projeto banco do nordeste/pnud§ão...nordeste /pnud de transferir a metodologia de apoio ao...

56
PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD Diretora Institucional SILVANA PARENTE Coordenadora Executiva TANIA ZAPATA Coordenador Técnico-Pedagógico ARTURO JORDÁN GONI Ambiente-Oficina de Capacitação Organizacional Guia Metodológico Autor PAULO CESAR ARNS Programação Visual GILENO VILA NOVA FILHO Digitação DINORAH MARIA COSTA DE BARROS E SILVA SANDRA LÚCIA DE FREITAS Está autorizada a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que se mencione a fonte. Série Cadernos Metodológicos N.º 05 Recife/1998 Ambiente-Oficina de Capacitação Organizacional Guia Metodológico

Upload: others

Post on 30-May-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD Diretora Institucional SILVANA PARENTE Coordenadora Executiva TANIA ZAPATA Coordenador Técnico-Pedagógico ARTURO JORDÁN GONI

Ambiente-Oficina de Capacitação Organizacional

Guia Metodológico

Autor PAULO CESAR ARNS

Programação Visual GILENO VILA NOVA FILHO

Digitação DINORAH MARIA COSTA DE BARROS E SILVA SANDRA LÚCIA DE FREITAS Está autorizada a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que se mencione a fonte.

Série Cadernos Metodológicos N.º 05 Recife/1998

Ambiente-Oficina de Capacitação Organizacional

Guia Metodológico

Page 2: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

"Cada um de nós compõe a

sua própria história, e cada um

de nós possui em si o dom de

ser capaz de ser feliz”

Renato Teixeira

Page 3: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

SUMÁRIO

PAG.

1 - Apresentação ................................................................................ 7

2 - Como utilizar este Guia Metodológico .......................................... 9

3 - Introdução ................................................................................... 11

4 - Um Breve Histórico da Metodologia de Capacitação

Massiva ....................................................................................... 15

5 - Uma Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local .............. 17

5.1- Estratégia e Concepção do Apoio ao Desenvolvimento

Local .................................................................................... 18

5.2- A Capacitação Massiva ...................................................... 26

6 - O Ambiente-Oficina de Capacitação Organizacional .................. 31

6.1-O que é o Ambiente-Oficina .................................................. 31

6.2-Porque o Ambiente-Oficina ................................................... 33

6.3-Considerações sobre a Metodologia .................................... 34

6.3.1- Estrutura Conceitual ................................................. 34

6.3.2- Etapas do Processo Vivencial ................................. 38

6.3.3- Estrutura Pedagógica ............................................... 41

6.4- A Operacionalização da Metodologia .................................. 46

6.4.1-Preparação do Ambiente-Oficina ............................... 46

a) - Treinamento Técnico Interinstitucional - TTI ..... 48

b) - Elaboração do Pré-Diagnóstico ......................... 51

c) - Identificação de Projetos Referenciais

Estruturantes ...................................................... 51

d) - Sensibilização e Mobilização da

Comunidade ....................................................... 52

e) - Divulgação do Ambiente-Oficina ....................... 53

Page 4: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

f) - Seleção do Local ................................................ 54

g) - Mobilização de Recursos ................................... 56

6.4.2 - Desenvolvimento do Ambiente-Oficina .................... 58

a) - Estrutura Interna (Grupo de Participantes/Equipe de

Facilitadores/Grupo de Intermediação) ............. 58

b) - Relação entre os Componentes da Estrutura

Interna ............................................................... 63

c) - Acordos e Compromissos (Objetivos/ Normas

Gerais de Funcionamento/Regras de

Convivência) ..................................................... 65

6.5 - Dinâmica Processual da Vivência ....................................... 70

6.5.1-Como se Processa a Capacitação ............................. 71

- O Papel dos Recursos na Capacitação ................ 72

6.5.2- O Processo de Educação.......................................... 74

- A Preparação dos Momentos Temáticos ( Apoio

Pedagógico/Insumos para os Momentos Temáticos/

Apresentação dos Momentos Temáticos) ............ 76

7- Orientações para a Prática .......................................................... 81

Bibliografia ......................................................................................110

1 - APRESENTAÇÃO

Este Guia está inserido na estratégia do Projeto Banco do

Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao

Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações,

capacitando em serviço técnicos de instituições, lideranças

empresariais e comunitárias que, ao se apropriarem da metodologia,

poderão colocá-la à disposição da transformação social e da

construção de um modelo de desenvolvimento mais sustentável.

A Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local tem como

eixo um Programa de Capacitação baseado no Desenvolvimento

Empresarial e no Desenvolvimento Institucional, executado em parceria

com Entidades Públicas e Privadas. Busca resgatar a auto-estima e a

capacidade empreendedora das comunidades locais, investindo no

capital social que, despertado para as riquezas locais, deve assumir o

protagonismo do processo de desenvolvimento.

Desta forma, o Projeto Banco do Nordeste/PNUD realiza sua

missão de “capacitar pequenos produtores rurais e urbanos do

Nordeste do País, para o Desenvolvimento Empresarial Participativo,

sob o enfoque do Desenvolvimento Local".

Este Guia se destina prioritariamente aos que irão se dedicar à

tarefa de facilitadores de processos de capacitação, mais

especificamente do Ambiente-Oficina de Capacitação Organizacional.

Nele se encontra sistematizado um conjunto de informações que

buscam apoiar os facilitadores nos diferentes caminhos que podem ser

trilhados no apoio à capacitação. Um Guia não define caminhos, deve

somente conter as informações essenciais para apoiar as decisões,

7

Page 5: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

garantindo a flexibilidade necessária ao processo; daí porque este

material não assume a rigidez de um manual, nem a superficialidade

de uma cartilha.

Este Guia busca, na sua parte inicial, inserir o Ambiente-Oficina

dentro da estratégia mais ampla de Apoio ao Desenvolvimento Local,

isto é, onde se localiza, como se integra e interage com os demais

processos; num segundo momento discute conceitualmente o que é e

quais os referenciais teóricos do Ambiente-Oficina; e, por último,

apresenta algumas orientações para a prática dos facilitadores.

Gostaria de aproveitar este espaço para agradecer a toda a

equipe do Projeto Banco do Nordeste/PNUD pelo esforço contínuo na

construção da Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local, à qual

este Guia vem se agregar; gostaria de destacar e agradecer aos

coordenadores dos Ambientes-Oficina que foram conduzidos até o

momento, pois sem este primeiro esforço este Guia não teria conteúdo

nem massa crítica para análise e reflexão. Um agradecimento especial

devo a Carlos Osório, pela gentileza de ceder seus escritos e

experiência, para incorporá-los a este trabalho e cuja modéstia o

impediu de aceitar a co-autoria;.

Paulo Cesar Arns

Técnico do Projeto Banco do Nordeste/PNUD

2- COMO UTILIZAR ESTE GUIA METODOLÓGICO

Esta parte do Guia tem o objetivo de orientá-lo na utilização

deste instrumento. Portanto, se você quer racionalizar o seu tempo,

antes de seguir adiante, leia atentamente estas sugestões.

Para os que querem conhecer a Metodologia:

Se você dispõe de 5 a 10 minutos, leia o item 6.1. e 6.2.

até 20 minutos, comece pelo item 3 e depois leia os itens

6.1 e 6.2.

até 60 minutos, leia os itens 3,5,6.1 e 6.2.

até 90 minutos, leia todos os itens até 6.3.

até 120 minutos, leia todos os itens até 6.4.

até 3 horas, leia todos os itens até 6.5.

acima de 3 horas, você poderá ler todo o Guia.

Para os que querem se preparar para conduzir o Ambiente-

Oficina ( antes do TTI):

As sugestões são as seguintes: Faça uma leitura de todo o Guia,

retorne para uma segunda leitura dos itens 5 a 6.5, por último releia o

item 7, retornando a cada item anterior solicitado no texto.

Para os que estão no Treinamento Técnico Interinstitucional

- TTI: Siga as orientações do facilitador do treinamento.

Para os que estão utilizando o Guia durante a condução do

Ambiente-Oficina:

Primeiro, não utilize o Guia como um manual de consultas toda

vez que tiver dúvidas. Anote-as, depois estude, fazendo as inter-

8 9

Page 6: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

relações necessárias para ter uma compreensão mais abrangente

sobre o problema. Procedendo desta forma você evitará recorrer outras

vezes ao Guia.

Segundo, faça uma leitura geral do Guia antes de iniciar as

atividades preparatórias e outra antes do início do evento. Se estas

leituras forem feitas, provavelmente você necessitará somente

acompanhar as atividades através do item 7 - Orientações para a

Prática, fazendo as relações solicitadas pelo texto.

Boa leitura, bom estudo, boa capacitação e grandes mudanças

em você e na realidade que nos cerca !

3 - INTRODUÇÃO

O Ambiente-Oficina vem se caracterizando como marco inicial da

Metodologia de Apoio ao Processo de Desenvolvimento Local proposta

pelo Projeto Banco do Nordeste/PNUD, com o papel de trazer ao nível

consciente uma reflexão sobre a importância da organização da

autodeterminação comunitária, isto é, da necessidade que tem a

comunidade de buscar maior autonomia na definição dos rumos do

desenvolvimento do espaço local. As concepções mais correntes em

disputa atualmente na sociedade apontam para a necessidade de uma

hegemonia do Estado ou do Mercado na condução do

desenvolvimento. O Ambiente-Oficina traz implícita uma concepção

que transcende a estes, deixando a Sociedade Civil organizada surgir

como protagonista, num processo de “concertação” com o Estado e o

Mercado, numa relação de interdependência e co-responsabilidade,

que possa gradativamente estabelecer diretrizes para um modelo de

desenvolvimento local integrado e mais sustentável.

Desenvolver uma metodologia para apoiar o desenvolvimento

local pode parecer contraditório, pois as tendências apontam para um

acelerado processo de globalização da(s) economia(s), de

mundialização da(s) sociedade(s). Assim, antes de avançarmos na

discussão do desenvolvimento local, precisamos analisar o sentido

desta proposta no atual contexto.

F. Chesnais diz que o “global se nutre do específico”, se nutre do

local. Esta afirmação aponta para a necessidade dos espaços locais

lançarem um novo olhar para sua própria realidade e repensarem suas

possibilidades e estratégias, tendo como referência o mundo.

Se olharmos para o ambiente, veremos um momento de

profundas mudanças que surgem a partir de uma crise generalizada

10 11

Page 7: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

dos modelos vigentes, do Estado e do sistema de produção, que fazem

ruir os atuais paradigmas abrindo espaço para o surgimento de novos

modelos e teorias condutoras do processo de desenvolvimento.

A título de ilustração vale destacar que: De um lado, os modelos

de estado até o momento construídos estão sendo desmontados; isto

vale para o estado socialista, surgido dentro do processo

revolucionário; para o estado de bem estar social, característico dos

países com economias fortes do continente europeu; para o estado

desenvolvimentista, característico dos países com economias

dependentes; e nesta última década assistimos à ascensão e crise do

estado liberal. Do outro lado, o modelo de produção, caracterizado pela

produção em série, consumo de massa, sistemas organizacionais

rígidos e hierarquizados, que orientou e revolucionou a economia

mundial e determinou a atual estrutura sócio-organizacional (conhecido

como modelo fordista), está sendo rapidamente substituído por um

modo de produção mais flexível, caracterizado pela desconcentração

dos processos produtivos, pelo trabalho em equipe, pela produção e

consumo personalizados, pela valorização da informação, do

conhecimento e da mão de obra qualificada.

Concomitante à crise, vivemos um processo de transição e

mudanças, onde governos e empresas aplicam políticas de ajuste para

se adequarem a esta nova ordem social, política e econômica que

surge. Este processo tem como elemento motor o progresso da ciência

e da tecnologia e como característica básica, que para esta discussão

é importante notar, a forte tendência à descentralização e

desconcentração, que pode ser observada tanto na administração

pública dentro do processo de reforma do Estado, como no setor

privado no processo de reestruturação produtiva, tendo repercussões

fortíssimas na esfera local e imprimindo uma nova lógica ao

desenvolvimento.

Estes elementos ajudam a caracterizar o atual contexto de

mudanças , de ruptura e de transição, que genericamente poderíamos

denominar de um momento de crise. Vale ressaltar o fato de que são

estes os momentos que historicamente a humanidade têm aproveitado

para redefinir os rumos do modelo de desenvolvimento. E é nesta

perspectiva que o Projeto Banco do Nordeste/PNUD vem colocando o

“Desenvolvimento Local” como uma alternativa a ser construída e

teorizada com o conjunto das pessoas que ainda conseguem se

indignar com a realidade injusta e dispor de tempo e energia para a

construção de um modelo de sociedade sustentável.

O Ambiente-Oficina de Capacitação Organizacional é um

instrumento à disposição das instituições e organizações que buscam

transformar a realidade, gerando novas oportunidades de trabalho e

renda, fomentando novas formas de expressão social, abrindo novos

canais de participação e exercício da cidadania.

12 13

Page 8: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

4 - UM BREVE HISTÓRICO DA METODOLOGIA DE

CAPACITAÇÃO MASSIVA

A Metodologia de Capacitação Massiva teve sua origem em

meio às ligas camponesas no estado de Pernambuco, tendo sido

sistematizada por Clodomir Santos de Morais, sendo chamado de

Laboratório Experimental de Ligas Camponesas e de Assalariados

Agrícolas, com o objetivo de capacitá-los nos princípios básicos de

organização. Com o tempo o método passou a ser conhecido

simplesmente por “laboratório organizacional” (Silveira, et alii, 1997).

Enquanto no Brasil a ditadura militar buscava sufocar todas as

iniciativas inovadoras de organização, o método passou a ser

amplamente aplicado em diversos países, principalmente da América

Latina e África. Sua reintrodução no Brasil se deu no final da década de

80 junto a assentamentos do MST (Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra), já em sua “versão definitiva”, segundo Silveira, ou,

como preferimos, em sua “última versão”, onde o método se define

como “um ensaio prático e ao mesmo tempo real no qual se busca

introduzir em um grupo social a CONSCIÊNCIA ORGANIZATIVA que

necessita para atuar em forma de empresa ou ação organizada”.

Esta última versão, bastante difundida no Brasil e América

Latina, foi sofrendo um conjunto de críticas que proporcionaram

avanços significativos, ampliando as possibilidades de sua utilização.

Dentre elas citamos:

Ênfase muito grande na formação de empresas associativas de

caráter coletivo, isto é, freqüentemente formava-se uma única

empresa que respondesse aos interesses e anseios da

coletividade;

As pessoas que não se adequavam àquela forma de organização

idealizada pelo segmento hegemônico, nem sempre majoritário,

15

Page 9: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

sentiam-se excluídas, gerando ou reforçando o sentimento de

rejeição e marginalização;

Pouco aproveitamento da criatividade da comunidade em construir

formas/estruturas organizacionais múltiplas, adequadas à

heterogeneidade sócio-cultural, política e econômica da

comunidade local;

A empresa gerada dentro do processo não tinha acompanhamento

posterior que a apoiasse em seu processo de consolidação,

levando ao insucesso diversas experiências;

Com relação aos conceitos utilizados no processo de formação:

alguns estratificavam as pessoas de acordo com o nível de

consciência e de acordo com seus comportamentos; a ênfase a

este aspecto levava em alguns casos a um processo de

classificação e divisão interna; outros conceitos usados já não se

adequam ou têm pouco peso frente às mudanças que estão se

processando no modo de produção e regulação da economia, na

flexibilização do mercado de trabalho, frente ao avanço da ciência

e tecnologia e integração das economias nacionais, que

caracterizam a nova ordem mundial.

É necessário frisar que as críticas aqui apresentadas vão ao

encontro da concepção dialética, característica dessa metodologia,

sendo assim possível adequá-la à dinâmica das mudanças da

realidade.

A partir dessas reflexões, o Projeto Banco do Nordeste/PNUD

passou a redefinir objetivos, conteúdos e práticas, resultando no

Ambiente-Oficina de Capacitação Organizacional, que vem sendo

usado como metodologia de capacitação massiva, dentro do processo

de apoio ao desenvolvimento local.

5 - UMA METODOLOGIA DE APOIO AO PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO LOCAL

Quando se utiliza um instrumento é necessário conhecê-lo para

utilizá-lo da forma mais correta possível. Isso porém não é suficiente: é

necessário entender porque esse instrumento é o mais adequado para

aquele momento e como ele se integra e interage com os demais

componentes do sistema. Para facilitar a compreensão, podemos nos

apoiar na análise sistêmica: o espaço local se constitui num sistema e

uma estratégia metodológica de apoio ao processo de desenvolvimento

deste espaço pode também ser visto como tal. Dentro desta

perspectiva, a metodologia de apoio ao processo de desenvolvimento

local do Projeto Banco do Nordeste/PNUD se constitui num sistema de

processos, conteúdos, técnicas e instrumentos, dentro do qual o

Ambiente-Oficina precisa ser visto como parte integrante, que interage

harmonicamente com os demais componentes formando um todo, que

vai intervir num outro sistema, o espaço local, buscando provocar

mudanças comportamentais nos protagonistas do desenvolvimento, os

atores locais.

Partiremos da compreensão da estratégia e concepção da

proposta de apoio ao desenvolvimento local do Projeto Banco do

Nordeste/PNUD, para então compreender a Fase do processo em que

se desenvolve a capacitação massiva e dentro dela o Ambiente-Oficina

de Capacitação Organizacional.

16 17

Page 10: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

5.1 - ESTRATÉGIA E CONCEPÇÃO DO APOIO AO

DESENVOLVIMENTO LOCAL

ESTRATÉGIA

A estratégia metodológica está melhor discutida no Caderno

Técnico Nº 2 publicado pelo Projeto Banco do Nordeste/PNUD: "Um

Programa de Capacitação e Transferência de Metodologia para o

Desenvolvimento Local". Para fins deste trabalho, vale apresentar

sinteticamente as três fases, para que se faça a relação com a

discussão conceitual, conforme sugere o Diagrama 1:

Fase MOB (mobilização e fortalecimento): objetiva a articulação

interinstitucional, com a formação das parcerias e da equipe de

apoio técnico; sensibilização e mobilização das comunidades; e a

capacitação massiva com o fortalecimento organizacional, geração

de empresas e de empreendimentos. Os instrumentos principais

desta fase são: Protocolo de Intenções, que consolida as parcerias,

os Fóruns Institucional e Empresarial e o Ambiente-Oficina de

Capacitação Organizacional, espaços onde se processa a

capacitação massiva.

Fase AMB (aplicação da metodologia básica): tem como objetivo

fundamental consolidar as idéias de empresas e de

empreendimentos geradas na fase anterior, bem como as demais

organizações empresariais e institucionais, através de Oficinas e

Ciclos de Campo (ou Base) da Metodologia GESPAR.

Fase TTE (transferência de tecnologias específicas): busca

acompanhar, monitorar o processo, bem como transferir

conhecimentos específicos necessários à consolidação do

processo de desenvolvimento local, através de cursos,

treinamentos, seminários, oficinas, etc.

Hoje convencionamos chamar "GESPAR" todo o processo que

envolve as três fases. Assim, o Ambiente-Oficina é parte integrante da

FASE MOB

MOBILIZAÇÃO E

FORTALECIMENTO

ORGANIZACIONAL

FASE AMB FASE TTE

APLICAÇÃO DA

METODOLOGIA

BÁSICA

TRANSFERÊNCIA DE

TECNOLOGIAS ESPECÍFICAS

AMBIENTE-OFICINA E FÓRUNS OFICINAS E

CICLOSTREINAMENTOS

AMBIENTE E MUDANÇA

AMBIENTE E MUDANÇA

DIAGRAMA 1

CONCEPÇÃO

GESTÕES

ADMINISTRATIVAS

E INSTITUCIONAIS

AMBIENTE DE

FORMAÇÃO

ARTICULAÇÃO DE

GRUPOS DE INTERESSE

CAPACITAÇÃO

CAPACITAÇÃO

DESENVOLVIMENTO

INSTITUCIONAL

DESENVOLVIMENTO

EMPRESARIAL

GESTÃO

SOCIALDESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

ESTRATÉGIA

18 19

Page 11: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Metodologia GESPAR (Gestão Participativa para o Desenvolvimento

Local, abrangendo o Desenvolvimento Empresarial e Institucional).

CONCEPÇÃO

"O CONCEITO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL"

O diagrama 1 busca situar o espaço local dentro de um contexto

mais amplo com o qual interage dinamicamente. Quando analisamos o

contexto, apreendemos os fenômenos mais significativos da realidade,

que de alguma maneira têm relação com a questão que queremos

abordar. Nesta perspectiva é que na introdução deste Guia recolhemos

de forma rápida e sintética os principais elementos da realidade que

justificam uma estratégia de apoio ao desenvolvimento local (ver

Introdução).

Então, é a partir do esgotamento do atual modelo social e

econômico que o Projeto Banco do Nordeste/PNUD vem colocando o

“desenvolvimento econômico local” como uma alternativa a ser

construída e sistematizada. Neste sentido a estratégia metodológica

busca iniciar um processo de mobilização da energia do capital social

em torno das potencialidades e oportunidades locais, aliando-as às

políticas nacionais e regionais, para integrar as economias locais ao

mercado globalizado e tentar resolver os principais problemas que

atingem nossa sociedade como saúde, educação, segurança,

distribuição de renda, geração de oportunidades de trabalho e o

resgate da cidadania.

"DESENVOLVIMENTO"

Para nós o desenvolvimento é resultado de um processo

endógeno, que surge de dentro para fora, de um esforço dos atores

locais, portanto resultado da ação de pessoas que provocam

mudanças no seu meio; e o local é visto como o alvo sócio-territorial

no qual a capacitação e a ação dos diferentes agentes são

desenvolvidas de forma harmônica, integrada e complementar.

"CAPACITAÇÃO"

Se o desenvolvimento é resultado das mudanças provocadas

pelas pessoas, uma estratégia de apoio ao desenvolvimento precisa

provocar mudanças no homem, para que ele possa redirecionar as

mudanças de seu meio. Isto justifica a capacitação como eixo da

estratégia de desenvolvimento local, como pode ser visualizado no

diagrama 1, pois além de responder às exigências atuais do mercado

de trabalho, a capacitação provoca mudanças de comportamento nos

sujeitos do processo de desenvolvimento, (re)colocando o homem no

centro do processo, como sujeito da construção de alternativas mais

sustentáveis de desenvolvimento, para si e para a sociedade.

"METODOLOGIA"

No entanto, para que a capacitação se desenvolva com maior

eficiência e eficácia, é necessário que ela se processe através de uma

metodologia, esta compreendida como um conjunto de conteúdos,

métodos, técnicas e instrumentos, referenciados por uma axiologia, por

uma concepção de homem e de sociedade.

20 21

Page 12: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

"DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL"

Se analisarmos o diagrama 1 da esquerda para a direita, na

parte que apresenta a concepção encontramos o desenvolvimento

sustentável como a referência de todo o processo de desenvolvimento,

portanto de todas as ações de apoio. Na ação capacitadora o

desenvolvimento sustentável é visto não só como um resultado a ser

alcançado, mas como um instrumento que, por gerar tensões, disputas,

contestações, possibilita o debate e o questionamento da realidade,

das práticas cotidianas e, a partir delas, a construção de alternativas de

mudança.

A sustentabilidade pressupõe um olhar sistêmico e holístico

sobre a realidade, com ações integradas e orientadas por resultados

sobre suas diversas dimensões, como: a busca de maior equidade, que

se contraponha ao acelerado processo de “apartheid” social;

estabelecimento de bases para um novo contrato social e natural, com

novas relações homem-natureza; modelos econômicos que permitam

acessibilidade do homem a oportunidades de trabalho e renda, uma

nova institucionalidade que permita a expressão política e uma maior

representação dos segmentos sociais que resgate a cidadania em sua

plenitude, uma nova cultura institucional que permita a ascensão da

sociedade civil como protagonista e apresente políticas

complementares às demandas sociais.

"GESTÃO SOCIAL"

Porém, para o Projeto Banco do Nordeste/PNUD a

sustentabilidade do desenvolvimento está mais relacionada à

possibilidade da Sociedade entrar num processo de negociação dos

rumos do desenvolvimento com o Estado e o Mercado e

gradativamente ir construindo mecanismos de controle social sobre

este dois atores. A este processo de “concertação” chamamos de

Gestão Social, dentro do qual todos os atores (econômicos, públicos e

sociais) são sujeitos/protagonistas do desenvolvimento.

No entanto, para um processo de negociação dos rumos do

desenvolvimento, é necessário que cada ator esteja qualificado para

esta intervenção, que tenha uma identidade enquanto grupo social,

tenha sistematizado um projeto de intervenção (instrumento de

negociação),a partir do qual se processa a negociação e se tenha

como resultante alguns consensos (problemas, objetivos, diretrizes,

estratégias) sobre o desenvolvimento local.

"CAPACITAÇÃO"

Neste processo de Gestão Social, a capacitação surge

novamente como uma necessidade, pois é através dela que os atores

serão qualificados para uma nova forma de intervenção social. Assim,

todos os atores institucionais, aqui compreendidos como as

Gestão

Social

Sociedade

Civil

MercadoEstado

22 23

Page 13: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

organizações públicas e as organizações de caráter social, político,

religioso, cultural; e todos os atores empresariais, aqui compreendidos

como as organizações de caráter econômico, associativas ou

individuais, rurais ou urbanas, que atuam no mercado formal ou

informal, são envolvidas num processo de capacitação.

"DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL E INSTITUCIONAL"

A capacitação para o desenvolvimento empresarial e institucional

tem duas matrizes fundamentais: uma de Gestão, que busca imprimir

novos conceitos e práticas, mais participativas e descentralizadas; e

outra de Planejamento Estratégico, que busca redirecionar a ação dos

atores no espaço local, compreendendo-o como um empreendimento

coletivo a ser gerido participativamente e que deve integrar-se a um

cenário globalizado. Neste momento do processo, a capacitação busca

junto aos agentes econômicos prepará-los para uma intervenção mais

consciente no cenário econômico; e junto às instituições públicas e

demais organizações da sociedade civil, apoiá-las na redefinição da

sua missão e de seu papel no cenário local, gerando uma nova

institucionalidade, que possa representar a heterogeneidade e

diversidade de interesses da sociedade e, mais que isso, que cada

grupo possa expressar-se e buscar disputar espaços de participação e

poder.

"MOBILIZAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO"

Com a discussão apresentada até o momento, pode estar

passando a impressão de que o apoio ao desenvolvimento local

trabalha somente com os atores ou segmentos sociais já organizados,

mantendo na marginalidade os segmentos que ainda não têm um canal

de expressão, ou que não têm uma identidade de grupo. Daí a

importância da primeira fase de sensibilização e mobilização da

comunidade para gerar, no espaço local, um ambiente que favoreça a

formação e articulação de grupos de interesse, que buscarão se firmar,

se consolidar na capacitação para o desenvolvimento empresarial e

institucional.

"PARCERIAS"

Para desencadear todo este processo, é necessário que alguns

atores tomem a iniciativa. É neste momento que o Projeto Banco do

Nordeste/PNUD cumpre com o papel de catalisador das reações que

se processam entre os atores institucionais locais, a fim de

desencadear o “apoio ao processo de desenvolvimento local”. A este

momento inicial chamamos de Gestões Administrativas e Institucionais

que visam criar as condições mínimas para firmar parcerias, onde

todas as instituições e organizações buscarão desenvolver seus

programas e projetos de forma coordenada e complementar,

integradas às ações de capacitação.

Para finalizar, gostaríamos de chamar a atenção para dois

aspectos importantes quando se discute uma estratégia de apoio ao

desenvolvimento local:

O primeiro aspecto se refere à necessária interinstitucionalidade

e interdisciplinaridade das ações, isto é, a necessidade da formação

das parcerias que trazem diferentes projetos e programas a serem

desenvolvidos no espaço local e da formação da Equipe de Apoio

Técnico, que desenvolve as ações de capacitação. Apesar da

importância e de um relativo consenso quanto à questão, na prática o

exercício destes ingredientes é bastante difícil, tendo sido objeto de

muita reflexão por parte do Projeto Banco do Nordeste/PNUD,

24 25

Page 14: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

sistematizada em duas publicações, que serve de apoio ao necessário

aprofundamento da questão (Zapata e Parente, 1998; e Mourão,1998).

O segundo aspecto é quanto às possibilidades da metodologia

de apoiar o desenvolvimento local, pois, apesar dos resultados

positivos alcançados nas experiências desenvolvidas, vale frisar que

não se trata de uma panacéia, necessitando para sua maior eficácia

que haja políticas coordenadas a nível nacional e articuladas com os

níveis local e regional. Só desta forma pode-se diminuir o risco do

reforço da lógica insustentável da pulverização, da atomização, do

hobesianismo municipal1 do desenvolvimento, tendência bastante forte

a partir da Constituição de 1988, dentro do processo de reforma

administrativa do Estado.

5.2 - A CAPACITAÇÃO MASSIVA

A Metodologia de Apoio ao Processo de Desenvolvimento Local

é uma estratégia que possibilita a inserção político-sócio-econômica de

setores marginalizados/excluídos do processo de desenvolvimento.

Neste sentido a Fase MOB - Mobilização e Fortalecimento

Organizacional tem uma importância vital dentro do processo, pois é

nesta etapa que a capacitação massiva se mostra como a ferramenta

mais pertinente, criando no espaço local um clima, um ambiente dentro

1 A expressão "Hobesianismo Municipal", foi cunhada pelo professor Marcos

André Campelo de Melo, do Mestrado de Ciências Políticas da UFPE ao tratar

dos efeitos perversos da descentralização política no Brasil. O citado Professor

já tinha usado expressão semelhante quando estudou a guerra fiscal e a crise

federativa no Brasil, dessa forma, transpôs para a esfera municipal a guerra e a

competição por investimentos privados entre os Estados da Federação para os

Municípios Brasileiros. Resultando daí a expressão "Hobesianismo Municipal".

do qual possam se formar e se articular os diferentes grupos de

interesse, muitos deles até então dispersos na teia social local. A

capacitação massiva se processa através do Ambiente-Oficina,

juntamente com o Fórum Empresarial e o Fórum Institucional, como

pode ser visto no Diagrama 2.

Para a comunidade local a capacitação massiva é a fase de auto

organização das comunidades, através da vivência da liberdade de

buscar construir autonomamente seu espaço. É o momento da

descoberta das potencialidades e oportunidades locais; de surgimento

de novas idéias de empresas e empreendimentos (de caráter

empresarial ou não); de articulação entre as redes e cadeias

FASE - MOB

FÓRUM

EMPRESARIAL

AMBIENTE-

OFICINA

FASE AMB

FÓRUM

INSTITUCIONAL

DIAGRAMA 2

FASE TTE

27 26

Page 15: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

produtivas; de abertura para novas possibilidades do desenvolvimento;

e de iniciação e experimentação da cidadania.

Denominamos capacitação massiva porque a capacitação se

processa em ambientes de participação massiva, isto é, espaços nos

quais os atores sociais, através da intensificação das relações entre

eles e deles com a realidade, através da práxis, vão redefinindo sua

postura frente ao espaço e o desenvolvimento. Esta intensificação

possibilita que se acelere a formação da consciência organizativa,

fazendo surgir novos agrupamentos sociais, pelo estabelecimento das

diferenças e identidades, que agem e interagem dentro do espaço

local, compreendendo-o como um empreendimento coletivo. Este

processo é bastante evidente dentro do Ambiente-Oficina e os Fóruns

Empresarial e Institucional, por sua vez, representam uma instância

onde se agrupam diferentes atores com interesses comuns, que já

exercitam sua identidade ou que desenvolvem suas ações a partir de

papéis estabelecidos pela esfera pública, estando desde momentos

anteriores integrados à parceria que desenvolve as ações de

capacitação.

Os empresários e as instituições têm interesses específicos que

na maioria das vezes se apresentam ou são percebidos como

interesses antagônicos aos interesses dos grupos populares. Contudo,

estes interesses podem resultar em parcerias facilitadoras do

desenvolvimento se estes segmentos estiverem articulados entre si.

Esta "concertação", por sua vez, só é possível se cada um destes

atores tiver consciência de sua própria identidade como categoria

social com interesses e papeis definidos claramente e reconhecidos

pelos segmentos.

Cada Fórum visa trabalhar e explicitar estas identidades

específicas, assim como o Ambiente-Oficina pretende que os grupos

populares locais definam também sua personalidade, de modo que

empresários, instituições e comunidade em geral possam negociar com

maior fundamentação.

Neste sentido, a lógica de não-exclusão estende-se também aos

setores tradicionalmente incluídos, em oposição à prática habitual das

correntes que propõem incluir os tradicionalmente excluídos, excluindo,

por conseguinte, os incluídos"2.

Assim, as organizações que não estão podendo participar do

Ambiente-Oficina têm os Fóruns institucional e empresarial para

integrar-se ao esforço do desenvolvimento local.

É importante destacar que o Ambiente-Oficina é a estrutura

central desta fase, pois é dentro dele que se discutem e se vivenciam

os primeiros elementos da compreensão do desenvolvimento local; é a

partir dele que se inicia a construção de uma estrutura organizacional

para a gestão dos interesses coletivos, que irá se consolidando nas

fases seguintes. Desta perspectiva, os Fóruns não podem ser mais que

uma estratégia de integração de mais atores ao Ambiente-Oficina, pois

partem de uma estrutura preconcebida, que não resultou do esforço da

coletividade, tampouco do reconhecimento de uma necessidade. Ao

serem estruturas organizacionais surgidas de um processo exógeno,

devem ser vistas como estruturas primárias de organização. Estrutura

primária é aqui compreendida como inicial/primeira, a partir da qual,

pela agregação de novos componentes que participaram do Ambiente-

2 Contribuição de Maria Teresa Ramos - Técnica do Projeto Banco do

Nordeste/PNUD.

28 29

Page 16: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Oficina, conforme pode ser visualizado no diagrama 2, estas estruturas

organizacionais podem se manter dentro do processo de organização

da sociedade local ou podem ceder espaço a outras estruturas

organizacionais surgidas a partir do processo de auto-organização,

resultado da superação dos níveis de consciência organizativa

iniciados dentro do Ambiente-Oficina.

É necessário que, após esta discussão, se deixe claro o que é

resultado da vivência, da reflexão sobre a prática e que é ainda uma

sugestão, uma proposta que necessita ser submetida à prática para se

consolidar dentro da metodologia.

Neste sentido, toda discussão apresentada sobre a concepção

do processo de apoio ao Desenvolvimento Local e sobre o Ambiente-

Oficina em fruto de uma experiência prática.

Porém, a fase de capacitação massiva se resumia inicialmente à

condução do Ambiente-Oficina, sendo hoje agregados os Fóruns

Empresarial e Institucional, sobre os quais ainda não há elementos

suficientes para apresenta conclusões mais definitivas.

6 - O AMBIENTE-OFICINA DE CAPACITAÇÃO

ORGANIZACIONAL

6.1-O QUE É O AMBIENTE-OFICINA

O Ambiente-Oficina é uma metodologia de capacitação massiva

que surge no âmbito das ações do Projeto Banco do Nordeste/PNUD,

para responder à complexidade dos desafios da realidade das

comunidades apoiadas. Surge como uma “ nova” alternativa de

capacitação massiva, a partir das críticas dos Laboratórios

Organizacionais , conforme comentado constante no item 4-Um Breve

Histórico da Metodologia de Capacitação Massiva.

A leitura do nome pode ser feita da seguinte forma:

Ambiente - porque se insere em uma proposta metodológica de

“apoio ao desenvolvimento econômico local”, mais especificamente na

fase de capacitação massiva, onde se busca gerar/criar na comunidade

um “ambiente” propício à formação e articulação de grupos de

interesse.

Oficina - porque a estratégia pedagógica utilizada busca

resgatar os elementos da realidade vivenciada

(experiências/comportamentos) e, a partir dela, construir novos

conceitos e práticas. A oficina se caracteriza por um espaço de

trabalho onde se conjugam a teoria e a prática, a reflexão e o fazer,

tendo como resultados a capacitação e “produtos” úteis aos sujeitos

envolvidos no processo de capacitação.

Capacitação - porque insere o homem, enquanto sujeito,

protagonista do seu desenvolvimento, num processo de educação que

busca mudar comportamentos, práticas, e formar conhecimentos úteis,

30 31

Page 17: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

tornando o homem apto a responder, julgar e agir com agilidade e

segurança diante dos desafios da modernidade, provocando mudanças

no mundo que o cerca. Assim, a capacitação é um instrumento de

mudança social, pois ao provocar mudanças nas estruturas mentais do

homem, este provocará mudanças no mundo do trabalho, das

organizações e das relações sociais.

Organizacional - porque é uma metodologia que oferece amplas

possibilidades para criação e recriação das formas organizativas e

alcance de maior participação social através do desenvolvimento

processual da consciência organizativa. No campo econômico discute

desde a organização do negócio individual, idealizado por um

empreendedor, passando pelas organizações associativas, até a

complexidade das redes de relação e interdependência que formam a

economia local, compreendendo-a como um grande empreendimento

coletivo integrado a uma economia global; nos campos

social/político/cultural, a organização tem o significado de aglutinação

de forças de grupos de interesse para disputar espaços de participação

e poder na sociedade.

O Ambiente-Oficina vem se caracterizando como marco inicial de

trazer ao nível consciente a reflexão sobre a importância da

organização, da autodeterminação comunitária, isto é, a necessidade

da comunidade buscar maior autonomia na definição dos rumos do

desenvolvimento do espaço local. As concepções mais correntes em

disputa atualmente na sociedade apontam para a necessidade de uma

hegemonia do estado ou do mercado na condução do

desenvolvimento. O Ambiente-Oficina traz implícita uma concepção

que transcende a estes, deixando a sociedade civil organizada surgir

como protagonista que, em “concertação” com estado e mercado numa

relação de interdependência e co-responsabilidade, possa

gradativamente estabelecer diretrizes que apontem para um modelo de

desenvolvimento local integrado e mais sustentável.

6.2-PORQUE O AMBIENTE-OFICINA

Algumas das razões que justificam a opção pelo Ambiente-

Oficina, como parte da metodologia de apoio ao desenvolvimento local,

são:

tem se configurado como marco a partir do qual as comunidades

passam a assumir uma postura mais proativa e autônoma;

inicia-se o rompimento com comportamentos tradicionais como o

clientelismo, o paternalismo, o corporativismo;

é um processo que devolve a auto-estima, por isso mesmo o

primeiro passo para que a comunidade possa vivenciar na

plenitude a sua cidadania;

faz surgir novas lideranças locais, antes inibidas pelas forças

dominantes;

desenvolve o espirito empreendedor na comunidade, tanto para

buscar alternativas para geração de trabalho e renda, como para

desenvolver o espaço local (compreendido na sua

multidimensionalidade) enquanto empreendimento coletivo, de

responsabilidade social;

desperta a comunidade para o desafio da construção do novo;

quebra em alguma medida a distância entre os que pensam e os

que executam;

pode ser aplicada sem limite de participantes e a qualquer grupo

que queira avançar em sua organização (associações de

produtores, cooperativas, grupos de micro e pequenos

empresários, conselhos ou associações comunitárias,

assentamentos, bairros, municípios e até mesmo regiões).

32 33

Page 18: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

neste método a "práxis" sobre a realidade é a principal fonte do

conhecimento, recuperada criticamente e sistematizada, para ser

imediatamente devolvida ao grupo para sua análise, interpretação

e aplicação;

os elementos teóricos discutidos obedecem a critérios práticos,

instrumentalizando a reflexão da vivência do grupo em cada

momento, sendo facilmente assimilados por todos os participantes;

Não é excludente, pois qualquer pessoa pode participar,

independente de seu nível acadêmico, idade, condição social,

política, religiosa ou etnia, não sendo obrigada a adequar-se a

estruturas organizacionais complexas ou desenvolver atividades

para as quais não tem aptidão, ficando completamente à vontade

para descobrir suas habilidades e colocá-las de alguma forma à

disposição do desenvolvimento local.

6.3-CONSIDERAÇÕES SOBRE A METODOLOGIA

6.3.1 - ESTRUTURA CONCEITUAL

Para compreendermos os conceitos que estruturam a

metodologia é insuficiente a leitura deste item. Porém esta

compreensão mínima é necessária para entender a DINÂMICA

PROCESSUAL (item seguinte). O aprofundamento dos conceitos aqui

apresentados só será possível quando relacionados com a dinâmica

processual e principalmente quando exercitados praticamente na difícil

tarefa de facilitadores da metodologia do Ambiente-Oficina de

Capacitação Organizacional.

Chamamos a atenção do leitor para o fato de que os termos em

destaque no texto podem ter diversos conceitos dependendo de quem

os conceitua, expressando-se assim o caráter ideológico existente em

cada conceito. Não queremos aqui apresentar esta polêmica

acadêmica, ficando esta tarefa a cargo de cada facilitador ou equipe.

COMPORTAMENTO, CONSCIÊNCIA E MUDANÇA

A hipótese fundamental do Ambiente-Oficina é que existe uma

consciência específica no pensamento de cada pessoa, determinada

ou modelada pelos fatores sociais, econômicos, políticos e culturais de

sua realidade, que geram determinados comportamentos e condutas.

Normalmente quem viveu uma história de dominação (um povo,

uma comunidade, um indivíduo), tende a expressar idéias de

subvalorização social, baixa auto-estima, conceito de inferioridade,

atitude de servidão, submissão, atitude negativa diante do progresso,

baixa perspectiva de ascensão social. É necessário a compreensão

histórica de sua realidade para que o homem possa de forma

consciente e gradual redefinir sua postura diante da história.

No desenvolvimento do Ambiente-Oficina, no processo de

organização para o alcance dos objetivos, que são resultados de um

esforço coletivo da comunidade local, os comportamentos individuais

vão se expressando, possibilitando uma reflexão coletiva sobre os

mesmos. Dentro deste processo de ação-reflexão é que vão se

quebrando tabus, paradigmas, possibilitando o surgimento de novos

comportamentos, novas idéias para o desenvolvimento integral dos

indivíduos e seu espaço social.

CAPACITAÇÃO, SUJEITO E OBJETO

O Ambiente-Oficina possibilita a iniciação a um processo

autogestionário do indivíduo e da comunidade, que é induzido pela

capacitação em organização, vivenciada coletivamente dentro do

34 35

Page 19: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

evento. É no encontro entre o sujeito (indivíduo/comunidade) e o

objeto (organização) da capacitação que vão se processando as

transformações do sujeito e do objeto e se dinamizando a formação de

uma nova consciência organizativa, aquisição de uma capacitação

técnico-organizativa, administrativa e técnico-produtiva.

LIBERDADE E AUTOGESTÃO

Nesta metodologia, são os sujeitos do processo que tomam a

iniciativa fundamental de solicitar a capacitação e a “assessoria” (ajuda

pedagógica) requerida de acordo com as necessidades e fins de sua

prática.

Só vivenciando a liberdade que o homem será capaz de

autonomamente buscar soluções criativas para si e para a

coletividade, compreendendo o espaço local como um

empreendimento coletivo a ser pensado/construído dentro de um

processo de “concertação” entre os diferentes atores que compõem o

cenário político, econômico e social local, levando-o a criar condições

de verdadeira participação e autogestão.

A capacitação em organização deve estar voltada a criar as

condições para que o sujeito do processo formativo compreenda sua

realidade e seja capaz de autonomamente decidir por sua mudança.

ORGANIZAÇÃO E PRODUÇÃO

A organização, para que seja efetiva, deve dar-se na prática,

isto é, sob o mesmo processo produtivo que desenvolve o sujeito (do

processo formativo), sob a problemática que vive real e diariamente na

comunidade nos campos econômico, político, sócio-cultural e na

vivência das suas necessidades e anseios gerais.

A organização deve partir da compreensão dialética de que a

organização da sociedade é também determinada pelo modo como ela

organiza sua produção. Faz-se necessário para o sujeito do processo

formativo compreender a estrutura de utilização social das forças

produtivas e sua dinâmica de mudanças.

EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E FACILITAÇÃO

O processo do Ambiente-Oficina ressalta a importância da

comunicação que, se vivenciada, recria a "práxis” social. "Práxis" é a

síntese do processo "prática mais reflexão", onde a todo momento o

objeto está emitindo sinais para o sujeito, que precisa estar atento para

responder e avançar na sua capacitação, isto é, em seu desempenho

para utilização mais eficiente do instrumento. Por outro lado, o sujeito

vai adequando o objeto às suas condições e necessidades. Este

processo de comunicação que se estabelece entre o sujeito e o objeto

pode ser intermediado pelos facilitadores/animadores do processo,

desde que não interfiram na autonomia, nem cerceiem a liberdade do

sujeito.

O processo de educação acontece à medida que o facilitador vai

instrumentalizando o processo de comunicação entre o sujeito e o

objeto, porém a desmistificação do educador é essencial para alcançar

a dialogicidade e acabar com o condutismo, estimulando a

participação e a democracia.

O assistencialismo, o clientelismo e o paternalismo foram

nefastos em suas conseqüências, criando um espírito de mendicidade

e indigência, desestimulando as comunidades a desenvolverem suas

potencialidades, negando ao homem seu direito de ser capaz,

produtivo e responsável para intervir também na solução de seus

problemas, fazendo-o dependente, manipulado e com dificuldades

para assumir organizadamente o controle das mudanças de uma

sociedade.

36 37

Page 20: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

6.3.2 - ETAPAS DO PROCESSO VIVENCIAL

Os diferentes comportamentos, formas de agir dos participantes

que podem ser observados no decorrer do Ambiente-Oficina, podem

ser agrupados caracterizando quatro etapas distintas, complementares

e seqüenciais do processo vivencial. Essas etapas representam o

avanço dos participantes no alcance de níveis superiores de

consciência organizativa, rumo à consecução dos objetivos.

As características fundamentais que identificam os momentos

ou situações do processo vivencial dentro do Ambiente-Oficina são:

anomia, síncrese, análise e síntese, que correspondem

respectivamente a estágios onde os participantes formam

simplesmente o “conjunto de participantes” nas duas primeiras etapas

citadas, evoluindo para “grupo organizado” na terceira, alcançando um

estágio de “coletivo organizado”, quando unidos pelos objetivos e

condicionados pelos acordos de convivência.

ANOMIA

“CONJUNTO DE PARTICIPANTES”, é a definição ou

característica básica que se pode atribuir para este primeiro estágio

dos participantes, que vivenciam o desconcerto grupal numa situação

de desordem, expectativa, incerteza, de ausência de regras ou

normas, permanecendo como observadores do processo que começa.

É uma etapa de conhecimento sensorial, onde as pessoas

percebem os acontecimentos através de sensações e sentimentos,

que serão a base de uma futura racionalidade.

SINCRESE

Os participantes, apesar de evoluírem na compreensão do

trabalho, ainda permanecem no estágio que só nos permite definí-los

como “GRUPO PRIMÁRIO DE PARTICIPANTES”. O estado sincrético

do grupo é a etapa em que se observa uma melhor conformação

interna de cada subgrupo, que ocupam o mesmo espaço sem no

entanto interagirem. Na dinâmica interna de cada grupo e nas

iniciativas de relação intergrupos aparecem os distintos

comportamentos dos participantes que, com todas as contradições, se

sentem unidos ou conciliados pela necessidade comum de se

organizarem. Passam das idéias às conclusões nos subgrupos, sem

ter em conta as análises críticas e sua relação com o contexto global

do processo de apoio ao desenvolvimento local. Inicia-se a

assimilação de certas categorias teóricas que ajudam a entrar no

pensamento lógico, transcendendo a fase sensorial, abrindo espaço ao

raciocínio no processo, que levará ao alcance dos objetivos do evento.

Os participantes evoluem na compreensão do trabalho,

avançando para um novo estágio, onde já se apresentam enquanto

“grupo de participantes”.

Conjunto de

Participantes

ANOMIA

Grupo Primário de

Participantes

SINCRESE

Grupo Organizado

de Participantes

ANÁLISE

Coletiv o

Organizado

SINTESE

DIAGRAMA 3

38 39

Page 21: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

ANÁLISE

“GRUPO ORGANIZADO”, é a característica básica desta etapa,

um estágio onde a unidade do grupo começa a ser vivenciada a partir

da percepção da interdependência dos objetivos econômicos e/ou dos

anseios e necessidades sociais. Os objetivos do Ambiente-Oficina são

discutidos com mais freqüência, pois são eles que orientarão a

organização. Nesta etapa a assimilação das categorias teóricas

permite ao grupo desagregar a vivência como um todo em suas partes

ou elementos constitutivos (erros, acertos, críticas a determinados

comportamentos, etc.).

Os participantes analisam as experiências, descobrem e

resgatam da prática elementos particulares para fortalecer os

princípios gerais acordados e a coesão do grupo.

SÍNTESE

“COLETIVO ORGANIZADO”, é a característica básica deste

novo estágio. A Síntese é a etapa na qual o grupo consegue

sintetizar/assimilar o processo vivido.

É o nível de aspiração da experiência com a qual se obtém toda

uma capacidade de manejo e combinação da prática com a teoria. O

grupo consegue esboçar elementos de uma teoria surgida da prática

que vai servir de guia para a ação organizada. O grupo aprimora as

formas de participação, preocupando-se com a democracia no

processo de organização. Visualiza o empreendimento coletivo (local)

como resultado do processo de gestão participativa dos interesses

coletivos e da integração do conjunto de redes (de negócios ou não)

rurais e urbanas que formam o espaço (econômico) local.

Vale observar que estas etapas podem durar um ou vários dias,

sendo que um acontecimento dentro do evento pode fazer com que o

grupo retorne a uma etapa já vivenciada. A Equipe de Facilitadores -

EF tem um papel preponderante, pois o avanço gradual do Grupo de

Participantes dentro das etapas irá depender em grande medida de sua

capacidade de leitura (observação) e do apoio pedagógico prestado.

6.3.3 - ESTRUTURA PEDAGÓGICA

A metodologia é um processo dinâmico que pretende alcançar,

através de uma pedagogia, o estímulo à participação para que

conscientemente os atores utilizem suas riquezas (recursos humanos,

materiais, tecnológicos, naturais, informacionais) de maneira

organizada.

A característica pedagógica marcante do método é que parte da

premissa de que é através da reflexão sobre a prática social que os

indivíduos adquirem um conhecimento válido sobre sua realidade e a

possibilidade de transformá-la.

As experiências individuais ou coletivas trazidas e as situações

já vivenciadas no Ambiente-Oficina juntas são os elementos de

reflexão que permitem descobertas e a tomada de consciência sobre a

importância da educação e seu significado no desenvolvimento de

suas próprias capacidades e recursos, com o fim de resolver seus

problemas independentemente de pessoas externas. Neste processo o

assistencialismo tradicional é substituído pelo diálogo autogestionário

e responsável dos sujeitos do processo formativo.

40 41

Page 22: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

O aprendizado será maior quanto melhor estruturado

pedagogicamente estiver o evento. Dispor apenas de um conjunto de

métodos e técnicas de comunicação é insuficiente para alcançar um

aprendizado eficiente. No Ambiente-Oficina, os elementos que

encontram relação entre o aprendizado e o significado do novo

conhecimento são considerados como fatores pedagógicos que

estruturam o evento. São eles:

VIVÊNCIA FÍSICA E REAL

Não é possível separar, por um lado, a formação do

conhecimento e, por outro, o exercício prático da transformação da

realidade. É através da vivência física do real que ocorre o

enfrentamento do grupo de participantes com a realidade concreta,

resgatando dela os elementos necessários para a transformação

pessoal e de seu espaço. É através do resgate das experiências e da

análise crítica contínua no Ambiente-Oficina que vão se construindo

conceitos, se refazendo práticas e comportamentos, adquirindo e

aperfeiçoando as habilidades e destrezas e internalizando ou

assimilando de maneira crítica e consciente os elementos que serão

incorporados à dinâmica econômica, social, política e cultural da

realidade local.

INTERAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA

Refere-se às relações sociais que se dão no processo de

organização entre os participantes (mulheres, homens, artesões,

pequenos produtores, microempresários, associados, jovens,

trabalhadores rurais e urbanos, empresários autônomos, estudantes,

funcionários públicos, pessoas e grupos sociais não organizados ) e

destes com o trabalho produtivo, descobrindo potencialidades,

possibilidades, princípios, valores, e a natureza das novas condições

do trabalho a partir das mudanças que estão se processando no

mundo.

Este processo de interação gera as condições para uma

verdadeira relação dialógica entre os sujeitos do processo formativo, a

partir da qual se conhece sua situação real, sua visão de mundo, seus

valores, seu nível de consciência, suas tradições e cultura.

O método caracteriza-se por sua ênfase na participação

consciente e ativa, fundamento do processo, ou seja, que para obter

ou alcançar os objetivos do Ambiente-Oficina, que são acordados por

todos os participantes, é necessário a participação na informação, na

tomada de decisão, no trabalho e nos benefícios por parte de todos os

participantes.

A participação das pessoas e grupos durante a ação implica em

expressar as idéias ou opiniões, tomar decisões, assumir

responsabilidades e tarefas, que exigem um desenvolvimento

autônomo, o qual supõe elevar os níveis da capacitação, mudar a

concepção do mundo e as atitudes assumidas.

O INTERESSE PELA INFORMAÇÃO OU CONHECIMENTO ESTÁ

RELACIONADO COM A POSSIBILIDADE DE UTILIZÁ-LO

42 43

Page 23: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

A capacitação tem como objetivo maior a transformação da

realidade, a partir das mudanças que provoca no comportamento dos

agentes de mudança (pessoas); para isso é preciso saber o que ele

espera da capacitação.

DESAFIO DA CONSTRUÇÃO OU CRIAÇÃO

A existência de um desafio ou de um problema é um estímulo ao

aprendizado humano, o que permite que o grupo pense, reflita, atue de

maneira autônoma, criativa e autogestionária, superando obstáculos

para ir construindo aos poucos os objetivos propostos e acordados no

Ambiente-Oficina. O estímulo à criação possibilita a superação do

estagio de anomia, momento em que o grupo toma gosto pela

liberdade de criar, não mais se satisfazendo com o papel de

coadjuvante.

CONSCIÊNCIA ORGANIZATIVA

Na ação pedagógica do Ambiente-Oficina, os sujeitos da

formação vão gradativamente superando seus níveis de consciência,

que vão da ingênua à organizativa.

Esta tomada de consciência do grupo a respeito do nível em que

se encontra leva a uma mudança de conduta, que se reflete numa

nova postura do sujeito frente aos elementos concretos de sua

realidade ("vivência física e real", "interação sócio-econômica” e

"desafio da construção"). Cada membro participante, ao observar seu

próprio processo de mudança , descobre as possibilidades de

transformar a realidade em benefício de todos.

A superação dos níveis de consciência se vai gerando à medida

que se intensifica o processo em busca dos objetivos e se desenvolve

a participação.

A consciência organizativa é o ponto máximo do processo, onde

os participantes desenvolvem suas capacidades de análise e de

organização buscando a solução de problemas.

Este estágio dificilmente é alcançado dentro do Ambiente-

Oficina, ficando para as demais etapas do apoio ao processo de

desenvolvimento local a consolidação desta consciência nos sujeitos

envolvidos nos eventos de capacitação.

A organização da comunidade, a geração de empresas e

empreendimentos têm um grande requisito que é a participação;

comunidade organizada faz da participação uma prática cultural efetiva.

ORGANIZAÇÃO E PRODUÇÃO: DOIS LADOS

DE UMA MESMA MOEDA

A ORGANIZAÇÃO COMO INSRUMENTOS DE MUDANÇAS

ELE NÃO SABIA QUE ERA IMPOSSÍVEL, POR ISSO FEZ!

44 45

Page 24: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

6.4 - A OPERACIONALIZAÇÃO DA METODOLOGIA

Estamos apresentando neste Guia algumas orientações para

estruturação e condução de um evento de capacitação que está

inserido dentro de um conjunto de ações que concorrem para o apoio

ao processo de desenvolvimento local. Assim, pressupõe-se que as

ações que precedem o evento na Fase de Mobilização e

Fortalecimento Organizacional – Fase MOB já tenham sido realizadas

(ver Diagrama 4). Trataremos aqui das atividades que se consideram

integrantes ou preparatórias do Ambiente-Oficina, fazendo uma

descrição geral dos objetivos de cada momento ou atividade,

remetendo para o item 7-ORIENTAÇÕES PARA A PRÁTICA, o

detalhamento e as “dicas” de como preparar ou conduzir cada uma

dessas atividades.

6.4.1 - PREPARAÇÃO DO AMBIENTE-OFICINA

Ao discutirmos as atividades preparatórias do Ambiente-Oficina,

estamos falando de um conjunto de ações que são desenvolvidas

dentro da Fase MOB, num período que varia entre 08 (oito) a 10 (dez)

semanas. São atividades desenvolvidas com as Gestões

Administrativas e Institucionais-GAI já consolidadas, quando se tem

firmado as parcerias e constituído uma Equipe de Apoio Técnico - EAT

para desencadear o processo de capacitação.

GESTÕES

ADMINISTRATIVO

INSTITUCIONAIS

- GAI -

15 DIAS

~ SENSIBILIZAÇÃO E CAPACITAÇÃO MASSIVA ~

15 DIAS 45 DIAS

4 MESES

30 DIAS 15 DIAS

AMBIENTE - OFICINA

DE

CAPACITAÇÃO

ORGANIZACIONAL

FORUM

INSTITUCIONAL

FORUM

EMPRESARIAL

DIVULGAÇÃO

SENSIBILIZAÇÃO

ACORDOS E

COMPROMISSOS

CAPACITAÇÃO MASSIVA

MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE

E DOS AGENTES PRODUTIVOS

FASE DE MOBILIZAÇÃO E FORTALECIMENTO ORGANIZACIONAL - FASE MOB

TREINAMENTO

TÉCNICO

INTERINSTITUCIONAL

- TTI - IDENTIFICAÇÃO

DE PROJETOS

REFERENCIAIS

ESTRUTURANTES

-PRE-

PRÉ-DIAGNÓSTICO

RECONHECIMENTO E ANÁLISE

DA REALIDADE

DIAGRAMA 4

46 47

Page 25: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

a) TREINAMENTO TÉCNICO INTERINSTITUCIONAL - TTI

O TTI é o evento que de certa forma consolida as Gestões

Administrativas e Institucionais, pois reúne a EAT Interinstitucional,

instrumentalizando-a para desenvolver as atividades de campo. É a

partir dele que se inicia o envolvimento da comunidade nas ações de

capacitação. Tem o objetivo central de discutir com a Equipe de Apoio

Técnico a dinâmica das mudanças que estão ocorrendo no mundo,

contextualizando a proposta de desenvolvimento local dentro do novo

cenário, nivelando conceitos e instrumentalizando a equipe de técnicos

para desenvolver as primeiras atividades de campo.

Com base em reflexões realizadas entre os técnicos do Projeto,

estamos propondo três etapas para o TTI: A primeira, mais voltada

para a sensibilização da EAT, a contextualização do desenvolvimento

local e a instrumentalização para desenvolver as atividades

preparatórias do Ambiente-Oficina; a segunda, instrumentalizando-a

para a condução do Ambiente-Oficina; e a terceira, preparando os

técnicos para a condução das atividades da Fase de Aplicação da

Metodologia Básica - Fase AMB.

PRIMEIRA ETAPA

Nesta etapa ainda não está presente uma “equipe”, somente um

“conjunto” de técnicos, com diferentes culturas institucionais e com

diferentes perspectivas sociais e políticas. É a partir desta etapa que

começa uma gradual construção da Equipe, que se dá no aprendizado

prático da relação e interação entre os técnicos.

Para esta etapa são necessárias 80 (oitenta) horas de

treinamento.

Os objetivos centrais são:

discutir com a Equipe de Apoio Técnico a dinâmica das mudanças

que estão ocorrendo no mundo, contextualizando a proposta de

desenvolvimento local dentro do novo cenário;

nivelar os conceitos usuais dentro do trabalho;

sensibilizar e mobilizar os técnicos em torno da proposta de

desenvolvimento local;

instrumentalizar os técnicos para desenvolver as primeiras

atividades de campo;

estabelecer as bases mínimas para o funcionamento da Equipe.

Esta etapa não prepara os técnicos para conduzir todas as

atividades de capacitação, mas somente para a realização do Pré-

Diagnóstico e a Mobilização.

SEGUNDA ETAPA

É importante que os técnicos tenham avançado na construção

do trabalho em equipe, pois a condução do Ambiente-Oficina exigirá

48 49

Page 26: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

um nivelamento de conhecimento e relacionamento entre os membros

da Equipe.

São necessárias 40 (quarenta) horas de treinamento poucos

dias antes do início do Ambiente-Oficina, portanto quando a maior

parte das atividades que o precedem tenha sido desenvolvida.

O objetivo central é:

instrumentalizar os técnicos para a condução do Ambiente-

Oficina de Capacitação Organizacional, discutindo

detalhadamente sua dinâmica.

Nesta etapa é necessário se definir a Equipe de Facilitadores –

EF do Ambiente-Oficina, pois nem todos os componentes da EAT

precisam necessariamente assumir esta função. Do ponto de vista da

capacitação do técnico seria desejável que todos pudessem

desempenhá-la; no entanto, em equipes muito grandes isto se torna

impossível, prejudicando o bom andamento do processo de

capacitação dentro do Ambiente-Oficina.

TERCEIRA ETAPA

Para esta etapa são necessárias 40 (quarenta) horas de

treinamento logo após o Ambiente-Oficina, no início da Fase de

Aplicação da Metodologia Básica - Fase AMB.

O objetivo central é:

instrumentalizar a EAT para conduzir a Fase de Aplicação

da Metodologia Básica.

b) ELABORAÇÃO DO PRÉ-DIAGNÓSTICO

Designa-se de Pré-Diagnóstico porque não tem o objetivo inicial

de servir como insumo ao processo de elaboração de um Plano. Busca

responder a dois objetivos mais imediatos: primeiro, inserir os técnicos

na realidade local, para que possam com mais segurança desenvolver

os momentos temáticos; segundo, servir como subsídio para orientar

os participantes no desenvolvimento das idéias de negócios, bem como

de ações que devam ser implementadas em outros campos da vida

local.

c) IDENTIFICAÇÃO DE PROJETOS REFERENCIAIS

ESTRUTURANTES

As Instituições, Entidades e Empresas com atuação na Área e a

própria Comunidade a ser apoiada dispõem freqüentemente de planos

e projetos referenciais para o município ou a região contemplada. A

identificação, dentre as ações programadas e em execução na Área,

50 51

Page 27: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

de projetos estruturantes para o desenvolvimento local, é importante

para o direcionamento estratégico das ações de capacitação.

Por sua vez, as análises e conclusões do Pré-Diagnóstico

podem permitir a visualização de novos projetos estruturantes e, de

volta, direcionar novos levantamentos e análises de informações.

Nestas atividades se concretiza, desde o início, o trabalho

interinstitucional e interdisciplinar que deverá percorrer todas as etapas

do processo de capacitação3.

d) SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE

Sensibilizar significa tornar a comunidade sensível, aberta a

absorver uma proposta de trabalho. A sensibilização exige diálogo,

comunicação, uma argumentação com conteúdo acessível, portanto

exige uma estratégia de abordagem capaz de “tocar” a comunidade.

Se o processo de sensibilização não for bem desenvolvido, a

comunidade não mobilizará suas energias em torno da proposta de

trabalho e todas as atividades posteriores serão prejudicadas.

3 Jordán, A. e Zapata, T., - Um Programa de Capacitação e Transferência

de Metodologia Para o Desenvolvimento Econômico Local, Projeto Banco

do Nordeste/PNUD, Série de Cadernos Técnicos, Nº. 02 Recife, 1998, pg.27

A EAT, tendo domínio da estratégia de apoio ao processo de

desenvolvimento local, compreendendo a metodologia que será

utilizada em cada fase do processo e dominando um conjunto de

conteúdos, técnicas e instrumentos de comunicação, passa a realizar,

após ou concomitante ao Pré-Diagnóstico, a sensibilização e

mobilização da comunidade para aderir ao processo, convocada a

ocupar seu espaço de protagonista.

Neste momento do trabalho são mobilizados todos os atores

econômicos e sociais, os agentes institucionais externos e internos que

exerçam atividades que concorrem para o desenvolvimento local,

dando maior ênfase às comunidades onde o grau de organização seja

mais incipiente, trazendo para dentro do trabalho prioritariamente os

extratos sociais excluídos ou em vias de exclusão.

e) DIVULGAÇÃO DO AMBIENTE-OFICINA

É a atividade que busca divulgar a proposta de trabalho junto à

comunidade local, deixando as informações necessárias para que a

mesma possa ter clareza de tudo o que acontece. Uma boa divulgação

facilita a participação e não permite que a “contra-informação” desvirtue

o processo.

52 53

Page 28: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Todos os veículos de comunicação podem ser usados, bem

como o contato direto através de reuniões, visitas, etc. O importante é

deixar a comunidade informada, “a par dos acontecimentos”.

f) SELEÇÃO DO LOCAL

É necessário distinguir duas compreensões do local:

A primeira refere-se ao espaço, geográfico ou não, onde estão

situadas, localizadas ou atuam as pessoas que se busca sensibilizar e

mobilizar para participar do Ambiente-Oficina. Assim, todo o espaço

onde vivem os sujeitos do processo passa a ser o “local” do Ambiente-

Oficina. Como exemplo: “O bairro” pode ser um local, onde o critério é

geográfico; “micro e pequenos empresários” é um critério, que define

um espaço de atuação no mercado, e assim por diante.

No Projeto Banco do Nordeste/PNUD tem-se utilizado

exclusivamente o critério geográfico, pois se busca apoiar o processo

de desenvolvimento local; assim, o local é visto através de todos os

atores e dimensões (econômico, com todas as cadeias produtivas,

sócio-político-institucional, ambiental e cultural). No entanto, seria

possível utilizar o Ambiente-Oficina para apoiar o desenvolvimento

organizacional de determinados setores ou uma maior

integração/organização de uma determinada cadeia produtiva.

É importante compreender o local sob esta perspectiva, pois ela

expressa uma característica fundamental do momento de capacitação

massiva e do Ambiente-Oficina, que é o de ser um momento específico

dentro do apoio ao desenvolvimento local, onde se deve gerar um

ambiente com um clima que facilite a articulação e formação de grupos

de interesse.

A segunda compreensão é o local enquanto “lugar” onde o grupo

de participantes irá se reunir para participar dos momentos temáticos e

exercitar a organização no processo de condução do Ambiente-Oficina,

isto é, o local ambiente, espaço físico para os encontros.

A estratégia de sensibilização e mobilização deve estabelecer

uma meta e perseguí-la. O Ambiente-Oficina utiliza uma metodologia

que possibilita a participação de um número indefinido de pessoas. O

local pode ser uma sala de aula, um galpão ou um ginásio de esportes.

Se a meta é de mobilizar mil e quinhentos participantes, por exemplo, o

local deverá acomodar a todos, sem perder a flexibilidade, isto é, o

conjunto de participantes pode no decorrer dos trabalhos adquirir

diferentes configurações de grupos e subgrupos. O local não precisa

ser o mesmo, podendo variar de acordo com o interesse dos

participantes, que autonomamente devem redefinir e organizar o novo

local.

54 55

Page 29: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Um aspecto importante é que a definição do local é um

elemento que contribui em grande medida para a mobilização. Um

ginásio de esportes ou um centro de convenções onde ocorrem

grandes eventos pode ser um elemento atrativo. Por outro lado, um

local com uma história de tragédia ou fracassos de lutas, ou

simplesmente de difícil acesso, pode desmotivar a participação.

É importante perceber que juntando essas duas compreensões

do local, o Ambiente-Oficina não acontece somente no momento em

que os participantes se reúnem num determinado “lugar”, mas

acontece ininterruptamente (todos os dias e o dia todo) desde a

abertura ao encerramento.

g) MOBILIZAÇÃO DE RECURSOS

Os recursos devem ser mobilizados pela Equipe de Facilitadores

- EF e deverão ser entregues aos participantes quando forem por eles

solicitados de forma organizada. Deverá ficar evidente que entre os

participantes existem representantes que solicitam em nome dos

grupos. Desta forma se estabelece uma relação de ORGANIZAÇÃO

(participantes) para ORGANIZAÇÃO (equipe de facilitadores). Esta

relação deve ser estabelecida, sendo que somente desta forma os

participantes têm acesso à EF.

- RECURSOS HUMANOS

Dentro do Ambiente-Oficina os recursos humanos respondem a

interesses diferenciados para a EF ou para o Grupo de Participantes:

para os primeiros significa um banco de conhecimentos ( pessoal

técnico de instituições parceiras ) para apoiar a condução dos

momentos temáticos e para responder às demandas que surgem

dos subgrupos em reuniões fora do local de encontro. Os técnicos

que compõem o banco de conhecimentos não estão classificados

como recursos humanos disponíveis aos participantes, somente à

EAT;

enquanto que para os segundos os recursos humanos

representam a própria Equipe de Facilitadores que, com suas

aptidões, habilidades e conhecimentos, ficam ininterruptamente à

disposição dos participantes enquanto durar o evento.

- RECURSOS MATERIAIS

DE CONSUMO: São recursos que serão utilizados pelos

facilitadores e pelos participantes durante o evento. Está aqui

incluída toda espécie de material que possa ser utilizado, como

papel de diversos tipos e tamanhos, pastas, canetas, pincéis,

tarjetas ou outros, como pregos, grampos, etc.

DE RETORNO: São recursos que deverão retornar ao local de

origem após o encerramento do evento, tais como: filmadora,

vídeo, televisor, mimeógrafo ou fotocopiadora, retroprojetor,

cavaletes, murais, armários, computador, grampeadores, etc.

56 57

Page 30: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

6.4.2 - DESENVOLVIMENTO DO AMBIENTE-OFICINA

a) ESTRUTURA INTERNA

GRUPO DE PARTICIPANTES

Composição:

Como vimos, a composição social do Grupo pode variar de

acordo com os critérios a serem utilizados na definição do local.

Dentro da experiência do Projeto Banco do Nordeste/PNUD, de

mobilizar toda a sociedade dentro de uma área geográfica definida

(município, microrregião com vários municípios, conjunto de bairros de

uma metrópole), a composição social do Grupo de Participantes pode

variar em função de diferentes elementos que, entre outros, podemos

exemplificar: origem das pessoas, etnia, classe social, atividade

econômica, grau de escolaridade, faixa etária, gênero, etc. Uma outra

forma de analisar a composição do Grupo de Participantes é através da

setorização da sociedade: Poder Público (prefeituras, câmaras de

vereadores, escolas, instituições), Mercado ( grandes, pequenos e

médios empresários dos mais diferentes ramos de atividades, do meio

rural ou urbano e as organizações econômicas associativas, como

associações e cooperativas) e a Sociedade Civil Organizada ( ONG‟s,

sindicatos, associações de caráter representativo e reivindicatório,

clubes, escolas, comissões, comitês, conselhos, entre outros).

Toda essa diversidade/heterogeneidade deve ser percebida e

descrita no Pré-Diagnóstico, pois servirá de base para definir a

estratégia de abordagem da EF para o momento da mobilização e

sensibilização da comunidade, como também dos momentos temáticos

dentro do Ambiente-Oficina.

Papel:

Os participantes desempenham o papel de “sujeito do processo

de capacitação”; assim, cabe aos sujeitos interagirem com o objeto

para alcançarem níveis superiores de organização e gerarem

alternativas econômicas que possam dinamizar o desenvolvimento de

seu espaço.

COMUNIDADE NA FASE DE CAPACITAÇÃO MASSIVA

LOCAL

HETEROGENEIDADE DA COMPOSIÇÃO

SOCIAL DO GRUPO/COMUNIDADE

DIAGRAMA 5

58 59

Page 31: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Como atua:

O Ambiente-Oficina funciona ininterruptamente, dentro de um

período mínimo estabelecido, no qual o grupo tem os objetivos para

alcançar, servindo os acordos e compromissos como limites a serem

respeitados; no mais, há total autonomia para criar e recriar suas

possibilidades de desenvolvimento.

EQUIPE DE FACILITADORES

Composição:

A EF é formada por técnicos das diferentes instituições parceiras

do trabalho de apoio ao desenvolvimento local. Deve-se priorizar o

caráter multidisciplinar da Equipe, pois estará manejando uma

realidade extremamente complexa, onde a leitura dos acontecimentos

dentro do evento estará tanto mais próxima da realidade quanto mais

se servir de interdisciplinaridade.

Papel:

Como o próprio nome diz, o papel da Equipe é de facilitar o

processo de capacitação, instrumentalizando a vivência e auxiliando os

sujeitos na leitura dos erros e acertos em sua relação com o objeto

(organização). A EF deve prestar assistência ininterrupta ao Grupo de

Participantes. Com isso, os técnicos devem estar liberados por tempo

integral dos seus órgãos de origem, para que possam dedicar-se

exclusivamente à facilitação do evento.

Como atua:

A EF, de posse dos elementos da realidade local e da leitura da

vivência do Grupo de Participantes alcançada através da observação,

vai, através dos momentos temáticos dentro do evento, levar o apoio

pedagógico para que os sujeitos possam gradativamente avançar em

sua organização.

Os momentos temáticos podem ocupar de vinte a trinta por cento

do tempo definido para cada sessão (nunca acima deste teto) para

organizar os momentos temáticos, que é a forma como a ajuda

pedagógica será oferecida para o Grupo de Participantes.

Em função das características da relação que vai se estabelecer

entre a EF e o Grupo de Participantes, como veremos mais adiante, a

Equipe precisa apresentar-se como uma organização, com papéis

definidos para não confundir o Grupo. Esta organização interna pode

variar de acordo com cada Equipe. A título de exemplificação,

poderíamos citar algumas funções que normalmente aparecem:

- Coordenação ( técnica, pedagógica, geral...);

- Infra Estrutura;

- Temática;

- Interlocução;

- Observadores.

No exemplo citado estamos falando de papéis e não de pessoas.

Estas podem variar periodicamente, como podem assumir mais de um

papel. Da mesma forma, os termos podem ser redefinidos e a EF pode

60 61

Page 32: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

encontrar novas funções. É importante frisar que a organização interna

da EF não pode ser estática, devendo acompanhar a dinâmica do

evento e o próprio amadurecimento da Equipe.

GRUPO DE INTERMEDIAÇÃO

Composição:

É composto de pessoas e/ou lideranças da comunidade e

membros da Equipe de Apoio Técnico que desenvolvem as atividades

de apoio ao desenvolvimento local, mas que não participam da EF;

porém são daquela comunidade ou convivem regularmente, estando

profundamente integrados a ela, sendo portanto conhecedores da

realidade local e de suas lideranças.

Papel:

É chamado de Grupo de Intermediação porque é por intermédio

dele que os facilitadores buscarão elementos/informação para fazer a

leitura do avanço, do entendimento do Grupo de Participantes sobre a

dinâmica interna do evento. A informação será subsídio para que a EF

possa preparar os momentos temáticos, que se configuram na ajuda

pedagógica que apoiará o Grupo de Participantes a transcenderem os

atuais níveis de organização. O Grupo de Intermediação poderá

cumprir com seu papel de termômetro do Grupo de Participantes e

fornecedor de informações para a EF de forma consciente ou

inconsciente, como veremos mais adiante.

Como Atua:

A EF é quem deverá recolher as informações em conversas de

bar, na calçada, na esquina, na porta do colégio, ou outra forma de

acordo com a criatividade dos técnicos da Equipe. Essa coleta de

informações pode também ser realizada em momentos formais de

reunião na hipótese do Grupo ter consciência de seu papel.

Neste caso, isto é, quando o Grupo de Intermediação tem

consciência de seu papel, a EF deve ficar atenta para não se tornar a

dirigente da organização que se inicia, mascarando o processo e

inibindo o surgimento de novas lideranças, levando a um processo de

ratificação do “status-quo” e resultando em poucas mudanças no

estágio de organização da comunidade.

b) RELAÇÃO ENTRE OS COMPONENTES DA ESTRUTURA

INTERNA

A EF e o Grupo de Participantes se relacionam entre si, porém o

Grupo de Intermediação só se relaciona com a EF; o Grupo de

Participantes não sabe da existência do Grupo de Intermediação,

sendo que este eventualmente pode não ter consciência de sua

existência.

A relação entre a EF e o Grupo de Intermediação dependerá da

forma como este último for estruturado pelo primeiro. Desta forma fica

claro que o Grupo de Intermediação só existe se os facilitadores

optarem por sua existência. A relação entre eles pode ser consciente

ou inconsciente:

Consciente: Quando a pessoa tem consciência da existência do grupo,

que pertence a ele e qual seu papel.

Inconsciente: quando a pessoa não tem consciência da existência do

grupo e as informações são buscadas pela EF sem que

a pessoa se dê conta que está subsidiando à Equipe.

62 63

Page 33: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Com relação a este aspecto, podem ser visualizadas pelo

menos duas formas diferentes de compor e organizar o Grupo de

Intermediação: a forma pura, onde todo o grupo é consciente ou

inconsciente; ou a forma mista, mantendo parte do grupo consciente e

outra inconsciente. O Grupo pode também começar inconsciente e

num determinado momento tornar-se consciente de seu papel.

A relação entre EF e o Grupo de Participantes não pode se

caracterizar em relações entre indivíduos e sim entre organizações.

Organizações racionais, responsáveis, que devem primar pela

eficiência e a eficácia na utilização dos elementos básicos do processo

de gestão que leva ao alcance dos objetivos. (ver Diagrama 7).

Em certo sentido, o que se exige de relações entre empresas

para serem bem sucedidas, deve exigir das seleções entre EF e o

Grupo de Participantes.

Assim, a EF precisa apresentar-se como uma organização que

se utiliza dos elementos da Gestão (Planejamento, Organização,

Gerenciamento e Controle), pois será provavelmente imitada pelo

Grupo de Participantes nos estágios iniciais de sua organização. A

imitação é uma das formas como a aprendizagem se processa,

principalmente nos estágios iniciais do processo de organização.

A imitação aqui deve ser entendida como a reprodução do

espírito, da força, da energia que levam as pessoas a se organizarem,

da intencionalidade existente por trás da organização e não da

imitação da estrutura organizacional em si.

O Grupo de Participantes estará num processo de superação

dos níveis atuais de organização, portanto buscando estruturar-se para

atingir os objetivos do evento e os desafios de iniciar a construção de

uma proposta de desenvolvimento local. Daí a necessidade de

observar rigorosamente que as relações só podem se dar de

organização para organização, pois isto se configura num instrumento

pedagógico valiosíssimo para a organização do Grupo de

Participantes, que só poderá se relacionar com a EF, e se utilizar deste

recurso, se conseguir abrir um canal de comunicação com a mesma.

Veremos mais adiante que o conjunto de recursos dentro do Ambiente-

Oficina cumpre com o mesmo papel pedagógico. (item 6.5)

c) ACORDOS E COMPROMISSOS

Nos acordos e compromissos que são contratuados entre a EF

e o Grupo de Participantes devem constar os objetivos do evento, as

normas gerais de funcionamento do evento e as regras de

convivência, que respectivamente orientam, direcionam e estabelecem

limites no evento, sendo imprescindíveis para que se possa entender a

lógica de seu funcionamento.

COMUNIDADE NA FASE DE CAPACITAÇÃO MASSIVA

LOCAL

GRUPO DE PARTICIPANTES NAS

SESSÕES CONJUNTAS

DIAGRAMA 6

64 65

Page 34: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Objetivos do evento

1) Auto-organização das comunidades

Este objetivo joga os participantes no esforço de superar a

dependência cultural, a necessidade que sentem de serem tutelados

na construção de alternativas de desenvolvimento e que normalmente

se expressa através do paternalismo e o clientelismo. O processo de

reflexão deste objetivo possibilita à comunidade encontrar uma

infinidade de formas organizacionais (empresariais e não

empresariais) que respondam às suas necessidades, desenvolvendo o

espírito empreendedor. Por outro lado, favorece a reflexão sobre a

gestão dos interesses locais, questionando as estruturas existentes,

como o poder público, o mercado e as organizações comunitárias,

impulsionando o surgimento de uma estrutura diferenciada, mais

adequada às condições sócio-culturais e que permita a superação dos

atuais vícios institucionais que dificultam o exercício da

autodeterminação comunitária e a vivência da cidadania.

2) Fortalecimento Organizacional

Diz respeito a cada um e a todos ao mesmo tempo, portanto o

fortalecimento é individual e bem concreto e ao mesmo tempo “difuso”1

1 1 O termo “DIFUSO”, foi inicialmente utilizado por MAZZILLI, em seu livro

“A Defesa dos Interesses Difusos em juízo", voltado à área do Direito. Foi

também utilizado por PETER DRUCHER em seu livro "Administração de

Empresas sem fins lucrativos". Neste Guia, ao tratarmos do Fortalecimento

Organizacional como um “interesse difuso”, estamos considerando-o como um

interesse que transcende ao indivíduo ou a um coletivo, sendo de um e de todos

ao mesmo tempo.

e genérico. Assim, o avanço de cada um deve refletir-se no avanço,

fortalecimento e desenvolvimento de todos.

É muitas vezes de difícil visualização, por parte do Grupo de

Participantes como também pelos facilitadores, os avanços alcançados

pelos indivíduos e pelo Grupo.

Este objetivo guarda uma relação muito próxima com o primeiro,

no entanto vai além da superação dos comportamentos, buscando uma

resposta concreta dos indivíduos e do Grupo de Participantes quanto à

reestruturação das organizações presentes dentro do evento. Portanto

busca a superação, em alguma medida, dos atuais níveis de

organização, através da incorporação de novos elementos que venham

a provocar mudanças significativas em suas estruturas. No entanto,

não basta que cada organização individualmente se fortaleça; esse

fortalecimento deverá expressar-se na superação do estágio de

organização existente na “comunidade local”, ela vista como um

empreendimento coletivo a ser construído e gerenciado

participativamente.

Da interação entre os diversos subgrupos, mais fortalecidos, com

uma identidade própria, buscando expressar-se politicamente, seria

desejável que surgisse um embrião mínimo de organização conjunta

que pudesse amadurecer nas fases seguintes do processo de

desenvolvimento local. É através deste embrião que o Coletivo

Organizado irá exercitar sua autonomia e consolidar sua estrutura

organizativa, coordenando as próximas etapas do processo. Nas fases

seguintes a comunidade precisa, para superar seus níveis de

organização, assumir responsabilidades na coordenação do processo,

para que ela não se deixe “paternalizar” pelas instituições ou pela

equipe de apoio técnico, entrando num novo ciclo de dependência.

66 67

Page 35: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

3) Geração de Empresas

Este terceiro objetivo joga cada participante no desafio de

construir organizações empresariais de caráter individual ou

associativo, rurais ou urbanas. Compreende-se como empresa uma

organização que, através da mobilização de recursos, possibilita o

alcance de resultados econômicos. Estas organizações devem surgir a

partir da percepção das possibilidades e alternativas do

desenvolvimento econômico local e, a partir daí, cada participante ou

grupo construir sua própria alternativa, integrada a esta lógica comum.

Para o alcance deste objetivo é necessário que cada participante

busque compreender a dinâmica econômica do seu espaço, região,

setor, para que possa visualizar alternativas locais para geração de

trabalho e renda.

4) Geração de Empreendimentos

Um empreendimento é compreendido como uma idéia, de

caráter econômico ou não, que será empreendida por um indivíduo ou

uma organização. Os empreendimentos de caráter não econômico

podem surgir nos diversos campos da atividade humana, buscando

responder a questões locais como: ecologia, cultura, esporte, lazer,

etc. Nestes mesmos campos podem surgir empreendimentos de

caráter econômico, que venderão seus produtos ou serviços ao

mercado, configurando um negócio, a partir do qual se obtém lucro.

As formas associativas de caráter não econômico podem

redefinir seus objetivos e missão para participar do grande desafio de

construir um modelo de desenvolvimento sustentável a partir do

esforço coletivo de empreender. Desta forma são chamadas a

desenvolver novos negócios ou cumprir com o papel de fomentadoras

do processo de geração de empresas e empreendimentos individuais

e associativos. Para exemplificar, podemos imaginar um conselho

comunitário apoiando sua comunidade a encontrar alternativas de

negócios, promovendo a capacitação profissional, enfim, participando

diretamente do desenvolvimento econômico da localidade.

Através do terceiro e quarto objetivos a dimensão econômica é

colocada como carro-chefe do processo de desenvolvimento e busca

catalisar todas as energias, mobilizando e desenvolvendo a

capacidade empreendedora da comunidade.

Normas Gerais de Funcionamento do Evento

São normas que estruturam o evento, servindo como diretrizes

metodológicas, que devem ser seguidas e observadas por todos os

componentes do evento. Sem elas a capacitação pode ser prejudicada.

- Igualdade de condições entre os participantes;

- Qualquer relação entre participantes e facilitadores deve

expressar-se como relação de organização para

organização;

- Independência e autonomia do Grupo de Participantes e da

Equipe de Facilitadores;

- O Ambiente-Oficina deve funcionar em torno de 45 (quarenta

e cinco dias) ininterruptamente;

- Todos devem participar dos momentos temáticos em cada

sessão;

- Elaboração coletiva da memória do evento pelo Grupo de

Participantes.

68 69

Page 36: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Regras de Convivência

São regras que podem ser estabelecidas ou não, ficando como

regras implícitas. Podem ser visualizadas ou somente permanecerem

no compromisso de cada um. Estas regras podem ser discutidas por

iniciativa da EF, como também pode-se esperar pela iniciativa do

Grupo de Participantes. Não são necessariamente definidas na

primeira sessão, podendo evoluir durante todo o evento; portanto pode

haver a incorporação de novas regras e/ou a supressão a qualquer

momento.

Como exemplo de Regras de Convivência podemos citar:

- Não fumar dentro do recinto;

- Quando um fala o outro escuta, ou uma só pessoa fala de

cada vez;

- Sair do recinto somente no horário marcado;

- Outras, de acordo com cada grupo ou a dinâmica do evento,

podendo estar relacionadas com a forma de coordenação ou

de utilização do tempo disponível por parte do grupo de

participantes, etc.

6.5 - DINÂMICA PROCESSUAL DA VIVÊNCIA

6.5.1 - COMO SE PROCESSA A CAPACITAÇÃO

No Ambiente-Oficina todos estão envolvidos num processo

educativo, pois se possibilita o abandono de velhos e a descoberta e

introdução de novos conceitos, valores e condutas no seio da

comunidade, que se expressam em mudanças comportamentais. Estas

mudanças são resultantes de um processo de capacitação, pois

provocam mudanças no mundo do trabalho e da ação social.

Para que a capacitação se processe no Ambiente-Oficina, é

necessário que se identifique claramente o sujeito e o objeto do

processo, pois é da relação que se estabelece entre eles que a

capacitação vai se processando (JACINTA,1995).

Na capacitação é importante que o sujeito se pergunte: „o que

eu espero da capacitação? Ao responder a esta pergunta, o sujeito

encontra o objeto. Assim, o objeto tem que ser algo significativo, que

represente um valor, para que possa motivar ao sujeito a avançar na

compreensão e na utilização do objeto.

Para o Grupo de Participantes (sujeito), a Organização (objeto)

deve ser percebida como algo útil, importante, necessário para mudar

sua vida. Então é o sujeito da capacitação que a solicita, e cabe à EF

facilitar que a capacitação se processe da forma mais eficiente e

eficaz.

DIAGRAMA 7

FORMAS DE OLHAR E VERA RELAÇÃO ENTRE

GRUPO

ORGANIZAÇÃO(Coletivo Organizado para atingirObjetivos)

ORGANIZAÇÃOGerenciadora do Desenvolvimento Local

NÍVEL DESEJADO

EQUIPE

ORGANIZAÇÃO(Equipe de Facilitadores do Processo

de Capacitação)

ORGANIZAÇÃOPrestadora de Serviço

70 71

Page 37: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

A capacitação envolve a aprendizagem, através da troca e

produção de novos conhecimentos, pois só através dela a mudança se

torna possível.

A aprendizagem no processo de capacitação se processa em

três estágios complementares (Jofilsan, 1985):

- INTELECTUAL: este estágio envolve uma ação cognitiva,

racional, pois busca compreender o objeto, suas

possibilidades e limites e o significado dele para sua vida;

- ATITUDINAL: este estágio envolve a motivação, que só é

possível após a compreensão, pois transcende a dimensão

racional e encontra a dimensão do sentimento, de onde retira

a energia necessária para redefinir sua postura. É o momento

em que o sujeito acredita e a partir daí define uma nova atitude

frente ao objeto;

- COMPORTAMENTAL: com a energia motivadora de quem

compreende e acredita, o sujeito age, faz e o fazer se dá no

plano da prática. O estágio comportamental é o momento do

exercício, da ação, onde deverão se expressar as mudanças

comportamentais, de acordo com as novas crenças.

Essa “passagem” do atitudinal para o comportamental só é

possível se o sujeito estiver envolvido, comprometido

emocionalmente.

O PAPEL DOS RECURSOS NA CAPACITAÇÃO

Se a capacitação se dá no processo de manuseio do objeto pelo

sujeito, então a capacitação em organização se dá no momento em

que o Grupo de Participantes busca organizar-se, ao manusear os

elementos básicos de uma organização na construção de sua própria

organização para atingir os objetivos do evento. O Grupo avança na

medida em que consegue perceber e tomar consciência dos erros, e

acertos em sua relação com o objeto. Cabe à EF auxiliar o Sujeito

nesta leitura.

É neste momento que os recursos disponíveis cumprem um

papel importantíssimo: o de “forçar” a organização, criar a necessidade

da organização, pois ela possibilitará a utilização mais racional e justa

dos recursos disponíveis escassos para o conjunto dos participantes

com necessidades e desejos ilimitados. Nos primeiros momento do

evento os recursos cumprem um papel aglutinador, pois é em torno

deles que irão se organizar. Assim, é desejável que os recursos sejam

de uso coletivo, que não se possa repartí-los com facilidade.

A organização do Grupo de Participantes no Ambiente-Oficina

pode ser observada em dois níveis:

Primeiro Nível: a organização sobre os meios, isto é, para

utilizar os recursos disponíveis: o grupo exercita a importância da

organização para utilização racional dos recursos disponíveis, bem

como exercita os diversos elementos do processo de gestão

(planejamento dos recursos, organização na utilização,

coordenação/gerenciamento do processo e formas de controle). É

sobre esta prática que os diversos comportamentos se expressam e

assim podem ser coletivamente discutidos e aprimorados; e através da

qual vão se assimilando estas categorias teóricas. É observando esta

mesma prática que a EF irá apoiar o Grupo, permitindo a incorporação

gradativa de algumas categorias teóricas que o auxiliem na reflexão de

sua vivência. É importante notar que se a EF não responder à

necessidade imediata do Grupo, perde-se a oportunidade de fazê-lo

avançar para novos estágios de sua organização, estagnando o

processo. O aprendizado através da vivência, a assimilação de novas

72 73

Page 38: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

categorias teóricas, deverá se refletir nas demais organizações onde os

participantes estiverem inseridos.

Segundo Nível: a organização sobre os fins, isto é, para atingir

os objetivos: O grupo organizado em torno da utilização dos recursos

pode mais facilmente compreender sua organização numa dimensão

mais ampliada onde o “local passa a ser visto como um espaço de

recursos escassos”, que precisa ser pensado e gerenciado

participativamente. Novamente o exercício sobre os recursos pode ser

aproveitado para analisar e sistematizar experiências que apoiem uma

estrutura organizativa mais ampla que possibilite avançar para o

planejamento local. Assim, o Grupo deve ser apoiado no sentido de

perceber a complexidade das interrelações entre as redes que formam

a vida local. A percepção da interdependência dos atores locais

funciona como cimento no processo de organização.

6.5.2 - O PROCESSO DE EDUCAÇÃO

A educação é um processo formativo, onde se buscam

conhecimentos que auxiliam a compreensão e interpretação da

realidade.

No Ambiente-Oficina se vivência a mesma realidade na qual o

Grupo está inserido diariamente. O que se observa no Ambiente-

Oficina são elementos da realidade, com a qual o Grupo convive e

reproduz. O Ambiente-Oficina não são as sessões conjuntas, mas todo

o local, e é sobre ele que se está trabalhando, não havendo dicotomia,

pois não se está artificializando um momento da realidade. O que se

busca é intensificar, acelerar através de uma metodologia (e é para

isto que realmente serve uma metodologia) o processo de organização

da comunidade, incorporando novos valores e superando outros,

sempre em busca de alternativas para o desenvolvimento local.

CONJUNTO DEPARTICIPANTES

GRUPOPRIMÁRIO DE

PARTICIPANTES

GRUPOORGANIZADO DEPARTICIPANTES

COLETIVOORGANIZADO

PROCESSO DECAPACITAÇÃO(Relação entre osujei to e o objeto)

EF

AMBIENTE-OFICINADE CAPACITAÇÃO

PROCESSO DE EDUCAÇÃOAPOIO PEDAGÓGICO(Análise de vivência eexposições teóricas)

ANOMIA SINCRESE ANÁLISESÍNTESE

DIAGRAMA 8

74 75

Page 39: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

O processo de educação se evidencia quando a EF, através dos

momentos temáticos, instrumentaliza o Grupo com informações que o

apoiem na reflexão dos atuais valores e que de forma autônoma o

Grupo decida pela negação de determinados valores e a incorporação

de novos mais adequados à nova situação. A informação apresentada

é processada sendo incorporada à prática, para novamente ser

analisada e assim sucessivamente. É na “práxis” do Grupo que a

capacitação se processa, e no apoio pedagógico dos momentos

temáticos que se manifesta o processo de educação.

A PREPARAÇÃO DOS MOMENTOS TEMÁTICOS

Apoio Pedagógico

Cada indivíduo ou grupo (associação, cooperativa, comunidade

ou nação) tem seu processo de desenvolvimento marcado por ciclos de

avanço mais intenso e outros de maior lentidão. Quanto maior for o

número de informações novas introduzidas na realidade, mais intenso

será seu desenvolvimento. Se este aporte de novos elementos cessar,

a tendência é de o avanço ir diminuindo seu ritmo, visto que com

menos elementos, menores são as chances de exercitar a criatividade

e portanto de construir novos conhecimentos, novas alternativas para o

desenvolvimento. Sempre que forem introduzidos novos elementos que

possam ser processados, a tendência é de iniciar um novo ciclo de

avanço intensivo. Estes elementos, quando aportados de forma

intencional e sistematizada, são conceituados como “apoio

pedagógico”.

DIAGRAMA 9

LOCAL DA SESSÃO

CONJUNTAAPOIO PEDAGÓGICO

A

B

A

B

MOMENTO DE

APOIO

PEDAGÓGICO

= Estágio de Desenvolvimento Acelerado

= Estágio de Desenvolvimento LentoA

B

76 77

Page 40: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Esta é a lógica dos momentos temáticos no Ambiente-Oficina,

de serem momentos de apoio pedagógico, pois são informações e

reflexões colocadas à disposição do Grupo para que possa avançar na

compreensão do objeto. O apoio deve ser dado somente quando o

Grupo tiver esgotado suas possibilidades de avançar na utilização do

mesmo, podendo auxiliar o Grupo na reflexão de sua vivência,

despertando-o para elementos ainda não percebidos; ou apresentar

novas categorias teóricas que o ajudem a compreender seus

comportamentos no manuseio dos recursos, na utilização dos

elementos da gestão.

Se os valores existentes (comportamentos, práticas, conceitos)

na comunidade se tornam insuficientes para explicar a realidade e

transformá-la, o apoio pedagógico deve instrumentalizar a reflexão

sobre sua significação, possibilitando sua transformação ou negação,

abrindo espaço para construção de novos valores, mais adequados à

realidade em construção.

O apoio dentro do Ambiente-Oficina deve se dar de forma

assistemática e contingencial, isto é, os conteúdos a serem

repassados devem ser adequados às necessidades do Grupo, pois só

desta forma o apoio poderá ser sentido como algo importante e

significativo, facilitando a compreensão e apreensão da informação.

Consequentemente, a EF deve ter a paciência pedagógica de esperar

que a necessidade seja sentida pelo Grupo, levando somente a

informação solicitada.

Insumos para os Momentos Temáticos

Para preparar estes momentos a EF dispõe de, no mínimo, três fontes

de informação:

Pré-Diagnóstico: Por ser um documento que condensa

informações básicas sobre as diversas dimensões da realidade

local, deverá ser utilizado durante todo o processo como material

de consulta. Mesmo quando não pesquisado diretamente, estará

sendo utilizado, pois o processo de sua elaboração foi

possibilitando aos técnicos compreender de forma mais integral a

realidade do espaço local;

Registro das observações: São anotações de todos os

elementos observados dentro de uma sessão e do período que

antecede à sessão seguinte;

Informações do Grupo de Intermediação: São informações

recolhidas pela EF junto ao Grupo de Intermediação, que a

instrumentalizam na leitura do resultado alcançado pelo momento

temático e o conseqüente avanço do Grupo de Participantes.

Estas duas últimas fontes de informação são consolidadas num

único relatório: a Avaliação Crítica da Vivência, no qual a EF

sistematiza suas impressões quanto ao estágio de desenvolvimento do

Grupo de Participantes, buscando determinar os conteúdos temáticos a

serem abordados na sessão seguinte que possibilitarão um novo

avanço do Grupo.

A Apresentação dos Momentos Temáticos

Os momentos temáticos são conduzidos pelos facilitadores

normalmente no início de cada sessão conjunta, com conteúdos

apresentados de forma assistemática e contingencial com já foi

mencionado, pois quem determina o tema é o estágio em que se

encontra o Grupo de Participantes. Os conteúdos sempre devem

buscar apoiar o Grupo na reflexão sobre sua relação com o objeto, seu

78 79

Page 41: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

significado e os fenômenos/processos que o permeiam/compõem.

Neste processo é que o Grupo redefinirá quais valores são

significativos para a realidade que querem construir.

Os momentos temáticos devem sempre ser encerrados com a

palavra “ORGANIZEM-SE”, no incentivo a que os participantes, a partir

daquele momento, assumam automaticamente a condução do tempo e

façam dele para atingir os objetivos, respeitando as regras de

funcionamento do evento. A palavra “organizem-se” não deve ser

simplesmente citada, mas deve incitar o grupo, causando-lhe impacto

positivo, animando o grupo, criando um ambiente alegre e

descontraído; ao mesmo tempo, a responsabilidade de atingir os

objetivos autonomamente deve garantir a seriedade do trabalho.

7 - ORIENTAÇÕES PARA A PRÁTICA

Este item objetiva apoiar os usuários do Guia na condução do

Ambiente-Oficina, procurando principalmente complementar o item

anterior.

Buscamos sistematizar o conhecimento prático do Projeto Banco

do Nordeste/PNUD na condução da metodologia no que se refere aos

aspectos centrais e a momentos que se mostraram de difícil

compreensão ou de maior tensão por parte dos facilitadores. Por outro

lado, tomamos o cuidado de não nos excedermos na antecipação dos

acontecimentos, para que o Guia não virasse um manual. Ademais,

cada Ambiente-Oficina tem suas especificidades, que devem ser

vivenciadas pela Equipe de Facilitadores no seu processo de

capacitação.

A FORMAÇÃO DA EQUIPE DE APOIO TÉCNICO (EAT)

As Gestões Administrativas e Institucionais (GAI‟s), devem

garantir a interinstitucionalidade/setorialidade e a inter ou

multidisciplinaridade da Equipe.

A articulação com os parceiros deve buscar integrar a Equipe, os

técnicos que efetivamente possam contribuir com o processo de apoio

ao desenvolvimento local. Vale insistir no que parece óbvio, em função

da prática corrente das instituições de enxergar o processo como uma

oportunidade de reciclagem dos técnicos ou de ocupar um técnico

ocioso. Sem negar estas possibilidades, o parceiro deve ter claro que

através do trabalho está cumprindo sua missão e desempenhando seu

papel no âmbito local, do contrário, não tem sentido compor o grupo de

entidades parceiras (MOURÃO,1998).

80 81

Page 42: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Com esta compreensão, a Instituição deve dispor dos quadros

técnicos que possam representá-la dentro do trabalho, que conheça o

leque de programas e projetos e possa desenvolvê-los dentro do

processo de apoio. Isto traz implícita a necessidade de uma certa

delegação de responsabilidade para que o técnico possa ter maior

flexibilidade na adequação dos negócios da Instituição à dinâmica do

local e ao processo de apoio ao desenvolvimento.

Algumas características que devem definir o perfil do técnico

disponibilizado para compor a Equipe são:

- Comprometimento social;

- Capacidade de diálogo;

- Facilidade de comunicação.

Banco de Conhecimentos

Na prática, a formação de uma equipe interdisciplinar não é uma

tarefa fácil; no entanto, a realidade em sua complexidade exige um

olhar mais abrangente, colocando determinados desafios para a

Equipe, aos quais ela não tem como responder, mesmo dedicando

tempo de estudo. Daí a possibilidade de formação de um Banco de

Conhecimentos, que é um cadastro com nome e área de

conhecimento dos componentes da EAT, de técnicos que pertencem a

instituições parceiras ou voluntários que apoiam o processo de

desenvolvimento local, portanto de pessoas que têm compromisso

com o desenvolvimento local e que podem prestar seu apoio dentro de

uma necessidade e momento específicos.

PREPARAÇÃO DO AMBIENTE-OFICINA

Nas experiências desenvolvidas pelo Projeto Banco do

Nordeste/PNUD, a condução do Ambiente-Oficina se caracteriza por

um duplo processo de capacitação: um voltado para a comunidade

local; o outro para a equipe técnica.

Desta perspectiva, os TTI‟s são momentos de formação, de

instrumentalização da vivência, para que os técnicos possam

aproveitar melhor a capacitação proporcionada pelo exercício da

facilitação (capacitação para a facilitação de processos de

capacitação), bem como possam instrumentalizar a comunidade para

o seu processo de capacitação, que se dá na vivência da organização

(capacitação organizacional).

Limites e possibilidades quanto à capacitação da EAT

Convém “não colocar o carro à frente dos bois”, pois faz parte

do aprendizado na vivência o estabelecimento dos limites e

possibilidades da ação e capacitação do técnico dentro do evento;

porém vale reforçar algumas preocupações:

- Limites: a EAT deve maximizar o seu processo de capacitação

dentro do evento satisfazendo interesses da equipe ou de seus

membros, desde que não venha a prejudicar o processo de

capacitação da comunidade e o desenvolvimento local.

- Possibilidades: faço menção a duas questões: uma é que,

quanto mais intensa, menos preconceituosa e mais crítica for a

participação do técnico, maior será a capacitação individual e

coletiva; a outra é a importância da intersetorialidade e

interdisciplinaridade para a capacitação da EAT. Dentro da

experiência do Projeto, as equipes que mais avançaram

(quebrando paradigmas, revendo valores, mudando

comportamentos, o que possibilitou enxergar a realidade em sua

82 83

Page 43: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

multidimensionalidade e desenvolver atividades em grupo,

explorando as possibilidades da interdisciplinaridade) foram

aquelas onde estiveram presentes um maior número de

instituições com uma representação mais ou menos paritária.

TREINAMENTO TÉCNICO INTERINSTITUCIONAL - TTI

Insistimos aqui em aspectos relativos à apresentação e

discussão dos conteúdos para a primeira e segunda etapas do

treinamento.

Primeira Etapa

Os conteúdos devem:

- contextualizar a Equipe com relação às mudanças que estão se

processando no mundo;

- justificar a Proposta Metodológica de Apoio ao Desenvolvimento

Local dentro deste contexto;

- discutir a estratégia e a concepção da proposta;

- nivelar e construir conceitos com a Equipe, tais como:

Desenvolvimento Sustentável, Desenvolvimento Local, Gestão

Social, Capacitação, Desenvolvimento Empresarial,

Desenvolvimento Institucional, Papel do Técnico, Parceria, entre

outros;

- levar ao conhecimento dos técnicos a Metodologia GESPAR e em,

particular os métodos do Ambiente-Oficina de Capacitação

Organizacional ;

- apontar conteúdos sobre os quais a EAT deve ir aprofundando

seus conhecimentos e sistematizando informações, explorando

todos os ângulos das questões, pois estas poderão ser

necessárias na condução dos momentos temáticos dentro do

Ambiente-Oficina, tais como: Sociedade, Organizações,

Organização da Produção, Empresa, Perspectivas Atuais do

Mercado, Liderança, Comportamento e Resgate Histórico da

Formação Social, Capacitação, Cidadania, Mudanças e Novos

Valores, Associativismo, Redes, Desenvolvimento Sustentável,

Gestão Social, entre outros. Estes temas podem ser aprofundados

em grupos de estudo, momentos temáticos, seminários, etc.,

paralelamente às atividades que precedem ao Ambiente-Oficina.

Segunda Etapa

Os conteúdos devem:

- proporcionar uma compreensão aprofundada sobre a dinâmica de

funcionamento do Ambiente-Oficina;

- preparar os técnicos para as principais dificuldades que ocorrem

dentro do evento;

84 85

Page 44: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

- instrumentalizar os técnicos com jogos, dinâmicas de grupo e

técnicas e instrumentos de capacitação para conduzir os

momentos temáticos;

- preparar alguns temas que foram apontados pela análise do Pré-

Diagnóstico e poderão ser apresentados no evento e rever os que

foram estudados a partir da primeira etapa.

Além destes conteúdos, esta etapa do treinamento deve:

- preocupar-se em montar um plano de ação buscando garantir que

todas as pendências estejam resolvidas até o início do Ambiente-

Oficina;

- proporcionar aos técnicos uma visita de ambientação ao local

onde serão realizadas as sessões conjuntas;

- proporcionar um momento para a EAT estruturar-se para

acompanhar o Ambiente-Oficina.

A FORMAÇÃO DA EQUIPE DE FACILITADORES (EF)

Primeiramente, vale destacar que todos os membros da EAT

podem compor a EF. No caso de ser composta por mais de 10 (dez)

ou 15 (quinze) técnicos, convém definir a equipe de facilitadores que

acompanhará ininterruptamente o evento. Nesta situação os demais

técnicos dão continuidade às atividades preparatórias da fase

seguinte, bem como dão suporte ao evento como membros do Banco

de Conhecimentos.

No Ambiente-Oficina, estes técnicos podem auxiliar na

preparação e condução dos momentos temáticos ou participar das

reuniões com a comunidade, principalmente daquelas que tiverem

maior conhecimento.

Definição da EF

Ao definir a EF, vale atentar para alguns elementos, que podem

também ser vistos como integrantes do perfil do técnico participante da

EF:

A equipe que estiver à frente, facilitando e animando o evento,

precisa dominar a proposta de desenvolvimento local na sua

íntegra, pois a condução se dá no sentido de preparar a fase

seguinte. O Ambiente-Oficina, na concepção aqui apresentada, só

tem sentido se concebido dentro de um processo mais amplo;

Neste momento é mais importante priorizar a interdisciplinaridade à

interinstitucionalidade;

O processo tem em vista a capacitação também dos técnicos; estes

não podem permanecer numa posição egoísta, buscando o seu

desenvolvimento acima e à frente do desenvolvimento da

comunidade, daí um certo desprendimento por parte dos

86 87

Page 45: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

facilitadores, evitando o estrelismo, mantendo o foco e o

protagonismo da comunidade.

A Organização da EF

Antes de mergulhar nas atividades de preparação do evento é

importante que a Equipe tenha tempo para estruturar sua organização.

Convém alertar-se para manter uma estrutura flexível, isto é, que

possa modificar-se de acordo com a realidade. Modelos

organizacionais desse tipo exigem um processo de avaliação

constante, capaz de detectar as diversas variáveis que possam

implicar no redimensionamento da organização.

Pensar uma organização exige clareza sobre os resultados

esperados com o trabalho da Equipe; sobre a estratégia de

intervenção (no caso o apoio ao processo de desenvolvimento local); e

sobre as funções e atividades da Equipe.

Para apoiar esta reflexão, apontamos algumas elementos, a

partir dos quais a Equipe deve aprofundar:

- Algumas funções

Planejamento geral do evento;

Consecução dos recursos iniciais;

Articulação interinstitucional;

Facilitação da capacitação e animação do processo.

- Algumas Atividades

Análise crítica dos conteúdos teóricos;

Análise do processo organizativo vivido pelo grupo de participantes;

Recolher as informações do que está acontecendo na vivência;

Sistematização dos momentos teóricos;

Escolher e preparar os temas de exposição;

Estudo e avaliação permanente da metodologia;

Auto-avaliação da Equipe.

A EF deve organizar-se de acordo com as necessidades que

forem surgindo; isto impõe um constante processo de avaliação.

Quando as funções e atividades estiverem definidas, a Equipe deve

estruturar-se para que a ação seja organizada. A título de ilustração,

apontaremos a seguir algumas funções que aparecem no decorrer do

evento:

- Estrutura Organizacional

COORDENAÇÃO GERAL: com a preocupação de integrar todas

as dimensões e partes do evento;

INFRA-ESTRUTURA: com a preocupação de garantir,

acompanhar e controlar todas as necessidades de logística;

TEMÁTICA: com a responsabilidade de estar na vanguarda na

preparação dos momentos temáticos e acompanhando a eficiência

da ajuda pedagógica, funcionando como uma coordenação

pedagógica do evento;

88 89

Page 46: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

INTERLOCUÇÃO: tem a responsabilidade de representar a EF na

relação com o Grupo de Participantes, para que os membros da

Equipe não sejam procurados individualmente e respondam

desorganizadamente às demandas que surgem também

individualizadas e desorganizadas por parte do Grupo;

GRUPO DE OBSERVAÇÃO: que tem a função de registrar todas

as impressões sobre a vivência do Grupo dentro das sessões e

fora delas, bem como manter contato com o Grupo de

Intermediação, buscando uma leitura aprofundada do

desenvolvimento da organização, buscando detectar em que

estágio se encontra o Grupo. O registro das observações é o

subsídio indispensável para a estruturação dos momentos

temáticos.

Cada EAT deve organizar-se da forma que melhor lhe convier,

mantendo o foco na capacitação da comunidade. Na perspectiva da

capacitação da Equipe, o momento de subdividir-se entre EAT e EF,

bem como dentro desta última distribuir funções, pode tornar-se muito

rico para exercitar a divisão de tarefas, delegação de

responsabilidades, coordenação/direção/gerenciamento e formas de

controle, isto é, a gestão de uma “organização prestadora de serviços”,

que em última instância é o que caracteriza a EAT.

Estas ilustrações apresentadas não devem engessar a organização,

tirando a liberdade de criação de estruturas organizacionais mais

adequadas ao perfil da Equipe e à realidade a ser trabalhada. Apenas

estamos colocando à disposição alguns elementos de avaliação que

podem contribuir para tornar mais rica a construção de novas

alternativas.

PRÉ-DIAGNÓSTICO

Algumas observações sobre este tema:

O Pré-Diagnóstico vem se firmando como um instrumento

indispensável dentro da metodologia, sendo cada vez mais

aprimorado a nível de conteúdo e forma de apresentação.

Nas experiências desenvolvidas pelo Projeto Banco do

Nordeste/PNUD, o Pré-Diagnóstico foi elaborado pela Equipe de

Apoio Técnico após o TTI, exceção feita ao de Patos/PB. Vale

observar que neste os estudos foram apontando para a

necessidade de se trabalhar com uma microrregião e a ação

passou a envolver dez municípios. Em Chapecó-SC, o Pré-

Diagnóstico está auxiliando na regionalização do espaço urbano,

definindo o número de Ambientes-Oficina a serem conduzidos.

90 91

Page 47: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Destas experiências resgata-se a importância do Pré-Diagnóstico

para definir ou redefinir a área de atuação.

O Pré-Diagnóstico pode ser complementado a qualquer momento

ou fase do processo, pois o contato direto com a comunidade

possibilita o levantamento de um conjunto de informações só

visualizadas diretamente em campo. Na Fase AMB o Pré-

Diagnóstico auxilia nos Diagnósticos Participativos das

organizações associativas e das instituições, ao passo que estes o

complementam, tornando-o um documento mais completo e

acabado;

Os estudos devem ajudar à Equipe de Apoio Técnico a definir ou

redefinir a estratégia para a sensibilização e divulgação. Com

estas observações fica claro que o Pré Diagnóstico, a

Sensibilização e a Divulgação podem ser realizados de forma

concomitante e complementar.

Não vemos a necessidade de apresentar neste Guia um roteiro

para o Pré Diagnóstico, pois a EAT deve explorar as experiências

e conhecimentos do grupo. Em todo caso o conteúdo deve ser

discutido de forma exaustiva pela Equipe, sempre orientando-se

pelo uso que será feito do instrumento nos diferentes momentos

do trabalho.

Alguns dos usos que podem ser visualizados para o Pré-Diagnóstico

são:

- Ajudar a definir o alvo sócio-territorial onde serão desenvolvidas as

ações de Apoio ao Desenvolvimento Local;

- Auxiliar na montagem da estratégia de sensibilização, mobilização

e divulgação;

- Proporcionar à EAT uma compreensão ampla da realidade local;

- Servir de subsídio para definir os conteúdos temáticos;

- Apoiar a comunidade a compreender melhor sua própria realidade,

podendo a partir dele definir suas potencialidades/

estrangulamentos internos e as oportunidades/ameaças que

cercam o espaço local.

- Orientar a comunidade a desenvolver idéias de empresas e

empreendimentos e rever seus valores frente aos novos desafios

da realidade.

SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE

Um processo de sensibilização e mobilização deve tornar a

comunidade sensível, isto é, capaz de sentir, ficar predisposta a

analisar/refletir a proposta que lhe será apresentada.

Este processo normalmente exige que a comunidade faça uma

rápida reflexão sobre a sua realidade e possa fazer a relação de como

92 93

Page 48: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

o desenvolvimento local pode ajudar a modificá-la. A mobilização

ocorre quando a comunidade se convence de que é possível.

Este processo deve levar em conta duas preocupações: uma, a

sensibilização em torno da Proposta de Desenvolvimento Local como

um todo; a outra, de mobilizar a comunidade para que participe do

Ambiente-Oficina.

Para este processo é necessário que a Equipe Técnica defina

uma estratégia de abordagem.

Estratégia de Abordagem

Podemos enxergar a questão no nível macro e micro:

O nível macro busca definir a abordagem da comunidade, do

bairro ou do município. Por exemplo: no processo de sensibilização e

mobilização das comunidades, das organizações e instituições do

município, por onde se deve iniciar, quais instituições ou atores é

estratégico que sejam trabalhados inicialmente, etc. Cada realidade

tem elementos próprios, determinando as características da estratégia

a ser adotada.

O nível micro busca definir a forma como um determinado

conteúdo será abordado em uma comunidade ou instituição. Quem

define é a EAT, observando diversos aspectos da realidade da

comunidade. Deve-se ter em conta os principais problemas que ela

vive, sua história de lutas, conquistas e frustrações, como se relaciona

com as instituições, como agem suas lideranças, enfim, buscar cercar-

se de todos os elementos que possam ajudar a definir por onde iniciar

o processo de discussão.

A questão está em definir quais são os elementos principais da

realidade que devem ser levados em consideração para a montagem

da estratégia de abordagem.

A quem devemos mobilizar

Simplesmente a todos, sendo que preferencialmente aos setores

excluídos.

A DIVULGAÇÃO

- Deve atingir a todos, para que todos saibam o que está

acontecendo e possam participar;

- Deve ser uma preocupação, não só antes do Ambiente-Oficina,

mas durante e também nas fases seguintes;

- Pode se utilizar de todos os veículos de comunicação como: TV,

rádio, jornais, como também formas mais direcionadas: boletins,

panfletos, cartilhas, cartazes, peças de teatro, disquetes, reuniões

e visitas;

- Precisa estar em sintonia com os elementos considerados na

definição da estratégia de abordagem.

OS RECURSOS

- Como reuní-los:

É uma tarefa da EAT, sendo que cada uma, de acordo com a

realidade local, deve definir uma estratégia. Nas experiências

desenvolvidas até o momento, os recursos têm duas origens: uma, das

próprias instituições parceiras, sendo o mais comum, pois neste

momento as EAT, por estarem iniciando o processo, optam pela forma

94 95

Page 49: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

mais rápida e fácil; a outra é buscar a contribuição no comércio local e

no setor industrial, inclusive como estratégia de integração destes

atores, no entanto, mesmo sendo a mais adequada, ainda segue sendo

a menos utilizada.

- Como usá-los

Os recursos devem estar no local desde a abertura do evento,

no entanto serão disponibilizados somente quando os participantes

solicitarem de forma organizada, isto é, quando se perceber que

poderão distribuí-los de acordo com a necessidade, tendo um plano de

utilização para os mesmos e, quem sabe, até uma forma de controlá-

los.

É importante notar que o Grupo de Participantes cometerá erros

no gerenciamento destes recursos, sendo isto até desejável, pois os

facilitadores ajudarão ao Grupo a analisar a sua vivência apoiando-o na

superação dos próprios erros.

É desejável que não se misturem os recursos que são utilizados

pelos Facilitadores com os que ficam à disposição do Grupo de

Participantes. Isto se justifica pois se eles têm um papel pedagógico,

através do qual os participantes devem exercitar os elementos da

gestão isto não será possível se duas organizações autônomas utilizam

uma mesma fonte.

Os recursos físicos devem estar listados, para no momento

adequado serem entregues ao Grupo de Participantes.

Quanto aos recursos humanos, também devem estar listados,

podendo ser apresentados de diferentes formas, como por exemplo:

- Nome do técnico e um minicurriculum para que os participantes

possam, na medida das necessidades, solicitar o apoio. Esta

forma de apresentação pode sobrecarregar um determinado

membro da Equipe, porém força o Grupo a se organizar para

poder ter acesso a um recurso escasso. No entanto, tira um pouco

a autonomia da EAT;

- Uma outra forma de apresentação é montar uma listagem com os

nomes e outra com as especialidades, sem uma correspondência

direta. Isto garante à EAT uma maior autonomia na forma de

organizar a ajuda aos participantes.

DESENVOLVIMENTO DO AMBIENTE-OFICINA

A abertura do evento: a primeira sessão

Quando a comunidade estiver presente no local, um

representante da EF inicia a sessão onde devem ser trabalhadas

algumas questões:

- Contextualização do Ambiente-Oficina dentro da Proposta de

Apoio ao Desenvolvimento Local

- Dinâmica de funcionamento do evento e os acordos e

compromissos:

O que é o Ambiente-Oficina

Para que serve;

Como funciona - O Grupo de Participantes – A Equipe de

Facilitadores– A relação entre eles(vide Diagrama 8) - Os

Acordos e Compromissos ( Os Objetivos e as Normas de

Funcionamento do Evento);

Apresentar os recursos físicos e humanos;

96 97

Page 50: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Solicitar que o Grupo discuta e defina quantas horas por dia e

quais horas do dia pretende reunir-se nas sessões conjuntas.

Vale lembrar que as normas propõem em torno de 45 dias,

mas não definem o número de horas das sessões; para se

obter resultados satisfatórios, consideramos necessário a

programação de , no mínimo 100 (cem) horas em sessões

conjuntas.

Algumas Observações Gerais

- A discussão destes elementos com o grupo de participantes pode

ser feita através de algum material de apoio que visualize os

conteúdos;

- É importante que a apresentação do funcionamento e dos acordos

e compromissos seja repetida nos primeiros dias;

- Quanto às normas de funcionamento do evento vale destacar que

a memória do evento a ser construída coletivamente pelo Grupo

de Participantes deve conter: relação dos participantes, da equipe

de facilitadores, localização do evento (histórica e geográfica),

cópia de tudo o que foi produzido pela EF, como: relatórios, pré-

diagnóstico, boletins, cartilhas, convites, materiais produzidos na

condução dos momentos temáticos; e tudo o que foi produzido

pelo coletivo organizado, como: jornais, boletins, etc., os planos de

trabalho, relatórios de avaliação, cópia das idéias de empresas e

empreendimentos gerados, etc;

- Na apresentação dos recursos humanos cada membro da EF se

apresenta e se coloca à disposição enquanto recurso disponível;

- Deve-se reforçar que a condução do evento deve ser deles, dos

participantes, sendo de responsabilidade deles inclusive o

acompanhamento da freqüência, distribuição de crachás, pastas,

canetas, blocos, enfim, todo o recurso disponível. Quando o grupo

estiver minimamente organizado deve ser repassado a ele uma

cópia de tudo o que a EAT produziu para compor a memória;

- Encerrar a intervenção com a palavra “ORGANIZEM-SE”,

buscando causar um impacto, para que esta marque o momento

de independência frente à EF. Nas experiências até o momento

realizadas, cada EF criou uma forma diferenciada de marcar este

momento;

- A primeira sessão deixa a EF muito ansiosa, pois ao ver a anomia

que se instala após o “ORGANIZEM-SE” (subgrupos se reunindo,

pessoas falando ao microfone sem serem ouvidas, pessoas saindo

e outras tentando barrar a saída), sentem uma enorme

necessidade de intervir, de “apoiar” o Grupo, propondo-lhes uma

alternativa de como se organizarem, de recolocar a discussão de

funcionamento do evento, pois imaginam que ninguém tenha

entendido nada. Coloco isto como exemplo do que pode acontecer

e para alertar sobre a necessidade de manter a tranqüilidade,

deixando o Grupo avançar em sua própria dinâmica.

- As mudanças são por natureza traumáticas, portanto se a

condução do evento está muito tranqüila, sem grandes problemas

(pouca anomia), sem causar ansiedade na Equipe de

Facilitadores, isto pode ser um indicativo de que não está havendo

apoio e sim intervenção, com postura muito diretiva por parte dos

facilitadores;

98 99

Page 51: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

- Para que a anomia seja suportável convém que a EF prepare bem

as primeiras sessões, visualizando as informações e clareando a

forma de utilização do tempo dentro das sessões, fazendo com

que os participantes reflitam constantemente sobre os objetivos.

Acompanhamento das Sessões Conjuntas

Para que se visualize melhor as sessões conjuntas, podemos dividí-las

em dois momentos:

A - Momentos Temáticos

São conduzidos pela EF no início de cada sessão conjunta.

O conteúdo temático é definido de forma assistemática e

contingencial. Os conteúdos a serem trabalhados não obedecem a

uma ordem, pois é a dinâmica estabelecida pelos participantes no

processo de capacitação que evidencia qual (is) conteúdo (s) será (ão)

trabalhado (s) no apoio ao desenvolvimento organizacional do Grupo.

- PREPARAÇÃO:

A EF prepara os momentos temáticos em reuniões, buscando

reunir o maior número de informações possível, que são consolidadas

num único relatório: a Avaliação Crítica do Processo, no qual

sistematizam suas impressões quanto ao estágio de desenvolvimento

do Grupo de Participantes, buscando determinar os conteúdos

temáticos a serem abordados na sessão seguinte, que possibilitarão

um novo avanço do Grupo.

É importante atentar na escolha dos temas para o fato de nós,

técnicos, estruturarmos os conteúdos dentro de uma sistemática e

lógica acadêmicas, que nem sempre são as da comunidade. A escolha

dos conteúdos deve privilegiar, nas primeiras sessões conjuntas,

temas que tratem das questões concretas pelas quais os presentes

forem levados a participar do evento. Trabalhar conteúdos muito

carregados no início pode desmotivar os participantes; assim, algumas

categorias teóricas devem ser trabalhadas quando o grupo estiver

mais motivado dentro do evento e buscando a partir destas questões

concretas fazer a relação com os demais conteúdos.

Os insumos básicos para preparar os momentos temáticos são:

100 101

A B

DIAGRAMA 10

A - Momentos Temáticos B - Auto-organização

Page 52: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

Pré-Diagnóstico: por ser um documento que condensa

informações básicas sobre as diversas dimensões da realidade

local, deverá ser utilizado durante todo o processo como material

de consulta. Mesmo quando não pesquisado diretamente, estará

sendo utilizado, pois o processo de sua elaboração foi

possibilitando aos técnicos compreender de forma mais integral a

realidade do município;

Registro das observações: são anotações de todos os

observadores sobre os acontecimentos dentro de uma sessão e de

tudo o que acontece nas comunidades entre as sessões;

Informação do Grupo de Intermediação: São informações

recolhidas pela EF junto ao Grupo de Intermediação que os

instrumentaliza na leitura dos resultados alcançados pelos

momentos temáticos e, consequentemente, do avanço do Grupo de

Participantes.

- Fases do Processo Vivencial:

Para apoiar os técnicos na leitura da fase em que se encontra o

Grupo e assim facilitar a avaliação crítica do processo,

apresentamos a seguir uma descrição sucinta a partir das experiências

conduzidas pelo Projeto. Alertamos para o fato de que em realidades

diferentes as características determinantes de cada fase podem

também variar. Outra observação é que não há uma fase em seu

estado absoluto, mas uma gradualidade na passagem de uma fase

para outra.

Características que poderão ser observadas em cada fase do

processo vivencial:

ANOMIA

diversidade de expectativas ao redor da situação gerada no

Ambiente-Oficina;

incompreensão da dinâmica do Ambiente-Oficina;

os objetivos e as regras do jogo não são observadas;

desorientação sobre a participação organizada;

formação de grupos e subgrupos;

a estrutura organizativa não corresponde às necessidades;

má utilização dos recursos humanos, físicos e financeiros;

inexistência de planos de trabalho;

ausência de mecanismos de controle;

medo de usar a liberdade ;

ainda não se manejam categorias teóricas para analisar situações.

SÍNCRESE

se trabalham algumas categorias teóricas;

compreensão parcial da dinâmica do Ambiente-Oficina e do

significado da organização;

persistência de subgrupos;

sentimento /necessidade de construir a unidade;

surge a análise inicial da situação;

levantamento do problema;

dificuldade de priorização;

se utilizam planos de trabalho inadequados;

estrutura organizativa inadequada;

102 103

Page 53: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

mecanismos de controle verticais;

utilização incipiente da crítica.

ANÁLISE

maior utilização da crítica;

atitude de análise ante os problemas;

estrutura organizativa mais definida;

maior racionalidade na utilização dos recursos;

planos de trabalho adequados;

percepção da razão da unidade, da organização.

SÍNTESE

integração da teoria à prática da organização;

máxima participação organizada do grupo;

utilização dos elementos básicos da gestão (planejamento,

organização, gerenciamento/direção/coordenação e controle);

reuniões onde se analisa o aprendizado do Grupo;

exercitam-se alguns princípios da organização como participação,

democracia;

os participantes entregam a memória, o diagnóstico e os planos de

ação e desenvolvimento, e o conjunto de idéias de empresas e

empreendimentos gerados dentro do Ambiente-Oficina;

os participantes organizam de forma espontânea o encerramento do

Ambiente- Oficina e uma programação das atividades futuras, que

visam manter a unidade alcançada dentro do evento.

- Forma de Condução:

A forma como os momentos temáticos são apresentados ao Grupo

vai depender da capacidade criativa da EF, que pode e deve se

utilizar de todos os recursos de comunicação que possam facilitar o

entendimento da mensagem. Assim, são utilizados vídeos,

transparências, cartazes, tarjetas, murais, cadernos, folhetos,

cartilhas, bem como jogos e dinâmicas de grupo.

Os momentos temáticos precisam ser muito bem preparados, por

dois motivos principais: primeiro por que se os conteúdos não

forem adequados ao momento do Grupo, o aprendizado será

insignificante, resultando num desenvolvimento mais lento do

Grupo. Este mesmo resultado poderá ser observado se os

conteúdos não forem apresentados de uma maneira compreensível

para todos os participantes, isto é, não basta que o conteúdo esteja

adequado, é necessário que seja repassado de forma adequada; o

segundo motivo é que o Grupo necessita de mais estímulo além do

gerado pela importância do tema, pois no início o Grupo comparece

às sessões porque são conduzidas por técnicos, porque pode sair

algum recurso financeiro e também comparece para ver e ouvir os

momentos temáticos, se eles forem agradáveis. É neste momento

que os jogos e as dinâmicas assumem um papel relevante dentro

do evento, possibilitando nas primeiras sessões uma espécie de

“show”, que deverá dar continuidade à mobilização da comunidade.

Em um momento temático podem ser abordados diferentes

conteúdos, desde que mantenham uma relação entre eles. O ponto

de interseção entre os conteúdos deve ser a vivência do Grupo. Se

104 105

Page 54: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

os conteúdos trabalharem aspectos vivenciados não haverá

desconexão, pois estarão abordando diferentes aspectos de uma

mesma realidade;

A EF deve ocupar no máximo 20% (vinte por cento) do tempo de

cada sessão.

Outras preocupações quanto à condução: decodificação de termos

novos, trabalhar com exemplos concretos e contextualizados na

realidade local, utilizar analogias, situações parecidas,

comportamentos semelhantes.

- Conteúdos:

Dentro das experiências até o momento desenvolvidas, os

conteúdos trabalhados estiveram ligados a comportamentos, liderança,

empresas, empreendimentos, organização, mercado, potencialidades,

oportunidades, empreendimento local, gestão participativa e social,

capacitação, cidadania, cooperativismo/ associativismo,

desenvolvimento sustentável, conjuntura, etc. As avaliações têm

apontado como uma fragilidade a discussão do tema “organização”.

Nas experiências desenvolvidas o conteúdo foi trabalhado sobre as

diferentes formas de organização existentes na sociedade. No entanto

o tema deve apoiar o Grupo na compreensão do funcionamento da

sociedade, como se estabelecem e quais os determinantes das

relações sociais. É a partir do entendimento da dinâmica social que o

Grupo pode repensar as relações que se estabelecem a nível local e a

estrutura organizacional.

B- Auto-Organização

É o momento da sessão após o “ORGANIZEM-SE”, em que a

EF encerra o momento temático, deixando o grupo de participantes

coordenar o seu próprio tempo.

A EF deve aguçar os sentidos para perceber os detalhes dos

acontecimentos, fazer a leitura das entrelinhas dos fatos, buscando

compreendê-los e não só registrá-los. Esta tarefa é realizada pelo

Grupo de Observação.

Neste momento da sessão é comum a EF ser constantemente

procurada por membros do Grupo de Participantes para sanar dúvidas

quanto ao funcionamento do evento, para solicitar material (recursos

de consumo), bem como pedir permissão para reunir-se em grupo,

para sair mais cedo do evento, para utilizar o microfone, etc.

Também é um momento em que a EF fica muito angustiada,

tensa, principalmente nos primeiras sessões em que o grau de anomia

106 107

Page 55: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

é bastante grande, e por vezes leva os técnicos a assumirem uma

postura diretiva, ferindo as normas gerais de funcionamento do evento.

Neste momento surgem diversos questionamentos, entre eles: a

EF está interferindo na autonomia dos participantes, está se

relacionando de forma organizada com o Grupo ?

A facilitação do Ambiente-Oficina exige muito mais do que a

condução dos momentos temáticos, pois durante todo o período em

que dura o evento (em torno de 45 dias), a EF estará se relacionando

diuturnamente com o Grupo de Participantes e, dependendo de como

estas relações se estabelecerem, o processo de aprendizagem será

mais ou menos intenso.

Conforme mostra o Diagrama 7, deve-se avançar para uma

relação entre organizações, privilegiando a dialogicidade e não-

diretividade, possibilitando ao Grupo de Participantes a vivência

gradual da liberdade de expressão e da autodeterminação.

A diretividade manteria o Grupo de Participantes sob a tutela da

EF, transferindo a ela a dependência que tinham da liderança do

presidente da associação, do sindicato, da cooperativa e do vereador,

prefeito ou deputado.

Os técnicos, para que se mantenham no papel de facilitadores,

precisam privilegiar a instrumentalização à indução, o apoio/ajuda à

intervenção. Saber quando se está “ultrapassando os limites” não é

uma tarefa muito fácil, tampouco possível de ser descrita, se

configurando numa dessas discussões intermináveis. Mesmo que

recorrêssemos à ajuda do “Aurélio”, para buscarmos os conceitos que

encerram cada termo, existem diferentes interpretações e conotações

ideológicas que se construíram historicamente, e isto tomaria

demasiado tempo, em prejuízo do andamento do processo e até do

bom senso. Aliás, é exatamente o bom senso, que aliado à busca da

superação do paternalismo, do assistencialismo, do clientelismo e da

relação de dependência, poderá levar a EF a uma relação mais

capacitadora dentro do evento. O BOM SENSO não é natural, é

resultado de uma construção coletiva da Equipe; portanto deve-

se criar mecanismos capazes do construí-lo no processo.

108 109

Page 56: PROJETO BANCO DO NORDESTE/PNUD§ão...Nordeste /PNUD de transferir a Metodologia de Apoio ao Desenvolvimento Local. A finalidade é a multiplicação das ações, capacitando em serviço

BIBLIOGRAFIA

CHESNAIS, F. - A Globalização e o Curso do Capitalismo de Fim

do Século. Economia e Sociedade, Campinas, Dez. 1995,

N5,V30.

CORREIA, J.C.B. - Comunicação e Capacitação, Ed. IATTERMUND,

1995. Brasília-DF, 127p.

DEHEINZELIN, M. - Construtivismo, A Poética das

Transformações, Ed. Ática, 1996, São Paulo, 142p.

JOFILSAN, P. T. – Capacitando para o Desenvolvimento

Empresarial, Projeto Banco do Nordeste/PNUD, Série Cadernos

Temáticos Nº 2, Recife, 1998.

JORDÁN, A. – O que é a Metodologia GESPAR ?, Projeto Banco do

Nordeste/PNUD, Série Cadernos Metodológicos Nº 1, Recife,

1995.

JORDÁN, A. e WILLIAMSON, G. – Elementos da Cultura,

Contextualização da Aprendizagem, A Equipe Local, Projeto

Banco do Nordeste/PNUD, Série Cadernos Temáticos Nº 1,

Recife, 1997.

JORDÁN, A. e ZAPATA, T. – Um Programa de Capacitação e

Transferência de Metodologia para o Desenvolvimento

Econômico Local, Projeto Banco do Nordeste/PNUD, Série

Cadernos Técnicos Nº 2, Recife, 1997.

KOHL DE OLIVEIRA, M. Vygotsky- Aprendizado e Desenvolvimento:

um Processo Sócio-Histórico, Ed. Scipione. 3ª ed. 1995, São

Paulo, 111p.

OLIVEIRA, G.A.- Crise Federativa, Guerra Fiscal e Hobbesianismo

Municipal: Efeitos Perversos da Descentralização, Ed.

Bargaço, 1997, Recife-PE

OLIVEIRA, G.A. Marcos - Política e Contemporaneidade no Brasil,

Ed. Bargaço 1997, Recife

SANTOS DE MORAIS, C. - Elementos sobre a Teoria da

Organização no Campo. Caderno de Formação nº 11, 2ª ed.

São Paulo, 58p. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

SILVEIRA, C.M.; Mello, R.; Gomes, R. - Metodologias de

Capacitação. FASE, 1997, 39-66P.

UNIVERSIDADE DE IJUÍ - Contexto e Educação, Pró-Reitoria de

Pesquisa e Extensão. Nº 7, Jul./Set. 1987. Ijuí, 18p.

WILLIAMSON, G. – Guia para Capacitadores em Apoio à

Organização de Pequenos Produtores Rurais, Programa

Nacional de Capacitação Técnica INCRA/PNUD, 1992.

ZAPATA, T. – Capacitação, Associativismo e Desenvolvimento

Local, Projeto Banco do Nordeste/PNUD, Série Cadernos

Técnicos Nº1, Recife, 1997.

110 111