projeto de graduação ii

202

Upload: gabriela-teixeira

Post on 08-Mar-2016

220 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

UFES, 2012

TRANSCRIPT

Page 1: Projeto de Graduação II
Page 2: Projeto de Graduação II
Page 3: Projeto de Graduação II

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTOCENTRO DE ARTES

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GABRIELA TEIXEIRA OLIVEIRA

Jardim América REFLEXÕES SOBRE A PROXIMIDADE E A DISTÂNCIA

[Do ponto de vista de uma Arquiteta Urbanista]

VITÓRIA

2012

Page 4: Projeto de Graduação II
Page 5: Projeto de Graduação II

GABRIELA TEIXEIRA OLIVEIRA

JARDIM AMÉRICA:

REFLEXÕES SOBRE A PROXIMIDADE E A DISTÂNCIA

[Do ponto de vista de uma Arquiteta Urbanista]

Projeto de Graduação II

apresentado ao Curso de Arquitetura e

Urbanismo do Departamento de

Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Espírito

Santo, como requisito para obtenção

do grau de Arquiteta Urbanista.

Orientadora: Profª. Drª.Clara

Luiza Miranda

Co-Orientador: Prof. Dr. Fábio

Gomes Goveia

VITÓRIA

2012

Page 6: Projeto de Graduação II
Page 7: Projeto de Graduação II

GABRIELA TEIXEIRA OLIVEIRA

JARDIM AMÉRICA:

REFLEXÕES SOBRE A PROXIMIDADE E A DISTÂNCIA

[Do ponto de vista de uma Arquiteta Urbanista]

Projeto de Graduação aprovado em:________________

Ata de Avaliação da Banca:

______________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_______________________________________________________________

_________________________________________________________

Nota data Profª. Drª. Clara Luiza Miranda

_________________________________________________________

Nota data Prof. Dr. Fábio Gomes Goveia

_________________________________________________________

Nota data Prof. Dr. Antonio Carlos Queiroz Filho.

Page 8: Projeto de Graduação II

Agradecimentos

Page 9: Projeto de Graduação II

Agradeço a Deus,

Aos meus pais e irmão que, com muito carinho e apoio,

não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa

de minha vida. A toda minha família. Amo vocês imensamente.

À professora Clara Luiza Miranda por todos seus

ensinamentos, pela paciência na orientação e sua “Memória

individual” que tornaram possível o desenvolvimento deste

trabalho.

Ao Fábio Goveia (Fabinho) pelas idéias, sugestões e

incentivo.

Ao professor Queiroz por ter aceito o convite, pela

atenção e disponibilidade.

Ao meu querido Alex, pelo companheirismo e por estar

junto até nas derivas em Jardim América.

Aos amigos pelo incentivo e pelo apoio constantes. Em

especial às amizades consolidadas no Cemuni III.

A todos que contribuíram com informações,

depoimentos e imagens. Realmente o trabalho não existiria

sem a ajuda de vocês.

Agradecer não é fácil tarefa, mas entrego que todas as

pessoas que passaram pela minha trajetória contribuíram para

minha formação. Muito obrigada.

Page 10: Projeto de Graduação II
Page 11: Projeto de Graduação II

“O olho vê, a memória revê e a imaginação transvê.”

Manoel de Barros

Page 12: Projeto de Graduação II

Sumário

Page 13: Projeto de Graduação II

APRESENTAÇÃO

1 INTRODUÇÃO: APREENSÃO DO SÍTIO.........................

1.1 Reflexões sobre a proximidade e a distância...............

1.1.1 Memória em discussão...............................................

1.1.2 Representação e corpografia....................................

1.1.3 Outro olhar e imaginação...........................................

1.2 A forma do sítio............................................................

2 VESTÍGIO DE UM INÍCIO PLANEJADO...........................

2.1 Vestígio de um início planejado [base historiográfica]......

2.1.1 Transformações recentes...............................................

2.1.2 Cia Vale do Rio Doce.....................................................

2.2 O que é o lugar?................................................................

2.3 Algumas trajetórias e o sítio...........................................

3 ASSOCIAÇÃO SÍTIO , MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO........

3.1 Sitio e o inconsciente coletivo...........................................

3.2 Proximidade [e distância] de um (a) Urbanista errante......

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................

5 REFERÊNCIAS...................................................................

APÊNDICE.............................................................................

17

17

33

44

50

76

89

89

105

109

111

117

131

131

142

165

171

179

I, II e III

Page 14: Projeto de Graduação II

Apresentação

Page 15: Projeto de Graduação II

O tema deste trabalho surgiu a partir do ensaio “Apreensão

do lugar a partir da imagem: Estudo em Jardim América”, feito

como trabalho final da disciplina “Teoria da História da arquitetura

e da cidade”, ministrado pela professora Clara Luiza Miranda em

2010.

Vale dizer que o ensaio desenvolveu-se a partir de uma

memória particular das cenas do filme “Lamarca”, rodado no então

sítio de estudo. Essa “imagem destinada” se desdobrou em

questionamentos sobre percepção do lugar a partir da imagem,

maneiras de investigar o lugar interpondo com material

pesquisado, tais como os recortes de periódicos e imagens do

IJSN (Instituto Jones dos Santos Neves).

Compreender um sítio é preciso muitos horizontes (

histórico, filosófico, analítico, formal, descritivo, estético, social,

econômico, político etc.). No conteúdo de “Sites Matters” de Carol

Burns e Andrea Kahn (2005), cada um adota o ponto de partida

para examinar um site como relação cultural construída. O ponto

de partida do primeiro capítulo aqui é a uma lembrança particular

do bairro Jardim América.

Este primeiro capítulo ainda, se imbui sobre proximidade e

distância de maneira introdutória.

I

Page 16: Projeto de Graduação II

Permeia sobre possibilidades de investigação apoiando-

se em fontes como “Pesquisas Urbanas” de Gilberto Velho e

“Espaços, corpos e cotidiano” de Byrt Wammack. Relaciona as

questões de memória, substancialmente na “Memória Coletiva”

de Maurice Halbwach. Comenta, em Representação e

corpografia, o registro da experiência da cidade, mencionado

por Paola Berenstein Jacques (2006), como suporte na

corpografia, em que a cidade é lida pelo corpo desta maneira

seria a memória urbana no corpo.

No sub item 1.2 “A forma do sítio”, são mencionadas

características geográficas , enfim o sítio físico de Jardim

América. O texto de Burns e Kahn (2005), que diz que cada

projeto construído cria novas forças dentro de sua própria área

e também modifica e influência além do local e dentro dele. Ao

mesmo tempo os aspectos físicos existentes têm uma influência

enorme no projeto podendo se transformar foco dele. Ainda no

subitem 1.2 ,expõe alguns aspectos sobre a Teoria da Sintaxe

Espacial, aonde faz-se uma análise das vias do bairro.

II

Page 17: Projeto de Graduação II

No capítulo 2 vem a base historiográfica em Vestígio de

um início planejado, em seguida traz os possiveis significados

de “lugar” em O que é o lugar? , e, em Algumas trajetórias e o

sítio faz reflexões sobre termo “trajetórias”, relação com história,

tempo e representação visual [sobretudo fotografia].

Já no terceiro capítulo se inicia com o inconsciente

coletivo mencionado em um depoimento do cineasta Sergio

Resende. Posteriormente, aproveita-se das questões sobre

proximidade e distância, de Walter Benjamim, para por fim

chegar ao lugar, em sua construção simbólica, através da

imagem fotográfica.

Palavras chave: Jardim América, Lugar, Sítio, Corpo, Meios de

representação [Proximidade e distância]

III

Page 18: Projeto de Graduação II

01

Page 19: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

1 INTRODUÇÃO: APREENSÃO DO SÍTIO

1.1 Reflexões sobre a proximidade e a distância

Começo aqui com a minha lembrança, pois uma tarde em que as

pessoas pararam e tudo se voltou para as filmagens do filme Lamarca (1994).

Foi no eixo viário importante de Jardim América, Rua Espírito Santo, que

serviu de cenário para uma de suas cenas, cuja história se passava no tempo

da ditadura.(Figura 1)

Figura 1: Cenas do Filme Lamarca, 1994. Av. Espírito Santo, Jardim América- Cariacica-ES.

Fonte: Imagem retirada http://www.youtube.com/watch?v=F3a_TePgOEE. Acesso: 20/11/2010.

17

Page 20: Projeto de Graduação II

Por que o filme Lamarca busca Jardim América como cenário?

A casa dos meus pais ficava a um quilômetro dali: Jardim América. Foi

a partir dessa primeira experiência urbana que se consistiu do

questionamento sobre proximidade e distância, familiaridade e

estranhamento. (Figura 2)

Imaginar o que havia por detrás dos muros da antiga Siderúrgica

Ferro e Aço, algumas construções abandonadas e os trilhos do trem que

cortam parte da região, numa visão particular, isso é próximo e familiar.

18

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

“[...]Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei, E

aqui tornei a voltar, e a voltar. E aqui de novo tornei a voltar? Ou

somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram, Uma série de contas-

entes ligados por um fio-memória[...]”

(FERNANDO PESSOA, 1926, LISBON REVISITED)

Olivier Mogin (2009) recorre a linguagens antagônicas: a linguagem do

escritor e do poeta por um lado, e do urbanista por outro. Segundo o autor

não há melhor caminho de entrada que aqueles dos escritores que

perscrutam a cidades com seus corpos e suas penas. Adentra dizendo que o

mundo da cidade, essa mistura de físico e de mental, o escritor apreende em

todos os sentidos, o olfato, a audição, o tato, a vista, mas também com os

pensamentos e os sonhos.

Page 21: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 2: Imagem da paisagem

Fonte: Desenho feito a mão. Finalização programa photoshop CS.

Contudo a cidade não se presta numa narrativa única e Mogin (2009)

cita também que a linguagem dos escritores contrasta com outro discurso

importante a cerca do conhecimento da cidade, a do urbanismo. Além disso,

questiona a interferência do homem comum, aquele que vive e passa.

19

Page 22: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

“Enquanto o escritor escreve a cidade de dentro, o engenheiro e o

urbanista a desenham de fora, dela ganhando altura e tomando

distância.[...] Para um, o dentro; para outros, o fora. Eis uma cisão muito

estranha, se a experiência urbana consiste em colocar em relação um

dentro e um fora. Mas haveria outra escolha a não ser valorizar, por um

lado, uma abordagem macroscópica, que associa o urbano a um projeto e a

uma maquete, que valoriza o desenho do engenheiro, o sentido da visão, a

abordagem que dá lugar aos planos diretores e a políticas urbanas? Ou

então, privilegiar, por outro lado, um imaginário da cidade, aquele dos

transeuntes, dos vagabundos das passagens, aquele que exprime os

criadores, o poeta o artista, mas também o homem comum, o homem que

adora a falsa banalidade do cotidiano?”(MOGIN, 2009, p.34)

Gilberto Velho (2003) compartilha das expressões proximidade e

distância expondo uma experiência particular. Ele pesquisara a classe

média de Copacabana, para ele, espacialmente próxima, mas relativamente

distanciada do seu universo de origem. Permeando esse debate ainda com

familiaridade e exotismo, autoridade e acessibilidade. Diz que a diversidade

das experiências reflete a própria diversidade dos mundos pesquisados já

que cada antropólogo tem seu “campo” e seus “nativos”.

20

Page 23: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Dessa perspectiva, este autor, assume que a pesquisa em meio

urbano vem tradicionalmente apresentando alguns desafios específicos, tais

como formas de trabalhar com a diversidade dos mundos, com pessoas que

transitam entre eles, com diferentes potenciais de metamorfose.

Nesse raciocínio Mogin (2009) propõe que o lugar desenhado pelo

urbanista poderia dar corpo a uma experiência urbana que se anuncia em

diversos níveis, o que se entende como a junção da técnica e de uma

poética. Posto que, somente com o entrelaçamento de linguagens, não é

possível absorver essa experiência urbana por completo, justifica-se na

multidimensionalidade da experiência urbana a qual desenvolve processo

poético, em um espaço cênico e um espaço político.

Seguramente as construções mais antigas ou imponentes lembram

que a cidade vem de uma história, que integra processos de modificações

sucessivas, mas lugares que pontuam os percursos são a fonte de uma

“imagem mental” que se forma gradualmente e se dissolve com a própria

idéia da cidade.

““ Os lugares que favorecem as trajetórias, as

bifurcações, as praças, as imbricações, ritmam no presente, na

extensão do espaço, todas as possibilidades desaparecidas da

cidade ainda reconhecidas através dos monumentos, e os

símbolos de uma memória ativa” (MOGIN, 2009, p.53)

21

Page 24: Projeto de Graduação II

Observou-se que galpões abandonados (Figura 3) fazem parte da

paisagem do bairro Jardim América principalmente na Av. América a qual

atravessa a praça “Hugo Viola”. Essas construções mais antigas, atualmente

em sua maioria abandonadas, marcam o apogeu da industrialização no

estado, e são elas, principalmente, os grandes galpões de estocagem,

Estes galpões de armazenagem foram construídos ali na década de

1960. Com a erradicação do café, apoiou também no crescimento do

comércio atacadista e varejista que teve auge nos anos de 1970.

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 3: Imagens de alguns

dos galpões antigos e sem

uso em Jardim América.

Fonte: Arquivo pessoal

(2012).

22

Page 25: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

O ensaio “Espaços, corpos e cotidiano” de Byrt Wammack, busca nas

teorias de Henri Lefebvre e Gilles Deleuze, reconsiderar as conexões entre a

vida cotidiana, o poder e o espaço. Lefebvre defende que um espaço social é

uma combinação de atividades mentais, físicas e sociais e que estabelece

uma ordem no espaço da natureza, no fluxo dos fenômenos espontâneos e

naquele caos que precede a chegada do corpo.

Segundo Lefebvre, citado em Wammack, assimila o espaço social a

imagem cinematográfica. Decorre que o espaço social também é „produto‟ de

uma relação tensão entre o espaço diretamente vivido, as concepções do

espaço e a prática espacial (a prática visual) que produz o espaço social.

Como Lefebvre, Deleuze volta-se para a produtividade do corpo como

suporte da diferença. Deleuze ampliou estudo com base em diversos filósofos

além de estudos como literatura e cinema. E o que Lefebvre chama de

espaço social, Deleuze chama de corpo social, assim como as pontes entre a

produção do espaço e a subjetividade.

As reflexões de Lefebvre se assemelham as citações de Mogin

(2009), quando defende que o espaço social não é homogêneo, mas

„multiforme‟. Desenvolve que o corpo é fonte da energia produtiva já que está

aberto a todos os sentidos- o olfato, a sexualidade, a visão, o ouvido, o tato-

trabalhando como campo de diferenças.

23

Page 26: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

“No mal apreendido espaço do corpo, um espaço que é

igualmente próximo e distante, esta paradoxal junção do repetitivo

e do diferente - esta forma de produção mais básica - está sempre

ocorrendo.” (BYRT WAMMACK; Espaços, corpos e cotidiano)“Walter Benjamin em seu texto “ A obra de arte na era da sua

reprodutibilidade técnica”, menciona o teatro dizendo que ele conhece o ponto

do qual a ação é aprendida como ilusória, sem dificuldade. Já para o cinema

não existe um tal ponto, sendo que essa natureza ilusória está em um segundo

grau, pois resulta de uma montagem. Diz ainda que o aspecto da realidade,

isento de aparelhagem, adquiriu aqui seu aspecto artificial, e a visão da

realidade imediata tornou-se miosótis [pequena] no mundo da técnica.[seria o

cenário de Jardim América insignificante para os produtores do filme Lamarca?

Haveria então essa distância?]

[Walter] Benjamin então mostra que o caráter do cinema que se opõe ao

teatro pode ser confrontado, ainda mais claramente, com o que se verifica na

pintura. Coloca a questão: como se comporta o operador de câmara

relativamente ao pintor?

Para responder Benjamin usa de proximidade e distância fazendo uma

construção auxiliar, comparando o cirurgião e o mago. Nessa análise, o

cirurgião representa o pólo de uma ordem cujo outro extremo é ocupado pelo

mago, visto que a ação do mago que cura o doente impondo as mãos é

diferente do cirurgião que realiza uma intervenção no doente.

24

Page 27: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

“O mago mantém a distância natural que existe entre si próprio e

o paciente; melhor dizendo: ele diminui-a pouco – por força da mão que

coloca no doente – e aumenta-a muito – por força da sua autoridade. O

cirurgião procede ao contrário: diminui muito a distância relativamente

ao paciente – na medida em que intervém no seu interior – e, aumenta-a

apenas ligeiramente – através do cuidado com que a sua mão se move

nos órgãos do paciente. Isto é, contrariamente ao mago (que ainda está

presente no médico), o cirurgião prescinde, no momento decisivo, de se

defrontar, enquanto homem, com paciente, intervindo nele de uma forma

operante.” (WALTER BENJAMIN; A obra de arte na era da sua

reprodutibilidade técnica)

Para Benjamim, mago e o cirurgião comportam-se como o pintor e o

operador de câmara. O pintor, no seu trabalho, observa uma distância natural

relativamente à realidade, o operador de câmara, pelo contrário, intervém

profundamente na textura da realidade. De modo que a natureza que se dirige

à câmara não é a mesma que a que se dirige ao olhar. A diferença está

principalmente no fato de que o espaço em que o homem age

conscientemente é substituído por outro em que sua ação é inconsciente.

Partindo das idéias de Walter Benjamim, o olho apreende mais

depressa do que a mão desenha. A reprodução das imagens experimentou

essa aceleração podendo ser uma expressão dessa nova percepção, a

proximidade com o inconsciente ótico.

25

Page 28: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Etienne Samain (1998) que em seu livro “ O fotográfico” o qual aborda

sobre fotografia e memória, diz que haverá sempre um complexo e

fascinante processo de construção de realidades e aí reside, possivelmente,

o ponto nodal da expressão fotográfica. Sendo moldável na produção, fluída

em sua recepção, plena de verdades explícitas- analógicas, sua realidade

exterior- [distante] e de segredos implícitos – sua história particular, sua

realidade interior- [próxima], imaginária. Trata, pois de uma expressão

peculiar que, por possibilitar inúmeras representações realimenta o

imaginário num processo sucessivo de criação de novas realidades.

A realidade passada é fixa, imutável; refere-se à realidade do assunto

no seu contexto espacial e temporal, assim como a produção da

representação. E como Samain (1998) denomina, é este contexto da vida:

primeira realidade [próximo]. A fotografia [o registro criativo daquele

assunto], corresponde à segunda realidade [distante], a do documento

(Figura 5). A literatura afirma que a realidade nele registrada também é fixa e

imutável, porém sujeita a múltiplas interpretações.

26

Page 29: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Fonte: Imagem Google Earth, editada no programa

photoshop CS .Acesso: 02/11/2011.

Figura 5: Primeiro plano antiga Cofavi. Ao fundo morros de Vitória e Argolas.

Fonte: REVISTA CAPIXABA. Vitória: Capixaba, v. 1, n. 11, jan. 1968

27

Page 30: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Prossegue Samain (1998), dizendo as fantasias da imaginação

individual do imaginário coletivo adquirem contornos nítidos e formas

concretas por meio do chamado testemunho fotográfico. Se o signo é

produto de uma construção por um lado, em contrapartida, a interpretação

desliza entre a realidade e a ficção. Tratam-se, como já vimos, de processos

de construção de realidades, processos esses que desde sempre existiram.

Para Samain (1998, p.47), “[...] Não é difícil imaginarmos em que medida

tais processos se revelarão no futuro.”

Samain (1998) ainda diz que é justamente em virtude que se atribui

ao documento fotográfico, como espelho fiel da história cotidiana, que um

dia [quem sabe] , poderá dar margem à criação de um passado que jamais

existiu. Um passado sem referentes reais, fisicamente concretos. Um

passado, portanto, sem contexto de vida [primeira realidade]; um tempo e

um espaço concebido com bases em referentes fotográficos imaginários,

bidimensionais ou eletrônicos, porém iconograficamente possíveis. Etienne

Samain (1998, p.47), questiona “[...]Por que não? Uma história construída

com base no documento fotográfico ficcional, porém na escala real;

representações de representações” [ainda mais distante?]

28

Page 31: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

O livro “ Site Matters” de Carol Burns e Andrea Kahn (2005) aborda a

importância do site [sítio]. No contexto da cidade de Nova York ter que

hospedar os jogos olímpicos de 2012 ,onde em 2004, lançou o concurso para

que arquitetos, paisagistas, projetistas e planejadores urbanos fornecessem

então uma idéia de vila olímpica.

Segundo os autores, cada área especializada tais como arquitetura do

projeto físico, arquitetura da paisagem e do projeto urbano interpreta a

localização de suas atividades evidente e taticamente com suas

aproximações, suas abordagens normativa própria. Até mesmo a variedade

dos termos que designan e estão associados ao site [sítio], direcionam essa

proximidade [ou distancia]. Lugar, terra, contexto, situação, paisagem: a idéia

do site pode abraçar cada um deles. Cada termo invoca uma região

identificável no território conceitual do site. Tempo, cultural, ideológica, de

percepção, dimensões em diferentes escalas, este território é uma

construção rica. Site abrange registos múltiplos e suas diferentes funções.

Burns e Kahn (2005) exemplificam que os arquitetos sabem que o

contexto físico circunvizinho impacta um site (Figura 6 e 7); arquitetos

paisagistas sabem que a ecologia não pode ser ignorada ; planejadores

sabem que os sites são socialmente produzidos. Mas eles sempre souberam

dessas coisas? Quando e por que as preocupações sobre site tornam-se

assuntos?

29

Page 32: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Fonte: Imagem Google Earth, editada no programa photoshop CS .Acesso: 02/11/2011

30

Page 33: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 6: Primeiro plano igreja

e a torre. Ao fundo morros de

Vitória e Argolas .[notar

segunda ponte recém

construída]

Fonte: IJSN-ES / CAR- UFES

(1979).

Figura 7: Primeiro plano à esq.

igreja e a torre [referência

construída na paisagem]. Ao

fundo (parte) morros de Vitória

e Argolas [referência natural na

paisagem]

Fonte: Imagem Panorâmico.

Acesso: 05/11/2011.

31

Page 34: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Três premissas são informadas no livro. Primeitamente o site [sítio] e

primeiros conhecimentos. Isso exerce uma grande força no projeto a

investigação teórica, reconhecendo a analisando criticamente. Historiografia,

em segundo, com maneiras particulares de se relacionar com cada site. Os

modos de representação, em terceiro, interpretam os sites. Sua função

formativa na produção do conhecimento local deve ser revelado e

expressado.

O pensamento do site [sítio] fornecem caminhos para que as

informações possam ser interpretadas e compreendidas. O site prevê uma

situação, isso guia os pensadores para que possam responder as questões

do local e assim ser compreendido.

Os autores levantam perguntas: Como os sites são definidos? Como é

o valor atribuído ao site? Como os significados acumulam em torno da noção

de site? De onde vem, como são eles aplicados, e como são derivados?

Levando em consideração estas perguntas abre espaço para legitimar o site

[sítio]. Eleva o sítio (mantido por muito tempo fora do retrato, literalmente) a

um nível novo de visibilidade.

“O pensamento do site deve oscilar entre o material e pontos de

vista conceituais, abstratos e físicos; e gerais e específicos. Compreender

um site deve extrair uma realidade objetiva de uma percepção subjetiva.”(

BURNS e KAHN,2005, p.XXIII, tradução nossa).“

32

Page 35: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Estas posições distintas, que se misturam a experiência, ilustram as

diferenças relativas à representação do site. Resultam do processo de procurar

uma perspectiva centrada de uma relação que tenta mediar a opinião na visão

de quem está dentro (antropológica) [próxima] e de quem está fora [distante].

O site é visto melhor do ponto entre eles.

Os estudos desses autores vêm no sentido de mostrar as visões da

cidade (ora próxima ora distante) que merece ser investigado, ser mais

explorada. Com a tentativa que integrar o cotidiano às teorias sociais,

objetivando novas maneiras de refletir e agir.

1.1.1 Memória em discussão

Uma ou mais pessoas unindo suas lembranças conseguem com

detalhes fatos e objetos que vimos ao mesmo tempo em que elas, e,

constroem toda a sequencia dos nossos atos e nossas palavras em

circunstâncias definidas. É o que diz Maurice Halbwach (2006) em sua obra

Memória Coletiva.

33

Page 36: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Numa interpretação abrangente e inicial, menciona que no primeiro

plano da memória de um grupo se destacam as lembranças de eventos ou

de experiências que dizem respeito à maioria de seus membros e que

resultam de sua própria vida:

““ Normalmente um grupo mantém relação com outros grupos.

Muitos acontecimentos e também muitas idéias resultam de semelhantes

contatos” (HALBWACH, 2006, p.52)

Daí, para falar de memória, é necessário que os períodos sobre o qual

ela se prolonga sejam diferenciados na proporção correta. Sabendo-se que

cada um dos grupos tem história, distingue-e personagens e acontecimentos,

contudo o que ressalta-se da memória é que nela, as semelhanças naquele

primeiro plano. Questionei-me: Como diferenciar essas lembranças na medida

certa?

Nesse raciocínio, Halbwach (2006), explica que cada consciência

individual, as imagens e os pensamentos resultam dos diferentes ambientes

que percorremos e se sucedem por uma nova ordem , sendo assim, cada um

tem uma história. Posto que exista uma lógica da percepção que se impõem ao

grupo e o que o auxilia a entender e a dispor essas noções, tais como a lógica,

a geografia, topografia e a física. E esta é a ordem que um grupo introduz em

sua retratação das coisas do espaço, em suma sua lógica social e as relações

que ela estabelece.

34

Page 37: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Contudo, mesmo tendo consciência da importância de organizar

esses relatos numa lógica, o autor critica a Memória Histórica, já que nesta

há uma interrupção entre sociedade que lê essa história e os grupos de

testemunhas ou atores. Fato que vai de encontro com sua condição

necessária para que exista a memória: sujeito que lembra, tenha sensação

de que a memória construa a lembrança de um movimento contínuo.

Halbwach (2006) admite que se possam organizar as lembranças de

duas maneiras, tanto em uma determinada pessoa, que as enxerga de seu

ponto de vista (Figura 8, 9, 10 e 11), como se distribuindo dentro de uma

sociedade grande ou pequena, que se configuram imagens parciais. Assim

há, respectivamente, memórias individuais e memórias coletivas: por um

lado suas lembranças teriam lugar o contexto de sua vida pessoal e por

outro, em certos momentos, seria capaz de se comportar simplesmente

como membro de um grupo que contribui trazer e manter lembranças

impessoais.

35

Page 38: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 8: Ilha do Príncipe a partir da

baia de Vitória. Em segundo plano A “5

Pontes” e os municípios de Vila Velha e

Cariacica [de acordo com o site da

Prefeitura de Vitória, foi em 1980 que

foi realizado aterramento no trecho

entre a Ilha do Príncipe e Santo

Antônio.]

Fonte: Arquivo IJSN-ES/ CAR-UFES

(1936)

Figura 9: Desenho da atual situação, no mesmo lugar da Figura 8. Notar o aterro feito neste trecho. Agora uma

“Ponte Seca” e presença da Segunda ponte, além da Rodoviária, Tancredão e Mercado Vila Rubim.

Fonte: Desenho feito a mão. Finalização programa photoshop CS.

36

Page 39: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 10: Ilha do

Príncipe a partir da

baia de Vitória. Ao

fundo Jardim

América.1930

Fonte: Acervo do

DAU/UFES

Figura 11: Ilha do

Príncipe a partir da baia

de Vitória. Notar no

fundo a direita fileira de

casas no terreno de

Jardim América. Data

imagem entre 1936/40.

Fonte: Acervo do

DAU/UFES

37

Page 40: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Jacy Seixas (2001) afirma que a adequação entre memória e história

possui raízes sólidas e longas. Admite não se aprofundar na análise, mas

enfatiza que as categorias arcaicas da memória retêm sua trifuncionalidade:

memória ação, memória afetiva e memória conhecimento. Ainda cita a

memória coletiva de Maurice Halbwachs e interpreta-a como atributo de

atividade espontânea (desinteressada) e seletiva, a qual guarda do passado

apenas o que lhe possa ser útil para ter uma ligação entre o presente e o

passado. Ao contrario da história, que constitui um processo político

(interessado), portanto, manipulador.

O autor detém também de questionar os efeitos da contemporânea

apropriação da memória pela história e aponta que a historiográfica deixando

de se colocar como um dos campos integrantes da memória para posiciona-

se fora dela. Em função à reflexão historiográfica, faz releitura Marcel Proust

e de Henri Bergson trazendo importantes pontos de apoio.

Mostra que para Bergson, assim como para Proust, a Memória

Voluntária não atinge o pleno estatuto da memória, ela configurando-se uma

memória menor, essencial à vida, porém ligada ao hábito, por sua vez

superficial. Contudo Proust afasta-se de Bergson, quando critica a memória

voluntária enquanto memória intelectual.

38

Page 41: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Diz que é uniforme e concomitante, em grande parte, enganadora,

pois operam com imagens que não guardam nada nelas, tais como o odor, o

sabor, as sensações que cada individuo poderia ter sentido no passado e que

é diferente do que acredita lembrar.

Em Proust, citado em Seixas (2001), a memória involuntária é aquela

que rompe com o hábito, não preenchendo espaços em branco, nem

somando nem subtraindo, condensando. Nesse sentido diz que memória

emerge e os sentimentos são sempre presentes, não tendo memória

involuntária sem afetividade. Vale citar, que tempo por Proust é perdido

concomitante do espaço perdido, e Bergson contrário tem tempo sem perdas

e desconfortos.

Os estudos de Bergson e Proust enfatizam o caráter atualizador da

memória e seu vinculo com a ação. A reflexão em Seixas (2001), não tem

intenção de definir questões sobre memória para área da história, mas

acredita-se que há problemática da memória que permeia varias áreas e

necessita ser feita nesse caminho, sendo que a própria história está inserida.

Seixas (2001) conclui que é considerando o papel prospectivo da

memória, ressaltado por Bergson e Proust, que pode-se ter vinculo com a

utopia e historia. Pois a memória compartilha com a utopia de características

distinguidores que é a dimensão do tempo futuro e a designação de lugares.

39

Page 42: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Com base em Sébastien Marot (2006), tem-se a designação da

arquitetura e o urbanismo como arte da memória, com a capacidade de

representar memorial das cidades e do território. Aborda operações de

reconhecimento entorno de lugares mais desolados, mais “desnaturalizados”

e das periferias dotados, por exemplo, de espaços de estacionamentos

vazias, zonas industriais ou mesmo pedreiras abandonadas.

E é no estado americano de New Jersey que Robert Smithson junto

com sua esposa, Nacy Holt, inicia essas operações pelo subúrbio em 1965.

Outros artistas tais como Donald Judd, Carl André e Robert Morris se uniram

em algumas ocasiões a essas excursões suburbanas de Smithson.

Inicialmente documentaram por meio de mapas, fotos e anotações coletadas

no lugar. Destes materiais acumulados, completados e reorganizados,

surgiram os primeiros non-sites. (Figura 12, 13 e 14)

40

Page 43: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 12: Mapa com as observações coletadas nas visitas em campo-Jardim América

Fonte: Arquivo pessoal.

41

Page 44: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 13: Folhetos antigos de guia comercial de Jardim América. Reforça a informação

que a associação de comerciantes foi bem atuante e organizada no local.

Fonte: Cedidos por moradores do bairro.

Figura 14: Folhetos edição de

aniversário Jardim América e

comemoração primeiro centenário

de Hugo Viola, fundador do bairro.

Fonte: Material cedido por Cesar

Viola

42

Page 45: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Smithson identificava o personagem ( o que morou, mora no subúrbio

em questão), mescla versos, obras, recortes de periódicos, correspondências

e toda ordem de documentos com a busca de uma linguagem capaz de

transcrever as sínteses, os ritmos, os tons sobrepostos enfim todos os

objetos mínimos da suburbanidade.

Buscava, instalações com materiais heterogêneos (fragmentos

geológicos) aliado a mapas, fotografias áreas ou textos. Nesse momento que

entrava o conceito de non site, configurando um quadro lógico em 3

dimensões, expondo esse material e assim podendo por metáfora

representar um outro lugar que não se parecesse com o lugar de fato

explorado.

A aventura artística de Robert Smithson supõe elaborar instrumentos

de uma reinvenção da paisagem como arte da representação e história

enfrentando a amnésia suburbana, diz Marot (2006). Influenciou

decisivamente mais tarde arquitetos e paisagista, visto, por exemplo, George

Decombes, cujo denominador comum de suas obras oscila entre arquitetura,

a reabilitação, a arte urbana, a paisagem a arte contemporânea, e de mais

relevância cabe ao jogo da memória que todas elas põem em funcionamento.

43

Page 46: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

1.1.2 Representação e corpografia

No que se refere às representações, aproveita-se para mencionar o

ensaio sobre Venturi “Quadros Vivos”. Nele afirma-se que para Venturi, o uso

da foto como meio de documentação e análise da forma urbana não se limita

à publicação de um trabalho, uma pesquisa. É também um aspecto de

trabalho no estúdio. A fotografia é ferramenta de investigação (Figura 15, 16,

17 e 18 )como também base de projeto.

Figura 15: Imagem aérea de parte, em destaque, de Jardim

América em 1978. Notar ausência da praça Hugo Viola(em

laranja), apenas seu traçado. Ausência também da Segunda

Ponte, à direita (em azul) Rio Marinho.

Fonte: IJSN (1978).

Figura 16: Imagem aérea de parte, em destaque,

de Jardim América em 2011.

Fonte: Imagem Google Earth Acesso: 02/11/2011.

44

Page 47: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 17: Imagem aérea 1970. Ligação com

Vitória apenas pela ponte Florentino Ávidos.

Em laranja área correspondente à Ilha do

Príncipe sem aterro.

Fonte: IJSN (1970).

Figura 18: Imagem aérea 1978. Desportiva como

referência em laranja. A Segunda Ponte em construção.

Fonte: IJSN (1978).

Em Milton Esteves (2002), a psicogeografia é a palavra chave e para

tanto ela conta com duas importantes alternativas operacionais: o

comportamento lúdico construtivo e a situlogia. Prossegue:

45

Page 48: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

“Esta, por sua vez, conta com dois aliados: a deriva e o

mapeamento cognitivo. Essa associação estratégica foi especialmente

pensada para superar as táticas de cognação e representação que

substituem os objetos reais por simulacros e, principalmente, para

eliminar os efeitos da prefiguração da vida cotidiana. Ela pretende

permitir a compreensão de nossa própria geografia- elemento chave do

nosso contato com a realidade, seja ela cotidiana ou mental – e

estabelecer um conjunto de ações que definam nossos próximos passos

em direção à liberdade e, conseqüentemente, à beleza e à dignidade.”

(ESTEVES, 2002, p.321)

Em seqüência, defende que o mapeamento cognitivo tem como foco o

combate às políticas urbanísticas que enfatizam os universos das imagens e

exaltam uma unificação negativa do significado estético em detrimento do

significado existencial. Além disso, cita que o papel da memória do

mapeamento cognitivo é o de expressar e vincular as experiências

diretamente com o conteúdo e a forma: (Figura 19)

“Pondo em prática a clássica relação dialética entre essência e

aparência e ampliando-a para a relação entre experiência viva e

estrutura, o mapeamento cognitivo descreve tanto a estrutura do

fenômeno a que se refere (identificada pela experiência) quanto a

experiência nele vivificada (que definitivamente o justifica).” (ESTEVES,

2002, p.326)

46

Page 49: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 19: Imagem dos trajetos mais utilizados em um período de mês, segundo entrevistada Lolita Rossi.

Fonte: Arquivo Pessoal (Dez..2011)

47

Page 50: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Vale retomar o conteúdo do ensaio “Espaços, corpos e cotidiano” de

Byrt Wammack, quando cita que uma investigação pode resumir-se as idéias

de Lefebvre, tendo como referência, por exemplo, qualquer dos fatores de

produção espacial por ele proposto.

O registro da experiência da cidade é mencionado por Paola

Berenstein Jacques (2006) como suporte na corpografia, onde a cidade é lida

pelo corpo desta maneira seria a memória urbana no corpo. Afirma que a

imagem espetacular, ou o cenário, só necessita do olhar. [distante] Com a

corpografia, retoma as questões das “sensações” na cidade a qual precisa

ser tateada absorvendo seus sons, cheiros e gostos próprios compondo com

o olhar a complexidade da experiência urbana, entendendo também como

processo investigativo.[próximo]

Jacques (2006) ainda adentra no que chama de urbanista errante,

sendo este que não vê a cidade de cima somente, por exemplo, numa

representação tipo mapa, mas se insere, neste ato de se relacionar com o

corpo urbano e seu próprio corpo físico. Resume dizendo que o urbanista

errante, lento voluntário intencional, faz elogio à experiência urbana

principalmente do ato de se perder (desterritorialização).

48

Page 51: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Esse encontro de determinações de corporeidades, do errante com a

cidade, de acordo com Jacques (2006), enfatiza a redução da cota de

experiência urbana direta na contemporaneidade, simplesmente a ação de

andar pela cidade. Para exemplificar isso cita Mário de Andrade no relato de

suas andanças por São Salvador da Bahia (no dia 7 de dezembro de 1928).

Em um dos trechos que mais reflete essa importância da experiência urbana,

Mário de Andrade, descreve que a sensação de andar a pé em São Salvador é

“como fazer parte dum quitute magnificiente e ser devorado por um gigantesco

deus Ogum, volúpia quase sádica, até.”

Tratando-se de pesquisa em termos técnicos, Bosi (2003) afirma que é

positivo a combinação dos procedimentos de história de vida e perguntas

exploratórias, desde que deixam ao recordador a liberdade de encadear e

dizer, de sua maneira, os momentos do seu passado.

Lembra também que quanto mais o pesquisador entrar em contato com

o contexto histórico cotejando e cruzando dados e lembranças de diversas

pessoas mais estrutura a imagem do campo de significações já pré formadas

nos relatos. Sugere ainda uma pré entrevista, que a metodologia chama de

“Estudo Exploratório” o qual conduz o futuro roteiro e extrai questões da

linguagem usual do depoente, detectando temas promissores. Finaliza que

confessar as dificuldades ao depoente, do trabalho fará com que ele

acompanhe melhor o caminhar da pesquisa.

49

Page 52: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

1.1.3 Outro olhar e imaginação

No que diz Armando Silva (2006), as técnicas de investigação se resume a

cinco procedimentos: fotografia de distintos atos urbanos e sua análise; fichas

técnicas onde se escrevem dados; recorte e evolução dos discursos ou imagens

de periódicos em comparação com os eventos urbanos; técnicas de observações

continuadas para estabelecer possíveis lógicas de percepção visual e elaboração

de um formulário sobre projeções imaginários de cidadãos segundo croquis

urbanos que se explicarão dentro de um texto.

Dessa perspectiva, o autor diz que a princípio a participação cidadã e sua

contribuição simbólica estruturam o exercício de investigação. A cidade vivida,

interiorizada e projetada por grupos sociais que a habitam e suas relações com o

uso urbano não só é recorrente como a interferem dialogicamente reconstruindo-a

como imagem urbana. É importante ressaltar que as estratégicas de

representação são distintas nas culturas assim como são distintas nas

comunidades urbanas.

Em “Olhares Particulares”, Arruda (2011) adere à essência desta pesquisa

na medida em que conclui que os espaços urbanos são realidades que persistem

nas impressões individuais, mesmo quando se está afastado deles. Enfim,

defende que é sobre o espaço individual, ocupado pelas pessoas, as quais têm

acesso todos os dias que sua imaginação é capaz de reconstruí-lo.

50

Page 53: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Os relatos orais colhidos [ver relatos na integra no APÊNDICE]

tiveram como inspiração o que a metodologia chama de “Estudo

Exploratório”. A priori, houve o contato com o contexto histórico para

futuramente utilizar temas promissores, inclusive a busca por fotografias foi

feita paralelamente. Todavia não havia um roteiro a ser seguido, as

entrevistas se desenvolveram conforme a trajetória do depoente.

Em geral as pessoas acreditam que seu depoimento não tem valor,

que elas não podem contribuir com informação ou mesmo ficam com receio

de haver perguntas que elas não saibam responder. Assim, dizia que aquele

depoimento seria importante na estrutura da pesquisa. Mesmo que elas não

contassem [não soubessem ou mesmo lembrassem] “toda” a história do

bairro e que não tivesse uma cronologia no relato, aquelas palavras

somariam. [o depoente estava livre para contar fatos de um passado mais

distante, falar sobre a contemporaneidade ou dizer dos problemas atuais

depois voltar para o passado distante, inclusive histórias particulares dela no

lugar]

Para iniciar solicitava: Conte-me sobre Jardim América. A resposta

comum foi na linha: Contar o que? A história? O que precisa melhorar aqui?

E assim respondia: Sim, pode começar contando sobre sua vida no bairro.

[dessa forma me senti mais a vontade quando o depoente então próximo do

assunto dissertava do seu modo, sobre aquele lugar]

51

Page 54: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

O olhar de Maurice Halbwachs (2006) evoca o depoimento da

testemunha, diz que só tem sentido em relação a um grupo do qual esta faz

parte, porque pressupõe um evento real vivido outrora em comum [memória

coletiva]. Para Maurice, no final tirando-se gravuras e livros, o passado

deixou na sociedade muitos vestígios [às vezes visíveis] que também

percebemos nas expressões das imagens, no aspecto dos lugares e até nos

modos de pensar e de sentir.

Esse comum foi encontrado no relatos feitos. Chamou bastante

atenção o domínio que os entrevistados tinham sobre o nome das ruas de

Jardim América. Mesmo usando um “ali”, “parte alta”, ou “parte baixa” ao

desenvolver no mesmo relato o nome exato das ruas eram mencionados e o

que existiu, existe ou descrever um problema aparecia o nome das vias.

Sr. Orvelino , por exemplo, com propriedade disse:

““[...]Jardim América no começo as primeiras ruas foram a

Canadá e a México[...]”, “[...]O valão da Av. América foi um erro [...]”,

“[...]Han ali onde é o Banestes era uma rua..onde é o EPA era a rua

Uruguai que hoje nem existe mais...era aberto e era bom...agora ta

muito fechado..nossa saia lá no asfalto[...]”

52

Page 55: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 20: O que é “asfalto” para Sr. Orvelino,

corresponde a BR-262.[ Foto do comércio de

Jardim América na BR-262 em 1982]

Fonte: Arquivo IJSN

Figura 21: O que é o asfalto hoje.

Fonte: Arquivo Pessoal (Mar.2012)

53

Page 56: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Perguntei ao Sr. Orvelino que asfalto era esse que ele tanto dizia, pois

segundo ele tudo era barro vermelho, era lama. Disse que o asfalto que as

pessoas diziam é o que corresponde a BR 262 (Figura 20 e 21). As

enchentes nas chuvas também foram constantes nos depoimentos. O valão

da Av. America foi excessivamente alvo de crítica e pedido de melhorias. O

Sr. Darci , de maneira peculiar, afirma que há grande valão na BR- 262 que

poderia resolver o problema das cheias na Av. América:

“[...]Sabemos que tem um valão na BR 262 que cabe um

caminhão de tão grande...vimos na época que eles estavam em

obras reestruturando a via e que ela está a não mais de 150

metros do valão da Av. América..mas ai pergunto: por que não

fazem nada?..por que não investem nessa obra de infraestrutura

para acabar com esse monte de água...pois desce água de

Itaquari, alto laje..e cai aqui nesse valão de Jardim América, pois é

mais baixo..aqui é mais baixo[...]”

Por vezes os fatos comuns mencionados foram cruzados com as

visões particulares, por exemplo, a professora de educação infantil Teresinha

, enfatizou mais as escolas (Figura 22, 23 e 24) e casas de apoio a criança do

bairro:“[...]Eu estudei no Cerqueira Lima- fiz primário, depois fui para

onde é o Passionista, na época não era Passionista, era GEJA

(Ginásio Estadual de Jardim América), onde fiz os dois últimos anos de

magistério...tinha prova e tudo pra entrar..igual escola técnica[...]“

54

Page 57: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 22: Comemoração das olimpíadas no

GEJA. Morro de argolas ao fundo.

Fonte: Acervo Padres Passionistas. s/ data

Figura 23: Desfile das escolas, provavelmente de

dia 7 de Setembro. [Dúvida na localização da

foto. Cadê os Morros de referência?]

Fonte: Acervo Padres Passionistas. s/ data

Figura 24: Escola Cerqueira Lima comentado no relato

de “Teresinha”. Data:1952

Fonte: Arquivo Público. Seção fotográfica (1944-1971)

55

Page 58: Projeto de Graduação II

O contexto, aqui nos relatos, tem reflexões pessoais, lembranças de

familiares, ” [...] a lembrança é uma imagem introduzida em outras imagens,

uma imagem genérica transportado ao passado” (HALBWACHS, 2006, p.93).

A memória coletiva se distingue da história em pelo menos dois aspectos,

segundo Halbwachs (2006), ela é uma corrente de pensamento contínuo, de

uma continuidade que nada tem de artificial, pois não retém do passado

senão o que ainda está vivo ou é capaz de viver na consciência do grupo.

O sujeito retratado por Peter Monteiro (2008), é aquele se encontra em

constante relação com os objetos, usando continuamente a arquitetura da

cidade [num nível mais ou menos complexo] seja na vivência diária numa

casa, seja na apreensão esporádica que faz de um monumento, sendo ao fim

responsável pela construção real ou imaginária da imagem urbana, e

segundo Peter, imagem esta que é pública (externa) e ao mesmo tempo

privada (interna).

Esse sujeito não só exerce sua história, mas a história da própria

cidade e de seus objetos, com os quais criam uma espécie de dialética, onde

constrói e reconstrói significados. Monteiro (2008) diz ainda que é preciso

utilizar a cidade para compreendê-la.

56

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 59: Projeto de Graduação II

Mogin (2009) diz que a forma da cidade, sua imagem mental, é a

junção de elementos tais como lugares, percursos, uma idéia da cidade. Estes

remetem ao “nome”, ao nome próprio da cidade, mas também a todos os

nomes que contam a história da cidade (nomes de rua, escola, de museu).

Nos relatos houve lembrança sobre o cinema no bairro (Figura 25 e

26), o cinema Hollywood o qual era opção de lazer. Na matéria do jornal A

gazeta de 2005 (Gazeta nos bairros) traz a notícia:

“[...]Assistir um filme na década de 50 não era privilégio para

qualquer um. Mas os moradores de Jardim América tiveram a chance de

ver muitos filmes perto de casa. O bairro já teve duas salas: uma

localizada na esquina da Rua Paraguai com a Av. América e outra do

outro lado da BR 262. O primeiro recebeu o nome de Hugolândia, em

homenagem ao criador do bairro, Hugo Viola; e o segundo foi chamado

de Cine Hollywood. Era a diversão dos moradores.

Os cinemas pertenciam a empresa José Careta, que tinha uma

rede de cinemas e a entrada era de Cr$1,00 (1 cruzeiro).”

57

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 60: Projeto de Graduação II

Figura 25: O cinema ficou na memória

Fonte: Revista Espírito Santo AGORA.Fevereiro, 1975.

Figura 26: Era opção de lazer

Fonte: Revista Espírito Santo AGORA.Fevereiro, 1975.

58

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 61: Projeto de Graduação II

Sidirlene Rossi, quando moradora foi bem atuante e líder

comunitária, disse detalhes e lembrou que o cinema funcionava nos fins

de semana e que o espaço também era utilizado para as chamadas

"domingueiras", bailes que aconteciam após o horário da missa na

Paróquia.

“Lá teve um cinema e quem arrendava o espaço desse

cinema, quem patrocinava eram os donos do supermercado

Schneider , já ouviu falar?...aconteciam nos finais de semana, mas a

coisa foi tão volumosa, fez tanto sucesso, filas e mais filas..pessoas

pelo chão que daí nasceu a história de construir o cine Hollywood.

Naquela parte de lá..por que não sei se você sabe onde é a Caixa

Econômica na rodovia ainda é Jardim América. [...] Nessa época

tinha os bailes, as domingueiras também que funcionavam no

cinema, como as cadeiras eram soltas, eles tiravam...e quando o

cinema passou pro outro lado, o novo, os bailes passaram a

acontecer na LBA[...]”

Na sequência, Sidirlene, relembra , além dos bailes, sobretudo

os cursos oferecidos pela LBA [ Legião Brasileira de Assistência].

Afirma ainda que chegou a fazer cursos mas que foi no governo do

Collor que acabaram com as legiões de assistência de todo Brasil.

(Figura 27)

59

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 62: Projeto de Graduação II

Figura 27: Primeiro plano LBA. À esq. em segundo plano as

primeiras casa do conjunto de Hugo Viola nas ruas México

e Canadá

Fonte: Acervo Padres Passionistas. Data: 1957

60

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 63: Projeto de Graduação II

Sr. Orvelino traz também em seu relato a LBA, os cursos que eram

oferecidos e depois a situação atual de abandono do edifício:

“[...]A obra social LBA foi construído do lado tinha diversos

cursos...tudo quanto é profissão você aprendia ali, hoje ta lá

abandonado estragando tudo. Tinha curso de manicure, padeiro,

carpinteiro, doces e salgados..tinha muito curso mas acabou tudo,

era muito bom. Hoje ali é federal e tem uma parte que eles arquivo

morto do INSS. Parece que eles estavam querendo pegar pra fazer

uma creche, não sei se conseguiram. Foi construído na época do

governador Francisco Lacerda de Aguiar(..o Chiquinho), eu acho que

foi mais ou menos do ano de 1965, han tem uma quadra de esporte

lá atrás muito boa, os meninos jogavam vôlei ali. Agora aquele

madeira toda deve estar estragando..antes tudo era de madeira[...]”

Assim como Sr. Orvelino, Dona Lolita confirma os cursos

oferecidos pela LBA e como tudo aquilo era bom.

Sr Orvelino pontuou as mais diversas áreas e acontecimentos de

Jardim América em seu relato, provavelmente, por ser um dos

depoentes mais velhos e ter sido comerciante por muito tempo no

bairro. Com noção de datas, por exemplo, em 1958 quando a igreja

católica, em construção, foi derrubada após ventania. (Figura 28)

61

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 64: Projeto de Graduação II

Figura 28: Paredes Igreja católica ao chão após ventania.

Fonte: Acervo Padres Passionistas. Data: 1958

62

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 65: Projeto de Graduação II

A única rua calçada, em 1960, era Rua Paraguai, recordou Sr.

Orvelino data em que se mudou. O recomeçar a vida com ajuda de Hugo

Viola que cedeu ponto na mesma rua após sua mercearia pegar fogo na

década, de 1970, também fez parte de suas lembranças.

Augusto Gomes em seu depoimento reforça a Rua Paraguai

(Figura 29 e 30) como de comércio, mas lembra que é um comércio

voltado para o bairro: “[...]aqui é por exemplo comércio da dona Maria que

usa o caderninho e vende fiado..acho o comércio muito familiar...a própria

padaria daqui é de irmãos, o ambiente é muito familiar, já o comércio da

BR é diferente[...]

Sidirlene relaciona o comércio e inicia seu depoimento

mencionando o “bairrismo”, um sentimento de que o que ela vivia no bairro

a bastava, afirma que naquele comércio dito pequeno e de bairro era o

suficiente, tudo ali se encontrava:

“[...] na nossa época o nosso bairro nos bastava a gente tinha

de tudo..e tudo era muito próximo, a gente tinha o supermercado

melhor[...] o bairro nos bastava, e hoje parece que a gente nunca

encontra nada..ficamos naquela busca sabe?!...essa sensação é a que

sempre sou tomada por ela...vou ao shopping pra comprar “não sei o

quê”...andei, andei, andei me enchi e fui embora..lá você se precisasse

ia na lojinha do Kill, ou na tenda no senhor Alaor pra comprar, ou lá na

dona Mirtes...tudo dentro da nossa realidade, a gente achava tudo

ali![...]

63

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 66: Projeto de Graduação II

Figura 29: Título do arquivo: VISTA de uma rua no

bairro Jardim América. Cariacica-ES

Fonte: IJSN (1982).

Figura 30: Rua Paraguai [rua comercial], em

um dia de domingo

Fonte: Arquivo pessoal (Nov.2011).

64

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 67: Projeto de Graduação II

Cesar Viola, neto do fundador do bairro "Hugo Viola", relaciona o

bairro diretamente com o trabalho feito pelo avô. Afirma que ele [Cesar] é

mesmo uma boa fonte para a pesquisa pois ele detém não apenas a

lembrança, mas pode comprovar com os documentos inclusive cartas e

agradecimentos por escritos das pessoas que conheceram ou foram

ajudadas por Hugo Viola:

"[...] minha mãe não se cansava de colher depoimentos..olha

estes escritos atrás de panfletos...qualquer papel uma forma de

comprovar a postura de meu avô (Figura 31), como as pessoas o

via..olha esse de Carlos Lindemberg( papel timbrado a rede gazeta e

escrito com letras cursivas do próprio Carlos Lindemberg)...olha vou te

falar que Carlos Lindemberg não atendia qualquer um não...ele estava

ainda na A Gazeta...meu avô ficava lá até os jornais serem impressos

cedo..a amizade deles era grande.[...]

Figura 31: Mensagem do historiador Renato Pacheco

em homenagem a Hugo Viola feito no verso de um

panfleto. Data: 14/05/1995

Fonte: Reprodução Arquivo pessoal Cesar Viola

65

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 68: Projeto de Graduação II

Em seu depoimento, o neto de [Hugo] Viola retoma a história desde

quando o avô saiu da Itália, em 1920, até chegar ao país e por seguinte se

naturalizando brasileiro. (Figura 32) Cita a profissão de marceneiro exercido

por Hugo Viola onde fez móveis para muita gente, e, segundo Cesar, gente

da elite na época pois o trabalho era de qualidade e feito de maneira

artesanal.

Figura 32: Imagem

de Hugo Viola (à

direita) com a

família. Segundo

informações de

Cesar Viola seu

avô teria nessa

fotografia por volta

de 10 anos de

idade.

Fonte: Reprodução

Arquivo pessoal

Família Viola

66

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 69: Projeto de Graduação II

Parte dos móveis que ornamentam a casa na Av. Espírito Santo

esquina com rua Chile(onde Cesar concedeu a entrevista), foi da época que

Hugo Viola ainda trabalhava em sua Oficina de móveis em Vitória. Cesar, de

maneira gentil mostrou a antiga casa do avô e alertou que já havia feito

algumas modificações, mas que mantinha objetos e traços da edificação

feita na época em que seu avô morava. (Figura 33)

Figura 33: À esquerda cadeira feita por Hugo Viola. Centro Imagem do corredor da casa com pé direito alto e

mantendo quadros e objetos antigos de família. À direita quadro com desenho-retrato de Hugo Viola.

Fonte: Arquivo pessoal (Jan.2012)

67

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 70: Projeto de Graduação II

O que os documentos não mostram mas o neto fala com

propriedade, que Hugo Viola fez muito além que as 100 casas populares

e venda sem juros e correção monetária. Entre outros acontecimentos na

história do avô, Cesar citou que Hugo Viola foi preso político por 4 vezes,

como topógrafo de formação traçou o aeroporto de Vitória Eurico Sales, fez

projetos urbanos em Goiás e projetou todo o bairro Jardim América:

"[...] Até a visão de trazer Ferro e Aço pra cá..por que a principio o

terreno da Ferro e Aço fazia parte do bairro..tinha traçado...ruas mas ele

cedeu para inserção da siderúrgica..para crescimento do local[...]Hugo Viola

foi preso 4 vezes, preso político..porque ele era a

frente...argumentava..fazia...corrias atrás e pra ditadura gente assim não era

bom..da última vez q foi preso os policiais que o conheciam diziam que

estavam com vergonha de ter que fazer aqui, prendê-lo, mas porque?!

..porque sabia da sua índole...hoje não vejo mais gente assim..é raro. Muita

gente não sabe também mas como topógrafo traçou o aeroporto Eurico

Sales, em Vitória e fez também cidade de Goiás.

Esse traçado aqui de Jardim América ele se baseou vila operária

européia. Quando ele morou no Rio de Janeiro..trabalhava ali onde aqueles

prédios caíram, perto da Av. Rio Branco..ali ele conseguiu não sei como um

projeto, e foi a partir dele que traçou Jardim América[...]

68

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 71: Projeto de Graduação II

Segundo o depoimento, o traçado de Jardim América foi baseado no

projeto de uma Vila Operária Européia. Cesar mostrou o projeto original que

estava no andar superior da casa. A planta era original de 1937 e todo bairro

já estava desenhado ali. A planta estava amarelada e foi feita em um tecido

especial(Figura 34). Pouco pode-se ver na planta, mas com auxílio de

Cesar, ele foi apontando os resquícios da tinta no desenho da praça assim

como na área da antiga Ferro e Aço. O neto do fundador disse do desejo de

restaurar aquele projeto original [ mais ou menos 1,5 x 2 m de planta], fazer

um livro com todos os documentos e imagens do seu acervo.

Figura 34:

Imagem planta

do projeto

original de

Jardim América

Fonte:

Reprodução

Arquivo pessoal

Família Viola

(Jan.2012)

69

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 72: Projeto de Graduação II

Dona Altair falou, do desejo na época de morar em uma das casas do

conjunto iniciado por Hugo Viola. Segundo ela, morava “num canto” do bairro e

era muito ruim. A casa não era boa e seu esposo construíra outra

posteriormente, mas mesmo assim dona Altair almejava uma casa do conjunto:

“[...]Eu tinha uma casinha lá no canto, mas ela era muito ruim,

então meu marido desmanchou a detrás pra fazer outra...mesmo assim

eu olhava para essa aqui [Dona Altair aponta na foto as casas do

conjunto de Hugo Viola] e ficava apaixonada, pensava “Não posso

comprar uma casa daquela”

“Ela não conseguiu morar em uma das casas do conjunto, mas tempo

depois comprou através do Sr. Anísito Soto, um terreno onde seu esposo

construiu a casa que morou por mais tempo e ainda está no mesmo terreno

de sua atual casa. (Figura 35)

“[...]e aqui era uma lagoa..meu marido aterrou. É essa

casinha aqui da frente, mas ela já foi reformada, inclusive tem um

retrato dela[...]”“

70

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 73: Projeto de Graduação II

Figura 35:

Imagem família

dona Altair frente

da casa em

Jardim América

Fonte:

Reprodução

Arquivo pessoal

Altair Tagarro Leal

71

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 74: Projeto de Graduação II

A neta de Dona Altair, completa dizendo sobre os bailes de carnaval que

aconteciam no clube desportiva: "[...] depois de muito dançar chegava na casa

de vovó escalando aqui pela varanda." A paisagem também é forte em sua

lembrança, e ressalta que quando criança se cansava ao olhar os morros do

entorno. (Figura 36 e 37)

Figura 36: Luizinha, neta de Dona Altair, na

casa da avó em Jardim América.

Fonte: Reprodução Arquivo pessoal Altair

Tagarro Leal

Figura 37: Familiares de Dona Altair com ela,

no terraço da casa em Jardim América.

Morro ao fundo

Fonte: Reprodução Arquivo pessoal Altair

Tagarro Leal

72

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 75: Projeto de Graduação II

Cesar Viola afirma ainda que o Rio Marinho foi desviado por índios há

muito tempo1 ,e, Hugo Viola consciente do terreno alagadiço e mais baixo que

a região vizinha, tomava o cuidado de drenar o rio. Finaliza dizendo que o

bairro teve seu auge por volta de 1970 e que depois foi abandonado, contudo,

acredita que daqui 20 anos ele retomará o desenvolvimento visto que é um

lugar estratégico próximo ao centro de Vitória.

Sidirlene compartilha do mesmo sentimento quando diz que o bairro

tinha uma estrutura boa e próxima do centro (Figura 38) da cidade:

1 Em 1716 Foi construído o Canal do Rio Marinho para embarcações maiores transportarem a produção da

Fazenda Araçatiba para o Porto dos Padres, evitando a passagem oceânica pela Foz do Rio Jucu. Em 1816 houve

uma limpeza do Rio Marinho e aperfeiçoamento do canal Caçaroca para ligá-lo ao Rio Jucu

In. SIMÕES, Roberto Garcia. Aterro, mangues e mar, primeira considerações sobre o problema. Vitória, ES:

IJSN, 1978

Um bairro que tinha uma estrutura muito boa, com comércio e

tal, próximo do centro...bairro é mais próximo de vitória que muitos

bairros do município de Vitória...tirando o transito ..pois naquela época

só tinha as “cinco pontes”..eu mesmo em 1979, quando entrei na

UFES, a gente ia literalmente a pé por que o ônibus a gente pegava na

Vila Rubim..pegava, quando dava, um em Jardim América e outro na

vila Rubim...não tinha transcol não tinha nada e fazíamos assim

“baldiando” né?!...Então a gente gastava muito pouco, por que era

tudo muito pertinho...assim como é São Torquato pra Vitória, quer

dizer um bairro de Vila Velha pra Vitória...nessa ótica que eu to

falando ..próximo da capital.

73

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 76: Projeto de Graduação II

Fonte: Imagem Google Earth, editada no programa photoshop CS .Acesso: 02/11/2011.

74

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Page 77: Projeto de Graduação II

Figura 38: Aspecto dos 3 municípios. Parte da Desportiva em primeiro plano. Notar Rio Marinho cortando o terreno alagadiço

(ainda sem Segunda Ponte:

Fonte: REVISTA CAPIXABA. Vitória: Capixaba, v. 1, n. 7, 01 set. 1967.

75

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Page 78: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

1.2 A forma do sítio

Características geológicas e hidrológicas junto com a orientação, topografia,

e drenagem, conectam aos sistemas maiores, aquela que opera em várias

maneiras em várias escalas- o sistema solar, a geomorfologia, e o ciclo da água.

Para Burns e Kahn (2005) , cada projeto construído cria novas forças dentro

de sua própria área e também modifica e influência além do local e dentro dele.

Concebido ao longo do tempo desta forma, o local [site] tem três áreas distintas. A

primeira é a área de controle, fácil de localizar linhas designando limites legais e

barrancos. O segundo, abrangendo forças que agem sobre uma trama sem estar

confinado a ele, pode ser chamado de área de influência. A terceira é a área de

efeito,é o domínio impactado pela ação do projeto. Estas três áreas [territórios] se

sobrepõem apesar de suas diferentes geografias e temporalidades.

O sítio físico, para ser controlado ou possuído, precisa de delimitação, porém

para ser compreendido no projeto deve-se considerar essas sobreposições, o local

não pode ser considerado de maneira isolada. O conceito de site [sítio] então, ao

mesmo tempo refere-se a idéias aparentemente opostas: a física de um lugar

específico, áreas geográficas distintas, idéias divergentes espacial, tendo tempo de

passado, presente e futuro. O livro de Burns e Kahn (2005) afirma: Sites são

complexos.

76

Page 79: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

O bairro Jardim América tem uma geografia mista que se compõe de

uma parte plana e outra parte com predomínio de colinas e pequenos morros.

Possui uma altitude média de 1,5 m acima do nível do mar na sua parte baixa,

e segundo o site Wikipédia, é o que pode justificar as constantes enchentes das

ruas no período das chuvas mais fortes.

Nesse sítio é onde se inicia efetivamente a Rodovia Federal BR-262,

limitado a leste pelo Rio Marinho com o município de Vila Velha, ao norte pelos

bairros de Alto Lage e Itaquari, ao sul pelos bairros de Vasco da Gama e Vale

Esperança e, ao oeste, pelo bairro Vera Cruz. (Figura 39 e 40)

O norueguês, Christian Norberg-Schulz (2008), desenvolve uma

interpretação essencialmente nas idéias do ensaio “Construir, habitar, pensar”

do filósofo alemão, Martin Heidegger.

A partir dessas interpretações, Norberg-Schulz (2008) diz que as

construções trazem a terra, como paisagem habitada, para perto do homem e,

ao mesmo tempo, situam a intimidade da vizinhança sob a vastidão do céu.

Logo a prosperidade básica dos lugares criados pelo homem é a concentração

e o cercamento. Os lugares são literalmente “interiores”, o que significa dizer

que “reúnem” o que é conhecido. Para cumprir essa função, os lugares contêm

aberturas através das quais se ligam com o exterior. [A bem dizer, só um

interior pode conter aberturas].

77

Page 80: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 40: Imagem aérea 2011. Em

destaque o bairro Jardim América.

Fonte: Imagem Google Earth, editada

no programa photoshop CS .Acesso:

02/11/2011.

78

Page 81: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 39: Desenho dos limites e entorno de Jardim América. Ver cone

visual na Figura 38.

Fonte: Desenho feito a mão. Finalização programa photoshop CS.

Ainda no texto, o teórico Christian menciona [Siegfried] Giedion o

qual distingue exterior de interior como fundamento de uma concepção

grandiosa da história da arquitetura. Cita também Kevin Lynch, que

investiga mais a fundo a estrutura do espaço concreto, introduzindo os

conceitos de nodo (marco), baliza, caminho, borda e distrito para indicar os

elementos que embasam a orientação das pessoas no espaço.

79

Page 82: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

No começo da década de oitenta a teoria da Sintaxe Espacial buscou

descrever a configuração do traçado e as relações entre espaço público e

privado. Permitindo entender aspectos importantes do sistema urbano, como

acessibilidade e distribuição de usos do solo, isso, através de medidas

quantitativas.

De acordo com a teoria, criada por Bill Hillier e colaboradores da

Universidade de Londres, na Sintaxe Espacial, o movimento natural pode

ser entendido como a parcela do movimento total de pedestres em uma

cidade, determinada apenas pela estrutura configuracional do sistema de

espaços públicos, independente da presença ou não de atratores.( HILLIER,

apud TEIXEIRA, acesso em 26 nov. 2011)

A busca é de um olhar de dentro [próximo], onde pelo processo de

reconhecimento ou construção de uma identidade, o planejador possa criar

suporte teórico de estudo, e responder questões como; em que medida se

dá através da consciência espacial/cultural a reavaliação e ajustes na

dinâmica de transformação da cidade.

80

Page 83: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

No estudo Sintaxe Espacial, basicamente existem dois tipos de

mensuração morfológica. Um trabalha a observância da conectividade

estimando controle e integração local e a outra trabalha a mensuração da

integração global. De maneira geral, no que diz respeito a conceito de

Sintaxe Espacial, as linhas axiais são unidade básica de análise utilizada

por esta teoria. [ juntamente com os denominados espaços convexos ]

Por exemplo, a conectividade é uma mensuração acerca do número

de linhas que cortam uma linha ou o número de vértices que outras linhas

formam com uma determinada linha. Neste caso as linhas representam as

vias ou ruas.

Figura 41: Base AutoCAD. Destaque

Bairro Jardim América

Fonte: Mapa elaborado no auto cad em

cima da base cartográfica de Cariacica

81

Page 84: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Assim, as vias mais conectadas, segundo a análise do mapa axial de

Jardim América, são a Chile (16), Venezuela (18), Paraguai (35) e Honduras

(34). A R. Chile, por exemplo, chega a ter 11 conexões. As cores mais

quentes, tendendo para o vermelho, indicam maior conectividade. As

cores mais frias, tendendo para ao azul escuro, indicam aquelas de

menor conectividade.

A mensuração pode ser conferida a seguir no mapa gráfico de

conectividade. (Figura 42)

De acordo com esta breve análise, hoje a via que apresenta o maior

índice de conectividade (Rua Chile-16) não corresponde à rua de comércio e

movimento, ela é essencialmente residencial. Contudo ela corta uma rua de

caráter comercial voltado para atender o bairro, tais como padaria, armarinho

e pequenas lojas de roupa.

Conforme as observações diretas em campo e que são refletidas no

mapa de uso e ocupação de solo (Figura 43) e no mapa de conectividade;

observa-se que as vias Paraguai (35) e Hermes Santório (15) são as que

apresentam uma maior concentração de atividades comerciais. As vias da

parte baixa do bairro (ex: 1, 4, 5, 6, 14 e 49), em sua maioria estão em

laranja, mostrando assim boa conectividade segundo a hierarquia do gráfico

[lembrando que esta equivale área inicial do bairro, uma área de aterro].

82

Page 85: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

83Figura 43: Mapa uso de solo. Pontuada em visita in loco 2011.

Fonte: Mapa elaborado no auto cad em cima da base cartográfica de Cariacica

Page 86: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 43: Mapa uso de solo. Pontuada em visita in loco 2011.

Fonte: Mapa elaborado no auto cad em cima da base cartográfica de Cariacica

84

Page 87: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

As vias em azul são as de menor conectividade ou que recebem

menos ligações dentro desse local. Nota-se que em geral as vias em azul

escuro correspondem a áreas em expansão no bairro e áreas afastadas. Ali

se vê precária estrutura, tendo vias ainda sem calçamento e pouca

iluminação configurando áreas perigosas; principalmente na rua (R. Sem

Nome- nº43 no mapa de conectividade) do Distrito Policial (nº 18- no mapa

de uso e ocupação do solo).

A Avenida Espírito Santo (1) tem extensão significativa (em torno de

800 m), tem uso bastante comercial com galpões de armazenagam e é um

eixo de ligação de diversos bairros vizinhos com os municípios de Vila Velha

e Vitória, todavia, a cor laranja no gráfico não corresponde a essa

importância presenciada. Possivelmente esse fato esteja vinculado com a

localização da Siderúrgica Belgo Mineira a qual ocupa grande área (Figura

44) .

Ao longo desta via o muro da Belgo [Mineira] está presente,

consequentemente é impeditivo para conexões de possíveis vias. É de

conhecimento, que o calçadão contínuo permeando o extenso muro é usado

de maneira alternativa para exercícios e caminhadas mesmo com mau

calçamento e estrutura.

85

Page 88: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 44: Av. Espírito Santo à esquerda. Em

segundo plano área da Siderúrgica Belgo Mineira.

Fonte: Imagem Panorâmico. Acesso: 05/11/2011.

A via de entorno imediato (R. Eng. José da Silva, nº12) ao Estádio

Engenheiro Araripe (Desportiva) tem baixo nível de conexão. Inclusive, pelo

mapa de uso e ocupação do solo [confirmado em visita ao local] parte da rua

não é pavimentada, não tem calçamento e tem o fim súbito com o encontro

da “alça” da Segunda Ponte (nº13 no mapa de conectividade).

86

Page 89: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Vale dizer aqui que, de acordo com o PDM de Cariacica, a edificação

está inserida na Zona de Ocupação Preferencial (ZOP 01), que é composta

por áreas em transformação urbana acelerada e por grandes áreas

desocupadas. A permissão de usos diversificados e gabaritos de até 16

pavimentos reforçam a necessidade do pensar e agir no lugar (Figura 45 e

46).

Figura 45: Projeto original do estádio Engenheiro Araripe

(Desportiva). Rio Marinho em primeiro Plano.

Ao fundo atual Rua José da Silva.

Fonte: Acervo de Dirceu Márximo Loureiro

Figura 46: Proposta de

“Centro de Convivência

Empresarial Esportiva e

Comercial do Estado:

Cidade Jardim”

construtora 3M.

Referência à esquerda

2º ponte.

Fonte: Reprodução

panfleto . Material da

Prefeitura de Cariacica.

87

Page 90: Projeto de Graduação II

02

Page 91: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

2 VESTÍGIO DE UM INÍCIO PLANEJADO

2.1 Vestígio de um início planejado [base historiográfica]

Antes mesmo de ser Fazenda Paul, tem-se o mapa da região que era

de domínio de Leonardo Froes, cristão novo. Ele tinha fazenda de cana e

engenho, onde hoje é a policia federal em São Torquato mas que,

possivelmente, se estendia até parte de Jardim América. (Figura

47)

Consta na referência “ Um novo olhar sobre Cariacica” ,de Luzia

Pereira de Oliveira (2006), que o primeiro documento referente é de 23 de

maio de 1827. Nele está o nome do mais antigo proprietário da fazenda Paul,

Pe André Vitorino Delgado.

Figura 48: Moradores das primeiras casas

populares construídas pela Companhia de

Melhoramentos de Vitória na década de 40.

Fonte: Jornal A Tribuna. Agosto 2003

89

Page 92: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 47: Imagens em

escalas

diferentes. Reprodução

fotográfica do livro

“Estado do Brasil,

coligido das mais

certas noticias que

pode ajuntar D.

Jerônimo de Ataíde.

por João Teixeira

Albernaz I, Cosmógrafo

de Sua Magestade,

1631”.

Fonte: Arquivo-

Biblioteca Itamaraty,

Rio de Janeiro.

90

Page 93: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

A fazenda passou por 13 proprietários e, a partir de 1936, foi transferida para

a Companhia de Melhoramentos de Vitória. O fundador do bairro, Hugo Viola, teve

a iniciativa de criar a Companhia de Melhoramentos de Vitória para adquirir a

extensa faixa de terra pertencente à antiga Fazenda Paul. Lá, construiu casas

populares (Figura 49, 50 e 51) vendidas à prestação, num tempo onde não havia

correção monetária e nem inflação. Até então, o terreno baixo era deserto e coberto

por vegetação de mangue.

Figura 49: Fachada casa na Rua

Canadá .Data: 1946

Fonte: Faria (1988).

Figura 50: Perspectiva das casas populares

na Rua México .Data: 1946

Fonte: Faria (1988).

Figura 51: Perspectiva das casas

populares na Rua Canadá .Data: 1946

Fonte: Faria (1988).

91

Page 94: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

No livro de Omir Leal Bezerra (2009) “ Cariacica: Resumo Histórico”,

diz que de 1946 a 1950, foram construídos nesse bairro mais de 500 casas,

sendo que 100 delas foram frutos da operosidade da Companhia de

Melhoramentos de Vitória S/A vendidas por prestação de 34.000 cruzeiros.

Bezerra (2009) menciona também, que o antigo arraial deve seu nome ao Sr.

Hugo Viola (fundador do bairro), em homenagem ao bairro Jardim América

em São Paulo, onde vivera grande parte de sua infância.

No artigo do Jornal A Gazeta “ Do sonho à realidade” de setembro de

2003 retomava um texto escrito por Mesquita Neto, em 1955, o qual dizia:

“O bairro, em 1955, tinha ruas com nomes de países da América e

já contava com uma boa infra-estrutura para a época: água, luz, esgoto e

transporte, os quatro fatores essenciais ao progresso de qualquer meio

civilizado [...]

O bairro foi fundado no início do século XX e era pouco mais que

um conjunto habitacional que abrangia as ruas Paraguai, Guiana,

Colômbia, México, Canadá e América. Depois veio o loteamento dos

morros e o aterro da sua parte baixa. Hugo Viola tinha lá sua vivenda

exatamente na esquina das ruas Colômbia e Chile. (Figura 52) (...) Jardim

América é o núcleo de uma grande cidade. Não está longe disso. Quando

forem aterradas partes que se alagam com as chuvas, melhorada a rede

de esgoto, e calçadas algumas ruas, há de ver o impulso que tomará”.

92

Page 95: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 52: Casa de Hugo Viola

Fonte: Arquivo pessoal (Jul.2011).

Todo este movimento trouxe migrantes do interior do estado, que vieram

à procura de emprego, e geraram um crescimento na população do bairro. O

bairro cresceu muito mais do que poderia prever o seu fundador Hugo Viola,

cujo seu projeto de iniciativa própria, na extensa baixada do Rio Marinho,

contemplava a inserção de iniciais cem casas populares em 1947 naquele

traçado ortogonal grelha(FARIA,1988).

Waldir Menezes, na reportagem de A tribuna em 1949, afirma que Jardim

América resolveu o grave problema residencial de Vitória. Os novos lares e os

lares mais modestos tinham em Jardim América a solução do seu problema de

moradia. O texto ainda diz que: “[...] Vitória é uma cidade literalmente lotada de

população. No centro uma residência é um problema de difícil solução[...]”

93

Page 96: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Até os anos 70, Jardim América era o principal centro urbano de

Cariacica, mas foi esvaziado devido também o crescimento do bairro Campo

Grande. Com isso o lugar tido como pioneiro do país [ e de acordo com os

relatos orais, pioneiro da América Latina] na construção de um conjunto

habitacional perdeu lugar. Os buracos nas ruas, o alagamento na parte baixa

quando chove e a poluição da Ferro e Aço de Vitória (Cofavi) dificultaram a

vida dos moradores. A indústria contribuiu para expansão do bairro, contudo

acelerou processo de degradação do espaço devido seu transporte de carga

pesada e poluição.

Figura 53: instalações da Cia de

Ferro e Aço de Vitória. Alto forno e

aspecto geral da usina.18/01/1945

Fonte: Arquivo Público. Seção

fotográfica (1944-1971)

Figura 54: Políticos na Cia de Ferro e Aço de Vitória.3/5/1950

Fonte: Arquivo Público. Seção fotográfica (1944-1971)

94

Page 97: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Na referência “ A ferro e fogo” de Álvaro José Silva e Lino Geraldo

Resende (2004), diz que a empresa foi fundada em 1942, pela família Oliveira

Santos, ligada à exportação, e, inicialmente tinha um pequeno forno de carvão

(Figura 53). Começou a operar efetivamente em 1945, depois, com a chegada

do governo de Juscelino Kubistchek, foi feito o primeiro planejamento da

Siderúrgica no Brasil chamado de Plano Siderúrgico Nacional.

Nele foi definida a instalação de três novas siderúrgicas: a Cosipa, em

São Paulo; a Açominas em Minas Gerais; e a Companhia Ferro e Aço de Vitória

(Cofavi). No que se refere à Cofavi, que tinha apenas um alto forno movido à

carvão vegetal, com produção limitada de aço comum, o objetivo do Plano era

ampliar sua produção, fazendo com que, junto com as outras usinas, o Brasil

tivesse a maior produção de aço.

Na década de 1950, em uma visita ao Espírito Santo (Figura 54), o

presidente Juscelino Kubistchek, anunciou expansão da empresa de acordo

com o seu Plano de Metas(SILVA, 2004). A área que antes pertencia a Cofavi,

com a falência em 1996 e após compra da Arcelor Mittal, passou por direito a

Belgo Mineira.

Um exemplo também de construção de grande escala, é o estádio da

Desportiva (Figura 55, 56 e 57), cuja situação atual é de má condição física e

financeira.

95

Page 98: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 55: Muro da desportiva e parte da BR

262. Morro de Argolas ao fundo

Fonte: Arquivo Pessoal (2010)

Figura 56: Mesmo trecho da Figura 25: 2

ainda na construção do estádio Engenheiro

Araripe (desportiva) em 1966.

Fonte:

http://grenamor.blogspot.com/2008/10/tnel-

do-tempo-engenheiro-araripe.html

Acesso:23/11/2010.

Figura 57: Estádio Desportiva Ferroviária, ainda inacabado, e

prédio de sua Sede Social a frente, 1963.

Fonte: REVISTA CAPIXABA. Vitória: Capixaba, Ano. 1, n. 5, jul.

1967.

96

Page 99: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

A Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce, surgiu em 1963, da

unificação de clubes ferroviários pela empresa Cia Vale do Rio Doce. A idéia de

unificação surgiu de uma portaria assinada pelo engenheiro Eliezer Batista da

Silva, então Superintendente do Departamento de Estrada da Vale do Rio Doce,

criando “uma comissão para estudar e apresentar uma fórmula capaz de atender

aos interesses das agremiações existentes, sem qualquer prejuízo aos direitos de

seus associados”.

Assim, financiado pela CVRD, o clube construiu em Jardim América

inicialmente a Sede Social [em 2010 a edificação foi demolida] e, posteriormente,

um estádio. Esse estádio, bem como toda área ocupada até hoje era pertencente à

Vale. Segundo Álvaro José Silva no livro “Clubes de Futebol”, a Desportiva a

utilizava em regime de comodato. Em 1997, com a privatização da empresa, tudo

foi finalmente passado para o nome da agremiação esportiva.

A presença da Segunda Ponte é um dos marcos do desenvolvimento do

estado e localiza-se ao lado da Desportiva, conectando os municípios de Vitória,

Vila Velha e Cariacica. E que junto da BR 262, que também liga outros municípios,

proporciona um fluxo intenso de veículos e mercadorias. Antes 1979 [data

construção] a ligação com Vitória era feita pela ponte Florentino Ávidos (Figura 58

e 59) [conhecida como 5 pontes e construída na década de 30]

97

Page 100: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 58:

Movimento antes

de 1979, Ponte

Florentino Ávidos

Fonte: Revista

Espírito Santo

AGORA.Novembr

o, nº2

Figura 59:

Imagem atual

parte ponte

Florentino Ávidos.

Fonte: Imagem

Panorâmico.

Acesso:

05/11/2011.

98

Page 101: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

A Estação Pedro Nolasco (Figura 60, 61 e 62), se localiza do outro

lado da BR 262 e apesar de aparentar uma movimentação tímida, possui um

contingente bastante significativo de passageiros, que se deslocam a

trabalho e motivos variados todos os dias. De acordo com documento

histórico do Centro de Memória do Museu da Vale, a estação passou a

funcionar após 1985 quando foi transferido o transporte de passageiros que

então estava funcionando em uma estação provisória em Porto Velho.

Figura 60: Imagem dentro da Estação Pedro Nolasco

em funcionamento

Fonte: Arquivo pessoal (2010)

Figura 61: Imagem dentro da Estação Pedro Nolasco

em funcionamento

Fonte: Arquivo pessoal (2010)

99

Page 102: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 62: BR 262 ao centro , desportiva em primeiro plano à esq. e ao fundo parte alta de Jardim América. À direita em

primeiro plano tem-se CRE metropolitano . Estação Pedro Nolasco e Morro da Companhia ao fundo

Fonte: Arquivo pessoal (2010)

100

Page 103: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

[ Vale mencionar que era na Estação Pedro Nolasco em Argolas que

funcionava primeiramente o transporte de passageiros. É de conhecimento que

sofreu uma série de dificuldades nas áreas políticas, burocráticas e financeiras e

em 1940 passa a ser conhecida como “Ferrovia de Minério”. Assim o transporte

de cargas em geral e passageiros ficam em segundo plano só que em 1961, com

mudanças significativas no sistema viário e crescimento urbano da Grande

Vitória, a estação esse transporte foi transferido para a estação provisória em

Porto Velho]

Na parte alta do bairro insere-se a igreja católica (Figura 63 e 64) que é

referência não apenas no bairro, mas na região, pois, como Paróquia, coordena

comunidades vizinhas. As festividades da padroeira [Santa Maria Gorette], que

acontecem sempre no início de Julho atraem diversas pessoas e movimentam o

local.

Com base no documento histórico da secretaria paroquial de Santa Maria

Gorette, foi em 1945 quando um grupo de moradores procurou o Bispo Dom Luiz

Scortegagna, com o objetivo de fundar em Jardim América uma comunidade

católica. Missões foram feitas [ as missões eram feitas de pregações, batizados e

primeira comunhão] e o local dos encontros foi um armazém de abastecimento de

cereais da C.V.R.D. (Companhia Vale do Rio Doce), na Rua Paraguai. Após

missões determinadas pelo Bispo foi celebrada a primeira missa no bairro em uma

garagem, que pertencia à residência do Sr. Silvio Pádua, na Rua México nº 19.

101

Page 104: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 63: Foto aérea. Igreja e sua torre à direita.

Fonte: Acervo Padres Passionistas. s/ data

Figura 64: Igreja enfeitada para as festividades da padroeira.

Fonte: Arquivo pessoal (Jul.2011)

Até o início de 1950, não havia lugar fixo, prossegue o documento

paroquial. As atividades religiosas como: reza dos terços e ladainhas, ora na

garagem, ora na oficina de marcenaria do Sr. Pignaton, na Rua Chile. Com o

crescimento da comunidade [o que o documento denomina “igreja viva”], a

imobiliária Hugolândia doou dois terrenos de 300 m² cada na Rua Venezuela,

próximo à divisa com a Ferro e Aço [atualmente Siderúrgica Belgo Mineira]. O

então Pároco José Brasil motivou a comunidade a comprar mais dois terrenos

do mesmo tamanho onde foi feita grande igreja de madeira.

102

Page 105: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Em 1953, os Passionistas compraram uma quadra de terreno limitado pelas

Ruas Bolívia (Figura 65 e 66), Venezuela e São Paulo da Cruz para edificarem a

sua obra. Já no ano de 1954 o Pároco Ambrósio Marafiota[1º Pároco oficialmente

de Jardim América] doou a L.B.A. (Legião Brasileira de Assistência) uma área de

2.275 m² para construção de uma obra social, onde funcionaria também uma Igreja

e a residência do Pároco, ambas provisórias. Finalizada as construções, a Igreja de

madeira foi desativada e as celebrações passaram a ser realizadas na Capela da

L.B.A. Conclui o documento, que no ano de 1957 já havia inaugurado

correspondente atual igreja Matriz [que é a atual igreja Santa Maria Gorette] e a

residência paroquial.

Figura 65: Foto tirada

da Rua Bolívia.

Fonte: Acervo

Padres Passionistas.

s/ data

103

Page 106: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 66: Foto tirada da

Rua Bolívia.

Fonte: Arquivo pessoal

(Fev.2012)

104

Page 107: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

2.1.1 Transformações recentes.

De acordo com o Plano Diretor Municipal (PDM) a área configura-se

como eixo de dinamização compondo zonas lineares dentro do perímetro

urbano de Cariacica. Elas correspondem a áreas formadas com vias

localizadas estrategicamente, sendo importante como ligação e centralização

de atividades de comércio. Além disso abrange uma zona de proteção

ambiental( ZPA) próximo a área de Belgo Mineira, antiga Cofavi, que por sua

vez é uma Zona Especial (ZE), a qual se caracteriza por equipamento de

interesse econômico englobando atividades diferenciadas de forma que

possam a vir exercer impacto econômico, urbanístico, sociais ou mesmo

ambientais.

Para a compreensão da atual situação urbana do bairro, o

entendimento da estrutura econômica da Região da Grande Vitória é

essencial, uma vez que a consolidação na década de 40 e a seguinte

estagnação na década de 70 estão intrinsecamente relacionadas ao

desenvolvimento industrial, portuário e logístico.

Hoje os galpões mais novos de Jardim América funcionam como

unidade de armazenagem integrada com a movimentação portuária do da

Grande Vitória. Característica do município (Cariacica) o qual se insere o

bairro, como reforça a professora Martha Campos:

105

Page 108: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

“ A especificidade funcional do município de Cariacica de pólo

de atividades de comércio e serviços retroportuários, indica o vínculo de

seu perfil produtivo urbano com o sistema de transportes de cargas,

articulado pelos terminais de carga e unidades de armazenagem,

integrado à movimentação portuária do complexo portuário concentrado

na Grande Vitória”.

“A inserção do terminal rodoviário Transcol, em 2010, deu uma nova

dinâmica para a região, mudando fluxo e sentido de algumas avenidas tais

como Av. Espírito Santo, Rua Brasil e Pará. É de frente para a BR-262 que

ele se insere, rodovia esta que é a porta de entrada para a capital do Estado,

sendo o eixo de ligação principal com as maiores metrópoles do país. Ao

longo dela encontram-se diversas lojas especializadas em equipamentos,

peças e manutenção de automóveis, assim como também postos de

combustíveis.

Do outro lado da BR 262 está o Centro Regional de Especialidades

Metropolitano e no trevo da rodovia se localiza um ponto da Polícia Federal

[usado para blitz] (Figura 67). Muitos terrenos estão desocupados, e no

entorno imediato à Desportiva são poucas as residências, no entanto, a

poucas quadras encontra-se o centro de vivências do bairro [ou o que poderia

ser], a praça Hugo Viola. (Figura 68)

106

Page 109: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 67: Posto da Polícia Federal

Fonte: Arquivo pessoal (Fev.2012)

Figura 68: Valão que corta Praça Hugo Viola .

Fonte: Arquivo pessoal (Fev.2012)

107

Page 110: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

A Rodovia BR-262 constitui um espaço geográfico muito importante para o

crescimento de Jardim América. Pela sua própria importância econômica e de

localização estratégica, contribuiu para a valorização comercial e imobiliária do

bairro. Esta é uma descrição oficial, por exemplo, no site da prefeitura de Cariacica

ou mesmo nos principais sites de busca na internet. Em outro zoom, no que Paola

Berenstein cita sobre a experiência urbana (urbanista errante), a descrição é

diferente.

Nesse processo investigativo usando a corporeidade, nas andanças sentindo

esse sítio, na proximidade com a BR há um grande nó de veículos. Forma-se no

cruzamento da BR 262 com acesso a segunda ponte e é fator marcante para a

marginalização do espaço, da mesma forma as condições insalubres do Rio

Marinho e os terrenos vazios, ocupados apenas por lixo. (Figura 69)

Figura 69: Ponte do Camelo e Rio Marinho

Fonte: Arquivo pessoal (2010)

108

Page 111: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

2.1.2 Cia Vale do Rio Doce

Em 1952, após enfrentar vários contratempos, a CVRD consegue

modernizar as operações do complexo mina-ferrovia-porto e atingir a meta de

1,5 milhão de toneladas exportadas por ano.

No primeiro ano da gestão de Arthur Gerhardt criou-se um distrito

industrial para concentrar as micro, pequenas e médias empresas. Localizado

em Carapina, no município de Serra o CIVIT [Centro Industrial de Vitória.]

A Companhia Vale do Rio Doce que, em 1966, construiu o porto de

Tubarão em uma antiga fazenda de gado na praia de Camburi, começou em

1974, as obras da Companhia Siderúrgica de Tubarão - CST. O terminal de

Tubarão desafogou o porto de Atalaia, na baía de Vitória. [Neste mesmo

período foi iniciada a obra da Segunda Ponte, ligando Vitória a Vila Velha, com

término em 1979] (Figura 70)

Figura 70: Imagem aérea CVRD em Jardim

América e Baia de Vitória

Fonte: IJSN (1961)

109

Page 112: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Atualmente onde se insere o CRE metropolitano, era centro

operacional da CVRD, a qual hoje tem alguns galpões, ferrovia, algumas

casas abandonadas no “Morro da Cia” e a Estação Pedro Nolasco.

Na reportagem de Waldir Menezes, publicada no jornal A Tribuna em

1949, mencionou invasão de terrenos em Jardim América pela Cia.

Prosseguiu o texto dizendo que a Vale do Rio Doce opõe-se a Companhia

Melhoramentos de Vitória S.A prosseguisse com a construção das casas

sob o fundamento que os terrenos de Jardim América fossem terrenos de

Marinha. Segundo a reportagem somente não bastasse esse protesto do

representante da União, como também a invasão de terras legítimas de uma

Companhia ligada ao Governo Federal. A matéria ainda diz:

“Não nos compete aqui discutir esses pontos, uma vez que as

medidas cautelosas foram tomadas e o assunto está sendo discutido

pelos canais competentes. Apenas queremos dizer que, a nosso ver,

aqueles dois fatos a que nos referimos somente conseguiram criar

apreensões e desassossego[...] invadir terrenos legítimos com um tal

acervo de documentação, cujas escrituras datam de mais de um século

parece-nos obra de desatinados. Assim como pretender que a margem de

rio entre morros, brejo de batinga seja terreno de marinha, parece-nos

anedota de fazer rir. O Jardim América tem uma parte que é terreno de

marinha, a parte mais baixa, à margem esquerda do Rio Marinho, mas

desta parte, a Companhia de Melhoramentos de Vitória S.A, tem

certificado de ocupação regularmente processado” (MENEZES, 1949)

110

Page 113: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

2.2 O que é o lugar?

Entender Jardim América, um lugar, requer compreender o que é o

lugar. As categorizações são diversas e diante das reflexões sobre

proximidade e distancia e após permear sobre possibilidades de

investigação, adianto-me e presumo que o lugar não é o mesmo para todos.

O samba de Arlindo Cruz “O Meu Lugar”, mostra algumas dimensões do

conceito do lugar. Aqueles que trabalham, habitam, circulam, amam,

produzem esse dia a dia do lugar, narrando histórias diferentes:

O Meu Lugar

Composição : Arlindo Cruz

O meu lugar

É caminho de Ogum e Iansã

Lá tem samba até de manhã

Uma ginga em cada andar

O meu lugar

É cercado de luta e suor

Esperança num mundo melhor

E cerveja pra comemorar

O meu lugar

Tem seus mitos e Seres de Luz

É bem perto de Osvaldo Cruz,

Cascadura, Vaz Lobo e Irajá

O meu lugar

É sorriso é paz e prazer

O seu nome é doce dizer

Madureiraaa, lá lá laiá, Madureiraaa, lá lá laiá

111

Page 114: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Ahhh que lugar

A saudade me faz relembrar

Os amores que eu tive por lá

É difícil esquecer

Doce lugar

Que é eterno no meu coração

E aos poetas trás inspiração

Pra cantar e escrever

Ai meu lugar

Quem não viu Tia Eulália dançar

Vó Maria o terreiro benzer

E ainda tem jogo à luz do luar

Ai que lugar

Tem mil coisas pra gente dizer

O difícil é saber terminar

Madureiraaa, lá lá laiá, Madureiraaa, lá lá laiá, Madureiraaa

Em cada esquina um pagode num bar

Em Madureiraaa

Império e Portela também são de lá

Em Madureiraaa

E no Mercadão você pode comprar

Por uma pechincha você vai levar

Um dengo, um sonho pra quem quer sonhar

Em Madureiraaa

E quem se habilita até pode chegar

Tem jogo de lona, caipira e bilhar

Buraco, sueca pro tempo passar

Em Madureiraaa

E uma fezinha até posso fazer

No grupo dezena centena e milhar

Pelos 7 lados eu vou te cercar

Em Madureiraaa

E lalalaiala laia la la ia...

Em Madureiraaa

112

Page 115: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Doreen Massey (2008) esquematiza algumas linhas específicas de

argumentos que exemplificam modos em que o espaço pode se apresentar,

através de discursos filosóficos. Contudo entende que a partir daí, enquanto

lugar é reinvidicado ou rejeitado em debates, de maneiras diferentes, existem

evidências em comum, tais como o de lugar como algo fechado, integrado,

um refúgio seguro, de certa maneira, originalmente regionalizado. Além disso,

tais discursos filosóficos movimentam uma contraposição subentendida em

diferentes níveis teóricos; tendo o espaço, de um lado e lugar de outro.

Assim sendo autora afirma que existe “lugar” no contexto de um

mundo que é progressivamente mais interconectado com a noção de lugar

(geralmente citado como um “lugar local”) cujo valor simbólico é

frequentemente articulado em argumentos políticos. Há também esse

significado usado no cotidiano, nas práticas reais desta maneira valorizadas,

fonte geográfica de significado, essencial como referência.

No livro, Massey (2008), ainda defende uma maneira alternativa de

encarar o espaço:

“ E se recusarmos essa distinção, por mais sedutora que pareça, entre

lugar (como sentido, vivido e cotidiano) e espaço (como o quê? O exterior? O

abstrato? O sem significação?)” (MASSEY, 2008, p.25)“

113

Page 116: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Não se pode definir o espaço como oposto de lugar como vivido ou

mesmo equivaler o cotidiano como local. Sendo assim, defender o espaço de

forma relacional, não permite que ele seja união de todas conexões, afirma

Massey (2008). Há uma pluralidade de trajetórias cujas conexões são sempre

cambiantes, o que faz com que o próprio lugar se forme como um feixe

dessas articulações.

No capitulo “Relatos de Espaço” do livro Invenção do Cotidiano, Michel

de Certeau (1998), inicia dizendo que na Atenas contemporânea, os

transportes coletivos se chamavam metaphorai. Assim para trabalhar ou

voltar para casa pegava-se uma “metáfora”. A partir disso equipara o ato de

relatar com esse movimento dos transportes coletivos, mencionando que

poderiam ter esse nome (metáfora), já que todos os dias os relatos

atravessam e organizam lugares fazendo deles frases e itinerários, em suma

são percursos de espaço.

Certeau (1998) considera em sua pesquisa, ações narrativas as quais

permitem pontuar algumas formas das práticas organizadoras de espaço: a

bipolaridade “mapa” e o “percurso”. Entre espaço e lugar coloca uma

distinção que delimita um campo onde o lugar é a ordem segundo o qual se

distribuem os elementos nas relações da coexistência, sendo, portanto, o

lugar uma indicação de estabilidade.

114

Page 117: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Certeau (1998) categoriza, diz: que o espaço é um cruzamento de

móveis; e ainda faz a comparação do espaço estar para o lugar assim como

a palavra quando falada.

Em reportagem publicada em A tribuna em 1949, de Waldir Menezes,

relata o que era aquele lugar antes de ser Jardim América:

“ Há 3 anos passados, quem, partindo de Vitória

atravessasse a ponte “Florentino Avidos”, a seguindo,

deixasse a estrada de Vila Velha e transpusesse a ponte

sobre o Rio Marinho, teria a oportunidade de ver, à direita

e à esquerda, extensa área de terreno baixo, deserto,

coberto de vegetação comum a essa natureza de terreno

vulgarmente conhecido por brejo”

Cabe insistir que lugar significa mais do que uma localização. Para

Norberg-Schulz (2008), naturalmente as direções principais são horizontal e

vertical, isto é, da terra e do céu. Então aí, centralização, direção e ritmo são

importantes propriedades. Por fim, deve-se mencionar que os elementos

naturais (como as montanhas) e os assentamentos podem agrupar-se ou

formar feixes, com graus diversos de proximidade. (Figura 71 e 72)

115

Page 118: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 71: Paisagem. À direita Morro Argolas( Vila

Velha). À esquerda morros de Vitória.

Fonte: Arquivo pessoal (Nov.2011)

Figura 72: Paisagem natural: À esquerda Morro

Argolas( Vila Velha). À esquerda paisagem

construída: Torre da igreja que se destaca.

Fonte: Arquivo pessoal (Nov.2011)

116

Page 119: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

2.3 Algumas trajetórias e o sítio

O significado de trajetória no dicionário é: s.f (geom) linha

descrita ou percorrida pelo centro de gravidade de um corpo em

movimento; Linha descrita por um ponto material em movimento, por

um projétil, de seu ponto de partida ao de chegada. (p.ext.) órbita;

caminho, trajeto; meio; via.

Massey (2008) cita os termos “Trajetória” e “estória” e

prontamente diz que significam, simplesmente, enfatizar o processo

de mudança em um fenômeno. (Figura 73, 74 e 75) Nessa perspectiva

Doreen [Massey], explicita que os termos são, assim, temporais em

sua ênfase, apesar de que, ela defenderia sua necessária

espacialidade (seu posicionamento a outras trajetórias ou histórias,

por exemplo). Segundo a autora, tanto trajetória quanto estória tem

outras conotações que ela mesma não adota em seu livro. Diz ainda

que trajetória é um termo presente em debates sobre representação

que tiveram influências importantes e duradouras nos conceito de

espaço e tempo.

117

Page 120: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 73: Terreno atual da igreja, ainda vazio. Data:

1954

Fonte: Acervo Padres Passionistas.

118

Page 121: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 74:

Terreno atual da

igreja, com a

LBA. Data:1956

Fonte: Acervo

Padres

Passionistas.

Figura 75:

Terreno atual da

igreja, com a LBA

e igreja ao fundo

(ainda sem a

torre) .Data: 1958

Fonte: Acervo

Padres

Passionistas.

119

Page 122: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Estória traz consigo conotações de alguma coisa relatada ou de

uma história interpretada. Em Jardim América, ao longo da pesquisa, foi

citado, por exemplo, sobre a LBA e seus cursos ofertados, de como

aquilo era bom. Mas exatamente quando aquilo foi inserido, em qual

circunstância e de maneira mais convincente e comprovado pela

fotografia [a base historiográfica da Paróquia Santa Maria Gorette

descreve esse processo] viu-se a ligação da edificação com a igreja

católica. Obviamente que outras situações objetivamente podem ser

aproveitas daquela imagem (Figura 73, 74 e 75), tais como a topografia

e a tipologia das casas naquela época.

Massey (2008) expõe no livro, “[...] mas eu me refiro,

simplesmente, a estória, mudança, movimento, das próprias coisas”

(MASSEY, 2008, p. 33). A autora diz se incomodar com as equivalências

entre representação e espacialização, e, de associações de espaço com

sincronia. Ela está interessada em como poderíamos imaginar espaços

para estes tempos, como poderíamos buscar uma imaginação

alternativa.

120

Page 123: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Henri Jeudy (2006) escreve que a marcação das épocas é uma

maneira tradicional de fazer aparecer a ligação entre o tempo e o advento do

sentido. Segue dizendo que contudo,”[...] a criação artística e arquitetônica é

estimulada por uma certa desordem dos regimes de historicidade, por efeitos

de condensação semântica das épocas.”( JEUDY, 2006, p. 16). Com a

história a desempenhar um papel social e político na anamnese [recordação]

comunitária, a posição dos arquitetos pode então ser rigorosamente

contraditória: uns farão “tabula rasa” (a cidade genérica) mas estes mesmos

não escapam à criação implícita de “novas memórias” dos lugares

paradoxalmente impulsionados pelo “vazio”, outros tentarão promover uma

concepção arquitetônica desobrigada da conservação patrimonial. Jeudy

(2006) coloca a questão “[...]Como esse “dever de memória” pode se articular

a uma projeção simbólica para o futuro?” .”( JEUDY, 2006, p. 16)

Numa retomada a literatura [Sites Matters] de Carol Burns e Andrea

Kahn (2005), onde faz a sobreposição de três grupos com a função de focar

em uma área teórica. Um adentro no terceiro grupo que Burns e Kahn (2005)

comentam, onde fala da relação entre as técnicas de representação, os

métodos de estudo e as estratégicas para abordagem do projeto.

121

Page 124: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Burns e Kahn (2005) julgam que o conhecimento do sítio [site] apresentado

no livro pode lançar nova luz sobre o passado assim como fornecer estruturas

para desenvolvimentos futuros, também aponta para quanto o sítio continua a ser

explorado. Os instrumentos da representação permitem desenvolvimentos nas

técnicas de descrição. As ferramentas gráficas informam e são suportes das

idéias dos desenhistas.

O pensamento é permitido e confinado por formatos [plantas, as seções,

os mapas (Figura 76), a fotografia, o vídeo, e os programas usuais], os quais

escalam o espaço. Quando um modelo, um desenho, ou um diagrama que inclui

a informação fora dos limites do lote (estruturas adjacentes), ou fenômenos

temporais (inundações no ano), acrescentam influências situacionais ao site

assimilando-o melhor. Por outro lado, omitir tais informações tem efeito contrário.

(BURNS e KAHN, 2005)

Etienne Samain (1998) diz que processo de construção do signo

fotográfico implica necessariamente a criação documental de uma realidade

concreta. Para o autor, trata-se, entretanto, da realidade da representação que,

geralmente, conflita com a realidade material, objetiva, passada. Expõe ainda,

que do ponto de vista do receptor, “[...] há um confronto entre o documento

presente (originado no passado) com o próprio passado inatingível fisicamente,

apenas mentalmente, subjetivamente.”( SAMAIN, 1998, p.46)

122

Page 125: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Burns e Kahn (2005) julgam que o conhecimento do sítio [site] apresentado

no livro pode lançar nova luz sobre o passado assim como fornecer estruturas

para desenvolvimentos futuros, também aponta para quanto o sítio continua a ser

explorado. Os instrumentos da representação permitem desenvolvimentos nas

técnicas de descrição. As ferramentas gráficas informam e são suportes das

idéias dos desenhistas.

O pensamento é permitido e confinado por formatos [plantas, as seções,

os mapas (Figura 76), a fotografia, o vídeo, e os programas usuais], os quais

escalam o espaço. Quando um modelo, um desenho, ou um diagrama que inclui

a informação fora dos limites do lote (estruturas adjacentes), ou fenômenos

temporais (inundações no ano), acrescentam influências situacionais ao site

assimilando-o melhor. Por outro lado, omitir tais informações tem efeito contrário.

(BURNS e KAHN, 2005)

Etienne Samain (1998) diz que processo de construção do signo

fotográfico implica necessariamente a criação documental de uma realidade

concreta. Para o autor, trata-se, entretanto, da realidade da representação que,

geralmente, conflita com a realidade material, objetiva, passada. Expõe ainda,

que do ponto de vista do receptor, “[...] há um confronto entre o documento

presente (originado no passado) com o próprio passado inatingível fisicamente,

apenas mentalmente, subjetivamente.”( SAMAIN, 1998, p.46)

122

Page 126: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 76:

Mapa Ilha de

Vitória e

arredores.

Consta data no

documento de

Maio de 1968,

mas o

documento

representa

região Grande

Vitória em

1954. Em

destaque, à

esquerda,

Jardim

América. E

azul o Rio

Marinho.­ Notar

traçado de

poucas ruas,

essencialmente

existência das

ruas da parte

baixa.

Fonte: Arquivo

IJSN-ES/ CAR-

UFES

124

Page 127: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 77: Meninas do

colégio Passionista em

Jardim América. A foto

na diagonal pode indicar

dimensão da fila e a

linearidade

correspondente a

disciplina diante aquela

instituição.

Fonte: Acervo Padres

Passionistas. s/ data

Figura 78: Meninos do

colégio Passionista em

Jardim América.

Anteriormente era um

internato somente de

meninos. A

espontaneidade do grupo

pode indicar mais

liberdade para aqueles

meninos.

Fonte: Acervo Padres

Passionistas. s/ data

125

Page 128: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Para Peter Ribon Monteiro (2008) além da historicidade imbuída no

sujeito observante [memória] e a aquela construída no objeto, a identidade do

lugar, portanto é construída no próprio ato de percebê-lo. Se junta às relações

de figura – fundo (Figura 79 e 80) e de sujeito e objeto, a relação de tempo e

espaço onde a temporalidade [fenomelogicamente], é ativada por um sujeito.

Figura 79: Morro de Argolas ao fundo. À direita torre da igreja católica.

Fonte: Acervo Padres Passionistas. s/ data

126

Page 129: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 80: Novamente :Morro de Argolas ao fundo. À direita torre da igreja católica.

Fonte: Acervo Padres Passionistas. s/ data

127

Page 130: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Desse modo, Monteiro (2008) também defende que a imagem da

cidade não está estruturada apenas nos seus objetos e no que eles

representam, mas nessa representação vista e sentida pelos seus

vivenciadores. Falar de uma singularidade urbana, portanto impõem

necessariamente a vivência no espaço, vivência esta que supõe o tempo

presente. Pode-se apreender uma cidade e sua imagem através de uma

representação, “[...] mas de fato, só pode ser verdadeiramente conhecida

através da presença do corpo, do ser no mundo, sendo este responsável pela

criação das novas representações derivadas” (MONTEIRO, 2008, p. 158). A

cidade em sua imagem é presente que vai ao passado e ao futuro (Figura

81, 82, 83 e 84), se apresentando em um duplo horizonte.

128

Page 131: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 81: Título do arquivo: “Saneamento

em Jardim América.” [notar ao fundo morro

de Argolas]

Fonte: Arquivo IJSN.s/ data

Figura 82: Título da matéria de jornal:

“Jardim América reclama melhor atenção da

PMC”

Fonte: Jornal A Tribuna.22 set.1983

Figura 83: Título da matéria de jornal: “Ninguém agüenta mais os

problemas provocados pelo valão”

Fonte: Jornal A Gazeta .20 mai.1984

Figura 84 Imagem galeria na Av. América.

Fonte: Arquivo pessoal (Fev.2012)

129

Page 132: Projeto de Graduação II

03

Page 133: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

3 ASSOCIAÇÃO SÍTIO , MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO

3.1 Sitio e o inconsciente coletivo

Retomo a Lamarca [o filme] para informar que parte do enredo do

filme passa no Rio de Janeiro e questionar: Poderia relacionar o subúrbio e

linguagem dos bairros fabris do Rio de Janeiro com lugar usado para rodar o

longa? Teria então Jardim América e esses bairros de subúrbio do Rio de

Janeiro uma imagem genérica? (Figura 85 e 86)

131

Page 134: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 85: Cena do Filme

Lamarca, 1994. Av. Espírito

Santo, Jardim América-

Cariacica-ES.

Fonte: Imagem retirada

http://www.youtube.com/watch?

v=F3a_TePgOEE. Acesso:

20/11/2010.

igura 86: Av. Espírito Santo, em

um sábado. Jardim América.

Segundo plano muro da antiga

Cofavi [Atual Belgo Mineira].

Fonte: Arquivo pessoal

(Jul.2011).

Lúcia Nagib no livro “O cinema da retomada: depoimento de 90

cineastras dos anos 90” traz relato de Sérgio Rezende, responsável pelo

filme. Em trecho, Sérgio Rezende revela:

132

Page 135: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

“ [...]Homens comuns que tiveram destinos incomuns. Li um livro

chamado Lamarca: capitão da guerrilha, de Emiliano José e Oldak

Miranda, e resolvi fazer o filme. Chamar de “adaptação literária” é um

dos grandes equívocos em relação a esses filmes históricos, no Brasil.

Não se pode adaptar nada. Num cinema de ficção tudo é inventado,

você tem fatos, mas os fatos não viram cenas. Um livro pode ser

excelente, mas não tem uma estrutura narrativa de um filme. Comecei o

filme com um pequeno documentário sobre Lamarca, por que percebi

que o público em geral não tinha informação sobre ele.[...]” (NAGIB,

2002, p. 381, acesso em 24 de nov. 2011)

O cineasta prossegue admitindo não ver grandes problemas em fazer

filmes de ficção baseados em fatos históricos, inclusive diz que na verdade

trata-se de uma das principais vertentes do cinema. Para ele o cinema

trabalha com aquilo que ficou no inconsciente coletivo das pessoas, um

personagem é a representação de um inconsciente coletivo. Escrever um

filme é escrever um filme, afirma Sérgio. Seja ele Um sonho não acabou ou a

história de Lamarca. Tudo é invenção. Tudo é contar mentiras para falar a

verdade. Há fatos que é preciso respeitar, mas toda construção do

personagem é recriação, conclui.

133

Page 136: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Aproveito daquelas questões sobre a proximidade e a distância, em

especial a comparação do pintor e operador da câmera no cinema [ e a

construção auxiliar do cirurgião e do mago] que Walter Benjamim faz, para

mencionar sua conclusão: o operador de câmera intervém profundamente na

textura da cidade. A reprodução fotográfica, nesse contexto, realiza essa

aproximação, todavia trata-se de uma imagem transportável, que acaba por

distanciar o indivíduo numa relação de apego [aproximação] a representação

em detrimento ao objeto.

As questões de pré-projeto, incluindo também programa,

financiamento e outros fatores estratégicos é o que formam a estrutura de um

projeto. Se aprofundando um pouco mais, um local está definido por aqueles

que detêm o poder de fazê-lo, sendo assim, segundo Burns e Kahn (2005)

certamente todo as outras discussões do sítio seguem dessa certeza

estrutural.

Compreender o sítio sobre os níveis de teoria e prática ao mesmo

tempo é enriquecer a experiência concreta no campo do projeto como um

todo. O capítulo 2 de “Sites Matters” mostra o ensaio de Harvey M. Jacobs.

Este ensaio procura explicitar de como nós, como proprietários, os vizinhos e

as pessoas interessadas referem-se sobre um site, reivindicam-o, dando

idéias de mudança.

134

Page 137: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

O autor começa na história americana, com os debates sobre a

propriedade e direitos durante o tempo da Revolução Americana. Jacobs diz

ainda que apesar de uma retórica popular que muitas vezes visa simplificar

esta história, o que mostra na verdade é que qualquer ambigüidade

contemporânea sobre as idéias de propriedade e direitos estão preso à

fundação do país.

Conclui que não existe uma fórmula simples, econômico ou legal a que

podemos recorrer. Cada comunidade, em cada geração [tempo] decide sobre

o ponto de equilíbrio que respeite os direitos do proprietário do site [sítio].

Como os americanos continuam a reinventar o seu conceito de liberdade, as

reivindicações sobre o site tornar-se uma das expressões mais óbvias e em

constante mudança.

Pensando desse modo, hoje poderia ser feito uma melhor estrutura

para a galeria na Av. América. Ao invés de lutar contra e esconder as águas

trabalhar com elas e torná-las visíveis, parte integrante desse lugar

originalmente alagadiço. Estudos como o das águas urbanas do grupo

MMBB, é um exemplo, que se desdobrou em um projeto de um urbanismo

inundável para o Córrego do Antonico na favela de Paraísopolis, São Paulo.

Neste projeto, os espaços de ruas e praças foram desenhados para serem

inundados temporariamente de acordo com o volume das chuvas. (Figura 87)

135

Page 138: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 87: Canal a céu aberto com intuito de

adquirir novo significado e transformar o

espaço público.

Fonte: LARA, Fernando Luiz. Lápis verde:

Anotações sobre arquitetura, arte.

Disponível em:

<http://www.google.com.br/imgres?imgurl=ht

tp://2.bp.blogspot.com>.Acesso em: 08 dez.

2011.

136

Page 139: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

O autor começa na história americana, com os debates sobre a

propriedade e direitos durante o tempo da Revolução Americana. Jacobs diz

ainda que apesar de uma retórica popular que muitas vezes visa simplificar

esta história, o que mostra na verdade é que qualquer ambigüidade

contemporânea sobre as idéias de propriedade e direitos estão preso à

fundação do país.

Conclui que não existe uma fórmula simples, econômico ou legal a que

podemos recorrer. Cada comunidade, em cada geração [tempo] decide sobre

o ponto de equilíbrio que respeite os direitos do proprietário do site [sítio].

Como os americanos continuam a reinventar o seu conceito de liberdade, as

reivindicações sobre o site tornar-se uma das expressões mais óbvias e em

constante mudança.

Pensando desse modo, hoje poderia ser feito uma melhor estrutura

para a galeria na Av. América. Ao invés de lutar contra e esconder as águas

trabalhar com elas e torná-las visíveis, parte integrante desse lugar

originalmente alagadiço. Estudos como o das águas urbanas do grupo

MMBB, é um exemplo, que se desdobrou em um projeto de um urbanismo

inundável para o Córrego do Antonico na favela de Paraísopolis, São Paulo.

Neste projeto, os espaços de ruas e praças foram desenhados para serem

inundados temporariamente de acordo com o volume das chuvas. (Figura 87)

135

Page 140: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 88: Pichações e gravites

em contruções abandonadas,

ruas acesso ao terminal

Fonte: Arquivo pessoal

(Fev.2012).

138

Page 141: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 89 Pichações e

vestígios de lama em muro da

Av. América

Fonte: Arquivo pessoal

(Fev.2012).

Figura 90: Poluição visual em

muro e falta de calçada na

Av. Espírito Santo.

Fonte: Arquivo pessoal

(Fev.2012).

139

Page 142: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Figura 91: Á Dir. quadra do colégio Passionista. Á esq. prédio abandonado onde funcionou LBA e depois arquivo do INSS. Rua Bolívia

Fonte: Arquivo pessoal. Editada no programa photoshop (Jul.2011)

140

Page 143: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

O colombiano Armando Silva (2006), no livro “Imaginários Urbanos”,

analisa as problemáticas urbanas da América Latina com aporte teórico e

metodológico da antropologia, da psicanálise, da teoria da comunicação, da

estética e da história. Armando Silva fala que se pode invocar a cidade como

uma construção simbólica, e, assim compreendê-la através de sua imagem

carregada de sentido.

Peter Monteiro (2008) diz que a percepção se revela, portanto, desse

encontro: é subjetiva e objetiva ao mesmo tempo. A percepção se revela sob

perfis, sendo construída através de todas as possibilidades, sendo assim de

diversos pontos de vista, e, segundo Peter incluindo mesmo aquele que

possibilita a ilusão.

Ele se aproxima da cidade, se põe sobre ela, desloca sobe sua rede,

vivencia nela, ao mesmo tempo em que intenciona uma nova representação,

na inserção dele no tempo e no espaço localiza-se e move-se, e, segundo

Monteiro (2008), é através de suas avenidas que suas faces se revelam.

“É uma vivência da consciência, um ato, cujo correlato são

qualidades percebidas pela mediação de nosso corpo, é um modo de

estarmos no mundo e de nos relacionarmos com a presença das coisas

diante nós(...)” (MONTEIRO, 2008, p.156)“

141

Page 144: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

3.2 Proximidade [e distância] de um (a) Urbanista errante

142

Page 145: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 92: Desenho de Jardim América e indicações referentes à algumas

imagens a seguir.

Fonte: Desenho feito a mão. Finalização programa photoshop CS.

143

Page 146: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

A fantasia mental desloca o real em conformidade com a visão de

mundo do autor da representação e do observador que a interpreta segundo

seu repertório cultural particular, é o que cita Samain (1998). O que é real

para uns é pura ficção para outros. Real é o barulho do trem na linha férrea

mal cuidada e os sons do maquinário da siderúrgica. O muro que limita a área

marca em extensão a Av. Espírito Santo, mas não tem altura suficiente para

encobrir os grandes galpões e algumas máquinas em desuso.(Figura 93, 94 e

95)

Figura 93: O trilho

cortando o terreno

Fonte: Arquivo

Pessoal

(Fev.2012)

Figura 94: O

calçadão que

acompanha a

avenida

Fonte: Arquivo

Pessoal (Fev.2012)

144

Page 147: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 95: A Ferrugem do maquinário

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

145

Page 148: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Em O Mundo Codificado, de Flusser (2007, p.128)), temos que a

fotografia não é representação do mundo, mas de conceitos: “[...]fotografias

são imagens de conceitos, são conceitos transcodificados em cenas”. Nesse

contexto o projeto se vale das representações para chegar aos conteúdos

implícitos desses cenários, aprofundando a investigação do espaço urbano,

através de uma coleção de fragmentos. As fachadas mais antigas se

destacam, as datas lembram em uma mistura de estilos ou mesmo em uma

adaptação para uso atual. (Figura 96)

Figura 96: fachadas como fragmento.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

146

Page 149: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Suntag (2004) diz que as imagens fotografadas não parecem manifestações a

respeito do mundo, mas sim pedaços dele, miniaturas da realidade. As fotos, que

brincam com a escala do mundo são também reduzidas, ampliadas, recortadas ou

adaptadas. Os grafites, pichações e cartazes estão naquela construção abandonada

e naquele muro do terreno baldio. As superfícies como depositárias de inúmeras

camadas de informações, instigam a reflexão ante o isolamento e degradação do

espaço urbano. (Figura 97, 98 e 99)

Figura 97: Arte no abandono

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Figura 98: Grafite como marca de um

passante

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)Figura 99: Camadas de informação

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

147

Page 150: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Estamos diante de um lago cujo nome é conhecido dos geógrafos, em

meio a altas montanhas, e eis que regressamos a um passado remoto.

Sonhamos enquanto nos lembramos. Lembramo- nos enquanto sonhamos.

Nossas lembranças nos devolvem um rio singelo que reflete um céu apoiado

nas colinas. Mas a colina recresce, a enseada do rio se alarga. O pequeno

faz-se grande. O mundo do devaneio da infância é grande, maior que o

mundo oferecido ao devaneio de hoje (BACHELARD, 1996, p. 96). (Figura

100, 101, e 102)

Figura 100 : Morro de Argolas próximo do terraço

da dona Altair

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Figura 102 :Se aproximando o Morro de Argolas

se esconde sob a Segunda Ponte.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

148

Page 151: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 101: Morro de

Argolas espia a fenda na

rua Paraguai.

Fonte: Arquivo Pessoal

(Fev.2012)

149

Page 152: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

É preciso que se utilize o lugar para comprendê-lo, vivenciadores

como atores da cidade [que é ao mesmo tempo cenário e cena]

percebendo e sendo percebido continuamente, dessa relação de

construindo e reconstruindo a própria paisagem. As imagens ambientais

nesse sentido, sendo figura sobre o fundo. (Figura 103, 104 e 105)

Figura 103 : A placa indica Jardim América . O morro confirma o lugar.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

150

Page 153: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 104: Galpões antigos

realçam na rua estreita e reconstrói

aquela paisagem.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Figura 105: O pavilhão D da

siderúrgica espia, por detrás do

muro, a Av. Espírito Santo.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

151

Page 154: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

A representação fotográfica, em meio a uma série de outros objetos

simbólicos, que para os outros podem não ter nenhum significado, constitui-

se, pois, no ponto de partida. A Torre da igreja católica pode ser vista de

vários pontos de Jardim América. A realidade assim como a ficção tem

múltiplas facetas e infinitas imagens. (Figura 106, 107 e 108)

Figura 107 : Por detrás da escola.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

152

Figura 106 : Do local ocupado pela trajetória.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Page 155: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

153

Figura 108 : Do parquinho abandonado.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Page 156: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Não são histórias enterradas que estão em questões aqui, mas

história ainda sendo feitas, agora. Como as escolas: Pautila Rodrigues

Xavier que pouco foi falado, mas está edificado e em funcionamento;

Cerqueira Lima de tantos alunos ainda pulsa no centro do bairro ou

mesmo a extinta LBA e sua arquitetura abandonada, é saudade de

várias pessoas. (Figura 109, 110 e 111)

Figura 109 : Está ali mas foge da memória.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Figura 111 : Extinto, mas vivo na lembrança.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

154

Page 157: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 110 : Vivo em mão dupla.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

155

Page 158: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

As descrições oscilaram em termos de uma alternativa: ver ou ir. Ou

organizou movimentos “você entra”, “você atravessa”, “você retorna” assim

andando e ao atravessar a rua Chile inusitadamente tem o “trânsito local”.

O que seria o transito local? Seria o “ali você não entra”. Poderia ser alerta

para fragilidade da estrutura viária sobre a galeria pluvial. (Figura 112 e

103)

Figura 112 : Distante: um pequeno obstáculo.

Fonte: Arquivo Pessoal (Jan.2012)

Figura 113 : Próximo: sinalização de

maneira improvisada.

Fonte: Arquivo Pessoal (Jan.2012)

156

Page 159: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Quando se sugere revalorizar a experiência urbana é a

reconquista dos lugares que se torna a linha do horizonte. Essa

experiência urbana tem uma dimensão pública, não por que os lugares

são definidos como público, mas por que ele cria as condições para

uma experiência pública. Foi flagrado a escola de samba nas

proximidades do carnaval usa a rua como extensão da produção dos

carros alegóricos. Todo sábado a feira ocupa a Av. Brasil e traz um fluxo

grande de pessoas. A construção, hoje supermercado, ocupou o que

antigamente era rua Uruguai. (Figura 114, 115 e 116)

Figura 114 : Escola de samba no uso

publico

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Figura 115 : A

feira semanal na

Av. Brasil.

Fonte: Arquivo

Pessoal

(Fev.2012)

Figura 116 : O

supermercado

que usa a [o que

foi] rua.

Fonte: Arquivo

Pessoal

(Fev.2012)

157

Page 160: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

A ponte se faz presente na fronteira do bairro. Sobre a segunda

ponte passam automóveis toda movimentação rumo à Vitória. Sob ela

passa a linha férrea, o Rio Marinho e outras pontes. Marca essa relação

entre os lugares naturais e os lugares feitos pelo homem. (Figura 117,

118 e 119)

Figura 117 : Linha férrea sob a ponte

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Figura 119: A ponte sob a ponte

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

158

Page 161: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 118: O rio mal cuidado

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

159

Page 162: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Toda fotografia que apreciamos se refere ao passado. Mesmo as

que tiramos, ou as que tiraram de nós, no último fim de semana. Falar

em passado, pode dizer que o momento vivido e irreversível e que as

situações, sensações e emoções que vivemos estão registradas no

nosso íntimo sob a forma de impressões. Pode casa de aparência mais

antiga tem impressão de enraizamento, de permanência. Pode , por sua

vez, a cobertura de proteção de trem da Estação Pedro Nolasco ter a

impressão de movimento. (Figura 120 e 121)

160

Figura 121 : Movimento: Estação Pedro Nolasco.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

Page 163: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 120 : Edificado: Primeiras casas no bairro.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

161

Page 164: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Senti, através dessa experiência da errância, as diferentes simultâneas

realidades que a fotografia comporta. A fotografia é uma rica fonte de

informações para a reconstituição do passado, tanto quanto uma matéria para

a construção de ficções. Direcionada a investigação histórica ou à simples

recordação pessoal. Com a proximidade da lente fotográfica: lembrança dos

gradis ornamentados, o mosaico no chão ou azulejos na escada-calçada.

(Figura 122, 123 e 124)

Figura 122 :

Trajetórias

entrelaçadas de

resultados

imprevisíveis:

repetição dos gradis

em algumas

fachadas

Fonte: Arquivo

Pessoal (Fev.2012)

Figura 123 : Mosaico na varanda.

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

162

Page 165: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Figura 124 : Lugar: “Cuida de mim, tenho vida igual a você.”

Fonte: Arquivo Pessoal (Fev.2012)

“[...]Cultura é a memória, ter registro histórico do bairro...eu

torço por isso e sabe, tenho orgulho de falar que sou de Jardim

América, pois é diferente de falar ser de Cariacica..não sei se você

me entende mas tem peso.” (SIDIRLENE R.)“

163

Page 166: Projeto de Graduação II

Considerações

finais

Page 167: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os conflitos de Lamarca não constam em lugar nenhum. O que eles

falaram os fizeram é território da imaginação, diz Sérgio Rezende em livro

de Lúcia Nagib. Lamarca foi filmado em Ibotirama, na Bahia, perto da região

onde ele realmente esteve. A parte urbana foi feita em Vitória. Mesmo o Vale

do Ribeira foi feito no Espírito Santo, no município de Serra. “[...]Começamos

a gravar Lamarca em agosto de 1993 e tínhamos uma cópia no início de

1994[...]” (Sergio Rezende)

No que diz respeito proposta de Halbwachs, dedicada à memória

coletiva, vejo o denominado memória tem sempre um caráter social, pois

qualquer lembrança, embora muito pessoal, existe em relação a um conjunto

de noções que nos dominam mais que outras, com pessoas, grupos, lugares,

datas ou palavras. Inclusive com raciocínios e idéias, ou seja, com toda a

vida material e moral das sociedades. Isso se conserva no meio material que

nos cerca.

165

Page 168: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Seja a igreja que freqüenta, a siderúrgica que poluía [ou ainda polui], a

escola que é antiga, os galpões abandonados, partes altas e baixas, morros,

as pontes bem perto que fazem conexão, a BR que permeia, o valão da

Avenida, enfim, implantadas em grandes dimensões, as cidades são

construções nos espaços que, no decorrer dos tempos [trajetórias], são

conhecidas e registradas na memória e na história social. Numa cidade são

incontáveis as sensações vividas e todas dependentes dos espaços urbanos.

Jardim América [sítio físico] começou antes mesmo da construção das

casas populares, pelo traçado de suas ruas e, possivelmente essa forte

memória justifique domínio dos moradores com o nome das ruas. Lembro

aqui da memória coletiva que se distingue da história pela corrente de

pensamento contínuo que não se apega no passado simplesmente, mas do

que ainda está vivo e vive na mente desse grupo.

Substancialmente a população tem preocupação com dias de chuva

forte nessa baixada e a falta de cuidado com aquele espaço. Contudo há

afetividade com o espaço, o qual gera a identidade social através de

construções [de significados] associadas a este lugar. Ali o sujeito ao se

apropriar deste espaço se identifica com ele criando um processo de

construção do lugar.

166

Page 169: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

A experiência corporal, como diz Paola Berenstein, não pode ser

reduzida a um simples espetáculo, a uma simples imagem. A cidade deixa de

ser um simples cenário no momento em que ela é vivida e experimentada.

Ela, a partir do momento em que é praticada, ganha corpo, para o errante

urbano, sua relação com a cidade seria da ordem da incorporação. Seria

precisamente desta relação entre o corpo do cidadão e deste outro corpo

urbano que poderia surgir uma forma de aproximação da cidade.

Na breve análise das ruas usando a teoria Sintaxe Espacial, em

especial a mensuração da Conectividade, desdobrou análises relevantes

como importância da Rua Chile, mesmo sendo uma rua essencialmente

residencial, visto com a sobreposição do mapa de usos do solo. As vias com

boa conectividade nessa hierarquia também se configuram entre as mais

citadas, tanto em documentos históricos quanto nos relatos.

Todavia seria pertinente a mensuração da Integração Global [outro tipo

mensuração na Sintaxe Espacial] e maior aprofundamento no estudo dessa

Teoria, pois a relação desses dois tipos de mensuração oferece

particularidades, perspectiva para um sistema urbano percebido em longa

escala do espaço, trabalhando junto o ponto de vista local e global. [podendo

dizer próximo e distante]

167

Page 170: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

As fotografias fornecem um testemunho. Algo de que ouvimos

falar e que parece comprovado quando nos mostram uma foto. Ela

pode distorcer, mas sempre existe o pressuposto de que algo existe, ou

existiu, e era semelhante ao que está na imagem. Quaisquer que sejam

as limitações (por amadorismo) ou as pretenções do fotógrafo, a

imagem tornou-se aqui um dos principais expedientes para

experimentar Jardim América. Tudo é um evento: algo digno de se ver e,

portanto digno de se fotografar.

Questões da cidade e da sua representação são presentes como

investigação no curso de Arquitetura e Urbanismo, onde o exercício da

documentação e do olhar para o urbano são instrumentos

estruturadores para as intervenções arquitetônicas. Nesse trabalho esse

exercício de colecionar, selecionar e relacionar o imaginário urbano veio

encontrar terreno para aproximações e desdobramentos no sítio, onde

se ampliou na área da fotografia.

168

Page 171: Projeto de Graduação II
Page 172: Projeto de Graduação II

Referências

Page 173: Projeto de Graduação II

5 REFERÊNCIAS

BIBLIOGRAFIA

BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes,

1996.

BEZERRA, Omyr Leal. Cariacica: Resumo Histórico. 2. ed. Vitoria: Ipedoc,

2009.

BOSI, Eclea. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia. São Paulo:

Ateliê Editorial, 2003.

BURNS, Carol J.; KAHN, Andrea. Sites Matters: Design Concepts, Histories,

and strategies. New York And London: ________, 2005

CAMPO, Martha. Vazios Operativos da Cidade: Territórios interurbanos na

Grande Vitória (ES). São Paulo:2004.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 3. ed. Petrópolis: Vozes,

1998.

ESTEVES JúNIOR, Milton. Psicogeografia e situlogia: Premissas e

alternativas experimentais. In: RIO, Vicente Del; DUARTE, Cristiane Rose;

RHEINGANTZ, Paulo Afonso. Projeto do lugar: Colaboração entre

Psicologia, Arquitetura e Urbanismo . _: Contra Capa, 2002. p. 321-328.

FARIA, Leila Penha Oliveira. Jardim América: Uma comunidade a procura

de melhorias. Trabalho de Graduação do Departamento de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, 1988.

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

171

Page 174: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

FLUSSER, Vilém. O mundo codoficado: Por uma filosofia de design e

da comunicação. São Paulo: Cosac Naify, 2007

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro,

2006.

JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos Errantes: a arte de se perder.

In: JACQUES, Paola Berenstein; JEUDY, Henri Pierre. Corpos e

cenários urbanos: territórios urbanos e políticas culturais. Salvador:

Edufba, 2006. p.117-139.

JEUDY, Henri P. Reparar : Uma nova ideologia cultural e política? In:

JACQUES, Paola Berenstein; JEUDY, Henri Pierre. Corpos e cenários

urbanos: territórios urbanos e políticas culturais. Salvador: Edufba,

2006. p. 13-23.

MAROT, Sébastien. Suburbanismo e a arte da memória. Barcelona:

Gustavo Gili, 2006.

MASSEY, Doreen. Pelo Espaço: Uma nova política da espacialidade.

Rio de Janeiro: Bertrand Brasil Ltda, 2008.

MOGIN, Olivier. A condição Urbana: a cidade na era da globalização.

São Paulo: Estação da Liberdade, 2009.

MONTEIRO, Peter Ribon. Vitória: Cidade e presépio: os vazios

visiveis da capital capixaba. São Paulo: Annablume Fapesp; Vitória:

Facitec, 2008.

172

Page 175: Projeto de Graduação II

NORBERG-SCHULZ, Christian. Reparar : O fenômeno do lugar In:

NESBITT, Kate. Uma nova agenda para a arquitetura: Antologia

teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 443-461.

OLIVEIRA, Luzia Pereira de; SFALSINI, Sirlei Lúcia Soprani. Um novo

olhar sobre cariacica: Paisagens, história, cultura, arte e turismo.

Vitoria: Bios, 2006.

SAMAIN, Etienne. O fotográfico. São Paulo: Hucitec, 1998.

SEIXAS, Jacy Alves de. Percursos e memória em terras de história:

Problemáticas atuais. In: BRESCIANI, Stella; NAXARA, Márcia.

Memória e (res)sentimento: indagações sobre uma questão sensível..

Campinas: da Unicamp, 2001. p. 37-58.

SILVA, Álvaro José. Clubes de futebol: Esporte e Memória. Vitória:

Secretaria de Esportes, 1996.

SILVA, Álvaro José; RESENDE, Lino Geraldo. A ferro e a fogo: A

trajetória de um setor. Vitória: Gráfica Túlio Samorini, 2004.

SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia Das

Letras, 2004.

SILVA, Armando. Imaginarios Urbanos. 5. ed. Bogotá: Arango Editores,

2006.

VELHO, Gilberto; KUSCH, Karina. Pesquisas Urbanas: desafios do

trabalho antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

173

Page 176: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

FONTES PESQUISADAS

•Arquivo Público Estadual

•Centro de Memória da Estrada de Ferro Vitória a Minas-

Museu Vale

•Colégio Passionista - Jardim América

•Desportiva Ferroviária – Jardim América

•Biblioteca Central UFES – Sessão especiais

•Biblioteca Setorial- Centro de Artes

•Biblioteca Pública Estadual

•Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN)

•Prefeitura de Cariacica- Secretaria Municipal de

Desenvolvimento Urbano

•Secretaria da Paróquia Santa Maria Gorette - Jardim América

INFORMAÇÕES E RELATOS ORAIS

•Altair Tagarro Leal [88 anos, Moradora ]

•Augusto Gome [Rede Cidadã em Jardim América ]

•Cesar Viola [Neto do fundador do bairro, Hugo Viola ]

•Sidirlene Ramos [ex-moradora e ex- liderança comunitária ]

•Darci Pereira Pinto [Comerciante e morador ]

•Gabriel Ramos [ex- morador]

•Lolita Rossi [Comerciante e moradora]

•Overlino Melina [ morador e ex- comerciante]

•Pe Eraldo Furtado de Oliveira [diretor colégio Passionista]

•Regina Gomes Soares [secretária da Paróquia]

•Terezinha de Jesus Lyra Poltronieri [ moradora]

174

Page 177: Projeto de Graduação II

INTERNET

ARRUDA, Phrygia. Vitrúvius: Arquitextos. Olhares particulares. Disponível

em: <http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.102/96>. Acesso em:

04 abr. 2011.

CARIACICA, Prefeitura de. Plano Diretor Municipal de Cariacica. Disponível

em: <http://www.cariacica.es.gov.br/default.asp>. Acesso em: 24 mar. 2011.

NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimentos de 90 cineastas dos

anos 90. link do livro no google books. Disponível em:

<http://books.google.com.br/books?id=5fH9bMp--

b4C&lpg=PA382&ots=WW7NxaWIEB&dq=por%20que%20filme%20lamarca%

20foi%20rodado%20em%20vit%C3%B3ria&hl=pt-

BR&pg=PA518#v=onepage&q=por%20que%20filme%20lamarca%20foi%20ro

dado%20em%20vit%C3%B3ria&f=false>. Acesso em: 24 nov. 2011.

SABOYA, Renato. Urbanidades: Sintaxe Espacial. Disponível em:

<http://urbanidades.arq.br/2007/09/sintaxe-espacial/>. Acesso em: 26 nov.

2011

TEIXEIRA, Leila Soares. Sintaxe Espacial: um estudo de caso. Disponível

em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAHKQAA/sintaxe-espacial-

estudo-caso>. Acesso em: 26 nov. 2011.

VITÓRIA, Prefeitura de. Vitória em dados: Ilha do Príncipe. Disponível em:

<http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/bairros/regiao2/ilhadoprincipe.asp>.

Acesso em: 01 nov. 2011.

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

175

Page 178: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

WIKIPÉDIA. A arquitetura da cidade: Aldo Rossi. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Arquitetura_da_Cidade>. Acesso em: 25 nov.

2011.

WIKIPÉDIA. Jardim América: Cariacica. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_Am%C3%A9rica_(Cariacica)>. Acesso em:

24 nov. 2011.

PERIÓDICOS

•AG, Arquivo. Gazeta nos bairros Jardim América: saudades do cinema. A

Gazeta, Vitória, p. 54-54. 28 out. 2005.

•AG, Arquivo; MESQUITA NETO,. Urbanização: Do sonho à realidade. A

Gazeta, Vitória, 21 set. 2003

•JORNAL A TRIBUNA: Da antiga fazenda Paul a Jardim América. Vitória Es, 29

ago. 2003

•MENEZES, Waldir. Jardim América: Um milagre residencial para Vitória. A

Tribuna, Vitória, p. ____-____. 24 abr. 1949.

TEXTOS

•Espaços, corpos e cotidiano: Uma exploração teórica (Byrt Wammack)

•SOBRE VENTURI, SCOTT BROWN & ASSOCIATES: QUADROS

VIVOS(Stanislaus von Moos)

•WALTER BENJAMIN, , Paris. Segunda versão do texto, iniciada por Walter

Benjamin em 1936 e publicada em 1955: A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA

REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA. ___________: Pièces Sur L‟art.,

___________. 103/104 p

176

Page 179: Projeto de Graduação II
Page 180: Projeto de Graduação II

Apêndice

Page 181: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Relatos orais:

1) Sr Orvelino Melina, 84 anos

“Moro desde 1960, naquela época não tinha nem calçamento,

somente na Rua Paraguai. Quando chovia descia aquele barro vermelho, era

terrível. Jardim América quase não tinha casa nenhuma, era na parte baixa o

começo e algumas poucas na parte de cima. O resto era tudo mato. Inclusive

eu morei ali em cima, perto do colégio Passionista, mas nem tinha ele depois

que começou. O colégio no início tinha convênio com o outro colégio Afonso

Schwab, depois eles separaram e foi “láaa..." pra aquele canto. Minhas duas

filhas estudaram lá, no Passionista. A obra social (LBA) foi construído do lado

tinha diversos cursos...tudo quanto é profissão você aprendia ali, hoje ta lá

abandonado estragando tudo. Tinha curso de manicure, padeiro, carpinteiro,

doces e salgados..tinha muito curso mas acabou tudo, era muito bom. Hoje

ali é federal e tem uma parte que eles arquivo morto do INSS. Parece que

eles estavam querendo pegar pra fazer uma creche, não sei se conseguiram.

Foi construído na época do governador Francisco Lacerda de Aguiar(..o

Chiquinho), eu acho que foi mais ou menos do ano de 1965, han tem uma

quadra de esporte lá atrás muito boa, os meninos jogavam vôlei ali. Agora

aquele madeira toda deve estar estragando..antes tudo era de madeira..as

janelas. A igreja de Jardim América não é no lugar onde é agora não, era na

rua Venezuela...eram quatro lotes. (silêncio). Lá em cima na obra social uma

vez levaram meninos de rua pra lá, mas começaram a roubar..isso foi na

mesma época em que padres também ficaram um tempo ocupando o prédio

da obra social..por que lá era seminário..formar seminaristas . Naquela época

Jardim América era o centro de Cariacica...Vasco da Gama não existia, Bela

Aurora também não, Itaquari também não. (silêncio) Eu tinha mercearia lá e

todo mundo ia pra lá...Vera Cruz

179

Page 182: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Também não existia e por isso minha mercearia tinha muito movimento.

Tive comércio de 1960-1984 e depois disso aposentei. Só que em 1970

minha mercearia pegou fogo, perdi tudo!! O ladrão entrou acendeu vela

e deixou lá e tudo pegou fogo. Fiquei pulando de ponto em ponto

depois Viola me cedeu um ponto e comecei a vida novamente ali, na rua

Paraguai. Depois de frente tinha um lote e vendi o telefone, porque

naquela época telefone valia muito dinheiro e juntei de uma herança e

comprei o lote da frente. Depois pra construir vendi minha casa lá de

cima e construi ali. .

Jardim América no começo as primeiras ruas foram a Canadá e a

México..não tinha mais rua nenhuma nem calçamento..chovia era uma

tristeza...todo aquele barro entrava dentro das casas...todo vez que

chovia...as casas eram mais baixa e a rua uma pouco mais alta ai já viu.

Ali era tudo mangue..então qualquer chuva fazia isso. Hoje ta

diferente..chove enche um pouco e logo baixa a água.

A Ferro e aço tinha uma chaminé de tijolo era pequeno..agora tomou até

a parte do outro lado. Aquilo lá já passou por uma porção de

dono...agora é Arcelor Mittal. Na minha casa a fumaça de lá não

incomodava...o vento norte não jogava lá pra casa só em Bela Aurora...

O valão da Av. América foi um erro...muito mal feita...quando era aberta

era melhor. Fizeram uma galeria mas começou a entupir e fizeram

aqueles buracos que estão até hoje lá. Já vi carro ali dentro do

buraco...a chuva tapou e caiu ali..muito mal feito aquilo...quando chove

Itaquari e Alto laje que é tudo Morro vi água tudo pra Jardim América

que é mais baixo...

Han ali onde é o Banestes era uma rua..onde é o EPA era a rua Uruguai

que hoje nem existe mais...era aberto e era bom...agora ta muito

fechado..nossa saia lá no asfalto..era uma beleza...tinha até valão...ai

fecharam e tamparam o valão...antiga rua Uruguai..ai você vê hoje

ninguém mais sabe que existiu.

180

Page 183: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Hoje o comércio interno é todo ali...tem coisa boa..padaria boa..ficou com ali

tudo junto.

Na Rua do Extrabom era fraco o comércio..hoje tá bom..muito forte. Antes só

em Jardim América tinha banco..Banestes foi o primeiro..depois veio Banco

do Brasil...Bradesco...a Telemar já fica em Itaquari...porque do asfalto pra lá

já pertence em Itaquari. Todas as ruas de Jardim América estão

asfaltadas..enfim ta tudo bom, acabou aquela lama.

Lá do outro lado tinha o cinema Hollywood..lá em baixo também na antiga rua

Columbia..o cinema era do “Careta”.....ai o cinema diminui e acabou.....A

prefeitura não olha muito por estreitas de acesso...os ônibus só não passam

nos dias de sábado por causa da feira...a feira na Av. Brasil. A feira até

passou pra outras ruas: Rua Chile e América mas não deu certo e voltou pra

Av. Brasil.

A igreja católica em 1958 mais ou menos , eu ainda estava em Vitória, eles

estavam construindo e veio uma chuva e vento muito forte e derrubou

tudo...e tiveram que construir tudo outra vez....eu fui da comunidade ali por

40 anos..os padres me deram liberdade trabalho e fazia tudo..ficava

responsável pelas reformas que tinha que fazer...por muita coisa...passava

pela minha mão...eu parei com tudo depois que tive o glaucoma...os médicos

não descobriam um tratamento adequado...mas há muito tempo faço o

tratamento..tento...desde que morava em Afonso Cláudio..mas meu nervo

ótico foi ficando enfraquecido...(silêncio)...fui até para Belo Horizonte mas

não conseguiram um tratamento...naquela época não existia quase ninguém

que sabia esse tratamento...

..eu tinha fotos da minha mercearia na época que pegou fogo..meu amigo

fotógrafo na época José Falcão tirou..mas pegaram pra expor no colégio

Integração e nunca mais me devolveram..nem me deram satisfação.

Eu ganhei um título de cidadão Cariaciquense...tem mais gente que conhece

sobre Jardim América..mas é isso que eu lembro..o José Oswaldo Zucoloto

também sabe...o que você precisar..espero ter contribuído um pouco.

181

Page 184: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

2) Gabriel Ramos, morou por 15 anos

Todo ano , acho que dezembro, acontece encontro de moradores e ex

moradores..engraçado que hoje eu vejo o lugar com outros olhos...as

construções antigas..

Hoje eu moro na Praia da Costa mas não tenho afetividade por lá como

eu tenho por Jardim América..lá eu morei em dois lugares..uma casa foi

meio que um período de transição até minha casa ficar pronta..mas foi

até bastante tempo..uns 2 anos.

Mas aqui era tudo paralepípedo..nem dá pra acreditar que tudo isso tá

asfaltado...

Meus pais são pessoas legais pra você conversar..moraram muito

tempo..acho até que eles se conheceram, acho que desde os 14 anos

de idade dele... Lá..minha vó era muito da igreja..seria uma boa pessoa

pra conversar Tb..ela foi bem antiga, todo mundo conhecia foi um baque

muito forte ela sair de lá..

Eu ia muito pra rua brincar, com algumas limitações..fora a praça não

tinha outro lugar certo pra brincar..era um pouco perigoso...uma vez

roubaram o carro do meu pai..pularam o muro..outra vez entraram na

casa com minha vó..foram algumas dessas coisas que motivaram a

nossa saída de lá...minhas tias e meus padrinhos também moram

lá..por aqui (mostra no mapa...estava com mapa em mãos)..eu estudei

no colégio integração...na verdade nem era integração o nome (aponta

no mapa o local)...na época com 11 e 12 anos eu tava bem ligado no

futebol..ia jogar da desportiva..acho que em 1997..desportiva tava perto

de ir pra primeira divisão..as pessoas fechavam as ruas...tem um tio

meu que tem uma loja bem próxima da BR é legal essa visão do

comércio também...o pessoal da comunidade católica pode fornecer

muita coisa interessante também...

182

Page 185: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

3) Augusto Gomes, Rede cidadã

Minha história com Jardim América é desde muito pequeno..eu vinha todo

mês receber aqui no Banestes..só aqui tinha banco.

Eu lembro de uma passagem muito legal..era véspera de natal e minha mãe

vinha comprar meu presente de natal..na loja aqui na rua México..lembro

muito quando tinha 5 anos em 1982...e eu sei que passa o tempo e as

pessoas não abandonam..o comércio é focado aqui pro bairro não é como

Campo Grande por exemplo, de grandes lojas de marcas famosas. Aqui é

por exemplo comércio da “dona Maria” que usa o caderninho e vende

fiado..acho o comércio muito familiar...a própria padaria daqui é de irmãos..o

ambiente é muito familiar..já o comércio da BR é diferente La perto da praça

Hugo viola já tem o comércio grande..com os galpões...tinha até a faculdade

lá..e assim pra mim falta aqui infraestrutura nas ruas..choveu aqui

acabou!...lá naquele valão na rua América ali enche... aqui na rua Espírito

Santo já teve tempo de esperar a água baixar pra ir embora...aconteceu de

ficar 40 minutos pra atravessar a rua por que fui almoçar e quando voltei

estava cheio..estou aqui desde 2008...a gente ficava na desportiva ai

estamos aqui desde 2009....aqui é bem servido de serviços...tem

restaurantes aqui...

Agora lá em cima na parte alta do bairro tem gente com dinheiro..não passa

ônibus mas quem mora lá tem seu meio de transporte..só tem o São Conrado

(a linha de ônibus) que passa de hora em hora mas pra quem mora ali acho

que não é problema...é um lugar bem legal...tenho uma conhecida que mora

aqui há um tempo bom...de frente pra BR..é bom falar com ela...na feira de

negócios de Cariacica tinha um jornal dali que comentava sobre a história do

bairro seria interessante isso também.

183

Page 186: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

4) Darci Pereira Pinto, comerciante, barbeiro há 50 anos ali, 72

anos

Pra começar logo que cheguei aqui em Jardim América foi uma data

marcante..um marco: houve um desastre aéreo onde morreram 39

pessoas e sobreviveram 39..foi lá na região de Laranjeiras... Serra mas

havia muita gente daqui envolvida. Isso foi em 9 maio de 1962. ..aqui

minha filha tinha uma lagoa lá em cima..aqui mesmo na rua espírito

santo tinha uma vala..e no fim ali onde tem o bar do Pazzolini tinha

lagoa. Na época o prefeito tirou foto daqui quando eles estavam

melhorando essa via..eu tava perto dele ali..ali em cima tinha um

taboal..aquele mato que fazia de espuma do colchão, sabe qual

é?!...tinha uma plantação disso aqui pra cima...aqui também teve o

primeiro conjunto habitacional da AMÉRICA LATINA.

E a casa mais antiga daqui é do fundador...aquela grande de

esquina..manteve o mesmo formato...e hj tem um tratado pra aquela

casa não poder ser modificada..pode vender mas quem comprar não

pode modificar..

A igreja mais antiga é a Batista..mas antiga até mesmo que a

católica..antes a igreja católica era na rua Venezuela depois que foi lá

pra cima....poucas ruas foram modificadas, digo mudaram de

nome....agora eu tenho em mente em me candidatar pra vereador por

que Jardim América está abandonado..queria fazer mais por esse lugar

que é portal de vitória..mas não queria me basear somente no meu

gostar daqui eu gostaria de investir e argumentar baseado em dados

técnicos...por exemplo penso numa urbanização da a Av. América mas

não só paliativo pra ficar bonito mas pra resolver essa situação que

enche nas chuvas. Penso também na rua Bolívia- rua da biquinha-

poderia aterrar pra fazer conjuntos habitacionais..bem bacana,

184

Page 187: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

bem estruturado inclusive pra suportar o escoamento das águas..por que as

coisas que fizeram aqui sempre foi em benefício da política, não consultavam

o que realmente o que a população queria..só tiraram os nossos bens..como

o INSS, Coletoria Estadual, Banco Nacional, cartório, correios..ficou quase 40

anos sem correio aqui...por questões políticas eles levaram tudo pra Campo

Grande..a população sofreu com esses perdas..com essas falta de

investimento...lá em cima perto da Biquinha é uma área mais

isolada..perigosa..poderiam olhar mais por nós....tiraram a LBA

também...meu irmão mesmo fez radiotécnica lá e hoje está tranquilo , teve

emprego..tiraram isso da gente sabe. Houve sempre um represália com

relação aos políticos de Cariacica com relação aos Viola. Não queriam deixar

eles cresceram..e a população acabou sofrendo com isso...eles são pessoas

que no que precisarem eles estão pra ajudar..a política de Cariacica muitas

vezes deixou de lado Jardim América..hoje menos..mas durante a história

sofremos por isso. Sabemos quem um valão na BR 262 que cabe um

caminhão de tão grande...vimos na época que eles estavam em obras

reestruturando a via e que ela está a não mais de 150 metros do valão da Av.

América..mas ai pergunto: por que não fazem nada?..por que não investem

nessa obra de infraestrutura para acabar com esse monte de água...pois

desce água de Itaquari, alto laje..e cai aqui nesse valão de Jardim América,

pois é mais baixo..aqui é mais baixo..mas pra argumentar com mais

autoridade eu ia investir numa comissão técnica...

Mesmo se for dinheiro do meu próprio bolso.. Aqui é tão baixo que aquelas

casas do conjunto habitacional eu lembro que tinha uma escada de acesso,

tinha uma varanda..ficava mais ou menos 1,5 acima da rua..hoje se você ver

tem casa mais baixa que a rua..tudo aterro durante os anos..aquele casa dos

viola na esquina era bem alta muito alta...hoje só está há 60 cm da rua no

máximo.. Mas todo esse abandono dói na gente sabe...a Rua América por

exemplo pertence aos 3 poderes: federal, estadual e municipal...porque ela é

fortemente impactada por tudo que acontece na BR...esses 3 poderes

deveriam estar em harmonia..mas não.

185

Page 188: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

5) Terezinha de Jesus Lyra Poltronieri, 58 anos, professora( há 35

anos moradora)

Em 1976 foi quando viemos pra cá...eu morava em Bandeirantes..lá não

era nada. Quando casei vim..meu esposo sempre quis vir pra cá pois

ele tinha se formado em engenharia e o sonho dele era trabalhar na

Ferro e Aço. Ai você percebe..estamos no “quintal” da empresa..na

verdade eu queria ir para vila velha, mas ele achava mais perto pelo

serviço. Eu sei que aqui tudo é muito perto, você vai para Vitória em

pouco tempo..

Menina cheguei até participar de movimento comunitário..sinto que as

pessoas conhecidas foram embora...aqui na minha rua mesmo a

maioria das casas estão alugadas, acho que perdeu o convívio social.

Meus filhos até chegaram a freqüentar a pracinha, hoje, não tenho mais

coragem de levar minhas netas pra lá..

Em 1971 eu ia para encontro de jovens no Vale da Esperança, eu ainda

namorava com Dante, meu esposo..época da ditadura..você sabe era

tudo vigiado, não podia ter esses grupos formados, mas ia para estar

perto do Dante, era inocente nessas coisas de ditadura..ele que

comentava por que estudava na UFES mas a gente do grupo estava por

fora, não tinha por aqui nem televisão nem energia.....pois é mas eu

morava lá no casarão, onde hoje é bandeirantes, mas que na época era

conhecido como rio marinho..inclusive eu nadava no rio..é inacreditável

ver a situação que está hoje..

Agora Jardim América já foi considerado área nobre, tinha um comércio

bom, muitas lojas..depois tudo foi se fechando..a violência está grande,

principalmente na rua da biquinha. Na igreja mesmo eu só vou de carro

agora. Até os Violas, os fundadores do bairro, não moram mais

aqui...eles tem casa vem ver, vem de vez em quando..mas não moram.

Parece que de uns 2 anos pra cá tem melhorado o comércio.

186

Page 189: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Eu estudei no Cerqueira Lima- fiz primário, depois fui para onde é o

Passionista, na época não era Passionista, era GEJA (Ginásio Estadual de

Jardim América), onde fiz os dois últimos anos de magistério...tinha prova e

tudo pra entrar..igual escola técnica.

Você sabe que acho a vinda do terminal ruim..vem muita gente estranha,

ficou acessível demais.

Agora uma coisa legal de se falar é a Associação amor e vida. Ela começou

pois víamos muitas crianças aqui na rua, não crianças abandonas..crianças

com família. Com a associação as crianças que estavam nas ruas voltaram

para a escola, até por que hoje estão mais em cima quanto essa evasão

escolar. O projeto é mantido pelo FIA (financiamento infância e adolescência)

e existe aqui há mais de 10 anos.

..nossa tinha tanta coisa aqui que se foi, por exemplo, cheguei a levar meus

filhos na clinica da ferro e aço. Lá atendiam os funcionários e beneficiados da

empresa..era aqui pertinho e tinha tudo:dentista, pediatra etc...

Em 1989/1990 a Cia fechou , privatizou..o bairro foi abandonado junto.

Apesar que lá em cima é um lugar melhor, as casas são melhores, as

pessoas cuidam melhor das suas casas..lá em cima tem o chamado “Casa

de acolhida”, onde era o colégio CEIF. Lá recebem crianças e adolescente

que por alguma razão foram abusadas..os moradores não queriam..quem

quer esses problemas sociais por perto..é triste.

Hoje o movimento comunitário está parado..que é o presidente é o dono do

bar ali da esquina..uma pena pois antigamente era muito forte mas as

pessoas foram embora...lembro que fazíamos festa na praça com o

movimento comunitário...era ótimo.

Agora eu te falo, já passei sufoco com água entrando na minha casa...de

início morava na rua Canadá mas um dia logo que mudei veio uma chuva

forte e vi a água invadindo minha casa..nossa era tudo novinho, sabe?!

187

Page 190: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Recém casada..estava com meu filho pequeno que desespero..e eu não

tinha telefone naquela época..ainda bem que minha cunhadas vieram

me ajudar..pra você ter noção da água eu vi o bujão de gás boiando lá

de casa...depois não passou muito tempo e teve outra chuva, aí não

agüentei e coloquei minha coisas em cima do caminhão do meu pai e

disse com Dante que ali não ficaria mais..ai mudamos para uma rua

acima da rua Paraguai mas a rua estava desmoronando..depois viemos

para cá. Aqui ouço o barulho da Arcelor Mittal pois é colado, você

nota...tem essa mata da empresa..essa cortina verde que na verdade

pouco adianta para a poeira...mas vira e mexe vem macaquinhos da

mata e passam pelo muro..

6) Lolita Rossi, 68 anos, ( há 36 anos moradora)

Posso começar falando da atual situação do bairro?!..Bem deixa muito a

desejar..ai você olha ai a rua [Dona Lolita tem um circuito de TV que

registra o movimento da rua –Espírito Santo- em frente da casa

dela)..muita sujeira.o que você vê é lixo, buraco..uma rua larga dessas..

Acho que o bairro precisa de conhecimento público...Ali na subida igreja

tinha o LBA, tinha tudo, cursos..antigamente era datilografia

né..manicure, costura..agora o prédio está li abandonado, ponto de

droga..pessoal estranho sai da Rua da Biquinha e vai ali..poderia

aproveitar para tudo: creche, escola...

O valão é um problema...quando chove aquele barro lá de cima desce e

o valão não suporta..

Estou aqui há 36 anos e lembro que aqui era mais social, mais família...

188

Page 191: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Ai um bairro bem localizado, em 5 minutos estamos na rodoviária...dá acesso

à Campo Grande, Vila Velha e Vitória...Também sei daqueles galpões de café

perto ali da Desportiva, há tempo também abandonados...quando cheguei

aqui as lojas eram poucas...eu gosto muito daqui, gosto mesmo não penso

em sair daqui, o que incomoda ainda é o valão..ali na rua Chile é horrivel:

sem limpeza, sem drenagem...

Interessante é o que minha sogra-dona Teresa- contava..dizia que tudo isso

era água..quando foi ganhar meu marido na Pro Matre ela saiu do rio marinho

e percorreu tudo isso de barco até lá...isso em 4 de novembro de 1942.

Gosto mesmo é da comunidade, a paróquia é um dos fortes motivos de não

querer sair daqui...inclusive sei do começo..a igreja não era lá em cima..era

na nossa casa, é nossa..lá na rua Venezuela..casa de Pedra...a gente tinha

fotos...

7) Cesar Viola, 53 anos, Neto do fundador do bairro Hugo Viola

Mas me diga no que eu posso ajudar?!...Do que trata seu trabalho?...Bem se

sua tese se baseia nos depoimentos, ninguém melhor que eu para te dar

informações sobre Jardim América e sabe por quê? Por que tenho provas

...inclusive tenho cartas e agradecimentos de pessoas...meu avô tinha muito

respeito e credibilidade (Cesar nesse momento foi retirando os documentos

que havia separado para mostrar)..minha mãe não se cansava de colher

depoimentos..olha estes escritos atrás de panfletos...qualquer papel uma

forma de comprovar a postura de meu avô, como as pessoas o via..olha esse

de Carlos Lindemberg( papel timbrado a rede gazeta e escrito com letras

cursivas do próprio Carlos Lindemberg)...olha vou te falar que Carlos

Lindemberg não atendia qualquer um não...ele estava ainda na A

Gazeta...meu avô ficava lá até os jornais serem impressos cedo..a amizade

deles era grande.

189

Page 192: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Olha esse depoimento de Solon Borges...tem esse esboço biográfico

que começamos a fazer...há tempo temos a pretensão de fazer um

livro..temos esses documentos.

Han tudo começa em 1920 ele veio da Itália mas se naturalizou

brasileiro..na verdade ele nem gostava que dissessem que era

italiano...ele só voltou pra Itália pra casar..veio casado claro! Não era de

bom tom ele com objetivos grandes aqui ser solteiro..trabalhou como

marceneiro na Oficina em Vitória...ele fez moveis pra muita gente, toda

a elite da época..trabalho basicamente artesanal e de qualidade, você

vê essa cadeira (ele aponta a cadeira no canto) ele fez e está ai linda e

intacta até hoje.

Mas meu avô queria mais..e ele era topógrafo também...em conversas

com o Engenheiro Picot, especializado em estrutura buscava o objetivo

de planejar um bairro...com parte do dinheiro da venda da marcenaria e

com visão empreendedora arrendou toda essa terra...até o outro lado

era dele..divisa com Porto de Santana..mas ai a CVRD veio invadiu

parte das terras..ixi minha filha isso foi briga na justiça que

rendeu...tivemos até alguma indenização mas não o equivalente, não o

justo, pouco! Mas como brigar com uma Vale do Rio Doce?!..han é

muito grande..que nem aquela história de Carajás..luta com índios..han

muito índio na luta foi exterminado.

O que Hugo Viola fez aqui foi muito a frente do tempo dele em 1936,

num governo repressor que nem de Getúlio..porque há quem

goste..mas o cara era autoritário...meu avô foi ousado mas não deixava

de fazer as coisas que ele achava correto..os ideais..ai você vê com a

fundação da Cia de Melhoramentos de Vitória construiu a princípio 100

casas ali nas ruas México e Canadá e venda sem juros e correção

monetária..ele fez!

190

Page 193: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Até a visão de trazer Ferro e Aço pra cá..por que a principio o terreno da

Ferro e Aço fazia parte do bairro..tinha traçado...ruas mas ele cedeu para

inserção da siderúrgica..para crescimento do local.

Mas não só na época de Getúlio com autoritarismo e corrupção

tremenda..hoje vimos ai essa pouca vergonha..aqui em Cariacica também ,

que política tivemos?..só roubo, pouca vergonha..o atual governo

também...povo sem educação...lugar não cresce...vergonha...ai vejo

estudantes indo pras ruas manifestar por 10 centavos na passagem, mas não

vejo manifestar da mesma forma contra essa pouca vergonha da

corrupção...tá alguma coisa errada, não tá não?!

Hugo Viola foi preso 4 vezes, preso político..porque ele era a

frente...argumentava..fazia...corrias atrás e pra ditadura gente assim não era

bom..da última vez q foi preso os policiais que o conheciam diziam que

estavam com vergonha de ter que fazer aqui, prendê-lo, mas porque?!

..porque sabia da sua índole...hoje não vejo mais gente assim..é raro.

Muita gente não sabe também mas como topógrafo traçou o aeroporto Eurico

Sales, em Vitória e fez também cidade de Goiás.

Esse traçado aqui de Jardim América ele se baseou vila operária européia.

Quando ele morou no Rio de Janeiro..trabalhava ali onde aqueles prédios

caíram, perto da Av. Rio Branco..ali ele conseguiu não sei como um projeto, e

foi a partir dele que traçou Jardim América...vamos lá em cima que vou te

mostrar a planta original (Cesar me conduziu até segundo pavimento da casa

onde havia grande atelier. A planta já estava reservada, aberta no chão-*ver

foto)

)..pode notar essa planta é original de 1937...todo o bairro já estava

planejado, repare bem...a planta está amarelada..quero muito restaurar

isso..ela foi desenhada em um tecido especial ..olha.. praça do bairro, a área

da antiga Ferro e Aço..tudo já estava desenhado...tudo era traçado por ruas e

projeto de casas, e, em sua maioria populares)..

191

Page 194: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Gabriela, quero muito organizar tudo isso e montar o livro ...com essa

correria vou adiando..muitas vezes não temos apoio e guardo

reservo...tem material lá no escritório...sou artista plástico, você

sabe?!...sou presidente do sindicato aqui do Estado (Presidente do

Sindicato dos Artistas Plásticos)...por isso muitas vezes me revolta

como somos tratados...a cultura desse lugar..principalmente

Cariacica...tiraram tudo daqui de Jardim América: cartório, correio,

cursos...

E o rio? Você sabe né? O Rio Marinho foi desviado e traçado artificial foi

feito pelos índios na época dos jesuítas..e olha a ideologia, quando meu

avô tomava conta ele pagava pra drenar o rio...depois o povo fez essa

galeria qualquer achando que ia conter a água..não dá jeito, por isso

alaga...Sem falar que aqui é um vale né..em volta tudo morro: Itaquari

por exemplo.

Hoje eu tomo conta da Hugolândia , mas é muita burocracia, muita

gente errada dificuldade na prefeitura para legalizar a documentação pra

esse povo..e já ouvi falar q eles querem fazer parque na parte

alta...nossa era tudo organizado em projeto..tinha até os postes de

luz...chegamos a colocar e incrivelmente a prefeitura tirou..um absurdo.

Jardim América teve seu auge mais ou menos em 1970 e foi

abandonada...mas acredito muito que daqui 20 anos ele retomará o

desenvolvimento..aqui é muito perto do centro, lugar estratégico..eu

acredito...e mais pra frente quando ficar mais velho volto a morar aqui

192

Page 195: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

8)Sidirlene, 52 anos, Ex-moradora e ex-liderança comunitária

Me diz uma coisa..você ta pegando que aspecto?...a paixão por jardim

América você percebeu isso?o bairrismo...a gente que morou tem muita

relação com o bairro mesmo..na nossa época o nosso bairro nos bastava a

gente tinha de tudo..e tudo era muito próximo, a gente tinha o supermercado

melhor, a gente tinha o cinema, a gente tinha as domingueiras, a gente tinha

os bailes da LBA, a gente tinha os encontros da juventude, o pessoal da

igreja...a comunidade em peso era voltada para a igreja, entende?!..e

passaram padres muito evoluídos por lá também..e o que fica de bacana na

memória da gente e exatamente isso...eu sempre digo assim a gente constrói

...o bairro nos bastava, e hoje parece que a gente nunca encontra

nada..ficamos naquela busca sabe?!...essa sensação é a que sempre sou

tomada por ela...vou ao shopping pra comprar “não sei o quê”...andei, andei,

andei me enchi e fui embora..lá você se precisasse ia na lojinha do Kill, ou na

tenda no senhor Alaor pra comprar, ou lá na dona Mirtes...tudo dentro da

nossa realidade, a gente achava tudo ali!...todo mundo se conhecia..as

escolas eram de qualidade..as 2 escolas públicas, apesar da gente sempre

ter tido a presença da escola particular Passionista que ali tinha onde as

pessoas de condição melhor estudavam, por que o bairro também, digo, veja

bem o que acontece com Jardim América, na sua formação ele é um bairro

de classe média, vem sendo o diferencial do município que hoje não é assim

mais, claro. Temos Campo Grande, por exemplo que tem outra visão,

né?!..mas então até mesmo do ponto de vista intelectual..eu já cheguei a

falar isso com você por telefone...

Por que a forma como o bairro foi construído, consolidado o primeiro conjunto

habitacional foi lá, e, foi pra atender a demanda, eu acho, da Cofavi..bem não

sei se você tem essa informação.

193

Page 196: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Foram feitas as casinhas para abrigar os operários; então ali já começa,

você não traz, não vai consolidar o bairro sem algo que não o sustente,

quer dizer: você já está trazendo ali trabalhadores, que já tem habitação

então é um bairro que já vem por si só se consolidar, você concorda?!

Enão o perfil dessas famílias que foram se formando, por serem

operários ali, ela tinha relação com a Belgo Mineira (então Cofavi)

vieram muitos de fora também, visto diversos profissionais de Minas,

esse intercâmbio foi criando esse interlace, eu diria. ..aquele divisão ali

[do terreno da Cofavi] era contestado na justiça se ali era divisa com as

terras dele [Hugo Viola]..ixi ali você tem Vasco da Gama que é Cariacica

ainda mas ta batendo na porta de Vila Velha juntamente com Nova

América, segue e vai para o Vale [bairro Vale da Esperança] então de

fundo ali ela se instala mas não se trna briga na justiça assim como foi

com as terras que a antiga CVRD se instalou porque não eram de

Jardim América mesmo, digo que a porta da Cofavi só foi ter abertura

por Jardim América bem depois a entrada era pelo bairro Nova América

e eu te digo isso assim por conhecimento de causa...E ouvimos por

muitas e muitas vezes a gente participando do movimento popular,

todas as vezes que sentamos com a empresa pra falarmos sobre a

poluição, esse bairros adjacentes na nossa luta e por muitas vezes

tivemos entraves sérios por conta disso e eles diziam:”nós chegamos

aqui para construir o bairro”...e aqui não era um bairro, aqui era uma

fazenda...então assim: a família Viola ela não entra nessa disputa ai,

pois, eu entendo hoje que aquela área não era deles, eles não tinha

demarcação de proprietário naquela época...eles tinham da Vale, até

mesmo eles ganharam, não sei se você ficou sabendo...eles até

estavam recorrendo ainda uma outra parte..a família toda ficou bem por

conta da indenização recebida o avô fez a fortuna e os filhos viveram

bem..

194

Page 197: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Bem, isso foi a vale, agora a cofavi, inclusive chequei isso pra te falar , eu

tinha duvida se era história com a Vale ou Ferro e Aço, mas vi que foi com a

Ferro e Aço, ai você vê eles “startam” um bairro com o mínimo a

movimentação, o trabalho, as casas ..diferente de, por exemplo, Padre

Gabriel, aquilo lá foi invasão.é o controponto que eu quero dizer...Jardim

América nasce dessa forma. Claro que, somado a isso, tinha a venda dos

lotes e foi onde meu pai veio para Jardim América em 1950..um dos

primeiros moradores..a primeira moradora de Jardim América foi D.

Patrocínia, que mora na rua Chile..ali no encontro com a rua Venezuela na

esquina..ela está viva e mora lá até hoje..se perguntar lá todo mundo vai ser

quem é dona Patrocínia.lá pertinho da antiga igreja católica que depois foi pra

pra cima e virou “Santa Maria Gorete”.

Minha histórica com o bairro é o que eu to te falando..tem a coisa do lúdico,

todo mundo se conhecia, todo mundo conhecia de quem eram as famílias. Ali

se formaram famílias muito importantes, por que muitos vinham do interior

para dar estudo aos filhos, ai tinham que se instalar na periferia, né?!.... Um

bairro que tinha uma estrutura muito boa, com comércio e tal, próximo do

centro...bairro é mais próximo de vitória que muitos bairros do município de

Vitória...tirando o transito ..pois naquela época só tinha as “cinco pontes”..eu

mesmo em 1979, quando entrei na UFES, a gente ia literalmente a pé por

que o ônibus a gente pegava na Vila Rubim..pegava quando dava um em

Jardim América e outro na vila Rubim...não tinha transcol não tinha nada e

fazíamos assim “baldiando” né?!...Então a gente gastava muito pouco, por

que era tudo muito pertinho...assim como é São Torquato pra Vitória, quer

dizer um bairro de Vila Velha pra Vitória...nessa ótica que eu to falando

..proximo da capital. Sem contar que Jardim América também sempre foi o

Celeiro..se você perguntar assim: “Quem não é de Jardim América levanta o

dedo”..porque se não é, é filho de alguém que foi, que é neto de alguém que

teve por lá...alguém passou por Jardim América.

195

118

Page 198: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

. Isso é fantástico..vê só tava conversando com o prefeito da Serra , Sérgio

Vidigal, ai disse “eu lembro de você, eu lembro de você” ai ele “ eu fui amigo

do seu irmão, eu morei na rua Espírito Santo-Jardim América, você não

lembra de mim?!”...ele era muito amigo de Suely que morava lá também..ai

ela separou e dessa amizade com Sérgio um tempo depois namoraram e

casaram e estão ai até hoje. O prefeito de Vitória, João Coser, registro

mesmo-histórico...veio do interior, chega e vai para casa de uma tia em

Jardim América, na Av. América ele fica lá até se acertar e tal..você

entendeu? Jardim América tinha essa referência, muito imigrante: Itaguaçu,

Itarana...Eu nem te contei a história da minha mãe, ela é mineira de Muriaé

ai a família muda para Itueta...quando meus pais se casaram vieram pra

Jardim América, pois meu pai mexia com madeira e moveis e lá havia maior

marcenaria da família Maia e então meu pai vai trabalhar com eles por isso

que se instalam lá...Lá teve um cinema e quem arendava o espaço desse

cinema, quem patrocinava eram os donos do supermercado Schneider , já

ouviu falar?...aconteciam nos finais de semana, mas a coisa foi tão

volumosa, fez tanto sucesso, filas e mais filas..pessoas pelo chão que daí

nasceu a história de construir o cine Hollywood. Naquela parte de lá..por

que não sei se você sabe onde é a Caixa Econômica na rodovia ainda é

Jardim América. A dona da loja Kill, os avôs dela moravam do lado do

cinema novo...então como tava te falando o Schneider detinha esse poder,

estava no meio da juventude isso em 1977/1978 e hoje é diretor geral da

ACAPS [associação capixaba de supermercados] ele é um dos que

participam da festa que acontece anualmente que nesse foi adiado pra

março...mas era isso.. Nessa época tinha os bailes, as domingueiras

também que funcionavam no cinema, como as cadeiras eram soltas, eles

tiravam...e quando o cinema passou pro outro lado, o novo, os bailes

passaram a acontecer na LBA...nossa inclusive era muito boa a

escola..havia diversos cursos, eu mesmo fiz diversos cursos lá i na época

do Collor eles acabaram com a legiões de assistência no Brasil todo...

196

Page 199: Projeto de Graduação II

___________________________________________________Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância

Acaba a missa , e depois todos iam pra lá pro baile, até as 23:00 h todo

domingo, virava ponto de encontro. Nós já fizemos a feira, não sei se você já

ouviu falar da feira também..feira comunitária...ela foi tomando proporções

muito grandes e na época a gente fez uma parceria com a color som e assim

foi a te passamos a não ter controle, eram 3 dias de festa por ano mas era

muito pesado buscar estrutura para aquela festa:palco, som,

shows...chegamos a levar Zé Geraldo, olha que celebridade (risos)...o

movimento comunitário retoma em 1990..antes era um cara chamado

Gutemberg que tomava conta até que decidimos reunir e votar..uma loucura,

mas ganhamos de “carroçada”..participei no período de 1994 mais ou

menos..o mandato era de 4 em 4 anos..

Agora eu acho que o bairro está muito descaracterizado, as pessoas mudam,

não vendem, ai alugam, ai o bairro vai perdendo a referência...vai

descaracterizando muito...vejo uma tristeza, o trafego ali..

Como está tudo diferente..o que a gente vivia, o que eu vivi?..na minha casa

limpar a casa correspondia a varrer a rua também..quer dizer cuidar do

espaço público..sabe aquela coisa de família que vem do interior, ordeira ,

religiosa...a concepção mudou com relação a sua cidade, do seu bairro...na

escola a inversão do papeis , quem educa?...eu mesmo ia pra escola pra

aprender português e matemática mas hoje a escola ensina religião e tudo

mais...isso é a família que deveria fazer....dar educação!....e isso vai num

ciclo, vemos ai essa violência, violência esta que me fez sair de lá..fui

assaltada várias vezes...nossa casa era referência, era bonita e bem

projetada...mas não tínhamos paz..por que lá nós éramos UM..não mais um..

197

Page 200: Projeto de Graduação II

Jardim América: Reflexões sobre a proximidade e a distância ___________________________________________________

Tem coisa a fazer...como o esgoto e assim o rio marinho assoreado..e

Jardim América é abaixo do nível do mar..as obras de draga é

caríssimo!...Muito de abandono é reflexo do governo de Cariacica, anos e

anos de abandono...o Helder fez um mandato interessante..., Cariacica ter

outra cara assim como a Serra tem hoje......lembro de tudo que eu passei

no bairro ...dos espaços das domingueiras..faziam jovens congregações e

laços de amizade. Cultura é a memória, ter registro histórico do bairro...eu

torço por isso e sabe, tenho orgulho de falar que sou de Jardim América,

pois é diferente de falar ser de Cariacica..não sei se você me entende mas

tem peso.

9) Altair Tagarro Leal , 88 anos, Moradora

Tinha aqui bambuzal e cafezal lá pra cima[...] Eu tinha uma casinha lá no

canto [ ano de 1940], mas ela era muito ruim, então meu marido

desmanchou a detrás pra fazer outra...mesmo assim eu olhava para essa

aqui [Dona Altair aponta na foto as casas do conjunto de Hugo Viola] e

ficava apaixonada, pensava “Não posso comprar uma casa daquela”.

Depois Sr. Anísio Soto ele tinha esse terreno aqui, ai a gente comprou esse

terreno aqui do Sr Anísio Soto e vendemos aquela casa de lá para outra

pessoa..era na rua Piauí ..e aqui era uma lagoa..meu marido aterrou. É

essa casinha aqui da frente, mas ela já foi reformada, inclusive tem um

retrato dela....Comprava antigamente no supermercados Schneider ,antes

era ele..[a neta de Dona Altair, “Luizinha”, completa dizendo sobre os bailes

de carnaval que aconteciam no clube desportiva, depois de muito dançar

chegava na casa de vovó escalando aqui pela varanda]...

198

Page 201: Projeto de Graduação II
Page 202: Projeto de Graduação II