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Programa Eleitoral do MpD para as Legislativas de 2011

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Um Programa Político a pensar em si é o que lhe propomospara a próxima legislatura. O nível de desenvolvimento deum país não se mede em toneladas de betão, mas sim pelo

nível de realização de todos e de cada um de vocês.Nestas eleições legislativas cada um de nós deve questionar-se se játem o País que quer. É este o Cabo Verde com que sonhou? Senteque já possui as oportunidades de que necessita? Está feliz com aqui-lo que o Governo lhe proporciona?Julgo que não. Apesar da manipulação ilusória que nos vende um Paísde sucesso, certo é que todos os indicadores nos dizem o contrário.Em 2001 quando terminamos a nossa última participação no gover-no, Cabo Verde tinha uma taxa de crescimento médio anual de 9%nos últimos dois anos. Em 2009/2010, segundo o FMI, ela é, emmédia de 4%. A dívida pública em 2001 era de 49,6 milhões de con-tos, hoje é de 128,5 milhões de contos. Ela já é de cerca de 100% doPIB, o que significa que teríamos que trabalhar e produzir um anointeiro, sem nada receber, só para a conseguir pagar. Em 2000, odesemprego cifrava-se nos 17%. Hoje, dez anos depois, subiu para21% e entre os jovens atinge mesmo os 40%. A par de tudo isto, acarga fiscal aumentou 42% ao longo destes últimos dez anos. Cadavez, pagamos mais impostos. Cada vez, recebemos menos em termosproporcionais.

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E a nossa vida melhorou apesar do aumento do endividamento?Apesar do aumento dos impostos? Não é preciso ser economistapara perceber que estamos pior ao fim de dez anos. Os números nãomentem, eles não enganam. Os testemunhos de todos aqueles comquem me cruzo nas ruas também não mentem, não deixam espaçopara dúvidas. Cabo Verde piorou. Cabo Verde tem de mudar.É por isso que é necessário mudar de modelo governativo, mudar demodelo económico, mudar a noção elementar de crescimento,mudar a visão sobre o lugar das pessoas no desenvolvimento do País.Porque o objectivo último da política é servir as pessoas, é ir aoencontro das suas necessidades.É necessário criar um modelo em que cada um seja senhor do seu des-tino, criando uma verdadeira igualdade de oportunidades para todos,independentemente da sua origem ou condição social, independente-mente das suas ideias políticas. É necessário criar condições para quecada um descubra o melhor que há em si, trabalhando, demonstrandoos seus méritos, desenvolvendo as suas capacidades empreendedoras,conquistando uma vida materialmente condigna, para si e para os seus.Tudo isto num processo em que o Estado seja o facilitador da sua as-censão pessoal e não o castrador dos seus sonhos, das suas ambições.Nós vamos proporcionar-lhe as condições para que possa realizar,por si próprio, as suas aspirações. Isto porque acreditamos que cadaum de vocês pode ser o construtor do vosso próprio futuro, para ládaquilo que o Estado vos pode dar. Nós acreditamos em si.É por isso que para nós as pessoas estão em primeiro lugar. Nós nãogovernaremos para o Estado, governaremos para si. Nós não queremoso Estado a controla-lo a si, queremos que seja você a controlar o Estado.Nós queremos menos Estado mas melhor Estado. Nós queremos vê--lo mais activo e mais dinâmico na construção do nosso futurocolectivo. Nós queremos ver os cabo-verdianos conquistarem, noterritório nacional, as oportunidades, os méritos e os resultados quehabitualmente conquistam na diáspora, em países onde têm mais emelhores oportunidades. Nós temos que saber, em conjunto, cons-truir um País que não nos obrigue a partir. Nós temos que ser

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capazes de saber servir nas nossas Ilhas o nosso destino comum.É para garantir uma política mais humanista, um Governo mais pró-ximo dos cidadãos, um Estado mais facilitador e indutor do desen-volvimento de todos e cada um de vós, que me candidato a Primeiro--Ministro de Cabo Verde. Nos muitos dias que temos passado a conversar nas ruas, nos valesonde nos cruzamos, tenho confirmado as mais fundadas suspeitas quetinha relativamente aos insucessos da actual governação, apesar dapropaganda e dos galardões internacionais que o Governo tanto gostade exibir.Nisso, devo-vos confessar, conheço melhor o País e aprendo maisnuma conversa convosco do que pela leitura sistemática dessesrelatórios internacionais.Por muito que nos embalem na ilusão do sucesso desses galardões,eu não vejo nas ruas a tradução desse desenvolvimento e vocêsdizem-me que também não o sentem nas vossas vidas. É por isso queassim não pode continuar.Porque Cabo Verde está pior e tem que mudar. Porque os cabo-ver-dianos merecem mais. Porque você merece melhor. Porque a responsabilidade de governar em vosso nome, a honra devos servir, o desafio de fazer crescer o Cabo Verde que todos ama-mos, implica começar a mudança pela forma de fazer política, pelasprioridades governativas. E, para nós, as pessoas vêm primeiro.

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O estado da governação É o momento do governo prestar contas e ser avaliado! Essa avalia-ção deve ser feita de acordo com as metas inscritas no programa degoverno, bem como de um conjunto de promessas avulsas assumi-das pelo governo nas diferentes áreas de governação.

A promessa do crescimento a dois dígitose desemprego a um dígitoNo seu programa, página 23, o governo prometeu “atingir a taxa decrescimento do PIB de dois dígitos” e “ reduzir a taxa de desem-prego para níveis inferiores a 10%”, através da dinamização dos sec-tores dinâmicos da economia, do fortalecimento das linkagensintersectoriais que condicionam as promoção dos sectores dinâmi-cos, a remoção ou eliminação progressiva dos factores inibidores dacompetitividade e implementação de políticas e programas de pro-moção de investimentos privados e de desenvolvimento empresa-rial”.Para atingir as metas propostas, o governo identificou seis eixos deintervenção:

a. Novos paradigmas de crescimento e competitividade da econo-mia

b. Capacitar para o desenvolvimentoc. Justiça social e solidariedade para todosd. Pela qualidade de vida e desenvolvimento sustentávele. Mais democracia, empreendedorismo e cidadaniaf. Cabo Verde no mundo: uma nação global

O governo propôs, assim, levar a economia a crescer a um ritmoacelerado com efeitos directos na criação de emprego, com eleva-do nível de qualificação, com justiça social, com qualidade de vida,com uma cidadania activa e competitiva no plano internacional.

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Crescimento económico num plano inclinado negativoAs promessas não foram cumpridas, a começar pelo crescimentoeconómico que ficou por uma média de 5% nas duas legislaturas,chegando, segundo o FMI, aos 3% em 2009 e previsão de 4,1% em2010, portanto, muito longe do prometido mínimo de 10%.

O crescimento foi fraco porque o modelo económico escolhido paramaterializar as promessas foi desadequado à realidade económica esocial do País:

a. Teve por base uma matriz ideológica que não funciona na econo-mia de mercado e nem vai de encontro às exigências da moderni-dade e com as legítimas e verdadeiras aspirações dos cabo-ver-dianos.

b. Suportou-se no investimento público de capital intensivo comoúnico instrumento de promoção de crescimento.

c. As opções estratégicas levaram o País para uma economia essen-cialmente baseada no turismo, afunilando as opções num únicosector em vez da razoável diversificação que garantisse uma maiorresiliência do País a choques externos.

d. A indústria ligeira, a logística, a função financeira, bem como uma

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capacidade produtiva primária na agricultura e na pesca forammiraculosamente esquecidas.

e. Reformas essenciais como a da administração pública, do sector daenergia, da justiça, da educação / da formação e do mercado de tra-balho e programas de promoção como o do País no exterior e daspequenas e médias empresas ou falharam ou ficaram na gaveta.

Não basta anunciar que o sector privado é o motor da economia. Énecessário compreender como funciona a realidade do mercado ecriar as condições de sucesso do sector privado.Os incentivos adequados às iniciativas empresariais, bem como polí-ticas de aumento da competitividade da economia são necessáriaspara que o sector privado possa tornar-se no real motor da economiacabo-verdiana.Em vez disso, o governo parou no tempo confiando apenas na propa-ganda e, hoje, todos pagamos o preço da demagogia e da publicidadeenganosa.A situação económica do País é preocupante. O crescimento econó-mico está muito abaixo do potencial, a dívida pública aproxima-seperigosamente dos 100% do PIB, o deficit orçamental estádescontrolado e não existe um rumo claro na definição das priori-dades de investimento.O Estado está cada vez mais presente na economia, na sociedade ena vida das pessoas. Nos anos noventa, o País manteve uma linha ascendente de cresci-mento económico, saindo de 1,7% de crescimento do produto em1991 para atingir os 11,9% no final da legislatura, com um cresci-mento médio na ordem dos 8%, aproximando o País dos países derendimento médio. Nos dez anos de Governo do PAICV, o crescimen-to médio caiu para níveis da ordem dos 6%, significando uma re-dução de 40%.A capacidade competitiva do País piorou nos últimos 10 anos. Apesarda criação de departamentos governamentais, como o Ministério daEconomia Crescimento e Competitividade e do próprio Primeiro-Mi-nistro chamar a si a pasta da economia, Cabo Verde classificou-se, na

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avaliação do Fórum Económico Mundial (FEC) na 117ª posição entre139 países, colocando-se como um dos 22 países menos competi-tivos do Mundo.O ranking de competitividade do FEC cobre três grandes áreas e aclassificação vai de 1 a 7:Em “Requisitos Básicos”, Cabo Verde fica com uma pontuação de 4.1,ocupando o lugar 96 entre os 139 países; Em “Eficiência”, Cabo Verdeobteve 3.2 e ficou na posição 129; Em “Inovação”, Cabo Verde obteveapenas 2.8, ficando na posição 128.Nos requisitos básicos fomos bem avaliados, com a saúde e ensinobásico a obter 5.4, mas com as infra-estruturas a cair nos 2.8, portan-to, com nota negativa. A qualidade da oferta em electricidade ficouno lugar 131 (quase a pior electricidade do mundo), a disponibilidadede assentos de avião por quilómetro em 107ª e a qualidade das infra-estruturas portuárias na 102 posição.Mesmo na qualidade das estradas, onde o governo já enterroudezenas de milhões de contos, a nossa pontuação é de 3.8, ficando na68ª posição, a meio da tabela.Nos Indutores de Eficiência, tivemos medíocre no ensino secundárioe formação profissional, com 3.3 e nas tecnologias com 3.4 e muitomau na dimensão do mercado, com 1.1.No agregado destas três grandes áreas, ficamos com a pontuação de3.5, o que nos colocou na citada 117ª posição do ranking mundial.Para além desta má posição absoluta, também é muito má a nossaposição relativa. Mesmo comparando com a África, como costumafazer com pouca ambição o governo, ficamos atrás de países como aTunísia (32), África do Sul (54), Maurícias (55), Namíbia (74),Marrocos (75), Botswana (76), Ruanda (80), Egipto (81), Argélia (86),Gâmbia (90), Líbia (100), Senegal (104), Kenia (106), Camarões (111),Tanzânia (113), e Zâmbia (115).Muitos destes países e outros que estão muito à frente de nós, per-tencem ao nosso grupo estratégico, isto é, competem directamenteconnosco na captação do investimento externo, na emissão de turis-tas (alojamento, restauração e lazer) e na imobiliária turística (segun-

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da habitação), ficando claro o prejuízo que essa classificação nos cau-sa, não só na captação do investimento externo, como na exportação.O crescimento económico não tem sido sustentado, não cria empre-go, não densifica o tecido empresarial e não permite a sua estrutu-ração para fazer face aos desafios da internacionalização, da exporta-ção de bens e serviços e do crescimento económico. O País só temcrescido via investimento público, contribuindo para um elevadoendividamento e o aumento do deficit orçamental, num modelo decrescimento limitativo da exportação e da nossa capacidade de criarriqueza e de promover a igualdade de oportunidades.Nos últimos anos, Cabo Verde, tem divergido dos países de rendi-mento médio. O índice de desenvolvimento humano (IDH) tem cres-cido menos do que os restantes países comparáveis, o que demons-tra que não se está a optimizar as potencialidades do País. No IDH209, caímos 18 posições, ficando na posição 121ª, para, no IDH 2010,recuperarmos 3 posições e ficarmos, actualmente, na 118ª. Tudoporque os outros países adequaram melhor as suas políticas de saú-de, da educação e do rendimento.Em suma, o País tem demonstrado uma tendência muito negativapara satisfazer as legítimas aspirações dos cabo-verdianos e, peranteeste cenário, é natural a persistência de um alto índice de pobreza,uma juventude desiludida e preocupada com o seu futuro, empresá-rios sem expectativa de melhoria nos negócios, enfim, uma socieda-de insegura e com grandes preocupações no seu bem-estar geral.

Desemprego a 20,9%O governo deixa, em vez da prometida taxa abaixo dos 10% de de-semprego, 20,9% de desempregados. Nos jovens, a situação é gravís-sima, com uma taxa de desemprego de 41%, chegando aos 46,2% nomeio urbano.A promessa de capacitar para o desenvolvimento não foi cumprida eo governo não conseguiu resolver um problema crónico que afecta aeconomia cabo-verdiana, o desequilíbrio entre a oferta e a procura nomercado da formação profissional.

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O governo formou as pessoas mais numa lógica de satisfação eleitoraldo que propriamente para a promoção do emprego numa economiaqualificada. A prova disso é o desemprego entre os licenciados e formados comníveis profissionalizantes a crescer, demonstrando que a formaçãonão está voltada para o mercado, contribuindo para a frustraçãoprofissional e a diminuição do potencial de produção do País.

O modelo de capacitação escolhido falhou:a. Os empregos criados são temporários, sem qualificação, de baixo

rendimento e sem qualquer ligação com as áreas mais dinâmicasdo País. Cerca de 98% do emprego criado é temporário e semqualificação;

b. Existe uma escassez de mão de mão obra especializada e for-mam-se jovens para engrossarem a lista de desempregados. Bastao facto de 50% dos jovens desempregados terem o ensino secun-dário e existirem já mais de 1000 jovens desempregados com for-mação superior.

Os resultados demonstram que esse modelo económico do governodo PAICV trouxe sim, ao invés do crescimento a dois dígitos e taxa dedesemprego a um dígito, uma diminuição da actividade económica, oaumento do desemprego, a diminuição do investimento, dificuldadesno acesso ao crédito, a redução das exportações, a crise de energia eágua e de inertes, a perda de poder de compra das famílias e de com-petitividade das empresas e a degradação dos indicadores sociais nogeral.

Profundas desigualdades sociaisA justiça social e solidariedade para todos não foram atingidas. Apolítica social deixou de ser uma forma de equidade de oportu-nidades entre os cabo-verdianos e passou a ser um instrumento decontrolo e de condicionamento das pessoas.Qualquer reforma da protecção social e a sua sustentabilidade tem

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de ter um único propósito: estar ao serviço dos trabalhadores, dasfamílias e de todos os cabo-verdianos, de forma a permitir a constru-ção de um Cabo Verde mais justo e solidário. Esses é que devem ser os objectivos da reforma da protecção sociale é nesta óptica é que deve ser feita a avaliação. A gestão da políticade protecção social deve ter como objectivo superior a dignidade doscabo-verdianos e não a utilização, de forma clara e a pretexto depolítica de protecção social, de recursos públicos para condicionar,controlar e asfixiar a liberdade individual dos cabo-verdianos.A política de protecção social deve estar também ao serviço dosgrandes objectivos definidos pelo governo: crescimento económicode dois dígitos e desemprego de um dígito. De forma a termos umasociedade que cria riqueza, que é solidária e justa. E, neste particular,o falhanço do governo é evidente. É preciso ser mais ambicioso e nãohá política de protecção social eficaz com um governo que falha nassuas principais metas. Sem crescimento económico, não há emprego e não há capacidadede promover uma sociedade pujante e equilibrada. É esta a nossadiferença. O PAICV quer dar pensão para depois cobrar com votos, oMpD vai promover o emprego e o crescimento de forma a dar a cadacabo-verdiano um rendimento e, a partir daí, o acesso a todas asredes de protecção social a que tem direito. O coração da política social é o emprego, complementado pela edu-cação, pela saúde, pela habitação, pela previdência e segurança social.O falhanço na política de rendimentos e emprego é evidente, a edu-cação está cada vez mais cara e sem capacidade de aumentar aempregabilidade dos jovens, o sistema nacional de saúde estádoente, não existe uma politica de habitação, a previdência socialdiminui as suas prestações imediatas todos os dias e a assistênciasocial é feita na lógica de fidelização partidária.Nestes dez anos do PAICV, o País esperou uma reforma de fundo dosistema de protecção social, de forma a adaptá-la à modernidade,mas o que assistimos é a continuação do que existia no passado. Ogoverno não trouxe uma única novidade para o sistema, o que prova

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que gere o dia-a-dia, sem inovação e que acredita que através da pro-paganda consegue iludir os cabo-verdianos da sua fraca capacidadereformadora e inovadora.O aumento do número de pensionista é feito abaixo do potencial doPaís. Se todas as medidas preconizadas para o desenvolvimentosocial fossem concretizadas, hoje o valor da pensão social mínimaseria muito superior aos 5 000$00 e os instrumentos de inclusãosocial muito mais eficazes.

Menos democracia, menos cidadaniaMais democracia, empreendedorismo e cidadania prometidos pelogoverno não passaram de um slogan para não ser levado a sério. A imprensa é cada vez mais condicionada, como prova o pacote legis-lativo recentemente aprovado no parlamento e os indicadores detempo de antena do governo e do partido que o sustenta, a sociedadecivil está cada vez mais partidarizada, as associações comunitárias debase são, cada vez mais, um tentáculo do PAICV, a administraçãopública transformou-se numa entidade ao serviço do partido, prejudi-cando as pessoas e as empresas não alinhadas com o Partido.A reforma do Estado não avançou uma linha. O País continua à espe-ra do estatuto especial para a capital, a descentralização sofreu recu-os e a regionalização não foi assumida.Esta é a realidade económica e social de Cabo Verde. Extremamentedifícil porque o governo não preparou o País para aproveitar as opor-tunidades em tempos de bonança e aguentar o choque em temposde crise. Não aprofundou a democracia e procurou manipular oscidadãos e os recursos públicos na base da militância política a favordo PAICV!

O desempenho do Governo antes e durante a criseCabo Verde vive uma crise conjuntural resultante da crise interna-cional e uma crise estrutural resultante das más opções do governoque ora termina funções.É tempo de prestar contas com verdade e de assumir responsabilida-

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des pelos sucessos e insucessos da economia cabo-verdiana. O go-verno mudou o discurso consoante as situações, mas de políticaeconómica errada nunca mudou.

O governo tem-se socorrido muito da crise financeira internacionalpara justificar o seu falhanço na política económica, mas a realidademostra que não há crise internacional que justifique:

a. Uma legislação laboral desadequada e ultrapassada, que em vezde promover o emprego e a competitividade promove o desem-prego e a perda de competitividade.

b. Uma enorme dificuldade na obtenção de crédito, num ambienteinstitucional hostil às empresas.

c. O abandono das micro e pequenas empresas.d. A não criação do “cluster” do turismo.e. A crise de energia e água.f. A crise dos transportes marítimos e o seu impacte na mobilidade

das pessoas e na unificação do mercado.g. O aumento do abandono escolar, da diminuição da igualdade de

oportunidades entre os cidadãos e entre as ilhas.h. A perda de poder de compra dos cabo-verdianos.

Não basta anunciar que o sector privado é o motor da economia. Énecessário compreender como funciona a realidade do mercado ecriar as condições de sucesso do sector privado.Os incentivos adequados às iniciativas empresariais bem como políti-cas de aumento da competitividade da economia são necessáriaspara que o sector privado possa tornar-se no verdadeiro motor daeconomia cabo-verdiana.

Antes da crise, grandes oportunidades perdidasAntes da crise financeira internacional, o Governo dificultou a vidaaos empresários, não aproveitou as oportunidades disponíveis eandou num frenesim totalitário pela posse e venda de terrenos.O último relatório do Fórum Económico Mundial veio confirmar que

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o mau desempenho deve-se a factores internos e não externos. O Estado é pesado e gastador, as infra-estruturas não têm qualidade,o ensino secundário e a formação profissional são desadequados, ostransportes são deficitários, a lei laboral não promove o emprego e acompetitividade, o sistema fiscal é injusto e perseguidor dosempresários, existe uma subversão completa das regras da concor-rência, a administração é burocrática e lenta, a energia e água estãoem crise, o saneamento praticamente não existe e a percepção deinsegurança aumentou.Por outro lado, foram realizados investimentos públicos sem umaarticulação com as políticas sectoriais que pudesse facilitar a intro-dução de maior eficiência na gestão e participação de investimentosprivados nessas infra-estruturas, aliviando o Estado de avultadoscompromissos financeiros.É este o ambiente em que actuam as empresas. Fica claro que sãofactores internos que dificultam a nossa vida e não nos permitem tercapacidade de produzir mais riqueza, das nossas empresas se interna-cionalizarem e de criarem mais emprego.É esta a situação antes da crise financeira internacional. Um país comeste quadro e com um governo de matriz estatizante não tornou pos-sível o aproveitamento das janelas de oportunidades surgidas, casoparadigmático, no turismo.O governo do PAICV não soube tirar partido da oportunidade ímparno sector do turismo oferecida ao País pela conjuntura internacionalfavorável que prevaleceu durante cerca de oito anos do período doseu mandato.A inoperância e marginalização do Turismo e a inexistência de umplano estratégico para o desenvolvimento do mesmo ilustram aomissão e a ausência governativa em relação ao sector. Do mesmo modo, o governo não organizou a promoção do País juntode investidores e operadores internacionais com capacidade de reali-zação de investimentos e de promoção dos produtos que pudessemcolocar Cabo Verde na rota do turismo internacional de maior valoracrescentado. Pelo contrário, adoptou uma postura reactiva quefavoreceu propostas e intenções de investimentos muitas vezes

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provenientes de entidades sem capacitação e perfil empresariais ade-quados ao desenvolvimento do sector.A política de crescimento do sector turístico do governo falhouredondamente quando avaliada nesta importante vertente da suaconexão com o desenvolvimento de outros sectores de actividadeque em regra provoca. Em Cabo Verde, o alargamento do mercado interno, que resultou doaumento das visitas turísticas, não arrastou uma oferta de produtose serviços de valor acrescentado nacional para servir este mercadoalargado. Foi notória a ausência de políticas impulsionadoras doempreendedorismo, do crédito e de reformas, bem como da moder-nização regulatória e da cooperação e assistência técnica às empre-sas, não permitindo que os produtos da pesca, da agricultura e dapecuária, do artesanato e da cultura respondessem com quantidade,qualidade e condições e preços satisfatórios à procura derivada docrescimento turístico.As evidências desta realidade estão reflectidas nas estatísticas dasimportações desses produtos e na constatação das grandes insufi-ciências, particularmente qualitativas, na prestação de serviços aosector.Mesmo antes da crise, o crescimento era baixo e o desemprego tinhaaumentado em relação ao ano 2000!

Perante a crise, a desresponsabilizaçãoPerante a crise, o governo meteu a cabeça na areia e iniciou umprocesso de desresponsabilização do insucesso da política económica.Aumentou dramaticamente a dívida pública e o deficit orçamentalsem qualquer ligação com as reais necessidades das pessoas. Osempresários e as famílias iam tendo mais dificuldades, o Governo iaanunciando medidas que não concretizava e assumiu, de forma dis-cricionária e sem qualquer ligação com a economia, dívidas e maisdívidas para alimentar um Estado cada vez mais inoperante.O deficit orçamental é hoje uma incógnita. Os últimos dados apon-tam para um deficit de 14,9% do PIB em 2010, o que será um dos

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maiores défices dos últimos 20 anos. A dívida pública está no limiteda sustentabilidade e foi feita para construir infra-estruturas e execu-tar programas com pouco impacte na criação do emprego e namelhoria das condições de vida dos cabo-verdianos, mas com grandeimpacte no controlo e condicionamento das empresas e das famílias.

ConclusãoMilhões e milhões de contos de poupanças dos cabo-verdianos, dedonativos de outros países e de empréstimos feitos no estrangeiroforam gastos nos últimos dez anos. Para o governo do PAICV, osresultados vêem-se nas obras inauguradas, nas estatísticasfavoráveis, quando comparadas com certos países africanos, e nasdeclarações simpáticas de países estrangeiros. Mas os cabo-verdianos sabem que nem tudo o que brilha é ouro. Quenem todos os gastos trazem benefícios que os justificam. E muitomenos preparam o futuro. Sabem que, para além de todas as aparên-cias, vive-se em Cabo Verde um crescimento económico anémico,com desemprego generalizado, com ilhas estagnadas e desesperan-çadas, com bolsas persistentes de pobreza e com crescente desigual-dade. As pessoas também sabem que no futuro próximo vão confrontar-secom níveis de dívida pública e défices orçamentais perigosamentealtos. E será em ambiente de crise internacional e a partir de umaeconomia pouco diversificada e pouco virada para a exportação debens e serviços.O documento, “Análise de Constrangimentos”, promovido pelo pro-grama MCA dá conta da armadilha em que este governo meteu oPaís. Deixa claro que a propagandeada agenda de transformação estáencalhada em constrangimentos, designadamente no domínio dofinanciamento, da educação e formação e dos transportes e comuni-cações que já deviam ter sido corrigidos e ultrapassados. Por essa, e outras razões, a década de governação do PAICV é, a todosos títulos, uma década perdida.É uma década perdida quanto à atracção do Investimento Externo.

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Nos primeiros anos, o Governo perdeu-se a desmantelar o PROMEXe a enviar sinais complicados aos investidores. Está a terminar omandato sem uma estratégia de promoção do País em tempos decrise. A meio da década ficou eufórico com as possibilidades deentrada de capitais. Em 2007, chegou a anunciar investimentos de 4mil milhões de euros em S. Vicente, a um ritmo de 600 milhões porano. Mas logo depois queimou a galinha dos ovos de ouro. Nãocuidou da segurança e não tomou as medidas urgentes que seimpunham e minou a confiança de todos com insegurança jurídica noregisto dos terrenos. A crise começou na ilha do Sal e alastrou-sepelas outras ilhas.É uma década perdida no domínio da Educação e da FormaçãoProfissional. Não obstante os liceus construídos, os milhares dealunos nas escolas, as universidades criadas e o esforço na formaçãoprofissional. O excessivo desemprego entre os jovens é prova cabaldisso. A falta de qualidade no ensino da matemática e das ciências ea não aposta em competências linguísticas estratégicas não faz docapital humano em Cabo Verde um factor de atracção de capitais. Odesajuste entre a formação profissional e as necessidades do merca-do não favorece a produtividade das empresas e prejudica a inovaçãoem produtos e processos.A década de governação do PAICV é uma década perdida no domíniodos Transportes e das Comunicações. Apesar das infra-estruturasfeitas, o mercado nacional está ainda por ser unificado, com prejuízo,em particular, para as ilhas agrícolas. Ilhas como a Brava, S Nicolau eMaio, estagnaram com o isolamento. E os TACV continuam a fazeros emigrantes, os nacionais e os ocasionais turistas e visitantes pagaras suas ineficiências, com custos para a economia nacional e acrésci-mos na dívida pública. Apesar dos avanços nas comunicações elec-trónicas, Cabo Verde não soube desenvolver empresas exportadorasde serviços baseados nas TIC, capazes de empregar milhares dejovens. Faltou visão. Seis anos depois do MpD ter proposto naAssembleia Nacional uma estratégia para a banda larga, o Governo,finalmente, ontem, criou uma comissão para isso.

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É uma década perdida no domínio de Energia. Cortes sucessivos deenergias causaram transtornos às pessoas e prejuízos avultados àeconomia nacional em perdas de produtividade e em custos acresci-dos na aquisição de geradores. A culpa disso tudo está na forma irres-ponsável e politiqueira com que o Governo tratou a questão daElectra. O País perdeu o parceiro estratégico e vem tropeçando nosector com medidas avulsas sem um plano definido. Hoje injectadinheiro do INPS para resolver problemas de tesouraria, amanhã con-trai empréstimos vultuosos com cláusulas complicadas e, depois deamanhã, vêem-se membros do Governo a distribuir lâmpadas emnome da eficiência energética. A questão séria da factura energética,da dependência de combustíveis fósseis e das ineficiências na pro-dução e distribuição de energia ficam por ser abordadas de formacompreensiva.É ainda uma década perdida no domínio da Agricultura. Apesar daconstrução de barragens, ainda não se encontrou uma via para debe-lar a pobreza no mundo rural, perante graves erros de gestão, porexemplo a nível das tarifas da água retida, bem como do reordena-mento das zonas circundantes a montante. A agricultura não foidireccionada para produtos de grande valor acrescentado e o merca-do agrícola não se expandiu por falta de transportes inter-ilhasfiáveis. O Governo deixou que o grogue continuasse a ser adulterado,arruinando os proprietários de cana, prejudicando exportações edevastando a saúde de muitos jovens.Nas Pescas, viu-se com o caso da Frescomar como a década foi per-dida. Mesmo com a possibilidade de vender dezenas de toneladas depeixe por dia à fábrica, não passou pela cabeça dos governantesinvestir agressivamente na frota para aumentar a captura nacional eaproveitar os acordos de pesca com países da costa africana. Na Saúde, nesta década perdida, não se fez o suficiente para evitarque o País perdesse a vantagem comparativa de ser um destino turís-tico sem doenças endémicas. Permitiu-se que o paludismo, paulati-namente, assentasse arraiais em algumas ilhas e que Cabo Verdevirasse notícia internacional com a epidemia da dengue. Por outro

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lado, não se imprimiu um impulso estratégico ao sector que capaci-tasse o País para responder às doenças de uma população com maioresperança de vida e, ao mesmo tempo, se posicionasse para respon-der às demandas do turismo residencial, virado para populaçãoeuropeia.É uma década perdida na habitação a nível da reabilitação das habi-tações e da regeneração urbana, levando a que a ausência de umapolítica nacional de habitação contribuísse para o agravamento das jáprecárias condições de vida da maioria da população cabo-verdiana.Na Justiça, o agendamento da discussão dos Estatutos dosMagistrados para Outubro de 2010 mostra como a década foi perdi-da. A insistência do PAICV em manter juízes de nomeação política noSupremo Tribunal de Justiça à revelia da Constituição da República,efectivamente bloqueou a instalação do Tribunal Constitucional eimpediu que se dessem passos seguros para uma verdadeira inde-pendência do poder judicial.Um olhar pela comunicação social de Cabo Verde deixa claro que aítambém foi uma década perdida. A autocensura reina. Ao longo dosanos, o Governo moveu-se para cercear manifestações de pluralismo.Preparava o palco para a enxurrada de propaganda que está a sufocaro País com os recursos do Estado, na campanha eleitoral que há muitoiniciou. Vê-se isso todos os dias na televisão pública.Dirigentes internacionais têm avisado contra a tentação de certoslíderes das novas democracias de pôr a sociedade civil numa espéciede torno de aço, sufocando o espírito humano e esvaziando o plura-lismo, ao mesmo que afirmam que, sem sociedade civil, não hádemocracia.Nesta década de governação, o PAICV faltou no seu dever ao povo deCabo Verde. Esforçou-se por diminuir a Liberdade, fustigou de todosos lados o Estado de Direito e não contribuiu para a prosperidadedesejada. Falhou completamente nas metas de crescimento eemprego que se impôs e desperdiçou oportunidades que podiam terpermitido aos cabo-verdianos, em todas as ilhas, perspectivar hoje ofuturo com uma outra certeza.

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O desafio: é preciso mudarde novo!

O MpD sempre se afirmou no panorama político cabo-verdianocomo um grande partido que deve orgulhar-se da sua história e dassuas realizações, estas traduzidas em grandes reformas que mudaramo curso do País, destacando-se dois momentos importantes: oprimeiro, que se traduziu na implantação de um modelo de democra-cia representativa plena, cujo ponto alto foi a aprovação da Cons-tituição de 1992; o segundo, que se traduziu no estabelecimento deum modelo de desenvolvimento económico alicerçado na iniciativaprivada e no reforço do papel regulador do Estado.O MpD entende que o principal desafio de Cabo Verde está na pro-moção do bem-estar das pessoas, em trazer as pessoas para o centrodo desenvolvimento, identificando, desde já, um pacote de medidasinadiáveis em áreas da máxima prioridade que será mais desenvolvi-do na parte sectorial.É preciso mudar de novo para que Cabo Verde volte a trilhar o cami-nho da humanização democrática da nossa sociedade:

O desafio do Estado de Direito Democrático eficaz emodernoO MpD é portador de um novo rumo para vencer a mais importantebarreira de todas: a inexistência de um Estado de direito democráti-co com instituições fortes e eficazes, moderno e inserido no mundo.Está preparado para a construção de um Estado capaz de limitar o seupróprio poder e de fazer com que o poder político e o seu exercíciose confinem ao quadro constitucional; um Estado com reduzidaintervenção de forma directa na economia, mas eficaz na regulaçãoe promoção de políticas públicas de apoio ao desenvolvimentoempresarial e ao investimento privado e atento na sua implemen-

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tação; um Estado promotor de políticas activas de solidariedadesocial e de desenvolvimento dos recursos humanos como instrumen-tos de combate à pobreza e à exclusão social; um Estado que façafuncionar a justiça e exerça, sem vacilar, a autoridade democráticalegítima, para a defesa da Nação e da segurança dos cidadãos.O MpD está preparado para substituir o sistema de relações dedependência, de subordinação, de controlo e dominação político-par-tidário, por um sistema que valorize e promova o exercício da cidada-nia, da autonomia do indivíduo e da sua criatividade; que sobreponhao mérito e a capacidade empreendedora; que reforce a confiança doscidadãos na isenção da administração pública e nas instituições daRepública. A despartidarização da administração pública será institu-cionalizada através de reformas que privilegiem as progressões nascarreiras e reduzam ao mínimo os cargos de nomeação política.

O desafio do desemprego e do emprego O MpD sente-se com capacidade para resolver o mais ingente eurgente problema da sociedade cabo-verdiana, aquele cuja resoluçãoou não servirá de referência para julgamento da justeza da vitória quevamos obter na próximas legislativas.Trata-se da questão do emprego ou antes do desemprego na sociedadecabo-verdiana. Ou o resolverá no seu essencial nas próximas duas legis-laturas ou os cabo-verdianos o julgarão, como irão julgar o PAICV naspróximas legislativas: retirar-lhe-á a confiança do seu voto.O desafio do emprego é o maior desafio que Cabo Verde tem pelafrente. Há que dizer bem claro que o governo que não for capaz de oenfrentar e resolver não tem razão para continuar a governar.O desemprego é a principal causa da pobreza em Cabo Verde. De facto,não se pode pactuar com a noção de um Cabo Verde estruturalmenteincapaz de dar um ganha-pão digno aos seus cidadãos através de umemprego condigno. Pactuar com tal noção é negar a própria vontade deindependência que conduziu Cabo Verde a Estado soberano. Tem sidoa incapacidade do governo, ou seja as políticas e os projectos mal con-cebidos ou implementados ou ausência deles, que tem feito escapar a

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Cabo Verde as oportunidades de desenvolvimento que se ofereceramao País, portanto as oportunidades de criação sustentada de postos detrabalho.O problema do emprego é, antes de tudo, um problema de desenvolvi-mento económico, na base do qual se encontra o crescimento da eco-nomia.Há, pois, que enfrentar e vencer o desafio do desenvolvimento econó-mico para acabar com o chamado desemprego estrutural existente emCabo Verde!Como referido atrás, a trajectória de desenvolvimento económico sus-tentado com criação de emprego, iniciada em 1991 pelo MpD, com apolítica de liberalização e modernização da economia cabo-verdiana epromoção de desenvolvimento do sector privado, que colocaram CaboVerde num novo patamar de desenvolvimento económico e social,sofreu um revés significativo com a adopção pelo governo do PAICV deuma política económica que tem resultado em crescimento fraco e sememprego.

A. Assim importa que o governo do MpD adopte uma novaestratégia de desenvolvimento económico virado para criaçãoacelerada do emprego com qualidade.

Tal política vai centrar-se:

a. No crescimento rápido do turismo como motor de desenvol-vimento da economia cabo-verdiana.Para que este crescimento se verifique, impõe-se que o Paísaposte decisivamente e sem tibiezas na política de céu aberto nodomínio de transportes aéreos. A economia de Cabo Verde neces-sita de alargamento rápido do mercado para bens e serviços quepossa produzir, e para isso a contribuição de um aumento subs-tancial de visitas turísticas e dos nossos emigrantes é essencial acurto prazo.Só a democratização das viagens aéreas, hoje um fenómeno glo-

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bal e que tem beneficiado muitos países de economias onde oturismo tem grande peso, poderá ajudar Cabo Verde a dar estesalto rápido de que necessita para aumentar os negócios dasempresas e gerar mais empregos para os jovens. É imperativo eurgente que pessoas que não auferem rendimentos altos possamviajar para Cabo Verde a preços acessíveis, como acontece hojeem todos os países que apostam no desenvolvimento do turismo.Cabo Verde precisa de um grande salto em numero de visitantes,de modo a que haja lugar para construção pelos cabo-verdianosde pequenas unidades de alojamento que possam responder auma procura acrescida, a que haja mais restaurantes, mais traba-lho para os táxis e autocarros, mais passageiros para os navios detransporte inter-ilhas, mais gente para consumir os produtos daagricultura e pesca e com isso tudo mais empregos e mais rendi-mentos para os cabo-verdianos.O governo do MpD actuará para, num período curto, abrir CaboVerde aos voos low cost e outros de tarifa reduzida, de modo aque o País se transforme num destino de visitas frequentes dosemigrantes cabo-verdianos e de turistas, particularmente daUnião Europeia. Para isso, elegerá como prioridade da governaçãoa celebração e implementação de acordos pertinentes com acomunidade europeia, no quadro da parceria especial, e negocia-rá com as companhias áreas interessadas condições favoráveis àsoperações de voos low cost e de baixa tarifa da Europa para CaboVerde.Concomitantemente com a política de liberalização dos trans-portes aéreos, serão tomadas medidas promotoras de estabeleci-mentos comerciais em zonas de comércio franco, no quadro delegislação já existente e de outras actividades económicas e deanimação cultural com objectivo de incrementar visitas de com-pras e culturais ao País.Para responder ao aumento da procura de alojamentos, que cer-tamente resultará da política de crescimento rápido do turismo, ogoverno adoptará políticas que promovam investimentos de

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cabo-verdianos em unidades hoteleiras de pequena dimensão, derestauração, de serviços de animação e de entretenimento eoutros que sirvam o desenvolvimento do turismo. No quadrodessas políticas se destacarão as ligadas à formação, à constitui-ção de linhas de crédito e o incentivo de ofertas de produtosfinanceiros tipo leasing.

O incremento do crescimento turístico, requererá também aadopção de outras medidas de política estruturantes, como se-jam:1. A adopção de um plano estratégico nacional para o desenvolvi-

mento do turismo em Cabo Verde;2. A adopção de um plano nacional de desenvolvimento da imo-

biliária turística;3. A criação de um Ministério com concentração funcional no

turismo e reforço de estruturas da administração turística;4. Uma política de solos virada para promoção de investimentos

e desenvolvimento do sector, nomeadamente através daadopção de medidas que permitam transformar o custo do ter-reno num factor de competitividade do País como destino deinvestimentos e de visitas turísticas;

5. Uma política de promoção activa do destino e de investimen-tos no sector, orientada por estratégias de penetração e consol-idação de mercados bem definidas, direccionadas para a cap-tação de interesse e estabelecimento de grupos alvos comcapacitação empresarial adequados à estratégia de desenvolvi-mento do sector e implementada com máximo de rigor profis-sional;

6. A requalificação e melhoramento urbanos de áreas e núcleosurbanos degradados inseridos em zonas de desenvolvimentoturístico;

7. O aumento da competitividade das empresas cabo-verdianas,de modo a que elas possam responder aos desafios colocadospelo incremento da procura de bens e serviços provocado pelo

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crescimento do turismo, e competir no mercado internacional.Este aumento será promovido através de medidas de políticaque: i. Reduzam significativamente a carga fiscal e parafiscal que

hoje oprime as pessoas e as empresas;ii. Flexibilizem o mercado de trabalho e promovam formação de

recursos humanos ligados às necessidades da economia;iii. Promovam parcerias entre o poder público e o sector priva-

do, viradas para capacitação tecnológica e de gestão, pesquisade mercados e constituição de joint-ventures empresariais;

iv. Promovam a redução nas taxas de juro e o acesso ao crédito;v. Incrementem a eficiência e eficácia na produção e distribuição

de electricidade e água e criação de mecanismos que reduzamimpactes negativos de choques energéticos.

b. Na promoção das exportações de bens e serviçosSerão executados programas de exportação especificamente con-tratados com empresas exportadoras ou com vocação paraexportar, e da promoção de investimentos privados em sectoresde actividade económica com potencialidade para exportação. Apromoção das exportações será um dos objectivos prioritários dapolítica económica, considerando a imperiosa necessidade de sereverter o processo em curso de rápida deterioração da balançacomercial de Cabo Verde, um dos grandes problemas estruturaisda nossa economia.

c. Na promoção do investimento público nas infra-estruturas apensar nas pessoas Privilegiando, onde possível e vantajoso, as parcerias público - pri-vadas, inserindo esses investimentos no quadro de planos e pro-jectos de desenvolvimento económico e sociais claramente iden-tificados e com previsão de medidas que garantam sua gestãoadequada.

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d. Na retoma do desenvolvimento industrial como opção estra-tégica do desenvolvimento económico de Cabo Verde. Neste sentido serão realizados estudos sobre competitividade deCabo Verde nas indústrias viradas para exportação no novo con-texto de liberalização do comércio mundial, de mudanças tec-nológicas e emergência de novos actores económicos globais.Serão reavaliadas e reactivadas as políticas de promoção de par-ques industriais e discutidas com as organizações empresariais osmodelos de sua infra-estruturação e gestão que melhor pro-movam o estabelecimento de unidades industriais. Serão adop-tadas políticas que promovam o investimento nas pequenasindústrias de transformação agro-pecuária e de produtos da pescacom a finalidade de responder aos desafios de crescimento doturismo e de substituir as importações e o aumento da competi-tividade das empresas cabo-verdianas, de modo a que elas pos-sam responder aos desafios colocados pelo incremento da procu-ra de bens e serviços provocado pelo crescimento do turismo, ecompetir no mercado internacional.

e. Na promoção das exportações do sector das pescas no quadroda promoção geral das exportações, visando melhoria de equi-líbrio na nossa balança comercial. Neste sentido serão adoptadas e implementadas políticas quegarantam a rápida operacionalização e uma eficiente gestão dasinfra-estruturas de congelação, conservação e processamento dopescado, prevista para São Vicente, de modo a que sirvam opropósito de transformação de São Vicente num centro interna-cional do comércio do pescado. Serão implementadas políticasque facilitem a modernização e adequação da frota nacionalindustrial e semi-industrial, de modo a que os armadores na-cionais possam responder com vantagens ao aumento de procu-ra nacional e internacional de produtos do mar que certamenteresultará do funcionamento das novas infra-estruturas de conge-lação, transformação e processamento do Mindelo, da implan-

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tação previsível de novas unidades de transformação e do cresci-mento do turismo.

f. Na reestruturação aprofundada do sector de transporte marí-timo inter-ilhas Os transportes marítimos são fundamentais para a dinamizaçãodo mercado interno através de sua melhor integração, o desen-cravamento de algumas ilhas do país, com destaque para Brava,São Nicolau e Maio, o transporte condigno e em condições desegurança dos passageiros e a promoção do turismo.Esta reestruturação será feita através de medidas de políticas quepromovam o regime de concessão para o serviço público de trans-porte de pessoas com dedicação a linhas, com ou sem exclusivo.Trata-se do regime utilizado em todos os países que se envereda-ram pela via da modernização deste sector e só através dele serápossível promover o estabelecimento e a operação de unidadesde transporte modernos e novos. No segmento de cargas, serãotambém adoptadas políticas que favoreçam a instituição de li-nhas regulares entre as ilhas, a modernização da frota e a criaçãode condições operacionais e de preços que viabilizem a rentabili-dade do transporte de cargas inter-ilhas.

B. Na grave situação de desemprego generalizado que o país vivenão basta implementar uma boa política de crescimento e de-senvolvimento económicos. Será necessário que se promovampolíticas activas de dinamização da criação de empregos.

a. Criação de um sistema de incentivos fiscais e de redução per-centual da carga contributiva para a segurança social comoestímulo à empregabilidadeO governo do MpD criará um sistema de incentivos fiscais e deredução percentual da carga contributiva para a segurança socialespecífico à criação de postos de trabalho pelas empresas; pro-moverá, em parceria com o sector privado, programas de for-

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mação para o emprego e de estágios profissionais; promoveráprogramas de apoio à criação de emprego próprio através do fo-mento do micro crédito e da formação; promoverá a descentrali-zação da colocação através da institucionalização de estruturaslocais, não governamentais e privadas e sua contratação com oestado; promoverá, em parceria com o poder local, obras públicasde infra-estruturação económica e social de forte utilização damão-de-obra, nomeadamente através do reforço de recursos de-dicados à luta contra a pobreza e sua extensão aos meios urbanos.

b. Aumento substancial do emprego público através de progra-mas de desenvolvimento, nomeadamente, da economia deproximidade e de reabilitação urbanaCertamente que essas medidas não serão novas. O que irá mar-car a diferença no domínio de políticas activas de criação do em-prego, entre o que os governos do PAICV têm feito e o que o go-verno do MpD fará, estará no nível de recursos públicos que serãoafectados para implementação dessas políticas.O governo MpD irá aumentar consideravelmente os recursos fi-nanceiros do Estado que serão afectados aos programas de políti-cas públicas activas de criação do emprego, de apoio ao empreen-dedorismo jovem e de promoção de acesso das PME ao crédito,que são políticas imprescindíveis ao combate ao desemprego.Para isso vai ser necessária uma grande racionalização nas despe-sas públicas, mediante contracção de despesas correntes e intro-dução de um maior equilíbrio nos investimentos públicos entre aafectação de recursos para infra-estruturas e para apoio às despe-sas viradas para o tecido produtivo e criação do emprego.

O desafio da habitação e da regeneração urbanaO desafio da habitação, passa primeiro pela definição e instituciona-lização de uma política pública para o sector, que não existe. Umapolítica que, entre outras vertentes, definirá com precisão o papel doGoverno, das autarquias locais e do sector privado no fomento

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habitacional e os programas sociais de facilitação dos cabo-verdianosao acesso à habitação própria.Existe um vazio confrangedor neste domínio. O Governo do MpD quesairá das próximas eleições legislativas terá de pôr termo a este vazioe eleger a política habitacional com uma das prioridades de sua agen-da governativa. Não se trata de um questão simples, e por isso a formulação dapolítica pública para o sector deverá ser precedida de um estudoaprofundado. No entanto, identifica-se, desde já, como evidente anecessidade imperiosa e imediata de mudar a configuração institu-cional do IFH, incluindo a alteração do seu mandato. O IFH passará a ser definitivamente um instrumento de execução dapolítica pública do governo para o sector de habitação. Deixará de seruma imobiliária com funções comerciais. Com este novo perfil, passará a ser a sede de estudo sobre a proble-mática habitacional em Cabo Verde e o instrumento privilegiado doGoverno na formulação da política para o sector e sua implemen-tação. Através dela e com seu apoio, serão instituídos programas de parce-ria público - privada para o fomento habitacional, associando oGoverno, os municípios, as imobiliárias e as instituições de crédito, evisando promover a introdução de novas tecnologias construtivas eoutras medidas que favoreçam a adequação dos custos aos rendi-mentos dos utentes, o seu acesso ao crédito e controle de preços.Esses programas serão dirigidos a camadas sociais de rendimentosdiferenciados e contratualizados em função dos utentes a que sedirigem. O MpD tudo fará para que os terrenos públicos sejam instrumentosde promoção de política habitacional de pendor social, e não comotem sido até agora objecto de pura especulação comercial, em con-corrência com as imobiliárias privadas.

� O governo do MpD adoptará um mega fundo para um vastoprograma de reabilitação habitacional e regeneração urbana,incluindo saneamento, espaços de lazer e de manutenção físi-ca, arruamentos, espaços verdes e iluminação pública.

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O desafio da Educação e da FormaçãoO MpD sempre defendeu que uma população bem-educada e forma-da é a base para o fortalecimento da democracia, da realização indi-vidual, do desenvolvimento económico, bem como da cultura e dacoesão social.Contudo, a governação do PAICV, com o discurso do colapso quecolocou a educação como despesa incontrolada, adiou as reformasessenciais para a promoção da qualidade da educação/formação epromoveu um ensino superior que, hoje, é a fonte das maiores preo-cupações em termos de qualidade e de equidade do acesso e dosucesso, desenhando – se um fosso entre os formandos na base dopoder económico e da origem do diploma.

Assim, o MpD terá a tarefa de retomar a educação e a formaçãoprofissional como investimentos estratégicos para compatibilizar operfil do formando com as grandes exigências do mundo moderno,como sejam a competitividade da economia e a salvaguarda cívica ecultural, para o combate à pobreza e coesão social e para as com-petências duradouras na base da formação integral do indivíduo aolongo da vida, centrando-se:

a. Numa escolaridade obrigatória mínima de 12 anosA prevalecente escolaridade mínima de seis anos, há muito setornou obsoleta e a última opção por oito anos revela poucaambição para uma sociedade de conhecimento. Num primeiromomento será adoptado um programa que eleve a escolaridademínima para 8/9 anos, para imediatamente, o fixar em 12 anos,tal como já aconteceu nos países de boas práticas em relação àeducação.

b. No reforço dos apoios sócio – educativosO MpD irá promover a igualdade de oportunidades em todos osníveis do ensino, com reflexos na melhoria constante das taxas deescolarização e de eficácia escolar, combatendo o insucesso e oabandono escolar, fonte da proliferação dos meninos de e na rua,do trabalho infantil e da delinquência juvenil.

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c. Na reorientação da gestão central da Educação/FormaçãoO objectivo a atingir é, na base do papel primário de promoção daqualidade da educação e da formação, reforçar a inspecção, a coor-denação pedagógica, o planeamento, bem como, a supervisão e aregulação.

d. Na descentralização da gestão do ensino e da formaçãoA promoção do Ensino Privado e da Autonomia das Escolas é umelemento de indução de dinâmicas portadoras de melhor qualida-de e abrangência do ensino / formação.

e. Numa nova Reforma do Ensino/Formação que tenha em contauma escolaridade obrigatória de 12 anos e o fomento da quali-dade. Serão adoptados novos planos de estudos que contemplem o saberfazer, as tecnologias de informação, o reforço das ciências, da cul-tura e das línguas e a melhoria da articulação educação/forma-ção/ensino superior, bem como um profundo programa de reclassi-ficação do parque escolar, acompanhado de políticas de motivaçãoe de requalificação dos professores, de revisão e de instalação deuma capacidade de produção nacional de manuais escolares.O pré-escolar merecerá uma reavaliação da sua integração no sis-tema escolar, bem como uma nova reestruturação curricular erequalificação da respectiva rede.

f. Na urgente promoção da qualidade da oferta nacional de Ensi-no SuperiorA promoção da qualidade no ensino superior é tarefa urgente dogoverno do MpD, seja através de um sistema de auditorias e super-visão, seja por um largo incentivo do nível de doutoramento e deuma capacidade científica nacional, visando um sistema nacionalde ensino superior/ investigação & desenvolvimento/inovação.

� Será adoptada, também com urgência, uma outra política debolsas de estudo visando a atribuição anual de mais de 1000bolsas de estudo, bem como será criado um fundo de garantiadireccionado para aqueles que não conseguirem essas bolsas.

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O desafio da Justiça e da SegurançaUma justiça que resolva de modo eficiente e eficaz os conflitos deinteresses inerentes à vida em sociedade e que garanta os direitosfundamentais dos cidadãos e a confiança nas regras instituídas éessencial a um verdadeiro Estado de direito democrático, mas tam-bém ao desenvolvimento do país.Para termos uma Justiça eficiente e eficaz, lutaremos pela inde-pendência total e efectiva das instâncias judiciárias de cúpula, face àinfluência do poder político; instalaremos o Tribunal Constitucional;criaremos condições que reforcem a cultura de independência dosmagistrados; promoveremos a formação e actualização programadase permanentes dos diversos operadores judiciários; estenderemos ainformatização a todo o sistema judiciário; faremos a reforma ade-quada da legislação de processo civil, penal, laboral e tributário nosentido da superação dos factores, a ela ligados, de morosidade einjustiça nos tribunais; faremos a reforma da justiça administrativapara que fique em conformidade com a Constituição; promoveremoso reforço dos tribunais fiscais e da sua independência; criaremos ascondições que garantam a independência do Tribunal de Contas;adequaremos a organização judiciária às necessidades da procura dejustiça e regularemos as taxas judiciárias tendo em vista actuar sobreo custo e a disponibilidade da Justiça para assegurar a igualdade deoportunidade de acesso de todos a esse bem fundamental; atribuire-mos autonomia financeira efectiva e recursos adequados à Justiça,devolvendo-lhe o Cofre de Justiça; e criaremos um sistema deinspecção judiciária independente e eficiente. Reconhecemos que existe um problema de segurança no país:ninguém poderá negar que, no dia-a-dia, as pessoas de todos osestratos e condição, se sentem, com inteira razão, inseguras emvárias parcelas do país, sobretudo nas áreas urbanas e nas zonasturísticas. Porque, a toda a hora e em todos os lugares, podem serassaltados, ameaçados ou agredidos.Existe também o tráfico de droga e a criminalidade a ele associada.

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Acreditamos, no entanto, que a superação desse problema é possívele está ao nosso alcance:

1. Asseguraremos a mais alta formação e treino das forças de segu-rança, bem como a adequada dimensão, equipamento e dis-tribuição dos seus efectivos e a sua coordenação e comando com-petentes e eficazes;

2. Apostaremos, também, no policiamento de proximidade e natolerância zero com o delito, seja pequeno ou grande;

3. Criaremos as condições para que os municípios se dotem de polí-cia municipal;

4. Faremos a completa despartidarização das instituições de segu-rança, aplicando-se isso, em primeiro lugar, relativamente aosserviços de informações;

5. Daremos um combate sem tréguas ao tráfico de droga. Assumi-remos a liderança desse processo e não permitiremos que o nossopaís seja uma placa giratória desse tenebroso negócio, altamentedestruidor do tecido social e dos valores morais que sempre ca-racterizaram a nossa sociedade. Investiremos e apelaremos à co-operação internacional para, em primeiro lugar, nos dotarmos detodos os meios e equipamentos modernos e eficazes necessáriospara esse combate no nosso país e participaremos activamente nacooperação internacional contra a droga.

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A área da soberania

As nossassoluções

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O Estado de DireitoDemocrático

A trajectória de consolidação democrática, iniciada pelo governo doMpD nos anos noventa, sofreu um revés com a reinstalação, pelogoverno do PAICV, do partido - estado e à desconstrução do Estadode Direito Democrático.Os mais atentos não terão deixado de observar uma manifestaambivalência nos discursos e na prática política do governo doPAICV. Tanto o Primeiro-Ministro, o líder do grupo parlamentar,como os demais elementos do elenco governamental, assumem-secomo convictos liberais em discursos especialmente preparados paraa comunidade internacional e para a emigração. A boa governação, aindependência da justiça, a liberdade de imprensa, a transparência nagestão da coisa pública, o primado da lei, a igualdade de oportu-nidades, valores hoje universais no mundo democrático, foram usa-dos para conferir uma imagem de modernidade e de respeitabilidadedemocrática, permitindo ao governo manipular subtilmente os votosda emigração e aumentar as receitas provenientes da ajuda externa.Porém, internamente a história é outra. A prática política do governodo PAICV, de tanta desfaçatez, atinge, por vezes, as raias do intolerá-vel, da indecência e do ridículo, numa prática de:

a. Logro e manipulação O governo vem manipulando o conceito de boa governação parasugerir aos cabo-verdianos, de forma subliminar, que governosestrangeiros e organizações internacionais, designadamente oFundo Monetário Internacional, elogiam Cabo Verde por ter “umbom governo” ou por ser “bem governado” como se as opçõesconjunturais de política fizessem parte do conceito em apreço. Amanipulação é ainda maior se se levar em consideração que oPAICV não votou a Constituição de 1992, base incontestável dosprincipais pilares da boa governação em Cabo Verde, ou seja: da

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transparência (prestação de contas ao parlamento), da partici-pação (eleições livres e sociedade civil), da responsabilidade(separação de poderes, independência da justiça e responsabiliza-ção).

b. Chantagem à oposição democráticaTodos viram o Primeiro-Ministro, no dia das últimas eleições leg-islativas, denunciar em directo na comunicação social a comprade votos pelos partidos da oposição com dinheiro do narcotráfi-co, sem que até hoje tenha apresentado qualquer prova ou con-testado a inacção do Ministério Público, que sequer investigou adenúncia de crimes de tamanha gravidade, feita com tal publici-dade e por tão alta autoridade do Estado, contribuindo, assim,para que os eleitores, a sociedade cabo-verdiana e a comunidadeinternacional percam confiança na classe política nacional.

c. Instrumentalização de recursos do Estado para fins partidáriosTodos viram como, nos meses que precederam as eleiçõesautárquicas, o Governo se desdobrou, em Conselhos de Ministrosdescentralizados seguidos de apresentação dos candidatos dopartido no poder às eleições municipais, num claro show-off deonde se procura extrair ganhos partidários com recursos doEstado;Da mesma forma, a ninguém escapou que os presidentes dascomissões instaladoras dos novos municípios foram apresentadoscomo candidatos a presidentes de câmaras, depois de lhes teremsido facultados recursos públicos avultados com os quais dis-tribuíram benesses, criando a sua clientela eleitoral, ou de teremsido feitos investimentos públicos extraordinários nesses municí-pios os quais foram apresentados pelo próprio Primeiro-ministro,em ambiente de campanha eleitoral, como obra pessoal dosreferidos presidentes transformados em candidatos. A ninguém escapou, ainda, que alguns membros do Governo, nosmeses que precederam as eleições autárquicas, se desdobraramem deslocações aos seus municípios de origem ou ao estrangeiropara contactos com a comunidade emigrada desses municípios,

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supostamente em missões de Estado ligadas às suas competên-cias específicas, para depois se apresentarem como candidatos àseleições autárquicas. Aliás, não se andará longe da verdade se sedisser que os referidos candidatos só foram nomeados membrosdo Governo, porque já eram pré-candidatos e para que pudessemusar dos recursos do Estado nos contactos pré-eleitorais com osmunicípios em que se iam apresentar, de tal forma que os respec-tivos cargos governamentais foram extintos com a sua saída paraas eleições autárquicas. Não será necessário enumerar os prejuí-zos para as relações institucionais entre o Governo e os municí-pios, que tal prática descarada causa;Todos se aperceberam, igualmente, de que muitos candidatosautárquicos do partido no poder eram dirigentes de serviços cen-trais ou chefes dos serviços desconcentrados do Estado, empre-gadores ou prestadores de bens, serviços ou apoios à populaçãovulnerável, nos concelhos em que concorreram, e que os mesmosregressaram a esses mesmos postos depois das eleições. Uma talprática que torna directores gerais e chefes de delegação dosserviços de Educação, da Agricultura, do ICASE, etc., em instru-mentos de actividade partidária, não abona para a qualidade, aisenção e a imparcialidade que devem caracterizar a função diri-gente ou de chefia administrativa, como não abona para aautonomia, a igualdade a lealdade e a solidariedade que devemcaracterizar as relações entre os órgãos municipais e os serviçosdo Estado.

d. Desrespeito pela Nação e manipulação política com meios doEstadoAté os menos atentos terão visto a cor amarela escolhida, comrecursos públicos, para pintar obras do Estado, desde palácios dejustiça a centros de saúde, escolas, centros da juventude e, maisgrave, habitação social, como parte de um esforço ridículo de cria-ção de uma onda amarela identificável com o partido no governo.Não havia registo em Cabo Verde de abuso tão escandaloso dosmeios e recursos do estado.

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e. Instrumentalização e controle da comunicação social públicaA RTC, até recentemente comandada por um dirigente partidário,tem-se desviado sistematicamente das obrigações e do código deconduta exigível a um órgão público de comunicação social. Ésabido que a democracia se baseia na alternância e esta na infor-mação plural, para que os cidadãos possam estar informados afim de exercer uma cidadania plena e decidir em consciência.

f. Promiscuidade entre o público e o partidárioA promiscuidade entre o público e o partidário é ilustrado peloInstituto das Comunidades, organismo de apoio às comunidadesda diáspora cabo-verdiana, dirigido por um membro da ComissãoPolítica Nacional do PAICV, responsável pelas relações externasdo partido no poder.A Casa do Cidadão, uma iniciativa louvável, foi, durante muitotempo, dirigida precisamente pelo líder da JPAI que também acu-mulou as funções de Presidente do Conselho de Administração daImprensa Nacional, onde, entre outros, são confeccionados osboletins de voto.

A Visão do MpD, um novo Modelo de Estado

O MpD define-se como um partido do centro, comprometido com adefesa da dignidade da pessoa humana como um valor que só se afir-ma com a liberdade individual, o primado da lei, a liberdade económi-ca e a criação de oportunidades para uma vida condigna e para aascensão social das famílias nas diversas regiões do país. O MpD acredita na igualdade das mulheres e dos homens e que por i-sso tem direitos naturais iguais: direito a identidade, a honra e bomnome, a vida privada; a desenvolver a sua personalidade; direito a serdiferente e ao respeito pela diferença; direito de pensar e de dizer oque se pensa; de se juntar a outras mulheres e homens para tratar deassuntos de interesse comum ou para exprimir opiniões comuns; di-reito de se deslocar; de trabalhar e angariar os meios para o sustentopróprio e da sua família, para a sua moradia condigna e para satisfa-

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zer as suas necessidades e melhorar o seu nível e qualidade de vida; deexpressar a sua arte e cultura; de ter e praticar a religião que quiser.O MpD acredita que os direitos não são concedidos por qualquerautoridade terrena às mulheres e homens, mas sim nascem com eles,pelo simples facto de se tratar de seres humanos e que devem serexercidos livremente, tendo como único limite a liberdade e os direi-tos também naturais das outras mulheres e homens com quem con-vivem em comunidade.O MpD defende que o Estado não existe antes das mulheres e doshomens, nem está acima deles. É apenas um seu instrumento, umaorganização criada pelas pessoas que vivem numa comunidade, aquem dão meios para os servir, designadamente, para regular,através de leis, as relações entre eles; defender o território em que acomunidade vive; garantir a segurança, a paz, a ordem e a tranquili-dade a todos; fazer justiça na resolução dos conflitos de interesses; epromover o progresso material e espiritual da comunidade.O MpD continuará a lutar por um país assente na ideia de liberdadee de respeito real pelos direitos das pessoas e no entendimento deque é na iniciativa e na capacidade dos cidadãos que reside a chavedo futuro, cabendo ao Estado promover adequados incentivos paraque isso aconteça.

A – Dos instrumentos e grandes componentes do novomodelo de EstadoA1 - Requalificar e despartidarizar as instituições públicasUm país só se desenvolve impulsionado pela qualidade da suasociedade e das suas instituições. A força das instituições - um Estadoeficaz, com um poder judicial forte e independente, responsabilidadedemocrática, abertura, transparência e isento de corrupção - e a edu-cação são dois elos de rompimento com o ciclo vicioso do subdesen-volvimento.A despartidarização das instituições públicas é, na situação actual deCabo Verde, acima de tudo uma questão de natureza política que sóse vence com uma nova atitude face ao exercício do poder.

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A2 - Promover uma nova atitude pro-constituiçãoEm Cabo Verde ainda existem resquícios do Partido/Estado, resistên-cias ao constitucionalismo e ao estado de direito democrático e umfraco nível de capital social com fortes implicações ao nível da efi-ciência governativa, da gestão dos recursos públicos e da canalizaçãodas energias nacionais para o desenvolvimentoA3 - Cultivar os valores da liberdade É no cultivar dos valores da liberdade, na atitude face ao exercício dopoder e na concepção do papel do Estado e da sociedade que se situa anossa grande diferença em relação ao nosso adversário directo, oPAICV. A4 - Promover uma sociedade responsávelAs políticas da educação, da cultura, da comunicação e da promoçãoda família serão colocadas no centro do processo de mudança para adisseminação de valores como a moralidade, a responsabilidade, a dis-ciplina, a tolerância, a valorização do esforço, do trabalho e do mérito,o desejo de superação individual, o respeito pelas leis, pelas regras epelos direitos dos outros e o espírito de comunidade, que tornem anossa sociedade mais confiante, empreendedora e responsável. A5 - Promover a autonomia dos cidadãosCriando e promovendo a criação de oportunidades económicas e so-ciais para aumentar a autonomia dos cidadãos, suas organizações eempresas face ao Estado. A6 - Descentralizar o poder O MpD está preparado para partilhar o poder pois reconhece que ofuncionamento do Estado é mais imperfeito quanto mais centraliza-do for, sendo o poder local o espaço por excelência do exercício dacidadania. É o poder mais próximo dos cidadãos e um indutor por ex-celência do desenvolvimento. Por isso, o MpD vai reforçar a autonomia, política, financeira e gover-nativa, local e regional como uma condição fundamental para amelhoria da democracia e do desenvolvimento, para redução dasassimetrias regionais e aproveitamento das potencialidades das nos-sas ilhas.

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O MpD promoverá e animará o debate na sociedade sobre a regiona-lização ou a insularização do país e sobre o aprofundamento dademocracia local em direcção às comunidades de base. O MpD defende um novo modelo de governo. Um modelo eficientee eficaz de gestão do território nacional através do reforço e do apro-fundamento da descentralização e da centragem das principais fun-ções do Governo. A7 – Reforçar a competência do governo em detrimento de umaestrutura pesadaO MpD formará um Governo pequeno, mas competente nas funçõescentrais do Estado ao mesmo tempo que, através da descentraliza-ção, partilhará o poder com as instituições descentralizadas.

B – Os diversos sectores do novo Modelo de EstadoB1 – A Reforma do esEstado e da Administração PúblicaO MpD reafirma a importância do Estado e da Administração Públicano processo de desenvolvimento económico e social do país.O desenvolvimento não é essencialmente, o resultado da manipu-lação de certos instrumentos técnicos, mas sobretudo, fruto doambiente geral e especialmente do ambiente social e cultural de umadeterminada sociedade. Não se pode perspectivar o desenvolvimento numa cultura de laxis-mo e permissividade, de falta de rigor moral e ético na escola, no tra-balho e na sociedade em geral, de ausência de educação cívica, decumplicidade com a inobservância da lei, de tolerância para com osprevaricadores e desresponsabilização.

Impõe-se, pois, e sempre, reintroduzir no sistema social o fomento deuma cultura de responsabilidade individual e colectiva para com otrabalho e a iniciativa. Cultivar o espírito de rigor, de novos pata-mares de exigências, de qualidade, de produtividade, de civismo, decumprimento das obrigações impostas pela cidadania e de controlosocial de comportamentos desviantes. Da mesma forma, é urgente redireccionar o papel do Estado e da

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Administração na sua relação com a sociedade, os cidadãos, asfamílias e as empresas. A configuração e o conteúdo do aparelho doEstado não são neutrais, podendo ser factor de promoção ou factorde bloqueio e de constrangimentos no desenvolvimento dassociedades.Nos mais recentes inquéritos sobre as Expectativas e Necessidadesdos Agentes Económicos e dos Cidadãos, levados a cabo pelo INE,faz-se notar que o fraco desempenho dos serviços públicos é umdado para os cidadãos e empresários e gestores. Esta situação, deve--se, para 22,2% dos cidadãos, à fraca motivação dos funcionários;para 9,8% dos cidadãos e 20,3% dos agentes económicos, à nãoresponsabilização dos funcionários; para 18,9% dos cidadãos à faltade complementaridade entre os serviços; para 9,5% dos cidadãos e16,4% dos agentes económicos à fraca qualificação dos funcionários;para 14,2% dos cidadãos, 16,4% dos agentes económicos e 10,8%dos funcionários públicos ao excesso de formalidades. Mais de 22 %dos funcionários públicos respondem que não se lê o Boletim Oficiale 11,8% dizem que há falta de transparência.Também se deve notar que num inquérito realizado aos próprios fun-cionários, 31.6% dizem que os serviços estão mais preocupados como controlo interno do que com os resultados; 18.4% dizem que osserviços estão pouco preocupados com os utentes e 10.5% respon-dem que há pouca autonomia de decisão.Efectivamente, todos os diagnósticos realizados por quadros técnicosespecializados na matéria têm concluído que existe na administraçãopública (a) uma incapacidade de satisfazer, de forma eficaz e atem-pada, as necessidades dos cidadãos, com processos de decisão dema-siado longos e complexos, que impedem a resolução, em tempo útil,dos problemas dos cidadãos e que criam desconfiança em matéria detransparência e de legalidade; (b) um modo de funcionamento queprejudica a concorrência e a competitividade do país e das empresas;(c) uma falta de coerência do modelo de organização global; (d) umaestrutura fechada, pesada, burocratizada e pouco permeável à neces-sidade de defesa dos direitos do cidadão; (e) uma desmotivação dos

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funcionários e desvalorização do próprio conceito de missão de ser-viço público. No entendimento do MpD deve ser amplamente debatido um novomodelo de organização do Estado que melhor se adapte às realidadesfísicas e humanas do país, de sorte a optimizar os recursos e as opor-tunidades. A geografia do Estado, ou seja, a forma como se adequaao território para maximizar o cumprimento da sua missão, reveste--se de importância fundamental. A estrutura arquipelágica do país impõe aos poderes públicos especi-ais responsabilidades na configuração territorial dos serviços públi-cos, de modo a corrigir as assimetrias regionais e a garantir o princí-pio da igualdade de acesso e de oportunidade a todos os cidadãos. Por essa razão o MpD, reitera a defesa intransigente da descentrali-zação, assente na legitimidade do voto popular. E entende o MpD queas ilhas devem ser concebidas, em regra, como uma região política,dotada de amplos poderes em matérias de desenvolvimentoeconómico e social. Poderes mais fortes e mais abrangentes do queaqueles que são consentidos às autarquias locais de nível municipal.

Mas uma verdadeira regionalização pressupõe uma verdadeira políti-ca de descentralização. O modelo de Estado centralizador, com todosos Ministérios, Secretarias de Estado, Direcções Gerais, quase todosos Institutos Públicos, serviços e Fundos autónomos centralizados nacapital do país, num mundo moderno de alta velocidade de comuni-cação e de informação, de encurtamento brutal das distâncias físicas,mostra-se manifestamente incompatível com a estrutura arquipe-lágica do país e, por isso, deixa de corresponder aos anseios da popu-lação e aos desafios do desenvolvimento. Nesse sentido, com res-ponsabilidade e ponderação, o MpD procurará dar corpo a uma ver-dadeira política de regionalização, de correcção das assimetrias, dan-do aos cidadãos, empresas e regiões iguais oportunidades no proces-so de desenvolvimento.O novo modelo de organização do Estado deverá obedecer a um pa-râmetro fundamental: a função do Estado é garantir bens e serviços

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públicos essenciais que, por natureza, não podem ser fornecidos porentidades privadas, podendo o Estado, em todo o caso, em situaçõesconjunturais e a título provisório, fornecer outros bens e serviçosquando, em concreto, tal intervenção resultar globalmente mais van-tajosa. O MpD entende que é indispensável introduzir-se no Estado umaescala de valores que, em face da escassez de recursos, obrigue afazer primeiro o que é mais importante, pelo impacto positivo quetem no país, na economia e na sociedade, sem preocupações deostentação política ou de natureza eleitoralista. Preconiza o MpD, portanto, uma ruptura com a prática política dosúltimos anos, caracterizada por um discurso político sonante sobrecertos sectores e com magreza gritante de recursos que lhes sãoafectos, revelando uma hipocrisia política com intuitos manifesta-mente demagógicos. A reforma do Estado é, claramente, uma prioridade nacional quedeve assentar nos seguintes eixos fundamentais:1. Uma reforma com implicações profundas no exercício da demo-cracia e da cidadania O MpD, na linha da concepção de poder que defende, pretendeuintroduzir alterações na recente revisão da Constituição da Repúblicaque: (a) dignificassem a função da oposição, conferindo-lhe umamaior representatividade nos órgãos públicos, como elementosestruturantes do sistema democrático (constituição de grupos parla-mentares por 2 deputados e assento no Conselho da República dolíder do maior partido da oposição, são exemplos disso); (b) conferis-sem uma maior democraticidade ao exercício do poder, partilhandoresponsabilidades políticas com a Assembleia Nacional, o órgão gen-uinamente popular (audição prévia dos propostos para altos cargospúblicos é exemplo disso); (c) que obrigassem o Primeiro - Ministro auma presença mensal no Parlamento para o debate das questõesnacionais com a oposição. E pretende o MpD levar a cabo uma reforma do Parlamento que tam-bém confira ao conjunto da oposição, seja qual a for a sua represen-

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tatividade, um tempo de intervenção parlamentar, em matériasessenciais, igual ao do partido que sustenta o governo, pois acreditaprofundamente que a democracia é o confronto saudável de ideias ede projectos. De igual modo o MpD defende que o líder do maior partido daoposição deve ter um estatuto próprio que reflicta a importânciapara o país e para o sistema político, da alternância governativa. 2. Uma reforma que consagre um modelo de Estado/Administra-ção que cultive a legalidade democrática e que não se escuda namorosidade dos procedimentos judiciais - e nem em qualquer outroexpediente de influenciação das decisões - para perpetrar ofensas aosdireitos e interesses legítimos dos cidadãos. Nesse quadro, especialrealce merece o respeito pela propriedade privada. Efectivamente a posição do MpD nessa matéria é muito clara: nãotem a pretensão de transformar o Estado de Cabo Verde num grandelatifundiário e nem pactua com expedientismos de desresponsabi-lização do Estado perante terceiros, titulares de legítimos de direitospostos em crise pela gestão pública. Os direitos e interesses legítimosdos cidadãos devem ser escrupulosamente respeitados e sempre que,em homenagem a um interesse público superior, o Estado se sinta nanecessidade de sacrificar um interesse particular, o sacrifício seráimposto com ponderação e proporcionalidade e sempre mediante ajusta compensação. E por isso o MpD compromete-se a dar absolutaprioridade na regularização da situações de autênticos confiscos deterras, com escândalo público, com violação grosseira de direitosconstitucionalmente protegidos, gerando um sentimento de insegu-rança e incerteza jurídicas, factores que não contribuem para a pazsocial e para a credibilização do Estado.3. Entende o MpD que se torna indispensável promover uma pro-funda reforma da estrutura do Estado, pois que facilmente se podeverificar que existe uma enorme multiplicidade e volatilidade deestruturas absolutamente incompatíveis com os recursos do país e asnecessidades do desenvolvimento. Na verdade um exame dos diplomas orgânicos da Chefia do Gover-

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no, dos Ministérios, dos Institutos Públicos, dos serviços autónomose de outras entidades administrativas, demonstram que existe umexcesso de estruturas administrativas, a começar pelos Ministérios.Na verdade são cerca de vinte as estruturas governamentais, de nívelde Ministérios e Secretarias de Estado. Para além do peso da influên-cia da hierarquia partidária nestas opções, pode-se também verificarque tal situação resulta de um modelo de gestão de efeitos perver-sos, no qual os membros do governo se ocupam de tarefas de na-tureza fundamentalmente administrativa e operacional, em vez de seocuparem das políticas e dos dossiers estratégicos para o sector quetutelam.Essa reforma de estruturas a nível do Governo será acompanhada deuma reforma global das estruturas centrais do Estado, com duaspreocupações fundamentais: passarão a caber às direcções gerais aformulação de subsídios técnicos para a fundamentação estratégicadas políticas e a coordenação das actividades operacionais dos minis-térios; os membros do Governo passarão a ocupar-se das políticas edas opções estratégicas dos respectivos ministérios. Para isso, as direcções gerais deverão ser completamente reformu-ladas, com um grau superior de exigências no recrutamento dos titu-lares e num considerável reforço dos seus poderes e competências,retirando aos membros do governo as actuais competências admi-nistrativas. São três os factores que mais contribuem para os membros de gover-no se ocuparem essencialmente de tarefas administrativas: a medio-cridade no recrutamento de dirigentes, a cultura de controlo absolu-to e a pressão política partidária. A pressão política e partidária nos processos de contratação, de pro-moção, de transferência, de designação para cargos dirigentes, deadjudicação de obras, de aquisição de bens e serviços, desempenhaum papel pernicioso na qualificação das estruturas e missão doEstado.Assim, esta reforma das estruturas necessariamente deverá seracompanhada de uma profunda reforma do estatuto do pessoal diri-

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gente, com reforço considerável dos seus poderes, impondo aosDirectores Gerais, aos Directores de Serviço e entidades equiparadasas funções que garantem a continuidade administrativa, como titu-lares de órgãos centrais de execução das políticas públicas. Para além do excesso de estruturas de nível governamental, existeainda uma grande volatilidade na sua configuração e designação. Asestruturas estão em constante mutação, com custos económicos sig-nificativos (mudanças de instalação, de impressos, placas, carimbos,etc.), mas também criando uma confusão geral nos cidadãos e nasempresas. Hoje em dia torna-se necessário consultar o BoletimOficial para se conhecer com exactidão o nome de um Ministério ouSecretaria do Estado. Felizmente que a opinião pública vai mantendoos seus nomes tradicionais, teimando nos nomes antigos, comoMinistério de Agricultura, Ministério da Economia, Ministério dasPescas ou do Turismo. E essas constantes mudanças são factores deinstabilidade, porque criam dificuldades de interpretação e aplicaçãodas leis, articulação administrativa e ansiedade no espírito dos fun-cionários públicos.Existe no país a tendência de se querer confundir o conteúdo fun-cional dos Ministérios com a sua designação, como se fosse possível,na designação, dar conta de todo o conteúdo. E persiste ainda opropósito de mudar de nome aos ministérios sempre que se queirapassar a mensagem que se vai mudar de política. A instrumentaliza-ção das designações e das estruturas administrativas provoca danossensíveis na governação do país.A racionalização das estruturas administrativas implica uma outragrande mudança na administração pública, que constitui o terceiroeixo da reforma: a profissionalização da função pública. E convémdesde logo clarificar este conceito, dizendo-se que a preocupação écriar uma administração pública que se norteie por regras e procedi-mentos exclusivamente postos ao serviço do interesse público e nãose deixe instrumentalizar por critérios de política partidária. Aqui a reforma deve ser profunda, pois que a profissionalização sig-nifica que, em princípio e como regra, todos os titulares de cargos

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públicos são profissionais, não são agentes ocasionais, fortuitos eeventuais, chamados para temporariamente servir certos interesses. Importa estabelecer de forma muito clara e rigorosa uma lista curtae fechada de cargos de confiança pessoal e política, deixando todosos outros para a meritocracia. Enquadráveis na carreira ou, no míni-mo, condicionados a concurso público com mandato determinado. Na verdade, é compreensível que os cargos de Director de Gabinete,de assessor, de secretária, sejam cargos que exigem algum grau deconfiança pessoal e política, mas tais exigências não podem ser feitaspara a generalidade dos cargos de direcção e de chefia na Adminis-tração Pública. Assim, o MpD entende que, tendencialmente, todos os lugares dechefia na Administração Pública devem ser lugares de carreira, in-cluindo mesmo os Directores de Serviço, salvo casos excepcionais. Oscargos de Director Geral devem ser providos por concurso público,promovido com rigor, isenção e transparência!O MpD entende que não se pode continuar a classificar todos os car-gos de direcção e chefia como cargos de confiança pessoal e política,pois isso é conferir demasiada importância à vontade de agentespolíticos transitórios. O Estado – na sua multiplicidade de estruturase de cargos - não pode ser instrumentalizado dessa forma, de sorte aserem chamados para funções relevantes apenas aqueles cidadãosque possam corresponder ao «perfil político» configurado pelomembro do governo do sector. Ainda que sejam incompetentes e,frequentes vezes, o são. É uma reforma que exige muita coragem política, mas é fundamen-tal, pois que não só qualifica a administração pública, permitindo orecrutamento de verdadeiros profissionais, como também baixa atensão e ansiedade políticas nos ciclos políticos de transição, comlegítimo receio de perda de lugares. E contribui para uma outra cul-tura política na sociedade: a dimensão do homem está muito paraalém das suas convicções políticas e filiação partidária, pois que deveser avaliada na sua capacidade de comprometimento com o interes-se público e na qualidade do serviço que presta. Efectivamente, a

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simpatia ou filiação partidárias constituem direitos políticos funda-mentais de opção de políticas de governação e não critérios de legi-timação de cargos de responsabilidade na administração pública. Esta reforma deve ter ainda uma outra componente: a democratiza-ção de processos decisórios de escolhas de certos cargos públicos.Defende o MpD que a escolha para o provimento em certos cargospúblicos, pela sua natureza e características especiais, tais comodirector de estabelecimentos escolares públicos e de directores deinformação dos órgãos de comunicação social do Estado, deve sersubmetida um processo com participação directa dos interessados,no caso, professores, encarregados de educação e jornalistas.4. O quarto eixo da reforma deve centrar-se na responsabilizaçãoda Administração. Num Estado de Direito Democrático a Adminis-tração Pública submete-se ao direito e responsabiliza-se pela ofensados direitos e legítimos interesses dos cidadãos e das empresas.Temos um Estado que acha normal pagar com dois ou três anos deatraso sem juros, mas que cobra juros diários aos cidadãos e empre-sas. Uma administração muda, que não responde às petições e re-querimentos dos particulares. Que trata os cidadãos com enfado; queleva anos a decidir o que podia ser decido em meses e meses quan-do podia levar poucos dias; que não tem prazos e nem critérios; quedespacha o que está em último lugar e guarda na gaveta o que en-trou em primeiro; que complica em vez de facilitar; que não tem es-pírito de missão, de servir adequadamente os cidadãos e empresas;que confunde serviço público com exercício de autoridade. Torna-se necessário inverter a situação e, na perspectiva do MpD,isso só é possível se se fizer uma aposta a três níveis: formação e sen-sibilização, reforço da inspecção administrativa e controlo social dosatendimentos públicos. A esse propósito é de registar experiências muito positivas de algunspaíses que adoptaram medidas de controlo dos prazos e dos proces-sos administrativos, em homenagem à transparência e á igualdade detratamento, instituindo como falta disciplinar grave, e punida atécriminalmente, o facto de se despachar um processo cujo livro de

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registo demonstra ter dado entrada depois de um outro que ainda seencontra pendente de despacho.O MpD também não descura o controlo social dos procedimentosadministrativos. Várias medidas foram adoptadas pelo Governo doMpD na década de 1990 e que foram votadas depois ao esquecimen-to e que podem ter um impacto positivo no desempenho daAdministração Pública, principalmente dos postos de atendimento: aobrigatoriedade de uso de placas de identificação dos funcionários ea caixa de reclamações, com reflexos na progressão e promoção dosfuncionários. Importa, pois, adoptar medidas que responsabilizem o Estado peran-te os cidadãos e as empresas; que o Estado cumpra os prazos e seresponsabilize pelo incumprimento como exige aos cidadãos; queassuma os encargos suportados pelos cidadãos e pelas empresasquando é vencido na causa julgada em Tribunal; que se norteie porum princípio de igualdade tendencial em ralação aos cidadãos eempresas na observância de obrigações recíprocas ou conexas. E nessa medida, o MpD compromete-se ainda a alargar os casos dedeferimento tácito; responsabilizar disciplinarmente a ausência injus-tificada de resposta; responsabilizar disciplinarmente e, eventual-mente, criminalmente, o tratamento discriminatório dos processosadministrativos, especialmente quando estão subjacentes valoresrelevantes; discutir e aprovar uma nova lei de responsabilidade civilextra-contratual do Estado - revogando a actual lei já com décadasde existência e manifestamente desajustada da realidade de hoje -,de modo a reforçar os direitos dos cidadãos e os deveres da Admi-nistração, corporizando, em última instância, um direito à indemniza-ção por danos causados por acção ou omissão; obrigar os departa-mentos governamentais nas leis orgânicas a conferir especial aten-ção e importância aos serviços de atendimento público, prosseguin-do um objectivo permanente: todos os cidadãos e empresas têm d-ireito a uma resolução final do seu processo administrativo dentro deum prazo razoável; todos, sem excepção, têm direito de resposta,num prazo razoável, aos seus pedidos, pretensões, protestos e recla-

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mações. Não se trata simplesmente de legislar, mas especialmentede fazer cumprir. E o MpD está em condições de cumprir! E, nesse quadro, o MpD pretende fazer todas as diligências para insta-lação urgente do Provedor de Justiça, como instância de garantia dosdireitos e legítimos interesses dos cidadãos face à Administração.5. O quinto eixo da reforma tem a ver com a terciarização de algu-mas actividades e com a simplificação administrativa. Existem naadministração pública várias iniciativas de terciarização e o MpDentende que é um caminho que deve ser prosseguido, sempre que semostre globalmente mais vantajoso. O MpD continuará a apostarnesse sentido, com mais ousadia, incrementando a actividade empre-sarial por essa via, com ganhos de eficiência e de eficácia. Quanto à simplificação administrativa, há ainda um logo caminho apercorrer. A administração pública exige aos cidadãos e empresasinformações e documentos que muitas vezes nunca são utilizados.Formulários complexos e muitas vezes incompreensíveis. Do-cumentos dispensáveis; circuitos longos e atrapalhados, sem prazos esem controlo; procedimentos sem sentido e suportes desnecessários. Na simplificação, deve-se trabalhar por matérias, analisando os cir-cuitos, procedimentos e suportes, questionando sempre da suanecessidade. E deve-se dispensar tudo o que tem importância mera-mente marginal. Cabo Verde ocupa uma posição embaraçosa no ranking do «doingbusiness», não obstante a constante propaganda de facilitação doinvestimento. E a posição de Cabo Verde nos últimos lugares doranking mundial deve-se também à burocracia dos procedimentos,dos circuitos e suportes administrativos. Um país verdadeiramentepromotor do investimento deve exigir apenas o que é essencial esubalternizar o secundário! Propõe-se o MpD a uma análise sectorial detalhada dos procedimen-tos, circuitos e suportes, especialmente nas áreas com impacto signi-ficativo na economia e na sociedade, instituindo um sistema aoserviço dos cidadãos e das empresas, sempre com salvaguarda dointeresse público.

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O MpD adoptará, a curto prazo, um verdadeiro programa de desburo-cratização e simplificação legislativa que, designadamente, con-cretize a eliminação de formalidades inúteis e de exigências despro-porcionadas, encurte tempos de resposta e imponha o cumprimentodos prazos legalmente previstos, expectativa legítima do cidadão. Para além da simplificação, os processos devem ter prazos rígidos quedevem ser observados, sob pena de responsabilidade disciplinar,financeira e até criminal, conforme couber. A avaliação de projectos,processos de licenciamento, autorizações para investimentos, estatu-tos de utilidade turística, estatuto industrial, importação de bens eequipamentos, autorizações administrativas, isenções e outros bene-fícios fiscais e situações similares, devem ser objecto de um trata-mento especial.6. O sexto eixo da reforma prende-se com a necessidade dereforçar e desenvolver o chamado governo electrónico, ou seja, ouso de tecnologias de informação e comunicação num sistema orga-nizado em rede que permita a partilha do conhecimento, a utilizaçãodas melhores práticas e a criação de uma Administração Pública ori-entada para actividades e resultados e não para processos ou rotinas. Este sistema, fundamental no mundo moderno e competitivo dehoje, deve proporcionar serviços públicos integrados, de qualidade,centrados no cidadão e com ganhos de eficiência, com observânciarigorosa dos princípios de transparência e de racionalização de cus-tos. O cidadão e as empresas são vistos, nessa nova perspectiva,como clientes e a administração pública deve estar estruturada paraos servir em primeiro lugar, pois que constituem a razão da suaexistência.

B2 – Mais Segurança e uma Justiça Independente, Forte,Célere e Justa1. A insegurança na sociedade cabo-verdianaExiste hoje no país uma sensação de insegurança generalizadaprevalecente na população devido à elevada frequência de crimesviolentos e a uma proliferação de furtos e roubos, de tal sorte que se

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tem registado um aumento exponencial de grades nas moradias,edifícios públicos e até nas Igrejas. Essa sensação de insegurançaadvém da percepção generalizada das dificuldades das instituiçõesresponsáveis pela luta contra a criminalidade e pela administração dajustiça em responder às demandas de um País cada vez mais com-plexo e em interacção permanente com um mundo em aceleradoprocesso de globalização.

a. A Situação CriminalRegistou-se um aumento significativo da criminalidade no nossopaís na última década, com o surgimento paralelo de ocorrênciascriminais antes desconhecidas, em que os fenómenos Tughs eCassu Body são exemplos. Para se ter uma ideia desse facto, no intervalo temporal de 2000a 2009, os dados estatísticos registados pela Polícia Nacional(PN), mostram um recrudescimento significativo da criminalida-de, passando de cerca de 14.155 casos em 2000 para 21.967 em2009. No decurso desse tempo, o agravamento da situação foi de talordem que, segundo os inquéritos do Afrobarómetro, em 2002, acriminalidade surgia em sétimo lugar na hierarquia dos problemassociais identificados pela sociedade cabo-verdiana, enquanto queem 2008 a criminalidade surge em terceiro lugar a nível nacional,situando-se a cidade da Praia em segundo lugar. Nessa mesma conjuntura, pode-se observar a proliferação da uti-lização de armas de fogo de toda a natureza no cometimento decrimes, incluindo as de fabrico artesanal local.Do mesmo passo, verificamos um recrudescimento da chamadacriminalidade de massas que aflige directamente os cidadãos nasua segurança e tranquilidade, sem que, por outro, a criminalida-de organizada tivesse recuado, como evidenciam, aliás, osnúmeros relativos à quantidade e qualidade de crimes violentosverificados nessa década. Esses resultados provam o fracasso ou a inexistência de estraté-gias adequadas para enfrentar e manejar essa conjuntura criminal,

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insuficientes investimentos no sector da segurança interna e uminadequado desenho institucional para responder à realidadecriminal com óbvios reflexos negativos no combate à criminalida-de e a consequente manutenção da ordem pública.Essa análise ficaria incompleta se não considerássemos outrosfactores endógenos da criminalidade como desregramentourbano, ausência das autoridades públicas nas comunidades, faltade iluminação pública e de políticas de integração social, bemcomo a dificuldade no acesso a um rendimento tendencialmentefixo. Outro factor endógeno tem a ver com o deficiente controlo daimigração ilegal. No que se refere à segurança rodoviária, de acordo com os dadosestatísticos da PN, constatamos que nesta década houve umagravamento da sinistralidade rodoviária, tendo sido registados38.306 acidentes (correspondentes a 290 por mês), resultandoem 9.465 feridos (71 por mês) e um total global de 653 mortos.

b. A Polícia NacionalNa ausência de uma estratégia adequada para fazer face ao cres-cente aumento da criminalidade e o consequente agravamentoda insegurança no país, o Governo criou, através do DL n.º6/2005, de 14 de Novembro, a Polícia Nacional (PN), com o únicoe exclusivo propósito de disfarçar o seu estrondoso falhanço nadeterminação de políticas consistentes para a área da segurança. Na verdade, a medida não se revelou ajustada, pois, para além doeventual ganho alcançado na racionalização dos meios empreen-didos, é o descontentamento que domina a corporação e atraves-sa todos os ramos e níveis que integram a PN, uma vez que oGoverno não conseguiu responder às expectativas criadas pois, jácom o fim do mandato à vista, logrou pôr de pé o tão reclamadoEstatuto do Pessoal Policial, mas cujas soluções trouxeram aindamais reclamações.Aqui importa, antes de mais, redefinir o perfil do ofício da políciaque pressupõe o abandono de uma perspectiva simples e amado-

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ra da actividade policial para a de uma profissão complexa quenecessita de mão-de-obra qualificada, de técnica apurada nasintervenções do quotidiano e de uma gestão especializada. A polícia cabo-verdiana tem-se desenvolvido, nesta última déca-da, com base num ultrapassado modelo autoritário e afastado dadiversidade existente na realidade social. São visíveis os seguintes resultados:i. Recursos Humanos

Não houve um investimento adequado na PN persistindo umacarência permanente em meios humanos para responder ade-quadamente às demandas das comunidades. Por via disso, opessoal policial tem sido submetido a uma carga horária de tra-balho para além do normal com reflexos directos na fraca efi-ciência e eficácia da acção policial bem como na desmotivaçãopara o trabalho.Os cursos de formação policial não contemplam as qualidadese habilidades necessárias para a actividade conexa ao exercícioda cidadania, onde os formandos devem ser mais activos e par-ticipantes. Por outro lado, pouco se investiu na qualificação do seu quadrotécnico, o mérito não é tido em conta e não se reconhece, nemse valoriza, o investimento que os quadros fazem para sua auto-formação, a vários níveis.O sistema de avaliação de desempenho, bem como as progres-sões e promoções nas carreiras do pessoal policial é deficientee constata-se a existência de um sistema de chefias e de lide-rança fortemente influenciado pela excessiva partidarização. Existe um obscuro funcionamento do Serviço de Apoio Social daPN, desvirtuando profundamente os objectivos para que foi cri-ado, actuando mais como uma caixa azul do ministério datutela do que como um sistema de protecção social da condiçãopolicial.

ii.Meios MateriaisVerifica-se uma carência enorme de meios materiais para que

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esta corporação policial possa cumprir a sua missão, com par-ticular atenção para a escassez de meios de mobilidade, fican-do, por isso, várias zonas periféricas dos principais centrosurbanos, e as comunidades rurais, sem a atenção e coberturapoliciais e, em certas ilhas, como Brava, Maio e S. Nicolau, a pre-sença de viaturas policiais é praticamente inexistente.Os meios de comunicação são deficitários e verifica-se umafraca aposta nas novas tecnologias para o incremento de novosmodelos de vigilância do espaço público, que sejam mais efi-cazes e menos onerosos. O material de fardamento e equipamento, para além de escas-so, é de baixa qualidade, o que não satisfaz o conforto do pes-soal nem a imagem representativa da instituição.

iii. Organização e Gestão dos ServiçosPara além das reclamações surgidas com o Estatuto do Pessoal,subsistem carências graves a nível de uma nova grelha salarial,do Regulamento Disciplinar, entre outros diplomas essenciaispara a organização e funcionamento da PN. Desajustada às reais necessidades actuais do País, a estrutura or-ganizacional da PN baseia-se numa matriz burocrática tradicio-nal, simples e amadora, que não dá a importância devida à mo-dernização dos serviços com base no desenvolvimento tecno-lógico, exigência hoje natural, própria de uma profissão comple-xa e que requer gente qualificada, gestão especializada e umatécnica cada vez mais apurada nas intervenções quotidianas. Em vez de se dotar a PN de uma orgânica apropriada à sua fun-ção, o actual Governo estabeleceu uma orgânica voltada paraburocratização excessiva dos serviços, com a fragmentação exa-gerada de departamentos centrais que, em última instância, sóservem para engordar os custos de funcionamento, sem qualquercorrespondência operacional sob o ponto de vista dos resultados,na medida em que impedem a integração, a agilidade, a comu-nicação, a cooperação, a colaboração e a dinamização institucio-nais desejadas.

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A implantação territorial das unidades operacionais da polícia éfeita sem obedecer a um estudo prévio da sua real necessidade,complicando a gestão dos escassos recursos existentes e preju-dicando sobremaneira as unidades mais distantes, sobretudo asdas ilhas ditas isoladas (Brava, Maio, S. Nicolau, etc.). A informatização dos serviços é incipiente e sem qualquer refle-xo nas unidades operacionais distantes, onde nenhuma atençãoé dada nesse sentido. A inexistência de um plano de policia-mento ostensivo que contempla as diversas modalidades de pa-trulhamento em função das reais necessidades das comuni-dades é um facto agravado pela escassez de recursos humanose materiais de que padecem as forças e serviços de segurança.

iv. Relacionamento InstitucionalA instituição policial precisa ampliar a democratização das suasrelações internas e aumentar os espaços de interacção, comu-nicação e participação de todos os seus profissionais. No novoperfil, a referência será o do bom prestador de serviço à comu-nidade, solidário, comprometido com a excelência do atendi-mento de forma imparcial e técnica.Do discurso à prática existe um fosso enorme no que tange aorelacionamento institucional entre a Polícia Nacional e outrosparceiros sociais que poderiam colaborar na garantia da segurançae tranquilidade públicas: - O relacionamento com o poder local é fraco, influenciado pela for-

ma como o Governo tem vindo a relacionar com as autarquias.- A cooperação com as outras forças e serviços de segurança não

é a melhor, funcionando consoante a conjuntura da criminalida-de e impulsos de um Governo que não conseguiu criar um sis-tema que permita o reforço da confiança e a congregação dassinergias desses serviços, necessário para a garantia da segu-rança pública.

v. Relacionamento com as ComunidadesA abordagem da polícia aos bairros considerados problemáticostem sido deficiente e com tímidos resultados para a recuperação

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da paz social nas comunidades.A comunicação institucional da polícia é deficiente, não transmi-tindo confiança aos cidadãos.O atendimento das chamadas de emergência é muito deficiente.

2. A Justiça que temosPor outro lado, a execução da política de Justiça demonstra que o sis-tema padece ainda de grandes insuficiências, sendo as mais graves amorosidade e o custo da Justiça. A aposta primeira do MpD é o combate à morosidade nas decisõesjudiciais, na convicção de que só uma justiça que responda às nossaspreocupações em tempo oportuno pode ser justa.Efectivamente, a nível dos processos cíveis regista-se ainda umagrande morosidade, especialmente tendo em conta os recursos aoSupremo Tribunal de Justiça. Processos cíveis com 5, 6, 7 ou mesmo10 anos de pendência são frequentes. Processos executivos com 5 ou6 anos para a cobrança efectiva constituem também uma realidadeem grande escala.Hoje em dia, os processos relativos aos crimes cujos arguidos se en-contram em liberdade não têm praticamente nenhum seguimento,morrendo nas secretarias ou nos gabinetes dos procuradores pelaprescrição do procedimento criminal. Ou seja, os cidadãos são puni-dos duas vezes: os serviços do Estado encarregados da instrução nãofuncionam e a justiça não é feita e vêem os processos extintos preci-samente porque o Estado não cumpriu a sua missão. Os cidadãos desesperam pela justiça criminal porque o MinistérioPúblico se mostra incapaz de dar vazão aos pedidos de procedimentocriminal. E isso é muito mau porque aumenta exponencialmente osentimento de injustiça e até de insegurança. Durante muitos anos a Justiça era vista como uma espécie de um“sector social” que deve ser suportado pelo Estado; a sua utilidade eramarginal. Na distribuição dos recursos ocupava os últimos lugares dalista. Os tribunais funcionavam nas dependências dos serviços dosMunicípios. Os juízes de 1ª instância licenciados em Direito erammuito escassos.

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Porém, no mundo de hoje, da economia global, não há desenvolvi-mento económico sem um sistema de Justiça eficaz e eficiente. Osinvestidores querem saber se as leis são adequadas à protecção dosseus investimentos e se serão aplicadas por órgãos que transmitemconfiança. Querem saber se os tribunais funcionam e se podem sairvencedores numa causa contra as autoridades públicas se os seusdireitos forem violados. Os trabalhadores querem saber se existementidades que podem aplicar as leis sem se vergarem perante o podereconómico e financeiro. Os pobres querem garantias que podempleitear contra os mais poderosos sem risco de discriminação.A Justiça é, assim, uma das traves mestras do regime. É um bominvestimento económico. E é a garantia da paz social. Na verdade,quando a justiça não funciona, os indivíduos tendem a recorrer à vio-lência para obter justiça. O que, obviamente, desestrutura o modo devida e o sistema de valores, em democracia.A chamada pequena criminalidade é aquela que mais contribui parao sentimento de insegurança: os pequenos furtos, os roubos depequenos valores, os assaltos às residências, às viaturas, o crime deinjúria, as ofensas corporais simples, etc. O sistema não pode negli-genciar este tipo de criminalidade, a par do esforço no combate á cri-minalidade violenta e organizada.Esta ineficácia do sistema conduz a um outro problema: as pessoasdeixam de recorrer à Justiça, contribuindo para estatísticas des-fasadas da realidade sociológica. Como não são atendidas em tempooportuno, deixam de confiar no sistema e por isso abstêm-se deapresentar queixa por violação dos seus direitos ou interesses legíti-mos porque … simplesmente não vale a pena!Esta ineficiência está ligada a um outro problema fundamental: aJustiça exige meios, estruturas, leis e atitudes. Ora, os meios disponi-bilizados estão longe das necessidades. Na verdade, um simples exame da relação de adequação entre osmeios afectados e as necessidades, demonstra claramente quedevem ser exigidos esforços muito superiores aos que estão sendoefeitos pelo Estado. Na verdade, em Cabo Verde a ratio magistrados

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do Ministério Público/população é de um para doze mil! Ou seja, para cada 12.000 habitantes temos um Procurador daRepública. Em Portugal, país com aparelho normativo e institucionalmuito semelhante ao nosso, a ratio é de um para sete mil. Em Cabo Verde a ratio juízes/população é de um para 10.5000. EmPortugal é de cerca de um para 5.000! Ou seja, em termos relativostemos metade de magistrados que tem Portugal. A par desses factores, temos ainda um outro e que se prende com afalta de qualificação dos recursos: humanos, materiais e tecnológicos.Na verdade a Justiça padece de uma gritante falta de especializaçãoem áreas essenciais, tais como seguros e previdência social, adminis-tração pública, ambiente, direito das empresas, direitos do consumi-dor, direito eleitoral, etc. Também se regista um reduzido uso de tecnologias de informação ede comunicação e uma deficiente qualificação de meios de investi-gação criminal, especialmente aqueles voltados para o combate anovas formas de criminalidade violenta, organizada, humana, e eco-nómica e financeira.

O nosso compromissoO MPD irá garantir a segurança e a tranquilidade a todos os cabo-ver-dianos, bem como, uma Justiça cada vez mais independente, maisforte, mais rápida e mais justa. Uma Justiça em que todos os operadores judiciários, o Governo e oParlamento conjuguem esforços para que as decisões judiciais sejamjustas e adoptadas em tempo útil. Uma Justiça administrada por Tribunais independentes, imunes aqualquer espécie de pressão, clara ou encoberta, de grupos políticos,económicos, sociais ou culturais. Uma Justiça administrada numa sociedade crítica, exigente e ciosados seus direitos e deveres. Uma Justiça que contribua para a paz social e para o fortalecimentoda segurança jurídica no seio da comunidade.Para atingir esses objectivos, o MpD elege cinco eixos de intervenção:

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1. Revisão profunda dos processos e procedimentos vigentes;2. Capacitação dos tribunais e das procuradorias;3. Reforço do combate à criminalidade;4. Reinserção social dos reclusos;5. Melhorias dos serviços notariais e de registo.

1. No que respeita à reforma legislativa dos processos, num quadrode intensa participação de todos os interessados, o MpD procurará oconsenso necessário para uma reforma legislativa profunda que con-duza ao seguinte objectivo estratégico: o processo e os procedimen-tos não são fins, mas instrumentos ao serviço da justiça célere e justa.Os processos e procedimentos devem ser simplificados e agilizadosde sorte a não comprometerem o efeito útil das soluções pre-conizadas pelo direito substantivo. No entanto, para que a Justiçapossa ser justa, necessário se torna que o processo seja justo e equi-tativo, oferecendo a todos os sujeitos processuais iguais oportu-nidades e sejam sempre assegurados o direito ao contraditório e auma audiência pública, com garantias dos seus direitos fundamen-tais. Devem ser suprimidos todos os actos sem especial relevância najusta composição dos litígios. Neste aspecto, entende o MpD que a experiência acumulada emprocessos de trabalho, do arrendamento rural e de tutela de direitosespeciais decorrentes da cessação da união de facto, constituem sub-sídios importantes para um novo modelo de processo, justo e equi-tativo, despido de formalismos e rituais sem especial relevância, umprocesso ao serviço de uma ideia contemporânea de justiça.Especial atenção será dada, neste quadro, ao processo executivo,ciente do seu impacto na economia e na sociedade. Na verdade, hojeem dia, reconhece-se que nos custos do crédito estão ponderadosvários factos e entre eles a demora na cobrança efectiva. De nadavale um título executivo num processo de execução com 5 ou 6 anosde pendência. Deve-se garantir uma tramitação célere voltada para opagamento efectivo a curto prazo, especialmente quando não hajaoposição ao crédito dado em execução.

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A reforma também deverá atribuir ainda maiores poderes de inter-venção processual ao juiz na busca de uma solução tendencialmentepróxima da justiça material.

2. No que respeita à capacitação dos Tribunais e das Procuradorias,em síntese, o MpD preconiza a instalação efectiva imediata doTribunal Constitucional; a instalação a curto prazo dos Tribunais deRelação; a concretização da regra do mérito efectivo e comprovadoem concurso público para ingresso e acesso em todas as carreiras dasmagistraturas; o aumento de número de juízes e de procuradores, desorte a aproximar-se cada vez mais de uma ratio média de 1 magis-trado por cada 7000 habitantes; a adopção de um programa nacionalde formação regular e permanente de magistrados e de oficiais dejustiça; a criação de jurisdições administrativas nas principais comar-cas do país; a criação e reforço de Juízos Criminais nas principaiscomarcas do país com competência para julgamento de crimes demenor gravidade; a criação imediata de um tribunal de comarca emcada concelho; a criação de um juízo de execução nas comarcas daPraia e de S. Vicente; a reformulação do Tribunal de Contas de formaa aumentar a sua autonomia e capacidade de fiscalização e julga-mento das contas públicas; o reforço considerável da função deinspecção dos serviços judiciários, dando-lhe carácter sistemático efocalizando-a na verificação do cumprimento dos prazos processuaise dos parâmetros de desempenho, qualidade e produtividade; a refor-ma da organização, funcionamento e métodos das secretarias judici-ais e do Ministério Público; a informatização do sistema judiciário,interligando, em rede, tribunais, Ministério Público, conservatórias,notários e advogados em todos os pontos do país.

3. No que respeita ao reforço do combate à criminalidade, o MpDreafirma, em conformidade com a sua matriz profundamentedemocrática, que não se trata de um combate a qualquer preço, masque deve, antes, procurar observar os parâmetros constitucionais ejurídicos que estruturam o nosso Estado de Direito e que demons-

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tram que, afinal, não somos e nem seremos vencidos pelo crime; naverdade, a observância de parâmetros constitucionais no combate aocrime é factor de valorização do nosso modo de vida e sinal de con-fiança na eficácia do nosso sistema social.O MpD considera a segurança como um factor chave de que depen-dem o bem-estar dos cidadãos e o desenvolvimento do País. Os sec-tores-chave para o crescimento económico e a localização do paíscomo um ponto nodal de todas as rotas marítimas e aéreas, exigema garantia de elevados níveis de segurança em todos os pontos doterritório nacional. A função primeira do Estado é garantir a segurança da população. OMpD vê, assim, a intervenção no sector de segurança como estratégi-co para o futuro. Nesse sentido, a actuação do MpD irá orientar-seessencialmente pelos resultados obtidos, ou seja, controlo dos marese costas do país, combate à grande criminalidade e prevenção depequena criminalidade, e por indicadores como a percepção de segu-rança manifestada pela população.O combate à insegurança na rua e em casa dos cidadãos e o combateao tráfico de droga e a ênfase na protecção das pessoas e bens, sãouma prioridade absoluta. Por isso, todos os meios devem ser investi-dos na recuperação e posterior preservação do ambiente de tranqui-lidade e segurança de que o país carece neste momento.O sucesso em garantir segurança e a tranquilidade a todos os cabo--verdianos passa por um conjunto de acções, visando: (i) reforçar aautoridade do Estado e o nível de institucionalização da sociedade;(ii) desenvolver uma nova cultura cívica de responsabilidade e (iii)adequar as forças de segurança às fragilidades do país.Mas também o MpD tem a consciência que o combate ao crime émuito mais do que reformas legislativas ou reforço dos órgãos depolícia criminal, pois que se trata de implantação de um sistema que,confluindo nele medidas e critérios de carácter normativo, cultural,social, educativo e económico, tende a estabelecer uma resposta glo-bal ao fenómeno da criminalidade, com vector acentuadamente pre-ventivo, contendo os delitos num nível de controlo tolerável pela

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sociedade. E se o MpD reconhece que, a nível de formas legislativas,se tem feito um esforço significativo na busca de uma barreira decontenção que mantenha o fenómeno delitivo num patamar aceitá-vel, está, porém, ciente que nas outras varáveis existe ainda um longocaminho a percorrer.

a. A qualificação dos meios de Investigação CriminalVai-se fazer uma aposta séria na qualificação dos meios de investi-gação criminal. A complexidade do crime implica uma maior cientifi-cidade na utilização de meios de apuramento dos factos, conheci-mentos altamente especializados, equipamentos técnicos de nívelsuperior e padronização de processos e procedimentos eficientes eeficazes. O uso de novas tecnologias, de laboratórios sofisticados, decientistas forenses qualificados e de investigadores altamente espe-cializados é, hoje, factor incontornável no combate à criminalidade.Em Cabo Verde a prova ainda assenta basicamente nos depoimentosde testemunhas, com todas as fragilidades inerentes, de credibili-dade, de certeza e de segurança.

b. Melhorar a condição policialExige-se também um forte investimento na condição policial. A actuação visa criar uma nova relação da polícia com a comunidadede modo a transmitir confiança, disponibilidade combativa contra ocrime e respeito pelos direitos e garantias dos cidadãos. Mas o MpD defende, igualmente, um agente motivado através deinstrumentos jurídicos fundamentais para o funcionamento e satis-fação do bem-estar do pessoal da PN, designadamente o Estatuto doPessoal, o Estatuto Remuneratório, o Regulamento Disciplinar, oRegulamento de Mobilidade, o Regulamento do Horário de Serviço eo Regulamento de Avaliação de Desempenho. Vai fazer-se uma reestruturação do Serviço de Apoio Social da PN, demodo a estar inteiramente ao serviço dos seus associados, devendoestes tomar parte da sua planificação e gestão, através de represen-tantes eleitos em assembleia dos seus membros.

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c. Novos Eixos de IntervençãoO combate à criminalidade deve passar, naturalmente, pelo fomentona sociedade de uma cultura de valores como o trabalho, o empen-ho, a honestidade e o mérito, na escola, nas empresas e na sociedade.Uma cultura em que a honestidade é respeitada e o facilitismo, ooportunismo e a desonestidade devem ser repudiados como nega-tivos; uma cultura na família, no trabalho e nas escolas em que ocumprimento da lei e o respeito pelos semelhantes constituem va-lores sociais eminentes e o expedientismo seja considerado compor-tamento anti-social; uma cultura em que o respeito pelos bens públi-cos e pela propriedade privada é valorizado e desconsiderado o com-portamento dos esbanjadores e amigos do alheio. No fundo, torna-se necessário criar na sociedade, na família, nas esco-las, nas empresas, e na comunidade, um nível muito baixo de tolerân-cia para com comportamentos delitivos, evitando-se, contudo, os jus-ticialismos, a justiça popular e os julgamentos morais sumários, comsentenças ditadas pelas aparências e conveniências. Igualmente, é urgente um conjunto de medidas políticas voltadasespecificamente para a resposta aos anseios e problemas da ado-lescência e da juventude, na família, na escola e no emprego. Medidaspolíticas que acompanhem, previnam, apoiem e reintegrem, na con-vicção de que a delinquência não é apenas fruto de uma opção indi-vidual, mas resultado também de um conjunto de circunstâncias difi-cilmente controláveis sem apoio externo.A natureza das ameaças emergentes é, hoje, diferente. Não seenquadra no que anteriormente se poderia classificar de ameaçasexternas que exigiam uma resposta no domínio da defesa e particu-larmente da defesa militar, nem no que poderia chamar-se um pro-blema de ordem pública e segurança para o qual, naturalmente, seriachamado a polícia a intervir. A problemática da criminalidade ganha hoje novos contornos, devidoessencialmente a um fenómeno recente: a aceleração e alargamentoda globalização que aumentou extraordinariamente os níveis deconectividade entre pessoas, grupos organizados e regiões do globo.

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As ameaças transnacionalizaram-se e ganharam um novo perfil e osprotagonistas dos novos conflitos passaram a ser entidades de maiorcomplexidade, em que às motivações tradicionais se somaramoutras, de outra índole. Por isso, impõe-se a necessidade de adequação das instituiçõesnacionais face aos desafios, seja da segurança interna, seja de segu-rança externa.

Tendo em conta a natureza das ameaças emergentes, o estado actu-al das instituições e a prioridade à segurança como um factor críticode sucesso da estratégia de desenvolvimento do país, o MpD desen-volverá políticas para operacionalizar os seguintes eixos de inter-venção, procurando e construindo, para tal, os consensos político-partidários necessários:

a. Focalizar a Polícia da Ordem Pública na sua missão de garantir asegurança interna, defendendo em simultâneo os direitos doscidadãos e a legalidade democrática. O MpD desenvolverá acçõespara que a polícia seja bem formada, bem treinada, bem dirigidae bem coordenada, aumentando assim a eficácia da sua actuação;

b. Regionalizar a Polícia de Ordem Pública, introduzindo elementosde uma maior conformidade, flexibilidade e racionalidade das cor-porações face às realidades e necessidades concretas de cada ilha;

c. Aumentar a eficácia da actuação da polícia com a presença emtodos os bairros, com um melhor policiamento do trânsito e comuma polícia com perfil adequado e elevado nível de formação epreparação;

d. Melhorar a comunicação dos cidadãos com a polícia, introduzin-do elementos de confiança e de responsabilização como agravação das chamadas de emergência;

e. Prevenir a delinquência juvenil através de um conjunto de medi-das políticas voltado especificamente para a resposta aos anseiose problemas da adolescência e da juventude, na família, na esco-la e no emprego. Medidas de política que acompanhem,previnam, apoiem e reintegrem, na convicção de que a delinquên-

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cia não é propriamente fruto de uma opção racional, mas resulta-do de um conjunto de circunstâncias dificilmente controláveissem apoio externo.

f. Reforçar a operacionalidade da Polícia Judiciária, de âmbitonacional, em linha com os desafios que ela enfrenta, principal-mente no combate ao tráfico de droga, branqueamento de capi-tais, mas também à corrupção, à fraude e à evasão fiscal e à lutacontra a criminalidade internacional (tráfico de drogas, demenores e terrorismo). Os meios de polícia científica devem serfortemente reforçados, a formação de agentes deve ser levada acabo por especialistas altamente qualificados, para garantir eleva-dos padrões de treino e capacidade operacional;

g. Criar uma força de segurança, de âmbito nacional, com a missãode garantir a vigilância e a segurança do espaço aéreo e marítimo,o controlo das fronteiras aérea e marítima, a fiscalização e agarantia do cumprimento das leis e regulamentos na área de juris-dição marítima nacional, (em espaços integrantes do domíniopúblico marítimo, em águas interiores e em águas sob soberaniae jurisdição nacional), a fiscalização aduaneira e a protecção civil;

h. Orientar a estratégia da cooperação no domínio de segurançapara a protecção e vigilância da nossa Zona Económica Exclusivae para o cumprimento da missão da força paramilitar acimareferida, com vantagens no combate ao crime organizado emestrita articulação com os sistemas judiciários e policiais deoutros países e organizações internacionais;

i. Controlar os fluxos de imigração, adoptando maior rigor na apli-cação dos mecanismos de controlo das fronteiras.

4. No que respeita à reinserção social dos reclusos, o MpD entendeser ela uma componente essencial da política humanista do Estado edo próprio combate à criminalidade. Na verdade, para além doimperativo de prossecução de valores de justiça, hoje torna-se cadavez mais evidente que a necessária acção repressiva do Estado não ésuficiente para a integral defesa da sociedade.

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O Estado não pode transformar as prisões em meros «espaços puni-tivos» e de expiação da culpa. Deve, antes, assumir o seu papel deprocurar, na medida do possível, assegurar ao recluso meios alterna-tivos aos caminhos do crime, fazendo-o sentir que ainda tem espaçono convívio social e que lhe estão a ser fornecidas ferramentas quepermitam a sua reinserção, em harmonia com a comunidade. Os estabelecimentos prisionais concebidos como simples agrupa-mento de celas, com excesso de disciplina e rigor, com condiçõesinfra-humanas, apenas acentuam o grau de revolta nos reclusos,potenciando a prática da infracção. Deve, pois, a administração prisional, em estreita articulação cominstituições especializadas, qualificar o recluso para a sua vida fora doespaço prisional, diminuindo a taxa de retorno às prisões. A formaçãoprofissional nas prisões deve desempenhar um papel decisivo. O tra-balho remunerado, em condições especiais, deve também ser fomen-tado nos estabelecimentos prisionais, na medida das possibilidades. O serviço religioso deve ser garantido a todos, em conformidade comas convicções. O acompanhamento individualizado dos reclusos deve ser uma pre-ocupação constante. No fundo, trata-se de um esforço do Estado eda sociedade para mitigar as graves consequências do sistema oficialde valores do mundo prisional, abrindo caminho para uma mais ráp-ida reinserção do recluso na sociedade. Mas é evidente que ascondições de ressocialização não podem pôr em causa, de formaalguma, a segurança e os termos do cumprimento da pena. Mas ocumprimento da pena não se mostra incompatível com uma políticade ressocialização, pressupondo-a, até.

5. No que respeita à melhoria dos serviços de registo e do notariado,o MpD propõe, em síntese, um conjunto de acções tendentes a facil-itar o tráfego jurídico, sem perda dos valores de ponderação, certezae segurança, caros às funções notariais e de registo. E, nessa, matériao MpD propõe-se auscultar e dialogar com os notários, conser-vadores, associações empresariais e de defesa do consumidor, um

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conjunto de acções e medidas de facilitação dos negócios e de outrastransacções, observados os limites já referenciados. Por exemplo, não faz sentido transaccionar-se valores mobiliários naordem de centenas de milhares de escudos, por simples documentoparticular ou mesmo por convenção oral, e impor-se, ao mesmotempo, a escritura pública para a venda de um pequeno lote de ter-reno ou de uma simples fracção autónoma de prédio urbano. O MpD propõe-se fazer reforçar o princípio da autonomia técnica dasfunções de registo e notariado, cabendo, em exclusivo aos tribunais,nos termos da lei, a apreciação da legalidade dos actos notariais e deregisto, não devendo os serviços administrativos dirigidos peloGoverno intervir, especialmente quando esteja em causa um partic-ular interesse patrimonial do Estado. Entre as várias acções a desenvolver, merecem destaque as seguintes:atribuição de algumas funções notariais a sociedades de advogadosdevidamente autorizadas; liberalização, após adequada regulação dafunção notarial, permitindo o seu exercício por particulares com asqualificações devidas, com reforço dos poderes de regulação e fisca-lização pela Direcção Geral dos Registos e Notariado; autonomizaçãodos serviços notariais e dos serviços dos registos de atendimento aopúblico; existência de, pelo menos, um serviço notarial e um serviçode registos de atendimento ao público em cada concelho; informati-zação e ligação em rede de todos os serviços notariais e de registosaos tribunais, Ministério Público e à Ordem dos Advogados e com osserviços consulares de Cabo Verde no exterior.O MpD propõe-se também debater com os principais interessados,de entre eles os conservadores, magistrados, advogados, empresasimobiliárias e proprietários de terras, as virtualidades de um sistemade registo prevalentemente constitutivo, procurando mitigar a inse-gurança jurídica que tem tomado conta do país e dos titulares dedireitos imobiliários inscritos no quadro actual do sistema mera-mente declarativo. Na verdade, um sistema baseado na protecção total dos direitosinscritos pode apresentar vantagens sobre o sistema actual de pro-

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tecção parcial, que admite prova em contrário e, por isso, enfraque-ce em larga medida os efeitos úteis do registo e pode pôr em crise aconfiança no tráfego jurídico. Pretende também o MpD, independen-temente do sistema que vier a ser adoptado, fomentar o registo gra-tuito de terrenos, pelo menos durante um determinado período detempo, pois que tem efeitos perversos a situação actual em que aesmagadora maioria dos prédios não tem qualquer expressão no sis-tema registral.

B3 - Relações externas com políticas activas ediplomacia económicaCabo Verde é um pequeno Estado, marcado por uma consideráveldiáspora, com uma reduzida dimensão territorial, populacional eeconómica, endividado, muito vulnerável a choques externos, mascom uma extensão marítima que ultrapassa os 800.000 km2 (750 milkm2 de ZEE mais 90 mil km2 de mar interior) e está inserido, geografi-camente, numa zona de intensa confluência marítima - o terço médioatlântico – com elevado peso estratégico devido à circulação de naviose aeronaves e sua privilegiada proximidade à costa africana.A somar a essa inserção, aos frágeis equilíbrios e à realidade mar, CaboVerde tem a especificidade, valorizável no contexto regional africano,de ser um país com estabilidade política e social, homogeneidadesocial e forte identidade nacional e cultural, valores de matriz ociden-tal e uma importante diáspora em todos os continentes.Em termos de comércio internacional, a dinâmica competitiva impõe,no caso da protecção do mercado interno, um sobrecusto para aspopulações e para as empresas e não assegura condições de compe-titividade aos países, sendo certo que, igualmente, a pequena dimen-são do mercado nacional, conflituando fortemente com a dimensãoóptima de produção, constitui importante limitação de viabilidadeempresarial e impõe a necessidade de identificar, explorar e desen-volver nichos de mercado e produtos adequados às características donosso mercado. Isto quer dizer que não é virado para o mercado interno que Cabo

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Verde poderá impulsionar o crescimento e o desenvolvimentoeconómico. Não há condições em Cabo Verde para um desenvolvi-mento económico sustentado apenas nas suas condições internas derecursos materiais e humanos, nem para a reprodução das etapas dedesenvolvimento das economias ocidentais evoluídas. Para podersustentar uma estratégia de desenvolvimento, Cabo Verde temnecessariamente de se virar para o exterior, abrir-se aos fluxoseconómicos internacionais e criar condições não só de atractividadepara o estabelecimento de actividades económicas que tenham umadimensão iminentemente global, como de exportação para merca-dos a identificar.São estas características, mas também a configuração actual dasrelações económicas internacionais e as dinâmicas em curso daeconomia global, designadamente as que resultam da afirmação doeixo asiático, do debate sobre o futuro do eixo euro-americano e daproblemática da defesa e segurança face à criminalidade transna-cional, que determinam o perfil de inserção de Cabo Verde no mundoe, por inerência, no vector relações externas. O PAICV deixa para a nova geração de cabo-verdianos, à guisa debalanço, uma factura global de oportunidades perdidas, destacando--se a não preparação do país para fazer face a novas ameaças e aoaproveitamento de novas oportunidades que resultam da relação deCabo Verde com o mundo.A politização das representações diplomáticas, com as nomeações anão obedecer à competência, à dedicação e ao perfil exigível ao cargoem causa, mas sim, e na maioria das vezes, à disponibilidade dosnomeados em serem verdadeiros comissários políticos a mando dedirectivas político-partidárias, é a grande mancha na carreira e noorgulho dos verdadeiros diplomatas e na credibilidade internacionalda diplomacia cabo-verdiana, com graves consequências na con-tribuição da diplomacia no desempenho de vários sectores do país,entre eles, o investimento externo, as potencialidades económicasdas comunidades, o turismo, a exportação da indústria ligeira cabo-verdiana e a internacionalização de empresas nacionais, por exemplo,

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em joint ventures.Ao direccionar o país novamente para a reciclagem das ajudas exter-nas em detrimento de uma economia sustentável potenciada pormecanismos bilaterais e multilaterais como a AGOA e as RelaçõesEU/Cabo Verde no novo quadro de parceria e pela dinâmica pro-moção do investimento externo, a diplomacia económica foi umparente pobre na diplomacia nacional.

A Visão do MpD1. O MpD entende que, em decorrência dos princípios plasmados naConstituição da República e dos constrangimentos derivados da suadimensão, localização e desenvolvimento, num mundo conturbado ealtamente competitivo, devem ser implementados vectores na suaactuação político-diplomática que, primeiramente, valorizem, deforma pragmática, a sustentação da sua soberania, a preservação dasua identidade, o apoio indefectível às suas comunidades no exterior ea defesa intransigente dos seus interesses nacionais. Para o MpD, estes constrangimentos, longe de se constituírem em lim-itações à sua acção exterior, devem ser hoje erigidos como a fonteinspiradora e renovadora da dinâmica da política externa de CaboVerde e constituírem, portanto, uma nova matriz da acção diplomáti-ca cabo-verdiana.Neste sentido, o MpD reafirma a sua intenção de potenciar as relaçõesexistentes, intensificando uma política externa mais activa e visívelque privilegie, nos mais diversos domínios, um espírito construtivo deparceria, de benefícios mútuos, de boa vizinhança, de diálogo e concer-tação na busca de consensos e igualmente no reforço e aprofunda-mento tanto das relações bilaterais existentes como da sua partici-pação nos fóruns internacionais.

2. As implicações do novo estatuto de Cabo Verde como País deDesenvolvimento Médio (PDM) situam-se ao nível do acesso a finan-ciamentos junto das instituições internacionais e parceiros bilaterais.Após o período de transição que terminará em breve, perspectiva-se,

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efectivamente, não só a redução do fluxo de ajuda externa a médioprazo, nas vertentes donativo e empréstimos concessionais, como oagravamento das condições associadas aos empréstimos, nomeada-mente taxas de juro mais elevadas e prazos de reembolso mais aper-tados. Ou seja, as condições de financiamento do investimento públi-co vão degradar-se nos próximos anos.O MpD entende que esta aparente “ameaça” representa, antes, umanova oportunidade para que o país reveja as suas prioridades de políticaexterna, actuando numa perspectiva de suporte aos esforços nacionaisvisando aumentar drasticamente o fluxo de capitais externos privados. A função actual de captação de Ajuda Pública ao Desenvolvimento de-verá continuar, mas não como vertente principal da política externa,como é o caso actualmente. A prioridade será atribuída à diplomaciaeconómica para captação de investimento externo, à diplomacia cul-tural para aumentar a notoriedade e promover o país no estrangeiro eà diplomacia comunitária (comunidades emigradas) visando potenciara mais-valia económica dos emigrantes como mais-valia nacional. Esta reorientação pressupõe, não só, uma fina articulação com a áreaeconómica do Governo, para identificação dos principais mercadosalvo, as modalidades, os instrumentos e os mecanismos mais eficazese efectivos, como o redireccionamento da diplomacia cabo-verdiana,inclusive no concernente à rede de serviços diplomáticos e à selecçãodos agentes dessa política adequados ao perfil que se pretende noatingir do novo paradigma.

3. Nesse mesmo passo, a promoção das exportações será um dosobjectivos prioritários da política externa, considerando a imperiosanecessidade de se reverter o processo em curso de rápida deterioraçãoda balança comercial de Cabo Verde, um dos grandes problemasestruturais da nossa economia.

4. Para o MpD, a natureza criminosa das ameaças emergentes, o seucarácter transnacional e a realidade física e geográfica de Cabo Verde,colocam a problemática da defesa e segurança no centro da estratégia

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de desenvolvimento do país, ganhando a cooperação e as alianças paraa defesa e segurança particular importância.Assim, a política externa que o MpD preconiza dará prioridade à co-operação e alianças para a defesa e segurança, sempre no objectivo demanter o País em ampla sintonia com as tendências contemporâneasque lhe propiciem, na plena observância do Direito Internacional, umambiente de Paz e Desenvolvimento.

O nosso compromissoa. Um engajamento mais activo e maior participação nos sistemasde segurança na qualidade de actor internacional útil e confiávelCiente de que a segurança não é somente a dos Estados, mas, funda-mentalmente, das pessoas e ainda convicto de que a própria vulne-rabilidade do País, num mundo de ameaças cada vez mais complexase difusas, onde mais visivelmente se incluem o narcotráfico e crimesa ele conexos, requerem estratégias comuns no combate às mesmas,entende o MPD de que Cabo Verde deve ter um engajamento maisactivo e participação maior nos sistemas de segurança cooperativa ecolectiva que consolidem, em termos de segurança e vizinhança, asua qualidade de actor internacional útil e confiável.

b. Aprofundamento das relações e procura de alianças no espaçoatlânticoAinda face a estas ameaças e ciente da posição geoestratégica deCabo Verde que colocam as suas ilhas cada vez mais no anel de segu-rança do flanco sul da União Europeia e das rotas transatlânticas,reitera o MpD a sua inteira disponibilidade de, para além de alargar eaprofundar o diálogo, manter relações e buscar alianças no sentidoda positiva inserção do País nos sistemas de segurança colectiva ecooperativa do espaço atlântico.

c. Participação mais criativa e mais alargada no seio da CPLP Convicto de que a CPLP enforma, muito para além de um passadohistórico comum, uma carga cultural em plena expansão veiculada

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pela língua portuguesa que facultam potencialmente à organizaçãoser um fórum de concertação permanente, de diálogo construtivo ede vastas acções de parcerias com vista ao desenvolvimento integrale progressivo dos seus membros, entende o MpD que a participaçãode Cabo Verde deve assentar num engajamento criativo e ser maisalargada, mais activa e consolidada. A convergência de diferentes opções ou motivações, em alguns paí-ses, destaca-os na definição das prioridades da diplomacia cabo-ver-diana. São os casos de Portugal, Brasil e Angola, em que convergem,de um lado a história e a cultura, e do outro, questões fundamentaispara o nosso desenvolvimento e segurança, como o InvestimentoDirecto Externo e, determinantes de natureza geoestratégica.Relativamente ao Brasil, devido ao seu novo papel na reforma dasinstituições internacionais; a Portugal, como membro integrante daUnião Europeia e pelo papel que lhe é conferido na divisão dasrelações da União Europeia com alguns países africanos, de entre osquais Cabo Verde: e Angola, como uma das potências em afirmaçãono nosso Continente.

d. Actuação dinâmica, contínua e eficaz nas principais organiza-ções económicas internacionaisNa defesa dos seus interesses, deverá ser dada através de umaactuação dinâmica, contínua e eficaz de Cabo Verde nas principaisorganizações económicas internacionais, tais como a OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional(FMI), o Banco Mundial (BM), Organização das Nações Unidas para aAgricultura (FAO), o Programa das Nações Unidas para o Desenvol-vimento (PNUD) e outras correlatas neste domínio. Ainda no âmbito da sua construtiva participação nos fora interna-cionais entende o MpD apoiar as complexas negociações impulsio-nadas pelo Secretário-geral das Nações Unidas tendentes à intro-dução de reformas da organização mundial.

e. A União Europeia como prioridade da política externa cabo-ver-

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diana. Cabo Verde reconhece a União Europeia como potência mundial eindustrial e foi um governo do MpD que, procurando a integraçãonum espaço de vocação universal e determinante para a sua credibil-idade na sua articulação com outros espaços e parceiros mundiais,promoveu e conseguiu, na sua política monetária, um acordo cambialque conduziu a um peg fixo com o euro. Dando sequência ao processo iniciado na década de noventa, o MpD,definiu, já na sua plataforma eleitoral de 2000, como principal objec-tivo estratégico da Política Externa, a obtenção de um EstatutoEspecial junto da União Europeia, idêntico, pelo menos, ao de quebeneficia Israel. Perante os avanços, recuos e desorientações do Governo do PAICVna condução do processo que, até hoje, não conduziram a nada desubstancial, o futuro governo do MpD renova a sua firme determi-nação de relançar e trabalhar com redobrada dinâmica as vias condu-centes à satisfação das duas partes.

f. Integração de Cabo Verde dentro de sistemas de cooperação emÁfrica e em redes de cooperação regional Assumindo plenamente a noção da tripla identidade de Cabo Verde,enquanto país em vias de desenvolvimento, africano/atlântico e demarcante cariz insular, destaca o MpD a necessidade de uma maiorintervenção e acção da presença do País a nível da União Africanaassim como, em sede de articulação política e económica sub-region-al, preconiza vir a ter uma atenção especial e motivada no espaçodiplomático da CEDEAO. O MpD garantirá a articulação da presença externa de Cabo Verde edas suas embaixadas com os objectivos económicos e culturaisestratégicos, focalizando-as na diplomacia económica e cultural, naconstrução de um novo mapa de diplomacia económica e no apoioeficaz aos esforços de internacionalização e das exportações de bense serviços, incluindo os produtos culturais. Ainda no quadro de Integração de Cabo Verde dentro de sistemas de

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cooperação em África e em redes de cooperação regional, o MpDdesenvolverá políticas e uma diplomacia externa activa com vista atransformar, a longo prazo, Cabo Verde numa plataforma de lançamen-to de processos de modernização e de distribuição comercial em África. Esta estratégia assentará na promoção de Cabo Verde como elemen-to utilitário no esforço de modernização em África, baseada na val-orização das suas especificidades, nomeadamente, no domínio, emantecipação, das Tecnologias de Informação e de Comunicação, nascompetências profissionais compatíveis com as exigências das agên-cias e projectos internacionais e na sua posição geoestratégica.Neste quadro serão privilegiadas as relações com o Senegal e aMauritânia por contiguidade de vizinhança.

g. Reforço das relações Cabo Verde/EUAO MpD defende uma cooperação de Cabo Verde nos novos objec-tivos de política externa americana em relação a África. Como umparceiro privilegiado de Cabo Verde, o MpD orientará a sua políticapara melhorar a efectividade e o impacto da ajuda externa ameri-cana, nomeadamente a iniciativa MCA no crescimento e desenvolvi-mento económico do país, bem como desenvolver a cooperação naluta global contra o terrorismo, contra o tráfico de estupefacientes econtra a criminalidade internacional no geral.

h. Reforço das relações com a ChinaA emergência da China como potência global, representa uma oportu-nidade única para o aprofundamento das relações políticas, mas sobre-tudo económicas, com este país. No plano das relações externas, na continuidade do relacionamentoestratégico iniciado em 1997/98, o MpD erigirá a China em parceirocomercial e económico privilegiado, como fonte de investimento deempresas privadas chinesas e como mercado fornecedor das empresascabo-verdianas, destacando-se a valorização estratégica de Cabo Ver-de nas relações comerciais da China/África.

i. Reforço das relações com Luxemburgo, Macau e Singapura

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A diplomacia cabo-verdiana vai atribuir uma atenção muito especial àsrelações com pequenos países ou regiões, como o Luxemburgo, Macaue Singapura, nomeadamente por razões de aprendizagem de métodoseficazes de adaptação dos mecanismos de relações externas, comsucesso, a Estados ou regiões de pequena dimensão, bem como peloconforto que a partilha de situações equivalentes confere.

j. Reforma institucional do departamento governamental das rela-ções externasCoerente com as grandes responsabilidades atribuídas às relaçõesexternas, o Governo do MpD actuará a nível dos recursos disponíveispara as relações externas, em termos motivacionais dos recursoshumanos, da adequação, reforço e modernização da rede Consular edas Missões Diplomáticas, de modo a transmitir uma imagem forte dadiplomacia cabo-verdiana.O MpD garantirá a articulação da presença externa de Cabo Verde edas suas embaixadas com os objectivos económicos e estratégicos,focalizando-as na diplomacia económica, na construção de um novomapa de diplomacia económica e no apoio eficaz aos esforços de inter-nacionalização e das exportações de bens e serviços. O MpD estabelecerá um objectivo específico quantitativo por embaix-adas e missões diplomáticas em termos de número de turistas e vol-ume de investimento externo a ser alcançado, anualmente. A diploma-cia cabo-verdiana assumirá um papel determinante na promoção deCabo Verde no exterior.

B4 - Comunidades emigradas integradas política eeconomicamenteDesde a primeira hora, mesmo antes de chegar ao Poder, o MpDassumiu, nos seus documentos matriciais, que «a nação cabo-verdiananão se resume à população das ilhas, abrangendo, de igual modo, todasas nossas comunidades espalhadas pelo mundo». Na esteira deste pensamento, o MpD foi consequente com o seu dis-curso fundador, fazendo notar que «uma real integração dos emi-

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grantes no processo da democratização da nossa sociedade e dodesenvolvimento económico do país extravasa, na nossa perspectivapolítica, a simples operação de transferência de divisas».O MpD rompeu, em toda a linha, com a visão seguida pelos governosdo PAICV, nos 15 anos de partido único, a qual encarava os emigrantescomo «estrangeirados» e «inimigos do povo», afastando-os, de todoem todo, do processo da tomada de decisões políticas importantes,mesmo em momentos cruciais da história de Cabo Verde.Logo que ascendeu ao Poder, o MpD colocou os emigrantes no centrodas suas preocupações políticas, atribuindo-lhes um papel importanteno desenvolvimento económico, político e social de Cabo Verde. Éjusto reconhecer que, nos seus 10 anos de governação, o MpD tudo fezpara convocar os emigrantes para a grandiosa tarefa de ajudar o País aatingir o nível de crescimento de que precisava para sair do marasmoem que se achava mergulhado nos anos do partido único.Na mesma linha, o número de deputados da emigração viu-se duplica-do na Assembleia Nacional, passando cada círculo da emigração a terdireito a dois deputados, medida que foi tomada reduzindo a represen-tação dos deputados pelos círculos no território nacional. No que respeita aos direitos sociais apontam-se os acordos em matériade segurança social celebrados com vários países de acolhimento decomunidades cabo-verdianas e ainda o apoio sob a forma de subsídioespecial a fundo perdido concedido aos membros mais pobres dacomunidade cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe.Importa ainda recordar que, no âmbito institucional, foi, também, cri-ada, pela primeira vez, uma Secretaria de Estado da Emigração eComunidades, tendo, de igual modo, sido reforçado o papel do entãoInstituto do Apoio ao Emigrante e dotados de mais recursos humanose materiais os postos consulares existentes em vários países, além detantos outros então criados.Em suma, os dez anos da governação do MpD permitiram, indiscutivel-mente, que os emigrantes se integrassem, activamente, na naçãocabo-verdiana, «fazendo com que um dos fenómenos mais impor-tantes da Segunda República tenha sido o despertar de um conjunto

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impressionante de energias e de iniciativas da comunidade no exterior,que se traduziu em concreto:

a. No afluxo maior de emigrantes ao País para gozo de férias;b. Na multiplicação única de associações e federações de cabo-ver-

dianos no exterior;c. No estabelecimento de uma real comunicação entre associações

existentes em diferentes países;d. No investimento dos emigrantes em projectos de desenvolvimen-

to;e. Na participação dos emigrantes nas eleições legislativas e presi-

denciais;Hoje, perante a situação por que passam as comunidades cabo-ver-dianas emigradas, abandonadas à sua sorte na maior parte dos casos edo tempo e espezinhadas na sua dignidade, para só serem recordadasem período eleitoral e então objecto de desbragada manipulação par-tidária e fraude eleitoral por parte do partido no poder, impõe-se aoMpD a assumpção de novas responsabilidades, conjugadas com novosdesafios, a fim de devolver as esperanças aos emigrantes, recolocando-os no centro de políticas públicas do Estado de Cabo Verde.Não basta, porém, apenas restituir aos emigrantes o interesse das insti-tuições cabo-verdianas. Urge, também definir novas abordagens daspolíticas de emigração, tendo como pano de fundo a adopção de umparadigma de análise mais pragmático, mais realista e mais condizentecom a realidade de cada um ou de cada grupo de países de acolhimen-to e de cada uma ou cada grupo de comunidades cabo-verdianas noestrangeiro, ultrapassando, de vez, as já clássicas reclamações sobre osTACV, a Administração Pública, os aeroportos e as Alfândegas.

Uma nova visão para as políticas da emigraçãoImporta, pois, ser ousado e introduzir uma nova visão nas políticas daemigração que seja capaz de mobilizar, de construir e de tirar partidodo enorme capital social, económico e cultural de que o país dispõeno estrangeiro.Para tanto, deverá ter-se sempre presentes quatro princípios funda-

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mentais:1. As políticas cabo-verdianas relativas às comunidades emigradas

devem ser completamente despartidarizadas e objecto de amploconsenso político;

2. Os direitos e interesses das comunidades cabo-verdianas nospaíses de acolhimento constituem assunto de Estado e têm de,obrigatoriamente, fazer parte da agenda de cooperação de CaboVerde com esses países. O objectivo deve ser o da melhor inte-gração possível do emigrante cabo-verdiano no país de acolhi-mento sem perder a sua ligação cultural a Cabo Verde.

3. Haverá, igualmente, uma melhor política de integração do emi-grante cabo-verdiano em Cabo Verde, sem o forçar a cortar oslaços constituídos como País de acolhimento, comprometendo-seo MpD a criar o Estatuto do investidor - emigrante.

4. Num governo do MpD, o órgão governamental para a emigraçãoestará na directa dependência do Primeiro-Ministro e serão cria-das as condições políticas e institucionais para o atendimentoespecial aos emigrantes.Neste contexto, o MpD entende que as políticas do Estado emdirecção às comunidades deverão, designadamente:a. Assegurar a existência e funcionamento na Chefia do Governo

e em ligação directa com o Chefe do Governo de uma estrutu-ra central de concepção, promoção e coordenação de políticaspúblicas para as comunidades emigradas, capaz de discutir, pro-por e monitorizar a execução de leis, medidas, pacotes, políticas,incentivos, etc., dirigidos especificamente às mesmas ou comelas relacionados. Assegurar, igualmente a existência e fun-cionamento de um Observatório da Emigração e do cargo deProvedor do Emigrante na Provedoria de Justiça

b.Assegurar protecção diplomática e consular eficiente a todas ascomunidades cabo-verdianas;

c. Alargar o direito de participação política das comunidades cabo-verdianas às eleições autárquicas em Cabo Verde, permitindo aemigrantes concorrer a cargos electivos municipais;

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d.Pugnar pelo reconhecimento, nos países de acolhimento, de direi-tos de integração aos membros das comunidades cabo-verdianasneles residentes, designadamente direitos políticos de representa-tividade local, incluindo o de concorrer e ser eleito para cargoslocais, e direitos de acesso à educação e formação, à saúde, aoemprego e à protecção social universal, bem como à propriedadee à actividade económica privadas, em condições de igualdade,adoptando, para o efeito, as medidas de reciprocidade necessáriase apoiando as comunidades no exercício de tais direitos;

e.Promover, celebrar e co-participar na execução de acordos decooperação, com os Estados e municípios de acolhimento, tendoem vista projectos e programas que apoiem a integração dascomunidades cabo-verdianas nos países de residência e em espe-cial a requalificação, em todos os níveis, da mão-de-obra cabo-verdiana;

f. Promover, organizar e divulgar, intensamente, manifestações dacultura cabo-verdiana nos países de acolhimento, tendo especial-mente em vista a seu conhecimento junto das segundas e ter-ceiras gerações e instituindo, onde as condições e os interessesdas comunidades o justificarem, soluções institucionais desuporte a uma agenda cultural permanente ou regular;

g.Apoiar, material e moralmente, sem condicionar a sua autono-mia, as associações e cabo-verdianos em países de acolhimento;

h.Incitar a geminação de municípios cabo-verdianos com municí-pios de outros países onde residam comunidades cabo-verdianas,como suporte para programas municipais e intermunicipais deintegração e apoio dessas comunidades.

i. Promover e apoiar a introdução, nuns casos, e a consolidação,noutros, do ensino bilingue, de crianças cabo-verdianas nas situ-ações em que o insucesso e o abandono escolares o justifiquem.

j. Formular e promover políticas que favoreçam o empreende-dorismo empresarial e social, bem como a criação de uma classeempresarial cabo-verdiana na diáspora, com o objectivo mani-festo de permitir a sua plena integração económica nos países de

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acolhimento, mas também de promover o seu investimento emCabo Verde e criar um importante factor da internacionalizaçãoda economia cabo-verdiana.

k. Estimular a internacionalização dos bancos comerciais cabo-ver-dianos para países onde vivam comunidades cabo-verdianasexpressivas;

l. Incentivar o investimento dos emigrantes em Cabo Verde;m. Reconfigurar a rede consular, aproximando-a das comunidades

e modernizando as estruturas da mesma e apostando na utiliza-ção das NTIC, com vista a melhorar substancialmente a qualida-de do atendimento e dos serviços prestados aos emigrantes.

n.Criar na diáspora uma rede de comunicação social cabo-verdiana,com o objectivo de informar os emigrantes da realidade do paísde origem e de acolhimento e promover a imagem do emigrantecabo-verdiano no estrangeiro;

o.Garantir assistência pública, provendo, de acordo com as possi-bilidades do país, às necessidades básicas elementares dos mem-bros das comunidades que o não possam fazer por si ou pela suaestrutura familiar;

p. Incitar a geminação de municípios cabo-verdianos com municí-pios de outros países onde residam comunidades cabo-verdianas,como suporte para programas municipais e intermunicipais deintegração e apoio dessas comunidades.

B5 – Uma descentralizaçao para o desenvolvimentoequilibradoA dispersão da população pelas ilhas faz da descentralização umagrande necessidade para o país, apesar do número reduzido da suapopulação total.

1. A dinâmica dos anos noventaA partir de 1991, o poder autárquico conheceu uma nova dinâmicaem Cabo Verde, com diversas eleições democráticas muito concorri-das pelas populações locais, com alguns municípios a serem governa-

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dos por cidadãos sem filiação partidária, demonstrando o dinamismodo processo de descentralização em Cabo Verde. O processo de descentralização política ganhou nova dinâmica coma aprovação do estatuto dos municípios em 1995, que transferiunovas responsabilidades e recursos materiais, humanos e financeirosàs autarquias locais que passaram, a partir daí, a desempenhar umimportante papel no processo de desenvolvimento de Cabo Verde. Os municípios cabo-verdianos tiveram e têm uma dinâmica semprecedentes no plano internacional. A cooperação descentralizada,nas suas vertentes geminação e acordos de cooperação municipal,para além de ter proporcionado meios complementares de inter-venção aos municípios, permitiu projectar a nossa democracia localalém fronteiras. Pode-se afirmar, com alguma segurança, que osmunicípios são parte activa e complementar, por direito próprio, dapolítica externa do país, tanto pela natureza das relações que vêmdesenvolvendo, como pela realização de eventos que projectam opaís.

2. A perseguição ao poder autárquico a partir de 2001Em 2001, o governo do PAICV saído das eleições legislativas definiua reforma do Estado e a consolidação do poder local como uma dassuas primeiras prioridades. Todavia, muito pouco tem sido feito tantonuma como noutra área. A reforma do Estado foi, seguramente, o sector mais apagado da gov-ernação do PAICV, não tendo havido nenhuma iniciativa digna demerecer destaque, a não ser os habituais discursos e intenções deretórica. No concernente ao poder local o diagnóstico é ainda mais severo epreocupante. Com efeito, tem havido um verdadeiro retrocesso no processo dedescentralização em Cabo Verde, o que poderá pôr em causa, tantoa democracia local, como os avanços conseguidos em matéria dedesenvolvimento local. A Associação Nacional dos Municípios, pedra angular de afirmação

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da dinâmica dos municípios na promoção do desenvolvimento local,foi, nos mandatos do actual governo, completamente secundarizadaenquanto parceira estratégica no reforço do poder local em CaboVerde. A criação e consequente apoio às Associações Paralelas – de carizmeramente partidário - em todos os municípios do país, gerindoavultados recursos públicos, constituem violações gravíssimas àautonomia e às competências das autarquias locais reconhecidasconstitucionalmente.Por outro lado, menosprezando a legitimidade do voto democráticoem que se assenta a governação municipal, o governo do PAICVdeclarou uma clara oposição às câmaras municipais com realce paraos municípios de cor política diferente da sua, chegando ao ponto dese desresponsabilizar pelo fracasso das suas políticas, atribuindo-as,malevolamente, ao desempenho das câmaras.

3. A óptica da regionalização versus centralizaçãoOs sistemas de governação adoptados até agora têm tido uma ópti-ca nacional, concentrando-se em objectivos de âmbito nacional e emestratégias e políticas que visualizam o país de uma formahomogénea, enfrentando a realidade da descontinuidade territorialnacional com respostas não diferenciadas. O governo central planeia a nível do macro - território e as autar-quias gerem os micro - territórios que compõem os diversos municí-pios. A transmissão e a operacionalização das estratégias nacionaisencontram, assim, barreiras evidentes quando o sistema de planea-mento não comunga das especificidades dos espaços regionais,esbarrando essa uniformização, muitas vezes, com realidades difer-enciadas nas diversas ilhas.Ainda do lado governamental, não existe uma eficaz territorializaçãodas políticas e dos programas sectoriais nacionais, tendo os ministé-rios a tendência natural de se alimentarem da burocracia do centro,sendo certo que a experiência da desconcentração através dedirecções regionais demonstrou já não ser a melhor opção pois, mais

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não é do que tentáculos da burocracia centralizadora, não gerandovalor acrescentado, mas sim, o consumo de mais recursos.Por outro lado, nas ilhas que albergam vários concelhos e, por con-seguinte, vários centros de poder municipal, as disfunções do sistemade planeamento aumentam ainda mais, pois não existe uma orien-tação estratégica integradora das políticas governamentais e munici-pais dos vários concelhos da ilha, nomeadamente nos domínios doordenamento do território, da gestão dos recursos humanos e mate-riais, da administração pública e da infra-estruturação. Cada municí-pio tende a funcionar como uma ilha dentro da ilha, não gerandoexternalidades. Com a globalização passou a haver um interesse cada vez maior pelodesenvolvimento regional. As cidades têm vindo a assumir umarelevância cada vez maior, assegurando o casamento entre o “local”e o “global”. As cidades procuram e estão interessadas em relaçõesdirectas entre si e tornam-se globais. Donde a necessidade dascidades e as regiões se desenvolverem abertas para o exterior, ligan-do-se ao mundo globalizado.

A visão do MpDCabo Verde é um país arquipelágico, fortemente marcado pela insu-laridade. Cada ilha possui elementos de identidade, de capital e com-petitividade territorial, que aumentam sinergicamente o potencial decrescimento e de desenvolvimento do país.

1. A criação das autarquias supra municipais, como é o caso da autar-quia regional, é uma decisão política que se impõe e é consistentecom a natureza do país - arquipelágico e com dinâmicas de inter-acção e trocas regionais historicamente bem estabelecidas, desig-nadamente nos domínios do comércio, dos transportes, das funçõesdos centros urbanos e do acesso aos serviços diferenciados queprestam, do desenvolvimento de soluções de complementaridadeintra-regional - que se tornam visíveis, de modo particular, nas origense nos destinos das migrações internas.

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Como decisão política, significa um passo importante no sentido dadescentralização, pela responsabilização e atribuição às comunidadesregionais de capacidade, própria e/ou delegada, para se auto-gov-ernarem em domínios do seu interesse específico, mas que não serelacionam directamente com as atribuições do Estado no domínio dasoberania. Como decisão administrativa, representa um grande esforço dedesconcentração da Administração e, assim, da sua aproximação aoscidadãos, independentemente do lugar da sua residência, tornando-amais eficaz, eficiente e efectiva, contribuindo, desta forma, parareduzir a punção feita pelo Estado sobre o rendimento nacional. Como decisão económica, significa a possibilidade de descentralizar edesconcentrar decisões, nomeadamente nas esferas do investimento,da concepção e utilização de instrumentos de planeamento, da procu-ra de competitividade, interna e externa, assim como do ordenamen-to do território, da valorização das vantagens comparativas, competi-tivas e locacionais e da defesa da sustentabilidade do desenvolvimen-to, inclusive na sua dimensão ambiental. A criação de autarquias supra - municipais será, por isso, uma decisãopolítica de grande alcance, que converge, no contexto cabo-verdiano,para o que pode ser considerado como o estado adulto, maduro eestável do sistema democrático. Para além de criar uma importanteâncora do regime, é uma decisão com efeitos positivos profundos nadesburocratização e na ampliação do potencial de desenvolvimentoregional e, obviamente, do país.Regionalizar o país justifica-se por vários motivos:

a. Tornar o planeamento e a gestão dos recursos mais eficazes;b. Melhorar a eficácia da gestão do país, mais descentralizada e ori-

entada para o aproveitamento das potencialidades locais e region-ais com vista à criação de riqueza, conectando as ilhas directa-mente com o exterior pela sua capacidade local de exportar bense serviços;

c. Aumentar o potencial de criação de riqueza do país através doperfil específico de especialização de cada ilha, com base no seu

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capital territorial;d. Racionalizar e articular as intervenções sobre o território (a ilha)

orientando a actividade governativa das câmaras municipais e dosoperadores públicos e privados para objectivos e caminhos estru-turantes e integradores de desenvolvimento económico e social dailha;

e. Integrar funções objecto de descentralização ou de articulaçãocom o Governo central que tenham um âmbito de intervenção aonível da ilha como um todo, como por exemplo o planeamentoregional, a gestão estratégica e concertada de sectores como oturismo, as infra-estruturas, os transportes rodoviários, a atracçãode investimentos, a regionalização da polícia de ordem pública e deoutros serviços da administração pública que não sejam transfer-íveis para os municípios;

f.Facilitar os dispositivos de cooperação institucional de forma aintegrar as políticas públicas e os organismos da administraçãopública em processos de concertação com os actores regionais;

g. Fortalecer a capacidade institucional das ilhas.

2. O MPD compromete-se com a alteração estrutural das relaçõesentre o Governo e as Câmaras Municipais, nos seguintes pressupostos:

a. Os municípios são fundamentais para a criação da riqueza e paraa redução da pobreza no país, particularmente quando os grandesconstrangimentos ao crescimento sustentado do turismo e àinclusão social, se colocam ao nível da qualidade do ambiente edo saneamento do meio e do acesso aos bens infra-estruturaisbásicos nos diversos bairros (arruamentos, água, esgoto).

b. A autonomia e o financiamento dos municípios são dois pilaresfundamentais da descentralização. Qualquer opção pelo reforçoda descentralização tem que passar obrigatoriamente por estesdois pilares.

c. A opção consequente pelo reforço da descentralização (autono-mia / financiamento) é a via privilegiada para a redução das as-simetrias regionais, para a criação de oportunidades de cresci-

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mento e emprego nas várias ilhas e concelhos do país e para a cri-ação de atitudes e comportamentos mais favoráveis ao desen-volvimento (cidadania, sentimento de pertença).

O nosso compromisso1. Promover a Autarquia RegionalO MpD aposta na descentralização e no reforço do poder local combase num princípio agregador que coloca o território como o apoio eo eixo da estratégia de desenvolvimento, com o objectivo de:

a. Aproximar a oferta das políticas públicas e a administração doscidadãos;

b. Reordenar a Administração Pública, aproximando os serviços doscidadãos e das empresas;

c. Melhorar a eficácia da administração, libertando o Estado deatribuições, exercidas muitas vezes com ineficiência, em benefíciodas colectividades territoriais com liberdade de decisão e com-petências próprias e maior motivação e potencial de especializaçãosobre a gestão de uma determinada parcela do território nacionaldo que a burocracia central;

d. Melhor repartir as tarefas e as responsabilidades pelo crescimen-to económico e pelo desenvolvimento e melhor envolver e com-prometer todas as parcelas do território nacional no desígnionacional de convergir o país para níveis superiores de desenvolvi-mento humano;

e. Melhor conseguir a coesão e a solidariedade inter-territorial;f. Melhor aproveitar as potencialidades de cada ilha;g. Reforçar a democracia e a promoção do bem-estar social e

económico das comunidades locais.Nesse processo, o MpD adoptará os seguintes critérios:

i. Não incrementar a despesa pública global como consequência datransferência de competências;

ii. Garantir que a transferência de competências seja acompanha-da de recursos financeiros e humanos suficientes para o seudesempenho, e sem reduzir a eficiência e eficácia dos serviços

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prestados à comunidade;iii. Transferir competências com base em critérios objectivos e

mediante um processo coordenado entre o Governo central e asautarquias e com o maior consenso político possível;

iv. Garantir a aplicação dos princípios de igualdade e solidariedadeterritorial (todos os cidadãos devem ter os mesmos direitos eobrigações, independentemente do lugar onde vivem, e receberos mesmos serviços);

v. Adoptar processos graduais de descentralização, acompanhadosde reformas que melhorem o desempenho das autarquias.

2. Promover a melhoria do desempenho das Autarquias Locaisa. Aumentar a autonomia municipal

O MpD promoverá a alteração dos estatutos dos municípios visan-do dotá-los de mais competências, responsabilidades e mecanis-mos claros de exercício da complementaridade e subsidiariedadenas relações com o Governo nas seguintes áreas prioritárias:i. Atracção de investimentos empresariais - simplificação de pro-

cessos e procedimentos relacionados com a elaboração eaprovação de planos urbanísticos e dos processos de licencia-mento de actividades económicas,

ii. Cultura - municipalização e criação de infra-estruturas culturais,como museus, galerias de arte, centros culturais, bibliotecas; pro-moção de eventos culturais diversificados, sendo o município oórgão por excelência de interligação e interacção com os agentesculturais,

iii. Juventude – clarificação da gestão dos centros de juventude nabase da complementaridade de acção com os municípios.

iv. Transportes rodoviários de passageiros – clarificação de compe-tências entre a DGTR e o Município,

v. Promoção social – distinguir claramente as competências e ins-trumentos de protecção e de intervenção social do governo dasdos municípios numa lógica de complementaridade e não deconcorrência.

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b. Promover a descentralização financeiraO MpD irá criar ou reforçar os instrumentos que permitam aosmunicípios, no exercício da sua autonomia ou em comple-mentaridade com o Governo, exercer as suas competências deforma a reduzir o gap que actualmente existe entre as com-petências e os recursos mínimos necessários para os executar,nomeadamente:i. Aumentar a capacidade de financiamento dos municípios,

através do aumento do Fundo de Apoio Financeiro para 17% ii. Criar um Fundo de Financiamento Complementar e Subsidi-

ário Municipal focalizado, nos primeiros 5-10 anos, nos objec-tivos de (1) melhorar o estado ambiental, sanitário e das in-fra-estruturas básicas dos municípios, com ênfase para arecolha e tratamento de lixo, espaços verdes, drenagem daságuas pluviais, água, esgotos, arruamentos / calcetamentos);(2) reabilitar as habitações degradadas das famílias mais ca-renciadas e em situação de risco; (3) construção de infra-es-truturas de promoção da economia social, como mercados efeiras, centros de artesanato; (4) construção de infra-estru-turas desportivas e culturais como placas e polidesportivos,museus, galerias de arte e bibliotecas.O financiamento do Fundo será baseado num programa pluri-anual com metas bem definidas para, num horizonte de 5-10anos, modificar os baixos níveis de indicadores sanitários e dedegradação habitacional actualmente existentes na generali-dade dos municípios. Seriam, igualmente, definidas metas sociais e de atractividadeturística e cultural que justificam os investimentos referenci-ados em (3) e (4).O Fundo e a sua repartição por municípios, de acordo com osobjectivos e metas plurianuais que se pretendem atingir,serão objecto de dotação anual no Orçamento do Estado,sendo certo que os critérios de acesso e de prestação de con-tas serão claramente definidos.

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c. Alteração do sistema eleitoral autárquicoO MpD promoverá os consensos políticos necessários com vista aalterar o sistema eleitoral autárquico visando aumentar a govern-abilidade dos executivos municipais e melhorar os mecanismosde fiscalização política, nomeadamente, por parte da assembleiamunicipal.

d. Desconcentração dos serviços municipaisO grau de desconcentração dos serviços municipais, de umaforma geral, ainda é incipiente. Esta situação determina descon-forto considerável para os munícipes, obrigados, recorrente-mente, a fazer uso dos serviços municipais localizados nos centrosdas sedes dos municípios, para a realização dos actos ou o usufru-to dos serviços mais simples. Resulta, também, em muitas desec-onomias, devido à perda de tempo, à perda de eficiência dos ser-viços e à falta de capacidade da administração municipal, induzi-da pelo stress, para responder com a qualidade e nos prazos, hoje,considerados razoáveis.O MpD agirá no sentido de estimular os municípios para umamaior desconcentração dos serviços municipais, colocando-osmais próximos dos munícipes e das comunidades municipais.

e. Desenvolvimento de economias locais.Com vista a um melhor aproveitamento das potencialidadeslocais, o MpD estimulará os municípios a desenvolverem o con-ceito de “territórios - projecto”. Isto implicará a definição dos territórios com base i) na identifi-cação de eixos de desenvolvimento assentes na valorização dasespecificidades e na identidade local, ii) no protagonismo e parce-ria dos actores, iii) na coordenação das acções e na procura decapacidade de concertação e de decisão ao nível local e iv) daorganização dos territórios que compõem o concelho em rede.

3 Estatuto Especial para a PraiaO MpD irá implementar na cidade da Praia um verdadeiro estatutoespecial, visando um desempenho compatível com a exigente funçãode capital do país e apoiando a sua internacionalização e afirmação

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enquanto cidade atractiva capaz de receber investimentos e eventosinternacionais que a projectarão no mundo.

B6 – A regulação, uma das funções mais importantes doEstadoA opção por uma economia de mercado e consequentemente pelaprevisibilidade e confiança nas relações entre os agentes económi-cos, pela segurança jurídica e económica e pela garantia de umnível desejado de satisfação do bem-estar social, exige uma boacapacidade de regulação. A situação actual do país em matéria de regulação económica éfrancamente má. Existiu, nestes dez anos de governação do PAICV, uma clara desori-entação em matéria de regulação, primeiro, com um vazio institu-cional de cerca de dois anos provocado pela extinção da antigaAgência de Regulação Multisectorial (ARM), e a criação de umaoutra Agência (ARE - Agência de Regulação Económica), pratica-mente com as mesmas atribuições, depois, e já em final de manda-to, com o anúncio de nova reestruturação da regulação no geral. Por outro lado, as sucessivas investidas do governo usurpandocompetências da ARE e condicionando as suas decisões, os posi-cionamentos políticos da entidade reguladora das telecomuni-cações, entre outros, têm contribuído para ferir de morte a credi-bilidade das instituições.Para além da fraqueza institucional das entidades de regulação, ainspecção e a fiscalização não são prioridades, aparecendo o Estadocomo promotor da informalidade e do desregramento do mercado,em que os casos comércio, da construção civil e das “parabólicas”,são sintomáticos.

A visão do MpDO MPD acredita no mercado e na concorrência como melhor formade gestão económica, sendo claro que a concorrência conduz àredução dos custos, à inovação e ao aumento da produtividade.

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Mas, o MPD reconhece, também, que, de acordo com a respectivaestrutura, o conjunto dos mercados pode ser incompleto, gerandograus variáveis de concorrência e que o mesmo pode apresentar inefi-ciências nos bens públicos, externalidades e assimetrias da informação. Em consequência, o MPD defende a intervenção do Estado, como reg-ulador, para complementar o mercado (substituindo-o onde ele nãoexiste) e melhorar a sua eficiência. Mas o MPD também entende que o Estado não é perfeito nem imunea factores passíveis de perverter a finalidade do bem comum, taiscomo o clientelismo político, os grupos de interesse e a burocracia. Assim, o modelo de intervenção do Estado preconizado pelo MPD de-verá ter em conta as especificidades e características da nossasociedade, da nossa economia e do próprio Estado.

O nosso compromissoCiente de que não é possível criar um bom ambiente de negócios emmercados onde o Estado se assume como protagonista, por acção eomissão, da desregulação, da distorção das regras da concorrência, dapromoção da informalidade e da fragilização das entidades de regu-lação, inspecção e fiscalização, o MpD propõe:

1. Assumir a regulação, a fiscalização e a inspecção como uma dasfunções mais importantes do Estado, por serem um dos principaisgarantes da qualidade do ambiente de negócios;

2. Reforçar a independência das entidades reguladoras passando anomeação dos membros do Conselho de Administração a ser feitapelo Presidente da República, sob proposta do Governo e medianteaudição prévia da Assembleia Nacional;

3. Dotar as entidades reguladoras de um quadro técnico e organiza-cional compatível com a necessidade de uma regulação indepen-dente e de elevado padrão em termos de benchmarking interna-cional;

4. Garantir regras de concorrência e de funcionamento dos mercados;5. Criar regras de actuação de empresas reguladas que as levem a ter

um desempenho próximo do que é desejado pelo Estado a nível de

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satisfação do bem-estar social e da economia, garantindo: eficiên-cia na alocação e utilização de recursos, controlo dos preços e nívelde remuneração da empresa regulada próximo do que o mercadoatribuiria;

6. Promover, incentivar e estimular a defesa do consumidor;7. Promover um poder judicial forte, transparente, efectivo e garan-

te da segurança jurídica e económica das relações entre o Estado,os cidadãos e as empresas.

B7 – As Forças Armadas como um sistema coerente deforçasA política de Defesa Nacional é de carácter global e traduz – se noplaneamento e execução de um conjunto coerente de medidasvisando em última análise garantir a Nação de modo permanente aunidade, a soberania, a integridade territorial e a independência(C.R.).A Defesa Nacional não deve ser encarada numa óptica meramentereactiva à conjuntura externa. A integração em espaços mais vastose a procura de sistemas de defesa colectivos, como forma de reduzircustos e explorar sinergias, deve privilegiar os cenários que reduzamas nossas vulnerabilidades.O aparecimento e aceitação generalizada do conceito de Zona Eco-nómica Exclusiva (ZEE), aumentando muito consideravelmente omar patrimonial de Cabo Verde, aconselha-nos a dispor de algunsmeios navais e aéreos com vocação marítima, ainda que muitopouco sofisticado de ponto de vista militar, para a necessária exten-são das tarefas de vigilância, fiscalização, defesa do espaço maríti-mo e aéreos nacionais, e de apoio à vida humana no mar conformeo artº.248º, alínea b) da CR.

A nossa visão1. Em Cabo Verde, na área da Defesa Nacional, qualquer programadeve primeiro equacionar, muito claramente, o modelo e a missão

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para as Forças Armadas, bem como o sistema de forças e disposi-tivo.

2. Normalmente, cada país tem a sua própria filosofia de defesaem função da conjuntura nacional e internacional que o condi-ciona e que o leva a atribuir maior ou menor peso às ameaçasexternas ou internas, de natureza militar, politica, económica,social e cultural. Desta circunstância resulta uma diversidade deconceitos, variáveis no espaço e no tempo.O MpD defende as FA como instituição da República, sendo a suareestruturação uma tarefa fundamental do Estado pois, em últimainstância, de um sistema adequado de defesa militar depende aprópria sobrevivência da Nação. Não tem razão a tese dos quevêem as FA do lado da despesa, criticando os gastos com a defesamilitar invocando argumento da necessidade de atender a outrasnecessidades básicas da sociedade.

3. Naturalmente, a clara consciência da limitação dos recursosfinanceiros impõe critérios de racionalidade nas despesas militarese redobradas cautelas na atribuição de meios a esta Instituição.Para isso, é necessário apostar na qualidade e não na quantidade,impulsionando uma profunda viragem, com reformas substanciais.As Forças Armadas, não podem ser apenas o somatório dos seushomens: elas devem constituir um sistema coerente de forças aoserviço de uma estratégia global do Estado. É que as FA, normalmente, são muito importantes, muito com-plexas e muito caras. Por isso, as soluções a encontrar para aimplementação dos seus sistemas de forças e dispositivos devemser modernas, rigorosas, perfeitamente adaptadas à missão, àsameaças, à realidade concreta do País. Tais soluções deverão, sobretudo, representar a optimização dobinómio custo/eficácia, num contexto sistémico de organização,prontidão e emprego.

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O nosso compromisso1. Adoptar um novo conceito estratégico de Defesa Nacional e, nessasequência, adequar a legislação aplicável. Nesse quadro, serão adop-tados ou revistos os seguintes instrumentos normativos, de forma aestarem enquadrados nessa nova realidade:

a. Conceito estratégico de Defesa Nacional, bem como a missãodas FA

b. Lei de defesa nacionalc. Lei de bases da organização militard. Definição do serviço militar obrigatórioe. Estatuto dos militares

2. A Guarda Costeira vai ser projectada com a missão fundamentalde controlo dos mares e costas do país e no combate à grande crimi-nalidade, como o tráfico de drogas e de seres humanos, poluiçãomarítima, pilhagem, etc.

3. Ainda dentro da reforma das FA, o MpD irá:a. Adaptar os dispositivos e sistemas de forças ora existentes à

nova missão das FA.b. Analisar o quadro orgânico existente e adequar o mesmo às

necessidades e possibilidades do país, racionalizar as estruturasfísicas actuais às estrategicamente necessárias.

c. Clarificar o quadro da participação das FA em tarefas e missõesde interesse público em consonância com a Ordem Constitu-cional vigente no País e pôr cobro a utilização dos militares deforma descoordenada na ordem interna.

d. Dinamizar a cooperação militar.

B8 - Fortalecer o Instituto Nacional de EstatísticasAs estatísticas oficiais independentes são um dos pilares da democra-cia. São fundamentais para a concepção, execução e avaliação daspolíticas públicas.

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O Instituto Nacional de Estatísticas (INE) tem sido alvo de pressõespor parte do Governo, resultando para os seus produtos estatísticosgrandes interrogações em termos de credibilidade e momentoestatístico.Por outro lado, constata-se uma situação de grandes atrasos na pro-dução estatística, prejudicando investidores, investigadores académi-cos e a análise da situação real do país.Perante este quadro, escusado será falar no avanço para outrosinstrumentos agregados, com resultados incompatíveis com a nossademocracia e para a nossa posição de país de rendimento médio.

A visão do MpDO MpD define como objectivo reforçar a credibilidade técnica do INEe a sua independência face ao Governo. A estatística oficial independente pressupõe que o Governo adoptaum código de conduta em que não interfere na actividade de pro-dução e divulgação de dados e informação estatística e que os seusprodutores não excedem os limites da ciência, da legislação nacionale das convenções internacionais, sendo-lhes permitido apenas a clar-ificação e a reposição da verdade quando se verifica a utilizaçãoerrónea das estatísticas que produzem e divulgam.

O nosso compromissoPara tal, o MpD desenvolverá os seguintes eixos de intervenção:

1. Garantir a sustentabilidade do Sistema Estatístico Nacionaldotando o INE de orçamentos plurianuais e de um sistema degestão por objectivos, visando a produção de estatísticas prior-itárias para o país nos diversos domínios, incluindo as estatísticasdo emprego;

2. Reforçar as capacidades dos recursos humanos e promover apesquisa aplicada;

3. Aumentar a oferta estatística, tendo particular atenção àsestatísticas sectoriais e regionais e a disponibilização de infor-

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mação em tempo útil para o apoio à decisão e avaliação daspolíticas públicas e das empresas e outras entidades privadas.

B9 - Uma Comunicação Social livre, independente epluralO sector da comunicação social, com grande destaque para os órgãosdo Estado, alvo de forte pressão política, padece de um grande déficede pluralismo, fraca capacidade de estruturação interna em termosde especialização e uma excessiva politização, condicionando aactividade informativa.A regulação do sector não existe. A Alta Autoridade para a Comu-nicação Social aguarda a sua instalação. A cobertura nacional da televisão, da rádio e a distribuição dos jor-nais pelas diversas localidades do país, apesar dos avanços no aparec-imento de vários meios privados, ainda é deficitária. Não existe uma única empresa de distribuição, em vastos agregadospopulacionais, várias famílias não dispõem de aparelho de televisãoe continua a não existir um único jornal diário no país.A televisão nacional, cuja qualidade de programação em conteúdosnacionais é muito baixa, perde audiência para os outros canaisnacionais e mesmo internacionais.É praticamente nula a utilização dos cabos de fibra óptica que ligamas diversas ilhas para a transmissão de sinais de rádio e de televisão,dando voz específica a regiões nos programas informativos e de lazer.O mercado publicitário dá os seus primeiros passos, continuandocom pequena escala e reduzido valor. Existe pouco hábito de leitura o que, aliado aos conteúdos poucodiversificados dos jornais, reduz o mercado a uma dimensão incapazde viabilizar a produção de jornais e revistas.O Estado continua, ainda, com uma presença pesada no sector daComunicação Social, cuja orientação dos órgãos para a prestação deserviço público é confundida com a prestação de serviço político aoGoverno.

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A visão do MpDComo um dos pilares fundamentais da democracia, a comunicaçãosocial merece do MpD uma especial atenção. É preciso ultrapassar estafase em que os órgãos públicos de comunicação social se situamessencialmente no quadro das lutas partidárias sendo a sua actividadeinformativa condicionada por sectores afectos aos grandes partidos. É preciso direccionar os órgãos públicos para o serviço ao cidadão.O MpD tem como objectivo promover e incentivar uma ComunicaçãoSocial pública mais virada para a cidadania. Uma Comunicação Socialpluralista, defensora irredutível da liberdade de expressão e de infor-mação e ciosa da sua independência em relação ao poder político e aopoder económico. Uma Comunicação Social com mais qualidade, mais rigor e tecnici-dade na nobre função que é informar. Uma Comunicação Social promotora do aprofundamento democráti-co, com uma maior penetração regional e local e capaz de contribuirpara a afirmação da identidade nacional e, ao mesmo tempo, umamaior inclusão dos cidadãos no mundo globalizado.

O nosso compromissoPara atingir esses objectivos, o MpD desenvolverá acções de acordocom os seguintes eixos de intervenção:

1. Clarificação do papel do Estado no sectorO estado da Comunicação Social do país está muito longe de con-vergir para a situação que a Constituição estipula.Assim, o MpD actuará no sentido de garantir uma ComunicaçãoSocial livre, independente, isenta, como um meio de informação eformação, orientado para dar expressão à pluralidade da sociedadecabo-verdiana.Neste sentido, o MpD promoverá políticas e criará mecanismos vi-sando: a. Fomentar a iniciativa privada, estimular a concorrência e garantir a

regulação do sector;

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b. Garantir um contrato de concessão do serviço público de rádio etelevisão, que promova o reforço do capital social, o conhecimen-to, os valores democráticos, a cultura, a língua, a especificidade dasdiversas regiões e localidades do país e as comunidades emigradas;

c. Adoptar um modelo de financiamento público de base pluria-nual, assente na quantificação do custo real do serviço público detelevisão e na fixação de padrões de qualidade baseados no con-teúdo do serviço público.

d. Desgovernamentalizar os órgãos de comunicação social do Estadoe assegurar a sua efectiva independência face ao poder político;

e. Assegurar os direitos dos jornalistas e o cumprimento das respec-tivas regras deontológicas;

f. Assumir a distribuição do sinal de rádio e de televisão no país, comoum investimento na difusão da informação e da formação e umimperativo, nas condições do mercado cabo-verdiano, necessário àviabilização de iniciativas privadas e à promoção da concorrência;

g. Criar incentivos financeiros e fiscais para a criação de empresasde distribuição de jornais e revistas;

h. Criar uma iniciativa para o embaretecimento da banda larga paraos órgãos de comunicação social;

i. Incentivar a indústria de conteúdos;j. Promover a ligação da comunicação social com a diáspora;k. Reestruturar a RTC e ajustar as suas estruturas ao cumprimento

das missões que decorrem da concessão de serviço público e do-tá-las de condições técnicas, organizacionais e financeiras compa-tíveis;

l. Criar um instituto público de comunicação social, com autono-mia e elevado profissionalismo, que absorva toda a intervençãodirecta e indirecta do Estado, excluindo a regulação.

2. Regulação do sectorInstalar a Alta Autoridade para a Comunicação Social como enti-dade reguladora independente, de elevado padrão organizacional,técnico e profissional.

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3. Modernização do sector.Dotar a televisão e rádio públicos das mais modernas tecnologiasque o actual estado – da – arte recomendar. Criar incentivos à digitalização da multimédia privada e à pro-dução de conteúdos nacionais e executar um plano de formaçãode recursos humanos no audiovisual.

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A área económica

As nossassoluções

Mudar o modelo económico

Crescimento económico comemprego de qualidade

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Um novo modelo económico

Cabo Verde precisa de uma nova visão para o seu futuro como Nação,de propostas de mudança exequíveis e que estabeleçam metas claras eambiciosas.As políticas do Estado, em particular a económica, são uma componen-te fundamental mas não é tudo. A boa política económica deve incenti-var que todos assumam a responsabilidade pelo seu próprio destino,criando mais oportunidades para todos e apoiando quem não temcondições.Cabo Verde encontra-se num momento crítico do seu desenvolvimen-to. Vivemos um período de arrefecimento económico nacional e de au-mento de desemprego amplificados pela recessão económica interna-cional. Vivemos problemas internos, ditos estruturais, aparentementesem solução. Não é verdade, precisamos sim de respostas. E a respostatem de ser dupla, fazendo face ao arrefecimento económico nacional eao aumento de desemprego num contexto de recessão internacional. O governo falhou. Os cabo-verdianos já estão fartos de promessas doPAICV, sobretudo de promessas não cumpridas. A taxa de desempregocresceu ao longo da década situando-se acima dos 20% e, entre osjovens dos 15-24 anos, a situação é muito pior, pois o desempregoultrapassa já os 40%. Cerca de metade dos desempregados tem o ensino secundário. Cercade 75% situa-se na faixa etária 15-34 anos e o número de jovens comformação superior que não consegue encontrar trabalho excede o mil-har! Um grande desafio económico e social.Esta circunstância retira a essas famílias as razões e as perspectivas devida. Contribui para a ruína do nosso sistema e tecido social e para oaumento da precariedade e da insegurança na sociedade. Por isso, oprincipal objectivo do MpD é criar emprego. Dar poder às comunidadese às pessoas e equipar Cabo Verde para o êxito a curto, médio e longoprazos. Pois, tudo o que contribui para a criação de emprego é políticasocial.

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O MpD quer um contrato claro com os cabo-verdianosO MpD quer celebrar com os cabo-verdianos um contrato claro para opróximo ciclo eleitoral.O contrato que o MpD propõe baseia-se em valores. Valores que o dis-tinguem claramente do PAICV, defendendo, de forma intransigente, adignidade da pessoa humana, com o Estado ao serviço da pessoa e nãoa pessoa ao serviço do Estado. O MpD é um partido que valoriza o liberalismo e a livre iniciativa,reconhecendo o mérito e a capacidade de afirmação pessoal. O MpDdefende uma liberdade de escolha no acesso à educação, principalactivo para a realização das capacidades individuais de cada um e doPaís no seu todo. O MpD procura o desenvolvimento equilibrado deCabo Verde e de todas as Ilhas, numa parceria efectiva com o poderlocal democraticamente eleito e do seu reforço através da regionaliza-ção. Esses valores enformam o modelo económico do MpD.A economia cabo-verdiana mudou muito nos últimos trinta e cincoanos, conhecendo, felizmente, dois modelos de desenvolvimento: oque aposta no Estado e que entende que as pessoas devem estar aoserviço do Estado, executado actualmente pelo PAICV e o outromodelo, aquele que aposta no mercado e assume que o Estado deveestar ao serviço dos cabo-verdianos, defendido pelo MpD.

As grandes reformas num novo e dinâmico modeloeconómicoCabo Verde já tinha vivido, efectivamente, um modelo de economiaestatizada e dirigida e que se esgotou nos finais da década de oitenta. Os cabo-verdianos negaram, nas primeiras eleições democráticas de13 de Janeiro de 1991, esse modelo e o País adoptou um novo mode-lo económico na década de noventa, atribuindo um maior pendor aosector privado e abrindo a economia ao exterior, relegando ao Estadoo papel de regulador e promotor do processo de desenvolvimentoeconómico e social.Esta alteração, iniciada em 1991, através do caminho percorridopelos Governos do MpD, permitiu a Cabo Verde desenhar uma tra-

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jectória de desenvolvimento económico sustentado, com a criaçãode emprego, ancorada na liberalização, privatização e modernizaçãoda economia cabo-verdiana e na promoção do desenvolvimento dosector privado e do Investimento Directo Estrangeiro.Cabo Verde cresceu em média, de 1991 a 2001, na ordem dos 6.8%e foram criados mais de 52.000 empregos - o melhor desempenhoeconómico de Cabo Verde como Pais independente, pois o cresci-mento económico e o combate ao desemprego devem ser as priori-dades máximas dos poderes públicos. Sempre foram as prioridadesdo MpD.

Taxa de crescimento do PIB na década de 1990/2000

Evolução do Emprego e Desemprego (15 anos e +)

1980 1990 2000 2009

População activa 78.370 115.949 171.313 194.773

Número de empregados 62.585 89.620 141.725 154.066

Número de desempregados 15.785 26.329 29.588 40.708

Fontes: INE, Censos 1980, 1990, 2000, Inquérito ao emprego 2009

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Dinâmica de desenvolvimento interrompida peloGoverno do PAICVEsta dinâmica foi interrompida, com o governo do PAICV, desde2001 até à presente data, através da adopção de um modelo quehipotecou o futuro de Cabo Verde.Hoje, o nível de crescimento não ultrapassa os 3,6% em 2009 e pre-visão de 5,4% em 2010, contra um PIB potencial de cerca de 7%. O governo do PAICV adoptou uma política ancorada no aumento dadespesa, nomeadamente no investimento público, tendo como resul-tado um muito menor nível de crescimento económico e incapaci-dade de criação de empregos, alto nível de endividamento público eelevada carga fiscal. Não foram atingidos, como prometido, nem ocrescimento económico a dois dígitos e nem a taxa de desemprego aum dígito. A herança de uma taxa de desemprego global acima dos 20% e dodesemprego jovem acima dos 40% deixou uma parte importante dapopulação cabo-verdiana sem acesso a rendimentos e sem qualquerexpectativa positiva de desenvolvimento das suas condições de vida,o que vem criando um campo fértil para o desenvolvimento de fenó-menos como a delinquência, a violência, a criminalidade e a insegu-rança. Essa herança demonstra claramente que o enfoque do PAICVnão são as pessoas, mas sim o Estado.O modelo protagonizado pelo PAICV foi virado, essencialmente, parao aumento do peso do Estado na economia, para o aumento doinvestimento público baseado em infra-estruturas físicas de capitalintensivo, sem o necessário estudo de viabilidade económica e finan-ceira, ignorando as capacidades institucionais e a necessária articula-ção entre as várias políticas sectoriais, como a promoção de activi-dades económicas, a política energética, o ordenamento do território,a política de transportes, o crescimento do turismo, a produção deenergia, de água e saneamento. Este modelo não é portador defuturo para Cabo Verde. Um modelo também esgotado, porque asconsequências foram gravosas para a economia e para a sociedadecabo-verdianas.

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Taxa de crescimento do PIB na década de 2001/2010

Este modelo, de 2001 a 2010, permitiu um crescimento médio daordem dos 5.8% e gerou apenas 13.000 empregos. Um modelo fal-hado que resultou, claramente, em menos crescimento e menosemprego.

Uma Economia com baixa produtividade total defactoresPorque é que com a governação do PAICV a economia cabo-verdianacresceu abaixo do seu potencial?

1. O modelo extensivo de crescimento do PAICV, assente essencial-mente na acumulação de capital físico liderado pelos gastos do Estado,não conseguiu manter a tendência crescente de crescimento do PIBpotencial registado na década de 90. Na realidade, o comportamentodo PIB potencial nos últimos anos é o reflexo de que o PAICV não con-seguiu resolver os problemas estruturais que afectam a economia cabo-verdiana, nomeadamente no domínio da água, energia e qualificaçãodos recursos humanos. Urge pôr fim a este modelo dirigista do PAICV.

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2. A contribuição do factor trabalho para o crescimento económicofoi reduzida em virtude da manutenção de uma alta taxa de desem-prego, num contexto em que a população activa tem vindo a crescer.De salientar que o aumento da taxa de actividade é o resultado, porum lado, do aumento da participação das mulheres no mercado detrabalho (mas em empregos de baixa remuneração e de reduzidopoder aquisitivo para estimular a procura) e, por outro, da entrada dejovens à procura do primeiro emprego.

3. A produtividade total dos factores é baixa em resultado de umEstado cada vez mais gordo e que retira espaço para o sector privadoorganizar-se e inovar-se, e de um sistema de formação e ensino quenão conseguiu resolver o défice de qualificação dos recursos humanos.

4. Os custos dos factores são comparativamente altos. A energia(quando não há apagão), a água, os transportes, as telecomunicaçõessão caras comparativamente com os níveis internacionais.

Uma economia com produtividade total de factores baixa não podeser competitiva!

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Na verdade, apesar da sua localização, factor determinante na val-orização do território nacional, Cabo Verde é um país pouco compe-titivo. Segundo o relatório do Fórum Económico Mundial, CaboVerde posiciona-se no 117º lugar no ranking global da competitivi-dade, num grupo de 139 países estudados. A avaliação negativa deveu-se sobretudo aos factores críticos essen-ciais para o País, que quer dar um salto qualitativo no seu processode desenvolvimento. Relativamente aos factores geradores de efi-ciência, nomeadamente, o nível da educação e formação, eficiênciade mercado, mercado laboral, sofisticação do mercado financeiro,nível de preparação tecnológico e dimensão do mercado, Cabo Verdesituou-se no 129º lugar tendo sido ultrapassado por quase todos ospaíses africanos, os nossos principais concorrentes em termos deInvestimento Directo e Turismo. Mesmo em relação aos requisitos básicos de competitividade, CaboVerde ocupa o lugar 96 na medida em que a infra-estrutura, elemen-to central da retórica de transformação do PAICV, teve uma avalia-ção desfavorável (109º). Esta situação acabou por descompensar oranking positivo atribuído à educação primária e à saúde. Por fim,Cabo Verde obteve uma avaliação extremamente desfavorável notocante ao índice da inovação e sofisticação, sintoma de falta demodernização.As informações oficiais confirmam que Cabo Verde é pouco compe-titivo. As exportações de Cabo Verde são de baixo conteúdo tec-nológico. Cabo Verde exporta bens, sobretudo produtos de reduzido valoracrescentado, sendo de destacar o peso das reexportações de com-bustíveis e de produtos tradicionais (víveres). As exportações deserviços, por seu turno, estão altamente dependentes da evolução daprocura externa, sobretudo dos países da zona euro. Este facto acentua o défice da estrutura da conta corrente (12% doPIB em 2009). Em rigor, o financiamento da balança de pagamentosda economia cabo-verdiana continua ainda bastante dependente dastransferências correntes das quais as remessas de emigrantes detêm

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um peso considerável, das receitas do turismo, da ajuda pública aodesenvolvimento e do investimento directo estrangeiro. Esta situação torna a economia cabo-verdiana bastante vulnerávela choques externos, o que, num contexto de degradação dos equi-líbrios macroeconómicos, representa um constrangimento a ter emconta na análise da sustentabilidade do regime cambial.

Efeitos nefastos do modelo de desenvolvimento doPAICVEste modelo de desenvolvimento económico protagonizado peloPAICV foi, acima de tudo, produtor de vários efeitos colateraisnefastos, tais como:Um grande endividamento públicoO valor previsto para 2010 já se aproxima dos 99% do PIB, se in-cluirmos a dívida contingente das empresas públicas na ordem dos13% do PIB.

Em 2012, o valor actualizado líquido da dívida externa deve atingiros 50% do PIB, obrigando o Pais a desenhar, pelo menos a partirdessa altura, uma trajectória de redução da dívida externa em per-

Dívida Pública de Cabo VerdeANO PIB pm DI + TCMF DI - TCMF Dívida Total % PIB

Externa Dívida

2000 64.539 26.764 16.142 33.502 60.266 93%

2001 69.380 27.815 17.065 37.604 65.419 94%

2002 72.758 33.229 22.479 40.373 73.602 101%

2003 79.527 34.627 23.438 42.449 77.076 97%

2004 82.649 35.980 24.792 42.591 78.571 95%

2005 91.285 39.309 27.920 45.107 84.416 92%

2006 97.400 40.311 28.922 47.535 87.846 90%

2007 107.300 38.991 27.602 48.664 87.655 82%

2008 115.600 36.492 27.204 51.880 88.372 76%

2009 124.800 38.520 27.130 67.441 105.961 85%

2010(*) 129.792 41.559 31.559 96.963 128.522 99%

(*) Inclui a dívida contingente

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centagem do PIB. Será uma correcção obrigatória. A dinâmica deprocura agregada não foi acompanhada por uma subida de produ-tividade total dos factores, pelo que estamos à beira de umarestrição orçamental forte.

Deterioração do ambiente de negócios e baixo nível decompetitividadeO ambiente de negócios, um dos principais activos da economiacabo-verdiana, não foi cuidado, nem melhorado. O indicador de “doing business” não conheceu melhorias. CaboVerde continua a ocupar a posição 132 de entre 183 países analisa-dos e a estar colado ao grupo dos 50 países com os piores resulta-dos ao nível do indicador do ambiente de negócios. Este indicadorexplica, claramente, a quebra do investimento directo estrangeiro,que cai para valores actuais da ordem dos 85 milhões de euros,cerca de 7% do PIB. Num outro estudo internacional, Cabo Verde já figurava na posição117 de entre 139 países analisados no “The Global competitivenessIndex 2010-2011”. Pertencemos ao grupo dos 30 países com pioresindicadores de competitividade.

Aumento da carga fiscal e parafiscalDe facto a carga fiscal foi agravada, nomeadamente com o aumen-to dos custos da fiscalidade e da para fiscalidade. Há um agrava-mento da carga fiscal global de 2000 a 2009 na ordem dos 17% ouseja, 3.7 pontos percentuais. A variação absoluta da fiscalidade de2000 a 2009 foi de 127%, quando a variação absoluta do PIB foi deapenas 93%. Durante o período 2001 a 2009 e, salvo nesse últimoano, as receitas fiscais cresceram sempre acima do PIB corrente. Nalinguagem corrente, trata-se claramente de uma punção fiscal,durante praticamente todo esse período para aguentar a pesadamáquina do Estado, sempre a crescer.

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Carga Fiscal (milhares de contos) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Receitas fiscais (RF) 11.189 12.990 14.680 15.460 16.637 18.543 22.828 26.220 29.585 25.676

Contribuições Previdência (CP) 1.982 2.010 2.393 2.542 2.628 2.901 3.362 4.451 5.252 5.442

Total RF + CP 13.171 15.000 17.073 18.002 19.265 21.444 26.190 30.671 34.837 31.118

Contribuição Previdência (funcionários) 587 386 353 421 474 533 500 92 51 46

Total RF + CP+ CP funcionários 13.758 15.386 17.426 18.423 19.739 21.977 26.690 30.763 34.888 31.164

PIB valores correntes 64.539 69.380 72.758 79.527 82.086 86.185 97.384 107.252 115.600124.800

Carga fiscal total 21,3% 22,2% 24,0% 23,2% 24,0% 25,5% 27,4% 28,7% 30,2% 25,0%

Carga fiscal total sem contribuições dos funcionários 20,4% 21,6% 23,5% 22,6% 23,5% 24,9% 26,9% 28,6% 30,1% 24,9%

Carga fiscal - apenas RF 17,3% 18,7% 20,2% 19,4% 20,3% 21,5% 23,4% 24,4% 25,6% 20,6%

Agravamento carga fiscal total2000/2009 17% 3.7 pontospercentuais

Agravamento carga fiscal RF 2000/2009 19%

Variação absoluta da fiscalidade (2000-2009) 17.406 127%

Variação absoluta do PIB preços correntes (2000-2008) 60.261 93%

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Agravamento das contas externas e degradação dascontas públicasEm resultado da aplicação do modelo, as contas públicas deterio-raram-se. O peso do Estado na economia ultrapassa os 50% do PIB,se considerarmos as despesas resultantes da dívida contingente. Odéfice global, incluindo os donativos, deve atingir os 15% do PIB, em2010. Se excluirmos os donativos, este rácio ultrapassa os 20% doPIB. O défice da conta corrente deve atingir os 22% do PIB em 2010.Se excluirmos as transferências oficiais, este rácio atingirá os 28 % doPIB - uma situação macroeconómica crítica, caracterizada pelosdéfices gémeos, orçamental e da conta corrente. Chegamos ao limite da deterioração das contas públicas. A partir deagora, têm de ser efectuadas correcções para repor alguns dos equi-líbrios macroeconómicos.

Grande dependência em relação à ajuda públicaA dependência da economia cabo-verdiana em relação a ajuda públicacresce assustadoramente face à redução do IDE e à fraca dinâmica dasexportações. Hoje, a ajuda pública deve atingir um valor histórico dos25% do PIB. É muito superior às receitas do turismo em percentagemdo PIB que atingiu, em 2009, os 18% do PIB. A ajuda pública é hoje “oprincipal sector económico em Cabo Verde”. Esta circunstância tem deser alterada.

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Inexistência de uma estratégia de promoção dasexportações e do investimento directo estrangeiro (IDE)O modelo de desenvolvimento promovido pelo PAICV está ancoradona ajuda pública ao invés de estar nas exportações e no apoio eficazaos esforços de internacionalização. Assim, as exportações de bens não ultrapassam hoje os 7% do PIB, asreceitas do turismo quedaram-se nos 18% do PIB e o IDE não deveultrapassar, também, os 7% do PIB. São níveis mínimos históricos:

No turismo, a ausência de uma intervenção efectivamente planeada,enquanto sector económico relevante, o crescimento caótico edesenfreado dos centros urbanos, as disfunções entre o aumento daprocura turística e as infra-estruturas de suporte necessárias,nomeadamente ao nível da energia, água e saneamento, o aumentode fenómenos sociais negativos, a falta de mão-de-obra qualificada,as distorções e incoerência na promoção da marca Cabo Verde e apromoção da especulação imobiliária pelo Estado impediram odesenvolvimento deste sector nos últimos dez anos.As pescas, particularmente a semi-industrial, foi esquecida. Não foi

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2008 2009 2010Ajuda Externa % PIB

Donativos e empréstimos 13 15 25

2008 2009 2010

Exportações bens (milhões euros) 78 65 80

% PIB 7% 6% 7%

Exportações serviços (milhões euros) 406 356 372

% PIB 39% 31% 31%

Turismo 230 193 200

% PIB 22% 17% 16%

PIB (milhões de euros) 1.048 1.131 1.217

IDE (milhões de euros) 143 86 85

% PIB 14% 8% 7%

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tomada uma única medida de política significativa para este segmen-to do sector. A exportação do pescado fresco praticamente deixou deexistir. Apesar do levantamento da proibição da exportação para aUnião Europeia, nenhuma unidade de tratamento a fresco ou conge-lado esteve consistentemente licenciada. O projecto de transfor-mação de São Vicente numa base de comércio e processamentointernacional do pescado anunciado nos programas de governo doPAICV, não avançou.As razões de ordem de poupança interna, económica (de produção ede distribuição), nível de endividamento e crédito mais caro e escas-so no futuro, colocam o enfoque no IDE no modelo de desenvolvi-mento económico de Cabo Verde.As razões de ordem financeira prendem-se com o facto de o nível ea exiguidade da nossa economia não permitirem a geração interna depoupança suficiente para o esforço de investimento necessário paraa criação de riqueza, emprego e bem-estar para toda a população, emtempo útil. Basta dizer que, para se construir um pequeno hotel decem quartos, a 100 mil euros cada quarto, são precisos 10 milhões deeuros e que nem o maior banco cabo-verdiano tem capacidade parafinanciar este pequeno investimento.Do ponto de vista económico, o investimento directo externo é aforma mais expedita e barata de trazer know how e mercados inter-nacionais de distribuição à produção em larga escala no País.Por este conjunto de razões, de entre vários outros, se tem dito queo actual modelo de desenvolvimento do nosso País está esgotado.Isto significa que a política económica nos últimos 10 anos tem sidoorientada para a dinamização do consumo privado e público, larga-mente baseada no forte endividamento dos agentes económicos e nasubida do peso do sector público administrativo que deve chegar aos50% do PIB em 2010.Esta dinâmica de procura agregada não foi acompanhada por umasubida de produtividade total de factores nem por uma melhoria deambiente de negócios e da competitividade pelo que estamos aesbarrar na chamada restrição orçamental.

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O fraco crescimento económico teve origem no ritmo de acumulaçãodo capital físico. O nosso desafio está do lado do capital humano, daformação e qualificação e da produtividade total de factores.

A conjuntura económica mundialApós a queda do Produto Interno Bruto em 2009, o ano de 2010 ini-ciou-se com um fortalecimento da actividade económica mundial,embora com ritmos diferenciados entre as regiões. Nos EUA, após aforte contracção na primeira metade de 2009, o crescimentoeconómico apresentou um perfil de recuperação, tendo, contudo,desacelerado no segundo trimestre de 2010.A recuperação no Japão e na zona euro foi moderada, abaixo do nívelatingido anterior à crise, e o crescimento do PIB reflectiu, em largamedida, a componente externa. No Japão, os estímulos de políticaorçamental e a retoma do comércio mundial contribuíram para arecuperação do PIB no último trimestre de 2009, mas a actividadeeconómica enfraqueceu ligeiramente no segundo trimestre de 2010. Na zona euro, liderada pela Alemanha, o PIB real cresceu 0,3% noprimeiro trimestre de 2010 e acelerou no segundo trimestre para1,0%. No entanto, o avanço no consumo privado permaneceu fraco,num contexto de evolução desfavorável do mercado de trabalho.Segundo a Comissão Europeia, a actividade económica na zona eurodeve moderar-se na segunda metade de 2010, estimando-se umcrescimento do PIB de 1,7%. Portugal, o maior parceiro de CaboVerde, deverá crescer 1,2%, inferior portanto à média da zona euro. Apesar da turbulência nos mercados financeiros, as economias demercado emergentes cresceram 8% na primeira metade do ano, oque contribuiu para a recuperação económica mundial. No entanto,na China e em outras economias de mercado emergentescomeçaram a surgir receios de sobreaquecimento no inicio de 2010,dado o acentuado crescimento no crédito e dos preços no mercadode habitação. No entanto, segundo o FMI, existe um elevado risco de incertezasobre a sustentabilidade da recuperação mundial. A maioria das

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economias avançadas e algumas economias emergentes e em desen-volvimento ainda enfrentam a necessidade de grandes ajustamentos.De facto, nestas economias, a actividade económica deverá recuper-ar, mas a um ritmo lento e com elevados níveis de desemprego. Pelocontrário, a maior parte das economias emergentes e em desenvolvi-mento voltará a evidenciar um crescimento elevado uma vez queantes da recessão não enfrentavam grandes desequilíbrios finan-ceiros. Na avaliação do FMI, o balanço de riscos relativamente à actividadeeconómica permanece enviesado no sentido descendente, embora orisco de uma contracção nas economias avançadas seja reduzida. Ascondições financeiras e macroeconómicas deverão continuar sujeitasa grande indefinição enquanto persistir a fraqueza dos fundamentoseconómicos e até estarem concluídas as reformas em curso.

A visão do MpD, um novo modelo económico

Nas próximas eleições legislativas, os cabo-verdianos terão de esco-lher o melhor modelo de resposta aos desafios económicos com queo País se confronta. Será decisivo para o nosso futuro colectivo.Os cabo-verdianos vão ter agora a oportunidade de escolher nova-mente o modelo económico portador do crescimento económico,gerador de emprego de qualidade e estimulador das exportações e dainternacionalização. Este é o modelo que o MpD defende.O percurso da década de noventa e os 10 anos de oposição democráti-ca dão-nos razão para termos a ambição e o pragmatismo necessáriosao aproveitamento das oportunidades que se colocam a Cabo Verde.Cabo Verde conseguiu ganhos notáveis nos últimos 35 anos,nomeadamente uma forte recuperação na escolarização, a construçãode infra-estruturas, a edificação de uma economia de serviços, as aces-sibilidades e equipamentos colectivos, a melhoria do acesso na saúde,etc. Falta ainda fazer muito. E o potencial que os cabo-verdianos têmdemonstrado neste processo de mudança tem sido minado pelomodelo económico marcado pelo excessivo peso do Estado na

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economia, pela partidarização dos assuntos públicos e pela criaçãoperiódica de ilusões.O MpD é o partido mais reformista da sociedade cabo-verdiana.Fomos nós que liderámos, nomeadamente a adopção da constitui-ção democrática, a criação de um poder local democrático, oprocesso de privatizações, o acordo de cooperação cambial, entreoutros. Queremos continuar a ser agente de mudança, garantindoa competitividade da economia e da sociedade cabo-verdiana.Cabo Verde não pode estar condenado ao fatalismo da periferia eao subdesenvolvimento. Os cabo-verdianos, movidos por umespírito criativo e por uma liderança lúcida, são tão capazes comoos melhores. O MpD quer ter esta oportunidade!

Um modelo de crescimento económico com empregode qualidadeO MpD designa o modelo de desenvolvimento económico que irápôr em acção, quando for Governo,

«CRESCIMENTO ECONÓMICO COM EMPREGO DE QUALIDADE»

Com este novo modelo de desenvolvimento do País, o MpDcompromete-se a duplicar o crescimento da riqueza nacional ereduzir de pelo menos um terço a actual taxa de desempregoexistente no País, com acentuada diminuição do desempregojovem, no decurso dos próximos cinco anos. O Governo do MpD promoverá, através do novo modelo dedesenvolvimento, durante a legislatura, mais de 25.000 novospostos de trabalho e mais 5.000 empregos no âmbito do traba-lho comunitário. O MpD promoverá ainda a criação de mais25.000 vagas para estágios, sendo 5.000 para jovens licencia-dos.

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Emprego de qualidade significa emprego estável, em actividade dereconhecido mérito e crescentemente bem remunerado.Porque o emprego é a fonte primária do rendimento e uma das for-mas mais completas de integração no tecido social para os jovens,para os chefes de família, para as famílias, para a esmagadora maio-ria da população. Porque o emprego é, para muitos cidadãos, a matriz de experiênciaque conduz à iniciativa, ao espírito criador e ao empreendedorismo. Porque quanto mais e melhor emprego, maior a riqueza e o bem-estar na sociedade e no País.

• Emprego de qualidade significa que as empresas integram no seuobjecto, cada vez mais, actividades que utilizam o conhecimentoe a inovação como suas matrizes de afirmação no mercadonacional e global e, em consequência, o emprego que geram écrescentemente bem remunerado, acompanhando os ganhos deprodutividade da economia e de cada sector de actividade.O que só se consegue, por um lado, com um tecido empresarial pri-vado forte e competitivo, constituído por uma rede bastante densade micro, pequenas e médias empresas e de grupos económicosnacionais robustos, todos em estreita articulação com a economiaglobal. E, por outro, com o País a assumir que a educação, a formaçãoe a qualificação são variáveis estratégicas do desenvolvimentoeconómico e social e com o Estado a adoptar as políticas e medidasem conformidade, orientadas para uma educação, formação e quali-ficação de conhecimento intensivo.

• O Governo do MpD irá favorecer a instalação de um conjunto deparques científicos e tecnológicos em diversos pontos do ter-ritório nacional, que irão funcionar como os nós de uma rede demodernidade, de inovação, de fomento empresarial nacional, deatracção do Investimento Directo Externo, de integração do mer-cado nacional e de globalização do mercado interno. Os parquestecnológicos serão coordenados por um organismo nacional – o

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Centro de Desenvolvimento e Investigação de Cabo Verde – queintegrará diversas instituições, tais como o Estado, o poder local eregional, as universidades e as associações empresariais. Estesparques tecnológicos serão concebidos e instalados em estreitaarticulação do Governo com o Poder Local e Regional, as associ-ações empresariais e as Universidades.A título de exemplo, o Governo discutirá com os parceiros a criaçãodos seguintes parques científicos e tecnológicos: Parque Científico eTecnológico da Saúde, na Praia, Parque Científico e Tecnológico deAgro-Pecuária, em Santo Antão, Santa Catarina, S. Nicolau, Fogo eBrava, Parque Científico e Tecnológico do Ambiente, na Boavista,Parque Científico e Tecnológico das Pescas, do Mar e da IndústriaLigeira, em S. Vicente, Parque Científico e Tecnológico do Turismo eda Cultura, na ilha do Sal, Parque das TIC’ e Indústria Ligeira, nacidade da Praia, Parque Científico e Tecnológico de EnergiasAlternativas e da Água, em S. Vicente, e Parque Científico eTecnológico da Biodiversidade, na ilha do Maio.O Governo do MpD afectará 1 por cento do Orçamento do Estado àinvestigação científica, nomeadamente na desenvolvida nos ParquesCientíficos e Tecnológicos.

• O Governo do MpD inscreve, como uma das suas mais impor-tantes políticas, a unificação do mercado nacional, nomeada-mente no que respeita aos transportes marítimos e aéreos inter-ilhas e internacionais, ao acesso às novas tecnologias, a baixocusto, de todas as ilhas e ao fomento e criação de mercadosregionais grossistas de produtos agrícolas e de produtos estratégi-cos nos pontos-chave do território nacional. Com o objectivo de facilitar e acelerar a integração do mercadonacional, o Governo do MpD irá criar um programa de estímulo eapoio diversificado aos empresários e empresas dos ramos de activi-dade directa ou indirectamente interessados na criação de umaempresa de âmbito nacional e regional: uma Empresa de Logística ede Distribuição, de modo a resolver, nestes dois importantes

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domínios, os entraves à produção artesanal, semi-industrial e indus-trial, nos mais diferentes sectores de actividade, tendo em vista tantoo mercado nacional quanto a exportação.

• A integração do mercado nacional tem um custo e, por outrolado, necessita de um referencial de qualidade e preço dos produ-tos e serviços produzidos em cada ilha, isto é, de um referencial deprodutividade.O custo (e o seu financiamento) e o referencial de produtividade,para serem factores de sucesso, só podem ser os da economia global.Logo, a integração do mercado nacional converge com a globalizaçãodo mercado interno.O que supõe a necessidade do permanente acompanhamento, estí-mulo da iniciativa e da absorção nos processos de produção e dis-tribuição da criatividade e da inovação, tendo em vista o ininterrup-to crescimento da produtividade, nos diversos sectores de actividade. Nesse sentido, o Governo do MpD adoptará as políticas económicase tomará as medidas necessárias, tendo em vista a unificação domercado nacional e a sua convergência com a globalização do mer-cado interno.

• A promoção do investimento directo externo será uma dasgrandes preocupações do Governo do MpD e - a par do estímulodo empresariado nacional - será uma das matrizes da orientaçãode política económica do Governo. Este enfoque especial no IDE deve-se a duas ordens diferentes derazões: por razões de ordem de poupança interna e por razões económi-cas (de produção e de distribuição).As razões de ordem financeira prendem-se com o facto de o nível e aexiguidade da nossa economia não permitirem a geração interna depoupança suficiente para o esforço de investimento necessário para acriação de riqueza, emprego e bem-estar para toda a população, emtempo útil. Do ponto de vista económico, o investimento directo exter-no é a forma mais expedita e barata de trazer know how e mercados

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internacionais de distribuição à produção em larga escala no país.• A competitividade de Cabo Verde é bastante baixa, ou seja, éinsatisfatória a capacidade de Cabo Verde utilizar os seus recursose atrair outros de outros países, de tal forma que, no mínimo, osresultados obtidos não fiquem aquém dos que seriam obtidos empaíses alternativos.Essa baixa competitividade é confirmada pelo último Global Compe-titiveness Report, 2010-2011, da WEF, que coloca Cabo Verde naposição 117, em 139 países (com as Maurícias na posição 55 e oBotswana na 76).Logo, desenvolver Cabo Verde é sinónimo de melhorar a competiti-vidade e é, em consequência, mexer nos factores que condicionam oscustos. Inovação, qualificação dos recursos humanos, infra-estruturas,dimensão do mercado, sofisticação do mercado de negócios, unifi-cação do mercado interno, globalização do mercado interno, acessoao financiamento, custos da administração pública, rapidez e eficiên-cia do Estado, fisco, e de forma muito especial, ambiente de negócios.São estes os tópicos fundamentais que o Governo irá ter em contapara que o desenvolvimento de Cabo Verde aconteça.

• Das diversas componentes que terão uma influência directa naindispensável melhoria da competitividade do País, há aquelescujos efeitos ocorrem a prazo, mais ou menos longo, e há aquelesque podem – e devem – acontecer no curto prazo.No topo das alterações com reflexos positivos no curto prazo, semdúvida, as alterações fiscais são as mais importantes.Como forma de recuperar a confiança dos investidores que já con-hecem Cabo Verde, e, igualmente, para aumentar a visibilidade doPaís, para que outros investidores e em outras áreas de negócioadquiram a consciência de que Cabo Verde existe e que vale a penainvestir no País.Confiança e visibilidade no domínio fiscal significam inovar, com cor-agem e profissionalismo.

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Daí o choque fiscal que o Governo do MpD irá implementar, e que temcomo eixo director uma forte diminuição da carga fiscal que conduziráa uma taxa máxima de 15 por cento no IUR, para as pessoas singularese as empresas, até ao fim da próxima legislatura, de 2011 a 2016.

• O Governo do MpD irá organizar e modernizar o sistema de finan-ciamento da economia. Trata-se de um enorme desafio, dada ainsuficiência da poupança nacional para garantir as necessidadesde financiamento da economia. Neste quadro, o Governo do MpDirá criar um veículo de financiamento a longo prazo (SOCID –Sociedade Nacional de Crédito e Investimento ao Desenvolvi-mento), que se financiará exclusivamente no mercado de capitais,apoiando-se nomeadamente na Bolsa de Valores de Cabo Verde,instituição criada na década de 90 e possuidora de potencialidadespor desenvolver. Este veículo de financiamento a longo prazo funcionará como instru-mento de execução das politicas económicas do Governo e garantiráos meios financeiros necessários para o financiamento às PME, àsmicro empresas e micro empresários, bem como à criação e desen-volvimento dos grupos económicos nacionais, à integração do mer-cado nacional e à promoção de exportações.

• O processo de desenvolvimento de Cabo Verde não pode ser feitoabordando o mundo de forma uniforme e cega. Cabo Verde criou,ao longo dos anos, e independentemente da cor política dos gover-nos, um conjunto de laços externos diversificados que importamanter e aprofundar. O Governo do MpD irá fazê-lo.Nesse sentido, o Governo do MpD irá dar uma atenção muito partic-ular à convergência com a União Europeia: a) Na gestão macro-económica do País; b) Na instituição da dupla circulação monetáriaem Cabo Verde (do escudo e do euro); c) Na absorção da legislaçãocomunitária na legislação da República e no estabelecimento de acor-dos, nomeadamente ao nível da livre circulação de bens, pessoas ecapitais.

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• A concertação e o diálogo permanentes serão bandeiras pre-sentes na forma de agir do Governo do MpD. Assim, o Governo irádiscutir com o Poder Local a criação dos mecanismos de articula-ção para a concepção, execução e controlo das diversas políticas emedidas públicas centrais, entre o Governo e o Poder Local eRegional.A Concertação Social, quer em sede institucionalizada, quer comoforma normal de estar e de agir, será eleita pelo Governo do MpDcomo filosofia basilar de relacionamento com a sociedade e com osparceiros da sociedade civil e como parte integrante da boa gover-nação.

• Finalmente, o Governo do MpD procederá a uma profunda refor-ma da Administração Pública e da Justiça, tendente a adequar oEstado aos desafios de desenvolvimento a que se propõem dirigiro País. O reforço do Estado de Direito Democrático, do respeitopela Constituição da República e a primazia do cidadão, das famí-lias e das empresas passarão, com o Governo do MpD, a norteartoda a configuração e intervenção do Estado.O Estado limitar-se-á a ter uma intervenção indirecta na economia,cabendo à iniciativa privada e às empresas o papel de criadores deriqueza e de rendimento para os cidadãos e as famílias. O papel de intervenção indirecta do Estado na economia será consis-tente com uma acção forte e estrategicamente orientada no sentidodo fomento empresarial nacional e atracção do investimento directoexterno, bem como da criação de instituições independentes e capac-itadas, humana e materialmente, de observação, previsão e regulaçãoeconómica.Para tanto, o Governo do MpD fará com que o Estado estabeleça umaaliança estratégica com a iniciativa privada, nacional e internacional,para a implementação deste novo modelo de desenvolvimento deCabo Verde.Em diagrama, o Modelo de Desenvolvimento que o MpD propõe aoeleitorado cabo-verdiano é o que segue:

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Ou seja, este modelo centra a sua acção na combinação harmo-niosa da permanente qualificação dos recursos humanos nacionais,com a promoção de um tecido robusto de empresas competitivas,inovadoras e exportadoras.A combinação entre estes dois factores-chave do modelo – tecidoempresarial robusto de empresas competitivas, inovadoras e expor-tadoras, e permanente qualificação dos recursos humanos – encaixanum conjunto articulado de condições, políticas e enquadramentos,internos e externos, cujo contributo individual e colectivo é indis-pensável para o sucesso do modelo.Este conjunto articulado de condições materiais e institucionais, depolíticas e de enquadramentos, internos e externos, é o seguintes:

1) A qualificação dos recursos humanos e a formação profissional;2) A sintonia da competitividade de Cabo Verde com os targets de

competitividade dos países e regiões mais dinâmicos do mundo ea constante melhoria do ambiente de negócios no País;

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3) A criação dos mecanismos que facilitem o financiamento das ini-ciativas empresariais e de infra-estruturação do País;

4) Um choque fiscal que reduza significativamente o custo fiscal dosinvestimentos em Cabo Verde e que aumente a visibilidade do paísjunto dos investidores internacionais;

5) A multi-especialização do País, evitando a construção de uma econo-mia dependente de um único sector de actividade; a adopção de umaestratégia de desenvolvimento, a par do turismo, da agricultura, das pes-cas, da indústria ligeira, dos serviços financeiros, dos transportes, e dacultura e da saúde, enquanto áreas prestadoras de serviços qualificados;

6) O desenvolvimento da cidade como o local, humanizado, onde ainteracção entre os sujeitos sociais acontece em segurança e comqualidade;

7) A unificação do mercado interno e a sua globalização, com a cria-ção das condições que permitam a todas as partes do território na-cional de absorver os elementos críticos da produtividade das econo-mias mais dinâmicas do mercado mundial; a criação de condiçõespara que as oportunidades conseguidas com o novo modelo dedesenvolvimento fiquem ao alcance dos cabo-verdianos da Diáspora;

8) O empreendedorismo e a inovação como motores da criação deriqueza, emprego e bem-estar na sociedade;

9) A concertação social estratégica, de médio e longo prazo, como filo-sofia e modo de estar do Estado e dos agentes económicos e sociais;

10) A diplomacia económica ao serviço de uma economia de serviçose exportadora;

11) A regionalização do País como elemento indispensável à apropri-ação pelo todo nacional do retorno individual e colectivo dos bene-fícios do desenvolvimento;

12) A convergência com a União Europeia, nos planos normativos, daregulação da economia pelo Estado, da livre circulação de bens, pes-soas e capitais, da justiça, da segurança e do Estado de direito.

O Governo do MpD irá promover a criação dos instrumentos e ascondições do novo modelo e adoptar um conjunto de políticas, de

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âmbito nacional e regional, para uma mudança substancial nos diver-sos sectores de actividade económica, a saber:

A – Dos instrumentos e grandes componentes domodelo de crescimento económico com emprego dequalidade:A1 – Fomento do capital humano, social e institucional

• Escolaridade obrigatória mínima de 12 anos• Transformação de Cabo Verde num país que domina 3 línguas -

português, francês e inglês – obrigatórias e uma facultativa: ita-liano, espanhol ou alemão

• Acesso generalizado e a baixo custo à banda larga• Ensino profissionalizante generalizado como parte do Ensino

Obrigatório, em articulação com as empresas e as associaçõesempresariais

• Reforço do ensino das ciências, nomeadamente da matemática• Integração do pré-escolar no sistema formal de ensino• Escolas como unidades de gestão autónomas• Criação do espaço para a flexibilidade curricular. Cadeiras obri-

gatórias e facultativas, permitindo maior liberdade às escolas• Bolsas de mérito nas melhores escolas e empresas do mundo –

50 por ano• Requalificação dos professores e actualização dos manuais e

equipamento das escolas e universidades• Incentivos fiscais para a atracção de competências internacionais

de primeiro nível • Criação de um fundo de garantia mútua para o financiamento do

ensino superior – acesso generalizado• Estágios profissionais (20.000 ano) e para licenciados (5.000 ano)

A2 – Melhoria do ambiente de negócios, da competitividade e dasexportações

• Serão adoptadas as medidas conducentes a colocar Cabo Verdeentre os 50 melhores no mundo e os 5 melhores em África, em ter-

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mos de ambiente de negócios e competitividade – promover a cria-ção de um OBSERVATÓRIO DE COMPETITIVIDADE – IDE ao níveldo Instituto Nacional de Estatísticas.

• Será criado o Fórum Nacional para as Exportações – Aliança para aInternacionalização - Conselho Nacional para a promoção da inter-nacionalização – liderado pelo sector privado

O Governo dedicará ainda uma atenção especial à:• Promoção de parques industriais• Certificação: Pelo menos 50 empresas certificadas exportadoras• Promoção de grandes grupos económicos - Incentivos à Fusão e

Aquisição de PME´s • Redução do custo das utilities – energia, água, saneamento, teleco-

municações• Promoção das exportações de bens e serviços:• Duplicação da exportação de bens: 160 milhões de euros até ao final

da legislatura, 50 empresas a exportar• Duplicação da exportação de serviços para 750 milhões de euros• Promoção da marca Made in Cape Verde• Novo mapa de diplomacia económica e promoção da internacional-

ização: metas para as embaixadas e institucionalização de embaix-adores itinerantes com missões específicas e criação de uma empre-sa para a promoção de Cabo Verde

• Redução da carga contributiva para a segurança social• Modernização do código de trabalho• Combate à corrupção – criação de um Grupo de Trabalho de Com-

bate à Corrupção - GTCC - (com integrantes do Ministério Público,Tribunal de Contas, Inspecção Geral de Finanças, das Magistraturas,da Comissão Especializada de Finanças e de Assuntos Jurídicos daAssembleia Nacional, da Ordem dos Advogados, da Associação dosJornalistas e das associações de utentes dos serviços públicos) queanalise o estado da corrupção no País e proponha soluções

• Promoção da criação do Instituto Cabo-verdiano de Corporate Go-vernance

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• Negociação em função dos impactes, nomeadamente no emprego,dos incentivos fiscais aos Investimentos

A3 – Parques Científicos e Tecnológicos: O Parque Tecnológico será o sítio por excelência de concentraçãode know how e outros recursos nacionais, num sector específicode actividade económica; é um centro de atracção de tecnologiae outros recursos internacionais; é um pólo de investigação edesenvolvimento, bem como de difusão de tecnologia e oportu-nidades de negócio para o conjunto do território nacional e dasactividades económicas; é um promotor da excelência do ambi-ente de negócios e para a instalação de empresas, de capitalnacional e internacional, de elevado valor acrescentado; é umcentro de formação e qualificação de alto nível dos recursos dehumanos; é o motor de integração do mercado interno; é agentede globalização do mercado nacional, nomeadamente através dadifusão dos inputs que permitem o aumento da produtividade; éfactor de aumento da competitividade de Cabo Verde; é um pólode convergência, no domínio económico, das competências eacção, do Governo e do Poder Local e Regional, das Universidades,das associações empresariais, das empresas, das instituições,nacionais e internacionais, do desenvolvimento.O sistema de Parques Tecnológicos é um dos resultados maisimportantes da aliança estratégica entre o Estado e a iniciativaprivada, nacional e internacional, para o desenvolvimento deCabo Verde. Grande parte da intervenção do Estado na economiairá processar-se e ser canalizada através dos Parques Científicos eTecnológicos. Concebemos pelo menos um parque científico etecnológico em cada ilha, cobrindo as áreas fundamentais para odesenvolvimento económico de Cabo Verde. Na sua concepção,criação e funcionamento, estarão associados o Estado, o PoderLocal e Regional, as Universidades, as associações empresariais, asempresas e as instituições ligadas à promoção e ao desenvolvi-mento.

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Para coordenar os parques científicos e tecnológicos, será criadoo Centro de Investigação e Desenvolvimento de Cabo Verde(CIDCV). Este centro de investigação e desenvolvimento terácomo objecto igualmente o acompanhamento e fomento dasmedidas visando a criação do emprego de qualidade. Congregaráo Governo, o poder local e regional, as universidades, os institutosde investigação, as associações empresariais e os parceiros inter-nacionais de desenvolvimento. Terá ainda funções de:• Incubadora, com destaque para os jovens empresários• Programa “ WORK FOR YOUR SELF”• Empreendedorismo jovem e criaçãoO CIDCV fará o acompanhamento de um Fundo de Emprego –onde todas as empresas e as entidades disponibilizarão a ofertade emprego – , fundo esse que será gerido pelo IEFP.

A4 – Unificação do mercado interno e globalização do mercadonacional

• O Governo do MpD promoverá, com o envolvimento da SOCID, areestruturação aprofundada dos transportes marítimos, nomea-damente com a modernização da frota

• Serão criadas linhas regulares entre as Ilhas, em regime de concessão• Será negociado com os operadores a melhoria substancial dos

transportes públicos colectivos • Serão desenvolvidos os transportes marítimos de cargas• A Enapor será modernizada • Serão desenvolvidos portos de cruzeiro e de lazer• O Governo promoverá a criação de uma grande empresa de logís-

tica e distribuição com parceiros nacionais e internacionais• Serão promovidas, com os operadores dos sectores abrangidos,

empresas grossistas, em pontos estratégicos do território nacional,tanto de produtos agrícolas e de pescas, como de produtos funda-mentais para o desenvolvimento das diversas áreas de actividade.

• Os investimentos que vão no sentido da inter-modalidade nostransportes serão priorizados

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• O Governo contactará as empresas internacionais de low cost(EasyJet, Ryanair, Air Berlim, Transavia, Air Nostrum, Aigle Azur,etc), com vista a tornar esta modalidade de viajar dominante nasligações aéreas internacionais para Cabo Verde.

• Será favorecida a criação de novas rotas de ligação aérea de e paraCabo Verde

• O Governo promoverá a reestruturação e privatização dos TACVe será negociado com um grande parceiro a transformação do Salnuma base de manutenção de aviões

• A ligação de Cabo Verde ao mercado étnico será parte indissociáv-el do processo de unificação do mercado nacional.

• Os quadros e empresários cabo-verdianos da diáspora são um activodos mais importantes de que Cabo Verde dispõe, nomeadamente notocante à internacionalização da nossa economia. O Governo doMpD discutirá com as associações representantes da diáspora eadoptará um programa de activa participação dos cabo-verdianosque trabalham no exterior, na identificação e aproveitamento dasoportunidades de negócio e de trabalho que o processo irá gerar. Serádefinido um Estatuto Especial para o Investidor Emigrante.

A5 – SOCID – Sociedade nacional de crédito e investimento ao de-senvolvimento

Tendo em vista o apetrechamento da governação e das empresasdos instrumentos para o financiamento da economia, o Governopromoverá a criação da Sociedade Nacional de Crédito eInvestimento – SOCID, com as seguintes características:• Uma instituição de direito público• Para a execução da estratégia do Governo• Especializado no financiamento de médio e longo prazo às

empresas cabo-verdianas e no apoio as exportações• Missão: promover o Investimento, a Inovação e a Exportação• Capital de 3.000.000 euros• Obrigações subordinadas 50.000.000• Estrutura organizacional baseada na boa governação

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• Gestão qualificada – participação dos sindicados e empregado-res e municípios

• Bom risco de crédito• Bom plano de negócios• Bom modelo de Governo• Transparência em termos de domínio da empresa• Estado da arte em termos de Standars sociais e ambientais• Especificidades:

• Não recebe depósitos de particulares no retalho• Capta fundos através do mercado de capitais - BVCV- sobre-

tudo obrigações nos mercados de capitais nacionais e interna-cionais

• Rating da República• Fiscalidade e parafiscalidade “zero”• Capital semente - business Angels • Clara demarcação entre bancos comerciais e de desenvolvi-

mento• Dívida Cabo-verdiana• Dívida soberana AAA equivalente• Vedado valores mobiliários e seus derivados• Operações cambiais, hedging de risco cambial e de taxa de

juro• Vedado o acesso ao aforro primário das famílias• Rácios de Basileia III• Garantia• Garantia mútua• Capital de risco• Fundo de capital de risco• Fundo de internacionalização• Mercado de capitais – secundário, liquidez e FII E FIM• Fomento da formalização da economia• Centro de prestação de serviços financeiros• Instrumentos

• Crédito de médio e longo prazos

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• Mezzanine finance – equity e empréstimo – Subordinação;Conversão

• Equity Capital• Garantias• Prazos até 15 anos• Período de graça: em função do cash flow

• Crédito para aquisição de equipamentos• Empréstimos a MLP - Internacionalização• Empréstimos para inovação• Criação de Fundos de investimentos• Financiamento para inicio de actividade• Tomadas de participação• Empréstimos participativos• Facilidade-Universidade, facilidade-centros de investigação e

facilidade-parques tecnológicos • Empresas afiliadas– com participação do sector privado e de

instituição nacionais e internacionais – SOCID mínimo 50%• SOCID – PME• SOCID- PAR• SOCID – CONSULT• SOCID – PROMOVE• SOCID – FII • SOCID – FIM• OUTRAS EMPRESAS AFILIADAS: CAPITAL DE RISCO, FUN-

DOS DE GARANTIA, ETC• Participação da SOCID nas Redes internacionais de bancos e

sociedades de investimento, tais como:• EDFI´S – European Deveopment Finance Institutions • BM, SFI, BEI, BERD, BAD, BADEA, BID, BIDC• Nos diversos “FORA” internacionais sobre o desenvolvimento• Entrar na rede internacional de banca de investimentos co-

mo o BEI e KFW, SNCI,• BPI, Instituto de credito oficial, investkredit Bank AG

(Austria); NIB capital Bank ( Pays-Bas)

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• Financiamento do desenvolvimento do Centro de Prestaçãode Serviços Financeiros, como primeiro passo para a criaçãode uma praça financeira em Cabo Verde:• Transposição para a ordem interna da BASILEIA II e acom-

panhar BASILEIA III• Participação de Cabo Verde na FATF • Eliminação da categoria de IFI´s • Operações com clientes NR – fiscalidade zero –, excluindo

correspondentes• Extensão das unidades preferenciais a valores mobiliários,

designadamente acções de sociedades nacionais ouestrangeiras, cotadas ou não na Bolsa.

• Eliminação de comissões bancárias abusivas• Eliminação da autonomia da actividade empresarial da gestão

das OIC - fundos de pensões, factoring, leasing, capital de risco• Criação da figura do TRUST ou comissão FIDUCIÁRIA com

personalidade jurídica. • Compra dos TP´C até 2018

A6 – Reforma fiscal - diminuição da carga fiscal e para fiscal• Estabelecimento de uma taxa máxima de IUR de 15 por cento,

para pessoas singulares e colectivas, com quatro escalões, de 15,13, 10 e zero por cento, até ao final da legislatura

• Racionalização dos incentivos fiscais• Combate à fuga e evasão fiscais• Redução do índice de informalização da economia• Eliminação generalizada do princípio ad valorem• Redução da carga fiscal para 22 por cento do PIB, até ao final da

legislatura• Reforço dos direitos e das garantias dos contribuintes• Reforço dos meios humanos e materiais para um funcionamento

eficiente do Tribunal Fiscal e Aduaneiro• Adopção de um novo modelo para a gestão de todas as receitas

fiscais

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• Instituição de um Provedor dos contribuintes com assento no CA• Negociação de redes de acordos para evitar a dupla tributação –

12 até ao final da legislatura• Redução significativa de liquidação antecipada do IVA e intro-

dução do IVA moderado na imobiliária turística, desde a constru-ção até á exploração dos resorts.

A7 – A Convergência com a União EuropeiaSerá de imediato estabelecida a dupla circulação monetária (Euroe ECV) em Cabo Verde, reactivado o travão legal para os limitesao défice e o endividamento público, e reforçados os mecanismosde Transparência nas Contas Públicas – com a instituição de umaUnidade de Informação Financeira (Finanças Públicas) junto doBCV. A convergência será ainda feita no que respeita à absorçãodos normativos legais e institucionais da União pelo direito cabo-verdiano, nomeadamente no que respeita ao papel do Estadoregulador – entidades reguladores efectivamente independentes. No âmbito da convergência, será proposta a renegociação doacordo de cooperação cambial, nomeadamente tendentes aoestabelecimento de: • Um Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) para Cabo

Verde• De buffers para economia cabo-verdiana• Um acordo de livre circulação de bens, capitais, tecnologia e

conhecimento• Um acordo de livre circulação progressiva de pessoas• A negociação de um Programa de Apoio Estrutural

– Educação e capital humano– Estado de direito e reformas estruturais– Assistência tecnológica e financeira às empresas para se ajus-

tarem às novas regras em matéria ambiental e de qualidade– Ambiente – Energias alternativas, consumo racional de ener-

gia, transportes colectivos, transportes marítimos, uso racio-nal da água

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– Saúde– Segurança– Livre circulação de bens, capitais e pessoas.

• A reforma do Estado e capacidade institucional – despartida-rização da Administração (incompatibilidades entre funçõesde direcção na Administração Pública e na actividade par-tidária). Proibição de acumulação de cargos e militância par-tidária dos membros da administração das entidades de regu-lação.

• A modernização e adaptação ao normativo da União Europeiada Justiça, Administração Pública e Segurança

• A redução do peso do Estado na economia – de 50% para 35%– Divida Publica de 100% do PIB para 85% do PIB – Plano para

a Redução do Endividamento Público– VAL da Divida externa de 50% do PIB para 45% do PIB

• Revisão das Despesas Públicas auscultando o sector privado eos sindicatos. Sustentabilidade da segurança social. Orçamen-to de Base Zero e eliminação de todo e qualquer gasto supér-fluo, improdutivo e desnecessário, ao nível do funcionamen-to como de investimento

• Revisão das despesas de investimento – “Pro-Growth” and“Pro-Job” Public Spending - Transportes, Energia, Água, Sa-neamento, Requalificação Urbana, Realojamento Urbano,Educação e Saúde, Ciência e Tecnologia, Turismo e Cultura

• Instituição do princípio de deferimento tácito nas relações docidadão e das empresas com a Administração publica, de-monstrado por aviso de recepção postal

• Responsabilidade ambiental e defesa dos consumidores• Estado apenas supletivo e complementar. Exclusão de activi-

dades comerciais por parte de entidades públicas, aonde hou-ver oferta privada.

• Influenciar a agenda dos arquipélagos atlânticos.• Proposta de redefinição de uma agenda para a CEDEAO que

amplifique a nossa importância na CEDEAO e na UE

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– Paz e segurança, regulação das migrações, defesa e promo-ção dos direitos humanos e cidadania, promoção da saúde,desenvolvimento da educação, livre circulação e diplomaciaregional e africana

B – Os diversos sectores de actividade económicaImediatamente a seguir à tomada de posse, o Governo do MpDreunirá com representantes dos operadores económicos, dos sindi-catos e das Câmaras Municipais, tendo em vista a adopção de umconjunto de medidas de muito curto prazo, para desbloquear assituações que a inacção do Governo do PAICV congelou.São, nomeadamente, questões ligadas às pescas, agricultura, indús-tria ligeira, transportes marítimos, Enapor, turismo e obras desaneamento e habitação, em todas as ilhas e municípios.O sector das pescas, nomeadamente a situação crítica que se viveem S. Vicente, bem como a situação do turismo em Santa Maria, nailha do Sal, e a necessidade de um programa de emergência para acidade da Praia, de saneamento e requalificação urbana, assimcomo a questão do emprego em todas as Ilhas, são apenas algunsexemplos que se somam a tantos outros e que o Governo do MpDprocurará acudir, com um programa de intervenção imediata.O Governo do MpD contactará as empresas do sector da indústrialigeira que ainda laboram e com elas definirá um plano deemergência e de desenvolvimento do negócio. Da mesma formaserão contactados os investidores que encerraram ou não iniciaramas actividades, com o objectivo da retoma da iniciativa.O Governo do MpD porá ainda de pé um programa imediato e emarticulação com as Câmaras Municipais que, de entre outros objec-tivos, procurará criar empregos, no curto prazo, especialmente paraos jovens.Simultaneamente, o Governo do MpD dará início a uma profundamudança nos principais sectores de actividade económica, con-forme com o novo modelo de desenvolvimento económico apre-sentado ao eleitorado.

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B1 – Promover a competitividade e a modernidade da agriculturaO Governo do PAICV, na linha do que aconteceu com outros sectores,escondeu os problemas da Agricultura com propaganda e mais propa-ganda, usando chavões como “modernização agrícola”, “nova agricul-tura”, “agro - negócios”, “massificação da micro - irrigação” e anuncian-do obras e investimentos grandiosos que foi incapaz de realizar. Mas a realidade é a que o governo do PAICV, em 10 anos, desbaratourecursos e oportunidades e não foi capaz de mostrar um caminho paraa Agricultura e de resolver os problemas de sectores importantes como:

- Água- Factores de produção- Crédito- Investigação/extensão- Formação- Protecção Fitossanitária- Promoção do Mercado e da Qualidade- Os transportes

Constatamos, assim, que houve um abandono do sector por partedessa governação, sendo claro que os poucos investimentos feitos e asobras resultantes não se reflectiram no aumento da produção, no mel-hor abastecimento do mercado e, consequentemente, no aumento dosrendimentos dos agricultores e na qualidade de vida no meio rural.As estruturas do ministério responsável pelo sector e a sua administra-ção foram politizadas pois, as chefias intermédias do Ministério daAgricultura, as delegações nos concelhos, ilhas e regiões não foramprovidas pelos mais capazes tecnicamente e nem pelos mais sérios etrabalhadores, mas sim, na lógica de preparar candidatos a futuraseleições ou de dar lugar a não eleitos em autênticos “JOBS FOR THEBOYS”.O desempenho não foi medido pelo trabalho realizado, prevalecendo abalda! A título de exemplo, o último relatório elaborado pelo ministérioé referente ao ano de 2006 e vários serviços nem sequer elaboraram osrelatórios sectoriais referentes a 2007, 2008 e 2009.Vejamos alguns pormenores:

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ÁGUAA mobilização de mais água e de melhor água foi pura propaganda:A única obra feita, e com verdadeiro impacto, é a barragem de Poilão eela só disponibiliza mais 1,2 milhões de m3 de água para irrigação.Do projecto inicial, denominado “Domínio das Águas”, cujo financia-mento foi assegurado pela cooperação chinesa, falta executar a partede chuvas artificiais.As obras de reordenamento e valorização das bacias hidrográficas dosPicos, dos Engenhos, de Fajã, de Ribeira da Prata, de Alto Mira e Ribeirada Torre bem como as do projecto MCA têm problemas de execução eaté agora não trouxeram nenhuma melhoria para o agricultor das ilhas,em termos de disponibilidade de água.Muitas propriedades estão hoje improdutivas por ausência de inter-venção do estado na investigação e mobilização de água e por proces-sos de salinização acelerada dos solos. (Veja-se o caso da Justino Lopes).Não há regulação na gestão de água; os conflitos são permanentes e aintervenção dos serviços competentes é ineficaz.Os preços subiram em flecha, sem uma análise que levasse em contaas necessidades do incentivo à produção de bens agrícolas.Enfim, a água é mais rara e cada vez mais cara. A modernização da rega, propalada pelo governo, é também pura pro-paganda:A introdução da rega gota a gota é dos anos 90. A sua divulgação nosanos 2000 tem sido tímida, sem incentivos e sem objectivos clarosquanto a metas a atingir em termos de áreas irrigadas; ainda por cimasem investigação e nem absorção dos avanços técnicos registados anível mundial.Quase duas décadas depois da introdução de gota a gota, só poucomais de 20% das nossas terras irrigadas utilizam o sistema.Se a dinâmica dos anos 90 tivesse tido continuação a superfície hojecontemplada deveria rondar os 80% da área efectivamente irrigada.Com a água que se pouparia teríamos hoje disponibilidade para atingir3.600 ha de regadio produtivo, em vez dos 1.800-2000 ha existentes.

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PRODUÇÃO DE LEGUMESA produção do País, em termos de legumes, tubérculos e frutas poderiater sido o dobro Facto importante para um País com um mercado de turismo já bas-tante considerável e que importa os legumes, os frescos e as frutas con-sumidos em todos os grandes hotéis existentes.

INVESTIGAÇÃO E ENSINO AGRÁRIOSO Governo do PAICV desmantelou o ensino e a investigação agrícolas!O INIDA, única instituição de investigação organizada que existia noPaís está em processo de desarticulação, desde Dezembro de 2007,sendo que parte do seu pessoal irá integrar a UNI-CV. A morte já foianunciada e só está sendo protelada por motivos eleitorais.O estado retira-se, assim, da investigação agrária efectiva, numa ati-tude de total irresponsabilidade. É um erro!Uma “nova agricultura”, precisa de uma instituição de investigaçãoaplicada específica, autónoma e virada para os problemas de produçãoagrária. A modernização do sector implica a existência efectiva de umainstituição de investigação e desenvolvimento; não do seu desmantela-mento. A investigação agrária foi destruída pelo governo do PAICV.A formação técnica nas ciências agrárias, nos seus vários níveis, estánum estado de degradação permanente, sem definição política e semacções que conduzam à capacitação dos nossos produtores.A lacuna deixada pelo Centro de Formação do INIDA ainda não tempreenchimento efectivo.

SERVIÇO DE EXTENSÃO RURALO serviço de extensão rural está moribundo!O serviço de extensão rural, fundamental para a ligação entre a inves-tigação e a produção, tornou-se amorfo, incapaz e sem meios humanose materiais para cumprir a sua missão.Os agricultores do País viram-se privados de importantes agentes deassistência técnica e de divulgação de novas variedades e novas tec-nologias.

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A produção de sementes, incluindo variedades criadas aqui no País, bemcomo a produção de fruteiras para renovação das plantações, pratica-mente desapareceu.

O CRÉDITO AGRÍCOLAA intervenção do Estado é nula!O sistema de crédito agrícola, fundamental para o desenvolvimento dosector, pura e simplesmente deixou de existir.Os produtores/investidores que quiserem fazer recurso ao crédito têmque o fazer nas condições de crédito da banca comercial, com taxas dejuros absolutamente proibitivos.Nem há definição de um sistema próprio, nem um modelo de bonifi-cação e garantias que possa incentivar o crédito à agricultura.

PROTECÇÃO VEGETALO Governo foi incompetente na protecção vegetal!Outro grande problema do País e do seu sector agrário foi a incapaci-dade do governo do PAICV na protecção vegetal.Podemos afirmar, sem medo de erro, que este é o aspecto mais evi-dente do abandono da Agricultura em Cabo Verde, nesta década.O Governo e os seus sucessivos ministros de agricultura desprotegeramcompletamente o País, não assumiram a sua responsabilidade e funçãode garantir a protecção do nosso sector produtivo e as consequênciasestão a ser e irão continuar a ser desastrosas para Cabo Verde.A inspecção fitossanitária tornou-se ineficiente, as quarentenasdeixaram de ser feitas, o corpo de inspectores foi desarticulado.A cooperação e investigação neste domínio deixaram praticamente deser feitas.A circulação de material vegetal do exterior para Cabo Verde e entre asilhas é hoje quase incondicionada, não dispondo os nossos portos eaeroportos de meios de controlo.Como consequência, em 9 anos de governação PAICV entraram dezpragas e doenças novas no País; culturas como a batata-doce, manga,banana, cana sacarina, abóbora, tomate, coco, entre outras, ganharam

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novas doenças, por incúria deste Governo, com consequênciaseconómicas evidentes para a nossa produção agrícola.Da independência a esta parte, nesta matéria, entraram em Cabo Verde14 pragas e doenças novas: três no período de 1975-1990, uma noperíodo 1991-2000 e dez no período 2001-2010.E, nos últimos três anos já não há sequer capacidade instalada nem deidentificação tempestiva, nem de investigação, nem de cooperação,nem de combate e controle.Este facto demonstra bem o desleixo a que chegaram este governo eos seus sucessivos ministros de Agricultura, durante a década 2001-2010.

O MERCADOO Governo falhou na integração do mercado, no controlo da qualidadee na promoçãoA fragmentação do mercado agrícola é o principal obstáculo à moder-nização e rentabilização da nossa agricultura. A falta de transportes marítimos inter-ilhas, regulares e a preços quenão afectem a competitividade dos produtos, impedem a unificação donosso mercado e criam situações de desespero para o produtor aomesmo tempo que limita o acesso ao consumidor.Outro factor de limitação é o controlo de qualidade da nossa produção:não há definição de padrões de qualidade; não há políticas de acondi-cionamento e embalagem; não há promoção e protecção de marcas;não há regulação; nem há atribuição de certificados de qualidade; nemsequer politicas de incentivo à qualidade.Alguns exemplos:

1. Toda a fruta e queijos, consumidos nos hotéis do Sal e daBoavista são importados

2. Enquanto isso, a unidade de produção de queijos tradicionais doPorto Novo tem um excedente de produção que não conseguecolocar fora da ilha.

3. No Fogo a produção de manga foi tanta em 2010 que foi apeli-dada de “dengue” e vendida a 4$00 a unidade de “bijagó”, quan-

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do na cidade da Praia a manga “bijagó” é vendida a 35-40$00cada unidade.

4. Em Santo Antão a banana chega a ser vendida a 20$00/kg, quan-do na cidade da Praia a banana a 140$00/kg

O Governo do PAICV falhou na integração do mercado nacional, factoressencial num território pequeno e formado por ilhas, pois:

- Não há transportes regulares e adequados para ligar Fogo e SantoAntão a Boavista, Sal e Praia.

- Não há controlo de qualidade para garantir que a produção doFogo e de Santo Antão estejam em condições de competir com osprodutos importados pelos hotéis do Sal e Boavista.

- Não há promoção de marcas nacionais como identidade dos pro-dutos agro-pecuários.

A Visão do MpD O MPD promoverá a competitividade e a modernidade da agriculturae valorizará o mundo rural.O MPD sabe que a agricultura tem de mudar de vocação. Ela é umaactividade de carácter multifuncional com impacto na coesão terri-torial, na coesão social, na qualidade do ambiente e, sobretudo, ori-entado para o mercado e uma crescente pressão concorrencial. O MpD criará um centro de aconselhamento agrícola, apostará naviabilização económica, em concertação com o desenvolvimento dosector do turismo, das explorações agrícolas e florestais; reforçará acapacidade competitiva dos produtos agrícolas, aumentará e melho-rará os níveis de acessibilidades e o acesso a água e promoverá activi-dades complementares (industria de ponta, turismo, desporto, lazere artesanato); promoverá actuações integradas entre a agricultura eo turismo e valorizará as florestas e as zonas de reservas especiais.Com efeito, a nossa agricultura tem hoje potencialidades que lhe sãofornecidas pelo sector do turismo em expansão, devendo ser parteimportante do cluster do turismo, que constituirá o seu principalmercado e um forte contribuinte para o seu financiamento.

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Conta com um mercado que pode, inclusive, chegar a 1,5 milhões deconsumidores, nos próximos 10 anos, dos quais cerca de 1 milhãocom elevado poder de compra.Temos disponibilidades de água para irrigar entre 10 e 12.000 ha deterras de forma permanente e potencialidades de 170 a 180 milhõesde m3 de águas de superfície por mobilizar.Podemos ser auto-suficientes em legumes, tubérculos, frutas tropi-cais e produtos de pecuária industrial como carnes e ovos. Podemos exportar aguardente, doces, água engarrafada, flores e ani-mais de raça.Temos ainda condições para produzir e exportar sementes de altaqualidade e constituir bancos de germoplasma para algumas var-iedades de produtos agrícolas comercializados em larga escala nomundo como são os casos de café e da banana.A agricultura pode e deve constituir-se num sector produtivo, derendimento médio/alto e deixar de ser marginal e simples factor decoesão social e de solidariedade.Ela contribuiu, até ao recenseamento agrícola de 2004, com 11%para a formação do PIB e tem potencialidades de chegar, nos próxi-mos 10 anos, a 15-18%.Essas são convicções do MpD que resultam de uma renovada visãopara a Agricultura e que implica novas metas e uma definição clarade um rumo e de políticas capazes de desenvolvê-la e inseri-la nocontexto de produção e exportação nacionais.

O nosso compromissoAssim, o MpD assume um dos compromissos mais firmes do seu fu-turo governo:

1. Levar a qualidade e o bem-estar aos cidadãos e às famílias quevivem no campo.

2. Atingir a auto-suficiência alimentar, isto é, o balanço entre aimportação de bens alimentares e a exportação das produções dosector agrícola, tenha um saldo zero.

3. Organizar, unificar e qualificar o mercado agrícola nacional, para

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o abastecimento dos centros urbanos nacionais e dos empreendi-mentos turísticos e para a exportação.

4. Integrar a política agrícola com a protecção do meio ambiente,nomeadamente, no combate à extracção da areia do mar e naprotecção das ribeiras, na plantação de árvores e na conservaçãodo solo e da água.Para tanto, o futuro Governo do MpD apoiar-se-á num amplo e ar-ticulado conjunto de Políticas Agrícolas, verticais e horizontais,amplamente consensualizadas com os agricultores, nomeada-mente:a. Actualização da legislação vigente dando mais segurança jurídi-

ca aos agentes de produção. b. Captação e gestão dos recursos hídricos no quadro do ordena-

mento das bacias, da formação contínua nos métodos de regalocalizada e da promoção da investigação aplicada recorrendo àcooperação com países e instituições especializados no domínio.

c. Melhor gestão dos recursos fundiários e uso diversificado dossolos agrícolas e silvícolas

d. Relançar o programa de protecção vegetal, promovendo, entreoutros, a recuperação da inspecção fitossanitária nos seus ele-mentos, corpo de inspectores, prevenção nos portos e aeropor-tos, controlando a circulação vegetal, quarentenas e a coopera-ção e investigação no domínio da protecção vegetal.

e. Assistência técnica e animação rural visando a obtenção de gan-hos de eficiência reflectidos pelos agentes de produção no con-trolo de custos e na rentabilidade e competitividade das suasexplorações agrícolas e silvícolas.

f. Adopção de políticas do produto agro-pecuário, entre outras, daAguardente, do Queijo, da Doçaria, das Plantas Ornamentais ede Novos Produtos com elevado valor acrescentado, através,nomeadamente, da agricultura hidropónica e em estufas.

g. Organização de um sistema eficaz e descentralizado de créditoagro-pecuário de forma a facilitar os investimentos rentáveis,acompanhado de um sistema de seguros agrícolas.

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h. Promoção do turismo rural tendo como ponto de partida asreservas e zonas florestais já declaradas como tais, numa parce-ria público – privada.

i. Redinamização do sistema de investigação aplicada para a agri-cultura, silvicultura e pecuária, com o objectivo de normalizar econtrolar a qualidade dos factores de produção colocados aoserviço dos agricultores, investigar as técnicas avançadas emétodos de produção existentes, promovendo a sua devidaadaptação a Cabo Verde.

j. Promoção da formação profissional nas áreas da agricultura, sil-vicultura e pecuária, estimulando o empreendedorismo jovemcom a criação de incentivos e de financiamentos para a inici-ação nas actividades agro-pecuárias.

k. Promoção de infra-estruturas de apoio à produção, nomeada-mente, matadouros frigoríficos, pontos de venda grossista, pon-tos de inspecção e de fiscalização.

B2 – Relançar as pescas e promover a aquiculturaOs recursos haliêuticos são, sem margem para dúvidas, os recursosnaturais mais importantes do país. Dele vivem 96 comunidades pis-catórias espalhadas pelas ilhas, sendo mais de 65% na ilha de Santiagoe dependente principalmente da pesca artesanal. O sector apresentaoportunidades de introdução, crescimento e progresso da aquicultura,uma das vias potenciais para o aumento da produção e do fornecimen-to do pescado às populações, do crescimento das exportações e doabastecimento ao turismo. Ademais, poderá potenciar a optimizaçãoda indústria transformadora de pescado, o desenvolvimento dos por-tos de pesca, a construção e a reparação navais de embarcações depesca de pequeno porte, devendo, também, coordenar as suas acçõescom os sectores da defesa, segurança no mar, diplomacia e do ambi-ente. Em suma, o sector das pescas consagra um grande potencial quedeve ser posto ao serviço do país no quadro do cluster do mar.As pescas, particularmente a semi-industrial, foi esquecida pelo gover-no do PAICV. Não foi tomada uma única medida de política significa-

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tiva para este segmento do sector. A exportação do pescado fresco praticamente deixou de existir. Apesardo levantamento da proibição da exportação para a União Europeia,nenhuma unidade de tratamento a fresco ou congelado esteve consis-tentemente licenciada.Um exemplo paradigmático da falta de vontade política do PAICV vemde S Vicente:

- O aumento significativo da capacidade de produção da únicaunidade de conservas do Mindelo não foi acompanhado de políti-cas de apoio à captura para abastecimento desta unidade que sevê obrigada a importar matéria-prima, com evidente diminuiçãode valor acrescentado nacional nesta actividade.

- O projecto de transformação de São Vicente numa base decomércio e processamento internacional do pescado anunciadonos programas de governo do PAICV não passou de letra morta.Isso, apesar de sinais evidentes da exequibilidade deste projectoclaramente dados pela procura crescente do Porto do Mindelocomo local de desembarque e transbordo internacional do pesca-do.

- Não foram tomadas medidas tempestivas para a construção deuma estrutura frigorífica industrial em Mindelo, apesar da profun-da degradação das velhas infra-estruturas da Interbase. Só umcatastrófico incêndio veio a despertar o governo para a tomada deuma iniciativa de capital importância para o desenvolvimento dosector.

- Não se actuou no sentido da oferta de tarifas competitivas noPorto Grande e de preços de combustíveis mais competitivos.Não se cuidou da formação do pessoal marítimo qualificado quepudesse ser recrutado para serviço nos navios de pesca que vemaportando Mindelo. Essa ausência de políticas, com reflexos jáevidentes na diminuição da procura do Porto Grande pela frotainternacional, se não forem colmatadas a tempo, poderá resultarem mais uma oportunidade perdida para Cabo Verde e para SãoVicente em particular.

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Cabo Verde é um Estado arquipelágico com uma Zona EconómicaExclusiva (área marítima sob jurisdição nacional), superior a seiscen-tos mil quilómetros quadrados, mais de cem vezes superior à super-fície das ilhas que é de 4 033 Km2. O potencial haliêutico, segundoas estimativas reconhecidas pelo INDP como sustentáveis, situa-seentre 36 000 e 44 000 Tons. Este potencial tem sido deficientemente explorado, tendo, a partir doano 2000, verificado um declínio sistemático das capturas que, segun-do dados do INDP, passaram de 10 821 nesse ano para 8012 tons em2008, o que corresponde a uma diminuição de 26%.Nesse período, esse indicador, que espelha o resultado do esforço depesca de 1036 botes e de 70 navios de pesca semi industrial, manteveuma tendência decrescente (2001 – 8890 Tons., 2002 – 9052 Tons.,2003 – 8385 Tons., 2004 – 8700 Tons., 2005 – 8626 Tons., 2006 –9924 Tons., 2007 – 9075 Tons.,) decorrente de uma política de pescasdesastrosa que privilegiou o estrangulamento da iniciativa privada. Os resultados da pesca artesanal seguiram essa tendência, tendoalcançado em 2008 as 4018 Tons., contra as 6977 do ano 2000. Segundo a mesma fonte, no processo de comercialização, após odesembarque das capturas que se concentra nos principias centrosurbanos, operam aproximadamente 900 peixeiras que vendem, deforma ambulante, o pescado.Esta situação é devido aos seguintes constrangimentos:

a. Inoperacionalidade e inexistência de um sistema de financiamen-to da iniciativa privada, consentânea com a promoção de projec-tos de fomento das pescas e da comercialização de produtos doma

b. Navios de pesca inoperacionais, sendo de notar que os adquiridosno âmbito do projecto de desenvolvimento da pesca industrial epostos à disposição de uma empresa cabo-verdiana e angolana depesca estão inoperantes e amarrados no Porto Grande do Mindelo;

c. A pesca artesanal tem sido negligenciada, não tendo este subsec-tor beneficiado de qualquer incentivo ou introdução de novas tec-nologias que permitisse melhorar a sua performance;

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d. As oficinas de reparação dos motores têm dificuldades de aces-so a peças sobressalentes, tendo como resultado o deficiente fun-cionamento nas operações de captura, uma vez que sem osmotores fora de borda os botes não conseguem alcançar os ban-cos de pesca que se situam cada vez mais distantes dos pontos dedesembarque;

e. Os estaleiros de reparação e construção de navios de pequenoporte e vocacionados para servir a pesca artesanal e semi-indus-trial, nalguns casos viram-se obrigados a cessarem as suas activi-dades e, noutros casos, funcionam de forma deficiente;

f. Os portos de pesca, os pontos de desembarque nas comunidadespiscatórias e o cais de pesca da Cova de Inglesa e da Praia não sat-isfazem as exigências mínimas requeridas para o processo decomercialização de pescado e das normas sanitárias;

g. O Cais de Pesca da Cova de Inglesa foi recentemente encerradopara obras porque o seu estado de degradação levou as autori-dades nacionais a nele interditar o desembarque e processamen-to de pescado, por deixar de cumprir com os requisitos mínimosde salubridade e higiene;

h. No cais de pesca da Praia reina uma grande bagunça, sendocaótico o processo de desembarque e de comercialização, verifi-cando-se um desleixo propositado no que concerne ao processa-mento do pescado, havendo problemas da sanidade da água paraa lavagem do pescado, equipamentos para a recolha, transporte eexposição do pescado e indisciplina geral na compra, venda eprocessamento do pescado;

i. O entreposto frigorífico da Praia esteve encerrado aos operadoresdo sector, estando inoperacional neste momento;

j. As câmaras frigoríficas da Cova de Inglesa estão, também fora deserviço devido a falta da manutenção programada;

k. Os armazéns frigoríficos da Interbase, com uma capacidade demanter congelado acima dos 20º negativos, mais de dois miltoneladas de produto no Porto Grande do Mindelo, que servia apesca nacional e estrangeira, foram destruídos pelo fogo há mais

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de dois anos e a promessa da construção de novos armazém em2009, continuam por “ver a luz no fundo do túnel”;

l. Desconhecimento geral das actividades do INDP em prol do con-hecimento da exploração dos stocks de peixe e sua intervençãonas comunidades piscatórias;

m. O Fundo do Desenvolvimento das Pescas, transformado eminstituição especial de crédito pelo DL n.º 25/2009, continua a serdesconhecido dos operadores, não se sentindo os benefícios quepoderia e deveria trazer na definição e implementação dos projec-tos dos empreendedores nacionais.

A visão do MpDO MpD promoverá as pescas e as exportações do sector no quadroda promoção geral das exportações, visando o emprego e a melho-ria do equilíbrio na nossa balança comercial, bem como, responderaos desafios de crescimento do turismo e de substituir as impor-tações e o aumento da competitividade das empresas cabo-ver-dianas. Neste sentido, serão adoptadas e implementadas políticasque garantam a rápida operacionalização e uma eficiente gestãodas infra-estruturas de congelação, conservação e processamentodo pescado. O MpD implementará políticas que facilitem a modernização e ade-quação da frota nacional industrial e semi-industrial, de modo a queos armadores nacionais possam responder com vantagens aoaumento da procura nacional e internacional de produtos do marque certamente resultará do funcionamento das novas infra-estru-turas de congelação e da implantação previsível de novas unidadesde transformação e do crescimento do turismo.Com efeito, o cenário descrito reclama uma mudança de fundo naspolíticas para o sector das pescas de forma a relançar o seu desen-volvimento e encontrar os eixos e mecanismos geradores de umanova confiança dos pescadores, peixeiras, empresários e operadoresque, de uma forma geral, têm a ver com o sector das pescas e aaquicultura.

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Neste sentido, propõe-se uma política que, ciente do potencial dosector e propugnando pela sua sustentabilidade, promova a realiza-ção de investimentos que o projectem para o futuro. A nossa ambição é a realização de investimentos adequados e apro-priados de forma a envolver todos os actores (pescadores, peixeiras,armadores, empresários, pessoal técnico e demais empreendedores)na materialização de projectos que aproveitem as oportunidades dosector das pescas e da aquicultura resultantes de uma nova abor-dagem estratégica e que privilegia o fomento da iniciativa privadacomo trave mestra do seu desenvolvimento.Nesta perspectiva, o MpD defende as seguintes linhas estratégicaspara as pescas:

1. Assegurar o conhecimento e a exploração sustentável dos recur-sos vivos do mar;

2. Promover o investimento no sector das pescas e aquiculturacomo importante elemento do aparelho produtivo e de expor-tação no quadro da promoção geral das exportações, visando amelhoria de equilíbrio na nossa balança comercial;

3. Modernizar e valorizar os processos e circuitos de comercializa-ção dos produtos da pesca e aquicultura, integrando o sector noscluster do mar e do turismo;

4. Definir a plataforma continental para além dos 200 milhas econsolidar a fiscalização e vigilância da Zona Económica Exclusiva.

O nosso compromissoa. Assegurar o conhecimento e a exploração sustentável dos recursospesqueirosA avaliação e protecção dos stocks de peixe serão baseadas numa gestãointegrada e suportadas por um sistema de apoio às decisões que assegu-rará uma gestão das pescarias fundamentada em dados científicos fiáveis. Assim, será estimulada a investigação & desenvolvimento na área daspescas e aquicultura dentro de um sistema de recolha e tratamento dedados atinentes à gestão integrada das pescas. Nesse âmbito, serão le-vadas a cabo as seguintes acções:

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- Definição dos parâmetros de uma gestão integrada das pescas eaquicultura que tenham como pano de fundo o princípio da precau-ção e do desenvolvimento sustentável;

- Identificação e avaliação dos níveis de colaboração, coordenação eintegração com outros sectores, nomeadamente, o turismo, o orde-namento do território e o mar, objectivando o enquadramento dasdecisões de investimento;

- Criação e aperfeiçoamento dos mecanismos de articulação efectivaentre a administração das pescas e os demais intervenientes (Fundodo Desenvolvimento das Pescas, Empresas e Empreendedores,Instituto Nacional do Desenvolvimento das Pescas, Guarda Costeira,IPIMAR e Instituto Marítimo e Portuário.) no âmbito do estudo,planeamento e implementação de decisões sobre a gestão integradadas pescas e aquicultura;

- Fomento de um sistema de formação de investigadores, operadores,pescadores e peixeiras e demais intervenientes no sector, que repro-duza as necessidades decorrentes da sua gestão integrada;

- Instalação de um sistema nacional de informações de pesca e aqui-cultura que propicie o acesso a uma base de dados do sector ligadaem rede.

b. Promover as pescas e a aquicultura como importante elementodo aparelho produtivo a desenvolver na economia do País O sector deverá contribuir para o rápido crescimento do tecido pro-dutivo e das exportações do País, gerando empregos duradoiros.Através de i. Uma frota de pesca devidamente apetrechada do pontode vista tecnológico, humano e sanitário, ii. Produção de um pescadode qualidade acrescida, iii. Portos de pesca adequados, com serviçosde qualidade, fornecimento de gelo e armazenagem, iv. Soluções deaquicultura e v. Diplomacia económica, o objectivo é, para além dasegurança alimentar, a conquista de nichos de mercado de alta gamaque inclua a exportação directa e uma indústria transformadoracompetitiva nos mercados internacionais, apostando – se na:

- Reorganização do Fundo do Desenvolvimento das Pescas, colo-

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cando – o ao serviço dos empreendedores do sector de modo aincentivar a materialização de projectos que valorizem os recur-sos das pescas e da aquicultura;

- Dinamização da iniciativa privada, numa acção coordenadaincentivadora de investimentos produtivos com o apoio doFundo do Desenvolvimento das Pescas;

- Promoção de joint ventures entre os empresários nacionais eempreendedores estrangeiros, numa cooperação empresarialvantajosa para a classe e para o País;

- Redinamização da indústria de reparação naval e da construçãode navios de pesca artesanal e semi-industrial;

- Rápida operacionalização e uma eficiente gestão das infra-estru-turas de congelação, conservação e processamento do pescadoem S Vicente de modo a transformar a ilha num centro interna-cional do comércio do pescado.

- Melhoria no sistema de manutenção e reparação de equipamen-tos de pesca, com realce para o apoio às comunidades pisca-tórias.

- Modernização e adequação da frota nacional industrial e semi-industrial, de modo a que os armadores nacionais possamresponder com vantagens ao aumento de procura nacional einternacional de produtos do mar que certamente resultará dofuncionamento das novas infra-estruturas de congelação, trans-formação e processamento, da implantação previsível de novasunidades de transformação e do crescimento do turismo.

- Promoção da aquicultura através do ordenamento do litoral quereserve áreas para esta actividade, da desburocratização e dasimplificação dos licenciamentos a empresas nacionais, daatracção de novos investimentos e da incorporação da inovaçãocientífica e tecnológica nos sistemas de produção.

- Identificação, clarificação e fomento da ligação entre a indústriado turismo e as pescas, promovendo novos produtos turísticoscomplementares ao sol & praia.

- Identificação, clarificação e fomento da integração de toda a

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cadeia das pescas no cluster do mar, elevando o sector à con-dição de elemento fundamental dos Centros do Mar.

c. Promoção das exportações do sector no quadro da promoçãogeral das exportações visando a melhoria do equilíbrio da nossabalança comercialTrata-se de uma aposta forte, visando responder aos desafios decrescimento do turismo e de substituir as importações e o aumentoda competitividade das empresas cabo-verdianas, de modo a queelas possam responder aos desafios colocados pelo incremento daprocura de bens e serviços provocado pelo crescimento do turismo, ecompetir no mercado internacional. Neste sentido as políticas ante-riormente anunciadas devem garantir uma rápida operacionalizaçãoe eficiente gestão das infra-estruturas de congelação, conservação eprocessamento do pescado, bem como a modernização e adequaçãoda frota nacional industrial e semi-industrial, de modo a que osarmadores nacionais possam responder com vantagens ao aumentode procura nacional e internacional de produtos do mar que certa-mente resultará do funcionamento das novas infra-estruturas, denovas unidades de transformação e do crescimento do turismo.

d. Modernizar e valorizar os processos e circuitos de comercializa-ção dos produtos da pesca e aquicultura,

- Melhorando o processo de comercialização de produtos do mar,empenhando-se na modernização dos pontos de desembarque, naformação adequada dos intervenientes na compra e venda de pesca-do e no surgimento e auscultação de organizações de profissionais,

- Investindo na conservação do pescado com i. Operacionalizaçãodos entrepostos frigoríficos, dotando-os não só de instalaçõesadequadas, mas também de uma gestão empresarial, qualifican-do – os para a venda a grosso e a retalho ii. Reconstrução imedi-ata dos armazéns frigoríficos do Porto Grande do Mindelo e iii.Incentivo de uma capacidade de manutenção e reparação deequipamentos de frio, nomeadamente, de máquinas de gelo.

- Dinamizando o mercado do pescado com o i. Aperfeiçoamento

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dos circuitos de transportes de pescado com vista ao seu escoa-mento para os mercados de maior valor, nomeadamente, turísti-co ii. Apoio à exportação com a promoção de marcas nacionais eapoio na participação em feiras internacionais e iii. Colocação dadiplomacia económica ao serviço da projecção dos produtos dapesca no mercado internacional.

e. Definir a plataforma continental para além das 200 milhas econsolidar a fiscalização e vigilância da Zona Económica Exclusiva A definição da Plataforma Continental para além das 200 milhas, nostermos da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, vaiestender a nossa zona de exploração de recursos do solo e subsolomarinhos. Por esse impacto, será imediatamente redinamizada a comissão dotraçado da plataforma continental e dotada dos meios técnicos,financeiros e humanos reclamados para o seu funcionamento.

B3 - Indústrias ligeiras, uma aposta a vencerNa década de 90, a economia cabo-verdiana avançou graças, entreoutros, a uma nova dinâmica do desenvolvimento do sector privado,ao aumento do investimento externo directo e ao aumento e alter-ação da estrutura das exportações de bens com peso significativo naexportação de produtos da indústria ligeira. Esse aumento das exportações de bens aconteceu graças ao desenvolvi-mento da actividade industrial, com a realização de vultuosos investi-mentos privados, particularmente no domínio de indústrias francas e deprodução de calçado e confecções, voltadas para a exportação. O que foi conseguido graças às políticas de promoção e atracção ade-quadas de investimentos orientados para a exportação de bensindustriais, e investimentos significativos realizados na infra-estrutu-ração de parques industriais para a instalação das empresas. O Governo do PAICV não aproveitou essa dinâmica, não foi capaz detomar medidas competentes para ajudar essas empresas a ultrapas-sar as dificuldades próprias de Cabo Verde, como sejam os defi-

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cientes transportes marítimos e aéreos, a baixa formação profission-al, o deficiente fornecimento de energia eléctrica às empresas, e odifícil relacionamento da Administração Pública com a iniciativa pri-vada, bem como as contingências da conjuntura internacional e, emvez disso, abandonou-as, deixando-as fechar as portas e mandar cen-tenas de pessoas, jovens e chefes de famílias, para casa. O Governo do PAICV mostrou ao longo destes dez anos o quanto éinsensível às questões das empresas industriais. A política industrialque o Governo do MpD pôs de pé na década de 90 foi substituídapor…nada.De 1994 a 2000, os serviços competentes aprovaram a instalação emCabo Verde de 63 empresas industriais, que representavam uminvestimento total superior a 87 milhões de dólares e que criavammais de 7100 postos de trabalho. Infelizmente, a maior parte desa-pareceu ou, nem sequer viu a luz do dia, porque no «amor à terra»não cabia a indústria.S. Vicente é disso um exemplo. Nesta ilha, em virtude da tradiçãoindustrial do Mindelo e das condições criadas na década de 90, espe-cialmente com o Parque Industrial do Lazareto, uma boa parte dasnovas empresas industriais, nomeadamente decorrentes do investi-mento directo externo, localizou-se em S. Vicente.Nestes dois mandatos do Governo do PAICV, cerca de 50 empresasindustriais encerraram em S. Vicente. Empresas industriais que repre-sentavam centenas de postos de trabalho, criação de riquezanacional e receitas para o Estado e para a Câmara Municipal de S.Vicente e que o Governo recebeu da década de 90 e que não soubeou não quis cuidar.Traz-se à memória dos cabo-verdianos algumas dessas empresas:

Calçados do Mindelo, LdaCabo Verde Divers, LdaCape Verde Clothing CampanyONAVEConfecções Porto Grande, LdaGrowela de Cabo Verde

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Metalcave, LdaMovec, LdaTrafo Electrónico, Lda

Estas empresas fazem parte de muitas que o Governo do MpD deixouao Governo do PAICV. Grande parte com origem no investimentodirecto estrangeiro e muitas de investidores nacionais, que souberamaproveitar as oportunidades que lhes surgiram.Que desapareceram, em grande medida, porque o Governo do PAICVnão se empenhou em resolver os problemas de energia, de formaçãoprofissional, e de transporte marítimo e aéreo fundamentais para asua laboração, e porque parte da nossa Administração Pública as tra-tou sempre com desconfiança e com duas pedras nas mãos.Aliás, há cerca de dois meses, o país assistiu, espantado, a mais umexemplo de como é que este Governo aborda a questão das empre-sas e do emprego: foi anunciado que a Frescomar iria despedir cente-nas de trabalhadores, porque a fábrica não estava a conseguir atumsuficiente para a sua laboração plena.Mas, e o atum que existe em abundância nos nosso mares? É simples,o Governo nunca respondeu aos pedidos dos armadores cabo-ver-dianos para um financiamento de algumas dezenas de milhares decontos, que lhes iria permitir apetrechar os barcos para acompanhara migração entre as ilhas do Gaiado e assim fornecer as quantidadesde peixe que a fábrica necessita.O Governo, o que fez de então a esta parte? Simples. Enviou deurgência uma delegação técnica a Bruxelas para convencer a UniãoEuropeia a autorizar a Frescomar a produzir com uma quantidademaior de atum importado. E as empresas nacionais de pesca? Logose vê! Que é como quem diz, que desapareçam.Nos últimos dias, temos ouvido o Governo a dizer, angelicamente,que vai adoptar as medidas que se impõem para que Cabo Verde tirepartido da AGOA.Como se sabe, a AGOA é um programa promovido pelos EstadosUnidos da América, que dá facilidade de acesso ao mercado norte-americano, aos produtos de empresas de países africanos. Nestes

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últimos dez anos, diversos países africanos criaram milhares de pos-tos de trabalho, aproveitando as facilidades da AGOA. Cabo Verde,entretanto, neste particular conseguiu ZERO! Podíamos acrescentar mais e mais exemplos deste tipo, onde ressaltasempre a mesma postura de indiferença, desconfiança e incompetên-cia do governo no que toca a lidar com as empresas privadas e oemprego, ou seja, com a questão do crescimento económico e dodesemprego.O crescimento económico e o emprego são duas das maiores obri-gações de um Governo. No curto, no médio e no longo prazo. Porquesão as bases do rendimento da maior parte das pessoas e dasfamílias. Porque sem eles não existe criação de riqueza nos países ebem-estar para as famílias e os cidadãos.Vivemos pela negativa essas duas verdades insofismáveis: os erros eomissões do actual Governo nestes domínios levaram o desempregopara níveis a que Cabo Verde já se tinha desabituado e empurraramo crescimento económico para os valores mais baixos dos últimosvinte anos.Em resultado, o desemprego chegou aos 21 por cento, com a juven-tude a ser fortemente castigada.Vivemos tempos difíceis e difíceis de entender.

INDÚSTRIA LIGEIRA, UMA APOSTA A VENCERA indústria ligeira é um dos sectores de actividade económica que oGoverno do MpD irá, de novo, reactivar em Cabo Verde.Para isso, irá promover a criação de dois Parques Tecnológicos deIndústria Ligeira, um na cidade da Praia e outro em S. Vicente.Estes parques serão criados em estreita articulação com as associ-ações empresariais, as Universidades e o Poder Local e Regional evisarão:

a. Dadas as alterações substanciais que ocorreram nos últimos dezanos no mercado mundial, proceder à análise do mercado inter-nacional e definir com precisão o lugar que Cabo Verde poderá vira ocupar no sector das indústrias ligeiras exportadoras.

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b. Negociar, em articulação com a Cabo Verde Investimentos e oPoder Local, a instalação de um conjunto de facilidades de ordemtecnológica que facilitem a atracção e instalação de empresas dosector que possam qualificar, pela excelência, os ParquesTecnológicas.

c. Promover a realização das infra-estruturas necessárias à insta-lação das empresas interessadas.

d. Garantir o abastecimento em inputs fundamentais, tais comoágua, energia e telecomunicações.

e. Promover a criação de ligações marítimas e aéreas fundamentaispara o bom funcionamento das empresas.

f. Promover, com as mais distintas instituições, a adequada for-mação e qualificação profissionais, para que, crescentemente, oconhecimento seja factor de melhoria da competitividade do sec-tor.

g. Promover o bom relacionamento das empresas sediadas nosParques com a Administração Pública.

h. Promover o máximo aproveitamento de programas interna-cionais existentes em intenção de países como Cabo Verde, taiscomo a norte-americana AGOA.

A primeira acção dos Parques Tecnológicos da Indústria Ligeira serácontactar as empresas do sector que ainda laboram e com elas defi-nir um plano de emergência e de desenvolvimento do negócio. Damesma forma serão contactados os investidores que encerraram ounão iniciaram as actividades, com o objectivo da retoma da iniciativa.

B4 – Construir a constelação do TurismoA força do potencial turístico, com a beleza das suas praias, sol du-rante todo o ano e uma diversidade histórico-cultural e de natureza,sem contar com o facto de ser um destino com localização privilegia-da em relação aos principais mercados emissores mundiais, fazem deCabo Verde um País de vocação turística por excelência. A oferta turística tem vindo a crescer de uma forma contínua aolongo dos anos. Contudo, ela peca pela sua pouco diversidade face ao

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enorme potencial do turismo cabo-verdiano, bem como pela frágilcompetitividade dos seus produtos, quer sob o ponto de vista de qua-lidade, como do preço. O turismo tem sido o sector com maior dinâmica de crescimento,graças ao ritmo crescente de investimentos na oferta turística. De1991 a 2000, o ritmo de crescimento médio anual de turistas que vis-itaram Cabo Verde foi de mais de 25%, passando de 19.000 turistasem 1991 para 145.000 em 2000. De 2001 para 2009, o ritmo decrescimento médio anual foi de 9,5%, passando de 162.095 turistasem 2001 para 330.319 em 2009. Durante o período de 2005 a 2007, verificou-se um forte aquecimen-to no sector do turismo, alavancado por grandes investimentos nosector hoteleiro, mas também pela imobiliária turística, sobretudo apartir de 2006, com uma forte procura de investidores externos dospaíses nórdicos, particularmente do Reino Unido. A descoberta e ointeresse cada vez maior do mercado do Reino Unido em visitar CaboVerde, gerou uma nova configuração na estrutura da procura turísti-ca, com a tendência para uma liderança de turistas do Reino Unido,seguido de Alemanha, Portugal e Itália. A crise financeira que abalou a economia mundial acabou, contudo,por ter um efeito negativo no turismo, que começou a dar os seusprimeiro sinais de desaceleração em 2008 e 2009, quer em termos deinvestimento, quer da procura turística. A imobiliária turística, que seencontrava em pleno processo de crescimento foi totalmente aban-donada pelas políticas públicas de estímulo à economia, condiciona-do grandemente a sua recuperação e contribuição para o desenvolvi-mento do turismo. Grave, muito grave, é que o governo do PAICV, não teve nem von-tade política, nem competência para atacar e minimizar os efeitos dacrise e projectar o sector, com medidas estruturantes, para a pós-crise. Apesar do dinamismo que o sector de turismo tem tido no cresci-mento da economia cabo- verdiana, a sua vocação precisa ser explo-rada de uma forma mais focalizada, inteligente e criativa, sob o risco

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de perder competitividade. Hoje, mais do que nunca, e face à retoma ainda lenta do crescimen-to económico dos países mais ricos, é preciso estimular a criatividadee diversidade de oferta turística cabo-verdiana, adequando à novaconfiguração da demanda dos mercados emissores, quer em termosde qualidade e do factor preço, incentivando e privilegiando a com-petitividade da oferta. É inegável que o turismo é hoje um dos eixos fundamentais para odesenvolvimento da nossa economia e isso decorre da potenciali-dade multifacetada de produtos que pode oferecer. Todavia, apesar do muito que já se fez nesse domínio, os resultadosalcançados estão ainda longe de serem satisfatórios na medida emque não correspondem a um percentual do PIB consentâneo com opotencial existente. Mas o nível ainda baixo desse percentual desdelogo chama a atenção para um aspecto que é determinante para odesenvolvimento do nosso turismo, que é a baixa capacidade com-petitiva nesse domínio. Internamente, resume-se então toda a pro-blemática desse sector na fraca capacidade competitiva e resolvê-laé solucionar os problemas que se põem desde o topo no domínio dasinstituições até à base ao nível dos cidadãos. Há bloqueios que exigem uma atitude ousada para o estabelecimen-to de um objectivo concreto de percentual do PIB. É com atitudesousadas que se pode ir à essência dos problemas crónicos que exis-tem e daí resolver, de uma forma sustentada, a problemática da com-petitividade. E resolvê-la terá que começar pelo topo ao nível dasinstituições. Não é possível, por exemplo, que um sector de que seespera tanto não tenha ainda um ministério que se ocupe única eexclusivamente com as grandes questões que daí decorrem. Tambémnão é possível que estejamos ainda a discutir qual o turismo quequeremos sem ao menos termos identificado, com razoávelexaustão, o leque de especificidades que podem ser produtos a ofer-ecer, porque afinal vamos aos mercados emissores no estrangeiropara oferecer o quê? Nem tão pouco é admissível que não tenhamosainda uma definição clara do que é um grande operador, estrangeiro

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ou nacional, ou operador médio ou pequeno para que também sepossa definir medidas correctas incidindo e estimulando as suasactividades.Enfim o nosso turismo deve servir que objectivos? Antes de mais,como objectivo maior, deve servir o cidadão porque estimulando odesenvolvimento da economia e do País é o cidadão que vai benefi-ciar directa ou indirectamente. Contudo é necessário fazer com queo cidadão participe de algum modo no processo para que se sintacomo um agente e beneficiário do sistema. Os grandes problemas estão relacionados com a baixa competitivi-dade e podem identificar-se nos seguintes níveis:

a. Organização institucionalb. Segurançac. Água e energiad. Organização e identificação da ofertae. Prática de um turismo sustentadof. Infra-estruturas

1. Na organização institucional os problemas têm a ver com:- Inexistência de estruturas adequadas ao nível de topo (Ministério)

e de estruturas intermédias a nível nacional e local.- Carências a nível da formação profissional- Carências a nível da regulação- Carências a nível da legislação- Carências a nível de instrumentos de promoção dentro e fora do

País

2. Na segurança os problemas põem-se:- Com assaltos violentos a turistas- Com violação de mulheres nos roteiros turísticos- Com o assédio sexual nos hotéis, nas praias e noutros lugares- Com práticas de pedofilia nas praias- Com deficiente iluminação pública- Com furtos

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- Com o assédio incómodo dos vendedores ambulantes nas praiase outros lugares

3. Água, não só excessivamente cara, mas também, com falhas defornecimento, para um serviço que se quer competitivo.

4. Electricidade oferecida a custo elevado e servida com longasinterrupções, o que não é compatível com a boa competitividade.

5. Há carências na definição e organização de produtos a oferecercomo:

- Espaços de lazer para as várias faixas etárias- Casas de música e de dança- Feiras para a promoção de produtos de arte e outros- Festivais gastronómicos- Intercâmbios culturais e científicos

6. Para um turismo sustentado, as maiores carências põem-se aonível de:

- Apoio dos operadores nacionais- Integração de economias e serviços transversais - Qualidade ambiental- Saúde e saneamento- Educação- Formação profissional formal e em exercício

7. Nas infra-estruturas são maiores carências:- Ligações aéreas pouco competitivas- Péssimas ligações marítimas inter-ilhas- Péssimas condições de embarque e desembarque sobretudo nos

portos- Inexistência de condições sanitárias e outras ao longo dos roteiros

turísticos

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A visão do MpDA iniciativa privada deve ser acarinhada e estimulada de uma formacriteriosa em toda a sua dimensão. O empreendedorismo é uma acçãonobre, corajosa, de um valor incomensurável, na medida em que oempreendedor coloca a sua energia, criatividade, mas sobretudo,determinação em investir, assumindo riscos numa actividadeeconómica que gera emprego, rendimento e riqueza.Neste contexto, cabe ao Estado criar as condições para que os investi-mentos possam ter um ambiente favorável de sucesso, reduzindo cus-tos de contexto e estimulando o crescimento. Assim, cabe ao Estado criar pacotes de estímulo à economia consub-stanciada numa combinação de medidas que passam pela regulaçãode áreas que concorram para credibilizar o ambiente geral de investi-mento, neste caso, no turismo, melhoria das infra-estruturas, atençãoao ambiente, saneamento e qualificação urbana, capacitação técnica eprofissional, promoção de linhas de crédito diferenciadas e por incen-tivos em termos de redução criteriosa e diferenciada de impostosmunicipais e nacionais. A vocação turística global de Cabo Verde exige uma aposta mais ousa-da em termos de políticas de desenvolvimento do turismo como inte-grador de sectores a potenciar.Pelo turismo é possível estimular e potenciar a expansão do exíguomercado de consumo de Cabo Verde, condição essencial para a vital-ização da economia e do mercado no seu todo.A grande aposta da economia cabo-verdiana está no turismo. O únicosector capaz de dar sustentabilidade à economia cabo-verdiana comoexportador líquido de serviços.As infra-estruturas (estradas, energia, transporte, telecomunicação,água e saneamento, urbanismo) necessárias para o desenvolvimentoeconómico e social de Cabo Verde devem ser projectadas, tendo oturismo com o principal factor da sua sustentabilidade económica.A indústria da cultura, a gastronomia, a indústria de entretenimento, avalorização do património histórico e cultural, a diversidade das pais-agens naturais de Cabo Verde devem ser potenciadas, tendo o turismo

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com o seu principal alicerce de sustentabilidade.O comércio deve ser estimulado a se reestruturar, de modo a respon-der à demanda do sector turístico. O Turismo poderá ser a principal fonte de geração de emprego e derendimentos à população, em decorrência das enormes oportunidadesque ele ofereceTodas as acções devem visar resultados tendentes a consolidar e a ele-var o sector do turismo como eixo determinante do desenvolvimentoeconómico, cultural e social de Cabo Verde. No mundo globalizado de hoje, isso só é possível se medidas corajosasforem implementadas para fazer da posição geoestratégica de CaboVerde uma vantagem na competição dos mercados globais. Sendoassim, impõe-se intervir com objectivos que visem:

1. Valorizar mais a vocação e o potencial turístico cabo-verdiano,através da melhoria qualitativa e diversificação da oferta turísti-ca;

2. Estimular o cluster do turismo, de modo a transformar o turismona alavanca do crescimento económico de Cabo Verde e num dosprincipais suportes da sustentabilidade económica dos programasde infra-estruturação, urbanização, saneamento e saúde pública,formação técnica e profissional e de inclusão social.

3. Reforçar, em articulação com a trading turística, a promoção dodestino turístico Cabo Verde junto dos principais mercados emis-sores (incluindo o mercado interno), visando incrementar de umaforma sistemática o crescimento do fluxo de turistas a nível inter-nacional e doméstico. Actuar activamente nos mercados emis-sores do turismo

Mais concretamente:1. Baixar os custos dos pacotes turísticos para níveis competitivos,

o que implica: a. Baixar os tarifários nas ligações aéreas com o exterior,b. Moderar os custos com as viagens domésticas multimodais, c. Moderar os custos com energia e água,d. Moderar taxas lá onde for possível,

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e. Moderar tarifários na hotelaria como consequência do au-mento da procura.

2. Promover ganhos no turismo auto-sustentado, o que implica arealização da tripla parceria Estado/Autarquias/Cidadão demodo a promover a acção integradora do turismo, enquantomotor do desenvolvimento das economias regionais e locais.

3. A intervenção do Estado através de apoios, quer através de fun-dos especiais, quer através do mecenato, para garantir ganhosde competitividade.

O nosso compromissoA vocação turística de Cabo Verde, a diversidade do seu potencialturístico e a sua localização privilegiada junto dos principais mercadosemissores do turismo, são factores que inteligentemente combinadosno âmbito de uma estratégia de desenvolvimento de cluster, podemcontribuir para aumentar a competitividade da oferta turística cabo-verdiana, dando o suporte necessário para se adaptar e enfrentar coma rapidez necessária aos grandes desafios que os mercados emissoresdo turismo impõem em decorrência da lenta recuperação da econo-mia mundial.O desenvolvimento do turismo cabo-verdiano deverá ser baseadonuma abordagem estratégica de cluster do turismo. Os pacotes deestímulo ao turismo deverão ter como objectivo principal incentivarcadeias produtivas do turismo, enfatizando investimentos queaproveitem as oportunidades geradas pelas sinergias decorrentes deactividades no sector do turismo, a montante, a jusante e colateral.Em tempos de mudanças contínuas e de grandes incertezas frente aosdesafios decorrentes da globalização, a sociedade cada vez mais pre-cisa de mecanismos para superar problemas e limitações. As estraté-gias se apresentam como suporte fundamental para a mudança. Oturismo mundial se caracteriza por possuir imensa capacidade deadaptação e de segmentação de mercados, com base nas dinâmicas deestruturação de novos produtos e também em novos mercados con-sumidores.

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As sinergias do sector do turismo são de tal forma abrangentes einterligadas, que acabam por gerar necessidades de natureza económi-ca (infra-estruturas económicas), social (luta contra a miséria, sanea-mento, urbanização) e política (parceria público - privada, pacotes deincentivos), imprescindíveis para a melhoria da competitividade doturismo. A expectativa do consumidor e seu grau de satisfação dependem doselementos que influirão em sua percepção final da qualidade do clus-ter. Esses elementos compreendem: aeroporto, traslado, estética doentorno, equipamentos receptivos, gastronomia, hospitalidade dacomunidade receptora, informação e sinalização dos atractivos, cen-tros comerciais, serviços de assistência em geral aliados ao motivadoressencial, a competitividade dos preços.Essas são as bases do MpD para a construção do cluster do turismocabo-verdiano.

ADOPTAR NOVAS POLÍTICAS INSTITUCIONAIS A importância vital do turismo na economia cabo-verdiana, bem comoo imperativo de assegurar uma exploração sustentável do seu poten-cial, sem comprometer o seu futuro, exige a adopção de um modeloinstitucional e de regulamentação mais atento e sintonizado com adinâmica do sector.A relação de integração vertical, horizontal, intersectorial e interdisci-plinar do turismo não deixa outra alternativa ao poder público senãodefinir políticas públicas de incentivo e regulação da actividade turísti-ca no seu todo.A dispersão territorial de Cabo Verde, com ilhas de vocação turísticadiferenciada e níveis de desenvolvimento discrepantes, sugerem umaestrutura capaz de gerir o sector do turismo de uma forma abrangentee integrada, articulada com os agentes económicos e que promova adescentralização integrada a nível das ilhas e municípios.Existe, hoje, uma certa desorientação e confusão na forma institu-cional de promover e gerir o turismo em Cabo Verde.

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1. O modelo institucional para o desenvolvimento e gestão doturismo vai levar em conta as seguintes premissas:

a. Planeamento Estratégico - estímulos, parcerias público - pri-vadas, regulamentação (segurança turística, política de solos paradesenvolvimento do turismo, classificação de instâncias turísticas,impacte ambiental no turismo), proposição, execução e avaliaçãode planos, programas e projectos turísticos;

b. Promoção Turística — divulgação do destino turístico junto dosmercados emissores;

c. Infra-estruturação e valorização dos recursos humanos no turis-mo - infra-estruturas básicas (energia, água, saneamento e tele-comunicações, urbanização, e acessibilidades (estrada, portos eaeroportos), educação para o turismo (formação técnica, profis-sional e superior, bem como a introdução de noções de turismona disciplina de economia, a partir do ensino básico);

d. Fomento — incentivos e atracção de investimentos nacionais eestrangeiros;

e. Conscientização turística - programas educativos de sensibiliza-ção da sociedade cabo-verdiana relativamente ao turismo;

f. Acompanhamento e regulação — regulação do mercado turísti-co, qualidade do produto turístico e sustentabilidade do meioambiente.

Partindo dessas premissas, o MpD garante um modelo institucionalpara o turismo que tenha em conta a:

- Criação do Ministério do Turismo, visando formular, elaborar,avaliar e monitorar a Política Nacional do Turismo, em plena sin-tonia com a trading turística, bem como articular as relaçõesinstitucionais multissectoriais e internacionais necessárias para acondução dessa Política;

- Reformulação da instituição responsável pela atracção do inves-timento no sector do turismo e promoção do destino e imagemturística de Cabo Verde nos mercados emissores.

- Promoção e funcionamento efectivo do Conselho Nacional doTurismo.

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- Descentralização institucional integrada do turismo com o objec-tivo de, em parceria com órgãos e poderes públicos locais, descen-tralizar a promoção do desenvolvimento e gestão do turismo

Nesse quadro, o MpD indica, desde já, algumas medidas de muitocurto prazo:

a. Articulação entre a tutela do turismo, as estruturas desconcen-tradas a criar e as estruturas autárquicas, visando medidasurgentes na área do saneamento, requalificação urbana, segu-rança e protecção social.

b. Revisão dos instrumentos legislativos para torná-los adequados,não só a uma maior competitividade do sector, mas também àtranquilidade e segurança do turista.

c. Criação de órgãos de regulação para a defesa da qualidade dosprodutos e para combater práticas lesivas do sector formal querna área da hotelaria, quer nos transportes.

d. Dotação do sector da figura de provedor.e. Incremento da capacitação profissional de forma bem articulada

com as especificidades do mercado e com as empresas da área eapoiar a formação em exercício.

f. Reforço das estruturas para a promoção do turismo dentro e forado País.

g. Articulação e capacitação das autarquias na implementação deestruturas básicas das localidades e roteiros turísticos.

2. Na segurança, impõe garantir ao turista:a. Estruturas devidamente formalizadas e articuladas com os

Serviços Nacionais de Segurança devendo para isso existir instru-mentos fáceis de comunicação e resposta rápida entre ambas.

b. Intervir de modo a evitar assédios de qualquer tipo ao turista.c. Articular com as instituições de menores medidas de protecção

contra abusos a menores. d. Criar junto das famílias ou instituições condições para evitar a

situação degradante de crianças ou de adultos de mãos estendi-das a pedir esmola junto dos turistas.

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e. Criar condições para que grupos de turistas se façam acompa-nhar por guias idóneos.

f. Providenciar no sentido de garantir iluminação pública e outroselemento de segurança e comodidade nos roteiros turísticos.

DIVERSIFICAR O TURISMO EM TERMOS DE SEGMENTOS ESTRATÉ-GICOSUma atenção particular vai ser dada ao turismo, criando pacotesespecíficos e diferenciados pela importância de cada produto, tendocomo critério fundamental a sua capacidade de atraccão do investi-mento, resposta aos mercados emissores e contribuição em termos devalor acrescentado. Esses pacotes vão incidir, de uma forma diferenciada, sobre os princi-pais produtos de vocação turística cabo-verdiana, atendendo avocação de cada ilha e região e procurando, em plena sintonia com ademanda dos mercados emissores, influenciar e estimular o desen-volvimento de um turismo de charme, qualidade e de alto valor acres-centado, promovendo, prioritariamente, os seguintes segmentos:

Sol e PraiaTrata-se do produto turístico mais procurado mundialmente. Tem sidoa principal alavanca do desenvolvimento do turismo mundial, gerandonovas oportunidades e estimulando o surgimento de outros segmen-tos diferenciados da oferta turística.

Imobiliária Turística e de LazerÉ um segmento do sector do turismo que muito se desenvolveu a nívelmundial, motivado por grandes investidores que decidiram apostar nacaptação de excesso de poupanças a nível mundial, oferecendo àclasse média dos principais mercados emissores do turismo oportu-nidades e alternativas para a aplicação das suas poupanças naaquisição de imóveis enquadrados em resorts ou áreas devidamenteurbanizadas e com atractivos turísticos (aldeamentos, moradia,apartamentos turísticos), que podem ser usados temporariamente,

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como segunda residência, com possibilidade de serem explorados ounão num pool hoteleiro. Com efeito, a importância da imobiliária turística, no desenvolvimen-to específico do turismo e da economia no seu todo, exige uma políti-ca mais atenta e comprometedora com a importância desse sector,cabendo ao Estado definir o sistema regulatório, encorajar e estimularo empreendedorismo, particularmente junto da iniciativa privadanacional.

Diversificação e Produtos Turísticos de CharmeA aposta vai ser na criação de pacotes de estímulo a investimentos queprivilegiam uma oferta turística complementar e diferenciada, susten-tada no aproveitamento da diversidade do potencial turístico cabo-verdiano que valorize a cultura, o património histórico, a natureza (vul-cão, montanhas, paisagem desértica), o mar (passeios de barcos, diver-sas oportunidades em termos de desporto náutico) mas também acriatividade. Uma atenção particular deve ser dada aos investimentosem actividades ligadas ao entretenimento (parques temáticos, showsculturais, shopping, roteiros turísticos, etc.) e todos as outras queestimulem clusters de turismo de charme, que incluem pousadas erestaurantes de charme, marinas e outras ofertas turísticas de charmeem locais com paisagens e motivações privilegiadas (montanhas,baias, praias, regiões históricas).

EcoturismoTrata-se de um produto turístico capaz de gerar recursos para uma boagestão do meio ambiente e contribuir para o desenvolvimento susten-tável das populações locais, melhorando a qualidade de vida das mes-mas. Como um produto diferenciado, podem-se estimular investimen-tos em instância turísticas que se integram perfeitamente na Naturezae com vocação e suporte às actividades ligadas à eco - actividadecomo o Trekking (trilhas ou caminhadas nas montanhas de S. Antão,S. Nicolau, Santiago, Brava), Geopark (vulcão do Fogo) e Naturpark(parques naturais nas Ilhas do Fogo, S. Antão, Santiago e S. Nicolau).

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Património histórico e culturalA história e a cultura constituem um binómio patrimonial potencial-mente atractivo para a promoção e o desenvolvimento do turismo.Cabo Verde, pela sua história e diversidade cultural tem todas ascondições para desenvolver e oferecer um produto turístico diferencia-do e complementar à expectativa da demanda turística. Neste contexto, vão ser criados pacotes de estímulo à integração deactividades ligadas à História e à Cultura cabo-verdianas, melhorandosignificativamente o ambiente em que se insere e a sua atractividadeem si, valorizando os bens materiais e imateriais que expressam ou rev-elam a memória e a identidade das populações e comunidades em ter-mos culturais, histórico, simbólico, passíveis de tornarem-se atracçõesturísticas: arquivos, edificações, conjuntos urbanísticos, lugares arque-ológicos, ruínas; museus e outros espaços destinados à apresentação oucontemplação desses bens.

Cabo Verde é músicaAlguém cantou, em jeito de poesia, o seguinte:

Cabo Verde é sol e praias o ano inteiroCabo Verde é mar e tartarugas, windsurf e mergulhoCabo Verde é gastronomia apurada e gente generosaCabo Verde é País de gente educada e culta

Mas qual é a principal imagem de marca distintiva de Cabo Verde nomundo?- Cabo Verde é País de música e de músicos, com uma das maiores con-centrações do Mundo de músicos per capita.A promoção da marca Cabo Verde e a fruição cultural no turismo terão,como base, a música cabo-verdiana.

Turismo de Negócios, Eventos, Incentivos e CongressosO turismo de negócios é um dos segmentos mais dinâmicos e promis-sores, que, juntamente com eventos, incentivos e congressos, vem con-tribuindo fortemente para o incremento da receita média, da ocupaçãohoteleira e para o maior uso dos equipamentos turísticos em geral.

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É, seguramente, um dos segmentos turísticos que mais valor acrescen-tado poderá gerar. Cabo Verde, infelizmente, carece de equipamentosturísticos capazes de responder ao potencial da demanda do segmentoturístico de negócios, sobretudo em termos qualitativos. É um sector daactividade turística ainda pouco explorado que, se bem estimulado,poderá contribuir para alavancar o turismo em geral, uma vez que osempresários, executivos e funcionários de empresas e entidadesnacionais internacionais, públicas ou privadas, constituem um fortevector de divulgação do destino turístico.Vai promover-se, através de um forte pacote de estímulos, as activi-dades turísticas que possam atrair negócios, feiras, eventos, incentivose congressos profissionais e técnico científicos.

PROMOVER O DESTINO TURISTICOA promoção do turismo vai apoiar-se nas seguintes vertentes funda-mentais:

1. Promoção do destino turísticoEsta importante acção vai caber ao Estado que, em plena sinto-nia com a dinâmica da oferta turística cabo-verdiana e dos prin-cipais mercados emissores do turismo, numa articulação per-manente com a trading turística, fará a promoção da imagem edo destino turístico de Cabo Verde. O sucesso de uma boa pro-moção do destino turístico depende da qualidade da ofertaturística cabo-verdiana. É importante criar ferramentas de reg-ulação que qualifique e premeie, de uma forma objectiva, asvárias actividades do turismo (hospedagem, restauração, activi-dades de entretenimento, etc.).

2. Promoção e identificação de produtos turísticosTrata-se de acção que vai ser da responsabilidade da tradingturística, com o apoio do Estado. No domínio da identificação dos produtos turísticos, vai fazer-se um levantamento exaustivo para identificar as especifici-dades dos produtos e garantir a defesa do consumidor.

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3. Turismo InternoUma abordagem diferente deve ser feita relativamente ao turis-mo interno. É importantíssimo estimular o consumo em termosde turismo interno, incentivando o cabo-verdiano a conhecer asua terra. Apostas devem ser feitas em programas relacionadoscom o slogan CONHEÇA A SUA TERRA, para jovens e cabo-ver-dianos em geral. Para o efeito, o Estado, em parceria com o sectorprivado, deverá promover pacotes atractivos e competitivos, comfinanciamentos bancários, para incentivar os cabo-verdianos aviajarem para conhecer e desfrutar das maravilhas do seu País.

PROMOVER UM TURISMO SUSTENTADOUm turismo sustentado desenvolve-se na boa articulação entre as insti-tuições nacionais autarquias e cidadãos e, sobretudo, deve constituir-seem motor para o arraste de outras economias débeis ou pouco dinâmi-cas, razão por que é essencial essa tripla articulação. Para isso, iremos:

a. Desenvolver planos regionais que visem como objectivo estraté-gico promover a integração das economias regionais e locais, dandocomo destaque o papel motor do turismo lá onde ele é essencial.

b. Destacar o papel integrador do turismo nas regiões e localidadesdando ao Ministério do Turismo uma função central nas acções co-ordenadas com as outras instituições nacionais e com as autarquias.

c. Avaliar bem as especificidades regionais ou locais, tendo em vistadestacar as vocações de umas ou de outras e pô-las ao serviço docidadão que deve estar no centro como beneficiário directo.

d. Desenvolver acções que evitem a exclusão do indivíduo do sistemade desenvolvimento e torná-lo pró-activo, de modo a desenvolveratitudes que favoreçam a qualidade do meio ambiente, começandopor ajudar as escolas na elaboração de manuais visando esse fim.

e. Desenvolver persistentes práticas de valorização da qualidadeambiental, incluindo crescente utilização de energias renováveis,acções de saneamento, conservação e melhoramento de patrimó-nio, tendo em vista a valorização do produto turístico.

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INTERVIR NAS INFRA-ESTRUTURAS E TRANSPORTESNo domínio das infra-estruturas e serviços de transportes as carênciassão enormes, urgindo uma intervenção com determinação e urgência.A acção do MpD irá no seguinte sentido:

a. Agir no sentido de compatibilizar o sistema tarifário das viagensaéreas entre o País e os centros emissores na Europa e outros noexterior com o que se pratica lá entre eles, sendo que a disparidadeexistente é das maiores causas da falta de competitividade do turis-mo nacional.

b. Aproveitar a centralidade do País e fazer dessa vantagem compar-ativa uma vantagem competitiva e incentivando viagens aéreas«low-cost ».

c. Promover a continuidade do espaço físico nacional com medidastendentes a melhorar e a desonerar a circulação pelo território e atornar mais competitivo fazer turismo em Cabo Verde.

d. Organizar a indústria de prestação de serviço para que o transportemarítimo doméstico ofereça um serviço consentâneo com ganhosde competitividade.

e. Organizar as interfaces em aeroportos, portos, estradas e, de umamaneira geral, em todos os roteiros turísticos, facilidades devida-mente apetrechadas em pontos estratégicos para estimular o con-sumo do turista e reverter para as economias locais e para o cidadãoas vantagens do turismo.

f. Regularizar o fornecimento da água e energia e a preços mais com-petitivos.

B5 – Valorizar o Ambiente e o Ordenamento do TerritórioA Constituição da República de Cabo Verde consagra o direito docidadão a um ambiente de vida sadio e ecologicamente equilibrado,conferindo-lhe o dever de o defender e de o conservar. Estabeleceainda que, ao Estado e aos Municípios, com a colaboração das asso-ciações de defesa do ambiente, competem adoptar políticas de defe-sa e de preservação do ambiente e zelar pela utilização racional dosrecursos naturais.

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O diagnóstico dos dez anos de mandato do governo do PAICV de-monstra:

UMA GRANDE FRAQUEZA INSTITUCIONALa. A não assumpção do carácter transversal do ambiente e, conse-

quentemente, a sua exclusão nas Estratégias Nacionais, nomea-damente, na DECRP.

b. Inexistência de uma política nacional clara e definida sobre a sus-tentabilidade ambiental e territorial.

c. Uma evidente falta de capacidade do governo para promover eassegurar a devida coordenação e articulação de políticas, estraté-gias e acções entre as diferentes instâncias com atribuições ecompetências nos domínios do ambiente e do ordenamento doterritório.

d. Ambiente e Ordenamento do Território com tutelas diferentes,pertencendo a ministérios distintos e funcionando sem articula-ção. As próprias direcções dos serviços dos dois ministérios,DGOT e DGA, não estão organizadas para responder de formaintegrada às questões ambientais e territoriais (gestão integradado espaço territorial e dos recursos naturais), resultando naausência de sinergias entre ambas.

e. A Direcção Geral do Ambiente (DGA), entidade responsável pelaexecução e fiscalização das políticas ambientais, tem pouca ex-pressão no ministério a que pertence, detendo a agricultura/de-senvolvimento rural o maior peso, com as delegações em todas asilhas a executar grandes obras de protecção e conservação (entreeles, solos, agua) à margem da DGA.

f. Disfunções entre os institutos, com a ausência de programas deinvestigação ligados ao clima, água, planificação e organizaçãodos espaços urbanos e rurais, resultando numa fraca capacidadede investigação nos domínios ambiental e ordenamento do ter-ritório, (INIDA, INDP, INMG, ISECMAR, LEC), bem como na inexis-tência de programas conjuntos de investigação multidisciplinar.

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GRAVES CARÊNCIAS DE PLANIFICAÇÃO, CADASTRO E COMUNI-CAÇÃO

g. Inexistência de planos de ordenamento territorial no conjunto doterritório nacional, homologados e aprovados pela entidade com-petente, espoletando conflitos na utilização de solos.

h. Inexistência de condições objectivas para a implementação dosplanos aprovados.

i. Inexistência de Cadastro Nacional e de um Sistema de InformaçãoTerritorial.

j. Áreas protegidas sem planos de gestão (3 em 47).k. Indefinição quanto aos titulares de propriedades, impossibilitando

o Governo e os Municípios na elaboração/implementação de pla-nos urbanísticos e outros planos de ordenamento territorial.

l. Deficiente compatibilização ambiental no processo de elaboraçãodos planos de ordenamento de território existentes (vide as ZDTI’se a preservação de espécies protegidas) espoletando conflitos entreinteresses diferentes, e com a própria sociedade civil.

m. A urbanização de alguns pontos do território não foi planificadae nem implementada seguindo um plano rigoroso de ordenamen-to do território, o que se subentende, a boa utilização do espaçotendo em conta os imperativos ambientais, resultando num cresci-mento desordenado, e por vezes, caótico das cidades (exemplo doaspecto visual e paisagístico de algumas zonas da cidade da Praia).

n. A não devida auscultação das populações e da sociedade civil noprocesso de elaboração dos planos de ordenamento de território oque conduziu à elaboração de planos muitas vezes contraditóriosaos interesses da população, algumas vezes abrangendo terrenosque são privados, provocando graves conflitos e reivindicaçõesintermináveis, a nível nacional.

o. O não registo devido de propriedades que muitas vezes são doEstado e dos Municípios provocando o aproveitamento da situaçãopor privados, impossibilitando o Governo e os municípios de desen-volverem projectos de interesse nacional e das populações munici-pais, e conflitos que se arrastam durante anos sem solução.

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INSUFICIÊNCIAS GRAVES NOS PLANOS DE ORDENAMENTO TER-RITORIAL

p. A não consideração da vocação dos solos em vários planos de orde-namento actualmente existentes, motivados por interesses imedia-tos, o que vem favorecendo a expansão desenfreada de construçõesurbanas, nomeadamente, para fins turísticos. Esta situação vai com-prometer o direito das gerações futuras no acesso ao recurso do so-lo para diversos fins, particularmente para fins agrícolas, entre out-ros, pondo em risco a sua própria sobrevivência e qualidade de vida.

q. O desrespeito pela legislação e normas em vigor para a orla marí-tima, em especial para as praias, provocando a apanha desenfreadade inertes, destruindo a paisagem natural, o interesse turístico e ohabitat de varias espécies protegidas (vide o caso da praia de FonteBila, em S. Filipe, e as praias do litoral este de Santiago, que vão doConcelho da Praia ao Tarrafal).

r. As actividades agrícolas são esquecidas em vários planos de orde-namento territorial. Importantes terrenos de vocação eminente-mente agrícola, outrora importantes unidades de produção agro-pecuária, vêm sendo destruídos, aparecendo em seu lugar, cons-truções urbanas em zonas mais improváveis, incluindo leitos das ri-beiras (vide os casos de S. Domingos e Assomada). Esta situaçãotem efeitos nefastos sobre o ambiente, designadamente, alterandoos leitos das ribeiras e os cursos naturais de água, provocando desas-tres inconcebíveis (ver o caso do Centro de Formação da Variante,construído em pleno leito de ribeira), diminuindo a infiltração deágua (ver as famosas ribeiras de Santa Catarina, hoje sem água), eaumento do escoamento superficial, provocando inundações emcentros urbanos importantes (ver os casos da Praia, Ribeira Brava edo Mindelo).

s. Desaparecimento gradual de espaços silvopastoris, a favor de áreashabitacionais e industriais, o que vem afectando seriamente a reali-zação dessas actividades com efeitos socioeconómicos nefastos so-bre as populações residentes, provocando o consequente êxodorural.

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DEFICIENTE AVALIAÇÃO E SEGUIMENTO DO IMPACTO AMBI-ENTAL

t. A deficiente avaliação de impactes ambientais em zonas uti-lizadas para fins diversos - em particular, turísticos - para efeitode eventuais correcções ou, no mínimo, para evitar a repetiçãodos mesmos erros ambientais já verificados.

u. A não realização prévia de estudos de impacte ambiental, ousua elaboração tendenciosa a favor de interesses imediatos,antes de se proceder à definição da vocação dos terrenos.

v. Não se teve em conta a necessidade de seguimento e monitor-ização eficaz dos projectos/empreendimentos licenciados paraaveriguação da implementação das medidas de mitigação dosimpactos negativos efectivos e/ou potencias delineadas nasAvaliações de Impacte Ambiental (Processos AIA).

A Visão do MpDO MPD reconhece que as dinâmicas da economia de Cabo Verde, docrescimento demográfico e da distribuição da população, do orde-namento do território, bem como do desenvolvimento do sectorprimário, revelam grandes necessidades de alteração no processo dedesenvolvimento, visando garantir uma maior sustentabilidadeambiental, competitividade e organização territorial, isto é, umamelhor utilização e gestão dos recursos ambientais de forma a equi-librar a satisfação das necessidades das gerações actuais com as jus-tas expectativas das gerações futuras.Reconhece, assim, a relação dinâmica existente entre a gestão durá-vel dos recursos e o desenvolvimento sustentado, ou seja, ummodelo de desenvolvimento económico e social dentro dos limitesambientais tido como capaz de preservar o equilíbrio geral, o valordo meio e os recursos naturais, assegurando a sua repartição e usoequilibrado. O MpD reconhece ainda que a gestão sustentável dos recursosambientais, a reorganização territorial e o usufruto de uma qualida-de ambiental mínima devem constituir a principal linha de orien-

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tação estratégica de Cabo Verde e basear-se nos seguintes pressu-postos:

- Responsabilidade ambiental, em que a utilização dos recursos sedeve pautar pela responsabilidade em termos de legar às ger-ações vindouras um país onde a qualidade ambiental e de vidasejam valores assumidos.

- Equidade, em que o consumo dos bens ambientais deve serobjecto de acesso e distribuição equitativos por toda a popu-lação e ser ainda um impulsionador da competitividade.

- Solidariedade, em que os custos associados à protecção ambien-tal, à organização territorial e ao fornecimento de determinadosbens e serviços, relacionados devem ser baseados em princípiosde justiça distributiva e competitiva.

- Responsabilidade Partilhada, em que a responsabilidade pelaprotecção do ambiente e organização territorial é um assuntoque envolve a administração pública, os consumidores, os pro-dutores, os privados, as Organizações da Sociedade Civil e todaa população, enquanto dever de cidadania. Partilhar essa respon-sabilidade através de um alargamento significativo dos instru-mentos e aplicar simultaneamente o normativo e incentivoseconómicos, contribui para uma acção política mais eficaz.

A opção estratégica do MpD é por um desenvolvimento e ordena-mento sustentável (i) do ponto de vista ambiental, tendo em contaas condições naturais do país, (ii) territorial, tendo em conta a orga-nização espacial do território e as suas limitações (iii) demográfico,considerando o efeito do crescimento populacional e (iv) sócioeconómico, tendo em conta a pressão sobre os recursos, a dis-tribuição de rendimentos e sobre os serviços de apoio social e asrestrições financeiras do país.O MpD defende assim, um desenvolvimento centrado na sus-tentabilidade ambiental e propõe desenvolver o sentido do equi-líbrio ambiental face às condições naturais adversas e a promoçãodo desenvolvimento equilibrado como forma de mitigar os efeitosnegativos, na base dos seguintes desafios:

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PROMOVER O REFORÇO INSTITUCIONALAs grandes responsabilidades e as inovações a introduzir no sectorimplicam um novo modelo institucional que tenha em conta:

- Uma nova estrutura organizacional que evidencie a protecção e aconservação ambiental, em sinergia com os sectores de ordena-mento do território, turismo e agricultura.

- A assunção do sector do Saneamento como parte integrante eimportante do Ambiente.

- A criação da Autoridade Nacional no domínio do Ambiente eOrdenamento do Território.

- A reorganização das representações do departamento governa-mental nas ilhas e nos concelhos, visando uma melhor planifi-cação e implementação de programas ambientais e aumento de“accountability” financeira dos recursos.

- Um serviço de inspecção da área ambiental visando a avaliaçãode impactes ambientais e auditorias ambientais regulares, atravésde uma estrutura isenta e blindada contra os interesses e a tenta-tiva de manipulação política de conjuntura.

- A criação de uma estrutura de coordenação interministerial sobreas mudanças climáticas e de um gabinete de relações interna-cionais e projectos (mobilização de fundos).

MOBILIZAR E CAPACITAR OS RECURSOS PARA O SECTORNa mesma lógica, os recursos humanos, tecnológicos e financeirosdestinados ao sector merecerão uma atenção coerente com a visãopara o sector através da:

- Capacitação de quadros no sentido de uma verdadeira integraçãoeficaz da Sustentabilidade Ambiental, Mudanças Climáticas, Gé-nero, Riscos de Desastres nos níveis horizontal e vertical daproblemática (sectorial, municipal e nacional).

- Conservação dos recursos naturais e a promoção de uma planifi-cação e ordenamento tendo em conta as necessidades do sanea-mento, o controle das inundações e a poluição;

- Reforço da investigação ambiental (solos, água, planta, clima, ar, etc.).

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- Promoção das energias renováveis (micro soluções, habita-ções, mobilização de água, etc.) como medida de adaptação àsMC e condição importante para MDGs;

- Elaboração/Implementação de projectos CDMs para tirarmaior proveito das oportunidades nos mercados de carbono;

- Incremento da sensibilização ambiental, quer a nível das esco-las (programas ambientais e uma educação ambiental efectivanas escolas, EBI, ES), quer a nível das comunidades;

- Envolvimento efectivo nas iniciativas internacionais e juntodas convenções e protocolos assinados pelo país.

O nosso compromissoAssumindo os desafios anteriores, o futuro governo do MpD, pro-moverá um quadro institucional definidor de i) uma PolíticaNacional para a Sustentabilidade Ambiental e Ordenamento doTerritório, ii) uma missão clara para o departamento governamen-tal encarregue do Ambiente e Ordenamento do Território, bemcomo do seu mandato traduzido num conjunto de medidas depolíticas a executar no quadro do Plano de Acção Nacional para oAmbiente, dos Planos Intersectoriais e dos Planos AmbientaisMunicipais e iii) um reforço da capacidade técnica no domínio doAmbiente e Ordenamento do Território. Mais concretamente:

NO DOMÍNIO DO AMBIENTEa. Elaboração e implementação de um Plano Nacional de Desen-

volvimento Ambiental Sustentável, de forma a valorizar o ter-ritório e a paisagem, proteger e conservar a Biodiversidade e asZonas Costeiras, melhorar a Disponibilidade de Água, o Sanea-mento Básico e o Ordenamento do Território, participar naimplementação de acções no âmbito das Convenções Interna-cionais, nomeadamente a Convenção - Quadro das NaçõesUnidas sobre as Mudanças Climáticas e reforçar a Luta Contraa Desertificação.

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b. Melhoria do ambiente urbano e rural, nomeadamente no que con-cerne ao saneamento do meio e criação de espaços verdes nas ci-dades e nos povoados.

c. Prevenção e melhoria da capacidade de resposta às catástrofes na-turais.

d. Promoção da educação ambiental a todos os níveis. e. Reforço das capacidades dos diferentes actores no domínio ambi-

ental aos níveis individual, institucional e sistémico. f. Envolvimento das comunidades urbanas e rurais na criação e im-

plementação de actividades geradoras de rendimento na área depreservação do ambiente como mecanismo de criação de empre-gos, redução da pobreza e promoção da competitividade.

EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO PARA O AMBIENTEConsciente de que o desenvolvimento sustentável só se torna efecti-vo com uma população sensibilizada, formada, informada e compro-metida com o ambiente e as gerações futuras, o MPD propõe na áreada Informação, Educação e Comunicação para o Ambiente:

- Elaborar e implementar programas educativos visando a con-sciencialização do cidadão e a transmissão de valores essenciais àdefesa e conservação do meio ambiente;

- Instituir, a nível nacional, espaços de partilha de informações,troca de experiências, esclarecimentos, numa perspectiva de cria-ção de consensos na gestão dos recursos ambientais;

- Apostar em estratégias bem sucedidas em matéria de educação eenvolvimento dos cidadãos para a mudança de atitudes e com-portamentos no domínio ambiental;

- Estabelecer parcerias no domínio ambiental com todos os actores(ONGs, Comunidades Organizadas, Privados, OSC, Escolas,Igrejas…);

- Apoiar e valorizar a produção e o artesanato locais;- Elaborar e implementar um Plano Nacional de Educação Ambiental

e promover uma concepção global de educação ambiental e va-lorização da abordagem integrada, interdisciplinar e participativa;

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- Valorizar a abordagem integrada, interdisciplinar e participativa eintegrar a educação ambiental nos programas de combate àpobreza a nível nacional e descentralizado.

SANEAMENTO BÁSICO E SAÚDE PÚBLICAO MpD reconhece a necessidade que o país tem de um sistema desaneamento capaz de responder às necessidades fundamentais decondições de salubridade e de ambiente sadio, e da necessidade de agirem tempo oportuno visando a melhoria das condições de vida doscabo-verdianos e proporcionando um ambiente saudável aos queescolheram o nosso país como destino preferencial.Para tal, o MpD propõe na área do Saneamento Básico e Saúde Pública:

- Criar uma Autoridade Nacional para o Saneamento.- Assumir a salubridade ambiental como um dever e um direito de

todos, indispensável à segurança sanitária e à melhoria da quali-dade de vida dos cidadãos.

- Aumentar e modernizar as estruturas de drenagem das águasresiduais domésticas e pluviais do território nacional, regulariza-ção das ribeiras, construção de diques de retenção e pequenasbarragens.

- Elaborar e implementar um Plano Nacional de gestão, recolha,deposição final e tratamento dos resíduos.

- Implementar programas de prevenção da poluição química indus-trial e reforçar a fiscalização;

- Promover e incentivar a utilização das energias alternativas.- Reforçar a recolha dos óleos usados e seu posterior encamin-

hamento para tratamento.- Assegurar a gestão eficiente do sistema nacional de abastecimen-

to de água potável às populações.- Promover o alargamento da rede de ligação domiciliária de água

potável (Enfoque para os espaços rurais em função da viabilidade)à todas as localidades.

- Assegurar o tratamento e criar as condições para o controlo daqualidade da água.

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- Adoptar um Programa de Protecção das vilas e cidades contrainundações (desobstrução das ribeiras e linhas de água, execuçãode obras de correcção torrencial nas encostas, actividades de flo-restação, reforço da fiscalização no sentido de evitar a localizaçãode construções nas proximidades das linhas de água) e catástro-fes naturais.

BIODIVERSIDADEO MpD reconhece a importância da biodiversidade para Cabo Verdee o seu valor em termos de flora, fauna, genes e ecossistemasdisponíveis. Reconhece igualmente que a biodiversidade representa abase de recursos ambientais para a promoção de sectores de activi-dade económica designadamente a agricultura, pecuária, silvicultura,turismo e pesca.O MpD reconhece, ainda, que a insuficiência de informações especí-ficas, dificulta uma caracterização pormenorizada da biodiversidade.Neste sentido, estudos nacionais e orientados para o territóriomunicipal revelam-se pertinentes, na óptica de se promover o con-hecimento aprofundado dos reais recursos existentes numa perspec-tiva da criação de um quadro propício de exploração e gestão duráv-el da Biodiversidade a médio e longo prazo.Para se atingir esses resultados, o MpD propõe na área da Biodi-versidade:

- Utilizar de forma sustentável as componentes da biodiversidadeem conformidade com as práticas culturais tradicionais com-patíveis com as exigências da conservação e uso sustentáveis.

- Aprofundar os conhecimentos sobre a biodiversidade e a sua gen-eralização à população, nomeadamente junto das associaçõescomunitárias de carácter ambiental ou não, de modo a se poderdispor de informação ambiental que possibilite a gestão sustenta-da e partilhada dos recursos da biodiversidade.

- Alargar a rede nacional de áreas protegidas, elaborar e implemen-tar os respectivos planos de gestão.

- Melhorar as práticas de gestão da pecuária de ruminantes e da

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lavoura de modo a diminuir a perda respectiva de metano e decarbono orgânico.

- Criar um banco de dados sobre o ambiente e as mudanças climá-ticas.

- Desenvolver e aprofundar pesquisas sobre as causas e os impac-tos das mudanças climáticas, para facilitar uma melhor adapta-ção.

- Fomentar o empreendedorismo nos domínios da agricultura, dapecuária e do turismo ecológico.

- Capacitar os diferentes agentes utilizadores e gestores dessesrecursos no apoio às populações locais, de forma a desenvolverempráticas de restauração de áreas degradadas de forma a aumen-tar a diversidade biológica.

- Proteger e conservar as espécies e habitats.- Adoptar medidas de fiscalização para controlar a implantação de

actividades susceptíveis de emitir gases e cheiros, de produzir ruí-dos ou de constituir factores de insalubridade.

- Proteger e conservar o património paisagístico e urbanístico nacio-nal e implementar medidas tendentes ao equilíbrio paisagístico doterritório, com destaque para o controlo da altura das construçõese a preservação do estilo arquitectónico de certos edifícios.

- Promover a investigação científica e desenvolvimento tecnológi-co para uma agricultura moderna e um turismo sustentável.

- Requalificar e promover a sustentabilidade económica e ambien-tal da agricultura e pecuária.

NO DOMÍNIO DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIOPela sua natureza estratégica e transversal, o Ordenamento do Terri-tório, constitui um instrumento privilegiado de organização e gestãosustentável do espaço nacional, garantindo o aproveitamento duráveldo solo e das águas territoriais enquanto recursos ambientais de su-porte sob o qual ocorre a localização e distribuição espacial das infra-estruturas e das actividades económicas.Consciente de que Cabo Verde necessita de um Sistema Nacional de

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Ordenamento do Território e de Infra-estruturação Básica e Produtivaque abarque o território nacional no seu todo e que envolve os difer-entes sectores de desenvolvimento, a fim de atingir uma gestão har-moniosa do território e dos recursos ambientais para a defesa e pro-tecção do ambiente e a melhoria da qualidade de vida dos cabo-ver-dianos, o MpD propõe:

a. Promover a qualificação ambiental do território nacional.b. Dotar o país das directivas nacionais de ordenamento territorial

e urbano, do regulamento nacional do urbanismo e dos planos deordenamento do território necessários à gestão sustentável dodesenvolvimento territorial, designadamente, os Planos deOrdenamento do Território (ENOT, EROT’s e PEOT’s), e apoiar osmunicípios na elaboração dos Planos Urbanísticos (PDM, PDU’s ePD´s).

c. Criar um sistema de monitorização territorial que inclua a imple-mentação e monitorização dos planos de gestão e desenvolvi-mento territorial, a elaboração, implementação e monitorizaçãode um Plano Nacional de Ordenamento e Ocupação da OrlaCosteira e a elaboração, implementação e monitorização dePlanos de Ordenamento Turístico das ZDTI’s.

d. Promover investimentos na orla costeira como factor estimu-lador da competitividade e do crescimento económico.

e. Conceber um sistema eficiente de controlo dos gases de escapedas centrais eléctricas, unidades industriais de grande porte e dosector de transportes.

f. Formar planificadores locais na integração das actividades dedesenvolvimento da zona costeira, com o objectivo de proteger oambiente local e obter o máximo de benefícios da exploração sus-tentável a longo prazo dos recursos.

g. Promover o ordenamento das bacias hidrográficas para assegu-rar a gestão durável e participativa dos recursos naturais numaperspectiva de fomento de sectores geradores de rendimento eemprego durável, nomeadamente a sua gestão integrada.

h. Ter em atenção a gestão, valorização e utilização sustentáveis

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das áreas protegidas como factor de desenvolvimento socioe-conómico e ambiental das comunidades localizadas nos ter-ritórios que integram as referidas áreas.

i. Explorar os recursos florestais de forma sustentável e na salva-guarda dos perímetros com função de protecção.

Considerando que o sector do turismo apresenta uma transversalidadequase exaustiva e que todas as ilhas têm uma forte vocação turística,por um lado, e que, por outro, além dos cerca de 4 mil quilómetrosquadrados terrestre do território nacional, há que integrar e potenciara enorme riqueza que representa os mais de 700 quilómetros quadra-dos do nosso mar, o MpD propõe:

1. Usar o turismo e o mar como eixos económicos principais parao Ordenamento do Território Nacional;

2. Definir a ilha ou conjunto de ilhas afins como entidade centralpara o Ordenamento do Território;

3. Reter como elementos substanciais do Ordenamento doTerritório Nacional o bem-estar dos cidadãos, o equilíbrio e adinâmica nacionais, a sustentabilidade ambiental e a sustentabil-idade do desenvolvimento do país.

B6 – Resolver os graves problemas de EnergiaO Governo do PAICV falhou na política energética, permitiu umaclara degradação da situação energética no país e recorreu fre-quentemente à propaganda para esconder o mau resultado da suagovernação.A realidade é que, ao fim de dez anos, em pleno século XXI, além deatrasar a infra-estruturação energética do pais, o Governo do PAICVnão soube resolver o problema básico, o caso da electricidade e água,que afecta a vida dos cidadãos e todas as áreas de actividadeeconómica.

ATRASO NOS INVESTIMENTOSO Governo quando nacionalizou a ELECTRA em 2006, prometeu maisÁgua, mais Electricidade e tudo mais barato. Os factos provam o con-

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trário, sendo evidente que o Governo falhou nos investimentos quepudessem trazer tudo isso.De 2000 a 2002, foram investidos 6,9 milhões de contos, numa médiade 2,3 milhões por ano.De 2003 a 2005, o ritmo de investimentos baixou significativamentepara 350 mil contos por ano, uma diminuição de 85%. A ELECTRA jus-tifica essa redução, com o desvio de recursos de investimentos paracobrir encargos operacionais pois o défice tarifário imposto levou adesequilíbrios de tesouraria. O Governo, com a nacionalização da ELECTRA, de 2006 até à presentedata, assumiu a sua gestão, período no qual, o ritmo de investimentomédio anual passou para 596 mil contos, muito aquém dos 2,3milhões iniciados em 2000. Além do pouco, investiu-se mal. Nos últimos anos o rácio do investi-mento na rede comparado com o investimento na produção foi infe-rior 0,5, muito baixo, quando o normal é ligeiramente superior a 1.

ATRASO NAS ENERGIAS RENOVÁVEIS Foi zero, a potência eólica instalada acumulada- quantidade a somarao valor já existente – durante os dois mandatos consecutivos doGoverno do PAICV. Por isso, chega no final do mandato com menos de 1,6% de energiaproduzida de origem eólica, uma diminuição de 60% em relação a2001. Ou seja, passada uma década, a situação é, de longe, pior ape-sar da tão propalada “penetração de 25% até 2011 e 50% até 2020”.Se o Governo tivesse cumprido o que prometeu, hoje, a Electrapouparia, por ano, cerca de 15 milhões de litros de combustível na pro-dução de energia, pouparia o País mais de 1 milhão de contos por anoem divisas.Se ao menos, em vez de privilegiar a propaganda, tivesse sido capaz deimplementar a componente eólica do projecto BM, aprovado em1999, o País estaria, desde 2004, com uma capacidade eólica instala-da de 4,25 vezes mais ou seja 10,2 MW. Assim, Cabo Verde teriapoupado na importação de combustíveis para produção de energia, de

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2004 a 2010, mais de 45.000 toneladas, ou seja, mais de 2,2 mi-lhões de contos. Entretanto, e típico de final de legislatura e pré-campanha, esteGoverno resolveu, à pressa, mostrar obras (“a primeira pedra” dosquatros parques eólicos e a inauguração das duas centrais solar-fotovoltaica), quase todas carregadas de dúvidas técnicas eeconómicas e falta de transparência. É incrível que Cabo Verde, um país com bom potencial eólico, per-maneça de 1996 a 2011, dezasseis anos, sem incremento real dasua capacidade de produção de energia eólica.

DESPERDÍCIOS DE ELECTRICIDADE E DE ÁGUAAs perdas de energia eléctrica continuam a registar valores preocu-pantes. Passaram de 22.7% no ano de 2001 para 26.1% no ano2009 (um aumento de 15%). Ou seja, estamos a falar de 77.064MWh de energia perdida, equivalente ao consumo de 3 grandescentros: S.Antão (9.196 MWh), S.Vicente (41.279 MWh) e Sal(29.380 MWh). Foi a energia consumida na Praia (77.664 MWh). As perdas na distribuição de água passaram de 22,8% no ano de2001 para cerca de 35,3% em 2009 (um aumento de 55%). Só rel-ativo ao último ano, estamos a falar de água (1.603.761 m3) quechegava e sobrava para abastecer a Cidade da Praia (1.384.426 m3)e muito superior a quantidade máxima (1.200.000 m3) que a bar-ragem de Poilão disponibiliza para a rega. Cabo Verde não podecontinuar a desperdiçar quantidades significativas de um bemescasso, que é a água

DEFICIENTE ABASTECIMENTO DE ELECTRICIDADE E ÁGUAOs apagões aumentaram. Ocorreram, a nível nacional, 569 black-outs, com uma duração 78853 minutos (o que dá 1314 horas,durante o ano, e 25 horas por semana). Em 2009, Cabo Verdeesteve às escuras, durante mais de um dia por cada semana. As variações frequentes e abruptas (a nível de tensão, com estragosnos equipamentos e custos para os consumidores) foram uma con-

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stante. A crise da produção e do abastecimento da água parece nãoter fim. É a outra grande dor-de-cabeça dos cabo-verdianos.Quando o precioso líquido chega às torneiras das pessoas, muitasvezes encontra-se em péssimo estado e impróprio para consumo.A procura de água já ultrapassa em muito a capacidade instaladanalgumas ilhas. O exemplo de S. Vicente é gritante, onde a deman-da (5000 m3) é, de longe, superior à capacidade instalada (3200m3). Apenas cerca de 60% da população urbana tem acesso à águacanalizada da rede pública.No Saneamento, o cenário é, ainda, pior. Basta tomar o exemplo daPraia, capital do pais, onde só 21% da população tem acesso à rede.

FALHANÇO NA REESTRUTURAÇÃO DO SECTOR ENERGÉTICOA reestruturação da Electra e a solução para o financiamento da ilu-minação pública continuam por cumprir. A implementação do programa de racionalização das centrais deprodução anda a passo de tartaruga. Exemplo da central única deSantiago que já leva mais de 7 anos de atraso. A regulação, a política tarifária, a não existência de uma concorrên-cia e entrada de produtores independentes no mercado são outrosexemplos do falhanço desta maioria do PAICV.

FALHANÇO NA REORGANIZAÇÃO DO SECTOR DOS COMBUS-TÍVEISA actual organização da logística de armazenagem e distribuição decombustíveis envolve uma excessiva movimentação de produtospetrolíferos entre as ilhas, o que se traduz em custos muito eleva-dos e riscos em termos de segurança das operações. Cada litro deFuel ou gasóleo chega a Santiago, o maior mercado, 11 escudosmais caro, porque a ilha não está preparada para importação dess-es combustíveis. A criação de uma empresa comum de logísticacontinua em banho-maria depois de oito anos anunciada peloGoverno.

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Visão do MpDOs investimentos, na produção e distribuição da energia e água, são dealta densidade de capital e devem ser constantes. São bens importantespara o dia-a-dia -todos os dias- das pessoas. O sector não pode contin-uar a ser sacrificada com investimentos fracos, lentos e pontuais comobjectivos eleitoralistas. Por isso, o futuro Governo do MpD vai, com a máxima prioridade recu-perar os atrasos na reforma do sector da energia, priorizando investi-mentos públicos, em regime de urgência, para resolução do problemabásico, no caso o fornecimento de electricidade e água, que afecta todasas áreas de actividade económica e a vida dos cidadãos, actuar na a)aposta definitiva nas energias renováveis, b) na eficiência energética, c)na reestruturação da ELECTRA e d) na reestruturação da logística dearmazenagem dos combustíveis.

1. Nas energias renováveis, o MpD actuará de modo a que o país bene-ficie das excelentes potencialidades que possui nos domínios da eóli-ca e solar, com investimentos atempados em projectos de produçãofinanceiramente sustentáveis. i. Apostando na eólica em larga escalaaté o limite máximo da taxa de penetração, ii. Investindo, no curtoprazo, na solar foto voltaica a nível de projectos de pequena e médiaescala, próximas da procura, nomeadamente, em zonas remotas, ex-plorações agrícolas ou iluminação pública, iii. Incentivando o uso dasolar térmica, entre outros, para utilização em hotéis, edifícios públi-cos e escolas, iv. Utilizando sistemas híbridos Diesel/Eólica/Solar naprodução de água dessalinizada e v. Revisão dos projectos em curso.

2. Na eficiência energética, o MpD procurará a redução da facturaenergética do País, com a consequente redução dos custos para osconsumidores e para as empresas através do incentivo ao uso dasenergias renováveis (a começar pela iluminação pública e deespaços públicos), do aumento da eficiência da produção e da dis-tribuição de energia e da promoção da economia do consumo e amelhoria significativa da regulação do sector de modo a criar as

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condições de transparência e confiança para a atracção de investi-mentos privados no sector.

3. A reestruturação da ELECTRA será tratada no quadro da adopçãode um novo modelo para a gestão do sector de energia, abando-nando a actual opção pela fragmentação geográfica da ELECTRAque será, além de tudo, a multiplicação de um problema e adop-tando uma lógica de estruturação com base na sua cadeia de valor,isto é, produção, transporte, distribuição e comercialização.

4. Na reestruturação da logística de armazenagem dos combustíveis,será dada prioridade ao reordenamento das estruturas de arma-zenagem, actuando i) na localização mais eficiente de infra-estru-turas de armazenagem e ii) na criação de condições logísticas facil-itadoras à reforma tecnológica da produção de electricidade.

O nosso compromissoNesse sentido serão tomadas as seguintes medidas de política:

a. Introdução da telecontagem e sistemas modernos de gestão e mo-nitorização da rede.

b. Incentivo a soluções por energias renováveis, ao consumo de produ-tos com boa classe energética, nomeadamente, de edifícios verdes.

c. Regulamentação e fiscalização das construções, com a introduçãoda Certificação Energética dos Edifícios.

d. Incentivo à criação de um mercado de serviços de promoção da efi-ciência energética.

e. Estimular a melhoria de eficiência energética dos grandes consumi-dores.

f. Acelerar o programa de integração das redes e de racionalização dascentrais de produção.

g. Acelerar a substituição de gasóleo por fuel na produção de energia. h. Serão incentivados e apoiados, a curto prazo, o reforço da fiscaliza-

ção em qualidade e quantidade do abastecimento da energia eléctri-ca, bem como, um programa de aferição e eventual substituição decontadores.

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B7 – Novas políticas para as Infraestruturas e TransportesApesar da grande propaganda do governo na área das infra-estruturas,uma análise aprofundada dos resultados leva-nos ao seguinte balanço:

OBRAS PÚBLICAS COM DUVIDOSO CUSTO/BENEFÍCIO E FALTADE TRANSPARÊNCIA A adequação e a eficácia dos investimentos no sector foram carac-terizadas por investimentos em infra-estruturas de duvidosarentabilidade económica e social.Prevaleceram as adjudicações directas, com um enorme volume deobras adjudicadas sem concurso, cujo quadro não deixa dúvidassobre claros sinais de falta de transparência.

Na fiscalização e controlo de qualidade, existem, igualmente, clarossinais de falta de transparência, sendo exemplo paradigmático, a fis-

Obras Públicas por ajuste directo (anos 2005 a 2008)

Obra Valor (em contos) Financiador Anos

Estrada Praia/S.Domingos 994.833 Portugal/Gov CV 2005/2006

Aeroporto da Boavista 1.761.065 BES 2005/2007

Circular da Praia 2.784.595 Portugal/Gov CV 2005/2007

Aeroporto de S.Vicente 2.937.783 CGD/ASA 2005/2008

Estrada Rotunda Rabil/Sal Rei 77.186 Gov CV 2007

Desvios Var.S.Domingos/R.Chiqueiro 992.515 Portugal/Gov CV 2008/2009

Asfaltagem Ruas Praia 1.212.915 Gov CV 2008/2009

Estrada Norte Baia/Calhau 750.000 Portugal/Gov CV 2008/2009

Reabilit.Estrada S.Pedro/Mindelo Gov CV 2008

Extensão Pista S.Filipe 330.000 ASA 2008/2009

Aeroporto Maio 195.637 ASA 2007/2008

Estrada Praia/S.Francisco 473.051 Gov CV 2008/2009

Infraestruturação Palmarejo Grande 1.200.000 Público/Bolsa Valores 2008/?

Total 13.709.580

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calização de grandes obras por uma empresa pertencente ao próprioministro do sector.Na sustentabilidade económica e ambiental, conclui-se pela falta declareza e rigor na compatibilização ambiental dos projectos de inves-timento público.A nível institucional, sobressaem sinais de fragilidades institucionaisem termos de capacidade e qualificação dos intervenientes.

NA CONSTRUÇÃO CIVIL, A SUBVALORIZAÇÃO DAS EMPRESASNACIONAISNão houve a promoção do sector nacional e a competitividade e ainternacionalização das empresas foram deixadas para o segundoplano.O resultado foi a fraca participação das empresas nacionais na cons-trução e fiscalização de obras públicas e a inexistência de políticas depromoção da internacionalização das empresas nacionais.

INFRAESTRUTURAS E INSTITUIÇÕES AQUÉM DO DESEJÁVELA razão da afirmação está no nível atingido de integração do país,cuja avaliação é fundamental para se ter uma ideia da efectividadedas infra-estruturas. A conclusão lógica é a de que o nível de integração do país ficoumuito aquém do que seria desejável, tendo sido descurada umaestratégia que tivesse em conta o ordenamento do território e oplaneamento regional. A Gestão do Fundo de Manutenção Rodoviária (FMR), apesar da taxade 7$00 por litro de combustível, é, altamente deficiente, com 60%das estradas nacionais em mau estado de conservação.O Instituto de Estradas apresenta uma fraca capacidade de respostae assumpção das competências e responsabilidades.O Laboratório de Engenharia de Cabo Verde padece de dinâmica eocupação do espaço que lhe é destinado pelos estatutos.O Instituto Marítimo e Portuário é um nado morto, cuja função,nomeadamente, a regulatória está por exercer, com graves prejuízos

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para os operadores marítimos e para a actividade portuária. No saneamento básico, prevalecem as baixas taxas de cobertura, ossérios problemas de drenagem urbana e protecção civil, bem como aobstrução descontrolada de linhas de água.

TRANPORTES INTER-ILHAS ALTAMENTE DEFICIENTESO sector dos transportes inter-ilhas carece de mais investimentos emelhor organização com vista a reduzir os custos da descontinuidadeterritorial e introduzir eficiência económica no sector.É evidente a descoordenação prevalecente entre as diversas frentesque actuam no sector, resultado de um precário quadro institucionale regulatório, originando fortes condicionantes ao seu desenvolvi-mento, aspecto vital para a economia nacional e para a integraçãoregional e nacional.As infra-estruturas portuárias não conheceram grandes avanços anível da gestão, adaptação tecnológica e capacitação humana, comgraves consequências em indicadores de eficiência como tempo deespera, perdas nas mercadorias na descarga e armazenagem e custos. O Governo foi incapaz de acertar numa política de estímulos quetrouxessem ou até garantissem os investimentos no sector, resultan-do num isolamento de certas ilhas, impedindo a sua justa partici-pação no processo de desenvolvimento do país e em prejuízos para aunificação do mercado, para a mobilidade de pessoas, numa palavra,para a economia do país e para o desenvolvimento regional.

TRANSPORTES RODOVIÁRIOS COM GRAVES LACUNASO sistema de transporte rodoviário não se encontra devidamenteorganizado, seja no que respeita aos automóveis de praça, os táxis,seja no tocante aos transportes colectivos de passageiros e aos trans-portes de mercadorias. Embora obrigatórios nos termos da lei, os automóveis de praça hámuito deixaram de utilizar os taxímetros, o que leva a que o preçopraticado em cada percurso dependa do critério do locador, levandoa vários conflitos entre o locador e o locatário.

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No Transporte Urbano de Passageiros, existem várias lacunas ligadasà política do serviço público e à regulação. A nível dos transportes colectivos de passageiros inter-urbanos levan-tam-se várias questões relacionadas com a fiscalização, tecnicidadedas viaturas utilizada e o conforto dos passageiros transportados.No transporte de mercadorias verifica-se a importação de camiõesde grande capacidade de transporte, os chamados camiões tractores,para serem utilizados, entre outros, no transporte de contentores,materiais pesados indivisíveis ou de matérias perigosas.Esse transporte, nomeadamente de objectos cuja dimensão ultrapas-sa o comprimento da caixa de carga, mal condicionados ou mesmode líquidos perigosos, muitas vezes constitui uma ameaça à segu-rança rodoviária, exigindo medidas adequadas visando a sua regu-lação e fiscalização. A montante do sistema, existem as escolas de condução, cada vez emmaior número, bem como a formação para a cidadania nas escolas,com lacunas no âmbito da prevenção rodoviária. A nível das autoridades, sendo Cabo Verde um país de vocação turís-tica, com a orografia que conhecemos, exige-se um outro tipo decomportamento por parte das autoridades competentes sob pena decontinuarmos a ter acidentes que anualmente ceifam dezenas devidas humanas. O excesso de velocidade nas estradas de Cabo Verde e o uso abusi-vo de álcool ao volante, constituem, entre outras, as principais causasque estão na base de centenas de acidentes que anualmente ocorrema nível nacional.Para que Cabo Verde tenha um ambiente de condução disciplinada,torna-se necessário um bom sistema de fiscalização, o que reclamaum polícia de trânsito competente, motivada e conhecedor doCódigo da Estrada, bem como o recurso a dispositivos tecnológicos.

TRANSPORTES AÉREOS DEFICICIENTES E CAROSA mobilidade dos cabo-verdianos e a economia do país têm sidoprejudicados por transportes aéreos caros devido a políticas de

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duopólio resultantes do desengajamento do governo na promoçãode um quadro regulatório que permitisse a entrada, por exemplo, daslow-costs, pela baixa competitividade dos nossos aeroportos quetêm desviado companhias aéreas para outras paragens, reduzindo aoferta e as receitas de trânsito e por preços de sobrevoo considera-dos exorbitantes por companhias utentes do nosso espaço aéreo.Salvaguarda-se a Agência da Aeronáutica Civil que tem dado mostrasde boa dinâmica no cumprimento das suas competências.

A Visão do MpDCom base no conhecimento profundo da realidade do país, o MpDassume uma renovada visão para as infra-estruturas e transportes, nosentido do desenvolvimento de políticas claras, coerentes e susten-táveis de modo a garantir condições de operacionalidade e eficácianos domínios das obras públicas, construção civil e transportes.O desenvolvimento do sector tem por objectivo principal, acompan-har e apoiar o desenvolvimento socioeconómico e a unificação dopaís, garantindo condições favoráveis no domínio da movimentaçãode pessoas e bens e a sua conexão com o mundo.

1. Assim, a mobilidade e a unificação do mercado interno são umimperativo não apenas económico e social, mas também, dejustiça de oportunidades entre as ilhas e regiões. O Governo doMpD desencadeará todas as acções necessárias à concretizaçãodeste objectivo, sem o qual muito dificilmente o país conseguiráalcançar o desenvolvimento equilibrado, garantindo, desde já,uma actuação rápida nas seguintes áreas:- No investimento público nas infra-estruturas, a prioridade das

prioridades irá para o sector da energia, água, saneamento eregeneração urbana e qualificação, privilegiando, onde possívele vantajoso, as parcerias publico – privadas. Os projectos serão inseridos num quadro de planos de desen-volvimento económico e sociais claramente identificados e comprevisão de medidas que garantam sua gestão adequada.

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- Nos transportes marítimos inter-ilhas, uma reestruturação apro-fundada do sector, visando a dinamização e a unificação domercado interno através de sua melhor integração, o rápido de-sencravamento de algumas ilhas do país, com destaque paraBrava, Maio e São Nicolau, o transporte condigno e em con-dições de segurança dos passageiros e a promoção do turismo. Esta reestruturação será feita através de medidas de políticasque promovam o regime de concessão para o serviço público detransporte de pessoas com dedicação a linhas, com ou semexclusivo. Trata-se do regime utilizado em todos os países quese enveredaram pela via da modernização deste sector, e sóatravés dele será possível promover o estabelecimento e aoperação de unidades de transporte modernos e novos. No segmento de cargas, serão também adoptadas políticas quefavoreçam a instituição de linhas regulares entre as ilhas, amodernização da frota e a criação de condições operacionais ede preços que viabilizem a rentabilidade do transporte de car-gas inter-ilhas.

O nosso compromissoOs transportes aéreos e as suas infra-estruturas serão desenvolvidosde modo a responder de forma eficiente, a custo aceitável, a neces-sidades de urgência/emergência no contexto económico onde o fac-tor tempo é decisivo. O desafio da unificação será posto especialmente no sector marítimoonde a qualidade e capacidade de resposta das infra-estruturasexercem um papel primordial na modernização e no acréscimo deprodutividade.Será dada especial atenção às infra-estruturas de apoio ao desen-volvimento do turismo, considerado como sector-chave para odesenvolvimento económico do país.Será desenvolvido um esforço continuado de desencravamento daslocalidades.

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Serão definidas políticas adequadas e sustentáveis, para o sector dosaneamento básico, tendo como objectivo principal a protecção dasaúde pública e melhoria das condições ambientais. Será definidauma política nacional de saneamento consentânea com a suaimportância como factor de produção.

Assim, o MpD adoptará as seguintes medidas:

NA ARTICULAÇÃO SECTORIALIntegração das políticas de infra-estruturação na estratégia nacionaldo desenvolvimento e na matriz das relações inter e intra-sectoriais,com destaque para os serviços, turismo, comércio e indústria.

NA REGULAÇÃOCredibilizar a regulação do sector, nomeadamente no domínio doexercício da actividade dos operadores nos mercados de construçãocivil, obras públicas e transportes marítimos e rodoviários.

NA QUALIDADE E SEGURANÇACredibilizar o controlo de qualidade e segurança, com regras epadrões de referência internacional, institucionalizar e promover odesenvolvimento tecnológico do sector de construção civil e obraspúblicas. Promover a utilização das novas tecnologias de informação territori-al, a nível do sector de infra-estruturas.

PROMOÇÃO DO PROJECT FINANCEPrivilegiar a construção de infra-estruturas de transportes com con-cessão de exploração através de Project finance.Privilegiar, onde possível e vantajoso, as parcerias público - privadas. Rigorosa identificação e priorização dos planos e projectos de desen-volvimento económico e social e introdução de medidas adequadas degestão e controlo de qualidade.

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NO SECTOR RODOVIÁRIOPromover e assegurar a conservação, exploração e o planeamento dodesenvolvimento da rede de estradas nacionais. Apoiar os municípios na conservação, no planeamento do desenvolvi-mento da rede de estradas municipais.Oferecer aos cidadãos uma rede de infra-estruturas de transporterodoviário, satisfazendo condições técnicas de comodidade e segu-rança. Continuar o processo de desencravamento de localidades.Melhorar o serviço de automóveis de praça, os táxis, pelo reconheci-mento da importância desse serviço em áreas como o turismo, amobilidade dos cidadãos e o rendimento das famílias, actuando na:

- Introdução de carteira profissional, como condição de acesso aoexercício de condutor profissional nesse ramo de actividade, prece-dida de um programa de formação profissional com requisitos deconhecimento geral nas áreas culturais, linguísticas, entre outras.

- Melhoria dos dispositivos que regulam a concessão de licenças aosnovos operadores, visando a manutenção de um parque deautomóvel de qualidade.

- Implementação de um sistema de fiscalização que evite a concor-rência ilegal e defenda o utilizador.

- Promoção de sistemas de Rádio -Táxis dependentes de uma oumais centrais telefónicas, de modo a reforçar a segurança destetipo de transporte e a melhorar a oferta, principalmente à noite.

Melhorar o serviço de transporte colectivo de passageiros interurbanosatravés da:

- Criação de um programa de formação dos condutores e a conse-quente introdução da exigência de carteira profissional para o exer-cício dessa actividade.

- Criação de incentivos com vista à melhoria do parque deautomóveis utilizados no transporte colectivo de passageiros inter-urbanos, com novas opções em termos de capacidade e confortode passageiros.

- Incentivos aos actuais operadores para se organizarem em empre-

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sas de transportes interurbanos, de modo a melhorar a sua renta-bilidade e a capacidade de prestação de serviço.

A nível do transporte de mercadorias, o MpD vai tomar as medidasnecessárias, visando a regulamentação e fiscalização desse tipo detransporte em nome da prevenção e da segurança rodoviária.

NO SECTOR PORTUÁRIO E MARÍTIMONo sector portuário e marítimo, responder de forma eficiente àsdemandas da economia em matéria de infra-estruturas de transportemarítimo. Adoptar uma tipologia que responda, simultaneamente, aos segmen-tos carga e passageiros:Tendo em atenção que, por natureza cultural, em Cabo Verde ainda seconfunde mercadoria com bagagem acompanhada e as pessoas emnome individual geralmente só viajam se acompanham as suas cargas,os dois segmentos, pessoas e cargas, serão abordadas em simultâneo,com consequências na tipologia:

a. Dos navios que devem operar nessas linhas (navios RORO).b. Dos traçados dos portos (portos com rampas adequadas à oper-

ação de navios RORO);c. Da formação especializada dos marítimos nacionais.d. De equipamentos que os portos devem ter para garantir a oper-

ação segura, rápida e a baixo custo dos navios e ainda:e. Na formulação de políticas integradas entre os diversos modos de

transporte e, em especial, com o transporte rodoviário.Promover a competitividade dos portos a nível regional e interno.A nível regional, com um novo modelo de gestão com base na autono-mia de gestão para os dois principais portos, Praia e Porto Grande, bemcomo investimentos em equipamentos adequados a uma operaçãosegura e a custos suportáveis de forma a fazer face à concorrência dasCanárias e do Senegal. A completar estas medidas, serão assumidas asseguintes políticas:

a. Melhor formação dos operadores portuários, tirando partido daespecialização.

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b. Reduzir a conflitualidade laboral nos portos.c. Reduzir os custos dos combustíveis nesses portos.d. Reduzir as tarifas portuárias, sem perigar a sustentabilidade dos

portos e os investimentos futuros.Uma outra estratégia a nível regional, em especial com o Senegal, será,além da competitividade, tentar procurar alguma complementaridadeentre os portos da região, favorecendo o transbordo. A nível interno, as políticas vão para a complementaridade dos portos,mas sem descurar uma certa competitividade que deve existir entre eles.A complementaridade será conseguida através do planeamentoestratégico para o subsector portuário, de modo a minimizar os custosda descontinuidade territorial, evitar os custos da multiplicação deestruturas e promover as sinergias regionais.A salutar competitividade entre os dois principais portos vai ser estim-ulada através do novo modelo de gestão que resultará da autonomiza-ção dos portos, diluindo a actual centralização nos elementos dagestão estratégica indispensáveis para a salvaguarda do interesse geraldo País.Um outro elemento de competitividade será a promoção de oper-adores portuários dentro de cada porto e evitando o monopólio.Cuidar da capacitação contínua dos marítimos.O MpD vai apostar numa cuidada formação contínua dos marítimos,colmatando lacunas dos últimos tempos, na base de servir dois inter-esses estratégicos do País, a saber:

a. Dotar o mercado interno com quadros capazes de garantir a oper-ação segura dos navios no transporte inter-ilhas.

b. Exportar quadros, beneficiando da remessa de divisas, contribuin-do para reduzir o défice da balança de pagamentos e promovendoa imagem do País.

Será analisada a solução adequada para atingir o objectivo de criar uminstrumento para a política do mar no concernente ao transbordo edistribuição comercial, contribuindo ao mesmo tempo para as garan-tias, cruciais para um Estado insular, quer na ligação com o resto domundo quer na regulação do mecanismo dos preços.

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NO SECTOR AÉREOGarantir infra-estruturas e recursos humanos e tecnológicos na áreasdos serviços aeronáuticos, com a qualidade e segurança exigidas pelospadrões internacionais, de modo a assegurar a ligação de Cabo Verdecom o mundo em boas condições de competitividade.Melhorar as infra-estruturas aeronáuticas e de navegação aérea de lig-ação entre os vários pontos do País em melhores condições de preço,qualidade e segurança.Tudo isso implica a continuação da afirmação em curso da Agência daAeronáutica Civil e uma profunda mudança na gestão estratégica daASA, Empresa de Aeroportos e Segurança Aérea. No tocante aos TACV, empresa de Transportes Aéreos de Cabo Verde,o MpD considera que se trata de uma companhia aérea de bandeira,que opera num sector estratégico para a economia do País.Segundo as declarações do Governo, foi colocada, há mais de trêsanos, em processo de reestruturação, com vista à sua privatização,começando pela contratação da Sterling Merchant, para, no prazo deum ano, apresentar resultados e opções de privatização.Passado esse tempo, terminado o contrato com a Sterling Merchant,foi feito um novo contrato apenas com o Director Geral cujos con-tornos, bem como a posterior rescisão, não foram conhecidos. Seguiu-se a nomeação de um novo Conselho de Administração.Todas essas mudanças, em termos de opções estratégicas e de lide-ranças não trouxeram resultados concretos para a TACV.Infelizmente, a imagem que a TACV transpira para a sociedade é deconflitos permanentes, de prestação de serviços de péssima qualidadee de dificuldades financeiras, tendo havido, inclusive, dificuldades nopagamento de salários e injecção de dinheiro público por parte dogoverno.Os atrasos e anulações de voo vão-se acumulando.Subsistem fortes reclamações das comunidades emigradas no tocanteaos preços das passagens e de certas ilhas quanto à regularidade dasligações. Não há uma clara definição de prestação do serviço público de trans-

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portes aéreos num país arquipélago como o nosso.Em resumo, longe do perfil que proporcionaria uma privatização, asituação real da empresa, do ponto de vista administrativo, patrimoni-al, financeiro e laboral conhece uma constante degradação que, a nãoser inflectida, levará os TACV à liquidação técnica.Nessa sequência, o MpD apresenta a seguinte visão para os TACV:

1. O MpD entende que, estando na presença de uma empresa decapitais exclusivamente públicos, tendo o Estado como únicoaccionista, compete ao Governo assegurar que a gestão daempresa vá ao encontro do interesse geral, assumindo a sua duplaresponsabilidade de accionista e de responsável por políticaspúblicas no sector dos transportes aéreos.Assim, é da responsabilidade do Governo de Cabo Verde assegu-rar um processo de reestruturação dos TACV, mediante opções esoluções que tenham em conta os objectivos de desenvolvimen-to da empresa, a sua responsabilidade social e a contribuição quepode e deve dar para a economia do País.

2. O Governo do MpD assumirá a boa imagem externa da compan-hia, a sua gestão tranquila, a rentabilidade e as condições deprestação do serviço público, como elementos de atractividade docapital e parceiros externos, sendo, por isso, eixos fundamentaisda sua responsabilidade para com os TACV. A privatização dos TACV, mediante uma parceria estratégica comuma entidade externa que traga sinergias claras em termos deknow how de gestão, capital e mercado será um dos grandesobjectivos da legislatura.

NO SANEAMENTO BÁSICOSerão progressivamente melhorados, através do cumprimento demetas ambiciosas para cada domínio do sector do saneamento, oacesso à água potável, as infra-estruturas de recolha e tratamento deáguas residuais, as infra-estruturas de recolha e tratamento de resídu-os sólidos e a drenagem de águas pluviais.Será assegurada a regulação e o controlo de qualidade, bem como

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uma cultura de resultados neste sector, devendo acompanhar e apoiaro desenvolvimento económico do País, com destaque para o desen-volvimento turístico como sector - chave da economia nacional.

B8 – Melhorar o acesso às tecnologias de informação e comuni-caçãoAs Tecnologias de Informação e Comunicação estão actualmente pre-sentes em todos os aspectos das nossas vidas. A nossa forma de trabal-har, a forma como nos divertimos, a forma como nos relacionamos unscom os outros, enfim, as nossas acções quotidianas estão profunda-mente marcadas pelas TIC. Promoveram profundas transformações e aumentaram exponencial-mente a eficiência e eficácia das organizações, extrapolando fronteirase idiomas e promovendo oportunidades de emprego e negócios mesmoà distância. Os indicadores de desenvolvimento tecnológico constituemactualmente métricas importantes para a apreciação do próprio estadode desenvolvimento dos países. Vários países têm dinamizado grandemente as suas economias, comuma aposta forte e estratégica nas TIC tendo resultados sociais eeconómicos invejáveis com o fornecimento de produtos e serviços àescala global. Essa dinâmica requer, entretanto, um investimento forteno combate à info-exclusão, na alfabetização digital na formação espe-cializada de técnicos certificados, na criação de um quadro de incen-tivos ao sector das TIC e na massificação do acesso ao computador eInternet.Em Cabo Verde, 75% da população não tem acesso à Internet e 89%das famílias não possui um computador em casa. O País posiciona-sena 108ª posição no Índice de Desenvolvimento Tecnológico e no 102ºlugar no Índice de Governação electrónica. Portanto, a esmagadoramaioria da população não tem acesso a computador e Internet e oscustos de acesso à rede mundial de computadores são proibitivos parao poder de compra das populações. Além disso, a qualidade de serviçosfornecida deixa muito a desejar. As empresas, sobretudo as de base tecnológica, experimentam uma

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imperiosa necessidade de melhorarem o seu nível de competitividade,mas a actual política de acesso à Internet no País, constitui-se comouma entrave real a esse processo. Reclamam da exacerbada centraliza-ção no NOSi, do desenvolvimento de soluções e prestação de serviçostecnológicos ao Estado, quando se poderia promover melhor o desen-volvimento do sector privado com uma presença mais efectiva no sec-tor. Por outro lado, a taxa de utilização dos serviços de governação elec-trónica disponibilizados aos cidadãos carece de melhorias substanciais. Portanto, o contexto nacional em termos de Tecnologias de Informaçãoe Comunicação caracteriza-se por:

a. Baixa taxa de penetração de Internet.b. Custos elevados de largura de banda.c. Pouca qualidade e diversidade nos serviços de acesso à Internet.d. Baixa taxa de penetração de computadores.e. Expressiva taxa de analfabetismo digital.f. Necessidade de maior formação de técnicos especializados e certi-

ficados.g. Deficit legislativo, sobretudo no que diz respeito à segurança e cri-

minalidade informáticah. Exacerbada centralização.

Por outro lado, o País possui um Plano Estratégico para a Sociedade deInformação e um Plano de Acção para a Governação Electrónica comuma panóplia vastíssima de projectos que não passaram do papel,como por exemplo:

a. Criação de um observatório para a sociedade da Informação.b. Criação da Biblioteca Nacional Digital.c. Criação do Portal da Saúde.d. Desenvolvimento de um Programa de Formação Certificada em

TIC.

Visão do MpDPretende-se a consolidação real da Sociedade da Informação emCabo Verde, com a massificação do acesso e utilização do computa-dor e Internet.

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Neste contexto, afirma-se como fundamental colocar os cidadãos nocentro das políticas para a Sociedade da Informação. Encarar as TIC,nomeadamente a Internet, enquanto instrumentos de uma cidadaniamais informada, mais activa e mais participativa e de combate àinfoexclusão.Um mercado das TIC muito dinâmico com empresas detentoras desoluções e serviços capazes de competir à escala Internacional. Uma governação cada vez mais próxima dos cidadãos com serviçosde e-governament e e-participation que são efectivamente utilizadospelos cidadãos.Um quadro legal que incentiva e promove o desenvolvimento dasTecnologias de Informação e Comunicação no País e garanta onecessário nível de segurança informática que o desenvolvimento dasociedade de informação requer.

O nosso compromissoPara a materialização desses objectivos, os seguintes compromissossão assumidos:

1. Legislação sobre criminalidade informática.2. Criação de condições para a investigação da criminalidade infor-

mática no seio da Polícia Judiciária. 3. Melhoria da política de acesso à Internet, com pacotes de

serviços mais diversificados e preços mais próximos do poder decompra das populações

Assume-se, como pilar estratégico para o efeito, a possibilidade dedisponibilizar os meios para acesso com grande facilidade à Internet,a baixo custo ou de forma gratuita, até como imperativo para a pro-moção de uma sociedade que se quer da informação e do conheci-mento. Políticas serão desenvolvidas, visando facilitar ao máximo o acesso àinternet, sem restrições, quer no espaço público, quer em casa, entreas quais se destaca:

a. A nível de espaço público:1. Incentivar a criação e dinamização da rede de postos de acesso

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público à internet, em parceria com os municípios e com outrasinstituições públicas e privadas.

2. Fomentar o desenvolvimento do acesso gratuito à Internet semfios em espaços municipais como jardins, bibliotecas, centros dedia, espaços juvenis, entre outros.

b. No que diz respeito ao apoio no acesso à Internet em casa:1. Desenvolvimento de programa de atribuição de computadores

com ligação à Internet, a preço reduzido, para públicos combaixos rendimentos. O referido programa deverá assim procu-rar atingir sectores da população tipicamente vítimas de infoex-clusão, nomeadamente: idosos, imigrantes, agregados em geralcom baixos rendimentos. O referido programa deverá englobaracções de formação em TIC.

2. Promover um programa nacional de recolha, reciclagem eredistribuição de material informático, desenvolvendo umarede de recolha e tratamento de material considerado obsoletopela Administração Pública e empresas, mas que ainda poderáser utilizado por agregados familiares, organizações não gover-namentais para efeitos de acesso à internet ou postos de aces-so publico à internet.

3. Incentivos à aquisição de equipamentos das TIC por parte dasfamílias, entre outros, a nível de isenções de taxas alfandegáriase da actualização no valor máximo de abatimento fiscal.

4. Implementação de políticas de neutralidade tecnológica edesenvolvimento de soluções de código aberto.

5. Maior envolvimento do sector privado e da sociedade civil nosprojectos de construção da sociedade da informação em CaboVerde.

6. Melhorar a política de aquisição de software público através demaior neutralidade tecnológica.

7. Criação de portal de Software livre.8. Criação de uma Fundação Científica Nacional.9. Maior aproximação dos serviços de governação electrónica aos

cidadãos.

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10. Promoção de literacia digital. 11. Formar e promover actividades de teletrabalho.

MELHORAR A ACTUAÇÃO DO REGULADORA actuação e os poderes do regulador serão avaliados no sentido dapromoção de um melhor ambiente concorrencial com benefícios naconfiança dos investidores e operadores, na qualidade e preços dosprodutos oferecidos e no leque de escolha dos clientes.

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A área social

As nossassoluções

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Um novo modelo social

Com o governo do PAICV, o capital de solidariedade nacional desmoro-nou-se, aumentando a dependência das famílias em relação ao Estadoe aos Municípios e à cultura assistencialista. Em diversas áreas da política solidária, como a eliminação dos desequi-líbrios entre as ilhas e entre as regiões, a acção social escolar no ensinosecundário e superior, a política em direcção à infância e o combate aotrabalho infantil, os cuidados básicos de saúde, habitação social, ter-ceira idade, deficiência e saneamento, os ganhos obtidos foram alta-mente insuficientes para debelar com profundidade a pobreza, diminuiras crianças de e na rua, dar uma melhor esperança à juventude, prote-ger a terceira idade e oferecer melhor qualidade de vida aos deficientes.

POBREZA, DESEMPREGO E DESIGUALDADES SOCIAISPode-se medir as desigualdades sociais pelo Índice de Gini, que varia de0 a 1, sendo 0 o mínimo de desigualdade e 1 o máximo. Em Cabo Verde,este índice teve a seguinte evolução:

Uma das causas destes números está na forte concentração de recur-sos. No pico mais elevado, 2001/02, os 10% mais ricos detinham 47%dos recursos, restando para os 10% mais pobres, apenas 1%.Tomando o índice de desigualdades do Relatório de DesenvolvimentoHumano 2009 das Nações Unidas, encontra-se um valor 50,5 pontosnum máximo de 100. Nesse relatório, os mais ricos têm uma taxa deconsumo de 40,6%, enquanto os mais pobres têm 1,9%.Estes últimos indicadores são demonstrativos das desigualdades sociaisque persistem em Cabo Verde, um problema grave que deve merecera máxima prioridade nas medidas de política gerais.

1988/89 1990/91 2001/02 2007/08

0,43 0,50 0,53 0,47 (0,505 no RDH 2009, PNUD)

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1. A pobreza como outro indicador dos desequilíbrios sociais No último estudo conhecido, realizado pelo INE nos finais de 2007, olimiar da pobreza foi estabelecido nos 49.485 escudos per capita / ano,correspondentes a 4 124$00/mês e 137$50/dia, concluindo-se poruma taxa de pobreza de 26,6%.

Constata-se uma diminuição da pobreza nos últimos vinte anos, quan-do a taxa estava nos 48,9%. Contudo, se tivermos em conta osObjectivos do Millenium, fixados nos 18%, verificamos que os 26,6%ainda estão longe deste valor.A acrescentar a isso, estes dados devem ser lidos com muita prudên-cia pois, um aspecto muito questionável a nível mundial, é a referên-cia de 1 USD/dia como despesa para se estabelecer o nível de pobreza,no caso, actualizado para 137$00 / dia. Tomemos o caso de Portugal, onde o nível de despesas estabelecidopara um mês, no mesmo ano de 2007, foi de 406 euros/mês (44 700ECV), o que se tomou para um ano noutras paragens do subdesen-volvimento. Mesmo assim, os resultados atingem taxas elevadas eseriam muitíssimo piores se a referência fosse mais exigente!Os resultados provam ainda:

a. O aumento relativo dos pobres no meio ruralEm 2001 63% dos pobres viviam no meio rural, enquanto os res-tantes 37% moravam nas cidades. Já em 2007, 72% dos pobres estavam no campo, enquanto nomeio urbano, 28%.

b. Uma distribuição da pobreza com grandes desequilíbrios re-gionaisNa Praia, havia 19.1% de pobres em 2001, tendo evoluído para11.6% em 2007 e São Vicente passou de 25.5% para 13.6%.

1990 2001 2007/08

Percentagem de pobres 48,9 36,7 26,6

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A incidência da pobreza era maior em S. Catarina do Fogo, Paul eMosteiros, com mais de 50% da população a viver abaixo do limi-ar da pobreza, sendo o mais pobre do País Santa Catarina do Fogocom 59% da população a viver abaixo do limiar. Os menos pobres estavam no Sal (4%) e na Boa Vista (8%).A nível das regiões, o Interior da ilha de Santiago tinha 41.5% em2007, enquanto Santo Antão era a ilha que apresentava os maioresíndices de pobreza com 45.6%.

c. Uma ligação clara da pobreza com a estrutura da família, como desemprego e habilitações escolaresAs famílias lideradas por mulheres contribuem com cerca de 33%,contra 21% das famílias lideradas por homens.Quanto mais velho for o chefe de família, mais dificuldades desubsistência tem a família. Na realidade, 32% das famílias pobressão chefiadas por pessoas com idades compreendidas entre os 50e os 59 anos. As famílias mais numerosas, com sete ou mais filhos, são as que lid-eram os índices de pobreza no País (cerca de 44%).As pessoas sem instrução são as mais pobres – 41%. As que têmensino básico representam 25% dos pobres, as do ensinosecundário 9.8%, e as do médio ou superior representam apenas1.2% dos pobres.Os desempregados (39.2%) e os trabalhadores por conta própriado sector agrícola (46%) são as classes mais pobres do País.Estes resultados são coerentes com a percepção dos cabo-ver-dianos que, através de inquéritos, apresentam o desemprego, apobreza, a inflação, a injustiça social e a criminalidade como áreasde concentração das suas preocupações.

2. Aumenta o número de crianças de e na rua e o trabalho infantilO constante aumento do número de crianças de e na rua e do trabalhoinfantil é um claro indicador das desigualdades sociais em Cabo Verde.O Instituto Cabo-Verdiano da Criança e Adolescente (ICCA) reconhe-

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ceu, em Junho de 2010, "um claro aumento da negligência" e do"abandono infantil" nos últimos anos em Cabo Verde, tendo comoprincipais causas a toxicodependência, o alcoolismo e a violência do-méstica.O ICCA avançou que, nos últimos três anos, só nos centros deemergência infantil da Cidade da Praia e do Mindelo, se registou umaumento significativo de acolhimento de crianças vítimas de maustratos, abandono e negligência, passando de 79 casos em 2006 para146 em 2009.Já o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) tinha dadoconta que, de 2006 para 2008, o trabalho infantil em Cabo Verdeduplicou, tendo sido detectados 16 328 casos. Outro elemento de desestruturação é o número de crianças sem regis-to, isto é, sem o direito ao nome e ao sustento e educação familiarintegrados, base para um futuro de inclusão social. Basta verificarmos o que se passa à frente dos supermercados, nospontos de lavagem de veículos, nas diversas denúncias públicas de tra-balho e de prostituição infantil, para concluirmos por uma situação dacriança que se degrada de dia para dia, não só por aquilo a que se re-fere o ICCA, mas também, pelo quadro de pobreza e estrutura famil-iar prevalecente.Por outro lado, a deficiente acção social escolar no secundário e nosuperior tende a criar novos pobres.O abandono escolar está num nível de 8% ao ano no ensino secun-dário, por insuficiência do investimento no transporte escolar einjustiça da lei sobre propinas que põe toda a gente a pagar, numquadro em que o ICASE só tem coberto 12% dos inscritos (6203 bene-ficiários contra 53181 alunos) a nível nacional, mas, na Praia, só com5%, em S Vicente com 6% e Santa Catarina de Santiago com 8,3%(2008/09).A maioria dos jovens, filhos de gente com menos recursos, não con-segue ter acesso à formação superior, pois não tem recursos. O gover-no perdeu a oportunidade de alimentar um Fundo de Garantia parabolsas - crédito que possibilitasse e incentivasse as famílias e os jovensa investirem na formação superior, não porque faltou dinheiro, pois

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nunca o País teve tantos recursos financeiros, mas sim por falta devisão estratégica. A consequência é o retorno do elitismo na formaçãosuperior e exclusão dos mais pobres, o que não favorece a justiça socialnas transferências públicas às famílias, mas antes favorece a exclusãodos pobres e potencia a transmissão inter-geracional na pobreza.

3. Maior abandono dos idososOs idosos são, em Cabo Verde, altamente dependentes, pois, durantea sua vida activa, uma grande maioria não teve acesso a esquemas deprotecção social na velhice e na doença.Esta situação é agravada pelo número de idosos a viverem sozinhos.Assim se compreende os resultados do estudo já citado e que indicaque, quanto mais velho for o chefe de família, mais dificuldades desubsistência tem a família. Na realidade, 32% das famílias pobres sãochefiadas por pessoas com idades compreendidas entre os 50 e os 59anos.A quebra dos vínculos de solidariedade no seio da família, a longevi-dade resultante de uma maior esperança de vida e a persistência delargos sectores da sociedade sem cobertura pelo regime de segurançasocial não contributivo são factores de risco para os idosos de CaboVerde.

4. Os portadores de deficiências esperam por melhores dias Estima-se que os portadores de deficiência em Cabo Verde atinjamos 15 000 (13.948 no Censo 2000), sendo 18% crianças.Uma significativa percentagem destas crianças portadoras de defi-ciência não frequenta uma escola, sendo certo que uma boa partenunca frequentou sequer um estabelecimento de ensino. A oferta do ensino especial é incipiente e com pouca adaptabilidadeem termos físicos, de recursos e de conteúdos às diversas deficiên-cias.Não existe uma política pública de reclassificação urbana de modo apromover a mobilidade dos deficientes.Os incentivos ao emprego dos deficientes são inexistentes ou insufi-cientes e os recursos públicos destinados à promoção do acesso dos

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deficientes a bens necessários à sua condição são bastante limitados.

5. Elevado défice de habitação social e milhares de casas porreabilitarO défice habitacional deixado pelo governo do PAICV está estimadoem cerca de 40.000 fogos e dezenas de milhares de habitaçõesdegradadas.Situações como as que prevalecem em Santa Maria, em que mais de200 pessoas vivem numa profunda degradação habitacional na zonachamada de Caserna ou em Sal Rei, na zona Salina, onde milharestêm o mesmo destino, são prova de abandono de políticas públicasde equilíbrio social em contraposição à preocupação com receitas devendas de terreno nas zonas turísticas. Só em finais de mandatos o PAICV se lembra da habitação económi-ca, continuando a menosprezar a habitação social e a recuperaçãodas habitações degradadas, numa desastrosa manobra de promovera campanha política, excluindo do processo as Câmaras Municiaisdemocraticamente eleitas.É o caso do programa denominado de “Casa para todos”, cujo slogan,nos moldes como está a ser conduzido pelo governo, resultará em“Casa para alguns e dívida para os cabo-verdianos”, pois dirige-se afamílias ou indivíduos com um rendimento mensal superior a 40000$00 mensais.

A visão do MpD, um novo modelo socialO MpD elege o desenvolvimento da pessoa humana como o fim prin-cipal da actividade política e reconhece, como parte essencial destedesenvolvimento, a melhoria das suas condições materiais deexistência, para a qual a contribuição do emprego e dos rendimentosque gera é decisiva. É caso para se dizer que não basta crescer para asestatísticas: é preciso crescer para as pessoas.O MpD acredita que as mulheres e os homens só se realizam e sesentem dignos quando sejam autónomos e independentes peranteos outros; quando possam ter auto-estima por aquilo que são e que

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fazem; quando possam ter liberdade e iniciativa na expressão da suaalma e inteligência, na escolha das comunidades em que desejamintegrar-se e na busca de recursos para satisfação das suas necessi-dades, para o desenvolvimento da sua personalidade e para a melho-ria da sua vida.O MpD considera que combater o triângulo das vulnerabilidadessociais “Desemprego – Pobreza - Desequilíbrio Social” e organizar oprovimento de iguais oportunidades de fruição de direitos básicos atodo o cidadão, constituem obrigações e compromissos incon-tornáveis para a construção de uma sociedade equilibrada.O MpD defende que a luta contra a pobreza deverá ser vista como aluta pela superação individual para subir os degraus que melhorem aqualidade de vida das pessoas. O indivíduo deve ajudar-se a sipróprio, progredir socialmente e não ser um mero recipiente daassistência. O MpD acredita que é dever do Estado garantir condições de ofertade oportunidades e executar políticas de coesão económica e socialpara que tal aconteça, competindo, especificamente, ao Estado criaroportunidades sociais para o acesso à educação, à saúde e à pro-tecção social.

A – Dos instrumentos e grandes componentes do novomodelo socialA1- Emprego com qualidadeO acesso ao rendimento, através de um emprego de qualidade comoprincipal condição da dignidade humanaNão se pode pactuar com a noção de um Cabo Verde estrutural-mente incapaz de dar um ganha-pão digno aos seus cidadãos atravésde um emprego condigno. O desemprego é a principal causa da pobreza em Cabo Verde e sendoo emprego, antes de tudo, um problema de desenvolvimentoeconómico, há que enfrentar e vencer o desafio do desenvolvimentoeconómico para acabar com o chamado desemprego estrutural exis-tente, crescendo para as pessoas.

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A2 – Promoção da habitação social e da reabilitação das casasExiste um vazio confrangedor no domínio da habitação social e da rea-bilitação das habitações.Urge definir uma política pública para o sector que, entre outras ver-tentes, identificará com precisão o papel do Governo, das autarquiaslocais e do sector privado no fomento habitacional e os programas soci-ais de facilitação dos cabo-verdianos ao acesso à habitação própria.

A3 - A educação como bem essencial da vida humanaUma população bem-educada e formada é a base para o fortalecimen-to da democracia, da realização individual, do desenvolvimentoeconómico, bem como da cultura e da coesão socialO MpD terá a tarefa de retomar a educação e a formação profissionalcomo investimentos estratégicos para compatibilizar o perfil do for-mando com as grandes exigências do mundo moderno, como sejam acompetitividade da economia e a salvaguarda cívica e cultural, para ocombate à pobreza e coesão social e para as competências duradourasna base da formação integral do indivíduo ao longo da vida.

A4 - A Saúde, um bem universal e inclusivoO MpD introduzirá reformas nos cuidados de saúde de modo a redirec-cionar a Saúde para a inclusão e universalidade, com ganhos de prox-imidade, cobertura e eficiência.

A5 – A Juventude no centro das medidas de política A Juventude, enquanto futuro da Nação, deve estar no centro dassoluções nacionais.Urge retirar a juventude do desemprego e do desânimo de expectati-vas, evitando a sua condenação ao engrossar das fileiras dos futurosexcluídos da sociedade.

A6 - As crianças, os idosos e os portadores de deficiência merecerãoa nossa prioridade nacionalAs políticas, sociais dirigidas para um bom começo de vida, para os quederam a sua contribuição para a Nação e hoje precisam dela, e para os

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que, muitas vezes por culpa do Estado (vacinação, fiscalização, pre-venção), apresentam limitações físicas e fisiológicas deverão ser melho-radas em termos de extensão e qualidade.

A7 - Segurança e protecção social, consolidar e alargar o sistemaO actual quadro coloca preocupações a nível do alargamento da pro-tecção social e da sustentabilidade dos regimes existentes.

A8 - Metas claras de investimento na Educação, Saúde e PequenaInfânciaO Governo do MpD irá aumentar consideravelmente os recursos finan-ceiros do Estado que serão afectados aos programas de políticas acti-vas de criação do emprego, de apoio ao empreendedorismo jovem e depromoção de acesso das PME´s ao crédito, imprescindíveis ao combateao desemprego. Irá atacar as bolsas de p,obreza com programas que promovam odesenvolvimento rural sustentado, o acesso ao micro crédito e aorendimento e, no geral, um Estado Social com base nos equilíbrios soci-ais suportados pelo lado da Despesa do Estado. As metas financeiras terão em conta um esforço em matéria socialcomparável ao nível dos países do pelotão da frente dos países de rendi-mento médio em termos de Educação Básica, Saúde Básica, PequenaInfância e de recursos e consumo dos mais pobres.Para isso, o Governo do MpD vai realizar uma grande racionalização nasdespesas públicas, mediante contracção de despesas correntes e intro-dução de um maior equilíbrio nos investimentos públicos entre a afec-tação de recursos para infra-estruturas e para apoio às despesas viradaspara o tecido produtivo e criação do emprego.

B – Os diversos sectores do novo Modelo SocialB1 - Protecção social

a. Desenvolvimento da economia socialO MpD integrará o desenvolvimento da economia social (socialbusiness) nos objectivos da sua política económica.

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Desenvolverá um amplo programa integrado de formação profis-sional de base, de fundo financeiro inicial e de apoio institucional,de forma a facultar condições para que populações excluídas domercado de trabalho tenham ferramentas e oportunidades quelhes permitam produzir e entrar no circuito comercial.

b. Garantia do cumprimento do direito constitucional a uma habita-ção condigna

O IFH, passará a ser definitivamente um instrumento de execuçãoda política pública do Governo para o sector de habitação, deixan-do de ser uma imobiliária com funções comerciais. Com este novo perfil, passará a ser a sede de estudo sobre a pro-blemática habitacional em Cabo Verde e o instrumento privilegia-do do Governo na formulação de políticas para o sector e suaimplementação. O MpD tudo fará para que os terrenos públicos sejam instrumen-tos de promoção de política habitacional de pendor social e não,como tem sido até agora, objecto de pura especulação comercial,em concorrência com as imobiliárias privadas.

c. Combate ao abandono escolarGarantiremos que as crianças e os jovens não tenham que aban-donar a escola, por exemplo, porque os pais não têm dinheiro parapagar propinas.Serão reforçados os apoios sócio – educativos de modo a pro-mover a igualdade de oportunidades em todos os níveis do ensi-no, com reflexos na melhoria constante das taxas de escolariza-ção e de eficácia escolar, combatendo o insucesso e o abandonoescolar, fonte da proliferação dos meninos de e na rua, do traba-lho infantil e da delinquência juvenil.Será reforçado o ensino profissional na educação e na formaçãoprofissional, de modo a que os que queiram entrar no mercado detrabalho antes de completarem o secundário, o possam fazer comsucesso, dando expectativas a todos os que estão no sistema e aí

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permaneçam até atingir os seus objectivos de vida. A Lei sobre Propinas no ensino secundário será revista de modo areintroduzir as isenções aos que não chegam a ganhar o saláriomínimo da administração pública.Será adoptada uma nova política de atribuição e de financiamen-to das bolsas de estudo, com o aumento substancial do númerode bolsas a atribuir, num mínimo de 1000 novas bolsas anuais e,através de um fundo de garantia, possibilitar o acesso a emprésti-mos aos que não conseguiram uma bolsa de estudos, tudo pararestabelecer a equidade no acesso e sucesso no ensino superior.

d. Garantia de assistência na Saúde aos que não podem pagarGarantiremos que os cidadãos deste País não fiquem semassistência na saúde porque não têm dinheiro para pagar os cuida-dos nos centros de saúde ou nos hospitais.

e. Segurança e protecção social, consolidar e alargar o sistemaO actual quadro coloca preocupações a nível do alargamento daprotecção social e da sustentabilidade dos regimes existentesNo plano da gestão, o regime dos trabalhadores por conta de out-rem continua a ser integralmente gerido pelo INPS, que, vistos oscasos como o investimento na ELECTRA e o constante financia-mento do Tesouro Público, se tem pautado por operações e apli-cações de duvidosa racionalidade financeira, pondo em causa ofuturo tanto das pensões como a melhoria substancial de que aassistência na doença ainda carece ou outros desenvolvimentosde protecção social que o sistema ainda não oferece, como é ocaso do subsídio de desemprego.Outra grande questão prende-se com a cobertura asseguradapelo regime actual de protecção social que deixa ainda adescoberto uma grande franja da população cabo-verdiana emidade de trabalhar. Essa franja maioritária da população activa nãotem qualquer protecção na doença, nem perspectivas de umapensão por velhice ou invalidez.

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O MpD defende um quadro legal da protecção social que i) apontepara um urgente alargamento da cobertura a todas as categoriaspopulacionais ainda não cobertas, tendo em conta o elevado graude informalização da economia recentemente confirmado peloInstituto Nacional de Estatísticas e que impede a utilização dosmecanismos tradicionais de retenção e contribuição, sem esquecera grande dificuldade associada ao controlo e ii) crie e fomente oaparecimento de sistemas complementares de protecção social.O MpD propõe-se alterar rapidamente este estado de coisas,através de uma abordagem faseada para a problemática, segundoos seguintes eixos de intervenção:i. Alargamento da protecção social

O MpD desenvolverá uma abordagem que permita acelerar oprocesso de alargamento, numa primeira fase, em relação aostrabalhadores do sector informal da economia, os indepen-dentes e os pequenos empregadores e, numa segunda fase,através de sistemas de protecção adaptados ao meio rural e aosector das pescas, tudo acompanhado pelo incentivo a novasformas de protecção complementar como Seguros e Planos deSaúde.

ii. Mudanças substanciais na gestão do INPSO MpD executará mudanças substanciais na gestão do INPScom maior intervenção dos parceiros sociais, nomeadamente ossindicatos e as entidades empregadoras, e o lançamento de umprocesso de reforma interna visando reforçar os mecanismos degestão da instituição e a sua modernização.

iii. Reavaliação e dinamização do actual regime de protecção socialO MpD irá avaliar o estado actual de aplicação do regime deprotecção social, introduzindo os elementos necessários à suaestabilização e consolidação, nomeadamente, no pós – alarga-mento aos funcionários públicos.

iv. Reforço da vertente inspectiva e de controloO MpD reforçará a vertente inspectiva e de controlo, não só aonível do INPS como de outras instituições, nomeadamente a

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Inspecção Geral do Trabalho, cujos poderes devem ser reforça-dos e aumentados os meios à sua disposição.

f. Uma sociedade preocupada com a sua juventudeGarantiremos que os jovens não sejam os futuros excluídos nasociedade!Para fazer face aos graves problemas que a juventude enfrenta, oMpD garante a existência e funcionamento na Chefia do Governo eem ligação directa com o Chefe do Governo de uma estrutura cen-tral de concepção, promoção e coordenação de políticas públicas deJuventude, capaz de discutir, propor e monitorizar a execução deleis, medidas, pacotes, incentivos dirigidos especificamente à juven-tude ou com ela relacionados.

g. Maior dignidade para os idososAos que deram a sua contribuição para a Nação e, hoje, precisam daprotecção social, o MpD garante um processo de constante dignifi-cação. A pensão social, resultante da uniformização das pensões do regimenão contributivo (Pensão de Solidariedade Social e Pensão SocialMínima criados na década de noventa), só agora chega aos 5000$00, montante muito próximo do limiar da pobreza (em 2007,foi fixada nos 4 124$00/mês).O MpD trabalhará não só para um programa de aumento dessemontante, como também da cobertura do número dos beneficiáriosda pensão social.

B2 – Retomar a Educação como investimentoestratégicoAinda está na memória do povo cabo-verdiano o grande investimen-to feito na Educação pelos governos do MpD na década de noventa.Não só o Ensino Básico (EB) e o Secundário (ES) sofreram profundasreformas e expansão, mas também, outros níveis de ensino, como opré – escolar, a educação de adultos e o superior conheceram umagrande dinâmica.

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O CAMINHO CERTO DA EDUCAÇÃO NA DÉCADA DE NOVENTAAcompanhado de medidas positivas em direcção aos professores, aosgestores escolares, aos coordenadores pedagógicos, os resultadosmostravam no ano 2000:A quase escolarização total (taxa líquida de 96%) nos seis anos deescolaridade e a elevação, em dez anos, da taxa de escolarização noensino secundário de 20% para 54%.A dotação dos docentes, dos gestores, dos coordenadores pedagógi-cos, pela primeira vez, do pré – primário ao superior, de estatutosapropriados que trouxeram melhor qualidade de vida e, portanto,maior estabilidade e motivação aos mesmos, ficando na história quefoi com o MpD que os professores eventuais passaram a ter saláriosnas férias.O avanço na qualificação dos professores (no EBI, 67% em 2000 con-tra 21% em 1990 e no ES, 62% em 2000 contra 50% em 1990), coma criação do Instituto Pedagógico em 1993/94 e do ISE, tudo acom-panhado por novos cursos e extensão da cobertura territorial destasescolas (Assomada e S Vicente).A atribuição de importantes recursos à Educação (22,1% doOrçamento do Estado em 2000, contra 13% em 1990), com reflexosnos objectivos estratégicos, como

a. A democratização da oferta e melhoria nas condições de trabalhoe de estudo (aumento substancial do número de salas de aula e aredução das salas cedidas/alugadas de 24% em 1990 para 10% em2000 no EBI e com a passagem de 6 estabelecimentos de ensinosecundário em 1990 para 29 em 2000),

b. A eficácia do sistema (no EBI, taxas de aprovação de 84,3% em2000 contra 75% em 1990),

c. A preparação dos jovens para a vida activa, com um programa deconstrução de escolas técnicas e de residências escolares e

d. No acesso e no sucesso escolar, com o reforço dos apoios sociaisescolares, via ICASE, e das bolsas de estudo no ensino secundário euniversitário (FAEF).

A reforma do ensino básico trouxe, em 1994, ao lado de novos planos

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de estudo, de novos programas, de novos manuais e de guias dos pro-fessores, uma nova configuração escolar (os Pólos Educativos), o ensi-no obrigatório de 6 anos e um novo parque escolar. A reforma do ensino secundário começou com a chegada dosprimeiros alunos do ensino básico reformado em 1996, contemplan-do uma nova configuração do sistema, novos planos de estudo,novos programas, novos manuais, novos espaços pedagógicos (bib-liotecas, laboratórios e pavilhões desportivos) e uma grande constru-ção e cobertura de liceus.Nesse período, o plano de estudos das escolas do ensino técnico foimodificado e os professores das escolas técnicas receberam for-mação para melhorar as suas competências e aumentar o conteúdotécnico dos seus cursos. Foram construídas e projectadas várias escolas técnicas com o objec-tivo de colocar a formação técnica em 30% no ano 2002.O resultado foi o grande desenvolvimento nas taxas líquidas de esco-larização e no número de alunos que passaram a frequentar os liceus,numa contribuição para uma maior justiça social e na diminuição dasdesigualdades entre as ilhas, entre a cidade e o campo e entre género.O Ensino Superior também conheceu um profundo desenvolvimen-to na década de 90, pois antes só existia um simples curso de for-mação de professores do ensino secundário, tendo que se avançar,primeiro, com a criação da Comissão Instaladora do Ensino Superior,depois com a Direcção – Geral do Ensino Superior e Ciência, até à cri-ação da Universidade Pública de Cabo Verde (Resolução n.º53/2000de 28 de Agosto) e respectiva Comissão Instaladora, tudo acompan-hado com um grande número de bolsas de estudo com resultados naformação de milhares de quadros que hoje são competências nosdiversos sectores de desenvolvimento do País.A somar ao forte investimento no ensino público, foi estimulado oensino privado, regulamentado através do DL 17/96 de 3 de Junho de1996, que se expandiu na década de noventa, constituindo umaimportante oferta alternativa, nomeadamente, para os que já tinhamabandonado a escola ou já trabalhavam.

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Dando continuidade às preocupações, mais centradas na qualidadedo ensino, importantes medidas de políticas, foram aprovadas peloGoverno do MpD, ainda em 1998 (Resolução nº8/98 de 16 deMarço) no que se designou de “Reforma da Reforma”, tudo acom-panhado de um financiamento do Banco Mundial, de 6 milhões deUSD.Em consequência, era legítimo esperar, como se esperava, que,agora em 2010, a grande maioria dos jovens cabo-verdianos tivesseuma formação flexível de 9 anos, com 5 anos de aprendizagem deinglês, francês e computadores, 3 anos de aprendizagem de noçõesde economia e de formação pessoal, cívica e cultural, 9 anos deaprendizagem de disciplinas científicas e 11 de português.

A SEGUIR A 2000, UMA DÉCADA PERDIDA PARA A EDUCAÇÃOO que fez o governo do PAICV em dez anos, depois de tão grandeímpeto reformista e de democratização e qualificação do ensino queherdou?

I. A resposta pode ser encontrada em menos de cinco dedos damão. Em dez anos são conhecidas:

1. Uma pequena reforma na organização do ensino, que passou oensino técnico de quatro para dois anos, tornando-o mais gene-ralista.

2. A continuação da construção de alguns liceus, tendo transforma-do os projectos de escola técnica recebidos, já financiados e con-tratados, de S Vicente e Praia em escolas de ensino geral.

3. A aprovação de novas normas para a Lei de Bases do Sistema deEnsino, normas essas questionáveis e com pouca ambição,nomeadamente, na escolaridade mínima de apenas 8 anos.

O resto continuou na mesma! Nenhuma reforma de fundo viu a luzdo dia, pois o Governo do PAICV limitou-se a uma gestão mera-mente corrente da herança que recebeu dos governos do MpD, semqualquer inovação positiva de relevo.Depois de um grande alarido com as despesas da Educação, queficaria conhecido como “o colapso” e que levaria a grandes prejuí-

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zos à educação como o adiamento de grandes projectos, como ainstalação da Universidade de Cabo Verde, o abandono de umacapacidade de ensino técnico e tecnológico, bem como das refor-mas fundamentais para a qualidade do ensino, a educação foi alvode um conjunto de medidas de cosmética, com muitos anúncios desoluções miraculosas, mas que, afinal, não tiveram qualquertradução na melhoria dos níveis de qualidade do sector.Continuou com a construção de liceus e não mexeu nos conteúdosdo ensino secundário. O resultado são milhares e milhares de jovenscom o 12º ano sentados em casa, enquanto os empresários procu-ram jovens capacitados, fruto de um ensino generalista, sem saberfazer e com fraca capacidade científica, oficinal, laboratorial e dedomínio da língua inglesa e das tecnologias de informação.No ensino básico, após dez anos, até os manuais permanecem osmesmos, não se falando na falta de introdução de novas aprendiza-gens, como o inglês e as tecnologias de informação ou o reforço dasmatemáticas e das ciências integradas, que acabariam por determi-nar o fim da monodocência a partir do 5º ano de escolaridade.O Ensino Superior cresceu abandonado à sua sorte, sem auditorias,sem supervisão, com graves problemas de qualidade, a começarpela universidade pública, cujo modelo departamental matou asescolas como o ISE ou o ISECMAR que vinham mostrando, com asua autonomia, grande vitalidade no ensino e na investigação!Os apoios escolares passaram a ser um troféu exibido pelo próprioPrimeiro-Ministro numa atitude, nunca vista, de expor as criançascarenciadas aos holofotes do país inteiro, quando o que está emcausa é o exercício de um dever do Estado na promoção da igual-dade do acesso e do sucesso escolar!

O GOVERNO DO PAICV INVESTIU, ANO A ANO, CADA VEZ ME-NOS NA EDUCAÇÃOBasta atentar nos números, retirados das Contas do Estado, portan-to, execução orçamental real, bem como nos gráficos que daí resul-tam para chegarmos, rapidamente a essa conclusão:

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Com este quadro pode fazer-se a comparação entre o Total dasDespesas que o Estado realizou no sector de Educação, com asDespesas Totais do Estado e com o Produto Interno Bruto (pm), tudoa nível da execução orçamental, portanto, gastos reais. Segue-se umgráfico ilustrativo, baseado na tabela anterior:

Fontes : Ministério Finanças, Contas do Estado 1996 a 2009, INE e FMI – PIB a preços correntes

Os gráficos mostram que o Governo vem atribuindo, em termos pro-porcionais, cada vez menos recursos à Educação. A educação represen-ta apenas 14% dos gastos do Estado em 2009 e 5% do PIB nesse

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Gastos do sector Educação, valores reais (Un.: mil contos)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Funcionamento 2.071 2.575 2.556 2.779 3.260 3.439 3.553 4.464 4.297 4.672 5.125 5.275 5.437 5.600

Investimento 1.300 1.466 1.095 1.203 2.040 2.302 1.983 1.182 779 1.038 915 898 876 747

Total despesas Educação 3.371 4.041 3.651 3.982 5.300 5.741 5.536 5.646 5.076 5.710 6.040 6.173 6.313 6.347

Total gastos do Estado 18.747 22.478 20.243 20.016 23.938 24.045 27.501 28.082 27.587 29.561 36.047 36.254 41.304 44.617

Educ. % gastos do Estado 18,0% 18,0% 18,0% 19,9% 22,1% 23,9% 20,1% 20,1% 18,4% 19,3% 16,8% 17,0% 15,3% 14,2%

PIB valores correntes* 41,6 45,9 51,5 61,7 64,5 69,4 72,8 79,5 82,1 86,2 97,4 107,2 115,6 124,8

Educação % do PIB 8,1% 8,8% 7,1% 6,5% 8,2% 8,3% 7,6% 7,1% 6,2% 6,6% 6,2% 5,8% 5,5% 5,1%

*milhões de contos

Fontes: MF-Contas do Estado; INE e FMI-PIB

Despesas de Educação em % dos gastostotais do Estado

Despesas de Educação em % do PIB

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mesmo ano, quando no ano 2000, a Educação absorvia 22% e 8%respectivamente. Essa tendência decrescente abarca todo período dagovernação do PAICV, como ficou ilustrado. Comparando com as despesas totais do Estado e com a evolução doPIB, em 2009, as despesas do sector foram, em percentagem, cerca de60% do nível alcançado pelo MpD em 2000.A melhor maneira de medir a prioridade que um Governo atribui àEducação é através dos recursos financeiros que investe nesse sector,comparando com as despesas totais do Estado e a evolução da econo-mia nacional (PIB). Claramente, as opções políticas do governo do PAICV secundarizam aEducação como investimento estratégico para o País.

MILHARES DE JOVENS ESTÃO FORA DO SISTEMA EDUCATIVODados oficiais do Governo (INE: QUIBB 2007) revelam que, nesse ano,16.429 jovens de idades entre os 6 e 17 anos ficaram fora do sistemaeducativo, dos quais 14.812 na faixa etária 12-17 anos, ou seja, alunosdo ensino secundário. São mais de 16 mil jovens que deviam estar na escola mas que, aoinvés, estão em casa, ou melhor, na rua, sujeitos a todos os perigos etentações. A principal razão invocada pelos que abandonam a escola é a falta demeios (30%). As elevadas taxas de reprovação, fruto da má políticaeducativa do Governo, contribui igualmente para lançar centenas dejovens fora do sistema educativo, sem alternativas e sem perspectivas.Quando se associa isto à principal causa de insatisfação com o sistemaescolar, as propinas caras (54%), compreende-se melhor o efeitonefasto da política educativa deste Governo, que se preocupa emencher os cofres com propinas incomportáveis, esquecendo o seuefeito nefasto nos rendimentos das famílias. São 16 mil jovens e respectivos pais frustrados nos seus sonhos, semhorizontes e sem perspectivas de progredir na vida, em consequênciada falta de visão, de sensibilidade e da incompetência do governo doPAICV.

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POUCAS BOLSAS DE ESTUDOO governo, num documento de propaganda chamado “Cabo Verde e aEducação”, no Quadro 6, fala da “Evolução de novas bolsas e subsídiosfinanciados pelo Governo de Cabo Verde – 2000 a 2009. O quadro seguinte representa estes dados e os das Contas do Estadoquanto aos valores gastos nas bolsas e subsídios.

O quadro demonstra que o governo despendeu, ano a ano, ummontante muito insuficiente para novas bolsas, principalmente,quando analisamos o número crescente daqueles que saem doensino secundário todos os anos.

A título ilustrativo, vejamos o que se passou no ano lectivo2008/2009:

Vagas 676No Exterior Total de Bolsas Atribuídas 237

(dos quais, 110 do Governo CV)Alunos sem cobertura 439 65%

Novos Alunos 3878Bolsas concedidas 246

No País (dos quais, 20 do Governo PT)Alunos sem cobertura 3.632 94%Subsídios 400Bolsas mais subsídios 646 17%

Fontes: ME Cabo Verde e a educação - numero de Bolsas e Anuário Educação ano lectivo 2008/2009

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(valores emmilhares de escudos) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Média

Número de novas bolsas e subsídios 450 528 472 417 646 503

Valor total bolsas 298.824 282.318 313.961 359.283 374.699 388.375 343.727

Disponibilidades paranovas bolsas -16.506 31.643 45.322 15.416 13.676 17.910

Fontes: ME Cabo Verde e a educação - numero de BolsasMF- Contas do Estado - Valor total das Bolsas

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Só no ano lectivo 2008/2009, ficaram, no exterior, 439 alunos (65%)sem bolsa de estudo e, no País, mais de 3.000 alunos sem bolsa ousubsídios. Isto é, todos os anos, milhares de alunos do ensino superi-or ficaram entregues à sua sorte ou às custas do sacrifício dos pais.No referido Quadro 6, quando se soma o número de bolsas e subsí-dio atribuídos de 2001 a 2009, dá um total de 4048. Somados às de2010 pode arredondar-se, por excesso, para 5000 o máximo de bol-sas e subsídios atribuídos nos dez anos de mandato do PAICV.Entretanto, em outdoors do governo espalhados pelo País, fala-se em18.000 bolseiros. Cada bolseiro contou, pelo menos, quatro vezespara o PAICV chegar a esse número!Uma deturpação para enganar os incautos! Tudo isso para tentar esconder um facto indubitável: o governo pôscada vez menos recursos na Educação e particularmente em bolsasde estudos, lançando para a rua, no desemprego e no desespero,milhares de jovens que um dia sonharam prosseguir os seus estudose ter uma vida melhor.O Governo disponibilizou muito pouco dinheiro para bolsas de estu-dos. Para elas reservou menos de 1% dos gastos do Estado e menosde 6% das despesas com Educação.

QUASE METADE DOS DESEMPREGADOS TÊM O ENSINO SECUN-DÁRIO COMPLETOO inquérito ao emprego de 2008 do IEFP, o último que se debruçousobre este assunto, revela que 48% dos desempregados nesse ano,seja 16.600 pessoas, tinham como habilitação literária, o ensinosecundário. Ou seja, após 12 anos de formação, milhares de jovensnão conseguem encontrar emprego. Porquê? Porque a economia cresce devagar e não consegue absorver todos osjovens que chegam ao mercado de trabalho. Porque a formação quese dá aos jovens é muito generalista e não os prepara para o merca-do de trabalho e, por fim, porque esses milhares de jovens não con-seguem uma bolsa de estudos para prosseguirem a sua formaçãosuperior.

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Acresce ainda que, já nessa altura, havia 1.384 jovens com formaçãosuperior, sem emprego. Tudo responsabilidade deste Governo que sufocou o ensino técnicoem Cabo Verde, que não tem políticas para fazer crescer a economiaao ritmo necessário para criar postos de trabalho, e que não julganecessário apoiar os jovens no prosseguimento dos seus estudos.

PROFESSORES DESMOTIVADOSOs professores estão desmotivados, sem estímulos para melhorarema sua formação, sem valorização do seu mérito, com as carreiras blo-queadas anos a fio e sujeitos à discriminação política.Entre 2001 e 2005, o Governo do PAICV deixou acumular tudo o queeram reclassificações, progressões, pagamentos de subsídios e outrose teve que, à pressa, com discriminações e às portas de eleições,adoptar a célebre Lei Medida para remediar o problema.Essa lei de 2005 exigiu para as promoções, 8 anos e, para as pro-gressões, 6 anos, isto é, o dobro do que a lei impõe como prazos.Gerou uma injustiça, pois os que já tinham ultrapassado os três ouquatro anos exigidos, mas que não tinham atingido os seis ou oito,ficaram para trás.Outra injustiça gerada foi a promoção automática, descurando oesforço daqueles professores que, com grandes sacrifícios e dedi-cação, tinham obtido uma formação. No final, viram-se em igualdadede circunstâncias com aqueles que, mesmo pouco zelosos na tarefade ensinar e sem se preocupar com a formação, foram promovidos. Depois da Lei Medida, voltaram as acumulações, pois, desde essaépoca, não voltou a haver classificações, progressões ou promoções,salvo caso muito pontual.O resultado é que, tanto os remanescentes da Lei Medida mais asreclassificações e progressões de 2006 a 2010 estão por fazer, signif-icando que as reclassificações já vão, no mínimo, com cinco anos deatraso e as progressões, se tivermos em conta que no próximo 1 deAbril há professores que adquirirão o direito a progredir, se integra-dos na quota dos 1/3, o atraso chega aos 6 anos.

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Um grande prejuízo económico para os professores. Uma grandeinjustiça que coloca dois professores na mesma escola, com a mesmaformação numa situação de discriminação: um ganha mais uma cente-na de contos anual que o outro. Uma grande desmotivação para o estudo, pois, a somar a isso, os pro-fessores que saíram para a formação, no regresso, sofrem, não só coma angústia da recolocação, mas também, com a colocação tardia. Talfacto deve-se às tentativas de poupança por parte do ministério e de severificar qual a cor política do candidato, de tal modo que muitos pro-fessores vão para a formação com receio de, quando voltarem, nãoencontrarem lugar, ou então terem de esperar quase um ano pararecomeçar a leccionar.Hoje, em final de mandato e depois de várias manobras com os sindi-catos, o governo está, de novo às pressas e com discriminações, a ten-tar remediar novamente a situação:Prometeu a reclassificação de cerca de 350 professores que esperamdesde 2006 até Dezembro de 2010, ficando os outros na terrível situ-ação do desencanto da espera. Das progressões, nem uma palavra, anão ser para os técnicos internos do ministério. As promoções não foram regulamentadas no ponto “aprovação emconcurso”, o que levou, por exemplo, no citado processo da aplicaçãoda Lei Medida, em 2005, às referidas situações de injustiça em relaçãoa muitos que se esforçaram para estudar. Outro facto reside na reclassificação em que, na generalidade dos casos,é feita na letra inicial. Isto significa que a experiência pedagógica ante-rior não é tida em conta. Torna-se necessária uma mudança nosEstatutos do Pessoal Docente para permitir uma reclassificação na ver-tical, isto é, na letra ocupada anteriormente.

ENSINO SUPERIOR ABANDONADO À SUA SORTEO “Programa do Governo para a VII Legislatura, 2006-2011” afirma a“opção política de Cabo Verde por um ensino de qualidade e o entendi-mento do ensino superior como instrumento de desenvolvimentoduradouro do País e motor de sua inserção competitiva no mercado

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mundial” e identifica, entre outras, as seguintes medidas:“Promoção de um ensino superior de qualidade, através de mecanismosjurídicos e institucionais apropriados (...)”;“Elaboração, aprovação e implementação de normas reguladoras do fun-cionamento e financiamento do Ensino Superior, nomeadamente, os Es-tatutos do Ensino Superior Público, Privado e Cooperativo (...)” – Estatutosque vieram a ser aprovados pelo Decreto-Lei nº 17/2007, de 7 de Maio;“Credenciamento de instituições e cursos do ensino superior segundoum conjunto de critérios e parâmetros básicos, estabelecidos por lei (...)”;“Criação e instalação de um órgão regulador da qualidade do ensino,habilitado para realizar e promover, de forma periódica, a avaliação dodesempenho institucional das instituições.”Grande parte das medidas atrás referidas não foi implementada. Énotória a necessidade de criação de mecanismos de regulação da qua-lidade e de credenciação das instituições e dos cursos.

CONCLUSÃOEm suma, para o PAICV e o seu governo, a educação e a qualificaçãodas novas gerações nunca constituíram um desígnio estratégico, nem oprincipal vector de competitividade de Cabo Verde, mas um custo, umfardo, um sacrifício que o Estado tem de suportar. Para eles, o investi-mento nas pessoas não é uma aposta central!Não se pode estranhar, por isso, que o Fórum Económico Mundial tenhacolocado Cabo Verde quase no fim da tabela (129 entre 139) relativa-mente à disponibilidade local de investigação e de formação profissio-nalizante e nos classifique abaixo da média (3.3 numa escala que vai até7) no ensino secundário e formação.Os dez anos de governo do PAICV foram uma década perdida para aEducação em Cabo Verde.II. Mais concretamente:

NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR1. O Governo do PAICV não trouxe qualidade ao ensino pré-escolar.

Subsiste a baixa formação dos profissionais de infância (26,7%),

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destacando-se um número baixíssimo de educadoras de infância(6,4%), uma elevada assimetria na distribuição e qualidade dosjardins escolares pelas ilhas e regiões, uma grande percentagemde salas inadequadas (22,4%), um fraco enquadramento e acom-panhamento pedagógico, não havendo sequer uma produçãonacional de materiais didácticos.

2. A taxa líquida de admissão passou de 58% em 2000 para 60,2%em 2008, indicando que não houve melhorias significativas nascondições de acesso e de frequência, estando cerca de 40% dascrianças excluídas do pré-escolar.É o próprio Governo do PAICV a afirmar, no relatório para oComité sobre a eliminação da discriminação contra as mulheres,aprovado pela Resolução nº 51/2010 de 13 de Setembro, noponto 200 “A pertinência desta regulação explica-se pelo facto deperto de 38% das crianças cabo-verdianas com idades compreen-didas entre os 3 e os 5 anos não frequentam o ensino pré-escolar”.

3. Decorridos dez anos de governação do PAICV, as educadoras deinfância não têm uma carreira definida e o global dos 6,4% daseducadoras existentes concentra-se em São Vicente, seguindo-seRibeira Grande de Santiago, Praia e Santa Cruz. Nos restantesconcelhos, praticamente a educação pré-escolar está a cargo dasorientadoras e monitoras, havendo vários deles onde não existenenhuma educadora de infância.

4. É na ilha de Santiago, que, tomando em conta o ano lectivo2009/2010, se encontrava o maior número de infra-estruturas depré-escolar inadequadas. No concelho da Praia, das 204 salas, 105eram inadequadas. Além da Praia, os concelhos de Santa Catarinade Santiago e Santa Cruz têm maior número de salas semcondições de funcionamento.

5. O enquadramento e acompanhamento do pré-escolar ainda édeficiente, pois o acompanhamento não se efectua com regulari-dade por dificuldades logísticas, e não há qualquer produçãonacional de materiais didácticos.O Governo não assumiu a generalização da educação pré-escolar

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na Lei de Bases do Sistema Educativo, Decreto - Legislativo n.º2/2010, enunciando apenas que “na medida das suas possibili-dades financeiras, o Estado adopta medidas de incentivo e apoioque permitam a todas as crianças ingressar no ensino básico apósfrequentarem a educação pré-escolar.”

NO ENSINO BÁSICO1. Grave situação de crianças dos 6 aos 11 anos que deviam fre-

quentar o ensino básico e não o fazem!Neste nível de ensino regista-se o decréscimo da taxa líquida deescolarização, que passou, nas próprias palavras do Governo, de96% em 2004 para 88,4% em 2008 e o PNUD, no seu Relatóriode Desenvolvimento Humano 2010, fala de 84,4%, valor que nosleva à situação dos anos antes da década de noventa. Uma verdadeira tragédia, significando que o governo do PAICVconseguiu destruir os ganhos de acesso ao EBI.

A planificação não teve em conta esta situação, o que podeagravar o acesso e acentuar as disparidades regionais, limitando-se o governo a admitir na citada resolução nº 15/2010, ponto 28:

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“No entanto, uma situação que exige reflexão é a tendência acen-tuada para a diminuição da taxa líquida de escolarização, a qualpassou de 96% em 2004 para 88% em 2008”.Quando se soma a essa situação de 12% de crianças que deviamestar na escola básica os que, frequentando mas depois abandon-am (taxa de 2%), fica-se com a ideia da real gravidade que istocomporta.

2. Constata-se pouca repercussão da formação de professores naeficácia do ensino e disparidades regionais na sua colocação.Em 2008/2009, 86,4% dos professores tinham formação adequa-da para a docência. A percentagem de professores formados estáabaixo da média nacional nos concelhos da Brava (77,4%), SãoFilipe (76,1%), Santa Catarina do Fogo (49,0%), Mosteiros(80,0%), Ribeira Grande de Santiago (69,7%), Santa Catarina deSantiago (78,9%), São Salvador do Mundo (84,3%), Santa Cruz(83,1%), São Lourenço dos Órgãos (85,1%), Sal (86,3%), RibeiraBrava (81,7%), Tarrafal de São Nicolau 84,2%), Porto Novo(80,1%). O aumento da percentagem de professores formados não sereflecte no resultado dos alunos. As taxas de reprovação atingiram10,6% em 2007/08, 10,1% em 2008/09 e 10,5% em 2009/10. São necessárias outras e mais medidas de promoção do sucessoescolar.

3. A taxa de transição do ensino básico para o ensino secundário,(2008/09 - 2009/10) foi de 85,7%. Esta taxa foi inferior à médianacional em catorze concelhos e não se conhecem os dados deRibeira Grande de Santiago, integrados na Praia. A situação maiscrítica é a dos concelhos de São Salvador do Mundo, 53,8%, eSanta Catarina do Fogo, 52,0%.Isto significa que, em média, por ano, ficam em casa, só com osexto ano de escolaridade, 2200 crianças.

4. Os manuais elaborados na década de noventa continuam a serutilizados, e, pelos 16 anos decorridos, a necessidade de actualiza-ção é gritante. Regista-se, ainda, grande maioria das escolas a

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carência de materiais de suporte pedagógico. 5. Decorridos quase dezasseis anos da generalização do ensino

básico integrado de seis anos não houve inovações no modelo degestão, que continua a ser excessivamente centralizador, o quenão favorece a participação das famílias. A participação destascontinua a ser apenas do ponto de vista financeiro e o ensino estácada vez mais afastado da realidade. Os pólos educativos não têm autonomia e todas as decisõesestão centralizadas nas Delegações do Ministério da Educação, oque limita a intervenção dos gestores de pólo. As escolas queix-am-se do facto de terem de enviar ao Tesouro toda a verbaarrecadada no âmbito de actividades de angariação de fundosresultantes de actividades locais com forte participação dos paise encarregados de educação.

6. O alargamento da escolaridade básica, obrigatória e gratuitapara 8 anos, fixada na Lei de Bases do Sistema Educativo, Decreto- Legislativo n.º 2/2010, de 07 de Maio de 2010, impõe a recon-figuração da rede escolar.A revisão curricular, em fase de experimentação não contou coma participação dos professores, pais e da sociedade civil, o que põeem causa a qualidade do ensino e a sua adaptação às necessi-dades do País. Constitui um desperdício de tempo e dinheiro e oPlano de Estudos, publicado há menos de um ano, Setembro de2009, tem de ser adaptado à Lei de Bases do Sistema Educativo.No quadro da revisão curricular, o Governo do PAICV começou aexperimentação do novo plano de estudos, em algumas escolas,antes da elaboração dos programas, manuais e guias para os pro-fessores. Ainda está em fase de discussão a formação de profes-sores para o ensino básico, alargado até ao 8º ano e se o 7º e 8ºanos de escolaridade, funcionam por disciplina ou grupo de disci-plinas, por exemplo se a Matemática se junta ou não à disciplinade Física no 7º e 8º anos de escolaridade. Com este modelo teme-se que passemos a ter um novo Ciclo Preparatório, num retroces-so evidente.

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7. O programa “Um aluno, um computador” e “Um professor, umcomputador”, não passou de propaganda iniciada com oPrimeiro-Ministro a prometer, em Dezembro de 2008: "oExecutivo vai mobilizar 150 mil computadores para todas as cri-anças, adolescentes e jovens de Cabo Verde e o programa vai per-mitir que as crianças tenham acesso às tecnologias, às infor-mações e ao mundo, quebrando fronteiras e participando daconstrução do País". Depois de muitas promessas, o Governo apresentou o ProgramaMundu Novu, havendo, após dois anos do anúncio, apenas 7 milmanifestações de interesse por parte de alunos e professores eainda se está a analisar a forma de trabalhar com os bancos eempresas das TIC para fazer chegar os computadores aos interes-sados, isto é, ainda se está a estudar o financiamento dos com-putadores ou a analisar a forma de subsidiar as famílias que nãotêm recursos.Ainda por cima, o acesso às Novas Tecnologias de Informação eComunicação exige a electrificação de 194 escolas, pois, apenasnas ilhas do Sal, Boa Vista e Brava, todas as escolas estão electri-ficadas, sendo que, na ilha de Santiago, só 44% das escolas estãoelectrificadas, no Fogo, 35% e no Maio, 25%.Não havendo electricidade para uma simples fotocópia, falar decomputadores em sala de aula é um importante objectivo queainda tem um longo percurso a fazer.A melhoria da qualidade do ensino trazida pelas TIC´s, depois dapropaganda enganosa, espera, assim, por melhores dias.

NO ENSINO SECUNDÁRIO, POUCA EVOLUÇÃO NA TAXA DEESCOLARIZAÇÃO A taxa líquida de escolarização em 2009/10 era de 63,1% e a taxalíquida de admissão foi de 41,3%. Entre os concelhos registam-se grandes disparidades, tendo os concel-hos de São Salvador do Mundo, Santa Catarina do Fogo e São Filipetaxas líquidas de escolarização muito inferiores à média nacional.

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As raparigas foram penalizadas pela medida, adoptada pelo Governo,de suspensão da matrícula das alunas grávidas. Esta medida con-tribuiu para o insucesso escolar das raparigas, pois, segundo dados dopróprio governo (ver a Resolução nº 51/2010 de 3 de Setembro, pon-tos 218 a 224), entre 2002 e 2008, 68% dos casos de suspensãoresultaram em insucesso escolar: 42% das alunas que suspenderama matrícula abandonaram definitivamente a escola e 44% das queregressaram, reprovaram no ano de reingresso.

ELEVADAS TAXAS DE REPROVAÇÃO E DE ABANDONO ESCOLAR Constitui preocupação das escolas e dos pais e encarregados de edu-cação as elevadas taxas de reprovação e de abandono no ensinosecundário: A taxa de reprovação no ensino secundário, no ano lectivo 2008/09,foi de 24,5% e a taxa de abandono de 8%.A nível do abandono, no 7º ano a taxa é de 10,7%, de 8,7% no 8º anoe de 8,3% no 9º ano, mostrando que, só nesse ano, abandonaram,precocemente, o ensino secundário, 3.243 alunos. A nível da taxa de reprovação, nove concelhos tinham uma taxa dereprovação superior à média nacional, registando-se as taxas maisaltas no Maio, 31,9%, Tarrafal de São Nicolau, 31,7% e SãoDomingos 31,1%. É na transição do básico para o secundário, ou de uma escolasecundária para outra que há maior reprovação. No 7º ano de esco-laridade, 10 concelhos tiveram taxa de reprovação superior à médianacional As maiores dificuldades de aprendizagem manifestam-senas disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática e EstudosCientíficos.Os responsáveis apontam várias causas para as elevadas taxas dereprovação: causas sociais, o baixo grau de escolaridade dos pais ofacto de muitas crianças serem oriundas de famílias mono parentaise de muitas crianças passarem muito tempo na rua, enquanto os paistrabalham.

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GRANDE PERCENTAGEM DE PROFESSORES SEM FORMAÇÃO ADE-QUADAA percentagem de professores com licenciatura ou mestrado era de42,6%.No ano lectivo 2008/09, 75,8% dos professores tinham formação ade-quada para a docência, licenciatura, mestrado ou curso superior sem li-cenciatura. Assinale-se que nove concelhos estavam abaixo da média na-cional, sendo de destacar a situação de São Salvador do Mundo, 53,3% eSanta Cruz com 53,6% de professores com formação adequada. Persistem no sistema professores com Ano Zero, 2º Ano do CursoComplementar ou Frequência do Ensino Médio, atingindo 24,4% dosdocentes.As assimetrias na distribuição de professores com formação são evi-dentes, Ribeira Brava tinha uma taxa de professores com licenciaturaou mestrado de 59,6%, enquanto que em São Miguel era de 24,4%.Relativamente à gestão dos estabelecimentos de ensino secundário alegislação não é integralmente aplicada, verificando-se dificuldades emreunir a Assembleia de Escola, pelo que se impõe a revisão da legislaçãoe a definição e implementação de uma gestão democrática dos estab-elecimentos de ensino.

DIFICULDADES NA GESTÃO DAS ESCOLASAs escolas secundárias nem sequer já têm contas bancárias e asreceitas, mesmo das propinas, são transferidas, por ordem do Governopara o Tesouro Público.Por outro lado, actualmente, a empresa fornecedora de combustívelpassou, através de uma experiência que começou pelas escolas daPraia, a fazer a cobrança do consumo de energia na modalidade pré-pago.Como as escolas já não têm receita própria, o pagamento não é atem-pado o que resulta em frequentes cortes de energia, a agravar aindamais o que já acontece na capital do país. Os alunos e professoresvêem-se aflitos para fazer uma simples fotocópia e os professores têmde regressar ao modo tradicional de trabalho em sala de aula, em

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pleno século XXI!Os espaços escolares encontram-se altamente degradados, com tec-tos a cair, casas de banho impróprias para a higiene, laboratórios eespaços desportivos degradados e bibliotecas incipientes no recheio.A agravar tudo, a maior parte dos directores são escolhidos, não pelomérito, mas sim pela condição de militante ou simpatizante do partidono poder.

NOVO PLANO CURRICULAR ATABALHOADOCom pompa e circunstância, o Governo anunciou, no início do ano lec-tivo 2009/2010, um novo plano curricular.Chegados os programas nas escolas, os professores recusaram aplicá-los por os desconhecer ou não terem tido a necessária formação, con-tinuando a leccionar com base nos programas em curso.Com isso, de novo plano curricular, passou-se para uma fase de exper-iência localizada somente nas escolas de S Domingos e EscolaSalesiana em S Vicente.Hoje, em pleno ano lectivo 2010/2011, ainda se está na pré-formaçãonas escolas, havendo ainda o problema a montante, pois a UNICV, quese ocupa dessa formação, já não tem dinheiro para o pagamentoextraordinário aos professores.Tudo atabalhoado e com pressa, pois, o que devia ser feito no tempoadequado, não foi. Hoje, é tudo a correr – tratando levianamente umassunto sério -, para tapar as críticas.

ENSINO SUPERIOR, A DUVIDOSA QUALIDADE DO ENSINOO ensino superior em Cabo Verde vive um processo de forte procurasocial, resultante da vontade dos cabo-verdianos em estarem melhorpreparados para participarem no desenvolvimento do país. Há maiorprocura de formação a nível interno devido à diminuição da possibili-dade de se aceder ao ensino superior no exterior, contrariamente àsituação anterior em que grande parte da formação superior se real-izava no exterior. Esta dinâmica não foi acompanhada pelas adequadas medidas do

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Governo e, hoje, é sobejamente reconhecido que subsiste um gravedéfice de enquadramento estratégico, jurídico e institucional dessanova realidade, quer no domínio da investigação quer da garantia daqualidade do ensino que é actualmente ministrado.

A DESTRUIÇÃO DAS ESCOLAS SUPERIORES PÚBLICAS O Ensino Superior teve a sua primeira semente em 1979 com a cri-ação, na Praia, da Escola de Formação de Professores para o EnsinoSecundário, mais tarde transformada no Instituto Superior deEducação (ISE) em 1995, com pólos na Praia e S Vicente. O Centro de Formação Náutica foi reconfigurado como InstitutoSuperior de Engenharia e Ciências do Mar (ISECMAR) em 1996.O Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento (INIDA) emSanta Cruz começou com actividades de ensino superior em 1994.Mais tarde foi criado o Instituto Nacional de Administração e Gestão(INAG) na Praia. Todas as instituições atrás referidas estavam enquadradas no sectorpúblico. A Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), criada através daResolução n.º53/2000 de 28 de Agosto, só veio a ser implementadaem 2006 por uma Comissão Instaladora. Em 2007/08 começou a funcionar com os institutos públicos trans-formados em Unidades Associadas. Esses institutos públicos foramextintos em 2008/09, passando a Uni-CV a estar estruturada emquatro unidades organizacionais: Departamento de Ciências Sociais eHumanas, Departamento de Ciências e Tecnologia, Departamento deEngenharias e Ciências do Mar e Escola de Negócios e Governação. Uma opção pelo modelo departamental que levou à destruição dasanteriores escolas, perdendo-se em autonomia e dinâmica em ter-mos financeiros, académicos e de investigação, cultura democráticae prestação de serviços!

UMA BOA DINÂMICA DO ENSINO SUPERIOR, MAS DESIGUALPor iniciativa privada, surgiram em São Vicente o Instituto Superiorde Ciências Económicas e Empresariais (ISCEE) em 1991 e, na Praia, a

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Universidade Jean Piaget de Cabo Verde (UniPiaget) em 1999. Em 2003, em São Vicente, foi criado o Instituto de Ensino SuperiorIsidoro da Graça (IESIG), na Praia, o Instituto Superior de CiênciasSociais e Jurídicas em 2005 e, em 2008, funcionaram mais três institu-ições privadas em Cabo Verde, a saber, a Universidade de Santiagosituada na cidade de Assomada, a Universidade Intercontinental deCabo Verde (UNICA) na Praia e a Universidade Lusófona em SãoVicente.No período de dez anos, registou-se um aumento substancial donúmero de estudantes do ensino superior no país. De 463 estudantesem 1993/94 passaram para 3.911 em 2004/5, traduzindo-se numcrescimento médio anual de 24,5% e, já em 2008/09, matricularam-se 8.465 estudantes, estando estimados para cerca de 10.000 no actu-al ano lectivo, 2010/11. No entanto, o acesso ao ensino superior continua desigual e poucorepresentativo quando comparados os 4,1% do total dos efectivos emCabo Verde com os 20,8 % dos efectivos em Espanha, os 17,9% noJapão e os 23% nos EUA (dados de 2004).A maioria das instituições do ensino superior em Cabo Verde estálocalizada nas ilhas de Santiago e São Vicente, criando problemas deacesso por parte dos estudantes das outras ilhas. Por outro lado, nãoexiste ainda uma política de acolhimento e de subsídios aos estu-dantes que se deslocam da sua ilha de origem.

NECESSIDADE DE PROMOÇÃO DA INVESTIGAÇÃO E DE DOUTO-RAMENTOSO quadro que se segue refere-se aos professores a leccionar no anolectivo 2008/09 nas instituições do ensino superior.

Professores Doutorado Mestrado Licenciado BacharelNacional 70 352 465 7

894 (7,8%) (39,4) (52%)UNICV 17 108 146

273 (6,2%) (39,6%) (53,5%)

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Um quadro que não se esperava em pleno século XXI, com licenciadosa formar licenciados, existindo, embora muito poucos, bacharéis namesma tarefa.No ano lectivo 2008/09, havia um total de 894 docentes leccionandonos institutos superiores e universidades. Se comparamos a situação com quatro anos atrás, 2004/05, dos 485docentes então existentes, 7,6% tinham o grau de doutor, 25,9% ograu de mestre e 66,5% licenciatura ou bacharelato, conclui-se quenão houve melhoria significativa na qualificação dos docentes pois, apercentagem de professores com doutoramento, o nível adequadoprevisto no Estatuto do Pessoal Docente do Ensino Superior, aumentasomente 0,2.A investigação, ao lado de projectos integrados de doutoramento,espera melhores dias em termos de políticas públicas.

ENSINO SUPERIOR COM GRAVES LACUNAS INSTITUCIONAISA abertura dos cursos superiores actualmente desenvolvidos em CaboVerde não foi precedida de estudos que permitam analisar as necessi-dades do mercado de trabalho. Por outro lado, a investigação é aindaincipiente. A avaliação institucional externa tem-se realizado, pontualmente. Nãoexiste ainda uma cultura de avaliação dos cursos por parte das institu-ições de ensino superior. Neste sentido, a qualidade dos cursos não éainda conhecida nem a qualidade dos seus produtos.

NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE ADULTOSA taxa de alfabetização passou de 62,8% em 1990, para 74,6% em2000 e 80% em 2008/09. Na faixa etária 16-24 anos a taxa de alfa-betização era de 96%, segundo dados do QUIBB 2007.O número de inscritos nas três fases da educação básica de adultos,em 2007/08, foi de 2260, dos quais 1300 mulheres, sendo em qual-quer das fases o número de mulheres superior ao dos homens.A Direcção Geral da Alfabetização e Educação de Adultos, com a novaOrgânica do Ministério da Educação, passou a designar-se Direcção

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Geral de Educação e Formação de Adultos, desenvolvendo além da for-mação profissional, o ensino recorrente, destinado a jovens e adultos.

NA ACÇÃO SOCIAL ESCOLARHá uma insuficiência do investimento no transporte escolar e injustiçada lei sobre propinas que põe toda a gente a pagar, num quadro emque o ICASE, a título de exemplo, em 2008/09, cobriu 6203 alunos dos53 181 inscritos, correspondendo a uma taxa de cobertura nacional de11,7%. No entanto, há uma cobertura desigual, com a Praia a ter umataxa de 5%, S Vicente, 6%, Santa Catarina de Santiago, 8% dosinscritos. As baixas percentagens de cobertura das propinas pagas pelo ICASEmostram que, num país com 27% de pessoas pobres, a actual lei depropinas põe quase toda a gente a pagar, erigindo-se num elementojustificador, tal como constatado nos inquéritos oficiais, do abandonoescolar.Igual situação se passa no ensino superior, pois, só no ano lectivo2008/2009, ficaram, no exterior, contando somente os que obtiveramvagas, 439 alunos (65%) sem bolsa de estudo e, no país, mais de 3.000alunos sem bolsa ou subsídios. Isto é, todos os anos, milhares de alunosdo ensino superior ficaram entregues à sua sorte ou às custas do sa-crifício dos pais.A distribuição dos apoios sócio - educativos é feita de forma par-tidarizada e mediatizada, com a intervenção de associações ligadas aopartido no poder. O ICASE passou a integrar uma Fundação, a FICASE,com o Fundo de Apoio ao Ensino e Formação e o Fundo de Edição deManuais Escolares.

O DESPORTO ESCOLARNa governação que ora termina, o desporto escolar foi minimizado.Toda a dinâmica, traduzida no momento alto dos Jogos Escolares, foiinterrompida bruscamente, perdendo os Professores de EducaçãoFísica, as instalações e as actividades desportivas o protagonismo nasescolas e nos programas escolares.

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A Visão do MpD1. O MpD sempre defendeu que uma população bem-educada e forma-da é a base para o fortalecimento da democracia, da realização individual,do desenvolvimento económico, bem como da cultura e da coesão social. Para nós o investimento nas pessoas deve vir em primeiro lugar para queo cabo-verdiano, através da sua capacitação individual e colectiva, possaser, ao mesmo tempo, promotor e destinatário do novo modelo decrescimento económico com emprego de qualidade e da sociedade equi-librada que propugnamos.2. É neste quadro que a Educação como promotor do empreendedorismojovem estará no centro das políticas educativas, sabendo-se hoje dagrande necessidade de se dar um novo rumo ao perfil da nossa juventudena procura da sua autonomia, mas também como garantia de valoresfuturos promotores de uma nova atitude face ao desenvolvimentoeconómico e social do País. 3. Assim, o próximo governo do MpD vai mudar a ênfase das preocupa-ções e políticas do Estado, do betão para o fomento do capital humano, erecolocar a educação no patamar cimeiro das preocupações do Governo. O objectivo é um grande investimento na Educação e na formação,encarando-as verdadeiramente como investimentos estratégicos do paíspara a produtividade da economia, a empregabilidade, a salvaguarda cívi-ca e cultural, o combate à pobreza e a promoção do empreendedorismoe da coesão social, preparando Cabo Verde para os duros desafios que nossão colocados por um mundo cada vez mais globalizado e competitivo. A promoção da qualidade em todos os níveis do ensino será a nossapalavra de ordem!Nesse quadro, o MpD garante:

a. Novos modelos para o ensino pré-escolar, básico e secundário deacordo com os princípios anunciados, tendo em vista, nomeada-mente, um ensino de qualidade e com um significativo cariz profis-sionalizante e uma escolaridade obrigatória de 12 anos;

b. Um novo modelo de intervenção do Estado no ensino superior euma reavaliação do actual modelo departamental da UNI-CV, comuma opção clara para a organização de base escolar que traga mais

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qualidade, autonomia, investigação e cultura própria às escolasantes existentes.

c. Aos professores, uma nova dignidade, recompensando em tempoútil o seu esforço de formação e a subida na carreira, o que significanormalizar as reclassificações e as progressões e reintroduzir as pro-moções.

No programa de curto prazo que o Governo do MpD irá adoptar,serão regularizadas todas as situações de reclassificações e de pro-gressões existentes.

d. Às famílias, que nenhum dos seus jovens ficará para trás nos estu-dos ou na formação profissional por falta ou insuficiência de recur-sos financeiros, pois haverá apoios sócio - educativos adequados dospoderes públicos;

e. Aos jovens, uma nova política de bolsas de estudos, que inclua adisponibilização de um número de bolsas adequado à sua procura eàs necessidades de formação do país. O Governo do MpD duplicaráo número actual de novas bolsas de estudo anuais e criará um fundode garantia para o financiamento daqueles que as não conseguirem.

E ainda:f. A promoção do Ensino Privado e a autonomização da gestão das Es-

colas Secundárias Públicas de modo a desenvolverem, com a auto-nomia necessária, os seus projectos educativos.

g. A descentralização progressiva do ensino através de parcerias comos Municípios.

h. O reforço das funções de Planificação, de Coordenação Pedagógi-ca, de Inspecção e de Regulação do Ministério da Educação e a pro-moção de uma capacidade nacional de produção de manuais.

O nosso compromissoI. NA GESTÃO DO SISTEMA:

NO DOMÍNIO DO DESENVOLVIMENTO CURRICULARImplementação do desenvolvimento curricular que garanta a articu-lação entre os diferentes níveis de ensino e que defina objectivos,

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conteúdos e metodologias que respondam às necessidades das pes-soas e do país e proporcione a intensiva utilização das Novas Tecno-logias de Informação e Comunicação, com as mudanças necessáriasna organização escolar, no currículo escolar, nos programas educa-tivos, nas metodologias de ensino e no papel dos alunos e professoresna sala de aula.

NO DOMÍNIO DA AVALIAÇÃO Melhoria da qualidade e da eficácia do sistema educativo, promoven-do a qualidade do ensino e o rendimento escolar nos diferentesníveis, a formação inicial e continua dos docentes, aliada à sua moti-vação, à adequação das estruturas, e à utilização de manuais e demateriais de suporte pedagógico e das Novas Tecnologias deInformação e Comunicação, bem como:

- A definição e implementação de um Sistema Nacional de Avalia-ção, que integre a avaliação dos alunos, das escolas e do desem-penho dos docentes, fixando critérios objectivos e divulgando aclassificação pública das escolas;

- A definição e implementação de um sistema de avaliação e con-trolo da gestão pedagógica e administrativa;

- O reforço da vertente pedagógica e preventiva da inspecção.

NO DOMÍNIO DA PLANIFICAÇÃONesse domínio, a prioridade vai para a definição dos critérios de fun-cionamento e reconfiguração da rede escolar em todos os níveis deensino, em função das propostas de organização do sistema de ensi-no, bem como para:

- O desenvolvimento de um sistema de planificação adequado,capaz de identificar os problemas e desenhar respostas que per-mitam combater o insucesso escolar, as disparidades de género ecorrigir as assimetrias regionais;

- A implementação de um processo de formação continua de pro-fessores dos diferentes níveis de ensino, que permita a sua ade-quação às novas exigências curriculares e a

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- Integração sócio - educativa dos jovens com necessidades educati-vas especiais.

NO DOMÍNIO DA GESTÃOA promoção da autonomia das escolas, criando condições que prop-iciem a assunção de projectos educativos pelas escolas e a flexibilidadeda gestão administrativa e pedagógica, será a nossa primeira priori-dade, acompanhada de:

- Descentralização da administração do sistema educativo, mediantetransferência de poderes e de competências para os órgãos depoder local, de forma negociada, no domínio das infra-estruturas,da acção social escolar, da coordenação intersectorial, das activi-dades de complemento curricular, no âmbito da educação pré-escolar e do ensino básico;

- Capacitação no domínio da gestão do pessoal das delegações daEducação, dos gestores e directores dos estabelecimentos de ensino,

- Criação de condições para o funcionamento do Conselho Municipalda Educação, com a participação das autarquias, dos represen-tantes dos professores e das associações de pais e encarregados deeducação e dos parceiros sociais, permitindo a maior proximidadeda educação aos munícipes, a definição de orientações e o acom-panhamento dos estabelecimentos de ensino;

- Criação da carreira de gestores de pólo, coordenadores e directoresdos estabelecimentos de ensino secundário;

- Definição e adopção de uma Política de Manuais Escolares;- Revisão do Estatuto do Pessoal Docente, incluindo a adopção de

nova grelha salarial para o ensino secundário e a realização atem-pada das progressões, promoções e reclassificações dos docentes.

- Recurso às TIC`s como elemento de melhoria da eficiência degestão do sistema.

NO DOMÍNIO DA ACÇÃO CÍVICA E SEGURANÇASerá assegurada a concepção e execução de programas de desen-volvimento de competências sociais que contribuam para o desen-

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volvimento de atitudes não violentas, de tolerância, de respeito,civismo e igualdade de género, de forma a aumentar os níveis deconforto e de segurança no espaço escolar, bem como na vidaactiva nas comunidades e ainda:

O combate ao abandono escolar, adoptando medidas que pro-movam a inclusão educativa e incentivem a frequência aosdiferentes níveis de ensino e o sucesso escolar;O reforço do Programa de Segurança das Escolas, através damelhoria do policiamento dos acessos e das zonas circun-dantes dos estabelecimentos de ensino e do diálogo com ascomunidades, de modo a eliminar, por exemplo, a sensaçãoque se está a criar de que ser professor, hoje, é uma opção derisco.

NO DOMÍNIO DO DESPORTO ESCOLARA construção de espaços para a prática da Educação Física e doDesporto Escolar, incentivando a formação de clubes escolares deactividades desportivas, no quadro das actividades de comple-mento curricular.Serão retomados e dignificados os Jogos Escolares.

NO DOMÍNIO DA PROMOÇÃO DO EMPREENDEDORISMOJOVEMA acção terá elementos ligados à promoção de uma culturaempresarial, com a introdução de disciplinas vocacionados para oefeito no segundo ciclo do ensino secundário, bem como:

- A introdução de disciplinas profissionalizantes a partir do oita-vo ano de escolaridade, bem como o ensino obrigatório doInglês, de noções de economia e da ciência informática a par-tir do quinto ano de escolaridade

- Incutir a responsabilidade e a sadia competição no espírito dosestudantes ou seja, promover uma educação empreendedora

- Promover a utilização de novas tecnologias nas escolas e noscentros de formação profissional

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- Desenvolver incubadoras empresariais em parceria com as uni-versidades e o sector privado e

- Promover e desenvolver um programa de estágios aos recém-formados com forte componente empresarial.

II. NOS SUBSISTEMAS DO ENSINO:

PRÉ-ESCOLARa. Generalização da frequência do pré-escolar, alargando a rede

escolar de forma a possibilitar a frequência a todas as criançasna faixa etária 3 a 5 anos de idade, com base numa estratégiade intervenção visando a eliminação das assimetrias regionais;

b. Promoção da qualidade do ensino pré-escolar através da:- Adopção de incentivos e apoios à instalação de estabeleci-

mentos de educação pré-escolar de qualidade;- Priorização a formação de Educadoras de Infância, fazer a

revisão da carreira das educadoras, monitoras e orientadorasda educação pré – escolar;

- Desenvolvimento de um programa de incentivos à produçãode materiais didácticos e pedagógicos adequados à realidadenacional.

ENSINO BÁSICOa. Articulação do perfil de saída do ensino básico com o perfil de

entrada na Formação Profissional e no Ensino Secundário.b. Criação de condições que permitam o cumprimento da esco-

laridade obrigatória e gratuita de 8/9 anos, nomeadamente, anível da carta escolar, do perfil do professor, do plano de estu-dos, da eliminação da monodocência a partir do 4º ano deescolaridade e de apoios sócio - educativos.

c. Elaboração e edição de novos programas e manuais do ensinobásico;

d. Introdução da carreira do gestor escolar e aprovação doEstatuto do Aluno do Ensino Básico.

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ENSINO SECUNDÁRIOa. Nova organização escolar visando a adaptação do ensino

secundário, primeiro, ao alargamento do ensino básico obri-gatório para 8/9 anos e, depois, ao alargamento da escolaridadeobrigatória e gratuita até ao 12º ano;

b. Adequação do ensino secundário às exigências da globalização,garantindo que cada uma das vias do ensino secundário prepare oaluno para o prosseguimento de estudos e a inserção na vida activa;

c. Revisão dos critérios de acesso e permanência no ensinosecundário;

d. Criação e instalação do Serviço de Psicologia e OrientaçãoEscolar e Vocacional;

e. Adopção de novas metodologias de ensino, com a introdução dasnovas tecnologias de informação e comunicação e a utilização efi-caz dos laboratórios;

f. Aprovação de nova grelha salarial para o ensino secundário;g. Elaboração e edição de novos programas e manuais para o ensi-

no secundário;h. Revogação do despacho de 2001 “Orientações gerais para uma

melhor gestão da questão da gravidez nas escolas.”

ENSINO SUPERIORA política para o ensino superior vai orientar-se por quatro eixos fun-damentais, a saber:

1. Qualidade do ensino superior.2. Investigação. 3. Autonomia.4. Acesso.

QUALIDADE DO ENSINO SUPERIORA qualidade do ensino deve contribuir para que a forte procura socialseja acompanhada de níveis de rigor reconhecidos quer internamentequer a nível externo, contribuindo assim para a projecção do país. Neste sentido, vai-se promover um sistema nacional de garantia da

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qualidade do ensino superior, alicerçada num mecanismo de creden-ciação de instituições e de cursos do ensino superior e na implemen-tação de sistema de regulação dessa qualidade. Esse sistema, no âmbito das suas funções de regulação, vai zelar pelocumprimento dos requisitos de qualidade para cursos e instituiçõesna base de um conjunto de critérios e parâmetros básicos a estabele-cer por lei.

INVESTIGAÇÃOA investigação vai ser fomentada como via, não só para a promoçãocientífica individual, como também para se encontrar soluções maiseconómicas e mais eficientes para problemas relevantes do país, con-tribuindo para o bem colectivo. Neste sentido, vai-se fomentar a investigação como condição impre-scindível para o progresso económico e social de Cabo Verde e deveconstituir-se como um dos elementos fundamentais para acredenciação, quer de instituições, quer dos cursos. As instituições de ensino superior devem criar centros de investi-gação, em parceria com instituições estrangeiras de renome e com asempresas, sendo certo que os resultados de investigação considera-dos importantes para o desenvolvimento do país devem ser lauread-os e compensados financeiramente.Tudo isto integrado com a estratégia dos vários ParquesTecnológicos previstos no domínio económico e que serão impor-tantes elementos sinergéticos com as universidades na sua vocaçãode centro investigador e de desenvolvimento da inovação e doempreendedorismo.O Estado vai definir, a título indicativo, linhas de investigação prior-itárias, articuladas com as Grandes Opções do Plano.

AUTONOMIANeste âmbito, serão desenvolvidas as seguintes acções:

a. Incentivo de uma cultura de organização e gestão das institu-ições, promovendo a desgovernamentalização do sistema.

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b. Dinamização e valorização de parcerias entre instituiçõesnacionais e estrangeiras quer sejam públicas quer sejam privadas.

c. Revisão das leis que regulam a autonomia e governo das institu-ições de ensino superior e início de um processo de negociação darevisão dos estatutos da carreira docente.

d. Redefinição dos pressupostos inerentes ao financiamento doensino superior nas suas mais variadas dimensões.

e. Priorização na criação de instituições de ensino superior quedesenvolvam cursos com relevância para o desenvolvimento doPaís.

f. Apoio ao investimento privado no ensino superior mormente nasáreas de desenvolvimento prioritário para o país.

ACESSONo domínio do acesso ao ensino superior garantimos que nenhumestudante seja excluído da frequência do ensino superior por inca-pacidade financeira, assegurando bolsas de estudo a fundo perdidoou bolsas empréstimo a estudantes que concluam o 12º ano e pre-tendam prosseguir os estudos.Será adoptada, assim, também com urgência, um fundo para bolsasde estudo, visando a atribuição anual de mais de 1000 novas bolsasde estudo, bem como será criado um fundo de garantia direccionadopara aqueles que não conseguirem essas bolsas. Considerando a concentração das instituições de ensino superior naPraia, em Mindelo e em Assomada será desenvolvido um programade residências estudantis reservado ao acolhimento de alunos nãoresidentes no concelho onde estudam.

EDUCAÇÃO DE ADULTOSa. Garantia da formação profissional e da formação de base ao

longo da vida aos adultos; b. Implementação da educação recorrente que permita a conclusão

da escolaridade obrigatória, aos jovens que tenham saído do sis-tema antes do cumprimento dessa escolaridade;

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c. Combate ao analfabetismo de retorno;d. Promoção do uso das novas tecnologias de informação junto dos

adultos.

B3 – Promover a Qualificação Profissional e o EmpregoO PAICV falhou em duas metas fundamentais para a melhoria dobem-estar dos cabo-verdianos: o crescimento económico e oemprego. Com efeito, ao invés do prometido crescimento a dois dígitos, aeconomia cabo-verdiana que, em 1998 e 1999, cresceu em média10,2%, sofreu nos últimos dois anos de governação do PAICV, umaforte contracção na sua taxa de crescimento, não obstante o acentu-ado acréscimo no investimento público em infra-estruturas. As últimas estimativas do FMI (Julho de 2010) apontam para umcrescimento económico de apenas 3% em 2009 e de 5,1% em 2010,portanto, muito abaixo do PIB potencial. Fruto de um modelo de crescimento baseado essencialmente naprocura interna, induzido em especial pelos acréscimos registados nacomponente obras públicas, a situação macroeconómica atravessauma fase marcada por acentuados desequilíbrios das contas internase externas sendo de destacar o nível proibitivo que se perspectivapara o valor do défice das finanças públicas para 2010, 14,9%.

ECONOMIA COM FRACA CAPACIDADE DE EMPREGOEste contexto macroeconómico conturbado reflecte-se natural-mente no comportamento do mercado de emprego. Na realidade, osdados do Instituto Nacional de Estatística mostram que o desem-prego, estimado em 17% em 2000, aumentou nos últimos anos deforma significativa, sobretudo para as camadas jovens e mulhereschefes de famílias. O fraco comportamento do emprego em Cabo Verde, em especial dejovens, alia-se ao crescimento acentuado da população activa frutosobretudo da entrada no mercado de trabalho de jovens que termi-nam ou abandonam precocemente o sistema de ensino, com espe-

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cial incidência para as mulheres que naturalmente acedem mais cedoao mercado de trabalho. Calcula-se que, anualmente entram cerca de 6 mil ex-estudantes nomercado de trabalho. Esta situação, conjugada com uma educaçãogeneralista e ausência de instrumentos de formação profissional queassegurem a transição de ex-alunos para a vida activa e com o cresci-mento económico ténue, conduz inevitavelmente a uma pressãoconstante sobre o mercado de emprego e o agravamento do desem-prego.Por outro lado, com uma população jovem, com capacidade paraempreender e fortemente motivada para as novas tecnologias, osnovos potenciais empresários enfrentam várias dificuldades rela-cionados:

a. Falta de Know-how de apoio ao amadurecimento de ideias, àelaboração de planos de negócios e ao acompanhamento dosprimeiros anos de vida das empresas.

b. Reduzida participação de instituições públicas no aparecimentode novas empresas;

c. Inexistência de mecanismos de financiamento de star up´s.d. Inexistência de mecanismos de apoio á criação do próprio

emprego.Assim, a taxa de desemprego acusou, no decurso da governação doPAICV uma degradação, passando de 17% em 2000 para 20,9% em2009. A realidade das estatísticas de desemprego, sobretudo do desem-prego jovem, é dramática, como atestam os inquéritos elaboradospelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) em 2007 (QUIBB 2007)e pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) em 2008.Ela ultrapassa a barreira dos 40% (de acordo com a metodologia atéhá pouco utilizada pelo INE e ainda actualizada para estes dados).Para o caso de jovens urbanos, esta taxa atinge os 46.2%. A taxa média de desemprego situa-se muito acima dos 25%, seexcluirmos os empregos sazonais precários quantificados em mais de14.000. Três em quatro desempregados tem entre 15 e 34 anos. Por

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nível de instrução, de acordo com dados oficiais, cerca de 50% dosdesempregados tem o ensino secundário completo, 43% dos desem-pregados têm o EBI e 4% possui curso superior. Os desempregados com grau de licenciatura, cresceram, de 2006 a2008, a uma taxa de 8.5%. Estes novos fenómenos do desemprego jovem têm gerado umenorme contingente de jovens que não estudam nem trabalhamdurante uma etapa crucial de definição dos seus projectos de vida ede consolidação da sua atitude como trabalhadores e cidadãos.Tudo isto é o reflexo uma falha clamorosa da política de formação equalificação profissionais do governo. Na realidade, o sector da for-mação profissional é o parente pobre da governação do PAICV.Menos de 1% das despesas do orçamento de Estado destina-se à for-mação profissional.

A DEGRADAÇÃO DO SISTEMA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL No decurso de 1995-2000, tomaram-se medidas fundamentais paraa transformação e o funcionamento do aparelho de formação profis-sional em sistema, em articulação com o mercado de emprego e quepermitiram a consolidação de um quadro institucional de inter-venção nos domínios das políticas activas e passivas de formaçãoprofissional e emprego, mas que, infelizmente, foi desperdiçado peloGoverno do PAICV: a. O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) um instru-mento cimeiro de planificação, gestão, pilotagem, acompanhamentoe avaliação do sistema responsável pela coordenação e promoção daformação. Nos últimos anos, o IEFP vem actuando mais como um executaracções de formação financiadas pela cooperação internacionaldesvirtuando completamente a sua concepção original qual seja acoordenação, planeamento e acompanhamento de gestão da for-mação profissional.

b. O Fundo de Emprego e Formação, o instrumento financeiro deexcelência destinado a apoiar acções de formação profissional dasempresas.

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Há muito que se encontra descapitalizado e a questão do financia-mento sustentável da formação profissional nunca foi resolvida.

c. O Conselho Nacional de Emprego e Formação por seu turno,organismo tripartido e paritário criado para resolver as disfunçõese duplicações no sector da formação profissional está pratica-mente desactivado.

Em resultado disto, o aparelho de formação não se organizou em“sistema" e persistem ainda assimetrias assinaláveis na oferta deformação por “regiões.

Adicionalmente, o Plano Estratégico de Formação Profissional cujoprincípio inspirador era, nomeadamente “Criar um SistemaNacional de Qualificações e Competências profissionais adap-tadas ao ambiente produtivo e social, estabelecer uma oferta for-mativa que permita a aquisição de competencias profissionais emedidas que favoreçam a inserção sócio-laboral “ nunca saiu dopapel.

Em conclusão, o funcionamento destes órgãos não tem sido eficaz,sobretudo na concepção de um sistema integrado de formação e suaarticulação e coordenação com o sistema de ensino e o mercado detrabalho e persistem lacunas e disfunções que têm afectado odesempenho dos principais intervenientes do sector, nomeadamenteo papel de orientação pedagógica do IEFP aos operadores e promo-tores da formação, o funcionamento insuficiente dos órgãos e a con-certação e a articulação débil com o sistema de ensino.

Os desafiosCom uma população essencialmente jovem, nos últimos dez anos omercado de trabalho de trabalho cabo-verdiano mudou bastante. Apopulação escolar aumentou em mais de 70%, taxa bastante supe-rior ao crescimento demográfico e a expansão da procura para oensino secundário aumentou, o que representa uma pressão cons-tante sobre o mercado de trabalho. Na verdade, o mercado de trabalho cabo-verdiano é hoje confronta-do com novos desafios relacionados com o número crescente de

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desempregados diplomados conjugados com situações de desem-prego estrutural que afecta sobretudo a população com baixo nívelde escolaridade e que resulta na persistência do subemprego,emprego precário e emprego inadequado e desemprego de longaduração. Por outro lado, há aspectos conjunturais que não devem ser desco-rados. A economia está mais dependente do turismo o que torna aempregabilidade neste sector muito vulnerável à evolução da con-juntura externa. Adicionalmente, com os serviços a tornar-se cada vez mais domi-nante na estrutura produtiva nacional, significa que o nível de qual-ificação da população activa adquire uma importância chave para osucesso de política de promoção de emprego. Na realidade, 9 emcada 10 indivíduos com habilitações média ou superior, trabalhamno sector dos serviços onde os níveis de exigência em termos dequalificação são maiores. Por outro lado, assistimos a uma forte segmentação do mercado detrabalho com o emprego no sector informal a crescer de forma des-organizada sobretudo nos principais centros urbanos enquanto queo sector formal, sobretudo a Administração Central do Estado comempregos mais estáveis mas baixa produtividade.É preciso mudar esta situação!Para a criação de mais e melhores empregos, Cabo Verde precisaresponder de forma enérgica e proactivamente aos seguintesdesafios:

1. Enfrentar com competência os grandes constrangimentos estru-turais que afectam a sociedade cabo-verdiana. Neste caso, obaixo nível de escolarização e qualificação profissional da popu-lação cabo-verdiana é um constrangimento estrutural que precisade ser enfrentado com eficácia sob pena de Cabo Verde perder devez as infinitas oportunidades globalização.

2. Travar o crescimento do desemprego, melhorando as condiçõesde empregabilidade dos empregados, sobretudo nos sectoresmais expostos à concorrência, reduzir o risco do desemprego ou a

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sua severidade, nomeadamente para os trabalhadores menosqualificados e apoiar a transição para a vida activa de jovens quesaem do sistema de ensino, devidamente qualificados.

3. Assegurar que, em situações conjunturais menos favoráveis, asdinâmicas de exclusão de grupos mais desfavorecidos do merca-do de trabalho, nomeadamente as mulheres chefes de famíliasnão se acentuem de forma insuportável.

O nosso compromissoNum contexto de desequilíbrios das contas internas e externas,vencer esses desafios exige uma forte articulação entre as váriaspolíticas e uma forte engajamento de vários actores a nível local enacional e uma grande mobilização de recursos financeiros externos,nomeadamente de fontes multilaterais. As políticas públicas por si só, não podem resolver o problema docrescimento e do emprego. De igual modo, a formação profissional e políticas activas deemprego sozinhos não resolvem o flagelo do desemprego, razão pelaqual é fundamental a actuação integrada com as áreas macro e microeconómica. Assim, reduzir o desemprego, melhorar a qualidade do trabalho e evi-tar a exclusão social, depende, em primeiro lugar, da capacidade daeconomia em sustentar um ritmo de crescimento elevado, lideradopelo sector privado e assente, na inovação e qualificação dos recur-sos humanos. Num mundo cada vez mais globalizado, assegurar um crescimentoeconómico sustentado que seja capaz de criar novos e melhoresempregos, significa antes de tudo, a competência para encetar umconjunto de intervenções consistentes a nível macroeconómico,nomeadamente em termos de consolidação orçamental, a nívelmicroeconómico, que reduza os constrangimentos à competitividadeexterna e nível do emprego e qualificação dos cabo-verdianos,alargando a ofertas formativas, melhorando a qualidade de ensino eencetando políticas activas de emprego.

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Em linha com os principais desafios traçados, seguem as principaismedidas que, visando promover directamente a criação oumanutenção de emprego e/ou a qualificação profissional, se afiguremessenciais para o sucesso da estratégia do MPD para combater o flage-lo do desemprego.

1. Reforma InstitucionalO sistema de emprego e de formação cabo-verdiano em forte con-sonância com o sistema de ensino terão de sofrer transformações pro-fundas de forma a poderem responder ao novo paradigma da sociedadede conhecimento. Neste particular é preciso criar um sistema integra-do de formação profissional de forma que as diversas ofertasdisponíveis correspondam às necessidades da procura de formação.

a. Rever o estatuto do IEFPNo sentido de reforçar a sua atribuição enquanto serviço público deemprego nacional com a missão de promover a criação e a qualida-de do emprego e combater o desemprego, através da execução depolíticas activas de emprego, coordenação e promoção da formaçãoprofissional e potenciando o seu papel proactivo através dos centrosde emprego na intermediação entre a procura e oferta de emprego.Para além disso, as funções do IEFP devem desenvolver-se em váriasdimensões, quer formativas quer certificativas e, neste a particular,ganha importância a criação do Catálogo Nacional de Qualificaçõesenquanto instrumento orientador da oferta formativa e promotorda eficácia do financiamento público;

b. Dinamizar o FPEF A criação de um mecanismo sustentável de financiamento da for-mação para as empresas é fundamental, sobretudo para as peque-nas e médias empresas. Assim, o financiamento deverá ser tripar-tido, com o Estado a assumir a fatia maior, seguindo-se-lhe asempresas e a cooperação internacional.

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c. Dinamizar o Conselho Nacional de EmpregoO CNEF é um órgão estratégico no sistema de formação. A suareestruturação enquanto organismo consultivo de natureza triparti-da para a avaliação das estratégias e propostas políticas no âmbitoda formação e qualificação profissional, torna-se essencial.

d. Criar o Observatório de Emprego e Formação (OEFP)A necessidade de se adaptar o sistema de formação às exigências dasociedade do conhecimento e dos desafios crescentes que se colo-cavam a uma pequena economia como a cabo-verdiana, exige a cri-ação do OEFP, uma instância de informação, análises, discussão eapresentação de propostas que contribuem para melhor funciona-mento do mercado de emprego e eficiência das medidas de for-mação profissional.

e. Criar um sistema Nacional de QualificaçõesUma das questões básicas que se coloca ao “sistema” de formaçãorelaciona-se com a criação de um quadro orientador e de referênciade todas as acções relacionadas com a competência profissional,para que a formação profissional apoie, de facto, o crescimento daeconomia. Neste particular, será uma Estrutura Nacional dasQualificações que inclua os diferentes intervenientes da formaçãoprofissional e os parceiros sociais, incluindo as ONG.

2. Investimento no Capital Humano, melhorando a produtividadee os níveis de competências dos cabo-verdianosUm dos grandes constrangimentos à competitividade da economiacabo-verdiana prende-se com a escassez de qualificações específicasconjugadas com baixos níveis de escolaridade da população activa.Apesar dos avanços registados a nível da escolaridade e da qualifi-cação da população activa, em resultado do aumento da rede físicade ensino que beneficiou, sobretudo, a população jovem, persistemainda problemas com a qualidade dos docentes, com níveis aindalevados de insucesso escolar e de saída precoce do sistema educati-

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vo assim como uma percentagem não negligenciável da populaçãoadulta com problemas de acesso à educação.Assim, haverá uma intensa e qualificada actividade de formação visando:

a. A formação inicialO aumento dos níveis de qualificação e da educação da populaçãocabo-verdiana constitui um requisito para a dinamização dos fac-tores da competitividade e inovação da nossa economia.

b. A formação contínua dos trabalhadoresA formação profissional contínua deve-se erigir num conjunto deacções formativas de iniciativa das empresas, dos trabalhadores oudas suas respectivas organizações, dirigidas tanto à melhoria dascompetências e qualificações como à requalificação dos trabalha-dores ocupados, que permitam compatibilizar a maior competitivi-dade das empresas com a promoção social, profissional e pessoal dostrabalhadores. Serão criados mecanismos para incentivar as empresas a implemen-tar planos de acção de formação profissional para os seus traba-lhadores.

3. Promoção do empreendedorismoNo domínio do empreendedorismo e criação do auto emprego as medi-das traduzem-se em apoios de natureza financeira, complementadospor apoios técnicos e/ou materiais, que visam auxiliar a realização deprojectos empresariais ou a consolidação de iniciativas empresariais emfase de arranque ou actividades desenvolvidas por conta própria.

a. Promoção de microempresas A maior parte das microempresas actuam no sector informal daeconomia e as dificuldades que enfrentam são várias, nomeada-mente as relacionadas com o cesso ao financiamento, escoamentode produtos, design e marketing. Ao invés da abordagem minimalistade promoção de microempresas adoptada pelo PAICV e que incideessencialmente na vertente do micro crédito, o MpD adoptará umaestratégia mais global e integradora que inclui as vertentes, for-

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mação, assistência técnica e crédito. A definição de uma estratégiade promoção passa pela reconhecimento do perfil dos pequenosempresários que necessitam essencialmente de formação/capaci-tação em diversos sectores, para melhorarem o conhecimento nassuas áreas específicas e a qualidade dos seus produtos, a assistênciatécnica especializada e o crédito para reforçarem a sua capacidade ecompetitividade no mercado.

b. Apoios ao empreendedorismo através de ninhos de empresasEsta medida consistirá na cedência de espaços modulares e respec-tivos serviços de logística comuns com o objectivo de viabilizar aincubação e o desenvolvimento de novas empresas. Às condiçõesfísicas proporcionadas pelo ninho de empresas, acrescem apoiostécnicos que visam, numa fase inicial, a consolidação e a sua inte-gração plena no mercado no exterior do ninho de empresas.

c. Apoios à promoção do artesanatoEsta medida inclui apoios financeiros aos artesãos e suas associa-ções representativas para despesas com deslocação e estada, alu-guer de espaços, transporte de peças e outros produtos, montageme desmontagem de expositores, publicidade e seguro de peças.

d. Impulsionar novas ideias de negócioEsta medida dirige-se a pessoas singulares com 18 ou mais anos oupessoas colectivas recentemente constituídas e sem actividade sig-nificativa, com o objectivo de explorar uma ideia e/ou dinamizar umprojecto, nos sectores de serviços, comércio, turismo e transporte.As ideias que consubstanciam as candidaturas devem ser inovado-ras e susceptíveis de dar origem a um novo produto ou serviço.Deverá ser ainda criado um serviço de apoio de patentes.

e. Financiamento a jovens empresáriosDestina-se a apoiar iniciativas de jovens empreendedores e englo-ba dois instrumentos de intervenção: a) um serviço de informação

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aos jovens empresários; b) um fundo de investimentos que apoiema criação de start up´s e; c) criação de linhas de crédito especificase ainda apoio na elaboração de planos de negócios e de projectos definanciamento.

4. Criação e manutenção de emprego por conta de outremNeste domínio as medidas consubstanciam-se em apoios financeirosque visam estimular a contratação de desempregados e apoiar amanutenção de postos de trabalho em risco por questões económicasconjunturais. Duas grandes medidas são avançadas:

a. Contratação sob a forma de subsídio não reembolsávelEsta medida visa estimular a contratação de determinadas catego-rias de desempregados por via da concessão de apoios financeiros.Concretiza-se na concessão de um apoio financeiro, sob a forma desubsídio não reembolsável, por cada posto de trabalho criado poruma entidade de dimensão até 20 trabalhadores

b. Contratação mediante benefício fiscalEsta medida visa estimular a contratação de determinadas catego-rias de desempregados por via de benefício fiscal. Os encargos cor-respondentes à criação líquida de postos de trabalho para jovens epara desempregados de longa duração serão contabilizados comocusto do exercício para efeitos do cálculo do lucro tributável emsede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas.

5. Facilitar a transição de jovens para a vida activaA inserção de jovens na vida activa, complementando a qualificaçãoadquirida antes com uma formação prática em contexto laboral é fun-damental para impedir o agravamento do desemprego jovem.

a. Estágios profissionaisAs medidas integradas nesta categoria consubstanciam-se emapoios financeiros a entidades nacionais públicas e privadas, incluin-do o poder local, com vista a aumentar a experiência profissional dejovens qualificados e, assim, facilitar a sua inserção na vida activa e

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contribuir para o aumento do emprego de carácter permanente.Esta medida concretiza-se através de um estágio com a duração de12 meses e destina-se a jovens qualificados com idade compreendi-da entre os 18 e os 25 anos, recém-saídos dos sistemas de educaçãoe formação à procura do primeiro emprego ou desempregados àprocura de novo emprego. Os apoios financeiros incluem bolsa deestágio, montante variável, consoante o nível de qualificação eseguro de acidentes pessoais.

b. Jovens quadros para a inovação nas PMEEsta medida visa apoiar a realização de estágios profissionais empequenas e médias empresas (PME) de jovens com uma qualifi-cação superior em áreas de qualificação relevantes para a inovaçãoe a gestão dessas empresas. Esta medida concretiza-se através deum estágio com a duração de 12 meses e destina-se a jovens comidade até 35 anos, habilitados com qualificação de nível superior emdeterminadas áreas de formação e que se encontrem à procura doprimeiro emprego ou de novo emprego.

6. Promoção da Formação ProfissionalAs medidas integradas nesta categoria consubstanciam-se num con-junto de apoios técnicos e financeiros que visam promover a qualifi-cação profissional, sob a forma de formação inicial e contínua. Paraalém destas medidas, destacam-se os apoios no âmbito da modalidadeformação - acção, dirigida a micro, pequenas e médias empresas e enti-dades da economia social, assente na prestação de serviços integradosde formação e consultoria.

a. Cursos de educação e formação para jovensEstes cursos visam colmatar défices de qualificação escolar e profis-sional de jovens, constituindo uma oportunidade para a conclusãode níveis de escolaridade e para a obtenção de uma qualificaçãoprofissional facilitadora da entrada no mercado de trabalho. A medi-da proporciona oferta educativa e formativa aos jovens entre os 15

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e os 25 anos de idade, à procura do 1.º emprego, em risco de aban-dono escolar ou que abandonaram o sistema regular de ensinoantes de concluir 12 anos de escolaridade, bem como aos que con-cluem 12 anos de escolaridade e querem adquirir uma qualificaçãoprofissional para entrar no mercado de trabalho.

b. Cursos profissionaisEsta medida destina-se a jovens com o 9.º ano de escolaridade queprocuram um ensino mais prático e voltado para o mundo do tra-balho. Os cursos têm uma estrutura curricular organizada pormódulos, o que permite maior flexibilidade e respeito pelos ritmosde aprendizagem, e o plano de estudos inclui três componentes deformação: sociocultural, científica e técnica. A componente de for-mação técnica inclui uma formação em contexto de trabalho. Aconclusão de um curso profissional confere um diploma de nívelsecundário de educação permitindo a progressão num curso deespecialização tecnológica ou o acesso ao ensino superior, medianteo cumprimento de determinados requisitos.

c. Cursos de aprendizagemTrata-se de uma modalidade de formação que valoriza a prática realem posto de trabalho na empresa como contexto para a aquisiçãode saberes científicos e tecnológicos e para o reforço das suas com-petências académicas, pessoais, sociais e relacionais. Estes cursosdestinam-se, preferencialmente, a jovens com idades compreendi-das entre os 15 e os 25 anos, candidatos a 1.º emprego e detentoresde habilitações escolares entre o 1.º ciclo do ensino básico e o ensi-no secundário

d. Cursos de educação e formação de adultosOs cursos de educação e formação de adultos visam proporcionaruma formação de dupla certificação a adultos que sejam detentoresde baixas qualificações escolares e/ou profissionais ou quando estasse revelem desajustadas às necessidades do mercado de trabalho,numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida. Esta medida

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destina-se a adultos que pretendam completar o 4.º, 6.º, 9.º ou 12.ºano de escolaridade. Os cursos organizam-se em percursos forma-tivos flexíveis que podem ser completados prática em contexto detrabalho.

7. Reintegração e Reabilitação profissionalIntegra medidas que, de um modo geral, se destinam a grupos em situ-ação de particular desfavorecimento no mercado de trabalho incluemtambém apoios a pessoas com deficiência.

a. Formação profissional para grupos socialmente desfavorecidosEsta medida visa o desenvolvimento de competências profissionais,sociais e pessoais junto de grupos excluídos ou não inseridos social-mente, tendo em vista a aquisição de capacidades que lhes permi-tam integrar ou concluir acções de formação que confiram certifi-cação e/ou a reintegração no mercado de trabalho. Esta medidadestina-se a pessoas com particulares dificuldades no acesso ao sis-tema de ensino/formação, nomeadamente as que provenham demeios particularmente desfavorecidos, famílias não estruturadas,que apresentem percursos pessoais problemáticos e pertencentes agrupos excluídos e/ou desfavorecidos, entre os quais: crianças,jovens ou adultos, em situação de exclusão social ou risco deexclusão; desempregados, em particular os de longa e muito longaduração e grupos de risco, designadamente ex-toxicodependentes.

b. Apoios à contratação de pessoas com deficiênciaEsta medida visa estimular a contratação de pessoas com deficiên-cia no mercado de trabalho, por via da concessão de apoios finan-ceiros e mediante a celebração de contratos de trabalho sem termo.Esta medida integra, nomeadamente subsídio de acolhimento per-sonalizado para cobrir despesas com pessoas que acompanham eapoiem o trabalhador com deficiência durante o processo de inte-gração socioprofissional e de adaptação ao esquema produtivo daentidade empregadora.

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c. Acções de formação profissional e de informação, avaliação e orien-tação profissional para pessoas com deficiênciaEstas acções visam apoiar as pessoas com deficiência a tomar de-cisões vocacionais mais adequadas e habilitá-las com as competên-cias necessárias à obtenção de uma qualificação profissional que lhespermita obter e sustentar um emprego e progredir no mercado nor-mal de trabalho. Visam, igualmente, proporcionar às pessoas cujadeficiência tenha surgido durante a sua vida profissional, condições eprocessos de adaptação e compensação das suas limitações fun-cionais propiciadoras de um desempenho mais fácil de tarefas, comaproveitamento da sua anterior experiência profissional.

B4 – Saúde com qualidade e inclusãoCabo Verde já experimentou três modelos distintos de sistema de saúde,começando pelo sistema desorganizado e mal definido da era colonial. Na I República, a entre 1975 e 1990, passou por um segundo momentocaracterizado por um sistema de prestação de serviços de saúde exclu-sivamente estatal com graves limitações na liberdade de escolha, tantodos utentes como dos profissionais.A partir de 1991, o Sistema de Saúde de Cabo Verde sofre grandes trans-formações e reformas que o colocam ao nível das modernas políticas desaúde. Um dos pilares que marcaram esta etapa foi a abertura do sis-tema de saúde ao exercício do sector privado que passou a poder existire cumprir o seu papel complementar ao lado do sector estatal.Nos últimos dez anos, o governo do PAICV não foi capaz de dar con-tinuidade às reformas Iniciadas e necessárias no Sistema de Saúde, lim-itando-se à gestão corrente e execução de projectos herdados e àaprovação de alguns instrumentos incompletos de reforma, subsistindo:

O MENOSPREZO DO SECTOR DE SAÚDE NO ORÇAMENTO DOESTADONo que diz respeito ao orçamento para o sector da saúde que, em 2000,era 9,8% do total do Orçamento do Estado, o governo actual foi inca-paz de ultrapassar os 8,9%, apesar de haver a necessidade reconhecida

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de se aumentar essa participação progressivamente para 10 a 15%.Em relação ao PIB, enquanto Portugal aplica 10% no sector da saúde,Brasil 7,5%, Senegal 5,4%, Cabo Verde não passa dos 4%.

FALHAS GRAVES NA GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOSO Governo não conseguiu dar resposta às justas expectativas dosprofissionais de saúde, tendo sido incapaz de aplicar as carreiras médi-ca e de enfermagem, de dignificar a situação salarial dos médicos eenfermeiros em particular e, no geral, de todos os trabalhadores do sec-tor que, como é evidente, têm exigências específicas em termos deresponsabilidade e riscos. Os serviços de urgência são manifestamente mal remunerados, a pro-moção na carreira ficou congelada, as progressões foram feitas recen-temente como acção eleitoralista, de forma inadequada e semtransparência, ficando por valorizar como é devido, o mérito e a com-petência dos profissionais.Em relação aos recursos humanos, os indicadores demonstram a neces-sidade de se aumentar a quantidade de médicos, de enfermeiros e deoutros profissionais de saúde. Há bons profissionais da saúde, mas faltacriar o espírito de equipa, desenvolver a cultura de responsabilidade ede hierarquia técnica, melhorar a qualidade, apostando na formaçãocontínua, pós-graduação, especialização, assim como na motivação ena melhoria das condições de trabalho.Segundo dados de 2009, existem 275 médicos em efectividade defunções nos estabelecimentos públicos de prestação de cuidados desaúde para uma população estimada em 491.575, o que vai dar umratio de 1 médico por 1.788 habitantes.O MpD, numa prova de visão para o sector, enviou em 1997/98/99,através de um acordo com o Governo Cubano, 120 alunos para for-mação médica em Cuba e que hoje poderiam contribuir para melhoraro rácio de cobertura médica e constituírem uma boa base para a dis-pensa de médicos para a formação na especialidade.No entanto, de acordo com o Plano Estratégico de Desenvolvimento deRecursos Humanos para a Saúde, 2005-2014, Cabo Verde tem uma

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população jovem de médicos clínicos gerais, mas, a curto prazo e emsimultâneo, muitos profissionais irão sair para a aposentação, principal-mente os especialistas e, a manter-se os actuais níveis de evolução daformação dos médicos, haverá uma redução do ratio médico/habitantepara 5,26/10.000 habitantes em 2020. Por isso, estima-se que seja necessário aumentar em 152 o númerode médicos até ao ano 2014, o que não se irá conseguir alcançar jáque o governo actual manteve o mesmo número médio de formaçãode médicos por ano.A nível de enfermeiros, existem 498 para uma população de 491.575,conduzindo a um rácio de 1 por cada 987 habitantes, tornando-senecessário o recrutamento de mais 250 enfermeiros para o sistemanacional de saúde nos próximos tempos.Esta situação é agravada ainda pela crescente insatisfação dos profis-sionais de saúde com as suas condições de trabalho e carreira quetem alimentado o fenómeno da fuga de cérebros no sector da saúde,com consequências graves na continuação da garantia da qualidadee quantidade necessárias de Recursos Humanos da Saúde paraprestação de serviços no país.O governo do PAICV, numa postura de só se preocupar, também nasaúde, com o betão, foi incapaz de actualizar a carta sanitária elabora-da em 1999, secundarizando elementos importantes da saúde públicaa nível da reestruturação e reforço dos programas por exemplo, osrelacionados com a fiscalização, monitorização e avaliação dosserviços de saúde, bem como os de saúde das famílias, entre outros.

FRACA DESCENTRALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃOO governo confundiu a descentralização e regionalização da prestaçãodos cuidados de saúde com a desconcentração dos serviços.O sistema de saúde de Cabo Verde padece de muita concentração eos serviços não são descentralizados o suficiente. Há muita dependên-cia de um comando central que, por vezes também não funciona, difi-cultando e muito, o desempenho do sistema nacional de saúde. OGoverno do PAICV governamentalizou os Cargos de Chefia, chegando

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ao cúmulo dos Directores dos Hospitais Centrais e Regionais seremnomeados no Conselho de Ministros, instrumentalizou os Cargos dosDirectores Clínicos em profundo desrespeitos das Carreiras Médicas ede Enfermagem. Destruiu a hierarquia no seio dos profissionais dasaúde, com enormes prejuízos para Organização e Gestão dos Serviçosde Saúde.O Governo do PAICV, sempre desconfiado do poder local, não fez nen-huma reforma no sentido da municipalização dos Cuidados Primáriosde Saúde, seja a nível preventivo ou curativo, actuando muitas vezesno sentido contrário, reduzido de forma drástica, por exemplo a taxaecológica, com prejuízos graves no saneamento básico, conduzindo opaís ao ponto de ter surgido, pela primeira vez na história de CaboVerde, uma nova doença infecto-contagiosa, transmitida por mosqui-tos, a Dengue, que atingiu perto de 30.000 Cabo-verdianos e quepoderia ter sido prevenido se o governo tivesse um programa de saúdeeficaz e atento ao acompanhamento do vector transmissor da doença,que se sabia existir no país. A participação do poder local no sistema de saúde é marginal, limitan-do-se apenas a apoios esporádicos a doentes vulneráveis, embora sejareconhecida a sua responsabilidade a nível de Saúde Pública, mascarece de pessoal qualificado e de recursos financeiros para o fazer. Os hospitais regionais não têm condições para desempenhar cabal-mente as suas funções e os hospitais centrais enfrentam muitas difi-culdades.

A GRAVE SITUAÇÃO DO HOSPITAL DA PRAIA Veja-se o caso do Hospital da Praia, o maior centro de prestação decuidados de saúde, com uma situação grave:

- Aspectos básicos como a água corrente nos consultórios são umararidade, havendo rotura sistemática da água auto transportada,padecendo de uma rede de esgotos em parte desconhecida e quefrequentemente fica ao céu aberto com graves consequênciaspara a saúde pública e grande insatisfação dos utentes com oserviço prestado;

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- Congestionamento, com uma taxa de ocupação de 100 a 118%,nomeadamente na área da saúde da mulher onde é frequenteencontrar, na maternidade, duas parturientes na mesma cama;

- Endividamento, com uma dívida acumulada de mais de 100 milcontos;

- Défice de médicos e falta de cerca de cinquenta enfermeiros; - Graves carências nas especialidades médicas, consideradas básicas,

como Medicina Interna, Intensivistas, ou Anestesistas, inexistência deespecialidades importantes, como a neurocirurgia e urologia, assimcomo atrasos na implementação da hemodiálise e da oncologia;

- Elevado tempo de espera para uma consulta na especialidade, trêsa quatro meses, para a maioria dos casos;

- Elevado tempo para a realização de exames complementares dediagnóstico que pode chegar a 2 meses.

- Sobrecarga do laboratório e rupturas constantes de reagentes e deoutros meios de diagnóstico;

- Roturas frequentes de anestésicos, oxigénio, compressas, fios desuturas e outros consumíveis, assim como a degradação de instru-mentos cirúrgicos;

- Pessoal desmotivado e subaproveitado,

DESACELERAÇÃO DOS INDICADORES DE SAÚDE PÚBLICAA melhoria dos principais indicadores de Saúde Pública conheceu umasignificativa desaceleração com o governo do PAICV, a exemplo:

- A mortalidade infantil, de 1995 a 2001, passou de 57,9 por milpara 23,2 por mil, de 2001 a 2009 teve uma baixa diminuição, de23,2 por mil para 20,1 por mil,

- A mortalidade geral que diminuiu de 9,1 por mil para 5,4 por milde 1995 a 2001, nesta governação (2001 a 2009), diminuiu timi-damente de 5,4 para 5,2 por mil.

- A mortalidade em menores de cinco anos, de 1995 a 2001, teveuma redução de 76,8 por mil para 27, 4 por mil e na governaçãoactual (2001 a 2009), a redução foi somente de 27,4 por mil para23,7 por mil.

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TRANSFERÊNCIA DE DOENTES PARA O EXTERIORA transferência de doentes para Portugal, pela forma como é efectu-ada, demonstra uma situação de fragilidade do Sistema Nacional deSaúde e envolve despesas consideráveis que poderiam ser aplicadasinternamente, na diferenciação dos quadros e desenvolvimento deequipas especializadas, nomeadamente na Oncologia, Cardiologia eTraumatologia, principais áreas de evacuação para Exterior.Com efeito, o recurso continuado ao sistema de evacuação dedoentes para Portugal, apesar dos investimentos que se têm vindo afazer na área da saúde, revela que o actual governo mantém estemeio como se tratasse de uma extensão do SNS de Cabo Verde, semperspectivas de mudança. Os custos que este “serviço” tem para oscabo-verdianos, acrescido aos custos decorrentes das evacuaçõesdentro do país poderiam, pelo menos em parte, estarem a ser capi-talizados para investir na formação e diferenciação dos quadrosnacionais bem como dotar alguns serviços de tecnologia de ponta. A ausência de modernização e adequação das estruturas de saúde eda sua gestão ao padrão epidemiológico do país e às necessidades dapopulação faz com que o SNS tenha estagnado.

CONTINUIDADE NA CONSTRUÇÃO DE INFRAESTRUTURASNo tocante às infra-estruturas, à semelhança do que foi feito na déca-da de 90 (Hospital Regional de Santo Antão, Centros de Saúde de SantaCruz, Centro de Saúde do Porto Novo, Centro de Saúde de Tarrafal deSão Nicolau, Hospital da Ribeira Brava, Hospital da Ribeira Brava, váriasUnidades Sanitárias de Base e Postos Sanitários, Centro Cirúrgico doHospital da Praia, Banco de Urgência do Hospital da Paria e o Centro deExames Complementares de Diagnóstico do Hospital da Praia que oactual governo teve a sorte de inaugurar), a governação actual constru-iu um conjunto de infra-estruturas já projectadas pelo Governo do MPDcomo o Hospital Regional de Santiago Norte, centros de saúde,unidades sanitárias de base e postos sanitários, enfermaria de doençascirúrgicas e a nova maternidade que, apesar de concluída, continuainoperacional, por manifesta incapacidade de gestão do sistema.

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Contudo, a transformação de todas as unidades sanitárias de base empostos sanitários, uma intervenção profunda no hospital regional doFogo, a construção de um novo hospital de referência nacional na ilhade Santiago, bem como a tão desejada requalificação dos Agentes Sa-nitários para Agentes de Saúde, não constaram na agenda do governo.

CONCLUSÃO: ESGOTAMENTO DO ACTUAL SISTEMA DE SAÚDEO sistema nacional de saúde está esgotado e necessita de uma novavisão e de um novo modeloEsgotado porque:

1. Já não consegue dar resposta às actuais necessidades que o proces-so de desenvolvimento do país impõe,

2. Os indicadores de saúde tais como a mortalidade infantil, a mor-talidade em geral, a saúde materna, a esperança de vida, entre out-ros, sendo de evolução positiva chegaram já a níveis próximos daestagnação. Impõe-se assim um salto qualitativo que necessaria-mente exige sérios investimentos, tanto na Gestão dos CuidadosPrimários de Saúde, como nos avanços Tecnológicos e na FormaçãoEspecífica e direccionada de Especialistas permitindo, tanto umincremento na saúde preventiva, como uma melhoria significativados serviços clínicos de diagnóstico e de terapêutica. Só desta formase atinge uma melhor satisfação e um melhor bem-estar dos cabo-verdianos no domínio da saúde e por esta via, contribuir para reduziro sentido das evacuações para Portugal. Sendo absolutamentenecessária uma nova atitude na Gestão dos Cuidados Primários deSaúde, esta, só por si, revela-se manifestamente insuficiente para asexigências actuais do país no domínio da saúde.

3. As condições humanas e sociais em que a maior parte destes evac-uados, já fragilizados pela doença física, se encontra, são tãodramáticas que por vezes inviabilizam os bons resultados dos trata-mentos recebidos.

4. O SNS não está à altura de acompanhar a evolução sócio económi-ca do país, particularmente no domínio do turismo e da, cada vezmais exigente, demanda dos cabo-verdianos. Todos, sem excepção,

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reclamam as longas filas de espera nos Hospitais, em todos os cui-dados que aí são prestados, bem como o seu nível de tratamento ede conforto.

5. O direito constitucional de equidade em relação à assistênciamédica está longe de ser conseguido. A manutenção da inadequação quantitativa e qualitativa de profis-sionais de saúde faz com que haja grandes variações da densidademédica nos vários concelhos do país, concentrando-se a maioria naPraia e em São VicenteMantém-se, pois, a iniquidade de acesso aos serviços de saúde resul-tante da escassez de meios técnicos e de especialistas o que resul-ta, enquanto subsistir essa situação, na necessidade de um eficientesistema de evacuações de doentes inter-ilhas.A quase inexistência desse Sistema de Evacuação leva a que a pop-ulação que vive nas ilhas, afastadas dos grandes centros, fiquedesprotegida e sem igualdade de oportunidade no acesso à assistên-cia médica. Imagine-se uma parturiente na Brava que durante umparto tem necessidade de uma cesariana. Ou um acidente de viaçãograve na Boavista!

6. A propalada reforma programada para a Região Sanitária de San-tiago Norte apoiada pela Cooperação Internacional e projectada co-mo referência para o resto do país, ainda mal passou da construçãodo Hospital Regional (HRSN) e alguns centros de saúde, que funcio-nam com orçamento e meios residuais e, portanto, de forma defici-ente. Importa, pois, continuar à procura da Cooperação Interna-cional e do Conhecimento para melhorar a Gestão de Cuidados deSaúde Primários com especial incidência para Tuberculose, Sida,Paludismo, Dengue e outras doenças endémicas. Igualmente ape-trechar o HRSN em meios, recursos humanos e sistema de eva-cuação de modo a que um doente que sofra um acidente em SantaCruz, ou mesmo nos Órgãos, não corra o risco de perder o tempoútil de salvamento. Só assim a experiência piloto da RSSN terá resul-tados e condições para ser considerada modelo a implementar emoutras regiões do país, como aliás é o seu projecto inicial.

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7. A construção dos Centros de Saúde da Praia não foi acompanha-da de uma gestão eficiente de Atenção Primária. Há falta demeios e de pessoal qualificado, o que leva a um funcionamentobastante limitado, não contribuindo para descongestionar oHospital Central, acabando este por fazer, várias vezes, o papelque caberia a estes centros de saúde.

8. Os dois hospitais chamados de Centrais, mais de 15 anos após assuas autonomias patrimonial e financeira, aguardam ainda pelaautonomia dos seus recursos humanos, reflectindo-se no nível dasua insatisfação e desmotivação.

9. As tímidas iniciativas privadas na área da saúde, que se desen-volveram a partir de 1991, são ignoradas pelo governo, sendoapenas reconhecidas para a atribuição do apertado alvará. A faltade incentivos e os obstáculos crescentes que o sector privado dasaúde enfrenta, impedem qualquer possibilidade de crescimento,resumindo-se a sua actividade aos pequenos consultórios semexpressão no sistema, agravado pela subsistência de uma desar-ticulação acentuada entre os sectores públicos e privado deprestação de cuidados de saúde.

10. A Previdência Social, guiada por autênticos comissários políti-cos, demite-se do seu papel essencial de parceira interessada nodesenvolvimento do sistema de saúde, preocupando-se apenasem arrecadar e poupar dinheiro que depois são aplicados, fre-quentemente, por directrizes políticas, para outras actividadesque não contribuem para o sector da saúde. Abrangendo cerca de 40% da população, mantém um contrato deexclusividade com o Ministério da Saúde para a prestação decuidados de saúde, ignorando o Sector Privado, salvo algumasexcepções.

11. A política de Saúde Pública, executada pelas diferentes delega-cias, necessita de um salto qualitativo em relação à atençãoprimária de saúde o que implica um maior investimento quer emtermos de gestão como da prática da atenção primária de saúde.

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A Visão do MpDO Estado tem a obrigação constitucional de garantir o direito à saúdea todos e o dever de a defender e promover e, nesta base, tem aincumbência de assegurar o funcionamento do sector público deprestação de cuidados de saúde de qualidade e de incentivar, apoiare regular a iniciativa privada na prestação de cuidados de saúde pre-ventiva, promocional, curativa e de reabilitação.O MpD defende o princípio de que os governos devem assegurar umaforte política social, particularmente no sistema de saúde, de formaa dar resposta à problemática da universalidade, justiça, acessibili-dade, solidariedade, equidade, eficácia e efectividade que atingem, noconcreto, as pessoas. O MpD defende um sistema de saúde, cujo modelo se caracteriza porfinanciamento público, controlo parlamentar, universalidade de aces-so, gestão pública e provisão através de um mix público/privado, emque as relações económicas estabelecem-se com base num sistemalegal que especifica direitos e obrigações dos cidadãos e dos presta-dores de serviços.O sistema de saúde de Cabo Verde lida, como em vários quadrantes,com o dilema de conciliar os objectivos da universalização contínuada prestação dos cuidados de saúde com a racionalização dos custoscom a saúde, mas não deverá deixar de garantir, nos casos devida-mente especificados, a gratuitidade às pessoas que não têmcondições para comparticipar.Nestes termos, o governo do MpD garante os seguintes objectivospara a área da Saúde:

i. Reforma do Sistema de SaúdeA reforma do Sistema de Saúde de Cabo Verde que tenha em contauma capacidade de mobilização de recursos com repartição equitati-va a todos os concelhos do país, visando a universalidade, a justiçasocial e a adequada resposta aos desafios que o desenvolvimentoeconómico coloca à Saúde.Cabo Verde, será, assim, na visão do MpD, um país onde o seu Siste-ma de Saúde garantirá efectivamente a universalidade e equidade de

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acesso a todos os cidadãos, de acordo com a Constituição, e terá ca-pacidade de resposta e qualidade adequada às expectativas cada vezmais exigente da ciência, dos cabo-verdianos e dos agentes económi-cos, em particular do Turismo.

ii. Valorização dos Profissionais de SaúdeA valorização dos Recursos Humanos da Saúde, quantitativa equalitativamente, incrementando a sua motivação e garantindo aequidade e transparência na sua gestão.Serão garantidos aos profissionais uma adequada protecção contraos riscos profissionais e dadas garantias de funcionamento contín-uo, integrado e eficiente dos serviços, limitando as carências derecursos materiais, técnicos ou humanos, situações que são deter-minantes na qualidade dos serviços prestados, mesmo quando osRHS estão capacitados e motivados.Igual aposta vai para a racionalidade e transparência na formaçãoe gestão dos recursos humanos, enquanto factor de motivação dosprofissionais de saúde.

iii. A sustentabilidade financeiraA sustentabilidade financeira do sistema de saúde cabo-verdiano éconsiderada pelo MPD um dos problemas prioritários. A condiçãochave para a sua garantia está na capacidade do Estado de Cabo Ver-de em envolver adequadamente os empregadores, a previdênciasocial, os profissionais liberais e toda a sociedade civil num processojusto e equilibrado de financiamento do sistema de saúde.Por outro lado, a gestão e aplicação transparente e eficiente de todasas ajudas internacionais potenciará o esforço do país na área da Saúde.

iv. Primeiros socorros em condições técnicasEstabelecimento de um tempo razoável de chegada a um centro dereferência, em condições técnicas ideais dos primeiros socorros. Não sendo, a curto prazo, economicamente viável criar centros dereferência em todas as ilhas, importa conceber as diversas estru-turas de saúde enquadradas numa pirâmide, com um funcionandonum sistema em rede, onde o principal elo será o sistema de comu-nicação e evacuação rápida.

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O sistema preconizado abrangerá os Serviços da Protecção Civil, dasForças Armadas, da Cruz Vermelha, do sector Privado e outros, com ca-pacidade e meios eficientes de transporte e evacuações de doentes deuma forma segura e rápida pelas vias terrestres, aéreas e marítimas. Ameta será estabelecer um tempo razoável de chegada a um centro dereferência, em condições técnicas ideais dos primeiros socorros.

O nosso compromisso1. UMA MAIOR EQUIDADE DE ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE Todos os cabo-verdianos têm o direito a igual oportunidade na assis-tência médica e medicamentosa.Para se atingir esta meta vão ser criadas as condições para se alargara previdência social, as mutualidades e criar planos e outros segurosde saúde, capazes de promover a protecção na doença. Vai-se tam-bém investir numa rede de ambulâncias nas ilhas e entre elas, asso-ciadas à protecção civil e às Forças Armadas, Privados e outros, comcapacidade de evacuação através dos meios adequados (aviões ehelicópteros), constituída por pessoal capacitado

2. CONSTRUÇÃO DE UM MODERNO HOSPITAL NA PRAIA EREQUALIFICAÇÃO DE TODA A ESTRUTURA SANITÁRIA Construção de um novo hospital de referência nacional na Praia,requalificação de todos os hospitais regionais, centros de saúde epostos de saúde e avaliação da possibilidade de construção do hospi-tal regional de Santiago Leste em Santa Cruz.Tudo se fará para dotar as diferentes organizações de serviços desaúde de tecnologias modernas, investindo e fazendo recurso a out-ros instrumentos como parcerias público – privadas, de estímulo à ini-ciativa privada e elaboração de contratos e convenções de forma aviabilizar a prestação de determinados serviços.

3. ESTIMULAR O INVESTIMENTO EM CLÍNICAS DE QUALIDADE Serão criados incentivos para a captação de investimentos em clíni-cas privadas de qualidade, capazes de dar resposta ao sector do

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turismo e de complementar os serviços públicos de saúde, mini-mizando as necessidades de evacuações de doentes para oestrangeiro. Para se alcançar este objectivo será necessário criar condições paraque a previdência social acorde a prestação de cuidados num sis-tema concorrencial e que haja abertura para que investimentosestrangeiros tenham possibilidade de, em parceria com nacionais,concorrer para prestação de cuidados de saúde

4. AUMENTAR O NÚMERO DE ESPECIALISTASUma grande atenção será dedicada à formação de especialistas emdiferentes áreas, de forma a responder ao padrão epidemiológico dopaís e às áreas estratégicas de desenvolvimento. Para se atingir este objectivo, será necessário estabelecer protoco-los entre serviços nacionais e estrangeiros das diferentes especiali-dades de interesse onde serão privilegiados a formação, a imple-mentação dos serviços e o seu seguimento de forma continuada.Por outro lado, serão criadas as condições reais e atractivas de tra-balho de forma a atrair e reter no país os recursos humanos dasaúde e evitar a fuga de cérebros

5. REFORMA DOS SERVIÇOS CENTRAIS DO MINISTÉRIO DASAÚDE Reforma profunda da Lei Orgânica do Ministério da Saúde comespecial realce na descentralização, desenvolvimento de estruturasvocacionadas para as Doenças não Transmissíveis, articulação entreos diversos níveis de prestação de serviço e na regulação dos doSector Privado.

6. RETOMAR O PROJECTO INICIAL DO HRSNDotar o HRSN dos recursos necessários de acordo com os objec-tivos do projecto, para que se torne um modelo de gestão da saúdeda região e um estímulo para impulsionar a reforma das outrasregiões.

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7. REVER A LEGISLAÇÃO DAS FARMÁCIASAdequar a legislação sobre as farmácias de modo a garantir a excelênciade um serviço próximo do consumidor, promovendo concurso públicosempre que seja necessário suprir as necessidades da população.

8. REVER O FINANCIAMENTO PARA A SAÚDEPara se atingir este objectivo, o Orçamento do Estado para a Saúdedeve aumentar em estreita consonância com o PIB e a meta dos 12%em 2016 deve ser perspectivada, tendo como argumento adicional ofacto do país ser constituído por ilhas.A Previdência Social deve mudar de paradigma, adoptando uma ati-tude pro-activa e de parceira. Assim, deve passar a promover e partic-ipar nos investimentos que podem trazer mais-valia para a saúde doscabo-verdianos. Seguros e Planos de Saúde devem ser promovidos.O Turismo, a Indústria Hoteleira, a Previdência Social, as Seguradoras,como principais beneficiários de um bom sistema de saúde, devemparticipar como parceiras e, por esta via, serem considerados noprocesso do seu financiamento.

9. PROMOVER UMA MELHOR COOPERAÇÃO INTERNACIONALA prioridade da cooperação será dirigida à melhoria de gestão naatenção primária de saúde e melhorias significativas nos indicadoresde saúde, com especial incidência na redução da mortalidade infantil,na protecção materna, na luta contra a tuberculose, a SIDA, o palud-ismo e a dengue.

10. A SAÚDE COMO SERVIÇO EXPORTADORCabo Verde tem as condições, de recursos humanos e de clima – e,por outro lado, o turismo vai-lhe dar as condições de envolvimento eentretenimento –, que lhe permitem fazer uma aposta ganhadora nasaúde, enquanto sector prestador de serviços internacionais de altovalor acrescentado.Os recursos humanos cabo-verdianos na área da saúde têm recon-hecida competência técnica e profissional e experiência para supor-

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tar o arranque da montagem de empresas de serviço, viradas quer parao turismo de saúde quer para os serviços internacionais de saúde.O Governo do MpD criará um Parque Científico e Tecnológico daSaúde, na cidade da Praia, que será o elemento operacional estratégicodesta nova política para o sector. O programa concreto de apoio a estaestratégia contemplará, nomeadamente:

• O Incentivo à instalação de clínicas, hospitais e hospitais univer-sitários privados.

• A identificação de parceiros internacionais para o desenvolvimentodo turismo de saúde.

• O estabelecimento de parcerias com empresas internacionais espe-cializadas no sector.

B5 – Reabilitação da CulturaAo Estado é atribuída uma grande responsabilidade nas políticas cul-turais. Todavia, esta participação sempre gerou inquietações nos cri-adores e, no geral, nos cidadãos mais preocupados com a cultura,sendo certo que, em vários casos, os próprios políticos responsáveispelo sector se demitem do papel atribuído ao Estado, confundindoainda mais o sentido das políticas culturais. Existem países que dispensam orientações de políticas culturaisdirigidas pelo Estado, eliminando mesmo na estrutura dos seus gov-ernos a pasta da Cultura. Mas nestes casos são instituições privadas(fundações, ONG’s, instituições da sociedade civil e religiosas, univer-sidades) a ocupar o papel que seria do Estado. São países com políti-cas culturais bem delineadas, fortemente financiadas a ponto deexercerem importante hegemonia cultural a nível mundial, benefi-ciando-se das vantagens da economia globalizada. É o caso dosEstados Unidos da América cujo PIB das indústrias culturais represen-ta mais de 6%. Para além do peso das indústrias culturais, o sector joga um papeldeterminante na construção de novos modelos de sociedade à escalamundial. Com efeito, a Cultura pode responder a desafios cruciais paraos países tais como:

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- Ecologia e Desenvolvimento Sustentável, promovendo actividadesindustriais e artesanais duráveis e eficazes sob o ponto de vistaecológico. Sua matéria-prima é a criatividade, um recurso imaterial,não poluente e ilimitado,

- Cidadania, pois os conteúdos directos ou implícitos das mensagensdas criações artísticas favorecem a tomada de consciência e a partic-ipação cidadã. Por outro lado, as associações culturais alimentam otecido associativo e contribuem para dar uma voz à sociedade civil e

- Educação, em que a difusão e estudo de criações artísticas, especial-mente junto do público jovem, reforça o espírito crítico e asseguraum importante apoio aos esforços produzidos pelo sistema educa-tivo.

Em Cabo Verde, o problema maior neste domínio é a dificuldade de seestabelecer uma necessária ruptura com uma política cultural insusten-tável, conservadora e com frágil engajamento público. Uma rupturaassente num novo desenho de políticas e estruturas públicas que assustentam e numa abordagem científica e técnica da cultura comoalma e alavanca de desenvolvimento nacional. Acentuado pela sua característica telúrica e histórica – insular,arquipelágico e recente - o país tem encontrado, nos últimos anos, difi-culdades no estabelecimento de um plano estratégico de desenvolvi-mento da cultura ou um sistema nacional de cultura que estabeleçapolíticas culturais consequentes no tempo e com expressão no desen-volvimento do país. Raros são os ensaios produzidos e publicados nas ilhas a reflectiremesta fragilidade conceptual, porque raros são os especialistas nacionaisque dominam e produzem pensamento científico no domínio da cul-tura. Este facto resultou na dificuldade de se estabelecer linhas orienta-doras de políticas culturais, consequentes e articuladas com as demaispolíticas sectoriais, enquanto estruturante do processo democrático eda identidade da nação.Estas dificuldades encontram expressão:

a. No lugar acessório que a cultura ocupa nas estruturas e políticas doEstado.

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b. Na fragilidade técnica, científica e humana das instituições doEstado responsáveis pela execução dos programas do governo nestesector.

c. Nos insuficientes recursos destinados à Cultura no Orçamento doEstado.

d. Na marginalização das dinâmicas da sociedade, dos agentes e orga-nizações que actuam no sector da Cultura.

e. Nas nebulosas linhas de actuação pública das instituições do Estado ef. Na ausência de promoção das manifestações e empreendimentos

culturais da sociedade.A deambulação da pasta e o zero crescimento orçamental do sector econsequente corte de investimento nas instituições do Estado que seocupam da promoção, incentivo e fiscalização das políticas da cultura,reflectem o facto de não se ter sabido o que fazer com a Cultura e, porisso, andado à deriva quanto ao papel que o sector deve ocupar no CaboVerde de hoje.

A visão do MpDA situação económica do País, reflectindo importantes taxas dedesemprego na camada jovem, índices ainda elevados de pobreza eo êxodo rural para a periferia das cidades, é um dos factores quedesafia o sector da Cultura para uma reformulação profunda daspolíticas culturais actuais. A Cultura encontra-se, pois, no lugar privilegiado para compreendere questionar o actual modelo de desenvolvimento adoptado peloPaís, bem como para propor e integrar alternativas que respondam àsdificuldades de realização da esmagadora maioria dos cidadãos.Por isso, entende o MpD que a nova estratégica de políticas culturaisvai estar no centro dos problemas sociais de maior escala, na basedos seguintes eixos e desafios estratégicos:

1. Trabalhar uma matriz cultural do PaísO MpD entende que um dos maiores problemas de Cabo Verderesidiu na dificuldade do desenho de políticas para a “culturalmatriz” do País.

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Essa incompetência, que abrange vários sectores e não só odomínio da Cultura, foi evidente nos últimos anos em que seacentuaram as pressões externas sobre as ilhas, pondo a nu a suafragilidade ecológica, económica, cultural e científica face aosdesafios que a globalização do mercado impôs ao arquipélago. A Cultura em Cabo Verde precisa, por isso, de ser sintonizadacom os novos paradigmas que se projectam para o País no quetoca à sua sustentabilidade económica inclusiva, com basenum plano de requalificação da produção cultural nacional, deforma a integrá-la nas dinâmicas contemporâneas do desen-volvimento.

2. Ter em atenção as duas dimensões da economia globalizada As novas abordagens da economia globalizada, ao mesmotempo que ameaçam esmagar as culturas de certas regiões domundo em desenvolvimento, oferecem-lhes uma oportunidadeúnica de se afirmarem por via da qualificação da produção cul-tural e sua especificidade identitária como economias deexcelência com forte incorporação de factores criativos nãomassificados, no contexto de alta competitividade liderada poroperadores atentos às oportunidades do mercado globalizado. Por consequência, os projectos culturais de produtores indepen-dentes e as instituições culturais e de educação, tanto públicascomo privadas, devem encontrar o seu lugar como parte inte-grante das estratégias das políticas de promoção do desenvolvi-mento endógeno do País.

3. Mobilizar as mulheres e os homens da Cultura como os princi-pais agentes da mudançaAs práticas artísticas devem também encontrar o seu lugar,interpelando, no plano da economia e sustentabilidade, tantoprodutores, criadores e intérpretes, difusores e gestores deactividades culturais, como os poderes públicos encarregados desua promoção através de incentivos do Estado, não numa ópti-ca paternalista ou assistencialista, mas com projecção deequiparação a outros sectores de produção nacional.

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4. Em coerência, assumir os seguintes desafios:I. Identificar os sectores da economia da Cultura, estabelecendo,

desde já, como prioritários, os campos industriais (como o cinemae o audiovisual), os informais e ligados a complexos sistemas sim-bólicos (como o artesanato) e os ligados a cidades (como arqui-tectura, urbanismo, design, tecnologia e moda).

II. Integrar a Cultura na geração de riqueza económica com uma dis-tribuição nacional e equilibrada, procurando incubar pequenas emédias empresas culturais nacionais que possam associar a cria-tividade à geração de empregos, receitas e bem-estar.

III. Inserir a Cultura no sistema educacional para a formação univer-sal de uma cidadania plena e plateias fruidoras da Cultura.

IV. Identificar elos da cadeia criativa, produtiva e distributiva, compreocupações de aproximar, estrategicamente, estes três elemen-tos. Uma atenção especial será dada, nessa cadeia, ao tratamen-to logístico e comercial, de modo a somar o pensamento empre-sarial à compreensão cultural, numa intermediação que integre aprodução cultural e o capital necessário ao seu desenvolvimento.

V. Estimular o sistema financeiro numa oferta que tenha em contaprodutos adaptados à transversalidade cultural como turismo eCultura, e ao desenvolvimento qualificado, com valorização dadiversidade e protecção dos sistemas simbólicos.

VI. Identificar dinâmicas económicas predatórias para a Cultura,como certas formas de turismo e de infra-estrutura que tratam aspopulações como barreira e não como património.

O nosso compromissoa. Mudança de paradigma cultural

Impõe-se, neste quadro, uma mudança de paradigma nas políticasculturais cabo-verdianas, tendo em conta, em primeiro lugar, que aspolíticas culturais têm características básicas próprias, que, incidin-do na particularidade histórica, geográfica e identitária de cada país,conduz ao “cultural matiz” de cada nação. No caso cabo-verdiano, deve-se começar por reconhecer a necessi-

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dade de integração da noção de insularidade nas políticas sectoriais,levando a que as políticas vençam esta dificuldade conceptual.

b. Abordagem vertical e horizontal da CulturaNo geral, as políticas culturais caracterizam-se por serem integrais.Combinam o geral com o particular e atendem a diferentes camposda cultura. Buscam a descentralização e a autonomia regional elocal. Constroem-se e executam-se participativamente. Combinamantecedentes, contexto, conceptualizações, objectivos, linhas deacções, actores e critérios de avaliação.Por isso, vai ter-se em conta que as prioridades manifestam-se emtodas as frentes: educação, criação, produção, fruição, distribuição,economia, consubstanciando um corpus relativamente amplo: naspolíticas regionais e locais, nas práticas artísticas, no patrimóniomaterial e imaterial, nas políticas de sentidos e das indústrias cultu-rais, na promoção da Cultura; na cooperação internacional e nos ele-mentos intersectoriais da economia.

c. Um futuro Ministério da Cultura com identidade própria na orgâni-ca do GovernoOs desafios que hoje se põem ao País no domínio das políticas daCultura implicam a pertinência de se retomar um novo e dinâmicoMinistério da Cultura, no respeito do peso das responsabilidades quesão exigidas à área governamental responsável pelas políticas cul-turais. Um futuro ministério, que operará uma ruptura com o passadorecente em termos de concepção e de execução de políticas — umaruptura com a rotina das instituições do Estado, hoje depositárias derecursos inoperantes e desactualizados dos fenómenos sociais, cul-turais e económicos que ocorrem no contemporâneo — e con-tribuir, com isso, para um sistema de governação moderno e criati-vo, para uma mudança social, com base em novos paradigmas se-dimentados no conhecimento e estudo, na excelência e no rigor.Um departamento departamental que corrija os erros cometidos

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no passado recente por ausência de uma estratégica racional e con-vincente de políticas culturais.

d. Remodelação e modernização das actuais estruturas, tendo emconta novas instituições especializadasHaverá, não só uma remodelação das actuais estruturas, como tam-bém, com base na descentralização, a criação de novas instituiçõesespecializadas, de modo a promover, entre outros, i. As indústrias cul-turais (cinema, audiovisual, artes do espectáculo — teatro, concer-tos, eventos), ii. A educação e formação profissional (música, artesvisuais, design, arquitectura, património), iii. Um sistema de rede decasas ou centros de Cultura em todo o país e na Diáspora e iv. A inter-nacionalização da cultura cabo-verdiana.

e. Criação e fomento de instrumentos de políticaTorna-se necessário um quadro de instrumentos de políticas, fican-do garantidos, desde já, o Fórum Permanente de Cultura (FPC), oPlano Estratégico de Desenvolvimento Cultural (PEDC), o SistemaNacional de Cultura (SNC) e o Fundo Nacional de Cultura (FNC),com as seguintes funcionalidades:O FPC será a estrutura que, através de iniciativas nacionais e inter-nacionais, acompanhará a evolução das políticas de Cultura, actual-izando e produzindo contribuições pertinentes ao pensamento artís-tico, cultural e científico.O PEDC será o instrumento aprovado pelo governo, orientador daslinhas mestras das políticas do Estado nos vários sectores da Cultura,bem como as missões e programas das suas instituições, objecti-vadas no tempo e enquadradas nos respectivos orçamentos.O SNC comportará um Conselho Nacional de Cultura, órgão asses-sor do MC em matéria de política cultural e seguimento dos progra-mas e vigilância dos gastos públicos com a Cultura e um Plano Re-gional de Cultura, um instrumento produzido e aprovado pelas Câ-maras Municipais e o MC que orientará, promoverá, aprovará e fisca-lizará os programas de descentralização das políticas do Estado naárea da Cultura.

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O FNC terá o formato jurídico e institucional de Fundação com par-ticipação efectiva do Estado e de instituições privadas, por exemp-lo, o sistema financeiro, as instituições com participação do Estado,as instituições da cooperação internacional e privadas nacionais.Será esta a estrutura que zelará pela participação efectiva dasociedade civil e suas organizações na vida cultural e produtiva doscidadãos, dando sentido às políticas culturais nacionais junto dosseus destinatários, nomeadamente nas indústrias culturais, na dis-tribuição, na fruição e marketing de bens culturais;

f. Fomento da participação autárquica e da sociedade civil na activi-dade culturalUm importante elemento de política cultural será uma nova postu-ra de contratos-programa com entidades regionais e locais comoCâmaras Municipais, organizações da sociedade civil e privadosdetentores de acervos e bens patrimoniais de interesse público,visando, por exemplo, redes de casas de Cultura, de núcleos muse-ológicos, de escolas de bandas municipais ou de oficinas - escolas.

g. Concertação estratégica em matéria de política cultural com ou-tros sectores como a educação, o turismo, a economia e a formaçãoprofissional Vai ser dada importância determinante ao carácter inter-sectorialda Cultura, tendo em conta que as políticas para o campo das artes,por alinharem diferentes áreas e estabelecerem importantes inter-relações entre elas e entre outros sectores da vida nacional, têm,normalmente, um grande peso de integração estratégica.

h. Promoção do turismo cultural como exemplo de integração desectoresO incentivo da sinergia turismo / cultura visará a mobilização dosnacionais e estrangeiros para o conhecimento e fruição dos cos-tumes e do património material e imaterial do país, promovendo ossítios históricos no País e o turismo interno pelos circuitos culturais,

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tudo acompanhado da reabilitação e preservação do património, dapromoção do País como destino cultural no mercado internacional,bem como de campanhas e programas educativos de sensibilizaçãosocial e de apropriação do património cultural.

i. Fomento do empreendedorismo na indústria da CulturaA indústria da cultura irá conjugar criação, produção e comercializa-ção de bens e serviços baseados em conteúdos de carácter culturaldevidamente protegidos por direitos de autor, de modo a potenciaras iniciativas endógenas existentes e transformá-las em iniciativasempresariais com presença notável no mercado nacional e interna-cional. Essa indústria irá contemplar um vasto leque que incluirá não só aprodução cinematográfica e audiovisual, a indústria fonográfica, oartesanato, o design, a edição impressa, mas também, a arquitec-tura, as artes do espectáculo, as artes plásticas, o fabrico de instru-mentos musicais e o turismo cultural. Numa estratégia integradora de produtores, distribuidores, cri-adores e consumidores, serão criadas linhas de fomento ao financia-mento, haverá a actualização e regulamentação de leis de incen-tivos fiscais e tributários na matéria, a formação artística e técnicados agentes do sector, a protecção efectiva dos direitos de autor, aconsolidação das associações de criadores, produtores e dis-tribuidores, bem como, o apoio na promoção nos mercados interna-cionais dos produtos culturais cabo-verdianos.

j. Reorientação da Política Linguística A língua cabo-verdiana é o maior património da Nação, transmitin-do-nos a responsabilidade de acautelar aspectos sensíveis quetocam toda a sociedade cabo-verdiana, nomeadamente no quetange à identidade regional, particularidades culturais locais e o dire-ito à diferença. A estratégia passa por uma consolidação da língua materna nas po-líticas de educação e de comunicação social, ao mesmo tempo que

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se estimula a investigação e a preservação das variantes regionais euma maior apropriação e uso mais amplo, especialmente nos do-mínios onde a língua cabo-verdiana é marca identitária por excelên-cia, a saber, nos domínios do cinema e audiovisual, do teatro, damúsica, da poesia e das tradições orais.

g. Reactivação da política de infra-estruturação culturalA infra-estruturação cultural visa a criação, fortalecimento e sus-tentabilidade dos espaços de produção, de fruição e consumo cul-tural, bem como de educação cultural. A natureza arquipelágica e insular do País força uma política deinfra-estrutura cultural que previna assimetrias e promova ainclusão sociocultural em qualquer ilha ou região do arquipélago. A sua eficácia vai assentar na articulação com as políticas regionaise locais e num novo desenho de financiamento e programação nasinfra-estruturas existentes, numa colaboração Governo / Municípiosa nível da gestão.

h. Fortalecimento das políticas de Museus, de Arquivos e de Patri-mónioAs políticas de museus, de arquivo, bem como de valorização e preser-vação do património arquitectónico e histórico devem ser reforçadas. O Arquivo Histórico será consolidado em termos institucionais, seráreanimada a actividade consagrada ao Instituto de Investigação e doPatrimónio Cultural e, quanto à política de Museus, a estratégia seráa promoção de uma rede de Centros ou Núcleos Museológicostemáticos e descentralizados, geridos por uma estrutura científicacentral, reflectindo a diversidade cultural do País e a descon-tinuidade territorial.Esta rede terá em conta todas as iniciativas privadas de interessehistórico e cultural.

i. Adopção de um conjunto de decisões na elaboração do planoestratégico para a Cultura

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Na Política de MúsicaUm vasto programa será adoptado, tendo em conta o seu papel nodesenvolvimento económico e social do País, destacando-se:

- No Património Musical, a inventariação e publicação do patrimóniomusical das ilhas, a reedição e edição de ensaios, transcrição empauta de acervo da tradição musical e a consequente publicação ecriação de editora e etiqueta discográfica para a divulgação dopatrimónio musical tradicional e experimental.

- Na Educação e Formação, a formação e incentivos para a produçãode instrumentos acústicos, de corda e de percussão, o incentivo àcriação, em todos os concelhos, de Escolas de Bandas Municipais, aformação de mestres, maestros e professores para o sistemanacional de ensino, do nível pré-escolar ao secundário, a formaçãode gestores e produtores culturais, a formação de directores depalco, engenheiros de som, técnicos de estúdio e atribuição de bol-sas de estudo e de carteira profissional para músicos tradicionais eoutros profissionais da música, produtores, programadores e out-ros técnicos das artes do espectáculo.

- Na Produção, Economia, Incentivos e Fruição, melhoria dos incen-tivos fiscais aos produtores e criadores, a revisão da lei do mecena-to, a criação de auditórios (polivalentes, incluindo equipamentospara dança, teatro, artes plásticas) em todos os concelhos, a pro-gramação oficial em todas as regiões do país e promoção de even-tos internacionais com incentivo do Estado e fomento de umaorquestra nacional.

Na Política de Literatura, de Leitura e BibliotecasA ênfase vai ser posta no desenvolvimento da leitura pública, nofomento da crítica e da escrita criativa em todas as regiões do País, noreforço à política editorial, com destaque para:

- Promoção de leitura pública com a criação de novas linhas editori-ais com especial tónica na literatura para a infância e adolescência,incluindo a BD e edições de obras ilustradas, concursos para jovens,apoio à criação e manutenção às Bibliotecas Municipais e a oficinas

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de criação literária (associadas a estruturas da educação). - Promoção Editorial, com o estímulo e incentivos fiscais a editoras

independentes, incentivos fiscais à requalificação e modernizaçãode gráficas nacionais, incentivos à criação de publicações periódicasna área das artes, património e Cultura, estímulo e incentivos fis-cais a livrarias e distribuidoras independentes e

- Internacionalização e incentivos a autores, com bolsas de viagempara escritores, prémios e concursos, bem como a promoção eapoios a eventos internacionais.

Na Política de TeatroAs acções visam corrigir o facto de ser notório o crescimento, o empen-ho e o investimento da sociedade no teatro, mas sem qualquer esboçode políticas públicas dirigidas ao Teatro. Duas importantes medidas vão ser fundamentais para que seja recon-hecida a presença efectiva do Estado no Teatro e fomentar o enormeesforço e abnegado empenho que seus agentes empreendem em nomede um Teatro Nacional:

- Formação e Educação Cultural, com a introdução do Teatro Escolarna estrutura da disciplina de Educação Artística ou noutra disciplina,o incentivo aos municípios para a criação de núcleos em programasde educação social, a formação profissional para actores, cenó-grafos, directores de cena, técnicos de luz e de som e, produtores ea atribuição de bolsas de estudo e

- Investigação, Produção e Fruição, com a criação do Teatro Nacional,a institucionalização de um prémio de Dramaturgia e incentivosfinanceiros no quadro da programação nacional e regional.

Na Política de Cinema e AudiovisuaisImpõe-se uma política institucional suportada numa estrutura a iden-tificar e que articule a política do cinema e de outros conteúdos audio-visuais com as das televisões nacionais nos domínios da produção e dadistribuição no que respeita a financiamento, direitos autorais e facili-dades fiscais, bem como a criação de mecanismos para captar finan-

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ciamento internacional para a produção nacional, tudo para colmataro vazio institucional e a ausência oficial do Estado em certames inter-nacionais nessa área:

- Na Educação e Formação, a introdução nas escolas da cultura dafotografia e da imagem em movimento no âmbito da educação cul-tural e visual, a formação profissional em cinema e audiovisual, oincentivo à formação universitária e a atribuição de bolsas de estudo,

- Na Produção, Distribuição, Fruição, a introdução de convocatóriassazonais para apresentação de projectos de produção de autoresnacionais, a promoção de festivais de cinema e audiovisual emregiões estratégicas do País, o incentivo à criação de salas e de pro-gramação de ciclos de cinema de interesse educativo e cultural e aregulamentação do comércio de filmes em formato DVD,

- Na Internacionalização da Cultura, incentivos fiscais para a pro-dução e para a importação de bens de equipamento técnico, finan-ciamento de obras de interesse cultural e patrimonial para o País,incentivos à participação de autores e obras de nacionais em even-tos internacionais e promoção de um evento anual internacional e

- No Património, Musealização e Investigação, a criação do Museu deHistória da Imagem e do Som.

Na Política de Artes Visuais e de Educação ArtísticaHá a necessidade de políticas e programas que incidam na investigação,formação, criação e produção, bem como na difusão e circulação deobras inseridas em programas de educação e fruição de modo a poten-ciar o trabalho de alguns autores nacionais com carreira internacional einiciativas como os cursos de nível superior por iniciativa privada:

- Na Educação e Formação, articulação dos programas e conteúdoseducativos com os do Ministério da Educação, do nível do pré-escolar ao secundário, estabelecimento de parcerias com estru-turas educativas privadas, programação descentralizada de eventose exposições de arte, atribuição de bolsas de estudo e formação decuradores e críticos de arte,

- No Património e Investigação, a identificação e localização do

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Acervo Nacional e criação de uma Galeria Nacional de Arte e- Na Economia e Internacionalização, a realização de um evento

bienal e a participação de autores nacionais em bienais e feirasinternacionais.

Na Política de Design e de ArquitecturaReconhecendo que o design em Cabo Verde está a dar os seusprimeiros passos, através de iniciativas da sociedade civil, no domínioda formação universitária, a iniciativa política dará prioridade aoDesign Industrial, Design de Moda e Design de Produtos:

- Na Formação e Incentivos, a atribuição de bolsas de estudo e deprémios para estudantes e profissionais, a promoção de um salãoanual de disign e incentivo à criação e publicação de revistas doDesign e da Arquitectura e

- Na Arquitectura, o estabelecimento de concursos de ideias e pro-moção da investigação com a atribuição de bolsas de estudo.

Na política de DançaVai empreender-se uma política de raiz pois a Dança, enquanto objec-to de política nacional, não existe. A sua fraca representação no contexto nacional expressa esse défice.Não obstante iniciativas mais ou menos pontuais de grupos que seesforçam por se afirmar nesta área — existe apenas um grupo profis-sional no País - a Dança merece uma atenção especial por parte daspolíticas públicas de Cultura. A tónica vai ser posta na educação e formação fomentada com con-cursos institucionais, na lógica de que a Dança é, antes de mais, umdireito cultural e uma prática que gera conhecimento, cultura, tecidosocial e memória, sendo certo que a dimensão patrimonial e de afir-mação identitária será valorizada através de investigação e da divul-gação, numa dupla faceta da Dança como disciplina de Arte e comoprofissão. As seguintes medidas serão tomadas:

- Introdução formal da Dança nas escolas desde o pré-escolar aosecundário.

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- Criação de uma Companhia Nacional de Dança e promoção de umevento anual da Dança e

- Atribuição de bolsas de estudo.

B6 – Trazer a Juventude para o centro das soluçõesA juventude cabo-verdiana deve ser claramente, uma prioridade detodos os governos que pretendam uma sociedade a desenvolver-se deforma sustentada e equilibrada. No entanto, qualquer análise, seja de que ângulo for, sobre os resulta-dos da governação do PAICV, mostra que a juventude foi a sua princi-pal vítima nos últimos dez anos.

UMA EDUCAÇÃO SEM EMPREGABILIDADE E SEM GRANDESAPOIOS SÓCIO-EDUCATIVOSNa Educação, ela foi vítima de elevadas e indiscriminadas propinas, dafalta de uma escolaridade mínima e de apoios sócio - escolares ade-quados, de programas e de planos de estudos próprios de um mundocompetitivo e da sociedade do conhecimento e da informação, resul-tando para os jovens ou no desemprego ou na interrupção de estudos. No Ensino Superior, assistiu-se a uma proliferação da oferta, sem quea qualidade e o seu controlo fossem devidamente acautelados, redun-dando em grandes interrogações sobre a mais-valia que isso represen-ta, ao lado de milhares de jovens que, ou não podem recorrer a essaoferta, ou estudam com enormes dificuldades, por não haver uma ade-quada cobertura em bolsas de estudos.

UMA JUVENTUDE NO DESEMPREGOUm dos principais fracassos do governo do PAICV foi a incapacidade decriar empregos, sobretudo para os jovens à procura do primeiro empregoou para a promoção do empreendedorismo jovem que pudesse levar aoauto-emprego. Os jovens viram a sua capacidade de empreendedorismo e de iniciativaconfrontada com um mau clima de negócios, com dificuldades no aces-so ao crédito, com um fisco perseguidor e ausência de incentivos específi-cos, minando uma verdadeira ascensão de um tecido empresarial jovem.

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Em 10 anos de governação, os resultados resumem-se à constituiçãoda ADEI – Agência de Desenvolvimento Empresarial e Inovação, à rea-lização de duas feiras temáticas de “Emprego, Emprego eEmpreendedorismo” e ao apoio para a realização do 1.º Encontro deJovens Empresários, claramente insuficientes, principalmente numclima de crise internacional. Note-se que as iniciativas acima identificadas começaram a ser rea-lizadas em 2009, ou seja, no final da II legislatura, portanto, semgrandes impactes no sentir uma política concreta e coordenada noincentivo à instalação de novos negócios.Outro facto relevante prende-se com as medidas propostas pela AJEC- Associação de Jovens Empresários de Cabo Verde para o Orçamentode Estado de 2010 e que mereceram uma fraca resposta do Governo,que apenas atendeu a isenção de IUR pelo período de 3 anos para asempresas cujo capital seja detido em 65% por jovens até 35 anos,demonstrando uma evidente incapacidade de ouvir e assimilar pro-postas dos parceiros.

GRANDE MAIORIA DA JUVENTUDE EXCLUÍDA DA SOCIEDADE DEINFORMAÇÃOA sociedade de informação, tão propalada pelo PAICV, não passou deuma miragem para uma grande maioria da juventude.Mesmo com os primeiros passos na governação electrónica, que resul-taram na implementação de projectos como as casas do cidadão ealguns ganhos tímidos conseguidos pelo NOSI, a verdade é que amaioria da população cabo-verdiana e em especial a sua juventudecontinua alienada da condição básica e essencial dos dias de hoje, queé o acesso à internet.As áreas do lazer, como a fruição da Cultura e do Desporto não mere-ceram a atenção devida do Governo do PAICV, pois uma cooperaçãocom as autarquias locais no quadro de contratos – programa ficouinquinada com a perseguição antidemocrática movida pelo governo àscâmaras, tratadas como oposição e não como parceiras para os prob-lemas da juventude.Os apoios essenciais para quem está no início de vida activa, como os

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voltados para a obtenção de uma habitação condigna por parte dosjovens, foram descurados e os resultados estão à vista, com milharesde jovens a viver em barracas ou em condições degradantes ou a tergrandes dificuldades para suportarem uma renda ou uma prestação dacasa.

O nosso compromisso1. A nível da Educação, Ensino Superior e Formação ProfissionalNos dias de hoje a Educação apresenta-se como um grande reduto napossibilidade de mobilidade e ascensão social por parte dos indivídu-os, daí resultando a sua capital importância nas sociedades modernas,que se pretendem fortemente evoluídas e competitivas com base noconhecimento e na evolução tecnológica e científica, não havendomais margem para experiências falhadas ou insensatas no que àEducação diz respeito. Se é verdade que um Ensino Superior de qualidade é garante de umasociedade mais competitiva e eficiente na resolução dos problemasque a afectam, também é verdade que se tivermos milhares de jovenslicenciados mas desprovidos das reais capacidades técnicas que umEnsino Superior deveria promover, estaremos a desenvolver umaautêntica “bomba-relógio”, a qual irá espoletar efeitos imprevisíveisnas gerações vindouras.Assim, consideramos premente a instalação de critérios claros, objec-tivos e mensuráveis de qualidade para as diversas unidades de ensinosuperior no país. Esses critérios serão divulgados e anualmente serãofeitas auditorias às instituições e cursos, sendo divulgados os resulta-dos, definindo um ranking de instituições/cursos que permitirá àcomunidade académica, aos candidatos e a toda a sociedade cabo-ver-diana conhecer a qualidade intrínseca de cada instituição/curso. Sobre o financiamento das bolsas de estudo, toda a política deatribuição de bolsas será reavaliada, garantindo-se um mega fundopara a atribuição de bolsas de estudo anualmente, bem como a con-stituição de um fundo de garantia junto das instituições bancárias paraaqueles que não conseguirem a bolsa.

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A investigação nacional vai ser promovida com a institucionalização debolsas e de prémios nacionais, bem como incentivos ao grau dedoutoramento e à ligação das universidades com o mercado nacional. Outras medidas serão implementadas como:

a. Introdução do empreendedorismo no ensino básico e secundário.b. Melhoria dos planos de estudo e dos programas de curso, bem como

o alargamento a nível nacional dos Centros de Formação, com forteparceria do Poder Local, numa acção de proximidade.

c. Promover e exigir mais formação e experiência aos Docentes Uni-versitários.

2. A nível do empresariado e empregoComo se demonstrou anteriormente, é fundamental que todos osjovens cabo-verdianos sejam familiarizados desde cedo no seu percursoescolar com conceitos de empreendedorismo e de gestão de negócios,com aplicações tanto empresariais como no seu dia-a-dia.Ao nível do Ensino Secundário, nas diversas vertentes, sejam Profissionale Tecnológica ou Científico - Humanística, vão ser incluídas unidadescurriculares que abordem temas como criação e gestão de empresas,responsabilidades fiscais, análise de risco ou mesmo Programas Especiaispara o Empreendedorismo, visando o fomento de uma culturaempreendedora. A formação recebida no Ensino Superior é de importância capital para aaquisição de competências de base, bem como a existência de estruturasde apoio e incentivo ao empreendedorismo nas unidades de formação,são fundamentais para fomentar a cultura do empreendedorismo.Nesse sentido, as Instituições do Ensino Superior serão estimuladas acriar ou expandir:

a. Incubadoras de empresas sem fins lucrativos, que forneçam servi-ços essenciais (instalações, secretariado, consultoria jurídica e em-presarial, apoio à internacionalização).

b. Gabinetes de apoio ao acesso a capital de risco, com o objectivode informar e apoiar as empresas que pretendam usufruir deste ti-po de capital;

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c. Concursos nacionais de gestão de empresas e empreendedorismoao nível do Ensino Superior, baseados no conceito da empresa vir-tual.

d. Criação de fundos de investimento para jovens empreendedorespor parte das Universidades para serem atribuídos a start-ups eeventuais empresas associadas à Universidade.

e. Maior aposta nas redes de Antigos Alunos e Docentes, comoincentivo ao networking, partilha de experiências e soluções.

f. Incentivar os estágios curriculares ou teses de mestrado e doutora-mento em empresas.

O Estado tem também um papel essencial na informação e apoio aosjovens empreendedores. O MpD compromete-se com as seguintesmedidas de apoio ao empreendedorismo jovem:

a. Definição da faixa etária e enquadramento da classe em determi-nados aspectos, permitindo que, num período que poderá ser con-siderado de incubação, possam beneficiar de:i. Isenção ou redução da carga fiscal nas empresas de capital maior-

itariamente jovem.ii. Isenção ou redução dos encargos relacionados com a segurança

social.iii. Facilitação no acesso à informação, através da criação de um

mecanismo próprio, isto é, Associação Representativa.b. Criação de linhas de crédito específicas, com condições e taxas de

juros que se enquadrem nas diferentes áreas de negócio.c. Criação de mecanismos que apoiem a internacionalização de

empresas que tenham potencial e intenção de o fazer, nomeada-mente junto à CEDEAO.

d. Criação de incentivos aos jovens da Diáspora que pretendam criarempresa, emprego e riqueza no país.

e. Fusão da Cabo Verde Investimentos e ADEI, reduzindo custos defuncionamento e dotando este novo organismo de ferramentasque o permitam funcionar em pleno, i.e. capacitação dos quadrosrecém formados para o mercado de trabalho.

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3. A nível da SaúdeCriação de Planos de Saúde que permitam ao jovem preparar o seufuturo, acedendo a um conjunto de alternativas que o permitam esco-lher, de acordo com as suas capacidades, o regime de saúde a que pre-tenda aderir, sem estar condicionado única e exclusivamente ao INPS.

4. A nível da HabitaçãoCriação e execução de um plano de habitação jovem a nível nacional,que englobe:

a. Apresentação de garantias bancárias;b. Taxas de juro atractivas;c. Períodos de carência mais flexíveis e negociados;d. Alargamento do número de prestações;

5. A nível da Cultura, Desporto, Associativismo e Voluntariadoa. Promoção de mais infra-estruturas e profissionalização da sua

gestão, permitindoi. Criação de postos de trabalho e responsabilização dos jovens.ii. Acesso menos burocratizado.iii. Criatividade por parte do seu público-alvo.iv. Concentração por parte de quem de direito nas medidas de política.

b. Criação de Programas de formação de Agentes Culturais e Despor-tivos a nível Nacional

c. Promoção do Associativismo e do Voluntariado Jovem

B7 – Dignificar o Desporto e os desportistasO Desporto e as actividades desportivas assumem grande importânciacomo factores de formação e participação cívica dos jovens e doscidadãos no geral, da saúde das populações e da indústria desportiva,levando à necessidade de um forte engajamento dos governos naspolíticas desportivas. Em Cabo Verde, o direito ao Desporto tem desígnio constitucional. Noentanto, mesmo alguns pequenos ganhos obtidos recentemente nal-gumas modalidades, fruto de grandes esforços dos respectivos diri-

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gentes, atletas e patrocinadores, foram esmorecendo, podendo dizer-se,com toda a razão que o Desporto é, neste momento, um pequeno pa-rente pobre entre os pobres sectores do desenvolvimento humano esocial do País.O Desporto continua a sofrer dos mesmos males estruturais de desenvol-vimento de sempre, não tendo o governo do PAICV sido capaz de intro-duzir os elementos de mudança necessários a uma dinâmica reclamada,todos os dias, por atletas, dirigentes, treinadores e professores da área.O próprio Desporto Escolar, importante para um bom começo desporti-vo foi abandonado à sua sorte, sendo de destacar a morte dos jogosescolares que, anualmente, serviam para os jovens estudantes e profes-sores mostrarem, através da competição sadia e do convívio, as suasaptidões e avanços desportivos. A maior parte das promessas eleitorais continuam sem poder terrespostas, pois a aprovação bastante tardia de um Plano Nacional deDesenvolvimento do Desporto deixou o sector, por largos anos, sem asferramentas essenciais para uma política de desporto nacional anco-radas no desenvolvimento social, educativo e económico de Cabo Verde.Portanto, durante todos esses anos sem uma política de desenvolvimen-to nacional do desporto definida, as dispersas iniciativas pontuais doGoverno mais não foram do que frustradas tentativas de populismo nosentido de pontualmente acudir a algumas reivindicações dos dirigentesdesportivos e induzir selectivamente os nossos jovens, atletas e popu-lações, especialmente os amantes do desporto. Subsistem várias situações que exprimem esta realidade actual doDesporto cabo-verdiano com grande défice, carências e limitações anível das infra-estruturas, recursos humanos e financeiros, organização elegislação, aliado à grave inexistência do sentido de racionalidade edefinição de prioridades na afectação dos recursos para a realização dasactividades desportivas e outras a elas conexas.Sob uma pretensa autonomia dos agentes desportivos para a organiza-ção e implementação das actividades desportivas, devota-se assim osmesmos à grave e sistemática falta de recursos – impondo uma crónicadependência - incapacidade de afirmação e deficiência de organização.

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A nossa visãoCom as próximas eleições legislativas e a formação de um novoGoverno, os dirigentes, atletas, amantes do desporto e os cabo-ver-dianos em geral terão, com o MpD, a oportunidade de exigir umapolítica para o sector do Desporto, que o coloca, em definitivo, nasenda de um desenvolvimento integrado e sustentado.É com este sentido de responsabilidade e de compromisso que o MpDencara o desenvolvimento do Desporto em Cabo Verde e, por isso, evi-tará reproduzir fórmulas que têm dado tão maus resultados, commedidas e propostas avulsas e desconexas, empacotadas nos momen-tos eleitorais com o objectivo de angariar votos. O MpD evitará tam-bém tratar o Desporto como uma fonte de distribuição de benesses ede cultivo do assistencialismo e de livre arbítrio, como aconteceactualmente com as estruturas do Estado nas suas relações com asassociações desportivas.O Desporto é importante para o País, quer do ponto de vista económi-co, quer do ponto de vista do desenvolvimento do capital social ehumano. Por isso, ao invés de soluções avulsas, objectivos, estratégiase políticas capazes de orientar as actividades e os investimentos pes-soais e colectivos, públicos e privados, deverão ser definidos, executa-dos e monitorizados.O MpD terá em conta os seguintes elementos:

1. Um aproveitamento máximo das condições naturais do País e asdisponibilidades biológicas naturais do cabo-verdiano para a práti-ca do desporto;

2. Racionalidade e transparência na afectação e utilização dos recur-sos financeiros e materiais;

3. Responsabilização social dos agentes desportivos e de todos osintervenientes no desenvolvimento do Desporto.

O nosso compromisso1. Assunção do Desporto como uma das componentes de educação eformação dos cabo-verdianos, tendo em conta os seguintes vectores:

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a. Educação Física e Desporto Escolar através de uma articulaçãoentre o sistema educativo e o desportivo;

b. Formação dos técnicos e formadores; c. Planos de desenvolvimento das modalidades;d. Construção e gestão de infra-estruturas desportivas integradas,

bem como racionalização e manutenção das infra-estruturas; e. Democratização do desporto (atenção a grupos especiais como

deficientes, trabalhadores, mulheres, idosos, etc.) e integração ecoesão sociais (lazer, sentido de colectividade/comunidade, orgu-lhos regionais/nacionais);

2. Criação das efectivas condições para a autonomia dos agentesdesportivos na organização e realização das provas desportivas e rep-resentações internacionais, tendo em conta os seguintes vectores:

a. Organização do Sistema Desportivo Nacional, AdministraçãoPúbica do Desporto, Atlas do Desporto Nacional e Leis de Bases doDesporto, bem como outras leis e regulamentos desportivos.

b. Facilidades para as práticas desportivas (trabalho, escolas, etc.) eco-responsabilização dos agentes desportivos.

c. Entrosamento de todos os protagonistas e agentes do desenvolvi-mento do Desporto, nomeadamente o Estado, as autarquias, ascolectividades e os dirigentes desportivos e atletas e

d. Assunção plena por parte do Estado das suas responsabilidades nadefinição e orientação políticas do Desporto, pugnando pela raciona-lidade e priorização transparente na afectação dos recursos, da forma-ção e da coordenação entre diferentes níveis da política desportiva.

3. Gestão e capacitação, nos domínios daa. Exploração e manutenção integradas de infra-estruturas desportivas. b. Formação de base e de especialidades de técnicos desportivos e de

educação física (vários níveis), em desenvolvimento estratégico dasmodalidades, incluindo competição de alto rendimento.

c. Introdução de mecanismos de seguimento e avaliação do PNDD,bem como de concertação, articulação e coordenação da políticadesportiva.

4. Dinamização do Desporto Escolar e da Formação desportiva juvenil.

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Mensagem do Presidente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

O Estado da Governação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

A promessa do crescimento a dois dígitos e desemprego

a um dígito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

O desafio: é preciso mudar de novo! . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

O Estado de Direito Democrático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

As grandes componentes do novo modelo de Estado . . 42

Os diversos sectores no novo modelo de Estado . . . . . . 45

A Reforma do Estado e da Administração Pública . . . . . . . . . . . . . 45

Mais Segurança e uma Justiça independente, forte,

célere e justa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

Relações externas com políticas activas e diplomacia

económica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Comunidades emigradas integradas política

e economicamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

Uma descentralização para o desenvolvimento equilibrado. . . . 87

A regulação, uma das funções mais importantes do Estado . . . . 97

As Forças Armadas como um sistema coerente de forças. . . . . . 99

Fortalecer o Instituto Nacional de Estatísticas . . . . . . . . . . . . . . 101

Uma Comunicação Social livre, independente e plural . . . . . . . 103

Um novo modelo económico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Índice

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Os instrumentos e grandes componentes

do novo modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

Os diversos sectores no modelo económico . . . . . . . . . 123

Promover a competitividade e a modernidade da Agricultura . . . 144

Relançar as pescas e promover a Aquicultura . . . . . . . . . . . . . . . 152

Indústrias ligeiras, uma aposta a vencer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

Construir a constelação do Turismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

Valorizar o Ambiente e o Ordenamento do Território. . . . . . . . 181

Resolver os graves problemas de Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194

Novas políticas para as Infraestruturas e Transportes . . . . . . . 200

Um novo modelo social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219

Os instrumentos e grandes componentes

do novo modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225

Os diversos sectores do novo modelo social. . . . . . . . . 227

Protecção Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227

Retomar a Educação como investimento estratégico . . . . . . . . 231

Promover a qualificação profissional e o emprego . . . . . . . . . . . 264

Saúde com qualidade e inclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 278

Reabilitação da cultura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292

Trazer a juventude para o centro das soluções . . . . . . . . . . . . . . 305

Dignificar o Desporto e os desportistas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311

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