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Caderno de apoio ao estudo Programas de Intervenção para um Envelhecimento Ativo e Saudável Documento elaborado pela docente: Mônica Braúna Alencar Leão da Costa 2020

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Caderno de apoio ao estudo

Programas de Intervenção para um

Envelhecimento Ativo e Saudável

Documento elaborado pela docente:

Mônica Braúna Alencar Leão da Costa

2020

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MÔNICA BRAÚNA ALENCAR LEÃO DA COSTA

Professora Adjunta Convidada da Escola Superior de Saúde de Leiria

[email protected]

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Índice

INTRODUÇÃO 5

CAPÍTULO I- Envelhecimento Ativo 6

CAPÍTULO II- Determinantes para um envelhecimento ativo 10

CAPÍTULO III- Eixos estratégicos do envelhecimento ativo 14

CAPÍTULO IV- Empowerment como agente transformador no envelhecimento ativo 18

CAPÍTULO V- Desafios e oportunidades para um evelhecimento ativo 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS 25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 26

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Índice de figuras

Figura 1. Envelhecimento em Portugal 6

Figura 2. Capacidade funcional ao longo da vida 9

Figura 3. Pilares do Envelhecimento Ativo 10

Figura 4. Fatores determinantes do envelhecimento ativo 13

Figura 5. Estratégia Health 2020 19

Figura 6. Áreas a considerar nas cidades amigas do idoso 23

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Introdução

Este material pedagógico descreve o novo paradigma do Envelhecimento Ativo e Saudável na

perspetiva da Terapia Ocupacional. Este material tem como objetivo contribuir no processo

de aprendizagem dos estudantes do Curso de Licenciatura em Terapia Ocupacional

embasadas nas Estratégia Nacional para o Envelhecimento Ativo e Saudável 2017-2025 que

orientam a prática da profissão para desempenho ocupacional da pessoa idosa em atividades

que promovam saúde e bem-estar.

Um ponto de referência identificado no Grupo de Trabalho Interministerial (Despacho

n.º12427/2016) como estratégia de para o envelhecimento ativo e saudável é aumentar a

capacidade funcional das pessoas idosas para a formulação de um modelo orientador de

intervenção que defina prioridades, parâmetros de monitorização e avaliação, e imprima

dinâmicas e sinergias de cooperação entre interventores e instituições no âmbito dos diversos

Programas Prioritários e outros Programas e projetos da saúde e vários parceiros empenhados

na melhoria dos padrões de saúde, de participação, de segurança e de investigação. Neste

sentido, torna-se importante a abordagem da Terapia Ocupacional nesse processo uma vez

que os pressupostos da profissão vão ao encontro das expetativas referidas no despacho

acima referido.

A apostila está divida em 5 capítulos: o Capítulo I descreve os novos desafios e oportunidades

do Envelhecimento Ativo e Saudável Envelhecimento ativo e saudável, no Capítulo II, são

identificados os determinantes para que a pessoa tenha um bom envelhecimento ativo. O

Capítulo III faz uma reconfiguração sobre os eixos estratégicos de saúde, participação e

segurança como promotores do envelhecimento ativo. No Capítulo IV faz referência à

importância do empowerment como ferramenta para um envelhecimento ativo e saudável e

por fim, no Capítulo V são apresentados os desafios e oportunidades para um envelhecimento

saudável.

Posto isto, é expectável que o estudante consiga aprofundar conhecimentos sobre o

envelhecimento ativo e saudável bem como desenvolver competências para implementar

programas de intervenção no domínio da Terapia Ocupacional.

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Capítulo I

ENVELHECIMENTO ATIVO

Portugal, assim como outros países da Europa, tem vindo a registar nas últimas décadas

profundas transformações demográficas caracterizadas, entre outros aspetos, pelo aumento

da longevidade e da população idosa e pela redução da natalidade e da população jovem. Em

2015, as pessoas com 65 ou mais anos representavam 20,5% de toda a população residente

em Portugal. Neste mesmo ano, a esperança de vida atingiu os 77,4 anos para homens e 83,2

anos para as mulheres (PORDATA, 2016).

Face ao envelhecimento da população, organizações internacionais, designadamente a

Organização Mundial de Saúde, têm preconizado a necessidade de incentivar o

envelhecimento ativo e saudável como meio eficaz de acomodar os impactos produzidos pela

mudança das estruturas etárias, alertando ao mesmo tempo os governos para o papel das

políticas públicas. Envelhecer ativamente significa não só manter a autonomia e a

independência até tão tarde quanto possível, mas também assegurar uma participação

enquanto cidadão na vida coletiva, contrariando o isolamento e a exclusão social. O EAS exige

uma abordagem multidimensional e constitui um desafio para toda a sociedade, implicando a

responsabilização e a participação de todos, no combate à exclusão social e discriminação e

na promoção da igualdade entre homens e mulheres e da solidariedade entre as gerações

(Ferreira, Moreira, Azevedo & Manso, 2017).

De acordo com Quaresma e Ribeirinho (2016), a maior longevidade está associada a um

conjunto de fatores, entre os quais, além da saúde, também destacam a melhor educação, o

melhor acesso a emprego, rendimentos, e proteção social. As razões do envelhecimento da

população prendem-se com a redução da fecundidade que, de momento, é a menor da União

Europeia, a redução da taxa de mortalidade e consequente aumento da expectativa de vida.

Referente ao panorama do envelhecimento da população portuguesa, face aos fatores

descritos anteriormente, as projeções apontam para um maior envelhecimento da população

(Figura 1). Por exemplo, para 2050, prevê-se que um em cada três residentes será idoso e,

assim, Portugal ocupará o terceiro lugar como o país com população mais envelhecida do

mundo, a seguir ao Japão e Espanha (INE, 2017). Porém, na base destes resultados encontra-

se: “uma elevada carga de doença, condições socioeconômicas e a falta de comportamentos

saudáveis e de estratégias para um envelhecimento ativo” que podem acarretar num

envelhecimento acompanhado por maior incapacidade diminuição da autonomia e da

independência (Nunes, 2017, p. 136).

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Figura 1. Envelhecimento em Portugal.

Homens e mulheres diferem em esperança de vida e condição de saúde ao longo do ciclo de

vida, havendo uma discrepância considerável entre a saúde e a capacidade de sobrevivência:

os homens são fisicamente mais fortes, mas têm substancialmente maior mortalidade em

todas as idades em comparação com as mulheres: este é um paradoxo da saúde e

sobrevivência na relação masculino-feminino (ENEAS, 2016). Assim, viver mais também

significa estar mais exposto a riscos, como a vulnerabilidade do estado de saúde, o isolamento

social e a solidão, a dependência física, mental e também económica, a estigmatização (Cabral

et al., 2013) e os abusos, quer físicos, quer psicológicos, sexuais, financeiros ou materiais, por

discriminação, ou por negligência (United Nations Economic Commision for Europe, 2013).

Importante referir que o envelhecimento individual é um processo condicionado por fatores

biológicos, sociais, económicos, culturais, ambientais e históricos, podendo ser definido como

um processo progressivo de mudança biopsicossocial da pessoa durante todo o ciclo de vida,

enquanto que a nível coletivo existem variações consideráveis no estado de saúde, nos níveis

A promoção do envelhecimento ativo e saudável em Portugal regista

várias iniciativas, contudo há ainda um caminho a percorrer para que

essa abordagem se reflita na saúde e na qualidade de vida das pessoas

idosas, garantindo a realização plena da sua dignidade (ENEAS, 2016).

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de independência, na autonomia e na participação social entre as pessoas idosas com a

mesma idade. Portanto, A promoção de um envelhecimento ativo e saudável ao longo do ciclo

de vida tem sido um caminho apontado como resposta aos desafios relacionados com a

longevidade e o envelhecimento da população.

O envelhecimento ativo e saudável (EAS) é definido como o processo de otimização das

oportunidades para a saúde, participação e segurança, para a melhoria da qualidade de vida

à medida que as pessoas envelhecem bem como o processo de desenvolvimento e

manutenção da capacidade funcional, que contribui para o bem-estar das pessoas idosas,

sendo a capacidade funcional o resultado da interação das capacidades intrínsecas da pessoa

(físicas e mentais) com o meio (World Health Organization, 2015).

O prolongamento da vida é uma aspiração de qualquer sociedade e deve ser comemorado

amplamente. No entanto, só pode ser considerado como uma real conquista na medida em

que se agregue qualidade aos anos adicionais de vida. Assim, qualquer política destinada aos

idosos deve considerar sua capacidade funcional, necessidade de autonomia, participação,

cuidado e autossatisfação (Barreto, Carreira, & Marcon, 2015).

Alguns conceitos importantes são reforçados pela Organização Mundial de Saúde (2005) para

melhor compreensão dos fatores diretamente ligados à definição de EA.

• Autonomia é a habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se

deve viver diariamente, de acordo com suas próprias regras e preferências.

• Independência é, em geral, entendida como a habilidade de executar funções

relacionadas à vida diária, isto é, a capacidade de viver independentemente na

comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros.

• Qualidade de vida é a perceção que o indivíduo tem de sua posição na vida dentro do

contexto de sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação a seus

objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que

incorpora de uma maneira complexa a saúde física de uma pessoa, seu estado

psicológico, seu nível de dependência, suas relações sociais, suas crenças e sua relação

com características proeminentes no ambiente.

• Expectativa de vida saudável é uma expressão geralmente usada como sinônimo de

“expectativa de vida sem incapacidades físicas”. Enquanto a expectativa de vida ao

nascer permanece uma medida importante do envelhecimento da população, o tempo

de vida que as pessoas podem esperar viver sem precisar de cuidados especiais é

extremamente importante para uma população em processo de envelhecimento.

Conforme os indivíduos envelhecem, as doenças não-transmissíveis (DNTs) transformam-se

nas principais causas de morbidade, incapacidade e mortalidade em todas as regiões do

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mundo, inclusive nos países em desenvolvimento. Essas enfermidades típicas da 3ª idade tem

um grande impacto financeiro para os indivíduos, as famílias e o Estado.

Manter-se ativo e saudável é o desejo de qualquer indivíduo, por isso deve ser uma

preocupação ao longo da vida manter a capacidade funcional para todas as ocupações em que

estamos envolvidos.

Figura 2. Capacidade funcional ao longo da vida.

As pesquisas demonstram que as origens do risco de doenças crónicas, como a diabete e

cardiopatia, começam na infância ou até mesmo antes. O risco de desenvolver DNTs continua

a aumentar conforme as pessoas envelhecem, podendo ser um fator incapacitante e que

diminua a capacidade funcional da pessoa idosa para viver um envelhecimento ativo e

saudável.

A vida independente e autónoma, em combinação com melhorias no estado de saúde são

importantes para o envelhecimento ativo, em que o acesso aos cuidados de saúde e às

tecnologias assistidas constituem fatores decisivos para um envelhecimento saudável. A

manutenção de atividades saudáveis faz parte do estado geral de saúde e do envelhecimento

ativo, e especialmente não apenas nos efeitos sobre a saúde física, mas também sobre o bem-

estar mental e as filiações sociais.

O objetivo do envelhecimento ativo é, assim, bastante amplo e visa a aumentar a expectativa

de uma vida saudável, que mantenha a autonomia e a independência, bem como a qualidade

de vida de todas as pessoas que estão a envelhecer, inclusive as que são frágeis, fisicamente

incapacitadas e que requerem cuidados de saúde.

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CAPÍTULO II

DETERMINANTES PARA UM ENVELHECIMENTO ATIVO

O envelhecimento ativo depende de uma diversidade de fatores “determinantes” que

envolvem indivíduos, famílias e em multiculturas. A compreensão das evidências sobre esses

fatores irão guiar a elaboração de políticas e programas que nessa área. No enanto, torna-se

necessário mais estudos para esclarecer e especificar o papel de cada fator determinante,

assim como da interação entre eles, no processo de envelhecimento ativo. Também

precisamos entender melhor os caminhos que explicam como estes amplos fatores

determinantes realmente afetam a saúde e o bem-estar.

As expectativas das pessoas idosas e as necessidades económicas e sociais das sociedades

exigem que estas possam participar na vida económica, política, social e cultural, devendo ter

a oportunidade de trabalhar, quando desejam e sejam capazes, e continuar a ter acesso a

programas de educação e formação. O potencial das pessoas idosas deve ser visto como uma

base sólida para o desenvolvimento futuro, uma vez que possibilita que a sociedade beneficie

das suas capacidades, experiências e sabedoria (ENEAS, 2016).

O envelhecimento ativo é uma ideologia que se aplica tanto a indivíduos quanto a grupos

populacionais, permitindo que as pessoas percebam o seu potencial, participem da sociedade

de acordo com as suas especificidades, além de lhes propiciar proteção, segurança e cuidados

adequados, quando necessários (Geremias & Azevedo, 2012). O envelhecimento ativo é,

portanto, o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança,

com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.

Sua meta é aumentar a expectativa de vida saudável, garantindo qualidade de vida, inclusive

para indivíduos que tenham alguma fragilidade, incapacidade física ou necessitem de

cuidados.

Figura 3. Pilares do Envelhecimento Ativo.

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O EA é uma noção ampla e internamente complexa que desempenha um papel fundamental

em uma estratégia global para a gestão de populações em envelhecimento (Kalachea e

Kickbusch, 1997; World Health Organization, 2009). Faz parte de uma visão política em que a

garantia dos direitos humanos permitirá que a população idosa em expansão permaneça

saudável (reduzindo assim a carga sobre os sistemas de saúde e assistência social) e

permaneça no emprego por mais tempo (reduzindo assim os custos de pensão), enquanto

participa plenamente em processos comunitários e políticos.

Princípios orientadores do Envelhecimento Ativo (EA)

• VISÃO

Ter uma sociedade onde o processo de envelhecimento ao longo do ciclo de vida venha a

conferir elevados níveis de saúde, bem-estar, qualidade de vida e realização pessoal à

população idosa e na qual todos vivenciem um envelhecimento ativo digno e saudável.

• MISSÃO

Promover a saúde e o bem-estar, a participação, a não discriminação, a inclusão, a segurança

e a investigação no sentido de aumentar a capacidade funcional, a autonomia e a qualidade

de vida das pessoas à medida que envelhecem.

• VALORES

A promoção dos direitos humanos, equidade, igualdade e não discriminação (nomeadamente

baseada na idade), igualdade de género, solidariedade intergeracional preconizados pela OMS

para as pessoas idosas com destaque para a independência, participação, assistência,

autorrealização e dignidade.

IMPORTANTE.

Mesmo com o novo paradigma do EA preconizado pela OMS desde 2002, parece ainda haver

muita discussão sobre o envelhecimento no âmbito do declínio gradual do estado de saúde

muitas vezes associado à idade ou por uma situação de doença for crônica e múltipla que

provoca incapacidades físicas e psicológicas que afetem o quotidiano das pessoas mais velhas

O envelhecimento ativo é parte de um "novo paradigma" do envelhecimento que

visa desalojar o antigo "paradigma de declínio e perda" (Holstein and Minkler,

2007), que atribuiu as causas políticas, económicas e sociais dos problemas da

velhice "às consequências naturais do decrescimento físico e da inflexibilidade

mental" (Townsend, 2000).

2007: 30), e para destacar e facilitar as contribuições ativas que os idosos fazem à sociedade

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e a sua autonomia. De facto, é ainda uma realidade, uma vez que ainda não se começou a

pensar no envelhecimento ativo ao longo da vida, mas apenas como uma fase da vida. Por

isso a necessidade de avaliar a influência de alguns determinantes durante o curso de vida.

Os fatores determinantes do EA, segundo a OMS (2005), são descritos abaixo e ilustradas na

Figura 4.

Cultura

A cultura, que abrange todas as pessoas e populações, modela nossa forma de envelhecer,

pois influencia todos os outros fatores determinantes do envelhecimento ativo. Os valores

culturais e as tradições determinam muito como uma sociedade encara as pessoas idosas e o

processo de envelhecimento. Os fatores culturais também podem influenciar a busca por

comportamentos mais saudáveis; por exemplo, as atitudes relacionadas ao tabagismo estão

mudando, gradativamente, em vários países.

Género

O gênero é uma “lente” através da qual considera-se a adequação de várias opções políticas

e o efeito destas sobre o bem-estar de homens e mulheres. Em muitas sociedades, as

mulheres jovens e adultas têm status social inferior e acesso mais restrito a alimentos

nutritivos, educação, trabalho significativo e serviços de saúde.

Sistemas de saúde e serviço social

Para promover o envelhecimento ativo, os sistemas de saúde necessitam ter uma perspetiva

de curso de vida que vise à promoção da saúde, prevenção de doenças e acesso equitativo a

cuidado primário e de longo prazo de qualidade. Os serviços sociais e de saúde precisam ser

integrados, coordenados e eficazes em termos de custos. Não pode haver discriminação de

idade na provisão de serviços e os provedores destes devem tratar as pessoas de todas as

idades com dignidade e respeito.

Fatores comportamentais

A adoção de estilos de vida saudáveis e a participação ativa no cuidado da própria saúde são

importantes em todos os estágios da vida. Um dos mitos do envelhecimento é que é tarde

demais para se adotar esses estilos nos últimos anos de vida. Pelo contrário, o envolvimento

em atividades físicas adequadas, alimentação saudável, a abstinência do fumo e do álcool, e

fazer uso de medicamentos sabiamente podem prevenir doenças e o declínio funcional,

aumentar a longevidade e a qualidade de vida do indivíduo.

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Fatores pessoais

A biologia e a genética têm uma grande influência sobre o processo de envelhecimento. O

envelhecimento representa um conjunto de processos geneticamente determinados, e pode

ser definido como uma deterioração funcional progressiva e generalizada, resultando em uma

perda de resposta adaptativa às situações de estresse e um aumento no risco de doenças

relacionadas à velhice (Kirkwood, 1996).

Ambiente físico

Ambientes físicos adequados à idade podem representar a diferença entre a independência e

a dependência para todos os indivíduos, mas especialmente para aqueles em processo de

envelhecimento. Os perigos no ambiente físico podem causar lesões incapacitantes e

dolorosas nos idosos, e as mais frequentes são decorrentes de quedas,

Ambiente social Apoio social, oportunidades de educação e aprendizagem permanente, paz, e proteção contra

a violência e maus-tratos são fatores essenciais do ambiente social que estimulam a saúde,

participação e segurança, à medida que as pessoas envelhecem. Solidão, isolamento social,

analfabetismo e falta de educação, maus tratos e exposição a situações de conflito aumentam

muito os riscos de deficiências e morte precoce.

Económicos

Três aspetos do ambiente económico têm um efeito particularmente relevante sobre o

envelhecimento ativo: a renda, o trabalho, e a proteção social. Ultimamente o trabalho

voluntário tem beneficiado os idosos ao aumentar os contatos sociais e o bem-estar

psicológico e, ao mesmo tempo, tem oferecido uma relevante contribuição para as

comunidades e nações.

Figura 4. Fatores determinantes do envelhecimento ativo.

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CAPÍTULO III

EIXOS ESTRATÉGICOS DO ENVELHECIMENTO ATIVO

Os eixos estratégicos estão focados na implementação de intervenções nos sistemas de saúde,

social e outros, assentes na abordagem intersectorial e multidisciplinar, tendo sempre em

consideração os valores e princípios que devem nortear a ação. São eles (ENEAS, 2017):

1. SAÚDE – Promoção de iniciativas e práticas que visem reduzir a prevalência, adiar o

aparecimento e controlar o agravamento e o impacto das doenças crónicas e da

redução das capacidades físicas e mentais nas pessoas idosas e potenciar a sua

autonomia.

2. PARTICIPAÇÃO – Promoção da educação e formação ao longo do ciclo de vida

incluindo estratégias de promoção da literacia em saúde e incentivo à criação de

ambientes físicos e sociais protetores e potenciadores da integração e da participação

das pessoas idosas na sociedade e nos processos de decisão que afetam a sua vida.

3. SEGURANÇA – Apoio a iniciativas e práticas que visem minimizar riscos e promover o

bem-estar e a segurança das pessoas idosas.

4. MEDIÇÃO, MONOTORIZAÇÃO E INVESTIGAÇÃO – Promoção da investigação científica

na área do envelhecimento ativo e saudável, potenciando o levantamento de

necessidades, o desenvolvimento, monitorização.

Os diversos Programas e Estratégias Nacionais vigentes no sector da saúde refletem as

principais prioridades nacionais no domínio da promoção da saúde da população ao longo do

percurso de vida, da prevenção das doenças crónicas não transmissíveis e da readequação do

sistema de saúde aos novos desafios em saúde. Dentre eles:

1. Promoção de Estilos de Vida Saudável e Vigilância da Saúde

A promoção de hábitos saudáveis de alimentação e atividade física, a prevenção e controlo do

tabagismo e a redução do consumo abusivo de álcool, assim como a ação multissectorial sobre

os fatores sociais, económicos e ambientais que influenciam a saúde nas várias fases do ciclo

de vida constituem medidas essenciais. A deteção precoce e o controlo adequado das

doenças crónicas e do declínio físico e mental das pessoas idosas são essenciais para um

melhor prognóstico, redução da prevalência de comorbidades e manutenção da capacidade

funcional. É ainda importante referir que o envelhecimento da população tem sido

acompanhado por uma evolução tecnológica que fornece oportunidades nunca antes

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disponíveis. O incentivo ao desenvolvimento e à utilização racional da tecnologia para a

maximização da capacidade funcional das pessoas idosas e do bem-estar dos cuidadores (de

Aguiar, Lamontagne, Cunha, Calomeni, & Freire, 2018).

2. Gestão dos Processos de Comorbidade

À medida que as pessoas envelhecem, as suas necessidades em cuidados de saúde tendem a

aumentar devido à complexidade das patologias crónicas e das incapacidades funcionais. No

entanto, os sistemas de saúde, inicialmente desenhados para o atendimento de condições

agudas, encontram-se numa fase de transição para a adequação às necessidades de uma

população envelhecida, acometida por condições maioritariamente crónicas, que beneficiam

da continuidade, proximidade e integração dos cuidados (ENEAS, 2017). Embora os principais

conceitos de prevenção da saúde já estejam assimilados pelos profissionais da área, percebe-

se muita dificuldade na operacionalização, particularmente quando nos concentramos no

grupo etário dos idosos. Apesar da presença do discurso da prevenção, a maioria dos serviços

são curativos e tradicionais e argumentam ser difícil mensurar a efetividade para tais

programas do ponto de vista financeiro (Veras, 2009).

A integração e o apoio social são essenciais para as pessoas idosas, proporcionando-lhes

recursos emocionais e práticos, participação ativa e maior autoestima. Pessoas mais

integradas tendem a desfrutar de mais saúde. Assim, a promoção das relações sociais e da

saúde mental são tão importantes quanto a promoção da saúde física (WHO, 2015). A

maximização da capacidade funcional é determinante para que as pessoas idosas possam dar

continuidade ao seu desenvolvimento pessoal e ao seu papel ativo nas sociedades,

destacando-se cinco domínios essenciais:

• capacidade de satisfazer as necessidades básicas;

• capacidade de aprendizagem, desenvolvimento e tomada de decisão

informada;

• capacidade de se movimentar;

• capacidade de fazer e manter relacionamentos;

• capacidade de contribuir para as suas famílias e comunidades.

A ENEAS (2017) propõe 2 conjuntos de ações essenciais à promoção da participação social da

pessoa idosa:

1. Educação e formação ao longo do ciclo de vida

A aprendizagem ao longo do ciclo de vida deve responder a múltiplas áreas como sejam a

acessibilidade da informação sobre os direitos, alfabetização, literacia financeira, inclusão

tecnológica, literacia em saúde e autocuidados (International Longevity Centre Brazil, 2015).

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A literacia em saúde pode ser entendida como as competências cognitivas e sociais que

determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos para aceder, entender e usar

informações de uma forma que lhes permita promover e manter uma boa saúde (ENEAS,

2017).

2. Criação de ambientes potenciadores da integração e participação

Em 2010, a OMS criou a Rede Global de Cidades e Comunidades Amigas das Pessoas Idosas

com o objetivo de conectar cidades, comunidades e organizações em todo o mundo com a

visão comum de fazer das comunidades um ótimo lugar para envelhecer. Esta rede atua ao

nível local, promovendo a plena participação das pessoas idosas na vida comunitária.

A proximidade da família e da comunidade possibilita a facilidade de criação de ambientes de

intergeracionalidade, fundados no princípio basilar de que todos os seus elementos,

independentemente da idade e ou grau de dependência, são cidadãos de pleno direito. Como

os gastos com saúde estão projetados para aumentar globalmente devido à longevidade e à

mudança demográfica, em combinação com o aumento da solidão relatada entre os idosos,

os modelos de habitação focados no apoio à independência e ao bem-estar psicossocial dos

idosos têm sido um tópico interesse nos últimos anos (Corneliusson, Sköldunger, Sjögren,... &

Edvardsson, 2019).

A segurança é um dos pilares do envelhecimento ativo e saudável, sendo essencial para a

manutenção da capacidade intrínseca e funcional das pessoas idosas. A proteção, os cuidados

e a dignidade das pessoas idosas devem ser garantidos através de políticas e programas de

segurança física, social e financeira (World Health Organization, 2002).

1. Criação de ambientes físicos que garantam a segurança

Em 2014, a Comissão Europeia escolheu como uma das áreas prioritárias, no âmbito da

Parceria Europeia de Inovação no Domínio do Envelhecimento Ativo e Saudável, a inovação

para Edifícios, Cidades e Ambientes Amigos das Pessoas Idosas (European Innovation

Partnership on Active and Healthy Ageing Steering Group, 2011).

2. Identificação, sinalização e suporte em situação de vulnerabilidade

Muitas perceções populares e pressupostos comuns sobre as pessoas mais velhas são

baseadas em estereótipos ultrapassados. Na sua forma mais ostensiva estes podem levar à

discriminação das pessoas apenas pela sua idade. Nestes casos é percetível a diminuição da

participação social, a perda de autoestima e o isolamento social das pessoas idosas, com

aumento da ocorrência de abusos de diversas formas (World Health Organization, 2015).

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A investigação constitui um pilar fulcral para a concretização dos diversos objetivos, bem

como para a monitorização e avaliação das intervenções e disseminação de boas práticas, e

permite o desenvolvimento de estratégias de sucesso para a sua promoção e a disseminação

de boas práticas adotadas em diversos contextos. É esperado que sejam definidos prioridades

e planos de ação aos níveis nacional, regional e local, em articulação com os diversos

stakeholders, num trabalho intersectorial (ENES, 2017).

Investir nessas 10 PRIORIDADES é investir no futuro das sociedades. Um futuro que dê aos

idosos a liberdade de se beneficiar e contribuir para o desenvolvimento sustentável e ter uma

vida longa e saudável (WHO, 2017).

1ª- Estabelecimento de uma plataforma para inovação e mudança;

2ª- Apoiar o planejamento e a ação do país;

3ª - Recolher melhores dados globais sobre envelhecimento saudável;

4ª- Promover pesquisas que atendam às necessidades atuais e futuras de pessoas

idosas;

5ª- Alinhar os sistemas de saúde às necessidades das pessoas idosas;

6ª- Estabelecer bases para um sistema de cuidado de longo prazo em todos os países;

7ª- Garantir os Recursos Humanos Necessários para o Cuidado Integrado;

8ª- Empreender uma campanha global para combater o preconceito sobre a idade;

9ª- Definir a situação económica para investimento;

10ª- Melhorar a rede global para cidades e comunidades amigas dos idosos.

Active ageing also needs to focus on opportunities for leisure and recreation, age

friendly environments and providing opportunities to engage older people through

volunteering An age-friendly environment, including suitable transport links, housing

provision, public spaces, services and leisure facilities, and a socially cohesive

community which offers opportunities for an active life (including voluntary work) can

have a crucial impact on maintaining the quality of later life (Eurofound, 2011).

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CAPÍTULO IV

EMPOWERMENT COMO AGENTE TRANSFORMADOR NO

ENVELHECIMENTO ATIVO

O envelhecimento é, atualmente, uma questão da maior relevância social e científica. Várias

são as abordagens e tendências, face a complexidade deste processo. Uma etapa da vida, em

que nos últimos anos, tem sido alvo de críticas: “o idoso de antes e o idoso de agora”. Por

isso, a importância de se compreender alguns modelos:

• Modelo do envelhecimento saudável- está associado à condição de saúde numa ótica

biomédica e por isso considera o envelhecimento como:

o Positivo, no sentido de envelhecimento normal sem doenças.

o Negativo, enquanto patológico, com doenças.

o Normal, resultante da capacidade de cada indivíduo prevenir o envelhecimento

patológico.

O envelhecimento saudável é marcado por medidas como afetos e disposição de espírito e

satisfação de vida, e por medidas objetivas, nomeadamente morbidade, mortalidade e

independência. A partir de uma perspetiva biomédica, a definição mais relevante descreve-se

em três critérios: baixo risco para doenças e alta atividade mental e física, envolvimento ativo

na vida cotidiana e deficiências relacionadas à doença (Menezes, Costa, Iwata, de Araujo,

Oliveira, de Souza, & Fernandes, 2018).

• Modelo do envelhecimento bem-sucedido- resulta da capacidade de prevenção das

doenças, maximização das funções cognitivas, da participação e da integração nas

redes de suporte familiar e social, estando relacionado com a capacidade dos

indivíduos e da sociedade se adaptarem ao processo dinâmico do envelhecimento.

A promoção do envelhecimento bem-sucedido não só no que diz respeito à boa condição física

e mental, mas, também, à inclusão social que permite ao idoso desempenhar as tarefas que

gostaria de exercer dentro da sociedade, acrescentando qualidade aos anos de vida

(Ribeiro & Paúl, 2011).

• Modelo do envelhecimento produtivo- considera o envelhecimento em relação com

o mercado de trabalho, com o sistema produtivo e com acesso à reforma. Defende a

sustentabilidade do sistema de proteção social, incluindo a participação dos mais

velhos no sistema produtivo e o combate às reformas antecipadas. O termo surgiu em

contraponto às imagens negativas frágeis, dependentes e não produtivas, usualmente

veiculadas sobre as pessoas idosas.

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As sociedades prejudicam o desenvolvimento de atividades produtivas por parte das gerações

mais velhas, através do desenvolvimento de práticas excludentes. Neste modelo é

considerado todo o tipo de atividades que contribua para produzir bens e serviços, ou que

desenvolva a capacidade para os produzir, sejam elas remuneradas ou não (Simões, 2006).

O Empowerment na promoção do envelhecimento ativo

A estratégia Health 2020 (OMS, 2014) é o quadro de referência para as políticas europeias de

saúde (Figura 5). Centra-se na melhoria da saúde e bem-estar da população e na redução das

desigualdades em saúde, através do reforço da liderança e governança para a saúde. Estes

objetivos são alcançados através de prioridades estratégicas, desenvolvidas segundo

abordagens designadas por whole-society e whole-of-government. As prioridades estratégicas

são: i) investir na saúde ao longo do ciclo de vida, capacitando os cidadãos; ii) combater as

doenças transmissíveis e não transmissíveis; iii) fortalecer os sistemas de saúde centrados nas

pessoas, bem como a capacidade de resposta em saúde pública, nomeadamente a vigilância,

preparação e resposta a ameaças; iv) desenvolver comunidades resilientes e ambientes

protetores.

O termo empoderamento, no seu sentido literal, significa mais poder, sendo importante

contudo perceber que não se trata de um tipo de poder autoritário mas antes transformador

e emancipador. Assim sendo, considerando a prática de empoderamento em adultos idosos,

Carla Pinto (2013) lembra o significado de empowerment, definindo-o como mais poder no

sentido gerador/ criador, transformador, manifestando-se em mais poder de ação para o

sujeito com vista a fins da cidadania e justiça social.

Figura 5. Estratégia Health 2020, da OMS- Euro.

O conceito de empowerment tem evoluído centrando-se na necessidade e importância de que

os indivíduos se emancipem, libertem e se tornem autónomos seja em situações pessoais,

coletivas, em questões sociais, culturais, económicas e políticas que possam ser injustas

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(Pinto, 2011). Este conceito reflete o modelo conceptual do envelhecimento ativo em que é

valorizada a responsabilização individual, comunitária e política no processo de

envelhecimento.

Marc Zimmerman (2002, citado por Pinto, 2013) têm em consideração os seguintes termos de

entendimento:

• O empowerment varia no tempo e não pode dizer que esteja alguma vez acabado, pois

é um processo contínuo de crescimento e mudança.

• O empowerment tem de ser definido num contexto específico e numa população

específica, não existindo um padrão único.

• O empowerment é multidimensional é engloba diferentes níveis de análise:

empowerment ou empowerment individual que visa a eliminação das barreiras que

limitam o desenvolvimento da pessoa; o empowerment organizacional, procura

eliminar as causas estruturais do subdesenvolvimento e da exclusão através de

práticas institucionais e o empowerment comunitário, segundo o qual as comunidades

organizadas aumentam o seu poder coletivo.

Numa perspetiva de empowerment das pessoas idosas parece ser fundamental transformar a

velhice de “problema-drama” em “oportunidade-recurso”, em que a imagem da velhice, antes

retratada como um fardo, deve ser vista como como um desafio a ser ultrapassado com novas

ideias, novos papéis, novos significados e sobretudo mudanças. É fundamental pensar na

intervenção do terapeuta ocupacional como impulsionador do empowerment para a

promoção da autonomia, capacitação, emancipação e participação da pessoa idosa no seio

familiar e na comunidade.

Para mudar representações, imagens, atitudes e comportamentos (fundamentais para

envelhecer de forma ativa e saudável) é preciso mudar os desequilíbrios de poder que afetam

as vivências dos idosos nas sociedades modernas.

Portanto a política do envelhecimento ativo procura o empowerment das pessoas idosas,

nomeadamente para promover um corpo mais saudável, ativo e autónomo possível. Embora

o discurso do envelhecimento ativo é de responsabilização do indivíduo nesse processo é

essencial assegurar que as pessoas dependentes não sejam culpabilizadas pela sua

dependência ou “mau-envelhecimento”, mas sim procurar valorizar as suas capacidades e

competências.

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CAPÍTULO V

DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA UM EVELHECIMENTO ATIVO

Gerontotecnologia um campo de atuação para os terapeutas ocupacionais

Uma área inovadora no âmbito da gerontologia é a gerontotecnologia. Esta área refere-se ao

estudo multidisciplinar do envelhecimento e da tecnologia com o objetivo de adaptar os

ambientes nos quais vivem e trabalham os idosos e seus cuidadores, para que estes tenham

uma independência preservada e possam participar na sociedade e trabalhar com melhor

saúde, conforto e segurança (Maciel, Pessin, Istoe, & Souza, 2013). A gerontotecnologia utiliza

a tecnologia disponível para reduzir anos de morbilidade (condições de doença) e

desconforto, acrescentando autonomia funcional (aumentando os anos de vida

independente).

Os cinco pontos fulcrais da Gerontotecnologia, assinalados por Maciel e colaboradores (2013)

são: i) melhorar as ferramentas tecnológicas para o estudo do processo de envelhecimento;

ii) prevenir os efeitos do declínio da força, flexibilidade e resistência associadas à idade; iii)

aumentar a realização de novas funções; iv) compensar o declínio das capacidades associado

ao envelhecimento; e v) apoiar os cuidadores.

Por sua vez, Dara-Abrams (2008) identifica cinco domínios da Gerontotecnologia (Quadro 1).

Quadro 1. Domínios e objetivos da Gerontotecnologia.

DOMÍNIOS OBJETIVOS

Saúde e auto-estima Apoiar os indivíduos em seus aspetos físicos, cognitivos emocionais e sociais.

Habitação e Vida diária Apoiar as tarefas e as atividades da vida diária com independência e segurança.

Mobilidade e Transporte Mover-se ou movimentar-se de carro ou de transporte público.

Comunicação e Governança Conectar-se com as outras pessoas e monitorizar remotamente a integridade.

Trabalho e lazer Apoiar o trabalho, a aprendizagem, e o desenvolvimento de atividades de lazer.

As limitações de Autonomia, Vida Independente, Segurança e de Participação Social são

aspetos em comum entre pessoas com deficiência e idosos sem deficiência que podem

encontrar na tecnologia abordagens e estratégias semelhantes ou próximas.

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As aplicações da gerontotecnologia, segundo Neri (2005) são:

1) prevenir ou retardar o declínio funcional relacionado à idade;

2) compensar as limitações funcionais existentes relacionadas à idade e à presença de incapacidade decorrente de DCNT

3) aumentar o envolvimento e a satisfação na participação de atividades laborativas, de lazer e familiares, como forma de dar suporte na velhice para novas oportunidades educacionais, de expressão artística, de trabalho, proporcionando espaços adaptados e de interação social;

4) dar suporte ao cuidador e aos idosos dependentes, provendo recursos tecnológicos (produtos e serviços) e ambientes adequados;

5) desenvolver pesquisa básica e aplicada sobre o envelhecimento e o uso da tecnologia.

A gerontotecnologia é vista como um instrumento que serve como tecnologia contributiva

para o cuidado à saúde do idoso levando em consideração seu processo de envelhecimento e

seu processo saúde/doença, facilitando seu cuidado, sua co-responsabilidade e sua co-

participação. Seu uso objetivou contribuir para manter a auto-estima do idoso, ajudando-o a

não se sentir o único a buscar apoio nos seus iguais para reconstituir sua imagem corporal de

forma a se tornar apto a adaptar-se ao seu novo estado; estimular o idoso a participar de

grupos de auto-ajuda e proporcionar oportunidade de discussão e troca de experiências

capazes de direcioná-lo para uma vida mais feliz e plena fomentando sua reflexão e

instrumentalização para o cuidado.

É importante que na Gerontotecnologia para pessoa idosa, sejam considerados os seguintes

aspetos:

• Prevenção e envolvimento em ocupações;

• Melhoria e satisfação da vida na velhice;

• Compensação das perdas funcionais;

• Prestação de cuidados;

Apesar de Portugal ser um dos países da Europa com mais respostas sociais para a pessoa

idosa, um novo conceito de envelhecimento surge advindo da gerontotecnologia. O conceito

de “ageing place” se dirige aos aspetos que possam continuar independente e autónoma,

assim as soluções da gerontologia poderão contribuir a permanência do indivíduo mais velho

em sua residência por mais tempo com segurança e conforto, assim como poderão reduzir

custos e a taxa de institucionalização.

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Age-Friendly Cities

A Organização Mundial de Saúde criou o projeto “Age-Friendly Cities” – Cidades Amigas das

Pessoas Idosas (Figura 6) de forma a incentivar as cidades de todo o mundo a tornarem-se

ambientes facilitadores de um envelhecimento ativo dos seus cidadãos. Neste sentido, uma

cidade amiga das pessoas idosas proporciona políticas, serviços, cenários e estruturas que

apoiam as pessoas e permitem-lhes envelhecer ativamente ao reconhecer que são um recurso

valioso nas suas comunidades, antecipar e dar respostas flexíveis às suas necessidades,

respeitar as suas decisões e escolhas de estilo de vida, proteger os mais vulneráveis e

promover a sua inclusão e contribuição em todos os aspetos da vida comunitária (Green,

2013).

Figura 6. Áreas a considerar nas cidades amigas do idoso. OMS, 2007.

A habitação adequada e o acesso aos serviços comunitários e sociais estão interligados,

exercendo influência sobre a independência e a qualidade de vida dos idosos. É evidente que

Technology, home automation, telehealth services, and ‘ambient intelligence’ are

increasingly becoming tools to support and monitor older adults with or without cognitive

impairments, by improving their sense of safety and security as a means to support ageing-

in-place. Moreover, such technologies form a welcome support for family carers and care

professionals. In short, residential monitoring technologies aim to support frail people live

more safely and securely, more capably, and longer in their location of choice (van Hoof, J.,

Kort, Rutten, & Duijnstee, 2011).

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a habitação e os serviços de apoio que permitem aos idosos um envelhecimento confortável

e em segurança na comunidade a que pertencem são aspetos universalmente valorizados.

Em termos gerais, é importante para os idosos viverem em casas construídas com materiais

adequados e com: estruturas sólidas; superfícies planas; elevador, caso se trate de um edifício

com vários andares; casa de banho e cozinha adequadas; espaço suficiente para permitir a

movimentação; suficiente espaço de armazenamento; passagens e portas suficientemente

largas para permitir a circulação de uma cadeira de rodas; e equipada de modo a oferecer

proteção contra as condições climatéricas.

A possibilidade de modificar a própria casa ou apartamento também influencia a capacidade

que os idosos têm de continuarem a viver confortavelmente em casa. A habitação deve ter

em consideração os espaços exteriores e o restante ambiente construído, de modo a que as

casas dos idosos sejam construídas em áreas protegidas contra os perigos naturais e perto de

serviços, de outros grupos etários e de atrações cívicas que lhes permitam manterem-se

integrados na comunidade, manterem a mobilidade e a boa forma física (OMS, 2007).

Em 2015 surgiram as Comunidades Amigas das Demências como uma resposta de nível

populacional que enfatiza a conscientização e o apoio às pessoas afetadas pela demência (as

que vivem com a doença e seus cuidadores) em suas comunidades. Eles diferem em tamanho

e formas de trabalho e podem ser comunidades geográficas ou comunidades de interesse. Sua

diversidade é refletida na seguinte definição ampla:

As Comunidades Amigas da Demência incluem, capacitam e apoiam as pessoas afetadas pela

demência e seus cuidadores em todos os aspectos da vida, desde o acesso aos serviços até o

uso do transporte público. Podem ser comunidades geográficas ou comunidades de interesse.

Eles também ajudam a empoderar aqueles cujas vidas são afetadas pela demência, de modo

que possam permanecer integrados na sociedade, viver da forma mais independente possível e

participar ativamente de decisões que afetam suas vidas diárias.

( Life Changes Trust, 2015 , p. 7).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este material pedagógico foi desenvolvido de forma a complementar as aulas teórico práticas

da UC de Terapia Ocupacional III e dar suporte informativo para o trabalho autónomo dos

estudantes de Licenciatura em Terapia Ocupacional. É importante que o estudante desenvolva

competências de trabalho multidisciplinar desde a sua formação e compreenda a avaliação

multidimensional dos fatores e determinantes do Envelhecimento Ativo de forma a criar

programas e intervenções ajustadas à realidade da pessoa/comunidade/contexto.

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