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ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS Uma visão teórica e prática de como administrar de forma eficiente e segura ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS Eventos adversos pós- -vacinação – Como identificá-los e notificá-los PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO EM IMUNIZAÇÃO 3 o

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ADMINISTRAÇÃO DE VACINASUma visão teórica e prática de como administrar de forma efi ciente e segura

ADMINISTRAÇÃO DE VACINASEventos adversos pós--vacinação – Como identifi cá-los e notifi cá-los

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃOEM IMUN IZAÇÃO

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ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS

Uma visão teórica e prática de como administrar de forma efi ciente e segura

A prática de administração de

medicamentos via injeções

tem sido um papel dos

profi ssionais de enfermagem

durante mais de meio século, e

a atualização permanente nas

técnicas de injeção é a melhor

forma de garantir uma prática

segura.

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É comum os procedimentos serem ensinados em apenas uma ocasião, durante a gradua-

ção, sem sua revisão permanente, resultando em má prática e no aumento dos eventos in-

desejados. Hábitos e costumes estabelecem-se na prática diária dos profi ssionais, sem uma

visão crítica de como esses procedimentos estão sendo executados.

As vacinas podem ser aplicadas pelas vias intramuscular, subcutânea, intradérmica e oral,

sendo a via intramuscular e a subcutânea as mais utilizadas. Para uma aplicação correta, é

necessário que se observem alguns aspectos, entre eles: a composição, a apresentação da

vacina, a via e o local de administração recomendados e a escolha correta da agulha.

A administração adequada do imunobiológico é um componente crítico para uma vacina-

ção bem-sucedida, sendo importante garantir técnicas de administração seguras e seguir os

"sete certos" da administração:

» Pessoa certa a ser vacinada;

» Momento certo (incluindo a idade e o intervalo corretos de aplicação, bem como o tem-

po de validade do produto/data);

» Vacina e diluente certo;

» Dosagem certa;

» Preparo e administração certos (incluindo local, escolha correta da agulha e técnica);

» Registro certo;

» Orientações certas.

É de responsabilidade dos profi ssionais de enfermagem o cumprimento das práticas de

aplicação de vacinas seguras, bem como o controle de infecções. Considera-se injeção se-

gura de vacina aquela que:

» Não causa dano ao vacinado;

» Não expõe o vacinador a qualquer risco evitável;

» Não resulta em resíduo que seja perigoso aos profi ssionais, outras pessoas e ao ambiente.

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Práticas de segurança na vacinação: controle de infecção

Higiene das mãosA higiene das mãos é um procedimento de fundamental importância, que necessita ser rea-

lizado antes de cada administração e deve ser repetido ao fi nal de toda a aplicação. As mãos

devem ser lavadas sempre com sabão e água corrente quando as mãos estiverem visivel-

mente sujas. Quando as mãos não apresentarem sujidade visível, a higiene pode ser feita com

uma solução antisséptica sem água, à base de álcool – o mais usado é o álcool glicerinado a

70% – antes da administração de cada vacina. A higiene das mãos é realizada antes e depois:

» Da administração de cada vacina;

» Do manuseio dos materiais, das vacinas;

» De qualquer atividade executada na sala de vacinação.

Para uma correta higiene das mãos, é necessário:» Antes de iniciar a higiene das mãos, retirar joias, como anéis e pulseiras pois alguns mi-

croorganismos ou sujidades podem fi car acumulados sob esses objetos.

Importante, também, manter as unhas curtas para evitar acidentes e acúmulo de sujidades.

Uso de luvasDe acordo com as normas e as recomendações internacionais atuais e do Ministério da Saú-

de do Brasil, o uso de luvas não é necessário, a não ser que o profi ssional de saúde tenha

lesões abertas nas mãos, o que fará que entre em contato com líquidos potencialmente infec-

ciosos. Cabe enfatizar que o uso de luvas, quando indicado, não substitui a lavagem das mãos.

Se as luvas forem utilizadas, deverão ser trocadas a cada paciente. Recomenda-se a lavagem

com sabão comum ou antissepsia com álcool glicerinado a 70%.

As luvas NÃO protegem contra a picada de agulha ou contra outras lesões devidas à perfu-

ração por material perfurocortante. Agulhas devem ser manuseadas com extremo cuidado.

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Uso de antissépticoA necessidade ou não da antissepsia da pele na administração de injeções tem sido objeto

de estudos há muito tempo, principalmente em relação ao preparo da pele antes da aplica-

ção de insulina. Vários trabalhos têm evidenciado a não necessidade dessa prática.

As recomendações atuais do Manual de Procedimentos para Vacinação do Ministério da

Saúde do Brasil, da Organização Mundial da Saúde e de alguns países são de que a antis-

sepsia da pele antes da administração de vacinas não é necessária. O preparo do local

de aplicação pode ser limpo com água e sabão se houver sujeira perceptível.

Quanto a utilização de antissépticos, deve ser feita de maneira correta, de acordo com as

recomendações do fabricante. Dentre os antissépticos disponíveis para a antissepsia da pele,

o álcool etílico a 70% é o que apresenta maior segurança e efi cácia, com melhor custo-bene-

fício, baixa toxicidade, facilidade de aquisição, aplicação e evapora rapidamente.

Segundo as orientações práticas sobre preparo da pele e desinfecção que constam no Best

practices for injections and related procedures toolkit (WHO, 2010), deve-se proceder da seguin-

te forma:

Limpar a área com solução de álcool etílico ou isopropílico entre 60% e 70%, a partir do

centro para o exterior do local em que será aplicada a vacina;

» Aplicar a solução por 30 segundos;

» Aguardar no mínimo 15 segundos após a solução estar em contato com a pele;

» Esperar secar.

NÃO manter algodão com álcool em recipiente previamente – pelo elevado risco de conta-

minação do material pelos microrganismos tanto das mãos quanto do ambiente.

Uso de dispositivo de segurançaO conhecimento e a aplicação das regras defi nidas na Norma Regulamentadora de Seguran-

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ça e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde, publicada pelo Ministério do Trabalho

e Emprego (MTE), promove um ambiente de trabalho mais seguro.

Segundo estudos, 41% dos acidentes com perfurocortante ocorre após seu uso e antes de

seu descarte; por esse motivo, utilizar insumos (agulhas e seringas) com dispositivo de segu-

rança é uma forma de proteção ao profi ssional de saúde.

O profi ssional deve conhecer a utilização correta do dispositivo para garantir que o disposi-

tivo exerça sua função esperada, que é evitar que o profi ssional se perfure com um material

contaminado.

Cuidados com o resíduo das atividades de vacinação

O material utilizado na sala de vacina deve ser acondicionado e descartado conforme

as normas vigentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Conselho

Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Destacamos alguns aspectos fundamentais, tais como:

» Acondicionar na caixa para descarte de materiais perfurocortantes os resíduos espe-

ciais, como seringas e agulhas descartáveis usadas;

» Utilizar a caixa de material perfurocortante até completar dois terços de sua capacida-

de, independentemente do número de dias de trabalho;

» Colocar os recipientes coletores para o descarte de material perfurocortante próximo

ao local em que é realizado o procedimento;

» NUNCA REENCAPAR, ENTORTAR, QUEBRAR OU RETIRAR MANUALMENTE AS AGULHAS

DAS SERINGAS.

O resíduo das atividades de vacinação é caracterizado como perigoso (infectante) e/ou

comum.

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São considerados resíduos perigosos:» Material biológico;

» Sobras diárias de imunobiológicos ou produtos que sofreram alteração de temperatura ou

com prazo de validade vencido;

» Resíduos perfurantes, agulhas, ampolas de vacinas e seringas descartáveis;

» Os demais resíduos são considerados comuns e podem ser potencialmente reciclados, re-

presentando cerca de 80% a 90% do resíduo produzido nas atividades de vacinação.

Observações» O resíduo perigoso, por conta de sua composição, recebe cuidados especiais na separação,

no acondicionamento, na coleta, no tratamento e no destino fi nal.

» Esse resíduo deve ser devidamente identifi cado e separado dos resíduos comuns, além do

tratamento dos resíduos perfurantes e infectantes.

» A unidade é responsável por garantir, conforme determina a Resolução da Anvisa, RDC

306/2004, que os resíduos resultantes de atividades de vacinação com microrganismos vivos

ou atenuados, incluindo frascos de vacinas com expiração do prazo de validade, com con-

teúdo inutilizado, vazios ou com restos do produto, sejam submetidos a tratamento antes da

disposição fi nal.

» As sobras diárias de vacinas atenuadas (BCG, sarampo, caxumba, rubéola, varicela, febre ama-

rela, rotavírus, poliomielite oral), ou as que sofreram alteração de temperatura, ou que estão

com prazo de validade vencido constituem material biológico infectante e, por isso, devem

receber tratamento prévio antes de serem desprezados.

» Pela Resolução Anvisa 306/2004 (Apêndice IV: Níveis de Inativação Microbiana), o tratamento

consiste na aplicação de método, técnica ou processo que modifi que as características dos

riscos inerentes aos resíduos, reduzindo ou eliminando o risco de contaminação, de aciden-

tes ocupacionais ou de danos ao meio ambiente.

» Para proceder ao tratamento dos imunobiológicos considerados resíduos infectantes: colo-

car os frascos fechados na autoclave, durante 15 minutos, a uma temperatura entre 121ºC e

127ºC. Na falta de autoclave, colocar os frascos em estufa, por duas horas, a 170ºC.

» O tratamento pode ser realizado, preferencialmente, na própria unidade geradora, ou ainda,

ser realizado em outro serviço para posterior descarte com o lixo hospitalar.

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Boas práticas no cuidado antes da administração de vacinas

» Perguntar ao responsável (ou ao próprio indivíduo) se a criança está bem, a fi m de saber

a situação de saúde da criança ou do indivíduo no momento da vacinação e confi rmar o

nome que consta no cartão. Se for o caso, confi rmar o nome da mãe ou mesmo outros

dados que possam lhe auxiliar na identifi cação do paciente.

» O profi ssional deve estar atento a possíveis informações que o responsável possa mencio-

nar, mesmo sem ser questionado, bem como estar apto a responder de forma segura aos

questionamentos relacionados às vacinas utilizadas, assim como a seus eventos adversos

esperados ou não.

» Prestar orientações referentes à(s) vacina(s) a ser(em) administrada(s).

» Obter a história completa de imunização, em todas as visitas.

» Observar com atenção o cartão vacinal e selecionar as vacinas a serem administradas de

acordo com a faixa etária, o calendário vacinal e a situação de saúde específi ca.

» Informar ao paciente, ou seu responsável, quais vacinas serão administradas no momento,

e quais as doenças que protegem.

» Avaliar as contraindicações e as precauções antes de administrar qualquer vacina.

» Orientar sobre os benefícios e os riscos das vacinas e os riscos de doenças evitáveis por

vacinação; esclarecer dúvidas.

» Certifi car-se de que a cadeia de frio foi efetiva.

Boas práticas no preparo das vacinas

Os imunobiológicos podem ser apresentados sob a forma líquida ou liofi lizados. Nos casos

dos liofi lizados, a reconstituição é necessária e deve ser feita com o respectivo diluente que

acompanha o produto. O diluente não deve ser substituído por soro fi siológico, água destila-

da ou diluente de outro fabricante, mesmo de vacina semelhante.

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Os passos a serem observados no adequado manuseio das vacinas são:

» Examinar o imunobiológico no início do trabalho e durante o preparo em cada adminis-

tração (condições do frasco, aspecto da vacina, presença de corpos estranhos e data de

validade); frascos com rótulos danifi cados não devem ser utilizados;

» Ficar atento aos rótulos, em especial, à nomenclatura e as siglas das vacinas por exemplo,

(dTpa é diferente de DTPa), à validade e à aparência dos frascos. Muitos frascos apresentam

muitas semelhanças, podendo induzir a erros;

» Certifi car-se de que a vacina está sendo reconstituída com o diluente correto;

» Aspirar todo o diluente;

» Injetar lentamente no frasco com a vacina liofi lizada;

» Homogeneizar a solução fazendo um movimento rotativo, lento e suave, sem criar espu-

ma. Proceder à homogeneização sempre antes de aspirar cada dose a ser aplicada, mesmo

aquelas já na forma líquida ou em seringas previamente preenchidas. Nas vacinas com sais

de alumínio, em especial, como as vacinas que contêm hidróxido ou fosfato de alumínio

como adjuvante (p. ex., DPTa, DPT, DPT-Hib, dT, TT e hepatite B, etc.), para conseguir-se a

homogeneização dos diferentes componentes, a agitação deve ser suave, sem formação

de bolhas. Evitam-se, assim, reações locais, como dor e formação de nódulo ou mesmo

abscesso frio;

» Não retirar com antecedência as tampas dos frascos da vacina. Caso isso aconteça, a vacina

deverá ser desprezada. Nessa situação, não é possível garantir que o frasco não tenha sido

perfurado;

» Frascos multidoses exigem mais atenção, pois manipulação e/ou preparo inadequado

podem levar à contaminação ou comprometimento do conteúdo. Os frascos multidoses,

após a primeira manipulação, apresentam soluções de continuidade com o meio exterior

portanto, nunca devem permanecer imersos em água, devendo estar sempre limpos e

secos. Quando transportados, deve-se tomar cuidado para que não ocorra contato direto

com a bobina de gelo;

» Antes da aspiração de cada dose, proceder à limpeza da tampa de borracha com algodão

seco submetendo o frasco a movimentos de rotação para homogeneização. Nos frascos

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multidoses, a cada aspiração, deve-se perfurar a tampa de borracha em pontos diferentes

evitando-se a parte central;

» Não aspirar frascos diferentes na mesma seringa para completar doses;

» As vacinas devem ser reconstituídas e aspiradas imediatamente antes da administração.

Múltiplas doses de vacinas não devem ser aspiradas e armazenadas evitando riscos de

contaminação e comprometimento do componente vacinal por interação com os políme-

ros da seringa.

Cuidados durante a administração de vacinas

As vacinas podem ser administradas via oral (VO), intramuscular (IM), subcutânea (SC) e

intradérmica (ID). O esquema vacinal atual é composto de várias vacinas, resultando em, no

mínimo, 20 aplicações de injeções até os dois anos de vida. O número de picadas gera des-

conforto não só em crianças mas também em seus pais, adolescentes e adultos. Acolher e

orientar a família ou a pessoa que receberá a vacina é um ato fundamental para ajudar nesse

momento de ansiedade, auxiliando na adesão.

Estratégias simples para facilitar o processo de vacinação:» Ter atitude positiva (por meio de expressões faciais e de linguagem);

» Ser acolhedor e inspirar confi ança;

» Usar uma voz suave, calma e fazer contato visual;

» Ser honesto sobre o que esperar por exemplo, não diga que não vai doer.

Posicionamento e restrição reconfortante:» Incentivar os pais ou o responsável a segurar a criança (orientando-os quanto a melhor

forma de ajudar) para que a vacina seja administrada com segurança;

» Realizar a vacinação, preferencialmente, com a pessoa sentada.

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Esteja atento aos sinais que precedem a síncope (desmaio) iminente:» Palidez;

» Sudorese;

» Tremores;

» Medo.

Caso a pessoa desmaie, preste cuidados, fornecendo apoio e protegendo de lesões. Obser-

var (sentado ou deitado) durante pelo menos 15 minutos após a vacinação.

Embora a dor da aplicação das vacinas seja, até certo ponto, inevitável, há algumas estraté-

gias que os pais e os profi ssionais podem utilizar para minimizar essa situação, trabalhando

para oferecer uma vacinação segura e o menos estressante possível:

› Os pais ou os responsáveis devem ser instruídos sobre como ajudar. A orientação do

agente de saúde, nesse momento, é fundamental para assegurar a compreensão de que

a vacina será administrada com segurança;

› Inicie a vacinação com as vacinas orais, seguidas das parenterais, acompanhando a ordem

das vacinas menos doloridas para as mais doloridas;

› Sempre que possível, sugira à mãe que amamente no momento da vacinação, principal-

mente para as crianças menores de seis meses.

A administração de vacinas em locais não indicados ou inadequados pode comprometer a

ação imunogênica da vacina. O profi ssional deve estar seguro, conhecer a técnica, as regiões

anatômicas para cada tipo de vacina, sabendo avaliar as condições do tecido e a escolha cor-

reta da agulha a ser utilizada.

É importante preparar a criança, o adolescente ou o adulto antes da aplicação de uma vacina. No caso das crianças, principalmente aquelas de até dois anos, que possuem um esquema vacinal extenso, uma orientação adequada aos pais pode contribuir para o sucesso na realização não só do procedimento de vacinação, como também de todo o esquema vacinal. A orientação aos pais deve incluir: a importância da vacina, as doenças prevenidas pelo produto a ser usado e os possíveis eventos adversos. Seja claro com relação aos procedimentos e sensações que a aplicação pode provocar, mesmo com as crianças. Utilize técnicas de distração, como brinquedos por exemplo, se necessário.

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Vias, locais e técnicas de administração

Como foi dito anteriormente, diversas vias podem e são utilizadas para a administração de

vacinas e outros imunobiológicos. A via a ser utilizada é defi nida, principalmente, pelo imu-

nobiológico a ser administrado.

Via oral (VO)No caso de produtos com apresentação em dose única, a administração deve ser diretamen-

te na boca da criança. Quando a apresentação for multidose, deve-se tomar cuidado para não

contaminar o aplicador por meio do contato com a mucosa oral.

Administração VOAo realizar a vacinação contra rotavírus, por exemplo:

» Realizar no colo dos pais, na posição de amamentação;

» Colocar a ponta do aplicador na boca da criança, direcionada para face interna da boche-

cha;

» Aplicar lentamente, evitando contato direto com a garganta, buscando contato do vírus

vacinal com a mucosa oral e diminuindo a possibilidade de regurgitação, até que o aplica-

dor esteja esvaziado;

» Não repetir a dose de vacina contra o rotavírus se a criança regurgitar, cuspir ou vomitar

durante ou após a administração. Mesmo nessa situação, a dose administrada é conside-

rada válida.

Quando forem aplicadas várias vacinas em um mesmo momento, iniciar a administração

pelas vacinas orais, em geral, antes de administrar injeções ou realizar outros procedimentos

que possam causar maior desconforto.

Via intradérmica (ID)A administração ID vem ganhando importância nos últimos anos. A concentração de células

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dendríticas, ou seja, células que reconhecem os antígenos consideradas, “linha de frente”,

do sistema imune, é elevada na derme, o que melhora a resposta do sistema imune, permi-

tindo uma redução na quantidade de antígenos na composição vacinal com consequente

redução no custo da vacina e nos efeitos adversos.

Administração (ID)» Sugerir ao vacinador que use óculos de proteção;

» Escolher o local de aplicação. No Brasil, o local padronizado para a vacina BCG é a inser-

ção do deltoide no braço direito. Caso não seja possível, eleger um novo local e fazer o

registro do local escolhido;

» Utilizar seringa específi ca para BCG. Deve-se utilizar seringa de 1 mL, com graduação de

0,1 mL e com agulha de bisel curto;

» Segurar fi rmemente o local, estender levemente a região a ser utilizada para aplicação

com o dedo indicador e polegar da mão não dominante;

» Introduzir o bisel voltado para cima até que ele desapareça;

» Injetar o líquido devagar, mesmo que sinta resistência. Observar a formação de uma

pápula esbranquiçada, após introduzir a vacina;

» Retirar lentamente a agulha e não comprimir o local;

» Orientar sobre as reações esperadas, reforçando que não se deve colocar pomadas ou

cremes e bem como, não se deve realizar compressas frias ou quentes.

Via subcutânea (SC)A via SC é geralmente empregada para as vacinas de vírus atenuados, como sarampo,

rubéola, caxumba, varicela e febre amarela. Devem ser evitados locais em que as estruturas

ósseas estejam mais próximas da camada subcutânea, como nas protuberâncias ósseas.

Administração (SC)» Escolher o local de aplicação. Tradicionalmente, a região posterior do braço é a mais

utilizada;

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» Utilizar agulha curta de 13 x 4,5, em ângulo de 90° para adultos e 45° e 60° para crianças;

» Realizar uma “prega” utilizando dois dedos, evitando o levantamento da fáscia muscular;

» Injetar lentamente, cerca de 10 segundos por mL. Uma vez introduzida a vacina, deve-se

esperar 10 segundos antes de retirar a agulha;

» Retirar a agulha com um movimento suave, contínuo e fi rme;

» Aplicar uma compressão com algodão seco;

» Não se recomenda aspiração, antes de injetar a vacina, e não massagear para evitar rea-

ções locais e hematomas.

Via intramuscular (IM)A via IM é, sem dúvida, aquela que suscita maiores dúvidas e levanta maiores polêmicas. A

região do glúteo é contraindicada, e a origem dessa orientação baseia-se em estudos anatô-

micos que mostram o risco de lesão do nervo ciático e no fato de que, em crianças que ainda

não andam, a musculatura glútea não é desenvolvida. A região das nádegas é constituída

essencialmente de tecido adiposo, o que pode levar a uma absorção inadequada em adultos.

Os locais selecionados devem estar distantes dos grandes nervos e vasos sanguíneos, sendo

os mais utilizados o músculo vasto lateral da coxa e o músculo deltoide. Uma alternativa é

a região ventroglútea, cujo uso não é muito comum no Brasil, mas apresenta-se como uma

opção interessante pela ausência de estruturas nervosas passíveis de serem lesadas, sendo

uma via segura e recomendada pelo Centers for Disease Control and Prevention(CDC) e pelo

Handbook da Austrália para administração de vacinas. É importante que os profi ssionais que

optarem por esse músculo estejam familiarizados com os marcos anatômicos utilizados para

identifi cá-lo. Estudos de reatogenicidade e imunogenicidade das vacinas dadas nesse local

são comparáveis às vacinas aplicadas no músculo vasto lateral da coxa.

Administração IMIndependentemente do local escolhido para aplicação, a frequência de eventos adversos

especialmente, as reações locais, depende da técnica da aplicação, do preparo adequado da

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vacina a ser aplicada e da escolha adequada da agulha. Quanto à técnica de aplicação, o

emprego da técnica em Z, o adequado posicionamento do indivíduo e o relaxamento do

músculo escolhido são fundamentais.

Escolha da agulha para aplicação IMO comprimento da agulha e a profundidade do tecido estão ligados aos eventos ad-

versos locais, principalmente em pessoas obesas. A massa muscular do paciente deve ser

avaliada para possibilitar a escolha da agulha adequada, considerando o comprimento das

agulhas, visando à garantia de introdução do medicamento no local e profundidade corretas.

A agulha deve ser escolhida tendo em vista a espessura da camada subcutânea e a distância

entre a pele e as estruturas ósseas subjacentes. O ângulo de aplicação deve ser adequado ao

tamanho da agulha. A cada aplicação, deve ser feita uma avaliação individual para defi nir qual o

tamanho da agulha ideal. De modo geral, no vasto lateral, utilizam-se agulhas de 16 mm, 20 mm

ou 25 mm; para o deltoide, 16 mm a 32 mm. No glúteo e ventro glúteo, 25 mm a 38 mm são os

tamanhos mais indicados.

Técnica em ZDesde 1986, a técnica de injeção IM em Z é descrita como uma técnica que diminui signifi ca-

tivamente a incidência de desconforto e de lesões relacionadas às reações locais pós-injeção.

Consiste em realizar uma tração aplicada à pele e aos tecidos subcutâneos antes da inserção

da agulha e depois liberá-la após a retirada da agulha. Dessa forma, a rota da injeção superfi -

cial do músculo fi ca deslocada da rota profunda do músculo, selando a medicação no local,

não havendo, portanto, retorno do líquido para o subcutâneo, diminuindo a dor e a incidência

de lesões.

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Descrição da técnica em Z:1. Puxar a pele e o tecido subcutâneo 2 cm a 3 cm;

2. Inserir a agulha em ângulo de 90°, rápida e fi rmemente;

3. Injetar o líquido lentamente, cerca de 10 segundos por mL injetado;

4. Aguardar 10 segundos por mL injetado para retirar a agulha;

5. Retirar a agulha e soltar a pele. A pele vai deslocar, com trato feito pela agulha, de modo

a impedir o retorno do líquido injetado para o tecido subcutâneo e, consequentemente,

reduzir reações locais.ç

Use sua mão não dominante

para puxar a pele para baixo ou

lateralmente para deslocar o tecido cerca de 2,5 cm.

Introduza a agulha de modo suave e seguro através da pele e do

tecido subcutâneo em direção ao músculo.

A vacina deve ser injetada lentamente, cerca de 10 segundos

por mL. Uma vez introduzida a vacina, deve-se esperar por 10 segundos por mL

injetado antes de retirar a agulha. Retira-

-se a agulha com um movimento suave e

fi rme, liberando a pele à sua posição original,

aplicando uma leve pressão com algodão

seco. Nunca massagear para evitar reações

locais.

Adaptado de: Rodger MA, King L. Drawing up and administering intramuscular injections: a review of the literature. J Adv Nurs. 2000 Mar;31(3):574-82.

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Posicionamento do indivíduo

O posicionamento do paciente afeta a percepção de dor, a escolha da técnica e da adminis-

tração. Garantir que os pacientes estejam corretamente posicionados também facilita a corre-

ta delimitação do local de aplicação e garante o relaxamento do músculo. O posicionamento

relaxando o músculo, mostrou ser capaz de diminuir a dor e o desconforto da injeção.

Vasto lateral da coxa» Dobrar o joelho levemente para promover o relaxamento do músculo-alvo;

» Colocar os lactentes e as crianças no colo de um dos pais ou responsável, visando conforto

com consequente relaxamento do músculo.

Bebês sentados no colo dos pais têm menos dor que aqueles posicionados deitados (posi-

ção supina) no momento da aplicação da vacina.

Deltoide» Evitar roupas apertadas acima do local da aplicação, deixando o membro exposto;

» Rebaixar o ombro e realizar fl exão do braço para poder relaxá-lo;

» Sentar as crianças mais velhas no colo dos pais, abraçando-as peito com peito.

Os pais devem segurar o antebraço da criança, deixando-a mais confortável, segura e conse-

quentemente com a musculatura mais relaxada.

Glúteo» Orientar a virar a ponta dos pés para dentro, promovendo a rotação interna do fêmur,

relaxando o músculo.

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Ventro glúteo» Crianças devem estar em posição deitada (virada para baixo) no colo do pai/cuidador;

» Permitir que as pernas da criança fi quem inclinadas em direção ao chão;

» Se deitadas, as crianças devem fi car na posição lateralizada, com os braços da criança pre-

sos ao peito;

» Adultos podem estar em pé, com a ponta dos pés voltadas para dentro, promovendo a

rotação interna do fêmur, relaxando o músculo, ou podem estar sentados.

Técnica de administração IM

» Realizar a higiene das mãos;

» Escolher a agulha de acordo com a idade do paciente, espessura do subcutâneo e região

muscular;

» Escolher a região muscular de acordo com a idade do paciente e conforme a indicação do

fabricante;

» Delimitar o local de acordo com o músculo escolhido;

» Realizar a técnica em Z, fazer a tração da pele e do tecido subcutâneo antes da aplicação e

liberar após a administração da vacina;

» Introduzir preferencialmente a agulha em ângulo de 90°, podendo variar de acordo com o

tamanho da agulha e o tamanho do subcutâneo. A agulha deve ser introduzida de modo

suave e seguro através da pele e do tecido subcutâneo em direção ao músculo;

» Aspirar assegurando que a agulha não tenha sido inserida em um pequeno vaso;*

» Injetar a solução lentamente, cerca de 5 segundos a cada 0,5 mL. Essa injeção lenta per-

mite às fi bras musculares que se desloquem e acomodem o volume injetado, ao mesmo

tempo em que reduz as chances de refl uxo;

» Retirar a agulha com um movimento suave e fi rme aplicando uma leve pressão com algo-

dão seco;

» Observar o vacinado;

» Descartar os materiais adequadamente;

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» Realizar a higiene das mãos.

Vacinação simultânea

A vacinação simultânea consiste na administração de duas ou mais vacinas em diferentes

locais ou vias. Todas as vacinas de uso rotineiro podem ser administradas simultaneamente,

sem que isso interfi ra na resposta imunológica. Também não intensifi ca os eventos adversos,

sejam eles locais, sejam sistêmicos. A aplicação de múltiplas vacinas em um mesmo mo-

mento é indicada e constitui-se em uma medida econômica e vantajosa para aproveitar a

oportunidade de imunizar contra o maior número de doenças em uma mesma visita vacinal.

Quando houver necessidade de administrar mais de uma vacina simultaneamente, é pre-

ferível aplicar cada uma em um diferente local anatômico. Se não for possível, então o vasto

lateral coxa ou o deltoide em adulto serão o local de escolha, e as duas injeções devem ser

adequadamente separadas cerca de 2,5 cm a 5 cm, na tentativa de se evitar potencializações

locais.

Se uma vacina e uma imunoglobulina forem administradas simultaneamente, devem ser

utilizados locais anatômicos separados. A escolha de todos os locais de injeção deve ser do-

cumentada no prontuário.

* Alguns estudos e manuais atuais de vacinação citam não haver necessidade de aspiração antes da aplicação da vacina para a verifi car se a agulha não foi inserida em um pequeno vaso. Citam que não existem grandes vasos sanguíneos nos locais recomendados; a aspiração antes da injeção de vacinas (p. ex., puxando para trás o êmbolo da seringa, após a inserção da agulha de injeção, mas antes da aplicação) não é necessária.

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Cuidados importantes durante a administração de uma vacina

» Os pacientes (adolescentes e adultos) devem estar sentados durante a aplicação (ou dei-

tados se excessivamente ansiosos ou pálidos);

» O membro apropriado deve estar exposto – evitar roupas apertadas acima do local da

aplicação;

» O músculo deltoide deve estar relaxado; incentive o paciente (adolescente ou adulto) a

deixar o braço caído ao longo do corpo ou apoiar a mão no colo;

» Quando aplicar vacinas em lactentes, garantir que a criança esteja no colo dos pais, segu-

rada com os joelhos;

» Os pais devem compreender a importância de não deixar a perna se mover no momento

da aplicação;

» Quando a injeção for no deltoide (crianças), o braço deve estar livre e fi rmemente seguro;

» O braço em que for a aplicação deve estar encostado ao corpo da criança; os pais devem

segurar o antebraço;

» Crianças maiores podem sentar sozinhas, mas os pais devem segurar o membro em que

for a feita aplicação.

Dor e ansiedade na vacinação

Preocupação e ansiedade com o bem-estar das crianças, adolescentes e adultos que irão

receber injeções, são comuns. O medo de injeções e dor são frequentemente citados como

razões pelas quais crianças e adultos, incluindo pessoal de saúde, recusam vacinas. A neces-

sidade de múltiplas doses nos esquemas vacinais das crianças e adolescentes, faz com que

o manejo da dor e da ansiedade seja uma ação importante que a longo prazo, pode evitar

situações como, medo de agulha ou até mesmo o afastamento desses indivíduos do serviço

de saúde. Estima-se que até 25% dos adultos tenham medo de agulhas, com a maioria dos

medos se desenvolvendo na infância. Diminuir a dor associada com imunizações durante a

infância pode ajudar a prevenir essa angústia e futuros comportamentos de recusa de vacinas.

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A dor é um fenômeno subjetivo infl uenciado por múltiplos fatores, incluindo: idade do indi-

víduo, nível de ansiedade, experiências anteriores de atendimentos de saúde e cultura. Embo-

ra a dor na aplicação de vacinas seja, até certo ponto, inevitável, algumas estratégias baseadas

em evidências para aliviar a dor associada ao processo de injeção incluem:

» Amamentação: o aleitamento materno tem sido demonstrado como uma medida cal-

mante para lactentes até os 12 meses de idade que recebem injeções. Vários aspectos da

amamentação vêm sendo considerados como colaboradores no manejo da dor: sensação

de segurança da criança, contato pele com pele, leite de sabor doce e o ato de sucção. Não

foram reportados eventos adversos potenciais, tais como engasgar ou cuspir. A amamen-

tação deve ocorrer antes, durante e após a administração das vacinas, permitindo tempo

adequado para que o bebê faça a pega do mamilo corretamente. O uso de mamadeiras

com leite materno ou fórmula não é considerado um substituto para o aleitamento ma-

terno para o manejo da dor.

» Solução de glicose ou sacarose, 12% a 50%: mostrou ser efi caz para diminuir a dor

nos procedimentos em neonatos e em bebês até seis meses. Deve ser administrada logo

antes do procedimento, por meio da instilação com uma seringa diretamente à boca. Os

líquidos de sabor doce funcionam como um analgésico para lactentes até os 12 meses de

idade. Os líquidos adoçados são recomendados para lactentes que eventualmente não

podem ser amamentados durante a vacinação.

» Ordem de aplicação: quando mais de uma vacina for aplicada no mesmo dia, as vacinas

mais doloridas devem ser administradas por último.

» Uso de métodos tópicos para diminuir a dor, sendo indicados principalmente para aque-

les com medo excessivo de injeção. A analgesia tópica pode ser aplicada para diminuir a

dor no local da injeção. Esses produtos (p. ex., 5% de emulsão de lidocaína e prilocaína)

devem ser utilizados apenas para as idades recomendadas e conforme indicado pelo fa-

bricante do produto. Os pais devem ser orientados sobre o uso adequado de analgésicos

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tópicos, incluindo o local exato em que o medicamento deve ser aplicado. Esses analgési-

cos frequentemente precisam ser aplicados cerca de 20 a 60 minutos antes da administra-

ção da vacina para serem efi cazes.

Procure estar atento a outros fatores que rotineiramente podem estar relacionados ao medo

de injeções:

» Ver outras pessoas receberem injeções;

» Ver preparar a injeção;

» Cheiro na sala, experiência negativa anterior;

» Ouvir conversa sobre a injeção;

» Tamanho da agulha;

» Medo da dor;

» História de síncope após injeção.

Algumas atitudes positivas podem ajudar a lidar com essas situações:

» Vacinar em local individual;

» Preparar a vacina longe do paciente, em ambiente agradável, e inspirar confi ança;

» Estar atento aos fatores predisponentes (fobia de agulhas e injeções, idade) e a manifesta-

ções de pré-síncope (ansiedade, sudorese) prevenindo, assim, quedas.

Os profi ssionais de saúde, ao vacinarem os pacientes ou os fi lhos de pais ansiosos, devem

sempre adotar uma abordagem calma, atenciosa e simpática, lançar mão de técnicas de dis-

tração, e explicar que a aplicação da vacina é um procedimento rápido e simples.

Os pais ansiosos podem transmitir a ansiedade a seus fi lhos. Procure reforçar com os pais a

importância de uma atitude positiva junto a criança ou ao adolescente, adequando seu com-

portamento conforme a necessidade da faixa etária.

As medidas que aliviam a dor no momento da aplicação são importantes, pois diminuem a

ansiedade, contribuindo para uma melhor qualidade da vacinação. Cabe lembrar, no entanto,

que somente essas ações não são sufi cientes para uma menor incidência de reações locais e

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dor pós-vacinal. Devem ser somadas a elas, uma boa técnica de administração, além de um

adequado posicionamento do indivíduo e o relaxamento do músculo escolhido são funda-

mentais.

Síncope após a vacinação

A síncope, reação vasovagal após injeção, é uma reação conhecida, sendo mais comum em

adultos e adolescentes. Aproximadamente 60% dessas reações acontecem nos cinco minutos

posteriores à vacinação, e cerca de 90%, em 15 minutos. O profi ssional de saúde deve estar

ciente dos fatores predisponentes (fobia de agulhas e injeções, idade), das manifestações de

pré-síncope (ansiedade, sudorese) e atento para prevenir quedas.

Cuidados para evitar a síncope e/ou atender a ela:» Observar o paciente, principalmente adolescentes e adultos que apresentem sinais predis-

ponentes;

» Vacinar esses pacientes sempre sentados ou até mesmo deitados;

» Observar pelo menos 15 minutos após a vacinação;

» Caso a síncope ocorra, o paciente deve ser protegido de quedas e deve ser deitado em

decúbito dorsal, com as pernas elevadas, até o desaparecimento dos sintomas.

Considerações fi nais

Os programas e serviços de imunização devem investir no preparo do profissional

de saúde envolvido na administração de vacinas. A produção de uma vacina segura e

eficaz envolve muito investimento em conhecimento e tecnologia, mas o sucesso da

imunização passa também por uma aplicação adequada da vacina, que por sua vez,

depende de um bom preparo do profissional de saúde e de um bom relacionamento

com o paciente.

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ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS

Eventos adversos pós--vacinação – Como identifi cá--los e notifi cá-los

As vacinas, como quaisquer

outros produtos farmacêuticos,

precisam ser estudadas/

testadas para que a efi cácia e

a segurança sejam analisadas

antes de serem registradas.

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Tabela 1 –Processo de desenvolvimento de novas vacinas

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Porém, embora essa avaliação seja desenhada de maneira que o “N” de indivíduos partici-

pantes do estudo seja estatisticamente signifi cativo, ainda é possível verifi car novos eventos

adversos (EAs) após a utilização em massa do produto. Dessa maneira, quanto maior a cober-

tura vacinal, maiores são as chances de ocorrerem EAs graves ou desconhecidos. Por esse mo-

tivo, é de fundamental importância a vigilância dos EAs pós-vacinação após a comercialização

e a distribuição das vacinas.

O objetivo dos cientistas e dos laboratórios é produzir vacinas cada vez mais efi cazes e me-

nos reatogênicas. Ressalta-se que o desenvolvimento de uma nova vacina é extremamente

trabalhoso para alcançar seu objetivo. O processo de desenvolvimento de uma vacina geral-

mente leva, em média, de oito a dez anos para atender a todas as fases recomendadas pela

Organização Mundial da Saúde (OMS) (tabela 1).

Após essa longa fase de desenvolvimento, o produto é submetido à Agência Nacional de Vi-

gilância Sanitária (Anvisa) para obtenção de registro. Somente após o registro, a vacina poderá

ser comercializada e distribuída.

EtapaEnsaiospré-clínicos Fase I Fase II Fase III

Ano 1 e 2 3 4 e 5 6, 7 e 8

População Animais de laboratório

10 a 100 voluntários

100 a 300 voluntários

1.000 ou mais voluntários sãos

Objetivo

Ensaios de segurança e atividade biológica

Determinação de segurança e

dosifi cação

Avaliação de efetividade

e efeitos secundários

Verifi cação de efetividade e

monitoração das reações adversas

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Sistema Nacional de Vigilância dos Eventos Adversos Pós-Vacinação (SNVEAPV)

No Brasil, a partir de 1998, foi instituída a Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos

Pós-Vacinação (VEAPV) e, a partir de 2005, com a Portaria no 33 da Secretaria de Vigilância

em Saúde do Ministério da Saúde (revogada pela Portaria MS/GM no 1.271, de 6 de junho de

2014), foram introduzidos os EAs pós-vacinação como agravo de notificação compulsória.

Entretanto, desde 2000, quando foi implantado o Sistema de Informação da Vigilância

Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação (SI-VEAPV), as informações relacionadas

com EAs vêm sendo coletadas e analisadas nacionalmente.

O Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde estruturou o SNVEAPV

com os seguintes objetivos:

» Normatizar o reconhecimento e a conduta diante dos casos suspeitos de eventos adversos

pós-vacinação (EAPVs);

» Permitir maior conhecimento sobre a natureza dos EAPVs;

» Dar subsídios ou sinalizar a necessidade de realização de pesquisas pertinentes, bem como

realizá-las;

» Identifi car eventos novos e/ou raros;

» Possibilitar a identifi cação de imunobiológicos ou lotes com desvios de qualidade na pro-

dução resultando em produtos ou lotes mais “reatogênicos”, bem como decidir quanto à

sua utilização ou suspensão;

» Identifi car possíveis falhas no transporte, armazenamento, manuseio ou na administração

(erros programáticos) que resultem em EAPV;

» Estabelecer ou descartar, quando possível, a relação de causalidade com a vacina;

» Promover a consolidação e a análise dos dados de EAPV ocorridos no país em um sistema

único e informatizado;

» Assessorar os processos de capacitação ligados à área de imunizações, visando ao aspecto

dos EAPVs e promovendo supervisões e atualizações científi cas;

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» Assessorar os profi ssionais da assistência para a avaliação, o diagnóstico e a conduta diante

dos EAPVs;

» Avaliar de maneira contínua a relação risco/benefício referente ao uso dos imunobiológi-

cos;

» Contribuir para a manutenção da credibilidade do PNI junto à população e aos profi ssio-

nais de saúde;

» Prover, regularmente, informação pertinente à segurança dos imunobiológicos disponí-

veis no programa nacional.

O SNVEAPV tem, como instrumentos, o formulário próprio de investigação / notifi cação, o

manual de vigilância e os sistemas informatizados:

» Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI);

» Módulo – Eventos Adversos Pós-Vacinação (SIEAPV);

» Notivisa.

O que é um evento adverso?É preciso que o profissional entenda o que é um EA e qual a importância de identifi cação e

notifi cação. A defi nição de EA, de acordo com o Manual de Evento Adverso do Ministério da

Saúde (2014): “é qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação e que, não neces-

sariamente, possui uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico

(imunoglobulinas e soros heterólogos). Segundo a Organização Mundial da Saúde, um even-

to adverso pós-vacinação (EAPV) pode ser qualquer evento indesejável ou não intencional,

isto é, sintoma, doença ou um achado laboratorial anormal”.

Quando se deve notifi car?A notifi cação é a comunicação da ocorrência do EAPV ao serviço ou à unidade de saúde,

imediatamente superior. Todos os estabelecimentos públicos ou privados têm o dever de

notifi car EAPV.

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Todos os EAs que retornarem à unidade de saúde espontaneamente deverão ser

notifi cados, isto é, tanto os eventos comuns, ou esperados, quanto outros eventos. Por esse

motivo, é importante informar ao paciente quais são os eventos comuns, esperados e que, se

algo diferente desses sintomas aparecer, o paciente deve procurar a unidade de saúde. Assim,

o paciente só retornará à sala de vacina caso o evento comum, ou esperado, ocorra de manei-

ra mais intensa, ou demore muito a passar.

Exemplos de EAPVs passíveis de notifi cação» Abscesso local frio.

» Abscesso local quente.

» Angioedema.

» Apneia.

» Artralgia/artrite.

» Broncoespasmo/laringoespasmo.

» Choque anafilático/anafilactoide.

» Choro persistente.

» Convulsão afebril.

» Convulsão febril.

» Doença do soro.

» Doença viscerotrópica aguda após vacina de FA.

» Encefalite.

» Encefalomielite disseminada aguda (ADEM).

» Encefalopatia aguda.

» Episódio hipotônico-hiporresponsivo.

» Exantema generalizado.

» Febre – temperatura axilar ≥ 39 ºC.

» Invaginação intestinal.

» Lesões localizadas decorrentes de disseminação do BCG.

» Lesões generalizadas decorrentes de disseminação do BCG (mais de um órgão).

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» Linfadenite não supurada > 3 cm.

» Linfadenite supurada.

» Meningite.

» Mielite.

» Neurite braquial.

» Óbito.

» Orquite.

» Osteíte / osteomielite.

» Outros eventos neurológicos graves.

» Pólio pós-vacinal.

» Polirradiculoneurite (SGB).

» Púrpura não trombocitopênica.

» Púrpura trombocitopênica.

» Reação de Arthus.

» Reações locais intensas.

» Úlcera > 1 cm após BCG.

» Urticária generalizada.

» Outros eventos graves e/ou inusitados.

Os EAs são divididos em dois grupos: graves e não graves

Evento adverso grave (EAG)São consideradas graves as situações apresentadas a seguir:

A. Requer hospitalização por, pelo menos, 24 horas ou prolongamento de hospitalização já

existente;

B. Causa disfunção signifi cativa e/ou incapacidade persistente (sequela);

C. Resulte em anomalia congênita;

D. Causa risco de morte (ou seja, induz à necessidade de uma intervenção clínica imediata

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para evitar o óbito);

E. Causa o óbito.

Evento adverso não grave (EANG)Qualquer outro evento que não esteja incluído nos critérios de EAG.

Reações anafi láticas graves, com risco de vida após a vacinação, são raras. O rastreio

minucioso de contraindicações e de precauções antes da vacinação pode prevenir reações

importantes. O profi ssional deve ter, no local, e estar familiarizado com os procedimentos para

gerenciar uma reação. Deve estar familiarizado com os sinais e com sintomas da anafi laxia,

porque eles geralmente começam em poucos minutos de vacinação. Esses sinais e sintomas

podem incluir, mas não estão limitados a: rubor, edema facial, urticária, comichão, inchaço da

boca ou da garganta, sibilos e difi culdade respiratória. Cada profi ssional deve conhecer seu

papel no caso de uma emergência, e todos os serviços de vacinação devem estar equipados

com materiais e medicamentos para o atendimento à reação.

Como se deve notifi car?Após a identifi cação de um evento, a notifi cação/investigação deve ser iniciada prontamen-

te com o formulário preenchido e encaminhado à vigilância epidemiológica (VE) local ou

municipal.

A vigilância de todos os EAPVs do Brasil é realizada pelo PNI, independentemente se a vaci-

na é realizada em unidade de saúde pública ou privada. Assim como a clínica deve reportar

mensalmente suas doses realizadas para a VE de referência, ela também deve encaminhar

para essa vigilância os EAPVs identifi cados.

Antes de estabelecer o procedimento para esses casos na clínica de vacina, é importante

entrar em contato com a sua VE e perguntar de que forma a clínica deve proceder nesses

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casos. Isso se faz importante porque, em algumas regiões, a notifi cação de EAPV ainda é pelo

preenchimento da fi cha de notifi cação de EAPV padrão do PNI (que pode ser impressa da in-

ternet). Essa fi cha com preenchimento manual é entregue à VE, que encaminhará às regionais

de saúde (formulário/meio eletrônico). Ao receberem dos municípios, as regionais devem

proceder à análise, realizar as complementações necessárias e encaminhar ao nível estadual.

Mas alguns municípios já estão habilitados a fazer essa notifi cação diretamente pelo siste-

ma; assim, as clínicas já podem abrir um cadastro no sistema e notifi car seus EAPVs direta-

mente lá, não precisando preencher a fi cha manualmente. Além de preencher o formulário

de investigação de EAPVs, devem fazer cópia do cartão de vacinação, assim como de todos os

registros (fi cha de atendimento, prontuários, exames realizados, etc.) das unidades de saúde

por onde o paciente passou; fazer visita domiciliar; coleta de dados para acompanhamento

do paciente e orientação aos familiares; repassar novas informações às instâncias superiores;

fazer o acompanhamento do caso.

É muito importante que o paciente seja acompanhado até sua recuperação, sendo o ideal

que a unidade de saúde tenha esses registros arquivados, seja em sistema, seja em arquivo

físico.

As clínicas de vacinação privadas também deverão notifi car o laboratório fabricante pelo

SAC.

Notifi cação

a notifi cação dos eventos inusitados também é realizada pelas unidades de saúde locais pelo formulário próprio e enviado à coordenação do Programa de Imunizações, de acordo com os fl uxos estabelecidos no serviço.

Acompanhamento

recomenda-se acompanhar cada caso por 30 dias com uma consulta semanal para avaliação clínica na unidade, não devendo, por precaução, nesse período, receber outro imunobiológico.

Encerramento do casoapós o período de acompanhamento, encerrar o caso e comunicar à coordenação do Programa de Imunizações quando as condutas, em relação ao esquema vacinal, serão defi nidas.

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Avaliação de causalidade (relação causal)

Um EA é tudo o que pode ocorrer após a vacinação. A relação causal, ou seja, se esse evento

foi desencadeado pela vacina, é uma avaliação posterior que acontece durante a investigação

do EA. Isso quer dizer que o EA está temporariamente associado à vacina, mas, após a investi-

gação, poderá ser possível determinar se a vacina é responsável ou não pelo EA.

Essa avaliação de causalidade (relação causal) deve ser realizada seguindo quatro passos:

1. Elegibilidade. O primeiro passo tem como objetivo determinar se o EAPV satisfaz aos

critérios mínimos de avaliação de causalidade;

2. Check-list. O segundo passo envolve a revisão sistemática dos dados relevantes para a

possível correlação de causalidade;

3. Algoritmo. O terceiro passo obtém uma tendência da causalidade com a informação

recolhida no check-list;

4. Classifi cação. O quarto passo categoriza a associação do EAPV com a vacina ou vacina-

ção baseada no algoritmo.

Quanto à causalidade, podem ser decorrentes de:» Reação inerente ao produto – imunógeno (vivo atenuado, não vivo), cepa, meio de cultu-

ra, adjuvante, conservante, lote da vacina;

» Reação inerente à qualidade da vacina – por desvio de qualidade, incluindo as embala-

gens (ampola, frasco, frasco-ampola etc.) e acessórios (agulha, conta-gotas, diluente, se-

ringa, etc.) utilizados para sua administração;

» Erro de imunização (erro programático) – EAPV causado por manuseio, prescrições e/ou

administração inadequadas. É considerado evitável e deve ser corrigido de imediato;

» Características da pessoa vacinada – reação de ansiedade à imunização, idade, número de

doses anteriores, EAs prévios, defi ciência imunológica, doença alérgica; ou

» Podem ser coincidentes (associação temporal sem relação causal).

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Essa classifi cação é muito importante para associar ou descartar a relação do evento com a

vacina administrada, evitando que muitos desfechos sejam de responsabilidade das vacinas.

A avaliação criteriosa e cautelosa reafi rma a segurança das vacinas, conforme descrito em

seus estudos clínicos, e garante a adesão da população.

O erro programático em imunização é frequente e deve ser notifi cado, sendo de responsabilidade do nível local. Erro programático é o que advém de alguma falha/erro na produção, no manuseio, no armazenamento, no transporte, em procedimentos de preparo ou de administração de imunobiológicos, como dose errada, via errada, local errado, idade errada e/ou vacina errada ou vencida.

Farmacovigilância

Cabe lembrar que, mesmo após sua fabricação e distribuição, é mandatório por legislação

que o produtor mantenha um sistema de vigilância, conhecido também como farmacovigi-

lância, cujo objetivo é supervisionar possíveis EAs, coletar informações sobre EAs causados

pelas vacinas e analisar a causalidade desses eventos com o produto administrado. Dessa

forma, o fabricante tem ferramentas para detectar EAs não esperados, ou em quantidade

acima da prevista, o que pode sugerir a execução de um estudo de fase IV de avaliação do

risco/benefício do produto.

A OMS entende como farmacovigilância de vacinas e de outros imunobiológicos o processo

de detecção, avaliação, compreensão, prevenção e comunicação de EAs pós-imunização ou

qualquer outro problema relacionado com a vacina ou vacinação. Detectou-se, a partir desse

conceito, a necessidade de aprimorar o conhecimento da relação risco/benefício de vacinas e

de outros imunobiológicos, e de minimizar seus efeitos nocivos à população.

A efetividade do programa de farmacovigilância está diretamente relacionada à participação

ativa dos profi ssionais de saúde. Sem o compromisso do profi ssional de saúde em identifi car

e notifi car os EAPVs, não é possível conhecer a real segurança das vacinas que estão sendo

administradas.

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ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS: EVENTOS PÓS VACINAÇÃO – COMO IDENTIFICÁ-LOS E NOTIFICÁ-LOS é uma publicação da Phoenix Comunicação Integrada patrocinada por Pfi zer. O conteúdo é de responsabilidade do autor e não expressa necessariamente a opinião dos Laboratórios Pfi zer Ltda. Jornalista Responsável: José Antonio Mariano (MTb: 22.273-SP). Endereço: Rua Coriolano, 2030 – cj. 42 – CEP 05047-002 – São Paulo – SP. Tel.: (11) 3645-2171 – Fax: (11) 3831-8560 – Home page: www.editoraphoenix.com.br – E-mail: [email protected]. Todos os direitos reservados. Este material não pode ser publicado, transmitido, divulgado, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização da editora. Material de distribuição exclusiva a profi ssionais habilitados a prescrever ou dispensar medicamentos. phx rf 12/04/17

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Considerações fi naisO sistema de vigilância é de fundamental importância para conhecermos melhor a seguran-

ça de cada vacina e garantirmos sua qualidade. Como foi dito anteriormente, antes de obter o

registro na Anvisa, a vacina passa, entre outras análises, por ensaios clínicos para verifi car sua

segurança; porém, uma vez a vacina registrada e usada em larga escala, é possível verifi car

EAs desconhecidos.

A notifi cação desses eventos corrobora as certezas dos riscos e benefícios quanto à utiliza-

ção de uma determinada vacina e sinaliza o momento em que é mais arriscado ser vacinado

e ter um grave EA que o benefício de fi car imunizado contra uma determinada doença. Esse

é o momento de avaliar a real necessidade de manter a vacina no calendário vacinal ou não.

Os serviços privados de vacinação devem estabelecer quais são as melhores estratégias para

o monitoramento da ocorrência dos EAPVs.

Bibliografi a

» Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Gerência de Farmacovigilância, Núcleo de Gestão do Sistema Nacional de Notifi cação e Vigilância Sanitária. Guias de farmacovigilância para detentores de registro de medicamentos. Brasília , DF: Ministério da Saúde; 2010

» Ministério da Saúde. Portaria MS/GM no 1.271, de 6 de junho de 2014. Defi ne a Lista Nacional de Notifi cação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. Diário Ofi cial da União, Ministério da Saúde, Brasília, DF, no 18, Seção 1, p. 37.

» Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância epidemiológica de eventos adversos pós-vacinação. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.

» Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Vigilância dos eventos adversos pós-vacinação: cartilha para trabalhadores de sala de vacinação. Brasília: Ministério da Saúde; 2003.

» World Health Organization. Causality assessment of an adverse event following immunization (AEFI). Genebra: World Health Organization; 2013.

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EVENTOS ADVERSOS: QUALQUER ALTERAÇÃO FÍSICA LOCAL OU SISTÊMICA OU NÃO INTENCIO-NAL QUE TENHAM APARECIDO EM INDIVÍDUOS APÓS RECEBER A VACINA PODEM SER CONSIDE-RADOS COMO EFEITO ADVERSO E DEVEM SER RELATADOS. NA EVENTUALIDADE DE UM RELATO CONSIDERADO EFEITO ADVERSO, ATENTE PARA NOS FORNECER O MÁXIMO DE INFORMAÇÕES POSSÍVEIS SOBRE O PACIENTE E/OU PRODUTO, PRINCIPALMENTE: NOME, IDADE, DATA DA APLI-CAÇÃO, FORMA DE UTILIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO CLÍNICA ALÉM DE UM CONTATO MÉDICO OU DO RELATOR DA OCORRÊNCIA DE PREFERÊNCIA NUM PERÍODO NÃO MÁXIMO QUE 24 HORAS. OS RELATOS ADVERSOS DEVEM SER REPORTADOS PARA [email protected]

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