas pesquisas da pesquisa feitas nos sites da Intercom e da Compós),
resolvi partir para o trabalho que possivelmente seja o que apresenta relação mais direta
com a minha proposta de pesquisa. Trata-se de uma tese sobre revistas de rock e crítica
musical, defendida por Cassiano Scherner na PUCRS em 2011, sob orientação de
Francisco Rüdiger, e intitulada “O criticismo do rock brasileiro no jornalismo de revista
especializado em som, música e juventude: da Rolling Stone (1972-1973) à Bizz (1985-
2001)”. Abordando essas e outras revistas dos anos 1970 e 1980, a exemplo de Pop,
Música, Somtrês e Pipoca Moderna, trata-se do trabalho que mais se aproxima de uma
história do jornalismo brasileiro de rock. Antes de partir para os capítulos dedicados a cada
uma das revistas mencionadas, o autor traça um histórico panorâmico de várias outras
publicações brasileiras de rock (incluindo algumas que inicialmente fariam parte da
pesquisa, mas que ficaram de fora por conta de não ter sido possível tomar contato com
todas as suas edições), além de um histórico do próprio rock brasileiro, e faz uma
verdadeira pesquisa da pesquisa com relação a estudos dedicados a cultura pop e crítica
musical. Com base nessa fundamentação teórica e histórica, Cassiano Scherner analisa
como a crítica musical era praticada em cada revista. Demonstra que as pioneiras Rolling
Stone (em sua primeira encarnação brasileira) e Pop, nos anos 1970, em que pesem todos
os seus méritos (não só de pioneirismo), apresentavam pouco potencial analítico. Esse
quadro só começou a se alterar no final daquela década, com as revistas Música e
sobretudo Somtrês. E se consolidou de vez com a revista Bizz, tida como a principal
publicação impressa brasileira sobre rock, tendo passado por diversas mudanças e fases ao
longo de sua trajetória, que durou de 1985 a 2001 – sem contar o seu retorno, de 2005 a
2007, mas essa fase não se faz presente na tese. Entre os capítulos dedicados a Somtrês e
Bizz, há ainda um pequeno capítulo – definido enquanto um “excurso” – sobre as 5 edições
da revista Pipoca Moderna e a edição seguinte e derradeira, já renomeada como Mixtura
Moderna, todas publicadas entre os anos de 1982 e 1983.
A tese apresenta alguns problemas, a meu ver, por ter se concentrado demais no
elemento “crítica” e ter feito uso apenas do produto propriamente dito (as edições
impressas). A realização de entrevistas com jornalistas e editores, além de fornecer mais
informações históricas sobre as revistas e o modo como se constituíram e como
funcionavam em termos de rotinas produtivas e profissionais (rotinas de redação e
empresariais), traria mais subsídios inclusive para a compreensão de como era pensada e
realizada a crítica musical por cada uma delas. A própria análise do produto (revistas)
poderia dar origem a várias perguntas cujas respostas enriqueceriam bastante o trabalho.
Caso a pesquisa tivesse contemplado também a instância da produção, poderia não apenas
mostrar “como” a crítica era desenvolvida em cada revista, mas trazer alguns “porquês”
referentes às suas respectivas opções editoriais.
Mas nada disso tira os méritos da tese, inclusive por conta de seu ineditismo. Ao
menos eu não conheço nenhum outro trabalho acadêmico dedicado a apresentar um
histórico do jornalismo brasileiro de rock. Afora essa tese, há apenas a monografia “Rock
em revista: o jornalismo de rock no Brasil” (2005), de Rafael Machado Saldanha, que,
apesar de ser um trabalho em nível de graduação, já foi usado como referência por diversos
autores de estudos sobre rock e mídia realizados posteriormente, inclusive pelo próprio
Cassiano Scherner, e será utilizado por mim também – aliás, já está sendo. O que
demonstra o quanto esse tipo de assunto carece de pesquisas a respeito – assunto para o
qual, até o final deste doutorado, pretendo trazer minha módica contribuição.
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Ricardo. Dias de luta: o rock e o Brasil dos anos 80. 2. ed. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2013.
ALEXANDRE, Ricardo. Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar: 50 causos e memórias do rock brasileiro (1993-2008). Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2013.
ALEXANDRE, Ricardo. 89FM: a história da rádio rock do Brasil. São Paulo: Tambor Digital, 2014.
BARCINSKI, André. Pavões misteriosos: 1974-1983: a explosão da música pop no Brasil. São Paulo: Três Estrelas, 2014.
BONIN, Jiani Adriana. Problemáticas metodológicas relativas à pesquisa de recepção/produção midiática. In: MALDONADO, Alberto Efendy (org.) Panorâmica da investigação em comunicação no Brasil. Salamanca: Comunicación Social, 2014, v.1, p.41-54.
DIAS, Marcia Tosta. Os donos da voz: indústria fonográfica brasileira e mundialização da cultura 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2008.
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