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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PROFESSOR X ALUNO: ERROS E ACERTOS DE UM
CONSTANTE APRENDIZADO
Por
NOÉLIA CAMPOS GOULART
ORIENTADOR: PROF. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
Rio de Janeiro/RJ
2003
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PROFESSOR X ALUNO: ERROS E ACERTOS DE UM
CONSTANTE APRENDIZADO
Por
NOÉLIA CAMPOS GOULART
Rio de Janeiro/RJ
2003
Monografia apresentada como
requisito parcial para conclusão
do grau de especialista em
Psicopegagogia.
2
DEDICATÓRIA
Aos meus filhos, Manoel Luiz e Dirceu,
motivos maiores da minha busca por um mundo
melhor e a todas as crianças que nos permitem
encontrar a cada dia novos encantos na vida e no
mundo.
Ao meu esposo Manoel, amigo em todas as
horas, cujo amor me é muito precioso, pela
companhia e incentivo constante.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, razão maior e primeira de toda a
minha felicidade, por ter tornado este sonho
realidade.
A todos que direta ou indiretamente
contribuíram para que eu vencesse mais esta
etapa na minha vida.
4
RESUMO
O objetivo deste estudo é investigar o relacionamento professor/aluno,
através da prática educativa, buscando auxiliar a esclarecer os rumos da
definição de uma nova ordem pedagógica, que recupere no professor a
qualidade da sua relação com o aluno e que torne mais prazeroso e produtivo o
relacionamento entre ambos.
A relação professor-aluno pode ser o veículo para que todas as tarefas
do professor transcendam a própria matéria e os alunos possam aprender
coisas importantes para a sua própria vida. É necessário que o professor não
descuide do relacionamento com os alunos. As situações e possibilidades
podem ser diferentes; por isso pode haver vários estilos diferentes de manter o
bom relacionamento com os alunos na sala de aula e diversos modos de
exprimi-los. Mas qualquer estilo de bom relacionamento nascerá, ou crescerá,
a partir das convicções sobre o que é ser professor e da tomada de
consciência de uma maneira muito explícita do efeito real que tem sobre os
alunos tudo o que o professor faz ou deixa de fazer.
O trabalho apresenta questões relacionadas ao aluno, tais como: o papel
que desempenha, seus desejos e interesses e a função do prazer na
aprendizagem; os temas relacionados ao professor, como as suas atribuições,
seu papel social e o uso do poder e autoritarismo na sala de aula. Finalmente,
trata ainda das interrelações presentes neste espaço.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 06
CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO, ESCOLA E SOCIEDADE ................................................ 08
1.1. O papel da escola na sociedade
1.2. Novos papéis na escola
CAPÍTULO II
O PROFESSOR E AS SUAS COMPETÊNCIAS ................................... 14
2.1. O poder e autoritarismo
2.2. A função do professor
2.3. A competência do professor
2.3.1. Dimensão técnica
2.3.2. Dimensão política
2.3.3. Dimensão humana
CAPÍTULO III
O ALUNO EM QUESTÃO ..................................................................... 28
CAPÍTULO IV
A INTERAÇÃO NA SALA DE AULA ................................................... 33
4.1. A importância do afeto
4.2. A responsabilidade do professor
CAPÍTULO V
O RELACIONAMENTO SEGUNDO ALGUNS TEÓRICOS ................ 43
5.1. A abordagem de Paulo Freire
5.2. A abordagem rogeriana
CONCLUSÃO ....................................................................................... 54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................. 57
WEBGRAFIA ................................................................................................ 60
6
INTRODUÇÃO
A educação é um processo de comunicação, onde professores e alunos
são emissores e receptores na troca de muitas mensagens. Essa troca se dá
no cotidiano da sala de aula, ocorrendo, assim um verdadeiro jogo de sedução
entre professores e alunos que desejam ensinar e aprender.
É através da comunicação que flui o conhecimento, professores e alunos
interagindo todo o tempo na construção do processo de conhecimento. As
possibilidades educativas na sala de aula para se criar um clima propício ao
aprendizado através das formas de relacionamento entre alunos e professores
são bastante diversificadas. Há uma teia de relações sociais enriquecidas pelas
diferenças próprias de cada um, onde surgem as cumplicidades e, também, os
conflitos.
A interação que se processa entre o professor e o aluno supõe um
encontro e como nenhum encontro é dotado de neutralidade há um interjogo de
individualidades carregado de componentes cognitivos, afetivos e sociais que
vão intervir nos padrões de interação e no clima que se estabelece no cotidiano
da sala de aula.
Este espaço representa um lugar de interação entre pessoas e, portanto,
um momento único de troca de influências. A relação professor/aluno como
parte do processo de ensino-aprendizagem tem vital importância no projeto
pedagógico.
Antigamente, os mestres eram homens de grande sabedoria, como
Aristóteles, Platão, Sócrates, que se sentavam à sombra das árvores com seus
discípulos ao redor e transmitiam-lhes as sabedorias do Universo. Hoje, os
mestres estão confinados às salas de aula e muitos não têm sequer a
7
consciência da sua participação junto aos educandos. Não fazem idéia da
importância que tem na vida de seus alunos.
Este trabalho tem por objetivo investigar o relacionamento
professor/aluno através da prática pedagógica e as condições favoráveis para
a valorização desta relação priorizando a análise de propostas de mudanças na
prática do ensino que possibilitem tornar mais prazeroso e produtivo o
relacionamento entre professores e alunos.
Na investigação, algumas questões devem ser respondidas, a saber:
· Como o relacionamento entre professores e alunos se reflete na prática
educacional?
· Quais são as condições que favorecem ou não esta relação?
· Quais são as propostas e/ou alternativas para uma prática pedagógica que
traga mais prazer e satisfação para professores e alunos?
Para responder estas questões pretende-se identificar o papel do
professor, o papel do aluno e como ambos se relacionam no cotidiano da vida
escolar. É necessário investigar o papel que os alunos desempenham,
analisando seus desejos e interesses e a questão do prazer na aprendizagem;
destacar as atribuições que se esperam do professor/educador, o papel social
que ele representa e o uso do poder e do autoritarismo no ensino; tratar das
inter-relações na sala de aula, verificando como estas podem contribuir para
uma práxis pedagógica mais satisfatória através de mudança na postura do
professor diante de seu relacionamento com os alunos.
Pretende-se com este estudo, contribuir para a conscientização do
professor para a possibilidade de uma mudança na prática educacional que
crie um clima favorável para a relação professor/aluno garantindo assim,
melhores condições de aprendizagem e proporcionando ao professor atuar
verdadeiramente como um educador e conseqüentemente com a melhoria na
qualidade do ensino.
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CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO, ESCOLA E SOCIEDADE
Embora divida com outros núcleos sociais, como a família, as
comunidades e os meios de comunicação, a escola ainda é o principal foco de
organização, sistematização e transmissão do conhecimento, e o educador e o
educando, os principais agentes nesse processo. A escola não tem razão de
ser em si mesma. Ela é fruto do meio, assim como o meio é conseqüência
dela.
A relação entre educação, escola e sociedade é alvo de uma
transformação contínua, que influencia os modelos vigentes de educação, de
escola e de sociedade. O desenvolvimento da escola guarda estreita relação
com o desenvolvimento da sociedade, e vice-versa. É através do
conhecimento, do domínio da ciência e do desenvolvimento tecnológico que o
homem adquire meios para compreender e transformar a realidade material
(natureza) e a sociedade em que vive, tornando-se apto a exercer sua
cidadania.
No mundo, a geração da riqueza está profundamente relacionada à
capacidade de produzir conhecimento e tecnologia. Como conseqüência, a
escola assume um papel vital no desenvolvimento socioeconômico de uma
nação.
1.1. O papel da escola na sociedade
A escola vem assumindo vários papéis na sociedade tais como:
democratização, transformação, mediação e globalização.
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A escola assume um caráter democratizador à medida que proporciona
não apenas o acesso, mas a apropriação do conhecimento e da tecnologia. O
caráter transformador da escola é determinado pelo grau de consciência e
instrumentalização científica, técnica, crítica e criativa que seus alunos venham
a alcançar. A escola colabora para a transformação social na medida em que
fomenta as capacidades intelectuais, as atitudes e o comportamento crítico em
relação à sociedade em que está inserida.
O papel mediador é exercido pela escola através do domínio do código
científico e de suas linguagens, que permitem ao cidadão, não apenas
interpretar a realidade, mas interagir com ela de forma consciente, crítica e
produtiva. Em um mundo com fronteiras cada vez menos definidas, passa-se a
conviver com novos conceitos históricos-geográficos, culturais, econômicos e
comerciais. Diante disso, os horizontes devem expandir-se na mesma
proporção, trabalhando com realidades mais amplas e fazendo-se mais
presente a comunicação em que está inserida.
A complexidade crescente da vida na sociedade atual veio trazer
profundas modificações no que se refere às responsabilidades da escola
elementar na educação da criança. Antigamente, cabia à escola fornecer ao
aluno, dotando-o de certas técnicas essenciais de comunicação (a leitura e a
escrita), de algumas habilidades de resolver problemas numéricos através de
conhecimentos relativos à matemática e dando-lhe algumas informações sobre
o meio em que vivia, através de estudos sistemáticos de Geografia, História e
Ciências. A criança aprendia por “lições passadas”, num estudo, inteiramente
divorciado da vida.
Na escola moderna, a criança ainda aprende as técnicas fundamentais
de leitura, escrita e cálculo, mas essa aprendizagem não tem fim em si mesma;
é, antes, um recurso que levará o aluno a viver melhor em seu meio. A criança
aprende para a vida, pela vida, participando de experiências que a levam à
auto-realização e ao ajustamento social.
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Durante muito tempo julgou-se que as crianças aprendiam por
impressões repetidas, de fora para dentro, cabendo ao professor “transmitir sua
experiência” ao aluno. Sabe-se, hoje, que aprender é um ato complexo e
individual, pelo qual o educando procura adaptar-se ao meio, buscando
respostas para as situações que esse meio lhe apresenta.
Desenvolve-se assim, em diferentes áreas de aprendizagem, integrando
sua personalidade, ao mesmo tempo em que se ajusta socialmente. O
processo educativo se constitui das aprendizagens sucessivas do indivíduo,
sendo tanto mais completo quanto mais rica e variadas as experiências por
este vividas.
1.2. Novos papéis na escola
Tanto os fundamentos epistemológicos quanto os princípios
pedagógicos implicam novos papéis para alunos e professores. O caráter
democratizador, mediador, transformador e globalizador da escola passam pelo
professor. Sem professor competente não há escola digna. Com efeito, a
validade da fundamentação epistemológica e a aplicabilidade dos princípios
pedagógicos dependem da postura do professor, constituído em mediador na
interação dos alunos entre si e o meio social e os objetos do conhecimento.
ANTUNES (2001) indaga:
“Se a escola não serve para ensinar a dialogar, a negociar, a converter problemas em oportunidades, a aprimorar no aluno a defesa de seus interesses, a lucidez de seus argumentos, a lidar com signos, dados e códigos na expressão de suas relações, para que serve a escola?” (ANTUNES, 2001:31)
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Sabe-se que quando a escola é um espaço de busca coletiva, ela
provavelmente terá melhores chances de desempenhar suas funções, ao
contrário daquele tipo de escola em que as ações são isoladas.
Para citar novamente ANTUNES e o mesmo entende que:
“(...) é essencial que os professores tenham coragem de desvestir a escola de sua fisionomia de quartel e deixar de ser um disfarçado campo de competições para, aos poucos, ir se transformando em um verdadeiro centro de descoberta do outro e também um espaço estimulador de projetos solidários e cooperativos, identificados pela busca de objetivos comuns”. ANTUNES (2001:14-15),
É notório o fato de que vários aspectos influenciam na situação de
fracasso ou de sucesso escolar dos alunos. A escola sozinha não é a alavanca
de transformação da sociedade e, por isso mesmo, os professores não podem
controlar os fatores extra-escolares, mas com certeza podem fazer várias
coisas dentro da escola que venham contribuir para o sucesso dos alunos.
Algumas condições de trabalho complicam a realização de uma prática
docente de qualidade, o excesso de alunos por turma, a multiplicidade de
empregos dos professores na tentativa de complementar a renda familiar, o
exagero de burocracia na escola que resulta na perda de tempo precioso e na
dificuldade de se ter acesso aos recursos para dinamizar as aulas, além dos
famosos baixos salários do magistério. Porém, precisa-se investir na formação
e atualização de professores a fim de que haja um comprometimento cada vez
maior por parte destes com a qualidade de ensino.
A construção de uma nova prática pedagógica está diretamente ligada à
concepção de mundo, de homem e de conhecimento que fundamenta as
relações cotidianas. Repensar essa prática tendo a realidade como referência
significa criar um movimento constante de construção e desconstrução. A
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forma como se compreende essa realidade determina a maneira pela qual se
dará a prática pedagógica. Se o professor não tiver uma fundamentação
teórica, a prática não terá uma direção segura.
É necessário, portanto, compreender a função social da escola para
propiciar ao aluno a compreensão da realidade como produto das relações
sociais que o homem produziu a partir de suas necessidades.
Assim como o homem produz tecnologia (instrumentos, máquinas,
aparelhos) e símbolos (idéias, valores, crenças), ele produz a linguagem, e ao
produzi-la, cria a possibilidade de abstrair o mundo exterior, torna possível
operar na ausência do objeto. Essa capacidade de representar faz com que o
homem constitua a consciência racional.
Essa consciência não pode ser entendida como: um “dom” inato, pois,
se assim fosse, o fazer pedagógico se limitaria a colocar a informação no
intelecto espontaneamente desenvolvido do aluno; algo que o indivíduo
constrói, pois limitaria o professor apenas em oferecer ao aluno o objeto de
conhecimento para que ele, por si só, tirasse suas conclusões; uma mudança
de comportamento, pois a função do professor seria unicamente organizar um
bom programa de estímulos e respostas.
A consciência, a inteligência, a criatividade, precisam ser entendidas
como algo a ser formado e desenvolvido pela escola. Se o professor entender
dessa forma, poderá perceber a importância do seu papel, terá a dimensão do
enorme trabalho que tem pela frente, terá clareza da direção que deverá tomar,
pois o conhecimento não está no sujeito, não está no objeto, mas na realidade
produzida pela sociedade.
Como parte integrante de uma sociedade, a escola pode e deve ser
produtiva, tornando-se útil à comunidade que integra. A escola ajuda a formar
cidadãos produtivos à medida que atua como laboratório de novas experiências
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e descobertas, fomentando no aluno à vontade e a capacidade de produzir e
compartilhar sua produção com os demais.
Na escola moderna, ensinar e aprender são funções tanto do aluno
quanto do professor. A partir desse princípio, quanto mais prazerosa for à troca
realizada entre os dois, mais rápido e eficiente será o desenvolvimento do
processo cognitivo.
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CAPÍTULO II
O PROFESSOR E SUAS COMPETÊNCIAS
O ensinar deve ser uma atividade realizadora e prazerosa. É como ver
desabrochar a flor cuja semente foi plantada. O conhecimento deve ser dosado
pelo interesse e capacidade de aprendizagem do aluno.
FERNANDES (2002) afirma que: “O que se aprende com prazer não se
esquece jamais, porém o sofrimento grava o sentimento e não o
conhecimento”. (FERNANDES, 2002)
O professor deve assumir o compromisso com o sucesso do aluno,
preservar a calma, paciência e a dedicação; desenvolver o potencial e a
realização da criança; valorizar a sensibilidade e a integração, viver com
entusiasmo e crença no futuro, não ensinando fórmulas, regras, raciocínio, mas
questionando e despertando para a realidade. Nunca trabalhar para sempre;
trabalhar como.
Ao se perguntar a um professor:
— Você conhece realmente seus alunos?
— Você saberia explicar porque alguns são considerados “bons alunos”
e outros não?
O mais provável é que das duas respostas surja uma patética conclusão:
O aluno continua sendo o “grande desconhecido”.
Para MORALES (2001);
15
“(...) os alunos não se dividem em bons alunos (dá gosto estar com eles) e maus alunos (daríamos qualquer coisa para perdê-los de vista), para nos entendermos e exagerando os extremos. Com freqüência há alunos comuns que são simplesmente ignorados, que passam despercebidos sem mais nem menos e que poderiam dar muito de si mesmos se captassem que para o professor são pessoas importantes e valiosas. É claro que podemos nos perguntar: esses alunos são comuns, que passam quase despercebidos, são realmente importantes para nós? Voltamos sempre para nossas próprias atitudes: como nos vemos como professores e como vemos nossos alunos. Se não estamos convencidos de que todos os alunos são importantes, dificilmente transmitiremos de maneira crível que todos importam para nós”. (MORALES, 2001:62-63)
Talvez pelo desejo subconsciente de simplificar seu trabalho docente, o
professor tende, em geral, a considerar o “corpo discente” como uma massa
homogênea e indiferenciada.
É possível que apenas três tipos de estudantes escapem desse
anonimato: o aluno “brilhante”, o aluno “bagunceiro” e o aluno “encrenqueiro”.
No jogo da relação professor/aluno, estes tipos de alunos fornecem os maiores
prêmios e ameaças e, por conseguinte, chamam a atenção do professor.
Faz-se necessário que o professor queira olhar e tratar seus alunos
como pessoa, procurando adequar seus métodos didáticos às diferenças
individuais, visando a uma aprendizagem mais satisfatória que,
conseqüentemente, resultará num crescimento integral das diferentes
personalidades.
Como pode o professor resolver o problema das diferenças individuais?
Não se tem uma receita pronta para oferecer, somente pode-se supor
que, na medida em que o professor faz questão de conhecer cada vez mais as
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diferenças entre seus alunos, mais motivado ele ficará para variar e
experimentar novos métodos.
No processo, o professor irá concentrar-se mais nos alunos como
pessoas totais do que na matéria a ensinar. E isto só será possível com aquele
professor que olha e trata seus alunos como pessoas humanas que vivem em
uma realidade específica, neste momento, e não como meras unidades do
“corpo discente”.
2.1. O poder e autoritarismo
O professor, no relacionamento com seus alunos, representa uma
autoridade. Ele pode ser percebido como detentor de poderes: poder de
recompensa e punição, na medida em que os alunos vêem nele aquele que
castiga ou premia através de elogios, notas, recompensas, punições e poder
em função de seus conhecimentos superiores em relação aos seus alunos.
Na medida em que esta relação é, acima de tudo uma relação
hierárquica, de poder, é altamente conflitante, dialética.
Segundo GADOTTI (1994):
“A dialética entre a autoridade do professor e a liberdade do aluno parece não estar inteiramente resolvida na pedagogia atual. As referências são das mais diversas procedências, tanto aqueles que são a favor como daqueles que são contra a autoridade”. (GADOTTI, 1994:64)
Na sala de aula, o clima que se estabelece reflete o grau de aceitação
ou rejeição, de autoridade e de diferenças, que o professor e alunos tem
reciprocamente.
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O terreno em que ambos se encontram é de luta pelo poder. Professores
e alunos tentam manipular-se para ver quem controlará o processo. Para
transcender esta divisão antagônica é necessário praticar democracia.
Porém, para ser democrática é importante que o professor nunca
transforme sua autoridade em autoritarismo. Ele nunca poderá deixar de
exercer sua autoridade, pois sem ela fica muito difícil manter a liderança e
estabelecer os limites necessários na liberdade dos alunos.
FREIRE (1987:115) é quem diz que “a liberdade precisa de autoridade
para se tornar livre”. No momento em que o professor utiliza sua autoridade
como imposição, repressão, coação ou discriminação, aniquila a riqueza
dialética da sua relação com os alunos e instaura o autoritarismo. O
autoritarismo surge do uso indevido do poder.
A concepção autoritária castra a expressão dos desejos do educando,
levando a passividade, à homogeneidade, faz do aluno um mero repetidor de
conhecimentos e de desejos alheios.
CHAUÍ, citada por GADOTTI (1994), afirma que: “O uso do saber para o
exercício do poder, reduz os estudantes à condição de coisas, roubando-lhes o
direito de serem sujeitos de seu próprio destino”. (GADOTTI, 1994:62)
Se o professor permite que seus alunos dialoguem, questionem, reflitam,
discordem num clima recíproco, eles mesmos poderão organizar suas idéias e
valores, estabelecendo os limites da autoridade do professor, tornando-se
responsáveis por sua autonomia e seus próprios direitos. Assim sendo, não
haverá lugar para dominações nem subordinações e sim uma relação dialética,
onde professor e aluno têm consciência do que cabe a cada um. Numa relação
democrática, onde exista autoridade, nunca autoritarismo.
2.2. A função do professor
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O papel do professor é fundamental durante o processo ensino-
aprendizagem. Sua atitude para com os alunos pode influenciar de maneira
decisiva a construção da auto-imagem deles, de sua maneira de ver a si
mesmos. O professor pode promover ou estimular o crescimento emocional de
seus alunos todos os dias, de mil e uma formas. O mesmo já deve ter
percebido quanto sua figura é significativa para seus alunos. E isso tem
conseqüências bem sérias. Nem que fizesse um grande esforço para apenas
transmitir novos conhecimentos às crianças, um professor não conseguiria.
Seu método de ensinar, suas atitudes, o jeito de se relacionar com cada aluno,
e até mesmo a freqüência com que fala com cada um, o interesse e carinho
que demonstra até sem querer, estariam influenciando todo o desenvolvimento
afetivo das crianças. Em conseqüência ele estaria influenciando sobre a
formação do autoconceito, sobre a motivação e a capacidade de aprendizagem
das crianças.
O desenvolvimento do autoconceito positivo das crianças deve ser uma
preocupação central do professor. Se tiver uma auto-imagem positiva a criança
terá necessária motivação para aprender e poderá ir adquirindo um
comportamento independente. Essa é a melhor forma de preparar o aluno para
sair-se bem nas situações novas com que se defronta.
2.3. A competência do professor
Acredita-se que aquele professor que influencia positivamente na
continuidade dos estudos de seus alunos é um profissional competente. Quer
se deixar claro que a idéia de competência é localizada em determinado tempo
e espaço, fruto das expectativas e das atuações consideradas como melhores
para a escola dos dias de hoje. HELLER (1985) diz que: “(...) a idéia de um
papel social não nasce casualmente, nem do nada, mas resulta de numerosos
fatores da vida cotidiana, dados já antes da existência dessa função e que
continuarão a existir quando ela já se tiver esgotado”. (HELLER, 1985:87)
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Pode-se analisar a competência do professor de acordo com três
dimensões: técnica, política e humana. Não se está aqui a defender maior
importância de uma ou outra dimensão, pois se acredita que uma prática
docente de qualidade se faz através do entrelaçamento destas três
competências.
A competência do professor será analisada com base nas conclusões de
CUNHA (1989), que fez uma pesquisa entre vinte e um docentes, do 2º e 3º
graus, considerados como bons professores por seus alunos e pelos próprios
colegas de profissão e nos trabalhos de RIOS (1993) e ESTEBAM (1992).
2.3.1. Dimensão técnica
Uma das características básicas da dimensão técnica é o domínio do
conteúdo pelo professor, não para que ele seja visto como a verdade absoluta,
mas de modo que saiba localizar o conhecimento trabalhado em sala de aula
histórica e socialmente.
Para que conheça profundamente os conhecimentos que serão
trabalhados, o professor deverá constantemente estar estudando e, por este
motivo, é vital que vá desenvolvendo ao longo de sua atividade profissional o
gosto pelo estudo.
Não importa apenas ser conhecedor profundo de determinados
conteúdos. O professor é dos veículos através dos quais o aluno tem acesso
ao conhecimento e, portanto, deve ser claro em suas explicações, usando a
terminologia adequada e acessível, empregando uma voz audível, pausada e
com entonação variada que dê significado ao discurso.
O professor deverá escolher a metodologia mais adequada para
favorecer a aprendizagem. Esta escolha deverá levar em consideração o
contexto sócio-histórico no qual estão inseridos a escola e os alunos. A função
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do professor é proporcionar aos alunos ambientes e oportunidades para que
participem das experiências individuais, sistemáticas ou ocasionais,
necessárias a seu desenvolvimento integral. Não basta levar os alunos a
adquirir conhecimentos e habilidades variadas: é preciso, também, que o
professor se preocupe com a formação de atitudes e hábitos que os conduzirão
a uma vida melhor, mais sadia e mais produtiva.
A educação proporcionada na escola não deve visar apenas a auto-
realização do aluno, mas, também, o seu ajustamento ao grupo, pela aceitação
plena e consciente dos valores que regem a vida do mesmo. Pode-se imaginar
que, se a criança aprende pela própria atividade, diminuída ficará a atuação do
professor; muito ao contrário, maior se torna sua responsabilidade e mais
complexa sua tarefa. Para que esta seja bem realizada, é necessário que o
professor apresente condições que o habilitem ao exercício do magistério.
Para conduzir os alunos à aprendizagem, fazendo com que se
interessem em participar das atividades educativas, deve o professor antes de
tudo ter condições de liderança. A classe é um grupo social que o professor é o
líder. Nem todos têm naturalmente esta capacidade, mas podem ser educados
nesse sentido, formando atitudes e hábitos e desenvolvendo habilidades que
os tornem aptos a guiar seu grupo de alunos. O que se chama comumente
manejo de classe é essa habilidade de conduzir a turma no sentido de alcançar
os objetivos do ensino. Para que isso aconteça, o professor precisa levar os
alunos a identificar seus propósitos em cada atividade a ser realizada na
classe, promover atividades que tragam a satisfação dos propósitos
estabelecidos; criar na classe um clima de cordialidade, cooperação e
confiança.
Se, antigamente, bastava ao professor conhecer bem a matéria a
ensinar, hoje, dele é exigido o conhecimento de cada aluno: suas aptidões e
deficiências, seu estágio e ritmo de aprendizagem, seus gostos e preferências,
21
seus problemas pessoais. Só assim poderá planejar e realizar um ensino
proveitoso, com base na realidade da criança.
O conhecimento de técnicas de planejamento a longo e curto prazo e de
modernos recursos de ensino é indispensável ao professor que, além disso,
deva estar imbuído de uma filosofia de educação que oriente seu trabalho
pelos valores dominantes na sociedade.
Exige-se, ainda, do professor uma personalidade bem estruturada, que o
habilite a guiar as crianças com equilíbrio e serenidade, contribuindo, assim,
para manter ou restabelecer a saúde mental dos alunos. É preciso ressaltar
que, por maiores que sejam seus conhecimentos técnicos, o valor do mestre
depende essencialmente de seu valor humano. Qualidades como amor
esclarecido pela criança, senso de responsabilidade, imparcialidade, autocrítica
e fé no poder da educação são condições pessoais que caracterizam o bom
professor.
O professor não nasce feito. É necessária uma formação cuidadosa para
tornar um indivíduo em mestre. Essa é a função dos cursos de habilitação para
o magistério. Mas o ensino proporcionado nesses cursos não basta. A
experiência de cada dia frente a uma classe é que aperfeiçoará o educador,
tornando-o cada vez melhor, mais seguro, mais apto a solucionar os problemas
de aprendizagem dos alunos.
Para que essa experiência seja válida, entretanto, é preciso que se
renove. Que cada dia seja realmente um novo dia, que cada ano, e, não, a
repetição exata do que passou. É em função da auto-avaliação periódica que o
professor se renova e se aperfeiçoa, pois conhecendo suas deficiências poderá
buscar recursos que as eliminem.
Um fator importante para quer a aprendizagem ocorra é o uso correto de
recursos variados. É preciso não entender esta afirmação como tecnicista ou
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reducionista, mas sim como uma forma de respeito à pessoa do aluno, de
qualquer classe social, que tem o direito de aprender tendo contato com
materiais didáticos bem feitos.
Para PERRENOUD (2000),
“Um professor competente deverá ter uma
organização metodológica que norteie a sua aula.
Não se está falando de receitas de aulas prontas,
mas sim de um planejamento que dê base para uma
atuação previamente pensada. O próprio
planejamento pode servir de material para que este
professor avalie o processo de ensino, bem como a
sua prática”. (PERRENOUD, 2000:23)
Outro instrumento de avaliação da prática docente é a elaboração de
objetivos de ensino. O professor precisa ter claro em sua mente onde quer que
ele e seus alunos cheguem. Alguns professores não compreendendo a real
importância da competência técnica se dizem conscientes politicamente,
preocupados com questões maiores e não com “detalhes” da prática cotidiana
da sala de aula. Esta idéia se contrapõe, pois o professor competente
politicamente estará sempre procurando se aperfeiçoar tecnicamente para que
através de sua atuação individual esteja contribuindo para a construção e
democratização dos conhecimentos.
Assim, pode-se perceber que a dimensão técnica representa um ângulo
da dimensão política, pois o fato do professor se preocupar com formas que
favoreçam a aquisição do saber, por pessoas das classes populares, revela um
compromisso político com a inclusão das mesmas.
Ao se optar por uma educação de qualidade que promova as classes
subalternas a níveis mais elevados de escolaridade, precisa-se investir no
23
saber fazer técnico do professor, pois este é um dos saberes que possibilita
procedimentos escolares menos excludentes e mais democráticos.
2.3.2. Dimensão política
Geralmente o professor não tem conhecimento do que realmente venha
ser política, entende esta apenas como partidária ou sindical, o que lhe dá o
desejo de desvincular-se desta prática. Pelo fato de não perceber a política
como participação de todos os cidadãos em determinada sociedade, acaba não
compreendendo a importância do seu papel político como educador.
A compreensão da importância do trabalho docente pelos professores é
uma das formas de valorização do magistério, nesta própria classe trabalhista,
bem como no imaginário social.
Quando começa a desenvolver a capacidade de análise crítica da
sociedade, nem sempre o educador imediatamente terá uma ação mais crítica
na comunidade que está inserido. Mas este já é um começo para perceber a
realidade de forma mais clara e menos ingênua.
Por menos envolvimento que o professor procure ter com partidos
políticos, movimentos sindicais, greves e outras manifestações reivindicatórias,
sua prática não tem caráter neutro, pois ela é essencialmente política.
CUNHA (1989) diz que “(...) E é por isso que a neutralidade não existe.
Pode ser que a ação docente seja, muitas vezes, pouco reflexiva, até ingênua.
Mas nem por isso deixa de ser uma prática política, que evidencia valores”.
(CUNHA, 1989:151)
O que se espera de um professor competente politicamente é que ele
tenha uma visão articulada dos vários aspectos escolares, de sua formação
como professor, de sua prática, da organização escolar, bem como uma
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compreensão das influências que sofre no seu dia-a-dia, resultantes dos fatos
sociais mais globais.
Quando o professor possui real consciência de sua ação, tem maiores
condições de perceber que o fracasso escolar é causado por vários fatores e
não apenas por responsabilidade individual do aluno ou de sua família. Além
disso, será capaz de entender que sua atuação docente é um dos
determinantes na reprovação, evasão ou aprovação dos alunos.
Dentro dos limites impostos pela sociedade o professor comprometido
com a busca de um mundo mais justo irá descobrir como sua ação, pequena,
mas multiplicadora, pode contribuir para que seus alunos sejam mais críticos e
não internalizem suas condições de vida como decorrentes, única e
exclusivamente de sua capacidade.
Professor e aluno irão elaborar, juntos, estratégias que resultem no
alcance de um nível maior de escolaridade.
2.3.3. Dimensão humana
A Educação Infantil é um dos graus de ensino que talvez demande maior
competência do professor. Isso porque as crianças ainda estão desenvolvendo
seu autoconceito. Segundo ESTEBAN (1992), os alunos das classes populares
trazem de seu cotidiano um autocontexto negativo, que interfere
prejudicialmente na aprendizagem e no desenvolvimento.
O professor deve se preocupar em tornar a aula mais agradável e
interessante através do uso do bom humor. Além disso, deve expressar a
crença na capacidade de seus alunos, reforçando positivamente suas
respostas. O fato de se relacionar bem com a turma também facilita a
aprendizagem.
25
Buscar conhecer a realidade dos alunos e as necessidades da
comunidade a fim de adequar a forma como os conhecimentos serão
trabalhados revelam o respeito do professor com a singularidade de cada
comunidade.
Ser competente humanamente não significa ser aquele professor
“bonzinho” e paternalista, que aceita as desculpas dos alunos quando estes
não realizam suas obrigações ou trabalhar uma quantidade menor de
conteúdos por considerar que as pessoas das classes economicamente
desfavorecidas são coitadinhas, atribuladas e por isso não terão condições de
suportar um “ensino forte”.
Agir de forma humana é conhecer a adversidade da realidade
econômica de seus alunos e incentivá-los a sempre irem além de suas próprias
expectativas, a descobrirem coisas novas, a continuar estudando e exigir o
melhor deles.
Este estudo reflete a preocupação com índices cada vez mais elevados
de reprovação e evasão nas classes populares. Daí a importância de formar
professores conscientes dos mecanismos extra e intra-escolares que produzem
o fracasso dos alunos e, ao mesmo tempo, competentes no sentido de
colaborar para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária para os
próximos anos.
Para ANTUNES (2001),
“Ser amigo dos alunos, compreensivo e companheiro, ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção do conhecimento, agindo como agente entre os objetos do saber e a aprendizagem, ser para o aluno seu decifrador de códigos e receptor de suas muitas linguagens, significa estabelecer limites e construir democraticamente uma interação onde em lugar da opressão e da prepotência eleva-se à dignidade de
26
quem educa, a certeza de quem planta amanhãs”. (ANTUNES, 2001:60)
Existem várias outras atribuições que formaram a imagem de um
professor competente. Uma delas é a relação afetiva que o educador deve ter
com a profissão e com a sua matéria de ensino, demonstrando prazer pelo fato
de estar em sala de aula e gosto pela sua ação de intervir diretamente na
aprendizagem. A postura que se espera dos educadores é que procurem cada
vez mais ter aperfeiçoado suas competências técnicas, política e humana.
É claro que pelo fato de serem seres humanos inconclusos, nunca a sua
prática chegará à perfeição. Mas o importante é não deixar de buscá-la, a fim
de que a sua prática seja cada vez melhor, dentro do contexto em que
estiverem inseridos.
Mesmo que a escola seja uma instituição criada para reproduzir o “status
quo”, existem alguns educadores competentes que através de sua ação
buscam contribuir para a construção de uma sociedade mais democrática,
formada por cidadãos conscientes da realidade global que os cerca.
Não se acredita no mito do professor perfeito e sim em professores que
continuarão sempre em formação, tentando superar os limites que o cotidiano
vier a lhes impor.
Ter consciência de que não é tarefa fácil viabilizar uma prática
transformadora, oposta ao jogo de forças das classes dominantes. Isto porque
geralmente tem-se dificuldade em encontrar o equilíbrio entre uma postura
ingênua, que acredita que a escola tenha um poder mágico de sozinha poder
transformar a sociedade, e a postura fatalista, que vê a escola apenas como
reprodutora da sociedade. As duas posturas remetem ao imobilismo que
paralisa uma ação produtiva.
27
O equilíbrio entre estas duas posturas chama-se possibilidade.
Geralmente esta não se encontra de forma concreta na realidade objetiva;
precisa de mãos capazes e dispostas a construí-la. A construção pressupõe
conhecer o que já existe como ruptura e ao mesmo tempo como base para
imaginar e concretizar a mudança. Mudar sem sempre significa romper com o
passado; às vezes representa a continuação do que já existia com uma postura
mais crítica e competente. A mudança pressupõe a exploração dos limites,
como forma de reduzi-los e a elaboração de estratégias que viabilizam o
projeto que se quer para uma determinada sociedade.
Os educadores não podem viver sonhando de forma acrítica achando
que a educação é a alavanca de transformação social; mas, ao mesmo tempo,
não basta esperar que algo mágico aconteça e transforme a realidade com
profundas desigualdades sociais.
O professor precisa aprender a acreditar no seu trabalho como fator de
multiplicação de idéias que venham a contribuir para transformação que se
traduz em sonhar com os pés no chão e com a cabeça nas nuvens.
28
CAPÍTULO III
O ALUNO EM QUESTÃO
Assim como o professor, o aluno também faz parte de uma sociedade
extremamente contraditória e, como qualquer outro indivíduo, possui
capacidade de ação e crescimento. Sendo assim, suas experiências e suas
histórias são fatores determinantes do seu relacionamento.
Trazendo sua história de vida, suas experiências, ele chega à escola
cheio de expectativas e curiosidades e sua chegada implica num conjunto de
descobertas de si próprio e do mundo que o rodeia.
As ações e relações do aluno com este mundo são impulsionadas,
principalmente, pela força do desejo e é, através do diálogo com o outro que
ele estabelece sua existência ativa no mundo, expressando seus desejos.
Na relação educativa, o aluno é o sujeito que busca conhecimentos,
habilidades, modos de agir, de pensar, e nessa busca procura formas
dialógicas de interação com o professor.
LUCKESI (1990) afirma que:
“O educando é o sujeito que necessita da mediação do professor para reformular sua cultura, para tomar em suas próprias mãos a cultura espontânea que possui para reorganizá-la com a apropriação da cultura elaborada”. (LUCKESI, 1990:118)
Cada aluno traz para a sala de aula seus desejos, suas diferenças
socioeconômicas, culturais, étnicas, de gênero; traz contrastes. Porém, na
escola estes contrastes são trabalhados como se fossem naturais na
29
sociedade, não são discutidos dentro de uma perspectiva histórica. Ignoram-se
os conflitos, sem tentar compreendê-los como parte do encaminhamento na
solução de possíveis problemas.
Segundo ANTUNES (2001),
“(...) um aluno não vai à mesma apenas porque quer aprender. Na maior parte das vezes, não quer aprender, odeia assistir aulas ou fazer lições, acha “chato” estudar, detesta ter que suportar professores, mas paciência, a obrigatoriedade da escola não admite objeções e lá fica o professor ministrando aulas para os que querem e os que não querem aprender. Como motivá-los? De onde vem a motivação? Não cabe, neste caso, ao professor a resignação do médico, faz parte da dignidade de seu ofício de mestre motivar os alunos, fazê-los gostar de aprender, quer queiram ou não. Nasce assim a responsabilidade de algumas das mais complexas e difíceis competências do professor e constitui seu ofício tentar implantá-las”. (ANTUNES, 2001:55)
Na sala de aula ocorre o encontro das diferenças. Defrontam-se
múltiplas histórias de vida, da vida dos professores e alunos. Confrontam-se
preconceitos e criam-se resistências.
Neste espaço, para se entender alunos e professores é preciso levar em
consideração seus modos de sentir, criar e dar sentido ao mundo que os cerca,
percebendo que seus afetos, desejos, emoções, entendendo-os como seres
que trazem e fazem história.
Os adultos desejam que tudo caminhe conforme suas vontades. Diante
de um outro adulto em uma relação de igualdade, fica mais difícil impor o modo
de pensar. Mas diante de crianças ou de pessoas submetidas à autoridade ou
mais dóceis, quase sempre existe uma imposição. Sem perceber, bloqueiam-
se os projetos e sonhos destas pessoas.
30
Frustradas, respondem às idéias com a apatia e o desinteresse. A
mensagem que se passa é de que aquilo que trazem dentro de si não tem
valor. Ou seja, que a sua contribuição é desnecessária. Pior ainda, que não
têm nada a oferecer. Esvaziados de sua humanidade – seus desejos,
sentimentos, idéias – a sensação é de ofensa e nulidade. Afinal, o que cada um
tem dentro de si talvez seja, para cada indivíduo, o que há de mais importante.
Este tipo de procedimento existe nas escolas, onde ainda é comum a
prática de se levar tudo pronto para os alunos. Ele nasce da idéia de educação
que trata o aluno como uma tábua rasa que nada conhece. Cabe ao professor
depositar nele todo o conhecimento. Do aluno nada se espera.
Quem deseja verdadeiramente educar deve deixar de impor
arbitrariamente as suas vontades, cedendo a vez para a vontade do outro. E
para isso é preciso que o professor deixe de se julgar dono da verdade, abrindo
mão da vaidade de ter a “sua idéia” realizada e admirada.
É fundamental que os alunos passem pela experiência de verem
realizadas as suas idéias e vontades. Deixá-los estar no mundo como alguém
capaz de realizar sonhos e projetos.
FREINET, citado por MAURY (1993), aponta que “qualquer pedagogia
será falsificada se não se apoiar, primeiro, no educando, em suas
necessidades, seus semelhantes e suas aspirações mais íntimas”. (MAURY,
1993:36)
Porém é necessário não confundir o respeito aos sentimentos e desejos
do aluno com a falta de limites. É condição fundamental aprender que vontade
alguma pode existir soberana. A falta de limites é sempre prejudicial e tem
conseqüências drásticas.
31
Trata-se de aprender a equilibrar a vontade própria – do professor – com
a do outro – o aluno, ou seja, aprender a relacionar-se. Saber ceder quando
necessário e reconhecer quando à vontade do outro é mais pertinente, sensata
ou melhor para o momento. É aprender, enfim, que ninguém é perfeito e que a
imperfeição faz parte da condição humana.
Com o outro se revezam os momentos de predomínio das diferentes
vontades. É também como o outro que se podem construir idéias e vontades
semelhantes quando se reflete, coletivamente, sobre o que é mais justo e ético
para todos.
As crianças acreditam no que os adultos dizem. Cada palavra possui
uma influência muito grande sobre ela. Se o professor diz que seus alunos são
“levados”, “incapazes” e burros, eles vão se comportar como se fossem
levados, incapazes e burros. Estas palavras funcionarão como um espelho,
dando a eles a imagem de si próprios. Com o tempo, o aluno acaba por
identificar esta imagem negativa, internalizando-a. A lógica é de que
acreditando que é o pior, resolve dar o pior de si.
Mas, na verdade, o aluno não é incapaz. Ele apenas responde da forma
pela qual se espera que ele responda. O rótulo prende o aluno naquele lugar
esperado e torna-se difícil para ele romper com essa armadilha. Cercado por
palavras negativas, o aluno acaba tornando-se um problema.
Quando o professor rotula, está dando mostras de uma dificuldade que é
muito mais sua, do que do aluno. E o professor que não acredita na
competência deles.
Alguns professores desistem do aluno logo no início do ano, quando
sentenciam “este aluno não vai conseguir”. O professor deve aceitar os alunos
como eles são, permitindo-lhes que assumam o encargo de seguir novas
direções, segundo seus próprios interesses.
32
ROGERS (1971), vê o professor como facilitador da aprendizagem.
Facilitar a aprendizagem significa liberar a curiosidade, desencadeando o
senso da pesquisa, abrir tudo à indagação e à análise, reconhecendo que tudo
se acha num processo de mudança.
Essa facilitação baseia-se em certas qualidades de comportamento
entre o professor/facilitador e o aluno. Confiança no organismo humano,
autenticidade do professor, aceitação do aluno e compreensão empática são
as qualidades encontradas neste professor.
Acreditar nos alunos é essencial para que a aprendizagem ocorra. Eles
merecem crédito, pois são uma fonte de riqueza, criatividade e sensibilidade,
são capazes de se organizar, manifestar seus desejos de conhecer e de
aprender.
A expectativa positiva favorece a auto-imagem, que é essencial para a
confiança do aluno em si mesmo e, em conseqüência, para a aprendizagem.
Além disso, o afeto, o carinho e a valorização das respostas e experiências
pessoais, sociais e culturais do aluno servem como pano de fundo para a
construção de seus conhecimentos.
33
CAPÍTULO IV
A INTERAÇÃO NA SALA DE AULA
“Uma sala de aula do tamanho do mundo busca favorecer a livre
expressão, através das diferentes linguagens, com o colorido da imaginação e
da fantasia de todos”.
SME – MULTIEDUCAÇÃO (1996)
É impossível discutir a prática educacional omitindo ou excluindo a
relação professor/aluno porque é justamente desta relação que emerge o
projeto pedagógico.
Tanto o professor quanto o aluno, entram na relação impregnados de
histórias da vida de cada um, de suas experiências singulares. No início do ano
letivo, ambos se encontram cheios de expectativas.
Uma constatação importante que se pode fazer é a da dificuldade de se
escapar de uma expectativa negativa que se cria em relação a qualquer
pessoa. No caso que acreditam em si e nos seus alunos, confiando que todos
são capazes, certamente, existirão condições muito favoráveis para a
construção do saber.
Mas, se ao contrário, o professor faz “profecias”, cristalizando opiniões e
conceitos a respeito de seus alunos, através de impressões nem sempre fiéis
ao que os alunos são, aquelas podem acabar por se realizar, pelas condições
que os próprios professores criam.
34
Para VYGOTSKY (1989) é através da linguagem se cria o elo entre
aluno e professor, e não só da linguagem verbal, mas todas as formas de
linguagem que atingem a sensibilidade e emoção, que tem o poder de
ultrapassar os limites do intelecto, permitindo uma visão mais ampla do mundo.
A emissão, transmissão e recepção de informações são funções da
comunicação entre alunos e professores, porém uma boa comunicação
depende também do respeito mútuo, da cooperação e da criatividade. Sendo
esta comunicação interrompida ou adulterada haverá uma deficiência no
crescimento que a troca propiciaria.
Na relação professor-aluno, o diálogo é fundamental. A atitude dialógica
no processo ensino-aprendizagem é aquela que parte de uma questão
problematizadora para desencadear o diálogo, no qual o professor transmite o
que sabe, aproveitando os conhecimentos prévios e as experiências anteriores
do aluno. Assim, ambos chegam a uma síntese que elucida, explica ou resolve
a situação-problema que desencadeou a discussão.
De acordo com FREIRE (1987), “o diálogo valida ou invalida as relações
sociais das pessoas envolvidas nessa comunicação”. (FREIRE, 1987:123)
Assim, se o professor considera o ensino um processo interativo e
acredita no seu aluno, preocupando-se exercerá práticas de sala de aula
compatíveis com esta posição.
FREIRE, citado por GRILLO (1988) diz,
“Se os estudantes vêem ou ouvem o desprezo, o tédio, a impaciência do professor, aprendem que são pessoas que inspiram desgostos e enfado se percebem o entusiasmo do professor quando este lida com seus próprios movimentos de vida, podem descobrir um interesse subjetivo na aprendizagem crítica”. (GRILLO, 1988:69)
35
A interação que ocorre em sala de aula é mais que um simples encontro.
Professores e alunos constroem uma compreensão mais abrangente do que
significa existir socialmente num contexto marcado por profundas contradições
econômicas, sociais e culturais. Além disso, existem as motivações, interesses
e expectativas de todos envolvidos neste processo.
GRILLO (1998) acredita que,
“Por isso é fundamental a todo professor ter uma clara visão do mundo, de sociedade e uma filosofia de educação explícita que lhe permita reconhecer que seu compromisso com o educando não se restringe aos conteúdos curriculares, mas também há entre eles um compromisso político”. (GRILLO, 1998:67)
FREIRE (1983) aponta que o papel do professor seria o de contribuir
para a “desocultação” das verdades postas pela ideologia dominante. O
professor politicamente comprometido deve, então, contribuir para que os
alunos construam uma consciência que lhes possibilitará serem sujeitos de sua
própria história.
O professor deve partir do cotidiano dos alunos, buscando seus valores
e expectativas, atuando como mediador da educação num processo que busca
transformações democráticas e sociais.
Freire aponta este papel mediador da educação no processo de
transformação social e propõe uma educação comprometida com os interesses
amplos da maioria da população, com a democracia, com a liberdade e os
direitos da cidadania.
Na concepção de LUCKESI (1990), o professor assume o papel de
mediador entre o conhecimento acumulado e em processo de acumulação e o
educando. Esta mediação ocorre através do diálogo que se estabelece, na
36
medida em que a sala de aula torna-se um ambiente positivo e livre de
tensões. Desse modo é importante que o professor, em sua prática pedagógica
assuma uma postura dialógica no dia a dia da sala de aula.
Para exercer seu papel o professor necessita de conhecimentos e
habilidades suficientes para que ele auxilie o educando no processo de
elevação cultural.
O professor tem que estar plenamente consciente de que se vive em
uma sociedade profundamente marcada por conflitos sociais e que tanto ele,
quanto os alunos são afetados por estes conflitos. É preciso compreender a
realidade com a qual trabalha através de sua história, sua cultura, suas
relações de classe e produção e suas perspectivas de transformação ou
reprodução. Por isso, o professor precisa ser tecnicamente competente.
Para LUCKESI (1990), “(...) seja lá qual for o campo teórico com o qual
trabalhe, o professor tem necessidade de possuir competência técnica
suficiente para desempenhar sua atividade”. (LUCKESI, 1990:116)
Convém lembrar que atualização e ampliação de conhecimentos
necessários à competência técnica exigem esforços do professor e do sistema
no qual ele está inserido. E ainda, desejo e vontade profissional realmente
comprometido com a função educativa.
4.1. A importância do afeto
O ser humano age em função de seus desejos. Ou seja, age para suprir
alguma necessidade ou carência, para atingir um resultado, seja este material,
político ou amoroso.
O professor em sua tarefa manifesta seus desejos em tudo que faz. O
professor que deseja, estabelece suas metas, e age em função delas. Caso
37
não exista neste profissional um forte e explicito desejo, sua ação poderá
mecanizar-se e não produzir os resultados esperados, já que ele não usará as
forças necessárias a seu serviço.
A falta de desejo, na construção de resultados em sala de aula,
manifesta-se de forma apática. Não existe “garra”; caminha-se de forma
comum; sem alegria, sem vibração, sem emoção.
O professor precisa buscar e tentar compreender seus desejos,
observando a si próprio e ao outro, pois vai lançar seus desejos para o outro.
Para FREIRE (1994),
“(...) é na fala do educador, no ensinar (intervir,
devolver, encaminhar), expressão do seu desejo que
foi lido, compreendido pelo educando, que ele tece
seu ensinar. Ensinar e aprender são movidos pelo
desejo e pela paixão”. (FREIRE, 1994:11)
O desejo traz o prazer de ser, viver e agir. Traz, também, trabalho, por
que enfrenta o caos da ação criadora, as diferenças e os conflitos, o equilíbrio
e o desequilibro, a mudança, a transformação. Mas, este trabalho também
pode significar prazer, entusiasmo e trazer mais alegrias do que desgostos.
Educar assim como viver é estar em conflito permanente. É produzir
muito mais dúvidas do que certezas. É ter vontade de construir e realizar num
espaço de luta e conquistas. Mas, acima de tudo é acreditar que vale a pena e
que só desperta paixão e desejo em aprender quem tem paixão e desejo em
ensinar.
38
Como já se pôde perceber, nas relações de ensino/aprendizagem, o
afeto é algo muito valioso, uma vez que estabelece o vínculo afetivo entre
alunos e professores.
A presença do afeto na sala de aula é um ingrediente importantíssimo,
para se poder concretizar na escola, tudo o que se espera dos professores e
seus alunos: que ensinem e que aprendam bem, com êxito.
O afeto traz o calor necessário para estimular o convívio. Não se fala
aqui daquele carinho artificial e enjoativo, mas de carinho verdadeiro que busca
o caminho do interesse, a ânsia pela descoberta e pelo conhecimento. E, que
permite ao professor atuar de forma que facilite aos seus alunos uma
aprendizagem com prazer e competência.
A prática educativa, para Piaget, deve ter o educando como um de seus
sujeitos, que constrói seu processo de conhecimento, sem fazer dicotomia
entre o cognitivo e o afetivo, numa relação dinâmica e prazerosa na busca do
conhecimento do mundo.
As relações intra e interpessoais são muito importantes também na
concepção de VYGOTSKY (1987), que considera o aluno um sujeito interativo,
que constitui seus conhecimentos e se constitui a partir das relações que
estabelece com as outras pessoas.
O aluno participa ativamente da construção de sua própria cultura e de
sua história, modificando-se e provocando transformações nos demais sujeitos
que com ele interagem.
Esta visão de aprendizagem interativa ressalta a importância das trocas
interpessoais para a constituição do conhecimento. E, para que este tenha
condição de se consolidar, o diálogo deve estar presente constantemente no
39
trabalho escolar. Para VYGOTSKY, a linguagem é a ferramenta mais
importante nesse trabalho.
VYGOTSKY (1989) ressalta, ainda, o papel do professor como agente
mediador no processo de aprendizagem, provocando desafios aos seus alunos
e ajudando-os a resolvê-los, realizando com eles atividades em grupos, onde
os mais adiantados poderão cooperar com os demais.
Cada turma é composta de indivíduos - alunos e professores – uns
diferentes dos outros. Se por trás de suas funções e do papel social que
representa, o professor reconhece a existência das pessoas únicas e
singulares que são seus alunos, amplia as possibilidades de serem criados
vínculos afetivos.
Porém, se desconsidera a importância destes vínculos na construção de
conhecimentos, conceitos e valores, tende a levar em conta, apenas o produto
do trabalho, certamente, as relações humanas poderão se revestir de um
caráter massificado, impessoal, onde não existe espaço para o afeto.
A interação direta professor/aluno se dá em sala de aula e é nela que se
deve concentrar a atenção, por ser o espaço onde todo o dia o professor tem
sua prática, seleciona conteúdos, passa suas convicções pessoais, transmite e
recebe afetos e valores. Onde se espera que o aluno possa informar-se e,
principalmente formar-se.
Para COSTA (1991), “o papel do educador é criar espaços, organizar
meios e produzir acontecimentos que façam a educação acontecer”. (COSTA,
1991:61)
A tensão e a angústia nem sempre podem ser evitados pelo professor,
pois são partes da essência mesma desse tipo de trabalho. Conviver com
esses estados emocionais não significa, de modo algum, sucumbir a eles, é
40
preciso que o professor seja capaz de equilibrar esta situação gerando outras
opostas. A afetividade e a amizade para com os alunos podem ser muito úteis
nesses momentos. Como afirma DROUET (1995), “a escola por sua vez, por
seu ambiente de disciplina, de estudo obrigatório, de regras e ordens, pode ter
uma influência negativa na criança”. (DROUET, 1995:151)
Se o professor estiver afetado pela tensão e em estado angustioso,
certamente que isso afetará também a criança já fragilizada pelo
comportamento ansioso dos pais que cobram resultados imediatos de sua
atuação na escola. Assim, práticas de descontração e exercícios capazes de
desfazer esse mal estar em que muito ajudarão para que tanto o professor
quanto o aluno se sintam mais à vontade na escola.
Os conhecimentos adquiridos pelos alunos em sala de aula passam pelo
processo de interiorização, correlacionados com os outros conhecimentos
trazidos de casa, seja por influência de seus familiares, seja pela mídia, etc.
Melhores ambientes de estudos, mais acolhedores e afetivos pode minimizar o
problema do sentimento negativo de auto-estima do educando, resgatando a
escola do seu fracasso.
4.2. A responsabilidade do professor
A natureza e a sociedade são o pólo da interação com o aluno, cabendo
ao professor administrar e fortalecer criticamente essa relação. Em hipótese
alguma, o professor deve prejudicar, e menos ainda substituir, a relação
sujeito/objeto do conhecimento. Isso pode acontecer com o professor que “faz
a cabeça” do aluno, desrespeitando sua individualidade em favor de uma
“clonagem ideológica”. Se o professor se tornar o centro do conhecimento,
todos os princípios ficam desfeitos.
Para exercer o papel de mediador, é necessário ter conhecimento do
aluno e do objeto de ensino. Planejar esse projeto é uma enorme
41
responsabilidade. Pretender desenvolver atividades pedagógicas sem levar em
consideração o nível conceitual do aluno e seu estado de espírito é temerário.
Da mesma forma, insistir em ensinar para o aluno aquilo que ele já sabe, é
tedioso. Aqui está a sabedoria do trabalho docente e curricular.
Esta visão não está relegando o professor a segundo plano. Muito pelo
contrário. Seu papel se fortalece. Ele é o planejador, o condutor do processo de
aprendizagem, o grande incentivador e administrador da curiosidade de
crianças e jovens.
Por seu intermédio, o aluno encontrará na escola as ferramentas e os
métodos da sistematização do conhecimento, aumentando a responsabilidade
e a importância do professor. Sem professor não há recursos materiais ou
tecnologia que funcione...
A ação do aluno como paradigma do processo pedagógico só
acontecerá na medida da criatividade, da competência e do envolvimento
emocional do professor. O melhor professor é aquele que ensina a aprender,
tendo como maior aliado à realidade que envolve seus alunos em desafios
cada vez mais complexos. Cabe aqui o professor como facilitador ou mediador,
consciente de que o tipo de relacionamento com seus alunos, afeta
profundamente os resultados, facilitando, dificultando ou até bloqueando a
aprendizagem. À ironia viciada do professor que finge que ensina e o aluno
finge que aprende, contrapõe-se a cumplicidade virtuosa: alunos críticos,
criativos, inteligentes estimulam e exigem professores do mesmo perfil, e vice-
versa.
É o professor quem faz o aluno progredir, na medida em que
desencadeia a problematização, oferece os materiais e orienta quanto aos
procedimentos da aprendizagem. De fato, não existe construtivismo sem um
bom professor. Ele é o suporte intelectual e emocional do aluno na interação
com o meio, comprovando a constatação histórica de que, para além de toda e
42
qualquer moderna teoria pedagógica, o professor continua sendo o modelo
para seus alunos. Sua personalidade termina “marcando-os”, não tanto pelo
seu discurso, mas, sobretudo, pelas suas atitudes comportamentais, éticas e
científicas frente à realidade.
43
CAPÍTULO V
O RELACIONAMENTO SEGUNDO ALGUNS TEÓRICOS
De acordo com as abordagens mais modernas, há uma
descentralização do professor como comandante de todo processo, embora
essas abordagens também apresentem diferenças na forma de ver essa
questão.
Na abordagem cognitiva o professor é um orientador e criador de
desafios, acompanhando seus alunos para que encontrem por si só as
soluções.
Na abordagem sócio-cultural, alunos e professores participam juntos do
processo. Deverá haver nesta abordagem. de acordo com PILETTI (1998),
constante troca de papéis pois “a criança tem que ser sujeito da sua própria
transformação e não aluno objeto apático a ser enquadrado. Quando esta
relação não se efetiva não há educação.” (PILETTI,1998:72)
Na abordagem humanista o relacionamento professor/aluno adquire vital
importância pois o professor assume o papel de facilitador da aprendizagem e,
para que essa facilitação ocorra, o professor deverá usar de autenticidade e
congruência.
ROGERS (1978) explicita:
“O objetivo de nosso sistema educacional, desde a escola maternal até a escola de pós-graduação, deve derivar-se da natureza dinâmica de nossa sociedade, uma sociedade caracterizada por mudança, não por tradição, por processo, não por rigidez estática”. (ROGERS, 1978:56)
44
A sala de aula está longe de formar um grupo homogêneo. Tanto a
origem social diversa dos membros do grupo, quanto às experiências de sua
convivência na sala de aula, produzem numerosos e variáveis processos de
interação social, ao mesmo tempo em que se formam diferentes subgrupos,
mais ou menos duradouros.
Somente através da educação libertadora, educador e educandos
podem tornar-se sujeitos da própria educação. Somente o diálogo possibilita a
educação para a liberdade e a formação de pessoas capazes de participar
criticamente.
Não pode existir uma teoria pedagógica que implica em fins e meios de
ação educativa, que esteja isenta de um conceito de homem e de mundo. A
possibilidade de admirar o mundo implica em estar não apenas nele - mas com
ele, consiste em estar aberto ao mundo, captá-lo e compreendê-lo, em atuar de
acordo com suas finalidades a fim de transformá-lo.
Quando se fala em humanização - objetivo básico de sua busca
permanente - se reconhece o seu contrário: a desumanização. Ambas são
possibilidades históricas do homem como um ser incompleto e consciente de
sua incompleticidade.
A concepção humanista e libertadora, jamais dicotomiza o homem do
mundo. Em lugar de negar, afirma e se baseia na realidade permanentemente
mutável. Estimula a criatividade humana. Tem do saber uma visão crítica: sabe
que todo saber se encontra submetido a condicionamentos histórico-
sociológicos. Sabe que não há saber sem busca inquieta, sem medo de
arriscar e criar.
A concepção humanista realiza-se através de uma constante
problematização do homem- mundo.
Para ROGERS (1978): “Ninguém educa a ninguém; ninguém tampouco
45
se educa sozinho; os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.
(ROGERS,1978:25)
Dessa forma, a relação professor/aluno se constitui como verdadeiro
fazer humano. Educadores/educando e educando/educadores, mediatizados
pelo mundo, exercem sobre ele uma reflexão cada vez mais crítica, inseparável
de uma ação também cada vez mais crítica. Identificados nessa reflexão - ação
e nessa ação - reflexão sobre o mundo mediatizador, tornam-se ambos -
automaticamente - seres de práxis.
5.1. A abordagem de Paulo Freire
Para FREIRE (1983), “(...) esta transformação, contudo, só tem sentido
na medida em que contribuir para a humanização do homem”. (FREIRE,
1983:25)
FREIRE (1989), chama ainda a atenção para a ignorância da escola no
cumprimento de suas funções específicas: de ensinar, de estudar, de aprender
a ler, a escrever, a contar. De estudar história e geografia e de compreender a
situação ou as situações do país.
A relação professor/aluno exige uma disciplina intelectual que não se
ganha a não ser praticando. De acordo com as abordagens mais modernas, há
uma descentralização do professor como comandante de todo processo,
embora essas abordagens também apresentem diferenças na forma de ver a
questão.
O bom relacionamento do professor com seus alunos é fundamental no
processo educativo. O educador deve antes conhecer a natureza da criança.
Para conhecê-la o professor precisa do auxilio da biologia, psicologia, filosofia,
sociologia e antropologia.
É essa natureza que o professor precisa levar em conta para relacionar-
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se bem com seus alunos. Respeitar cada um tal como é. Para que essa
relação ocorra de maneira favorável a ambos, o educador deve ter disposição
de atender às solicitações dos alunos, deve dar condições para que os alunos
tenham respostas às suas perguntas, questionamentos e curiosidades. Criar
oportunidades para conversas e bate papos informais com os alunos. E até
mesmo permitir reclamações e críticas.
Quando um aluno se sente reprimido ou humilhado pelo professor, o
professor acaba se distanciando e o aluno se retrai. O aluno precisa ter
reconhecido o seu esforço, quer pela satisfação da realidade da atividade em
si, quer pelo reconhecimento do professor.
FREIRE (1989) ressalta: “(...) mostremos interesse pela curiosidade dos
alunos, consideremos as suas idéias, as suas iniciativas. Respeitemos e
apoiemos a vontade do aluno em querer aprender determinadas coisas,
mesmo que sejam fora de sua matéria”. (FREIRE, 1989:76)
Na medida do possível, o professor deve manter a classe com alto
moral; elogiar a classe como um todo; pela colaboração, pelo esforço, pela
lealdade e por qualquer razão merecida. O elogio à turma deve ser em público.
Mas o elogio para um único aluno deve ser em particular. Isso se faz para não
diminuir os outros ou provocar inveja.
Deve-se considerar todo e qualquer aluno como gente importante, e não
magoá-los. Logicamente chegará o dia em que o professor precisará negar
alguma coisa ao aluno. Após ouvi-lo, o professor deverá levar o aluno a
entender por que não pode ser atendido.
O aluno tem que ser conquistado na amizade. Agressão provoca reação;
e o aluno reage para se defender.
O aluno se relaciona bem com os que pensam e agem psicologicamente
de forma semelhante a ele. Brincar e sorrir não custa nada. O sorriso amolece
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o coração e abre as portas para a compreensão. O dinamismo e o entusiasmo
do professor contagiam o aluno.
O professor deve fazer com que os alunos confiem e peçam apoio a ele.
Assim, o mesmo os terá como amigos e poderá exercer melhor sua função de
educador.
Confirmando todas estas afirmativas, a sala de aula deve ter um clima
agradável. Clima em que o aluno se sinta bem, se sinta útil, aceito,
compreendido e livre para se expressar à vontade, imaginar e criar. Esse clima
dá ao aluno segurança e apoio. É condição para uma boa aprendizagem e para
um crescimento emocional e psicológico saudável.
Para FREIRE (1989), “nenhuma pessoa gosta de solidão, de isolamento.
Todas sentem necessidade de estar com outras. Crianças sentem essa
necessidade mais forte ainda”. (FREIRE, 1989:85)
O professor não deve tentar mudar o aluno ou fazer com que ele
aprenda sob pressão. Ele deve esperar, ser persistente e não perder a
paciência. O aluno pode amadurecer e mudar com o passar do tempo.
Ninguém é mais importante do que o outro. Todas as pessoas são importantes
e merecem respeito e consideração, pelo simples fato de serem gente.
De acordo com FREIRE (1989), “o professor simpático e competente é
que é imitado pelos alunos. Este exerce maior influência em suas atitudes. É
este que passa a ser o modelo de vida para eles”. (FREIRE, 1989:92)
Os alunos têm pais, mas a maioria dos alunos busca outros padrões de
referência, principalmente nos professores.
Para que possa exercer com mais eficiência a importante função de
educador, o professor deve procurar conhecer bem cada um de seus alunos.
Tentar descobrir os seus interesses, necessidades e mesmo as fraquezas e
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limitações.
Ouvir o aluno pode ajudá-lo. Ele pode estar precisando de um amigo que
ele julgue uma figura importante dentro de seu mundo limitado de aluno. Toda
pessoa gosta de ser amada, estimada, considerada.
O homem nasceu para ser feliz. A primeira coisa que todo aluno deveria
ter assegurado é a sua felicidade. O professor pode e deve ser um instrumento
assegurador de felicidade para ele.
Professor e aluno devem dialogar. O professor deve tentar descobrir por
que o aluno (cada aluno) não está aprendendo. Depois disto, o professor deve
orientá-lo como estudar.
Será que a escola tem que ser lugar de terror, de tortura? Ou é lugar
agradável, onde a pessoa se sente bem e vai para aprender e para se
relacionar com os outros?
5.2. A abordagem rogeriana
Apesar das barreiras encontradas, a educação não pode deixar de lado
a tentativa de preparar o indivíduo para entender, de maneira bem clara, a
significação do universo das relações interpessoais.
A importância da relação professor/aluno reside no fato de o professor
atuar como transmissor dos padrões de cultura e de ser o responsável pela
avaliação de algumas qualidades sociais muito importantes para o aluno. Sua
capacitação e a aceitação do aluno faz com que essa relação seja adequada
dos padrões ideais da sociedade.
Quando se define aprendizagem como um ato que causa satisfação, e
que a partir dessa, uma repetição do ato eminado, volta-se para a definição do
eu eminar: é transmitir conhecimentos, é adestrar? E o professor que vai
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mostrar, guiar e orientar.
Para ROGERS (1978), o mais importante é o nível de relacionamento
entre professor e aluno sem sala de aula, ele diz que o educador deve criar
condições que promovam o processo de aprendizagem. O ambiente na sala
influencia, a interação entre o professor e o aluno é essencial para a
aprendizagem.
A idéia de ROGERS(1978) é mostrar que o relacionamento do indivíduo
com o mundo deve estar o mais próximo possível de uma congruência, pois se
o mundo não permanece estático, está sempre se alterando, a educação
também não está estática, até porque as pessoas que convivem no processo
de aprendizagem não são as mesmas, sua idéia é através da sua teoria clínica,
fazer a educação adaptar-se ao novo, fazer a educação reconhecer o aluno
como indivíduo único, com objetivo e qualidades, assim como o professor com
ansiedade e capacidades diferentes uns dos outros. A idéia principal é
reconhecer que a educação está lidando com o real.
Esse processo é possível quando se coloca a disposição de
experimentar, de encontrar a congruência entre o mundo objetivo e o mundo
percebido, e que isso proporcione uma facilitação.
Algumas idéias ajudarão o professor (facilitador) a usar a criatividade e
melhorar o aprendizado do aluno. Tais como: trabalhar com os problemas da
forma como se apresentam, sem a necessidade de minimizar, sem isolá-los;
fornecer aos alunos recursos diferentes dos utilizados freqüentemente (livros,
vídeos, laboratórios...); criar um clima de liberdade, onde o estudante possa
estabelecer rumos, metas e poder planejar como, quando e onde irá iniciar e
finalizar seus estudos para a compreensão de determinado assunto; o ensino
por parte de seus pares, um aluno auxilia outro estudante, podendo surgir daí,
uma relação de troca e de ajuda, melhorando assim o desempenho de ambos.
É importante também que o professor (facilitador) promova a auto-
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avaliação. Ela exige do aluno princípios responsáveis, pois quando o aluno se
auto-avalia, ele analisa o que realmente aprendeu e o que ainda não está
totalmente esclarecido.
ROGERS (1978), deixa bastante claro também que a eficácia dos
mesmos, depende da vontade do professor em criar um meio, um ambiente
com a real liberdade de aprender.
Embora todas as teorias atuais do processo ensino/aprendizagem sejam
centradas no aluno, a abordagem humanista tem uma forma especial de ver e
entender o relacionamento professor /aluno porque o coloca dentro do
relacionamento interpessoal. Assim, o que provoca uma interação harmoniosa
e quase perfeita para haja um desenvolvimento satisfatório do processo
ensino/aprendizagem são alguns pontos, que as outras abordagens não
consideram, mas que adquirem vital importância dentro do enfoque humanista.
Assim, de acordo com ROGERS (1978), a interação professor/aluno é o
ponto básico através do qual vai ocorrer a facilitação da aprendizagem, pois, o
professor na realidade, não ensina, facilita o processo.
Ainda coloca, como ponto principal da facilitação da aprendizagem,
certas qualidades de comportamento que ocorrem no relacionamento
interpessoal entre o facilitador e o aprendiz.
Essas qualidades começam pela autenticidade do educador. Afirma
ROGERS (1978), que o professor deve ser uma pessoa real diante de seus
alunos, sem máscara, aceitando seus próprios sentimentos de entusiasmo ou
tédio, de interesse ou irritação, sem precisar impô-los aos seus alunos, para
que os mesmos também aceitem os sentimentos de seu professor e os seus
próprios.
Para ROGERS (1978), ser autêntico é ser despojar do papel, é não
aparentar o que não se é, o que torna o ser mais apto a se relacionar com os
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outros.
“Quando posso aceitar o fato de que tenho muitas deficiências, muitos defeitos, cometo uma porção de erros, sou freqüentemente ignorante quando deveria ser informado, freqüentemente sou preconceituoso em lugar de ter o espírito aberto, freqüentemente revelo sentimentos que as circunstâncias não justificam, então serei muito mais autêntico. E quando assim me apresento, sem disfarce, sem fazer esforço para ser diferente do que sou, posso aprender muito mais — ainda mesmo se sou criticado e hostilizado — e me mostro muito mais descontraído, sou muito mais capaz de me aproximar dos outros. Além disso, minha boa disposição par ser vulnerável gera nos outros, com quem me relaciono, sentimentos mais autênticos, o que é extremamente compensador”. (ROGERS, 1978: 82)
Dessa forma, conclui que os alunos progridem porque estão em contato
com alguém que é.
Paralelamente à autenticidade, outra qualidade que deve estar presente
no educador é o apreço com aceitação e confiança no educando.
O apreço do aprendiz envolve o apreço aos seus sentimentos, suas
opiniões, sua pessoa. E a aceitação do outro com seus valores, suas
imperfeições, sem muitos sentimentos e muitas potencialidades. E a confiança
de que essa pessoa é fundamentalmente merecedora de crédito. E também a
confiança no organismo humano e nas suas potencialidades.
Para ROGERS (1978), “Os seres humanos tem natural potencialidade
de aprender. São curiosos a respeito do mundo em que vivem, até que, e a
menos que, tal curiosidade seja entorpecida pelo nosso sistema educacional”.
(ROGERS, 1978:56)
O professor deve traçar uma meta e procurar cumpri-Ia. Deve depositar
em si mesmo a confiança de seu trabalho. Se este assumir uma atitude
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pessimista consegue menos porque espera menos, e o professor otimista
consegue mais porque espera mais, isto é, ele acredita no trabalho de
desenvolvimento.
Quando o professor consegue perceber e estimular as qualidades
positivas de seus alunos, provoca a acentuação das mesmas, o que vai levar à
obtenção de um rendimento muito maior desses alunos.
A outra qualidade necessária do professor facilitador, segundo ROGERS
(1978), é a compreensão empática, que ocorre quando o educador tem
habilidade de compreender as reações individuais do aluno, de estar na
situação do outro, de ver pelos olhos do outro e, quando o professor age com
empatia, não há alunos mais estimados, mas o apreço e o afeto são
igualmente difundidos pela classe.
Desta forma, quando o professor é mais empático, cada aluno tende a
se sentir amado pelos outros, a ter atitude mais positiva em relação a si mesmo
e em relação à escola.
Assim age o professor que ouve seu aluno. ROGERS (1978) afirma que
todo o seu conhecimento obre a psicoterapia e os relacionamentos
interpessoais, o indivíduo e a personalidade foram adquiridos ouvindo os
alunos.
“É espantoso como sentimentos antes completamente apavorantes se tomam suportáveis só porque alguém nos deu ouvidos. Surpreende que o aluno parecia insolúvel. Passa a solucionar-se, depois que uma pessoa nos ouviu; quantas confusões tidas como irremediáveis voltam a fluir em cursos relativamente límpidos, quando alguém é compreendido”. (ROGERS, 1978:215)
Confiança e aceitação são fatores necessários para que o aluno e
professor facilitem a aprendizagem.
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Confiando no estudante, o professor está, assim, expressando
efetivamente sua própria confiança e fé essenciais na capacidade de seu
próprio ser.
Aprendizes, para serem bem sucedidos em suas tarefas, precisam de
comunicação. Precisam ser compreendidos, não avaliados, não julgados.
Facilitação exige compreensão e aceitação.
Assim, a espécie de aprendizagem que está sendo utilizada dentro
dessa relação interpessoal será auto-iniciada.
ROGERS (1978) afirma que “a aprendizagem auto-iniciada envolve a
pessoa inteira do aprendiz (sentimentos, assim corno intelecto) e é a mais
duradoura e penetrante”. (ROGERS, 1978:181)
Mesmo dentro das escolas, como são organizadas, ROGERS afirma que
existe muita oportunidade para reforma em sentido humanístico.
O mesmo observa que após a criança ter passado diversos anos na
escola, a motivação intrínseca pode estar sufocada, mas está sempre lá,
esperando ser extraída. Assim, quando o professor adota uma atitude de
transparente autenticidade, incluindo nessa autenticidade apreço e confiança
no aluno, além de uma empática capacidade de ouvir, ocorre um clima de
liberdade, uma aprendizagem e um progresso estimulante e auto iniciados.
Segundo ROGERS, os professores que adotam tais atitudes são
considerados mais eficientes e os alunos aprendem mais das matérias
convencionais.
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CONCLUSÃO
É válido e apropriado afirmar, a partir do que foi visto, que ensinar e
aprender implica no estabelecimento de uma relação de causa e efeito, é o
produto da troca das informações e das experiências pessoais entre aprendiz e
mestre.
Nessa troca, ninguém sai ileso e os resultados serão marcantes e
especiais, na medida em que marcantes e especiais forem o empenho, a
responsabilidade e as influências mútuas de quem ensina aprendendo e de
quem aprende se educando.
Há, nesse processo, uma enorme gama de ingredientes: as habilidades
inter e intrapessoais, a disponibilidade permanente para aprender, o afeto, o
desejo de vir a ser livre e feliz e uma boa dose de auto-estima e interesse que
podem facilitar a caminhada rumo ao saber ser. Afinal, como nos ensina
VYGOTSKY (1989), aprender é mais do que pensar; é desenvolver muitas
habilidades especiais para pensar sobre muitas coisas, as mais variadas e
diferentes coisas que o viver nos oferece e entender todas as mensagens que
a atenção e a observação possam captar do mundo que nos cerca.
Verificou-se neste trabalho que o relacionamento professor-aluno implica
entre outras coisas, em aceitação; parece que não somente a aceitação do
aluno pelo professor facilita a ação discente, como também a aceitação do
professor pelos alunos. Aceitar as iniciativas e as inibições, o medo e a
coragem, a participação e a omissão, o interesse e o desinteresse, o erro e o
acerto, a oportunidade e a impropriedade de certos comportamentos, para com
isso levar o aluno, na medida em que se sinta mais seguro, mais confiante, às
mudanças de comportamento pretendidas. E, é importante que se forneçam
indícios da existência desse sentimento de aceitação.
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O professor deve ser uma pessoa presente a seus alunos, já que o
contato é fundamental na educação. É através deste contato entre aluno e
professor que acontece a aprendizagem.
A presença do professor/educador como uma pessoa que pensa, age e
sente, mostrando-se como realmente ele é, transparente, sem preocupação em
mostrar-se o que não é, falível, capaz de errar e acertar, pode enriquecer
bastante a pessoa do aluno. Parece que isso encoraja o aluno a se aventurar,
a também se mostrar como ele é. A confiança no aluno deve ser demonstrada
por todos os meios, pela linguagem verbal e não-verbal; às vezes um sorriso, o
silêncio, a espera, são indícios dessa confiança.
Para que o processo educativo aconteça significativamente, não basta
que o professor entre na sala de aula e despeje informações. O homem é um
ser complexo que necessita desenvolver-se como um todo harmoniosamente:
corpo e emoção, para atuar no mundo que o cerca de forma efetiva,
transformando-se, descobrindo suas potencialidades, colocando-as em seu
próprio beneficio e de seu grupo social.
A aprendizagem se dá num movimento integrado com o
desenvolvimento. Quanto mais o aluno aprende, mais se desenvolve, através
da interação, da prática dialógica em que conteúdos significativos vão sendo
articulados aos seus conhecimentos.
Apresentando propostas e/ou condições que favoreçam uma prática
pedagógica que traga mais envolvimento, interesse, prazer e satisfação, no
relacionamento entre aluno e professor, pode-se citar: A criação de um clima
de amizade, de colaboração, de trabalho conjunto, de confiança e de respeito
mútuo; a seleção de conteúdos relacionados às experiências, vivências e
conhecimentos dos alunos; a abertura de espaços para que os alunos
formulem questões que lhes digam respeito, relacionando os conhecimentos
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aos problemas atuais e as suas situações de vida; a utilização de estratégias
dinâmicas, que incentivem a participação de todos.
Para favorecer o desenvolvimento de consciências críticas existe a
necessidade de substituir a costumeira relação assimétrica entre professor e
aluno por uma relação baseada no diálogo na acepção de Freire (1978), para
que desta forma possa acontecer um ato educativo libertador e não um ato
domesticador.
Deve-se buscar a eliminação da dominação pela autoridade, sem no
entanto, renunciar o direito e o dever do professor de indicar uma direção,
através de uma perspectiva critica, onde se leve em consideração às
características da realidade existencial dos alunos (social, econômica, política e
cultural).
Além de participar do contexto da sala de aula, o verdadeiro educador
precisa fazer desta experiência algo significativo. Educar é estar
constantemente num processo de ação « reflexão, buscando aprimoramento.
Entende-se que se pode sempre ir além daquilo que já alcançou,
conseguindo-se vencer a acomodação e unindo-se teoria e prática num
conjunto harmônico.
O sentimento que nasce da relação professor « aluno, das trocas, dos
conflitos, das vitórias e das derrotas não pode ser assimilado através dos livros,
pois é único. Nem tudo pode ser descrito através de palavras. E preciso viver
para aprender.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas
Pós-Graduação “Latu Sensu”
Título da Monografia:
PROFESSOR X ALUNO: ERROS E ACERTOS DE UM CONSTANTE
APRENDIZADO
Data da Entrega: ________________________
Avaliado por ____________________________________ Grau ___________
Rio de Janeiro, _____ de ____________ de 2003
_______________________________________
Coordenador do Curso