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1 Boletim 1116/2016 – Ano VIII – 07/12/2016 Projeto 'estica' contribuição e corta benefício Por Edna Simão, Fabio Graner e Cristiane Bonfanti A reforma de Previdência Social do presidente Michel Temer vai reduzir o valor das aposentadorias e pensões pagas no setor privado e público e exigir uma permanência cada vez maior no mercado de trabalho. Além disso, vai criar um "gatilho" para elevar, ao longo do tempo, a idade mínima, definida em 65 anos de idade, conforme a evolução da expectativa de sobrevida da população. Assim, até 2060, a idade mínima de aposentadoria deve ter dois ajustes e chegar a 67 anos. A reforma exige ao menos 25 anos de contribuição para dar direito ao benefício. Ele vai ser tanto maior quanto mais tempo o cidadão contribuir. Para ter 100% do benefício ao se aposentar com 65 anos a pessoa precisará contribuir por 49 anos. Ou seja, precisará ter contribuído ininterruptamente desde os 16. Se contribuir pelo tempo mínimo de 25 anos, receberá 76% do salário benefício. A medida afeta principalmente trabalhadores de baixa renda, que, no caso da aposentadoria por idade, tinham tempo mínimo de contribuição de 15 anos. Depois de muitos adiamentos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência Social foi encaminhada na noite de segundafeira ao Congresso Nacional, após ser apresentada para a base aliada da Câmara e do Senado e às centrais sindicais. A expectativa do secretário de Previdência Social, Marcelo Caetano, a quem coube apresentar a reforma, é que a proposta seja aprovada pelo Congresso Nacional na virada do primeiro para o segundo semestre de 2017. Pelas estimativas, o governo deverá economizar mais de R$ 730 bilhões em dez anos com reforma, considerando as mudanças no INSS e BPC e alterações no regime público. Caetano disse que a proposta prevê ainda desvinculação do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e das pensões por morte do salário mínimo, a criação de uma contribuição mínima de aposentadoria para o trabalhador rural e fim da isenção dos exportadores, além da regra de transição de 15 anos para homens (a partir de 50 anos de idade) e 20 para mulheres (a partir de 45 anos). O secretário destacou que as mudanças são essenciais para garantir a sustentabilidade das contas e evitar sucessivas reformas. Com o gatilho instituído, a mudança na idade mínima de aposentadoria, explicou Caetano, deve acontecer na virada de 2020 para 2030 e dos anos 2040 para 2050. Atualmente, a expectativa de sobrevida para homens e mulheres que chegam aos 65 aos é de 18 anos. Para quem estiver dentro da regra de transição do regime, haverá um acréscimo de 50% sobre o tempo que resta, com base na regra anterior, para a aposentadoria. Assim, um

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Boletim 1116/2016 – Ano VIII – 07/12/2016

Projeto 'estica' contribuição e corta benefício Por Edna Simão, Fabio Graner e Cristiane Bonfanti A reforma de Previdência Social do presidente Michel Temer vai reduzir o valor das aposentadorias e pensões pagas no setor privado e público e exigir uma permanência cada vez maior no mercado de trabalho. Além disso, vai criar um "gatilho" para elevar, ao longo do tempo, a idade mínima, definida em 65 anos de idade, conforme a evolução da expectativa de sobrevida da população. Assim, até 2060, a idade mínima de aposentadoria deve ter dois ajustes e chegar a 67 anos. A reforma exige ao menos 25 anos de contribuição para dar direito ao benefício. Ele vai ser tanto maior quanto mais tempo o cidadão contribuir. Para ter 100% do benefício ao se aposentar com 65 anos a pessoa precisará contribuir por 49 anos. Ou seja, precisará ter contribuído ininterruptamente desde os 16. Se contribuir pelo tempo mínimo de 25 anos, receberá 76% do salário benefício. A medida afeta principalmente trabalhadores de baixa renda, que, no caso da aposentadoria por idade, tinham tempo mínimo de contribuição de 15 anos. Depois de muitos adiamentos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência Social foi encaminhada na noite de segundafeira ao Congresso Nacional, após ser apresentada para a base aliada da Câmara e do Senado e às centrais sindicais. A expectativa do secretário de Previdência Social, Marcelo Caetano, a quem coube apresentar a reforma, é que a proposta seja aprovada pelo Congresso Nacional na virada do primeiro para o segundo semestre de 2017. Pelas estimativas, o governo deverá economizar mais de R$ 730 bilhões em dez anos com reforma, considerando as mudanças no INSS e BPC e alterações no regime público. Caetano disse que a proposta prevê ainda desvinculação do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e das pensões por morte do salário mínimo, a criação de uma contribuição mínima de aposentadoria para o trabalhador rural e fim da isenção dos exportadores, além da regra de transição de 15 anos para homens (a partir de 50 anos de idade) e 20 para mulheres (a partir de 45 anos). O secretário destacou que as mudanças são essenciais para garantir a sustentabilidade das contas e evitar sucessivas reformas. Com o gatilho instituído, a mudança na idade mínima de aposentadoria, explicou Caetano, deve acontecer na virada de 2020 para 2030 e dos anos 2040 para 2050. Atualmente, a expectativa de sobrevida para homens e mulheres que chegam aos 65 aos é de 18 anos. Para quem estiver dentro da regra de transição do regime, haverá um acréscimo de 50% sobre o tempo que resta, com base na regra anterior, para a aposentadoria. Assim, um

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homem com mais de 50 anos que esteja faltando um ano para se aposentar terá que trabalhar mais seis meses. Todos abaixo dessa idade e, no caso das mulheres, abaixo de 45 anos estarão na regra nova. "Se fizéssemos a reforma da previdência em que regras valessem só para quem vai ingressar no mercado, a gente perceberia os efeitos da reforma da previdência em 30 a 40 anos. Não temos condições de esperar tanto. Regras de transição precisam ser estabelecidas", disse Caetano. Pela nova regra, o cálculo da aposentadoria vai considerar um piso de 51% da média do salário dos contribuintes, acrescido de um ponto percentual por cada ano de contribuição. Atualmente, no regime geral, vale uma média de 80% das maiores contribuições. Conforme, antecipado pelo Valor, seria uma espécie de "bônus" para beneficiar os trabalhadores que entraram muito cedo no mercado de trabalho. Mas na prática mostra que a reforma promove uma mudança forte de regras e deverá enfrentar resistência no Congresso. Outra parte polêmica da reforma é a que prevê a desvinculação do reajuste do BPC e pensões do salário mínimo. No caso do BPC, a idade para requerer o benefício vai saltar de 65 para 70 anos, cinco anos a mais do que a idade mínima que será fixada para estabelecer uma diferença entre benefício contributivo e assistencial. O aumento não será imediato. Acontecerá ao longo de dez anos. Também será definido, em um projeto de lei, um novo conceito de pobreza para atender exigência do Supremo Tribunal Federal (STF). No caso das pensões, o governo acabou com o benefício integral da viúva, que passaria a receber o mínimo de 60% do valor. Pela nova regra, haverá uma cota familiar de 50%, com adicional de 10% por dependente, até atingir 100% situação em que a família tem quatro filhos. "Quando o filho atinge a maioridade, essa cota de 10% não é revertida para a viúva", disse o secretário. Outra alteração é a vedação de acumulação da aposentadoria com pensão. "A regra se altera para que a pessoa escolha entre aposentadoria e a pensão o benefício que é maior para ele", explicou. Apesar das críticas do setor rural, a reforma estabelece o fim da isenção das contribuições previdenciárias sobre as receitas decorrentes das exportações e cria uma contribuição mínima do trabalhador. A regra atual estabelece que o trabalhador rural faça uma contribuição de cerca de 2% sobre o valor comercializado. A alíquota será definida posteriormente em lei. Sobre as renúncias previdenciárias, Caetano que as empresas que optam pela contribuição sobre o faturamento pagarão também sobre as vendas ao exterior, que hoje são isentas. De acordo com o secretário, hoje, há uma renúncia anual de cerca de R$ 6 bilhões por conta dessa isenção. A PEC que trata da reforma da Previdência estabelece ainda a criação de uma lei de responsabilidade previdenciária, em projeto que será encaminhado ao Congresso. Um dos pontos que deverá ser definido na lei são penalidades para Estados e municípios que descumprirem a determinação para criar, em dois anos, regime de previdência complementar aos servidores que querem benefício previdenciário acima do piso do INSS atualmente de R$ 5.189.

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Reforma "dura" pode ajudar a conter déficit dos Est ados Por Tainara Machado, Marta Watanabe e Camilla Veras Mota Ao incluir servidores públicos e extinguir o regime diferenciado de aposentadoria para professores, a reforma da Previdência apresentada ontem pelo governo pode contribuir para reduzir o acelerado ritmo de crescimento do gasto com pessoal inativo nos Estados e municípios. Até agora, os servidores públicos podiam se aposentar aos 55 anos, no caso das mulheres, e 60, no caso dos homens. O projeto apresentado pelo governo unifica a idade mínima para trabalhadores do setor privado e público em 65 anos. A reforma também estabelece que o reajuste do servidor aposentado deixe de acompanhar a correção dada ao funcionário em atividade.

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"Isso vai estancar a trajetória de alta da despesa previdenciária nos governos estaduais e municipais. Em boa medida, esses entes estão quebrados pela questão previdenciária", afirma Paulo Tafner, especialista em Previdência e professor da Universidade Cândido Mendes. Para Renato Fragelli, professor da Fundação Getulio Vargas, a inclusão dos servidores deve ajudar nas contas de todos os entes da federação, mas o impacto será gradual. O efeito mais imediato, caso a reforma venha a ser aprovada, deve ser a redução da curva de juros futuros e o aumento da confiança dos agentes de mercado. Para ele, a reforma é dura, mas deveria ser aprovada como está. No entanto, avalia, provavelmente o cálculo do benefício e a regra de transição serão alvo de intenso debate no Congresso, com possibilidade de mudança no projeto. Tafner, que considerou o projeto abrangente e bem escrito, avalia que há espaço para "aprimoramentos" na tramitação do projeto no Congresso. "O que não significa desfigurar a proposta. São pequenos ajustes", diz ele. Um dos pontos em que o governo pode ter "pesado a mão", segundo Tafner, é na fórmula de cálculo do benefício. De acordo com a proposta, o valor da aposentadoria corresponderá a 51% da média dos salários durante o período de contribuição, mais 1 ponto porcentual a cada ano trabalhado. Ou seja, para se aposentar com a média dos benefícios recebidos ao longo de toda vida, são necessários 49 anos de contribuição. Uma fórmula mais perto de 60+40, ao invés dos 51+49 propostos pelo governo, poderia ser mais palatável, avalia o especialista. Outro item polêmico, segundo Leonardo Rolim, exsecretário de Previdência Social e atualmente consultor da Câmara, é a proposta de elevar de 15 anos para 25 anos o período mínimo de contribuição para aposentadoria. Essa condição de acesso, diz, deve prejudicar principalmente os trabalhadores de baixa renda. Quem se aposenta mais cedo atualmente, por tempo de contribuição e bem antes dos 65 anos, explica, são os trabalhadores de maior renda, que têm empregos de maior qualidade e ficam mais tempo na economia formal. A aposentadoria por idade, diz ele, é usada como acesso ao benefício principalmente pela população da baixa renda, que passa muito tempo na informalidade e por isso não consegue se aposentar por tempo de contribuição. "Provavelmente essas pessoas terão dificuldade de comprovar 25 anos de contribuição aos 65 anos. É provável que elas tenham que se manter mais tempo no mercado de trabalho para se aposentar."

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Texto tem pontos polêmicos e margem para negociação Por Fabio Graner A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência Social tem como mérito colocar de vez para a sociedade uma discussão que era inescapável. Mas o texto apresentado tem pontos altamente polêmicos, como a possibilidade de uma viúva sem filhos receber como pensão apenas 60% do salário mínimo, por conta da desvinculação do benefício com o piso salarial do país. É verdade que o texto apresentado veio com margem de negociações, como confirmam fontes do próprio governo. Mas é preciso cuidado para que situações como a acima mencionada não se transformem em símbolos que compliquem demais a tramitação. Em um ambiente de elevada instabilidade política, esse risco é ainda maior. Outro ponto sujeito a ataques é o tempo previsto para garantir 100% do valor do benefício. Serão necessários longos 49 anos de contribuição e ingresso no mercado de trabalho ainda na adolescência (16 anos) para ter direito à aposentadoria integral. E, mesmo assim, haverá perda de renda para o cidadão, já que a nova fórmula leva em conta todas as contribuições, inclusive as do início da vida laboral, quando os salários costumam ser muito mais baixos. Hoje, o cálculo do benefício desconsidera parte das contribuições menores feitas ao sistema. Para o governo, a vantagem é que hoje há um grau de amadurecimento maior da sociedade em relação à necessidade de reformar o sistema para dar sustentabilidade. No governo Dilma Rousseff já discutiase criar algum mecanismo para adiar a aposentadoria. Outra vantagem é que Temer tem recebido apoio maciço dos aliados no Congresso e a natureza "parlamentarista" de seu governo eleva as chances de aprovação. Na área técnica, considerase que há espaço para negociação, mas as ponderações são que, quanto mais a reforma for suavizada agora, maior o risco de uma nova rodada em alguns anos. O desafio que está colocado é equilibrar o sistema sem desconsiderar as especificidades brasileiras, entre elas a ainda elevada desigualdade social.

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Meirelles diz que proposta está aberta e à espera d e 'contribuições' e 'palpites' Por Arícia Martins e Camilla Veras Mota A proposta de reestruturação da Previdência não é um texto fechado, está aberta ao debate, disse ontem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a sindicalistas da União Geral dos Trabalhadores (UGT). O convite a "contribuições" e "palpites" feito em São Paulo a trabalhadores marcou um discurso mais brando do que o usado pela manhã pelo secretário da Previdência, Marcelo Caetano, que destacou a importância da aprovação da medida nos temos formulados pela equipe técnica durante a apresentação da PEC em Brasília. O ministro ressaltou que falava "de coração aberto" e que, desde que assumiu, tem conversado com especialistas para propor medidas que retirem o Brasil da recessão. "Eu estou aqui hoje, amanhã é outro. Presidente, ministro, sindicalista... Todo mundo vai mudando, mas, no momento em que assumimos uma responsabilidade, temos que fazêla bem", afirmou. Meirelles falou ainda sobre o desequilíbrio das contas do governo, a consequente necessidade de ajuste fiscal e reforma da Previdência, e defendeu que a proposta enviada pelo governo, ainda que esteja aberta a discussão e sujeita a mudanças durante a tramitação no Congresso, é "realista". "Não é questão de fazer reforma dura, mole ou mais ou menos. Estamos propondo medidas para a Previdência não quebrar." Também presente, Caetano ressaltou que reforma respeitará os direitos adquiridos e argumentou, com os números do déficit do INSS dos últimos dois anos, de R$ 86 bilhões em 2015 e de R$ 149 bilhões previsto para 2016, que a reforma é uma questão estrutural. "O objetivo da reforma é manter o pagamento de aposentadorias e pensões sem aumentar impostos". Caetano ressaltou que a regra de transição nos termos propostos de 50 anos para homens e de 45 para mulheres era necessária pois, caso contrário, o efeito positivo da PEC sobre as contas públicas seria demasiadamente protelado. Ainda assim, ele afirmou que a PEC não trará "benefícios de curto prazo para o governo". O presidente da UGT, Ricardo Patah, afirmou que a central não aceitará a reforma da forma como está estabelecida. "Vamos insistir que qualquer mudança que venha a ocorrer aconteça exclusivamente para pessoas que adentraram o mercado", disse. Segundo ele, as centrais vão valorizar o diálogo para discutir as medidas. "Tenho certeza que vamos fazer mudanças importantes com os senadores e deputados."

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A crise do mercado de trabalho Por João Saboia Embora a atual recessão tenha se iniciado em meados de 2014, seus efeitos sobre o mercado de trabalho do país só começaram a ser sentidos com mais clareza no início de 2015. Tal resultado não chega a ser uma surpresa pois tanto na queda quanto no crescimento o mercado de trabalho leva alguns meses para acompanhar o comportamento da economia. A partir de janeiro do ano passado o mercado de trabalho entrou em franco retrocesso com uma rapidez e intensidade sem paralelo com as experiências recessivas anteriores. Segundo os dados da Pnad Contínua (PnadC), a taxa de desemprego passou de 6,8% em janeiro de 2015 para 11,8% em outubro de 2016. Atualmente há 12 milhões de desempregados de acordo com as estatísticas oficiais do IBGE. O emprego com carteira assinada reduziu em quase 3 milhões o número de vagas nos últimos dois anos. Surpreendentemente, a remuneração média das pessoas ocupadas caiu relativamente pouco (3,5%) desde o início de 2015. Se levarmos em consideração a intensidade da queda da economia nos últimos dois anos e a aceleração inflacionária do ano passado, seria de se esperar que o nível de rendimento tivesse sido mais atingido. A atual política do salário mínimo e os reajustes efetuados em janeiro dos últimos dois anos certamente tiveram um papel importante para evitar que o rendimento do pessoal ocupado caísse ainda mais.

“Queda vertiginosa do emprego ficou para trás, mas não se deve descartar uma nova deterioração”

Uma das vantagens da PnadC é permitir o acompanhamento mensal do mercado de trabalho de modo a se ter uma visão conjuntural do que está ocorrendo. A análise de seus dados desde o início do ano passado confirma a intensidade da piora até meados deste ano. Mas por outro lado também sinaliza para um arrefecimento desta piora no segundo semestre de 2016. Vamos ilustrar a situação com as três variáveis fundamentais do mercado de trabalho já mencionadas acima a taxa de desemprego; o nível médio de remuneração; e o tamanho do setor formal da economia (empregos com carteira assinada). As três variáveis podem ser analisadas simultaneamente através de um índice multidimensional do tipo que varia entre 0 e 1, de modo que quanto mais alto seu valor melhor seja a situação analisada. (A metodologia deste índice pode ser vista no Texto para Discussão 021/2014, www.ie.ufrj.br).

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O gráfico mostra a evolução do índice no período entre março de 2012 e outubro de 2016. A melhora é nítida nos dois primeiros anos. Apresenta certa flutuação ao longo de 2014 e piora a partir do início de 2015. Se considerarmos o valor do índice, em março de 2012, atingia 0,266. No auge, em junho de 2014, chegou a 0,932. Em outubro deste ano não passava de 0,135. Em outras palavras, a situação atual do mercado de trabalho é bem inferior à encontrada em 2012, significando que o mercado de trabalho recuou pelo menos quatro anos. (A PnadC teve início em março de 2012 não permitindo análises comparativas com anos anteriores). Outro resultado que pode ser destacado no índice é sua relativa estabilidade a partir de meados deste ano. A taxa de desemprego encontrase estável em 11,8% desde agosto. A remuneração média em outubro (R$ 2.015) é a mesma de maio. O percentual de empregados com carteira assinada no total de pessoas ocupadas também está relativamente estável em 37,9% desde o último mês de maio. A pergunta que surge imediatamente é se o mercado de trabalho teria chegado ao fundo do poço e passaria a se recuperar daqui para a frente. A resposta obviamente não é simples.

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O governo acredita que com a aprovação da PEC 55 e a reforma da previdência criará um clima favorável à retomada dos investimentos, resultando no início da reativação da economia e, consequentemente, do mercado de trabalho. Tratase de uma aposta bastante questionável, na medida em que a capacidade ociosa da economia está muito elevada e tanto empresas quanto consumidores estão bastante endividados com alto nível de inadimplência. Além disso, a taxa de juros permanece muito alta e a queda da Selic está vindo a conta gotas. Para piorar, a crise política não para de se aprofundar. Em outras palavras, a conjuntura está muito desfavorável para a retomada da economia. Tendo em vista a importância dos gastos públicos na economia brasileira, seu congelamento em termos reais nos próximos anos acabará dificultando a retomada do crescimento. O mercado tem reajustado suas expectativas para o crescimento econômico de 2017 para baixo. O próprio governo não parece muito convencido de que haverá crescimento da economia no próximo ano e já está adiando o início da retomada para o segundo semestre. Por conta das dúvidas sobre o comportamento futuro da economia, as perspectivas para o mercado de trabalho em 2017 não poderiam deixar de ser pessimistas. A queda da taxa de desemprego que usualmente ocorre no segundo semestre de cada ano não ocorreu em 2015 e nem neste ano. Ela tem se estabilizado nos últimos meses por conta do desalento daqueles que não conseguem se empregar e se retiram do mercado de trabalho. O rendimento médio parece ter se estabilizado, mas a população ocupada continua diminuindo. Embora a queda vertiginosa do mercado de trabalho tenha ficado para trás, o mais provável é que ele se comporte nos próximos meses como vem se comportando na segunda metade de 2016, sem geração de novos empregos e com o desemprego, a renda e a informalidade mantendose relativamente estáveis nos níveis atuais. De qualquer forma, não se deve descartar uma nova deterioração, dependendo de até quando teremos que esperar para que a economia volte efetivamente a se recuperar. E isso parece estar longe. João Saboia é professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ. [email protected]. (Fonte: Valor Econômico dia 07/12/2016)

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Contribuição e regra de transição são impasses na r eforma da Previdência Por outro lado, especialistas avaliam que a idade m ínima veio para ficar no Brasil. O secretário do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, detalhou on tem a PEC 287 que muda regras do sistema. São Paulo - O governo federal detalhou ontem a reforma do sistema previdenciário enviada ao Congresso. A proposta prevê idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e mulheres, com contribuição mínima de 25 anos, para os setores privado e público. Por outro lado, aqueles que quiserem receber o teto do benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) - hoje em R$ 5.189 - deverá contribuir por 49 anos. O valor é corrigido anualmente pelo Índice de Preços ao Consumidor (INPC). Na avaliação de especialistas ouvidos pelo DCI, a idade mínima veio para ficar e tem grandes chances de passar pelo crivo do Congresso Nacional e do Senado Federal. Isso não significa, porém, que o processo de aprovação deve ser tranquilo. Para os analistas, a reforma da previdência deve ser palco de uma dura negociação, principalmente em pontos como o tempo de contribuição e as regras de transição. Em coletiva de imprensa ontem, o secretário da Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, disse que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, que institui a reforma da previdência, trará uma economia de R$ 678 bilhões em 10 anos para o INSS, se aprovada. Em relação ao Regime Próprio da Previdência Social (RPPS), que paga as aposentadorias dos servidores públicos, a economia, no caso dos federais, será de cerca de R$ 60 bilhões em 10 anos. Com relação a estados e municípios, as mudanças serão discutidas por cada governo. De acordo com o secretário, se a PEC virar em lei em 2017, o governo pode ter uma economia de R$ 4,6 bilhões em 2018. Em 2019, o valor passa para R$ 14,6 bilhões, em 2020, para R$ 26,7 bilhões e, em 2021, a R$ 39,7 bilhões.

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Detalhes A PEC 287 contempla tantos os trabalhadores do setores privado e como os do setor público, com exceção dos militares. A ideia do executivo federal é estabelecer regras de transição com duração de dois anos que igualem as normas de aposentadoria dos servidores públicos com a dos empregados das empresas privadas, amparados pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Se a reforma for aprovada, o sistema previdenciário vai exigir que os homens e as mulheres do País tenham, no mínimo, 65 anos de idade e 25 anos de contribuição para reivindicar aposentadoria. Pela regra proposta, uma pessoa nessas condições começa tendo direito a 76% do teto do INSS, sendo que a cada ano a mais de contribuição, o sistema vai acrescentando um ponto percentual: com 26 anos, a pessoa passa a ter direito a 77% do teto do INSS e assim por diante. Para o professor do Instituto Insper Otto Nogami este deve ser um ponto de negociação sensível entre as centrais sindicais e o governo . "Sair de um padrão de contribuição de 35 anos e puxá-lo em direção aos 50 anos [no caso do benefício integral] pode gerar problemas entre sindicatos e governo", diz Otto. Para se aposentar por tempo de contribuição é necessário ter 30 anos de contribuição, no caso das mulheres, e 35 anos no caso dos homens. Já o coordenador e professor de administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) Ricardo Balistiero avalia que a idade mínima "veio para ficar", mas que a reforma proposta pelo governo deixa a desejar nas regras de transição. Até o momento, o governo propôs que as regras de transição valerão para as mulheres com idade igual ou acima de 45 anos e para os homens com idade igual ou acima de 50 anos. Para essas pessoas, o sistema vai aplicar um acréscimo de 50% sobre o tempo de contribuição que resta com base na regra antiga. Se faltam 10 anos para um trabalhador se aposentar, ele teria que trabalhar por mais 15 anos. Para Balistiero, o governo também deveria aplicar regras de transição para os trabalhadores um pouco mais novos que 45 e 50 anos. "Um homem com 49 anos e 11 meses pode ter que trabalhar mais 15 anos ao invés de 5 anos como havia se planejado há muitos anos. Esses casos precisariam ser detalhados na PEC", comenta.

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O professor do IMT admite que o rombo previdenciário é um dos principais fatores que alimenta o déficit fiscal, mas que uma reforma que altera o planejamento de vida das pessoas precisaria de um debate mais amplo, principalmente em um governo "cuja legitimidade é questionada". Ele afirma que esse fator político pode ser outro impedimento de decolagem da PEC 287, lembrando que mesmo um governo com respaldo popular, como foi o do ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso (FHC), perdeu ao tentar implementar a idade mínima em 1998. Balistiero afirma que a reforma não contempla as diferenças regionais de condições de trabalho, pontuando o maior nível de informalidade existentes nas regiões Norte e Nordeste em relação ao Sudeste e Sul. Essa foi uma observação feira pelo presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles em um evento ontem. O ministro admitiu considerar diferenças regionais, mas que não podem interferir no de equilíbrio das finanças. Para Nogami, se o governo se atentar demais para essas desigualdades correrá o risco de não tirar a reforma do papel. Sobre os militares não serem incluídos, ele diz que essa é uma categoria que tem uma legislação própria e que, portanto, a negociação de mudanças precisa ser feita à parte. Paula Salati

Sindicalistas cobram mais 'diálogo' São Paulo - Em ato realizado ontem para discutir a reforma da Previdência na sede da União Geral dos Trabalhadores (UGT), em São Paulo, o presidente da central, Ricardo Patah, disse reconhecer a necessidade de mudanças, mas cobrou "respeito" aos trabalhadores. Com a presença do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e do secretário de Previdência, Marcelo Caetano, o dirigente afirmou que a discussão não pode acontecer de maneira "açodada".

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"É lógico que na Previdência nós todos temos consciência da demografia, da questão da longevidade. São situações que merecem um estudo de que se tenham mudanças, porque não há dúvida de que, se nada ocorrer, nós poderemos, num futuro muito próximo, estar sem recursos e impedir aqueles que vão se aposentar de terem seus benefícios", disse Patah. "Mas isso não pode ser de forma açodada, precisamos debater em melhores condições", continuou ele que lidera a terceira maior central sindical do País. Um dos pontos de divergência ressaltados pelo presidente da UGT é a diferença de longevidade entre os estados. "Nós não queremos um caos, não queremos uma insubordinação generalizada, mas queremos respeito. Não dá hoje, no que tange a idade mínima, pra se colocar da forma que está se pretendendo, sabendo que no Norte e no Nordeste, nós temos ainda municípios de alguns estados aonde a longevidade chega a 67 ou 68 anos", afirmou o sindicalista. A proposta apresentada pelo governo prevê uma idade mínima de 65 anos, sendo 50 anos de contribuição para homens, e 45 anos para mulheres (veja mais na página 4). Outro pleito da central é o 'fim dos privilégios'. "Todos nós que somos brasileiros e brasileiras, não podemos permitir que haja salários com 20 mil reais e todos que aqui estão e que representam a base da pirâmide, tenham aposentadoria de 800 ou 900 reais", pontuou Patah. O presidente da UGT elogiou também a disposição para o diálogo. "É a primeira oportunidade que essa equipe tem de está numa atividade junto aos trabalhadores". Pela tarde, os presidentes das UGT, Força Sindical, CUT, CTB, CSB e Nova Central se reuniram em Brasília com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para pedir que o processo tenha mais diálogo, e não seja feito às pressas. Os líderes se reúnem amanhã (8) para debater o tema e chegar a um consenso. A tendência dos sindicalistas é de tentar amenizar a reforma do governo, como reduzir de 65 para 60 anos a idade mínima para a aposentadoria. Fernando Barbosa

(Fonte: DCI dia 07/12/2016)

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Reforma da Previdência prevê gatilho que pode eleva r a idade mínima Projeto apresentado pelo governo traz um dispositiv o que eleva a idade para aposentadoria quando a expectativa de vida de quem chega aos 65 anos aumen tar; para conseguir se aposentar com o teto do INSS, tempo de contribuição será de 49 anos BRASÍLIA - As novas regras para a aposentadoria no Brasil, cujo projeto foi detalhado

ontem pelo governo, podem levar a idade mínima para se requerer o benefício para 67

anos em 2050. Isso porque a proposta, que fixa hoje idade mínima de 65 anos, prevê

também um gatilho que será acionado sempre que a expectativa de sobrevida dos

brasileiros aos 65 anos aumentar mais um ano.

Hoje, o IBGE estima que um brasileiro viva 18,4 anos depois de chegar aos 65 anos. Pela

regra inserida na reforma, quando essa expectativa de sobrevida chegar a 19,4 anos, a

idade mínima para se aposentar vai a 66 anos. Isso deve ocorrer já na virada para os anos

2030.

Outra alta deverá ocorrer no início dos anos 2050, provocando nova elevação.

Na proposta apresentada pelo governo, e que será discutida no Congresso, além da idade

mínima mais elevada, o tempo de contribuição deverá ser de pelo menos 25 anos para

que o trabalhador tenha direito ao benefício.

Haverá, porém, uma regra de transição para homens acima de 50 anos e mulheres acima

de 45 anos. Quem se encaixar nessa faixa etária poderá se aposentar antes, desde que

cumpra um “pedágio”, que vai incrementar em 50% o tempo restante de contribuição (a

referência será a data de promulgação da emenda).

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O cálculo do valor do benefício também vai mudar. Em vez do fator previdenciário ou da

regra 85/95, que são usados hoje, a aposentadoria partirá de uma base de 51% da média

de salários de contribuição.

A cada ano trabalhado, conquista-se mais 1 ponto porcentual.

Na prática, considerando a contribuição mínima por 25 anos, o piso será de 76% do valor

do salário de contribuição. Ou seja, quem contribui pelo teto (atualmente em R$ 5.189,82),

por exemplo, receberia R$ 3.944,26 aposentando-se aos 65 anos, com 25 anos de

contribuição.

Para receber o teto, o tempo de contribuição deverá chegar a 49 anos. Segundo o

secretário de Previdência, Marcelo Caetano, quem contribui pelo salário mínimo, contudo,

não precisa se preocupar. “Não haverá benefício menor que o salário mínimo”, disse.

A proposta já prevê certa “gordura” para ser negociada no Congresso. O governo, no

entanto, evita dizer quais pontos são inegociáveis. “Essa é uma proposta para início de

debate e vamos debater.

(...) Quanto mais amplo o debate, melhor. Por isso estou aqui”, disse o ministro da

Fazenda, Henrique Meirelles, durante encontro com sindicalistas em São Paulo, ontem.

O secretário-geral da Força Sindical, José Carlos Gonçalves, o Juruna, já afirmou ontem

que o gatilho da idade mínima está no rol de medidas que não passarão de jeito nenhum.

A entidade, assim como outras centrais, tem prometido mobilizações contra a proposta.

(Fonte: Estado de SP dia 07/12/2016)

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