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PROGRAMA DE PROGRAMA DE PROGRAMA DE PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO EM MATÉRIA CAPACITAÇÃO EM MATÉRIA CAPACITAÇÃO EM MATÉRIA CAPACITAÇÃO EM MATÉRIA DE POLÍTICA DE PROTECÇÃO DE POLÍTICA DE PROTECÇÃO DE POLÍTICA DE PROTECÇÃO DE POLÍTICA DE PROTECÇÃO AMBIENTAL E SOCIAL AMBIENTAL E SOCIAL AMBIENTAL E SOCIAL AMBIENTAL E SOCIAL Projecto de Assistência Técnica ao Sector das Indústrias Extractivas da Projecto de Assistência Técnica ao Sector das Indústrias Extractivas da Projecto de Assistência Técnica ao Sector das Indústrias Extractivas da Projecto de Assistência Técnica ao Sector das Indústrias Extractivas da Guiné Bissau Guiné Bissau Guiné Bissau Guiné Bissau (PATSIE) (PATSIE) (PATSIE) (PATSIE) Financiado por Financiado por Financiado por Financiado por Implementado pelo Consórcio liderado por Implementado pelo Consórcio liderado por Implementado pelo Consórcio liderado por Implementado pelo Consórcio liderado por República da Guiné Bissau Ministério da Economia e Finanças

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PROGRAMA DE PROGRAMA DE PROGRAMA DE PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO EM MATÉRIA CAPACITAÇÃO EM MATÉRIA CAPACITAÇÃO EM MATÉRIA CAPACITAÇÃO EM MATÉRIA DE POLÍTICA DE PROTECÇÃO DE POLÍTICA DE PROTECÇÃO DE POLÍTICA DE PROTECÇÃO DE POLÍTICA DE PROTECÇÃO

AMBIENTAL E SOCIALAMBIENTAL E SOCIALAMBIENTAL E SOCIALAMBIENTAL E SOCIAL Projecto de Assistência Técnica ao Sector das Indústrias Extractivas da Projecto de Assistência Técnica ao Sector das Indústrias Extractivas da Projecto de Assistência Técnica ao Sector das Indústrias Extractivas da Projecto de Assistência Técnica ao Sector das Indústrias Extractivas da

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Implementado pelo Consórcio liderado porImplementado pelo Consórcio liderado porImplementado pelo Consórcio liderado porImplementado pelo Consórcio liderado por

República da Guiné Bissau Ministério da Economia e Finanças

Atelier de Monitoria e Avaliação Sócio Ambiental

A Guiné-Bissau é um país com um potencial mineiro até há data pouco explorado.

Em geral, os projetos de exploração mineira desenrolam-se por vários anos e em todas as suas fases geram impactos negativos e positivos na população e no ambiente, a nível local e nacional. No sentido de potenciar os impactos positivos e minimizar os impactos negativos há fases de análise, de preparação e de acompanhamento desses projetos durante todo o seu ciclo de vida sendo para tal, a monitorização e avaliação ferramentas essenciais, bem como a sensibilização e envolvimento da população.

O Atelier de Monitorização e Avaliação Socio Ambiental e este pequeno guia que o acompanha, têm como objetivo aumentar o conhecimento da população e das comunidades sobre os aspetos fundamentais relacionados com este tema para ajudar a compreender como os potenciais projetos mineiros na Guiné-Bissau têm impacto ou poderão vir a ter.

Índice Principais questões ligadas à implementação de projetos de mineração 2

Entidades envolvidas 3

Principais fases do processo de mineração 3

Impactos negativos da exploração mineira 7

Mecanismos de proteção 11

O desafio em termos de desenvolvimento 19

Potencial de exploração extrativa da Guiné-Bissau e desenvolvimento 20

Referências 27

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Principais questões ligadas à implementação de projetos de mineração Questões financeiras Segundo a Constituição da Guine Bissau, assim com da maioria dos outros países, os recursos naturais do solo e subsolo são propriedade do Estado e só este tem a prorrogativa de conceder licenças de mineração às empresas. Como tal, a população local não tem de ser consultada sobre a oportunidade de sediar um projeto na área em que vive, mas tem de ser consultada no que se refere às condições em que serão organizadas as indemnizações a que pode ter direito.

Questões ambientais Qualquer projeto de extração envolve mudanças significativas no ambiente físico e essas podem ser benéficas (ex.: criação de uma reserva natural, projeto agroflorestal) ou prejudiciais à paisagem e ao ambiente (ex.: nivelamento de uma montanha, drenagem dos recursos de água). Só com a boa identificação prévia desses impactos, a implementação eficaz e exigente de medidas minimizadoras, bem como de compensação e por fim corretivas, e um acompanhamento regular, pode garantir-se que as futuras gerações beneficiarão de um ambiente digno e útil, mesmo com um projeto de exploração extrativa.

Aspetos sociais As questões humanas relacionadas com a presença de um projeto de mineração também podem ser positivas ou negativas. A criação de emprego é geralmente considerada um impacto positivo mas que na maioria das situações, não assume a expressão esperada. Outros impactos positivos são por exemplo, a melhoria das estradas e a eletrificação doméstica. O impacto negativo que gera mais dificuldades aos residentes locais é a perda de terras agrícolas e residenciais e o reassentamento.

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Entidades envolvidas Nos projetos de mineração temos normalmente, três atores ou partes interessadas principais:

• Estado • Populações que vivem na (futura) zona de exploração • Empresa

Além destes, existem atores secundários que podem não viver na zona de exploração ou trabalhar para a empresa e para o Estado, tais como organizações e indivíduos, alguns dos leitores deste guia, que direta ou indiretamente têm interesses na realização ou não do projeto mineiro em causa.

Principais fases do processo de mineração Prospecção As informações sobre a localização e o valor do depósito mineiro obtêm-se

durante a fase de prospeção. Esta fase inclui pesquisas da literatura existente, estudos de campo, ensaios de amostras, sondagens e outras escavações exploratórias, estudos geofísicos diversos.

A fase de prospeção pode resultar na limpeza de grandes áreas de vegetação (normalmente em linhas) para facilitar a circulação dos veículos pesados que transportam as instalações de perfuração.

Desenvolvimento Se a fase de prospeção demonstrar a existência de um depósito mineral de tamanho e grau suficientes, o promotor do projeto (por exemplo, a empresa) pode então começar a planear o desenvolvimento de uma mina. Esta fase do projeto de mineração inclui duas operações distintas:

Construção de vias de acesso: para trazer os equipamentos

pesados e os abastecimentos para a zona mineira, ou para enviar os metais e minerais tratados (estradas, ferrovias, portos).

3

Preparação e limpeza da zona: se a zona da mina estiver

localizada numa área pouco desenvolvida ou de difícil acesso, o promotor do projeto deve começar por limpar os terrenos para serem usados como áreas de acampamento para alojar o pessoal e para o armazenamento de materiais de construção e de equipamentos.

Ambas estas atividades podem gerar impactos sócio ambientais significativos, especialmente se as estradas de acesso forem construídas através de zonas ecologicamente sensíveis ou atravessem comunidades, anteriormente isoladas ou não, ou se a exploração estiver localizada na proximidade de áreas ambientalmente sensíveis.

Exploração mineira activa Todas as operações mineiras têm em comum o facto de realizarem a extracção

e concentração (ou enriquecimento) de um metal proveniente do solo, mas diferem consideravelmente de acordo com os métodos de que necessitam para executar essas tarefas de extração e concentração do minério, metálico ou não. Os impactos destas várias técnicas são apresentados na secção “Impactos Negativos das Explorações de Mineração”.

Em quase todos os casos, os minérios metálicos ou não metálicos como pedras

preciosas, fosfatos ou areias pesadas, estão sob uma camada de solo ou de

rocha comum (chamado de rocha/encaixante) que precisa de ser removida ou escavada para permitir o acesso ao depósito de minério. Os métodos de mineração mais conhecidos são:

Exploração a céu aberto: típica de situações em que o depósito

de minério se estende profundamente no subsolo. Requer previamente o corte raso ou queima da vegetação imediatamente acima do depósito de minério. Requer depois a remoção de camadas sobrepostas de "rocha encaixante” e de minério utilizando escavadoras / tratores de esteira e camiões basculantes.

A exploração a céu aberto é destrutiva do ponto de vista ambiental, por 2 razões:

• Muitas vezes envolve o deslocamento da vegetação nativa da zona, o que é particularmente prejudicial em áreas de floresta tropical

• Provoca geralmente a criação de um poço (corta), que se estende abaixo do nível do lençol freático. Neste caso, a água de fundo deve ser bombeada para permitir as operações de mineração. Quando, em fim de ciclo, a mina encerra (e para de bombear), assistimos à formação de um lago de mina.

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Exploração de areias de aluviões: é usada quando o mineral desejado (ouro, geralmente) está associado aos sedimentos no leito de um rio ou de uma planície inundada. São usadas escavadoras, dragas ou jatos de água para extrair o minério (o processo é chamado de "mineração hidráulica”).

Este é um tipo de mineração destrutivo para o meio ambiente porque liberta grandes quantidades de sedimentos que, por sua vez, podem ter

impactos sobre as águas de superfície a vários quilómetros a jusante da mina.

Exploração subterrânea: a "rocha encaixante” é removida para

aceder ao depósito de minério. O acesso a esse tipo de depósito mineral é feito através de túneis ou poços, contactam com a uma rede mais horizontal de túneis subterrâneos que fornecem acesso diretamente ao minério.

Embora seja um método menos destrutivo para o meio ambiente para aceder a um depósito de minério, a exploração subterrânea é muitas vezes mais cara do que operações a céu aberto e leva a maiores riscos de

segurança.

Eliminação dos resíduos de rocha Para a maioria dos projetos de mineração, a quantidade de terreno detrítico, escombreiras e rocha estéril gerados pela mineração é enorme. Por exemplo:

Estes lixos volumosos, contendo por vezes níveis significativos de substâncias tóxicas, são geralmente depositados no próprio local, seja num monte à superfície, seja como enchimento nas pedreiras ou nas minas subterrâneas.

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Se um projeto mineiro prevê a Se um projeto mineiro prevê a Se um projeto mineiro prevê a Se um projeto mineiro prevê a extraextraextraextraccccção de 100 milhões de ção de 100 milhões de ção de 100 milhões de ção de 100 milhões de

toneladas de minério, o mesmo toneladas de minério, o mesmo toneladas de minério, o mesmo toneladas de minério, o mesmo projecto poderá geprojecto poderá geprojecto poderá geprojecto poderá gerar mais de um rar mais de um rar mais de um rar mais de um bilhão de toneladas de resíduos de bilhão de toneladas de resíduos de bilhão de toneladas de resíduos de bilhão de toneladas de resíduos de

rocha.rocha.rocha.rocha.

Extração do minério Depois de removidos os terrenos detríticos, começa a extracção de minério com equipamentos pesados e maquinaria especializada, como carregadores, vagões de mina e camiões basculantes. Estes transportam o minério para as instalações de processamento usando rotas criadas especialmente para o efeito.

Esta atividade gera tipos específicos de impacto ambiental, tais como as emissões de poeira fugitiva das rotas de transporte de materiais. Esta e uma fase da mineração com impactos significativos na saúde dos mineiros, em particular devido aos acidentes.

Enriquecimento O passo seguinte no ciclo de mineração é a trituração (ou moagem) do minério e a separação de quantidades relativamente pequenas de metais (ou o que se pretende explorar) contidos na rocha.

Chamamos "resíduo" ao que permanece após a moagem do minério em partículas finas e a extracção posterior de metais ou metais preciosos.

Os resíduos sólidos provenientes destes processos incluem: rocha, escorias, materiais de lixiviação (para as operações de ouro e prata), descargas de materiais lixiviados (para operações de lixiviação do cobre), entre outros. Estes resíduos sólidos são os mais poluentes do processo de mineração.

Eliminação dos resíduos Os minérios metálicos de alta qualidade são compostos em grande parte por materiais não metálicos: ora, estes muitas vezes contêm metais tóxicos indesejáveis (como o cádmio, o chumbo e o arsênico). Assim, a extração de algumas centenas de milhões de toneladas métricas de minério gerará uma quantidade semelhante de resíduos. A maneira escolhida por uma empresa de mineração para gerir os grandes volumes de resíduos tóxicos que gera é um dos temas centrais que irão determinar se um projeto de mineração proposto é aceitável do ponto de vista ambiental.

As mais graves consequências ambientais relacionadas com a mineração referem-se, em geral, à descarga destes resíduos ao ar livre sem tecnologia de redução, controlo e monitorização. A eliminação de resíduos minerais não acondicionados é hoje internacionalmente inaceitável.

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Encerramento e reabilitação da mina Quando a exploração mineira ativa cessa, as instalações mineiras e o local são

encerrados devendo ser reabilitados tendo em conta o estádio prévio bem como o que se pretende para o futuro da área. O objetivo do plano de encerramento e reabilitação de uma mina deve procurar garantir que a zona seja devolvida em condição semelhante à qual estava antes de ser explorada ou ao seu uso futuro, adequado à estratégia da região, por exemplo, turismo industrial ou outras atividades industriais.

Algumas minas e mesmo o sector em geral devem grande parte da sua má reputação aos impactos negativos socias e ambientais gerados durante a fase de encerramento, quando as operações de mineração cessaram. Esses impactos podem perdurar décadas.

Impactos negativos da exploração mineira Impactos e riscos ambientais Impacto sobre os recursos de água: diz respeito, à qualidade da água e à disponibilidade dos recursos de água na zona do projeto. As questões-chave que se colocam são as seguintes:

• Será que que as reservas de água à superfície e de águas subterrâneas se manterão apropriadas ao consumo humano?

• Será que a qualidade da água à superfície na zona do projecto se manterá adequada para suportar a vida aquática e a fauna terrestre nativa?

As lagoas de escorrência de efluentes contêm elementos radioativos, químicos tóxicos, metais pesados, sulfuretos, fluoretos, etc.. Estes elementos são variáveis dependendo do minério e contaminam águas superficiais por escorrência e subterrâneas por infiltração. Também as lamas decantadas contêm os mesmos elementos e compostos, contaminando águas superficiais e subterrâneas.

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Impacto sobre a qualidade do ar: as operações mineiras

principalmente os sistemas de transporte (passadeiras, camiões, etc.), assim como as explosões para desmonte, produzem poeiras e gases de combustão, que por sua vez podem ser transportados a grandes distância, dependendo da geografia do local. As fontes de poluição do ar mais importantes das operações mineiras são:

• As partículas transportadas pelo vento • As emissões de gás de escape proveniente de fontes móveis (por

exemplo transportes) • As emissões atmosféricas de poluentes por exemplo mercúrio (ouro)

Impactos sobre a fauna e flora: pela eliminação da vegetação e

do solo de cobertura, fazendo fugir ou eliminando a fauna, libertando substâncias poluentes e gerando ruído, ameaçam a riqueza em biodiversidade do país, reduzindo e alterando os habitats, eliminando espécies sensíveis, desflorestando e degradando os solos.

A sobrevivência de certas espécies depende directamente da natureza do solo, do clima e de características específicas do seu habitat. Os impactos mais directos da exploração são:

• A destruição ou desalojamento de espécies animais móveis (caça selvagem, predadores, pássaros), sedentárias (invertebrados, répteis, pequenos mamíferos) e a fauna (peixes, invertebrados aquáticos, anfíbios);

• O entrave à dispersão de espécies animais e o corte dos seus corredores de migração.

Impactos sobre a qualidade do solo: a ocupação dos solos (por exemplo, acessos, infraestruturas, edifícios e a própria mina) provoca a alteração e remoção de habitats naturais e humanos, a contaminação de grandes superfícies de solos, por derrames e fugas de substâncias perigosas e resíduos químicos perigosos, e ainda, a difusão através do vento e águas, de poeiras e gases tóxicos. Tudo isto afeta também as atividades agrícolas e pecuárias, que são muitas vezes essenciais à subsistência das populações. Para além disso, modificando as paisagens pelo corte, as minas expõem os solos e criam erosão, o que contribui também para a desertificação de terrenos agrícolas férteis.

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Ruído: As explosões para desmonte, assim como os camiões e outros meios

de transporte e os equipamentos diversos que são usados na mineração, produzem vibração e ruído, que por vez têm impactos negativos nas espécies presentes e na saúde das populações locais.

Impactos e riscos sociais Impactos sobre os valores sociais: os projectos minerais podem

criar empregos, estradas, escolas e aumentar a procura de bens e serviços nas regiões isoladas e pobres, mas as vantagens e consequências podem ser desigualmente distribuídas.

Se as comunidades entenderem que foram injustamente tratadas ou insuficientemente compensadas, os projectos mineiros podem conduzir a tensões sociais e a conflitos violentos.

Respeito dos direitos fundamentais do indivíduo e

das comunidades afectadas: as atividades mineiras devem

assegurar-se de que os direitos fundamentais dos indivíduos e das comunidades afectadas são respeitados: o direito de controlar e de usar as terras, o direito de acesso a água potável, o direito de beneficiar de um ambiente são e de meios

de existência decentes; o direito de estar protegido da intimidação e da

violência, e por último, o direito de ser equitativamente indemnizado pelas

perdas sofridas.

O promotor de um projeto mineiro deve aplicar mecanismos de informação, participação e envolvimento que permitam às comunidades locais desempenhar um papel eficaz na tomada de decisões em todas as fases do ciclo de vida mineiro.

Desalojamento humano e reinstalação: “O desalojamento das

comunidades estabelecidas é uma causa importante de ressentimento e de conflitos associados aos grandes desenvolvimentos mineiros. Comunidades inteiras podem ser expropriadas e forçadas a estabelecer-se noutro lugar, frequentemente em colónias construídas para esse efeito e não necessariamente da sua própria escolha.

Para além das suas casas, as populações podem igualmente

perder as suas terras e assim, os seus meios de subsistência. As

instituições comunitárias e as relações de poder podem

igualmente ser perturbadas. Muitas vezes, as comunidades são realojadas em zonas desprovidas de recursos adequados, ou então, são mantidas na proximidade da mina, onde podem ter de suportar o peso da poluição e da contaminação.” (International Institut for Environnement & Development, 2002).

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Impactos devido à migração interna: um dos mais importantes

impactos da actividade mineira é a migração para a região mineira de pessoas à procura de emprego, em particular em regiões isoladas dos países em

desenvolvimento, onde as oportunidades económicas são raras. Este afluxo de novas pessoas pode ter um impacto profundo nos locais de origem bem como no local da mina. Neste último caso podem surgir litígios sobre as terras e sobre a maneira como são divididas as vantagens ligadas à mina.

O aumento repentino da população pode igualmente conduzir a pressões sobre a terra, a água e outros recursos. Frequentemente as atividades mineiras atraem pessoas mal-intencionadas (ladrões e vigaristas) bem como prostitutas. Estes fatores são rapidamente acompanhados por problemas de saúde pública e de saneamento.

Perda de acesso à água potável: ainda que as companhias

mineiras insistam sobre o facto que a utilização de tecnologias modernas assegura práticas mineiras que respeitam o ambiente, as populações que moram na proximidade da mina preocupam-se frequentemente com a qualidade e a

quantidade da sua água de consumo: as questões ligadas aos recursos de água despoletam numerosos e por vezes violentos conflitos entre os mineiros e as comunidades. Para além disso, há situações em que as tecnologias usadas não asseguram o respeito pelo ambiente, e muito menos a manutenção da qualidade da água.

Impactos sobre os meios de existência: quando a

contaminação (dos solos, da água, do ar) não é controlada, a biodiversidade e os recursos florestais degradam-se e o impacto é transferido para outras

actividades económicas, tais como a agricultura e a pesca.

Os promotores de projetos mineiros são obrigados a respeitar os direitos fundamentais das pessoas e das comunidades envolvidas, no que diz respeito, nomeadamente, aos direitos de controlo e de utilização das terras, ao direito à água potável e ao direito aos meios de existência. Todos os grupos são iguais aos olhos da lei e os interesses dos grupos mais vulneráveis (grupos com rendimentos fracos e marginalizados) devem ser identificados e protegidos

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Impactos sobre a saúde pública: as substâncias perigosas diversificadas e/ou difundidas na água, no ar e no solo podem ter um sério impacto negativo na saúde pública. Os programas de mitigação dos impactos muitas vezes subestimam os riscos potenciais para a saúde.

Cidades mineiras improvisadas e acampamentos muitas vezes ameaçam a disponibilidade e a segurança alimentar, aumentando o risco de subnutrição.

Os efeitos indiretos da mineração sobre a saúde pública podem incluir um aumento da incidência de tuberculose, asma, bronquite crônica, doenças gastrointestinais, alergias químicas, acidentes e aumento do potencial cancerígeno. As fracas condições de higiene e salubridade, que muitas vezes se associam às imediações das explorações mineiras e acampamentos mineiros, promovem as doenças infeciosas, DST e HIV/SIDA.

Impactos sobre os recursos culturais e estéticos: os projectos mineiros podem afectar as terras sagradas, as infraestructuras

históricas e os pontos de referência naturais. Os impactos potenciais compreendem:

• A destruição completa dos recursos devido à perturbação da superfície ou da escavação

• A degradação ou destruição, devido à alteração das estruturas topográficas ou hidrológicas, ou do movimento do solo

• O deslocamento não autorizado de artefactos ou o vandalismo destes para o alargamento do acesso a zonas anteriormente inacessíveis

• Os impactos visuais devido ao abate da vegetação, às grandes escavações, às poeiras e à presença de grandes equipamentos e de veículos.

Mecanismos de proteção Qualquer projeto de mineração é acompanhado de impactos positivos e negativos sociais e ambientais. Os impactos negativos devem ser identificados, minimizados, controlados, compensados e monitorizados.

Assim, devem ser propostas medidas de compensação ambiental e social, nomeadamente, para os indivíduos e as comunidades vizinhas (que chamaremos ‘Pessoas Afetadas pelo Projeto’ ou PAP) pela perda de terras, de acesso a recursos e pelos efeitos inconvenientes gerados pela presença do projeto de mineração.

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Tal é estabelecido pelo Plano Ambiental, que inclui o “Estudo de Impacto Ambiental e Social" (EIAS). realizado a expensas do promotor do projeto de mineração. Os resultados têm em conta uma análise comparativa entre o estado inicial das populações bem como das áreas ecológicas e os impactos esperados e potenciais associados à implementação do projeto mineiro. Os resultados e planos de mitigação e monitorização devem ser posteriormente discutidos, melhorados e complementados num processo de consulta publica aberta.

O EIAS constitui a base dos compromissos tomados pela empresa para todo o ciclo de vida do projeto de mineração. Na sua sequência são elaborados vários planos de gestão que detalham como se vai assegurar que os impactos sociais e ambientais negativos são reduzidos, minimizados e compensados assim como, que são cumpridos os direitos das pessoas e a legislação nacional.

Introdução ao quadro legal e regulamentar comum associado ao sector mineiro: caso da Guiné-Bissau Nível ambiental

A legislação ambiental da Guiné-Bissau é relativamente recente e encontra-se numa fase inicial de desenvolvimento do quadro legal. Temos os seguintes diplomas legais:

• Lei 1/2011 - Lei de Bases do Ambiente: define a política ambiental nos seus princípios, conceitos gerais e instrumentos, no entanto não existe regulamentação específica para implementar esta mesma legislação.

• Lei 10/2010 - Lei sobre a Avaliação Ambiental: a avaliação ambiental é a única área que foi regulamentada com mais detalhe. Esta lei estabelece as normas relativas aos estudo e à avaliação do impacto ambiental e social bem como à auditoria, licenciamento e monitorização ambiental, nomeadamente no que diz respeito aos efeitos de determinados projectos, planos e políticas públicas ou privadas no ambiente ou na saúde humana.

• Decreto 03/2004 - Plano Nacional de Gestão Ambiental: define as regras gerais da gestão administrativa do processo de avaliação ambiental e fixa os princípios gerais e específicos, as metodologias e as técnicas aplicáveis destes processos.

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Nível mineiro

Em matéria de actividades mineiras, o quadro legal refere:

• Os recursos naturais do solo e subsolo constituem propriedade do Estado e a sua gestão e coordenação são da responsabilidade do Ministério dos Recursos Naturais

• A Lei de Minas e Pedreiras, de 29 de Abril de 2014 autoriza a emissão das licenças de exploração dos recursos minerais do país sob certas condições.

• O Regulamento Nº 18/2003/CM/UEMOA relativo à adoção do Código Mineiro da União Económica e Monetária Oeste-Africana (UEMOA) que define as regras básicas para obtenção e gestão dos títulos mineiros, reforçado pelas diretivas da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sobre a matéria.

O Estudo de Impacto Ambiental e Social O EIAS consiste numa revisão sistemática para determinar se um projecto tem

ou não um efeito negativo no ambiente físico e social. O procedimento de avaliação ambiental é descrito na Lei sobre a Avaliação Ambiental (10/2010).

A realização do EIAS é da responsabilidade do promotor/Estado que deve:

• Subcontratar uma consultora que implementará o estudo

• Supervisionar o trabalho dos peritos especializados em cada um dos 3 domínios em questão: socioeconómico, meio ambiente e consulta pública

• Organizar as consultas públicas rapidamente porque o estudo final tem que integrar as observações das partes interessadas (por exemplo, comunidades e representantes) durante as sessões de informação e demonstrar que as observações e exigências foram tidas em conta no estudo final.

• Colocar o projecto de EIAS finalizado num local público para que este seja acessível aos grupos afetados pelo projecto e às ONG locais, isto antes de o relatório ser avaliado pela Autoridade de Avaliação Ambiental

Competente na Guiné Bissau (AAAC).

O EIAS é um documento fundamental para o a monitorização ambiental e social

de um projeto de mineração.

Constitui um documento de referência no sentido em que qualquer ação nele descrita implica planos e processos de gestão ambiental e social, e corresponde a compromissos que o proponente terá de respeitar.

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É também na base dos compromissos assumidos pelo proponente na sequência dos EIAS, que os planos das várias componentes de implementação do projeto serão construídos, consolidados e atualizados. Neste sentido, é essencialmente com base no EIAS e nos respetivos planos de gestão ambiental e social, que a sociedade civil pode e deve controlar e monitorizar o desenvolvimento de um qualquer projeto de mineração e verificar se este cumpre os compromissos ambientais e sociais assumidos.

Processo de consultas públicas

O que significa “Parte Afectada”?

• Pessoas ou grupos de pessoas:

� Directa ou indiretamente afectadas pelo projecto

� Que podem ter interesse no projecto

� Que podem ter a capacidade de o influenciar, tanto positiva como negativamente.

• Comunidades locais (indivíduos ou grupos); eleitos e representantes formais ou tradicionais

• Autoridades nacionais ou locais, personalidades políticas, culturais e religiosas

• Organizações da sociedade civil e grupos de interesse

• Académicos

• Organizações com interesses comerciais

• Organizações de defesa do ambiente e do património cultural.

Objectivos da consulta pública: • Informar as Partes Afectadas do projeto previamente à sua realização

• Permitir-lhes formular opiniões sobre o projeto

• Ter em conta as opiniões transmitidas pelas Partes Afetadas

• Ter em conta os interesses, os valores e as preocupações das populações locais

• Garantir a sua participação no processo de planificação do projecto

• Assegurar-se da pertinência dos elementos e sensibilidades a ter em

conta no EIAS

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Planeamento da participação das partes afetadas

A consulta do conjunto das partes afectadas do projecto deve ser realizada durante todo o ciclo do projecto a diferentes níveis e seguindo uma abordagem participativa:

• A nível nacional: consulta e informação dos Ministérios afetados pelo projecto (Ambiente e floresta, Agricultura, Hidráulica, Urbanismo, etc.)

• A nível regional: Autoridades administrativas e políticas regionais, Direcções regionais, Organizações da Sociedade Civil

• A nível comunitário: Autoridades administrativas e políticas (Presidentes da Câmara), Serviços Técnicos desconcentrados, as ONG e organizações comunitárias locais, etc.

• A nível da tabanca: Autoridades tradicionais e religiosas, os Chefes de Tabanca, organizações aldeãs, etc.

Plano de Gestão Ambiental e Social Segundo a Lei sobre a Avaliação Ambiental 10/2010, artigo 16: o conteúdo do Plano de Gestão Ambiental e Social e dos planos relacionados (plano de compensação, de reinstalação, etc.) e de outros instrumentos será definido nos respectivos TdR.

O Plano de Gestão Ambiental e Social (PGAS):

• Descreve como se propõe o projecto a gerir os impactos e riscos sociais e ambientais que surgirem durante a concepção, construção e operação do projeto

• Deve acompanhar o EIAS e alinhar-se com as Normas de Desempenho sobre Sustentabilidade Ambiental e Social

A parte social do PGAS pode conter um conjunto de planos gerais de atenuação das repercussões sociais e de planos de atenuação mais específicos, como por exemplo os planos de reassentamento das populações ou o plano de gestão do património cultural, assim como planos concebidos com o fim de estabelecer vantagens duráveis para as comunidades.

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Mecanismo de gestão de queixas e de mediação A implementação e monitorização de um mecanismo de recolha e de resolução das reclamações destina-se a garantir que qualquer pessoa afetada e que se sinta prejudicada por um projeto, possui o recurso a reclamação e possível solução.

A resolução de litígios é suportada pela equipa do projeto (equipa de relações comunitárias), mas quando as conclusões apresentadas por ela são rejeitadas pelo autor da denúncia, a resolução passa para uma Comissão de Mediação independente e mista composta por representantes das três entidades parceiras (Estado, empresas, representantes locais eleitos). Se a disputa não for resolvida a este nível, o queixoso é livre de ir a tribunal.

Além das queixas, a Comissão de Mediação lida com questões ligadas ao reassentamento, que é um tema complexo na relação entre um projeto de mineração com as populações vizinhas.

Mecanismo de Compensação, Indemnização e Reassentamento das comunidades afectadas

Princípios-chave do processo de compensação e de

reassentamento

1.1.1.1. Minimização dos impactos negativos

2.2.2.2. Minimização dos desalojamentos

3.3.3.3. Tomada em consideração dos desalojamentos físicos e económicos

4.4.4.4. Compensação no valor de substituição

5.5.5.5. Os meios de subsistência afectados serão no mínimo restituídos e idealmente aumentados e as condições de vida das populações afectadas serão melhoradas

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6.6.6.6. O projecto reconhecerá a propriedade fundiária consuetudinária e, dentro da medida do possível, respeitará os diferentes níveis de direitos fundiários identificados no sistema local de gestão

fundiária 7.7.7.7. O projecto será transparente e difundirá as informações relativas ao

projecto e às indemnizações

8.8.8.8. Um mecanismo acessível e eficaz de gestão de disputas ao nível do projecto será desenvolvido para garantir uma resolução rápida das queixas/litígios

9.9.9.9. Minimização dos impactos sobre os bens comunitários e os lugares

sagrados/culturais/religiosos

10.10.10.10. O projecto identificará, dentro das populações afetadas, os indivíduos ou grupos vulneráveis e reconhecerá que têm necessidades

especiais e necessitam de medidas de protecção específicas

11.11.11.11. O projecto evitará dar início aos trabalhos de construção antes do fim das actividades de compensação e de reinstalação.

O desafio em termos de desenvolvimento A presença de um projeto mineiro têm o potencial de atuar como uma alavanca sobre o desenvolvimento económico da região de acolhimento.

Assim, antes do início de um projeto, é necessário analisar a cadeia de abastecimento, fazendo um inventário dos bens e serviços que vão ser úteis a este projeto durante as fases de execução, de exploração e, se for necessário, de encerramento, com o objetivo de tentar associar as iniciativas de desenvolvimento comunitário às atividades comerciais essenciais.

O facto de se conhecer, desde o início, a natureza e a quantidade de bens e de serviços necessários permite criar, oportunamente, possibilidades de desenvolvimento para as populações ou empresas locais. É possível elaborar e implementar programas de assistência técnica e financeira a pequenas e médias empresas de modo a que possam beneficiar das novas possibilidades comerciais geradas pela presença do projeto mineral.

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Plano de Desenvolvimento Comunitário A presença de um projeto de mineração é também uma oportunidade, para localmente beneficiar da construção e de equipamento de infraestruturas comunitárias, tais como: um centro de saúde, uma escola, um mercado coberto, uma igreja, uma mesquita, a eletrificação, água para consumo, emprego, atividades comerciais paralelas, etc. Estas realizações materializam-se, em parte, devido às compensações a fazer às populações pela Empresa para compensar os efeitos ou impactos (ruído, poeira, tráfego, etc.).

Outro potencial impacto positivo que os projetos de mineração podem ter é que as empresas de mineração em geral constroem numerosas infraestruturas (estradas, ferrovias, portos) que podem ser úteis para outras indústrias. É preciso contudo salvaguardar que por razões de custo, as empresas preferem usar e não partilhar as suas próprias infraestruturas.

Dado o número limitado de postos de trabalho requerido pelas novas tecnologias de mineração, estas empresas oferecem (voluntariamente, para cumprir com a legislação e ou evitar conflitos e prejudicar reputação) outras formas de compensação às pessoas afetadas pelo seu projeto. Estes benefícios entram no âmbito de programas de responsabilidade social das empresas, de desenvolvimento das infraestruturas locais, de fundações e do pagamento de impostos a nível mais local.

Por exemplo, o impacto social e económico das indústrias extrativas sobre as populações locais pode ser multiplicado se o promotor organizar e financiar programas de formação com o objetivo de aumentar o número de locais qualificados e capazes de estar envolvidos na mina em e outras indústrias relacionadas ou não. O efeito multiplicador poderá ser significativo se a empresa investir em programas de capacitação de PME locais vendendo os produtos (alimentos, principalmente) que a mina precisa.

Exemplo de Plano de Gestão Ambiental Apresentam-se seguidamente os principais itens de um plano de Gestão Ambiental geral, a implementar pelas empresas e inspecionar pelo Governo:

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Qualidade da água:

• Lagoas de retenção de efluentes • Cursos de água a jusante de escombreiras, lagoas, lamas e zonas de

aprovisionamento/transporte de minério • Águas subterrâneas ligadas aos mesmos locais (imediatamente abaixo, numa

zona circundante alargada e para jusante dos declives subterrâneos nos aquíferos, quando conhecidos)

• Captações domésticas circundantes

Qualidade dos solos e sedimentos: Amostragem de todas as

áreas onde são manipulados e/ou transportados, os minérios e os produtos usados na sua extração / transformação, e nas zonas a jusante, quer dos cursos de água superficiais, quer dos declives descendentes nos aquíferos.

Qualidade do ar: Poeiras, CO, CO2, S, NOx, Metais pesados, Fluoretos, etc.

Produção de ruído e vibração nas zonas onde

funcionam os equipamentos ruidosos e nas zonas de

detonação de cargas explosivas para desmonte:

• Ruido a que os funcionários estão sujeitos • Ruido ambiente nas imediações que podem ser algo longínquas quando se

trata de detonações • Ruido durante o transporte

Estabilidade das vertentes: Principalmente nas encostas remexidas,

nas escombreiras e nos aterros.

Estabilidade/segurança das infraestruturas e suas

bases/apoios/fundações: Poços, trincheiras, escavações.

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Algumas preocupações básicas em todas as fases do

ciclo mineiro (prospeção, exploração e encerramento

e remediação):

• Usar vedações em poços e trincheiras; selar os que estão fora de uso, mesmo que temporário,

• Morte de pássaros e outros animais nas lagoas, • Guardar o solo em escavações a céu aberto para depois o usar na

recuperação do local, • Separar os resíduos produzidos (de rocha ou lamas) para potenciais

aplicações diferentes, • Acidentes (animais e pessoas) de transporte do minério nas estradas

circundantes • Utilização de equipamentos de proteção para ruido, poeiras, gases, etc.,

consoante os tipos de trabalho feito, de minério extraído e de processamento mineral,

• Implementação de barreiras antirruído e anti poeiras, idealmente sob a forma de sebes de crescimento rápido.

• Impermeabilização das zonas de acumulação de resíduos sólidos com características poluentes, e das zonas de escorrência, descarga e lagunagem de efluentes, com posterior tratamento destes antes de os devolver ao ambiente.

Potencial de exploração extrativa da Guiné-Bissau e desenvolvimento De acordo com o Relatório da IF “Guiné Bissau: para além da castanha de caju” (English et al., 2010), historicamente nunca existiu na Guiné Bissau, atividade nos sectores das minas e petróleo, à exceção de pedreiras e alguma atividade artesanal.

De acordo com o Relatório Final de Avaliação de PME Mineiras (Vale, 2000), a Guiné-Bissau tinha, em 2000, cerca de 40.000 pessoas ocupadas na pequena mineração, dos quais cerca de 80% informais, desconhecendo-se o numero de PMEM existentes no país.

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Os trabalhos de prospeção conduziram à descoberta de jazigos consideráveis de bauxites, fosfatos e de petróleo. Várias outras empresas estão atualmente na Guiné-Bissau a avaliar o potencial de outros recursos prometedores. E nos últimos dez anos, algumas licenças de longo prazo foram assinadas nas zonas dotadas de bauxite e fosfato.

No que diz respeito ao fosfato, recentemente (em 2014) novos proprietários lançaram um estudo de viabilidade financeira para um projeto de mineração de grande dimensão que representaria o maior investimento jamais realizado na história da Guiné-Bissau. Os Termos de Referência desse projeto foram aprovados em Dezembro de 2015.

No sector petrolífero, diversos operadores efetuaram perfurações exploratórias na zona Norte. Foram descobertos óleos pesados, em quantidades relevantes, mas ainda têm de ser realizados testes para determinar se estes depósitos são exploráveis comercialmente. No Sul, as explorações realizadas com a Petroguin tiveram resultados promissores.

Impactos a nível macroeconómico: A nível macroeconómico, destaca-se o impacto financeiro que influenciaria fortemente o rendimento nacional, as receitas fiscais e as divisas estrangeiras na Guiné-Bissau.

Os cálculos sugerem que, se as minas de bauxita e fosfatominas de bauxita e fosfatominas de bauxita e fosfatominas de bauxita e fosfato da Guiné-Bissau estivessem em produção, as extrações poderiam representar entre:

• 13 a 26% do Produto Nacional Bruto (PNB), • 77 a 121% das receitas fiscais, • 90 a 102% de divisas estrangeiras.

As indústrias extrativas teriam potencialmente um impacto positivo sobre o emprego: embora se estime que 86% dos bens e serviços requeridos por essas duas minas viria do exterior, os cálculos indicam que estas poderiam criar cerca de 24.000 postos de trabalho, cálculo que não toma em conta os efeitos externos induzidos pela melhoria das infraestruturas (mobilidade, eletricidade).

A maioria dos postos de trabalho poderão contribuir com 2 a 10 empregos em indústrias de fornecimento de mineração para cada posto de trabalho numa mina. Ambas as minas de fosfato e bauxite, se desenvolvidas, provavelmente gastarão entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões por ano em bens e serviços, a maioria dos quais serão importados (86 % nas simulações acima).

Estas são estimativas conservadoras. O potencial para a economia da Guiné-Bissau e para seu povo é inegavelmente importante.

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No mesmo sentido, os depósitos petrolíferos do Sul, sozinhos, segundo alguns especialistas, poderiam produzir de 30 a 60.000 barris por dia, o que poderia trazer um ganho anual equivalente a 3 ou 4 vezes o PNB da Guiné Bissau, mas a sua exploração é ainda hipotética.

Uma parte substancial, e claramente definida, das receitas fiscais proveniente das indústrias extrativas poderia ser alocada ao orçamento do Estado a fim de assegurar o financiamento de programas de assistência social. Se fossem adequadamente orientados, estes programas de assistência social também poderiam ajudar a mitigar os potenciais impactos negativos dos projetos.

Contudo, o relatório IF (English et al., 2010) concluiu à altura, que se os jazigos descobertos ou a descobrir fossem da magnitude prevista, que as populações guineenses não estavam suficientemente preparadas para o choque económico daí resultante, a DGM carecia de financiamento para empreender trabalhos preparatórios sérios e as comunidades locais e Governo estavam ainda em pior situação, com falta de coordenação entre ministérios.

Como já referido, e de acordo com o Relatório de Balanço da Guiné-Bissau, para a Cimeira Rio +20 (2012), a lei das minas e pedreiras, elaborada em 2000, foi atualizada em meados de 2011, tendo sido elaborados diversos documentos. Entre eles, o código mineiro e o regulamento técnico da lei das minas e pedreiras.

Realizaram-se em 2010 várias atividades relacionadas com a atividade mineira em geral:

• Uma Conferência sobre as industrias extrativas e o desenvolvimento durável com o objetivo de reforçar o diálogo institucional entre o Governo, as organizações da Sociedade Civil, as comunidades que habitam as zonas de exploração e as empresas mineiras

• O Ministério da Energia e Recursos Naturais e o Grupo de Trabalho sobre o Petróleo e outras Industrias Extrativas (GTP-IE) assinaram um Memorandum de Entendimento com o intuito de promover as boas práticas sociais e ambientais no desenvolvimento do sector.

• Foi promulgada a Lei da Avaliação Ambiental e Social e elaborado um guia para o sector das minas e pedreiras.

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Foi também estabelecido um Fundo de Mineração, com o Foi também estabelecido um Fundo de Mineração, com o Foi também estabelecido um Fundo de Mineração, com o Foi também estabelecido um Fundo de Mineração, com o objetivo de mitigar os efeitos da exploração mineira sobre o objetivo de mitigar os efeitos da exploração mineira sobre o objetivo de mitigar os efeitos da exploração mineira sobre o objetivo de mitigar os efeitos da exploração mineira sobre o

ambiente e reforçar a capacidade institucional.ambiente e reforçar a capacidade institucional.ambiente e reforçar a capacidade institucional.ambiente e reforçar a capacidade institucional.

Não obstante as várias iniciativas lançadas pelo Governo para promover o aproveitamento dos recursos minerais, com capital estrangeiro, o desenvolvimento deste sector enfrenta ainda grandes desafios, nomeadamente:

• Dificuldade em aplicar as disposições legais em matéria de salvaguarda social e ambiental;

• Dificuldade em mobilizar os investimentos necessários; • Fraca capacidade nacional em matéria de negociação; • Fraca utilização de instrumentos jurídicos para proteger os interesses do

país e controlar o impacto ambiental da mineração.

Também em 2011 foi elaborada a Lei de Bases do Ambiente, que estipula a obrigatoriedade legal de todos os investimentos públicos e privados serem sujeitos a uma avaliação ambiental, sob a supervisão do CAIA, instituição criada para o desenvolvimento de instrumentos reguladores que incorporem os custos ambientais e sociais nos processos de tomada de decisão, relacionados com o desenvolvimento.

Nesta sequência foi criada a Estratégia para as áreas protegidas, um banco de dados sobre espécies animais e vegetais no país, foram elaboradas leis como a Lei-quadro das Áreas Protegidas e criadas diversas áreas protegidas, que cobrem 15% do território nacional. Dentre estas áreas protegidas as que têm maior importância são o Parque de João Vieira e Poilão (Dádiva da Terra) e o Arquipélago dos Bijagós (Reserva de Biosfera da UNESCO).

Foi também criada a Fundação BioGuiné que visa o estabelecimento de um mecanismo sustentável de ações de conservação da natureza, e foram assinadas e ratificadas diversas convenções e acordos em matéria de proteção ambiental e desenvolvimento sustentável. No entanto, a gestão destas a nível nacional tem sido feita de forma dispersa e desorganizada o que levou ao incumprimento de algumas responsabilidades e deveres do Governo, como o pagamento de quotas e a produção sistemática de relatórios nacionais.

De acordo com o Memorandum Económico do País da Guiné Bissau “Terra Ranca! A fresh start” (Hanusch et al., 2015), a Guiné Bissau teve em 2014, as eleições mais livres e justas de sempre, na história do país.

O mesmo memorandum refere que a lei mineira de 2010 contem a maioria dos elementos que os investidores procuram: segurança dos direitos de propriedade estrutura fiscal previsível, estável e relativamente generosa, a possibilidade transferência de propriedade e de repatriar os lucros.

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O principal inconveniente é que os direitos de prospeção são dados pelo ministro do sector, que tem 60 dias para tomar uma decisão. Os royalties vão de 2% (bauxite, minérios de ferro) a 5% (minerais preciosos) e 7% (uranio), sendo a maioria dos outros minerais avaliados em 3%, o que é comparável com os valores de royalties no resto do mundo. Para além do exposto, existe uma isenção de pagamento de impostos durante os primeiros 3 anos, quando a produção efetiva tem início, o que significa que muitas empresas podem chegar a estar 5 ou 6 anos sem pagar impostos.

As principais fraquezas da nova lei mineira de 2010, tal como nas suas predecessoras, estão relacionadas com o aumento dos benefícios socioeconómicos locais e nacionais, provenientes das operações mineiras. Embora seja necessária a avaliação de impacto ambiental, não há menção dos impactos sociais, do emprego de trabalhadores locais e regionais e o emprego e formação de pessoal nacional está limitado ao capítulo 4, o mais pequeno da lei, que contem apenas 3 frases vagas no que se refere às obrigações das companhias. A descrição do que deve ser incluído num contrato de exploração mineira, não inclui qualquer referência ao emprego, formação, ou desenvolvimento comunitário. No entanto, é um requisito para a obtenção de autorização, que a empresa inclua um programa social para cidadãos nacionais, que refere a contratação, a formação profissional, as condições de trabalho, habitação, escolas e assistência médica para os empregados e respetivas famílias.

A única referência ao fornecimento local diz que este deve ser usado se for competitivo. Não há referência à formação ou aumento de contratação local com o tempo. Também não há qualquer menção na lei, a ligações a montante e a jusante. Há também muito pouco acerca de desenvolvimento das comunidades locais na lei, apenas havendo uma curta referência ao remanescente do Fundo Mineiro Nacional, após a DGGE custear todas as suas obrigações, que deve ser usado em projetos de desenvolvimento sustentável na região da mina. O programa social é para cidadãos nacionais e não dá preferência especial às comunidades locais, e de facto, para quem não trabalha na mina não há qualquer tipo de acesso ao programa de saúde e educação.

A lei da Guiné-Bissau infelizmente, não regula os deveres das empresas de mineração sobre iniciativas de desenvolvimento para benefício das populações vizinhas. Por exemplo, a legislação em vigor na Guiné Conacri vai mais longe ao exigir que a empresa assine com as comunidades vizinhas uma “Convenção de Desenvolvimento” que estipula a natureza e o valor dos edifícios e equipamentos que se compromete a executar, o conteúdo dos programas de desenvolvimento que vai implementar e o fundo de desenvolvimento local que criará.

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Em suma, o enfoque da nova lei mineira está principalmente nos primeiros 2 ou 5 estádios da cadeia de valor da indústria mineira, visando o aumento do investimento e a melhoria da capacidade de monitorização e regulamentação desse investimento.

Mesmo com uma melhor lei mineira, o sector enfrenta ainda problemas significativos, visto que a DGGM tem muito poucos recursos, todo o seu equipamento foi destruído na guerra civil e os seus 10 profissionais foram deixados sem os recursos necessários.

No entanto a situação tem vindo a melhorar, visto que o Governo da China construiu novos edifícios modernos para os escritórios centrais do Ministério dos recursos Naturais (e outros ministérios), o Governo da Roménia comprou equipamento para digitalização das cartas geológicas e computadores para toda equipa, estando entretanto a fornecer a devida formação para a sua utilização, e o Banco Mundial vai lançar/lançou um programa de assistência de grande envergadura (US$3,1 milhões) para modernizar a DGGM e simultaneamente os processos, equipamentos e capital humano (Hanusch et al., 2015).

As implicações em termos de políticas públicas distribuem-se por 5 áreas principais de preocupação Governamental, no sentido de desenvolver as indústrias extrativas:

• Políticas de motivação das empresas no sentido de desenvolver a prospeção e a exploração;

• O país receber uma parte justa dos rendimentos provenientes dos recursos naturais e estes rendimentos serem geridos de forma transparente;

• Os recursos serem explorados de forma ambientalmente correta; • Crescente e significativo número de ligações provenientes do

desenvolvimento; • As comunidades locais receberem uma parte justa dos benefícios em

compensação por serem os seus hospedeiros.

O memorandum sugere algumas iniciativas importantes que o Governo da Guiné Bissau deveria levar a cabo:

• Investimento em infraestruturas que gerem ligações entre potenciais fornecedores e minas e para que haja uma adequada provisão de energia;

• Aumento das capacidades do Governo no sentido de obrigar as empresas mineiras de forma eficiente, para maior benefício do país e para garantir que os rendimentos fiscais são investidos de forma a melhorar a saúde nacional;

• Agências como o CAIA devem ter recursos adequados para conseguirem fiscalizar e obrigar ao cumprimento das obrigações sociais e ambientais, incluindo fundos para formação de inspetores e especialistas ambientais;

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• Uma parte significativa e bem definida dos rendimentos fiscais provenientes do sector devem suportar o orçamento de garantia de financiamento de programas de assistência social autónomos em termos orçamentais;

• A maior parte dos empregos para pessoal com baixas qualificações deve ser dado a membros qualificados das comunidades locais, e incluir o ensino da literacia mínima;

• As empresas mineiras devem envidar esforços, incluindo programas de formação e aprendizagem, no sentido de aumentar o número de empregados locais em trabalhos que requeiram mais qualificações, e melhorar a capacidade das PME’s locais venderem bens e serviços à mina. O Governo também pode implementar programas vocacionais de formação, suportados por doações com enfoque no sector mineiro;

Em geral, as obrigações das companhas mineiras e do Governo nacional relativamente às populações locais, ganham em ser melhor definidas e incluir mecanismos de participação pública, para discussão de assuntos importantes, como reassentamentos, emprego, formação, etc.:

• Deve ser instalado um sistema de mediação das disputas inevitáveis; • A lei deve prever um espaço para a sociedade civil aceder e monitorizar

os desempenhos ambiental e social das operações; • Considera-se obrigatória a existência de uma segurança financeira

providenciada pelas operações de média e larga escala, no sentido de garantir o pagamento de reclamações ambientais e sociais;

• A longo prazo é importante providenciar um enquadramento para poupanças provenientes dos rendimentos fiscais, potencialmente através de um fundo soberano.

Em suma, existem vários exemplos de países em que a grande maioria da população não só não beneficiou com a exploração, mas ficou ainda pior após a descoberta e exploração de depósitos minerais de grande dimensão. Por isso, as políticas e programas devem ser implementados e controlados ao longo do processo de exploração mineira para assegurar que os benefícios da exploração dos recursos sejam partilhados e que as oportunidades de desenvolvimento que a acompanham sejam atingidas.

Além disso, dada a elevada dependência da maioria da população da Guiné-Bissau da agricultura e das pescas, é essencial que o impacto ambiental de todas as infraestruturas de mineração seja minimizado e confinado à área de impacto do projeto, com procedimentos de restituição das terras durante a exploração e no fim do ciclo, após o encerramento e reabilitação adequadas.

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Concluindo, a exploração destes recursos não irá gerar um desenvolvimento socioeconómico sustentável a menos que sejam implementadas políticas e programas para assegurar a “qualidade” do referido desenvolvimento. Acresce que o desenvolvimento que se pretende para a Guine Bissau, podendo ser suportado pela exploração dos recursos mineiros, precisa de se fazer em equilíbrio com os restantes e valiosos recursos da biodiversidade e os serviços que os múltiplos ecossistemas podem fornecer ao país na sua totalidade.

Referências English, P., Kyle, S., Correia, C., Kreuzwieser, E., McMahon, G., Có, V., Mendes, H., Schalken, W., Jaquite, M., Spencer, D., Djata, R., Tenreiro, J., Sami, M. D., van Leeuwen, J.-H., De Almeida, J., 2010, Guiné-Bissau, Para além da Castanha de Caju: diversificações através do comércio, Estudo do Diagnóstico de Integração do Comercio para o Melhoramento do Quadro Integrado Assistência Técnica para os Assuntos do Comercio Internacional, Quadro Integrado (IF) para a Assistência Técnica aos Países Menos Desenvolvidos na Área do Comércio, Agencias participantes: FMI, ITC, CNUCED, Banco Mundial e MC.

Hanusch, M., Sedogo, L., Graftieux, P., Foch, A., Virdin, J., Bila, A., Prince, B., Hoffman, B., Hansen, k., Brintet, E., Leitão, F. M., fernandes, E., Edmundson, H., McMahon, G., Weedon, E., Coudouel, A., Edgar, F. D., 2015, Guinea-Bissau Country Economic Memorandum – “Terra Ranca! A fresh start”, Global Practice: Macroeconomics & Fiscal Management.

International Institute for Environment and Development (IIED), Equipe MMSD América do Sul, 2002, “Mineração, Minerais e Desenvolvimento Sustentável na América do Sul – Sumário Executivo”, World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), ISBN: 9974-7687-3-X.

Vale, Eduardo, 2000. Análise económica das pequenas e médias empresas de mineração (PMEM), Serviço Geológico do Brasil – CPRM, Diretoria de Geologia e Recursos Minerais, Departamento de Recursos Minerais, Divisão de Economia Mineral, Brasília.

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Este guia foi preparado por:

• Serge Cogels • Idalina Dias Sardinha, investigadora do SOCIUS ISG, Universidade de

Lisboa • Maria João Sacadura

E desenhado pela CESO Development Consultants.

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Filipa Araújo

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CESO Development Consultants

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