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PROGRAMA ELEITORAL DO PARTIDO SOCIALISTA

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Veja as promessas que António Costa vai levar a eleições

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  • PROGRAMA ELEITORALDO PARTIDO SOCIALISTA

  • PROGRAMA ELEITORAL DO PARTIDO SOCIALISTA

    ELEIES LEGISLATIVAS 2015I

  • CAPTULO IUMA AGENDA PARA A DCADA, UM PROGRAMA PARA A LEGISLATURA 7

    CAPTULO IIVIRAR A PGINA DA AUSTERIDADE, RELANAR A ECONOMIA E O EMPREGO 111. AUMENTAR O RENDIMENTO DISPONVEL DAS FAMLIAS PARA RELANAR A ECONOMIA 11

    2. RESOLVER O PROBLEMA DO FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS 12

    3. PROMOVER O EMPREGO, COMBATER A PRECARIEDADE 14

    CAPTULO IIIUM NOVO IMPULSO PARA A CONVERGNCIA COM A EUROPA 191. DEFENDER UMA LEITURA INTELIGENTE DA DISCIPLINA ORAMENTAL 19

    2. UM NOVO IMPULSO PARA A CONVERGNCIA COM A EUROPA 22

    CAPTULO IVUM ESTADO FORTE, INTELIGENTE E MODERNO 251. MELHORAR A QUALIDADE DA DEMOCRACIA 25

    2. GOVERNAR MELHOR, GOVERNAR DIFERENTE 26

    3. GARANTIR A DEFESA NUM TERRITRIO ALARGADO 28

    4. SEGURANA INTERNA E POLTICA CRIMINAL 29

    5. AGILIZAR A JUSTIA 32

    6. FORTALECER, SIMPLIFICAR E DIGITALIZAR A ADMINISTRAO 34

    7. ASSEGURAR A REGULAO EFICAZ DOS MERCADOS 36

    8. VALORIZAR A AUTONOMIA DAS REGIES AUTNOMAS 37

    9. DESCENTRALIZAO, BASE DA REFORMA DO ESTADO 38

    CAPTULO V21 CAUSAS PARA MOBILIZAR PORTUGAL 41A. PRIORIDADE S PESSOAS 411. DEFENDER O SNS, PROMOVER A SADE 42

    2. COMBATER O INSUCESSO ESCOLAR, GARANTIR 12 ANOS DE ESCOLARIDADE 44

    3. INVESTIR NA EDUCAO DE ADULTOS E NA FORMAO AO LONGO DA VIDA 47

    4. MODERNIZAR, QUALIFICAR E DIVERSIFICAR O ENSINO SUPERIOR 48

    5. REAGIR AO DESAFIO DEMOGRFICO 50

    6. PROMOVER A QUALIDADE DE VIDA 51

    7. UMA NOVA GERAO DE POLTICAS DE HABITAO 53

    B. VALORIZAR O NOSSO TERRITRIO 558. MAR: UMA APOSTA NO FUTURO 56

    9. AFIRMAR O INTERIOR COMO CENTRALIDADE NO MERCADO IBRICO 59

    10. PROMOVER A COESO TERRITORIAL E A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL 61

    11. VALORIZAR A ATIVIDADE AGRCOLA E FLORESTAL E O ESPAO RURAL 64

    C. PRIORIDADE INOVAO 6612. LIDERAR A TRANSIO ENERGTICA 67

    13. INVESTIR NA CULTURA, DEMOCRATIZAR O ACESSO 71

    14. REFORAR O INVESTIMENTO EM CINCIA E TECNOLOGIA, DEMOCRATIZANDO A INOVAO 73

    15. PRIORIDADE INOVAO E INTERNACIONALIZAO DAS EMPRESAS 75

    D. MAIS COESO, MENOS DESIGUALDADES 7816. GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DA SEGURANA SOCIAL 78

    17. MELHOR JUSTIA FISCAL 80

    18. COMBATER A POBREZA 81

    19. CONSTRUIR UMA SOCIEDADE MAIS IGUAL 83

    E. UM PORTUGAL GLOBAL 8520. PROMOVER A LNGUA PORTUGUESA E A CIDADANIA LUSFONA 86

    21. CONTINUAR PORTUGAL NAS COMUNIDADES PORTUGUESAS 87

    NDICE

  • Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015 7

  • Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015 7

    Um balano necessrio

    Junho de 2015. Chegou o momento de os portugueses avaliarem os resultados das polticas do governo de Passos Coelho e Paulo Portas e conhecerem a alternativa de futuro que o PS lidera.

    Compreendemos bem que a coligao de direita queira fugir dessa avaliao e que evite a todo o custo o debate sobre polticas alter-nativas. Mas este o momento prprio para o fazer.

    Primeiro, a avaliao. Desde logo, todo o mandato do governo da coligao de direita repousa sobre uma enorme burla poltica. Na campanha eleitoral de 2011, Passos Coelho prometeu solenemen-te no aumentar impostos e no cortar salrios e penses. Todo o problema se resolveria mexendo nas gorduras do Estado e no seria preciso sacrificar os rendimentos das pessoas. Contudo, uma vez no governo, a coligao de direita fez exatamente o contrrio: cortou salrios, cortou penses, aumentou os impostos.

    Depois, o mandato da coligao de direita foi comandado ideolo-gicamente por uma dupla orientao. Por um lado, usou a assis-tncia financeira e o programa de ajustamento negociado com a troika como pretexto para desenvolver uma poltica que foi muito alm do que o programa previa e que procurou mudar a relao de foras em Portugal, contra os interesses dos trabalhadores, das famlias, das classes mdias e dos mais pobres. Quando a direi-ta diz que no havia alternativa, sabe que falta verdade: havia desde logo a alternativa de se ater ao acordado no Memorando de Entendimento com a troika, que no previa cortes de salrios e de penses, nem o aumento da carga fiscal na dimenso em foi realizado! Por outro lado, o governo orientou a sua ao contra o esprito e a letra da Constituio, pontuando o seu mandato por sucessivas decises grosseiramente inconstitucionais e atacando persistente e inaceitavelmente o Tribunal Constitucional. O governo da coligao de direita no foi capaz de governar de acordo com a Constituio!

    O governo da direita tambm no esteve altura das responsa-bilidades, na defesa do interesse nacional. Em vez de fazer valer a posio portuguesa, alinhou sempre com os interesses contrrios a esta posio, desistindo, ao contrrio do que fizeram outros pases com iguais dificuldades financeiras, de defender, na Europa, uma poltica menos penalizadora da economia e do tecido social.

    Os resultados desta burla poltica, deste fanatismo ideolgico e deste desprezo pelo interesse nacional esto vista de todos. Quatro anos da poltica de ir alm da troika, acrescentando austeridade imposta no Programa de Ajustamento mais cortes nos rendimentos do trabalho e das famlias, nos servios pblicos, nas penses, nas prestaes sociais e no investimento, conduziram a uma devastao social sem precedentes.

    Entre 2011 e 2015, caiu a riqueza gerada no Pas, caiu o in-vestimento, aumentou o nmero de desempregados e de jovens desempregados, perderam-se 500 mil empregos. Reduziu-se o valor pago pelas prestaes sociais, bem como o nmero dos seus beneficirios. Aumentou o risco de pobreza, em particular nas crianas, aumentaram as taxas de reteno e desistncia no ensino bsico. Intensificaram-se as desigualdades. As famlias vi-ram os seus rendimentos descer e sentiram muito mais dificulda-des em pagar os emprstimos contrados, perdendo muitas a sua prpria habitao, ao mesmo tempo que sofreram a maior carga fiscal de sempre. Faliram 44 empresas por dia. Emigraram mais de 350 mil pessoas.

    Novo governo, outras polticas

    Este caminho no pode ser prosseguido. Portugal merece diferente e merece melhor. A poltica que consistiu em aumentar os impostos e cortar nos salrios, nas penses, nos apoios sociais e nos servios pblicos falhou redondamente. Em vez de baixar, a dvida pblica, que o principal indicador da sade das finanas pblicas, aumen-tou. E aumentou muito: entre 2010 e 2014, subiu de 96 para 130% do PIB, isto , mais 34 pontos percentuais! Em comparao com o volume dos recursos retirados economia e s pessoas, a queda do dfice oramental foi pequena, falhando alis os objetivos do Programa de Ajustamento. Quer dizer: a devastao provocada na economia e na sociedade portuguesa em nada contribuiu para a consolidao sustentada das finanas pblicas.

    Isto significa que os bloqueios econmicos e sociais do Pas, em vez de terem sido ultrapassados, agravaram-se. Em vez de ultrapassar os seus atrasos estruturais, Portugal atrasou-se ainda mais. Mesmo os indicadores que entretanto melhoraram, o mais importante dos quais foi a reduo das taxas de juro pagas pela dvida pblica, foram consequncia, no da poltica do governo da coligao de direita, nem da troika, mas sim da nova atitude do Banco Central Europeu contra a qual, alis, se pronunciou o primeiro-ministro Passos Coelho. E o pequeno crescimento da economia registado em 2014 em muito se deveu ao estmulo da procura interna moti-vado pela deciso do Tribunal Constitucional, que imps ao prin-cpio a moderao dos cortes. Ou seja: as poucas melhorias no aconteceram por causa da ao do princpio, mas apesar e at contra , a ao do princpio.

    preciso, pois, fazer diferente e fazer melhor: virar a pgina da austeridade e relanar a economia e o emprego. S assim conse-guiremos parar o retrocesso social e retomar o caminho do pro-gresso e da solidariedade, s assim conseguiremos superar a crise oramental.

    Mas tambm falharam, e ainda mais, as opes polticas prprias do princpio de coligao de direita. No foi a troika que mandou eliminar o programa de formao de adultos Novas Oportuni-dades, ou suspender o desenvolvimento das unidades de sade familiar e das unidades de cuidados continuados: foi o preconcei-to mesquinho do atual princpio. No foi por conselho da troika que o princpio parou o Simplex, deixou obras escolares a meio, desinvestiu nas energias renovveis, atacou a cincia e os cientis-tas: foi por puro revanchismo poltico, perante projetos nacionais que confundiu erradamente com bandeiras de governos anterio-res. No responsabilidade da troika o caos na abertura deste ano letivo, o estrondoso falhano da reforma do mapa judicirio, a sangria de recursos humanos imposta Segurana Social ou proteo de menores, os atropelos ao princpio da igualdade entre contribuintes com a criao de listas VIP, ou a degradao

    UMA AGENDA PARA A DCADA, UM PROGRAMA PARA A LEGISLATURA

    I

  • Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015 98 Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015

    a execuo dos fundos comunitrios e dando prioridade incorpo-rao tecnolgica e modernizao, no s permite obter maior crescimento do produto e do emprego e maior reduo do desem-prego, como garante melhores resultados na frente oramental, seja em termos de dfice, seja em termos de dvida pblica.

    A elaborao e a apresentao do cenrio macroeconmico para 2015-2019 mudaram o debate poltico em Portugal. Pela seriedade do processo, que convocou a participao acadmica qualificada para informar as ideias e propostas polticas. Pela transparncia, oferecendo a todos os interessados um conjunto de dados e cl-culos que permite testar a pertinncia e o alcance das medidas de poltica. E pela utilidade, criando uma ferramenta aplicvel a outras reas e medidas programticas.

    Mas, sobretudo, o que o exerccio feito mostra que, mesmo no quadro bastante restritivo das atuais regras oramentais europeias, possvel fazer diferente do austeritarismo do princpio da coli-gao de direita e da sua atitude de ir alm da troika, recusando mais cortes de rendimentos e maior carga fiscal sobre as famlias e o emprego, e apostando em estmulos bem calibrados ao tecido econmico e empresarial. possvel promover o crescimento e o emprego, assegurando ao mesmo tempo o rigor e a sustentabili-dade das finanas pblicas. A alternativa no apenas necessria; a alternativa possvel. Est nas nossas mos escolher e realizar a alternativa.

    A Europa, espao de defesa dos interesses nacionais

    Como Estado-membro da Unio Europeia, Portugal tem vrias das suas opes polticas fundamentais associadas a decises que hoje so tomadas pela Unio no seu conjunto. O que um constrangi-mento inerente, em particular, participao na Unio Econmica e Monetria e partilha de uma moeda comum representa tam-bm uma enorme vantagem. Mas, para capitalizar essa vantagem, a atitude das autoridades portuguesas tem de ser ativa e empe-nhada, fazendo-se ouvir em Bruxelas, defendendo em Bruxelas os nossos interesses prprios e contribuindo tambm para a mudan-a ao nvel europeu em favor da economia, do investimento e do emprego. O que exige determinao, autonomia e capacidade de identificar aliados e construir alianas: quer dizer, exatamente o contrrio do que fez o princpio da coligao de direita, que atuou mais como intendente de interesses e ordens alheias do que como defensor dos interesses e anseios nacionais.

    Do ponto de vista do PS, a Europa e, dentro dela, a Zona Euro, so o espao de referncia de Portugal. a que queremos situar-nos, e a que podemos desenvolver-nos. Ao contrrio do que pensam as foras polticas que, mais ou menos explicitamente, defendem, ou pelo menos admitem, a sada do euro, o PS entende, pelo con-trrio, que isso significaria um grave retrocesso para o nosso pas. dentro da Europa e com a Europa que os desafios devem ser ven-cidos quer os muitos desafios que partilhamos com os restantes Estados-membros, quer os desafios que nos so particulares.

    mais seguro venc-los, porm, com uma mudana substancial da poltica europeia e, nomeadamente, da poltica de coeso. Os pases que, como Portugal, mais duramente sofreram os efeitos da crise das dvidas soberanas e mais pagaram as injustias e erros dos programas de ajustamento hoje, alis, reconhecidos por to-das as instituies da troika, seja a Comisso, o BCE ou o FMI precisam de apoio acrescido, agora que na ordem do dia est o relanamento das respetivas economias e o tratamento das muitas feridas deixadas no seu tecido social.

    dos servios de urgncia hospitalar: a responsabilidade exclusi-vamente do princpio de direita.

    O Pas exige polticas credveis, melhorias palpveis, e precisa de um horizonte de esperana e estabilidade.

    Por tudo isto, para fazer diferente, Portugal precisa de um novo princpio. Em primeiro lugar, porque o atual princpio faltou ao seu compromisso eleitoral com os portugueses, fazendo exatamente o contrrio do que havia prometido. Segundo, porque a sua poltica falhou estrondosamente. Em terceiro lugar, o que PSD e CDS tm a propor a continuao das polticas de austeridade e, portanto, a continuao do empobrecimento do Pas e do enfraquecimento da sua economia e do tecido social.

    Portugal exige uma nova maioria de princpio que governe no inte-resse da maioria dos portugueses. S com um novo princpio e uma nova maioria parlamentar que Portugal pode beneficiar de pol-ticas diferentes e melhores. Esse o propsito do Partido Socialista : representar politicamente essa grande maioria social e cumprir o seu dever junto de todos os portugueses, apresentando-lhes uma alternativa, consubstanciada num novo programa, numa nova lide-rana e numa nova equipa.

    Rigor e participao na construo do Programa de princpio

    Novas polticas exigem uma outra atitude perante os desafios na-cionais. preciso olhar para o futuro, de modo que se definam objetivos de mdio prazo capazes de orientarem uma ao poltica consistente e duradoura. Ser claro nas opes de fundo, valori-zando os nossos recursos, isto , as pessoas, o territrio, a lngua portuguesa e o espao lusfono, a posio de Portugal no Mundo; modernizando a atividade econmica e o Estado; investindo no fu-turo atravs da cincia e da cultura; reforando a coeso social atravs das polticas de segurana e solidariedade social e de sa-de. No curto prazo, necessrio definir um programa de urgncia, nas reas crticas do relanamento da economia e do combate ao desemprego e pobreza. E mobilizar nesta base toda a sociedade portuguesa, em direo a um futuro de qualificao e de progres-so, e de modo que se construa um acordo de concertao social estratgico e plataformas alargadas de entendimento poltico, para vencermos juntos os problemas e aproveitarmos juntos as oportuni-dades da prxima dcada.

    Esta viso de conjunto foi proposta na Agenda para a Dcada, o documento de orientao estratgica aprovado em novembro pas-sado, no Congresso do PS. ela que serve de referncia ao Progra-ma Eleitoral do PS para o perodo de 2015 a 2019. E foi com base nela que o PS solicitou a um grupo de reputados economistas a ela-borao de um cenrio macroeconmico. O cenrio devia incluir e testar medidas de poltica que, respeitando o compromisso nacio-nal com a Zona Euro e, portanto, as regras da Unio Econmica e Monetria (UEM), permitissem relanar a economia e a criao de emprego e avanar, com seriedade, isto , sustentadamente, na consolidao das finanas pblicas. O documento Uma Dcada para Portugal, apresentado publicamente em abril de 2015, con-tm esse exerccio. Demonstra indiscutivelmente a compatibilidade da poltica econmica e social com a preocupao com o rigor e a sustentabilidade das contas pblicas. De facto, partindo, como cenrio base, das projees da Comisso Europeia, o documento mostra como uma poltica de reposio dos rendimentos familiares, de alvio fiscal e contributivo sobre os consumidores, as empresas e os trabalhadores e de relanamento do investimento, acelerando

  • Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015 98 Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015

    quatro anos de aventuras e experimentalismos radicais, venham eles de onde vierem.

    O caminho outro. Ele existe e necessrio e possvel trilh-lo. um virar de pgina, uma rutura clara, no com a Europa, no com o euro e com a Unio Econmica e Monetria, mas com a poltica da austeridade sem fim, que no deixa respirar a economia e corri o tecido social. tambm uma rutura com um estilo de governar que prefere o preconceito ideolgico ao conhecimento da reali-dade, que prefere o experimentalismo interveno preparada e cuja ignorncia sobranceira semeou o caos em reas fundamentais do Estado e dos servios pblicos, ao mesmo tempo que destrua, por puro revanchismo partidrio, polticas pblicas consolidadas e bem-sucedidas.

    O futuro de Portugal exige uma mudana profunda de rumo. Exige pessoas mais comprometidas com o servio pblico, experientes, pragmticas, determinadas na defesa dos interesses nacionais. Exige polticas orientadas para o crescimento econmico, para o investimento e para o emprego, para o rigor oramental, para a solidariedade, para a educao e a formao, para a moderniza-o e o aproveitamento pleno dos nossos recursos.

    Uma poltica de crescimento e consolidao, de progresso e coe-so, no quadro das nossas responsabilidades europeias e partici-pando ativamente na poltica da Unio Europeia: eis a linha polti-ca que exprime este Programa de princpio de uma Alternativa de Confiana.

    No se trata, apenas, de aproveitar as pequenas margens de res-pirao que recentes decises e projetos europeus vm deixando economia o programa de compra de dvida soberana do BCE, as novas regras de interpretao dos programa de estabilidade, o pla-no Juncker de investimentos. Isso j um progresso que o princ-pio da coligao de direita no soube aproveitar. Mas preciso ir mais alm, promovendo a convergncia europeia e, assim, no s favorecendo a recuperao econmica de toda a Unio, como de-fendendo a Europa contra a deriva dos nacionalismos e honrando os fundamentos mais nobres do projeto da construo europeia.

    A proposta europeia de um Novo Impulso para a Convergncia abre as perspetivas necessrias para levar mais longe o nosso pr-prio esforo nacional, beneficiando de regras mais inteligentes e condies mais favorveis para investir na qualificao, na moder-nizao e na coeso social.

    Coerentemente, o Programa Eleitoral do PS recusa-se a ser um re-positrio mais ou menos alinhado de medidas setoriais. No: as dificuldades e as causas do tempo presente exigem outro flego. Identificados sucessivamente, com a participao empenhada de milhares de cidads e cidados, os nossos objetivos estratgicos, os recursos disponveis, as restries objetivas e a margem de ma-nobra que elas nos deixam, preciso concentrar esforos e polticas no que essencial. Identificadas as oportunidades de mudana, quer escala europeia, quer escala nacional, a ateno deve ser dirigida proposta de solues. Para cada pergunta-chave, uma soluo e as medidas e calendrios em que se pode concretizar. Como combater o insucesso escolar? Como promover a educao de adultos? Como descentralizar? Como reagir ao dfice demo-grfico? Como modernizar a administrao? Como repor a con-fiana na relao entre o Estado e o sistema cientfico-tecnolgico?

    So estes, verdadeiramente, os nossos problemas, aquilo que ne-cessrio fazer! neles que temos de concentrar a energia, sobre eles que temos de construir compromissos, para lhes responder que temos de aplicar polticas pblicas eficazes.

    Para os enfrentar, precisamos de combinar duas perspetivas. Uma, de mdio prazo, consubstanciada na Agenda para a Dcada e cen-trada na modernizao da economia e do Estado. A outra, de curto prazo, exige pr imediatamente em prtica um plano de recupe-rao econmica e social assente em trs objetivos fundamentais: aumentar o rendimento disponvel das famlias, resolver o proble-ma do financiamento das empresas e promover o emprego, com-batendo a precariedade.

    Uma linha poltica coerente, uma escolha clara

    Portugal no se pode dar ao luxo de acrescentar aos bloqueios eco-nmicos e sociais que j tem um bloqueio poltico sem fim vista. O Pas precisa de um governo forte para fazer face a estes grandes desafios que tem pela frente. Precisa de uma liderana com capa-cidade de fazer as coisas bem feitas e de dialogar no Parlamento e junto de todos os parceiros sociais. Precisa de ter uma voz forte e afirmativa nas instituies europeias.

    As portuguesas e os portugueses esto assim confrontados com uma escolha decisiva: escolher o caminho que querem trilhar. Esse caminho no pode ser manter o mesmo rumo dos ltimos quatros anos, porque esse o caminho do empobrecimento e da desquali-ficao. Esse caminho tambm no pode ser romper com a Unio Europeia, pondo em risco os prprios fundamentos do nosso mo-delo econmico e social. O interesse nacional dispensa bem mais

  • Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015 11

  • Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015 11

    Uma estratgia falhada e um alternativa de confiana

    O princpio da coligao de direita respondeu de forma errada crise de financiamento da economia portuguesa e, por essa razo, tem pesadas responsabilidades na criao da mais grave recesso econmica e regresso social da nossa histria recente.

    A errada poltica de austeridade tem trs principais causas: em pri-meiro lugar, a crena na austeridade expansionista levou du-plicao das medidas recessivas durante o perodo de assistncia financeira. Em segundo lugar, a direita no soube construir uma viso de conjunto sobre a economia portuguesa e no entendeu que sucessivas medidas de contrao do rendimento disponvel das famlias gerariam um efeito brutal no consumo, no investimento e no emprego. Em terceiro lugar, o princpio da coligao de direita afundou as expetativas dos agentes econmicos, aprofundando as consequncias da crise em todos os domnios da nossa vida coleti-va, do funcionamento dos servios pblicos ao investimento priva-do, da retrao demogrfica s desigualdades sociais.

    A comparao entre os objetivos fixados em 2011 pelo governo da coligao de direita para serem atingidos em 2015 e aquelas que so as estimativas do princpio para o corrente ano evidencia bem a dramtica dimenso do falhano da poltica de austeridade.

    Menos 300 mil empregos do que o previsto, menos 13 mil milhes de euros de riqueza criada, menos 6,4 mil milhes de euros de investimento, menos 5,6 mil milhes de euros de exportaes so os resultados que mais cruamente explicam a dimenso da crise econmica e social provocada pela austeridade do PSD e do CDS no princpio. Por isso, preciso fazer diferente e fazer melhor.

    A sustentabilidade das contas pblicas e a estabilizao do endi-vidamento so princpios basilares da governao. necessrio um compromisso claro com uma trajetria de sustentabilidade das contas pblicas que garanta a reduo do dfice estrutural e per-mita iniciar uma trajetria descendente do rcio de endividamento. O quase equilbrio estrutural das contas pblicas e a reduo do endividamento so objetivos assumidos como uma prioridade. Os trabalhos para a produo de um cenrio macroeconmico alter-nativo que o PS promoveu vieram demonstrar claramente que exis-te uma outra poltica econmica que pode conciliar o rigor com a recuperao. Que podemos fazer diferente e fazer melhor.

    A elaborao do cenrio Uma dcada para Portugal permite hoje ao PS apresentar ao Pas um conjunto slido e rigoroso de opes de poltica econmica diferentes que foram testadas nos seus custos e nos seus benefcios, preservando a sustentabilidade das contas pblicas. O grau de rigor e seriedade desse exerccio constitui uma garantia adicional de que as opes que hoje tomamos se baseiam

    num quadro realista, que beneficiou da melhor informao e estu-do disponveis.

    O cenrio construdo confirma a convico do PS de que neces-srio responder aos problemas do Pas com outras polticas e com outra alternativa.

    Portugal precisa de um verdadeiro programa de recuperao eco-nmica e social para os prximos quatro anos, assente em trs desafios para relanar a economia: aumentar o rendimento dis-ponvel das famlias, resolver o problema do financiamento das empresas e promover o emprego, combatendo a precariedade.

    1. AUMENTAR O RENDIMENTO DISPONVEL DAS FAMLIAS PARA RELANAR A ECONOMIA

    Uma recuperao econmica com um forte contedo de emprego no pode prescindir de estmulos para a recuperao do rendimen-to das famlias. Tal constitui, nas condies atuais da economia por-tuguesa, uma alavanca de curto prazo para a melhoria dos ndices da atividade econmica e, em consequncia, para mais e melhores oportunidades no mercado de trabalho. Igualmente, significa um corte com a poltica de austeridade que foi desenhada e concreti-zada pela maioria de direita, nomeadamente atravs de medidas recessivas que no faziam parte do plano de assistncia financeira a Portugal negociado em 2011.

    Essa viragem de poltica integra um conjunto de compromissos cla-ros e coerentes, como os seguintes:

    O incio de uma correo ao enorme aumento de impostos so-bre as famlias que foi concretizado nesta legislatura, com a ex-tino da sobretaxa sobre o IRS entre 2016 e 2017;

    A concretizao de uma mais rpida recuperao do rendimen-to dos trabalhadores do Estado, acabando at 2017 com os cortes extraordinrios de salrios;

    O apoio complementar ao aumento do rendimento disponvel das famlias, com uma reduo progressiva e temporria da taxa contributiva dos trabalhadores, a qual dever atingir um valor mximo de 4 pontos percentuais em 2018, iniciando a partir de 2019 uma diminuio dessa reduo, que se processa-r em 8 anos. Com esta medida estimula-se a procura interna promovendo liquidez a famlias que trabalham e auferem baixos rendimentos e que esto privadas do acesso a bens e servios bsicos no contexto de perda de rendimento do agregado fami-liar. A medida permitir igualmente o alargamento das possibi-lidades de consumo das famlias, gerando procura e, por essa via, postos de trabalho. O Oramento do Estado financiar a eventual quebra transitria das receitas da Segurana Social;

    A criao de uma nova prestao social destinada a melhorar o rendimento dos trabalhadores pobres, a qual ser sujeita a condio de recursos e orientada igualmente para favorecer a formalizao de relaes de trabalho incertas e precrias;

    A renovao das polticas de mnimos sociais simplificando-as, aumentando a sua eficcia, gesto de proximidade e focando--as nos mais vulnerveis, particularmente as crianas;

    O reforo da concertao social deve permitir definir uma po-ltica de rendimentos numa perspetiva de trabalho digno e, em particular, garantir a revalorizao do salrio mnimo nacional. urgente recuperar o tempo perdido e garantir aos trabalhado-res uma valorizao progressiva do seu trabalho, conciliando o objetivo de reforo da coeso social com o da sustentabilidade

    VIRAR A PGINA DA AUSTERIDADE, RELANAR A ECONOMIA E O EMPREGO

    II

  • Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015 1312 Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015

    da poltica salarial. O PS defende, por isso, que a meta a atingir para o aumento do salrio mnimo deve corresponder atua-lizao do valor previsto e que fundamental construir com os parceiros sociais um novo acordo de mdio prazo que defina os critrios e uma trajetria para o aumento do salrio mnimo nos anos seguintes;

    Desbloquear a contratao coletiva.

    2. RESOLVER O PROBLEMA DO FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS

    O investimento empresarial deve assumir um papel preponderante, sendo uma varivel-chave para uma recuperao forte e sustenta-da do crescimento econmico.

    Num quadro de escassez de financiamento, preciso encontrar formas novas e eficazes de financiar as empresas e dinamizar a atividade econmica e a criao de emprego.

    Assumindo este desgnio, o PS mobilizar os recursos e adequar o quadro de apoios pblicos necessidade de uma retoma rpida do investimento. Para o efeito, atuar em seis domnios.

    Assim, em primeiro lugar, ser dinamizada e acelerada a execuo dos fundos comunitrios, garantindo o seu direcionamento para as empresas e explorando novas fontes de financiamento europeu para reforar o financiamento economia. Em segundo lugar, ser criado um fundo de capitalizao de apoio ao investimento empre-sarial. Em terceiro lugar, ser promovida uma maior articulao e integrao dos apoios ao investimento, o que inclui o estmulo a novas formas de financiamento privado que ampliem as opes de financiamento s empresas e a criao de incentivos fiscais ao investimento aplicado em projetos empresariais. Em quarto lugar, sero adotadas iniciativas destinadas a incentivar o investimento estrangeiro em Portugal. Em quinto lugar, sero removidos obst-culos e reduzido o tempo e o custo do investimento atravs de um novo programa Simplex para as empresas. Finalmente, em sexto lugar, sero estudados e identificados os investimentos seletivos que permitam o mximo aproveitamento de investimentos infraestru-turais j realizados e que possam ser rentabilizados em favor do desenvolvimento econmico.

    Acelerar a execuo dos fundos comunitrios

    O aproveitamento das oportunidades na prxima legislatura passa pela utilizao mxima das oportunidades que esto nossa dis-posio. Uma das mais relevantes reside nos fundos comunitrios que, nos prximos anos, podero ajudar a dinamizar a economia, a atividades das empresas portuguesas e o emprego. esse instru-mento fundamental de investimento pblico que preciso acelerar e concentrar nas reas prioritrias, pois o mesmo constitui um po-deroso fator de auxlio ao desenvolvimento econmico.

    Para reforar e acelerar a execuo dos fundos comunitrios o PS ir:

    Atribuir prioridade mxima execuo extraordinria dos fun-dos europeus envolvendo esforos de organizao, legislativos e de coordenao com as regies e parceiros que permitam concretiz-la em qualidade e velocidade;

    Adotar as medidas especficas necessrias para operacionaliza-o imediata dos instrumentos financeiros (capital, garantias e

    emprstimos) previstos no Portugal 2020, essencial para o finan-ciamento do investimento empresarial;

    Promover a adaptao do quadro regulamentar de aplicao dos fundos comunitrios de forma clere, garantindo solues rpidas e resolvendo constrangimentos;

    Dinamizar o investimento e a capacidade de atrao de mais financiamento atravs de uma atitude pr-ativa na Europa nas negociaes para o plano de investimento anunciado por Jun-cker e de um esforo organizado do princpio de captao de fundos de outras rubricas oramentais europeias a favor de Por-tugal;

    Criar condies, incluindo capacidade tcnica, para o mximo aproveitamento possvel no apenas dos fundos comunitrios alocados ao Portugal 2020, mas tambm de outros meios de financiamento disponveis ainda insuficientemente utilizados;

    Dinamizar o acesso aos fundos comunitrios tornando mais transparente, acessvel e compreensveis as condies e casos em que os mesmos podem ser utilizados;

    Permitir que os conflitos referentes utilizao de fundos comu-nitrios possam ser resolvidos em centros permanentes de reso-luo alternativa de litgios, de forma mais rpida e mais barata.

    Criar um Fundo de Capitalizao

    O PS ir criar um Fundo de Capitalizao financiado por fundos europeus, podendo o Estado alocar ainda outros fundos pblicos a ttulo de investimentos de capital, ou de concesso de emprstimos ou garantias. As instituies financeiras podero contribuir para o fundo de capitalizao, tomando igualmente posies de capital ou quase capital ou concedendo emprstimos ou garantias. Este fundo ter as seguintes caractersticas:

    Deve permitir a captao de fundos provenientes de investidores internacionais quer de natureza institucional (fundos internacio-nais de capital de risco, fundos soberanos, fundos de penses e de seguradoras, etc), quer de natureza personalizada (inves-tidores portugueses da dispora, investidores estrangeiros, etc);

    Deve ser ainda financiado pelos reembolsos de fundos comu-nitrios e as contrapartidas dos vistos gold, agora reorientan-do-os para o objetivo de capitalizar empresas e reforar a sua autonomia;

    Alm do capital de risco e de outros instrumentos de capital, o Fundo de Capitalizao dever conferir prioridade solues inovadoras de emprstimos em condies muito especiais que os tornem similares aos capitais prprios (instrumentos de qua-se capital);

    A maioria dos recursos financeiros devem ser aplicados em em-presas e investimentos inseridos em clusters que vierem a ser de-finidos como de desenvolvimento estratgico para a economia portuguesa.

    Reforar e garantir maior articulao dos apoios ao investimento e ao financiamento das empresas

    O relanamento do investimento empresarial exige duas condies fundamentais. Por um lado, polticas que potenciem os impactos dos fundos europeus na economia, nomeadamente atravs de uma maior articulao e concertao entre entidades pblicas e destas com o sistema financeiro. Por outro lado, a expanso e diversificao das opes de financiamento das empresas. Assim, o PS ir:

    Alterar o tratamento fiscal dos custos de financiamento das em-presas que promovam o financiamento das empresas mediante o recurso a capitais prprios e contribuam para a reduo dos

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    nveis de endividamento junto do sistema bancrio, designada-mente incentivando o reinvestimento dos lucros e evoluindo para uma maior neutralidade no tratamento do financiamento atra-vs de capitais prprios e endividamento;

    Duplicar o crdito fiscal ao investimento para investimentos aci-ma de 10 milhes de euros e desburocratizar a concesso de um crdito fiscal automtico. Assim, sero elegveis para crdito fiscal automtico de 25% no mbito do Regime Fiscal de Apoio ao Investimento (RFAI) investimentos at 10M euros (o valor atual de 5M euros), permitindo aumentar a dimenso dos projetos apoiados. O regime contratual aplicar-se- para investimentos acima dos 10M euros, aumentando o crdito fiscal concedido de 10% para 20% do valor de investimento elegvel realizado;

    Instituir uma lgica de servio e atendimento personalizado ao investidor nacional e internacional, com propostas de valor inte-gradas de incentivos financeiros e fiscais e apoio na acelerao dos processos de licenciamento;

    Reduzir a dependncia de crdito bancrio, reforando o papel do mercado de capitais no financiamento das PME, em especial atravs de instrumentos de capital (emisso de aes), fundos especializados de dvida privada (emisso de obrigaes de PME) ou instrumentos hbridos (equiparados a capital);

    Promover a acelerao dos processos de reestruturao empre-sarial e respetiva capitalizao, criando mecanismos que facili-tem a converso da dvida em capital ou de reduo da dvida em empresas consideradas viveis;

    Fomentar a introduo de novos instrumentos de financiamento ao investimento de empresas de menor dimenso, como o crow-dfunding e o financiamento peer2peer.

    Prosseguir polticas favorveis s microempresas e ao empreendedorismo

    O PS defende a criao de mecanismos dirigidos ao desenvolvi-mento das microempresas e de projetos empreendedores.

    Criar uma linha de adiantamento financeiro por conta de crdito fiscal aprovado no mbito do sistema de incentivos fiscais I&D empresarial (SIFIDE II), com desconto diferido, para microem-presas com investimentos em I&D mas ainda sem resultados coletveis no curto prazo, como acontece frequentemente com empresas de criao recente ou de ciclo de valorizao mui-to prolongado. Esta medida visa antecipar o gozo do benefcio atribudo, aumentando a liquidez das microempresas e a sua capacidade de investimento no curto prazo, dentro de determi-nados limites e condies;

    Adotar medidas para facilitar o acesso de novas PME contra-tao pblica de modo que se facilite o acesso aos mercados de novos concorrentes.

    Lanar o Programa Semente de estmulo ao empreendedorismo

    Para estimular o empreendedorismo e a criao de start-ups o PS ir lanar o Programa Semente que estabelecer um conjunto de benefcios fiscais para quem queira investir em pequenas empresas em fase de startup ou nos primeiros anos de arranque. Estes bene-fcios contemplaro as seguintes trs medidas:

    A criao de benefcios em sede de IRS para aqueles que, es-tando dispostos a partilhar o risco inerente ao desenvolvimento, invistam as suas poupanas no capital destas empresas;

    A tributao mais favorvel de mais-valias mobilirias ou imobi-lirias, quando estas sejam aplicadas em startups;

    A adoo de um regime fiscal mais favorvel na tributao de mais-valias decorrentes do sucesso dos projetos levados a cabo por estas empresas na venda de partes de capital, aps um pe-rodo de investimento relevante.

    Estes apoios a empresas em fase de arranque sero complementa-dos com um novo impulso ao desenvolvimento do mercado de ca-pital de risco em Portugal, assente numa forte utilizao de fundos comunitrios disponveis, no sistema de garantias, na mobilizao de investidores internacionais para o desenvolvimento deste merca-do e na garantia de estabilidade fiscal aos investidores.

    Atrair mais e melhor Investimento direto estrangeiro

    Um novo impulso captao de investimento direto estrangeiro re-vela-se estratgico para possibilitar a expanso dos recursos finan-ceiros e no financeiros disponveis na economia portuguesa, isto , para aumentar os nveis de investimento e reforar a competitivi-dade do tecido econmico. Neste sentido, o PS compromete-se a:

    Desenhar e pr em prtica um plano especfico de atrao de investimento estrangeiro estruturante que potencie recursos hu-manos qualificados e resultados de projetos de I&D, que valo-rize a nossa posio geoeconmica, tire partido das vantagens competitivas existentes no tecido econmico, colabore na valori-zao sustentada de recursos naturais e que, alm disso, possa funcionar como fator de dinamizao de novos clusters promis-sores para a economia portuguesa;

    Apostar na valorizao do territrio como forma de atrair inves-timento estrangeiro, desenvolvendo uma oferta integrada, para um horizonte temporal alargado, que integre benefcios fiscais, compromissos de cofinanciamento, facilidades na poltica de vistos para imigrantes e apoios de natureza logstica, entre ou-tros benefcios;

    Lanar campanhas especficas de divulgao das potencialida-des de acolhimento de investimento estrangeiro dirigidas a ban-cos internacionais e de desenvolvimento, ecossistemas de capital de risco, empresas de consultoria e escritrios de advogados internacionais, organizaes que difundem rankings de compe-titividade internacional, etc.;

    Dinamizar os conhecimentos e a influncia da rede da dispora nos seus pases de acolhimento, para promover a captao de investimento estrangeiro.

    Relanar o SIMPLEX para as empresas para reduzir o tempo e o custo do investimento

    A burocracia geradora de consumos de tempo e dinheiro que prejudicam o investimento, criam custos de contexto excessivos e prejudicam a dedicao da empresa e dos empresrios criao de negcios, riqueza e emprego. Por isso, o PS assume que ser relanado um programa SIMPLEX para as empresas e a atividade econmica, designadamente atravs das seguintes iniciativas:

    Aprovar um conjunto de medidas de simplificao administrati-va urgentes para reduzir custos de contexto na vida empresarial, focando-as nos aspetos mais crticos da atividade das empresas e na eliminao de exigncias excessivas ou desporporcionadas;

    Relanar o programa Licenciamento Zero para o investimento e para atividades empresariais, eliminando licenas e atos de controlo prvios e substituindo-os por uma fiscalizao refora-da, depois de iniciadas as atividades;

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    Rever e simplificar o regime aplicvel s zonas empresariais res-ponsveis (ZER);

    Lanar o programa Declarao nica, suprimindo obrigaes declarativas e comunicaes obrigatrias para o Estado e outras entidades pblicas que no sejam necessrias (designadamente nos domnios dos impostos, Segurana Social, informao am-biental e estatstica), instituindo um ponto nico para o envio da informao, quando a mesma seja imprescindvel;

    Aprovar um regime de Taxa Zero para a Inovao, dispen-sando do pagamento de taxas administrativas e emolumentos associados a vrias reas da vida das empresas certos tipos de empresas criadas por jovens investidores e start-ups inovadoras.

    Estudo e identificao de investimentos seletivos, complementares e pontuais, que permitam valorizar e rentabilizar o investimento pblico em infraestruturas j realizado

    As ltimas dcadas foram marcadas por um forte investimento p-blico na modernizao de infraestruturas de base. agora tempo de utilizar e tirar partido dessas infraestruturas, que constituem um precioso ativo para dinamizar a competitividade do Pas, as nossas empresas e a criao de emprego.

    O PS dar, por isso, prioridade a investimentos seletivos e comple-mentares que permitam valorizar o investimento de base j reali-zado e concretizado e que criem sinergias e potenciem os recursos existentes como a capacidade de cincia e tecnologia, os recursos naturais ou a posio geoeconmica de Portugal no mundo. Por isso, necessrio estudar e identificar com rigor e de forma cer-teira quais so esses investimentos seletivos, aptos a permitir um aproveitamento mximo das condies de que j dispomos e que possam ainda ser rentabilizadas.

    Esta opo deve, pois, proporcionar uma maior rentabilizao de investimentos j realizados e contribuir para viabilizao de inves-timento privado.

    3. PROMOVER O EMPREGO, COMBATER A PRECARIEDADE

    A poltica de austeridade seguida pela coligao de direita teve como efeito um aumento do desemprego sem precedentes, com efeitos sociais devastadores sobre os jovens, os cidados menos qualificados, as famlias e os milhares de portugueses que ficaram sem emprego.

    Urge, pois, construir uma agenda de promoo do emprego, de combate precariedade e que permita retomar o dinamismo do dilogo social a todos os nveis, da concertao social nego-ciao coletiva de nvel setorial e de empresa, por contraponto marginalizao e desrespeito reiterado pelos parceiros sociais e ao desprezo e mesmo boicote contra a negociao coletiva que carac-terizou a governao da coligao de direita.

    Focalizar as polticas ativas de emprego no combate ao desemprego jovem e no desemprego de longa durao, apoiando o emprego nos setores de bens transacionveis e nos setores muito criadores de emprego

    O princpio PSD/CDS optou por agir sem critrio nas polticas ativas de emprego no que respeita aos pblicos, setores ou exigncias de criao efetiva de emprego. O PS defende que as polticas ativas de emprego devem ser mais seletivas. Em vez de uma ativao geral e indiferenciada de pessoas no mercado de trabalho, devem antes ser dirigidas ao combate ao desemprego nos segmentos e grupos mais atingidos, como os jovens e os desempregados de longa du-rao, e promoo do emprego em setores com potencial de criao de emprego e nos bens transacionveis, em articulao com a estratgia de modernizao e competitividade da economia que se pretende para o Pas.

    Para alm do flagelo do desemprego de longa durao, as pol-ticas ativas de emprego devem ajudar a responder ao verdadeiro bloqueio que os jovens enfrentam hoje entrada do mercado de trabalho, alis no esprito da Garantia Jovem lanada no plano europeu, desenhando programas de emprego jovem que, com re-cursos adequados, favoream a insero sustentvel dos jovens no mercado de trabalho e que no se limitem a promover a precarie-dade, como tem sido apangio do atual princpio.

    tambm com o objetivo de promover o emprego que se defende a reduo do IVA da restaurao para 13% e se d prioridade a criao de programas de forte incentivo reabilitao urbana e de recuperao do patrimnio histrico portugus, pois esto em causa setores fortemente potenciadores de emprego.

    Polticas ativas para emprego efetivo.

    O recurso s polticas ativas de emprego deve contribuir para a criao de emprego sustentvel e no servir para colmatar neces-sidades de mo-de-obra. Os verdadeiros beneficirios ltimos de-vem ser as pessoas, porque as polticas ativas no podem ser con-vertidas numa forma de subsidiao precariedade.

    Por isso, o PS ir combater a utilizao abusiva e desvirtuada das polticas ativas de emprego que, contrariando a sua ideia original de aproximao ao mercado de trabalho por via da insero labo-ral, promovam a precariedade, diminuam a dignidade do trabalho e diminuam o seu valor. Por exemplo, j no possvel encarar o uso generalizado e repetido de estgios como substitutos para a contratao por parte dos empregadores, sem que isso d lugar a criao efetiva de postos de trabalho. Estas ms prticas prejudi-cam quer a acumulao de capital humano pelas empresas, quer ainda a prpria sustentabilidade financeira das polticas.

    Lanar um programa de apoio ao emprego jovem Contrato-Gerao

    O PS defende o lanamento de um programa que atue em duas frentes para promover a criao de emprego, atravs de:

    Um apoio a reformas a tempo parcial e, por outro, incentivos contratao pelas empresas de jovens desempregados ou procura do primeiro emprego. Visa-se promover a permanncia dos trabalhadores mais prximos da idade da reforma no mer-cado de trabalho, ao mesmo tempo que se promove a renova-o geracional das empresas. Assim, os trabalhadores podero, se assim o quiserem, reduzir o seu tempo de trabalho em vez de optarem por uma reforma antecipada e, ao mesmo tempo, abrir espao para a contratao de jovens desempregados ou procura do primeiro emprego. Esta medida visa promover o

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    envelhecimento ativo e o emprego jovem, diminuir a rigidez da opo entre prolongamento das carreiras profissionais e refor-ma antecipada com fortes penalizaes, promover a partilha de experincias intergeracionais e assegurar a substituio harmo-nios a de geraes, com criao de emprego jovem;

    Um programa de apoio ao emprego para as empresas que con-tratem simultaneamente jovens desempregados ou procura do primeiro emprego e desempregados de longa durao, respei-tando a condicionante de criao de emprego lquido e de contratao permanente, salvo casos excecionais.

    Apoiar o reforo das competncias e empregabilidade dos desempregados licenciados

    Para responder ao problema dos licenciados desempregados tor-na-se necessrio desenvolver programas de formao avanada, especificamente direcionados para pessoas com este perfil. Esses programas devem apostar no reforo dos saberes j adquiridos com competncias transversais ou especficas, que valorizem os jo-vens no mercado de trabalho. Nomeadamente, prope-se o lan-amento de um programa de reconverso de competncias orien-tado para o setor das tecnologias de informao e comunicao, incluindo a aquisio de ferramentas no domnio da programao de cdigo.

    Este programa dever permitir dar resposta falta de recursos hu-manos com formao nestas reas contribuindo para superar as dificuldades de contratao das empresas instaladas em Portugal e para a captao de mais investimento estrangeiro em setores emergentes. A implementao dever ser feita em parceria com universidades e empresas, abrangendo todos os distritos do Pas.

    Estimular a criao de emprego atravs de uma maior valorizao e capacitao do empreendedorismo

    As empresas jovens so responsveis por quase metade do empre-go criado em Portugal nos ltimos anos. Empresas de crescimento elevado representam uma pequena proporo do tecido empresa-rial, mas do um forte contributo para a criao de emprego. Para potenciar a dinmica de criao de novas empresas em setores emergentes e inovadores e, consequentemente, estimular a criao de mais e melhores empregos, as polticas de promoo do em-preendedorismo revelam-se essenciais.

    O PS promover o desenvolvimento empresarial adotando medi-das que contribuam para eliminar barreiras ao empreendedorismo e potenciem a criatividade e capacidade de iniciativa dos portu-gueses e de investidores estrangeiros que escolhem Portugal para criar emprego e gerar riqueza. Neste mbito, o PS assume como medidas fundamentais:

    Criar uma grande aceleradora de empresas, de mbito nacional mas com relevncia europeia, que apoie a internacionalizao de startups, atravs de uma rede de mentoria especializada e de apoios internacionalizao, promovendo ainda intercmbios para startups em crescimento e em fase de expanso;

    Criar a Rede Nacional de Incubadoras, promovendo a coopera-o, partilha de recursos e alavancando mutuamente as iniciati-vas dos seus membros. Esta rede ter igualmente como objetivo promover e apoiar o desenvolvimento de novas incubadoras de qualidade em reas complementares rede existente;

    Criar a Rede Nacional de Fab Labs (ou prototipagem), permitin-do interligar os vrios equipamentos j existentes, criando siner-

    gias entre estes e promovendo o surgimento de novos espaos de prototipagem. Neste domnio ser igualmente relevante de-senvolver e promover a ligao dos Fab Labs ao empreendedo-rismo, educao e investigao;

    Promover a cultura empreendedora nos jovens por meio da in-troduo de mdulos ou cursos de empreendedorismo nas esco-las pblicas e do desenvolvimento de programas de estgios de estudantes em startups, incubadoras ou aceleradoras.

    Programa Nacional de Apoio Economia Social e Solidria

    O PS encara a economia social enquanto forma de organizao econmica e de produo de servios com um papel determinante na expanso do emprego, da igualdade de oportunidades e na promoo de bens sociais, ambientais e histricos que suportam o desenvolvimento local e regional. Neste sentido o PS ir:

    Lanar um Programa Nacional de Apoio Economia Social e Solidria, destinado a promover a criao de emprego e a coe-so social, incluindo novos instrumentos como a Banca tica;

    Modernizar e consolidar o setor por meio de mecanismos de simplificao administrativa como a cooperativa na hora e de promoo de redes municipais de economia social, entre outras medidas;

    Fomentar a criao de parcerias entre entidades dos setores p-blico e da economia social, sob a forma de rgie cooperativas, cooperativas de interesse pblico ou outras, tendo em vista a reutilizao, reafetao e rentabilizao de equipamentos, ca-nalizando, para o efeito, recursos financeiros oriundos dos fun-dos europeus;

    Apoiar a valorizao e capacitao de empreendedores sociais e promotores de projetos que visem criar novas solues para os problemas sociais identificados na sociedade, com o objetivo de potenciar o surgimento de novas organizaes ou iniciativas sociais.

    Combater a precariedade: evitar o uso excessivo dos contratos a prazo, os falsos recibos verdes e outras formas atpicas de trabalho, reforando a regulao e alterando as regras do seu regime de Segurana Social

    A precariedade cresceu de forma significa nos ltimos anos e, em particular entre os mais jovens.

    Por um lado, a generalizao de relaes laborais precrias fragi-liza o prprio mercado de trabalho e a economia. A competitivida-de das empresas num espao europeu desenvolvido deve fazer-se atravs da valorizao do seu capital humano e das suas elevadas qualificaes, o que implica adequadas relaes laborais que pre-servem apostas duradouras e de longo prazo, aptas a aproveitar esses ativos. Alm disso, por outro lado, relaes laborais exces-sivamente precrias que ultrapassem os limites do razovel pem em causa a existncia de perspetivas de desenvolvimento social e vida das pessoas, pondo em causa a dignidade do trabalho que importa preservar.

    Com o objetivo de combater a precariedade e reforar a dignifica-o do trabalho, o PS defende:

    Para diminuir o nmero excessivo de contratos a prazo, melho-rar a proteo dos trabalhadores e aumentar a taxa de conver-so de contratos a prazo em permanentes, ser proposta a limi-

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    tao do regime de contrato com termo, que deve deixar de ser a regra quase universal de contratao, limitando-se fortemente a sua utilizao;

    Agravar a contribuio para a Segurana Social das empresas que revelem excesso de rotatividade dos seus quadros em con-sequncia da excessiva precarizao das relaes laborais;

    Facilitar a demonstrao da existncia de contratos de trabalho em situaes de prestao de servios, para dissuadir o recurso ao expediente do falso trabalho independente por parte dos em-pregadores. Deve passar a considerar-se a existncia efetiva de um contrato de trabalho, e no apenas a presumi-la, quando se verifiquem as caractersticas legalmente previstas nesta matria. Alm disso, deve ponderar-se a criao de um mecanismo rpi-do, seguro e efetivo de reconhecimento de situaes de efetivo contrato de trabalho nestas situaes dispensando-se assim o trabalhador de recurso a tribunal para fazer prova dos factos apurados, sem prejuzo de recurso arbitral ou judicial por parte do empregador;

    Melhorar a capacidade inspetiva e de atuao em matria la-boral, por forma que se aumente a capacidade de regulao do mercado de trabalho por via do aumento da dissuaso dos incumprimentos das regras laborais e, tambm, de verificao da conformidade com estas;

    Reavaliar o regime de entidades contratantes, tendo em vista o reforo da justia na repartio do esforo contributivo entre empregadores e trabalhadores independentes com forte ou total dependncia de rendimentos de uma nica entidade contratan-te, integrado no esforo de combate aos falsos recibos verdes;

    Rever as regras para determinao do montante de contribui-es a pagar pelos trabalhadores que passam recibos verdes, por forma que estas contribuies passem a incidir sobre o ren-dimento efetivamente auferido, tendo como referencial os meses mais recentes de remunerao;

    Avaliar o regime de proteo no desemprego para trabalha-dores independentes, detetando eventuais ineficincias na sua operacionalizao luz das necessidades de proteo e dos ob-jetivos traados para este novo regime de proteo;

    Proceder a uma avaliao dos riscos cobertos por este regime, tendo em vista um maior equilbrio entre deveres e direitos con-tributivos dos trabalhadores independentes e uma proteo so-cial efetiva que melhore a percepo de benefcios, contribuin-do para uma maior vinculao destes trabalhadores ao sistema previdencial de Segurana Social.

    Diminuir a litigiosidade, promover a conciliao laboral

    Em processos de conflitualidade laboral, incluindo em processos de cessao do contrato de trabalho, deve ser explorada a utilizao de mecanismos geis de resoluo dos conflitos, com segurana jurdica, semelhana do que j sucede noutros campos. Tal po-der proporcionar ganhos para todas as partes, designadamente em matria de celeridade, previsibilidade e custos associados ao processo. Por isso, o PS ir:

    Estudar com os parceiros sociais a adoo de mecanismos de arbitragem e de utilizao de meios de resoluo alternativa de litgios no mbito da conflitualidade laboral, sem prejuzo do direito de recurso aos tribunais;

    Formalizar e regular na lei, para novos contratos, a prtica j adotada em muitas empresas de cessao de contratos de tra-balho, adotando-se um procedimento conciliatrio e voluntrio para o efeito, que regule os passos e formalidades para a ces-sao do contrato de trabalho. Este procedimento conciliatrio entre a empresa e o trabalhador deve iniciar-se atravs da con-

    sulta/informao s estruturas representativas dos trabalhado-res e deve seguir as seguintes regras: Quando se utilize este processo conciliatrio, as indemniza-

    es por despedimento sero mais elevadas do que as atuais: pelo menos dezoito dias por cada ano de antiguidade nos primeiros trs anos e 15 dias por cada ano adicional, com mnimo de 30 dias e um mximo de 15 meses, no respeito pelos instrumentos de negociao coletiva. Estas indemniza-es estaro isentas de impostos;

    Quando o processo conciliatrio termine com a concordn-cia do trabalhador, aplica-se o regime da cessao do con-trato de trabalho de forma involuntria para o trabalhador, para o efeito de determinao de prestaes sociais aplic-veis, como a de desemprego;

    Quando o processo conciliatrio termine sem acordo, o regime aplicvel o geral, mantendo-se inalterada a proibio de des-pedimento sem justa causa, o direito reintegrao e o patamar de indemnizaes atualmente fixado na lei. Assim, o acesso aos tribunais fica sempre assegurado, para reagir contra um eventual despedimento sem justa causa, caso este se verifique depois de esgotado, sem acordo, o procedimento conciliatrio e exigir nessa sede, tal como j sucede hoje em dia, as demais prestaes e rein-tegraes atualmente previstas na lei.

    Limitar o uso pelo Estado de trabalho precrio

    Estabelecer uma poltica clara de eliminao progressiva do recur-so a trabalho precrio e programas de tipo ocupacional no setor pblico como forma de colmatar necessidades de longa durao para o funcionamento dos diferentes servios pblicos.

    Relanar o dilogo social e a negociao coletiva setorial, articulando-a com o nvel das empresas, incluindo no setor pblico

    essencial sustentar uma agenda consistente de mudana numa aposta forte em retomar o dinamismo do dilogo social a todos os nveis, da concertao social negociao coletiva de nvel setorial e de empresa, por contraponto marginalizao e desrespeito que caracterizaram os ltimos anos. Para tal necessrio:

    Superar a situao de rutura da contratao coletiva por via de portarias de extenso e da promoo da negociao coletiva, assumindo um compromisso claro de romper com a prtica res-tritiva do atual princpio de direita na publicao de portarias de extenso e estabelecendo disposies claras sobre prazos legais razoveis para a sua publicao. No mesmo sentido, devem ser criados incentivos contratao coletiva, a negociar com os par-ceiros sociais, dando a esta um espao de negociao vantajoso para todas as partes;

    Revogar a possibilidade, introduzida no Cdigo do Trabalho de 2012, de existncia de um banco de horas individual por mero acordo entre o empregador e o trabalhador, remetendo o banco de horas para a esfera da negociao coletiva ou para acordos de grupo, onde deve estar a regulao da organizao do tempo de trabalho. Visa-se reequilibrar a legislao laboral, bem como eliminar a confuso deliberadamente introduzida na regulamentao da flexibilidade na organizao do tempo de trabalho, que permitiu a pulverizao e individualizao de dife-rentes horrios de trabalho nas mesmas empresas;

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    Promover, com os parceiros sociais, a inovao e modernizao negociada da regulao laboral no plano setorial, e promover a sua articulao com o dilogo social e as prticas ao nvel das empresas, com especificidades que s a essa escala podem ser ponderados;

    Desbloquear a negociao coletiva no setor pblico, abrindo ca-minho negociao com os parceiros sociais de matrias sala-riais e de questes como os horrios de trabalho que foram uni-lateralmente mudadas e desde ento bloqueadas pelo princpio PSD/CDS. Enquanto empregador, o Estado deve dar o exemplo.

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    Um novo Impulso na Unio Europeia

    Nos ltimos anos a Europa fez um caminho de integrao e de re-foro dos instrumentos da poltica europeia, mas sempre demasia-do tarde e de modo incompleto, em reao a ataques especulativos ou ao risco da deflao.

    Foi assim com o reforo da Governao Econmica Europeia, com a criao do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), a imple-mentao da Unio Bancria, o significativo reforo do papel e dos instrumentos da Poltica Monetria e, mais recentemente, com o reconhecimento poltico do papel do investimento no crescimento econmico e na coeso. H tambm passos importantes no reforo da legitimidade democrtica da Comisso Europeia e dos pode-res e competncia do Parlamento Europeu que importa continuar e acentuar.

    Contudo, apesar destes aprofundamentos, sentem-se ainda de modo acentuado os efeitos da opo europeia pela austeridade pr-cclica. O desemprego galopou, a divergncia econmica e social acentuou-se e o risco da deflao instalou-se. No foi a rigidez dos mercados laborais ou de produtos e servios que causou o aumento brutal do desemprego e das divergncias na Zona Euro. Foi uma crise financeira global e posteriores erros de poltica econmica, particularmente a opo por polticas de austeridade em toda a Europa, que causaram um retrocesso sig-nificativo no investimento e mais globalmente na procura. Mas a causa estrutural desta crise resulta de a unio monetria no ter sido acompanhada do reforo da coeso, o que acentuou as di-vergncias econmicas e os efeitos assimtricos no seio da Zona Euro, o que urge corrigir, dotando-a de uma efetiva capacidade oramental e de mecanismos que permitam absorver os efeitos de crises sistmicas, como o desemprego.

    um facto que a Unio Europeia precisa de ser reequilibrada, mas isso no faz o PS vacilar na sua convico de que a Europa o espao de paz, prosperidade e progresso social e econmico onde queremos estar. A Europa e o mercado europeu represen-tam a melhor oportunidade de desenvolvimento social para os portugueses dentro e fora das nossas fronteiras. Portanto, faz ainda e sempre sentido lutar pelo projeto europeu. Mas a Eu-ropa que queremos uma Europa de resultados, de progresso para todos, e no apenas para alguns, de emprego, paz e coe-so social para os europeus. Uma Europa onde o princpio da igualdade entre Estados respeitado.

    Por isso, importa agir de modo clere e atempado, e no reagir prxima crise, seja ela institucional, poltica ou econmica.

    1. DEFENDER UMA LEITURA INTELIGENTE DA DISCIPLINA ORAMENTAL

    O reequilbrio da Governao Econmica.

    Por via da governao econmica comum deve ser dada priorida-de reduo dos desequilbrios econmicos e sociais. Assim, em primeiro lugar, a posio oramental, mas mais globalmente a po-sio externa das economias europeias, deve ser encarada na eco-nomia da Zona Euro como um todo. preciso ter em conta e agir efetivamente tanto relativamente aos Estados-membros com dfice, como quanto aos que tenham superavit, pois ambos os fenmenos provocam desequilbrios na economia da Europa que se refletem na qualidade de vida das pessoas. Esta abordagem favorecer de-cisivamente o combate deflao na Europa.

    Em segundo lugar, os prprios instrumentos de governao econ-mica, como o Semestre Europeu, devem ser aprofundados e ree-quilibrados no sentido de uma governao socioeconmica. Urge aproximar mais as recomendaes especficas aos Estados-mem-bros da realidade concreta de cada Pais, recomendando reformas que realmente favoream as prioridades para a competitividade e a coeso das economias europeias. Para tanto, este instrumento deve ser sujeito a um maior escrutnio democrtico do Parlamento Europeu e dos parlamentos nacionais.

    Em terceiro lugar, no mbito da coordenao de polticas devem ser ainda dados passos adicionais em direo harmonizao fis-cal e social: o dumping fiscal e social (em particular na legislao laboral) est a conduzir a uma corrida para o fundo no financia-mento do modelo social europeu, com consequncias previsivel-mente graves na prpria Unio Europeia.

    Finalmente, em quarto lugar, o PS defende que o Eurogrupo no se pode tornar a principal instncia de deciso poltica em matria de governao na Europa. As decises na Zona Euro transcendem em muito assuntos financeiros e opes de poltica europeia fun-damental devem ser adotadas no quadro dos principais rgos da Unio Europeia: Comisso Europeia, Conselho e Parlamento Europeu. Igualmente, necessrio um funcionamento mais regular da Cimeira da Zona Euro.

    Estabilidade Macroeconmica e Oramental

    No mbito das finanas pblicas, a evoluo recente quanto lei-tura mais flexvel do disposto no Pacto de Estabilidade e Crescimen-to j uma realidade e deve ser saudada, apesar de o princpio da coligao de direita ter resistido a essa alterao, que obviamente vantajosa para Portugal.

    Este caminho precisa de continuar a ser trilhado. Ser necessrio aprofundar tal evoluo, reclamando o alargamento das condies e maior gradualismo no trajeto oramental em ciclos econmicos negativos. De igual modo, deve ser dada ateno aos perodos de realizao de reformas estruturais ou de investimento tendente a favorecer as condies de competitividade das economias euro-peias, nomeadamente quanto considerao da comparticipao nacional dos investimentos suportados por fundos provenientes da prpria Unio Europeia.

    Ainda no quadro de coordenao de polticas, mesmo no contexto da melhoria e normalizao das condies de refinanciamento das dvidas, devem ser exploradas todas as oportunidades para, de um

    UM NOVO IMPULSO PARA A CONVERGNCIA COM A EUROPA

    III

  • Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015 2120 Programa Eleitoral do Partido Socialista | Eleies Legislativas 2015

    modo cooperante entre Estados e instituies, reduzir o peso do servio das dvidas nos oramentos nacionais.

    Consolidar a nova ambio para a Poltica Monetria

    O aprofundamento e a clarificao nos ltimos anos do papel do Banco Central Europeu (BCE) foi crucial para dissuadir ata-ques especulativos ao Euro e permitir uma reduo histrica das taxas de juro na Zona Euro. Importa consolidar esta viso do BCE como o garante da estabilidade monetria mas tambm enquanto financiador de ltimo recurso na Europa, papel que se revelou decisivo para a confiana dos mercados no Euro en-quanto projeto irreversvel.

    Explorar as potencialidades dos fundos estruturais e de investimento e dos programas comunitrios

    Relanamento do Investimento

    A Europa precisa de investimento para relanar o crescimento e a criao de emprego, mas tambm para acelerar a sua transio para uma economia mais verde, inteligente e inclusiva. O inves-timento caiu de forma acentuada nos ltimos anos, acrescendo o facto de que essa queda se deu de modo desigual, aprofundando as divergncias na Unio.

    O PS defende que o Fundo Europeu de Investimento Estratgico (FEIE) precisa de mais recursos, porventura em ordem ao financia-mento de novas plataformas de investimento que viabilizem a coo-perao entre entidades pblicas e privadas e necessita igualmente de ser implementado de modo a que seja prestada uma especial ateno aos Estados-membros afetados pelas crises e pelos erros das polticas da troika. Aos Estados-membros devem ser assegura-das as melhores condies oramentais possveis para concretizar esse financiamento.

    Aprofundar o crescimento econmico atravs dos merca-dos europeus, abrir novos mercados no Mundo

    A promoo de polticas europeias direcionadas para o cresci-mento vai passar por reas onde Portugal se pode revelar como um Pas atrativo para os novos setores da economia, como seja a energia, onde passos muito significativos j foram dados, ou a economia digital, indo de encontro a uma poltica de qualifi-cao de recursos humanos que permita aproveitar as melhores capacidades nacionais. A Unio Digital e a Unio Energtica devem tornar-se uma realidade e responder tambm s neces-sidades especficas de Portugal. Significaro mais servios s empresas e cidados na rea crucial das novas tecnologias de informao, bem como menores custos energticos, que so um fator decisivo na promoo da competitividade das empresas e maior conectividade com as grandes redes de energia e infor-mao europeias.

    Igualmente, o regresso poltica comercial, com a aprovao de novos tratados comerciais, desde logo com os Estados Unidos da Amrica ou com os maiores pases asiticos, poder representar oportunidades importantes de crescimento da atividade econmica atravs das exportaes, desde que sejam adequadamente defen-didos os interesses nacionais.

    Garantir condies equitativas no contexto da Unio Econmica e Monetria

    Mercados Financeiros

    A Unio Bancria conheceu nos ltimos anos uma evoluo decisi-va e importante. Os mercados financeiros europeus encontram-se hoje mais integrados e gozam assim de uma maior solidez. Mas urgente a constituio da linha de crdito que funcionar como se-gurana do Fundo de Resoluo, pois o mesmo na sua fase inicial pode ver facilmente esgotada a sua capacidade de interveno. E o PS afirmar igualmente com clareza que a Unio Bancria no est completa at que seja constitudo o Mecanismo Europeu de Garantia de Depsitos.

    Do mesmo modo, o relanamento do Mercado nico de Capitais poder vir a ser positivo, se puder determinar menor dependncia das empresas em relao ao financiamento bancrio, bem como mais recursos europeus para a necessria capitalizao das empre-sas portuguesas.

    Construir uma Capacidade Oramental para a Unio Eco-nmica e Monetria (UEM)

    Tal como defendido no Relatrio dos quatro Presidentes de dezem-bro de 2012, a Unio Econmica e Monetria (UEM) precisa de agregar moeda nica uma capacidade oramental prpria, cons-truda gradualmente, por exemplo com base nos recursos da futura Taxa de Transaes Financeiras. O PS defende sem hesitaes um reforo da capacidade oramental da UEM. Esta capacidade or-amental deve, numa primeira fase, ser introduzida com dois ob-jetivos: responder a choques assimtricos nos Estados-membros e suportar e acompanhar os Estados-membros em novos esforos de convergncia atravs de reformas que promovam o emprego e a diminuio das assimetrias (e da probabilidade de ocorrncia de choques assimtricos) na Zona Euro.

    Reconquistar a confiana dos cidados no modelo social europeu, aprofundando-o

    De regresso Coeso Social

    A Europa precisa de mais convergncia econmica. Mas a sobrevi-vncia da Europa como a construmos h mais de cinquenta anos depende da coeso social e do reforo das condies de vida das classes mdias europeias, seriamente atingidas nos ltimos anos.

    Por isso, a Europa tem que dar um sinal aos europeus do que real-mente importa. preciso definir com rigor e fora jurdica os pa-dres laborais e de proteo social a garantir no Espao Europeu e na Zona Euro, suportados pelos instrumentos financeiros e polticos necessrios.

    A Unio Europeia nasceu como um projeto de paz e solidariedade, para criar laos de confiana e bem-estar que impeam novas guer-ras. O decurso do tempo no nos deve fazer esquecer este caminho e as razes que o motivaram continuam presentes, principalmente numa Europa com um nmero muito superior de Estados-membros. Por isso, o PS defende que a Unio Europeia deve retomar grandes projetos mobilizadores que criem vantagens e melhorias na vida dos cidados, comeando pela rea social. Por isso, o PS defender:

    A criao de Eurogrupo da Coeso Social e do Emprego, que venha colocar novamente o combate pobreza e ao desempre-

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    go e a promoo da qualidade de vida para todos no centro da ao dos lderes europeus;

    A concertao de medidas a nvel europeu para combate ao de-semprego, incluindo na garantia e financiamento de prestaes sociais;

    A criao de medidas precisas a nvel europeu no domnio so-cial, que se reflitam de forma positiva, expressiva e o mais direta possvel na vida dos cidados europeus.

    Lutar por mais democracia na Unio Europeia

    Fortalecer o quadro institucional europeu

    O atual quadro institucional europeu tem sido muitas vezes ultra-passado ou substitudo por mecanismos ad hoc, que secundarizam alguns Estados-membros. Este um posicionamento inaceitvel que no tem merecido uma reao do princpio do PSD/CDS. Por-tugal sempre fez parte do ncleo duro do processo de integrao europeia e a primeira vez em quase trinta anos que um princpio se demite do seu lugar de decisor e parceiro a nvel europeu.

    Portugal deve defender o aprofundamento da integrao europeia, mas manter a defesa do mtodo comunitrio de deciso, que coloca a Comisso no centro da ao executiva, com legitimidade democr-tica reforada, e os Estados-membros em igualdade de circunstncias, sem rtulos de primeira linha e retaguarda, porque esse o caminho que melhor defende os interesses nacionais e europeus.

    O reforo da democracia o caminho certo para aprofundar o processo de integrao europeia. Por isso, o PS defender:

    A implementao de novos mecanismos de efetiva participao dos parlamentos nacionais no processo poltico europeu - in-cluindo um poder de deciso parlamentar no semestre europeu, designadamente ao nvel da aprovao do Plano Nacional de Reformas;

    A criao de um sistema institucional de prestao de contas da Comisso Europeia e dos governos junto dos parlamentos nacionais.

    Mais democracia passa tambm pela valorizao do papel da Co-misso Europeia como rgo verdadeiramente independente dos Estados-membros, incumbida de funes executivas e de guardi dos Tratados. O PS defende que esse papel da Comisso esteja cada vez mais assente na legitimidade democrtica que lhe con-ferida pelo Parlamento Europeu e que possa refletir cada vez mais as escolhas dos cidados europeus efetuadas nas eleies euro-peias.

    Finalmente, defender a Europa, significa continuar e aprofundar algumas das maiores conquistas no passado. Assim, a liberdade de circulao no espao no pode ser colocada em causa sob nenhum pretexto, seja ele de ordem econmica, poltica e de segurana, como tambm devem ser recusadas todas as propostas nacionalis-tas e xenfobas que pretendem ameaar este direito, independen-temente da sua origem em movimentos radicais ou em princpios de Estados-membros. Neste domnio o PS defender que:

    A proteo dos direitos fundamentais e a solidariedade devem estar no centro das polticas europeias enquanto valores essen-ciais do projeto europeu, no sendo aceitvel nenhuma propos-ta poltica que tenha como objetivo cercear a liberdade de circu-lao e que questione a igualdade de tratamento entre cidados europeus;

    Devem ser criados novos instrumentos e medidas que benefi-ciam diretamente a vida dos cidados e das empresas europeias e que aprofundem os seus laos e relaes. esta a forma corre-ta de mostrar as vantagens que o projeto europeu de bem-estar pode ter para todos.

    Participar ativamente a nvel europeu na governao da globalizao financeira e na promoo do investimento

    Reforar o papel da UE no Mundo

    A UE tem de afirmar em definitivo a sua poltica externa comum e ser capaz de se tornar um ator poltico no plano global com uma voz forte e respeitada, desde logo pelos Estados-membros, os quais se devem abster de tomar posies dispersas que apenas contri-buem para enfraquecer a posio da UE no plano global.

    O progresso conseguido com a criao do cargo de Alto Represen-tante foi um ponto positivo que necessita agora de ser reconhecido e respeitado pelas diplomacias dos Estados-membros, traduzindo essa posio europeia num mecanismo articulado com reflexo nas posies europeias em organizaes internacionais, desde logo nas Naes Unidas.

    Neste mbito, o PS defende uma participao ativa de Portugal na reviso do Conceito Estratgico Europeu que tenha em conta os nossos interesses no plano global e que reforce o papel do espao lusfono.

    No mbito da afirmao da poltica externa da UE, o PS defende ainda:

    A defesa intransigente da proteo dos direitos fundamentais, da solidariedade e do desenvolvimento social no quadro das suas relaes com outras organizaes internacionais e outros estados;

    A necessidade de uma proposta ambiciosa na relao transa-tlntica, onde Portugal pode posicionar-se como centro de um grande espao geo-poltico e mercado econmico. Por isso, deve ser apoiada a negociao do TTIP (Tratado de Comrcio e Investimento UE/EUA), respeitando os valores constitutivos do modelo econmico e social europeu e garantindo-se a defesa dos interesses nacionais no quadro da negociao;

    A valorizao do posicionamento geogrfico, do relacionamen-to humano e do potencial da cooperao na capacitao de pases da CPLP que so tambm parceiros ACP, como Cabo Ver-de, a Guin-Bissau, S.Tom e Prncipe, Angola e Moambique;

    A valorizao de outras parcerias estratgicas, por exemplo com o Brasil, com os pases da Amrica Central e do Sul e com a China;

    A reviso da Estratgia de Segurana Europeia como eixo es-sencial para a adequao da ao externa da UE aos desafios e riscos atuais;

    A aprovao de uma Estratgia Europeia contra a Radicalizao e o Terrorismo que elenque desafios, ameaas, objetivos e mtodos da Unio, para prevenir a radicalizao e combater o terrorismo, que promova o reforo da articulao e da partilha de informaes entre os Estados-membros e os organismos europeus;

    A aplicao da Estratgia Europeia de Segurana Martima e do respetivo Plano de Ao, adequando este ltimo reviso (quando esta acontecer) da Estratgia Europeia de Segurana.

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    2. UM NOVO IMPULSO PARA A CONVERGNCIA COM A EUROPA

    A crise financeira e das dvidas soberanas fez ressaltar importantes assimetrias na Europa, e em particular na Zona Euro. Esse desequi-lbrio da Zona Euro determina uma reduo do crescimento poten-cial e uma brutal degradao dos indicadores de coeso no espao europeu. No limite, influencia negativamente a prpria solidez da moeda nica.

    O Programa Novo Impulso para a Convergncia na Europa, que a seguir se refere, um importante compromisso resultante de uma proposta do PS ao Partido Socialista Europeu e destina-se a iden-tificar e ultrapassar um conjunto de bloqueios da competitividade das economias europeias, introduzindo mecanismos inovadores de apoio e monitorizao de programas de reforma para os superar.

    tempo de acabar com a ideia de que reformas estruturais impli-cam necessariamente o caminho da reduo dos direitos laborais, da privatizao de setores estratgicos da economia e da dimi-nuio dos direitos sociais. Essas reformas estruturais foram as seguidas pela troika em Portugal e noutros pases, bem como por vrios governos de direita na Europa. Os resultados esto vista: o crescimento econmico continua a ser insatisfatrio e o bem-estar e direitos sociais das pessoas sofreram fortes limitaes sem um resultado efetivo em favor da competitividade. Curiosamente, se-guiu-se poltica bem diferente com resultados positivos nos Estados Unidos da Amrica, onde se tinha iniciado a crise financeira de 2008 que deu origem crise da dvida soberana que contaminou a Europa. certo que preciso mudar, fazer diferente e fazer melhor, mas as reformas estruturais que devem ser feitas so outras.

    Neste sentido, o PS procurou identificar, na proposta que apre-sentou ao Partido Socialista Europeu, quais so esses bloqueios e quais os fatores crticos e medidas que precisam de ser ado-tadas para promover a competitividades das economias euro-peias. Para a superao desses bloqueios, prope-se a criao de um novo programa europeu de promoo de reformas para a competitividade, destinado a promover e incentivar a sua con-cretizao em cada Estado-Membro, atravs de um programa especfico, e a obteno de resultados positivos e efetivos.

    Metodologia

    Para o PS e para os partidos socialistas, sociais-democratas e tra-balhistas europeus que propem reformas estruturais diferentes, deve ser assim adotada a possibilidade de criao de um progra-ma especfico para cada Estado-Membro, no sentido de aprofun-dar o caminho de convergncia com a Europal. Esse programa deve procurar responder aos seguintes desafios:

    Relanar o crescimento econmico, considerando o objetivo de consolidao das finanas pblicas (reduo gradual do dfice oramental numa meta de mdio prazo e em funo dos resul-tados das reformas a introduzir e desalavancagem sustentada da economia, tanto no plano da dvida pblica como da priva-da); e

    Correo dos desequilbrios de competitividade entre os pases da Zona Euro, tendo em vista consolidar a moeda nica pela via da convergncia real das economias.

    Estes programas especficos devem ser acompanhados das ne-cessrias reformas da governana da Zona Euro e articularem--se com o Plano Juncker para o reforo do investimento na UE.

    Assim, em cada programa especfico, o Estado-Membro deve iden-tificar os objetivos a alcanar. Esses objetivos devem representar bloqueios de competitividade a ultrapassar num perodo de 3 a 5 anos, sendo definidas metas qualitativas e, sempre que possvel e/ou desejvel, quantitativas. O programa deve criar direitos e de-veres para os Estados-membros e para as instituies europeias e basear-se em incentivos financeiros a identificar e consagrar para o efeito.

    Financiamento

    A este programa para a convergncia na UE estaro associados fi-nanciamentos para o cumprimento de cada ao. Tais meios cons-tituem, por isso, uma nova oportunidade que se abre para que Portugal concretize as verdadeiras transformaes na sua competi-tividade de que realmente necessita.

    Os incentivos financeiros para a concretizao deste programa para a convergncia na Europa devero resultar da conjugao dos seguintes instrumentos:

    Fundos estruturais (quadros financeiros plurianuais 2014/2020); Novo financiamento, atravs de um instrumento que fornea

    incentivos financeiros especficos alocados a este programa de reformas e investimento para a convergncia, que estaro in-dexados obteno dos resultados acordados e das metas pre-fixadas;

    Fundo Europeu de Investimento; Recurso a outros mecanismos de financiamento disponveis atra-

    vs do Banco Europeu de Investimentos, do Mecanismo Euro-peu de Estabilidade, bem como de outro tipo intervenes, por exemplo do Banco Central Europeu.

    Ultrapassar os bloqueios competitividade na Zona Euro o caso de Portugal

    O PS defender na Europa a criao de um programa deste tipo e que Portugal dever estar na primeira linha para dele poder be-neficiar, pois torna-se necessrio dotar a nossa economia da com-petitividade que hoje no tem e que crtica para a criao de riqueza, emprego e bem-estar social. Um programa desta nature-za permitir atacar as verdadeiras causas que prejudicam o nosso desenvolvimento e viabilizar as verdadeiras reformas estruturais de que a Europa precisa, associando-lhes um programa de inves-timento pblico.

    um facto que, nas ltimas dcadas, Portugal realizou um grande esforo de investimento na modernizao da sua economia. Con-tudo, subsistem alguns bloqueios importantes competitividade ex-terna da economia portuguesa.

    Para relanar o crescimento sustentado da economia necessrio aprofundar as reformas orientadas para o crescimento, incluindo:

    A correo do dfice histrico das qualificaes; A modernizao do Estado; A renovao urbana inteligente e a eficincia energtica; A inovao empresarial; A desalavancagem do tecido econmico.

    sobre estes desgnios que assentar o programa que o PS ir apresentar s instituies comunitrias e aos Estados-membros, no

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    mbito do novo programa para a convergncia com a Europa de-fendido pelos partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas.

    Tendo em conta a representatividade dos partidos socialistas, so-ciais-democratas e trabalhistas na Europa e o acordo obtido, o PS tem a obrigao de apresentar aos portugueses as posies que assumir para Portugal no quadro desta nova forma de promo-ver a competitividade na Europa. Existe um caminho e uma nova oportunidade na Unio Europeia que agora se abre e ser nesta legislatura que poderemos dela beneficiar. O Programa Eleitoral que agora se apresenta segue e desenvolve estas linhas mestras.

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    O princpio PSD/CDS revelou um constante preconceito em relao ao Estado e ao setor pblico, preferindo a via da privatizao, da reduo dos servios pblicos estratgicos e centrais do Estado e da diminuio da sua massa crtica e dos seus quadros. Tal resulta de uma viso do papel do setor pblico assente no preconceito de que os privados so mais competentes e eficazes do que o Estado.

    O PS tem uma viso diferente. Casos recentes demonstraram que o Estado no pode alienar a sua funo essencial e estratgica em vrios domnios, sob pena de o Pas poder perder importantes ati-vos. Com efeito, as situaes recentes relacionadas com instituies do setor financeiro e das telecomunicaes demonstraram bem que o setor privado nem sempre proporciona um melhor servio e uma melhor opo para os interesses do Pas. Alm disto, o PS j demonstrou com o SIMPLEX que o Estado pode ser gil e eficaz, prestando melhores servios aos cidados e s empresas.

    O PS defende, pois, um Estado forte, que no aliene as suas fun-es e que esteja presente nas reas estratgicas para o interesse pblico. Mas esse Estado tem simultaneamente de ser inteligente e moderno. Um Estado forte no significa um setor pblico com ex-cesso de dimenso ou de funcionrios. Pelo contrrio, a sua maior capacidade de interveno e mudana tem de resultar da sua agili-dade e no do nmero de departamentos ou dirigentes. Finalmen-te, um Estado forte tem de ser moderno, ou seja, apto a proporcio-nar servios e solues inovadoras, atravs de mtodos digitais e simplificados, sem custos de contexto e focando a sua interveno nas necessidades dos cidados.

    este Estado forte, inteligente e moderno que o PS defende e que deve estar presente para melhorar a qualidade da democracia, na Defesa Nacional, para assegurar a liberdade e a segurana, para agilizar a justia, para assegurar uma regulao eficaz e para valo-rizar as regies autnomas. Igualmente, um Estado forte, inteligen-te e moderno exige uma nova forma de governar, uma ao deci-siva em favor da descentralizao, de procedimentos simplificados, de inovao e de digitalizao.

    1. MELHORAR A QUALIDADE DA DEMOCRACIA

    Existe, hoje, na sociedade portuguesa, uma quebra de confiana dos cidados relativamente poltica, s instituies democrticas e aos seus responsveis. O PS reconhece a necessidade e a urgn-cia de inverter esta tendncia e, por isso, atuar, de forma decisiva, em cinco reas-chave:

    Na valorizao da democracia representativa, comeando pela reforma do sistema eleitoral, qual se associam medidas para

    alargar e facilitar o exerccio do direito de voto; No desenvolvimento de novos direitos de participao pelo ci-

    dado, como atravs de um programa de perguntas diretas ao princpio da Repblica, bem como na valorizao de mecanis-mos j existentes, como o direito de petio;

    Na preveno e combate corrupo atravs de maior transpa-rncia, escrutnio democrtico e controlo da legalidade;

    Na interveno mais direta dos cidados junto do Tribunal Cons-titucional;

    No reforo da tutela de direitos fundamentais que, em virtude das ferramentas da sociedade de informao, podem hoje ser postos em causa de novas formas.

    Reformar o sistema eleitoral e adotar mecanismos que ampliem e estimulem a participao democrtica

    O PS est ciente da necessidade de aproximar os eleitores dos elei-tos e de alargar e facilitar o exerccio do direito de voto. Para esse efeito ir adotar as seguintes medidas:

    Reformar o sistema eleitoral para a Assembleia da Repblica, introduzindo crculos uninominais, sem prejuzo da adoo de mecanismos que garantam a proporcionalidade da represen-tao partidria, promovendo o reforo da personalizao dos mandatos e da responsabilizao dos eleitos, sem qualquer pre-juzo do pluralismo;

    Alargar a possibilidade de voto antecipado, ampliando o elenco das profisses e das situaes em que se aplica;

    Criar condies para o exerccio do direito de voto em qual-quer ponto do Pas, independentemente da rea de residncia, sempre no respeito pelo princpio da verificao presencial da identidade.

    Reforar os mecanismos de participao cvica, defesa dos direitos fundamentais e escrutnio das instituies pblicas

    A maturidade da nossa democracia depende decisivamente da dis-ponibilizao, aos cidados, de meios eficazes e cleres para fazer valer os seus direitos e obter os esclarecimentos que julgue necess-rios junto das instituies pblicas. Com este propsito, o PS tomar as seguintes medidas:

    A adoo de um Oramento Participativo a nvel do Oramento do Estado, prevendo-se a afetao de uma verba anual determi-nada a projetos propostos e escolhidos pelos cidados a f