programa eleitoral cds-pp

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O programa do CDS foi feito ao longo de seis meses, desde a publicação das Propostas de Orientação Política Económica e Social. Vinte grupos de trabalho, em que participaram mais de cem colaboradores, aprofundaram o diagnóstico do país e arregaçaram as mangas para trabalhar nas soluções. Por todo o país, reuniões abertas dedicadas às principais políticas públicas envolveram meio milhar de quadros, militantes ou independentes, para testar as nossas ideias com a sabedoria dos que têm a experiência do terreno. Através da Internet e directamente, recebemos inúmeras contribuições de cidadania: sugestões, críticas e ideias de portugueses que querem mudança. O nosso programa está, por isso, maduro. O programa do CDS não é curto nem longo: procura ser completo. Não é simplista nem tecnocrático: procura ser focado. Não é criticável por ser mais do mesmo – como o do PS – nem tão pouco por ser insuficiente – como o do PSD. Procura ser claro e directo. Não nos limitamos a enunciar princípios, indicamos um novo modo de governar, sector a sector. Quem consultar o nosso programa encontrará uma atitude positiva. Os portugueses sabem, no essencial, o que fez José Sócrates com a sua maioria absoluta e o estado em que deixa o país. Para muitos portugueses, o mais importante agora é saber o que fazer e por onde começar, depois de José Sócrates e de quatro anos e meio de arrogância. Os portugueses não querem mais decepções nem ilusões. É por isso que o CDS, neste programa, apresenta mais soluções do que críticas e faz mais compromissos do que promessas. As nossas energias estão voltadas para o futuro. José Sócrates, de tanto falar no passado, tornou-se parte dele. Se há algo que uma eleição crucial para o futuro do país não deve ser é um jogo de simulação e dissimulação. Nesta campanha eleitoral, o PS simula muito, prometendo fazer agora o que se esqueceu de fazer em 4 anos e meio. Um dia são os jovens que vão receber apoio no desemprego, noutro é a classe média que vai ter reduções fiscais, no dia a seguir é o agricultor que terá o PRODER simplificado, ou até a polícia que vai poder contar com reforços. Tudo isto só tem um problema: já podia ter sido feito mas o que foi feito é o contrário disto. O juízo dos eleitores será exactamente o

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O programa eleitoral do CDS-PP.

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Page 1: programa eleitoral CDS-PP

O programa do CDS foi feito ao longo de seis meses, desde a publicação das Propostas

de Orientação Política Económica e Social.

Vinte grupos de trabalho, em que participaram mais de cem colaboradores,

aprofundaram o diagnóstico do país e arregaçaram as mangas para trabalhar nas

soluções. Por todo o país, reuniões abertas dedicadas às principais políticas públicas

envolveram meio milhar de quadros, militantes ou independentes, para testar as

nossas ideias com a sabedoria dos que têm a experiência do terreno. Através da

Internet e directamente, recebemos inúmeras contribuições de cidadania: sugestões,

críticas e ideias de portugueses que querem mudança. O nosso programa está, por

isso, maduro.

O programa do CDS não é curto nem longo: procura ser completo. Não é simplista

nem tecnocrático: procura ser focado. Não é criticável por ser mais do mesmo – como

o do PS – nem tão pouco por ser insuficiente – como o do PSD. Procura ser claro e

directo. Não nos limitamos a enunciar princípios, indicamos um novo modo de

governar, sector a sector.

Quem consultar o nosso programa encontrará uma atitude positiva. Os portugueses

sabem, no essencial, o que fez José Sócrates com a sua maioria absoluta e o estado

em que deixa o país. Para muitos portugueses, o mais importante agora é saber o que

fazer e por onde começar, depois de José Sócrates e de quatro anos e meio de

arrogância.

Os portugueses não querem mais decepções nem ilusões. É por isso que o CDS, neste

programa, apresenta mais soluções do que críticas e faz mais compromissos do que

promessas. As nossas energias estão voltadas para o futuro. José Sócrates, de tanto

falar no passado, tornou-se parte dele.

Se há algo que uma eleição crucial para o futuro do país não deve ser é um jogo de

simulação e dissimulação. Nesta campanha eleitoral, o PS simula muito, prometendo

fazer agora o que se esqueceu de fazer em 4 anos e meio. Um dia são os jovens que

vão receber apoio no desemprego, noutro é a classe média que vai ter reduções

fiscais, no dia a seguir é o agricultor que terá o PRODER simplificado, ou até a polícia

que vai poder contar com reforços. Tudo isto só tem um problema: já podia ter sido

feito mas o que foi feito é o contrário disto. O juízo dos eleitores será exactamente o

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oposto do que o PS pretende: não darão uma segunda oportunidade a quem falhou

tão nitidamente.

No programa do CDS, as ideias têm consequências. Apresentamos as ideias e medimos

as consequências. É possível que o PSD, agora, em campanha eleitoral, fale das

PME’s, da segurança ou da educação. Todas as evoluções são de saudar e não deixa

de haver uma certa ironia na evolução de campanha daqueles que não lutaram muito

pelas PME’s nestes quatro anos e meio, até votaram ao lado do PS as leis penais e

ainda se distraíram na votação decisiva que permitiria ter acabado com um modelo

absurdo de avaliação dos professores.

Há, portanto, uma diferença entre programas que falam de temas que “estão a dar”

e programas que representam uma coerência política. É por isso que o programa do

CDS não se esgota no dia 27 de Setembro. Apenas começa em 27 de Setembro. Mais:

o CDS manterá o seu programa aberto depois de 27 de Setembro.

É nossa intenção lembrá-lo diariamente, pelas palavras, pelas palavras e pelos actos.

Mas também actualizá-lo, à medida que o conseguirmos cumprir e da evolução do

país.

O conceito-chave de todo o programa do CDS é o conceito de caderno de encargos.

Trata-se de um conjunto de valores, causas, políticas e medidas que levaremos a

cabo. Política por política, escolhemos os valores em que acreditamos, as causas que

fazem sentido, as políticas que mudamos e as medidas com que nos comprometemos.

O nosso “caderno de encargos” é a nossa linha de rumo.

Seremos fiéis a essa linha e a mais nenhum interesse que não seja o de Portugal.

*

Nem tudo é igualmente prioritário num programa de Governo. Nesta apresentação,

escolhemos o que de mais importante o CDS quer fazer nos próximos 4 anos. Mas

antes, dois pontos prévios.

O país deixado pelos socialistas tem mais impostos e menos crescimento, mais

desemprego e menos empresas, mais endividamento e menos produtividade, mais

Page 3: programa eleitoral CDS-PP

dependência do exterior e menos exportações, mais rendimento mínimo e menos

pensões, mais pobreza e menos mobilidade social, mais criminalidade e menos

justiça, mais violência e menos autoridade, mais desmotivação nos professores e

menos exigência nos alunos, portugueses a mais sem médico de família e urgências a

menos para os doentes. É este, no essencial, o balanço económico e social dos

socialistas.

No país que os socialistas governaram, o Estado falhou em responsabilidades que são

fundamentais. Não há Estado de Direito quando a sociedade não acredita na justiça.

Não há liberdade individual quando não há segurança colectiva. Não há economia de

mercado quando não há concorrência efectiva. Não há confiança no sistema

financeiro quando o regulador do sistema financeiro não inspira confiança. Não há

moral para exigir deveres aos cidadãos quando o Estado deixa sempre as suas

responsabilidades por assumir. Não há democracia verdadeira, dizemo-lo com

frontalidade, quando um Primeiro-ministro se distingue por nunca responder ao que

lhe perguntam.

Mas é este o Portugal que José Sócrates deixa. Um Portugal em que falham os pilares

do Estado, falham as instituições do Estado, falham os deveres do Estado e falham os

princípios do Estado. Falham os decisores, falham os reguladores, falham os

supervisores, falham as leis e falham as instituições.

Não há confiança possível num Estado assim. E nenhuma sociedade se torna próspera

se condescender com um Estado assim. Na visão que temos dos problemas, o que

falha, em Portugal, é o Estado, não é a sociedade. O mesmo é dizer, Portugal é

capaz como foi capaz ao longo da sua história. Se tem dirigentes incapazes, o que

deve fazer, democraticamente, é substitui-los.

É agora tempo de responder às perguntas dos portugueses. Numa síntese, temos de ir

ao essencial. A cada interrogação, damos uma resposta. Por cada resposta, indicamos

algumas medidas emblemáticas do que pensamos e queremos, que nos diferenciam e

distinguem.

*

Page 4: programa eleitoral CDS-PP

A primeira pergunta que qualquer português faz hoje, é, inevitavelmente, esta:

• As dívidas do Estado têm de ser pagas a tempo e horas. Quando

dizemos Estado, queremos dizer administração central, regional e

local e, também, empresas do Estado. Quando dizemos a tempo e

horas, queremos dizer que a partir de 30 dias sobre a factura, o

Estado pagará obrigatoriamente juros. É a única maneira de

emendar o “Estado mau pagador”. O Estado pagará juros quando se

atrasa, tal como o contribuinte juros paga se se atrasa.

como vamos pôr a economia a funcionar?

A resposta do CDS é directa: é possível crescer, para crescer é preciso confiança,

para ter confiança é preciso apostar nas empresas, apostar nas empresas é apostar

nas PMEs, apostar nas PMEs é apostar no emprego, salvar empregos é salvar

empresas.

Quem cria receita não é o Estado, são os indivíduos. Donde, a maior parcela de

recursos tem de ficar com os indivíduos, não pode ser capturada pelo Estado.

Se este é o princípio, devemos retirar daí todas as consequências. Pôr a economia

portuguesa a crescer significa virar toda a política económica para as PMEs e utilizar,

em momentos sucessivos, a política fiscal para estimular a confiança e fomentar o

crescimento.

Aumentar impostos é agravar a crise; não os baixar na hora certa será atrasar a

retoma. E dizemos mais: pensar primeiro no défice e só depois na economia é não

resolver o problema do défice e, de caminho, castigar ainda mais a economia. Pelo

contrário, pensar primeiro na economia é pôr a economia, o crescimento e a receita

a ajudar a resolver o problema do défice.

De todas as medidas económicas sublinhamos aqui quatro que, pelo seu carácter

quase “revolucionário” sobre as más práticas, reiteradas, do Estado, fazem toda a

diferença.

• O reembolso do IVA será feito a 30 dias. Não nos digam que é

impossível, porque em Espanha é possível. Definitivamente, a

Page 5: programa eleitoral CDS-PP

Administração fiscal não pode ser apenas eficiente para fazer

penhoras automáticas. Também tem de ser eficiente no serviço à

economia e no cumprimento dos seus deveres com as empresas.

• Permitiremos a anulação de dívidas entre o Estado que deve às

empresas e essas mesmas empresas que entrem em incumprimento

com o Estado. É a compensação de créditos que deve incluir fisco e

segurança social.

• Será suspenso o Pagamento Especial por Conta e terá de se proceder

a uma redução importante do Pagamento por Conta das PMEs.

Note-se que, no essencial, pagar dividas a horas, devolver IVA a horas e respeitar as

empresas, nesta conjuntura difícil, desobrigando-as de antecipar lucros que,

provavelmente, não terão, são medidas que implicam, sobretudo, melhor gestão da

tesouraria do Estado.

São, no entanto, medidas que – juntamente com outras – podem significar toda a

diferença na tesouraria das empresas. Receber a tempo, ser reembolsado a tempo e

não ter de antecipar uma factura fiscal desajustada são medidas de muito impacto

nas PMEs. Podem significar que PMEs não fechem, que PMEs aguentem, que PMEs

contratem. Não são medidas que se medem, nas PMEs, em “milhões de euros

ganhos”, como diria a esquerda. São medidas que se medem, nas PMEs, por milhares

de empregos salvos, “detalhe” que a esquerda não gosta de reconhecer.

Do ponto de vista das famílias, o CDS destaca duas medidas de alcance

extremamente importante.

• Introdução, em Portugal, do desconto fiscal para famílias com filhos.

Isto significa que o sistema actual – os membros do casal somam

rendimentos e dividem por dois, para apurar a taxa de imposto a

pagar, mesmo que tenham um, dois, três, ou mais filhos, o que

obviamente sobrecarrega o orçamento familiar – será

progressivamente substituído por outro, em que o número de filhos

também conta, com um factor próprio, para a divisão do rendimento

e, portanto, a redução do imposto a pagar.

Page 6: programa eleitoral CDS-PP

O nosso objectivo é atingir, no, no final da legislatura, um factor de

0,5 por filho. Isso significará uma considerável melhoria para as

famílias que possam e queiram ter filhos. Se conseguirmos aprovar

este quociente familiar, será a mais importante medida pró-família

em Portugal.

• Até como medida anti-crise, é preciso rever as tabelas de retenção

na fonte do IRS. Quando dizemos rever, dizemos rever as taxas, e

não apenas os escalões – como fez o Governo, depois de muita

insistência nossa. Esta medida não tem despesa adicional; o que

implica é moderação na antecipação da receita. Mas significa que

as famílias, sobretudo de classe média, e média-baixa, passarão a

ter, mensalmente, mais rendimento disponível, o que incentiva a

confiança e melhora o poder de compra.

Duas das medidas fiscais propostas pelo CDS têm um valor orçamental mais

significativo.

Trata-se, no caso das PMEs, de evitar o Pagamento Especial por Conta e, no caso das

famílias, da introdução do desconto fiscal por filho. Num caso, a receita estimada do

PEPC para 2009 é de 340M€. No outro, a estimativa do desconto familiar por filho, já

no factor 0,5 que pensamos atingir no final da legislatura, é de 500M€. Assumimos

esta despesa, porque sabemos o valor desta prioridade.

Como não queremos agravar o desequilíbrio financeiro de Portugal, indicamos com

clareza onde cortamos. Apenas três exemplos. Se o Estado português não gastar,

todos os anos, 677M€ a financiar as SCUT, e se o Governo fizer um esforço para

reduzir o custo das consultadorias externas, neste momento perto dos 200 M€, só isto

daria margem de manobra, com sobra, para virar a política fiscal para as PMEs e para

as famílias.

Poderíamos ainda acrescentar que há medidas anti-desperdício – por exemplo, a

dispensa de medicamentos em unidose, que permite prestar o mesmo serviço ao

doente com uma economia superior a 100 M€ por ano para o contribuinte - que são

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indicativas do caminho a seguir. Não se trata de gastar mais, excepto nos casos em

que se justifique. Trata-se de gastar melhor em todos os casos em que é possível.

Como se imagina, o desconto familiar por filho no IRS tem efeito não apenas no

défice demográfico como também no superávite da economia – pela simples razão

que faz aumentar o rendimento da maioria das famílias. Aceitamos debater o factor,

os limites, os anos de faseamento da medida. Mas não abdicaremos da medida como

princípio.

*

A segunda pergunta que os portugueses obviamente fazem é esta:

• É urgente um “subsídio inicial de desemprego” para os jovens que

procuram activamente trabalho.

as actuais políticas

são eficazes para contrariar o desemprego?

A resposta do CDS é um clamor na sociedade portuguesa: não são. Meio milhão de

desempregados não são números. São pessoas, famílias, casas, orçamentos. Ora, boa

parte dessas pessoas, dessas famílias, dessas casas, desses orçamentos, são hoje

jovens que perderam o contrato e não têm apoio, casais onde a morada é o

desemprego e não têm ajuda, trabalhadores mais velhos que, numa sociedade que

sacrifica a experiência, se vêem, de um dia para o outro sem trabalho, sem subsídio

e sem reforma.

Uma maioria absoluta que é absolutamente insensível a esta crise, é uma maioria

absoluta de má memória, imerecida e mal usada.

Aqui, é necessário separar o transitório do estrutural. Proteger quem não tem

trabalho e não tem apoio é uma obrigação para amanhã. A prazo, o que é

determinante é criar condições para que surjam novas empresas, novas qualificações

e novas ofertas de trabalho.

Neste momento, a primeira obrigação de um Partido com sensibilidade social – e a

democracia-cristã é isso mesmo: sensibilidade social –, está nas medidas transitórias

que podem proteger melhor os desempregados. Há várias. Apontamos algumas:

Page 8: programa eleitoral CDS-PP

É urgente que os casais no desemprego tenham majoração no apoio

que recebem.

É urgente que os desempregados com mais de 55 anos, findas as

prestações de desemprego, possam antecipar a passagem à

reforma.

• O Estado deve propor às empresas um acordo simples: por cada

desempregado que contratem sem termo, receberão, como

estímulo, o remanescente do subsídio de desemprego e subsídio

social de desemprego que seria pago ao desempregado, caso não

recebesse a oferta de trabalho.

É mais virtuoso estimular um emprego que é uma oportunidade do que financiar a

continuidade no desemprego.

As prestações sociais devem ser, para não se transformarem numa injustiça para o

contribuinte, impermeáveis à fraude e ao uso indevido. Por isso mesmo, nestas

medidas, teremos o cuidado de evitar abusos, seja o “falso desempregado”, seja o

“falso contrato”.

*

A terceira pergunta que os portugueses, sobretudo os activos, nos podem fazer é

esta: como é que podemos melhorar os níveis salariais em Portugal?

A resposta do CDS é precisa: melhorando a nossa produtividade e valorizando

socialmente o trabalho. Dito assim, parece uma resposta tecnocrática. Queremos

torná-la uma solução compreensível e partilhada.

Entendamo-nos sobre as palavras. O único processo conhecido de um país deixar a

pobreza e caminhar para a prosperidade é a aposta no trabalho. Apostar no trabalho

é apostar em quem cria trabalho e em quem quer trabalhar.

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É por isso que, com toda a clareza, criticamos o espírito de “luta de classes” com

que uma certa esquerda pretende resolver os problemas.

A “luta de classes” não gera um único posto de trabalho. Do que Portugal precisa é

de um compromisso entre empregadores sérios e trabalhadores responsáveis. Nesta

circunstância em que o país está, é preciso aliar interesses e progredir em conjunto.

Dispensamos mais fracturas sociais.

Dois indicadores aconselham vivamente esta aliança que propomos. Portugal tem

uma riqueza por habitante que ronda os ¾ da média europeia. Somos mais pobres do

que os outros europeus. E Portugal também tem um nível de produtividade que não

chega a ¾ da média europeia. Somos menos produtivos do que outros europeus.

Ora, é possível, é necessário e é desejável interessar as empresas na melhoria

salarial dos seus trabalhadores, tal como é possível, é necessário e é desejável

interessar os trabalhadores na melhoria da produtividade das suas empresas.

É por isso que afirmamos compromissos que são inovadores e representam passos

decisivos para termos mais produtividade, melhores salários e, ponto não

negligenciável, dar aos portugueses que querem subir na vida pelo seu esforço, o

direito de poderem fazê-lo. A isso chama-se mobilidade social.

• Quando a economia estiver a crescer, é preciso consagrar o

princípio “quem trabalha mais, deve receber mais”. Em termos

práticos, o trabalho extraordinário deve ser isento de imposto ou

sujeito a uma tributação reduzidíssima. Ou seja, o esforço

suplementar do trabalhador deve ficar para ele. Dito de maneira

simples, o salário a quem o merece.

• Também defendemos que, nas empresas de maior dimensão, uma

parcela dos benefícios líquidos obtidos anualmente com ganhos de

produtividade devidos ao trabalho, seja justamente distribuída

pelos empregados, mediante a constituição de um fundo especial

para o efeito. Acontece em França e foi o General De Gaulle – não a

esquerda – que teve esta inspiração.

Page 10: programa eleitoral CDS-PP

A nossa lógica é conciliar eficiência e justiça. Com estas medidas,

ganha a empresa, ganha o trabalhador e ganha o país. A condição

que colocamos é que só podem ser lançadas com a economia em

crescimento. Em período recessivo, estas medidas poderiam virar-

se contra a contratação de novos trabalhadores. Em cenário de

crescimento, já não é assim.

• Na reforma fiscal que preconizamos – e esse será o objectivo

definido para a respectiva Comissão -, defendemos um IRS muito

mais simples nos escalões, taxas e abatimentos. No máximo, poderá

ter 4 escalões e 4 taxas. A enorme vantagem de um IRS simplificado

é que passa a valer a pena fazer um esforço suplementar e

trabalhar para ganhar algo mais, passa realmente a valer a pena.

Na verdade, num IRS com 7 escalões – o que temos agora -,

qualquer esforço suplementar ou ganho a mais significam,

frequentemente, subir de escalão, subir de taxa, pagar mais e

entregar ao Estado a remuneração no nosso esforço. Num sistema

assim, como se pode subir legitimamente na vida?

Para os cépticos do costume, antecipamos uma informação. Países

do espaço europeu, como a República Checa ou a Eslováquia, têm

1 escalão de IRS. A Irlanda e a Hungria têm 2. A Eslovénia, Polónia

e Reino Unido, 3. Áustria, Espanha ou até a Grécia, 4. O que o CDS

propõe é uma reforma moderada, que alinha pelas práticas mais

competitivas da UE.

*

Uma quarta pergunta perfeitamente actual é esta: o que se pode fazer para reduzir a

dimensão da pobreza em Portugal?

A resposta do CDS é objectiva: melhorar serviços aos idosos e melhorar as pensões

dos idosos. Se excluirmos as questões da “nova pobreza”, já abordadas no capítulo

do desemprego, o núcleo duro da pobreza em Portugal está na velhice. Dai a opção

preferencial que fazemos por tratar melhor e primeiro dos mais velhos.

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Tratar melhor e tratar primeiro é o que fazem, todos os dias, as Instituições

Particulares de Solidariedade Social. Nelas trabalham quase 200 mil pessoas, com

uma proximidade que o Estado nunca alcançará. As instituições dão tecto, refeição,

apoio, tratamento e solidariedade a uma geração que contribuiu muito para o

progresso e recebeu quase nada da sociedade. Há uma visão de esquerda sobre o

trabalho social que é totalizante, absorvente e arrogante. E há uma outra visão sobre

o trabalho social, a da direita que nós somos, que é contratualizante e acredita na

subsidiariedade. Faz-se mais justiça social da segunda maneira.

Assim como ajudar a economia é apostar nas PME’s, ajudar a solidariedade é apostar

nas IPSS.

Num sector fundamental – a saúde – é possível fazer uma demonstração bastante

prática e esclarecedora sobre o que se consegue contratualizando, e sobre o que não

se consegue, estatizando.

As Misericórdias são uma das melhores tradições portuguesas. Dispõem de 18

hospitais. 13 deles estão capacitados, em equipamento e recursos humanos, para

fazer cirurgias de nível médio. Agora vejamos o que sucede em especialidades que

têm listas de espera elevadíssimas.

No programa do Estado, estão 27 mil doentes à espera de uma operação Às cataratas.

Os Hospitais das Misericórdias poderiam fazer mais 25 mil operações às cataratas por

ano. Poderiam, se o Estado quisesse. Poderiam, se o Estado contratualizasse. E não

custariam ao erário público mais do que o valor referenciado pelo Governo.

Perguntamos: porque há-de esperar uma idosa 5 meses, às vezes 1 ano, senão mais,

para tratar as suas cataratas, se uma política de contratualização com as IPSS

resolveria o assunto?

Na ortopedia, a lista de espera para cirurgia é de 33 mil doentes. O tempo de espera

é até mais extenso. Nas Misericórdias poderiam fazer-se mais 10 mil cirurgias

ortopédicas por ano. Não resolve todo o problema mas fazia imenso bem a muitos

doentes.

Idem, no otorrino. E os exemplos poderiam multiplicar-se.

Page 12: programa eleitoral CDS-PP

De que é que o Ministério da Saúde está à espera?

É por isso que relevamos, entre todas as propostas, uma.

• Contratualizar, mediante adequada fiscalização, com o sector

social e o sector particular, a redução das listas de espera nas

cirurgias. Alargar, com as devidas adaptações, a experiência às

listas de espera para consultas. É o princípio da máxima utilização

das capacidades instaladas. Mais consultas e mais cirurgias, para

mais doentes, mais depressa. Nós não sacrificamos um único doente

à ideologia.

Na questão da pobreza, queremos ainda deixar claro que é possível recuperar poder

de compra dos pensionistas com reformas mais baixas sem agravar a situação

financeira do país.

Trata-se de fazer escolhas e saber assumi-las:

• O CDS transferirá 25% da verba atribuída ao chamado Rendimento

Mínimo, deslocando-a para um aumento efectivo das pensões

mínimas, rurais e sociais.

Ajudar quem toda a vida trabalhou parece-nos certamente mais

justo do que subsidiar aqueles – porque os há, e não são poucos –

que abusam desta prestação como se fosse um modo de vida que

permite não trabalhar e não pagar impostos, e viver à custa de

quem os paga e trabalha muito.

No caderno de encargos definimos com rigor os termos em que o

RSI pode tornar-se mais objectivo e menos polémico. Salientamos a

proposta de atribuir uma parte da prestação em géneros.

*

Uma quinta e última pergunta que os portugueses fazem: é possível Portugal ser um

país bastante mais seguro sem passarmos a ser uma sociedade policial?

Page 13: programa eleitoral CDS-PP

A resposta do CDS, com toda a naturalidade, é sim. Abertamente, sim.

Convictamente, sim.

Se há cada vez mais pessoas que como nós, a segurança, a autoridade da polícia, a

justiça efectiva dos tribunais, a dissuasão da violência e a luta por um ambiente mais

tranquilo, seguro e, por isso, livre – é uma das razões. Há cada vez mais portugueses,

a pensar como o CDS, na segurança. A explicação é simples: quanto mais os nossos

adversários atacavam a política de segurança do CDS, mais os factos da insegurança

davam linearmente razão ao CDS.

Porque o patamar de criminalidade subiu, porque há em Portugal territórios que

escapam ao império da lei, porque não é aceitável que gente pacata e honrada seja

sistematicamente assaltada e agredida por gangs que são detidos e libertados, para

serem outra vez detidos e libertados, e logo depois, tornarem a assaltar e a agredir,

porque não queremos ver os polícias desmotivados e os delinquentes satisfeitos,

dizemos, com toda a força que a nossa voz puder ter, já chega!

Já chega de uma cultura que, sistematicamente, desculpa o criminoso, culpa a

sociedade e ignora a vítima.

O plano de segurança do CDS é conhecido. O nosso caderno de encargos na área da

segurança, como noutras, é detalhado. O que nos importa aqui relevar, neste

momento, é mesmo o essencial.

• O CDS defende aquilo a que já chamaram um super-MAI, ou seja,

um Ministério da Administração Interna com poderes reforçados. Na

verdade, o responsável pelas Forças de Segurança tem de poder

superintender a revisão do Código Penal, do Código de Processo

Penal, do Código de Execução de Penas e a política de prisões. Com

este reforço, evitamos que se prolongue o paradoxo actual: a

polícia arrisca a vida para garantir a segurança das pessoas e os

tribunais, aplicando as leis que temos, desfazem o trabalho da

polícia. Com este reforço, evitaremos a continua perplexidade dos

portugueses com o facto de termos cada vez mais crimes e cada

vez menos presos.

Page 14: programa eleitoral CDS-PP

• A medida mais forte contra a impunidade é tornar regra o

julgamento rápido, em 48 horas, dos detidos em flagrante delito.

Enquanto a Lei não cair depressa e bem em cima dos que são

apanhados a cometer crimes, não haverá confiança no sistema

judicial.

• Faremos, imediatamente, uma revisão cirúrgica, mas determinada,

das leis penais. Apertaremos o cerco a quem comete crimes e

endureceremos a resposta do Estado – por exemplo, na reincidência

ou na liberdade condicional – a quem comete crimes graves.

À esquerda, gostaríamos de dizer só isto: onde mais criminalidade há, é onde vivem

as famílias e os trabalhadores com mais baixos salários. Condescender com o crime é

condescender com uma nova forma de injustiça social.

Ao “centrão”, ao PS e ao PSD que vivem noutro mundo em matéria de leis penais, só

dizemos isto: não é com leis brandas que se evitam crimes graves.

*

Não terminaremos este sumário sem dizer algo mais. É um convite à leitura de um

programa que tem ideias interessantes e inovadoras.

Os Portugueses têm direito a mais liberdade de escolha. E isto é sobretudo verdade

na área da educação e da segurança social.

Quando o Primeiro-ministro afirma que é estranho o CDS estar ao lado dos

professores, engana-se. O CDS é o partido da autoridade dos professores, valor que a

esquerda percebe mal. O CDS é o partido, talvez o único, que explicou porque é que

aquele modelo de avaliação era errado, e propôs um modelo alternativo, consensual

e já testado no ensino particular e cooperativo. O CDS é ainda o partido que, com

clareza, explica o que nos opõe ao estatuto da carreira docente, e o que mudaremos

nesse aspecto. O CDS será também o único Partido a defender o aumento da

liberdade de escolha, entre escolas públicas, mas também entre as escolas públicas e

as escolas particulares.

Page 15: programa eleitoral CDS-PP

É uma reforma que levaremos em frente sem pressas e com cuidados, recorrendo ao

método da experiência-piloto para progredir e ver resultados. O que queremos

garantir é que todas as escolas tenham autonomia, que a autonomia signifique um

projecto, e que mais pais – não apenas os que têm mais posses – possam escolher a

escola dos seus filhos.

Na questão das pensões e da sustentabilidade da Segurança Social, a proposta do CDS

também significa que não pensamos como o PS e pensamos diferente do que propõe

o PSD. Para os socialistas, o desconto só pode ir para a segurança social do Estado. Já

o PSD parece pretender que, sobre uma parte do salário, haja um desconto

obrigatório para os sistemas privados. Parece-nos que a visão do PS leva a que o

Estado seja o único responsável, no futuro, tanto pelas pensões baixas, como pelas

pensões altas. É absurdo. E parece-nos que a proposta do PSD pode gerar impactos

excessivos na sustentabilidade do sistema. Mais uma vez, acreditamos que no CDS

está a melhor razão.

Defendemos descontos para a Segurança Social pública sobre um valor do salário

equivalente a 6 SMN. Acima disso, o que defendemos é a opção livre, não qualquer

obrigação, do trabalhador, sobre onde quer aplicar o remanescente da sua poupança.

Esta visão aplica-se aos mais jovens, que agora entram no mercado. Está pensada e

tem condições seguras, que explicamos em pormenor no Programa.

A outra matéria que ainda é importante referir tem a ver com os recursos naturais e

os sectores estratégicos.

Quando dizemos que Portugal precisa de um ministro da agricultura com peso

político, quando fazemos o compromisso de pôr o PRODER a funcionar, e clarificamos

que isso implica investir a comparticipação nacional via Orçamento do Estado, não

estamos a falar de politicas antiquadas ou ultrapassadas. Estamos a falar de um

Portugal melhor no século XXI, que precisa de agricultores para ordenar o território,

evitar a desertificação e proteger o ambiente. Também estamos a falar de um

Portugal que, no século XXI, tem fundos para aplicar e não pode dar-se ao luxo de os

desperdiçar: são necessários ao crescimento, ao emprego, à receita e à diminuição

do endividamento

Page 16: programa eleitoral CDS-PP

O mesmo quando abordamos a estratégia do mar. A independência de Portugal só se

explica pela determinação do seu povo e pela liberdade que o mar nos deu. No

século XXI o mar é mais do que uma condição de independência. Falamos de maior

potencial para a economia, o emprego, a industria, a energia, a investigação, a

ciência, a que este Portugal, agora empobrecido e com pouca esperança, pode

agarrar-se para reinventar um destino e definir uma missão.

Enfim, o turismo, terceiro sector estratégico que queremos mencionar. É possível

fazer claramente melhor, como explicamos minuciosamente no Programa. Para uma

economia em crise e endividada, o turismo é factor crítico de crescimento. Não nos

interessa tanto a procura de mais turistas como o aumento de receita por turista.

Portugal deve ter ambição, qualidade e diferenciação neste sector. A ambição que

temos é voltar a colocar Portugal no top dos 15 países no que diz respeito ao turismo

a nível internacional. Temos vindo a decair, e já só estamos em 23º lugar.

*

No tempo que estamos a viver, há cada vez mais portugueses que procuram em

África, no Brasil, na América ou na Europa, a oportunidade que aqui não encontram.

É mesmo uma extraordinária circunstância histórica, a de um povo que volta aos

lugares onde fez história para os ajudar a construir futuro.

A nossa língua, a nossa relação prioritária com África e com o Brasil, as possibilidades

abertas às empresas e aos recursos humanos, estão absolutamente presentes na

nossa visão, e essa visão não pode sofrer nem de tacanhez, nem de egocentrismo.

Portugal é a nossa Pátria e os portugueses são o nosso dever. Este programa é o

serviço que lhes queremos prestar.

Page 17: programa eleitoral CDS-PP

AGRICULTURA

CRÍTICAS

1. Desprezo completo pelo sector e hostilização permanente dos agricultores.

2. Fracasso total na gestão, funcionamento, execução e estratégia do PRODER.

3. Desorganização do Ministério e das suas capacidades.

4. Erros nas negociações comunitárias (por ex: desmantelamento das quotas

leiteiras).

5. Redução das medidas agro-ambientais e política de modulação voluntária.

6. Aumento da dependência alimentar de Portugal.

A política agrícola, se entendida como política de apoio ao desenvolvimento, não

existiu nesta legislatura. O que existiu foi uma desastrosa perda de oportunidades,

um inconcebível desperdício de fundos comunitários. A hostilização permanente das

organizações agrícolas foi a par com a destruição das capacidades técnicas instaladas

no Ministério. O cumprimento dos compromissos do Estado com os agricultores

tornou-se num conceito não fiável. Não sobrará, deste Governo, qualquer

pensamento estratégico para o mundo rural.

O permanente engano às mulheres e aos homens da terra, a perda inútil de

agricultores, uma deficiente assumpção de responsabilidades nas negociações

europeias e, já perante a evidência de que o sector estava em revolta, o recurso à

manipulação grosseira de dados, tornam o ocaso deste mandato particularmente

penoso para a agricultura.

Page 18: programa eleitoral CDS-PP

Em poucos sectores se poderá dizer, tão cabal e demonstradamente, que é preciso

reconstruir quase tudo. A agricultura é, certamente, um desses sectores.

Se pensarmos na importância da agricultura para o território, o povoamento, o

ordenamento, a economia e a ecologia, saberemos que o desafio vale a pena.

Recorde-se que, de acordo com a classificação da OCDE, as zonas rurais ocupam 85%

do território, e aí a agricultura ainda significa 10% do Produto e 15% do emprego.

I. A agricultura e a floresta portuguesas demonstram, maioritariamente, fraca

capacidade competitiva em resultado de baixas eficiências e produtividades,

insuficiente especialização e integração vertical e reduzida participação nos

processos comerciais. Impedimentos de ordem natural – clima e solos - e

constrangimentos estruturais ao nível da propriedade têm, entre outros, dificultado a

modernização do sector. Todos estes aspectos resultam no baixo rendimento da

maioria das famílias de agricultores, o que acarreta consigo graves problemas de

exclusão social, êxodo, desertificação humana e envelhecimento da população do

meio rural.

Os desequilíbrios regionais entre urbano e rural estão cada vez mais marcados no seio

do território português e o modo como se aplicou a PAC, nestes quatro anos, não

evitou o aumento destas assimetrias. De facto, a deficiente regulamentação e

adaptação à especificidade portuguesa, e uma pior operacionalização, levam a que o

balanço seja muito negativo.

O governo socialista tinha a obrigação de gerir e tomar medidas de

acompanhamento, de forma a garantir o sucesso da execução da reforma, da Política

Agrícola Comum.

Previam-se, à partida, impactos sobre os resultados económicos das explorações

agrícolas, e por isso era necessário fomentar as adaptações e estruturações

necessárias. Tornava-se urgente agir de forma determinada para potenciar as

oportunidades e reduzir ameaças. Era fundamental colocar à disposição dos

Page 19: programa eleitoral CDS-PP

agricultores portugueses um Programa de Desenvolvimento Rural que possibilitasse

apoios ao investimento na modernização e reestruturação das empresas, assim como

proporcionasse o aproveitamento dos apoios, que a PAC contempla, para o

pagamento das externalidades positivas que a actividade agrícola propicia e que por

toda a Europa vão sendo reconhecidas.

Nada, ou quase nada, foi feito. Foram quatro anos sem programas e sem medidas.

Perdeu-se a oportunidade de reconverter sistemas no sentido de assegurar ganhos

sustentáveis na competitividade económica e no rendimento empresarial agrícola em

Portugal.

Ao mesmo tempo, desapareceram um número muito elevado de pequenas e médias

explorações, sem qualquer previsão de enquadramento que o pudesse impedir,

suavizar ou, por exemplo, levar ao aumento da dimensão física das que persistiram.

A produção nacional piorou em termos da cobertura das necessidades dos

portugueses.

A agricultura passou por momentos complexos. Recordamos a seca de 2005, a

extinção da electricidade verde, o fim, unilateralmente decretado pelo Ministério,

das medidas agro ambientais, nas diversas negociações da PAC e respectiva

operacionalização em Portugal, a instauração da modulação voluntária das ajudas do

1º Pilar da PAC. No ano de 2008, com os factores de produção a atingirem preços

muito altos, a crise económica, que prossegue em 2009, acentuou uma queda dos

preços dos produtos agrícolas, a um nível que pode inviabilizar a esmagadora maioria

dos sectores agro florestais.

O Ministério foi indiferente à crise. Mas hostilizou continuamente agricultores e

organizações procurando denegrir a sua imagem pública em vez de tentar, com eles,

construir estratégias para a ultrapassagem de situações tão difíceis. Sinais e

orientações tiveram quase sempre medidas de sinal contrário passados poucos meses.

Sectores como o do leite estão reiteradamente a passar enormes dificuldades,

alheando-se o Ministério de procurar um compromisso – alcançado, por exemplo, na

Galiza -, cumprir as medidas que anuncia ou defender os nossos interesses em

Bruxelas.

Page 20: programa eleitoral CDS-PP

II. Ao mesmo tempo, o Ministro da Agricultura foi aceitando reduções drásticas no

PIDDAC e comprometeu o funcionamento do Ministério pela instauração cega do

PRACE, cujo resultado foi uma política de despedir, sem qualquer lógica de

reestruturação. Paralelamente, as diversas organizações de produtores agrícolas e

florestais, foram subestimadas nas suas potencialidades em termos de transferência

de funções e delegação de competências.

A reforma do Ministério deveria ter sido coordenada com as organizações, de modo a

evitar quebras e dificuldades no relacionamento entre a administração central e os

agricultores. Mas não há memória de tão reduzida consulta ou trabalho conjunto.

A desmotivação é muito grande no mundo rural. Mas Portugal continua a ser um país

com uma dimensão rural relevante, quer pela ocupação territorial que apresenta,

quer pelo peso na economia, nomeadamente no emprego do sector agro florestal.

III. Para o CDS, a agricultura não é nem deve ser considerada como um mero sector

económico. A dimensão territorial, o valor estratégico e a hoje muito reconhecida

multifuncionalidade constituem argumentos suficientemente fortes para que assim

seja.

Por outro lado, a disponibilização de verbas avultadas oriundas fundamentalmente da

PAC, necessita de contrapartida portuguesa. Essa contrapartida exige que se aceite

ser de interesse nacional maximizar a aplicação dessas verbas.

No presente cenário económico, a agricultura e a floresta podem dar um contributo

enorme para o crescimento e a redução do endividamento. Para dar efectiva

execução aos fundos comunitários, é condição prévia estar disponível para que a

comparticipação nacional, via OE, se cumpra, ano após ano. Por aqui se vê como o

CDS está certo quando diz que a primeira prioridade é o crescimento, pois gera

investimento comunitário, privado e público. Aqueles que considerarem que o défice

Page 21: programa eleitoral CDS-PP

está primeiro do que a economia, obviamente vão “cortar” ou atrasar ainda mais a

parcela do OE para a execução dos fundos.

É indispensável, pois, que se considere e dignifique a agricultura, desde logo na

constituição do Governo. A agricultura é uma área estratégica para o crescimento

económico, e a situação do sector implica peso político dos novos responsáveis.

IV.O CDS defende uma política agrícola e rural responsável que restabeleça a

confiança entre a Administração e os agricultores. O seu objectivo principal é

produzir mais e melhor viabilizar a actividade agrícola e florestal de modo

sustentável em todo o território e considerar os vários tipos de agricultura e a nossa

diversidade regional. Uma nova política agrícola pode evitar o abandono dos campos,

promover, em complementaridade com outras políticas, a conservação e utilização

sustentada de recursos naturais, o bom ordenamento do território e a coesão

económica e social. É condição de sucesso colocar os agricultores portugueses em

condições competitivas face aos demais congéneres europeus.

Para assegurar o cumprimento destes objectivos na agricultura portuguesa é

indispensável o empenhamento do Ministério da Agricultura i) na dinamização de

estruturas empresariais bem dimensionadas, individuais ou colectivas, com

capacidade para inovar e empreender estratégias de longo prazo ii) acesso de jovens

ao empresariado agrícola, condição absolutamente fundamental para o

desenvolvimento deste programa, o que implica estabelecer um quadro aliciante de

medidas para o ingresso de jovens na população activa do sector aproveitando

integralmente o disposto na PAC, mas também integrando, ao nível nacional, a

política de ensino e formação, a política de emprego e a política fiscal iii) na

melhoria da promoção e notoriedade dos produtos agrícolas portugueses e no

fomento de um modelo em que a sua comercialização seja tendencialmente bem

sucedida, o que exige ganhar dimensão na concentração da oferta e profissionalismo

na negociação de modo a melhorar o valor dos produtos junto da produção iv) na

procura de qualidade dos produtos e na estratégia de aumento do seu valor pela

penetração em segmentos de mercado mais remuneradores, sempre acompanhada

por modelos de certificação acreditados e apoiados em laboratórios de qualidade

Page 22: programa eleitoral CDS-PP

reconhecidamente independentes v) no fomento do mercado de terras para

arrendamento vi) na utilização de incentivos fiscais às empresas do sector agro-

florestal, agro-indústrias e indústrias florestais, bem como no domínio da

comercialização de produtos agrícolas e de factores de produção ou das energias

renováveis para que se instalem em zonas rurais vii) na contribuição do sector agro-

florestal para reduzir a nossa dependência energética e no antecipar de soluções

técnicas para a mitigação e adaptação às alterações climáticas viii) na dinamização

do processo de licenciamento das explorações pecuárias ix) na política de

modernização de regadio privado e público, tomando como prioridades o uso

eficiente da água, a eficiência energética e a reabilitação ao nível das

infraestruturas e equipamentos x) na criação de um único organismo eficaz de

fiscalização e controlo das normas vigentes no seio do mercado português,

comunitário e mundial, nomeadamente no que se refere às actividades de

importação, armazenagem e distribuição de produtos agrícolas xi) na agilização dos

processos e procedimentos em determinadas áreas de sobreposição de política

agrícola e ambiental, nomeadamente nos casos da água, da gestão de secas e de

escassez, da conservação da biodiversidade, do uso do solo, do ordenamento do

território, da qualidade do ar e alterações climáticas, dos resíduos, da eficiência

energética e, também, das fontes de energias renováveis.

O CDS estará alerta, no que foca à defesa dos produtos tradicionais portugueses.

Fazem parte da nossa cultura, tradição e gosto. É preciso contrariar a tendência para

regulamentar demais – em Bruxelas e Lisboa -, e é urgente capacitar o Ministério

para defender, a tempo e adequadamente, esses produtos. Contrariamos os abusos

da ASAE que, não raro, prejudicaram muitas pessoas e se aproximaram duma

inaceitável “política do gosto”.

Portugal tem ainda claras vantagens comparativas na produção de alguns produtos

agrícolas. O apoio a estes produtores deve ser privilegiado, no sentido de ganharem

escala e dimensão e de conseguirem aceder a mercados externos.

V. É urgente proceder a uma revisão do PRODER, no sentido de concentrar o esforço

financeiro no imediato, aumentando as taxas de incentivo nas situações prioritárias

Page 23: programa eleitoral CDS-PP

ou de maior fragilidade e alargando-o a outros beneficiários, designadamente aos

prestadores de serviços. Importa ainda apoiar a gestão agrupada, desde que

corresponda a um aumento de dimensão e à concentração da produção.

Agrupar, concentrar e fundir, são conceitos importantes na estratégia a privilegiar no

tecido empresarial, pois são a única forma de reagir e constituir interlocutores

capazes face a uma agro-indústria ou indústria florestal muito concentrada, a uma

multinacional do comércio de matérias-primas agrícolas ou a um sector da

distribuição moderna cada vez mais concertado.

Ainda no âmbito da PAC, é determinante que o Estado transfira atempadamente os

pagamentos aos agricultores portugueses. É imperativo ainda aligeirar a carga

burocrática, e ultrapassar a incrível inoperância no percurso de análise-decisão-

contrato-validação-pagamento dos projectos e medidas PRODER, de modo a que

nunca mais as candidaturas venham a exceder, em anos, o tempo previsto para a sua

contratação, execução e finalização. Um sistema de candidaturas permanentes,

prazos tempestivos de decisão e menos dirigismo estratégico é a opção que permite a

recuperação do tempo perdido no PRODER. E tem de se verificar, logo de início, o

ponto de situação na certificação, comunitária e nacional, do IFAP.

Em geral, é necessário que os postos-chave da decisão agrícola tenham responsáveis

que conheçam o sector e acreditem nele. Não se faz política agrícola com uma

tecnocracia ministerial pouco ou nada ligada ao mundo rural.

VI. Reconhecido o valor económico e ambiental e a sua importância territorial,

queremos melhorar a gestão do património florestal português. Também aqui,

decorreram quatro anos de inoperância em que pouco se fez e tudo se confundiu,

tendo inevitavelmente como resultante um balanço muito negativo.

A aposta na Politica Florestal que advogamos centra-se na dinamização das ZIF, na

operacionalização e melhoria do funcionamento das estruturas associativas e na

execução de medidas de política florestal e fiscal tendentes a avançar na resolução

Page 24: programa eleitoral CDS-PP

do problema da reduzida dimensão e constante fragmentação da propriedade

florestal.

A floresta mediterrânica de uso múltiplo, nomeadamente, os montados de sobro e

azinho e as consociações em que ocorrem, representam mais de 30% da área florestal

em Portugal. São reconhecidamente um dos expoentes do elevado valor natural que

os espaços agro-florestais desempenham e que hoje, por consenso da sociedade,

importa sustentar. Esta prioridade deve ser assumida ao nível europeu e

consubstanciada em medidas de política agrícola e florestal compreendidas naquilo

que vier a ser a PAC de 2013. Portugal deve lutar por esse desiderato.

No domínio florestal devem sobressair, na actuação do Ministério da Agricultura, as

preocupações com a erradicação do nemátodo do pinheiro e a promoção e

valorização dos produtos da cortiça, tão negativamente afectados na conjuntura

actual, bem com, a manutenção deste importante sector da indústria florestal.

VII. No domínio da investigação e do desenvolvimento experimental, as prioridades

são as necessidades concretas dos agricultores portugueses.

Reconhece-se o papel determinante das instituições na inovação, ganhos de

eficiência e melhoria da produtividade dos sistemas. Mas articular a investigação

agrária do Ministério com a actividade de Universidades e Politécnicos que mais se

dedicam ao sector é tarefa obrigatória, num quadro de recursos que é escasso.

Também neste contexto deve estar presente a estrutura associativa da agricultura

como membro de pleno direito de um Conselho Superior que aprove regras e

hierarquize por ordem de necessidades os programas de actividades destas

instituições.

VIII. O Ministério da Agricultura deve ser reformado. Deve reservar para si o papel de

cúpula do sector, concebendo políticas, planeando estratégias, disciplinando,

Page 25: programa eleitoral CDS-PP

controlando e supervisionando procedimentos. Mas precisa de delegar funções e

transferir para associações de agricultores, comprovadamente representativas e com

capacidade técnica, que no terreno têm um contacto mais fácil e directo com os

agricultores, parte da gestão e execução dos programas de política agrícola.

O funcionamento do modelo passa, também, pela consulta obrigatória e pela

possibilidade de acompanhamento da execução das medidas pelas organizações da

lavoura. Significativamente regionalizado, mas sempre com competências claramente

atribuídas e com funcionamento integrado e coordenado, assim deve ser o novo

Ministério da Agricultura.

O seu primeiro desafio – pagar as dívidas aos agricultores – implica que o clima de

conflitualidade e desmotivação cessem, encontrando-se um novo espírito de serviço

e procurando, passo a passo, recuperar capacidades técnicas que foram destruídas.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Pagamento das dívidas do Estado aos agricultores.

2. Pôr o PRODER a funcionar: simplificar as candidaturas, obrigar a decisões

dentro dos prazos, alargar o leque de beneficiários, evitar o dirigismo.

3. Compromisso de investir a parcela nacional (via OE) que viabiliza a aplicação

dos fundos comunitários.

4. Fim da modulação voluntária, para repor a competitividade agrícola com os

outros países da EU.

5. Prioridade à modernização das empresas agrícolas; ao acesso de novos

agricultores ao sistema; às empresas agro-florestais, agro-industriais e às

industrias florestais.

6. Carácter estratégico de agricultura na recuperação económica.

7. Nova equipa ministerial com peso político. Decisores técnicos que acreditem

na agricultura e conheçam o sector.

Page 26: programa eleitoral CDS-PP

8. Organismo único de fiscalização e controlo das normas de mercado

comunitárias e nacionais, em especial nas actividades de importação,

armazenagem e distribuição.

9. Defesa acérrima dos produtos tradicionais portugueses. Evitar os abusos da

ASAE e qualificar o Ministério para agir atempadamente na defesa desses

produtos.

10. Gestão concertada do sector, optando pelo princípio da subsidariedade,

delegando competências e responsabilidades nas organizações agrícolas.

11. Articular a investigação agrária do Ministério com a das Universidades e

Politécnicos.

12. Plano de emergência para o sector do leite.

13. Posição muito mais exigente quanto ao respeito – e à fiscalização – das normas

de concorrência.

Page 27: programa eleitoral CDS-PP

AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

CRÍTICAS

1.Falta de peso político e de articulação com os outros ministérios.

2.Estruturas, do sector, atomizadas e espartilhadas por múltiplas entidades.

O actual Primeiro-Ministro José Sócrates vangloria-se de ter feito o casamento entre

a área do Ambiente e do Ordenamento do Território quando ocupava a pasta do

Ambiente (no governo Guterres), mas a verdade é que como Primeiro-Ministro

esqueceu o ambiente e esqueceu o ordenamento do território.

I. Talvez seja na área ambiental que é mais evidente a existência de uma parceria

entre os que vieram antes de nós, os que estão vivos neste momento e os que ainda

estão por nascer. Sendo assim, qualquer política ambiental defendida pelo CDS só

pode ter três objectivos primordiais: melhorar o que nos foi legado, garantir o bem-

estar das gerações actuais e assegurar que as gerações futuras também o possam

fazer. São objectivos que têm as pessoas como prioridade absoluta e não uma

qualquer preocupação abstracta com a modernidade.

O CDS tem a perfeita consciência de que para restabelecer o equilíbrio entre a

actividade humana e o meio ambiente são necessários sacrifícios. Logo, é seu dever

defender políticas que, por um lado, minimizem esses sacrifícios para a generalidade

dos portugueses e que, por outro, poupem quem já vive em situações de carência a

um esforço desproporcional e injusto. Sendo certo que o meio ambiente é, na sua

plenitude, um bem essencial à realização e dignidade do indivíduo, este deve ser

protegido no âmbito de uma política de racionalidade, respeitadora das liberdades

Page 28: programa eleitoral CDS-PP

de cada um. É esta a única via para uma efectiva conservação dos recursos naturais e

para preservação dos ecossistemas.

Reconhecendo o sector do ambiente como estratégico para o país e com grandes

potencialidades de desenvolvimento, o governo deve ter como prioridade a

implementação de políticas de ambiente descentralizadas, que dêem enfoque à

participação pública, e que sejam transversais a todas as políticas, ditas sectoriais. O

que o CDS propõe são políticas pensadas com base em dados objectivos e não

seguindo apenas tendências internacionais ou exemplos importados. Políticas

ambientais assentes na análise dos seus efectivos impactes e não no cumprimento

dos critérios discricionários. Só assim é possível travar a visão exclusivamente

tecnocrática das questões ambientais e garantir a conjugação da prosperidade do

país com a sustentabilidade.

II. As políticas ambientais devem ser abordadas transversalmente, pelo que o

Ministério do Ambiente deve funcionar em estreita colaboração com os outros

Ministérios e deve assumir na estrutura governativa o peso político essencial para o

desenvolvimento das suas atribuições. Ou o Ministério do Ambiente, na orgânica e na

prática, com o apoio do Primeiro-ministro, se assume como um Ministério com peso

político robusto, ou a sua acção é claramente limitada pelos interesses sectoriais que

tendem a encontrar na defesa do ambiente e do desenvolvimento sustentável uma

condicionante para a sua satisfação.

É hoje mais do que aceite a relação de dependência das políticas energéticas, de

planeamento e ordenamento do território, agrícolas, das pescas, industriais, do

turismo, da defesa, do mar, com o ambiente.

No caso concreto do Desenvolvimento Sustentável e de todas as políticas e acções

decorrentes dessa matéria, é imprescindível a abordagem conjunta dos componentes

Ambiente, Economia, e Social, que deve ser um reflexo da articulação entre os

Ministérios respectivos.

Page 29: programa eleitoral CDS-PP

Devem ser estabelecidas sinergias entre o Ambiente e a Investigação, fonte de

conhecimento científico que deve servir de suporte à definição das políticas

ambientais.

E, não pode esquecer-se, a articulação entre o Ministério do Ambiente e o Ministério

da Educação, num claro esforço que tem de ser feito para, de uma vez por todas e

de forma sustentada, promover uma educação ambiental que, no respeito das

liberdades de educação, forneça a necessária sensibilização para as questões do

ambiente. Importa aprofundar a educação ambiental e os mecanismos de

participação pública, integrando e reforçando o ambiente na educação formal e não

formal no quadro de uma cidadania para o desenvolvimento sustentável. Tal como é

muito relevante criar novos mecanismos de participação e mobilização da sociedade

civil em questões de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade urbana e

promover o voluntariado ambiental.

Uma ecologia humanista deve assentar em formas de organização institucional ágeis,

eficientes e participadas.

A área governativa do Ambiente encontra-se numa encruzilhada: tem um modelo de

organização sem vitalidade que não permite responder aos desafios do nosso tempo e

aos problemas dos cidadãos; não há sinergias entre áreas relevantes pelo que os

esforços são muitos e pouco produtivos. É uma estrutura atomizada e espartilhada

por múltiplas entidades, sem visão integradora, com metodologias de gestão e de

planeamento rudimentares.

Exemplos disto são todas as questões ligadas à nossa orla costeira. A gestão integrada

das zonas costeiras foi recomendada em Maio de 2002 pelo Parlamento Europeu e

pelo Conselho da Europa, mas só mais de sete anos depois o Governo português

aprovou uma estratégia nacional com uma reforma para o sector.

O litoral português, de acordo com um relatório da Agência Europeia do Ambiente

(Nov. 2006), registou o maior aumento de áreas artificiais da Europa entre 1990 e

2000, com um aumento de 34% de áreas artificializadas. Neste período, por exemplo,

Page 30: programa eleitoral CDS-PP

Albufeira cresceu 65%. O documento adverte que a aceleração da utilização do

espaço costeiro, impulsionada pelas indústrias do entretenimento e do turismo,

ameaça destruir o delicado equilíbrio dos ecossistemas costeiros.

As pretensões imobiliárias que estão previstas para todo o litoral, de sul a norte do

País aumentam o risco da nossa costa. Existem 31 grandes empreendimentos

turísticos classificados como Projectos de Interesse Nacional (PIN), que vão ou já

estão a ocupar zonas sensíveis do ponto de vista ambiental, sendo que 80% dos

investimentos são na Península de Setúbal e Alentejo, seguindo-se o Algarve. Um

estudo recente aponta que o Algarve e o Oeste comportam cerca de 50% dos

empreendimentos de grande dimensão já planeados (com mais de 70 hectares),

sendo que a Região Algarvia é a que mais resorts verá crescer (29%).

Portugal que viu prometido por este Governo uma agência para o litoral, o que

continua a ter são cerca de 11 ministérios, 20 entidades a geri-lo entre 20 direcções

gerais e regionais 23 institutos, 5 comissões de coordenação regional, 5

Administração da Região Hidrográfica, além de sessenta e duas autarquias. Ou seja,

desde o Ambiente (Instituto da Água e Comissões de Coordenação e Desenvolvimento

Regional), à Ciência (Fundação para a Ciência e Tecnologia), passando pela

Administração Interna (polícias e municípios), pelas Obras Públicas e Transportes e

terminando no da Cultura (Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática e

Instituto Português do Património Arquitectónico) e no da Defesa (Autoridade

Marítima, Instituto Hidrográfico), entre outros.

III Por isso propomos: i) a redefinição da orgânica da Agência Portuguesa de

Ambiente (APA), que deve agregar competências actualmente cometidas ao INAG

(Instituto da Água) e ao ICNB (Instituto de Conservação da Natureza e da

Biodiversidade), num contexto também de melhor gestão e de economias de escala e

deve servir para promover a integração do ambiente em todas as políticas sectoriais

do Governo; ii) o efectivo lançamento da Agência do Litoral que resolvendo o

problema gerado pelo facto de mais de 100 entidades terem competências no litoral,

deve actuar como dinamizadora da gestão integrada da orla costeira, numa lógica de

gestão colaborativa com todas as partes interessadas, valorizando o Mar como

Page 31: programa eleitoral CDS-PP

elemento que nos distingue e especializa; a institucionalização da Agência do

Território, à semelhança de outros países europeus, visando a afirmação dos

projectos através da especialização do território num quadro de competências

próprias e diferenciadoras, com dimensão crítica e dimensão espacial ligada a um

sistema de rede e conexões regionais.

IV A falta de informação na área ambiental, bem como a forma como esta é

transmitida, afecta vários grupos da nossa sociedade com destaque para os cidadãos

(enquanto tal) e os profissionais de diferentes sectores, criando portanto, um

obstáculo ao desenvolvimento da consciência ambiental, ao empenho na

implementação de políticas e por vezes ao cumprimento de regras ambientais.

É fundamental o compromisso das instituições reguladoras e agentes de decisão na

difusão de legislação, normas, políticas e conhecimento técnico, rumo a uma

sociedade informada.

O Estado não pode simplesmente regular, “virar costas” e regressar quando é para

penalizar.

Propomos, por isso: i) a criação de um centro de divulgação e informação, eficaz e

funcional, na dependência da APA, que sirva de local de esclarecimento a todos os

cidadãos e profissionais; ii) a promoção da publicação de estudos e documentos

informativos desenvolvidos tendo em conta as necessidades de informação

identificadas; iii) a disseminação de estudos e documentos informativos de diferentes

fontes nacionais e internacionais; iv) a difusão de documentos legais de forma

acessível ao público a que se destinam; v) a interacção com escolas e universidades

na promoção da informação, com ênfase na componente legal, na área do ambiente;

vi) a interacção com os empresários e suas sociedades no apoio à eficaz

implementação de políticas ambientais.

V. As actuais políticas internacionais de gestão de resíduos salientam a necessidade

de protecção do ambiente e da saúde pública nas operações relacionadas com essa

Page 32: programa eleitoral CDS-PP

gestão. Em Portugal, a operacionalização dessas políticas deixa estes aspectos para

planos de interesse diminuto ou inexistente.

É necessário repensar a gestão de resíduos, tendo em conta a legislação em vigor e a

necessidade de protecção do ambiente e da saúde pública.

Nesta abordagem, devem estar incluídas todas as tipologias de resíduos - urbanos,

industriais, hospitalares - e fluxos específicos identificados como prioritários,

devendo ainda ser consideradas as operações de gestão à escala nacional, regional e

local.

Propomo-nos: i) promover a avaliação de operações de gestão de resíduos sólidos

urbanos (RSU) que decorrem a nível local, tais como a recolha e o transporte, de

modo a serem quantificados os potenciais impactos ambientais em cada município;

ii) implementar tarifários de gestão de RSU que não prejudiquem os cidadãos que

adoptem práticas ambientalmente adequadas de gestão destes resíduos (redução da

produção de resíduos, compostagem caseira, participação em deposição selectiva,

etc); iii) reorganizar os sistemas plurimunicipais de gestão de RSU tendo em conta a

localização geográfica dos municípios, as infra-estruturas de tratamento existentes e

previstas, a caracterização dos resíduos produzidos e os aspectos ambientais

associados; iv) promover a utilização de ferramentas de gestão ambiental (tais como

a avaliação do ciclo de vida) na avaliação do desempenho ambiental dos sistemas

plurimunicipais de gestão de resíduos com vista à sua melhoria; v) promover a

utilização de ferramentas de gestão ambiental na definição de políticas de gestão de

fluxos prioritários de resíduos, definindo, por exemplo, nos contratos de concessão

das sociedades gestoras de fileira quais as percentagens de resíduos que deverão ser

encaminhados para cada destino final, tendo em estudos de avaliação do ciclo de

vida; vi) estudar a necessidade de criação de novas fileiras de resíduos e as

respectivas entidades gestoras, sendo potenciais fileiras a criar, por exemplo, os

óleos alimentares ou as fraldas descartáveis usadas; vii) analisar a actividade que

tem sido desenvolvida pelos CIRVER - Centros Integrados de Recuperação,

Valorização e Eliminação de Resíduos -, no que se refere ao tratamento de resíduos

industriais perigosos, avaliando a necessidade de criação de um CIRVER na zona norte

do país, como forma de minimizar o transporte rodoviário de resíduos industriais

Page 33: programa eleitoral CDS-PP

perigosos; ix) repensar o sistema de recolha e destino final dos resíduos hospitalares,

procurando minimizar o transporte de longo curso deste tipo de resíduos; x)

dinamizar a gestão de resíduos baseada num regulador forte mas com maior

liberdade de actuação dos intervenientes, em particular dos operadores de gestão de

resíduos, nomeadamente na promoção do mercado de resíduos; xi) criar guias de

acompanhamento de resíduos únicas para todo e qualquer resíduo e de qualquer

fileira, uma vez que existe um código uniforme para a classificação dos resíduos no

espaço europeu (LER) que é inequívoco; xii) alterar a actual visão oficial da forma de

contabilização de desvio de aterro (ENRUBDA), passando a ser levados em conta os

esforços dos produtores domésticos, nomeadamente os resultantes da compostagem

doméstica; xiii) estudar a futura aplicação de sistemas PAYT (pay as you throw) para

os RSU, de definição dos tarifários com base na quantidade produzida.

VI. É evidente a necessidade de evitar, prevenir ou reduzir prioritariamente os

efeitos prejudiciais da exposição ao ruído ambiente. Mas, em Portugal, falta

completar um instrumento importantíssimo: as cartas municipais de ruído. A Carta

de Ruído é a representação visual da distribuição espacial dos índices de ruído

ambiente. Constitui o diagnóstico do estado acústico de cada concelho, o que,

juntamente com o Zonamento Acústico, permitirá elaborar com fiabilidade Planos de

Redução de Ruído, que serão exigidos no âmbito do quadro legal nacional e europeu

em vigor.

Por isso propomos que sejam completadas, a nível nacional, as cartas municipais de

ruído, de forma a tornar possível a aplicação efectiva da Lei do Ruído e a elaboração

de Planos de Redução de Ruído.

VII. Do domínio das águas, defendemos: i) uma gestão mais eficaz e eficiente dos

recursos hídricos, em articulação com os municípios e com as administrações das

bacias hídricas; ii) a conclusão da rede de abastecimento de água e de saneamento

básico em Portugal e a garantia da existência e do correcto funcionamento das

soluções de fim de linha (ainda existem muitas águas residuais que são descarregadas

no meio hídrico sem qualquer tratamento); iii) a redução do consumo de água

Page 34: programa eleitoral CDS-PP

potável, através de campanhas de sensibilização; iv) a utilização de águas residuais

tratadas para fins não potáveis, nomeadamente a lavagem de ruas, rega de jardins;

v) a utilização de águas pluviais para fins não potáveis; vi) o desenvolvimento de um

sistema que oriente o cidadão relativamente à eficiência hídrica de equipamentos,

nomeadamente dos electrodomésticos, que possa funcionar numa lógica semelhante

ao rótulo ecológico, e estar ligado à optimização do consumo de água; vii) a criação

de um quadro legal para a Certificação Hídrica dos Edifícios, à semelhança do que

existe actualmente para a Certificação Energética de Edifícios.

VIII. No que respeita a gestão ambiental nas empresas e no próprio Estado, importa:

i) dinamizar a implementação, em Portugal, do programa da Comissão Europeia para

pequenas e médias empresas ecológicas e competitivas, a fim de ajudar as pequenas

e médias empresas a aplicar da melhor forma possível a legislação em matéria de

ambiente, através da APA e do IAPMEI, em cooperação com as associações

empresariais nacionais e sectoriais; ii) incentivar nas empresas, e nos organismos do

Estado, a utilização de instrumentos que promovam uma actuação eficaz a nível da

responsabilidade ambiental e ecológica, tal como o recurso à avaliação do ciclo de

vida; iii) fiscalizar a actuação das empresas no que se refere à Responsabilidade

Ambiental e ao Princípio do poluidor Pagador; iv) lançar, no âmbito da Administração

Pública, a orientação de “Administração Eco-Responsável”, seguindo-se os princípios

do “green procurement” da Comissão Europeia; v) estimular a entrada nos mercado

das PME de jovens com competências na área do Ambiente, que irão apoiar a

melhoria do desempenho ambiental das empresas, através de um plano de apoios

próprios e exigir que as empresas que tenham apoios do QREN apresentem

anualmente Relatórios de Sustentabilidade e que disponibilizem online informações

sobre o seu desempenho ambiental (Declarações Ambientais semelhantes às exigidas

pelo registo EMAS); vi) implementar sistemas de gestão ambiental (ISO 14001 ou

EMAS) nos organismos estatais, tanto a nível da administração central como local.

XIX. No domínio do sector empresarial do Estado, importa: i) rever o âmbito de

actuação da Águas de Portugal, S.A (AdP); ii) tomar medidas que permitam assegurar

a sustentabilidade económica e financeira do sector das águas e resíduos; iii)

Page 35: programa eleitoral CDS-PP

recuperar o atraso na execução do programa para o sector associado ao QREN; iv)

clarificar o papel e o contributo da iniciativa privada no sector da água, reduzindo o

peso relativo do sector empresarial do Estado; v) avaliar os serviços prestados ao

cidadão pelos operadores nas áreas do saneamento, distribuição e tratamento de

águas, pela sua eficiência e cumprimento dos requisitos de performance exigidos

pelo regulador, não influenciando que estes sejam empresas públicas ou privadas; vi)

clarificar o papel do regulador no sector da água, devendo o IRAR ser um instrumento

estratégico do Governo para assegurar que o bem água é protegido e que as

empresas de águas, públicas ou privadas, cumprem os requisitos de performance

exigidos pelo regulador; v) rever os resultados obtidos com a internacionalização do

grupo AdP.

X. De forma a promover boas práticas ambientais, entendemos ser de: i) fomentar a

aplicação de sistemas de certificação hídrica de equipamentos, desenvolvida pela

ANQIP (Associação Nacional de Qualidade nas Instalações Prediais); ii) rever valores

de IVA para equipamentos que fomentam as boas práticas ambientais (e que sejam

amigos do ambiente); iii) majorar, em sede de IRC, os investimentos ambientais que

as empresas realizem para aumentar a sua eco-eficiência ou para minimizar os seus

impactes ambientais negativos.

XI. No que toca especificamente às alterações climáticas é preciso que o discurso das

alterações climáticas saia dos gabinetes e das negociações do mercado de carbono e

interfira também nas políticas concretas do Ministério do Ambiente. Importa: i)

iniciar a revisão do PNAC – Plano Nacional para as Alterações Climáticas – logo após a

Conferência de Copenhaga em Dezembro deste ano; ii) adoptar uma estratégia

integrada (misto de top-down e buttom-up) na definição das metas sectoriais; iii)

participar activa e empenhadamente nos esforços e negociações internacionais, que

são coordenadas pela Comissão Europeia; iv) atender particularmente – e trazer para

o debate público – as previsões para Portugal que apontam para uma subida do nível

médio do mar entre 25 a 110 cm até 2100, o que colocará em risco de erosão 67% do

nosso litoral.

Page 36: programa eleitoral CDS-PP

XII. A qualidade do ar exterior e do ar interior são motivos de enorme preocupação

para a generalidade dos portugueses. Por isso propomos: i) a monitorização periódica

ou em continuo da qualidade do ar interior de edifícios públicos ou de edifícios e

espaços em que há grandes aglomerados humanos; ii) a redefinição e posterior

implementação do Plano Nacional de Acção Ambiente e Saúde.

XIII. No plano do desenvolvimento sustentável e agendas 21 locais é necessário: i)

avaliar o plano de implementação da ENDS - Estratégia Nacional do Desenvolvimento

Sustentável, aceitando este conceito como referência estruturante de qualquer

modelo de governação; ii) definir, com urgência, uma política das cidades, visando a

sustentabilidade enquanto acção chave; iii) reforçar a importância das Agendas 21

Locais como instrumentos privilegiados para a adopção de estratégias integradas e

sustentáveis de desenvolvimento, no quadro de uma dimensão informativa,

formativa, de adaptação às especificidades e enraizamentos locais e num contexto

de empenhamento e de mobilização cívica, sendo acompanhadas de indicadores de

sustentabilidade e de avaliação de desempenho; iv) harmonizar as metodologias de

elaboração das Agendas 21 Locais; v) intensificar o envolvimento da APA na

cooperação com os municípios que pretendem implementar A21L; implementar um

sistema de acompanhamento e de difusão das actividades realizadas nesta área.

XIV. A conservação na natureza é uma prioridade primeira de um Ministério do

Ambiente, não pode ser rapidamente trocada por políticas alegadamente mais

visíveis e magnificentes. Neste domínio, é necessário: i) rever o regime jurídico da

conservação da natureza e da biodiversidade e redefinição do papel das autarquias

no sentido da descentralização de competências; ii) criar um novo quadro legal e um

novo modelo de gestão das áreas protegidas que vise a compatibilização da

preservação da biodiversidade com visitas de educação ambiental, actividades de

eco-turismo, etc.; iii) integrar as áreas protegidas numa nova entidade de natureza

empresarial que garanta, em 10 anos, que os parques naturais portugueses sejam

uma marca amplamente reconhecida, com valor percebido e estimulado pela

população; iv) reavaliar todos os projectos do plano nacional de barragens que têm

impactes reais ou potenciais em áreas sensíveis.

Page 37: programa eleitoral CDS-PP

XV. Por fim, importa: i) avaliar o cumprimento do novo Regime Jurídico da

Responsabilidade Ambiental, nomeadamente no que concerne à sua vocação

preventiva e reparadora e preparar a concretização, sem atrasos, da matéria relativa

às garantias financeiras; ii) criar um quadro legal, institucional e financeiro que vise

a prevenção e o controlo da contaminação dos solos e das áreas mineiras

degradadas, bem como a recuperação de locais contaminados numa óptica de

aproveitamento e de requalificação daquelas áreas; iii) aperfeiçoar a justiça de

ambiente iv) participar activamente nas políticas europeias e no desenvolvimento de

Directivas e Regulamentos promovidos pela União Europeia, na área do ambiente.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Institucionalizar uma Agência do Território.

2. Completar as cartas municipais de ruído.

3. Garantir o correcto funcionamento das soluções de fim de linha no

saneamento.

4. Promover a utilização de águas residuais e pluviais para fins não potáveis.

5. Criar um quadro legal para a certificação hídrica dos edifícios.

6. Adoptar um programa de Administração Eco-responsável.

7. Aprofundar a educação ambiental.

Page 38: programa eleitoral CDS-PP

COMUNICAÇÃO SOCIAL

CRÍTICAS

1. Situação financeira do serviço público de Televisão e Rádio voltou às

derrapagens.

2. Tentativa de condicionar o exercício profissional dos jornalistas.

3. Tentativa de agredir a Rádio Renascença na Lei do Pluralismo e Não

Concentração.

4. Falha no 5º Canal.

Desde 2005, o Governo socialista tem um programa que, objectivamente, tem

restringido a liberdade editorial e o potencial económico dos agentes privados do

sector. O falhanço do Partido Socialista foi evidente em quatro áreas. Na gestão do

financiamento do serviço público; na aprovação de novos regimes jurídicos

relativamente ao exercício profissional dos jornalistas e na tentativa de impôr uma

lei do “pluralismo e não-concentração”; no processo de atribuição de um quinto

canal de televisão de acesso livre e na transição para o digital.

I. Após um esforço considerável de recuperação, quer da definição do que deve ser o

modelo de serviço público televisivo, quer da própria gestão, realizado pelo anterior

Governo, com uma intervenção responsável do CDS, parecemos estar, na RTP, a

voltar às compras “milionárias” de direitos de transmissão e à subida dos custos de

funcionamento. As indemnizações compensatórias somadas à taxa do audiovisual

ultrapassaram os 230 milhões de euros. Há riscos para o pluralismo e a tentação

socialista de condicionar a liberdade de informação é conhecida.

O Governo socialista parece satisfeito com o status quo, usando as parcas receitas de

publicidade para servir a dívida – superior a 800 milhões de euros – e cobrindo os

custos operacionais com o dinheiro dos contribuintes. Contudo, esta situação

alimenta as múltiplas actividades deficitárias da RTP.

Page 39: programa eleitoral CDS-PP

II. O CDS defende uma RTP forte, mas somos contra o esbanjamento dos dinheiros

dos contribuintes. Ter uma boa gestão e evitar novas derrapagens financeiras na RTP

é um objectivo do CDS nos próximos 4 anos i) cumprindo o programa de

reestruturação da empresa ii) racionalizando dos custos operacionais. Este objectivo

legitima o escrutínio sobre o interesse público de cada programa, de cada actividade.

O resultando será de ter uma RTP mais bem gerida e criteriosa no serviço público.

III. A passada legislatura ficou marcada pela tentativa do Partido Socialista de

aprovar uma lei sobre o pluralismo e não-concentração que levantava várias

perplexidades junto dos agentes do sector, nomeadamente por representar um

ataque à liberdade de imprensa e pluralismo de informação, com a tentativa de

intervenção na Rádio Renascença por artificial “excesso” de concentração no sector

das rádios; por criar sobreposições entre vários reguladores como a ERC, a

Autoridade da Concorrência, a ANACOM, a CNVM, o Banco de Portugal e outras

entidades a fazendo a regulação simultânea da actividade, complicando em especial

o processo de aprovação de operações de concentração e impedindo o ganho de

escala pelos grupos nacionais.

Felizmente, o Presidente da República vetou esta iniciativa legislativa, não só pelos

limites que introduzia à actividade jornalística, mas também por representar um

contra-senso face à aprovação, no seio da União Europeia, de directivas comuns,

relativas ao que deve ser entendido como excesso de concentração.

Na próxima legislatura o CDS acompanhará o desenvolvimento desta questão na

União Europeia, mantendo uma especial vigilância sobre a actuação dos reguladores,

de modo a que não sejam utilizados para condicionar os grupos de comunicação

social.

IV. Foi ainda um objectivo do Governo lançar um quinto canal de televisão em regime

de acesso livre. Estando inicialmente prevista a atribuição da licença para Maio de

2009, e o arranque do novo canal para 2010, este processo não se encontra ainda

encerrado.

A atribuição da licença provocará “ondas de choque”, às quais o CDS estará atento. O

novo canal irá “retirar” publicidade tanto às televisões como às rádios e aos jornais,

Page 40: programa eleitoral CDS-PP

podendo legitimar operações de concentração dentro da comunicação social – ou

entre as telecomunicações e os “media”.

Neste processo o CDS vai prestar especial atenção ao desenvolvimento do processo de

atribuição da licença, no respeito integral do quadro legal existente. Teremos em

conta as eventuais repercussões no mercado da comunicação social. Não abdicamos

de garantias sobre o pluralismo e independência face ao poder político, seja qual for

o poder político.

V. A transição para o digital é um compromisso europeu ao qual Portugal não deve

ser indiferente. Representa um avanço técnico que é essencial para o

desenvolvimento da actual sociedade de informação. No entanto, o CDS vai prestar

especial atenção aos fenómenos de exclusão que poderá acarretar, nomeadamente

nas camadas mais desfavorecidas da população, que se podem ver privadas do acesso

ao bem essencial que é hoje a comunicação.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Retomar práticas de boa gestão na RTP.

2. Acompanhar o desenvolvimento da definição de não concentração ao nível da

União Europeia.

3. Manter especial vigilância sobre a actuação dos reguladores, de modo a não

serem utilizados para condicionar os grupos de media.

4. Especial atenção ao desenvolvimento do processo de atribuição da nova

licença de televisão, no respeito integral pelo quadro legal existente, pelas

eventuais repercussões no mercado, mas também da garantia de pluralismo e

independência da comunicação social face ao poder político.

5. Tentar limitar, no processo de transição para a Televisão Digital Terrestre, os

fenómenos de exclusão que podem surgir, nomeadamente nas camadas mais

desfavorecidas da população.

Page 41: programa eleitoral CDS-PP

CONCORRÊNCIA E REGULAÇÃO

CRÍTICAS

1. Problemas de regulação e supervisão evidentes e graves (ex: BPN, BPP e

BCP; caso dos combustíveis; electricidade; leite).

2. Tendência para proteger operadores já instalados.

A política de concorrência e regulação, essencial a uma economia de mercado com

responsabilidade ética, sofreu nestes 4 anos e meio, falhas evidentes, que revelam a

distância a que Portugal se encontra de regras e práticas de concorrência saudáveis.

O que sucedeu, no sistema financeiro, com o BPN, o BPP e o BCP coloca sérias

interrogações sobre a política de supervisão. O que aconteceu com os combustíveis,

e o que não aconteceu em sectores tão díspares como a electricidade ou o leite,

revelam as insuficiências muito sérias nos reguladores. Continuam a permitir-se

práticas inaceitáveis numa economia de mercado.

RESPOSTAS

I. A derrocada dos sistemas comunistas e a crise das economias planificadas

demonstraram amplamente que o mercado é a forma mais eficiente de organizar o

funcionamento da economia. Só mercados abertos e competitivos, baseados na

assunção do risco e na sua correcta retribuição, são capazes de promover a

iniciativa, o investimento e a inovação sem os quais não há crescimento possível da

economia.

Page 42: programa eleitoral CDS-PP

Mas o mercado só conduzirá às melhores soluções, em termos de eficiência produtiva

e distributiva e de promoção do crescimento, se o seu funcionamento for apoiado por

uma política de concorrência que se oponha a práticas de coligação entre empresas

contrárias ao interesse público e a comportamentos abusivos em prejuízo dos

consumidores.

A economia portuguesa está ainda profundamente impregnada de uma mentalidade

avessa ao risco e à concorrência, está ainda muito assente em estruturas arcaicas

herdadas de décadas de corporativismo, de socialismo, de paternalismo e de

proteccionismo económicos que pesam sobre ela quase como uma maldição.

A publicação, em 2003, de uma nova lei da concorrência e a criação da Autoridade da

Concorrência (AdC) contribuíram para melhorar a situação e começar a implantar nos

tecidos empresariais uma certa “cultura de concorrência”. Mas continuam a ser

cometidos vários erros que convém corrigir e evitar que se repitam.

II. Antes de mais, há que velar pela adopção de boas práticas legislativas, evitando,

por um lado, o péssimo hábito de legislar ao sabor de impulsos conjunturais e

sujeitando, por outro lado, a discussão pública os mais importantes projectos de

alteração das leis nesta matéria, para que possam beneficiar dos contributos dos

meios interessados antes da sua conversão em diplomas legislativos.

A lei da concorrência foi já objecto de várias alterações pontuais, nela introduzidas

sem critério nem perspectiva sistemática, a propósito de inovações legislativas que

nada tinham a ver com a matéria. O resultado foi a criação de normas confusas e

inaplicáveis e de situações que só contribuem para descredibilizar a própria política

de concorrência.

O CDS entende que a lei da concorrência deve ser revista em aspectos substantivos e

processuais, tendo em conta os mais de cinco anos de experiência de aplicação. Está

a AdC particularmente bem situada para preparar esse projecto de revisão, mas, uma

vez elaborado, não deve ser convertido em lei sem um processo adequado de

divulgação e de discussão pública.

Page 43: programa eleitoral CDS-PP

Urge também pôr termo ao típico procedimento corporativo, resultante de tantos

mecanismos de licenciamento ou aprovação prévia para o exercício de certas

actividades económicas que, faz participar na decisão os operadores já instalados,

cujo objectivo é, naturalmente, dificultar a entrada de novos concorrentes. Uma

intervenção pública em sede de autorização prévia só é justificável por razões

ambientais, de ordenamento do território, de protecção da saúde e de segurança

públicas, para além de conjunturas económicas especiais; se assim não for, temos a

reinstituição clandestina dos velhos sistemas de condicionamento industrial.

Não se trata, contudo, apenas da legislação. Também as práticas correntes da

Administração Pública se opõem a uma saudável concorrência nos mercados,

designadamente onde ela seria mais necessária, do ponto de vista quer do

consumidor, quer do contribuinte, isto é nos mercados públicos. Quando o

favoritismo, a falta de transparência e a discriminação são promovidos pelas próprias

entidades adjudicantes, não faz sentido pregar moral às empresas.

Para cumprir cabalmente a sua missão, é essencial que a AdC seja dotada do máximo

de independência compatível com a Constituição e as leis.

III. O CDS é favorável à intervenção do Presidente da República e da Assembleia da

República na nomeação do Presidente e dos membros da AdC, como expressão da

desgovernamentalização que deve presidir à designação e à actuação desta

Autoridade.

Num Estado de direito democrático, a independência de qualquer autoridade não

pode, porém, dissociar-se da sua obrigação de prestar contas - “accountability” -

perante aqueles que são os titulares do interesse público que lhe compete

prosseguir.

Page 44: programa eleitoral CDS-PP

Por isso, o CDS preconiza que o Conselho da AdC apresente anualmente o Relatório

das suas actividades à AR e que o seu Presidente compareça na competente Comissão

Parlamentar para prestar todas as explicações sobre a execução da política de

concorrência, sem prejuízo do respeito devido à confidencialidade requerida pelos

segredos de negócios das empresas e pela presunção de inocência.

O CDS considera igualmente indispensável criar, em Portugal, as condições para uma

eficaz e competente tutela jurisdicional em domínio tão complexo, como

contraponto à existência de um sistema de sanções pesadas como são as que,

justificadamente, correspondem à violação das regras de concorrência.

Neste plano, o CDS é favorável à criação de um tribunal especializado para as

questões de regulação e de concorrência que não só assegure o controlo jurisdicional

da legalidade da actividade da AdC e das entidades reguladoras sectoriais, mas que

igualmente apoie os tribunais comuns na sua tarefa de aplicar o direito nacional e o

direito comunitário da concorrência, designadamente através do reconhecimento de

direitos indemnizatórios a todos (consumidores ou empresas) os que sejam

efectivamente lesados por comportamentos contrários às normas, de concorrência e

outras, aplicáveis nos vários mercados.

IV. A profunda crise da economia mundial, originada no centro do sistema financeiro

internacional demonstra, contudo, que os mercados têm necessidade de uma

regulação que dê resposta às suas falhas e insuficiências.

A regulação dos mercados só deve, porém, intervir enquanto for claro que a

concorrência não é suficiente para assegurar que o mercado funcione de modo a

proporcionar eficácia e utilidade social, isto é, perante “falhas de mercado”. Com

efeito, a regulação pode ter, nos mercados em que se aplica, um efeito perverso

equivalente ao de um monopólio.

E assim é, quer a respeito de sectores estruturalmente sujeitos à concorrência

(indústrias transformadoras, transportes rodoviários, serviços financeiros e outros),

Page 45: programa eleitoral CDS-PP

quer relativamente a sectores estruturalmente não concorrenciais (como os sectores

dos serviços de interesse económico geral, tradicionalmente sujeitos a monopólios de

serviço público e, desde há alguns anos, por todo o lado, em vias de

liberalização/privatização – telecomunicações, electricidade, gás, abastecimento de

água).

As normas de carácter regulatório, baseadas sobretudo numa lógica de administração

dos mercados, tendem a assumir um carácter excessivamente impositivo e a derrapar

para a micro-regulação do mercado e do comportamento das empresas. Acresce que

os critérios políticos a que normalmente se sujeita o legislador tendem a privilegiar

as vantagens de curto prazo e a esquecer os sacrifícios correspondentes: a imposição

de preços máximos agrada naturalmente aos consumidores, mas pode estrangular a

concorrência potencial e impedir assim uma estrutura de mercado mais competitiva

no futuro.

Destinada a dar solução às falhas de mercado, a regulação deve ter por objectivo a

criação de estruturas competitivas e limitar-se ao necessário a alcançar esse

objectivo.

O CDS não pode aceitar que, com prejuízo dos interesses dos consumidores e dos

contribuintes, se perpetue a tendência natural das estruturas regulatórias para a sua

auto-justificação, com frequência apoiadas em poderosos interesses político-

económicos aos quais a regulação interessa, desde logo pelos seus efeitos anti-

concorrenciais.

Ainda por cima, as regras de carácter regulatório tendem a ser aplicadas de modo

formalista, mais em conformidade com a conveniência da administração do que em

função do resultado a alcançar.

A regulação sectorial não pode substituir o papel fundamental das empresas nem

pode ser sinónimo de manipulação dos mercados, de burocracia ou de “imperialismo”

da Administração, pretensamente iluminado, impondo-se impedir a captura da

Page 46: programa eleitoral CDS-PP

regulação por uma qualquer “ideologia” circunstancialmente abraçada pela

burocracia.

Por outro lado, como as falhas da regulação dos mercados financeiro e bancário

abundantemente demonstraram nos últimos anos, o regulador deixa-se muitas vezes

capturar pelas próprias entidades reguladas, tornando-se um instrumento laxista,

ainda que inconsciente, dos seus interesses.

Ora, o CDS entende que, como decorre dos catastróficos episódios que têm

caracterizado a crise do sistema financeiro internacional, uma regulação vigorosa,

atenta, independente e competente é essencial para manter a confiança na

economia de mercado e evitar as derrapagens que podem contribuir para miná-la e

dar argumentos aos seus inimigos.

Não pode esquecer-se que a distribuição dos custos e dos benefícios da regulação é,

normalmente, assimétrica: os benefícios aproveitam a alguns, enquanto os custos se

repartem por todos.

Com a agravante de que os que saem prejudicados com o processo regulatório (em

particular os consumidores) são, em geral, anestesiados, apenas sentindo os efeitos

negativos indirectamente e de forma já muito atenuada, pelo que o estímulo à

organização para defesa dos interesses é muito ténue.

Na prática, pois, com frequência excessiva, a regulação, em vez de promover a

concorrência acaba por se lhe opor ou com ela entrar em conflito. Ora, salvo em

presença de uma justificação objectiva, a regulação não deve opor-se à concorrência

e, em caso de conflito, deve ceder-lhe o passo Quer isto dizer que, ao analisar as

modalidades alternativas de intervenção regulatória, o legislador deve sempre

pender para aquela que se revele menos restritiva do funcionamento do mercado, em

função do objectivo (supostamente legítimo) da intervenção.

Page 47: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS

1. Revisão da Lei de Concorrência, mediante a adequada discussão pública.

2. Intervenção do PR na nomeação do Presidente e dos membros da Adc.

3. Escrutínio parlamentar da actividade dos reguladores.

Page 48: programa eleitoral CDS-PP

CULTURA

CRÍTICAS

1. Falhanço no cumprimento do programa eleitoral.

2. Política cultural em dois actos, Pires de Lima e Pinto Ribeiro, com anúncios

não concretizados, projectos abandonados e mesmo insultos entre os dois

Ministros do Governo PS. Como exemplo, a saga do museu do mar da língua

portuguesa e o trágico desperdício do pólo do Hermitage nunca concretizado.

3. Atenção tardia perante os perigos que impendem sobre o nosso património

arqueológico e arquitectónico.

4. Uma anacrónica solução administrativa para o Teatro Nacional de S. Carlos e

Companhia Nacional de Bailado e uma perigosa desatenção perante as artes

performativas e visuais.

Os últimos quatro anos e meio de uma maioria absoluta socialista, foram uma

oportunidade perdida para a Cultura. Importa realçar que o Partido Socialista falhou

clamorosamente nos três objectivos principais a que se havia comprometido em

2005.

Falhou no objectivo de “retirar o sector da cultura da asfixia financeira” ao

destinar–lhe os Orçamentos mais baixos da última década. A decadência e a

depauperação de todo o sector foram por demais evidentes.

Falhou no objectivo de “retomar o impulso político para o desenvolvimento do

tecido cultural português”, pois não há memória de tamanha atrofia do tecido

cultural, em resultado de ausência de estratégia e decisões erráticas. O desprezo

pela Cultura foi tal, que o Primeiro-Ministro se viu obrigado a reconhecer o

desinvestimento no sector como a maior falha da sua governação.

Falhou no objectivo de “conseguir um equilíbrio dinâmico entre a defesa e

valorização do património cultural, o apoio à criação artística, a estruturação do

território com equipamentos e redes culturais, a aposta na educação artística e na

formação dos públicos e a promoção internacional da cultura portuguesa”.

Assistimos, durante quatro anos e meio, a uma contestação sem precedentes em

Page 49: programa eleitoral CDS-PP

todas as áreas do tecido cultural português: da preservação do património ao apoio

à criação; da música ao bailado; das artes plásticas à literatura; do teatro à

museologia, só houve registo de instabilidade, insatisfação e indignação. Agentes

culturais de todas as áreas, bem como destacados militantes e ex-Ministros

socialistas demarcaram-se frontalmente da política cultural do Governo e teceram-

lhe severas críticas.

Como acreditar, então, no novo programa eleitoral do PS e nos seus compromissos?

RESPOSTAS

I. O CDS tem afirmado repetidamente que considera a Cultura uma prioridade para

Portugal. Definimos a Cultura como um importantíssimo factor de desenvolvimento

do nosso País, um eixo de afirmação da nossa identidade, além de elemento de

qualificação e coesão social e territorial da comunidade. Lembramos, ainda, que a

cultura é um motor de crescimento económico e um sector gerador de emprego.

Sem Cultura, um país é um mero somatório de pessoas e terras. Uma sociedade

empenhada na salvaguarda e promoção da sua Cultura, deverá sempre procurar a

síntese entre herança e evolução, entre passado e futuro. Preservar a herança

cultural e desenvolvê-la, reproduzi-la, recriá-la, reinventá-la. A afirmação cultural

de Portugal e da língua portuguesa no Mundo depende dessa articulação permanente

e de uma definição, tão clara quanto possível, sobre o papel do Estado, nas suas

diferentes dimensões. Sem essa definição e sem estratégia, qualquer Orçamento do

Estado para a Cultura corre o risco de ser um orçamento desperdiçado.

Mas para tal, Portugal precisa de uma visão estratégica para a Cultura em que o

Estado se assume como o garante da preservação herança cultural; da

transversalidade entre cultura e outros sectores, como a Educação, a Economia, os

Negócios Estrangeiros ou o Turismo; da partilha responsabilidades com autarquias e

de parcerias com privados; da liberdade criativa, da igualdade de oportunidades no

acesso à cultura; da difusão artística e da internacionalização da língua e da cultura

portuguesas.

Page 50: programa eleitoral CDS-PP

II. A preservação da Herança Cultural é primordial. A valorização e o respeito pela

herança cultural passam por uma alocação ajustada e inquestionável das verbas

necessárias à preservação do património que deve ser salvaguardado. Defendemos

programas específicos para cada área do património material nomeadamente para

preservação, programação e dinamização do acervo arqueológico, arquivístico,

arquitectónico ou paisagístico. O Estado tem de dar o exemplo, ao não deixar

degradar o seu património e os monumentos nacionais.

Temos de dar garantias de dignidade da nossa rede de museus públicos, estimulando

o mérito de cada instituição no funcionamento, desenvolvimento e aperfeiçoamento

constantes, considerando uma maior autonomia na sua gestão. É necessário criar

programas de incentivo às indústrias criativas que dêem continuidade, formação e

divulgação de competências técnicas e artísticas tradicionais portuguesas, como a

joalharia tradicional e o artesanato.

O CDS defende programas específicos de salvaguarda, preservação, promoção e

divulgação do património imaterial, assim como um programa específico para a

salvaguarda da língua portuguesa que passará pelo acompanhamento adequado da

introdução do acordo ortográfico, incentivo ao aparecimento de novos talentos,

divulgação dos autores e da literatura portuguesa no estrangeiro, com especial

incidência nos países de língua oficial portuguesa. É imprescindível voltar a dinamizar

o quase extinto ensino da língua portuguesa no estrangeiro, criando protocolos com

universidades e institutos para envio de leitores.

Tem de ser reexaminada a fusão operada pelo OPART, na qual a Companhia Nacional

de Bailado ficou subalternizada em relação ao Teatro Nacional de S. Carlos. Os

Teatros, e a Orquestra, Nacionais, bem como o Teatro Nacional de S. Carlos, único

teatro lírico português, e a Companhia Nacional de Bailado deverão, como tais, ser

tratados e dignificados, quer do ponto de vista das condições de funcionamento, quer

do ponto de vista da programação.

Page 51: programa eleitoral CDS-PP

III. É necessário garantir a transversalidade entre cultura e outros sectores. Sectores

chave, como a Educação, a Economia, o Turismo e os Negócios Estrangeiros, devem

articular-se em permanência através de objectivos definidos, uma estratégia

conjunta e colaboração constante com o sector cultural. O CDS defende a criação de

currículos escolares e actividades extra-curriculares que valorizem efectivamente a

formação artística dos jovens.

Tem de ser dada prioridade ao Turismo Cultural, como factor de desenvolvimento

interno e de internacionalização de Portugal.

Assumimos que para garantir a expansão das indústrias criativas é necessário dar voz

a novas áreas de criação artística e da cultura de projecto; para tal, é necessário

dignificar o ensino de referência e fomentar câmaras representativas das actividades

profissionais, como, por exemplo, o Design. Reconhecemos a necessidade de

tratamento e a abordagem específicas de determinadas áreas tradicionais que

conjugam tradição, formação e homologações específicas como a joalharia

contemporânea portuguesa. Assumimos a importância de áreas como a Arquitectura

e o Paisagismo, como parte integrante do acervo e da dinâmica cultural e artística, e

como tal devem ser tratadas;

Para o CDS é premente completar um verdadeiro e completo Estatuto dos

profissionais das Artes e dos Espectáculos) um estatuto dos artistas, que reconheça as

especificidades laborais, de protecção social e fiscalidade destas profissões.

IV. Repartir as responsabilidades, com autarquias e privados, é envolver a

comunidade no sector cultural. Trata-se de promover todas as formas de articulação,

colaboração, coordenação e partilha de deveres e direitos entre Estado, autarquias e

privados. Nomeadamente, promovendo o papel das autarquias na formação artística,

formação de públicos e difusão cultural.

Temos de reformular a lei do mecenato (cuja função actual é resolver problemas de

financiamento dos organismos estatais, levando os grandes mecenas a substituírem-

Page 52: programa eleitoral CDS-PP

se ao financiamento do Estado) de modo a torna-la mais apelativa aos privados e de

modo a alargar o número de beneficiários (para que também projectos

independentes e locais sejam apoiados).

O Estado tem de assumir o papel de plataforma de articulação, para que espaços

culturais e cine-teatros municipais tenham programação, preferencialmente em

rede, constante e de qualidade.

V. A liberdade criativa e a difusão artística têm de ser protegidas. O Estado deve ter

um papel de agente mobilizador, abstendo-nos de qualquer dirigismo, mobilizando os

agentes para a criação e oferta diversificada, do património, às artes

contemporâneas (literatura, artes visuais ou dos espectáculos), das artes

performativas ao cinema, estimulando todas as expressões artísticas porque são a

representação e produção actual da nossa criatividade.

Assim, acreditamos, fortaleceremos os agentes culturais, o desenvolvimento e o

dinamismo cultural fora da alçada do Estado, através de uma intensificação e

responsabilização nas relações com a comunidade, com as empresas e com o público.

O CDS pretende criar, sem demagogias, mecanismos de equilíbrio entre o apoio à

criação/divulgação para o grande público e a criação/divulgação para públicos mais

restritos, evitando uma cultura fechada sobre si mesma, elitista e hermética. O

denominador comum deverá ser sempre, e intransigentemente, a qualidade.

Reconhecemos a necessidade de maior acompanhamento e estabelecimento de

estratégia para a dignificação da dança contemporânea portuguesa e zelaremos,

intransigentemente, pela oferta de qualidade; só assim é possível criar públicos mais

esclarecidos, dando um passo para um ciclo de exigência entre a procura e a oferta;

VI. Igualdade de oportunidades no acesso à cultura é o passo seguinte. Insistimos nas

disciplinas culturais nos programas escolares, e maior dinamização dos serviços

educativos, pois insistimos numa maior ligação dos espaços culturais à comunidade

Page 53: programa eleitoral CDS-PP

educativa em que se inserem. Defendemos uma maior aposta no voluntariado

cultural, a melhor participação da comunidade nas instituições e nos projectos

culturais. Pretendemos a continuação e aumento de programas, em rede, de apoio à

difusão cultural através das novas tecnologias, nomeadamente visitas virtuais a

museus e eventos culturais.

O CDS dará continuidade empenhada ao Plano Nacional de Leitura e ao alargamento

da rede de bibliotecas.

V. Apostamos no esforço estratégico e consistente de internacionalização da língua e

da cultura portuguesas, através da nossa diplomacia, mas também através da

diáspora e comunidades portuguesas. Damos prioridade estratégica ao Brasil e aos

países lusófonos, onde a língua é uma mais-valia de afirmação e onde o sector do

livro e do audiovisual podem ter um papel determinante, fortalecendo uma herança

cultural comum.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Alocação ajustada e inquestionável das verbas necessárias à preservação do

património que deve ser salvaguardado. O Estado tem de dar o exemplo: não

deixar degradar o seu património - e os monumentos nacionais – e dar garantias

de dignidade da nossa rede de museus públicos, estimulando o mérito de cada

instituição no funcionamento.

2. Criar programas de incentivo às indústrias criativas que dêem continuidade,

formação e divulgação de competências técnicas e artísticas.

3. Reexaminar a fusão operada pelo OPART, na qual a Companhia Nacional de

Bailado ficou subalternizada em relação ao Teatro Nacional de S. Carlos;

4. Garantir uma transversalidade efectiva da Cultura com outros sectores chave,

como a Educação, a Economia, o Turismo e os Negócios Estrangeiros;

Page 54: programa eleitoral CDS-PP

5. Completar um verdadeiro e completo Estatuto dos profissionais das Artes e dos

Espectáculos) um estatuto dos artistas, que reconheça as especificidades

laborais, de protecção social e fiscalidade destas profissões.

6. Reformular a lei do mecenato;

7. Criar mecanismos de equilíbrio entre o apoio à criação/divulgação para o

grande público e a criação/divulgação para públicos mais restritos,

reconhecendo a necessidade de maior acompanhamento e estabelecimento de

estratégia para a dignificação da dança contemporânea portuguesa;

8. Estratégia consistente de internacionalização da língua e da cultura

portuguesas, e criar um programa específico para a salvaguarda da língua

portuguesa que passará pelo acompanhamento adequado da introdução do

acordo ortográfico.

Page 55: programa eleitoral CDS-PP

DEFESA NACIONAL E ANTIGOS COMBATENTES

CRÍTICAS

1. Carácter híbrido da reforma da estrutura superior das FA.

2. Retrocessos nos Antigos Combatentes e nos Deficientes das FA.

3. Instabilidade na Lei de Programação Militar.

A Defesa Nacional faz parte do elenco clássico das políticas públicas que implicam

um consenso de Estado nas suas opções estruturantes. A responsabilidade essencial

deste consenso passa pelos Partidos que assumem a opção estratégica pelo Atlântico

e a participação de Portugal na NATO.

Ao longo da legislatura, o CDS ofereceu sempre disponibilidade para esse consenso.

No entanto, assinalamos como notas de maior preocupação quatro áreas: o nítido

retrocesso nos direitos e reconhecimento dos Antigos Combatentes e Deficientes das

Forças Armadas; o regresso de algumas empresas, directa ou indirectamente ligadas

a industrias militares, a uma situação financeira deplorável; e o carácter híbrido,

potencialmente conflitual, da reforma da estrutura superior das FA. Chamamos

ainda a atenção para o custo prazo – nomeadamente em cenário de crescimento

económico – dos recuos nos incentivos que constituem âncoras de uma

profissionalização bem sucedida das FA.

RESPOSTAS

Page 56: programa eleitoral CDS-PP

I. A Defesa Nacional constitui uma das prioridades fundamentais do Estado e deverá

ser vista e assumida na sua forma multi-dimensional e tendo em conta as ameaças

resultantes das mudanças geopolíticas do mundo actual.

Neste contexto, a política de Defesa Nacional passa por um modelo adequado de

serviço militar, pela reestruturação e reaquipamento das Forças Armadas, pelo

reforço das componentes extra-militares da Defesa (por ex: defesa da costa contra

infiltração de droga e imigração clandestina, protecção das águas nacionais), pela

eficácia dos serviços de inteligência e por uma recuperação do prestígio, e

consideração a que tem direito, em qualquer Estado democrático moderno, a

instituição militar.

O modelo de serviço militar continuará a passar por uma componente

profissionalizada que integrará o efectivo permanente dos três ramos das Forças

Armadas. Assim, merece especial relevo o capital humano sem o qual nenhuma

instituição terá possibilidade de se desenvolver e levar à prática a sua missão.

A profissionalização é, por isso, o mais forte desafio de modernização das FA. O facto

de vivermos uma conjuntura difícil, em termos económicos, tem permitido que a

instituição seja criadora líquida de emprego, mas não deve iludir-nos quanto às

dificuldades de recrutamento que podem existir em fase de crescimento.

Torna-se, pois, fundamental criar as condições para responder às necessidade de

todos quantos desejam abraçar a profissão militar, para os que nela desempenham

funções e para aqueles que, tendo servido a instituição deverão, como tal, ter o

justo e devido reconhecimento. Como tal, a aposta na renovação da imagem da

Defesa perante a sociedade civil e a consciência de que hoje ela compete no

mercado de trabalho são factores fundamentais de sucesso. Tal como são a

necessidade de saber atrair os jovens, ter capacidade para os manter nas FA e

prepará-los para um futuro que lhes permita uma reintegração na sociedade civil.

O primeiro desafio que hoje se coloca à Defesa passa assim pela aposta nos recursos

humanos, inseridos em quadros permanentes ou vinculados a regimes contratuais,

cujas qualificações e formação permitem uma resposta eficaz e adequada aos

crescentes desafios que se avizinham, os quais envolvem uma modernização do

próprio conceito de Segurança e Defesa no séc. XXI.

Page 57: programa eleitoral CDS-PP

Acresce que a participação activa em alianças de defesa colectiva, em forças

multinacionais de manutenção da paz e segurança, a prevenção e resolução de crises

que afectem quer os interesses nacionais, quer a estabilidade internacional, e a

cooperação com os Países de Língua Oficial Portuguesa, são outros tantos desafios a

que só é possível responder com recursos humanos motivados e competentes.

O conceito de “menos forças, melhores forças” exige como condição que o elemento

humano possa fazer mais e melhor, com menor número de efectivos, o que, por seu

turno, exige também o acesso a multiplicadores de potencial de combate e novas

capacidades. A principal preocupação do CDS vai assim para o capital humano das FA,

capaz de oferecer, manter e sustentar novos equipamentos, a par de uma

organização modular e flexível, adequada aos novos requisitos de empenhamento

operacional conjunto e combinado.

Deste modo, o CDS considera essencial dar sustentabilidade à profissionalização das

FA. Isso implica, prioritariamente: corrigir perdas importantes no sistema de

incentivos para quem queira fazer um contrato com as FA; prever um regime

contratual de duração prolongada; potenciar o serviço militar voluntário como factor

de empregabilidade e valorização de competências. Por outro lado, o sistema de

carreiras militares deve seguir princípios de gestão planeada, privilegiando o mérito

no desempenho funcional. A revisão dos curricula de formação militar, consoante as

necessidades das missões e em coerência com as carreiras, é outro objectivo

importante. Acrescentamos, ainda, o incremento da empregabilidade dos militares

não permanentes.

II. Questão não menos importante é aquela que se refere aos Antigos Combatentes e

aos Deficientes das Forças Armadas. É um compromisso completar o processo de

reconhecimento dos Antigos Combatentes, universo de Portugueses a quem o país

deve prestar uma gratidão que o actual Governo, infelizmente, diminuiu.

Tão importante como isso é saber dar um passo em frente nas questões que se

prendem com a saúde dos Antigos Combatentes, nomeadamente no âmbito do “stress

de guerra” e da reabilitação dos que ficaram incapacitados. Enfim, é compromisso do

CDS restabelecer direitos sociais dos Deficientes das Forças Armadas que,

inexplicavelmente, foram cortados, encarando com outra dignidade este sector da

Page 58: programa eleitoral CDS-PP

nossa população. E dar mais ênfase a programas de recuperação e dignificação dos

cemitérios de militares Portugueses nos países onde houve teatro de guerra.

III Para a valorização das Forças Armadas é também relevante a estabilidade e o bom

progresso dos programas de reequipamento. Nesta matéria é um sinal preocupante o

adiamento da revisão ordinária da Lei de Programação Militar.

Estando feitas as opções principais, face ao carácter obsoleto de muitos dos

materiais das FA, a questão está em executar positivamente os programas. Até pela

sua absoluta prioridade para as missões, a nossa preocupação é recuperar o atraso

nos NPO e NCP – Navios de Patrulha Oceânica e Navios de Combate à Poluição - e

ultrapassar as indefinições quanto ao Navio Polivalente Logístico. Também nos

preocupam os atrasos na modernização dos actuais C-130, na substituição dos antigos

Allouette, programa conjugado com os helis ligeiros do Exército: estes atrasos

ameaçam ter consequências operacionais. A querela judicial permanente em torno

da arma ligeira tem de ser ultrapassada. Todos estes programas, note-se, estão

previstos e cabimentados na actual LPM.

IV Uma visão moderna da segurança, à luz de um conceito mais vasto de segurança

humana, implica que as Forças Armadas podem e devem participar mais missões,

nomeadamente de interesse público, tal como apontam os actuais Conceitos

Estratégicos. Estaremos disponíveis para uma clarificação dos dispositivos

constitucionais nesta matéria, tendo em conta que a próxima legislatura é de revisão

constitucional.

No plano internacional, é relevante uma actuação com base no conceito de

segurança cooperativa. Coerentemente, deve reforçar-se o pragmatismo, a eficiência

e a responsabilidade pública na aquisição, uso e manutenção de equipamentos,

conjugando as componentes de defesa (defense), segurança (security) e protecção

(safety). Esta visão contemporânea da Defesa deve ter reflexo na doutrina e no

ensino militares, potenciando o que é conjunto.

V O CDS partilha o entendimento segundo o qual Portugal pode ter ambições

selectivas nas indústrias de defesa, geradoras de emprego, tecnologia e riqueza

nacional. Mas isso implica visão estratégica e uma aposta integrada nas indústrias em

Page 59: programa eleitoral CDS-PP

que podemos crescer, procurando, quando for o caso, parcerias internacionais

credíveis.

Contra a visão “departamental” desta matéria, a experiência de casos como as OGMA

e os Estaleiros de Viana do Castelo prova que há sinergias entre indústrias e

investimentos civis e militares. Coerente com o contributo que deu neste sector, o

CDS tudo fará para ampliar as possibilidades de Portugal em mercados como a

manutenção e fabrico aeronáutico, construção naval e tecnologias de comunicação.

Tal como sucedeu nos países que conseguiram modernizar com êxito as respectivas

FA, o CDS considera relevante o desenvolvimento do Sistema Integrado de Gestão da

Defesa Nacional, a autonomização de uma Agência de Património da Defesa para,

mediante directrizes claras, rentabilizar o caso especial dos activos patrimoniais das

FA – condição de sustentabilidade de outras políticas no sector. A política de

contrapartidas carece de uma direcção clara, profissionalização dos seus agentes e

divulgação, pública e periódica, dos seus resultados.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Prioridade aos recursos humanos da Defesa Nacional.

2. Tomar medidas para sustentar a profissionalização das FA e evitar rupturas no

recrutamento em cenário de crescimento.

3. Retomar uma política de reconhecimento dos Antigos Combatentes.

4. Compromisso com os direitos sociais dos Deficientes das FA.

5. Melhorar sensivelmente a resposta do sistema em caso de “stress de guerra” e

reabilitação.

6. Clarificação constitucional dos conceitos de segurança e defesa.

7. Maior empenhamento das FA em missões de interesse público.

8. Ambição industrial em sectores como manutenção e fabrico aeronáutico,

construção naval e tecnologias de comunicação.

9. Gestão autónoma do património da Defesa.

10. Profissionalização das contrapartidas e divulgação pública e periódica dos

seus resultados.

Page 60: programa eleitoral CDS-PP

EDUCAÇÃO

CRÍTICAS

1. Facilitismo na consideração nos deveres dos alunos.

2. Desautorização do professor.

3. Estatuto da carreira docente injusto.

4. Redução do problema da educação à avaliação dos professores e arrogância em

todo o processo.

O actual primeiro-ministro não é avaliável sem a sua Ministra de Educação, que

sempre se recusou a substituir (embora anuncie informalmente a sua não

recondução, caso vencesse as eleições).Precisamente porque ambos significam um

estilo – a arrogância - a deram testemunho de uma incapacidade marcante de

perceber os erros a tempo.

A Educação foi transformada no laboratório de ensaio das demonstrações de força de

um poder absoluto. O maior erro cometido foi a perseguição da imagem e a

diminuição de autoridade dos professores como um todo e enquanto classe, uma

classe, tentando “virar” o país contra os docentes.

A outra linha de força da política educativa foi a tentação de obter sucesso

estatístico a todo o custo, diminuindo os critérios objectivos, legais e

regulamentares de exigência na avaliação dos alunos. Um país onde o desemprego

jovem atinge os 20% não pode satisfazer-se com as ilusões do facilitismo.

RESPOSTAS

Page 61: programa eleitoral CDS-PP

I. A educação, em Portugal, passou por momentos de enorme conflitualidade. Os

resultados práticos de uma política de confronto estão infelizmente à vista. A paz

que seria necessária nas escolas tem faltado. A autoridade dos professores acabou

por ser, de uma forma gratuita, posta em causa. Os pais demonstram, de forma

constante, preocupação pelo futuro da formação dos seus filhos. São sistemáticos os

problemas, desde a carreira docente, às condições das escolas, ou ao grau de

facilidade dos exames. Tudo se vai repetindo sem grande inovação todos os anos

lectivos.

Infelizmente os estudos internacionais independentes não registam grandes evoluções

nos graus de literacia em matérias tão relevantes como a Língua Portuguesa,

Matemática e Ciências. A preocupação com os alunos é cada vez menos sentida em

políticas que não assumem o lugar central da educação. Os documentos legislativos

relativos ao Estatuto do Aluno, Estatuto da Carreira Docente, e Sistema de Avaliação

dos Professores, tiveram polémica a mais e resultados a menos.

II. Para o CDS é evidente o excesso de peso do Ministério da Educação, a acção

asfixiante do Estado, a falta de uma cultura de responsabilidade e de exigência, a

ausência de liberdade de escolha para as famílias e a exiguidade da autonomia. Tudo

isto tem de ser alterado. Para o efeito, é necessária a vontade reformista de

terminar com o excessivo peso da “5 de Outubro”. A vontade de controlo ideológico

sobre a área da educação chegou, nos últimos quatro anos, a níveis inéditos.

Infelizmente, ainda hoje, a liberdade de aprender e de ensinar que defendemos está

esquecida devido a um conjunto de preconceitos que a esquerda não consegue

ultrapassar. Felizmente, à direita, existe um partido que assume dentro do seu

caderno de encargos, uma politica de educação em que a liberdade de escolha, entre

as escolas do Estado e entre estas e as particulares e cooperativas não é

escamoteada.

Assim, pretendemos que sejam aplicadas, nos próximos quatro anos, em Portugal, um

conjunto coerente de propostas, enquadradas em sete linhas essenciais i) reforçar a

Page 62: programa eleitoral CDS-PP

autonomia das escolas ii) avançar, progressivamente, para uma maior liberdade de

escolha em famílias em relação à escola que querem para os seus filhos iii) instituir

um sistema de avaliação geral e justo na educação iv) concretizar um estatuto da

carreira docente motivador v) apostar na vertente pedagógica dos vários ciclos de

ensino vi) reforçar a exigência, o rigor e a qualidade do ensino vii) modernizar os

currículos e os ciclos de escolaridade.

III. O CDS propõe o reforço da autonomia das escolas após ter apresentado e

discutido, no Parlamento, o primeiro projecto completo para a liberdade de escolha

e autonomia das escolas. O CDS não se resigna perante escolas que não têm a

autonomia necessária para determinar o seu caminho no plano pedagógico e

administrativo. Assim, entre as medidas prioritárias para a nossa Educação

defendemos a necessidade de assinar mais contratos de autonomia e acompanhar -

com o necessário reforço orçamental - a actividade das escolas que se encontram sob

contrato de associação.

Consideramos que as escolas devem possuir autonomia para determinar - dentro de

um quadro comum - a sua oferta pedagógica, a sua política de contratação de

professores, a gestão do seu espaço e a ligação ao ambiente empresarial e social em

que se inserem. Tudo com a liderança de um Director de Escola e de um conjunto de

órgãos com estrutura simplificada, aberto à sociedade, valorizando o papel dos pais e

co-responsabilizando a comunidade, e com competências bem definidas.

O Director da Escola deve ser professor. Garante, após formação própria e

especializada, a gestão profissional dos vários recursos existentes na escola. Por essa

via as escolas serão dotadas não só de maior autonomia, como também de crescente

responsabilização.

A oferta pedagógica das escolas deve, dentro de certos limites, ser flexível. Só assim,

se poderá adaptar o sistema de ensino aos dias de hoje e conseguir a necessária

ligação entre a escola e o mundo profissional de cada comunidade em concreto. Mais

do que impor a escolaridade, importa que esta esteja adaptada ao emprego. Só desta

Page 63: programa eleitoral CDS-PP

forma será verdadeiramente atractiva e eficaz. É este o grande desafio dos dias de

hoje para o qual o CDS propõe soluções.

Reafirmamos que a autonomia é condição da identidade de cada escola. E é entre

essas identidades que a família deve poder escolher.

IV. Defendemos que, de forma gradual, deve ser dada às famílias liberdade de

escolha das escolas frequentadas pelos seus filhos. Para esse efeito, deve surgir a

ideia de serviço público de educação baseado na qualidade. O CDS não se resigna a

uma falsa distinção entre educação pública e privada baseada no proprietário da

escola. Se a escola é propriedade do Estado, de privados ou de cooperativas, o

interessa às famílias é o serviço educativo que prestam.

Estas devem poder escolher a escola dos seus filhos - estabelecido que esteja o

necessário enquadramento financeiro - de acordo com o projecto pedagógico que é

apresentado. A escolha deve ser livre e depender do juízo que se faça sobre o

modelo de escola apresentado e desenvolvido. Esta liberdade não pode estar

limitada, como hoje sucede, àqueles que mais posses têm ou, no caso do ensino do

Estado, à alternativa entre a casa de morada da família ou do emprego dos pais. A

escolha pode ter como aspecto essencial, entre outros factores, o ensino mais

especializado de uma determinada disciplina, a sua adequação ao destino profissional

do aluno, as práticas pedagógicas e disciplinares do estabelecimento, os métodos de

ensino, a importância dada à preparação física e ao desporto ou às artes, os

resultados que se conseguem naquela escola. Ou seja, a escolha é uma preferência

efectivados pais, tal como a autoridade, na escola, é dos professores.

A liberdade de escolha corresponde à maior alteração que se pode instituir na

Educação em Portugal, terminando com a ideia de um Ministério da Educação que

tudo domina e determina. O seu papel deve definitivamente passar a ser menos

relevante. Defendemos um método gradualista, com um primeiro passo de

experimentação a nível regional.

Page 64: programa eleitoral CDS-PP

Primária será a ideia de qualidade e de informação transparente com base em

critérios claros e objectivos. Deste modo, deve existir um sistema de avaliação das

escolas que tenha como ponto central a vertente pedagógica.

V. Defendemos um sistema geral de avaliação na Educação que abarque as políticas

educativas, as escolas, os alunos, os manuais, os programas e os professores.

A avaliação das escolas deve ser universalizada e tornar-se uma prática regular. Só

assim será possível avançar com as mudanças necessárias. A avaliação deve ter

critérios objectivos e conhecidos, atender às realidades sociais subjacentes e premiar

o esforço que se faz no dia a dia das escolas.

A política de exames deve - como objectivo a prazo – visar o princípio da sua

realização no final de cada ciclo. Para esse efeito, a sua introdução deve ser feita,

de modo gradual, no 4.º, 6.º e 9.º anos de escolaridade.

Os alunos devem ser avaliados de uma forma sistemática, regular, e exigente. Será

esse um dos melhores serviços que podermos prestar. Parece, então evidente que se

devem retirar os exames da polémica, defendendo para esse efeito o CDS que a

produção destes deve ser realizada por uma instituição autónoma ao Ministério da

Educação, utilizando o sistema dos “bancos de perguntas” que vão sendo testados

ano após ano, com a colaboração das sociedades científicas e profissionais.

Os programas também devem ser alvo de avaliação. É inaceitável a manutenção de

uma situação em que não se avalia o que é ensinado nas nossas salas de aula. O

sistema tem muita discussão orgânica mas pouca de conteúdos. Para este efeito

devem ser constituídas comissões em que tenham assento obrigatório as sociedades

científicas e profissionais, bem como personalidades de reconhecida competência na

área científico-pedagógica que esteja em causa.

Page 65: programa eleitoral CDS-PP

Em relação aos manuais escolares, é urgente acompanhar a execução da lei que

regulamenta esta matéria. Se necessário, deve caminhar-se para alterações que lhe

venham a dar maior praticabilidade, transparência e eficiência.

Por fim, o CDS defende o princípio da avaliação dos professores e entende que é

necessário defender o seu prestígio social. Criticámos de forma frontal uma política

persecutória, que quis pôr em causa a autoridade e o brio profissional dos

professores. Sempre defendemos que as escolas precisam de paz e os professores de

ver a sua autoridade defendida. Quem convive todos os dias com os alunos não são os

políticos do Ministério da Educação, são os professores. Confundir deliberadamente

tudo – por exemplo, a progressão dos professores na carreira e as notas que dão aos

alunos; ou o mau desempenho de alguns, com a imagem de toda uma classe que é

essencial ao futuro do país -, foi um erro político voluntário e forçado.

A avaliação dos docentes deve ter por base o mérito e a qualidade, e ser centrada

nas vertentes científica e pedagógica. Não pode ser burocrática nem interferir com a

avaliação dos alunos. Terá de ser feita sem prejudicar o ano escolar, reclama uma

base hierárquica, não se confunde com “avaliações” sem competências específicas e

precisa de um sistema de arbitragem. Lançámos como ponto de partida o modelo que

actualmente é aplicado no ensino particular e cooperativo, subscrito por consenso e

que se tem revelado eficaz. Se modelos alternativos tivessem sido estudados a

tempo, esta questão estaria já resolvida e não faria parte dos programas eleitorais.

Isso não sucede por teimosia do Governo e do PS. O CDS não aceita a manutenção de

erros evidentes. O que pretendemos é o prémio para quem manifeste bons

desempenhos, e a ligação entre a avaliação e a necessária formação contínua para o

bom desempenho das funções docentes.

VI. É urgente concretizar um Estatuto da Carreira Docente que seja motivador,

atenda à possibilidade de percursos diferenciados voluntários e seja adequado à

realidade das nossas escolas.

Page 66: programa eleitoral CDS-PP

Um dos muitos erros que foi cometido pelo Ministério da Educação foi o da divisão da

carreira docente entre professores e professores titulares, sem que haja critérios

compreensíveis para o efeito. Os efeitos práticos ainda hoje são sentidos de forma

muito negativa nas nossas escolas.

O CDS entende que se deve caminhar para uma carreira docente em que se considere

o trabalho desenvolvido ao longo de toda a carreira, que se desenvolva em estrutura

única, mas que permita, por opção do professor, um percurso diferenciado em

função de responsabilidades de direcção e de natureza administrativa, tendo em

conta a necessária formação especializada para o exercício das mesmas. Também

aqui, a nossa proposta está publicada.

VII. É prioritário apostar na vertente pedagógica dos vários ciclos de ensino: a

preocupação com as salas de aula tem de ser a primeira de qualquer política de

educação.

No ensino pré-escolar defendemos a clarificação dos conteúdos programáticos, de

modo a tornar este nível numa verdadeira preparação para o ensino primário.

Defendemos ainda que se avance rapidamente no sentido de tornar a oferta

educativa universal a partir dos três anos de idade.

No primeiro ciclo do ensino básico, para além da necessária aposta na formação dos

professores com especialização em Língua Portuguesa e Matemática, devem ser

criadas as efectivas condições para o necessário ensino da Música e das Ciências no

plano experimental. A possibilidade de criação de equipas pluridisciplinares e de

horários neste ciclo também devem constituir prioridades.

No segundo e terceiro ciclo do ensino básico, é necessário reorganizar o currículo e

programas – que têm uma carga horária excessiva e manuais escolares em abundância

– e centrar a carga horária no ensino da Língua Portuguesa, Matemática, Inglês,

Ciências, História, Educação Física e Música. Dentro desta possibilidade, deve ser

considerado o desdobramento das aulas de Português e Matemática em teórico-

Page 67: programa eleitoral CDS-PP

práticas e práticas. O ensino destas duas disciplinas no ensino básico deve utilizar a

memorização e a mecanização como elementos fundamentais na aprendizagem,

tendo em conta a importância da compreensão da mecânica das relações e o

contexto dos problemas.

Já em relação ao ensino secundário, é necessário prosseguir o acompanhamento da

reforma e reforçar os cursos profissionais, estabelecendo uma rede articulada do

ensino profissional, com um conjunto de protocolos, nomeadamente com o sector

empresarial, que potenciem o seu desenvolvimento. A aposta deve ser nos cursos

com saída profissional e inserção no mercado de trabalho, devendo ser as próprias

entidades empregadoras a colaborar na definição dessas necessidades.

VIII. Importa ainda adoptar um conjunto de medidas que visem melhorar o dia-a-dia

nas nossas escolas. Entre estas cumpre destacar i) a reforma do Estatuto do Aluno,

determinando soluções que correspondam a uma cultura de dever, rigor, da

disciplina e esforço ii) não é aceitável a tentativa de “passar” à força os alunos,

independentemente da assiduidade iii) responsabilização dos encarregados de

educação pelo cumprimento da escolaridade obrigatória e pelos actos dos seus filhos

em relação à escola iv) adequar a formação profissional dos professores às suas

necessidades de natureza docente v) intensificar o relacionamento com o Ministério

da Cultura, por forma a perspectivar a possibilidade de intervenções escolares, em

matérias de natureza cultural vi) criar aulas de língua portuguesa para estrangeiros e

defesa da relevância do ensino do português no estrangeiro vii) promover a adesão

dos jovens o desporto escolar, utilizando-o como instrumento de criação de hábitos

de vida saudáveis viii) desenvolvimento do ensino especial, recuperando as equipas

de coordenação dos apoios educativos/educação especial, multidisciplinares,

formadas com técnicos com formação específica para actuar nesta área ix)

alargamento a todo o território da cobertura de oferta pré-escolar a partir dos 3

anos.

IX. Por fim, entendemos que o que é ensinado nas nossas escolas deve estar

intimamente relacionado com os novos tempos e pensado de forma a desenvolver a

Page 68: programa eleitoral CDS-PP

imaginação e a criatividade que, no futuro, permitirão enfrentar desafios e um

mundo seguramente diferente.

Defendemos, assim, a modernização dos currículos e dos ciclos de escolaridade. Por

essa via, os programas devem ser reanalisados de acordo com as novas necessidades.

Por outra via, a divisão dos ciclos de escolaridade em Portugal é excessivamente

compartimentada. A normalidade nos Estados da União Europeia passa pela divisão

entre ensino primário e secundário. Com esta divisão, o estabelecimento dos

percursos escolares ficaria mais claro e mais homogéneo. O debate na educação

também passa por esta proposta.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Reforço da autonomia das escolas e dos contratos de autonomia.

2. Alargamento do conceito de autonomia das áreas pedagógicas, de contratação

de professores, gestão de espaços e património e ligação à comunidade,

nomeadamente às empresas, dentro de balizas gerais comuns.

3. Avaliação objectiva das escolas, dos programas e dos manuais.

4. Avaliação dos professores inspirada no modelo em vigor no Ensino Particular e

Cooperativo.

5. Revisão do Estatuto da Carreira Docente, com base na proposta por nós já

apresentada, terminando com a distinção injusta entre professores e

professores titulares.

6. Introdução gradual de exames no final de cada ciclo escolar.

7. Revisão do Estatuto do Aluno baseada numa cultura de assiduidade, disciplina

e esforço e mérito.

8. Objectivação, transparência e rigor no sistema de produção dos exames

nacionais, que deve basear-se no sistema de “banco de perguntas”, testado

com a colaboração das sociedades científicas e profissionais.

Page 69: programa eleitoral CDS-PP

9. Aposta nos percursos diferenciados no ensino secundário e na ligação às

necessidades do mercado.

10. Alargamento de cobertura de oferta pré-escolar a partir dos 3 anos.

Page 70: programa eleitoral CDS-PP

EMPRESAS, MERCADOS E ECONOMIA

CRÍTICAS

1. Falências de empresas e escassez de nascimento de novas empresas.

2. Perda de quota de mercado nas exportações.

3. Linhas de crédito com condições inacessíveis.

4. Desvio de missão estratégica de CGD.

5. Problemas de supervisão graves no sistema financeiro.

O governo socialista demitiu-se de orientar esforços, recursos e apoios para

empresas e sectores com boas perspectivas de crescimento, geradores de emprego e

riqueza e potencialmente competitivos a nível internacional. Ao invés, na última

legislatura o governo socialista tornou-se num "bombeiro de empresas", mas um

bombeiro cego que apagava fogos consoante o impacto mediático de cada empresa

ou da sua aproximação ao poder. Não existiu nunca a avaliação sobre a viabilidade

ou a sustentabilidade futura da empresa.

O primeiro-ministro reagiu tarde à crise internacional, negando-a quando era já uma

evidência. Quando reagiu, fê-lo de forma desordenada e pouco consistente. As

primeiras medidas de apoio às empresas foram totalmente ineficazes. Eram vagas,

demasiado macro, não atendiam aos problemas que eram diferentes de sector para

sector.

Em Portugal, há cerca de 300 mil micro, pequenas e médias empresas, responsáveis

por mais de 2 milhões de empregos, bastante afectadas pela crise. O Governo pouco

se interessou por elas, comparativamente com a importância dada às grandes

empresas, nomeadamente do sector financeiro. Optou, sim, por um

Page 71: programa eleitoral CDS-PP

intervencionismo directo estatal, em decisões empresariais, ou indirecto, utilizando

para o efeito a CGD, que com frequência interveio em relações entre accionistas que

são exclusivamente da esfera privada destes. Com isto criou-se a ideia de que a

proximidade ao Estado se tornou um factor crítico de sucesso.

RESPOSTAS

I. Nos últimos anos, Portugal continuou a divergir face à União Europeia, quer em

produtividade média por trabalhador, quer considerando qualquer outra medida

global de riqueza.

Nestes últimos 15 anos, o crescimento económico foi demasiado alavancado em

investimento público em infra-estruturas, que não é igualmente importante e que,

seguramente nos últimos quatro anos, pouco contribui para o aumento da

competitividade das nossas empresas ou para a atractividade do País na captação do

investimento externo. Ora, o valor acrescentado marginal do novo investimento

público nestes domínios é cada vez menor.

Portugal ainda não se afastou do modelo de desenvolvimento baseado num modelo

económico de baixos salários e de baixa qualificação profissional. Este modelo não

resiste aos impactos da globalização do século XXI.

A economia portuguesa tem revelado incapacidade de canalizar investimento para a

inovação, investigação e desenvolvimento. O pouco investimento que existiu,

correspondente a uma das mais baixas taxas da Europa, pouco contribuiu para o

aumento da riqueza ou criação de emprego.

Nesta legislatura, Portugal não se tornou mais competitivo face a outras economias

europeias, nomeadamente da Europa de Leste. Ficámos aquém das necessidades na

captação de mais investimento externo, o que também é revelador da fraca

competitividade do nosso país. Parte significativa desse investimento foi feita em

empresas já instaladas, não correspondendo a empresas criadas de novo em Portugal.

Page 72: programa eleitoral CDS-PP

Em termos de exportações, um dos motores do crescimento dos últimos anos, o

investimento não resultou tanto de uma estratégia interna e concertada, mas mais

uma vez do efeito exógeno do crescimento do comércio global. A nossa posição

relativa no mercado mundial tem-se vindo a degradar. Perdemos mais de 10% de

quota de mercado nos últimos 5 anos.

A este facto, juntam-se outros aspectos que nos fragilizam. Somos um dos 5 países da

OCDE com mais sobreposição de “perfil exportador” com as economias emergentes

da Ásia, e assim mais ameaçado num futuro próximo.

Somos um dos países europeus com menor número de marcas internacionais e com

menor controlo dos seus canais de distribuição, factores essenciais para o aumento

do valor acrescentado das exportações, e logo, para o aumento da capacidade e

competitividade internacional. Cada vez mais, somos um país de serviços com

reduzida industrialização, com alguns sectores a viver em situações monopolistas ou

demasiado proteccionistas, excessivamente próximas da politica governamental,

quer por via da detenção do capital, quer por via regulamentar.

Não obstante este cenário pouco animador, o Estado continuou a “cavalgada fiscal”

com consequências na deterioração da competitividade das nossas empresas e

inibição da atracção de investimento externo. A carga fiscal aumentou de 34% para

38%, o que se traduziu não apenas num aumento da carga fiscal relativa, mas

também num aumento em valor absoluto.

Acresce que sofremos ainda uma enorme dependência energética dos combustíveis

sólidos, nomeadamente do petróleo. De uma forma geral, os preços da electricidade

e do gás são superiores aos dos nossos parceiros comunitários, principalmente da

Espanha. Foram feitos esforços na diversificação para fontes de energia alternativas

e renováveis. Mas não houve uma redução significativa dos custos energéticos para as

empresas.

A nossa economia assenta principalmente em pequenas e médias empresas, na maior

parte dos casos focadas no mercado nacional e regional onde se inserem, com uma

Page 73: programa eleitoral CDS-PP

desproporção do sector terciário face ao secundário. Cerca de 250 mil empresas de

dimensão média não elevada – até 50 trabalhadores - são responsáveis por mais de

1,5 milhões de empregos.

Por fim, existem fortes assimetrias regionais, já que 6 distritos são responsáveis por

cerca de 70% do tecido empresarial Português.

II. Numa economia aberta, global e competitiva, de forma a ser comparativamente

forte, é fundamental que qualquer país defina claramente quais os sectores de

actividade económica onde quer estar, para os quais pretende canalizar a maior

parte dos seus recursos financeiros e os seus melhores recursos humanos.

Para tal é necessário analisar os sectores a apoiar numa perspectiva integrada,

procurando estimular o aparecimento e o fortalecimento de empresas em cada uma

das fases da cadeia de valor do respectivo sector.

Adicionalmente, atendendo ao desequilíbrio da Balança Comercial Portuguesa e ao

valor elevado da dívida pública face ao PIB português (insustentável a médio prazo),

importa não só procurar estimular empresas com vocação exportadora, mas também

empresas que produzam bens e serviços em que Portugal seja deficitário, de que são

exemplos as empresas dos sectores agro-alimentares, automóvel ou energético. As

linhas de crédito e as linhas de seguros de crédito à exportação deverão ter em

atenção estes objectivos estratégicos.

Assim, a atenção do Governo deverá estar centrada em seis pilares fundamentais: i)

fomento das exportações e internacionalização das empresas portuguesas ii)

captação de investimento estrangeiro para Portugal iii) gestão focada dos fundos

nacionais, comunitários e linhas de crédito iv) geração de emprego qualificado a

longo prazo v) promoção de actividades e empresas que valorizem os recursos

naturais de Portugal vi) redução dos custos energéticos para os cidadãos e as

empresas.

Page 74: programa eleitoral CDS-PP

III. No que respeita ao fomento à exportação e à internacionalização das empresas,

importa criar condições para fortalecimento e o ganho de escala da nossa indústria,

de forma a produzir bens com mais qualidade, mais inovadores e mais baratos.

Atendendo à reduzida dimensão da indústria portuguesa, é necessário promover

activamente a concentração empresarial, no sentido de ser possível obter ganhos de

escala e capacidade de investimento em Investigação & Desenvolvimento. O recente

Fundo para Consolidação e Concentração de empresas portuguesas deve ser

impulsionado, assim como precisam de impulso os reforços dos capitais próprios das

empresas, nomeadamente através do recurso ao mercado bolsista.

O Estado deve promover e divulgar proactivamente os acordos entre Portugal e

outros países que facilitem a venda de produtos portugueses no exterior. As

indústrias com vocação exportadora devem ser claramente apoiadas, sendo colocado

ao seu serviço toda a capacidade de influência do Estado Português, nomeadamente

através da AICEP e da rede diplomática, que podem prestar mais apoio quer à

internacionalização das empresas quer às acções de captação do investimento

directo estrangeiro. Os diplomatas, observadores acreditados, com acesso a

contactos ao mais alto nível e com a possibilidade de obterem informação

privilegiada, são trunfos muito importantes para a entrada e permanência das nossas

empresas nos mercados internacionais. A informação que as embaixadas dispõem

inclui a análise da situação política e da existência de eventuais riscos para o

investimento, o que muitas vezes escapa às empresas, particularmente às PMEs.

Ainda a respeito do papel da nossa representação externa, importa valorizar os

consulados e o seu contacto com as comunidades portuguesas, onde podemos incluir

também os portugueses que ocupam lugares de destaque em empresas estrangeiras.

A dimensão empresarial das comunidades portuguesas, a sua experiência e domínio

dos mercados podem ajudar muito aos novos investimentos, assim os consulados

possam servir de correia transmissora desse capital de conhecimento.

Page 75: programa eleitoral CDS-PP

O CDS defende, pois, o apoio da rede diplomática, que deve ser dotada dos meios

necessários à prioridade absoluta que devemos dar à internacionalização das

empresas portuguesas. Tal passa por i) promover as exportações portuguesas junto

dos Estados de acreditação ii) ajudar à captação do investimento directo estrangeiro

iii) apoiar em concreto a implantação das empresas portuguesas (incluindo a

protecção consular aos cidadãos nacionais que as integrem) iv) por prestar, a pedido

e sempre que possível (sem quebrar regras de confidencialidade), informações que

possam ser relevantes para os agentes económicos nacionais v) por apoiar e promover

acções de divulgação do país como destino turístico de excelência.

IV. A captação de investimento estrangeiro para Portugal assume uma importância

fundamental para o desenvolvimento económico do País, pois temos um défice de

capacidade de investimento endógeno.

Para promover esse investimento, importa elaborar uma estratégia integrada de

captação de investidores para Portugal, dando a conhecer os sectores em que o País

tem vantagens competitivas, definindo um enquadramento fiscal e regulamentar

atractivo, formando mão-de-obra em quantidade e qualidade suficiente e reduzindo

ao máximo os custos de contexto.

Há ainda factores estruturais na nossa economia, como a demora na justiça ou falhas

na qualificação da mão-de-obra, que são decisivos num ambiente favorável ao

investimento.

A captação de investimento estrangeiro deverá ser efectuada de uma forma

selectiva, ou seja, analisando bem o custo/benefício desse investimento e sua

sustentabilidade futura. Investimentos que não incorporem muita mão-de-obra,

produtos ou know-how português são menos prioritários, no elenco dos apoios, face

aos investimentos cuja incorporação nacional seja mais elevada.

Page 76: programa eleitoral CDS-PP

Nas eventuais contrapartidas que o Estado Português der ao investimento estrangeiro

deve sublinhar-se a salvaguardada contratual da permanência mínima do

investimento em Portugal e da incorporação de determinados volumes de bens ou

know-how nacional.

V. A aposta na qualificação deve de ser prioritária na economia Portuguesa. É

imprescindível podermos formar pessoas capazes de competir no mercado global.

Hoje, os trabalhadores portugueses concorrem não apenas com os 400 milhões de

europeus, mas também, e cada vez mais, com gerações de quadros bem qualificados

que todos os anos saem dos países BRIC, com particular incidência para o Brasil, Índia

e China.

Hoje existem novas formas de trabalho, novas valências técnicas que Portugal pode e

deve aproveitar. Devemos por isso incentivar a inovação por via da formação. Para

isso, é importante apoiar as despesas que as empresas efectuam com os seus

empregados na conclusão de licenciaturas, cursos de pós-graduação, mestrados ou

doutoramentos.

Paralelamente, devem ser criados mecanismos de incentivo para melhoria na

qualificação dos trabalhadores. O Estado pode prolongar o subsídio de desemprego a

trabalhadores que utilizem o tempo em que estão desempregados para melhorar a

sua formação (frequência de um curso superior com aproveitamento, mestrados e

cursos de pós-graduação). Os incentivos poderão advir também de períodos de

carência de empréstimos ou de comparticipação em empréstimos bancários, cujo fim

seja exclusivamente utilizado no pagamento dos custos de formação.

VI. De entre as actividades que o Estado deve promover, têm um lugar

particularmente relevante as que valorizam o aproveitamento dos recursos naturais

do país. Aqui incluem-se as pescas e seus derivados, a agricultura e a agro-indústria,

a silvicultura, a pasta de papel e a biomassa.

Page 77: programa eleitoral CDS-PP

Se é verdade que as pescas e os seus derivados têm sido, teoricamente, uma

prioridade da economia portuguesa, em termos práticos a importância deste sector

tem vindo a descer de ano para ano. Portugal apresenta indiscutíveis vantagens

comparativas neste sector, destacando-se a sua vasta zona económica exclusiva. Os

apoios devem ser no sentido do aumento da capacidade de pesca, da valorização do

pescado nos mercados nacionais e internacionais e da melhoria da capacidade de

transformação a jusante, por exemplo, na produção de conservas, congelados,

farinhas e outro tipo de produtos à base de peixe.

Portugal tem claras vantagens comparativas na produção de alguns produtos

agrícolas. O apoio a estes produtores deve ser privilegiado, no sentido de ganharem

escala e dimensão e de conseguirem aceder a mercados externos.

Toda a fileira florestal portuguesa, para a qual o país está vocacionado, deverá ser

estimulada e apoiada. A valorização da floresta, o apoio ao emparcelamento e à

gestão única de várias propriedades de pequena ou média dimensão, os incentivos a

toda a indústria transformadora da madeira e de cortiça, o aproveitamento de

resíduos florestais para a produção de energia (biomassa) são áreas a ter em

atenção.

Por fim, apesar de o turismo ser um sector já de há muito eleito como um dos

sectores estratégicos para Portugal, há ainda muito a fazer no sentido de alargar a

sua importância. Para além do turismo tradicional onde somos bastante fortes, é

necessário procurar outro tipo de turistas, nomeadamente através do turismo

residencial e do turismo cultural, de saúde e bem-estar.

Estes tópicos serão, naturalmente, desenvolvidos nas respectivas áreas

programáticas.

Page 78: programa eleitoral CDS-PP

VII. A elevada dependência energética do país faz perigar a nossa competitividade e

agrava os custos dos serviços básicos para os cidadãos.

As empresas portuguesas são duplamente penalizadas: em primeiro lugar pela subida

dos custos com a energia e em segundo lugar porque pagam, em geral, mais que os

seus concorrentes em Espanha e noutros países, pela electricidade, pelo gás e por

outros combustíveis, o que as prejudica adicionalmente na sua competitividade

relativa.

A criação e o tratamento do défice tarifário energético pelo Governo socialista é, em

tudo, semelhante ao tratamento do endividamento do Estado. O Governo atira para

as gerações futuras custos originados pelas suas más políticas.

Para inverter esta tendência haverá que i) melhorar a eficiência no consumo ii)

melhorar, diversificando, a oferta energética iii) aumentar claramente a

transparência e concorrência no sector.

VIII. O actual sistema de gestão de fundos de apoio empresarial não é coerente e

contém injustiças relativas. Os mecanismos de acesso a fundos comunitários, linhas

de crédito ou comparticipações de investimentos, aparecem como medidas avulsas

sem qualquer tipo de integração entre elas. As medidas apareceram ao sabor do

eleitoralismo do momento, fruto muitas vezes da pressão de associações sectoriais.

Daí que, em várias áreas, haja uma baixíssima taxa de execução das medidas anti-

crise.

Se o principal objectivo para as nossas empresas é fomentar a exportação,

deveremos focar nestas os mecanismos de apoio, bem como nos sectores internos

considerados estratégicos. Importa também estabelecer medidas de apoio e

comparticipações nas garantias dos seguros de crédito das empresas de seguros que

operam no mercado, sem recorrer a medidas mais radicais (como a “nacionalização”

da COSEC) que possam resultar numa distorção indesejada do mercado, não

resolvendo, aliás, a questão de fundo.

Page 79: programa eleitoral CDS-PP

No que respeita ao QREN, um dos mecanismos de financiamento mais importante à

disposição dos empresários, importa simplificar e facilitar todo o processo de

candidaturas, porquanto actualmente as regras de acesso são confusas, as janelas de

oportunidade para as candidaturas muito curtas e a complexidade do processo é,

muitas vezes, incompatível com uma pequena empresa que pretenda candidatar-se.

Desburocratizar o QREN, é urgente.

As linhas de crédito são uma boa política, desde que não contenham condições

impossíveis. Como o CDS atempadamente denunciou, não é aceitável exigir i) a

existência de lucros nos últimos 2 de 3 anos ii) a inexistência de dívidas ao fisco ou à

segurança social iii) esta mesma condição, mesmo quando o Estado é devedor à

empresa. Este tipo de critérios afasta muitas empresas viáveis das linhas de crédito.

IX. O CDS defende uma alteração radical das prioridades da política económica do

governo. Um dos grandes erros do governo socialista foi a prioridade dada às grandes

empresas, em detrimento das micro, pequenas e médias empresas.

Foram estas empresas que mais sofreram com a crise, primeiro com a dificuldade no

acesso ao crédito de curto prazo, principalmente através de contas caucionadas e

depois com quebras muito acentuadas do mercado interno e de exportação. Hoje

vivem dificuldades na quebra dos mercados agravadas com o problema dos seguros

de crédito.

Por outro lado, continuamos a assistir a um Estado predador cuja prioridade é

arrecadar receita fiscal sem qualquer critério ou sentido de justiça e que muitas

vezes não cumpre as suas obrigações de devedor.

Page 80: programa eleitoral CDS-PP

Para alterar esta situação asfixiante para as empresas, o CDS propõe i) o reembolso

mensal do IVA ii) a compensação fiscal dos créditos do Estado, podendo as empresas

fazer a compensação entre créditos junto da administração fiscal e débitos à

Segurança Social iii) a obrigação do Estado pagar juros de mora, uma vez decorridos

mais de 30 dias sobre a data do pagamento da factura iv) a simplificação e

facilitação dos instrumentos de acesso aos fundos comunitários ou de apoio

empresarial, facilitando os procedimentos e avaliações quando se trate de empresas

de menor dimensão v) o fim da grotesca exigência de garantias, por parte do Estado,

para o Estado pagar as suas dívidas vi) o incentivo ao capital de risco ou aos fundos

de investimento que invistam nas PME´s e que com essa participação possam trazer

não apenas capital mas também know how de gestão vii) o incentivo à fusão ou

aquisição de empresas com vocação exportadora viii) a discriminação positiva das

PME na desburocratização da Administração Pública e, principalmente, nos

mecanismos de acesso a fundos de apoio empresarial viii) uma condição de

preferência, para as PME’s, em igualdade de circunstâncias, nos fornecimentos do

Estado até certo montante.

X. A existência de um sector financeiro forte, moderno competitivo e de boas

práticas é fundamental para a competitividade do país. Um sector financeiro sólido é

um pilar da sustentabilidade do tecido empresarial português.

Neste contexto, urge definir a missão da Caixa Geral de Depósitos na economia e

principalmente no seu papel no apoio às empresas. Até hoje a CGD alternou entre o

papel de banco do Estado, substituto do extinto IPE, capital de risco estatal ou

financiador de investidores privados na luta pelo controlo de grandes empresas

nacionais. Paralelamente, a CGD, pelas participações directas ou indirectas através

dos fundos que controla, tem sido utilizada de uma forma mais ou menos clara, para

manipular, intervir e participar nas grandes empresas nacionais. Importa redefinir e

clarificar definitivamente o papel do banco estatal.

O CDS defende a manutenção da Caixa Geral de Depósitos sob controlo do Estado

Português. Tendo em conta a situação periférica de Portugal, a sua pequena

dimensão, e a concentração bancária relativamente elevada, é relevante a existência

de um Banco importante controlado pelo Estado. No entanto, este Banco deverá ter

Page 81: programa eleitoral CDS-PP

uma missão definida, e as políticas de incentivo a determinados sectores ou

empresas devem ser acessíveis através a todo o sistema bancário e não apenas

utilizando o canal privilegiado do banco estatal. O CDS defende uma mudança

radical: a CGD deve ter um mandato político claro no sentido de apoiar as famílias e

as PME´s e ainda mais especialmente em processos de consolidação e exportação. A

CGD deverá ter um Conselho de Supervisão próprio, em nome da transparência da

sua missão.

Ao nível de participações do Estado no sector financeiro, defendemos a dispersão em

bolsa de parte do capital do sector segurador da Caixa Geral de Depósitos, tendo em

vista a redução do peso do Estado neste sector. Defendemos que a participação no

Banco Português de Negócios deve ser alienada com a brevidade possível, e que a

situação do Banco Privado Português deve ser resolvida definitiva e rapidamente,

mediante as propostas que já apresentámos.

XI. É urgente reforçar a credibilidade da supervisão em Portugal. É necessário não só

melhorar a imagem do Banco de Portugal, mas também a sua filosofia de actuação.

Assim sendo, o CDS defende que o banco central, bem como outros reguladores, seja

sujeito a escrutínio democrático, tendo a obrigação de, regularmente, prestar contas

à Comissão Parlamentar de Economia e Finanças, respondendo assim ao País sobre as

actividades desenvolvidas na supervisão e controle do sistema financeiro. É decisiva

uma nova leitura da supervisão, dando muito mais ênfase à componente de inspecção

e auditoria preventivas.

Importa reforçar a solidez financeira e de gestão das instituições, não só através da

aplicação de rácios mais exigentes, mas também promovendo e apoiando a fusão e

integração de instituições. Uma outra componente prioritária é um aumento da

exigência quanto à composição dos órgãos sociais, reforçando a capacidade de

gestão, os poderes dos accionistas e uma idoneidade acrescida.

Page 82: programa eleitoral CDS-PP

Reiteramos que a actual leitura da supervisão, assumida pelo actual Governador do

BdP, não oferece garantias de que casos como o BPN, o BPP e o BCP, diferentes entre

si mas que abalaram a confiança no sistema, não vão repetir-se.

O CDS considera importante a intervenção do PR na nomeação do Governador e

Administração do BdP. Para conciliar a necessidade de fiscalização com a

independência dos supervisores, o CDS trabalhará para que uma de duas soluções

sejam adoptadas: a possibilidade de um procedimento de “impeachement” dos

reguladores, de tipo parlamentar, em condições especialmente graves e mediante

uma maioria qualificada; ou a impossibilidade de renovação de mandatos.

XII. É entendimento do CDS que o peso do Estado na economia portuguesa é

excessivo, seja como empregador, como consumidor de bens e serviços, como

adjudicador de obras públicas, seja ainda como accionista de empresas que

competem directamente com operadores privados (exemplo da banca,

telecomunicações, energia, media, entre outros sectores e actividade económica).

No sentido de adequar a dimensão do Estado aos serviços que este deverá prestar,

tendo em conta as condições do mercado i) no inicio da legislatura deve ser definido

um plano de alienações das participações do Estado, directas ou através da

Parpública ii) deste Plano ficam de fora, naturalmente, a Caixa Geral de Depósitos e

as participações na área da defesa, bem como todas aquelas onde haja compromissos

assumidos pelo Estado e em que a manutenção da posição accionista seja condição

para a execução dos referidos compromissos iii) devem ser alienadas participações

que o Estado detém em empresas como, por exemplo, a ANA, Autódromo, Margueira,

Lisnave, Inapa ou ZON iv) as golden share em empresas como a PT, EDP ou REN, ou as

empresas do sector de transportes mais críticas e de elevada função social não se

enquadram neste plano .

A nível do sector segurador, em que a CGD controla cerca de 40% através da Caixa

Seguros (Império-Bonança e Fidelidade Mundial), não se vê razão para não alienar

Page 83: programa eleitoral CDS-PP

uma das empresas ou, em alternativa, dispersar o capital da Caixa Seguros com

preferência para os pequenos investidores.

As participações municipais devem ser revistas. Faz pouco sentido as autarquias

serem cada vez mais operadores económicos.

Existem ainda mercados demasiados fechados que actuam em regime muito

protegido com consequências negativas para o utilizador e o consumidor final. Os

mercados energéticos, alguns sectores dos transportes sejam eles marítimos,

ferroviários ou marítimos, e sectores como o das telecomunicações ou o da água,

devem ter o seu nível de concorrência visivelmente aumentado.

XIII. O CDS não esquece as lições que devem retirar-se da crise financeira

internacional. Como Partido defensor de uma economia de mercado com

responsabilidade ética, consideramos que é preciso porfiar e insistir na transparência

e em regras claras, que não permitam o retorno a tipos de comportamentos lesivos

de confiança da sociedade, dos accionistas e dos depositantes.

Promoveremos, por isso, a adopção de boas regras de conduta, inspiradas no quadro

de decisões do G-20 e em documentos de “governance” já publicados em Portugal.

A dissuasão de bónus de gestão precipitados, a verificação dos resultados por revistas

plurianuais, a transparência – e, portanto, independência – das empresas auditoras

face às instituições que as contratam, o maior poder de controlo dos accionistas

sobre o sistema de remunerações, estão entre as medidas que ajudam à separação do

“trigo do joio” no sistema. O nosso objectivo é garantir boas e sóbrias práticas neste

sector determinante para a economia.

Page 84: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS

1. Reembolso mensal do IVA.

2. Compensação de créditos entre dívidas do Estado às empresas e dívidas das

empresas à segurança social ou ao fisco.

3. Pagamento obrigatório de juros de mora, decorridos 30 dias sobre o prazo de

pagamento da factura.

4. Desburocratização do QREN.

5. Linhas de Crédito focadas nas PMEs, sem condições “impossíveis” de acesso.

Sublinhado especial para as empresas exportadoras e de sectores produtivos.

6. Condição de preferência para as PMEs, nos fornecimentos do Estado até certo

montante.

7. Incentivos ao capital de risco e aos fundos de investimento em PMEs.

8. Definição precisa e incontornável de missão de CGD: apoiar o crédito às PMEs.

Conselho de Supervisão na CGD.

9. Desenvolvimento do Fundo para a consolidação e concentração de empresas

portuguesas.

10. Prioridade absoluta à diplomacia económica, com trabalho mais integrado dos

vários agentes.

11. Aposta na qualificação dos trabalhadores e dos desempregados. Apoio às

despesas das empresas com empregados que concluem cursos de nível

académico superior; e ao desempregado que, nessa eventualidade, frequenta,

com aproveitamento, cursos superiores.

12. Aposta clara no aumento da concorrência no sector energético, visando a

necessária redução de custos para as empresas.

13. Modificação profunda da política de supervisão do Banco de Portugal.

14. Consagração da figura do “impeachement” dos reguladores, em circunstâncias

de falha grave. Em alternativa, consagrar mandatos únicos.

15. Plano de alienações das participações do Estado e privatizações nos próximos

4 anos.

16. Redução significativa do número e espécie de empresas municipais.

Page 85: programa eleitoral CDS-PP

17. Promoção de boas práticas de “governance”, efectivamente dissuasoras do

tipo de comportamentos que estiveram na origem da crise financeira

internacional.

Page 86: programa eleitoral CDS-PP

ENERGIA

CRÍTICAS

1. Incapacidade de promover a eficiência energética.

2. Bloqueio à concorrência nos mercados de energia.

3. Mobilidade insustentável.

Apesar da propaganda do Governo Socialista, Portugal tem aumentado o

seu consumo de energia primária e tem aumentado muito o consumo de

electricidade nos últimos anos, continuando a crescer acima da média

europeia. Não obstante o aumento da capacidade instalada de

renováveis, a verdade é que na última década tem-se verificado um

significativo crescimento do consumo de electricidade e um boom na

importação de electricidade, o que fragiliza a política energética do

Governo sustentada nas renováveis.

RESPOSTAS

I. Por conseguinte, Portugal vê-se necessitado de reduzir drasticamente

a sua ineficiência energética, do lado da procura, e ao mesmo tempo

actuar no sistema electroprodutor, dando especial ênfase às tecnologias

limpas e com menor custos de capital, de combustível, de operação e

manutenção. Por outro lado, é necessário abordar o sector dos

transportes de forma integrada no restante sistema de energia. Em

Portugal, aproximadamente 30% das emissões de CO2 são originadas

pelos transportes, sendo que grande parte dessas emissões advém dos

transportes rodoviários.

Page 87: programa eleitoral CDS-PP

Relativamente ao desafio climático, importará recordar que na

submissão do inventário de 2009, as emissões de Gases com Efeito de

Estufa de Portugal, sem contabilização das emissões de alteração do uso

do solo e florestas, encontram-se 10,3% acima da meta do Protocolo de

Quioto. Os dados agora divulgados continuam a mostrar a dificuldade de

Portugal em cumprir Quioto, cuja meta de 27% de aumento de emissões

em relação a 1990 está já em vigor, desde Janeiro de 2008, e tem de ser

respeitada para o período 2008-2012. Apesar das emissões de CO2/capita

da UE-27 terem descido desde 1990, Portugal viu as suas emissões

aumentarem em mais do que uma tonelada/capita entre 1990 e 2006.

Para além da mitigação das alterações climáticas, Portugal tem de ser

capaz de reduzir a sua dependência energética, que em 2006 era de

83,1%. Note-se que somos o sexto país da UE-27 com maior dependência

energética.

Quanto ao mercado de electricidade, tem-se verificado que os sistemas

eléctricos de Portugal e Espanha não dispõem de uma capacidade de

interligação suficiente para permitir o livre-trânsito de electricidade e,

por conseguinte, sustentar um preço ibérico único. Ao contrário de

Espanha (que permitiu a entrada de novos players no mercado, EDP

inclusive), Portugal encontra-se numa situação sensível, por o mercado

ser dominado por uma única empresa. Esta ausência de verdadeira

concorrência em Portugal teve sinais prejudiciais, não só para o

consumidor final e para os comercializadores de energia, mas também

para a EDP, já que esta não recebeu o incentivo para melhorar a sua

eficiência no aprovisionamento de energia primária (carvão, GN e

petróleo).

Os consumidores/cidadãos ainda não sentiram os efeitos adversos da

política do Governo para o mercado de electricidade, já que nos últimos

anos tem sido tomada a decisão de não reflectir, na tarifa do mercado

regulado, o aumento dos preços da energia primária (petróleo, gás

natural e carvão), que originaram um aumento dos preços grossistas.

Page 88: programa eleitoral CDS-PP

Esta decisão política anulou as margens dos comercializadores em

mercado liberalizado e criou um défice tarifário de 2 mil milhões de

euros, que será pago pelos consumidores a partir de 2010 durante 15

anos. Neste momento o défice tarifário já está a custar 400€ a cada

consumidor.

No que diz respeito ao mercado do gás, importa salientar que o preço do

Gás Natural para consumidores domésticos praticado em Portugal era,

em 2006, o 4.º mais alto da UE-27.

O mundo enfrenta duas crises: a crise económico-financeira, originada

pela incapacidade de gerir o risco no sector financeiro; e a crise

climática, cujas consequências parecem distantes mas dependentes das

atitudes do presente. Apesar de aparentemente desfasadas, estas duas

crises podem gerar uma estratégica e bem sucedida simbiose.

É necessária uma política sintonizada com os desafios económicos e com

as carências socais, e que ao mesmo tempo promova o crescimento

Clean Tech. Vários líderes mundiais - dos EUA à China - já perceberam

que “verde” não é apenas uma opção mas uma necessidade para

recarregar as economias locais e criar empregos. Este tipo de

investimento não só dará um estímulo à economia, no curto prazo, como

aumentará a competitividade de Portugal, uma vez que os países

pioneiros em tecnologias limpas estarão em vantagem face aos demais.

Portugal tem a oportunidade para gerar crescimento baseado em

tecnologias limpas, combatendo os negócios incumbentes ligados à

cultura do petróleo e promovendo empregos de “colarinho verde”.

Assim, é necessário que o novo Governo de Portugal construa as

“estradas” rumo à sustentabilidade energética e apresente aos cidadãos

os incentivos certos para que estes “viagem” eficientemente.

Page 89: programa eleitoral CDS-PP

II. No que respeita à eficiência energética, O CDS-PP defende que um

plano de acção para a eficiência energética deve ter como objectivo

primordial reduzir as emissões de CO2 equivalente/capita, uma vez que

este indicador possu3i sensibilidade ambiental. O segundo objectivo

deve ser a redução do consumo de energia primária/capita e só em

terceiro lugar é que se deve avaliar a redução da intensidade energética

(que corresponde à primeira meta proposta pelo Governo no PNAEE -

Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética).

Para alcançar bons resultados neste domínio é necessário: i) facilitar a

participação do sector privado nos investimentos em eficiência; ii)

monitorizar e avaliar consumos, assegurando que as políticas para a

eficiência energética (tanto as voluntárias como as obrigatórias) sejam

monitorizadas e avaliadas com exactidão, o que implica, no caso

português, para além das boas práticas sugeridas pela Agência

Internacional de Energia, avançar com a contagem inteligente de

energia, pois sem um sistema de medição preciso e detalhado da

energia consumida (e produzida via microgeração), sem recorrer a

estimativas, é impossível avaliar planos de acção para a eficiência

energética; iii) basear as políticas para a eficiência energética em

indicadores transparentes e claros.

Ao contrário do que se passa com o PNAEE, concebido unicamente sob a

tutela do Ministério da Economia e da Inovação, importa assegurar que

um plano de acção para a eficiência energética deve resultar de uma

estreita colaboração entre os diversos Ministérios, já que o mesmo terá

de ser dotado de uma visão holística dos consumos e envolver o Estado

totalmente na implantação do programa. Lembre-se que o consumo

energético por parte do sector público representa quase 10% do

consumo total nacional.

Por isso mesmo, entendemos que dever ser criado o Ministério do Clima

e da Energia, resultante de um spin-off de ministérios pouco

vocacionados para essas áreas (como o Ministério da Economia). Tal

opção permite conceber eficazmente políticas transversais a todo o

Governo.

Page 90: programa eleitoral CDS-PP

Ainda no domínio da eficiência energética é urgente sensibilizar a

comunidade. Tal poderá ser feito através de diversas medidas como: i)

“escola guardiã da energia”, através da distribuição de informação em

formato electrónico com conteúdos que espelhem a importância de

alterar comportamentos na escola, visando a redução de consumos de

energia e do estímulo a alunos e professores para a elaboração de

diagnósticos que permitam evidenciar situações anómalas que carecem

de correcção ao nível da eficiência energética; ii) “casa energética”,

que vise a redução dos preços da energia (electricidade e gás) para

famílias numerosas e para famílias atingidas pelo flagelo do

desemprego, reflexo da actual crise económica e promova medidas de

eficiência energética em que a DGEG e/ou a ADENE, em parceria com as

Agências Regionais e Municipais de Energia e com as Associações

Ambientalistas, sejam responsáveis pela sua disseminação,

implementação e monitorização; iii) “certificação energética PMEs”,

possibilitando Auditorias Energéticas com 50% de redução nos seus

custos (através de um prévio acordo a estabelecer com Entidades

Certificadoras que adiram a esta medida) exclusivamente para PMEs, e

permitindo às PMEs usufruir da “Medida Solar Térmico 2009” nos casos

em que sejam consumidoras de água quente solar.

III. No que respeita à electricidade limpa há diversas áreas de

intervenção. Considerando a futura capacidade instalada de renováveis,

é necessário que existam grupos geradores capazes de fazer backup das

renováveis (i.e. eólica), dada a sua variabilidade intra-diária, e load

following (acompanhar variações do consumo). Só há dois tipos de

unidades geradoras capazes de fazer backup e load following: as

hídricas com albufeira e os grupos a gás natural. Sabendo que já está

previsto o reforço da hídrica com albufeira, o CDS-PP entende que os

grupos a gás natural são uma tecnologia fundamental para o mix

energético de Portugal, já que são as unidades mais flexíveis. Por outro

lado, a aposta em centrais de gás natural, ao contemplar a entrada de

novos actores, aumentará o nível de concorrência no mercado de

electricidade.

Page 91: programa eleitoral CDS-PP

No que diz respeito à energia das ondas e à eólica offshore, o CDS-PP

apoia a investigação e desenvolvimento dessas soluções energéticas

(dado o potencial da costa oceânica portuguesa), na medida em que se

consiga aumentar a eficiência dos sistemas, aumentar a fiabilidade e a

sobrevivência dos equipamentos e reduzir os custos das estruturas.

Relativamente à energia solar fotovoltaica, o CDS-PP defende que esta

será mais útil quando instalada nas residências, já que os respectivos

custos são significativamente inferiores aos associados às instalações

centralizadas de grande escala (como os projectos de Serpa e Moura

apoiados pelo Governo). Em instalações residenciais, a electricidade

gerada pelos painéis fotovoltaicos é injectada directamente na rede de

distribuição, próxima dos consumos, sem haver necessidade de

investimento em novas linhas eléctricas.

Quanto à energia solar térmica, o CDS-PP apoia vivamente programas

que visem incentivar a instalação de colectores solares nas residências,

para fins de aquecimento de água. No entanto, estes programas devem

respeitar as regras de livre concorrência e transparência, matéria em

que o Governo socialista não tem sido exemplo.

No que diz respeito à microgeração de electricidade, o CDS-PP considera

que o sistema promovido pelo Governo “Renováveis na hora” tem

deficiências operacionais, pelo que vem apresentar as soluções

seguintes. Tendo em conta que uma grande percentagem das

candidaturas é feita por entidades colectivas – quando o objectivo

principal era o de fomentar o envolvimento de consumidores domésticos

como produtores de electricidade –, o CDS-PP defende a criação de uma

quota para pessoas individuais da ordem de pelo menos de 75%. Como o

sistema está estrangulado – pelos call centres das empresas –, e os

concursos só abrem durante uma ou duas horas, é necessário

desenvolver uma logística que permita às pessoas registarem-se em

períodos mais alargados. Sabendo que há uma grande vontade por parte

Page 92: programa eleitoral CDS-PP

das pessoas em implementar sistemas de microgeração, seria útil

aumentar a potência instalada de cada microgerador para além dos 3,68

kW.

Relativamente à tecnologia Carbon Capture and Storage instalada nas

centrais térmicas, o CDS-PP defende actividades de I&D visando o

aumento da eficiência do sistema e a redução dos custos de captura do

CO2.

Por fim, o CDS-PP defende o desenvolvimento de estratégias para o

armazenamento de energia renovável excedente. Existem várias

tecnologias capazes de armazenar energia, sendo que a mais madura

consiste na utilização das hidroeléctricas com albufeira, com bombagem

accionada por energia eólica. Para além desta tecnologia, os veículos

eléctricos também são uma opção para aproveitar energia renovável

excedente, através de estratégias de carregamento inteligente (smart

charging).

IV. No que toca à mobilidade sustentada, apostamos em tecnologias

limpas e energeticamente eficientes. Importa promover a integração de

veículos híbridos e eléctricos, ao abrigo do conceito Vehicle-to-Grid.

Note-se que os veículos eléctricos quando carregados de forma

inteligente (aproveitando as renováveis em excesso durante a noite),

permitem reduzir as emissões de CO2 do sistema transportes + geração

de electricidade.

Relativamente aos biocombustíveis, o CDS-PP advoga o fim dos subsídios

aos biocombustíveis com impacto nos alimentos e a redução das

restrições à importação de biocombustíveis mais eficientes e sem

impacto nos alimentos. O CDS-PP defende, igualmente, os

biocombustíveis de segunda geração (tecnologia HVO), já que estes

Page 93: programa eleitoral CDS-PP

apresentam diversas vantagens a nível de incorporação de poder

calorífico (melhor combustão), rendimento e emissões.

Como a aposta na inovação tecnológica não é suficiente para lidar com

as alterações climáticas e com a pobreza energética, o CDS-PP vai mais

além, defendendo o aumento da taxa de ocupação dos veículos (do

mesmo modo) e a transferência modal. Para tal, é necessário

implementar serviços inovadores com o auxílio das TIC, tais como: táxis

colectivos; minibus expresso; clube de carpools; e integração de viagens

de longo curso em transporte colectivo com a distribuição

local/regional.

Não obstante a eficácia das medidas propostas, na realidade alguns dos

conceitos mencionados não seriam hoje legais. Como tal, o CDS-PP

defende que as agências reguladoras devem retirar barreiras ao

funcionamento dos conceitos em cima descritos, para que se encontre

um compromisso entre estabilidade e inovação.

Defendemos a definição de preços racionais, reflectindo para o cliente a

escassez e os impactos externos, mas sempre salvaguardando situações

vulneráveis do ponto de vista social.

Sustentamos ainda a necessidade de limitar a procura através do

método dos preços, criando medidas como o estacionamento sujeito a

tarifas variáveis ao longo do dia e avaliando a possibilidade de outras

como a tarifa por faixa de rodagem nas auto-estradas.

VI. Desde 1 de Julho de 2007, os mercados de electricidade e gás dos

Estados da UE estão totalmente abertos. No entanto, alguns países,

como Portugal, continuam a utilizar tarifas reguladas, defendendo que

estas são uma ferramenta para proteger os mais vulneráveis. A

protecção de situações vulneráveis não pode, no entanto, confundir-se

Page 94: programa eleitoral CDS-PP

com o uso de tarifas reguladas para todos os consumidores. Segundo o

grupo de reguladores europeus para a electricidade e gás (ERGEG), os

mercados concorrenciais não podem coexistir com os mercados

regulados. A regulação do preço do gás e da electricidade definido para

o utilizador final distorce o funcionamento do mercado e fragiliza a

segurança do abastecimento e o esforço para combater as alterações

climáticas.

Assim, no que respeita a electricidade, defendemos: i) a entrada de

novos produtores em Portugal, de forma a apresentar alternativas de

concorrência no mercado da produção; ii) o reforço significativo da

capacidade de interligação, para diminuir a diferença entre os preços

em Espanha e em Portugal; iii) o reforço da interligação entre a

Península Ibérica e a França, o que teria um grande impacto ao nível de

concorrência no mercado ibérico; iv) a criação do conceito de operador

dominante no espaço português do MIBEL (EDP) e no espaço espanhol do

MIBEL (ENDESA e IBERDROLA), e exercê-lo de forma a restringir o acesso

dos mesmos à interligação, nos dois sentidos, de forma a impedir que os

agentes dominantes em cada mercado obstaculizassem a entrada de

novos players dependentes do uso da interligação; v) a disponibilização

de capacidade da produção da EDP aos operadores de mercado, através

de leilões de capacidade; vi) a consideração do o preço da energia do

mercado português na fixação da tarifa de electricidade, em vez do

preço do mercado espanhol.

Suportados nas sugestões do ERGEG (grupo de reguladores europeus para

a electricidade e gás) e da Autoridade da Concorrência, defendemos a

extinção progressiva da figura “Comercializador de Último Recurso” e

consequente fim das tarifas reguladas, de forma a promover a livre

concorrência da comercialização de electricidade e retirar barreiras aos

entrantes. A protecção que decorre das tarifas reguladas deverá ser

apenas assegurada para os clientes mais vulneráveis.

Page 95: programa eleitoral CDS-PP

Logo que estejam instalados os contadores inteligentes, imprescindíveis

no domínio da eficiência energética, entendemos que os

comercializadores de electricidade devem ser obrigados a informar os

consumidores se estes estão no tarifário mais correcto e, caso não

estejam, o quanto poderiam poupar com uma mudança tarifária.

No que respeitam ao gás, defendemos o aumento da flexibilidade

tarifária, visando a redução de custos unitários de utilização da rede de

alta e média pressão para todos os utilizadores. Nesse âmbito, deverão

ser aprovadas novas opções tarifárias de curtas utilizações e curta

duração nas tarifas de acesso às redes e ao terminal de GNL (Gás

Natural Liquefeito).

Para que os operadores entrantes (mais pequenos do que o incumbente)

possam utilizar o Terminal de GNL, é necessário desenvolver um

mecanismo de swaps. O CDS-PP entende que este mecanismo de trocas

de GNL beneficia tanto os entrantes (que passam a conseguir gerir

desequilíbrios entre a entrada de gás no sistema e o consumo da sua

carteira de clientes) como o incumbente (que adquire maior

flexibilidade com o gás adicional armazenado). Note-se que a abertura

de um mercado à concorrência não pode ser feita através de uma

remuneração do incumbente – monopolista – que apenas é penalizado

por perder a natural quota de mercado, subjacente a um processo de

liberalização. Como tal, o incumbente não deve cobrar uma tarifa

regulada por um serviço de swaps.

Tal como defendido para o sector da electricidade, e mais uma vez em

sintonia com as sugestões do grupo de reguladores europeus (ERGEG),

defendemos que a regulação do preço do gás definido para o utilizador

final distorce o funcionamento do mercado e fragiliza a segurança do

abastecimento. Como tal, a figura do “Comercializador de Último

Recurso” deverá ser eliminada progressivamente, a fim de se

desenvolver um mercado concorrencial para o GN.

Page 96: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS ENERGIA

1. Reduzir os preços da energia (gás e electricidade) para as famílias

numerosas e para as famílias atingidas pelo desemprego.

3. Garantir efectiva concorrência no sector.

4. Apostar na eficiência energética e no mix energético.

5. Desenvolver estratégias para o armazenamento da energia

renovável excedente.

6. Sintonizar, politicamente, os desafios económicos com as

carências socais.

7. Basear as políticas para a eficiência energética em indicadores

transparentes e claros.

Page 97: programa eleitoral CDS-PP

ENSINO SUPERIOR, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

CRÍTICAS

1. Fraco investimento em ciência

2. Falta de incentivos à captação de investigadores/professores portugueses no

estrangeiro

3. Inadaptação do estatuto da carreira docente à reforma dos métodos de ensino,

com a manutenção de regras rígidas, cerceadoras da liberdade das

instituições

A percentagem de pessoas com formação superior em Portugal é bastante abaixo da

média europeia. Portugal não tem licenciados a mais. Por outro lado, o

investimento feito em investigação está muito longe de atingir as metas de 3% do

PIB.

A Universidade portuguesa enfrenta os desafios da qualidade, da

internacionalização e da competitividade. É essencial canalizar esforços financeiros

para a ciência e a investigação, bem como elevar o nível geral de formação superior.

O Governo impôs centralmente um modelo de adaptação às exigências de Bolonha

sem contudo atender a que Bolonha é bastante mais do que semestralizar currículos

e encurtar os ciclos de estudo. Não cuidou, nomeadamente, de adaptar o estatuto

da carreira docente aos novos métodos de ensino. O salto da qualidade de ensino, da

excelência da investigação, da integração no espaço de competição internacional

ainda está por fazer.

O Governo não cuidou também de compreender as especificidades do ensino

politécnico, à luz dos objectivos próprios para que foi criado, não lhe dando a

relevância e o enquadramento merecidos.

Page 98: programa eleitoral CDS-PP

RESPOSTAS

I. Nas sociedades mais desenvolvidas a ciência, a investigação e a inovação

desempenham um papel primordial no desenvolvimento das sociedades e no

relançamento da economia. Por isso, tem sido avultada a aposta na economia do

conhecimento por parte dos países desenvolvidos, bem como dos países emergentes.

Estreitamente ligada à ciência encontra-se o sector do ensino superior, no seio do

qual se desenvolve principalmente o ensino e a investigação nos mais variados

domínios. Neste contexto, o ensino superior e a ciência constituem dois aspectos

nucleares da construção e dinamização de uma economia do conhecimento. Portugal

é, de entre os países da OCDE, um dos que tem menos diplomados pelo Ensino

Superior, Universidades e Politécnicos em percentagem da população activa.

A acrescer, Portugal tem uma taxa de desemprego muito elevada de licenciados,

sobretudo jovens. São situações a corrigir com toda a prioridade.

O CDS-PP considera primordial defender o prestígio e o futuro sustentado do ensino

superior português e reforçar a aposta na ciência.

Portugal pode orgulhar-se de ter um ensino superior com um vasto e valioso acervo

cultural, científico e pedagógico. Sucessivas gerações de estudantes têm

frequentado com êxito e adquirido as suas formações nos mais diversos domínios em

prestigiadas instituições portuguesas do ensino superior público, concordatário,

privado e cooperativo. Muitos dos estabelecimentos de ensino universitário e

politécnico gozam de prestígio internacional, sendo o destino pretendido por

estudantes de outras nacionalidades.

Como um dos pilares fundamentais da construção do futuro, o ensino superior

português anseia por se adaptar aos novos tempos. A globalização, a competitividade

- não só ao nível empresarial, mas também ao nível universitário - e o despontar de

novos desafios, obrigam o sistema de ensino superior português a mudar rápida mas

sustentadamente para continuar a cumprir com êxito as suas funções,

nomeadamente ao nível pedagógico, cultural e científico.

Page 99: programa eleitoral CDS-PP

A Universidade Portuguesa conheceu um período muito atribulado com a adaptação

dos seus currículos às exigências da Declaração de Bolonha. Os ciclos de ensino

foram reorganizados, com um encurtamento considerável, nomeadamente ao nível

das licenciaturas, com vista ao favorecimento de uma entrada mais rápida no

mercado de trabalho e, sobretudo, à construção de percursos académicos

diversificados, através de uma mobilidade entre áreas científicas. Bolonha também

visou motivar uma transformação nos métodos de ensino e aprendizagem, focando

em particular a aquisição de competências transversais e o trabalho com autonomia,

munindo assim os estudantes de ferramentas de aprendizagem ao longo da vida.

Depois de Bolonha, veio um período de grandes mudanças institucionais, com a

adopção de um novo formato jurídico e formas de organização da Universidade.

Mais alterações, nomeadamente ao nível do estatuto da carreira docente estão em

discussão.

O processo de Bolonha não foi conduzido nem completado de forma satisfatória. Em

muitos casos os currículos dos cursos foram simplesmente divididos entre

licenciatura e mestrado, levando à necessidade de se completar o mestrado para se

poder ingressar na vida profissional.

Uma Universidade com mais qualidade é, desde logo, a que serve a comunidade onde

se insere e prepara profissionais capazes para desempenharem cabalmente as suas

tarefas e intervirem activamente na sociedade. Da Universidade espera-se a

preparação de elites académicas capazes de modernizar o país, melhorando-o, pelo

seu desempenho profissional e rigoroso, e pela sua intervenção.

É por isso que o levantamento da empregabilidade dos cursos tem de ter

consequências, e a ligação das empresas ao ensino superior deve ser estimulada pelo

próprio Estado através de instrumentos de adesão à realidade. É também por isso

que, se um dos grandes objectivos do país é a internacionalização, por maioria de

razão a nossa Universidade carece de internacionalização.

Page 100: programa eleitoral CDS-PP

A ligação da Universidade à sociedade civil, de que existem bons mas não

generalizados exemplos, é particularmente relevante nos domínios da ciência e das

tecnologias, mas não se esgota aí. A própria definição de áreas de investigação

privilegiadas não deve ser feita isoladamente, mas integrar-se nas necessidades

nacionais reconhecidas. A relação entre a Universidade e as empresas deve ser

verdadeiramente prioritária e ter como base a adequação entre aquilo que é

ensinado e as necessidades sentidas de forma corrente pelas empresas. Não basta um

relacionamento formal e artificial e essa é mais uma das políticas que deve ser

revertida.

Cada vez mais a Universidade não é um local de passagem, na juventude, mas um

local de progressivo e cíclico retorno, onde ao longo da vida se volta para reforçar a

qualificação, para actualizar conhecimentos, para reorientar a carreira profissional.

Por isso também, e num contexto de necessidade de elevação da qualificação da

nossa população activa, as empresas que suportarem estes custos devem poder

majorar essa despesa para efeitos fiscais.

Um ensino superior de qualidade exige uma reforma de qualidade. Neste sentido, o

CDS-PP preconiza a materialização de medidas que visem: reafirmar a elevada

qualidade do ensino superior em Portugal; valorizar o contributo do ensino superior

para o fortalecimento da coesão social através, nomeadamente, do fomento da

igualdade de oportunidades; dignificar as actividades de ensino, aprendizagem,

estudo e investigação; promover a competitividade dos estabelecimentos de ensino e

investigação a nível nacional e internacional; reforçar a sua autonomia e

responsabilidade.

Reafirmar a elevada qualidade do ensino superior em Portugal implica a prossecução

dos mecanismos de auto-avaliação, bem como a implementação da avaliação

externa, cujo atraso não pode deixar de ser imputado à inércia ou, pelo menos,

fraca actuação do Governo que agora termina o seu mandato, principalmente no

período que decorreu de 2007 a 2009.

Page 101: programa eleitoral CDS-PP

II. A Universidade tem uma vocação essencial: o ensino. No entanto, a investigação

deve coexistir com o ensino e deve ser factor do aumento de qualidade deste, da

excelência da instituição, da realização profissional dos professores e da integração

da Universidade na Sociedade e na Economia.

Tradicionalmente os professores ocupam-se simultaneamente do ensino e da

progressão científica. Contudo, a multiplicação do conhecimento, a complexidade da

investigação, assente cada vez mais em trabalho de equipa organizado em redes

nacionais e internacionais, e também a elevação muito considerável do número de

doutores nas diferentes áreas científicas, torna legítimo questionar a autonomização

de carreiras. O compromisso com a qualidade implica apostar na investigação em

áreas estratégicas para o país, assumidas particularmente com cada Universidade e

respectivas Faculdades, Escolas e Institutos. A investigação científica de qualidade

deve ser apoiada de forma inequívoca e generosa. Ela implica também,

frequentemente, uma dedicação que não se compadece com as obrigações exigentes

de leccionar.

Isso é particularmente visível nos domínios das chamadas ciências “duras”. Faz

sentido que a par da carreira docente se promovam carreiras dedicadas

exclusivamente à investigação.

Compete ao Estado promover, através de um sistema rigoroso, um financiamento

mais generoso às Universidades que dêem provas de bom desempenho. Mas o tema

do financiamento tem sido utilizado para limitar a autonomia, que é o fundamento

da liberdade da Universidade, condicioná-la através de modelos jurídicos e asfixiar

financeiramente o seu funcionamento.

O acesso ao Ensino Superior deixa muito a desejar. O sistema de “numerus clausus”

existente deixa de fora muitos alunos com classificação de Bom e Muito Bom e tão

importante como isso não permite que alunos com classificação de Bom tenham a

oportunidade de seguir a sua vocação profissional, tendo muitas vezes que optar por

ir estudar para o estrangeiro.

Page 102: programa eleitoral CDS-PP

O caso mais conhecido é o do ingresso nos cursos de Medicina (ou Arquitectura), em

que não é de todo admissível que um aluno com uma nota de 14 ou 15 valores não

possa vir a ser Médico como acontece em qualquer outro país da Europa.

Adoptaremos uma política de adequação da oferta à procura, aumentando o número

de vagas quando necessário ou fomentando a abertura, nestes casos, de novos cursos

em Universidades do país que deles não disponham.

III. Assegurar a competitividade significa também criar condições parar aproximar os

estudantes do mercado de trabalho, favorecendo a respectiva inserção, assim como

promover e estreitar o grau de relacionamento entre o ensino superior e o mundo

empresarial e profissional. Por outro lado, o estímulo ao empreendedorismo e à

cultura de risco não pode ficar confinado a cursos na área da gestão, antes devendo

ser dinamizado a nível transversal. Deve ser facultado a estudantes nas mais diversas

áreas e formações, contribuindo, desse modo, para a formação de profissionais que

procurem a inovação, a liberdade e a responsabilidade profissional e empresarial.

Inovar é introduzir no mercado, a nível global, com sucesso, novos produtos ou

serviços. Inovar não é seguir tendências, é sim, criar tendências novas que outros

seguirão.

A Inovação faz-se sobretudo nas empresas em interacção com o mercado.

A introdução de novos produtos de alto valor acrescentado no mercado é o meio mais

eficaz de aumento do nosso produto e da produtividade.

Ao contrário do que muitas vezes se intui, a inovação não tem de ser baseada em

alta tecnologia, mas na busca de soluções e produtos com valor perceptível pelo

mercado.

Portugal tem infelizmente um dos menores índices de inovação na União Europeia.

Page 103: programa eleitoral CDS-PP

Temos uma das menores taxas de registos de patentes e decerto um dos menores

índices de receitas em royalties e proveitos de propriedade industrial na Europa.

Fica claro que a inovação é na sua essência empresarial, o que não quer dizer que

não se baseie na investigação científica e tecnológica desenvolvida nas empresas,

nos institutos de investigação e nos estabelecimentos de ensino universitário e

politécnicos.

Também aqui, temos um peso das actividades de Investigação e Desenvolvimento no

PIB, dos menores da Europa (cerca de metade da média europeia) com uma evolução

positiva, sem dúvida, já que se alcançou o patamar de 1% do produto. No entanto, o

aumento com a despesa de investigação e desenvolvimento não é acompanhado pela

concepção, desenho e produção de bens e serviços com impacto nas nossas

exportações ou na balança de transacções correntes.

A política científica tem de constituir uma das apostas com relevância duradoura,

por parte dos executivos, tal pode ser o seu efeito acelerador sobre o

desenvolvimento e crescimento económico. O potencial de desenvolvimento da

ligação à iniciativa privada está longe de se esgotar.

É possível estimular os agentes económicos a apostar mais na investigação e

desenvolvimento e estabelecer diferentes e mais expeditos meios de comunicação

entre o Estado, as Universidades, as empresas e as instituições sem fins lucrativos.

Para esse efeito a existência de uma política clara é essencial.

Um dos aspectos a prever é um quadro fiscal atractivo para a Inovação empresarial e

Universitária, que permita competir com os países mais avançados em tributação de

royalties e serviços ligados à propriedade industrial desenvolvida em Portugal.

Assim, o CDS empenhar-se-á i) num quadro fiscal claro de incentivo às actividades de

I&D ii) na internacionalização do sector científico e de investigação iii) em privilegiar

Page 104: programa eleitoral CDS-PP

uma política de ciência e tecnologia ligada às diferentes regiões de Portugal como

forma de as tornar mais atractivas iv) em facilitar a criação e exploração da

propriedade industrial v)em aumentar as formas de cooperação bilateral entre

Estados vi) numa política de investimento acentuado do Estado em ciência e

tecnologia vii) em adoptar medidas realmente encorajadoras conducentes ao reforço

do investimento privado em CIT que deverão integrar um programa específico que

permita a criação, aquisição ou funcionamento de unidades de I&D lideradas por

entidades privadas viii) incentivos fiscais para as empresas que invistam em I&D xix)

na qualificação dos recursos humanos empregues em Ciência e Tecnologia, através

de programas de formação avançada, e da promoção da mobilidade e do emprego

científico no âmbito empresarial.

Para além da investigação dita aplicada, deve ser apoiada a investigação dita

fundamental, ou “ainda não aplicada” como por vezes se diz, como meio precursor

da inovação, da formação de talentos em investigação e do avanço do conhecimento

em geral, quer nas Ciências e Tecnologias, quer nas Artes ou Humanidades.

Dentro de uma cultura de promoção do mérito, importa a atribuição de prémios para

teses de doutoramento e trabalhos de pós-doutoramento nos vários domínios da

produção científica.

IV. Assim, no que respeita ao acesso ao ensino superior, o CDS propõe que o acesso

ao ensino superior seja aberto aos alunos de acordo com a sua vocação profissional,

adoptando sistematicamente o princípio da adequação da oferta à procura pela

abertura de novas vagas em cursos existentes, bem como, autorizando e promovendo

a abertura de novas faculdades em universidades existentes. Pretende-se que

durante a legislatura se atinja o objectivo de todos os alunos com classificação de

entrada superior a 15 valores possam aceder, em Portugal, ao curso da sua escolha.

Propomos que as propinas dos Mestrados para os alunos que terminem as

licenciaturas pós-bolonha sejam iguais às das licenciaturas, quando aqueles sejam

Page 105: programa eleitoral CDS-PP

realizados na sequência destas, consecutivamente, independentemente da

indispensabilidade para o acesso a uma actividade profissional, hoje prevista na Lei.

Além das necessárias receitas do orçamento de Estado e das provenientes do

pagamento de propinas pelos estudantes, devem ser admitidos e procurados como

incentivo para a sua actuação outro tipo de financiamentos, tais como os

decorrentes de serviços prestados a entidades diversas, pagamento pela utilização

de instalações (v.g., congressos, seminários e colóquios) e doações específicas (v.g.,

provenientes de um tipo de mecenato). Deve ser, além disso, incentivada uma

gestão profissional ao nível destes estabelecimentos de ensino.

Defendemos a aprovação de um Estatuto da Carreira Docente único para o Ensino

Superior Universitário e Politécnico que também inclua o dos docentes das Escolas

Superiores Militares e Policiais, tendo em atenção as suas especificidades próprias,

de modo a permitir a candidatura por norma pela via do concurso aberto a todos os

candidatos a docentes independentemente da sua Universidade de origem e

nacionalidade, e a facilitar o seu intercâmbio e mobilidade entre diferentes escolas.

A regra deverá ser a do concurso público documental com obrigatoriedade de

audição pública dos candidatos pelos júris.

Propomos também a revisão do estatuto da Investigação e a facilitação da transição

e mobilidade entre actividades docentes e de investigação públicas e privadas.

Defendemos que o desempenho dos Estabelecimentos do Ensino Superior seja

relevante para efeitos de financiamento. Assim, como norma, deve ser considerada a

avaliação dos critérios de excelência científicos, pedagógicos, em comparação com

Universidades de referência internacionais, e ainda a empregabilidade dos

estudantes quer da licenciatura quer do mestrado.

Para este e outros objectivos é necessário melhorar o sistema de informação sobre a

própria Universidade: a oferta educacional e respectiva avaliação, o modo de

funcionamento das Faculdades, a avaliação das Faculdades e da Universidade, a

Page 106: programa eleitoral CDS-PP

caracterização socioeconómica da população estudantil, a inserção profissional dos

estudantes, o sistema de garantia da qualidade devem ser conhecidos e actualizados.

V. Na era da globalização mostra-se imprescindível dinamizar a competitividade

internacional dos estabelecimentos de ensino e investigação portugueses,

incentivando a mobilidade e os intercâmbios quer de professores quer de alunos.

Importa, além disso, motivar as universidades e os politécnicos para aumentar a sua

força atractiva de professores, investigadores e estudantes provenientes de outros

países. Trata-se não só de aumentar a oferta internacional de produtos e serviços

educativos, mas também de potenciar estudos e investigações de qualidade. As

parcerias com outras instituições congéneres internacionais devem ser promovidas,

inclusive na concepção e funcionamento de cursos leccionados em conjunto por

instituições portuguesas e estrangeiras (v.g., pós-graduações anuais em que os

estudantes frequentam num semestre uma instituição portuguesa e noutro deslocam-

se a uma instituição congénere estrangeira, sucedendo o inverso com os estudantes

dessa instituição).

Entendemos que o Estado deve promover generosamente a frequência de programas

do tipo Erasmus, reforçando as bolsas de modo a permitir que só os alunos com

melhores possibilidades financeiras os frequentem. Deve também generalizar bolsas

para os professores e investigadores poderem, temporariamente, realizar períodos

de estudo e de ensino no estrangeiro, seja ou não em regime de intercâmbio. O

contacto com professores e investigadores estrangeiros, diversos modos de trabalhar

e com culturas institucionais diferentes é crucial para a qualificação e renovação da

Universidade.

Deve ainda ser uma preocupação central dar importância particular à captação de

estudantes estrangeiros, especialmente provenientes dos PALOP, e bem assim apoiar

activamente a realização de programas universitários conjuntos com universidades

em países de expressão portuguesa. A dimensão do ensino superior deve estar

presente de forma reforçada na nossa cooperação para o desenvolvimento.

Page 107: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS

1. Adequação da oferta à procura no ensino superior, assegurando que os alunos

com classificação no mínimo de Bom possam inscrever-se no curso para o qual

se sentem vocacionados.

2. Incentivo a intercâmbio de alunos e professores através de reforço de verbas

para bolsas.

3. Fomento da parcerias entre Unidades Orgânicas nacionais e estrangeiras, de

forma a diversificar e internacionalizar a oferta.

4. Facilitação do intercâmbio e mobilidade de professores de diversas

instituições, nacionais e internacionais, nomeadamente através da adopção

da audição do candidato nos concursos públicos da carreira docente.

5. Previsão de quadro fiscal atractivo no domínio da tributação de royalties e

serviços ligados à propriedade industrial.

6. Incentivos fiscais para as empresas que invistam em I&D.

7. Reforço da cooperação com os PALOP no domínio universitário.

Page 108: programa eleitoral CDS-PP

FAMÍLIA

CRÍTICAS

1. Ausência de uma política transversal e minimamente completa para a família

2. Lei do divórcio

3. Intromissão do Estado no papel e nos direitos da família.

O governo socialista, durante este último mandato, insistiu em ver a família como

uma estatística, um mero conceito ideológico ou um indicador social, disponível para

ser intervencionado ou alterado.

Em vez de uma política estratégica transversal aos vários sectores, a família foi

sempre o elo mais fraco: na fiscalidade, na liberdade de educação, no apoio especial

às famílias mais numerosas, na falta de auxílio especial para os casais no

desemprego, no apoio a quem tem familiares a seu cargo, entre muitos outros

exemplos, da falta de ajuda a quem escolhe não realizar um aborto até à tentativa

de acabar com a isenção de custos do processo de adopção.

RESPOSTAS

I. Cada família é um todo, uno e único, irrepetível com uma identidade familiar

própria que vai construindo ao longo do tempo.

Para que a sociedade possa evoluir de uma forma saudável, tendo por objectivo o

desenvolvimento integral da pessoa, revela-se fundamental a existência de uma

política de verdadeiro apoio à família em todas as suas vertentes; quer financeira,

quer cultural, quer educacional. O Estado não se deverá apropriar da função da

família, mas é sua responsabilidade garantir que a família tem possibilidade e a

liberdade de exercer eficazmente a sua missão.

Page 109: programa eleitoral CDS-PP

Porque temos uma visão da sociedade em que a família é central, com naturalidade

consideramos que, na próxima legislatura, as políticas familiares têm de

“contaminar”, no melhor sentido da palavra, as várias políticas públicas.

É por isso que, ao longo deste programa eleitoral, a família surge e surgirá,

praticamente em todos os sectores.

II. Na educação, propomos a revolução que constitui institucionalizar a liberdade de

escolha dos pais em relação à escola que pretendem para os seus filhos. Na saúde,

apostamos na rede dos médicos de família e na humanização do atendimento e

fazemos uma aposta nos cuidados paliativos. Na solidariedade, avançamos para a

parceria com o sector social e com a IPSS, de modo a aumentar significativamente a

oferta de consultas e cirurgias, de estruturas de acolhimento ou apoio domiciliário a

idosos e de equipamentos para a infância. É também por isso que nos

comprometemos na área da pobreza, com o programa de recuperação das pensões

sociais, rurais e mínimas. Damos maior importância do que outros Partidos às

questões da demografia e do voluntariado. Incentivamos, a nível municipal, preços

públicos pró-família. E não esquecemos a necessidade de reforçar todas as políticas

que criam condições às mulheres para não recorrerem ao aborto. Também por isso,

olhamos para as relações laborais com oportunidades inter-geracionais – por

exemplo, a participação dos avós na questão das licenças de parentalidade –

princípios de efectiva igualdade – combatendo a discriminação salarial das mulheres –

e de conciliação entre vida profissional e vida familiar.

Assumimos, neste documento, a importância decisiva do conceito de família na

definição da política fiscal. O quociente familiar, o valor de existência familiar, o fim

da discriminação final do casamento ou o impulso fiscal a um mercado de

arrendamento que é essencial para os jovens, estão no centro do novo contrato

fiscal. A admissão do quociente familiar introduz justiça social no plano familiar,

especialmente nos casos das famílias mais numerosas. No caso destes agregados

familiares dedicaremos ainda uma especial atenção a todo o plano fiscal e aos preços

de serviços e bens públicos pró-familia.

Page 110: programa eleitoral CDS-PP

Entendemos que quem teve dois ou mais filhos contribuiu decisivamente para a

sustentabilidade da Segurança Social, pelo que ser-lhe-à desaplicado o factor de

sustentabilidade, aquando da reforma.

A consideração da família nas políticas públicas não se confunde, necessária ou

provavelmente com a criação de um departamento de família. O interesse das

famílias atravessa quase todos os Ministérios. É preferível, por isso, prever um

procedimento legislativo – a que chamamos visto familiar – que deve estar associado

à produção de leis e decisões relevantes. Trata-se de conhecer, nas principais opções

dos Ministérios, o seu impacto na vida das famílias; e tornar sistemática a

necessidade de, antes de as opções serem tomadas, avaliar o seu conteúdo positivo

ou negativo para as famílias.

Nos tempos mais difíceis, até os cépticos reconhecem que a família é a reserva de

solidariedade que, tantas vezes, permite resistir a circunstâncias económicas e

sociais duramente adversas. Não há tempo mais necessário para reforçar o quadro

das políticas de família. Esse reforço é um contributo nada menor para a coesão

nacional.

III. A família é também absolutamente decisiva para ultrapassar o problema da baixa

natalidade em Portugal, que se regista desde meados da década de sessenta e teve

os seus pontos mais baixos em 2006 e 2007. O índice de fecundidade situa-se, neste

momento, em 1,3 filhos por mulher em idade fértil (dos 15 aos 49 anos), situando-se

bastante abaixo dos 2,1 necessários para a reposição das gerações. O tema da baixa

natalidade e o aumento da esperança média de vida trazem problemas transversais

muito relevantes e que a todos tocam, pois concorrem decisivamente para o

envelhecimento da população.

O fenómeno de queda da natalidade não é só nosso, é conhecido e partilhado na

Europa e, em geral, nos países mais desenvolvidos. Neste momento é um tema

incontornável na agenda política europeia e inúmeros países adoptaram políticas

integradas de promoção da natalidade e da família. As experiências de outros países

demonstram não só que é urgente mas, também, que é possível inverter a queda da

natalidade.

Page 111: programa eleitoral CDS-PP

Em Novembro de 2007 o CDS apresentou publicamente o relatório Natalidade – O

Desafio Português, onde analisou o problema e apontou caminhos seguros para a sua

resolução. Na nossa perspectiva, a função do Estado, nesta matéria, é a de criar

condições para que as empresas e as famílias reconheçam a importância da questão.

Ou seja, focar as suas políticas na promoção de um ambiente que permita às pessoas

escolherem com liberdade ter mais filhos, se for esse o seu desejo, o que

efectivamente corresponde aos dados conhecidos.

Concluímos que é possível inverter a tendência de queda da natalidade e, num

horizonte temporal de 10 anos, alcançar níveis mais próximos do indicador de

substituição das gerações (2,1 filhos por mulher). Para tal é necessário criar um

ambiente político e social amigo da família, através da concertação de políticas em

diversos domínios (nomeadamente políticas fiscal, educativa, de segurança social e

de habitação) e, sobretudo, garantindo uma actuação não contraditória por parte do

Estado.

O relatório assumiu quatro grandes linhas de intervenção política: eliminação das

discriminações negativas que afectam a família; flexibilização laboral no sentido de

promover uma melhor articulação entre família e trabalho; envolvimento dos avós

numa lógica de solidariedade inter-geracional; promoção da responsabilidade social

das empresas. É a esta luz que se compreendem medidas como a introdução do

quociente familiar para aplicação da taxa no IRS, a possibilidade de parte das

licenças de maternidade e de paternidade ser gozada pelos avós ou o incentivo às

empresas para adoptarem esquemas laborais flexíveis e terem participação nos

equipamentos sociais. O nosso ponto de partida residiu na necessidade de

desagravamento fiscal das famílias, de conciliar trabalho e família e numa

perspectiva de igualdade de partilha de responsabilidades parentais entre pai e mãe.

A história económica mostra que demografia e economia andam de mãos dadas. É

convicção do CDS que uma aposta inequívoca no apoio à natalidade, de que um

compromisso sério e consequente com as famílias, em particular as famílias com dois

ou mais filhos, é também uma forma importante de dar esperança, motivação e

Page 112: programa eleitoral CDS-PP

ânimo aos portugueses. É a emergência de novas gerações, de gerações completas,

que faz pensar nelas e olhar para o futuro com imaginação, ânimo e combatividade.

Assumiremos ainda um especial enfoque aos assuntos da criança, promovendo

alterações à Lei tutelar de Menores, agilizando e acelerando processos.

CADERNO DE ENCARGOS FAMÍLIA

1. Introdução do quociente familiar no sistema fiscal.

2. Consagração do Visto familiar na aprovação de toda a legislação.

3. Extensão dos direitos decorrentes da parentalidade aos avós.

4. Aumento para 6 meses da licença parental mesmo nos casos em que não há

partilha entre pai e mãe.

5. Consagração de deduções fiscais para as famílias que optem por manter os

idosos a cargo no seio da família, no valor semelhante à dos apoios públicos.

6. Possibilidade de empresas constituírem IPSS para equipamentos sociais e

beneficiarem em termos de IRC.

7. Criação de uma comissão de avaliação do Novo regime Jurídico do Divórcio.

8. Agilizar e acelerar os processos relativos à Lei tutelar de menores.

9. Desaplicação factor de sustentabilidade a quem tem 2 filhos ou mais.

10. Defesa da estabilidade da definição actual de casamento.

Page 113: programa eleitoral CDS-PP

FINANÇAS, INVESTIMENTOS, CONTRATAÇÃO

E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICAS

CRÍTICAS

1. Acréscimo da carga fiscal.

2. Política quase exclusivamente baseada nas “grandes “obras”.

3. Crescimento, nos últimos anos, de um Estado paralelo (EPE’s, empresas

municipais, PPP’s, etc.) criando enormes dificuldades de controlo e de

comparabilidade.

4. Aumento exponencial da dívida pública.

5. Valor pouco credível do défice.

O Governo proclamava, todos os dias, ter feito a consolidação orçamental. Não é

verdade nem está tudo dito. O défice orçamental atingirá, este momento, cerca de

8%, e os avanços no processo de consolidação foram feitos, em grande medida, do

lado da receita, e não do lado da despesa.

Nos últimos quatro anos e meio, não só a pressão fiscal em Portugal, subiu para 38%,

como o esforço fiscal dos portugueses, comparando rendimentos e impostos, subiu

mais seis pontos e já está em 126% da média da EU.

O outro factor crítico é o volume do endividamento. Neste momento, entre a dívida

pública, os seus juros e a dívida das empresas públicas, já não chega toda a riqueza

criada para garantir os compromissos. Pela hipoteca que este endividamento

significa, e pelas dificuldades que pode colocar ao financiamento de uma economia,

era preciso ter tido outro cuidado.

Page 114: programa eleitoral CDS-PP

RESPOSTAS

I. A grave situação de crise estrutural da economia portuguesa exige que o primeiro e

fundamental objectivo seja o apoio e fomento ao desenvolvimento. Tal objectivo

implicará que a política de finanças públicas não seja um fim em si mesmo, mas um

instrumento decisivo ao serviço de uma melhor e mais sustentada economia nacional.

A inversão do processo que vivemos, de redução da procura, de quebra do

investimento, interno e estrangeiro, de forte aumento do endividamento externo, de

falência sucessiva de empresas, principalmente pequenas e médias, e de grave

aumento do desemprego, tem que ser a primeira prioridade de todas as políticas

governamentais.

Apesar da nossa dependência da recuperação económica dos principais parceiros

comerciais, a política de Finanças Publicas pode ter um papel fundamental na

dinamização da recuperação económica, desde que se assuma, corajosamente, uma

alteração do paradigma seguido até aqui.

II. As políticas focalizadas, unicamente, no equilíbrio da situação orçamental

Portuguesa têm vindo a registar, repetidamente, os mesmos resultados: acréscimo da

carga fiscal, rigidez ou aumento da despesa pública, aumento da dívida pública,

descontrole do défice público, agravamento dos efeitos dos ciclos económicos e

crescimento económico abaixo dos nossos parceiros.

Uma política orçamental que tem como primeiro objectivo o crescimento económico

não implica que o CDS abandone a sua preocupação, de sempre, com a disciplina das

Finanças Publicas. A saúde orçamental é uma base fundamental para assegurar um

desenvolvimento equilibrado e geracionalmente justo. Dar prioridade ao crescimento

sobre o défice não é um dilema. É uma ordenação de prioridades. Aliás, só o

crescimento gerará receita, e a receita é essencial para a redução progressiva do

nosso desequilíbrio orçamental.

Page 115: programa eleitoral CDS-PP

Consideramos que a actual versão do Pacto de Estabilidade e Crescimento da União

Europeia, que prevê flexibilidade para situações excepcionais como a actual, bem

como as opções orçamentais já adoptadas por alguns dos nossos principais parceiros,

- por exemplo, a Alemanha e a França - permitem, e exigem, que adoptemos uma

política orçamental anti-cíclica que ajude a economia a sair da forte recessão que

atravessa.

III. O CDS propõe a introdução de um Orçamento Intergeracional, como componente

do Orçamento do Estado, tendo em vista permitir uma maior transparência sobre os

custos imputados às próximas gerações pelas decisões dos Governos actuais,

permitindo ainda enquadrar as soluções orçamentais de emergência, que induzirão

um crescimento económico fundamental ao futuro processo de consolidação

orçamental.

Ao colocarmos o crescimento económico como objectivo central do programa do

Governo temos assim que rever as prioridades de política, incluindo na política

orçamental.

As medidas de Finanças Publicas que podem ajudar o país a combater a presente

crise passam pela apresentação de um plano a médio prazo de redução da carga

fiscal. Este plano é um instrumento fundamental para restabelecer a confiança das

famílias e das empresas e para libertar recursos essenciais ao progresso económico.

Também a política de reforma da Administração Pública terá que ser alterada com o

objectivo de melhorar a qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos e às

empresas, para o que é fundamental que os funcionários passem a ser parte da

solução e não do problema.

Page 116: programa eleitoral CDS-PP

IV. No que diz respeito à despesa pública deve começar-se por um trabalho de

redefinição do papel do Estado, identificando as actividades e regulamentações que,

por serem supérfluas ou obsoletas, podem ser eliminadas, definindo as actividades

que devem ser “externalizadas”, visto que podem ser melhor asseguradas pela

sociedade, e desburocratizando os processos de actuação e decisão da Administração

Publica.

No que respeita ao investimento público, o CDS já esclareceu a sua posição. Não

somos partidários do “tudo ou nada”. Defendemos a selectividade dos projectos e

enunciámos critérios objectivos de avaliação. Destacamos i) a necessidade de

proteger o crédito disponível para as PMEs, objectivamente em risco face às

necessidades de financiamento cumulativo das “grandes obras” ii) a importância de

avaliar, em termos de custo e beneficio, os projectos relevantes iii) o grau de

incorporação nacional da riqueza criada iv) o impacto, em termos de mão-de-obra,

na política de imigração v) o carácter imediato (ou não) e generalizado (ou não) do

efeitos dessas “grandes obras” nas empresas e nos empregos.

Mediante estes critérios objectivos, que impedem qualquer decisão aleatória, o CDS

foi percursor na crítica a uma política económica quase exclusivamente baseada nas

“grandes “obras”. Nem o Aeroporto estava bem estudado, nem a crise o torna

urgente; quanto ao TGV e à 3ª ponte, o grau de endividamento do país e os critérios

já enunciados, não aconselham que se tomem compromissos irreversíveis.

Os investimentos públicos no sector dos transportes precisam de uma perspectiva

integrada entre o tráfego automóvel, ferroviário, aéreo, de passageiros e de carga. A

construção da linha de alta velocidade tem efeitos na decisão do novo Aeroporto, já

que muito do tráfego aéreo seria transferido para o ferroviário. É por isso que este

tipo de projectos, devem procurar reunir um amplo consenso quanto às soluções

técnicas a adoptar, pois são quase sempre irreversíveis e tem implicações para as

próximas gerações. Por isso entendemos que todos os projectos que evidenciem

divergências de relevo na sociedade civil devem aguardar as conclusões de um plano

nacional integrado de transportes.

Page 117: programa eleitoral CDS-PP

V. Acreditamos que é possível transformar esta recessão numa oportunidade para o

nosso país recuperar os seus atrasos de competitividade. A melhor política de

relançamento possível será aquela que consegue preservar a actividade económica

de hoje e preparar a competitividade de amanhã. Para manter a actividade

económica e compensar a diminuição do investimento privado devemos acelerar os

investimentos públicos de dimensão média e de proximidade, que já estejam

programados ou que sejam consensuais. Destacamos i) manutenção e valorização do

património ii) promoção da eficiência energética e ambiental dos edifícios públicos

iii) acessibilidades para deficientes iv) renovação dos tribunais e construção de novos

centros penitenciários v) investimento no sistema de transportes públicos e

mobilidade sustentável vi) melhoria das condições de trabalho e dos meios da polícia.

Em suma, todos aqueles investimentos que contribuam para aumentar a

competitividade ou valorizar o nosso País.

Outras áreas de especial interesse para o lançamento ou o co-financiamento de

investimentos públicos são i) o alargamento dos programas de recuperação,

qualificação ou construção de infra-estruturas sociais, nomeadamente as escolas e as

áreas de apoio ao idoso e à criança, em parceria com as IPSS ii) reparação e

segurança de pontes no âmbito de um programa nacional iii) realização de obras de

requalificação dos centros urbanos e de investimento na habitação social, em

parceria com os municípios, prioritariamente através da aquisição e recuperação de

imóveis devolutos iv) e o plano de barragens.

Com esta evidência detalhada se demonstra que o CDS não é contra o investimento

público. O que somos é contra uma política económica que só “vê” o investimento

público – e não “vê” a redução da carga fiscal – e contra investimentos não

selectivos.

VI. As SCUTs foram criadas com o argumento que eram necessárias para o

desenvolvimento do interior do país, mas não são mais que um imposto encapotado –

“shadow price” - pois anualmente os seus custos são financiados pelo contribuinte,

estejam ou não no perímetro orçamental. Todos os portugueses são iguais perante a

Page 118: programa eleitoral CDS-PP

Constituição. No entanto, neste caso, retirando ou não utilidade da sua utilização,

paga-se sempre.

Quem as utiliza não suporta nenhum custo visível mas retira utilidade na sua

utilização. Quem não as utiliza não retira utilidade, mas suporta o custo.

O princípio do utilizador-pagador deveria aqui ser aplicado. Por forma a tentar

cativar as autarquias para o efeito, uma parcela da portagem deve reverter para as

autarquias, sendo que o montante total deve ter um impacto directo na redução do

IMI.

VII. Do lado da despesa pública, importa ainda travar um combate sem tréguas ao

desperdício e ao despesismo, fomentando uma maior transparência dos gastos

públicos e invertendo o processo de desorçamentação que se tem vindo a verificar. A

criação, nos últimos anos, de um Estado ao lado do Estado, constituído pelas EPEs,

empresas municipais ou PPPs, cria enormes dificuldades de controlo e de

comparabilidade, fomentando o desnorte na evolução da despesa publica que já

absorve quase metade da riqueza nacional. Também ao nível do financiamento

regional e local, importa assegurar transparência e escrutínio na evolução da

despesa, o que não é incompatível – pelo contrário – com o objectivo de uma maior

descentralização dos serviços.

Deve ser retomado o processo de centralização e modernização das compras do

Estado, racionalizando processos e fomentando as compras electrónicas. Na gestão

do património imobiliário do Estado importa ultrapassar as fases de planos e

levantamentos e avançar com a imputação de rendas aos serviços e com a gestão e

rentabilização do património desocupado.

É ainda necessário travar o crescimento exagerado dos gastos com consultorias

externas do Estado – que se aproximam dos 200ME – e ter especial atenção ao

disparar dos custos, a prazo, das Parcerias Público-Privadas.

Page 119: programa eleitoral CDS-PP

VIII. Relativamente ao sector empresarial do Estado, as contas pioraram

sensivelmente. Deve ser revelada com transparência a sua verdadeira situação em

termos de rentabilidade e de endividamento. Deve ser apresentado um plano de

resolução da enorme dívida acumulada por algumas empresas públicas,

nomeadamente do sector dos transportes. Deve ser retomado, com ambição, o

programa de privatizações, como forma de racionalização da presença do Estado na

economia e com o objectivo de redução da dívida pública. O programa económico é

claro nesta matéria.

IX. No que diz respeito à divida pública – cujo aumento foi exponencial nos últimos 4

anos e meio - deve aproveitar-se a apresentação do primeiro Orçamento

Intergeracional, para explicar, com verdade, o valor da dívida pública directa do

Estado, o valor das responsabilidades indirectas assumidas com as Garantias do

Estado, o valor das dividas da Administração Regional e Local e o valor das dívidas

das empresas publicas.

O retrato completo e verdadeiro da situação do endividamento público é

fundamental para que os Portugueses e os seus representantes políticos, possam

tomar as decisões necessárias ao desenvolvimento sustentável do País.

Como se referiu anteriormente, o estado da dívida, em Portugal, desaconselha,

manifestamente, projectos que agravam uma situação já muito difícil. A

selectividade do investimento público e o cuidado a ter com as PPPs estão nesse

elenco de medida cautelares. Na certeza de que a redução do endividamento só se

consegue promovendo as exportações e apostando nos sectores produtivos que

substituem importações.

Page 120: programa eleitoral CDS-PP

X. A matéria da contratação pública é cada vez mais um tema incontornável na

política do Estado contemporâneo. Por isso, os sucessivos Governos, não apenas

nacionais, mas também comunitários, têm dedicado atenção, designadamente, por

via da aprovação de legislação vária destinada a disciplinar – com mais ou menos

sucesso - os procedimentos de contratação pública. Foi o que aconteceu

recentemente, entre nós, com a aprovação, e entrada em vigor em 2008, de um novo

regime de contratação pública.

Acontece, no entanto, que nem sempre as decisões têm sido tomadas nos termos

mais apropriados e em obediência aos princípios da racionalidade económica, da

imparcialidade, da eficiência e da transparência das decisões de contratação,

princípios estes cujo cumprimento, no entanto, se impõe para garantir a justiça e o

mérito da decisão administrativa e a credibilidade da Administração Pública e do

Estado.

Com efeito, a descrença dos cidadãos relativamente à bondade das decisões de

contratação pública é grande – a mais das vezes justificadamente -, sendo as suas

principais causas i) a incompreensão do fundamento da decisão de contratar, por não

ser evidente o interesse público que deveria encontrar associado ii) a razão e o

critério da escolha do contratante privado cuja escolha muitas vezes deixa

suspeições iii) a demora das decisões judiciais relativas ao contencioso da

contratação pública que inviabiliza a reposição da justiça e a realização do Estado de

Direito.

Impõe-se, por isso, credibilizar a contratação pública, recuperar a confiança dos

cidadãos e garantir a eficiência das decisões, de modo a maximizar os efeitos

indutores do investimento na economia, maxime, quando realizado com recurso à

colaboração dos privados. Também aqui se assegura uma sã e eficaz concorrência

entre os operadores e agentes económicos privados.

XI. Em primeiro lugar, impõe-se a exigência rigorosa de demonstração do fundamento

da decisão de contratação pública pelo órgão decisor, principalmente nos casos das

Page 121: programa eleitoral CDS-PP

denominadas parcerias público-privadas referentes aos projectos que implicam

grandes investimentos, de modo a que as decisões sejam alicerçadas exclusivamente

em razões demonstradas de mérito administrativo.

Deve haver uma subordinação rigorosa da adjudicação de prestações de serviços às

regras dos procedimentos de contratação pública – de preferência o concurso público

-, principalmente no caso de consultores, uma vez que a escolha destes,

sistematicamente por ajuste directo, pode ser fonte de perniciosos clientelismos,

com prejuízo do interesse público.

Dado que uma parte importante das decisões de contratação pública é hoje tomada

por entidades que não se subsumem ao conceito tradicional da Administração

Pública, considera-se essencial a revisão do Código dos Contratos Públicos no sentido

de se proceder a uma correcta identificação das entidades sujeitas às regras da

contratação pública, com aplicação destas regras a um maior número possível dessas

entidades, pondo termo às situações de excepção e às incertezas, tão utilizadas para

”furar o sistema”.

Em contrapartida, considera-se essencial a revisão do Código dos Contratos Públicos

no sentido da sua simplificação e clarificação, dada a enorme complexidade que

manifesta e a má técnica legislativa que amiúde revela - responsáveis por uma

incompreensão do texto e das soluções que consagra, mesmo pelo mais experientes

juristas -, de modo a permitir uma aplicação fácil, eficiente, célere e justa das suas

regras.

A revisão do Código dos Contratos Públicos é também pertinente para reduzir os

casos em que é possível o recurso ao ajuste directo, de forma a garantir a igualdade,

a imparcialidade e a transparência das decisões de contratação pública, bem como a

redução dos valores previstos para o ajuste directo nos casos de contratação pública

ditada por razões de excepção, visto que este regime pode “alavancar” o benefício

de certas empresas em detrimento de outras com base em critérios que não são

objectivos.

Page 122: programa eleitoral CDS-PP

Deve ainda ficar previsto no Código dos Contratos Públicos o direito dos concorrentes

a uma indemnização no caso de não adjudicação de concursos por razões não

justificadas. Esta solução impõe-se dado o importante número de concursos que são

abertos e, pura e simplesmente, não são adjudicados sem fundamento aparente sem

que os concorrentes sejam ressarcidos dos elevados custos associados à preparação e

apresentação de propostas. Tal solução leva uma maior responsabilização do decisor

administrativo no lançamento e conclusão dos procedimentos de contratação.

Importa proceder à revisão do regime jurídico do contencioso administrativo

mediante a aprovação de regras que simplifiquem o funcionamento das providências

cautelares, tendo em vista uma maior eficácia na atribuição da tutela cautelar,

nomeadamente, uma maior celeridade na decisão, principalmente nos tribunais de

primeira instância.

Dada a necessidade de transposição da Directiva Comunitária até 2010, e observando

as regras delas constantes, relativas aos efeitos suspensivos associados aos processos

em matéria de contratação pública, impõe-se a consagração de medidas que

permitam uma muito célere decisão dos processos judiciais, sob pena de

inviabilização de todos os procedimentos de contratação pública. Se necessário,

defende-se a criação de Tribunais especializados para a matéria da contratação

pública, visando assegurar essa celeridade.

Uma posição, como a que o CDS assume, exigente em relação às contratações

públicas é meio caminho andado para prevenir a corrupção.

XII. Em matéria de Administração Pública, O Governo termina o seu mandato com o

funcionamento do Estado em boa parte desmotivado e menos qualificado. À

excepção de casos isolados – mais associados ao Simplex do que ao PRACE – não se

verificaram ganhos de qualidade.

Entre os erros que foram cometidos e que carecem de meditação para não prejudicar

a eficácia de intenções reformadoras, destacamos a ideia, altamente autoritária, de

que há uma só reforma, como se fosse “mágica”, e não um processo de contínuo

Page 123: programa eleitoral CDS-PP

ajustamento da Administração às necessidades da sociedade. Este “endeusamento”

da reforma provoca níveis de hostilidade perturbadores e, numa estrutura com a

dimensão de Estado em Portugal, conduz até a perdas de eficiência, pelo menos no

curto prazo. Na prática, torna as reformas muito dependentes do poder político, ou

seja, centralizadas, distanciando-se dos serviços em concreto e da sua proximidade

com o cidadão.

Por outro lado, a reforma foi caracterizada de forma ideológica e não política.

Apresentaram-se as mudanças com um simplista “combate aos privilégios” e não –

como poderia ter sucedido – como via para prestar melhores serviços, ter uma

despesa mais eficiente e motivar os bons funcionários. Esse cariz fez nascer conflitos

dispensáveis e acentuou o preconceito em relação a uma disposição reformadora no

Estado e do Estado. Da avaliação dos serviços não surgiu uma dinâmica para a sua

modernização. Dos esquemas de promoções não resultou uma efectiva oportunidade

para os funcionários que se destacam. É sempre mais “fácil” – e ineficiente – nivelar

por baixo os diferentes regimes.

XIII. Promessas relevantes ficaram por cumprir. Para além das várias velocidades,

sentidas no próprio Governo, em relação ao PRACE, e do diferencial de entradas e

saídas da Administração face aos objectivos proclamados, ficaram pelo caminho

várias matérias como i) o acesso electrónico aos resultados da avaliação, análises

comparadas e demais informação sobre o desempenho institucional dos serviços ii) a

relevância da opinião dos utentes na avaliação dos serviços iii) o papel dos “finantial

controller” dos Ministérios iv) o acompanhamento das actividades públicas dos

operadores privados, através de métodos de regulação, controlo, inspecção e

fiscalização.

Mais grave, do ponto de vista da credibilidade e da qualidade da reforma, há duas

falhas que abalam seriamente os seus alicerces. Uma é que, apesar da promessa de

estipular a lista de cargos dirigentes da Administração que, legitimamente, em

função de confiança política, é susceptível da substituição, a partir dos actos

eleitorais, e mesmo da lei publicada, agravou-se a tendência “partidocrática” na

escolha de cargos dirigentes de nomeação. O resultado é mais uma camada de

dirigentes de fidelidade partidária, cuja relação com o mérito ou a qualificação é

absolutamente remota. Ora, não há reformas de Administração aceites,

Page 124: programa eleitoral CDS-PP

compreendidas e legitimadas quando, na escolha dos chefes, não há qualquer critério

de desempenho.

A outra falha relevante é que, no processo de transição para o regime de

aposentações, cuidou-se pouco de evitar a fuga de capacidades e a deserção do

pessoal qualificado. Em consequência, a Administração perdeu, ainda mais,

densidade técnica. Face ao problema – que podia e devia ter sido previsto – a

“solução” socialista foi um recurso acrescido a consultores externos. É impossível

fazer reformas organizacionais a partir da desmotivação dos seus destinatários.

XIV. Acresce que o Governo não soube avaliar os resultados da própria avaliação que

lançou. Basta observar com atenção o Orçamento de Estado para 2009, e verificar a

evolução exponencial dos custos com consultorias externas e com algumas parcerias

público-privadas, para perceber que algumas das linhas da reforma estão sem

controlo.

O mesmo se diga com a falta de um seguimento atento da “reforma”. Não por acaso,

o Presidente do Tribunal de Contas referiu que o Plano Oficial de Contabilidade

Pública, e a centralização da tesouraria do Estado, aprovados há cerca de dez anos,

não são ainda aplicados em muitos dos serviços. Não por acaso, a transformação dos

hospitais SA em EPE reforçou mais as competências do Ministro do que as

capacidades de avaliação, auditoria e controlo dos organismos centrais de

administração da saúde. Não por acaso, a forma como foi feita a “reestruturação” do

Ministério da Agricultura criou um verdadeiro caos na sua capacidade de resposta.

Não por acaso, os erros cometidos no processo de avaliação dos professores eram tão

óbvios, mas só foram óbvios para o Ministério da Educação debaixo da pressão de

todos conhecida. São exemplos críticos que podem, infelizmente, multiplicar-se.

XV. O CDS propõe que o processo contínuo de adaptação da Administração Pública

seja objecto de um compromisso entre Partidos democráticos e reformadores,

partindo de uma ideia do que devem ser as funções do Estado actuais em Portugal.

Sabemos que o Estado deve ser forte nas áreas de soberania como a justiça, a

defesa, a diplomacia, a segurança e a fiscalidade. Sabemos que o Estado é

concorrencial nos sectores da segurança social e da saúde, mas não confundimos

Page 125: programa eleitoral CDS-PP

necessariamente ser financiador com ser prestador. Sabemos que o Estado está longe

de ser concorrencial – como devia - na área da educação. Sabemos que há áreas de

crescimento económico e desenvolvimento, como o ambiente e o mar, onde muito

está por fazer. Sabemos que o Estado deve ser, sobretudo, regulador – um bom

regulador - nos aspectos essenciais da vida económica. Sabemos que raramente se

aplica, em Portugal, o princípio da subsidiariedade e que essa é uma das razões do

nosso atraso.

O mundo moderno e complexo em que vivemos implica superar dogmatismos

clássicos entre Estado e mercado. Também não devem prolongar-se confusões entre

serviços públicos e sector estatal. No caso português, é urgente reforçar o peso e a

responsabilidade das instituições intermédias, voluntárias, autónomas e livres. O

Estado deve ser mais competente a regular e a fiscalizar, menos obsessivo a prestar

serviços que possam, com vantagem, ser obtidos no sector privado e no sector social,

e mais flexível e aberto na devolução de competências às administrações locais.

XVI. Existe até um consenso relativamente alargado sobre os objectivos a atingir por

boas reformas, bem executadas, na Administração Pública. O CDS tem presente que

i) Portugal precisa de uma Administração Pública de serviço aos cidadãos e às

empresas, em que os funcionários sejam parte da solução e não do problema ii) no

contexto da integração, Portugal deve aproximar os custos relativos com o

funcionamento da Administração Pública para o patamar dos nossos parceiros

europeus iii) é positiva a maior mobilidade entre trabalhadores do sector estatal e do

sector privado iv) a avaliação do desempenho faz sentido, sobretudo se for usada

como instrumento de melhoria dos serviços v) o centralismo da Administração

prejudica irremediavelmente a operacionalidade a consequência dos processos de

avaliação vi) a avaliação dos serviços não pode deixar de ter a participação de

entidades externas vii) a transparência e o acesso às avaliações é indispensável à

dinâmica de mudança, à melhoria dos serviços e à garantias de isenção e

objectividade viii) a diversidade organizativa – e o método das experiências-piloto – é

muitas vezes preferível às decisões uniformes e de aplicação generalizada ix) há

áreas que só em Portugal são tradicional e exclusivamente estatais, em que a gestão

privada é mais competente x) a empresarialização de organismos do Estado permite,

em certas condições, ganhos de produtividade, eficiência e qualidade xi) é essencial

a definição, por consenso, dos cargos dirigentes de confiança política, para libertar a

Page 126: programa eleitoral CDS-PP

Administração da “maldição” que é a sua colonização partidária xii) as reformas da

Administração tornam-se ineficientes se não forem acompanhadas por reformas da

organização administrativa do Estado xiii) é inadiável a certificação das contas de

auditores externos, e a sua divulgação xiv) é condição de sucesso das reformas a

promoção de verdadeiras oportunidades para os funcionários competentes, e não sua

retenção centralizada e cega nas respectivas carreiras.

XVII. O CDS é um declarado adversário do centralismo do Estado e tem de deixar isso

muito claro. Somamos uma convicção doutrinária – a limitação do poder implica a sua

descentralização – a uma inspiração de bom governo que a experiência já consolidou

– a gestão de proximidade dos problemas e a escala razoável para o planeamento das

soluções são condições da eficiência do Estado. Também estamos bem conscientes de

que, na relação entre o poder central e as autarquias, se joga boa parte de uma

correcta – ou caótica -, política de ordenamento do território.

Convém afastar deste debate alguns preconceitos. A descentralização não é uma

questão do norte contra o sul, nem uma questão do interior com o litoral. É uma

necessidade de todos. Por outro lado, descentralizar não pode em nenhuma

circunstância significar aumentar o peso do Estado, complicar o processo de decisão

ou replicar as suas funções. Descentralizar só pode significar, e por isso faz sentido,

resolver mais depressa, planear adequadamente e ganhar eficiência na despesa e

qualidade no serviço prestado.

Não deixa de ser um mau sinal dos tempos que a mais proclamada das reformas – a da

organização do Estado – seja a menos coerente e a mais relutantemente executada.

Mas é este Estado centralista que, passo a passo, na prática, vem pedir auxílio no

desempenho de competências e atribuições que, por si só, é incompetente para levar

a cabo. Contratualizam-se com os municípios “contratos de segurança”,

equipamentos para a infância, avanços no parque judiciário. Sucede que esse é

precisamente o Estado cujos responsáveis não são capazes de encarar, metódica e

globalmente, uma nova geração de poderes descentralizados.

A ordem das reformas é, por isso, muito relevante. O CDS considera importante que,

nos próximos quatro anos, seja possível: i) definir as escalas de planeamento e

Page 127: programa eleitoral CDS-PP

decisão que a organização do Estado deve servir, em ordem a ser mais eficiente

junto do cidadão ii) apostar claramente nas comunidades urbanas e nas áreas

metropolitanas iii) encarar corajosamente o problema da dimensão das freguesias e

dos municípios no todo nacional, da sua extinção, fusão e criação com o objectivo a

proceder à sua reorganização de acordo com os critérios modernos de administração,

não deixando populações abandonadas à escassez de meios das suas estruturas

políticas iv) ter em atenção que o modo de Governo das maiores cidades não é

compatível com as actuais freguesias cuja desproporção relativa é chocante v)

planear, durante os quatro anos, uma nova geração de competências e atribuições a

descentralizar, de modo genérico e não casual, assumindo, em contrapartida, a

prudência de não querer tudo ao mesmo tempo ou tudo em todo o lado vi) aceitar,

quando necessário, o método da “experiência-piloto” como bom crivo para as das

reformas vii) não enganar nem iludir as populações com transferências de poderes a

que não corresponda o adequado financiamento viii) exigir um claríssimo reforço dos

meios de fiscalização democrática dos municípios, o que passa, desde logo, pelo

modo de funcionamento e o acesso à informação das Assembleias Municipais, de

modo a garantir que mais descentralização é mais democracia e não mais caciquismo

ix) prever adequados meios de fiscalização da eficiência e da transparência da

despesa nos vários níveis de decisão.

Para nós, não é difícil conceber que as autarquias venham a dispor de poderes

efectivos, na totalidade ou parcialmente, em domínios como a autonomia escolar e

os centros de saúde, o apoio às micro-empresas e a resolução de situações de

pobreza extrema, valências da política de segurança que não colidam com a

soberania do Estado, sectores de política agrícola, florestal e de eficiência

energética, gestão do património imobiliário público. A questão está em estudar a

viabilidade dessas transferências e adequá-las ao método ordenado e transparente da

reforma acima anunciada.

A estatização das políticas deve ceder perante o princípio da subsidariedade

assumindo, em domínios concretos, uma efectiva transferência de competências e

envolvimento dos vários poderes locais.

A nível social, é prioritário o desenvolvimento de todas as capacidades através de

parcerias com as IPSS em geral e as Misericórdias em especial. O papel destas redes

Page 128: programa eleitoral CDS-PP

sociais deve ser dirigido não só para o combate à pobreza e ao apoio social a idosos e

crianças, mas também de apoio a jovens considerados como potencialmente de risco,

investindo em programas específicos de ocupação dos tempos livres e de inserção

social de camadas mais desprotegidas e fragilizadas. Ainda neste plano, defendemos

a reformulação e descentralização do funcionamento dos Centros de Emprego, para

melhorar a sua eficiência e capacidade de resposta, nomeadamente na colocação no

mercado de trabalho e fiscalização da aceitação das ofertas de emprego dos inscritos

nestes centros.

No plano educativo é preciso assumir a gestão profissional das escolas, com

relevância para o papel do director, que não deve ser dependente de poderes locais

ou centrais, mas reconhecido pela competência pela comunidade escolar.

Também na área de saúde, defendemos o reforço da prevenção primária e

comunitária que deve passar pelo envolvimento das Autarquias, criando-se perfis

Municipais de Saúde e planos de desenvolvimento em saúde com progressiva

delegação de competências aos Municípios e Associações intermunicipais.

XVIII. A Autonomia dos Açores e da Madeira é uma das mais profícuas realizações do

Portugal Democrático. A sua consagração constitucional, apoiada desde o início pelo

CDS, permitiu desenvolver os territórios insulares portugueses e melhorar a vida dos

açorianos e madeirenses.

A Autonomia é um projecto evolutivo que, a cada momento, deve corresponder às

aspirações dos povos dos Açores e da Madeira, sendo a melhor forma de construir

Portugal no Atlântico.

No quadro da próxima Revisão Constitucional, o CDS promoverá o aprofundamento

das autonomias, fiéis ao principio que a mais autonomia deve corresponder, também,

uma melhor democracia nos Açores e na Madeira aumentando os poderes de

fiscalização dos Parlamentos Insulares sobre os Governos Regionais, o respeito dos

Direitos das oposições e o reforço dos mecanismos de garantia dos Direitos e

Liberdades dos Cidadãos. No que diz respeito à Lei das Finanças das Regiões

Page 129: programa eleitoral CDS-PP

Autónomas, o CDS defende a aprovação de uma lei mais justas e equilibrada que

tenha em consideração não só o PIB de cada Região como, também, o seu índice de

desenvolvimento económico e social.

Dedicaremos também uma especial atenção ao desenvolvimento de projectos de

interesse comum entre o Estado e as Regiões nos dois arquipélagos.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Introdução de um Orçamento Intergeracional, como documento complementar

ao Orçamento de Estado

2. Prioridade ao crescimento económico

3. Acelerar os investimentos públicos de dimensão média e de proximidade, que

já estejam programados ou que sejam consensuais. Destacamos i)

manutenção e valorização do património ii) promoção da eficiência

energética e ambiental dos edifícios públicos iii) acessibilidades para

deficientes iv) renovação dos tribunais e construção de novos centros

penitenciários v) investimento no sistema de transportes públicos e

mobilidade sustentável vi) melhoria das condições de trabalho e dos meios da

polícia.

4. Lançamento ou o co-financiamento de investimentos públicos relativos a i)

alargamento dos programas de recuperação, qualificação ou construção de

infra-estruturas sociais, nomeadamente as escolas e as áreas de apoio ao

idoso e à criança, em parceria com as IPSS ii) reparação e segurança de

pontes no âmbito de um programa nacional iii) realização de obras de

requalificação dos centros urbanos e de investimento na habitação social, em

parceria com os municípios, prioritariamente através da aquisição e

recuperação de imóveis devolutos iv) e o plano de barragens.

5. Nem TGV nem novo aeroporto devem avançar agora.

6. Princípio do utilizador pagador nas SCUT´s.

7. Controlar a criação de empresas municipais, EPE´s e Parcerias Público-

Privadas.

Page 130: programa eleitoral CDS-PP

8. Retomar o processo de centralização e modernização das compras do Estado.

9. Plano de privatizações e alienação de participações do Estado.

10. Estabelecer o princípio do concurso público na adjudicação de prestações de

serviços e consultorias.

11. Incluir no Código da Contratação Pública todas as entidades de natureza

administrativa, mesmo as que não se subsumem no conceito tradicional de

Administração Pública.

12. Simplificação de regras nos procedimentos cautelares relativos a decisões de

contratação pública.

13. Promover a maior mobilidade entre trabalhadores do sector estatal (local,

regional ou central) e do sector privado

14. Certificar e divulgar das contas dos auditores externos.

15. Princípio da subsidariedade, assumindo, em domínios concretos, uma efectiva

transferência de competências e envolvimento das várias comunidades locais.

16. Apostar progressiva delegação de competências nas Autarquias, nas

comunidades urbanas e nas áreas metropolitanas, em áreas como a gestão

escolar e a saúde.

17. Aprofundamento das autonomias, de acordo com o princípio que a mais

autonomia deve corresponder, também, uma melhor democracia nos Açores e

na Madeira.

18. No contexto da integração, Portugal deve aproximar os custos relativos com o

funcionamento da Administração Pública para o patamar dos nossos parceiros

europeus.

19. A diversidade organizativa – e o método das experiências-piloto – é muitas

vezes preferível às decisões uniformes e de aplicação generalizada.

Page 131: programa eleitoral CDS-PP

HABITAÇÃO, CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E TRANSPORTES

CRÍTICAS

1. Redução da política de ordenamento ao programa POLIS

2. Ineficácia da lei do arrendamento urbano

3. Excesso de presença do Estado no sector dos transportes

O domínio de um “paradigma de esquerda” no ordenamento do território tem tido

como efeito que as políticas tenham sido até agora sistematicamente concebidas

numa base de desconfiança em relação aos privados, e muitas vezes até com tiques

de dirigismo estatal. A norma tem sido privilegiar uma ideia de “bem geral”

abstracta e “socializante”, que o CDS repudia e a que contrapõe uma ideia

democrata-cristã de “bem comum”. No ordenamento do território tal é visível no

programa Polis, que uniformiza todas as cidades, desconsiderando a riqueza da

diversidade de cada uma.

No domínio do arrendamento, três anos volvidos sobre a entrada em vigor da nova

lei, os resultados são exíguos, para não dizer nulos. O mercado não arrancou, os

centros urbanos das grandes cidades continuam despovoados e em crescente

deterioração.

RESPOSTAS

I. O CDS ambiciona um Portugal melhor, mais próspero e mais desenvolvido, com

maior qualidade de vida. O CDS compromete-se nessa ambição, elegendo o

ordenamento do território como uma preocupação e área de actuação privilegiada do

seu programa político. Não é possível falar de um desenvolvimento pleno do país se

as pessoas, individual e colectivamente, não se sentem felizes e seguras nos vários

quadros de vida em que se movem, sejam os locais onde residem e trabalham, onde

descansam e consomem, ou simplesmente onde passeiam e convivem. O

Page 132: programa eleitoral CDS-PP

ordenamento do território, nas suas relações com a paisagem e o ambiente, a

habitação e os equipamentos, tem essa função de proporcionar bem-estar. Pode

ajudar depois a fortificar os sentimentos identitários e de pertença a lugares e

comunidades, fundamentais para a valorização da vida cívica, para fomentar a co-

responsabilização das populações no bem comum, e para a coesão social. E,

finalmente, pode ajudar também à competitividade, uma vez que um território

ordenado é definitivamente um território mais atractivo para investidores e para

turistas.

O ordenamento do território é uma componente fundamental do desenvolvimento

sustentável do país, que o CDS entende como prioridade e vê como um imperativo de

solidariedade entre gerações. Solidariedade primeiro que tudo com as gerações

futuras, a quem nos deve ligar o compromisso de deixar de herança um território

bem gerido, dotado dos recursos necessários para o seu próprio desenvolvimento. E

solidariedade com as gerações antecedentes, de quem herdámos um património

precioso de valores naturais e construídos que estamos eticamente obrigados não

apenas a defender e conservar, mas também a valorizar, o que pressupõe uma

atitude corajosa e pró-activa na construção de um ambiente de qualidade.

O CDS quer um Estado forte nas áreas de soberania, e o ordenamento do território

está nesse campo de responsabilidades. O CDS quer um Estado mais competente a

regular e a fiscalizar, e mais flexível e aberto na devolução de competências às

administrações locais, por respeito com o princípio da subsidiariedade inscrito na sua

matriz democrata-cristã. São estas orientações que servirão de linha de rumo à

política que o CDS se propõe seguir em matéria de habitação, cidades e ordenamento

do território. Para as concretizar, o CDS não terá receio de propor e levar a cabo

uma reforma profunda de unificação e simplificação legislativa e administrativa,

imprescindível em face do quadro actual de excessiva pulverização das regras e das

decisões por entre diplomas e organismos, mas até hoje sempre adiada. O CDS sabe

que só com essa reforma será possível agilizar soluções, encurtar tempos de espera

nos licenciamentos, e garantir uma coordenação mais efectiva das actuações públicas

e privadas em matéria de ambiente e território.

Page 133: programa eleitoral CDS-PP

Consideramos que o Estado não antecede nem prevalece sobre as pessoas, antes

existe para lhes proporcionar, a todas e a cada uma (e não ao todo com sacrifício das

partes), condições de existência em plenitude e de desenvolvimento frutuoso. Por

isso o CDS tem afirmado que sem as pessoas nada se faz e que é errado continuar a

insistir num sistema através do qual todas as restrições são admitidas sem qualquer

compensação ou benefício. O CDS sabe que o ordenamento do território só é possível

mobilizando os interesses e as energias de todos, público e privado, pessoas

individuais e empresas. Concretizar isso implica introduzir uma ruptura de paradigma

nas políticas que venha tornar claro que os sacrifícios são compensados e que todos,

individual e colectivamente, podemos tirar, e tiramos efectivamente, vantagens de

uma paisagem ordenada e de um ambiente saudável.

A visão que o CDS tem para o país passa por uma valorização inteligente e criativa, e

com sentido de modernidade, da geografia. O potencial de inovação da sociedade

portuguesa e das empresas dever ser canalizado, não para uma imitação de modelos

externos sem adequação àquilo de que somos capazes ou que podemos fazer, mas

numa lógica de valorização dos recursos reais de que dispomos. O CDS acredita que

Portugal tem à frente um futuro de qualidade e competitivo, mas que para isso é

preciso compreender que o caminho consiste em dar valor acrescentado às

qualidades e aptidões de que a nação e o país — as pessoas e o território — dispõem.

Daí a aposta que o CDS faz no desenvolvimento do turismo, a atenção que dedica à

valorização do mundo rural, o destaque que se propõe conferir às florestas e à

natureza, a centralidade que coloca na redescoberta do mar como base de uma

estratégia nova de desenvolvimento nacional.

O CDS percebe que o ordenamento do território constitui um dado essencial na

construção desse futuro desejável e possível. Por isso, para o CDS, o ordenamento do

território não é algo que possa ser pensado autonomamente; é um facto essencial de

política, para ser entendido como complementar e equacionado em relação com as

várias políticas sectoriais, da política de desenvolvimento rural à política de turismo,

da política para a inovação e a sociedade de informação à política de infra-estruturas

e de obras públicas, da política de família à política de saúde, da política de

segurança e defesa à política social, e vice-versa.

Page 134: programa eleitoral CDS-PP

O CDS quer um país seguro. A segurança tem também que ver, e muito, com o

ordenamento do território. Portugal é um país de elevada susceptibilidade a um

grande número de riscos naturais, ambientais e tecnológicos, dos sismos às cheias e

inundações, dos movimentos de massa à erosão do litoral, dos incêndios florestais à

desertificação, à contaminação dos solos e à poluição dos aquíferos. Contudo,

paradoxalmente, este tem sido um dos domínios em que a política de ordenamento

do território tem sido mais omissa. É urgente superar este estado de coisas. O CDS

quer garantir às populações o direito à segurança e a um ambiente de qualidade, e

isso implica chamar também para o centro da preocupação política a mitigação dos

riscos, a protecção civil e o planeamento de emergência.

II. Diante do exposto, o CDS elege cinco objectivos estratégicos como vectores

estruturantes da sua acção governativa no capítulo da habitação, das cidades e do

ordenamento do território: i) promover uma política de habitação que dinamize o

mercado de arrendamento como forma de fomentar a mobilidade residencial, que

diminua o endividamento das famílias e a dependência da banca, que potencie a

reabilitação urbana; que seja sensível à família; ii) regenerar os bairros sociais e

reinventar a solidariedade no acesso à habitação; iii) regressar à cidade compacta e

revitalizar os centros das cidades, para bem da coesão social, das identidades locais

e do ambiente; iv) assumir e valorizar o policentrismo urbano como complemento da

valorização do mundo rural e dos espaços naturais, para bem do desenvolvimento

equilibrado do território nacional e da coesão das regiões; v) dar prioridade a uma

política de prevenção e mitigação de riscos naturais, ambientais e tecnológicos,

como garantia do direito das populações à segurança e a um ambiente de qualidade.

No que se prende com o mercado de arrendamento urbano, manifestada a

incapacidade da lei actual para o dinamizar, importa fazer os ajustamentos

necessários a tornar o arrendamento atractivo quer para o senhorio quer para o

inquilino. O que significa que para os senhorios, ou potenciais senhorios, tem de ser

minimamente atractivo fazer obras e requalificar os imóveis e para os inquilinos a

renda tem de se situar substancialmente abaixo da prestação financeira

correspondente à compra de casa. Neste momento urge desbloquear uma série de

obstáculos que na lei actual têm impedido a concretização destes objectivos.

Importa também criar condições para que o crescimento nos centros urbanos da

oferta de habitações com tipologias mais adequadas às necessidades das famílias.

Page 135: programa eleitoral CDS-PP

Assim, propomos: i) dar prioridade à revisão do regime do despejo, tornando-o mais

célere, porquanto não é admissível uma delonga de mínima nove meses e a habitual

um a um ano e meio; ii) estabelecer um prazo razoável de caducidade dos

arrendamentos sujeitos ao novo regime do arrendamento urbanos, fundamental para

tornar atractiva a recuperação dos imóveis, garantindo o apoio dos inquilinos em

situações mais vulneráveis através de um fundo; iii) relacionar o estado de

conservação do imóvel com a renda exigível, não sendo possível aumentar a renda

em caso de má conservação do imóvel e não sendo exigíveis obras desproporcionadas

ao valor da renda; iv) aplicar as regras gerais relativamente ao valor da acção para

efeito de recurso; v) estudar mecanismos que estimulem o aparecimento de uma

oferta de habitação mais diversificada e mais condizente com as necessidades das

famílias, nomeadamente através de incentivos nos custos de licenciamento de

projecto.

Os últimos decénios assistiram à formação de novas modalidades de espaço urbano,

mais distendidas, mais difusas, mais descontínuas, onde a verticalidade cedeu lugar à

horizontalidade. É difícil precisar onde começam e acabam hoje as cidades. As

periferias estendem-se cada vez mais longe e sob formas cada vez mais arrevesadas.

Ao mesmo tempo, como contraponto dessa tendência, e por efeito justamente das

mesmas forças centrífugas, os centros das cidades esvaziaram-se de população e de

actividades. As cidades perderam centralidade e vitalidade.

Múltiplos factores concorreram neste sentido: razões económicas, que se prendem

com a deslocalização das actividades produtivas; razões tecnológicas, como a

motorização da população e a melhoria das acessibilidades; razões sociais, como a

fragmentação da família. Não é fácil atacar a origem destas mudanças. Mas as

consequências são nefastas e devem, por isso, ser combatidas: significam gastos

excessivos de tempo e dinheiro em movimentos pendulares cada vez mais longos,

consumos desnecessários de combustíveis fósseis que agravam o défice energético

nacional e produzem emissões elevadas de dióxido de carbono, ocupação desregulada

do solo; e enquanto isso, para a cidade, representam novos problemas relacionados

com o despovoamento, o envelhecimento demográfico, o desinvestimento no

património edificado, nas infra-estruturas e no espaço público — em suma, a

desqualificação da vida urbana.

Page 136: programa eleitoral CDS-PP

O diagnóstico está feito desde há muito. Académicos e técnicos conhecem bem o

problema e as populações sentem-no na pele. As soluções, porém, tardam. Os

governos PS inventaram o Polis, convencidos que com injecções de capital e grandes

intervenções festivas em frentes ribeirinhas ou em parques urbanos conseguiam

inverter a situação. Não conseguiram. O CDS reconhece que intervenções

qualificadoras do espaço público são importantes, mas sabe também que não se pode

resumir a isso uma política de cidade. É urgente regressar à cidade compacta e

revitalizar os centros das cidades, para bem da coesão social, das identidades locais

e do ambiente.

Regressar à cidade compacta, combater as tendências centrífugas e dispersivas da

urbanização contemporânea, valorizar o edificado e o espaço público dos centros das

cidades, tornando-os mais atractivos e apetecíveis para gente e actividades,

pressupõe coragem para proceder a inovações no plano legislativo que o CDS não

receia e que se compromete a fazer, nomeadamente. Para além dos ajustamentos

necessários ao nível do arrendamento, importa, nomeadamente, repensar o

financiamento das autarquias, de molde a reduzir a dependência dos municípios das

receitas fiscais da construção e, com isso, reduzir a apetência para o licenciamento

de novas construções em detrimento da reconstrução e reforçar significativamente os

benefícios fiscais de quem investe na valorização do património edificado dos centros

das cidades e nelas se estabelece, de molde a que as vantagens deixem de ser

meramente simbólicas e possam funcionar como um factor crítico na tomada de

decisão dos privados.

III. Portugal é um país assimetricamente povoado. Os portugueses estão concentrados

em cidades e nas coroas urbanizadas que se lhes desenham em redor. Mais de ¾ da

população do país habita em áreas que o INE considera urbanas. Depois, temos fortes

contrastes também, reconhecidos desde há muito, entre litoral e interior.

Portugal não está sozinho nesta tendência de ocupação assimétrica do território.

Muitos outros países desenvolvidos, como a Suiça e a Áustria, ou os países

escandinavos, possuem modelos de ocupação e organização do espaço algo similares.

A concentração da população é uma decorrência de tendências históricas pesadas,

que os últimos decénios, com a transferência do emprego para os sectores secundário

Page 137: programa eleitoral CDS-PP

e terciário e o consequente êxodo rural, acentuaram muitíssimo. Proceder à

redistribuição da população, promovendo campanhas de colonização interna como se

chegou a fazer no passado, não parece possível, e talvez também não fosse por si só

solução que garantisse um desenvolvimento equilibrado e harmonioso do território

nacional. Por isso, o que o CDS propõe é uma política que saiba tirar partido do

modelo territorial que está configurado, explorando as virtualidades que ele encerra

para bem do desenvolvimento do país e da coesão das regiões.

O interior do país, ainda que sofrendo os efeitos do despovoamento e do

envelhecimento demográfico, não é um deserto e não pode ser por isso votado ao

abandono a que normalmente se consagram as “terras de ninguém”. Os centros

urbanos têm sido focos de um certo dinamismo demográfico e até económico. Essas

energias têm de ser capturadas e multiplicadas por intermédio de políticas eficazes

de desenvolvimento integrado do mundo rural. Valorizar a centralidade desses

lugares, integrá-los em redes, e ao mesmo tempo pô-los a funcionar mais

articuladamente com os espaços rurais em redor, que também devem ser objecto de

um ordenamento agrícola e florestal e de uma política activa de valorização dos seus

recursos, é crucial e pode ser a solução para o desenvolvimento rural.

Para o CDS é pois determinante assumir e valorizar o policentrismo urbano como

complemento da valorização do mundo rural e dos espaços naturais, para bem do

desenvolvimento equilibrado do território nacional e da coesão das regiões.

IV. A ordenação do território passa necessariamente por uma política estruturada e

consistente de mobilidade. Rigorosamente, a definição da política de transportes

deverá considerar a Política de Ordenamento do Território, a Política para a

eficiência Energética, as políticas relativas às Alterações Climáticas e ainda a Política

Económica, Orçamental e Financeira de Portugal, num quadro sustentável o ponto de

vista ambiental, financeiro e social.

O crescimento da mobilidade coloca problemas com custos económicos elevados, ao

nível da segurança, da energia e ambiente, e devem ser enfrentados com realismo.

Estes problemas resultam do aumento da taxa de urbanização, do crescimento da

indústria automóvel e da forma como as cidades evoluíram a partir da segunda

metade do Séc. XX, face à pressão demográfica resultante do abandono dos campos,

Page 138: programa eleitoral CDS-PP

que conduziram ao crescimento explosivo da taxa motorização e ao uso intensivo do

automóvel, com um aumento do número e extensão das viagens motorizadas

realizadas pelos cidadãos.

Nas últimas décadas, os transportes, foram planeados numa óptica individual dos

diferentes modos. Há que modificar urgentemente esta perspectiva, criando

condições de integração, racionalização e eficiência de todo o sistema de mobilidade

e logística, com a simultânea alteração profunda do quadro legal de regulação e

regulamentação dos transportes em geral.

Também neste domínio os privados deverão ser chamados a participar mais

intensamente na gestão e desenvolvimento dos transportes, substituindo-se, a ideia

generalizada, de reserva de sectores de actividade pela da transferência de risco

para aqueles que clara e livremente procuram oportunidades de investimento

rentável neste sector. Ao Estado deve competir o exercício dos poderes reguladores e

fiscalizadores de forma independente e autónoma. Esta regulação deve ser, também.

Exercida com o recurso a Contratos de Concessão de Serviço Público e com respeito

pelas obrigações deles decorrentes. Na verdade, o Estado accionista, gestor,

regulador e fiscalizador é omnipresente no sector, o que não tem permitido um

desenvolvimento sustentável do sector, nem tem sido possível assegurar os Princípios

de Bom Governo e as Boas Práticas na quase totalidade das empresas e instituições

estatais que providenciam infra-estruturas e gerem oferta de transporte.

Defendemos assim: i) o descongestionamento do meio urbano e das regiões

suburbanas através de uma nova cultura de mobilidade nas regiões metropolitanas,

com transportes acessíveis e soluções colectivas menos onerosas e da criação das

Autoridades Metropolitanas de Transporte; ii) a integração das estradas regionais e

das antigas estradas nacionais desclassificadas, na rede municipal, sob jurisdição das

autarquias; iii) a reavaliação de novos itinerários rodoviários principais e

complementares; iv) a melhoria das ligações urbanas aos itinerários principais e

complementares existentes; v) a justificação através da análise custo-benefício de

todos os investimentos superiores a 10 milhões de Euros, com introdução obrigatória

de todos os efeitos externos (externalidades) avaliados segundo os parâmetros

oficiais, aprovados pelo Governo e pelo Parlamento; vi) a resolução dos problemas

financeiros das empresas estatais, de modo a permitir a sua municipalização e

privatização em áreas com sustentabilidade económica; vii) a inversão das actuais

Page 139: programa eleitoral CDS-PP

propostas políticas relativas ao sistema ferroviário com prioridade para o transporte

de mercadorias e ligações aos portos e plataformas logísticas nacionais,

incrementando a intermodalidade e complementaridade na rede de transportes, com

a necessária conclusão da modernização das Linhas do Norte e da Beira Baixa; viii) a

manutenção da rede aeroportuária nacional, privatizando a gestora ANA, SA,

incluindo os aeroportos das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, embora

nestes casos com concessões e regulações específicas, de acordo com os interesses

socioeconómicos das respectivas Regiões; ix) a decisão sobre o novo Aeroporto

Internacional de Portugal fundamentada em critérios económicos posteriores à

privatização da ANA e que se subordinem ao interesse nacional; x) a produção e

regulamentação de uma nova Lei de Bases dos Sistemas de Mobilidade e Transportes

Terrestres; xi) a garantia do equilíbrio económico-financeiro dos portos nacionais, de

modo a aumentar a movimentação de mercadorias e incentivando o acesso às rotas

marítimas internacionais, assumindo o desenvolvimento dos portos como um aspecto

estratégico para o país; xii) a aprovação de um novo quadro económico e financeiro

para o Plano Estratégico de Transportes, face à actual situação financeira e

orçamental do país; xiii) adoptar como princípio geral o do “utilizador-pagador”

como regra de tarifação das infra-estruturas de transportes, o que implica a abolição

das “SCUT” sempre que não estejam em causa superiores interesses sociais; xiv)

estudar a possibilidade de introduzir nas auto-estrada tarifas diferenciadas consoante

a faixa de rodagem; xv) no caso de nova travessia do Tejo, defender prioritariamente

a opção ferroviária, também destinada a reforçar a capacidade de integração modal

nas duas margens do Tejo.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Reforma profunda no sentido da unificação e simplificação legislativa e

administrativa.

2. Dinamização do mercado de arrendamento.

3. Facilitação do despejo.

4. Incentivo a tipologias habitacionais mais favoráveis à família.

5. Regresso à cidade compacta.

Page 140: programa eleitoral CDS-PP

6. Criação das Autoridades Metropolitanas de Transporte.

7. Integração das estradas regionais e das antigas estradas nacionais

desclassificadas, na rede municipal, sob jurisdição das autarquias.

7. Abolição de algumas “SCUT”.

Page 141: programa eleitoral CDS-PP

IMIGRAÇÃO

CRÍTICAS

1. A política de imigração do PS foi laxista em vez de rigorosa e burocrática em

vez de integradora.

2. Gerou um regime instável, na imigração.

3. Abriu uma “janela” para o efeito de chamada a imigrantes ilegais.

Os regimes de imigração devem ser estáveis. O PS, ao invés de reforçar a rede

consular existente, fechou consulados. Em vez de aumentar o número de oficiais de

ligação do SEF nos países de origem de imigração – e que muito poderiam ajudar a

controlar o fenómeno migratório e as rotas de tráfico de pessoas – cancelou as

admissões.

Em vez de criar uma rede integrada de informação entre o SEF, DGAC e o IEFP,

preferiu mudar a lei. Nesta alteração, o PS cometeu dois erros graves. Primeiro

consagrou uma terceira forma para a obtenção de um visto - para além do habitual

“contrato de trabalho” ou “promessa de contrato de trabalho” – mediante uma mera

“manifestação de interesse da entidade patronal”. Foi excessivamente flexível no

conjunto de entidades que podem provar a existência de uma relação de trabalho

(para efeitos de concessão de visto), atribuindo essas competências a entidades,

pela sua natureza, não têm vocação para tal, como ONGs e sindicatos.

Em conclusão, abriu uma “janela para o efeito de chamada” de imigrantes ilegais

que se encontravam noutros países da União Europeia.

Page 142: programa eleitoral CDS-PP

RESPOSTAS

I. A dimensão global dos fluxos migratórios requer uma visão abrangente deste

fenómeno e justifica uma análise integrada das abordagens preconizadas por

diferentes ordens jurídicas, nomeadamente dos países que registam índices de

imigração mais elevados. Além disso, a condição de Portugal enquanto Estado

Membro da União Europeia implica necessariamente uma especial consideração pelas

soluções propostas pela União Europeia, designadamente através das suas instituições

– Comissão, Conselho e Parlamento Europeu.

Neste contexto, qualquer que seja a solução preconizada é inevitável que a mesma

atenda aos princípios e às orientações definidas pela União Europeia, bem como às

tendências dos países que são frequentemente objecto de fluxos migratórios. Tal

circunstancialismo decorre, não só por razões de natureza jurídica, mas sobretudo

por uma questão de eficácia das políticas definidas no domínio da regulação dos

fluxos migratórios e da integração plena e condigna das imigrantes no respectivo país

de acolhimento.

Assim sendo, impõe-se uma breve sinopse das orientações mais recentemente

definidas pela União Europeia.

II. A política de imigração da UE tem vindo a ser desenvolvida com particular cuidado

desde o Conselho Europeu de Tampere (Finlândia) realizado em Outubro de 1999 e no

qual os Estados Membros concordaram que a gestão dos fluxos migratórios deve

assentar numa abordagem abrangente que privilegie o equilibro entre o humanismo e

as necessidades económicas, bem como promover um tratamento justo e adequado

aos cidadãos de países terceiros e ainda reconhecer a importância de se

desenvolverem parceiras com os países de origem, incluindo políticas de co-

desenvolvimento. Desde então que a UE defende que a política de imigração deve

atender ao seu desenvolvimento económico e demográfico, bem como às capacidades

de recepção de cada Estado Membro e às suas ligações com cada um dos países de

origem das comunidades imigrantes, sem ignorar o impacto de tais fluxos migratórios

para os próprios países de origem e ainda a necessidade de se desenvolverem

políticas de integração apropriadas.

Page 143: programa eleitoral CDS-PP

Do vasto acervo de instrumentos legais comunitários existentes, é importante reter

os princípios que enformam a política de imigração europeia, os quais têm

subjacente a prossecução de uma política para toda a Europa e uma acção

coordenada entre os Estados que compõe a União Europeia, bem como os objectivos

da União Europeia relativos à prosperidade, solidariedade e segurança.

1) PROSPERIDADE: o contributo da imigração legal para o desenvolvimento

socioeconómico da UE. Neste contexto, é importante promover a adopção de regras

claras e a igualdade de condições, pelo que os nacionais de países terceiros devem

receber as informações necessárias relacionadas com a entrada e residência legal na

UE. Para além disso, deve ser assegurado o tratamento equitativo dos nacionais de

países terceiros que residem legalmente na EU, bem como uma especial atenção aos

seguintes vectores i) Adequação entre qualificações e necessidades e ii) A integração

como solução para uma imigração bem sucedida;

2) SOLIDARIEDADE: coordenação entre Estados-Membros e cooperação com países

terceiros, assegurando que i) A política comum de imigração deve ter como

fundamento os princípios de solidariedade, confiança mútua, transparência,

responsabilidade e esforços conjuntos entre a UE e os Estados-Membros, os quais

requerem uma melhor partilha de informação que contribua para reforçar as

abordagens coordenadas sempre que tal se justifique, nomeadamente mediante

formas de comunicação claras, objectivas e adequadas. Por outro lado, torna-se

essencial desenvolver mecanismos para controlar o impacto de eventuais medidas

nacionais que preserve a consistência no seio da EU. ii) uma utilização eficaz,

coerente e rigorosa dos meios disponíveis para a gestão dos fluxos migratórios iii)

Estabelecimento de parcerias com os países terceiros, iv)Transparência, confiança e

cooperação.

A imigração deve ser uma parte integrante das políticas externas da UE. A

colaboração sobre todos os aspectos das questões ligadas à imigração deve ser

desenvolvida em parcerias com os países terceiros, apoiando o desenvolvimento de

sistemas de imigração e asilo de países terceiros, assim como de enquadramentos

legislativos e ainda reforçando a colaboração e a ajuda com esses países. É essencial

desenvolver meios legais e operacionais que proporcionem oportunidades de

migração circulares, bem como colaborar com países de origem de imigrantes ilegais

Page 144: programa eleitoral CDS-PP

e ainda incorporar disposições relativas à segurança social nos acordos de associação

com países terceiros.

3) SEGURANÇA: lutar eficazmente contra a imigração ilegal através nomeadamente

de i) Uma política de vistos ao serviço dos interesses da Europa e dos seus parceiros;

ii) Gestão integrada das fronteiras, assegurando a protecção e integridade do espaço

Schengen; iii) Intensificação da luta contra a imigração ilegal e tolerância zero para o

tráfico de seres humanos e iv) assegurar políticas de regresso duradoura e eficazes:

As políticas de regresso fazem parte das políticas de imigração. Conferir estatuto

legal a imigrantes ilegais em massa não deve ser incentivado; no entanto, a

possibilidade de conferir estatuto legal a indivíduos não deve ficar comprometida.

III- Uma referência ao Pacto Europeu sobre Imigração e Asilo:

Na sequência do Conselho Europeu realizado nos dias 15 e 16 de Setembro de 2008

sob a égide da Presidência Francesa, foi anunciado o Pacto Europeu sobre Imigração

e Asilo. Este promove uma abordagem coerente e equilibrada da migração no seu

duplo objectivo, designadamente proporcionar canais legais de migração e combater,

ao mesmo tempo, a imigração clandestina, assumindo o necessário humanismo, pois

assenta no pressuposto de que os imigrantes são membros individuais da sociedade e

potenciais cidadãos, devendo os Estados-Membros empreender esforços para instituir

políticas de inclusão social e de integração claras e eficazes.

O Pacto sobre Imigração deverá constituir o quadro de acção das futuras Presidências

da União Europeia.

IV) Perante o contexto europeu actualmente existente tanto no plano social, como

no plano económico e, assim, também reflectido no plano jurídico e politico, o CDS

tem defendido de modo firme e coerente que só um controlo rigoroso da entrada,

saída e permanência de cidadãos estrangeiros em território nacional possibilitará

uma regulação eficiente dos fluxos migratórios no território nacional.

Por isso mesmo, a gestão das migrações deve ser global e recentes iniciativas do

Conselho Europeu durante a Presidência Francesa, como a constituição da União para

o Mediterrâneo ou a celebração do Pacto Europeu sobre Imigração e Asilo,

Page 145: programa eleitoral CDS-PP

representam contributos significativos para introduzir uma política rigorosa na gestão

dos fluxos migratórios, sem descurar o humanismo imprescindível na integração e

jamais abrandando o combate às redes de tráfico de seres humanos.

O CDS tem sido o único Partido em Portugal que sempre defendeu estas políticas, as

quais constam hoje de um compromisso assinado por todos os Estados da União

Europeia. Neste contexto, possui especial responsabilidade e uma legitimidade

acrescida em prosseguir as suas propostas políticas nesta área, e procurar novas

soluções para um fenómeno cada vez tão complexo e global, como mutável. A

premissa fundamental em que assenta a política do CDS considera os imigrantes como

pessoas iguais a todas as outras na sua dignidade, pelo que o relacionamento do

Estado com os imigrantes jamais pode deixar de atender a essa dimensão pessoal e

deve reger-se inexoravelmente por princípios de respeito, transparência, lealdade e

tutela da confiança.

Nesse sentido, o respeito pelos imigrantes obtém-se, antes de mais, através de uma

política clara e responsável de imigração legal, o que significa que devemos acolher

de forma digna aqueles que procuram o nosso país para trabalhar e melhorar as suas

vidas e que assim contribuem também para o crescimento nacional. Uma política

menos rigorosa de imigração conduzirá, inevitavelmente, a deficiências no

acolhimento e a outros problemas de diferente natureza.

Portugal foi no seu passado e, face à crise económica, volta a ser hoje um País de

emigrantes. Sabemos bem o sofrimento e as dificuldades de uma diáspora que

procura longe das suas origens, a possibilidade de ter uma vida melhor para si e para

a sua família.

O princípio da confiança pelo qual se deve reger a actividade do Estado e que deve

pautar igualmente a política de imigração implica que a confiança do imigrante deve

ser cultivada e preservada, nomeadamente o imigrante deve ser tratado de forma

leal e verdadeira por parte do Estado, o qual jamais lhe deve dar sinais

contraditórios. Assim, não faz sentido que o Estado receba contribuições para a

Segurança Social e obtenha impostos de imigrantes em situações de irregularidade,

Page 146: programa eleitoral CDS-PP

as quais são tardia ou dificilmente solucionadas por esse mesmo Estado, quando não

mesmo ignoradas.

Neste contexto, o CDS preconiza i) a criação de um Sistema em rede no Ministério da

Administração Interna, devidamente articulado e em parceria com o Ministério do

Trabalho e da Segurança Social e o Ministério das Finanças, que evite a existência de

situações pouco claras em que cidadãos que se indocumentados ou em situação de

ilegalidade no País, procedam, ainda assim, a contribuições para a Segurança Social

ou ao pagamento de impostos às Finanças.

A lealdade na actuação do Estado pressupõe também o fornecimento e a clareza da

informação, nomeadamente de forma acessível e clara. Por isso, o CDS defende i) a

criação de Gabinetes de Informação e Apoio ao Imigrante (GIAI) em todas as Lojas do

Cidadão, destinados a promover os conhecimentos essenciais da legislação

portuguesa. No mesmo sentido, o CDS considera fundamental o incentivo ao

voluntariado e a promoção de protocolos com as Universidades e a Ordem dos

Advogados que permitam uma informação útil e capaz aos imigrantes nos referidos

GIAI.

O acolhimento adequado do imigrante implica também que o Estado dedique especial

atenção á especial vulnerabilidade em que os imigrantes, não raras vezes, se

encontram, as quais potenciam os abusos por parte de alguns empregadores. Perante

tal circunstancialismo, o CDS entende como contributo fundamental a realização de

protocolos com as Misericórdias e as IPSS que visem a criação de uma rede de apoio a

imigrantes em situação de especial precariedade, bem como a adequada fiscalização

por parte da Autoridade para as Condições de Trabalho em relação a estes

fenómenos de abuso e exploração.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Promover a imigração legal tendo em conta as prioridades, necessidades e as

capacidades de integração de Portugal em cada momento, designadamente as

Page 147: programa eleitoral CDS-PP

oportunidades existentes no mercado de trabalho e as previsões económicas

para o ano seguinte;

2. Incentivar a realização de acordos de pareceria com os países de origem e de

trânsito das correntes migratórias para o nosso País;

3. Remodelar as redes consulares e nomear oficiais de ligação do SEF junto das

Embaixadas portuguesas nos países de origem e de trânsito, com vista à

desburocratização dos processos de atribuição de vistos e autorizações de

residência e ao reforço da cooperação operacional e judiciária no combate ao

tráfico ilegal de pessoas;

4. Acordar as condições de retorno de imigrantes que, encontrando-se no nosso

País, demonstrem vontade de regressarem ao seu país de origem;

5. Reforçar o controlo nas fronteiras na dotação do SEF de meios de combate à

falsificação de documentos e à promoção da participação portuguesa na

FRONTEX;

6. Centralizar no SEF os processos de concessão de vistos e autorizações de

residência, actualmente da competência do Ministério dos Negócios

Estrangeiros e que tem demonstrado não ter capacidade operacional e as

competências necessárias para uma concessão célere e rigorosa desta

documentação;

7. Criar um Sistema em rede no Ministério da Administração Interna, e em

parceria com o Ministério do Trabalho e da Segurança Social e o Ministério das

finanças, que evite a existência de situações dúbias em que cidadãos que se

encontram indocumentados ou em situação de ilegalidade no nosso País,

ainda assim procedem às contribuições para a Segurança Social ou às

Finanças;

8. Rever a Lei de Imigração, com o objectivo de associar à concessão de vistos e

de autorizações de residência um contrato de imigração em que o Estado

garanta o acesso a direitos básicos, como a saúde ou a educação, e o

candidato se comprometa a respeitar integralmente as leis portuguesas, os

valores fundamentais do Estado de Direito Democrático e a aprendizagem da

língua portuguesa;

9. Prever expressamente a regra do julgamento sumário para crimes graves

cometidos por titulares de vistos de residência, detidos em flagrante delito,

com consequente decisão de expulsão em caso de condenação;

Page 148: programa eleitoral CDS-PP

10. Impedir que os pedidos de asilo feitos com fundamento manifestamente

improcedente constituam pretexto para adiar o procedimento de expulsão,

quando este tenha sido determinado;

11. Evitar processos unilaterais de regularizações extraordinárias de imigrantes,

hoje em dia afastados pela União Europeia;

12. Estender as vagas nos exames de aprendizagem do português, realizados pelo

Ministério da Educação para os requerentes da nacionalidade portuguesa, para

imigrantes, reforçando papel do conhecimento da língua como um factor de

integração;

13. Realizar protocolos com as Misericórdias e as IPSS com vista á criação de uma

rede de apoio a imigrantes que se encontrem em situações especialmente

precárias;

14. Criar Gabinetes de Informação e Apoio ao Imigrante (GIAI), destinados a

fornecer conhecimentos básicos da legislação portuguesa, em todas as Lojas

do Cidadão através do incentivo ao voluntariado e da celebração de

protocolos com as Universidades e a Ordem dos Advogados;

15. Reformular o Conselho Consultivo para a Imigração e Minorias Étnicas,

garantindo uma maior participação e representatividade de associações de

imigrantes presididas por cidadãos imigrantes e envolver as autarquias locais

nesta matéria, através da Associação Nacional de Municípios.

Page 149: programa eleitoral CDS-PP

JUSTIÇA

CRÍTICAS

1. Aumento exponencial dos atrasos na justiça laboral.

2. Incapacidade dramática de resposta dos tribunais de comércio.

3. Alterações erradas ao Código Penal e Código de Processo Penal.

4. Tentativa de destruição da reforma do notariado.

5. Processo atribulado do novo mapa judiciário.

O Governo Socialista tem vindo a argumentar que as pendências judiciais

diminuíram, que a implementação do processo electrónico tem sido um sucesso e

que o mapa judiciário é uma inevitabilidade. Acontece, porém, que decorridos 4

anos de governação socialista, não se vislumbram melhorias significativas com

impacto na vida das empresas e das pessoas.

As medidas socialistas – e, em particular, os Planos de Acção para o

Descongestionamento dos Tribunais, contribuíram apenas para mitigar alguns dos

constrangimentos no funcionamento da nossa Justiça, não atacando aqueles que são

os problemas estruturais do sistema judicial.

O CDS sabe que a Justiça, antes de ser um serviço, é um direito fundamental dos

cidadãos e que este direito está hoje claramente posto em causa dada a

desconfiança que o sistema de justiça tem vindo a gerar nos cidadãos. Vive-se uma

crise de confiança que é também, simultaneamente, uma crise de gestão,

organização e autoridade.

A crise da Justiça é, em si mesma, uma crise do Estado.

Page 150: programa eleitoral CDS-PP

RESPOSTAS

I. Assumir a prioridade da Justiça significa assumir a necessidade de reformar e

transformar a lógica actual de funcionamento, gestão e organização dos Tribunais

Judiciais.

O CDS reconhece que, ao contrário dos outros órgãos de soberania (Presidente da

República, Assembleia da República e Governo), cuja legitimidade decorre do voto

da sociedade, os tribunais baseiam a sua legitimidade no resultado da sua acção. É,

por isso, essencial devolver a capacidade de resposta dos tribunais judiciais. A

credibilização do nosso sistema depende da sua eficácia.

Há que apostar na simplificação, qualidade e contenção legislativa, na recuperação

do diálogo com os diferentes parceiros, na eficácia da gestão e melhor organização

dos Tribunais, numa articulação funcional dos operadores judiciais, e ainda numa

visão integrada e complementar da oferta de meios judiciais e extrajudiciais de

resolução de conflitos.

Importa também retomar a linha da liberalização do notariado, tão maltratada por

este Governo e que, no entanto, corresponde a uma reforma profunda e na

Administração Pública e que deve ser devidamente valorizada.

II. O balanço da acção do Governo Socialista no domínio judicial é claramente

negativo. A uma enorme concentração processual no âmbito da jurisdição cível, em

que cerca de 20 empresas representam cerca de 60% das pendências judiciais,

somam-se atrasos e situações crónicas no âmbito da jurisdição administrativa e

fiscal, laboral e falimentar com enormes e evidentes dificuldades de resposta dos

Tribunais Administrativos e Fiscais, dos Tribunais do Trabalho e de Comércio. É

esclarecedor constatar que no Tribunal de Comércio de Lisboa uma providência

cautelar demora pelo menos 9 meses a ser decidida e uma acção mais complexa leva,

na melhor das hipóteses, 5, 6 ou 7 anos a ser resolvida.

Page 151: programa eleitoral CDS-PP

Ao nível da aplicação do direito, grassa a confusão judiciária com a vigência

simultânea de múltiplos regimes. Confusão e sobreposição qualificam as

competências no que diz respeito ao funcionamento dos Tribunais Judiciais e no que

diz respeito à própria orgânica do Ministério da Justiça.

No que respeita ao direito processual, temos um processo civil com mais de 1500

artigos, um processo penal revisto de forma desastrosa que, para além de ter

introduzido burocracia, é irresponsável do ponto de vista da política criminal e, bem

assim, um processo tributário que se encontra em discussão pública há praticamente

três anos.

O processo electrónico que, segundo o Governo, abrange cerca de 75% dos Tribunais

de 1.ª Instância, segundo a Associação Sindical dos Magistrados Judiciais contribuiu

para diminuir a produtividade dos Juízes em 119% e, de acordo com o Sindicato dos

Magistrados do Ministério Público, coloca sérios problemas de segurança.

As formações dos diferentes operadores judiciais falham por falta de

compatibilização e integração e as inspecções são compartimentadas e sem qualquer

avaliação global integrada.

No que respeita aos mecanismos de resolução extrajudicial de litígios, a lei de

arbitragem, datada de 1986, urge ser revista e ponderada à luz dos nossos dias e não

há uma integração entre estes e os restantes mecanismos de resolução de litígios.

Aliás, é bem esclarecedor a adopção de um mapa judiciário que está longe de ser um

verdadeiro mapa da justiça.

Por fim, os recursos são insuficientes em diferentes áreas, em particular, na

Magistratura do Ministério Público e no quadro de inspectores da Polícia Judiciária.

III. O CDS reconhece que a gestão e organização dos tribunais é o problema estrutural

da Justiça Portuguesa. No Ministério da Justiça há demasiadas entidades com

competências similares (e que, em alguns casos, são mesmo sobrepostas) no âmbito

Page 152: programa eleitoral CDS-PP

da gestão e organização dos Tribunais. As intervenções nos Tribunais, as redes

informáticas e o apoio aos programas Citius e Habilus são exemplos paradigmáticos

dessa realidade. A Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) administra o

programa Habilus e gere os oficiais de justiça. O Instituto das Tecnologias da

Informação da Justiça (ITIJ) administra as diferentes redes informáticas, a Direcção-

Geral de Política de Justiça (DGPJ) impõe regras estatísticas e o Instituto de Gestão

Financeira e Infraestruturas da Justiça (IGFIJ), para além de arrecadar receitas, gere

as diferentes intervenções nos Tribunais.

Esta organização é demasiadamente complexa e cria zonas “cinzentas” de

intervenção entre magistrados judiciais, magistrados do Ministério Público,

secretários judiciais e direcções-gerais do Ministério da Justiça.

Importa adoptar definitivamente a figura do Gestor Judicial, responsável pela

logística, material e recursos humanos dos Tribunais. A par do Gestor Judicial, o CDS

defende igualmente a criação da figura do Gabinete do Juiz, composto pelo juiz, por

um escrivão-adjunto ou auxiliar e, por um colaborador técnico em todas as situações

em que se justifique. Este colaborador, recrutado a título temporário, de formação

diversificada, adequada às necessidades da secção ou de um processo

particularmente complexo, tem a função de ajudar na preparação dos despachos e

decisões da competência do juiz.

O CDS defende que a questão da autoridade no Tribunal deve ser discutida com as

entidades representativas do sector.

Será necessário proceder com urgência a uma análise independente do

funcionamento do Citius, de forma a identificar e corrigir as fragilidades do seu

funcionamento, adequação funcional e segurança. Neste âmbito, o CDS defende a

criação de uma comissão de acompanhamento do Citius, composta por Advogados,

magistrados judiciais, magistrados do Ministério Público e representante do Ministério

da Justiça.

Page 153: programa eleitoral CDS-PP

A harmonização informática em todos os Tribunais deve ser uma preocupação

permanente, a par da realização de formações iniciais e complementares a todos os

agentes que trabalham na Justiça. O ITIJ deverá disponibilizar um corpo de técnicos

informáticos que (à distância, em sistema de help-desk, ou presencialmente) possam

prestar assessoria técnica informática e que ajudem a resolver os problemas que

surgem no dia-a-dia aos diferentes operadores.

IV. O Mapa Judiciário apresentado pelos socialistas não é um verdadeiro mapa da

justiça. Alguns estudos indicam que metade dos tribunais em Portugal não têm carga

de trabalho que justifique a sua existência e alguns dos poucos dados estatísticos

demonstram igualmente que temos demasiados tribunais e, em determinadas

situações, muito concentrados do ponto de vista territorial. Esta realidade põe à

evidência a necessidade de se articular os diferentes meios de resolução de litígios

existentes, judiciais e extrajudiciais, como os julgados de paz, os sistemas de

mediação e centros de arbitragem, e mesmo com outras jurisdições como a

administrativa e fiscal.

Simultaneamente, há que enfrentar a discussão sobre o nosso processo civil e estudar

a possibilidade de se implementar um novo regime processual mais simplificado, mais

flexível e com maior autodeterminação das partes. Deve ser equacionada igualmente

a possibilidade da figura da Injunção passar, em definitivo, a ser uma fase prévia e

obrigatória de qualquer processo de cobrança de dívida. Há ainda que efectuar um

estudo sério sobre a acção executiva e o processo de insolvência, avaliando o

cumprimento dos objectivos definidos na lei, nomeadamente o afastamento de

falências fraudulentas.

V. O CDS admite consagrar a separação entre a progressão na carreira judicial e a

hierarquia nos Tribunais, o que permitirá reduzir a prazo o número de magistrados

nos tribunais superiores (para um terço do actual), sem prejudicar as expectativas

legítimas de progressão na carreira e permitir canalizar um número significativo de

magistrados para o julgamento de processos no âmbito da 1ª Instância, onde há

maiores pendências.

Page 154: programa eleitoral CDS-PP

VI. A simplificação, qualidade e contenção legislativa tem sido um bem escasso na

Justiça Portuguesa. A proliferação legislativa dos últimos tempos é, em regra, de má

qualidade. As leis aprovadas pelos socialistas são complexas no método, fracas na

técnica e desastrosas no resultado. O CDS entende que é preciso inverter esse ciclo,

corrigindo-se alguns dos problemas causados por leis irresponsáveis e desajustadas da

realidade.

As leis penais e processuais penais aprovadas pelo Governo socialista são um exemplo

da sua incoerência legislativa. Constituíram um retrocesso, introduziram burocracia e

vieram dificultar a aplicação dos mecanismos de detenção e de prisão preventiva. O

CDS propõe-se alterar o actual regime de aplicação da prisão preventiva e de

detenção fora de flagrante delito, em larga medida responsável pelo aumento da

criminalidade registada após a revisão do Código de Processo Penal, designadamente

com a revisão dos pressupostos para a sua aplicação. Defendemos: i) a revogação da

exigência de que o crime seja punido com mais de cinco anos de prisão, aplicando-se

novamente os três anos anteriormente exigidos; ii) a abolição da norma que

prescreve que o juiz não possa aplicar a prisão preventiva se essa medida de coacção

não for requerida pelo Ministério Público; iii) a revogação ou reformulação dos

artigos 13º e 15º da Lei da Política Criminal, que impõem ao Ministério Público que,

sempre que legalmente o possa fazer, não requeira condenações em pena de prisão

efectiva ou o decretamento da prisão preventiva.

No que respeita à detenção fora de flagrante delito, deverá ser abolida a disposição

que torna exigível que a detenção só possa efectuar-se quando haja fundadas razões

para considerar que o visado não se apresentaria espontaneamente perante

autoridade judiciária no prazo que lhe fosse fixado.

Todas estas disposições, além de terem provocado um decréscimo significativo do

número de prisões preventivas e das detenções realizadas fora de flagrante delito,

têm aumentado os números da criminalidade (designadamente de crimes violentos

cometidos nas regiões de Lisboa, Porto e Setúbal) e o sentimento de insegurança,

além de fazerem pairar uma nuvem de descrédito sobre o sistema de justiça, com a

consequente transmissão de um sentimento de impunidade aos delinquentes, muitos

deles sucessivamente detidos e logo de seguida libertados.

Page 155: programa eleitoral CDS-PP

VII. Entendemos que deve ser feita uma reflexão muito séria sobre o recrutamento

dos magistrados, no sentido de tornar a carreira atractiva e capaz de captar alunos

de elevadas classificações.

O CDS defende uma aposta radical na formação dos actores judiciários e na avaliação

do sistema. A falta de articulação ao nível das formações dos operadores judiciários

tem colocado problemas gravíssimos de funcionamento dos tribunais. Sabe-se que as

formações de magistrados e as formações dos funcionários judiciais existentes não

são complementares nem integradas. Esta ausência de integração repete-se ao nível

das inspecções/avaliações. A avaliação efectuada no âmbito das inspecções

(magistrados judiciais, magistrados do Ministério Público e oficiais de justiça) não é

harmonizada, esquecendo-se, em muitas ocasiões, que estes operadores trabalham

em equipa. Esta dualidade de inspecções tem criado igualmente problemas

gravíssimos nos Tribunais.

Para além da avaliação individual rigorosa e com reflexos na remuneração, importa

também cada vez mais caminhar para uma avaliação global da secção, do juízo e do

tribunal.

Faz ainda sentido ponderar a formação conjunta de magistrados e advogados, pelo

menos numa fase inicial da formação, de forma a criar uma cultura de trabalho

cooperante, no sentido de alcançar uma justiça célere e credível, com a qual todos

têm a ganhar.

VIII. O CDS entende que o caminho de aposta nos meios alternativos é um caminho

incontornável mas ao qual importa dar sentido. Os meios alternativos de resolução de

litígios fazem sentido como oferta de serviços diferenciados, mas também como

contributo para ajudar a descongestionar os meios judiciais. Nesta lógica, não faz

sentido que o Governo Socialista continue a inaugurar Julgados de Paz e a alargar os

novos sistemas de mediação, sem que a rede de meios alternativos esteja

definitivamente articulada com a rede das infraestruturas judiciais. O CDS defende,

assim: i) a articulação imediata da Rede de Julgados de Paz com o Mapa Judiciário;

Page 156: programa eleitoral CDS-PP

ii) a revisão da Lei de Arbitragem Voluntária; iii) a criação de novos Sistemas de

Mediação (Sistema de Mediação em matéria Civil e Comercial) e alargamento das

experiências de mediação aos Tribunais Judiciais (desde que sob a supervisão e

homologação dos magistrados judiciais); iv) a obrigatoriedade de, à semelhança do

que sucede em processo do trabalho, fixar em qualquer espécie de processo a

obrigatoriedade de se realizar uma tentativa de conciliação; v) o acompanhamento

dos resultados da mediação penal, de forma a avaliar a possibilidade de alargar os

mecanismos de justiça restaurativa; vi) a particular atenção à resolução de litígios de

consumo.

Entendemos ainda que se deve apostar fortemente na informação e na consulta

jurídicas, como meios eficazes de combate à litigiosidade.

IX. O CDS defende que o sistema de justiça seja mais acessível ao cidadão. Ora, o

novo Regulamento das Custas Processuais veio, a contra ciclo, aumentar as custas

judiciais e dificultar o acesso à Justiça. Este movimento de aumento das custas

judiciais foi acompanhado de um completo esquecimento dos mecanismos de acesso

ao direito, nomeadamente, dos Gabinetes de Informação e Consulta Jurídica.

A unidade de conta passou de € 96 para € 102 e passou a ser actualizada

anualmente, em vez de, como sucedia no passado, ser actualizada de 3 em 3 anos.

Com este novo regime socialista, as custas judiciais passam a ser pagas na totalidade

logo no início do processo, quando, antigamente, eram pagas em dois momentos

distintos. Mesmo que, em determinadas acções, a taxa de justiça venha a ser

inferior, o esforço que se impõe agora às empresas e aos particulares, num momento

inicial de acesso aos tribunais, é bastante superior, porque se obriga a pagar tudo ab

initio.

O CDS considera que esta medida é uma medida em claro contra-ciclo e de grande

autismo: num momento de falta de liquidez as empresas e os particulares são

obrigados a fazer um maior esforço económico.

Page 157: programa eleitoral CDS-PP

Por tudo isso, o CDS defende: i) a revogação do Regulamento das Custas Processuais;

ii) a criação de benefícios fiscais para os processos que terminem com acordo ainda

antes da marcação do julgamento (por exemplo até à audiência preliminar).

X. Por fim o CDS entende prioritário o combate à corrupção e à criminalidade

económica e financeira, fenómenos que se debatem com dificuldades conhecidas: a

complexidade destes crimes, a sofisticação dos meios usados, o seu carácter

transnacional, a falta de meios de investigação, nomeadamente ao nível do

imprescindível apoio de peritos qualificados, e com diversas insuficiências legislativas

verificadas neste domínio.

Neste âmbito, o CDS defende a criação de um novo tipo de crime – o Crime

Urbanístico. Actualmente, violações de Planos Directores Municipais, de Urbanização

e de Pormenor, com consequências graves e muitas vezes irreversíveis para o

ambiente e ordenamento do território, são punidos através do crime de corrupção,

cuja prova é muito difícil de realizar, ou qualificadas somente como irregularidades

administrativas, transmitindo a sensação de que o crime compensa. A criação deste

novo tipo legal reveste grande importância preventiva e de moralização.

Propomos o aumento da moldura penal dos crimes de poder, designadamente dos

crimes Abuso de Poder e de Participação Económica em Negócio, de extrema

danosidade para o interesse público, os quais são puníveis com uma pena máxima de

3 anos de prisão.

Defendemos ainda o reforço dos meios de investigação neste domínio, através: i) da

criação de novas bolsas de peritos e ampliação das actualmente existentes; ii) da

criação de equipas multidisciplinares de investigação, integradas por elementos de

diferentes áreas (Investigação Criminal, Finanças, Tribunal de Contas, Inspecção

Geral da Administração Local, etc.); do reforço do quadro de inspectores da Polícia

Judiciária.

Page 158: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS

1. Introdução decisiva do gestor judicial.

2. Criação do gabinete do juiz.

3. Estudar a generalização de carreiras planas.

4. Tronco comum de formação para os diferentes actores judiciários.

5. Reforma do processo civil.

6. Criação de efectivo sistema de complementaridade com os meios extrajudiciais

de resolução de conflitos.

7. Revisão cirúrgica e determinada do Código Penal e do Código do Processo

Penal.

8. Alteração do regulamento das custas judiciais no sentido de facilitar o acesso à

justiça.

9. Criação de um novo tipo de crime: crime urbanístico.

10. Aumento da moldura penal dos crimes de poder.

Page 159: programa eleitoral CDS-PP

POLÍTICAS DO MAR

CRÍTICAS

1. Ausência de uma visão estratégica para as políticas do mar.

2. Desaproveitamento do sector portuário como factor de riqueza nacional.

3. Perda de poder e direitos do nosso país no sector das pescas.

4. Regresso dos ENVC a uma situação financeira deplorável.

O governo socialista, durante os últimos anos, desperdiçou grande parte das

oportunidades relacionadas com o mar. Começando por não olhar para o mar como

um tema agregador, motivador e dinamizador do nosso desenvolvimento e riqueza, a

ausência de uma visão global estratégica deu lugar a uma pulverização de recursos e

a uma falta de investimento eficaz e produtivo.

A perda de importância do sector das pescas é apenas o sinal mais evidente da falta

de entendimento da relevância que o mar, em termos de riquezas naturais ou

mesmo comerciais, pode ter para Portugal. Corremos o perigo de perder continuar –

até à fuga total de oportunidades para outros países -capacidades no sector da

construção naval, portuário além da, já referida, pesca.

Não esquecemos, também, a importância para a segurança nacional, de manter as

capacidades de vigilância marítima.

RESPOSTAS

I. Há quatro pontos essenciais para o desenvolvimento de uma estratégia para a

economia do mar: o modelo de “governance” do mar, os portos e os transportes

marítimos, o controlo e segurança no mar, a educação e a formação.

Page 160: programa eleitoral CDS-PP

Por outro lado, existem ainda quatro temas fundamentais para pôr em prática esta

estratégia: a pesca, a aquicultura e a indústria de pescado, a investigação científica

e o turismo marítimo.

Só uma visão integrada – e não “departamentalista” – destes sectores permite

conceber uma estratégia de recuperação do potencial marítimo de Portugal, O CDS

tem bem claro no seu horizonte que a vocação marítima de Portugal é a condição

histórica da nossa independência e liberdade enquanto Nação, e representa uma das

áreas de maior inovação, potencial de crescimento, modernização e excelência para

a economia portuguesa.

II. No que respeita ao modelo de “governance”, considerando que o mar é da

responsabilidade de vários ministérios e palco de múltiplas actividades, só uma

estrutura de tutela concertada, responsável pelos vários sectores do sector marítimo,

permite desenvolver uma política credível.

O modelo de conferir uma tutela de Estado e com concentração de competências foi

um sinal, dado em 2004, com resultados. No mínimo, deve ser acompanhado por um

Conselho de Ministros Especial para o Mar, com o objectivo de decidir as grandes

questões relativas ao uso do Mar e actividades correlacionadas. Essa tutela e esse

Conselho deverão ter uma estrutura permanente de assessoria – uma secretaria-geral

para os assuntos do mar - que será responsável por coordenar e preparar todos os

assuntos a serem apresentados ao Conselho.

No desenvolvimento da estratégia para mar o Governo deverá procurar a colaboração

estreita dos vários sectores da sociedade civil, nomeadamente das associações

ligadas ao sector, de modelo e a garantir uma fonte de informação permanente de

realidade empresarial e de controlo da execução da estratégia definida.

Page 161: programa eleitoral CDS-PP

III. Portugal pode e deve ter nos seus portos, e também na sua marinha mercante,

sectores de desenvolvimento económico e verdadeiros multiplicadores de riqueza

para o país. Para tal deve interiorizar, organizar e posicionar-se no sentido de se

constituir numa plataforma de serviços internacionais, que assentem num sector

marítimo-portuário moderno, forte e agressivo, servindo os mercados europeu e

mundial, acrescentando real valor à economia nacional. Nesse sentido, é

fundamental ter visão estratégica, articular e medidas e, portanto, levar a cabo uma

política integrada para todo o sector portuário, de maneira a garantir que os portos

interagem, e concorrem com as suas valências para maximizar a competitividade de

todo o sistema portuário nacional.

É fundamental que os investimentos portuários sejam criteriosos, dirigidos para os

objectivos globais (nacionais), e que sejam garantidas e salvaguardadas

acessibilidades e espaços para a intermodalidade, possibilitando a continuidade nas

cadeias de transporte.

É crucial dotar das condições necessárias e integrar estrategicamente os portos

portugueses nas “auto-estradas do mar”, facilitando, incentivando e apoiando

serviços (novos e existentes) que respondam aos critérios já definidos.

É indispensável conhecer profundamente e segmentar os mercados (TMCD, PALOP’s,

Deep Sea, etc.), perceber a sua dinâmica e os factores críticos de sucesso para criar

uma estratégia de actuação com maior probabilidade de sucesso.

Por fim, é central apostar criteriosa e estrategicamente na marinha de comércio

portuguesa, nos navios de pavilhão nacional, criando um leque de condições

favoráveis ao seu desenvolvimento, e assim aumentar a sua capacidade de oferta e

competitividade no mercado global.

Estas orientações devem ser, no entender do CDS, o compromisso e a resposta das

gerações presentes à cultura e herança marítima da nossa História.

Page 162: programa eleitoral CDS-PP

IV. Se não formos nós a controlar o uso dos nossos espaços marítimos e a garantir que

são espaços seguros, não serão certamente outros a fazê-lo.

Importa centralizar a recolha e o tratamento de toda a informação relativa ao que se

passa nas nossas águas territoriais, zona contígua, zona económica exclusiva e suas

aproximações, para conhecer com rigor o que se lá se passa (“maritime domain

awareness”) e assim poder intervir com mais eficácia.

As informações recolhidas no âmbito da “busca e salvamento” (“safety”), assim como

todos os elementos recolhidos pelos mais diversos meios, incluindo o “intelligence”

recolhido pelas unidades da Marinha, da Força Aérea e da GNR nas actividades de

fiscalização (“security”) devem ser tratados de forma centralizada e posteriormente

fornecidos aos organismos do Estado que deles precisem para uma actuação mais

eficaz.

As responsabilidades dos vários organismos envolvidos na fiscalização devem ser

clarificadas, fomentando a colaboração e a cooperação, e evitando a dispersão ou

duplicação de meios e os inerentes custos acrescidos.

As actividades de fiscalização devem ser asseguradas por meios modernos e bem

equipados, optimizados para o desempenho das tarefas que lhes estão atribuídas. A

efectiva concretização dos programas de reequipamento da Força Aérea e da Marinha

é, neste âmbito, prioritária. Preocupa-nos de sobremaneira que os ENVC – Estaleiros

Navais de Viana do Castelo – tenham regressado a uma situação financeira

deplorável, e que o esforço de reconstituição das nossas capacidades na construção

naval militar tenha herdade força. O CDS não desistirá do caminho industrial que

ajudou a abrir.

As áreas do fundo do Mar, da plataforma continental, a que Portugal recentemente

se candidatou, mais do que duplicam a nossa área da zona económica exclusiva,

trazendo assim responsabilidades acrescidas que é necessário antecipar. Se Portugal

quer voltar a ser um país relevante nos temas marítimos, tem de salvaguardar o

Page 163: programa eleitoral CDS-PP

investimento na segurança da nossa costa e das zonas económicas e de exploração

que poderemos vir a deter.

V. A educação e formação são indispensáveis para que exista uma cultura e uma base

segura e conhecedora das actividades relacionadas com o mar. Os programas

escolares têm que reflectir a opção de “utilizar o mar”, e a formação para as

actividades marítimas terá que ser pensada de forma global, adequada e

intermutável.

Devem ser tomadas as medidas necessárias para que o desporto náutico seja ligado à

escola, como forma de sensibilizar os jovens para os assuntos do mar assim como

dinamizar o papel de grupos – desportivos recreativos, associativos - e órgãos

culturais (museus e outros) que, nas suas actividades, tenham em conta o mar, como

forma de reforçar a sensibilidade marítima dos portugueses.

Ao nível da formação devem ser inventariadas as necessidades de formação para as

profissões, quer a bordo quer em terra, nas diversas áreas da actividade marítimo-

portuária, especialmente nos nichos de mercado em que a procura de técnicos é uma

realidade, aproveitando a oportunidade de colaboração nesta área de formação com

os PALOPs.

Também neste sector, uma visão estratégica da relação de Portugal com África pode

significar um grande desempenho, criador de riqueza, para as empresas e os recursos

humanos.

VI. O turismo marítimo integra a nossa tradição marítima milenar, e tem o mar como

identidade e centralidade da nossa posição na Europa. Esta inegável identidade é

inerente à nossa localização. Portugal tem uma oferta natural para o turismo

marítimo, pelas suas características geográficas, pela riqueza da nossa costa,

Page 164: programa eleitoral CDS-PP

também pela diversidade de actividades que proporciona e naturalmente pelas

condições climáticas de que dispomos.

Contudo, é essencial que estas características naturais que Portugal oferece, sejam

enquadradas numa política sólida, consistente e catalisadora do crescimento

económico.

É fundamental ter um projecto sustentado em infra-estruturas sólidas, num sector

regulado, permitindo que o turismo marítimo se enquadre não só no saber bem

receber, mas também criar condições para os sectores de serviços se desenvolverem,

melhorarem e diversificarem a oferta, impulsionando esta actividade.

É prioritário que o turismo marítimo tenha um crescimento sustentado e alicerçado

nas gerações vindouras.

VII. Para Portugal é fundamental o posicionamento estratégico no papel de

sustentação e desenvolvimento deste sector como área económica.

A pesca é uma actividade que desde sempre esteve no dia-a-dia dos portugueses.

Com a evolução e a modernização deste sector, a aquicultura representa uma

inovação económica com diversas valências, assim como a indústria de pescado, que

deve desenvolver-se de forma sustentada e sólida como um investimento no futuro,

criando também emprego e sustentabilidade.

A aquicultura tem crescido rapidamente, criando postos de trabalho diversificados

neste sector, construindo infra-estruturas e repensando um sector económico em

franco desenvolvimento. Há progressos consideráveis na gestão ambiental com maior

eficiência na utilização de energia, de água e de outros recursos naturais.

Page 165: programa eleitoral CDS-PP

Se o consumo directo de peixe é muito relevante, também é igualmente importante

a indústria de pescado, que potencia e envolve o crescimento sustentado e sólido

deste sector.

É também fundamental haver uma crescente consciência de que o seu

desenvolvimento sustentável requer um ambiente devidamente regulado, com

enquadramento europeu para que economicamente se possa desenvolver de forma

equilibrada.

A exploração no domínio da pesca e da aquicultura e, subsequentemente, nas

actividades de processamento do pescado, constitui uma componente da exploração

deste espaço e insere-se, naturalmente, no respectivo vasto leque das actividades da

economia do mar.

A excelência do pescado português, como iguaria e especialidade, deve ser

projectada internacionalmente.

VIII. Em muitas das decisões sobre as pescas, Portugal confronta-se com uma Política

Comum de Pescas que, frequentemente, é impeditiva do crescimento do sector.

Porém, não faltam exemplos de países de dimensão comparável à nossa que

conseguem defender a sua pesca, no seio da política comum, por vezes apesar dela e

não raro batendo-se – e coligando-se com outros países – para alterar os seus efeitos

nocivos.

Uma boa negociação de quotas, uma aposta séria na construção e não apenas no

abate de embarcações, a desburocratização de muitos dos aspectos quotidianos do

sector, o repensar de estratégia fiscal e uma maior consciência social sobre as

condições de vida dos pescadores – e das suas famílias – têm de estar presentes numa

visão diferente da política de pescas.

Page 166: programa eleitoral CDS-PP

IX. A necessidade de investigação científica e de desenvolvimento de tecnologias

capazes de viabilizarem o aproveitamento prático das potencialidades do nosso

espaço marítimo é de vital interesse para uma relação de Portugal com o mar,

sustentada e orientada para o futuro.

Para que esta área se desenvolva é fundamental que as mentalidades se reformulem,

e que o conhecimento e a investigação comuniquem com a vida prática das

empresas.

Exercer actividades de investigação científica, nos domínios da hidrografia e da

oceanografia, e assegurar as responsabilidades nacionais nessas matérias, é uma

oportunidade para jovens cientistas, académicos e técnicos, devendo rentabilizar-se

ao máximo as capacidades que a Marinha Portuguesa tem nesta matéria.

A investigação dos mares e do Oceano é estratégica para o desenvolvimento

económico e social de Portugal e da Europa, apresentando novas e entusiasmantes

oportunidades de crescimento económico e inovação no sector das actividades

marítimas.

A coordenação da investigação científica é crucial para que a estratégia seja seguida

de forma coerente e sistémica, orientada para os objectivos que projectam Portugal

como país inovador neste sector.

Também a extensão da plataforma continental tem a responsabilidade de, no plano

internacional, ser um catalisador do conhecimento e capacidade científico-

tecnológica no domínio da investigação científica dos mares.

O conhecimento científico e a “tecnologia” emergentes estão a permitir um acesso

sem precedentes a novos recursos marinhos, com forte potencial comercial a longo

prazo. É um domínio em que Portugal dispõe, à partida, de vantagens únicas em

termos de acesso a recursos. Não podemos desperdiçá-las.

Page 167: programa eleitoral CDS-PP

A responsabilidade da coordenação da informação resultante da investigação

científica, é fundamental para que seja posta em prática e disponibilizada à

sociedade civil, para que integre a cultura portuguesa e permita ser uma

oportunidade de futuro nas novas gerações.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Uma política para o mar implica uma tutela de Estado, reunindo

competências muito dispersas e um Conselho de Ministros Especial para o Mar,

regular e assessorado.

2. Defesa de uma plataforma de serviços portuários internacionais.

3. Aposta forte nos meios de investigação e segurança marítima que permitam a

Portugal aproveitar a oportunidade da extensão da Plataforma Continental.

4. Reforma do sistema e instituições de aprendizagem de profissões marítimas.

5. Programa específico para abrir as escolas portuguesas à cultura do mar.

6. A diplomacia do mar com os PALOP constitui uma grande oportunidade para

empresas e recursos humanos.

7. Posição mais forte e intransigente nas negociações da Política Comum de

Pescas, nomeadamente quanto a quotas, apoios à produção e construção de

embarcações.

8. Desburocratizar a actividade quotidiana das micro, pequenas e médias

empresas do sector das pescas.

9. Gestão competente e produtiva dos estaleiros nacionais (ENVC).

10. Impulso, na estratégia de crescimento económico, à criação e

desenvolvimento de empresas da indústria do pescado e de aquicultura.

11. Grande aposta na investigação científica ligada ao mar.

Page 168: programa eleitoral CDS-PP

POLÍTICA EUROPEIA, NEGÓCIOS ESTRANGEIROS E EMIGRAÇÃO

CRÍTICAS

1. Não realização de referendo sobre Tratado de Lisboa.

2. Excesso de proselitismo ideológico na relação com a Venezuela.

3. Insuficiência das políticas de emigração e consulados.

A política externa é, por excelência, um domínio em que deve procurar-se um

consenso de Estado que obriga, nos seus traços essenciais, os Partidos do chamado

“arco democrático” – fiéis às alianças estratégicas de Portugal – ou “arco da

governabilidade”. O CDS foi, mais uma vez, coerente com este desígnio, evitando,

sempre que possível, que o conflito político passasse pela política exterior.

No entanto, a procura desse consenso não apaga diferenças relevantes. A título de

exemplo, considerámos um erro a não realização de um referendo sobre o Tratado

de Lisboa; condenámos o imprudente proselitismo ideológico em certas relações

externas que, até pela estabilidade da sua importância, devem respeitar o

enquadramento Estado a Estado (ex: Venezuela); e temos uma posição crítica sobre

a insuficiência das políticas de emigração e consulados.

RESPOSTAS

I. Portugal é uma Nação europeia com raízes mediterrânicas e laços transatlânticos.

Essa herança, natureza e rumo requerem um olhar actualizado. O mundo de 2009 não

se satisfaz com as interpretações do passado. Face a esta realidade, a construção de

alianças, parcerias e modelos de cooperação entre Estados que partilham valores e

propósitos é fundamental. A opção europeia de Portugal é a resposta adequada a

este mundo, sem prejuízo de todos os outros laços internacionais que queremos

manter e aprofundar.

Page 169: programa eleitoral CDS-PP

Com os recentes alargamentos ao centro e a Leste, a União Europeia tornou-se

geograficamente mais continental, aproximando-se mais da Ásia e menos do

Atlântico. A emergência de uma política marítima europeia, inspirada numa ideia em

que Portugal foi precursor e o CDS, em Portugal, impulsionador, é uma oportunidade

crucial para trazer novas centralidades à Europa. O mar é um recurso não

deslocalizável que temos de aproveitar, e a nossa condição de Estado costeiro e

porto de chegada e partida do continente mais rico deve ser desenvolvida

estrategicamente no contexto europeu. O mar dá centralidade à nossa posição na

Europa.

O CDS não se limita a ver a União Europeia como uma teia institucional. Recusamos,

aliás, adensar a sua propensão para a burocracia. Defendemos uma visão activa,

responsável e realista na relação com os EUA, o Magreb, a China, a Rússia, a Índia,

Médio Oriente e América Latina, perante as questões energéticas que tanta

insegurança originam, no combate ao terrorismo, crime organizado, tráfico de seres

humanos, face às alterações climáticas e com respeito pelos direitos humanos. A

aliança de segurança com os Estados Unidos é a garantia da segurança mútua. O

relacionamento próximo com o Magreb – alicerçado numa estratégia para o

Mediterrâneo – reforça o papel de Portugal e é determinante para a contenção de

conflitos e a regulação dos fluxos migratórios.

Defendemos a entrada em vigor do Tratado de Lisboa. A sua institucionalização

responderá à sedimentação dos últimos alargamentos e às prioridades de futuras

adesões, particularmente os Balcãs Ocidentais. Além disso, o Tratado confere aos

Parlamentos nacionais responsabilidades de escrutínio político acrescidas. A

legitimidade democrática do projecto europeu começa em cada um dos seus Estados

membros e os Parlamentos são a sua máxima expressão institucional. O CDS será mais

exigente no controlo democrático, via Assembleia da República, das posições do

Estado Português na União.

Consideramos, ainda, como áreas políticas prioritárias da União Europeia a sua

segurança, uma prudente política de vizinhança e uma relação séria e pragmática

com a Turquia que reflicta os interesses mútuos. Mantemos as nossas reservas quanto

à adesão deste país, insistindo na necessidade de encontrar um estatuto especial.

Page 170: programa eleitoral CDS-PP

que podem não passar pela sua adesão à União. Por fim, o Tratado cria um serviço

externo para a União que lhe dará expressão no relacionamento externo. Portugal

deve saber estar presente neste domínio com a reconhecida qualidade dos seus

diplomatas.

II. Entendemos que Portugal deve dar mais atenção à sua participação nas

instituições europeias. Há uma fraca presença de quadros intermédios nestas

instituições e não existe uma verdadeira e eficaz rede de comunicação entre todos os

portugueses que aí trabalham, sendo muitos deles importantes contributos para os

processos de decisão nacional. A dimensão de Portugal e a sua influência na Europa

exigem mais capacidade de trabalho, organização e implementação. A diplomacia

portuguesa deve apostar na formação dos seus quadros em assuntos europeus, de

forma a integrá-los nas estruturas europeias. São necessários mais e melhores

quadros intermédios.

A dimensão da nossa rede diplomática espalhada pelo mundo está aquém das

necessidades. Uma reavaliação global e aprofundada da rede diplomática bilateral,

como é patente nos Estados da União Europeia, justifica-se nesta era marcada pela

emergência de novas potências, pela globalização dos processos industriais e por uma

crise financeira com consequências para o futuro. É importante definir que tipo de

consulados se adequam à nossa diplomacia, evoluindo da visão tradicional da

prestação de serviços – que têm de ser eficientes – para plataformas que cruzem as

dimensões cultural, económica e social das nossas comunidades no estrangeiro.

Sublinharemos o trabalho conjunto e próximo entre a rede diplomática e a rede

AICEP, reforçando a dimensão económica da nossa diplomacia. É, ainda, desejável

que se desenvolvam especialidades temáticas no quadro diplomático, sobretudo

perante a complexidade dos desafios presentes e futuros. No mesmo sentido, o CDS

defende a institucionalização de conselhos consultivos dos Cônsules, que os apoiem

na promoção de iniciativas nas áreas referidas.

III. Quanto às grandes questões estratégicas, damos maior importância ao

relacionamento de Portugal com África. É o objectivo de maior crescimento potencial

da nossa diplomacia. As relações com os países africanos de língua oficial portuguesa

são um dos pilares da política externa portuguesa, nos quadros bilateral e

Page 171: programa eleitoral CDS-PP

multilateral. Esta é uma das nossas grandes valências no cenário euro-africano e uma

das potencialidades estratégicas quando nos comparamos com os demais Estados

europeus. A existência de uma instituição multilateral integrando o Brasil e Timor-

Leste, a CPLP, que o CDS sempre defendeu, merece, porém, maior coordenação,

melhor liderança e um diferente nível de ambição e projecção.

Pela sua especial importância, o triângulo estratégico desempenhado por Portugal,

Brasil e Angola pode ter enorme valor. Certamente que a existência de laços

culturais a isso ajudou, mas muito caminho pode ainda ser trilhado por todas as

partes. O quadro de relacionamento económico e de recursos humanos deve ser

fortemente incentivado O factor estratégico que o CDS defende dever ser prioridade

nacional nas próximas décadas é a Língua Portuguesa.

IV. Portugal ainda não tem nem promove uma verdadeira política da Língua

Portuguesa, enquanto dimensão activa da sua política externa cultural e económica.

Afirmamos que nem iniciou um percurso proporcional à dimensão humana e política

que transporta (200 milhões de falantes). Desde logo, aferindo economicamente do

seu valor estratégico, como aliás já fizeram os espanhóis com o castelhano. Num

quadro internacional em reformulação, faz todo o sentido que a Língua Portuguesa

possa ser um veículo do seu acompanhamento, tendo Portugal todo o interesse em

associar-se a este quadro, promovendo uma iniciativa ambiciosa, estruturada e

coordenada para a Língua Portuguesa como desígnio nacional.

No contexto da globalização, este posicionamento conferiria a Portugal um lugar na

linha da frente da diplomacia europeia em relação ao mundo lusófono; seria

imprescindível no vital relacionamento com a potência regional sul-americana, o

Brasil e com outra, na África subsariana, Angola. Traria uma dimensão acrescida à

vertente económica da nossa diplomacia. É neste triângulo que a nossa política

externa se pode afirmar num mundo cada vez mais concorrido estrategicamente e

dominado pela Língua inglesa como meio de comunicação preferencial no

relacionamento interestadual. Trabalhar com propriedade e eficiência para que a

Língua Portuguesa seja um idioma oficial nas organizações internacionais que o

justifiquem, deve ser um dos nossos objectivos.

Page 172: programa eleitoral CDS-PP

V. Portugal deve ser participativo no debate estratégico internacional. Uma das

obrigações de um partido com responsabilidade é a de saber que Portugal queremos

no mundo e de que forma devemos actuar no quadro internacional face a crises e

ameaças. A resolução do dilema de segurança histórico na Europa, das tensões nas

suas transições democráticas ou a garantia de estabilidade nas relações entre civis e

militares, foram alguns dos benefícios que resultaram do estreito e singular

envolvimento dos EUA em Portugal e na Europa, durante as últimas décadas. Quebrar

este elo seria não só catastrófico, como abriria um novo espaço às tensões dentro da

União Europeia. Não é do interesse português, europeu e norte-americano que isto

suceda. Por isso, devemos fazer tudo para fortalecer a relação transatlântica. Se há

época em que isto se justifica é precisamente a de crise internacional em que

vivemos.

A NATO tem sido um dos pilares mais sólidos da segurança europeia. Joga uma boa

parte da sua eficácia, credibilidade e justificação estratégica na missão no

Afeganistão, cuja avaliação de progresso tem de ser considerada preocupante,

necessitando de uma abordagem que integre coerentemente dimensões militar, civil

económica e institucional. Os aliados não podem demitir-se das suas

responsabilidades mas devem, conscientemente, promover a alterações na estratégia

de uma missão, em que, como sempre sucede, os militares portugueses prestigiam

Portugal.

Fazemos uma opção pelo aprofundamento sólido das relações entre duas das suas

principais alianças: a NATO e a União Europeia. Promover as Forças Armadas, um dos

maiores activos nacionais, nestas duas organizações de sucesso, deve continuar a ser

uma política de Estado, consensualizada entre os Partidos do “arco da

governabilidade”. Portugal assegura deste modo dois princípios: integrar os esforços

pela segurança internacional e prestigiar a imagem do país perante os seus pares. O

CDS tem uma especial responsabilidade com as Forças Armadas que não abandona.

Dentro destas ligações, a Base das Lajes deve continuar a ser um trunfo estratégico a

potenciar. Mas a evolução tecnológica e a natureza das novas ameaças, como o

terrorismo, a desagregação de Estados ou a proliferação nuclear, exigem um novo

papel para a Lajes. Desde logo, um desempenho não apenas logístico, mas sobretudo

de treino aeronáutico moderno. Além disto, pode revalorizar-se como uma base

Page 173: programa eleitoral CDS-PP

importante para a nova orientação de segurança americana: África. Os interesses

açoreanos devem estar devidamente contemplados – o que não sucede com

suficiência na actualidade quando falamos na revalorização das Lajes.

O CDS não contribuirá para o afastamento de Portugal das grandes questões

internacionais. Será promotor de um debate aprofundado sobre o novo conceito

estratégico da Aliança Atlântica, a divulgar na Cimeira de 2010 a ter lugar no nosso

país.

O CDS defende uma relação entre Portugal, Europa e Rússia marcada pelo

reconhecimento da sua condição de parceiro relevante nas relações internacionais,

na estabilidade dos mercados energéticos e na paz, argumentos suficientemente

fortes nesta equação para que a sua relação seja conduzida com sensatez, realismo e

prudência nas acções e declarações. Isto não significa que não seja desejável a

concretização de um mercado energético europeu que reduza a dependência

energética face à Rússia.

VI. A outra prioridade que destacamos é uma nova atitude face à diáspora

Portuguesa. A emigração presente e de futuro é substancialmente diferente da

tradicional. É altamente qualificada e facilmente integrada nas concorrentes e

exigentes sociedades que a acolhem. Temos mais de um milhão de emigrantes em

países com a importância dos EUA, Canadá, Brasil, Espanha, Alemanha, Venezuela,

África do Sul ou Grã-Bretanha. É, por isso, importante desenhar um plano estratégico

para a diáspora que começa por quantificá-la com rigor, aferir dos seus problemas

locais e identificar a sua tipologia socioeconómica.

Portugal deve saber aproveitar económica e politicamente a sua emigração

qualificada como vector da sua política externa, hoje potenciada por um sem número

de redes sociais com base na internet, promovendo os seus interesses no exterior,

criando uma dinâmica de lobbying local, mas criando também condições para que

essa diáspora possa vir a investir em Portugal no futuro, quer pela afinidade com o

país de origem quer pelo potencial que a Língua Portuguesa permite na aceleração

de projectos em comum. Devem promover-se programas de “captação de valores”

junto dos quadros da emigração, que podem representar enormes mais valias nas

capacidades de Portugal em áreas cientificas, académicas, empresariais e culturais.

Page 174: programa eleitoral CDS-PP

Importa ainda promover a celebração de acordos ou tratados de reconhecimento

bilaterais de decisões judiciais ou assentos de casamento com os Estados onde existe

maior emigração portuguesa, como a África do Sul, Venezuela, Canadá, Estados

Unidos da América ou Austrália.

VII. A segurança e estabilidade são dois pilares de qualquer sociedade política

próspera, de economias em desenvolvimento. Também permitem a sedimentação das

populações nos seus países de origem. Sem segurança não há desenvolvimento. Ora,

o Mediterrâneo tem sofrido com a ausência destes dois vectores. Daqui à

instabilidade política, ao aumento da pobreza, às brechas do sistema que permitem o

florescimento dos radicalismos, ao tráfico de droga ou à imigração ilegal em massa é

um passo curto. O destino é conhecido. O balanço é invariavelmente trágico. Aliás,

nesta era marcada pelo radicalismo islâmico subversivo das democracias ocidentais,

mas, também, das sociedades muçulmanas moderadas, o CDS é defensor de uma via

de cooperação reforçada, europeia e transatlântica, precisamente com as alas

moderadas. São estas que devem negar o radicalismo em segmentos do chamado

mundo árabe, abrir-se ao contacto com as democracias ocidentais, privilegiando a

cooperação educativa, cultural, económica, política e militar. É por aqui que

devemos reforçar os nossos esforços.

Mas num plano bilateral, uma dimensão que não está de todo arredada da política

internacional, embora muitos a queiram anular, Portugal tem no quadro

mediterrânico e árabe que dar resposta ao crivo do pragmatismo: do ponto de vista

energético, Portugal depende em medida importante do gás e petróleo vindos da

Argélia e da Nigéria, dois países com um certo grau de instabilidade, onde o

compromisso com os moderados se revela crucial para uma saudável relação bilateral

assente na estabilidade e previsibilidade.

Um último compromisso: Portugal candidata-se, com o apoio do CDS, a um lugar de

membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU para o biénio 2011-2012.

Caso o concretize, como desejamos, deve ajudar a promover a reforma das Naçoes

Unidas, nomeadamente do seu Conselho para os Direitos Humanos, cujo

comportamento nem sempre tem prestigiado as Nações Unidas.

Page 175: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS

1. Reforçar o controlo democrático interno das políticas europeias.

2. Reservas quanto à adesão da Turquia.

3. Maior objectivo estratégico é o triângulo Portugal, Brasil, Angola.

4. Promoção de uma iniciativa ambiciosa para a Língua Portuguesa como

desígnio nacional.

5. Reforço da relação transatlântica.

6. Necessidade de coerência na missão no Afeganistão.

7. Nova abordagem dos meios e das políticas para a diáspora portuguesa.

8. Programa de captação de valores junto da nova emigração qualificada.

9. Apoio à candidatura de Portugal a membro não permanente do CS da ONU, em

2011/2012.

Page 176: programa eleitoral CDS-PP

POLÍTICA FISCAL

CRÍTICAS

1. Aumento da carga fiscal para cerca 38% do PIB.

2. Perda de competitividade fiscal: comparando rendimentos e impostos,

Portugal está entre os países da EU com carga fiscal mais elevada.

3. Aumento da carga fiscal em sede de IRS.

4. Aumento da pressão fiscal sobre as empresas.

5. Tentativa de tributar as doações familiares.

6. Reintrodução de tributação das transmissões gratuitas de imóveis entre

familiares.

7. Solução injusta para a questão da discriminação fiscal do casamento.

8. Perda sistemática de garantias dos contribuintes.

9. Irregularidades graves no sistema de penhoras automáticas da DGCI.

A legislatura de maioria absoluta socialista foi a legislatura que todos os impostos

aumentaram. A pressão fiscal subiu para cerca de 38% do produto, cerca de quatro

pontos acima a que existia em 2005. Todos os impostos aumentaram, e cada

contribuinte pagou, em média, mais 400 euros de impostos, mercê desta política.

A promessa de não aumentar impostos foi completamente incumprida. Tal como

incumprida foi a garantia de que o aumento da eficiência fiscal, através do combate

à fraude e à evasão, permitiria gerar receitas suficientes para reduzir a carga fiscal

dos que trabalham e cumprem pontualmente os seus deveres perante o fisco.

A proclamada consolidação orçamental foi feita, pelo menos em ¾, à custa do

contribuinte. Este empobrecimento da economia e esta apropriação de recursos pelo

Estado, revelou todos os seus limites com a crise e a recessão. O que temos hoje é

mais impostos, mais défice e menos receita. O caminho da retoma passa

necessariamente por devolver recursos à economia, às famílias e às empresas.

Esta legislatura, foi também aquela que assistiu ao nascimento do chamado

“fanatismo fiscal”, uma sucessão de abusos, irregularidades e restrições de

Page 177: programa eleitoral CDS-PP

garantias dos contribuintes, que o CDS adequadamente combateu. A tentativa de

gerar receita à força, precludindo os direitos mais elementares do contribuinte não

é aceitável. A outra face da moeda é a situação dos Tribunais Administrativos e

Fiscais, onde se acumulam processos de valor global elevadíssimo, que o Estado, na

sua maior parte, perde.

RESPOSTAS

I. Para além da grave conjuntura que internacionalmente se faz sentir, a crise

económica e financeira que afecta Portugal assenta ainda em causas estruturais que

urge reverter. O novo contrato fiscal que o CDS propõe destina-se fundamentalmente

a minorar as origens da falta de competitividade da economia nacional, da

dificuldade na captação de capitais estrangeiros e da falta de confiança nas

instituições e no funcionamento da administração tributária e assenta num sério

compromisso de redução continuada da pressão fiscal sobre as famílias e as

empresas, cujas medidas iniciais permitam, no imediato, devolver poder de compra

às primeiras e liquidez às segundas.

São três as prioridades definidas pelo CDS para a próxima legislatura: redução

progressiva da carga fiscal, reforço da competitividade das empresas e defesa das

garantias dos contribuintes. Numa primeira fase, defendemos medidas

especificamente orientadas para combater eficazmente os efeitos da crise, criando

desafogo na tesouraria das empresas.

A redução da carga fiscal não é um objectivo impossível. A diminuição de impostos,

não pode deixar de ser acompanhada de redução na despesa, combate ao desperdício

e ao despesismo. Existem, no entanto, medidas – amplamente testadas noutros

países – que, por estimularem o funcionamento da economia, permitem, a prazo, o

aumento da receita fiscal na razão directa do aumento da riqueza que geram. Por

outro lado, o actual sistema fiscal promove gravíssimas iniquidades que importa

corrigir e que de modo algum satisfazem os princípios de justiça e igualdade que o

devem nortear.

Page 178: programa eleitoral CDS-PP

II. O modelo de tributação dos rendimentos pessoais carece de urgente simplificação.

Volvidos cerca de vinte anos sobre a criação do IRS, o CDS compromete-se, logo no

início da legislatura, a nomear a necessária Comissão de Reforma Fiscal, que, com os

devidos estudos e suporte técnico, proponha: i) uma reforma do IRS com a redução

dos escalões de tributação a um máximo de 4 ii) uma gradual diminuição da taxa

efectiva que incide sobre as classes médias iii) um aumento do rendimento disponível

das famílias e a mobilidade social iv) uma simplificação da multiplicidade incoerente

de excepções, excepções às excepções, deduções e abatimentos v) uma consideração

de um mínimo de existência familiar.

Consideramos essencial que o sistema fiscal reflicta a realidade familiar em Portugal,

seja amigo das famílias e não seja um factor desencorajador da natalidade.

Defendemos que a taxa de imposto deve ter em conta o número de elementos do

agregado familiar, através da introdução do quociente familiar. Num País em que

todos são iguais perante a lei e que atravessa graves problemas demográficos, é

inconcebível que sejam as próprias normas fiscais a desincentivar a natalidade e a

desconsiderar a importância do número de filhos de cada família. É, pois,

fundamental, que o sistema fiscal aproxime – ainda que progressivamente – a

capitação dos rendimentos entre as famílias mais e menos numerosas, garantindo

equidade no montante da receita disponível de todos. Propomos a introdução do

quociente familiar de 0,5 por cada dependente, a ser introduzido anual e

progressivamente ao longo da legislatura, com início em 0,1.

A prática tem revelado que o actual esquema de retenções na fonte, com as suas

múltiplas taxas beneficia fundamentalmente a tesouraria do Estado, retirando às

famílias um poder de compra mensal que só muitos meses depois lhes é restituído. O

mecanismo do pagamento antecipado do imposto deve, tanto quanto possível,

aproximar o imposto retido do imposto devido a final, minorando quer os casos de

reembolsos quer os casos de postergação total do imposto a pagar, especialmente

para os rendimentos mais baixos. Ou seja, com este objectivo, o CDS propõe a

revisão das tabelas de retenção na fonte do IRS, baixando as taxas e não apenas os

escalões.

A protecção da família, através da redução da carga fiscal que onera os seus

rendimentos e património, tem ainda de passar pela eliminação dos impostos

injustos, ilegais e injustificados, como o Imposto de Selo sobre as transmissões

gratuitas entre ascendentes, descendentes e cônjuges e equiparados.

Page 179: programa eleitoral CDS-PP

III. Simultaneamente, a necessidade de dotar de maior competitividade o tecido

empresarial, em especial em conjuntura de crise, obriga a rever, em alguns pontos,

que afectam a tributação das empresas. O actual mecanismo do Pagamento Especial

por Conta (que se traduz numa verdadeira colecta mínima a que todas as sociedades

activas estão sujeitas, independentemente da efectiva obtenção de lucros), pela sua

forma de apuramento, tem gerado intoleráveis desigualdades, para além de agravar

a viabilidade das empresas em situação especialmente difícil. O CDS proporá a

suspensão da obrigatoriedade do PEC, pelo menos nesta conjuntura económica. Para

facilitar a concessão de crédito às empresas é ainda necessário rever a tributação em

sede imposto do selo dos juros dos financiamentos.

O Estado deve ainda empenhar-se em devolver liquidez aos agentes, através de

medidas que, muito embora exijam, no presente, um esforço de tesouraria, não

comprometem, na verdade, os níveis da receita nem aumentam a despesa fiscal: a

redução dos pagamentos por conta, a aceleração das amortizações dos activos

adquiridos em época de crise por empresas viáveis, a flexibilização das regras de

provisionamento dos créditos em mora (incluindo os sobre o Estado) e a possibilidade

de reporte dos prejuízos fiscais apurados, não só aos lucros obtidos nos seis anos

seguintes (regime actual), como aos obtidos nos últimos dois exercícios.

Aproveitando a oportunidade criada pela União Europeia e já seguida pela França,

alterar a taxa do IVA aplicável ao sector da restauração, baixando-a para 5%,

promovendo assim a competitividade com a vizinha Espanha. Em contrapartida,

acertar com as organizações do sector medidas para evitar a evasão fiscal.

Idêntica preocupação determina a adopção de mecanismos expeditos de reembolso

do IVA às empresas numa base, no máximo, mensal. Em especial em época de crise é

intolerável que o financiamento da tesouraria do Estado se faça gratuitamente à

custa dos operadores económicos, tantas vezes credores do próprio IVA entregue que

ainda não conseguiram cobrar aos seus clientes.

IV. Há ainda um conjunto alargado de medidas que devem ser adoptadas de forma a

promover a nossa competitividade: i) adopção do método de isenção na eliminação

de dupla tributação de rendimentos derivados dos lucros das empresas portuguesas

Page 180: programa eleitoral CDS-PP

obtidos fora de Portugal, de forma a aumentar a competitividade das empresas

portuguesas que investem directamente no estrangeiro através da constituição de

sucursais, ii) introdução de uma exclusão da base tributável de uma percentagem de

rendimentos de propriedade industrial/intelectual recebidos por uma entidade

residente para efeitos fiscais em Portugal, de forma a aumentar a competitividade

das empresas portuguesas que investem em I&D bem como atrair para entidades

dedicadas à detenção de propriedade industrial/intelectual; iii) revisão do regime

fiscal das holdings com a flexibilização da dedução dos encargos financeiros

suportados para a aquisição de participações sociais, como forma de posicionar

Portugal com uma jurisdição adequada para a detenção de participações sociais de

grupos internacionais; iv) revisão das regras de subcapitalização no sentido de

adoptar as melhores práticas internacionais, como forma de facilitar o financiamento

das empresas portuguesas; v) extensão das regras de neutralidade fiscal às operações

de reestruturação (fusões, cisões, entradas de activos e permutas de acções) a

celebrar entre empresas portuguesas e as empresas com sede nos países africanos de

língua oficial portuguesa e em Timor – Leste, como forma de posicionar Portugal

como plataforma de investimento internacional nesses países; vi) celebração de

Convenção de Dupla Tributação (CDT) Multilateral entre Portugal e os países

africanos de língua oficial portuguesa e Timor – Leste ou desenvolvimento de rede de

CDT com estes países, como forma de posicionar Portugal como plataforma de

investimento internacional nesses países; vii) revisão e flexibilização do regime de

benefícios fiscais ao investimento produtivo de natureza contratual, de forma a

possibilitar uma maior atracção de investimentos em sectores considerados de

interesse estratégico para a economia nacional; viii) flexibilização e introdução de

um regime fiscal especial para “impatriados” e para “expatriados”, respectivamente,

de forma a criar melhores condições para atrair quadros superiores para trabalhar em

Portugal e facilitar o envio de quadros portugueses para trabalhar em empresas

portuguesas no estrangeiro por períodos reduzidos.

Quando existirem condições financeiras deverá ainda eliminar-se a tributação de IVA

sobre o Imposto Sobre os Veículos, que se traduz numa insólita tributação sobre outro

imposto, na aquisição de automóveis, e do Imposto do Selo sobre as garantias

prestadas ao Estado, que torna especialmente oneroso o exercício dos direitos de

impugnação ou de reembolso de impostos.

Page 181: programa eleitoral CDS-PP

V. O novo contrato fiscal proposto pelo CDS assenta igualmente numa exigente

reformulação das garantias dos contribuintes. Os actuais esforços de combate à

fraude e à evasão só podem legitimar-se num quadro de rigor, proporcionalidade e

legalidade. A crescente desigualdade de armas com que este combate tem sido

travado, a prazo, prejudica a economia, diminui a confiança e compromete a

concorrência. Desde logo, há que notar que o Estado não é, face à lei actual, salvo

raras excepções, um credor privilegiado dos particulares, pelo que não deve dispor

de meios que lhe permitam cobrar as suas dívidas de uma forma mais rápida ou

eficaz do que os demais credores, sob pena de se introduzir uma distorção

inaceitável no funcionamento do mercado.

O actual sistema informático de penhoras automáticas e de limitações à alienação de

património imobiliário, por recusa da emissão das declarações fiscais necessárias,

carece de auditorias independentes regulares, que previnam e impeçam excessos,

ilegalidades e arbitrariedades e garantam o escrupuloso cumprimento da

efectividade dos prazos de defesa previstos na lei. A cobrança coerciva das dívidas

fiscais só é admissível depois de se esgotarem os prazos de impugnação ao dispor do

contribuinte e apenas na circunstância de este não ter apresentado qualquer garantia

do seu pagamento.

Por outro lado, o prazo de decisão dos serviços, mesmo que alargado e uma vez

findo, deve permitir a formação de um deferimento tácito das reclamações

apresentadas, única forma de não manter na disposição da Administração as decisões

económicas dos particulares por prazo indeterminado. Em caso de litígio judicial, as

garantias apresentadas devem poder ser levantadas decorridos dois anos,

independentemente do trânsito em julgado da decisão que lhe venha a pôr fim,

dando, nessa altura, em caso de deferimento das pretensões do contribuinte, lugar

ao pagamento de uma indemnização adequada ao ressarcimento efectivo de todos os

encargos suportados com o processo, nas situações em que o Tribunal reconheça a

existência de um erro grosseiro. Por outro lado, o contribuinte deve ter ao seu dispor

mecanismos efectivos de cobrança e compensação dos seus créditos sobre o Estado,

em especial os tributários judicialmente reconhecidos, podendo exigir não só uma

penalização pela mora como uma sanção pecuniária compulsória verdadeiramente

dissuasora do incumprimento.

Page 182: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS

1. Introdução no IRS do desconto fiscal por filho (quociente familiar). Será

faseado, tendo como objectivo atingir um quociente de 0,5 no final da

legislatura.

2. Nomeação da Comissão de Reforma Fiscal, tendo como objectivo a aprovação,

na próxima legislatura, de uma reforma simplificadora do IRS, que deverá ter,

no máximo, 4 escalões, permitir a diminuição da carga fiscal das classes

médias e aumentar a mobilidade social.

3. No âmbito da mesma reforma, simplificar o sistema de abatimentos e

deduções, hoje complexo e incoerente, apontando para um mínimo de

existência familiar.

4. Redução das taxas de retenção na fonte do IRS – e não apenas dos escalões –,

para antecipar a devolução de poder de compra às famílias.

5. Suspender o Pagamento Especial por Conta.

6. Reduzir claramente os Pagamentos por Conta das PMEs.

7. Reembolso mensal do IVA (ver programa económico).

8. Rever a tributação em sede de Imposto do Selo sobre os juros dos

financiamentos.

9. Possibilidade de reporte de prejuízos fiscais das empresas aos lucros obtidos

nos últimos dois exercícios.

10. Revisão do regime fiscal das SGPS.

11. Nesta legislatura, mediante a verificação de condições financeiras, resolver a

questão da dupla tributação no automóvel e do Imposto do Selo pago na

prestação de garantias ao Estado.

12. Instituição da arbitragem fiscal.

13. Auditoria ao sistema informático de penhoras automáticas da DGCI.

14. Defesa do contribuinte na questão do prazo de caducidade das garantias

prestadas e deferimento tácito nas reclamações, mesmo alargando o prazo de

decisão.

Page 183: programa eleitoral CDS-PP

REVISÃO CONSTITUCIONAL

Até ao ano de 2005 a Constituição da República Portuguesa aprovada a 2 de Abril de

1976 foi objecto de sete revisões constitucionais. Todavia, ainda hoje o actual texto

constitucional continua a encerrar algumas expressões de acentuado cunho

ideológico que nada têm a ver com a realidade da sociedade portuguesa e que

preconizam metas e objectivos contrários à vontade do povo português. Assim e

muito estranhamente, ainda hoje consta do preâmbulo do actual texto

constitucional a decisão do povo português «abrir caminho para uma sociedade

socialista», o que, no mínimo, constitui um caso bastante insólito quando cotejado

com textos constitucionais de outros Estados membros da União Europeia.

RESPOSTA

I. Para o CDS-PP não é aceitável impor ao Povo português uma injunção programática

no sentido – único, compulsivo e perpétuo – de caminhar «para uma sociedade

socialista», pelo que advoga uma rectificação histórica com vista a clarificar e

acentuar os valores da liberdade, da democracia e do respeito pela vontade do Povo

português na escolha, livre e aberta, do seu futuro, sem espartilhos ou quaisquer

condicionalismos de natureza ideológica colectivista. É chegado o momento de

libertar Portugal e os portugueses da carga dos preconceitos de cariz colectivista que

se impuseram no conturbado período de elaboração do texto originário da

Constituição de 1976, mas que, a breve trecho, se revelaram anacrónicos face à

evolução registada pela democracia portuguesa, bem como, aliás, na Europa e no

mundo.

Não se pode perder de vista, por outro lado, que o actual texto constitucional é

extenso e complexo e contém numerosas disposições de carácter programático, as

quais merecem ser equacionadas e actualizadas face à realidade socioeconómica

portuguesa e europeia. Alguns aspectos da organização do poder político merecem

também ser melhorados, nomeadamente no que concerne às regiões autónomas dos

Açores e da Madeira. E remanesce ainda a necessidade de tomar devida conta dos

resultados do referendo à regionalização em 1998, elaborando possivelmente um

Page 184: programa eleitoral CDS-PP

novo Livro Branco sobre a matéria, e procedendo a um debate público que permita

avançar para a clarificação e definição do patamar intermédio da Administração

Pública portuguesa, num quadro harmónico de descentralização e desconcentração, o

que poderá ter também algumas incidências na revisão de disposições

constitucionais. Por conseguinte, numa altura em que já passaram mais de três

décadas desde a aprovação do texto originário da Constituição da República

Portuguesa e mais de duas desde a adesão de Portugal às então Comunidades

Europeias, o CDS quer contribuir para a criação de um novo espírito constituinte e

apela à emergência por parte dos actores políticos desse mesmo novo espírito,

aberto e com visão rasgada, que permita – através da próxima revisão constitucional

– alcançar uma Constituição democrática renovada e efectivamente ajustada aos

desafios de Portugal no século XXI.

II. É neste sentido que o CDS-PP se declara favorável à realização de uma nova

revisão constitucional. Sendo certo que, nos termos das disposições constitucionais, a

iniciativa de revisão é da competência exclusiva dos Deputados, o CDS-PP advoga que

o processo de revisão constitucional seja acompanhado por um debate a nível

nacional tão amplo e aberto quanto possível, envolvendo os meios académicos,

socioprofissionais e a sociedade civil, em geral.

CADERNO DE ENCARGOS

1. A supressão definitiva no texto constitucional de fórmulas e enunciados

linguísticos indiciadores de um modelo de sociedade colectivista (v.g., “abrir

caminho para uma sociedade socialista”, “eliminação dos latifúndios”), os

quais se mostram estranhos e anacrónicos à realidade da sociedade

portuguesa.

2. A supressão no texto constitucional de expressões desajustadas e

desactualizadas (v.g., “abolição do imperialismo”, “desarmamento geral”,

“dissolução dos blocos político-militares”).

3. A actualização de diversas disposições constitucionais de carácter

programático, abrindo-se, inclusive, o debate acerca da permanência, ou não,

no texto constitucional de disposições que reflectem determinadas

preferências construídas por uma geração e num determinado contexto

histórico, as quais se mostram susceptíveis de dificultar ou obstaculizar a

liberdade de decisão por parte das gerações actuais e futuras.

Page 185: programa eleitoral CDS-PP

4. O reforço da protecção e da promoção da família e da vida como valores

essenciais da cultura e identidade da sociedade portuguesa.

5. A valorização e o reforço de protecção dos institutos do direito de

propriedade privada e da liberdade de iniciativa económica privada, de molde

a sublinhar determinados valores de uma economia social de mercado e até

como forma de melhorar o respeito pelo fruto do trabalho dos portugueses.

6. A reformulação de diversas disposições respeitantes à organização económica

no sentido de acentuar o modelo de uma economia social de mercado e

diminuir o paternalismo do Estado na esfera económica.

7. A melhoria dalguns aspectos da organização do poder político,

nomeadamente no que concerne às regiões autónomas dos Açores e da

Madeira.

Page 186: programa eleitoral CDS-PP

SAÚDE

CRÍTICAS

1.Má aplicação da reforma das urgências, sem oferta de alternativas.

2.Insuficiençia grave em médicos de família.

3.Caracter demasiado “hospitalocentrico” do sistema

4. Gestão das listas de espera com eliminações administrativas.

5. Incumprimento das promessas sobre prescrição por DCI e Unidose.

6. Incumprimento dos objectivos em áreas sensíveis como nas USF´s e os

cuidados paliativos.

7. Deficiência no funcionamento das emergências médicas.

O Programa de Governo do Partido Socialista propunha “como devem ser os próprios

interessados a julgar a política de saúde, o Governo procurará assegurar a

diversidade da oferta e a liberdade de escolha dos utentes. Só assim é possível

chegar aos portugueses, pois são eles que devem avaliar, mais tarde, o sucesso desta

política”. E anunciou como objectivos: propiciar melhores cuidados de saúde e com

maior proximidade ao utente assumindo o

desafio da qualidade; garantir a acessibilidade dos portugueses aos cuidados de

saúde, em especial no que se refere às listas de espera cirúrgicas e á melhoria do

acesso aos cuidados primários; assegurar a sustentabilidade financeira do sistema

incrementando a eficiência e o rigor na aplicação dos recursos disponibilizados;

optimizar e promover os Recurso Humanos no sector; continuar os programas de

prevenção e tratamento da toxicodependência, alcoolismo e de combate ao

VIH/SIDA.

Hoje é evidente óbvio que pouco disto se passou. A tímida reforma das unidades de

saúde familiar (USF) não atinge sequer 20% dos cidadãos e continuam sem médico de

família centenas de milhares de utentes. As redes de referenciação, via Alert P1, em

vez de serem um veículo do direito de escolha para os utentes, tornaram-se um

instrumento socialista de planeamento centralizado com natural penalização para

quem não conhece ninguém no sistema. O desmantelamento do Instituto de

Qualidade em Saúde nada trouxe em sua substituição. As estruturas criadas no

papel, na Direcção-

Geral de Saúde, deixaram a Qualidade nas instituições à deriva. Na maior parte dos

casos estão a ser renovados contratos directos com os fornecedores estrangeiros.

Page 187: programa eleitoral CDS-PP

As medianas do tempos de espera diminuíram pela eliminação sistemática dos

casos mais antigos, não significando que estejam agora menos utentes em espera do

que há 4 anos. A prova resulta da comparação do volume das listas

com o que se faz anualmente em programas adicionais. Não houve a assinatura de

qualquer acordo colectivo com os sindicatos. Não houve qualquer acção concertada

de promoção de recursos humanos.

Os programas de prevenção e tratamento não correspondem às necessidades e

o combate ao VIH/SIDA premeia aleatoriamente instituições, criando barreiras

financeiras artificiais no apoio a quem trata dos doentes.

RESPOSTAS

I. A Saúde é um sector nuclear para a sociedade. É um bem de mérito número um. As

políticas de saúde representam uma das principais políticas sociais que

o CDS defende para uma sociedade mais justa e solidária. O importante nas políticas

de saúde é quem ela se destina, por isso devem estar centradas no cidadão/doente.

A melhoria das condições de vida, os progressos da Medicina e os avanços

tecnológicos dos meios de diagnóstico e terapêutica têm levado a uma alteração dos

modelos de morbi-mortalidade, com acentuada baixa na taxa de mortalidade

infantil, progressivo envelhecimento demográfico e aumento exponencial dos custos

em saúde. Portugal sofre de elevados índices de pobreza associados a um

envelhecimento acentuado da população. Todas as políticas têm de ter em conta

estes dados. Por outro lado, as alterações nos estilos de vida e os novos riscos,

elevados índices de sinistralidade como rodoviária ou laboral, fizeram surgir novas

preocupações com grande impacto social e de custos de saúde, reforçando a

necessidade do papel preventivo dos cuidados de saúde.

Ainda assim, Portugal tem indicadores de saúde significativos. Uma mortalidade

infantil inferior aos 4/1.000, uma esperança média de vida que ultrapassa os oitenta

anos, índices de saúde que nos aproximam e não envergonham na comparação com

outros países da U.E. Este panorama leva-nos a questionar ainda mais a razão de ser

da imensa insatisfação generalizada com os nossos cuidados de saúde. Na verdade,

subsistem os seguintes problemas centrais: i) dificuldade de acesso a todos os

sectores da saúde; ii) dificuldade na integração horizontal e vertical entre os

Page 188: programa eleitoral CDS-PP

sectores; iii) dificuldade na integração com a segurança social; iv) problemas de

financiamento; v) menor investimento na prevenção, nos estilos de vida e nos

hábitos; vi) desorganização e indefinição quanto à participação do sector social e do

sector lucrativo; vii) ausência de planeamento adequado a prazo; viii) humanização

dos cuidados de saúde aproximando-os do cidadão; xix) apoio à investigação clínica.

II. As centenas de milhar de utentes sem médico de família, a demora média na

marcação de uma primeira consulta nos hospitais, a listas de espera cirúrgica

superiores a duzentos e cinquenta mil utentes, a dificuldade de colocação de doentes

nos cuidados continuados são exemplos bastantes da dificuldade de acesso a todos os

sectores da saúde.

As soluções passam pelo reforço da medicina geral e familiar e pela contratualização

de pacotes plurianuais de trabalho a executar com os hospitais e demais entidades

prestadoras de cuidados de saúde. Existe hoje, por ARS, a informação das

necessidades anuais de quantidades a contratar. É necessário inverter o paradigma.

Em vez de “meter” a actividade no orçamento é necessário ajustar o orçamento às

necessidades.

Urge uma verdadeira integração horizontal e vertical entre os sectores: a integração

entre os cuidados primários, os secundários e os cuidados continuados está por fazer.

A própria organização dirigente está partida nas responsabilidades. Uma vez mais o

paradigma tem de mudar. As Unidades de Saúde Familiar têm de fazer a gestão da

doença. É necessário criar unidades de gestão de doença, multi-profissionais, com

médicos, enfermeiros e assistentes sociais, que façam a gestão de todos os

problemas e que centrem toda a actividade relativa à prevenção e tratamento da

doença. A Medicina Geral e Familiar deve comportar-se como a porta do sistema,

sendo necessário balancear cuidadosamente o investimento em estruturas

hospitalares e o investimento em estruturas da Medicina da Comunidade. O reforço

da prevenção primária e comunitária deve passar pelo reforço do papel das

Autarquias, criando-se perfis Municipais de Saúde e planos de desenvolvimento em

saúde com progressiva delegação de competências aos Municípios e Associações

intermunicipais.

Defendemos o princípio de, sempre que possível e racional, as pessoas devem ser

orientadas e assistidas em unidades de saúde próximas das suas zonas de residência.

Page 189: programa eleitoral CDS-PP

Importa, nomeadamente, resolver com rapidez o problema de muitos portugueses

que, necessitando de cuidados continuados, são colocados a centenas de quilómetros

da zona onde residiam tornando impossível o apoio das famílias e amigos. A

contratualização com as capacidades instaladas no sector social, e no particular, é a

política certa, mediante adequada fiscalização.

Os maiores progressos que a humanidade obteve em termos de melhoria das

condições sanitárias e de sobrevida foram devidas à vacinação, aos hábitos de

higiene, à melhoria do rendimento disponível e aos antibióticos. Há mesmo uma

relação clara entre consumo de cuidados de saúde e rendimento disponível,

implicando por isso uma relação próxima entre saúde e apoio às situações mais

desfavorecidas.

Portugal é um país com a população envelhecida e com elevados níveis de pobreza.

Existe um elevado número de portugueses que, não estando doentes, não conseguem

sobreviver sem ajuda diária. Muitos outros necessitam de ajuda para a obtenção de

próteses dentárias, auditivas, de marcha, que lhes melhorem a vida diária e de

relação. Tudo isto é do âmbito da segurança social, mas tem sido feito em grande

parte pela Saúde. Uma vez mais, a gestão das famílias poderia melhorar estas

relações e ajudar a encontrar soluções socialmente mais justas.

A medicina com base na prevenção e no médico de família é mais eficiente: gera

menos custos para os mesmos resultados. Também por esta razão deve ser a aposta

prioritária neste domínio, devendo ser revista a política de construção de novos

hospitais em favor de maior investimento na Medicina Geral e Familiar. Os maiores

flagelos do século XXI são o sedentarismo, a obesidade, as drogas e o VIH/SIDA.

Importa por isso de tomar medidas activas, contínuas e controladas para combater

estes flagelos, com grande ênfase no domínio da prevenção.

Também no que toca à despesa, é necessário manter uma política realista de novos

medicamentos e de novas tecnologias. O modelo de financiamento das actividades do

SNS deve assentar em contratos programas plurianuais. No que respeita aos sistemas

de saúde, é necessário resolver a questão da dupla e tripla assistência.

III. O sector social e lucrativo são alternativas concorrenciais e de liberdade de

escolha. Devem fazer contratos como o Ministério da Saúde na mesma perspectiva

Page 190: programa eleitoral CDS-PP

que as empresas públicas, concorrendo com preços e sendo alternativa real à

prestação. Devem-lhes ser exigidas as mesmas contrapartidas e ser-lhes fornecidas as

mesmas facilidades.

No que respeita ao planeamento, importa fazer programas adequados e com prazos

razoáveis. Como noutros sectores do serviço público há que investir em planeamento

adequado e a prazo, ultrapassando a vida média da legislatura. Isto é válido para os

recursos humanos, para os planos e programas de saúde, para a formação, para a

articulação com as necessidades de pré-graduação, para a previsão epidemiológica e

validação de orientação e protocolos clínicos. Tal deve implicar, se necessário for,

um verdadeiro pacto entre partidos.

IV. A ausência de organização e investimento nas áreas da investigação e inovação

em saúde inviabiliza a possibilidade de iniciativas empresariais e obriga a uma quase

total dependência do exterior. A contratualização com as Empresas Públicas e

Privadas deve incentivar a investigação e a inovação em saúde.

De forma a desenvolver um sistema de saúde humanizado, que efectivamente

coloque a pessoa no centro das duas preocupações, defendemos: i) a reestruturação

do SNS articulando as três redes básicas - cuidados primários, cuidados hospitalares,

cuidados continuados; ii) a generalização a todo o país, numa Legislatura, das

Unidades de Saúde Familiar, criando condições para que os ACES funcionem menos

burocrática, rompendo com a tradição das SRS; iii) a fixação das necessidades anuais

de consultas, cirurgias e cuidados continuados, de forma a ser possível contratualizar

com os sectores, público, social e privado o cumprimento das necessidades anuais,

prevendo simultaneamente as necessidades orçamentais; iv) criar Equipas de Saúde

com base nos Centros de Saúde, tornados desde esse momento a porta de entrada e

o sinaleiro de todo o sistema; v) privilegiar a Medicina Geral e Familiar, com reflexo

claro no orçamento da saúde; vi) desenvolver, com base na Medicina Geral e

Familiar, programas de medicina preventiva que incluam a diabetes, a

hipercolestrolemia, a obesidade, a hipertensão, a asma, a tuberculose, a SIDA, as

doenças de transmissão sexual, a dor crónica, o alcoolismo, a hipocoagulação e a

medicina dentária, bem como programas nacionais de promoção de estilos de vida

saudáveis, que incluam programas de prevenção do alcoolismo, do tabagismo e da

toxicodependência; vii) concluir a reforma das redes de urgência numa perspectiva

realista de serviço público, mas tendo em atenção as especificidades e a oferta local

Page 191: programa eleitoral CDS-PP

de serviços; viii) eliminar as listas de espera referidas através da contratualização

plurianual de prestação de serviços também com os sectores privado e social, que

devem a par do sector público, ser considerados parceiros do sistema com o mesmo

tipo de direitos e deveres; ix) estabelecer parcerias para a criação de uma rede de

Cuidados Continuados que garanta a assistência a todos os cidadãos que dela

necessitem, merendo particular atenção a situação daqueles que, apresentando

doenças graves e avançadas, devem ter direito e pleno acesso a cuidados paliativos

de qualidade, promotores de dignidade em fim de vida, prestados por equipas

devidamente treinadas para essa tarefa; x) reforçar e desenvolver a rede de

informação para a saúde, de forma integrada, de maneira a ser possível a qualquer

momento obter informação e fazer planeamento; xi) criar o cartão de saúde do

cidadão, em moldes que garantam a confidencialidade dos dados, de forma a que

qualquer pessoa possa ser tratada com segurança em qualquer ponto do país.

Também é importante adoptar uma política de prescrição de medicamentos por

designação comum internacional, mantendo o estímulo ao uso da genéricos de forma

a minorar a despesa ao cidadão doente, garantindo a fiscalização do cumprimento

legal, nas farmácias, da dispensa de medicamentos; xii) desenvolver esquemas

diferenciados de apoio medicamentoso à população mais carenciada de forma a

garantir que cumpram os tratamentos na totalidade; xiii) criar uma Direcção-Geral

da Qualidade em Saúde com o fim de desenvolver um sistema nacional de Qualidade

Organizacional e de Qualidade Clínica; xiv) criar um Grupo de Trabalho do Ministério

da Saúde e da Segurança Social que em seis meses proponha todas as soluções

legislativas que resolvam os problemas de articulação enunciados; xv) apoiar o

desenvolvimento da Entidade Reguladora da Saúde, de forma a que seja um garante

do funcionamento independente da capacidade de regulação num mercado

competitivo; xvi) criar a Agência para a Investigação e Inovação em Saúde para

promover e incentivar a investigação clínica nas instituições do S.N.S; xvii) regular

com realismo os direitos e deveres dos subsistemas já que não deve ser possível o

duplo ou triplo benefício; xviii) criar uma carta Nacional de Equipamentos que regule

a respectiva introdução e substituição no mercado; xix) planear a formação dos

profissionais de saúde, em particular dos médicos, de forma a responsabilizar o

Ministério pelo seu custo e compensar as instituições, públicas sociais ou privadas,

pela despesa adicional que representam; xx) dignificar as carreiras profissionais na

área da saúde, público ou privado, garantindo uma progressão baseada na

diferenciação técnica e científica.

Page 192: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS

1. Privilegiar a medicina geral e familiar.

2. Reforçar a medicina preventiva.

2. Articular a rede de cuidados básicos com os secundários e continuados.

3. Introduzir o direito aos cuidados paliativos, garantindo a sua disponibilização

geral através da rede de cuidados continuados.

4. Considerar os sectores social e privado como parceiros do sistema, a eles

recorrendo, em termos concorrenciais, para prestação atempada de cuidados.

5. Desenvolver esquemas diferenciados de apoio medicamentoso à população

mais carenciada, nomeadamente aos idosos.

6. Iniciar os procedimentos necessários à introdução de um cartão de saúde do

cidadão.

7. Criar uma Direcção-Geral da Qualidade em saúde.

8. Prever a necessidade de médicos a médio prazo e alargar a possibilidade da

sua formação seja através do aumento do numerus clausus seja através da

criação de novos cursos de medicina.

8. Apoiar a prescrição por DCI e o estímulo aos genéricos.

9. Apoiar a dispensa em Unidose.

10. Planeamento de recursos humanos, sobretudo para as especialidades mais

críticas.

Page 193: programa eleitoral CDS-PP

SEGURANÇA

CRÍTICAS

1. Cancelamento das entradas na PSP e GNR.

2. Erros nas leis orgânicas da PJ, PSP e GNR.

3. Alterações negativas nos Códigos Penal e de Processo Penal.

4. Projecto perigoso do Código de Execuções de Penas.

5. Cancelamento das entradas na PSP e GNR.

6. Erros nas leis orgânicas da PJ, PSP e GNR.

7. Alterações negativas nos Códigos Penal e de Processo Penal.

Os últimos quatro anos e meio foram erráticos e tiveram consequências desastrosas

na área da segurança. O cancelamento das admissões na PSP e na GNR, o défice de

investigadores e outros agentes na PJ e a promessa de uma “reconversão” de 4800

agentes administrativos em operacionais que nunca apareceram, foram erros graves

na política de efectivos que deixaram o país com menos polícias no exacto momento

em que a criminalidade aumentava. Como se não bastasse, a lei orgânica da PJ foi

declarada inconstitucional, a da GNR recebeu veto presidencial e a da PSP,

aumentando a jurisdição territorial da força, retirou-lhe efectivos. É difícil imaginar

que se pudesse fazer pior.

No plano legislativo, o chamado “Pacto de Justiça” que PS e PSD aprovaram,

conduziu a alterações despropositadas e, em termos de segurança, muito negativas,

nas leis penais. Seguiu-se uma tentativa de “emendar a mão” através da Lei das

Armas e um projecto de código Execução de Penas irresponsável. Do ponto de vista

das leis, agravaram-se as condições de insegurança.

Em termos globais, a criminalidade em Portugal subiu de patamar, tornou-se mais

violenta e organizada. A “resposta” do Estado, com o Governo socialista, foi fraca

nos efectivos, incompetente nas leis e ineficaz quanto às políticas sociais que

permitem garantir um ambiente de maior paz social nos chamados bairros

problemáticos.

Page 194: programa eleitoral CDS-PP

RESPOSTAS

I. A segurança dos cidadãos é o primeiro dos deveres do Estado e é condição básica

para o exercício da liberdade dos cidadãos.

Importa, nesta matéria, falar claro, agir com firmeza e assumir compromissos

concretos que sejam tributários da coesão e da necessária pacificação das forças e

serviços de segurança. Pode-se concordar ou discordar das propostas do CDS, mas é

inegável que foi o CDS que denunciou os erros que este governo cometeu e

apresentou propostas verdadeiramente alternativas.

Do carjacking aos sequestros, dos roubos aos gangs, o CDS foi dizendo a verdade, por

mais incómoda que fosse. Os Portugueses, hoje, podem avaliar quem tinha razão e

quem falhou; em quem podem confiar e em quem já não poderão acreditar.

Os Portugueses sabem que é necessária outra política de segurança. Indignam-se

quando vêem que detidos em flagrante delito não são julgados rapidamente;

revoltam-se quando sabem que polícias arriscam a vida e no dia seguinte vêem os

detidos sair em liberdade para, muitas vezes, reincidir; perguntam-se porque razão o

Governo deixou as polícias com menos efectivos, menos patrulhamento e até

tribunais e esquadras com menos segurança.

Em Portugal, o pensamento oficial sobre a criminalidade – e o discurso

“politicamente correcto” que o ampara – pode descrever-se assim: desculpa-se o

criminoso, culpa-se a sociedade e ignora-se a vítima. O paradigma do CDS é muito

diferente: baseia-se numa política de segurança firme, que responsabiliza o

criminoso, apoia a vítima e ajuda a proteger a sociedade de uma criminalidade mais

grave e ameaçadora.

Neste contexto, importa desenvolver uma política que restaure a confiança das

polícias em quem as tutela, proporcione os meios adequados e, tão ou mais

importante, devolva a cada agente e militar das Forças de Segurança a necessária

confiança para desempenhar as tarefas que lhe são cometidas. O que se pretende é

uma política de segurança “segura”, que desenvolva, reforce e potencie as

competências dos homens e mulheres que as integram.

Page 195: programa eleitoral CDS-PP

II. A coordenação, cooperação e partilha de informação entre as diversas forças e

serviços de segurança que se encontram repartidas por diversos ministérios é um

tema de habitual reflexão. Na análise deste problema, poderemos ter uma

abordagem mais conceptual ou mais pragmática.

No primeiro ângulo de análise, conceptualmente, o CDS recusa passar os próximos 4

anos enredado numa discussão teórica sobre a criação de uma polícia única, ou sobre

fusões, cisões e incorporações de qualquer das forças e serviços de segurança

actualmente existentes. Na verdade, essas propostas, mais do que objectivos de

carácter operacional, podem visar a redução tecnocrática do investimento nas

polícias. Não garantem qualquer ganho de segurança para os Portugueses.

Pelo contrário: essas aventuras conceptuais, caso fossem levadas a cabo, trazem em

si a promessa de conflitos permanentes, e nesse clima não se faz uma política de

segurança. Assim, por exemplo, qualquer tentativa de reconverter os militares da

GNR em civis esbarra na realidade dos factos, prejudica a urgência de uma política

de segurança eficaz e cria dificuldades espúrias no relacionamento com o Presidente

da República e as Forças Armadas.

Do mesmo modo, a extinção - e consequente incorporação noutras forças - de

serviços de segurança com provas dadas nacional e internacionalmente, como o SEF,

em nada contribuiriam para um mais eficaz combate ao crime. A diversidade de

natureza, atribuições e competências das diversas forças e serviços de segurança

justifica-se na realidade dos factos e dos problemas; a questão está em garantir

coordenação, troca de informação e acção conjunta, quando se justifica.

Depois da fracassada reestruturação das forças de segurança na divisão de parcelas

de território antes partilhadas, os Portugueses dispensam novos factores de

instabilidade nas instituições e na sua relação de proximidade com os cidadãos. Do

que Portugal precisa, nos próximos 4 anos, é de mais segurança junto dos cidadãos;

não é de políticos entretidos a “experimentar” modelos académicos de polícia.

Questão diferente é saber se serviços espalhados por diversos Ministérios com a

natureza de órgãos de polícia criminal, como a ASAE, devem manter tal estatuto. E

Page 196: programa eleitoral CDS-PP

no entender do CDS a atribuição de tal natureza deve ser repensada de forma

restritiva.

Por isso mesmo, numa visão pragmática, o País deveria encarar sem complexos a

existência de uma tutela única sobre os órgãos de polícia criminal, de modo a

garantir a necessária unidade de comando, maior coordenação nas operações de

polícia e uma partilha de informações mais eficaz entre todos aqueles que, directa

ou indirectamente, participam no patrulhamento, policiamento e na investigação

criminal. Demasiadas vezes estes conceitos parecem distantes na realidade prática

das ocorrências.

O CDS considera, por isso, preferível e desejável que um só Ministério tutele as

forças e serviços de segurança que são diferentes entre si mas carecem de direcção

forte, coordenação operacional e uma coerente política de meios humanos,

financeiros, operacionais e legais. O que certamente não pode voltar a acontecer é o

Ministério da Administração Interna agir descoordenadamente com o Ministério da

Justiça. Não pode o trabalho da polícia ser desfeito e até traído pelo sistema

judicial, na aplicação de leis propostas pelo Ministério da Justiça. Se a solução da

tutela única, comum em países europeus, não for imediatamente exequível, o CDS

considera que o patamar mínimo para realizar uma política de segurança digna desse

nome é que o próximo MAI superintenda, pelo menos, a revisão das leis penais,

processuais penais e de execução de penas, bem como política de prisões. De outro

modo, não é possível dar garantias de uma política segura.

Na verdade, todo o sistema de coordenação, cooperação e partilha de informação,

bem como de elaboração de leis penais, leis processuais penais e de execução de

penas deve ser baseado numa política coerente e não, como tantas vezes se viu nesta

legislatura, ser objecto de diferendos entre Ministros, Directores-gerais e

responsáveis das polícias.

III. Naturalmente, em obediência ao exposto, o Secretário-Geral do Sistema de

Segurança Interna deve trabalhar na tutela do MAI.

O Secretário-Geral do SSI deve ter apoio permanente, o que actualmente não sucede.

Através do Sistema já em vigor, ou através de um Conselho Permanente de Segurança

Page 197: programa eleitoral CDS-PP

Interna presidido pelo Secretário-Geral, é necessário clarificar competências de

coordenação, como a faculdade de dar parecer obrigatório em todas as alterações

legais relevantes para a política de segurança, garantir uma direcção táctica entre as

polícias e assegurar a coordenação e fiscalização das actividades das policias

municipais e da segurança privada.

Os compromissos em relação a efectivos também devem ser precisos. O CDS defende

o reforço do patrulhamento de proximidade com a resolução do défice de agentes,

militares e investigadores da PSP, GNR e PJ, através da abertura imediata de

concurso para o recrutamento e incorporação de novos 2500 novos agentes para a

PSP, 1200 militares para a GNR e 300 investigadores criminais, forenses e periciais

para a PJ, especialmente para as áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e Setúbal.

IV. Para garantir uma política de segurança eficaz, é também necessário alterar a Lei

de Programação das Forças e Serviços de Segurança e elaborar um Plano a quatro

anos, de recuperação, reconstrução e construção de esquadras e quartéis das forças

e serviços de segurança. Não deve continuar a ficção de uma política de infra-

estruturas que não se cumpre.

Consagramos a obrigatoriedade da realização anual de concursos para a admissão de

novos elementos para estas forças de segurança, progredindo face às aposentações

previsíveis em cada ano.

Consideramos, ainda, prioritário preencher o quadro de efectivos dos Corpos

Especiais da PSP e da GNR e garantir a sua participação no patrulhamento dos mais

de cem bairros identificados pelas Forças de Segurança como sendo problemáticos.

Também entendemos necessário criar Grupos Operacionais de Prevenção (GOP), para

actuar nos bairros considerados de risco, compostos por elementos do SIS, GNR, PSP

e SEF com objectivo de identificar, prevenir e combater incidentes de violência

urbana grave.

Page 198: programa eleitoral CDS-PP

Abordaremos com determinação a questão do regime remuneratório das Forças de

Segurança, evitando critérios avulsos na fixação do seu montante e visando o

aumento da remuneração base mensal.

Queremos ainda retirar das Forças de Segurança tarefas de carácter burocrático,

como pedidos de situação patrimonial de réus, certo tipo de notificações, apreensões

e penhoras quando a avaliação de risco seja diminuta ou inexistente.

O CDS dará forte apoio ao recrutamento e especialização na Polícia Judiciária, na

investigação da criminalidade violente e particularmente complexa.

Naturalmente, daremos aos serviços de informação os meios humanos e materiais

para o cumprimento da sua missão.

V. O outro vector urgente numa política de segurança é a revisão cirúrgica, mas

imediata, de aspectos dos Códigos Penal e Processual Penal.

Queremos tornar o processo sumário numa verdadeira regra do sistema quando se

trate de detidos em flagrante delito e nos casos legalmente admissíveis. Por isso, o

Ministério Público deve poder apresentar provas complementares logo na audiência

de julgamento nestes casos. Tornaremos obrigatória a separação de processos,

possibilitando julgar de imediato os crimes com pena aplicável até 5 anos,

independentemente de, no mesmo facto criminal, existirem crimes com moldura

penal superior. Ainda neste plano, queremos evitar que os julgamentos rápidos não

se façam com base em meros argumentos de contagem de dias. O julgamento rápido

do flagrante delito, é a medida mais eficaz contra o sentimento de impunidade.

Ainda no plano penal, defendemos o reforço do estatuto das vítimas no processo,

consagrando novos direitos de informação, apoio e intervenção no processo aos

assistentes. Prevemos a constituição, como assistente, do Ministério da

Administração Interna, nos casos de ofensas à vida ou à integridade física dos

elementos das forças e serviços de segurança.

Page 199: programa eleitoral CDS-PP

Voltaremos à regra de aplicação da prisão preventiva aos crimes com pena superior a

3 anos. Não confundimos o princípio – importante no Estado de Direito – de que não

pode prolongar-se a prisão preventiva, sem culpa formada, indefinidamente, com o

tipo de crimes a que essa prisão preventiva é aplicável.

VI. Queremos também alterar, cirúrgica mas determinadamente, o Código Penal. O

primeiro objectivo é tornar mais rigoroso o regime de liberdade condicional,

tornando regra a sua concessão apenas após o cumprimento de dois terços da pena,

de três quartos para a criminalidade grave e violenta e impedindo a sua concessão

em crimes dolosos com pena aplicável superior a 15 anos.

Reforçaremos a fiscalização das denominadas saídas precárias dos reclusos,

impedindo a sua concessão a reclusos condenados por crimes violentos ou

reincidentes. Para o CDS, não deve haver “saídas precárias” sem obrigatoriedade da

utilização de meios de vigilância electrónica.

Somos partidários da consagração da regra segundo a qual, em casos de

criminalidade grave, a reincidência impossibilita o acesso ao regime da liberdade

condicional.

No que diz respeito à delinquência juvenil, entendemos que é necessário adaptar a

Lei Tutelar Educativa à realidade. Conferimos natureza menos frequente aos regimes

aberto e semi-aberto e, ao mesmo tempo, alargamos os casos de aplicação do regime

fechado. O CDS considera que a idade de imputabilidade penal não é um tabu e deve

ser debatida.

VII. Fazer uma política de segurança não é uma questão exclusivamente policial,

judicial ou penal. É compreender que as maiores dificuldades requerem soluções de

política social mais inovadoras e ambiciosas.

Em boa parte, as fracturas e as ocorrências violentas nos bairros problemáticos

resultam de políticas públicas ineficazes, em que se destaca um planeamento urbano

que convida à formação de “guetos” e o fracasso – pelo menos, parcial – dos

Page 200: programa eleitoral CDS-PP

programas de integração social. Trabalhar em profundidade para que os bairros

problemáticos sejam menos problemáticos é um objectivo muito valorizado pelo CDS.

Admitimos a mediação policial, começando nesses bairros mais difíceis, com vista a

uma maior confiança e proximidade entre a polícia e os cidadãos na prevenção da

criminalidade.

Faremos, a nível nacional, a avaliação dos locais considerados como potencialmente

perigosos com vista à instalação de câmaras de videoprotecção. Deve clarificar-se a

legislação vigente para que as imagens captadas com base neste sistema façam prova

em tribunal, desde que autorizadas nos termos legais.

Os que respondem, sempre, em relação à videoprotecção, que essa ferramenta é

intrusiva ou apenas serve para “deslocalizar” o crime, esquecem algumas

informações relevantes. Primeira: negam a videoprotecção à maioria dos habitantes

dos bairros difíceis, mas não se queixam dela nas grandes superfícies ou centros

comerciais que frequentam. Segunda: os estudos internacionais demonstram – por

exemplo, nos casos de França, Espanha e até Inglaterra - que a videoprotecção é

bastante eficaz na dissuasão da prática de crimes e na punição de quem os comete.

Embora pareça questão menor, a elaboração, em conjunto com as autarquias locais,

de um levantamento das áreas mais carenciadas de iluminação pública, pode ter

igualmente efeitos positivos na criação de um ambiente mais seguro.

VIII. Prevemos a avaliação anual, pela Assembleia da República, dos resultados dos

programas públicos de acção e integração social nos bairros problemáticos das áreas

metropolitanas.

O Estado não deve ser cego nas políticas sociais. Há programas de integração que

funcionam bem, e outros que são um fracasso completo, esbanjando fundos sem

retorno social. Voltamos a avisar que políticas sociais apenas baseadas na

gratuitidade – rendas simbólicas, rendimento de inserção – não funcionam. É preciso

que os programas sociais impliquem uma cultura de deveres e responsabilidades.

Page 201: programa eleitoral CDS-PP

Propomos que, nessa avaliação anual, sejam considerados critérios de sucesso: a

redução do abandono escolar; a diminuição da toxicodependência; a estima pela

propriedade pública e particular; o aumento da empregabilidade dos jovens; a

diminuição das ocorrências violentas.

Acresce uma outra proposta em que acreditamos profundamente. Queremos

contratualizar com IPSS de referência, escolhidas mediante critérios transparentes, a

gestão das políticas sociais nos bairros difíceis. Temos a fundada convicção que esta

contratualização, e o respectivo suporte orçamental, significam mais e melhor

trabalho social onde ele é mais necessário. As IPSS estão no terreno, conhecem os

problemas e as famílias directamente, podem atingir resultados concretos muito

acima do que é alcançável pela burocracia do Estado.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Admissão de 4.000 novos agentes, distribuídos entre PSP, GNR e PJ.

Prioridade ao policiamento das Áreas Metropolitanas.

2. Preferência pela tutela única das Forças de Segurança, recusa da “polícia

única”. Patamar mínimo de uma boa política de segurança é que MAI deve

superintender políticas penais e de execução de penas

3. Participação dos Corpos Especiais da PSP e GNR no patrulhamento das zonas

mais inseguras e Grupos Operacionais de Prevenção nos bairros de risco.

4. Revisão do regime remuneratório das Forças de Segurança.

5. Revisão imediata, cirúrgica e determinada do Código de Processo Penal e do

Código Penal.

6. Tornar regra o julgamento rápido dos detidos em flagrante delito.

7. Reforço do estatuto da vítima no processo.

8. Aplicação de prisão preventiva nos crimes com pena superior a 3 anos.

9. Alteração das regras de concessão de liberdade condicional: sobe para 2/3 de

pena a regra geral e para 3/4 de pena em crimes graves e violentos. Não

haverá liberdade condicional em certos crimes dolosos gravíssimos, nem em

determinados casos de reincidência.

Page 202: programa eleitoral CDS-PP

10. Não há saídas precárias da cadeia para reincidentes. Em geral, saídas

precárias só com pulseira electrónica.

11. Alteração da Lei Tutelar Educativa.

12. Maior utilização de vídeo protecção, que deve fazer prova em tribunal.

13. Avaliação anual dos programas de integração social nos bairros problemáticos.

14. Contratualização, com IPSS de referência, da gestão de programas sociais nos

bairros problemáticos.

15. Defesa da mediação policial.

Page 203: programa eleitoral CDS-PP

SEGURANÇA SOCIAL E TRABALHO

CRÍTICAS

1. Aumento exponencial do desemprego.

2. Apoios no desemprego são insuficientes.

3. Maioria dos pensionistas perdeu poder de compra nestes 4 anos.

4. Abusos no Rendimento Social de Inserção.

5. Contratualização com as IPSS abaixo do que a situação social exige.

6. Reforma da Segurança Social não prevê qualquer liberdade de escolha dos

jovens.

7. Código de Trabalho com erros e lapsos; Código Contributivo inaceitável neste

cenário económico.

O défice social agravou-se nos anos de governação socialista. Face a um discurso

artificialmente optimista, todos os indicadores disponíveis apontam para o

agravamento das condições sociais. O desemprego subiu consideravelmente e já

atingiu 507,7 mil indivíduos. Num só ano perderam-se mais de 150 mil postos de

trabalho.

Por sua vez, o indicador de pobreza revela que estagnou a redução do número de

Portugueses que vivem abaixo do limiar mínimo de rendimentos. Entre 2003 e 2005,

mesmo em condições de crescimento económico adversas, conseguiu reduzir-se a

taxa de pobreza de 20% para 18%, através, sobretudo, do processo de convergência

das pensões que, com um planeamento faseado, renumerava melhor as reformas

mais baixas. A suspensão desse processo contribuíu para a estagnação do indicador

oficial de pobreza. Os idosos, tal como os deficientes, foram a geração mais

sacrificada por um conjunto de políticas de nítida insensibilidade social: cortes nas

comparticipações dos medicamentos durante 3 anos, fórmula de cálculo dos

aumentos que colocou os pensionistas 3 anos seguidos atrás da inflação, tributação

de reformas baixas.

O recurso às instituições sociais, por parte das famílias com necessidades básicas não

satisfeitas – incluindo situações de fome -, bem como de famílias que já tiveram

Page 204: programa eleitoral CDS-PP

rendimentos de classe média, não cessou de aumentar. O Governo foi lento a

perceber a dimensão da questão social.

Para quem acredite, como nós acreditamos, que o progresso de uma sociedade

também se mede pelo dinamismo da sua “mobilidade social”, ou seja, pelo nível de

oportunidades dadas para que, através da educação, do trabalho e da iniciativa,

cada indivíduo possa subir legitimamente na vida, a situação social portuguesa é

alarmante. Na verdade, a “mobilidade social” parece ter, simplesmente, parado.

Haverá, certamente, sectores que até acrescentaram a sua riqueza, mas a classe

média empobreceu e a exclusão social alastrou. Restabelecer a mobilidade social no

nosso país é um objectivo central do CDS nos próximos quatro anos.

RESPOSTAS

I. Primeiro, devemos tratar da urgência social que é o desemprego. Em tempos de

expansão do desemprego, é inaceitável que um Governo com sentido de justiça não

consolide os sistemas de protecção social nessa eventualidade. Para o CDS é urgente

que esse alargamento da protecção social, pelo menos a título transitório, incida

sobre i) o tempo de percepção do subsídio de desemprego e não apenas do subsídio

social de desemprego ii) altere os prazos de garantia de modo a que os jovens não

sejam excluídos do subsídio de desemprego, o que é possível de conceptualizar sem

desincentivar a procura do trabalho iii) reforce a majoração da prestação nos casos

em que os dois membros do casal estão no desemprego quando os desempregados

têm mais filhos iv) permita a passagem à reforma dos desempregados com mais de 55

anos, findo o período máximo de percepção das prestações relativas ao desemprego

v) promova uma autêntica formação profissional dos desempregados, sobretudo nos

conhecimentos em novas tecnologias e línguas.

II. Tão importante como melhorar os apoios em caso de desemprego, é fomentar

oportunidades de emprego. Pode e deve fazer-se mais, nomeadamente i) estimular

duradouramente a contratação de desempregados de longa duração, com especial

atenção às mulheres ii) legislar no sentido de tornar possível que se possa atribuir

globalmente, por uma só vez, à entidade empregadora que celebrar com um

desempregado um contrato de trabalho sem termo, o remanescente do subsídio de

Page 205: programa eleitoral CDS-PP

desemprego ou subsídio social de desemprego a que os beneficiários tenham direito

iii) estimular o surgimento de empresas novas, com aposta nas tecnologias de

informação, nos jovens universitários iv) lançar, em Portugal, os programas de

“trabalho activo e solidário” já em vigor, por exemplo, na Alemanha, que partem do

funcionamento, em rede, dos Centros de Emprego e das IPPS, oferecendo aos

desempregados uma ocupação activa, na área social – por exemplo, lares, centros de

dia, apoio domiciliário – acumulando a prestação social com um suplemento de

rendimento do trabalho v) reformular e descentralizar o funcionamento dos Centros

de Emprego, para melhorar a sua eficiência vi) obrigar a Administração Pública,

quando promove concursos para à admissão de quadros, a contactar todos os

desempregados licenciados, com as habilitações requeridas, inscritos em centros de

emprego da zona abrangida.

III. A última legislatura ficou marcada, no plano laboral, por uma produção legislativa

feita de forma apressada e menos cuidada. A legalidade da declaração de

rectificação do novo Código de Trabalho está a ser posta em causa por vários

tribunais. Ainda hoje não está publicada, legislada ou em vigor parte da legislação

complementar. Na última legislatura perdeu-se a oportunidade de se fazer uma

adaptação das leis laborais à realidade do nosso tecido produtivo, composto na sua

maioria por micro, pequenas e médias empresas.

Faz por isso sentido pensar numa versão simplificada do Código de Trabalho para as

PMEs, sobretudo tendo em vista a desburocratização dos procedimentos. A nomeação

de uma comissão legislativa que proceda ao levantamento dos erros e omissões

actualmente existentes no Código de Trabalho e legislação conexa, deverá

ultrapassar as situações de incongruência ou vazio legislativo.

Ainda no plano das relações de trabalho, o CDS deve dar especial atenção aos

mecanismos de fiscalização das “contratações fraudulentas” e de situações

discriminatórias e injustas, bem como aos recursos humanos da Inspecção-Geral de

Trabalho.

Page 206: programa eleitoral CDS-PP

Parece-nos especialmente preocupante o recurso desmedido aos “falsos recibos

verdes” tanto no sector público como no sector privado e, ainda, a persistência de

discriminações efectivas, seja no salário., seja na carreira, das mulheres

trabalhadoras. A situação dos chamados “trabalhadores independentes”, sector em

que foram cometidas inúmeras injustiças, merece uma atenção especial. É prioritária

a reparação dessas injustiças, por exemplo no que toca à carreira contributiva.

As leis devem ser, nesta matéria, claras. Tão importante é dissuadir formas de

contornar a rigidez das leis laborais, como adoptar a flexibilidade como condição do

crescimento, sem a qual os empregadores temem contratar ou deixam mesmo de o

fazer.

IV. Um dos indicadores mais relevantes para perceber a dimensão estrutural dos

nossos problemas económicos e sociais é o da produtividade. Ora, também nesta

matéria, Portugal está em regressão.

O diferencial de produtividade dos trabalhadores portugueses face aos seus

homólogos europeus já era grave. No último ano, não só se acentuou como o

crescimento da produtividade derrapou para valores compulsivamente negativos.

Esta divergência assenta, como é geralmente reconhecido, na falta de exigência no

sistema de ensino, no défice de formação profissional e na tímida modernização e

investimento em novas tecnologias de uma parte do nosso tecido empresarial.

Culturalmente, o bloqueio português, em termos de produtividade, reside também

numa certa aversão ao mérito individual, “socializando” ou nivelando por baixo, os

níveis de esforço e remuneração. Esta cultura, é de tal forma destruidora das

expectativas de vida e dos projectos individuais, sobretudo dos mais jovens, que

também incentiva a nova “emigração de qualidade”. Inúmeros jovens portugueses –

com licenciatura, mestrado ou doutoramento – procuram países com oportunidades,

que reconhecem o talento e a iniciativa, e não têm aquela cultura inibidora.

O CDS considera que, a partir do momento em que a economia portuguesa volte a

crescer com significado, será necessário que o aumento da produtividade, desde logo

a nível do trabalhador, seja justamente compensado. O que significa introduzir o

princípio de que “quem trabalha mais, deve ganhar mais”. A redução ou mesmo a

isenção de tributação do trabalho extraordinário é um passo gigante nesta opção. O

Page 207: programa eleitoral CDS-PP

trabalhador que, por sua própria vontade, quer trabalhar mais, deve poder fazê-lo,

devendo o Estado reduzir ou, no limite, abster-se de tributar esse suplemento de

esforço.

A visão do CDS procura aliar, para mais na situação económica em que vivemos, o

interesse do empregador, do trabalhador e do país. Por isso, o impulso que

proporemos aos ganhos de produtividade irá a par com iniciativas inovadoras visando

uma mais justa repartição dos benefícios gerados na empresa.

Devemos, por isso, incentivar a participação do trabalhador nos resultados e

crescimento das empresas. Nesse sentido, estudaremos um modelo, aplicável às

empresas maiores, pelo menos numa primeira fase, que crie uma reserva especial

para a participação dos trabalhadores, para o qual deve reverter uma parcela do

lucro líquido da empresa relativo ao aumento da produtividade anual, a ser

distribuído justamente pelos trabalhadores e sujeito a uma taxa especialmente

reduzida de imposto e isento de prestações sociais.

Reafirmamos, ainda, o nosso apoio ao acordo social alcançado em matéria de

evolução do salário mínimo nacional.

V. A próxima legislatura deve também ser marcada pelo objectivo de voltar a criar

condições para reduzir a taxa de pobreza em Portugal

Se algo caracterizou este mandato socialista foi uma deficiência na percepção de que

o epicentro da pobreza em Portugal está nos idosos. Uma atávica suspeita das

parcerias com o sector social, nomeadamente com as instituições de inspiração ou

matriz religiosa, e um desaproveitamento das forças vivas e livres de generosidade

social, de que o voluntariado é a melhor expressão, não contribuíram para o aumento

da eficácia nas respostas sociais. Ora, todos estes instrumentos são necessários à

concepção de uma nova política social. Só muito tardia e parcialmente o Governo o

percebeu.

As nossas políticas públicas terão, portanto, de dar prioridade à situação da pobreza

no universo dos pensionistas, assumindo determinadamente o princípio da

Page 208: programa eleitoral CDS-PP

subsidiariedade no alargamento e melhoria dos serviços prestados aos mais frágeis e

colocando no centro da agenda todas as condições para que o sector do voluntariado

cresça, como pode crescer, e faça mais, como quer fazer.

Cerca de 18% da população portuguesa vive com menos de 406 € por mês. Os idosos

continuam a ser o grupo social mais exposto à pobreza. A prioridade do CDS estará,

certamente, no apoio a esta geração desfavorecida. Quando falamos em apoio, não

referimos apenas as prestações sociais. Dirigimos a nossa acção, também, para os

serviços que permitem melhor acompanhamento na doença e na invalidez; para as

instituições de acolhimento durante o dia ou em permanência; para a rede de

homens e mulheres que tornam possível o apoio domiciliário; para as instituições que

trabalham com deficientes. E também para as cozinhas comunitárias que dão hoje

refeições gratuitas a milhares de portugueses.

Do ponto de vista da conjuntura, como o CDS já destacou, é inexorável que se faça

um esforço maior nas pensões mais degradadas e no investimento público, em

parceria com as IPSS, na área social. Pensamos, por um lado, na melhoria das

reformas mais baixas. Mas pensamos, também e decididamente, nos serviços de

proximidade que são prestados dos mais carenciados, sobretudo na velhice.

Na área dos idosos, a nossa prioridade i) é um programa sustentado de convergência

das pensões sociais, rurais e mínimas, ao longo da próxima legislatura ii) garantir que

a fórmula de cálculo dos aumentos previne expressamente o risco de actualizações

abaixo da inflação, o que é estritamente injusto, tratando-se de populações

desfavorecidas, e acentua a sua depreciação em ciclos económicos negativos iii) a

publicação dos indicadores de aumento e o seu primeiro pagamento devem ser feitos

em Dezembro de cada ano, abrangendo o subsídio de Natal iv) proceder a um ponto

de situação das várias prestações sociais, “cruzando” a informação do Complemento

Social do Idoso, cuja evolução deve ser compatível com o programa de recuperação

das pensões sociais, rurais e mínimas, de modo a dar coerência ao universo dos

apoios.

A sustentabilidade deste esforço é uma opção de política social e pode recorrer a

uma parcela do excedente da Segurança Social que, nem quantitativa nem

qualitativamente, põe em causa a sua boa gestão. Reafirmamos que tencionamos

deslocar um quarto da verba do RSI – cerca de 125 ME num total perto dos 500 ME -,

Page 209: programa eleitoral CDS-PP

uma verba fundamentalmente “perdida” dos abusos e nas fraudes da prestação,

deslocando-a directamente para o programa de convergência das pensões mais

reduzidas.

O princípio da máxima utilização de todas as capacidades sociais instaladas deve ser

o mais importante quando se tomam opções para programas sociais de apoio aos

idosos, à criança ou à pobreza, ou quando se concebem programas de recuperação

das listas de espera nas consultas e cirurgias. A estatização das políticas deve ceder

perante o princípio da subsidariedade, sendo prioritário o desenvolvimento de todas

as capacidades através de parcerias com as IPSS em geral e as Misericórdias em

especial.

De forma a manter um acompanhamento próximo da evolução da pobreza,

defendemos a obrigação do Governo apresentar para discussão na Assembleia da

Republica de dois em dois anos um relatório sobre o estado da pobreza em Portugal.

VI. Ao contrário do que alguns afirmam, a reforma da Segurança Social não está

feita, no sentido global e inovador de que carece. É essencial garantir a liberdade de

escolha das novas gerações de trabalhadores no planeamento da sua reforma e do

seu futuro, ao mesmo tempo que se defende a sustentabilidade do sistema de

pensões. Essa liberdade de escolha implica a capacidade de, voluntariamente e a

partir de certo limite, se poder optar por descontar para um regime publico, privado

ou mutualista de segurança social, e não obrigatoriamente apenas para o Estado.

Os princípios da reforma do CDS são claros. A reforma i) implica adesão individual ii)

exige manifestação expressa da vontade dos contribuintes (isto é, se nada disserem,

continuarão no sistema público da segurança social pela totalidade do salário) iii)

abrange apenas os trabalhadores por conta de outrem sujeitos à taxa contributiva

global que iniciem a carreira contributiva após a entrada em vigor do regime e

aufiram uma remuneração ilíquida mensal superior a seis salários mínimos nacionais,

bem como aqueles que, à data da entrada em vigor do diploma, tenham idade igual

ou inferior a 30 anos, carreira contributiva não superior a 10 anos e aufiram uma

remuneração ilíquida mensal superior ao limite já referido iv) integra a protecção nas

eventualidades de invalidez, velhice e morte, através da atribuição de prestações em

Page 210: programa eleitoral CDS-PP

articulação com o sistema público (pensões de invalidez, velhice e sobrevivência) v)

determina nessa medida, a parte da taxa social única (TSU) que incide sobre a parte

do salário considerado no regime opcional será apenas a correspondente ao custo das

eventualidades cobertas (velhice, invalidez e morte) vi) considera a parte restante

da TSU em incidir sempre sobre a totalidade do salário independentemente do seu

valor, garantindo plenamente o princípio da solidariedade relativamente às outras

prestações sociais (doença, desemprego, abono de família, maternidade e

paternidade, doenças profissionais e outras) vii) considera que a contribuição

definida é gerida em regime de capitalização viii) beneficiará a igualdade de

tratamento fiscal ix) garante portabilidade ou transferibilidade dos créditos

adquiridos e direitos em formação.

Acrescentamos que a gestão deve ser feita por entidades que poderão ser pessoas

colectivas de direito público ou privado, ou entidades mutualistas. O sistema implica

uma forte componente de regulação, supervisão prudencial e fiscalização, sendo os

mecanismos de garantia das pensões exercidos pelas entidades legalmente

competentes em razão da natureza prudencial.

A visão reformista do CDS distingue-se da inércia estatista do PS, que obriga a que a

totalidade dos descontos seja feita para o sector Estado. Também é diferente do

“desconto obrigatório” de uma parcela do salário para o sector privado que, pelo

menos nesta legislatura, pareceu orientar o PSD. No nosso sistema, a opção

voluntária do trabalhador é o mais relevante. Há uma obrigação de desconto para o

sector público, até certo limite; há liberdade de opção a partir desse limite. Assim

garantimos a liberdade de escolha e a sustentabilidade do sistema. O Estado deve

concentrar o seu esforço nas pensões mais baixas. Não deve ser o único responsável

pelas pensões mais altas.

VII. Impõe-se uma revisão transparente do Rendimento Social de Inserção. Esta

prestação – vulgarmente conhecida por “Rendimento Mínimo” – tem tido uma

evolução que preocupa o CDS em vários planos.

Desde logo, o crescimento exponencial – para o dobro, em três anos – dos valores

atribuídos ao RSI, consome, obviamente, uma parte importante dos recursos

Page 211: programa eleitoral CDS-PP

disponíveis para outras políticas sociais. É politicamente inaceitável que se faça um

esforço muito mais intenso na atribuição deste Rendimento, em contraste com o

nível de ambição, bem mais reduzido, revelado nas pensões. O segundo âmbito de

preocupação é que o crescimento do RSI não apresenta garantias de transparência,

no sentido de que o número de beneficiários sem qualquer fiscalização é muito

elevado, sendo claros os indicadores de que há abusos nesta prestação, que acabam

por constituir uma circunstância moralmente intolerável para quem trabalha e

contribui – isto é, para quem financia o pagamento do RSI. A falta de transparência

numa prestação que deveria ser, por natureza, transitória, merece uma censura

social que as instituições não podem ignorar. Por fim, preocupa-nos a ausência, em

muitos casos, de um “espírito de dever”, na relação de uma parte dos beneficiários

com a lógica e o sentido da ajuda que recebem. Este Rendimento não foi criado nem

pode institucionalizar-se como modo de financiar opções ou estilos de vida. Foi

pensado e deve ser fiscalizado como ajuda transitória em situações de especial

dificuldade.

Em suma, o CDS promoverá i) uma auditoria global ao funcionamento do RSI e,

consequentemente, tornará a sua legislação mais fiscalizada, objectiva e transitória

ii) admitimos a atribuição de parte da prestação em espécie iii) propomos a

contratualização, com as instituições sociais que manifestem vontade nesse sentido,

da celebração, acompanhamento e fiscalização da atribuição do RSI iv) não

concordamos com a renovação automática da prestação v) e defendemos a cessação

do RSI após o trânsito em julgado de decisão judicial condenatória do titular, pela

prática de crime doloso contra a vida, a integridade física ou a reserva da vida

privada, contra o património, de falsificação, de tráfico de estupefacientes, contra a

ordem e tranquilidade públicas, de resistência ou desobediência à autoridade

pública, de detenção ilegal de armas ou por qualquer outro crime doloso punível com

pena de prisão superior a 3 anos, sem prejuízo da reabilitação judicial.

CADERNO DE ENCARGOS

1. É possível melhorar o subsídio de desemprego para jovens sem

desincentivar a procura de trabalho.

Page 212: programa eleitoral CDS-PP

2. Reforçar subsídio de desemprego para casais e desempregados com mais

filhos.

3. Permitir a passagem à reforma de desempregados com mais de 55 anos,

findas as prestações de desemprego.

4. Permitir que as empresas que contratem sem termo um desempregado

recebam, como estímulo, um valor equivalente ao remanescente do

subsídio de desemprego que seria pago sem a contratação.

5. Lançamento do programa Trabalho Activo e Solidário, colocando em rede

os Centros de Emprego e as IPSS.

6. Obrigação de contacto dos desempregados licenciados quando a

Administração Pública abre concurso para quadros.

7. Retomar a convergência das pensões mais baixas na próxima legislatura.

8. Reforço da contratualização com as IPSS de serviços sociais de

proximidade para os idosos: lares, centros de dia, apoio domiciliário,

cozinhas comunitárias, apoio na saúde.

9. Deslocação de 25% da verba do RSI para um aumento extraordinário de

pensões.

10. Reforma do Rendimento Social de Inserção, combatendo os abusos

estimulando deveres e admitindo a sua concessão em géneros.

11. Versão simplificada do Código de Trabalho para as PMEs.

12. Em cenário de crescimento económico, redução de tributação ou mesmo

desfiscalização das horas extraordinárias de trabalho

13. Incentivar a participação do trabalhador nos benefícios da empresa

devidos aos ganhos de produtividade.

14. Reforma da Segurança Social que permita aos novos trabalhadores ter

liberdade de escolha, voluntária, a partir de um valor do salário

equivalente a 6 SMN. O esforço do Estado deve concentrar-se nas pensões

mais baixas. O Estado não deve ser o único responsável, a prazo, pelas

pensões mais altas.

Page 213: programa eleitoral CDS-PP

TURISMO

CRÍTICAS

1. Inflexibilidade perante a crise.

2. Falta de estratégia para apostar em mercados alternativos.

3. Partidarização e hesitações legislativas nas Regiões de Turismo.

Depois de ter acabado com o Ministério do Turismo, o Governo manteve cenários

optimistas para o turismo, não revelando qualquer flexibilidade perante a crise, não

aproveitando, a oportunidade de, em contra-ciclo, promover o turismo de Portugal.

Falhou, também, a oportunidade aberta pela União Europeia em relação ao IVA da

restauração.

Pelo contrário, persistiu-se numa estratégia assente em projectos imobiliários –

muitos, parados – em plena crise do sector.

RESPOSTAS

I. O turismo é certamente a área de desenvolvimento económico em que em Portugal

revela maior potencial. Portugal tem mais de 11 milhões de visitantes por ano. O

turismo representa acima de 10% do PIB, podendo atingir cerca de 15% na próxima

década. Significa, aproximadamente, meio milhão de postos de trabalho, directos ou

indirectos.

Deve ser por isso fundamental, para qualquer modelo de desenvolvimento do país,

ter como prioridade estratégica a qualificação da nossa oferta turística, visando a

consolidação de Portugal, enquanto destino turístico de excelência. O CDS já fez já

prova da importância institucional que esta actividade lhe merece ao ter assumido,

pela primeira vez na nossa história, as responsabilidades de um Ministério do

Turismo.

Page 214: programa eleitoral CDS-PP

Sector indissociavelmente ligado à afirmação e à imagem externa de Portugal, o

turismo deve ser governado – foi o que fizemos – procurando um grau elevado de

consensualidade, à semelhança da própria política externa. E deve procurar, dentro

do possível, uma estabilidade correspondente a uma visão estrutural e de longo prazo

que poupem o sector, os seus agentes e os investidores às inflexões e às tentativas de

imprimir a “marca” de cada maioria ou solução governativa.

II. A situação de profunda crise e recessão que atravessamos não permite muitos dos

erros que têm sido cometidos por responsáveis do actual governo. Logo à partida, o

erro que foi cometido ao insistir numa atitude de negação da crise. Logicamente, se

os principais mercados emissores de turistas para Portugal enfrentavam uma recessão

séria, casos do Reino Unido, Espanha e Alemanha, era óbvio que teríamos uma

diminuição da actividade que não foi nem preparada, nem acautelada…

Assistimos assim à substituição do optimismo exacerbado e eufórico, dos discursos da

melhor “época de sempre”, do crescimento e de investimentos infindáveis, por um

pessimismo moderado que, nalguns casos, foi evoluindo para verdadeiras situações

de pânico, sem que da parte dos responsáveis políticos tivesse havido a

correspondente mudança de atitude ou a capacidade de análise, acção e resposta às

contingências do momento. Saber prever e saber planear é também saber governar.

Esta incapacidade de percepção, face à situação económica, levou a que não se

emendasse a mão continuando a insistir num modelo de crescimento baseado em

grandes investimentos – classificados como projectos PIN, em que a componente

fundamental é imobiliária, ignorando que o “boom” findou e que a crise do

imobiliário é bastante séria, prevendo-se para esse sector uma recuperação lenta e

moderada.

A situação de crise em que vivemos exigia dos responsáveis políticos uma atitude

bem diferente. Desde logo, revelando uma agilidade estratégica, uma flexibilidade e

uma determinação que permitam retomar o rumo certo.

II. As apostas têm de ser na requalificação e revitalização das infra-estruturas

existentes; na formação do capital humano; na capacidade de, sem desinvestir nos

mercados emissores dominantes, apostar em chegar a novos mercados,

Page 215: programa eleitoral CDS-PP

designadamente aos BRIC, lançando uma nova campanha de afirmação da imagem de

Portugal, actualizada e competitiva.

A relevância do sector justifica, também, dentro das propostas do CDS para a área

das empresas e economia, soluções específicas tendo em vista a sua competitividade.

Impõe-se uma revisão da legislação aplicável ao sector, tendo em vista a sua

simplificação e sistematização e procurando imprimir uma lógica de

desburocratização, favorável às empresas e ao investimento. Tal legislação deve ser

feita de forma aberta e participada, ao contrário do que aconteceu com a actual “Lei

de Bases” aprovada pelo Governo do PS no final do actual mandato, sem discussão

pelos agentes do sector, e nenhuma intervenção do Parlamento.

III. O objectivo estratégico tem de ser o crescimento, não do número de turistas, mas

da receita por turista. Esse é o objectivo correspondente a um turismo de qualidade

que valorize os nossos factores de diferenciação e diversificação. Destacamos o

património histórico e cultural, a partir de segmentos chave como são o MICE, o mar,

o turismo Natureza e o golfe, o turismo religioso e cultural.

Portugal não se deve conformar com a 23ª posição no ranking mundial. Até pelas

posições que já ocupou no passado, defendemos que Portugal deve de ter como

objectivo estratégico, ao nível da receita turística, estar no Top 15 mundial. Para

isso, precisamos duma nova política de Turismo.

IV. Esta política deve i) actualizar a Estratégica Nacional de Turismo, substituindo o

Plano existente, por um novo, que tenha em conta a situação económica actual, a

crise do sector imobiliário e responda ao desafio da qualificação ii) elaborar Planos

Regionais de Desenvolvimento Turístico em complemento do Plano nacional iii)

apostar numa oferta turística de excelência e na requalificação da oferta existente,

valorizando o seu património edificado e cultural iv) promover uma estreita

articulação entre os sectores do turismo, da cultura, do ambiente e ordenamento do

território, valorizando o nosso património, por um lado, e, por outro, construindo um

modelo de turismo sustentável v) desenvolver uma política fiscal favorável ao sector

e à competitividade das empresas, nomeadamente com soluções que privilegiem os

investimentos que envolvam recuperação de património edificado vi) definir e

implementar um processo de planeamento e instalação de um sistema eficaz de

sinalização turística vii) garantir uma melhor articulação com o sector de transporte

Page 216: programa eleitoral CDS-PP

aéreo, garantindo que o desenvolvimento de ligações aéreas low cost seja feito no

interesse da captação de fluxos turísticos, mas em condições de equidade face às

transportadoras aéreas tradicionais.

V. No que respeita especificamente à restauração, importa ter presente que este

sector, constituído por milhares de micro e PME’s, familiares, estáveis e com várias

gerações de actividade, é responsável por 50% da receita turística do nosso país.

Justificam-se, por isso, medidas excepcionais que permitam a estas empresas superar

as circunstâncias da crise, particularmente gravosa no seu caso, bem como permitir

que elas constituam um factor essencial de reaquecimento da economia.

Assim, importa i) alterar a taxa do IVA aplicável a este sector, baixando-a para 5%,

aproveitando a oportunidade criada pela União Europeia e já seguida pela França,

promovendo assim a competitividade com a vizinha Espanha ii) em contrapartida,

acertar com as organizações do sector medidas – que estão em cima da mesa – para

evitar a evasão fiscal iii) desenvolver, proteger e promover a gastronomia portuguesa

e os seus produtos como factor de diferenciação e qualificação do turismo,

favorecendo a existência de bons roteiros iv) criar, em colaboração com as

associações do sector, mecanismos de classificação e certificação dos

estabelecimentos existentes.

VI. Um aspecto central no domínio do turismo é a promoção. Neste domínio há que i)

investir na promoção externa em contra-ciclo, para podermos colher os frutos

quando a recuperação económica se verificar ii) lançar uma nova campanha de

promoção turística e da imagem do país, actualizada e competitiva para substituir a

actual campanha, existente há mais de 3 anos iii) nessa campanha, promover

Portugal enquanto destino diferenciado que proporciona uma experiência única de

turismo integrado na sociedade, correspondente a uma percepção expectável e real

do país iv) instalar as Delegações do Turismo de Portugal IP, em especial nos

mercados de Leste e emergentes, bem como garantir um acompanhamento constante

dos agentes que promovem Portugal no estrangeiro, não o limitando a momentos de

crise v) desenvolver o recurso às novas tecnologias, tornando o Portal visitportugal

mais interactivo e actualizado e marcando presença nas redes sociais, vi) assim que a

conjuntura em Portugal permitir, e aprendendo lições quanto à disciplina dos gastos,

promover a realização em Portugal de eventos de nível internacional, com impacto

Page 217: programa eleitoral CDS-PP

mediático, que retomem o caminho da EXPO vii) estabelecer uma estratégia de

complementaridades que permita fidelizar os clientes dos mercados tradicionais, mas

que seja competitiva e agressiva nos mercados emergentes viii) lançar uma nova

campanha para o turismo interno, diversificada e tendo em consideração as diversas

realidades de âmbito regional.

VII. Relativamente à legislação do sector importa i) reforçar e imprimir maior

simplificação à legislação turística, tendo como objectivo principal a

desburocratização e eliminação dos custos de contexto ii) desenvolver uma politica

de desburocratização dos processos de investimento, licenciamento e funcionamento

dos empreendimentos turísticos, estabelecimentos de restauração e agências de

viagens iii) regulamentar sectores específicos com capacidade de desenvolvimento

como sejam o turismo náutico, religioso, cultural e de cruzeiros iv) promover a

sistematização da legislação do turismo, agrupando-a num único Código do Turismo e

das Actividades Turísticas, aproveitando a sua elaboração como forma de reflexão

sobre o sector e as suas necessidades, envolvendo todos os agentes privados e

públicos v) combater a economia paralela e o alojamento ilegal, realizando um livro

branco sobre o alojamento local e a sua repercussão nesse combate.

VIII. Por fim, no domínio da formação, defendemos i) a definição e execução de uma

estratégia de recursos humanos no turismo, no âmbito do alargamento da rede

escolar iniciado em 2003, a formação e a qualificação dos profissionais, bem como a

certificação das profissões ii) complementar o ensino público, relevante mas

insuficiente, com formação técnica simplificada que, em colaboração com os

privados, permita alargar o ensino existente à totalidade dos profissionais do sector

iii) um processo de acesso e certificação de profissões turísticas, - como por

exemplo, os Guias Turísticos - , que tenha em conta realidades como sejam a

necessidade de abertura a novos mercados e a ligação do turismo à cultura e à nossa

história.

CADERNO DE ENCARGOS

1. Focar o objectivo da política de turismo no crescimento da receita por

turista, mais do que no número de turista.

Page 218: programa eleitoral CDS-PP

2. Aposta nos factores de diferenciação do destino turístico português; mar,

património e cultural, conferências e eventos, natureza, golfe, itinerários

religiosos.

3. Aproveitar a oportunidade dada pela União Europeia, baixando o IVA da

restauração. Em contrapartida, concertar medidas de combate à evasão.

4. Ter uma política de candidaturas a eventos de nível mundial.

5. Simplificar a legislação do turismo e agrupá-la num Código de Turismo e das

Actividades Turísticas.

6. Complementar o ensino público com oferta de formação mais simplificada,

em colaboração com os privados.

Page 219: programa eleitoral CDS-PP

VOLUNTARIADO

CRÍTICAS

1. Voluntariado não foi prioridade do Governo.

2. Desactualização do estatuto do voluntário.

3. Desaproveitamento das parcerias com as IPSS.

O governo socialista, durante quatro anos e meio, não sublinhou a importância do

terceiro sector – especialmente do sector social, como as IPSS e as Misericórdias – e

do trabalho com que, de forma generosa e altruísta, milhares de voluntários

contribuem para a coesão social e o desenvolvimento do nosso País.

Com um suspeição ideológica, ou mesmo com preconceito, foram questionadas as

parcerias e tentada a “estatização” de um sector que nasceu e cresceu da iniciativa

e da vontade livre de participar, ajudar e apoiar – nas respostas sociais como na

cultura ou no desporto – os outros. Esta desconsideração culminou na proposta de

um Código Contributivo que pretendeu arrecadar mais receita através de

instituições sem fins lucrativos e encarecer o seu custo de funcionamento.

Numa altura de crise, em que toda a ajuda seria – pensamos nós – bem-vinda, em

que os conhecimentos acumulados de tantos voluntários e a larga experiência de

tantas instituições fazem falta, o governo decidiu esquecer, em vez de promover,

preferiu manter, em vez de aproveitar. Num tempo em que as respostas sociais têm

de ser céleres e justas, foi ignorada a primeira rede social, depois da família: a boa

vontade da comunidade.

RESPOSTAS

I. O CDS valoriza o voluntariado como factor de humanização, realização pessoal e

coesão social. Na sua definição mais simples, é a boa vontade em acção. O

empenhamento do Partido nesta área ficou claro quando, em Agosto de 2008, o

Page 220: programa eleitoral CDS-PP

Grupo de Missão sobre o voluntariado apresentou o relatório “Ajudar quem Ajuda”,

dando, assim, atenção, institucional e politica, para este tema essencial da

participação cívica da nossa vida em comunidade.

Ao estudar e aprovar este relatório, o CDS levantou a discussão em torno de um

sector com um peso crescente na sociedade e cultura contemporâneas e com um

reflexo exponencial na economia. Este relatório, elaborado com o conhecimento e a

consulta de dezenas de instituições, federações e uniões do sector é a base das

propostas políticas que o CDS tem apresentado e continuará a defender nesta área,

concretizando medidas que privilegiem o exercício do voluntariado – uma forma de

participação cada vez mais relevante não só no sector social como, ainda, na cultura,

no desporto, na protecção civil e na saúde.

II. Numa altura de grave crise económica e social, entendemos que é premente

fortalecer este sector. Dar mais condições e melhorar a sua eficácia – tanto aos

voluntários em si como às organizações e instituições - reconhecendo a sua livre

iniciativa e, principalmente, a forma como este sector muitas vezes se adianta e

realiza funções de apoio e rede comunitária. Na verdade, esta rede, especialmente

na área social, é muitas vezes a mais importante ajuda a quem precisa. Propomos,

assim, que algumas das respostas sociais possam ser contratualizadas entre as

organizações e a Administração Pública.

O apoio e a segurança que devem ser dados aos voluntários não podem, no entanto,

servir para o Estado asfixiar ou pretender dirigir estas pessoas ou instituições. Pelo

contrário, deve ser reconhecida a sua independência e o seu trabalho deve ser visto

como um exercício de responsabilidade cívica e social, um instrumento para o

desenvolvimento da sociedade civil e para a coesão social.

III. Quanto aos voluntários, devemos apostar especialmente em duas áreas: o

voluntariado sénior, que depois da aposentação dispõe de tempo e de conhecimentos

que não podem ser desperdiçados; e, por outro lado, aproveitar o potencial de

generosidade do voluntariado jovem.

Page 221: programa eleitoral CDS-PP

A esta aposta, juntamos a necessária modernização e actualização perante a

realidade actual do voluntariado. Por exemplo, existem, cada vez mais pessoas

dispostas a ajudar, com o seu tempo e trabalho, voluntariamente, a um nível de

proximidade dos problemas, mas que por várias razões, não se enquadram no

trabalho mais institucional. Consideramos que este novo tipo de voluntariado deve

ser reconhecido.

Por outro lado, como os donativos de empresas são dedutíveis em sede fiscal,

também a prestação voluntária de serviços de profissionais liberais (como o apoio

médico, jurídico, de gestão e organização, entre muitos outros) deve ter um

tratamento fiscal favorável.

IV. Em termos de organização e reconhecimento, urge fortalecer e adequar o

Conselho Nacional do Voluntariado, para dar resposta às exigências actuais, assim

como, repetimos, actualizar o estatuto e as bases do enquadramento jurídico do

voluntariado.

Se a generosidade é a base do voluntariado, a acção necessita, muitas vezes de ser

bem enquadrada para garantir que seja continuada e eficaz. Por isso propomos a

criação, de forma contratualizada com instituições com experiência na formação de

voluntários, de uma Escola Nacional de Voluntariado, para garantir uma maior

eficácia, e mesmo realização, do trabalho voluntário.

Propomos a integração do voluntariado no programa de formação cívica, para

sensibilizar as crianças e jovens, dando a conhecer, a nível das suas comunidades

locais os projectos e as instituições do sector. Cada escola portuguesa pode ser um

pequeno “banco de voluntariado”. Para tanto, os jovens precisam de informação.

Para permitir às pessoas colectivas e singulares maior escolha e informação sobre as

entidades, instituições e organizações a que pretendem atribuir os donativos,

propomos a criação de uma lista nacional de todas as organizações que pratiquem e

promovam acções de voluntariado. Pretendemos, também, promover o incentivo de

trabalho em rede entre os Centros de Emprego, as instituições sociais e as

organizações de voluntariado, permitindo a abertura de novos programas de trabalho

voluntário, nomeadamente junto dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção.

Page 222: programa eleitoral CDS-PP

CADERNO DE ENCARGOS VOLUNTARIADO

1. Reconhecimento do voluntariado de proximidade.

2. Dedução das prestações de serviços gratuitas em sede de IRS ou IRC. Os

donativos para determinado tipo de instituições já merecem tratamento fiscal

favorável. O mesmo deve suceder com prestações de serviços efectuadas, por

exemplo, por profissionais liberais (por ex, o apoio médico).

3. Criação, de modo contratualizado, de uma Escola Nacional de Voluntariado,

destinada à formação de voluntários.

4. Integração do voluntariado no programa de formação cívica, para sensibilizar

as crianças e os jovens. Em cada escola, deve existir informação disponível

sobre projectos de voluntariado.

5. Aposta forte no voluntariado sénior.

6. Criação de uma lista nacional de todas as organizações que pratiquem e

promovam acções de voluntariado, a fim de permitir às pessoas colectivas e

singulares maior escolha e informação sobre os projectos a que pretendem

atribuir donativos.

7. Fortalecimento do Conselho Nacional de Voluntariado e revisão do estatuto.

8. Trabalho em rede entre os Centros de Emprego, as instituições sociais e as

organizações de voluntariado, permitindo a abertura de novos programas de

trabalho voluntário, nomeadamente junto dos beneficiários do Rendimento

Social de Inserção.