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  • 7/24/2019 Programas de interveno

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    III Srie - n. 11 - Dez. 2013

    Abstract Resumen

    pp.77-84

    Resumo

    Revista de Enfermagem Referncia

    A R T I G O D E I N V E S T I G A O

    Resilincia e ajustamento maternidade no ps-parto

    Resilience and maternal adjustment in the postpartum periodResiliencia y adaptacin a la maternidad en el posparto

    Marta Cristiana Malheiro Alegria Felgueiras*Lus Carlos Carvalho da Graa**

    Mes resilientes possuem exibilidade e fora interior necessrias para recuperarem face s adversidades.A transio para a maternidade envolve um conjunto de tarefas que requerem a reestruturao de responsabilidades ecomportamentos.Os enfermeiros especialistas em sade materna e obstetrcia devem reconhecer a importncia das suas intervenes nestatransio e adequar a sua prtica, de forma a promoverem a vivncia de uma parentalidade saudvel.Foi objetivo do estudo avaliar a relao entre a resilincia e o ajustamento maternidade. A amostra, no probabilstica, foiconstituda por 106 mes, com colheita de dados aos 3 meses aps o parto, atravs da Resilience Scale (RS) e da Maternal

    Adjustment and Maternal Attitudes(MAMA).Observou-se boa consistncia interna nos dois instrumentos (0,86 e 0,92).Imagem Corporal e Sintomas Somticos foram as subescalas da MAMA que obtiveram apreciao mais negativa, enquantoRelao Conjugal e Atitudes Perante a Gravidez e o Beb apreciao mais positiva.

    A Resilincia apresentouscoresmais elevados na Autoconana e menos elevados na Autossucincia.Os resultados indicaram uma associao negativa entre o ajustamento maternidade e as atitudes maternas e a resilincia.Em concluso: no ps-parto as mulheres com maior resilincia apresentam melhor ajustamento maternidade e atitudes maispositivas.

    Palavras-chave:adaptao psicolgica; resilincia psicolgica; puerprio; enfermagem materno-infantil.

    Las madres resilientes tienen la exibilidad y fuerza interiornecesaria para recuperarse cuando las cosas no van bien.La transicin a la maternidad implica un conjunto de tareas querequieren que las responsabilidades y los comportamientos sereestructuren.Los enfermeros especialistas en salud materna y obstetricia debenreconocer la importancia de sus intervenciones en este proceso yajustar su prctica para promover una maternidad sana.El objetivo de este estudio fue evaluar la relacin entre la resiliencia

    y la capacidad de adaptacin a la maternidad. La muestra, noprobabilstica, const de 106 madres y la recogida de datos serealiz a los 3 meses, mediante la aplicacin de la Resilience Scale(RS) y de laMaternal AdjustmentandMaternalAttitudes(MAMA).Se observ una buena consistencia interna en los dos instru-

    mentos (0,86 y 0,92).La Imagen Corporal y los Sntomas Somticos fueron lassubescalas de la MAMA que obtuvieron una apreciacin msnegativa, mientras que la Relacin de Pareja y Actitudes Hacia elEmbarazo y el Beb obtuvieron una apreciacin ms positiva.La Resiliencia mostr unosscoresms elevados en Autoconanza

    y menos en Autosuciencia.Los resultados indicaron una asociacin negativa entre adaptacina la maternidad y actitudes maternas y resiliencia.En conclusin: en el perodo de posparto, las mujeres con mayorresiliencia tienen una mejor adaptacin a la maternidad y unasactitudes ms positivas.

    Palabras clave: adaptacin psicolgica; resiliencia psico-

    lgica; perodo de posparto; enfermera materno infantil.

    Resilient mothers have the exibility and the inner strength necessaryto bounce back from adversity.The transition to motherhood involves a new set of tasks that requirethe restructuring of responsibilities and behaviors.Midwives need to recognize the importance of their interventions inthis process and adjust their practice to promote a healthy parentingexperience.The aim of this study was to assess the relationship between resi-lience and maternal adjustment. The sample was non-probabilistic,consisted of 106 mothers, and data collection was performed whenthe babies were 3 months old, by administering the Resilience Scale(RS) and the Maternal Adjustment and Maternal Attitudes (MAMA) totheir mothers.There was good internal consistency in both instruments (0,86 and 0,92).

    Body Image and Somatic Symptoms were the sub-scales from MAMAthat had more negative scores, while Marital Relationship andAttitudes to Pregnancy/ Baby had the most positive scores.Resilience showed higher scores for self-condence and lower forself-reliance.The results indicated a negative association between maternaladjustment and maternal attitudes and resilience.In conclusion: at the postpartum period, women with higher resiliencehave better adjustment to motherhood and more positive attitudes.

    Keywords: psychological adaptation; psychological resili-ence; postpartum period; maternal-child nursing.

    * Mestre em Enfermagem. Enfermeira Especialista em Sade Materna e ObstetrciaUnidade Local de Sade do Alto Minho, 4900-007, Viana do Castelo, Portugal[[email protected]]. Morada: Rua Martins Soares, lote 24, 4900-007

    Viana do Castelo.** Doutor em Enfermagem. Docente, Escola Superior de Sade do InstitutoPolitcnico de Viana do Castelo, 4900-314, Viana do Castelo, Portugal [[email protected]].

    Recebido para publicao em: 19.09.12Aceite para publicao em: 19.09.13

    Disponvel em: http://dx.doi.org/10.12707/RIII12136

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    Introduo

    O modelo salutognico, desenvolvido porAntonovsky, mostrou ser uma contribuio maispoderosa para a promoo da sade mental do quea clssica orientao patolgica centrada no risco ena doena, uma vez que encara a pessoa (ou grupo)como um todo e se centra nos aspetos positivos, naresoluo de problemas e na capacidade de usar osrecursos disponveis, em vez de se focar nos fatoresde risco, obstculos e defcits. Este modelo ajuda acompreender porque que as pessoas conseguempermanecer bem, apesar de sujeitas a situaesstressantes e a diculdades (Lindstrm e Erikson,2005).O sentido de coerncia (SOC) um conceito crucial promoo de sade em indivduos expostos asituaes de stressextremo. Trata-se da combinaoda capacidade de compreenso, capacidade de gestoe capacidade de investimento. Salutognese umconceito dinmico e exvel. um recurso de sadepromotor de resilincia. Pessoas com maior SOC somais resilientes sob stress do que as pessoas combaixo SOC(Lindstrm e Erikson, 2006).Rutter (1990, p. 181) dene resilincia como thepositive pole of the obiquitous phenomenon of

    individual difference in peoples responses to stress

    and adversity, podendo os mesmos stressores serexperienciados de maneira diferente por diferentespessoas, em diferentes momentos, ou seja, resilinciano um atributo xo do indivduo.Uma prtica prossional centrada na resilincia implicacentrar-se nas foras e nas oportunidades, em vez denos problemas. A vantagem desta abordagem opor-se ao pessimismo e determinismo da adversidade,uma vez que dada ateno promoo de recursosquer internos, quer ambientais, para a construo deresilincia e reduo do risco (Masten e Powell, 2003).O enfermeiro especialista em sade materna eobstetrcia deve estimular as potencialidades dosindivduos, famlias e comunidades para os ajudara gerir as diculdades e promover capacidades,habilidades e competncias que os ajudem aultrapassar os desaos. Importa, cumulativamente,ter em considerao as circunstncias e a inunciaambiental e ecolgica (Bronfenbrenner, 1979), umavez que a interveno no deve ser apenas focalizadanas caractersticas internas do indivduo.Os processos de transio para a maternidade

    constituem-se numa rea nobre da intervenodos enfermeiros especialistas em sade maternae obstetrcia. Uma transio implica que apessoa incorpore novo conhecimento, altere umcomportamento, alterando tambm a denio de sino seu contexto social. Implica sempre uma mudanae, consequentemente, uma adaptao a uma novarealidade. Os cuidados de enfermagem devemcentrar-se no cuidado ao ser humano que, duranteo seu ciclo de vida, confrontado com a vivnciade transies que o colocam em situaes de maiorvulnerabilidade e risco para a sade (Meleis, 2010).Tornar-se me implica uma mudana de identidadeque se inicia, frequentemente, antes da gravidez.Esta mudana necessria pode causar sentimentosambguos e ser geradora de conitos internos sobreas competncias da mulher enquanto futura me(Mercer e Walker, 2006).As mudanas que ocorrem nas relaes so tambm,muitas vezes, negativas e incluem a diminuio dasatisfao conjugal e maiores nveis de conito (Glade,Bean e Vira, 2005). No entanto, a relao conjugal e osistema de apoio que proporciona importante parafacilitar mudanas e transies de desenvolvimentoe para diminuir o impacto dos eventos adversos. Aqualidade da relao conjugal pode contribuir paraa adaptao e ajustamento psicolgico do indivduo,especialmente quando os nveis de vulnerabilidadeso elevados, como durante a transio para aparentalidade (Figueiredo et al., 2008).A transio para a maternidade rica emoportunidades de interveno do enfermeiro,sobretudo o enfermeiro especialista em sadematerna e obstetrcia. Estas devem ser entendidascomo fundamentais para que esta transio ocorrade forma saudvel, contribuindo para um melhorajustamento maternidade e atitudes mais positivas(Graa, Figueiredo e Carreira, 2011).Os cursos de preparao para o parto/parentalidadeso uma importante fonte de suporte durante operodo de transio para a maternidade, sobretudoporque as mes/famlias de hoje no vivenciam agravidez mais do que uma ou duas vezes, sendoesta, portanto, mais suscetvel de envolver grandesexpectativas (Vehvilainen-Julkunen, 1995).Mercer (2004) desenvolveu a teoria da consecuodo papel maternal, considerando que a transiopara a maternidade se desenvolve em quatro fases:antecipatria; formal (quando h maior necessidade

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    a maternidade com consequncias futuras, quera nvel familiar, quer a nvel social. Justica-se nosentido em que a conrmao da associao entreresilincia e ajustamento maternidade pode ajudar acompreender os fatores e circunstncias facilitadoresde uma maternidade resiliente, para que, apesardos riscos e dos desaos da maternidade, as mesno manifestem comportamentos desajustadose/ou desadequados num momento de maiorvulnerabilidade.

    Metodologia

    O presente estudo decorreu no distrito de Viana doCastelo, que tem uma rea estimada de 2 255 km. Apercentagem de mulheres em idade frtil de 45,2%,com uma taxa bruta de natalidade de 7,4% e a idademdia da me ao nascimento do primeiro lho de29,0 anos (Portugal. Instituto Nacional de Estatstica,2011). Trata-se de um estudo descritivo-correlacionale transversal.O mtodo de amostragem foi no probabilstico, porconvenincia (Ribeiro, 2007). A amostra foi constitudapor 106 mulheres, que recorreram aos Centros deSade no perodo de junho a novembro de 2011,aquando da vacinao das crianas, e que j tinhampassado o terceiro ms aps o parto. Como critriosde incluso deniu-se: saber ler e escrever; ser mede uma criana de 3 meses de idade; e disponibilizar-se voluntariamente para participar no estudo.Os instrumentos de colheita de dados foram a versops-natal do Maternal Adjustment and MaternalAttitudes (Figueiredo, Mendona e Sousa, 2004) e aResilience Scale(Felgueiras, 2008).A escala MAMA foi desenvolvida por Kumar, Robson eSmith (1984) para avaliar o ajustamento e as atitudesmaternas. um questionrio de auto relato, com umaverso pr e outra ps-natal, constitudo por 60 itensdistribudos equitativamente por cinco subescalas de12 itens cada uma. Engloba as subescalas: imagemcorporal; sintomas somticos; atitudes para com ocompanheiro; atitudes perante o sexo; e atitudes paracom a gravidez e o beb.A escala mede a frequncia com que determinadassituaes ocorreram durante o ltimo ms atravsde uma escala tipoLikertque varia entre 1 (nunca/deforma alguma), 2 (raramente/um pouco), 3 (muito/svezes) e 4 (muitssimo/muitas vezes).

    de orientao por prossionais); informal; e deidentidade pessoal ou materna. Cerca dos quatromeses aps o parto a maioria das mes j adquiriuautoconana e competncia para cuidar do seurecm-nascido e incorporou a nova identidade no seuself (Mercer e Walker, 2006).Apesar do risco que a maternidade acarreta, por serum momento de crise, a grande maioria das mesdemonstra um funcionamento resiliente na realizaodas tarefas e responsabilidades. Neste perodo, umcompanheiro uma fonte de suporte e de apoio, queajuda a minimizar muitas das adversidades para asmes (Cleaver, Unell e Aldgate, 2011).Quando enfrentam um desao pode ser importantepara os pais conhecerem outros em situao similar(Glade, Bean e Vira, 2005), podendo o enfermeiroespecialista em sade materna proporcionar apoioe a aproximao de mes em situaes similares quelhes permitam constiturem redes de apoio informais.Vrios estudos mostraram que os pais se adaptammelhor quando os prossionais discutem asimplicaes e natureza das diculdades com hones-tidade e demonstram sensibilidade para com aansiedade dos pais (Hill et al., 2007).Os projetos promotores de resilincia, que visamajudar aqueles que experienciam adversidades so,maioritariamente, dirigidos a crianas e no a adultos/pais e h ainda poucos estudos acerca de estratgiaspromotoras de resilincia, sobretudo a nvel familiar(Hill et al., 2007).O conceito de resilincia tem sido pouco utilizado emestudos que abordam a parentalidade e ajustamento maternidade, apesar destes terem ideias implcitas dedesenvolvimento de habilidades e capacidades queas famlias adquirem quando enfrentam diculdades.Neste caso, o conceito mais utilizado o de coping(Hill et al., 2007).O presente estudo tem como objetivo avaliar a relaoentre a resilincia e o ajustamento maternidade,atravs da aplicao das verses portuguesas da MAMA(Maternal Adjustment and Maternal Attitudes) deKumar, Robson e Smith (1984) e da RS (Resilience Scale)de Wagnild e Young (1993). As verses portuguesas(Felgueiras, 2008; Figueiredo, Mendona e Sousa, 2004)destes instrumentos so relativamente recentes e nuncaforam utilizados previamente em conjunto.Este estudo torna-se pertinente no sentidoem que poder contribuir para a preveno decomportamentos desajustados face transio para

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    A subescala imagem corporal(itens 2*, 12*, 18, 19*,21*, 31, 44*, 47*, 49, 53, 55* e 57) avalia a perceoque a grvida tem da sua imagem corporal e a relaocom o seu prprio corpo em contnua transformaodecorrida do perodo de gravidez.A subescala sintomas somticos (itens 1, 4, 6, 9,17, 27, 32*, 33, 35*, 38, 41 e 59*) investiga queixasassociadas a manifestaes somticas (respiratrias,cardiovasculares, gastrointestinais, etc.).A subescala relao conjugal (itens 3, 8, 15*, 26*,34, 36, 37*, 43, 48*, 50*, 52* e 56) afere a qualidadeafetiva e emocional em relao ao companheiro oucnjuge.A subescala atitudes para com o sexo(itens 5*, 11*,13*, 20, 23,25*, 30, 39, 42, 45*, 46* e 58*)pretendeavaliar os sentimentos de agrado/desejo e vergonha/insatisfao perante a relao sexual.

    A subescala atitudes para com a gravidez e o beb(itens7, 10, 14*, 16, 22*, 24*, 28*, 29, 40*, 51, 54 e60*) reete as inquietaes, sentimentos e atitudesrelativamente ao cuidar do seu lho.Os itens assinalados (*) so recodicados. O questio-nrio pontuado no sentido em que, por adio,a um resultado mais elevado corresponde umpior ajustamento maternidade e atitudes maisdisfuncionais.A consistncia interna da escala boa (alfa deCronbach 0,86), de acordo com Ribeiro (2007).NaResilience Scale(RS), desenvolvida por Wagnilde Young (1993), os itens esto operacionalizadosem sete pontos de 1, discordo totalmente, a 7,concordo totalmente. Todos os itens esto descritosde forma positiva, variando os scores entre 25 e175, com scores mais elevados reetindo elevadaresilincia. A verso original constituda por duassubescalas: Competncia Pessoal e Aceitao de SiPrprio e da Vida.Na verso portuguesa da escala, a partir da anlise doscomponentes principais emergiram 5 componentes:Perseverana (itens 1,2,9,10,23 e 24); Autoconana(itens 14, 15, 17, 18, 19, 20 e 22); Serenidade (itens4, 6, 12 e 16); Sentido de Vida (itens 8, 11, 13, 21 e25); e Autossucincia (itens 3 e 7). Um item (5) foiexcludo por apresentar uma baixa correlao com ototal (inferior a 0,2). O valor de Alfa de Cronbachfoi0,92, evidenciando muito boa consistncia interna,superior ao estudo de validao para a populaoportuguesa (Felgueiras, 2008).

    O estudo iniciou-se aps o parecer favorvel daComisso de tica da Unidade Local de Sade do Alto-Minho e a autorizao do Conselho de Administrao,tendo sido salvaguardados a condencialidade, oanonimato e a livre participao.Para a anlise de dados recorreu-se a tcnicas deestatstica descritiva e correlao dePearson, sendoo nvel de signicncia admitido de 5%.Para o tratamento de dados foi utilizado o StatisticalPackage for the Social Sciences(SPSS 19).

    Resultados

    As mulheres tinham idades entre os 20 e os 42anos, com uma mdia de 31,2 4,76 anos e umamediana de 31 anos. A maioria tinha entre os 30 e os39 anos (60,4%), eram casadas ou viviam em uniode fato (90,6%), em famlias nucleares (84,9%) e,relativamente escolaridade, 33% tinham o ensinosecundrio e 34% um bacharelato ou licenciatura.Predominaram mulheres em situao laboral ativa(75%), que trabalham por conta de outrem.Maioritariamente eram primigestas (54,7%), nose vericando nenhuma gravidez gemelar. Asgravidezes foram planeadas por 83% das mulherese a sua vigilncia ocorreu em Centro de Sade, para39,6% das mulheres, enquanto que 20,8% recorreuexclusivamente a servios privados e 26,4% optou porambos os servios. A primeira consulta de vigilnciada gravidez foi para 97,2% das mulheres no primeirotrimestre de gravidez e a frequncia de cursos depreparao para o parto/parentalidade vericou-seem 63,2%.O parto sem instrumentao foi experienciado por55,7% das mulheres, 35,8% tiveram uma cesariana e asrestantes 8,5% tiverem um parto por ventosa, sendoque a maioria (74,6%) teve o parto que esperava. Emrelao ao recm-nascido, 2,8% tiveram problemas desade graves e 6,6%, necessitaram de hospitalizao.Relativamente s atitudes e ajustamento materno, osscores mnimos variaram entre 12 para as AtitudesPerante o Sexo e 15 para a Imagem Corporal, osSintomas Somticos e as Atitudes perante a Gravideze o Beb. Os scores mximos variaram entre 33para as Atitudes Perante a Gravidez e o Beb e 42para os Sintomas Somticos e a Relao Conjugal.A mdia (27,74,93) e mediana (28) mais elevadasobservaram-se na Imagem Corporal, e a mdia

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    (19,74,75) e a mediana (18,5) mais baixas na RelaoConjugal. A Imagem Corporal e Sintomas Somticosforam as subescalas que obtiveram uma apreciaomais negativa por parte da mulher, enquanto a relaoconjugal e atitudes perante a gravidez e o bebobtiveram uma apreciao mais positiva.Relativamente RS, osscoresmnimos variaram entre3 para a Autossucincia e 13 para a Perseveranae para o Sentido de Vida. Os scores mximosvariaram entre 14 para a Autossucincia e 49 paraa Autoconana. A mdia (38,06,06) e medianamais elevadas (33,5) observaram-se na Autoconana,enquanto que a mdia (10,82,04) e mediana maisbaixas (11) se observaram na Autossucincia.No estudo das correlaes (Quadro 1) podemosvericar uma correlao negativa entre a maioria dassubescalas.Todas as dimenses da escala MAMA apresentamcorrelaes negativas com a RS, variando de fraca paraa imagem corporal (r=-0,204), sintomas somticos(r=-0,256) e atitudes para com a gravidez e o beb(r=-0,378), a moderada para a relao conjugal (r=-0,434) e as atitudes perante o sexo (r=-0,450).Tambm todas as subescalas da RS apresentaramuma correlao negativa com a MAMA total MAMA,tratando-se de correlaes fracas.

    As duas escalas tambm apresentaram uma correlaonegativa e fraca (r=-0,392).Considerando as subescalas, constata-se que nasua globalidade se encontram correlacionadas, exceo da imagem corporal em que as correlaessignicativas s se observam com a autoconana(r=-0,207). Tambm nos sintomas somticosno se observam correlaes signicativas com aautoconana e com a autossucincia, observando-se correlaes fracas com a perseverana (r=-0,205),serenidade (r=-0,270) e sentido de vida (r=-0,221).Na relao conjugal observam-se correlaes maisfortes com as dimenses da RS, variando de fracas, naautossucincia (r=-0,227) a moderadas no sentidode vida (r=-0,409) e autoconana (r=-0433).Tambm as atitudes perante o sexo apresentamcorrelaes bastante signicativas com todas asdimenses da RS, sendo fraca na autossucincia(r=-0,274), serenidade (r=-0,369) e sentido de vida(r=-0,358), e moderada na perseverana (r=-0,411)e na autoconana (r=-0,433).As atitudes perante a gravidez e o beb apresentaramcorrelaes signicativas, variando de r=-0,251, paraa autossucincia, a r=-0,328, para a perseverana,assumindo as restantes valores intermdios.

    QUADRO 1 Estudo das correlaes entre as subescalas das escalas MAMA e RSe as escalas totais (correlao dePearson)

    Imagemcorporal

    Sintomassomticos

    Relao con-jugal

    Atitudes peran-te o sexo

    Atitudes perante agravidez e o beb

    MAMA

    Perseveranar -,141 -,250** -,351** -,411** -,328** -,342**

    Sig. ,157 ,010 ,000 ,000 ,001 ,001

    N 102 106 102 104 102 94

    Autoconfanar -,207* -,162 -,433** -,433** -,315** -,358**

    Sig. ,038 ,099 ,000 ,000 ,001 ,000

    N 101 105 101 103 101 93

    Serenidader -,120 -,270** -,369** -,369** -,290** -,312**

    Sig. ,229 ,005 ,000 ,000 ,003 ,002

    N 102 106 102 104 102 94

    Sentido de vidar -,189 -,221* -,409** -,358** -,296** -,348**

    Sig. ,059 ,023 ,000 ,000 ,003 ,001

    N 101 105 101 103 101 93

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    Autossufcinciar -,170 -,103 -,227* -,274** -,251* -,225*

    Sig. ,088 ,292 ,022 ,005 ,011 ,029

    N 102 106 102 104 102 94

    RSr -,204* -,256** -,434** -,450** -,378** -,392**

    Sig. ,041 ,008 ,000 ,000 ,000 ,000N 101 105 101 103 101 93

    **p

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    Estes prossionais, com responsabilidade ecompetncias acrescidas na rea da sade sexual ereprodutiva, devero estar atentos a aspetos comoas atitudes perante o sexo e a relao conjugal, quesendo dimenses que revelam melhor ajustamento eatitude mais favorveis, necessitam de ser reforadas.Devem tambm prestar particular ateno imagemcorporal, em que os resultados demonstram piorajustamento, preparando antecipadamente asmulheres para as alteraes da imagem e para ademora no regresso silhueta anterior gravidez,em que os projetos de interveno no ps-parto,direcionados para a prtica do exerccio fsico, quefacilitem a recuperao fsica so relevantes.

    Concluso

    A contribuio da resilincia para o cuidar emenfermagem pertinente porque pode orientar atomada de decises e a determinao de prioridades.Os enfermeiros especialistas em sade materna eobstetrcia encontram-se numa posio privilegiadaentre os prossionais de sade para promovera resilincia, uma vez que estabelecem, desde oincio da gravidez, contacto prximo com grvidas,que se prolonga para o puerprio. A RS apresentacaractersticas satisfatrias de delidade e uminstrumento que pode ser utilizado por enfermeirospara aferir nveis de resilincia.Tambm a MAMA apresenta delidade satisfatria etem sido usada com eccia em diversos contextospara aferir o ajustamento e as atitudes da grvidapara com o companheiro, a gravidez e o beb,comprovando a sua validade.A correlao entre a resilincia e o ajustamento maternidade negativa, no se podendo, no entanto,aferir a relao causa-efeito entre ambas, no sentidode saber qual que responsvel pela variao daoutra.Esta concluso permite realar a importnciado enfermeiro especialista em sade materna eobstetrcia para a promoo da resilincia e de todasas suas componentes: perseverana, autoconana,serenidade, sentido de vida e autossucincia comoprocesso facilitador do ajustamento maternidade.Por outro lado, tendo como foco de ateno, na suaprtica prossional, a imagem corporal, os sintomassomticos, a relao conjugal, as atitudes perante o sexo

    e as atitudes perante a gravidez e o beb, o enfermeiroespecialista est a promover a resilincia da mulher. luz dos conhecimentos atuais e das conclusesdeste estudo, em que se verica que as mulheresdemonstraram um bom ajustamento maternidade,sobretudo na relao conjugal e atitudes peranteo sexo, o papel do pai/marido/companheiro fundamental e este deve ser includo nos cuidados deenfermagem, como parte integrante de uma trade.Relativamente resilincia, chegmos tambm mesma concluso, uma vez que as mulheres obtiverammenor classicao na componente autossucincia,comprovando a importncia do marido/companheiroou pessoa signicativa como fonte de suporte e apoiofundamental na transio para a maternidade.As escalas denotaram elevada consistncia interna eadequao populao portuguesa. Sugere-se, parainvestigaes futuras, um estudo longitudinal, comuma amostra de maior dimenso, que permita aferir aevoluo da relao entre resilincia e ajustamento maternidade ao longo do processo de tornar-se me.

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